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Antonio (Loiro), Marcos (Nissei) e Aninha (branca) estão se dirigindo empolgados para uma festa
de aniversário do bisavô de Cláudia (Negra) com embrulhos nas mãos, onde dialogam:
Marcos: “Toninho! Vamos para a festa do bisavô de Cláudia!” – diz andando em direção ao
Antonio.
Marcos: “Afinal, não é sempre que se apagam 112 velinhas de aniversário num único bolo, não
é?!!!”
Antônio: “É mesmo! Ele é a pessoa mais idosa que eu conheço até agora.” – e seguem…
As crianças começam a andar, dando voltas no palco, alegres, brincando, até que numa das voltas
encontram Cláudia no portão.
Cláudia: “Oi turma! Estava esperando vocês para começar a festa. Entrem”.
2º Ato: Na Festa
Francisco, o aniversariante (negro), bem como outros idosos: Sr. João, Sr. José, D. Maria (esposa
do Seo Francisco) e D. Cecília, estão sentados em cadeiras. Ao lado está a mesa com bolo decorado,
copos e refrigerante. Seo Francisco está no centro, usando um cobertor sobre as suas pernas
trêmulas. O seu rosto é cansado. A outra metade do palco fica reservado para encenações durante a
contação de estórias de Seo Francisco. Chegam então as crianças, quebrando a monotonia do
local…
Crianças: “Feliz Aniversário Seu Francisco” – entram pulando, alegres, abraçam Seo Francisco e
entregam os embrulhos.
Francisco: “É muito bom recebê e abraçá pessoas de outras raças qui nem vosmicêis”.
Francisco: “ Nem sempre foi anssim, meu fio, aliais, até poço tempo atrais num era anssim não
sinhô.”
Francisco: “Vocês querem ouvi um poco da estória pelas palavra de um veio que teve lá? Sentem-se
!!!”
Francisco: “Antigamente as coisa era pur dimais deferentes meus fios. Os negos como eu eram
tratado como uma coisa, não como ser humano”.
Francisco: “Sim meus fios. Uma terra linda. Na minha tribo nóis ficava livre, integrado Ca
natureza…”
Marcos: “Meu avô veio para o Brasil porque recebeu um convite para trabalhar em lavouras de
café, no interior. E o senhor? Parece que gostava tanto da África, como veio parar no Brasil?”
Francisco: “Num foi pur quere não meu fio. Ainda mi lembro, como se fosse onte:
Me despedi de minha mãe e saí para caçar. Depois de andar umas boas léguas atrás de um cervo
me vi cercado por um bando de pirata portugueis que me capturaram, acorrentaro e jogaro num
barco. Fiquei dias sem comê e com pouca água. Muitos outro morrerã de fome, inté que chegamo a
desembarcá na Bahia de São Salvadô. “
Aninha: “O senhor disse que gostava de caçar… Nos livros dizem que os africanos caçam nus, meu
Deus, isso é verdade?”
Francisco: “Infelizmente essa é a image que a maioria das pessoa tem da África – Gesticula com as
mãos – um monte de nego correndo nu, mas na verdade num é isso não. A África antes de ser
colônia Inglesa era composta de vários Estados, Reinos e Até mesmo Impérios…” – pausa – Isso
quer dizer, que lá existia organização social e política, território definido, costumes, crenças…
Numa caçada em campo aberto, se voismicê usasse uma roupa pesada e calorosa, ia suá muito e
espantá os bicho. Anssim, nois usava o mínimo para ficar confortável e ao mesmo tempo não perdê
a mobilidade. Agora imagina ocê se um leão faminto pega a trilha do seu suó.” – Enfatiza e
gesticula.
Aminha: “Mas a lei áurea não tinha sido assinada? Como o senhor foi capturado e vendido como
escravo?”
Francisco: “É minha fia, …., como sempre, a lei muitas veis é linda no paper, mais na prática… os
poderosos senhores de terra sempre dão um jeitinho…, inte hoje, num é?
A lei áurea foi assinada em 13 de maio de 1888, eu cheguei aqui em 1902 e fui escravo. Os nego e os
imigrante trabaiava na sua maioria em lavora de cana di açuca, nas mina e nas fazenda de café.”
Marcos: “Então quer dizer que desde o Brasil colonial até o início do Brasil República exploraram
os negros para engrandecer o país?”
Francisco: “Exatamente, os nego que sofreru mais. O Brasil foi construído por mão escrava.”
Antonio: “Mas então, sem o trabalho dos negros e dos imigrantes o Brasil de hoje não existiria ?”
Francisco: “É o que parece Toinzinho… inclusive arguns politicu da épuca dizia isso, sabia? E eram
perseguido quinem nois.”
Aninha: “E como era ser escravo? O senhor ficava muito no cantinho do castigo que nem a Nanny
da Televisão?”
Francisco:”Pióh, minha fia. Tinha dia que a gente trabaiava 18 hora sem comê. Quando o capitão
não gostava de argo, amarrava nois no tronco e intão batia cô chicoti inté nois dismaiá. Nisso
muitos como inté eu mismo, fumo fugido pros quilombo.”
Marcos: “Na escola a profesora falou desse tal de quilombo, mas eu não entendi, pensei que fosse
“Calombo” e todo mundo riu de mim….”
Francisco: “Num é pra menos. Confundi calombo com quilombo… hihihi….. Quilombo, piqueno,
era umas povoação de nego qui ficava iscondida nas mata donde só tinha nego fujão, e calombo é
quando vosmicê bate o coco e fica cum baita calombo”.
Francisco: “Num é Du meu tempo não. No quilombo tinha uma vózinha que contava que Ganga
Zumba foi o rei do Quilombo dos Palmares em 1675, negociou a paiz com o Governador Pedro de
Almeida e foi traído, num sabe….”
Francisco: Carma menino. Acho que farto um poquinho. Zumbi já participava em todos combate
nos Palmares. Com a morte de Ganga Zumba ele assumiu a chefia do Quilombo e ficou conhecido
como “General das Armas”. Foi derrotado somente em 1694 pelo bandeira Domingos Jorge Velho.”
Antonio “Não.
Segundo vó dizia, ele escapou. Foi morto em 20/11/95 por forças paulistas comandadas por André
Furtado de Mendonça, assim dizia a carta do governador Caetano Melo ao Rei de Portugal.”
Aninha: Então é por isso que em 20 de novembro comemoramos o dia da consciência negra?”
Francisco: “Ta certa a menina. Esta data foi colocada como aniversário da morte de Zumbi pra qui
todo mundo se lembre que o nego luto pela iguardade racial. I olha só qui ainda num vivemos uma
iguardade plena não. Mais é bao lembrá que existiram pessoas que lutaro por uma sociedade mais
justa.”
Crianças festejam…
Francisco: “Gostaria de agradecê a todos oceis que vieram aqui hoje e lembrar que tudo nois
somos possuidores de direitos de lutar pelo reconhecimento di nosso valo na construção do país.”
Aninha: “Que todos sejam iguais não só perante a lei mas sim perante a sociedade.” As Crianças
começam a brincar e a cortina fecha.