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ENTREVISTO LAURENTINO GOMES

1. Sidney Costa. Você vive pra recuperar a memória nacional e primeira trilogia, em que os 3 títulos
venderam mais de 2 milhões de livros, traz “1889” com uma advertência na capa: Como um
imperador cansado [digo eu, D. Pedro II], um mal vaidoso {digo eu, Deodoro a Fonseca] e um
professor injustiçado [digo eu, Benjamim Constant] conribuiram pra o fim da Monarquia e a
Proclamação da República; pergunto: proclamou-se um fato, mas temos uma república federativa
no Brasil?

Laurentino:

Em 1889, o Brasil tinha 14 milhões de habitantes, 7% da população atual.

De cada 100 brasileiros somente 15 sabiam ler e escrever. Entre os negros, considerados os recém libertos
pela assinatura da Lei Áurea, pela Princesa Isabel quase um ano antes, em 13 de maio de 1888º
analfabetismo era maior: 99% de analfabetos.

Oito [8] mil pessoas tinham curso superior.

Só uma em cada [6]crianças com idade entre 6 e 15 quinze anos de frequentava escola, que registrava 300
mil alunos matriculados nas 7.500 escolas primárias existentes.

Nos estabelecimentos secundários, o número caia de forma dramática: apenas 12 mil estudantes.rentinp

A riqueza nacional era representada pela agricultura... e o café sozinho fornecia 60% da produção mundial.

Oito em cada 10 brasileiros moravam e trabalhavam em áreas rurais.

Se nos basearmos nestes dados históricos teremos de admitir que a República surgiu quando a população
não tinha estofo cultural e político para romper com a dependência monárquica do império nacional e, nos
parece que isto, a falta de uma cultura acadêmica vigorosa e politizada não nos permite atestar que a
República que depende inteiramente da concordância da maioria em seu estabilishment esteja
aperfeiçoada.

2. Sidney Costa. Você desafia nossa inteligência ao relatar que D. Pedro II ficou inerte mesmo que as
evidências de uma conspiração estava em andamento, não seria mais pragmático admitir-se que o
Imperador estava disposto a voltar a Portugal, mais do que permanecer aqui, até porquê, depois de
uma passagem de menos de 2 meses na sua pátria, viveu em Paris até o fim de sua vida.

Laurentino:

Max Leclere, o jornalista francês que percorria o Brasil na época, registrou: “A rvolução está terminada e
ninguém parece discuti-la. Mas acontecu que os que fizeram a revolução não tinham de modo nenhum a
intenção de fazê-la e há atualmente na América um Presidente da República à força. A monarquia caiu
como um fruto maduro e ninguém levantou um dedo para defende-la.

Ora, à partir desta revelação jornalística que girou pela europa e américas, parece de superior bom senso
que D. Pedro II, foi o primeiro a abonar o golpe silencioso e exausto.

3. Sidney Costa. A última, Laurentino. O primeiro ministro da fazenda, Rui Barbosa, e o fracasso de
sua política monetária ou de fabricação desenfreada de dinheiro, como o senhor se refere à
missão do metal de valor circulatório para comprar e emprestar, saiu do patamar de 191 mil contos
de réis, em 1889, para 511 mil contos de réis em 1891. Em 2 anos, portanto, aluguéis triplicaram o
valor, o preço das mercadorias subiram 167% o padrão de vida declinou. Desde a República, é a
economia ou os erros no trato político dela que impede o crescimento nacional?

Laurentino:

Nesse período, a maioria dos bancos quebrou sem honrar seus compromissos. Em valores, foram 65
milhões de dólares ou a valor de hoje, 145 milhões de reais.

O Tesouro Nacional se viu obrigado a assumir. No total das operações, os cofres públicos perderam mais de
2,5 milhões de libras esterlinas ou 720 milhões de reais, em valores atuais.

O encilhamento colocou letras a mais na biografia de Rui Barbosa que entrou para a história como um dos
maiores juristas brasileiros, mas também como um financista ingênuo e desastrado por ter acreditado
resolver o problema da economia - falta de capitais – pela simples fabricação de dinheiro em papel.

Isto responde minha pergunta, Laurentino.

Ainda se faz muitas medidas que pode-se chamar de irresponsáveis pois quem assume o acerto destes
erros é o povo que paga centavo por centavo nas mirabolantes mágicas das áreas do governo que têm de
cuidar da economia nacional.

-oOo-

Fonte:
1889 – Laurentino Gomes – Editora Globo – 2013
Pergunta 1. Resposta encontra-se no Capítulo 3. O Império Tropical – fls. 65 a 90
Pergunta 2. Resposta encontra-se no Capítulo 14. O Imperador Cansado – fls. 251 a 259
Pergunta 3. Resposta encontra-se no Capítulo 21. A Roda da Fortuna – fls. 331 a 343

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