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ENFOQUE MACRO

04 de março de 2022

INFORME SEMANAL
E PERSPECTIVAS

Brasil Mundo
PIB tem crescimento EUA registram criação de
acima do esperado no 4º vagas acima do
trimestre de 2021 esperado em fevereiro

Cenário econômico e perspectivas

O conflito entre Rússia e Ucrânia materializou riscos geopolíticos de forma como há muitos anos
não ocorria. Evidentemente, o impacto humano supera qualquer outra preocupação. Do
ponto de vista apenas econômico, haverá consequências de curto e médio prazos. O
ambiente é de elevada incerteza, portanto, qualquer cenário construído será provisório. O
primeiro ingrediente deste choque sobre a economia global é uma queda da oferta de
commodities, que poderá ser mais ou menos intensa. Como se sabe, a Ucrânia é um grande
exportador de produtos agrícolas, enquanto a Rússia é um dos maiores exportadores de
energia, assim como importante produtor de commodities agrícolas e metálicas. Além dos
impactos diretos do conflito, as sanções econômicas (que ainda não atingiram as exportações
de energia) também resultarão em queda da oferta de diversas commodities e de outros
produtos. Os preços do petróleo sofreram substancial elevação (25% sobre o patamar anterior),
assim como as cotações de grãos (o trigo, por exemplo, registra alta de 65% nesse momento).

Outro grande impacto provável será uma perda relevante de PIB na Europa, especialmente no
Leste Europeu. A queda de confiança das empresas e das famílias poderá resultar em
desaceleração do investimento e do consumo. Para os EUA e outros países, os impactos sobre a
demanda interna parecem mais limitados, restando o efeito negativo sobre o crescimento do
choque de commodities. O Banco Central Europeu terá o maior dilema e parece mais
inclinado a postergar ações de aperto de política monetária que estavam sendo discutidas.
Com relação ao Fed, avaliamos que a estratégia não sofrerá alteração imediata, com
manutenção da perspectiva de incrementos seguidos da taxa de juros em direção ao patamar
neutro ou acima (isto é, passos de 25 pb, com riscos de passos maiores e uma taxa terminal de
2,5% ou superior).

Ainda, há potenciais implicações para o médio prazo, quais sejam, a persistência de nível
elevado de incerteza sobre questões geopolíticas, tendência de busca por autossuficiência na
produção local de certos produtos (a chamada “reversão da globalização”) e fragmentação
maior do sistema financeiro internacional. As sanções sobre as reservas internacionais do Banco
Central da Rússia, apesar de não serem as primeiras na história aplicadas sobre bancos centrais,
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têm levantado debates sobre o comportamento futuro de outros países na alocação de seus
recursos (reforçando discussões, já presentes há muitos anos, de deslocamento para fora do
dólar).

Para o Brasil, avaliamos que os impactos potenciais são mais relevantes sobre a inflação do que
sobre a atividade econômica. A corrente de comércio com os países envolvidos no conflito é
relativamente pequena. Eventuais perdas de exportação poderão ser redirecionadas para
outros países. Do lado das importações, o principal desafio será buscar por alternativas de
fornecimento de fertilizantes. A elevação de preços de commodities tem efeito expansionista
sobre o PIB agrícola e contribui para a apreciação da taxa de câmbio. Nos últimos meses,
também temos observado incremento dos ingressos de fluxos de portfólio (movimento prévio
ao conflito). Em decorrência disso, revisamos nossa projeção para a taxa de câmbio para o
final do ano para R$ 5,10. A apreciação da taxa de câmbio tem compensado apenas
parcialmente o choque de commodities. Mesmo levando em conta a desoneração de IPI de
produtos industrializados e a perspectiva de alguma desoneração de combustíveis, avaliamos
que o IPCA encerrará o ano ao redor de 6%, com algum efeito também sobre as expectativas
de inflação para 2023. Em uma situação de inflação baixa, normalmente o choque atual de
commodities seria acomodado pela política monetária. Contudo, o patamar elevado da
inflação cheia e dos núcleos cria riscos relevantes que mesmo choques de oferta contaminem
a inflação de médio prazo (por meio da inércia e das expectativas). Por esse motivo, passamos
a contemplar um viés de alta em nossa projeção atual de 12,75% para a taxa Selic no final do
ciclo (com passo de 100 pb na próxima reunião Copom).

Eventos da semana

Nessa semana, no âmbito internacional o conflito entre Rússia e Ucrânia continuou sendo o
foco e determinando o comportamento dos preços dos ativos de risco no mercado global. A
ocupação russa na maior usina nuclear da Europa, na noite de quinta-feira, aumentou o temor
de algum possível incidente nuclear na região. Ainda, a segunda reunião de negociação entre
os dois países não trouxe definições, tendo agora uma terceira rodada de encontros no
horizonte. Com isso, os preços das commodities seguiram em elevação substancial, com o
destaque para o preço do petróleo, que já acumula valorização de cerca de 45% no ano de
2022. Por outro lado, no mercado local, após o feriado prolongado, o destaque ficou para a
divulgação do PIB do 4º trimestre de 2021 e a continuidade da valorização do real em meio às
turbulências externas.

O PIB do 4º trimestre de 2021 registrou alta de 0,5% na comparação com o trimestre


anterior. O resultado veio acima da nossa projeção (0,3%) e da mediana do mercado (0,1%).
O crescimento do ano foi de 4,6%. Os maiores desvios em relação à nossa expectativa se
concentraram em outros serviços, construção civil e transportes, com taxas de crescimento
maiores que o esperado. Apesar do resultado acima do esperado, a abertura do PIB confirmou
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o rebalanceamento entre o consumo de bens e serviços e a continuidade de problemas de


oferta na indústria.

Na comparação trimestral,
Brasil - Crescimento do PIB
pela ótica da oferta, houve (variação em relação ao nível pré-crise)
crescimento de dois 2%
0,4% 0,5%
grandes setores. O maior
0%
destaque foi a agropecuária, 0,0%
mas que pode ser explicado -2% -2,2% -1,0%

pelo fraco resultado do -4% -3,9%


trimestre anterior, no qual
-6%
houve quebras das safras de
milho, cana e café. Outra -8%
contribuição positiva foi a do -10%
setor de serviços. Na indústria, -10,9%
-12%
houve crescimento na
4T19 1T20 2T20 3T20 4T20 1T21 2T21 3T21 4T21
margem apenas da
Fonte:: IBGE | BRAM
construção civil (1,5%). O
destaque negativo veio da indústria de transformação, com queda de 2,5% em um trimestre
que permaneceu contando com problemas no fornecimento de insumos e menor demanda
por bens. Pela ótica da demanda, houve crescimento do consumo das famílias (0,7%), do
governo (0,8%) e do investimento (0,4%). Segundo o IBGE, a alta do investimento foi resultado
da construção civil, bem como da importação de máquinas e equipamentos. O desempenho
líquido do setor externo foi negativo, refletindo a queda de exportações (-2,4%) e a alta de
importações (0,5%). Mesmo em um ambiente de menor renda e crédito, a expectativa é de
expansão do PIB no primeiro trimestre deste ano, visto que ainda há espaço para crescimento
do setor de serviços, principalmente administração pública e outros serviços. Também
esperamos contribuição relevante da agropecuária para o crescimento ao longo do ano.

A balança comercial registrou superávit de US$ 4,049 bilhões no mês de fevereiro,


acumulando saldo positivo de US$ 3,835 bilhões no ano. Esse resultado é fruto do maior
crescimento de exportações do mês em relação ao crescimento das importações, com alta
nas exportações de 32,6% na comparação da média diária interanual contra 22,9% das
importações. Destaque para o setor de agropecuária, que nas exportações obteve
crescimento de 114,2% no mês de fevereiro. Pelo lado das importações, destaque positivo para
a indústria extrativa. Para o ano, o principal risco para a balança comercial está atrelado a
uma possível continuidade do elevado nível das importações no primeiro semestre do ano.
Nossa projeção é de superávit comercial de US$ 38,0 bilhões em 2022.
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Os EUA registraram criação


EUA - Taxa de desemprego
de 678 mil vagas de
(%)
emprego em fevereiro. O 16
resultado veio acima da 14
expectativa de criação de 400 12
mil vagas. A taxa de 10
desemprego recuou de 4,0%
8
para 3,8%, com o avanço da
taxa de participação de 62,2% 6 3,8
para 62,3%. A respeito dos 4
salários, houve estabilidade na 2

fev-09

fev-12
fev-00
fev-01
fev-02
fev-03
fev-04
fev-05
fev-06
fev-07
fev-08

fev-10
fev-11

fev-13
fev-14
fev-15
fev-16
fev-17
fev-18
fev-19
fev-20
fev-21
fev-22
margem. Em termos anuais a
alta foi de 5,1%. Os números
ainda revelam que a oferta de
Fonte: BLS | BRAM
mão de obra segue como
principal dúvida acerca da velocidade de recuperação do mercado de trabalho, dado que
outras pesquisas apontam patamar recorde nas vagas abertas. Em resumo, o relatório de
emprego de fevereiro segue compatível com a avalição do Fed de um mercado de trabalho
‘muito forte’.

Indicadores de confiança (ISM) nos EUA reforçam a continuidade da retomada, mas


refletem os persistentes problemas na obtenção de insumos e mão de obra. O ISM total
da indústria avançou de 57,6 em janeiro para 58,6 pontos em fevereiro, o que indica expansão
da atividade, dado que o indicador permanece acima de 50 pontos. Na composição do
resultado, novos pedidos permaneceram em trajetória de alta (61,7 pontos ante 57,9 em
janeiro), assim como o componente que indica o atraso na entrega dos pedidos (65,0 pontos
ante 56,4 em janeiro), tendo como pano de fundo a dificuldade de insumos disponíveis e mão
de obra. Nesse contexto de demanda aquecida e gargalos de oferta, o componente de
preços permaneceu pressionado, embora tenha arrefecido de 76,1 para 75,6 pontos. Em linha
com as dificuldades de encontrar mão de obra diante do cenário da pandemia, o
componente de emprego recuou de 54,5 para 52,9 pontos. Vale destacar a ampliação da
diferença entre o subcomponente de “novos pedidos” para “estoques”, que embora esteja no
patamar que indica contração, passou de 4,7 pontos em janeiro para 8,1 pontos em fevereiro.
De modo geral, os indicadores confirmam a demanda robusta em oposição à dificuldade do
lado da oferta, sinalizando a continuidade da pressão sobre os preços no curto prazo.

Na Zona do Euro, a inflação ao consumidor (CPI) apresentou variação acima da


expectativa em fevereiro. Em termos anuais, o CPI variou 5,8% ante expectativa de 5,3% do
mercado. Destaque para os preços de energia, que tiveram variação anual de 31,7% em
fevereiro, ante aumento de 28,8% registrado em janeiro. O núcleo da inflação, métrica que
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exclui a inflação com alimentos Zona do Euro - Inflação


e combustíveis e costuma (variação interanual, %) 5,8
receber mais atenção por parte 6
das autoridades monetárias,
4
av anç ou par a 2,7% na 2,7
comparação anual ante 2
expectativa de 2,5%. No caso
da inflação ao produtor (PPI), 0
houve alta de 30,6% em janeiro,
-2
ante expectativa de mercado
out-16

out-19
fev-16

fev-17

fev-18

fev-19

fev-20

fev-21

fev-22
jun-16

jun-17
out-17

jun-18
out-18

jun-19

jun-20
out-20

jun-21
out-21
em 26,9%, na mesma base de
comparação. A pressão sobre a
Inflação ao consumidor (CPI) Núcleo do CPI
cadeia de bens e a alta nos
Fonte: Eurostat | BRAM
preços de energia tendem a
manter a inflação em trajetória altista.

Por fim, os dados de confiança (PMI oficial) na China mostraram um avanço maior do
que o esperado em fevereiro. O PMI da Indústria avançou de 50,1 em janeiro para 50,2 em
fevereiro, contrariando as expectativas do mercado para uma queda de 49,8. A parcela do
PMI que exclui a indústria também apresentou expansão na margem, passando de 51,1 em
janeiro para 51,6 em fevereiro, acima da expectativa de mercado (50,7). A tendência de
desaceleração da atividade observada nos últimos meses tem sido contraposta nesse início de
ano por estímulos de política econômica mais intensos, o que indica que devemos observar
estabilização do ritmo de crescimento nos próximos meses.

Na próxima semana

Na agenda doméstica, destaque para a divulgação do IPCA (BRAM: 0,92%) na sexta-feira e


para os dados de indústria e de comércio na quarta e quinta-feira. No cenário internacional,
destaque para dados de inflação ao consumidor nos Estados Unidos e para a decisão da
taxa de juros do BCE, ambos na quinta-feira.
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CALENDÁRIO SEMANAL

TER. 8 MAR Mercado Anterior


07:00 (EUR) PIB (T/T a.s.), 4T 0,3% 0,3% INDICADORES ECONÔMICOS
08:00 (BR) IGP-DI (M/M), fev 1,6% 2,0% Nível Variação

Confiança do Pequeno Empresá- 4-mar Semana Mês Ano


08:00 (EUA) 97,4 97,1
rio - NFIB, fev Real (R$/US$)1 5,09 -1,2% -1,2% -8,7%
10:00 (BR) Produção de Veículos, fev -- 145417 CDS Brasil 5 anos 228,5 6,93 5,10 23,24
12:00 (EUA) Estoques no Atacado (M/M), jan 0,8% 0,8% Taxa Prefixado 2 anos (%) 13,00 0,52 0,52 1,20

12:00 (EUA) Vendas no Atacado (M/M), jan -- 0,2% Taxa Prefixado 10 anos (%) 11,83 0,24 0,24 1,10

22:30 (CH) Preços ao Produtor - PPI (A/A), fev 8,6% 9,1% Taxa 10 anos + I PCA (%) 5,75 0,05 0,05 0,51

Preços ao Consumidor - CPI (A/ Taxa 20 anos + I PCA (%) 5,78 0,03 0,03 0,40
22:30 (CH) 0,9% 0,9%
A), fev
I bov espa2 114.025 0,8% 0,8% 8,8%
QUA. 9 MAR Euro (USD/EUR) 1,091 3,2% 2,8% 4,1%
09:00 (BR) Produção Industrial (M/M), jan -- 2,9%
Renminbi (CNY/USD) 6,32 0,0% 0,1% -0,6%
QUI. 10 MAR S&P 500 I ndex 4.327 -1,3% -1,1% -9,2%
09:00 (BR) Vendas no Varejo (M/M), jan -- -0,1% Título 10 anos Alemanha (%) -0,08 -0,31 -0,21 0,10
Criação de empregos formais -
- (BR) 179445 -265811 Título 10 anos EUA (%) 1,73 -0,23 -0,10 0,22
CAGED, jan
09:45 (EUR) Reunião BCE - Taxa de Juros 0,0% 0,0% CRB (R$) 3.112 -0,4% -0,9% -53,0%

Preços ao Consumidor - CPI (M/ Petróleo BRENT (US$/bbl.) 115,3 17,7% 14,2% 48,3%
10:30 (EUA) 0,8% 0,6%
M), fev Minério de Ferro 156,8 15,1% 11,6% 29,5%
Preços ao Consumidor - CPI (A/
10:30 (EUA) 7,9% 7,5% Soja (US$/bu.) 16,75 5,3% 1,9% 26,1%
A), fev
SEX. 11 MAR Dados atualizados às 12:00
(1) Variações negativas significam valorização em relação ao dólar
09:00 (BR) IPCA (M/M), fev 0,9% 0,5%
(2) Índices acionários medidos em moeda local

PROJEÇÕES MACROECONÔMICAS - BRADESCO ASSET


2020 2021 2022E 2023E
PIB (% ao ano) -4,1% 4,6% 0,4% 1 ,2%
Taxa de Inflação - IPCA (% a.a.) 4,5% 10,1% 6,0% 4,1%
Taxa de Inflação - IGP-M (% a.a.) 23,1% 17,8% 8,0% 2,5%
Taxa Selic (final do ano) 2,00% 9,25% 12,75% 8,00%
R$/US$ média do ano 5,15 5,39 5,18 5,26
R$/US$ final do ano 5,20 5,60 5,10 5,40
Balança Comercial (US$ bilhões) 32,4 32,4 38,0 32,8
Exportações (US$ bilhões) 210,7 210,7 279,0 278,8
Importações (US$ bilhões) 178,3 178,3 241,0 246,0
Balanço em Conta-Corrente (US$ bilhões) -24,1 -24,5 -32,2 -42,0
Balanço em Conta-Corrente (% do PIB) -1,7% -1,7% -1,8% -2,4%
Resultado Primário (% PIB) -9,4% 0,7% -0,7% -1,0%
Dívida Líquida (% PIB) 62,7% 57,3% 61,1% 62,4%
Dívida Bruta (% PIB) 88,6% 80,3% 83,6% 86,6%
PIB Global -3,0% 5,6% 3,9% 3,8%
Font es: IBGE, BCB, MDIC, FMI e BRAM
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MARCELO CIRNE DE TOLEDO

Economista-Chefe
marcelo.toledo@bram.bradesco.com.br

FILIPE STONA

filipe.stona@bram.bradesco.com.br

HUGO RIBAS DA COSTA

hugo.costa@bram.bradesco.com.br

NATHALIA LEOCADIO RUBIO

nathalia.rubio@bram.bradesco.com.br

RAFAEL VOIVODIC

rafael.leite@bram.bradesco.com.br

SARAH BRETONES

sarah.paula@bram.bradesco.com.br

Tel: 11 3847-9171
economia@bram.bradesco.com.br

Material produzido em 04/03/2022 às 13h00


Outras edições estão disponíveis em bram.bradesco

As opiniões, estimativas e previsões apresentadas neste relatório constituem o nosso julgamento e estão sujeitas
a mudanças sem aviso prévio, assim como as perspectivas para os mercados financeiros, que são baseadas
nas condições atuais de mercado. Acreditamos que as informações apresentadas aqui são confiáveis, mas
não garantimos a sua exatidão e informamos que podem estar apresentadas de maneira resumida. Este mate-
rial não tem intenção de ser uma oferta ou solicitação de compra ou venda de qualquer instrumento financei-
ro. Material produzido pela Bradesco Asset Management, empresa responsável pela gestão de recursos de
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