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9 7 7 2 6 7 5 7 5 3 0 0 0 0 6
Fiscalização Crea-SP
Ainda mais conectados
pela segurança
da sociedade.
1000+ 6.67m
7.54m Slurry TBM
Tuneladoras Entregues EPB TBM Cingapura Thomson
8.03m Projeto Linha Vermelha Linha T209
Gripper TBM
3600km+
de Israel
Túnel de desvio de
água de Jilin
Escavados
30
Países e Regiões
10.03m
9.86m
EPB TBM
EPB
Milão alta velocidade
Grande Metrô de Paris
- Ferrovia de Verona
Linha 16 Lote 2
Linha Túnel Lonato
Projeto do Lote 1
7.62m x 5.645m
Máquina Retangular Pipe Jacking
Metrô de Cingapura Thomson
Projeto Linha T221
Road Header
11.9m x 10.95m
EPB TBM Formato de Ferradura
Túnel Ferroviário Menghua Baicheng
11.05m
EPB TBM
Sistema de águas pluviais
de túnel profundo em Dubai
Bolter Mineiro
11.09m
Single Shield TBM
Snowy Hydro 2.0
12.14m
EPB TBM
Túnel Ferroviário
Taiyuan Sudoeste
Fundadores
Apparício Saraiva de Oliveira Mello (1929-1998)
Ivone Gouveia Pereira de Mello (1933-2007)
22
Tel. (55 11) 5575 8155
(55 11) 5575 1069
E-mails: brasilengenharia@terra.com.br BRASIL ENGENHARIA / INFRAESTRUTURA
engenho@uol.com.br
Número avulso: R$ 39,00 STM/SP: UM EXEMPLO DE EXCELÊNCIA EM SERVIÇOS E
www.brasilengenharia.com
DE ATUAÇÃO EM PROL DA POPULAÇÃO DE SÃO PAULO
DIRETOR EDITORIAL Em função da gigantesca complexidade que diariamente se apresenta
RICARDO PEREIRA DE MELLO
ao trabalho executado pela Secretaria de Transportes Metropolitanos de
DIRETORA EXECUTIVA
MARIA ADRIANA PEREIRA DE MELLO São Paulo (STM/SP), o balanço que se faz dele, sem dúvida alguma, é
bastante positivo. Embora nessa lida, naturalmente, os desafios sejam
titânicos, e ainda exista muita coisa a ser feita, a desenvoltura desse órgão,
MAI/JUN - 2022 - ANO 3 - N.º 06 hoje sob o comando do engenheiro Marco Antônio Assalve, têm sido
BRASIL ENGENHARIA. Diretor Editorial:
vencidos com empenho extraordinário e exemplares.
Ricardo Pereira de Mello. Diretora Comer- CARLOS FREDERICO/ METRÔ-SP
cial: Maria Adriana Pereira de Mello. CON-
SELHO EDITORIAL: Álvaro Rodrigues dos
Santos, Apparício de Mello Neto, Frederico
Bussinger, Luís Antônio Seraphim, Maria
Adriana Pereira de Mello, Nestor Soares
Tupinambá, Paulo Helene, Paulo Resende,
BRASIL ENGENHARIA / LIDERANÇA EM FOCO
28
Pedro Luis Dias Martins, Pedro Moreira, Pe-
ter Ludwig Alouche, Permínio Alves Maia de
Amorim Neto, Ricardo Pereira de Mello.
SILVANI ALVES PEREIRA
Diretor-presidente da Companhia do
ENGENHO EDITORA TÉCNICA. Diretor Metropolitano de São Paulo – Metrô
Editorial: Ricardo Pereira de Mello. Diretora
Comercial: Maria Adriana Pereira de Mello. “VAMOS DEIXAR UM CAMINHO PAVIMENTADO
Redação / Reportagem: Regina Trombelli,
Marcus Frediane. Fotógrafo: Ricardo Mar- PARA QUE O METRÔ PROSSIGA MELHORANDO”
tins, Leonardo Moreira. Editoração: Adriana
Com frequência, Silvani Alves Pereira, informa na rede social Linkedin
Piedade / ZAF - Ateliê de Publicidade e André
Siqueira / Via Papel. Gerente Administrativo:
sobre os avanços nas obras e outras importantes ações da companhia.
Leonardo de Mello Moreira. Criação e Arte: Atualmente, são 16 frentes de trabalho. “Iniciamos as obras de
André Siqueira / Via Papel. Impressão e Aca- expansão da Linha 2-Verde até Penha, que beneficiarão além das novas
bamento: Meltingcolor Gráfica. regiões onde terão as estações, mas também os passageiros da Linha
3-Vermelha com uma alternativa ao centro de São Paulo. Além disso,
REDAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E PUBLICI- na zona leste de São Paulo, temos as obras da Linha 15-Prata em
DADE: Engenho Editora Técnica Ltda. Rua direção a Jacu-Pêssego e Ipiranga. Na zona sul, a Linha 17-Ouro que
Alice de Castro, 47 - Cep 04015 040 - São terá uma ligação rápida ao Aeroporto de Congonhas, na zona norte
Paulo - SP - Brasil - Tels. (55 11) 5575 8155
com a Linha 19-Celeste, chegando ao município de Guarulhos.
- 5575 1069. Circulação nacional: A RE-
VISTA BRASIL ENGENHARIA é distribuída
a engenheiros brasileiros que desenvolvem
atividades nas áreas de engenharia, proje-
to, construção e infraestrutura. A REVISTA
BRASIL ENGENHARIA e a Engenho Editora
34
Técnica não se responsabilizam por conceitos
emitidos por seus colaboradores ou a precisão
BRASIL ENGENHARIA / ESPECIAL METRÔ-SP
dos artigos publicados. Só os editores estão
autorizados a comercializar as edições. Perio-
dicidade: Trimestral.
METRÔ DE SÃO PAULO: INOVAÇÃO E EXPANSÃO
ADMINISTRANDO RECURSOS PARA UMA
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. NENHUMA PARTE DESTA GESTÃO CADA VEZ MAIS EFICIENTE
PUBLICAÇÃO (TEXTOS, DADOS OU IMAGENS) PODE SER
REPRODUZIDA, ARMAZENADA OU TRANSMITIDA, EM NENHUM
Notadamente em função dos impactos da pandemia da COVID, os
FORMATO OU POR QUALQUER MEIO, SEM O CONSENTIMENTO anos de 2020 e 2021 foram muito complicados para a economia e
PRÉVIO DA EDITORA OU DO CONSELHO EDITORIAL para as finanças das empresas de modo geral. E o setor de Transportes,
DA BRASIL ENGENHARIA
seguramente, deve ter sido um dos mais afetados por eles, dadas as
restrições que precisaram ser impostas pelas autoridades sanitárias,
WWW.BRASILENGENHARIA.COM principalmente aquelas relacionadas à dinâmica de movimentação e
mobilidade das pessoas.
INSTAGRAM: @BRASILENGENHARIA DIVULGAÇÃO/ METRÔ-SP
FACEBOOK: BRASIL ENGENHARIA
66 BRASILENGENHARIA 06/2022
ENGENHARIA 606 / 2011
WWW.BRASILENGENHARIA.COM
A EDIÇÃO
BRASIL ENGENHARIA / METRÔ DE SÃO PAULO / artigos
A gestão matricial de pessoas na implantação dos empreendimentos de expansão do Metrô de São Paulo
Indicadores de desempenho do processo de desenvolvimento do projeto executivo de
implantação de sistemas metroviários
59
65
CAPA
ESPECIAL METRÔ.
METRÔ DE SÃO PAULO:
INOVAÇÃO E EXPANSÃO
Foto: Márcia Alves – Metrô-SP
Criação: André Siqueira – Via Papel
PMO Corporativo do Metrô: 10 anos estruturando e integrando processos para gerar valores 68
Arquitetura na Linha 15-Prata: novas experiências de projeto 73
Utilização de tuneladoras de grande diâmetro em futuras linhas do Metrô de São Paulo 78
É
praticamente impossível falar em evolução sem culos Leves sobre Trilhos (VLTs), trens ou os percursos a
analisar a história. Quando se trata de avanços serem inaugurados, como a da Linha 6-Laranja de Metrô
tecnológicos, todo desenvolvimento é alcançado de São Paulo, maior projeto de infraestrutura urbana pú-
com especial atuação da Engenharia. Um exemplo claro blico-privada em andamento na América Latina.
disso é o metropolitano. Uma das inovações aplicadas é o BIM, sigla
Há pouco mais de 50 anos, essa opção para a metodologia Building Information Mo-
de transporte não passava de um canteiro deling, união de ferramentas entendidas, em
de obras no município de São Paulo. Foi português, como Modelagem da Informação
somente em 1974, depois de seis anos de da Construção, um modo compartilhável de
construções da primeira estação de metrô, dados que acompanha toda a obra. O formato
no bairro da Saúde, que a Linha 1-Azul foi é considerado um avanço, com softwares que
inaugurada. projetam desenhos em 3D, e já foi utilizado
O trecho inicial, do Jabaquara à Vila Ma- no bonde de Sydney, na Austrália, e na Linha
riana, tinha pouco mais de 14 quilômetros, Vermelha do metrô de Dubai, nos Emirados
com circulação média de 2.800 pessoas por Árabes Unidos, realizados pela Acciona, mes-
dia. Atualmente, todo o complexo tem mais mo conglomerado empresarial espanhol res-
de 100 quilômetros de trilhos, seis linhas e Lígia Marta Mackey ponsável pelo novo ramal da capital paulista.
91 estações, por onde circulam 5 milhões A ascensão da Engenharia também abriu
de passageiros diariamente. O que foi preciso para essa portas para maior participação feminina. Há 40 anos,
expansão? A resposta é simples: Engenharia! quando o metrô ainda começava a engrenar efetivamente,
Se antes as cidades eram planejadas a partir de uma as mulheres eram apenas 4% dos profissionais registrados
malha viária tradicional, que implicava em mais veículos no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea).
nas ruas e consequentes dificuldades de trânsito, esse ce- Hoje, são 15% , número que deve ser melhorado com ações
nário foi completamente transformado com a populariza- de empoderamento e de desconstrução de comportamen-
ção de uma alternativa de mobilidade pública menos cus- tos nocivos, como discriminação de gênero e assédio.
tosa e mais democrática propulsionada pelo metrô. O Programa Mulher do Crea-SP é uma dessas iniciati-
A mudança deu lugar a uma metrópole conectada, ins- vas. O movimento se estende para os campos acadêmico
pirada em Londres – primeiro local do mundo a implantar e privado: dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos
o sistema metroviário –, Paris e outros. A iniciativa bra- e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) revelaram que
sileira foi adiante. Trabalhadores foram estudar em dife- mais de 37% dos formandos nas graduações de engenha-
rentes países para criar um modelo inovador de operação ria, produção e construção eram mulheres no último cen-
automatizada. so da Educação Superior; em paralelo, algumas empresas
O desempenho do metrô paulistano foi, e continua priorizam a presença das engenheiras em até 80% do qua-
sendo, garantido por uma soma de expertises de profis- dro funcional em setores tradicionalmente masculiniza-
sionais da área tecnológica que atuam constantemente na dos, como a construção.
manutenção, operação, sistema, construção e arquitetura. Alguns outros aspectos da metrorização propulsio-
O conjunto disso é uma rede informatizada que funciona naram o desenvolvimento socioeconômico, com a va-
em circuito carrossel à base de energia elétrica transporta- lorização das regiões das estações; a ampliação da ur-
da por um terceiro trilho que acompanha toda a estrutura banização dos bairros; a instalação de eixos comerciais
de linhas para alimentar os motores dos trens, enquanto é dispersos; o acesso facilitado aos miolos econômicos e
gerenciada à distância por uma central de controle. industriais; a democratização do transporte público en-
Velocidade, frenagem, parada e outras atividades são, tre periferia e centro; e a própria verticalização. Sem
essencialmente, automáticas. A interferência humana é falar nas vantagens sustentáveis ao diminuir as quanti-
reduzida às situações de necessidade, ficando concen- dades de gases emitidos na atmosfera em comparação
trada, preferencialmente, nos projetos e processos. Toda aos veículos particulares.
essa tecnologia levou à eleição do Metrô de São Paulo Mais uma vez, a Engenharia teve papel fundamental
como um dos melhores do mundo pela revista americana nesses processos e segue com a missão de antecipar de-
Business Insider. mandas, preparar espaços e criar soluções que atendam às
Tamanha responsabilidade modificou a Engenharia, necessidades populacionais, ambientais e estruturais que
consolidando a profissão como divisora de águas para que o futuro reserva.
os atuais 56 países com metrô pudessem intensificar as
tecnologias de suas redes. * Lígia Marta Mackey é engenheira civil, vice-presidente
Xangai, na China, por exemplo, é a cidade com maior no exercício da presidência do Crea-SP
A
parceria do Metrô de São Paulo com o Banco Mundial estreitou e o Banco financiou três outros projetos: a) o “Trens
(BM) começou a partir do processo de descentralização e Sinalização”, para melhoramentos em sinalização e forneci-
do sistema ferroviário federal e destituição da FEPASA mento de trens; b) a Fase 2 da Linha 4-Amarela, com constru-
no início dos anos 1990. Como parte do acordo de transfe- ção de mais 5 estações que não haviam sido incluídas no pro-
rência do sistema federal ao Estado de São Paulo, o Governo jeto original por falta de capacidade fiscal; e c) a Linha 5-Lilás,
Federal solicitou ao Banco Mundial (BM) que financiasse a rea- com financiamento de trens e sinalização. Já na Linha 6-La-
bilitação da subdivisão paulista, o que permitiria ao governo ranja, o Banco foi convidado pelo Estado de São Paulo como
do Estado de São Paulo viabilizar-se financeiramente provendo consultor na avaliação de PMIs (Procedimento de Manifestação
um serviço de qualidade que atrairia mais usuários. de Interesse) e na formatação da parceria público-privada, mas
Como parte dos requisitos do empréstimo, foi criada a não participou no financiamento.
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que Em todos estes empréstimos, foram inseridos componen-
absorveria e operaria a malha transferida da CBTU-SP e as tes institucionais que beneficiaram fortemente a gestão e a
linhas metropolitanas da FEPASA. O Estado de São Paulo so- estratégia do Estado para o setor, além da aplicação das po-
licitou então ao Banco Mundial tanto o financiamento do líticas ambientais e sociais do BM que reforçavam as políti-
Projeto Integração Centro bem como o financiamento da so- cas locais. Pesquisas Origem-Destino, modelos de transporte,
nhada Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo. estudos de mudanças climáticas, são exemplos de estudos de
À época, o BM nunca havia financiado linhas de metrô em impacto que foram desenvolvidos com recursos desses em-
nenhum país, já que financiamentos em Metrô eram vistos como préstimos. O Plano Integrado de Transporte Urbano (PITU),
transporte para a classe média e não para os mais pobres, foco em suas diversas versões, foi também apoiado por esses em-
desta instituição internacional de desenvolvimento. Foi neces- préstimos, o que permitiu uma visão de longo prazo que tan-
sário um grande trabalho de convencimento dos dirigentes do to contribui para o melhoramento contínuo da malha. Por
BM para demostrar que a Linha 4-Amarela iria beneficiar classes fim, foram realizados diversos estudos para ampliar a atra-
de renda mais baixa. Foram então feitos estudos de impacto nas tividade e sustentabilidade financeira do sistema, como por
populações pobres e decidiu-se intensificar no projeto a inte- exemplo através da aplicação de políticas de adensamento
gração intermodal, favorecendo usuários de ônibus municipais no entorno das estações, estudos para obtenção de receitas
e intermunicipais. Foi na preparação deste financiamento que a extra-operacionais, e estudos de políticas tarifárias.
parceria do BM e do Metrô de Sao Paulo se intensificou. E o que se espera neste futuro próximo desta parceria que
Embora o processo de preparação do empréstimo da Linha já dura mais de 30 anos? Está em curso a preparação do finan-
4-Amarela tenha avançado até as últimas etapas, incluindo até ciamento da extensão da Linha 2-Verde. Mas o BM e o Metrô
negociações técnicas realizadas em Washington em 1994, o Go- poderão fazer mais. Alguns tópicos explorados são: a) enge-
verno Federal acabou por não autorizar esse empréstimo dado nharia sustentável como o fomento de energias renováveis,
que o Estado de São Paulo não tinha capacidade de endivi- suporte na certificação de eficiência energética, avaliação de
damento para receber a contra-garantia pelo Governo Federal. vulnerabilidades climáticas dos ativos do Metrô e identificação
O empréstimo para a Integração Centro era no entanto me- de investimentos para aumentar a resiliência; b) reorganização
nor e foi em frente sem incluir Linha 4-Amarela. Este projeto corporativa do Metrô e integração de sistemas tecnológicos
foi vital para a integração das malhas e para o salto de atrati- para melhor servir suas funções de operador e de preparação de
vidade do sistema ferroviário para a população paulistana em novos projetos; e c) intensificação da exploração de empreen-
geral, e em especial a de baixa renda. Mas a diretoria do Metrô dimentos de habitação de interesse social e espaços comerciais
foi persistente. Já que o financiamento puramente público para para o atendimento a populações de baixa renda. Há uma série
o empreendimento era praticamente impossível naquele mo- de temas em que a parceria entre o Metrô e o BM pode avançar,
mento, o Metrô solicitou apoio do BM para contratar consulto- usando a expertise do BM em empréstimos verdes e instru-
res que ajudassem a estudar como aumentar a participação do mentos de garantias, que podem alavancar mais investimentos
setor privado na Linha 4-Amarela. para implementar os planos de expansão do Metrô.
O BM conseguiu então uma doação do Governo dos EUA A parceria do Metrô e o BM inspirou outras linhas de Me-
para avaliar opções de participação do setor privado que aju- trô na América Latina e no mundo. Esperemos que esta par-
daram o Metrô a viabilizar no projeto. Finalmente, já em 2000, ceria continue e siga melhorando a qualidade de vida dos
com o melhoramento da capacidade de dívida do Estado de paulistanos, particularmente os de mais baixa renda, melho-
São Paulo, partiu-se para um modelo misto de financiamento rando o acesso a empregos, hospitais, instituições de ensino
da Linha 4-Amarela, na qual o financiamiento da infraestru- e áreas de lazer, reduzindo a desigualdade social e de gênero,
tura (obras civis, estações, pátio e eletrificação), seria público e contribuindo ao mesmo tempo para diminuir as emissões de
e o investimento em material rodante e sinalização privado. O carbono e a qualidade do ar nas cidades.
setor privado, por sua vez, operaria a Linha 4-Amarela por 25
anos. Apesar de vários atrasos na construção e um acidente * Jorge Rebelo, Bianca Bianchi Alves, Georges B. Darido,
na construção da Estação Pinheiros, a Linha 4-Amarela foi Banco Mundial
V
ocê que anda no metrô na cidade de São esta tecnologia e nenhum deles nas Américas.
Paulo todos os dias não imagina que ele Mas o nosso metrô expandiu fronteiras e se
é também importante para todo o Brasil, juntou ao grupo do CoMET, um grupo mundial
para a América Latina ou mesmo para o mundo. seletíssimo, onde tem assento apenas os represen-
Desde que foi inaugurado, em 1974, o Metrô de tantes dos maiores sistemas de metrôs do mundo.
São Paulo tem desempenhado o papel de inspi- Os representantes do nosso metrô se sentam para
ração e aprendizado para que outros sistemas discutir inovação e tecnologia com operadores de
pudessem se desenvolver em outras cidades do Nova York, Paris, Moscou, Pequim e de diversas
Brasil e até mesmo em outros países. outras cidades do mundo, e levam conhecimen-
O Metrô de São Paulo é o primeiro siste- to e melhores práticas, aqui desenvolvidas, para o
ma de metrô do Brasil. Ele começou com uma restante do mundo.
única linha, a Linha 1-Azul, ligando Jaba- Não é à toa que em 2010, o Metrô de São Pau-
Roberta Marchesi
quara, na zona sul, a Santana, na zona norte, lo foi considerado o melhor sistema de transporte
com 16,7km de extensão. Atualmente, o sistema de metrô sobre trilhos da América Latina pelo “The Metro Awards” e, em
da capital paulista já conta com mais de 101km de extensão, agosto de 2015, foi eleito um dos melhores sistemas de metrô
divididos em 6 linhas, atendidas por 89 estações, sem contar do mundo pela revista americana “Business Insider”, sendo o
os projetos de ampliação em andamento, que somam mais de único sistema latino-americano a pertencer a essa seleta lista.
23,5km de trilhos pela cidade. Você, que utiliza o metrô da cidade no seu dia a dia, já sente
Como na época da sua implantação, não havia no Brasil pro- os efeitos positivos de escolher se deslocar dessa forma. Essa
fissionais especializados em sistemas de metrô foi enviado para vantagem, entretanto, está contabilizada no último Balanço Se-
os Estados Unidos um grupo de técnicos e engenheiros para torial publicado pela Associação Nacional dos Transportadores
adquirir conhecimentos de como funcionavam os complexos de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), que aponta que, cada
sistemas eletrônicos e elétricos imprescindíveis para garantir a vez que um passageiro utiliza os trens e metrôs do Brasil, ele
segurança na circulação dos trens. Outro grupo foi enviado à economiza, em média, 33 minutos em relação aos outros siste-
Cidade do México, na época, o metrô que mais transportava mas de transporte. Além disso, é um setor de transporte com
pessoas na América Latina, para aprender os conceitos e os pro- alta confiabilidade e dono de um indicador de regularidade de
cedimentos de como operar um sistema de grande capacidade. dar inveja: 96,7%. Ou seja, você sabe que o metrô vai chegar e
Esses grupos foram se especializando e, anos depois, foram que vai chegar na hora!
responsáveis por treinar equipes e auxiliar na implantação de Por essa razão, enquanto você se desloca dentro dos trens
diversos outros sistemas no Brasil e na América Latina, como o do metrô, uma equipe de funcionários, trabalha e discute as
Trem Metropolitano de Porto Alegre; o Metrô do Rio de Janei- melhores oportunidades de evolução, extensão de rotas, novas
ro; o Metrô de Recife; o Metrô de Belo Horizonte; o Metrô de linhas e tecnologias, tudo para melhorar o serviço que hoje já
Brasília, na Capital Federal; o Metrô de Caracas, na Venezuela, é prestado com maestria e levá-lo mais longe, para que mais
dentre tantos outros. pessoas possam usufruir dessas vantagens.
Por meio de um intenso processo de treinamento e capacita- O Metrô de São Paulo continua crescendo, sendo que atu-
ção, muitas vezes realizados internacionalmente, a expertise dos almente está expandindo duas de suas linhas e construindo ou-
profissionais do Metrô só cresceu ao longo dos anos e fez com tras duas totalmente novas. Ainda, está em fase de projeto duas
que a empresa estivesse sempre antenada com as melhores tecno- novas linhas, a expansão de várias outras, enfim, tornar-se uma
logias de cada época, trazendo inovações que contribuíram para das maiores redes de metrô do mundo, colocando mais trilhos e
a segurança e rapidez do sistema metroviário dos paulistanos. estações à disposição dos moradores da cidade.
No início da operação, o Metrô de São Paulo foi o primeiro É um metrô que não para, que evolui a cada dia, trazendo
no mundo a utilizar-se de tecnologia para uma operação com- o que há de melhor em inovação e tecnologia para o bem-estar
pletamente automática, o primeiro no Brasil a ter escadas ro- do passageiro de toda a região metropolitana. É um orgulho
lantes para facilitar a movimentação nas estações e permitir o dos paulistanos e uma referência para o Brasil e para o mundo.
acesso às estações por meio de bilhetes magnéticos. Além disso,
na construção da Linha 1-Azul, foi empregada a máquina Shield, * Roberta Marchesi é diretora executiva da Associação
conhecida como tatuzão, jamais antes utilizada em zona urbana. Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre
Mais recentemente, o Metrô de São Paulo foi o primeiro da Trilhos (ANPTrilhos), graduada e Mestre em Economia,
América Latina a ter uma estação equipada com portas de pla- com pós-graduações nas áreas de Planejamento, Or-
taforma, garantindo maior segurança para todos os passagei- çamento, Gestão, Mobilidade e Logística e certificação
ros. Também foi o pioneiro na utilização de um sistema de con- internacional em Gestão de Transportes Ferroviários e
trole de movimentação de trens que proporciona o aumento das Metroferroviários
velocidades comerciais e reduz o tempo de espera nas estações. E-mail: contato@anptrilhos.org.br
COMSA CORPORACIÓN
DIVULGAÇÃO
empresa brasileira de engenharia
Tiisa Infraestrutura e Investimentos,
concluiu em julho de 2021 as obras de
construção da segunda fase da Linha
4-Amarela do Metrô de São Paulo
(Brasil), uma das mais importantes
obras de infraestrutura na capital
nos últimos anos para melhorar
substancialmente a mobilidade dos
habitantes da cidade e que entraram
em serviço em dezembro de 2021.
O projeto para a segunda fase da
Linha 4-Amarela do Metrô de São
Paulo consistiu na construção de
dois novos quilômetros de túnel, o
comissionamento de quatro novas
estações, três poços de saída de
emergência e a execução de um
terminal rodoviário urbano.
Assim, a COMSA concluiu as obras
civis das estações Higienópolis-
Mackenzie, Oscar Freire, São
Paulo-Morumbi e Vila Sônia, além
de construir um trevo-terminal de
Túnel de Via Duplo - com revestimento
ônibus urbano anexo à estação Vila
secundário em concreto projetado
Sônia e completar o trecho que liga
Butantã e Vila Sônia.
DIVULGAÇÃO
A Linha 4-Amarela do Metrô de
São Paulo, que com essa expansão
tem extensão total de 12,8 km e 11
estações, liga o centro ao sudoeste
da cidade, atendendo mais de 1,7
milhão de passageiros por dia.
As obras da Linha 4-Amarela
d o M e t r ô d e S ã o Pa u l o f o ra m
adjudicadas à COMSA e à Tiisa em
2016 por 858,7 milhões de reais
(235 milhões de euros), entre dez
propostas apresentadas.
O empreendimento teve grandes
desafios de Engenharia durante
sua execução como mudanças de
projetos e metodologias durante sua
execução, destacando:
- Execução de Poço adicional para
viabilização do empreendimento Complexo Estação Vila Sônia – Linha
com liberação de três frentes de 4-Amarela – Metrô-SP
16
16 BRASILENGENHARIA
BRASILENGENHARIA 06/2022
06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM
WWW.BRASILENGENHARIA.COM
ataque para escavação dos túneis
DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
VIBTECH INDUSTRIAL
ZF
DIVULGAÇÃO
MÁQUINA FABRICADA NA CHINA VAI
ESCAVAR OS TÚNEIS DA AMPLIAÇÃO
DA LINHA 2-VERDE
O Metrô encomendou a máquina através do Consórcio Linha
Shield para construir os túneis da 2-Verde (contratado pelo
ampliação da Linha 2-Verde, entre Vila Metrô). O equipamento
Prudente e Penha. O tatuzão, como é terá aproximadamente 100
conhecido, será fabricado na China, metros de comprimento,
chegará ao Brasil em meados de 2023 com roda de corte de 11,65 metros de medida do túnel que será construído,
para ser montado e iniciar os trabalhos diâmetro – maior que as rodas de corte que vai ter cerca de 12m de diâmetro
na região da Vila Formosa. usadas pelo Metrô na construção das ao longo dos cerca de 8km de extensão
A t u n e l a d o ra f o i a d q u i r i d a d a linhas 4-Amarela e 5-Lilás, que tinham entre o VSE Falchi Gianini (após a
empresa China Railway Engineering 9,41m e 10,58m respectivamente. Esse Estação Vila Prudente) e a Estação
Equipament Group Co. - CREG, tamanho da roda de corte determina a Penha.
THALES
DIVULGAÇÃO
AÉREO NO MUNDO PARA OPERAÇÃO NO BRASIL
Em junho deste ano, a Thales celebra a digitais, os radares primários e secundários
excepcional marca de entrega global de da Thales desempenham um papel vital
1.000 radares de vigilância de tráfego aéreo. na vigilância do espaço aéreo em todo o
Essa milésima referência corresponde a um mundo, assegurando de forma ininterrupta
Radar de Vigilância Primária LP23SST NG, as informações de posicionamento das
montado em conjunto com um Radar de aeronaves.
Vigilância Secundária RSM970S, entregues Com 50 anos de experiência em controle
para o Departamento de Controle do e vigilância do espaço aéreo, a Thales
Espaço Aéreo do Brasil (DECEA). oferece a maior base instalada de radares
Reconhecidos pela confiabilidade do mundo, com 1.000 equipamentos
excepcional, desempenho inigualável e entregues a mais de 100 países espalhados
o que há de mais moderno em inovações pelos 5 continentes.
www.brasilengenharia.com
20 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM
PORTAL BRASIL ENGENHARIA
STM/SP: UM EXEMPLO DE
EXCELÊNCIA EM SERVIÇOS E DE
ATUAÇÃO EM PROL DA POPULAÇÃO
DE SÃO PAULO
Uma obra de Metrô é um empreendimento de grande
porte e de longa duração que não pode ser concluído em
apenas uma gestão de governo
E
m função da gigantes- grande vitória conquistada por meio do monotrilho da Linha 15-Prata do
ca complexidade que de uma atuação muito forte da STM/ Metrô e da CPTM, além de dar início
diariamente se apre- SP junto aos órgãos estatais, em par- às obras de ampliação desta, que de-
senta ao trabalho exe- ticular Procuradoria Geral do Estado, verão ser concluídas em 2025, perío-
cutado pela Secretaria a PGE. Hoje, a obra está a todo o va- do em que também está contratando
de Transportes Metropolitanos de São por, com um ritmo muito bom, geran- a produção de mais duas estações na
Paulo (STM/SP), o balanço que se faz do atualmente mais de 8.000 empre- direção ao leste, ligando a Vila Pru-
dele, sem dúvida alguma, é bastante gos, número esse que deve chegar a dente à Jacu- Pêssego. Mais recente-
positivo. Embora nessa lida, natural- mais de 9.000 já nos meses de agosto mente, a STM/SP autorizou o projeto
mente, os desafios sejam titânicos, e setembro deste ano. para fazer a Linha 15-Prata chegar até
e ainda exista muita coisa a ser fei- Outra iniciativa bem-sucedida diz a Linha 10-Turquesa da CPTM, até
ta, a desenvoltura desse órgão, hoje respeito à Linha 2-Verde do Metrô/ a Estação Ipiranga. Além disso, vale
sob o comando do engenheiro Marco SP, cujas obras de extensão do trecho ressaltar as concessões realizadas nas
Antônio Assalve, têm sido vencidos entre a Vila Prudente e a Penha es- Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda,
com empenho extraordinário e exem- tavam paradas, envolvendo um con- que permitiram à ViaMobilidade rea-
plares. Nesse âmbito, todos aqueles trato de mais de 8,5 bilhões de reais, lizar pedidos de aquisição de 36 no-
apresentados pelo ex-governador que foram retomadas também em vos trens. E tão logo estes cheguem,
João Doria, bem como, agora, pelo 2019. Outra obra que estava parali- a concessionária vai devolver os trens
governador Rodrigo Garcia, foram sada era a da Linha 7-Rubi, da Com- que foram a ela emprestados pela
enfrentados com muita eficiência panhia Paulista de Trens Metropoli- CPTM, gerando ainda recursos para
e vontade no que tange, em termos tanos de São Paulo, a CPTM. A STM/ serem investidos por elas em suas de-
práticos, às soluções encontradas SP rescindiu o contrato dela, realizou mais cinco linhas.
para que, efetivamente, as maiores duas licitações, e, embora tenha ha- Em outras palavras, com tudo isso
intervenções no estado de São Paulo vido atraso, conseguiu avançar no também que a Secretaria vai conse-
tivessem continuidade. processo de regularização. Tanto é guir gerar não só uma melhoria nas
E exemplos que comprovam essa assim que, hoje, já existe o primeiro linhas concedidas, como também ob-
performance não faltam. Fazendo um protótipo de trem produzido na Chi- ter investimentos mais maciços nas
retrospecto, o primeiro deles é o da na, país para o qual serão enviados os linhas já em operação. Só para se ter
Linha 6-Laranja do Metrô – que vai engenheiros do Metrô, para realizar uma ideia das vantagens do proces-
ligar a região noroeste da cidade de os testes finais e liberar a produção sos de concessão feitos pelo estado de
São Paulo (Brasilândia) ao centro (São de demais trens por lá. São Paulo, com os 36 trens das linhas
Joaquim) –, cujo novo contrato, no 8-Diamante e 9-Esmeralda adquiridos
valor de 15 bilhões de reais, precisou MELHORIA CONSTANTE pela ViaMobilidade, mais os 26 trens
de muito esforço e muita criatividade E não para por aí, Ao longo dos adquiridos para a Linha 6-Laranja,
da parte da Secretaria para ser con- últimos anos, a Secretaria entregou foram, na prática, suficientes para
cluído. Sem dúvida alguma, foi uma nada menos do que cinco estações revitalizar e reimplantar a indústria
somada ao não menos imenso respei- adquiridos pela ViaMobilidade não teria Ainda com relação aos estudos,
to alimentado por ele pela iniciati- sido possível pelo processo normal da a Secretaria também vem avançando
va privada. Trata-se de um histórico CPTM, considerando até o prazo maior com aqueles da Linha 20-Rosa, que
muito favorável e muito reconhecido e necessário para a contratação. Assim, atualmente visa a conectar Santo An-
pela competência em realizar esses não restam dúvidas de que dinheiro vin- dré com a região da Lapa. Trata-se
processos com seriedade e com aten- do da iniciativa privada para o sistema de um projeto bastante inovador que
ção aos compromissos estabelecidos de transportes de São Paulo consegue está sendo cogitado pelo Metrô, e que
nos contratos assinados. antecipar a qualidade de vida do cida- deverá ser implementado com tudo o
E não haveria como ser diferen- dão de São Paulo. que há de mais moderno em termos
te, porque o respeito aos contratos Mas, é claro que, embora os pro- de conceitos técnicos de operação.
foi absolutamente fundamental, por cessos de concessões em sistemas E outro projeto que também está em
exemplo, para a realização dos robus- metroferroviários guardem, até em fase adiantada de estudos é o da Li-
tos investimentos que foram e ainda termos de amadurecimento, alguma nha 19-Celeste, que será a primeira
serão feitos pela iniciativa privada semelhança com aqueles das con- linha de metrô a atender ao município
nas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, cessões rodoviárias, trata-se de ini- de Guarulhos, em esquema de suporte
cujo total gira em torno dos R$ 4 bi- ciativas muito diferentes, porque, no à Linha 13-Jade do sistema ferroviá-
lhões. Com efeito, a mobilidade urba- caso dos primeiros, é preciso consi- rio suburbano, que já atende aquela
na no estado de São Paulo necessita derar aspectos tais como a tarifa e a cidade desde 2018.
– e muito – da participação da ini- presença dos passageiros. Em outras
ciativa privada, para poder avançar e palavras, a lógica financeira é ou- TRENS INTERCIDADES
prestar um bom serviço à população. tra, e o investimento também é ou- Além de todos esses, outros plane-
Nesse sentido, o Metrô tem estudos tro por conta de tais especificidades. jamentos importantes estão no radar
para duplicar sua rede em 20 anos. da Secretaria de Transportes de São
Só que isso vai depender dos avan- ESTUDOS EM ANDAMENTO Paulo. É o caso do Plano Integrado de
ços da capacidade financeira. Assim, Ainda falando das concessões, Mobilidade Urbana da Região Metro-
contar com iniciativa privada fazendo merecem destaque os trâmites para o politana de São Paulo para até 2040,
investimentos adicionais, também é projeto de extensão da Linha 5-Lilás contando com a participação de todos
uma garantia de prestação de servi- do Metrô. A extensão da Linha 5-Lilás os municípios do estado, de diversas
ços qualidade. até o Jardim Ângela é um projeto desa- universidades e de entidades civis.
Atualmente, os in- fiador que já está em Com relação ao Trem Intercidades, o
vestimentos em trans-
porte que vem sendo
Vale ressaltar elaboração, e deve
ser contratado com
TIC, a STM/SP recebeu recentemente
a excelente notícia da aprovação fei-
realizados por ela or- as concessões a participação da ini- ta pelo Tribunal de Contas da União
bitam cifras gigan- ciativa privada, o que (TCU) da segregação de carga, com a
tescas. Por exemplo, realizadas nas deve acontecer tam- prorrogação antecipada do contrato
a Linha 6-Laranja do
Metrô conta com nada
linhas 8-Diamante bém com a amplia-
ção dessa linha até
de concessão da Ferrovia Malha Re-
gional Sudeste (MRS) até o ano de
menos do que R$ 7,5 e 9-Esmeralda, Taboão da Serra. E 2056, o que vai ajudar a viabilizar o
bilhões vindos da ini- a ideia é que a Linha TIC. A Secretaria já está trabalhando
ciativa privada. E já que permitiram 4-Amarela do Metrô há três anos e meio nesse projeto, que
nas linhas 8-Diamante
e 9-Esmeralda, serão
à ViaMobilidade também chegue ao
Taboão, rompendo,
é bastante desafiador e complexo em
termos de engenharia, porque envol-
4 bilhões de reais que realizar pedidos de assim, os limites da ve duas obras concomitantes, que de-
serão aportados por capital paulista, pro- verão ser feitas em grande parte do
ela. Então, apenas a 36 novos trens posta essa, aliás, que trecho com os trens circulando, o que
constatação desses já teve o início dos irá requerer uma estratégia muito so-
valores, além de já dar uma ideia do estudos autorizado pelo governador fisticada a ser feita tanto pela MRS
montante, são suficientes também para Rodrigo Garcia. Mas, naturalmente, quanto pela equipe da Secretaria e da
deixar claro que, com os recursos da a contratação da concessionária, em CPTM. E a boa notícia também é que,
iniciativa privada, o volume dos investi- função de todos os ajustes para ma- até o final de 2022, o edital do TIC
mentos dela inegavelmente conseguem terializá-la não conseguirão ser feitos deverá ser apresentado.
acelerar o processo de oferta de servi- na atual gestão, o que não contrasta, Segundo os planos da STM, o
ços melhores para o cidadão. Sem esses de maneira alguma, com o desejo da projeto do Trem Intercidades deverá
recursos, a citada compra dos 36 trens STM/SP de deixá-la bem encaminhada chegar até Campinas e Jundiaí com as
das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda para o próximo governo. linhas 19-Celeste e 20-Rosa. Na ver-
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BRASILENGENHARIA 06/2022 25
BRASIL ENGENHARIA I
P
ara Silvani Pereira, 2019 ocupou importantes cargos públicos e na nosso público, que tem pessoas com muito
foi o ano de retomada das iniciativa privada, como secretário-execu- ou pouco acesso à equipamentos culturais.
obras, 2020, o ano do desa- tivo do Ministério das Cidades, secretário Para essas pessoas, nós procuramos colo-
fio em virtude da pandemia nacional de Políticas Públicas do Ministério car em seu caminho diário um pouco de
de Covid-19 e 2021, o ano do Trabalho, entre outros. leveza com arte, com exposições e orien-
da renovação e das entregas. “De forma tações também. Para 2022, nós prevemos
inédita, conseguimos iniciar e concluir uma – Na sua avaliação, qual o impacto ampliar as ações culturais, além de seguir
estação em uma mesma gestão, que foi a do Metrô em São Paulo, além da mobi- com nosso projeto de restauração de obras
Jardim Colonial, construída em pouco mais lidade? Ele tem uma função social tam- do acervo permanente, cuidando com mui-
de dois anos. Também retomamos a am- bém, não é? to carinho desse patrimônio cultural que é
pliação da Linha 2-Verde até Penha e atual- “O impacto do Metrô na mobilidade é da população de São Paulo.”
mente estamos com 16 frentes de trabalho”. algo já consolidado e inquestionável. Fazer
Ele ainda relaciona, entre os desafios o transporte de milhões de pessoas todos – O Metrô de São Paulo é uma refe-
iniciados e a serem concluídos em sua ges- os dias com segurança, rapidez e confiabi- rência, como um dos melhores cuidados
tão, a expansão da Linha 15-Prata até Jacu- lidade ao longo de décadas torna o Metrô no mundo, com alta tecnologia, mas
-Pêssego, o processo de aquisição de novos fundamental para São Paulo. Mas não se considerado muito lotado e pequeno
trens, modernizando os sistemas de sinali- resume a isso. O Metrô virou uma marca de (em abrangência) se comparado a ou-
zação e controle dos trens das linhas 1-Azul São Paulo por seu vasto incentivo à cultura. tros sistemas, como o do México, e à de-
e 3-Vermelha. Você passa pelas estações e vê obras de arte manda. Qual sua avaliação sobre essas
A atual gestão do Metrô de São Paulo do acervo permanente ou exposições que considerações? Como ampliar as linhas
também inovou com o primeiro projeto de estão em uma agenda semanal com novida- com maior velocidade?
Namimg Rights no transporte público. Este é des. Temos também o compromisso social, “Primeiro, nós temos que pensar em
um projeto de renomeação de estações, por com parcerias para ofertar em nossas esta- uma rede. As quatro linhas operadas pelo
meio de licitação, e é uma das maneiras de ções para ações de saúde e campanhas in- Metrô estão em uma rede com outras nove
injetar recursos financeiros não tarifários na formativas e de orientação. Isso é o Metrô: linhas, entre metrô e trem urbano, que
companhia, que acumula prejuízo bilionário um local de apropriação da população que chegam a 377 km de extensão e alcançam
em 2020 e 2021. Das seis estações licitadas, não se resume ao transporte. Nós também 23 diferentes municípios. O passageiro
duas foram cedidas, Carrão e Saúde. somos responsáveis por gerar um benefício paga uma passagem única de 4,40 reais e
Para este ano, o diretor-presidente do social que equivale a 8,6 bilhões de reais, tem acesso a toda essa rede com transpor-
Metrô informa que vai realizar novas licita- graças ao funcionamento da nossa rede te rápido que, inclusive, transpõe a região
ções, como a da expansão da Linha 15-Prata que evita acidentes e gastos em saúde, não metropolitana. Pensando somente na rede
até o Ipiranga e da compra de 44 novos trens polui e proporciona viagens rápidas, evi- de metrô, já avançamos os 100 km de ex-
que vão para a ampliação da Linha 2-Verde e tando também congestionamentos.” tensão e estamos melhorando os processos
para reforçar as linhas 1-Azul e 3-Vermelha. construtivos. Vamos pegar a Estação Jar-
“Inclusive, recentemente, demos um impor- – Em comparação a outros metrôs dim Colonial como exemplo, onde começa-
tante passo nessa direção com a realização no mundo, o Metrô de São Paulo tam- mos e concluímos a estação em um mesmo
da audiência pública. Também trabalhamos bém consegue ter a função de fomentar mandato, com pouco mais de dois anos.
para contratar as obras civis e sistemas do a cultura? Quais as principais barreiras? Isso é inédito e nos mostra um caminho.
novo túnel de ligação entre as estações O que está previsto nessa linha para Em outra frente, nós trabalhamos para tra-
Consolação (Linha 2-Verde) e Paulista (Li- 2022? zer novos modelos de financiamento para
nha 4-Amarela)”, informou. “Para nós, é importante proporcionar novas linhas. Estamos elaborando o Finan-
Leia a seguir, a entrevista completa ao passageiro uma boa experiência de via- cial Advisory, que vai buscar o melhor mode-
com Silvani Pereira, que também preside o gem e oferecer cultura é parte disso. O in- lo econômico para atração de capital para
Conselho de Administração da Companhia centivo à cultura já está na raiz do Metrô. E construir a Linha 20-Rosa, que vai ligar o
Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e já nós sabemos muito bem da diversidade de ABC à capital. Para a Linha 19-Celeste, que
FOTOS: ANDRÉ SIQUEIRA
– Quando o senhor assumiu a pre- clusão da Linha 17-Ouro, que foi retomada nhada de um amplo projeto paisagístico
sidência, apontou a modernização do após nossa intervenção para rescisão de que revitalizou as regiões e que tem or-
sistema, a melhoria das operações e a contratos, e a ampliação da Linha 15-Prata çamento de implantação inferior ao metrô
segurança como principais desafios. que está começando.” convencional subterrâneo.”
Quais os obstáculos? O que foi feito
nesses três anos? – Qual sua avaliação sobre o proje- – Como o senhor avalia esses três
“Fizemos muito nesses três anos e va- to Naming Rights? Por que não houve anos da sua administração? Quais os
mos deixar um caminho pavimentado para mais empresas interessadas? principais desafios e conquistas?
que o Metrô prossiga melhorando. Conse- “Temos que analisar “Foram três anos mui-
guimos contratar as portas de plataforma que é um projeto inédito to intensos e produtivos.
para as estações das linhas 1-Azul, 2-Verde em São Paulo. Não havia “Já avançamos os Se pudéssemos resumir:
e 3-Vermelha. Inclusive, já há algumas a precedentes. Por isso, fo- 100 km de extensão 2019 foi o ano da reto-
caminho do Brasil para serem instaladas. mos ao mercado com uma mada de todas as obras;
Instalamos portas de plataforma em todas consultoria para analisar e estamos 2020 tivemos o desafio de
as estações da Linha 5-Lilás, inclusive nas o potencial das estações. melhorando superação durante a pan-
estações mais antigas. Colocamos a versão Mas, é importante saber demia; e 2021 foi o ano
final do CBTC na Linha 2-Verde e já estamos que é algo novo ao mer- processos da inovação e entregas.
na etapa de testes desse sistema nas linhas cado também. Então, lan- construtivos” De forma inédita conse-
1-Azul e 3-Vermelha. No caminho da çamos um lote inicial com guimos iniciar e concluir
segurança, compramos BodyCams, que são poucas estações e fomos uma estação em uma
as câmeras nos uniformes, para ampliar a bem-sucedidos na parceria das marcas com mesma gestão, que foi a Jardim Colonial,
transparência na atuação dos agentes de as estações Carrão e Saúde. Já é um cami- construída em pouco mais de dois anos.
segurança. Estamos avançando com a mo- nho e vamos aperfeiçoando.” Também retomamos a ampliação da Linha
dernização do nosso sistema de monitora- 2-Verde até Penha e atualmente estamos
mento eletrônico, que chamamos de SME3, – O monotrilho não é uma unanimi- com 16 frentes de trabalho. No período da
um produto avançado que vai prover su- dade entre passageiros e especialistas. pandemia, enfrentamos a crise com todos
porte operacional através das câmeras que Qual a sua avaliação? Por que é a me- os nossos recursos e competência, criando
poderão gerar alertas, como em casos de lhor opção nos locais onde está sendo protocolos de higiene e limpeza. Também
entrada de passageiros na via. Já coloca- implantado? fomos os pioneiros na obrigatoriedade do
mos quase 500 novas câmeras do SME3 “A Linha 15-Prata foi muito bem acei- uso de máscara. Saímos na frente com
nas estações da Linha 3-Vermelha. Também ta pelos passageiros. Ela foi a linha do o primeiro projeto de Namimg Rights no
temos processos de melhorias na manuten- Metrô com a melhor avaliação na pesquisa transporte público e iniciamos a reformu-
ção, com o Sistema de Monitoramento de de satisfação superando 70% de aprova- lação de nosso sistema de monitoramento,
Ativos que vem sendo implantado gradati- ção. O que nós vemos é uma linha que com equipamentos modernos. Ainda temos
vamente e nos permite mais agilidade nas é muito importante nas regiões por onde muito trabalho e já começamos a expandir
ações preventivas.” passa e que traz economia de tempo de a Linha 15-Prata até Jacu-Pêssego, esta-
viagem de quase 40 minutos ao morador mos no processo de aquisição de novos
– Quais os principais projetos para do extremo leste para chegar ao centro, trens, modernizando os sistemas de si-
2022? Quais as principais dificuldades por exemplo. Se pegarmos o trajeto de nalização e controle dos trens das linhas
para destravá-los? ida e volta, é quase uma hora e meia de 1-Azul e 3-Vermelha, além de instalar por-
“Temos projetos que são obras muito economia todos os dias. Nós estamos fa- tas de plataforma nas estações e trabalhar
importantes para São Paulo e isso os torna lando de uma linha que atende à quan- na modernização do Centro de Controle
desafiadores por natureza. Temos a obra tidade prevista de passageiros, seguindo Operacional. Os desafios são muitos, mas é
da ampliação da Linha 2-Verde para seguir, os estudos de demanda. Ela já tem quase com muito trabalho que encontramos ma-
que está caminhando muito bem, a con- 15 km de extensão construídos, acompa- neiras de vencê-los.”
FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ
ADMINISTRANDO RE
GESTÃO CADA VEZ
FOTO: MÁRCIA ALVES/METRÔ SP
Notadamente em função dos impactos da pandemia e mobilidade das pessoas. E some-se a isso o fato de
da COVID, os anos de 2020 e 2021 foram muito que muita gente, inclusive, teve sua rotina de trabalho
complicados para a economia e para as finanças das totalmente modificada, pela obrigatoriedade
empresas de modo geral. E o setor de Transportes, de adoção do sistema de home office.
seguramente, deve ter sido um dos mais afetados Em face a essa situação extraordinária, como não
por eles, dadas as restrições que precisaram ser poderia ser diferente, os resultados financeiros do
impostas pelas autoridades sanitárias, principalmente Metrô de São Paulo foram intensamente afetados
aquelas relacionadas à dinâmica de movimentação no período. Como consequência dela, a companhia
apurou uma redução significativa da arrecadação menor em 49,6%. Já em 2020, foram transportados
não só dos serviços de transporte, como também da 554 milhões de passageiros, enquanto em 2019
receita não tarifária, chegando a registrar um “tombo” foram transportados 1,1 bilhão de usuários. A
nesses negócios da ordem de aproximadamente média de passageiros transportados em dias úteis
80%, quando comparado com o cenário antes foi de 1,84 milhão em 2020, e de 3,69 milhões
da deflagração da situação de pandemia. em 2019, apresentando redução de 50,1%.
No comparativo entre 2019 x 2020, o volume de Assim, o impacto total na receita correspondeu
passageiros transportados na rede em 2020 foi a uma queda de 1,4 bilhão de reais.
• C alhau ou foto
FOTO: MÁRCIA ALVES/METRÔ SP
amortização), apre- a receita tarifária levar a níveis ideais a dinâmica desses ce-
sentada no Relatório é responsável por nários, a Companhia do Metropolitano de
Integrado 2021 do 86% da receita total São Paulo vem executando ações paralelas
Metrô/SP. da companhia. As- para manter seu equilíbrio econômico-fi-
Entretanto, em sim, ainda segundo nanceiro.
2021, o documento Silvani, tomando-se E a movimentação nesse sentido está
também deu conta como referência os sendo feita de múltiplas formas, como, por
de uma recuperação custos atuais e con- exemplo, por meio da adoção do teletraba-
de 34% em relação a siderando o cenário lho permanente para alguns de seus seto-
2020, o que reforça de demanda espera- res administrativos, e a entrega de imóveis
ainda mais a questão da, o equilíbrio ideal corporativos, bem como a venda de alguns
de que, embora ela seria obtido através deles com finalidade administrativa ou em
tenha sido significa- de um mix de 70% áreas remanescentes não utilizadas pela
tiva, ela ainda não de receita tarifária e empresa. Outra medida, ainda é o Plano de
foi suficiente para a 30% de receita não Demissão Incentivada (PDI), a ser executa-
conquista do equi- tarifária. “Nesse sen- do ao longo de 2022.
líbrio econômico- Silvani Alves Pereira, diretor-presidente da tido, considerando as Para intensificar as ações que visam ao
-financeiro da com- Companhia do Metropolitano de São Paulo limitações em relação incremento de receitas não tarifárias, tais
como as áreas comerciais das linhas 1-Azul, para inspeção e manutenção preventiva nas VIA), em seu Data Factory, e ainda em sua
2-Verde e 3-Vermelha, outras medidas que vias por onde circulam os trens. Somado a Análise e Ciência de Dados e no Sistema de
estão sendo implementadas são o sistema ele, instituímos e estamos avançando tam- Gestão de Contratos.
de Naming Rights de algumas estações, bém no Programa Laboratório de Ideias, o “Nesse sentido vale muito ressaltar tam-
juntamente com a concessão de área bruta PLIM, para a seleção e desenvolvimento de bém o desenvolvimento de ações como os
locável delas, e, ainda, a criação do Obser- ideias inovadoras relacionadas a diversos Termos de Cooperação Técnica, para forma-
vatório Metropolitano de Mobilidade Urba- temas propostos. Em 2021, o tema foi a Re- lizar e acelerar a conexão, o fornecimento, a
na, cujo primeiro passo para sua concepção dução de Custos e Aumento de Receitas”, troca e/ou a transferência de conhecimen-
e efetiva materialização de modo colabora- elenca Silvani. to, espaços, experiências entre o Metrô e as
tivo já foi realizado com o “Workshop de Com objetivos ainda com foco na ino- instituições de pesquisa, de ensino, cien-
Kick-off”, que contou com a presença de vação, outra inciativa foi a formatação do tíficas, de extensão e de tecnologia, como
importantes players do setor. Squad de Contratação Pública de Inovação, aqueles que temos elaborado com a Facul-
um grupo multidisciplinar formado pelas dade de Engenharia Industrial (FEI) – hoje
PORQUE INOVAR É PRECISO - Mas, se- áreas de Compras e Jurídica do Metrô/SP, Centro Universitário FEI –, com a Fundação
gundo informa o presidente do Metrô/ que tem por objetivos atualizar a forma de Instituto de Administração da Universidade
SP, não é “só tudo isso”. “Realizamos uma funcionamento do Regulamento de Contra- de São Paulo (FIA/USP), com o Instituto da
parceria com a Falconi, maior consultoria tações e Compras, do Relacionamento com Mobilidade e dos Transportes (IMT), com o
brasileira de gestão e pessoas, para de- Procuradoria Geral do Estado, e do Fórum Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), e
senvolver e vender soluções de mobilidade Econômico Mundial, com a criação de Vi- com o INOVA Unicamp. Isso tudo, sem falar
urbana no país. Além disso, desde 2021, sual Law sobre Encomenda Tecnológica. do Open Metro Festival 2021, evento que
estamos avançando na elaboração do Siste- No âmbito da Transformação Digital, a realizamos para trazer elementos de inova-
ma de Monitoramento de Via Permanente atual gestão da companhia vem envidando ção e apresentação de ideias, com participa-
(SVMP). Trata-se de uma encomenda tec- significativos esforços também na moder- ção de universidades e centros de pesquisa”,
nológica para a contratação – a primeira nização de sua infraestrutura de TI, bem finaliza Silvani Alves Pereira, diretor-presi-
no setor público de mobilidade – de uma como em sua Rede Corporativa de Comuni- dente da Companhia do Metropolitano de
solução com o uso da Inteligência Artificial cação de Dados de Alta Velocidade (INFO- São Paulo, bastante animado.
FOTO: DIVULGAÇÃO
VICENTE ABATE*
A Companhia do Metropolitano de pansão de suas linhas. Suas entregas, até
São Paulo – Metrô, nasceu em 24 de abril 2014, representavam 1,6km por ano. A
de 1968 e iniciou suas operações em 14 partir de então, passou a 4,3km por ano,
de setembro de 1974. Lá se vão mais de um aumento de mais de 2,5 vezes. Atual-
50 anos, desde sua inauguração, tempo mente, encontram-se em execução 21km
que reflete toda a sua tradição como uma de obras nas linhas 2-Verde, 15-Prata e
das mais respeitadas instituições paulis- 17-Ouro e projetos em desenvolvimento,
tanas e globais. desde funcionais até básicos e executivos,
Aliando excelência tecnológica, ope- em outros 117km, que também incluem ino- de 12% para 21% do total das receitas,
racional e de engenharia a índices de vações tecnológicas, construídas por grupos entre 2019 e 2021. Esta é uma prática
padrão mundial de segurança, conforto, de trabalho matricial criados para projetar mundial, também adotada pelo Metrô-SP,
rapidez, regularidade e pleno atendimen- novas linhas. Trata-se de trabalho pioneiro, com tendência de crescimento. Outro fa-
to ao meio ambiente, o Metrô-SP sempre como a aquisição de uma mega tunelado- tor deste crescimento são os serviços ofe-
cumpriu com sua missão de bem trans- ra de 14 metros de diâmetro, que permitirá recidos pela Metrô Consulting, que presta
portar nossa gente. Pesquisas de satisfa- obter uma operação mais rápida do carros- consultoria e treinamento para metrôs,
ção com seus usuários trazem números sel, o aumento do limite de rampa, de 4% no Brasil e no exterior.
eloquentes, na casa dos 90%. para 5%, a instalação de elevadores de alta A indústria ferroviária brasileira re-
Criar inovações tecnológicas sempre capacidade em estações mais profundas conhece a extrema importância do Metrô-
fez parte do DNA do Metrô-SP. O Metro- e, ainda, de miniusinas fotovoltaicas, que -SP e de sua valorosa equipe. Sempre
Lab – Laboratório de Inovação, idealizado proporcionarão fornecimento de 100% da estivemos presentes em suas atividades,
em parceria com a Unimetro, universi- energia utilizada nas estações. fornecendo produtos e serviços inovado-
dade corporativa da empresa, é um bom Após o auge da pandemia, em que a de- res para a via permanente, sistemas de
exemplo. Seus colaboradores desenvolvem manda de transporte foi reduzida em mais sinalização e eletrificação, trens e compo-
melhorias de processos e serviços em to- de 80%, o Metrô-SP retomou seu ritmo de nentes, com o objetivo de oferecer produti-
das as áreas da companhia, através de transporte quase que aos níveis anteriores vidade ao Metrô-SP e, consequentemente,
seus próprios laboratórios ou em parce- à pandemia. Suas receitas convencionais, competitividade em suas operações.
rias com universidades, parques tecnoló- que haviam sido reduzidas, contaram com
gicos, empresas e startups. o suporte do Estado e, ainda, com o aumen- * Vicente Abate é presidente da Associação
O Metrô-SP está em constante ex- to das receitas não tarifárias, que subiram Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer)
U
ma das marcas presentes no DNA Nesta entrevista exclusiva à revista “Sem dúvida, continuam sendo
da Companhia do Metropolita- BRASIL ENGENHARIA, Paulo Sérgio enormes. Claro, hoje temos a experiên-
no de São Paulo ao longo dos Amalfi Meca, diretor de Engenharia e cia de já ter concebido e implantado vá-
seus 54 de fundação, completados em Planejamento do Metrô/SP, conta um rias linhas, mas trata-se de uma questão
abril último, e 48 de efetiva operação pouco dessa emocionante história de que envolve muitos conceitos de abor-
comercial, que serão comemorados em conquistas e de vitórias, muitas de- dagem profunda. Objetivamente, temos
setembro de 2022, sempre foi, sem dú- las ainda em ritmo de andamento, mas que conciliar todos os interesses em
vida alguma, o competente trabalho re- todas sempre marcadas pela inovação uma boa proposta, de forma a torná-la
alizado pelas suas áreas de Engenharia e e pela evolução constante, proporcio- útil, atraente e sustentável.”
Planejamento. nadas pelo uso dos mais avançados
Partindo praticamente do zero, e recursos de modernização da tecnolo- Por favor, explique melhor o funcio-
sem arquétipos à época no território gia, da engenharia e do planejamento. namento dessa tríade?
brasileiro, foram elas que, efetivamente, Porque São Paulo não pode parar: e o “A proposta tem que ter um viés de
e vencendo todos os desafios, deram os Metrô/SP também não. utilidade porque a finalidade primordial
primeiros passos na bem-sucedida traje- de qualquer projeto é a de transportar
tória do gigante dos transportes urbanos BRASIL ENGENHARIA - Paulo, vol- passageiros. Então, ela tem que ser pen-
que é o Metrô de São tando ao final da dé- sada no sentido de melhorar o conforto
FOTO: LEONARDO MOREIRA
LEVANDO A
CONSTRUÇÃO
A UM NOVO
— THE STUTSMAN FAMILY, STUTSMAN INC
PATAMAR.
14 A 18 DE MARÇO / 2023 / LAS VEGAS / NEVADA
1.800 expositores
“De várias formas. Elas são capazes, Anhangabaú e São Bento (ambas se in- na sua capacidade. Os trens da Linha
por exemplo, de testar uma grande va- tegrarão com a Linha 19-Celeste), mais 15-Prata são compostos por sete carros,
riedade de alternativas em um tempo uma inovação está sendo aplicada pelas com capacidade para 1.002 passageiros,
bastante reduzido, comparando-as a áreas de projeto do Metrô, que é o le- enquanto os trens da Linha 17-Ouro pos-
partir de coeficientes pré-estabelecidos, vantamento de as built, com a utilização suem capacidade para 650 passageiros.
obtendo com isso so- de scanners a laser.” Objetivamente, os trens da Linha 17-
luções bastante otimi- Ouro incorporam um novo desenvolvi-
zadas no traçado das
“Não podemos Como isso vai fun- mento tecnológico, que permite o arma-
linhas, na localização deixar de citar os cionar exatamente? zenamento de eletricidade no trem com
das estações, nas inte- “Basicamente, to- o uso de baterias, as quais garantem sua
grações, nos pátios, e avanços que a das as áreas das esta- movimentação no mínimo até a próxima
nos cálculos de viabili- ções serão escaneadas estação no caso de falta de energia.”
dade entre muitas ou-
tecnologia tem pelo equipamento,
tras coisas. Ou seja, as proporcionado na que gera uma nuvem Voltando à questão do planejamen-
ferramentas de gestão de pontos que permite to, como vem sendo feito e quais são os
do empreendimento – redução do consumo criar um modelo tri- principais desafios para o desenvolvi-
projeto, implantação de energia” dimensional em BIM mento dos projetos do Metrô/SP para a
e testes – encontram- das áreas, com uma construção de novas linhas?
-se atualmente todas precisão milimétrica, “Se eu tivesse que responder isso
integradas às modernas tecnologias de para que sejam elaborados os projetos com poucas palavras, não hesitaria em
hardware, software e tráfego de dados.” das adequações nas áreas de integração dizer: ‘Com muito trabalho, dedicação,
com as novas linhas.” competência e amor pelo resultado!’
E em termos de projetos de tecno- Essa é a combinação que move a mo-
logia, o que está no radar do Metrô/SP O Metrô anunciou recentemente o numental máquina chamada Metrô de
atualmente? primeiro trem do monotrilho da Linha São Paulo há mais de meio século. Ao
“No que se refere aos projetos, vale 17-Ouro? Quais são os diferenciais des- final de uma etapa implantada, não é
destacar a importância do uso da tec- se modelo em relação aos que estão em incomum encontrarmos colaboradores
nologia BIM (Building Information Mo- operação hoje em dia? às lágrimas e orgulhosos pela entre-
deling), que já vem sendo incorporada “Assim como o monotrilho da Li- ga, lembrando dos esforços aplicados e
pela nossa engenharia e arquitetura aos nha 15-Prata, o da Linha 17-Ouro, além inerentes à atividade, mas simultanea-
novos projetos de expansão do Metrô. de incorporar a sinalização e os trens mente ávidos para mergulhar em novos
Diversos modelos de estações, venti- no padrão UTO (Unattended Train Ope- desafios, que imediatamente passarão a
lações, saídas de emergência e túneis ration) está projetado para operar em parte de suas vidas. Mas, claro, essa não
de acesso foram elaborados em BIM, e condições idênticas às demais linhas é uma missão simples, pois uma nova li-
incluídos nas novas licitações para que do Metrô. Toda tecnologia disponível nha consome por volta de dez anos para
sejam utilizados pelas empresas pro- para operação de trens foi aplicada nos ser concebida, projetada e implantada,
jetistas. Os projetos básicos da Linha dois projetos. E o nível de satisfação atravessando, ao longo desse caminho,
19-Celeste, por exemplo, estão sendo dos usuários da Linha 15-Prata é prova permanentes alterações normativas téc-
totalmente desenvolvidos com a utili- incontestável do sucesso desse modal, nicas, ambientais, de uso e ocupação do
zação do BIM e de softwares de colabo- que escolhemos para garantir a viabi- solo e administrativas, e, por vezes, em
ração. E, para facilitar a elaboração de lidade adequada ao projeto proposto.” meio a crises regionais ou mundiais. E,
projetos nas estações cuja integração se ainda assim, a gente não admite que o
fará com estações já existentes – como Mas há diferenças entre os trens que único desfecho seja o sucesso. No fun-
é o caso de São Joaquim (integração vão operar nessas duas linhas? do, sabemos que a partir de um bom
com a Linha 6-Laranja), e das estações “Uma das diferenças entre eles é projeto, e sem perder a disposição, qual-
FOTO: MÁRCIA ALVES/METRÔ SP
quer desafio poderá e será vencido.” acreditando que isso estará relativa- pico, o que tem potencial para melhorar
mente bem delineado no 2º Semestre de a relação oferta/ demanda, proporcio-
Falando em desafios, aqueles trazi- 2023, desde que novas ondas dessa ou nando maior atratividade para novos
dos pela pandemia da COVID-19 na Re- de outras doenças não ocorram. Nesse usuários, o que, por sua vez, é positivo
gião Metropolitana de São Paulo devem âmbito, cada município, ou região ad- para o transporte público.”
ter sido enormes. Que ministrativa, terá a
alterações foram ne- missão de desenhar o Em síntese, observa-se uma mudan-
cessárias para fazer a
“Além da evolução novo cenário e produ- ça significativa nos hábitos das pessoas,
“máquina” do Metrô no Sistema de zir sua nova proposta.” que pode ser definitiva, ou, pelo menos,
continuar funcionan- permanecer por muito tempo, não é?
do em termos de ope- Sinalização, houve E quais variáveis “Creio que o fato é que a pandemia
ração e de qualidade você acredita que ali- acelerou a introdução dessas mudanças
de serviço?
avanços no Material mentarão os modelos e hábitos no dia a dia das pessoas, com
“Sem dúvida al- Rodante e no de geração de deman- efeitos de curto, médio e longo prazos.
guma, é certo que a da ao longo desse pro- Então, os profissionais que lidam com
pandemia introduziu Monitoramento cesso? a mobilidade necessitarão de recursos e
alterações na vida das de Imagens” “Algumas delas são tempo para ajustar os modelos de gera-
pessoas no que diz bastante objetivas, ção de viagens. Aliás, para que seja pos-
respeito à realização como, por exemplo, a sível conhecer um pouco melhor essas
de viagens. Não estamos aqui afirman- variação do total de pessoas em traba- mudanças e os novos hábitos das pesso-
do que 100% das pessoas já tiveram ou lho ou estudo remoto, a da renda mé- as, nós aqui do Metrô estamos nos pre-
ainda terão suas rotinas diárias altera- dia das famílias e, ainda, a do nível de parando para fazer uma nova pesquisa
das, mas um número significativo de emprego. Mas, há muitos fenômenos a de ‘Origem-Destino’, que chamamos de
cidadãos de todas as localidades expe- serem avaliados, como o receio de aglo- ‘Mini OD’. Esse estudo deverá ser ini-
rimentou e continuará experimentando merações – que é negativo para o trans- ciado em 2023, antecipando em alguns
os efeitos da pandemia. Caminharemos porte público –, ou a redução no nú- anos o que, tradicionalmente, somente
para um novo equilíbrio de viagens, mero dos antigos usuários habituais de viria a ser realizado em 2027.”
A
o longo de seus 48 anos de efeti- o médio e longo prazos”, registrou ele, em barque das pessoas que eventualmente
va operação, o Metrô de São Pau- várias entrevistas. precisam de auxílio para a utilização de
lo, inegavelmente, vem sendo um E a continuidade de tais premissas são nossos serviços. Esse planejamento é ba-
exemplo e um símbolo perene de avanços ampla e perfeitamente comprovadas pela seado em pesquisas de mobilidade revisa-
tecnológicos no setor de transportes ur- atual gestão da empresa, como poderemos das periodicamente, que indicam os fluxos
banos no Brasil. Vencendo uma série de constatar ao ler esta entrevista concedida de viagem, de origem e de destino dos
obstáculos e desafios em sua história, se- com exclusividade à revista BRASIL EN- milhões de passageiros transportados atu-
guramente ele se enquadra na categoria GENHARIA pelo atual diretor de Opera- almente em nossas composições, levando
dos empreendimentos que “deram certo”, ções do Metrô de São Paulo, Milton Gioia sempre em consideração a programação
descrevendo uma trajetória de sucesso Junior. Nela, entre outras coisas, ele dá da oferta de trens durante toda a operação
operacional, com eficiência e desempenho uma visão geral do funcionamento dessa comercial.”
internacionalmente reconhecidos. área tão vital para a entrega dos serviços
E “deu certo” por vários motivos, de alta qualidade do Metrô à população de E quais os maiores desafios para o per-
como já teve oportunidade de alinhar São Paulo, bem como dos mais recentes feito funcionamento da operação no que
o consultor de transportes e engenhei- avanços na área de tecnologia implemen- diz respeito às linhas concedidas?
ro Peter Alouche – que, por 35 anos, tados em sua órbita de atuação, tais como “Bem, estes se concentram na aplica-
assumiu diversas responsabilidades o CBTC, o sistema que permite a comuni- ção de estratégias de contorno e resta-
na Companhia do cação digital bilateral belecimento do sistema quando, eventu-
FOTO: LEONARDO MOREIRA
tegra e padroniza o funcionamento das operacionais prestados aos nossos passa- ração comercial das linhas, aumentando
geiros, o que, é claro, também nos ajudar
linhas de metrô na cidade de São Paulo.” a capacidade de transporte de passagei-
a encontrar respostas para os problemas ros de forma segura. Esse sistema já foi
Embora o uso da que ainda não possuem implantado na Linha 2-Verde e, agora em
tecnologia e da co- solução adequada, o que julho, foi instalado na Linha 1-Azul, o que
nectividade tragam,
“O planejamento contribui para o aumen- deverá acontecer também na Linha 3-Ver-
obviamente, benefícios é baseado em to da sustentabilidade melha. Já a Linha 15-Prata já foi construí-
bastante evidentes para operacional e, por tabela, da com essa nova tecnologia.”
a operação do Metrô pesquisas de melhora nosso tempo de
de São Paulo, o grau de resposta às necessidades E há outras tecnologias no radar do
complexidade dela deve
mobilidade, dos usuários.” Metrô para a área de Operações?
ser enorme, porque en- revisadas “Sim. Estamos pesquisando vários
volve muitas e simultâ- Ainda falando em projetos com tecnologias dedicadas à
neas variantes. Assim, periodicamente, vantagens, quais serão operação, utilizando Inteligência Ar-
como vocês conseguem que indicam os aquelas trazidas pela in- tificial e Realidade Virtual, com o ob-
resolver tal dicotomia? trodução do novo sistema jetivo de ampliar o nosso atendimento
“Os principais de- fluxos de viagem” de controle e sinalização aos passageiros dentro da estação, por
safios atinentes a essa de trens – o CBTC, da meio de sistemas de simulação de ope-
questão estão na falta sigla em inglês (Commu- ração de equipamentos, treinamentos de
de maturidade de produtos operacionais nications-Based Train Control), já em ope- operação, análise de alarmes críticos de
que utilizam tecnologia mais avançadas. ração de forma integral em algumas linhas sistemas de controle de operação e aná-
Outro ponto extremamente complexo é do Metrô. E qual deve ser a sua expansão? lise de situações operacionais com o uso
a inclusão de novas vulnerabilidades que “Efetivamente, o Controle de Trens Ba- de imagens de câmeras, entre outros que
precisam ser tratadas no âmbito da ges- seado em Comunicação apresenta muitas estamos prospectando. E também esta-
tão da segurança cibernética operacional. vantagens. Ele permite melhor regulari- mos avançando em novas tecnologias de
Contudo, com o constante equacionamen- dade na circulação dos trens, reduzindo o proteção de segurança cibernética para
to destas, conseguimos gerar vantagens no intervalo entre eles por meio da inclusão mitigar riscos de indisponibilidade de
que diz respeito à ampliação dos serviços simultânea de mais trens durante a ope- ambientes tecnológicos complexos.”
C
ada vez mais presente na agenda porte urbano da população, como também Objetivamente, que ações atestam esse
das empresas no Brasil, a pauta da para a construção de uma realidade mais compromisso?
ESG, como não poderia ser diferen- justa e responsável para as comunidades “Ano a ano, a cultura de sustentabili-
te, está perfeitamente integrada à exper- ao seu redor de seus trajetos, e, ainda, para dade vem sendo fortalecida na Companhia
tise e à realidade do Metrô de São Paulo. promover melhores processos corporativos do Metrô de São Paulo, que inseriu no
E isso não é de hoje: na verdade, a Com- de administração, com vista à sustentabi- seu planejamento estratégico corporativo
panhia do Metropolitano tem plasmados lidade do negócio. a pauta ASGI, composta pelos temas Am-
em seu DNA, desde a sua fundação, os E novidades do Metrô/SP na ampla se- biental, Social, Governança e Integridade.
conceitos propostos pela junção das três ara da ESG não faltam na atualidade, como Como resultado, no ano de 2021, o Metrô
letras que designam a agenda da gover- você também poderá acompanhar no texto produziu a sua primeira versão do ‘Guia
nança ambiental, social e corporativa, do que vai ler nestas páginas, tais como o lan- ASGI’, que traz definições e orientações
inglês, Environmental, Social, and Corpo- çamento do “Guia ASGI”, contemplando sobre os fatores relacionados a esses te-
rate Governance. todo um acervo de orientações e práticas mas, e apresenta um histórico e as boas
Com efeito, conforme explica o diretor sustentáveis em todas as suas especialida- práticas do desenvolvimento sustentável,
de Assuntos Corporativos do Metrô de São des; a implantação da Gestão 5.0, que vem associando a companhia ao mercado e os
Paulo, Alfredo Falchi Neto, nesta entre- trazendo importantes resultados em todas seus principais avanços em tais áreas. Tra-
vista exclusiva à revista BRASIL ENGE- as áreas da companhia; e a contratação ta-se de uma declaração pública perante
NHARIA, a busca por dos serviços de Due seus colaboradores e à sociedade em geral,
FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ
soluções inovadoras Diligence, que irá am- reforçando o compromisso do Metrô com
nas três áreas des- pliar as análises pre- a excelência de tais práticas.”
critas sempre esteve ventivas dos acordos
presente na história vigentes, bem como Quais são os benefícios mais eviden-
do Metro/SP, fazendo detectar e prevenir tes desse compromisso em prol do meio
dele o protagonista distorções e ilegalida- ambiente?
de uma bem-suce- des, como fraudes e “No comparativo com os modais de
dida série de ações e atos de corrupção, a transporte movidos a combustíveis fós-
iniciativas. Tudo isso, fim de garantir a ética seis, a operação do Metrô, com a conse-
é claro, para encon- e a transparência de quente transferência de milhões de passa-
trar formas efetivas tudo o que concerne geiros por dia, traz benefícios ambientais
de minimizar os im- à atuação. Confira! relevantes, entre os quais o mais evidente
pactos de sua atua- é a redução de emissões de gases de efeito
ção no meio ambien- BRASIL ENGE- estufa (os GEEs) e de poluentes locais, tais
te, contribuindo não NHARIA - Alfredo, como o monóxido de carbono, os com-
só por seus serviços qual é o histórico, e postos orgânicos voláteis (os VOCs), os
e benefícios precípu- como o Metrô de São aldeídos, os óxidos de nitrogênio e de en-
os de atendimento às Alfredo Falchi Neto, diretor de Assuntos Paulo trata, atual- xofre, além do material particulado, que
demandas do trans- Corporativos do Metrô de São Paulo mente, as questões são responsáveis pela poluição atmosféri-
ca das cidades. Para gerenciar os impactos misso com a transparência e a integrida- Que programas atinentes a tais práticas
decorrentes da operação da rede, o Metrô de, a companhia implantou suas próprias vêm sendo atualmente desenvolvidos?
mantém o Sistema de Gestão Ambiental políticas de Governança Corporativa, de “Na área ambiental, temos o Sistema
(SGA) em conformidade com o sistema de Conformidade e de Consequências, além de de Gestão Ambiental da Rede em Opera-
gestão ambiental estabelecido pela NBR seu Código de Conduta e Integridade, com ção; o Sistema de Educação Ambiental;
ISO 14001. Assim, nossa Política Integrada treinamento obrigatório de todos os seus o desenvolvimento de ações de Educação
de Qualidade, Meio Ambiente e Segurança colaboradores. E o serviço de Due Diligence Ambiental nas Estações; e os Sistemas de
e Saúde Ocupacional define as intenções e também está em contratação, para ampliar Licenciamento e Controle Ambiental. Já
diretrizes do Metrô em relação aos temas as análises preventivas de empresas e de na área social, temos uma enorme va-
elencados. A partir dela, são estabeleci- seus representantes legais nos processos de riedade de programas e ações, entre os
dos periodicamente quais vale destacar: o
objetivos ambientais, Programa de Teletra-
que, por sua vez, são balho; o Programa de
desdobrados em metas Satisfação dos Empre-
e programas, de for- gados; programas so-
ma a promover conti- ciais voltados a empre-
nuamente a melhoria gados, dependentes e
do desempenho am- familiares; o Programa
biental da companhia. de Inteligência Cor-
Outro exemplo do Há 28 anos contribuindo com a evolução porativa (PIC); o Pro-
compromisso ambien- da engenharia e superando desafios!!!! grama de Participação
tal do Metrô é o pro- Estação Santa Marina e VSE Sara de Souza Linha 6 nos Resultados (PPR);
cesso de concepção a adesão à programas
de novos empreendi- sociais, tais como o
mentos, por meio do Programa Empresa Ci-
qual são realizados dadã; o Programa de
estudos para avaliação Satisfação do Passa-
de impactos da geiro; o Programa de
implementação des- Melhoria de Desem-
tes. E, como parte do penho Operacional; o
processo de licencia- Programa Operação
mento, são elaborados 5.0; o Programa Ma-
programas de gestão nutenção 5.0; Progra-
ambiental, definindo ma de Prevenção ao
as ações a serem to- Suicídio; o Programa
madas visando à miti- de Atendimento Hu-
gação de impactos de- manizado, na cate-
correntes de resíduos, goria “Pessoa com
efluentes, manejo Deficiência”; o Regu-
arbóreo, áreas conta- lamento para Reassen-
minadas, arqueologia, tamento de Famílias
ruído, vibração e ou- Vulneráveis Atingidas
tros, gerados durante pelas Obras de Expan-
as obras.” EGT Engenharia Ltda - Rua Roma, 90 - 8º andar - Vila Romana são; o Programa de
São Paulo - SP - Cep: 05050-090 - Tel.: (11) 3862-1236 Visitas Monitoradas; a
E quais são as prá- www.egtengenharia.com.br Linha da Cultura; e o
ticas mais relevantes da Programa de Diversi-
companhia associadas dade e Inclusão para o
aos seus compromissos Trabalho. E no âmbito
nas áreas social e de governança corporativa? contratação e acordos vigentes (nacionais e da governança, os destaques vão para o
“No âmbito social, o funcionamento da internacionais), bem como para prevenção, Programa de Integridade, e a adesão a
rede do Metrô traz ganhos em tempo de a detecção e a punição de fraudes e atos de Programas Anticorrupção, tais como o
viagem, gerando economia de combustível corrupção. Esse conjunto de ações reforça Programa Nacional de Prevenção à Cor-
e evitando acidentes de trânsito, contri- o compromisso do Metrô com as boas prá- rupção (PNPC), o Programa do Instituto
buindo para não onerar o sistema de saúde. ticas empresariais. Aliás, a companhia criou Ethos e os Sistemas de Gestão Certifica-
Internamente, a companhia também tem recentemente seu Portal da Governança dos. Complementarmente, temos, na área
práticas relevantes no âmbito social, como, Corporativa com o objetivo de divulgar seu de inovação, o Programa de Cultura de
por exemplo, a equidade salarial entre ho- compromisso com a ética, combate à frau- Inovação; o Programa Laboratório de
mens e mulheres que ocupam os mesmos de e corrupção, transparência, inovação Ideias do Metrô (PLIM); o Open Metro
cargos. Já no que tange ao seu compro- nos serviços prestados à sociedade.” Festival e o MetroLab.”
Estendendo esse último tema, o con- pes multidisciplinares que transcendem às otimização das condições de operação e
ceito macro da Gestão 5.0 vem ganhando estruturas hierarquizadas, que conseguem manutenção. Exemplos? A instalação de
espaço e se tornando uma realidade em viabilizar projetos com mais diálogo, aná- novas portas de plataforma; o registro do
diversas empresas – entre as quais, o Me- lise e senso crítico entre líderes e colabo- projeto da futura Estação Anália Franco da
trô/SP – que têm como foco o desenvolvi- radores para o atingimento dessas metas. Linha 2-Verde com a intenção de obter a
mento democrático das A Estratégia de Longo certificação LEED BD+C; a elaboração do
soluções tecnológicas, Prazo (2021-2025) e projeto do sistema de geração fotovoltai-
atentas à usabilidade e à “O Metrô traz o Plano de Negócios ca; o lançamento de edital com orienta-
melhoria do bem-estar benefícios (2021) do Metrô foram ções ASGI para a contratação de serviços;
humano e à resolução estruturados em quatro o desenvolvimento do ‘Projeto Corredor
de problemas por meio ambientais eixos e reorganizados Verde’ da Linha 15-Prata; a retomada da
de estratégias inovado- para incorporar um eixo implementação de um sistema de gestão
ras. Por que a compa-
relevantes, o novo estratégico intei- de energia com base nos requisitos da
nhia resolveu adotá-la mais evidente ramente voltado para a ISO 50.001; o redesenho e implementação
proativamente? inovação tecnológica. de novo processos; a capacitação para a
“Pensando em gerar é a redução de Sob esse guarda-chuvas gestão ágil; a transformação digital; e a
benefícios sociais por serão desenvolvidos os definição de diretrizes e estratégias de co-
meio de tecnologia, o
emissões de gases principais projetos de municação e relacionamento com as partes
Metrô de São Paulo está de efeito estufa” Inteligência Artificial, interessadas, entre outros.”
sempre buscando solu- Big Data, Internet das
ções para a sua melho- coisas (IoT), Realidade De forma geral, quais são os principais
ria de gestão e para a operacionalização Virtual, além de outros que certamente vi- desafios da sustentabilidade dentro da
de seus sistemas, por meio de pesquisas e rão, dentro da nossa busca incessante por mobilidade urbana? E como vencê-los?
da adoção de tecnologias inteligentes. E novas tecnologias. Assim, esses quatro ei- “Bem, eles estão relacionados à incor-
a Gestão 5.0 é isso: tecnologias como Big xos – Equilíbrio Econômico-Financeiro, poração de soluções multimodais que esti-
Data, Inteligência Artificial e Internet das Eficiência na Gestão, Gerenciamento de In- mulem a oferta de transporte público sus-
Coisas (IoT) voltadas ao aperfeiçoamento vestimentos e Inovação Tecnológica – estão tentável e o desenvolvimento de uma gestão
da qualidade de vida. Assim, os resultados sendo os motores do desenvolvimento da integrada, com uma política de mobilidade
da aplicação dela no Metrô/SP vêm sendo Gestão 5.0 no Metrô de São Paulo.” única nas regiões metropolitanas, reduzin-
otimizados, sem esquecer a relação com os do a sobreposição de itinerários e, assim,
colaboradores e passageiros.” E que resultados práticos no operacio- oferecendo aos passageiros facilidades e
nal do Metrô você poderia elencar ao lon- melhor retorno no deslocamento urbano.
E quais resultados positivos a Gestão go dessa proposta de evolução constante? A criação de uma ‘Autoridade Metropolita-
5.0 vêm trazendo às diferentes áreas da “Além dos programas citados anterior- na’ seria muito importante para viabilizar
empresa? mente, como o ‘Guia ASGI’, para a inte- isso, pois ela possibilitaria a coordenação
“Incorporada ao desenvolvimento do gração de indicadores corporativos e de- dos modais no espaço urbano das ‘cidades
Plano de Negócios do Metrô, ela vem tra- finição de indicadores ambientais, sociais conurbadas’, nome dado à junção física de
zendo importantes resultados em absoluta- e de governança e integridade, podemos duas ou mais cidades cujas zonas urbanas
mente todas as áreas e departamentos da destacar a expansão da rede e a recapa- tenham se tornado limítrofes, constituindo
companhia, a partir do trabalho de equi- citação e modernização de sistemas para um todo continuamente urbanizado.”
E os fornecedores e parceiros: também agenda da governança, não é mesmo? ção de ações para equidade salarial entre
são cobrados por vocês para o desenvolvi- “Verdade. O Metrô de São Paulo deu mulheres e homens em todos os cargos,
mento solidário de ações de sustentabili- um importante passo para a consolidação além da garantia de procedência legal de
dade? De que forma? da pauta Ambiental, Social e de Gover- madeiras que podem ser usadas na presta-
“Sim, os fornecedores e parceiros nança e Integridade (o anexo de requisitos ção desse serviço. E também estão nesse
são cobrados e sensibilizados de diver- ASGI), com a publicação pacote de orientações
sas formas nesse sentido. Por exemplo, de seu primeiro edital a adoção ou compro-
exigimos que eles estejam perfeitamente trazendo orientações de “A criação de vação de que as em-
conscientizados e alinhados ao Código sustentabilidade empre- uma ‘Autoridade presas que entrarem na
de Conduta e Integridade do Metrô de sarial para a contrata- concorrência têm, de
São Paulo (CCI), que está disponível no ção de nova prestação Metropolitana’ verdade, um plano de
site do Metrô e no Portal da Governança de serviço. A medida faz gestão ambiental com
Corporativa. Esse documento define os parte de um pacote de
seria muito garantia de qualidade;
princípios éticos, valores e os indicadores ações da empresa rela- importante para um plano de monito-
de respeito às leis e à transparência que cionadas a esses temas, ramento dos níveis de
orientam a conduta e o comportamento que, inclusive, definiu coordenação ruído e vibração de
ético de todos os administradores, con- as linhas para a criação suas atividades; que
selheiros fiscais, empregados, estagiários, do ‘Guia ASGI’, e defini-
dos modais no têm funcionários com
aprendizes, terceiros contratados a servi- rá aquelas para a con- espaço urbano” vínculos empregatí-
ço do Metrô, prestadores de serviço e for- tratação do serviço de cios formais e reserva
necedores, visando ao combate da prática Due Diligence.” de cargos para Pessoas
de atos ilícitos, tais como a corrupção, a Com Deficiência (PCD), além de infraes-
fraude, a lavagem de dinheiro, o suborno E isso também já bem estabelecido a trutura como acessibilidade para esse pú-
e o assédio moral ou sexual.” partir dos editais de licitação, correto? blico; bem como a gestão de processos e
“Sim. Neles, os concorrentes deverão riscos, para garantir um ambiente íntegro
Vocês, inclusive, lançaram um edi- seguir uma série de orientações ASGI, com e a entrega dos serviços, tudo isso, é claro,
tal de governança contemplando a destaque para as recomendações de ado- com respeito às legislações vigentes.”
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ssim como todos os setores da por meio da aplicação de descon- no começo de 2020, você declarou
economia brasileira, o Metrô tos, isenções sobre as remunerações, em entrevista à revista BRASIL ENGE-
de São Paulo sofreu diretamen- além do parcelamento do pagamen- NHARIA, que estava trabalhando para
te os impactos da pandemia do novo to das ações, entre outras medidas que 12% do faturamento do Metrô/
coronavírus. Nesse cenário, além da emergenciais. SP fossem obtidos por meio da recei-
drástica queda na movimentação de E a aposta incluiu também a ace- ta não tarifária, o que, à época, em
passageiros por suas linhas, outro leração dos contratos de Naming termos de valores, representaria algo
problema emblemático foi a redu- Rights, que é como são conhecidos em torno de 300 milhões de reais. Vo-
ção da chamada receita não tarifária, os direitos de nomeação parcial das cês conseguiram alcançar essa meta
advinda da exploração publicitária estações para empresas que desejam em 2021, no comparativo com 2020?
e comercial das estações do Metrô, vincular suas marcas ao transporte, Claudio Roberto Ferreira - Em
tais como a adesivagem externa dos prática já conhecida no Brasil e tam- 2021 a receita não tarifária foi de
trens, a instalação de painéis, totens bém muito comum em vários siste- 322,7 milhões de reais, superando a
e adesivos nos bloqueios e, ainda, as mas de metrô na América do Norte, meta estabelecida em 2020, em 22% .
locações de espaços, como imóveis e Europa e Ásia. Embora ainda não tenhamos com-
áreas para varejis- E o resultado de pletamente tabulados os resultados
FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ - SP
tas e lojistas atu- tais iniciativas foi de 2021, a certeza é que a evolução
arem dentro das muito bom, como percentual dessa receita tenha sido
estações, ou em explica o diretor maior e bastante expressiva. Entre
shoppings anexos Comercial do Metrô os destaques que turbinaram a con-
a elas. de São Paulo, Clau- quista dessas cifras superlativas, es-
A saída para dio Roberto Fer- tiveram a alienação de terrenos da
conter o dreno de reira, alguém que, companhia, e a ampliação das con-
recursos e tentar como o Metrô/SP, cessões dos espaços comerciais da Li-
conter o agrava- se mostra bastante nha 1-Azul e da Linha 2-Verde, além
mento do proble- otimista e confian- da continuidade do desenvolvimento
ma e mitigar os te na recuperação e comercialização dos Naming Rights,
impactos deriva- da economia e na que foi também uma das saídas que
dos da pandemia retomada do cres- encontramos para injetar recursos
foi, então, encon- cimento no período financeiros na companhia, sem que
trar soluções cria- do pós-pandemia. essa ampliação de receitas viesse do
tivas, bem como Confira! aumento do valor das passagens. E
estreitar as parce- foi assim que, por exemplo, a estação
rias com os anun- Claudio Roberto Ferreira, diretor BRASIL ENGE- do Metrô Carrão ganhou o nome de
ciantes e lojistas, Comercial do Metrô de São Paulo NHARIA - Claudio, Estação Carrão-Assaí Atacadista, e a
das Palmeiras
Linha Vermelha - Rua Linha Verde - Tunel Sumaré
Homenagem da Maubertec
que desde 1971 participa da
história do Metrô de São Paulo,
prestando serviços nas áreas de
Linha Verde - Ana Ros
a
Projeto, Gerenciamento de
Obras e Gerenciamento de
Manutenção Civil.
Prêmio TALENTO
Engenharia Estrutural 2007
Categoria Obras de Arte
Linha Azul - Parada Ingl Linha Verde - Alto do Ipiranga
esa
57
Linha Lilás - Giovanni
Linha Verde - Alto do Ipiranga
WWW.BRASILENGENHARIA.COM Gronchi BRASILENGENHARIA 06/2022
CA
B RA
PAS I L E N G E N H A R I A I C A PA
O
INTRODUÇÃO Como esse tipo de organização pres- participam do projeto não são transferi-
s desafios do Metrô para supõe uma sobreposição entre estruturas dos de suas unidades organizacionais e
a expansão da malha me- funcionais tradicionais e estruturas orien- que o líder do projeto é alocado em tempo
troviária em uma cidade tadas a projeto, ou a um objetivo especí- parcial mantendo suas funções na área de
como São Paulo são enor- fico, pode-se admitir a existência de dife- origem.
mes, como alguns exem- rentes níveis de estruturação matricial, em Estrutura matricial forte - aplicada a pro-
plos, podemos citar: (1) A função da prevalência entre a hierarquia jetos estratégicos que envolvem a neces-
alta complexidade dos empreendimentos; funcional e a orientação a projetos. Nes- sidade de conhecimentos técnicos de mais
(2) A grande exposição na mídia; (3) A forte se contexto, Patah (2004a) enumera três de uma unidade organizacional de forma
pressão por entrega; (4) Os vários empre- possíveis graus de “matricialização”: a atender uma necessidade complexa que
endimentos sendo desenvolvidos simulta- Estrutura matricial fraca - Ela é mais leve a modificação de diversos processos
neamente, com entregas diferenciadas; (5) parecida com a estrutura funcional e os ou a uma grande transformação dentro da
A concorrência com grupos privados assu- gerentes funcionais possuem um maior organização. Para essa caracterização, são
mindo o gerenciamento da implantação de poder em comparação aos gerentes de definidos, como parâmetros, que o proje-
novas linhas de Metrô. projeto. to é atendido por meio de atividades que
Como fator potencializador desses de- Estrutura matricial forte - Este tipo de demandam a alocação dos empregados
safios, temos observado um incremento estrutura aproxima-se mais da estrutura em período integral, que sua utilização é
nos níveis de investimento na expansão da projetizada, na qual os gerentes de proje- apropriada em projetos que tenham prazo
malha metroviária, o que necessariamente to possuem uma maior influência sobre os estimado de conclusão acima de 6 meses,
acarreta uma maior demanda por resulta- funcionários da empresa do que os geren- que os empregados são transferidos de
dos em termos de prazo e custo, a fim de tes funcionais. suas unidades organizacionais para a es-
proporcionar o devido retorno desses in- Estrutura matricial equilibrada - Em que trutura do projeto (estrutura da unidade
vestimentos à sociedade, o que só pode ser os gerentes de projeto e os gerentes fun- organizacional responsável pelo projeto
alcançado por meio da modernização no cionais possuem o mesmo nível de influ- com centro de custo criado para essa fina-
gerenciamento dos projetos de expansão e ência sobre o trabalho e as pessoas que o lidade), e que o líder do projeto é alocado
da otimização dos recursos destinados à sua executam. em tempo integral.
consecução. No Metrô, esses três níveis de estru- Estrutura matricial balanceada (equivalen-
Com o objetivo de aumentar as chances tura matricial estão definidos em norma te à estrutura matricial equilibrada) - apli-
de sucesso dos empreendimentos a Diretoria interna (METRÔ, 2020b), a partir de ca- cada a projetos que envolvem a necessidade
de Engenharia e Planejamento – DE, vem, racterísticas que facilitem a sua organiza- de conhecimentos técnicos de mais de uma
desde 2016, aprimorando e desenvolvendo ção no contexto da empresa: unidade organizacional de forma a atender
novas práticas de gerenciamento, dentre Estrutura matricial leve (equivalen- uma necessidade que demande dedicação
elas a gestão matricial das pessoas, cuja ex- te à estrutura matricial fraca) - aplicada parcial ou integral dos empregados envolvi-
periência e resultados obtidos neste período a projetos que envolvem a utilização de dos e dedicação integral do líder do projeto.
constituem o escopo deste nosso trabalho. conhecimentos técnicos de mais de uma Como características de enquadramento é
unidade organizacional, de forma a aten- definido que o projeto pode ser atendido por
Fundamentação teórica der uma necessidade que leve a uma me- meio de atividades que demandam a utiliza-
Segundo Patah (2004b), a estrutura lhoria de processos pontuais ou pequena ção dos empregados em período de até 40
matricial combina a estrutura funcional e transformação dentro da organização por horas/mês e/ou com duração de até 6 meses,
a estrutura projetizada para criar uma es- meio da dedicação parcial dos emprega- que os empregados que participam do pro-
trutura híbrida com características das duas dos envolvidos. Nesse caso, são definidas, jeto não são transferidos de suas unidades
“estruturas-mãe”. Paralelamente à estrutura como características, que o projeto deve organizacionais, à exceção do líder do pro-
funcional, sob responsabilidade dos geren- ser atendido por meio de atividades que jeto e que, de acordo com a complexidade
tes funcionais, são criados grupos de pro- demandam dedicação parcial dos empre- do projeto, o líder do projeto é alocado em
jetos sob responsabilidade dos gerentes de gados e do líder do projeto, limitado a até tempo integral ou parcial.
projetos. 8 horas semanais, que os empregados que De acordo com as características des-
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BREVE HISTÓRICO
Figura 1 - Ciclo de vida dos empreendimentos de expansão De 2016 até hoje, a DE vem implemen-
Fonte: Norma interna (METRÔ 2020a) tando um modelo de estrutura matricial de
recursos com o objetivo de buscar um me-
critas, observa-se que a adoção de uma es- atendimento a objetivos nos mais variados lhor equilíbrio entre a demanda de ativida-
trutura matricial forte faz parte da própria níveis da organização, desde a solução de des e a realidade do efetivo da empresa de
essência da DE, já que 4 das suas atuais 6 problemas específicos das unidades organi- modo a assegurar a entrega dos empreendi-
gerências estão estruturadas segundo esse zacionais até a participação no desenvolvi- mentos no escopo, no custo, no prazo e na
conceito, sendo cada qual responsável pela mento das ações do Planejamento Estratégi- qualidade requeridos.
implementação de um empreendimento es- co da Companhia. A seguir alguns dos principais marcos e
pecífico do portfólio de expansão da malha No que tange à estrutura matricial ações implementadas neste período:
metroviária, atuando como uma estrutu- balanceada, que constitui foco deste tra- Dezembro/2016 - Implantação da estrutu-
ra projetizada, liderada por um gerente de balho, observamos que, conforme explici- ra matricial para balanceamento dos recur-
projeto, com recursos financeiros, logísticos tado na figura 1, os empreendimentos de sos, chamada à época de “nave mãe”, com
e de pessoal próprios, e com uma entrega expansão do Metrô possuem um ciclo de a criação dos núcleos de apoio às unidades
muito bem delineada num horizonte finito vida estruturado em diversas fases, cada organizacionais com competências em pro-
de tempo. qual com entregas e volumes de trabalho jetos civil e de sistemas, gestão de contratos,
Da mesma forma, observa-se também a claramente identificados, sendo que a na- orçamento e planejamento e implantação de
adoção do conceito de estrutura matricial tureza das competências necessárias ao obras civis e implantação de sistemas, para
leve em larga escala, na constituição de vá- desenvolvimento dessas entregas é dife- gestão das capacidades e alocação dos re-
rios grupos de trabalho com participação de rente entre uma e outra fase, de forma que cursos condizente com a real demanda dos
empregados de diferentes áreas, visando ao determinados recursos de pessoal são mais empreendimentos, conforme demonstrado
ou menos deman- na figura 2.
dados em diferentes Implantação do Escritório de Projeto Ní-
horizontes tempo- vel 2 (Núcleo de Gestão de Projetos).
rais, dependendo Fevereiro de 2019 - Unificação da Diretoria
da fase em que o de Planejamento com a Diretoria de Enge-
empreendimento se nharia e Construções - todas as atividades
encontra. relacionadas ao ciclo de vida dos empreendi-
Essa caracterís- mentos de expansão (figura 3.1 e figura 3.2)
tica dos empreen- passaram a estar sob gestão de uma única
dimentos de expan- Diretoria - DE, integrando as fases de con-
são faz com que a cepção, validação e projetos à fase de im-
alocação matricial plantação dos empreendimentos e possibili-
de pessoas surja tando uma maior capacidade de mobilização
como uma alterna- dos recursos. E ainda houve a padronização
tiva válida para a das ações de gerenciamento de projetos nas
Figura 2 - Estrutura Matricial DE otimização do uso gerências, com a criação dos Escritórios de
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TRANSPORTE I ENGENHARIA
zacional”, iniciativa
essa ligada ao ob-
jetivo estratégico
“Transformação Or-
ganizacional”.
Após 3 anos
dessa primeira cole-
ta, durante o desen-
volvimento de um
trabalho acadêmi-
Figura 3.2 - Estrutura Unificada co (PAZ, 2021), foi
aplicada nova pes-
Esse grupo passou então, a partir das quisa, que fez uso dos resultados anteriores,
diretrizes corporativas de alocação matricial abordando a gestão matricial e ainda ex-
de pessoas consolidadas em norma interna, plorou bastante o tema gestão de mudança
a estruturar o modelo a ser empregado na no contexto pandêmico, com o objetivo de
DE para a operacionalização desse processo, identificar comportamentos que sinalizas-
desde a identificação da necessidade de uma sem resistência ou abertura à mudança, uma
Figura 3.1 - Estrutura Anterior competência específica em cada uma das vez que a pandemia provocou muita instabi-
gerências, até a efetiva alocação matricial. lidade e insegurança no comportamento dos
Para padronizar o processo foi consoli- empregados.
Projetos Nível 1 - Escritórios de Projetos das
dado um fluxo de trabalho, apresentado na Os resultados desta pesquisa demons-
Gerências.
figura 5, o qual foi formalizado por meio da traram que há grande potencial para a apli-
Dezembro de 2020 - Remodelação da Es-
publicação em procedimento interno. cação da gestão matricial, pois os números
trutura de Trabalho, com a criação de um
Esse procedimento descreve todas as indicam que a equipe está aberta a novos
novo departamento de “Gestão de Recursos
etapas e responsáveis no processo de alo- modelos de gestão e busca aperfeiçoamento
e Metodologia” ligado diretamente à Dire-
cação matricial de recursos, abrangendo: e aprendizagem contínuos.
toria - DE (figura 4) com a finalidade de,
(a) Identificação de necessidade de com- Fazendo um breve recorte desses re-
dentre outras: (1) atuar como “gestores da
petências; (b) Registro da necessidade sultados, a figura 6 traz a visão do gestor
capacidade”, determinando quem atuará em
identificada; (c) Avaliação de viabilidade quando questionado sobre a participação de
cada projeto e por quanto tempo; (2) desen-
de atendimento por todas as áreas da DE e membros da sua equipe em projetos matri-
volver tecnicamente a equipe; (3) estabele-
indicação de pessoas; (d) Avaliação de as- ciais em outras áreas. A disponibilidade para
cer critérios de priorização para determinar
pectos relacionados à estrutura de carreira compartilhar recursos teve aumento de dois
onde os recursos serão alocados e sob quais
e saúde e segurança ocupacional; (e) Efe- pontos percentuais, em comparação a 2018.
condições serão desmobilizados; (4) acom-
tivação da alocação matricial; (f) Avaliação É importante destacar que em 2018,
panhar periodicamente o status dos projetos
de desempenho do empregado alocado ma- não havia a opção “não sei” apresentada em
para revisar seu plano de alocação/ desmo-
tricialmente. 2021, logo pode-se deduzir que o resultado
bilização de recursos.
negativo de 2018 foi dividido na pesquisa
PESSOAS recente, e o percentual de 13% de indeci-
ESTRUTURA E PROCESSOS
Em 2018 o Núcleo de Informação e sos pode ser considerada a área de manobra
Para ampliar e incentivar a gestão matri-
Pesquisa do Metrô elaborou uma pesquisa para ações de engajamento.
cial de pessoas foi necessária a formalização
quantitativa para coleta de dados junto aos Na visão dos empregados, a gestão ma-
do processo de gestão do pool de recursos,
seus empregados. O objetivo dessa pesquisa tricial promove a mobilidade entre as áreas,
desde a solicitação, alocação até a sua des-
foi a realização de um diagnóstico para a no entanto, existe o contraponto de que há
mobilização. Neste sentido foi proposta ini-
“elaboração de uma nova estrutura organi- limitação, uma vez que, a palavra final para
cialmente a estruturação de um Grupo de
Trabalho, denominado GT Matricial, com
a participação de todas as unidades orga-
nizacionais da Diretoria - DE, por meio da
indicação de um participante e respectivo
suplente de cada uma delas.
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FERRAMENTAS DE TI
A alocação matricial das pessoas, con-
forme exposto, mostrou-se estratégica para
o atingimento de metas da DE. Uma vez
desenhado o processo que detalha e atribui
Figura 7 - Intenção de participar em projetos matriciais no futuro responsabilidades aos diversos atores en-
volvidos com a operacionalização da gestão
a liberação acontecer é apenas do gestor. nha sofrido leve queda em relação a 2018. matricial de pessoas, ainda havia margem
Entre comentários mais citados está o dese- Semelhante ao caso anterior, em 2018 para que todos pudessem desempenhar os
jo de participar mais ativamente do processo não havia a opção “não sei”, logo é possí- seus papéis de maneira mais organizada e
de gestão matricial. vel concluir que há uma relação direta na eficiente.
Na figura 7, o recorte foi feito para apre- redução do número positivo e no aumento No princípio, mantinham-se as comu-
sentar a percepção do empregado quanto ao de indecisos, e novamente, esta é a área de nicações via correio eletrônico e centrali-
interesse em participar de projetos matri- manobra para o desenvolvimento de ações zavam-se os registros em planilhas arma-
ciais e foi possível constatar que o campo para fomentar a gestão matricial. zenadas em pastas virtuais do GT Matricial.
para a gestão matricial é fértil, embora te- Para reafirmar a importância da atuação Com o amadurecimento do processo, con-
tudo, observou-se que tanto a comunicação
quanto os registros das cessões matriciais
ocorriam sem um padrão, o que além de
dificultar qualquer tipo de análise de de-
sempenho, ocasionava algumas falhas no
encaminhamento das informações, gerando
atrasos no fluxo, como um todo.
Outra dificuldade inerente à ausência de
ferramentas mais apropriadas foi a subjeti-
vidade natural com que se tende a tratar a
alocação de recursos humanos em ativida-
des das diversas áreas. Ou seja, o processo
carecia de critérios objetivos para a solici-
tação de recursos e subsequente indicação
de empregados, sendo comum a opção por
nomes e não por competências.
Vale contextualizar que o Metrô recen-
temente implantou, de maneira corporativa,
o seu Banco de Conhecimentos – BDCON:
Figura 8 - Fluxograma das etapas automatizadas
uma grande base de dados sobre experi-
RESULTADOS
Ao longo de 2021, do efetivo médio
de 522 empregados da DE, excetuando-se
os 104 ocupantes de cargos de liderança e
gestão, todos os demais 418 (representan-
do 80% do quadro) atuaram em atividades
matriciais, nos modelos de estrutura leve,
balanceada e/ou forte.
Especificamente no caso da estrutura
matricial balanceada, observamos uma in-
tensificação do compartilhamento de recur-
sos, conhecimentos e experiências entre as
diversas equipes que compõem a estrutura
da DE, como forma de suprir as demandas
pontuais dessas equipes.
Essa otimização de recursos, na práti-
ca, ainda se traduz em um número adicional
de pessoas que teriam de ser integradas ao
quadro de empregados, para atendimento às
Figura 10 - Exemplos de telas desenvolvidas no módulo de consulta ao BDCON
necessidades das unidades organizacionais,
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] METRÔ. - Avaliação da Estrutura Matri-
cial no Metrô-SP. Pesquisa Interna. 2018.
[2] METRÔ. - Ciclo de Vida e Portões de Pas-
sagem dos Empreendimentos de Expansão.
Norma Interna. Revisão 2. 2020a.
[3] METRÔ. - Gestão de Pessoas em Equipe
Matricial. Norma Interna. Revisão 0. 2020b.
[4] METRÔ. - Gestão de Pessoas em Equipe
Matricial no Âmbito da Diretoria de Enge-
nharia e Planejamento – DE. Procedimento
Interno. Revisão 0. 2021.
[5] PATAH, LEANDRO A. - Alinhamento es-
tratégico de estrutura organizacional de pro-
jetos: uma análise de múltiplos casos. 2004a.
169 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Figura 11 - Atendimento às solicitações de recursos matriciais de São Paulo, São Paulo.
[6] PATAH, LEANDRO A. - Strategic align-
caso essa alternativa não estivesse sendo de promover a otimização da utilização ment of project management organizational
adotada. desse recurso por meio do seu compar- structure: an analysis of multiple cases. Paper
Se por um lado constatamos a evidên- tilhamento entre os empreendimentos, presented at PMI® Global Congress 2004b
cia de otimização do uso dos recursos, por favorece a própria capacidade de condu- - Latin America, Buenos Aires, Argentina.
outro, o monitoramento dos resultados su- ção de diversos empreendimentos sendo Newtown Square, PA: Project Management
gere diversos pontos de melhorias a serem desenvolvidos simultaneamente, sem o Institute.
trabalhados ao longo de 2022, a exemplo da que não seria possível a consecução das [7] PAZ, ARETUZA T. M. - Gestão Matricial
dificuldade de atendimento de uma parce- metas estratégicas assumidas perante a com foco no capital humano no setor de
la significativa das solicitações de recursos, Companhia, a Secretaria, o Governo e a transporte urbano de passageiros. 2021. TCC
conforme figura 11. própria sociedade. (MBA em Gestão de Pessoas) – Universidade
Para estruturar uma abordagem de me- Nesse caso, além dos ganhos intan- de São Paulo, São Paulo.
lhoria contínua do processo de gestão ma- gíveis vinculados à capacidade de con-
tricial dos recursos, vêm sendo realizadas secução dos objetivos estratégicos da
análises críticas, pelo GT Matricial, durante empresa, ao intercâmbio de experiências * Aretuza Teixeira de Melo Paz é
as quais várias sugestões de melhorias vêm pela atuação profissional junto a diversas administradora de empresas, supervisora de
sendo discutidas e planejadas. Uma síntese equipes e à ampliação de conhecimentos serviços administrativos do Metrô-SP
dos tópicos mais evidentes nessas discussões e oportunidades de carreira, é possível E-mail: atmpaz@metrosp.com.br
é apresentada na figura 12. também a mensuração de resultados tan-
gíveis em termos monetários, em função ** Carlos Augusto Dias de Faria é
CONCLUSÕES da redução de necessidades adicionais de engenheiro Industrial Elétrico – Habilitação
A gestão matricial das pessoas na DE pessoal para a condução dos empreendi- Eletrônica, coordenador de gestão de
por demandas de competências, além mentos. recursos e capacidades do Metrõ-SP
Como sugestões para a replicabilida- E-mail: cadfaria@metrosp.com.br
de deste modelo em outras áreas ou mes-
mo em outras organizações, entendemos *** Fernando Martins Pedro é
como boas práticas: (1) Reestruturação engenheiro Mecânico do Metrô-SP
organizacional, com criação de unidade E-mail: fmpedro@metrosp.com.br
para suporte e apoio à gestão matricial;
(2) Implementação de um Plano de Co- **** Laura Henrique Pereira é psicóloga,
municação Engajador, com um repositório assistente administrativa do Metrô-SP
centralizado de informações; (3) Estabe- E-mail: laurapereira@metrosp.com.br
lecimento dos critérios e parâmetros do
processo de gestão de pessoas, em equipe ***** Noel João Mendes Cossa é engenheiro
matricial; (4) Constituição de grupo de re- civil, chefe de Departamento do Metrô-SP
presentantes das unidades organizacionais E-mail: noel.jmendes@metrosp.com.br
envolvidas; (5) Desenvolvimento de roti-
nas e ferramentas de requisição e oferta de ****** Paulo Sergio Amalfi Meca é
recursos; (6) Criação de mecanismos para engenheiro eletricista, diretor de Engenharia
Figura 12 - Tópicos para melhoria no processo valorizar e incentivar a atuação em regime e Planejamento do Metrô-SP
de gestão de recursos matriciais matricial. E-mail: psameca@metrosp.com.br
Indicadores de desempenho do
processo de desenvolvimento
do projeto executivo de implantação
de sistemas metroviários
FERNANDO MARTINS DA SILVA* / FREDERICO DE CARVALHO BRAGA** / ROBERTO TEIXEIRA***
O
INTRODUÇÃO concepções dos sistemas, configurações são desenvolvidos simultaneamente e por
projeto executivo de im- de software etc.); diferentes projetistas.
plantação de uma linha Tipo de unidade construtiva (estação, No decorrer do processo de desen-
de metrô é composto por via, poço de ventilação e saída de emer- volvimento do projeto, cada documento
documentos técnicos que gência, pátio de manutenção e estacio- técnico pode ser submetido a sucessivas
especificam as carac- namento de trens, subestação elétrica, revisões. Se o conteúdo de um documento
terísticas e métodos de terminal rodoviário etc.). de determinado sistema é referência para
construção desta linha. Estes documentos um documento de outro sistema, este úl-
podem ser da modalidade de construção Problemática timo deve sempre ser revisto sempre que
civil, ou da modalidade de sistemas, neste A implantação de uma linha metroviária o primeiro for alterado, com o propósito
caso estão abrangidas as modalidades de envolve a produção de milhares documentos de manter a compatibilidade entre siste-
mecânica, elétrica, eletromecânica e de técnicos. mas que mantêm interface. Desta forma
telecomunicações. Há uma grande rede de interdepen- surge a necessidade de garantir que cada
Este trabalho mostra a experiência ad- dência entre as informações que constam projetista seja abastecido, continuamente,
quirida ao longo da implantação de siste- em diferentes tipos de documentos téc- com as informações necessárias para o de-
mas na fase 2 da Linha 5-Lilás. O conteúdo nicos, por ocasião das interfaces ( figura senvolvimento do projeto do sistema que
destes documentos é referente à engenha- 1). O desenvolvimento do projeto de um lhe compete.
ria aplicada na construção, na operação e determinado sistema depende de informa- Incompatibilidades entre diversos pro-
na manutenção. Não são abrangidos, neste ções que constam em projetos de outros jetos que estabelecem interfaces entre si
contexto, documentos administrativos, fis- sistemas. Os projetos dos diversos sistemas implicam na probabilidade de a obra ser
cais, jurídicos etc.
Os documentos técnicos são classi-
ficados conforme diversos aspectos, tais
como:
Modalidade de engenharia (arquitetura,
obra civil, alimentação elétrica, eletrome-
cânica, telecomunicações etc.);
Tipo de sistema (impermeabilização, dre-
nagem de águas pluviais, ventilação, tra-
ção elétrica, iluminação, detecção e alar-
me de incêndio, controle de trens etc.);
Etapa de execução (escavação, concreta-
gem, fabricação, instalação etc.);
Etapa de controle de qualidade (homolo-
gação de lote piloto, diligenciamento do
processo de fabricação, inspeção em fá-
brica, fiscalização da instalação, pré-co-
missionamento, comissionamento etc.);
Tipo de informação contida no docu-
mento (parâmetros, funcionalidades,
componentes, desenhos em perspectiva
ou projeção ortogonal, diagramas elétri-
cos, listas de materiais, procedimentos, Figura 1 - Compatibilização: Retroalimentação contínua de documentos técnicos de referência
Segmentação e
granularidade
Consideran-
do que o projeto
é aplicado em
Figura 3 - Exemplo de distribuição dos
diferentes tipos
documentos técnicos por tipo de sistema, por
de frentes de tra-
contrato de fornecimento Figura 4 - Exemplo de controle mensal de fluxo de documentos técnicos
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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO
I
mersas em um ambiente cada vez empresas, a responsabilidade pela disse- (CASEY; PECK, 2001).
mais dinâmico, enfrentando mu- minação dessas técnicas de gestão pode No Metrô, O PMO Corporativo, for-
danças cada vez mais rápidas e uma ser atribuída a organizações denomi- malmente instituído em 2013, foi criado
complexidade crescente, as orga- nadas na literatura especializada como com o intuito de aprofundar os conhe-
nizações lutam para implementar PMO (Project Management Office), ou cimentos em gerenciamento de projetos
as estratégias de que precisam para gerar escritórios de gerenciamento de projetos. e dar suporte à aplicação das melhores
e manter vantagens competitivas. Há uma Essas organizações são constituídas de práticas de gestão nos projetos estraté-
necessidade maior agora do que nunca de um núcleo de competências com o ob- gicos da Companhia. Para uma organiza-
garantir que os investimentos em portfólios, jetivo de criar uma cultura de projetos ção como o Metrô, a importância de um
programas e projetos levem a benefícios dentro da organização (CARVALHO; RA- escritório corporativo de projetos reside
claros e sustentáveis (PMI, 2019). BECHINI JR., 2015). Elas interagem com na necessidade de coordenar ações para
O sucesso dos projetos está direta- a organização da empresa de diferentes a consecução das metas do plano estra-
mente relacionado ao uso de técnicas formas – como unidades de apoio aos tégico, apoiando os gestores no uso das
tendo em vista que a instituição da Ge- to da Gerência em que este profissional dos seus resultados nas estratégias em-
rência do Empreendimento ocorre com será alocado, estão formalizados na presariais. Com isso, o PMO Corporativo
a proximidade da Fase 4 – Implantação. Companhia por instrumento normativo. expande seu campo de atuação, visando
Esse responsável conduz, através de to- avançar ainda mais no amadurecimento
das as gerências funcionais, os proces- REPOSICIONAMENTO DO da gestão dos projetos internos da em-
sos da metodologia de gestão implan- PMO CORPORATIVO presa e contribuindo para o novo posi-
tados no Metrô, e cabe ao Responsável A disseminação da Metodologia de cionamento do Metrô no mercado, como
pelo Empreendimento avaliar e definir o Gestão desenvolvida pelo PMO Corpo- consultor em projetos nas diversas áreas
grau de dedicação (parcial ou exclusiva) rativo para os empreendimentos de ex- do Transporte e da Mobilidade Urbana.
para os profissionais que irão compor a pansão vem fomentando importantes Atualmente, a atuação do PMO
equipe durante as Fases iniciais do Em- avanços na cultura corporativa no que se Corporativo do Metrô está direcionada
preendimento (negociação com os ge- refere à utilização das boas práticas de para quatro grandes frentes de traba-
rentes funcionais). Quando nas Fases 3 gerenciamento de projetos, especialmen- lho. São elas:
e 4, o responsável ou gerente coordena te as recomendadas pelo PMI. -Desenvolvimento de metodologias,
todas as interfaces e integrações de pro- Além dos empreendimentos de ex- ferramentas e capacitação em gestão de
cessos administrativos, projetos, obras e pansão, os processos e ferramentas que projetos e programas;
sistemas do empreendimento. A gestão compõem a nova metodologia podem ser -Gestão de portfólios, programas,
e integração de todos os contratos de aplicados total ou parcialmente a outros projetos e iniciativas estratégicas rela-
implantação de obras civis, sistemas e projetos, de acordo com a necessidade. cionadas ao Planejamento Plurianual de
material rodante também estão sob sua Com a revisão da metodologia de ges- Investimentos;
responsabilidade. tão, uma nova Trilha de Aprendizagem -Gestão integrada dos empreendi-
Suas competências envolvem do- foi desenvolvida em parceria com a UNI mentos de expansão e projetos de am-
mínio em gestão de empreendimentos (Universidade Corporativa Unimetro), vi- pliação;
e gestão comportamental, além de co- sando atender às necessidades de capaci- -Gestão da comunicação com as
nhecimentos técnicos ou específicos do tação das equipes envolvidas em projetos principais partes interessadas e órgãos
negócio de expansão metroviária. Os dos mais diversos graus de complexida- externos.
processos para seleção do profissional de, inclusive com metodologias ágeis. Em 2021 foi aprovada pela Diretoria
que desempenhará o papel de Responsá- O nível de suporte do PMO Corporati- Colegiada do Metrô a Norma Geral (NGR)
vel pelo Empreendimento e Gerente do vo às equipes de gestão, na aplicação da que estabelece as diretrizes e intenções
Empreendimento, bem como para cons- nova metodologia, varia de acordo com a da organização para a gestão de portfó-
tituição tanto do Departamento quan- complexidade dos projetos e do impacto lios, programas e projetos. A NGR é apli-
O Programa Manutenção 5.0 baseia- englobou a pesquisa e a análise crítica novas linhas e estações incorporem di-
-se na implantação e otimização dos sobre os principais sistemas de certifica- retrizes e requisitos de construções sus-
Sistemas de Monitoramento de Ativos ção de construção sustentável existentes tentáveis ao nível das construções passi-
de Tecnologia de Operação – TO, e tem no Brasil e no exterior, que foram ava- veis de serem certificadas.
como objetivo promover melhorias e liados considerando os parâmetros para
inovação tecnológica para apoiar novos a avaliação ambiental, credibilidade e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e mais eficazes processos de manuten- rigor técnico, e níveis de desempenho. [1] CARVALHO, M. M. DE; RABECHI-
ção. Esse programa foi estruturado em Também foram abordados outros NI JR., R. - Fundamentos em Gestão
três fases, sua duração estimada é de três aspectos dos sistemas de avaliação da de Projetos: Construindo Competên-
anos e o investimento previsto é na or- sustentabilidade e certificação de cons- cias para Gerenciar Projetos. 4. ed. São
dem de 32,5 milhões de reais. trução sustentável como os relacionados Paulo: Atlas, 2015.
à metodologia de análise de projeto a ser [2] CASEY, W.; PECK, W. - Choosing
DESAFIOS aplicada, o processo de certificação, os the right PMO setup. PM Network, v.
Alguns dos principais desafios en- casos de projetos certificados no setor 15, n. 2, p. 40–47, 2001.
frentados pelo Metrô são: aumentar a de transporte e a comparação quali- [3] LIANG, Q. ET AL. - A game the-
capacidade de transporte com a compra tativa das metodologias em relação às ory approach for the renegotiation of
de novos equipamentos, sistemas e ma- normas brasileiras. Entre os vários sis- Public-Private Partnership projects in
terial rodante, expansão da malha me- temas analisados, o Leadership in Energy Chinese environmental and urban go-
troviária ofertando transporte público and Environmental Design - LEED, um vernance industry. Journal of Cleaner
de qualidade a diversas localidades da referencial desenvolvido pelo U.S. Green Production, v. 238, p. 117952, 2019.
Região Metropolitana de São Paulo, a Building Council (USGBC) que compreen- [4] METRÔ - Guia de Gestão de Em-
melhora do conforto e da segurança dos de categorias para a análise do projeto preendimentos de Expansão. 1. ed.
passageiros, a melhora na eficiência da de edificação que envolvem aspectos da São Paulo: Gerência de Planejamento
manutenção e operação das linhas e a concepção, localização e terreno, ges- Empresarial, 2013.
redução de custos operacionais (manu- tão da obra e desempenho ambiental, se [5] METRÔ - Metodologia de Gestão
tenção, operação e logística). Nesta se- tornou o mais indicado. A metodologia de Empreendimentos Metroviários.
ção, serão apresentadas algumas ações escolhida foi a LEED BD+C (Building, São Paulo: PMO Corporativo, 2020.
em andamento no Metrô nas quais o Design and Construction), aplicável a pro- [6] METRÔ - Relatório Integrado
PMO Corporativo participa e apoia. jetos novos de edificações e estações, 2020. São Paulo: METRÔ, 2021.
A figura 3 apresenta a rede em ope- visando a busca de maior eficiência [7] METRÔ - Evolução da Rede Me-
ração, as obras em andamento, as obras energética e consequentemente redução troviária - Dezembro/2021. São Paulo:
a retomar e a rede futura em estudo. das emissões de CO2, melhor eficiência PMO Corporativo, 2022.
Atualmente, a extensão operacional da hídrica e melhor gerenciamento dos re- [8] PMI - Benefits realization ma-
malha metroviária é de 104,2km, com- síduos da construção e operação. nagement: a practice guide. 1. ed.
posta por 91 estações e 232 trens. A O resultado evidenciado por este estu- Newtown Square: Project Manage-
rede futura composta pelas obras em do apontou que os projetos de empreen- ment Institute, 2019.
andamento, obras a retomar e rede em dimentos do Metrô incorporam requisitos [9] WIBOWO, A.; MOHAMED, S. -
estudo apresenta uma extensão opera- de construção sustentável estabelecidos Risk criticality and allocation in pri-
cional de 240,0km, 212 estações e 479 na metodologia LEED BD+C. A Estação vatised water supply projects in Indo-
trens. São cinco novas linhas de Metrô, Brooklin da Linha 5-Lilás, analisada como nesia. International Journal of Project
Linha 6-Laranja, Linha 16-Violeta, Li- projeto referencial neste estudo, poderia Management, v. 28, n. 5, p. 504–513,
nha 17-Ouro, Linha 19-Celeste e Linha atingir o nível Silver em uma eventual 2010.
20-Rosa, além dos empreendimentos de certificação, porém condicionado à re-
expansão de linhas existentes e projetos alização de intervenções no projeto. Em * Luiz Claudio Didio Briani é gerente
de ampliação de unidades construtivas 2020, o empreendimento da Linha 2-Ver- do PMO Corporativo do Metrô-SP
específicas (METRÔ, 2022). de (Trecho Vila Prudente – Penha), estava E-mail: lbriani@metrosp.com.br
Durante a implantação do empreen- na etapa de elaboração dos projetos exe- ** Lauro Jorri Neto é assessor executivo
dimento da Linha 5-Lilás, a pedido do cutivos de obra civil, quando se identifi- do PMO Corporativo do Metrô-SP
Banco Internacional para a Reconstru- cou através da implantação da gestão de E-mail: laurojorri@metrosp.com.br
ção e Desenvolvimento – BIRD, foi re- riscos, o risco de oportunidade de obten- *** Jayme Domingo Filho é chefe do Departamento de
alizado um estudo com o propósito de ção da certificação LEED BD+C. Gestão de Portfolios, Programas e Projetos Estratégicos
desenvolver um diagnóstico das práti- O diagnóstico foi realizado e finaliza- e Empreendimentos de Expansão do Metrô-SP
cas do Metrô de São Paulo, em relação a do em 2021, no qual apontou a Estação E-mail: jdomingo@metrosp.com.br
critérios referenciais de certificação em Anália Franco como a mais aderente às **** Rafael Rossi Buzzetto é assessor
construção sustentável visando incor- exigências do processo de certificação, técnico do PMO Corporativo do Metrô-SP
porar diretrizes de sustentabilidade e o com ganhos em eficiência energética, hí- E-mail: rrbuzzetto@metrosp.com.br
aprimoramento de processos que resul- drica e redução de emissões de CO2 den- ***** Priscilla Amaro Antunes Saldanha
tem em economia de energia e água e a tre todas as estações que compõe a ex- é chefe do Departamento de Metodologias
redução de impactos em todo o ciclo de pansão dessa fase da Linha 2-Verde. Com e Ferramentas de Gestão do Metrô-SP
vida dos empreendimentos. O trabalho isso, há expectativas que os projetos das E-mail: paantunes@metrosp.com.br
E
JULIANA YOSHIDA**** / MICHEL HOOG CHAUI DO VALE***** / MICHELLE NAKAZATO MIKARO****** /
NEILA CUSTÓDIO******* / THAIS SHIGUEMATSU BISPO******** / THIAGO MOYSÉS DE LIMA*********
INTRODUÇÃO Desde o início da implantação do Metrô A LINHA 15-PRATA DO METRÔ
ste artigo, elaborado por uma na década de 1970, as características arquite- A Linha 15-Prata percorre o canteiro cen-
equipe multidisciplinar da área tônicas das edificações vêm contemplando as tral da Av. Prof. Luiz Ignácio Anhaia Mello, Av.
de arquitetura do Metrô, adota mudanças ocorridas ao longo do tempo, sejam Sapopemba seguindo para a Av. Ragueb Cho-
como exemplo de concretização atreladas à necessidade de atendimento a le- hfi. A linha se desenvolve em situação topo-
das últimas reflexões de projeto, gislação, à abordagem estratégica da Compa- gráfica com características diferentes, sendo a
a implantação da Linha 15-Prata do Monotri- nhia alinhada às necessidades atuais de nossa primeira no fundo do vale do Ribeirão da Moo-
lho, onde se assume um partido arquitetônico e cidade, às inovações tecnológicas ou a requisi- ca, a segunda na cumeada e a terceira voltando
urbanístico integrado, inovador e convergente tos ambientais, sempre direcionadas ao objeti- para uma cota mais baixa paralela à Área de
com novas premissas. vo perene de garantia de conforto e segurança Proteção Ambiental (APA) do Carmo. Pelo fato
Como ator nas modificações do tecido do passageiro. de o monotrilho estar implantado a aproxima-
urbano, o Metrô tem o importante papel de Processos integrados, atuação colaborati- damente 12m de altura e pela característica to-
promover a inserção urbana de um sistema de va, multidisciplinaridade, uso de aplicações e pográfica, ele propicia uma visão privilegiada
transportes de massa ao criar articulações, pro- requisitos BIM (Building Information Modeling), ao passageiro em seu percurso, o que inclui o
mover novos fluxos e dinâmicas no entorno de sustentabilidade ambiental, análise de neces- skyline da Serra da Cantareira, importante mar-
uma linha, com uma análise particular para cada sidades das áreas cliente, obtenção de receita co de referência paisagística do sítio paulista-
local de implantação. Para tanto, são necessá- não tarifária, tecnologia e padronização de so- no, e o Parque do Carmo (figura 1).
rios estudos criteriosos e qualitativos que têm luções são premissas que passaram a ser priori- Quando concluída, a linha terá 14 estações,
muito a contribuir com o processo de projeto. tárias para os projetos de arquitetura no Metrô. dois pátios e duas subestações elétricas, em
Figura 4 - Teto verde no acesso da Estação Figura 5 - Vista geral da Estação Ipiranga
Jardim Colonial – Fonte: Techdrones (Youtube) Fonte: Metrô-SP
Figura 11 - Canteiro central da Av. Anhaia Mello reurbanizado, com paisagismo e dispositivos de Nota
infraestrutura verde (biovaleta) e ciclovia – Fonte: Metrô-SP (Juliana Yoshida)
Cf. ODS Brasil (https://odsbrasil.gov.br/
APRENDIZADOS DO PROCESSO aumentando as potencialidades de distribui- objetivo/objetivo?n=11)
INTEGRATIVO ção dos passageiros na rede disponível na
Como pudemos observar a elaboração de região. Além disso, com a criação da ciclovia * Claudia Chemin é arquiteta e urbanista (UMC) e atua
projetos da expansão do Metrô tem exigido de acompanhando a Linha 15-Prata, é possível como Coordenadora de Projetos de Concepção de Acabamento,
todas as áreas técnicas envolvidas uma série contemplar uma integração mais orgânica Comunicação Visual e Luminotécnica na Gerência de Projetos
de aprimoramentos, com impacto na implan- com os modos ativos. As melhorias no siste- do Metrô-SP
tação dos empreendimentos. Essa mudança ma viário e a criação de um corredor verde E-mail: cchemin@metrosp.com.br
de paradigma perpassa diversos aspectos. sob a via elevada trazem consigo opções de ** João Carlos Santos Taqueda é arquiteto e urbanista (FAU
Particularmente nos projetos de linhas percurso seguro aos pedestres, promovendo USP), mestre em Arquitetura e Urbanismo (FAU USP), bacharel
com as características do Monotrilho, existe também a melhoria da infraestrutura verde em Filosofia (FFLCH USP) e atua como Coordenador de Projetos
a necessidade de associar os projetos de li- da cidade e da caminhabilidade na região. de Concepção de Arquitetura, Reurbanização e Paisagismo na
nhas novas a intervenções urbanas de grande O projeto intenciona a integração dos Gerência de Projetos do Metrô-SP
porte, promovendo alterações no entorno de tecidos urbanos locais. A necessidade de pre- E-mail: jcstaqueda@metrosp.com.br
seu traçado. Isso cria um desafio à implanta- visão de diversas melhorias para compatibili- *** Fabiana Nonogaki é arquiteta e urbanista (UNICAMP),
ção que só pode ser solucionado com envol- zação entre as adequações viárias para o tre- MBA em Gestão Econômica e Estratégica de Projetos (FGV),
vimento integral das disciplinas relacionadas cho e os requisitos de conforto, segurança e PMP e atua como Chefe do Departamento de Arquitetura na
a sistema viário, drenagem, sinalização, lu- qualificação dos espaços está estreitamente Gerência de Projetos do Metrô-SP
minotécnica, reurbanização, paisagismo etc. ligada às disciplinas envolvidas no processo. E-mail: fnonogaki@metrosp.com.br
Sob o ponto de vista técnico, fica evi- Além disso, foram propostas diversas so- **** Juliana Yoshida é arquiteta e urbanista (FAU USP) e
dente o incremento paulatino de inovações luções para cumprir com o desafio de adap- atua como arquiteta na Gerência de Projetos do Metrô-SP.
ligadas às ferramentas tecnológicas para es- tação do projeto ao tecido existente e aos E-mail: j.yoshida@metrosp.com.br
ses processos, em que se destaca o uso cres- tecidos reformulados, em virtude do alarga- ***** Michel Hoog Chaui do Vale é arquiteto e urbanista,
cente de aplicações relacionadas ao BIM. mento necessário para a implantação da via mestre em planejamento urbano e doutorando em história
É visível uma tendência à elaboração permanente elevada em um trecho extenso e da arquitetura (FAU USP), especialista em engenharia urbana
de contratos cada vez mais complexos urbanizado, com presença de um complexo (UFRJ), MBA em gestão metroviária (FIA USP), PMP e atua como
e integrados, tanto pela quantidade de sistema viário. arquiteto e paisagista na Gerência de Projetos do Metrô-SP
disciplinas envolvidas (ex.: projetos civis, de Esse breve panorama das experiências E-mail: mhcvale@metrosp.com.br
arquitetura e de sistemas), como também pe- recentes de projeto de arquitetura do Me- ****** Michelle Nakazato Mikaro é arquiteta, urbanista
las relações necessárias entre contratos dife- trô, abrangendo edificações, reurbanização e designer (FAU USP) e atua como arquiteta paisagista na
rentes que possam dar conta da amplitude da e paisagismo das áreas de intervenção, serve Gerência de Projetos do Metrô-SP
intervenção no tecido urbano, que abrange, de amostra dos desafios encontrados pelas E-mail: michelle.mikaro@metrosp.com.br
além da estação, trechos de via adjacentes, equipes de projeto ao intervir atualmente na ******* Neila Custódio é arquiteta e urbanista (UBC),
integração intermodal, resgate do espaço cidade de São Paulo. Os exemplos demons- Pós Graduada em Magistério do Ensino Superior (UNIP) e
público, readequações viárias, entre outros. tram o esforço de aprimoramento das solu- atua como arquiteta e paisagista na Gerência de Projetos do
Na gestão de processos, destaca-se a ne- ções projetuais que passam pela crescente Metrô-SP
cessidade de definição de novos fluxos e pro- integração das disciplinas e dos profissio- E-mail: ncustodio@metrosp.com.br
cedimentos normalizados para a transposição nais, em processos complexos que refletem a ******** Thais Mitie Shiguematsu Bispo é arquiteta
de “portões de passagem” entre as diversas multiplicidade de informações e ferramentas e urbanista (UNESP) e atua como arquiteta na Gerência de
fases de projeto, aproximando as partes inte- aplicadas, tanto de projeto quanto de gestão. Projetos do Metrô-SP
ressadas internas e externas ao Metrô. O resultado esperado, visível nessas obras já E-mail: thais.mitie@metrosp.com.br
Outra perspectiva importante é a da in- concluídas ou em andamento, é a melhoria ********* Thiago Moysés de Lima é arquiteto e urbanista
tegração intermodal já detalhada, uma vez dos espaços urbanos e da qualidade de vida (FAU USP) e atua como arquiteto na Gerência de Projetos do
que a Estação Ipiranga do Monotrilho irá se das gerações atuais e futuras, de modo que Metrô-SP
conectar com a Linha 10-Turquesa da CPTM, a infraestrutura de transporte promova uma E-mail: tmlima@metrosp.com.br.
E
INTRODUÇÃO devido a ocorrência de maciços hetero- uso do método de tuneladora de grande
ste artigo apresenta uma gêneos no trecho. diâmetro podendo conter 4 vias (chama-
avaliação do potencial Mais recentemente, com a evolução da de TBM4 neste trabalho). Entretanto,
técnico e econômico da tecnológica das tuneladoras, permitin- o perfil de demanda da sua rede de metrô
aplicação de solução de do diâmetros cada vez maiores (até 19 é bastante distinto dos padrões paulistas,
dimensões de túnel de metros), houve uma retomada do tema permitindo o uso de material rodante de
via não convencional, já pelos g rupos de estudos de padroniza- gabarito menor, com impacto no diâmetro
adotada na Linha 9 do Metrô de Barce- ção e inovações do Metrô de São Pau- do túnel. O diâmetro final afeta os volu-
lona, na Espanha, que consiste na exe- lo para sua aplicação nos projetos mais mes de escavação e de concreto das adue-
cução de um túnel único escavado por recentes. las, com reflexos significativos nos custos.
máquinas tuneladoras (Tunnel Boring Atualmente, o uso combinado de tu- Assim, sentiu-se a necessidade de avaliar o
Machine – TBM) de grande diâmetro, neladora para via dupla, para os túneis potencial uso desta solução em São Paulo,
maior que 12 metros, podendo conter o de via, chamada aqui de TBM2 ( figura considerando-se a demanda a ser atendida
corpo das estações ou outras estruturas 2 ), e vala a céu aberto ou New Austrian e a adequação dos parâmetros de projeto,
da linha. tunneling method – NATM (para o cor- com o objetivo de definir a menor seção
Quando do desenvolvimento do pro- po das estações) é o principal método de viável possível para o túnel.
jeto básico da Linha 6-Laranja, no início construção das linhas de metrô em São Para isso foram reavaliadas todas as
dos anos 2010, o Metrô estudou esta so- Paulo. Nesta solução é preciso arrastar a premissas relacionadas ao tamanho dos
lução construtiva para o trecho central tuneladora nos trechos de estação, o que carros, sistema de alimentação elétrica,
da cidade. Na ocasião, optou-se por um aumenta o prazo de execução da obra. via permanente e ventilação, entre ou-
modelo de estação com plataforma cen- Além disso, métodos como vala ou NATM tras, buscando reduzir a seção de escava-
tral ( figura 1) e, com isso, o diâmetro de são menos industrializados e mais susce- ção dos túneis de via ao mínimo necessá-
escavação resultante da tuneladora, de d tíveis a alterações de projeto, portanto, rio, executados em TBM.
= 16,16 metros, no limite da tecnologia apresentam maiores riscos e consequen-
dessas máquinas EPBS (Earth Pressure temente incerteza quanto aos custos e PREMISSAS
Balanced Shield) à época, inviabilizou prazos. Para o desenvolvimento deste estudo
a continuidade do projeto, em especial A cidade de Barcelona foi pioneira no foram definidas as seguintes premissas:
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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO
mesmo lado;
• No caso de esta- Altura
Tensão de operacional Altura do
ções mais rasas, o alimentação do pantógrafo piso
VCA necessita ter Bitola
Gabarito do Altura do ar Comprimento
Pantógrafo condicionado do trem
apenas o compri-
mento do conjunto Sistema de Número de Altura da
alimentação carros massa mola
de escadas, em vez Posição de
Altura e AMVs
do comprimento to- Entrevias largura da fixação da
catenária
caixa
tal da plataforma nas Raios minimos Gabarito
Carga por eixo
soluções construti- dinâmico
Altura da laje
vas convencionais; de regularização Drenagem
do túnel
• Os aparelhos de
mudança de via
(AMVs) estratégicos Figura 9 - Aspectos reavaliados buscando a redução da área do túnel
ao longo da linha de vias (Fonte: Metrô, 2020)
Figura 7 - Escadas de emergência ocorrem por meio de
entre pavimentos do túnel de via rampas conectando
(redferroviariabcn.blogspot.com) as vias secundárias de cada pavimento, linha entrar em funcionamento, e redu-
de forma que o movimento de trens en- ção da área do pátio de estacionamento
didade de algumas estações (em muitos tre pavimentos não atrapalha a operação de trens;
casos com mais de 50 metros), elevadores comercial; • Construção de túnel e poços em blocos
de alta capacidade e velocidade foram es- • Parte das salas técnicas pode ser inse- relativamente independentes, de forma
colhidos para transportar os passageiros rida no prolongamento das plataformas, que a obra de um pode ocorrer sem im-
da superfície até as plataformas. reduzindo a necessidade de escavação ou pactar significativamente no desenvolvi-
Dentre as características vantajosas de uso de terrenos desapropriados; mento do outro;
dessa solução construtiva, destacam-se • Portas de plataforma do chão ao teto • Como as duas metades do túnel são
as seguintes: segregam o ar dos túneis do das plata- hermeticamente isoladas, é possível que
• Industrialização quase completa do formas. Esta solução, somada ao uso de evacuação dos usuários em caso de inci-
processo de construção de túneis através portas corta-fogo entre plataformas e o dente seja feita pelo trecho do túnel não
do uso de TBM, inclusive na escavação poço, permite que uma plataforma sir va sinistrado, através de escadas pressuri-
das plataformas das estações. Por isso, a como rota de fuga da outra, e que o poço zadas entre pavimentos ( figura 7), elimi-
TBM não precisa ser arrastada pelas esta- seja usado como local seguro de ambas as nando a necessidade de saídas de emer-
ções, reduzindo potencialmente o tempo plataformas, reduzindo o tempo de eva- gência para a superfície;
de escavação da linha; cuação dos passageiros; • Maior facilidade e f lexibilidade na im-
• Redução significativa da seção trans- • Possibilidade de prolongamento futu- plantação de estações futuras ao longo
versal dos túneis de estação em relação às ros das plataformas, caso os trens tenham da linha;
estações feitas em NATM. Estes trechos que ser estendidos por conta de algum • Simplificação construtiva nos enlaces
costumam ser os de maior complexidade aumento de demanda futuro, e o greide com vias de ramais ou acesso a pátios (fi-
da obra subterrânea; seja adequado para isso; gura 8), pois as vias de enlace não preci-
• Maior f lexibilidade para posicionamen- • Por conta do estacionamento de trens sam passar por cima ou por baixo da via
to do poço nas estações, por conta de ao longo do túnel, há redução do tempo e principal, elas chegam pelo mesmo lado;
ambas as plataformas serem acessadas do distância necessários para o carrossel da • O material escavado do túnel das plata-
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CONCLUSÕES
Figura 18 - Estação padrão poço central, planta plataforma inferior (Fonte: Metrô, 2020) A revisão dos paradigmas de mate-
rial rodante, alimentação elétrica e ge-
ometria de via viabilizaram redução de
15% no volume de escavação e de 18%
no volume de concreto, em relação à
proposta original de TBM4. Com estas
otimizações, o TBM4 apresenta custo
equivalente ao TBM2, em um trecho pi-
loto estudado, e passa a fazer parte do
rol de soluções a serem adotadas na am-
Figura 19 - Estação padrão poço central, planta plataforma superior (Fonte: Metrô 2020) pliação do Metrô de São Paulo. O TBM4
é especialmente vantajoso nas seguintes
situações: (a) escassez de terrenos para
estações – especialmente em regiões
cujas estações teria que ser escavadas
em VCA; (b)profundidade média da linha
é acima de 30m; (c) escassez de terrenos
para pátios; (d) redução dos riscos exe-
cutivos, de custos e de cronograma.
Como este tipo de situação é pre-
Figura 20 - Estação padrão VCA, planta plataforma inferior (Fonte: Metrô, 2020) valente nos locais onde estão sendo
propostas linhas futuras, esta solução
construtiva parece ter futuro bastante
promissor na expansão do sistema de
metrô paulistano.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Figura 21 - Estação padrão VCA, planta plataforma superior (Fonte: Metrô, 2020) [1] DEULOFEU I PALOMAS, CARME;
SERRATOSA BELLES, JOAN; SCHWARZ,
HENNING. - La ligne 9 dumétro de Bar-
ESTAÇÕES PADRÃO forma. Por isso, os sistemas de ventilação das
celoneCreusementdutronçonCanZam -
PARA TBM4 plataformas e das vias deverão ser dimensio-
O desenvolvimento das estações padrão nados de forma independente, principalmen-
Rio Besòs. 2009.
para escavação pelo método TBM4 conside- te em situações de incêndio, quer sejam nas [2] ROIG, J1, E. FERNANDEZ, E, RUIZ, M,
rou perfil de demanda de uma linha conven- estações ou nas vias (figura 13); SANZ, A. - In-Tunnel Station Concept on
cional de metrô. Este modelo poderá ser ado- • Portas corta-fogo entre as plataformas e o Deep Subway Tunnel Projects in Urban
tado em grande parte das estações de uma poço. Elas garantirão que as duas plataformas Areas: Barcelona Line 9. 2009.
futura linha, com exceções sendo estações de sejam estanques entre si, uma servindo como [3] JIMENEZ, ANA RUÍZ. - Design, simu-
transferência, estações terminais e estações rota de fuga em caso de sinistro na outra, lation and implementation of ventila-
com previsão de elevados fluxos concentra- por meio de escadas pressurizadas localiza- tion system for Metro Line 9 at Barcelo-
dos (como estações em regiões centrais, pró- das nas duas extremidades das plataformas, na City in Spain. 2015.
xima a estádios, faculdades etc.). conectando uma à outra;
As estações padrão dividem-se em três • Desnível entre plataformas de 5,61 metros;
tipos: poço lateral (figuras 13 a 17), poço • Dois elevadores entre o mezanino e os ní- * Fábio Martini Pontes é arquiteto e
central (figuras 18 e 19) e VCA (figuras 20 veis de plataformas, atendendo ambas as pla- urbanista, coordenador de estudos urbanos e
e 21). Porém, todas possuem em comum as taformas; anteprojeto de arquitetura no Metrô-SP
seguintes características: • Plataforma superior com largura útil de E-mail: fpontes@metrosp.com.br
• Portas de plataforma “com fechamento 4,30m (considerando neste caso a altura livre
total”, isolando a via da estação, de forma a de 2,10m a partir da borda dos painéis fixos ** Hugo Cássio Rocha é geólogo, mestre em
diminuir impactos do efeito pistão na estação das portas de plataforma); plataforma infe- Engenharia Geotécnica, especialista no Metrô-SP
e o tamanho de dutos de ventilação na plata- rior com largura útil de 5,20m; E-mail: hcrocha@metrosp.com.br
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N
INTRODUÇÃO vertical; no diâmetro do poço de circulação dades, dimensões, sistemas de controle).
nos últimos anos, as esta- e volume de escavações e concreto; e no Dentre as normas pesquisadas destaca-
ções do Metrô de São Pau- consumo energético. -se a NBR-5665 – Cálculo de tráfego nos
lo vêm sendo implantadas A análise considerou a capacidade de elevadores, que apresenta uma metodolo-
em profundidades maiores transporte do sistema de elevadores; os re- gia para o dimensionamento de elevado-
devido à necessidade de quisitos de desembarque e evacuação em res e estabelece critérios mínimos a serem
superação de barreiras fí- diferentes cenários operacionais; o atendi- atendidos.
sicas, integrações não previstas com linhas mento às normas e aos aspectos de seguran- Segundo a norma, a capacidade mínima
existentes e interferência com as fundações ça; o conforto dos passageiros; e os custos de tráfego é determinada pelo atendimento
de edifícios verticalizados. de implantação. de uma porcentagem da população calcu-
Essa profundidade é vencida por equipa- lada, que varia de 6% a 15% em função do
mentos de circulação vertical. As escadas ro- DESENVOLVIMENTO tipo de uso, em um intervalo máximo de 5
lantes são destinadas ao uso geral. Enquanto Inicialmente, estabelecemos o cruza- minutos (figura 2).
os elevadores, disponíveis em menor número, mento de dois critérios para identificar esta- Diferentemente de um edifício, para
cumprem a função de prover acessibilidade ções com potencial de obter maior benefício uma estação de metrô o atendimento crí-
universal às estações. Com o intuito de reduzir com o uso de elevadores: baixa demanda e tico é o desembarque das pessoas do trem,
a quantidade de lances de escada, são utiliza- alta profundidade. Como baixa demanda, na hora pico, que saem de modo concen-
das escadas rolantes mais longas, que deman- identificamos as estações com demanda trado e que precisa ser atendido no inter-
dam maior área para acomodação no poço de diária menor que 20.000 passageiros e de- valo máximo até a chegada das pessoas do
circulação vertical. manda na hora pico no sentido mais carre- próximo trem, para que não haja acúmulos
Tal cenário acarreta um trajeto em zigue- gado de até 2.400 pessoas (cerca de 40% da sucessivos.
-zague para a maior parte dos usuários, as- capacidade de uma escada rolante). Como Neste estudo considerou-se uma pla-
sociado a um tempo de percurso longo para alta profundidade, desníveis maiores que 30 taforma hipotética, com uma saída central
chegada à superfície. Como consequência, metros entre o nível da plataforma e o me- para o lobby, que resultou na seguinte dis-
a satisfação dos usuários é afetada e o uso zanino de bloqueios. tribuição: 46% dos desembarques com ori-
dos elevadores passa a ser atrativo, gerando Na sequência pesquisamos os modelos gem nos dois carros mais centrais, 28% nos
filas e desrespeito ao atendimento preferen- de elevadores disponíveis no mercado e suas dois carros seguintes e 26% nos carros mais
cial. Além disso, poços com diâmetros maio- características técnicas (velocidades, capaci- distantes. Essa distribuição resultou no se-
res geram um maior volume de escavações e
concreto, impactando nos custos e no prazo
de execução das obras.
Recentemente, linhas de metrô profundas
foram construídas também em outros países
como Espanha, China e Estados Unidos, onde
optou-se pelo uso de elevadores velozes e de
alta capacidade para a circulação geral dos pas-
sageiros (figura 1).
Neste contexto, o estudo buscou veri-
ficar a viabilidade do uso de elevadores de
alta capacidade como principal meio de cir-
culação vertical de passageiros em futuras
estações do Metrô de São Paulo. O objetivo
foi averiguar os benefícios da adoção deste
novo modelo quanto aos impactos no tempo
de percurso; na quantidade e custos de im- Figura 1 - Elevadores de alta capacidade na estação Zona Universitária,
plantação dos equipamentos de circulação Barcelona (Fonte: trenscat.com)
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dos elevadores varia entre 1,75m/s e Assim, mesmo para demandas de menor porte,
3,50m/s (105m/min e 210m/min). Já a e considerando desníveis médios de 7,5 me-
velocidade de deslocamento vertical das tros entre patamares, seriam necessárias en-
escadas rolantes é a mesma, indepen- tre 8 e 16 escadas rolantes para estações com
dente do desnível a ser vencido: 17m/ profundidades entre 30 e 60 metros. Além das
min para passageiros parados e 30m/ escadas rolantes, devem ser previstos também
min para passageiros caminhando nas no mínimo 2 elevadores por plataforma, para
escadas rolantes. A tabela 2 apresenta atendimento das pessoas com deficiência.
os tempos de percurso de elevadores e Nas estações com elevadores, a quantida-
Figura 5 - Poço lateral com elevadores e plataformas escadas rolantes para um desnível de 37 de de elevadores não varia significativamente
sobrepostas em corte (Companhia do Metropolitano de metros, mostrando “economias de 41 a com a profundidade, conforme mostra a tabe-
São Paulo, 2021) 118 segundos por passageiro transpor- la 4; quanto maior a profundidade da estação,
tado”, como pode ser visto na tabela 3. maior a economia na instalação de equipa-
ANÁLISE DOS RESULTADOS mentos de circulação vertical.
1.Redução de tempo de percurso 2.Redução do custo de implantação dos
Os elevadores são projetados com veloci- equipamentos 3.Redução da área escavada das estações
dades máximas de percurso condizentes com o Estações profundas são concebidas hoje As estações com poço lateral são proje-
desnível máximo a ser vencido. Para profundi- com no mínimo duas escadas rolantes por tadas atualmente com diâmetro interno com
dades entre 30m e 60m, a velocidade máxima lance (uma para subida e outra para descida. cerca de 31,4m (figura 6).
Na proposta de poço lateral com elevadores
Tabela 2 - Comparação Tempo de Percurso Elevadores (EL) e Escadas de alta capacidade, o diâmetro interno do poço
Rolantes (ER), 37 metros de percurso (elaboração própria) é reduzido para 25,5m; neste caso, a seção es-
cavada decorre principalmente da área de acu-
Parâmetros (desnível 37m) Escadas rolantes Elevadores mulação de passageiros no lobby dos elevado-
res, no cenário de evacuação da estação pelas
Velocidade vertical 17 a 30m/min 105 m/min escadas fixas, além dos dutos de ventilação e
prumadas de cabos (figuras 7 e 8).
Tempo de percurso 74 a 131 s 105 m/min
Com a adoção de elevadores de alta ca-
Tempo de percurso patamares ER 40s - pacidade, a redução dos volumes escavados
nos poços laterais de estação pode chegar a
Tempo de espera médio EL - 20s 35%, conforme tabela 5. Novamente, quan-
to maior a profundidade da estação, maior
Tempo de portas abertas EL - 32s será a redução do volume escavado, em
Tempo total de deslocamento 114 a 171s 73s termos absolutos. Os ganhos econômicos e
ambientais são os seguintes: (a) menor tem-
Tabela 3 - Comparação Tempo de Percurso Elevadores po de obra; (b) menor volume de terra a ser
(EL) e Escadas Rolantes (ER) (elaboração própria) transportado para bota-fora; (c) menor uso
de concreto, com a redução da espessura da
Profundidade da estação 30 m 45m 60m parede de concreto do poço e a redução da
espessura das lajes de pavimentos interme-
Tempo de percurso Escadas diários, por não precisarem mais receber o
2min16s 3min29s 4min42s
rolantes peso das escadas rolantes; (d) possibilidade
de uso de terrenos menores, reduzindo cus-
Tempo de percurso Elevadores 1min13s 1min13s 1min13s
Velocidade máxima - Elevadores 105m/min 150m/min 210m/min
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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO
Figura 1 - Rede estrutural de transporte coletivo comprometida, considerada nos estudos da rede futura de metrô (Fonte: Companhia do
Metropolitano de São Paulo, 2022)
Q
uando se pensa em mo- aos deslocamentos da população a tra- mações atualizadas é possível rever as
bilidade, diversos temas balho, estudo, lazer, saúde, compras e diretrizes e os planos de expansão da
podem ser foco de abor- demais motivos. Sem uma infraestru- rede de transporte, na qual se destaca
dagem, desde as razões tura de transporte coletivo adequada é a rede sobre trilhos, em especial a de
pelas quais as pessoas se certo que as pessoas despenderão mais metrô.
locomovem de um lugar a outro, até tempo de viagem do que o desejado, No caso da Região Metropolitana de
a infraestrutura que dá suporte à sua entre o local de origem e o local de São Paulo (RMSP), o ciclo de atualiza-
mobilidade. São temas objeto do pla- destino. ções da rede futura de transporte cole-
nejamento urbano e de transporte, O desenho da rede de transporte co- tivo tem como partida as novas edições
todos ligados de modo intrínseco ao letivo futura, que segue planos e leis das Pesquisas Origem e Destino (OD),
contexto socioeconômico, que condi- que regem o planejamento de transpor- realizadas desde 1967 com uma perio-
ciona a produção do espaço da cidade te e a produção do espaço urbano, pro- dicidade de 10 anos até chegar à OD17,
e a sua fruição. No desenvolvimen- põe novas linhas e a expansão de linhas e passa pelo levantamento de informa-
to desses temas tudo aponta para a existentes, visando atender à demanda ções relacionadas ao espaço urbano,
identificação de sequências de ações, pelo ser viço prevista após 20 anos, pe- por projeções de crescimento popula-
investimentos, metas e a considera- ríodo geralmente adotado nos planos. cional e econômico, pela constituição
ção de inúmeros aspectos na busca de A atualização do desenho da rede de modelos de previsão da demanda e
transformações promotoras de melho- de transporte coletivo futura é cíclica, pela incorporação de avanços tecnoló-
res condições de produção e de quali- envolvendo a revisão de estudos que, gicos nos modos coletivos, na implan-
dade de vida da população. por sua vez, dependem de pesquisas tação das linhas e em sua operação.
A expansão da rede é tema central e levantamentos que caracterizam o Afinal, quais são as fases de um
do planejamento de transporte coleti- presente e procuram antever situações estudo para a revisão da rede futura?
O Metrô de São Paulo busca consoli- futuros; a adoção de diretrizes para o porte; na consolidação do processo de
dar uma metodologia de trabalho, com traçado da rede, compatíveis com obje- planejamento de transporte; na elabo-
fases e atividades bem definidas, para tivos da política de transporte estabe- ração de programas de investimentos;
estabelecer, com boa fundamentação, lecida de forma exógena ao processo; a e na avaliação, acompanhamento da
suas propostas de desenho da rede fu- escolha de indicadores de desempenho implantação e revisão do plano.
tura de metrô. para avaliação de traçados alternativos A estrutura analítica adotada para
Seguindo as práticas estabeleci- para a rede futura; as propostas de tra- orientar o projeto da rede futura de
das pelo Project Management Institute çados alternativos para a rede futura; metrô estabelece como atividade inicial
(PMI), todos os projetos pertencentes o teste dos traçados alternativos de entender o contexto em que irá se in-
ao ciclo de vida do planejamento de rede para o cenário otimista; a seleção serir a proposição de expansão da rede.
expansão metroviária foram mapea- do melhor traçado para a rede futura; Para tanto devem ser realizadas pros-
dos e estruturados: Pesquisa Origem propostas de esquemas espaciais al- pecções da conjuntura metropolitana,
e Destino (OD); modelo de previsão de ternativos de integração intermodal; na busca de informações da situação
demanda e projeções socioeconômicas; o programa de implantação das novas atual, das transformações em curso e
rede futura de metrô – objeto deste ar- linhas e a previsão dos investimentos dos planos, projetos urbanos e obras
tigo; projeto diretriz de novas linhas ou correspondentes. que poderão transformar o espaço me-
trechos novos de linhas existentes; an- O planejamento estratégico dife- tropolitano. Dentro deste produto ain-
teprojeto de engenharia; estudo de im- rencia-se do tradicional principalmente da são levantados os obstáculos para a
pacto ambiental e relatório de impacto porque a sucessão de atividades inicia- competitividade e oportunidades para
ambiental. -se com palestras e debates, com a par- a metrópole, além de aspectos institu-
Para cada um desses projetos de ex- ticipação de especialistas em diversos cionais que podem inf luenciar os rumos
pansão da rede metroviária foram cons- setores, para identificar a metrópole do desenvolvimento metropolitano.
tituídas estruturas analíticas de proje- desejada no ano horizonte do plano, Nesta fase também é feito processo se-
to, que sintetizam os trabalhos a serem pelos responsáveis por ações públicas melhante para a rede de transporte, em
realizados e formam o seu arcabouço. relacionadas à produção do espaço ur- que se prospectam os planos de investi-
No caso do planejamento da rede futu- bano. Em seguida é feita a especifica- mentos em andamento, as funções pú-
ra de metrô, seis grandes fases estru- ção dos objetivos da política de trans- blicas de interesse comum que deman-
turam sua concepção: 1) princípios da porte para a produção da metrópole dam compatibilização com a rede e as
rede futura; 2) cenários socioeconômi- desejada; e são estabelecidos indicado- contribuições para o desenvolvimento
cos; 3) estratégias de desenho da rede; res quantitativos para avaliar o alcance sustentável.
4) seleção da estratégia; 5) hierarqui- dos objetivos da política de transporte, Em seguida, importante atividade
zação e sequenciamento de trechos em cada alternativa de rede futura a ser pode ser desenvolvida, para estabelecer
operacionais; 6) monitoramento do proposta. as premissas que ser virão de base para
desenvolvimento da rede. Além dessas Já, as etapas seguintes do planeja- o desenho da rede de metrô. Consiste
fases, integram os trabalhos de desen- mento estratégico se assemelham às do em definir a visão da metrópole dese-
volvimento da rede futura a comunica- planejamento tradicional: elaboração jada, em outras palavras, qual a metró-
ção e divulgação, o gerenciamento do do cenário base e de possíveis cenários pole se quer para o futuro, e como a
projeto e das partes interessadas. Este futuros; desenho de alternativas para rede de metrô contribui para o alcance
artigo entra em mais detalhes nas seis a rede futura, mas agora envolvendo dessa visão. Para essa atividade é pos-
grandes fases. também a participação de técnicos das sível coletar diferentes visões de partes
entidades de transporte atuantes na interessadas, sintetizá-las consideran-
PRINCÍPIOS DA REDE FUTURA metrópole e de consultores especia- do aspectos afins e estabelecer uma vi-
Esta fase inicial estabelece as bases listas em planejamento de transporte; são unificada da metrópole do futuro.
para o estudo. Em um primeiro mo- teste das alternativas de rede futura Um conjunto de objetivos, então, po-
mento define-se o método de desen- para o cenário socioeconômico otimis- derá ser formulado, de modo a associar
volvimento do estudo, isto é, a forma ta; seleção da rede mais pontuada pelos a visão da metrópole desejada a trans-
como os trabalhos serão conduzidos. indicadores previamente estabelecidos; formações mensuráveis. Estas, por sua
É possível optar pela abordagem do e teste, nos demais cenários, da rede vez, possibilitarão a avaliação das es-
planejamento tradicional ou do plane- selecionada. tratégias da rede futura de metrô.
jamento estratégico, mais ágil, mesmo O planejamento estratégico inclui Finalizando esta atividade, podem
alcançando uma gama abrangente de a elaboração de diretrizes, recomenda- ser formulados critérios e indicadores
questões e múltiplos interesses. ções e políticas com foco em investi- que, a partir dos objetivos a serem al-
O planejamento tradicional envol- mentos em infraestrutura; na gestão cançados, avaliarão as diferentes estra-
ve realizar, em sequência: diagnósticos operacional; na produção do espaço ur- tégias de desenho da rede futura.
de questões associadas à organização bano associado à rede de transporte; na
do território e à demanda e oferta de gestão de subsistemas componentes do CENÁRIOS SOCIOECONÔMICOS
transporte; a identificação do cenário sistema de transporte; no financiamen- Nesta fase são analisadas as infor-
socioeconômico na data da Pesquisa to do sistema de transporte; no moni- mações socioeconômicas. Parte-se da
Origem e Destino mais recente e de toramento do sistema de transporte; na situação presente, levantada a partir
possíveis cenários socioeconômicos f lexibilização dos produtos de trans- das Pesquisas Origem e Destino, assim
A
Companhia do Metropoli- aos variados e complexos requisitos de in- definição dos requisitos das estações – e,
tano de São Paulo – Me- serção no território urbano e de viabiliza- dentre estes, aqueles relacionados à mi-
trô desenvolve de maneira ção de sua construção. croacessibilidade e inserção urbana.
contínua estudos e revisões Nessa etapa inicial do projeto de uma Dentre os aspectos principais da locali-
de traçados de linhas me- linha de transporte, são feitas as primeiras zação da estação em relação ao tecido ur-
troferroviárias baseados na proposta de abordagens para definição da localização bano existente estão a forma com que a in-
Rede Futura vigente. Esses trabalhos, que das futuras estações através de estudos fraestrutura de transportes se integra a esse
abrangem o traçado e as estações de uma que contemplem variáveis tecnológicas, ambiente e quais atributos físico-espaciais a
determinada linha, são realizados no pro- de atendimento, socioeconômicas e físico- estação e seu entorno devem apresentar a
jeto diretriz², etapa anterior à elaboração -territoriais. Recentemente, o Metrô de- fim de qualificarem-se mutuamente. Essas
do anteprojeto de engenharia / projeto senvolveu o projeto diretriz de uma nova características contribuem para o projeto da
funcional e do projeto básico. Dentre as linha, através de sua Diretoria de Enge- estação no sentido de torná-la parte do es-
diversas atividades, consistem no desen- nharia e Planejamento. Questões específi- paço urbano onde se insere, de forma inte-
volvimento preliminar da diretriz do tra- cas da própria linha e algumas questões grada em relação ao ambiente construído. Já
çado ainda em escala macro. Essa diretriz normativas / legais recém-atualizadas para a região onde se insere, a estação deve
é progressivamente detalhada nas etapas apontaram para a oportunidade de con- contribuir para elevar o nível da acessibilida-
Figura 3 - Calçadas ocupadas por obstáculos Figura 4 - Calçada estreita ocupada por poste
(Fonte: Google Earth, 2022) (Fonte: Google Earth, 2022)
também algumas publicações e estu- que promoveram a compra, o esto- degraus irregulares; com piso dani-
dos sobre acessibilidade, para que a que e o loteamento inicial de glebas, ficado ou em terra batida; ocupadas
abordagem pudesse ser conceitual- que não estavam atreladas à expansão por veículos estacionados, descarte de
mente consistente e disponibilizasse planejada do espaço urbano. De fato, material ou avanço irregular de edifi-
ferramentas para operacionalizar a desde meados do século XIX, com a cações lindeiras (figura 3 ); com muitos
proposta: Acesso de mulheres e crian- instituição da propriedade privada postes, sobrecarregados de fios, ape-
ças à cidade (ITDP, 2018); Manual de da terra – que criou a oportunidade sar da escassa iluminação noturna (fi-
desenho urbano e obras viárias (PMSP, para o capital se reproduzir através gura 4 ); com sinalização e arborização
2020), Acessos seguros: diretrizes do loteamento e da comercialização precárias e poucas facilidades para
para a qualificação do acesso às esta- de glebas – o desenho da circulação, a travessia de vias de grande f luxo
ções de transporte coletivo (WRI Cida- nos espaços delimitados pela rede de veículos; ou calçadas interrompi-
des, 2017) e a tese de doutorado Nó de viária principal, resultou de decisões das por ferrovias, córregos, desníveis
transporte e lugar: dilemas, desafios isoladas, sem gestão pública para ga- abruptos, condomínios fechados e
e potencialidades para o desenvolvi- rantir o respeito à topografia e à co- grandes glebas muradas, como as des-
mento de um hub urbano de mobilida- nectividade, ou seja, sem o projeto da tinadas à estocagem de produtos.
de (BAIARDI, 2018). rede viária e das calçadas (figura 1). Assim, os projetos de microaces-
Os primeiros arruamentos de antigas sibilidade às estações de metrô são
JUSTIFICATIVAS chácaras situadas fora do centro his- uma oportunidade para projetar par-
A microacessibilidade refere-se aos tórico da cidade não levaram em conta tes importantes do espaço público da
percursos necessários para alcançar a continuidade das vias que intercep- cidade de São Paulo, promovendo a
determinados modos de transporte tavam o perímetro das áreas loteadas, segurança e o bem-estar de pedestres
motorizados, por exemplo, estações de maneira que o tecido urbano resul- e ciclistas.
de metrô, pontos de ônibus, estacio- tante assumiu a forma de uma colcha Conectado a esse contexto, o Me-
namentos, e para completar as via- de retalhos, com poucas ligações entre trô tem se mobilizado em atenção às
gens até o destino, após o uso desses si (figura 2). Para reduzir a desconti- questões ambientais, tanto pela neces-
modos. Em geral, os percursos da mi- nuidade do traçado viário, abriam-se sidade de atendimento de uma exten-
croacessibilidade são realizados a pé; ruas em perímetros de áreas já lotea- sa legislação sobre o tema que recai
e algumas vezes, por modos não mo- das, viabilizando o fracionamento de sobre seus empreendimentos, quanto
torizados, como bicicletas. novas glebas, contíguas à primeiras. pela existência de iniciativas internas
Assim, em qualquer espaço urba- Na última década do século XIX e nos na inovação e qualificação de requisi-
no, a segurança e o bem-estar de pe- séculos seguintes, os loteamentos po- tos ambientais. A empresa ainda tem
destres e de usuários de ciclovias são pulares destinados à autoconstrução focado nas questões climáticas emer-
aspectos importantes e prioritários de casas, para abrigar principalmente gentes, nos aspectos ligados à sus-
quando se trata de microacessibilida- grande número de migrantes, conso- tentabilidade e na mudança de para-
de. Mas, na cidade de São Paulo, como lidaram esse procedimento, parcelan- digmas de projetos urbanos, cada vez
em muitas cidades brasileiras, o es- do glebas cada vez mais distantes, em mais centrados nas pessoas, na mobi-
paço urbano ainda oferece condições lotes cada vez menores, alcançando lidade ativa e na acessibilidade uni-
precárias para a circulação de pedes- até espaços de ocupação ilegal, des- versal. Questões gerais presentes nos
tres e usuários de modos não motori- tinados à proteção ambiental ou com Objetivos de Desenvolvimento Susten-
zados, principalmente para acessar o riscos geológicos. tável da ONU, dos quais o Estado de
transporte coletivo. Atualmente, circular a pé em São São Paulo é signatário, e a eminência
A preocupação com a microaces- Paulo, especialmente em áreas mais de temas ligados à sustentabilidade na
sibilidade pouco se revela no desenho afastadas do centro expandido da ci- construção civil (por exemplo, cer-
do espaço urbano em São Paulo. Em dade, é enfrentar trajetos de risco, em tificações verdes), têm sido parte de
parte, isso se deve às circunstâncias calçadas estreitas, íngremes ou com debates internos e tomam forma nas
da. Da hidrografia em conjunto com concentração de atividades comer- ônibus e ciclovias foram avaliadas em
o sistema viário, depreendeu-se os ciais, patrimônio histórico e favelas conjunto com os principais f luxos e as
pontos onde é possível cruzar os cor- buscou-se reconhecer os principais principais vias de conexão da região
pos d’água e onde eles se configuram pontos de atração de viagens. com a cidade, de maneira a construir
como barreiras à circulação. Com as Os padrões de arruamento, lotea- um panorama geral sobre a circulação
bases de drenagem e áreas inundáveis mento e urbanização sugeriram des- e a acessibilidade atual da área, além
foi possível identificar locais de difícil continuidades do sistema viário e de rotas ou caminhos preferenciais ou
acesso em épocas de chuva. ajudaram na identificação de grandes mais diretos entre a estação e os pon-
A partir dos dados de equipamen- glebas ou quadras, contribuindo para tos de interesse reconhecidos dentro
tos urbanos foram assinalados aqueles a análise das dificuldades encontradas do perímetro.
com importância regional, que pode- para a circulação na região. Outras Com o suporte das bases, das in-
rão ser acessados pela população de barreiras urbanas foram identificadas formações analisadas e sintetizadas
outras localidades através da nova es- a partir de grandes áreas verdes e de e dos diversos planos colocalizados
tação de metrô. Com as bases de uso linhas de transmissão. partiu-se para a terceira etapa do es-
do solo, centros comerciais, ruas de As redes de transporte estrutural, tudo, que consistiu na elaboração de
propostas para a melhoria das con-
dições de circulação no perímetro de
microacessibilidade. Nesta fase, as
proposições foram elaboradas como
diretrizes, no formato de requisitos
espacialmente localizados, a serem
atendidos em futuros projetos.
O reconhecimento das característi-
cas físico-ambientais, urbanas e de cir-
culação no entorno da estação projetada
tornou possível a indicação de requisi-
tos relativos às categorias identificadas.
Foram recomendados requisitos para
atender às necessidades de criação e
qualificação de rotas acessíveis 5 (figura
6 ); de superação de desníveis (figura 7);
de transposições e travessias de cursos
d’água (figura 8 ); de garantia de acessi-
bilidade em áreas alagáveis; de conexão
com a rede cicloviária e de integração
Figura 7 - Superação de desníveis com as áreas verdes e com a arborização
(Fonte: Companhia do Metropolitano de São Paulo sobre base do Google Earth, 2022) da região (Ver imagens).
Por fim, os requisitos propostos e lo-
calizados espacialmente foram categori-
zados, destacando-se aqueles apontados
previamente nos planos municipais e os
inseridos dentro do raio de 300m a partir
da estação, conforme delimitado no Esta-
tuto do Pedestre. Tal categoria aponta para
eventual priorização dos requisitos, uma
vez que se enquadram em área mais direta-
mente ligada à estação e/ou em diagnósti-
cos preexistentes em âmbito local.
CONCLUSÕES
A partir do exercício feito com a
estação da linha estudada, a descrição
dos processos de definição do períme-
tro de microacessibilidade, a caracte-
rização e análise desse perímetro e a
indicação dos requisitos, o trabalho
apontou algumas recomendações:
(a) Deduzir aspectos gerais para com-
Figura 8 - Transposição de cursos d’água plementar lista de requisitos do projeto
(Fonte: Companhia do Metropolitano de São Paulo sobre base do Google Earth, 2022) diretriz – ou seja, identificar requisitos
E
ste artigo apresenta a talhamento de custos, aspectos técni- ção CONAMA 01 exige a elaboração de
aplicação mais recen- cos e desapropriações, entre outros. um Estudo de Impacto Ambiental, que
te de uma metodologia deve obedecer a algumas diretrizes
participativa integrada ALTERNATIVAS LOCACIONAIS gerais e atividades técnicas, dentre as
sobre a escolha entre DE UMA LINHA DE METRÔ quais a avaliação de alternativas tec-
alternativas locacionais de traçado de Cada linha metroviária é uma inova- nológicas e de localização do projeto,
uma linha de metrô. ção, com características de atendimen- confrontando-as com a hipótese da
Na Companhia do Metropolitano to únicas do espaço em que se insere. não execução.
de São Paulo, a sequência de produ- Desenhos de alternativas locacionais Já o artigo 42 da Lei 13.303 esta-
tos necessários para a implantação de suas estações alteram o traçado da belece como disposições aplicáveis às
de uma linha tem início com a inser- linha e subsequentemente a interação empresas públicas e às sociedades de
ção da linha na rede futura, segui- com o tecido urbano e com diferentes economia mista, a observação de pa-
da de um projeto diretriz e a elabo- oportunidades e riscos. râmetros de adequação da obra ao
ração do Anteprojeto de Engenharia. interesse público, à economia na uti-
A definição da alternativa locacional REGRAMENTOS lização, à facilidade na execução, aos
é executada nessa etapa e embasa as Fundamentando a escolha do tra- impactos ambientais e à acessibilidade.
etapas seguintes de licenciamento çado com melhor desempenho, a ava- Assim, na avaliação das alternativas
ambiental, em que se deve demostrar liação de traçados alternativos de uma locacionais de uma linha de metrô é
que a escolha feita assegura a melhor linha de metrô pode ser feita através de importante que se considerem critérios
viabilidade, considerando aspectos um conjunto de critérios, estabelecidos que indiquem: facilidade na execução,
ecônomicos, financeiros, técnicos, em conformidade à Resolução Conama economia na utilização, aumento da
ambientais e de inserção no espaço 01, de 23 de janeiro de 1986 e à Lei acessibilidade, redução de impactos
urbano, conforme a figura 1. A se- 13.303, de 30 de junho de 2016. ambientais e adequação ao interesse
guir são elaborados o EIA/RIMA e o De fato, para a aprovação da Li- público na produção e no uso do es-
Projeto Básico, que aprofunda o de- cença Prévia, o Artigo 5º da Resolu- paço urbano.
EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Apresenta-se a seguir um exemplo
Figura 5 - Questionário de coleta entre critérios, comparação entre pares de aplicação do método para a seleção
entre duas alternativas locacionais de
“Potencial para empreendimentos cultura e lazer” - quantifica os equipa- estações de uma linha, conforme se ob-
associados” - prevê potenciais recursos mentos de educação, saúde, compras, serva na figura 4.
extra tarifários destináveis ao setor de cultura e lazer localizados em períme-
transporte, que poderiam ser captados tro estabelecido em torno de novas es- MÉTODO DE COLETA DA
em função da comercialização do po- tações de metrô. COMPARAÇÃO AHP
tencial de área edificável relacionada a Tanto para a comparação entre cri-
áreas desapropriadas para a implanta- APLICAÇÃO DO AHP COMO térios, quanto na comparação entre
ção das estações de uma linha de metrô. METODOLOGIA PARTICIPATIVA indicadores relacionados a um mesmo
“Relevância dos equipamentos ur- Após a escolha do conjunto de in- critério, foram elaborados questioná-
banos de educação, saúde, compras, dicadores correspondente aos critérios rios específicos, em formato que fa-
A
INTRODUÇÃO A Companhia do Metrô, na busca de Os dados de viagens foram captados du-
Pesquisa Origem e Destino alternativas à realização da Pesquisa Ori- rante sete dias consecutivos. O pesquisado
é o principal instrumento gem e Destino domiciliar presencial, de escolhia três desses dias para editar os da-
de coleta de dados rela- seu domínio há mais de 50 anos, concebeu dos: confirmação dos trajetos, os horários
cionados à demanda de solução baseada em uso de um aplicativo e motivos na origem e no destino, os mo-
viagens, consistindo em em smartphones desenvolvido para capta- dos de transporte utilizados em cada des-
importante ferramenta de ção de dados sobre as trajetórias dos des- locamento que compõe a viagem, e tempo
análise da mobilidade dos habitantes da Re- locamentos cotidianos a partir de registros andando para acessar o modo de transporte
gião Metropolitana de São Paulo. A pesquisa de GPS dos aparelhos e uma interface para utilizado.
domiciliar faz o levantamento das viagens a coleta de informações fornecidas pelo
internas dessa área de estudo. usuário do aplicativo. A este sistema foi PRÉ-TESTE
A Pesquisa Origem e Destino, realizada dado o nome de OD Digital, que consistiu O pré-teste foi realizado com pessoas
pela Companhia do Metrô desde 1967, tem em teste para rastrear as viagens e levan- que responderam, na Pesquisa Origem e
periodicidade decenal. A última ocorreu em tar dados relacionados aos deslocamentos Destino 2017, que estariam dispostas a re-
2017, correspondendo à sexta edição dessa realizados e aos dados socioeconômicos alizar pesquisa por smartphone. O pré-teste
pesquisa. dos participantes. teve três focos de observação: avaliação da
A forma tradicional de coleta de dados O principal objetivo da Pesquisa OD Di- funcionalidade do aplicativo para coleta de
está relacionada à realização de entrevistas gital foi a obtenção de dois tipos de indi- dados de viagens editáveis; alimentação da
presenciais com moradores de domicílios sor- cadores: indicadores de comportamento do base de dados; e comportamento e disposi-
teados para compor a amostra da pesquisa. público com relação à participação nesse ção das pessoas em participar desse formato
Essa forma tem se mostrado cada vez mais tipo de pesquisa e indicadores operacionais de pesquisa.
difícil de ser aplicada, por estar associada a sobre as funcionalidades do aplicativo. Pro- Um total de 11.899 pessoas receberam
um questionário extenso e detalhado com for- curou-se estudar a viabilidade de uma Pes- mensagens de SMS pelo celular. Os convi-
necimento, a um pesquisador, de dados socio- quisa OD domiciliar realizada com a coleta dados eram direcionados ao site da pesquisa
econômicos e de viagens de todas as pessoas de dados pelo aplicativo, sem pesquisador onde realizavam a inscrição para participar.
da família acarretando insegurança do entre- no domicílio entrevistando presencialmente A eles foi oferecido um valor de R$ 15,00
vistado no fornecimento de dados pessoais. os moradores. em crédito do Bilhete Único por pesquisa
As atividades da pesquisa OD completa.
Digital foram desenvolvidas em Os resultados mostraram que ape-
duas fases: planejamento da pes- nas 1,5% dos convidados que receberam
quisa com execução do pré-teste as mensagens de SMS se inscreveram (182
e execução do teste propriamente inscrições para 11.899 convidados). Destes,
dito. 10,4% se cadastraram na pesquisa (19 ins-
O pré-teste foi realizado com a critos baixaram o aplicativo e cadastraram
utilização de um aplicativo já exis- login e senha) e 42% deles tiveram viagens
tente, Cittamobi, voltado a usu- monitoradas (oito pessoas cadastradas com
ários de transporte coletivo, que viagens monitoradas). Das pessoas com via-
oferece consultas sobre itinerários, gens monitoradas, apenas três ou 0,4% fize-
horários de passagem dos ônibus ram edição das viagens.
nos pontos de parada, dentre ou- Uma sondagem realizada com os par-
tros serviços. No pré-teste, o apli- ticipantes apontou para uma mudança
cativo Cittamobi foi customizado, na estratégia de bonificação para a fase
com a criação de uma área interna seguinte do teste, resultando em crédi-
contemplando as funções requeri- tos eletrônicos de valores módicos para
Figura 1 - Identidade da Pesquisa OD Digital das para a pesquisa. serem trocados por produtos e serviços
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TRANSPORTE I ENGENHARIA
CARACTERÍSTICA ETAPA
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previamente selecionados. Apesar do nú- TESTE DA OD DIGITAL sugerem que, em pesquisas com estas carac-
mero expressivo de pessoas convidadas, a A fase seguinte dos trabalhos foi dedi- terísticas, as ações de comunicação devem
amostra colhida foi reduzida. cada à realização do teste do aplicativo e ser realizadas durante um prazo mais longo
No entanto, o pré-teste buscava primor- de estratégias de engajamento voltados à e com manutenção da comunicação de forma
dialmente um aprendizado sobre a metodolo- população em geral. Nesta fase, foi desen- permanente e mais extensiva, abrangendo
gia e o instrumento concebido para a coleta volvido o aplicativo específico para a Pes- um número maior de plataformas (tabela 2).
dos dados. Neste contexto, o engajamento, quisa OD Digital, dissociado do aplicativo da Para as estratégias de comunicação, o
associado à forma de comunicação, à usabili- Cittamobi. teste apontou para a importância da veicu-
dade do aplicativo e sua capacidade de coleta O teste da OD Digital foi realizado em lação de comunicação e divulgação da pes-
foram os aspectos de maior atenção. Assim, o três etapas, que incorporaram redefinições quisa por mais tempo; utilização de vídeos
pré-teste permitiu avaliar as soluções desen- após os resultados do pré-teste, conforme de no mínimo 30 segundos; exploração do
volvidas fornecendo elementos para aprimo- tabela 1. conceito de que a participação das pessoas
ramentos na forma de captação dos dados e Aspecto relevante da OD Digital foi a co- na pesquisa ajuda o planejamento urbano e
nas estratégias de atração das pessoas para a municação e divulgação das campanhas na de mobilidade; publicação das campanhas
pesquisa antes de sua aplicação em uma es- fase de teste, especialmente nas segunda e nas redes sociais e utilização de estratégias
cala mais ampla, que se deu na fase de teste. terceira etapas. No entanto, os resultados de disseminação de conteúdo que possam
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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO
QUANTIDADE ETAPA
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O
INTRODUÇÃO os profissionais da área de planejamento idosos, de pessoas com deficiência ou por-
estudo de novas linhas de do Metrô de São Paulo têm evoluído a de- tadoras de outras necessidades e de ges-
metrô envolve diversas limitação da área ao redor do local de im- tantes, bem como facilidades no acesso às
etapas de desenvolvimen- plantação das futuras estações, em razão estações, as quais levam em conta carac-
to, dentre as quais desta- de padrões comportamentais constatados terísticas de seu entorno – inclui sistema
ca-se o conhecimento do por estudos – empíricos e teóricos – que viário, presença e capacidade de calçadas
entorno dos locais onde tratam da captação de passageiros nos ar- e sinalização para pedestres, além das li-
há a intenção de se implantar as novas redores das estações. nhas de ônibus existentes.
estações. Faz parte deste estudo o conhe- Alguns fatores influenciaram na defi- Com base no conhecimento obtido,
cimento da dinâmica de circulação das nição de uma nova área: acessibilidade de entendeu-se então que a metodologia de
pessoas e a maneira como elas chegarão
às estações, em que se inclui a acessibi-
lidade através de outros modos de trans-
porte. Como parte de um sistema, serão
esses modos, sejam eles o andar a pé ou
de bicicleta, ou ainda, o acesso por trans-
porte individual ou ônibus, os responsá-
veis por aproximar as pessoas do serviço
de transporte por trilhos. Em aglomerados
urbanos com o porte da Região Metropo-
litana de São Paulo, os ônibus respondem
por um grande volume de pessoas que
chegam às estações de metrô e de trem
metropolitano.
Ao longo de décadas, técnicas para
uma compreensão mais precisa da dinâ-
mica de integração intermodal vêm evo-
luindo, com destaque para a integração
ônibus-trilhos. Através de suas experiên-
Figura 1 - Delimitação de área da captação de integração (ACI)
cias, ao estudar novas linhas metroviárias,
(Fonte: Companhia do Metropolitano de São Paulo, 2022)
capacidade com frequência de dez veícu- No anteprojeto de engenharia são anali- preferencialmente, fora das faixas do trá-
los na hora pico, são ofertados 800 lugares sadas as facilidades ou mecanismos de in- fego geral, para o embarque e o desem-
no total. tegração física a serem implantados, tais barque dos passageiros. O comprimento de
Verificou-se que algumas linhas mu- como baias de parada e terminais em caso cada baia pode variar conforme o volume
nicipais operam com até quatro tipo de de grande volume de linhas de ônibus. de ônibus que atende cada estação na hora
veículos. Para estimar a oferta de lugares Requisitos para todas as estações em re- pico. Dependendo do potencial de reorga-
de linhas com estas características, foi lação a: nização apresentado pela linha e pela es-
adotado um cálculo de proporcionalidade • Sistema viário do entorno, localização e tação, terminais de ônibus também podem
da frota operante em horário de pico, com traçado de ciclofaixas e ciclovias, faixas e ser propostos, havendo necessidade de
o seguinte método: os menores veículos semaforização de pedestres. áreas específicas para sua implantação.
possuem peso 25%; para os veículos in- • Adequações destes dispositivos viários. As linhas de ônibus municipais consi-
termediários fez-se a somatória de suas • Acessos das estações que garantam a se- deradas podem ter rotas de passagem ou
proporcionalidades com peso de 12,5% gurança dos passageiros e adequada inte- pontos finais alterados para embarque e
para cada um, cujo peso final se dá 25% gração intermodal. desembarque de passageiros que podem
e; os veículos de maior porte peso igual a • Caracterização e estudos de reorganiza- se transferir para a futura linha de metrô
50%. A somatória das tipologias resultará ção do sistema de transporte coletivo no proposta.
em peso de 100%. estudo das alternativas de traçado e no
Igualmente, tal cálculo é realizado detalhamento da alternativa selecionada. CONCLUSÕES
convertendo a tipologia destes ônibus Após a adoção de raio igual a 300 me-
por razões pré-estabelecidas que resulte CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE tros para definição de uma área de cap-
em peso 100% se uma determinada linha CAPTAÇÃO DA INTEGRAÇÃO (ACI) tação de passageiros para as futuras es-
utilizar 3 veículos de tamanhos diferentes. No interior da ACI (raio de 300 m no tações de metrô, foi possível uma maior
Entende-se que os menores veículos pos- entorno das estações), as linhas de ônibus compreensão da dinâmica do fluxo de
suem peso de 25%, os veículos de médio podem apresentar as seguintes particula- entradas e saídas destes passageiros nas
porte peso de 25% e; os veículos de maior ridades: futuras estações de metrô.
porte peso igual a 50%. •Trafegar somente no sentido centro-bair- Em continuidade a este estudo, desen-
Já para as linhas intermunicipais fo- ro, durante a hora pico da manhã, não ha- volveu-se dentro da Companhia do Metro-
ram verificadas tabelas oriundas do site da vendo para estas linhas retorno operacio- politano de São Paulo - METRÔ um grupo
EMTU nas quais há tipologia de veículos nal ao ponto de partida. de estudo sobre microacessibilidade, o qual
definida para cada linha, aplicando-se o • Serem circulares e, portanto, contabili- enumerou as principais barreiras e outras
mesmo cálculo de oferta máxima da linha, zadas somente em um sentido, quando da dificuldades de acesso dos passageiros às
isto é, a capacidade máxima do veículo passagem pela respectiva ACI na hora pico futuras estações, dentre as quais pode-se
adotado multiplicada pela maior frequência da manhã. destacar a integração ônibus-metrô.
de ônibus na hora pico manhã ( tabela 1). • Igualmente linhas circulares que trafe- O distanciamento igual ou inferior aos
gam nos sentidos de ida e volta nas re- 300 metros que delimitam tal área surge
BASES PARA A ANÁLISE DAS LINHAS feridas áreas de estudo são contabilizadas como um valor médio com características
DE ÔNIBUS NA ÁREA DE CAPTAÇÃO DE uma única vez. entendidas como confortáveis para a maioria
INTEGRAÇÃO (ACI) DE CADA ESTAÇÃO Outra importante informação são os das pessoas ao caminhar e ingressar o sistema
A análise das linhas municipais de ôni- valores das frequências máximas, no perí- metroviário, embora casos excepcionais exi-
bus está baseada nas informações oriundas odo da hora pico da manhã, obtidos após jam outros níveis de atenção e estudo. Ade-
do órgão responsável pelo gerenciamento do tratamento dos dados brutos de cada linha quações, tais como o remanejamento de pon-
transporte por ônibus municipal. Para este de ônibus, expressa na unidade de ônibus tos e de abrigos, ou mesmo a criação de novas
estudo utilizou-se o banco de dados da São na hora pico manhã (ON/HPM). paradas de ônibus nos arredores das estações,
Paulo Transportes (SPTrans), de outubro de O desenho da figura 2 sintetiza as solicitadas aos órgãos gestores do transporte
2019, considerada a última informação típi- características operacionais das linhas de sobre pneus, podem ser necessárias e o estu-
ca válida para os dias úteis, tendo em vista ônibus em cada ACI, representando seus do das ACI faz uma primeira indicação dessa
as alterações de comportamento da popula- principais movimentos, volumes e oferta ação, caso constate essa necessidade.
ção devido à pandemia de Covid-19. máxima de lugares, o que possibilita um
As linhas intermunicipais foram levan- entendimento preliminar dos requisitos * Marcos C. Teixeira é engenheiro Civil do Metrô-SP
tadas uma a uma, diretamente após aná- de atendimento das estações, a ser apro- E-mail: mcorrea@metrosp.com.br
lise do site da Empresa Metropolitana de fundado na etapa de anteprojeto de enge- ** Leonardo C. L. Lisboa é arquiteto, doutor em
Transportes Urbanos (EMTU). nharia / projeto funcional, quanto ao seu planejamento urbano e supervisor técnico na Gerência
As informações permitem estabelecer atendimento e reorganização em função de Planejamento e Meio Ambiente do Metrô-SP
como principais elementos desta análise: da integração às novas linhas de metrô. E-mail: leonardolisboa@metrosp.com.br
• Linhas de maior frequência na hora pico *** Ronaldo A. Ferreira é administrador de
da manhã; PROPOSTAS DE MELHORIA NO EQUIPA- empresas, atuante como Assessor Técnico I no Metrô
• Estimativa de lugares ofertados na hora MENTO URBANO – ESTAÇÃO DE METRÔ E-mail: ronaldoalves@metrosp.com.br
pico da manhã; Nota-se que em algumas estações, **** Fernando T. Santiago é Geógrafo, atuante nesta
• Principais fluxos de linhas de ônibus será necessária que haja a implantação de companhia como Assistente Técnico IV no Metrô-SP
para as ACI de cada estação. baias para ônibus por sentido de fluxo e, E-mail: fernando_santiago@metrosp.com.br
N
o contexto de mobilização ca e tecnológica do futuro. Por isso impõe Assim, as diretrizes de sustentabilidade já
em relação ao futuro da vida também decisões complexas que envolvem internalizadas no planejamento e projeto ga-
nas cidades, acentuado com não só as prioridades políticas e o contexto nharam destaque nas análises de riscos, prin-
a pandemia da Covid-19, os econômico, mas também o ambiente regula- cipalmente pela oportunidade de se incorporar
sistemas de transporte co- tório e os interesses sociais. novas diretrizes tecnológicas e construtivas e
letivo ganharam relevância A implantação de linhas de metrô está adoção de requisitos referenciados e certifica-
como agentes estratégicos para a transforma- relacionada a obras de grandes proporções e dos em construção sustentável.
ção do espaço urbano, da dinâmica econômi- envolve obras e consumo de insumos e ener-
ca e para a mobilidade sustentável. gia que geram impactos ambientais signifi- PRÁTICAS DE
O papel do Metrô na promoção da mo- cativos, também em termos de emissões de CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
bilidade e desenvolvimento urbano sempre carbono e contaminantes atmosféricos. Da mesma forma que gera impactos
esteve associado à contribuição expressiva Neste contexto, critérios associados à cons- positivos na economia, a construção civil
para a economia. A implementação de pro- trução sustentável passaram a ser estratégicos é uma atividade que modifica a paisagem
jetos de infraestrutura de transporte impli- para o bom desempenho de projetos e por se- e é responsável pela extração de mais de
ca em planejamento e processos de longo rem indexadores positivos para investimentos um terço dos recursos naturais no Brasil
prazo e determina as estruturas econômi- sustentáveis por organismos financiadores. e 50% da energia gerada que abastece a
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operação das edificações. O setor também EUA e presente em mais de 80 países, o trutivos previstos e analisados nos estudos
é um dos que mais produzem resíduos, referencial para analisar seus projetos de ambientais que subsidiam o licenciamento
sendo responsável por mais de 50% dos edificação. ambiental dos empreendimentos são mo-
entulhos, entre construções e demolições, Como todo processo inovador, a certifi- nitorados e controlados durante as obras e
segundo o Conselho Internacional de Pes- cação compreende mudanças de paradigma, permeiam a gestão ambiental na operação
quisa e Inovação na Construção (CIB). capacitação profissional, desenvolvimento de da linha.
Assim, a concepção de edificações com novas práticas e visão integrada em todo o ciclo A implantação de linhas de metrô exige
diretrizes de sustentabilidade é vista como de vida, visando não só soluções construtivas e o consumo expressivo de materiais e recur-
estratégica para a perenidade das constru- tecnológicas, mas também redução dos custos. sos naturais, como cimento, aço, energia e
ções e dos negócios. A construção civil é água, e implica em custos ambientais e eco-
um setor que entrou no radar dos investi- EVOLUÇÃO DOS PROJETOS nômicos. Na fase de projeto, estes aspectos
mentos ESG (sigla em inglês para práticas Ao longo dos anos de experiência e ex- são avaliados e internalizados no desenho
ambientais, sociais e de governança-ASG) pertise, o planejamento, a concepção, o pro- arquitetônico, na definição de equipamentos
por apresentar estas dimensões de impac- jeto, a obra e a operação do sistema metrovi- e de sistemas, buscando o melhor desempe-
tos e de riscos para o capital. ário evoluíram, incorporando novos desafios nho ambiental das edificações e a redução
Hoje existem organizações voltadas à e práticas, conforme avançam a tecnologia, das emissões de gases do efeito estufa.
atuação no mercado de edificações que tem os métodos construtivos, os requisitos legais Assim, o conjunto de diretrizes que per-
como objetivo facilitar e estimular as práti- e regulatórios sempre atrelados aos aspectos meia o desenvolvimento de projetos e im-
cas certificadas em construção sustentável, econômicos. plantação de empreendimentos do Metrô é
criando referenciais de sustentabilidade em A análise das práticas tem permitido avaliado para encontrar soluções e inovação
projetos. avaliar a redução de impactos e de custos, com base em parâmetros de construção sus-
O Metrô está buscando a certificação garantindo a eficiência e desempenho am- tentável.
de projeto de estação, trazendo de forma biental na fase de operação e manutenção
pioneira o foco para a construção susten- das edificações, e sobretudo a valorização CARACTERÍSTICA DOS
tável em projetos no setor de transporte de seus ativos, da imagem e credibilidade PROJETOS DE ESTAÇÕES
público urbano no Brasil. Para isso en- frente aos públicos de interesse. As estações de metrô são o local de cone-
controu no United States Green Building Com edificações, túneis e vias projetadas xão do sistema de transporte com a cidade e
Council - USGBC, organização sediada nos para terem uma longa vida útil, é estratégi- evoluíram ao longo do tempo. No início, re-
co avaliar de forma criteriosa as diretrizes fletiam essencialmente a sua funcionalidade
de construção sustentável desde o início do como um espaço de passagem entre os passa-
planejamento e a sua concepção e permear geiros e os trens. Aos poucos, novas diretrizes
todas as outras fases de projeto, implanta- e funcionalidades foram transformando os
ção, operação e manutenção, pois envolvem ambientes. Elas se tornaram pontos de refe-
investimentos expressivos em design e tec- rência na cidade, reunindo serviços, cultura,
nologia construtiva, sistemas e equipamen- lazer e compras trazendo a vida e a paisagem
tos e consumo de insumos e materiais. da cidade para dentro destes espaços.
A partir de estudos e análises de im- Além de buscar a melhor inserção urbana e
pactos e riscos em todo o ciclo de vida, os priorizar a comunicação harmônica com o am-
aspectos urbanísticos e socioeconômicos biente externo, os projetos arquitetônicos das
exigiram novas diretrizes e soluções no estações passaram a incorporar requisitos de
desenvolvimento de projetos para espaços sustentabilidade associados ao desempenho am-
construídos mais sustentáveis. São empre- biental da edificação no que se refere a eficiência
endimentos complexos e envolvem obras de energética. Da mesma forma, outros requisitos
grandes proporções . foram incorporados com foco no paisagismo,
A evolução da legislação ambiental e as uso racional da água, materiais e recursos, quali-
interferências no local de inserção urbana, dade do ambiente interno, conforto e bem-estar.
exigindo em algumas situações o reassen- As obras de metrô caracterizavam-se por
tamento de população, levaram a um longo grandes áreas de intervenção, exigiam exten-
processo de maturidade nas decisões e no sas áreas de desapropriação e implicavam no
trabalho de relacionamento com a comuni- deslocamento de famílias e na vida cotidiana
dade. Com a participação da população de das pessoas.
forma mais ativa nas discussões e propos- O sistema de vala a céu aberto foi utilizado
tas de intervenções urbanas, são avaliadas em vários empreendimentos, mas com o avan-
possíveis modificações ou adequações de ço em áreas movimentadas ou com caracterís-
projetos nos processos de implantação de ticas que dificultavam o método tradicional,
novas linhas. como na Avenida Paulista e no centro antigo
Os impactos ambientais e sociais asso- com prédios históricos, passou-se a adotar o
ciados às atividades de construção civil pe- método de escavação de túneis com tunelado-
sada, à execução de obras e métodos cons- ra e foram empregados sistemas técnicos de
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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO
rebaixamento do lençol freático. Atualmen- Com base no diagnóstico e na análi- Os riscos associados à construção civil não são
te, os conceitos e métodos construtivos bus- se dos projetos da Linha 5-Lilás, trecho só preocupação dos investidores. São tam-
cam a menor área de desapropriação possível Adolfo Pinheiro e Chácara Klabin, e da Li- bém de organizações mundiais no combate
e são adotadas tecnologias construtivas que nha 2-Verde, trecho Vila Prudente - Penha às mudanças climáticas, que têm enfatizado a
minimizam os impactos na superfície. foram sugeridos melhorias e estudos para necessidade de reduzir a demanda de energia
futuros projetos, visando o aprimoramento no ambiente construído, descarbonizar o setor
CERTIFICAÇÃO EM e ganhos em desempenho ambiental, até a energético e incentivar o uso de materiais que
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL certificação de projetos em construção sus- reduzam as emissões de carbono e processos
A construção sustentável tem sido am- tentável. Para evidenciar o processo integra- que minimizem a geração de resíduos.
plamente disseminada e incorporada pelo do do LEED nas análises das diretrizes de Projetos referenciados em construção
mercado pelos benefícios associados à efici- sustentabilidade e garantir sinergia entre as sustentável podem contribuir para as metas
ência e custo à medida que são internaliza- diferentes disciplinas é importante adotar a assumidas pelos governos em relação aos
das diretrizes e critérios de sustentabilidade integração e racionalização dos projetos por Objetivos do Desenvolvimento Sustentável,
nas práticas e processos. Estudos indicam meio da universalização do processo BIM com a priorização de investimentos para
que projetos referenciados em construção em todas as etapas com equipe interdiscipli- edifícios de baixo carbono, gerando empre-
sustentável resultam em uma redução en- nar colaborativa. gos e aumentando o valor imobiliário.
tre 30% e 40% no consumo de energia e Entre as recomendações, estão:
de água nas fases de operação da edifica- - Realizar, na fase inicial, estudos prelimi-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ção. No Brasil, a participação dos edifícios nares de eficiência termo energética e de
no consumo de energia elétrica é superior a balanço hídrico para as edificações. [1] CBCS - Conselho Brasileiro de Constru-
45%, e este porcentual tem crescido (CBCS). - Registrar as condições levantadas para a ção Civil Sustentável. Acesso em maio/2020.
Neste contexto, o Metrô tem investido escolha da localização das estações (poten- http://www.cbcs.org.br/website/institucio-
no aprimoramento e revisão das diretrizes, cialidades) e as condições que influenciaram nal/show.asp?ppgCode=BCCF20BC-8628-
processos e práticas contemplando a ex- na concepção do projeto. -4D3D-83ED-FBA37CFA560D.
celência na gestão de projetos, de riscos e - Especificar nos projetos de sistemas, pre- [2] CBIC - ENERGIA NAS CONSTRUÇÕES.
inovação na arquitetura e engenharia, para missas de eficiência, dimensionamento e UMA CONTRIBUIÇÃO DO SETOR À REDUÇÃO
que resultem em ganhos em termos de qua- controle dos sistemas prediais. DE EMISSÕES E DE USO DE FONTES RENO-
lidade, prazo e custo. Esse aprimoramento - Desenvolver a Avaliação do Ciclo de Vida VÁVEIS DE ENERGIA. CBIC 60 anos. https://
é resultado de processos estimulados por de edificações para subsidiar futuros pro- cbic.org.br/wp-content/uploads/2017/11/
agentes financeiros, que têm condicionado jetos, assim como subsidiar a definição de Energia_na_Construcao_2017-1.pdf.
a concessão de parte dos recursos à análise critérios e indicadores de desempenho para [3] GLOBAL ABC - Relatório de Situação
de impactos e riscos dos projetos. estações em operação. Global 2020 para Edifícios e Construção.
A concessão de recursos para o desen- - Sistematizar o registro e a complementa- Aliança Global para Edifícios e Construção
volvimento de diagnóstico das práticas de ção de documentos com especificações e (Global Alliance for Buildings and Construc-
construção civil sustentável com o objeti- métricas visando processos para futura cer- tion - GlobalABC). https://www.unep.org/
vo de aprimorar especificações de projeto tificação de projetos. pt-br/noticias-e-reportagens/comunicado-
fez parte do contrato de financiamento da -de-imprensa/emissoes-do-setor-de-cons-
extensão da Linha 5-Lilás firmado entre o CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL trucao-civil-atingiram.
Governo do Estado de São Paulo - GESP e o EM LINHAS FUTURAS
Banco Internacional para a Reconstrução e Em uma grande metrópole, a expansão * Cacilda Bastos Pereira da Silva é
Desenvolvimento - BIRD. Isso foi o ponto de da rede sobre trilhos é chave para a mobili- psicóloga, mestre em gestão ambiental e
partida para o Metrô iniciar as análises das dade urbana e o futuro sustentável. O apri- especialista na Coordenadoria de Estudos de
diretrizes para a expansão. moramento das práticas incluindo diretrizes Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô -SP
No projeto diretriz da Linha 16-Viole- de construção sustentável nos projetos da e-mail: cacilda.bastos@metrosp.com.br
ta avaliou-se a interface da metodologia expansão pode resultar em ganhos econô-
LEED® BD+C (Building Design and Cons- micos, ambientais e sociais, além de abrir ** Camila Dias de França é engenheira
truction), com os requisitos gerais para pro- caminho para a certificação. civil, com especialização em gestão ambiental
jeto de estações, ponderando-se o nível de Para futuras linhas, os referenciais de cons- e atua no PMO Corporativo do Metrô-SP
detalhe desta fase e foram incluídos novos trução sustentável podem agregar valor aos E-mail: cdfranca@metrosp.com.br
requisitos para as estações. projetos, com as devidas adaptações às caracte-
A certificação LEED® foi recomendada rísticas de empreendimentos do Metrô, já exis- *** Ramón Carollo Sarabia Neto é químico e
para implementação em projetos e obras do tentes. Podem gerar ainda ganhos para toda a atua como analista na Coordenadoria de Estudos
Metrô e pelas preocupações ambientais. Re- cadeia de valor e diferencial no mercado. de Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô-SP
úne pré-requisitos e créditos para pontuar as As práticas também estão alinhadas às E-mail: rcsarabia@metrosp.com.br
práticas em categorias: Processo Integrado, estratégias de outros operadores do setor de
Localização e Transporte, Terrenos Sustentá- transportes. Além de se equiparar às práticas **** Soraia Schultz Martins Carvalho é
veis, Energia e Atmosfera, Eficiência Hídrica, de mercado, obter a certificação em constru- economista e Coordenadora de Estudos de
Materiais e Recursos, Qualidade do Ambiente ção sustentável é um diferencial em processos Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô-SP
Interno, Inovação e Prioridade Regional. de financiamento e atende aos critérios ESG. E-mail: ssmcarvalho@metrosp.com.br
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Cenários socioeconômicos
no novo modelo de
previsão de demanda do
Metrô de São Paulo
SORAIA SCHULTZ M. CARVALHO* / MARIA HELENA ZANCHETTA** /
CLÁUDIA REGINA B. C. DE MELO*** / ALEXANDRE FRAZÃO D’ANDRÉA****
A
CENÁRIOS SOCIOECONÔMICOS
pós a finalização da Pesqui- de São Paulo – RMSP (CPTM, EMTU, E O MODELO DE GERAÇÃO
sa Origem Destino 2017, a SPTrans, Prefeituras dos municípios Os novos modelos de previsão de de-
Companhia do Metropolita- que compõem a RMSP). Os dados são manda do Metrô foram elaborados a partir
no de São Paulo, iniciou o os insumos necessários para a cons- de técnicas de engenharia de transportes
processo de revisão de seu trução dos modelos matemáticos, co- modernas, propiciando avanços significa-
planejamento. Em 2019, foi iniciado o dificação do sistema viário da RMSP, tivos na representação da mobilidade da
desenvolvimento dos novos modelos de representação da política tarifária RMSP. Entre elas a incorporação da hete-
previsão de demanda considerando os re- da RMSP, elaboração dos modelos de rogeneidade do espaço como fator deter-
sultados da Pesquisa OD 2017, pelo Depar- geração de viagens e codificação e minante das complexas relações entre da-
tamento de Planejamento e Anteprojeto de calibração da rede de simulação dos dos socioeconômicos e as viagens.
Engenharia, da Gerência de Planejamento transportes da RMSP. Com os resultados da Pesquisa OD 2017,
e Meio Ambiente, da Diretoria de Enge- Uma das etapas do desenvolvimen- foi possível estabelecer relações entre a ge-
nharia e Planejamento do Metrô. Os mo- to dos novos modelos é a elaboração de ração de viagens e variáveis socioeconômi-
delos são utilizados nos estudos da rede cenários socioeconômicos futuros. Con- cas, que garantem o melhor ajuste em rela-
futura, para elaboração das previsões de siderados como parte fundamental para ção aos dados socioeconômicos da Pesquisa
demanda de linhas metroviárias futuras, subsidiar a modelagem de previsão de OD 2017, com resultados estatisticamente
nos projetos diretriz e nos anteprojetos demanda, os cenários são a representa- significativos, que representam a geração
de engenharia que são desenvolvidos pela ção de contextos socioeconômicos futuros de viagens. A realização de uma viagem é
Companhia. de variáveis econômicas e demográficas, uma decisão familiar e depende de sua so-
Para o desenvolvimento dos mo- partindo-se dos resultados da Pesquisa OD cioeconomia. A inovação ao incorporar o
delos, são levantados e analisados 2017 e considerando as alterações da con- espaço e sua heterogeneidade nas análises
dados atuais e futuros do sistema de juntura econômica recentes. do modelo de geração possibilitou o agru-
Figura 1 - Relação entre a Pesquisa OD 2017, o modelo de geração Quadro 1 - Premissas e resultados dos cenários neutro, otimista e
de viagens e os cenários socioeconômicos pessimista
pamento da RMSP em clusters e a represen- Para isso, o Consórcio TTC-FIPE, ado- dos históricos e expectativas de mercado.
tação da geração de viagens em equações tou uma modelagem integrada desenvol- Foi realizada uma simulação histórica para
cujas variáveis explicativas variavam em re- vida a partir de um modelo de equilíbrio atualizar a base de dados da MIP de 2015
lação ao cluster definido (figura 1). geral computável dinâmico (EGC), regres- para 2020, utilizando, inclusive, dados ob-
Com a construção das equações do mo- sões econométricas e análise de insumo- servados em relação às mudanças causa-
delo de geração, realizada na primeira das produto para estimar as variáveis econô- das pela pandemia da Covid-19.
quatro etapas da modelagem, foram defini- micas de emprego e renda, por zona OD. O segundo cenário denominado “oti-
das as variáveis socioeconômicas cujo com- Essa modelagem foi a base de um simu- mista” foi projetado assumindo mudanças
portamento melhor representa a geração de lador que permite implementar variações tecnológicas que elevam a produtividade
viagens por cluster. Essas variáveis foram as exógenas dos componentes de demanda da economia paulista para alavancar a sua
selecionadas para serem projetadas para o final para estimar os impactos de cenários taxa de crescimento anual e, um terceiro
futuro, nos cenários socioeconômicos para macroeconômicos de crescimento sobre o cenário intitulado pessimista, com pre-
os anos de 2020 a 2040, em quinquênios. mercado de trabalho na RMSP. missas mais restritivas para a dinâmica de
Entre elas estão variáveis econômicas e A construção desse simulador foi outra crescimento do produto nacional e paulista.
variáveis demográficas. As primeiras são inovação do trabalho de desenvolvimento As premissas transversais aos três ce-
empregos (total e por setores secundário e dos novos modelos do Metrô, pois permite nários adotadas foram em relação aos se-
terciário), renda (familiar e per capita) e as à Companhia aumentar a flexibilidade de guintes aspectos:
demográficas são: população (total e por atualizações de acordo com a evolução da a)produtividade do trabalho devido
classes econômicas e faixa etária) e matrí- conjuntura econômica. às mudanças na escolaridade populacio-
culas (total, por grau e por tipo de ensino A base de dados do simulador foi uma nal, que impactam a eficiência do fator
– público ou privado). matriz intermunicipal de Insumo-Produto trabalho;
para a RMSP no ano base de 2015, desa- b)preferências de consumo, cujas mu-
METODOLOGIA gregada em 67 setores da economia e 41 danças no padrão de consumo das famílias,
Variáveis econômicas regiões: 39 municípios da RMSP, “restan- com cenários de mobilidade social, captu-
Wright e Spers (2006, p.13) afirmam te do Estado de São Paulo” e “restante do rando efeitos da distribuição de renda;
que “elaborar cenários não é um exercício de Brasil”. Essa matriz foi gerada a partir do c)produtividade setorial devido à
predição, mas sim um esforço de fazer descri- método denominado Interregional Input- maior eficiência no uso dos fatores ligados
ções plausíveis e consistentes de situações fu- -Output Adjustment System – IIOAS, ba- às mudanças tecnológicas;
turas possíveis, apresentando as condicionan- seado em Haddad et al. (2017). A aplicação d)eficiência energética, utilizando-se
tes do caminho entre a situação atual e cada do método IIOAS ao caso brasileiro utiliza, dos coeficientes da trajetória de mudanças
cenário futuro, destacando os fatores relevan- como ponto de partida, informações con- tecnológicas da economia americana;
tes às decisões que precisam ser tomadas”. tidas na Matriz de Insumo-Produto – MIP, e)consumo do governo em consonân-
No Metrô, a construção dos cenários no âmbito nacional para o ano de 2015. cia à regra de teto dos gastos - crescimen-
socioeconômicos consistiu numa primeira Definido o modelo de insumo-produ- to nulo até 2037.
etapa de desenvolvimento da metodologia to, foi necessário integrar a ele os cená- O quadro 1 resume as principais pre-
e da elaboração de cenários macroeconô- rios macroeconômicos gerados através de missas dos três cenários e os resultados
micos e, numa segunda etapa de obtenção um modelo EGC. No modelo EGC, foram gerais.
dos insumos para a modelagem de previ- construídos três cenários: neutro, otimista O gráfico 1 mostra de forma ilustrati-
são de demanda, quando é feito o levan- e pessimista. va, os cenários desenvolvidos.
tamento de informações para projeção das O primeiro, um cenário referencial, Estimadas as projeções de cresci-
variáveis socioeconômicas e posterior- denominado “neutro” que representa a mento econômico, em cada um dos ce-
mente a projeção e a distribuição espacial evolução econômica segundo uma dinâ- nários, foram então projetadas as ten-
das variáveis nas zonas OD 2017. mica “business as usual” baseada em da- dências de emprego e renda dentro dos
A
INTRODUÇÃO modelos tem a capacidade de reproduzir possibilitou uma evolução técnica con-
tarefa de planejar a mo- o comportamento e escolhas dos passa- tínua e a incor poração de melhor ias
bilidade e o transporte de geiros considerando as características que ajudaram a apr imorar a qualidade
passageiros nas grandes socioeconômicas, tipos de atividades que dos modelos.
aglomerações urbanas, se deseja realizar nos destinos, a rede O resultado desse esforço possibilita
pressupõe a realização multimodal planejada para o futuro e as minimizar as incertezas, subsidiar deci-
de previsões de demanda em função da condições da oferta de transportes para a sões estratégicas e fornecer insumos para
evolução dos dados socioeconômicos e realização das viagens, incluindo aspec- a concepção da rede futura, planos de
da oferta de transporte em determinados tos físicos, operacionais e modelo tarifá- investimentos, priorização e o faseamen-
anos horizonte de projeto. rio adotado. to de implantação de linhas do sistema
Em todas as grandes cidades e re- O Met rô de São Paulo tem desen- metroferroviário, análises de viabilidade
giões metropolitanas do mundo, essas volv ido modelos de prev isão de de- técnica, econômica e financeira, estudos
previsões são realizadas por meio de mo- manda nas últimas 5 décadas, desde de impacto ambiental, cálculo de benefí-
delos de demanda definidos como repre- o início de suas ativ idades em 1968. cios sociais, projetos funcionais e básicos
sentações simplificadas da realidade. Tais O know how adquir ido nesse per íodo (incluindo dimensionamento de frota, es-
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tações, terminais, sistemas) e finalmente, resultados são insumos para o modelo (domiciliar e não domiciliar) e por motivo
para a obtenção de recursos para finan- de divisão modal, que finalmente sub- de viagens.
ciamento de projetos e obras. sidia o modelo de alocação. Portanto, o Após a segmentação das viagens
Nos últimos dois anos e meio o Me- aprimoramento de um modelo resulta em iniciou-se o processo de elaboração dos
trô de São Paulo desenvolveu o novo benefício para o próximo, melhorando os modelos por meio de regressões lineares
modelo de demanda baseado na Pesquisa resultados finais e a qualidade das previ- múltiplas procurando relacionar as via-
Origem e Destino 2017. O arcabouço téc- sões de demanda. gens com as variáveis socioeconômicas
nico utilizado no desenvolvimento desse O presente artigo apresenta as melho- em cada cluster na RMSP. No total foram
trabalho foi o Modelo de 4 Etapas, que rias praticadas nos modelos de geração elaborados 13 clusters e 97 modelos de
se caracteriza por submodelos descritos do modelo 4 etapas desenvolvido pela geração de viagens.
a seguir. Companhia do Metropolitano a partir dos
A Etapa 1, denominada modelo de dados da Pesquisa Origem Destino de a.Segmentação espacial
geração de viagens é responsável pela 2017. A segmentação espacial da RMSP, foi
obtenção dos totais de v iagens produzi- elaborada subdividindo-se as 517 zonas
das e atraídas em cada zona OD ( f igura HETEROGENEIDADE DO ESPAÇO OD em grupos mais homogêneos de zo-
1 ) e seus resultados são apresentados E MODELOS DE GERAÇÃO nas, onde cada zona pertencente a um
na forma de vetores de uma matriz de Os modelos de geração têm a finalida- desses grupos se assemelha, por critérios
v iagens. de de representar as viagens que ocorrem de similaridade, àquelas de seu próprio
Na Etapa 2 procuram-se distribuir os nas zonas OD no Período de Pico Manhã grupo e, por outro lado difere, daquelas
vetores de produções e atrações obtidos a partir de suas relações com as variáveis zonas pertencentes aos outros grupos.
na primeira etapa, em todos os pares de socioeconômicas. A partir das projeções Esses grupos de zonas foram denomina-
origens e destinos ( figura 2 ), resultando dessas variáveis é possível aplicar os mo- dos como clusters espaciais.
em uma matriz de viagens corresponden- delos e fazer previsões em qualquer ano Os critérios de similaridade utilizados
tes a todos os pares de origens e destinos horizonte de projeto (BRUTON, 1975). na formação dos clusters são apresenta-
da área de estudo. A compreensão de que a mobilidade dos a seguir: (1) Espacialização dos em-
Na Etapa 3 e na Etapa 4 os modelos é um fenômeno com diversas dimensões pregos; (2) Continuidade geográfica: for-
de divisão modal e de alocação são res- sociais, econômicas e culturais, direcio- mação de clusters entre zonas adjacentes;
ponsáveis por representar respectivamen- na uma investigação mais aprofundada (3) Renda per capita; (4) Produções e
te as preferências modais entre modos in- no que se refere as localidades em que Atrações de viagens; (5) Modelos de ge-
dividuais e coletivos ( figura 3 ) e também se manifestam. Obser vando-se os da- ração de viagens validados por testes es-
os caminhos escolhidos na rede entre as dos da Pesquisa Origem Destino 2017, tatísticos dentro de cada um dos clusters.
origens e destinos ( figura 4 ) – ORTUZAR constata-se que as variáveis socioeco- No total foram elaborados 11 clusters
e WILLUMSEN, 2011. nômicas se relacionam com as v iagens espaciais descritos a seguir:
Os quatro submodelos apresentados de forma específ ica, a depender da lo- 1) Cluster Grande ABC: Todas as zonas
anteriormente são sequenciais, assim, o calização das zonas OD na RMSP. Por dos 7 municípios da região do Grande
resultado do modelo de geração é insu- exemplo, que as populações da periferia ABC, além de zonas limítrofes da zona sul
mo para o modelo de distribuição, cujos da Zona Sul e da Zona Leste, apresen- do município de São Paulo. Estas zonas
tam diferentes variáveis explicativas de
suas v iagens, apesar de apresentarem
características socioeconômicas seme-
lhantes.
A constatação da significativa hete-
rogeneidade espacial das relações entre
viagens e variáveis socioeconômicas foi
a motivação para elaborar novos mo- Figura 3 - Ilustração esquemática da etapa de
delos de geração que consideram a di- divisão modal (Fonte: os autores – adaptada
Figura 1 - Ilustração esquemática do modelo ferenciação espacial como componente de Meyer, Michael; Miller, Eric. – Urban
de geração de viagens (Fonte: os autores – determinante das viagens em cada zona Transportation Planning)
adaptada de Meyer, Michael; Miller, da RMSP.
Eric – Urban Transportation Planning)
METODOLOGIA
A elaboração dos novos modelos de
geração desenvolveu-se da seguinte for-
ma: Inicialmente foram obtidos os totais
obser vados de viagens produzidas e atra-
ídas em cada zona OD, em seguida foi
Figura 2 - Ilustração esquemática da etapa de realizada uma segmentação espacial por Figura 4 - Ilustração esquemática da etapa
distribuição de viagens (Fonte: os autores – meio de grupos homogêneos de zonas OD de alocação de viagens (Fonte: os autores
adaptada de Meyer, Michael; Miller, denominados clusters, e posteriormente – adaptada de Meyer, Michael; Miller, Eric. –
Eric – Urban Transportation Planning) procedeu-se uma segmentação por base Urban Transportation Planning)
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modelos ABDT, 14 modelos PBDE, 14 mo- MODELO COM CLUSTER X sua formulação, tanto do ponto de vista
delos ABDE, 13 modelos PBDO, 10 mode- MODELO SEM CLUSTER estatístico quanto de planejamento de
los ABDO, 11 modelos PBND e 9 modelos Uma última avaliação foi feita com- transportes; (v) permitir identificar va-
ABND. parando os modelos baseados em clus- riáveis que inf luenciam nas viagens em
Para cada um destes modelos foram ters espaciais com um modelo tradi- cada cluster possibilitando compreender
realizados os testes estatísticos acima cional, elaborado apenas com os dados as particularidades das relações entre
mencionados. disponíveis sem a consideração do es- viagens e dados socioeconômicos em
paço como elemento determinante das cada região da RMSP.
f.Resultados dos modelos v iagens.
Na sequência é apresentada uma análi- Na tabela 3 são apresentados os des-
se dos resultados obtidos com modelagem vios (dados modelados – obser vados) em
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
da geração de viagens utilizando-se a clus- módulo para o modelo de produção com [1] ANDY, F. - Descobrindo a Estatística
terização na RMSP. A clusterização permite clusters e na tabela 4 são apresentados Usando o SPSS. 2th. ed. [s.l.] Artmed Edito-
que os modelos atendam aos pressupostos os desvios em módulo para o modelo de ra Ltda., 2009.
requeridos para modelos de regressão li- produção sem clusters.
[2] BRUTON, M. - Introduction to trans-
near múltipla, facilitando o tratamento de Obser va-se que os resultados do
questões como a normalidade dos resíduos, modelo com clusters são mais aderentes
portation planning [s.l: s.n.].
heterocedasticidade e multicolinearidade e aos dados obser vados e melhor distri- [3] FÁVERO, L. P. ET AL. - Análise de
melhorando a acurácia dos modelos. buídos no espaço. Além disso, o resul- Dados - Modelagem Multivariada para
Na tabela 1 podemos obser var a tado geral aponta que o modelo com Tomada de Decisões. 10º ed. São Paulo: El-
comparação entre os valores obser vados clusters apresenta desv io total de apro- sevier Ltd., 2009.
e modelados pelo modelo com clusters, ximadamente 4,2% enquanto o modelo [4] MARÔCO, J. - Análise estatística com
separados pelos diferentes modelos de sem clusters apresenta um desv io de o SPSS Statistics. In: Análise e Gestão da
produção. Na tabela 2 vemos a mesma cerca de 7,4% . Informaçãoo [s.l: s.n.]. p. 990.
comparação, mas agora para modelos de Nas tabelas 5 e 6 são apresentadas [5] ORTUZAR, J. D.; WILLUMSEN, L. G.
atração. tabelas de análise de resultados dos - Modelling Transport. 4th. ed. [s.l.] John
Analisando-se os resultados ag rega- modelos de atração. O desv io geral do
Wiley and Sons, Ltd., 2011.
dos, os valores totais das v iagens mode- modelo de atração com clusters é de
ladas na RMSP são similares às v iagens cerca de 5,4% , enquanto que o desv io
obser vadas na Pesquisa Origem Destino geral do modelo sem clusters é signi- * Alexandre Frazão D’Andréa é engenheiro civil,
de 2017 e correspondem a diferenças de f icativamente maior, aproximadamen- mestre em engenharia de transportes e ocupa o cargo
aproximadamente 4,2% nas produções te 17,3% . Os modelos de atração com de Coordenador de Estudos de Demanda do Metrô-SP
e 5,4% nas atrações. Obser va-se que clusters também apresentam resultados E-mail: afrazao@metrosp.com.br
os melhores resultados dos modelos fo- em cada cluster signif icativamente me-
ram obtidos exatamente nos estratos de nores e mais homogêneos que o modelo ** Alexandre Makoto Koga é engenheiro civil,
v iagens por motivo trabalho e estudo sem clusters. ocupa o cargo de Engenheiro do Metrô-SP
e que correspondem a aproximadamen- E-mail: amkoga@metrosp.com.br
te 88% do total de v iagens da RMSP. CONCLUSÕES
As diferenças entre dados obser vados e Os modelos de geração baseados *** Ana Carolina Theodoro Dantas é
modelados são inferiores a 2,5% para em cluster s de zonas homogêneas fo- engenheira civil, MBA – Visão Integrada de
as v iagens PBDT e ABDT e inferiores a ram sensí veis à heterogeneidade es- Sistemas sobre Trilhos Urbanos na USP, ocupa
5,5% para as v iagens PBDE e ABDE. pac ial das relações ent re v iagens e o cargo de Engenheira do Metrô-SP
As demais viagens correspondem a mo- var iáveis ex plicat i vas, apresentando E-mail: carolina.theodoro@metrosp.com.br
tivos eletivos, como compras, saúde, lazer, maior estabilidade em todo o espaço
procurar emprego, assuntos pessoais ou re- da RMSP. **** José Alberto de Castro Rubira tem
feição aos segmentos de base domiciliar mo- Além disso, tais modelos respondem licenciatura plena e bacharelado em Física, ocupa o
tivo outros e base não domiciliar onde são melhor ao conjunto de testes estatísticos cargo de Analista de Transportes III do Metrô-SP
esperadas diferenças maiores entre dados ao qual foram submetidos, garantindo E-mail: rubira@metrosp.com.br
observados e modelados porque sua parti- maior confiabilidade estatística do que as
cipação no total de viagens corresponde a técnicas de machine learning e econome- ***** José de França Bueno é bacharel em
uma parcela pouco significativa do total de tria espacial. Matemática Aplicada, mestre em Matemática
viagens. A consideração do espaço como fa- Aplicada, doutor em Ciências da Engenharia,
Nas figuras 8, 9, 10 e 11 são apre- tor determinante na previsão de viagens ocupa o Cargo de Analista III do Metrô-SP
sentadas comparações entre os valores proporcionou ganhos significativos, tais E-mail: jose.bueno@metrosp.com.br
modelados por regressão linear clusteri- como: (i) melhor poder explicativo; (ii)
zada e os valores obser vados, desagrega- melhor distribuição dos desvios entre ****** Mário José Gil Telesi tem licenciatura
dos pelos clusters. Em todos os gráficos dados modelados e obser vados no es- em Matemática é especialista em Matemática
podemos obser var que não há diferenças paço; (iii) maior sensibilidade às alte- Pura e tem aperfeiçoamento em estatística e
significativas entre os valores obser vados rações dos dados socioeconômicos de ocupa o cargo de Analista II do Metrô-SP
e modelados. cada localidade; (iv) maior robustez em E-mail: mjgtelesi@metrosp.com.br
A
NATALIA BRITO SILVA RODRIGUES*** / TATIANA DE CÁSSIA COUTINHO SILVA DA FONSECA****
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Figura 3 - Planta nível térreo da estrutura de Figura 4 - Planta patamar superior da estrutura
ventilação de ventilação
Figura 5 - Detecção das armaduras com pacômetro Bosch D-tect 150 (esquerda) e medição da Figura 6 - Vista externa do VSE Carlos Petit
profundidade de carbonatação com paquímetro e régua de aço (direita)
ENSAIO LABORATORIAL
Foi realizado ensaio de carbonatação acelerada em corpos de
prova obtidos da obra de expansão da Linha 4-Amarela. Ambos
possuíam dimensões de 15cm x 30cm, moldados com concreto
de fck de 35MPa e foram referenciados como CP-C, de controle,
e CP-V, com aplicação superficial de verniz antipichação.
Figura 8 - Planta patamar inferior Ambos foram colocados na câmara de carbonatação do La-
boratório de Cimento da ABCP em ambiente controlado, com
RESULTADOS temperatura de 23±2°C, umidade de 65±5% e teor de CO2 de
Na tabela 1 são apresentados os valores médios da espessura car- 5±1% durante um período de 8 semanas.
bonatada (ec) e do coeficiente de carbonatação (kCO2 ) obtidos nos Após este período os CP’s foram retirados da câmara e
ensaios realizados. Também são apresentados valores estimados de cortados na região central por serra circular. Na sequência
vida útil residual, aqui considerado como o tempo necessário para pulverizou-se solução de fenolftaleína e foram realizadas as
medições da profundidade de carbonata-
ção. Nas imagens da figura 14 são apre-
sentadas as seções dos corpos de prova
CP-C e CP-V.
Na tabela 2 são apresentados os resul-
tados das medições realizadas. É possível
obser var que a aplicação do verniz impe-
diu a formação e o avanço da frente de
carbonatação.
Para estimativa da vida útil do concreto
destes corpos de prova foi utilizada a pro-
fundidade média aferida no corpo de prova
CP-C (16mm) e determinadas as condições
Figura 9 - Pontos ensaiados no patamar Figura 10 - Vista geral da estação enterrada de exposição ambientais (umidade e teor
inferior Pedro II de CO2), aplicando estes dados na planilha
“SimulaCarb” desenvolvida pela professo-
ra Edna Possan, com base na formulação
Tabela 1 - Cálculo de coeficiente kCO2 e estimativa de vida útil residual apresentada na Equação 5. Como resultado
estimamos que seriam necessários 32 anos
Vida útil para que a profundidade de carbonatação
Idade fck ec Cobrimento de
kCO2 residual atingisse os 16mm e mais 151 anos para
(anos) (MPa) (mm) projeto (mm)
(anos) que se igualasse ao cobrimento de projeto
de 35mm, atendendo assim à especificação
Linha 1-Azul 46 15 7,6 1,1 20,0 276,8 de vida útil de 100 anos.
Linha 2-Verde 16 30 10,5 2,6 30,0 115,2
CAMPANHA 2 – CARBONATAÇÃO
Linha 3-Vermelha 41 15 19,1 3,0 20,0 4,1 (67,3)* NO CONCRETO DO VIADUTO
DANTE DELMANTO
* Valor calculado considerando cobrimento estimado por O viaduto Dante Delmanto (figura 15) é
pacômetro, diferentemente dos demais de responsabilidade da Companhia do Me-
t tresidual
Ponto Elemento ec (mm) Cobrimento (mm) kCO2
(anos) (anos)
Paredes
Parede saída de
09 28,0 28,0 4,221 44 0
emergência interna
Parede saída de
10 26,0 39,0 3,920 99 55
emergência interna
Pilares
Vigas
Figura 12 - Planta ampliada da parede Figura 14 - Seções dos corpos de prova CP-C e CP-V após aplicação da
onde foram realizados os ensaios solução de fenolftaleína
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Figura 15 - Viaduto Dante Delmanto sobre a Figura 16 - Corte transversal esquemático do viaduto
Avenida dos Bandeirantes
CONCLUSÃO
Em ambas as investigações apresentadas fica evidente o REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
potencial para emprego da avaliação da carbonatação como [1] ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. - NBR 6118
método para estimativa da vida útil e como parâmetro para o – Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
direcionamento dos recursos e ações para atingimento da dura- [2] BRITISH STANDARDS INSTITUTION. - Durability of Buildings and Buil-
ding Elements, Products and Components. BS 7543. Londres, 1992.
bilidade compatível com a magnitude das estruturas do Metrô.
[3] ISAIA, G. C. - Concreto: Ciência e Tecnologia. 1ª ed. São Paulo: Ibracon,
Out ro ponto comum aos dois estudos é a g rande var ia-
2011.
bilidade das espessuras de cobr imento e do valor do fator k, [4] MEDEIROS, MARCELO H. F.; ANDRADE, JAIRO JOSÉ O.; HELENE, PAU-
inclusive em pontos diferentes de uma mesma est r utura. Isso LO. - Concreto: Ciência e Tecnologia. Capitulo 22: Durabilidade e vida útil
tor na impr udente que se for mulem conclusões que possam das estruturas de concreto. São Paulo: IBRACON, 2011.
ser generalizadas baseadas em poucos dados. É f undamen- [5] METRÔ. - Especificação Técnica para Concreto Convencional Armado
tal que prog ramas de ensaios para avaliação do potencial ou Protendido. Documento interno: São Paulo, 2014.
de deter ioração por carbonatação tenham como ponto de [6] NP-NORMA PORTUGUESA. - EN 206-1 Betão Parte 1: Especificação,
partida a def inição da quantidade e do posicionamento dos desempenho, produção e conformidade. Portugal, 2007.
pontos de ensaio. Cont r ibui para a var iação de parâmet ros / [7] POSSAN, EDNA. - Modelagem da carbonatação e previsão de vida
útil de estruturas de concreto em ambiente urbano. Tese de Doutorado.
resultados o fato de os ensaios terem sido realizados em es-
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2010.
t r uturas const r uídas em diferentes per íodos e, consequente-
[8] TUUTTI, K. - Corrosion of Steel in Concrete. Stokholm, 1982.
mente, diferentes valores mínimos de cobr imento de projeto,
diferentes estág ios de desenvolv imento da tecnolog ia dos
mater iais, disponibilidade de mater iais etc. Apesar disso, a
maior ia dos elementos em estudo estão em bom estado de
conser vação e atendem a uma v ida útil total de 100 anos ou
próximo a este valor. * Leandro Makoto Kawakami é engenheiro civil, especialista em Gestão
Uma das soluções apresentadas para retardar esse avanço de Projetos de Sistemas Estruturais – Edificações, atualmente é engenheiro
do CO2 no concreto é o uso de proteção superf icial, criando na área de Engenharia de Projetos da Linha 4-Amarela, Metrô-SP
uma barreira que impede ou minimiza o ing resso de agentes E-mail: lmkawakami@metrosp.com.br
externos. Pelo ensaio laboratorial de carbonatação, verif icou-
-se que a camada de verniz antipichação adotada pelo Metrô ** Marcelo Gabriel Capacla é engenheiro civil, especialista
também tem a função de proteger a estrutura de concreto em patologia na construção civil, atualmente é engenheiro
contra o ataque da f rente de carbonatação e, em um ambiente na área de Engenharia de Estruturas do Metrô-SP
controlado, essa camada protetora continua integ ra contra E-mail: mgcapacla@metrosp.com.br
esse meio de deg radação, porém sua ef iciência em campo não
pôde ser conf irmada. De qualquer modo, é um achado po- *** Natalia Brito Silva Rodrigues é engenheira civil, especialista em patologia
sitivo que o acabamento já empregado tenha esse potencial na construção civil, cursando Gestão de Negócios, atualmente é engenheira na
protetor o que pode ser explorado prioritariamente quando a área de Engenharia de Manutenção de Estruturas e Sistemas Civis do Metrô-SP
estrutura já apresenta alguma def iciência de cobrimento ou E-mail: nbsrodrigues@metrosp.com.br
quando se deseja f rear o processo de carbonatação uma vez
que o verniz demanda manutenção e reaplicação em tempo **** Tatiana de Cássia Coutinho Silva da Fonseca é engenheira
relativamente curto (em torno de 5 anos). Na fase de projeto, civil, mestre e doutora em Engenharia de Estruturas, especialista
devem ser obser vadas as prescrições normativas quanto à es- em patologia na construção civil, atualmente é engenheira
pessura adequada do cobrimento haja v ista sua efetiv idade na especializada na área de Engenharia de Estruturas do Metrô-SP
contribuição para obtenção de estruturas duráveis. E-mail: tatiana.fonseca@metrosp.com.br
A
RODOLFO SZMIDKE* / TATIANA DE CÁSSIA COUTINHO SILVA DA FONSECA**
INTRODUÇÃO e quatro vigas com vão típico de 30 me- mento da via e desvios dimensionais. Em
Linha 15-Prata é uma das tros. As vigas são pré-moldadas e posicio- todos os casos, as atividades diagnósticas
quatro linhas da Companhia nadas sobre os pilares em condição inicial e corretivas lidam com desafios adicio-
do Metropolitano de São isostática e posteriormente solidarizadas nais pelo tempo exíguo disponível ( janela
Paulo (Metrô) atualmente entre si e aos pilares pela concretagem das noturna de 3 horas), restrições quanto a
em operação sendo a única seções entre elas e protensão final. Os mó- modificações das seções originais, e difi-
cujo modal é o monotrilho. Ela foi con- dulos são separados por juntas em que são culdade de acesso às regiões afetadas. O
cebida em 2009 e inaugurada em 2014, instalados dispositivos para promover con- enfretamento destas questões conduziu a
contando na época com 2,9 quilômetros, forto na passagem dos carros e minimizar muitas lições aprendidas e ao aprimora-
duas estações (Vila Prudente e Oratório) e deslocamentos relativos entre os módulos mento técnico das equipes do metrô que
um pátio de serviço e manutenção. Atual- que são os finger plates e pivôs de trava- se capacitaram, inclusive, para contribuir
mente são 11 estações em operação e sua mento ilustrados na figura 2. em diretrizes internacionais relacionadas
extensão é de 14,8 quilômetros aproxima- Ao longo da implantação e operação a monotrilhos. As manifestações patológi-
damente. Três outras estações e um pátio da linha 15-Prata do monotrilho algumas cas são abordadas neste artigo com foco
têm inauguração prevista para os próxi- manifestações patológicas ocorreram na em suas causas, impactos, tratamentos e
mos dois anos conforme figura 1. A des- via demandando alinhamento entre Metrô melhorias com intuito de compartilhar o
peito do curto histórico de operação em e contratada em ações para diagnóstico e conhecimento adquirido e evidenciar o
relação aos demais modais que compõem a tratamento delas. Parte das manifestações comprometimento do Metrô com a segu-
malha do Metrô, o monotrilho conquistou patológicas observadas são característi- rança e conforto dos usuários.
a confiança e satisfação dos passageiros cas de estruturas de concreto armado ou
tanto que em 2020 e 2021 atingiu o maior protendido como bolhas, fissuras e des- BOLHAS
índice de aceitação dentre as linhas opera- tacamentos; outras são específicas ou se As bolhas são manifestações patológi-
das pela companhia. tornam críticas em virtude de requisitos cas superficiais do concreto que ocorrem
O monotrilho tem estrutura elevada operacionais do sistema como deficiência devido ao aprisionamento de ar no con-
formada, usualmente, por módulos com de desempenho dos finger plates, descon- creto fresco durante o processo da con-
comprimento de 120 metros, cinco pilares forto por desalinhamento ou desnivela- cretagem. O prejuízo estético é o impacto
gas estocadas, após a primeira pré-tensão controle, como uso de gelo no concreto, As alças de içamento são dispositivos
com as vigas ainda em fábrica, e após aplicação de água gelada pelas bainhas compostos por cabos de aço posicionadas
o fechamento e a protensão do módulo durante a cura do concreto, controles de no topo das vigas-guia, concretadas junto
para obtenção de dados para melhor en- exposição das vigas concretadas ao sol, a elas e utilizadas para a remoção das vi-
tendimento as causas desta manifestação entre outros. gas-guia das formas. Após essa operação,
patológica. os cabos são retirados e é feito preenchi-
Outra medida adotada, foi a verifica- DESTACAMENTOS mento dos nichos que restam na superfície
ção da temperatura do concreto durante Os desprendimentos de concreto ob- do topo das vigas-guia.
sua hidratação, pois altas temperaturas servados na via permanente da Linha No primeiro lote de vigas-guia, as al-
(acima de 70°C) podem favorecer a ocor- 15-Prata surgiram basicamente em duas ças de içamento foram localizadas em duas
rência de fissuração por etringita tardia. situações: desprendimentos nos cantos da linhas ao longo da superfície superior das
Assim, antes da concretagem das vigas, viga guia durante os processos de movi- vigas-guia, e os reparos das alças foram
foram instalados termopares para medir a mentação das peças na fábrica de vigas e/ realizados com a aplicação de argamassa
temperatura do concreto durante sua hi- ou no seu posicionamento sobre os pilares, cimentícia. Com a passagem dos trens, os
dratação para avaliar a possível necessida- e destacamentos verificados com o início reparos começaram a destacar suscitando
de de medidas de controle de temperatura da passagem, principalmente nas regiões a necessidade de novos reparos.
(figura 5). das alças de içamento e cantos de concreto Considerando que as linhas do Metrô
Resultados preliminares mostraram na junção com os finger plates. de São Paulo operam todos os dias da
que a temperatura de hidratação do con- Para evitar destacamentos nas opera- semana das 4h40 às 00h30 e o intervalo
creto atingiu valores acima de 65°C em al- ções de movimentação das vigas guia, um para desenergização/ energização da via,
guns termopares para tempos entre 2h e monitoramento especial tem sido realiza- há um tempo disponível para atuação de
8h. Com a previsão da execução de novas do nestas atividades, porém devido aos aproximadamente 3 horas. Este deve-
vigas-guia para os trechos Jardim Colonial esforços a que as peças são submetidas ria ser suficiente para realizar a quebra
– Jacú-Pêssego e Ipiranga – Vila Prudente, ao serem retiradas das formas e/ou içadas, do material com desempenho deficien-
os estudos de temperatura devem conti- esse tipo de problema dificilmente pode te, escarificação da superfície, limpeza,
nuar e subsidiar a escolha de medidas de ser evitado. aplicação de ponte de adesão e aplicação
Figura 5 - Leitura da temperatura em Figura 6 - Posição modificada da alça de içamento, a esquerda e região reparada após
concreto da viga guia remoção da alça, a direita
do novo material de reparo. Isso des- elementos concretados, avaliação da qua- circular), se localizado na região de fecha-
cartou a possibilidade de uso da arga- lidade das formas das vigas guias e das se- mento entre vigas-guia.
massa cimentícia que não seria capaz ções de fechamento, bem como a criação Quando a largura é superior ao aceitá-
de atingir resistência satisfatória para de uma aferição qualitativa da produção. vel, prevê-se o desbaste na superfície do
resistir à passagem do material rodante. concreto por meio de lixamento. Para me-
Assim, foram realizados ensaios para LARGURA didas menores que o limite inferior, é feita
escolha de produtos que atendessem às A via permanente da Linha 15-Pra- uma avaliação com participação do forne-
seguintes características: curto tempo de ta foi projetada com largura de 690mm cedor do material rodante para definição
cura, alta resistência inicial à compres- com tolerância dimensional de ±3mm. das ações necessárias, o que não resultou
são, resistência ao arrancamento e que Para verificar esta medida, foi elaborado em execução de reparo até o momento.
permitissem a execução do acabamento um dispositivo metálico composto por
superficial ranhurado especificado pelo três ramos. Trenas a laser são fixadas em NIVELAMENTO
fornecedor dos trens. Os materiais epó- duas alturas no ramo do dispositivo em O nivelamento das vigas guia tem to-
xi e poliuretano, apesar de apresentarem uma das faces. Nos ramos da face opos- lerância de ±3mm a cada 3m e seu atendi-
bom comportamento estrutural e rápida ta e superior há pinos que encostam nas mento visa evitar trepidações no trem que
cura, não puderam ser aplicados devido superfícies da viga, conforme ilustrado na possam afetar sua durabilidade e o confor-
à impossibilidade de realizar a superfície figura 7. A verificação é realizada a cada to da viagem do passageiro.
ranhurada em suas superfícies. O único 1,00m nas vigas-guia e a cada 0,20m nas Sua verificação está sendo realizada
produto capaz de satisfazer todas as con- seções de fechamento. A precisão geomé- com o uso de uma régua metálica jun-
dições foi o concreto sulfoaluminoso. trica tem grande relevância tendo em con- to a um paquímetro digital calibrado, de
Dessa forma ficou estabelecido que ta que a não observância desse requisito modo que a régua é posicionada na su-
nas laterais das vigas o reparo pode ser da via pode gerar esforços adicionais nas perfície ao longo das faixas de rolamento
feito com argamassa cimentícia, porém manobras do material rodante, reduzindo superior e lateral da via permanente (por
quando destacamentos ocorrem na face assim sua vida útil. Outra finalidade dessa onde passam cada linha de pneus) e a
superior deve-se utilizar o concreto sulfo- verificação é a avaliação da qualidade das medição é feita verificando-se a distân-
aluminoso. formas. Variações nos valores ao longo de cia entre o fundo da régua e a superfície
Nos novos lotes de vigas-guia fabrica- uma mesma faixa podem indicar desvios de concreto na região onde se observa a
dos, a locação das alças foi feita posicio- superficiais na chapa, assim como varia- maior separação.
nando-as o mais centralizadas possível no ções entre valores de diferentes faixas de Essa verificação também permite
eixo da superfície superior da guia vigas, rolamento indicam falta de paralelismo das avaliar a qualidade das formas das vigas
conforme se observa na figura 6, a fim de placas das fôrmas, sendo assim passível de guias e seções de fechamento, tendo em
minimizar a superposição entre a super- intervenções antes da concretagem de no- vista que variações na superfície superior
fície de reparo e as faixas de rolamento vas vigas guias e seções de fechamento. indicam um provável desvio de instala-
superiores. Quando são identificados desvios de ção e alinhamento dos cantos nas formas,
largura além da tolerância, é realizada bem como podem indicar falhas na exe-
DIMENSIONAL uma avaliação interna para identificar as cução da superfície ranhurada. Quando
Um dos aspectos mais importantes necessidades de reparo, que deve levar em há desvios no nivelamento da superfície
para a execução da via permanente do consideração questões de amplitude do lateral, estes indicam desvios de planici-
sistema monotrilho é o cumprimento das não cumprimento dos valores estipula- dade das formas que devem ser ajustadas
tolerâncias dimensionais, que são extre- dos, localização do defeito na via (seja em antes da concretagem de uma nova viga
mamente restritivas, e não usuais em se trecho tangente, curva espiral ou curva guia ou seção de fechamento.
tratando de elementos de concreto cujas
tolerâncias costumam ser iguais ou supe-
riores a 5mm. Para fabricação das vigas
guias foram importadas formas metálicas
que possuem um sistema de ajustes mi-
limétricos, topograficamente controla-
dos com base nas dimensões previstas no
projeto, que permitem a conformação de
espirais e curvas horizontais e verticais,
bem como a execução de elevações e dife-
rentes alturas de seções conforme neces-
sário. Para a verificação da conformidade
dimensional foram elaborados procedi-
mentos específicos para cada tipo de me-
dição, culminando em aproximadamente
450 medições dimensionais por viga guia
e 60 medições por seção de fechamento,
que são registradas em um banco de dados
para avaliação das ações para correção nos Figura 7 - Dispositivo metálico para medição da largura das vigas
A correção de problemas de nivela- râmetro, são realizadas até 15 medições de composta por um conjunto de vigas guia
mento tem sido realizada conforme dois superelevação por viga guia, dependendo pré-fabricadas que devem ter seções condi-
procedimentos: quando a variação é pe- de seu comprimento. Nas seções de fecha- cionadas pelo truque do material rodante.
quena, o nivelamento pode ser corrigido mento, as verificações de superelevação Conforme NBR 9062, para elementos
por meio de desbaste da superfície com o são realizadas com as vigas guia posicio- pré-fabricados de concreto a contra fle-
uso de lixadeira. Esse desbaste na superfí- nadas antes da concretagem dos fecha- cha admissível é de L/250 que equivale a
cie superior da via pode ocasionar a perda mentos, e após a concretagem é realizada 120mm para uma viga de 30m de compri-
do acabamento ranhurado, devendo sua a nova verificação para avaliar o atendi- mento. Para as vigas do monotrilho, hou-
execução ser avaliada previamente pelo mento aos parâmetros de projeto. ve a necessidade de se estabelecer limites
fornecedor do material rodante. Antes da concretagem das vigas, as mais rigorosos para controle de vibração
Quando o acabamento ranhurado não formas são verificadas com auxílio de uma (figura 8). Assim, adotou-se a limitação de
pode ser prejudicado, ou a amplitude do equipe de topografia com o uso de uma contra-flechas em 20mm, acompanhada
reparo é muito grande com prejuízo ao estação total, e após a concretagem a ve- em 3 fases de execução da via permanen-
cobrimento da estrutura, é realizado cor- rificação é feita por meio de um inclinô- te: a 1ª após a concretagem das vigas guia
te, apicoamento e recomposição da seção metro digital de 120cm de comprimento e antes do saque da fôrma, a 2ª etapa rea-
para atender aos parâmetros de projeto. precisão angular de ±0,05°. A verificação de lizada após a primeira protensão no pátio
superelevação pode detectar possíveis pro- de vigas e a 3ª etapa realizada após a pro-
SUPERELEVAÇÃO blemas de travamento das formas de con- tensão final.
A superelevação é uma inclinação re- cretagem, que devem ser corrigidos antes Caso sejam verificados valores acima
alizada em um trecho de via que tem a da concretagem da próxima viga guia. do limite estabelecido, é realizado um re-
função de equalizar as cargas geradas pela Caso seja encontrado algum desvio em paro nas regiões de cota mais baixa, que
força centrífuga do trem ao entrar em um relação aos valores de superelevação, é rea- consiste em remover o concreto da super-
trecho de curva a uma determinada velo- lizada uma consulta ao projetista e ao for- fície superior da via, apicoar e recompor
cidade. As vigas guias e seções de fecha- necedor do material rodante para avaliação até a cota projetada com concreto sulfoa-
mento tem percentuais de inclinação de de medidas de correção e/ou mitigação. luminoso, com uma camada de enchimen-
acordo com o raio da curva e a velocidade to mínima de 10mm.
máxima permitida no trecho. CONTRA-FLECHA
Os valores de superelevação são indi- As contra-flechas ocorrem em estru- FINGER PLATE
cados nos projetos executivos de cada viga turas de concreto devido à ação de esfor- O finger plate é composto por um
guia por eixos que são transmitidos às co- ços de protensão aplicados para suprir a conjunto de peças metálicas que formam
tas das formas. A tolerância permitida na necessidade de vencer vãos maiores com uma caixa de base, concretada juntamente
superelevação pelo projeto executivo é de peças esbeltas. Esta necessidade é justi- à extremidade de fechamento da viga, e
±0,17° (±0,3%). Para verificação deste pa- ficada na via permanente do monotrilho, placas dentadas, parafusadas a essa caixa
Figura 9 - Finger plate produzido conforme novo projeto. Caixa base, a esquerda e dispositivo completo com as placas dentadas, a direita
base, que tem como função permitir a pas- cionada à galvanização, foi a inspeção das sionais, medições estão sendo realizadas
sagem do trem com o conforto necessário superfícies de contato das peças após o em todas as novas vigas-guia e seções de
nas regiões de juntas da via permanente banho com um desbaste superficial para fechamento, criando assim um banco de
(figura 9). No primeiro trecho de pista da remover resíduos pontuais de zinco na su- dados de qualidade, e permitindo a ava-
Linha 15-Prata, foi empregado um projeto perfície das peças que poderiam contribuir liação de possíveis problemas nas formas
de finger plate que era passível de melho- para vazios entre as chapas e o desalinha- ou procedimentos aplicados.
rias, considerando algumas dificuldades mento do conjunto. Os componentes metálicos instalados
que ocorreram após o início da passagem Os conjuntos de parafusos com arrue- na via permanente devem ser fabricados e
dos trens. Os problemas identificados es- las adotados inicialmente foram substituí- inspecionados com o maior detalhamento
tavam relacionados principalmente a: des- dos por parafusos de menor comprimento, possível, pois os desvios de fabricação são
nivelamento entre placa dentada e viga maior comprimento de rosca e com ca- agravados na instalação dos componentes,
adjacente, desnivelamento entre placas beças flangeadas para eliminar o uso de devendo sempre ser observados os limites
dentadas sequenciais, desalinhamento das arruelas e permitir maior área de contato dimensionais impostos pelo projeto.
placas (da caixa base ou dentadas), preen- dos parafusos com as placas das placas A aplicação da metodologia torque x
chimento deficiente da caixa base, pontos dentadas. No procedimento de instala- ângulo com análise das curvas de torque
de oxidação e força de união inadequada ção dos parafusos, foi adotada a aplica- permitiu maior sucesso na obtenção da
nos parafusos de fixação da placa dentada ção de redutor de atrito nas roscas e base força de união necessária nos componen-
à placa base. Assim, para os novos trechos, das cabeças dos parafusos para diminuir tes de fixação das placas dentadas dos fin-
foi elaborado um novo projeto deste dis- a influência do atrito no torque e na for- ger plates.
positivo que contemplava o aprendizado ça de união final. Para proteger o interior A implantação do sistema de mo-
obtido até então. dos conjuntos de ancoragem superiores de notrilho Straddle Type na cidade de São
Observou-se que a solda aplicada para eventuais acúmulos de água, foi aplicado Paulo trouxe diversos desafios para a
fixação dos conjuntos de ancoragem nas um material de vedação entre a base e as equipe de engenharia e construção do
placas das caixas de placas de base criava placas dentadas na região do furo, e após a Metrô de São Paulo, que constantemen-
tensões na superfície das placas que provo- instalação dos parafusos seu contorno foi te se empenhou na identificação de so-
cavam elevações de pontos, culminando em preenchido com o mesmo material. luções que estabelecessem conforto e
vazios entre as placas de base e dentadas e Na fixação das peças foi adotado o a segurança a seus passageiros. Com a
desalinhamento do conjunto montado. Para processo de aplicação de torque x ângu- experiência adquirida, a Companhia do
solucionar essa questão, a fabricação atual lo utilizando um torquímetro digital que Metrô está aplicando as lições aprendi-
prevê que após a soldagem dos conjuntos permite a geração de gráficos de aplica- das em novos projetos, inclusive com a
de ancoragem, a superfície das placas seja ção de torque, os quais são analisados realização de consultoria externa.
usinada para garantir a planicidade. para avaliar o atendimento à força de
As inspeções de fábrica das peças no- união previsto no projeto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
vas são realizadas com maior rigor dimen- [1] ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEI-
sional, principalmente na verificação da CONCLUSÃO RA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118
planicidade da superfície de contato entre A interação entre o material rodante e – Projeto de Estruturas de Concreto -
as placas dentadas e as caixas das placas a viga-guia/seção de fechamento impõe a Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
de base, a fim de evitar vazios entre elas esses elementos requisitos especiais, even- [2] ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEI-
que possam gerar esforços adicionais nos tualmente difíceis de serem alcançados RA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR
parafusos com a passagem do trem. em estruturas de concreto armado. Além 9062 – Projeto e Execução de Estru-
Nas caixas que contêm as placas de disso, manifestações patológicas que são turas de Concreto Pré-Moldado. Rio
base do conjunto, foram acrescentadas “negligenciáveis” em outras estruturas de Janeiro, 2016.
cantoneiras em suas laterais que têm como podem se tornar críticas para as vias do [3] ______. Documento interno RT-
função proteger as bordas do concreto que monotrilho. Isso impulsiona a busca por -15.00.00.00/6J2-501 Procedimento
fazem interface com a placa dentada. qualidade e soluções diferenciadas no tra- de tratamento das fissuras das vigas
Foi incluído furo na placa superior tamento de problemas. guia, 2018.
do conjunto da placa base para permitir O atendimento a normas, especifica-
a entrada do vibrador e a saída do ar, ções técnicas e a adoção de boas práticas * Rodolfo Szmidke é engenheiro civil, especialista em
permitindo assim o completo preenchi- é essencial, mas não elimina o risco do Engenharia Ferroviária, atualmente é engenheiro na área
mento da caixa. surgimento de manifestações patológicas de qualidade e inspeção de materiais de construção civil do
Os elementos que compõem o finger que, quando ocorrem, devem ser registra- Metrô-SP
plate passam por um tratamento superfi- das, investigadas, corrigidas e relatadas E-mail: rszmidke@metrosp.com.br
cial por meio de zincagem a quente visan- de modo a contribuir com o meio técnico
do maior vida útil. Foi possível observar através das lições aprendidas. ** Tatiana de Cássia Coutinho Silva da Fonseca é
um ponto de melhoria neste processo que O aprendizado adquirido pelo acom- engenheira civil, mestre e doutora em Engenharia de
é o jateamento prévio das peças com gra- panhamento da Linha 15-Prata conduziu Estruturas, especialista em patologia na construção
nalha de ferro que permite uma melhor a algumas mudanças em relação a con- civil, atualmente é engenheira especializada na área de
adesão do zinco e uma maior camada de troles, projetos e procedimentos execu- engenharia de estruturas do Metrô-SP
proteção superficial. Outra melhoria rela- tivos. Em relação aos aspectos dimen- E-mail: tatiana.fonseca@metrosp.com.br
Representação da oferta
de transportes na
rede de simulação do
Metrô de São Paulo
ALEXANDRE FRAZÃO D’ANDRÉA* / ALEXANDRE MAKOTO KOGA** /
ANA CAROLINA THEODORO DANTAS*** / JOSÉ ALBERTO DE CASTRO RUBIRA**** /
JOSÉ DE FRANÇA BUENO***** / MÁRIO JOSÉ GIL TELESI******
INTRODUÇÃO
A
atividade de planejamento
de transportes ocorre de for-
ma contínua, acompanhan-
do a dinâmica de alterações
de uso do solo, da política
tarifária, da socioeconomia, do sistema vi-
ário e da infraestrutura de transportes da
região de estudo. A etapa do planejamento
que contempla a realização de previsões
de demanda é fundamental para produ-
zir elementos necessários na elaboração
de projetos e em escolhas de alternativas
de transporte. Tais previsões de viagens
dependem da construção de modelos de
oferta e de demanda. Este artigo procura
apresentar os elementos mais importantes
do modelo que representa a oferta.
A previsão de demanda é realizada
tendo por base modelos matemáticos
que buscam representar o comportamen-
to dos usuários nos seus deslocamentos
cotidianos. Na Companhia do Metropoli-
tano de São Paulo os estudos de deman-
da são utilizados nas etapas de avaliação
da expansão da rede básica do metrô, na
priorização de trechos ou linhas, análise
de viabilidade de uma linha, no cálculo
dos benefícios sociais (fornecendo subsí-
dios para análises de impacto ambiental e
de acidentes), produção de informações
para os agentes financiadores dos pro-
jetos bem como o dimensionamento das
estações de metrô, terminais de ônibus
adjacentes às estações, dimensionamento
de frota e estudos de política tarifária.
A Companhia do Metropolitano de São
Paulo desenvolve estudos de previsão de
demanda utilizando modelagem matemá-
tica desde o início de suas atividades em
1968, com os dados da primeira pesquisa
Origem-Destino de 1967 (as pesquisas se-
guintes foram realizadas nos anos de 1977, Figura 1 - Redes de simulação utilizadas no Relatório HMD, 1967 (Fonte: Relatório HMD, volume 1, página 135)
1987, 1997, 2007 e 2017). Estes estudos (RMSP). Estes elementos estão apresen- ocorreram nos últimos dez anos na mo-
foram consolidados no relatório HMD (Ho- tados na figura 3. bilidade urbana da RMSP, tais como: ex-
chtief/ Deconsult/ Montreal). A Companhia utiliza em seus estudos pansão da rede metroferroviária, novos
Os estudos de demanda são desenvol- de demanda o modelo clássico 4 etapas, corredores de ônibus, alterações na rede
vidos em duas fases: em uma primeira fase o qual é constituído das etapas de Gera- viária e na política tarifária, uso de novas
são desenvolvidos e calibrados modelos ção de Viagens, Distribuição de Viagens, tecnologias em serviços de mobilidade,
para o ano base com dados da Pesquisa Divisão Modal e Alocação de Viagens. O dentre outros.
Origem Destino. Em uma segunda fase modelo de previsão de demanda mais re- A seguir são apresentados três itens
são representadas nestes modelos, para os centemente desenvolvido e em uso pela fundamentais na construção da represen-
anos-horizonte previamente especifica- Companhia do Metropolitano de São Pau- tação da oferta de transportes da RMSP, a
dos, situações de ofertas às quais incluem lo utiliza os dados da Pesquisa Origem- saber: o zoneamento, as redes de simulação
cenários de transporte e de política tari- -Destino 2017 sendo que para os cálcu- (a rede de transporte individual e a rede de
fária bem como matrizes de viagem que los matemáticos é utilizado um software transporte coletivo) e a política tarifária.
representam a condição da demanda para especializado em planejamento de trans-
cada ano-horizonte respectivo. portes urbano de passageiros de nome ZONEAMENTO
Neste artigo apresentamos uma vi- EMME (Equilibre Multimodal, Mutimodal Uma das etapas iniciais para a ela-
são abrangente de como a Companhia Equilibrium), software este produzido pela boração de um modelo de transportes é
do Metropolitano de São Paulo realiza empresa canadense INRO. a subdivisão das zonas da Pesquisa Ori-
atualmente seus estudos de previsão de O novo modelo procura representar gem-Destino em porções denominadas
demanda, focando na representação pelo algumas modificações importantes que zonas de simulação. Tal procedimento
lado da oferta (figura 1).
O arcabouço geral de simulação de
demanda adotado pela Companhia do
Metropolitano de São Paulo está exposto
de forma esquemática na figura 2.
A projeção espacializada das variá-
veis socioeconômicas alimenta o mode-
lo de demanda com as projeções futuras
dessas variáveis. A partir da Pesquisa
Origem-Destino são obtidas informações
(que serão traduzidas em duas matrizes,
uma de Transporte Individual e outra de
Transporte Coletivo) que alimentam o
lado da demanda.
O modelo de oferta é constituído pe-
los seguintes elementos: (1) o zoneamen-
to de simulação; (2) a rede viária (que se
subdivide em Rede de Transporte Indivi-
dual e Rede de Transporte Coletivo); (3)
tempos e custos do transporte individual
e coletivo; e (4) a política tarifária pra- Figura 4 - Zoneamento da Pesquisa OD 2017 (em azul) e zoneamento de simulação (em
ticada em cada um dos 39 municípios verde) associado (Fonte: autores)
da Região Metropolitana de São Paulo
Figura 5 - Necessidade de divisão de uma zona de simulação contendo mais Figura 6 - Novas ligações dos centróides X e Y às estações A e B após a
de uma estação de transporte de alta/média capacidade (Fonte: autores) divisão da zona que contém o centróide X (Fonte: autores)
REPRESENTAÇÃO DA Cruzes, Poá, São Caetano do Sul), 90 mi- transporte coletivo foi atualizada, consi-
POLÍTICA TARIFÁRIA nutos (Itaquaquecetuba, São Bernardo do derando as linhas de ônibus de todos os
Dá-se o nome de política tarifária do Campo), 120 minutos (Barueri, Carapicuí- municípios da RMSP.
sistema de transporte coletivo da Região ba, Francisco Morato, Guarulhos, Itapevi, - Política Tarifária: a política tarifária
Metropolitana de São Paulo ao conjun- Jandira), até 180 minutos (São Paulo). implementada no software EMME consi-
to de regras e tarifas que vigoram atual- Após superar o desafio decorrente da derou a complexidade e heterogeneidade
mente para o embarque/ transferência de adoção do Bilhete Único em 2005, e com vigente na RMSP. Nesta tarefa foi utiliza-
viagens entre os vários modais operantes a realização da Pesquisa OD em 2007, a da uma funcionalidade implementada nas
na RMSP. equipe técnica do Metrô criou uma so- versões mais recentes do software deno-
Desde 2005, com o surgimento do Bi- lução, de nome “Rede de simulação em minada Journey Levels.
lhete Único na cobrança tarifária dos ôni- camadas”, que dava conta de internalizar
bus no município de São Paulo e, com a no software EMME a política tarifária vi- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
extensão da integração tarifária ao metrô gente. Porém, entre 2007 e 2017 novas [1] BRUTON, MICHAEL - Introdução
e CPTM, houve a necessidade de realizar mudanças ocorreram tornando urgente ao Planejamento dos Transportes. Edi-
uma revisão profunda no modelo de ofer- novo recurso para o “input” das altera- tora Interciência. São Paulo, 1979.
ta, já que o software disponível à épo- ções da nova política. [2] CONSÓRCIO TTC-FIPE - Relatório RT-
ca não possuía recursos para representar A INRO, empresa canadense responsá- 99.MD.17.03/8MP-001. São Paulo, 2021.
esse tipo de tarifação. vel e desenvolvedora do software EMME, [3] KAWAMOTO, EIJI - Análise de Sis-
Ao longo dos anos, posteriores a 2005, produziu uma funcionalidade nomeada temas de Transportes. Depto. de Trans-
diversos municípios da RMSP conceberam Journey Levels. Essa ferramenta se vale portes. Escola de Engenharia de São
e implementaram políticas tarifárias lo- do conceito de camadas, desenvolvida Carlos (USP). São Carlos, 2004.
cais. Além do Bilhete Único no município pela equipe técnica do Metrô, porém de [4] ORTÚZAR, J.; WILLUMSEN, L. G.
de São Paulo e do BOM da EMTU, são um modo virtual ao invés de camadas fí- - Modelling Transport. Wiley, 2011.
consideradas, atualmente, com adapta- sicas. Além da maior facilidade de imple- [5] PESQUISA OD 2007 - Companhia
ções, o regramento adotado nos demais mentação houve sensível facilitação na do Metropolitano de São Paulo. São
municípios da RMSP. produção de “outputs” para análise, como Paulo, 2009.
O desafio técnico empreendido pela gráficos e mapas temáticos de embarque/ [6] PESQUISA OD 2017 - A mobilida-
Companhia do Metropolitano na tarefa de desembarque. de urbana da Região Metropolitana de
incorporar a complexidade advinda dessa O tão almejado equilíbrio entre tem- São Paulo em detalhes. Companhia do
variedade nas regras tarifárias vigentes po de simulação e representação das Metropolitano de São Paulo. São Pau-
na RMSP é motivo de destaque e prova- complexidades inerentes à Rede foi al- lo, 2019.
velmente se constitua em caso único no cançado. A análise dos primeiros testes [7] RELATÓRIO HMD - Link para
mundo, dada a complexidade tarifária vi- e resultados obtidos quando os 39 mu- acesso: Disponível em: <https://trans-
gente na RMSP. nicípios foram agrupados em 5 subcon- par enc ia.met ros p.c om.br/datas et/
Existem muitos modelos distintos de juntos, segundo similaridades da polí- relat% C3%B3r io-hmd-saiba-como-
integração tarifária na RMSP. Dos 39 mu- tica tarifária adotada, serviu para que -come%C3%A7ou-o-metr%C3%B4-
nicípios da RMSP, 19 deles apresentavam novos ajustes fossem realizados. Pos- -sp>. Acesso 17/01/2022.
algum tipo de integração tarifária em teriormente adotou-se divisão em três
2017. São eles: Arujá, Barueri, Caieiras, grupos de municípios e 19 camadas na * Alexandre Frazão D’Andréa é engenheiro civil e
Carapicuíba, Diadema, Ferraz de Vascon- tabela do Journey Levels. coordenador de Estudos de Demanda do Metrô-SP
celos, Francisco Morato, Guarulhos, Ita- E-mail: afrazao@metrosp.com.br
pevi, Itaquaquecetuba, Jandira, Mauá (in- CONCLUSÕES ** Alexandre Makoto Koga é engenheiro civil, ocupa o
cargo de Engenheiro do Metrô-SP
tegração no Terminal Central), Mogi das Com o novo modelo de oferta da
E-mail: amkoga@metrosp.com.br
Cruzes, Poá, Santana de Parnaíba, Santo Companhia do Metropolitano, construído *** Ana Carolina Theodoro Dantas é engenheira civil,
André, São Bernardo do Campo, São Cae- a partir dos dados da Pesquisa Origem- MBA – Visão Integrada de Sistemas sobre Trilhos Urbanos
tano do Sul (apenas algumas linhas) e São -Destino 2017, foram observados avanços na USP, ocupa o cargo de Engenheira do Metrô-SP
Paulo. Como entrave adicional, existem e melhorias na representação da Oferta: E-mail: carolina.theodoro@metrosp.com.br
exceções e benefícios localizados numa - Zoneamento: o zoneamento de **** José Alberto de Castro Rubira é licenciado em
parte considerável do conjunto de muni- simulação vem sendo refinado a cada Física, ocupa o cargo de Analista de Transportes III do
cípios da RMSP. Pesquisa Origem-Destino, incorporando Metrô-SP
Há diferenças também quanto às res- lições aprendidas pela equipe técnica e E-mail: rubira@metrosp.com.br
trições estabelecidas, ao tipo e quantida- acompanhando as mudanças ocorridas ***** José de França Bueno é licenciado em
Matemática Aplicada, mestre em Matemática Aplicada,
de de integrações e ao tempo de duração nos seguintes aspectos: o sistema de
doutor em Ciências da Engenharia, ocupa o Cargo de
da integração. transportes da RMSP, a socioeconomia, a Analista III do Metrô-SP
Existem diferenças entre os valo- concentração de população, o viário, as E-mail: jose.bueno@metrosp.com.br
res das tarifas de integração (desde R$ barreiras físicas etc. ****** Mário José Gil Telesi é licenciado em
0,00 até R$ 3,00 em valores de 2017) e - Rede de Simulação: a rede viária foi Matemática, pós-graduação: Curso de Especialização
o tempo de integração, variando de 50 atualizada a partir de dados do OpenStre- em Matemática Pura, ocupa o cargo de Analista II do
minutos (Diadema), 60 minutos (Arujá, et Map com base totalmente nova e novas Metrô-SP
Caieiras, Ferraz de Vasconcelos, Mogi das funções volume-retardamento. A Rede de E-mail: mjgtelesi@metrosp.com.br
A
ANA FLÁVIA DA SILVA HOEPPNER* / FERNANDO JOSÉ FEDATO**
VIABILIDADE ECONÔMICA DO
USO DE ÁGUA DE CHUVA COMO
FONTE ALTERNATIVA DE ÁGUA
Uma vez conhecidos a demanda que
pode ser suprida com água não potável e
Figura 2 - Perspectiva da Estação do Monotrilho Ipiranga o regime de chuvas da região, o parâmetro
ANÁLIA FRANCO
Figura 4 - Fração de consumo de água não potável (água de chuva utilizada em relação da
Dados de entrada: área de cobertura
demanda total por água não potável), relacionada ao volume do reservatório (m3), para a
= 1.280m2; Estação Vila Formosa
Demanda de água não potável =
25,5m3.
Pode-se observar que a máxima eco-
nomia estimada seria de 15% do consumo
de água não potável ao utilizar água de
chuva. Para atender ao restante do con-
sumo, seria necessário utilizar a água po-
tável. O melhor payback ocorreu com 13%
de consumo de água não potável.
Porém, para atender à Lei 16.402/2016,
o volume necessário para o reservatório
de aproveitamento de água de chuva é
23,5m3. Para esse volume (em torno de
25m3), de acordo com a figura 3, é possí-
vel economizar água potável em 14 % da
demanda total de água não potável.
VILA FORMOSA
Dados de entrada: área de cobertura = Figura 5 - Fração de consumo de água não potável (água de chuva utilizada em relação da
2.000m2 (cobertura onde será coletada a demanda total por água não potável), relacionada ao volume do reservatório (m3), para a
precipitação para utilização). Não foi uti- Estação Ipiranga
D
JACKSON DE CARVALHO GALOCHA******** / ARMANDO DE ROSSO********* /
JULIO MITSUHIRO OBUCHI********** / EDUARDO AUGUSTO CAMPOS*********** /
WILLIAN EDER REIS DA SILVA************ / JULIAN SANTOS DEL RIO*************
urante os últimos anos, a dedicar grande parte do seu orçamento Através do software Qemu, de Fabri-
engenharia de operação do para mantê-los em funcionamento devi- ce Bellard (Licença GNU Free), a partir de
Metrô de São Paulo vem en- do à complexidade de sua modernização. sua versão 5.0, rodando em computado-
frentando muitos desafios Para o caso de sistemas computacionais res/ servidores com sistema operacional
operacionais difíceis de se- compostos por hardware e software, por Microsoft Windows, foi possível criar má-
rem tratados de forma linear com padrões exemplo, sabe-se que a tecnologia evolui quinas virtuais compatíveis com o modelo
ou métodos tradicionais. constantemente e isso ocorre, geralmente, SparcStation 20 (SS-20), da Sun Microsys-
A pandemia agravou o quadro, au- em curtos intervalos de tempo. tems, com características suficientes para
mentando exponencialmente os desafios Uma possível solução para manter siste- executar as aplicações utilizadas no Centro
operacionais desafiando a Engenharia de mas legados em operação é a utilização de de Controle Operacional do Metrô-SP para
Operação a atuar de forma estratégica e técnicas de virtualização, quando são criadas controle de tráfego de trens, alimentação
inovadora, com uma visão de futuro, fo- máquinas virtuais. Uma máquina virtual é elétrica da via e sistemas auxiliares, bem
cada, alavancando vários projetos de apoio definida como sendo um pacote de softwa- como servidores de funções de regulação
à operação do Metrô, os quais se destacam re específico com condições de executar um de trens, sem perda de desempenho e com
os projetos apontados logo a seguir: sistema operacional, bem como aplicações obtenção dos seguintes benefícios:
específicas, criando um ambiente virtual nos 1.Aumento da confiabilidade: As apli-
ATUALIZAÇÃO DE SISTEMAS LEGADOS mesmos moldes de um servidor físico. Além cações podem ser executadas em um har-
SUN/SPARC ATRAVÉS DE EMULAÇÃO da virtualização, existe também a técnica cha- dware muito mais seguro e mais estável do
EM AMBIENTES WINDOWS/X86-64 mada de emulação, que nada mais é do que que as máquinas originais SPARC (Série Ul-
Autores: Engenheiro Renato Palata uma virtualização para plataformas de har- tra), pois o sistema passou a contar com ca-
Santana; Matemático Marcelo Fernando dware diferentes. Para o caso analisado, fo- racterísticas de tolerância a falhas de discos
Barreiros; Analista de Sistemas Newton ram feitos estudos de emulação para que uma rígidos e de fontes de alimentação elétrica,
Ibelli de Araújo; e Analista de Sistemas plataforma padrão “x86/x64” pudesse emular inexistentes na máquina original;
Francisco Moraes Gomes um hardware SPARC, plataforma proprietária 2.Maior eficiência energética: Houve um
Contribuindo para melhorar a sus- da Sun Microsystems, hoje incorporada à Ora- melhor aproveitamento dos recursos físicos
tentabilidade da operação do Metrô, foi cle Corporation, para assim executar as aplica- devido ao agrupamento de duas máquinas vir-
implantado o projeto de atualização dos ções metroferroviárias desenvolvidas no final tuais, sendo obtida uma economia de 31,5%
computadores de parte do Sistema Legado da década de 1990 (figura 1). na energia elétrica consumida por este sistema;
SCADA (Supervisory Control And Data Ac-
quisition), utilizando tecnologia de emu-
lação de plataforma RISC SUN/SPARC.
Em geral, os sistemas legados possuem
grande importância por estarem direta-
mente ligados à produção de forma críti-
ca, estando integrados a outros sistemas
gerenciais, bem como por estarem depu-
rados e adaptados às principais necessida-
des das empresas. Em contrapartida, tais
sistemas estão sujeitos à obsolescência,
de forma que as companhias optam por Figura 1
Figura 8 - Página com detalhe do backlog de capacitações técnicas Figura 9 - Capacitações nos Consoles do CCO
dos empregados das Estações
Figura 12 - Validação da tecnologia com os usuários (Fonte: Figura 13 - Console de trem modelado no software Blender (Fonte:
elaborado pelo autor) elaborado pelo autor)
A
LEANDRO KOJIMA* / REINALDO TEIXEIRA NAPPO**
Apesar de a experiência ajudar a não teligência artificial atingirão 52 bilhões de bases de conhecimento nas áreas de Inteli-
cometer os mesmos erros e a escolher o dólares até 2021 (ABES - Associação Bra- gência de Negócios do Metrô-SP, utilizan-
melhor caminho, basear-se em dados in- sileira das Empresas de Software, 2019). do os dados disponíveis nos sistemas de
teligentes acaba tornando o processo de Outro estudo realizado pela MicroStrate- informação, contratos, documentos e con-
tomada de decisão muito mais sistemático, gy, com profissionais de inteligência de troles das áreas responsáveis pelos proces-
pois eles independem de emoções. Dados, negócios, registra que no Brasil 60% das sos. Os painéis, integrados, com interface
de forma geral, são objetivos e racionais. empresas utilizam a Inteligência de Negó- visual amigável, navegável dinamicamente
Eles apresentam o que de fato está aconte- cios para orientar estratégias e mudanças e com alto grau de mobilidade, permitirão
cendo, independentemente se vão contra nos negócios com aplicações avançadas o monitoramento e controle preditivo dos
ou não às expectativas do negócio. e preditivas (MicroStrategy, 2020). Como eventos correlacionados e a visão global
Nesse sentido, tomar decisões impor- benefícios, a cultura baseada em dados, das aquisições. Além disto, a correlação
tantes com base em dados pode embasar apresenta: melhor competitividade, maior de dados integrados formará uma base de
melhor as estratégias e alterar o que for foco no cliente, minimização dos custos e conhecimento para agregar valor e propi-
necessário onde realmente seja preciso. aumento de agilidade (Moreira, 2020). ciar potencial de análise e métricas para
Tomar decisões com base em dados Com estes conceitos bem estrutura- tomada de decisão, com base em indica-
exige de forma essencial o conhecimen- dos, a gestão da Gerência de Logística do dores relevantes de complexidade, custo,
to do problema que deve ser solucionado. Metrô de São Paulo, avaliando a situação prazo, nível de risco e posicionamento es-
Desse modo, fica bem mais fácil explorar inicial de sua administração, entendeu ser tratégico. Deve ser considerado ainda, que
as informações e os dados disponíveis em premente a adoção de uma metodologia a construção de um sistema eficiente de
suas mãos. Ao identificar o problema, o de tomada de decisão baseada em dados, inteligência necessita de uma integração
passo seguinte é definir indicadores que utilizando ferramentas de Inteligência de forte entre pessoas e tecnologia (Petrini,
possam ser usados para análise e que vão Negócios, visando principalmente o au- Pozzebon e Freitas, 2004).
ser o seu verdadeiro norte para mapear mento do sucesso e eficiência das suas Um estudo de caso será descrito, de-
possíveis soluções. Toda e qualquer ação contratações. monstrando que a aplicação destas fer-
pode ser mensurada com a revolução digi- No caso da Gerência de Logística do ramentas e metodologia possibilitaram
tal. É preciso que você se faça as seguintes Metrô de São Paulo, o cenário inicial ob- analisar a causa raiz dos insucessos nos
perguntas: servado apresentava uma ineficiência no pregões, aumentando a eficiência de
(1) o que realmente preciso mapear para processo de aquisição, com fracassos nos 45,5% em janeiro de 2019 para 79,4%
solucionar meu problema? pregões na ordem de 45% ( jan/19), que em dezembro de 2019, ou seja, um ganho
(2) como vou mapear? resultavam em uma indisponibilidade de de 74%. Esse ganho implicou em menos
(3) o quanto uma determinada informação materiais críticos e estratégicos, para as retrabalho para todo o processo de con-
é importante para possíveis soluções? áreas de manutenção e operação. tratação do Metrô de São Paulo e maior
Agrupar os dados acaba passando pelo Além disto, havia uma série de con- disponibilidade de materiais estratégicos e
processo de estruturação. Sabe-se que em troles paralelos em planilhas distintas, críticos no estoque da empresa. O aumen-
sua maioria, um gestor não vai ter tempo descentralizadas e não integradas. Esse to na eficiência, possibilitou ainda maior
para agrupar as informações e os dados. cenário de caos somado as incertezas do assertividade na previsão orçamentária
Uma solução simples para esse caso é iden- mercado financeiro, a complexidade das dos gastos públicos, resultando em um in-
tificar ferramentas que podem coletar e es- aquisições e a necessidade de agilidade cremento de 39% de eficiência em relação
truturar dados, classificando-os de maneira e eficiência no processo decisório foram ao ano anterior.
padronizada e extraindo valor real deles. aspectos decisivos para a adoção de ferra- Outra oportunidade identificada foi
Um software confiável é fundamen- mentas e de uma metodologia para a to- relacionada aos leilões de materiais inser-
tal para o monitoramento de atividades mada de decisões baseada em dados. Essa víveis, que em razão da baixa movimenta-
de negócio, tendo a tarefa de apresentar descentralização da informação é um erro ção mapeada pela análise de dados, resul-
indicadores em tempo real. E quanto mais bem comum quando falamos de um pro- taram em uma receita não acessória de 3
a tecnologia avança, mais há necessidade jeto de data analytics (Openheimer, 2020) milhões de reais em 2019.
de se trabalhar com grandes volumes de e devemos considerar que transformar Serão descritas ainda, oportunidades
dados. A tomada de decisão baseada em dados em informação de valor é essencial de melhorias no gerenciamento de supri-
dados garante que você alcançará os resul- para o sucesso de qualquer negócio. mentos e os possíveis trabalhos futuros
tados esperados. A aplicação destas ferramentas e meto- resultantes do Artigo Técnico.
A sabedoria e o domínio do conheci- dologia, associadas ao Enterprise Resource
mento se traduzem em diferencial compe- Planning (ERP), possibilitam analisar, por DIAGNÓSTICO
titivo empresarial no século 21. Esse con- exemplo, a causa raiz dos insucessos nos Na fase de diagnóstico será analisado o
texto de incertezas e mudanças constantes pregões eletrônicos, aumentando a dispo- processo de contratação de materiais, as di-
reforça que as decisões que foram sucesso nibilidade dos materiais, bem como redu- ficuldades, os riscos e impactos, bem como
no passado, não são mais as únicas alter- zindo consideravelmente o retrabalho em a importância e relevância da análise de da-
nativas para a tomada de decisão nas aqui- todas as áreas de contratação do Metrô de dos para tomada de decisão, que propicia-
sições futuras. Um estudo chamado de São Paulo – Metrô-SP. ram a revisão de documentos importantes
Mercado Brasileiro de Software - Panora- Diante desse contexto este artigo pre- no Metrô-SP, com consequente mudança
ma e Tendências, realizado pela IDC Brasil, tende descrever os dashboards desenvol- de processo e posterior crescimento dos
indica que os investimentos globais em in- vidos, as possibilidades de integração das indicadores de performance, descritos no
Figura 1 - Gráfico do Sucesso nos Pregões Eletrônicos de Figura 2 - Valor Orçamentário x Valor Contratado de Materiais no
Materiais no Metrô de São Paulo Metrô de São Paulo
5. Orçamento Previsto x
Realizado - 2020
A análise de dados colabora ainda para
a tomada de decisão quanto à aplicação
orçamentária ao longo do exercício fiscal.
A figura 5 ilustra o gráfico do orçamento
previsto x realizado no ano de 2020 que
demonstra ao longo dos meses, o fluxo de Figura 5 - Orçamento Previsto x Realizado em 2020
caixa da conta estoque e permite em razão
desse fluxo a antecipação ou controle mais No passado essa medição segmentada
apurado e balanceamento dos pedidos de não ocorria e conforme pode-se obser-
compra. Com isto, há possibilidade de ca- var no gráfico, há ainda uma destina-
librar essa taxa de execução com base no ção de recursos para materiais não tão
cenário econômico da empresa. Um exem- críticos com atendimento ao ANS dos
plo disto, ocorreu com a pandemia de co- materiais de índice de falta 2 e 3 e em
ronavírus, na qual foi necessária a redução contrapartida os materiais estratégicos
de 10% da conta estoque, o que represen- e com índice de falta 1 apresentam ca-
ta 8 milhões de reais, visando o equilíbrio rência no atendimento do ANS. Essa vi-
financeiro em razão da queda na arreca- são permitiu a adoção de ata de regis-
dação do Metrô-SP. Sem tais dados, não Figura 6 - Taxa de Aprovação de Materiais tro de preços para os materiais comuns
seria possível essa tomada de decisão tão de prateleira, com índice de falta 3 e
rápida e segura. um Acordo de Nível de Ser viços - ANS a priorização de recursos tanto finan-
com os clientes da área de logística. ceiros como humanos nas contratações
6. Taxa de Aprovação dos Materiais Essa segmentação é fator prepon- de materiais estratégicos e com índi-
A figura 6 demonstra a taxa de apro- derante na tomada de decisão conjunta ce de falta 1 que podem comprome-
vação dos materiais com base na análise quanto à priorização das contratações. ter a operação do sistema metroviário.
de conformidade da especificação duran-
te as inspeções de materiais e sistemas.
Tal percentual é importante para análise
e tomada de decisão quanto a eventuais
problemas nas especificações técnicas,
cláusulas contratuais, ou ainda na ne-
cessidade de desenvolvimento de forne-
cedores para determinado materiais que
tenham recorrentemente reprovações por
essas circunstâncias.
7. Disponibilidade de Materiais
A medição e transparência nos da-
dos de disponibilidade de materiais
para os clientes é fundamental na to-
mada de decisão e priorização das
contratações. A figura 7 ilustra essa
disponibilidade dividida por segmento
dos materiais. Além da disponibilida-
de geral de 94,7% , há a disponibilida-
de dividida em materiais estratégicos,
pelos índices de falta dos mesmos, por
materiais administrativos, EPIs, ma-
nutenção e uniformes. Para cada índi-
ce de disponibilidade foi formalizado Figura 7 - Disponibilidade de Materiais – Metrô de São Paulo
da tomada de decisão baseada em da- descrita no item 11 é a carência dos ges- gestores entrevistados entendem que
dos somente foi possível com o desen- tores, apontada por 90% dos entrevista- conhecem pouco ou razoavelmente a
volvimento e aplicação de painéis de dos, por treinamentos específicos para aplicação das ferramentas na tomada de
inteligência de negócios, oriundos de utilização das ferramentas e painéis de- decisão baseada em dados. Dessa forma,
uma base única de dados de um sistema senvolvidos para tomada de decisão ba- esse artigo resultará também em uma
integrado de gestão empresarial - SAP, seada em dados. Tal carência é reforçada ação para desenvolvimento interno de
centralizado, mantido e atualizado re- pelo questionamento 2, na qual 47% dos treinamentos específicos nessa área.
gularmente por profissionais da área.
A implantação permitiu ainda o ba- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
lanceamento adequado de recursos e
[1] ABES - Associação Brasileira das [8] MOREIRA, ESDRAS. O caminho
a distribuição de atividades de acordo
Empresas de Software. Mercado Bra- para a tomada de decisão baseada em
com critérios de priorização e critici-
sileiro de Software - Panorama e Ten- dados.
dade que em momentos anteriores não
dências. 1ª. ed. - São Paulo: ABES - <https://transformacaodig ital.com/
era possível de forma assertiva em ra-
Associação Brasileira das Empresas de dados /o-c aminho-para-a-tomada-
zão da imprecisão e indisponibilidade
Software, 2019. -de-decisao-baseada- em-dados/>.
de dados concisos.
[2] BAZERMAN, MAX HAL. Proces- Acesso em: 22 jun. 2020.
É importante salientar que todas
so decisório. Rio de Janeiro: Elsevier, [9] OPENHEIMER, MARCELO. Na cri-
essas ações foram implantadas e a me-
2010. se, transformar dados em informação
lhoria observada dos resultados, como
[3] BRASIL. Constituição da Repúbli- de valor é essencial. Disponível em:
um todo, não implicaram, em aumen-
ca Federativa do Brasil. Diário Oficial <https://www.inova.jor.
to do custo operacional da Gerência
[da] República Federativa do Brasil, br/2020/04/29/dados-informacao/>.
de Logística, pelo contrário, conforme
Brasília, DF, 5 out. 1988. Acesso em: 22 jun. 2020.
demonstrado no item 10 o custo médio
. Lei Complementar nº 123, de 14 de [10] PERDIGÃO, J. G. L. ET AL. Pro-
mensal com pessoal foi reduzido em
dezembro de 2006. Diário Oficial [da] cesso Decisório: um Estudo Compa-
aproximadamente 5% , o que represen-
República Federativa do Brasil, Brasí- rativo da Tomada de Decisão em Or-
ta uma economia de aproximadamente
lia, DF, 14 dez. 2006. ganizações de Segmentos Distintos.
3 milhões de reais em relação ao ano de
. Lei Complementar nº 147, de 7 de Simpósio de Excelência em Gestão e
2019. Em termos quantitativos, houve
agosto de 2014. Diário Oficial [da] Tecnologia, 2012.
uma redução no quadro de profissionais
República Federativa do Brasil, Bra- [11] PETRINI, M.; POZZEBON, M.;
de 356 empregados em jan/2019 para
sília, DF, 7 ago. 2014. FREITAS, M. Inteligência de Negócios
321 em jan/2020, ou seja, uma redução
. Lei nº 13.303, de 30 de junho de ou Inteligência Competitiva? Noivo
de 9,83% no quadro de empregados da
2016. Diário Oficial [da] República Neurótico, Noiva Nervosa. Curitiba:
Gerência.
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 30 Anais do 30º Encontro da ANPAD –
Além disso, a pesquisa demonstra-
jun. 2016. Associação Nacional dos Programas
da no item 11 valida, com os gestores
[4] GOMES, L. F. A. M. Tomada de de Pós-graduação em Administração,
responsáveis, todas essas boas práticas
decisão gerencial: enfoque multicri- 2006.
de tomada de decisão baseada em dados
tério. São Paulo: Atlas, 2002. . Qual é o Papel da Inteligência de
para as contratações. Uma parcela de
[5] HAMMOND, J. S.; KEENEY, R. L.; Negócios (BI) nos Países em Desen-
95% dos gestores indicou que a tomada
RAIFFA, H. Decisões inteligentes: so- volvimento? Um Panorama das Em-
de decisão baseada em dados é essencial
mos movidos a decisões – como ava- presas Brasileiras. Curitiba: Anais do
ou muito importante como ferramenta
liar alternativas e tomar a melhor de- 28º Encontro da ANPAD – Associação
para o processo decisório e em 86% dos
cisão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Nacional dos Programas de Pós-gra-
casos esse critério é mais importante
[6] METRÔ. PE-29-010 - Indicadores duação em Administração, 2004.
que a tomada de decisão baseada exclu-
de Desempenho dos Macroprocessos [12] SILVA, LUCIANO. Tomada de
sivamente na experiência.
GLG. Revisão 07. São Paulo, 2020. Decisão Baseada em Dados (DDDM)
. PO–29–089 - Aquisição de Mate- e Aplicações em Informática em Edu-
1.Trabalhos Futuros
riais. Revisão 02. São Paulo, 2019. cação. Capítulo 2, IV Congresso Bra-
Como trabalho futuro, há oportuni-
. Regulamento de Licitações, Contra- sileiro de Informática na Educação,
dade de ampliar a aplicabilidade da to-
tos e Demais Ajustes da Companhia 2015.
mada de decisão baseada em dados para
do Metropolitano de São Paulo – Me- [13] SHIMIZU, TAMIO. Decisão nas
aumentar a eficiência das contratações
trô. Revisão 2. São Paulo, 2019. organizações: introdução aos proble-
ao aplicar os painéis e dashboards para
[7] MICROESTRATEGY. Global Sta- mas de decisão encontrados nas or-
outras áreas do Metrô de São Paulo, ou
te of Enterprise Analytics. Virgínia, ganizações e nos sistemas de apoio à
seja, ampliando o escopo de contratação
2020. decisão. São Paulo: Atlas, 2001.
para outros serviços, em outras gerên-
cias. Essa ampliação permitirá ainda a
coleta adequada de lições aprendidas e a * Leandro Kojima é engenheiro eletricista, mestre em ** Reinaldo Teixeira Nappo é engenheiro eletricista,
integração e troca de experiências entre Sistemas Eletrônicos, MBA em Gerenciamento de Projetos; administrador de empresas, e técnico em Mecânica; Chefe
os processos e áreas de contratação. gerente de Engenharia de Custos do Metrô-SP de Departamento de Logística de Materiais do Metrô-SP
Outro ponto constatado, na pesquisa E-mail: leandro_kojima@metrosp.com.br E-mail: reinaldo_nappo@metrosp.com.br
N
RODOLFO LIMA CHIAPARIN*
o início da década de 1990 mentação de sistemas de gestão em outras Todos os elementos apresentados até o
o Metrô de São Paulo in- unidades de negócio da Companhia. momento demonstraram um contexto favo-
tensificou os estudos de Foi possível verificar que a ISO 9001 é uma rável para a implementação do SGA. Mes-
ferramentas de gestão da norma estruturadora, ou seja, uma vez imple- mo assim, logo no início foi evidenciado
qualidade, incluindo as mentada facilita significativamente a utiliza- que existiam desafios diferentes daqueles
normas ISO da série 9000, ção de outras normas de sistema de gestão. enfrentados nos projetos anteriores. O pri-
objetivando aprimorar os processos in- Em 2007 foi iniciada a implementação de meiro era que havíamos nos acostumado a
ternos, por meio de elementos de sistema um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), com olhar para o modelo simplificado de pro-
de gestão da qualidade. Inicialmente não base nos requisitos da ISO 14001, tendo como cesso, pensando nas entradas e saídas, bem
se pretendia adotar todos os elementos da escopo inicial os processos de manutenção e como nos resultados desejados, esquecendo
norma de referência, tendo sido priorizados logística, por serem os responsáveis pela gera- que outrora também estudamos os produtos
aqueles que contribuiriam para a imple- ção dos aspectos ambientais mais significati- indesejados dos processos, ou seja, resíduos,
mentação dos requisitos de qualificação de vos no contexto da operação do Metrô de São efluentes, emissões atmosféricas, ruído etc.,
fornecedores e controle de documentos. Os Paulo. Iniciativas isoladas de controle ambien- que também precisam ser gerenciados. Hou-
resultados obtidos foram o ponto de parti- tal já vinham sendo tomadas, especialmente ve a necessidade de mudar o olhar sobre os
da para adoção dos demais requisitos. Em pelas áreas de engenharia, como objetivo de processos, para identificar os aspectos am-
2000, de forma pioneira para o setor, o Me- atender obrigações legais oriundas da evolu- bientais significativos gerados por cada um.
trô de São Paulo teve seu primeiro sistema ção da legislação ambiental, como, por exem- O segundo desafio, por se tratar de uma
de gestão certificado, tendo como escopo plo a eliminação gradativa dos PCBs (Bifeni- norma de identificação e gerenciamento dos
inicial a Manutenção do Material Rodante. las Policloradas), ou mesmo a destinação de riscos ambientais, seria a implementação de
A base estabelecida passou a ser uma refe- lâmpadas fluorescentes como Resíduo Classe elementos de monitoramento ambiental e
rência para ampliação do escopo e imple- I, com a reciclagem da maioria dos elementos. controle dos processos. Um diagnóstico am-
WWW.BRASILENGENHARIA.COM
WWW.BRASILENGENHARIA.COM BRASILENGENHARIA 06/2022
BRASILENGENHARIA 06/2022 159
159
BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO
biental preliminar realizado em abril de 2007 blico interno, em pátios, canteiros e edifícios Companhia é resguardada quanto a riscos am-
nos pátios de manutenção e demais depen- administrativos, bem como nas estações, para bientais e seus desdobramentos.
dências do contexto operacional demonstrou os colaboradores e passageiros; (5) Implemen- O SGA também contribui significativa-
a extensão dessa necessidade, confirmada tação de norma de contratação, de forma que mente para o monitoramento e cumprimento
posteriormente por meio de um levantamen- todos os fornecedores de serviço que podem das condicionantes estabelecidas nas Licen-
to detalhado realizado no mesmo escopo. gerar algum aspecto ambiental significativo ças Ambientais de Operação das linhas de
A figura 1, Pátio de Manutenção do Ja- em decorrência do trabalho prestado apre- Metrô e Monotrilho, que são tratadas de for-
baquara, apresenta exemplos da diversidade sentem um plano de gerenciamento ambiental ma semelhante aos demais requisitos legais.
de atividades existentes, bem como elemen- que, se aprovado pela área ambiental, é uti- Outros ganhos indiretos também foram
tos do meio ambiente lindeiros à essa planta. lizado, também, para fiscalização do serviço; evidenciados, em razão do reconhecimento
Ao elencar os aspectos ambientais gerados (6) Monitoramento de água e efluentes; (7) externo de organizações que possuem um SGA
nos seus processos, bem como os requisitos Remediação de áreas contaminadas; (8) Ade- certificado, conforme segue: (a) Prorrogação
legais e normativos a serem obedecidos, uma quação do monitoramento de ruído e vibra- da validade dos AVCB (Autos de Vistoria do Cor-
Organização passa a ter condições de imple- ção às condicionantes definidas nas Licenças po de Bombeiro), conforme IT 44, para as edifi-
mentar os controles necessários para operar de de Operação; (9) Implementação de normas cações que constam no escopo da certificação;
forma harmoniosa com o meio ambiente. internas para projetos, seja para fornecer di- (b) Linhas de crédito mais vantajosas.
Em maio de 2008 o Metrô de São Pau- retrizes de utilização de alternativas de água Além de todos os benefícios relatados, o
lo teve o seu SGA certificado na ISO 14001. para fins não potáveis, como para melhoria da SGA trouxe para a organização e seus stakehol-
Essa implantação trouxe avanços significati- eficiência energética; (10) Implementação de ders a tranquilidade de que internamente aos
vos no controle ambiental, seja na adequação Manual de Compras Sustentáveis; (11) Outor- seus processos o Metrô de São Paulo realiza
da infraestrutura existente ou nas etapas de gas para uso de água de infiltração. uma gestão ambiental coerente com o seu sig-
projeto de novas linhas, conforme exemplos Além dos ganhos relatados, que foram evi- nificado para com a sociedade.
apresentados a seguir: (1) Ligação das redes denciados nos últimos anos, entendemos que
de esgoto dos pátios de manutenção às redes o SGA estabeleceu uma estrutura dinâmica de * Rodolfo Lima Chiaparin é tecnólogo mecânico,
coletoras da Sabesp; (2) Implantação de bacias melhoria do desempenho ambiental. Alterações modalidade Projetos; Especialista em Engenharia
de contenção nos processos com potencial de de contexto, novos aspectos ambientais ou no- da Qualidade; MBA em Excelência Gerencial; MBA
derramamento e/ou vazamento; (3) Imple- vas diretrizes legais e normativas são identifica- em Gestão e Tecnologias Ambientais; Coordenador
mentação de Galpões para armazenagem de das e devidamente tratadas. Dessa forma, além Técnico de Sistemas de Gestão do Metrô-SP
resíduos Classe I; (4) Coleta Seletiva para o pú- de proteger o meio ambiente, a Alta Direção da E-mail: rchiapa@metrosp.com.br
Utilização de geração
fotovoltaica no projeto da Estação
Ipiranga da Linha 15-Prata
ADALBERTO DE PAULA RAMOS* / ATILIO HENRIQUE LAUDANNA** / FABIO SANTOS BERNARDES*** /
MASSARU SAITO**** / RODRIGO COURA OLIVEIRA***** / THIAGO MOYSÉS DE LIMA******
NTRODUÇÃO Com a possibilidade de avaliar as condi- internamente pelas cargas da Estação Ipiran-
O
Metrô de São Paulo vem bus- ções do edifício projetado a partir do mode- ga. Caso a energia produzida pelo sistema de
cando a sustentabilidade fi- lo tridimensional, os estudos e a verificação geração fotovoltaica seja superior à quanti-
nanceira, social e ambiental, dos impactos no projeto possibilitaram uma dade requerida pelas cargas de tal estação na-
incorporando novas tecnolo- análise prévia das prováveis interferências quele instante, o excedente será consumido
gias e inovações para atingir que somente seriam detectadas durante por outras cargas de outras estações através
tais metas, alinhando esses preceitos à sua a etapa de obra civil e da implantação do do sistema de distribuição em média tensão
missão e seus valores. Diante disso, soluções sistema de geração fotovoltaica. Com isso, (22KV), resultando em um aproveitamento
que resultam em eficiência energética asso- eventuais custos adicionais e atrasos de cro- máximo da energia gerada e consequente
ciadas à maior produtividade nos projetos, nograma durante a obra são evitados com eficiência elétrica para o sistema.
com o intuito de otimizar recursos financei- um planejamento antecipado e detalhado.
ros, vem sendo aplicado nos projetos de ex- O projeto desta miniusina foi configurado APLICAÇÃO
pansão da rede do Metrô. É nesse contexto com a expectativa de aumentar a eficiência Sendo uma construção elevada, a Estação
que se insere o projeto da miniusina de gera- energética e, consequentemente, proporcio- Ipiranga da Linha 15-Prata possui uma cober-
ção fotovoltaica de energia elétrica no pro- nar uma economia no consumo de energia de tura de cerca de 3.600m² que também con-
jeto da Estação Ipiranga da Linha 15-Prata. baixa tensão das estações, apresentando uma templa faixas de vidro para iluminação inter-
O desenvolvimento do projeto da estação grande inovação diante dos atuais sistemas na da estação, solução técnica adicional que
por meio dos processos, das tecnologias e aplicados nas estações do Metrô de São Paulo. contribui na diminuição do consumo ener-
das ferramentas implementadas pelo uso da As placas ou módulos fotovoltaicos, res- gético do edifício. O projeto de captação de
Construção Digital no Metrô, a partir do BIM ponsáveis pela conversão da luz solar em energia solar foi incorporado ao projeto bási-
(Building Information Modeling, ou Modela- energia elétrica, são conectados aos inverso- co da Estação Ipiranga, previamente elabora-
gem da Informação da Construção), propor- res, os quais alimentam diretamente o siste- do, com a premissa de respeitar integralmente
cionou uma integração mais efetiva entre as ma elétrico de baixa tensão. Tal configuração a concepção arquitetônica e evitar mudanças
diversas disciplinas que compõe um projeto, evita a utilização de um transformador na significativas no projeto. O trabalho interdis-
desde a sua concepção até sua implantação. saída dos inversores da planta do sistema de ciplinar entre as equipes de arquitetura, civil e
Neste cenário, onde profissionais da arqui- geração fotovoltaica, fato que permite uma sistemas elétricos foi determinante para viabi-
tetura, da engenharia elétrica e da civil tra- significativa simplificação nos circuitos. O lizar a distribuição e posicionamento das pla-
balharam colaborativamente formando uma sistema fotovoltaico, ligado diretamente à cas, respeitando o desenho da cobertura, dos
equipe multidisciplinar, foi elaborado e de- fonte de energia da estação, não terá inter- encaminhamentos dos cabos até as salas téc-
senvolvido o projeto de captação e transfor- ferência com a rede externa de alimentação nicas e viabilizando espaços para instalação
mação de energia solar em energia elétrica, da concessionária. Deste modo, toda energia de equipamentos, sem prejuízo para o projeto
incorporado ao projeto da Estação Ipiranga. elétrica gerada pelo sistema será consumida civil já elaborado (figuras 1, 2 e 3).
Figura 1 - Estação Ipiranga do Monotrilho Figura 2 - Estação Ipiranga do Monotrilho Figura 3 - Vista da cobertura da Estação
da Linha 15-Prata (Imagem 1) da Linha 15-Prata (Imagem 2) Ipiranga do Monotrilho da Linha 15-Prata
O
SORAIA SCHULTZ MARTINS CARVALHO***
s sistemas de transporte têm que vão do desenho arquitetônico às espe- vos de emissão de GEE por passageiro-qui-
um papel importante na mo- cificações de equipamentos e sistemas por lômetro, em comparação a outros modos de
bilização global em torno influenciarem significativamente no de- transporte movidos a combustível fóssil.
das mudanças climáticas. sempenho ambiental dos projetos na fase de
Têm o potencial de melhorar operação. DIRETRIZES PARA
a acessibilidade e a mobili- EMPREENDIMENTOS
dade da população, ao mesmo tempo em que O PAPEL DO METRÔ PARA As diretrizes gerais para a implemen-
reduzem os impactos ambientais e sociais. CENÁRIOS DE BAIXO CARBONO tação de empreendimentos do Metrô e que
A participação do setor de transportes A longa experiência do Metrô no pla- impactam positivamente em cenários de
nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) nejamento e concepção de projetos para a baixo carbono são:
está relacionada ao consumo intensivo de expansão e na operação do transporte me- -Priorizar a melhoria da rede de transpor-
energia para a operação e à construção da tropolitano é reconhecida pela contribuição te metropolitano como forma de estimular
infraestrutura, responsável pelo consumo positiva para a mobilidade e para cenários a transferência de viagens do individual
de insumos, materiais e equipamentos. de baixo carbono. para o coletivo, e contribuir para a quali-
As vulnerabilidades que as questões am- O compromisso do Metrô com as mu- dade ambiental e bem-estar da população
bientais trazem para os negócios e para a danças climáticas está na essência do seu da metrópole, com a redução das emissões
vida nas cidades se tornaram sinônimo de so- negócio, que é promover a mobilidade sus- atmosféricas, do consumo de combustíveis,
brevivência, resiliência e competitividade das tentável e percorre o ciclo de vida dos em- de acidentes de trânsito, entre outros be-
empresas. Na avaliação do mercado, o tema preendimentos. nefícios;
passou a ser objeto da análise de boas práti- É um transporte rápido, com alta capa- -Melhorar a mobilidade da população consi-
cas para investimentos ESG (Environmental, cidade de transportar passageiros, confiá- derando a integração com outros modos de
Social and Governance), métrica criada pelo vel, com regularidade na oferta de viagens, transporte e a ampliação das redes de trans-
setor financeiro para avaliar riscos e ativos com trens circulando em vias segregadas porte metropolitano;
em sustentabilidade das empresas. utilizando-se de energia mais limpa. Assu- -Potencializar os ganhos operacionais e am-
Assim, os investimentos em transporte mindo, assim, uma contribuição importante bientais decorrentes da racionalização do
urbano ganharam relevância e são estraté- na redução do consumo de combustíveis de transporte metropolitano, articulando com
gicos para os cenários de baixo carbono. fontes não renováveis, por ser um sistema os sistemas municipais e promovendo o
No caso dos empreendimentos do Metrô, movido à energia elétrica, com fonte de ori- transporte ativo;
a abordagem das mudanças climáticas faz gem predominantemente hídrica. -Prever melhorias no tratamento urbanístico
parte do planejamento e concepção dos pro- O sistema metroviário é integrado a ou- da área de intervenção, considerando dire-
jetos porque incorpora estratégias de miti- tros modos, motorizados e não motoriza- trizes estabelecidas por políticas e planos de
gação das emissões de GEE que minimizam dos. É capaz de substituir outros meios de mobilidade e ordenamento urbano;
ou evitam os efeitos adversos dos eventos transporte que utilizam combustível fóssil, -Fortalecer diretrizes de sustentabilidade
climáticos extremos. como os ônibus e os automóveis, que geram para pautar a definição de soluções de pro-
A mitigação de emissões de GEE em congestionamentos e maior emissão de ga- jeto, visando reduzir impactos em todas as
projetos de transporte do Metrô está rela- ses poluentes. fases do ciclo de vida, como os relacionados
cionada a três frentes no planejamento de Com diretrizes de sustentabilidade in- às mudanças climáticas.
uma nova linha: a substituição modal e a ternalizadas no planejamento e na concep-
capacidade de transferência dos passageiros ção dos projetos de transporte metroviário, ESTRATÉGIAS DE
de outros modos para o metrô, a tecnologia o sistema de transporte metroviário apre- MITIGAÇÃO DAS EMISSÕES
e a eficiência energética e o planejamento senta características operacionais e tecno- No planejamento e na concepção de
integrado a outras abordagens para a pro- lógicas que conferem ganhos para a redução uma nova linha são analisados os impactos
moção do desenvolvimento urbano. das emissões de gases de efeito estufa-GEE. do empreendimento na melhoria da rede de
São considerados ainda os impactos em Ganhos que são evidenciados no cálculo transportes de forma a potencializar seus
termos de consumo de materiais e insumos dos benefícios sociais proporcionados pela benefícios, estimulando não apenas a trans-
referenciados na construção sustentável, rede em operação e por indicadores positi- ferência de viagens geradas no modo indivi-
dual para o coletivo, mas também induzindo lho e serviços em áreas com alta densidade mudança do clima, que são compensadas
a redução da poluição ambiental e das emis- de população, diminuindo a necessidade de pelos benefícios promovidos pela rede em
sões de GEE. deslocamento, gerando benefícios como o operação.
Nesta fase do ciclo de vida do empreen- de redução do tempo de viagem, da polui- As emissões geradas com o consumo
dimento, são internalizadas também diretri- ção ambiental e de gastos com transporte. de energia na operação do Metrô pos-
zes referenciadas na construção sustentável, A implementação de novas linhas jun- suem grande influência no monitoramento
compreendendo desde a escolha da localiza- to a corredores de transporte também cria do desempenho climático pela intensidade
ção da área e terreno em que as edificações condições favoráveis de deslocamento da energética consumida, o que destaca um
serão inseridas, método construtivo, tecno- população, a atração de passageiros para o risco para a empresa se a matriz energética
logia, bem como o desenho arquitetônico, a transporte público e os benefícios da mobi- do país se tornar mais intensa em carbono.
definição de equipamentos e sistemas. lidade sustentável. Tendo em vista a importância estratégica
Para se obter ganhos na fase de opera- da energia para o transporte metroviário,
ção, são definidas soluções visando o de- c) Tecnologia e inovação existem ações que podem contribuir para a
sempenho ambiental, a eficiência e a redu- Definir soluções tecnológicas e constru- mitigação deste risco, como estudos para a
ção dos custos com energia, água, resíduos, tivas, incluindo estratégias para ampliar a geração de energia renovável.
entre outros. eficiência energética e reduzir o consumo de O monitoramento das emissões de GEE
Na fase de obras, são implementadas combustível fóssil são medidas importantes por empresas de transporte de passageiros
diretrizes para mitigar os impactos associa- que podem resultar na redução da emissão é voluntário e o desenvolvimento de me-
dos às atividades de construção civil pesada de gases de efeito estufa. todologia e ferramental para o cálculo das
e aos métodos construtivos, no consumo Algumas práticas do Metrô vêm sendo emissões em todas as fases do ciclo de vida
de materiais e uso de equipamentos. E, na aperfeiçoadas para incorporar diretrizes de é inovador.
fase de operação, é realizada a gestão e o sustentabilidade em seus projetos, garantin- Os indicadores dos benefícios sociais e do
monitoramento dos impactos previstos no do a melhoria do desempenho ambiental do inventário de emissões do Metrô têm garan-
projeto. sistema, além de agregar valor ao projeto, tido a elegibilidade de seus empreendimentos
As estratégias de mitigação de emissões possibilitam ganhos em qualidade e custo como um transporte sustentável, na avalia-
de GEE abordadas no planejamento e con- na implantação e na operação das infraes- ção dos agentes econômicos e financeiros
cepção de empreendimentos da Companhia truturas. nos processos para obtenção de recursos para
abrangem três frentes articuladas entre si. investimentos na expansão da rede.
São elas: OPORTUNIDADE PARA O próximo passo é o registro público de
AVALIAR OS BENEFÍCIOS DO METRÔ emissões em plataformas globais de desem-
a) Substituição modal No cenário atual em que vislumbramos penho ambiental, podendo dar transparên-
Diretriz de substituição de viagens rea- a importância da sustentabilidade para o fu- cia e se equiparar às práticas de mercado
lizadas em transporte individual motorizado turo da vida nas cidades, o papel do Metrô além de atender requisitos de agentes finan-
por viagens de transporte coletivo ou por para cenários de baixo carbono é ampliado. ciadores e investidores.
viagens não motorizadas. A racionaliza- Os empreendimentos do Metrô de São Além de internalizar suas práticas os fa-
ção dos sistemas de transporte existentes Paulo são projetos que exigem um olhar tores ASGI e atender a requisitos de mercado,
e a substituição por modos mais eficientes, apurado do que ocorre agora, para planejar os investimentos para a expansão e operação
além de contribuir para a redução das emis- o que poderá se transformar no futuro. Toda atendem a outros compromissos globais as-
sões de GEE, aportam também grandes be- a infraestrutura de transporte metroviário é sumidos pelo governo do estado para o de-
nefícios adicionais como a redução do con- projetada para ter uma longa vida útil e en- senvolvimento sustentável e que vislumbram
sumo de energia e dos custos de transporte. volve alterações significativas na cidade, no cenários de emissão zero e maior resiliência
Além dessa diretriz, outras abordagens que meio ambiente e na vida das pessoas. aos efeitos das mudanças climáticas, como o
integram pessoas, atividades, edifícios e espa- Assim, as questões das mudanças cli- Race to Zero e Race to Resilience.
ços públicos nos ambientes projetados podem máticas trazem a oportunidade para que se
incentivar a redução dos impactos, como o es- avaliem as dimensões de cada fase do ciclo * Cacilda Bastos Pereira da Silva é
tímulo ao transporte não motorizado. A cami- de vida dos empreendimentos para o apri- psicóloga, mestre em gestão ambiental e
nhada e o ciclismo têm potencial para acesso moramento das práticas e estratégias para especialista na Coordenadoria de Estudos de
intermodal ao transporte público e permitem cenários de baixo carbono. Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô -SP
que segmentos da população possam comple- Com o compromisso do Metrô com os fa- e-mail: cacilda.bastos@metrosp.com.br
mentar suas necessidades diárias de transporte, tores ASGI (Ambiental, Social, Governança e
melhorando a saúde e contribuindo para a qua- Integridade), os indicadores de desempenho **Ramón Carollo Sarabia Neto é químico e
lidade ambiental das cidades. climático são estratégicos porque evidenciam atua como analista na Coordenadoria de Estudos
os benefícios do sistema metroviário, tanto de Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô-SP
b) Planejamento integrado a outras abor- pelos menores valores de emissão de GEE por E-mail: rcsarabia@metrosp.com.br
dagens para a promoção do desenvolvi- passageiro-quilômetro, quanto pelo benefí-
mento urbano cio social líquido do metrô para a cidade. *** Soraia Schultz Martins Carvalho é
Promover a transformação do espaço Mesmo sendo considerado um modo economista e Coordenadora de Estudos de
urbano pode favorecer a criação de condi- estratégico em cenários de baixo carbono, Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô-SP
ções para o surgimento de polos de traba- as operações do Metrô geram impacto em E-mail: ssmcarvalho@metrosp.com.br
166 BRASILENGENHARIA
BRASILENGENHARIA 06/2022
06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM
WWW.BRASILENGENHARIA.COM
BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO
A
ADALBERTO DE PAULA RAMOS* / ALDO JOSÉ FRATI** /
ANTONIO IVO DE BARROS MAINARDI NETO*** /
CARLOS EDUARDO PAIXÃO DE ALMEIDA****
Linha 19-Celeste proporcio- estufa e 37,1 milhões de litros ao ano de ma gestão contratual formaram a base de
nará a ligação da região cen- consumo de combustível (figura 2). sustentação para a convicção de que este
tral de Guarulhos, segundo São números expressivos que indicam é, atualmente, o modelo mais adequado
maior município do Estado o tamanho do desafio, já iniciado na etapa para o desenvolvimento do Projeto.
de São Paulo e novo eixo de de contratação do Projeto Básico. Assim, todos os serviços, produtos e
desenvolvimento, ao centro da Capital, local Integrando as disciplinas de arquitetu- até a forma de desenvolvimento do proje-
onde se localiza grande parte dos empre- ra, civil, sistemas e material rodante em um to em BIM foram devidamente detalhados
gos da Região Metropolitana de São Paulo, único contrato, o Projeto Básico será desen- pela equipe técnica do Metrô, retratados
contribuindo para a redução dos tempos de volvido em BIM – Modelagem de Informa- em Termo de Referência, Diretrizes, Ins-
deslocamento e para a redução de deman- ção da Construção, compreendendo novos truções de Projeto, Instruções de Paga-
da sobre o sistema viário, com considerável processos e padrões em um ambiente cola- mento e outros documentos técnicos que
melhoria da qualidade de vida da população borativo em nuvem para trabalho simultâ- embasaram o processo de contratação.
atendida por esta nova linha. neo das equipes das projetistas e do Metrô Este modelo escolhido para esta contrata-
Esta nova linha tem como uma das de São Paulo, em um processo holístico de ção, melhor técnica e menor preço, levou
principais funcionalidades a de melhorar a criação e gerenciamento de informações, em consideração a natureza das necessi-
articulação da rede metroferroviária, contri- integrando dados estruturados e multidis- dades do Metrô e a natureza dos serviços
buindo para a redistribuição dos passageiros ciplinares para produzir a construção digital necessários à consecução do Projeto Bá-
dentro da rede de transporte, permitindo das unidades de projeto da Linha. sico da Linha 19-Celeste, sobretudo pelo
aliviar, principalmente, as linhas 1-Azul e A escolha do uso do BIM e da integra- fato de diferentes disciplinas de projeto
3-Vermelha, além de reduzir a demanda re- ção de disciplinas em um único contrato, terem necessidade de desenvolvimento
sultante do prolongamento da Linha 2-Verde até então inéditas no desenvolvimento de integrado. Os ganhos intrínsecos no uso
até o município de Guarulhos (figura 1). uma linha completa do Metrô, trouxe ques- do BIM e integração de disciplinas de-
Estima-se, após a sua implantação, que tionamentos de entidade de classe de em- mandaram da equipe técnica do Metrô a
os quase 630.000 passageiros que circula- presas, que buscaram retornar aos antigos imposição de grande parte das definições
rão por dia na Linha 19-Celeste gastem, processos de contratação, com a divisão prescritas nos documentos técnicos que
em média, 60 minutos a menos de tempo do escopo em lotes e disciplinas, além de embasaram a contratação, assim como a
de viagem entre Bosque Maia e Anhanga- questionar a obrigatoriedade da utilização forma e a sequência em que os serviços
baú, realizando este trajeto com mais con- do BIM no desenvolvimento dos projetos. serão desenvolvidos.
forto e segurança, além da regularidade e A experiência de sucesso do Metrô com Este amadurecimento do Metrô no
velocidade características do Metrô de São a utilização do BIM, implantado de forma trabalho em BIM e a integração discipli-
Paulo. Serão 15 estações em 17,6 quilôme- estruturada desde 2013 com a criação de nar, além do grande trabalho intelectual
tros de extensão totalmente subterrâneos, um Núcleo específico, investimento em de sua equipe técnica na elaboração dos
onde contarão com 31 trens e integrando espaços digitais e equipamentos, além da documentos técnicos e detalhamento do
com as linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha capacitação de seus colaboradores, aliada processo de desenvolvimento do projeto,
do Metrô e com a Linha 11-Coral da CPTM. aos ganhos que uma integração discipli- buscam vantagens, especialmente no que
São esperadas reduções de aproximada- nar traz, aumentando interfaces ao mesmo concerne à compatibilidade entre proje-
mente 727 toneladas ao ano de poluentes, tempo que reduz interferências e trazendo tos de disciplinas diferentes e a redução
75.197 toneladas ao ano de gases de efeito todos os agentes para dentro de uma mes- no risco de atrasos por divergências nos
Figura 2 - Ganhos Linha 19-Celeste Figura 3 - Poço de Ventilação e Saída Figura 4 - Utilização da Nuvem de Pontos para a
de Emergência – VSE Tipificado modelagem da situação real da estação
orçamentos e/ou planejamento da obra, captura de realidade que será realizada meras reuniões com os fabricantes de trens,
além da execução do projeto em menor nas estações São Bento e Anhangabaú. aliado ao avanço da tecnologia que utiliza
tempo e com maior apuração técnica. Como nessas duas estações haverá a modernos sistemas de controle de acelera-
Toda esta argumentação do Metrô integração dos projetos, ou seja, das no- ção e frenagem nos trens. Essa alteração,
levou ao indeferimento à solicitação da vas estações com as existentes, a captura trará uma redução enorme no volume de
entidade de classe das empresas pela im- de realidade proporcionará a obtenção de escavação que irá proporcionar a implanta-
pugnação do processo de contratação, levantamento topográfico com utilização ção de estações e VSE’s mais rasas.
permitindo o regular andamento do pro- de aparelho sensor Laser Scanner, dotado Outra inovação que será estudada na
cesso licitatório que culminou com a as- de tecnologia LIDAR – Light Detection and Linha 19-Celeste se refere ao transpor-
sinatura do Contrato em dezembro/2021. Ranging e/ou Fotogrametria com Câmera te vertical de passageiros nas estações. O
Vencido o processo de contratação, Calibrada, capaz de coletar informações Metrô sempre utilizou em suas estações
nos encontramos agora no maior dos desa- para a geração de uma nuvem de pontos escadas rolantes para essa finalidade, en-
fios: desenvolver o Projeto Básico de uma com coordenadas x, y, z para extração de tretanto, na Linha 19-Celeste, desenvolve-
linha completa de Metrô em um prazo de informações espaciais. As informações co- rá um estudo que leva em consideração,
dois anos, incorporando inovações arqui- letadas, em forma de nuvem de pontos e dentre outros, a profundidade das estações
tetônicas e tecnológicas, além de métodos imagens, complementadas por dados de (quantidade de pavimentos) e a quantidade
construtivos visando otimizar a implanta- levantamento topográfico cadastral, irão de passageiros previstos para cada estação,
ção, operação e manutenção da linha. dar origem a um modelo tridimensional de forma a avaliar e definir a utilização de
O Projeto Básico buscará potencializar que corresponderá, para todos os efei- elevadores de grande capacidade onde o
o uso dos recursos naturais para ilumina- tos, à condição existente e atualizada das estudo indicar sua aplicabilidade.
ção e climatização, contemplar sistemas estações São Bento e Anhangabaú e que Desafios enormes já vencidos e a ven-
e equipamentos de alta eficiência ener- servirá de base para o Projeto Básico em cer, onde o Metrô quebra paradigmas para
gética, inclusive com previsão do uso de BIM da reforma e adequação dessas es- otimizar os processos, diminuir as incer-
fontes renováveis de energia, maximizar tações. Espera-se que, com esse recurso, tezas e reduzir os riscos e os prazos, sem
o aproveitamento de águas com a adoção tenhamos uma gama mais precisa e abran- deixar de lado sua preocupação com meio
de dispositivos de economia, reservatórios gente de informações da realidade coleta- ambiente e sua veia inovadora e tecnoló-
para captação, armazenamento e reúso de da localmente, beneficiando as definições gica, tornando a Linha 19-Celeste a mais
água, além da utilização da vegetação em de projeto, e trazendo maior precisão da moderna linha do Metrô de São Paulo.
áreas permeáveis, calçadas, paredes e tetos intervenção necessária (figura 4).
verdes para amenização das ilhas de calor. A Linha 19-Celeste contará com Ope- * Adalberto de Paula Ramos é engenheiro eletricista,
Destaca-se, ainda, a previsão para o ração UTO – Unattended Train Operation, exerce o cargo de Chefe de Departamento do
projeto de Estações Tipificadas, com a pa- operação automatizada com trens sem ope- Departamento de Projetos de Sistemas na Gerência de
dronização de estações de baixa e média rador, proporcionando maior mobilidade à Projetos do Metrô-SP
capacidade, utilizando métodos construti- operação, implementação de miniusinas E-mail: aramos@metrosp.com.br
vos VCA – Vala a Céu Aberto, com plata- fotovoltaicas para geração de energia nas ** Aldo José Frati engenheiro civil, exerce o cargo de
formas centrais e laterais, e Poço Central, estações, pátio e VSE’s, utilizará o conceito Assessor Executivo do Gerente da Gerência de Projetos do
com plataformas em túnel, objetivando de eficiência energética, com uso de equi- Metrô-SP
otimizar os processos de projeto, implan- pamentos do tipo recuperadores de energia E-mail: ajfrati@metrosp.com.br
tação, operação e manutenção. É prevista, gerada pelos trens, iluminação LED, escadas *** Antonio Ivo de Barros Mainardi Neto é arquiteto,
também, a padronização de poços de VSE rolantes e elevadores com controle de velo- exerce o cargo de Supervisor na Coordenadoria de
– Ventilação e Saída de Emergência, nas cidade, aquecimento solar, entre outros. Projetos de Arquitetura, Paisagismo e Urbanização da
tipologias Poço Sobre Vias, Poço Lateral e Outra novidade a ser implantada na Li- Gerência de Projetos do Metrô-SP
em VCA (figura 3). nha 19-Celeste é a alteração da inclinação **** Carlos Eduardo Paixão de Almeida é engenheiro
Outro aspecto importante, relacionado das rampas vertical das vias que passam de eletricista, exerce o cargo de Gerente da Gerência de
ao desenvolvimento dos projetos em BIM, uma inclinação máxima de 4% para 5%. Projetos do Metrô-SP
se refere a utilização da Laser Scanner, Esta alteração somente é possível após inú- E-mail: calmeida@metrosp.com.br
O
INTRODUÇÃO sada, como é o caso de São Paulo, torna-se, de indutor de ocupação dos espaços em São
Metrô de São Paulo é sa- ainda, mais desafiador. Paulo, fato corroborado por prospectos e
bidamente um indutor de Dentre os inúmeros desafios de se im- propagandas de empreendimentos imobiliá-
ocupação do espaço urbano plantar novos empreendimentos metroviá- rios que utilizam, dentre outras vantagens,
e, notadamente o sistema de rios na cidade de São Paulo destacam-se os a proximidade a estações de Metrô, ratifi-
transporte de massa mais efi- projetos de sistemas mitigadores de efeitos cando, assim, o óbvio de que residir e/ou
ciente da Capital. indesejáveis tais como, por exemplo, ruídos trabalhar próximo a uma estação metrovi-
Entretanto, uma nova linha de metrô, e vibrações oriundos da passagem dos trens. ária representa uma grande facilidade de
além de ser um empreendimento de grande Neste trabalho, abordaremos apenas a deslocamento.
porte, que envolve também grandes inves- questão dos ruídos primários, ou seja, os ru- As linhas metroviárias de São Paulo são,
timentos, representa, para seu projeto e im- ídos aéreos, provenientes da passagem dos em sua maioria, subterrâneas. Assim, o pro-
plantação, enormes desafios, pois, se projetar trens em trechos em elevados e em super- blema do impacto nos lindeiros pela emissão
e executar um empreendimento desse porte fície. Abordaremos também alguns aspectos de ruídos pela passagem de trens inexiste.
já é algo bastante complexo, fazê-lo no am- das normas, legislação pertinente e seu de- Entretanto, há, nestas linhas, trechos em su-
biente de uma megalópole altamente aden- senvolvimento ao longo do tempo, com des- perfície e em elevado, além dos pátios e seus
taque à participação do Metrô acessos. Nestes trechos, os ruídos gerados
de São Paulo neste desenvolvi- pela passagem dos trens afetam o conforto
mento, inclusive na elaboração dos lindeiros e medidas mitigadoras têm de
da ABNT NBR 16425, parte 5, ser adotadas.
voltada ao modal metroviário.
O IMPACTO DOS RUÍDOS
A OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS O som é conhecido por ser uma energia
INDUZIDA PELO METRÔ gerada e propagada na forma de ondas que se
Nas grandes metrópoles, o propagam por meio material, seja este o ar ou
deslocamento sempre foi um outros. Chama-se de ruído ao som desorgani-
grande desafio, principalmente zado e, consequentemente, perturbador.
quando se trata de cidades não As grandezas relacionadas ao som são a
planejadas, que foram simples- Pressão sonora (Pa), relacionada à percepção
mente “inchando” com o passar humana do som, a Potência sonora (W), refe-
dos anos. São Paulo é o exem- rente à sua emissão na fonte e a Frequência
plo clássico disso! Na tentativa (Hz), relacionada ao “timbre” do som, ou seja,
de minimizar os transtornos se este é mais grave ou mais agudo. A pres-
quanto aos deslocamentos dos são sonora é dada em Pascais (Pa). Entre-
cidadãos, soluções diversas para tanto, os valores dessa pressão são muito
o transporte de passageiros são díspares, ou seja, variam de 20µPa (Limiar
adotadas, dentre as quais o Me- da Audição) a 100.000.000µPa (Limiar da
trô tem destaque por sua eficá- Dor). Assim, não há escala que comporte
cia e excelência no que diz res- adequadamente todos os valores da pres-
peito à rapidez, funcionalidade são sonora. Além disso, o som é percebido
e segurança. pelo ouvido humano de forma logarítmi-
Por uma série de motivos ca. Portanto, para se quantificar o ruído,
como a confiabilidade, “a certe- em vez de se utilizar a pressão sonora,
Figura 1 - Pressões Sonoras (Pa) x Níveis de Pressão Sonora za de chegar” do Metrô de São utiliza-se o conceito de nível de pressão
(dB) - (Traduzido de Bruel & Kjaer Instruments) Paulo, este se tornou um gran- sonora, ponderado em Decibel (dB), cujos
Tabela 1 - Legislação brasileira pertinente a ruídos rias dos veículos que por ela trafegam.
Assim, diante deste cenário complicado,
Resolução CONAMA Nº 490, de 16/11/2018: houve, por iniciativa destas concessionárias
Legislação Federal de rodovias (ABCR) e, logo em seguida, com
Limites para veículos automotores
a adesão da CPTM e do Metrô, a condução
Lei 997, de 31/05/1976 e seus decretos: Definem de discussões e estudos técnicos, junto à
poluição e proíbem esta prática CETESB, buscando a criação de uma docu-
mentação técnica mais adequada a avaliar os
Legislação Estadual Decreto 8468, de 08/09/1976: Atribui à CETESB impactos da emissão de ruídos dos sistemas
suas atuais competências e dispõe, entre outros lineares de transportes, assim definidos, de
maneira a abordá-los como fontes móveis de
itens, sobre o critério da melhor tecnologia
ruídos e a estabelecer critérios técnicos e me-
prática existente (“auto-atualização”) didas mitigadoras que pudessem ser, de fato,
Lei 16.402, de 22/03/2016 – Uso e ocupação do factíveis.
Os trabalhos deste grupo envolveram cer-
solo – Art. 146: Ruídos de fontes fixas, invocando ca de dois anos de estudos e discussões, que,
Legislação Municipal a legislação das três esferas de poder, no final, levaram à elaboração e à aprovação,
prevalecendo a que for mais restritiva. Esta lei pela Diretoria da CETESB de dois importantes
revoga a anterior sobre este mesmo assunto documentos: o Procedimento para Avaliação
de Níveis de Ruído em Sistemas Lineares de
Transporte, conforme Decisão de Diretoria nº
Toda e qualquer atividade no mundo preocupação crescente em âmbito mundial 100-2009/P da CETESB, publicada no Diário
provoca algum tipo de som, ou seja, é sim- passou, então, a ser objeto de mais e mais es- Oficial do Estado em 23/05/2009 e a Regu-
plesmente impossível ocorrer qualquer tipo tudos, culminando com a criação de normas, lamentação de Níveis de Ruídos em Sistemas
de acontecimento sem que, com ele, ocorra diretivas e leis pertinentes ao assunto. Lineares de Transportes localizados no Estado
algum tipo de fenômeno sonoro. Com as ati- A legislação brasileira relacionada ao as- de São Paulo, conforme Decisão de Diretoria
vidades humanas, não é diferente! sunto conta com leis federais, estaduais e mu- nº 389-2010/P da CETESB, publicada no Diá-
No caso do Metrô, a circulação dos trens nicipais pode ser observada na tabela 1. rio Oficial do Estado em 24/12/2010.
sobre os trilhos gera uma série de ruídos, que Estes dois documentos foram de grande
vão do funcionamento dos motores elétricos O PROBLEMA GERADO PELA importância para os setores dos transportes,
ao atrito das rodas com os trilhos, passan- LEGISLAÇÃO E AS SOLUÇÕES pois, além de estabelecerem uma legislação
do pelos sistemas de ar-condicionado e pelo Os empreendimentos de expansão me- factível para as medidas mitigadoras deste
contato do dispositivo de captação de ener- troviários são submetidos ao Licenciamento tipo de poluição ambiental, com critérios e
gia com o sistema de alimentação elétrica. Ambiental e, para tal, têm de se adequar às metodologias mais adequadas a estes sistemas
Assim, muitas são as fontes dos ruídos que, emissões de todos os tipos de poluição, den- de transportes, não mais os abordando como
somados, geram efeitos que podem ser per- tre as quais se destaca, neste artigo, a de fontes estacionárias, culminaram em outra
turbadores aos receptores. Dentre estas inú- ruídos. Ao serem aplicadas as legislações das iniciativa de grande importância: a criação da
meras fontes de ruído, entretanto, a mais evi- três esferas de poder, num eventual conflito, ABNT NBR 16425, Partes 1 a 5, uma nova nor-
dente é o contato roda-trilho, principalmente prevalece a mais rigorosa. ma técnica, de âmbito nacional, voltada aos
os chiados emitidos nas curvas. Ocorre, entretanto, que, até o ano de sistemas de transportes rodoviário, aeroviário,
Os ruídos, sons desorganizados por defi- 2010, ao se avaliar o impacto gerado pelos ferroviário e metroviário, tendo ainda, em sua
nição, podem ocasionar uma série de male- ruídos emitidos pela passagem dos trens nas primeira parte, disposições gerais sobre as me-
fícios à população. Dentre estes, podem ser linhas metroviárias, devido à legislação, eram dições e avaliações de ruídos nestes diferentes
destacados o aumento da pulsação e da pres- obedecidos os níveis de ruído estabelecidos modais de transportes. Por serem fortemente
são sanguínea, a irritabilidade, cansaço, falta pela ABNT NBR 10151 que, por sua vez, teve inspiradas nas normas ISO, europeias, as par-
de atenção, estresse, a perda da audição ou seus limites inspirados nas diretrizes do do- tes 2 a 5 desta norma não estipulam limites,
até mesmo problemas mais graves de saúde. cumento Guideline for Night Noises, da Orga- mas trazem recomendações técnicas quanto à
Antigamente, falar em poluição sonora nização Mundial da Saúde (OMS) que estipu- medição e à avaliação dos ruídos emitidos pe-
não era muito comum e os incômodos e pro- la, por exemplo, para a Europa, um limite de los diferentes sistemas de transportes. No caso
blemas relacionados aos ruídos não eram tão 40dB para ruídos no período noturno, veio dos limites a serem obedecidos, estes ficam a
levados em consideração, chegando, muitas se mostrando ser totalmente inadequada à cargo da legislação local e, para o Estado de
vezes, até a serem considerados como “ca- avaliação de ruídos provenientes de fontes São Paulo, utilizam-se os limites estabelecidos
prichos” pessoais. Com o desenvolvimento da móveis como, por exemplo, os sistemas li- na Regulamentação de Níveis de Ruídos em
medicina e dos estudos, além do agravamen- neares de transportes. A avaliação, segundo Sistemas Lineares de Transportes localizados
to dos níveis de ruídos e suas consequências, estes critérios era extremamente rigorosa e, no Estado de São Paulo.
entretanto, o estudo deste fenômeno passou consequentemente, penalizava os sistemas Estes limites foram estabelecidos partindo-
a não mais ser restrito aos ambientes acadê- de transportes de passageiros sobre trilhos. -se, inicialmente, dos valores estabelecidos na
micos, mas sim a extrapolá-los, tornando-se Igualmente penalizadas eram as concessioná- ABNT NBR 10151:2000 (vigente, na época). Os
também um problema de saúde pública. Esta rias das rodovias, que sequer são proprietá- limites desta norma, entretanto, já eram muito
Tabela 2 - Níveis de ruídos estipulados: ABNT NBR 10151:2000 x Regulamentação de Níveis de Ruídos em
Sistemas Lineares de Transportes localizados no Estado de São Paulo, DD 389-2010/P – CETESB
- Hospitais
- Casas de saúde
- Asilos
I 55 50 50 45 50 50 55 45
- Unidades Básicas de
Atendimento a Saúde
- Creches
- Residências
II - Comércios 60 55 55 50 65 55 60 50
-Serviços Locais
- Instituições de ensino
- Escolas
- Faculdades
III - Centros Universitários 63 50 58 45 68 50 63 45
- Universidades
- Atividades Equivalentes
- Cultos Religiosos
rigorosos e, na maioria das situações práticas tentes e estas, muitas vezes, podem ter sido para níveis máximos de pressão sonora eram
observadas, fora da realidade, o que levava a construídas muito antes da legislação vigente muito baixos, frequentemente não eram aten-
situações em que a solução para o problema ou mesmo antes da existência da preocupação didos em praticamente nenhum local, pois, até
era simplesmente inviável, chegando a até com este assunto. Por este motivo, foram in- mesmo nas localidades mais silenciosas, o som
mesmo inviabilizar o empreendimento. As- cluídas, nos termos e definições, os conceitos residual não raramente já estava situado pró-
sim, os estudos e as discussões técnicas, en- de vias novas e vias existentes, com ou sem al- ximo aos critérios, isto quando estes não eram
volvendo, inclusive especialistas no assunto, teração, de forma a estipular limites de ruídos superados. Como consequência, as medidas
levaram ao consenso sobre os critérios e ní- adequados a cada situação. Na tabela 2, são mitigadoras, quando necessárias, já visavam
veis de ruído a serem adotados como limites comparados os níveis de ruído admissíveis se- ao atendimento dos níveis de pressão do som
para estes sistemas de transportes, sobretudo gundo a ABNT NBR 10151 vigente na época e residual.
por representarem uma fonte que submete o os da Regulamentação da CETESB. Os valores Na prática, a Regulamentação da CETESB
receptor a um tempo de exposição bem in- são todos ponderados pela curva “A”. acabou sendo bastante realista e factível, sen-
ferior ao a que este é submetido por fontes Na tabela 2, os níveis classificados como do, inclusive, adotada em outros estados bra-
estacionárias. “atuais” são os estipulados pela Regulamenta- sileiros que não dispõem de uma norma ou lei
Além disso, a Regulamentação da CE- ção e os “antigos”, pela norma da ABNT. Esta adequada.
TESB, de acordo com a legislação estadual, alteração, ao contrário do que muitos poderiam Na expansão da Linha 2-Verde do Metrô de
tem força de lei, por ser este organismo o vir a pensar, não se trata de uma “permissivi- São Paulo, de Alto do Ipiranga a Vila Prudente,
responsável pela fiscalização e pelo licencia- dade para poluir”, mas sim de uma adequação o trecho da Estação Tamanduateí, incluindo a
mento ambiental dos empreendimentos no aos efeitos das fontes móveis aos receptores, já própria estação, onde há conexão com a CPTM,
Estado de São Paulo e, tanto a Regulamen- que o tempo de exposição destes aos ruídos é foi construído grande parte em elevado e este
tação, quanto a ABNT NBR 10151 estabele- bem inferior ao das fontes fixas. Além disso, a tornou-se praticamente um túnel elevado, pois,
cem, em seu texto que, nos casos em que o experiência pode comprovar que os locais de- levando-se em consideração o zoneamento lo-
som residual ultrapassar os níveis de ruídos signados na tabela apresentam, na maior parte cal, seu potencial de ocupação e as condições
estipulados nas tabelas, este passará a ser das vezes, níveis sonoros bem superiores até locais de ruído residual, com os limites da ABNT
o critério a ser obedecido, pois não se pode mesmo aos das fontes nos sistemas lineares de NBR 10151, já que, na época, não existia a Re-
degradar mais o local, já degradado por um transportes. Desta forma, a alteração foi feita gulamentação da CETESB, o fechamento late-
som residual mais alto do que os limites pré- no sentido de uma maior adequação à realidade ral do elevado com barreiras acústicas não seria
-estabelecidos para ele. do que ocorria com os níveis anteriores. suficiente para mitigar o ruído da passagem dos
Além disso, como existe a questão da A ABNT NBR 10151:2000 ainda trazia um trens. Assim, houve a necessidade de se fechar
renovação da licença ambiental de vias exis- outro problema: como seus limites impostos o elevado com telhas também com tratamento
acústico. A figura 3 mostra esquematicamente Entretanto, em situações em que o som residual CONCLUSÕES
a Linha 2-Verde com o trecho em elevado des- fosse baixo ou ficasse entre os níveis máximos Os estudos da mitigação dos ruídos pri-
tacado no retângulo. estabelecidos pela norma e os novos que foram mários, que vêm sendo conduzidos por mais
Ao ocorrer este fechamento, entretanto, estabelecidos para a Regulamentação, o uso da de uma década, estão se mostrando cada vez
o elevado passou a ser tratado como túnel e, norma levaria à necessidade de atenuações de mais adequados no sentido de serem tomadas
consequentemente, teve de ter incorporados valores em situações em que a prática mostrou as providências corretas na atenuação desses
ao projeto os sistemas de combate a incêndios, que nada precisaria ser feito, pois, mesmo não efeitos.
saídas de emergências, registros motorizados se ouvindo nada do ruído emitido pela fonte, o Os ganhos vêm sendo gradativos, pri-
(sistemas com persianas de funcionamento entorno ainda estaria degradado do ponto de meiramente, com o Procedimento de Medi-
motorizado para exaustão de gases, no caso vista acústico e a situação do lindeiro não seria ção, em segundo, com a Regulamentação,
de incêndios), sinalização etc. O resultado foi resolvida. Assim, os altos valores desembolsa- passando pela elaboração da norma ABNT,
uma estrutura com aspecto “pesado” e de cus- dos pelo Metrô na busca de soluções simples- ainda em curso e, finalmente, pela esfera le-
to significativo. Isto sem mencionar as ques- mente teriam sido desperdiçados na falsa ilusão gal com novas leis ou mesmo com os ajustes
tões estruturais e seus respectivos custos para de se estar preservando o meio ambiente. que forem necessários à legislação atual, de
sustentarem um maior peso próprio, além das Além disso, diferenças aparentemente pe- forma a fornecerem o embasamento legal
cargas de vento e do efeito pistão com a movi- quenas são, muitas vezes, impossíveis de se- adequado para a tomada correta das medi-
mentação dos trens. rem atenuadas, pois as grandezas são logarít- das preventivas e corretivas, com a devida
A estrutura em questão era composta por micas. Assim, um único decibel, dependendo divisão das responsabilidades.
pórticos e montantes metálicos, entre os quais da situação, pode significar a diferença entre Já foram grandes os avanços com as Deci-
eram instalados painéis em estrutura metálica, resolver o problema com uma solução simples sões de Diretoria da CETESB. Entretanto, mui-
placas cimentícias do lado externo, placas me- e gerar um grande incremento nesta solu- to ainda tem de continuar a ser feito, pois as
tálicas perfuradas do lado interno e janelas com ção ou mesmo inviabilizá-la, principalmente cidades são dinâmicas e, com elas, seus empre-
painéis de vidro laminado e temperado, ou seja, quando os níveis sonoros forem mais altos. endimentos e os efeitos advindos destes.
elementos com custos significativos no forne-
cimento, implantação e manutenção. Além do AS ETAPAS DOS TRABALHOS COM
peso próprio, os painéis e a estrutura receberam AS NORMAS E LEGISLAÇÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
uma pintura anti-pichação e foram preenchi- O desconforto que o uso de normas inade- [1] GERGES, SAMIR N. I. - Ruído: Fundamentos e Con-
dos com material fonoabsorvente. Nas figuras quadas causava ao Metrô e a outros concessio- trole – Segunda Edição, Florianópolis, N.R. Consultoria e
4, 5 e 6, podemos ver o aspecto do elevado, nários de sistemas de transportes foi o estopim Treinamento, 1 de janeiro de 2000.
[2] ABNT NBR 10151 - Acústica – Medição e avaliação
sua integração com o partido arquitetônico da do início dos trabalhos junto aos demais opera-
de níveis de pressão sonora em áreas habitadas – Aplica-
Estação Tamanduateí e a escadaria da saída de dores, à CETESB e à ABNT. ção de uso geral.
emergência exigida pelo Corpo de Bombeiros. A ABNT NBR 10151 era inadequada, fora da [3] ABNT NBR 10152 - Acústica — Níveis de pressão so-
Caso os critérios e os níveis de ruídos ti- realidade e, apesar de todo o seu rigor, não re- nora em ambientes internos a edificações.
vessem sido os da Regulamentação da CETESB, solvia o problema dos ruídos. Entretanto, como [4] ABNT NBR 15575 - Edificações Habitacionais – De-
sempenho.
a solução para o elevado poderia, muito pro- era o que existia para a avaliação de ruídos, era
[5] ABNT NBR 16425 - Partes 1 a 5 – Ruídos em sistemas
vavelmente, ter sido mais simplificada, leve e, adotada por todos os organismos e citada por de transportes.
consequentemente, bem menos custosa, ainda diversas leis, algumas, inclusive, escritas por [6] FTA REPORT Nº 123 – Transit Noise and Vibration Im-
sendo utilizados os critérios de projeto do Me- pessoas que desconhecem totalmente o assun- pact Assessment Manual, setembro de 2018.
trô, que preconizam o dimensionamento das to “ruídos”, seus efeitos e estudos. [7] CONAMA – Resolução - Nº 490, de 16/11/2018.
[8] LEI - Lei Estadual 997, de 31/05/1976.
soluções mitigadoras pelos níveis mais críticos, Como algum novo instrumento norma- [9] DECRETO - Decreto Estadual 8468, de 08/09/1976.
ou seja, no caso da tabela 2, os noturnos, quan- tivo teria de ser desenvolvido e este desen- [10] LEI - Lei Municipal 16.402, de 22/03/2016 – Uso e
do o som residual tende a ser menor, ficando volvimento deveria ter um embasamento ocupação do solo.
a fonte de interesse mais “exposta” e evidente. técnico e legal. Assim, além dos funda- [11] CETESB - Procedimento para Avaliação de Níveis de
Ruído em Sistemas Lineares de Transporte, conforme De-
Não bastassem estes custos, que poderiam mentos do ruído, normas e leis de diver-
cisão de Diretoria nº 100-2009/P da CETESB, publicada no
ter sido evitados, a região continuou acustica- sos países foram pesquisadas, de forma a Diário Oficial do Estado em 23/05/2009.
mente degradada devido ao tráfego intenso na subsidiarem as decisões com base em algo [12] CETESB - Regulamentação de Níveis de Ruídos em
Avenida Presidente Wilson e demais vias, ou que esteja sendo também feito em outros Sistemas Lineares de Transportes localizados no Estado de
seja, o Metrô teve de fazer um investimento países, ou seja, não seria uma “reinvenção São Paulo, conforme Decisão de Diretoria nº 389-2010/P
da CETESB, publicada no Diário Oficial do Estado em
de grande monta e o problema da degradação da roda”, mas sim um aperfeiçoamento da 24/12/2010.
acústica continuou, pois a legislação vigente na forma de se abordar o assunto, com base
época era muito permissiva com as demais fon- em medidas plausíveis existentes no exte-
tes móveis de ruídos. rior. Assim, foi também conduzida, após * Helder José Ribeiro Soares é engenheiro civil,
Quando o som residual está acima dos ní- a aprovação do Procedimento e da Regu- Engenheiro Especializado na Coordenação de Via
veis admissíveis para ambos os casos e a área lamentação da CETESB, uma pesquisa a Permanente da Gerência de Projetos do Metrô-SP
de interesse é extremamente degradada acus- normas e leis dos Estados Unidos, Canadá, E-mail: helder.jose@metrosp.com.br
ticamente, a avaliação da fonte de ruídos pelos Chile, Turquia, Malta, México, Espanha en- ** Adilson Roberto Takeuti é engenheiro
critérios da NBR ou da Regulamentação pode tre outros. Esta pesquisa buscou endossar o civil, Mestre, Doutor e Pós-doutorado em
não fazer muita diferença, pois há uma tendên- trabalho que já havia sido feito e orientar o Engenharia de Estruturas, Coordenador de
cia de os níveis de pressão sonora a serem ge- direcionamento dos futuros trabalhos que Projetos de Via Permanente do Metrô-SP
rados serem até mascarados pelo som residual. adviriam deste. E-mail: atakeuti@metrosp.com.br
E
MÁRCIO ANNIBAL PIMENTA*
m todo processo de ma- cedimentos de manutenção anualmente. ses instrumentos e dispositivos medem e
nutenção, medidas e Na sua imensa maioria, esses pro- parametrizam adequadamente? Através
parâmetros são necessá- cedimentos são baseados nas referidas de sua verificação ou calibração. O La-
rios, e no Metrô de São medidas e parâmetros descritos anterior- boratório de Calibração do Metrô de São
Paulo não é diferente. mente, uma vez que evidenciam a fun- Paulo, vinculado à Gerência de Manuten-
Para manter sua estru- cionalidade esperada do ativo mantido. ção da Companhia, é o responsável pela
tura, composta por 71,4km de trilhos, Existem diversos tipos de instrumentos verificação e calibração dos seus 7.000
63 estações e 169 trens, responsável por e dispositivos utilizados para auxílio na instrumentos, equipamentos e disposi-
transportar 4 milhões de passageiros dia- geração de medidas e parâmetros. tivos. Sua implantação se deu logo após
riamente, são realizados milhares de pro- Todavia, como é possível dizer se es- o início da operação comercial da Com-
panhia, no final da década de 1970, no à RBC – Rede Brasileira de Calibração. Oficinas de Manutenção do Metrô, o co-
Pátio Jabaquara. Fazem parte do Escopo de Acreditação nhecimento gerado ao longo de todo pro-
Esse Laboratório obteve em dezembro instrumentos de precisão como torquíme- cesso de busca pela acreditação do INME-
de 2021 a inédita Certificação de Acredi- tro, micrômetro interno de três pontas, TRO, gera uma economia anual advinda do
tação, atestada pela Cgcre - Coordenação micrômetro externo, relógio comparador, desenvolvimento de verificações e calibra-
Geral de Acreditação, do Instituto Nacio- relógio apaldador, paquímetro e compara- ções pelo Laboratório, além de possibili-
nal de Metrologia, Qualidade e Tecnologia dor de diâmetros internos, todos em suas tar outras soluções internas mais ágeis e
(INMETRO), sendo a primeira unidade de faixas de medições específicas. interessantes com relação a seus serviços.
metrologia do setor metroferroviário bra- “O Certificado de Acreditação, evi- Os ser viços de verificação e calibra-
sileiro a obter este certificado, de validade dencia que os procedimentos aplicados ção de instrumentos, equipamentos e dis-
internacional. na rotina do Laboratório de Calibração do positivos do Laboratório de Calibração do
Esta comprovação constitui a expres- Metrô-SP estão em conformidade com os Metrô estão disponíveis a qualquer clien-
são formal do reconhecimento da com- requisitos presentes na referida norma, e te, principalmente a outras empresas do
petência do Laboratório de Calibração do comunica ao mercado, a sua competência setor metroferroviário.
Metrô-SP para realizar atividades de cali- técnico-administrativa na prestação des-
bração, conforme Escopo de Acreditação ses ser viços”, destaca Ricardo dos Santos, * Márcio Annibal Pimenta é assessor técnico
e requisitos estabelecidos na ABNT NBR Gerente de Manutenção. da Gerência de Manutenção do Metrô-SP
ISO/IEC 17025:2017, integrando-se assim De acordo com o Departamento de E-mail: marciopimenta@metrosp.com.br
D
ALBERT HAGA* / CASSIANO LOBO PIRES** /
RODRIGO COURA OLIVEIRA***
DIAGNÓSTICO
A implantação de túneis mais profun-
dos poderá ser de menor custo e prazo,
entretanto, devemos estudar e avaliar al-
ternativas que também possibilitem uma
menor profundidade das estações para
uma otimização e economia no conjunto
de sistemas/ equipamentos, consumo de
energia elétrica ao longo de toda a vida
útil do empreendimento, e conforto dos
usuários (tempo e distância do trem ao
acesso das estações).
Figura 2 - Traçado de vias de um metropolitano Existem várias pesquisas e trabalhos
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Ver figura 8.
A energia Et consumida por um trem
durante seu percurso é função da sua
potência Pt, desenvolvida neste percur-
so durante o tempo t através da seguinte
Figura 5 - Planta e perfil - Linha 52 de Amsterdam (Noord/Zuidlijn) equação:
Et = Pt ∙ t (Equação 1)
A potência Pt desenvolvida pelo trem,
por sua vez, é função do esforço motor
Fm produzido pelos motores de tração do
trem e da velocidade V [1].
Pt = (Fm ∙ V) / 3,6 (Equação 2)
A aceleração de um trem a é função
do esforço motor Fm, da resistência ao
movimento R e da massa do trem m’ afe-
tada das massas girantes. Esta relação é
bem conhecida através da Segunda Lei de
Newton [1]:
Fm – R = m’ ∙ a (Equação 3)
A resistência ao movimento R pode ser
dividida em resistência ao movimento em
Figura 6 - Croqui do perfil da Linha Azul de Estocolmo (Tunnelbana 3) nível e tangente Rmpt, resistência revido
CONCLUSÕES ficativa redução nos custos operacionais mias estruturais das estações e no “con-
Com esta análise preliminar quanti- (OPEX), como visto neste estudo de caso. forto dos passageiros” (tempo e deslo-
tativa, é possível verificar que a energia Verifica-se também que o traçado de camento) ao entrar e sair das estações.
consumida pelos trens durante seus per- uma linha sob o ponto de vista energético Este trabalho teve a intenção de relem-
cursos é função direta do traçado. O tra- é um compromisso entre as áreas de en- brar conceitos passados, integrando-os
çado de uma futura linha a ser implantada genharia civil, elétrica e material rodante. aos conhecimentos e tecnologias atuais,
poderá ser otimizado, em termos energé- No caso de serem adotados acli- visando avaliações para avaliações futuras.
ticos, através da inserção de um aclive ves/ declives nas vias, as plataformas Quaisquer mudanças de filosofias ou cri-
antes da estação e de um declive após das estações ficarão menos profundas, térios precisam ser profundamente estuda-
ela. Esta prática pode trazer uma signi- podendo trazer outras possíveis econo- das por todos os envolvidos no projeto.
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2019. pp. 825-829 tical alignment optimisation at stations to STMF da AEAMESP - 2021
* Albert Haga - Engenheiro Eletricista. Cursou ** Cassiano Lobo Pires - Engenheiro Eletricista, *** Rodrigo Coura Oliveira - Engenheiro
Especialização em Tecnologia Metroferroviária - Poli/ Mestre, Doutor e Pos-Doc em Engenharia Elétrica Eletricista, PMP, Cursou Especialização em
USP e MBA em Excelência Gerencial na FIA. Exerce o pela Poli/ USP. Autor do livro “Engenharia Elétrica Tecnologia Metroferroviária – Poli/ USP.
cargo de Engenheiro Especializado, no setor de Projetos Ferroviária e Metroviária: Do Trólebus ao Trem de Coordenador do Setor de Projetos de Sistemas
de Sistemas Elétricos e Material Rodante, na Gerência Alta Velocidade”. Trabalhou no setor de Projeto Elétricos e Material Rodante, na Gerência de
de Projetos do Metrô -SP. Trabalhou na Gerência de e Concepção de Sistemas do Metrô -SP, no setor Projetos do Metrô -SP. Trabalhou na Gerência
Manutenção, na Gerência de Projeto e Concepção de de Sistemas e Infraestrutura da Alstom - Brasil e de Projeto e Concepção de Sistemas,
Sistemas, na Gerência do Empreendimento Linha 17 na Bombardier Hennigsdorf/ Alemanha pela Ikos na Gerência de Implantação de Sistemas
– Ouro, na Gerência de Implantação de Sistemas das Consulting. Atualmente trabalha na Alstom, setor de das Linhas 4 e 5, todas do Metrô -SP
Linhas 4 e 5, todas do Metrô - SP Sistemas Digitais e Integrados E-mail : rcoliveira@metrosp.com.br
E-mail : ahaga@metrosp.com.br E-mail : cassiano.pires@alumni.usp.br
Utilização de rampa de 5% em
projetos futuros no Metrô-SP
ADALBERTO DE PAULA RAMOS* / CLAUDIO ROBERTO VALENTIM** /
O
MARIO FUKUMORI*** / RODRIGO COURA OLIVEIRA****
rebocado
TABELA 2 – REDUÇÃO DA ACELERAÇÃO COM FALHAS EM DIVERSAS RAMPAS Trem de 6 Carros
F = força de arraste do trem rebocador
Aceleração Falha de tração a = aceleração do rebocador isolado em tan-
Aceleração Aceleração
Rampa Carregamento devido a ram- (Quantidade gente e em nivel
(m/s2) resultante
pa (m/s2) rodeiros) ac = aceleração do comboio em tangente e
0%0 (AWO) 1,12 0,00 8 0,713 em nível
25% = Reforço de tração para rebocamento.
0%0 (AW4) 1,12 0,00 8 0,713
40%0 (AWO) 1,12 -0,39 8 0,323 3.2. Cálculo da aceleração do com-
40%0 (AW4) -0,39 8 0,323 boio em rampas
Observa-se, na tabela 4, que a condição mais
50%0 (AWO) 1,12 -0,50 10 0,111 crítica é o caso de um trem vazio não conseguir
50%0 (AW4) 1,12 -0,50 10 0,111 rebocar outro trem carregado na rampa de 50‰.
60%0 (AWO) 1,12 -0,60 10 0,111 A operação de rebocamento nesta condição só
será possível com a implantação do dispositivo
60%0 (AW4) 1,12 -0,60 10 0,111 denominado “Reforço de Tração” no Material
60%0 (AWO) 1,12 -0,60 8 0,113 Rodante, que quando ativado, aumenta em 25%
60%0 (AW4) 1,12 -0,60 8 0,113 o torque nos motores da composição, possibi-
litando a movimentação do comboio. Portanto
Na tabela 2, observa-se que, mesmo com falha em dois e meio carros (10 rodeiros motrizes) é possível a circulação em rampa de a movimentação da composição, somente será
50‰ (a = 0,111m/s²), porém com 60‰ o trem terá muita dificuldade para subi-la (a = 0,011m/s²). Se considerarmos falha de
propulsão em dois carros (8 rodeiros), a composição conseguirá subir a rampa de 60‰ com taxa de 0,113m/s². possível se estiver equipada com o dispositivo
denominado “Reforço de Tração”, bem como
de trens carregados com intervalo de 90s tação ou a algum desvio na linha, que por a aderência disponível para este novo esfor-
(headway) por duas horas, com tração em sua vez poderá conter trecho em rampa. ço esteja garantida. Para demais configurações
corrente alternada, na Linha 3-Vermelha do Os valores estimados de aceleração do de rebocamento, com rampa igual ou menor
Metrô de São Paulo, nas condições de ram- comboio, formado para rebocamento entre que 50‰, não haverá problema, vide tabela 4.
pas atuais e alterando-se a rampa da via de um trem vazio com outro trem vazio ou Ressalta-se que os valores das tabelas
40‰ para 50‰. Nestas condições, o au- carregado estão indicados na tabela 3. 2, 3 e 4 consideram a condição da via per-
mento do consumo de energia foi inferior a manente com a superfície de contato roda/
0,5%, e o aumento do tempo de viagem foi 3.1. Cálculo da aceleração do comboio trilho limpa e seca (via em túnel), portanto
inferior a 1% (devido a redução da veloci- em tangente e em nível considera-se que o coeficiente de aderência
dade máxima nos trecho em rampa). Tabela 3 - Cálculo da aceleração do comboio disponível ficará sempre acima de 15%.
Os Veículos Auxiliares de Manutenção - trem de 6 carros
Auto Propelidos também deverão atender m = massa do trem rebocador (AW0) 3.3. Cálculo da aderência necessário
ao requisitos para prestação de serviço em m c = massa do comboio rebocador mais para circular na rampa de 50‰
rampa de 50‰.
TABELA 3 - CÁLCULO DA ACELERAÇÃO DO COMBOIO - TREM DE 6 CARROS
2. Auto reboque
a (m/ mc ac (m/
Em uma situação de degradação do Comboio com trem de 6 Carros m (tf) F (tf) F (tf)
s²) (comboio) s²)
trem, devido a eventuais falhas no sistema
de tração, o recurso do autorreboque pre- Vazio → Vazio 249 305,87 1,12 498 305,87 0,61
visto no Material Rodante poderá ser utili- Vazio → Carregado 249 305,87 1,12 632 305,87 0,48
zado independentemente do carregamento
Vazio (reforço tração 25%) → Carregado 249 382,35 1,40 632 382,34 0,60
da composição, sendo possível tracionar a
composição e seguir viagem mesmo com
até dois carros e meio sem propulsão (para TABELA 4 – COMBOIO COM COMPOSIÇÃO COM 6 CARROS
composição de 6 carros), com prestação de
serviço ao menos até a próxima estação. Rampa Acel. Comboio Acel. da rampa Acel. Resultante
Situação do comboio
(%) (m/s²) (m/s²) (m/s²)
3. Rebocamento 0‰ Vazio → Vazio 0,61 0,00 0,61
Outro fator a ser considerado é de ordem 0‰ Vazio → Carregado 0,48 0,00 0,48
operacional, numa situação de degradação
total do trem devido a eventuais falhas 0‰ Vazio (reforço tração 25%) → Carregado 0,60 0,00 0,60
que não permitam a locomoção por meios 40‰ Vazio → Vazio 0,61 -0,39 0,22
próprio. Este fato gera a necessidade de re- 40‰ Vazio → Carregado 0,48 -0,39 0,09
moção da composição por meio do reboca-
mento entre trens, ocasião em que um trem 40‰ Vazio (reforço tração 25%) → Carregado 0,60 -0,39 0,21
vazio (normalmente) deve empurrar outro 50‰ Vazio → Vazio 0,61 -0,50 0,11
trem vazio (ou mesmo carregado), forman-
50‰ Vazio → Carregado 0,48 -0,50 -0,02
do um comboio para levar até a próxima es-
até 50‰ terá como requisito obrigatório trem sem tração para o pátio. Esta restri-
estar equipado com o dispositivo deno- ção deve-se ao fato de não haver garantia
minado “Reforço de Tração”, para garan- quanto a existência de cobertura nesta
tir que a composição terá capacidade de região, trazendo como consequência a
movimentar o comboio no caso de re- não garantia de coeficiente de atrito mí-
bocamento. Em condições normais, esta nimo, havendo risco do trem patinar com
frota, deverá ter capacidade para circular apenas um rebocador.
normalmente na via com rampa de 50‰,
mesmo com falha de propulsão em até CONCLUSÃO
dois carros e meio. A rampa de 50‰ poderá ser utili-
Ressalta-se que os valores das tabelas zada no projeto da Via Permanente das
2, 3 e 4 consideram a condição da via futuras linhas do Metrô de São Paulo,
permanente com a superfície de contato desde que seja em trecho coberto (tú-
roda/ trilho limpa e seca (via em túnel), nel). Deverão ser previstas facilidades
portanto o coeficiente de aderência fi- operacionais para remoções rápidas de
cará sempre acima de 15% em condições eventuais trens rebocados, sendo ne-
de circulação normal da composição; cessária a adoção de desvios próximos
já para condições de rebocamento com (antes e depois) das rampas.
reforço de tração (acréscimo de 25% O Material Rodante que circula nes-
no esforço trativo) será de no mínimo ta linha deverá ser, obrigatoriamente,
18,8%, e para condição de arranque com equipado com o dispositivo “Reforço
aceleração de 0,3km/h/s o coeficiente de de Tração”, que aumenta o torque em
atrito mínimo será de 18%. 25% no Motor de Tração, o qual será
disponibilizado somente na modalidade
a) Desempenho do trem e do comboio “Rebocamento”.
Para o desempenho da composição Considera-se coeficiente de atrito
normal (vazio ou carregado), não há mínimo de 15% para condições nor-
problema para circular pela rampa de mais, e no mínimo de 18,8% no caso de
50‰. Mesmo no caso de falha de até rebocamento.
dois carros e meio, será possível circular Não são recomendáveis vias com
de forma segura pela rampa de 50‰, rampa de 60‰ em função das implica-
não havendo necessidade do recurso do ções operacionais.
reforço de tração de 25% .
O desempenho da composição do REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
comboio (rebocador vazio e o reboca- [1] PIRES, CASSIANO LOBO. -
do carregado), na operação de reboca- Engenharia Elétrica Ferroviária e
mento com o dispositivo “Reforço na Metroviária (Do tróleibus ao trem de
Tração”, é de uso exclusivo para o re- alta velocidade). Editora LTC.
bocamento, melhorando o desempenho,
principalmente nas regiões de rampas, * Adalberto de Paula Ramos é engenheiro
e garantindo que o rebocador terá ca- eletricista, exerce o cargo de Chefe de
pacidade de movimentar o comboio, Departamento de Projetos de Sistemas na
mesmo com até dois rodeiros motores Gerência de Projetos do Metrô-SP
inoperantes no trem rebocador. E-mail: aramos@metrosp.com.br
** Claudio Roberto Valentim é engenheiro
b) Observação geral Eletricista. Exerce o cargo de Assessor Técnico
Como medida de prevenção, no caso no Departamento de Projetos de Sistemas da
da utilização de rampas, deve-se prever Gerência de Projetos do Metrô de São Paulo
e implantar AMVs (aparelhos de mudan- E-mail: cvalentim@metrosp.com.br
ça de via) antes e depois dos trechos *** Mario Fukumori é engenheiro Civil e
que as contenha e nas proximidades de Técnico Mecânico. Exerce o cargo de Engenheiro
vias de estacionamento, com a finalida- Especializado na Coordenadoria de Projetos de
de de recolhimento do trem rebocado Sistemas Elétricos e Material Rodante da Gerência
e aguardar o momento oportuno para de Projetos do Metrô de São Paulo
trasladar para o pátio. E-mail: mfukumori@metrosp.com.br
Nos trechos de acesso ao pátio de ma- **** Rodrigo Coura Oliveira é engenheiro
nutenção e estacionamento, não é reco- eletricista, exerce o cargo de Coordenador de
mendável a utilização de rampa de 50‰, Projetos de Sistemas Elétricos e Material Rodante
pois haveria a necessidade de utilização na Gerência de Projetos do Metrô-SP
de comboio com três trens para levar um E-mail: rcoliveira@metrosp.com.br
Revolucionando a sinalização
metroviária com UWB
FELIPE COPCHE* / RUBENS NAVAS BORLONI**
A
elementos eletromecânicos, tais como balizas e tacômetros, ao longo das vias e na frota
INTRODUÇÃO / PARTE 1 Neste artigo, traremos um resumo so- tema de sinalização para linhas em opera-
pesar da indústria de tec- bre as iniciativas inovadoras capitaneadas ção, e futuramente reduzindo os custos de
nologia para a conectivi- pela Autoridade Metropolitana de Trans- manutenção, simplificando a distribuição
dade sem fio ter crescido porte da cidade de Nova Iorque (MTA), e dos equipamentos de localização do trem,
muito ultimamente graças aplicadas em seu plano de investimento e conforme ilustra a figura 1.
ao avassalador mercado de modernização que engloba a atualização Em relação a conectividade sem fio,
smartphones, é um grande desafio para os do sistema de sinalização e o aumento do embora a comunicação por Bluetooth Low
fabricantes de chips colocar em perspec- grau de automação para algumas linhas Energy (BLE) e o Wi-Fi já se beneficiem
tiva a prospecção de novas possibilidades de metrôs da sua rede de transporte. Uma atualmente de uma adoção massificada,
de comunicação em um mercado conso- vez que grande parte dos trens da cidade tais padrões carecem de precisão quando se
lidado em relação às marcas, produtos e ainda são operados manualmente, pois o trata de seus recursos de posicionamento e
uma cultura massificada vigente de seus sistema de sinalização por bloco automá- relativamente fornecem pouco ou nenhum
usuários finais. Como uma opção estra- tico foi instalado entre as décadas de 1930 nível de segurança para rádio frequências
tégica para a entrada no mercado, a pri- e 1960 do século passado em muitos tre- (RF), se comparados com a tecnologia de
meira etapa no ciclo de desenvolvimento chos, e com linhas de metrôs inauguradas banda ultralarga (UWB), a ser abordada
de uma solução inovadora seria explorar no século XIX, as operadoras de metrôs na com mais detalhes neste artigo.
as vantagens singulares, que algumas tec- cidade vem enfrentando uma crônica ob- Dentro do nosso contexto metroviário,
nologias emergentes, possuem para deter- solescência de materiais, a falta de peças apesar do padrão Wi-Fi adotado estar aten-
minados nichos de mercado, por exemplo, de reposição para a manutenção dos siste- dendo plenamente a comunicação entre o
a sinalização metroviária. Desta forma, a mas legados, e uma crescente tendência de módulo embarcado de Controle Automáti-
tecnologia será colocada à prova em am- saturação em sua capacidade de transporte co do Trem (VATC) com a via para a geração
bientes mais críticos de aplicação, partindo para algumas linhas. atual do CBTC, na qual a geolocalização
de alguns estudos pioneiros de prospecção, Fortes expectativas vêm sendo aten- dos trens se dá através do gerenciamento
passando pela superação de eventuais obs- didas com o recente estudo de aplicação do posicionamento relativo obtido pelos
táculos, a maturação da solução, e final- de uma nova tecnologia para aprimorar a tacômetros da sinalização e o posiciona-
mente, o atendimento em pequena escala informação de posicionamento dos trens mento absoluto pelas balizas instaladas ao
das necessidades mais rigorosas desses durante o upgrade para a sinalização por longo das vias, para projetos de sistemas
setores, validando assim a tecnologia an- Controle de Trens Baseado em Comunica- de sinalização, entende-se ser bem-vindas
tes de sua massificação, por exemplo, no ção (CBTC), já que reduzirá a quantidade o aumento na precisão da informação de
mercado de eletroeletrônicos de consumo de elementos necessários na via e de ade- posicionamento do trem, a maior imunida-
pelos integradores e fabricantes globais de quações no material rodante, facilitando a de às interferências por RF e um relativo
smartphones. implantação de um novo e moderno sis- melhor tempo de resposta que a tecnologia
Figura 1 - Representação gráfica da distribuição física dos rádios UWB (TAG) ao longo da margem da via
Gráfico 4 - Tabela comparativa entre algumas tecnologias para a conectividade sem fio
A
MARCELO WAIMBERG* / FERNANDO REBOUÇAS STUCCHI**
Linha 6-Laranja de me- projetado. Em Sara de Souza, um tú- zendo o papel de escoramento quando
trô em São Paulo pas- nel de ligação executado em NATM liga as escavações são retomadas.
sará por 15 estações, o poço ao túnel de via executado em Em função da solução de imperme-
desde Brasilândia, na anéis pré-moldados. Já em Venâncio abilização tipo “submarino” para todas
zona norte, até a inter- Aires, o poço está alinhado com o eixo as estações da linha, isto é, impermea-
ligação com a Linha 1-Azul, na Esta- da via, sendo projetado em forma de bilização total das estruturas definiti-
ção São Joaquim. “funil invertido”, isto é, com aumento vas, não é possível solidarizar as lajes e
A EGT Engenharia é responsável do diâmetro ao nível da via. vigas de borda às paredes diafragmas.
pelo projeto das estações Santa Ma- São executados consolos provisórios
rina e SESC-Pompeia, bem como de ESTAÇÕES chumbados nas paredes, que servem de
suas respectivas ventilações e saídas Originalmente concebidas em estru- apoio para as estruturas internas e a
de emergência (VSE’s) Sara de Souza e turas pré-moldadas, quando as obras impermeabilização com manta de PVC
Venâncio Aires, respectivamente. Parti- da Linha 6-Laranja foram retomadas contorna aqueles consolos.
cipa também do projeto das contenções as estruturas internas foram alteradas Ao final, quando a laje de fundo
da Estação 14 Bis, de responsabilidade para lajes maciças moldadas “in loco”, está concluída e as paredes internas são
da GPO. mantendo-se a escavação invertida e completadas, fazem o apoio definitivo
As 3 estações, ora em construção, boa parte do rebaixamento. na periferia das lajes.
são projetadas em VCA, com escavação Assim, após execução das paredes As lajes são também chumbadas
pelo método invertido e contenções em diafragmas e dos pilares centrais em nos pilares intermediários, executados
paredes diafragmas, enquanto as VSE’s estacas barretes, inicia-se a escavação como estacas barretes.
são projetadas com escavação em um até o nível da laje de cobertura. Esta A escavação prossegue até o nível
poço circular revestido com concreto é concretada contra as contenções, fa- da laje de fundo, repetindo-se o pro-
cesso para cada piso intermediário.
As paredes diafragmas e estacas
barretes, executadas com concreto de
fck = 40MPa, são calculadas com uma
redução de resistência gc = 3,6, como
estabelecido na NBR-6122 (fundações),
o que é equivalente a um concreto de
apenas 15,5MPa. Essa limitação, além
de afetar de maneira importante algu-
mas verificações de ELU, aumenta de
maneira muito significativa os com-
primentos de emenda das armaduras e
afeta, em tese, o comprimento das ar-
maduras chumbadas nesses elementos.
No entanto, o procedimento para
execução dos consolos provisórios nas
diafragmas ou de chumbamento das
armaduras das lajes nas barretes prevê
a escarificação completa do concreto
existente até exposição das armaduras
internas (ver figura 1). Desse modo, é
possível avaliar a qualidade do concreto
base e os comprimentos de ancoragem
são calculados conforme definido na
NBR-6118 (estruturas de concreto), o
Figura 1 - Chumbadores da armadura das lajes nos pilares que viabiliza o procedimento construti-
Figura 3 - Modelo numérico para o poço Venâncio Aires Figura 4 - Modelo numérico para a VSE Sara de Souza
ras de fibra de vidro e parede em concre- dimensional, especialmente para verifi- um reforço ao longo daquela intersecção,
to armado com fibra de vidro, conforme cação da segurança das escavações ao moldado junto com o revestimento se-
figura 2. Para equilíbrio das paredes du- passar pelo alargamento do poço, reali- cundário do túnel de ligação.
rante a escavação, são também previstos zado em camada arenosa. Para dimensionamento desse refor-
tirantes, que “desviam” do TBM. A figura 3 ilustra o modelo adotado. ço e avaliação do efeito do carregamen-
Já na VSE Sara de Souza, utilizou-se to desequilibrado aplicado ao túnel de
VSE’s um modelo numérico de casca em elemen- via, foi elaborado um modelo conjunto
Para possibilitar a escavação dos tos finitos, com carregamento imposto. do poço, túnel de ligação e túnel de via,
poços com contenção em concreto pro- Adotando-se critérios adequados conforme figura 4.
jetado executado à medida que avança para esse carregamento, por exemplo O reforço ao longo da abertura mos-
a escavação através de camadas areno- com acréscimo de carga no poço devi- trou-se rígido o suficiente para controlar
sas, às vezes de baixa resistência, são do ao arqueamento de empuxo de solo os deslocamentos no túnel de via, resul-
executados poços de rebaixamento ao junto ao emboque do túnel de ligação, tando pequenos acréscimos de solicita-
redor da escavação. obtém-se resultados adequados com ções naquele revestimento.
Além disso, na passagem em argila modelos hierárquicos mais simples.
mole, em Sara de Souza, e areia no alar- A abertura do túnel de via na intersec- * Marcelo Waimberg é engenheiro civil, diretor
gamento da escavação, em Venâncio ção com o túnel de ligação abrange qua- executivo da EGT Engenharia
Aires, são executadas colunas de “jet se meia seção do túnel, para acomodar a E-mail: marcelo.waimberg@egtengenharia.com.br
grouting”, que protegem a escavação. passagem de pedestres e ventilação. ** Fernando Rebouças Stucchi é engenheiro civil,
O dimensionamento do poço Ve- Como o túnel em elementos pré-mol- diretor executivo da EGT Engenharia, professor titular
nâncio Aires foi feito com ajuda de um dados tem capacidade limitada para aco- da Escola Politécnica da USP
modelo numérico de meio contínuo tri- modar essa abertura, é necessário prever E-mail: frstucchi@gmail.com
Monitoração do desempenho
estrutural de superestrutura de via
permanente em fixação direta
V
TIAGO JULIANI* / LUCAS JULIANI** /
DANIELA DAVID*** / MARCO JULIANI****
INTRODUÇÃO E OBJETIVO base em parâmetros e tolerâncias que de- DESCRIÇÃO DA INSTRUMENTAÇÃO
s vias permanentes em laje vem ser comprovados por meio de ensaios PARA MONITORAÇÃO DE
de concreto armado são laboratoriais e monitoração in loco. VIA PERMANENTE
constituídas pelos trilhos A monitoração pode ocorrer em qual- O desempenho dos sistemas da supe-
fixados à laje por meio de quer fase após a construção da via e resul- restrutura da via permanente é avaliado
grampos e placas, engas- ta em informações relevantes para avalia- por meio de três principais instrumentos:
tadas por ancoragens e niveladas com ção do seu comportamento. Usualmente, transdutores de deslocamentos, exten-
palmilhas ou graute. a primeira monitoração é realizada antes sômetros, que têm por função avaliar as
Os componentes de uma via perma- da via entrar em operação comercial, com deformações e, consequentemente, as ten-
nente, como por exemplo, os trilhos, as fi- a passagem de trens em velocidade ope- sões, e acelerômetros, que têm por função
xações e as lajes, trabalham em conjunto, racional e carregados com sacos de areia, avaliar as vibrações por meio da medição
com o objetivo de manter a geometria e simulando sua massa real. das acelerações, as quais podem ser trans-
garantir a distribuição adequada das car- Este artigo tem como objetivos apre- formadas em velocidade no domínio da
gas, a elasticidade, a estabilidade, a segu- sentar os principais parâmetros ava- frequência.
rança e o conforto dos usuários dos trens liados em uma monitoração in loco em Neste artigo, serão apresentados os se-
e das edificações lindeiras. uma seção de via permanente com raio guintes parâmetros medidos durante uma
Para que esses objetivos sejam alcan- de 500m, os instrumentos utilizados e os monitoração de via:
çados, a via permanente é concebida com resultados obtidos. • Força de contato roda-trilho;
Figura 1 - Instrumentação para medição Figura 2 - Medição de deslocamento do Figura 3 - Grampo instrumentado na via
do L/V topo do boleto de um dos trilhos para permanente – extensômetro em destaque
obtenção da abertura dinâmica de bitola
Figura 4 - Acelerômetros para medição de vibrações Figura 5 - Acelerômetro instalado na laje da via permanente
• Abertura dinâmica da bitola; FORÇAS NO CONTATO RODA-TRILHO mações por extensômetros no ponto de
• Tensões nos grampos de fixação; As cargas vertical e lateral no conta- maior concentração de tensão, conforme
• Espectros de vibração dos trens. to roda-trilho são obtidas por medições de apresenta a figura 3.
Os instrumentos são usualmente posi- deformações, utilizando-se extensômetros
cionados em seções diversas como: trecho estrategicamente posicionados nos trilhos, ESPECTROS DE VIBRAÇÃO
em tangente, trecho em curva, trechos com como ilustra a figura 1. DOS TRENS
diferentes sistemas de atenuação de vibra- Os espectros dos trens são obtidos
ção, região entre juntas, região contínua, ABERTURA DINÂMICA DE BITOLA por medições de vibração na laje da via
região com transição de sistemas etc. A medição de abertura dinâmica de bitola permanente durante as passagens dos
Os instrumentos são acoplados a um é realizada por transdutores de deslocamento trens utilizando-se acelerômetros. Adi-
sistema de condicionamento de sinais, com registrando-se simultaneamente os desloca- cionalmente, podem ser medidas as vi-
filtros e amplificadores e a um sistema de mentos dos topos do boleto dos dois trilhos, brações no piso e na parede do túnel,
aquisição de dados. Estes são ligados a um durante as passagens dos trens, como ilustra apenas para observação de seus níveis
computador, permitindo o armazenamen- a figura 2. nesses locais. A figura 4 ilustra o po-
to automático dos resultados, para poste- sicionamento dos acelerômetros na via
rior tratamento e análise. TENSÕES NOS GRAMPOS e no túnel e a figura 5 apresenta uma
Nos próximos itens serão descritas as Para obtenção das tensões nos gram- fotografia do acelerômetro instalado na
instrumentações supracitadas. pos são realizadas medições de defor- laje da via permanente.
Figura 6 - Carga vertical por eixo Figura 7 - Detalhe de carga vertical por eixo quando há impacto
Figura 8 - Detalhe de carga vertical da roda do trilho interno Figura 9 - Detalhe de carga vertical da roda do trilho externo
quando há impacto quando há impacto
Figura 16 - Histograma das aberturas dinâmicas de bitola obtidas Figura 17 - Tensões durante a instalação dos grampos
Figura 18 - Tensões nos grampos Figura 19 - Detalhe das tensões nos grampos
2.Obtenção das aberturas lise à fadiga desse componente, estiman- forços nos grampos, o que corrobora com o
dinâmicas de bitola do sua vida útil a partir das tensões resul- que foi detectado na medição da carga lateral
A figura 15 apresenta as aberturas de bi- tantes pelas forças de contato roda-trilho. que apontou fechamento de bitola em diver-
tola obtidas ao longo de todo o dia de mo- A figura 17 apresenta os gráficos das ten- sas passagens dos eixos dos trens.
nitoração na seção instrumentada, sendo a sões obtidas nos dois grampos, trilho externo A contagem de ciclos para cada amplitu-
abertura máxima de bitola o valor de 5,50mm. e interno, durante sua instalação na via. O de de tensão está apresentada na figura 20.
A figura 16 apresenta um histograma das grampo externo apresentou uma tensão de Como pode ser observado, no caso do
aberturas dinâmicas de bitola obtidas durante instalação de -523,7 MPa, enquanto o inter- grampo externo, a maior contagem de ciclos
a monitoração com normalização do eixo das no apresentou -572,3 MPa. Ambas as tensões correspondeu à faixa de variação de tensões
ordenadas pela densidade de probabilidade. foram compressivas no ponto instrumentado. entre 100,0 MPa e 160,0 MPa. O grampo in-
Como pode ser observado, a maior ocorrên- A figura 18 mostra os gráficos das ten- terno, por sua vez, apresentou maior conta-
cia de aberturas dinâmicas de bitola foi entre sões dinâmicas ao longo do tempo obtidas gem de ciclos na faixa de 60,0 MPa a 120,0
4,50mm e 4,90mm. para os dois grampos durante as passagens MPa, indicando menor solicitação provocada
de trem. Como pode ser observado, o gram- pela passagem de trens na via.
3.Obtenção das tensões nos grampos po localizado no lado externo à bitola sofreu
As tensões nos grampos foram obtidas uma variação média de tensão de, aproxima- 4.Obtenção dos espectros
pelas medições de deformação no ponto de damente, 200,0 MPa, com os valores oscilan- de vibração dos trens
maior concentração de tensão, durante suas do entre -50,0 MPa e 150,0 MPa. Por outro A figura 21 apresenta os picos relaciona-
instalações nas placas, nas passagens dos lado, o grampo localizado no lado interno à dos às passagens dos trens registrados na laje
trens e nas suas retiradas. Dois grampos fo- bitola sofreu uma amplitude de tensão me- da via permanente. Conforme se observa nos
ram instrumentados: um no trilho externo e nor, de, aproximadamente, 150 MPa e com gráficos, a maioria das passagens de trens ti-
outro no trilho interno, ambos no field side. oscilações entre -75,0 MPa e 75,0 MPa. veram valores de pico de velocidade na faixa
Após obtenção das tensões nos gramos A figura 19 detalha as tensões dinâmicas de 3mm/s, sendo observado de 30% a 40%
ao longo do tempo, realizou-se a contagem obtidas nos grampos da placa durante uma das passagens os níveis de velocidade maiores.
de ciclos por meio do algoritmo Rainflow, se- passagem de trem. Considerando os picos de Os níveis de velocidade maiores
gundo a norma ASTM E1049-85. Com isso, tensão de tração e de compressão, evidencia- ocorreram quando houve carga de im-
é possível realizar, por exemplo, uma aná- -se claramente a inversão do sentido dos es- pacto vertical causada por alguma das
Figura 22 - Espectro em bandas de 1/3 de oitava de uma Figura 23 - Espectro em bandas de 1/3 de oitava de uma
passagem sem impacto passagem com impacto
rodas do trem durante sua passagem. laje de concreto armado. Todavia, vários des- * Tiago Juliani é engenheiro civil na empresa IEME Brasil desde
Com base nos gráficos acima, é possível ses parâmetros e outros não citados podem 2008, graduado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e
afirmar que na presença de um nível de vi- ser obtidos em outros tipos de ferrovias, como mestre em estruturas pela USP-São Carlos. Trabalhou em diversos
bração maior, há impactos da carga vertical do por exemplo, vias lastradas com dormentes de projetos e instrumentação de superestrutura de via permanente
trem, porém nem sempre que há um impacto, qualquer tipo (madeira, aço, concreto etc.). e em diversas análises teóricas e experimentais de estruturas civis
ocorre um nível alto de vibração, o que mostra O estudo de caso apresentado teve por ob- E-mail: tjuliani@iemebrasil.com.br
a aleatoriedade do fenômeno vibratório. jetivo ilustrar os resultados obtidos por meio de ** Lucas Juliani é graduado em engenharia civil pela
A figura 22 apresenta um espectro em gráficos, sem aprofundar as análises ou chegar Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestre em estruturas
bandas de 1/3 de oitava para uma passagem de à alguma conclusão sobre o comportamento da pela USP-São Carlos. Atualmente é coordenador do LAEDE com
trem sem impacto no contato roda-trilho e a via em questão. Todavia, pelas análises dos es- experiência em ensaios estáticos e dinâmicos em laboratório
figura 23 um espectro com impacto. pectros dos trens apresentadas anteriormente, e em instrumentação de via permanente e de estruturas
Conforme se observa nos exemplos de ficou evidenciada uma alteração no espectro E-mail: ljuliani@iemebrasil.com.br
espectro de vibrações das figuras 22 e 23, as do trem que alterou os parâmetros de projeto. *** Daniela David é engenheira civil na empresa IEME
passagens com impacto tendem a aumentar o Ressalta-se a importância do monito- Brasil desde 2007, graduada e mestre pela Universidade
nível global de velocidade em mais de 10dBV, ramento para homologação da via, antes da Federal de Goiás e doutora em estruturas pela USP-São Carlos.
mostrando a influência da manutenção da via sua utilização comercial, ou em qualquer Trabalhou como coordenadora de contratos em alguns projetos
e material rodante nos níveis de vibrações emi- fase, como por exemplo, para avaliar com- e instrumentação de superestrutura de via permanente e em
tidos durante a operação de uma ferrovia, seja portamentos inesperados, desconforto dos várias análises teóricas e experimentais de estruturas civis
ela com sistema massa-mola, sem qualquer sis- usuários, quebras de grampos ou qualquer E-mail: ddavid@iemebrasil.com.br
tema de atenuação ou via em lastro com qual- outra investigação que se faça necessária. **** Marco Juliani é engenheiro civil e diretor técnico da
quer tipo de dormente. Por exemplo, pode-se, realizar as medições empresa IEME Brasil desde 1987, graduado e mestre pela
dos deslocamentos da laje da via permanente, USP-São Carlos e doutor em estruturas pela Escola Politécnica
CONCLUSÕES tanto em regiões de juntas, como fora delas, da USP. Trabalhou em diversos projetos e instrumentação
O presente artigo apresentou alguns ins- obtendo-se o módulo de via, o comportamen- de superestrutura de via permanente e em diversas
trumentos e parâmetros utilizados durante a to mecânico da junta entre lajes, condições de análises teóricas e experimentais de estruturas civis
instrumentação de uma via permanente em manutenção do lastro, entre outros. E-mail: mjuliani@iemebrasil.com.br
É
INTRODUÇÃO anos trabalhando no setor de transportes gias nos tempos atuais.
notório que a humanidade sobre trilhos já é possível o profissional A AEAMESP tem estado atenta a toda
está vivenciando de for- constatar ser humanamente inexequível ter essa dinâmica de forma sistêmica desde sua
ma atônita uma avalanche o domínio pleno de todas as disciplinas téc- fundação. Através da criação de um ecos-
de mudanças sob diversos nicas necessárias de arquitetura, engenha- sistema circunscrito e com 28 anos abor-
prismas nas últimas déca- ria, gestão, entre outras, para a concepção, dando temas de tecnologia em um fórum
das. Inquietudes sobre a desenvolvimento, implantação e operação ininterrupto de discussão sobre o setor, a
sustentabilidade de uma população global de um projeto da magnitude de um sistema Associação tem desempenhado com orgu-
em permanente crescimento frente às re- metroferroviário completo e toda a ineren- lho um papel-chave de representar, multi-
servas mundiais de combustíveis fósseis e te complexidade para a incorporação física plicar e disseminar o conhecimento técnico
sua disponibilidade voltam calorosamente à e urbana do empreendimento na cidade. metroferroviário brasileiro, e de defender
tona nas discussões em períodos de crises e Diante desta limitação humana, é sensato o nosso setor com a vital ajuda de nossos
de incertezas, com alguns desdobramentos que o profissional se especialize em alguma arquitetos, engenheiros, geólogos e outros
perceptíveis pela sociedade, principalmen- esfera do conhecimento conforme sua for- profissionais, de nossos parceiros institucio-
te em pilares estratégicos da economia tais mação, talento e afinidade, mas também que nais, apoiadores, diretores das operadoras de
como os setores de energia, transportes e esteja inserido em um ambiente colaborati- transporte, patrocinadores e empresas par-
alimentos. vo, seja no meio acadêmico ou profissional, ceiras, que nos auxiliam com conhecimento,
Em contrapartida, são notáveis as con- com gente dotada de uma miríade de co- tecnologia, apoio e recursos para viabilizar
quistas e os avanços obtidos neste mesmo nhecimentos para que haja imersão, coesão anualmente a realização da Semana de Tec-
período, logrando patamares inéditos de na interface entre as disciplinas e a troca de nologia Metroferroviária e dos eventos téc-
produtividade e eficiência graças ao co- conhecimentos, de forma que ocorra a tão nicos, promovendo também a valorização do
nhecimento, dedicação, ousadia e talento desejada inovação que faz mover a humani- trabalho empenhado por nossos associados
humano, em destaque de cientistas, pesqui- dade rumo à sua evolução. e de seus estudos de prospecção tecnoló-
sadores, empreendedores e de toda a indús- Nessas duas últimas décadas, com os gica.
tria principalmente nos campos da ciência e avanços acelerados na comunicação e na Com a robustez correlata à construção
tecnologia, que ardorosamente prosseguem computação, houve um aumento na am- de estações e trens, uma das vantagens do
na construção de um legado aprimorado de plitude do conhecimento técnico necessá- setor de transporte sobre trilhos é justamen-
conhecimento e de evolução acumulado por rio para atender o nível de modernidade e te a solidez quase imutável dos fundamen-
gerações. Desta maneira, para setores mais de eficiência requerido em todo o ciclo de tos metroferroviários até então desenvol-
críticos, nossa civilização recentemente vida de novos empreendimentos. Mesmo vidos, a validade de todo o acervo técnico
passou a explorar novas formas da geração com a crescente presença de profissionais coletivo, a competência dos profissionais
e armazenamento de energia através de mulheres nos quadros técnicos e de gestão e a importância de cada empreendimento,
fontes renováveis, a conceber dispositivos das empresas do setor metroferroviário para atual e futuro, à serviço da sociedade e da
eletromecânicos com menores perdas, e en- amenizar as lacunas que estão surgindo, economia durante um extenso ciclo de vida,
contra-se em curso uma somatória de esfor- pois carregam a competência socialmente sem uma data próxima de expiração ou ris-
ços para o aumento da eletrificação e para desenvolvida de estar a par e de tratar si- co de breve obsolescência conforme ocorre
a aplicação de fontes alternativas de energia multaneamente de diversos assuntos com com as tecnologias digitais presentes nos
menos poluentes inclusive nos transportes. maestria, a incômoda sensação de estar per- produtos de consumo, e até porque inova-
Da mesma forma, a inovação encontra-se dendo o trem da inovação e da atualização ções disruptivas como o teletransporte que
presente também na produção global de tecnológica vem assombrando até mesmo afetariam o nosso setor ainda permanecem
alimentos, seja na depuração de sementes, a nova geração de profissionais recém- no campo da ficção. Além do vasto conhe-
em novas técnicas de cultivo, na automação -formados, divididos entre o dilema de se cimento tecnológico, são também assuntos
agrícola, na pecuária, na cadeia logística de especializar ou de se tornarem generalistas, dos fóruns da AEAMESP as políticas públi-
abastecimento, dentre outros esforços e ini- reinventando-se reiteradamente diante da cas, o equilíbrio financeiro das operadoras
ciativas. maior fluidez, obsolescência e das mudan- de transporte, novos modelos de negócios
Dentro do nosso contexto, após alguns ças culturais advindas do uso das tecnolo- e formas de receita, inovações, estratégias
de comunicação, mudanças culturais, novos podem até mesmo cruzar algumas barreiras como um fórum integrador entre o trans-
processos de melhoria, mitigações de riscos, da nossa realidade ao se explorar os eventu- porte de passageiros e de cargas, a realiza-
planejamento do setor, e uma infinidade de ais efeitos gerados por algumas tecnologias ção inédita da STMF em formato virtual em
oportunidades conforme a conjuntura do disruptivas na cultura da sociedade e os fu- tempos de pandemia em 2020, dentre ou-
período para integrar novos conhecimentos turos impactos em nosso setor, por exemplo, tros importantes marcos e conquistas.
ao setor. as consequências de um upgrade das redes Em 2021, ainda devido ao contexto pan-
Em relação às novas tecnologias, a sociais para Metaversos quanto aos desloca- dêmico, realizou-se a 27ª Semana de Tecno-
transformação e aceleração digital que mentos das pessoas para o trabalho, lazer e logia Metroferroviária também no formato
paulatinamente vem fazendo parte do nas relações humanas. 100% virtual com o tema “Trilhos para um
nosso cotidiano de trabalho, negócios, futuro sustentável”, já que o transporte so-
relacionamentos e do rol de conhecimen- A TRAJETÓRIA DA AEAMESP E bre trilhos deve permanecer no horizonte
tos necessários para o setor, a Associação DA SEMANA DE TECNOLOGIA dos tomadores de decisão como uma opção
deve avançar trazendo e expondo novas METROFERROVIÁRIA (STMF) ambientalmente sustentável para os novos
empresas com suas inovações para nossa No ano de aniversário de 30 anos da AE- tempos, fazendo uso da energia elétrica de
comunidade metroferroviária, promovendo AMESP, em 2020 foi lançada pela Associação forma eficiente, seja para o transporte de
debates, interações e atividades que com- uma segunda edição de nosso relatório es- passageiros ou de cargas, baixa emissão de
plementem eventuais lacunas encontradas pecial com foco na carreira e capacitação do carbono, características atrativas para um
para os domínios mais recentes do conheci- profissional metroferroviário, com circula- país como o Brasil repleto de grandes con-
mento, e que se encontram em convergên- ção gratuita e disponível para download em centrações urbanas e com dimensões conti-
cia com as crescentes exigências de nossos nosso site institucional. Consta nesta edição nentais. Com o ressurgimento da crise hídri-
passageiros, clientes e investidores, mas uma linha do tempo contando um pouco ca, o tema do uso eficiente da energia voltou
também colaborar em atender a ânsia de sobre a trajetória da AEAMESP desde sua a ter maior relevância para todos os setores
nossos profissionais em atingir novos níveis fundação, e redigida majoritariamente pelos da economia, sendo uma oportunidade para
de qualidade de serviço para o transporte presidentes de cada gestão da Associação. A nosso setor de transporte eletrificado rea-
de passageiros e de cargas. linha do tempo partiu de um acervo histó- presentar trabalhos mais atualizados que
Como alguns exemplos de tecnologias rico algumas décadas antes para ajudar na envolvem a redução de custos operacionais,
até recentemente fora do contexto metro- contextualização, começando pelos antece- sistemas mais eficientes de tração e de cli-
ferroviário, mas que podem e já vem trazen- dentes conjunturais da cidade de São Paulo, matização nos trens, maior aproveitamento
do inovações para o nosso setor, podemos as idas e vindas do sistema metroferroviário da energia regenerada, dentre outras inicia-
destacar a aplicação da modelagem digital e no Brasil, a inauguração do Metrô-SP, até a tivas de aprimoramento no consumo ener-
de novos processos na construção das uni- origem e os primeiros passos da Associação gético das operadoras de transporte.
dades construtivas para novos empreendi- em 1990. É oportuno lembrar que a AEA-
mentos; gêmeos digitais; a internet das coi- MESP já nasceu com a vocação de promover O FUTURO
sas e as cidades inteligentes; o aumento da e favorecer ao máximo o compartilhamento Para os próximos anos, a AEAMESP deve
automação, seja nas rotinas administrativas de conhecimentos e experiências. permanecer agindo e atuando na esfera na-
de trabalho, na operação e na manutenção; O relatório também informa que a pri- cional em prol da valorização da tecnologia
novas formas de sensoriamento remoto; a meira Semana da Tecnologia inicialmente metroferroviária, na defesa dos sistemas
impressão em 3D de peças de reparo; as tec- Metroviária - STM, após alguns anos Me- sobre trilhos e na promoção do desenvol-
nologias de realidade virtual e aumentada; a troferroviária – STMF, aconteceu de forma vimento tecnológico e profissional de seus
análise inteligente de dados de campo; novas tímida no Instituto de Engenharia (IE) em associados, conforme seu estatuto, sem viés
tecnologias de comunicação sem fio como a 1995, cinco anos após sua fundação, e que de cunho político ou partidário, com a fina-
geração 5G e a banda ultra larga (UWB); a somente a partir de sua sétima edição em lidade de atender a todos a que ela se asso-
aplicação de drones com câmeras térmicas; 2001 que a STMF passou a ter temas melhor ciem, independente de classe social, nacio-
o emprego da inteligência artificial e do definidos para direcionar os debates. Dentre nalidade, sexo, raça, cor e crença religiosa,
uso de blockchain, ou seja, um incontável outras etapas de amadurecimento da Asso- mas também promovendo a sustentabilidade
conjunto de novos termos, expectativas e ciação, o relatório cita a fase de melhor en- ambiental através da promoção do desen-
aplicabilidades que há cerca de uma década tendimento e atuação no quadro brasileiro, volvimento das relações entre transporte
beiravam a ficção. a busca pela maior amplitude e envergadu- e meio ambiente, o relacionamento com
Neste sentido, a contribuição da AEA- ra nacional, a presença em debates sobre o sindicatos e entidades de classe, o apoio e
MESP para nossos associados e parceiros é transporte público, o espaço “METROFERR incentivo na participação de associados da
justamente a cada ano trazer novos temas Lounge Experience®” para a apresentação AEAMESP em entidades que desenvolvem a
para a nossa comunidade através da exposi- de novas tecnologias, a mudança estatutária tecnologia, e a propagação do conhecimen-
ção de estudos e discussões de forma acessí- da Associação, a participação no Conselho to para associados, empresas e entidades
vel, palatável e já aplicada em nosso contex- das Cidades, o auxílio na criação da Frente ligadas ao setor.
to de transporte sobre trilhos, uma vez que Parlamentar do Transporte Público, a pre- Para enfrentar tais desafios e comple-
as novidades cada vez mais surgem de forma sença na aprovação da Lei de Mobilidade xidades multifacetadas advindas dos novos
orgânica e exponencial, com ciclos de vida Urbana, o intercâmbio de experiências entre tempos, nesta gestão atual 2021 – 2023, foi
mais curtos para as tecnologias mais recen- São Paulo e Argentina, a busca de foco e eleita a primeira líder mulher da Associação,
tes, necessitando assim de constante atu- equilíbrio em tempos de crise, a renovação a Presidente Engª Silvia Cristina Silva, com
alização. Eventualmente, alguns assuntos da AEAMESP e da Semana de Tecnologia vasta vivência, networking e experiência no
O
Metrô de São Paulo é um
empreendimento de al-
tíssimo significado social
para a cidade e de grande
valor tecnológico para a
engenharia nacional. Na
implantação desse empreendimento hou-
ve importantes desafios tecnológicos que
a Companhia do Metrô, recém criada, teve
que transpor para formar esse imenso acer-
vo tecnológico que foi e ainda está sendo
objeto de transferência para outras cidades
do Brasil e do exterior.
De fato, o Metrô de São Paulo tem sido
um símbolo de avanço tecnológico na área
CCO - Centro de Controle Operacional do Metrô de São Paulo
de transporte urbano no Brasil. Ao ser im-
plantado, já apresentava uma tecnologia
moderna que contrastava e muito com o A primeira etapa dessa gestão consistiu da do sistema em operação, iniciava a etapa da
obsoletismo do transporte brasileiro por em estudar, antes da implantação desse em- preparação das equipes operacionais – opera-
ônibus, este operado na sua maior parte, preendimento até então desconhecido pela ção e manutenção – dentro de uma visão tec-
por pequenas empresas privadas, sem con- Engenharia Brasileira, o que outras cidades do nológica avançada para a época.
dições de enfrentar a demanda crescente de mundo tinham adotado como suas soluções E quando tudo estava instalado, um
transporte nas grandes regiões urbanas. O para o seu transporte de massa. Avaliar essas extenso e profundo esquema de testes de
transporte ferroviário apresentava-se obso- informações, filtrá-las, ver o que se adapta- aceitação pré-operacionais era iniciado,
leto e decadente, com uma leve esperança va à nossa condição peculiar de cidade e de para que os sistemas só fossem entregues às
de remodelação que só viria muitos anos povo, estabelecer as modificações necessárias equipes de operação depois de seus parâme-
depois, por influência, inclusive, do metrô. e pressentir como as condições tecnológicas tros perfeitamente ajustados e seu desem-
O Metrô de São Paulo, é um Projeto de En- e econômicas do país poderiam evoluir para, penho comprovado. A população também,
genharia que deu certo, o que pode ser cons- enfim, tomar a decisão de adotar essa, ou através das escolas, foi preparado para o
tatado após mais de quarenta anos de sucesso aquela solução. Logo de início, a Companhia novo transporte da Cidade. O Metrô sempre
operacional com uma eficiência e um desem- promoveu a participação de seus funcionários, comprovou ser, em suma, um ótimo gestor
penho, nacional e internacionalmente reco- a viagens técnicas, cursos e seminários, tanto da Engenharia, integrando todos os subsis-
nhecidos, principalmente pelos seus usuários. no país, como no exterior, preparando assim temas componentes desse empreendimento
E deu certo, porque de início, teve um direcio- a formação de um núcleo de técnicos aptos a tão complexo como é o transporte de massa
namento na sua gestão em geral – e mais es- absorver e até mesmo prosseguir no seu de- sobre trilhos em zona urbana.
pecificadamente, na gestão de sua tecnologia senvolvimento com a sua adaptação às condi-
– sério e eficiente, progressista, voltado para ções nacionais. A etapa seguinte foi a preocu- O DESENVOLVIMENTO
o futuro. Sério na concepção, eficiente na sua pação em implementar uma solução escolhida TECNOLÓGICO DO METRÔ
execução, progressista na sua evolução e sem- de modo criterioso, mas sempre perseguindo Ao inaugurar sua primeira linha, o Metrô
pre procurando soluções modernas que fossem os parâmetros estabelecidos em projeto. de São Paulo já podia se orgulhar de ter reali-
adequadas para o médio e longo prazo. Produtos tiveram que ser desenvolvidos, zado uma longa lista de eventos tecnológicos
Todas suas decisões tecnológicas ti- quando não havia. Fabricantes e fornecedores pioneiros, não só no país, como no resto do
nham como premissa ter um ótimo de- criados, quando não existiam. Consultores in- mundo e que conseguiu realizar com sucesso.
sempenho que se traduzisse numa melhor ternacionais foram procurados, quando um as- No campo da tecnologia, da Engenha-
qualidade de serviço, oferecido à cidade. A sunto específico exigia. Assim, além do núcleo ria Civil, a construção da linha Norte-Sul
tecnologia visava diretamente ao usuário interno à Empresa, estimulou-se a participação foi uma experiência ímpar, que apresentou
que dela iria se servir. de consultores nacionais que, da condição ini- aspectos técnicos até então, inéditos no
As etapas dessa gestão tecnológica, em- cial de simples detalhistas, puderam constituir Brasil, decorrentes desse tipo de obra em
bora não previamente estabelecidas de modo equipes que atingiram a plena capacitação em área urbana e dos métodos de construção
claro e definitivo, foram sendo executadas, projetos metroviários. Para um equipamento aplicáveis. Pela primeira vez, utilizou-se no
com sucesso, principalmente graças ao entu- novo, de muita responsabilidade, como o ma- país, o método de construção de túneis por
siasmo e empenho de uma equipe coesa, cheia terial rodante, um protótipo foi desenvolvido e Shield, com a utilização de couraças metá-
de ideias novas e liderada por homens capazes. testado em profundidade. Bem antes da entra- licas, para escavação do terreno, seguida da
O
tipo de tuneladora mais de túneis de via em obras metroviárias. Há Este texto resume o funcionamento des-
utilizada, principalmente uma tendência no mercado mundial de se tes tatuzões chamados de EPB, assim como
para escavar túneis em área escolher este método construtivo, a escava- os seus principais desafios, principalmente
urbanas, é a tuneladora ção mecanizada, ao invés dos métodos de ao se escavar nosso subsolo típico de regiões
denominada EPB, também escavação tradicionais (por exemplo, méto- tropicais e subtropicais. Discorre, também,
conhecida como EPBM do NATM). Adicionalmente, com o avanço sobre os métodos de investigação, métodos
– Máquina de Frente Balanceada (Earth tecnológico destas máquinas, assim como operacionais, assim como as inovações tec-
Pressure Balance Machine). Este é o tipo de de seus componentes, as TBMs (Tunnel Bo- nológicas destas máquinas que visam solu-
máquina utilizada nas obras do Metrô de ring Machines), popularmente conhecidas cionar estes citados desafios, otimizando a
São Paulo, assim como em outras cidades como tatuzões, têm ultrapassado suas pró- operação destas máquinas, diminuindo con-
brasileiras (Rio de Janeiro e Fortaleza). Há prias limitações, escavando terrenos mais sideravelmente os riscos e os custos de obra.
inúmeras vantagens na utilização de má- complexos, mais profundos, ou de menor
quinas tuneladoras para se escavar túneis, cobertura, com taxas de avanço considerá- A MÁQUINA
principalmente em grandes extensões e em veis e com seções de escavação mais flexí- Segundo Maidl et al. (2012), a EPB é a
áreas urbanizadas, por exemplo, nos casos veis (Herrenknecht 2019). máquina mais utilizada em projetos de tú-
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Potencial de clogging
Clogging é um dos grandes problemas
encontrados nas escavações de solos (ou
rochas) com minerais argilosos. O mate-
rial escavado gruda nas partes metálicas
da máquina, impedindo o seu avanço. Al-
Figura 4 - Clogging em tuneladoras: “a” clogging ao redor de um disco de corte (Maidl et al.
gumas vezes este material pode também
2016), “b” procedimento necessário no caso de rochas argilosas e “c” evidência de clogging nos
atingir partes internas da máquina. Quan-
dados da máquina (imagem cedida por BabEng e publicada em Oliveira & Aguiar 2021b)
do há clogging ocorrendo, a máquina dei-
xa de avançar e a temperatura aumenta
2017, entre outros), as faces mistas são um dos caso os discos de corte sofrerão um gran- consideravelmente. É necessário parar a
maiores desafios nas escavações mecanizadas, de impacto ao girarem do solo para rocha, máquina e fazer intervenções, onde o ma-
portanto, devem ser identificadas o quanto desgastando-se rapidamente e rompendo-se terial deve ser retirado. Algumas vezes es-
antes. Segundo Oliveira (2018), estas frentes facilmente, principalmente as ferramentas sas paradas podem durar até 3 dias e todo
ocorrem quando dois ou mais materiais com periféricas da cabeça de corte do tatuzão. o processo de escavação cessa, elevando
comportamentos diferentes são encontrados No caso ilustrado em “b”, há uma grande os custos da obra.
na mesma face do túnel. Um tipo particular quantidade de rocha e uma pequena porção A figura 4 “a” apresenta um exemplo
destas faces mistas é o solo que resulta do cli- de solo não autoportante além de estar abai- de clogging em um disco de corte. A figura
ma tropical das rochas, justamente típico de xo do nível d’água, implicando numa perme- 4 “b” refere-se à necessidade de também
nossos subsolos. Oliveira e Diederichs (2016) abilidade muito alta sem ser possível criar se investigar a tendência de clogging em
usaram o termo frente de transição mista o efeito de plug em uma EPB, perdendo a rochas argilosas, pois esta se comportará
(MTG – mixed transitional ground), que é pressão, além de se elevar significativamen- como um solo. Portanto, nas investigações
justamente quando ocorre o solo de alteração te o torque da máquina. preliminares o material rochoso deve ser ra-
em distintos graus, o saprólito e sua rocha de Em solos tropicais o desafio é justa- lado e prosseguir com os testes para avalia-
origem, distribuídos caoticamente. mente delimitar o que seriam materiais se ção de clogging. Segundo Oliveira & Aguiar
A figura 3 ilustra os dois piores cenários comportando como solo ou como rocha, por (2021b), na análise de parâmetros opera-
de faces mistas e fotos de afloramentos aqui estar no limite do que chamamos de rocha cionais da máquina é possível identificar a
no Brasil. No caso “a”, a máquina está esca- branda – solo duro. Há trechos que é difí- ocorrência de clogging observando-se um
vando em um material menos competente, cil dizer se o material é uma rocha ou um aumento no torque, na força de contato e
por exemplo, um solo (residual ou não) e solo, como nas imagens “c” e “d”, ainda mais na temperatura na câmara de escavação
encontra o topo rochoso, ou um matacão. saber exatamente, tendo como base apenas juntamente com uma redução na penetra-
Conforme explica Thewes (2004), neste as investigações pontuais por meio de son- ção, conforme o diagrama da figura 4 “c”.
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INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
E PROCEDIMENTOS
Apesar dos desafios citados acima, há
diversas opções de como mitigar tais pro- Figura 6 - Sistema de monitoramento de carga no disco de corte (DCLM)
cessos, ou pelo menos, diminuir conside-
ravelmente os problemas encontrados com (a ou b, da figura 4) e quais seriam as possí- realizados concomitantes com a escavação,
eles. Muitos dos mecanismos descritos estão veis soluções a serem adotadas (tratamento será possível avançar mais no conhecimento
inter-relacionados, assim como também as do maciço, operação e/ou equipamento adi- de condicionamento de solos em EPB, até
soluções propostas. Algumas destas solu- cional de injeção). mesmo pensar em possibilidades de uso de
ções implicam na aquisição de equipamen- Com relação ao clogging, além de uti- algoritmos para tal operação, ou seja, um
tos ou sistemas adicionais para a máquina, e lizar o diagrama universal de estimativa de condicionamento automatizado.
outras, apenas no procedimento empregado clogging (Hollman & Thewes 2012), testes
ao longo do projeto, antes mesmo da esca- de laboratório testando distintos aditivos Sensores de desgaste
vação da máquina. certamente influenciarão na mitigação des- As tuneladoras estão equipadas com di-
te fenômeno. No caso do diagrama univer- versos sensores, em torno de 900 a 1.500.
Investigações e testes preliminares sal, é necessário ter os dados de limites de Todos estes auxiliam no controle da opera-
Assim como qualquer outra disciplina, Atterberg do solo (ou rocha argilosa) e do ção da máquina e todos seus parâmetros. Há
caracterizar o problema é um primeiro pas- teor de umidade natural da face a ser esca- sensores que sempre fazem parte do pacote
so para resolvê-lo. O mesmo acontece com vada. Com relação à abrasividade, no caso básico de um tatuzão e há outros adicionais,
as tuneladoras. Quanto mais se conhecer o de rochas, parâmetros como CAI (índice de como é o caso do DCLM (Disc Cutter Load
terreno a ser escavado, melhor será o seu abrasividade Cerchar) e UCS (ensaio de com- Monitoring) e DCRM (Disc Cutter Rotation
planejamento e mais preparada a equipe de pressão uniaxial) são bastante relevantes, e Monitoring) da Herrenknecht. Estes senso-
operação estará para encontrar soluções. A no de solos, o índice de quartzo equivalente, res podem realmente fazer a diferença na
identificação e caracterização de faces mis- assim como a angularidade dos grãos. identificação de desgaste das ferramentas,
tas, de trechos com potencial de clogging, Finalmente, com relação ao condiciona- permitindo sua troca a tempo, antes que se
da estimativa do potencial abrasivo, ou zo- mento do solo, mesmo que seja um processo atinja o desgaste secundário. Isso implica
nas com riscos de perda de pressão deve ser que se detalha ao longo da escavação, muito numa relevante economia dos gastos com as
feita antes da escavação. Conforme esclare- pode ser investigado preliminarmente com ferramentas de corte, já que estas, sem que
cem Oliveira & Aguiar (2021 a, b), todos os testes simples de laboratório. Até mesmo um se atinja um desgaste secundário, podem ser
fatores relacionados ao cenário geológico laboratório pode ser instalado na obra, como renovadas e reutilizadas. Também permitem
devem ser detalhados ainda em estágios ini- já está sendo feito na Alemanha. economia de tempo de intervenção, evitan-
ciais, assim como a otimização do condicio- Em laboratório, e até mesmo na obra, do paradas para acessar a câmara de escava-
namento necessário para a escavação. podem ser realizados ensaios bastante sim- ção para inspeção dessas ferramentas, que
Com exceção do cálculo de pressão de plificados, com uma batedeira e um apara- em geral deve ser feito sob pressão com pes-
frente, que necessitam dos dados geológi- to que permite a queda da pá da batedeira, soal especializado.
co-geotécnicos de todo o terreno acima da conforme detalhado nos trabalhos de Olivei- O DCRM monitora continuamente o
tuneladora, na caraterização do processo de ra (2018) e Oliveira et al. 2019 (figura 5). movimento rotacional e a temperatura dos
escavação com o tatuzão é o material na Com este teste de laboratório é possível de- discos de corte, permitindo a otimização dos
face do túnel que mais importa. No caso de finir quais aditivos são mais eficientes em intervalos de manutenção das ferramentas.
identificação de zonas possíveis de perda de diminuir o potencial de clogging, ou, até Já o sistema DCLM (figura 6) mede a
pressão é necessário se conhecer a distribui- em alguns casos, aumentar. Nestes testes de força atuando sobre os discos de corte, o
ção granulométrica na face do túnel e sele- laboratório utiliza-se, também, a mesa de que permite tirar conclusões sobre a condi-
cionar os trechos onde há uma porcentagem fluxo que permite prever o comportamen- ção da face do túnel e, portanto, uma otimi-
de finos (argila + silte) menor que 30% e/ou to do material a ser escavado e possíveis zação dos parâmetros de acionamento. Nas
permeabilidade maior que 10-4 m/s. Nestes condicionamentos. A diferença em se fazer trilhas monitoradas, o sistema de monitora-
trechos, alguma alternativa de tratamento testes preliminares é que estes implicam em mento da força no disco de corte permite a
do maciço deve ser pensada, ou, adicionado menor risco do que proceder com tentativa- detecção de condições geológicas variáveis,
um mecanismo de injeção de suspensão na -e-erro diretamente na obra, além de ne- tais como fraturas, estratificações etc., em
máquina, como descrito a seguir. O mesmo cessitarem menos aditivos para tais testes. tempo real.
no caso de frentes mistas, estas devem ser Com mais obras fazendo testes preliminares A imagem para visualização dos dados
devidamente caracterizadas, qual o seu tipo e comparando com os resultados de testes do DCLM na cabine de controle pode ser
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CENAS DA VIDA
N
ão sou da área da educação, mas, quando li essa tes. Como não aceitar o con- NESTOR SOARES TUPINAMBÁ
lapidar frase de Paulo Freire guardei-a na memó- trole de trens sugerido pela é engenheiro, mestre em Urbanismo e
ria. Que admirável síntese! HMD e buscar o novíssimo, a consultor de Transporte
“Falar para” é atitude do vetusto e “admirável” (ou época, ATO (Automatic Train E-mail: nstupinamba@uol.com.br
abominável?) e antigo professor. Que fala do púl- Operation) que até hoje conti-
pito, do alto, como quem emana ordens e ensinamentos como se nua operando eficientemente?
fossem irrefutáveis, sem merecer o contraditório, unidirecionais. Como dávamos assistência técnica a outros metrôs, em
Sem discussões! formação, podíamos comparar padrões e soluções. Desde o
Vem de uma discutível hierarquia refletindo relações enges- projeto do metrô de Bagdá, a consultoria dos metrôs do Rio
sadas e paradas no tempo. de Janeiro e Salvador, a operar o metrô de Caracas, treinando
Já “falar com” mostra um relacionamento em ambos seus operadores.
os sentidos, interativo, que aceita contra argumentações As avaliações dos empregados eram feitas de modo bidirecio-
e contribuições, às vezes preciosas. Entra numa dinâmi- nal. O chefe avaliava o subordinado e vice-versa.
ca dialética (tese-antítese-síntese). Assim se evolui, numa Quando da implantação do TQM (Total Quality Manage-
simbiose assertiva, sinérgica e cooperativa. Onde 2+2 po- ment), à moda japonesa, todos os funcionários eram estimulados
dem ser maior que 4! a dar sugestões.
No ano que deixo o Metrô, após 45 anos, talvez mais por Todos eram os responsáveis e se sentiam donos do seu pro-
“fadiga de material” do que por vontade, comparo-o com essa cesso. Engenheiros, nas obras, davam entrevistas à imprensa sem
ideia de Paulo Freire. prévio consentimento.
Sem rancores, sem idealismos que ref letem pura falta de Então, veio o reconhecimento internacional. O honroso con-
memória (como os que sentem falta do Vulcabrás, da pomada vite da Universidade de Londres para ingresso no Comet Group
Minâncora e do Óleo de Fígado de Bacalhau, entre outros!). (Commission of Metros), onde só entravam os portadores de
Não e não! “benchmarkings” originais.
O Metrô de São Paulo continua uma eficiente e importan- Importantes instituições nasciam dentro da empresa, como a
te empresa com ótimos profissionais, com uma direção zelosa ANTP e o CBT (Comitê Brasileiro de Túneis) com escritórios nos
e engajada na importante missão da promoção da mobilidade próprios da companhia.
em São Paulo. Essa lista continuaria, porém, sua continuação seria
Porém, é difícil escapar da Era do Capitalismo Financeiro, enfadonha.
que atua de modo global e imperioso. Mas, é o suficiente para mostrar o clima de liberdade que
Economia neoliberal, financeirização da produção e dos ob- propiciou a criação (criação que nunca surge em ambientes
jetivos, processos mais atrelados ao lucro e a ganhos imediatistas hierarquizados) de novos métodos, processos originais e mais
do que à qualidade de vida do cidadão, ajuda aos desvalidos etc. eficientes.
Objetivos que, quase sempre, estão fora dos orçamentos. Penso que o leitor, que pacientemente leu até aqui (a quem
Assim, esse contexto contamina, também, as políticas pú- agradeço pelo dispêndio precioso de seu tempo), já intuiu sobre
blicas, mexe no foco das empresas, de modo quase sorrateiro, o falar ‘para’ e ‘com’.
invisível. Claro que é impossível não ser saudosista no desfecho do
É o “falar para” se instalando, mais e mais. meu “casamento” que deu certo. Paixões são arrebatadoras. E
Ordens emanadas, ordens cumpridas. Sem muitas discus- tento, então, levar em conta esse fator.
sões. Escolhas nem sempre com embasamento técnico, mas, que Mesmo porque todas as generalizações são perigosas (inclu-
cunham direções tomadas. Mesmo que, às vezes, existam diver- sive essa!).
gências. Simplesmente assim. Também considerando efeitos senis deletérios, além do
Já no “falar com” há uma ampla discussão, participação de saudosismo, deixo a discussão “em aberto”. Réplicas e trépli-
todos. Dos mecânicos ao diretor, passando pelos engenheiros. cas serão aceitas.
Lembro-me do CRE (Conselho Representativo dos Empre- Os defensores do “Naming Rights” de “Carrão Assai” e “Ul-
gados), com acesso às reuniões de diretoria e à documenta- trafarma Saúde” (virão “República Bradesco”, “Brahma Vila Ma-
ção oficial. dalena”?) terão voz.
Discussões, principalmente técnicas, eram travadas esponta- Difícil escapar da “cachaça Metrô” (sugestão?). Metroviário
neamente com a Academia, outros metrôs e empresas. Os sindica- será sempre metroviário! Trilhos da vida ...
tos tinham forte participação sendo incluídos nas questões. Esse Como será a existência fora dele?
clima permitia a descoberta de soluções originais e independen- Assim e sem adeus, deixo meu “até breve” companheiros!
A experiência que
constrói o metrô
O
engenheiro eletricista Massaru Saito viu foram enviados os técni- MASSARU SAITO
o Metrô de São Paulo nascer. Ele entrou cos para conhecer proje- Engenheiro eletricista pelo Mackenzie,
na companhia em 1972 e acompanhou os tos semelhantes em paí- atuou em projetos de energia fotovoltaica
trabalhos para que a primeira linha fosse ses como Suíça, Itália e no Metrô de São Paulo
inaugurada. “Quando entrei no Metrô, Estados Unidos”, relata.
todos os esforços eram direcionados para Visitas técnicas e seminários internacionais sem-
que se colocasse o sistema em funcionamento. Tenho pre fizeram parte da formação de Massaru, que visitou
orgulho de ter participado dessa etapa”, conta Massaru, o Japão algumas vezes para conhecer as indústrias e
que presenciou a inauguração do primeiro trecho Ja- companhias de transporte metropolitano daquele país,
baquara-Vila Mariana, no dia 14 de setembro de 1974. como a Tokyu Car Corporation e a Toshiba Corporation,
Aos 79 anos, está na ativa e trabalha em uma área em Yokohama, o Toshiba Science Institute e o Tokyo
nova na companhia, voltada para projetos de energia Municipal Subway, em Tokyo, e o Osaka municipal
fotovoltaica, assunto sobre a qual publicou o trabalho subway, em Osaka.
“Energia Solar Fotovoltaica: Viabilidade de Implanta- Para o profissional em início de carreira, ele ressalta
ção no Metrô de São Paulo”. Em 2014, Massaru fez a importância de conhecer outros trens metropolitanos
visitas técnicas a usinas de energia fotovoltaica do pelo mundo. “Mais vale uma vez ver do que mil vezes
Metrô de Nova Iorque, entre elas as localizadas na Co- ouvir”.
ney Island Terminal, no complexo de estações Jackson Ele reforça que, atualmente, as oportunidades para
Heights – Roosevelt Avenue / 74th Street (Broadway) um profissional da área de Engenharia Elétrica em uma
e no pátio de manutenção e de lavagem de trens em empresa como o Metrô são muitas, mas que “é impor-
Corona (Queens). tante ter uma boa base para acompanhar a rápida evo-
Em 2025, a Estação Ipiranga, com obras previstas para lução do sistema”.
conclusão no mesmo ano, terá a geração de energia so- Desde que começou na profissão, a principal mu-
lar como responsável por sua alimentação elétrica. A es- dança, ressalta, é a área tecnológica. “É preciso en-
tação será uma das primeiras a utilizar o novo sistema de tender que os equipamentos fixos ou móveis sempre
geração fotovoltaica, podendo gerar cerca de 25 MWh por deverão existir, mas com software moderno com simu-
mês, valor que corresponde a aproximadamente 39% da lação elétrica, até com diagnóstico para otimização de
demanda de uma estação de monotrilho. desempenho e custo”.
Neste projeto, estão o trabalho e o talento de Mas- Além de engenheiro, Massaru também é conhecido
saru. Entre as principais atribuições do seu cargo atual no Metrô de São Paulo como mestre do sushi. Há al-
estão a participação na definição das premissas para gum tempo, ele participava de eventos onde prepara-
elaboração de projetos básicos do sistema de alimen- va pratos da culinária japonesa e chegou a dar cursos
tação elétrica para a implantação de novas linhas; para muitos metroviários. Ele foi um dos precursores da
coordenar a elaboração dos cadernos de encargos para culinária japonesa em São Paulo e trabalhou no restau-
licitação de novos projetos; dar suporte técnico para rante Mariko, no Caesar Park da Rua Augusta.
solução de problemas de operação, de manutenção e da Saito é filho de japoneses – Yoshio e Shige – e tem
concessionária de energia elétrica (fator de potência, três irmãos mais velhos – Yoshimi, Ken e Yasu – que
harmônicas, demanda); estudar e desenvolver novos chegaram ao Brasil no dia 2 de abril de 1934, pelo Porto
produtos junto aos fornecedores, para atendimento das de Santos, vindos de Kobe. Massaru nasceu no Brasil,
necessidades de projetos, entre outras. em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, onde a
Formado pela Universidade Mackenzie, o Metrô de família se estabeleceu depois de algum tempo no país.
São Paulo foi seu segundo emprego, tendo antes traba- Em Mogi, a família Saito trabalhava na lavoura,
lhado na Eletropaulo (antiga Light Serviços de Eletrici- principalmente na plantação de batatas e hortaliças,
dade S. A.) e estagiado na Toshiba. e em granjas. Massaru estudava, ajudava a família na
Toda a trajetória de Massaru na companhia foi desa- plantação e ainda se dedicada a outra paixão, o judô.
fiadora, atuando na área de projetos com novas linhas, Quando entrou para a Faculdade Mackenzie, conti-
novos equipamentos e, ultimamente, no aproveitamen- nuou a se dedicar ao esporte e sua carreira como judoca
to da energia solar. “Logo que entrei no Metrô, na parte deslanchou, participando de competições nacionais e
da Engenharia Elétrica havia poucos engenheiros e ne- internacionais, como o Campeonato Mundial de Judô,
cessidade de implantar toda a operação do trem, então realizado em Tóquio em 1967 e Lisboa em 1968.
A Grécia
N
em é preciso ressaltar a importância
da Grécia, tanto no mundo dos vinhos,
mas principalmente como berço de
toda nossa civilização ocidental.
Os romanos, povo que difundiu a
cultura do vinho por toda a Europa, foi
herdeira da tradição vinícola dos gregos e dos etruscos.
Temos registros sobre o vinho na civilização grega
que remontam ao século VII antes de Cristo. Os gregos,
porém, não costumavam escrever compêndios agrícolas
ou deixar imortalizados manuais de plantio ou produção
em pedra, antes a usavam para esculturas, e aproveita-
vam seu tempo para a poesia, o teatro e a filosofia.
Já os romanos, no afã de expansão guerreira que
caracterizava sua civilização, costumavam deixar aos
centuriões aposentados glebas de terra, com a única
condição de que plantassem uvas. Como sabemos, es-
tas necessitam de quatro anos para dar sua primeira
safra e, assim, este homem era fixado na terra.
A introdução do vinho na Itália, pelos gregos, deu-
-se através do Sul, pelas Ilhas Sardenha e Sicília e pela
Calábria, porção territorial que os gregos chamavam
de “Oenotria”, ou país dos vinhos.
As culturas gregas insulares, como a Minóica, que
se desenvolveu na Ilha de Creta, já possuíam pala-
vras para vinho, vinhedo e comerciante de vinhos. Os
Minóicos exerciam forte comércio pelo Mediterrâneo
e provavelmente também receberam inf luências mi-
lenares dos ensinamentos vinícolas da Babilônia, da
Mesopotâmia e do Antigo Egito.
O fato é que Atenas comerciava vinhos com o Egito,
com a Scythia (atual Criméia) e com a Etruria (atual
Toscana na Itália). A intensidade deste negócio pode
ser mensurada pelo enorme número de cacos de ân- vazar nas travessias marítimas. Esta resina costuma-
foras que existem submersos no Estreito de Messina, va penetrar no vinho, dando a ele um odor e gosto
que une a Ilha da Sicília à Itália continental. característico, muito forte e penetrante. Ainda hoje
Algumas das uvas que eram plantadas pelos gregos persiste um vinho grego chamado “Retsina”, onde esta
permanecem até hoje vivas e produzindo vinhos na Itália, resina é adicionada. Este vinho é recomendado apenas
como a maravilhosa uva tinta Aglianico (uva da Campâ- como curiosidade histórica, pois seu sabor é bastante
nia), ou a Grecco di Tufo (uva branca também largamente estranho.
plantada na Campânia) ou a Grechetto (uva branca utili- A moderna vinicultura grega foi, contudo, abafada
zada nas regiões da Umbria, Lázio e Toscana). pelos séculos de dominação do Império Otomano, e só
A forma como os antigos gregos degustavam seus vi- voltou novamente a f lorescer no início do século XX.
nhos já foi objeto de outro artigo, já publicado, quando As principais modernas uvas da Grécia são:
abordei a cultura vinícola de todas as antigas civilizações. - A Assyrtiko, uva branca, nativa da famosa ilha
As ânforas de barro, onde os vinhos eram trans- vulcânica de Santorini, emblemática, e que, depen-
portados, eram fechadas com batoques também de dendo do estilo de vinificação, pode dar origem desde
barro envolvidas numa resina de pinheiro, para não vinhos secos e frescos até vinhos mais pesados e doces
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COUTINHO, Rodrigo (Organizador). SCHMID, Manfred Theodor.
TUPER 50 anos. A Protensão Parcial do Concreto.
Florianópolis - SC, Expressão, 2021, 119p. São Paulo - SP, Blucher, 2022, 178p.
“O livro é o registro de cada etapa que a empresa Esta obra oferece a estudantes e projetistas de
viveu até chegar aqui”, conta o presidente & CEO, engenharia e arquitetura uma orientação inicial para
Frank Bollmann. O perfil da obra fica claro logo nas primeiras páginas, o uso da protensão do concreto em seus estudos e
quando há a comparação entre as imagens aéreas das instalações da projetos.
empresa no início dos anos 1970 e hoje. A técnica de cálculo apresentada é a protensão parcial,
Com dois mil funcionários, a Tuper fechou o ano do cinquentenário com um caminho coerente e objetivo para a consideração da força de
uma série de recordes. protensão e das suas consequências em vigas de concreto. A lógica das
Números fantásticos para uma empresa criada numa cidade que, à época, equações de cálculo aqui apresentadas possibilita ao projetista fazer o
sequer havia chegado a 20 mil habitantes. balanceamento das solicitações internas de uma peça com mais ou menos
Os desafios enfrentados ao longo do caminho também são narrados na protensão, a sua escolha, permitindo o equilíbrio perfeito de uma peça
obra. Um deles foi a dificuldade inicial para obter tubos de aço, o que com a interação segura entre suas armaduras passivas e ativas.
levou a Tuper a iniciar fabricação própria deste produto.
BRASIL, Reyolando M. L. R. F.
Estabilidade do Equilíbrio das Estruturas.
São Paulo - SP, Blucher, 2021, 132p.
SANTOS, Daniel Miranda dos. Este livro estuda a estabilidade do equilíbrio de estruturas civis, me-
Projeto estrutural por bielas e tirantes. cânicas, navais, e aeroespaciais do tipo barras e placas. Abordam-se a
São Paulo - SP, Oficina de Textos, 2021, 128p. teoria e os processos numéricos de solução, em especial o Métodos dos
Os modelos de bielas e tirantes são úteis e muito Elementos Finitos e sua implementação computacional.
mais interessantes para o dimensionamento de Com a modernização das técnicas de análise e a disponibilidade de ma-
alguns elementos estruturais em concreto armado. teriais cada vez mais resistentes e métodos construtivos mais apurados, é
Representam uma importante ferramenta para a a realidade atual da Engenharia de Estruturas que as
análise do fluxo de forças e o detalhamento de peças se tornem cada vez mais esbeltas e, portanto,
estruturas de concreto e de regiões onde há variações geométricas mais sujeitas a possíveis problemas de instabilidade.
ou concentrações de tensões. O fenômeno historicamente denominado de flam-
Projeto estrutural por bielas e tirantes fornece o conhecimento neces- bagem é aqui estendido para contemplar a inevitá-
sário para a aplicação do modelo de bielas e tirantes para elementos vel existência de imperfeições nas estruturas reais.
estruturais de concreto armado. Este livro é um texto básico para graduação ou
Após abordar os fundamentos da teoria da plasticidade intervenien- pós-graduação, mas também para o engenheiro
tes, o livro introduz o leitor ao modelo e analisa as propriedades dos estrutural praticante.
materiais e a transferência de forças entre a armadura e o concreto.
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PONTO DE VISTA
Tecnologias emergentes
e o Metrô de São Paulo
A
última vez que andei de Metrô foi em 8 possibilita o processamen- JOSÉ ROBERTO CARDOSO
de dezembro de 2019 para assistir Corin- to no local do monitora- é engenheiro eletricista, professor
thians e Fluminense na Arena. As festas de mento, através da técnica doutor da Escola Politécnica da USP
final de ano se aproximavam e o ambiente edge computing, repassan- E-mail: jose.cardoso@usp.br
estava agradável. Estávamos em três e es- do aos ser vidores a infor-
perávamos uma reação da equipe naquele mação já trabalhada, ace-
final de campeonato, reação esta que não veio, pois o timão lerando em muito o processo de tratamento de dados.
foi derrotado e foi-se embora a esperança do título, vencido Com esta massa de dados e com técnicas atuais de Inteli-
pelo nosso mais tradicional rival. gência Artificial, a companhia consegue compor cenários fu-
Para evitar corre-corre, resolvemos dar início a nossa via- turos baseados em parâmetros de desempenho que precisam
gem na Estação Barra Funda, ponto inicial da linha vermelha, ser otimizados e efetuar planejamentos precisos.
onde conseguimos nos sentar onde queríamos. O Metrô também tem problemas de segurança de dados.
Já dentro da composição, nossa conversa se concentrou As ações de hackers e terroristas também precisam ser consi-
nos novos desenvolvimentos da tecnologia metroviária que deradas neste ambiente agressivo do mundo virtual. Protoco-
não aparecem para o usuário, mas que implicam em reflexos los, criptografia, confiabilidade de datacenters, são quesitos
substanciais no desempenho do sistema. mandatórios para garantir a operação segura do mais comple-
Comentei o caso do novo sistema sinalização CBTC, esta- to sistema de transporte público do mundo.
do da arte em sinalização, que permite, dentre outras funções, A chegada da tecnologia 5G nos colocará em outro pata-
que os trens andem mais próximos um do outro de forma se- mar de conexão. Não só a velocidade, mas também o formato
gura e com otimizações que reduzem consumo de pastilhas da internet será outro. Os processos industriais passarão a
de freio, de energia e redução do “headway”, aumentando a fazer parte desta rede mundial e, para tal, serão necessárias
eficiência, o conforto e a sustentabilidade do sistema, pois ações para garantir segurança, sigilo e outros requisitos de
resíduos de pastilhas são agressivos ao meio ambiente. confiabilidade. O princípio da internet democrática, em que
Estimulei a discussão sobre a importância da massa de todos têm acesso irrestrito a qualquer tecnologia, será ques-
dados gerada por uma viagem de metrô, como, por exemplo, a tionada e a LGPD exercerá papel ainda mais relevante.
quantidade de passageiros transportada, o registro da marcha A proximidade das antenas ao usuário serão reduzidas, de
do trem, operação das portas e outras. No passado, esta quan- modo que o tempo de latência, que é o tempo decorrido entre
tidade imensa de informações era desprezada, apenas aquelas a ação de solicitação da demanda e a resposta da rede, que no
mais importantes eram registradas por operadores, mas, ago- 4G é de 80 milisegundos, se reduzirá a um milisegundo na 5G.
ra, estas informações têm valor incalculável. Esta facilidade abrirá muitas portas para a inovação em
Os dados gerados em cada viagem são armazenados em uma companhia com as características de Metrô. No entanto,
bancos de dados imensos e guardados a sete chaves, pois estas portas só serão enxergadas por profissionais com espí-
retratam como aquele organismo está trabalhando, além de rito inovador, isento de ideias preconcebidas, que consegue
manter histórico de operação valiosíssimo, que tratados por conversar com seus pares sem exigir cumprimentos de hierar-
cientistas de dados competentes, consegue exibir todas as vir- quias, que só inibem a criatividade.
tudes e deficiências da gestão do sistema. Espaços de criação, onde essas competências são exter-
Boa parte desses dados são de interesse da manutenção, nadas, farão parte do dia a dia do processo de concepção
outros de interesse da operação e outros ainda de interesse da disruptiva exigida pela inovação, como é o caso do Metro-
gestão de estações e plataformas e, sem dúvida, boa parte de lab do Metrô.
interesse da presidência no suporte a decisões e planejamen- Tudo isso foi escrito como se fosse algo a ser feito na com-
to. Cada célula de gestão tem interesses diferentes, de modo panhia. No entanto, no Metrô de São Paulo já é realidade. Boa
que a ciência de dados bem realizada extrai as informações parte destas considerações estão implantadas ou em implan-
customizadas para a cadeia de comando do sistema. tação no nosso Metrô, mas são transparentes para o usuário.
Toda essa informação é obtida através da distribuição cri- A comunidade metroviária mundial é imensa e rigorosa nas
teriosa de sensores nos trens e nas plataformas, cujas infor- avaliações de desempenho de linhas de metrô ao redor do glo-
mações são coletadas através da tecnologia IoT. bo, seus indicadores de qualidade são difíceis de serem atendi-
Devido à grande quantidade de processamentos, que dos, mas o Metrô de São Paulo é um dos poucos que consegue
devem ser realizadas pelos ser vidores, a tecnologia atual cumprir as metas internacionais em sua completude.