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Niketche — uma história de poligamia


Niketche — uma história de poligamia é um livro da escritora moçambicana Paulina Chiziane.
Ele discute o relacionamento poligâmico e a submissão feminina na cultura africana.

Capa do livro Niketche — uma história de poligamia, de Paulina Chiziane, publicado pela editora
Companhia das Letras. [1]

Niketche — uma história de poligamia é a obra mais conhecida da escritora


Paulina Chiziane e conta a história da narradora-personagem Rami, que se une às
quatro amantes de seu marido, Tony, para formarem uma grande família. Desse
modo, elas aceitam dividir o amor do mesmo homem.
O livro é marcado pelo fluxo de consciência da personagem Rami, que analisa seu
lugar de mulher na sociedade moçambicana do período pós-guerra civil. Assim,
Paulina Chiziane ocupa seu espaço na história da literatura de Moçambique e se
torna uma das principais autoras africanas.

Leia também: Conceição Evaristo – autora que recupera a ancestralidade da negritude


brasileira

Resumo da obra Niketche — uma história de


poligamia
Romance moçambicano do período pós-independência.

Sua autora é a escritora Paulina Chiziane.

Contexto histórico: pós-guerra civil moçambicana.

Discute as relações de poligamia na cultura africana.

Faz reflexões sobre a submissão feminina.

Análise da obra Niketche — uma história de


poligamia
Personagens da obra Niketche — uma história de poligamia

Julieta: segunda mulher de Tony.

Levy: irmão de Tony.

Luísa: terceira mulher de Tony.

Maria: tia de Rami.

Mauá: quinta mulher de Tony.

Rami ou Rosa Maria: esposa de Tony.

Saly: quarta mulher de Tony.


Tony ou António Tomás: marido de Rami.

Vito: amante de Luísa e Rami.

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SAIBA MAIS

Tempo da obra Niketche — uma história de poligamia

O tempo da narrativa não é especificado. No entanto, fica claro que a ação ocorre
em um momento posterior à guerra civil moçambicana, isto é, após o ano de 1992.

Espaço da obra Niketche — uma história de poligamia

As mulheres de Tony se originam de localidades moçambicanas como Matutuíne,


Zambézia, Nampula e Cabo Delgado, mas a ação principal se passa no sul de
Moçambique, na cidade de Maputo.

Leia também: Pepetela — primeiro angolano a ganhar o Prêmio Camões

Enredo da obra Niketche — uma história de poligamia

O romance é narrado em primeira pessoa pela personagem Rami e começa com


um incidente, isto é, Betinho, seu filho caçula, quebra o vidro de um carro. O dono
do automóvel fica muito bravo. Ela pede desculpas e promete que seu marido,
Tony, que é comandante da polícia, vai resolver o problema.

A narradora-personagem, todo o tempo, recorre ao fluxo de consciência para


refletir sobre a sua condição de mulher moçambicana. Ela não é a única mulher de
Tony, ele tem filhos com uma tal Julieta. Rami decide confrontar sua rival, vai até a
casa dela e diz que está ali para buscar o marido.

A protagonista não consegue se conter, e as duas mulheres iniciam uma luta


corporal. Rami leva a pior, fica toda machucada e, surpreendentemente, Julieta
cuida dos ferimentos da outra. Elas conversam, e a narradora conhece a história de
sua rival, que não vê Tony há sete meses. Assim, Rami se compadece da outra e,
mais tarde, reflete:

Em algumas regiões do norte de Moçambique, o amor é feito de partilhas. Partilha-


se mulher com o amigo, com o visitante nobre, com o irmão de circuncisão. Esposa
é água que se serve ao caminhante, ao visitante. A relação de amor é uma pegada
na areia do mar que as ondas apagam. Mas deixa marcas. Uma só família pode ser
um mosaico de cores e raças de acordo com o tipo de visitas que a família tem,
porque mulher é fertilidade. É por isso que em muitas regiões os filhos recebem o
apelido da mãe. Na reprodução humana, só a mãe é certa. No sul, a situação é
bem outra. Só se entrega a mulher ao irmão de sangue ou de circuncisão quando o
homem é estéril.

Na sequência, Rami decide conhecer Luísa, a terceira mulher de Tony. Ao chegar à


casa da outra, novamente se envolve em luta física. Acabam sendo presas e se
tornam amigas. Então, Rami vai conhecer Saly, a quarta mulher de Tony. E, depois,
a Mauá, a quinta mulher do marido. Diante disso, a narradora conclui:

O coração do meu Tony é uma constelação de cinco pontos. Um pentágono. Eu,


Rami, sou a primeira dama, a rainha mãe. Depois vem a Julieta, a enganada,
ocupando o posto de segunda dama. Segue-se a Luísa, a desejada, no lugar de
terceira dama. A Saly a apetecida, é a quarta. Finalmente a Mauá Sualé, a amada, a
caçulinha, recém-adquirida. O nosso lar é um polígono de seis pontos. É polígamo.
Um hexágono amoroso.

A partir daí, Rami passa a refletir sobre a poligamia e os papéis sociais. Então, é
convidada para uma festa de aniversário do filho da Luísa, conhece o amante da
outra e acaba se relacionando sexualmente com ele. E as duas passam a dividir o
mesmo amante, cujo nome é Vito.

Rami decide reunir todas as mulheres do marido para discutirem a situação


delas. A narradora propõe que elas se unam. Assim, no aniversário de 50 anos de
Tony, Rami convida as mulheres de seu esposo e os filhos que elas tiveram com
ele. Tony fica surpreso, envergonhado, com raiva e acaba fugindo.

Então, elas decidem fazer uma “escala conjugal”, de forma que Tony passa a ficar
uma semana em cada casa, mas ele acaba se envolvendo com outra mulher, e isso
preocupa as outras cinco. E, ao perceber a liderança de Rami, Tony resolve se
divorciar dela, por vingança, como punição.

A mulher não aceita o divórcio, mas logo surge a notícia de que Tony foi atropelado
e morreu. Porém, o corpo do homem morto está irreconhecível. Segundo a
tradição, Rami se entrega a Levy, irmão de seu esposo, mas Tony volta e descobre
que o deram por morto.

Finalmente, Luísa abandona Tony, se casa com Vito e convida Rami para ser a
“segunda esposa” dele. As mulheres restantes decidem, então, ocupar o lugar
vago de Luísa com uma nova mulher para Tony, a Saluá. Mas Tony a rejeita e, em
seguida, descobre que Rami vai ter um filho de Levy e, assim, a dança de amor
(niketche) chega ao seu fim.

Características da obra Niketche — uma história de poligamia


SAIBA
FEZ MAIS
O
Paulina Chiziane é uma autora da literatura moçambicana pós-independência. Em
suas obras, incluída Niketche — uma história de poligamia, sobressai a voz
feminina, que faz uma reflexão sobre a condição da mulher negra na sociedade
moçambicana. Dessa forma, a narradora realiza uma crítica de costumes.

Dividido em 43 capítulos, o romance está centrado no fluxo de consciência da


narradora-personagem, que analisa, com uma linguagem lírica, sua condição e a
de outras mulheres vinculadas à tradição de uma sociedade patriarcal. Assim,
mostra uma realidade feminina marcada pela submissão e enriquecida pela
pluralidade cultural.

Leia também: Mia Couto — autor pertencente à literatura moçambicana do período pós-
independência

Paulina Chiziane
Paulina Chiziane, em foto de Otávio de Souza, no ano de 2008. [2]

Paulina Chiziane nasceu em 4 de junho de 1955, na cidade de Manjacaze, em


Moçambique. Seu pai era protestante e contrário à colonização portuguesa. Apesar
disso, ela fez o primário em uma escola católica. Mais tarde, se formou na Escola
Comercial de Maputo e iniciou estudos em linguística na Universidade Eduardo
Mondlane.

Antes da independência de Moçambique, ocorrida em 1975, esteve envolvida com


a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). No período da guerra civil,
trabalhou junto à Cruz Vermelha. Com a pacificação, em 1992, integrou o Núcleo
das Associações Femininas da Zambézia (Nafeza). Ganhou o Prêmio José
Craveirinha pelo romance Niketche — uma história de poligamia, publicado em
2002.

Contexto histórico de Niketche — uma história de


poligamia
Após assinarem o Acordo Geral de Paz, em 1992, a Resistência Nacional
Moçambicana (Renamo) continuou sendo uma força política de oposição ao
governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo). Apesar do cessar-
fogo, os conflitos entre os integrantes desses dois partidos continuaram, de forma
a ameaçar a paz.

Portanto, é nesse contexto de instabilidade política e social que a narrativa


Niketche — uma história de poligamia se desenvolve. Como outras obras do
período pós-independência, busca valorizar a diversidade cultural, de forma a
mostrar que ela deve ser usada não para separar, mas para fomentar a união do
país.

Créditos da imagem

[1] Grupo Companhia das Letras (reprodução)

[2] Wikimedia Commons (reprodução)

Por Warley Souza


Professor de Literatura 

Gostaria de fazer a referência deste texto em um trabalho escolar ou acadêmico? Veja:

SOUZA, Warley. "Niketche — uma história de poligamia"; Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/niketche-uma-historia-de-poligamia.htm. Acesso em
28 de fevereiro de 2023.

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