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Antropologia do Espaço

Medidas higienistas, Modernismo e impacto nas


plantas das casas, especialmente nas cozinhas após
a primeira guerra mundial

Docente: Filipa Ramalhete Discente: Carlos Faustino


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Após a primeira guerra mundial, as casas e as cidades sofreram grandes


alterações, estas que foram impulsionaras por movimentos de emancipação
que marcam sobretudo os anos 20 do século XX.

Em 1925, acontece em Paris a primeira Exposition Internationale dês Arts


Décoratifs et Industriels Modernes, com foco nos interiores domésticos, foram
apresentados diversas peças de arte, mobiliários e decorações em estilo Art
Déco, que estava em alta na altura. O evento contou com vários países
europeus e o Japão.

A cozinha

Com o advento da eletricidade, já se podia ter mais iluminação nos espaços, os


eletrodomésticos começavam a aparecer, alguns utensílios de cozinha se
aperfeiçoavam, mas no início, a vivência e os espaços se mantiveram iguais ou
sem grandes mudanças expressivas.

Então com toda esta tecnologia que aparecia, iam sendo substituídos o fogão a
gás pelo elétrico, que já era em aço inoxidável, e já com os sistemas de
aquecimento avançados, os espaços destinados à armazenamento de lenha
iam desaparecendo.

Mas até então a vida doméstica era a mesma, as vivências na cozinha não se
alteraram porque estas transformações ainda eram somente tecnológicas.

Começaram a ser aplicados os princípios do Taylorismo, que na verdade se


focava na padronização e produção em massa dos alojamentos em modelos
que passaram a ser chamados de Existenzminimum e que em Frankfurt
tiveram os seus princípios definidos em 1929.

Em 1923 a Bauhaus dá início a esta racionalização da cozinha, através de uma


exposição onde apresentaram a ‘casa experimental’, uma casa uni familiar que
organizava os espaço ao redor de uma sala de 6x6m.

A cozinha que estava num dos cantos, junto à sala de refeições e ao Hall de
entrada, já trazia consigo grandes inovações, ela coordenava a forma e a
função dos espaços de armazenamento com os de trabalho, que foram
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unificados para melhor aproveitamento do espaço e a iluminação e ventilação


eram feitas por uma grande janela horizontal, mas o lava-loiças ainda parecia
estar fora desta racionalização, pois ele estava numa extremidade
independente e bem afastado do fogão que ainda era a gás.

Na segunda exposição organizada pela Deutscher Werkbund em 1927, são


apresentadas casas desenhadas por dezassete arquitectos modernos
coordenados por Mies Van der Rohe.

O arquiteto holandês J. J. Oud propôs uma cozinha em L que organizava o


lava-loiças lateral com uma grande janela, gavetas, longos planos de trabalho e
o fogão noutra extremidade que funcionava para estas casas apertadas. A
cozinha de Mies que estava ligada ao núcleo de águas e organizada pelas
funções: conservação, armazenamento, preparação e confecção, e a zona de
lavagem. Le Corbusier faz a sua também em L e ligada a uma instalação
sanitária e uma zona de lavandaria.

Em 1930, Figini e Pollini apresentam a sua casa Elettrica, que ainda nesta
ideia de eficiência do movimento Taylorista, é uma casa que organizava todos
os eletrodomésticos que já havia nesta altura e que inova muito pela
acessibilidade e evidenciando a maneira como a vida se tornara mais fácil com
a utilização destes e com móveis já pensados para o abrigo dos mesmos.

Ao mesmo tempo aconteciam as cozinhas apertadas de 2.10m2 que


respeitavam toda esta preocupação com a eficiência e avanços tecnológicos,
como a do arquiteto Franz Schuster em 1920-22, Frankfurt.

Em 1926-27 é apresentado pela arquiteta austríaca Margarete Schüte-Lihotzky


o projeto de cozinha mais destacado e um dos projetos domésticos mais
importantes, que foi também influenciado pelos princípios do Taylorismo e pelo
estudo de eficiência doméstica do movimento feminista alemão.

A cozinha tinha com 1.90m por 3.40m, muito avançada para a época e apesar
de ser muito pequena aplicava os conceitos de eficiência. Já com o mobiliário e
os principais eletrodomésticos, sendo a primeira cozinha na história assim já
tão bem equipada,
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E até a madeira escolhida respeitava as vantagens no uso doméstico, porque


era pintada de azul o que casa com a recente descoberta de as moscas não
pousam em superfícies com esta cor, os armários com orifícios que ventilavam
e evitavam a criação de bolores, toda esta preocupação higienista levou até a
localizar a cozinha afastada do restante da casa, pelos cheiros e os sons que
eram poluentes de certa forma.

Impacto da primeira guerra, Taylorismo e Modernismo nas cozinhas


europeias

Então podemos dizer que a primeira guerra mundial influencia de maneira


muito direta as casas e cozinhas modernas, porque de alguma forma este
evento desencadeou um sentimento de se fazer um mundo novo, cresciam
todo um conjunto de ideias liberais e humanitários, olhava-se também para as
desigualdades sociais, então pensava-se não só em novas habitações mas
também em novas maneiras de se viver, que fossem mais humanas de certa
forma.

E ao mesmo tempo que acontecia o Taylorismo que é o método de


administração científica desenvolvido pelo engenheiro americano Frederick
Taylor, que se baseia em princípios propostos pelo mesmo, e estes princípios
viriam a influenciar até a arquitetura deste contexto da primeira guerra mundial.

Como o princípio do Planejamento que visava substituir os improvisos e


trabalhar com métodos científicos ou o que já tenha sido testado e
comprovado, e isto casa de certeza com a abordagem da arquiteta Margarete
Schüte-Lihotzky na utilização das madeiras pintadas em azul porque já se tinha
conhecimento científico de que esta cor resiste e afasta as moscas, o que
evidencia bem este planejamento e racionalidade neste sentido.

E ainda se olharmos para a ideia de afastar a cozinha do resto da casa que foi
uma atitude criticada na altura, mas que se pararmos para pensar faz sentido
de acordo com os princípios do Taylorismo na medida em que torna o trabalho
da mulher ou a pessoa na cozinha muito mais eficiente, porque apesar de estar
afastada das outras pessoas, isto lhe permite ter todo o espaço à sua
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disposição e a trabalhar com mais eficiência e sem ser incomodada pela


presença de outras pessoas que poderiam estar a fazer alguma outra atividade
na cozinha, além de se revelar muito mais higiénico.

Então toda esta ideia do Taylorismo que é influenciado pela primeira guerra
mundial vai se refletindo cada vez mais nas cozinhas e habitações em geral,
pois já se queria olhar para a habitação pensando na sua funcionalidade e
menos com o seu aspeto visuais ou decorativos, de modo a tornar tudo mais
prático, eficiente e fácil ou moderna. Isto enquanto surgiam casa vez mais
aparelhos domésticos que facilitavam mais a vida, e como disse Le Corbusier
era necessário que esta eficiência se refletisse também no espaço da casa,
pois ela não podia ser somente moderna, mas devia também parecer moderna.

Bibliografia

SALVADOR, Mariana Sanchez – Arquitetura e comensalidade, uma história da


casa através das práticas culinárias. Lisboa: Caleidoscópio, 2016.

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