Livro investig.
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Daniel Melo
Nota biográfica . Biographical note
É historiador e investigador associado no Insti-
tuto de Ciências Sociais da Universidade de
Lisboa, onde desenvolve um projecto sobre as-
sociativismo, cidadania e desenvolvimento local.
Licenciou-se em História pela Universidade
Nova de Lisboa (1992). Mestre em História
contemporânea pela mesma instituição em
1997, com a tese Salazarismo e cultura popular,
galardoada com o Prémio de História Contem-
porânea Victor de Sá (Universidade do Minho)
e editada pela Imprensa de Ciências Sociais
(2001). Doutorado em História contemporânea
pelo ISCTE (2003), com a tese A leitura pública
no Portugal contemporâneo, a qual foi também
contemplada com o prémio referido supra e
editada pela ICS (2004).
Colaborou em vários projectos de investigação,
designadamente em Revivificação do património
cultural expressivo português (coord. Prof.ª Salwa
Castelo-Branco). Concluiu recentemente um
projecto sobre a sociedade civil e o regionalismo
em Portugal no século XX. Deste resultaram
trabalhos sobre associações regionalistas no país,
ex-Império colonial e na diáspora, incluindo
estudos de caso para o Alentejo, Trás-os-Mon-
tes, Beiras e Madeira. Além das teses, publicou,
entre outros, os seguintes estudos:
– “A FNAT entre conciliação e fragmentação”,
Vozes do povo. A folclorização em Portugal, org.
de Salwa Castelo-Branco e Jorge Freitas
Branco, Oeiras, Celta Editora, 2003;
– “«Um povo, uma cultura, uma região»: a his-
tória exemplar da Casa do Alentejo”, Traba-
lhos de Antropologia e Etnologia, v. XLV (1-2),
2005;
– “«Beiras e Pátria»: o regionalismo beirão e as
suas relações com o Estado e a sociedade civil
no século XX”, Ler História, n.º 51, 2006;
– “Alfabetização de adultos e leitura pública em
Portugal no pós-II Guerra Mundial”, in Diogo
Ramada Curto (dir.), Estudos de sociologia da
leitura em Portugal no século XX, Lisboa,
Fundação Calouste Gulbenkian e FCT, 2006.
Para mais informações vd. https://www.ics.ul.pt/
rd/person/ppgeral.do?idpessoa=26.
p. 64} Percurso por Terra e Mar
He is an historian and researcher at the Institute of
Social Sciences at the University of Lisbon, where he
spearheaded a project on associationalism, citizenry
and local development.
He has a history degree from the New University of
Lisbon (1992). He also has a master’s degree in
Contemporary History, received in 1997 from the
same institution, where his thesis, entitled Salazarism
and Popular Culture, was awarded the Victor de Sá Prize
in Contemporary History (Minho University) and
was published by the Social Sciences Press in 2001.
He also has a doctorate in Contemporary History
from the ISCTE (2003), where his thesis Public Reading
in Contemporary Portugal was also considered for the
aforementioned award and published by the ICS in
2004.
He collaborated on various research projects, namely
in the Revitalisation of Portugal’s Expressive Cultural Patrimony
(coordinated by Professor Salwa Castelo-Branco).
He recently concluded a project on civil society and
regionalism in XX century Portugal. From these
came other works on regionalist associations in the
country, in the former imperial colonies and in the
diasporas, including case studies on the Alentejo,
Trás-os-Montes, Beiras and Madeira. Apart from
these theses, he published the following texts,
amongst others:
– “FNAT: Between Reconciliation and
Fragmentation”, Voices of the People. “Folklorisation in
Portugal”, organised by Salwa Castelo-Branco and
Jorge Freitas Branco, Oeiras, Celta Editions, 2003;
– “«A People, a Culture, a Region»: The Exemplary
Case of the House of Alentejo”, Anthropology and
Ethnology Works, volume XLV (1-2), 2005;
– “«Beiras and the Homeland»: Beira Regionalism
and Their Relations With the State and Civil
Society in the XX Century”, Reading History, n.º 51,
2006;
– “Adult Literacy and Public Reading in Portugal
After World War II”, in Diogo Ramada Curto’s
(Director), Sociological Studies of Reading in Portugal During
the XX Century, Lisbon, Calouste Gulbenkian
Foundation and FCT, 2006.
For more information, go to: https://www.ics.ul.pt/rd/
person/ppgeral.do?idpessoa=26.
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A certificação protegida das Colchas de Castelo Branco foi oficialmente
consagrada no final de Abril de 20061. A cidade de Castelo Branco viu,
assim, reforçado o seu capital simbólico. Não é de admirar: foi em nome
da cidade que muitas pessoas e entidades intervieram, ao longo de mui-
tas décadas, com vista a associá-la àquela longínqua tradição artesanal. O
desenlace legislativo e esta associação têm, então, uma longa história por
detrás. O presente texto pretende ser um contributo para iluminar os
sentidos dessa ligação.
Introdução: entre o internacional,
o nacional e o regional
Os mais antigos exemplares existentes do chamado bordado de Castelo
Branco são do século XVII. A influência oriental, mais concretamente
* A versão original deste texto foi apresentada na
1.ª Conferência Nacional «Contributos do Patri-
mónio Cultural para o Desenvolvimento Susten-
tável das Comunidades» (Instituto Politécnico de
Castelo Branco: 8/5/2006), no âmbito do Proje-
cto «Ex-Libris»- Reconverter/ Adaptar/ Certificar
o Bordado de Castelo Branco.
** Historiador, investigador associado do Instituto
de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
1 Cf. PORTUGAL. Lei 16/2006 (2006). Para um his-
torial do processo legislativo específico vd. tam-
bém PORTUGAL. Projecto de Lei nº 422/IX (2004),
PORTUGAL. Projecto de Lei nº 535/IX/3 (2004),
PORTUGAL. Projecto de Lei 132/X (2005) e POR-
TUGAL. Decreto da Assembleia 47/X (2006).
Daniel Melo**
A “cidade-símbolo”
5.
de castelo branco
e o bordar da
identidade beirã
(séc. xx)*
Castelo Branco, the Symbolic City, and
Beira Embroidery (20th Century)*
Protected certification for Castelo Branco coverlets was officially
granted at the end of April 20061. The city of Castelo Branco thus saw
the strengthening of its symbolic capital. It should be no surprise: many
people and entities intervened on behalf of the city, over several decades,
aimed at associating it with that remote artisanal tradition. The
legislative result and this association thus have a long history. This text
intends to contribute and shed some light on this connection.
Introduction: between the international,
national and regional
The oldest existing samples of so-called Castelo Branco embroidery date
from the 17th Century. There is a consensus concerning the Oriental, or
* The original version of this text was presented at
the 1st National Conference on Cultural Heritage
Contributions to the Sustainable Development of
Communities (Castelo Branco Polytechnic
Institute: 8/5/2006), within the scope of the «Ex-
Libris»- Project to Reconvert/ Adapt/ Certify
Castelo Branco Embroidery.
** Historian, associate researcher at the University
of Lisbon, Social Sciences Institute.
1 Cf. PORTUGAL. Law 16/2006 (2006). For a
history of the specific legislative process, see also
PORTUGAL. Bill of Law # 422/IX (2004), POR-
TUGAL. Bill of Law # 535/IX/3 (2004), PORTU-
GAL. Bill of Law # 132/X (2005) and PORTU-
GAL. Assembly Decree 47/X (2006).
{ p. 65
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chinesa, é consensual quanto à proveniência da cultura da seda (com
mais de 4 mil anos) e da adopção, no contexto da consolidação do
mercadejar dos Descobrimentos, de motivos ‘orientalistas’ nas colchas
de tipo erudito2.
Foi ainda pouco abordada a pista árabe na disseminação das matérias-
primas e do artesanato têxtil/ tecido na Península Ibérica, apesar da sua
presença durante 8 séculos. Foi também pouco explorada a existência
duma matriz comum a uma série de bordados ibéricos baseados nas
mesmas matérias-primas (seda e linho), técnica (ponto frouxo) e função
(dote de casamento).
Tal é compreensível se constatarmos que o corpus analítico sobre este
assunto foi criado e consolidado num dos períodos mais nacionalistas da
história do país.
Com efeito, a ditadura do Estado Novo promoveu um nacionalismo
tradicionalista, em obediência às suas directrizes ideológicas,
autoritárias e conservadoras3. Para o nacionalismo tradicionalista tinha
especial cabimento aqueles emblemas artesanais que se tinham
imposto a nível local, regional e/ou nacional graças ao seu prestígio
simbólico– por ex., o galo de Barcelos, o traje à minhota, os tapetes de
Arraiolos, etc..
Daí que a maioria dos autores que então se dedicaram ao tema– como
Maria Júlia Antunes, Luís Chaves, irmãos Lopes Dias, Maria Clementina
Carneiro de Moura (vd. bibliografia para todos), etc.– tenham insistido
na tecla do bordado de Castelo Branco como uma criação genuinamente
nacional (e regional). Havia, porém, dados que permitiam aprofundar um
quadro de circulação e influência culturais de inspiração árabe, basta
atentar na pesquisa tardo-oitocentista de Ramalho Ortigão:
2 Chaves (1940-44: 84) indica 3 tipos de colchas:
eruditas (das casas nobres), populares (talvez
rurais) e mistas (modelos populares com maior
perfeição de técnica e de arranjo artístico),
embora a maioria dos estudiosos ignore o 3.º
tipo (maxime Moura, [c.1956]: 228). Consoante
o tipo e idade, assim maior é a influência duma
área geográfico-cultural, como nota Chaves
(ibidem), inspirado em Ramalho Ortigão: “As
mais antigas, qualquer que seja o modelo a que
obedeçam, manifestam caracteres do século
XVII ou possívelmente dos fins do século XVI: as
mais populares filiam-se por um lado nas grandes
toalhas e colchas de rendas espanholas, bordadas
a seda policrómica, sobretudo da Andaluzia e da
Castelo, e por outro na interpretação singela dos
tapetes persas, com rótulo central, papagaios,
galos, vasos de flores; os de origem erudita
reproduzem formas das tapeçarias e bordados
orientais, com extraordinária riqueza decorativa,
onde não ficaram espaços livres, com matizes,
que se vão aperfeiçoando”.
3 Sobre o assunto vd. Melo, 2001.
p. 66} Percursos por Terra e Mar
more specifically, Chinese influence with regard to the origin of silk culture
(more than 4 thousand years old) and the adoption of “Oriental” motifs in erudite
coverlets, in the context of consolidating trade during the Era of Discoveries2.
Arab involvement in the dissemination of raw materials and textile/fabric arts and
crafts in the Iberian Peninsula was little addressed, despite being present for 8
centuries. The existence of a pattern common to a series of Iberian embroideries
based on the same raw materials (silk and linen), technique (loose stitch) and
function (wedding gift) was also little explored.
This is understandable if we realize the analytical body of work on this subject
was created and consolidated during one of the country’s most nationalistic
periods in history.
Indeed, the New State dictatorship instilled traditional nationalism, in compliance
with its ideological, authoritarian and conservative guidelines3. Traditional
nationalism felt the artisanal symbols imposed at the local, regional and/or
national levels were especially pertinent due to their symbolic prestige, such as the
Barcelos rooster, Minhota clothing, Arraiolos rugs, etc.
Thus, most of the authors who studied the subject – such as Maria Júlia Antunes,
Luís Chaves, the Lopes Dias brothers, Maria Clementina Carneiro de Moura (see
their bibliographies), etc.– have insisted on Castelo Branco embroidery as a
genuinely national (and regional) creation. However, there were data that
permitted a more in-depth study of Arab cultural influences and circulation.
Simply examine the research from the late 1800s by Ramalho Ortigão:
“– To the caliphs who covered Cordoba, Seville, Granada, Santarem, Lisbon
and Coimbra with mosques, we owe the peculiar Oriental touch found in
the architectural shapes of our romantic, ogival and renaissance styles. And
from the same Moor origin, we also derive our most interesting industries,
such as filigree, tile, silk, […], woven mats, rugs and the works of needle
grass, palm leaves and pita hemp4.”
This nationalistic focus also aimed to more easily impose the issue on the public
agenda, gathering both effort and will around a banner that began as a regional one.
2 Chaves (1940-44: 84) indicates 3 types of
coverlets: erudite (from noble homes), popular
(perhaps rural) and mixed (popular models with
greater perfection in technique and artistic
layout), although most specialists ignore the 3rd
type (maxime Moura, [c.1956]: 228). Consonant to
type and age, the greater the influence of a
geographical-cultural area, as observed by Chaves
(ibidem), inspired by Ramalho Ortigão: “The
oldest, regardless of the model they follow,
manifest 17th Century or perhaps end of the
16th Century characters: the most popular
associate on one side with the large Spanish lace
towels and coverlets, embroidered in
polychromatic silk, especially those from
Andaluzia and Castelo, and on the other side
with the simple interpretation of Persian rugs,
with a central label, parrots, roosters, vases of
flowers. Those of an erudite origin reproduce
shapes from oriental rugs and embroideries with
extraordinary decorative wealth, without any
empty spaces, and with constantly improving
blends of colors.”
3 For more on the subject see Melo, 2001.
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“– Aos califados, que cobriram de mesquitas Córdova, Sevilha,
Granada, Santarém, Lisboa e Coimbra, devemos o toque de
orientalismo peculiar das formas architectonicas do nosso estylo
românico, ogival e da renascença. E da mesma procedência,
mosarabe ou mudéjar, são algumas das nossas mais interessantes
industrias, como a da filigrana, a dos azulejos, a das sedas, […] a das
esteiras, a dos tapetes, a das obras de esparto, de palma, de pita»”4.
O foco nacionalista também visava impor a questão mais facilmente na
agenda pública, congregando-se esforços e vontades em torno duma
bandeira que começara por ser regional.
Quanto à questão regional, atente-se no que se sabia– e que Chaves
(1940-44: 81) apresenta, mas tímida e incompletamente– quanto aos
centros transmontanos de colchas de seda. Foi, precisamente, por
intermédio do regionalismo beirão que foi redescoberto o bordado de
Castelo Branco. Detenhamo-nos um pouco neste episódio pouco
conhecido.
O contributo do regionalismo beirão
e os centros de bordados
O regionalismo beirão surge num contexto de afirmação do regio-
nalismo português e quando a doutrina regionalista já se disseminara pela
Europa ocidental (cf. Thiesse, 1997 ou 1999). Em Portugal, este movi-
mento começou a estruturar-se com o ascenso do republicanismo e
doutras forças progressistas, impulsionado pelas doutrinas associacio-
nista e federativa, dado a sua defesa da mobilização institucional/ formal
e a inclinação para sistemas políticos com grande autonomia político-
administrativa5.
4 Cf. Ortigão, 1896: 136; também cit. por Chaves,
1940-44: 96. Para sossegar os espíritos mais
inquietos, Chaves aditaria inclusivamente uma
nota (a 46) de advertência a esta mesma
passagem citada na sua obra, para que não
restassem dúvidas acerca do respectivo carácter
meramente ‘evocativo’, assim se demarcando:
“O interesse da transcrição está apenas no
aspecto histórico da afirmação do escritor, e, de
momento, no relacionamento dos factos”.
5 Sobre o regionalismo e o associativismo
regionalista em Portugal vd. Melo, 2005a: 1-3,
2005b: 1/2, 2005c, 2006a: 70 e 2006b: 196;
sobre o republicanismo vd. Catroga, 2000).
Inclusivamente, um Partido Regionalista elegerá 2
deputados nas eleições de 1921 e de 1922 (cf.
Marques, 1991: 730/1).
With regard to the regional issue, observe what was known, and which
Chaves (1940-44: 81) presents, although in a timid and incomplete
manner, with regard to the transmontane centres of silk coverlets. It was
precisely by means of Beira regionalism that Castelo Branco embroidery
was rediscovered. We will now take a closer look at this little known
episode.
The contribution of Beira regionalism
and embroidery centres
Beira regionalism emerges in a context of affirmation of Portuguese
regionalism and when the regionalist doctrine had already spread about
Western Europe (cf. Thiesse, 1997 or 1999). In Portugal, this movement
began to structure itself with the rise of Republicanism and other
progressive forces, driven by associative and federative doctrines, given
its defence of institutional/formal mobilization and the leaning towards
political systems with great political-administrative autonomy5.
The first association with a provincial scope was the Club Trasmontano
(1905), followed by the Casa da Madeira (1907) and other similar
transmontane entities in Luanda and Lourenço Marques (both of 1912).
4 Cf. Ortigão, 1896: 136; also cited by Chaves,
1940-44: 96. In order to mitigate the more
restless souls, Chaves would also include a note
(46) of warning concerning the same passage
citied in his work, so there would be not doubt
regarding its merely ‘evocative’ nature, stating:
“The interest of transcription lies only in the
historical aspect of the writer’s affirmation, and
at the moment, in the relationship of the facts.”
5 With regard to regionalism and regional
associativism in Portugal see Melo, 2005a: 1-3,
2005b: 1/2, 2005c, 2006a: 70 and 2006b: 196; for
republicanism see Catroga, 2000). Actually, a
Regionalist Party will elect 2 representatives in
the 1921 and 1922 elections (cf. Marques, 1991:
730/1).
{ p. 67
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A primeira associação de âmbito provincial foi o Club Trasmontano
(f.1905), seguida pela Casa da Madeira (1907) e por congéneres trans-
montanas em Luanda e Lourenço Marques (ambas de 1912).
O primeiro embrião beirão, o Grémio Lafonense (GL), foi criado logo a
seguir, em 1914. Em 1915, dá-se uma cisão daquele, surgindo o Grémio
Beira-Vouga, que será o antecedente do Grémio Beirão, fundado em
1916-17. O Grémio foi, por sua vez, renomeado Casa das Beiras, em
1938 (por imposição oficial plasmada no decreto 29282, de 8/XII/1938),
a qual comemorou 90 anos em 2005 e está situada na nobre artéria
lisboeta da Av. Almirante Reis (sobre o associativismo regionalista beirão
vd. Melo, 2005c e 2006b).
Neste despertar republicano de correntes regionais coube um papel
importante ao Grémio Beirão: entre 1921 e 1965 promoveu 8 congres-
sos regionais. Só nos anos 20 foram 4 edições.
Foi precisamente na 4.ª edição (de 1929) que foi apresentada uma tese
sobre as colchas de Castelo Branco, também presentes numa mostra
paralela. É Maria Júlia Antunes (1974: [7]) quem, após uma pesquisa
pessoal inédita, então discursa, fazendo a revelação do relicário ao
conclave, e, por seu intermédio, ao país:
“vou falar-vos duma notável indústria, que teve por berço a cidade
albicastrense. [par.º] Foi nesta formosa terra que nasceu há algumas
centúrias, e com características especiais, uma encantadora arte de
bordar colchas e outras peças de indumentária caseira com seda a
ponto de setim, sobre linho cru. Estas colchas, assim como as
tapeçarias de Arraiolos, são dos mais curiosos produtos da arte
popular em Portugal”.
No final, os congressistas acordam num voto específico: apelam a
medidas de salvaguarda das colchas de Castelo Branco pelas autoridades
locais, aproveitando o ensejo de se ter realizado o fórum nesta cidade e
de se terem aí exposto alguns exemplares em mau estado e exortando-
se inclusivamente o professorado à “introdução no espírito dos alunos do
culto das nossas tradições”6. Seria esta uma iniciativa com eco na impren-
sa (vd. Pessoa, 1929a e 1929b), cobertura esta extensiva ao congresso em
geral. Este, por sua vez, tivera várias ramificações: a edição dum álbum da
cidade e do mapa do distrito, filmagens de monumentos e paisagens de
Castelo Branco, e uma mostra7. A Exposição das Beiras, assim designada,
incluía um pavilhão por cada distrito beirão, excepto para o albicastrense,
que tinha um pavilhão por concelho. No pavilhão do concelho de Oleiros
o bordado era central, tal como revelava um encantado relator:
6 Cf. Lopes, 1965: 14, Pinto, 1992: 5, ou Marcelo,
1993: 128. Cit. em Pinto & Monteiro, 1993: 90
7 Cf. Congresso Regional das Beiras, 1931:
XLVII/XLVIII
p. 68} Percursos por Terra e Mar
The first Beira embryo, Grémio Lafonense (GL), was founded soon after in 1914.
In 1915, there was a split, thus emerging Grémio Beira-Vouga, the predecessor of
Grémio Beirão, founded in 1916-17. The Grêmio in turn was renamed Casa das
Beiras in 1938 (officially imposed based on decree 29282, of 12/8/1938), which
celebrated its 90th anniversary in 2005, located on the noble Lisbon artery, Av.
Almirante Reis (for more information on Beira regional associativism see Melo,
2005c and 2006b).
In the Republican awakening of regional currents, Grémio Beirão played an
important role: between 1921 and 1965 it promoted 8 regional congresses. There
were 4 editions in the 1920s alone.
It was precisely during the 4th edition (of 1929) that a thesis was presented on
Castelo Branco coverlets, which were also present at a parallel exhibit. Maria Júlia
Antunes (1974: [7]), after an unprecedented personal study, speaks, revealing the
valuable treasure to the conclave, and through it, to the country:
“I am going to speak to you of a remarkable industry, which originated in the city
of Castelo Branco. [paragraph] It was in this beautiful land that a few centuries
ago, and with special characteristics, an enchanting art of embroidering coverlets
and other household pieces with satin-stitched silk on raw linen was born. These
coverlets, as well as the rugs from Arraiolos, are the most curious products of
popular art in Portugal.”
At the end, congress participants agree, in a specific vote: to demand safeguarding
measures for Castelo Branco coverlets by local authorities, taking advantage of
the desire to have held the forum in the city and there exhibiting some samples,
in poor condition, and also exhorting the teachers to “introduce the homage of
our traditions in the students’ souls”6. This initiative would gain a voice in the
press (see Pessoa, 1929a and 1929b), coverage that would also extend to the
congress in general. And the latter, in turn, saw many ramifications: the
publishing of a book on the city and map of the district, filming of Castelo Branco
monuments and landscapes, and an exhibit7. The Beiras Exhibit, as it was called,
included a pavilion for each Beira district, except Castelo Branco, which had one
pavilion per municipality. At the Oleiros pavilion, embroidery was central, as
revealed by a delighted reporter:
“Almost beyond this world (…) they showed us (…) their natural silk: in cocoons,
skeins and fabrics. The only municipality in the district and one of the few in the
country where the worm is still raised on a large scale, they also know and
practice all manufacturing and silk dyeing operations8.”
The contest’s “artistic” jury, comprised of directors from the Castelo Branco
Regional Museum and the Grão Vasco Museum and the president of the Castelo
Branco Commercial Association, would reward a silver medal (ex-aequo with two
other exhibiters) to Maria da Piedade Mendes, who presented works in the “silk
fabric and embroidery” category (idem: 91). Even the municipality of Fundão
exhibited a Castelo Branco coverlet (ibidem). Thus, the area of influence was the
entire district and not just municipal.
After that, the future official entities, Mocidade Portuguesa Feminina (MPF) and
Junta de Província da Beira Baixa (JPBB), would create their embroidery schools,
6 Cf. Lopes, 1965: 14, Pinto, 1992: 5, or Marcelo,
1993: 128. Cited in Pinto & Monteiro, 1993: 90.
7 Cf. Beiras Regional Congress, 1931:
XLVII/XLVIII.
8 Cf. Pinto & Monteiro, 1993: 90/1 (cited on page 91)
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:30 AM Page 69

Expositores de bordados do Pavilhão do

concelho de Castelo Branco, na
Exposição das Beiras que decorreu
paralelamente ao IV Congresso Regional
das Beiras, de 1929. Os bordados tinham
sido realizados no Asilo da Infância
Desvalida, no Colégio Nacional e no
Colégio 1.º de Dezembro. O relançar, no
espaço citadino, duma indústria que
passara por tempos de crise.
F O N T E D A F O T O G R A F I A : [actas de
congresso] CONGRESSO REGIONAL DAS
BEIRAS, 4, CASTELO BRANCO, 1929 (1931),
IV Congresso e Exposição Regional das
Beiras. Relatórios, sessões, teses, exposição,
imprensa, [Vila Nova de Famalicão], [Tip.
Minerva], ed. lit.ª de Jaime Lopes Dias, p. 505.

Embroidery exhibiters at the municipality

of Castelo Branco Pavilion at the Beiras
Exhibit, which ran parallel to the IV
Regional Beiras Congress in 1929. The
embroideries had been made at the Shelter
for Needy Children, Nacional School and
1.º de Dezembro School. The relaunching
of an industry that had undergone times
of crisis, in an urban space.
PHOTO SOURCE: [congress minutes]
REGIONAL BEIRAS CONGRESS, 4,
CASTELO BRANCO, 1929 (1931), IV Regional
Beiras Congress and Exhibit. Reports, sessions, theses, exhibit,
press [Vila Nova de Famalicão], [Tip. Minerva], ed.
lit. by Jaime Lopes Dias, p. 505.

{ p. 69
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:30 AM Page 70
“Quási fora do mundo (…) apresentou-nos (…) a sua seda natural:
em casulo, em meadas e em tecidos. Único concelho do distrito e
um dos poucos do país onde ainda se faz a criação do bicho da seda
em larga escala, ainda ali são conhecidas e praticadas todas as
operações do fabrico e da coloração da seda”8.
O júri da «parte artística» do certame, constituído pelos directores do
Museu Regional de Castelo Branco e do Museu Grão Vasco e pelo presi-
dente da Associação Comercial de Castelo Branco, atribuiria uma me-
dalha de prata (ex-aequo com outras duas expositoras) a Maria da Pieda-
de Mendes, que apresentava trabalhos na categoria de «tecidos e bor-
dados de seda» (idem: 91). Mesmo o pavilhão do concelho do Fundão
apresentava uma colcha de Castelo Branco (ibidem). A área de influência
era, assim, distrital e não concelhia.
Nessa sequência, os futuros organismos oficiais Mocidade Portuguesa
Feminina (MPF) e Junta de Província da Beira Baixa (JPBB) criariam as suas
escolas de bordados, respectivamente em 1939 e 1940. A da MPF man-
ter-se-ia autónoma até 1945 (no Centro n.º 2 desta), sendo dirigida por
Maria da Purificação Carneiro9. Seria reactivada em 1956, enquanto
Centro de Indústrias Regionais da MPF, ainda com a mesma dinamizadora
na sua direcção, tanto técnica como artística (Pinto, 1992: 11). A oficina da
JPBB teria orientação artística de Eurico de Sales Viana e direcção técnica
de Deolinda Riscado e, depois, de Lídia Goulão (cf. Pinto, 1992: 8 e 10). O
papel destes organismos será retomado adiante, agora recorde-se algumas
das outras principais entidades envolvidas nesta produção específica.
Assim, ocorre desde logo referir o trabalho de duas empresas particulares,
que mantiveram produção específica disponível desde a I República10. A
primeira era de Hermínia Seabra Morais de Araújo, que organizara uma
exposição em 1915, na sua casa da R. do Comércio, com “êxito” e que
ainda nos anos 50 mantinha, “em plena laboração, uma oficina onde
executa cópias de antigas colchas” (cf. Moura, [c.1956]: 283). A segunda foi
de Maria Margarida Franco dos Santos, que realizaria exposições regulares
de trabalhos entre 1923 e 1931 inspirados nos bordados lusos dos séculos
XVII/XVIII, “as quais atraíam um público interessado que não só adquiria
como encomendava peças importantes” (cf. idem: 251 e 283).
8 Cf. Pinto & Monteiro, 1993: 90/1 (cit. da p. 91)
9 Cf. Moura, [c.1956]: 283. Segundo Pinto (1992:
11), já antes de 1939 que Purificação Carneiro
ensinava o «bordado a frouxo» a alunas do
Colégio de Nossa Senhora de Fátima, onde aliás
funcionaria o Centro n.º 2 da MPF
10 A recuperação deste bordado terá começado
no início de novecentos, na aldeia do Estreito,
através do contributo da família de Piedade
Mendes (1884-1984), que herdou alguns
espécimes do padre Francisco Antunes e suas
irmãs (cf. Pinto, 1992: 5 e 11; também Pinto &
Monteiro, 1993: 89/90). Além de ensinar
outros neste ofício, Piedade Mendes
aconselharia pessoas como Maria da Purificação
Carneiro, futura responsável pela oficina da
MPF (vd. nota anterior)
p. 70} Percursos por Terra e Mar
in 1939 and 1940, respectively. The MPF would remain autonomous until 1945 (in
its Centre # 2), and run by Maria da Purificação Carneiro9. It would be
reactivated in 1956 as the MPF’s Center for Regional Industries with the same
person at both the technical and artistic helm (Pinto, 1992: 11). JPBB’s workshop
would receive artistic guidance from Eurico de Sales Viana and technical direction
from Deolinda Riscado, and later Lídia Goulão (cf. Pinto, 1992: 8 and 10). The
role of these entities will be further examined later. Now, we shall recall some the
other main entities involved in this specific production.
It is thus worthwhile to refer to the work of two private companies that
maintained specific production available since the I Republic10. The first was
Hermínia Seabra Morais de Araújo, who organized a “successful” exhibit in 1915
at her house on R. do Comércio, and who in the 1950s still had “a workshop in
full operation that makes copies of old coverlets” (cf. Moura, [c.1956]: 283). The
second was Maria Margarida Franco dos Santos, who would hold regular exhibits
of works from 1923 to 1931 inspired on Portuguese embroidery from the 17th and
18th Centuries, “which attracted an interested public that not only purchased but
also ordered important pieces” (cf. idem: 251 and 283).
Other companies would emerge later, as is the case of the Castelo Branco
National School, which in the mid-1930s published an ad in the Grémio Beirão
bulletin for specific coverlet orders: “Made with utmost perfection and orders
accepted at the Castelo Branco [/] National School11.”
In the 1950/60s, it would be Elísio José de Sousa and his Casa Mãe de Bordados de
Castelo Branco, located in the district of Cansado (cf Dias, 1965: 12). This
businessman began to gather the looms around 1949, and he intended to preserve
the “traditional elements in the reproduction of old coverlets as well as the
creation of new risks”12. For such, he invited Prof. António Esteves Lopes from the
Campos Melo Industrial School (Covilhã) for artistic co-direction (ibidem). This
workshop prepared nearly 200 embroideresses who made almost one thousand
pieces, but would not survive the death of its founder in 1969 (cf. Pinto, 1992: 10).
Returning to the 1929 congress, theses were also debated concerning the watering
of Guarda grasslands, which was later assumed by the government (see Galvão
1947). As part of the work program, an enthusiastic Idanha-Monsanto excursion
revealed this last village to the world. Thus, and in pioneer fashion, the beauty,
history and anti-Castillian advanced guard of the Guarda grasslands were
celebrated (cf Pereira, 1929). The press would soon disclose the symbolic journey,
putting that village on the symbolic map (cf “Parte..”, 1938). This congress would
also inspire an old medicinal product to adopt the name of Licor Beirão, the name
that innovative advertising campaigns would spread about the country13. In short,
these forums had their impact in different areas.
9 Cf. Moura, [c.1956]: 283. According to Pinto (1992:
11), before 1939 when Purificação Carneiro taught
the «loose embroidery» to students at the Nossa
Senhora de Fátima School, where MPF Center # 2
would function
10 The recovery of this embroidery had begun in the
beginning of the 1900s, in the village of Estreito,
through a contribution by the Piedade Mendes
family (1884-1984), which inherited some specimens
from Father Francisco Antunes and his sisters (cf.
Pinto, 1992: 5 and 11; also Pinto & Monteiro, 1993:
89/90). Besides teaching this craft to others, Piedade
Mendes would advise people such as Maria da
Purificação Carneiro, future person responsible for
the MPF workshop (see previous note)
11 Cf. “Colchas de Castelo Branco”, 1936
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:30 AM Page 71

Posteriormente, outras empresas surgirão, como é o caso do Colégio
Nacional de Castelo Branco, que em meados dos anos 30 fazia publicar
no boletim do Grémio Beirão um anúncio para encomendas específicas
de colchas: “Confeccionam-se com a maior perfeição e recebem-se
encomendas no Colégio Nacional [/] Castelo Branco”11.
Furthermore, at the same time in which issues of regional development
were being debated, Beirão cultural heritage was also being promoted, in
an ethnographically assumed perspective. Cultural regionalism intended to
disclose the uses and customs that could configure a certain territorial
uniqueness, whether in dance, music, oral literature, gastronomy, festivities,
fairs, arts and crafts and etc.

Nos anos 1950/60 seria a vez de Elísio José de Sousa e da sua Casa Mãe The particularity of these symbols is that they emerged associated with
de Bordados de Castelo Branco, situada no bairro Cansado (cf. Dias, a city, province or region.
1965: 12). Este empresário iniciara a recolha de teares por volta de Castelo Branco, as one of the main cities in the Beira rectangle, took
1949, pretendia preservar os “elementos tradicionais, quer na advantage (or better, its players took advantage) and valorised itself
reprodução de colchas antigas, quer na criação de novos riscos”12. Para precisely as a centre that agglutinated these regional energies.
o efeito, convidou o Prof. António Esteves Lopes, da Escola Industrial
Campos Melo (Covilhã) para a co-direcção artítica (ibidem). Esta oficina
formou c. de 200 bordadoras, as quais fizeram quase um milhar de
peças, mas não sobreviveria ao passamento do seu fundador, em 1969
(cf. Pinto, 1992: 10).

Retomando o congresso de 1929, então debateram-se ainda teses sobre

a rega da campina egitanense, depois assumida pelo Estado (vd. Galvão,
1947). Inserido no programa de trabalhos, uma entusiástica excursão
Idanha-Monsanto revelou ao mundo esta última aldeia. Celebrou-se,
assim e pioneiramente, as belezas, a história e a ponta-avançada anti-cas-
telhana da campina egitanense (cf. Pereira, 1929). Logo a imprensa di-
vulgaria a emblemática jornada, colocando aquela aldeia no mapa sim-
bólico (cf. “Parte..”, 1938). Seria também inspirado neste congresso que
um antigo produto medicinal adoptaria o nome de Licor Beirão, nome
que inovadoras campanhas publicitárias disseminariam por todo o país13.
Em suma, tais fóruns tinham o seu impacto, em distintas direcções.
Ademais, ao mesmo tempo que se debatiam questões de desenvolvi-
mento regional, também se promovia o património cultural beirão, numa
perspectiva então assumidamente etnográfica. O regionalismo cultural
pretendia então divulgar os usos e costumes que poderiam configurar
uma certa singularidade territorial, fosse pelas danças, música, literatura
oral, gastronomia, festividades, feiras, artesanato, etc.
A particularidade destes emblemas é que eles surgiam associados a uma
urbe, província ou região.
Pessoas passeando numa rua de Castelo
Branco, ornamentada por ocasião do IV
Congresso Regional das Beiras, de 1929. O
regionalismo não se queda pela habituais co-
municações nas salas dos congressos e abre-
-se à cidade, nas suas ruas ornamentadas,
nas filmagens de um documentário sobre o
património albicastrense e na extensa Expo-
sição das Beiras, mostra ao ar livre, em pe-
quenos pavilhões fechados.
F O N T E D A F O T O G R A F I A : [actas de congres-
so] CONGRESSO REGIONAL DAS BEIRAS, 4,
CASTELO BRANCO, 1929 (1931), IV Congresso e
Exposição Regional das Beiras. Relatórios, ses-
sões, teses, exposição, imprensa, [Vila Nova de
Famalicão], [Tip. Minerva], ed. lit.ª de Jaime Lopes
Dias, p. XXXII.
People walking along a street in Castelo
Branco that is decorated for the IV Regional
Beiras Congress of 1929. The regionalism is
not contained in habitual communications in
congress rooms and opens up to the city, to
its decorated streets, to the filming of a
documentary about Castelo Branco heritage
and the large Beiras Exhibit, an open-air
exposition in small, closed pavilions.
PHOTO SOURCE: [congress minutes]
REGIONAL BEIRAS CONGRESS, 4, CASTELO
BRANCO, 1929 (1931), IV Regional Beiras Congress and
Exhibit. Reports, sessions, theses, exhibit, press [Vila Nova de
Famalicão], [Tip. Minerva], ed. lit. by Jaime Lopes
Dias, p. XXXII.

11 Cf. “Colchas de Castelo Branco”, 1936 12 Cf. “Bordados de Castelo Branco”, 1961. For
citation, cf. Dias, 1991: 165 or Pinto, 1992: 9
12 Cf. “Bordados de Castelo Branco”, 1961. Para
13 Cf. Melo, 2005c and 2006b: 202 e 216; C., 1996;
a citação cf. Dias, 1991: 165 ou Pinto, 1992: 9
“O poder do dinheiro”, 1998;
13 Cf. Melo, 2005c e 2006b: 202 e 216; C., 1996; http://www.licorbeirao.com/pt/index.html, 2006.
“O poder do dinheiro”, 1998;
http://www.licorbeirao.com/pt/index.html,
2006

{ p. 71
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p. 72} Percursos por Terra e Mar

Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:30 AM Page 73

Programa especial do IV Congresso

Regional das Beiras, no Verão de 1929:
excursão à aldeia de Monsanto e
campina circundante. Os preparativos,
e a propaganda, da romagem
celebratória. As elites da província
partem à descoberta do seu povo rural,
das suas lendas mais marcantes e dos
seus lugares mais recônditos e mágicos.
Na demanda de rostos para as
pequenas pátrias; em busca de
paisagens, naturais e humanas, que
possam projectar a região de origem,
neste caso a beirã.
F O N T E D A F O T O G R A F I A : [actas de
congresso] CONGRESSO REGIONAL DAS
BEIRAS, 4, CASTELO BRANCO, 1929 (1931),
IV Congresso e Exposição Regional das
Beiras. Relatórios, sessões, teses, exposição,
imprensa, [Vila Nova de Famalicão], [Tip.
Minerva], ed. lit.ª de Jaime Lopes Dias, p.
XXIX.

Special program at the IV Regional

Beiras Congress in the summer of 1929:
an excursion to the village of Monsanto
and the surrounding meadows. The
preparations and the advertising for the
celebrated pilgrimage. The province’s
elite depart to discover their rural
people, their most remarkable legends
and their most secretive and magical
places. In the demand for faces for the
small native lands; in the search of
natural and human landscapes that can
project the region of origin, in this case,
Beira.
PHOTO SOURCE: [congress minutes]
REGIONAL BEIRAS CONGRESS, 4,
CASTELO BRANCO, 1929 (1931), IV Regional
Beiras Congress and Exhibit. Reports, sessions, theses,
exhibit, press [Vila Nova de Famalicão], [Tip.
Minerva], ed. lit. by Jaime Lopes Dias, p. XXIX.

{ p. 73
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:30 AM Page 74
Castelo Branco, enquanto uma das principais cidades do rectângulo
beirão, aproveitou (melhor dizendo, aproveitaram ou seus actores) para
se valorizar precisamente como pólo aglutinador destas energias regionais.
A lenta e ambivalente invenção duma marca
numa cidade-símbolo
Para se promover no espaço crescentemente concorrencial das cidades-
sede de congressos regionais e das cidades-sede de juntas provinciais,
Castelo Branco precisava de fomentar e chamar a si alguns símbolos da
sua área de influência, fosse local, concelhia ou distrital14. Em poucas
palavras, para ser uma cidade-símbolo do país tinha que promover os
seus próprios ícones.
É neste contexto que se enquadra o bordado de Castelo Branco, lado a
lado com o fomento e divulgação do Museu Francisco Tavares Proença
Júnior (MFTPJ), e do Jardim do Paço anexo, da Igreja de S. Miguel (Sé
Concatedral), do castelo e sua Igreja de St.ª Maria, de algumas aldeias como
Monsanto, da gastronomia, da paisagem, do turismo, etc.15. Este quadro
acabará por ser reproduzido, legitimado e potenciado por diversas ins-
tâncias: imprensa, livro, exposições e os vários guias de Portugal que sur-
giram no século XX (vd., p. e., Guia de Portugal, 1985, e Marcelo, 1993).
O convite à peregrinação pela terra portuguesa era prévio ao Estado Novo,
relembre-se o projecto republicano do Guia de Portugal (1924-27, 2 vols.),
orientado por Raul Proença; só que, então, o enfoque era mais artístico e
erudito. Como esclarecia Proença, o Guia privilegiaria a descrição de locais
“que a história, a lenda, a beleza ou a arte tenham instituído em forçados
lugares de peregrinação para todo o coração lusitano”16. Sob o Estado
Novo, reforçam-se as dimensões folclórica, tradicionalista e popular. Com
efeito, uma das singularidades do bordado relativamente a outros dos
ícones anteriores é que, acompanhando o ar dos tempos, se materializou
enquanto tradição inventada, adoptando a perspectiva de Hobsbawm17.
14 Sobre os ‘outros’ congressos regionais vd.
bibliografia citada em Melo, 2006b: 195 (nota 2)
15 Aqui poderiam também caber a Orquestra Típi-
ca Albicastrense, os ranchos folclóricos e os clu-
bes desportivos locais, como o Benfica de Caste-
lo Branco. Sobre Monsanto vd. Melo, 2001: 222-
7 e 2006b: 200. Sobre os ranchos folclóricos vd.
Melo, 2001: 187-203 e 2006b: 201
16 Cf. Proença, 1924; vd. também Pires, [2001]
17 Nessa obra, Hobsbawm estava preocupado em
pensar e enquadrar um conjunto de novos rituais
do Estado britânico, e não tanto objectos, mas
ainda assim parece-me pertinente convocar a sua
definição: “conjunto de práticas, normalmente
obedecendo a regras abertamente ou tacitamen-
te aceites e com uma natureza ritual ou simbóli-
ca, que procuram inculcar certos valores e nor-
mas de comportamento pela repetição, que au-
tomaticamente implicam continuidade com o
passado. De facto, onde é possível, elas normal-
mente procuram estabelecer continuidade com
um passado histórico conveniente” (Hobsbawm,
1994: 1). A invenção de tradições é um “processo
de formalização e ritualização, caracterizado pela
referência ao passado, senão mesmo pela impo-
sição da repetição” (idem, p. 4).
p. 74} Percursos por Terra e Mar
The slow and ambivalent invention of a brand
in a symbolic city
In order to promote itself in the increasingly competitive scope of city seats for
regional congresses and city seats for provincial councils, Castelo Branco needed
to foment and call upon itself some symbols from its area of influence, whether
local, municipal or district14. In other words, in order to become a symbolic city
in the country it needed to promote its own icons.
It is within this context that Castelo Branco embroidery fits, side by side with
fomenting and disclosing the Francisco Tavares Proença Júnior Museum (MFTPJ),
and the Jardim do Paço annex, S. Miguel (Sé Concathedral) Church, the castle and
its St. Maria Church, some villages such as Monsanto, gastronomy, landscape,
tourism, etc15. This picture has just been reproduced, legitimized and strengthened
in diverse manners: press, book, exhibits and several guides of Portugal that
emerged in the 20th Century (see p. e., Guide to Portugal, 1985, and Marcelo,
1993).
The invitation for a pilgrimage through Portuguese land was prior to the New
State. Recall the Republican project for the Guide to Portugal (1924-27, 2 vols.)
instructed by Raul Proença; although then, the focus was more artistic and erudite.
As Proença explained, the Guide privileged the description of locations “that
history, legend, beauty or art had made into obligatory sites for the pilgrimage
throughout the Portuguese heartland16.” Under the New State, folklore, traditions
and popular dimensions are strengthened. Indeed, one of the unique aspects of
embroidery related to other previous icons is that, accompanying the times, it
materialized as an invented tradition, adopting the Hobsbawm perspective17. Not
that it originated in this period, but rather that its revival passed through its
circumscription to a diverse context of the original (or the previously existing),
because this type of embroidery began to be associated with a city and to a set of
procedures and interpretive readings of its role and meaning. We could say that it
14 For information about the ‘other’ regional
congresses see the bibliography cited in Melo,
2006b: 195 (note 2)
15 The Typical Castelo Branco Orchestra, the
folklore ranches and the local sports clubs, such as
Benfica de Castelo Branco could also fit here. For
information on Monsanto see Melo, 2001: 222-7
and 2006b: 200. For information on folklore
ranches see Melo, 2001: 187-203 and 2006b: 201
16 Cf. Proença, 1924; see also Pires, [2001]
17 In this work, Hobsbawm was concerned about
thinking and fitting a set of new rituals from
Britain, and not so much objects. But it still seems
pertinent to recall his definition: “set of practices,
normally obeying openly or tacitly accepted rules
with a ritual or symbolic nature that seek to
establish certain behavior values and norms
through repetition, and which automatically imply
the continuity with the past. Indeed, wherever
possible, they normally seek to establish continuity
with a convenient historical past” (Hobsbawm,
1994: 1). The invention of traditions is a
“formalization and ritualization process,
characterized by the reference to the past, if not
the imposed repetition” (idem, p. 4)
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:30 AM Page 75
Não é que tenha sido criada de raiz neste período, mas sim que a sua
revivescência passou pela sua circunscrição a um contexto diverso do
original (ou do previamente existente), pois passou-se a associar esse tipo
de bordado a uma cidade e a um conjunto de procedimentos e de leituras
interpretativas do seu papel e significado. Se quisermos, tratava-se da ela-
boração duma marca tradicional, tradicionalizada, associada a uma cidade
capital provincial e distrital18. Neste sentido, o efeito tradicionalizante foi
relevante, e esteve presente num conjunto de pequenos detalhes e
iniciativas19.
Acompanhemos, então, este novo itinerário, focando alguns dos seus
marcos principais.
1938 é o ano do Concurso da Aldeia Mais Portuguesa de Portugal, sendo
a província calcorreada de lés-a-lés por brigadas de folcloristas
entusiastas, regionalistas, jornalistas e funcionários do Secretariado da
Propaganda Nacional (SPN), todos ávidos da redescoberta dum Portugal
desconhecido. O pretexto é a selecção de aldeias para o dito concurso,
sendo o distrito albicastrense distinguido com a entrada de duas das suas
aldeias, e, sobretudo, arrecadando o «Galo de Prata» para a sua aldeia de
Monsanto (vd. Melo, 2001: 222-7). Melhor seria difícil. O pretexto,
como já se disse, era a Beira raiana como sentinela da nação. Ainda nesta
perspectiva da Beira como refúgio dos valores ancestrais e da
autenticidade nacional, em 1947, realizar-se-á o Concurso dos Ranchos
Folclóricos da Beira Baixa, organizado pelo sucessor do SPN, o
Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo
(SNI)20. Sintomaticamente, nos anos 50 o referido «Galo de Prata» será
o símbolo escolhido para a indústria caseira do bordado albicastrense (cf.
“Os bordados.”, 1959b: 1).
O alento de 1929 será reforçado em 1939, quando a JPBB propõe uma
mostra de Colchas de Castelo Branco no programa provincial relativo às
Comemorações do Duplo Centenário. A sua dupla finalidade mais
18 Este processo não esteve isento de escolhos: no
imediato pós-Exposição das Beiras (1929), o
jornal Acção Regional relatava que nas Caldas da
Rainha se produziam “cobertas de seda idêntica
às velhas cobertas regionais de Castelo Branco.
O caso é que os interessantes bordados estão
ganhando mercado com a designação de
cobertas das Caldas e um cavalheiro desta
cidade que durante a exposição teve ocasião de
observar alguns belos exemplares muito
admirado ficou ao saber que se tratava de uma
velha desaparecida indústria da cidade de
Castelo Branco” (cit. em Pinto & Monteiro,
1993: 91).
19 Tal termo é adoptado de Jean-Yves Durand e do
seu estudo sobre uma tradição inventada
minhota (cf. palestra “Lenços de namorad@s:
instituição da cultura e género”, Lisboa, ISCTE,
11/V/2006).
20 A tal propósito o seu organizador, António
Ferro, diria tratar-se esse concurso duma
premeditada contra-ofensiva “no sentido da
purificação das nossas canções e danças
populares”, porquanto estas “estariam a ser
“abastardadas pelo gosto ou desgosto das
was the elaboration of a traditional brand, associated with a provincial
and district capital city18. In this sense, the traditionalizing effect was
relevant and it was present in a set of small details and initiatives19.
We shall thus follow this new itinerary, focusing on some of the main
hallmarks.
The Most Portuguese Village of Portugal Contest was held in 1938 and the
province was walked from end to end by brigades of enthusiastic
folklorists, regionalists, journalists and employees from the Secretary for
National Advertising (SPN), all avid for the rediscovery of an unknown
Portugal. The pretext is the selection of villages for the contest, and the
district of Castelo Branco stood out for placing two of its villages, and
most especially for receiving the “Silver Rooster” award for its village of
Monsanto (see Melo, 2001: 222-7). It would have been difficult to do any
better. As mentioned, the pretext was the Beira border as a sentinel for
the nation. Also within this perspective of Beira as a refuge for ancestral
values and national authenticity, in 1947, the Beira Baixa Contest of
Folklore Ranches was held, organized by the successor to the SPN, the
National Secretary for Information, Popular Culture and Tourism
(SNI)20. Symptomatically, in the 1950s, the referred to “Silver Rooster”
was the symbol chosen for the Castelo Branco embroidery home industry
(cf “Os bordados.”, 1959b: 1).
The enthusiasm of 1929 was reinforced in 1939 when the JPBB proposed
an exhibit of Castelo Branco Coverlets in the provincial program related
to the Double Centenary Celebrations. Its most predictable dual purpose
was to mark its presence in this nationalist mega-event for the New State
and affirm a position to safeguard this traditional industry. Two other
intentions of a traditionalist nature were added: claim a tradition and
provide it with a unique model. This is how José Ribeiro Cardoso referred
to it with the provincial mayors and press:
“The thought of the Council is not to merely hold an exhibit of
antique regional art […]. You gentlemen know that today so-called
Castelo Branco coverlets are made in our region and in many
others in our country, but it is especially lamentable that neither
the quality of the linen that serves as the background to the
embroidery nor the silk in its nature and its soft hues nor even the
18 This process was not risk free: immediately after
the Beiras Exhibit (1929), the Acção Regional
newspaper reported that in Caldas da Rainha
they were producing “silk blankets identical to
the old regional blankets from Castelo Branco.
The thing is the interesting embroideries are
winning markets with the name of blankets from
Caldas and a gentleman from this city who
during the exhibit had the chance to observe
some of the beautiful specimens became very
surprised upon learning they were from an old
industry from the city of Castelo Branco that has
since disappeared” (cited in Pinto & Monteiro,
1993: 91)
19 This term is adopted from Jean-Yves Durand and
his study on an invented tradition from Minho
(cf. lecture “Lenços de namorad@s: instituição da
cultura e género”, Lisbon, ISCTE, 11/V/2006)
20 Regarding such, its organizer, António Ferro,
would say the contest was a premeditated
counter-offensive “in the sense of the
purification of our popular songs and dances”,
inasmuch as they were being “bastardized by the
like or dislike of parades, the habit of using
{ p. 75
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08
“Monsanto – Raparigas, algumas com trajes regionais,
que serviram o almôço aos congressistas”. Alguns das
jovens mulheres locais que servirão a refeição aos
excursionistas do IV Congresso Regional das Beiras
(1929) estão vestidas com trajes tradicionais da terra,
a pedido de alguém, por sinal de distinção ou de
etiqueta, ou por outra razão.
F O N T E D A F O T O G R A F I A : [actas de congresso]
CONGRESSO REGIONAL DAS BEIRAS, 4, CASTELO
BRANCO, 1929 (1931), IV Congresso e Exposição Regional
das Beiras. Relatórios, sessões, teses, exposição, imprensa,
[Vila Nova de Famalicão], [Tip. Minerva], ed. lit.ª de Jaime
Lopes Dias, p. XLVII.
“Monsanto – Povo aguardando os congressistas no
alto da cidadela” (nb: legenda original da foto). A
população monsantina espera por forasteiros espe-
ciais, a sua elite provincial e respectivos convidados
de honra, vinda de Castelo Branco e do seu IV
Congresso Regional das Beiras (1929). E espera-os
num local especial da aldeia, ligado à defesa do reino
português contra as ofensivas castelhanas. Os seus
conterrâneos ilustres vêem demonstrar o valor desta
terra raiana e isolada; não é só o valor que teve no
passado (o património material) que é celebrado, mas
também o legado conservado pelas suas gentes e
costumes no presente.
F O N T E D A F O T O G R A F I A : [actas de congresso]
CONGRESSO REGIONAL DAS BEIRAS, 4, CASTELO
BRANCO, 1929 (1931), IV Congresso e Exposição Regio-
nal das Beiras. Relatórios, sessões, teses, exposição,
imprensa, [Vila Nova de Famalicão], [Tip. Minerva], ed. lit.ª
de Jaime Lopes Dias, p. XLI.
“Monsanto – Rancho de Santa Cruz com suas ma-
rafonas, tocando adufes”. O povo monsantino or-
ganiza um rancho folclórico para se exibir aos foras-
teiros ilustres oriundos do IV Congresso Regional das
Beiras (1929). Logo aqui surge uma perene
associação entre catolicismo popular e folclore. O
catolicismo popular está patente no nome do
rancho, nas letras de algumas das músicas cantadas
(alusivas à Virgem Maria, à N.ª Sr.ª do Almortão,
etc.) e no tipo de dança realizada, que integra as
bonecas de trapos «marafonas» enquanto símbolos
de fertilidade (as quais remetem para a Deusa Maia,
de antigos ritos pré-cristãos, deusa do fogo ligado ao
calor vital e à sexualidade) ou protectoras contra
intempéries. Além destas marafonas (ou maias), que
são vestidas com trajes regionais, o folclore está
presente na exibição de um grupo terpsicórico
tocando instrumentos tradicionais populares com
grande circulação local/ regional como o adufe (de
origem árabe, feito de pele de ovelha, estava ligado a
rituais mágico-religiosos das comunidades pastoris).
F O N T E D A F O T O G R A F I A : [actas de congresso]
CONGRESSO REGIONAL DAS BEIRAS, 4, CASTELO
BRANCO, 1929 (1931), IV Congresso e Exposição Regio-
nal das Beiras. Relatórios, sessões, teses, exposição,
imprensa, [Vila Nova de Famalicão], [Tip. Minerva], ed. lit.ª
de Jaime Lopes Dias, p. XLV.
revistas, pelo vício das fitas, das pandeiretas e das
marchas com mãos na cintura” (cf. Ferro, 1948:
20; para mais informações, vd. Melo, 2003: 318).
Este evento secundou um similar realizado no
Porto, por ocasião da abertura da delegação
nortenha do SNI (cf. Melo, 2001: 198).
p. 76} Percursos por Terra e Mar
11:30 AM Page 76
“Monsanto – Young women, some in regional dress,
who served lunch to the congress participants.” Some
of the young local women who served the meal to the
excursionists from the IV Regional Beiras Congress
(1929) are dressed in traditional clothes from the land,
at someone’s request, obviously of some distinction or
name, or for some other reason.
PHOTO SOURCE: [congress minutes] REGIONAL
BEIRAS CONGRESS, 4, CASTELO BRANCO, 1929 (1931),
IV Regional Beiras Congress and Exhibit. Reports, sessions, theses, exhibit, press
[Vila Nova de Famalicão], [Tip. Minerva], ed. lit. by Jaime
Lopes Dias, p. XLVII.
“Monsanto – People waiting for congress participants on
the high ground of the city” (bn: original caption of the
photo). The population of Monsanto waits for the
special outsiders, its provincial elite and respective guests
of honour, coming from Castelo Branco and its IV
Regional Beiras Congress (1929). And they wait for
them at a special site for the village, linked to the
defence of the Portuguese kingdom against Castilian
attacks. Its illustrious countrymen watch them
demonstrate the worth of this isolated borderland; it is
not only the worth it had in its past (material heritage)
that is celebrated, but also the preserved legacy of its
people and customs.
PHOTO SOURCE: [congress minutes] REGIONAL
BEIRAS CONGRESS, 4, CASTELO BRANCO, 1929 (1931),
IV Regional Beiras Congress and Exhibit. Reports, sessions, theses, exhibit, press
[Vila Nova de Famalicão], [Tip. Minerva], ed. lit. by Jaime
Lopes Dias, p. XLI.
“Monsanto – Santa Cruz Ranch with its rag dolls,
playing tambourines.” The people of Monsanto
organize a folklore ranch for their illustrious strangers
from the IV Regional Beiras Congress (1929). Right
here, a perennial association between Catholicism and
folklore emerges. Popular Catholicism is evident in the
name of the ranch, in the lyrics to some of the songs
(which allude to the Virgin Mary, Our Lady of
Almortão, etc.) and in the type of dance, which
includes rag dolls as symbols of fertility (which recall
the Goddess Maya from pre-Christian rituals, the
goddess of fire connected to vital warmth and
sexuality) or protectors against bad weather. Besides
these rag dolls (or Mayas), which are dressed in
regional clothing, folklore is also present in the
exhibition of a terpsichorean group playing popular,
traditional instruments with great local/regional
circulation such as the tambourine (Arab in origin,
made of sheep’s skin, was connected to magical-
religious rituals in pastoral communities).
PHOTO SOURCE: [congress minutes] REGIONAL
BEIRAS CONGRESS, 4, CASTELO BRANCO, 1929 (1931),
IV Regional Beiras Congress and Exhibit. Reports, sessions, theses, exhibit,
press [Vila Nova de Famalicão], [Tip. Minerva], ed. lit. by Jaime
Lopes Dias, p. XLV.
ribbons, small tambourines and marches with
hands on waists” (cf. Ferro, 1948: 20; for more
information see Melo, 2003: 318). This event
seconded a similar one held in Porto, to open the
SNI’s northern delegation (cf. Melo, 2001: 198)
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:30 AM Page 77
previsível era marcar presença nesse mega-evento nacionalista do
Estado Novo e afirmar uma posição de salvaguarda dessa indústria tra-
dicional. A estas juntaram-se outras 2 pretensões, de cariz tradicionalista,
a saber: reivindicar uma tradição e impor-lhe um modelo único. Tal
como referia o presidente José Ribeiro Cardoso aos edis provinciais e à
imprensa:
“O pensamento da Junta não é fazer apenas uma exposição de arte
antiga regional [..]. É do conhecimento de V. Ex.ª que hoje se fazem
colchas chamadas de Castelo Branco na nossa região e em tantas
outras do nosso País, mas é sobremaneira lamentável que nem a
qualidade do linho que serve de fundo ao bordado, nem a seda na
modalidade da sua natureza e na suave tonalidade das suas cores,
nem ainda a ingenuidade do desenho, sejam respeitados, resultan-
do que as colchas modernas não são uma reprodução quanto
possível exacta dos preciosos modelos” (cf. “As comemorações..”,
1939; nb: itálico no original).
Exposição de colchas de Castelo
Branco organizada pela Escola de
Bordados, em 1941. Esta escola foi
criada no contexto das Comemorações
Centenárias com o fim de estudar a
“evolução” do “desenho e bordado”
das colchas de Castelo Branco. A
mostra foi adiada um ano por atraso
nos preparativos: a tradição não era
fácil de recriar.
F O N T E D A F O T O G R A F I A : [capítulo de
livro] CARDOSO, J. Ribeiro (1940-44), “O
problema da sericicultura nacional e a
exposição de colchas de Castelo Branco”, in J.
Ribeiro Cardoso (dir.), Subsídios para a
história regional da Beira-Baixa, CB, JPB-B,
vol. I, p. 284.
Castelo Branco coverlet exhibit
organized by the Embroidery School in
1941. The school was founded on the
context of the Centenary Celebrations
in order to study the “evolution” of the
“design and embroidery” of Castelo
Branco coverlets. The exhibit was
postponed for one year due to delays in
the preparations: tradition was not easy
to recreate.
PHOTO SOURCE: [chapter of the book]
CARDOSO, J. Ribeiro (1940-44), “The
problem of national silk production and the
Castelo Branco coverlet exhibit”, in J. Ribeiro
Cardoso (right), Subsidies for Beira-Baixa regional
history, CB, JPB-B, vol. I, p. 284.
ingenuousness of the design were respected. Thus the modern
coverlets are not an exact reproduction of the precious models”
(cf. “As comemorações..”, 1939; nb: italics in the original).
In this sense, he proposed the creation of disciplining instruments: the
publication of an album of reference, the creation of a workshop school,
the certification of “model coverlets”, etc.
Furthermore, a study of the origin of the erudite coverlet or “rich
coverlet”, which, despite “foreign influence” from the “Indian coverlet”
in its “primitive design”, preserved “its original, characteristic nature,
the pride of our home-based, regional industry” was yet to be made. For
such, a “qualified commission” was nominated, responsible for studying
our coverlets, assigning the characteristics of the famous product’s two
phases (i.e., popular and erudite). The jury was comprised of
representatives from the Castelo Branco cultural elite: Drs. José de
Almeida Garrett, Hipólito Raposo, José Monteiro, Frederico C. Conde,
Calheiros Veloso and Manuel de Paiva Pessoa, and Mr. Eurico de Sales
Viana and Raul César Caldeira, the exception being the transmontane
folklorist Luís Chaves and the Army official/ Lisbon author Carlos
Selvagem, literary pseudonym for Carlos Afonso dos Santos21.
21 Cf. “Exposição...”, 1939a and bibliographic
entries in reference dictionaries
{ p. 77
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:30 AM Page 78
Nesse sentido, propunha a criação de instrumentos disciplinadores: pu-
blicação de um álbum de referência, criação duma escola-oficina, certifi-
cação das “colchas modelos”, etc..
Além disso, estava por fazer o estudo da génese da colcha erudita ou
«colcha rica», que, apesar da “influência extranha” da “colcha indiana” no
“desenho primitivo”, conservava o “seu cunho original, característico, or-
gulho da nossa industria caseira regional”. Para o efeito foi nomeada uma
“comissão de competentes”, incumbida de “fazer o estudo das nossas
colchas, assignalando as caracteristicas das duas fases do famoso produto”
(i. e., a popular e a erudita). O júri era formado por representantes da
elite cultural albicastrense: drs. José de Almeida Garrett, Hipólito Raposo,
José Monteiro, Frederico C. Conde, Calheiros Veloso e Manuel de Paiva
Pessoa, e os srs. Eurico de Sales Viana e Raul César Caldeira, apenas se
exceptuando desta proveniência o folclorista transmontano Luís Chaves e
o oficial do Exército/ escritor lisboeta Carlos Selvagem, pseudónimo
literário de Carlos Afonso dos Santos21.
Como eloquentemente sintetizaria Sales Viana, trata-se “dum empreendi-
mento do mais puro nacionalismo e do mais elegante e acentuado cunho
beirão. Trata-se, sem dúvida, de ressuscitar a manifestação de arte popular
mais nobre e delicada da Beira Baixa” (cf. Viana, 1939). Mas Sales Viana ia
mais além na ortodoxia, pretendia que as colchas permanecessem circuns-
critas à suposta função primitiva, a de servirem exclusivamente para o dia
de noivado, e continuassem a ser feitas por raparigas solteiras e virgens22.
Embora previsto para Outubro de 1940, o dito certame da JPBB só será
realizado em Maio do ano seguinte23.
Para os estudiosos e agentes mais envolvidos na tarefa da revivificação do
chamado bordado albicastrense, tratou-se de construir o contexto da
revelação dum relicário perdido. Luís Chaves, acompanhado por Sales
Viana, principia a sua peregrinação iniciática a 25 de Julho de 1939,
começando pela Covilhã (cf. “Exposição..”, 1939b e 1939c). A escolha das
colchas levaria Chaves e Salles Viana seguidamente a Castelo Branco (a
26), aqui já coadjuvados por Frederico Conde e Paiva Pessoa (cf.
“Exposição.”, 1939c). Seguir-se-iam as vilas do Fundão e Alpedrinha (a
27), bem como Escalos de Cima e outras localidades não identificadas (a
28). Ao visionamento de cerca de 150 colchas nesse Julho quente de 1939
apelidaria Chaves de “inesquecível romaria de encanto” (cf. Chaves,
1940-44: 82). Em 1959, ainda se evocava esta recolha (ou melhor, a
mostra que lhe deu seguimento) como demonstração de “que havia um
tesouro a defender, um património em perigo de desaparecer” (cf. “Os
21 Cf. “Exposição...”, 1939a e entradas biográficas
em dicionários de referência
22 Sobre o seu papel de mediador entre a
comunidade regional e o SPN/SNI no
respeitante à questão etnográfica vd. Alves,
1997
23 Cf. Cardoso, 1940-44: 297 ou Moura, [c.1956]:
224
p. 78} Percursos por Terra e Mar
As Sales Viana would so eloquently summarize, it is “a venture of the purest
nationalism and of the most elegant and accentuated Beira nature. There is no
doubt about resuscitating the manifestation for the noblest and most delicate
popular art from Beira Baixa (cf. Viana, 1939). But Sales Viana would go beyond
orthodoxy. He intended for the coverlets to remain circumscribed to their
supposedly primitive function, to serve exclusively for the wedding day and to
continue being made by young and single virgins22.
Although projected for October 1940, the JPBB contest was only held in May of
the following year23.
For academics and those most involved in the task of reviving so-called Castelo
Branco embroidery, it was a matter of building a context of revelation of a lost
treasure. Luís Chaves, together with Sales Viana, begins his initial pilgrimage on July
25, 1939, beginning with Covilhã (cf. “Exposição..”, 1939b and 1939c). The choice of
coverlets would take Chaves and Salles Viana to Castelo Branco time and time again
(a 26), there being helped by Frederico Conde and Paiva Pessoa (cf. “Exposição..”,
1939c). The villages of Fundão and Alpedrinha (27) would follow, as well as Escalos
de Cima and other unidentified locations (28). When Chaves saw 150 coverlets that
hot month of July 1939, he would call it an “unforgettable pilgrimage of
enchantment” (cf. Chaves, 1940-44: 82). In 1959, this gathering was still being evoked
(or better, the exhibit it led to) as a demonstration that “there was a treasure that
needed defending, a heritage in danger of disappearing” (cf. “Os bordados..”, 1959b:
1). According to Chaves, it consubstantiated a veritable recovery of the forgotten:
“Authentic masterpieces of popular national art were running the risk of being
destroyed or were left ignored like some worthless rag.” In other words, it was a
matter of showing the nation’s elite and middle classes the precious items recovered
from local communities in the outskirts, or in the “provinces”, as they used to say. It
was an entire program: the nationalization of the so-called traditional popular art24.
This amazement was felt at the exhibit of 1941 by a group of specialists including
Maria José de Mendonça (conservator of the MNAA - National Museum of
Ancient Art) and professors Regina Santos, Adelina Berta de Oliveira and Maria
Clementina Carneiro de Moura. In the words of the latter: “the impression left
in all of us [the visit to the exhibit] was of an authentic revelation25.”
The symbolic prestige granted these coverlets will be opportunely summoned by
those who had a specimen as a sign of social and economic distinction during
appropriate moments. Such was the case of the Centenary Celebrations, also
observed by Chaves (1940-44: 82):
“During the Centenary celebrations held this year of 1940, the streets of
the cities and villages throughout Portugal have been decorated with
coverlets hanging from the windows. From Braga to Lagos, I saw dozens of
“Castelo Branco coverlets”. [paragraph] Some of damask, others from
India, flanked those from Castelo Branco here and there.”
Luxury and distinction also had an important implication in this relaunch.
Parallel to the JPBB, it is also necessary to mention the contribution made by
MPF and private initiative.
22 With regard to his role as mediator between the
regional community and the SPN/SNI in relation
to the ethnographic issues, see Alves, 1997.
23 Cf. Cardoso, 1940-44: 297 or Moura, [c.1956]: 224.
24 See. f. ex., Luís Chaves’ nationalistic traditionalism
in Chaves, 1940-44: 89 and Melo, 2001: 230/1.
25 Cf. Moura, [c.1953]: 224.
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:30 AM Page 79
bordados.”, 1959b: 1). Para Chaves, consubstanciava um verdadeiro res-
gate do olvido: “Autênticas obras primas da Arte popular nacional corriam
o risco da destruição ou jaziam ignoradas como qualquer trapo sem
valor”. Ou seja, tratava-se de mostrar à elite e às classes médias nacionais
as preciosidades resguardadas em ‘remotas’ comunidades locais da peri-
feria, ou na «província», como então se dizia. Era todo um programa: a
nacionalização da chamada arte popular tradicional24.
Já na exposição de 1941, o deslumbramento foi sentido por um grupo de
estudiosas em que se incluía Maria José de Mendonça (conservadora do
MNAA- Museu Nacional de Arte Antiga) e as professoras Regina Santos,
Adelina Berta de Oliveira e Maria Clementina Carneiro de Moura. Nas
palavras desta última: “a impressão que a todas nos produziu [a visita à
exposição] foi a de uma autêntica revelação”25.
O prestígio simbólico conferido a estas colchas será oportunamente
convocado por quem detinha algum exemplar, como sinal de distinção
social e económica, em momentos adequados. Foi o caso das Comemo-
rações Centenárias, como também anotaria Chaves (1940-44: 82):
“Nas festas comemorativas dos Centenários, realizadas neste ano de
1940, as ruas das cidades e vilas de Portugal inteiro têm sido enga-
lanadas de colchas, pendentes das janelas. De Braga a Lagos vi entre
elas dezenas de «Colchas de Castelo-Branco». [par.º] Algumas de
damasco, outras da Índia, ladeavam aqui e ali as de Castelo-Branco”.
O luxo e a distinção também tinham uma implicação importante neste
relançamento.
Paralelamente à JPBB, há ainda que mencionar o contributo da MPF e da
iniciativa privada.
A actividade específica da MPF é anterior à da JPBB, e foi certamente
inspirada no impulso de 1929 (vd. supra). Mal é conhecida a intenção da
Junta provincial, a Delegacia da Beira Baixa da MPF vem a público informar
sobre o que já realizara: representação no Segundo Salão Estético da MPF
(em Lisboa), com colchas albicastrenses feitas por filiadas suas, tendo
arrecadado o 1.º prémio (cf. “Exposição.”, 1939b). Pelo punho da delegada
provincial Maria Emília Franco da Fonseca Pinto Castelo Branco, fica-se
ainda a saber que a Comissária Nacional havia solicitado os mesmos
exemplares para figurem na exposição internacional de Bruxelas de Agosto
de 1939. Era um feito digno de registo: “Vão assim as colchas de Castelo
Branco, pela mão da Mocidade Portuguesa Feminina, levar até à Bélgica o
nome da nossa cidade e um poucochinho da nossa arte”. A mesma
24 Vd., p. e., o tradicionalismo nacionalista de Luís
Chaves em Chaves, 1940-44: 89 e Melo, 2001:
230/1
25 Cf. Moura, [c.1953]: 224
MPF’s specific activity precedes JPBB’s, and it was certainly inspired by
the 1929 drive (see above). The intention of the provincial council is
barely made known and the MPF’s Beira Baixa Office goes public to
inform what it has already done: representation at MPF’s Second
Aesthetic Salon (in Lisbon) with Castelo Branco coverlets made by its
daughters and having won 1st prize (cf. “Exposição..”, 1939b). Provincial
delegate Maria Emília Franco da Fonseca Pinto Castelo Branco also
wrote that the National Commissioner had requested the inclusion of
the same samples in the international exhibit to be held in Brussels in
August 1939. It was an act worthy of registration: “And thus the Castelo
Branco coverlets will take the name of our city and a little of our art to
Belgium through the hands of the Portuguese Female Youth.” The same
delegate also takes advantage to profess her faith in orthodox linens and
embroideries – “we propose a return to the primitive purity of linens,
colours, designs, fabrics, etc. in an industry that over time has undergone
so many and varied foreign influences.” This intervention resulted in an
agreement to integrate MPF’s atelier with JPBB’s workshop with regard
to 1 of its 3 constituent sections.
In 1956, the MPF would return with a Center for Regional Industries,
active until 1974 (cf. Salvado, 1980: 9). Its main objectives were social
(“occupy the most unprotected and penniless daughters, just out of
school”) and political-cultural (“revive some traditional industries that
have been lost or are in the process of being lost”). And it was added that
among the traditional industries, “the resurgence of Castelo Branco’s
beautiful “wedding coverlet” industry deserves special attention, since it
occupies such a relevant place among traditional embroidery and greatly
enriches national arts and crafts. In order to justify the option for the
most auspicious coverlet for the elite’s taste, an economic, implicit
argument was introduced in this passage: “Erudite coverlets are
currently the most reproduced because the more popular specimens are
far too ingenuous and ordinary, although wonderful and picturesque and
of undeniable documental interest26.”
Despite the difficulties involved in this promotional and recovery effort,
after that, specific exhibits would not cease: 1939 (Brussels), 1941 (C.
Branco), 1942 (Lisbon), 1943 (Madrid), 1945 (Covilhã), 1952 (Lisbon and
C. Branco), 1959 (Lisbon: twice), 1960 (Estoril), 1961 (C. Branco), 1963
(Porto), 1964 (Portalegre), 1965 (Lisbon: twice), 1967 (Porto), 1970
(Lisbon), 1972 (Lisbon), 1977 (Braga), 1978 (Évora), 1979 (Porto), 1983
(Caldas da Rainha), 1984 (Lisbon and Hong Kong), 1986 (Lisbon), 1988
(Luso), 1990 (C. Branco), 2003 (C. Branco), 2004 (C. Branco and
Salamanca) and 2005 (C. Branco; nb: for more details, see table).
Altogether, there were 36 specific exhibits held during the 20th Century,
including 4 without dates, but related to representations at international
fairs in Milan, Lausanne, Vienna and São Paulo27. It is necessary to add
the representation of Castelo Branco coverlets seen at the Portuguese
Female Youth’s 2nd Aesthetic Salon (Lisbon, 1939) to these, since it was
26 Cf. Catálogo da exposição.. (1965), my underlines;
for the last citation cf. MPF’s Catálogo of 1967,
cited in Pinto, 1992: 12
27 Cf., for these, “Os bordados..”, 1959a: 1; see also
“Os inconfundíveis..”, 1960
{ p. 79
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:30 AM Page 80

Mulheres com traje de bordadeiras

exibindo bordados de Castelo Branco na
escadaria do Jardim do Paço (anexo ao
Museu Francisco Tavares Proença
Júnior).
F O N T E D A F O T O G R A F I A : [capítulo de
livro] MOURA, Maria Clementina Carneiro de
([c.1956]), “Colchas de Castelo Branco”, in
João Barreira (dir.), Arte portuguesa. As artes
decorativas, Lisboa, Edições Excelsior, vol. II,
p. 283.

Women in embroideress dress exhibiting

Castelo Branco embroideries on the
Jardim do Paço stairway (annex to the
Francisco Tavares Proença Junior
Museum).
PHOTO SOURCE: [chapter of the book]
MOURA, Maria Clementina Carneiro de
([c.1956]), “Castelo Branco Coverlets”, in João
Barreira (dir.), Portuguese art. Decorative arts, Lisbon,
Edições Excelsior, vol. II, p. 283.

delegada aproveita para, também ela, fazer profissão de fé numa ortodoxia the second time such an artefact was highlighted, being distinguished with the
de linhas e bordados– “impõe[-se] fazer regressar á sua primitiva pureza de contest’s 1st prize. Representation at the first Portuguese art exhibit organized by
SNI, only for “popular art”, should also be added to the exhibits in Madrid (1943)
linhas, de cores, de desenhos, de tecidos, etc., uma indústria que, atravez
and London (1955/56), although the second one had a more ambitious scope28.
dos tempos, tantas e tão variadas influencias extranhas tem sofrido”. Esta
intervenção resultou num acordo de integração do atelier da MPF na The cities that took in these exhibits most often were Lisbon (10 times) and
Castelo Branco (8 times). Lisbon’s frequency can be explained since it is the
escola-oficina da JPBB, enquanto 1 das suas 3 secções constituintes.
country’s capital and most of the exhibits have been organized by federal entities,
Em 1956, a MPF retornará com um Centro de Indústrias Regionais, activo such as SPN/SNI, MP and MPF. Castelo Branco’s prominence is due to the work
até 1974 (cf. Salvado, 1980: 9). Os seus objectivos centrais, então, eram of different private (Grémio Beirão) and public (MPF’s Castelo Branco
delegation) entities, with MFTPJ responsible for most of the exhibits, where it has
sociais (“ocupar, uma vez saídas das escolas, as suas filiadas mais despro-
been very active, especially after 1990. The city of Castelo Branco could thus
tegidas de meios”) e político-culturais (“fazer reviver algumas indústrias establish itself as an owner of this legacy.
tradicionais, perdidas ou em vias de se perderem”). E aditava-se que entre
estas indústrias tradicionais, “merece especial carinho o ressurgimento da
linda indústria das «colchas de noivado», de Castelo Branco, que tão
relevante lugar ocupam entre os nossos bordados tradicionais e tanto
enriquecem o artesanato nacional”. Para justificar a opção pela colcha mais
propícia ao gosto da elite, apresentava-se um argumento economicista,
implícito nesta passagem: “Actualmente reproduzem-se, sobretudo,
colchas de carácter erudito, pois que os espécimes de cunho popular são
por demais ingénuos e frustes embora saborosos e pitorescos e de
inegável interesse documental”26.

26 Cf. Catálogo da exposição.. (1965), sublinhados
meus; para a última citação cf. o Catálogo de
1967 da MPF, cit. em Pinto, 1992: 12
28 The exhibit, held from October 1955 to March
1956, was part of a Portuguese diplomatic
offensive concerning the case of Goa (cf.
Fernandes, 2001). Three Castelo Branco
coverlets were exhibited as well as embroidery
from several parts of the country (cf. idem, vol.
1, p. 98-103, especially vol. 1, p. 103, and vol. 2,
figure 32)

p. 80} Percursos por Terra e Mar

Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:31 AM Page 81
Apesar dos escolhos desse esforço divulgador e recuperador, a partir
daí não mais cessarão as exposições específicas: 1939 (Bruxelas), 1941
(C. Branco), 1942 (Lisboa), 1943 (Madrid), 1945 (Covilhã), 1952
(Lisboa e C. Branco), 1959 (Lisboa: 2 vezes), 1960 (Estoril), 1961 (C.
Branco), 1963 (Porto), 1964 (Portalegre), 1965 (Lisboa: 2 vezes), 1967
(Porto), 1970 (Lisboa), 1972 (Lisboa), 1977 (Braga), 1978 (Évora),
1979 (Porto), 1983 (Caldas da Rainha), 1984 (Lisboa e Hong Kong),
1986 (Lisboa), 1988 (Luso), 1990 (C. Branco), 2003 (C. Branco), 2004
(C. Branco e Salamanca) e 2005 (C. Branco; nb: para mais detalhes vd.
quadro).
No total, foram 36 as mostras específicas realizadas durante o século XX,
incluindo 4 não datadas mas relativas a representações nas feiras inter-
nacionais de Milão, Lausanne, Viena e São Paulo27. A estas deve aditar-se
a representação de colchas albicastrenses patente no 2.º Salão Estético da
Mocidade Portuguesa Feminina (Lisboa, 1939), pois foi a segunda vez que
tal artefacto ganhou foros de destaque, tendo sido distinguido com o 1.º
prémio do certame. Deve ainda juntar-se a representação nas exposições
de arte portuguesa em Madrid (1943) e Londres (1955/6), a primeira
organizada pelo SNI e só para a «arte popular», enquanto a segunda tinha
um âmbito mais ambicioso28.
As cidades que mais acolheram estas mostras foram Lisboa (10 vezes) e
Castelo Branco (8 vezes). A frequência de Lisboa explica-se por, enquan-
to capital do país, aí ter a maioria das mostras sido organizada por
organismos do Estado central, como o SPN/SNI, a MP e a MPF. A saliên-
cia de Castelo Branco deve-se ao labor de distintas entidades, particula-
res (Grémio Beirão) e públicas (delegação de Castelo Branco da MPF),
sendo a maioria das mostras da responsabilidade do MFTPJ, muito activo
neste âmbito sobretudo a partir de 1990. A cidade de Castelo Branco
pôde assim consolidar-se como espaço de pertença deste legado.
27 Cf., para estas, “Os bordados.”, 1959a: 1; vd.
também “Os inconfundíveis.”, 1960.
28 A mostra, que decorreu entre Outubro de 1955
e Março de 1956, integrou uma ofensiva diplo-
mática portuguesa em torno do caso de Goa (cf.
Fernandes, 2001). Nela foram expostas 3 col-
chas de Castelo Branco, além de bordados de
vários pontos do país (cf. idem, vol. 1, p. 98-103,
em especial vol. 1, p. 103, bem como o vol. 2,
figura 32).
Inauguração da mostra de bordados albicas-
trenses em Lisboa organizada pela Casa Mãe
dos Bordados de Castelo Branco, na presen-
ça de altas individualidades do Estado
(1959). Outro aspecto importante desta
mostra foi a presença de 4 bordadeiras tra-
balhando ao vivo e vestidas com o traje re-
gional de Malpica (localidade do sul da Beira
Baixa), evidenciando uma clara aposta em
efeitos tradicionalizantes e folclorizantes.
Nesta ocasião, a esposa do então Presidente
da República alm. Américo Tomás escolherá
o bordado de Castelo Branco mais do seu
agrado, para lhe ser ofertado pelo Governo
Civil albicastrense.
F O N T E D A F O T O G R A F I A : [artigo de
imprensa] “Bordados de Castelo Branco” (1959),
Jornal Reconquista. Semanário Regionalista, ano
XV, n.º 755, 25/X, Castelo Branco, Paróquia de
Castelo Branco, p. 7.
Inauguration of the Castelo Branco
embroidery exhibit in Lisbon organized by
the Casa Mãe for Castelo Branco
Embroideries, in the presence of high ranking
government personalities (1959). Another
important aspect of this exhibit was the
presence of 4 embroideresses wearing
regional dress from Malpica (location south
of Beira Baixa), clearly demonstrating a bet
on traditional and folklore effects. At the
occasion, the wife of then President of the
Republic, Adm. Américo Tomás, will choose
the Castelo Branco embroidery as her
preferred, and it will be given to her by the
Castelo Branco civil government.
PHOTO SOURCE: [press article] “Castelo Branco
Embroideries” (1959), Jornal Reconquista (newspaper).
Regional Weekly, year XV, n.º 755, 25/X, Castelo
Branco, Castelo Branco Parish, p. 7.
“O Galo de Prata, o símbolo escolhido para
a indústria caseira dos Bordados de Castelo
Branco”, titula o jornal Reconquista em
1959, a propósito da recém-inaugurada
mostra específica do SNI, no Palácio Foz. Em
sintonia com os tempos de industrialização
controlada, esta é uma fase em que se
destaca mais o lado industrial do que a
tradição: “Bom negócio para os ricos, ganha-
pão para os pobres, uma grande indústria
para todos. Vamos explorá-la?”.
F O N T E D A I L U S T R A Ç Ã O : [artigo de imprensa]
“Os bordados de Castelo Branco” (1959),
Reconquista. Semanário Regionalista da Beira
Baixa, ano XV, n.º 758, 15/XI, Castelo Branco,
Paróquia de Castelo Branco, p. 1.
“The Silver Rooster, the symbol chosen for
the Castelo Branco home industry”, is the
headline in the Reconquista newspaper in
1959, concerning SNI’s recently inaugurated
exhibit at the Foz Palace. In tune with the
times of controlled industrialization, this is a
phase when the industrial side stands out
more than tradition: “Good business for the
rich, income for the poor, a great industry for
all. Let’s explore it?”
ILLUSTRATION SOURCE: [press article] “Castelo
Branco Embroideries” (1959), Reconquista (newspaper).
Beira Baixa Regional Weekly, year XV, n.º 758, 15/XI,
Castelo Branco, Castelo Branco Parish, p. 1.
{ p. 81
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QUADRO: Exposições de (ou com) bordado de Castelo Branco (1929-2005)

Ano Nome Localidade

1929 Exposição de colchas antigas (org. do Grémio Beirão) C. Branco

1939 2.º Salão Estético da Mocidade Portuguesa Feminina* (org. da MPF) Lisboa

VIII/1939 Exposição internacional de Bruxelas Bruxelas

V/1941 Exposição de bordados de Castelo Branco (no salão do Hotel Turismo) C. Branco

V/1942 Exposição de Colchas de Noivado (no Estúdio do SPN) Lisboa

1943 Representação na Exposição de Arte Popular Portuguesa* (org. do SPN) Madrid

1945 Colchas bordadas dos séculos XVII e XVIII (no MNAA) Lisboa

1945 Exposition Luso-Française à Covilhã/ Exposição de Colchas de Noivado e Gravuras Francesas (no salão da Biblioteca Municipal da Covilhã;
org. da Casa-Mãe dos Bordados de Castelo Branco) Covilhã

IV/1952 Exposição de bordados de CB (na sede do SNI, Palácio Foz) Lisboa

1952 Exposição de bordados de CB C. Branco

1955/6 Exposição de arte portuguesa* (no Royal Academy of Arts) Londres

1959 Exposição de bordados de CB (na sede do SNI; iniciativa do Comissariado Nacional da MPF, com peças do Centro de Indústrias Regionais
da MPF-CB) Lisboa

1959 Exposição dos Bordados de Castelo Branco (no Palácio Foz; org. da Casa Mãe dos Bordados de C. Branco, por iniciativa de Elísio José de Sousa) Lisboa

15-30/X/1960 Exposição de bordados de CB (no Casino do Estoril; org. da Casa Mãe dos Bordados de Castelo Branco) Estoril

VI/1961 Exposição de bordados de CB (salão nobre da Junta de Província da Beira Baixa; org. Centro de Bordados Regionais da MPF-CB) C. Branco

1963 Exposição de bordados de CB (no recinto da Feira Popular do Porto; org. da Casa Mãe dos Bordados de Castelo Branco) Porto

1964 Exposição de Colchas de Castelo Branco (org. da MPF) Portalegre

V/1965 Exposição de Colchas de Castelo Branco (org. da MPF) Lisboa

18/IV-2/V/1965 Exposição de colchas de CB (no pátio do Museu de Arte Popular) Lisboa

14-28/X/1967 Exposição de Colchas de Castelo Branco da IV Exposição Têxtil Internacional (org. da Mocidade Portuguesa) Porto

VI/1970 Exposição de Colchas de Castelo Branco (no salão de exposições da Residência Universitária Maria Guardiola, da MPF; org. da MPF) Lisboa

1972 Idem Lisboa

28/VI-3/VII/1977 Exposição de colchas de CB (na Universidade do Minho) Braga

17-30/6/1978 Exposição de colchas de CB (no Museu de Évora; org. do MFTPJ) Évora

1979 Exposição de Colchas de Castelo Branco (org. do MFTPJ) Porto

VII-VIII/1983 Exposição de colchas de Castelo Branco (no Museu José Malhoa) C. Rainha

7-25/III/1984 Exposição de colchas de Castelo Branco (no Inst.º Cultural de Macau) Lisboa

10-14/IV/1984 Exhibition of Hand Embroidered Bedspreads from Castelo Branco, Portugal (The Landmark) Hong Kong

16/IX-2/X/1986 Exposição de colcha de Castelo Branco (séc. XVII e XVIII) do MFTPJ (na Galeria Almada Negreiros da SEC-MEC) Lisboa

10/VIII-4/IX/1988 Exposição de Colchas de Castelo Branco (no Casino do Luso; org. da Soc. da Água do Luso, colab. do MFTPJ) Luso

IX-XII/1990 Exposição Feira de Bordados Regionais (no MFTPJ; org. do IPPC) C. Branco

VI-IX/2003 Exposição no Museu Francisco Tavares Proença Júnior, Bordados de Castelo Branco da oficina escola do Museu 1999/2003 (MFTPJ) C. Branco

VIII-IX/2004 Exposição de Bordados de Castelo Branco da oficina escola do Museu Francisco Tavares Proença Júnior (MFTPJ) C. Branco

2-17/IX/2004 Exposição de bordado de CB (na Fundación Germán Sánchez Ruipérez) Salamanca

(Peñaranda de
Bracaramonte)

VII-X/2005 Exposição de Bordados de Castelo Branco «Cores a Linho e Seda» (no MFTPJ, da oficina Escola do Museu Francisco
Tavares Proença Júnior) C. Branco

Fontes: Moura, [c.1956]: 222 (para 1941, 42 e 45); Dias, 1965: 8 (para Londres, 1956); imprensa, catálogos e informação do MFTPJ. Nb: asterisco para mostras que, embora não exclusivas de
bordados, o representaram de modo relevante. A mostra de 1941 contou com quase 100 “espécies”, a de 1942 expôs 29 exemplares (e teve catálogo prefaciado por Eurico de Sales Viana), e a
«Colchas bordadas dos séculos XVII e XVIII» teve 22 exemplares (cf. Moura [c.1956], p. 228).

p. 82} Percursos por Terra e Mar

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TABLE: Exhibits of (or with) Castelo Branco embroidery (1929-2005)

Year Name: Location

1929 exhibit of old coverlets (Grémio Beirão org.) C. Branco

1939 Portuguese Female Youth’s 2nd Aesthetic Salon* (MPF org.) Lisbon

VIII/1939 Brussels international exhibit Brussels

V/1941 Castelo Branco embroidery exhibit (in the salon of the Turismo Hotel) C. Branco

V/1942 Exhibit of Wedding Coverlets (in the SPN Studio) Lisbon

1943 representation at the Portuguese Popular Art Exhibit* (SPN org.) Madrid

1945 Embroidered coverlets from the 17th and 18th Centuries (at the MNAA) Lisbon

1945 Portuguese-French Exhibit in Covilhã/ Exhibit of Wedding Coverlets and French Engravings (in the hall at the Covilhã Municipal Library;
Castelo Branco Casa-Mãe dos Bordados org.) Covilhã

IV/1952 CB embroidery exhibit (at the SNI seat, Foz Palace) Lisbon

1952 CB embroidery exhibit C. Branco

1955/6 Portuguese art exhibit* (at the Royal Academy of Arts) London

1959 CB embroidery exhibit (at the SNI seat; initiative of the MPF National Commissioner’s Office, with pieces from the MPF-CB Center for
Regional Industries) Lisbon

1959 Castelo Branco embroidery exhibit (at the Foz Palace; C. Branco Casa-Mãe dos Bordados org., initiative by Elísio José de Souza) Lisbon

X/15-30/1960 CB embroidery exhibit (at the Estoril Casino, Castelo Branco Casa-Mãe dos Bordados org.) Estoril

VI/1961 CB embroidery exhibit (noble room at the Beira Baixa Province Council; MPF-CB Center for Regional Embroidery org.) C. Branco

1963 CB embroidery exhibit (at the Porto Popular Fair, Castelo Branco Casa-Mãe dos Bordados org.) Porto

1964 Castelo Branco Coverlets Exhibit (MPF org.) Portalegre

V/1965 Castelo Branco Coverlets Exhibit (MPF org.) Lisbon

IV/18-V/2 1965 CB Coverlets Exhibit (in the yard of the Museum of Popular Art) Lisbon

X/14-28/1967 IV International Textile Expo’s Castelo Branco Coverlets Exhibit (Portuguese Youth’s org.) Porto

VI/1970 Castelo Branco Coverlets Exhibit (at the MPF, Maria Guardiola Residence University exhibit hall; MPF org.) Lisbon

1972 Idem Lisbon

VI/28-VII/3 1977 CB coverlet exhibit (at Minho University) Braga

6/17-30/1978 CB Coverlets Exhibit (at Évora Museum; MFTPJ org.) Évora

1979 Castelo Branco Coverlets Exhibit (MFTPJ org.) Porto

VII-VIII/1983 Castelo Branco Coverlets Exhibit (at the José Malhoa Museum) Caldas Rainha

III/7-25/1984 Castelo Branco Coverlets Exhibit (at the Macau Cultural Institute) Lisbon

IV10-14/1984 Exhibition of Hand Embroidered Bedspreads from Castelo Branco, Portugal (The Landmark) Hong Kong

IX/16/X/2/1986 MFTPJ Castelo Branco Coverlets Exhibit (17th and 18th Centuries) (at SEC-MEC’s Almada Negreiros Gallery) Lisbon

VIII/10/IX/4/1988 Castelo Branco Coverlets Exhibit (at the Luso Casino; Soc. Água do Luso org., MFTPJ collaboration) Luso

IX-XII/1990 Regional Embroidery Fair Exhibit (at the MFTPJ; IPPC org.) C. Branco

VI-IX/2003 Francisco Tavares Proença Júnior Museum, Castelo Branco Embroideries from the Museum’s school workshop 1999/2003 (MFTPJ) C. Branco

VIII-IX/2004 Castelo Branco Embroideries Exhibit from the Francisco Tavares Proença Júnior Museum school workshop (MFTPJ) C. Branco

IX/2-17/2004 CB embroidery exhibit (at the Germán Sánchez Ruipérez Foundation) Salamanca
(Peñaranda de
Bracaramonte)

VII-X/2005 Castelo Branco Embroideries Exhibit, “Colours in Linen and Silk” (at the MFTPJ, Francisco Tavares Proença Júnior
Museum school workshop) C. Branco

Sources: Moura, [c.1956]: 222 (for 1941, 42 and 45); Dias, 1965: 8 (for London 1956); press, catalogues and MFTPJ information. Note: asterisk for those exhibits, which although not exclusively of
embroideries, were highly representative. The 1941 exhibit had almost 100 “species”, in 1942 29 specimens were exhibited (and the catalogue was prefaced by Eurico de Sales Viana), and “Embroidered
coverlets from the 17th and 18th Centuries” had 22 specimens (cf. Moura [c.1956], p. 228).

{ p. 83
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:31 AM Page 84
Além disso, e como reconhecimento simbólico do seu valor, as colchas
e bordados albicastrenses são integradas nos curricula das escolas técni-
cas (em 1952)29 e ingressam ou reforçam as colecções de vários museus
nacionais e internacionais, como é o caso, em 1.º lugar, do próprio
MFTPJ, e, depois do MAP, etc.30.
Também os intelectuais se rendem à singularidade desta arte: Leitão de
Barros agradece a exposição do SNI de 1952, inaugurada pelo ministro
da Economia, dr. Ulisses Cortês (cf. Barros, 1952, cit. em Dias, 1965:
10). O escritor Aquilino Ribeiro aproveita para elogiar o trabalho que lhe
está subjacente:
“Numa palavra, as bordadeiras de Castelo Branco construíram nas
suas colchas uma flora maravilhosa e uma fauna não menos escapa
da zoologia, consoante o lampejo fugaz que as coisas reais, ausen-
tes da vista, levantam no céu estelar da imaginação…” (Ribeiro,
1957, cit. em Dias, 1965: 11).
A circulação e visibilidade do bordado albicastrense tornam-se mais
patentes a partir de finais dos anos 50, que coincidem com uma cumula-
tiva consagração expositiva regular e, com elas, das vendas e enco-
mendas31. O seu valor simbólico redobra, e, paralelamente a encomen-
das de entidades oficiais e particulares para decoração de espaços de
recepção ou reuniões dos respectivos edifícios32, passa a ser corrente
29 Os curricula das escolas industriais femininas
passam a compreender o estudo (e/ou feitura)
dos bordados de Castelo Branco, nas disciplinas
de desenho e de oficina, do 3.º ano do curso de
formação feminina (vd. Programas do Ensino
Profissional, Industrial e Comercial, aprovados pela
Portaria n.º 13.800 publicada no Diário do
Governo n.º 8, 1.ª série, de 12 de Janeiro de 1952,
cit. Moura, [c.1956]: 284)
30 Existências museológicas deste bordado em
meados dos anos de 1950 (sempre abaixo dos
tapetes de Arraiolos ou das colchas orientais,
pelo menos até àquela data): colecção da Casa-
Museu do cmdt. Ernesto de Vilhena (14
espécies), MNAA (6), MAP (5), M. Machado de
Castro (2, ap. Catálogo guia da secção de tecidos,
bordados, tapeçarias, tapetes, 1943), M. de
Guimarães (1). Espécimes que se revelaram não
ser bordado de Castelo Branco: M. Etnológico
Leite de Vasconcelos (Belém), M. de Artes
Decorativas (Fundação Ricardo Espírito Santo),
Palácio de Queluz (ap. Moura, [c.1956]: 228)
31 Veja-se como se articulam mostra, comércio,
luxo e distinção neste exemplo de 1959: “Têm
despertado o maior interesse as colchas regionais
de Castelo Branco expostas no S. N. I, por
iniciativa do Comissariado Nacional da M. P. F. e
executadas no Centro de Industrias Regionais
que a Organização mantém em Castelo Branco.
[par.º] Foram já adquiridas por particulares
algumas delas e registaram-se pedidos de
reprodução de outras, que figuram na exposição e
são, actualmente, pertença de ilustres famílias
beiroas” (cf. “A Exposição..”, 1959, itálicos
meus). Noutro artigo apresenta esta tradição
como um “bom negócio para os ricos, ganha-
pão para os pobres, uma grande indústria para
todos” (cf. “Os bordados..”, 1959b: 1)
p. 84} Percursos por Terra e Mar
Furthermore, and as symbolic recognition of their value, Castelo Branco coverlets
and embroidery are added to the curriculum at technical schools (in 1952)29 and
they enter or strengthen collections at several national and international museums,
as in the case, first of all, of the MFTPJ itself, and then the MAP, etc30.
The intellectuals also surrendered to this art’s uniqueness: Leitão de Barros thanks
the SNI’s 1952 exhibit, inaugurated by the Minister of Economy, Dr. Ulisses Cortês
(cf. Barros, 1952, cited in Dias, 1965: 10). The writer Aquilino Ribeiro takes
advantage to praise the underlying work:
“In a word, the Castelo Branco embroideresses have built in their coverlets
a wonderful flora and a fauna that is equally rare, consonant with the brief
and sudden flash of light that real things, that are out of sight, lift to the
star-filled sky of imagination...”(Ribeiro, 1957, cited in Dias, 1965: 11).
The circulation and visibility of Castelo Branco embroidery become even more
evident at the end of the 1950s, which coincides with cumulative and regular exhibits
and subsequent sales and orders31. The symbolic value doubles and so do orders from
official and private entities in order to decorate reception and meeting areas in their
respective buildings32. It becomes commonplace for official and private entities to
offer Castelo Branco coverlets to special visitors (for ex., Queen Isabel II and Princess
Margaret of England, in 1960) or wives of representatives of foreign states (for ex.,
wife of Brazilian President Juscelinho Kubitschek de Oliveira, in 1956)33.
During the post-revolution, MFTPJ shall see its role as a promoting centre for
Castelo Branco embroidery reinforced, especially with the activation of its school-
workshop and exposition of its works and those from the museum, a little in every
corner of the country: Braga, Évora, Porto, Caldas da Rainha, Lisboa, Luso, and
abroad (Hong Kong).
29 The curricula at women’s industrial schools begin
to include the study (and/or making) of Castelo
Branco embroideries in design and workshop
disciplines, in the 3rd year of female formation
courses (see Professional, Industrial and Commercial
Learning Programs approved by Rule # 13.800 published in
Federal Gazette # 8, 1st series, 12th January, 1952, cited
Moura, [c.1956]: 284)
30 The museological existence of this embroidery in
the mid 1950s (always less than the Arraiolos rugs
or Oriental coverlets, at least until that date):
Commander Ernesto de Vilhena’s House-
Museum collection (14 specimens), MNAA (6),
MAP (5), Machado de Castro Museum (2, ap.
Catálogo guia da secção de tecidos, bordados, tapeçarias,
tapetes, 1943), Guimarães Museum (1). Specimens
that were not Castelo Branco embroidery: Leite
de Vasconcelos Ethnological Museum (Belém),
Museum of Decorative Arts (Ricardo Espírito
Santo Foundation), Queluz Palace (ap. Moura,
[c.1956]: 228)
31 Observe how exhibit, commerce, luxury and
distinction are combined in this example from
1959: “The regional coverlets from Castelo Branco
on exhibit at the SNI through an initiative by the
MPF’s National Commissioner’s Office and made
at the Center for Regional Industries that the
organization maintains in Castelo Branco have
attracted great interest. [paragraph] Some have
already been acquired by private individuals and orders have
been taken for the reproduction of others found at the exhibit but
that actually belong to illustrious Beira families” (cf. “A
Exposição..”, 1959, my italics). Another article
shows this tradition as “good business for the
rich, income for the poor, a great industry for all”
(cf. “Os bordados..”, 1959b: 1)
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:31 AM Page 85
entidades oficiais e particulares ofertarem colchas albicastrenses a visi-
tantes especiais (por ex., a Rainha Isabel II e a Princesa Margarida de
Inglaterra, em 1960) ou a esposas de representantes de Estados estran-
geiros (por ex., esposa do PR brasileiro Juscelinho Kubitschek de Olivei-
ra, em 1956)33.
No pós-revolução, o MFTPJ verá reforçado o seu papel de centro pro-
motor do bordado de Castelo Branco, designadamente com a activação
da sua escola-oficina e a exposição dos trabalhos desta e dos do museu
um pouco por todo o país: Braga, Évora, Porto, Caldas da Rainha, Lisboa,
Luso, e, também, no estrangeiro (Hong Kong).
Em 1977, reactiva-se neste museu a Oficina-Escola de Bordados Regionais,
que fora suspensa na sequência da revolução de IV/1974, “após persistentes
diligências” do seu director34. O MFTPJ passa a ter como fins a
“«produção, conservação, restauro e divulgação de tecidos e bordados
regionais»”, além de dever “«prestar colaboração e apoio às actividades e
aos trabalhos oficinais dos estabelecimentos de ensino de Castelo Branco»”
(por intermédio de novo diploma legal, o decreto 805, de 8/XI/1976)35.
Tal como referimos na abertura, em Abril de 2006 foi finalmente
consagrada oficialmente a certificação protegida das Colchas de Castelo
Branco, após um processo parlamentar e legislativo que teve os seus
marcos principais em 2004-2006 (vd. nota 1).
32 É o caso do Instituto de Altos Estudos Militares,
do Palácio do Governador de Angola e do
Hotel Tivoli, todos tendo solicitado uma
modalidade emergente, a dos “painéis
decorativos originais” inspirados no desenho do
bordado albicastrense: “O primeiro apresenta
curiosos desenhos medievais; o segundo dá-nos
as armas daquela nossa Província Ultramarina,
bem como uma série dos mais representativos
animais da fauna angolana[,] e o último é uma
evocação aos monumentos e figuras mais
típicas da capital” (cf. “Os bordados..”, 1959a:
1). Outros painéis decorativos: o precedente
para o Hotel Astória, de Monfortinho (1947,
pela mestra da escola da JPBB: cf. “Bordados..”,
1960)
33 Também à esposa do então Presidente da
República alm. Américo Tomás ser-lhe-á
ofertada, pelo Governo Civil albicastrense, o
exemplar mais do seu agrado aquando da
inauguração da exposição da Casa Mãe dos
Bordados de Castelo Branco, em Lisboa, 1959
(cf. “Bordados..”, 1959). Outro pormenor
importante desta mostra foi a presença de 4
bordadeiras trabalhando ao vivo e vestidas com
o traje regional de Malpica, sul da Beira Baixa
(vd. foto na reportagem supracitada), em mais
uma nota da aposta em efeitos
tradicionalizantes (é aqui já evidente que o
patamar ortodoxo pugnado por Sales Viana, do
bordado exclusivamente para o noivado e
executado pelas noivas solteiras e virgens, tinha
passado à história, ou melhor, nunca deixara de
ser mito)
34 Cf. Portugal. SEC. GAN, 1986: 6. Segundo
outra fonte (Pinto, 1992: 12), o processo de
revitalização terá ainda contado com o apoio da
In 1977, the museum’s Regional Embroidery Workshop School is
reactivated. It had been suspended after the IV/1974 revolution, “after
persistent judicial proceedings” by its director34. The MFTPJ establishes
its purposes as the “production, conservation, restoration and disclosure
of regional fabrics and embroideries”, as well as to “collaborate with and
support the activities and workshop works from Castelo Branco learning
establishments” (through the new statute, decree 805, of 11/8/1976)35.
As we mentioned at the start, in April 2006, the protected certification
of Castelo Branco Coverlets was finally officially granted after a
parliamentary and legislative process that saw its main landmarks in
2004-2006 (see note 1).
Therefore, this last thirty year period was fundamental for establishing
Castelo Branco embroidery as a living cultural heritage, breaking with the
atavisms and practical obstacles from the New State period. Tradition
began to mesh with innovation (although opulent Salazarism had impeded
the introduction of Portuguese municipal or foreign monarchy coats-of-
arms in some embroidery designs), but, above all, it broke with the myth of
authenticity (there were always several lines of evolution, the idea of
genuineness began to be more connected to creativity than with the “old”)
and it became possible to debate issues theretofore silenced by hardships,
such as the context of production, production’s social and gender
conditions (to recall the study by Jean-Yves Durand on Minho’s boyfriend
tissues). Since heritage is part of culture’s reality, then certification will be
a serious mediation between the social and cultural, thus attempting to
reconcile the more practical and instrumental aspects with the more
abstract generic ones.
32 This is the case of the Institute for High
Military Studies, the Governor of Angola’s
palace and Tivoli Hotel, all of which requested
an emerging modality, the “original decorative
panels” inspired on the Castelo Branco
embroidery design: “The first one shows
curious medieval designs; the second, the
weapons of our Overseas Province as well as a
series of the most representative animals of
Angolan fauna [,] and the last is an evocation to
the most typical monuments and figures of the
capital” (cf. “Os bordados..”, 1959a: 1). Other
decorative panels: the precedent for Hotel
Astória, by Monfortinho (1947, by the master of
the JPBB school: cf. “Bordados..”, 1960)
33 And the wife of then President of the Republic,
Adm. Américo Tomás was offered the specimen
that most pleased her by the Castelo Branco
Civil Government at the inauguration of the
Casa Mãe of Castelo Branco Embroideries in
Lisbon, 1959 (cf. “Bordados..”, 1959). Another
important detail from this exhibit was the
presence of 4 embroideresses working live and
wearing the regional dress of Malpica, south of
Beira Baixa (see photo in the abovementioned
report), in yet another note on the bet on
traditional effects (it is already evident that the
orthodox level brandished by Sales Viana, of
embroidery exclusively for the wedding and
made by single and virgin brides, was already
part of history, or better, had never ceased
being a myth)
34 Cf. Portugal. SEC. GAN, 1986: 6. According to
another source (Pinto, 1992: 12), the revitalization
process also had the support of MPF’s Liquidating
{ p. 85
Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08 11:31 AM Page 86

Este último trinténio foi, portanto, um período fundamental para a

consolidação do bordado albicastrense como património cultural vivo,
rompendo com os atavismos e bloqueios práticos que vinham do período
do Estado Novo. A tradição passou a articular-se com a inovação (embora
um salazarismo opulento tenha impelido à introdução de brasões de
municípios lusos ou de monarquias estrangeiras nalguns desenhos de
bordados), mas, sobretudo rompeu-se com o mito da autenticidade
(sempre houve várias linhas de evolução, a ideia de genuinidade passou a
estar mais ligada à criatividade do que ao ‘antigo’) e tornou-se possível
debater assuntos antes silenciados por incómodos, como o contexto de
produção, as condições sociais e sexuais da produção (para convocar o
estudo de Jean-Yves Durand sobre os lenços de namorados do Minho).
Uma vez que a patrimonialização faz parte da realidade da cultura, então
a certificação será uma séria mediação entre social e cultural, tentando-se
assim conciliar os aspectos mais práticos e instrumentais com os mais
genéricos abstractos.

Em jeito de breve conclusão As a brief conclusion

Em suma, pretendeu-se analisar o modo como se articulou toda uma
simbologia em torno de Castelo Branco e do bordado homónimo, a qual
contribuiu não só para a afirmação da cidade e do património cultural
regional, como para o enriquecimento das identidades beirã e
portuguesa. A aguerrida e contínua defesa que deste tipo de bordado e
ao longo do século XX fizeram as inúmeras individualidades e entidades
referidas neste excurso permitiu preservar as técnicas e matérias-primas
tradicionais bem como impor a certificação oficial do produto e, desse
modo, salvaguardar a sua integridade. Foi um longo, complexo e
atribulado percurso que é preciso continuar a estudar e reflectir, para
que possam ter proveito os ensinamentos do passado.
In short, an attempt was made to analyze how all the symbology surrounding
Castelo Branco and its homonymous embroidery began, which contributed not
only towards the affirmation of the city and the region’s cultural heritage, but also
to the enriching of Beira and Portuguese identities. The continuous fight and
defence of this type of embroidery throughout the 20th Century carried out by
the countless individuals and entities referred to in this journey permitted the
preservation of traditional techniques and raw materials as well as the establishing
of an official certification for the product, thus safeguarding its integrity. It was
a long, complex and difficult journey that must still be studied and analyzed so we
may benefit from the teachings of the past.

Comissão Liquidatária da MPF, da Direcção Commission, of SEC’s General Management of

Geral dos Assuntos Culturais da SEC e “das
próprias bordadoras, que se sujeitaram a
continuar a trabalhar em condições precárias”,
além do próprio MFTPJ
35 Cf. Salvado, 1980: 10; cit. em ibidem
Cultural Affairs and “the embroideresses
themselves, who agreed to continue working in
precarious conditions”, as well as the MFTPJ
35 Cf. Salvado, 1980: 10; cited in ibidem

p. 86} Percursos por Terra e Mar

Livro investig. Colchas ok corrig 1/7/08
Bibliografia . Bibliography
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Daniel Melo

A “cidade-símbolo”
5.
de castelo branco
e o bordar da
identidade beirã
(séc. xx)

Castelo Branco, the Symbolic City, and

Beira Embroidery (20th Century)*

{ p. 89