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ANÁLISE DO

DISCURSO COM
DOMINIQUE
MAINGUENEAU

• UFRN-PPgEL/2024.1
TEORIAS
CONTEMPORÂNEAS
DO DISCURSO
ANÁLISE DO
DISCURSO


PROFa. CELLINA
MUNIZ
ALGUNS CONCEITOS EM
DOMINIQUE MAINGUENEAU
• CONCEITOS:

ROTEIRO - ETHOS

DE AULA - CAMPO E POSICIONAMENTO DISCURSIVO

- CENAS DE ENUNCIAÇÃO

- AFORIZAÇÃO E DESTACABILIDADE

• À GUISA DE CONCLUSÃO: A ÊNFASE NAS


PRÁTICAS DISCURSIVAS
PONTO DE PARTIDA:
ENUNCIADO/ENUNCIAÇÃO

“A enunciabilidade” de um discurso, o fato de que tenha sido


objeto de atos de enunciação por um conjunto de indivíduos
não é uma propriedade que lhe é atribuída por acréscimo, mas
algo de radical, que condiciona toda sua estrutura. É preciso
pensar ao mesmo tempo a discursividade como dito e como
dizer, enunciado e enunciação” (MAINGUENEAU, 2008, p. 19).
ETHOS
“UMA MANEIRA DE DIZER QUE
ATESTA UMA MANEIRA DE SER”
• A enunciação como uma tripla dimensão: a pessoa, o autor e o
inscritor;
• A enunciação como uma “experiência sensível”: uma “voz”
associada a um “corpo enunciante” avaliados positiva ou
negativamente (uma “incorporação” e um “mundo ético”);
• A enunciação em termos de “estratégia”.
(MAINGUENEAU, 2010).
EXEMPLO 1:
MEME

• A pessoa (o indivíduo
criador do meme), o
autor (apto nas
habilidades digitais e
bolsonarista) e o
inscritor (“Bolsonaro
sincero, patriota e
líder popular”);

• Mundo ético: valores


como “sinceridade,
patriotismo e
liderança”;
EXEMPLO 2: MEME

• A pessoa (indivíduo criador


do meme), o autor (apto nas
habilidades digitais,
humorísticas e anti-
Bolsonarista) e o inscritor
(Bolsonaro preguiçoso, mau
político, homofóbico e
ridículo);
• Mundo ético: valores para
um “bom político”.
EXEMPLO 3: POEMA DE HORTO,
DE AUTA DE SOUZA.
MELANCOLIA
Sinto no peito o coração bater
Com tanta força que me causa medo…
Será a morte, meu Deus? Mas é tão cedo!
Deixai-me ainda viver.
Tudo sorri por este campo em flor
O Amor e a Luz vão pelo Céu boiando…
Só eu vagueio a suspirar, chorando
Sem Luz e sem Amor.
Lutando sempre com uma dor cruel
Cheia de tédio e desespero, às vezes;
Minh’alma já tragou até as fezes
O cálice de fel.
E o coração no seio a palpitar,
Como se acaso não tivesse crença,
Pulsa com a força indefinida, imensa,
Dos vagalhões do Mar.
EXEMPLO 4: POEMAS DEVASSOS E
UMA CANÇÃO DE AMOR, DE NEI
LEANDRO DE CASTRO
CANÇÃO DE QUASE EXÍLIO
Minha terra tem rameiras
que não dão o fiofó.
Elas guardam seus tesouros
e só dão ao gigolô.
Minha terra se orgulha
de ter luas, dunas, loas.
Eu me orgulho da terra
da grande Maria Boa.
Se eu fosse daquele tempo
juro, sim, iria à luta.
Com as bênçãos de Maria,
ai, como eu seria puta!
ETHOS

ETHOS EFETIVO

ETHOS PRÉ-DISCURSIVO ETHOS DISCURSIVO

ETHOS DITO ETHOS MOSTRADO

ETHOS ATRIBUÍDO
ETHOS DISCURSIVO

• “o destinatário é necessariamente levado a construir uma


representação do locutor” (MAINGUENEAU, 2012, p. 79).

• “A instância subjetiva que emerge da enunciação implica uma


“voz”, associada a um “corpo enunciante” (MAINGUENEAU,
2012, p. 80).
ETHOS

• Resultado de uma interação (pistas/marcas que o enunciador


sugere/mostra e a interpretação do coenunciador)

• União de elementos de ordem cultural e social (estereótipos,


representações coletivas)e de elementos de ordem afetiva e
situacional (empatia específica)
EXEMPLO 5: ESTAMPAS DE
CAMISA
EXEMPLO 6: MANCHETES DE
NOTÍCIAS
ETHOS E ARGUMENTAÇÃO

(...)podemos refletir em termos de “estratégia” de comunicação


para mostrar como, num mesmo movimento, a enunciação constrói
certa “ imagem” do locutor e configura um universo de sentido
que corresponde a essa imagem (MAINGUENEAU, 2010, p. 80).
CAMPO E
POSICIONAMENTO
DISCURSIVO
• A imprecisão da noção de FD´s

• Os estudos de Bourdieu sobre campo social

• Os estudos de Maingueneau sobre literatura, com seus


investimentos genéricos e estilísticos: o campo
PRESSUPOSTOS
discursivo

• O aspecto bélico
CAMPO E POSICIONAMENTO
DISCURSIVO

• CATEGORIAS ANALÍTICAS QUE MENSUREM O CONJUNTO DAS


PRÁTICAS EM QUE OS SUJEITOS PRODUZEM SENTIDOS

As obras (os enunciados) falam efetivamente do mundo, mas sua


enunciação é parte integrante do mundo que pretensamente
representam (MAINGUENEAU, 2001, p. 19).
CAMPO DISCURSIVO

• Sem homogeneidade: centro/periferia/fronteira


• Diversidade de relações (dominantes/dominados)
• Identificação da rede de aparelhos, dos arquivos, dos lugares
enunciativos, das rotinas e regras
• Posicionamentos, gêneros preferenciais, formação dos sujeitos
C A M P O : G Ê N E RO S
PREFERENCIAIS
CAMPO: FORMAÇÃO E
CONSTITUIÇÃO DOS
SUJEITOS
CAMPO DISCURSIVO

Um conjunto de formações discursivas que se encontram em relação


de concorrência, em sentido amplo, e se delimitam, pois, por uma
posição enunciativa em uma dada região enunciativa
(MAINGUENEAU, 1997, p. 116).

Um espaço no interior do qual interagem diferentes


“posicionamentos”, fontes de enunciados que devem assumir os
embates impostos pela natureza do campo, definindo e legitimando
seu próprio lugar de enunciação (MAINGUENEAU, 2010, p. 50).
EXEMPLOS 3
EXEMPLOS 4
Não há muito o que pensar. Não há
com quem conversar. O poeta acorda
só. Do jeito que ele nasceu.
Ar de ressaca. Arde o calor. O poeta
na cama reclama. Ar de dor. (...)
Então o romance não é linear. Não é o
que se espera. Não cheira a
antigamente. (...) Que espécie de
romance é esse? Pequeno burguês?
Jamais. Ora, quem já se viu. Industrial
proletário? Será? Estética
neodecadente? Não, porque tropical.
Pós-moderno? Certamente que sim.
Ou nada disso. Texto sem rótulo.
Espontâneo. EXEMPLO 5: A LITERATURA (O
ROMANCE “ TEMPORADA DE
INGÊNIOS”, DE JOÃO BATISTA
(JOÃO DA RUA)
“Nós, os loucos, os poetas, os
visionários não nos
contentamos com o pouco.
Somos o extremo: ou
mergulhamos no nada ou
conquistamos o tudo. Por isso
morremos esmolambados pelas
ruas e hospícios ou
caminhamos nos palácios sendo
beijados pelos reis.” (SOUSA,
Carlos de . “Crônica da
Banalidade”. Natal: Clima, 1988,
p.60)
EXEMPLO 6: A LITERATURA (O
ROMANCE “CRÔNICA DA
BANALIDADE”, DE CARLOS DE
SOUZA)
CENAS DE
ENUNCIAÇÃO
CENAS DE ENUNCIAÇÃO

• CENA ENGLOBANTE (literário, por exemplo)

• CENA GENÉRICA (conto, por exemplo)

• CENOGRAFIA ( uma festa de ano novo, por exemplo)


CENAS DE ENUNCIAÇÃO

Evocamos por primeiro a cena englobante, mas, para os usuários


do discurso, a realidade tangível, imediata, são os gêneros de
discurso. As cenas genéricas funcionam como normas que
suscitam expectativas. (MAINGUENEAU, 2015, p. 120).

Um romance, por exemplo, pode ser enunciado por meio de uma


cenografia do diário íntimo, do relato de viagem, de uma
conversa ao pé do fogo, de uma correspondência amorosa... A
noção de cenografia se apoia na ideia de que o enunciador, por
meio da enunciação, organiza a situação a partir da qual
pretende enunciar (MAINGUENEAU, 2015, p. 123).
CENAS DE ENUNCIAÇÃO

As normas constitutivas da cena genérica não bastam, entretanto,


para dar conta da singularidade de um texto. Enunciar não é
apenas ativar as normas de uma instituição de fala prévia; é
construir sobre esta base uma encenação singular da
enunciação: uma cenografia.
UM EXEMPLO
AFORIZAÇÃO E
DESTACABILIDADE
REGIMES ENUNCIATIVOS

Enunciação

Aforizante Textualizante

primária secundária
DESTACABILIDADE

...preferimos pensar que este fenômeno não é periférico, mas


que revela uma dimensão constitutiva da enunciação, a saber,
que ela pode funcionar segundo duas modalidades: por meio
de textos ou por meio de frases sem texto, quer estas sejam
autônomas por natureza, “primárias” – como o slogan ou o
provérbio –, quer sejam “secundárias”, isto é, extraídas de
textos. Adotando esta perspectiva, somos levados a distinguir
entre uma enunciação “textualizante”, a dos gêneros de
discurso e da conversação, e uma enunciação “aforizante”, a
das frases sem texto (MAINGUENEAU, 2015)
DESTACABILIDADE

“...um conjunto de propriedades de certas frases que as fazem


ser destacadas e circular, eventualmente, fora do texto de que
fizeram parte na origem.” (MAINGUENEAU, 2014, p.7).
DESTACABILIDADE

• Valor generalizante ou genérico


• Estruturação pregnante do significante (simetria, silepse...)
e/ou do significado (antítese, paralelos...)
• Ethos solene/Auditório universal
• Aforismos
• Provérbios
• Slogans
• Citações/Particitações
“A recurso aprovado não se olha a fonte”
“Um aluno bem orientado vale por dois”
“Não adianta chorar sobre o artigo recusado”
“Cada banca, uma sentença”
“É na necessidade que se conhece o Orientador”
“As estatísticas enganam”
“Antes só do que mal orientado”
“Amigos, amigos, bolsas à parte”
“A pressa é inimiga da redação”
“Diga-me qual teu grupo de pesquisa e te direi quem és”
“Em terra de mestres, quem tem doutorado é rei”
“Artigos passados não movem o Lattes”
“O laboratório do vizinho é sempre melhor equipado que o seu”
“É melhor um artigo publicado do que dois no prelo”
“Para bom pesquisador, meia referência basta”
“Nem todo periódico que reluz é qualificado pela CAPES”
“De tanto pensar, morreu o estagiário”
À GUISA DE CONCLUSÃO: A ÊNFASE
NAS PRÁTICAS DISCURSIVAS

• Reflexão sobre a relação entre o histórico, o social, o simbólico


e a linguagem como uso estratégico
• Reflexão sobre o agenciamento dos indivíduos em sujeitos
(lugares de enunciação): entre as coerções (culturais, sociais,
ideológicas, discursivas) e as “intencionalidades”
(estratégias, tomadas de posição, embates)
• Reflexão sobre as instâncias e formas de enunciação e as
práticas humanas.
BIBLIOGRAFIA

• MAINGUENEAU, D. Cenas de enunciação. Curitiba: Criar, 2006.


• ______. O contexto da obra literária. Tradução de Marina Appenzeller. São
Paulo: Martins Fontes, 2001.
• ______. Discurso e análise do discurso. Trad. de Sírio Possenti. São Paulo:
Parábola Editorial, 2015.
• ______. Doze conceitos em Análise do Discurso. Vários tradutores. São Paulo:
Parábola Editorial, 2010.
______. “Ethos e apresentação de si nos sites de relacionamento”. Tradução de
Luciana Salgado. In: Doze conceitos em análise do discurso. Organização de
Sírio Possenti e Maria Cecília Souza-e-Silva. São Paulo: Parábola Editorial, 2010.

• ______. Frases sem texto. Trad. De Sírio Possenti et alli. São Paulo: Parábola
Editorial, 2014.
• ______. Variações sobre o ethos. Tradução de Marcos Marcionilo. São Paulo:
Parábola Editorial, 2020.

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