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SÍNTESE DA MATÉRIA DO MÓDULO I

TEXTOS DE CARÁCTER AUTOBIOGRÁFICO


Prof. Liliete Santos

TEXTOS DE CARÁCTER AUTOBIOGRÁFICO


Estes são textos em que se contam experiências de vida relativas ao sujeito que as
enuncia e onde este defende convicções ou exprime sentimentos.

CARACTERÍSTICAS DOS TEXTOS DE CARÁCTER AUTOBIOGRÁFICO


(geral)
 Recurso a marcas da primeira pessoa (formas verbais, pronomes, determinantes e
quantificadores);
 Escrita confessionalista e subjectiva;
 Grande relevância da função emotiva e expressiva da linguagem.

O DIÁRIO
O diário, obra literária ou não, relata acontecimentos relacionados com o narrador,
durante um período mais ou nemos longo e de uma forma regular e assídua.

TEMÁTICAS

 Vivências do “eu”/necessidade de comunicar algo consigo próprio (locutor=interlocutor);


 Relacões do “eu”com os outros;
 Testemunhos de situações;
 Contexto histórico, político e social em que o “eu” se insere (nestes casos, o diário adquire
interesse nacional ou internacional);
 Reflexão sobre problemáticas:
 Que afectam o “eu” (individuais);
 Que afectam o seu país (nacionais);
 Que afectam o mundo (internacionais).
 Confissões / confidências (pode também expressar sentimentos do “eu” face ao que o rodeia).

CARACTERÍSTICAS DO DISCURSO

 Presença de um “tu” (diário personificado);


 Marcas autobiográficas;
 Realidade transmitida através de grande subjectividade;
 Acções situadas no tempo;
 Tempo fragmentado, descontínuo (não há, necessariamente, um encadeamento
lógico entre os registos);
 O tempo organiza-se em função de um “hoje” em que o “eu” se situa;
 Referências deícticas pessoais (“eu”, “tu”), temporais (“ontem”, “hoje”) e espaciais (“aqui”,
“ali”, “lá”);
 Linguagem informativa, emotiva e poética;
 Em prosa ou em verso.
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TEXTOS DE CARÁCTER AUTOBIOGRÁFICO
Prof. Liliete Santos

AS MEMÓRIAS
Género de texto autobiográfico em que a narração dos eventos é posterior aos
factos presenciados e vividos pelo autor. Neste tipo de texto, o autor recorda
experiências e pessoas que, de certa forma, o marcaram.

CARACTERÍSTICAS

 Papel importante da memória - os acontecimentos são passados pelo crivo da lembrança. Esta,
por vezes, necessita de ajudas: os memorialistas socorrem-se de documentação diversa, como o
diário íntimo, as cartas, os jornais,... );
 Escrita sobre si mesmo ( “ retrato de uma voz “ );
 Relevância do acontecimento narrado;
 Fundo histórico-cultural ( testemunho dum tempo e dum meio, somando ao relato de casos
pessoais e familiares o de acontecimentos históricos e políticos );
 Este tipo de texto possui um importante valor documental, pois o memorialista presta um
serviço aos vindouros, legando-lhes um testemunho.

MEMÓRIAS

REALIDADE FILTRADA

“Eu”
Memória individual

Vivências, experiências, Presente


sentimentos; Recordação, lembrança, evocação
Realidades:
 Geográficas;
 Humanas;
 Sociais; PASSADO expressão e registo
 Culturais;
 Históricas;
 Políticas.
Muitos registos
individuais

Conjunto de recordações
MEMÓRIA específicas de uma
COLECTIVA comunidade, de uma etnia
ou de uma nação.
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TEXTOS DE CARÁCTER AUTOBIOGRÁFICO
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A CARTA
Uma carta é uma mensagem escrita que se envia ou se recebe que, normalmente,
não é um texto literário, mas na Literatura Portuguesa e Universal encontram-se vários
exemplos de cartas com valor Literário. A sua dimensão elevada é-lhes conferida pelas
temáticas profundas e complexas, bem como pela utilização estética da linguagem,
integrando-se no género Epistolar.

A carta, pelas suas características, está condicionada na sua organização e


linguagem, pela intenção de quem escreve e pelo tipo de pessoa a quem se dirige.
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(manuscrita, no
fim, no canto
inferior direito.)
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O AUTO-RETRATO
O auto-retrato é uma representação criada pelo próprio representado, em pintura,
em fotografia ou na literatura. Nessa representação, o autor pode caracterizar-se
fisica, psicologica e socialmente, mas verifica-se que o “eu” interior se sobrepõe-se
ao “eu” aparente, havendo, por isso, um domínio da caracterização psicológica.
Auto-retrato Auto-retrato

Magro, de olhos azuis, carão moreno, O'Neill (Alexandre), moreno português,


bem servido de pés, meão na altura, cabelo asa de corvo; da angústia da cara,
triste de facha, o mesmo de figura, nariguete que sobrepuja de través
nariz alto no meio e não pequeno. a ferida desdenhosa e não cicatrizada.
Se a visagem de tal sujeito é o que vês
Incapaz de assistir num só terreno, (omita-se o olho triste e a testa iluminada)
mais propenso ao furor do que à ternura, o retrato moral também tem os seus quês
bebendo em níveas mãos por taça escura (aqui, uma pequena frase censurada...)
de zelos infernais letal veneno. No amor? No amor crê (ou não fosse ele O'Neill!)
e tem a veleidade de o saber fazer
Devoto incensador de mil deidades (pois amor não há feito) das maneiras mil
(digo, de moças mil) num só momento que são a semovente estátua do prazer.
e somente no altar amando os frades,
Mas sobre a ternura, bebe de mais e ri-se
eis Bocage, em quem luz algum talento. do que neste soneto sobre si mesmo disse...
Saíram dele mesmo estas verdades
num dia em que se achou mais pachorrento.
Alexandre O’Neill
Bocage Poemas com endereço (1962)

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