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Antropologia do Espaço

Sobre o texto: The Ins and Outs of the Hall

Docente: Filipa Ramalhete Discente: Carlos Faustino


O texto faz uma reflexão sobre o Hall de entrada em apartamentos ocidentais
modernos e sobretudo parisienses que possuem todo um universo ou um ritual
que inspira uma série de comportamentos de carácter provisório inerentes à
estes espaços que no fundo funcionam como espaços secundários.

Na Arquitetura Ocidental o Hall foi inicialmente pensado para ser o


compartimento principal da casa e o lugar em que os residentes aproveitavam
para se apresentar ao mundo ou aos seus convidados através da decoração
em que se podia conhecer desta forma as pessoas que na casa habitam e
ainda para exibirem as suas riquezas.

Só no século XIX que este ganha a função de distribuidor dos diferentes


compartimentos, e ainda acompanha à maneira que se começava a pensar
sobre a relação do espaço privado e público, então ele se torna um lugar
intermediário que garantia alguma privacidade aos residentes. E nos dias de
hoje o Hall é um pequeno espaço junto à porta e depois deste espaço nós já
estamos em algum dos compartimentos da casa. Só que desta situação
nascem outros problemas sobretudo em casas de apenas um quarto que
sentem muito à falta desta característica de distribuição do Hall porque deixa
as pessoas sentirem-se demasiado expostas e cada vez menos seguras
naquele que deve ser o seu espaço de privado, o que as obriga à de alguma
forma tentarem resgatar esta privacidade utilizando móveis que separam o
espaço atribuindo uma função imaginária porque no fundo somos nós as
pessoas que criamos o lar independentemente do espaço genuinamente
existencial.

Isto também acontece porque o Hall é um limite, sendo como a primeira soleira
para o mundo público e a primeira para um mundo privado e ao mesmo que é
onde se estabelecem os controlos e ele requer uma proteção extra no sentido
que ele se reafirma como um espaço privado de uma determinada pessoa e o
visitante percebe isto, ele reconhece à sua posição de inferioridade desde
mesmo antes de entrar pela porta e quando entra esta sensação de
inferioridade e de respeito pelo lar alheio é reconhecida pela presença de
objetos que identificam esta pessoa que é o anfitrião e que servem como um
mecanismo de defesa e de proteção contra os possíveis intrusos à este lar e é
isto que faz com que este lar funcione e mantenha o residente seguro da sua
posição.

Toda esta relação de superioridade e inferioridade entre o residente e o


visitante são cruciais para definir se o visitante será ou não bem-vindo ao lar,
esta relação é mais ou menos complexa dependendo da relação que estas
pessoas já possuem, pelo que há a obrigação de pessoa com menos
intimidade com o residente de cumprir com o seu papel de visitante
corretamente, diferente de quem já possui uma intimidade com o residente que
pode se pôr mais à vontade e não correr o risco de ser rejeitado neste espaço
privado alheio.

Assim que o visitante consegue a permissão para entrar na casa a hierarquia


dos papéis vai diminuindo e é no Hall onde acontece a identificação do
residente pela presença de objetos que ajudam a conhecê-lo, a saber quantas
pessoas vivem neste lar, um bocado sobre as suas atividades, os seus gostos
e as suas vivências em geral. E por um lado também acontece o espaço do
visitante que muitas das vezes tem um espaço para os seus pertences como
os sapatos ou o casaco e neste mesmo lugar funciona como um lugar neutro
acontece também um diálogo muito breve e até uma troca de afeto e de
presentes para o anfitrião.

E como disse Mary Douglas pelo fato do Hall ser um lugar secundário e
acessório, ele gera este momento de incerteza por estabelecer uma relação
entre um mundo exterior e um mundo mais privado, que no fundo acontece
pela nossa condição de querer inconscientemente proteger o nosso lar, por
isso em muitos casos quando chega uma pessoa visitante à casa ela poderá
encontrar dois tapetes ou outros objetos que servem para purificar o visitante e
prepará-lo para entrar no nosso espaço pessoal, e que são um conjunto de
rituais que estabelecem está transição.

Estes rituais de transição na verdade acontecem de maneira provisória e subtil,


como no caso de haver um espelho no Hall em que o visitante aproveita para
se reparar levemente diferente de como faria no banheiro por exemplo, no final
de contas eles servem para garantir este acolhimento e após se garantir que o
visitante se ponha à vontade, passa-se para um outro cómodo, a conversa se
torna mais descontraída, mais pessoal e há toda uma outra energia que não se
pode sentir quando se está no Hall.

E quando o visitante se prepara para ir embora, após todo este ritual mais
rígido e quando o visitante já está muito à vontade no espaço privado alheio,
ele já consegue tomar mais iniciativa e acontece este pequeno ritual mais leve
de saída em que ele até pode abrir a porta por si próprio sem que se sinta um
intruso ou pressionado a deixar o espaço. O que só foi possível graças ao ritual
de hierarquia inicial e de contribuição entre as pessoas em diferentes posições
que mantém o lar saudável e a funcionar de maneira certa.

Bibliografia

DOUGLAS, Mary – The Idea of Home: A Kind of Space. Social Research.


Baltimore: Johns Hopkins University Press, 1991.

ROSSELIN, Celine – The Ins and Outs of the Hall. An Anthropology of


Domestic Space. New York: Syracuse University, 1999.

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