Você está na página 1de 1

O surgimento do Zé Povinho

 O jornal satírico “Lanterna Mágica” publicou, a 12 de junho de 1875, uma caricatura alusiva ao Santo
António, que se celebra no dia seguinte, 13 de junho. No desenho está representado um peditório para o
santo, com um altar e um rapaz que pede dinheiro a quem passa: só que o rapaz tem a cara de António Serpa
Pimentel, ministro das Finanças, e o Santo António é, na verdade, Fontes Pereira de Melo, o chefe do governo,
que tem ao colo um menino com a cara do rei D. Luís. Sentado ao lado, com ar severo e de chicote, está o
comandante da guarda municipal. Quanto à pessoa que passa e é abordada para dar dinheiro, é
um personagem de barba, que coça a cabeça com ar desconcertado enquanto paga. Escrito nas suas calças
pode ler-se “Seu Zé Povinho”. Nascia assim uma figura emblemática do imaginário nacional, uma espécie de
símbolo do povo português, com uma das suas marcas características: o pagamento de impostos, o peso fiscal,
a espoliação por parte dos políticos. Foi a criação mais importante de Rafael Bordalo Pinheiro, cujo nome ficou
para sempre associado a esta figura.

“A Política: a Grande Porca”

 Esta página d’ A Paródia fundada a 17 de janeiro de 1900 por Rafael Bordalo e o seu filho Manuel
Gustavo. O novo jornal, que veio substituir O António Maria, era publicado semanalmente e dava conta,
através da caricatura e do cartoon, dos principais acontecimentos políticos e sociais de então.
 Sob o título “A Política: a Grande Porca”, Bordalo inaugura uma série de zoopolítica onde os grandes
vícios da política e das instituições nacionais são transfigurados em animais. Aqui, a política é
representada como uma grande porca que amamenta uma ninhada de bacorinhos, cada um deles
representando partidos políticos e seus membros, identificados por siglas nos respetivos traseiros.
 Entre outros animais, surge “o grande cão” – a finança, “a galinha choca” – a economia, “o grande
papagaio” – a retórica parlamentar, “o grande caranguejo” – o progresso nacional, “a grande rata” – a
burocracia ou “a grande burra” – a instrução pública. Sempre com muito humor, estes desenhos
fizeram uma crítica mordaz ao estado da Nação.

Jornais Bordalianos
 Através destes jornais acompanhamos o quotidiano da vida social e política portuguesa, num registo
documental e crítico, sempre cheio de humor, onde pontua a figura do Zé Povinho – que se vem a
consolidar como um ícone do povo português. Começou por lançar títulos: O Binóculo e A Berlinda,
em 1870, e A Lanterna Mágica, em 1875, onde aparece desenhado pela primeira vez o Zé Povinho.
Entre 1875 e 1879 viveu no Brasil, onde publicou O Mosquito, o Psit!!, e O Besouro, que integram a
história da caricatura brasileira. De regresso a Lisboa, em 1879, iniciou com O António Maria (1ª
série). Seguiram-se Pontos nos ii (1885), uma 2ª série de O António Maria (1891) e A Paródia (1900).

Você também pode gostar