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AVISOS
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violação de direitos autorais são
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cabíveis.
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SUMÁrIO
O rei da vela....01
O torto arado....08
Cartas Chilenas....14
O seminárista...23
Melhores poemas...30
Niktche....39
Quarto de despejo....49
Histórias que os jornais não
contam....70
Contos novos...77
Chove sobre minha infância...95
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redigido em 1933 com o objetivo de


retratar a década de 30 e as
preocupações e compromissos
sociais da época.

A peça foi considerada o primeiro


Oswald de Andrade texto modernista feito para teatro
após a inserção da pintura abstrata
nos cenários, afastando-os do
realismo e do simbolismo.
Anteriormente, apenas a encenação
era considerada modernista, mas o
texto de Oswald de Andrade aborda
a sociedade decadente com a
linguagem e o humor do
modernismo.

Oswald de Andrade (1890-1954) foi Trata da história de Abelardo I,


escritor e dramaturgo brasileiro. agiota e proprietário de
Representa uma das principais uma fábrica de velas, expõe, de um
lideranças no processo de lado a aristocracia cafeeira de São
implantação e definição da literatura Paulo e sua decadência, de
modernista no Brasil. Sua atuação outro, a ascensão de Abelardo I e
ficou marcada pelo seu espírito suas artimanhas para obter status
irreverente, polêmico, irônico e social, o que é feito por meio de
combativo. Tornou-se figura alianças políticas com diferentes
fundamental dos principais segmentos sociais.
acontecimentos da vida cultural A ação dramática é desencadeada
brasileira na primeira metade do em 03 atos. O primeiro e terceiro ato
século XX. são ambientados em
São Paulo, no escritório do agiota
Sua obra apresenta de maneira Abelardo I, no segundo ato a cena
geral, um nacionalismo que busca as transcorre no Rio de Janeiro.
origens, sem perder a visão crítica Para obter status social, Abelardo I
da realidade brasileira. Oswald casa-se com Heloísa, uma
defendia a valorização de nossas aristocrata, o casamento é apenas
origens, de nosso passado histórico- mais um negócio, como o que ele
cultural de forma crítica, parodiando, realiza com os seus clientes. Sua
ironizando e atualizando nossa única função é assegurar a
história de colonização. aliança entre burguesia e
aristocracia, uma vez que Abelardo I
tem o poder, tem dinheiro, mas não
tem projeção/status social. Abelardo
O Rei da Vela é uma peça teatral II, seu assistente, adepto das ideias
escrita por Oswald de Andrade, um socialistas o auxilia quando
dos principais representantes do o assunto diz respeito aos clientes,
movimento modernista brasileiro. Foi dos quais é usurpado até o último
centavo.
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montar uma milícia fascista para


combater os fazendeiros que
invadem sua propriedade.
Primeiro ato
Terceiro ato
O primeiro ato tem como cenário o
escritório de Abelardo & Abelardo,
O cenário novamente é o escritório
uma firma de agiotagem comandada
de Abelardo & Abelardo. Abelardo I
por Abelardo I, o protagonista.
é vítima de um golpe e acaba indo à
falência. Com a arma nas mãos e a
Clientes devedores saem de uma
noiva aos seus pés, o protagonista
jaula e são recebidos por Abelardo II,
se dirige ao público e afirma que eles
sócio de Abelardo I, vestido de
verão um final digno de dramalhão:
domador. Eles são tratados com
um suicídio no terceiro ato. Porém,
desdém e brutalidade. Depois disso,
sem conseguir concluir o ato, pede
aparece para uma visita Heloísa de
ajuda ao Ponto (auxiliar de cena que
Lesbos, membro da aristocracia
fica fora das vistas do público e
agrícola e noiva de Abelardo I, com
lembra ao ator suas falas, quando
o qual firma o compromisso apenas
necessário), mas ele recusa-se.
para salvar a família da falência.
Fecham-se as cortinas; ouvem-se
disparos de canhão e um grito de
Neste ato, as relações entre as
mulher. Quando as cortinas
personagens são demonstradas:
reabrem, Abelardo I está agonizando
Abelardo I enriquece a custa da
sobre uma cadeira e Heloísa,
pobreza dos outros; Abelardo II
deitada sobre uma maca.
deseja tomar o lugar do sócio; os
clientes são desesperados e
Abelardo II entra em cena, agora
considerados como animais.
com exageradas roupas de ladrão.
Ele se apropria da posição de
Segundo ato
herdeiro dos negócios de agiotagem
e também da noiva de Abelardo I.
Tem como cenário uma ilha tropical
Abelardo II tenta presenteá-lo com o
na Baía de Guanabara, presente de
socialismo, mas Abelardo I recusa,
Abelardo I à noiva, e apresenta um
chutando um rádio que toca a
clima de grande liberdade sexual.
música da Internacional Comunista.
Heloísa desenvolve intimidades
sexuais com Mr. Jones, um
Antes de morrer, Abelardo I delira e
americano com quem seu noivo faz
ouve sinos. Ele ordena que a jaula
negócios e que desperta interesse
seja aberta e os devedores fogem,
em Totó Fruta-do-Conde, irmão
celebrando a vitória da revolução. O
homossexual de Heloísa. Abelardo I
suicida pede uma vela e, ao recebê-
passa uma noite de amor com a
la, morre.
sogra, Dona Cesariana, e arranja um
outro encontro sexual com a tia de
Heloísa lamenta a morte do ex-
Heloísa, Dona Poloca, uma virgem
noivo, porém, a um gesto de
de sessenta anos. Além disso, há a
Abelardo II, junta-se a ele. Toca a
presença de João dos Divãs, antes
Marcha Nupcial, convidados entram
conhecida como Joana, a irmã
e, completamente ignorando a
lésbica de Heloísa, e seu primo
presença do defunto Abelardo I,
Perdigoto, que consegue um
empréstimo com Abelardo I a fim de
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celebra-se o casamento de Abelardo


II e Heloísa de Lesbos.
Em o Rei da Vela, Oswald de
Andrade retrata a sociedade em que
vive, os intelectuais que se
A obra foi escrita após a crise de vendem ao poder, as alianças entre
1929, da Revolução de 30 e da o imperialismo e a burguesia
Revolução Constitucionalista de 32 nacional, a hipocrisia da família
manifestando o desgosto de Oswald reacionária brasileira, as relações da
passando por vários escritórios de igreja com o poder, etc. Mostrando
agiotagem para manter-se de forma cômica, satírica, e
financeiramente. Esse contato com farsesca a tradição rural do país, que
agiotas foi o motivo da designação em meio a uma nascente
de um deles como Rei da Vela, nome industrialização e modernização da
que deu origem a peça. Mas o texto, sociedade, continua arcaico e
além de trazer a experiência do retrógrado. A peça investe contra
escritor, fornece os recursos da uma burguesia que defende o pilar
estrutura socioeconômica do país. Tradição, família e propriedade,
responsável por sustentar a
Informações da crise financeira e a estrutura desta sociedade hipócrita,
necessidade de Oswald de Andrade mantendo seus mecanismos de
procurar os agiotas são dados poder funcionando como uma
importantes para a construção engrenagem.
estética e dramatúrgica do seu texto.
Os elementos em destaque na
cenografia, imaginados pelo autor,
são demonstrados em suas
anotações e, mais tarde, transferidos
para o texto. Sempre com posições radicais, em
seu teatro está presente uma
Apenas depois de 30 anos, o Rei da capacidade de experimentação nem
Vela foi levado para os palcos sempre compreendida pelos seus
paulistas introduzindo o movimento contemporâneos. O humor, a
tropicalista. Sua primeira autocrítica, o sarcasmo e a ironia
apresentação foi em 1968, causando foram elementos presentes em seu
grande impacto sobre o público que teatro, que caminhou na
se manifestou de diferentes formas, direção da fragmentação da
desde declarações que estrutura dramática convencional,
classificavam o espetáculo como tornando-o muitas vezes um autor
ridículo e pornográfico a opiniões incompreendido, por estar à frente
que viam nele uma crítica a de seu tempo
atualidade.

A iniciativa começou com o Grupo


Oficina sob direção de José Celso
A peça foi escrita em 1933 e
Martinez Correa. Sua passagem
publicada em 1937, só foi encenada
pelos palcos foi um símbolo na
30 anos após sua publicação.
história do teatro brasileiro.
Apenas foi encenada apenas em
1967 pelo grupo teatral Oficina, sob
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a direção de José Celso Martinez Média (A história das minhas


Corrêa, e causou uma verdadeira calamidades), e a peça O Rei da
revolução da arte dramática Vela faz uma paródia dessa história,
brasileira. Oswald não chegou a retirando esses personagens do
assistir à montagem de suas peças, contexto medieval e inserindo-os no
morreu em 1954. contexto brasileiro das décadas de
20 e 30.

Heloísa, por exemplo, é uma


personagem vulgar que se casará
com Abelardo 1 para manter o status
social, e se transforma em objeto
sexual para manter tanto o seu
1) Visão desmistificadora do Brasil.
status como o de sua família
(aristocrata rural) falida.
2) Paródia e uso constante da ironia
Com os personagens Heloísa de
3) Personagens caricaturais
Lesbos, Abelardo I e Mr. Jones,
Oswald de Andrade representa as
4) Em lugar do culto ao passado, o três forças que regem o país: a
gosto demolidor de todos os
aristocracia rural que se une à
valores, sobretudo os burgueses burguesia nacional, para melhor
servir ao capital estrangeiro. Assim,
5) Renega-se o tradicionalismo temos clara uma crítica à submissão
cênico, em busca de soluções do Brasil aos outros países.
cênicas metalinguísticas
Um caminho para entendermos o
6) Espírito iconoclasta: forte teor teatro de Oswald de Andrade é
satírico perceber a revelação da falsidade de
um discurso liberal, as relações
7) Carnavalização do Brasil marcadas pelo interesse capital e
colonizado e dependente do capital material, a competição pelo lucro, as
norte-americano: análise marxista falsas relações amorosas, a
distância entre a modernidade e o
atraso, a metáfora de um país
hipotecado ao imperialismo, o ócio
Já no nome dos personagens é brasileiro e a manutenção do poder,
possível perceber as inversões e o espaço da casa. O Rei da Vela
subversões. Os nomes de Heloísa passa do modernismo à
de Lesbos, Joana, conhecida como modernidade, a partir da ironia, da
João dos Divãs, e Totó Fruta-do- caricatura, do grotesco, da
conde suscitam uma inversão religiosidade, sexualidade, da
sexual, remetendo à paródia, da filosofia e do papel dos
homossexualidade. intelectuais. Portanto, essa peça
contrasta com o que se passa
Nessa obra, Oswald de Andrade através da sociedade brasileira.
estabelece claro diálogo intertextual
com a história de Abelardo e
Heloísa, casal histórico que vive um
romance trágico no final da Idade
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Duas filhas viciadas, dois filhos


tarados… Ficou morando na nossa
casinha da Penha e indo à missa
1) Escrita por Oswald de Andrade, a
pedir a Deus a solução que os
peça “O rei da vela” é uma crítica à
governos não deram…Abelardo I
sociedade e à política de um Brasil
Que não deram aos que não podem
que vivia a crise do café e as
viver sem empréstimos.
consequências do crack de 1929 da
Heloísa Meus pais… meus tios…
Bolsa de Nova York. Nela
meus primos…
observamos:
Abelardo I Os velhos senhores da
terra que tinham que dar lugar aos
a) Prepotente, Abelardo pisa em
novos senhores da terra!
quem pode, mas não sabe que é
Heloísa No entanto, todos dizem que
apenas “um feitor do capital
acabou a época dos senhores e dos
estrangeiro
latifúndios…
b) A peça conta a história de um
agiota inescrupuloso, Abelardo I, o
Abelardo I Você sabe que o meu
Rei da Vela. Com negócios
caso prova o contrário. Ainda não
diversificados, sua especialidade
tenho o número de fazendas que seu
são empréstimos. Aproveitando-se
pai tinha, mas já possuo uma área
da crise econômica que flagela o
cultivada maior que a que ele teve no
país, Abelardo empresta dinheiro e
apogeu.
cobra juros baixos.
Heloísa Há dez anos… A saca de
café a duzentos mil-réis!
c) A forma pela qual o sistema de
agiotagem não permite o ANDRADE, Oswald. O Rei da Vela (1933). São Paulo,
enriquecimento de alguns em Editora Globo, 2003.
detrimento dos muitos que se tornam
dependentes. Lembrando que o texto dramático,
ou texto teatral, não possui um
narrador, podemos afirmar que
d) A história de um agiota
inescrupuloso, Abelardo I, o Rei da a) as falas são distribuídas pelo
Vela. Com negócios diversificados, diretor teatral que diz quem está
sua especialidade são empréstimos. falando na peça de teatro, conferindo
Aproveitando-se da crise econômica maior controle do que é dito.
que flagela o país, Abelardo
empresta dinheiro e cobra juros b) as falas estão em discurso direto
escorchantes. e sem nenhuma intervenção na peça
de teatro, pois não há quem narre ou
2) Leia o trecho da peça de teatro a controle a fala a não ser o autor.
seguir
O rei da vela - Oswald de Andrade c) as falas são distribuídas pelos
personagens no texto dramático,
uma vez que há autonomia para
Heloísa (Sonhando) Meu pai era o improvisar e dizer livremente o que
Coronel Belarmino que tinha sete se quer.
fazendas, aquela casa suntuosa de
Higienópolis… ações, automóveis…
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d) as falas estão em discurso indireto d) nacionalista, ao negar modelos


e com breves interferências de um estrangeiros.
narrador onisciente, conferindo
assim maior neutralidade a este tipo e) eclética, ao aceitar diversos
de texto. estilos poéticos.

3) ENEM 2019
1) Alternativa D
HELOÍSA: Faz versos?
A famosa peça “O rei da vela” pode
ser compreendida como uma crítica
PINOTE: Sendo preciso…
à sociedade e à política de um Brasil
Quadrinhas… Acrósticos…
que vivia em uma profunda crise. Isto
Sonetos… Reclames.
ocorre durante a crise do ciclo
cafeeiro, sendo que o preço vinha
HELOÍSA: Futuristas?
decaindo no mercado internacional.
PINOTE: Não senhora! Eu já fui
A peça conta a história de um agiota
futurista. Cheguei a acreditar na
inescrupuloso, Abelardo I, o Rei da
independência… Mas foi uma
Vela. A sua grande especialidade
tragédia! Começaram a me tratar de
eram os empréstimos. Ele
maluco. A me olhar de esguelha. A
aproveitava-se da crise econômica
não me receber mais. As crianças
que flagela o país,
choravam em casa. Tenho três
filhos. No jornal também não
2) Alternativa B
pagavam, devido à crise. Precisei
viver de bicos. Ah! Reneguei tudo.
Nos textos teatrais, há a existência
Arranjei aquele instrumento (Mostra
de personagens e um enredo, assim
a faca) e fiquei passadista.
como o clímax e a conclusão da
história.
ANDRADE, O. O rei da vela. São
Paulo: Globo, 2003.
Entretanto, a história é contada
pelos próprios personagens,
O fragmento da peça teatral de
através de suas falas por meio de
Oswald de Andrade ironiza a reação
discurso direto. Isso é algo
da sociedade brasileira dos anos
característico desse gênero textual,
1930 diante de determinada
eles são representados e não
vanguarda europeia. Nessa visão,
contados por narradores.
atribui-se ao público leitor uma
postura
Nos textos dramáticos, a sua
representação é por meio de poesias
a) preconceituosa, ao evitar formas
ou prosas. Estes textos são divididos
poéticas simplificadas.
por "atos", que identificam os
"capítulos" e as mudanças de
b) conservadora, ao optar por
cenários da história envolvida.
modelos consagrados.

c) preciosista, ao preferir modelos


literários eruditos.
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3) Alternativa B

Ao analisar o exposto no enunciado


O autor: todamateria.com
da questão, é possível perceber
A obra e contexto histórico:
que o público leitor não aceitou de
resumoescolar.com.br
bom grado a inovação poética do
Proposta, resumo e elementos
modernismo, denominada de
temáticos: ANPUH – XXII
vanguarda futurista.
SIMPÓSIO NACIONAL DE
HISTÓRIA
Tal visão do tipo conservadora
Enredo e análise final:
resultou no fato da poeta Pinote
wikipedia.com
abandonar a inovação estética e
Curiosidade: Blog bons livros para
com isso retomar as formas mais
ler
usuais e conhecidas, que pode ser
Questões discursivas: Instituto
exemplificada em: “Quadrinhos”...
Federal De Educação Ciência e
Acrósticos... Sonetos... Reclames”.
Tecnologia Ifma
Características do modernismo
presente na peça:
literatura2pontos.blogspot.com
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seca e também pelas crenças,


lendas e religiosidades próprias da
mestiçagem cultural e da
ancestralidade africana. “Meu pai
havia nascido quase trinta anos após
declararem os negros escravos
livres, mas ainda cativo dos
Itamar Vieira Junior descendentes dos senhores de seus
avós

Essa é uma história sobre duas


irmãs Bibiana e Belonísia que se
tornam extremamente próximas
após um acidente que mutila a língua
de uma delas. Isso vai para sempre
determinar o destino delas, pois uma
passa a ser a voz da outra.

O acidente é muito importante


Nasceu em Salvador, em 1979. Na
durante toda a história. Ele acontece
adolescência, residiu no estado de
porque vive junto com as meninas a
Pernambuco, e mais tarde na cidade avó delas chamada Donana que está
de São Luís. Começou os estudos
sempre com sua mala pronta para
de geografia na graduação na deixar a fazenda Água Negra e voltar
Universidade Federal da Bahia
à sua terra de origem. A curiosidade
(UFBA), sendo o primeiro aluno que elas possuem por saber o que
receptor da Bolsa Milton Santos,
tem na mala é um dos pontos
dedicada para jovens negros de centrais do livro. Nessa mala elas
baixa renda. Formou-se em
irão encontrar uma faca envolta em
geografia e concluiu mestrado. É uma pano ensanguentado a ao
doutor em estudos étnicos e
brincar com o objeto acabam se
africanos pela Universidade Federal mutilando.
da Bahia com estudo sobre a
formação de comunidades
Elas crescem num contexto de
quilombolas no interior do Nordeste.
trabalhadores descendentes de
escravos em uma fazenda no Sertão
da Bahia que continuam vivendo em
um regime próximo à servidão entre
A história do romance tem como as décadas de 70-80 no Brasil (mais
centro a família de Zeca Chapéu e abaixo vamos demonstrar a fundo
Salustiana, e suas filhas Bibiana e como é possível determinar a época
Belonísia, descendentes de em que se passa a história narrada
escravizados. O cenário da obra é a no livro).
fictícia Fazenda Água Negra, um
local que representa a síntese do Em um resumo do livro Torto Arado,
sertão brasileiro e suas relações o que se vê ali é um regime quase
sociais, o latifúndio e o trabalho que de servidão, no qual os donos da
servil, marcados pela violência, a terra permitem que esses
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trabalhadores ali residam, mas só algum lugar da Chapada da


enquanto trabalharem e fornecerem Diamantina, no sertão baiano. Os
parte das suas colheitas e sem principais fatos que corroboram essa
erguer casas de tijolos, pois eles conclusão é a citação frequente das
poderiam representar que estavam festas de Jarê (uma religião de
ali para ficar. matriz africana praticadas com
exclusividade na Chapada) e a
Com o passar dos anos, a percepção menção de que os primeiros
que cada uma tem daquele regime moradores chegaram ali atrás de
muda e isso acaba por afastar as diamantes.
irmãs. Uma delas vai embora da
fazenda com o intuito de libertação e
para lutar por condições melhores.
Ela faz isso junto com o primo
O livro possui 3 narradoras –
Severo, uma espécie de líder
Bibiana, Belonísia e Santa Rita
popular que começa a desafiar o
Pescadeira.
regime em que vivem e a ter em seus
ideais a busca pelos direitos que são
O primeiro capítulo do livro Torto
negados àquele povo.
Arado se chama Fio de Corte, com
foco principal no acidente com a
A outra irmã, no entanto, também
faca, e irá narrar a história das
percebe aquele sistema injusto,
famílias sobre o ponto de vista de
porém fica para lutar ali mesmo por
Bibiana.
aquilo que considera o seu lar.
O segundo capítulo do livro se
Junte-se a isso a figura de seu pai,
chama Torto Arado, homônimo ao
Zeca Chapéu Grande, uma espécie
livro, e conta a história pelo ponto de
de líder místico entre os
vista de Belonísia, com foco em sua
trabalhadores da fazenda, e da sua
relação com Tobias. Nessa parte
mãe, a parteira local. Assim, temos
também são demonstrados alguns
uma trama inesquecível, com
abusos físicos e psicológicos que as
protagonistas mulheres muito fortes.
mulheres sofrem ali naquela
A mensagem por trás da história é
localidade.
um tapa na cara sobre problemas
que ainda hoje persistem em nosso
O terceiro e último capítulo de Torto
país.
Arado se chama Rio de Sangue e é
narrado por uma entidade encantada
E mais, prepare-se para chorar, pois
chamada Santa Rita Pescadeira.
Torto Arado é um romance
Nessa parte teremos alguns insights
comovente que conta uma história
da vida de Donana, Zeca Chapéu
de vida e morte, combate e
Grande, Severo, além de sermos
redenção, de personagens que
apresentados à conclusão do
atravessaram o tempo sem nunca
conflito de terra que vai se
conseguirem sair do anonimato.
desenhando desde o início do livro e
entenderemos finalmente o motivo
da faca estar guardada envolta por
um pano cheio de sangue na mala
O autor dá todas as pistas de Donana.
necessárias para compreendermos
que os eventos acontecem em
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Só será possível compreender o


título Torto Arado e seu significado
na metade do capítulo 2 da obra –
narrado por Belonísia.

Como ela foi mutilada pela faca, ela


perdeu parte da capacidade de fala
e as pessoas passam a não
compreender mais o que sai de sua
boca. Tentando fugir da ideia de mulher
dominada, em Torto arado
Inconformada, ela decide que irá encontramos, na Fazenda fictícia
treinar uma palavra para começar a Água Negra, personagens femininas
recuperar a fala, e uma das que ela que não aceitam imposições sociais
mais gosta é a palavra “Arado”, e não são passivas diante dos
mostrando a sua relação forte com a acontecimentos da vida. Donana, a
terra. avó de Bibiana e Belonísia, marcada
pela perda de dois maridos, chegou
Mas, mesmo após treinar várias a assassinar o terceiro companheiro
vezes a palavra Arado, a por este ter violentado sexualmente
protagonista não consegue sua filha Carmelita. O crime foi
pronunciar corretamente, e a palavra cometido com a faca que havia
sai “torta”, ininteligível, de sua boca. roubado na Fazenda Caxangá, a
Assim, Torto Arado. mesma que Bibiana e Belonísia
encontraram quando crianças e que
Importante: Não é à toa que a causou a mudez da segunda. A faca
protagonista que não consegue falar causou desgraça, mas também era
em Torto Arado seja a mesma que uma espécie de amuleto para
passa por abusos psicológicos e vê Donana e, posteriormente, para as
outras mulheres sofrendo abusos netas.
físicos na fazenda. Isso é uma
metáfora clara das mulheres que não A faca torna-se, assim, um objeto
são ouvidas, que são ignoradas e que representa a força daquelas
que não podem lutar contra esses mulheres. Para Donana, foi usado
abusos. como arma contra um criminoso;
para Belonísia, foi uma arma
também, que apesar de ter
provocado a perda de sua fala,
contribuiu para que ela se tornasse
uma mulher forte, não é à toa o
fascínio que ela sente ao ver a faca.

No romance, representa-se a vida


das mulheres do campo, que não era
nada fácil e, devido à jornada árdua,
essas mulheres carregavam consigo
semblantes cansados e
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envelhecidos, consequência da outras questões ligadas à terra, à


rotina que levavam: “Todas nós, luta pela terra, me ajudou a ter um
mulheres do campo, éramos um olhar diferenciado sobre o assunto",
tanto maltratadas pelo sol e pela afirma.
seca. Pelo trabalho árduo, pelas
necessidades que passávamos, DW Brasil: O livro apresenta
pelas crianças que paríamos muito famílias que vivem em condições
cedo, umas atrás das outras, que de trabalho que, de certa forma,
murchavam nossos peitos e perpetuam um regime semi
alargavam nossas ancas” (VIEIRA escravagista nos confins rurais
JR, 2020, p. 246). brasileiros. Como foi o mergulho
nessa realidade? Durante sua
Além do trabalho duro na roça, a vida escrita, quanto havia
doméstica e as várias gestações, as de preocupação em fazer ressoar
mulheres ainda tinham que suportar, este universo como um problema
muitas vezes, um marido violento, social, muito além da literatura?
como era o caso de Maria Cabocla,
agredida constantemente pelo As relações de servidão ainda são
marido Aparecido que, por sua vez, muito presentes no campo brasileiro,
culpava a bebida por seu o resgate de trabalhadores em
comportamento agressivo. O caso condição de escravidão ainda é uma
de Maria Cabocla não é isolado. constante em nosso cotidiano. Isso
Sabe-se que a violência contra a remonta ao nosso passado
mulher ocorre devido ao sistema escravagista mal resolvido, que nos
patriarcal, em que a mulher é legou um racismo estrutural e
desrespeitada nas mais diversas relações de trabalho muito precárias,
instâncias e tratada como objeto do principalmente onde o Estado está
homem. ausente, a Justiça está ausente — e
aí eu falo do campo brasileiro. O meu
contato com essa realidade veio da
minha atividade como servidor
público, atuando com trabalhadores
Leia um trecho da entrevista com
rurais há quase 15 anos. [Nesse
o autor Itamar Vieira Junior, para
período] eu pude encontrar
melhor compreensão da obra.
trabalhadores em situação precária
e tudo isso me marcou
"As relações de servidão ainda são
profundamente.
muito presentes no campo brasileiro
[...] Isso remonta ao nosso passado
No fundo, no fundo, eu queria contar
escravagista mal resolvido, que nos
a história das personagens
legou um racismo estrutural e
[protagonistas do livro], mas essa
relações de trabalho muito precárias,
história não poderia estar
principalmente onde o Estado está
desconectada de um contexto do
ausente, a Justiça está ausente — e
mundo em que vivemos. Se elas
aí eu falo do campo brasileiro", diz
estavam ali, no sertão da Bahia, se
Vieira em entrevista à DW Brasil.
viviam numa fazenda onde seu
trabalho era explorado,
"O fato de meu trabalho ser inevitavelmente essa história iria ser
diretamente ligado às pessoas que contada como tal. É difícil escrever
estão engajadas nesta luta, pela um romance desconectado do nosso
redução da desigualdade e tantas
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mundo. Então essas personagens Tivemos dois planos de reforma


estão conectadas ao mundo que nos agrária, um na década de 80, outro
cerca, e esse mundo ainda é um no começo dos anos 2000. Esses
mundo de contrastes, onde pessoas planos foram postos em prática mas
têm seu trabalho explorado. abandonados depois por alguns
governantes.
Quando faço ficção, tudo o que me
atravessa na vida de alguma forma A violência no campo é uma
se reflete na minha escrita. […] O constante, a todo momento. E está
fato de trabalhar como servidor, relacionada à destruição de biomas,
entre trabalhadores rurais, para mim como a Amazônia e o Pantanal,
de alguma forma é privilégio, porque pelos grandes latifundiários que
permitiu que eu conhecesse meu produzem commodities. A questão
país, meu Brasil, suas relações da terra, do direito à terra, passa por
sociais, sua história mal resolvida. muitas outras questões, como a
De uma maneira mais profunda. […] ambiental e a da redução das
Tudo o que eu aprendi na vida se desigualdades. Questões que nos
reflete naquilo que eu escrevo. afetam enquanto país e se tornam
Somos o que escrevemos. propulsoras das nossas imensas
desigualdades.
Torto Arado é também sobre a
relação do homem com a terra.
Por trabalhar no Incra, essa
questão acaba lhe sendo mais
Sobre o livro "Torto Arado",
pungente? Acredita que o acesso
responda as perguntas:
à terra no Brasil piorou nos
últimos anos?
1) Comente como o personagem
Severo pode ser classificado como o
A questão da terra é uma questão
antagonista da relação entre Bibiana
universal que atravessa todos os
e Belonísia na parte I do livro.
povos, de muitas origens, e a terra
aqui é algo mais, que pode ser
também metafórico. Afinal de
contas, o chão de nossa casa, o solo
que pisamos, é a terra onde
estamos. O acesso à terra é um dos
direitos mais elementares do ser
humano, […] algo com que todos
precisam lidar em algum momento.
O fato de meu trabalho ser
diretamente ligado às pessoas que
estão engajadas nesta luta, pela
redução da desigualdade e tantas 2) Explique como Donana reage ao
outras questões ligadas à terra, à acidente das netas e qual a
luta pela terra, me ajudou a ter um consequência futura para a
olhar diferenciado sobre o assunto. personagem.
Acredito, sim, que o acesso à terra
piorou no Brasil nos últimos anos.
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3) Exponha por qual motivo o símbolo da falta de voz daquele


argumento levantado por Severo povo. A de Bibiana não é
para justificar a sua fuga da fazenda complementar, é uma outra visão de
Água Negra faz sentido com o que é mundo, que era necessária.
apresentado na obra.
4.A obra, então, conta com o
suspense, pois o leitor só descobre
qual das irmãs perdeu a língua
depois de ler boa parte do livro. Além
disso, a literatura de Vierra retrata as
desigualdades do Brasil e a luta
pelos direitos da população
4) Belonísia é a figura presa à terra. sertaneja.
Justifique essa afirmativa.
5. Ele faz um resumo do sertão
brasileiro e suas relações sociais, o
latifúndio e o trabalho servil, e
escravo é marcado pela violência,
pela a seca e também pelas
crendices populares, lendas e
religiosidades fala da mestiçagem
5) Quais os aspectos sociais cultural e da nossa ancestralidade
abordados na obra Torto Arado? cite africana.
trechos da obra.

Sobre a obra:
saobernardo.sp.gov.br
Narradoras, significado do título,
1. A obra Torto Arado conta a história tempo, espaço e resumo:
de luta e resistência de Bibiana e Osmelhoreslivros.com.br
Belonísia, duas irmãs que criaram Resistência da mulher negra:
uma conexão para além do verbo, artigo da revista UNOESTE, escrito
após um acidente traumático ao por Joelma de Araújo Silva,
encontrar, nas coisas de sua avó, Resende, Margareth Torres de
uma faca afiada Alencar Costa e Maria Helena de
Oliveira
2. O sertão baiano, as relações de Entrevista: www.dw.com.br
trabalho semiescravagistas, a
discriminação racial e a questão da
terra — temas inerentes à vida, aos
estudos e ao trabalho de Vieira
Junior — são pano de fundo para a
trama de Torto Arado.

3. A história de Belonísia vem


primeiro, como perdeu a língua
numa brincadeira de criança curiosa,
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anônimo do Brasil colonial resolveu


traduzir o texto em nossa língua,
após obter o manuscrito de certo
cavalheiro que por aqui aportou,
vindo da América espanhola.

Tomás Antônio Gonzaga Pelo menos é o que diz o incógnito


tradutor no "Prólogo" e na
"Dedicatória" das Cartas chilenas,
oferecidas aos governantes
portugueses "para emenda dos
mais, que seguem tão vergonhosas
pisadas".

Mas a própria sátira se encarrega de


desfazer o irônico disfarce.
Simulando falar sobre outro lugar,
ela é uma voz da sociedade das
Minas Gerais do final do século
XVIII. Voz cintilante que, longe de
ser um mero retrato daquele
passado, nos diz muito de como
esse passado enxergava a si
mesmo.
Gonzaga nasceu no dia 11 de agosto
de 1744 em Miragaia, no distrito do
Porto, Portugal. Foi um dos
importantes escritores do movimento
árcade no Brasil. Ele é patrono da
Composta de 13 cartas, as Cartas
cadeira 37 da Academia Brasileira
Chilenas foram escritas por Tomás
de Letras (ABL). Além de poeta, ele
Antônio Gonzaga, através do
foi ativista político, advogado, juiz e
pseudônimo Critilo.
participou da Inconfidência Mineira,
em Minas Gerais.
Ele escreve para seu amigo Doroteu,
que na realidade é o escritor árcade
Cláudio Manuel da Costa.

Esta é a história de Fanfarrão A obra é composta de versos


Minésio, governador da capitania do decassílabos (dez silabas poéticas)
Chile, narrada por um certo Critilo, e brancos (sem rimas). A linguagem
que da então colônia escreve ao utilizada é satírica, irônica e, por
amigo Doroteu, residente na vezes, agressiva.
Espanha. São treze "cartas" em
versos que trazem personagens e
fatos de um governo que deve nos
causar repugnância por sua
corrupção e crueldade. Gonzaga finge escrever do Chile,
Foi justamente pelos efeitos do anti- contando a um amigo os abusos do
exemplo de Minésio que um governo, na cidade de Santiago. Mas
percebe-se pelas circunstâncias
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relatadas que o país não é Chile,


mas retrata Minas Gerais; que a
cidade não é Santiago, mas Vila Rica
e que o amigo é Cláudio Manuel da
Costa, cujo pseudônimo é Doroteu e A 4ª Carta faz referência a maldição de
que os abusos estavam Doroteu pelo vício do poeta e faz alusão
acontecendo no governo de Cunha a fartura de alimentos tais como frutas,
Meneses. massas, sopa, doces finos e vinho,
entretanto faz questão de deixa todas
As Cartas Chilenas contam as essas delícias para escrever alguns
injustiças e violências que Cunha poemas, retorna a falar das cadeias, faz
Meneses “Fanfarrão” executou em comentários paradoxal pobre x rico,
seu governo, de caráter faraônico, comenta sobre o soldo que era pequeno e
esse caráter faraônico retrata uma agora empresta dinheiro, faz alusão aos
obra grandiosa em objetivos e trastes, ricos, presos, fracos e fortes que
despesas que são executadas para não são conhecedores de descanso e que
servir como marco de uma são atormentados pelos chefes, que
administração política busca uma nação digna valorizada
engrandecendo quem as pelos grandes-heróis. Mas uma vez
empreendeu. Essas Cartas vem ressaltar a diferença entre ricos
circularam em Vila Rica pouco antes e pobres, a insensatez de um
da Inconfidência Mineira, em 1789. comandante que pode se tornar
Nelas podemos encontrar a sátira do néscio. 95 – Dos poderes que tem
poeta quando este num tom mordaz prezado amigo, / Quem ama a sã
ou até mesmo agressivo, alude à verdade busca meios / De a poder
mediocridade administrativa, no descobrir e o nosso chefe / Despreza
caso específico do governo de Minas os meios de poder achá-la. / 190 –
Gerais e fazendo um paralelo Tu podes… mas, amigo, não
podemos observar que enquanto no gostamos / Todo o tempo em contar
Brasil esse episódio acontecia sentidas coisas, / Façamos menos
próximo dos acontecimentos que triste a nossa história; /Misturemos
deslancharam a Inconfidência, a os casos, que magoam, / Com
Europa, mas especificamente a sucessos, que sejam menos fortes.
França, vivia a Revolução Francesa.
Nesta obra encontramos: um
prólogo, uma dedicatória, treze 1ª Carta: Em que se descreve a entrada
cartas e uma e epístola a Critilo. que fez Fanfarrão em Chile.

O prólogo é uma conversa com o Ah! pobre Chile, que desgraça esperas!
leitor onde o autor explica do que se Quanto melhor te fora se sentisses
trata a obra, neste caso, ele diz que As pragas, que no Egito se choraram,
encontrou um cavalheiro instruído Do que veres que sobe ao teu governo
nas letras e que trazia com ele uns Carrancudo casquilho, a quem rodeiam
manuscritos onde eram relatadas Os néscios, os marotos e os peraltas!
todas as desordens no governo de
Fanfarrão Minésio, general do Chile,
então ele traduz esse manuscrito e
confessa que mudou algumas coisas
para melhor entendimento.
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2ª Carta: Em que se mostra a piedade 6ª Carta: Em que se conta o resto dos


que Fanfarrão fingiu no princípio do seu festejos.
governo para chamar a si todos os
negócios. Meu esperto boizinho, em paz te fica,
Que o nosso chefe ordena te recolham
As rédeas manejou, do seu governo, Sem fazeres mais sorte, e te reserva
Fingir-nos intentou que tinha uma alma Para ao curro saíres, quando forem
Amante da virtude. Assim foi Nero. Do Senhor do Bonfim as grandes festas.
Governou aos romanos pelas regras Agora sai um touro, que é prudente.
Da formosa justiça, porém logo Se o capinha o procura, logo foge.
Trocou o cetro de ouro em mão de
ferro. 7ª Carta: Sobre as decisões arbitrárias
de Fanfarrão.
3ª e 4ª Cartas: Em que se contam as
injustiças e violências que Fanfarrão Enquanto ao conhecer destes despejos,
executou por causa de uma cadeia, a Pespega à lei a boa inteligência,
que deu princípio. Que extensiva se chama. Sim, entende
Que aonde o rei ordena que só haja
Por uma civil morte se reputa. Recurso a ele mesmo, nos faculta
Que peito, Doroteu, que duro peito Recurso aos generais, pois que estes
Não que deve ter um chefe, que fazem,
atormenta Em tudo, e mais que em tudo, as suas
A tantos inocentes por capricho? vezes.
Que se arrisque o vassalo na campanha, Ah! dize, meu amigo, se podia
É uma digna ação que a pátria exige, Dar-lhe outra inteligência o mesmo
Nem este grande risco nos estraga Acúrsio.
O pundonor, que vale mais que a vida;
8ª Carta: Em que se trata da venda dos
5ª Carta: Em que se contam as despachos e contratos.
desordens feitas nas festas que se
celebraram nos desposórios do nosso Cada triênio, pois, os nossos chefes
sereníssimo infante, com a sereníssima Levantam duas quintas ou beldades,
infanta de Portugal. E, quando o lavrador da terra inculta
Despende o seu dinheiro, no princípio,
Fazendo levantar, de paus robustos,
Os grandes desconcertos, que executam
As casas de vivenda e, junto delas,
Os homens que governam, só motivam,
Em volta de um terreiro, as vis senzalas,
Na pessoa composta, horror e tédio.
Os nossos generais, pelo contrário,
Quem pode, Doroteu, zombar, contente,
Quando estas quintas fazem, logo
Do César dos romanos, que gastava
embolsam
As horas, em caçar imundas moscas?
Apenas isto lemos, o discurso Uma grande porção de louras barras.
Se aflige, na certeza de que um César,
De espíritos tão baixos, não podia 9ª Carta: Em que se contam as
Obrar um fato bom, no seu governo. desordens que Fanfarrão obrou no
governo das tropas.

Os corpos que governam, em sossego,


Consiste em repartirem com mão reta
Os prêmios e os castigos, pois que
poucos
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Os delitos evitam, porque prezam Passou, sobre Marquésio, certa letra.


A cândida virtude. Os mais dos homens Para que se pagasse ao Santo Cristo.
Aos vícios fogem, porque as penas Agora considera se este fato
temem. Não mostra que ele zela a consciência
Ora ouve, Doroteu, o como o chefe
Os castigos reparte aos seus guerreiros. 13ª Carta: Existe apenas um curto
Não há, não há distúrbio nesta terra, fragmento.
De que mão militar não seja autora.
A nação, ignorante, se convence
10ª Carta: Em que se contam as De que este seu profeta conhecia
desordens maiores que Fanfarrão fez no Os segredos do céu, por este meio.
seu governo. Não há, meu Doroteu, não há um chefe,
Bem que perverso seja, que não finja,
Eis aqui, Doroteu, o que nos nega Pela religião, um justo zelo,
Uma heróica virtude. Um louco chefe E, quando não o faça por virtude,
O poder exercita do monarca Sempre, ao menos, o mostra por
E os súditos não devem nem fugir-lhe sistema.
Nem tirar-lhe da mão a injusta espada.
Mas, caro Doroteu, um chefe destes
Só vem para castigo de pecados.
Os deuses não carecem de mandarem
Flagelos esquisitos; quasi sempre
Os movimentos “nativistas”, a
Nos punem com as coisas ordinárias.
Inconfidência Mineira, seus
O mundo inda não viu senão um corpo
integrantes, em especial Tiradentes,
Em branco sal mudado, e só no Egito
foram redescobertos pela República
Fez novas penas de Moisés a vara.
para estabelecer uma conexão entre
a “velha ordem”- o período colonial –
11ª Carta: Em que se contam as e o “novo regime” – aquele que
brejeirices de Fanfarrão. iniciava formando uma nova
identidade nacional que visava opor-
Uma mui grande parte destes chefes se ao que lhe era exterior, neste
Assenta em procurar seu interesse caso a tradição lusitana.
Por todos os caminhos, e acredita
Que o brio e pundonor, que nós Assim, as revoltas, motins, as Cartas
prezamos, Chilenas, as revoltas do final do
São umas vãs fantasmas, que só devem período setecentista, foram
Honrar de simples voz aqueles homens, ressaltadas pelos historiadores
Que vêm de uma distinta e velha raca. republicanos tendo como propósito
Para estes a nobreza está nos termos cunhar uma nacionalidade própria
Do sórdido monturo em que se deita ao novo regime político. Contudo
Quanta imundície têm as velhas casas. temos que ressaltar que as revoltas
tidas como “nativistas” não foram
12ª Carta: Imoralidade e atos evidenciadas como preconizadoras
prepotentes de Fanfarrão em prol de de um sentimento de brasilidade,
seus protegidos. pois se buscava o patriotismo sem
construir uma oposição a Europa e
Não penses, Doroteu, que o nosso chefe ao Estado que se consolidava.
Comeu este dinheiro. Longe, longe (GUIMARÃES, 1988, p.5-7)
De nós este tão baixo pensamento.
Indo já no caminho, o seu Matúsio
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Movimento eminentemente poético, “acordar” para a realidade dos fatos


de repúdio às demasias perpetradas de sua cidade, mas todos os leitores
pelo Barroco, arregimentou pela dessas cartas, vítimas de um
primeira vez em nossa história governo violento e arbitrário.
literária um grupo de escritores mais
ou menos coeso em seus desígnios O recurso da ironia ganha ainda
e com um relativo sentido mais força na oitava carta, ao
corporativo: Tomás Antônio denunciar as arbitrariedades nas
Gonzaga, Cláudio Manuel da Costa, cobranças, muitas vezes indevidas,
Silva Alvarenga, Alvarenga Peixoto, e o desrespeito não só às leis, como
Basílio da Gama, Frei José de Santa à dignidade do ser humano.
Rita Durão.

Assim, nesse período em que a


Europa vivia a Revolução Francesa,
o Brasil também se agitava com os
movimentos nativistas, como a
própria história conta as Minas
Emotiva: o emissor transmite suas
Gerais era uma verdadeira “mina”
opiniões e impressões sobre as
para a Coroa Portuguesa e o povo
diversas condutas de Fanfarrão.
precisa ter vós, portanto, ninguém
melhor que os homens letrados para
despertar o sentimento nacional, Conativa ou apelativa: centrada em
Doroteu, aparece nos inúmeros
pois só a Literatura consegue
usando a sua matéria-prima dizer o vocativos presentes no texto e nos
vários imperativos com que o
que muitos já podem ter dito, de um
jeito tão próprio que encanta aquele emissor se dirige ao receptor para
persuadi-lo da verdade dos fatos que
que percebe a maneira tão peculiar
de usar a palavra. narra.

Importante: Entretanto, não se nota Referencial: centrada em Fanfarrão


nas Cartas nenhuma rebeldia contra Minésio, pretende informar ao
os alicerces do sistema colonial, nem receptor suas ações e condutas.
mesmo uma revolta contra o
colonizador; apenas se critica a má Poética: presente nas escolhas
administração do governador Cunha feitas pelo poeta – uso do poema,
Menezes. Seu significado político, com métrica regular (decassílabo),
todavia, permanece. Literariamente, linguagem figurada e sem rimas.
é a obra satírica mais importante do
século XVIII brasileiro e continua Dentre as várias funções de um texto
sendo o índice de uma época. literário, destaca-se em Cartas
chilenas a intenção de denunciar a
realidade, levar à reflexão e formar
identidades. Provocar catarse é o
que pretende também o escritor das
mesmas pois, através do riso e do
O chamado dirigido a Doroteu horror, pretende mudar o
transforma-se em um discurso comportamento das pessoas.
enfático do autor para o leitor. Não é
apenas Doroteu quem deve
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( ) Tendo Tomás Antônio Gonzaga


sido preso como inconfidente,
continuou a escrever poemas mais
Como poema representante do
emotivos e pessimistas, passando a
Arcadismo, nota-se nele a presença
falar de si mesmo e lastimando sua
de citações clássicas (deuses,
condição de prisioneiro. A poesia
poetas, governantes), o verso
que produz nesse período é a que
decassílabo e o predomínio da
mais contém características do
razão.
Romantismo.

2) Sobre a obra Cartas Chilenas é


correto afirmar:
1) Upe-ssa 2016 Sobre a produção
do Arcadismo no Brasil, analise as a) Foi escrita por Cláudio Manoel da
afirmativas a seguir e coloque V nas Costa.
verdadeiras e F nas falsas.
b) Há uma sátira contra a
( ) Tomás Antônio Gonzaga é administração de Luís da Cunha
considerado, ao lado de Cláudio Menezes, conhecido por Fanfarrão
Manuel da Costa, ícone da Minésio.
Literatura Árcade. Contudo, os dois
iniciaram suas produções poéticas c) É composta de 12 cartas, que
de modo diverso: o primeiro como foram escritas por Tomás Antônio
poeta árcade e o segundo ainda Gonzaga, através do pseudônimo de
dentro dos preceitos do Barroco. “Doroteu”.

( ) Tomás Antônio Gonzaga tem a d) Para maior disfarce, o autor de


obra poética pertencente a duas Cartas Chilenas faz passar a ação
fases: a primeira é árcade, e a na cidade do Rio de Janeiro.
segunda tem traços românticos.
Além disso, foi poeta satírico em As e) Critilo é o receptor das cartas, e
Cartas Chilenas, e lírico, em Marília Doroteu o emissor. A obra aponta
de Dirceu. temas que não estavam evidentes
no período da Inconfidência Mineira.
( ) Como poeta árcade, o autor de
As Cartas Chilenas utiliza o
pseudônimo de Dirceu, que 3) O que ocorre, verdadeiramente,
nutre amor pela musa Marília. no prólogo de Cartas Chilenas?
Envolvido com o movimento dos
inconfidentes, é degredado para a
África, apenas regressando ao Brasil
no final da vida.

( ) O autor de Liras de Dirceu revela 4) Quais os pseudônimos usados


sentimentalismo e emotividade em nas cartas?
seus poemas, apontando, assim,
para o pré-romantismo, que
antecede o Arcadismo.
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Meneses, que governou Minas


5) Trace um perfil de Luís da Cunha Gerais de 1783 a 1788.
Meneses, de seu despotismo e das
condições em que mantinha seus Leia o trecho a seguir com
prisioneiros. atenção.[...]

Às vezes, Doroteu, se perde a conta


Dos cem açoites, que no meio
estava:
Mas outra nova conta se começa.
Os pobres miseráveis já nem gritam.
6) FUVEST As chamadas Cartas Cansados de gritar, apenas soltam
Chilenas são obra anônima porque: Alguns fracos suspiros, que
enternecem.
a)os originais, assinados pelo autor, [...]
perderam-se em um terremoto do Pois és, prezado Amigo, muito fraco;
Chile. Aprende a ter o valor do nosso
Chefe,
b) a ditadura que dominou o Brasil, Que à janela se pôs, e a tudo assiste.
entre 1937 e 1945, tornava perigosa Sem voltar o semblante para a
a divulgação do nome de seu autor. ilharga;
E pode ser. Amigo, que não tenha
c) seu conteúdo pornográfico, pouco Esforço para ver correr o sangue,
condizente com a moral da época, Que em defesa do Trono se
desaconselhava a relação da derrama.
autoria.
O autor da carta dialoga com seu
d) contendo severas críticas ao destinatário, Doroteu, imaginando a
governador de uma Província, seria reação dele à cena descrita, que
imprudente a divulgação do nome de sentido podemos atribuir à palavra
seu autor. "fraco" no verso: "pois és, prezado
amigo, muito fraco?"
e) nome do autor é substituído pelo
pseudônimo Fanfarrão Minésio, que
os críticos ainda não conseguiram
identificar.

7) A obra Cartas chilenas, de onde


retiramos o trecho a seguir,
apresenta duas personagens
principais: Critilo, o autor das cartas,
e Doroteu, destinatário delas,
pseudônimos do próprio autor,
Tomás Antônio Gonzaga, e de seu Questão 1
amigo e também escritor, Cláudio
Manuel da Costa.As cartas relatam I. Verdadeiro. Tomás Antônio
os desmandos do fictício governador Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa
chileno Fanfarrão Minésio, são os grandes nomes do Arcadismo
pseudônimo de Luís da Cunha brasileiro. A crítica literária indica
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que, no início das atividades como utiliza o pseudônimo de Fanfarrão


poetas, o primeiro já inovava com o Minésio quando trata sobre o
estilo árcade, mas o segundo ainda mesmo.
apresentava resquícios do conflito
Barroco. c) É composta de 12 cartas, que
foram escritas por Tomás Antônio
II. Verdadeiro. A produção de Tomás Gonzaga, através do pseudônimo de
Antônio Gonzaga é bastante “Doroteu”. FALSO! São 13 cartas e
marcada pela própria biografia do o pseudônimo de Tomás Antônio
poeta. Em Marília de Dirceu, sua Gonzaga, na realidade, é "Critilo".
primeira parte é árcade; já a
segunda, marcada pela prisão do d) Para maior disfarce, o autor de
autor, apresenta traços românticos, Cartas Chilenas faz passar a ação
como a subjetividade e a presença na cidade do Rio de
da Morte. Cartas Chilenas, por sua Janeiro. FALSO! A história se passa
vez, é a obra satírica em que o no Chile, para maior disfarce.
contexto da Inconfidência Mineira foi
exposto. e) Critilo é o receptor das cartas, e
Doroteu o emissor. A obra aponta
III. Falso. Dirceu é o pseudônimo temas que não estavam evidentes
empregado na obra lírica Marília de no período da Inconfidência Mineira.
Dirceu, não em Cartas Chilenas; FALSO! Critilo é o emissor das
nesta obra, optou por Critilo. Além cartas e Doroteu, o emissor. E a obra
disso, o poeta faleceu no exílio. aponta temas que estavam SIM
evidentes no período da
IV. Falso. Tomás Antônio Gonzaga Inconfidência Mineira.
realmente demonstra características
pré-românticas, porém apenas na 3) É um dos artifícios empregados na
segunda parte de Marília de Dirceu. produção das Cartas Chilenas; não
houve nenhum mancebo como
V. Verdadeiro. Marília de Dirceu está portador delas, tampouco, seus
dividida em duas partes: a primeira originais foram escritos em
parte é árcade; já a segunda, castelhana. As cartas foram escritas
marcada pela prisão do inconfidente, por Tomás Antônio Gonzaga, em
apresenta traços românticos, como a função de sua desavença com o
subjetividade e a presença da Morte. governador de Minas Gerais Luís da
Cunha Menezes.
2) Alternativa B
4) Doroteu (Cláudio Manuel da
a) Foi escrita por Cláudio Manoel da Costa) – vivia aparentemente na
Costa : FALSO! Foi escrita por Espanha, Critilo (Tomás Antônio
Tomás Antônio Gonzaga. Gonzaga), Fanfarrão Minésio (Luís
da Cunha Meneses) Critilo diz ser o
b) Há uma sátira contra a general do Chile. Onde se lê Chile
administração de Luís da Cunha deve ser província de Minas Gerais,
Menezes, conhecido por Fanfarrão onde se lê Santiago deve ser Vila
Minésio. VERDADEIRO! A obra faz Rica (atual Ouro Preto).
uma crítica ao governo de Luís da
Cunha Menezes (governador de 5) Luís da Cunha Meneses na é
Minas até a Inconfidência Mineira) e condizente com as leis do reino, ele
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as extrapola com sua crueldade


doentia; é apresentado como um
sanguinário e torturador: “Estes
tristes, mal chegam, são julgados /
pelo benigno Chefe a cem açoites”.

6) Alternativa D

As chamadas "cartas chilenas" são


uma obra anônima por dois motivos:
o primeiro é que as cartas originais
assinadas pelo autor se perderam
durante um terremoto ocorrido no
Chile, logo não se sabe exatamente
quem as escreveu e, em segundo
lugar, como as cartas contém um
conteúdo crítico a um governador de
Província, seria imprudente que a
identidade do autor fosse revelada
por medo de represálias violentas.

Sendo assim, as cartas


permaneceram sob a condição de
anonimato, porém também se
mantiveram relevantes com suas
denúncias e críticas há um
determinado período histórico.

7) No trecho citado o autor fala de


uma lembrança de uma cena muito
forte, e a palavra "fraco" refere-se a
fraqueza emocional e/ou intelectual
de seu amigo.

Estrutura da obra e sobre o autor:


todamateria.com
A obra: companhiadasletras.com
Tempo, espaço e momento
histórico:
blog.portaleducacao.com.br
Conteúdo das cartas:
guiaestudo.com.br
Discurso enfático e irônico:
coladaweb.com
Figuras de linguagem e período
literário:
ideiaspraticasparasaladeaula.blogs
pot.com
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mostra os costumes da sociedade


rural brasileira.

No interior de Minas Gerais,


Eugênio, filho de fazendeiros, passa
Bemardo Guimarães a infância ao lado de Margarida, filha
de uma simples agregada da
fazenda. Dessa convivência nasce o
amor. Para evitar que o caso de
amor progrida, os pais de Eugênio o
internam em um seminário,
obrigando-o a seguir a carreira
eclesiática. O tempo passa mas
Eugênio não esquece Margarida.
Com a ajuda dos padres, seus pais
inventam a notícia do casamento da
moça, o que desilude Eugênio e o
faz decidir-se pela vida de padre.

Bernardo Guimarães nasceu em 15 Certo dia,porém, ao voltar para a vila


de agosto de 1825, em Ouro Preto, natal, ele é chamado a socorrer uma
Minas Gerais. Mas, com quatro anos moça doente. Era Margarida. Ela lhe
de idade, sua família se mudou para conta toda a verdade: tinha sido
Uberaba. Seu pai, João Joaquim da expulsa da fazenda, com a sua mãe,
Silva Guimarães, também era já morta, passava necessidades e
escritor, filiado ao Arcadismo, e foi não tinha casado com ninguém, pois
uma forte influência para o autor. ainda o amava. A paixão renasce
com aquela visita e no dia seguinte
As principais obras de Bernardo os dois entregam-se ao amor.
Guimarães apresentam elementos
do romance regionalista do Atormentado pelo remorso, Eugênio
Romantismo brasileiro. Esse tipo se prepara para rezar sua primeira
de narrativa conta com um herói missa quando alguém o chama para
destemido e uma heroína idealizada. encomendar um cadáver que
O amor é apresentado como sendo acabou de chegar à igreja. Era o
um sentimento superior, capaz de corpo de Margarida. Eugênio não
vencer todos os obstáculos. resiste ao choque e na hora da missa
enlouquece.
O espaço da narrativa é o meio
rural, onde se encontram paisagens
e personagens típicos de alguma
região do país. Nessa perspectiva, a
obra valoriza os elementos regionais Em O seminarista, Bernardo
para despertar o sentimento de Guimarães faz um típico romance de
nacionalidade no(a) leitor(a). Assim, tese, querendo provar o equívoco do
com sentimentalismo e uma visão celibato religioso, que deforma o
teocêntrica da realidade, o narrador homem, e do autoritarismo familiar,
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que não permite ao jovem seu Nos momentos finais, entretanto,


próprio caminho na vida. esse esquematismo inverte-se: na
cena do quarto de Margarida – o
reencontro inesperado entre a
amada enferma e o já padre
Eugênio, cheio de boas lembranças
O romance está mais para um relato
e afagos; na cena de encomendação
pastoral, uma história de amor
do corpo de uma mulher, que
iniciada na infância, em meio a um
Eugênio reconhece ser Margarida –
ambiente campestre onde os
momento em que ele desiste do
indícios da “desgraça”, prenunciados
sacerdócio e foge para o espaço
na aparição da serpente e somados
aberto, possesso de fúria e loucura.
à imposição dos pais, à educação, à
formação no seminário, servem
Esse romance deve ser lido como
como sinal de desgraça futura.
uma pastoral, um idílio aonde as
pequenas nuvens vão se
Apenas por conta de algumas
aglomerando de tal maneira que
qualidades, como sua dedicação e
provocam uma imensa tempestade,
zelo pelas coisas da Igreja, Eugênio
que se transforma em escuridão o
passa a ser visto como “o escolhido”
que há pouco era um dia radiante.
para o serviço do altar. Assim, os
pais impõem ao rapaz o caminho
sacerdotal, pois viam no filho padre
um meio de subir na escala social; o
serviço do altar era uma carreira até O livro pertence a segunda geração
que brilhante ou pelo menos a do romantismo, cujo nome deu-se
garantia de um ganha-pão para o “mau-do-século”, pelo motivo que
sustento da família. Eugênio deixa- neste encontra-se o desejo de
se levar pela vontade alheia até o Margarida ao morrer ao saber que
momento em que enfurecido por Eugênio havia se ordenado a Padre.
descobrir a mentira do pai –
Margarida não se casou –e O subjetivismo também é possível se
desesperado com a morte de encontrar, ao ver os versos que
Margarida, despoja-se das vestes Eugênio fazia para Margarida;
sacerdotais, do ofício de padre e
entrega-se à loucura. Trecho comprovante: “Poucos meses
depois da morte de Umbelina, chegou
O narrador desenvolve uma espécie aos ouvidos de Margarida a notícia, de
de esquematismo na narrativa que que Eugênio havia tomado ordens. Dai
vai, de alguma maneira, determinar em
o comportamento de Eugênio. Esse diante a desgraçada moça não contou
esquematismo instaura-se na mais com a vida.”
divisão dos espaços abertos e *Subjetivismo: “Longe de teus lindos
fechados. Os fechados revelam um olhos,
sentimento sufocante e deprimente Ó Margarida,
em Eugênio, como a casa do pai, o Passo a noite, passo o dia
seminário... É nos abertos, porém, Em cruel melancolia;
em meio aos campos, às luzes da Ai! triste vida!
tarde e na escuridão da noite que o Que importa estejas ausente
enredo revela seus melhores Ó bem querida;
momentos. O teu formoso semblante
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Estou vendo a cada instante, comenta, em primeira pessoa, os


Ó Margarida. fatos com o leitor.
Enquanto o nosso gado vai pastando
A verde relva ao longo da ribeira,
Vamos, Menalca, repousar um pouco
A sombra da paineira.
Na época, o livro fez uma crítica
Ali tu ressoando a doce avena
social ao autoritarismo das famílias,
A Clore cantarás que é tua vida;
do celibato clerical e do
E eu te escutando chorarei saudades
patriarcalismo no momento história
Da minha Margarida.
que se debatia a questão religiosa
Mas basta; a sombra desce dos outeiros,
E o sol se esconde atrás daquela ermida,
É tempo de ir buscar o manso gado
Da minha Margarida.”

“O Seminarista” pode se observar EUGÊNIO: É o protagonista, o


que a tendência que mais prevalece seminarista, a que o título se refere.
na obra é o Romance regionalista ou “O rapaz era alvo, de cabelos
rural. Essa tendência tem como castanhos, de olhar meigo e plácido
características: valorização da e em sua fisionomia como em todo o
cultura nacional, através da seu ser transluziam indícios de uma
apresentação dos costumes, índole pacata, doce e branda. Além
comportamentos e geografia de disso, mostrava grande pendor para
determinadas regiões do Brasil. as coisas religiosas;
Retrata também o cotidiano da vida
nas fazendas do interior do Brasil. MARGARIDA: Afilhada dos pais de
Eugênio, “era morena, de olhos
Trecho comprovante: em praticamente grandes, negros e cheios de
toda a obra,porém o trecho que mais vivacidade, de corpo esbelto e
deixa claro,falando sobre os costumes da flexível como o pendão da imbaúba”;
população do interior retratando seus “por sua graça e gentileza, extrema
costumes e uma de suas comemorações docilidade e precoce vivacidade, era
é o seguinte: “Mutirão! só esta palavra mui querida de todos;
nos faz ressoar aos ouvidos os alegres
rumores dos descantos e folguedos da CAPITÃO FRANCISCO ANTUNES:
roça, o estrépito dos sapateados da Pai de Eugênio, “fazendeiro de
dança camponesa por entre a zoada dos medianas posses. Trabalhador, bom
adufes e violas, e nos transporta ao meio e extremoso pai de família, liso e
das rústicas e singelas cenas de prazer sincero em seus negócios, partidista
da vida do sertanejo...” firme e cidadão sempre pronto para
os ônus públicos”. Revela-se um
homem capaz de mentir e enganar o
próprio filho, para defender o status
e os interesses familiares.
A narrativa desenvolve-se em
Sra. ANTUNES: Mulher boa e
terceira pessoa, com um narrador-
carinhosa,era a mãe de Eugênio.
onisciente que algumas vezes
Muito religiosa, “tinha o espírito
também se mostra apenas
propenso a acreditar em
observador, principalmente quando
superstições e agouros.”
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D. UMBELINA: Mãe de Margarida, não muito largo, porém formoso


“era uma matrona gorda e corada, de horizonte.
rosto sempre afável e prazenteiro [...]
e fora casada com um alferes de Colinas bastantemente acidentadas,
cavalaria.” cobertas de sempre verdes
pastagens e marchetadas aqui e
PADRE-MESTRE: É o responsável acolá de alguns capões verdes
direto pela formação de Eugênio no escuros formam o aspecto geral do
seminário. Alia-se ao pai do rapaz e, país. Por entre elas estendem-se
além de pedir por ela, sustenta a profundos vales, e deslizam
mentira que engana o jovem até o torrentes de águas puras e frescas à
capítulo XXII. sombra de moitas de verdura e
bosquetes matizados de uma
LUCIANO: rapaz apaixonado por infinidade de lindas flores silvestres.”
Margarida e rejeitado por ela.
Discute com Eugênio no mutirão. Quarto de Margarida: Neste local
“Um moço que teria a rigor os seus ocorre o desfecho da história → “No
vinte e cinco anos, de bonita e quarto da enferma, apesar da sua
agradável presença, tropeiro bem pobre simplicidade, reinava uma
principiado, que já tinha alguns lotes ordem e asseio, que contrastava
de burros no caminho do Rio, e que com o aspecto miserável do resto da
além de tudo se tinha em grande casa. O leito bem composto era
conta de bonito, de rico e de bem guarnecido de um transparente
nascido, pelo que não deixava de ser cortinado cor-de-rosa, e em frente
sumamente ridículo, quando não era dele sobre uma pequena mesa de
insolente.” jacarandá de pés torneados, via-se
um lindo oratório dourado, diante do
qual ardia uma vela de cera entre
duas jarras cheias de viçosas e
fragrantes flores. Parecia mais uma
Terras do Sr. Antunes: Local aonde
gruta mística e perfumada, um
Eugênio mora com seus pais, e lá
voluptuoso ninho de amor, do que o
também encontrava-se as casas dos
quarto de uma moribunda.”
agregados destes → “Junto à ponte,
de um lado e outro do caminho,
Climax: O conflito final, entre
viam-se duas corpulentas paineiras,
Eugênio e Margarida, apresenta o
cujos galhos, entrelaçando-se no ar,
clímax da narrativa, que termina com
formavam uma arcada de verdura, à
a morte dela e a loucura dele.
entrada do campo onde pastava o
gado.”

Seminário: Encontrava-se em
Congonhas do Campo → “um
grande edifício de sobrado, cuja
frente se atravessa a pouca distância
por detrás da igreja, tendo nos
Em 1871 (século XIX), o bispo do Rio
fundos mais um extenso lance, um
de Janeiro suspendeu o padre
pátio e uma vasta quinta. Das
Almeida Martins das ordens
janelas do edifício se descortina o
eclesiásticas por este ser maçon,
arraial, e a vista se derrama por um
fazendo-o abandonar a maçonaria.
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Este fato provocou uma reação dos fatal!...”.


jornais contra os bispos, numa (O seminarista, Bernardo Guimarães.)
campanha de difamação e crítica
que ficou conhecida como a Questão O fragmento acima e o livro como um
Religiosa. Como na época tudo que todo expressam a seguinte
se referisse a igreja provocasse conclusão, EXCETO
interesse e polêmica, e bem
provável, dizem que os A) Na tentativa de denunciar o
pesquisadores, que Bernardo celibato religioso, o autor compõe
aproveitou-se do momento para um drama de amor romântico não
lançar, em 1872, seu romance. correspondido.

Apesar de Bernardo ser classificado B) O romance, considerado de tese,


pelo conjunto de sua obra, como representa a vitória dos impulsos
escritor romântico, com o humanos sobre as leis sociais.
Seminarista, não obedece a linha
ideológica do romance romântico. C) O autoritarismo paterno e a
hipocrisia dos dogmas religiosos são
Em O seminarista, Bernardo objetos de crítica do romance.
Guimarães faz uma crítica ao
celibato religioso de uma sociedade D) A diferença de classes entre os
apegada aos dogmas cristãos e ao amantes aparece também como
comportamento familiar típico de argumento das críticas que constam
uma sociedade patriarcal. O autor do enredo do livro.
censura tanto o autoritarismo e a
hipocrisia dos pais, quanto dos 2) IFSUL DE MINAS 2013 Assinale
padres. Há também uma forte crítica a afirmativa CORRETA sobre o livro
à educação típica dos seminários, O Seminarista, de Bernardo
que mais embrutecia os jovens do Guimarães.
que formava homens sociais.
a) Há, no romance, características
Bernardo Guimarães enriquece sua predominantes do Realismo, estilo
obra com a menção de crendices e que predominou na segunda metade
comportamentos populares e de do século XIX.
cunho folclórico, como a arte de
enfeitiçar cobras, a mula sem cabeça b) O espaço do livro é o interior de
e os mutirões. Minas Gerais, especialmente a
cidade de Congonhas, onde Eugênio
cursa o seminário.

c) O foco narrativo do romance está


1) Leia o fragmento extraído do
em primeira pessoa. Quem conta a
romance O seminarista, de Bernardo
história é Eugênio, em forma de
Guimarães.
flashback, quando, já adulto,
relembra sua desventura amorosa.
“Ah, celibato!... Terrível celibato!...
Ninguém espera afrontar impunemente
d) Quase não há diálogos no livro, o
as leis da natureza! Tarde ou cedo, elas
autor, assim como seus
têm seu complemento indeclinável, e
contemporâneos folhetinescos,
vingam-se cruelmente dos que
privilegia do discurso indireto.
pretendem subtrair-se ao seu império
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Leia e responda as questões 3, 4 [15] ultimamente tem ajudado à


e5 missa ao vigário lá na vila?

[1] Dançava-se a quatragem no – É ele mesmo — acudiu


mutirão da tia Umbelina. Margarida, que já se impacientava
com as grosserias —, é o filho do Sr.
Margarida estava sentada junto de capitão Antunes.
Eugênio, de cujo lado não se
arredara desde que este havia – Do capitão Antunes?... ah!... e o
chegado. que vem ele aqui fazer?... decerto
aqui veio fugido de casa, e há de
Ia-se formar nova roda de ser
dançadores; Luciano, que tinha a
viola em punho, dirigiu-se a benfeito que o pai lhe passe uma
Margarida, e convidou-a para a dúzia de bolos, quando souber que
dança. Ela recusou-se protestando já anda metido em súcias...
já ter dançado muito e achar-se
fatigada. (GUIMARÃES, Bernardo. O seminarista. São Paulo:
Martin Claret, 2013. p. 70-1).

[5] – Então venha esse mocinho, 3) UVA 2016 Antunes era o pai de:
que aí está com a senhora — disse
Luciano. a) Umbelina.
Com este convite o rapaz b) Luciano.
procurava mesmo ocasião de travar-
se de razões com o estudante, a fim c) Eugênio.
de desabafar o ciúme e o despeito
que por dentro o corroíam. d) Margarida.
– Eu não sei dançar — respondeu
Eugênio com timidez. 4) UVA 2016 Bernardo Guimarães é
um autor:
– Deveras!... não me diga isso,
moço; isso é desculpa; falta-nos uma a) barroco.
pessoa; venha... não se faça de
b) romântico.
[10] rogado.
c) realista.
– É deveras; não sei dançar, nunca
dancei em dias de minha vida. d) naturalista.
– Então para que vem a estas
funções?...
4) UVA 2016 Não é característica
– Ora essa é boa!... para ver... dessa Escola:
– Como quem vem aqui ver... mas a) zoomorfização do homem.
ah! já o estou conhecendo; o senhor
não é aquele coroinha, que b) historicismo.
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c) nacionalismo. personagens protagonistas e o


espaço da história.
d) exaltação da natureza pátria
C) incorreta, uma vez que a história
é narrada por um narrador
observador, atuando assim em 3°
pessoa.
1) Alternativa B
D) incorreta, pois o que mais deixa a
A (correta) A denúncia do celibato é
história mais dinâmica e atraente é a
um dos principais temas do
presença constante de diálogo entre
romance; o amor não correspondido
os personagens.
se refere à união de Eugênio e
Margarida que não se realizou por
3) Alternativa C
imposições paternas; o que
acarretou o fim trágico da história.
Em "O Seminarista" temos uma
relação fortíssima de amizade que
B (incorreto) O romance de Alencar,
vinha da infância, e que unia
de fato, ensaia um romance de tese;
Eugênio, filho do fazendeiro
entretanto não há a vitória dos
Francisco Antunes, a Margarida,
impulsos humanos, mas sim a vitória
filha da viúva Umbelina. Filha e mãe
das leis sociais, já que a vontade dos
eram agregadas na fazenda de
pais se sobrepôs ao desejo do filho.
Antunes.
C (correta) A obra pode ser
4) Alternativa B
sintetizada com esses dois temas:
autoritarismo paterno, que obriga
Foi considerado o criador do
filho a se tornar padre, e a crítica aos
romance sertanejo e regional,
dogmas religiosos, mais
ambientado em Minas Gerais e
especificamente o celibato, que priva
Goiás.
o homem de seu instinto humano de
concretização de sua sexualidade.
5) Alternativa A
D (correta) Uma das razões
Todas as outras alternativas se
apresentadas pelos pais do
referem ao romantismo, mas
protagonista para a não aceitação de
zoomorfização do homem está
um possível matrimônio é
contido no Naturalismo.
justamente a condição social inferior
de dona Umbelina e de sua filha,
mulheres que viviam como
agregadas na fazenda.
O autor: mundoeducacao.uol.com
2) Alternativa B Sobre o livro: algosobre.com.br/
Enredo: infoescola.com.br
A) incorreta, pois na verdade a obra Personagens, contexto histórico
apresenta características do e período literário:
Romantismo brasileiro. literaturavec.blogspot.com
Foco narrativo: passeidireto.com
B) correta, pois o narrador apresenta Crítica existente:
já no início da narrativa os letras.biblioteca.ufrj.br
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Gazeta do Povo, recebeu o Prêmio


Cruz e Sousa (2002) e o Binacional
das Artes e da Cultura Brasil-
Argentina (2005).

Chove sobre minha infância nasceu


das vivências reais do paranaense
Miguel Sanches Neto Miguel Sanches Neto, mas não é
uma autobiografia. Mesmo quando
se vale de suas próprias
experiências, o autor não busca a
verdade factual, mas a psicológica.
Em uma linguagem simbólica, tem
momentos de crônica, poesia e
conto, formando um singular
romance em blocos que, além de
cativar pelo lirismo, é um vigoroso
retrato de um pouquíssimo
explorado período de nossa História
recente.

Inicialmente apresentando uma


visão ingênua, revoltada e otimista, o
narrador vai amadurecendo ao
contar sua história, passando do
órfão que não compreende bem o
seu mundo a um adulto que domina
seus símbolos e suas dolorosas
verdades. Miguel Sanches Neto
constrói uma saga dramática no sul
Miguel Sanches Neto é doutor em do país, em que as antíteses sociais
Letras pela Unicamp (1998), são forçadas a conviver entre si. O
professor-associado daUniversidade personagem principal deve receber
Estadual de Ponta Grossa (Paraná), a herança do mundo rural e do
onde leciona Literatura Brasileira. É analfabetismo para encontrar-se
autor, entre outros, dos romances consigo e com sua história – uma
Chove sobre minha infância, Um necessidade muitas vezes
amor anarquista, A primeira mulher e camuflada em um país
Chá das cinco com o vampiro e das envergonhado de si mesmo.
coletâneas de contos Hóspede
secreto e Primeiros contos e dos
volumes de Crônicas Herdando uma
biblioteca e Impurezas amorosas.
Também escreve para crianças (O
rinoceronte ri, A cobra que não sabia Romance publicado em 2000, e
cobrar, Amor de menino e A guerra primeiro romance de Miguel
do chiclete). Cronista do jornal Sanches Neto, foi escrito baseado
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nas vivências reais do autor, mas conviver entre si: a vida que queriam
não é uma autobiografia. É um lhe impingir e o seu desejo real.
romance que se apropria de um
discurso memorialístico, no qual o Chove sobre minha infância é uma
autor é narrador a um só tempo. narrativa que vai se construindo pela
Nele, o Sanches Neto conta uma memória do narrador, que avalia
história na sua própria voz e em seu tudo aquilo pelo qual passa por uma
próprio nome. Mesmo quando se ótica pessoal, centrada em seus
vale de suas próprias experiências, o sofrimentos.
autor não busca a verdade factual,
mas a psicológica. Estamos diante de um menino de
extrema sensibilidade para o
Em uma linguagem simbólica, tem confronto com o mundo e com a
momentos de crônica, poesia e morte, que luta desesperadamente
conto, formando um singular contra a orfandade, não só a real
romance em blocos que, além de mas principalmente contra a
cativar pelo lirismo, é um vigoroso orfandade cultural, ele vem de uma
retrato de um pouquíssimo família de analfabetos, dedicada à
explorado período de nossa História agricultura, e se sente destinado
recente. Inicialmente apresentando para o mundo dos livros. Esta
uma visão ingênua, revoltada e ausência do pai, morto na primeira
otimista, o narrador vai infância, representa a própria
amadurecendo ao contar sua ausência de uma herança cultural. O
história, passando do órfão que não menino triste vai crescendo como
compreende bem o seu mundo a um observador de uma força
adulto que domina seus símbolos e negativa que o impede de ser ele
suas dolorosas verdades. Miguel mesmo. Esta força se concentrou na
Sanches Neto constrói uma saga figura do padrasto, que nega seu
dramática no sul do país, em que as projeto. O padrasto, portanto, é
antíteses sociais são forçadas a pintado com tintas fortes até o
conviver entre si. O personagem momento em que há, depois da
principal deve receber a herança do consolidação da vocação do menino,
mundo rural e do analfabetismo para agora um adulto, uma revelação que
encontrar-se consigo e com sua o concilia com o mundo do padrasto.
história uma necessidade muitas
vezes camuflada em um país O livro não é complacente com o
envergonhado de si mesmo. O leitor narrador, porque ele acaba tendo
vai encontrar neste romance um destruído o relato em que se vê
Brasil que se olha, se mostra e que como vítima. A família está muito
comove, identificando-se com a presente neste livro. Ela é ao mesmo
história do menino perdido em meio tempo odiada e amada. Inicialmente
a poderosas forças antagônicas. apresentando uma visão ingênua,
revoltada
Nessa obra Miguel Sanches Neto e otimista, o narrador vai
rastreia o seu passado vivido amadurecendo ao contar sua
no interior do Paraná, delimitando história, passando do órfão que não
uma trajetória de angústias e compreende bem o seu mundo a um
pesadelos, constrói uma saga adulto que domina seus símbolos e
dramática no sul do país, em que as suas dolorosas verdades.
antíteses sociais são forçadas a
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O protagonista volta à sua infância, primeira pessoa a sua vida, o autor


fazendo reviver o mundo em que se se coloca numa posição secundária:
formou. Embora use a primeira é sua história que se conta por ele,
pessoa do singular, a rememoração cabendo-lhe o papel de
não se fixa propriamente na trajetória intermediário. Logicamente, quanto
do personagem principal, buscando melhor for o autor, melhor serão
antes, a partir dele, pintar o painel de suas memórias, principalmente pelo
um período. Depois do primeiro uso estilístico da língua. Outra
capítulo, em que encontramos o característica fundamental para o
protagonista adulto na sua volta ao gênero memória é o primado da
tempo, a história passa a ser narrada verdade.
do ponto de vista da criança, numa O ficcionista, mesmo quando se vale
linguagem simples, lírica, em que o de experiências vividas, não busca a
personagem não tem uma noção verdade factual, mas a psicológica,
precisa dos fatos. Esta limitação seguindo não o fio linear da vida,
perceptiva, própria da idade, vai mas fundando estruturas sobre o
sendo progressivamente superada vivido. Portanto, meu romance é
pelo menino, que passa por várias uma construção semântica sobre
circunstâncias familiares e sociais, fatos vividos por mim. Não contei
para chegar à visão adulta. tudo o que se passou em minha
formação, mas apenas as situações-
O drama central do personagem é o chave. Eu exerci sobre minha
desejo de continuação de uma história uma força de linguagem e de
história familiar que se encontra estrutura, é por isso que ela pertence
gravada em seu nome (pois ele ao mundo da ficção e não ao da
é uma espécie de repetição do realidade relembrada.
Miguel Sanches que o precedeu) e a
necessidade de mudança. (fala do autor, em uma entrevista)

O romance acaba com o


protagonista adulto, voltando à sua
cidade. Ele já não pertence àquele
lugarejo, nem à história dos seres
que ficaram presos a ele. Mas não
sabe o que fazer com seu passado,
Primeiro, trata-se de um livro à parte,
com sua história. Faça o que fizer,
por sua construção e por sua
será sempre devedor, sentindo-se
intenção. Eu quis escrever um
descender tanto da família da mãe e
romance de formação diferente,
do pai quanto da do padrasto, apesar
contrariando os simulacros de um
de todos os conflitos.
pós-modernismo desgastado pelo
uso repetitivo de fórmulas narrativas,
recuperando assim um personagem
que funciona como máquina de
comover. É um livro para ser amado
ou odiado. Mesmo se valendo muito
delas, Chove sobre minha infância
Embora nascida de vivências reais,
não prioriza a linguagem ou a
esta narrativa nem de longe se
estrutura como fim último do relato,
confunde com o estilo das memórias
mas como elementos de
ou da autobiografia. Ao narrar em
intensificação de uma história triste e
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bonita, vivida por gente comum, que


um dia se fez autor, sujeito de sua
própria existência. Ou seja, é um
livro que tem um valor para além do
literário por concretizar o sonho de
três gerações que viveram à sombra
do mundo letrado.

(fala do autor, em uma entrevista)

Achamos praticamente nenhum


material sobre o livro, ele não
costumava a ser leitura obrigatória
de nenhuma prova. Por isso, os
exercícios são escassos.

Sobre o autor:
grupoeditorialglobal.com.br
Trechos da entrevista:
mundovestibular.com
Resumo: record.com.br
Enredo: passeiweb.com
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movimento em Portugal. Junto com


escritores como Mário de Sá
Carneiro, Luís de Montalvor e
Ronald de Carvalho, Pessoa
publicou a revista “Orpheu” em 1915,
dando início ao modernismo no país.
Fernando Pessoa

Apresentava reflexões sobre


identidade, noções de verdade e
existencialismo. Mas é importante
perceber que como o escritor criou
diferentes heterônimos, é possível
encontrar na obra de Fernando
Pessoa diferentes estilos. O autor
escreveu poemas em inglês, poesias
líricas e poesias históricas com
caráter nacionalista.

Fernando Pessoa, que inventou


vários personagens-poetas,
talentosos e dotados de
individualidade. Esses personagens
ficaram conhecidos como
Fernando Pessoa é um dos mais heterônimos, palavra de origem
importantes escritores portugueses grega que indica “outros nome”.
do modernismo e poetas de língua
portuguesa. Destacou-se na poesia, Conceitualmente, há uma diferença
com a criação de seus heterônimos entre essa situação e a do uso do
sendo considerado uma figura pseudônimo. Esse último é um nome
multifacetada. Trabalhou como diferente que autores podem se
crítico literário, crítico político, editor, atribuir para ocultar a própria
jornalista, publicitário, empresário e identidade. Os heterônimos indicam
astrólogo. Fernando faleceu em sua diversas personalidades que
cidade natal, dia 30 de Novembro de convivem no corpo de uma única
1935, vítima de cirrose hepática, pessoa. Quando Alberto Caeiro, por
com 47 anos. exemplo, escreve seus poemas, é a
subjetividade desse autor, criada
pelo indivíduo Fernando Pessoa,
que aflora.

Pessoa utilizou-se de vários


Fernando Pessoa pode ser heterônimos, como Alberto Caeiro,
classificado como modernista, já que Ricardo Reis, Álvaro de Campos,
foi um dos autores que introduziu o Bernardo Soares, Alexander Search
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(que só escrevia em inglês) e outros, 1925, o extenso poema O guardador


com uma tendência distinta. de rebanhos - representado abaixo
por um breve trecho - foi o
Estudiosos afirmam que essa atitude responsável pelo surgimento do
refletia a descrença de Pessoa em heterônimo Alberto Caeiro.
uma personalidade integrada. Ele Nos versos o eu-lírico se apresenta
criou biografias diferentes para todos como uma pessoa humilde, do
os seus heterônimos, cada uma com campo, que gosta de contemplar a
seu estilo de compor, suas paisagem, os fenômenos da
influências e, em certos casos, até natureza, os animais e o espaço ao
mesmo sua filosofia de vida. Três redor.
dos heterônimos de Pessoa se Outra marca importante da escrita é
destacaram pela maestria do estilo e a superioridade do sentimento
pela singularidade de composição sobre a razão. Vemos também uma
na união desses elementos exaltação ao sol, ao vento, à terra,
inventados por ele: Álvaro de de um modo geral dos elementos
Campos, Ricardo Reis e Alberto essenciais da vida campestre.
Caeiro.

Em O guardador de rebanhos é
importante sublinhar a questão do
divino: se para muitos Deus é um ser
Observação: são MUITOS poemas, então
superior, no decorrer dos versos
neste material, demos prioridade as vemos como a criatura que nos rege
características dos heterônimos, cada parece ser, para Caeiro, a natureza.
‘’personagem’’ de Fernando escreve de
forma diferente. A probabilidade de acertar O Fingimento Artístico (Fernando
a questão lembrando das características é
maior que tentar adivinhar o poema que vai
Pessoa, Cancioneiro)
estar na prova!
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
O guardador de rebanhos, do Que chega a fingir que é dor
heterônimo Alberto Caeiro A dor que deveras sente.
E os que lêem o que escrevem
Eu nunca guardei rebanhos, Na dor lida sentem bem,
Mas é como se os guardasse. Não as duas que ele teve,
Minha alma é como um pastor, Mas só a que eles não têm.
Conhece o vento e o sol .
E anda pela mão das Estações E assim nas calhas de roda
A seguir e a olhar. Gira a entreter a razão,
Toda a paz da Natureza sem gente Esse comboio de corda
Vem sentar-se a meu lado. Que se chama coração.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície Na perspectiva pessoana, o artista, e
E se sente a noite entrada especialmente o poeta, é um
Como uma borboleta pela janela. fingidor, no sentido em que o acto de
escrever não é um acto directo e
Escrito por volta de 1914, mas imediato. A dor, as emoções que são
publicado pela primeira vez em descritas no poema não foram as
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sentidas pelo poeta no momento em Bom servo das leis fatais


questão, foram concepções Que regem pedras e gentes,
intelectuais feitas através da análise Que tens instintos gerais
da situação vivida. Ou seja, a poesia E sentes só o que sentes.
resulta da memória, da recordação e .
da sua reprodução racional, És feliz porque és assim,
coerente e inteligente. Por isso, F. Todo o nada que és é teu.
Pessoa afirma que o poeta finge Eu vejo-me e estou sem mim,
todos os sentimentos que transpõe Conheço-me e não sou eu.
para o papel porque, no momento
em que escreve, ele já não está a Fernando Pessoa vive em constante
sentir o que sentiu no instante a que conflito interior. Tendo consciência
se refere na poesia. de que é um homem racional de
mais, ele deseja arduamente pensar
Podemos, então distinguir 3 dores: a menos, ser mais inconsciente,
dor sentida pelo poeta no momento aproveitar a vida sem questionar.
em que acontece algo, a dor fingida Mas, como na realidade tem uma
pelo poeta quando se recorda do necessidade permanente de se
momento em que sofreu a dor questionar, de pensar, de
sentida e a reproduz como texto, e a intelectualizar toda e qualquer
dor lida pelo leitor quando analisa o situação, ele sente-se frustrado.
poema e interioriza as palavras do
poeta. Podemos, então, falar de uma
É importante frisar que «fingimento» dualidade insconsciência e
utiliza-se num sentido de consciência e sentir/pensar. A
representar, é uma tentativa de pessoa inveja o gato porque o gato é
transfigurar o que se sente naquilo feliz na sua ingenuidade,
que se escreve, utilizando respondendo simplesmente a
paralelamente a imaginação e a instintos. Pessoa inveja uma ceifeira
intelectualidade. Fingir é inventar, simples porque ela canta só porque
criando conceitos que exprimam as lhe apetece, alegremente.
emoções o melhor possível.
Ele nunca conseguirá ter estas
Ao poeta cabe-lhe «sentir com a reacções de abstracção para com o
imaginação», ou seja, transformar a pensamento porque insatistafação e
vivência real numa obra de arte, a dúvida acerca da importância da
usufruindo da imaginação e o racionalidade são constantes. O que
pensamento. As emoções são ele deseja é ser inconsciente, tendo
despersonalizadas e a sinceridade consciência disso. Como isso é
espontânea dá lugar à sinceridade muito inconcebível, cada vez a dor
intelectual. de pensar é maior.

A Dor de Pensar (Fernando


Pessoa, 1931) 2. Lisbon revisited, do heterônimo
Álvaro de Campos
Gato que brincas na rua
Como se fosse na cama, Não: não quero nada
Invejo a sorte que é tua Já disse que não quero nada.
Porque nem sorte se chama.
.
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Não me venham com conclusões! Não sou nada.


A única conclusão é morrer. Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
Não me tragam estéticas! À parte isso, tenho em mim todos os
Não me falem em moral! sonhos do mundo.
Tirem-me daqui a metafísica! Janelas do meu quarto,
Não me apregoem sistemas completos, Do meu quarto de um dos milhões do
não me enfileirem conquistas mundo que ninguém sabe quem é
Das ciências (das ciências, Deus meu, (E se soubessem quem é, o que
das ciências!) — saberiam?),
Das ciências, das artes, da civilização Dais para o mistério de uma rua cruzada
moderna! constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os
Que mal fiz eu aos deuses todos? pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa,
Se têm a verdade, guardem-na! desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das
Sou um técnico, mas tenho técnica só pedras e dos seres,
dentro da técnica. Com a morte a pôr humidade nas
Fora disso sou doido, com todo o direito paredes e cabelos brancos nos homens,
a sê-lo. Com o Destino a conduzir a carroça de
tudo pela estrada de nada.
Ricardo Reis ‘‘O epicurista triste’’

Prefiro rosas, meu amor, à pátria, Um dos poemas mais conhecidos do


E antes magnólias amo heterônimo Álvaro de Campos é
Que a glória e a virtude. Tabacaria, um extenso conjunto de
Logo que a vida me não canse, deixo versos que narram a relação do eu-
Que a vida por mim passe lírico consigo próprio diante de um
Logo que eu fique o mesmo. mundo acelerado e a relação que
Que importa àquele a quem já nada mantém com a cidade durante o seu
importa tempo histórico.
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre, As linhas abaixo são apenas a parte
Se cada ano com a Primavera inicial desse longo e belo trabalho
As folhas aparecem poético escrito em 1928. Com um
E com o Outono cessam? olhar pessimista, vemos o eu-lírico
E o resto, as outras coisas que os discorrer sobre a questão da
humanos desilusão a partir de uma
Acrescentam à vida, perspectiva niilista.
Que me aumentam na alma?
Nada, salvo o desejo de indiferença O sujeito, solitário, se sente vazio,
E a confiança mole apesar de assumir que tem sonhos.
Na hora fugitiva. Ao longo dos versos observamos um
gap entre a situação atual e a que o
sujeito poético desejaria estar, entre
Tabacaria, do heterônimo Álvaro aquilo que se é e aquilo que gostaria
de Campos de ser. É a partir dessas
divergências que se constrói o
poema: na constatação do lugar
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atual e no lamento da distância para medo de morrer. E também do


o ideal. estoicismo, que acredita na
importância da razão estar acima da
paixão e na aceitação dos limites.

Como Pessoa não determinou sua


morte, José Saramago, outro
Álvaro de Campos importante autor português,
escreveu o livro “O Ano da Morte de
Apesar de português, o escritor foi Ricardo Reis”
educado em inglês, o que o faz
sempre se sentir um estrangeiro. O Alberto Caeiro
poeta teve fases diferentes em sua
literatura, no começo tinha É um dos heterônimos mais
proximidade com o simbolismo, importantes, apesar de ser um
depois com o futurismo e então a camponês sem estudo. É
visão niilista ficou presente nas suas classificado, por Fernando Pessoa e
obras. os outros heterônimos, como um
mestre. Caeiro tinha um estilo direto
Na primeira fase, é o tédio e a busca e simples, mas a compreensão é
por experiências diferentes que complexa, já que o poeta faz
marcam a poesia. A segunda é reflexões profundas em seus
marcada pela otimismo da escritos.
civilização. E a terceira é mais
introspectiva e apresenta uma Alberto só escrevia poesia, não
poesia pessimista. Campos achava possível retratar a realidade
apostava em uma linguagem ousada através da prosa. Contra o
para a época, mais livre. pensamento filosófico, o escritor
acredita que sentir é mais importante
Ao contrário da racionalidade de que pensar. Uma das obras mais
Ricardo Reis, Campos coloca conhecidas é “O Guardador de
emoção em seus escritos. É Rebanhos”.
considerado o alter ego de Pessoa.
Bernardo Soares
Ricardo Reis Um semi-heterônimo parecido com
Álvaro de Campos, muito próximo
O médico que acredita na monarquia de Fernando Pessoa. Segundo o
tinha uma escrita mais tradicional, a escritor, Bernardo Soares tem uma
linguagem utilizada pelo heterônimo parte de sua personalidade.
é culta e apresenta um lado clássico.
Ricardo foi viver no Brasil quando a
república foi proclamada em
Portugal. Os textos de Reis foram
1) FEI - SP
publicados na revista “Athena” e na
“Presença”.
Autopsicografia
O autor acredita na busca pela
O poeta é um fingidor.
tranquilidade através do epicurismo,
Finge tão completamente
uma doutrina que acredita em evitar
Que chega a fingir que é dor
a dor, aproveitar a vida e não ter
A dor que deveras sente.
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E os que leem o que escreve, d) heterônimos – temáticas –


Na dor lida sentem bem, romântica – futurista
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm. e) heterônimos – visões de mundo –
E assim nas calhas de roda surrealista – vanguardista
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
3) Enem 2004
Fernando Pessoa

A palavra título indica que:

a) o texto apresentará a visão do eu


lírico sobre os outros com quem
convive.

b) o poema tecerá considerações


sobre a subjetividade do próprio eu
lírico.

c) o texto discutirá a formação do


leitor.

d) o poema dialogará com os leitores


em potencial.

e) o poema tecerá considerações


A tirinha acima estabelece uma
sobre o amor.
interessante relação dialógica com o
poema de Fernando Pessoa, Eu sou
2) Indique a alternativa que preenche
do tamanho do que vejo
corretamente as afirmações abaixo.
Da minha aldeia vejo quanto da terra
Ao se destacar como um poeta
se pode ver no Universo...
múltiplo, Fernando Pessoa
apresenta ____ com diferentes____
Por isso minha aldeia é grande como
entre os quais Ricardo Reis e Álvaro
outra qualquer
de Campos, com obras de
tendência, respectivamente, ____ e
____. Porque sou do tamanho do que vejo

a) pseudônimos – imagens – E não do tmanho da minha altura...


clássica – simbolista
(Alberto Caeiro)
b) heterônimos – linguagens –
neoclássica – modernista A tira Hagar e o poema de Alberto
Caeiro (um dos heterônimos de
Fernando Pessoa) expressam, com
c) pseudônimos – estilos – simbolista
– modernista linguagens diferentes, uma mesma
ideia: a de que a compreensão que
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temos do mundo é condicionada, c) Subjetividade visual filosófica


essencialmente, profunda pautada na clareza e
confiança;
a) pelo alcance de cada cultura.
d) Simplicidade do tão somente
b)pela capacidade visual do existir;
observador.
e) Preferência pelo verso livre e pela
c) pelo senso de humor de cada um. linguagem simples.

d) pela idade do observador.

e)pela altura do ponto de 5) UNESP 2018 Ricardo Reis é,


observação. assim, o heterônimo clássico, ou
melhor, neoclássico: sua visão da
realidade deriva da Antiguidade
greco-latina. Seus modelos de vida e
4) URCA 2019 Texto (fragmento) de poesia, buscou-os na Grécia e em
pra a questão Roma.

Quem me dera que eu fosse os (Massaud Moisés. “Introdução”. In:


choupos à margem do rio Fernando Pessoa. O guardador de
rebanhos e outros poemas, 1997.)
E tivesse só o céu por cima e a água
por baixo...
Levando-se em consideração esse
comentário, pertencem a Ricardo
Quem me dera que eu fosse o
Reis, heterônimo de Fernando
burro do moleiro
Pessoa (1888-1935), os versos:
E que ele me batesse e me
estimasse...
a) Nada perdeu a poesia. E agora há a
mais as máquinas
Antes isso que ser o que atravessa
a vida
Com a sua poesia também, e todo o
Olhando para trás de si e tendo
novo gênero de vida
pena...
Comercial, mundana, intelectual,
O fragmento acima é parte da Obra
sentimental,
do heterônimo de Fernando Pessoa,
Alberto Caeiro.
Que a era das máquinas veio trazer para
as almas.
São características de Caeiro e que
estão presentes no texto, exceto:
b) Súbita mão de algum fantasma oculto
a) Ligação com a Natureza e desejo
Entre as dobras da noite e do meu sono
de integrar-se a ela;
Sacode-me e eu acordo, e no abandono
b) Valorização das sensações em
detrimento a grandes reflexões;
Da noite não enxergo gesto ou vulto

c) Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira


do rio.
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Sossegadamente fitemos o seu curso e diferença entre os seus heterônimos


aprendamos é a linguagem utilizada por cada um,
marca que dialoga,
Que a vida passa, e não estamos de consequentemente, com a
mãos enlaçadas. personalidade e história de cada
heterônimo. Ricardo Reis e Álvaro
(Enlacemos as mãos.) de Campos, por exemplo, têm
influências distintas em suas obras.
d) À dolorosa luz das grandes lâmpadas As características neoclássicas
elétricas da fábrica ficam por conta de Ricardo e as
características da modernidade são
Tenho febre e escrevo. marcas de Álvaro.

Escrevo rangendo os dentes, fera para a 3) Alternativa A


beleza disto, Na tirinha, Hagar satiriza a crença
do filho de que o mundo é redondo,
Para a beleza disto totalmente já que, para Hagar, a realidade
desconhecida dos antigos. imediata (representada pela imagem
do segundo quadrinho) sugeriria
e) O poeta é um fingidor. justamente o contrário. No
fragmento de Caeiro, o eu lírico
Finge tão completamente defende que ele é do tamanho do
que vê, o que é uma maneira de
Que chega a fingir que é dor mostrar que a interpretação da
realidade depende dos valores de
A dor que deveras sente. cada um. Os textos expressam a
ideia de que a compreensão do
mundo é condicionada,
essencialmente, pelo alcance de
cada cultura.

1) Alternativa “b”. 4) Alternativa C


Autopsicografia significa dizer: auto, Alberto Caeiro leva uma vida
do grego autós, -ê, -ó, eu mesmo, ele pautada no ''sensacionismo'': busca
mesmo. Exprime a noção de próprio, viver baseado apenas nos sentidos,
de si próprio, por si próprio. evitando ao máximo utilizar a razão.
Psicografia. s. f.1. História ou A subjetividade visual filosófica, com
descrição da alma. Podemos dizer clareza e confiança, exigiria uma
que autopsicografia diz respeito a razão bem construída do eu-lírico,
uma pessoa, no caso, o poeta uma vez que a filosofia se pauta na
Fernando Pessoa, que faz a interpretação crítica do mundo.
descrição da sua própria alma, do
fazer literário do poeta. 5) Alternativa C
2) Alternativa B Esses versos têm intertextualidade
Fernando Pessoa produziu por meio com a tradição clássica, como indica
de vários heterônimos, uma vez que a atitude estoica, imperturbável do
era uma pessoa de múltiplos eu lírico, a consciência da
desdobramentos do “eu”. A principal
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efemeridade da vida e a
necessidade de gozá-la, que
caracterizam a tópica do carpe diem.
Além do mais, É bom lembrar que
Lídia era a musa de Ricardo Reis.
Logo, qualquer trecho que cite esse
nome é, com certeza, pertencente a
esse heterônimo.

Poemas:
culturagenial.com
notapositiva.com
Heterônimos:
guiadoestudante.com
Período literário, estilo e
características dos heterônimos:
educacao.globo.com
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ressignificar suas experiências


enquanto mulher negra em um país
dividido, marcado pela violência da
colonização europeia.

A literatura de Paulina Chiziane é


não apenas um manifesto, mas
também um marco. Ela foi a primeira
mulher a publicar um romance em
Moçambique, em 1990, “Balado de
amor ao vento”. Graças à força de
sua escrita, Paulina Chiziane foi
Paulina Chiziane nomeada, em 2005, como uma das
vozes do movimento One Thousand
Peace Women – movimento que foi
indicado, no mesmo ano, ao Prêmio
Nobel da Paz.

Niketche — uma história de


poligamia é a obra mais conhecida
da escritora Paulina Chiziane e conta
a história da narradora-personagem
Rami, que se une às quatro amantes
de seu marido, Tony, para formarem
uma grande família. Desse modo,
elas aceitam dividir o amor do
mesmo homem. O livro é marcado
pelo fluxo de consciência da
personagem Rami, que analisa seu
lugar de mulher na sociedade
moçambicana do período pós-guerra
civil. Assim, Paulina Chiziane ocupa
seu espaço na história da literatura
de Moçambique e se torna uma das
principais autoras africanas.

Paulina Chiziane é um escritora


moçambicana, nascida em 4 de
junho de 1955, na vila de Manjacaze,
no sul de Moçambique. Durante a
sua juventude, participou ativamente Em suas obras, incluída Niketche —
da militância como membro da uma história de poligamia, sobressai
Frente de Libertação de a voz feminina, que faz uma reflexão
Moçambique. Durante a Guerra Civil sobre a condição da mulher negra na
que assolou o país, Paulina atuou sociedade moçambicana. Dessa
como enfermeira na organização forma, a narradora realiza uma
Cruz Vermelha. A escrita foi a saída crítica de costumes.
que encontrou para lutar, para
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Dividido em 43 capítulos, o romance Levy: irmão de Tony que irá efetuar


está centrado no fluxo de o levirato.
consciência da narradora-
personagem, que analisa, com uma Saluá: beldade nhanja rejeitada por
linguagem lírica, sua condição e a de Tony ao final da narrativa.
outras mulheres vinculadas à
tradição de uma sociedade
patriarcal. Assim, mostra uma
realidade feminina marcada pela
submissão e enriquecida pela
pluralidade cultural. Após assinarem o Acordo Geral de
Paz, em 1992, a Resistência
Nacional Moçambicana (Renamo)
continuou sendo uma força política
de oposição ao governo da Frente de
Libertação de Moçambique
Rami: (Rosa Maria): narradora, 40 (Frelimo). Apesar do cessar-fogo, os
anos, 5 filhos, mulher do sul, esposa conflitos entre os integrantes desses
dedicada e fiel que perceberá que dois partidos continuaram, de forma
vive com um marido poligâmico, que a ameaçar a paz.
tem mais 4 mulheres.
Portanto, é nesse contexto de
Tony: (António Tomás): instabilidade política e social que a
machangana, 17 filhos, 50 anos, Dr. narrativa Niketche — uma história de
Comandante da polícia, poderoso poligamia se desenvolve. Como
esposo de Rami, ausente e outras obras do período pós-
polígamo. independência, busca valorizar a
diversidade cultural, de forma a
Ju: (Julieta): “segunda dama”, 6 mostrar que ela deve ser usada não
filhos, mulher do sul. para separar, mas para fomentar a
união do país.
Lu: (Luísa): “terceira dama”, 2 filhos,
mulher do norte.

Saly: “quarta dama”, maconde, 2 O tempo da narrativa não é


filhos, mulher do norte. especificado. No entanto, fica claro
que a ação ocorre em um momento
Mauá Sualé: “quinta dama”, 2 filhos, posterior à guerra civil
nortenha macua, por volta dos 19 moçambicana, isto é, após o ano de
anos. 1992. Sobre o espaço, as mulheres
de Tony se originam de localidades
Eva: mulata, estéril, rica, amante de moçambicanas como Matutuíne,
Tony. Zambézia, Nampula e Cabo
Delgado, mas a ação principal se
Gaby: amante de Paris. Aparece em passa no sul de Moçambique, na
uma viagem de duas semanas que cidade de Maputo.
Tony faz para “consultar um médico”
na França.
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Niketche conta a história de Tony, resolver a situação com o


um alto funcionário da polícia, e sua proprietário do veículo e também
mulher, Rami, casados há vinte com a criança, a personagem se vê
anos. Certo dia, Rami descobre que confrontada, conscientemente, com
o marido é polígamo: tem outras a ausência constante do marido.
quatro mulheres e vários filhos com
cada uma. As esposas de Tony Ao precisar justificar publicamente a
estão espalhadas pelo país: em ausência de Tony, Rami percebe
Maputo, em Inhambane, na também a situação dolorosa de suas
Zambézia, em Nampula, em Cabo vizinhas. O primeiro movimento da
Delgado. Numa decisão personagem é, no entanto, de
surpreendente, Rami decide ir atrás buscar a culpa. Quem eram os
de cada uma dessas mulheres. responsáveis dessas “fugas” e
dessas ausências? Apesar de
Antes de prosseguirmos, é cogitar culpar o marido pelo seu
fundamental fazermos uma inversão sofrimento, Rami volta-se para si
importante: Niketche não conta a mesma, examina-se ao espelho,
história de Tony, mas sim a de Rami. culpa-se.
É a sua voz e as suas palavras que
constroem a narrativa, apresentam- “Vou ao espelho tentar descobrir o
nos todas situações e as que há de errado em mim. Vejo
personagens e é através de sua olheiras negras no meu rosto, meu
mediação que conhecemos o marido Deus, grandes olheiras! Tenho
infiel e as outras mulheres: Julieta, andado a chorar muito por estes
Lu, Saly e Mauá. dias, choro até demais! Olho bem
para a minha imagem. Com esta
máscara de tristeza, pareço um
fantasma, essa aí não sou eu.”

Porém, apesar da tristeza e do


cansaço, a personagem consegue,
de alguma forma, entrever um
vislumbre da sua força e de sua
beleza. Pacifica-se, por ora. Mais
tarde na narrativa, a personagem
explica, em um diálogo com outra
mulher, que, desde sua infância, ela
nunca havia sido ensinada a ter
amor-próprio, a amar-se e respeitar-
se. Pelo contrário, foi-lhe ensinado a
subserviência, a obediência, a
naturalização das hierarquias que
colocam as mulheres à margem de
tudo, em um segundo plano onde
são permanentemente coadjuvantes
de suas próprias vidas.
O livro se abre com uma situação
problemática: o filho de Rami é De forma gradual, o exercício de
acusado, injustamente, de danificar olhar-se ao espelho, de dialogar
o vidro de um carro. Ao tentar consigo própria, de apropriar-se de
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sua própria voz e de sua própria duas mulheres, Ju anuncia a Rami


história vão restituindo a confiança que Tony tem uma terceira mulher
de Rami. Entretanto, a busca por que, além de tudo, apresenta uma
culpados prossegue ainda, por um questão cultural. Enquanto Rami e
tempo, e a personagem vai Ju são mulheres do sul, a terceira,
confrontar suas rivais, cada uma das Lu, é uma mulher do norte, onde a
mulheres com quem Tony mantém poligamia ainda é uma prática
uma vida paralela. Essas outras aceitável.
mulheres, a princípio, são vistas
como inimigas, como rivais que Da mesma forma como fizera com
devem ser destruídas. Ju, Rami procura Lu. As duas
confrontam-se, agridem-se, vão
“Penso muito nessa tal Julieta ou parar na delegacia. E, assim como
Juliana. Mulher bonita, ouvi dizer. acontecera com Ju, é através do
Tem com o meu Tony muitos filhos, diálogo – que não é, no entanto,
não sei quantos. É um segundo lar, pacífico ou passivo – que as duas
sólido e fixo. Na minha mente correm mulheres se reconhecem, apesar
ideias macabras. De repente, das grandes diferenças culturais.
apetece-me ferver um pote de óleo e Nesse momento do livro, pouco
derramar na cara dessa Julieta ou importa a qual cultura se refere, a do
Juliana, para eliminá-la do meu norte ou a do sul, o estatuto da
caminho. Apetece-me andar à mulher nessa sociedade é claro: é
pancadaria com uma peixeira. Rezo. coadjuvante, satélite, subjugada, de
Rezo com todo o fervor para que modos diversos, para atender as
essa mulher morra e vá para o necessidades e os caprichos de
inferno. Mas ela não morre e nem o pais, maridos, amantes. A romaria
romance acaba.” de Rami não se encerra com Luísa,
restam ainda outras mulheres que
Na primeira vez que se encontram, compartilham fragilidades e
Rami e Ju brigam, agridem-se precariedades em seus
fisicamente, trocam insultos. Porém, relacionamentos com Tony.
quando se veem diante da
possibilidade de uma conversa Progressivamente, Rami aproxima-
franca, as duas mulheres percebem se das quatro mulheres, para
que compartilham tristezas muito conhecê-las e, sobretudo, para uni-
semelhantes. Há meses que Ju não las. Em paralelo, a protagonista faz
vê Tony, ele é agressivo, pouco uma verdadeira enquete com as
contribui para o sustento da casa e outras mulheres que conhece,
dos filhos. Além disso, Rami percebe familiares, vizinhas, frequentadoras
que a situação de Ju é ainda mais dos mercados, a respeito da
precária. poligamia. Diante do quadro em que
se encontra, Rami acredita que a
Diferentemente dela, que está melhor forma de garantir alguns
amparada, de certa forma, pela direitos, para si e para as outras
formalidade de seu casamento, Ju quatro mulheres, é a adoção desse
não apenas é hostilizada pela regime. Após uma longa conversa,
sociedade, por ser a “concubina”, as cinco fazem uma decisão coletiva.
mas não tem nenhuma proteção
jurídica, nem para si, nem para seus “– Julieta, minha Ju, foste enganada.
filhos. Para piorar a situação das Arrancada da adolescência para a
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velhice, sem meio-termo. A tua vida dessas mulheres – que acontece


é um verão eterno. E tu, Luísa, graças à força e à empatia de Rami.
minha Lu, serás desejada enquanto
tiveres fogo nesse belo corpo. A vida Percebendo a penúria em que ainda
é uma eterna mudança, um dia viviam as outras quatro mulheres,
quente, outro dia frio. O que será de principalmente em relação ao
ti, quando o inverno chegar? Saly, tu sustento de seus lares, a
és as usada nos momentos de protagonista vai percebendo que o
pausa, és um petisco, uma refeição caminho para a autonomia é longo,
ligeira, intermédia, para quebrar a demandando atividades que possam
monotonia na ementa de amor. A liberá-las economicamente,
Mauá é a mais amada, apenas de rompendo com a relação de
momento. Os amores do Tony são dependência financeira que as
efêmeros, sabemos disso. prendem a Tony.

Esta conclusão revolve uma torrente “Um dia disse às minhas rivais:
de sentimentos escondidos. Vejo venham, venham todas exigir o pão
lágrimas correndo, frustrações quando vos falta, despertar o Tony à
avolumando-se em cachos, noite se por acaso aqui estiver
incertezas espelhando-se no quando as crianças têm febre, e
silêncio, a esperança ténue quando, na escola, os professores
tremelicando nos horizontes do exigem a presença do encarregado
mundo. da educação. Venham todas em
desfile, ele costuma estar e casa só
– Somos éguas perdidas galopando à hora do almoço. Vocês são as suas
a vida, recebendo migalhas, mulheres e os vossos filhos são
suportando intempéries, irmãos dos meus filhos.
guerreando-nos umas às outras. O
tempo passa, e um dia todas Começou a procissão das mães e
seremos esquecidas. Cada uma de das crianças. O Tony já não
nós é um ramo solto, uma folha aguentava, fugia deles. Rami,
morta, ao sabor do vento – explico. – aguenta tu com essa gentalha.
Somos cinco. Unamo-nos num feixe Aguentei com elas até onde pude,
e formemos uma mão. Cada uma de até que lhes disse: Isto acontece
nós será um dedo, e as grandes porque não trabalham. Em cada sol
linhas da mão a vida, o coração, a têm que mendigar uma migalha. Se
sorte, o destino e o amor. Não cada uma de nós tivesse uma fonte
estaremos tão desprotegidas e de rendimento, um emprego,
poderemos segurar o leme da vida a estaríamos livres dessa situação. É
traçar o destino.” humilhante para uma mulher adulta
pedir dinheiro para sal e carvão. A
Ao decidirem aderir ao regime da Saly diiz que já teve negócios que
poligamia, temos a impressão que as faliram, porque usou todo o dinheiro
personagens estão apenas que tinha na cura do filho que andou
passando de uma forma patriarcal de doente. A Lu diz que gostaria de ter
opressão a outra. No entanto, esse uma loja de modas, que fora sempre
primeiro momento, de garantia esse o seu sonho. A Ju gosta de
miníma de certos direitos, é apenas crianças. Diz que, no dia que
o início de uma revolução na vida procurar um emprego, vai ser para
lidar com crianças. A Mauá diz que
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não tem jeito para nada. Foi educada e um bouquet de rodas. A Ju e a


para ser esposa e dar carinho. Que Mauá revoltaram-se.
não se imagina a trabalhar e nem
quer envolver em tal situação. – Rami, por que não nos tratas de
forma igual? – perguntou a Mauá. –
– Temos que trabalhar – diz a Lu –, Somos também mulheres pobres
ainda temos um pedaço de pão como a Lu e a Saly. Ajudaste-as. Por
porque o Tony ainda está vivo. E que não nos ajudas a nós também?
quando ele morrer? Do luto até
encontrar um novo parceiro vai um Transferi o dinheiro das mãos da Lu
longo período de fome. É preciso para a Mauá e dei a Ju um dinheiro
prevenir o futuro. que o Tony me dera um dia para
guardar. A Mauá começou a tratar
– O que vamos fazer? – diz a Mauá. dos cabelos, a desfrisar cabelos,
– Eu nem tenho estudos e não sei coisa que ela entende muito bem.
fazer nada! Começou na varanda da sua casa.
Conseguiu angariar clientes.
– Ah, Mauá – diz a Saly –, todas as Aumentou o volume de trabalho e
pessoas vendendo na esquina são contratou duas ajudantes. A varanda
mulheres como nós. Se alguém me era pequena e passou a usar a
emprestasse um dinheirinho iria garagem da sua casa. Agora tem
começar já o meu negócio. uma multidão de clientes, a Mauá.

– Mesmo eu – diz a Lu. – Venderia A Ju vai aos armazéns, compra


roupa, mesmo que fosse usada. bebida em caixa e vende a retalho.
Sempre sonhei ter uma loja de Dá muito lucro. Nesta terra as
modas. pessoas consomem álcool como
camelos. Ela começou a sorrir um
Peguei num dinheiro que tinha pouco e a ganhar mais confiança em
guardado e emprestei a Saly. si própria. O Tony reage mãe às
Comprava cereais em sacos e nossas iniciativas mas nós fechamos
vendia em copos nos mercados os ouvidos e fazemos a nossa vida.”
suburbanos. Dois meses depois, ela
devolvia-me o dinheiro com juros e Esse trecho é um ótimo exemplo do
uma prenda. Uma capulana, um que pode acontecer quando as
lenço de seda, e uma rosa vermelha mulheres ousam deixar de lado a
comprada na esquina. A Lu disse- rivalidade, que nos é ensinada desde
me: estou inspirada. Se a Salu muito jovens, para apoiarem-se
conseguiu fazer o seu negócio umas nas outras, unindo-se contra
render, também posso. Rami, aquilo que as oprime. O percurso de
emprestas-me algum dinheiro? Rami, narrado de forma magistral
Passei os fundos devolvidos pela por Paulina Chiziane, ilustra com
Saly para as mãos dela. E começou muito lirismo, mas sem ocultar a
a vender roupa em segunda mão. E violência desse processo, o poder
começou a engordar, a sua voz a revolucionário da sororidade. E não,
adoçar, o seu sorriso a crescer, o o livro não é sobre o Tony e suas
dinheiro nas mãos a correr. Três cinco mulheres, mas sim sobre cinco
semanas depois devolvia-me o mulheres que conseguiram
dinheiro com mais juros, um carinho corajosamente (juntas!) se
desprender de dois regimes que, de
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formas diferentes, oprimem – e esposa modelo, submissa de todas


continuam oprimindo – mulheres. as formas possíveis ao marido, boa
mãe e uma boa dona de casa. Logo
passa a questionar a falta de
presença do marido na casa, o que
leva ela a sair pelos lugares atrás de
respostas para tal falta. Rami então
passa a encontrar as outras esposas
de Tony, esses encontros sempre
resultam em violência no primeiro
momento, entretanto iria ocasionar
em uma relação de autodescobertas
e construção do “eu”. Percebemos
que Tony inicia tais relacionamentos
depois que adquire poder financeiro
ao ser promovido de cargo:

Fiz dele o homem que é. Dei-lhe


amor, dei-lhe filhos com que ele se
A autora retrata a vivência das afirmou nesta vida. Sacrifiquei os
mulheres que se encontram em um meus sonhos pelos sonhos dele.
relacionamento poligâmico e como Dei-lhe a minha juventude, a
tal relacionamento é utilizado como minha vida. Por isso afirmo e
forma de controle e de reafirmo, mulher como eu, na sua
demonstração de poder masculino vida, não há nenhuma! Mesmo
sobre corpos femininos, sendo assim, sou a mulher mais infeliz do
mantido através do forte mundo. Desde que ele subiu de
entrelaçamento cultural, social, posto para comandante da polícia e
histórico, econômico e religioso. A o dinheiro começou a encher as
protagonista da obra, Rami, após algibeiras, a infelicidade entrou
descobrir que o marido mantinha nesta casa (CHIZIANE 2004, p. 14).
uma relação poligâmica irá atrás das
outras mulheres e em conjunto com Além de poder exercer tal prática,
elas irão tecer uma rede de união, como é demonstrado através do
autodescoberta e subversão da discurso de um dos policiais amigo
situação feminina em Moçambique de Tony, pois a figura do homem
(...) E sim, de mulheres que vivem tudo é aceitável:
em uma sociedade fortemente
marcada pela colonização e tentam “-Se o seu marido a deixa, a senhora
subverter, utilizando os métodos deve ser azeda, fria. Homem é
disponíveis, uma sociedade na qual homem, tem todo o direito de
a figura masculina deve ser tratada procurar em qualquer lugar o que em
como um ser divino. casa não há” (CHIZIANE 2004, p.
52).
É interessante observar que a obra
inicia com o quebrar do vidro de um O discurso de poder do homem
carro, o que gera um barulho que sobre a mulher, que é utilizado para
acorda Rami. O que poderia ser uma justificar a poligamia, Percebemos
analogia para o que ocorreria na vida através desses discursos que a
da própria Rami. A protagonista poligamia serve apenas ao homem,
durante toda a obra demonstra ser a
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a mulher cabe apenas o papel de sociedade ocidental compra e


servir e dá prazer, não receber. venda, Rami é uma mulher que está
Segundo Foucault (2017) “Nas trilhando e tecendo seu caminho de
relações de poder, a sexualidade resistência, uma resistência
não é o elemento mais rígido, mas marcada por uma desconstrução
um dos dotados da maior corporal, colonial, de gênero e
instrumentalidade: utilizável no localizada regionalmente, pois não
maior número de manobras, e podemos apagar a importância que
podendo servir de ponto de apoio, é questionar tais normas sociais em
de articulação às mais variadas um país que até pouco tempo atrás
estratégias.”. ainda era uma colônia, logo temos
centenas de anos de domínio e tão
Tal estratégia de poder utilizada por poucos ainda do inicio de uma
homens polígamos é sustentada libertação. A Rami e as outras
através da construção cultural da mulheres, mesmo que no campo da
sociedade moçambicana, que é ficção, apresentadas em “Niketche:
centrada no patriarcado colocando a uma história da poligamia” são os
figura masculina em um patamar de reflexos dessa vontade e do
elevação máxima. De acordo com processo de libertação.
Kabengelê Munanga (1988, p. 14),
a poligamia não se fundamenta no
prazer sexual. A poligamia tem
funções econômicas, políticas,
religiosas, culturais e sociais
importantíssimas.
É preciso considerar que, nascida
em Manjacaze, província de Gaza,
A construção de personagens
em meados da década de 1950, foi
femininas da Paulina Chiziane não é
uma das primeiras mulheres a virar
aquela que temos mais disseminado
escritora em Moçambique numa
no nosso imaginário, não se trata da
terra onde sempre prevaleceu a voz
construção de uma personagem
masculina. Paulina é apontada hoje
feminina europeia ou americana,
como uma expoente em matéria de
que sabemos que irá ter esse
romance moçambicano. Assim
despertar total e combater das
como em outros países africanos, a
maneiras possíveis o
literatura moçambicana foi uma
patriarcado/machismo. Rami possui
maneira encontrada pelas mulheres
um corpo e mente colonizados, é
para ampliarem a participação na
uma mulher silenciada e
vida pública do país. Os textos
subalternizada, ela tenta se libertar,
produzidos pela escritora são
mas dentro do contexto histórico,
consumidos como uma literatura
sócio e cultural em que vive essa
pós- colonialista, mas que apresenta
total libertação não é possível, logo
reminiscências do imperialismo
ela busca outros meios de liberdade
europeu. Sua literatura é uma
dentro de tal sistema. Rami é
espécie de retrato da atual
construída como um caminho que as
sociedade de Moçambique,
outras mulheres seguem para sua
principalmente no que tange
libertação enquanto ela continua a
ao papel e à condição feminina na
mercê do sistema. Entretanto, isso
sociedade.
não a torna mais fraca do que essas
super-heroínas que nossa
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O romance “Niketche: uma história mulher explore suas vaidades e


de poligamia” é um relato do desejos, enquanto que a do sul
cotidiano feminino em Moçambique. cerceia e reprime toda e qualquer
No enredo, Rami, personagem manifestação feminina:
principal, criada com bases no
catolicismo europeu e monogâmico
descobre que o marido, Tony, é No sul a sociedade é hábitada por
adepto da poligamia, tendo várias mulheres nostálgicas. Dementes.
mulheres espalhadas ao redor do Fantasmas. No sul as mulheres são
país, que simbolizam as diferentes exiladas no seu próprio mundo,
manifestações culturais de condenadas a morrer sem saber o que
Moçambique. Indignada e se é amor e vida. No sul as mulheres
sentindo ultrajada, Rami decide são tristes, são mais escravas.
conhecer essas mulheres e ficar Caminham de cabeça baixa.
frente a frente com as qualidades Inseguras. Não conhecem a alegria
das outras que fizeram com que o de viver. [...] No norte ninguém
marido não se dedicasse escraviza ninguém, porque tanto
exclusivamente a ela. homens quanto mulheres são filhos
do mesmo Deus. (CHIZIANE, 2004,
A autora empresta sua voz para p. 176).
denunciar as contradições de uma
sociedade que prega a monogamia A autora consegue trazer à cena
dos valores ocidentais, mas não se uma história contemporânea e
apressa em suplantar a poligamia da apresenta ao leitor uma mulher que
cultura tradicional. Narrado em é a personificação de um país
primeira pessoa por Rami, essencialmente matriarcal, ou seja,
“Niketche” expõe a questão delineado pelas mãos das mulheres
feminina, tenta promover uma na criação dos filhos e na
espécie de descolonização da manutenção dos lares, embora o
mulher moçambicana e uma patriarcado seja o regime legalmente
libertação dos padrões sexistas reconhecido. A figura feminina
deixados pelo dominador. Embora a acaba se vinculando ao ideário de
figura feminina ocupe um papel de nação como uma representação da
destaque, pois são vistas como tradição moçambicana e chama para
símbolo de fertilidade pelos a discussão o papel que essa mulher
africanos, em contrapartida ocupa no país. O fato de Chiziane
há uma terrível divisão social no que abordar temáticas voltadas para o
tange à tradição. Esta cultura alça a universo feminino tem lhe
mulher a uma posição inferior ao rendido a alcunha de escritora
homem na vivência cotidiana. Em feminista, pois coloca esse sujeito no
Moçambique há uma divisão entre a centro das atenções e revela seus
tradição do sul, onde o sentimentos mais secretos, dando
patriarcalismo iimpera e a mulher é voz a personagens fortes e que
encarada como um ser submisso ao prenunciam um futuro onde a mulher
homem, sem voz ou poder de poderá ter mais espaço social e, de
decisão, enquanto que no norte elas fato, ser reconhecida como sujeito
são vistas como um indivíduo que agente de um país em construção e
deve ser respeitado e adorado por em busca de sua própria identidade.
conta de sua beleza e sensualidade.
A cultura do norte permite que a
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O eu enunciador de Niketche propõe b) abandonada pela personagem


através de sua subjetividade e principal, uma vez que seu marido
submissão cultural, uma pretensa não se encanta com seus novos
objetividade no reconhecimento de ardis.
sua negritude e de sua
condição de mulher enquanto c) frustrada, pois Rami, ao conhecer
agente social e representante de suas rivais, percebe que não possui
uma cultura híbrida. As mulheres todos os atributos desejáveis.
criadas por Chiziane representam a
nação, tornando-se ícones da d) confrontada com a experiência
resistência contra o colonizador e pessoal de Rami e de suas rivais,
suas opressões. São mulheres cuja transformando-as de modo
força para lutar pelo seu espaço na significativo.
sociedade e por seu
reconhecimento, pulsam cada vez
mais forte, diferentemente das
mulheres reais, ainda vítimas do
1) Alternativa D
medo e da repressão.
Rami, desconsolada com as
constantes ausências do marido
Tony, matricula-se em um curso
1) UNICAMP 2022 Tudo na vida é ministrado por uma conselheira
mortal, tudo se apaga. Se a tua amorosa e, durante a conversa, a
chama se apaga é em ti que está a narradora identifica uma série de
falta. Faz o que te digo e magia faltas comportamentais em relação
nenhuma te derrubará nesta vida. Tu ao seu matrimônio e à sua vida
és feitiço por excelência e não deves sexual. A partir daí, Rami confronta
procurar mais magia nenhuma. sua vida, dependência, submissão e
Corpo de mulher é magia. Força. seu casamento com os novos
Fraqueza. Salvação. Perdição. O aprendizados, que vai obtendo
universo inteiro cabe nas curvas de durante as aulas com a conselheira
uma mulher. amorosa, e principia um processo de
mudança existencial e
(Paulina Chiziane, Niketche: uma história de poligamia.
São Paulo: Companhia das Letras, 2021. p. 38.)
comportamental, ao qual incorpora
também as demais esposas de
O excerto acima corresponde a uma Tony.
das primeiras lições que a
conselheira amorosa oferece a
Rami, a personagem principal do
romance. Enredo e sobre a autora:
deliriumnerd.com
Tendo em vista as várias peripécias Resumo, características do livro, tempo
e espaço: infoescola.com
vividas por Rami, essa lição é Personagens: etapa.com
Percepção da sexualidade feminina:
a)aceita pela protagonista, mas sua artigo da Universidade Estadual da
trajetória lhe ensina que o corpo Paraíba, no site da editora Realize
feminino é, no fim das contas, Feminino e a tradição em Niketche:
artigo de Juliana Franco, do site
perdição. todasasmusas.com
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Publicou outros livros além desse,


que não tiveram tanto sucesso: Casa
de alvenaria (1961), Pedaços de
fome (1963) e Provérbios (1963).
Postumamente, foram publicados:
Diário de Bitita (1977), Um Brasil
para brasileiros (1982), Meu
estranho diário (1996), Antologia
pessoal (1996), Onde estaes
felicidade? (2014) e Meu sonho é
escrever – Contos inéditos e outros
Carolina Maria de Jesus escritos (2018).

Contudo, a carreira literária não a fez


tornar-se abastada, tendo
dificuldades para criar seus filhos. Ao
longo da vida, dividiu-se entre
escrever e vender livros, coletar
materiais recicláveis, realizar faxinas
e lavar roupas para fora.

O livro de Carolina Maria de Jesus


narra de modo fiel o cotidiano
passado na favela. Em seu texto,
vemos como a autora procura
sobreviver como catadora de lixo na
A autora é mineira, nasceu em 14 de metrópole de São Paulo, tentando
março de 1914 e faleceu em 13 de encontrar naquilo que alguns
fevereiro de 1977, em São Paulo. Foi consideram como sobra o que a
moradora da antiga favela do mantenha viva. Os relatos foram
Canindé. Relatou, em seu diário, o escritos entre 15 de julho de 1955 e
cotidiano miserável de uma mulher 1 de janeiro de 1960. As entradas no
negra, pobre, mãe, escritora e diário são marcadas com dia, mês e
favelada. Ela e seus filhos passaram ano e narram aspectos da rotina de
por muitas dificuldades, como a fome Carolina. Muitas passagens
e enfermidade. Em seus textos, sublinham, por exemplo, a
denunciou as mazelas do Brasil e da dificuldade de ser mãe solteira nesse
desigualdade social. contexto de extrema pobreza.
Lemos num trecho presente no dia
A partir da publicação do livro Quarto 15 de julho de 1955:
de despejo, a vida de Carolina Maria
de Jesus melhorou. Conseguiu sair Aniversário de minha filha Vera
da favela e comprar uma casa de Eunice. Eu pretendia comprar um
alvenaria, um dos seus maiores par de sapatos para ela. Mas o custo
sonhos, além de poder dar educação dos generos alimenticios nos impede
e qualidade de vida para sua família. a realização dos nossos desejos.
Atualmente somos escravos do
custo de vida. Eu achei um par de
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sapatos no lixo, lavei e remendei Por ser a única a prover o sustento


para ela calçar. da família, Carolina trabalha dia e
noite para dar conta da criação dos
Maria é mãe de três filhos e dá conta filhos.
de tudo sozinha. Para conseguir
alimentar e criar a família ela se Os seus meninos, como ela costuma
desdobra trabalhando como chamar, passam muito tempo
catadora de papelão, metal, e como sozinhos em casa e vira e mexe são
lavadeira. Apesar de todo o esforço, alvo de críticas da vizinhança que
muitas vezes sente que não dá dizem que as crianças "são mal
conta. Nesse contexto de frustração inducadas". Embora nunca se diga
e extrema pobreza, é importante se com todas as letras, a autora atribui
sublinhar o papel da religiosidade. a reação das vizinhas com os seus
Diversas vezes, ao longo do livro, a filhos pelo fato de ela não ser casada
fé aparece como um fator motivador ("Elas alude que eu não sou casada.
e impulsionador da protagonista.Há Mas eu sou mais feliz do que elas.
passagens que deixam bem clara a Elas tem marido.")
importância da crença para essa
mulher lutadora: Ao longo da escrita, Carolina
sublinha que sabe a cor da fome - e
Eu estava indisposta, resolvi benzer- ela seria amarela. A catadora teria
me. Abri a boca duas vezes, visto o amarelo algumas vezes ao
certifiquei-me que estava com mau longo dos anos e era daquela
olhado. sensação que mais tentava fugir:

Carolina encontra na fé força, mas Eu que antes de comer via o céu, as


também muitas vezes explicação árvores, as aves, tudo amarelo,
para situações cotidianas. O caso depois que comi, tudo normalizou-se
acima é bastante ilustrativo de como aos meus olhos.
uma dor de cabeça é justificada por
algo da ordem do espiritual. Além de trabalhar para conseguir
comprar comida, a moradora da
Quarto de Despejo explora os favela do Canindé também recebia
meandros da vida dessa doações e buscava restos de
trabalhadora mulher e transmite a alimento nas feiras e até no lixo
dura realidade de Carolina, o quando era preciso. Em uma das
constante esforço contínuo para suas entradas no diário, comenta:
manter a família de pé sem passar
maiores necessidades: A tontura do álcool nos impede de
cantar. Mas a da fome nos faz
Saí indisposta, com vontade de tremer. Percebi que é horrível ter só
deitar. Mas, o pobre não repousa. ar dentro do estômago.
Não tem o previlegio de gosar
descanço. Eu estava nervosa Pior do que a fome dela, a fome que
interiormente, ia maldizendo a sorte. mais doía era aquela que assistia
Catei dois sacos de papel. Depois nos filhos. E é assim, tentando
retornei, catei uns ferros, uma latas, escapar da fome, da violência, da
e lenha. miséria e da pobreza, que se
constrói o relato de Carolina. Acima
de tudo, Quarto de Despejo é uma
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história de sofrimento e de
resiliência, de como uma mulher lida
com todas as dificuldades impostas
pela vida e ainda consegue Carolina Maria de Jesus – É a
transformar em discurso a situação autora dos diários e a protagonista.
limite vivida. Nascida no interior de Minas Gerais,
foi morar em São Paulo, onde só
encontrou lugar na favela do
Canindé. Mãe de 3 filhos, solteira,
era catadora de lixo e metal para
sustentar sua casa e alimentar a
A redação de Carolina - a sintaxe do família.
texto - por vezes foge ao português
padrão e por vezes incorpora Vera Eunice, João José, José
palavras rebuscadas que ela parece Carlos – Filhos de Carolina. Era por
ter aprendido com as suas leituras. A eles que ela lutava e dava a vida.
escritora, em diversas entrevistas, se
identificou como uma autodidata e Vizinhos e autoridades políticas –
disse que aprendeu a ler e a Compõe a narração do quotidiano.
escrever com os cadernos e livros
que recolhia das ruas. Na entrada do
dia 16 de julho de 1955, por
exemplo, vemos uma passagem
onde a mãe diz para os filhos que A redação de Carolina - a sintaxe do
não há pão para o café da manhã. texto - por vezes foge ao português
Convém observar o estilo da padrão e por vezes incorpora
linguagem utilizada: palavras

16 DE JULHO DE 1955 Levantei. Carolina tinha constantes reflexões


Obedeci a Vera Eunice. Fui buscar sobre política e sociedade, o que
agua. Fiz o café. Avisei as crianças garante à obra passagens de grande
que não tinha pão. Que tomassem valor para os leitores. Ela também
café simples e comesse carne com tecia críticas aos políticos que só
farinha. lembram da favela e dos seus
pobres habitantes durante as
Em termos textuais vale sublinhar eleições.
que há falhas como a ausência de
acento (em água) e erros de Em sua obra, escreveu:
concordância (comesse aparece no
singular quando a autora se dirige “… As oito e meia da noite eu ja
aos filhos, no plural). Carolina estava na favela respirando o odor
transparece o seu discurso oral e dos excrementos que mescla com o
todas essas marcas na escrita barro podre. Quando estou na
ratificam o fato de ter sido cidade tenho a impressão que estou
efetivamente a autora do livro, com na sala de visita com seus lustres de
as limitações do português padrão cristais, seus tapetes de viludos,
de quem não frequentou almofadas de sitim. E quando estou
integralmente a escola. na favela tenha a impressão que sou
um objeto fora do uso, digno de estar
num quarto de despejo”
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Assim, percebe-se que o título restos de alimento nas feiras e até no


escolhido para a obra é uma frase lixo. Nisso, notava a maldade que
que resume toda a crítica a essa algumas pessoas depositavam sob
realidade. Mas, para além disso, os pobres necessitados:
retrata o sentimento da autora diante
da vida. “Percebi que no Frigorífico jogam
creolina no lixo, para o favelado não
Carolina também expõe a catar a carne para comer”
invisibilidade social que ela, seus
filhos e seus vizinhos viviam. Eram Também relata que preferiu ser mãe
invisíveis, ignorados por aqueles de solteira, não queria se relacionar
melhor condição, pelo Estado e até com homem algum, pois só tinha o
por quem pedia ajuda. exemplo de casamento dos seus
vizinhos: homens e mulheres
Dessa forma, a escrita do diário constantemente alcoolizados para
serviu como válvula de escape e enganar a sensação de fome, o que
esperança, pois sonhava que gerava brigas, mortes e violência
alguém leria seu diário e se sem fim.
compadeceria, pensando nas várias
outras pessoas que vivem em
situação semelhante. Uma
esperança para a vida.
No cenário de constantes
frustrações e miséria, é importante
ressaltar o papel da religiosidade.
Ao longo do livro, a fé aparece como
Carolina relata sua constante motivador da protagonista.
indisposição, seus momentos de Carolina encontra na fé força e
raiva e crises emocionais, seus explicações para situações
pesares, seu sentimentos por cotidianas.
compreender a situação em que se
encontrava.

Porém, a autora sempre encontrava


motivação e permanecia mais
determinada em continuar lutando Carolina escreveu seus diários na
quando olhava para sua família: década de 1950, porém foi
publicando na íntegra somente em
“Saí indisposta, com vontade de 1960. O diário se passa no período
deitar. Mas, o pobre não repousa. do governo Juscelino Kubitschek
Não tem o previlegio de gosar (1955-1960), dita como época de
descanço. Eu estava nervosa progresso da expansão do país,
interiormente, ia maldizendo a sorte. período dos “50 anos em 5”. Brasília
Catei dois sacos de papel. Depois era construída e era o símbolo do
retornei, catei uns ferros, uma latas, desenvolvimento do Brasil, que
e lenha.” representava a ideologia da época.

A moradora da favela do Canindé Nesse período, sobretudo São Paulo


também vivia de doações e chegou, estava de fato em desenvolvimento,
várias vezes, a ponto de buscar mas no que diz respeito à
infraestrutura: grandes obras foram
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construídas, avenidas foram “QUE EFEITO SURPREENDENTE


alargadas, pontes foram construídas FAZ A COMIDA NO NOSSO
e túneis foram feitos. ORGANISMO! EU QUE ANTES DE
COMER VIA O CÉU, AS ÁRVORES,
No entanto, tudo isso aumentou AS AVES, TUDO AMARELO,
ainda mais a desigualdade social no DEPOIS QUE COMI, TUDO
país. Muitas pessoas vinham para a NORMALIZOU-SE AOS MEUS
grande metrópole seguindo o sonho OLHOS”.
de conseguir um emprego e dar
melhor condição de vida para suas Embora com pouca escolaridade, a
famílias. A demanda de trabalho era autora apresenta uma visão muito
pouca para tantas pessoas que crítica da sociedade e sempre lia
vinham de outros estados e até de jornais. Para ela, os políticos só se
outros países. importavam com os mais pobres em
época de campanha, quando
apareciam na favelas fazendo
promessa e distribuindo alguns itens
de necessidade básica, aos quais
todos deveriam ter acesso sempre.
A fome é a principal temática
abordada por Carolina, indissociável Além disso, a escritora critica a
de uma crítica à política vigente na violência existente na favela. Para
década de 50, ao descaso dos ela, a violência é fruto de um
governantes com as pessoas mais ambiente hostil, onde não há sequer
pobres e à falta de empatia do outro. alimento e água potável todo dia. Os
atos violentos sempre estão ligados
Ela sustentava seus filhos coletando ao alcoolismo. Sobretudo os homens
papel e sucatas pelas ruas, mas, bebem muito e descontam em suas
muitas vezes, voltava para casa de esposas, que apanham diante de
mãos vazias. Quando conseguia toda favela, como se isso fosse um
alimentos, era dia de festa em sua espetáculo, em um espaço onde não
casa. Às vezes, recolhia verduras e há muitas formas de entretenimento.
legumes descartadas em feiras e
mercados. Em outros momentos, Carolina ainda critica brevemente o
buscava sobras de carnes e ossos papel dos homens na criação dos
descartados em frigoríficos, com os filhos e em um relacionamento. Ela
quais fazia uma sopa aguada, até menciona que prefere criar seus
que começaram a jogar creolina para filhos sozinha do que viver repleta de
que nada fosse recolhido. problemas causados por eles, que,
muitas vezes, são violentos e
Muitas vezes, a autora e seus filhos ausentes.
tiveram que dormir com fome porque
ela não conseguiu dinheiro para
nada. Nesses dias, seus relatos são
feitos com raiva, como se fossem Quem descobriu Carolina Maria de
uma válvula de escape para tudo Jesus foi o repórter Audálio Dantas,
que, angustiadamente, guardava quando foi produzir uma reportagem
dentro de si. De acordo com ela, a no bairro do Canindé.
fome, que permeia todo diário, tem
cor:
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Por entre os becos da favela que verdade só poderia ter sido


crescia a beira do Tietê, Audálio elaborada por quem tivesse
encontrou uma senhora com muita vivenciado aquela experiência.
história para contar.
O próprio Manuel Bandeira, leitor de
Carolina mostrou cerca de vinte Carolina, afirmou a favor da
cadernos encardidos que guardava legitimidade da obra:
no seu barraco e os entregou ao
jornalista que ficou estupefato com o "ninguém poderia inventar aquela
manancial que havia recebido nas linguagem, aquele dizer as coisas
mãos. com extraordinária força criativa mas
típico de quem ficou a meio caminho
Audálio logo percebeu que aquela da instrução primária."
mulher era uma voz do interior da
favela capaz de falar sobre a Como apontou Bandeira, na escrita
realidade da favela: de Quarto de Despejo é possível
localizar características que dão
"Escritor nenhum poderia escrever pistas do passado da autora e que
melhor aquela história: a visão de demonstram ao mesmo tempo a
dentro da favela." fragilidade e a potência da sua
escrita.
Alguns trechos dos cadernos foram
publicados em uma reportagem no
Folha da Noite do dia 9 de maio de
1958. Outra parte saiu na revista O
cruzeiro publicada no dia 20 de junho
de 1959. No ano a seguir, em 1960,
surgiria a publicação do livro Quarto "O Quarto de Despejo está vivo",
de Despejo, organizado e revisado afirma filha de Carolina Maria de
por Audálio. Jesus

O jornalista garante que o que fez no


texto foi editar de modo a evitar
muitas repetições e alterar questões
de pontuação, de resto, diz ele, trata-
se dos diários de Carolina na íntegra.

Com o sucesso de vendas (foram


mais de 100 mil livros vendidos em
um único ano) e com a boa
repercussão da crítica, Carolina
estourou e passou a ser procurada
por rádios, jornais, revistas e canais
de televisão. Vera é filha caçula de Carolina de Jesus,
professora de língua portuguesa e
Muito se questionou na época sobre responsável
a autenticidade do texto, que alguns pelo acervo da autora.
atribuíram ao jornalista e não a ela.
Mas muitos também reconheceram Professora de língua portuguesa e
que aquela escrita conduzida com tal filha da escritora, Vera Eunice de
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Jesus Lima acredita que pouca coisa ela passou, pela história que ela
mudou na sociedade brasileira tinha, porque muitos negros têm a
nesses 60 anos, mas a postura da história da Carolina. Eu vejo várias
população negra mudou. mulheres que são mães solteiras,
empregadas domésticas, com pouco
“O livro ‘Quarto de Despejo’ está estudo ou com muito estudo; eu vejo
completando 60 anos, mas o adolescentes negras querendo
problema no Brasil continua o alcançar o sonho igual a Carolina
mesmo, por isso é um livro atual e Maria de Jesus alcançou.
será assim por muito tempo. O que
eu tenho visto de mudança quanto Então, eu acho que a Carolina Maria
ao ‘Quarto de Despejo’ e hoje é que de Jesus hoje é mesmo uma
hoje o negro é engajado, o negro é referência para a literatura negra e
politizado, o negro é culto, o negro para os negros não só no Brasil, eu
sabe o que quer, o negro quer atingir digo nisso negros americanos,
seus sonhos”, analisou. negros de Paris, negros da
Alemanha. Então, o meu objetivo
Brasil de Fato Pernambuco: hoje é colocar a Carolina Maria de
Lançado em 1960, o livro "Quarto Jesus na literatura, ao lado de
de Despejo: Diário de uma Clarice Lispector, ao lado de Jorge
Favelada" completa 60 anos e até Amado, para termos uma escritora
hoje é considerado um dos livros negra compondo a nossa literatura
mais importantes da literatura brasileira.
brasileira e um dos primeiros
escritos por uma mulher negra. Quais são a lembrança mais
Como você observa as mudanças marcante da sua infância com a
que aconteceram na literatura afro sua mãe na favela do Canindé, em
brasileira nesse período? São Paulo? Já que muitas dessas
histórias estão descritas no livro e
Vera Eunice: O livro “Quarto de contam a história da vida de
Despejo” está completando 60 anos, Carolina e também da sua e dos
mas o problema no Brasil continua o seus irmãos.
mesmo, por isso é um livro atual e
será assim por muito tempo. O que As lembranças que eu tenho da
eu tenho visto de mudança quanto minha mãe na favela do Canindé
ao “Quarto de Despejo” e hoje é que são logicamente de uma mulher que
hoje o negro é engajado, o negro é vivia atrás de comida. Isso eu tenho
politizado, o negro é culto, o negro claramente na minha memória a
sabe o que quer, o negro quer atingir preocupação dela em alimentar os
seus sonhos. Inclusive eu estive no filhos, mas também tem partes muito
Nordeste e eu fiquei impressionada alegres que eu lembro da Carolina:
de como o negro é culto, como ele lê eu lembro da Carolina cantando com
Carolina, como ele sabe a história da a gente, eu lembro da Carolina lendo
Carolina e desde o negro mais para a gente, eu lembro da Carolina
simples, como o que cata recicláveis, contando os causos. Ela tinha o livro
até o negro mais culto; e isso não só “As Mil e Uma Noites” e lia todo dia
no Nordeste. uma história para a gente, então era
uma mulher que queria passar a
Eu tenho percebido que o negro se cultura para os filhos. A gente tocava
espelha muito na Carolina, pelo que
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violão, ela tocava e a gente cantava para a rua. Mas a rua também
junto. ninguém merece, a rua também são
noites longas, noites frias, terrível a
Mas também lembro de muitas rua também. Então, voltávamos para
partes, uma que me chocou muito no a favela.
“Quarto de Despejo” é que a gente
vivia pedindo comida, principalmente Ela jamais deixaria meus irmãos
o meu irmão mais velho, ele pedia faltarem a escola, então o que ela
comida o tempo todo, como dizia a fazia era os colocar pela janela
minha mãe - ela falava muito bem, quando o barco vinha buscar;
então ela falava “esse famélico”. Eu quando o barco não vinha, ela os
lembro que ela chegou em casa com colocava nas costas e ia nadando;
um pacote embrulhado num jornal e, pegava uma roupinha e trocava lá
quando ela chegava em casa, eu quando chegava, mas ela não os
lembro que a gente já a cercava, a deixava faltar a escola.Ela valorizava
gente não tinha móveis – a gente muito o estudo, ela valorizava muito
tinha caixotes e caixas – e eu lembro o ensino e, conversando com
que ela colocou aquele pacote na Conceição Evaristo que faz parte do
mesa e nós chegamos na mesa e conselho dos novos lançamentos da
quando ela abriu eram ratos mortos. Carolina que virão pela Companhia
Então, ela se desesperou, porque das Letras, achei interessante que
tinha dias que ela conseguia trazer ela pegou um trecho do diário da
comida, mas tinha dias que chovia, mãe dela que hoje tem 98 anos e ela
que ela não catava muito papel, começa a ler para a gente ali no
então o dinheiro vinha muito curto. grupo. Nossa! Fiquei muito
Ela sofria muito com isso, ela emocionada, achei tão parecido, tão
chorava até. semelhante. E eu acho a história da
Conceição muito parecida com a da
Lembrança também com a minha Carolina, com a minha. Ela sempre
mãe que eu tenho é aquela água, no diz que hoje ela é uma escritora,
Canindé quando chove, transborda porque ela se inspira em Carolina
por causa do rio. Então, minha mãe Maria de Jesus.
nos chamava - porque o barraco
estava inundado – e a gente ia
dormir em um albergue, então a
gente ia para um albergue lá no
centro de São Paulo, mas o albergue 1) UNIMONTES/2014 O fragmento
eu não recomendo para ninguém – abaixo foi extraído do livro Quarto de
não sei se melhorou hoje. despejo, de Carolina Maria de Jesus.
Leia-o com atenção.
A gente dormia naqueles lençóis mal
cheirosos de urina, aquelas 1 DE JULHO...
mulheres nuas correndo para tomar
banho. Era um horror! Eu não Eu percebo que se este Diário for
suportava aquilo e nem ela! Então publicado vai maguar muita gente.
ela nos chamava – ela era muito alta, Tem pessoa que quando me ver
então ela se abaixava - e perguntava passar saem da janela ou fecham as
“vocês querem ficar aqui ou querem portas. Estes gestos não me
ir para a rua?”. A gente falava “então, ofendem. Eu até gosto porque não
vamos para a rua” e aí a gente ia preciso parar para conversar. (...)
Quando passei perto da fabrica vi
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varios tomates. Ia pegar quando vi o uma evasão de uma mulher que se


gerente. Não aproximei porque ele sente marginalizada.
não gosta que pega. Quando
carregam os caminhões os tomates C - O diário Quarto de despejo é
caem no solo e quando os constituído de fragmentos de vida
caminhões saem esmaga-os. Mas a reunidos em cadernos encontrados
humanidade é assim. Prefere vê nas ruas.
estragar do que deixar seus
semelhantes aproveitar. (JESUS, D - Os relatos diários são marcados
1997, p. 69.) por um olhar de denúncias e pela
descrição da rotina marginal de sua
Sobre o excerto acima e sobre o livro autora.
Quarto de despejo, de Carolina
Maria de Jesus, a única afirmativa
INCORRETA é:
3) UEMA/2015 Na obra Quarto de
A - Para a autora, os papéis despejo: diário de uma favelada,
colhidos nas ruas são sua fonte de Carolina Maria de Jesus retrata, em
sobrevivência e, mais tarde, a uma dimensão sociológica e literária,
matéria-prima para a escrita dos suas impressões sobre o cotidiano
seus diários. dos moradores de uma favela. Para
responder à questão, leia a seguir
B - Os diários, além de uma forma dois excertos, transcritos
de extravasamento da raiva e de integralmente, da referida obra.
fazer-se conhecer, eram, para a
autora, um registro da memória. TEXTO I

C - A dimensão social e humanística 20 DE MAIO


do romance é perceptível por meio
da confissão diarística da narradora. (...)Quando cheguei do palácio que é
a cidade os meus filhos vieram dizer-
D - A linguagem de norma culta e me que havia encontrado macarrão
singular da escritora do povo legitima no lixo. E a comida era pouca, eu fiz
o lugar social de sua autora. um pouco do macarrão com feijão. E
o meu filho João José disse-me:–
Pois é. A senhora disse-me que não
ia mais comer as coisas do lixo.Foi a
2) UNIMONTES/2014 Sobre o livro primeira vez que vi a minha palavra
Quarto de despejo, de Carolina falhar.(...)
Maria de Jesus, todas as afirmativas
abaixo estão corretas, EXCETO: TEXTO II

A - A autora – mulher, negra, mãe 30 DE MAIO


solteira – assinala a sua escrita com
a consciência do que é estar no (...)Chegaram novas pessoas para a
“quarto de despejo” da grande favela. Estão esfarrapadas, andar
cidade de São Paulo. curvado e os olhos fitos no solo
como se pensasse na sua desdita
B - O ato cotidiano de recolher por residir num lugar sem atração.
resíduos da sociedade paulistana é Um lugar que não se pode plantar
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uma flor para aspirar o seu perfume, cruzeiros. Fiquei pensando que
para ouvir o zumbido das abelhas ou precisava comprar pão, sabão e leite
o colibri acariciando-a com seu frágil para a Vera Eunice. E os 13
biquinho. O único perfume que exala cruzeiros não dava! Cheguei em
na favela é a lama podre, os casa, aliás no meu barracão,
excrementos e a pinga. nervosa e exausta. Pensei na vida
atribulada que eu levo. Cato papel,
.Fonte: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo:
Diário de uma favelada. 9. ed. São Paulo: Ática, 2007.
lavo roupa para dois jovens,
permaneço na rua o dia todo. E
O título do livro “Quarto de Despejo” estou sempre em falta. A Vera não
pode sugerir algumas inferências. tem sapatos. E ela não gosta de
Assinale aquela que NÃO pode ser andar descalça. Faz uns dois anos,
comprovada pelo relato. que eu pretendo comprar uma
maquina de moer carne. E uma
A - O ambiente onde escreve maquina de costura.
Carolina assemelha-se a um quarto
de despejo. Cheguei em casa, fiz o almoço para
os dois meninos. Arroz, feijão e
B - Tal qual os objetos que Carolina carne. E vou sair para catar papel.
recolhe nas ruas, ela e seus filhos Deixei as crianças. Recomendei-
são restos ignorados pelo poder lhes para brincar no quintal e não
público. sair na rua, porque os pessimos
vizinhos que eu tenho não dão
C - Os relatos da vida da autora são socego aos meus filhos. Saí
comparados aos pertences deixados indisposta, com vontade de deitar.
em um quarto de despejo. Mas, o pobre não repousa. Não tem
o privilegio de gosar descanço. Eu
D - Há uma alusão ao local onde estava nervosa interiormente, ia
vivem as pessoas que trabalham maldizendo a sorte (...) Catei dois
com serviços domésticos em casas sacos de papel. Depois retornei,
de luxo. catei uns ferros, uma latas, e lenha.
Vinha pensando. Quando eu chegar
na favela vou encontrar novidades.
Talvez a D. Rosa ou a indolente
Maria dos Anjos brigaram com meus
4) UERR 2020
filhos. Encontrei a Vera Eunice
dormindo e os meninos brincando na
16 DE JULHO
rua. Pensei: são duas horas. Creio
que vou passar o dia sem novidade!
Levantei. Obedecia a Vera Eunice.
O João José veio avisar-me que a
Fui buscar agua. Fiz café. Avisei as
perua que dava dinheiro estava
crianças que não tinha pão. Que
chamando para dar mantimentos.
tomassem café simples e comesse
Peguei a sacola e fui. Era o dono do
carne com farinha. Eu estava
Centro Espirita da rua Vargueiro 103.
indisposta, resolvi benzer-me. Abria
Ganhei dois quilos de arroz, idem de
a boca duas vezes, certifiquei-me
feijão e dois quilos de macarrão.
que estava com mau olhado. A
Fiquei contente. A perua foi-se
indisposição desapareceu sai e fui
embora. O nervoso interior que
ao seu Manoel levar umas latas para
eu sentia ausentou-se. Aproveitei a
vender. Tudo quanto eu encontro no
minha calma interior para eu ler.
lixo eu cato para vender. Deu 13
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Peguei uma revista e sentei no classificar o texto como crônica de


capim, recebendo os raios solar para comentário.
aquecer-me. Li um conto. Quando
iniciei outro surgiu os filhos pedindo
pão. Escrevi um bilhete e dei ao meu
filho João José para ir ao Arnaldo 5) Leia o texto a seguir:
comprar sabão, dois melhoraes e o
resto pão. Puis agua no fogão para 15 DE JULHO DE 1955
fazer café. O João retornou-se.
Disse que havia perdido os Aniversário de minha filha Vera
melhoraes. Voltei com ele para Eunice. Eu pretendia comprar um
procurar. Não encontramos. par de sapatos para ela. Mas o custo
dos gêneros alimentícios nos
Quando eu vinha chegando no impede a realização dos nossos
portão encontrei uma multidão. desejos. Atualmente somos
Crianças e mulheres, que vinha escravos do custo de vida. Eu achei
reclamar que o José Carlos havia um par de sapatos no lixo, lavei e
apedrejado suas casas. Para eu remendei para ela calçar.
repreendê-lo.
Eu não tinha um tostão para comprar
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de pão. Então eu lavei 3 litros e troquei
despejo: diário de uma favelada.9 ed. 6 imp. com o Arnaldo. Ele ficou com os
São Paulo: Ática, 2007.
litros e deu-me pão. Fui receber o
dinheiro do papel. Recebi 65
Em se tratando do gênero textual do
cruzeiros. Comprei 20 de carne. 1
trecho retirado da obra Quarto de
quilo de toucinho e 1 quilo de açúcar
despejo: diário de uma favela,
e seus cruzeiros de queijo. E o
aponte a afirmativa correta.
dinheiro acabou-se.
a) A linguagem textual é elaborada
Passei o dia indisposta. Percebi que
a partir de elementos comuns à
estava resfriada. A noite, o peito
poética, tendo em vista a
doía-me. Comecei tussir. Resolvi
sensibilidade com que o cotidiano é
não sair a noite para catar papel.
exposto.
Procurei meu filho João José. Ele
estava na Felisberto de Carvalho,
perto do mercadinho. O ônibus atirou
b) Os versos acentuam a pobreza
um garoto na calçada e a turba aluiu-
comum à realidade humana em uma
se. Ele estava no núcleo. Dei-lhe uns
linguagem de exposição impessoal.
tapas e em cinco minutos ele chegou
em casa.
c) A estruturação linguística do texto
deixa evidente o caráter pessoal da
Ablui as crianças, aleitei-as e ablui-
descrição da vivência do cotidiano.
me e aleitei-me. Esperei até as 11
horas, um certo alguém. Ele não
d) Não é comum observar, na
veio. Tomei um melhoral e deitei-me
Literatura Brasileira, a escrita de
novamente. Quanto despertei o
textos utilizando o gênero diário.
astro rei deslizava no espaço. Minha
filha Vera Eunice dizia: - Vai buscar
e) Por conta da captação da
água mamãe!”
realidade na presente escrita de
Carolina Maria de Jesus, podemos
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(Fonte: JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo: O bicho


diário de uma favelada. 8. ed. São Paulo: Ática, 2000).

Considerando as informações Vi ontem um bicho


apresentadas e os estudos sobre Na imundície do pátio
variação linguística, analise as Catando comida entre os detritos.
afirmações a seguir.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
I. Nesse trecho do livro Quarto de Engolia com voracidade.
despejo de Carolina Maria de Jesus,
há variação linguística relacionada à O bicho não era um cão,
posição social da escritora. Não era um gato,
Não era um rato.
II. Nesse trecho do livro Quarto de
despejo de Carolina Maria de Jesus, O bicho, meu Deus, era um homem.
há variação linguística relacionada
ao grau de escolaridade da autora.
Assinale a alternativa que identifica
III. A variação de registro, que se esse tema recorrente nas duas
caracteriza pelo uso formal e obras.
informal da linguagem, apontam que
os desvios gramaticais presentes no a) A revolta e a indignação daqueles
texto são propositais e inaceitáveis que sofrem a miséria e a
para esse gênero textual. marginalização social.

É correto o que se afirma em: b) O problema da fome, que avilta a


dignidade humana.
a) I apenas
c) A aceitação da pobreza, que se
b) I e III apenas tornou uma condição inerente às
sociedades modernas.
c) II apenas
d) A esperança como forma de
d) II e III apenas enfrentar o sofrimento da fome e de
garantir a sobrevivência.
e) I e II apenas
e) O ato de escrever funciona como
modo de driblar a fome.

6) UFRGS 2020 Instrução: A


questão refere-se à obra Quarto de
despejo, de Carolina Maria de Jesus. 7) Leia o trecho final da obra Quarto
de despejo, de Carolina Maria de
Um tema em Quarto de despejo é Jesus:
encontrado também no poema “O
bicho”, de Manuel Bandeira, ... Eu fui fazer compras, porque
transcrito a seguir. amanhã é dia de ano. Comprei arroz,
sabão, querosene e açucar.
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O João e a Vera deitaram-se. Eu ... As vezes mudam algumas famílias


fiquei escrevendo. O sono surgiu, eu para a favela, com crianças. No inicio
adormeci. Despertei com o apito da são iducadas, amaveis. Dias depois
Gazeta anunciando o Ano Novo. usam o calão, são soezes e
Pensei nas corridas e no Manoel de repugnantes. São diamantes que
Faria. Pedia a Deus para ele ganhar transformam em chumbo.
a corrida. Pedi para abençoar o Transformam-se em objetos que
Brasil. estavam na sala de visita e foram
para o quarto de despejo.
Espero que 1960 seja melhor do que
1959. Sofremos tanto no 1959, que Texto II
dá para a gente dizer:
Abri a janela e vi as mulheres que
Vai, vai mesmo! passam rapidas com seus agasalhos
descorados e gastos pelo tempo.
Eu não quero você mais. Daqui a uns tempos estes palitol que
elas ganharam de outras e que de há
Nunca mais! muito devia estar num museu, vão
ser substituidos por outros. É os
1 de janeiro de 1960 ... Levantei as 5 politicos que há de nos dar. Devo
horas e fui carregar agua. incluir-me, porque eu também sou
favelada. Sou rebotalho. Estou no
O texto autobiográfico de Carolina quarto de despejo, e o que está no
Maria de Jesus, escritora negra quarto de despejo ou queima-se ou
moradora da favela Canindé, em joga-se no lixo.
São Paulo, foi produzido entre as
décadas de 1950 e 1960. Levando Redija um texto para explicar, pela
em consideração o contexto de concepção da própria autora, o
produção da obra, analise como o significado metafórico do título da
final dos diários de Carolina de Jesus obra.
sintetiza a própria condição social da
autora.

8) Leia os seguintes fragmentos da


obra Quarto de despejo, de Carolina
Maria de Jesus:

Texto I
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9) UFRGS 2019 Leia os fragmentos (B) Apenas II.


abaixo. (C) Apenas III.
(D) Apenas I e II.
Quando eu fui catar papel encontrei (E) I, II e II
um
preto. Estava rasgado e sujo que
dava pena. Nos seus trajes rôtos êle
podia representar-se como diretor 10) "Quarto de Despejo" Carolina de
do sindicato dos miseráveis. Jesus. O diário de Carolina de Jesus,
Quarto de Despejo, retrata a vida da
2 de maio de 1958 [...] Passei o dia escritora. No livro percebe-se uma
catando papel. A noite meus pés questão social historicamente
doíam tanto que eu não podia combatida no mundo inteiro, que é a
andar.
A) condição contrária à escravidão.
14 de junho ... Está chovendo. Eu B) alimentação tradicional das
não posso ir catar papel. O dia que famílias.
chove eu sou mendiga. C) má distribuição de renda.
D) caridade aos mais pobres.
3 de maio ... Fui na feira da Rua E) mudança climática.
Carlos de Campos, catar qualquer
coisa.
Depois fui catar lenha. Parece que
vim ao mundo predestinada a catar. 11) ENEM LIBRAS 2017
Só não cato a felicidade.
Quarto de despejo l Carolina Maria
Considere as seguintes afirmações de Jesus
sobre a ação de “catar”. Do diário da catadora de papel
Carolina Maria de Jesus surgiu este
I - Relaciona-se ao título da obra, autêntico exemplo de literatura-
uma vez que Quarto de despejo verdade, que relata o cotidiano triste
serve de metáfora à situação da e cruel da vida na favela. Com uma
própria personagem, que vive na linguagem simples, mas
favela como um objeto descartado. contundente e original, a autora
comove o leitor pelo realismo e pela
II - Associa-se à atividade da sensibilidade na maneira de contar o
escritora, que recolhe da experiência que viu, viveu e sentiu durante os
de viver do lixo a própria matéria anos em que morou na comunidade
para a sua criação literária. do Canindé, em São Paulo, com
seus três filhos
III- Refere-se à descoberta dos
diários de Carolina pelo jornalista Ao ler este relato — verdadeiro best-
Audálio Dantas, graças ao qual ela seller no Brasil e no exterior — você
se torna uma escritora de grande vai acompanhar o duro dia a dia de
sucesso editorial, condição que lhe quem não tem amanhã. E vai
garante sustentabilidade financeira e perceber com tristeza que, mesmo
saída definitiva da miséria. tendo sido escrito na década de
1950, este livro jamais perdeu a sua
Quais estão corretas? atualidade.
(A) Apenas I.
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JESUS, C. M. Quarto de despejo: diário de uma 14) UNICAMP 2 FASE


favelada. São Paulo: Ática, 2007.

Identifica-se como objetivo do Texto I


fragmento extraído da quarta capa
do livro Quarto de despejo (…) Contemplava extasiada o céu
cor de anil. E eu fiquei
a) retomar trechos da obra. compreendendo que eu adoro o meu
Brasil. O meu olhar posou nos
b) resumir o enredo da obra. arvoredos que existe no início da rua
Pedro Vicente. As folhas movia-se.
c) destacar a biografia da autora. Pensei: elas estão aplaudindo este
meu gesto de amor a minha Pátria.
d) analisar a linguagem da autora. (…) Toquei o carrinho e fui buscar
mais papeis. A Vera ia sorrindo. E eu
e) convencer o interlocutor a ler a pensei no Casemiro de Abreu, que
obra. disse: “Ri criança. A vida é bela”. Só
se a vida era boa naquele tempo.
12) IF SUL DE MINAS 2011 Quarto Porque agora a época está
de despejo, de Carolina Maria de apropriada para dizer: “Chora
Jesus, tem como traço recorrente, criança. A vida é amarga”.
EXCETO:
(Carolina Maria de Jesus, Quarto de
a) denúncia contra o racismo despejo. São Paulo: Ática, 2014, p.
35-36.)
b) crítica ao descaso do governo
com a favela RISOS

c) linguagem padrão Ri, criança, a vida é curta,


O sonho dura um instante.
d) repetição da rotina da autora Depois… o cipreste esguio
Mostra a cova ao viandante!

A vida é triste ̶ quem nega?


̶ Nem vale a pena dizê-lo.
13) Observe o poema ‘’Lixo Luxo’’ de
Deus a parte entre seus dedos
Augusto de Campos.
Qual um fio de cabelo!

Como o dia, a nossa vida


Na aurora ̶ é toda venturas,
De tarde ̶ doce tristeza,
De noite ̶ sombras escuras!

A velhice tem gemidos,


Qual a relação entre o poema ̶ A dor das visões passadas
concreto e a obra Quarto de ̶ A mocidade ̶ queixumes,
despejo? Só a infância tem risadas!

Ri, criança, a vida é curta,


O sonho dura um instante.
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Depois… o cipreste esguio Maria de Jesus, e responda


Mostra a cova ao viandante! a questão 15 e 16

(Casemiro J. M. de Abreu, As 15 de maio


primaveras. Rio de Janeiro:
Tipografia de Paula Brito,1859, p. Tem noite que eles improvisam uma
237-238.) batucada e não deixa ninguém
dormir. Os visinhos de alvenaria já
a) Nas três linhas iniciais do texto I, tentaram com abaixo assinado
a autora estabelece uma relação retirar os favelados. Mas não
entre o sujeito da ação e o espaço conseguiram. Os visinhos das casas
em que ele se encontra. Mencione e de tijolos diz:
explique dois recursos poéticos que
compõem a cena narrativa. – Os políticos protegem os
favelados.

Quem nos protege é o povo e os


Vicentinos. Os políticos só aparecem
aqui nas epocas eleitoraes. O senhor
Cantidio Sampaio quando era
vereador em 1953 passava os
domingos aqui na favela. Ele era tão
agradavel. Tomava nosso café,
bebia nas nossas xícaras. Ele nos
dirigia as suas frases de viludo.
b) A representação da infância no Brincava com nossas crianças.
texto I se aproxima e, ao mesmo Deixou boas impressões por aqui e
tempo, difere daquela que se quando candidatou-se a deputado
encontra no texto II. Considerando venceu. Mas na Camara dos
que o texto I é um excerto do diário Deputados não criou um projeto para
de Carolina Maria de Jesus e o texto beneficiar o favelado. Não nos
II é um poema romântico, identifique visitou mais.
e explique essa diferença na
representação da infância, com base ... Eu classifico São Paulo assim: o
nos períodos literários. Palacio, é a sala de visita. A
Prefeitura é a sala de jantar e a
cidade é o jardim. E a favela é o
quintal onde jogam os lixos.

JESUS, Carolina Maria de. Quarto


de despejo: diário de uma favelada.
10ª ed. São Paulo: Ática, 2014. p.32.

Assinale a alternativa que


estabelece a exata correlação entre
Quarto de despejo e os romances
Casa de pensão, de Aluísio
Azevedo, e Clara dos Anjos, de Lima
15) UEL 2021 Leia o trecho de Barreto
Quarto de despejo, de Carolina
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a) A miséria dos favelados de Quarto recorre a própria autora em sua


de despejo é experimentada prática de escrita baseada na
também pelos moradores da pensão simplicidade e na autenticidade.
e pelos parentes do protagonista no
romance Casa de pensão. III. A expressão “frases de viludo”
revela afastamento em relação à
b) As dificuldades enfrentadas pelas norma culta, ao mesmo tempo em
personagens de Quarto de despejo que demonstra desenvoltura da
numa cidade grande como São autora para exibir consciência
Paulo têm pontos de contato com o política e índole poética.
individualismo que cerca as
personagens de Casa de pensão. IV. O trecho “bebia nas nossas
xícaras” comprova a capacidade da
c) A distância do acesso ao poder autora para construir passagens
representada em Quarto de despejo líricas, desvinculando-se da temática
é equivalente ao caráter política e social e do tom ácido e
desprotegido que atinge o inconformado.
protagonista de Casa de pensão e as
personagens que com ele convivem. Assinale a alternativa correta.

d) A associação da favela ao lixo em a) Somente as afirmativas I e II são


Quarto de despejo é uma retomada corretas.
das condições de moradia de
personagens como Clara dos Anjos b) Somente as afirmativas I e IV são
e Cassi Jones na narrativa de Lima corretas.
Barreto.
c) Somente as afirmativas III e IV são
e) O descaso dos políticos focalizado corretas.
em Quarto de despejo é o
comportamento que conduz a
protagonista Clara ao desespero
quando ela se vê abandonada por d) Somente as afirmativas I, II e III
Cassi Jones e pelas autoridades. são corretas.

e) Somente as afirmativas II, III e IV


são corretas.
16) Com base na leitura do trecho,
considere as afirmativas a seguir

I. O trecho “bebia nas nossas 17) Acerca dos recursos linguístico-


xícaras” corresponde a uma imagem semânticos empregados no trecho,
que busca no cotidiano e na alusão considere as afirmativas a seguir.
a seus objetos materiais a
composição de uma cena que é I. Em “Tomava nosso café, bebia
desmascarada ainda no mesmo nas nossas xícaras. Ele nos dirigia
parágrafo. as suas frases de viludo. Brincava
com nossas crianças”, o referente
II. A expressão “frases de viludo” cria dos pronomes “nosso, nossas, nos”
o contraste entre a fala sofisticada do aparece no início do texto:
político e o uso da linguagem a que “favelados”.
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II. Em “E a favela é o quintal”, o outras estão certas, pois Carolina


conectivo “E” apresenta, a um só encontrou um modo de extravasar
tempo, sentido de adição, de acordo sua raiva e de fazer uma denúncia
com a sequência de períodos que o social de um contexto no qual ela
precede, e oposição, materializada estava inserida por meio dos papéis
nos substantivos “jardim”, “quintal” e que ela encontrou na rua.
“lixos”.
2) Alternativa B
III. A expressão “visinhos de
alvenaria” é um exemplo que Não é o ato de recolher resíduos que
caracteriza uso de linguagem seria uma evasão, e sim o ato de
denotativa. escrever e relatar seu cotidiano e
sua situação social. Carolina
IV. Em “E a favela é o quintal onde recolhia resíduos porque uma de
jogam os lixos”, o termo “onde” pode suas únicas fontes de renda era
ser substituído por “aonde”, vendê-los.
preservando o respeito à norma culta
e ao sentido original. 3) Alternativa D
Carolina não dá nenhum enfoque
Assinale a alternativa correta. especial às pessoas que trabalham
em casas de luxo, e sim compara a
a) Somente as afirmativas I e II são favela com um quarto de despejo,
corretas. porque lá seria um lugar que as
pessoas ignoram, e em que os
b) Somente as afirmativas I e IV são moradores são vistos como à
corretas. margem da sociedade, ignorados e
largados. Assim, Carolina faz uma
c) Somente as afirmativas III e IV são forte denúncia social, ao trazer a fala
corretas. de alguém do quarto de despejo para
o olhar público.

4) Alternativa C

a) não é comum na poesia o uso da


d) Somente as afirmativas I, II e III objetividade, é possível ver que a
são corretas. Carolina narra objetivamente, sem
lirismos.
e) Somente as afirmativas II, III e IV
são corretas.
b) não é impessoal, pois ela narra
sua vivência no contexto de pobreza
e miséria.

1) Alternativa D d) é sim, diários são gêneros comuns


e) não, é gênero no qual o autor
Vemos que a linguagem que interpreta um determinado assunto,
Carolina utiliza em seus escritos é com viés jornalístico.
popular, e não culta, apresentando
muitas marcas de oralidade e da fala 5) Alternativa A
coloquial. Além disso, todas as
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I. Nesse trecho do livro Quarto de causa do ano novo, a rotina da favela


despejo de Carolina Maria de Jesus, não se altera. É interessante abordar
há variação linguística relacionada à o cotidiano sofrido da catadora,
posição social da escritora. acordando cedo, submetendo-se a
trabalhos braçais pesados,
II. Nesse trecho do livro Quarto de carecendo de infraestrutura no
despejo de Carolina Maria de Jesus, barraco em que mora. É importante
há variação linguística relacionada também demonstrar como o registro
ao grau de escolaridade da autora. autobiográfico de Carolina de Jesus
(Incorreto, a autora, embora semi- explicita a denúncia das péssimas
analfabeta, emprega a forma culta condições de vida dos
da língua adequadamente) marginalizados, cujas vidas
precárias não se alteram.
III. A variação de registro, que se
caracteriza pelo uso formal e 8) O ponto de vista da escritora
informal da linguagem, apontam que enfatiza como os ricos ignoram e
os desvios gramaticais presentes no descartam os mais pobres, por isso
texto são propositais e inaceitáveis Carolina se considera também um
para esse gênero textual. (Incorreto, despejo social. É importante
não são inaceitáveis para esse confirmar essas ideias extraindo
gênero textual, trata-se de um diário) elementos dos excertos que
comprovem a ideia referente à
É correto o que se afirma em: I precariedade da vida dos
apenas marginalizados, que vivem de comer
restos, alimentando-se do lixo, além
6) Alternativa B dos materiais recicláveis que catam
para obter alguma fonte de renda.
A obra "Quarto de despejo", de
Carolina Maria de Jesus, aborda o 9) Alternativa D
modelo do cotidiano da população
no ambiente das favelas, onde a Em Quarto de despejo, o verbo
narradora tenta sobreviver nas ruas “catar” está associado à rotina de
da grande São Paulo como catadora, Carolina Maria de Jesus como
procurando nos lixos as sobras dos catadora de lixo, vivendo em uma
demais. favela como objeto descartado, ao
mesmo tempo que faz da
Nesse contexto, é abordada a ideia experiência de viver do lixo a própria
de que o que para uns é sobra, para matéria para a sua criação literária.
outros é considerado ouro. Sendo
assim, o tema que é abordado no 10) Alternativa C
livro, presente no texto apresentado,
compreende a fome. O diário de Carolina de Jesus,
"Quarto de Despejo", retrata a vida
Aviltar: Tornar-se indigno; perder a da escritora. No trecho, percebe-se
honra; uma questão social historicamente
combatida no mundo inteiro, que é a
7) Percebe-se, por meio da leitura, LETRA C (má distribuição de renda).
que não há saída possível para a
miséria. Apesar de uma esperança Carolina Maria de Jesus, escritora,
de melhora por parte da autora, por poetisa e compositora brasileira,
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tendo o seu diário "Quarto de e) Correta. Ao utilizar a interlocução,


Despejo: Diário de uma Favelada", percebemos um contato direto com
publicado em 1960, a obra mais quem está lendo com o objetivo de
famosa e reconhecida da sua instigar a pessoa a ler a obra.
carreira artística. Além disso, foi
umas das primeiras mulheres pretas 12) Alternativa C
a serem lidas e consideradas
autoras pela sociedade brasileira. O texto foge da linguagem padrão,
contendo marcar da linguagem
Em seu diário, Carolina, com uma informal e da variação social como
escrita simples e rotineira, narra a forma de mostrar a condição social
sua trajetória pobre na cidade de na qual vivia a autora.
São Paulo. Ela, empregada e
catadora de latinhas, trabalhava o 13) Além da situação de miséria
dia todo para poder sustentar seus retratada no livro "Quarto de
filhos em meio a uma vida de despejo", no qual as personagens
injustiças e violência. vivem em região de favela e a partir
da qual é possível fazer leituras entre
Carolina denunciava a pobreza e a o teor do livro e o poema "Luxo", há
desigualdade que assolam o Brasil e ainda uma relação mais significativa
escreve de modo direto as suas entre as duas formas de
dificuldades, relatava a fome, a composição.
pedofilia, a revolta com o mundo, a
miséria, a vida nas favelas e vários Ocorre que "Quarto de Despejo" é
outros assuntos de extrema originado de um diário elaborado
importância. pela autora Carolina Maria de Jesus
a partir de papéis que catava no lixo
11) Alternativa E urbano.

a) Falsa. No texto apresentado não Aqui é possível fazer um jogo de


há passagem alguma de trechos da sentidos com o poema "Luxo":
obra. enquanto que no poema se retrata o
b) Falsa. Apesar de você ter uma lixo que advém/resulta de práticas
apresentação sucinta da obra, não consumistas e que são consideradas
ocorre o resumo do seu enredo luxuosas; no livro temos o inverso, a
(creio que essa estaria certa caso partir do lixo, da escassez é criada
houvesse um enfoque maior nos uma obra literária carregada, desde
personagens e tal, mas não é isso a seu material originário de
que ocorre) composição, de sentidos profundos,
ou seja, do lixo advém uma
c) Falsa. Caso esse fosse o objetivo verdadeira peça de "luxo".
do fragmento, o texto estaria
desenvolvendo mais aspectos 14) a) Os dois recursos poéticos
acerca da autora. observáveis nas três primeiras linhas
são: rima e personificação. Há rima
d) Falsa. Em momento algum entre “anil” e “Brasil” e
observamos o texto analisando a personificação em dois momentos, a
linguagem que a autora utiliza. folhas aplaudem o amor à pátria e o
olhar “pousou” nos arvoredos.
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b) No Romantismo, a infância é II. Correta. O conectivo “E” adiciona


idealizada, considerada como o as ideias apresentadas no período,
momento da felicidade perdida. O acrescentando informações ao leitor,
texto de Carolina foi escrito na ao mesmo tempo em que marca uma
década de 50 na mesma período da relação de oposição entre as
Terceira Geração Modernista. Ou condições de quem vive em cada
seja, sua obra é pulicada depois de, “local” citado.
pelo menos, dois movimentos
literários recusarem a idealização III. Incorreta. A expressão
romântica: o realismo e o caracteriza uso de linguagem
Modernismo. conotativa.

De certa forma, isso permitiu que IV. Incorreta. O termo “onde” indica
Carolina pudesse registrar sem permanência em um lugar, não
idealização o real sofrimento que se podendo ser substituído por “aonde”,
vive na infância, principalmente se a que indica movimento “para” um
criança for extremamente pobre. lugar, usado com verbo cuja
regência necessita de preposição,
como “ir” (eu sei aonde queres ir)

15) Alternativa B

Os moradores da pensão e, menos


ainda, os parentes do protagonista
do romance de Aluísio Azevedo
não experimentam a miséria como
os favelados de Quarto de despejo.
Enredo e escrita da autora:
O mesmo vale para o acesso ao culturagenial.com
poder, que não é equivalente. O Conflitos, religiosidade,
lixo, em Clara dos Anjos, não é tão publicação e personagens:
ostensivo quanto em Quarto de beduka.com
despejo. Não é o descaso dos Sobre a autora, crítica social e
políticos que leva Clara dos Anjos contexto histórico:
ao desespero, mão o abandono de todoestudo.com.
Cassi Jones. Entrevista: brasildefato.com.br

16) Alternativa D

A autora não se desvincula da


temática política e social nem do
modo ácido com que a aborda.

17) Alternativa A

I. Correta. O referente dos


pronomes destacados é citado na
segunda e na quarta linha do texto:
“favelados”.
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seja na ficção, no ensaio ou na


crônica, um estilo altamente
humanista, que o torna dono de
valores universais”, segundo o
escritor gaúcho Luiz Antônio Assis
Brasil, para quem a ABL, ao aceitá-
lo como imortal, fez justiça não só ao
Rio Grande do Sul, mas também ao
grande escritor que ele foi, capaz de
introduzir na literatura brasileira a
Moacyr Jaime Scliar contribuição que outros escritores de
origem judaica deram à literatura
mundial. Sua ficção insere a
temática do imigrante judeu e urbano
no imaginário da literatura sul-rio-
grandense.

Moacyr Scliar é considerado um dos


escritores mais representativos da
literatura brasileira contemporânea.
Os temas dominantes de sua obra
são a realidade social da classe
média urbana no Brasil, a medicina e
o judaísmo. Suas descrições da
classe média eram, frequentemente,
inventadas a partir de um ângulo
supra-real.
Moacyr Jaime Scliar nasceu a 23 de
março de 1937, no hospital da
Beneficência Portuguesa, em Porto
Alegre (RS). Seus pais, José e Sara Reúne crônicas ficcionais escritas
Scliar, oriundos da Bessarábia por Moacyr Scliar, baseadas em
(Rússia), chegaram ao Brasil em notícias reais publicadas no jornal,
1904. Filho mais velho do casal, que para a Folha de S. Paulo, onde o
teve ainda Wremyr e Marili, desde escritor teve uma coluna por quase
pequeno demonstrou inclinações duas décadas. “Nestas 54 crônicas,
literárias. O próprio nome Moacyr já publicadas entre 2004 e 2008, há
é resultado dessa afinidade. Foi textos extremamente reveladores da
escolhido por sua mãe Sara após a condição humana, como aqueles
leitura de Iracema, de José de que falam do amor desgastado pelo
Alencar, significando “filho da dor”. tempo e do amor que se renova, ou
Ele próprio dizia: “os nomes são dos que têm a vingança, a cobiça e
recados dos pais para os filhos e são traumas de infância como tema. Mas
como ordens a serem cumpridas por mais sério que seja o assunto,
para o resto da vida”. Scliar consegue imprimir um toque
de leveza e humor, como é
“Cada leitor da obra do Scliar tem característico de suas inúmeras
seu gênero preferido. Mas todos colaborações para a imprensa.
reconhecem nele, acima de tudo, Nesta seleção, vê-se como
banalidade do cotidiano, nas mãos
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de um grande escritor, pode se Dentre os diversos tipos de textos


tornar uma bela leitura” que possuímos, a crônica é a mais
utilizada para descrever situações
(Nota dos editores na primeira orelha do livro. 2019). do nosso dia a dia. Em geral, as
crônicas tratam de temáticas
comuns sobre assuntos que estão
na ‘boca do povo’.

A temática é bastante diversa, As características das crônicas:


envolvendo relacionamentos,
avanços tecnológicos, questões • narrativa curta;
sociais, política e questões que • uso de uma linguagem
poderiam ser triviais, mas tem graça simples e coloquial;
e leveza pelos olhos de Scliar. • presença de poucos
personagens, se houver;
Como exemplo, três crônicas com • espaço reduzido;
temas recorrentes na obra: • temas relacionados a
acontecimentos cotidianos.
• O carrinho ciumento=
Tecnologia
• O Futuro da geladeira=
Crítica Social O futuro da geladeira
• O Amor é um jogo de tiro ao
alvo= relacionamentos Esta crônica, assim como todas as
outras, nasce de uma notícia que foi
veiculada no jornal, ou seja, um fato
verídico. A notícia do jornal conta a
história de uma mulher de 80 anos
que desiste de seu sonho de
A Crônica é um gênero textual que ingressar em uma universidade por
tem como principal característica a ter que escolher se pagaria a
compilação de fatos cotidianos. Ela inscrição ou compraria uma
possui uma ordem de sucessão no geladeira.
tempo, poucos personagens, é de
curto tamanho, costuma gerar A partir desse fato, Scliar desenvolve
alguma reflexão e normalmente é a crônica. Nela, ele mostra um
publicada nos jornais e revistas. impasse entre o desejo da
personagem do reconhecimento
Ela é muito utilizada em textos social e pessoal através dos estudos
cotidianos publicados por revistas, ou a consertar a geladeira que
jornais ou blogs, porque as crônicas significaria continuar a manter a
fazem parte de uma escrita mais comida em sua casa.
simples e fácil de ser
compreendida. Além disso, é “Com o curso ela poderia tornar-se
responsável por tornar o texto mais mesmo com idade avançada, uma
próximo ao leitor. Isso permite que o daquelas dinâmicas executivas cuja
texto se torne mais simples, como foto via em jornais e em revistas.” (p.
uma conversa entre amigos, 23)*
tornando a leitura mais divertida.
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“ Era o curso ou a geladeira. Era viagens extravagantes, vale tudo na


apostar no futuro ou resolver os hora de comemorar essa nova fase
problemas do presente. Ou se da vida, inclusive jogar dardos na
inscrevia na universidade ou pagava foto do ex. ( 03/12/2007)
a prestação na loja: tinha de
escolher. Dilema penoso.” (p.24) A crônica conta que após amargar
uma separação dolorosa, a mulher
A partir dos trechos citados e da decide, com o auxílio e pressão de
leitura da crônica, podemos suas amigas, mostrar ao mundo o
perceber uma crítica social. O autor seu novo estado:
coloca em dilema dois pontos que
deviriam ser essenciais e “ Finalmente ela saiu da fossa e,
asseguradas pelo Estado: educação para mostra-lo ao mundo, resolveu
e alimentação. O texto nos mostra dar uma festa de arromba, uma festa
que a personagem não tem nenhum cuja lembrança incomodasse o ex
deles assegurados. O dois pelo resto de seus dias. Teria de
elementos essenciais são colocados usar para isso todas as suas
para decisão. economias, mas certamente valeria
a pena.” (p.35)
Nesta caso temos:
O ponto principal escolhido para ser
Educação X Alimentação analisado no trecho citado é o de a
motivação da festa era mostrar ao
Educação: como símbolo de mundo. Ou seja, o desejo de festejar
prosperidade vinha com a necessidade de
assegurar aos demais de que a
Alimentação: símbolo de personagem estava bem e que isso
sobrevivência fizesse mal ao ex.

Outro fator passível de análise é o A festa é realizada com grande


próprio título “O Futuro da geladeira”, sucesso, mas em dado momento,
já que a personagem não consegue assim como traz a notícia, houve a
dar vasão aos seus anseios para o hora de jogar os dardos na foto do
futuro, quem fica com o futuro ex-namorado:
garantido é a geladeira.
“ O mestre de cerimônia entregou à
O Amor é um jogo de tiro ao moça três dardos. Ela deveria atirá-
alvo los na foto. E, quando o terceiro
dardo ali se cravasse, ela poderia se
A crônica nasce da seguinte notícia: considerar liberta daquela dolorosa
ligação.” (p.36)
Nos Estados Unidos, a moda agora
é fazer a festa de separação. As A crônica parte para um ponto de
festas tornaram-se grande eventos, tensão em que a personagem passa
e algumas empresas estão se a errar os dardos na frente de todos.
especializando nessa demanda que A pressão e grito dos convidados a
cresce. deixam angustiada:

De reuniões discretas a festanças de “ Àquela altura estava transtornada


arromba, de shows performáticos a de raiva e de desespero. Assim
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como errara na vida, estava errando tecnologia criaram um carrinho que


com os dardos. E isso não podia alertará o cliente do supermercado
acontecer, não podia. Ela tinha de assim que for colocado nele algum
acabar com aquele maldito.” produto rico em gordura, açúcar ou
(SCLIAR,2019 p.37) sal. O carrinho possui uma tela
interativa na qual os códigos de
Ao fim da crônica sabe-se que a barras desses produtos, uma vez
personagem foi viver reclusa no escaneados, ativarão uma luz
interior junto aos pais. vermelha de aviso. Quando o cliente
introduzir seu “ cartão de fidelidade ”
Diferente do início em que quer no supermercado onde faz
provar a todos que está bem e normalmente suas compras, o
depois jogando os dardos quando carrinho “ saberá” imediatamente se
diz que se sentia fracassada. ele é solteiro, casado e quantas
vezes faz compras por semana. E
Podemos analisar a crônica a partir “saberá” levar o cliente às prateleiras
da ideia de que a personagem busca que estão mais de acordo com suas
uma imagem social adequada, em preferências. ( 26/11/2007)
que não se pode sofrer por um
relacionamento e nem se sentir Embora a notícia seja de 2007, o
fracassada. Até mesmo os tema mostro muitíssimo atual.
sentimentos os sentimentos em Podemos pensar no impacto da
relação ao ex vão se mostrando tecnologia em nossas vidas e em
diferentes do que ela pretende nossas escolhas. A informação de
mostrar para os amigos; alguns dados leva a inteligência de
vários outros como à própria notícia
Seguindo este pensamento, ainda anuncia.
podemos pensar nas temáticas:
O personagem da crônica é um
• Aparência X essência adepto do carrinho. Solteiro, com
• Necessidade de aprovação excesso de peso e fã de tecnologia,
social ele logo se encantou pelo carrinho.
• Um mundo em que o fracasso Além disso, o carrinho da tinha um
não é permitido diferencial:
• Qualquer dor deve ser
rapidamente suprida “ [...] o carrinho avisava-o da
• Todos esses temas podem proximidade de um amigo ou de um
ser encontrados na crônica e companheiro de trabalho,
corroboram para possíveis acendendo uma luzinha verde,
análises. proporcionando amáveis encontros.”
(p.33)
O carrinho ciumento
O homem encontra no
A crônica nasce a partir da seguinte supermercado a mulher dos seus
notícia: sonhos, e embora tímido decide de
arriscar e vai falar com ela.
Carrinho de supermercado
inteligente está destinado a se Mas houve um problema com o
transformar em arma da luta contra a carrinho que ao chegar perto da
obesidade. Especialistas em moça:
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“ A luz vermelha do carrinho partindo da visão de seres


começou a piscar furiosamente ao inanimados, como, por exemplo, em
mesmo tempo em que uma espécie
de sirena, de cuja existência ele nem O rádio Apaixonado e O carrinho
sabia, soava insistentemente. (p.33) ciumento, onde os objetos (o rádio
e o carrinho) conduzem a narrativa:
“A barulheira chamou a atenção da
moça. Sorrindo, disse que o carrinho “’Minha querida dona, sei que você
deveria estar estragado e sugeriu anda se queixando de mim,
que ele o abandonasse num canto. publicamente, até. Você não pode
(p.33) imaginar o sofrimento que isto me
causa, mesmo porque você
Foi então que os dois começaram provavelmente acha que rádios são
um relacionamento e não foram mais objetos inanimados, sem vida
ao mercado. A crônica termina com própria.” (Trecho de O rádio
humor: Apaixonado, p. 14, 2019).

“Um dia o esperará na saída do É importante lembrar que nesse


prédio para jogar-se sobre ele e livro, Scliar escreve em linguagem
atropelá-lo. Carrinhos ciumentos são simples, por vezes em primeira
um perigo. (p.34) pessoa, por vezes em terceira
pessoa, com pouquíssimos diálogos,
A crônica “O carrinho ciumento” traz abrindo vez ou outra para as
dois temas relevantes: personagens falarem, através do
discurso direto. Sendo assim, os
1- a tecnologia; neste caso, textos contidos nessa obra têm as
inicialmente o uso do carrinho características do gênero literário
parece facilitar muito a vida de seus crônica: narrativa curta, poucos
usuários, mas depois revela-se uma personagens, linguagem simples ou
ferramenta cerceadora. coloquial e acontecimentos do
cotidiano, acrescidos das
2- os relacionamentos: a tecnologia características do gênero ficção, que
aliada ao interesse do ser humano traz uma narrativa imaginária e irreal,
em se comunicar e sentir-se melhor mesmo que partindo de um fato real
dão à crônica um direcionamento para a sua criação.
que recaí no humor.
No início de cada crônica, o autor
nos apresenta a notícia ou as
Análise geral notícias, que o inspirou para o texto.
Notícias do Brasil e de outras partes
Moacyr Scliar parte de notícias reais, do mundo. Com exceção de Depois
relacionadas ao cotidiano de do Carnaval, que é uma crônica
pessoas desconhecidas e de alguns escrita por diversos títulos de
fatos inusitados, para escrever cada notícias do Brasil, sobre, por
uma das 54 crônicas publicadas exemplo, questões políticas,
nessa obra. Podemos encontrar ambientais e legais, que seriam
desde a continuação imaginada pelo resolvidas ou decididas somente
autor da história da notícia, como depois do Carnaval. Todas as
também um universo fantástico notícias dessa crônica têm
destacado em negrito a expressão
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depois do carnaval. Assim, Scliar fundo da geladeira. Um dia ela ainda


evidencia o dito popular de que a ano ingressaria no curso de
no Brasil só começa realmente administração; um dia brindaria a
depois do carnaval. Nessa crônica seu futuro. Era só questão de
não há ficção, mas fatos reais que esperar.
até parecem fictícios.
Sem medo: Uma boa geladeira
Scliar aborda o tema da corrupção conserva qualquer champanhe.” (p.
brasileira nas crônicas Cueca-Cofre, 25).
baseada em três notícias sobre o
muito conhecido “dinheiro na cueca”, O humor contido em algumas
em Torpedos, dividido em duas crônicas se dá principalmente
crônicas, que na primeira O torpedo através da ironia e quebra de
no vestibular, escreve sobre o expectativa. É preciso relembrar,
esquema de tentativas de fraude no para análise de textos literários, que
vestibular para o curso de Medicina o humor aqui, não necessariamente
em universidades públicas, e em nos causa muitas risadas.
Massageando o Dorso Político,
baseada em uma notícia sobre uma Como exemplo, podemos observar a
compra superfaturada de poltronas crônica Conquistas Culinárias, que
de massagem para vereadores em é baseada em uma reportagem de
Espírito Santo. uma pesquisa sobre homens que
sabem cozinhar e que são mais
Já em O Futuro na Geladeira, com atraentes por isso. Na crônica, Scliar
a notícia de uma senhora de 80 anos traz um homem que não sabia
que adiou o sonho de fazer o cozinhar e que aprende para
vestibular para usar o dinheiro da conquistar uma paquera de muito
inscrição para pagar a prestação da tempo. Porém, o homem se envolve
geladeira, Scliar nos tanto com a culinária, e tentando
traz a dura realidade de muitos solucionar o problema do prato que
brasileiros e muitas brasileiras, deu errado no tão esperado encontro
evidenciando a desigualdade social com a mulher que ele desejava, que
no nosso país. Porém, na sua obra acaba deixando de lado a paquera,
fictícia, nos traz a esperançosa direcionando o seu interesse para a
ilusão de que essa senhora poderá culinária. E é nesse final inesperado
realizar o sonho no próximo ano, (quebra de expectativa) que
imaginado que ela guardaria a encontramos o humor da crônica.
garrafa de champanhe da
comemoração de uma possível Por fim, podemos encontrar entre os
aprovação em sua geladeira nova. temas das crônicas a solidão,
traição, sonhos, corrupção e a
No último parágrafo, podemos modernidade através das invenções
pensar que ele fala de guardar a científicas. Temas que permeiam a
garrafa no fundo da geladeira, mas humanidade. Além disso, a obra nos
também podemos interpretar como o permite pensar em como a vida
sonho sendo congelado, se realmente imita a arte, trazendo
mantendo conservado, para em histórias reais que parecem ter saído
outro momento ser retomado: da imaginação de alguém,
percebendo o quão complexo é o ser
“Resolveu guardar a garrafa. Bem no humano, e tendo na ficção uma
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continuidade e destaque, mantendo-


se vivas através da criatividade,
sensibilidade e registro do autor

O que é uma crônica:


todamateria.com e beduka.com
Enredo: pré-vestibular CEPV
Temáticas e principais crônicas:
slide disponibilizado por Renata
Ferreira, pós-graduada na UEL
Sobre o autor: ebiografia.com
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seu primeiro livro intitulado “Há uma


Gota de Sangue em cada Poema”.

Em 1938, muda-se para o Rio de


Janeiro. Foi nomeado catedrático de
Filosofia e História da Arte e ainda,
Diretor do Instituto de Artes da
Universidade do Distrito Federal.
Mário de Andrade Retorna à sua cidade natal, em
1940, onde começa a trabalhar no
Serviço de Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (SPHAN). Poucos
anos depois, sua saúde começa a
ficar frágil. No dia 25 de fevereiro de
1945, aos 51 anos de idade, Mário
de Andrade falece em São Paulo,
vítima de um ataque cardíaco.

Publicados postumamente, em
1947, os contos desta obra trazem
personagens, espaços e tipo de
trama reveladores de um Mário de
Mário de Andrade foi um escritor Andrade que acreditava na produção
modernista, crítico literário, cultural como denunciadora da
musicólogo, folclorista e ativista realidade, sem perder suas
cultural brasileiro .Seu estilo literário características artísticas e estéticas.
foi inovador e marcou a primeira fase
modernista no Brasil, sobretudo, Vestida de preto
pela valorização da identidade e
cultura brasileira. Ao lado de Nele, o narrador aborda um amplo
diversos artistas, ele teve um papel período de sua vida. Tudo começa
preponderante na organização da na infância. Flagramos Juca (o
Semana de Arte Moderna (1922). narrador) e sua prima, de família
Mário Raul de Morais Andrade abastada (alguns estudiosos
nasceu na cidade de São Paulo, no apontam as dificuldades do
dia 09 de outubro de 1893. relacionamento Juca / Maria,
provocadas pela diferença social,
De família humilde, Mário possuía como um aspecto autobiográfico)
dois irmãos e desde cedo mostrou brincando de família com outras
grande inclinação às artes, crianças numa casa de vários
notadamente a literatura.Em 1917, cômodos. Deitados, o menino,
estudou piano no “Conservatório posicionado atrás da companheira,
Dramático e Musical de São Paulo”, acaba encantando-se com a vasta
ano da morte de seu pai, o Dr. Carlos cabeleira que tem à sua frente,
Augusto de Andrade. Nesse mesmo mergulhando a cabeça nela,
ano, com apenas 24 anos, publica enquanto Maria entrega-se,
estorcendo-se de prazer, com o
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contato dos lábios do menino em sua • Fica nas entrelinhas a idéia de que
nuca. seria positiva a união dos dois, pois
sossegaria o espírito afoito da
• São interrompidos com a chegada mulher.
de Tia Velha (outro elemento
autobiográfico. Mário de Andrade Esse conto é narrado pelo próprio
possuiu uma tia com as mesmas Juca, personagem que ainda
características de Tia Velha), que os aparece em outras duas histórias
flagra, dá-lhes uma bronca e ameaça deste livro. As memórias do rapaz
delatá-los. O que acontece aqui é assemelham-se muito a fatos
como a Queda do Paraíso (Mário de ocorridos na vida do autor, o que dá
Andrade era muito católico). ao texto um certo tom autobiográfico.
Além disso, vale observar a
• Os dois separam-se, assustados e simplicidade da linguagem, marca
envergonhados, e nunca mais típica tanto de Mário de Andrade
aquela sensação de êxtase e quanto da primeira geração
felicidade vai ser recuperada, apesar modernista. Nota-se também a
de as duas personagens buscarem, simbologia dos nomes rosa é a flor
à sua maneira, recuperar esse bem símbolo da paixão e violeta, da
perdido. amizade.

• Interessante é notar o papel que a


Tia exerce. Antes de sua chegada, a O ladrão
brincadeira não tinha nenhuma
conotação indecente. Sua narrativa é simples: toda uma
vizinhança é acordada com a gritaria
• Maria se casa com um diplomata e de perseguição a um ladrão.
vai morar no exterior.
• Num primeiro momento, marcado
• Juca, na tentativa de mostrar seu pela agitação, os moradores reagem
valor, torna-se um estudioso com atitudes que vão do medo ao
obcecado e divide seu amor entre pânico e à histeria, anulados pela
duas mulheres: Rosa para de noite e solidariedade com que se unem na
Violeta, como namoradinha oficial. perseguição ao ladrão.

• Muitos anos depois, chega a • Num segundo momento,


notícia da volta de Maria ao Brasil. caracterizado pela serenidade e
Juca vai revê-la. No reencontro, todo enleio poético, um pequeno grupo de
o embaraço do passado volta e nada moradores experimenta momentos
consegue dizer para quebrar a de êxtase existencial.
barreira erguida entre ambos , mas
vendo-a vestida de preto um enorme Os comportamentos se sucedem,
desejo de possuí-la, o que não numa linha que vai do instinto
acontece. gregário ao esvaziamento trazido
pela rotina. O engraçado é que
• Maria volta para o exterior e Juca ninguém chega a ver esse bandido,
continua guardando este grande o que leva à dúvida sobre sua
amor. existência. No entanto, serviu para
unir as pessoas em plena
madrugada para viverem um pouco
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da alegria coletiva, o que já estava 35 (ano em que foi decretado o


começando a desaparecer na São feriado de Primeiro de Maio)
Paulo da época de Mário de
Andrade. • No momento em que vai para a
Estação da Luz ele é comparado a
• Chama a atenção nesse conto uma negra em disponibilidade; isto é
como o elemento coletivo é bastante sem trabalho, vagabundeando
vivo, chegando perto da técnica
apresentada por Aluísio Azevedo em É interessante notar neste conto que
O Cortiço. (Intertextualidade) as personagens não têm nome, o
que revela uma crítica á
Narrado em 3ª pessoa, de forma massificação do operariado, ideia
despojada, este conto nos revela a que vai ao encontro das aspirações
tendência do ser humano de políticas do autor. Além disso, a
envolver-se nos fatos e emitir história discute a ausência de
julgamentos sem mesmo saber do sentido do feriado do Dia do
que se trata, fato que, muitas vezes Trabalhador, posto que par 35, nada
gera grandes desastres e, em de bom ou proveitoso acontece
outras, como neste caso, acaba em neste dia. É fundamental, também
festa. Ainda, este conto como em perceber que 35 é um trabalhador
outros é anedótico, e na opinião de alienado, que não compreende as
alguns criíticos, como Massaud informações que lê nos jornais ,
Moisés, perde um pouco de sua mesmo assim sofre uma
função devido ao fato de o autor se transformação ao fim do dia , embora
ter alongado na história. não seja capaz de traduzi-la
verbalmente. Por fim, o uso do
Primeiro de Maio discurso indireto livre é feito de forma
muito bem empregada, dando voz
Conflito de um jovem operário, aos confusos pensamentos da
identificado como "chapinha 35", personagem.
com o momento histórico do Estado
Novo. 35 vê passar o Dia do Atrás da catedral de Ruão
Trabalho, experimentando reflexões
e emoções que vão da felicidade Alda e Lúcia, duas adolescentes
matinal à amargura e desencanto aprendem francês com uma
vespertinos. Mesmo assim, acalenta quarentona , virgem transformada
a esperança de que, no futuro, haja pela mãe. As aulas são pontuadas
liberdade democrática para que por insinuações maldosas sobre
"sua" data seja comemorada sem sexo, deixando a solteirona
repressão. envergonhada e excitada ao mesmo
tempo. As alunas, com suas
• O conto possui uma excelente ideia conversas de duplo sentido, acabam
que pecou pelo aspecto panfletário. fazendo com que mademoiselle que
Sua personagem principal, 35 (a nunca desejara um homem, fique no
maneira como as personagens são “cio”. Um dia, as meninas começam
nomeadas, por meio de números, a falar que viram um homem de
não só indica a desumanização por barba atrás da catedral de Ruão,
que passam dentro do sistema mas não conseguem terminar, pois a
capitalista, como também faz professora diz que já sabe o que
referência a datas importantes, como acontece atrás de todas as
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catedrais., Outro dia, tendo ido alguém vá pegá-la. Todos se


comprar remédio, sentiu-se desesperam para recuperar a
arrastada em direção á catedral da valiosíssima caneta e o Albino
Sé , numa “evocação bruta de carne sacrifica-se na lama do fundo do
vibrantes”, com medo e desejos poço. As horas passam , o
confusos, desejando uma sofrimento continua e Joaquim não
experiência maior. Tal experiência se abala, xinga, ofende, dá ordens
acontece numa noite , quando irracionais. Albino se esforça num
retornando da casa das meninas, ela tormento insano e quando sai, eu
se sente atraída para trás da irmão enfrenta o patrão para impedir
Catedral de Santa Cecília. De uma que o serviço desumano continue.
das ruas surgem então dois homens Joaquim acaba por ceder.
e, em sua fantasia , Mademoiselle se
vê atacada e violentada por eles, Dois dias depois os empregados
tudo é narrado como se fosse encontram a caneta e vão devolvê-la
verdade Ao fim ela lhe dá dois . Joaquim, sentado em seu escritório
níqueis , agradecendo-os pelo sexo , examina o objeto, testa-o e percebe
que viveu em sua fantasia. que não funciona: reclama por que
pisaram a sua caneta jogando-a no
Este conto nos revela tanto a fúria do lixo. De uma de suas gavetas tira
desejo contido, “ a cruel necessidade uma caixa contendo várias lapiseiras
de amar” , como diria Clarice e três canetas-tinteiro como aquela,
Lispector, quanto prazer que o ser dentre as quais uma era de ouro
humano sente diante da desgraça
alheia –vide o comportamento das Este conto revela, na verdade, o
meninas diante da solidão da desprezo do patrão pela vida
professora. É bom lembrar, também, humana, a qual vale menos do que
que esta temática da sexualidade uma caneta. Mostra-nos o quanto a
reprimida aparece em outras obras relação de poder pode fazer com que
de Mário de Andrade. as pessoas percam o seu lado
humano e passem a tratar seus
O poço subordinados como “exemplares
humanos”. Assemelha-se, essa
O velho Joaquim Prestes , 75 anos narrativa, ao que o avarento senhor
homem rico e viajado, chegou ao Scrooge, de Charles Dickens, faz
pesqueiro de Mogi, ás onze horas da com seu empregado em uma fria
manhã trazendo consigo uma visita. noite de natal. Esse tema da
Vendo os empregados parados, quis indiferença humana é muito caro à
saber por que não trabalhavam. Eles literatura e teve ainda mais força nas
disseram que com o frio forte que mãos de autores que aprofundaram
fazia ninguém conseguia ficar dentro a análise psicológica das
do poço para continuar a perfuração. personagens, como Machado de
Durante a conversa tensa entre Assis.
patrão e empregados vamos
descobrindo os problemas: o Peru de Natal
trabalho é perigoso e apenas Albino
tem a prática necessária para fazê- A história passa-se poucos meses
lo, mas é doente dos peitos. Quando depois da morte do pai de Juca.
vai olhar o poço, Joaquim deixa sua Ainda sob a sombra do luto, o
caneta valiosa cair e exige que narrador tem a idéia de possibilitar
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um pouco de alegria às suas “três alcançado pelo autor nesta narrativa.


mães”: mãe, irmã e tia (note que
pode ser visto aqui um indício de Frederico Paciência
complexo de Édipo). Expressa o
desejo de comemorar o Natal com a Novamente temos Juca como
degustação de um peru. narrador. O único texto em que Mário
Socialmente – não se deve esquecer de Andrade tematizou, ainda que de
o luto – era uma ideia que poderia forma tãotangencial, o
ser reprovada, mas quem não homossexualismo.
curtiria um pouco de prazer na vida?
Dessa forma, quando Juca expressa • Pegamos Juca na fase escolar, no
tal desejo, serve de válvula de que hoje se chamaria a passagem
escape para a família. Nenhuma da 8ª série para todo o Ensino Médio.
delas poderia ter feito aquele pedido, Fase conturbada, dizem os
mas o desejavam. Assim, com a psicanalistas, pois é nela que se
desculpa de que estavam afirma a identidade sexual, o que
preocupadas em atender o desejo de implica lembrar que é nela em que tal
um “doidinho”, embarcam na caráter está oscilante.
comemoração que também as
satisfaz (será essa a função do • A maneira como Juca descreve o
artista: expressar o que os outros seu novo companheiro de escola,
têm reprimido, represado?). Frederico Paciência, destacando seu
aspecto solar (alguns mitos
• É quando o rapaz tem uma (provavelmente Mário de Andrade,
excelente jogada. De uma forma que profundo estudioso desse assunto,
pode ser entendida como hipócrita, o deveria conhecê-los) narram a
narrador lembra que a mãe tinha impossibilidade de relação amorosa
razão. Para tudo ficar perfeito, só entre o sol e a lua, pois nunca se
faltava mesmo a presença do encontram.
falecido, mas que onde quer que
este estivesse, estaria contente • E por aí os dois vão, deliciando-se
vendo a família reunida. Com tal em passear abraçados da casa de
expediente, em pouco tempo a um para a casa de outro, a ficar no
alegria retornava à mesa e todos sofá, cabeças unidas. Vivem na
voltaram a devorar o peru, enquanto proximidade do perigo, como faz
o fantasma do pai começava a mademoiselle, de Atrás da Catedral
diminuir. de Ruão. Era um recalque, assim
como o era a maneira como se
Novamente temos aqui o retrato da deliciavam em discutir e se
família de Juca. Desta vez vemos a agredirem. Mas queriam apenas
escravidão a que as relações intuir a sensualidade, sem jogar para
familiares submetem as pessoas, o consciente. Qualquer tentativa em
sendo que a devoração do peru contrário era reprimida.
simboliza a destruição da figura do
pai e, portanto, põe fim à • Um dia, velório do pai de Frederico,
escravização da mãe. Para muitos os dois tiveram um momento mágico
estudiosos da obra de Mário de de sedução. Depois de expulsar um
Andrade este conto é a obra-prima homem preocupado, como abutre,
dele em virtude do poder de síntese com negócios ligados ao
falecimento, Juca e seu amigo vão
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para o quarto. Frederico fica um grupo de rapazes exercita seu


conversando na semi-escuridão. "voyeurismo" pela curiosidade
Juca perde-se admirando os lábios despertada pelo estranho sujeito:
carnudos de seu amigo, deitado. quatro relatos se acumulam, na
Percebendo o lance, Frederico para tentativa de decifrar a identidade e a
de conversar e levanta-se da cama. história de vida de uma pessoa que
Falta pouco, percebe-se, para os vive ilhada da sociedade, ruminando
dois entregarem-se. sua misantropia.

• No entanto, a lembrança do pai, • Conto muito estranho, talvez por


ainda sendo velado, parece impor-se ser o único que ainda não passou
entre os dois (semelhante à imagem pela revisão final do autor. Marcante
castradora do pai de O Peru de é a utilização de vários focos
Natal), esfriando completamente o narrativos, em que há uma técnica
clima. A partir de então, a amizade cubista de colagem de várias
muda de rumo, perdendo a histórias, todas sobre o misterioso
intensidade. personagem que frequenta o bar em
que todos estão.
• Por fim, o tanto vira nada.
Terminado o colégio, separaram-se, O texto alterna os narradores e
Frederico indo para o Rio. Anos várias versões são dadas para o
depois, Juca fica sabendo da morte mesmo fato, revelando a existência
da mãe de seu antigo amigo. Era a vazia de alguns que se preenche
grande chance de reatar tudo, sob o com a fofoca e a especulação da
pretexto de consolar o necessitado. vida alheia. Este é mais um dos
Mas termina por mandar um temas bastante trabalhado na
telegrama formal, o que arrefece de literatura, tendo sido alvo (principal
vez todo o relacionamento. ou secundário) de poemas de
Gregório de Matos, bem como de
O conflito do conto deve-se ao fato romances como O Cortiço, de Aluízio
de que o narrador presente a de Azevedo e Os Tambores
possibilidade de o relacionamento Silenciosos, de Josué Guimarães.
entre os dois transformar-se em
homossexualismo, o que é insinuado Tempo de camisolinha
em vários momentos na história.
Temos aqui mais um dos “amores” Provavelmente seu narrador é o
de Juca, assim como Maria, Rose e mesmo dos outros três, apesar da
Violeta. Para críticos como João Luis mudança de nome: Carlos.
Lafetá e Werneck Sodré, este conto
possui um tom autobiográfico, visto • O título é uma referência à roupa
que, segundo eles, o próprio Mário que o protagonista, ainda no início
de Andrade se denominava “um da infância, usava, típica de criança
vulcão de complicações”, sendo sua e que o irritava – claro sinal de que
luta na tentativa de sublimar a já estava crescendo, apesar de sua
homossexualidade de uma delas. mãe não perceber. Nota-se que a
criança estava no limiar de sua idade
Nélson pelo fato de sempre estar brincando
com seu pênis, o que, dizem os
Registro do comportamento insólito psicanalistas, equivale ao terceiro e
de um homem sem nome. Num bar, último momento da primeira infância,
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a fase genital. É interessante lembrar enorme, volta para sua casa, pega
que esse é justamente o momento suas estrelinhas e dá a mais bonita
de socialização da criança: ou vai para o infeliz.
haver um direcionamento em sua
personalidade para o altruísmo, ou • É o momento de dois grandes
haverá para o egoísmo.Coincidência aprendizados. O primeiro está na
ou não, é este justamente o tema do ideia de que a nossa felicidade é
conto. sempre diminuída pela infelicidade
que existe no mundo. O segundo é a
• A história passa-se numa rara noção de altruísmo, mesmo que para
viagem de férias em Santos, tanto deva diminuir seu bem-estar.
possibilitada apenas por causa de
um período de convalescença da Temos aqui a singela história de um
mãe do narrador (o pai do narrador menino que está descobrindo a si e
Carlos não era afeito a esses luxos, ao mundo e formando o seu caráter
o que faz lembrar o pai de Juca, de que, como vemos pelo desfecho,
O Peru de Natal, reforçando a tese pende para o lado bom. Pode-se
de se tratarem das mesmas dizer que esta é uma espécie de
personagens). história de aprendizagem, porém
sem a densidade existencial comum
• Em seus passeios, a criança, após a esse tipo de texto, como vemos em
desafiar a santa (já se disse que alguns contos de Lygia Fagundes
Carlos gostava de manipular seu Telles e Clarice Lispector.
pênis. Mas era sempre repreendido
por sua mãe, sob a alegação de que
a santa (um quadro na parede) não
iria gostar. Nesse dia, Carlos,
aproveitando que ninguém estava - Juca: presente em vários contos na
em casa, exibe com toda empáfia condição de narrador, parece
seu diminuto membro para a funcionar como alter-ego do autor.
divindade, espantando-se por nada
acontecer. Rompia limites. Estava - 35: o protagonista sem nome de
crescendo), acaba ganhando de um “Primeiro de maio”, símbolo da festa
pescador três estrelinhas do mar. O e da solidariedade que se opõem ao
pobre homem havia dito, ao estado repressivo.
presenteá- las, que serviam para dar
boa-sorte. O menino volta para casa - Frederico Paciência: personagem
feliz, mesmo sem saber direito o que do conto homônimo, síntese das
era sorte, guardando as tentativas de vencer as barreiras
preciosidades no quintal de sua impostas pelo superego.
casa. Mas seu estado é tal que fica
toda hora indo visitar seus troféus. - Nelson: personagem do conto
homônimo, figuração da solidão.
• Até que, em outro de seus
passeios, conhece um português - Mademoiselle: personagem de
infeliz. Fica sabendo que o sujeito “Atrás da Catedral de Ruão”,
tinha “má sorte”: muitos filhos figuração do desejo sexual
pequenos, dificuldade para criá-los e reprimido.
uma esposa paralítica. O menino
ficou penalizado. Num esforço
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- trabalhadores: presentes em “O Camisolinha"), adolescência


poço”, “Tempo da camisolinha” e ("Frederico Paciência") e maturidade
“Primeiro de maio”, evidenciam a do protagonista (caso de "O Peru de
perspectiva social da literatura Natal", o conto mais célebre do livro,
modernista. que trata do confronto de Juca com
a imagem e a memória do pai morto
e odiado).

Há neles um fundo autobiográfico,


Contos de estrutura moderna, que sugerido pelo próprio Mário, que
acolhem as principais correntes chega a se auto-referir no primeiro
ficcionistas que marcaram a desses contos ("Vestida de Preto").
Literatura Brasileira das décadas de Os contos narrados em terceira
30 e 40. Mais do que os fatos pessoa combinam o lirismo e a
exteriores, os relatos procuram investigação subjetiva com o
registrar o fluxo de pensamento das engajamento social, que se faz
personagens. bastante claro em "Primeiro de
Maio", "O Ladrão" e "O Poço".
Nesses casos, a inspiração de Mário
é não só humanitária, mas também
São Paulo, capital e interior, décadas marxista, de denúncia da injustiça
de 20 a 40; processo de urbanização social e da patética alienação do
e industrialização (cidade); trabalhador. Uma exceção nesse
patriarcalismo X progressismo grupo é "Atrás da Catedral de Ruão",
(ambiente rural). conto que se concentra na linha
psicológica e retrata o drama da
virgindade de Mademoiselle, uma
professora de francês de 43 anos.
Mário usou no texto muitas
Integra-se de forma dinâmica nos expressões nesse idioma, que serve
conflitos das personagens. Por curiosamente como um código
exemplo, em "O poço", o frio cortante cifrado e disfarça, afinal, muito do
do vento de julho, no interior paulista, pudor do escritor.
amplifica o tratamento desumano
que o fazendeiro Joaquim Prestes dá Os Contos Novos têm sido
a seus empregados. apreciados por razões diversas, que
vão da facilidade de sua leitura, do
realismo e da dicção coloquial das
narrativas, ao interesse ou à simples
curiosidade pela biografia e pelos
Os contos podem ser classificados processos de composição de Mário.
em dois grandes grupos, segundo o O conjunto dos contos é porém muito
seu foco narrativo. Os de primeira desigual, e eles não se incluem entre
pessoa são quatro e têm como os melhores momentos da prosa do
protagonista o próprio narrador, escritor, que estão em "Belazarte" e
Juca. Eles se caracterizam pela "Macunaíma". Na verdade, os
introspecção e pela sondagem Contos Novos parecem voltados à
psicológica, de inspiração freudiana, defesa de uma estranha tese.
que repassa momentos significativos
da infância ("Tempo da
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O escritor afirmou, certa vez, que a manifesta nos contos em sua


psicologia de um homem simples, linguagem marcada pela oralidade.
"do povo", era no fundo mais Nos contos narrados em terceira
complexa do que a de um pessoa, duas imagens sobressaem:
personagem de Proust, o grande de um lado, a solidão; de outro, a
autor de "Em Busca do Tempo solidariedade.
Perdido". Apesar do empenho de
Mário de Andrade, a demonstração Solitário é Nelson, do conto
literária de sua tese é bem pouco homônimo, cuja identidade se limita
convincente. ao título, já que no corpo da narrativa
ele não tem nome e nem sequer uma
história precisa. Sua condição se
acentua no interesse sádico e
desrespeitoso demonstrado pelos
O traço comum aos contos narrados rapazes que comentam sua vida, tão
em primeira pessoa é a presença de passageiro quanto a comunhão
um mesmo narrador, Juca. Sua provocada pela correria de “O
personalidade é formada a partir de ladrão”, depois da qual cada
experiências marcantes de rejeição morador retorna ao seu insulamento,
e luta contra a repressão. Das reforçando a solidão. Note-se, aliás,
primeiras, destaca-se a relação que neste último conto o ladrão que
adolescente com a prima Maria de lhe dá título não é sequer visto –
“Vestida de preto”. Das segundas, marca de uma marginalização
mais marcantes, os exemplos se contundente. Solitária é ainda a
sucedem. Entre as imagens da Mademoiselle de “Atrás da Catedral
repressão, ganha destaque a figura de Ruão”, envolvida em suas
paterna, que aparece em “Tempo da fantasias sexuais e seus desejos
camisolinha” obrigando o narrador a contidos.
podar as madeixas – alegoria
simples da castração. Por outro lado, a solidariedade se
Em “Peru de natal”, o pai, já morto, manifesta no universo do trabalho na
ainda representa a instância capaz união dos empregados de “O poço”,
de anular a celebração e a liberdade. que enfrentam o fazendeiro –
A fama de louco que Juca adquire imagem acabada do autoritarismo
com o tempo é uma reação ao rigor paternalista e do desprezo elitista
familiar e superá-lo representa a pela vida humana. E também na
deglutição paterna de que trata trajetória de 35, o protagonista de
Freud. “Primeiro de maio” que faz da
celebração da data uma forma de
A oposição entre prazer e repressão, oposição ao oficialismo – demarcado
no entanto, nem sempre tem final no conto pela presença de policiais
feliz: a relação com Frederico pelas ruas de São Paulo,
Paciência termina sem conclusão e representativa da opressão da
sem nome porque as barreiras ditadura Vargas. O 35 busca
sociais e psicológicas são fortes escapar, assim, de um trabalho
demais para Juca. Mas o desejo de alienante para o qual a única saída
libertação pode também ter parece ser a solidariedade, evidente
fornecido as bases para a estética em seu gesto final de auxílio ao
não convencional que o narrador colega idoso.
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Em "Primeiro de Maio" e "O Poço",


a temática social aparece de forma
mais contundente. Trabalhadores
honestos vivem situações de
O Modernismo é o grande pano de opressão acintosas e vão
fundo de Contos Novos. A Semana descobrindo-se impotentes diante
de Arte Moderna de 1922 havia dela. Em "Vestida de Preto",
instaurado um tempo de agitação algumas passagens que constroem
cultural no país. A palavra de ordem o pano de fundo do conto revelam
era mudar, experimentar formas, esse dilema:
transformar a linguagem,
transfigurá-la. Quase toda a "Aliás, um caso recente vinha se
produção cultural da época tinha juntar ao insulto pra decidir de minha
esse caráter. sorte. Nós seríamos até pobretões,
comparando com a família de Maria,
Mário de Andrade embarcou nessa gente que até viajava na Europa.
movimentação, brincou com formas Pois pouco antes, os pais tinham
linguísticas com a estrutura feito um papel bem indecente, se
narrativa, com a construção de opondo ao casamento duma filha
personagens como Macunaíma, "o com um rapaz diz-que pobre mas
herói sem caráter". Entretanto, não ótimo. Houvera rompimento de
sucumbiu ao frenesi novidadeiro do amizade, mal-estar na parentagem
primeiro momento do Modernismo. toda, o caso virara escândalo
Preocupou-se com a pesquisa mastigado e remastigado nos
(folclórica e antropológica), com a comentários de hora de jantar. Tudo
construção de teorias, com a por causa do dinheiro."
reflexão sobre os problemas
brasileiros. Seu farto epistolário (um
dos mais ricos entre autores O mesmo ocorre em "Tempo da
brasileiros) confirma essa Camisolinha":
preocupação. "O operário primeiro deu de ombros,
português, bruto, bárbaro, longe de
Obs: O movimento Pau-Brasil de consentir na carícia da minha
1924, o Verde-Amarelismo de Plínio pergunta infantil. Mas estava com
Salgado de 1926 e, mais tarde, a uns olhos tão tristes, o bigode caía
Antropofagia de Oswald de Andrade, tanto, desolado, que insisti no meu
além de uma série de correntes de carinho e perguntei mais outra vez o
produção literária, pictórica, que ele tinha. 'Má sorte' ele
dramática, musical, arquitetônica e resmungou, mais a si mesmo que a
mesmo de comportamentos sociais mim."
tinham em comum a criação de um
espírito mais brasileiro, menos • Nos outros contos, embora essas
"importado", menos copiado dos características também estejam
modelos europeus. presentes, o que está focalizado é o
cotidiano medíocre, muitas vezes
patético, dos grupos sociais menos
favorecidos.
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• Em "O Ladrão", típicos • Acontecimentos prosaicos, que


personagens de bairro encontram-se poderiam passar despercebidos, são
e unem-se na perseguição de um redimensionados, ganham vulto e
ladrão que sequer existe. Esse têm muita importância.
acontecimento altera suas rotinas,
proporcionando-lhes um momento • Os estudos psicanalíticos do autor
de reunião festiva. aparecem nas entrelinhas, nas
ações e nos desejos dos
• Em "Atrás da Catedral de Ruão", o personagens, dando-lhes uma nova
personagem central – uma solitária dimensão.
imigrante que precisa trabalhar
como preceptora para manter seu • As influências religiosas também
humilde padrão de vida – contrasta estão presentes nos contos. Trata-
com os outros personagens a quem se de um universo de símbolos
ela presta serviços, componentes de cristãos que faziam parte da vida do
uma rica família, metida na política e autor e da sociedade brasileira
em viagens pela Europa. daquela época.

• Em "O Peru de Natal", a família


classe-média prepara e consuma a
ceia de Natal, unida e emocionada.

• Em "Frederico Paciência", os dois


amigos pertencem a grupos 1) O peru de Natal
socioeconômicos diferentes – o que
incomoda muito o narrador- O nosso primeiro Natal de família,
personagem, pois é a sua família depois da morte de meu pai
que tem menos posses. acontecida cinco meses antes, foi de
consequências decisivas para a
• Em "Nelson", pessoas simples se felicidade familiar. Nós sempre
reúnem para beber e falar da vida fôramos familiarmente felizes, nesse
dos outros, pois esse é seu único sentido muito abstrato da felicidade:
lazer. gente honesta, sem crimes, Iar sem
brigas internas nem graves
dificuldades econômicas. Mas,
devido principalmente à natureza
cinzenta de meu pai, ser desprovido
Os cenários não são de qualquer lirismo, duma
necessariamente brasileiros. São exemplaridade incapaz, acolchoado
ruas, cidades, casas ou ambientes no medíocre, sempre nos faltara
de trabalho que servem de palco aquele aproveitamento da vida,
para o que realmente interessa: as aquele gosto pelas felicidades
relações humanas que ali se materiais, um vinho bom, uma
estabelecem e que delineiam a estação de águas, aquisição de
progressão das tramas. geladeira, coisas assim. Meu pai fora
de um bom errado, quase dramático,
• Os contos falam das angústias, das o puro-sangue dos desmancha-
conquistas fugazes, dos dissabores prazeres.
que a existência humana prova. ANDRADE, M. In: MORICONI, I. Os cem melhores
contos brasileiros do século. São Paulo: Objetiva, 2000.
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[Fragmento]

No fragmento do conto de Mário de


Andrade, o tom confessional do
narrador em primeira pessoa revela
uma b) Qual a importância da passagem
concepção das relações humanas citada, e daquela que você
marcada por identificou ao responder ao item a,
acima, para compreender o
A. distanciamento de estados de desenvolvimento da amizade entre
espírito acentuado pelo papel das Juca e Frederico Paciência?
gerações.
B. relevância dos festejos religiosos
em família na sociedade moderna.

C. preocupação econômica em uma


sociedade urbana em crise.

D. consumo de bens materiais por


parte de jovens, adultos e idosos. 3) FUVEST ‘’Tinha piedade, tinha
amor, tinha fraternidade, e era só.
E. pesar e reação de luto diante da Era uma sarça ardente mas era
morte de um familiar querido. sentimento só. Um sentimento
profundíssimo, queimando,
maravilhoso, mas desamparado,
mas desamparado.’’
(Mário de Andrade, CONTOS NOVOS)

2) UNICAMP Os trecho a seguir foi No fragmento acima, do conto


extraído do conto FREDERICO “Primeiro de Maio”, o narrador
PACIÊNCIA, do livro Contos Novos, refere-se à personagem principal, o
de Mário de Andrade. “35” e aos sentimentos deste.
‘’(…) a mãe de Frederico Paciência a) Identifique e explique
morrera. (…) É indizível o alvoroço sucintamente o recurso de estilo que
em que estourei, foi um predomina na composição do
deslumbramento, explodiu em mim fragmento.
uma esperança fantástica, fiquei tão
atordoado que saí andando solto
pela rua. (…) A mãe de Rico, que me
importava a mãe de Frederico
Paciência! E o que é mais terrível de
imaginar: mas nem a ele o
sofrimento inegável lhe importava: a
morte lhe impusera o desejo de mim.
Nós nos amávamos sobre
cadáveres.’’ b) Contextualize esse fragmento,
explicando brevemente a relação
a) A que passagem do conto refere- que existe entre os sentimentos da
se Juca quando afirma: “Nós nos personagem, aí referidos, e a
amávamos sobre cadáveres”? experiência que ela vive no conto.
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a) apenas I está correta.


b) apenas III está correta.
c) apenas II e III estão corretas.
d) apenas I e III estão corretas.
e) I, II e III estão corretas.

5) São características da linguagem


4) USC 2012 Leia os fragmentos do de Mário de Andrade, exceto:
conto “Primeiro de Maio”, do livro
Contos Novos, de Mário de Andrade. a) Mário de Andrade empenhou-se
em criar a “Língua Brasileira”. Tal
No grande dia Primeiro de Maio, não missão faz parte do projeto
eram bem seis horas e já o 35 pulara nacionalista de Mário, no qual a
da cama, afobado. Estava bem língua literária seria um importante
disposto, até alegre, ele bem critério de brasilidade.
afirmara aos companheiros da
Estação da Luz que queria celebrar b) Para Mário, a língua é um fator de
e havia de celebrar. (p. 35) identidade da nacionalidade,
(...) Deu um ódio tal no 35, um importante instrumento de unificação
desespero tamanho, passava um cultural. O projeto de nacionalizar a
bonde, correu, tomou o bonde sem linguagem pode ser percebida em
se despedir do 486, com ódio do seus contos e em uma de suas mais
486, com ódio do primeiro de maio, importantes obras, Macunaíma.
quase com ódio de viver. (p. 41) c) Mário propôs uma nova linguagem
(ANDRADE, Mário. Contos novos. 17. ed. Belo
poética, baseada no verso livre, nas
Horizonte, Rio de Janeiro: Itatiaia, 1999.) rupturas sintáticas, nos flashes
cinematográficos, nos neologismos,
Em relação a essa narrativa, na elisão e na fragmentação.
considere as seguintes afirmações.
d) Por meio de uma linguagem
I -No início do conto, o 35 está debochada, irônica e crítica, Mário
eufórico porque é Primeiro de Maio e satirizava os meios acadêmicos e
ele organizará uma grande festa também a burguesia, estabelecendo
em homenagem aos trabalhadores. uma profunda ruptura em relação à
cultura do passado.
II- O protagonista, ao longo da
narrativa, vai se decepcionando e
retorna para casa cansado, sem
voltar ao trabalho. 6) UEL 2021 Leia o trecho retirado
da obra Contos novos, de Mário de
III- No fragmento em questão, a Andrade, e responda às questões
mudança no registro ortográfico da de 6 a 9
expressão primeiro de maio sugere
uma modificação da personagem Estou lutando desde o princípio
principal em relação a seu destas explicações sobre a
sentimento sobre essa data. desagregação da nossa amizade,
Das afirmativas acima, pode-se dizer contra uma razão que me pareceu
que inventada enquanto escrevia, para
sutilizar psicologicamente o conto.
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Mas agora não resisto mais. Está me anteriormente expostos no conto são
parecendo que entre as causas mais fortes até mesmo para provocar
insabidas, tinha também uma brigas violentas entre cada um deles
espécie de despeito desprezador de e um colega.
um pelo outro... Se no começo
invejei a beleza física, a simpatia, a IV. O desejo de deixar de imitar
perfeição espiritual normalíssima de Frederico remete a um movimento
Frederico Paciência, e até agora deliberado de afastar-se da
sinto saudades de tudo isso, é certo “perfeição espiritual” do amigo, o que
que essa inveja abandonou muito está em sintonia com o perfil
cedo qualquer aspiração de ser modernista de caracterização de
exatamente igual ao meu amigo. Foi personagens.
curtíssimo, uns três meses, o tempo
em que tentei imitá-lo. Depois Assinale a alternativa correta.
desisti, com muito propósito. E não
era porque eu conseguisse me a) Somente as afirmativas I e II são
reconhecer na impossibilidade corretas.
completa de imitá-lo, mas porque eu,
sinceramente, sabei-me lá por quê! b) Somente as afirmativas I e IV são
Não desejava mais ser um Frederico corretas.
Paciência!
c) Somente as afirmativas III e IV são
ANDRADE, Mário de. Frederico Paciência. In: Contos
novos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2011. p. 111-
corretas.
112.
d) Somente as afirmativas I, II e III
Com base no trecho e na leitura são corretas.
integral do conto “Frederico
Paciência”, considere as afirmativas e) Somente as afirmativas II, III e IV
a seguir. são corretas.

I. O traço modernista no conto


acentua-se no trecho porque 7) A morte ronda o conto “Frederico
inexistem maledicências e Paciência”, assim como o conto “O
preconceitos quanto ao peru de Natal”, também incluído em
relacionamento homossexual entre Contos novos. Assinale a alternativa
Juca e Frederico nessa passagem e que apresenta, corretamente, o
em outras do conto. modo como a morte é abordada
nesses contos.
II. A descoberta da
homossexualidade de Frederico é o a) Tanto em “O peru de Natal”
motivo secreto que Juca, no quanto em “Frederico Paciência” as
propósito de resguardar o amigo, mortes dos pais ocorrem no início
demora a revelar no trecho, o que das narrativas, sem causar grande
também o leva a desmanchar a comoção nas personagens que se
relação de amizade, já tornaram órfãs.
comprometida naquele momento.
b) Em “O peru de Natal”, o pai já está
III. A ideia de desagregação da morto no início da narrativa,
amizade entre Frederico e Juca enquanto que, em “Frederico
requer explicações porque os laços Paciência”, a morte dos pais de
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Frederico ocorre na segunda metade II. O trecho do conto “Frederico


do conto; em ambos os contos, o Paciência” contém confissões da
narrador-personagem discorre sobre fragilidade de seu narrador-
essas mortes sem grande protagonista, que admite suas
sentimentalismo. mentiras e invenções sobre o amigo,
assim como Clara dos Anjos, que se
c) Em “O peru de Natal”, o pai morto descontrola ao se ver ludibriada por
proporciona a possibilidade de Cassi Jones no desfecho da
transformar a vida familiar, ao passo narrativa de Lima Barreto, apesar de
que, em “Frederico Paciência”, a tê-lo enganado também.
morte dos pais de Frederico suscita
a liberdade de assumir o III. O trecho do conto “Frederico
envolvimento amoroso e sexual, Paciência”, ao aludir à beleza física
usufruído pelos amigos. do amigo, admitida literalmente pelo
narrador em primeira pessoa,
d) Em “O peru de Natal”, o filho, que mantém na narrativa a atração e o
é também narrador, demonstra contato corporal entre os jovens,
enormes dificuldades para superar o materializados no episódio do beijo,
luto; já Frederico Paciência e que, em Clara dos Anjos, resultam
desvencilha-se da dor com mais na gravidez da protagonista.
facilidade e convida Juca para que
ambos vivam a homossexualidade IV. O trecho do conto “Frederico
sem disfarces. Paciência” cobre uma relação
complexa de amizade entre dois
e) Em “O peru de Natal”, a morte do jovens, apresentada pela
pai é superada na ceia pelos perspectiva de um dos rapazes, mais
familiares; em “Frederico Paciência”, livre das vulnerabilidades
a morte da mãe e do pai firma-se sentimentais do que Clara dos
como obstáculo decisivo para a Anjos na narrativa homônima de
retomada do amor entre os amigos. Lima Barreto.

Assinale a alternativa correta.


8) Sobre as correlações entre o
conto “Frederico Paciência”, do a) Somente as afirmativas I e II são
volume Contos novos, de Mário de corretas.
Andrade, e Clara dos Anjos, de Lima
Barreto, considere as afirmativas a b) Somente as afirmativas I e IV são
seguir. corretas.

I. O trecho do conto “Frederico c) Somente as afirmativas III e IV são


Paciência” faz sobressair um ponto corretas.
de contato com Clara dos Anjos: a
desilusão, representada, na d) Somente as afirmativas I, II e III
narrativa de Lima Barreto, pelo são corretas.
desmascaramento de Cassi Jones,
e, no conto de Mário de Andrade,
pelas descobertas de deslizes na 9) FUVEST “Se em ambos os contos
constituição moral do amigo do a dominação social é tema de
narrador-personagem. primeiro plano, cabe, no entanto,
fazer uma DISTINÇÃO: em um
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deles, ela é direta, e aparece sob a


forma do capricho e do arbítrio
patronais; já em outro, ela é mais
moderna – torna-se indireta e
anônima.”
A distinção realizada nesta 1) É possível identificar que no conto
afirmação refere-se, de Mário de Andrade, o narrador e
RESPECTIVAMENTE, aos personagem principal tenta lidar com
seguintes contos de Mário de a morte do seu querido e ranzinza
Andrade (“Contos novos”): pai, durante a noite de Natal (item E).

a) “Nelson” e “O poço”. No texto em questão, é possível


b) “O ladrão” e “O poço”. determinar que o narrador está
c) “O ladrão” e “Nelson”. sofrendo por dentro, pois o seu pai,
d) “O poço” e “Primeiro de maio” apesar da figura que não era muito
e) “Primeiro de maio” e “O ladrão”. carinhosa ou envolvida com o Natal
e os bons sentimentos que rondam
esta data era presente.

10) UNEMAT Em uma narrativa de A falta da sua presença na noite da


Mário de Andrade, que compõe a ceia foi algo que todos que estavam
coletânea Contos novos, um ex por ali perceberam. O pai do
fazendeiro do interior de Mato narrador é visto como um
Grosso chama a atenção pela "desmancha-prazeres", porém,
deformidade de parte do braço muito querido.
devorada por piranhas.
2) a) À passagem da morte do pai de
Assinale a alternativa em que o Frederico.
conto corresponde ao caso citado:
b) A amizade entre os dois surge e
a) O poço. se fortalece diante da necessidade
de consolo gerada pelas mortes.
b) O peru de natal.
3) a) Há repetições que inicia três
c) Frederico Paciência. orações pelo verbo TER, conhecidas
por ANÁFORA. Ou elementos finais
d) Nelson. como SÓ, que marca a EPÍSTROFE.

e) Tempo da camisolinha
b) O personagem “35” tem a
esperança de que no Dia do
Trabalho haja uma confraternização
proletária; por outro lado, há o
Estado Novo oprimindo qualquer
movimento, menos a que acontecia
no Palácio das Indústrias.
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4) I - INCORRETA O 35 não irá liberdade de assumir o envolvimento


organizar uma festa, mas sim amoroso e sexual não é usufruída
comemorar o dia primeiro de maio pelas personagens. O filho, em “O
peru de Natal”, não demonstra
II - INCORRETA Embora o 35, dificuldade para superar o luto, o que
realmente, se decepcione, ele acaba ocorre com Frederico Paciência. As
voltando para a estação, a fim de mortes dos pais em “Frederico
trabalhar. Paciência” não constituem em si
obstáculos para a realização
III - CORRETA O posicionamento de amorosa dos amigos.
35, ao acordar, é totalmente
diferente da posição que ele irá 8) Alternativa C
tomar ao longo do conto.
Não há, no conto, descobertas de
5) Alternativa D deslizes morais de Frederico
Paciência. Clara dos Anjos não
As características descritas na engana Cassi Jones no romance de
alternativa dizem respeito ao escritor Lima Barreto.
Oswald de Andrade, que, ao lado de
Mário e Manuel Bandeira, formou a 9) Alternativa D
conhecida tríade modernista. Mário
propôs a criação de uma língua No conto “O Poço”, a dominação
brasileira que romperia com a língua social é direta, aparece sob a forma
portuguesa. Entretanto, uma de suas do capricho e do arbítrio, pois
principais características era a Joaquim Prestes exige que seus
serenidade, visto que discordava da empregados encontrem a caneta
postura destruidora defendida por que ele deixou cair no poço. Em
Oswald e defendia que o passado “Primeiro de Maio”, o carregador de
deveria ser revisitado, e não malas da estação da luz, o “35”,
radicalmente negado. percorre pontos da cidade de São
Paulo, buscando reconhecimento e
solidariedade, mas só encontra
comemorações oficiais, distantes do
que esperava. É interessante notar
que o protagonista é apenas referido
6) Alternativa C como 35, sendo denominado pela
função que exerce
Existem rumores de vínculo
homossexual entre Juca e Frederico
que chegam, inclusive, a causar 10) Alternativa D
brigas físicas em passagens do
conto. Não se trata de desmanchar a Como dito na análise do conto em
amizade o que está envolvido no páginas anteriores: ‘’Em um bar,
trecho. alguns amigos conversam. De
repente, entra um sujeito estranho
7) Alternativa B que passa a ser alvo dos
comentários do grupo. Um deles,
As mortes em “Frederico Paciência” Alfredo, afirma conhecer toda a sua
não ocorrem no início do conto, mas história. Trata-se de um ex-
na 2ª metade da narrativa. A fazendeiro do Mato Grosso...’’
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Análise e personagens:
educacaoglobo.com
Resumo dos contos: pdf
disponibilizado pela prof. Sônia
Targa, no doceiro.com
Gênero literário, espaço e
contexto histórico:
mundovestibular.com
Foco narrativo: vestibular.uol.com
Temas sociais, universais,
cenário
cultural:professorclaudineicamolesi
.blogspot.com

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