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2, de 2006 41
1806-4280/06/35 - 02/41
Arquivos Catarinenses de Medicina
ARTIGO ORIGINAL
Resumo Abstract
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medicina da Universidade Federal de Santa Catarina
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Dos dez estudantes com história familiar, os parentes História familiar foi evidenciada em 62,5% dos
mais citados como portadores da deficiência foram discromatópsicos masculinos, por ser esta uma doença
irmãos, avôs, pais, tio e primo. Alguns relataram mais de herança autossômica recessiva ligada ao cromossomo
de um integrante da família com dificuldade de X (Gráfico 3). Dessa forma, a mãe é portadora da
percepção em cores. deficiência e transmite o gene para seus filhos homens.
Dos estudantes que apresentaram alteração no Os familiares citados foram irmãos, avôs, pais, tio e
teste, cerca de 31,3% (n = 5) relataram dificuldades primo. O pai não transmite a deficiência para seus filhos
nas atividades diárias. A maioria não referiu qualquer homens e, portanto, a manifestação da doença nele é
tipo de limitação. As dificuldades mais citadas foram um achado casual.
em relação à visualização de semáforos, combinação Em relação à medicação em uso pelos entrevistados,
de roupas, confusão de cores e nas aulas práticas não foi possível realizar uma associação, pois somente
de histologia. um indivíduo relatou uso de algum medicamento durante
Da amostra que apresentou alteração da visão em a aplicação do teste de Ishihara. Além disso, não se
cores, apenas um acadêmico relatou o uso de medicação encontram dados na literatura que relacionem o uso de
(óxido de zinco) durante a realização do teste de Ishihara. óxido de zinco com as discromatopsias.
A existência de uma perfeita visão em cores é
Discussão necessária para o exercício de determinadas profissões,
Neste estudo observou-se que 4,95% dos estudantes como militares em geral, profissionais de transportes e
do sexo masculino examinados são portadores de indivíduos cujas ocupações exigem uma percepção
discromatopsia (Gráfico 1). Não foi encontrada exata das cores.23 As razões pelas quais os indivíduos
deficiência para visão em cores nas mulheres. A com discromatopsia relativa são impedidos de exercer
prevalência de discromatopsia varia geralmente de 6 a certas profissões se justifica: o indivíduo necessita de
10% em caucasianos. Nas mulheres caucasianas essa um tempo maior para a distinção de cores; a luz deve-
taxa é de aproximadamente 0,5%. Trabalhos locais se apresentar sob ângulo maior do que em
anteriores envolvendo a população masculina ortocromatas; é preciso uma maior intensidade e
demonstraram valores de 2,5%21, 6%11, 6,66%22, 7,6%5 saturação das cores, mas mesmo assim há rápida
e 9,4%. 9 No grupo feminino encontrou-se valores fatigabilidade do senso cromático e há situações em
variando de 0 a 0,5%. 11,22 Dessa forma, pode-se que, duas luzes da mesma tonalidade, mas de
constatar que estes percentuais encontram-se próximos intensidades diferentes, parecerão distintas na
aos valores relatados na literatura. coloração vista pelo discromatópsico relativo.24
Os resultados também evidenciaram alguns Em algumas especialidades da área médica, o
acadêmicos com dificuldades de graus variáveis. Dos exercício da profissão por indivíduos portadores da
estudantes que apresentaram alteração no teste, cerca discromatopsia pode trazer algumas limitações no
de 31,3% relataram dificuldades nas atividades diárias diagnóstico clínico.20
(visualização de semáforos, combinação de roupas,
Apesar disso, o assunto acaba sendo pouco abordado,
confusão de cores). Nas atividades acadêmicas, as
por envolver não somente a saúde dos pacientes, mas
limitações referidas foram nas aulas práticas de
também a carreira médica. Além disso, a dificuldade em
histologia. Porém, uma comparação torna-se inviável
estabelecer uma relação causal médica e os diferentes
devido à casuística pequena e carência de estudos
tipos de problemas, que podem estar presentes em
específicos.
diversas especialidades e procedimentos, também
O conhecimento prévio da discromatopsia foi contribuem para isso.
observado em 81,2% dos estudantes. Porém, 18,8%
O grau de dificuldade encontrado pode estar
dos indivíduos com alteração na percepção das cores
relacionado com o tipo de deficiência (anopia ou
tomaram conhecimento dessa anomalia no momento
anomalia) e grau de deficiência (leve, moderado,
da avaliação (Gráfica 2). Pode-se deduzir que estes
severo) para visão em cores. Clínicos que apresentam
podem não apresentar nenhuma dificuldade para
discromatopsia de grau moderado a severo podem vir
desenvolver as suas atividades diárias, ou
a ter muitas dificuldades no seu trabalho. Enquanto
inconscientemente não percebê-las.
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