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O livro Niketche: Uma História de poligamia da autora moçambicana Paulina

Chiziane.
Antes de começarmos a falar aqui especificamente do enredo da nossa narrativa, é bom falar um
pouquinho sobre Moçambique. Oque de fato vai influenciar a narrativa e ajudará na
compreensão desse livro. Esse é um país semelhante ao Brasil, pois Moçambique assim como o
Brasil e assim como Angola também foi um país colonizado por Portugal, ou seja, Moçambique
é um país de língua portuguesa, e evidentemente outras línguas outros dialetos são falados ali em
Moçambique. Mas Moçambique tem como idioma oficial a língua portuguesa, a língua do
colonizador. Moçambique fica ao sul do continente africano e é banhado pelo Oceano Índico.

Entre 1964 e 1975 Moçambique passou por uma guerra de independência. Entraram em guerra
para tentar se ver Livres do domínio pois até então era uma colônia Portuguesa. Após isso as
coisas até que ficam tranquilas por um certo período. Mas por pouco tempo porque em 1977
entram numa guerra civil muito influenciada por tudo o que estava acontecendo na Guerra Fria, e
é bastante importante saber a Guerra Fria tem total participação e influência nas guerras que
ocorreram tanto em Moçambique quanto em Angola. E essa guerra civil em Moçambique que
começa em 1977 se estende até 1992 e só em 1992 que o país entra de fato no que a gente pode
chamar de uma calmaria política. Esses pontos são importantes inclusive o fato da guerra civil
até o fim de 1992 pois vai ter um breve eco na nossa narrativa. Então é importante saber que em
Moçambique existe uma ideia bem interessante de divisão entre Norte e Sul. Temos que ir para a
leitura pensando nessa diferenciação entre Norte e Sul isso é muito marcado na nossa narrativa
de Niketche. Já o título do livro se refere a uma dança, é uma espécie de dança de amor ou seja
uma dança ritualística e essa dança niketche é responsável por introduzir as mulheres na vida
amorosa, é uma dança de introdução a vida adulta de amores e de autoconhecimento. Já
contextualizado na nossa narrativa vamos falar um pouco da estrutura que são 43 capítulos nesse
livro, os capítulos não são muito longos, então é bem tranquilo a leitura. Um ponto importante é
que o foco narrativo desse livro é em primeira pessoa ou seja o leitor vai ter aqui um narrador-
personagem ou melhor dizendo uma narradora-personagem, isso é bem importante e essa
narradora-personagem é a nossa protagonista, uma mulher forte.

E também para falar do tempo é necessário pensar que o tempo da narrativa é contemporâneo à
data de publicação. Esse livro foi publicado em 2002 pela nossa autora Paulina Chiziane e tudo
se passa ali nesse finalzinho de século 20, passagem para o século 21, nessa transição de
Milênio. Então tudo se passa próximo do ano de 2002.

Já em relação ao espaço está associado nessa relação norte-sul. A narrativa vai acontecer
principalmente em Maputo que é a capital de Moçambique, essa cidade fica no extremo sul do
país. E pensando então nesse embate entre Norte e Sul e que há todas essas diferenças culturais é
importante pensar que a protagonista mora em Maputo. Então, ela é uma mulher do Sul os
embates que vão rolar entre sul e Norte tem muito haver diretamente com a protagonista a Rami.
Essa mulher forte Rami é uma mulher de 40 anos de idade e ela é casada com o Tony. O Tony é
mais velho que ela ele tendo 50 anos de idade. Rami é uma mulher do Lar. Então, ela cuida dos
filhos além cuidar do marido por uma questão cultural, por se parte da tradição Sul
moçambicana. Isso então leva ao fato que a mulher tem que ser submissa ao marido. Só que o
marido de Rami nunca tá em casa, tá sempre fora. O livro começa já com esse dado interessante
que mostra para o leitor uma forte questão cultural, o dever que essa mulher tem em relação ao
marido dela e mostra também um outro dado cultural que é o fato de ser comum desse marido
nunca estar lá. Outro ponto importante para narrativa é que o Tony é do alto Escalão da polícia
de Maputo. Ele é um comandante da polícia.

O livro começa com um brevíssimo eco a guerra civil porque Rami se lembra da guerra dizendo
que ouve um estrondo, e já pensa assim que ouviu que deve ser uma bomba, que pode ser os
sinais da Guerra voltando. Então notasse que a guerra civil foi muito próxima, pois a história do
livro ocorre em meados de 2002 e a guerra civil acabou em 1992, 10 anos. Sendo pouquíssimo
tempo. Dando continuidade ao enredo, Rami vai até a rua para ver o que aconteceu e umas
vizinhas dela falam não é bomba, é o seu filho que acabou de estourar o vidro de uma viatura.
Então a Rami vai lá e tenta conversar com o motorista, e ele fica com dó porque ele percebe que
nenhum marido sai da casa para cuidar da situação, ele até comenta “já vejo que essa criança é
assim porque falta homem, falta marido aí nessa casa, falta um pai” e as vizinhas concordam. E
então elas começam a contar várias histórias dos maridos delas, que nunca tá em casa e o leitor
percebe que é comum. Os maridos estão sempre fora e as mulheres ficam nessa situação porque
aquele que é o provedor traz o sustento e a cultura diz que tem que ser assim. Essas mulheres
acabam meio desamparadas. E até mesmo mostra que muitos desses maridos possuem outras
esposas e por isso a ausência deles se torna comum.

Então esse começo de narrativa serve não só para contextualizar na história da Rami, mas
também em torno das amigas de Rami, ela já nos conta que acabou de descobrir nesse momento
do início do livro que o marido dela o Tony é polígamo, por isso o subtítulo do nosso livro
Niketche: Uma História de poligamia. E lembra que lá a poligamia é um termo utilizado para
designar e para descrever a situação na qual o homem tem várias esposas. Quando a Rami
descobre sobre a poligamia, a primeira reação que ela tem à essa descoberta é culpar o Tony, e
não a sociedade, ela começa culpando a si mesma e esse momento é muito importante, porque é
o primeiro momento em que o leitor vai ver que ela é uma mulher muito forte, mas ao mesmo
tempo muito sofrida. O leitor vê que ela passou a vida inteira sem saber lidar muito bem com ela
mesma. Por que que ela não teve essa oportunidade, ela mesma fala isso “Eu não me descobri,
não sei lidar comigo mesmo” então é aí que a Rami começa a fazer essa confissão para os
leitores, da descoberta da poligamia do Tony, ela começa a dialogar com um espelho que tem na
casa dela, a relação dela com o espelho é muito interessante, porque que ela vai evoluindo
pessoalmente nessa relação com o espelho no primeiro momento ela chega na frente do espelho e
fala “Poxa espelho eu acho que a culpa é minha, eu devo ter entediado o meu marido Tony, ele
arrumou outra, e dessa vez a culpa é minha eu não agrado ele”. Essa relação com o espelho vai
ganhando força. Ao longo do livro ela vai falando com o espelho, com ela mesmo inclusive em
um processo de auto descoberta.

E ela vai então atrás de descobrir quem são as outras esposas, que são quatro que depois passa a
ser cinco. A Julieta que é chamada de Ju, tem a Luiza que é chamada de Lu, tem também a Sally
e tem a Mauá. E Rami decide que essas outras esposas são rivais dela, são inimigas. A primeira
da qual ela vai atrás é a Julieta. A Ju até que não mora tão longe da casa dela então ela vai atrás
da Ju e quando ela chega na casa da Ju, que ela encontra lá. Entra na casa e elas começam a
dialogar, a Ju fala coisas às quais não deixam Rami contente. E então elas começam a brigar e
saem pra agressão física. Elas começam a rolar na rua uma brigando com a outra e tem soco, tem
um puxão de cabelo, logo as duas cansadas no chão, com vestes rasgadas e até com sangue. E a
Julieta fala “Estou eu aqui em casa cuidando dos meus filhos com Tony e vem você me agredir”.
Então Rami decide ir embora. Ouve um pouco da historia da Ju, se identifica com a situação e
vai embora de vez atrás de um terceira esposa.

No encontro com a terceira esposa elas brigam e vão parar na cadeia. Lá após conversarem um
pouco Rami, percebe que está apenas brigando com mais uma esposa abandonada por seu
marido. Aí então Rami contou ao guarda que era esposa de Tony, comandante de polícia. O
guarda dúvida é então vai confirmar a informação. Depois volta o guarda e libera a Rami. Rami
olha pra trás para ver Luísa dentro da cela. E ela pede para o guarda soltar ela também por ela
também ser esposa de Tony. E nesse momento Rami percebe que essa mulheres não são suas
rivais, são só um monte de mulheres com vários filhos de Tony. Tony no caso só ia, fazia filho.
Dava a desculpa de estar trabalhando pra se ausentar e vivia assim. Fazia oque queria na casa da
esposa depois ia embora.

Depois elas se unem a Amy, que tem a ideia de unir todas. Então ela faz uma reunião com todas
as esposas. Elas vão se tornando amigas, a amizade delas vai se se estreitando, chega uma
montar negócio junto de outra. Rami até se torna independente do Tony financeiramente. Dando
o primeiro passo a notar que talvez Tony não faça falta.

A Rami passa por altos e baixos em relação aos sentimentos por Tony. Ela até busca por rituais
religiosos, simpatias para conquistar Tony. Um ponto que vale salientar é a região a qual cada
esposa pertence. Rami é Julieta são mulheres do Sul, enquanto Luísa, Saly e Mauá são mulheres
do Norte.

Então agora temos o aniversário de Tony. A Rami organiza uma festa surpresa pro Tony. E
quando Tony chega, ele encontra todas as cinco esposas. E Rami então diz que ele pra manter os
cinco casamento terá que lobolar as cinco. Oque seria um pagamento feito pelo homem as suas
esposas e também a obrigação que se tem com elas. Afinal, a única que havia sido lobolada era
Rami.

E Tony foge dali. Mas a mãe de Tony o convence a lobolar elas. Rami já organiza um tempo
para cada uma de suas esposas, além dele ter que satisfazer as cinco. Afinal a tradição afirma que
se não forem satisfeitas elas podem arranjar amantes. Aí o Tony passa o tempo só cansado, sem
conseguir cumprir com seu papel. Após isso o Tony quer o divórcio de Rami, e Rami apenas se
recusa.

Depois disso chega a notícia de que Tony morreu. Rami encontra o corpo todo destroçado e diz
que não é de Tony, conta a família mas eles negam. E até mesmo culpam Rami por ter colocado
pressão no Tony. Além disso fazem questão de tirar tudo de Rami. Deixam ela morando apenas
em uma salinha.

E agora Rami teria que ceder seu corpo ao irmão de Tony, Levi o irmão mais novo de Tony. E
Rami ao o conhecer se apega a ele pelo jeito que ela o trata. E eles acabam dormindo juntos.

Porém dias depois aparece uma sexta mulher que dizia apenas ser amiga de Tony. Mas as
esposas assumem que era uma sexta esposa. E que ela sabia do paradeiro de Tony. Ela que
comprou as passagens para Tony sair do país. Mas se decepcionou pois no dia da viagem ele
embarcou com uma outra mulher, uma sétima esposa.

E quando o Tony volta ele nota que tiraram tudo da Rami. E ele fala que vai voltar pra ela, teria
só as cinco esposa, devolveria as coisas dela. E depois disso elas notam que ele não mudaria e
viveria só arranjando outras mulheres então arranjam uma moça de 18 anos para Tony se casar.
Tony então se recusa e elas assumem que ele não dá conta e por isso elas decidem deixa-los pra
trás, já que a tradição dizia que um marido que não da conta do serviço ele deve ser deixado.

Elas então largam Tony e a única que não o deixa é Rami devido aos sentimentos que tem por
ele. Todas as outras já tem um sustento, mas Rami continua. Ele vão conversar numa praça e
quando estão lá começa a chover. E Tony questiona porque aquilo aconteceu, Rami se lamenta.
Eles se abraçam até que Tony sente que a barriga de Rami cresceu. Aí Rami assume estar
grávida, e pelas contas de Tony ele se questiona como ela ficou grávida. Então a Rami assume
que o filho é de Levi. E atingindo por um raio o Tony morre e acaba o livro.

O importante a se notar é que ele livro conta uma história de uma mulher pela própria mulher.
Não atoa a Paulina Chiziane tendo escrito a história em primeira pessoa. A Rami não é apenas a
Rami ela é toda e qualquer mulher moçambicana vivendo uma história extremamente corriqueira
e dolorosa.

Outro ponto importante é que se trata de um livro com questionamento às tradições mas ao
mesmo tendo um livro que reconhece as tradições, o peso das tradições e o quanto as tradições
rodeiam a vida das pessoas. O livro então cai questionar mas ao mesmo tempo discutir. Sendo
não só um livro de questionamento mas também de tradição. Oque seria essa cultura na qual eu
mulher moçambicana me insiro e como eu posso entender e questionar tudo isso.

Outro ponto que vale salientar é que Rami como mulher do Sul, ela compõe um grupo de
mulheres que veem a poligamia como algo ruim. Então ela tem muita dificuldade de lidar com
isso. Se opondo com as mulheres do norte de mulheres que lidam bem com isso. Oque trata a
poligamia como algo diferente para cada cultura.

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