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Política e Guerra
As navegações atlânticas
Do infante D. Henrique a D. João II numa primeira fase, as navegações portuguesas
encontraram-se ligadas ao processo de expansão em Marrocos. O infante D. Henrique,
principal responsável pelo primeiro momento das navegações, foi, logo em 1416,
encarregado da defesa de Ceuta. Foi precisamente depois de irem a Ceuta, em 1419, que
João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira, escudeiros do infante D. Henrique,
avistaram, por acaso, a ilha de Porto Santo. Em 1420, foi a vez de Bartolomeu
Perestrelo avistar a ilha da Madeira.
Em 1433, o Porto Santo e a Madeira foram entregues pelo rei D. Duarte ao irmão, D.
Henrique. No entanto, desde 1425 que aquelas ilhas já estavam a ser povoados pelos
descobridores originais. Estas ilhas, tal como as Canárias, já eram conhecidas pelo
menos desde o século XIV, mas nunca antes tinham sido povoadas. Só através do
povoamento é que foram, de facto, colocadas sob a soberania de um reino, neste caso,
Portugal. A partir da década de 1470, a Madeira tornou-se um importante centro de
produção de açúcar, na altura um produto muito raro e valioso na europa.
Os Açores foram descobertos mais tarde. As primeiras ilhas terão sido avistadas por
Diogo de Silves em 1427. Os esforços de povoamento das ilhas começaram por volta de
1433. Tentou-se, desde cedo, o cultivo de cereais para abastecimento do reino. Em
1439, as sete ilhas conhecidas foram entregues ao infante D. Henrique. Só em 1452
foram descobertas as duas ilhas mais ocidentais, Flores e Corvo. Os Açores, ao
contrário da Madeira, foram, de facto, descobertos pela primeira vez pelos Portugueses
no século XV.
As ilhas Canárias (já visitadas no reinado de D. Afonso IV, no século XIV) foram alvo
de uma disputa entre Portugal e Castela ao longo do século XV. O infante D. Henrique
enviou várias armadas ao arquipélago, entre 1424 e 1456, mas sem nunca ter
conseguido tomar posse de alguma das ilhas. A partir de 1479, Portugal desistiria da
posse das Canárias.
Ao mesmo tempo que decorria a expansão em Marrocos e o povoamento das primeiras
ilhas atlânticas, os Portugueses começaram também a explorar a costa ocidental
africana. A iniciativa coube ao infante D. Henrique, embora sempre com o apoio do rei.
São várias as razões para o início destas navegações: a curiosidade do infante em
descobrir novas terras; o desejo de encontrar aliados cristãos africanos com quem
pudesse estabelecer comércio ou alianças para combater os muçulmanos de Marrocos;
ou ainda a vontade de expandir a fé cristã.
O primeiro objetivo das navegações foi ultrapassar o cabo Boja- dor, onde se situava a
fronteira do mundo conhecido. As primeiras viagens ao longo da costa ocidental de
África ocorreram na década de 1420, mas só em 1434 o cabo Bojador foi ultrapassado
pelas embarcações comandadas por Gil Eanes, escudeiro do infante D. Henrique.
Nos anos seguintes, as navegações prosseguiram rumo a sul, em direção à Mauritânia.
Em 1441, trouxeram-se para Portugal as primeiras aquisições comerciais oriundas
daquela região: cerca de 100 escravos, algum ouro e ovos de avestruz, um produto
exótico nunca antes visto. Também na Mauritânia foi estabelecida, no início da década
de 1440, a primeira feitoria portuguesa, na ilha de Arguim, que tinha como função
negociar com os nativos. As navegações eram cada vez mais rentáveis e, por isso, não
tardou até o infante sentir necessidade de guardar o monopólio da navegação além
Bojador para si próprio. Esse direito foi-lhe concedido em 1443 pelo regente D. Pedro,
seu irmão, que governava o reino em nome do pequeno rei, D. Afonso V (1438-1481).
Em 1444, chegaram os primeiros navios à costa da Guiné. Até à morte do infante, em
1460, as navegações ainda avançariam até à costa da Serra Leoa. Por volta de 1456,
descobriram as primeiras ilhas de cabo Verde: Boavista, Santiago, Maio e Sal. Os
primeiros povoadores chegariam ao arquipélago quando o infante ainda era vivo. As
restantes ilhas seriam descobertas na década de 1460.
Com a morte do infante D. Henrique, em 1460, a coroa reclamou para si o monopólio
da navegação e comércio além do cabo Bojador. D. Afonso V (1438-1481) aproveitou a
oportunidade para dar continuidade ao trabalho do infante e, entre 1468 e 1474, ar-
rendou o comércio da Guiné a Fernão Gomes, escudeiro e merca- dor lisboeta. Em
troca, Fernão Gomes era obrigado a explorar a costa africana. Foi assim que, em 1471,
foi alcançada a costa do ouro, situada na região do atual Gana.
Foi nesta costa que, em 1481, já durante o reinado de D. João II (1481-1495), se
construiu a fortaleza de São Jorge da Mina. A partir de então, começaram a rumar ao
reino grandes quantidades de ouro provenientes daquela região. Durante este reinado,
prosseguiram as explorações rumo a sul e, em 1488, Bartolomeu dias dobrou o cabo da
Boa esperança, demonstrando, desta forma, que África era um continente situado entre
dois oceanos. Em 1491, dá-se início à missionação cristã no reino do congo, entretanto
descoberto. O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 entre Portugal e Castela, foi o
resultado de negociações que duraram mais de um ano. No final, ficou estabelecida a
divisão do mundo entre Portugal e Castela. A linha divisória era um meridiano
imaginário, situado 370 léguas a ocidente de cabo Verde. A Portugal caberiam as terras
a oriente deste meridiano, enquanto que Castela ficaria com as regiões a ocidente. Este
tratado surgiu pouco depois do regresso de Colombo das Caraíbas – depois da sua
primeira viagem de 1492-1493 – que tinha demonstrado ser possível alcançar terras a
Ocidente. Ainda assim, não era, como Colombo pensava, o Japão, mas sim um novo
continente: as Américas.
A nível externo, tanto D. João II como D. Manuel I preferiram manter-se fora dos
conflitos europeus. Ambos entendiam que nada havia a ganhar em combater na europa,
e que era fora dela que se apresentavam as melhores oportunidades de expansão e lucro.
Isto apesar de D. João II ter mantido, a dada altura, relações tensas com Castela e
Aragão.
Economia e Sociedade
Fidalgos e aventureiros em África e no oriente
A expansão além-mar concedia ao rei mais terras, maiores riquezas e um maior número
de cargos, civis ou militares, que tinham de ser ocupados. A nobreza era a principal
beneficiada pela política régia, já que acabava por receber terras, riquezas e ofícios por
servir a coroa com lealdade.
O facto é que a nobreza esteve ligada desde o início à expansão. Toda a nobreza esteve
ao lado de D. João i na conquista de Ceuta, em 1415. Boa parte da nobreza, nos séculos
XV e XVI, incluindo duques, marqueses e condes, serviu em Marrocos. Os próprios
capitães das embarcações de exploração da costa africana eram nobres, ainda que de
condição mais baixa (eram sobretudo escudeiros).
No Oriente, muitos foram os aventureiros, alguns deles nobres, que abandonaram o
estado da Índia para fazerem fortuna ao ser- viço de outros senhores. Muitos juntaram-
se, ao longo dos séculos XVI e XVII, a reinos asiáticos, sendo, muitas vezes, recrutados
como mercenários especialistas no uso de armas de fogo e canhões. Alguns tornaram-se
mesmo piratas, não reconhecendo qualquer senhor, mas lutando apenas pela riqueza
pessoal.
Ainda assim, foi sempre maior o número de nobres que ajudou à construção do estado
da Índia do que aqueles que o abandonaram. De Moçambique ao Japão, feitores e
capitães de fortalezas eram, invariavelmente, nobres.
O serviço à coroa, em Marrocos ou na Índia, era quase sempre benéfico para a fidalguia,
pois os reis tendiam a recompensar generosamente os servidores. Um exemplo disso
mesmo é Vasco da Gama. Ao regressar a Portugal, depois da viagem á Índia, em 1499,
foi-lhe atribuída a distinção de dom. Mais tarde, o já então D. Vasco da Gama viria a ser
elevado a conde da Vidigueira.
Feitorias e fortalezas
As feitorias eram os edifícios onde os Portugueses conduziam os negócios nas regiões
mais lucrativas do estrangeiro. Na década de 1440, foi construída uma feitoria na ilha de
Arguim, na costa da Mauritânia, para controlar o comércio local de ouro. O mesmo
processo viria a ser repetido centenas de vezes noutras regiões de África e do Oriente.
Por outro lado, a fortaleza era uma construção militar erguida em zonas estratégicas
para proteger os interesses de Portugal. Estas edificações ficavam sempre junto ao mar,
pois era por mar que eram abastecidas de tudo, desde soldados até alimentos e armas,
uma vez que era comum estarem situadas em territórios hostis. Foi precisa- mente a
experiência obtida na defesa de fortalezas em Marrocos que ajudou, mais tarde, à
implantação dos Portugueses na Índia.
A combinação das feitorias com as fortalezas deu origem às feitorias-fortaleza: edifícios
que serviam tanto de base militar, como de centro de negócios. Por volta de 1464,
Arguim tornou-se uma feitoria-fortaleza, para poder proteger os interesses comerciais
portugueses na região. São Jorge da Mina foi, desde a sua construção, em 1481,
desenhada como uma feitoria-fortaleza. O mesmo viria a ser feito na Índia.
Todos os cuidados com a defesa não eram exagerados: a feitoria portuguesa em
Calecute foi atacada e destruída em 1500, pouco depois de ter sido estabelecida. Assim,
não admira que um pouco por todo o império, as feitorias-fortaleza fossem a base da
presença portuguesa numa região.
Cultura e Artes
Renascimento e Humanismo
O Renascimento surgiu na Itália do século XV e, desde o início, representou a vontade
de alguns contemporâneos em regressar ao passado em várias áreas da vida. Os grandes
artistas do Renascimento italiano, como Botticelli e Miguel Ângelo, embelezaram as
mais poderosas das cidades-estado de Itália, como Roma ou Florença.
Contudo, foi no século XVI que o Renascimento se espalhou pela europa e alcançou
Portugal. Isto apesar de já estarem presentes alguns traços renascentistas no Portugal do
século XV, como mostra o contrato firmado entre D. João II (1481-1495) e Cataldo
Sículo, um italiano que serviu de tutor do príncipe D. Afonso e do filho ilegítimo, D.
Jorge. Também o gosto pela língua dos Romanos, o Latim, estava a crescer, como prova
o discurso de Cataldo, por ocasião do casamento do príncipe D. Afonso.
Foi no reinado de D. João III (1521-1557) que o Renascimento teve maior impacto em
Portugal. O desejo de imitar a Antiguidade levou à construção de novos edifícios com
um estilo mais italiano. O Humanismo surgiu ainda antes do Renascimento, uma vez
que se considera que o seu pai foi o italiano Francesco Petrarca (1304-1374). O
Humanismo defendia que o Ser Humano, e não Deus, deveria ser o centro do
pensamento filosófico; o gosto pela arte grega e romana; o interesse pela educação do
Ser Humano (em particular das crianças); e, por fim, o estudo das línguas antigas (como
o Latim, o Grego e o Hebraico).
É costume dizer-se que Portugal não teve Humanismo, mas sim humanistas. Ou seja,
nunca chegou a haver uma corrente contínua, mas apenas casos quase isolados de
homens inteligentes e capazes, como Damião de Góis (1502-1574) ou Francisco Sá de
Miranda (1481-1558). A introdução da inquisição em Portugal, ocorrida em 1536, não
permitiu o crescimento de uma corrente Humanista, uma vez que alguns dos elementos
do Humanismo – como a colo- cação do Ser Humano no centro do Universo – eram
vistos como heresia.
Damião de Góis, em particular, é considerado o grande humanista português. Fez de
tudo um pouco, desde servir como pajem na corte até ser historiador. Viajou por toda a
europa, tanto em viagens comerciais como em busca de conhecimento, e foi amigo de
Erasmo de Roterdão (1466-1536), um dos grandes humanistas daquele tempo e um
homem que D. João III pensou contratar para dar aulas na Universidade de Coimbra.
Foi até perseguido pela inquisição, mas contou sempre com o apoio e proteção de D.
João III (1521-1557), de quem era amigo de infância.