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ISSN 2675-7532

9 7 7 2 6 7 5 7 5 3 0 0 0 0 6

METRÔ DE SÃO PAULO: INOVAÇÃO E EXPANSÃO


BRASIL ENGENHARIA I

Fiscalização Crea-SP
Ainda mais conectados
pela segurança
da sociedade.

O Crea-SP está modernizando e inovando os


seus processos para ganhar ainda mais
agilidade na scalização, garantindo uma
maior atuação dos seus agentes para chegar
na meta de 400 mil ações em 2022.

Esta é uma iniciativa da


Transformação Digital do Crea-SP.

2 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


WWW.BRASILENGENHARIA.COM BRASILENGENHARIA 06/2022 3
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Gripper TBM

3600km+
de Israel
Túnel de desvio de
água de Jilin

Escavados

30
Países e Regiões
10.03m
9.86m
EPB TBM
EPB
Milão alta velocidade
Grande Metrô de Paris
- Ferrovia de Verona
Linha 16 Lote 2
Linha Túnel Lonato

15.8m 15.084m 15.03m


Slurry TBM Single Shield TBM Slurry TBM
Shenzen Chungeng Lote 1, Kvesheti-Kobi Túnel submarino Shantou Su'ai
Túnel Rodoviário Projeto Rodoviário, Geórgia

4 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


OS TAMANHOS
3.5m
4.15m Gripper TBM
EPB TBM Projeto de Abastecimento Jumbo
Metrô de Hongjunying de Águas do Beirute

Projeto do Lote 1

8.5m x 4.95m x 1.8m


TBM aberto em U
Túnel Utilitário Subterrâneo de Haikou

7.62m x 5.645m
Máquina Retangular Pipe Jacking
Metrô de Cingapura Thomson
Projeto Linha T221
Road Header

11.9m x 10.95m
EPB TBM Formato de Ferradura
Túnel Ferroviário Menghua Baicheng
11.05m
EPB TBM
Sistema de águas pluviais
de túnel profundo em Dubai

Bolter Mineiro

11.09m
Single Shield TBM
Snowy Hydro 2.0
12.14m
EPB TBM
Túnel Ferroviário
Taiyuan Sudoeste

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NESTA
BRASIL ENGENHARIA I
ISSN 2675-7532
REVISTA BRASIL ENGENHARIA

Fundadores
Apparício Saraiva de Oliveira Mello (1929-1998)
Ivone Gouveia Pereira de Mello (1933-2007)

Rua Alice de Castro, 47 - Vila Mariana


CEP 04015 040 - São Paulo - SP - Brasil

22
Tel. (55 11) 5575 8155
(55 11) 5575 1069
E-mails: brasilengenharia@terra.com.br BRASIL ENGENHARIA / INFRAESTRUTURA
engenho@uol.com.br
Número avulso: R$ 39,00 STM/SP: UM EXEMPLO DE EXCELÊNCIA EM SERVIÇOS E
www.brasilengenharia.com
DE ATUAÇÃO EM PROL DA POPULAÇÃO DE SÃO PAULO
DIRETOR EDITORIAL Em função da gigantesca complexidade que diariamente se apresenta
RICARDO PEREIRA DE MELLO
ao trabalho executado pela Secretaria de Transportes Metropolitanos de
DIRETORA EXECUTIVA
MARIA ADRIANA PEREIRA DE MELLO São Paulo (STM/SP), o balanço que se faz dele, sem dúvida alguma, é
bastante positivo. Embora nessa lida, naturalmente, os desafios sejam
titânicos, e ainda exista muita coisa a ser feita, a desenvoltura desse órgão,
MAI/JUN - 2022 - ANO 3 - N.º 06 hoje sob o comando do engenheiro Marco Antônio Assalve, têm sido
BRASIL ENGENHARIA. Diretor Editorial:
vencidos com empenho extraordinário e exemplares.
Ricardo Pereira de Mello. Diretora Comer- CARLOS FREDERICO/ METRÔ-SP
cial: Maria Adriana Pereira de Mello. CON-
SELHO EDITORIAL: Álvaro Rodrigues dos
Santos, Apparício de Mello Neto, Frederico
Bussinger, Luís Antônio Seraphim, Maria
Adriana Pereira de Mello, Nestor Soares
Tupinambá, Paulo Helene, Paulo Resende,
BRASIL ENGENHARIA / LIDERANÇA EM FOCO

28
Pedro Luis Dias Martins, Pedro Moreira, Pe-
ter Ludwig Alouche, Permínio Alves Maia de
Amorim Neto, Ricardo Pereira de Mello.
SILVANI ALVES PEREIRA
Diretor-presidente da Companhia do
ENGENHO EDITORA TÉCNICA. Diretor Metropolitano de São Paulo – Metrô
Editorial: Ricardo Pereira de Mello. Diretora
Comercial: Maria Adriana Pereira de Mello. “VAMOS DEIXAR UM CAMINHO PAVIMENTADO
Redação / Reportagem: Regina Trombelli,
Marcus Frediane. Fotógrafo: Ricardo Mar- PARA QUE O METRÔ PROSSIGA MELHORANDO”
tins, Leonardo Moreira. Editoração: Adriana
Com frequência, Silvani Alves Pereira, informa na rede social Linkedin
Piedade / ZAF - Ateliê de Publicidade e André
Siqueira / Via Papel. Gerente Administrativo:
sobre os avanços nas obras e outras importantes ações da companhia.
Leonardo de Mello Moreira. Criação e Arte: Atualmente, são 16 frentes de trabalho. “Iniciamos as obras de
André Siqueira / Via Papel. Impressão e Aca- expansão da Linha 2-Verde até Penha, que beneficiarão além das novas
bamento: Meltingcolor Gráfica. regiões onde terão as estações, mas também os passageiros da Linha
3-Vermelha com uma alternativa ao centro de São Paulo. Além disso,
REDAÇÃO, ADMINISTRAÇÃO E PUBLICI- na zona leste de São Paulo, temos as obras da Linha 15-Prata em
DADE: Engenho Editora Técnica Ltda. Rua direção a Jacu-Pêssego e Ipiranga. Na zona sul, a Linha 17-Ouro que
Alice de Castro, 47 - Cep 04015 040 - São terá uma ligação rápida ao Aeroporto de Congonhas, na zona norte
Paulo - SP - Brasil - Tels. (55 11) 5575 8155
com a Linha 19-Celeste, chegando ao município de Guarulhos.
- 5575 1069. Circulação nacional: A RE-
VISTA BRASIL ENGENHARIA é distribuída
a engenheiros brasileiros que desenvolvem
atividades nas áreas de engenharia, proje-
to, construção e infraestrutura. A REVISTA
BRASIL ENGENHARIA e a Engenho Editora

34
Técnica não se responsabilizam por conceitos
emitidos por seus colaboradores ou a precisão
BRASIL ENGENHARIA / ESPECIAL METRÔ-SP
dos artigos publicados. Só os editores estão
autorizados a comercializar as edições. Perio-
dicidade: Trimestral.
METRÔ DE SÃO PAULO: INOVAÇÃO E EXPANSÃO
ADMINISTRANDO RECURSOS PARA UMA
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. NENHUMA PARTE DESTA GESTÃO CADA VEZ MAIS EFICIENTE
PUBLICAÇÃO (TEXTOS, DADOS OU IMAGENS) PODE SER
REPRODUZIDA, ARMAZENADA OU TRANSMITIDA, EM NENHUM
Notadamente em função dos impactos da pandemia da COVID, os
FORMATO OU POR QUALQUER MEIO, SEM O CONSENTIMENTO anos de 2020 e 2021 foram muito complicados para a economia e
PRÉVIO DA EDITORA OU DO CONSELHO EDITORIAL para as finanças das empresas de modo geral. E o setor de Transportes,
DA BRASIL ENGENHARIA
seguramente, deve ter sido um dos mais afetados por eles, dadas as
restrições que precisaram ser impostas pelas autoridades sanitárias,
WWW.BRASILENGENHARIA.COM principalmente aquelas relacionadas à dinâmica de movimentação e
mobilidade das pessoas.
INSTAGRAM: @BRASILENGENHARIA DIVULGAÇÃO/ METRÔ-SP
FACEBOOK: BRASIL ENGENHARIA

66 BRASILENGENHARIA 06/2022
ENGENHARIA 606 / 2011
WWW.BRASILENGENHARIA.COM
A EDIÇÃO
BRASIL ENGENHARIA / METRÔ DE SÃO PAULO / artigos
A gestão matricial de pessoas na implantação dos empreendimentos de expansão do Metrô de São Paulo
Indicadores de desempenho do processo de desenvolvimento do projeto executivo de
implantação de sistemas metroviários
59

65
CAPA
ESPECIAL METRÔ.
METRÔ DE SÃO PAULO:
INOVAÇÃO E EXPANSÃO
Foto: Márcia Alves – Metrô-SP
Criação: André Siqueira – Via Papel
PMO Corporativo do Metrô: 10 anos estruturando e integrando processos para gerar valores 68
Arquitetura na Linha 15-Prata: novas experiências de projeto 73
Utilização de tuneladoras de grande diâmetro em futuras linhas do Metrô de São Paulo 78

Utilização de elevadores de alta capacidade em estações do Metrô de São Paulo 84


Rede futura de metrô: fases do estudo 89
Microacessibilidade nas estações de metrô: uma proposta de
SEÇÕES
metodologia de levantamento de requisitos 92 CARTA BRASIL ENGENHARIA 9
CARTAS 10
Método participativo integrado para auxílio à tomada de decisão na escolha entre
alternativas locacionais de obras de infraestrutura 98 ESPAÇO DO LEITOR 12
BRASIL / RAPIDAS 16
“Pesquisa Origem e Destino Digital: teste de coleta de dados com uso de aplicativo em smartphones” 102
CENAS DA VIDA 219
“Definição de área de captação da integração para estudos de caracterização do transporte coletivo” 105 CIÊNCIA & TALENTO 221
Construção sustentável em linhas futuras do Metrô de São Paulo 108 ARTE & VINHO 222
LIVROS TÉCNICOS 224
Cenários socioeconômicos no novo modelo de previsão de demanda do Metrô de São Paulo 111
PONTO DE VISTA 226
Novo modelo de geração de viagens desenvolvido pelo Metrô de São Paulo 114
Vida útil e métodos diagnósticos empregados nas estruturas do Metrô 120
Desafios e lições aprendidas na adequação das estruturas civis da via do monotrilho - Linha 15-Prata 127
Representação da oferta de transportes na rede de simulação do Metrô de São Paulo 133 A MISSÃO DA
Potencial de redução do consumo de água potável em estações do Metrô de São Paulo 139 BRASIL ENGENHARIA
Portfólio de projetos de inovação tecnológica da engenharia de operação do Metrô de São Paulo 143 Promover e desenvolver a engenharia em
Tomada de decisão baseada em dados: como aumentar eficiência nas contratações 149 benefício da qualidade de vida da sociedade.
Executar esse objetivo com a divulgação de
Sistema de gestão ambiental: os benefícios de uma abordagem sistematizada 159
projetos e pesquisas de desenvolvimento
Utilização de geração fotovoltaica no projeto da Estação Ipiranga da Linha 15-Prata 161 e as conquistas dos profissionais do setor.
Emissões de carbono no ciclo de vida dos empreendimentos do Metrô de São Paulo 165 Tem como meta: valorização da engenharia;
promoção da qualidade e credibilidade dos
Os desafios da Linha 19-Celeste do Metrô de São Paulo 167
engenheiros; prestação de serviços à socie-
O desenvolvimento dos projetos de sistemas mitigadores de ruídos primários no Metrô-SP: dade; analisar e publicar manifestações dos
diretrizes, normas e legislação 169
engenheiros sobre políticas, programas e
Pioneirismo na área metroferroviária brasileira: acreditação pelo INMETRO ao ações governamentais, e a melhor técnica de
Laboratório de Calibração do Metrô-SP 174 execução dos projetos. Nossas publicações
A influência do perfil geométrico das vias no consumo de energia, conversão de estarão dirigidas para a comunidade em
energia transformada em economia 176 geral; para os órgãos públicos e organizações
Utilização de rampa de 5% em projetos futuros no Metrô-SP 183 não governamentais; para as empresas do
setor industrial, comercial e de serviços; para
Revolucionando a sinalização metroviária com UWB 187 as empresas de engenharia, engenheiros e
O projeto da Estação Santa Marina e das VSE’s próximas na Linha 6-Laranja do metrô 196 profissionais de nível superior em geral; para
Monitoração do desempenho estrutural de superestrutura de via permanente em fixação direta 199 os institutos de pesquisas, escolas de enge-
nharia, cursos de pós-graduação, mestrado
A AEAMESP como um agente catalizador na disseminação da expertise metroferroviária 204
e doutorado; empreiteiras e projetistas; e
O Metrô e a Engenharia Nacional 207 infraestrutura em geral.
Tuneladoras EPB: funcionamento, desafios e inovações 210

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BRASIL ENGENHARIA I
Distribuidor Autorizado
(11) 99937.1995 - (11) 99900.5433
WhatsApp: (11) 94298.3254
E-mail: getefer@getefer.com.br
www.getefer.com.br

8 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


CARTA DA BRASIL ENGENHARIA

Evoluir, sempre. Involuir, jamais!


D
edicamos esta edição da refrear o ímpeto de luta dessas
revista BRASIL ENGENHARIA heroicas equipes, que incessantemente
ao Metrô de São Paulo. continuaram a se desdobrar não só para
E, para nós, falar deste assegurar os ser viços de qualidade do
“jovem senhor” é motivo de grande Metrô/SP, como também trabalhar de
satisfação e honra. E, naturalmente, maneira ainda mais intensa e criativa
com orgulho também, porque, neste para dar continuidade às obras de
ano de 2022, no qual a Companhia do expansão desse tão importante modal
Metropolitano de São Paulo comemora de transporte, embora enfrentando
seu aniversário de 54 anos de fundação, contingenciamentos naturais e
é muito bom – não só para os paulistas registrando quedas significativas
e paulistanos, como ainda para todos no volume de seu faturamento.
os brasileiros – constatar que ele não
foi apenas uma ideia que “deu certo”: “Coragem”, “Compromisso” e
muito mais do que isso, ao longo “Dedicação” são as palavras que mais
dessas mais de cinco décadas, ela se bem ilustram esse cenário nas diversas
consolidou como um pujante arquétipo reportagens e entrevistas contidas nesta
de eficiência em termos de mobilidade edição da BRASIL ENGENHARIA, que,
urbana e, sem dúvida, um exemplo de recomendamos, sejam lidas com muita
modernidade e de inovação técnica atenção. Isso porque são verdadeiras
e operacional para todo o planeta. lições de competência e trabalho duro,
de gente que não conhece o sentido
Ao longo dessa trajetória, é claro, da apequenadora palavra “desistir”.
titânicos e complexos desafios Porque, EVOLUIR SEMPRE, é o mote
precisaram e foram efetivamente e o conceito-chave que direcionam
vencidos por suas diversas lideranças e e movem não só os trens, mas todas
equipes de colaboradores, ao largo de as ações e atividades da Companhia
todos os seus escalões de hierarquia, do Metropolitano de São Paulo.
sempre focados no atingimento de
metas cada vez mais superlativas em Boa leitura!
benefício da população de São Paulo.

E, nesse sentido, é estimulante


obser var que nem mesmo o advento
da pandemia da COVID-19 conseguiu

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CARTAS
-se de uma melhor experiência no dia a com vídeos que mostram a situação dramá-
MANUTENÇÃO EM dia para síndicos, administradores e todos tica vivida em nosso país vizinho, a Argen-
ELEVADORES: UMA MELHOR que passam pelo edifício.” tina, que vem sofrendo com este problema.
EXPERIÊNCIA NO DIA A DIA O que é real: o mundo está vivendo uma
“Sem os elevadores, a vida urbana não Fernando Peiter crise energética, principalmente de óleo
teria conseguido chegar em andares tão Diretor de Marketing e Vendas da diesel e o Brasil não é autossuficiente neste
altos. Eles são um componente importante Otis para América Latina produto. De cada quatro litros consumidos
de muitos edifícios e a boa manutenção dos São Bernardo do Campo – SP no Brasil, somente três são produzidos aqui,
elevadores é uma das melhores formas de ou seja: precisamos importar 1/4 de todo
cuidar desse investimento. O serviço certo volume que consumimos.
para o elevador também pode oferecer uma O NOVO TÚNEL DE LIGAÇÃO Como consequência óbvia, o preço desta
experiência personalizada, com mais infor- ENTRE A CONSOLAÇÃO E A molécula no mercado internacional disparou
mação para proprietários, síndicos e gesto- PAULISTA nos últimos meses. A Petrobras, responsável
res de edifícios, e ferramentas inteligentes “Segundo dados do Metrô, o fluxo de por mais de 90% da produção interna, não
para os técnicos de serviço. passageiros pela Estação Consolação, cerca repassou a integralidade destes aumentos.
Cada edifício e cada elevador é único, de 240.000 por dia, só é superada pelas esta- Atualmente temos uma defasagem de mais
e oferecer opções personalizadas que são ções Sé, Barra Funda e Luz. de R$ 1,00 entre o preço internacional e o
adaptadas a edifícios ou instalações espe- Este grande movimento de passageiros preço praticado pela Petrobras.
cíficas é crucial. A utilização de um edifício que frequentam diariamente este entronca- Não vou entrar na discussão se a Petro-
pode mudar com o tempo e ter uma equipe mento principalmente nos horários de pico bras deve ou não seguir a paridade interna-
técnica bem treinada e empenhada significa tem causado, não é de hoje, enorme preocu- cional. Este assunto deve ser tratado entre
ser capaz de analisar as características físi- pação por parte destes usuários acerca dos os conselheiros da empresa, que represen-
cas e o desempenho do equipamento para níveis de segurança em caso de tumultos nas tam seus acionistas. O problema neste mo-
proporcionar o máximo tempo de funcio- plataformas e nos acessos entre as duas es- mento é o abastecimento nacional.
namento e passeios seguros e confortáveis tações o que, aliás, já aconteceram como o Temos no Brasil dezenas de distribuido-
para os passageiros. episódio ocorrido em setembro de 2013 com ras que ao longo das últimas décadas leva-
Tipos de manutenção - Os clientes de- um saldo de 20 feridos. ram combustível a todos os recantos do país
vem ter suas necessidades compreendidas Portanto, a recente licitação para a cons- de forma eficiente. Não será diferente nesta
para que seja proposto o serviço correto trução de um segundo acesso entre o final da época de crise, desde que tenhamos somen-
para a manutenção. Depois que o elevador esteira rolante e o mezanino da Estação Pau- te uma resposta: PREVISIBILIDADE.
é instalado, é preciso uma série de cuidados lista e que será usado no sentido Linha 2-Verde Hoje, a Petrobras divulga o que vai dis-
para garantir o seu bom funcionamento. – Linha 4-Amarela é uma notícia alvissareira. ponibilizar de produto para o mês seguin-
Sem dúvidas, o mais importante é a reali- Como a obra tem prazo estimado de te, somente 20 dias antes. Para chegar um
zação da manutenção preventiva periódica, 36 meses (!) para sua conclusão, o Metrô, navio de combustível importado, desde a
para garantir a correta operação do equipa- responsável pela construção e operação negociação até a descarga, os distribuidores
mento, além de uma vistoria completa uma de todas as estações, mesmo àquelas que precisam de pelo menos 50 dias.
vez ao ano. servem as linhas sob concessão, poderia, Vamos descomplicar: só precisamos de
Como o próprio nome sugere, esse tipo enquanto isso, melhorar a segurança do uma maior previsibilidade. As distribuidoras
de manutenção serve para garantir que todos trecho ‘atunelado’ que dá acesso entre as privadas têm capacidade suficiente para
os componentes estão funcionando como estações Paulista – Consolação instalando continuar abastecendo todo o país, seja com
deveriam. Ela inclui constantes vistorias na corrimões solidários às paredes arqueadas.” produto nacional ou produto importado.”
cabina, poço do equipamento e casa de má-
quinas; revisão de peças como o motor e seus José Eduardo W. de A. Cavalcanti Roberto Tonietto
rolamentos, o sistema de freio da máquina, as Engenheiro consultor Presidente da Rodoil e do Sindicato 
polias e os cabos de tração; inspeção regular São Paulo - SP das Distribuidoras de Combustíveis
da tensão dos cabos de aço; limpeza do poço do Rio Grande do Sul (Sindisul)
do elevador; lubrificação, entre outros. FALTA DE DIESEL? Caxias do Sul - RS
A longo prazo, a manutenção preventiva (DES)COMPLICANDO
se prova bem mais econômica, uma vez que
“Declarações acerca de uma possível
não afeta o funcionamento do prédio tanto
falta de óleo diesel nos próximos meses no
quanto a corretiva.
Brasil tomaram conta do noticiário, inclusive
Já a manutenção corretiva acontece
quando o elevador está fora de serviço por
questões técnicas e precisa ser consertado
o mais breve possível. Nesses casos, os téc- Como contatar a BRASIL ENGENHARIA
nicos responsáveis precisam identificar e Comentários sobre o conteúdo editorial da BRASIL As cartas à redação devem trazer o nome, ende-
reparar o ocorrido para que o elevador volte ENGENHARIA, sugestões e críticas devem ser enca- reço e número da cédula de identidade do lei-
a funcionar. minhadas para a redação: Rua Alice de Castro, 47 – tor, mesmo aquelas enviadas pela internet. Por
Um serviço de qualidade não se trata CEP 04015 040 – São Paulo – SP – Fax (11) 5575 8155 questões de espaço e clareza a revista reserva-se
ou 5575 1069 – ou por E-mail: engenho@uol.com.br o direito de resumir as cartas.
apenas de uma mudança eficiente; trata-

10 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


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ESPAÇO LEITOR
malha: mais de 770 quilômetros de trilhos, seguida por
EVOLUÇÃO PELOS TRILHOS  Pequim, com aproximadamente 700 quilômetros; Seul, na
Coreia do Sul; e Londres, no Reino Unido. No Brasil, são
LÍGIA MARTA MACKEY* 388 quilômetros exclusivos de metrô, sem contar os Veí-

É
praticamente impossível falar em evolução sem culos Leves sobre Trilhos (VLTs), trens ou os percursos a
analisar a história. Quando se trata de avanços serem inaugurados, como a da Linha 6-Laranja de Metrô
tecnológicos, todo desenvolvimento é alcançado de São Paulo, maior projeto de infraestrutura urbana pú-
com especial atuação da Engenharia. Um exemplo claro blico-privada em andamento na América Latina.
disso é o metropolitano. Uma das inovações aplicadas é o BIM, sigla
Há pouco mais de 50 anos, essa opção para a metodologia Building Information Mo-
de transporte não passava de um canteiro deling, união de ferramentas entendidas, em
de obras no município de São Paulo. Foi português, como Modelagem da Informação
somente em 1974, depois de seis anos de da Construção, um modo compartilhável de
construções da primeira estação de metrô, dados que acompanha toda a obra. O formato
no bairro da Saúde, que a Linha 1-Azul foi é considerado um avanço, com softwares que
inaugurada. projetam desenhos em 3D, e já foi utilizado
O trecho inicial, do Jabaquara à Vila Ma- no bonde de Sydney, na Austrália, e na Linha
riana, tinha pouco mais de 14 quilômetros, Vermelha do metrô de Dubai, nos Emirados
com circulação média de 2.800 pessoas por Árabes Unidos, realizados pela Acciona, mes-
dia. Atualmente, todo o complexo tem mais mo conglomerado empresarial espanhol res-
de 100 quilômetros de trilhos, seis linhas e Lígia Marta Mackey ponsável pelo novo ramal da capital paulista.
91 estações, por onde circulam 5 milhões A ascensão da Engenharia também abriu
de passageiros diariamente. O que foi preciso para essa portas para maior participação feminina. Há 40 anos,
expansão? A resposta é simples: Engenharia! quando o metrô ainda começava a engrenar efetivamente,
Se antes as cidades eram planejadas a partir de uma as mulheres eram apenas 4% dos profissionais registrados
malha viária tradicional, que implicava em mais veículos no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea).
nas ruas e consequentes dificuldades de trânsito, esse ce- Hoje, são 15% , número que deve ser melhorado com ações
nário foi completamente transformado com a populariza- de empoderamento e de desconstrução de comportamen-
ção de uma alternativa de mobilidade pública menos cus- tos nocivos, como discriminação de gênero e assédio.
tosa e mais democrática propulsionada pelo metrô. O Programa Mulher do Crea-SP é uma dessas iniciati-
A mudança deu lugar a uma metrópole conectada, ins- vas. O movimento se estende para os campos acadêmico
pirada em Londres – primeiro local do mundo a implantar e privado: dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos
o sistema metroviário –, Paris e outros. A iniciativa bra- e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) revelaram que
sileira foi adiante. Trabalhadores foram estudar em dife- mais de 37% dos formandos nas graduações de engenha-
rentes países para criar um modelo inovador de operação ria, produção e construção eram mulheres no último cen-
automatizada. so da Educação Superior; em paralelo, algumas empresas
O desempenho do metrô paulistano foi, e continua priorizam a presença das engenheiras em até 80% do qua-
sendo, garantido por uma soma de expertises de profis- dro funcional em setores tradicionalmente masculiniza-
sionais da área tecnológica que atuam constantemente na dos, como a construção.
manutenção, operação, sistema, construção e arquitetura. Alguns outros aspectos da metrorização propulsio-
O conjunto disso é uma rede informatizada que funciona naram o desenvolvimento socioeconômico, com a va-
em circuito carrossel à base de energia elétrica transporta- lorização das regiões das estações; a ampliação da ur-
da por um terceiro trilho que acompanha toda a estrutura banização dos bairros; a instalação de eixos comerciais
de linhas para alimentar os motores dos trens, enquanto é dispersos; o acesso facilitado aos miolos econômicos e
gerenciada à distância por uma central de controle. industriais; a democratização do transporte público en-
Velocidade, frenagem, parada e outras atividades são, tre periferia e centro; e a própria verticalização. Sem
essencialmente, automáticas. A interferência humana é falar nas vantagens sustentáveis ao diminuir as quanti-
reduzida às situações de necessidade, ficando concen- dades de gases emitidos na atmosfera em comparação
trada, preferencialmente, nos projetos e processos. Toda aos veículos particulares.
essa tecnologia levou à eleição do Metrô de São Paulo Mais uma vez, a Engenharia teve papel fundamental
como um dos melhores do mundo pela revista americana nesses processos e segue com a missão de antecipar de-
Business Insider. mandas, preparar espaços e criar soluções que atendam às
Tamanha responsabilidade modificou a Engenharia, necessidades populacionais, ambientais e estruturais que
consolidando a profissão como divisora de águas para que o futuro reserva. 
os atuais 56 países com metrô pudessem intensificar as  
tecnologias de suas redes. * Lígia Marta Mackey é engenheira civil, vice-presidente
Xangai, na China, por exemplo, é a cidade com maior no exercício da presidência do Crea-SP

12 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


ESPAÇO LEITOR
um divisor de águas e um exemplo premiado devido a inova-
METRÔ DE SÃO PAULO E BANCO ções como os trens contínuos (open gangway) e o sistema de
MUNDIAL, 30 ANOS DE PARCERIA sinalização CBTC (Communications-Based Train Control), que
permite operação automática sem maquinista associado às
JORGE REBELO / BIANCA BIANCHI ALVES / GEORGES B. DARIDO* portas de plataforma.
Após esse empréstimo, a parceria entre o Metrô e o BM se

A
parceria do Metrô de São Paulo com o Banco Mundial estreitou e o Banco financiou três outros projetos: a) o “Trens
(BM) começou a partir do processo de descentralização e Sinalização”, para melhoramentos em sinalização e forneci-
do sistema ferroviário federal e destituição da FEPASA mento de trens; b) a Fase 2 da Linha 4-Amarela, com constru-
no início dos anos 1990. Como parte do acordo de transfe- ção de mais 5 estações que não haviam sido incluídas no pro-
rência do sistema federal ao Estado de São Paulo, o Governo jeto original por falta de capacidade fiscal; e c) a Linha 5-Lilás,
Federal solicitou ao Banco Mundial (BM) que financiasse a rea- com financiamento de trens e sinalização. Já na Linha 6-La-
bilitação da subdivisão paulista, o que permitiria ao governo ranja, o Banco foi convidado pelo Estado de São Paulo como
do Estado de São Paulo viabilizar-se financeiramente provendo consultor na avaliação de PMIs (Procedimento de Manifestação
um serviço de qualidade que atrairia mais usuários. de Interesse) e na formatação da parceria público-privada, mas
Como parte dos requisitos do empréstimo, foi criada a não participou no financiamento.
Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), que Em todos estes empréstimos, foram inseridos componen-
absorveria e operaria a malha transferida da CBTU-SP e as tes institucionais que beneficiaram fortemente a gestão e a
linhas metropolitanas da FEPASA. O Estado de São Paulo so- estratégia do Estado para o setor, além da aplicação das po-
licitou então ao Banco Mundial tanto o financiamento do líticas ambientais e sociais do BM que reforçavam as políti-
Projeto Integração Centro bem como o financiamento da so- cas locais. Pesquisas Origem-Destino, modelos de transporte,
nhada Linha 4-Amarela do Metrô de São Paulo. estudos de mudanças climáticas, são exemplos de estudos de
À época, o BM nunca havia financiado linhas de metrô em impacto que foram desenvolvidos com recursos desses em-
nenhum país, já que financiamentos em Metrô eram vistos como préstimos. O Plano Integrado de Transporte Urbano (PITU),
transporte para a classe média e não para os mais pobres, foco em suas diversas versões, foi também apoiado por esses em-
desta instituição internacional de desenvolvimento. Foi neces- préstimos, o que permitiu uma visão de longo prazo que tan-
sário um grande trabalho de convencimento dos dirigentes do to contribui para o melhoramento contínuo da malha. Por
BM para demostrar que a Linha 4-Amarela iria beneficiar classes fim, foram realizados diversos estudos para ampliar a atra-
de renda mais baixa. Foram então feitos estudos de impacto nas tividade e sustentabilidade financeira do sistema, como por
populações pobres e decidiu-se intensificar no projeto a inte- exemplo através da aplicação de políticas de adensamento
gração intermodal, favorecendo usuários de ônibus municipais no entorno das estações, estudos para obtenção de receitas
e intermunicipais. Foi na preparação deste financiamento que a extra-operacionais, e estudos de políticas tarifárias.
parceria do BM e do Metrô de Sao Paulo se intensificou. E o que se espera neste futuro próximo desta parceria que
Embora o processo de preparação do empréstimo da Linha já dura mais de 30 anos? Está em curso a preparação do finan-
4-Amarela tenha avançado até as últimas etapas, incluindo até ciamento da extensão da Linha 2-Verde. Mas o BM e o Metrô
negociações técnicas realizadas em Washington em 1994, o Go- poderão fazer mais. Alguns tópicos explorados são: a) enge-
verno Federal acabou por não autorizar esse empréstimo dado nharia sustentável como o fomento de energias renováveis,
que o Estado de São Paulo não tinha capacidade de endivi- suporte na certificação de eficiência energética, avaliação de
damento para receber a contra-garantia pelo Governo Federal. vulnerabilidades climáticas dos ativos do Metrô e identificação
O empréstimo para a Integração Centro era no entanto me- de investimentos para aumentar a resiliência; b) reorganização
nor e foi em frente sem incluir Linha 4-Amarela. Este projeto corporativa do Metrô e integração de sistemas tecnológicos
foi vital para a integração das malhas e para o salto de atrati- para melhor servir suas funções de operador e de preparação de
vidade do sistema ferroviário para a população paulistana em novos projetos; e c) intensificação da exploração de empreen-
geral, e em especial a de baixa renda. Mas a diretoria do Metrô dimentos de habitação de interesse social e espaços comerciais
foi persistente. Já que o financiamento puramente público para para o atendimento a populações de baixa renda. Há uma série
o empreendimento era praticamente impossível naquele mo- de temas em que a parceria entre o Metrô e o BM pode avançar,
mento, o Metrô solicitou apoio do BM para contratar consulto- usando a expertise do BM em empréstimos verdes e instru-
res que ajudassem a estudar como aumentar a participação do mentos de garantias, que podem alavancar mais investimentos
setor privado na Linha 4-Amarela. para implementar os planos de expansão do Metrô.
O BM conseguiu então uma doação do Governo dos EUA A parceria do Metrô e o BM inspirou outras linhas de Me-
para avaliar opções de participação do setor privado que aju- trô na América Latina e no mundo. Esperemos que esta par-
daram o Metrô a viabilizar no projeto. Finalmente, já em 2000, ceria continue e siga melhorando a qualidade de vida dos
com o melhoramento da capacidade de dívida do Estado de paulistanos, particularmente os de mais baixa renda, melho-
São Paulo, partiu-se para um modelo misto de financiamento rando o acesso a empregos, hospitais, instituições de ensino
da Linha 4-Amarela, na qual o financiamiento da infraestru- e áreas de lazer, reduzindo a desigualdade social e de gênero,
tura (obras civis, estações, pátio e eletrificação), seria público e contribuindo ao mesmo tempo para diminuir as emissões de
e o investimento em material rodante e sinalização privado. O carbono e a qualidade do ar nas cidades.
setor privado, por sua vez, operaria a Linha 4-Amarela por 25
anos. Apesar de vários atrasos na construção e um acidente * Jorge Rebelo, Bianca Bianchi Alves, Georges B. Darido,
na construção da Estação Pinheiros, a Linha 4-Amarela foi Banco Mundial

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ESPAÇO LEITOR
Recentemente, foi o primeiro sistema a utilizar tecnologia de
O PROTAGONISMO DO METRÔ QRCode na venda de bilhetes e as inovações não param por aí.
EM SÃO PAULO NO BRASIL Em 2010, o Metrô de São Paulo entrou para a seleta lista
dos sistemas de metrô mais automatizados e seguros do mundo,
E PARA O MUNDO  com a implantação dos trens da Linha 4-Amarela, que funcionam
sem condutor. Na época da inauguração da Linha 4-Amarela, no
ROBERTA MARCHESI* mundo havia pouquíssimos sistemas que adotavam

V
ocê que anda no metrô na cidade de São esta tecnologia e nenhum deles nas Américas.
Paulo todos os dias não imagina que ele Mas o nosso metrô expandiu fronteiras e se
é também importante para todo o Brasil, juntou ao grupo do CoMET, um grupo mundial
para a América Latina ou mesmo para o mundo. seletíssimo, onde tem assento apenas os represen-
Desde que foi inaugurado, em 1974, o Metrô de tantes dos maiores sistemas de metrôs do mundo.
São Paulo tem desempenhado o papel de inspi- Os representantes do nosso metrô se sentam para
ração e aprendizado para que outros sistemas discutir inovação e tecnologia com operadores de
pudessem se desenvolver em outras cidades do Nova York, Paris, Moscou, Pequim e de diversas
Brasil e até mesmo em outros países. outras cidades do mundo, e levam conhecimen-
O Metrô de São Paulo é o primeiro siste- to e melhores práticas, aqui desenvolvidas, para o
ma de metrô do Brasil. Ele começou com uma restante do mundo.
única linha, a Linha 1-Azul, ligando Jaba- Não é à toa que em 2010, o Metrô de São Pau-
Roberta Marchesi
quara, na zona sul, a Santana, na zona norte, lo foi considerado o melhor sistema de transporte
com 16,7km de extensão. Atualmente, o sistema de metrô sobre trilhos da América Latina pelo “The Metro Awards” e, em
da capital paulista já conta com mais de 101km de extensão, agosto de 2015, foi eleito um dos melhores sistemas de metrô
divididos em 6 linhas, atendidas por 89 estações, sem contar do mundo pela revista americana “Business Insider”, sendo o
os projetos de ampliação em andamento, que somam mais de único sistema latino-americano a pertencer a essa seleta lista.
23,5km de trilhos pela cidade. Você, que utiliza o metrô da cidade no seu dia a dia, já sente
Como na época da sua implantação, não havia no Brasil pro- os efeitos positivos de escolher se deslocar dessa forma. Essa
fissionais especializados em sistemas de metrô foi enviado para vantagem, entretanto, está contabilizada no último Balanço Se-
os Estados Unidos um grupo de técnicos e engenheiros para torial publicado pela Associação Nacional dos Transportadores
adquirir conhecimentos de como funcionavam os complexos de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), que aponta que, cada
sistemas eletrônicos e elétricos imprescindíveis para garantir a vez que um passageiro utiliza os trens e metrôs do Brasil, ele
segurança na circulação dos trens. Outro grupo foi enviado à economiza, em média, 33 minutos em relação aos outros siste-
Cidade do México, na época, o metrô que mais transportava mas de transporte. Além disso, é um setor de transporte com
pessoas na América Latina, para aprender os conceitos e os pro- alta confiabilidade e dono de um indicador de regularidade de
cedimentos de como operar um sistema de grande capacidade. dar inveja: 96,7%. Ou seja, você sabe que o metrô vai chegar e
Esses grupos foram se especializando e, anos depois, foram que vai chegar na hora!
responsáveis por treinar equipes e auxiliar na implantação de Por essa razão, enquanto você se desloca dentro dos trens
diversos outros sistemas no Brasil e na América Latina, como o do metrô, uma equipe de funcionários, trabalha e discute as
Trem Metropolitano de Porto Alegre; o Metrô do Rio de Janei- melhores oportunidades de evolução, extensão de rotas, novas
ro; o Metrô de Recife; o Metrô de Belo Horizonte; o Metrô de linhas e tecnologias, tudo para melhorar o serviço que hoje já
Brasília, na Capital Federal; o Metrô de Caracas, na Venezuela, é prestado com maestria e levá-lo mais longe, para que mais
dentre tantos outros. pessoas possam usufruir dessas vantagens.
Por meio de um intenso processo de treinamento e capacita- O Metrô de São Paulo continua crescendo, sendo que atu-
ção, muitas vezes realizados internacionalmente, a expertise dos almente está expandindo duas de suas linhas e construindo ou-
profissionais do Metrô só cresceu ao longo dos anos e fez com tras duas totalmente novas. Ainda, está em fase de projeto duas
que a empresa estivesse sempre antenada com as melhores tecno- novas linhas, a expansão de várias outras, enfim, tornar-se uma
logias de cada época, trazendo inovações que contribuíram para das maiores redes de metrô do mundo, colocando mais trilhos e
a segurança e rapidez do sistema metroviário dos paulistanos. estações à disposição dos moradores da cidade.
No início da operação, o Metrô de São Paulo foi o primeiro É um metrô que não para, que evolui a cada dia, trazendo
no mundo a utilizar-se de tecnologia para uma operação com- o que há de melhor em inovação e tecnologia para o bem-estar
pletamente automática, o primeiro no Brasil a ter escadas ro- do passageiro de toda a região metropolitana. É um orgulho
lantes para facilitar a movimentação nas estações e permitir o dos paulistanos e uma referência para o Brasil e para o mundo.
acesso às estações por meio de bilhetes magnéticos. Além disso,  
na construção da Linha 1-Azul, foi empregada a máquina Shield, * Roberta Marchesi é diretora executiva da Associação
conhecida como tatuzão, jamais antes utilizada em zona urbana. Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre
Mais recentemente, o Metrô de São Paulo foi o primeiro da Trilhos (ANPTrilhos), graduada e Mestre em Economia,
América Latina a ter uma estação equipada com portas de pla- com pós-graduações nas áreas de Planejamento, Or-
taforma, garantindo maior segurança para todos os passagei- çamento, Gestão, Mobilidade e Logística e certificação
ros. Também foi o pioneiro na utilização de um sistema de con- internacional em Gestão de Transportes Ferroviários e
trole de movimentação de trens que proporciona o aumento das Metroferroviários
velocidades comerciais e reduz o tempo de espera nas estações. E-mail: contato@anptrilhos.org.br

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BRASIL / RÁPIDAS
BRASIL ENGENHARIA I

COMSA CORPORACIÓN

A COMSA EXECUTA AS OBRAS DE AMPLIAÇÃO DA


LINHA 4-AMARELA DO METRÔ DE SÃO PAULO
A COMS A, em co ns órci o com a

DIVULGAÇÃO
empresa brasileira de engenharia
Tiisa Infraestrutura e Investimentos,
concluiu em julho de 2021 as obras de
construção da segunda fase da Linha
4-Amarela do Metrô de São Paulo
(Brasil), uma das mais importantes
obras de infraestrutura na capital
nos últimos anos para melhorar
substancialmente a mobilidade dos
habitantes da cidade e que entraram
em serviço em dezembro de 2021.
O projeto para a segunda fase da
Linha 4-Amarela do Metrô de São
Paulo consistiu na construção de
dois novos quilômetros de túnel, o
comissionamento de quatro novas
estações, três poços de saída de
emergência e a execução de um
terminal rodoviário urbano.
Assim, a COMSA concluiu as obras
civis das estações Higienópolis-
Mackenzie, Oscar Freire, São
Paulo-Morumbi e Vila Sônia, além
de construir um trevo-terminal de
Túnel de Via Duplo - com revestimento
ônibus urbano anexo à estação Vila
secundário em concreto projetado
Sônia e completar o trecho que liga
Butantã e Vila Sônia.

DIVULGAÇÃO
A Linha 4-Amarela do Metrô de
São Paulo, que com essa expansão
tem extensão total de 12,8 km e 11
estações, liga o centro ao sudoeste
da cidade, atendendo mais de 1,7
milhão de passageiros por dia.
As obras da Linha 4-Amarela
d o M e t r ô d e S ã o Pa u l o f o ra m
adjudicadas à COMSA e à Tiisa em
2016 por 858,7 milhões de reais
(235 milhões de euros), entre dez
propostas apresentadas.
O empreendimento teve grandes
desafios de Engenharia durante
sua execução como mudanças de
projetos e metodologias durante sua
execução, destacando:
- Execução de Poço adicional para
viabilização do empreendimento Complexo Estação Vila Sônia – Linha
com liberação de três frentes de 4-Amarela – Metrô-SP

16
16 BRASILENGENHARIA
BRASILENGENHARIA 06/2022
06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM
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ataque para escavação dos túneis
DIVULGAÇÃO

duplos (Sentido Centro e Sentido


Bairro) e túnel singelo (Sentido
Bairro);
- Mudanças na metodologia dos
sistemas de enfilagens e pregagens
de frentes para escavação dos túneis
(CCPh por Sistema Autoperfurante);
- Substituição do concreto
secundário moldado in loco por
concreto projetado;
- Adoção do sistema de Parede
D i a f ra g m a c o m H i d ro f re s a e m
substituição ao sistema de Parede
Diafragma convencional, devido
dureza do maciço.
Com este projeto, a COMSA
fortaleceu sua presença no Brasil e
conseguiu manter-se como player
Esquema do empreedimento Segunda Fase –
Linha 4-Amarela – Metrô-SP
ativo no mercado de infraestrutura
do país, onde entrou em 2009.
A COMSA acaba de ganhar o
DIVULGAÇÃO

contrato para a conclusão do sistema


integrado de transportes de Belém,
conhecido como BRT Metropolitano,
no valor de 478 milhões de reais,
p o u c o m a i s d e 10 0 m i l h õ e s d e
euros. Junto a isso, a construtora
soma outros empreendimentos em
andamento em solo brasileiro, como
a construção da ponte sobre o Rio
Araguaia, que afeta a rodovia BR-
080, e a duplicação da rodovia BR-
101 entre as cidades de Rio Largo,
São Miguel dos Campos e Teotônio
Vilela, além de outros projetos.
O grupo espanhol COMSA
Implantação do Empreendimento – Trecho
Corporación encerrou o exercício
Estação Vila Sônia
de 2021 com presença em vinte
países e receitas próximas de 760
DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO

milhões de euros. A sua força de


trabalho é composta por mais de
5.200 trabalhadores e a carteira
em 31 de dezembro ultrapassava
1,45 bilhão de euros. Desta forma,
mantém-se como uma das dez
maiores construtoras do país e
entre as 150 maiores empreiteiras
internacionais do mundo.
A empresa ficou em 142º lugar no
ranking elaborado pela publicação
especializada ENR para o nível de
renda fora de seu mercado doméstico
no ano passado, melhorando mais de
Detalhes da Estação Vila Sônia dez posições em relação a 2020.

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BRASIL / RÁPIDAS
BRASIL ENGENHARIA I

VIBTECH INDUSTRIAL

DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS DE ISOLAÇÃO DE VIBRAÇÕES E


RUÍDO ESTRUTURAL EM LINHAS DE METRÔ
Ao longo da última década, a evolução A melhor solução do ponto de vista
tecnológica e diversos desenvolvimentos técnico e econômico é dada através de
permitiram a execução de novos projetos uma definição da correta tecnologia
de via permanente em conformidade associada a um dimensionamento
com requisitos rigorosos exigidos no adequado.
controle de vibrações e ruído estrutural Dentre as soluções possíveis, o sistema
(ruído secundário). Essas soluções de lajes flutuantes demonstrou ser
são fundamentais para o avanço da o mais vantajoso, em função de alta da rigidez vertical e horizontal dos
mobilidade urbana e garantem o capacidade de atenuação de vibrações, apoios elásticos bem como a massa da
convívio harmonioso entre as operações ruído secundário e a perfeita adequação laje podem proporcionar um sistema
dos trens em vias novas e as atividades às necessidades do projeto (Figura 1). mais eficaz na atenuação de vibrações.
humanas nas edificações lindeiras às De modo simples, o sistema massa mola, No entanto é necessário garantir um
vias, conforto acústico e preservação consiste em uma laje que é a massa (m), compromisso entre a necessidade de
de equipamentos sensíveis a vibrações. apoiada sobre elementos elásticos com atenuação vibratória e a segurança
As vibrações e ruído estrutural são rigidez (k) e amortecimento controlados. operacional, de maneira que a rigidez
oriundos do contato roda-trilho e podem Os elementos elásticos podem ser dos apoios seja suficiente para garantir
ser minimizados diretamente na fonte constituídos de elastômeros a base de a estabilidade da via.
através do dimensionamento adequado borracha natural ou molas helicoidais. A A performance do sistema massa mola
do sistema de mitigação de vibrações presença de unidades de amortecimento em termos de atenuação e vida útil
conhecido como sistema massa-mola. pode ser necessária quando o projeto é fundamental e deve ser objeto de
Este tipo de desenvolvimento deve exige frequência natural muito baixa. rigorosos ensaios, estáticos e dinâmicos,
levar em consideração os níveis de Para efeito de análise, podemos antes da implantação, visto que as
vibrações tolerados, dimensionamento considerar esse sistema com um grau de estruturas de via permanente possuem
adequado de rigidez vertical, liberdade no qual a frequência natural fatores limitantes em sua manutenção,
rigidez horizontal, amortecimento, é dada por: bem como a impossibilidade de
durabilidade, estabilidade e segurança. interrupção do serviço de transporte.
fn = 1 k
2p m Os conjuntos de fixação de trilhos
com dupla resiliência e rigidez
A definição das frequências naturais controlada ampliam os resultados em
necessárias ao longo da via faz parte termos de atenuação de vibrações e
do projeto acústico e deve ser de ruídos estruturais em trechos com
atendida pelo sistema massa e principalmente sem a presença do
Figura 1 - Laje com baldinhos mola. O adequado controle Sistema Massa Mola.

ZF

TECNOLOGIA INTELIGENTE PARA A SEGURANÇA NAS ESTRADAS


A ZF disponibiliza para o mercado da Systems) ou Sistemas Avançados de
DIVULGAÇÃO

América do Sul um portfólio de produtos Assistência ao Motorista para veículos


que aumenta exponencialmente a comerciais. Há ainda as tecnologias
segurança de caminhões e ônibus nas em sistemas de direção aplicáveis a
estradas do País. Uma de suas linhas de todos os tipos de plataformas. Como
produto, a chamada Dinâmica Veicular, resultado, a associação de tecnologias
trabalha com o que há de mais avançado ZF relacionadas à conectividade,
em tecnologias de freios ABS (Antilock segurança aprimorada e automação
Braking System), EBS (Electronic Braking completa conduzirá a evolução dos
System), Controle de Estabilidade, e veículos comerciais autônomos nos
ADAS (Advanced Driver Assistance próximos anos.

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CREG / METRÔ SP

DIVULGAÇÃO
MÁQUINA FABRICADA NA CHINA VAI
ESCAVAR OS TÚNEIS DA AMPLIAÇÃO
DA LINHA 2-VERDE
O Metrô encomendou a máquina através do Consórcio Linha
Shield para construir os túneis da 2-Verde (contratado pelo
ampliação da Linha 2-Verde, entre Vila Metrô). O equipamento
Prudente e Penha. O tatuzão, como é terá aproximadamente 100
conhecido, será fabricado na China, metros de comprimento,
chegará ao Brasil em meados de 2023 com roda de corte de 11,65 metros de medida do túnel que será construído,
para ser montado e iniciar os trabalhos diâmetro – maior que as rodas de corte que vai ter cerca de 12m de diâmetro
na região da Vila Formosa. usadas pelo Metrô na construção das ao longo dos cerca de 8km de extensão
A t u n e l a d o ra f o i a d q u i r i d a d a linhas 4-Amarela e 5-Lilás, que tinham entre o VSE Falchi Gianini (após a
empresa China Railway Engineering 9,41m e 10,58m respectivamente. Esse Estação Vila Prudente) e a Estação
Equipament Group Co. - CREG, tamanho da roda de corte determina a Penha.

THALES

MILÉSIMO RADAR DE VIGILÂNCIA DE TRÁFEGO

DIVULGAÇÃO
AÉREO NO MUNDO PARA OPERAÇÃO NO BRASIL
Em junho deste ano, a Thales celebra a digitais, os radares primários e secundários
excepcional marca de entrega global de da Thales desempenham um papel vital
1.000 radares de vigilância de tráfego aéreo. na vigilância do espaço aéreo em todo o
Essa milésima referência corresponde a um mundo, assegurando de forma ininterrupta
Radar de Vigilância Primária LP23SST NG, as informações de posicionamento das
montado em conjunto com um Radar de aeronaves.
Vigilância Secundária RSM970S, entregues Com 50 anos de experiência em controle
para o Departamento de Controle do e vigilância do espaço aéreo, a Thales
Espaço Aéreo do Brasil (DECEA). oferece a maior base instalada de radares
Reconhecidos pela confiabilidade do mundo, com 1.000 equipamentos
excepcional, desempenho inigualável e entregues a mais de 100 países espalhados
o que há de mais moderno em inovações pelos 5 continentes.

CASE CONSTRUCTION EQUIPMENT

CONSÓRCIO REGISTRA CRESCIMENTO DE MAIS DE 70%


Responsável pela administração do consórcio de
DIVULGAÇÃO

máquinas da CASE Construction Equipment, marca


pertencente ao grupo CNH Industrial, a administradora
Primo Rossi registrou um crescimento de 73% na
quantidade de cotas vendidas em 2021. Os resultados
têm como base comparativa 2020, período este que o
país ainda enfrentava picos da pandemia de Covid-19.
“Inevitavelmente a pandemia impactou todos os
segmentos da economia, gerando um temor inicial.
No entanto, nosso mercado de máquinas pesadas
apresentou certa estabilização em um primeiro
momento, chegando até a registrar um crescimento
extraordinário no ano”, enfatiza Vittorio Rossi Júnior,
sócio-diretor do Grupo Primo Rossi.

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BRASIL ENGENHARIA I

BRASIL ENGENHARIA TELEFONE: (11) 5575 8155


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PORTAL BRASIL ENGENHARIA

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BRASIL ENGENHARIA I INFR AESTRUTUR A

STM/SP: UM EXEMPLO DE
EXCELÊNCIA EM SERVIÇOS E DE
ATUAÇÃO EM PROL DA POPULAÇÃO
DE SÃO PAULO
Uma obra de Metrô é um empreendimento de grande
porte e de longa duração que não pode ser concluído em
apenas uma gestão de governo

E
m função da gigantes- grande vitória conquistada por meio do monotrilho da Linha 15-Prata do
ca complexidade que de uma atuação muito forte da STM/ Metrô e da CPTM, além de dar início
diariamente se apre- SP junto aos órgãos estatais, em par- às obras de ampliação desta, que de-
senta ao trabalho exe- ticular Procuradoria Geral do Estado, verão ser concluídas em 2025, perío-
cutado pela Secretaria a PGE. Hoje, a obra está a todo o va- do em que também está contratando
de Transportes Metropolitanos de São por, com um ritmo muito bom, geran- a produção de mais duas estações na
Paulo (STM/SP), o balanço que se faz do atualmente mais de 8.000 empre- direção ao leste, ligando a Vila Pru-
dele, sem dúvida alguma, é bastante gos, número esse que deve chegar a dente à Jacu- Pêssego. Mais recente-
positivo. Embora nessa lida, natural- mais de 9.000 já nos meses de agosto mente, a STM/SP autorizou o projeto
mente, os desafios sejam titânicos, e setembro deste ano. para fazer a Linha 15-Prata chegar até
e ainda exista muita coisa a ser fei- Outra iniciativa bem-sucedida diz a Linha 10-Turquesa da CPTM, até
ta, a desenvoltura desse órgão, hoje respeito à Linha 2-Verde do Metrô/ a Estação Ipiranga. Além disso, vale
sob o comando do engenheiro Marco SP, cujas obras de extensão do trecho ressaltar as concessões realizadas nas
Antônio Assalve, têm sido vencidos entre a Vila Prudente e a Penha es- Linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda,
com empenho extraordinário e exem- tavam paradas, envolvendo um con- que permitiram à ViaMobilidade rea-
plares. Nesse âmbito, todos aqueles trato de mais de 8,5 bilhões de reais, lizar pedidos de aquisição de 36 no-
apresentados pelo ex-governador que foram retomadas também em vos trens. E tão logo estes cheguem,
João Doria, bem como, agora, pelo 2019. Outra obra que estava parali- a concessionária vai devolver os trens
governador Rodrigo Garcia, foram sada era a da Linha 7-Rubi, da Com- que foram a ela emprestados pela
enfrentados com muita eficiência panhia Paulista de Trens Metropoli- CPTM, gerando ainda recursos para
e vontade no que tange, em termos tanos de São Paulo, a CPTM. A STM/ serem investidos por elas em suas de-
práticos, às soluções encontradas SP rescindiu o contrato dela, realizou mais cinco linhas.
para que, efetivamente, as maiores duas licitações, e, embora tenha ha- Em outras palavras, com tudo isso
intervenções no estado de São Paulo vido atraso, conseguiu avançar no também que a Secretaria vai conse-
tivessem continuidade. processo de regularização. Tanto é guir gerar não só uma melhoria nas
E exemplos que comprovam essa assim que, hoje, já existe o primeiro linhas concedidas, como também ob-
performance não faltam. Fazendo um protótipo de trem produzido na Chi- ter investimentos mais maciços nas
retrospecto, o primeiro deles é o da na, país para o qual serão enviados os linhas já em operação. Só para se ter
Linha 6-Laranja do Metrô – que vai engenheiros do Metrô, para realizar uma ideia das vantagens do proces-
ligar a região noroeste da cidade de os testes finais e liberar a produção sos de concessão feitos pelo estado de
São Paulo (Brasilândia) ao centro (São de demais trens por lá. São Paulo, com os 36 trens das linhas
Joaquim) –, cujo novo contrato, no 8-Diamante e 9-Esmeralda adquiridos
valor de 15 bilhões de reais, precisou MELHORIA CONSTANTE pela ViaMobilidade, mais os 26 trens
de muito esforço e muita criatividade E não para por aí, Ao longo dos adquiridos para a Linha 6-Laranja,
da parte da Secretaria para ser con- últimos anos, a Secretaria entregou foram, na prática, suficientes para
cluído. Sem dúvida alguma, foi uma nada menos do que cinco estações revitalizar e reimplantar a indústria

22 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


ferroviária no Brasil, permitindo um ços por parte do Metrô, com a garan- ronavírus exigiu e cobrou muito das
contrato com a Alstom, que gera hoje tia de maior regularidade e diminuição empresas de todos os setores da eco-
750 empregos na cidade de Taubaté, do tempo de intervalo entre os trens. nomia brasileira. E isso, em alguns as-
no interior de São Paulo. Neste ponto, ênfase ainda precisa pectos, gerou obviamente a necessi-
E, falando de grandes contratos ser dada ao projeto em curso da cha- dade de a STM/SP manter, mesmo que
viabilizados por grandes investimen- mada Cabine Seccionadora, que vai a duras penas, a oferta e a qualidade
tos, estão os ser viços de inovação, garantir o fornecimento de energia de seus serviços. E isso, é claro, sig-
como é o caso do Expresso Aeropor- e uma regularidade nificou que ela tinha
to de Guarulhos, por meio do qual, destas em todas as que mantê-las tanto
cada dia mais, vêm sendo reduzidos linhas da CPTM, um Outra iniciativa no âmbito do Metrô
os tempo das viagens, com mais re-
gularidade para o Aeroporto “Go-
projeto importantís-
simo de infraestru-
bem-sucedida diz quanto dos trens da
CPTM e dos ônibus
vernador André Franco Montoro”. tura, que vai ampliar respeito à Linha da EMTU, mesmo
Esse processo, que teve início com a nova confiabilidade uma quantidade
a oferta de um trem de manhã e um na operação, e dimi- 2-Verde cujas obras menor de passagei-
à tarde, hoje conta com um trem a
cada hora. Ou seja, a cada dia os ser-
nuir o intervalo entre
os trens. Para se ter
de extensão do ros, a fim de respei-
tar as exigências sa-
viços de transporte estão sendo me- uma ideia mais clara trecho entre a Vila nitárias relacionadas
lhorados e otimizados. do benefício que ela ao distanciamento
Finalmente, não se pode deixar de vai proporcionar, em Prudente e a Penha social. Assim, mes-
destacar também o Expresso da Linha
11-Coral da CPTM, que agora chega
2024, todas as linhas
deverão trabalhar
foram retomadas mo registrando uma
perda significativa
sem baldeação até Mogi das Cruzes, com intervalo de ape- de passageiros, isso
atendendo a um pedido antigo dos nas três minutos, sensivelmente me- teve que ser obrigatoriamente feito, o
usuários, assim como a ligação da Li- nor do que os de cinco a seis minutos que, logicamente, acarretou impactos
nha 10-Turquesa até a Linha 7-Rubi atuais. financeiros gigantescos ao sistema
da CPTM, que foi uma grande inova- E esse conjunto de iniciativas, por como um todo, o que, na verdade, não
ção a serviço da população. Isso tudo, si só, deixa muito claras as marcas que aconteceu só no Brasil, como também
sem falar de inovações muito impor- o atual governo de São Paulo está dei- no mundo todo.
tantes implementadas pelo trabalho xando na área de transportes de São Mas vale destacar mais uma vez
da Secretaria no estado de São Paulo, Paulo, que pode ser resumido em ne- que mesmo a queda das operações
como, por exemplo a criação do Car- nhuma obra parada, todas elas reto- financeiras aportadas pela pandemia
tão Top, que vai proporcionar aos ci- madas, embora, no começo da pande- não trouxe para o sistema impactos
dadãos acesso às formas mais moder- mia da COVID-19, esse processo tenha nem a qualidade e nem na oferta dos
nas de acessar e adquirir seus bilhetes sido obstaculizado por um natural serviços de transporte urbano do es-
de viagem por meio de um aplicativo, déficit orçamentário. Porém, indepen- tado de São Paulo, benefícios esses
que permite a compra destes por meio dentemente disso, com as retomadas que a Secretaria de Transportes Me-
de recursos digitais, tais como o QR- das obras, ficou mais do que cristalino tropolitanos conseguiu manter de
Code e o WhatsApp. que o governo de São Paulo encarou maneira exemplar. Tudo aquilo que
e continua enfrentado todos os pro- tinha a ver, por exemplo, com a ma-
INVESTIMENTOS ROBUSTOS blemas e desafios, sempre em busca nutenção dos trens, com a quantidade
O total de investimentos nessas de soluções. Esse, aliás, esse é, em das viagens, com a higienização dos
principais obras é também algo que particular, o perfil do governador Ro- trens e das estações, foi e continua
impressiona. Atualmente, a STM/SP drigo Garcia, que tem acompanhado sendo feito de maneira perfeita e cada
tem contratados nada menos do que todos os processos com a Secretaria vez mais superlativa.
32 bilhões de reais nessas obras de de Transportes Metropolitanos, libe-
retomada, incluindo obras de infraes- rando todos eles, o que tem sido fun- CONCESSÕES EM TELA
trutura, entre as quais merecem des- damental não só para a continuidade Outro aspecto de relevância ao
taque aquelas do Sistema de Controle das obras, como também para que esta longo dessa trajetória diz respeito aos
de Trens Baseado em Comunicação, última pudesse efetivar tantos investi- processos de concessão para as obras
CBTC, da sigla em inglês Communi- mentos e gerar tantos empregos. de infraestrutura do governo do esta-
cations-Based Train Control, que está do de São Paulo, algo que, sem dúvi-
sendo implantado em todas as linhas. LIÇÕES DA PANDEMIA da alguma, foi facilitado pela enorme
E a meta, é claro, é modernizá-las e Como já foi dito aí atrás, sem dú- experiência que este tem nessa área
garantir a melhor prestação de servi- vida alguma, a pandemia do novo co- – provavelmente a maior no Brasil –,

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BRASIL ENGENHARIA I INFR AESTRUTUR A

somada ao não menos imenso respei- adquiridos pela ViaMobilidade não teria Ainda com relação aos estudos,
to alimentado por ele pela iniciati- sido possível pelo processo normal da a Secretaria também vem avançando
va privada. Trata-se de um histórico CPTM, considerando até o prazo maior com aqueles da Linha 20-Rosa, que
muito favorável e muito reconhecido e necessário para a contratação. Assim, atualmente visa a conectar Santo An-
pela competência em realizar esses não restam dúvidas de que dinheiro vin- dré com a região da Lapa. Trata-se
processos com seriedade e com aten- do da iniciativa privada para o sistema de um projeto bastante inovador que
ção aos compromissos estabelecidos de transportes de São Paulo consegue está sendo cogitado pelo Metrô, e que
nos contratos assinados. antecipar a qualidade de vida do cida- deverá ser implementado com tudo o
E não haveria como ser diferen- dão de São Paulo. que há de mais moderno em termos
te, porque o respeito aos contratos Mas, é claro que, embora os pro- de conceitos técnicos de operação.
foi absolutamente fundamental, por cessos de concessões em sistemas E outro projeto que também está em
exemplo, para a realização dos robus- metroferroviários guardem, até em fase adiantada de estudos é o da Li-
tos investimentos que foram e ainda termos de amadurecimento, alguma nha 19-Celeste, que será a primeira
serão feitos pela iniciativa privada semelhança com aqueles das con- linha de metrô a atender ao município
nas linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, cessões rodoviárias, trata-se de ini- de Guarulhos, em esquema de suporte
cujo total gira em torno dos R$ 4 bi- ciativas muito diferentes, porque, no à Linha 13-Jade do sistema ferroviá-
lhões. Com efeito, a mobilidade urba- caso dos primeiros, é preciso consi- rio suburbano, que já atende aquela
na no estado de São Paulo necessita derar aspectos tais como a tarifa e a cidade desde 2018.
– e muito – da participação da ini- presença dos passageiros. Em outras
ciativa privada, para poder avançar e palavras, a lógica financeira é ou- TRENS INTERCIDADES
prestar um bom serviço à população. tra, e o investimento também é ou- Além de todos esses, outros plane-
Nesse sentido, o Metrô tem estudos tro por conta de tais especificidades. jamentos importantes estão no radar
para duplicar sua rede em 20 anos. da Secretaria de Transportes de São
Só que isso vai depender dos avan- ESTUDOS EM ANDAMENTO Paulo. É o caso do Plano Integrado de
ços da capacidade financeira. Assim, Ainda falando das concessões, Mobilidade Urbana da Região Metro-
contar com iniciativa privada fazendo merecem destaque os trâmites para o politana de São Paulo para até 2040,
investimentos adicionais, também é projeto de extensão da Linha 5-Lilás contando com a participação de todos
uma garantia de prestação de servi- do Metrô. A extensão da Linha 5-Lilás os municípios do estado, de diversas
ços qualidade. até o Jardim Ângela é um projeto desa- universidades e de entidades civis.
Atualmente, os in- fiador que já está em Com relação ao Trem Intercidades, o
vestimentos em trans-
porte que vem sendo
Vale ressaltar elaboração, e deve
ser contratado com
TIC, a STM/SP recebeu recentemente
a excelente notícia da aprovação fei-
realizados por ela or- as concessões a participação da ini- ta pelo Tribunal de Contas da União
bitam cifras gigan- ciativa privada, o que (TCU) da segregação de carga, com a
tescas. Por exemplo, realizadas nas deve acontecer tam- prorrogação antecipada do contrato
a Linha 6-Laranja do
Metrô conta com nada
linhas 8-Diamante bém com a amplia-
ção dessa linha até
de concessão da Ferrovia Malha Re-
gional Sudeste (MRS) até o ano de
menos do que R$ 7,5 e 9-Esmeralda, Taboão da Serra. E 2056, o que vai ajudar a viabilizar o
bilhões vindos da ini- a ideia é que a Linha TIC. A Secretaria já está trabalhando
ciativa privada. E já que permitiram 4-Amarela do Metrô há três anos e meio nesse projeto, que
nas linhas 8-Diamante
e 9-Esmeralda, serão
à ViaMobilidade também chegue ao
Taboão, rompendo,
é bastante desafiador e complexo em
termos de engenharia, porque envol-
4 bilhões de reais que realizar pedidos de assim, os limites da ve duas obras concomitantes, que de-
serão aportados por capital paulista, pro- verão ser feitas em grande parte do
ela. Então, apenas a 36 novos trens posta essa, aliás, que trecho com os trens circulando, o que
constatação desses já teve o início dos irá requerer uma estratégia muito so-
valores, além de já dar uma ideia do estudos autorizado pelo governador fisticada a ser feita tanto pela MRS
montante, são suficientes também para Rodrigo Garcia. Mas, naturalmente, quanto pela equipe da Secretaria e da
deixar claro que, com os recursos da a contratação da concessionária, em CPTM. E a boa notícia também é que,
iniciativa privada, o volume dos investi- função de todos os ajustes para ma- até o final de 2022, o edital do TIC
mentos dela inegavelmente conseguem terializá-la não conseguirão ser feitos deverá ser apresentado.
acelerar o processo de oferta de servi- na atual gestão, o que não contrasta, Segundo os planos da STM, o
ços melhores para o cidadão. Sem esses de maneira alguma, com o desejo da projeto do Trem Intercidades deverá
recursos, a citada compra dos 36 trens STM/SP de deixá-la bem encaminhada chegar até Campinas e Jundiaí com as
das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda para o próximo governo. linhas 19-Celeste e 20-Rosa. Na ver-

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dade, ele deverá contemplar três tipos já tem essa concessão. Mas, na prá- qual empresas como o Metrô de São
de serviços: o primeiro, com a Linha tica, é preciso ver ainda como será Paulo e a CPTM fazem questão de
7-Rubi ligando a Barra Funda a Fran- alinhado o projeto de extensão até se debruçar, por que ambas têm em
cisco Morato; o segundo um Trem aquela cidade. Então, a primeira coisa seu DNA a busca constante por ino-
Intermetropolitano (TIM), que vai li- dessa pauta é fazer o primeiro projeto vações em sua constante busca pela
gar as regiões metropolitanas de São decolar, concretizando inicialmente a utilização cada vez mais frequente de
Paulo com Campinas e Jundiaí, com proposta do TIC-Eixo Norte, que, nes- energias renováveis, até mesmo pela
o trem que é o transporte de massa, se estágio deverá chegar até Campi- troca de processos para poder ampliar
no caso de alta capacidade, que vai nas e, depois, até Americana. o atendimento do transporte das ci-
passar por Francisco Morato, Fran- Além dos benefícios atrelados à dades, melhorando a qualidade de ar
co da Rocha, Caieiras, Campo Limpo, melhoria do transporte de passagei- e a do meio ambiente como um todo.
Várzea Paulista e Jundiaí, seguindo ros, os Trens Inter- A materialização
depois para Louveira, Vinhedo, Va- cidades, com toda a de tantas iniciativas
linhos e Campinas; e o terceiro, que certeza, irão contri- Merece destaque o e projetos concomi-
será concedido no edital será o TIC,
que é o transporte que virá de Cam-
buir para o desen-
volvimento econô-
Sistema de Controle tantes, é claro, vai
levar tempo. Mas,
pinas com uma parada em Jundiaí até mico das cidades e de Trens Baseado em termos gerais, a
São Paulo, que deverá ser um trans- regiões que eles vão síntese das priorida-
porte de passageiros sentados, com ar atingir. Hoje, as es- em Comunicação, des e compromissos
condicionado. Juntos, os três serviços
deverão atender à demanda de cerca
tradas de ligação às
regiões mencionadas
CBTC, que está atuais da Secretaria
de Transportes Me-
de 560.000 passageiros por dia. estão completamente sendo implantado tropolitanos de São
Em termos de prazos para esse comprometidas para Paulo prevê, em ter-
projeto sair do papel, a intenção da o acesso rápido das em todas as linhas mos mais imediatos
Secretaria de Transportes Metropoli- pessoas às regiões – leia-se até o final
tanos de São Paulo é de que isso acon- metropolitanas. Essa, aliás é a tendên- de 2022 – a continuidade a todos os
teça no menor hiato possível, embora cia que se observa no Eixo-Campinas, robustos contratos das linhas 2-Verde,
os trâmites para isso dependam, na- uma vez as rodovias Anhanguera e 6-Laranja e 7-Rubi, além da entrega
turalmente, do fechamento de alguns Bandeirantes estão sempre congestio- da estação Varginha da Linha 9-Es-
convênios. A parte de engenharia está nadas nos horários de pico. meralda – ViaMobilidade. Simultanea-
basicamente fechada, e a STM/SP está Assim, as questões de f luxo e de mente, a Secretaria também pretende
trabalhando agora no convênio bási- economia se entrelaçam de forma continuar avançando nos projetos da
co com o MRS, que é bem detalhado, inegável, porque o problema tanto extensão da Linha 5-Lilás até o Jar-
com todas as interações entre linhas do transporte de carga quanto aquele dim Ângela, e da extensão até Taboão
de carga e de passageiros. de passageiros é, seguramente, uma da Serra, além das obras de extensão
realidade acachapante. E vale lembrar da Linha 15-Prata.
UMA DEMANDA ANTIGA que além da questão da viabilidade Porém, nunca é demais lembrar:
Acerca da questão, é notório o econômica, o aspecto ambiental tam- uma obra como uma de Metrô é um
fato de que as demandas por Trens bém deve e precisa ser considerado. empreendimento de grande porte e
Intercidades em municípios mais dis- E essa é uma questão que favorece e de longa duração, que nunca pode
tantes da capital paulista são muito será amplamente contemplada pelos ser concluído em apenas uma gestão
antigas, já tendo pelo menos cinco TICs, uma vez que eles serão todos de governo. Trata-se de um projeto
décadas. Contudo, paradoxalmente, elétricos, com consumo de energia de longo prazo, tanto no que con-
esse serviço foi descontinuado na dé- renovável, e não de combustíveis fós- cerne à definição do projeto fun-
cada de 1990. Mas, hoje, obviamente, seis. Portanto, para boa equalização cional quanto à sua contratação.
a necessidade para ligar essas metró- das questão do meio ambiente, os Assim, é absolutamente necessário
poles é premente. Por conta disso, a trilhos também são e serão cada vez que as próximas gestões de governo
Secretaria está iniciando hoje com o mais fundamentais. em São Paulo se alinhem ao trabalho
TIC-Eixo Norte, e, depois, já tem no da STM/SP, e mantenham o compro-
radar o estudo da extensão até So- PROJETOS PRIORITÁRIOS misso desta, com o objetivo claro de
rocaba, que deverá ser feito mais à Com efeito, a questão energética integralizar um conjunto sólido, para
frente, pelo próximo governo. E, só também vem sendo, sem dúvida, pen- oferta, uso e benefício de toda a po-
depois é que serão discutidas as ex- sada e contemplada quando se fala pulação do estado. Aliás, é a única,
tensões para Santos e São José dos em inovação no transporte em termos mais produtiva e possível forma de
Campos. Vale lembrar, que Sorocaba gerais. E esse é um trabalho sobre o se fazer isso.

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BRASIL
BRASIL ENGENHARIA
ENGENHARIA II LIDER ANÇ A EM FOCO

“Vamos deixar um caminho


pavimentado para que o Metrô
prossiga melhorando”
Com bastante frequência, o administrador Silvani que o Metrô prossiga melhorando”, garante ao
Alves Pereira, diretor-presidente da Companhia detalhar que a companhia investiu em expansão,
do Metropolitano de São Paulo – Metrô, informa modernização e segurança. Por exemplo, con-
na rede social Linkedin sobre os avanços nas tratou as portas de plataforma para as estações
obras e outras importantes ações da companhia. das linhas 1-Azul, 2-Verde e 3-Vermelha; instalou
Atualmente, são 16 frentes de trabalho. portas de plataforma em todas as estações da
“Iniciamos as obras de expansão da Linha 2-Ver- Linha 5-Lilás, inclusive nas estações mais antigas;
de até Penha, que beneficiarão além das novas colocou a versão final do CBTC (Controle de Trens
regiões onde terão as estações, mas também Baseado em Comunicação) na Linha 2-Verde e já
os passageiros da Linha 3-Vermelha com uma está na etapa de testes desse sistema nas linhas
alternativa ao centro de São Paulo. Além disso, 1-Azul e 3-Vermelha.
na zona leste de São Paulo, temos as obras da “No caminho da segurança, compramos Body-
Linha 15-Prata em direção a Jacu-Pêssego e Ipi- Cams, que são as câmeras nos uniformes, para
ranga. Na zona sul, a Linha 17-Ouro que terá uma ampliar a transparência na atuação dos agentes
ligação rápida ao Aeroporto de Congonhas, na de segurança. Estamos avançando com a mo-
zona norte com a Linha 19-Celeste, chegando ao dernização do nosso sistema de monitoramento
município de Guarulhos. A Linha 20-Rosa, ligando eletrônico, que chamamos de SME3, um produto
o bairro da Lapa até Santo André”, anunciou na avançado que vai prover suporte operacional
rede social no dia 17 de junho. através das câmeras que poderão gerar alertas
Na liderança do Metrô desde janeiro de 2019, como em casos de entrada de passageiros na via.
Pereira avaliou, em entrevista exclusiva à revista Já colocamos quase 500 novas câmeras do SME3
BRASIL ENGENHARIA, seus mais de três anos nas estações da Linha 3-Vermelha. Também temos
à frente da companhia, o legado da sua admi- processos de melhorias na manutenção, com o
nistração e as principais ações previstas até o Sistema de Monitoramento de Ativos que vem
fim deste ano. sendo implantado gradativamente e nos permite
“Vamos deixar um caminho pavimentado para mais agilidade nas ações preventivas, relata.
FOTOS: DIVULGAÇÃO METRÔ

28 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


FOTO: DIVULGAÇÃO

Silvani Alves Pereira


Diretor-presidente da Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô

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BRASIL ENGENHARIA I LIDER ANÇ A EM FOCO

P
ara Silvani Pereira, 2019 ocupou importantes cargos públicos e na nosso público, que tem pessoas com muito
foi o ano de retomada das iniciativa privada, como secretário-execu- ou pouco acesso à equipamentos culturais.
obras, 2020, o ano do desa- tivo do Ministério das Cidades, secretário Para essas pessoas, nós procuramos colo-
fio em virtude da pandemia nacional de Políticas Públicas do Ministério car em seu caminho diário um pouco de
de Covid-19 e 2021, o ano do Trabalho, entre outros. leveza com arte, com exposições e orien-
da renovação e das entregas. “De forma tações também. Para 2022, nós prevemos
inédita, conseguimos iniciar e concluir uma – Na sua avaliação, qual o impacto ampliar as ações culturais, além de seguir
estação em uma mesma gestão, que foi a do Metrô em São Paulo, além da mobi- com nosso projeto de restauração de obras
Jardim Colonial, construída em pouco mais lidade? Ele tem uma função social tam- do acervo permanente, cuidando com mui-
de dois anos. Também retomamos a am- bém, não é? to carinho desse patrimônio cultural que é
pliação da Linha 2-Verde até Penha e atual- “O impacto do Metrô na mobilidade é da população de São Paulo.”
mente estamos com 16 frentes de trabalho”. algo já consolidado e inquestionável. Fazer
Ele ainda relaciona, entre os desafios o transporte de milhões de pessoas todos – O Metrô de São Paulo é uma refe-
iniciados e a serem concluídos em sua ges- os dias com segurança, rapidez e confiabi- rência, como um dos melhores cuidados
tão, a expansão da Linha 15-Prata até Jacu- lidade ao longo de décadas torna o Metrô no mundo, com alta tecnologia, mas
-Pêssego, o processo de aquisição de novos fundamental para São Paulo. Mas não se considerado muito lotado e pequeno
trens, modernizando os sistemas de sinali- resume a isso. O Metrô virou uma marca de (em abrangência) se comparado a ou-
zação e controle dos trens das linhas 1-Azul São Paulo por seu vasto incentivo à cultura. tros sistemas, como o do México, e à de-
e 3-Vermelha. Você passa pelas estações e vê obras de arte manda. Qual sua avaliação sobre essas
A atual gestão do Metrô de São Paulo do acervo permanente ou exposições que considerações? Como ampliar as linhas
também inovou com o primeiro projeto de estão em uma agenda semanal com novida- com maior velocidade?
Namimg Rights no transporte público. Este é des. Temos também o compromisso social, “Primeiro, nós temos que pensar em
um projeto de renomeação de estações, por com parcerias para ofertar em nossas esta- uma rede. As quatro linhas operadas pelo
meio de licitação, e é uma das maneiras de ções para ações de saúde e campanhas in- Metrô estão em uma rede com outras nove
injetar recursos financeiros não tarifários na formativas e de orientação. Isso é o Metrô: linhas, entre metrô e trem urbano, que
companhia, que acumula prejuízo bilionário um local de apropriação da população que chegam a 377 km de extensão e alcançam
em 2020 e 2021. Das seis estações licitadas, não se resume ao transporte. Nós também 23 diferentes municípios. O passageiro
duas foram cedidas, Carrão e Saúde. somos responsáveis por gerar um benefício paga uma passagem única de 4,40 reais e
Para este ano, o diretor-presidente do social que equivale a 8,6 bilhões de reais, tem acesso a toda essa rede com transpor-
Metrô informa que vai realizar novas licita- graças ao funcionamento da nossa rede te rápido que, inclusive, transpõe a região
ções, como a da expansão da Linha 15-Prata que evita acidentes e gastos em saúde, não metropolitana. Pensando somente na rede
até o Ipiranga e da compra de 44 novos trens polui e proporciona viagens rápidas, evi- de metrô, já avançamos os 100 km de ex-
que vão para a ampliação da Linha 2-Verde e tando também congestionamentos.” tensão e estamos melhorando os processos
para reforçar as linhas 1-Azul e 3-Vermelha. construtivos. Vamos pegar a Estação Jar-
“Inclusive, recentemente, demos um impor- – Em comparação a outros metrôs dim Colonial como exemplo, onde começa-
tante passo nessa direção com a realização no mundo, o Metrô de São Paulo tam- mos e concluímos a estação em um mesmo
da audiência pública. Também trabalhamos bém consegue ter a função de fomentar mandato, com pouco mais de dois anos.
para contratar as obras civis e sistemas do a cultura? Quais as principais barreiras? Isso é inédito e nos mostra um caminho.
novo túnel de ligação entre as estações O que está previsto nessa linha para Em outra frente, nós trabalhamos para tra-
Consolação (Linha 2-Verde) e Paulista (Li- 2022? zer novos modelos de financiamento para
nha 4-Amarela)”, informou. “Para nós, é importante proporcionar novas linhas. Estamos elaborando o Finan-
Leia a seguir, a entrevista completa ao passageiro uma boa experiência de via- cial Advisory, que vai buscar o melhor mode-
com Silvani Pereira, que também preside o gem e oferecer cultura é parte disso. O in- lo econômico para atração de capital para
Conselho de Administração da Companhia centivo à cultura já está na raiz do Metrô. E construir a Linha 20-Rosa, que vai ligar o
Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e já nós sabemos muito bem da diversidade de ABC à capital. Para a Linha 19-Celeste, que
FOTOS: ANDRÉ SIQUEIRA

30 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


vai ligar Guarulhos ao centro de São Paulo, surgiram nesse período e que devem ter shoppings anexos às estações, concessão
nós estamos tocando um estudo mercado- continuidade? da publicidade no sistema e outras ações.
lógico que vai mostrar a melhor forma de “No aspecto administrativo e de manu- Hoje, a receita não tarifária representa
exploração comercial dessa linha, podendo tenção, tivemos grandes avanços, inclusive cerca de 15% do total arrecadado pelo
trazer o investimento privado para ajudar com a criação de um Núcleo de Inovação Metrô com as tarifas.”
no financiamento.” Tecnológica (NIT) e do Programa Labora-
tório de Ideias (Plim) para estimular a ino- – Também em 2020, a Companhia
– O Metrô de São Paulo registrou vação. Há diversos projetos inovadores em estava implementando a gestão 5.0. O
um tombo histórico em suas receitas andamento para melhoria de processos. que mudou na gestão do Metrô desde
no ano de 2020, terminando o ano com Isso é estratégico no pla- então?
um prejuízo inédito de 1,7 bilhão de re- no de atuação do Metrô e, “Houve avanços. A
ais. O resultado é decorrente da queda com ou sem pandemia, já “Trabalhamos cultura da Gestão 5.0, que
do número de passageiros no sistema era uma diretriz a seguir.” para trazer é a gestão moderna e sus-
por causa da pandemia do coronaví- tentável, vem se fortale-
rus, segundo o próprio Metrô. Na crise, – O que o senhor novos modelos cendo. Nós criamos o NIT,
a empresa retirou trens de circulação e pode nos adiantar sobre de financiamento que é o Núcleo de Inova-
aumentou o tempo de espera nas pla- o Relatório Anual Inte- ção Tecnológica, traba-
taformas quando os passageiros pre- grado do Metrô? para novas lhamos na Transformação
cisaram estar mais distantes uns dos “Primeiro, posso res- linhas” Digital para automatizar
outros. O senhor avalia que foi a melhor saltar o compromisso do operações em grande es-
solução? Metrô com a transparên- cala, estamos atualizando
“Pelo contrário, durante a pandemia, o cia, publicando anualmente um relatório o regulamento de contratações e compras,
Metrô manteve a oferta máxima possível integrado empresarial. O relatório desse avançando no domínio do conhecimento
de trens em circulação, apesar da demanda ano vai mostrar a consolidação do Metrô para encomendas tecnológicas, que é mui-
de passageiros ter chegado a cerca de 20% em seu planejamento estratégico, apoiado to importante para uma empresa inovadora
do total. Não houve aumento de interva- pela cultura da inovação e sustentabilida- como o Metrô. Criamos um Centro de Ser-
los e ainda incrementamos o serviço com de para buscar o fortalecimento da empre- viços Compartilhados que nos traz muito
monitoramento em tempo real da demanda sa, a expansão da rede e a modernização mais agilidade e economias, além de uma
nas estações para responder rapidamente operacional. Outro ponto importante que melhor gestão de contratos. Trabalhamos
em qualquer sinal de aumento da quanti- vocês poderão ver é o apoio do Metrô na também em novos sistemas de gestão de
dade de passageiros. A limpeza, que já era cultura ASGI (Ambiental, Social, Governan- documentos e orçamentos matriciais. Tudo
referência positiva do Metrô, foi ampliada, ça e Integridade) em compromisso às boas isso vai nos trazer economia, modernida-
com os trens sendo higienizados ao fim de práticas de gestão. Em resumo, o relatório de e agilidade para a tomada de decisões,
cada viagem, além da lavagem profunda vai mostrar uma empresa muito focada em além de nos tornar ainda mais competitivos
durante as madrugadas. Paralelamente, nós se equiparar às mais modernas companhias como empresa.”
trabalhamos muito para obter novas re- em busca da sustentabilidade e melhorias.”
ceitas e conseguir economias em âmbitos – Quais as licitações previstas para
administrativos. Conseguimos economia – Em entrevista à BRASIL ENGE- este ano, além da que prevê o forneci-
significativa com a adoção de teletrabalho, NHARIA, em 2020, antes da pandemia mento e implementação dos sistemas
desocupação e venda de edifícios, além de e há um ano à frente da Companhia, o de alimentação elétrica para o trecho
conseguirmos a concessão de terminais de senhor falou sobre seu projeto de am- WL (Linha 17-Ouro e CPTM)? Pode falar
ônibus anexos às estações e de espaços co- pliar a receita não tarifária em 15% e o sobre a importância delas?
merciais das linhas, trazendo receitas e me- desafio de manter meios sustentáveis “Além do sistema de alimentação elé-
lhorias aos passageiros.” de manter o Metrô na vanguarda. Como trica da Linha 17-Ouro – linha essa que nós
evoluiu essa questão? conseguimos retomar contratos importan-
– Em 2021, como ficaram as opera- “É um trabalho intenso, mas já estamos tes de obras, trens e sistemas, nós devemos
ções, em número de trens em operação, conseguindo resultados. Nesse período, ter a licitação para contratar a expansão da
passageiros e faturamento? conseguimos fazer a concessão comercial Linha 15-Prata até o Ipiranga. No fim de
“Houve uma tendência do aumento das estações das linhas 1-Azul e 2-Verde, 2021, nós havíamos contratado a ampliação
gradual da demanda de passageiros e man- além da concessão dos terminais de ônibus dessa linha até Jacu-Pêssego. Também nes-
tivemos oferta máxima em nossa operação. anexos às estações que vão trazer receita, se ano, vamos avançar com o processo para
Assim como no auge da pandemia em 2020, gerar economia na manutenção dos espa- contratar 44 novos trens que vão para a
nosso passageiro pôde contar com o servi- ços e proporcionar melhorias nesses locais, ampliação da Linha 2-Verde e para reforçar
ço regular e essencial prestado pelo Metrô.” com a construção de comércios, serviços e as linhas 1-Azul e 3-Vermelha. Inclusive,
até mesmo moradias. Também consegui- recentemente, demos um importante passo
– A pandemia, fora os aspectos ne- mos o inédito Naming Rights do transporte nessa direção com a realização da audiência
gativos, como a queda na circulação público em São Paulo para duas estações, pública. Também trabalhamos para contra-
de passageiros, teve também aspectos associando-se à duas grandes marcas. Es- tar as obras civis e sistemas do novo túnel
positivos para o Metrô, como anteci- sas são as novidades, além do quê, já fa- de ligação entre as estações Consolação (Li-
pação de tecnologia, novas regras que zíamos a concessão de espaços para cinco nha 2-Verde) e Paulista (Linha 4-Amarela).”

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BRASIL ENGENHARIA I LIDER ANÇ A EM FOCO

– Quando o senhor assumiu a pre- clusão da Linha 17-Ouro, que foi retomada nhada de um amplo projeto paisagístico
sidência, apontou a modernização do após nossa intervenção para rescisão de que revitalizou as regiões e que tem or-
sistema, a melhoria das operações e a contratos, e a ampliação da Linha 15-Prata çamento de implantação inferior ao metrô
segurança como principais desafios. que está começando.” convencional subterrâneo.”
Quais os obstáculos? O que foi feito
nesses três anos? – Qual sua avaliação sobre o proje- – Como o senhor avalia esses três
“Fizemos muito nesses três anos e va- to Naming Rights? Por que não houve anos da sua administração? Quais os
mos deixar um caminho pavimentado para mais empresas interessadas? principais desafios e conquistas?
que o Metrô prossiga melhorando. Conse- “Temos que analisar “Foram três anos mui-
guimos contratar as portas de plataforma que é um projeto inédito to intensos e produtivos.
para as estações das linhas 1-Azul, 2-Verde em São Paulo. Não havia “Já avançamos os Se pudéssemos resumir:
e 3-Vermelha. Inclusive, já há algumas a precedentes. Por isso, fo- 100 km de extensão 2019 foi o ano da reto-
caminho do Brasil para serem instaladas. mos ao mercado com uma mada de todas as obras;
Instalamos portas de plataforma em todas consultoria para analisar e estamos 2020 tivemos o desafio de
as estações da Linha 5-Lilás, inclusive nas o potencial das estações. melhorando superação durante a pan-
estações mais antigas. Colocamos a versão Mas, é importante saber demia; e 2021 foi o ano
final do CBTC na Linha 2-Verde e já estamos que é algo novo ao mer- processos da inovação e entregas.
na etapa de testes desse sistema nas linhas cado também. Então, lan- construtivos” De forma inédita conse-
1-Azul e 3-Vermelha. No caminho da çamos um lote inicial com guimos iniciar e concluir
segurança, compramos BodyCams, que são poucas estações e fomos uma estação em uma
as câmeras nos uniformes, para ampliar a bem-sucedidos na parceria das marcas com mesma gestão, que foi a Jardim Colonial,
transparência na atuação dos agentes de as estações Carrão e Saúde. Já é um cami- construída em pouco mais de dois anos.
segurança. Estamos avançando com a mo- nho e vamos aperfeiçoando.” Também retomamos a ampliação da Linha
dernização do nosso sistema de monitora- 2-Verde até Penha e atualmente estamos
mento eletrônico, que chamamos de SME3, – O monotrilho não é uma unanimi- com 16 frentes de trabalho. No período da
um produto avançado que vai prover su- dade entre passageiros e especialistas. pandemia, enfrentamos a crise com todos
porte operacional através das câmeras que Qual a sua avaliação? Por que é a me- os nossos recursos e competência, criando
poderão gerar alertas, como em casos de lhor opção nos locais onde está sendo protocolos de higiene e limpeza. Também
entrada de passageiros na via. Já coloca- implantado? fomos os pioneiros na obrigatoriedade do
mos quase 500 novas câmeras do SME3 “A Linha 15-Prata foi muito bem acei- uso de máscara. Saímos na frente com
nas estações da Linha 3-Vermelha. Também ta pelos passageiros. Ela foi a linha do o primeiro projeto de Namimg Rights no
temos processos de melhorias na manuten- Metrô com a melhor avaliação na pesquisa transporte público e iniciamos a reformu-
ção, com o Sistema de Monitoramento de de satisfação superando 70% de aprova- lação de nosso sistema de monitoramento,
Ativos que vem sendo implantado gradati- ção. O que nós vemos é uma linha que com equipamentos modernos. Ainda temos
vamente e nos permite mais agilidade nas é muito importante nas regiões por onde muito trabalho e já começamos a expandir
ações preventivas.” passa e que traz economia de tempo de a Linha 15-Prata até Jacu-Pêssego, esta-
viagem de quase 40 minutos ao morador mos no processo de aquisição de novos
– Quais os principais projetos para do extremo leste para chegar ao centro, trens, modernizando os sistemas de si-
2022? Quais as principais dificuldades por exemplo. Se pegarmos o trajeto de nalização e controle dos trens das linhas
para destravá-los? ida e volta, é quase uma hora e meia de 1-Azul e 3-Vermelha, além de instalar por-
“Temos projetos que são obras muito economia todos os dias. Nós estamos fa- tas de plataforma nas estações e trabalhar
importantes para São Paulo e isso os torna lando de uma linha que atende à quan- na modernização do Centro de Controle
desafiadores por natureza. Temos a obra tidade prevista de passageiros, seguindo Operacional. Os desafios são muitos, mas é
da ampliação da Linha 2-Verde para seguir, os estudos de demanda. Ela já tem quase com muito trabalho que encontramos ma-
que está caminhando muito bem, a con- 15 km de extensão construídos, acompa- neiras de vencê-los.”
FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ

FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ

FOTO: ANDRÉ SIQUEIRA

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M E T R Ô D E SÃO PAU LO: I N OVAÇ ÃO E E X PA N SÃO

ADMINISTRANDO RE
GESTÃO CADA VEZ
FOTO: MÁRCIA ALVES/METRÔ SP

POR MARCUS FREDIANI

Notadamente em função dos impactos da pandemia e mobilidade das pessoas. E some-se a isso o fato de
da COVID, os anos de 2020 e 2021 foram muito que muita gente, inclusive, teve sua rotina de trabalho
complicados para a economia e para as finanças das totalmente modificada, pela obrigatoriedade
empresas de modo geral. E o setor de Transportes, de adoção do sistema de home office.
seguramente, deve ter sido um dos mais afetados Em face a essa situação extraordinária, como não
por eles, dadas as restrições que precisaram ser poderia ser diferente, os resultados financeiros do
impostas pelas autoridades sanitárias, principalmente Metrô de São Paulo foram intensamente afetados
aquelas relacionadas à dinâmica de movimentação no período. Como consequência dela, a companhia

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CURSOS PARA UMA


MAIS EFICIENTE

apurou uma redução significativa da arrecadação menor em 49,6%. Já em 2020, foram transportados
não só dos serviços de transporte, como também da 554 milhões de passageiros, enquanto em 2019
receita não tarifária, chegando a registrar um “tombo” foram transportados 1,1 bilhão de usuários. A
nesses negócios da ordem de aproximadamente média de passageiros transportados em dias úteis
80%, quando comparado com o cenário antes foi de 1,84 milhão em 2020, e de 3,69 milhões
da deflagração da situação de pandemia. em 2019, apresentando redução de 50,1%.
No comparativo entre 2019 x 2020, o volume de Assim, o impacto total na receita correspondeu
passageiros transportados na rede em 2020 foi a uma queda de 1,4 bilhão de reais.

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• C alhau ou foto
FOTO: MÁRCIA ALVES/METRÔ SP

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à tarifa pública, vimos atuando fortemente

FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ - SP


para modificar a composição da receita do
Metrô, buscando incrementar a participa-
ção das receitas não tarifárias na proporção
total. Dessa forma, nos últimos três anos,
o crescimento em relação à proporção das
receitas não tarifárias foi de 5%”, destaca.

MERCADO DE CAPITAIS - Ato contínuo,


no final de novembro do ano passado, o
Metrô/SP convocou uma Assembleia Geral
de acionistas para analisar algumas solu-
ções para viabilizar não só a sua receita,
como também para auferir financiamentos
e recursos maiores para sua dinâmica de
expansão de atividades, com o objetivo de
levar a companhia ao mercado de capitais,
elizmente, o ano de panhia. Dessa forma, em 2021 também, a por meio de seu ingresso na categoria “B”
2021 marcou a reto- previsão para o registro de prejuízo supe- da CVM, que, entretanto, só possibilitaria a
mada parcial da quan- rior a 1 bilhão de reais só não se confirmou ela negociar emissões públicas de dívidas/
tidade de passageiros devido ao aporte de subvenção recebido do debêntures, sem a conversão destes em
transportados em dias Governo do Estado de São Paulo, que lo- ações. Esse plano, que já vinha sendo pen-
úteis, alçando-a à cifra de 1,91 milhão, ante grou amortizar o prejuízo total em 559,2 sado há mais tempo, foi postergado devido
os 1,84 milhão (não auditados) em 2020, milhões de reais, conforme o relatório In- aos impactos da pandemia.
o que representou um aumento de 3,8%. tegrado 2021. Contudo, a companhia virou a chave, e
Entretanto, embora com recuperação, a re- “No 1º Trimestre de 2022, a companhia não só concluiu o processo de emissão de
ceita ainda apresenta redução de 1,3 bilhão apresentou EBITDA Ajustado negativo de debêntures, com a captação de 400 milhões
de reais em relação ao período que antece- 36 milhões de reais e margem negativa de reais no mercado, como também está em
de a pandemia”, explica Silvani Alves Pe- de 7,4%, demonstrando viés de prejuí- fase de execução do pedido de listagem na
reira, diretor-presidente da Companhia do zo, entretanto, com tendência de redução categoria “B” junto à CVM, com previsão
Metropolitano de São Paulo. de prejuízo em relação à 2021. E, a partir de conclusão para o 2º Semestre de 2022.
desses dados, ficou claro que a retomada “E vale destacar que os recursos captados
INCREMENTO DAS RECEITAS NÃO TA- do cenário de crescimento somente será têm como objetivo a manutenção do fluxo
RIFÁRIAS - Na prática, entre os anos de possível a partir do 2º Semestre de 2023, de caixa do Metrô/SP, e já existem estudos
2020 e 2021, excluindo os fatores de de- desde que concluídas certas iniciativas que em curso, mas ainda em fase de execução,
preciação, os custos de operação do Me- visam à retomada de margens operacionais com o objetivo de avaliar a melhor fonte
trô foram maiores do que os de geração positivas”, projeta o diretor-presidente do de captação de recursos e operação para a
de receita, gerando algo como uma “ten- Metrô/SP. Linha 20-Rosa”, pontua Silvani Pereira.
dência de anulação”. A constatação disso Com base nos resultados do primeiro
pode ser observada na métrica EBITDA semestre de 2022, incluindo gratuidades, AUMENTANDO O EQUILÍBRIO - Firme
Ajustado (resultado antes dos impostos, o percentual da receita tarifária sobre os em seus propósitos, diante de diversos de-
juros, depreciação e resultados contábeis, safios que ainda existem para equacionar e
FOTO: DIVULGAÇÃO

amortização), apre- a receita tarifária levar a níveis ideais a dinâmica desses ce-
sentada no Relatório é responsável por nários, a Companhia do Metropolitano de
Integrado 2021 do 86% da receita total São Paulo vem executando ações paralelas
Metrô/SP. da companhia. As- para manter seu equilíbrio econômico-fi-
Entretanto, em sim, ainda segundo nanceiro.
2021, o documento Silvani, tomando-se E a movimentação nesse sentido está
também deu conta como referência os sendo feita de múltiplas formas, como, por
de uma recuperação custos atuais e con- exemplo, por meio da adoção do teletraba-
de 34% em relação a siderando o cenário lho permanente para alguns de seus seto-
2020, o que reforça de demanda espera- res administrativos, e a entrega de imóveis
ainda mais a questão da, o equilíbrio ideal corporativos, bem como a venda de alguns
de que, embora ela seria obtido através deles com finalidade administrativa ou em
tenha sido significa- de um mix de 70% áreas remanescentes não utilizadas pela
tiva, ela ainda não de receita tarifária e empresa. Outra medida, ainda é o Plano de
foi suficiente para a 30% de receita não Demissão Incentivada (PDI), a ser executa-
conquista do equi- tarifária. “Nesse sen- do ao longo de 2022.
líbrio econômico- Silvani Alves Pereira, diretor-presidente da tido, considerando as Para intensificar as ações que visam ao
-financeiro da com- Companhia do Metropolitano de São Paulo limitações em relação incremento de receitas não tarifárias, tais

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como as áreas comerciais das linhas 1-Azul, para inspeção e manutenção preventiva nas VIA), em seu Data Factory, e ainda em sua
2-Verde e 3-Vermelha, outras medidas que vias por onde circulam os trens. Somado a Análise e Ciência de Dados e no Sistema de
estão sendo implementadas são o sistema ele, instituímos e estamos avançando tam- Gestão de Contratos.
de Naming Rights de algumas estações, bém no Programa Laboratório de Ideias, o “Nesse sentido vale muito ressaltar tam-
juntamente com a concessão de área bruta PLIM, para a seleção e desenvolvimento de bém o desenvolvimento de ações como os
locável delas, e, ainda, a criação do Obser- ideias inovadoras relacionadas a diversos Termos de Cooperação Técnica, para forma-
vatório Metropolitano de Mobilidade Urba- temas propostos. Em 2021, o tema foi a Re- lizar e acelerar a conexão, o fornecimento, a
na, cujo primeiro passo para sua concepção dução de Custos e Aumento de Receitas”, troca e/ou a transferência de conhecimen-
e efetiva materialização de modo colabora- elenca Silvani. to, espaços, experiências entre o Metrô e as
tivo já foi realizado com o “Workshop de Com objetivos ainda com foco na ino- instituições de pesquisa, de ensino, cien-
Kick-off”, que contou com a presença de vação, outra inciativa foi a formatação do tíficas, de extensão e de tecnologia, como
importantes players do setor. Squad de Contratação Pública de Inovação, aqueles que temos elaborado com a Facul-
um grupo multidisciplinar formado pelas dade de Engenharia Industrial (FEI) – hoje
PORQUE INOVAR É PRECISO - Mas, se- áreas de Compras e Jurídica do Metrô/SP, Centro Universitário FEI –, com a Fundação
gundo informa o presidente do Metrô/ que tem por objetivos atualizar a forma de Instituto de Administração da Universidade
SP, não é “só tudo isso”. “Realizamos uma funcionamento do Regulamento de Contra- de São Paulo (FIA/USP), com o Instituto da
parceria com a Falconi, maior consultoria tações e Compras, do Relacionamento com Mobilidade e dos Transportes (IMT), com o
brasileira de gestão e pessoas, para de- Procuradoria Geral do Estado, e do Fórum Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), e
senvolver e vender soluções de mobilidade Econômico Mundial, com a criação de Vi- com o INOVA Unicamp. Isso tudo, sem falar
urbana no país. Além disso, desde 2021, sual Law sobre Encomenda Tecnológica. do Open Metro Festival 2021, evento que
estamos avançando na elaboração do Siste- No âmbito da Transformação Digital, a realizamos para trazer elementos de inova-
ma de Monitoramento de Via Permanente atual gestão da companhia vem envidando ção e apresentação de ideias, com participa-
(SVMP). Trata-se de uma encomenda tec- significativos esforços também na moder- ção de universidades e centros de pesquisa”,
nológica para a contratação – a primeira nização de sua infraestrutura de TI, bem finaliza Silvani Alves Pereira, diretor-presi-
no setor público de mobilidade – de uma como em sua Rede Corporativa de Comuni- dente da Companhia do Metropolitano de
solução com o uso da Inteligência Artificial cação de Dados de Alta Velocidade (INFO- São Paulo, bastante animado.

METRÔ-SP: EXCELÊNCIA EM GESTÃO

FOTO: DIVULGAÇÃO
VICENTE ABATE*
A Companhia do Metropolitano de pansão de suas linhas. Suas entregas, até
São Paulo – Metrô, nasceu em 24 de abril 2014, representavam 1,6km por ano. A
de 1968 e iniciou suas operações em 14 partir de então, passou a 4,3km por ano,
de setembro de 1974. Lá se vão mais de um aumento de mais de 2,5 vezes. Atual-
50 anos, desde sua inauguração, tempo mente, encontram-se em execução 21km
que reflete toda a sua tradição como uma de obras nas linhas 2-Verde, 15-Prata e
das mais respeitadas instituições paulis- 17-Ouro e projetos em desenvolvimento,
tanas e globais. desde funcionais até básicos e executivos,
Aliando excelência tecnológica, ope- em outros 117km, que também incluem ino- de 12% para 21% do total das receitas,
racional e de engenharia a índices de vações tecnológicas, construídas por grupos entre 2019 e 2021. Esta é uma prática
padrão mundial de segurança, conforto, de trabalho matricial criados para projetar mundial, também adotada pelo Metrô-SP,
rapidez, regularidade e pleno atendimen- novas linhas. Trata-se de trabalho pioneiro, com tendência de crescimento. Outro fa-
to ao meio ambiente, o Metrô-SP sempre como a aquisição de uma mega tunelado- tor deste crescimento são os serviços ofe-
cumpriu com sua missão de bem trans- ra de 14 metros de diâmetro, que permitirá recidos pela Metrô Consulting, que presta
portar nossa gente. Pesquisas de satisfa- obter uma operação mais rápida do carros- consultoria e treinamento para metrôs,
ção com seus usuários trazem números sel, o aumento do limite de rampa, de 4% no Brasil e no exterior.
eloquentes, na casa dos 90%. para 5%, a instalação de elevadores de alta A indústria ferroviária brasileira re-
Criar inovações tecnológicas sempre capacidade em estações mais profundas conhece a extrema importância do Metrô-
fez parte do DNA do Metrô-SP. O Metro- e, ainda, de miniusinas fotovoltaicas, que -SP e de sua valorosa equipe. Sempre
Lab – Laboratório de Inovação, idealizado proporcionarão fornecimento de 100% da estivemos presentes em suas atividades,
em parceria com a Unimetro, universi- energia utilizada nas estações. fornecendo produtos e serviços inovado-
dade corporativa da empresa, é um bom Após o auge da pandemia, em que a de- res para a via permanente, sistemas de
exemplo. Seus colaboradores desenvolvem manda de transporte foi reduzida em mais sinalização e eletrificação, trens e compo-
melhorias de processos e serviços em to- de 80%, o Metrô-SP retomou seu ritmo de nentes, com o objetivo de oferecer produti-
das as áreas da companhia, através de transporte quase que aos níveis anteriores vidade ao Metrô-SP e, consequentemente,
seus próprios laboratórios ou em parce- à pandemia. Suas receitas convencionais, competitividade em suas operações.
rias com universidades, parques tecnoló- que haviam sido reduzidas, contaram com
gicos, empresas e startups. o suporte do Estado e, ainda, com o aumen- * Vicente Abate é presidente da Associação
O Metrô-SP está em constante ex- to das receitas não tarifárias, que subiram Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer)

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um dos metrôs das principais metrópo-

FOTO: MÁRCIA ALVES/METRÔ SP


les dos países desenvolvidos, especial-
mente com o uso de novas tecnologias.
E mais do que conhecê-las, a ideia era
avaliar a viabilidade da implantação
delas, naturalmente adaptando-as às
condições do futuro Metrô de São Pau-
lo. Assim, muitas dessas ideias foram
trazidas e implantadas já na concepção
da primeira linha, entre elas o Siste-
ma de Sinalização com Automatismo
Operacional (ATC/ATO), bem como os
Retificadores de Silício, o Sistema de
Bilhetagem com bloqueios eletrônicos,
as escadas rolantes de uso massivo nas
estações, além de diferentes métodos
para construção de túneis – com des-
taque para o uso de tuneladoras –, de
superestrutura de via permanente com
fixação direta, e muito mais.

A ENGENHARIA DESDE O PLANEJAMENTO E hoje, passados 54 anos da fundação


da empresa, qual a sua avaliação sobre o
DO PROJETO À CONSTRUÇÃO porte dos desafios de engenharia e pla-
nejamento que vocês vêm enfrentando?

U
ma das marcas presentes no DNA Nesta entrevista exclusiva à revista “Sem dúvida, continuam sendo
da Companhia do Metropolita- BRASIL ENGENHARIA, Paulo Sérgio enormes. Claro, hoje temos a experiên-
no de São Paulo ao longo dos Amalfi Meca, diretor de Engenharia e cia de já ter concebido e implantado vá-
seus 54 de fundação, completados em Planejamento do Metrô/SP, conta um rias linhas, mas trata-se de uma questão
abril último, e 48 de efetiva operação pouco dessa emocionante história de que envolve muitos conceitos de abor-
comercial, que serão comemorados em conquistas e de vitórias, muitas de- dagem profunda. Objetivamente, temos
setembro de 2022, sempre foi, sem dú- las ainda em ritmo de andamento, mas que conciliar todos os interesses em
vida alguma, o competente trabalho re- todas sempre marcadas pela inovação uma boa proposta, de forma a torná-la
alizado pelas suas áreas de Engenharia e e pela evolução constante, proporcio- útil, atraente e sustentável.”
Planejamento. nadas pelo uso dos mais avançados
Partindo praticamente do zero, e recursos de modernização da tecnolo- Por favor, explique melhor o funcio-
sem arquétipos à época no território gia, da engenharia e do planejamento. namento dessa tríade?
brasileiro, foram elas que, efetivamente, Porque São Paulo não pode parar: e o “A proposta tem que ter um viés de
e vencendo todos os desafios, deram os Metrô/SP também não. utilidade porque a finalidade primordial
primeiros passos na bem-sucedida traje- de qualquer projeto é a de transportar
tória do gigante dos transportes urbanos BRASIL ENGENHARIA - Paulo, vol- passageiros. Então, ela tem que ser pen-
que é o Metrô de São tando ao final da dé- sada no sentido de melhorar o conforto
FOTO: LEONARDO MOREIRA

Paulo. Ele é hoje, o cada de 1960, quais e a segurança destes, e de reduzir os


maior e mais movi- foram os desafios de tempos das viagens. Simultaneamente,
mentado sistema de engenharia para a ela tem que ser atraente, pois necessita-
transporte metroviá- implantação do Me- mos convencer os tomadores de decisão
rio do país, que aten- trô em São Paulo? da necessidade do investimento. Por
de com seus trens, Paulo Sérgio fim, tem também que ser sustentável,
linhas e estações a Amalfi Meca - uma vez que todas as etapas de implan-
um número supe- Bem, foram muitos, tação e operação, de alguma forma, irão
rior a 5,3 milhões de e em várias especia- afetar uma parcela significativa da po-
passageiros por dia. lidades. E, à medida pulação usuária ou não do sistema. E,
E esse contingente que eles foram sur- em adição a esses conceitos básicos, é
tende a se ampliar gindo, a administra- preciso lembrar que os prazos necessá-
ainda mais, à medi- ção da época sentiu rios para a implantação são longos, o
da que seus novos a necessidade de que, por vezes, faz com que situações
projetos de expansão enviar os engenhei- novas ou não previsíveis se apresen-
ganham musculatura ros do Metrô para tem em decorrência das alterações do
e, efetivamente, vêm Paulo Sérgio Amalfi Meca, diretor de conhecer o “Estado cenário urbano. Fazendo, então, uma
se materializando. Engenharia e Planejamento do Metrô/SP da Arte” que cada síntese, o principal desafio consiste no

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LEVANDO A
CONSTRUÇÃO
A UM NOVO
— THE STUTSMAN FAMILY, STUTSMAN INC

PATAMAR.
14 A 18 DE MARÇO / 2023 / LAS VEGAS / NEVADA

Não importa em qual setor da construção você atue:


você vai sair da CONEXPO-COM/AGG com novas ideias,
novos contatos e novas oportunidades para ampliar seus
negócios e sua posição na indústria. Essa não é só a maior
feira de construção da América do Norte, como também
está levando o setor para o próximo patamar.
SAIBA MAIS EM CONEXPOCONAGG.COM
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250 mil m² de exposições

130 mil participantes

1.800 expositores

150 sessões educacionais

2020 Attendee Britton Lawson,


Veit and Company, Inc.
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FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ - SP

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permanente desenvolvimento de ferramentas que


permitam a execução dos novos projetos, mantendo
sempre as premissas iniciais, e assegurando o cum-
primento dos cronogramas propostos.”

Na prática, como os avanços tecnológicos se aliam


atualmente à engenharia e ao planejamento no dia a
dia do Metrô?
“Veja bem, hoje não é mais possível imaginar um
campo de nossa atuação que não venha acompa-
nhando o limiar tecnológico. Por exemplo, todos os
sistemas de interface com os passageiros estão cami-
nhando para aplicativos em telefonia móvel – infor-
mações, reclamações, venda de passagens e por aí vai
–, o que não só permite a maior autonomia destes,
como também lhes proporciona novas alternativas
para o bem-estar e segurança dos passageiros. E o
mesmo acontece com as tecnologias de sinalização
atualmente disponíveis, que elevaram o padrão ope-
racional do Metrô, possibilitando, entre outros be-
nefícios, a redução do intervalo entre os trens, o au-
mento da oferta de lugares, e a agilização no trânsito
das informações. Tudo isso, junto, permite rapidez na
tomada de decisão pelo centro de controle na aplica-
ção de estratégias operacionais.”

Em outras palavras, com tudo isso, vocês estão


dando passos na direção do “Automatismo Integral”?
“Sim. Na verdade, com o uso da inovação tec-
nológica, já estamos muito avançados nesse sentido.
Exemplo disso é que a própria condução do trem dis-
pensa a presença ativa de um condutor. Assim, opera-
ções como a partida e a circulação das composições,
paradas nas plataformas, aberturas e fechamentos
das portas, manobras de retorno, estacionamento dos
trens nos pátios ou em áreas intermediárias, entre
outras operações, não requerem mais a ação ou pre-
sença direta e in loco dos operadores, ou mesmo de
agentes não fixos, a bordo deles. Para possibilitar o
‘Automatismo Integral’, além da evolução ocorrida
no Sistema de Sinalização, também houve avanços
em outros sistemas, tais como no Material Rodante
e no Monitoramento Eletrônico de Imagens por Cir-
cuito Fechado de Televisão (CFT V) – que permite o
monitoramento das imagens dos trens e das estações
diretamente do Centro de Controle Operacional (CCO)
do Metrô – e, ainda, no Sistema de Comunicação de
Voz (PA – Public Adress), que possibilita a comunica-
ção do operador do Centro de Controle Operacional
com os passageiros das estações e dos trens. E não
podemos deixar de citar aqui também os avanços que
a tecnologia tem proporcionado na redução do con-
sumo de energia e na melhoria no desempenho de
diversos sistemas, tais como o de ventilação, o das
escadas rolantes e o da alimentação elétrica, além dos
próprios trens.”

E quanto ao planejamento e à gestão: como as tec-


nologias disponíveis e efetivamente já implementadas
estão contribuindo para a melhoria da operação?

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“De várias formas. Elas são capazes, Anhangabaú e São Bento (ambas se in- na sua capacidade. Os trens da Linha
por exemplo, de testar uma grande va- tegrarão com a Linha 19-Celeste), mais 15-Prata são compostos por sete carros,
riedade de alternativas em um tempo uma inovação está sendo aplicada pelas com capacidade para 1.002 passageiros,
bastante reduzido, comparando-as a áreas de projeto do Metrô, que é o le- enquanto os trens da Linha 17-Ouro pos-
partir de coeficientes pré-estabelecidos, vantamento de as built, com a utilização suem capacidade para 650 passageiros.
obtendo com isso so- de scanners a laser.” Objetivamente, os trens da Linha 17-
luções bastante otimi- Ouro incorporam um novo desenvolvi-
zadas no traçado das
“Não podemos Como isso vai fun- mento tecnológico, que permite o arma-
linhas, na localização deixar de citar os cionar exatamente? zenamento de eletricidade no trem com
das estações, nas inte- “Basicamente, to- o uso de baterias, as quais garantem sua
grações, nos pátios, e avanços que a das as áreas das esta- movimentação no mínimo até a próxima
nos cálculos de viabili- ções serão escaneadas estação no caso de falta de energia.”
dade entre muitas ou-
tecnologia tem pelo equipamento,
tras coisas. Ou seja, as proporcionado na que gera uma nuvem Voltando à questão do planejamen-
ferramentas de gestão de pontos que permite to, como vem sendo feito e quais são os
do empreendimento – redução do consumo criar um modelo tri- principais desafios para o desenvolvi-
projeto, implantação de energia” dimensional em BIM mento dos projetos do Metrô/SP para a
e testes – encontram- das áreas, com uma construção de novas linhas?
-se atualmente todas precisão milimétrica, “Se eu tivesse que responder isso
integradas às modernas tecnologias de para que sejam elaborados os projetos com poucas palavras, não hesitaria em
hardware, software e tráfego de dados.” das adequações nas áreas de integração dizer: ‘Com muito trabalho, dedicação,
com as novas linhas.” competência e amor pelo resultado!’
E em termos de projetos de tecno- Essa é a combinação que move a mo-
logia, o que está no radar do Metrô/SP O Metrô anunciou recentemente o numental máquina chamada Metrô de
atualmente? primeiro trem do monotrilho da Linha São Paulo há mais de meio século. Ao
“No que se refere aos projetos, vale 17-Ouro? Quais são os diferenciais des- final de uma etapa implantada, não é
destacar a importância do uso da tec- se modelo em relação aos que estão em incomum encontrarmos colaboradores
nologia BIM (Building Information Mo- operação hoje em dia? às lágrimas e orgulhosos pela entre-
deling), que já vem sendo incorporada “Assim como o monotrilho da Li- ga, lembrando dos esforços aplicados e
pela nossa engenharia e arquitetura aos nha 15-Prata, o da Linha 17-Ouro, além inerentes à atividade, mas simultanea-
novos projetos de expansão do Metrô. de incorporar a sinalização e os trens mente ávidos para mergulhar em novos
Diversos modelos de estações, venti- no padrão UTO (Unattended Train Ope- desafios, que imediatamente passarão a
lações, saídas de emergência e túneis ration) está projetado para operar em parte de suas vidas. Mas, claro, essa não
de acesso foram elaborados em BIM, e condições idênticas às demais linhas é uma missão simples, pois uma nova li-
incluídos nas novas licitações para que do Metrô. Toda tecnologia disponível nha consome por volta de dez anos para
sejam utilizados pelas empresas pro- para operação de trens foi aplicada nos ser concebida, projetada e implantada,
jetistas. Os projetos básicos da Linha dois projetos. E o nível de satisfação atravessando, ao longo desse caminho,
19-Celeste, por exemplo, estão sendo dos usuários da Linha 15-Prata é prova permanentes alterações normativas téc-
totalmente desenvolvidos com a utili- incontestável do sucesso desse modal, nicas, ambientais, de uso e ocupação do
zação do BIM e de softwares de colabo- que escolhemos para garantir a viabi- solo e administrativas, e, por vezes, em
ração. E, para facilitar a elaboração de lidade adequada ao projeto proposto.” meio a crises regionais ou mundiais. E,
projetos nas estações cuja integração se ainda assim, a gente não admite que o
fará com estações já existentes – como Mas há diferenças entre os trens que único desfecho seja o sucesso. No fun-
é o caso de São Joaquim (integração vão operar nessas duas linhas? do, sabemos que a partir de um bom
com a Linha 6-Laranja), e das estações “Uma das diferenças entre eles é projeto, e sem perder a disposição, qual-
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quer desafio poderá e será vencido.” acreditando que isso estará relativa- pico, o que tem potencial para melhorar
mente bem delineado no 2º Semestre de a relação oferta/ demanda, proporcio-
Falando em desafios, aqueles trazi- 2023, desde que novas ondas dessa ou nando maior atratividade para novos
dos pela pandemia da COVID-19 na Re- de outras doenças não ocorram. Nesse usuários, o que, por sua vez, é positivo
gião Metropolitana de São Paulo devem âmbito, cada município, ou região ad- para o transporte público.”
ter sido enormes. Que ministrativa, terá a
alterações foram ne- missão de desenhar o Em síntese, observa-se uma mudan-
cessárias para fazer a
“Além da evolução novo cenário e produ- ça significativa nos hábitos das pessoas,
“máquina” do Metrô no Sistema de zir sua nova proposta.” que pode ser definitiva, ou, pelo menos,
continuar funcionan- permanecer por muito tempo, não é?
do em termos de ope- Sinalização, houve E quais variáveis “Creio que o fato é que a pandemia
ração e de qualidade você acredita que ali- acelerou a introdução dessas mudanças
de serviço?
avanços no Material mentarão os modelos e hábitos no dia a dia das pessoas, com
“Sem dúvida al- Rodante e no de geração de deman- efeitos de curto, médio e longo prazos.
guma, é certo que a da ao longo desse pro- Então, os profissionais que lidam com
pandemia introduziu Monitoramento cesso? a mobilidade necessitarão de recursos e
alterações na vida das de Imagens” “Algumas delas são tempo para ajustar os modelos de gera-
pessoas no que diz bastante objetivas, ção de viagens. Aliás, para que seja pos-
respeito à realização como, por exemplo, a sível conhecer um pouco melhor essas
de viagens. Não estamos aqui afirman- variação do total de pessoas em traba- mudanças e os novos hábitos das pesso-
do que 100% das pessoas já tiveram ou lho ou estudo remoto, a da renda mé- as, nós aqui do Metrô estamos nos pre-
ainda terão suas rotinas diárias altera- dia das famílias e, ainda, a do nível de parando para fazer uma nova pesquisa
das, mas um número significativo de emprego. Mas, há muitos fenômenos a de ‘Origem-Destino’, que chamamos de
cidadãos de todas as localidades expe- serem avaliados, como o receio de aglo- ‘Mini OD’. Esse estudo deverá ser ini-
rimentou e continuará experimentando merações – que é negativo para o trans- ciado em 2023, antecipando em alguns
os efeitos da pandemia. Caminharemos porte público –, ou a redução no nú- anos o que, tradicionalmente, somente
para um novo equilíbrio de viagens, mero dos antigos usuários habituais de viria a ser realizado em 2027.”

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nossa Diretoria de Operações está con-

FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ - SP


centrado no desenvolvimento de diversas
ações direcionadas à conquista objetiva
de um conjunto de metas, direcionadas à
redução dos custos de nossas atividades,
bem como à melhoria do desempenho e da
imagem dos serviços prestados pelo Metrô
de São Paulo aos passageiros, notadamen-
te por meio da otimização de processos
centrados na sustentabilidade e na inova-
ção tecnológica.

Nesse sentido, como funciona a gestão


integrada de ação operacional (CCO) do
Metrô/SP?
“A operação diária do Metrô é 100%
planejada. E esse planejamento é feito de
maneira bem ampla e completa, contem-
plando aspectos que vão desde o horário
A EVOLUÇÃO DA OPERAÇÃO EM de abertura das estações, passam pela es-

SISTEMAS METROFERROVIÁRIOS trita observância do tempo de parada dos


trens e das manutenções preventivas, até
chegar ao controle de embarque e desem-

A
o longo de seus 48 anos de efeti- o médio e longo prazos”, registrou ele, em barque das pessoas que eventualmente
va operação, o Metrô de São Pau- várias entrevistas. precisam de auxílio para a utilização de
lo, inegavelmente, vem sendo um E a continuidade de tais premissas são nossos serviços. Esse planejamento é ba-
exemplo e um símbolo perene de avanços ampla e perfeitamente comprovadas pela seado em pesquisas de mobilidade revisa-
tecnológicos no setor de transportes ur- atual gestão da empresa, como poderemos das periodicamente, que indicam os fluxos
banos no Brasil. Vencendo uma série de constatar ao ler esta entrevista concedida de viagem, de origem e de destino dos
obstáculos e desafios em sua história, se- com exclusividade à revista BRASIL EN- milhões de passageiros transportados atu-
guramente ele se enquadra na categoria GENHARIA pelo atual diretor de Opera- almente em nossas composições, levando
dos empreendimentos que “deram certo”, ções do Metrô de São Paulo, Milton Gioia sempre em consideração a programação
descrevendo uma trajetória de sucesso Junior. Nela, entre outras coisas, ele dá da oferta de trens durante toda a operação
operacional, com eficiência e desempenho uma visão geral do funcionamento dessa comercial.”
internacionalmente reconhecidos. área tão vital para a entrega dos serviços
E “deu certo” por vários motivos, de alta qualidade do Metrô à população de E quais os maiores desafios para o per-
como já teve oportunidade de alinhar São Paulo, bem como dos mais recentes feito funcionamento da operação no que
o consultor de transportes e engenhei- avanços na área de tecnologia implemen- diz respeito às linhas concedidas?
ro Peter Alouche – que, por 35 anos, tados em sua órbita de atuação, tais como “Bem, estes se concentram na aplica-
assumiu diversas responsabilidades o CBTC, o sistema que permite a comuni- ção de estratégias de contorno e resta-
na Companhia do cação digital bilateral belecimento do sistema quando, eventu-
FOTO: LEONARDO MOREIRA

Metropolitano de entre as composições almente, ocorre uma interferência capaz


São Paulo, todas liga- e a infraestrutura de impactar a circulação dos trens, tais
das à área técnica –, das linhas, que não como, por exemplo, uma oscilação no
porque, desde início, só aumenta a capa- fornecimento de energia elétrica. Em
teve um direciona- cidade de transporte ocorrências como essa, o CCO adota,
mento sério, eficien- delas, como também especificamente, estratégias de contro-
te, progressista e vol- reforça, ainda mais, le do f luxo de passageiros e de circula-
tado para o futuro na a segurança dos pas- ção dos trens, a fim de manter todos os
sua gestão em geral e, sageiros. Confira! passageiros, estações e trens informados
mais especificamen- sobre o problema. Quando isso ocorre, o
te, na gestão de sua BRASIL ENGENHA- CCO do Metrô/SP recebe informação em
tecnologia. “Sério na RIA - Milton, quais são, tempo real da situação das outras linhas
concepção, eficien- hoje em dia, as princi- por meio de painéis, e as supervisões
te na sua execução, pais metas de atuação das linhas concedidas mantêm contato
progressista na sua da área de Operações constante com a supervisão do Metrô,
evolução, e sempre do Metrô de São Paulo? por meio de linhas diretas de comuni-
procurando soluções Milton Gioia cação. Então, além do planejamento,
modernas que fos- Milton Gioia Junior, diretor de Operações Júnior - O planeja- toda essa série de procedimentos per-
sem adequadas para do Metrô de São Paulo mento estratégico da mite gerar uma documentação que in-

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tegra e padroniza o funcionamento das operacionais prestados aos nossos passa- ração comercial das linhas, aumentando
geiros, o que, é claro, também nos ajudar
linhas de metrô na cidade de São Paulo.” a capacidade de transporte de passagei-
a encontrar respostas para os problemas ros de forma segura. Esse sistema já foi
Embora o uso da que ainda não possuem implantado na Linha 2-Verde e, agora em
tecnologia e da co- solução adequada, o que julho, foi instalado na Linha 1-Azul, o que
nectividade tragam,
“O planejamento contribui para o aumen- deverá acontecer também na Linha 3-Ver-
obviamente, benefícios é baseado em to da sustentabilidade melha. Já a Linha 15-Prata já foi construí-
bastante evidentes para operacional e, por tabela, da com essa nova tecnologia.”
a operação do Metrô pesquisas de melhora nosso tempo de
de São Paulo, o grau de resposta às necessidades E há outras tecnologias no radar do
complexidade dela deve
mobilidade, dos usuários.” Metrô para a área de Operações?
ser enorme, porque en- revisadas “Sim. Estamos pesquisando vários
volve muitas e simultâ- Ainda falando em projetos com tecnologias dedicadas à
neas variantes. Assim, periodicamente, vantagens, quais serão operação, utilizando Inteligência Ar-
como vocês conseguem que indicam os aquelas trazidas pela in- tificial e Realidade Virtual, com o ob-
resolver tal dicotomia? trodução do novo sistema jetivo de ampliar o nosso atendimento
“Os principais de- fluxos de viagem” de controle e sinalização aos passageiros dentro da estação, por
safios atinentes a essa de trens – o CBTC, da meio de sistemas de simulação de ope-
questão estão na falta sigla em inglês (Commu- ração de equipamentos, treinamentos de
de maturidade de produtos operacionais nications-Based Train Control), já em ope- operação, análise de alarmes críticos de
que utilizam tecnologia mais avançadas. ração de forma integral em algumas linhas sistemas de controle de operação e aná-
Outro ponto extremamente complexo é do Metrô. E qual deve ser a sua expansão? lise de situações operacionais com o uso
a inclusão de novas vulnerabilidades que “Efetivamente, o Controle de Trens Ba- de imagens de câmeras, entre outros que
precisam ser tratadas no âmbito da ges- seado em Comunicação apresenta muitas estamos prospectando. E também esta-
tão da segurança cibernética operacional. vantagens. Ele permite melhor regulari- mos avançando em novas tecnologias de
Contudo, com o constante equacionamen- dade na circulação dos trens, reduzindo o proteção de segurança cibernética para
to destas, conseguimos gerar vantagens no intervalo entre eles por meio da inclusão mitigar riscos de indisponibilidade de
que diz respeito à ampliação dos serviços simultânea de mais trens durante a ope- ambientes tecnológicos complexos.”

Experiência centenária a serviço


das infraestruturas do Brasil
Construímos um
Extensão da Linha 4 do Metro de São Paulo | BRT Metropolitano de Belém futuro sustentável
Ponte Araguaia na BR-080 | Duplicação BR-101
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relacionadas à governança ambiental, so-

FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ - SP


cial e corporativa?
Alfredo Falchi Neto - O Metrô de
São Paulo é, e sempre foi, referência em
termos de boas práticas de operação, por
meio dos benefícios que entrega à po-
pulação em seu dia a dia. Ganhos que se
refletem no tempo de viagem, na saúde
pública, na paisagem urbana, na redução
da emissão de gases do efeito estufa e na
boa gestão dos negócios. E esse reconhe-
cimento também se dá com relação às ati-
vidades desenvolvidas na área social, no
atendimento aos idosos e às pessoas com
deficiência. Portanto, nossas práticas es-
tão alinhadas à promoção do bem-estar
ambiental e social, bem como às metas do
desenvolvimento econômico. Esses pilares
fazem parte do nosso negócio no âmbito
A EVOLUÇÃO NA GESTÃO EM do trinômio “Missão, Visão e Valores”, e

FACE ÀS NOVAS TECNOLOGIAS são a base para as diretrizes e os processos


de expansão e operação.

C
ada vez mais presente na agenda porte urbano da população, como também Objetivamente, que ações atestam esse
das empresas no Brasil, a pauta da para a construção de uma realidade mais compromisso?
ESG, como não poderia ser diferen- justa e responsável para as comunidades “Ano a ano, a cultura de sustentabili-
te, está perfeitamente integrada à exper- ao seu redor de seus trajetos, e, ainda, para dade vem sendo fortalecida na Companhia
tise e à realidade do Metrô de São Paulo. promover melhores processos corporativos do Metrô de São Paulo, que inseriu no
E isso não é de hoje: na verdade, a Com- de administração, com vista à sustentabi- seu planejamento estratégico corporativo
panhia do Metropolitano tem plasmados lidade do negócio. a pauta ASGI, composta pelos temas Am-
em seu DNA, desde a sua fundação, os E novidades do Metrô/SP na ampla se- biental, Social, Governança e Integridade.
conceitos propostos pela junção das três ara da ESG não faltam na atualidade, como Como resultado, no ano de 2021, o Metrô
letras que designam a agenda da gover- você também poderá acompanhar no texto produziu a sua primeira versão do ‘Guia
nança ambiental, social e corporativa, do que vai ler nestas páginas, tais como o lan- ASGI’, que traz definições e orientações
inglês, Environmental, Social, and Corpo- çamento do “Guia ASGI”, contemplando sobre os fatores relacionados a esses te-
rate Governance. todo um acervo de orientações e práticas mas, e apresenta um histórico e as boas
Com efeito, conforme explica o diretor sustentáveis em todas as suas especialida- práticas do desenvolvimento sustentável,
de Assuntos Corporativos do Metrô de São des; a implantação da Gestão 5.0, que vem associando a companhia ao mercado e os
Paulo, Alfredo Falchi Neto, nesta entre- trazendo importantes resultados em todas seus principais avanços em tais áreas. Tra-
vista exclusiva à revista BRASIL ENGE- as áreas da companhia; e a contratação ta-se de uma declaração pública perante
NHARIA, a busca por dos serviços de Due seus colaboradores e à sociedade em geral,
FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ

soluções inovadoras Diligence, que irá am- reforçando o compromisso do Metrô com
nas três áreas des- pliar as análises pre- a excelência de tais práticas.”
critas sempre esteve ventivas dos acordos
presente na história vigentes, bem como Quais são os benefícios mais eviden-
do Metro/SP, fazendo detectar e prevenir tes desse compromisso em prol do meio
dele o protagonista distorções e ilegalida- ambiente?
de uma bem-suce- des, como fraudes e “No comparativo com os modais de
dida série de ações e atos de corrupção, a transporte movidos a combustíveis fós-
iniciativas. Tudo isso, fim de garantir a ética seis, a operação do Metrô, com a conse-
é claro, para encon- e a transparência de quente transferência de milhões de passa-
trar formas efetivas tudo o que concerne geiros por dia, traz benefícios ambientais
de minimizar os im- à atuação. Confira! relevantes, entre os quais o mais evidente
pactos de sua atua- é a redução de emissões de gases de efeito
ção no meio ambien- BRASIL ENGE- estufa (os GEEs) e de poluentes locais, tais
te, contribuindo não NHARIA - Alfredo, como o monóxido de carbono, os com-
só por seus serviços qual é o histórico, e postos orgânicos voláteis (os VOCs), os
e benefícios precípu- como o Metrô de São aldeídos, os óxidos de nitrogênio e de en-
os de atendimento às Alfredo Falchi Neto, diretor de Assuntos Paulo trata, atual- xofre, além do material particulado, que
demandas do trans- Corporativos do Metrô de São Paulo mente, as questões são responsáveis pela poluição atmosféri-

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ca das cidades. Para gerenciar os impactos misso com a transparência e a integrida- Que programas atinentes a tais práticas
decorrentes da operação da rede, o Metrô de, a companhia implantou suas próprias vêm sendo atualmente desenvolvidos?
mantém o Sistema de Gestão Ambiental políticas de Governança Corporativa, de “Na área ambiental, temos o Sistema
(SGA) em conformidade com o sistema de Conformidade e de Consequências, além de de Gestão Ambiental da Rede em Opera-
gestão ambiental estabelecido pela NBR seu Código de Conduta e Integridade, com ção; o Sistema de Educação Ambiental;
ISO 14001. Assim, nossa Política Integrada treinamento obrigatório de todos os seus o desenvolvimento de ações de Educação
de Qualidade, Meio Ambiente e Segurança colaboradores. E o serviço de Due Diligence Ambiental nas Estações; e os Sistemas de
e Saúde Ocupacional define as intenções e também está em contratação, para ampliar Licenciamento e Controle Ambiental. Já
diretrizes do Metrô em relação aos temas as análises preventivas de empresas e de na área social, temos uma enorme va-
elencados. A partir dela, são estabeleci- seus representantes legais nos processos de riedade de programas e ações, entre os
dos periodicamente quais vale destacar: o
objetivos ambientais, Programa de Teletra-
que, por sua vez, são balho; o Programa de
desdobrados em metas Satisfação dos Empre-
e programas, de for- gados; programas so-
ma a promover conti- ciais voltados a empre-
nuamente a melhoria gados, dependentes e
do desempenho am- familiares; o Programa
biental da companhia. de Inteligência Cor-
Outro exemplo do Há 28 anos contribuindo com a evolução porativa (PIC); o Pro-
compromisso ambien- da engenharia e superando desafios!!!! grama de Participação
tal do Metrô é o pro- Estação Santa Marina e VSE Sara de Souza Linha 6 nos Resultados (PPR);
cesso de concepção a adesão à programas
de novos empreendi- sociais, tais como o
mentos, por meio do Programa Empresa Ci-
qual são realizados dadã; o Programa de
estudos para avaliação Satisfação do Passa-
de impactos da geiro; o Programa de
implementação des- Melhoria de Desem-
tes. E, como parte do penho Operacional; o
processo de licencia- Programa Operação
mento, são elaborados 5.0; o Programa Ma-
programas de gestão nutenção 5.0; Progra-
ambiental, definindo ma de Prevenção ao
as ações a serem to- Suicídio; o Programa
madas visando à miti- de Atendimento Hu-
gação de impactos de- manizado, na cate-
correntes de resíduos, goria “Pessoa com
efluentes, manejo Deficiência”; o Regu-
arbóreo, áreas conta- lamento para Reassen-
minadas, arqueologia, tamento de Famílias
ruído, vibração e ou- Vulneráveis Atingidas
tros, gerados durante pelas Obras de Expan-
as obras.” EGT Engenharia Ltda - Rua Roma, 90 - 8º andar - Vila Romana são; o Programa de
São Paulo - SP - Cep: 05050-090 - Tel.: (11) 3862-1236 Visitas Monitoradas; a
E quais são as prá- www.egtengenharia.com.br Linha da Cultura; e o
ticas mais relevantes da Programa de Diversi-
companhia associadas dade e Inclusão para o
aos seus compromissos Trabalho. E no âmbito
nas áreas social e de governança corporativa? contratação e acordos vigentes (nacionais e da governança, os destaques vão para o
“No âmbito social, o funcionamento da internacionais), bem como para prevenção, Programa de Integridade, e a adesão a
rede do Metrô traz ganhos em tempo de a detecção e a punição de fraudes e atos de Programas Anticorrupção, tais como o
viagem, gerando economia de combustível corrupção. Esse conjunto de ações reforça Programa Nacional de Prevenção à Cor-
e evitando acidentes de trânsito, contri- o compromisso do Metrô com as boas prá- rupção (PNPC), o Programa do Instituto
buindo para não onerar o sistema de saúde. ticas empresariais. Aliás, a companhia criou Ethos e os Sistemas de Gestão Certifica-
Internamente, a companhia também tem recentemente seu Portal da Governança dos. Complementarmente, temos, na área
práticas relevantes no âmbito social, como, Corporativa com o objetivo de divulgar seu de inovação, o Programa de Cultura de
por exemplo, a equidade salarial entre ho- compromisso com a ética, combate à frau- Inovação; o Programa Laboratório de
mens e mulheres que ocupam os mesmos de e corrupção, transparência, inovação Ideias do Metrô (PLIM); o Open Metro
cargos. Já no que tange ao seu compro- nos serviços prestados à sociedade.” Festival e o MetroLab.”

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Estendendo esse último tema, o con- pes multidisciplinares que transcendem às otimização das condições de operação e
ceito macro da Gestão 5.0 vem ganhando estruturas hierarquizadas, que conseguem manutenção. Exemplos? A instalação de
espaço e se tornando uma realidade em viabilizar projetos com mais diálogo, aná- novas portas de plataforma; o registro do
diversas empresas – entre as quais, o Me- lise e senso crítico entre líderes e colabo- projeto da futura Estação Anália Franco da
trô/SP – que têm como foco o desenvolvi- radores para o atingimento dessas metas. Linha 2-Verde com a intenção de obter a
mento democrático das A Estratégia de Longo certificação LEED BD+C; a elaboração do
soluções tecnológicas, Prazo (2021-2025) e projeto do sistema de geração fotovoltai-
atentas à usabilidade e à “O Metrô traz o Plano de Negócios ca; o lançamento de edital com orienta-
melhoria do bem-estar benefícios (2021) do Metrô foram ções ASGI para a contratação de serviços;
humano e à resolução estruturados em quatro o desenvolvimento do ‘Projeto Corredor
de problemas por meio ambientais eixos e reorganizados Verde’ da Linha 15-Prata; a retomada da
de estratégias inovado- para incorporar um eixo implementação de um sistema de gestão
ras. Por que a compa-
relevantes, o novo estratégico intei- de energia com base nos requisitos da
nhia resolveu adotá-la mais evidente ramente voltado para a ISO 50.001; o redesenho e implementação
proativamente? inovação tecnológica. de novo processos; a capacitação para a
“Pensando em gerar é a redução de Sob esse guarda-chuvas gestão ágil; a transformação digital; e a
benefícios sociais por serão desenvolvidos os definição de diretrizes e estratégias de co-
meio de tecnologia, o
emissões de gases principais projetos de municação e relacionamento com as partes
Metrô de São Paulo está de efeito estufa” Inteligência Artificial, interessadas, entre outros.”
sempre buscando solu- Big Data, Internet das
ções para a sua melho- coisas (IoT), Realidade De forma geral, quais são os principais
ria de gestão e para a operacionalização Virtual, além de outros que certamente vi- desafios da sustentabilidade dentro da
de seus sistemas, por meio de pesquisas e rão, dentro da nossa busca incessante por mobilidade urbana? E como vencê-los?
da adoção de tecnologias inteligentes. E novas tecnologias. Assim, esses quatro ei- “Bem, eles estão relacionados à incor-
a Gestão 5.0 é isso: tecnologias como Big xos – Equilíbrio Econômico-Financeiro, poração de soluções multimodais que esti-
Data, Inteligência Artificial e Internet das Eficiência na Gestão, Gerenciamento de In- mulem a oferta de transporte público sus-
Coisas (IoT) voltadas ao aperfeiçoamento vestimentos e Inovação Tecnológica – estão tentável e o desenvolvimento de uma gestão
da qualidade de vida. Assim, os resultados sendo os motores do desenvolvimento da integrada, com uma política de mobilidade
da aplicação dela no Metrô/SP vêm sendo Gestão 5.0 no Metrô de São Paulo.” única nas regiões metropolitanas, reduzin-
otimizados, sem esquecer a relação com os do a sobreposição de itinerários e, assim,
colaboradores e passageiros.” E que resultados práticos no operacio- oferecendo aos passageiros facilidades e
nal do Metrô você poderia elencar ao lon- melhor retorno no deslocamento urbano.
E quais resultados positivos a Gestão go dessa proposta de evolução constante? A criação de uma ‘Autoridade Metropolita-
5.0 vêm trazendo às diferentes áreas da “Além dos programas citados anterior- na’ seria muito importante para viabilizar
empresa? mente, como o ‘Guia ASGI’, para a inte- isso, pois ela possibilitaria a coordenação
“Incorporada ao desenvolvimento do gração de indicadores corporativos e de- dos modais no espaço urbano das ‘cidades
Plano de Negócios do Metrô, ela vem tra- finição de indicadores ambientais, sociais conurbadas’, nome dado à junção física de
zendo importantes resultados em absoluta- e de governança e integridade, podemos duas ou mais cidades cujas zonas urbanas
mente todas as áreas e departamentos da destacar a expansão da rede e a recapa- tenham se tornado limítrofes, constituindo
companhia, a partir do trabalho de equi- citação e modernização de sistemas para um todo continuamente urbanizado.”

FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ - SP

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E os fornecedores e parceiros: também agenda da governança, não é mesmo? ção de ações para equidade salarial entre
são cobrados por vocês para o desenvolvi- “Verdade. O Metrô de São Paulo deu mulheres e homens em todos os cargos,
mento solidário de ações de sustentabili- um importante passo para a consolidação além da garantia de procedência legal de
dade? De que forma? da pauta Ambiental, Social e de Gover- madeiras que podem ser usadas na presta-
“Sim, os fornecedores e parceiros nança e Integridade (o anexo de requisitos ção desse serviço. E também estão nesse
são cobrados e sensibilizados de diver- ASGI), com a publicação pacote de orientações
sas formas nesse sentido. Por exemplo, de seu primeiro edital a adoção ou compro-
exigimos que eles estejam perfeitamente trazendo orientações de “A criação de vação de que as em-
conscientizados e alinhados ao Código sustentabilidade empre- uma ‘Autoridade presas que entrarem na
de Conduta e Integridade do Metrô de sarial para a contrata- concorrência têm, de
São Paulo (CCI), que está disponível no ção de nova prestação Metropolitana’ verdade, um plano de
site do Metrô e no Portal da Governança de serviço. A medida faz gestão ambiental com
Corporativa. Esse documento define os parte de um pacote de
seria muito garantia de qualidade;
princípios éticos, valores e os indicadores ações da empresa rela- importante para um plano de monito-
de respeito às leis e à transparência que cionadas a esses temas, ramento dos níveis de
orientam a conduta e o comportamento que, inclusive, definiu coordenação ruído e vibração de
ético de todos os administradores, con- as linhas para a criação suas atividades; que
selheiros fiscais, empregados, estagiários, do ‘Guia ASGI’, e defini-
dos modais no têm funcionários com
aprendizes, terceiros contratados a servi- rá aquelas para a con- espaço urbano” vínculos empregatí-
ço do Metrô, prestadores de serviço e for- tratação do serviço de cios formais e reserva
necedores, visando ao combate da prática Due Diligence.” de cargos para Pessoas
de atos ilícitos, tais como a corrupção, a Com Deficiência (PCD), além de infraes-
fraude, a lavagem de dinheiro, o suborno E isso também já bem estabelecido a trutura como acessibilidade para esse pú-
e o assédio moral ou sexual.” partir dos editais de licitação, correto? blico; bem como a gestão de processos e
“Sim. Neles, os concorrentes deverão riscos, para garantir um ambiente íntegro
Vocês, inclusive, lançaram um edi- seguir uma série de orientações ASGI, com e a entrega dos serviços, tudo isso, é claro,
tal de governança contemplando a destaque para as recomendações de ado- com respeito às legislações vigentes.”

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FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ - SP


O DESENVOLVIMENTO DE NOVOS NEGÓCIOS

A
ssim como todos os setores da por meio da aplicação de descon- no começo de 2020, você declarou
economia brasileira, o Metrô tos, isenções sobre as remunerações, em entrevista à revista BRASIL ENGE-
de São Paulo sofreu diretamen- além do parcelamento do pagamen- NHARIA, que estava trabalhando para
te os impactos da pandemia do novo to das ações, entre outras medidas que 12% do faturamento do Metrô/
coronavírus. Nesse cenário, além da emergenciais. SP fossem obtidos por meio da recei-
drástica queda na movimentação de E a aposta incluiu também a ace- ta não tarifária, o que, à época, em
passageiros por suas linhas, outro leração dos contratos de Naming termos de valores, representaria algo
problema emblemático foi a redu- Rights, que é como são conhecidos em torno de 300 milhões de reais. Vo-
ção da chamada receita não tarifária, os direitos de nomeação parcial das cês conseguiram alcançar essa meta
advinda da exploração publicitária estações para empresas que desejam em 2021, no comparativo com 2020?
e comercial das estações do Metrô, vincular suas marcas ao transporte, Claudio Roberto Ferreira - Em
tais como a adesivagem externa dos prática já conhecida no Brasil e tam- 2021 a receita não tarifária foi de
trens, a instalação de painéis, totens bém muito comum em vários siste- 322,7 milhões de reais, superando a
e adesivos nos bloqueios e, ainda, as mas de metrô na América do Norte, meta estabelecida em 2020, em 22% .
locações de espaços, como imóveis e Europa e Ásia. Embora ainda não tenhamos com-
áreas para varejis- E o resultado de pletamente tabulados os resultados
FOTO: DIVULGAÇÃO METRÔ - SP

tas e lojistas atu- tais iniciativas foi de 2021, a certeza é que a evolução
arem dentro das muito bom, como percentual dessa receita tenha sido
estações, ou em explica o diretor maior e bastante expressiva. Entre
shoppings anexos Comercial do Metrô os destaques que turbinaram a con-
a elas. de São Paulo, Clau- quista dessas cifras superlativas, es-
A saída para dio Roberto Fer- tiveram a alienação de terrenos da
conter o dreno de reira, alguém que, companhia, e a ampliação das con-
recursos e tentar como o Metrô/SP, cessões dos espaços comerciais da Li-
conter o agrava- se mostra bastante nha 1-Azul e da Linha 2-Verde, além
mento do proble- otimista e confian- da continuidade do desenvolvimento
ma e mitigar os te na recuperação e comercialização dos Naming Rights,
impactos deriva- da economia e na que foi também uma das saídas que
dos da pandemia retomada do cres- encontramos para injetar recursos
foi, então, encon- cimento no período financeiros na companhia, sem que
trar soluções cria- do pós-pandemia. essa ampliação de receitas viesse do
tivas, bem como Confira! aumento do valor das passagens. E
estreitar as parce- foi assim que, por exemplo, a estação
rias com os anun- Claudio Roberto Ferreira, diretor BRASIL ENGE- do Metrô Carrão ganhou o nome de
ciantes e lojistas, Comercial do Metrô de São Paulo NHARIA - Claudio, Estação Carrão-Assaí Atacadista, e a

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Estação Saúde pas- além do parcelamen- e permanecemos atentos junto aos


sou a ser chamada “Intensificamos a to do pagamento das nossos lojistas e concessionários que
de Estação Saúde- ações, entre outras. ocupam nossas áreas comerciais, a
-Ultrafarma.
venda de terrenos, Complementar men- fim de reduzir tais repercussões.”
pois o mercado te, como eu já men-
Quais foram os cionei na resposta Com o avanço da vacinação e pas-
impactos da CO- estava com viés anterior, intensifica- sado o período mais crítico da pande-
VID-19 nas ações co- mos a venda de ter- mia, quais são as perspectivas e prin-
merciais do Metrô?
de compra, renos, pois o merca- cipais projetos do Metrô de São Paulo
Qual foi o principal lançamos o do estava com viés até o final de 2022? 
deles, e o que vocês de compra, lançamos “Bem, a ideia agora é estimular a
fizeram para minimi- projeto Naming o projeto Naming Ri- concessão dos espaços comerciais da
zá-lo? Rights” ghts das estações, Linha 3-Vermelha, ampliar o núme-
“Sem dúvida al- com resultados bas- ro de estações para comercialização
guma, o principal tante satisfatórios.” do projeto Naming Rights e, ainda,
impacto da pandemia atuar na regularização dos imóveis
do novo coronavírus foi a queda na Reconhecidamente, o Metrô/SP é o visando à sua comercialização e, em
receita de varejo e publicitária do Me- quinto maior shopping center do es- conjunto com as áreas de projeto,
trô. Considerando o cenário econômi- tado de São Paulo em metros quadra- atuar fortemente para que as opor-
co decorrente da COVID-19, a Compa- dos. No comparativo com os demais tunidades de negócio nas futuras
nhia do Metropolitano de São Paulo shoppings, ele foi tão impactado pela linhas do Metrô já estejam desenha-
foi solidária e atenta às circunstâncias pandemia quanto estes? das e de acordo com a concepção
do momento, e prontamente aprovou “Assim como grande parte dos dos nossos projetos de expansão.
diversas medidas visando a mitigar setores econômicos, os negócios ex- Assim, agora, estamos conf iantes na
tais impactos, entre as quais, descon- plorados nas áreas do Metrô sofreram recuperação da economia e na reto-
tos aos lojistas, isenção sobre a remu- com os efeitos da COVID-19. Mas, de mada do crescimento no período do
neração, prorrogação de ‘a vencer’, nossa parte, atuamos firmemente pós-pandemia.”

das Palmeiras
Linha Vermelha - Rua Linha Verde - Tunel Sumaré

Homenagem da Maubertec
que desde 1971 participa da
história do Metrô de São Paulo,
prestando serviços nas áreas de
Linha Verde - Ana Ros
a
Projeto, Gerenciamento de
Obras e Gerenciamento de
Manutenção Civil.
Prêmio TALENTO
Engenharia Estrutural 2007
Categoria Obras de Arte
Linha Azul - Parada Ingl Linha Verde - Alto do Ipiranga
esa

Projeto - Gerenciamento - Fiscalização

57
Linha Lilás - Giovanni
Linha Verde - Alto do Ipiranga
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A gestão matricial de pessoas na


implantação dos empreendimentos de
expansão do Metrô de São Paulo
ARETUZA TEIXEIRA DE MELO PAZ* / CARLOS AUGUSTO DIAS DE FARIA** /
FERNANDO MARTINS PEDRO*** / LAURA HENRIQUE PEREIRA**** /
NOEL JOÃO MENDES COSSA***** / PAULO SÉRGIO AMALFI MECA******

O
INTRODUÇÃO Como esse tipo de organização pres- participam do projeto não são transferi-
s desafios do Metrô para supõe uma sobreposição entre estruturas dos de suas unidades organizacionais e
a expansão da malha me- funcionais tradicionais e estruturas orien- que o líder do projeto é alocado em tempo
troviária em uma cidade tadas a projeto, ou a um objetivo especí- parcial mantendo suas funções na área de
como São Paulo são enor- fico, pode-se admitir a existência de dife- origem.
mes, como alguns exem- rentes níveis de estruturação matricial, em Estrutura matricial forte - aplicada a pro-
plos, podemos citar: (1) A função da prevalência entre a hierarquia jetos estratégicos que envolvem a neces-
alta complexidade dos empreendimentos; funcional e a orientação a projetos. Nes- sidade de conhecimentos técnicos de mais
(2) A grande exposição na mídia; (3) A forte se contexto, Patah (2004a) enumera três de uma unidade organizacional de forma
pressão por entrega; (4) Os vários empre- possíveis graus de “matricialização”: a atender uma necessidade complexa que
endimentos sendo desenvolvidos simulta- Estrutura matricial fraca - Ela é mais leve a modificação de diversos processos
neamente, com entregas diferenciadas; (5) parecida com a estrutura funcional e os ou a uma grande transformação dentro da
A concorrência com grupos privados assu- gerentes funcionais possuem um maior organização. Para essa caracterização, são
mindo o gerenciamento da implantação de poder em comparação aos gerentes de definidos, como parâmetros, que o proje-
novas linhas de Metrô. projeto. to é atendido por meio de atividades que
Como fator potencializador desses de- Estrutura matricial forte - Este tipo de demandam a alocação dos empregados
safios, temos observado um incremento estrutura aproxima-se mais da estrutura em período integral, que sua utilização é
nos níveis de investimento na expansão da projetizada, na qual os gerentes de proje- apropriada em projetos que tenham prazo
malha metroviária, o que necessariamente to possuem uma maior influência sobre os estimado de conclusão acima de 6 meses,
acarreta uma maior demanda por resulta- funcionários da empresa do que os geren- que os empregados são transferidos de
dos em termos de prazo e custo, a fim de tes funcionais. suas unidades organizacionais para a es-
proporcionar o devido retorno desses in- Estrutura matricial equilibrada - Em que trutura do projeto (estrutura da unidade
vestimentos à sociedade, o que só pode ser os gerentes de projeto e os gerentes fun- organizacional responsável pelo projeto
alcançado por meio da modernização no cionais possuem o mesmo nível de influ- com centro de custo criado para essa fina-
gerenciamento dos projetos de expansão e ência sobre o trabalho e as pessoas que o lidade), e que o líder do projeto é alocado
da otimização dos recursos destinados à sua executam. em tempo integral.
consecução. No Metrô, esses três níveis de estru- Estrutura matricial balanceada (equivalen-
Com o objetivo de aumentar as chances tura matricial estão definidos em norma te à estrutura matricial equilibrada) - apli-
de sucesso dos empreendimentos a Diretoria interna (METRÔ, 2020b), a partir de ca- cada a projetos que envolvem a necessidade
de Engenharia e Planejamento – DE, vem, racterísticas que facilitem a sua organiza- de conhecimentos técnicos de mais de uma
desde 2016, aprimorando e desenvolvendo ção no contexto da empresa: unidade organizacional de forma a atender
novas práticas de gerenciamento, dentre Estrutura matricial leve (equivalen- uma necessidade que demande dedicação
elas a gestão matricial das pessoas, cuja ex- te à estrutura matricial fraca) - aplicada parcial ou integral dos empregados envolvi-
periência e resultados obtidos neste período a projetos que envolvem a utilização de dos e dedicação integral do líder do projeto.
constituem o escopo deste nosso trabalho. conhecimentos técnicos de mais de uma Como características de enquadramento é
unidade organizacional, de forma a aten- definido que o projeto pode ser atendido por
Fundamentação teórica der uma necessidade que leve a uma me- meio de atividades que demandam a utiliza-
Segundo Patah (2004b), a estrutura lhoria de processos pontuais ou pequena ção dos empregados em período de até 40
matricial combina a estrutura funcional e transformação dentro da organização por horas/mês e/ou com duração de até 6 meses,
a estrutura projetizada para criar uma es- meio da dedicação parcial dos emprega- que os empregados que participam do pro-
trutura híbrida com características das duas dos envolvidos. Nesse caso, são definidas, jeto não são transferidos de suas unidades
“estruturas-mãe”. Paralelamente à estrutura como características, que o projeto deve organizacionais, à exceção do líder do pro-
funcional, sob responsabilidade dos geren- ser atendido por meio de atividades que jeto e que, de acordo com a complexidade
tes funcionais, são criados grupos de pro- demandam dedicação parcial dos empre- do projeto, o líder do projeto é alocado em
jetos sob responsabilidade dos gerentes de gados e do líder do projeto, limitado a até tempo integral ou parcial.
projetos. 8 horas semanais, que os empregados que De acordo com as características des-

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

dos recursos de pessoal, bem como pro-


porcione a oportunidade de intercâmbio
de conhecimentos e informações entre as
pessoas e as equipes, estimulando a ges-
tão do conhecimento organizacional por
meio da capacitação de recursos menos
experientes.
Nesse caso, a alocação matricial das
pessoas, por períodos pré-definidos, em
regime parcial ou integral, abrange não
somente as estruturas organizacionais
responsáveis pela implantação dos em-
preendimentos, mas também aquelas res-
ponsáveis por planejamento e projetos, em
que as atividades de desenvolvimento de
anteprojeto, projeto diretriz, projeto bá-
sico e projeto executivo podem envolver
empregados de diversas áreas, conforme
as especificidades das competências re-
queridas em cada caso.

BREVE HISTÓRICO
Figura 1 - Ciclo de vida dos empreendimentos de expansão De 2016 até hoje, a DE vem implemen-
Fonte: Norma interna (METRÔ 2020a) tando um modelo de estrutura matricial de
recursos com o objetivo de buscar um me-
critas, observa-se que a adoção de uma es- atendimento a objetivos nos mais variados lhor equilíbrio entre a demanda de ativida-
trutura matricial forte faz parte da própria níveis da organização, desde a solução de des e a realidade do efetivo da empresa de
essência da DE, já que 4 das suas atuais 6 problemas específicos das unidades organi- modo a assegurar a entrega dos empreendi-
gerências estão estruturadas segundo esse zacionais até a participação no desenvolvi- mentos no escopo, no custo, no prazo e na
conceito, sendo cada qual responsável pela mento das ações do Planejamento Estratégi- qualidade requeridos.
implementação de um empreendimento es- co da Companhia. A seguir alguns dos principais marcos e
pecífico do portfólio de expansão da malha No que tange à estrutura matricial ações implementadas neste período:
metroviária, atuando como uma estrutu- balanceada, que constitui foco deste tra- Dezembro/2016 - Implantação da estrutu-
ra projetizada, liderada por um gerente de balho, observamos que, conforme explici- ra matricial para balanceamento dos recur-
projeto, com recursos financeiros, logísticos tado na figura 1, os empreendimentos de sos, chamada à época de “nave mãe”, com
e de pessoal próprios, e com uma entrega expansão do Metrô possuem um ciclo de a criação dos núcleos de apoio às unidades
muito bem delineada num horizonte finito vida estruturado em diversas fases, cada organizacionais com competências em pro-
de tempo. qual com entregas e volumes de trabalho jetos civil e de sistemas, gestão de contratos,
Da mesma forma, observa-se também a claramente identificados, sendo que a na- orçamento e planejamento e implantação de
adoção do conceito de estrutura matricial tureza das competências necessárias ao obras civis e implantação de sistemas, para
leve em larga escala, na constituição de vá- desenvolvimento dessas entregas é dife- gestão das capacidades e alocação dos re-
rios grupos de trabalho com participação de rente entre uma e outra fase, de forma que cursos condizente com a real demanda dos
empregados de diferentes áreas, visando ao determinados recursos de pessoal são mais empreendimentos, conforme demonstrado
ou menos deman- na figura 2.
dados em diferentes Implantação do Escritório de Projeto Ní-
horizontes tempo- vel 2 (Núcleo de Gestão de Projetos).
rais, dependendo Fevereiro de 2019 - Unificação da Diretoria
da fase em que o de Planejamento com a Diretoria de Enge-
empreendimento se nharia e Construções - todas as atividades
encontra. relacionadas ao ciclo de vida dos empreendi-
Essa caracterís- mentos de expansão (figura 3.1 e figura 3.2)
tica dos empreen- passaram a estar sob gestão de uma única
dimentos de expan- Diretoria - DE, integrando as fases de con-
são faz com que a cepção, validação e projetos à fase de im-
alocação matricial plantação dos empreendimentos e possibili-
de pessoas surja tando uma maior capacidade de mobilização
como uma alterna- dos recursos. E ainda houve a padronização
tiva válida para a das ações de gerenciamento de projetos nas
Figura 2 - Estrutura Matricial DE otimização do uso gerências, com a criação dos Escritórios de

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TRANSPORTE I ENGENHARIA

zacional”, iniciativa
essa ligada ao ob-
jetivo estratégico
“Transformação Or-
ganizacional”.
Após 3 anos
dessa primeira cole-
ta, durante o desen-
volvimento de um
trabalho acadêmi-
Figura 3.2 - Estrutura Unificada co (PAZ, 2021), foi
aplicada nova pes-
Esse grupo passou então, a partir das quisa, que fez uso dos resultados anteriores,
diretrizes corporativas de alocação matricial abordando a gestão matricial e ainda ex-
de pessoas consolidadas em norma interna, plorou bastante o tema gestão de mudança
a estruturar o modelo a ser empregado na no contexto pandêmico, com o objetivo de
DE para a operacionalização desse processo, identificar comportamentos que sinalizas-
desde a identificação da necessidade de uma sem resistência ou abertura à mudança, uma
Figura 3.1 - Estrutura Anterior competência específica em cada uma das vez que a pandemia provocou muita instabi-
gerências, até a efetiva alocação matricial. lidade e insegurança no comportamento dos
Para padronizar o processo foi consoli- empregados.
Projetos Nível 1 - Escritórios de Projetos das
dado um fluxo de trabalho, apresentado na Os resultados desta pesquisa demons-
Gerências.
figura 5, o qual foi formalizado por meio da traram que há grande potencial para a apli-
Dezembro de 2020 - Remodelação da Es-
publicação em procedimento interno. cação da gestão matricial, pois os números
trutura de Trabalho, com a criação de um
Esse procedimento descreve todas as indicam que a equipe está aberta a novos
novo departamento de “Gestão de Recursos
etapas e responsáveis no processo de alo- modelos de gestão e busca aperfeiçoamento
e Metodologia” ligado diretamente à Dire-
cação matricial de recursos, abrangendo: e aprendizagem contínuos.
toria - DE (figura 4) com a finalidade de,
(a) Identificação de necessidade de com- Fazendo um breve recorte desses re-
dentre outras: (1) atuar como “gestores da
petências; (b) Registro da necessidade sultados, a figura 6 traz a visão do gestor
capacidade”, determinando quem atuará em
identificada; (c) Avaliação de viabilidade quando questionado sobre a participação de
cada projeto e por quanto tempo; (2) desen-
de atendimento por todas as áreas da DE e membros da sua equipe em projetos matri-
volver tecnicamente a equipe; (3) estabele-
indicação de pessoas; (d) Avaliação de as- ciais em outras áreas. A disponibilidade para
cer critérios de priorização para determinar
pectos relacionados à estrutura de carreira compartilhar recursos teve aumento de dois
onde os recursos serão alocados e sob quais
e saúde e segurança ocupacional; (e) Efe- pontos percentuais, em comparação a 2018.
condições serão desmobilizados; (4) acom-
tivação da alocação matricial; (f) Avaliação É importante destacar que em 2018,
panhar periodicamente o status dos projetos
de desempenho do empregado alocado ma- não havia a opção “não sei” apresentada em
para revisar seu plano de alocação/ desmo-
tricialmente. 2021, logo pode-se deduzir que o resultado
bilização de recursos.
negativo de 2018 foi dividido na pesquisa
PESSOAS recente, e o percentual de 13% de indeci-
ESTRUTURA E PROCESSOS
Em 2018 o Núcleo de Informação e sos pode ser considerada a área de manobra
Para ampliar e incentivar a gestão matri-
Pesquisa do Metrô elaborou uma pesquisa para ações de engajamento.
cial de pessoas foi necessária a formalização
quantitativa para coleta de dados junto aos Na visão dos empregados, a gestão ma-
do processo de gestão do pool de recursos,
seus empregados. O objetivo dessa pesquisa tricial promove a mobilidade entre as áreas,
desde a solicitação, alocação até a sua des-
foi a realização de um diagnóstico para a no entanto, existe o contraponto de que há
mobilização. Neste sentido foi proposta ini-
“elaboração de uma nova estrutura organi- limitação, uma vez que, a palavra final para
cialmente a estruturação de um Grupo de
Trabalho, denominado GT Matricial, com
a participação de todas as unidades orga-
nizacionais da Diretoria - DE, por meio da
indicação de um participante e respectivo
suplente de cada uma delas.

Figura 4 - Estrutura DE - após reestruturação Figura 5 - Fluxo do Processo

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matricial no processo de desenvolvimento


pessoal e profissional dos empregados, fo-
ram implementadas comunicações para dis-
seminar os benefícios da atuação matricial.
Através dos feedbacks recebidos por meio
destas comunicações observou-se que gran-
de parte dos empregados possui diversos
medos e incertezas quanto a atuação ma-
tricial e suas possíveis consequências, como
por exemplo sobrecarga de trabalho, esque-
cimento pelo seu gestor funcional e conse-
quentemente ter sua carreira prejudicada,
possível dificuldade na adaptação em outra
área de trabalho, dentre outros.
Figura 6 - Participação da equipe em projetos matriciais Neste sentido, para clarificar e reforçar
os inúmeros benefícios desta prática foram
reforçadas as comunicações e esclarecimen-
tos sobre o tema, bem como desenvolvidos
instrumentos de avaliação de atuação ma-
tricial que possibilitem a avaliação de de-
sempenho dos empregados e sua visão sobre
o processo, instrumentos estes que serão
tratados nos próximos itens deste trabalho.

FERRAMENTAS DE TI
A alocação matricial das pessoas, con-
forme exposto, mostrou-se estratégica para
o atingimento de metas da DE. Uma vez
desenhado o processo que detalha e atribui
Figura 7 - Intenção de participar em projetos matriciais no futuro responsabilidades aos diversos atores en-
volvidos com a operacionalização da gestão
a liberação acontecer é apenas do gestor. nha sofrido leve queda em relação a 2018. matricial de pessoas, ainda havia margem
Entre comentários mais citados está o dese- Semelhante ao caso anterior, em 2018 para que todos pudessem desempenhar os
jo de participar mais ativamente do processo não havia a opção “não sei”, logo é possí- seus papéis de maneira mais organizada e
de gestão matricial. vel concluir que há uma relação direta na eficiente.
Na figura 7, o recorte foi feito para apre- redução do número positivo e no aumento No princípio, mantinham-se as comu-
sentar a percepção do empregado quanto ao de indecisos, e novamente, esta é a área de nicações via correio eletrônico e centrali-
interesse em participar de projetos matri- manobra para o desenvolvimento de ações zavam-se os registros em planilhas arma-
ciais e foi possível constatar que o campo para fomentar a gestão matricial. zenadas em pastas virtuais do GT Matricial.
para a gestão matricial é fértil, embora te- Para reafirmar a importância da atuação Com o amadurecimento do processo, con-
tudo, observou-se que tanto a comunicação
quanto os registros das cessões matriciais
ocorriam sem um padrão, o que além de
dificultar qualquer tipo de análise de de-
sempenho, ocasionava algumas falhas no
encaminhamento das informações, gerando
atrasos no fluxo, como um todo.
Outra dificuldade inerente à ausência de
ferramentas mais apropriadas foi a subjeti-
vidade natural com que se tende a tratar a
alocação de recursos humanos em ativida-
des das diversas áreas. Ou seja, o processo
carecia de critérios objetivos para a solici-
tação de recursos e subsequente indicação
de empregados, sendo comum a opção por
nomes e não por competências.
Vale contextualizar que o Metrô recen-
temente implantou, de maneira corporativa,
o seu Banco de Conhecimentos – BDCON:
Figura 8 - Fluxograma das etapas automatizadas
uma grande base de dados sobre experi-

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TRANSPORTE I ENGENHARIA

nifica que o fluxo nho dos empregados. Ao término de cada


de informações que cessão matricial, um formulário de avalia-
costumava levar al- ção é criado para que os gestores matri-
guns dias, passou a ciais possam registrar suas considerações
levar apenas alguns acerca do trabalho matricial e, uma vez
minutos. preenchido, este passa a integrar o rol de
Na sequência, documentos de desempenho do profissio-
com o intuito de nal, ficando disponível para visualização
permitir a dispo- apenas pelo próprio empregado, e pelo seu
nibilização das gestor funcional.
mesmas informa- Ainda relativo às ferramentas de tecnolo-
ções a todas as gia de informação, e considerando a melhoria
partes interessa- contínua que sempre busca, a DE patrocina
das, bem como um projeto ágil para o desenvolvimento de
Figura 9 - Painel de Gestão Matricial de Pessoas da DE de possibilitar a um módulo de consulta aos dados do BDCON
avaliação do de- (figura 10 ). Atualmente, apesar das solicita-
sempenho do pro- ções de recursos já serem processadas e enca-
ências, formações, conhecimentos e com- cesso da gestão matricial de pessoas, foi minhadas de forma automática, a verificação
petências de seus empregados. Compreen- criado no “Power BI” um painel contendo da aderência de cada empregado às deman-
dendo o valor destes dados, o GT Matricial visualizações do “inventário” de cessões das de recursos quanto às competências ain-
adotou o uso de um formulário padronizado matriciais e indicadores do uso desta força da é feita de forma “manual”. Contudo, com
para a solicitação de recursos humanos den- de trabalho (figura 9 ). as entregas parciais deste projeto, já tem sido
tro da estrutura matricial da DE, sendo que A fim de garantir a consideração pelos possível que estas análises sejam feitas de
tal formulário foi construído a partir da uti- gestores da atuação matricial no proces- forma muito mais rápida e objetiva, uma vez
lização de exatamente as mesmas categorias so de desenvolvimento pessoal e profis- que a interface criada em “Power BI” permite
e termos taxonômicos contidos no BDCON. sional dos empregados, foi desenvolvido, a busca por conjuntos de experiências, for-
Com o tempo, foi desenvolvida a auto- em conjunto com a gerência de recursos mações, conhecimentos e competências de
matização do processamento e do encami- humanos, um formulário de avaliação de maneira prática.
nhamento de todas as solicitações de recur- desempenho específico para os trabalhos Se por um lado a estrutura matricial ba-
sos na estrutura matricial, o que somente matriciais. Destaca-se que este, de ma- lanceada é suportada pelas ferramentas até
foi possível através do uso do “Power Au- neira inovadora no Metrô, foi construído aqui apresentadas, a estrutura matricial for-
tomate”, ferramenta da Microsoft que per- dentro da própria ferramenta corporativa te deverá ser apoiada por outra ferramenta
mite a conexão de outras aplicações, tais de apoio à gestão dos recursos humanos, o também em desenvolvimento: o Cronogra-
como o “Forms”, “SharePoint”, “Approvals” que permitiu a integração desta rotina ao ma Integrado de Recursos. Este consistirá
e “Outlook” (figura 8 ). Na prática, isso sig- processo cíclico de avaliação de desempe- em um cronograma construído no Microsoft
Project indicando as atividades de gestão e
fiscalização dos empreendimentos e corre-
lacionando-as aos próprios cronogramas de
projeto e de implantação.

RESULTADOS
Ao longo de 2021, do efetivo médio
de 522 empregados da DE, excetuando-se
os 104 ocupantes de cargos de liderança e
gestão, todos os demais 418 (representan-
do 80% do quadro) atuaram em atividades
matriciais, nos modelos de estrutura leve,
balanceada e/ou forte.
Especificamente no caso da estrutura
matricial balanceada, observamos uma in-
tensificação do compartilhamento de recur-
sos, conhecimentos e experiências entre as
diversas equipes que compõem a estrutura
da DE, como forma de suprir as demandas
pontuais dessas equipes.
Essa otimização de recursos, na práti-
ca, ainda se traduz em um número adicional
de pessoas que teriam de ser integradas ao
quadro de empregados, para atendimento às
Figura 10 - Exemplos de telas desenvolvidas no módulo de consulta ao BDCON
necessidades das unidades organizacionais,

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cial no Metrô-SP. Pesquisa Interna. 2018.
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sagem dos Empreendimentos de Expansão.
Norma Interna. Revisão 2. 2020a.
[3] METRÔ. - Gestão de Pessoas em Equipe
Matricial. Norma Interna. Revisão 0. 2020b.
[4] METRÔ. - Gestão de Pessoas em Equipe
Matricial no Âmbito da Diretoria de Enge-
nharia e Planejamento – DE. Procedimento
Interno. Revisão 0. 2021.
[5] PATAH, LEANDRO A. - Alinhamento es-
tratégico de estrutura organizacional de pro-
jetos: uma análise de múltiplos casos. 2004a.
169 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade
Figura 11 - Atendimento às solicitações de recursos matriciais de São Paulo, São Paulo.
[6] PATAH, LEANDRO A. - Strategic align-
caso essa alternativa não estivesse sendo de promover a otimização da utilização ment of project management organizational
adotada. desse recurso por meio do seu compar- structure: an analysis of multiple cases. Paper
Se por um lado constatamos a evidên- tilhamento entre os empreendimentos, presented at PMI® Global Congress 2004b
cia de otimização do uso dos recursos, por favorece a própria capacidade de condu- - Latin America, Buenos Aires, Argentina.
outro, o monitoramento dos resultados su- ção de diversos empreendimentos sendo Newtown Square, PA: Project Management
gere diversos pontos de melhorias a serem desenvolvidos simultaneamente, sem o Institute.
trabalhados ao longo de 2022, a exemplo da que não seria possível a consecução das [7] PAZ, ARETUZA T. M. - Gestão Matricial
dificuldade de atendimento de uma parce- metas estratégicas assumidas perante a com foco no capital humano no setor de
la significativa das solicitações de recursos, Companhia, a Secretaria, o Governo e a transporte urbano de passageiros. 2021. TCC
conforme figura 11. própria sociedade. (MBA em Gestão de Pessoas) – Universidade
Para estruturar uma abordagem de me- Nesse caso, além dos ganhos intan- de São Paulo, São Paulo.
lhoria contínua do processo de gestão ma- gíveis vinculados à capacidade de con-
tricial dos recursos, vêm sendo realizadas secução dos objetivos estratégicos da
análises críticas, pelo GT Matricial, durante empresa, ao intercâmbio de experiências * Aretuza Teixeira de Melo Paz é
as quais várias sugestões de melhorias vêm pela atuação profissional junto a diversas administradora de empresas, supervisora de
sendo discutidas e planejadas. Uma síntese equipes e à ampliação de conhecimentos serviços administrativos do Metrô-SP
dos tópicos mais evidentes nessas discussões e oportunidades de carreira, é possível E-mail: atmpaz@metrosp.com.br
é apresentada na figura 12. também a mensuração de resultados tan-
gíveis em termos monetários, em função ** Carlos Augusto Dias de Faria é
CONCLUSÕES da redução de necessidades adicionais de engenheiro Industrial Elétrico – Habilitação
A gestão matricial das pessoas na DE pessoal para a condução dos empreendi- Eletrônica, coordenador de gestão de
por demandas de competências, além mentos. recursos e capacidades do Metrõ-SP
Como sugestões para a replicabilida- E-mail: cadfaria@metrosp.com.br
de deste modelo em outras áreas ou mes-
mo em outras organizações, entendemos *** Fernando Martins Pedro é
como boas práticas: (1) Reestruturação engenheiro Mecânico do Metrô-SP
organizacional, com criação de unidade E-mail: fmpedro@metrosp.com.br
para suporte e apoio à gestão matricial;
(2) Implementação de um Plano de Co- **** Laura Henrique Pereira é psicóloga,
municação Engajador, com um repositório assistente administrativa do Metrô-SP
centralizado de informações; (3) Estabe- E-mail: laurapereira@metrosp.com.br
lecimento dos critérios e parâmetros do
processo de gestão de pessoas, em equipe ***** Noel João Mendes Cossa é engenheiro
matricial; (4) Constituição de grupo de re- civil, chefe de Departamento do Metrô-SP
presentantes das unidades organizacionais E-mail: noel.jmendes@metrosp.com.br
envolvidas; (5) Desenvolvimento de roti-
nas e ferramentas de requisição e oferta de ****** Paulo Sergio Amalfi Meca é
recursos; (6) Criação de mecanismos para engenheiro eletricista, diretor de Engenharia
Figura 12 - Tópicos para melhoria no processo valorizar e incentivar a atuação em regime e Planejamento do Metrô-SP
de gestão de recursos matriciais matricial. E-mail: psameca@metrosp.com.br

64 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃOTRANSPORTE
PAULO I ENGENHARIA

Indicadores de desempenho do
processo de desenvolvimento
do projeto executivo de implantação
de sistemas metroviários
FERNANDO MARTINS DA SILVA* / FREDERICO DE CARVALHO BRAGA** / ROBERTO TEIXEIRA***

O
INTRODUÇÃO concepções dos sistemas, configurações são desenvolvidos simultaneamente e por
projeto executivo de im- de software etc.); diferentes projetistas.
plantação de uma linha Tipo de unidade construtiva (estação, No decorrer do processo de desen-
de metrô é composto por via, poço de ventilação e saída de emer- volvimento do projeto, cada documento
documentos técnicos que gência, pátio de manutenção e estacio- técnico pode ser submetido a sucessivas
especificam as carac- namento de trens, subestação elétrica, revisões. Se o conteúdo de um documento
terísticas e métodos de terminal rodoviário etc.). de determinado sistema é referência para
construção desta linha. Estes documentos um documento de outro sistema, este úl-
podem ser da modalidade de construção Problemática timo deve sempre ser revisto sempre que
civil, ou da modalidade de sistemas, neste A implantação de uma linha metroviária o primeiro for alterado, com o propósito
caso estão abrangidas as modalidades de envolve a produção de milhares documentos de manter a compatibilidade entre siste-
mecânica, elétrica, eletromecânica e de técnicos. mas que mantêm interface. Desta forma
telecomunicações. Há uma grande rede de interdepen- surge a necessidade de garantir que cada
Este trabalho mostra a experiência ad- dência entre as informações que constam projetista seja abastecido, continuamente,
quirida ao longo da implantação de siste- em diferentes tipos de documentos téc- com as informações necessárias para o de-
mas na fase 2 da Linha 5-Lilás. O conteúdo nicos, por ocasião das interfaces ( figura senvolvimento do projeto do sistema que
destes documentos é referente à engenha- 1). O desenvolvimento do projeto de um lhe compete.
ria aplicada na construção, na operação e determinado sistema depende de informa- Incompatibilidades entre diversos pro-
na manutenção. Não são abrangidos, neste ções que constam em projetos de outros jetos que estabelecem interfaces entre si
contexto, documentos administrativos, fis- sistemas. Os projetos dos diversos sistemas implicam na probabilidade de a obra ser
cais, jurídicos etc.
Os documentos técnicos são classi-
ficados conforme diversos aspectos, tais
como:
Modalidade de engenharia (arquitetura,
obra civil, alimentação elétrica, eletrome-
cânica, telecomunicações etc.);
Tipo de sistema (impermeabilização, dre-
nagem de águas pluviais, ventilação, tra-
ção elétrica, iluminação, detecção e alar-
me de incêndio, controle de trens etc.);
Etapa de execução (escavação, concreta-
gem, fabricação, instalação etc.);
Etapa de controle de qualidade (homolo-
gação de lote piloto, diligenciamento do
processo de fabricação, inspeção em fá-
brica, fiscalização da instalação, pré-co-
missionamento, comissionamento etc.);
Tipo de informação contida no docu-
mento (parâmetros, funcionalidades,
componentes, desenhos em perspectiva
ou projeção ortogonal, diagramas elétri-
cos, listas de materiais, procedimentos, Figura 1 - Compatibilização: Retroalimentação contínua de documentos técnicos de referência

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

co e de recursos humanos e materiais, balho, faz-se necessária a granularidade dos


tanto na gestão de empreendimentos indicadores, dividindo-os em camadas, do
atuais quanto no planejamento de em- mais abrangente para o mais específico, e
preendimentos futuros. segmentando-os por local, por sistema, por
contrato, por etapa de implantação ou por
DIAGNÓSTICO quaisquer outros critérios que se façam ne-
Com a centralização e a padronização cessários no decorrer do empreendimento.
do controle do projeto, a partir da base de
dados cadastrados, são gerados indicado- ANÁLISE DOS
res de desempenho, atualizados continu- RESULTADOS
amente, do início ao fim de cada empre- A partir dos resultados observados nos
endimento. indicadores gerados, são adotadas ações
Figura 2 - Variação de documentos técnicos Estes indicadores, geralmente apresen- em diversos aspectos do projeto, tais como
previstos e aprovados no decorrer do tados por gráficos, permitem, ao gestor, cobranças aos responsáveis, (re)dimensio-
desenvolvimento do projeto identificar e monitorar diversos aspectos do namento de recursos humanos e materiais,
projeto, tais como: controle físico-financeiro.
objeto de retrabalhos. - Quantidade de documentos técnicos pre-
O ritmo do processo de desenvolvi- vistos e sua variação no decorrer do empre- Ações de cobrança aos responsáveis
mento do projeto impacta consideravel- endimento (figura 2); Os indicadores auxiliam nas ações de co-
mente no atendimento aos prazos defini- - Distribuição por projetista (figura 3), por brança aos diversos responsáveis envolvidos
dos no cronograma de implantação. local, por sistema, por etapa de implantação no desenvolvimento do projeto, em função
etc.; do tipo e do grau de atuação de cada res-
Indicadores - Tramitação (envios aos diversos destina- ponsável.
A partir da identificação, quantifi- tários do processo, tais como projetistas, Com base em indicadores como de
cação e correlação dos diversos aspec- analistas, equipes de implantação, área de produção de emissões, de taxa de re-
tos do processo de desenvolvimento operação, arquivo técnico etc). (figura 4); provação, de avanço na aprovação e de
do projeto, tais como f luxos, avanços, - Produção de emissões e análises (figura 5); tendência, são cobradas, das projetistas,
produtividades, qualidades, históricos e - Qualidade dos documentos técnicos e do providências para a melhoria do método
tendências, foram criados indicadores de seu processo de produção, por meio das de trabalho, no que tange à produtivida-
desempenho com o objetivo de monito- análises dos indicadores de taxa de aprova- de e à qualidade.
rar este processo. Este monitoramento, dos por documento analisado (figura 6), de Com base nos indicadores de produ-
por meio dos indicadores, permite me- taxa de cancelamento e de taxa de revisões ção de análises, são cobradas providências
lhor entendimento de problemas e en- por documento aprovado; das áreas de análise, com o propósito de
traves, para auxiliar nas correções dos - Tendência, com previsões de emissões acelerar o processo, sem comprometer a
desvios, na avaliação dos responsáveis e restantes e de conclusão no fornecimento qualidade.
na melhoria do processo. Possibilita to- ( figura 7); A granularidade na geração dos indi-
madas de decisões assertivas por parte - Avanço na aprovação (figura 2). cadores permite que estas cobranças sejam
de gestores, com relevância nos âmbitos efetuadas, também, pelas equipes de cam-
técnico, cronológico, financeiro, jurídi- Tendência po, diretamente aos projetistas e analistas,
Os indicadores de tendência do progres- de forma específica, pois todas as equipes
so do projeto, fornecem um prognóstico de de campo, assim como projetistas e analis-
riscos de atrasos nos trabalhos de implan- tas, recebem indicadores nas medidas de
tação. Este indicador é baseado em outros suas demandas.
indicadores: de
documentos téc-
nicos previstos,
de avanço na
aprovação, de
qualidade e de
histórico de pro-
dução.

Segmentação e
granularidade
Consideran-
do que o projeto
é aplicado em
Figura 3 - Exemplo de distribuição dos
diferentes tipos
documentos técnicos por tipo de sistema, por
de frentes de tra-
contrato de fornecimento Figura 4 - Exemplo de controle mensal de fluxo de documentos técnicos

66 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


TRANSPORTE I ENGENHARIA

Dimensionamen- ponsáveis, resultam em aperfeiçoamento


to de recursos constante do processo de desenvolvimen-
Os indicado- to do projeto e são fundamentais para
res (i) de quan- reduzir os riscos de atraso e aumentar
tidade de docu- a qualidade dos documentos técnicos, e
mentos técnicos consequentemente da obra.
previstos, (ii) de A identificação e quantificação das
distribuição des- demandas propiciam melhor dimensio-
tes documentos namento das equipes de trabalho e dos
nas diferentes recursos materiais e de informática, tanto
modalidades no desenvolvimento do projeto quanto na
de engenharia frente de obra. O superdimensionamento
Figura 5 - Exemplo de fluxo de produção de documentos técnicos. abrangidas pelo implica no aumento do custo. O subdi-
Entradas (emissões) para análise e saídas com pareceres da análise projeto e (iii) de mensionamento implica no aumento do
avanço na apro- risco de não atender os prazos contratu-
vação, são fun- ais. A compatibilidade deste dimensiona-
damentais para o dimensiona- mento com as modalidades de engenharia
mento de equipes de trabalho e abrangidas pelo projeto, impacta na qua-
dos recursos materiais e de in- lidade do empreendimento, englobando
formática. O conhecimento do documentos técnicos (no caso das equi-
histórico das variações, destes pes de projeto) e implantação (no caso
quantitativos e desta distribui- das equipes de atividades de campo).
ção no decorrer do desenvolvi- Os indicadores de desempenho de pro-
mento do projeto, permite que jeto propiciam tomadas de decisões que
os recursos sejam constante- garantem o dinamismo no desenvolvi-
mente ajustados, em função do mento e a qualidade do projeto, com con-
restante de trabalho a ser exe- sequente redução de custos decorrentes
cutado. de atrasos, retrabalhos, dimensionamen-
tos inadequados de recursos humanos e
Figura 6 - Exemplo de índice de aprovação calculado Controle físico-financeiro materiais, podendo ser utilizado também
por contrato de fornecimento. É um indicador gerado Os indicadores de avanço para demandas jurídicas e imprecisões no
periodicamente, com o propósito de cobrar providências na aprovação, gerados de forma controle físico-financeiro.
dos projetistas, para melhoria da qualidade e aumento segmentada, conforme contra-
dos percentuais deste índice to, local, sistema e tipo de docu-
mento técnico, são usados como * Fernando Martins da Silva é engenheiro
referência, pelos responsáveis Eletricista, MBA em Gestão de Projetos,
pelo controle físico-financeiro, especialização em Planejamento de Transportes
na avaliação dos eventos de pa- Urbanos. Trabalhou na Gerência de Operações, na
gamento pró-rata. Gerência de Manutenção, na Gerência de Projeto e
Concepção de Sistemas. Coordenador de Projetos
CONCLUSÕES Executivos de Sistemas Eletrônicos na Gerência do
A centralização e a padro- Empreendimento Linha 4-Amarela, Metrô -SP
nização do controle dos do- E-mail: fsilva@metrosp.com.br
cumentos técnicos do projeto,
propicia a produção de uma ** Frederico de Carvalho Braga é engenheiro
base de dados completa que Eletricista. Cursou Especialização em Tecnologia
permite gerar indicadores de Metroferroviária - Turma 2, na Poli -USP. Trabalhou
forma segmentada e com gra- na Gerência de Operações, na Gerência de
nularidade, isto é, permitindo Manutenção, na Gerência de Projeto e Concepção
monitorar aspectos globais que de Sistemas e na Gerência de Implantação de
abranjam todo o empreendi- Sistemas do Metrô -SP. Chefe do Departamento de
mento e aspectos específicos e Projetos Executivos da Gerência do Empreendimento
menos abrangentes. Linha 4-Amarela do Metrô -SP - DE/GE4/E4P
Figura 7 - Exemplo de comparação entre estimativas Por este monitoramento, são E-mail: fbraga@metrosp.com.br
de término de diferentes contratos de fornecimento de identificados e avaliados proble-
projeto, baseadas em tendências de continuidade do mas, demandas e responsáveis, *** Roberto Teixeira é engenheiro Mecânico,
projeto, caso os projetistas produzam no mesmo ritmo de forma fácil, rápida e precisa. formado na Universidade Santa Cecília.
das médias dos 30 meses anteriores. A partir deste As cobranças constantes, Trabalha na Gerência do Empreendimento
indicador verifica-se a necessidade de cobrar aumento de baseadas nesta precisa iden- Linha 4-Amarela do Metrô-SP
produtividade de determinados projetistas tificação de problemas e res- E-mail: roberto.teixeira@metrosp.com.br

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BRASILENGENHARIA 06/2022
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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

PMO Corporativo do Metrô: 10


anos estruturando e integrando
processos para gerar valores
LUIZ CLAUDIO DIDIO BRIANI* / LAURO JORRI NETO** /
JAYME DOMINGO FILHO*** / RAFAEL ROSSI BUZZETTO**** /
PRISCILLA AMARO ANTUNES SALDANHA*****
PROJECT MANAGEMENT OFFICE (PMO) para administrá-los corretamente. Nas projetos ou atuam de forma estratégica

I
mersas em um ambiente cada vez empresas, a responsabilidade pela disse- (CASEY; PECK, 2001).
mais dinâmico, enfrentando mu- minação dessas técnicas de gestão pode No Metrô, O PMO Corporativo, for-
danças cada vez mais rápidas e uma ser atribuída a organizações denomi- malmente instituído em 2013, foi criado
complexidade crescente, as orga- nadas na literatura especializada como com o intuito de aprofundar os conhe-
nizações lutam para implementar PMO (Project Management Office), ou cimentos em gerenciamento de projetos
as estratégias de que precisam para gerar escritórios de gerenciamento de projetos. e dar suporte à aplicação das melhores
e manter vantagens competitivas. Há uma Essas organizações são constituídas de práticas de gestão nos projetos estraté-
necessidade maior agora do que nunca de um núcleo de competências com o ob- gicos da Companhia. Para uma organiza-
garantir que os investimentos em portfólios, jetivo de criar uma cultura de projetos ção como o Metrô, a importância de um
programas e projetos levem a benefícios dentro da organização (CARVALHO; RA- escritório corporativo de projetos reside
claros e sustentáveis (PMI, 2019). BECHINI JR., 2015). Elas interagem com na necessidade de coordenar ações para
O sucesso dos projetos está direta- a organização da empresa de diferentes a consecução das metas do plano estra-
mente relacionado ao uso de técnicas formas – como unidades de apoio aos tégico, apoiando os gestores no uso das

Figura 1 - Ciclo de Vida dos Empreendimentos de Expansão

68 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


técnicas e ferramentas de gestão e fazen- xidade, o modelo de gestão foi desen-
do a ligação entre os gerentes dos proje- volvido com base no novo Ciclo de Vida
tos e a alta direção (METRÔ, 2020). definido para os Empreendimentos de
Atualmente, sua constituição tem Expansão, para o qual cinco Fases foram
base nos seguintes conceitos estruturais: identificadas: Validação, Detalhamento,
Missão: promover excelência em go- Licitação e Obtenção de Áreas, Implanta-
vernança e gestão de portfólios, progra- ção e Encerramento.
mas e projetos nas áreas de expansão, A figura 1 apresenta o Ciclo de
operacionais, administrativas, comerciais Vida dos Empreendimentos de Expan-
e financeiras. são revisado, que detalha as etapas e
Visão: ser referência na gestão de subetapas de cada fase a serem exe-
portfólio estratégico empresarial e atuar cutadas para atingir os objetivos do
como consultora em gestão de empreen- empreendimento.
dimentos complexos. Existem requisitos que devem ser
Valores: Integridade; Proatividade; cumpridos e ações que precisam ser to-
Comprometimento; Transparência. madas antes da passagem de uma fase
Dentre as diversas definições com para outra. A figura 2 mostra os portões
relação à tipologia dos escritórios de que regulam as passagens entre fases e
projeto, uma classificação bastante apli- os requisitos a serem cumpridos. Para
cada é a que considera a posição do PMO aprovação da passagem nos portões há
na hierarquia da organização, como por um grupo de análise que é responsável
exemplo: PMO de controle (dos empre- pela avaliação dos requisitos em confor-
endimentos), de suporte (setorial ou de- midade com a estratégia da Companhia.
partamental) e estratégico. O PMO Cor- Os processos contemplados pela me-
porativo do Metrô posiciona-se em nível todologia implantada no Metrô têm por
estratégico e está ligado diretamente à objetivo promover a gestão eficiente dos
alta direção da empresa. Atua definindo empreendimentos de expansão, ainda
e mantendo os padrões de metodologia que o ambiente seja dinâmico e favorá-
e governança em gestão de portfólios, vel a mudanças. A metodologia de gestão
programas e projetos da Companhia, propõe um modelo padronizado para o
coordenando o planejamento e o con- Figura 2 - Portões de Passagem - Requisitos Ciclo de Vida, para a EAP e para os res-
trole integrado, e apoiando a gestão dos pectivos Dicionários da EAP. Além dessas
demais projetos nas áreas de expansão, Equipes multidisciplinares foram ferramentas, existem outros 6 processos
operacionais, administrativas, comerciais criadas para desenvolver e revisar os pro- que, ao serem aplicados, contribuem
e financeiras, visando o sucesso na sua cessos, ferramentas, formulários, instru- para maior controle e praticidade na exe-
implementação. mentos normativos e treinamentos, além cução das atividades. São eles: Termo de
de acompanhar a aferição dos novos Abertura do Empreendimento, Gerencia-
METODOLOGIA DE GESTÃO DE processos. Como resultado dos trabalhos mento Integrado de Escopo, Cronograma
EMPREENDIMENTOS METROVIÁRIOS realizados, o Guia de Gestão de Empre- e Custos, Controle Integrado de Mudan-
Com a implantação do PMO Corporati- endimentos de Expansão foi revisado. ças, Gestão de Riscos, Gestão de Lições
vo do Metrô, foi possível desenvolver uma Como resultado desse trabalho, o PMO Aprendidas e Termo de Encerramento do
metodologia própria de gestão. A partir Corporativo desenvolveu a Metodologia Empreendimento.
dessa metodologia, criou-se um Guia de de Gestão de Empreendimentos Metro-
Gestão de Empreendimentos de Expansão viários. Essa metodologia consolida os RESPONSÁVEL OU GERENTE
(em 2013) para ser a base de implantação principais conceitos, práticas, proces- DO EMPREENDIMENTO
de uma nova cultura em toda a organi- sos, ferramentas e capacitações, visando Historicamente, as áreas do Metrô
zação (METRÔ, 2013). Se de um lado foi orientar gestores e equipes sobre a me- realizam seus trabalhos buscando a ma-
preciso criar um novo modelo de gestão todologia e garantir a excelência na ges- ximização de seus resultados de forma
de projetos, de outro, foi preciso enfren- tão dos empreendimentos de expansão, isolada, principalmente nas fases iniciais
tar os desafios decorrentes do uso desse minimizando os desvios, reduzindo as dos empreendimentos de expansão.
modelo. Com as experiências adquiridas incertezas e contribuindo para o alcance Porém, o ganho isolado de uma área
desde a implementação do PMO Corpo- dos resultados previstos. pode significar a limitação do resulta-
rativo do Metrô, impulsionado pelo Plano Os empreendimentos de expansão do dos trabalhos posteriores de outras
de Negócios 2018 da Companhia, iniciou- do Metrô caracterizam-se como proje- gerências funcionais. A partir da revi-
-se o processo de revisão da metodologia tos complexos, em função do alto grau são da metodologia de gestão e com o
de gestão, visando absorver o aprendizado de incertezas decorrente da integração objetivo de potencializar os ganhos em
com a implantação da metodologia e de- e interdependência de partes distintas, termos de prazo, custos e qualidade para
senvolver processos elencados como prio- inovação, impactos sociais e ambientais, o empreendimento como um todo, foi
ritários para aprimorar a gestão dos em- e diversidade de partes interessadas. Para criada uma figura integradora denomi-
preendimentos vigentes e futuros. facilitar o entendimento dessa comple- nada Responsável pelo Empreendimento,

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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

tendo em vista que a instituição da Ge- to da Gerência em que este profissional dos seus resultados nas estratégias em-
rência do Empreendimento ocorre com será alocado, estão formalizados na presariais. Com isso, o PMO Corporativo
a proximidade da Fase 4 – Implantação. Companhia por instrumento normativo. expande seu campo de atuação, visando
Esse responsável conduz, através de to- avançar ainda mais no amadurecimento
das as gerências funcionais, os proces- REPOSICIONAMENTO DO da gestão dos projetos internos da em-
sos da metodologia de gestão implan- PMO CORPORATIVO presa e contribuindo para o novo posi-
tados no Metrô, e cabe ao Responsável A disseminação da Metodologia de cionamento do Metrô no mercado, como
pelo Empreendimento avaliar e definir o Gestão desenvolvida pelo PMO Corpo- consultor em projetos nas diversas áreas
grau de dedicação (parcial ou exclusiva) rativo para os empreendimentos de ex- do Transporte e da Mobilidade Urbana.
para os profissionais que irão compor a pansão vem fomentando importantes Atualmente, a atuação do PMO
equipe durante as Fases iniciais do Em- avanços na cultura corporativa no que se Corporativo do Metrô está direcionada
preendimento (negociação com os ge- refere à utilização das boas práticas de para quatro grandes frentes de traba-
rentes funcionais). Quando nas Fases 3 gerenciamento de projetos, especialmen- lho. São elas:
e 4, o responsável ou gerente coordena te as recomendadas pelo PMI. -Desenvolvimento de metodologias,
todas as interfaces e integrações de pro- Além dos empreendimentos de ex- ferramentas e capacitação em gestão de
cessos administrativos, projetos, obras e pansão, os processos e ferramentas que projetos e programas;
sistemas do empreendimento. A gestão compõem a nova metodologia podem ser -Gestão de portfólios, programas,
e integração de todos os contratos de aplicados total ou parcialmente a outros projetos e iniciativas estratégicas rela-
implantação de obras civis, sistemas e projetos, de acordo com a necessidade. cionadas ao Planejamento Plurianual de
material rodante também estão sob sua Com a revisão da metodologia de ges- Investimentos;
responsabilidade. tão, uma nova Trilha de Aprendizagem -Gestão integrada dos empreendi-
Suas competências envolvem do- foi desenvolvida em parceria com a UNI mentos de expansão e projetos de am-
mínio em gestão de empreendimentos (Universidade Corporativa Unimetro), vi- pliação;
e gestão comportamental, além de co- sando atender às necessidades de capaci- -Gestão da comunicação com as
nhecimentos técnicos ou específicos do tação das equipes envolvidas em projetos principais partes interessadas e órgãos
negócio de expansão metroviária. Os dos mais diversos graus de complexida- externos.
processos para seleção do profissional de, inclusive com metodologias ágeis. Em 2021 foi aprovada pela Diretoria
que desempenhará o papel de Responsá- O nível de suporte do PMO Corporati- Colegiada do Metrô a Norma Geral (NGR)
vel pelo Empreendimento e Gerente do vo às equipes de gestão, na aplicação da que estabelece as diretrizes e intenções
Empreendimento, bem como para cons- nova metodologia, varia de acordo com a da organização para a gestão de portfó-
tituição tanto do Departamento quan- complexidade dos projetos e do impacto lios, programas e projetos. A NGR é apli-

70 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


cável a todas as áreas da Companhia e atualmente conta com a participação de cujas circunstâncias e causas variam
aborda assuntos como o alinhamento dos aproximadamente 450 colaboradores. de país para país (LIANG et AL., 2019).
programas e projetos ao planejamento Por esse motivo, a Gestão de Riscos
estratégico, a difusão da cultura e ca- GESTÃO DE RISCOS DOS de Empreendimento ganha protagonismo
pacitação em gestão de portfólios, pro- EMPREENDIMENTOS e se torna essencial ao longo de todo o
gramas e projetos, os papéis e responsa- O processo de Gestão de Riscos dos ciclo de vida do empreendimento, au-
bilidade dos escritórios corporativos de Empreendimentos foi um dos processos mentando a probabilidade de atingimen-
projetos, o desenvolvimento e aprimo- prioritários revisados em 2019. Além das to dos objetivos, encorajando a gestão
ramento contínuo das metodologias de oportunidades de melhorias identificadas proativa em identificar e tratar adequa-
gestão, a estruturação e formalização ao longo de sua utilização, outros pon- damente as incertezas que não foram
dos portfólios e seus componentes e da tos importantes também motivaram a sua abordadas nos contratos ou se materia-
disponibilização e manutenção do portal revisão. Com a criação da área de Gestão lizaram de forma diferente das previstas,
corporativo de projetos. de Riscos Corporativos e Conformidade, promovendo a alocação e uso eficaz de
Somado a isso, o PMO Corporati- motivada pela Lei Nº 13.303/2016, os recursos, dentre outros benefícios. As
vo lançou em 2021 o seu portal de servi- conceitos e métodos da Gestão de Riscos metodologias de gestão de riscos se in-
ços com o objetivo de facilitar o cadastro dos Empreendimentos com a da Gestão tegram e se complementam ao longo do
dos projetos que necessitam de suporte de Riscos Corporativos foram compati- ciclo de vida do empreendimento.
para elaboração do planejamento. Os ser- bilizados, aprimorando a governança do
viços oferecidos até o momento são: Metrô. Além disso, com a formalização GERENCIAMENTO
-Consultoria de Planejamento de da figura integradora do Responsável DE PROGRAMAS
Projetos: promove o encontro das equi- pelo Empreendimento, foi identificada Outro importante avanço realizado
pes para garantir que elas desenvolvam uma oportunidade de aumentar a parti- em 2021 foi a aprovação e a formaliza-
o planejamento dos projetos utilizando cipação das áreas funcionais que traba- ção da implementação de dois programas
metodologias e ferramentas apropriadas lham nas etapas iniciais do empreendi- da Diretoria de Operações: o “Programa
e com orientação especializada; e mento (METRÔ, 2021). Operação 5.0” e o “Programa Manuten-
-Oficina em Gestão de Projetos: ca- Diversas frentes de trabalho sobre a ção 5.0”. O PMO Corporativo identificou
pacita as equipes em tópicos básicos de temática de gestão de riscos foram ini- a oportunidade de utilização de elemen-
gestão de projetos para que consigam de- ciadas no Metrô nos últimos anos, entre tos de gerenciamento de programas e de
senvolver seu próprio planejamento. elas a Gestão de Riscos Corporativos, a gerenciamento de realização de benefí-
Todos os serviços são oferecidos sob Gestão de Riscos de Integridade e Regu- cios (BRM - Benefits Realization Mana-
a tutoria de profissionais certificados em latórios e a Gestão de Riscos de Contratos gement) para estruturar a gestão em um
gestão de projetos da organização. de Serviços de Engenharia. Com relação nível acima do gerenciamento de proje-
Além disso, foi desenvolvido o Guia a última, a Gestão de Riscos de Contratos tos. Desta forma, o foco passa a ser não
Básico de Gestão de Projetos, contendo de Serviços de Engenharia, em 2020 foi apenas as entregas individuais de cada
os principais conceitos, práticas e ferra- criada a Comissão Permanente para Ris- componente do programa, mas também
mentas mínimas para gerenciar um pro- cos de Contratos de Engenharia, com o o valor que é gerado a partir da combi-
jeto de forma eficiente e eficaz. O guia, objetivo de apoiar os gestores internos, nação das entregas dos projetos que o
disponível na versão online, apresenta a promover debates entre as unidades en- compõem. Ambos os programas foram
característica adaptativa – está em cons- volvidas e promover a avaliação dos con- formalizados com a aprovação do Termo
tante crescimento e melhoria para sem- teúdos das matrizes a serem divulgadas de Abertura do Programa (TAPg) pela Di-
pre disponibilizar conhecimentos atuali- nos processos licitatórios. retoria Colegiada em 2021.
zados sobre o tema. Essa é uma das iniciativas que tem Além dos termos de abertura citados
Com as restrições impostas pela pan- como objetivo produzir uma minuta anteriormente, as atividades relaciona-
demia da COVID-19, foram desenvolvi- de contratação mais adequada e com das a formalização do programa dentro
dos os treinamentos em EAD do Ciclo de maiores chances de ser cumprida sem do Metrô envolveram também a elabora-
Vida dos Empreendimentos de Expansão desgastes ou aditivos contratuais. Rea- ção de um Roteiro do Programa, de um
e Portões de Passagem, de Controle In- lizar a correta alocação de riscos é um Registro de Benefícios e de Diagramas de
tegrado de Mudanças, Gestão de Riscos desafio enorme que recai sobre o setor Relacionamento entre entregas dos com-
dos Empreendimentos e de Lições Apren- público para aumentar as chances de ponentes do programa e seus benefícios
didas. Alinhado ao interesse na prestação sucesso e cumprimentos das metas de esperados.
de serviços de consultoria em gestão de cronograma e custos de um empreendi- O Programa Operação 5.0 se destina
projetos para outras empresas ou órgãos mento. Mas só isso não é o suficiente. à modernização das instalações e siste-
de governo, também foram elaboradas “O ponto ótimo de alocação de riscos mas da Companhia, tornando-os mais se-
versões direcionadas para a comerciali- ainda permanece elusivo” (WIBOWO; guros e eficientes, com menor custo ope-
zação do produto. MOHAMED, 2010, p. 504). É uma uto- racional e compatíveis com o aumento da
Voltado a abordagens adaptativas, pia esperar que seja possível preparar demanda de passageiros prevista com a
o PMO Corporativo realizou a abertura um contrato perfeito que contemple e expansão das linhas. É um programa cuja
do Fórum Ágil, um ambiente colabora- aborde todas as incertezas ao longo do duração estimada é de nove anos e apre-
tivo dedicado a promoção de eventos ciclo de vida do projeto. O contrato pas- senta um investimento na ordem de 5,5
relacionados a metodologias ágeis e que sará inevitavelmente por renegociações bilhões de reais.

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O Programa Manutenção 5.0 baseia- englobou a pesquisa e a análise crítica novas linhas e estações incorporem di-
-se na implantação e otimização dos sobre os principais sistemas de certifica- retrizes e requisitos de construções sus-
Sistemas de Monitoramento de Ativos ção de construção sustentável existentes tentáveis ao nível das construções passi-
de Tecnologia de Operação – TO, e tem no Brasil e no exterior, que foram ava- veis de serem certificadas.
como objetivo promover melhorias e liados considerando os parâmetros para
inovação tecnológica para apoiar novos a avaliação ambiental, credibilidade e REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
e mais eficazes processos de manuten- rigor técnico, e níveis de desempenho. [1] CARVALHO, M. M. DE; RABECHI-
ção. Esse programa foi estruturado em Também foram abordados outros NI JR., R. - Fundamentos em Gestão
três fases, sua duração estimada é de três aspectos dos sistemas de avaliação da de Projetos: Construindo Competên-
anos e o investimento previsto é na or- sustentabilidade e certificação de cons- cias para Gerenciar Projetos. 4. ed. São
dem de 32,5 milhões de reais. trução sustentável como os relacionados Paulo: Atlas, 2015.
à metodologia de análise de projeto a ser [2] CASEY, W.; PECK, W. - Choosing
DESAFIOS aplicada, o processo de certificação, os the right PMO setup. PM Network, v.
Alguns dos principais desafios en- casos de projetos certificados no setor 15, n. 2, p. 40–47, 2001.
frentados pelo Metrô são: aumentar a de transporte e a comparação quali- [3] LIANG, Q. ET AL. - A game the-
capacidade de transporte com a compra tativa das metodologias em relação às ory approach for the renegotiation of
de novos equipamentos, sistemas e ma- normas brasileiras. Entre os vários sis- Public-Private Partnership projects in
terial rodante, expansão da malha me- temas analisados, o Leadership in Energy Chinese environmental and urban go-
troviária ofertando transporte público and Environmental Design - LEED, um vernance industry. Journal of Cleaner
de qualidade a diversas localidades da referencial desenvolvido pelo U.S. Green Production, v. 238, p. 117952, 2019.
Região Metropolitana de São Paulo, a Building Council (USGBC) que compreen- [4] METRÔ - Guia de Gestão de Em-
melhora do conforto e da segurança dos de categorias para a análise do projeto preendimentos de Expansão. 1. ed.
passageiros, a melhora na eficiência da de edificação que envolvem aspectos da São Paulo: Gerência de Planejamento
manutenção e operação das linhas e a concepção, localização e terreno, ges- Empresarial, 2013.
redução de custos operacionais (manu- tão da obra e desempenho ambiental, se [5] METRÔ - Metodologia de Gestão
tenção, operação e logística). Nesta se- tornou o mais indicado. A metodologia de Empreendimentos Metroviários.
ção, serão apresentadas algumas ações escolhida foi a LEED BD+C (Building, São Paulo: PMO Corporativo, 2020.
em andamento no Metrô nas quais o Design and Construction), aplicável a pro- [6] METRÔ - Relatório Integrado
PMO Corporativo participa e apoia. jetos novos de edificações e estações, 2020. São Paulo: METRÔ, 2021.
A figura 3 apresenta a rede em ope- visando a busca de maior eficiência [7] METRÔ - Evolução da Rede Me-
ração, as obras em andamento, as obras energética e consequentemente redução troviária - Dezembro/2021. São Paulo:
a retomar e a rede futura em estudo. das emissões de CO2, melhor eficiência PMO Corporativo, 2022.
Atualmente, a extensão operacional da hídrica e melhor gerenciamento dos re- [8] PMI - Benefits realization ma-
malha metroviária é de 104,2km, com- síduos da construção e operação. nagement: a practice guide. 1. ed.
posta por 91 estações e 232 trens. A O resultado evidenciado por este estu- Newtown Square: Project Manage-
rede futura composta pelas obras em do apontou que os projetos de empreen- ment Institute, 2019.
andamento, obras a retomar e rede em dimentos do Metrô incorporam requisitos [9] WIBOWO, A.; MOHAMED, S. -
estudo apresenta uma extensão opera- de construção sustentável estabelecidos Risk criticality and allocation in pri-
cional de 240,0km, 212 estações e 479 na metodologia LEED BD+C. A Estação vatised water supply projects in Indo-
trens. São cinco novas linhas de Metrô, Brooklin da Linha 5-Lilás, analisada como nesia. International Journal of Project
Linha 6-Laranja, Linha 16-Violeta, Li- projeto referencial neste estudo, poderia Management, v. 28, n. 5, p. 504–513,
nha 17-Ouro, Linha 19-Celeste e Linha atingir o nível Silver em uma eventual 2010.
20-Rosa, além dos empreendimentos de certificação, porém condicionado à re-
expansão de linhas existentes e projetos alização de intervenções no projeto. Em * Luiz Claudio Didio Briani é gerente
de ampliação de unidades construtivas 2020, o empreendimento da Linha 2-Ver- do PMO Corporativo do Metrô-SP
específicas (METRÔ, 2022). de (Trecho Vila Prudente – Penha), estava E-mail: lbriani@metrosp.com.br
Durante a implantação do empreen- na etapa de elaboração dos projetos exe- ** Lauro Jorri Neto é assessor executivo
dimento da Linha 5-Lilás, a pedido do cutivos de obra civil, quando se identifi- do PMO Corporativo do Metrô-SP
Banco Internacional para a Reconstru- cou através da implantação da gestão de E-mail: laurojorri@metrosp.com.br
ção e Desenvolvimento – BIRD, foi re- riscos, o risco de oportunidade de obten- *** Jayme Domingo Filho é chefe do Departamento de
alizado um estudo com o propósito de ção da certificação LEED BD+C. Gestão de Portfolios, Programas e Projetos Estratégicos
desenvolver um diagnóstico das práti- O diagnóstico foi realizado e finaliza- e Empreendimentos de Expansão do Metrô-SP
cas do Metrô de São Paulo, em relação a do em 2021, no qual apontou a Estação E-mail: jdomingo@metrosp.com.br
critérios referenciais de certificação em Anália Franco como a mais aderente às **** Rafael Rossi Buzzetto é assessor
construção sustentável visando incor- exigências do processo de certificação, técnico do PMO Corporativo do Metrô-SP
porar diretrizes de sustentabilidade e o com ganhos em eficiência energética, hí- E-mail: rrbuzzetto@metrosp.com.br
aprimoramento de processos que resul- drica e redução de emissões de CO2 den- ***** Priscilla Amaro Antunes Saldanha
tem em economia de energia e água e a tre todas as estações que compõe a ex- é chefe do Departamento de Metodologias
redução de impactos em todo o ciclo de pansão dessa fase da Linha 2-Verde. Com e Ferramentas de Gestão do Metrô-SP
vida dos empreendimentos. O trabalho isso, há expectativas que os projetos das E-mail: paantunes@metrosp.com.br

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Figura 1 - Localização da Linha 15-Prata Fonte: Metrô; base: Googlemaps (2020)

Arquitetura na Linha 15-Prata:


novas experiências de projeto
CLAUDIA CHEMIN* / JOÃO CARLOS SANTOS TAQUEDA** / FABIANA NONOGAKI*** /

E
JULIANA YOSHIDA**** / MICHEL HOOG CHAUI DO VALE***** / MICHELLE NAKAZATO MIKARO****** /
NEILA CUSTÓDIO******* / THAIS SHIGUEMATSU BISPO******** / THIAGO MOYSÉS DE LIMA*********
INTRODUÇÃO Desde o início da implantação do Metrô A LINHA 15-PRATA DO METRÔ
ste artigo, elaborado por uma na década de 1970, as características arquite- A Linha 15-Prata percorre o canteiro cen-
equipe multidisciplinar da área tônicas das edificações vêm contemplando as tral da Av. Prof. Luiz Ignácio Anhaia Mello, Av.
de arquitetura do Metrô, adota mudanças ocorridas ao longo do tempo, sejam Sapopemba seguindo para a Av. Ragueb Cho-
como exemplo de concretização atreladas à necessidade de atendimento a le- hfi. A linha se desenvolve em situação topo-
das últimas reflexões de projeto, gislação, à abordagem estratégica da Compa- gráfica com características diferentes, sendo a
a implantação da Linha 15-Prata do Monotri- nhia alinhada às necessidades atuais de nossa primeira no fundo do vale do Ribeirão da Moo-
lho, onde se assume um partido arquitetônico e cidade, às inovações tecnológicas ou a requisi- ca, a segunda na cumeada e a terceira voltando
urbanístico integrado, inovador e convergente tos ambientais, sempre direcionadas ao objeti- para uma cota mais baixa paralela à Área de
com novas premissas. vo perene de garantia de conforto e segurança Proteção Ambiental (APA) do Carmo. Pelo fato
Como ator nas modificações do tecido do passageiro. de o monotrilho estar implantado a aproxima-
urbano, o Metrô tem o importante papel de Processos integrados, atuação colaborati- damente 12m de altura e pela característica to-
promover a inserção urbana de um sistema de va, multidisciplinaridade, uso de aplicações e pográfica, ele propicia uma visão privilegiada
transportes de massa ao criar articulações, pro- requisitos BIM (Building Information Modeling), ao passageiro em seu percurso, o que inclui o
mover novos fluxos e dinâmicas no entorno de sustentabilidade ambiental, análise de neces- skyline da Serra da Cantareira, importante mar-
uma linha, com uma análise particular para cada sidades das áreas cliente, obtenção de receita co de referência paisagística do sítio paulista-
local de implantação. Para tanto, são necessá- não tarifária, tecnologia e padronização de so- no, e o Parque do Carmo (figura 1).
rios estudos criteriosos e qualitativos que têm luções são premissas que passaram a ser priori- Quando concluída, a linha terá 14 estações,
muito a contribuir com o processo de projeto. tárias para os projetos de arquitetura no Metrô. dois pátios e duas subestações elétricas, em

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Figura 3 - Estação Jardim Colonial


Fonte: Metrô-SP (https://www.metro.sp.gov.br/
obras/monotrilho-linha-15-prata/galeria-
fotos/2021/index.aspx)
resistência ao tráfego intenso que estas áreas
Figura 2 - Configuração geral de uma estação da Linha 15-Prata possuem, assim como sua facilidade de limpe-
Fonte: Metrô-SP (https://www.metro.sp.gov.br/tecnologia/arquitetura/index.aspx)
za e estética agradável. Já os forros de aletas
19,2km de extensão operacional. As estações Já os acessos, compostos por estrutura verticais aplicados nos tetos das áreas públicas
têm o corpo principal instalado no canteiro em concreto aparente e fechamentos em vi- denotam a preocupação em ocultar as infra-
central e seus acessos são conectados a ele por dro, concentram equipamentos de circulação estruturas aparentes que correm acima deles,
meio de passarelas. Embora as estações sejam vertical (escadas fixas, escadas rolantes e ele- proporcionando um aspecto mais limpo e or-
inseridas em contextos diversos e peculiares, os vadores) e bicicletários, sendo estes últimos ganizado ao ambiente, ao mesmo tempo, que
projetos têm características padronizadas que fundamentais à intermodalidade, possibilitan- permite a inspeção das instalações sem a ne-
serão detalhadas adiante. do assim maior flexibilidade e praticidade aos cessidade de desmontá-lo.
passageiros. No caso dos elementos com desenho es-
PARTIDO E PROJETO O estudo cromático para a linha definiu pecífico para o Metrô, podemos mencionar
ARQUITETÔNICO cores a serem adotadas nos diversos compo- os bancos das extremidades das plataformas,
As estações da Linha 15-Prata foram con- nentes da edificação e cores específicas a se- com conformação ergonômica e materiais que
cebidas de forma a serem marcos na paisagem rem aplicadas nas vigas-calha das fachadas das proporcionam facilidade de limpeza e grande
da zona leste do município de São Paulo, fa- estações, o que contribui para a identidade de durabilidade, assim como os guarda-corpos em
zendo uso de soluções projetuais estruturais e cada uma delas e mantém a linguagem única aço inox e vidro nas áreas públicas, nos quais
arquitetônicas padronizadas que proporcionas- da linha. a transparência do vidro permite maior perme-
sem uma linguagem única e, simultaneamen- Foi desenvolvida a padronização dos ma- abilidade visual e a passagem da iluminação
te, reduzissem custos e prazos de execução de teriais de acabamento aplicados nas paredes, natural e artificial.
projetos e obras. tetos e pisos, tanto das áreas de circulação pú- Cabe destacar também a importância dos
Por meio de passarelas, o corpo central da blica, quanto das áreas de uso restrito, conside- aspectos de segurança, facilidade de manu-
estação é conectado aos acessos e a um edifício rando critérios de escolha específicos tais como tenção e reposição na definição dos materiais.
anexo onde estão localizadas as salas técnicas durabilidade, segurança, facilidade de limpeza, Os revestimentos isolantes aplicados em áreas
e também, em algumas estações, os ambientes manutenção, reposição, estética e custo. Essa técnicas, assim como os pisos táteis das áreas
operacionais de apoio às atividades das equipes padronização, somada à adoção de elementos públicas, denotam a preocupação em garantir
que trabalham na estação (figura 2). com desenho específico para o Metrô, garante a circulação segura de funcionários e passa-
Os corpos das estações, compostos ma- a unidade entre as estações da linha. geiros, em consonância com os requisitos es-
joritariamente por áreas de circulação públi- A seleção do granito como material prin- tabelecidos pelas instruções técnicas do Corpo
cas (plataformas e mezanino de distribuição), cipal aplicado no piso das áreas públicas, por de Bombeiros do Estado de São Paulo e pelas
possuem estrutura em concreto aparente, fe- exemplo, teve como importantes fatores sua normas técnicas da ABNT relativas à acessibi-
chamentos laterais em alvenaria e vidro, e co-
bertura metálica em arco, que proporcionam
caráter e, ao mesmo tempo, simplicidade às
formas da edificação.

Figura 4 - Teto verde no acesso da Estação Figura 5 - Vista geral da Estação Ipiranga
Jardim Colonial – Fonte: Techdrones (Youtube) Fonte: Metrô-SP

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Figura 6 - Passarelas de integração entre as
estações do Metrô e CPTM. Em primeiro plano Figura 7 - Cobertura da Estação Ipiranga com Figura 8 - Vista parcial na Av. Anhaia Mello:
se encontra a passarela livre e, ao fundo, a as placas fotovoltaicas ciclovia e melhorias na caminhabilidade
estações. Fonte: Metrô-SP Fonte: Metrô-SP (Juliana Yoshida)
Fonte: Metrô-SP
lidade, dentre outras leis e normas aplicáveis. que antecede a obra. Nos projetos básicos de nectada aos acessos destinados ao público lo-
Por outro lado, a adoção de elementos com arquitetura desenvolvidos recentemente para cal – um localizado próximo à Avenida Henry
desenho padronizado do Metrô ou materiais estas duas estações, foram aplicadas algumas Ford, no Bairro da Mooca, e outro na Avenida
de linhas comerciais de mercado permite maior alterações, já introduzidas na Estação Jardim Presidente Wilson, em Ipiranga. A passarela,
facilidade de manutenção e reposição ao lon- Colonial, destacando-se, a adoção de revesti- que ficará aberta também fora do horário de
go da vida útil das estações, o que é um fator mento em brise metálico nas fachadas dos edi- funcionamento das estações, terá a função de
importante considerando que nem sempre é fícios técnicos, reposicionamento de shaft de comunicar os bairros segregados pela faixa
possível efetuar este tipo de intervenção quan- cabos e novo desenho de fachada e materiais ferroviária (figura 6).
do a estação está fechada, sendo necessário aplicados aos acessos, os quais tiveram a in- A implantação do corpo da estação permi-
atuações rápidas e estratégicas durante o fun- clusão de tetos verdes em suas lajes de cober- tiu que o espaço localizado abaixo do mezani-
cionamento da estação. tura. Estes tetos verdes, vinculados às demais no fosse ocupado pelas salas técnicas e salas
Já foram inauguradas onze estações da premissas de sustentabilidade já adotadas ao operacionais, concentrando todo o programa
linha, sendo a última delas a Estação Jardim longo da Linha 15-Prata (jardins de chuva e de necessidades em um só edifício.
Colonial, que apresenta algumas alterações em biovaletas, drenagem sustentável etc.), tanto Além disso, o projeto conta com três áreas
relação ao padrão aplicado no restante da li- nas estações quanto ao longo da ciclovia im- disponíveis para comercialização, sendo duas
nha. Primeiramente, a área desapropriada para plantada nos canteiros centrais das avenidas, delas localizadas no pavimento térreo e volta-
a implantação do acesso situado ao lado da demonstram a preocupação recorrente em das para o lado externo da estação, permitindo
subprefeitura de São Mateus não comportaria atribuir qualidade ambiental a todos estes es- que seu funcionamento seja desvinculado do
a tipologia padrão praticada nas demais esta- paços (figura 4). horário de operação comercial da estação. A
ções, o que exigiu a adoção de uma volumetria No outro extremo da Linha 15-Prata, temos previsão cada vez maior de áreas e empreen-
e desenho de fachada específico. Devido a esse a Estação Ipiranga, cujo projeto executivo foi dimentos comerciais associados às estações
reestudo, aproveitou-se para reduzir a quanti- finalizado em 2021 e atualmente encontra-se contribuem para a diversificação na captação
dade de vidro nos acessos, por conta das difi- em processo de contratação de obra. A estação de recursos extra tarifários, mantendo assim a
culdades de instalação e manutenção vivencia- foi introduzida para aliviar a transferência em saúde financeira do Metrô.
dos em estações já implantadas, assim como Vila Prudente da Linha 2-Verde, atualmente A preocupação com o conforto ambien-
pelo aquecimento excessivo proporcionado em expansão. Dessa forma, a Estação Ipiranga tal e a sustentabilidade energética também
pelos amplos panos de vidro. Adicionalmente, fará conexão com a futura estação homônima condicionou a concepção arquitetônica da
foram incluídos, dispositivos de controle solar da CPTM, permitindo a integração direta da Estação Ipiranga. Entre os pórticos de con-
– brises – que também agregaram à estética Linha 15-Prata com a Linha 10-Turquesa. creto do edifício, foram adotados fechamen-
destas edificações. Essa linguagem específica O projeto da Estação Ipiranga do Metrô tos com brises metálicos microperfurados
foi aplicada também ao outro acesso, o que ga- adotou como ponto de partida o projeto da que controlam a incidência solar direta, sem
rantiu a unidade do conjunto (figura 3). nova estação da CPTM. Diferentemente das prejuízo da luminosidade natural da estação.
Outra modificação feita no projeto original estações típicas da linha, cujo corpo principal A solução também garante a proteção con-
e incorporada na Estação Jardim Colonial foi o está localizado no canteiro central das aveni- tra chuvas e, ao mesmo tempo, a ventilação
reposicionamento da bilheteria e da sala de su- das por onde percorrem, a Estação Ipiranga natural das áreas públicas. A cobertura me-
pervisão operacional (SSO), além da extensão encontra-se implantada em um terreno si- tálica, com seus grandes balanços, se insurge
da área de circulação pública até a extremidade tuado entre a Avenida Presidente Wilson e a como um plano suspenso e solto do volume
do pavimento, deslocando as salas técnicas e nova estação da CPTM, o que resultou em uma principal da estação, trazendo a ideia de le-
operacionais, originalmente localizadas na área concepção arquitetônica singular em relação às veza em contraponto ao edifício, ao mesmo
não paga do mezanino, para um pavimento demais estações (figura 5). tempo, que permite a circulação de ar natu-
abaixo dele. Dessa forma, havendo a implanta- Por ser essencialmente uma estação de in- ral entre ela e o corpo da estação. Contando
ção de um corredor de ônibus junto ao canteiro tegração, o nível do mezanino de distribuição com uma área aproximada de 3.600m², essa
central da Avenida Ragueb Chohfi, seria possí- foi definido de forma que ficasse na mesma cobertura permitiu a incorporação de um sis-
vel viabilizar a conexão entre os modais. altura da nova estação da CPTM, possibilitan- tema de captação de energia solar, distribuí-
Após a Estação Jardim Colonial, outras do a integração de suas áreas pagas através de do entre as faixas de vidro para iluminação
duas estações – Boa Esperança e Jacu-Pêssego uma passarela. Além disso, as estações tam- interna da estação – solução técnica adicional
– estão em fase inicial de projeto executivo, bém são ligadas por uma passarela livre, co- que contribuirá na diminuição do consumo

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Figura 9 - Canteiro central da Av. Anhaia Mello


reurbanizado, com paisagismo e ciclovia Figura 10 - Corredor verde – área próxima às escolas públicas - potencial para Educação Ambiental
Fonte: Metrô-SP (Juliana Yoshida) Fonte: Googlemaps (2022)
energético do edifício. O Sistema de Geração e da segurança dos usuários, em conformida- o transporte ativo, com especial atenção para as
Fotovoltaica da Estação Ipiranga contempla- de com as demandas atuais (figura 12). necessidades das pessoas em situação de vulne-
rá a instalação de 522 módulos fotovoltaicos, Os projetos de paisagismo do Metrô têm rabilidade, como aquelas com deficiência e com
produzindo energia correspondente a 39% contemplado a aplicação de espécies vegetais mobilidade reduzida, mulheres, crianças e pes-
do consumo mensal das cargas auxiliares de nativas de todos os estratos (forrações, her- soas idosas.” (ODS Brasil)
uma estação típica de monotrilho, o que re- báceas, arbustos e árvores), com vistas ao au- Os casos apresentados aqui evidenciam
força o compromisso do Metrô com a susten- mento da biodiversidade. Estudos recentes no que o Metrô de São Paulo tem dado continui-
tabilidade ambiental, social e financeira da município de São Paulo apontam a presença dade à sua história de inovação em projetos de
empresa (figura 7). de vegetação de diferentes biomas (ecóto- infraestrutura que impactam a cidade. O con-
nos). Assim, além da Mata Atlântica, foram texto atual de emergência climática se sobre-
MOBILIDADE SUSTENTÁVEL identificadas espécies do bioma Cerrado. Tal põe às demandas históricas por transporte de
Mobilidade urbana sustentável é um con- levantamento apontou para a oportunidade alta capacidade. Frente a isso, as equipes de
ceito intrínseco ao Metrô, por se tratar de um de uso de espécies desse bioma, contribuindo projeto têm considerado nos processos proje-
sistema movido a energia limpa e renovável e com a recuperação ambiental da área. Essa tuais os impactos no ambiente urbano, a fim
propiciar a integração entre os demais modos diretriz promove o resgate de espécies pouco de equacionar em suas propostas soluções que
de transporte motorizados (ônibus, trens) e conhecidas, que praticamente desapareceram atenuem questões relativas às ilhas de calor
não motorizados (bicicleta, andar a pé etc.). No do ambiente urbano de São Paulo nas últimas na cidade e, em maior escala, o aquecimento
caso da linha 15-Prata, a implantação do cor- décadas, contribuindo com a educação am- global. Para isso, os projetos de paisagismo e
redor verde reforçou sua contribuição com a biental da população. reurbanização, que lançam mão, de infraestru-
sustentabilidade ambiental, por meio de dispo- O processo de implantação da infraestru- turas verdes e dispositivos de drenagem sus-
sitivos de drenagem sustentável, ciclovia, pista tura metroferroviária passa obrigatoriamente tentável, têm destacado papel, a exemplo desse
de caminhada etc. Tais projetos têm buscado pelo atendimento de uma extensa legislação projeto de Corredor Verde, com a extensão de
melhorar a relação do passageiro com os espa- ambiental. Para a obtenção das licenças am- 16,3km, onde foram plantadas 4.000 mudas,
ços metroviários, estendendo sua abrangência bientais, além da compensação dos cortes de entre árvores e palmeiras, em um total de 38
para a qualificação da interface entre o sistema árvores necessários para a implantação da via espécies, distribuídas em uma área ajardinada
de transporte e os espaços urbanos, com foco elevada, o projeto contemplou a implantação que soma aproximadamente 13.000m².
nas pessoas (figuras 8, 9, 10 e 11). de ciclovia e corredor verde ao longo de todo As soluções apresentadas se coordenam
As áreas em que as estações do Metrô es- o seu trajeto. Tal corredor se conecta a outras no sentido de prover espaços públicos de
tão implantadas se alteram ao longo do tem- infraestruturas verdes da cidade, contribuin- qualidade, tendo em vista sua carência em re-
po, gerando a necessidade de melhorias com do para uma rede verde e aumento da floresta giões periféricas, tornando-se assim espaços
o foco em caminhabilidade no seu entorno, urbana, resultando na requalificação do can- de referência. É possível notar o uso intenso
tendo como premissa o conceito de segu- teiro central enquanto espaço público. Dessa e apropriação pelas pessoas deste espaço pú-
rança viária em função do fluxo de pessoas. maneira, extrapola os objetivos estritos de blico criado ao longo da linha, quer seja para
Podemos citar como exemplo a Estação Vila ampliação da rede de transporte e contribui deslocamentos por motivo de trabalho, ou a
Prudente, que passou recentemente por uma com a aplicação de alguns dos Objetivos de lazer, tanto por bicicletas como pelo andar a
intervenção a partir da análise das necessi- Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, pé. Curioso observar a preferência das pessoas
dades de melhoria e adequação dos espaços dos quais o Estado de São Paulo é signatário. em caminhar pelo canteiro central, por sentir
de circulação dos pedestres. Foram propostas Dentre os 17 ODS, os projetos são aderentes um maior conforto pela presença da vegetação,
adequações tais como: alargamento de calça- aos seguintes objetivos: 3. Saúde e Bem Es- segurança, equipamentos e áreas de apoio.
das, pavimentação e sinalização, implantação tar; 11. Cidades e Comunidades Sustentáveis; Considerando o cenário atual e futuro, de
de rampas para acessibilidade, reposiciona- 13. Ação contra a Mudança Global do Clima; pandemia, que aponta a crescente demanda de
mento de faixas de travessias, readequação de e 15. Vida Terrestre. Dentre eles, destaca-se a espaços públicos abertos que permitam o con-
pontos de paradas de ônibus, novas escadarias meta 11.2 que propõe: tato com a natureza nas cidades, o Metrô con-
e áreas de estar integradas ao projeto paisagís- “Melhorar a segurança viária e o acesso a tribui para a construção de uma cidade susten-
tico. Esse conjunto de intervenções resultou cidade por meio de sistemas de mobilidade urba- tável e para a melhoria da saúde pública com o
na melhoria do espaço público nas áreas de na mais sustentáveis, inclusivos, eficientes e jus- estímulo à prática de esportes e à redução da
acesso à estação, com a promoção do conforto tos, priorizando o transporte público de massa e emissão de gases do efeito estufa.

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Figura 12 - Vista parcial na Av. Anhaia Mello:
ciclovia e melhorias na caminhabilidade -
Estação Vila Prudente
Fonte: Consórcio Sinalta – Robmak
cidade mais justa, sustentável e saudável
para seus habitantes.

Figura 11 - Canteiro central da Av. Anhaia Mello reurbanizado, com paisagismo e dispositivos de Nota
infraestrutura verde (biovaleta) e ciclovia – Fonte: Metrô-SP (Juliana Yoshida)
Cf. ODS Brasil (https://odsbrasil.gov.br/
APRENDIZADOS DO PROCESSO aumentando as potencialidades de distribui- objetivo/objetivo?n=11)
INTEGRATIVO ção dos passageiros na rede disponível na
Como pudemos observar a elaboração de região. Além disso, com a criação da ciclovia * Claudia Chemin  é arquiteta e urbanista (UMC) e atua
projetos da expansão do Metrô tem exigido de acompanhando a Linha 15-Prata, é possível como Coordenadora de Projetos de Concepção de Acabamento,
todas as áreas técnicas envolvidas uma série contemplar uma integração mais orgânica Comunicação Visual e Luminotécnica na Gerência de Projetos
de aprimoramentos, com impacto na implan- com os modos ativos. As melhorias no siste- do Metrô-SP
tação dos empreendimentos. Essa mudança ma viário e a criação de um corredor verde E-mail: cchemin@metrosp.com.br
de paradigma perpassa diversos aspectos. sob a via elevada trazem consigo opções de ** João Carlos Santos Taqueda  é arquiteto e urbanista  (FAU
Particularmente nos projetos de linhas percurso seguro aos pedestres, promovendo USP), mestre em Arquitetura e Urbanismo (FAU USP), bacharel
com as características do Monotrilho, existe também a melhoria da infraestrutura verde em Filosofia (FFLCH USP) e atua como Coordenador de Projetos
a necessidade de associar os projetos de li- da cidade e da caminhabilidade na região. de Concepção de Arquitetura, Reurbanização e Paisagismo na
nhas novas a intervenções urbanas de grande O projeto intenciona a integração dos Gerência de Projetos do Metrô-SP
porte, promovendo alterações no entorno de tecidos urbanos locais. A necessidade de pre- E-mail: jcstaqueda@metrosp.com.br
seu traçado. Isso cria um desafio à implanta- visão de diversas melhorias para compatibili- *** Fabiana Nonogaki é arquiteta e urbanista (UNICAMP),
ção que só pode ser solucionado com envol- zação entre as adequações viárias para o tre- MBA em Gestão Econômica e Estratégica de Projetos (FGV),
vimento integral das disciplinas relacionadas cho e os requisitos de conforto, segurança e PMP e atua como Chefe do Departamento de Arquitetura na
a sistema viário, drenagem, sinalização, lu- qualificação dos espaços está estreitamente Gerência de Projetos do Metrô-SP
minotécnica, reurbanização, paisagismo etc. ligada às disciplinas envolvidas no processo. E-mail: fnonogaki@metrosp.com.br
Sob o ponto de vista técnico, fica evi- Além disso, foram propostas diversas so- **** Juliana Yoshida é arquiteta e urbanista (FAU USP) e
dente o incremento paulatino de inovações luções para cumprir com o desafio de adap- atua como arquiteta na Gerência de Projetos do Metrô-SP.
ligadas às ferramentas tecnológicas para es- tação do projeto ao tecido existente e aos E-mail: j.yoshida@metrosp.com.br
ses processos, em que se destaca o uso cres- tecidos reformulados, em virtude do alarga- ***** Michel Hoog Chaui do Vale é arquiteto e urbanista,
cente de aplicações relacionadas ao BIM. mento necessário para a implantação da via mestre em planejamento urbano e doutorando em história
É visível uma tendência à elaboração permanente elevada em um trecho extenso e da arquitetura (FAU USP), especialista em engenharia urbana
de contratos cada vez mais complexos urbanizado, com presença de um complexo (UFRJ), MBA em gestão metroviária (FIA USP), PMP e atua como
e integrados, tanto pela quantidade de sistema viário. arquiteto e paisagista na Gerência de Projetos do Metrô-SP
disciplinas envolvidas (ex.: projetos civis, de Esse breve panorama das experiências E-mail: mhcvale@metrosp.com.br
arquitetura e de sistemas), como também pe- recentes de projeto de arquitetura do Me- ****** Michelle Nakazato Mikaro é arquiteta, urbanista
las relações necessárias entre contratos dife- trô, abrangendo edificações, reurbanização e designer (FAU USP) e atua como arquiteta paisagista na
rentes que possam dar conta da amplitude da e paisagismo das áreas de intervenção, serve Gerência de Projetos do Metrô-SP
intervenção no tecido urbano, que abrange, de amostra dos desafios encontrados pelas E-mail: michelle.mikaro@metrosp.com.br
além da estação, trechos de via adjacentes, equipes de projeto ao intervir atualmente na ******* Neila Custódio é arquiteta e urbanista (UBC),
integração intermodal, resgate do espaço cidade de São Paulo. Os exemplos demons- Pós Graduada em Magistério do Ensino Superior (UNIP) e
público, readequações viárias, entre outros. tram o esforço de aprimoramento das solu- atua como arquiteta e paisagista na Gerência de Projetos do
Na gestão de processos, destaca-se a ne- ções projetuais que passam pela crescente Metrô-SP
cessidade de definição de novos fluxos e pro- integração das disciplinas e dos profissio- E-mail: ncustodio@metrosp.com.br
cedimentos normalizados para a transposição nais, em processos complexos que refletem a ******** Thais Mitie Shiguematsu Bispo  é arquiteta
de “portões de passagem” entre as diversas multiplicidade de informações e ferramentas e urbanista (UNESP) e atua como arquiteta na Gerência de
fases de projeto, aproximando as partes inte- aplicadas, tanto de projeto quanto de gestão. Projetos do Metrô-SP
ressadas internas e externas ao Metrô. O resultado esperado, visível nessas obras já E-mail: thais.mitie@metrosp.com.br
Outra perspectiva importante é a da in- concluídas ou em andamento, é a melhoria ********* Thiago Moysés de Lima  é arquiteto e urbanista
tegração intermodal já detalhada, uma vez dos espaços urbanos e da qualidade de vida (FAU USP) e atua como arquiteto na Gerência de Projetos do
que a Estação Ipiranga do Monotrilho irá se das gerações atuais e futuras, de modo que Metrô-SP
conectar com a Linha 10-Turquesa da CPTM, a infraestrutura de transporte promova uma E-mail: tmlima@metrosp.com.br.

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METRÔ
BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE
DE SÃO
SÃOPAULO
PAULO

Utilização de tuneladoras de grande


diâmetro em futuras linhas do
Metrô de São Paulo
FÁBIO MARTINI PONTES* / HUGO CÁSSIO ROCHA**

E
INTRODUÇÃO devido a ocorrência de maciços hetero- uso do método de tuneladora de grande
ste artigo apresenta uma gêneos no trecho. diâmetro podendo conter 4 vias (chama-
avaliação do potencial Mais recentemente, com a evolução da de TBM4 neste trabalho). Entretanto,
técnico e econômico da tecnológica das tuneladoras, permitin- o perfil de demanda da sua rede de metrô
aplicação de solução de do diâmetros cada vez maiores (até 19 é bastante distinto dos padrões paulistas,
dimensões de túnel de metros), houve uma retomada do tema permitindo o uso de material rodante de
via não convencional, já pelos g rupos de estudos de padroniza- gabarito menor, com impacto no diâmetro
adotada na Linha 9 do Metrô de Barce- ção e inovações do Metrô de São Pau- do túnel. O diâmetro final afeta os volu-
lona, na Espanha, que consiste na exe- lo para sua aplicação nos projetos mais mes de escavação e de concreto das adue-
cução de um túnel único escavado por recentes. las, com reflexos significativos nos custos.
máquinas tuneladoras (Tunnel Boring Atualmente, o uso combinado de tu- Assim, sentiu-se a necessidade de avaliar o
Machine – TBM) de grande diâmetro, neladora para via dupla, para os túneis potencial uso desta solução em São Paulo,
maior que 12 metros, podendo conter o de via, chamada aqui de TBM2 ( figura considerando-se a demanda a ser atendida
corpo das estações ou outras estruturas 2 ), e vala a céu aberto ou New Austrian e a adequação dos parâmetros de projeto,
da linha. tunneling method – NATM (para o cor- com o objetivo de definir a menor seção
Quando do desenvolvimento do pro- po das estações) é o principal método de viável possível para o túnel.
jeto básico da Linha 6-Laranja, no início construção das linhas de metrô em São Para isso foram reavaliadas todas as
dos anos 2010, o Metrô estudou esta so- Paulo. Nesta solução é preciso arrastar a premissas relacionadas ao tamanho dos
lução construtiva para o trecho central tuneladora nos trechos de estação, o que carros, sistema de alimentação elétrica,
da cidade. Na ocasião, optou-se por um aumenta o prazo de execução da obra. via permanente e ventilação, entre ou-
modelo de estação com plataforma cen- Além disso, métodos como vala ou NATM tras, buscando reduzir a seção de escava-
tral ( figura 1) e, com isso, o diâmetro de são menos industrializados e mais susce- ção dos túneis de via ao mínimo necessá-
escavação resultante da tuneladora, de d tíveis a alterações de projeto, portanto, rio, executados em TBM.
= 16,16 metros, no limite da tecnologia apresentam maiores riscos e consequen-
dessas máquinas EPBS (Earth Pressure temente incerteza quanto aos custos e PREMISSAS
Balanced Shield) à época, inviabilizou prazos. Para o desenvolvimento deste estudo
a continuidade do projeto, em especial A cidade de Barcelona foi pioneira no foram definidas as seguintes premissas:

Figura 1 - Túnel de plataforma central de


estação, com d = 16,16m, projeto Linha Figura 2 - Seções típicas de TBM2 e TBM4
6-Laranja (Fonte: Metrô, 2020) (Fonte: Metrô, 2020)

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Figura 4 - Plataformas sobrepostas,


ocupando o lugar das vias sobressalentes,
dentro do túnel escavado pela TBM de
12,04 metros de diâmetro (Fonte: www.
Figura 3 - Trechos da Linha 9 onde o método TBM4 foi utilizado, em azul metroricerche.it)
claro e escuro (Fonte: cat-bus.com)

• Para TBM4, considerar as vias sobre- mento populacional e construtivo, topo-


postas ao longo da linha, podendo ser grafia variada, grande variedade geológi-
niveladas nas estações finais do trecho; ca, múltiplas interferências subterrâneas,
• Reavaliar dimensões dos carros, sem re- além de áreas limitadas para construção
dução de capacidade total dos trens; das estações. Tais características foram
• Reduzir o máximo possível o diâmetro determinantes para a escolha, em mais da
de escavação da TBM garantindo as fun- metade da extensão da nova linha ( figu-
cionalidades das áreas de operação e de ra 3 ), do método construtivo Barcelona
sistemas; (aqui chamado de TBM4).
• Maximizar a adoção de estacionamen- O método de Barcelona consiste no
tos de trens ao longo das vias (nas vias uso de túneis circulares com 12,04 me-
laterais, além de buscar posições de esta- tros de diâmetro externo escavados por
cionamento que permitam limpeza inter- uma T BM maior que os túneis escava-
na dos trens); dos com T BMs usuais em construções
• Posicionar, na medida do possível, as metrov iárias. Os túneis são div ididos
Figura 5 - Estação com poço lateral e circulação
salas técnicas das estações ao longo do em dois pav imentos por meio de uma
vertical principal por meio de elevadores de
túnel de vias; laje de concreto. Cada pav imento possui
alta capacidade (Fonte: cat-bus.com)
• Adotar Rampas máximas de 5%; largura suf iciente para comportar duas
• Considerar traçados semelhantes e po- v ias (apesar de Barcelona não usar essa
sições idênticas das estações em plan- possibilidade ( f igura 2 ). Como apenas
ta para ambas as alternativas (TBM2 e uma via é necessária em cada pav imen-
TBM4). As cotas poderiam variar em fun- to para a circulação de trens, a área da
ção das peculiaridades construtivas dos v ia sobressalente pode assumir fun-
túneis. ções variadas, como estacionamento de
• Posicionar as estações o mais rasas pos- trens, v ias de manobra, salas técnicas,
sível; equipamentos de ventilação e, princi-
• Adotar o mesmo sistema de alimentação palmente, como plataformas nas esta-
elétrica nas duas alternativas; ções ( f igura 4 ).
• Considerar as demandas e carregamen- Neste método, a seção transversal do
tos idênticos nas duas alternativas. túnel mantém-se constante ao longo do
trajeto, inclusive nas estações. Não são
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS necessárias escavações em NATM ou em
ESTUDADAS: A LINHA 9 DO VCA para abrigar as plataformas. Os poços
METRÔ DE BARCELONA de circulação verticais (escadas rolantes,
O Metrô de Barcelona construiu a Li- fixas e elevadores) podem ser construídos
nha 9 ao longo dos anos 2000. Com mais de forma independente, seja sobre o tú- Figura 6 - Estação com poço central e circulação
de 50 quilômetros de extensão total. A nel, ou lateralmente a ele ( figuras 5 e 6 ). vertical principal por meio de escadas rolantes
linha atravessa regiões com alto adensa- Além disso, por conta da grande profun- (Fonte: www.metroricerche.it)

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

mesmo lado;
• No caso de esta- Altura
Tensão de operacional Altura do
ções mais rasas, o alimentação do pantógrafo piso
VCA necessita ter Bitola
Gabarito do Altura do ar Comprimento
Pantógrafo condicionado do trem
apenas o compri-
mento do conjunto Sistema de Número de Altura da
alimentação carros massa mola
de escadas, em vez Posição de
Altura e AMVs
do comprimento to- Entrevias largura da fixação da
catenária
caixa
tal da plataforma nas Raios minimos Gabarito
Carga por eixo
soluções construti- dinâmico
Altura da laje
vas convencionais; de regularização Drenagem
do túnel
• Os aparelhos de
mudança de via
(AMVs) estratégicos Figura 9 - Aspectos reavaliados buscando a redução da área do túnel
ao longo da linha de vias (Fonte: Metrô, 2020)
Figura 7 - Escadas de emergência ocorrem por meio de
entre pavimentos do túnel de via rampas conectando
(redferroviariabcn.blogspot.com) as vias secundárias de cada pavimento, linha entrar em funcionamento, e redu-
de forma que o movimento de trens en- ção da área do pátio de estacionamento
didade de algumas estações (em muitos tre pavimentos não atrapalha a operação de trens;
casos com mais de 50 metros), elevadores comercial; • Construção de túnel e poços em blocos
de alta capacidade e velocidade foram es- • Parte das salas técnicas pode ser inse- relativamente independentes, de forma
colhidos para transportar os passageiros rida no prolongamento das plataformas, que a obra de um pode ocorrer sem im-
da superfície até as plataformas. reduzindo a necessidade de escavação ou pactar significativamente no desenvolvi-
Dentre as características vantajosas de uso de terrenos desapropriados; mento do outro;
dessa solução construtiva, destacam-se • Portas de plataforma do chão ao teto • Como as duas metades do túnel são
as seguintes: segregam o ar dos túneis do das plata- hermeticamente isoladas, é possível que
• Industrialização quase completa do formas. Esta solução, somada ao uso de evacuação dos usuários em caso de inci-
processo de construção de túneis através portas corta-fogo entre plataformas e o dente seja feita pelo trecho do túnel não
do uso de TBM, inclusive na escavação poço, permite que uma plataforma sir va sinistrado, através de escadas pressuri-
das plataformas das estações. Por isso, a como rota de fuga da outra, e que o poço zadas entre pavimentos ( figura 7), elimi-
TBM não precisa ser arrastada pelas esta- seja usado como local seguro de ambas as nando a necessidade de saídas de emer-
ções, reduzindo potencialmente o tempo plataformas, reduzindo o tempo de eva- gência para a superfície;
de escavação da linha; cuação dos passageiros; • Maior facilidade e f lexibilidade na im-
• Redução significativa da seção trans- • Possibilidade de prolongamento futu- plantação de estações futuras ao longo
versal dos túneis de estação em relação às ros das plataformas, caso os trens tenham da linha;
estações feitas em NATM. Estes trechos que ser estendidos por conta de algum • Simplificação construtiva nos enlaces
costumam ser os de maior complexidade aumento de demanda futuro, e o greide com vias de ramais ou acesso a pátios (fi-
da obra subterrânea; seja adequado para isso; gura 8), pois as vias de enlace não preci-
• Maior f lexibilidade para posicionamen- • Por conta do estacionamento de trens sam passar por cima ou por baixo da via
to do poço nas estações, por conta de ao longo do túnel, há redução do tempo e principal, elas chegam pelo mesmo lado;
ambas as plataformas serem acessadas do distância necessários para o carrossel da • O material escavado do túnel das plata-

Figura 8 - Junção dos ramais das linhas 9 (a esquerda) e 10 (a direita)


no pavimento superior do túnel do TBM4* [Fonte: www.cat-bus.com Figura 10 - Seção da superestrutura de via permanente com
(*No pavimento inferior, a situação se repete)] sistema de massa-mola (Metrô, 2020)

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Tabela 1 - Resumo das modificações incorporadas


Material rodante - O trem da frota P da
Modificações aprovadas Alteração (cm) Diâmetro interno (m) Linha 5-Lilás foi utilizado como pon-
to de partida. Possui capacidade para
Situação inicial (Frota P, categoria) - 13,60
1.500 passageiros (6 pass./m²), trens
Opção por terceiro trilho -75 12,85 de seis carros de 2.800mm de largura.
Identificou-se a possibilidade de redução
Redução da altura do trem da altura do piso do trem de 1,12m para
12,73
de 3,76 m para 3,68 m 1,00m. Esta alteração viabilizou a redu-
-27 ção da altura total do trem em 8 cm, para
Redução da altura do piso do 3,68m.
12,58
trem 1,12m para 1m
Via permanente - Foram estudadas al-
Soma das modificações -102 12,58 ternativas geométricas para a v ia per-
manente, v isando a redução da seção
transversal. Após deliberação com as
Brasil), dimi- áreas técnicas, foram mantidas caracte-
nuindo ain- rísticas como o raio mínimo de 300m
da mais o para cur vas nas v ias secundárias, e a so-
impacto nas lução de sistema de amortecimento tipo
regiões de massa-mola com laje f lutuante e laje de
construção regularização em ambos os pav imentos
das estações. do túnel ( f igura 10 ). No caso da laje
f lutuante, foi estudada uma redução
SOLUÇÕES do espaço destinado à implantação da
ESPECÍFICAS superestrutura de modo a não compro-
AVALIADAS meter as condições de amortecimento
Com base requerido pelos sistemas de massa-mo-
Figura 11 - Seção final de escavação para a solução TBM4 (Fonte: Metrô, 2020) na experiên- la. No caso da T BM4, é possível redu-
cia de Bar- zir de 90cm para 83cm o espaço abaixo
celona, pro- do topo do boleto da v ia inferior. Cabe
formas é retirado pelo poço de emboque curou-se reavaliar todas as soluções ora esclarecer que o sistema da Linha 9 de
das tuneladoras, área já projetada para adotadas em projetos do Metrô de São Barcelona não tem sistema de amorte-
transporte de grandes volumes de solo, Paulo que teriam inf luência na área dos cimento do tipo massa-mola, o que tem
diminuindo, assim, o impacto no meio túneis e vias e na área das estações com provocado várias reclamações das edif i-
ambiente no local da estação em função base nas demandas previstas. Todos os cações sobrejacentes aos túneis.
da redução de caminhões transportando aspectos apresentados na figura 9 foram A entrevia de 4,00m, até então ado-
terra para o bota-fora; reavaliados. tada pelo Metrô, é necessária caso esteja
• As tuneladoras são movidas a eletri- A seguir são detalhados os estudos previsto o uso de pilares na entrevia das
cidade, ao contrário dos equipamentos efetuados relacionados aos principais estações. Contudo, estes não estão pre-
tradicionais utilizados na construção das itens citados. vistos na solução TBM4, e houve parecer
estações movidos a diesel (em especial no favorável da área de eletrificação e mate-
Alimentação elétrica - O emprego do rial rodante do Metrô de São Paulo a uma
terceiro trilho como sistema de supri- entrevia de 3,75m na solução TBM4.
mento de energia para os trens permi-
te uma redução considerável na seção SÍNTESE DAS
transversal do túnel quando comparado ALTERAÇÕES ADOTADAS
ao uso de catenária no Metrô de São A tabela 1 resume as alterações que se
Paulo (fio de contato a 4,26 metros do mostraram viáveis nessa etapa do projeto
topo do boleto do trilho). Com relação à incluindo sistemas, material rodante e via
Manutenção, o terceiro trilho leva van- permanente. Verifica-se que o uso de ter-
tagem, ao ter vida útil superior, exigir ceiro trilho é essencial para viabilização
menos veículos especiais, itens de es- da redução de diâmetro da TBM.
toque e pessoal para manutenção (1/3
menor), restabelecimento mais rápido ANÁLISE DOS
em caso de queda com menor interfe- RESULTADOS
rência na operação e maior agilidade de Seção resultante dos túneis de vias
implantação de segurança elétrica. As- Partindo das reduções potenciais de
Figura 12 - Seção final de TBM2 sim, foi adotado o terceiro trilho neste espaço interno no túnel de via e das ne-
(Fonte: Metrô, 2020) projeto. cessidades de largura de plataformas das

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BRASILENGENHARIA 06/2022 81
BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

estações padrão, decorrentes das deman- túnel, é necessária concretagem de laje


das previstas, foi possível projetar a seção intermediária com dimensões adequadas
típica mínima do túnel no método TBM4. às normas atendendo os estados limites
Entretanto para ao estabelecimento da de dimensionamento (último e de utiliza-
seção final de escavação foi necessário o ção). Foi utilizado o programa Strape e se
dimensionamento da laje intermediária e obteve uma espessura de 0,70m.
seus apoios para a solução TBM4 e anéis Algumas das reduções também pude-
de revestimento. Foi possível definir os ram ser aplicadas na seção de TBM2 pro-
diâmetros finais de escavação em 12,58m vocando uma redução de 2% no volume
(interno) e 13,98m (escavação), já consi- de escavação que era de d = 10,74m, para
derando inclusive as folgas construtivas d = 10,56m ( figura 12 ).
como pode ser obser vado na figura 11.
CARACTERÍSTICAS DE TRAÇADO E
Laje intermediária EXECUÇÃO PELO MÉTODO TBM4
Para possibilitar todos os usos pos- Na alternativa T BM4, a estratégia
Figura 13 - Estação padrão, seção transversal síveis (via operacional, estacionamento de implantação da linha deverá ser to-
da plataforma (Fonte: Metrô, 2020) trens, salas técnicas) no nível superior do talmente repensada, em relação aos mé-
todos tradicionais, tanto pelas maiores
dimensões da tuneladora e sua passa-
gem direta pelas estações, como pelas
oportunidades que esse novo concei-
to indica. O impacto negativo está li-
gado ao próprio aumento do diâmetro
da escavação que poderá provocar um
aumento na profundidade das estações,
em algumas situações, e certamente no
volume escavado. Assim, quanto menor
Figura 14 - Estação padrão
o diâmetro de escavação, menor o im-
poço lateral, planta plataforma
pacto. Tirar o máximo de proveito dessa
inferior (Fonte: Metrô, 2020)
nova solução pode ser um g rande aliado
para reduzir ou até reverter essas des-
vantagens.
O processo de implantação das esta-
ções e das ventilações e saídas de emer-
gência pode mudar. No modelo tradicional,
a disponibilização de áreas desapropriadas
para a construção da estação define o pla-
nejamento do tempo-caminho da escava-
ção dos túneis das vias, quer sejam esca-
vados por tuneladoras, quer por método
tradicional, uma vez que as escavações da
estação começam pelos acessos até che-
Figura 15 - Estação padrão gar ao túnel das plataformas o que, muitas
poço lateral, planta plataforma vezes, provoca atrasos. Neste estudo, a
inferior (Fonte: Metrô, 2020) disponibilização das áreas está ligada ao
planejamento somente dos acessos e me-
zaninos, sendo que o do túnel das plata-
formas da estação está ligado à escavação
do túnel principal das vias.
As áreas de manobra nas estações ter-
minais necessitam de um maior desenvol-
vimento devido a necessidade de conexão
entre os patamares através de uma ram-
pa. Optou-se pela execução de manobras
posteriores às plataformas (trem vazio),
evitando que os usuários sejam submeti-
dos a uma mudança de atitude em regime
Figura 17 - Estação padrão poço lateral, de aceleração/ desaceleração. Esta con-
Figura 16 - Estação padrão poço lateral, corte corte transversal poço de ligação NATM figuração garante a manutenção de um
transversal plataforma e poço (Fonte: Metrô, 2020) (Fonte: Metrô, 2020) inter valo mínimo de 90 segundos.

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• Conjunto de até três escadas rolantes, uma


escada fixa e dois elevadores por desnível;
• Parte das salas técnicas será colocada
dentro do túnel, no prolongamento das
plataformas.

CONCLUSÕES
Figura 18 - Estação padrão poço central, planta plataforma inferior (Fonte: Metrô, 2020) A revisão dos paradigmas de mate-
rial rodante, alimentação elétrica e ge-
ometria de via viabilizaram redução de
15% no volume de escavação e de 18%
no volume de concreto, em relação à
proposta original de TBM4. Com estas
otimizações, o TBM4 apresenta custo
equivalente ao TBM2, em um trecho pi-
loto estudado, e passa a fazer parte do
rol de soluções a serem adotadas na am-
Figura 19 - Estação padrão poço central, planta plataforma superior (Fonte: Metrô 2020) pliação do Metrô de São Paulo. O TBM4
é especialmente vantajoso nas seguintes
situações: (a) escassez de terrenos para
estações – especialmente em regiões
cujas estações teria que ser escavadas
em VCA; (b)profundidade média da linha
é acima de 30m; (c) escassez de terrenos
para pátios; (d) redução dos riscos exe-
cutivos, de custos e de cronograma.
Como este tipo de situação é pre-
Figura 20 - Estação padrão VCA, planta plataforma inferior (Fonte: Metrô, 2020) valente nos locais onde estão sendo
propostas linhas futuras, esta solução
construtiva parece ter futuro bastante
promissor na expansão do sistema de
metrô paulistano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Figura 21 - Estação padrão VCA, planta plataforma superior (Fonte: Metrô, 2020) [1] DEULOFEU I PALOMAS, CARME;
SERRATOSA BELLES, JOAN; SCHWARZ,
HENNING. - La ligne 9 dumétro de Bar-
ESTAÇÕES PADRÃO forma. Por isso, os sistemas de ventilação das
celoneCreusementdutronçonCanZam -
PARA TBM4 plataformas e das vias deverão ser dimensio-
O desenvolvimento das estações padrão nados de forma independente, principalmen-
Rio Besòs. 2009.
para escavação pelo método TBM4 conside- te em situações de incêndio, quer sejam nas [2] ROIG, J1, E. FERNANDEZ, E, RUIZ, M,
rou perfil de demanda de uma linha conven- estações ou nas vias (figura 13); SANZ, A. - In-Tunnel Station Concept on
cional de metrô. Este modelo poderá ser ado- • Portas corta-fogo entre as plataformas e o Deep Subway Tunnel Projects in Urban
tado em grande parte das estações de uma poço. Elas garantirão que as duas plataformas Areas: Barcelona Line 9. 2009.
futura linha, com exceções sendo estações de sejam estanques entre si, uma servindo como [3] JIMENEZ, ANA RUÍZ. - Design, simu-
transferência, estações terminais e estações rota de fuga em caso de sinistro na outra, lation and implementation of ventila-
com previsão de elevados fluxos concentra- por meio de escadas pressurizadas localiza- tion system for Metro Line 9 at Barcelo-
dos (como estações em regiões centrais, pró- das nas duas extremidades das plataformas, na City in Spain. 2015.
xima a estádios, faculdades etc.). conectando uma à outra;
As estações padrão dividem-se em três • Desnível entre plataformas de 5,61 metros;
tipos: poço lateral (figuras 13 a 17), poço • Dois elevadores entre o mezanino e os ní- * Fábio Martini Pontes é arquiteto e
central (figuras 18 e 19) e VCA (figuras 20 veis de plataformas, atendendo ambas as pla- urbanista, coordenador de estudos urbanos e
e 21). Porém, todas possuem em comum as taformas; anteprojeto de arquitetura no Metrô-SP
seguintes características: • Plataforma superior com largura útil de E-mail: fpontes@metrosp.com.br
• Portas de plataforma “com fechamento 4,30m (considerando neste caso a altura livre
total”, isolando a via da estação, de forma a de 2,10m a partir da borda dos painéis fixos ** Hugo Cássio Rocha é geólogo, mestre em
diminuir impactos do efeito pistão na estação das portas de plataforma); plataforma infe- Engenharia Geotécnica, especialista no Metrô-SP
e o tamanho de dutos de ventilação na plata- rior com largura útil de 5,20m; E-mail: hcrocha@metrosp.com.br

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Utilização de elevadores de alta


capacidade em estações do
Metrô de São Paulo¹
FABIO MARTINI PONTES* / LILIAN HATSUMI NAGAE** /
HUGO CÁSSIO ROCHA*** / ADALBERTO DE PAULA RAMOS****

N
INTRODUÇÃO vertical; no diâmetro do poço de circulação dades, dimensões, sistemas de controle).
nos últimos anos, as esta- e volume de escavações e concreto; e no Dentre as normas pesquisadas destaca-
ções do Metrô de São Pau- consumo energético. -se a NBR-5665 – Cálculo de tráfego nos
lo vêm sendo implantadas A análise considerou a capacidade de elevadores, que apresenta uma metodolo-
em profundidades maiores transporte do sistema de elevadores; os re- gia para o dimensionamento de elevado-
devido à necessidade de quisitos de desembarque e evacuação em res e estabelece critérios mínimos a serem
superação de barreiras fí- diferentes cenários operacionais; o atendi- atendidos.
sicas, integrações não previstas com linhas mento às normas e aos aspectos de seguran- Segundo a norma, a capacidade mínima
existentes e interferência com as fundações ça; o conforto dos passageiros; e os custos de tráfego é determinada pelo atendimento
de edifícios verticalizados. de implantação. de uma porcentagem da população calcu-
Essa profundidade é vencida por equipa- lada, que varia de 6% a 15% em função do
mentos de circulação vertical. As escadas ro- DESENVOLVIMENTO tipo de uso, em um intervalo máximo de 5
lantes são destinadas ao uso geral. Enquanto Inicialmente, estabelecemos o cruza- minutos (figura 2).
os elevadores, disponíveis em menor número, mento de dois critérios para identificar esta- Diferentemente de um edifício, para
cumprem a função de prover acessibilidade ções com potencial de obter maior benefício uma estação de metrô o atendimento crí-
universal às estações. Com o intuito de reduzir com o uso de elevadores: baixa demanda e tico é o desembarque das pessoas do trem,
a quantidade de lances de escada, são utiliza- alta profundidade. Como baixa demanda, na hora pico, que saem de modo concen-
das escadas rolantes mais longas, que deman- identificamos as estações com demanda trado e que precisa ser atendido no inter-
dam maior área para acomodação no poço de diária menor que 20.000 passageiros e de- valo máximo até a chegada das pessoas do
circulação vertical. manda na hora pico no sentido mais carre- próximo trem, para que não haja acúmulos
Tal cenário acarreta um trajeto em zigue- gado de até 2.400 pessoas (cerca de 40% da sucessivos.
-zague para a maior parte dos usuários, as- capacidade de uma escada rolante). Como Neste estudo considerou-se uma pla-
sociado a um tempo de percurso longo para alta profundidade, desníveis maiores que 30 taforma hipotética, com uma saída central
chegada à superfície. Como consequência, metros entre o nível da plataforma e o me- para o lobby, que resultou na seguinte dis-
a satisfação dos usuários é afetada e o uso zanino de bloqueios. tribuição: 46% dos desembarques com ori-
dos elevadores passa a ser atrativo, gerando Na sequência pesquisamos os modelos gem nos dois carros mais centrais, 28% nos
filas e desrespeito ao atendimento preferen- de elevadores disponíveis no mercado e suas dois carros seguintes e 26% nos carros mais
cial. Além disso, poços com diâmetros maio- características técnicas (velocidades, capaci- distantes. Essa distribuição resultou no se-
res geram um maior volume de escavações e
concreto, impactando nos custos e no prazo
de execução das obras.
Recentemente, linhas de metrô profundas
foram construídas também em outros países
como Espanha, China e Estados Unidos, onde
optou-se pelo uso de elevadores velozes e de
alta capacidade para a circulação geral dos pas-
sageiros (figura 1).
Neste contexto, o estudo buscou veri-
ficar a viabilidade do uso de elevadores de
alta capacidade como principal meio de cir-
culação vertical de passageiros em futuras
estações do Metrô de São Paulo. O objetivo
foi averiguar os benefícios da adoção deste
novo modelo quanto aos impactos no tempo
de percurso; na quantidade e custos de im- Figura 1 - Elevadores de alta capacidade na estação Zona Universitária,
plantação dos equipamentos de circulação Barcelona (Fonte: trenscat.com)

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disponíveis, sua capacidade nominal (lo- Evacuação da estação: foram conside-


tação) e o tempo total de viagem (ciclo de rados os parâmetros estabelecidos pela
subida e descida). Instrução Técnica 45 - Segurança contra
O tempo total de viagem determina o incêndio para sistemas de transporte sobre
tempo de ciclo de um elevador e quando trilhos, de 2018, do Corpo de Bombeiros
ele estará disponível novamente para uso. do Estado de São Paulo. Segundo esta
A partir desse valor é possível determinar a norma, a plataforma deve ser evacuada
capacidade de transporte dos elevadores em em no máximo 4 minutos e os passageiros
função da quantidade de elevadores e sua devem atingir uma área de relativa segu-
lotação, em um intervalo de tempo. rança em até 6 minutos.
Para a velocidade dos elevadores foi O local de relativa segurança pode ser
considerada a recomendação dos fabrican- uma área interna à estação, desde que seus
Figura 2 - Perfil da demanda em edifícios tes, que a determinam em função do uso e elementos construtivos sejam incombustí-
(Elevadores Atlas Schindler, 2008) da distância de percurso (tabela 1). veis e resistentes ao fogo e que seja pro-
Para a lotação dos elevadores o estudo tegida da plataforma por compartimenta-
considerou dois tipos: de 33 pessoas e de ção, permitindo a saída segura das pessoas
40 pessoas, valores comumente encontrados (Corpo de Bombeiros do Estado de São
nas estações da Linha 9 de Barcelona. Para Paulo, 2019).
efeito de cálculo, considerou-se 80% da lo- A norma prevê a possibilidade de utili-
tação máxima, admitindo volumes extras e zação de elevadores como meio de evacua-
diferentes perfis de pessoas. ção, desde que não sejam computados para
Além do cálculo de tráfego, a NBR-5665 mais de 50% da capacidade requerida de
também estabelece o intervalo máximo de escape da estação e a área de espera do sa-
espera que varia de 40 segundos a 80 se- guão deve ser pressurizada com um mínimo
gundos, a depender do tipo de uso da edifi- de 50 Pa (5,0mm coluna d’água).
Figura 3 - Perfil da demanda em estação de cação. Para este estudo, optou-se pelo me- Considerando que não há necessidade
metrô (Elaboração própria) nor tempo (40 segundos). de atingir uma área externa em 6 minutos,
Uma segunda frente importante para o bastando uma área de relativa segurança, e
guinte perfil de chegada ao lobby (figura 3). dimensionamento foi a definição de 4 cená- que o uso dos elevadores como rota de fuga
A partir desse entendimento, definiu-se rios diferentes e seus respectivos requisitos. implicaria em sistemas auxiliares mais com-
que o dimensionamento seria uma função plexos; neste estudo optou-se por conside-
considerando o volume de desembarques Normalidade operacional: foi considerada rar a rota de fuga exclusivamente por es-
por intervalo de trem (headway) e que o em- uma margem de aumento de demanda 15% cadas fixas, com a possibilidade de uso dos
barque, por ter um perfil mais distribuído e um fator de pico do pico de 7%. Como re- elevadores para retirada assistida de pessoas
(próximo a uma curva normal), seria atendi- quisito, os elevadores devem ter capacidade com mobilidade reduzida.
do na viagem de retorno dos elevadores ao para atender os desembarques de um trem
nível das plataformas. antes da chegada dos passageiros do próxi- APLICAÇÃO DOS CONCEITOS
Ainda segundo a NBR-5665, a capa- mo trem. Elevadores operando por platafor- A partir das definições explicadas, par-
cidade de transporte dos elevadores se dá ma, sem compartilhamento. timos para a aplicação dos conceitos em
em função da quantidade de elevadores uma estação hipotética com profundidade
Atraso operacional: Margem de aumento de de 30m de desnível entre a plataforma e
Tabela 1 - Velocidade recomendada demanda de 30%. Os elevadores devem ter o mezanino de bloqueios, demanda máxi-
para uso não residencial (Elevadores capacidade para atender os desembarques ma por sentido de 2.400 pessoas na hora
Atlas Schindler, 2008) de um trem antes da chegada dos passagei- pico e intervalo entre trens (headway) de
ros do próximo trem, podendo compartilhar 93 segundos.
PERCURSO (m) VELOCIDADE (m/s) elevadores entre plataformas, se necessário. Devido a sua profundidade, optou-se
até 17 de 0,50 a 1,00 por estudar a aplicação considerando a pla-
Queda de energia nos sistemas auxiliares: taforma em túnel NATM. Para o corpo da
de 18 a 29 de 1,00 a 1,75 neste caso, o requisito é manter o mínimo de estação optou-se pela configuração de poço
elevadores necessários ligados a um sistema lateral, centralizado longitudinalmente na
de 30 a 44 de 1,75 a 2,50 autônomo de energia para não comprometer plataforma, que permite a compartimenta-
o funcionamento da estação. Para esta situ- ção da área do lobby, por meio de portas
de 45 a 59 de 2,50 a 3,50
ação admitiu-se o atendimento exclusivo ao corta fogo, em relação à plataforma.
de 60 a 74 de 3,50 a 4,00 nível de uma única plataforma (mais deman- Para o cálculo do tempo total de viagem,
dada), devendo os passageiros se dirigirem foram considerados os seguintes parâme-
de 75 a 89 de 4,00 a 5,00 a esse nível por escadas fixas para acessar tros: elevadores de 33 pessoas; velocidade
os elevadores. Previsão de apenas 1 elevador de 1,75m/s; atendimento por plataforma
de 90 a 150 de 5,00 a 6,00
para o nível da plataforma menos demanda- com 2 a 3 paradas (plataforma, mezanino
acima de 150 de 6,00 a 8,00 da, para atendimento de pessoas com mobi- de distribuição e mezanino de bloqueios) e
lidade reduzida. portas com abertura central e largura maior

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máximo estabelecido de Cenário de evacuação


2.400 pessoas por sentido, Capacidade das escadas fixas: 56 pessoas/
o pior cenário seria esse minuto/metro
volume concentrado em Fluxo de saída (2 escadas fixas de 2m): 224
uma única plataforma, sen- pessoas/minuto
do necessário 4 elevadores Tempo total: 7:50
para atender a plataforma Ver gráfico 3.
mais carregada, de maneira Foi considerado um carregamento hipo-
exclusiva. tético, na hora pico, de 40.000 pessoas no
Para a plataforma me- sentido mais carregado e 5.000 pessoas no
Gráfico 1 - Fluxo de pessoas no lobby, cenário 1
nos carregada utilizou-se o sentido menos carregado.
(Elaboração própria)
critério de intervalo máximo Chegou-se a uma carga ocupacional de
entre elevadores, de 40s. cerca de 1.580 passageiros. Considerando
Como o tempo total de ciclo duas escadas fixas de dois metros de lar-
é de cerca de 104 segundos, gura livre, obteve-se um tempo de 7 mi-
são necessários três eleva- nutos e 50 segundos para evacuação total
dores. do lobby.
Considerando a redun- O número máximo de pessoas no lobby
dância de 1 elevador em caso foi de cerca de 1.000 pessoas. Consideran-
de manutenção, chegou-se a do um Nível de Serviço D, equivalente ao
um total de 8 elevadores de observado em bulbos de escadas, temos um
33 pessoas. índice de 3,6 pessoas/m² resultando num lo-
Gráfico 2 - Fluxo de pessoas no lobby, cenário 2
bby de no mínimo 280,0m².
(Elaboração própria)
Cenário de atraso Os cálculos desenvolvidos não conside-
operacional raram sistemas inteligentes de otimização
Total de elevadores = 5, sen- da capacidade de tráfego dos elevadores.
do 1 compartilhado com am- Buscou-se um dimensionamento conserva-
bas as plataformas. dor, mas entende-se que o uso desses recur-
Ver gráfico 2. sos poderá mostrar cenários mais positivos
No cenário 2, é possível quanto a capacidade de transporte consi-
verificar que o compartilha- derada, devendo ser explorado em etapas
mento de 1 elevador entre as futuras.
plataformas é suficiente para
atendimento do aumento da PROPOSTA –
Gráfico 3 - Fluxo de pessoas no lobby, cenário 4
demanda, sem ocorrência de ESTAÇÃO COM POÇO LATERAL
(Elaboração própria)
acúmulos entre desembar- A aplicação dos parâmetros descritos
ques de diferentes trens. resultou na proposta de 8 elevadores de 33
que 1,10m; resultando em um tempo de cer- pessoas cada por estação, área de acumula-
ca de 110 segundos. Cenário de queda de energia nos sistemas ção no saguão de no mínimo 280m² e duas
auxiliares escadas fixas. Foi proposto saguão de espera
Cenário de normalidade operacional Total de elevadores = 5 (1 operando a plata- dos elevadores no formato circular, separado
Total de elevadores = 4 forma de menor demanda). do túnel de plataformas por meio de portas
Acúmulo estimado máximo no lobby = 32 Acúmulo máximo no lobby = 32 passageiros corta-fogo.
passageiros No cenário 3, a estratégia operacio- O poço resultante possui diâmetro in-
Ver gráfico 1. nal seria atender toda a demanda em um terno de 25,5m. Os elevadores atendem
No cenário 1, considerando o volume único andar (plataforma mais carregada), três pavimentos: nível da linha de blo-
otimizando o tempo de via- queios, nível mezanino de distribuição,
gem. Como no cenário 1 já onde as pessoas descem para acessar a
calculamos considerando o plataforma oposta ao poço, e platafor-
pior caso que seria toda a ma inferior, onde as pessoas descem para
demanda de desembarque acessar a plataforma adjacente ao poço
em uma única plataforma, ( figura 4 ).
o comportamento do f luxo Apesar deste estudo considerar uma
se mantém igual. Seriam estação com plataformas laterais em tú-
necessários 4 elevadores, nel NATM, o leiaute desenvolvido para o
e ao menos 1 elevador adi- saguão de elevadores poderia ser aplicado
cional fazendo o percurso também para estações com plataformas
Figura 4 - Poço lateral com elevadores em planta e corte da na plataforma menos car- sobrepostas, com o mesmo número de
estação com plataformas laterais (Companhia do Metropolitano regada, totalizando 5 ele- paradas e acesso direto a cada sentido da
de São Paulo, 2021) vadores. plataforma ( figura 5 ).

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dos elevadores varia entre 1,75m/s e Assim, mesmo para demandas de menor porte,
3,50m/s (105m/min e 210m/min). Já a e considerando desníveis médios de 7,5 me-
velocidade de deslocamento vertical das tros entre patamares, seriam necessárias en-
escadas rolantes é a mesma, indepen- tre 8 e 16 escadas rolantes para estações com
dente do desnível a ser vencido: 17m/ profundidades entre 30 e 60 metros. Além das
min para passageiros parados e 30m/ escadas rolantes, devem ser previstos também
min para passageiros caminhando nas no mínimo 2 elevadores por plataforma, para
escadas rolantes. A tabela 2 apresenta atendimento das pessoas com deficiência.
os tempos de percurso de elevadores e Nas estações com elevadores, a quantida-
Figura 5 - Poço lateral com elevadores e plataformas escadas rolantes para um desnível de 37 de de elevadores não varia significativamente
sobrepostas em corte (Companhia do Metropolitano de metros, mostrando “economias de 41 a com a profundidade, conforme mostra a tabe-
São Paulo, 2021) 118 segundos por passageiro transpor- la 4; quanto maior a profundidade da estação,
tado”, como pode ser visto na tabela 3. maior a economia na instalação de equipa-
ANÁLISE DOS RESULTADOS mentos de circulação vertical.
1.Redução de tempo de percurso 2.Redução do custo de implantação dos
Os elevadores são projetados com veloci- equipamentos 3.Redução da área escavada das estações
dades máximas de percurso condizentes com o Estações profundas são concebidas hoje As estações com poço lateral são proje-
desnível máximo a ser vencido. Para profundi- com no mínimo duas escadas rolantes por tadas atualmente com diâmetro interno com
dades entre 30m e 60m, a velocidade máxima lance (uma para subida e outra para descida. cerca de 31,4m (figura 6).
Na proposta de poço lateral com elevadores
Tabela 2 - Comparação Tempo de Percurso Elevadores (EL) e Escadas de alta capacidade, o diâmetro interno do poço
Rolantes (ER), 37 metros de percurso (elaboração própria) é reduzido para 25,5m; neste caso, a seção es-
cavada decorre principalmente da área de acu-
Parâmetros (desnível 37m) Escadas rolantes Elevadores mulação de passageiros no lobby dos elevado-
res, no cenário de evacuação da estação pelas
Velocidade vertical 17 a 30m/min 105 m/min escadas fixas, além dos dutos de ventilação e
prumadas de cabos (figuras 7 e 8).
Tempo de percurso 74 a 131 s 105 m/min
Com a adoção de elevadores de alta ca-
Tempo de percurso patamares ER 40s - pacidade, a redução dos volumes escavados
nos poços laterais de estação pode chegar a
Tempo de espera médio EL - 20s 35%, conforme tabela 5. Novamente, quan-
to maior a profundidade da estação, maior
Tempo de portas abertas EL - 32s será a redução do volume escavado, em
Tempo total de deslocamento 114 a 171s 73s termos absolutos. Os ganhos econômicos e
ambientais são os seguintes: (a) menor tem-
Tabela 3 - Comparação Tempo de Percurso Elevadores po de obra; (b) menor volume de terra a ser
(EL) e Escadas Rolantes (ER) (elaboração própria) transportado para bota-fora; (c) menor uso
de concreto, com a redução da espessura da
Profundidade da estação 30 m 45m 60m parede de concreto do poço e a redução da
espessura das lajes de pavimentos interme-
Tempo de percurso Escadas diários, por não precisarem mais receber o
2min16s 3min29s 4min42s
rolantes peso das escadas rolantes; (d) possibilidade
de uso de terrenos menores, reduzindo cus-
Tempo de percurso Elevadores 1min13s 1min13s 1min13s
Velocidade máxima - Elevadores 105m/min 150m/min 210m/min

Diferença -1min03s -2min16s -3min29s

Tabela 4 - Comparação quantidade de equipamentos


de circulação vertical (elaboração própria)

Profundidade da estação 30 m 45m 60m

Quantidade escadas rolantes +


8+2 12+2 16+2
Elevadores PCD

Quantidade elevadores de alta


8 8 8
capacidade Figura 6 - Poço lateral com escadas rolantes
(Companhia do Metropolitano de São Paulo,
Diferença -2 -6 -10
2021)

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tes pesquisados. Para o desnível tribuir para a redução do custo e prazo de


consultado, de aproximadamen- implantação de linhas de metrô futuras.
te 40 metros, o consumo anual
1
por unidade estabeleceu-se em Nota
torno de 2,8MWh. Consideran- Esse artigo é resultado de trabalho de equi-
do o número de equipamentos pe multidisciplinar da qual fizeram parte, além
de circulação por estação, con- dos autores, os seguintes técnicos do Metrô de
forme mostrado na tabela 6, a São Paulo: Bruno Valente, Daniella Lobo da Cos-
economia com consumo ener- ta Lima, Eduardo Marcello Casado, Fabio Mori,
gético pode chegar a 90%. Gerson Luiz Martinez, Hugo Cassio Rocha, José
Elevadores possuem carac- Geraldo Baião (em memória), Marcello Pereira
Figura 7 - Poço lateral com escadas rolantes e com terísticas, que contribuem para Delgado, Murillo Macedo Gabarra, Rodrigo Gue-
elevadores (Companhia do Metropolitano de São Paulo, um consumo energético larga- des de Azevedo e Rogerio Mitsunobu Kimura.
2021) mente menor. Eles podem fun-
cionar tanto de forma contínua
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
como sob demanda. O uso sob
demanda, aliado ao desligamen- [1] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
to de parte dos elevadores nos NICAS. ABNT NBR 9050 - Acessibilidade a edifica-
horários de menor movimento, ções, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.
Rio de Janeiro, Brasil, ABNT, p. 147, 2020.
seria responsável pela maior [2] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
parte da economia energéti- NICAS. ABNT NBR5665 - Cálculo de tráfego nos
ca. Além disso, cada elevador elevadores. Rio de Janeiro, Brasil, ABNT, p. 12, 1983.
atende tanto ao fluxo de subi- [3] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉC-
NICAS. NBR-NM 313 - Elevadores de passageiros -
da como o de descida, de forma Requisitos de segurança para construção e instala-
Figura 8 - Comparação de seção escavada, para poços que não são necessários equipa- ção - Requisitos particulares para a acessibilidade
com escadas rolantes e elevadores (Companhia do mentos extras para atender ao das pessoas, incluindo pessoas com deficiência. Rio
Metropolitano de São Paulo, 2021) fluxo minoritário. de Janeiro, ABNT, p. 46, 2007.
[4] COMPANHIA DO METROPOLITANO DE SÃO
PAULO. DIRETORIA DE ENGENHARIA E PLANEJA-
tos de desapropriação. CONCLUSÕES MENTO E DIRETORIA DE OPERAÇÕES - Estudos de
O presente trabalho demonstrou que as Inovação, 2021. São Paulo: Companhia do Metro-
4.Redução do consumo energético hipóteses levantadas no início se confirma- politano de São Paulo, 2021.
ram após a pesquisa e análise dos dados. A [5] CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DE SÃO
Com base em dados operacionais do Me-
PAULO - INSTRUÇÃO TÉCNICA No 45 / 2019. p.
trô-SP, verificamos que para desníveis mé- solução de elevadores de alta capacidade 3, 2019.
dios de 7,5m, escadas rolantes consomem na minimiza os problemas associados às esta- [6] ELEVADORES ATLAS SCHINDLER - Manual de
média entre 22 e 30 MWh/unidade/ano. Este ções de maior profundidade, melhorando o Transporte Vertical em Edifícios Elevadores de Pas-
valor é superior ao consumo elétrico de ele- conforto do passageiro, e oferece economias sageiros, Escadas Rolantes, Obra Civil e Cálculo de
construtivas e operacionais que podem con- Tráfego. 2008.
vadores, verificado junto a um dos fabrican- [7] FRUIN, JOHN J. - Pedestrian Planning and Design.
Nova Iorque: Metropolitan Association of Urban De-
Tabela 5 - Comparação de volume de solo escavado nos poços de escadas signers and Environmental Planners, Inc., 1971.
rolantes e elevadores de alta capacidade (elaboração própria) [8] RUGER, BERNHARD - How Platform Infras-
tructure Influences Passenger Behaviour. Interna-
tional Journal for Traffic and Transport Enginee-
Profundidade da estação 30 m 45m 60m ring, vol. 8, no. 4, p. 446–454, 2018.
[9] TOSHIBA ELEVATOR AND BUILDING SYSTEMS
Poço com escadas rolantes CORPORATION. Traffic Planning.
23.231m³ 34.846m³ 46.462m³
(d = 31,4m)
* Fábio Martini Pontes é arquiteto e
Poço com elevadores (d = 25,5m) 15.321m³ 22.982m³ 30.642m³
urbanista, coordenador de estudos urbanos e
Diferença -7.910m³ -11.864m³ -15.820m³ anteprojeto de arquitetura no Metrô-SP
E-mail: fpontes@metrosp.com.br
Tabela 6 - Comparação do Consumo de Energia Elevadores (EL) e ** Lilian Hatsumi Nagae é arquiteta e
Escadas Rolantes (ER), para estação com desnível de 37 metros entre urbanista, arquiteta da área de estudos urbanos
mezanino linha de bloqueios e plataformas (elaboração própria) e anteprojeto de arquitetura no Metrô-SP
e-mail: lhnagae@metrosp.com.br
Parâmetro ESCADAS ROLANTES ELEVADORES *** Hugo Cássio Rocha é geólogo, mestre em
Engenharia Geotécnica, especialista no Metrô-SP
Quantidade de equipamentos 10 8 E-mail: hcrocha@metrosp.com.br
**** Adalberto de Paula Ramos é
Consumo anual por equipamento 22 a 30 MWh 3 MWh Engenheiro Eletricista, Chefe de Departamentode
Consumo anual total 220 a 300 MWh 24 MWh projetos de Sistemas no Metrô-SP
E-mail: aramos@metrosp.com.br

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Figura 1 - Rede estrutural de transporte coletivo comprometida, considerada nos estudos da rede futura de metrô (Fonte: Companhia do
Metropolitano de São Paulo, 2022)

Rede futura de metrô:


fases do estudo
ANDREINA NIGRIELLO* / LEONARDO CLEBER LIMA LISBÔA**
INTRODUÇÃO vo, por se tratar do principal suporte na data horizonte. De posse de infor-

Q
uando se pensa em mo- aos deslocamentos da população a tra- mações atualizadas é possível rever as
bilidade, diversos temas balho, estudo, lazer, saúde, compras e diretrizes e os planos de expansão da
podem ser foco de abor- demais motivos. Sem uma infraestru- rede de transporte, na qual se destaca
dagem, desde as razões tura de transporte coletivo adequada é a rede sobre trilhos, em especial a de
pelas quais as pessoas se certo que as pessoas despenderão mais metrô.
locomovem de um lugar a outro, até tempo de viagem do que o desejado, No caso da Região Metropolitana de
a infraestrutura que dá suporte à sua entre o local de origem e o local de São Paulo (RMSP), o ciclo de atualiza-
mobilidade. São temas objeto do pla- destino. ções da rede futura de transporte cole-
nejamento urbano e de transporte, O desenho da rede de transporte co- tivo tem como partida as novas edições
todos ligados de modo intrínseco ao letivo futura, que segue planos e leis das Pesquisas Origem e Destino (OD),
contexto socioeconômico, que condi- que regem o planejamento de transpor- realizadas desde 1967 com uma perio-
ciona a produção do espaço da cidade te e a produção do espaço urbano, pro- dicidade de 10 anos até chegar à OD17,
e a sua fruição. No desenvolvimen- põe novas linhas e a expansão de linhas e passa pelo levantamento de informa-
to desses temas tudo aponta para a existentes, visando atender à demanda ções relacionadas ao espaço urbano,
identificação de sequências de ações, pelo ser viço prevista após 20 anos, pe- por projeções de crescimento popula-
investimentos, metas e a considera- ríodo geralmente adotado nos planos. cional e econômico, pela constituição
ção de inúmeros aspectos na busca de A atualização do desenho da rede de modelos de previsão da demanda e
transformações promotoras de melho- de transporte coletivo futura é cíclica, pela incorporação de avanços tecnoló-
res condições de produção e de quali- envolvendo a revisão de estudos que, gicos nos modos coletivos, na implan-
dade de vida da população. por sua vez, dependem de pesquisas tação das linhas e em sua operação.
A expansão da rede é tema central e levantamentos que caracterizam o Afinal, quais são as fases de um
do planejamento de transporte coleti- presente e procuram antever situações estudo para a revisão da rede futura?

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O Metrô de São Paulo busca consoli- futuros; a adoção de diretrizes para o porte; na consolidação do processo de
dar uma metodologia de trabalho, com traçado da rede, compatíveis com obje- planejamento de transporte; na elabo-
fases e atividades bem definidas, para tivos da política de transporte estabe- ração de programas de investimentos;
estabelecer, com boa fundamentação, lecida de forma exógena ao processo; a e na avaliação, acompanhamento da
suas propostas de desenho da rede fu- escolha de indicadores de desempenho implantação e revisão do plano.
tura de metrô. para avaliação de traçados alternativos A estrutura analítica adotada para
Seguindo as práticas estabeleci- para a rede futura; as propostas de tra- orientar o projeto da rede futura de
das pelo Project Management Institute çados alternativos para a rede futura; metrô estabelece como atividade inicial
(PMI), todos os projetos pertencentes o teste dos traçados alternativos de entender o contexto em que irá se in-
ao ciclo de vida do planejamento de rede para o cenário otimista; a seleção serir a proposição de expansão da rede.
expansão metroviária foram mapea- do melhor traçado para a rede futura; Para tanto devem ser realizadas pros-
dos e estruturados: Pesquisa Origem propostas de esquemas espaciais al- pecções da conjuntura metropolitana,
e Destino (OD); modelo de previsão de ternativos de integração intermodal; na busca de informações da situação
demanda e projeções socioeconômicas; o programa de implantação das novas atual, das transformações em curso e
rede futura de metrô – objeto deste ar- linhas e a previsão dos investimentos dos planos, projetos urbanos e obras
tigo; projeto diretriz de novas linhas ou correspondentes. que poderão transformar o espaço me-
trechos novos de linhas existentes; an- O planejamento estratégico dife- tropolitano. Dentro deste produto ain-
teprojeto de engenharia; estudo de im- rencia-se do tradicional principalmente da são levantados os obstáculos para a
pacto ambiental e relatório de impacto porque a sucessão de atividades inicia- competitividade e oportunidades para
ambiental. -se com palestras e debates, com a par- a metrópole, além de aspectos institu-
Para cada um desses projetos de ex- ticipação de especialistas em diversos cionais que podem inf luenciar os rumos
pansão da rede metroviária foram cons- setores, para identificar a metrópole do desenvolvimento metropolitano.
tituídas estruturas analíticas de proje- desejada no ano horizonte do plano, Nesta fase também é feito processo se-
to, que sintetizam os trabalhos a serem pelos responsáveis por ações públicas melhante para a rede de transporte, em
realizados e formam o seu arcabouço. relacionadas à produção do espaço ur- que se prospectam os planos de investi-
No caso do planejamento da rede futu- bano. Em seguida é feita a especifica- mentos em andamento, as funções pú-
ra de metrô, seis grandes fases estru- ção dos objetivos da política de trans- blicas de interesse comum que deman-
turam sua concepção: 1) princípios da porte para a produção da metrópole dam compatibilização com a rede e as
rede futura; 2) cenários socioeconômi- desejada; e são estabelecidos indicado- contribuições para o desenvolvimento
cos; 3) estratégias de desenho da rede; res quantitativos para avaliar o alcance sustentável.
4) seleção da estratégia; 5) hierarqui- dos objetivos da política de transporte, Em seguida, importante atividade
zação e sequenciamento de trechos em cada alternativa de rede futura a ser pode ser desenvolvida, para estabelecer
operacionais; 6) monitoramento do proposta. as premissas que ser virão de base para
desenvolvimento da rede. Além dessas Já, as etapas seguintes do planeja- o desenho da rede de metrô. Consiste
fases, integram os trabalhos de desen- mento estratégico se assemelham às do em definir a visão da metrópole dese-
volvimento da rede futura a comunica- planejamento tradicional: elaboração jada, em outras palavras, qual a metró-
ção e divulgação, o gerenciamento do do cenário base e de possíveis cenários pole se quer para o futuro, e como a
projeto e das partes interessadas. Este futuros; desenho de alternativas para rede de metrô contribui para o alcance
artigo entra em mais detalhes nas seis a rede futura, mas agora envolvendo dessa visão. Para essa atividade é pos-
grandes fases. também a participação de técnicos das sível coletar diferentes visões de partes
entidades de transporte atuantes na interessadas, sintetizá-las consideran-
PRINCÍPIOS DA REDE FUTURA metrópole e de consultores especia- do aspectos afins e estabelecer uma vi-
Esta fase inicial estabelece as bases listas em planejamento de transporte; são unificada da metrópole do futuro.
para o estudo. Em um primeiro mo- teste das alternativas de rede futura Um conjunto de objetivos, então, po-
mento define-se o método de desen- para o cenário socioeconômico otimis- derá ser formulado, de modo a associar
volvimento do estudo, isto é, a forma ta; seleção da rede mais pontuada pelos a visão da metrópole desejada a trans-
como os trabalhos serão conduzidos. indicadores previamente estabelecidos; formações mensuráveis. Estas, por sua
É possível optar pela abordagem do e teste, nos demais cenários, da rede vez, possibilitarão a avaliação das es-
planejamento tradicional ou do plane- selecionada. tratégias da rede futura de metrô.
jamento estratégico, mais ágil, mesmo O planejamento estratégico inclui Finalizando esta atividade, podem
alcançando uma gama abrangente de a elaboração de diretrizes, recomenda- ser formulados critérios e indicadores
questões e múltiplos interesses. ções e políticas com foco em investi- que, a partir dos objetivos a serem al-
O planejamento tradicional envol- mentos em infraestrutura; na gestão cançados, avaliarão as diferentes estra-
ve realizar, em sequência: diagnósticos operacional; na produção do espaço ur- tégias de desenho da rede futura.
de questões associadas à organização bano associado à rede de transporte; na
do território e à demanda e oferta de gestão de subsistemas componentes do CENÁRIOS SOCIOECONÔMICOS
transporte; a identificação do cenário sistema de transporte; no financiamen- Nesta fase são analisadas as infor-
socioeconômico na data da Pesquisa to do sistema de transporte; no moni- mações socioeconômicas. Parte-se da
Origem e Destino mais recente e de toramento do sistema de transporte; na situação presente, levantada a partir
possíveis cenários socioeconômicos f lexibilização dos produtos de trans- das Pesquisas Origem e Destino, assim

90 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


como de censos demográficos. Este res estabelecidos na fase de princípios da ciamento da expansão. Um amplo tra-
cenário socioeconômico é chamado de rede futura, e selecionar a estratégia que balho de comunicação e divulgação é
“base”. Como os planos tratam do futu- tiver maior aderência a eles. necessário para garantir a adequada
ro, tendo determinado ano como hori- Nesta fase é viável fazer ajustes nos disseminação da proposta e, conse-
zonte, são obtidas informações projeta- cenários socioeconômicos futuros, se quentemente, sua concretização. Nesta
das para a data. No caso da população, necessária alguma adequação à visão fase lança-se mão de relatórios técni-
as projeções são tratadas tendo como de metrópole do futuro. Igualmente, os cos, de divulgação, sumários executi-
referência as taxas de crescimento ge- objetivos, critérios e indicadores podem vos e apresentações.
ométrico anual obtidas de órgãos es- ser ajustados para que possibilitem ava- Um trabalho de acompanhamento
tatísticos oficiais. Em relação aos em- liar as estratégias e selecionar a que mais do desenvolvimento da rede proposta
pregos, diversos cenários são previstos, aderir aos objetivos. A estratégia sele- também é realizado, e diversos itens
considerando-se situações macroeco- cionada é fundamental para alimentar são avaliados e monitorados. Vão des-
nômicas variadas, em que se desenham políticas públicas, tais como os planos de o acompanhamento da implantação
situações de crescimento negativo, pe- integrados de transportes urbanos (Pitu) dos novos trechos de linhas de metrô,
queno, moderado ou acelerado. As re- e planos de desenvolvimento territorial. até as transformações socioeconômicas
ferências para estes cenários são lastre- e urbanas da metrópole, cujas análises
adas em políticas macroeconômicas de HIERARQUIZAÇÃO E gerarão recomendações para um novo
escala estadual ou nacional e resultam SEQUENCIAMENTO DA REDE ciclo do planejamento.
na previsão do número de empregos. A A seleção da estratégia de expan- Em complementação, são realizados
combinação desses elementos – cresci- são abre caminho para outras etapas o gerenciamento do projeto, em todas
mento populacional e crescimento de do estudo da rede futura, que possi- as fases do estudo, bem como o geren-
empregos – resultará na fonte principal bilitarão definir a melhor sequência de ciamento das partes interessadas, o que
de informações dos cenários futuros. implantação. Para isto são definidos garantirá o correto engajamento de to-
trechos operacionais, os quais consis- dos os envolvidos e a concretização da
ESTRATÉGIAS DA REDE tem em trechos de linhas passíveis de rede futura no horizonte meta.
FUTURA DE METRÔ operacionalização, conectados a linhas
As informações e as análises produ- existentes ou hierarquicamente poste- CONCLUSÃO
zidas nas duas fases anteriores permi- riores a outros trechos já inseridos na A oportunidade mais recente de se
tirão a compreensão da situação me- análise. Eles deverão ser avaliados por planejar a rede futura de metrô para
tropolitana, tanto atual quanto futura, critérios e indicadores, e a hierarquiza- São Paulo foi criada com a realização
bem como aonde se quer chegar e, por ção e sequenciamento ocorrerá trecho da Pesquisa Origem Destino em 2017 e
consequência, as estratégias de expan- a trecho, inseridos um a um na rede. atualizações das projeções socioeconô-
são da rede futura a serem desenhadas. Aquele trecho que melhor responder micas até o ano de 2040 e do modelo de
Essa fase considera a rede de transporte aos critérios e indicadores torna-se o projeção de demandas. Considerando
existente e os investimentos de expan- primeiro na hierarquia e sequência, os investimentos realizados até o mo-
são julgados irreversíveis, constituindo sendo incorporado à rede. Em seguida mento e os em andamento, aos quais se
a doravante denominada rede compro- os demais trechos são novamente sub- somam estudos de novas linhas em es-
metida. metidos à avaliação e o próximo trecho tágios mais avançados, o Metrô de São
A partir dos investimentos em an- melhor avaliado torna-se o segundo na Paulo iniciou os estudos para revisão
damento e das expansões irreversíveis hierarquia, e assim por diante. de sua rede futura, seguindo as fases
– rede comprometida –, são produzidas Este trabalho fornecerá subsídios anteriormente apresentadas. Os produ-
diferentes estratégias de expansão, as para a elaboração de um plano de in- tos deste estudo contribuirão com as
quais podem adotar partidos de dese- vestimentos e a busca de recursos para informações necessárias para diversas
nho semelhantes ou distintos, que po- a implantação dos trechos. frentes de trabalho e planejamento de
dem estar relacionados à extensão ter- Todos os produtos deste estudo expansão em curso, a exemplo do Plano
ritorial coberta pela rede, à forma de fornecerão informações para as demais Integrado de Transportes Urbanos para
integração entre as linhas, aos modos etapas do ciclo de vida do planeja- 2040 (Pitu 2040), desenvolvido atual-
utilizados (metrô convencional, trem mento, em especial o projeto diretriz, mente pela Secretaria dos Transportes
metropolitano, monotrilho, VLT etc.), o qual desenvolve em mais detalhes as Metropolitanos.
ao crescimento populacional e econô- novas linhas e os novos trechos de li-
mico, e à articulação com planos de de- nhas existentes, constituindo informa- * Andreina Nigriello é arquiteta, doutora
senvolvimento, entre outros. Desenhos ções para alimentar o anteprojeto de em planejamento urbano e atua como
diferentes poderão, então, ser desen- engenharia / projeto funcional e o es- especialista na Gerência de Planejamento
volvidos e avaliados (figura 1). tudo de impacto ambiental e relatório e Meio Ambiente do Metrô-SP
de impacto ambiental, a serem elabora- E-mail: anigriello@metrosp.com.br
SELEÇÃO DA ESTRATÉGIA dos na sequência. ** Leonardo C. L. Lisboa é arquiteto,
DE REDE FUTURA doutor em planejamento urbano e supervisor
De posse de diferentes estratégias de FASES COMPLEMENTARES técnico na Gerência de Planejamento
expansão da rede, é possível avaliá-las a O desenho da rede futura não ter- e Meio Ambiente do Metrô-SP
partir dos critérios, objetivos e indicado- mina com a hierarquização e sequen- E-mail: leonardolisboa@metrosp.com.br

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Figura 1 - Rede viária descontínua


(Fonte: Google Earth, 2022)

Microacessibilidade nas estações de


metrô: uma proposta de metodologia
de levantamento de requisitos
ANDREINA NIGRIELO* / DANIELLA LOBO DA COSTA LIMA** /
MARCOS CORRÊA TEIXEIRA*** / MICHEL HOOG CHAUI DO VALE****
CONTEXTO posteriores de projeto, de modo a atender solidar, renovar e ampliar os processos de

A
Companhia do Metropoli- aos variados e complexos requisitos de in- definição dos requisitos das estações – e,
tano de São Paulo – Me- serção no território urbano e de viabiliza- dentre estes, aqueles relacionados à mi-
trô desenvolve de maneira ção de sua construção. croacessibilidade e inserção urbana.
contínua estudos e revisões Nessa etapa inicial do projeto de uma Dentre os aspectos principais da locali-
de traçados de linhas me- linha de transporte, são feitas as primeiras zação da estação em relação ao tecido ur-
troferroviárias baseados na proposta de abordagens para definição da localização bano existente estão a forma com que a in-
Rede Futura vigente. Esses trabalhos, que das futuras estações através de estudos fraestrutura de transportes se integra a esse
abrangem o traçado e as estações de uma que contemplem variáveis tecnológicas, ambiente e quais atributos físico-espaciais a
determinada linha, são realizados no pro- de atendimento, socioeconômicas e físico- estação e seu entorno devem apresentar a
jeto diretriz², etapa anterior à elaboração -territoriais. Recentemente, o Metrô de- fim de qualificarem-se mutuamente. Essas
do anteprojeto de engenharia / projeto senvolveu o projeto diretriz de uma nova características contribuem para o projeto da
funcional e do projeto básico. Dentre as linha, através de sua Diretoria de Enge- estação no sentido de torná-la parte do es-
diversas atividades, consistem no desen- nharia e Planejamento. Questões específi- paço urbano onde se insere, de forma inte-
volvimento preliminar da diretriz do tra- cas da própria linha e algumas questões grada em relação ao ambiente construído. Já
çado ainda em escala macro. Essa diretriz normativas / legais recém-atualizadas para a região onde se insere, a estação deve
é progressivamente detalhada nas etapas apontaram para a oportunidade de con- contribuir para elevar o nível da acessibilida-

92 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


de ao local e seu entorno, em conformidade A elaboração da metodologia aqui A mesma lei afirma, no seu artigo 3º,
ao volume de fluxos que a infraestrutura apresentada deu-se a partir da análise que “todos os pedestres têm o direi-
metroferroviária proporciona. de uma estação piloto, nos seguintes to à qualidade da paisagem visual, ao
A linha em questão conecta regiões aspectos: (a) renda da população a meio ambiente seguro e saudável, ao
cortadas por barreiras físicas – naturais e ser atendida; (b) posição da estação desenvolvimento sustentável da cida-
construídas –, de relevo acidentado e sis- na linha; (c) integração modal com de, ao direito de ir e vir (...) com a pro-
tema viário precário e descontínuo. Estas os ônibus; (d) existência de barreiras teção em especial de crianças, pessoas
características apontaram a necessidade físicas; (e) bairros adjacentes situa- com deficiência ou mobilidade reduzi-
de inclusão da microacessibilidade como dos em cotas díspares; (f) presença de da e as de terceira idade”. O Estatuto
importante classe de requisitos de projeto grandes glebas e centros comerciais; e do Pedestre, enfim, indica que a ques-
para as estações, que seriam essenciais para (e) descontinuidade e precariedade do tão da acessibilidade é mais abran-
torná-las de fato acessíveis e atraentes aos sistema viário. gente do que a mera disponibilização
usuários das áreas onde serão implantadas. Além disso, o recém aprovado Es- de espaço para pedestres, abarcando
Para tanto, compreendeu-se ser necessário tatuto do Pedestre (Lei Municipal questões ambientais, paisagísticas, de
produzir um diagnóstico diferenciado e sis- 16.673, de 13 de junho de 2017), res- segurança pública e de universalidade
tematizado das condições de circulação e ponsabiliza, no artigo 15, “os órgãos do acesso.
das características do entorno das futuras gestores e operadores de ser viços A definição da abrangência desse
estações, de forma a embasar as diretrizes públicos de transporte público pela trabalho contou ainda com o suporte
e as propostas particulares para cada local. compatibilização da rede viária e do dos planos regionais das subprefeitu-
A amplitude desse diagnóstico e o caráter desenho da rede da mobilidade a pé ras do entorno da estação projetada,
multidisciplinar da equipe envolvida apon- do entorno, em um raio mínimo de os regulamentos do Fundurb, o Plano
taram para a importância do estabeleci- 300m, com atendimento aos f luxos a Cicloviário 2028, Plano Municipal de
mento de uma metodologia de análise a ser pé relacionados à utilização e opera- Mobilidade Urbana e o Plano Emer-
aplicada nessa avaliação. ção do equipamento” (grifos nossos). gencial de Calçadas. Foram analisadas

Figura 2 - Planta Geral da Capital de São Paulo, 1897


(Fonte: Campos, 2008)

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Figura 3 - Calçadas ocupadas por obstáculos Figura 4 - Calçada estreita ocupada por poste
(Fonte: Google Earth, 2022) (Fonte: Google Earth, 2022)
também algumas publicações e estu- que promoveram a compra, o esto- degraus irregulares; com piso dani-
dos sobre acessibilidade, para que a que e o loteamento inicial de glebas, ficado ou em terra batida; ocupadas
abordagem pudesse ser conceitual- que não estavam atreladas à expansão por veículos estacionados, descarte de
mente consistente e disponibilizasse planejada do espaço urbano. De fato, material ou avanço irregular de edifi-
ferramentas para operacionalizar a desde meados do século XIX, com a cações lindeiras (figura 3 ); com muitos
proposta: Acesso de mulheres e crian- instituição da propriedade privada postes, sobrecarregados de fios, ape-
ças à cidade (ITDP, 2018); Manual de da terra – que criou a oportunidade sar da escassa iluminação noturna (fi-
desenho urbano e obras viárias (PMSP, para o capital se reproduzir através gura 4 ); com sinalização e arborização
2020), Acessos seguros: diretrizes do loteamento e da comercialização precárias e poucas facilidades para
para a qualificação do acesso às esta- de glebas – o desenho da circulação, a travessia de vias de grande f luxo
ções de transporte coletivo (WRI Cida- nos espaços delimitados pela rede de veículos; ou calçadas interrompi-
des, 2017) e a tese de doutorado Nó de viária principal, resultou de decisões das por ferrovias, córregos, desníveis
transporte e lugar: dilemas, desafios isoladas, sem gestão pública para ga- abruptos, condomínios fechados e
e potencialidades para o desenvolvi- rantir o respeito à topografia e à co- grandes glebas muradas, como as des-
mento de um hub urbano de mobilida- nectividade, ou seja, sem o projeto da tinadas à estocagem de produtos.
de (BAIARDI, 2018). rede viária e das calçadas (figura 1). Assim, os projetos de microaces-
Os primeiros arruamentos de antigas sibilidade às estações de metrô são
JUSTIFICATIVAS chácaras situadas fora do centro his- uma oportunidade para projetar par-
A microacessibilidade refere-se aos tórico da cidade não levaram em conta tes importantes do espaço público da
percursos necessários para alcançar a continuidade das vias que intercep- cidade de São Paulo, promovendo a
determinados modos de transporte tavam o perímetro das áreas loteadas, segurança e o bem-estar de pedestres
motorizados, por exemplo, estações de maneira que o tecido urbano resul- e ciclistas.
de metrô, pontos de ônibus, estacio- tante assumiu a forma de uma colcha Conectado a esse contexto, o Me-
namentos, e para completar as via- de retalhos, com poucas ligações entre trô tem se mobilizado em atenção às
gens até o destino, após o uso desses si (figura 2). Para reduzir a desconti- questões ambientais, tanto pela neces-
modos. Em geral, os percursos da mi- nuidade do traçado viário, abriam-se sidade de atendimento de uma exten-
croacessibilidade são realizados a pé; ruas em perímetros de áreas já lotea- sa legislação sobre o tema que recai
e algumas vezes, por modos não mo- das, viabilizando o fracionamento de sobre seus empreendimentos, quanto
torizados, como bicicletas. novas glebas, contíguas à primeiras. pela existência de iniciativas internas
Assim, em qualquer espaço urba- Na última década do século XIX e nos na inovação e qualificação de requisi-
no, a segurança e o bem-estar de pe- séculos seguintes, os loteamentos po- tos ambientais. A empresa ainda tem
destres e de usuários de ciclovias são pulares destinados à autoconstrução focado nas questões climáticas emer-
aspectos importantes e prioritários de casas, para abrigar principalmente gentes, nos aspectos ligados à sus-
quando se trata de microacessibilida- grande número de migrantes, conso- tentabilidade e na mudança de para-
de. Mas, na cidade de São Paulo, como lidaram esse procedimento, parcelan- digmas de projetos urbanos, cada vez
em muitas cidades brasileiras, o es- do glebas cada vez mais distantes, em mais centrados nas pessoas, na mobi-
paço urbano ainda oferece condições lotes cada vez menores, alcançando lidade ativa e na acessibilidade uni-
precárias para a circulação de pedes- até espaços de ocupação ilegal, des- versal. Questões gerais presentes nos
tres e usuários de modos não motori- tinados à proteção ambiental ou com Objetivos de Desenvolvimento Susten-
zados, principalmente para acessar o riscos geológicos. tável da ONU, dos quais o Estado de
transporte coletivo. Atualmente, circular a pé em São São Paulo é signatário, e a eminência
A preocupação com a microaces- Paulo, especialmente em áreas mais de temas ligados à sustentabilidade na
sibilidade pouco se revela no desenho afastadas do centro expandido da ci- construção civil (por exemplo, cer-
do espaço urbano em São Paulo. Em dade, é enfrentar trajetos de risco, em tificações verdes), têm sido parte de
parte, isso se deve às circunstâncias calçadas estreitas, íngremes ou com debates internos e tomam forma nas

94 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


proposições recentes de empreendi- taforma Geosampa – para a elabora- uma área chamada “perímetro de mi-
mentos, nos diversos níveis de projeto. ção do trabalho. croacessibilidade”, definida através
O primeiro aspecto avaliado pela das isócronas com origem e destino
DESENVOLVIMENTO equipe foi a delimitação do perímetro nos acessos da estação e ajustada a
DO TRABALHO de estudo. Tradicionalmente, o Metrô partir das análises descritas a seguir
Este estudo foi realizado durante de São Paulo utiliza um círculo de raio (figura 5 ). O tempo usado como re-
a pandemia de COVID-19 e benefi- igual a 600 metros para determinar ferência para a determinação das isó-
ciou-se do trabalho remoto e matri- a área de inf luência direta das esta- cronas foi estabelecido obser vando-se
cial, implementado e intensificado, ções, a partir da qual é conveniente condições específicas da região, que
respectivamente, na Companhia do acessá-la a pé. Este perímetro teórico pudessem inf luenciar na disposição e
Metropolitano de São Paulo neste pe- algumas vezes desconsidera as carac- na conveniência de acessar a estação
ríodo. Estes dois fatores permitiram a terísticas do sistema viário, a morfolo- a pé. Foram avaliadas: a distância en-
colaboração entre profissionais multi- gia do relevo e a presença de barreiras tre estações adjacentes; a presença de
disciplinares e o uso de ferramentas físicas naturais e construídas. Por este barreiras urbanas; a estrutura viária e
online – como o Google Earth e a pla- motivo, optou-se pela demarcação de a renda da população residente.
Em um segundo momento, foram
consultadas bases e informações que
contribuíssem para a caracterização
da microacessibilidade na região do
perímetro delimitado na etapa an-
terior. O levantamento contemplou
elementos de identificação do lugar³,
elementos estruturadores do traçado
viário e elementos da estrutura de
transporte.
A principal base utilizada foi a
Geosampa da Prefeitura do Municí-
pio de São Paulo. Dela foram captadas
informações sobre topografia, hidro-
grafia, drenagem, uso do solo, áreas
inundáveis, áreas verdes, linhas de
transmissão, equipamentos urbanos,
centros comerciais, patrimônio his-
tórico, rede cicloviária, corredores e
faixas exclusivas de ônibus, rede de
transporte estrutural e favelas e cor-
Figura 5 - Perímetro de microacessibilidade
tiços. Foram consultadas também as
(Fonte: Companhia do Metropolitano de São Paulo sobre base do Google Earth, 2022)
propostas relativas à microacessibili-
dade do Plano Diretor Estratégico, dos
Planos Regionais, do Plano Municipal
de Mobilidade Urbana, do Plano Ci-
cloviário e do Plano Emergencial de
Calçadas.
Através do conhecimento espe-
cializado da equipe e da obser vação
da região pelo Google Earth e Goo-
gle Street View 4 , foram levantados os
principais polos de atividades comer-
ciais, as principais vias de conexão da
região com a cidade, os principais f lu-
xos, as barreiras urbanas e os padrões
de loteamento, arruamento e urbani-
zação.
Os dados e informações levantados
foram analisados tendo em vista sua
inf luência nas condições de acessibi-
lidade da região. Da base topográfi-
ca, destacou-se os pontos com relevo
Figura 6 - Criação ou qualificação de rotas acessíveis mais acidentado, onde a circulação a
(Fonte: Companhia do Metropolitano de São Paulo sobre base do Google Earth, 2022) pé é fortemente dificultada e onera-

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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

da. Da hidrografia em conjunto com concentração de atividades comer- ônibus e ciclovias foram avaliadas em
o sistema viário, depreendeu-se os ciais, patrimônio histórico e favelas conjunto com os principais f luxos e as
pontos onde é possível cruzar os cor- buscou-se reconhecer os principais principais vias de conexão da região
pos d’água e onde eles se configuram pontos de atração de viagens. com a cidade, de maneira a construir
como barreiras à circulação. Com as Os padrões de arruamento, lotea- um panorama geral sobre a circulação
bases de drenagem e áreas inundáveis mento e urbanização sugeriram des- e a acessibilidade atual da área, além
foi possível identificar locais de difícil continuidades do sistema viário e de rotas ou caminhos preferenciais ou
acesso em épocas de chuva. ajudaram na identificação de grandes mais diretos entre a estação e os pon-
A partir dos dados de equipamen- glebas ou quadras, contribuindo para tos de interesse reconhecidos dentro
tos urbanos foram assinalados aqueles a análise das dificuldades encontradas do perímetro.
com importância regional, que pode- para a circulação na região. Outras Com o suporte das bases, das in-
rão ser acessados pela população de barreiras urbanas foram identificadas formações analisadas e sintetizadas
outras localidades através da nova es- a partir de grandes áreas verdes e de e dos diversos planos colocalizados
tação de metrô. Com as bases de uso linhas de transmissão. partiu-se para a terceira etapa do es-
do solo, centros comerciais, ruas de As redes de transporte estrutural, tudo, que consistiu na elaboração de
propostas para a melhoria das con-
dições de circulação no perímetro de
microacessibilidade. Nesta fase, as
proposições foram elaboradas como
diretrizes, no formato de requisitos
espacialmente localizados, a serem
atendidos em futuros projetos.
O reconhecimento das característi-
cas físico-ambientais, urbanas e de cir-
culação no entorno da estação projetada
tornou possível a indicação de requisi-
tos relativos às categorias identificadas.
Foram recomendados requisitos para
atender às necessidades de criação e
qualificação de rotas acessíveis 5 (figura
6 ); de superação de desníveis (figura 7);
de transposições e travessias de cursos
d’água (figura 8 ); de garantia de acessi-
bilidade em áreas alagáveis; de conexão
com a rede cicloviária e de integração
Figura 7 - Superação de desníveis com as áreas verdes e com a arborização
(Fonte: Companhia do Metropolitano de São Paulo sobre base do Google Earth, 2022) da região (Ver imagens).
Por fim, os requisitos propostos e lo-
calizados espacialmente foram categori-
zados, destacando-se aqueles apontados
previamente nos planos municipais e os
inseridos dentro do raio de 300m a partir
da estação, conforme delimitado no Esta-
tuto do Pedestre. Tal categoria aponta para
eventual priorização dos requisitos, uma
vez que se enquadram em área mais direta-
mente ligada à estação e/ou em diagnósti-
cos preexistentes em âmbito local.

CONCLUSÕES
A partir do exercício feito com a
estação da linha estudada, a descrição
dos processos de definição do períme-
tro de microacessibilidade, a caracte-
rização e análise desse perímetro e a
indicação dos requisitos, o trabalho
apontou algumas recomendações:
(a) Deduzir aspectos gerais para com-
Figura 8 - Transposição de cursos d’água plementar lista de requisitos do projeto
(Fonte: Companhia do Metropolitano de São Paulo sobre base do Google Earth, 2022) diretriz – ou seja, identificar requisitos

96 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


generalizáveis para a maioria das estações; NOTAS rede de transportes e para a cidade, sendo
(b) Aplicar essa metodologia para 1
Esse artigo é resultado de um traba- utilizado para obter autorização para seu
estações específicas de maior grau lho de equipe multidisciplinar da qual fize- desenvolvimento em fases subsequentes.
de complexidade na etapa do projeto ram parte, além dos autores, os seguintes 3
A saber, aspectos físicos, históricos,
diretriz, preferencialmente em grupo técnicos do Metrô de São Paulo: Cynthia de vocação econômica e vias de integra-
com a participação de técnicos com Lacerda Torrano de Almeida, Daisy Arradi ção com o restante da cidade.
formação diversa; Letaif, Dionísio Matrigani de Souza Gutier- 4
Não foram realizadas visitas de
(c) Consolidar esse procedimento, res, Juliana Yoshida, Leonardo Cleber Lima campo em decorrência da situação pan-
após sua aplicação piloto, de maneira Lisboa, Lilian Hatsumi Nagae, Marcello dêmica, porém entende-se que as obser-
a orientar futuros trabalhos, em todas Pereira Delgado, Marise Rauen Vianna, Mi- vações in loco são importantes para o
as estações na etapa do anteprojeto de chelle Nakazato Mikaro, Neila Custódio e desenvolvimento desse tipo de estudo.
engenharia / projeto funcional na al- Ronaldo Alves Ferreira. 5
Como alargamento de calçadas, sina-
ternativa escolhida; 2
O projeto diretriz é a etapa seguinte lização, iluminação, arborização, rampas,
(d) Aplicar essa mesma metodo- aos estudos de rede e consiste na ava- elevadores, escadas rolantes, escadarias,
logia em estações existentes, prefe- liação da viabilidade preliminar da linha, passarelas, pontilhões para pedestres e
rencialmente aquelas que apresentem justificando a sua importância para a complementação da rede cicloviária.
problemas de microacessibilidade, re-
gistros de dificuldades apontadas por
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
usuários e/ou interesse público em
qualificação do seu entorno; [1] CAMPOS, EUDES. - São Paulo Brasil, 2017. (https://wribrasil.org.
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de São Paulo, por meio de suas se- São Paulo, v. 4, nº 20, set/out 2008. [6] SÃO PAULO (MUNICÍPIO) - Ca-
cretarias, empresa de Urbanismo e/ou ( ht t p : // w w w. a r q u i am i go s .or g . b r / derno de propostas dos planos regio-
subprefeituras, de modo a congregar info/info20/index.html). nais das subprefeituras: Perímetros
esforços e interesses na revisão, rati- [2] BAIARDI, YARA. - Nó de trans- de ação. Itaquera. São Paulo: PMSP,
ficação e, principalmente, na materia- porte e lugar: dilemas, desafios e po- 2016. (https://gestaourbana.prefei-
lização dessas propostas; tencialidades para o desenvolvimento t u r a. s p.gov.br/w p - c ontent /u ploa-
(f) Realizar atividades junto à uni- de um hub urbano de mobilidade. São ds/2018/02/PA-IQ.pdf).
versidade, a exemplo de oficinas, apli- Paulo - Hannover: Universidade Pres- [7] ____ Caderno de propostas dos
cação de exercícios e abordagem desse biteriana Mackenzie - Gottfried Wi- planos regionais das subprefeituras:
assunto em disciplinas de arquitetura lhelm Leibniz - Universitat Hannover, Perímetros de ação. Aricanduva/ Vila
e urbanismo, a fim de aplicar a meto- 2018. Formosa. São Paulo: PMSP, 2016. (ht-
dologia e refinar seus processos, in- [3] BORTOLON, LETICIA (org.) - O tps://gestaourbana.prefeitura.sp.gov.
corporando eventuais contribuições e acesso de mulheres e crianças à ci- br/wp-content/uploads/2018/02/PA-
ampliando o debate sobre o tema; dade. ITDP, 2018. (http://itdpbrasil. -AF.pdf).
(g) Analisar os desdobramentos org.br/wp-content/uploads/2018/01/ [8] ____ Estatuto do Pedestre. Lei
desses processos e requisitos nas eta- I T D P- B r a s i l - _ - O - A c e s s o - d e - M u - Municipal 16.673, de 13 de junho de
pas posteriores, de maneira a indi- lheres-e-Cr iancas-a-Cidade-_- 2017.
car formas de rastreá-los em soluções -ABR-2018.pdf). [9] ____ Plano Emergencial de Cal-
projetuais adotadas, compreender seu [4] GOOGLE - Google Earth website, çadas – PEC. Decreto 58.845, de 10
sucessivo detalhamento e garantir sua 2022. (http://earth.google.com). de julho de 2019.
concretização na obra, de forma a pro- [5] SANTOS, PAULA M.; CACCIA, [10] ____ Manual de desenho urba-
mover a inserção urbana da estação. LARA S.; BETTI, LUANA P.; SAMIOS, no e obras viárias. São Paulo: PMSP,
A partir dessa experiência, a equi- ARIADNE A. B.; FERREIRA, LIVIA 2020.
pe envolvida espera que o trabalho de Z. - Acessos seguros: Diretrizes para [11] ____ Plano cicloviário do Mu-
planejamento de futuras linhas metro- qualificação do acesso às estações de nicípio de São Paulo. São Paulo:
ferroviárias na cidade continue sendo transporte coletivo. São Paulo: WRI PMSP, 2020.
desenvolvido de maneira sistêmica e
de forma que atenda aos variados e
complexos aspectos que impactam * Andreina Nigriello é arquiteta, doutora *** Marcos Corrêa Teixeira é engenheiro civil
na implantação da infraestrutura de em planejamento urbano e atua como desde 2013 no Metrô-SP
transportes. O Metrô visa, assim, po- especialista na Gerência de Planejamento E-mail:mcorrea@metrosp.com.br
der dar prosseguimento a produção de e Meio Ambiente do Metrô-SP **** Michel Hoog Chaui do Vale é arquiteto
conhecimento técnico especializado E-mail: anigriello@metrosp.com.br e urbanista, mestre em planejamento urbano
acumulado nessas mais de cinco déca- ** Daniella Lobo da Costa Lima é arquiteta e doutorando em história da arquitetura,
das de sua existência, atualizando sua e urbanista, especialista em gerenciamento de especialista em engenharia urbana, MBA
expertise e gerando ainda mais inova- projetos e atua como arquiteta na Gerência de em gestão metroviária, PMP e atua na
ções na implantação dos seus próxi- Planejamento e Meio Ambiente do Metrô-SP Gerência de Projetos do Metrô-SP
mos empreendimentos. E-mail: dlclima@metrosp.com.br E-mail: mhcvale@metrosp.com.br

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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

Método participativo integrado


para auxílio à tomada de decisão na
escolha entre alternativas locacionais
de obras de infraestrutura
ANDREINA NIGRIELLO* / NELSON MAURO VOLPE** / RAMÓN CAROLLO SARABIA NETO***

E
ste artigo apresenta a talhamento de custos, aspectos técni- ção CONAMA 01 exige a elaboração de
aplicação mais recen- cos e desapropriações, entre outros. um Estudo de Impacto Ambiental, que
te de uma metodologia deve obedecer a algumas diretrizes
participativa integrada ALTERNATIVAS LOCACIONAIS gerais e atividades técnicas, dentre as
sobre a escolha entre DE UMA LINHA DE METRÔ quais a avaliação de alternativas tec-
alternativas locacionais de traçado de Cada linha metroviária é uma inova- nológicas e de localização do projeto,
uma linha de metrô. ção, com características de atendimen- confrontando-as com a hipótese da
Na Companhia do Metropolitano to únicas do espaço em que se insere. não execução.
de São Paulo, a sequência de produ- Desenhos de alternativas locacionais Já o artigo 42 da Lei 13.303 esta-
tos necessários para a implantação de suas estações alteram o traçado da belece como disposições aplicáveis às
de uma linha tem início com a inser- linha e subsequentemente a interação empresas públicas e às sociedades de
ção da linha na rede futura, segui- com o tecido urbano e com diferentes economia mista, a observação de pa-
da de um projeto diretriz e a elabo- oportunidades e riscos. râmetros de adequação da obra ao
ração do Anteprojeto de Engenharia. interesse público, à economia na uti-
A definição da alternativa locacional REGRAMENTOS lização, à facilidade na execução, aos
é executada nessa etapa e embasa as Fundamentando a escolha do tra- impactos ambientais e à acessibilidade.
etapas seguintes de licenciamento çado com melhor desempenho, a ava- Assim, na avaliação das alternativas
ambiental, em que se deve demostrar liação de traçados alternativos de uma locacionais de uma linha de metrô é
que a escolha feita assegura a melhor linha de metrô pode ser feita através de importante que se considerem critérios
viabilidade, considerando aspectos um conjunto de critérios, estabelecidos que indiquem: facilidade na execução,
ecônomicos, financeiros, técnicos, em conformidade à Resolução Conama economia na utilização, aumento da
ambientais e de inserção no espaço 01, de 23 de janeiro de 1986 e à Lei acessibilidade, redução de impactos
urbano, conforme a figura 1. A se- 13.303, de 30 de junho de 2016. ambientais e adequação ao interesse
guir são elaborados o EIA/RIMA e o De fato, para a aprovação da Li- público na produção e no uso do es-
Projeto Básico, que aprofunda o de- cença Prévia, o Artigo 5º da Resolu- paço urbano.

COMPARANDO POR CRITÉRIOS


A comparação por critérios tem
como objetivo gerar uma nota técnica
que diferencie e aponte a melhor solu-
ção entre as alternativas locacionais e
tem seu processo descrito na figura 2.
Após a interpretação dos críterios
definidos com base nos regramentos, o
método segue com a seleção de indi-
cadores correspondentes aos critérios
adotados para a aplicação, neste caso,
numa linha metroviária. Os indicado-
res devem ser ao mesmo tempo com-
patíveis com estes critérios e sensíveis
aos dados disponíveis. Os exemplos de
indicadores listados a seguir buscam
quantificar aspectos relacionados a es-
Figura 1 - Sequência de produtos para um empreendimento metroviário pelo Metrô ses critérios.

98 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


“Interferências” - totaliza as inter- ADA (Área Diretamente Afetada)” - de-
ferências com outras infraestruturas e termina a criticidade de contaminação,
potencial de impactar significativamen- que impacta em saúde, segurança, cus-
te a implantação de obras metroviárias. tos e prazo do empreendimento, além
“Projetos colocalizados” - estabe- de responsabilização do passivo am-
lece o total de projetos colocalizados biental, em áreas envoltórias ao traça-
que impõe restrições à implantação de do e a unidades construtivas de novas
infraestrutura de metrô. linhas de metrô, como estações, subes-
“População vulnerável a ser deslo- tações, poços de ventilação e pátios.
cada” - estima o número de pessoas “Quantidade de unidades sensíveis
vulneráveis diretamente afetadas com à pressão sonora no entorno” - levan-
a implantação de um novo serviço me- ta, no entorno imediato de unidades
troviário. construtivas de linhas de metrô, o nú-
“Redução de acidentes de trânsi- mero de unidades sensíveis a ruídos,
to” - calcula a economia resultante da como escolas e hospitais, que envolvem
redução de acidentes, dada a esperada maior controle e custos para a mitiga-
substituição, pelo modo metrô, de ou- ção do impacto sonoro resultante do Figura 3 - Tomada de decisão integrada
tros modos de transporte responsáveis serviço metroviário.
por maior número de acidentes. “Potencial de manejo arbóreo e/ endimento de uma linha de metrô, lo-
“Passageiros incrementais à rede ou intervenção em Área de Preserva- calizados no entorno imediato de suas
de transporte metroviária” - prevê o ção Permanente na ADA” - estima a unidades construtivas.
acréscimo de entradas por quilômetro área total de parques, praças, canteiros “Custos evitados com a redução da
de rede de metrô, com a implantação centrais de vias e áreas de preservação emissão da poluição atmosférica pela
de uma nova linha. permanente localizadas no entorno nova linha” - calcula os custos das
“Potencial de redução de quilome- imediato de unidades construtivas de emissões de poluentes atmosféricos lo-
tragem percorrida por ônibus” - iden- linhas de metrô. Trata-se de áreas onde cais e gases de efeito estufa evitados
tifica a variação na quilometragem eventual supressão de árvores implica quando a implantação de linhas de me-
percorrida pelos ônibus em decorrência em aumento de requisitos legais para a trô atrai passageiros de modos movidos
da implantação de uma nova linha de liberação das obras de metrô e em cus- a combustíveis fósseis (ônibus, auto-
metrô. tos para compensação ambiental. móveis e motocicletas).
“Redução dos tempos de viagem” “Criticidade de intervenção em “Densidade demográfica” - afere a
- afere a economia de tempo de via- Unidades de Conservação” - afere a densidade de população da área de in-
gem de todos os usuários do sistema criticidade de intervenção em unida- fluência direta de uma linha metrô.
de transporte coletivo em função da des de conservação, respectivas zonas “Densidade de Empregos” - estima
expansão da rede de linhas de metrô. de amortecimento e corredores ecoló- a densidade de empregos localizados
“Barreiras físicas transpostas” - ava- gicos, em função da proximidade de na área de influência direta de uma li-
lia o acréscimo de mobilidade decor- linhas de metrô, tendo em vista possí- nha metrô.
rente da implantação de uma linha de veis impactos gerados pela implantação “População de baixa renda” - esta-
metrô, considerando o total de barreiras e operação do empreendimento. belece a densidade de população com
físicas transpostas, como grandes des- “Patrimônio material e imaterial renda familiar até 2 salários mínimos
níveis, rios, ferrovias, rodovias, vias ex- protegido na ADA” - totaliza o número que habita na área de influência direta
pressas, glebas e condomínios fechados. de bens culturais materiais e imateriais de uma linha metrô.
“Criticidade de contaminação na potencialmente afetados pelo empre- “Atendimento a centralidades urba-
nas definidas na Lei de Parcelamento,
Uso e Ocupação do Solo do município
(LPUOS)” - calcula o espaço ocupado
pelas quadras em que se concentram
atividades de comércio e serviços ou
que apresentam densidade construtiva
e demográfica média e alta, na área de
influência direta de uma linha metrô.
“Área de planos e projetos com po-
tencial de renovação urbana” - calcula
o total de áreas destinadas a planos e
projetos urbanos e de transportes, que
possam acarretar mudanças de uso e
ocupação do solo, adensamento de-
mográfico, valorização imobiliária, em
envoltória a estações de novas linhas
Figura 2 - Comparando critérios metroviárias.

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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

observados, os mesmos são aplicados


a cada uma das alternativas, gerando
resultados com escalas e unidades va-
riadas. Estes resultados são normaliza-
dos, ou seja, têm sua escala equiparada
para que possam passar por processos
aritméticos de forma direta.
Uma vez obtidos os resultados da
aplicação dos indicadores, é realizada
a coleta de notas (metodologia par-
ticipativa) sobre a relevância entre os
critérios e seus indicadores. Isto é feito
através do método AHP (Analytic Hie-
rarchy Process – Processo de Análise
Hierárquica), que nada mais é do que
a comparação entre pares, dentro de
cada nível hierárquico, por grupos de
indivíduos com conhecimento e expe-
riência variados.
Figura 4 - Alternativas locacionais de uma linha metroviária A comparação entre os indicadores,
em cada critério, é submetida a grupos
técnicos com conhecimento específico
em cada um dos critérios.
A comparação entre os critérios é
executada por grupo multidisciplinar
multigerencial, com amostragem equi-
librada pela quantidade de representan-
tes de cada área, conforme a figura 3.
Os resultados das comparações
(AHP) são multiplicados pelos resul-
tados numéricos dos indicadores e,
depois, esses resultados são somados
gerando a nota técnica final para cada
uma das alternativas locacionais.
São avaliados também aspectos
estratégicos relacionados à interação
com partes interessadas e aos riscos
considerados no cronograma de uma
obra de infraestrutura linear de gran-
de porte, como é o caso de linhas de
metrô.
As notas técnicas, em conjunto com
aspectos estratégicos, permitem então
a tomada de decisão sobre a melhor al-
ternativa.

EXEMPLO DE APLICAÇÃO
Apresenta-se a seguir um exemplo
Figura 5 - Questionário de coleta entre critérios, comparação entre pares de aplicação do método para a seleção
entre duas alternativas locacionais de
“Potencial para empreendimentos cultura e lazer” - quantifica os equipa- estações de uma linha, conforme se ob-
associados” - prevê potenciais recursos mentos de educação, saúde, compras, serva na figura 4.
extra tarifários destináveis ao setor de cultura e lazer localizados em períme-
transporte, que poderiam ser captados tro estabelecido em torno de novas es- MÉTODO DE COLETA DA
em função da comercialização do po- tações de metrô. COMPARAÇÃO AHP
tencial de área edificável relacionada a Tanto para a comparação entre cri-
áreas desapropriadas para a implanta- APLICAÇÃO DO AHP COMO térios, quanto na comparação entre
ção das estações de uma linha de metrô. METODOLOGIA PARTICIPATIVA indicadores relacionados a um mesmo
“Relevância dos equipamentos ur- Após a escolha do conjunto de in- critério, foram elaborados questioná-
banos de educação, saúde, compras, dicadores correspondente aos critérios rios específicos, em formato que fa-

100 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


Figura 6 - Resultados da comparação entre pares

cilitasse aos participantes consultados Os critérios de medição adotados,


apontar qual e quão relevante era um oriundos da Lei 13.303, demostram a
critério ou indicador em relação ao evolução no entendimento de cidada-
outro ao mesmo tempo, conforme o nia e de sustentabilidade pela socie-
exemplo da figura 5. dade, e acredita-se que este processo
Os questionários respondidos foram pode ser estendido para outros projetos
analisados quanto à consistência de de infraestrutura.
avaliação, e então tratados conforme
a metodologia específica AHP, ampla- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
mente difundida publicamente. [1] SAATY, T. L. - The Analytic Hierarchy
Process. McGraw-Hill, New York, 1980.
RESULTADO AHP PARA A RELAÇÃO [2] SAATY, T. L. - “Método de Análi-
ENTRE CRITÉRIOS E INDICADORES se Hierárquico”. tradução de Wainer
O resultado da comparação entre da Silveira e Silva. São Paulo: Makron
pares está demostrado na figura 6. Books do Brasil Editora Ltda., 1991.
Variadas interpretações podem ser fei- [3] SAATY, T. L. - “How to make a Deci-
tas a partir dos resultados. Por exemplo, sion: The Analytic Hierachy Process”. In-
qual o indicador mais importante para cada terfaces, v.24, n.6, p.19-43, 1 nov 1994.
um dos critérios, o indicador mais relevante
entre todos e o critério mais relevante. * Andreina Nigriello é arquiteta, doutora em
planejamento urbano e atua como especialista
CONCLUSÃO SOBRE A APLICAÇÃO na Gerência de Planejamento e Meio Ambiente
DA METODOLOGIA PARTICIPATIVA do Metrô-SP
Com a participação ativa das di- E-mail: anigriello@metrosp.com.br
versas áreas técnicas da Companhia no ** Nelson Mauro Volpe é engenheiro
processo de seleção do traçado da li- eletromecânico, especializado em engenharia
nha, notou-se que o envolvimento des- de trafego e gestão pública, e atua como
tas partes interessadas antes da tomada engenheiro na Gerência de Planejamento
de decisão propiciou um produto mais e Meio Ambiente do Metrô-SP
aderente aos requisitos do projeto. E-mail: nmvolpe@metrosp.com.br
Com um processo de sucesso, a to- *** Ramón Carollo Sarabia Neto é químico
mada de decisão tornou-se rápida, devi- e atua como analista na Coordenadoria de
do ao envolvimento prévio das partes in- Estudos de Viabilidade e Sustentabilidade, da
teressadas, impactando positivamente o Gerência de Planejamento e Meio Ambiente do
cronograma geral do empreendimento. Metrô-SP. E-mail: rcsarabia@metrosp.com.br

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

“Pesquisa Origem e Destino Digital:


teste de coleta de dados com uso de
aplicativo em smartphones”
BRANCA M. MANDETTA* / ELIZA E. IMAKADO** / EMILIA M. HIROI*** /
LUIZ C. SPOSITO**** / MARIA CECÍLIA M. DE OLIVEIRA***** /
REGINA M. NOGUEIRA******

A
INTRODUÇÃO A Companhia do Metrô, na busca de Os dados de viagens foram captados du-
Pesquisa Origem e Destino alternativas à realização da Pesquisa Ori- rante sete dias consecutivos. O pesquisado
é o principal instrumento gem e Destino domiciliar presencial, de escolhia três desses dias para editar os da-
de coleta de dados rela- seu domínio há mais de 50 anos, concebeu dos: confirmação dos trajetos, os horários
cionados à demanda de solução baseada em uso de um aplicativo e motivos na origem e no destino, os mo-
viagens, consistindo em em smartphones desenvolvido para capta- dos de transporte utilizados em cada des-
importante ferramenta de ção de dados sobre as trajetórias dos des- locamento que compõe a viagem, e tempo
análise da mobilidade dos habitantes da Re- locamentos cotidianos a partir de registros andando para acessar o modo de transporte
gião Metropolitana de São Paulo. A pesquisa de GPS dos aparelhos e uma interface para utilizado.
domiciliar faz o levantamento das viagens a coleta de informações fornecidas pelo
internas dessa área de estudo. usuário do aplicativo. A este sistema foi PRÉ-TESTE
A Pesquisa Origem e Destino, realizada dado o nome de OD Digital, que consistiu O pré-teste foi realizado com pessoas
pela Companhia do Metrô desde 1967, tem em teste para rastrear as viagens e levan- que responderam, na Pesquisa Origem e
periodicidade decenal. A última ocorreu em tar dados relacionados aos deslocamentos Destino 2017, que estariam dispostas a re-
2017, correspondendo à sexta edição dessa realizados e aos dados socioeconômicos alizar pesquisa por smartphone. O pré-teste
pesquisa. dos participantes. teve três focos de observação: avaliação da
A forma tradicional de coleta de dados O principal objetivo da Pesquisa OD Di- funcionalidade do aplicativo para coleta de
está relacionada à realização de entrevistas gital foi a obtenção de dois tipos de indi- dados de viagens editáveis; alimentação da
presenciais com moradores de domicílios sor- cadores: indicadores de comportamento do base de dados; e comportamento e disposi-
teados para compor a amostra da pesquisa. público com relação à participação nesse ção das pessoas em participar desse formato
Essa forma tem se mostrado cada vez mais tipo de pesquisa e indicadores operacionais de pesquisa.
difícil de ser aplicada, por estar associada a sobre as funcionalidades do aplicativo. Pro- Um total de 11.899 pessoas receberam
um questionário extenso e detalhado com for- curou-se estudar a viabilidade de uma Pes- mensagens de SMS pelo celular. Os convi-
necimento, a um pesquisador, de dados socio- quisa OD domiciliar realizada com a coleta dados eram direcionados ao site da pesquisa
econômicos e de viagens de todas as pessoas de dados pelo aplicativo, sem pesquisador onde realizavam a inscrição para participar.
da família acarretando insegurança do entre- no domicílio entrevistando presencialmente A eles foi oferecido um valor de R$ 15,00
vistado no fornecimento de dados pessoais. os moradores. em crédito do Bilhete Único por pesquisa
As atividades da pesquisa OD completa.
Digital foram desenvolvidas em Os resultados mostraram que ape-
duas fases: planejamento da pes- nas 1,5% dos convidados que receberam
quisa com execução do pré-teste as mensagens de SMS se inscreveram (182
e execução do teste propriamente inscrições para 11.899 convidados). Destes,
dito. 10,4% se cadastraram na pesquisa (19 ins-
O pré-teste foi realizado com a critos baixaram o aplicativo e cadastraram
utilização de um aplicativo já exis- login e senha) e 42% deles tiveram viagens
tente, Cittamobi, voltado a usu- monitoradas (oito pessoas cadastradas com
ários de transporte coletivo, que viagens monitoradas). Das pessoas com via-
oferece consultas sobre itinerários, gens monitoradas, apenas três ou 0,4% fize-
horários de passagem dos ônibus ram edição das viagens.
nos pontos de parada, dentre ou- Uma sondagem realizada com os par-
tros serviços. No pré-teste, o apli- ticipantes apontou para uma mudança
cativo Cittamobi foi customizado, na estratégia de bonificação para a fase
com a criação de uma área interna seguinte do teste, resultando em crédi-
contemplando as funções requeri- tos eletrônicos de valores módicos para
Figura 1 - Identidade da Pesquisa OD Digital das para a pesquisa. serem trocados por produtos e serviços

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TRANSPORTE I ENGENHARIA

Tabela 1 - Características das etapas do teste da Pesquisa OD Digital

CARACTERÍSTICA ETAPA
1 2 3

Período de realização 08 a 29/06/2021 16/07 a 08/082021 30/08 a 19/09/2022

Usuário de aplicativo Cittamobi, Usuários de estações de


Público impactado aproximadamente 300 mil metrô das linhas 1-Azul, Público em geral
na RM SP 2-Verde e 3-Vermelha

Oferecimento de bônus na Sorteio de 50 prêmios no


forma de cupons, no valor valor unitário de R$ 500,00
de R$ 30,00 por pesquisa por pesquisa completa para
Oferecimento de crédito no valor
completa para lojas virtuais compras em lojas virtuais
de R$ 20,00, no Bilhete Único
Estratégia de engajamento de acordo com as regras do de acordo com as regras do
(BU), por pesquisa completa e por
Termo de Uso e mediante Termo de Uso e mediante
pessoa
regulamento aprovado regulamento aprovado
pela SECAP ( Ministério da pela SECAP (Ministério da
Economia) Economia)

(i) Cartazes afixados nas


(i) Cartazes afixados nas
estações de Metrô das linhas
estações de metrô das
1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha
linhas 1-Azul, 2-Verde e
e 4-Amarela; (ii) vídeo com
3-Vermelha; (ii) vídeo com
animação exibido nos trens
animação na TV Minuto,
das quatro linhas referidas
Mensagens pelo celular através exibido nos trens das três
acima; (iii) banner dinâmico
de SMS (short message service) e linhas referidas acima; (iii)
Estratégia de comunicação exibido em painéis; (iv) vídeo
mensgens por inbox do aplicativo banner dinâmico exibido
exibido em painéis nas
Cittamobi em painéis; (iv) divulgação
estações Brás e Barra Funda
no aplicativo Cittamobi; (v)
da CPTM (iv) divulgação
publicação nas redes sociais
no aplicativo Cittamobi;
do Metrô; e (vi) divulgação
(v) publicação nas redes
pela imprensa via canais
sociais do Metrô; e (vi) mídia
digitais e por rádio
programática

previamente selecionados. Apesar do nú- TESTE DA OD DIGITAL sugerem que, em pesquisas com estas carac-
mero expressivo de pessoas convidadas, a A fase seguinte dos trabalhos foi dedi- terísticas, as ações de comunicação devem
amostra colhida foi reduzida. cada à realização do teste do aplicativo e ser realizadas durante um prazo mais longo
No entanto, o pré-teste buscava primor- de estratégias de engajamento voltados à e com manutenção da comunicação de forma
dialmente um aprendizado sobre a metodolo- população em geral. Nesta fase, foi desen- permanente e mais extensiva, abrangendo
gia e o instrumento concebido para a coleta volvido o aplicativo específico para a Pes- um número maior de plataformas (tabela 2).
dos dados. Neste contexto, o engajamento, quisa OD Digital, dissociado do aplicativo da Para as estratégias de comunicação, o
associado à forma de comunicação, à usabili- Cittamobi. teste apontou para a importância da veicu-
dade do aplicativo e sua capacidade de coleta O teste da OD Digital foi realizado em lação de comunicação e divulgação da pes-
foram os aspectos de maior atenção. Assim, o três etapas, que incorporaram redefinições quisa por mais tempo; utilização de vídeos
pré-teste permitiu avaliar as soluções desen- após os resultados do pré-teste, conforme de no mínimo 30 segundos; exploração do
volvidas fornecendo elementos para aprimo- tabela 1. conceito de que a participação das pessoas
ramentos na forma de captação dos dados e Aspecto relevante da OD Digital foi a co- na pesquisa ajuda o planejamento urbano e
nas estratégias de atração das pessoas para a municação e divulgação das campanhas na de mobilidade; publicação das campanhas
pesquisa antes de sua aplicação em uma es- fase de teste, especialmente nas segunda e nas redes sociais e utilização de estratégias
cala mais ampla, que se deu na fase de teste. terceira etapas. No entanto, os resultados de disseminação de conteúdo que possam

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Tabela 2 - Quantidade de downloads e inscrições no teste da Pesquisa OD Digital

QUANTIDADE ETAPA
1 2 3

Download do aplicativo OD Digital 1.405 376 13.256

Inscrições no teste 333 208 351

Tabela 3 - Inscrições e finalizações do teste da Pesquisa OD Digital

QUANTIDADE EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE PARTICIPANTES POR EVOLUÇÃO NO TESTE


Fizeram
Responderam dados Tiveram viagens Editaram
inscrição % % (B/A) % (C/A) % (D/A)
socioeconômicos (B) monitoradas (C) viagens (D)
(A)

Etapa 1 333 100% 108 32% 65 20% 31 9%

Etapa 2 208 100% 124 60% 90 43% 66 32%

Etapa 3 351 100% 225 64% 154 44% 107 30%

OBSERVAÇÕES FINAIS senta dificuldades, uma vez que vários


A utilização de um aplica- recortes da população não são atingidos,
tivo de smartphone como mé- como por exemplo: menores de 18 anos que
todo único de captura de dados não podem ser monitorados por smartphone
de viagens não se mostrou pro- sem a permissão dos responsáveis; idosos
priamente eficiente. Algumas que não utilizam o dispositivo e pessoas que
viagens podem não ser registra- utilizam celulares antigos.
das, por serem de curta duração O índice de finalização da pesquisa, to-
ou de pequena distância; outras mado como a proporção de participantes ins-
podem não ser registradas por critos no teste e que passaram por todas as
fatores tecnológicos do aparelho etapas até o fim do processo, foi de 23% na
do participante (idade, modelo, média de todas as etapas. Apesar do baixo ní-
configurações relativas ao uso da vel de adesão e finalização da pesquisa, as di-
bateria); algumas viagens podem versas experiências adquiridas durante o pro-
não ser validadas pelo participan- jeto proporcionaram importante aprendizado
te, o que inviabiliza a utilização e nortearão a busca contínua de outras formas
Figura 2 - Campanha de comunicação
do dado para fins de pesquisa. Há de pesquisa não presencial.
ainda a dificuldade de obtenção
produzir um grande impacto, com pouco dos dados referentes às variáveis socioeco- * Branca M. Mandetta é estatística,
investimento, como por exemplo a divulga- nômicas e ao núcleo familiar de cada par- analista técnica do Metrô-SP
ção da promoção através de influenciadores ticipante. E-mail: branca.mandetta@metrosp.com.br
digitais; e utilização da mecânica de sorteio O uso de um aplicativo de smartphone ** Eliza E. Imakado é engenheira,
com recurso de ampliar possibilidade de pre- deve ser associado ao método tradicional de analista técnica do Metrô-SP
miação (figura 2). pesquisa, de entrevistas domiciliares pre- E-mail: eliza.eriko@metrosp.com.br
Do ponto de vista específico da ope- senciais realizadas por um entrevistador, *** Emilia M. Hiroi é estatística e
racionalização da pesquisa, o engajamento que registra os dados socioeconômicos e fa- economista, coordenadora do Metrô-SP
via premiação aos entrevistados necessita miliares de cada morador, deixando o bloco E-mail: ehiroi@metrosp.com.br
de cuidados como, por exemplo, os prazos e referente aos dados de viagem para ser cap- **** Luiz C. Sposito é economista,
regras que regem os sorteios. tado nesta mesma entrevista ou por meio de analista técnico do Metrô-SP
Na etapa 1, considerando as finalizações um aplicativo de smartphone. Dessa forma, E-mail: luis.sposito@metrosp.com.br
do teste em relação ao número de pessoas o pesquisado poderia tirar dúvidas com o ***** Maria Cecilia M. de Oliveira é engenheira
que fizeram inscrição, 9% dos inscritos fi- entrevistador com o qual já houve um con- e estatística, supervisora do Metrô-SP
nalizaram a pesquisa. As etapas 2 e 3 apon- tato inicial, ou ainda, este deixar no domicí- E-mail: cecilia.andreoli@metrosp.com.br
tam melhores taxas de conversão em direção lio um diário de viagens para os moradores a ****** Regina M. Nogueira é socióloga,
à finalização da pesquisa, de 32% e 30%, serem entrevistados. assessora técnica do Metrô-SP
respectivamente (tabela 3). Além disso, a representatividade apre- E-mail: rmnogueira@metrosp.com.br

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TRANSPORTE
BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO I ENGENHARIA

“Definição de área de captação da


integração para estudos de
caracterização do transporte coletivo”
MARCOS C. TEIXEIRA* / LEONARDO C. L. LISBOA** /
RONALDO A. FERREIRA*** / FERNANDO T. SANTIAGO****

O
INTRODUÇÃO os profissionais da área de planejamento idosos, de pessoas com deficiência ou por-
estudo de novas linhas de do Metrô de São Paulo têm evoluído a de- tadoras de outras necessidades e de ges-
metrô envolve diversas limitação da área ao redor do local de im- tantes, bem como facilidades no acesso às
etapas de desenvolvimen- plantação das futuras estações, em razão estações, as quais levam em conta carac-
to, dentre as quais desta- de padrões comportamentais constatados terísticas de seu entorno – inclui sistema
ca-se o conhecimento do por estudos – empíricos e teóricos – que viário, presença e capacidade de calçadas
entorno dos locais onde tratam da captação de passageiros nos ar- e sinalização para pedestres, além das li-
há a intenção de se implantar as novas redores das estações. nhas de ônibus existentes.
estações. Faz parte deste estudo o conhe- Alguns fatores influenciaram na defi- Com base no conhecimento obtido,
cimento da dinâmica de circulação das nição de uma nova área: acessibilidade de entendeu-se então que a metodologia de
pessoas e a maneira como elas chegarão
às estações, em que se inclui a acessibi-
lidade através de outros modos de trans-
porte. Como parte de um sistema, serão
esses modos, sejam eles o andar a pé ou
de bicicleta, ou ainda, o acesso por trans-
porte individual ou ônibus, os responsá-
veis por aproximar as pessoas do serviço
de transporte por trilhos. Em aglomerados
urbanos com o porte da Região Metropo-
litana de São Paulo, os ônibus respondem
por um grande volume de pessoas que
chegam às estações de metrô e de trem
metropolitano.
Ao longo de décadas, técnicas para
uma compreensão mais precisa da dinâ-
mica de integração intermodal vêm evo-
luindo, com destaque para a integração
ônibus-trilhos. Através de suas experiên-
Figura 1 - Delimitação de área da captação de integração (ACI)
cias, ao estudar novas linhas metroviárias,
(Fonte: Companhia do Metropolitano de São Paulo, 2022)

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

estudo anterior, em que se adotava um raio Nota-se,


teórico de 600 metros a partir do centro na área defi-
geométrico das estações para a elaboração nida sobre-
do estudo de integração das linhas de ôni- posta a ima-
bus com a rede sobre trilhos, necessitaria de gem aérea, o
ajustes para uma maior aproximação com quão vasto e
aquilo que de fato é constatado na rede im- diversif ica-
plantada. Definiu-se assim o valor de raio do pode ser o
igual a 300 metros do centro geométrico sistema viário
das plataformas como uma distância plau- em que incide
sível de caminhada até às estações de metrô o tráfego de
em trecho intermediário da viagem após o linhas de ôni-
desembarque do modo anteriormente utili- bus ( figura 1).
zado, sendo consideradas todas as linhas de O acervo
ônibus, municipais ou intermunicipais, que decorrente é
trafegarem dentro desta área. Os 600 me- f u ndam e nt al
tros continuam reservados ao trecho inicial para futu-
e final da viagem, quando o indivíduo parti- ras análises
rá de sua origem ou chegará ao seu destino. e estudos de Figura 2 - Fluxos das linhas de ônibus na área da captação de integração (ACI)
atendimento e (Fonte: Companhia do Metropolitano de São Paulo, 2022)
DEFINIÇÃO DE UMA ÁREA DE reorganização
CAPTAÇÃO DE INTEGRAÇÃO das linhas de ônibus em função da inte- CÁLCULO DA OFERTA DE LUGARES
Como dito anteriormente a área de gração às novas linhas de metrô. A Coordenadoria de Planejamento de
captação da integração (ACI) compreende O levantamento das linhas de ônibus Rede e Integração do Metrô de São Paulo
um território com maior probabilidade de municipais ou intermunicipais que podem desenvolveu uma metodologia de cálcu-
integração ônibus-metrô e metrô-ônibus, ou não ter seu ponto inicial ou final jun- lo da oferta teórica de lugares nos ôni-
cujo trajeto é considerado satisfatório e to à futura estação de metrô tem como bus baseando-se na tipologia dos ônibus
mais acessível pelos passageiros. principal objetivo expor seu potencial utilizados, entendendo que cada veículo,
As informações geradas nos bancos de dinâmico, com geração de informações devido ao seu tamanho, possui uma ca-
dados das empresas gestoras e concessio- relevantes de análise comportamental pacidade máxima de lugares a ofertar. A
nárias de serviços de transportes coletivos nesta área delimitada, tais como: quan- oferta máxima de lugares de cada linha é
de ônibus da RMSP foram consolidadas em tidade de linhas, frequência máxima de obtida multiplicando-se essa capacidade
tabelas que contêm os dados operacionais veículos e estimativa de oferta de lugares pela frequência das partidas dos veículos
das linhas selecionadas dentro da ACI de disponibilizados por cada linha na hora no horário de pico. Por exemplo, se uma
cada futura estação de metrô. pico manhã. linha opera com ônibus de 80 lugares de

Tabela 1 - Resumo dos Tipos de Veículo


(Fonte: Manual dos Padrões Técnicos dos Veículos, pg.6/68; Prefeitura Municipal
de São Paulo, Mobilidade e Transportes. SPTrans. Abril/2018)

PASSAGEIROS ÁREA RESERVADA ÁREA CAPACIDADE


TIPO DE PBT MIN. COMPRIMENTO PORTAS
SENTADOS P/ CADEIRA DE PASSAGEIROS TOTAL
ÔNIBUS (t) TOTAL (m) (QTDE.)
(MÉDIA) RODAS EM PÉ (m²) (MÉDIA)

Miniônibus 9 8,6 a 9,0 2 20 (ref. 8,6 m) 01 3,40 35

25 (ref. 9,6 m) 01 4,70 54


Midiônibus 14 9,6 a 11,5 3
33 (ref. 11,2 m) 01 5,70 68

Básico 16 11,5 a 12,5 3 35 (ref. 12,5 m) 01 6,40 74

4 32 (ref. 13,2 m) 01 9,40 87


Padron 16 12,5 a 15,0
5 38 (ref. 15,0 m) 01 11,80 110

37 (ref. 18,5 m) 01 15,20 129


Articulado 26 18,2 a 23,0 6
54 (ref. 23,0 m) 01 19,80 174

Biarticulado 36 _ 27 6 53 (ref. 27,1 m) 01 24,00 198

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TRANSPORTE I ENGENHARIA

capacidade com frequência de dez veícu- No anteprojeto de engenharia são anali- preferencialmente, fora das faixas do trá-
los na hora pico, são ofertados 800 lugares sadas as facilidades ou mecanismos de in- fego geral, para o embarque e o desem-
no total. tegração física a serem implantados, tais barque dos passageiros. O comprimento de
Verificou-se que algumas linhas mu- como baias de parada e terminais em caso cada baia pode variar conforme o volume
nicipais operam com até quatro tipo de de grande volume de linhas de ônibus. de ônibus que atende cada estação na hora
veículos. Para estimar a oferta de lugares Requisitos para todas as estações em re- pico. Dependendo do potencial de reorga-
de linhas com estas características, foi lação a: nização apresentado pela linha e pela es-
adotado um cálculo de proporcionalidade • Sistema viário do entorno, localização e tação, terminais de ônibus também podem
da frota operante em horário de pico, com traçado de ciclofaixas e ciclovias, faixas e ser propostos, havendo necessidade de
o seguinte método: os menores veículos semaforização de pedestres. áreas específicas para sua implantação.
possuem peso 25%; para os veículos in- • Adequações destes dispositivos viários. As linhas de ônibus municipais consi-
termediários fez-se a somatória de suas • Acessos das estações que garantam a se- deradas podem ter rotas de passagem ou
proporcionalidades com peso de 12,5% gurança dos passageiros e adequada inte- pontos finais alterados para embarque e
para cada um, cujo peso final se dá 25% gração intermodal. desembarque de passageiros que podem
e; os veículos de maior porte peso igual a • Caracterização e estudos de reorganiza- se transferir para a futura linha de metrô
50%. A somatória das tipologias resultará ção do sistema de transporte coletivo no proposta.
em peso de 100%. estudo das alternativas de traçado e no
Igualmente, tal cálculo é realizado detalhamento da alternativa selecionada. CONCLUSÕES
convertendo a tipologia destes ônibus Após a adoção de raio igual a 300 me-
por razões pré-estabelecidas que resulte CARACTERIZAÇÃO DAS ÁREAS DE tros para definição de uma área de cap-
em peso 100% se uma determinada linha CAPTAÇÃO DA INTEGRAÇÃO (ACI) tação de passageiros para as futuras es-
utilizar 3 veículos de tamanhos diferentes. No interior da ACI (raio de 300 m no tações de metrô, foi possível uma maior
Entende-se que os menores veículos pos- entorno das estações), as linhas de ônibus compreensão da dinâmica do fluxo de
suem peso de 25%, os veículos de médio podem apresentar as seguintes particula- entradas e saídas destes passageiros nas
porte peso de 25% e; os veículos de maior ridades: futuras estações de metrô.
porte peso igual a 50%. •Trafegar somente no sentido centro-bair- Em continuidade a este estudo, desen-
Já para as linhas intermunicipais fo- ro, durante a hora pico da manhã, não ha- volveu-se dentro da Companhia do Metro-
ram verificadas tabelas oriundas do site da vendo para estas linhas retorno operacio- politano de São Paulo - METRÔ um grupo
EMTU nas quais há tipologia de veículos nal ao ponto de partida. de estudo sobre microacessibilidade, o qual
definida para cada linha, aplicando-se o • Serem circulares e, portanto, contabili- enumerou as principais barreiras e outras
mesmo cálculo de oferta máxima da linha, zadas somente em um sentido, quando da dificuldades de acesso dos passageiros às
isto é, a capacidade máxima do veículo passagem pela respectiva ACI na hora pico futuras estações, dentre as quais pode-se
adotado multiplicada pela maior frequência da manhã. destacar a integração ônibus-metrô.
de ônibus na hora pico manhã ( tabela 1). • Igualmente linhas circulares que trafe- O distanciamento igual ou inferior aos
gam nos sentidos de ida e volta nas re- 300 metros que delimitam tal área surge
BASES PARA A ANÁLISE DAS LINHAS feridas áreas de estudo são contabilizadas como um valor médio com características
DE ÔNIBUS NA ÁREA DE CAPTAÇÃO DE uma única vez. entendidas como confortáveis para a maioria
INTEGRAÇÃO (ACI) DE CADA ESTAÇÃO Outra importante informação são os das pessoas ao caminhar e ingressar o sistema
A análise das linhas municipais de ôni- valores das frequências máximas, no perí- metroviário, embora casos excepcionais exi-
bus está baseada nas informações oriundas odo da hora pico da manhã, obtidos após jam outros níveis de atenção e estudo. Ade-
do órgão responsável pelo gerenciamento do tratamento dos dados brutos de cada linha quações, tais como o remanejamento de pon-
transporte por ônibus municipal. Para este de ônibus, expressa na unidade de ônibus tos e de abrigos, ou mesmo a criação de novas
estudo utilizou-se o banco de dados da São na hora pico manhã (ON/HPM). paradas de ônibus nos arredores das estações,
Paulo Transportes (SPTrans), de outubro de O desenho da figura 2 sintetiza as solicitadas aos órgãos gestores do transporte
2019, considerada a última informação típi- características operacionais das linhas de sobre pneus, podem ser necessárias e o estu-
ca válida para os dias úteis, tendo em vista ônibus em cada ACI, representando seus do das ACI faz uma primeira indicação dessa
as alterações de comportamento da popula- principais movimentos, volumes e oferta ação, caso constate essa necessidade.
ção devido à pandemia de Covid-19. máxima de lugares, o que possibilita um
As linhas intermunicipais foram levan- entendimento preliminar dos requisitos * Marcos C. Teixeira é engenheiro Civil do Metrô-SP
tadas uma a uma, diretamente após aná- de atendimento das estações, a ser apro- E-mail: mcorrea@metrosp.com.br
lise do site da Empresa Metropolitana de fundado na etapa de anteprojeto de enge- ** Leonardo C. L. Lisboa é arquiteto, doutor em
Transportes Urbanos (EMTU). nharia / projeto funcional, quanto ao seu planejamento urbano e supervisor técnico na Gerência
As informações permitem estabelecer atendimento e reorganização em função de Planejamento e Meio Ambiente do Metrô-SP
como principais elementos desta análise: da integração às novas linhas de metrô. E-mail: leonardolisboa@metrosp.com.br
• Linhas de maior frequência na hora pico *** Ronaldo A. Ferreira é administrador de
da manhã; PROPOSTAS DE MELHORIA NO EQUIPA- empresas, atuante como Assessor Técnico I no Metrô
• Estimativa de lugares ofertados na hora MENTO URBANO – ESTAÇÃO DE METRÔ E-mail: ronaldoalves@metrosp.com.br
pico da manhã; Nota-se que em algumas estações, **** Fernando T. Santiago é Geógrafo, atuante nesta
• Principais fluxos de linhas de ônibus será necessária que haja a implantação de companhia como Assistente Técnico IV no Metrô-SP
para as ACI de cada estação. baias para ônibus por sentido de fluxo e, E-mail: fernando_santiago@metrosp.com.br

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

Construção sustentável em linhas


futuras do Metrô de São Paulo
CACILDA BASTOS PEREIRA DA SILVA* / CAMILA DIAS DE FRANÇA** /
RAMÓN CAROLLO SARABIA NETO*** / SORAIA SCHULTZ MARTINS CARVALHO****

N
o contexto de mobilização ca e tecnológica do futuro. Por isso impõe Assim, as diretrizes de sustentabilidade já
em relação ao futuro da vida também decisões complexas que envolvem internalizadas no planejamento e projeto ga-
nas cidades, acentuado com não só as prioridades políticas e o contexto nharam destaque nas análises de riscos, prin-
a pandemia da Covid-19, os econômico, mas também o ambiente regula- cipalmente pela oportunidade de se incorporar
sistemas de transporte co- tório e os interesses sociais. novas diretrizes tecnológicas e construtivas e
letivo ganharam relevância A implantação de linhas de metrô está adoção de requisitos referenciados e certifica-
como agentes estratégicos para a transforma- relacionada a obras de grandes proporções e dos em construção sustentável.
ção do espaço urbano, da dinâmica econômi- envolve obras e consumo de insumos e ener-
ca e para a mobilidade sustentável. gia que geram impactos ambientais signifi- PRÁTICAS DE
O papel do Metrô na promoção da mo- cativos, também em termos de emissões de CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
bilidade e desenvolvimento urbano sempre carbono e contaminantes atmosféricos. Da mesma forma que gera impactos
esteve associado à contribuição expressiva Neste contexto, critérios associados à cons- positivos na economia, a construção civil
para a economia. A implementação de pro- trução sustentável passaram a ser estratégicos é uma atividade que modifica a paisagem
jetos de infraestrutura de transporte impli- para o bom desempenho de projetos e por se- e é responsável pela extração de mais de
ca em planejamento e processos de longo rem indexadores positivos para investimentos um terço dos recursos naturais no Brasil
prazo e determina as estruturas econômi- sustentáveis por organismos financiadores. e 50% da energia gerada que abastece a

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TRANSPORTE I ENGENHARIA

operação das edificações. O setor também EUA e presente em mais de 80 países, o trutivos previstos e analisados nos estudos
é um dos que mais produzem resíduos, referencial para analisar seus projetos de ambientais que subsidiam o licenciamento
sendo responsável por mais de 50% dos edificação. ambiental dos empreendimentos são mo-
entulhos, entre construções e demolições, Como todo processo inovador, a certifi- nitorados e controlados durante as obras e
segundo o Conselho Internacional de Pes- cação compreende mudanças de paradigma, permeiam a gestão ambiental na operação
quisa e Inovação na Construção (CIB). capacitação profissional, desenvolvimento de da linha.
Assim, a concepção de edificações com novas práticas e visão integrada em todo o ciclo A implantação de linhas de metrô exige
diretrizes de sustentabilidade é vista como de vida, visando não só soluções construtivas e o consumo expressivo de materiais e recur-
estratégica para a perenidade das constru- tecnológicas, mas também redução dos custos. sos naturais, como cimento, aço, energia e
ções e dos negócios. A construção civil é água, e implica em custos ambientais e eco-
um setor que entrou no radar dos investi- EVOLUÇÃO DOS PROJETOS nômicos. Na fase de projeto, estes aspectos
mentos ESG (sigla em inglês para práticas Ao longo dos anos de experiência e ex- são avaliados e internalizados no desenho
ambientais, sociais e de governança-ASG) pertise, o planejamento, a concepção, o pro- arquitetônico, na definição de equipamentos
por apresentar estas dimensões de impac- jeto, a obra e a operação do sistema metrovi- e de sistemas, buscando o melhor desempe-
tos e de riscos para o capital. ário evoluíram, incorporando novos desafios nho ambiental das edificações e a redução
Hoje existem organizações voltadas à e práticas, conforme avançam a tecnologia, das emissões de gases do efeito estufa.
atuação no mercado de edificações que tem os métodos construtivos, os requisitos legais Assim, o conjunto de diretrizes que per-
como objetivo facilitar e estimular as práti- e regulatórios sempre atrelados aos aspectos meia o desenvolvimento de projetos e im-
cas certificadas em construção sustentável, econômicos. plantação de empreendimentos do Metrô é
criando referenciais de sustentabilidade em A análise das práticas tem permitido avaliado para encontrar soluções e inovação
projetos. avaliar a redução de impactos e de custos, com base em parâmetros de construção sus-
O Metrô está buscando a certificação garantindo a eficiência e desempenho am- tentável.
de projeto de estação, trazendo de forma biental na fase de operação e manutenção
pioneira o foco para a construção susten- das edificações, e sobretudo a valorização CARACTERÍSTICA DOS
tável em projetos no setor de transporte de seus ativos, da imagem e credibilidade PROJETOS DE ESTAÇÕES
público urbano no Brasil. Para isso en- frente aos públicos de interesse. As estações de metrô são o local de cone-
controu no United States Green Building Com edificações, túneis e vias projetadas xão do sistema de transporte com a cidade e
Council - USGBC, organização sediada nos para terem uma longa vida útil, é estratégi- evoluíram ao longo do tempo. No início, re-
co avaliar de forma criteriosa as diretrizes fletiam essencialmente a sua funcionalidade
de construção sustentável desde o início do como um espaço de passagem entre os passa-
planejamento e a sua concepção e permear geiros e os trens. Aos poucos, novas diretrizes
todas as outras fases de projeto, implanta- e funcionalidades foram transformando os
ção, operação e manutenção, pois envolvem ambientes. Elas se tornaram pontos de refe-
investimentos expressivos em design e tec- rência na cidade, reunindo serviços, cultura,
nologia construtiva, sistemas e equipamen- lazer e compras trazendo a vida e a paisagem
tos e consumo de insumos e materiais. da cidade para dentro destes espaços.
A partir de estudos e análises de im- Além de buscar a melhor inserção urbana e
pactos e riscos em todo o ciclo de vida, os priorizar a comunicação harmônica com o am-
aspectos urbanísticos e socioeconômicos biente externo, os projetos arquitetônicos das
exigiram novas diretrizes e soluções no estações passaram a incorporar requisitos de
desenvolvimento de projetos para espaços sustentabilidade associados ao desempenho am-
construídos mais sustentáveis. São empre- biental da edificação no que se refere a eficiência
endimentos complexos e envolvem obras de energética. Da mesma forma, outros requisitos
grandes proporções . foram incorporados com foco no paisagismo,
A evolução da legislação ambiental e as uso racional da água, materiais e recursos, quali-
interferências no local de inserção urbana, dade do ambiente interno, conforto e bem-estar.
exigindo em algumas situações o reassen- As obras de metrô caracterizavam-se por
tamento de população, levaram a um longo grandes áreas de intervenção, exigiam exten-
processo de maturidade nas decisões e no sas áreas de desapropriação e implicavam no
trabalho de relacionamento com a comuni- deslocamento de famílias e na vida cotidiana
dade. Com a participação da população de das pessoas.
forma mais ativa nas discussões e propos- O sistema de vala a céu aberto foi utilizado
tas de intervenções urbanas, são avaliadas em vários empreendimentos, mas com o avan-
possíveis modificações ou adequações de ço em áreas movimentadas ou com caracterís-
projetos nos processos de implantação de ticas que dificultavam o método tradicional,
novas linhas. como na Avenida Paulista e no centro antigo
Os impactos ambientais e sociais asso- com prédios históricos, passou-se a adotar o
ciados às atividades de construção civil pe- método de escavação de túneis com tunelado-
sada, à execução de obras e métodos cons- ra e foram empregados sistemas técnicos de

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

rebaixamento do lençol freático. Atualmen- Com base no diagnóstico e na análi- Os riscos associados à construção civil não são
te, os conceitos e métodos construtivos bus- se dos projetos da Linha 5-Lilás, trecho só preocupação dos investidores. São tam-
cam a menor área de desapropriação possível Adolfo Pinheiro e Chácara Klabin, e da Li- bém de organizações mundiais no combate
e são adotadas tecnologias construtivas que nha 2-Verde, trecho Vila Prudente - Penha às mudanças climáticas, que têm enfatizado a
minimizam os impactos na superfície. foram sugeridos melhorias e estudos para necessidade de reduzir a demanda de energia
futuros projetos, visando o aprimoramento no ambiente construído, descarbonizar o setor
CERTIFICAÇÃO EM e ganhos em desempenho ambiental, até a energético e incentivar o uso de materiais que
CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL certificação de projetos em construção sus- reduzam as emissões de carbono e processos
A construção sustentável tem sido am- tentável. Para evidenciar o processo integra- que minimizem a geração de resíduos.
plamente disseminada e incorporada pelo do do LEED nas análises das diretrizes de Projetos referenciados em construção
mercado pelos benefícios associados à efici- sustentabilidade e garantir sinergia entre as sustentável podem contribuir para as metas
ência e custo à medida que são internaliza- diferentes disciplinas é importante adotar a assumidas pelos governos em relação aos
das diretrizes e critérios de sustentabilidade integração e racionalização dos projetos por Objetivos do Desenvolvimento Sustentável,
nas práticas e processos. Estudos indicam meio da universalização do processo BIM com a priorização de investimentos para
que projetos referenciados em construção em todas as etapas com equipe interdiscipli- edifícios de baixo carbono, gerando empre-
sustentável resultam em uma redução en- nar colaborativa. gos e aumentando o valor imobiliário.
tre 30% e 40% no consumo de energia e Entre as recomendações, estão:
de água nas fases de operação da edifica- - Realizar, na fase inicial, estudos prelimi-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ção. No Brasil, a participação dos edifícios nares de eficiência termo energética e de
no consumo de energia elétrica é superior a balanço hídrico para as edificações. [1] CBCS - Conselho Brasileiro de Constru-
45%, e este porcentual tem crescido (CBCS). - Registrar as condições levantadas para a ção Civil Sustentável. Acesso em maio/2020.
Neste contexto, o Metrô tem investido escolha da localização das estações (poten- http://www.cbcs.org.br/website/institucio-
no aprimoramento e revisão das diretrizes, cialidades) e as condições que influenciaram nal/show.asp?ppgCode=BCCF20BC-8628-
processos e práticas contemplando a ex- na concepção do projeto. -4D3D-83ED-FBA37CFA560D.
celência na gestão de projetos, de riscos e - Especificar nos projetos de sistemas, pre- [2] CBIC - ENERGIA NAS CONSTRUÇÕES.
inovação na arquitetura e engenharia, para missas de eficiência, dimensionamento e UMA CONTRIBUIÇÃO DO SETOR À REDUÇÃO
que resultem em ganhos em termos de qua- controle dos sistemas prediais. DE EMISSÕES E DE USO DE FONTES RENO-
lidade, prazo e custo. Esse aprimoramento - Desenvolver a Avaliação do Ciclo de Vida VÁVEIS DE ENERGIA. CBIC 60 anos. https://
é resultado de processos estimulados por de edificações para subsidiar futuros pro- cbic.org.br/wp-content/uploads/2017/11/
agentes financeiros, que têm condicionado jetos, assim como subsidiar a definição de Energia_na_Construcao_2017-1.pdf.
a concessão de parte dos recursos à análise critérios e indicadores de desempenho para [3] GLOBAL ABC - Relatório de Situação
de impactos e riscos dos projetos. estações em operação. Global 2020 para Edifícios e Construção.
A concessão de recursos para o desen- - Sistematizar o registro e a complementa- Aliança Global para Edifícios e Construção
volvimento de diagnóstico das práticas de ção de documentos com especificações e (Global Alliance for Buildings and Construc-
construção civil sustentável com o objeti- métricas visando processos para futura cer- tion - GlobalABC). https://www.unep.org/
vo de aprimorar especificações de projeto tificação de projetos. pt-br/noticias-e-reportagens/comunicado-
fez parte do contrato de financiamento da -de-imprensa/emissoes-do-setor-de-cons-
extensão da Linha 5-Lilás firmado entre o CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL trucao-civil-atingiram.
Governo do Estado de São Paulo - GESP e o EM LINHAS FUTURAS
Banco Internacional para a Reconstrução e Em uma grande metrópole, a expansão * Cacilda Bastos Pereira da Silva é
Desenvolvimento - BIRD. Isso foi o ponto de da rede sobre trilhos é chave para a mobili- psicóloga, mestre em gestão ambiental e
partida para o Metrô iniciar as análises das dade urbana e o futuro sustentável. O apri- especialista na Coordenadoria de Estudos de
diretrizes para a expansão. moramento das práticas incluindo diretrizes Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô -SP
No projeto diretriz da Linha 16-Viole- de construção sustentável nos projetos da e-mail: cacilda.bastos@metrosp.com.br
ta avaliou-se a interface da metodologia expansão pode resultar em ganhos econô-
LEED® BD+C (Building Design and Cons- micos, ambientais e sociais, além de abrir ** Camila Dias de França é engenheira
truction), com os requisitos gerais para pro- caminho para a certificação. civil, com especialização em gestão ambiental
jeto de estações, ponderando-se o nível de Para futuras linhas, os referenciais de cons- e atua no PMO Corporativo do Metrô-SP
detalhe desta fase e foram incluídos novos trução sustentável podem agregar valor aos E-mail: cdfranca@metrosp.com.br
requisitos para as estações. projetos, com as devidas adaptações às caracte-
A certificação LEED® foi recomendada rísticas de empreendimentos do Metrô, já exis- *** Ramón Carollo Sarabia Neto é químico e
para implementação em projetos e obras do tentes. Podem gerar ainda ganhos para toda a atua como analista na Coordenadoria de Estudos
Metrô e pelas preocupações ambientais. Re- cadeia de valor e diferencial no mercado. de Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô-SP
úne pré-requisitos e créditos para pontuar as As práticas também estão alinhadas às E-mail: rcsarabia@metrosp.com.br
práticas em categorias: Processo Integrado, estratégias de outros operadores do setor de
Localização e Transporte, Terrenos Sustentá- transportes. Além de se equiparar às práticas **** Soraia Schultz Martins Carvalho é
veis, Energia e Atmosfera, Eficiência Hídrica, de mercado, obter a certificação em constru- economista e Coordenadora de Estudos de
Materiais e Recursos, Qualidade do Ambiente ção sustentável é um diferencial em processos Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô-SP
Interno, Inovação e Prioridade Regional. de financiamento e atende aos critérios ESG. E-mail: ssmcarvalho@metrosp.com.br

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Cenários socioeconômicos
no novo modelo de
previsão de demanda do
Metrô de São Paulo
SORAIA SCHULTZ M. CARVALHO* / MARIA HELENA ZANCHETTA** /
CLÁUDIA REGINA B. C. DE MELO*** / ALEXANDRE FRAZÃO D’ANDRÉA****

INTRODUÇÃO transporte da Região Metropolitana

A
CENÁRIOS SOCIOECONÔMICOS
pós a finalização da Pesqui- de São Paulo – RMSP (CPTM, EMTU, E O MODELO DE GERAÇÃO
sa Origem Destino 2017, a SPTrans, Prefeituras dos municípios Os novos modelos de previsão de de-
Companhia do Metropolita- que compõem a RMSP). Os dados são manda do Metrô foram elaborados a partir
no de São Paulo, iniciou o os insumos necessários para a cons- de técnicas de engenharia de transportes
processo de revisão de seu trução dos modelos matemáticos, co- modernas, propiciando avanços significa-
planejamento. Em 2019, foi iniciado o dificação do sistema viário da RMSP, tivos na representação da mobilidade da
desenvolvimento dos novos modelos de representação da política tarifária RMSP. Entre elas a incorporação da hete-
previsão de demanda considerando os re- da RMSP, elaboração dos modelos de rogeneidade do espaço como fator deter-
sultados da Pesquisa OD 2017, pelo Depar- geração de viagens e codificação e minante das complexas relações entre da-
tamento de Planejamento e Anteprojeto de calibração da rede de simulação dos dos socioeconômicos e as viagens.
Engenharia, da Gerência de Planejamento transportes da RMSP. ​ Com os resultados da Pesquisa OD 2017,
e Meio Ambiente, da Diretoria de Enge- Uma das etapas do desenvolvimen- foi possível estabelecer relações entre a ge-
nharia e Planejamento do Metrô. Os mo- to dos novos modelos é a elaboração de ração de viagens e variáveis socioeconômi-
delos são utilizados nos estudos da rede cenários socioeconômicos futuros. Con- cas, que garantem o melhor ajuste em rela-
futura, para elaboração das previsões de siderados como parte fundamental para ção aos dados socioeconômicos da Pesquisa
demanda de linhas metroviárias futuras, subsidiar a modelagem de previsão de OD 2017, com resultados estatisticamente
nos projetos diretriz e nos anteprojetos demanda, os cenários são a representa- significativos, que representam a geração
de engenharia que são desenvolvidos pela ção de contextos socioeconômicos futuros de viagens. A realização de uma viagem é
Companhia. de variáveis econômicas e demográficas, uma decisão familiar e depende de sua so-
Para o desenvolvimento dos mo- partindo-se dos resultados da Pesquisa OD cioeconomia. A inovação ao incorporar o
delos, são levantados e analisados 2017 e considerando as alterações da con- espaço e sua heterogeneidade nas análises
dados atuais e futuros do sistema de juntura econômica recentes. do modelo de geração possibilitou o agru-

Figura 1 - Relação entre a Pesquisa OD 2017, o modelo de geração Quadro 1 - Premissas e resultados dos cenários neutro, otimista e
de viagens e os cenários socioeconômicos pessimista

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Figura 2 - Aplicação dos cenários socioeconômicos nas etapas do


modelo de previsão de demanda Gráfico 1 - Cenários neutro, otimista e pessimista ilustrados

pamento da RMSP em clusters e a represen- Para isso, o Consórcio TTC-FIPE, ado- dos históricos e expectativas de mercado.
tação da geração de viagens em equações tou uma modelagem integrada desenvol- Foi realizada uma simulação histórica para
cujas variáveis explicativas variavam em re- vida a partir de um modelo de equilíbrio atualizar a base de dados da MIP de 2015
lação ao cluster definido (figura 1). geral computável dinâmico (EGC), regres- para 2020, utilizando, inclusive, dados ob-
Com a construção das equações do mo- sões econométricas e análise de insumo- servados em relação às mudanças causa-
delo de geração, realizada na primeira das produto para estimar as variáveis econô- das pela pandemia da Covid-19.
quatro etapas da modelagem, foram defini- micas de emprego e renda, por zona OD. O segundo cenário denominado “oti-
das as variáveis socioeconômicas cujo com- Essa modelagem foi a base de um simu- mista” foi projetado assumindo mudanças
portamento melhor representa a geração de lador que permite implementar variações tecnológicas que elevam a produtividade
viagens por cluster. Essas variáveis foram as exógenas dos componentes de demanda da economia paulista para alavancar a sua
selecionadas para serem projetadas para o final para estimar os impactos de cenários taxa de crescimento anual e, um terceiro
futuro, nos cenários socioeconômicos para macroeconômicos de crescimento sobre o cenário intitulado pessimista, com pre-
os anos de 2020 a 2040, em quinquênios. mercado de trabalho na RMSP. missas mais restritivas para a dinâmica de
Entre elas estão variáveis econômicas e A construção desse simulador foi outra crescimento do produto nacional e paulista.
variáveis demográficas. As primeiras são inovação do trabalho de desenvolvimento As premissas transversais aos três ce-
empregos (total e por setores secundário e dos novos modelos do Metrô, pois permite nários adotadas foram em relação aos se-
terciário), renda (familiar e per capita) e as à Companhia aumentar a flexibilidade de guintes aspectos:
demográficas são: população (total e por atualizações de acordo com a evolução da a)produtividade do trabalho devido
classes econômicas e faixa etária) e matrí- conjuntura econômica. às mudanças na escolaridade populacio-
culas (total, por grau e por tipo de ensino A base de dados do simulador foi uma nal, que impactam a eficiência do fator
– público ou privado). matriz intermunicipal de Insumo-Produto trabalho;
para a RMSP no ano base de 2015, desa- b)preferências de consumo, cujas mu-
METODOLOGIA gregada em 67 setores da economia e 41 danças no padrão de consumo das famílias,
Variáveis econômicas regiões: 39 municípios da RMSP, “restan- com cenários de mobilidade social, captu-
Wright e Spers (2006, p.13) afirmam te do Estado de São Paulo” e “restante do rando efeitos da distribuição de renda;
que “elaborar cenários não é um exercício de Brasil”. Essa matriz foi gerada a partir do c)produtividade setorial devido à
predição, mas sim um esforço de fazer descri- método denominado Interregional Input- maior eficiência no uso dos fatores ligados
ções plausíveis e consistentes de situações fu- -Output Adjustment System – IIOAS, ba- às mudanças tecnológicas;
turas possíveis, apresentando as condicionan- seado em Haddad et al. (2017). A aplicação d)eficiência energética, utilizando-se
tes do caminho entre a situação atual e cada do método IIOAS ao caso brasileiro utiliza, dos coeficientes da trajetória de mudanças
cenário futuro, destacando os fatores relevan- como ponto de partida, informações con- tecnológicas da economia americana;
tes às decisões que precisam ser tomadas”. tidas na Matriz de Insumo-Produto – MIP, e)consumo do governo em consonân-
No Metrô, a construção dos cenários no âmbito nacional para o ano de 2015. cia à regra de teto dos gastos - crescimen-
socioeconômicos consistiu numa primeira Definido o modelo de insumo-produ- to nulo até 2037.
etapa de desenvolvimento da metodologia to, foi necessário integrar a ele os cená- O quadro 1 resume as principais pre-
e da elaboração de cenários macroeconô- rios macroeconômicos gerados através de missas dos três cenários e os resultados
micos e, numa segunda etapa de obtenção um modelo EGC. No modelo EGC, foram gerais.
dos insumos para a modelagem de previ- construídos três cenários: neutro, otimista O gráfico 1 mostra de forma ilustrati-
são de demanda, quando é feito o levan- e pessimista. va, os cenários desenvolvidos.
tamento de informações para projeção das O primeiro, um cenário referencial, Estimadas as projeções de cresci-
variáveis socioeconômicas e posterior- denominado “neutro” que representa a mento econômico, em cada um dos ce-
mente a projeção e a distribuição espacial evolução econômica segundo uma dinâ- nários, foram então projetadas as ten-
das variáveis nas zonas OD 2017. mica “business as usual” baseada em da- dências de emprego e renda dentro dos

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municípios da RMSP e suas zonas OD. ficamente a relação entre a renda familiar e renda que se ref letirão nos totais de
Para definir os procedimentos para de cada observação e a classe econômica viagens. Além de aplicar a mesma me-
alocar o emprego e a renda projetados em estimada na pesquisa. Para cada ano pro- todologia para as variáveis demográfi-
cada uma das zonas, foi utilizada a base de jetado, a renda familiar dos indivíduos foi cas e educacionais com base nas suas
dados georreferenciada da Relação Anual multiplicada conforme as projeções de fontes oficiais .
de Informações Sociais - RAIS, produzida variação da renda per capita por zona OD
pela Secretaria do Trabalho do Ministério estimadas no modelo de EGC já descrito. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
da Economia e foi construído um modelo Para o cálculo do total de matrículas [1] COMPANHIA DO METROPOLI-
econométrico. Com base na classificação por zona OD, por grau educacional, con- TANO DE SÃO PAULO. Desenvolvi-
da empresa na RAIS (CNAE), as empresas siderou-se a relação entre o total de ma- mento de metodologia e elaboração
– e, com elas, os vínculos empregatícios, trículas de um determinado nível em 2017, de cenários macroeconômicos. RT-99.
foram alocados aos 67 setores de atividade ano da Pesquisa OD, e a população asso- MD.17.08/8MP-001-0. São Paulo. 2021.
do modelo EGC que forneceu os valores de ciada ao grau educacional no distrito onde [2] COMPANHIA DO METROPOLI-
emprego a renda para cada um dos muni- se localiza a zona OD. Para as matrículas TANO DE SÃO PAULO. Levantamen-
cípios da RMSP e aos 14 setores de ativi- do ensino superior, considerou-se um au- to das informações para projeção das
dade da Pesquisa OD 2017. mento de 1,5 ponto percentual na taxa variáveis socioeconômicas dentro dos
Baseando-se no endereço declarado bruta de matrículas em todas as zonas, a cenários elaborados para os horizontes
no formulário da RAIS, incluindo municí- cada 5 anos, entre 2025 e 2050, conforme 2020, 2025, 2030, 2035 e 2040. RT-99.
pio, CEP e endereço completo, as empresas definido nas metas projetadas do Plano MD.17.08/8MP-002-0. São Paulo. 2021.
foram posicionadas nas 517 zonas de trá- Nacional de Educação, do MEC. [3] COMPANHIA DO METROPOLI-
fego da Pesquisa OD. Foram organizadas Para projetar as matrículas por tipo de TANO DE SÃO PAULO. Projeção e dis-
as informações para as RAIS entre os anos ensino, público ou privado, foi adotada tribuição espacial das variáveis. RT-99.
de 2006 e 2019, totalizando um período uma regressão linear simples relacionando MD.17.08/8MP-003-0. São Paulo. 2021.
de 14 anos. a renda familiar de cada zona OD em 2017 [4] D’ANDRÉA, A. F. ET AL. (2021).
Assim, através do modelo economé- e o percentual de matrículas na rede pri- Novo modelo de geração de viagens. 27ª
trico construído com os dados da RAIS, vada, no ano de 2017. Semana de Tecnologia Metroferroviária.
foram obtidas taxas de crescimento do Disponível em: https://semanadetecno-
emprego para cada um dos setores para APLICAÇÃO DOS CENÁRIOS logia.com.br/27semana/evento?id=31 -
a região como um todo e, no contexto do SOCIOECONÔMICOS PROJETADOS Acesso em 01 fev. 2022.
conjunto geral de dados, a taxa específica NOS NOVOS MODELOS [5] HADDAD, E. A.; GONÇALVES, C.
de cada zona OD. Além disso, foram de- Com o conjunto de cenários socio- A.; NASCIMENTO, T. (2017). Matriz In-
terminadas as participações esperadas de econômicos definidos, as equipes téc- terestadual de Insumo-Produto para o
cada um dos municípios e respectivas zo- nicas do Metrô e o Consórcio TTC-FIPE Brasil: Uma Aplicação do Método IIOAS.
nas OD para os anos de 2020 a 2040, em iniciaram a aplicação dos resultados Revista Brasileira de Estudos Regionais e
quinquênios. Essas participações foram nos novos modelos. Na primeira etapa, Urbanos, 11(4), 424-446. Disponível em:
aplicadas aos valores municipais gerados do modelo de geração, foram estima- https://revistaaber.org.br/rberu/issue/
pelo modelo de EGC, gerando-se os valo- dos os vetores de produção e atração view/23/9 - Acesso em 01 fev. 2022.
res absolutos de emprego e renda futuros futuros, de 2020 a 2040, em quinquê- [6] WRIGHT, J. T. C.; SPERS, R. G.
em cada zona OD. nios, como mostra a figura 2. (2006). O país no futuro: aspectos me-
Considerando a continuidade do todológicos e cenários. Estudos Avan-
VARIÁVEIS DEMOGRÁFICAS cenário conjuntural de pandemia da çados,  20(56), 13-28. Disponível em:
A projeção das variáveis demográficas, Covid-19, ainda em 2021, a Companhia https://www.revistas.usp.br/eav/article/
educacionais e socioeconômicas foi feita adotou o cenário elaborado com pre- view/10119 - Acesso em 01 fev. 2022.
para as 517 zonas OD. Para as variáveis missas mais restritivas, o “pessimista”.
populacionais, foram utilizados dados do Face a uma eventual mudança con- * Soraia Schultz M. Carvalho é economista
Sistema Seade de Projeções Populacionais, juntural, como parte de uma das ino- e coordenadora de Estudos de Viabilidade e
que disponibiliza informações oficiais do vações do contrato estabelecido com o Sustentabilidade do Metrô-SP
Estado de São Paulo, para os municípios Consórcio, o Metrô hoje dispõe do si- E-mail: ssmcarvalho@metrosp.com.br
paulistas e, no caso da capital, de seus dis- mulador que implementa a modelagem ** Maria Helena Zanchetta é economista e analista
tritos. integrada desenvolvida para estimar o de desenvolvimento e gestão III da Coordenadoria de
Partindo-se do pressuposto de que a emprego por local de trabalho e a ren- Estudos de Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô-SP
proporção de residentes em cada zona so- da por local de residência. E-mail: mariahelena@metrosp.com.br
bre o total de cada distrito permanecerá Caberá ao Metrô o desenvolvimen- *** Cláudia Regina B. C. de Melo é gestora de
constante no período projetado, foram de- to do modelo, tal qual o de EGC aqui políticas públicas e analista de desenvolvimento e
sagregadas as projeções no nível dos dis- já descrito, para definir as premissas e gestão II da Coordenadoria de Estudos de Viabilidade e
tritos da capital. construir os cenários de política, como Sustentabilidade do Metrô-SP
Quando calculadas as projeções por o “otimista” e o “pessimista” e aplicar, E-mail: crbarbosa@metrosp.com.br
classes econômicas, foi utilizado um mé- no simulador, os choques para verifi- **** Alexandre Frazão D’Andréa é engenheiro civil e
todo de microssimulação com base nos car o impacto na demanda final e as coordenador de Estudos de Demanda do Metrô-SP
microdados da Pesquisa OD 2017, especi- consequentes variações em emprego E-mail: afrazao@metrosp.com.br

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METRÔ DE SÃO
SÃOPAULO
PAULO

Novo modelo de geração de viagens


desenvolvido pelo Metrô de São Paulo
ALEXANDRE FRAZÃO D’ANDRÉA* / ALEXANDRE MAKOTO KOGA** /
ANA CAROLINA THEODORO DANTAS*** / JOSÉ ALBERTO DE CASTRO RUBIRA**** /
JOSÉ DE FRANÇA BUENO***** / MÁRIO JOSÉ GIL TELESI******

A
INTRODUÇÃO modelos tem a capacidade de reproduzir possibilitou uma evolução técnica con-
tarefa de planejar a mo- o comportamento e escolhas dos passa- tínua e a incor poração de melhor ias
bilidade e o transporte de geiros considerando as características que ajudaram a apr imorar a qualidade
passageiros nas grandes socioeconômicas, tipos de atividades que dos modelos.
aglomerações urbanas, se deseja realizar nos destinos, a rede O resultado desse esforço possibilita
pressupõe a realização multimodal planejada para o futuro e as minimizar as incertezas, subsidiar deci-
de previsões de demanda em função da condições da oferta de transportes para a sões estratégicas e fornecer insumos para
evolução dos dados socioeconômicos e realização das viagens, incluindo aspec- a concepção da rede futura, planos de
da oferta de transporte em determinados tos físicos, operacionais e modelo tarifá- investimentos, priorização e o faseamen-
anos horizonte de projeto. rio adotado. to de implantação de linhas do sistema
Em todas as grandes cidades e re- O Met rô de São Paulo tem desen- metroferroviário, análises de viabilidade
giões metropolitanas do mundo, essas volv ido modelos de prev isão de de- técnica, econômica e financeira, estudos
previsões são realizadas por meio de mo- manda nas últimas 5 décadas, desde de impacto ambiental, cálculo de benefí-
delos de demanda definidos como repre- o início de suas ativ idades em 1968. cios sociais, projetos funcionais e básicos
sentações simplificadas da realidade. Tais O know how adquir ido nesse per íodo (incluindo dimensionamento de frota, es-

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tações, terminais, sistemas) e finalmente, resultados são insumos para o modelo (domiciliar e não domiciliar) e por motivo
para a obtenção de recursos para finan- de divisão modal, que finalmente sub- de viagens.
ciamento de projetos e obras. sidia o modelo de alocação. Portanto, o Após a segmentação das viagens
Nos últimos dois anos e meio o Me- aprimoramento de um modelo resulta em iniciou-se o processo de elaboração dos
trô de São Paulo desenvolveu o novo benefício para o próximo, melhorando os modelos por meio de regressões lineares
modelo de demanda baseado na Pesquisa resultados finais e a qualidade das previ- múltiplas procurando relacionar as via-
Origem e Destino 2017. O arcabouço téc- sões de demanda. gens com as variáveis socioeconômicas
nico utilizado no desenvolvimento desse O presente artigo apresenta as melho- em cada cluster na RMSP. No total foram
trabalho foi o Modelo de 4 Etapas, que rias praticadas nos modelos de geração elaborados 13 clusters e 97 modelos de
se caracteriza por submodelos descritos do modelo 4 etapas desenvolvido pela geração de viagens.
a seguir. Companhia do Metropolitano a partir dos
A Etapa 1, denominada modelo de dados da Pesquisa Origem Destino de a.Segmentação espacial
geração de viagens é responsável pela 2017. A segmentação espacial da RMSP, foi
obtenção dos totais de v iagens produzi- elaborada subdividindo-se as 517 zonas
das e atraídas em cada zona OD ( f igura HETEROGENEIDADE DO ESPAÇO OD em grupos mais homogêneos de zo-
1 ) e seus resultados são apresentados E MODELOS DE GERAÇÃO nas, onde cada zona pertencente a um
na forma de vetores de uma matriz de Os modelos de geração têm a finalida- desses grupos se assemelha, por critérios
v iagens. de de representar as viagens que ocorrem de similaridade, àquelas de seu próprio
Na Etapa 2 procuram-se distribuir os nas zonas OD no Período de Pico Manhã grupo e, por outro lado difere, daquelas
vetores de produções e atrações obtidos a partir de suas relações com as variáveis zonas pertencentes aos outros grupos.
na primeira etapa, em todos os pares de socioeconômicas. A partir das projeções Esses grupos de zonas foram denomina-
origens e destinos ( figura 2 ), resultando dessas variáveis é possível aplicar os mo- dos como clusters espaciais.
em uma matriz de viagens corresponden- delos e fazer previsões em qualquer ano Os critérios de similaridade utilizados
tes a todos os pares de origens e destinos horizonte de projeto (BRUTON, 1975). na formação dos clusters são apresenta-
da área de estudo. A compreensão de que a mobilidade dos a seguir: (1) Espacialização dos em-
Na Etapa 3 e na Etapa 4 os modelos é um fenômeno com diversas dimensões pregos; (2) Continuidade geográfica: for-
de divisão modal e de alocação são res- sociais, econômicas e culturais, direcio- mação de clusters entre zonas adjacentes;
ponsáveis por representar respectivamen- na uma investigação mais aprofundada (3) Renda per capita; (4) Produções e
te as preferências modais entre modos in- no que se refere as localidades em que Atrações de viagens; (5) Modelos de ge-
dividuais e coletivos ( figura 3 ) e também se manifestam. Obser vando-se os da- ração de viagens validados por testes es-
os caminhos escolhidos na rede entre as dos da Pesquisa Origem Destino 2017, tatísticos dentro de cada um dos clusters.
origens e destinos ( figura 4 ) – ORTUZAR constata-se que as variáveis socioeco- No total foram elaborados 11 clusters
e WILLUMSEN, 2011. nômicas se relacionam com as v iagens espaciais descritos a seguir:
Os quatro submodelos apresentados de forma específ ica, a depender da lo- 1) Cluster Grande ABC: Todas as zonas
anteriormente são sequenciais, assim, o calização das zonas OD na RMSP. Por dos 7 municípios da região do Grande
resultado do modelo de geração é insu- exemplo, que as populações da periferia ABC, além de zonas limítrofes da zona sul
mo para o modelo de distribuição, cujos da Zona Sul e da Zona Leste, apresen- do município de São Paulo. Estas zonas
tam diferentes variáveis explicativas de
suas v iagens, apesar de apresentarem
características socioeconômicas seme-
lhantes.
A constatação da significativa hete-
rogeneidade espacial das relações entre
viagens e variáveis socioeconômicas foi
a motivação para elaborar novos mo- Figura 3 - Ilustração esquemática da etapa de
delos de geração que consideram a di- divisão modal (Fonte: os autores – adaptada
Figura 1 - Ilustração esquemática do modelo ferenciação espacial como componente de Meyer, Michael; Miller, Eric. – Urban
de geração de viagens (Fonte: os autores – determinante das viagens em cada zona Transportation Planning)
adaptada de Meyer, Michael; Miller, da RMSP.
Eric – Urban Transportation Planning)
METODOLOGIA
A elaboração dos novos modelos de
geração desenvolveu-se da seguinte for-
ma: Inicialmente foram obtidos os totais
obser vados de viagens produzidas e atra-
ídas em cada zona OD, em seguida foi
Figura 2 - Ilustração esquemática da etapa de realizada uma segmentação espacial por Figura 4 - Ilustração esquemática da etapa
distribuição de viagens (Fonte: os autores – meio de grupos homogêneos de zonas OD de alocação de viagens (Fonte: os autores
adaptada de Meyer, Michael; Miller, denominados clusters, e posteriormente – adaptada de Meyer, Michael; Miller, Eric. –
Eric – Urban Transportation Planning) procedeu-se uma segmentação por base Urban Transportation Planning)

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Figura 7 - Testes estatísticos para avaliar a qualidade dos modelos


de geração de viagens, modelo PBDT, cluster 1 (Fonte: Relatório
Consórcio TTC-FIPE – adaptado)

e uma menor produção de viagens. Simi-


Figura 5 - Mapa de clusters espaciais da RMSP (Fonte: autores / Relatório laridades: Continuidade geográfica.
TTC-FIPE) 11) Cluster Guarulhos: Zonas do municí-
pio de Guarulhos e uma zona limítrofe da
têm em comum o atendimento da linha baixa oferta de empregos. cidade de São Paulo. Similaridades: Con-
10 da CPTM e o atendimento do corredor 5) Cluster Zona Central: Região compre- tinuidade geográfica, produção e atração
metropolitano da EMTU, além de diversas endida majoritariamente entre os rios de viagens.
linhas circulando entre o Terminal Saco- Tietê e Pinheiros, formada pelo centro Na figura 5 são apresentadas as zonas
mã e o Grande ABC. Similaridades: Con- expandido e pelo centro financeiro da ci- OD de 2017 e seus correspondentes clus-
tinuidade geográfica, produção e atração dade de São Paulo. Possui também zonas ters espaciais da RMSP.
de viagens. das regiões norte, sul, leste e oeste, com
2) Cluster Alto Tietê: Zonas da porção destaque para a oferta de empregos e de b.Segmentação por base e motivos de
Leste da RMSP, englobando os municípios renda per capita mais elevada. Similarida- viagem
de Santa Isabel, Arujá, Itaquaquecetuba, des: Oferta de empregos, renda per capi- Além da segmentação espacial men-
Poá, Ferraz de Vasconcelos, Suzano, Mogi ta, produção e atração de viagens. cionada anteriormente, as viagens tam-
das Cruzes, Guararema, Biritiba-Mirim e 6) Cluster Zona Sul: Porção urbanizada bém foram segmentadas por seus motivos
Salesópolis. Similaridades: Continuidade Sul do município de São Paulo e áreas ur- (trabalho, estudo, outros) e por base do-
geográfica, baixa oferta de empregos. banizadas dos municípios de Taboão da miciliar e não domiciliar, resultando em
3) Cluster Zona Leste: Zonas Leste do Serra e Embu das Artes. Similaridades: oito tipos de modelos descritos a seguir:
município de São Paulo, com exclusão de Continuidade geográfica, renda per ca- (1) PBDT: produção base domiciliar mo-
zonas de alta renda e oferta de empregos, pita baixa. tivo trabalho;
além de extensão a duas zonas de Itaqua- 7) Cluster Borda Norte: Engloba muni- (2) PBDE: produção base domiciliar mo-
quecetuba. Similaridades: Baixa oferta de cípios ao norte da cidade de São Paulo, tivo estudo;
empregos, continuidade geográfica, bai- bem como zonas com baixa urbanização (3) PBDO: produção base domiciliar mo-
xa renda per capita, produção a atração da cidade de São Paulo. Estas zonas têm tivo outros;
de viagens. em comum, poucas áreas urbanas e uma (4) PBND: produção base não domiciliar;
4) Cluster Zona Norte: Zonas urbaniza- menor produção de viagens. Similarida- (5) ABDT: atração base domiciliar motivo
das da porção norte do município de São des: Continuidade geográfica. trabalho;
Paulo. Similaridades: Continuidade geo- 8) Cluster Zona Oeste: Engloba regiões (6) ABDE: atração base domiciliar motivo
gráfica, produção e atração de viagens, urbanizadas dos municípios a oeste da ci- estudo;
dade de São Paulo e a porção oeste desta. (7) ABDO: atração base domiciliar motivo
Esta região tem em comum o atendimen- outros;
to da Linha 8-Diamante da CPTM. Simila- (8) ABND: atração base não domiciliar.
ridades: Continuidade geográfica. Para o modelo de geração de viagens
9) Cluster Residencial de Alta Renda: Zo- foram consideradas as viagens motoriza-
nas caracterizadas pela alta renda e pela das correspondentes à maior concentra-
baixa oferta de empregos. Similaridades: ção de viagens com horário de chegada,
Baixa oferta de empregos. no período pico da manhã, entre 6h15 e
10) Cluster Borda Sudoeste: Engloba mu- 9h15.
nicípios ao sul e oeste da cidade de São
Paulo, bem como zonas com baixa urba- c.Modelos de Geração ( figura 6 )
Figura 6 - Padrão geral de um modelo de nização da cidade de São Paulo. Estas zo- Tradicionalmente a área de simulação
regressão linear múltipla (Fonte: autores) nas têm em comum, poucas áreas urbanas de demanda da Companhia do Metrô, nos

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estudos para um novo modelo de Gera-


ção de Viagens, avalia o uso de Modelos
de Regressão Múltipla e pelo menos uma
outra técnica para modelar a geração de
viagens.
Neste último ciclo que se iniciou após
a Pesquisa Origem Destino 2017, foram
avaliadas três técnicas distintas: (i) Mo-
delos de Regressão Linear Múltipla; (ii)
Modelos de Econometria Espacial; e (iii)
Técnicas de Machine Learning.
Nas três técnicas testadas, as variá-
veis adotadas foram obtidas da Pesqui- Figura 8 - Resultados dos modelos PBDT por clusters
sa Origem Destino 2017 e sua aplicação (Fonte: Relatório TTC-FIPE)
ocorreu sobre as segmentações espaciais
e de motivos de viagens destacadas ante-
riormente. Essas segmentações foram de-
terminantes nos resultados e na escolha
da técnica adotada para a elaboração dos
modelos de geração de viagens.
A econometria espacial é um con-
junto de técnicas estatísticas que pro-
cura avaliar as interações das unidades
econômicas no espaço. Foram estuda-
dos os modelos SAR ( Spatial Autore-
gressive Model), o SEM ( Spatial Error
Model) e o SLX (Modelo espacial com
defasagens espaciais nas variáveis ex-
Figura 9 - Resultados dos modelos PBDE por clusters
plicativas). Os ganhos de modelagem
(Fonte: Relatório TTC-FIPE)
dessas abordagens, quando comparados
com a Reg ressão Linear Múltipla não se
mostraram signif icativos. De tal forma
que, nesta comparação, o modelo de
Reg ressão Linear Múltipla apresentou
melhor desempenho.
As técnicas de Machine Learning são
aplicadas com sucesso em inúmeras áre-
as na atualidade e buscou-se avaliar os
possíveis benefícios de sua aplicação na
modelagem da geração de viagens. O seu
uso na modelagem de geração de viagens
é recente e não há muitos estudos pu-
blicados dentro desta linha de investiga-
ção. As técnicas avaliadas foram: ár vores Figura 10 - Resultados dos modelos ABDT por clusters
de decisão, f lorestas aleatórias, Support (Fonte: Relatório TTC-FIPE)
Vector Machine (SVM) e redes neurais ar-
tificiais. Também neste caso, os modelos
de Regressão Linear Múltipla apresenta-
ram desempenho superior aos modelos de
Machine Learning.
A técnica de Regressão Linear Múl-
tipla apresentou os melhores resultados
e estabilidade e, portanto, adotada na
elaboração dos modelos de geração de
viagens. Tais modelos consistem de variá-
veis explicativas x i e variáveis resposta y,
segundo o padrão apresentado na figura
6. As variáveis respostas correspondem
às viagens e as variáveis explicativas são Figura 11 - Resultados dos modelos ABDE por clusters
variáveis socioeconômicas e demográfi- (Fonte: Relatório TTC-FIPE)

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

cas obtidas da Pesquisa Origem Destino e.Determinação das


2017. Os coeficientes (bi)são determina- variáveis utilizadas nos
dos computacionalmente pelo método modelos
dos mínimos quadrados. Para a obtenção dos
modelos de geração de
d.Pressupostos estatísticos dos modelos viagens foram considera-
A técnica de Regressão Linear Múlti- das variáveis obtidas da Tabela 1 - Resultados dos modelos de produção por base e
pla possui vasta literatura de testes es- Pesquisa Origem Destino motivo (Fonte: autores)
tatísticos de avaliação dos modelos. Para 2017. No processo de in-
validar estes modelos é necessário avaliar vestigação de possíveis
os seguintes aspectos: modelos de produção de
Normalidade dos resíduos: os resíduos viagens foram testadas as
da regressão linear (diferença entre os variáveis: população to-
valores obser vados e os valores preditos) tal da zona, população da
devem apresentar uma distribuição apro- classe de renda A, popu-
ximadamente normal. lação da classe de renda Tabela 2 - Resultados dos modelos de atração por base e
Multicolinearidade: não devem existir B, população de classe de motivo (Fonte: autores)
elevadas correlações entre as variáveis renda C, população das
explicativas. classes de renda A e B, po-
Homocedasticidade: a variância dos resí- pulação classes de renda C,
duos é constante. Ou em outras palavras, D e E, população das clas-
não há correlação entre os resíduos e al- ses de renda D e E, popu-
guma variável explicativa. lação das classes de renda
Linearidade: a variável resposta e as va- CDE sobre população das
riáveis explicativas seguem uma forma classes de renda AB, em-
funcional linear. pregos, empregos do setor
Para testar a normalidade foram usa- secundário, empregos do Tabela 3 - Resultados do modelo de produção com clusters
dos os testes de hipótese de Shapiro-Wilk setor terciário, matrículas, (Fonte: Relatório TTC-FIPE)
ou Shapiro-Francia. Para testar a multico- matrículas ensino fun-
linearidade foi usado o critério de VIF ( Va- damental, matrículas em
riance Inflation Factor = fator de inflação creche, matrículas na rede
da variância). Para testar a homocedasti- particular, renda per capi-
cidade foram usados os testes de Breusch- ta e renda familiar.
-Pagan ou Cook-Weisberg. Finalmente, No processo de inves-
para testar a linearidade foi verificada a tigação de possíveis mode-
forma funcional. Foram estudadas, ain- los de atração de viagens
da, as observações candidatas a outliers. foram testadas as variá-
E também avaliado o leverage (alavanca- veis: população das classes Tabela 4 - Resultados do modelo de produção sem clusters
gem) para identificar observações com va- de renda CDE sobre popu- (Fonte: Relatório TTC-FIPE)
lores incomuns. Observações com elevada lação das classes de renda
alavancagem são mais influentes na esti- AB, empregos, empregos
mativa dos parâmetros do modelo. no setor secundário, em-
Foram testadas a signif icância das pregos no setor terciário,
variáveis explicativas e o poder expli- matrículas, matrículas no
cativo do modelo como um todo. A sig- ensino fundamental, ma-
nif icância das variáveis explicativas foi trículas no ensino médio,
testada com o teste t. Adicionalmente, matrículas em creches,
o poder explicativo do modelo foi tes- matrículas em instituição
Tabela 5 - Resultados do modelo de atração com clusters
tado com o teste F e foram analisados de ensino superior, matrí-
(Fonte: Consórcio TTC-FIPE)
também o R2 e o R2-ajustado. Em todos culas na rede pública, ma-
os testes foram adotados níveis de con- trículas na rede particular,
f iança de 95% . Finalmente, foi realiza- matrículas outras, renda
do também o teste RESET de omissão per capita. Além disso, em
de variáveis. alguns poucos modelos
Na f igura 7 é apresentado um exem- foram utilizadas variáveis
plo do conjunto de testes efetuado no dummy.
modelo Produção Base Domiciliar Tra- Foram construídos, no
balho para o Cluster 1. O software ado- total, 97 modelos de re-
tado para os testes estatísticos foi o gressão, assim distribuí- Tabela 6 - Resultados do modelo de atração sem clusters
STATA. dos: 14 modelos PBDT, 12 (Fonte: Consórcio TTC-FIPE)

118
118 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM
TRANSPORTE I ENGENHARIA

modelos ABDT, 14 modelos PBDE, 14 mo- MODELO COM CLUSTER X sua formulação, tanto do ponto de vista
delos ABDE, 13 modelos PBDO, 10 mode- MODELO SEM CLUSTER estatístico quanto de planejamento de
los ABDO, 11 modelos PBND e 9 modelos Uma última avaliação foi feita com- transportes; (v) permitir identificar va-
ABND. parando os modelos baseados em clus- riáveis que inf luenciam nas viagens em
Para cada um destes modelos foram ters espaciais com um modelo tradi- cada cluster possibilitando compreender
realizados os testes estatísticos acima cional, elaborado apenas com os dados as particularidades das relações entre
mencionados. disponíveis sem a consideração do es- viagens e dados socioeconômicos em
paço como elemento determinante das cada região da RMSP.
f.Resultados dos modelos v iagens.
Na sequência é apresentada uma análi- Na tabela 3 são apresentados os des-
se dos resultados obtidos com modelagem vios (dados modelados – obser vados) em
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
da geração de viagens utilizando-se a clus- módulo para o modelo de produção com [1] ANDY, F. - Descobrindo a Estatística
terização na RMSP. A clusterização permite clusters e na tabela 4 são apresentados Usando o SPSS. 2th. ed. [s.l.] Artmed Edito-
que os modelos atendam aos pressupostos os desvios em módulo para o modelo de ra Ltda., 2009.
requeridos para modelos de regressão li- produção sem clusters.
[2] BRUTON, M. - Introduction to trans-
near múltipla, facilitando o tratamento de Obser va-se que os resultados do
questões como a normalidade dos resíduos, modelo com clusters são mais aderentes
portation planning [s.l: s.n.].
heterocedasticidade e multicolinearidade e aos dados obser vados e melhor distri- [3] FÁVERO, L. P. ET AL. - Análise de
melhorando a acurácia dos modelos. buídos no espaço. Além disso, o resul- Dados - Modelagem Multivariada para
Na tabela 1 podemos obser var a tado geral aponta que o modelo com Tomada de Decisões. 10º ed. São Paulo: El-
comparação entre os valores obser vados clusters apresenta desv io total de apro- sevier Ltd., 2009.
e modelados pelo modelo com clusters, ximadamente 4,2% enquanto o modelo [4] MARÔCO, J. - Análise estatística com
separados pelos diferentes modelos de sem clusters apresenta um desv io de o SPSS Statistics. In: Análise e Gestão da
produção. Na tabela 2 vemos a mesma cerca de 7,4% . Informaçãoo [s.l: s.n.]. p. 990.
comparação, mas agora para modelos de Nas tabelas 5 e 6 são apresentadas [5] ORTUZAR, J. D.; WILLUMSEN, L. G.
atração. tabelas de análise de resultados dos - Modelling Transport. 4th. ed. [s.l.] John
Analisando-se os resultados ag rega- modelos de atração. O desv io geral do
Wiley and Sons, Ltd., 2011.
dos, os valores totais das v iagens mode- modelo de atração com clusters é de
ladas na RMSP são similares às v iagens cerca de 5,4% , enquanto que o desv io
obser vadas na Pesquisa Origem Destino geral do modelo sem clusters é signi- * Alexandre Frazão D’Andréa é engenheiro civil,
de 2017 e correspondem a diferenças de f icativamente maior, aproximadamen- mestre em engenharia de transportes e ocupa o cargo
aproximadamente 4,2% nas produções te 17,3% . Os modelos de atração com de Coordenador de Estudos de Demanda do Metrô-SP
e 5,4% nas atrações. Obser va-se que clusters também apresentam resultados E-mail: afrazao@metrosp.com.br
os melhores resultados dos modelos fo- em cada cluster signif icativamente me-
ram obtidos exatamente nos estratos de nores e mais homogêneos que o modelo ** Alexandre Makoto Koga é engenheiro civil,
v iagens por motivo trabalho e estudo sem clusters. ocupa o cargo de Engenheiro do Metrô-SP
e que correspondem a aproximadamen- E-mail: amkoga@metrosp.com.br
te 88% do total de v iagens da RMSP. CONCLUSÕES
As diferenças entre dados obser vados e Os modelos de geração baseados *** Ana Carolina Theodoro Dantas é
modelados são inferiores a 2,5% para em cluster s de zonas homogêneas fo- engenheira civil, MBA – Visão Integrada de
as v iagens PBDT e ABDT e inferiores a ram sensí veis à heterogeneidade es- Sistemas sobre Trilhos Urbanos na USP, ocupa
5,5% para as v iagens PBDE e ABDE. pac ial das relações ent re v iagens e o cargo de Engenheira do Metrô-SP
As demais viagens correspondem a mo- var iáveis ex plicat i vas, apresentando E-mail: carolina.theodoro@metrosp.com.br
tivos eletivos, como compras, saúde, lazer, maior estabilidade em todo o espaço
procurar emprego, assuntos pessoais ou re- da RMSP. **** José Alberto de Castro Rubira tem
feição aos segmentos de base domiciliar mo- Além disso, tais modelos respondem licenciatura plena e bacharelado em Física, ocupa o
tivo outros e base não domiciliar onde são melhor ao conjunto de testes estatísticos cargo de Analista de Transportes III do Metrô-SP
esperadas diferenças maiores entre dados ao qual foram submetidos, garantindo E-mail: rubira@metrosp.com.br
observados e modelados porque sua parti- maior confiabilidade estatística do que as
cipação no total de viagens corresponde a técnicas de machine learning e econome- ***** José de França Bueno é bacharel em
uma parcela pouco significativa do total de tria espacial. Matemática Aplicada, mestre em Matemática
viagens. A consideração do espaço como fa- Aplicada, doutor em Ciências da Engenharia,
Nas figuras 8, 9, 10 e 11 são apre- tor determinante na previsão de viagens ocupa o Cargo de Analista III do Metrô-SP
sentadas comparações entre os valores proporcionou ganhos significativos, tais E-mail: jose.bueno@metrosp.com.br
modelados por regressão linear clusteri- como: (i) melhor poder explicativo; (ii)
zada e os valores obser vados, desagrega- melhor distribuição dos desvios entre ****** Mário José Gil Telesi tem licenciatura
dos pelos clusters. Em todos os gráficos dados modelados e obser vados no es- em Matemática é especialista em Matemática
podemos obser var que não há diferenças paço; (iii) maior sensibilidade às alte- Pura e tem aperfeiçoamento em estatística e
significativas entre os valores obser vados rações dos dados socioeconômicos de ocupa o cargo de Analista II do Metrô-SP
e modelados. cada localidade; (iv) maior robustez em E-mail: mjgtelesi@metrosp.com.br

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

Vida útil e métodos diagnósticos


empregados nas estruturas do Metrô
LEANDRO MAKOTO KAWAKAMI* / MARCELO GABRIEL CAPACLA** /

A
NATALIA BRITO SILVA RODRIGUES*** / TATIANA DE CÁSSIA COUTINHO SILVA DA FONSECA****

INTRODUÇÃO Uma mesma estrutura pode ter 21 diferentes comportamentos,


s Obras de Arte Especiais (OAEs) da Companhia ou seja, diferentes funções de durabilidade no tempo, segun-
do Metropolitano de São Paulo (Metrô) são es- do suas diversas partes, até dependente da forma de utilizá-la.”
truturas essenciais à dinâmica diária da popula- Nota-se que a definição de durabilidade acaba por se relacionar
ção de São Paulo de modo que falhas e restrições a demais conceitos como os de vida útil e agressividade do meio
na operação tem impacto direto no conforto dos ambiente, ambos contemplados na NBR 6118 (2014).
passageiros com ref lexos inclusive na economia da cidade. Isso Conforme NBR 6118 (2014) a vida útil de projeto é “o perí-
torna fundamental que se minimizem grandes inter venções para odo de tempo durante o qual se mantêm as características das
reforma ou manutenção de suas estruturas civis. Ciente des- estruturas de concreto, sem inter venções significativas, desde
sa necessidade e em ressonância com as atuais preocupações que atendidos os requisitos de uso e manutenção prescritos pelo
com sustentabilidade ambiental, o Metrô investe em ações para projetista e pelo construtor, bem como de execução dos repa-
garantir a durabilidade das suas estruturas o que se traduz no ros necessários decorrentes de danos acidentais”. Ainda na NBR
rigor das suas especificações técnicas e no padrão de excelên- 6118 (2014) consta que a “agressividade do meio ambiente está
cia da manutenção. Prioriza-se a manutenção preventiva/ pre- relacionada às ações físicas e químicas que atuam sobre as estru-
ditiva com utilização de métodos diagnósticos não destrutivos. turas de concreto, independentemente das ações mecânicas, das
Destaca-se também o incentivo da empresa a realização de pes- variações volumétricas de origem térmica, da retração hidráulica
quisas relacionadas a durabilidade e sustentabilidade por meio e outras previstas no dimensionamento das estruturas”. A cita-
da disponibilização de dados e de suas instalações físicas. Neste da norma propõe metodologia prescritiva para atendimento das
artigo, são abordadas duas pesquisas cujo tema foi a avaliação exigências quanto à durabilidade pelo estabelecimento de rela-
da carbonatação em estruturas do metrô com enfoque na pre- ção água cimento, classe de resistência e cobrimento adequados
visibilidade da vida útil. É constatação comum desses estudos, em função da classe de agressividade ambiental, utilização ou
a importância do monitoramento das estruturas para direciona- não de protensão e classificação do elemento estrutura (laje,
mento de recursos de manutenção, confirmação de modelos teó- viga ou pilar).
ricos para vida útil e/ou identificação da necessidade de ajustes A vida útil de projeto das estruturas da Companhia do Me-
em parâmetros de projeto. tropolitano de São Paulo (Metrô) é definida atualmente por uma
Especificação Técnica interna (METRÔ, 2014) da empresa como
DURABILIDADE E VIDA ÚTIL 100 anos. Essa determinação coincide com a recomendação para
As linhas do Metrô que operam sobre trilhos são compostas edifícios monumentais, pontes e outras estruturas de engenharia
por via (em túneis ou elevados) e unidades construtivas como civil da EN 206-1 (2007) e, em ordem de grandeza, são coerentes
Estações, Acessos, Ventilações, Saídas de Emergência e Edifí- com a recomendação de 120 anos para obras de arte e edifícios
cios Técnicos. As estações são unidades acessíveis ao público públicos novos da BS 7543 (1992) apud Medeiros et al. (2011).
em geral onde ocorrem, principalmente, o ingresso/ egresso da Em Metrô (2014) há também recomendações quanto a cobrimen-
área paga e o embarque/ desembarque dos trens. Ventilações to mínimo (3,0cm), limites para consumo de cimento, fck míni-
são unidades não acessíveis ao público geral que abrigam equi- mo (30MPa para estruturas enterradas e 35MPa para estruturas
pamentos de ventilação cuja função é manter o conforto térmico elevadas) dentre outras com nível de exigência igual ou superior
nos túneis de via e garantir f luxo adequado de ar na ocorrência ao das normas técnicas nacionais vigentes. Sendo assim, as es-
de evento que gere fogo e/ou fumaça na via. Há predominância truturas recentes do Metrô ref letem o conteúdo desta Especi-
do concreto armado como solução estrutural nessas unidades ficação Técnica (METRÔ, 2014), porém o mesmo não se pode
sem revestimento, como acabamento padrão e com aplicação afirmar em relação àquelas construídas à época da implantação
de verniz antipichação em faces externas e internas de espa- deste modal. Como exemplo, citam-se as estações Vergueiro, da
ços acessíveis ao público geral. A durabilidade das estruturas Linha 1-Azul (construída nos anos 1970), e Estação Pedro II, da
do Metrô é, portanto, fortemente condicionada à durabilidade Linha 3-Vermelha (construída nos anos 1980), que foram proje-
do concreto armado e o principal agente agressivo a que estão tadas com concreto de fck igual a 15MPa e cobrimento de 2cm.
expostas é o CO 2 presente na atmosfera.
Medeiros et al (2011) definem a durabilidade no âmbito das PROCESSO DE CARBONATAÇÃO EM
estruturas de concreto armado como “o resultado da interação ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO
entre a estrutura de concreto, o ambiente e as condições de uso, Em relação ao desempenho mecânico, o sucesso do concreto ar-
de operação e de manutenção. Portanto não é uma propriedade mado se deve ao comportamento conjunto e complementar dos dois
inerente ou intrínseca à estrutura, à armadura ou ao concreto. materiais: concreto e aço, o primeiro resistindo a esforços de com-

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tresidual =ttotal- tatual ( Equação 4)

Há formulações que buscam estimar a vida útil de projeto de


forma numérica como a proposta por Possan (2010), obtida por meio
Figura 1 - Evolução da degradação do concreto armado em função da de modelagem empírica combinada a modelos físico-químicos que
corrosão: a) Penetração de agentes agressivos por difusão, absorção regem o fenômeno da carbonatação. Os dados de entrada para a
capilar ou permeabilidade; b) Fissuração devida as forças de expansão Equação 5 dependem basicamente do tipo de cimento, resistência do
dos produtos de corrosão; c) Destacamento do concreto e corrosão concreto, teor de adição, umidade do ambiente, teor de CO2 e condi-
acentuada; d) Destacamento acentuado e redução da seção da ção de exposição. Suas definições podem ser consultadas em Possan
armadura [adaptada de Isaia (2011)] (2010). A vantagem destas formulações é a possibilidade de emprego
para avaliação de vida útil ainda em fase de projeto.

pressão e o segundo, de tração. Também em relação à durabilidade, o 3


1
( )
Kfc t
comportamento conjunto é fundamental tendo o concreto, em fun-
( 20
) ( kad.ad
)+
2
y = kc . . 2 .exp
ção de sua alcalinidade, o papel de escudo protetor ao aço em relação fC 20 40+fc
a agentes agressivos que tendem a provocar a sua corrosão. Dentre 1
2
os agentes agressivos ao concreto armado, o principal é o CO2 e pro-
cesso de degradação provocado por ele é denominado carbonatação.
Ele ocorre inicialmente pela penetração do dióxido de carbono nos
( kco2 .co2 2
60+fc ) (
-
kur.(ur- 0,58)
100+fc ) .kce ( Equação 5)

poros e fissuras existentes na estrutura que reage, principalmente,


com o hidróxido de cálcio [Ca(OH) 2 ] existente na água presente no CAMPANHAS DE ENSAIO
concreto, formando o carbonato de cálcio (CaCO3 ), representada pela Neste artigo são descritas duas campanhas de ensaios para ava-
Equação 1. Dessa forma o pH do concreto é reduzido e se criam con- liação de estruturas metroviárias com enfoque na avaliação do avan-
dições para que a camada passivadora do aço seja deteriorada via- ço da frente de carbonatação. Serão aqui denominados Campanha
bilizando sua corrosão. A corrosão tem caráter expansivo e com sua 1, realizada em estruturas de ventilação e estações e Campanha 2,
evolução se desenvolvem fissuras, desagregação e destacamento do realizada em obra de arte de responsabilidade da Companhia do Me-
concreto no entorno das barras afetadas. A sequência de ilustrações tropolitano de São Paulo (Metrô), o viaduto Dante Delmanto.
na figura 1 resume o efeito da corrosão em uma estrutura. Para determinação da espessura de frente de carbonatação em cam-
po foram utilizados os seguintes procedimentos:
Ca(OH2 )+CO2 → CaCO3+H2O ( Equação 1) I.Definição da região de ensaio na estrutura, preferencialmente em
paredes e alturas diferentes, de acordo com as condições de acessi-
Tratando especificamente de degradação por carbonatação, bilidade locais;
a vida útil de projeto, a partir deste ponto do artigo, é entendida II.Limpeza superficial da área a ser ensaiada;
como o tempo em que a profundidade da frente de carbonatação III.Determinação da posição aproximada das armaduras com a utili-
se iguala ao cobrimento existente. A espessura da frente de car- zação do pacômetro;
bonatação pode ser determinada de forma experimental através de IV.Remoção superficial do concreto nos pontos definidos na etapa ante-
método colorimétrico pela da aspersão de um indicador de pH sobre rior ultrapassando a profundidade do cobrimento de projeto, preferen-
a superfície do concreto. As regiões com pH acima de 9 adquirem cialmente expondo a armadura local. Esse processo pode ser realizado
uma coloração característica e as regiões já carbonatadas não tem manualmente com uso de ponteira e marreta ou martelete de impacto;
alteração de cor. A espessura carbonatada pode ser medida com uso V.Imediatamente após a remoção de concreto atingir a profundidade
de régua ou paquímetro. desejada, a superfície de corte deve ser limpa utilizando pincel;
Conhecida a espessura de carbonatação e a idade da estrutura é VI.Asperção de solução de fenolftaleína (1g de fenolftaleína, 50ml de
possível utilizar a Equação 2 de Tuutti (1982) para determinação do álcool 92%, 50ml de água destilada) sobre a região, formando um
fator k, que é um indicador do potencial de degradação da estrutura. filme contínuo;
VII.Após dez minutos da aplicação realizava-se medição da profun-
ec =kCO2.√t ( Equação 2) didade da frente de carbonatação com paquímetro e régua metálica
para fixação de referência.
ec - espessura carbonatada em milímetros;
CAMPANHA 1 –
kCO2 - coeficiente dependente da difusividade efetiva do CO2 através CARBONATAÇÃO NO CONCRETO DE
do concreto (coeficiente de carbonatação); ESTRUTURAS DE VENTILAÇÃO E ESTAÇÕES
A Campanha 1 foi realizada nas estruturas de ventilação das Li-
tatual - idade atual da estrutura em anos ou meses. nha 1-Azul e Linha 2-Verde e em estação da Linha 3-Vermelha. Foram
realizados ensaios para determinar as diversas espessuras da frente
Tendo sido determinado o fator kCO2 , como descrito anterior- de carbonatação em estruturas com diferentes idades de construção.
mente, e a espessura do cobrimento (e) é possível determinar o a vida A definição das regiões dentro das estações e ventilações em que
útil residual da estrutura, conforme Equações 3 e 4: foram realizados os ensaios ficou a cargo da área de manutenção do
Metrô, em função da facilidade de acesso e a não interferência com a

( ke ) operação. Também foi considerada a agressividade do ambiente, que


2
ttotal = ( Equação 3)
CO2 deveria ser representativa do restante da estrutura.

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Figura 3 - Planta nível térreo da estrutura de Figura 4 - Planta patamar superior da estrutura
ventilação de ventilação

Ventilação e Saída de Emergência (VSE) Carlos Petit, localizada entre


as estações Ana Rosa e Chácara Klabin da Linha 2-Verde. A figura 6
Figura 2 - Vista externa da estrutura de
apresenta uma vista geral externa desta estrutura.
ventilação
Os dados obtidos nos projetos indicam que a estrutura foi cons-
truída no ano de 2005, com concreto especificado para fck de 30MPa
Linha 1-Azul – Ventilação da Estação Ana Rosa e cobrimento de armadura de 3cm.
Os ensaios foram realizados na região interna em estrutura de Nesta estrutura foram ensaiados cinco pontos em três níveis di-
ventilação da Estação Ana Rosa. A figura 2 apresenta uma vista geral ferentes, na região da caixa de escada, conforme figuras 7 e 8.
externa da estrutura onde foram realizados os ensaios. Os ensaios foram realizados seguindo os procedimentos já des-
Conforme pesquisa prévia realizada, as estruturas foram proje- critos e o corte do concreto foi feito através de martelete de impacto.
tadas e construídas entre os anos de 1973 e 1974. As especificações A figura 9 mostra a disposição dos pontos de ensaios 2-4 e 2-5, com
de concreto da época indicam um fck de 15MPa e cobrimento da a solução de fenolftaleína já aplicada.
armadura de 2cm.
Nesta estrutura foram ensaiados quatro pontos, em dois níveis Linha 3-Vermelha – Estação Pedro II
diferentes, conforme croquis apresentados nas figuras 3 e 4. O Ensaio de Campo 3 foi realizado na estrutura enterrada e
Os pontos 1-1 e 1-2 foram realizadas no nível térreo, junto à inacabada da Estação Pedro II (Figura 10). A estruturas foram
porta de acesso. Já os pontos 1-3 e 1-4 foram realizados no patamar projetadas e construídas entre os anos de 1979 e 1980, com con-
superior da estrutura, próximo às aberturas de ventilação. creto especificado para fck de 15 MPa e cobrimento de armadura
Todos os ensaios foram realizados conforme os procedimentos já de 2 cm.
apresentados na introdução deste item. Nesta estrutura o corte do Para a realização dos quatro pontos de ensaio foi selecionada
concreto foi feito de forma manual. uma parede junto à plataforma, conforme as figuras 11 e 12.
As imagens da figura 5 mostram o processo de detecção da po- A sequência executiva para a realização dos ensaios foi a mesma
sição das armaduras e medição da profundidade de carbonatação aplicada nas demais estruturas, sendo o corte do concreto realizado
nos pontos ensaiados, após a aplicação da solução de fenolftaleína. através de martelete de impacto.
Nas imagens da figura 13 são observados os pontos de ensaio 3-3
Linha 2-Verde – Ventilação e Saída de Emergência Carlos Petit e 3-4, após a aplicação da solução de fenolftaleína e a medição da
Os ensaios foram realizados na região interna da estrutura de profundidade de carbonatação.

Figura 5 - Detecção das armaduras com pacômetro Bosch D-tect 150 (esquerda) e medição da Figura 6 - Vista externa do VSE Carlos Petit
profundidade de carbonatação com paquímetro e régua de aço (direita)

122 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


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que a frente de carbonatação atinja a armação.


Observa-se que realizando este cálculo considerando o cobri-
mento de projeto, as estruturas ensaiadas da Linha 1-Azul e Linha
2-Verde estariam atendendo ao requisito de vida útil que cons-
ta atualmente da especificação técnica do Metrô (METRÔ, 2014)
que é de 100 anos, porém a Estação Pedro II (Linha 3-Vermelha)
não atende a este requisito. Se considerarmos nesta estrutura o
valor médio de cobrimento estimado com o uso do pacômetro
(31mm) a vida útil residual desta estrutura seria de 67,3 anos,
atendendo à especificação vigente atualmente em relação à vida
útil. Entendemos ser essa uma estimativa mais razoável já que
Figura 7 - Planta do nível térreo em todos os pontos ensaiados a remoção de concreto ultrapassou
31mm sem que tivéssemos alcançado a armação. Além disso a
exigência de 100 anos de vida útil é atual, não sendo vigente na
época da construção da estrutura e a manutenção das estruturas
civis do Metrô são alvo de inspeções e intervenções periódicas.

ENSAIO LABORATORIAL
Foi realizado ensaio de carbonatação acelerada em corpos de
prova obtidos da obra de expansão da Linha 4-Amarela. Ambos
possuíam dimensões de 15cm x 30cm, moldados com concreto
de fck de 35MPa e foram referenciados como CP-C, de controle,
e CP-V, com aplicação superficial de verniz antipichação.
Figura 8 - Planta patamar inferior Ambos foram colocados na câmara de carbonatação do La-
boratório de Cimento da ABCP em ambiente controlado, com
RESULTADOS temperatura de 23±2°C, umidade de 65±5% e teor de CO2 de
Na tabela 1 são apresentados os valores médios da espessura car- 5±1% durante um período de 8 semanas.
bonatada (ec) e do coeficiente de carbonatação (kCO2 ) obtidos nos Após este período os CP’s foram retirados da câmara e
ensaios realizados. Também são apresentados valores estimados de cortados na região central por serra circular. Na sequência
vida útil residual, aqui considerado como o tempo necessário para pulverizou-se solução de fenolftaleína e foram realizadas as
medições da profundidade de carbonata-
ção. Nas imagens da figura 14 são apre-
sentadas as seções dos corpos de prova
CP-C e CP-V.
Na tabela 2 são apresentados os resul-
tados das medições realizadas. É possível
obser var que a aplicação do verniz impe-
diu a formação e o avanço da frente de
carbonatação.
Para estimativa da vida útil do concreto
destes corpos de prova foi utilizada a pro-
fundidade média aferida no corpo de prova
CP-C (16mm) e determinadas as condições
Figura 9 - Pontos ensaiados no patamar Figura 10 - Vista geral da estação enterrada de exposição ambientais (umidade e teor
inferior Pedro II de CO2), aplicando estes dados na planilha
“SimulaCarb” desenvolvida pela professo-
ra Edna Possan, com base na formulação
Tabela 1 - Cálculo de coeficiente kCO2 e estimativa de vida útil residual apresentada na Equação 5. Como resultado
estimamos que seriam necessários 32 anos
Vida útil para que a profundidade de carbonatação
Idade fck ec Cobrimento de
kCO2 residual atingisse os 16mm e mais 151 anos para
(anos) (MPa) (mm) projeto (mm)
(anos) que se igualasse ao cobrimento de projeto
de 35mm, atendendo assim à especificação
Linha 1-Azul 46 15 7,6 1,1 20,0 276,8 de vida útil de 100 anos.
Linha 2-Verde 16 30 10,5 2,6 30,0 115,2
CAMPANHA 2 – CARBONATAÇÃO
Linha 3-Vermelha 41 15 19,1 3,0 20,0 4,1 (67,3)* NO CONCRETO DO VIADUTO
DANTE DELMANTO
* Valor calculado considerando cobrimento estimado por O viaduto Dante Delmanto (figura 15) é
pacômetro, diferentemente dos demais de responsabilidade da Companhia do Me-

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Tabela 2 - Profundidades de carbonatação medidas tropolitano de São Paulo (Metrô), apoiando


a Av. Dr. Hugo Beolchi sobre a Avenida dos
CORPO DE Profundidade de Carbonatação (mm) Média Bandeirantes na cidade de São Paulo e in-
terligando as estações São Judas e Saúde
PROVA Medição 1 Medição 2 Medição 3 Medição 4 (mm)
da Linha 1-Azul do Metrô.
A obra de arte em questão apresenta
CP-C 14,0 16,0 18,0 16,0 16,0
215 metros de extensão, sendo composto
CP-V 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 por um duplo tabuleiro, com tráfego de
automóveis na parte superior e metrovi-
ário na inferior e suportado por 6 pilares
Tabela 3 - Ensaio de frente de carbonatação locados na Avenida dos Bandeirantes, con-
forme a figura 16.
Ponto Elemento Localização ec Cobrimento (cm) Juntamente com as estações, o via-
(cm)
duto foi inaugurado em 14 de setembro
Mureta de Face voltada à Av. Dr. de 1974, correspondendo a uma vida útil
01 1,6 1,6 atual de 44 anos. Quanto às especificações
pedestres Hugo Beolchi
de projeto, foram adotados o cobrimento
Mureta de Face voltada à Av. Dr. mínimo de 2cm e resistência do concreto
02 4,0 4,0 à compressão após 28 dias de 22,5MPa.
pedestres Hugo Beolchi
Cita-se também o tratamento superficial
Mureta de Face voltada à Av. Dr. com verniz antipichação em toda a super-
03 3,4 3,4
pedestres Hugo Beolchi fície do concreto aparente, porém não há
dados de sua reaplicação ao longo de sua
04 Fachada externa Talude 1,4 1,4 vida útil.
Foram realizados um total de 16 pontos
05 Fachada externa Talude 2,3 2,3 de amostragem sendo:
06 Fachada externa Talude 2,0 2,0 3 na mureta de pedestres;
3 na fachada externa na face oeste;
Parede saída de Saída de emergência 2 na parede de compartimentação das saídas
07 1,5 3,1 de emergência do tabuleiro metroviário no
emergência – acesso externo
sentido da Estação Conceição;
Parede saída de Saída de 2 na parede de compartimentação das saídas
08 emergência – 3,0 3,0 de emergência do tabuleiro metroviário no
emergência acesso externo sentido da Estação São Judas;
5 nos pilares; e
Parede saída de Saída de 1 na viga abaixo do tabuleiro rodoviário.
09 emergência – 2,8 2,8 Os dados coletados estão apresentados
emergência acesso ao trilho na tabela 3.
Utilizando os dados da tabela an-
Parede saída de Saída de
terior e aplicando a Equação (2) para
10 emergência – 2,6 3,9
emergência acesso externo
o tempo de exposição de 44 anos, de-
termina-se o coef iciente de carbonata-
Face voltada à linha ção k CO 2 e, por meio das equações (3)
11 Pilar P2 superior 1,2 2,2 e (4), obtêm-se a v ida útil e a v ida útil
do Metrô
residual da estrutura, respectivamen-
Semi-abrigada por te. Assim, para os pontos coletados, a
12 Pilar P2 base 1,4 2,0*
alvenaria v ida útil residual de cada elemento está
apresentada na tabela 4.
Face voltada à Av. Obser va-se que todos os pontos en-
13 Pilar P5 quina 1,1 1,5
dos Bandeirantes saiados da mureta e fachada externa
Face voltada à Av. estão com o cobrimento carbonatado e
14 Pilar P4 Trilho 1,0 2,0* com armação já em fase avançada de
dos Bandeirantes
propagação, fazendo-se desnecessário
Abrigado na o cálculo do coef iciente de carbonata-
região da saída ção e análise de v ida útil residual, uma
15 Pilar P5 interno 1,4 3,5 vez que estes elementos já se encontram
de emergência –
acesso externo com “vida útil f inalizada”, de acordo
com o modelo de previsão adotado, ca-
16 Viga V13 Interna ao tabuleiro 1,6 2,0* recendo de inter venção corretiva obv ia-
mente.

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Tabela 4 - Previsão da vida útil residual

t tresidual
Ponto Elemento ec (mm) Cobrimento (mm) kCO2
(anos) (anos)

Paredes

07 Parede interna 15,0 31,0 2,261 188 144


Parede saída de
08 30,0 30,0 4,523 44 0
emergência externa

Parede saída de
09 28,0 28,0 4,221 44 0
emergência interna

Parede saída de
10 26,0 39,0 3,920 99 55
emergência interna

Pilares

11 Pilar P2 superior 12,0 22,0 1,809 148 104


12 Pilar P2 base 14,0 20,0 2,111 90 46
13 Pilar P5 quina 11,0 15,0 1,658 82 38
14 Pilar P4 10,0 20,0 1,508 176 132
15 Pilar P5 interno 14,0 35,0 2,111 275 231

Vigas

16 Viga V13 16,0 20,0 2,412 69 25

Figura 13 - Pontos de ensaio 3-3 e 3-4

Figura 11 - Croqui de localização


dos ensaios realizados

Figura 12 - Planta ampliada da parede Figura 14 - Seções dos corpos de prova CP-C e CP-V após aplicação da
onde foram realizados os ensaios solução de fenolftaleína

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Figura 15 - Viaduto Dante Delmanto sobre a Figura 16 - Corte transversal esquemático do viaduto
Avenida dos Bandeirantes

CONCLUSÃO
Em ambas as investigações apresentadas fica evidente o REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
potencial para emprego da avaliação da carbonatação como [1] ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. - NBR 6118
método para estimativa da vida útil e como parâmetro para o – Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
direcionamento dos recursos e ações para atingimento da dura- [2] BRITISH STANDARDS INSTITUTION. - Durability of Buildings and Buil-
ding Elements, Products and Components. BS 7543. Londres, 1992.
bilidade compatível com a magnitude das estruturas do Metrô.
[3] ISAIA, G. C. - Concreto: Ciência e Tecnologia. 1ª ed. São Paulo: Ibracon,
Out ro ponto comum aos dois estudos é a g rande var ia-
2011.
bilidade das espessuras de cobr imento e do valor do fator k, [4] MEDEIROS, MARCELO H. F.; ANDRADE, JAIRO JOSÉ O.; HELENE, PAU-
inclusive em pontos diferentes de uma mesma est r utura. Isso LO. - Concreto: Ciência e Tecnologia. Capitulo 22: Durabilidade e vida útil
tor na impr udente que se for mulem conclusões que possam das estruturas de concreto. São Paulo: IBRACON, 2011.
ser generalizadas baseadas em poucos dados. É f undamen- [5] METRÔ. - Especificação Técnica para Concreto Convencional Armado
tal que prog ramas de ensaios para avaliação do potencial ou Protendido. Documento interno: São Paulo, 2014.
de deter ioração por carbonatação tenham como ponto de [6] NP-NORMA PORTUGUESA. - EN 206-1 Betão Parte 1: Especificação,
partida a def inição da quantidade e do posicionamento dos desempenho, produção e conformidade. Portugal, 2007.
pontos de ensaio. Cont r ibui para a var iação de parâmet ros / [7] POSSAN, EDNA. - Modelagem da carbonatação e previsão de vida
útil de estruturas de concreto em ambiente urbano. Tese de Doutorado.
resultados o fato de os ensaios terem sido realizados em es-
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2010.
t r uturas const r uídas em diferentes per íodos e, consequente-
[8] TUUTTI, K. - Corrosion of Steel in Concrete. Stokholm, 1982.
mente, diferentes valores mínimos de cobr imento de projeto,
diferentes estág ios de desenvolv imento da tecnolog ia dos
mater iais, disponibilidade de mater iais etc. Apesar disso, a
maior ia dos elementos em estudo estão em bom estado de
conser vação e atendem a uma v ida útil total de 100 anos ou
próximo a este valor. * Leandro Makoto Kawakami é engenheiro civil, especialista em Gestão
Uma das soluções apresentadas para retardar esse avanço de Projetos de Sistemas Estruturais – Edificações, atualmente é engenheiro
do CO2 no concreto é o uso de proteção superf icial, criando na área de Engenharia de Projetos da Linha 4-Amarela, Metrô-SP
uma barreira que impede ou minimiza o ing resso de agentes E-mail: lmkawakami@metrosp.com.br
externos. Pelo ensaio laboratorial de carbonatação, verif icou-
-se que a camada de verniz antipichação adotada pelo Metrô ** Marcelo Gabriel Capacla é engenheiro civil, especialista
também tem a função de proteger a estrutura de concreto em patologia na construção civil, atualmente é engenheiro
contra o ataque da f rente de carbonatação e, em um ambiente na área de Engenharia de Estruturas do Metrô-SP
controlado, essa camada protetora continua integ ra contra E-mail: mgcapacla@metrosp.com.br
esse meio de deg radação, porém sua ef iciência em campo não
pôde ser conf irmada. De qualquer modo, é um achado po- *** Natalia Brito Silva Rodrigues é engenheira civil, especialista em patologia
sitivo que o acabamento já empregado tenha esse potencial na construção civil, cursando Gestão de Negócios, atualmente é engenheira na
protetor o que pode ser explorado prioritariamente quando a área de Engenharia de Manutenção de Estruturas e Sistemas Civis do Metrô-SP
estrutura já apresenta alguma def iciência de cobrimento ou E-mail: nbsrodrigues@metrosp.com.br
quando se deseja f rear o processo de carbonatação uma vez
que o verniz demanda manutenção e reaplicação em tempo **** Tatiana de Cássia Coutinho Silva da Fonseca é engenheira
relativamente curto (em torno de 5 anos). Na fase de projeto, civil, mestre e doutora em Engenharia de Estruturas, especialista
devem ser obser vadas as prescrições normativas quanto à es- em patologia na construção civil, atualmente é engenheira
pessura adequada do cobrimento haja v ista sua efetiv idade na especializada na área de Engenharia de Estruturas do Metrô-SP
contribuição para obtenção de estruturas duráveis. E-mail: tatiana.fonseca@metrosp.com.br

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Desafios e lições aprendidas na


adequação das estruturas civis da
via do monotrilho - Linha 15-Prata

A
RODOLFO SZMIDKE* / TATIANA DE CÁSSIA COUTINHO SILVA DA FONSECA**

INTRODUÇÃO e quatro vigas com vão típico de 30 me- mento da via e desvios dimensionais. Em
Linha 15-Prata é uma das tros. As vigas são pré-moldadas e posicio- todos os casos, as atividades diagnósticas
quatro linhas da Companhia nadas sobre os pilares em condição inicial e corretivas lidam com desafios adicio-
do Metropolitano de São isostática e posteriormente solidarizadas nais pelo tempo exíguo disponível ( janela
Paulo (Metrô) atualmente entre si e aos pilares pela concretagem das noturna de 3 horas), restrições quanto a
em operação sendo a única seções entre elas e protensão final. Os mó- modificações das seções originais, e difi-
cujo modal é o monotrilho. Ela foi con- dulos são separados por juntas em que são culdade de acesso às regiões afetadas. O
cebida em 2009 e inaugurada em 2014, instalados dispositivos para promover con- enfretamento destas questões conduziu a
contando na época com 2,9 quilômetros, forto na passagem dos carros e minimizar muitas lições aprendidas e ao aprimora-
duas estações (Vila Prudente e Oratório) e deslocamentos relativos entre os módulos mento técnico das equipes do metrô que
um pátio de serviço e manutenção. Atual- que são os finger plates e pivôs de trava- se capacitaram, inclusive, para contribuir
mente são 11 estações em operação e sua mento ilustrados na figura 2. em diretrizes internacionais relacionadas
extensão é de 14,8 quilômetros aproxima- Ao longo da implantação e operação a monotrilhos. As manifestações patológi-
damente. Três outras estações e um pátio da linha 15-Prata do monotrilho algumas cas são abordadas neste artigo com foco
têm inauguração prevista para os próxi- manifestações patológicas ocorreram na em suas causas, impactos, tratamentos e
mos dois anos conforme figura 1. A des- via demandando alinhamento entre Metrô melhorias com intuito de compartilhar o
peito do curto histórico de operação em e contratada em ações para diagnóstico e conhecimento adquirido e evidenciar o
relação aos demais modais que compõem a tratamento delas. Parte das manifestações comprometimento do Metrô com a segu-
malha do Metrô, o monotrilho conquistou patológicas observadas são característi- rança e conforto dos usuários.
a confiança e satisfação dos passageiros cas de estruturas de concreto armado ou
tanto que em 2020 e 2021 atingiu o maior protendido como bolhas, fissuras e des- BOLHAS
índice de aceitação dentre as linhas opera- tacamentos; outras são específicas ou se As bolhas são manifestações patológi-
das pela companhia. tornam críticas em virtude de requisitos cas superficiais do concreto que ocorrem
O monotrilho tem estrutura elevada operacionais do sistema como deficiência devido ao aprisionamento de ar no con-
formada, usualmente, por módulos com de desempenho dos finger plates, descon- creto fresco durante o processo da con-
comprimento de 120 metros, cinco pilares forto por desalinhamento ou desnivela- cretagem. O prejuízo estético é o impacto

Figura 1 - Trecho operacional e em planejamento da Linha 15-Prata

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ultrapassar esses limites”. As estruturas


do monotrilho apresentaram vários tipos
de fissuras que foram observados ao lon-
go da superfície das vigas-guia e seções
de fechamento com direções e aberturas
variadas. Para avaliar os tratamentos ne-
cessários nessas fissuras, foi elaborado um
estudo que resultou em um laudo técnico
(RT-15.00.00.00/6J2-501), onde as fissu-
ras foram classificadas. A figura 4 ilustra
as fissuras típicas em vigas guias.
As ações a serem tomadas foram ba-
seadas na abertura das fissuras; aquelas
inferiores a 0,2mm são consideradas aber-
turas pequenas, não necessitando de tra-
tamento, aberturas entre 0,2mm e 0,6mm
são tratadas com aplicação de acetato de
cálcio e impermeabilização líquida à base
Figura 2 - Foto de trecho da Linha 15-Prata implantado com destaque para elementos que de silicatos e resinas que corrigem por
compõem sua estrutura efeito de cristalização, e aberturas acima
de 0,6mm são tratadas pela injeção de re-
negativo mais óbvio relacionado a esta operação ou mesmo ainda na fábrica, nos sina epóxi.
manifestação patológica. Contudo, depen- casos da vigas-guia. Isso torna o processo Para a aplicação de acetato de cálcio
dendo da quantidade, posicionamento e de reparo muito mais fácil por não haver e impermeabilização ao longo da via ope-
dimensão das bolhas, pode haver redução restrições de horário nem a dificuldade de racional, foram utilizadas duas estruturas
do cobrimento da armadura e consequente se trabalhar em elevação. na via onde a primeira estrutura continha
diminuição da durabilidade além de maior tambores com acetato de cálcio, para lim-
desgaste dos pneus. FISSURAS peza e abertura dos poros do concreto, e
Na figura 3, há o registro de um tre- Muitas das estruturas de concreto con- em seguida a segunda era utilizada para
cho de viga guia com ocorrência de bolhas vivem com fissuras ainda que na maior par- aplicação do agente de impermeabilização
antes e após passagem do material rodan- te dos casos sejam observadas prescrições líquido. Devido à dificuldade de mape-
te. Observa-se que na condição inicial há normativas e boas práticas de execução. A amento de todas as fissuras ao longo do
bolhas aparentes em menor quantidade e imprecisão nas estimativas de abertura de trecho de 29,6km de vias (2 pistas com
dimensão, porém na faixa de rolamento, fissuras é apontada, por exemplo na NBR 14,8km), a aplicação foi realizada em toda
a passagem da composição faz com que 6118 (2014) em relação aos valores limites a superfície superior e lateral da via per-
novas bolhas sejam reveladas ou que as da abertura característica wk “... devido manente, com o cuidado de proteger os
previamente detectáveis sejam alargadas. ao estágio atual dos conhecimentos e da componentes isolantes do terceiro e quar-
O procedimento de reparo consiste na alta variabilidade das grandezas envolvi- to trilho, tendo em vista o risco de perda
escarificação das bolhas, limpeza e apli- das, esses limites devem ser vistos apenas de isolação e ocorrência de arco elétrico.
cação de argamassa de reparo polimérica. como critérios para um projeto adequa- Para a execução das injeções, foi ne-
É importante que após a aplicação da ar- do de estruturas. Embora as estimativas cessário verificar o melhor posicionamento
gamassa seja efetuado procedimento de de abertura de fissuras devam respeitar dos bicos injetores evitando interferências
cura do reparo (úmida ou química), para esses limites, não se deve esperar que as com as faixas de rolamento dos pneus.
evitar fissuras na argamassa e surgimento aberturas de fissuras reais correspondam No processo de fabricação das novas
de uma nova manifestação patológica. Foi estritamente aos valores estimados, isto vigas-guia, estão sendo realizadas inspe-
definido em procedimento de execução de é, fissuras reais podem eventualmente ções para identificação de fissuras nas vi-
serviço que sejam tratadas todas as bolhas
com diâmetro maior que 12,7mm presen-
tes nas faixas de rolamento, ou superiores
a 37,5mm nas demais regiões.
Para minimizar essas ocorrências, se
implementou um maior controle na vibra-
ção do concreto, tanto para as vigas-guia
como seções de fechamento. Além disso,
após a desforma dos elementos de concre-
to, é feita inspeção da superfície com a
realização de percussão ao longo de toda
a região da faixa de rolamento a fim de
revelar bolhas ocultas que assim podem Figura 3 - Bolhas superficiais em trecho da viga guia; antes da passagem de trens (a
ser preenchidas anteriormente ao início da esquerda) e após a passagem de trens (a direita)

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Figura 4 - Representação das fissuras tipicamente identificadas nas vigas guia

gas estocadas, após a primeira pré-tensão controle, como uso de gelo no concreto, As alças de içamento são dispositivos
com as vigas ainda em fábrica, e após aplicação de água gelada pelas bainhas compostos por cabos de aço posicionadas
o fechamento e a protensão do módulo durante a cura do concreto, controles de no topo das vigas-guia, concretadas junto
para obtenção de dados para melhor en- exposição das vigas concretadas ao sol, a elas e utilizadas para a remoção das vi-
tendimento as causas desta manifestação entre outros. gas-guia das formas. Após essa operação,
patológica. os cabos são retirados e é feito preenchi-
Outra medida adotada, foi a verifica- DESTACAMENTOS mento dos nichos que restam na superfície
ção da temperatura do concreto durante Os desprendimentos de concreto ob- do topo das vigas-guia.
sua hidratação, pois altas temperaturas servados na via permanente da Linha No primeiro lote de vigas-guia, as al-
(acima de 70°C) podem favorecer a ocor- 15-Prata surgiram basicamente em duas ças de içamento foram localizadas em duas
rência de fissuração por etringita tardia. situações: desprendimentos nos cantos da linhas ao longo da superfície superior das
Assim, antes da concretagem das vigas, viga guia durante os processos de movi- vigas-guia, e os reparos das alças foram
foram instalados termopares para medir a mentação das peças na fábrica de vigas e/ realizados com a aplicação de argamassa
temperatura do concreto durante sua hi- ou no seu posicionamento sobre os pilares, cimentícia. Com a passagem dos trens, os
dratação para avaliar a possível necessida- e destacamentos verificados com o início reparos começaram a destacar suscitando
de de medidas de controle de temperatura da passagem, principalmente nas regiões a necessidade de novos reparos.
(figura 5). das alças de içamento e cantos de concreto Considerando que as linhas do Metrô
Resultados preliminares mostraram na junção com os finger plates. de São Paulo operam todos os dias da
que a temperatura de hidratação do con- Para evitar destacamentos nas opera- semana das 4h40 às 00h30 e o intervalo
creto atingiu valores acima de 65°C em al- ções de movimentação das vigas guia, um para desenergização/ energização da via,
guns termopares para tempos entre 2h e monitoramento especial tem sido realiza- há um tempo disponível para atuação de
8h. Com a previsão da execução de novas do nestas atividades, porém devido aos aproximadamente 3 horas. Este deve-
vigas-guia para os trechos Jardim Colonial esforços a que as peças são submetidas ria ser suficiente para realizar a quebra
– Jacú-Pêssego e Ipiranga – Vila Prudente, ao serem retiradas das formas e/ou içadas, do material com desempenho deficien-
os estudos de temperatura devem conti- esse tipo de problema dificilmente pode te, escarificação da superfície, limpeza,
nuar e subsidiar a escolha de medidas de ser evitado. aplicação de ponte de adesão e aplicação

Figura 5 - Leitura da temperatura em Figura 6 - Posição modificada da alça de içamento, a esquerda e região reparada após
concreto da viga guia remoção da alça, a direita

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do novo material de reparo. Isso des- elementos concretados, avaliação da qua- circular), se localizado na região de fecha-
cartou a possibilidade de uso da arga- lidade das formas das vigas guias e das se- mento entre vigas-guia.
massa cimentícia que não seria capaz ções de fechamento, bem como a criação Quando a largura é superior ao aceitá-
de atingir resistência satisfatória para de uma aferição qualitativa da produção. vel, prevê-se o desbaste na superfície do
resistir à passagem do material rodante. concreto por meio de lixamento. Para me-
Assim, foram realizados ensaios para LARGURA didas menores que o limite inferior, é feita
escolha de produtos que atendessem às A via permanente da Linha 15-Pra- uma avaliação com participação do forne-
seguintes características: curto tempo de ta foi projetada com largura de 690mm cedor do material rodante para definição
cura, alta resistência inicial à compres- com tolerância dimensional de ±3mm. das ações necessárias, o que não resultou
são, resistência ao arrancamento e que Para verificar esta medida, foi elaborado em execução de reparo até o momento.
permitissem a execução do acabamento um dispositivo metálico composto por
superficial ranhurado especificado pelo três ramos. Trenas a laser são fixadas em NIVELAMENTO
fornecedor dos trens. Os materiais epó- duas alturas no ramo do dispositivo em O nivelamento das vigas guia tem to-
xi e poliuretano, apesar de apresentarem uma das faces. Nos ramos da face opos- lerância de ±3mm a cada 3m e seu atendi-
bom comportamento estrutural e rápida ta e superior há pinos que encostam nas mento visa evitar trepidações no trem que
cura, não puderam ser aplicados devido superfícies da viga, conforme ilustrado na possam afetar sua durabilidade e o confor-
à impossibilidade de realizar a superfície figura 7. A verificação é realizada a cada to da viagem do passageiro.
ranhurada em suas superfícies. O único 1,00m nas vigas-guia e a cada 0,20m nas Sua verificação está sendo realizada
produto capaz de satisfazer todas as con- seções de fechamento. A precisão geomé- com o uso de uma régua metálica jun-
dições foi o concreto sulfoaluminoso. trica tem grande relevância tendo em con- to a um paquímetro digital calibrado, de
Dessa forma ficou estabelecido que ta que a não observância desse requisito modo que a régua é posicionada na su-
nas laterais das vigas o reparo pode ser da via pode gerar esforços adicionais nas perfície ao longo das faixas de rolamento
feito com argamassa cimentícia, porém manobras do material rodante, reduzindo superior e lateral da via permanente (por
quando destacamentos ocorrem na face assim sua vida útil. Outra finalidade dessa onde passam cada linha de pneus) e a
superior deve-se utilizar o concreto sulfo- verificação é a avaliação da qualidade das medição é feita verificando-se a distân-
aluminoso. formas. Variações nos valores ao longo de cia entre o fundo da régua e a superfície
Nos novos lotes de vigas-guia fabrica- uma mesma faixa podem indicar desvios de concreto na região onde se observa a
dos, a locação das alças foi feita posicio- superficiais na chapa, assim como varia- maior separação.
nando-as o mais centralizadas possível no ções entre valores de diferentes faixas de Essa verificação também permite
eixo da superfície superior da guia vigas, rolamento indicam falta de paralelismo das avaliar a qualidade das formas das vigas
conforme se observa na figura 6, a fim de placas das fôrmas, sendo assim passível de guias e seções de fechamento, tendo em
minimizar a superposição entre a super- intervenções antes da concretagem de no- vista que variações na superfície superior
fície de reparo e as faixas de rolamento vas vigas guias e seções de fechamento. indicam um provável desvio de instala-
superiores. Quando são identificados desvios de ção e alinhamento dos cantos nas formas,
largura além da tolerância, é realizada bem como podem indicar falhas na exe-
DIMENSIONAL uma avaliação interna para identificar as cução da superfície ranhurada. Quando
Um dos aspectos mais importantes necessidades de reparo, que deve levar em há desvios no nivelamento da superfície
para a execução da via permanente do consideração questões de amplitude do lateral, estes indicam desvios de planici-
sistema monotrilho é o cumprimento das não cumprimento dos valores estipula- dade das formas que devem ser ajustadas
tolerâncias dimensionais, que são extre- dos, localização do defeito na via (seja em antes da concretagem de uma nova viga
mamente restritivas, e não usuais em se trecho tangente, curva espiral ou curva guia ou seção de fechamento.
tratando de elementos de concreto cujas
tolerâncias costumam ser iguais ou supe-
riores a 5mm. Para fabricação das vigas
guias foram importadas formas metálicas
que possuem um sistema de ajustes mi-
limétricos, topograficamente controla-
dos com base nas dimensões previstas no
projeto, que permitem a conformação de
espirais e curvas horizontais e verticais,
bem como a execução de elevações e dife-
rentes alturas de seções conforme neces-
sário. Para a verificação da conformidade
dimensional foram elaborados procedi-
mentos específicos para cada tipo de me-
dição, culminando em aproximadamente
450 medições dimensionais por viga guia
e 60 medições por seção de fechamento,
que são registradas em um banco de dados
para avaliação das ações para correção nos Figura 7 - Dispositivo metálico para medição da largura das vigas

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Figura 8 - Ilustração das contra-flechas nas vigas guias e seus efeitos na movimentação do material rodante

A correção de problemas de nivela- râmetro, são realizadas até 15 medições de composta por um conjunto de vigas guia
mento tem sido realizada conforme dois superelevação por viga guia, dependendo pré-fabricadas que devem ter seções condi-
procedimentos: quando a variação é pe- de seu comprimento. Nas seções de fecha- cionadas pelo truque do material rodante.
quena, o nivelamento pode ser corrigido mento, as verificações de superelevação Conforme NBR 9062, para elementos
por meio de desbaste da superfície com o são realizadas com as vigas guia posicio- pré-fabricados de concreto a contra fle-
uso de lixadeira. Esse desbaste na superfí- nadas antes da concretagem dos fecha- cha admissível é de L/250 que equivale a
cie superior da via pode ocasionar a perda mentos, e após a concretagem é realizada 120mm para uma viga de 30m de compri-
do acabamento ranhurado, devendo sua a nova verificação para avaliar o atendi- mento. Para as vigas do monotrilho, hou-
execução ser avaliada previamente pelo mento aos parâmetros de projeto. ve a necessidade de se estabelecer limites
fornecedor do material rodante. Antes da concretagem das vigas, as mais rigorosos para controle de vibração
Quando o acabamento ranhurado não formas são verificadas com auxílio de uma (figura 8). Assim, adotou-se a limitação de
pode ser prejudicado, ou a amplitude do equipe de topografia com o uso de uma contra-flechas em 20mm, acompanhada
reparo é muito grande com prejuízo ao estação total, e após a concretagem a ve- em 3 fases de execução da via permanen-
cobrimento da estrutura, é realizado cor- rificação é feita por meio de um inclinô- te: a 1ª após a concretagem das vigas guia
te, apicoamento e recomposição da seção metro digital de 120cm de comprimento e antes do saque da fôrma, a 2ª etapa rea-
para atender aos parâmetros de projeto. precisão angular de ±0,05°. A verificação de lizada após a primeira protensão no pátio
superelevação pode detectar possíveis pro- de vigas e a 3ª etapa realizada após a pro-
SUPERELEVAÇÃO blemas de travamento das formas de con- tensão final.
A superelevação é uma inclinação re- cretagem, que devem ser corrigidos antes Caso sejam verificados valores acima
alizada em um trecho de via que tem a da concretagem da próxima viga guia. do limite estabelecido, é realizado um re-
função de equalizar as cargas geradas pela Caso seja encontrado algum desvio em paro nas regiões de cota mais baixa, que
força centrífuga do trem ao entrar em um relação aos valores de superelevação, é rea- consiste em remover o concreto da super-
trecho de curva a uma determinada velo- lizada uma consulta ao projetista e ao for- fície superior da via, apicoar e recompor
cidade. As vigas guias e seções de fecha- necedor do material rodante para avaliação até a cota projetada com concreto sulfoa-
mento tem percentuais de inclinação de de medidas de correção e/ou mitigação. luminoso, com uma camada de enchimen-
acordo com o raio da curva e a velocidade to mínima de 10mm.
máxima permitida no trecho. CONTRA-FLECHA
Os valores de superelevação são indi- As contra-flechas ocorrem em estru- FINGER PLATE
cados nos projetos executivos de cada viga turas de concreto devido à ação de esfor- O finger plate é composto por um
guia por eixos que são transmitidos às co- ços de protensão aplicados para suprir a conjunto de peças metálicas que formam
tas das formas. A tolerância permitida na necessidade de vencer vãos maiores com uma caixa de base, concretada juntamente
superelevação pelo projeto executivo é de peças esbeltas. Esta necessidade é justi- à extremidade de fechamento da viga, e
±0,17° (±0,3%). Para verificação deste pa- ficada na via permanente do monotrilho, placas dentadas, parafusadas a essa caixa

Figura 9 - Finger plate produzido conforme novo projeto. Caixa base, a esquerda e dispositivo completo com as placas dentadas, a direita

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base, que tem como função permitir a pas- cionada à galvanização, foi a inspeção das sionais, medições estão sendo realizadas
sagem do trem com o conforto necessário superfícies de contato das peças após o em todas as novas vigas-guia e seções de
nas regiões de juntas da via permanente banho com um desbaste superficial para fechamento, criando assim um banco de
(figura 9). No primeiro trecho de pista da remover resíduos pontuais de zinco na su- dados de qualidade, e permitindo a ava-
Linha 15-Prata, foi empregado um projeto perfície das peças que poderiam contribuir liação de possíveis problemas nas formas
de finger plate que era passível de melho- para vazios entre as chapas e o desalinha- ou procedimentos aplicados.
rias, considerando algumas dificuldades mento do conjunto. Os componentes metálicos instalados
que ocorreram após o início da passagem Os conjuntos de parafusos com arrue- na via permanente devem ser fabricados e
dos trens. Os problemas identificados es- las adotados inicialmente foram substituí- inspecionados com o maior detalhamento
tavam relacionados principalmente a: des- dos por parafusos de menor comprimento, possível, pois os desvios de fabricação são
nivelamento entre placa dentada e viga maior comprimento de rosca e com ca- agravados na instalação dos componentes,
adjacente, desnivelamento entre placas beças flangeadas para eliminar o uso de devendo sempre ser observados os limites
dentadas sequenciais, desalinhamento das arruelas e permitir maior área de contato dimensionais impostos pelo projeto.
placas (da caixa base ou dentadas), preen- dos parafusos com as placas das placas A aplicação da metodologia torque x
chimento deficiente da caixa base, pontos dentadas. No procedimento de instala- ângulo com análise das curvas de torque
de oxidação e força de união inadequada ção dos parafusos, foi adotada a aplica- permitiu maior sucesso na obtenção da
nos parafusos de fixação da placa dentada ção de redutor de atrito nas roscas e base força de união necessária nos componen-
à placa base. Assim, para os novos trechos, das cabeças dos parafusos para diminuir tes de fixação das placas dentadas dos fin-
foi elaborado um novo projeto deste dis- a influência do atrito no torque e na for- ger plates.
positivo que contemplava o aprendizado ça de união final. Para proteger o interior A implantação do sistema de mo-
obtido até então. dos conjuntos de ancoragem superiores de notrilho Straddle Type na cidade de São
Observou-se que a solda aplicada para eventuais acúmulos de água, foi aplicado Paulo trouxe diversos desafios para a
fixação dos conjuntos de ancoragem nas um material de vedação entre a base e as equipe de engenharia e construção do
placas das caixas de placas de base criava placas dentadas na região do furo, e após a Metrô de São Paulo, que constantemen-
tensões na superfície das placas que provo- instalação dos parafusos seu contorno foi te se empenhou na identificação de so-
cavam elevações de pontos, culminando em preenchido com o mesmo material. luções que estabelecessem conforto e
vazios entre as placas de base e dentadas e Na fixação das peças foi adotado o a segurança a seus passageiros. Com a
desalinhamento do conjunto montado. Para processo de aplicação de torque x ângu- experiência adquirida, a Companhia do
solucionar essa questão, a fabricação atual lo utilizando um torquímetro digital que Metrô está aplicando as lições aprendi-
prevê que após a soldagem dos conjuntos permite a geração de gráficos de aplica- das em novos projetos, inclusive com a
de ancoragem, a superfície das placas seja ção de torque, os quais são analisados​​ realização de consultoria externa.
usinada para garantir a planicidade. para avaliar o atendimento à força de
As inspeções de fábrica das peças no- união previsto no projeto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
vas são realizadas com maior rigor dimen- [1] ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEI-
sional, principalmente na verificação da CONCLUSÃO RA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118
planicidade da superfície de contato entre A interação entre o material rodante e – Projeto de Estruturas de Concreto -
as placas dentadas e as caixas das placas a viga-guia/seção de fechamento impõe a Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
de base, a fim de evitar vazios entre elas esses elementos requisitos especiais, even- [2] ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEI-
que possam gerar esforços adicionais nos tualmente difíceis de serem alcançados RA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR
parafusos com a passagem do trem. em estruturas de concreto armado. Além 9062 – Projeto e Execução de Estru-
Nas caixas que contêm as placas de disso, manifestações patológicas que são turas de Concreto Pré-Moldado. Rio
base do conjunto, foram acrescentadas “negligenciáveis” em outras estruturas de Janeiro, 2016.
cantoneiras em suas laterais que têm como podem se tornar críticas para as vias do [3] ______. Documento interno RT-
função proteger as bordas do concreto que monotrilho. Isso impulsiona a busca por -15.00.00.00/6J2-501 Procedimento
fazem interface com a placa dentada. qualidade e soluções diferenciadas no tra- de tratamento das fissuras das vigas
Foi incluído furo na placa superior tamento de problemas. guia, 2018.
do conjunto da placa base para permitir O atendimento a normas, especifica-
a entrada do vibrador e a saída do ar, ções técnicas e a adoção de boas práticas * Rodolfo Szmidke é engenheiro civil, especialista em
permitindo assim o completo preenchi- é essencial, mas não elimina o risco do Engenharia Ferroviária, atualmente é engenheiro na área
mento da caixa. surgimento de manifestações patológicas de qualidade e inspeção de materiais de construção civil do
Os elementos que compõem o finger que, quando ocorrem, devem ser registra- Metrô-SP
plate passam por um tratamento superfi- das, investigadas, corrigidas e relatadas E-mail: rszmidke@metrosp.com.br
cial por meio de zincagem a quente visan- de modo a contribuir com o meio técnico
do maior vida útil. Foi possível observar através das lições aprendidas. ** Tatiana de Cássia Coutinho Silva da Fonseca é
um ponto de melhoria neste processo que O aprendizado adquirido pelo acom- engenheira civil, mestre e doutora em Engenharia de
é o jateamento prévio das peças com gra- panhamento da Linha 15-Prata conduziu Estruturas, especialista em patologia na construção
nalha de ferro que permite uma melhor a algumas mudanças em relação a con- civil, atualmente é engenheira especializada na área de
adesão do zinco e uma maior camada de troles, projetos e procedimentos execu- engenharia de estruturas do Metrô-SP
proteção superficial. Outra melhoria rela- tivos. Em relação aos aspectos dimen- E-mail: tatiana.fonseca@metrosp.com.br

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Representação da oferta
de transportes na
rede de simulação do
Metrô de São Paulo
ALEXANDRE FRAZÃO D’ANDRÉA* / ALEXANDRE MAKOTO KOGA** /
ANA CAROLINA THEODORO DANTAS*** / JOSÉ ALBERTO DE CASTRO RUBIRA**** /
JOSÉ DE FRANÇA BUENO***** / MÁRIO JOSÉ GIL TELESI******
INTRODUÇÃO

A
atividade de planejamento
de transportes ocorre de for-
ma contínua, acompanhan-
do a dinâmica de alterações
de uso do solo, da política
tarifária, da socioeconomia, do sistema vi-
ário e da infraestrutura de transportes da
região de estudo. A etapa do planejamento
que contempla a realização de previsões
de demanda é fundamental para produ-
zir elementos necessários na elaboração
de projetos e em escolhas de alternativas
de transporte. Tais previsões de viagens
dependem da construção de modelos de
oferta e de demanda. Este artigo procura
apresentar os elementos mais importantes
do modelo que representa a oferta.
A previsão de demanda é realizada
tendo por base modelos matemáticos
que buscam representar o comportamen-
to dos usuários nos seus deslocamentos
cotidianos. Na Companhia do Metropoli-
tano de São Paulo os estudos de deman-
da são utilizados nas etapas de avaliação
da expansão da rede básica do metrô, na
priorização de trechos ou linhas, análise
de viabilidade de uma linha, no cálculo
dos benefícios sociais (fornecendo subsí-
dios para análises de impacto ambiental e
de acidentes), produção de informações
para os agentes financiadores dos pro-
jetos bem como o dimensionamento das
estações de metrô, terminais de ônibus
adjacentes às estações, dimensionamento
de frota e estudos de política tarifária.
A Companhia do Metropolitano de São
Paulo desenvolve estudos de previsão de
demanda utilizando modelagem matemá-
tica desde o início de suas atividades em
1968, com os dados da primeira pesquisa
Origem-Destino de 1967 (as pesquisas se-
guintes foram realizadas nos anos de 1977, Figura 1 - Redes de simulação utilizadas no Relatório HMD, 1967 (Fonte: Relatório HMD, volume 1, página 135)

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Figura 3 - Elementos utilizados na modelagem da oferta: (1)


Figura 2 - Arcabouço do modelo de previsão de demanda da zoneamento de simulação; (2) rede viária; (3) tempos e custos
Companhia do Metropolitano de São Paulo (Fonte: autores) do transporte individual e coletivo; e (4) política tarifária (Fonte:
autores, adaptado do Relatório TTC RT-99.MD.17.03_8MP-00-1)

1987, 1997, 2007 e 2017). Estes estudos (RMSP). Estes elementos estão apresen- ocorreram nos últimos dez anos na mo-
foram consolidados no relatório HMD (Ho- tados na figura 3. bilidade urbana da RMSP, tais como: ex-
chtief/ Deconsult/ Montreal). A Companhia utiliza em seus estudos pansão da rede metroferroviária, novos
Os estudos de demanda são desenvol- de demanda o modelo clássico 4 etapas, corredores de ônibus, alterações na rede
vidos em duas fases: em uma primeira fase o qual é constituído das etapas de Gera- viária e na política tarifária, uso de novas
são desenvolvidos e calibrados modelos ção de Viagens, Distribuição de Viagens, tecnologias em serviços de mobilidade,
para o ano base com dados da Pesquisa Divisão Modal e Alocação de Viagens. O dentre outros.
Origem Destino. Em uma segunda fase modelo de previsão de demanda mais re- A seguir são apresentados três itens
são representadas nestes modelos, para os centemente desenvolvido e em uso pela fundamentais na construção da represen-
anos-horizonte previamente especifica- Companhia do Metropolitano de São Pau- tação da oferta de transportes da RMSP, a
dos, situações de ofertas às quais incluem lo utiliza os dados da Pesquisa Origem- saber: o zoneamento, as redes de simulação
cenários de transporte e de política tari- -Destino 2017 sendo que para os cálcu- (a rede de transporte individual e a rede de
fária bem como matrizes de viagem que los matemáticos é utilizado um software transporte coletivo) e a política tarifária.
representam a condição da demanda para especializado em planejamento de trans-
cada ano-horizonte respectivo. portes urbano de passageiros de nome ZONEAMENTO
Neste artigo apresentamos uma vi- EMME (Equilibre Multimodal, Mutimodal Uma das etapas iniciais para a ela-
são abrangente de como a Companhia Equilibrium), software este produzido pela boração de um modelo de transportes é
do Metropolitano de São Paulo realiza empresa canadense INRO. a subdivisão das zonas da Pesquisa Ori-
atualmente seus estudos de previsão de O novo modelo procura representar gem-Destino em porções denominadas
demanda, focando na representação pelo algumas modificações importantes que zonas de simulação. Tal procedimento
lado da oferta (figura 1).
O arcabouço geral de simulação de
demanda adotado pela Companhia do
Metropolitano de São Paulo está exposto
de forma esquemática na figura 2.
A projeção espacializada das variá-
veis socioeconômicas alimenta o mode-
lo de demanda com as projeções futuras
dessas variáveis. A partir da Pesquisa
Origem-Destino são obtidas informações
(que serão traduzidas em duas matrizes,
uma de Transporte Individual e outra de
Transporte Coletivo) que alimentam o
lado da demanda.
O modelo de oferta é constituído pe-
los seguintes elementos: (1) o zoneamen-
to de simulação; (2) a rede viária (que se
subdivide em Rede de Transporte Indivi-
dual e Rede de Transporte Coletivo); (3)
tempos e custos do transporte individual
e coletivo; e (4) a política tarifária pra- Figura 4 - Zoneamento da Pesquisa OD 2017 (em azul) e zoneamento de simulação (em
ticada em cada um dos 39 municípios verde) associado (Fonte: autores)
da Região Metropolitana de São Paulo

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possibilita o agrupamento dos dados que to, mesmo não sendo essa a decisão do tando todos os passos do Modelo 4 etapas.
foram inicialmente coletados e torná- usuário. Veja as figuras 5 e 6 ilustran- Uma característica presente no atu-
-los manipuláveis, passíveis de análise e do a necessidade de se dividir zonas de al zoneamento é a grande granularidade
adequados para as etapas de geração de simulação que contenham mais de uma nas regiões mais densamente povoadas e
viagens, distribuição de viagens, divisão estação de trilhos. ao longo das linhas de trilhos (metrô e
modal e alocação de viagens. Na partição deve-se observar a mag- CPTM). Apenas como comparação, o nú-
Essa partição visa obter porções da nitude da população da zona OD que será mero de zonas de simulação em 1997 era
área de estudo, o mais homogêneas pos- subdividida. Uma alta magnitude obriga de 1.058 zonas, em 2007, 1.895 e agora
síveis, no que tange a algumas caracterís- mais divisões de uma zona OD, cujo pro- em 2017 passou a ser de 2.259. O cres-
ticas tanto socioeconômicas como as que pósito é evitar grande concentração de cimento porcentual foi, respectivamente,
considerem o uso e a ocupação do solo. viagens num único ou poucos caminhos. de 75% e 21%.
A partição realizada deve ser com- Por fim, resta notar que a manuten-
patível com aquela do zoneamento da UM BREVE HISTÓRICO DO ção das compatibilidades entre Zonas da
pesquisa Origem Destino, isto é, as zonas ZONEAMENTO DE Pesquisa OD, zonas de simulação da Rede
de simulação são subdivisões das zonas SIMULAÇÃO ATUAL de simulação e setores censitários é tarefa
da pesquisa OD. Outra compatibilidade Anteriormente à realização da Pes- meticulosa e envolvem ajustes de contor-
exigida desta partição se dá com relação quisa OD, na etapa de planejamento da nos sobre as zonas de simulação, com o
aos setores censitários estabelecidos pelo mesma, ocorreram extensivos debates objetivo de representar, adequadamente,
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia internos e reuniões à Coordenação de Es- as zonas de simulação contendo futuras
e Estatística) de tal forma que zonas da tudos de Demanda da Gerência de Pla- estações do Metrô e CPTM. Esse trabalho
Pesquisa OD são sempre mais extensas nejamento e Meio Ambiente avaliando as tem impacto importante na melhoria dos
em área que as zonas de simulação que, necessidades de subdivisão das zonas de resultados do modelo.
por sua vez, são mais extensas que os se- simulação herdadas do zoneamento de si-
tores censitários. O número de zonas de mulação baseado na Pesquisa OD 2007. REDE DE SIMULAÇÃO
simulação vem aumentando a cada nova Este trabalho desenvolveu-se ao longo de A rede de simulação é um mode-
pesquisa OD para poder acompanhar a cinco revisões até chegar ao zoneamento lo computacional da cidade que contém
crescente complexidade da mobilidade na de simulação atualmente em uso. nós, links, segmentos e intersecções,
RMSP. Observamos na figura 4, os zone- A todo momento procurou-se chegar representando, de forma simplificada, as
amentos da Pesquisa OD 2017, com 517 a um ponto de equilíbrio entre as condi- redes de transporte individual e coletivo.
zonas e o zoneamento de simulação asso- ções conflitantes tais como um aumento Os nós se subdividem em centroides e
ciado com 2.259 zonas. do tempo de processamento correlacio- nós regulares. Os centroides são os bari-
Modelos estratégicos, em geral são mais nado com o número de zonas de simula- centros (centros de massa) de cada zona
agregados daqueles modelos cujo propósito ção em contrapartida com as dificuldades de simulação e representam as origens e
é o objetivo tático, caso em que se enqua- de ajuste das linhas de transporte coletivo destinos de todas as viagens. A cada cen-
dra o modelo que estamos discutindo neste de trilhos. Além disso, o aumento do nú- troide está associada uma única zona de
texto e atualmente em uso pela Companhia mero de zonas de simulação pode resul- simulação, preferencialmente localizado
do Metropolitano de São Paulo. tar no aumento de zonas com “zeros” nas onde se concentram a maior parte da pro-
Outra condição de relevo a ser atendi- matrizes de viagens resultantes afetando dução/ atração de viagens.
da pelo zoneamento é que nenhuma zona a qualidade das respostas do modelo. Na presente rede de simulação temos
de simulação deve conter mais de uma A elaboração do zoneamento possui 2.259 centroides, sendo que cada um deles
estação de trem ou metrô, com o risco grande importância na confecção da Rede é associado a uma linha ou coluna das ma-
de comprometimento das estimativas re- de Simulação. Exerce impacto na deman- trizes de viagens. Consulte a figura 7 para
alizadas. Quando duas ou mais estações da, pois está relacionado ao número de visualizar a associação entre os centroides e
compartilham uma zona, aquela que pos- centroides e com isso define a dimensão as linhas e colunas das matrizes de viagens.
suir maior proximidade de um eventual dos vetores de produção e atração de via- Além dos centróides, temos os nós
destino terá demanda maior, segundo gens e, consequentemente, das matrizes regulares os quais representam possí-
os requisitos adotados no processamen- de transporte coletivo e individual, afe- veis pontos de embarques/ desembarques

Figura 5 - Necessidade de divisão de uma zona de simulação contendo mais Figura 6 - Novas ligações dos centróides X e Y às estações A e B após a
de uma estação de transporte de alta/média capacidade (Fonte: autores) divisão da zona que contém o centróide X (Fonte: autores)

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das linhas de transporte coletivo ou de


acesso à rede de transporte individual.
Cada nós regular é identificado por um
número, sendo que esta numeração foi
dividida pelos municípios, com cada mu-
nicípio com nós dentro de intervalos pre-
viamente definidos. Assim, Arujá possui
nós, com números entre 5.000 e 9.999. Já
em Barueri a numeração vai de 10.000 até
14.999, e assim por diante. Ligações entre
Figura 7 - Do território para as matrizes de viagens (Fonte: autores)
dois nós são chamadas de links. Os links
são classificados em vinte e seis tipos
(“types”) por códigos de numeração de
acordo com seu uso na rede de simulação
(rodovias, vias tráfego rápido etc.). Cada
link do viário possui, ainda, vinculado a
ele, atributos de velocidade e capacidade.
Nos segmentos constam informações es-
pecíficas das linhas de transporte coletivo
como velocidade da linha naquele trecho
de via, volume, identificação das linhas
que passam por aquele segmento dentre
outras. As intersecções são cruzamentos
de vias. Na figura 8 estão representados
os nós regulares e centroides na região
da Praça da Sé. Os centroides estão re-
presentados por retângulos alaranjados e
os nós regulares por retângulos amarelos.
Cada nó regular e cada centroide é identi-
ficado por um número. Os centroides são
numerados de 1 até 2.259.
Na rede viária circulam automóveis
e veículos particulares sem rotas pré-
Figura 8 - Nós regulares e centróides na rede de simulação na -definidas. Na rede de transporte coletivo
região da Praça da Sé (Fonte: autores) estão contempladas linhas de ônibus que
podem trafegar por vias compartilhadas
com automóveis, linhas de ônibus que
trafegam por vias segregadas e ainda
as vias segregadas pelas quais trafegam
trens, metrôs e monotrilhos (ou quais-
quer outras linhas de transporte coletivo
segregadas). As rotas na rede de trans-
porte coletivo são pré-definidas.
A rede viária considera atributos tais
como: velocidade de fluxo livre, capaci-
dade por faixa, número de faixas e hie-
rarquia viária.
A rede de simulação é uma simplifica-
ção da rede viária da RMSP, pois o custo,
em tempo, para processar uma rede viária
próxima do mundo real seria muito eleva-
do. Esta simplificação é realizada preser-
vando-se todas as vias pelas quais circu-
lam linhas de ônibus e o viário principal.
A modelagem da velocidade dos ve-
ículos do transporte individual e do co-
letivo é realizada por meio de funções
matemáticas denominadas funções de vo-
Figura 9 - Linhas de trilhos da RMSP no ano-base (Fonte: Consórcio lume-retardamento do tipo BPR (Bureau
TTC-FIPE. Relatório RT-99.MD.17.03/8MP-001) of Public Roads, dos EUA). Elas reduzem a

136 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


ca tarifária específica de cada município
além das integrações da EMTU com os
outros sistemas. Uma linha de transporte
coletivo é caracterizada por uma sequ-
ência de nós (e os correspondentes links)
que, representam, de forma simplifica-
da, a rota física da linha. Cada linha de
transporte coletivo possui atributos que
serão utilizados na etapa de alocação de
viagens (4ª. etapa do modelo clássico 4
etapas). Estes atributos incluem: a ve-
locidade da linha em fluxo livre (se for
uma linha de ônibus não segregada), a
velocidade da linha na via (se for uma li-
nha segregada), headway, localização das
estações ou pontos de parada, distância
entre as estações ou pontos de parada. De
Figura 10 - Corredores e faixas de ônibus da RMSP no ano-base (Fonte: forma análoga ao que existe para a Rede
Consórcio TTC-FIPE. Relatório RT-99.MD.17.03/8MP-001) de Transporte Individual, também para as
linhas de transporte coletivo não segre-
velocidade dos veículos com base na razão pelos modelos de Distribuição de Viagens gadas são aplicadas funções de volume-
e de Divisão Modal. -retardamento para que a velocidade dos
Calibrar um modelo de simulação veículos leve em consideração a compe-
consiste em fazer ajustes em parâme- tição por espaço nas vias com os veícu-
tros com o objetivo de tornar os valores los individuais. Associada com conjuntos
de tal forma que vias com características de demanda estimados para o momento de linhas de transporte coletivo temos as
distintas estarão associadas a diferentes presente (ano-base), próximos aos valores respectivas políticas tarifárias.
funções volume-retardamento. reais, registrados pela operação dos sis- As linhas de transporte coletivo são
temas. A calibração é feita tanto para o identificadas por códigos, sendo que as
REDE DE SIMULAÇÃO DO transporte individual (TI) quanto para o linhas municipais possuem campos de
TRANSPORTE INDIVIDUAL transporte coletivo (TC), e é parte funda- identificação do respectivo município. As
O processo de elaboração de uma rede mental para se ajustar o modelo de oferta linhas de metrô, CPTM e monotrilho pos-
de simulação consiste em representar a da Rede. A título de exemplificar algumas suem códigos específicos.
rede viária existente, por onde circulam fontes utilizadas para a calibração do TI Nas figuras 9 e 10 temos, para o ano-
pessoas, bicicletas, autos, motos, ônibus tomam lugar a Pesquisa de Monitoração -base, as linhas de trilhos na RMSP no
municipais e intermunicipais, e as linhas da Mobilidade: Mobilidade no Sistema Vi- ano base e corredores e faixas de ônibus.
de transporte coletivo segregadas (metrô ário Principal – Volume Velocidade (2017) Da mesma forma, que foi necessário
convencional ou leve, trens, BRT’s, VLT’s da Companhia de Engenharia de Tráfego efetuar a calibração da Rede de Transpor-
etc.), de forma simplificada, consistente e de São Paulo (CET-SP) em 173 pontos de te Individual, também a Rede de Trans-
compatível com a rede real, empregando contagem de volumes de veículos e velo- porte Coletivo precisa ser calibrada, antes
os recursos computacionais disponíveis. cidade média, tanto no sentido Centro- de ser utilizada nas estimativas de de-
Nessa tarefa de elaboração virtual de -Bairro quanto Bairro-Centro. manda.
uma rede de simulação são consideradas Outra fonte são as praças de pedá- Os parâmetros adotados no proces-
características dos elementos que com- gio mais próximas à capital (Rodovia so de calibração desta rede foram: total
põem a rede real tais como hierarquia Castello Branco, Imigrantes e Rodoanel da Rede, passageiros transportados por
viária, quantidade de faixas por via, velo- Mário Covas). modo, embarques totais por modo, em-
cidade de fluxo livre etc. Para se definir se a rede de simula- barques por linhas de trilhos, embarques
Quanto maior o nível de detalhamento ção está calibrada é feita a comparação por estação no sistema trilhos e transfe-
adotado nesta representação, ou de outra dos volumes e velocidades obtidos no si- rências entre linhas e modos. Este pro-
forma, quanto maior sua complexidade, mulador com as informações obtidas da cesso de calibração foi do mais agregado
maior será o tempo de processamento em pesquisa da CET e os volumes das praças em direção aos dados menos agregados.
cada rodada do software de simulação. de pedágio. Com isso são evitadas alterações pontuais
Para que a Rede de Simulação possa na Rede logo no princípio da calibração.
ser utilizada nas três etapas do modelo REDE DE SIMULAÇÃO DO A partir das duas redes de simulação,
4 etapas (Distribuição, Divisão Modal e TRANSPORTE COLETIVO individual e coletivo, calibradas e os mo-
Alocação), é necessário realizar uma ação A rede de simulação do transporte delos de Geração de viagens, Distribuição
nomeada calibração preliminar com as coletivo é um modelo que contempla o e Divisão Modal, também calibrados e va-
matrizes obtidas diretamente da Pesquisa sistema sobre trilhos da RMSP, o sistema lidados, a Rede de Simulação está pronta
OD, com a finalidade de se obter tempos e sobre pneus (EMTU, SPTrans e ônibus dos para ser usada para produzir estimativas
custos generalizados que serão utilizados demais municípios da RMSP) e a políti- de demanda nos anos-horizonte.

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REPRESENTAÇÃO DA Cruzes, Poá, São Caetano do Sul), 90 mi- transporte coletivo foi atualizada, consi-
POLÍTICA TARIFÁRIA nutos (Itaquaquecetuba, São Bernardo do derando as linhas de ônibus de todos os
Dá-se o nome de política tarifária do Campo), 120 minutos (Barueri, Carapicuí- municípios da RMSP.
sistema de transporte coletivo da Região ba, Francisco Morato, Guarulhos, Itapevi, - Política Tarifária: a política tarifária
Metropolitana de São Paulo ao conjun- Jandira), até 180 minutos (São Paulo). implementada no software EMME consi-
to de regras e tarifas que vigoram atual- Após superar o desafio decorrente da derou a complexidade e heterogeneidade
mente para o embarque/ transferência de adoção do Bilhete Único em 2005, e com vigente na RMSP. Nesta tarefa foi utiliza-
viagens entre os vários modais operantes a realização da Pesquisa OD em 2007, a da uma funcionalidade implementada nas
na RMSP. equipe técnica do Metrô criou uma so- versões mais recentes do software deno-
Desde 2005, com o surgimento do Bi- lução, de nome “Rede de simulação em minada Journey Levels.
lhete Único na cobrança tarifária dos ôni- camadas”, que dava conta de internalizar
bus no município de São Paulo e, com a no software EMME a política tarifária vi- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
extensão da integração tarifária ao metrô gente. Porém, entre 2007 e 2017 novas [1] BRUTON, MICHAEL - Introdução
e CPTM, houve a necessidade de realizar mudanças ocorreram tornando urgente ao Planejamento dos Transportes. Edi-
uma revisão profunda no modelo de ofer- novo recurso para o “input” das altera- tora Interciência. São Paulo, 1979.
ta, já que o software disponível à épo- ções da nova política. [2] CONSÓRCIO TTC-FIPE - Relatório RT-
ca não possuía recursos para representar A INRO, empresa canadense responsá- 99.MD.17.03/8MP-001. São Paulo, 2021.
esse tipo de tarifação. vel e desenvolvedora do software EMME, [3] KAWAMOTO, EIJI - Análise de Sis-
Ao longo dos anos, posteriores a 2005, produziu uma funcionalidade nomeada temas de Transportes. Depto. de Trans-
diversos municípios da RMSP conceberam Journey Levels. Essa ferramenta se vale portes. Escola de Engenharia de São
e implementaram políticas tarifárias lo- do conceito de camadas, desenvolvida Carlos (USP). São Carlos, 2004.
cais. Além do Bilhete Único no município pela equipe técnica do Metrô, porém de [4] ORTÚZAR, J.; WILLUMSEN, L. G.
de São Paulo e do BOM da EMTU, são um modo virtual ao invés de camadas fí- - Modelling Transport. Wiley, 2011.
consideradas, atualmente, com adapta- sicas. Além da maior facilidade de imple- [5] PESQUISA OD 2007 - Companhia
ções, o regramento adotado nos demais mentação houve sensível facilitação na do Metropolitano de São Paulo. São
municípios da RMSP. produção de “outputs” para análise, como Paulo, 2009.
O desafio técnico empreendido pela gráficos e mapas temáticos de embarque/ [6] PESQUISA OD 2017 - A mobilida-
Companhia do Metropolitano na tarefa de desembarque. de urbana da Região Metropolitana de
incorporar a complexidade advinda dessa O tão almejado equilíbrio entre tem- São Paulo em detalhes. Companhia do
variedade nas regras tarifárias vigentes po de simulação e representação das Metropolitano de São Paulo. São Pau-
na RMSP é motivo de destaque e prova- complexidades inerentes à Rede foi al- lo, 2019.
velmente se constitua em caso único no cançado. A análise dos primeiros testes [7] RELATÓRIO HMD - Link para
mundo, dada a complexidade tarifária vi- e resultados obtidos quando os 39 mu- acesso: Disponível em: <https://trans-
gente na RMSP. nicípios foram agrupados em 5 subcon- par enc ia.met ros p.c om.br/datas et/
Existem muitos modelos distintos de juntos, segundo similaridades da polí- relat% C3%B3r io-hmd-saiba-como-
integração tarifária na RMSP. Dos 39 mu- tica tarifária adotada, serviu para que -come%C3%A7ou-o-metr%C3%B4-
nicípios da RMSP, 19 deles apresentavam novos ajustes fossem realizados. Pos- -sp>. Acesso 17/01/2022.
algum tipo de integração tarifária em teriormente adotou-se divisão em três
2017. São eles: Arujá, Barueri, Caieiras, grupos de municípios e 19 camadas na * Alexandre Frazão D’Andréa é engenheiro civil e
Carapicuíba, Diadema, Ferraz de Vascon- tabela do Journey Levels. coordenador de Estudos de Demanda do Metrô-SP
celos, Francisco Morato, Guarulhos, Ita- E-mail: afrazao@metrosp.com.br
pevi, Itaquaquecetuba, Jandira, Mauá (in- CONCLUSÕES ** Alexandre Makoto Koga é engenheiro civil, ocupa o
cargo de Engenheiro do Metrô-SP
tegração no Terminal Central), Mogi das Com o novo modelo de oferta da
E-mail: amkoga@metrosp.com.br
Cruzes, Poá, Santana de Parnaíba, Santo Companhia do Metropolitano, construído *** Ana Carolina Theodoro Dantas é engenheira civil,
André, São Bernardo do Campo, São Cae- a partir dos dados da Pesquisa Origem- MBA – Visão Integrada de Sistemas sobre Trilhos Urbanos
tano do Sul (apenas algumas linhas) e São -Destino 2017, foram observados avanços na USP, ocupa o cargo de Engenheira do Metrô-SP
Paulo. Como entrave adicional, existem e melhorias na representação da Oferta: E-mail: carolina.theodoro@metrosp.com.br
exceções e benefícios localizados numa - Zoneamento: o zoneamento de **** José Alberto de Castro Rubira é licenciado em
parte considerável do conjunto de muni- simulação vem sendo refinado a cada Física, ocupa o cargo de Analista de Transportes III do
cípios da RMSP. Pesquisa Origem-Destino, incorporando Metrô-SP
Há diferenças também quanto às res- lições aprendidas pela equipe técnica e E-mail: rubira@metrosp.com.br
trições estabelecidas, ao tipo e quantida- acompanhando as mudanças ocorridas ***** José de França Bueno é licenciado em
Matemática Aplicada, mestre em Matemática Aplicada,
de de integrações e ao tempo de duração nos seguintes aspectos: o sistema de
doutor em Ciências da Engenharia, ocupa o Cargo de
da integração. transportes da RMSP, a socioeconomia, a Analista III do Metrô-SP
Existem diferenças entre os valo- concentração de população, o viário, as E-mail: jose.bueno@metrosp.com.br
res das tarifas de integração (desde R$ barreiras físicas etc. ****** Mário José Gil Telesi é licenciado em
0,00 até R$ 3,00 em valores de 2017) e - Rede de Simulação: a rede viária foi Matemática, pós-graduação: Curso de Especialização
o tempo de integração, variando de 50 atualizada a partir de dados do OpenStre- em Matemática Pura, ocupa o cargo de Analista II do
minutos (Diadema), 60 minutos (Arujá, et Map com base totalmente nova e novas Metrô-SP
Caieiras, Ferraz de Vasconcelos, Mogi das funções volume-retardamento. A Rede de E-mail: mjgtelesi@metrosp.com.br

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Potencial de redução do consumo


de água potável em estações
do Metrô de São Paulo

A
ANA FLÁVIA DA SILVA HOEPPNER* / FERNANDO JOSÉ FEDATO**

crise hídrica vem sendo re-


corrente em algumas regiões
do Brasil. O panorama em
relação aos recursos hídri-
cos no Brasil e no mundo
vem sofrendo importantes transformações.
Constata-se a limitação de disponibilidade
hídrica em algumas bacias hidrográficas
juntamente com o aumento dos adensamen-
tos demográficos e do consumo per capita
de água. Essas situações são insustentáveis
dos pontos de vista ambiental, econômico e
de saúde pública (NBR 16.783/2019).
Além disso, o cenário de crise hídrica é
configurado no país de maneira marcante
em 2014 com a grave seca que se instalou
nas regiões Centro-Oeste e Sudeste. Tal cri- Figura 1 - Implantação Estação do Monotrilho Ipiranga, ao lado da Estação da CPTM
se afetou seriamente o abastecimento urba-
no em três estados-chave da economia bra- nas estações do Metrô de São Paulo, é im- alternativas à água potável.
sileira: Minas Gerais, Rio de Janeiro e São portante, pois essas edificações são clas- Neste âmbito, na cidade de São Paulo,
Paulo (SANTOS et al., 2019). Diante desse sificadas como “Grandes Consumidores” desde 2016 é obrigatório o atendimento à
contexto, é importante a implantação do pela Sabesp, órgão responsável pela dis- Lei 16.402/2016, que diz “nos processos
uso racional da água, através de alternativas tribuição da água na cidade de São Paulo. de licenciamento de edificações novas ou
que reduzam o consumo de água potável. A menor demanda por água potável nessas de reformas com alteração de área cons-
Por isso, alternativas ao uso de água edificações pode ter impacto ambiental e truída superior a 20% em lotes com área
potável vêm sendo adotadas em diversos econômico positivo. superior a 500m², é obrigatória a reserva-
setores, residenciais e não-residenciais, Além disso, Normas Brasileiras, Legis- ção para aproveitamento de águas pluviais
como em: edifícios comerciais, escolas, lações e Normas Internas do Metrô de São provenientes das coberturas das edifica-
aeroportos, hospitais, estações de metrô. Paulo têm sido publicadas para incentivar ções para fins não potáveis.”
A possibilidade da redução de água, o uso racional da água e o uso de fontes Para atender à legislação e visando a sus-
tentabilidade ambiental, as edificações em
fase de projeto no Metrô de São Paulo têm
contemplado sistemas de aproveitamento de
água de chuva. Além disso, para ampliar o
uso racional da água, os projetos têm con-
templado aparelhos economizadores de água.
Alguns exemplos são a Estação de Mo-
notrilho Ipiranga - Linha 15-Prata (figu-
ras 1 e 2), Estação de Metrô Anália Franco
- Linha 2-Verde, e Estação de Metrô Vila
Formosa - Linha 2-Verde.

VIABILIDADE ECONÔMICA DO
USO DE ÁGUA DE CHUVA COMO
FONTE ALTERNATIVA DE ÁGUA
Uma vez conhecidos a demanda que
pode ser suprida com água não potável e
Figura 2 - Perspectiva da Estação do Monotrilho Ipiranga o regime de chuvas da região, o parâmetro

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de maior influência na avaliação econômi-


ca da implantação de um sistema de apro-
veitamento de água de chuva é o tamanho
do reservatório. Reservatórios muito gran-
des podem ter o seu custo-benefício muito
alto. Para viabilizar a implantação, alguns
autores propõem reduzir a demanda de
água potável com o uso de água não potá-
vel, mesmo que o armazenamento de água
chuva não supra toda a demanda de água
não potável em determinados períodos.
Nesse contexto, Cecin (2012) propôs
um método alternativo de dimensiona-
mento dos reservatórios de aproveitamen-
to de água de chuva. Esse método é consi-
derado mais atrativo economicamente, por
considerar o payback na escolha do volu- Figura 3 - Fração de consumo de água não potável (água de chuva utilizada em relação da
me do reservatório. Em resumo, esse mé- demanda total por água não potável), relacionada ao volume do reservatório (m3), para a
todo é utilizado para achar o ponto ótimo Estação Anália Franco
entre o custo da implantação do sistema
de água não potável, operação e manu-
tenção; e o lucro gerado pela economia de
água potável.
Para calcular o tempo de retorno do
investimento adotando esse método, é im-
portante a definição dos seguintes parâ-
metros: série histórica de precipitação di-
ária, demanda por água não potável, área
da cobertura das edificações, volume do
reservatório.
Ao utilizar o método Cecin (2012),
cada Estação tem o seu potencial máximo
de redução de água potável, em função da
área de cobertura da Estação e da deman-
da (figuras 3, 4 e 5).

ANÁLIA FRANCO
Figura 4 - Fração de consumo de água não potável (água de chuva utilizada em relação da
Dados de entrada: área de cobertura
demanda total por água não potável), relacionada ao volume do reservatório (m3), para a
= 1.280m2; Estação Vila Formosa
Demanda de água não potável =
25,5m3.
Pode-se observar que a máxima eco-
nomia estimada seria de 15% do consumo
de água não potável ao utilizar água de
chuva. Para atender ao restante do con-
sumo, seria necessário utilizar a água po-
tável. O melhor payback ocorreu com 13%
de consumo de água não potável.
Porém, para atender à Lei 16.402/2016,
o volume necessário para o reservatório
de aproveitamento de água de chuva é
23,5m3. Para esse volume (em torno de
25m3), de acordo com a figura 3, é possí-
vel economizar água potável em 14 % da
demanda total de água não potável.

VILA FORMOSA
Dados de entrada: área de cobertura = Figura 5 - Fração de consumo de água não potável (água de chuva utilizada em relação da
2.000m2 (cobertura onde será coletada a demanda total por água não potável), relacionada ao volume do reservatório (m3), para a
precipitação para utilização). Não foi uti- Estação Ipiranga

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TABELA 1: VAZÃO DOS APARELHOS UTILIZADOS PELO METRÔ ATÉ MEADOS 2021 E com maior área da cobertura, o que au-
DOS ECONOMIZADORES ATUAIS. ALÉM DOS FATORES DE REDUÇÃO DE VAZÃO menta a oferta de água de chuva e possi-
bilita que uma parcela maior da demanda
Vazão economizadores
Aparelho Vazão projetos anteriores Fator redutor de vazão seja suprida com água não potável.
mais eficientes
A utilização de reservatórios não en-
Torneira de lavatório 8 L/s 1,8 L/s 0,23 terrados, quando possível, também será
Bacia Sanitária 3/6 L 3/6 L 1 favorável à obtenção de melhores resul-
tados, uma vez que permite eliminar os
Torneira de Lavagem 8 L/s 6 L/s 0,75 custos de escavação e outros serviços que
Mictório 8 L/s 6 L/s 0,75 envolvem a construção de reservatórios
Pia 8 L/s 5 L/s 0,63 enterrados.
Os benefícios financeiros estimados ao
Chuveiro 11 L/s 6 L/s 0,54 utilizar o aproveitamento de água de chu-
va, nessas três estações estudadas, são da
lizada toda a área de cobertura, pois nas para as três Estações, estima-se, que para ordem de 80.000 reais por ano.
outras edificações, a implantação não per- a Estação Anália Franco, após 11 anos
mitiu a captação. da implantação do sistema de aproveita- USOS DA ÁGUA DE CHUVA NOS
Demanda de água não potável = mento de água de chuva, o sistema tenha EDIFÍCIOS METROVIÁRIOS
14,8m3. sido pago com a economia de água po- No Metrô de São Paulo, as águas do
Pode-se observar que a máxima eco- tável e comece efetivamente a gerar ga- aproveitamento de água de chuva são des-
nomia estimada seria de 40% do consumo nho. A economia de água potável prevista tinadas para usos que não precisam de po-
de água não potável ao utilizar água de para essa Estação é de aproximadamente tabilidade, tais como:
chuva. Para atender ao restante do consu- 1.400m3/ano. - Bacia Sanitária;
mo, seria necessário utilizar a água potá- Para a Estação Vila Formosa, o tempo - Mictório;
vel. O melhor payback ocorreu com 23% foi estimado em 10 anos. A economia de - Torneiras de Lavagem;
de consumo de água não potável. Isso água potável estimada é de aproximada- - Irrigação.
porque, a partir deste ponto, o aumento mente 2.000m3/ano. Também é possível utilizar em reservas
do custo em se usar reservatórios maiores Para a Estação do Monotrilho Ipiran- de incêndio.
supera a economia gerada pela redução do ga, que tem uma área de cobertura maior
consumo de água potável. para captação de água de chuva, o tempo TRATAMENTO PREVISTO PARA
Porém, para atender à Lei 16.402/2016, estimado é de 6 anos. Para esta Estação, a USO DA ÁGUA DE CHUVA
o volume necessário para o reservató- economia de água potável estimada é de Antes da utilização da água de
rio de aproveitamento de água de chuva aproximadamente 3.200m3/ano. chuva, é feito um tratamento consti-
é 60,7m3. De acordo coma figura 4, este De modo geral, os melhores resultados tuído por:
volume corresponde a 33% da demanda de payback são obtidos em edificações - Descarte do escoamento inicial
sendo suprida por água de chuva.
TABELA 2: CARACTERÍSTICAS DAS ESTAÇÕES EM ESTUDO
IPIRANGA
Dados de entrada: área de cobertura Anália Franco Ipiranga Vila Formosa
= 4.540m2; Área do lote (m2) 12174,00 11346,27 6764,00
Demanda de água não potável =
19,2m3. Área de cobertura (m2) 1280,00 4540,64 3940,00
Pode-se observar que a máxima eco- Área de cobertura verde (m2) 552,00 0 0
nomia estimada seria de 60% do consumo Previsão de passageiros 18070 24000 15000
de água não potável ao utilizar água de
chuva. Para atender ao restante do consu- Previsão de funcionários 260 98 94
mo, seria necessário utilizar a água potá- Previsão de pessoas para
66 60 62
vel. O melhor payback ocorreu com 34% uso de chuveiro
de consumo de água não potável. Isso Área total de jardins (m2) 6000 4500 1600
porque, a partir deste ponto, o aumento
do custo em se usar reservatórios maiores
supera a economia gerada pela redução do TABELA 3:DEMANDA TOTAL DIÁRIA (M3) DE ÁGUA POTÁVEL (AF)
consumo de água potável. DE NÃO POTÁVEL (AAC), POR ESTAÇÃO
Porém, para atender à Lei 16.402/2016, Anália Franco Ipiranga Vila Formosa
o volume armazenado para aproveitamen-
to de água de chuva é 72,7m3. De acordo AF* 4,1 2,9 3,0
com a figura 5, este volume corresponde a AAC 25,6 19,3 14,8
42% da demanda sendo suprida por água
Área de cobertura verde (m2) 552,00 0 0
de chuva.
Ao analisar a viabilidade econômica * Considerando-se a utilização dos aparelhos economizadores de água.

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(First Flush) – eliminação dos primeiros número de funcionários, número de pas-


2mm de chuva das coberturas, que con- sageiros que utilizarão os sanitários pú-
tém a água mais sujas/ poluídas (galhos, blicos e área do jardim. As características
folhas, poeira, fuligem e detritos); das três estações estão na tabela 2.
- Filtros de materiais grosseiros e finos; As demandas por água potável e não
- Desinfecção por cloros em tabletes; potável estão na tabela 3. Nota-se que a
E, então, segue para o reservatório maior demanda é por água não potável.
de aproveitamento de água de chuva Quando as estações estiverem em
para ser utilizada. operação, o fator que mais poderá variar
É importante destacar que se usa é a demanda dos sanitários públicos, que
apenas a precipitação captada das co- depende do número de passageiros que
berturas (sem trânsito de pessoas) das irão utilizá-los.
edificações, por conter menos poluentes. Por fim, ressalta-se ainda que, além
dos benefícios ambientais e econômi-
VIABILIDADE DA SUBSTITUIÇÃO cos, o uso de fontes alternativas de água
DOS APARELHOS pode contribuir para melhorar a imagem
ECONOMIZADORES DE ÁGUA da empresa e para aumentar a possi-
Outro método para reduzir o consu- bilidade de adquirir financiamento de
mo de água potável adotado nos novos bancos internacionais que consideram
projetos é a utilização de aparelhos eco- fatores desta natureza na avaliação para
nomizadores de água. Os aeradores já disponibilização de crédito.
vinham sendo previstos nos projetos há
algum tempo, porém, os projetos mais REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
recentes passaram a especificar apare- [1] ABNT - NBR 16.783 - Uso de
lhos ainda mais eficientes, ou seja, que fontes alternativas de água não potá-
atendem suas finalidades fazendo uso de vel em edificações. Associação Brasi-
menores vazões (tabela 1). leira de Normas Técnicas. Rio de Ja-
No Projeto das três estações citadas, neiro. 2019. 18p.
avalia-se que, com o uso destes apare- [2] SANTOS, S.; SANT’ANA, D.;
lhos, haverá uma redução de 35% a 40% TOTUGUI, N.; SANTANA, L. - Apro-
no consumo de água. veitamento de água pluvial no Ae-
Em termos de volume de água, a eco- roporto Internacional de Brasília:
nomia estimada na Estação Anália Fran- estimando o potencial de redução
co é de 8.000m3 de água potável/ano; do consumo de água potável em ir-
na Estação Vila Formosa, é em torno de rigação e lavagem de pisos. XIII SIM-
4.800m3/ano; e na Estação Ipiranga, em PÓSIO NACIONAL DE SISTEMAS PRE-
torno de 4.700m3/ano. DIAIS DESEMPENHO E INOVAÇÃO DE
Estima-se economia de 220.000 reais por SISTEMAS PREDIAIS HIDRÁULICOS.
ano, considerando-se o total das três estações. São Paulo. 2019. 9p.
[3] PMSP - Lei nº 16.402, de 22
DEMANDAS POR ÁGUA DAS de março de 2016. Disciplina o parce-
ESTAÇÕES METROVIÁRIAS lamento, o uso e a ocupação do solo
No projeto de estações do Metrô de no Município de São Paulo, de acordo
São Paulo, determina-se o padrão de com a Lei nº 16.050, de 31 de julho
consumo de água para cada finalidade, de 2014 - Plano Diretor Estratégico
em função das diferentes ocupações: (PDE). Câmara Municipal de São Pau-
- Salas Operacionais (semelhante a lo. São Paulo. 2016. 89p.
escritórios públicos); [4] CECIN, J. A. - Aproveitamen-
- Sanitários públicos; to de água de chuva em escola mu-
- Lavagem da Estação; nicipal de ensino básico – Estudo de
- Irrigação; Caso. Instituto de Pesquisas Tecnoló-
- Banho. gicas do Estado de São Paulo (IPT).
São Paulo. 2012. 113p.
DADOS ESTIMADOS DE CONSUMO
DE ÁGUA DE ESTAÇÕES * Ana Flávia da Silva Hoeppner é engenheira de
As particularidades das estações im- projetos de instalações hidráulicas no Metrô-SP
pactam na demanda por água e no forne- E-mail: afshoeppner@metrosp.com.br
cimento de água não potável. Os fatores ** Fernando José Fedato é coordenador de projetos
mais importantes para o cálculo da ofer- de instalações hidráulicas no Metrô-SP
ta e da demanda são: área de cobertura, E-mail: fjfedato@metrosp.com.br

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Portfólio de projetos de inovação


tecnológica da engenharia de
operação do Metrô de São Paulo
O pioneirismo e o protagonismo da engenharia de operação como
alicerce da sustentabilidade operacional
MARCELO LEMOS* / MARCOS SPIGLIATTI** / RENATO PALATA SANTANA*** /
FRANCISCO MORAES GOMES**** / MARCELO FERNANDO BARREIROS***** /
NEWTON IBELLI DE ARAÚJO****** / JACQUELINE COSTA DA SILVA******* /

D
JACKSON DE CARVALHO GALOCHA******** / ARMANDO DE ROSSO********* /
JULIO MITSUHIRO OBUCHI********** / EDUARDO AUGUSTO CAMPOS*********** /
WILLIAN EDER REIS DA SILVA************ / JULIAN SANTOS DEL RIO*************

urante os últimos anos, a dedicar grande parte do seu orçamento Através do software Qemu, de Fabri-
engenharia de operação do para mantê-los em funcionamento devi- ce Bellard (Licença GNU Free), a partir de
Metrô de São Paulo vem en- do à complexidade de sua modernização. sua versão 5.0, rodando em computado-
frentando muitos desafios Para o caso de sistemas computacionais res/ servidores com sistema operacional
operacionais difíceis de se- compostos por hardware e software, por Microsoft Windows, foi possível criar má-
rem tratados de forma linear com padrões exemplo, sabe-se que a tecnologia evolui quinas virtuais compatíveis com o modelo
ou métodos tradicionais. constantemente e isso ocorre, geralmente, SparcStation 20 (SS-20), da Sun Microsys-
A pandemia agravou o quadro, au- em curtos intervalos de tempo. tems, com características suficientes para
mentando exponencialmente os desafios Uma possível solução para manter siste- executar as aplicações utilizadas no Centro
operacionais desafiando a Engenharia de mas legados em operação é a utilização de de Controle Operacional do Metrô-SP para
Operação a atuar de forma estratégica e técnicas de virtualização, quando são criadas controle de tráfego de trens, alimentação
inovadora, com uma visão de futuro, fo- máquinas virtuais. Uma máquina virtual é elétrica da via e sistemas auxiliares, bem
cada, alavancando vários projetos de apoio definida como sendo um pacote de softwa- como servidores de funções de regulação
à operação do Metrô, os quais se destacam re específico com condições de executar um de trens, sem perda de desempenho e com
os projetos apontados logo a seguir: sistema operacional, bem como aplicações obtenção dos seguintes benefícios:
específicas, criando um ambiente virtual nos 1.Aumento da confiabilidade: As apli-
ATUALIZAÇÃO DE SISTEMAS LEGADOS mesmos moldes de um servidor físico. Além cações podem ser executadas em um har-
SUN/SPARC ATRAVÉS DE EMULAÇÃO da virtualização, existe também a técnica cha- dware muito mais seguro e mais estável do
EM AMBIENTES WINDOWS/X86-64 mada de emulação, que nada mais é do que que as máquinas originais SPARC (Série Ul-
Autores: Engenheiro Renato Palata uma virtualização para plataformas de har- tra), pois o sistema passou a contar com ca-
Santana; Matemático Marcelo Fernando dware diferentes. Para o caso analisado, fo- racterísticas de tolerância a falhas de discos
Barreiros; Analista de Sistemas Newton ram feitos estudos de emulação para que uma rígidos e de fontes de alimentação elétrica,
Ibelli de Araújo; e Analista de Sistemas plataforma padrão “x86/x64” pudesse emular inexistentes na máquina original;
Francisco Moraes Gomes um hardware SPARC, plataforma proprietária 2.Maior eficiência energética: Houve um
Contribuindo para melhorar a sus- da Sun Microsystems, hoje incorporada à Ora- melhor aproveitamento dos recursos físicos
tentabilidade da operação do Metrô, foi cle Corporation, para assim executar as aplica- devido ao agrupamento de duas máquinas vir-
implantado o projeto de atualização dos ções metroferroviárias desenvolvidas no final tuais, sendo obtida uma economia de 31,5%
computadores de parte do Sistema Legado da década de 1990 (figura 1). na energia elétrica consumida por este sistema;
SCADA (Supervisory Control And Data Ac-
quisition), utilizando tecnologia de emu-
lação de plataforma RISC SUN/SPARC.
Em geral, os sistemas legados possuem
grande importância por estarem direta-
mente ligados à produção de forma críti-
ca, estando integrados a outros sistemas
gerenciais, bem como por estarem depu-
rados e adaptados às principais necessida-
des das empresas. Em contrapartida, tais
sistemas estão sujeitos à obsolescência,
de forma que as companhias optam por Figura 1

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o futuro, ao invés de tentar sempre nos


adaptar às novas circunstâncias. Projetar
para a incerteza e não para um cenário
específico.
Partindo de conceitos e abordagens
como Human Centered Design (HCD),
Design Thinking, VUCA, User Experience
(UX), Customer Experience (CX) e Em-
ployee Experience (EX), se buscou uma
forma de trazer para o centro do projeto o
ponto de vista dos usuários do espaço, não
só os de hoje, mas também os do futuro.
A partir de uma personificação ideal
(a Persona Metrô, criada em 2016), que
Figura 2 - Aplicações do Centro de Controle Operacional em execução por emulação em máquinas visa materializar elementos subjetivos e
recentes demonstrar a maneira como a Companhia
3.Redução de custo: Com as aplicações go do tempo, como possíveis ampliações, deseja ser vista como empresa, uma equi-
sendo executadas em servidores padrão de novos usos, equipamentos, tecnologias e pe multidisciplinar composta por arquite-
mercado “x86/x64”, não há a necessidade demandas não eram totalmente aderentes, tos, designers e engenheiros, cocriou um
de aquisição de peças de hardware especí- necessitando sempre de adaptações e ajus- conceito que busca responder à pergunta:
ficas da plataforma Sun/SPARC; tes imprevistos. Isso impacta na imagem “Como o CCO, como edifício, pode contri-
4.Melhoria nos processos de manu- da Companhia, tanto para os funcionários buir para que o Metrô seja percebido pelos
tenção: Ao se utilizar máquinas virtuais, que ali trabalham, quanto para o público passageiros da maneira desejada?”
o processo de recuperação do sistema em em geral, já que a Sala de Controle é o As respostas foram então traduzidas
caso de falha de hardware pode ser oti- coração do Metrô e um grande cartão de em um conceito cujas diretrizes amplas e
mizado mantendo-se cópias dos arquivos visitas da empresa. universais se tornaram essenciais para en-
que contêm essas máquinas com suas ple- Por esse e outros motivos, logo no contrar o equilíbrio entre os diversos
nas funcionalidades já programadas, que início do pré-projeto, foi percebido que pontos de vista de usuários, clientes e do
podem ser copiados rapidamente para uma devido à sua natureza singular e de alta negócio, criando um ambiente onde as do-
outra máquina física ou ainda para a mes- complexidade, não fazia sentido utilizar a res, dificuldades e soluções fossem discuti-
ma máquina física, em caso de falhas de mesma estrutura e abordagem de desen- das e compatibilizadas de maneira integra-
software; volvimento de projetos e esperar um re- da e colaborativa, minimizando os riscos, e
5.Melhoria nos processos de operação: sultado diferente na execução. O consenso proporcionando uma maior autonomia ao
Esta emulação permitiu a substituição de foi que o espaço não deveria ser moder- grupo, que com maior clareza dos proble-
periféricos obsoletos usados pelos opera- nizado ou reformado, mas sim reestrutu- mas e porquês do projeto, se sentiu mais
dores por modelos recentes e mais preci- rado, tanto física como filosoficamente. E preparado, sempre se utilizando do con-
sos, tais como mouse com sensor ótico e reestruturar não só no sentido de adap- ceito como mantra e justificativa para a
monitores de tecnologia LED Widescreen, tar a Sala de Controle aos novos tempos tomada de decisões.
ambos não compatíveis com as máquinas e tecnologias, mas principalmente de pre- Isso resultou em um volume de dú-
originais (figura 2). pararmos o espaço e a infraestrutura para vidas, questionamentos e alterações pelas
cenários futuros e novos processos. Tanto partes interessadas drasticamente menor
CCOx: DESIGN COMO ABORDAGEM NA com um novo ambiente, quanto com uma do que o esperado em projetos do mesmo
CONCEITUAÇÃO E DESENVOLVIMENTO nova mentalidade e abordagem no desen- tipo, mesmo sendo desenvolvido por uma
DE PROJETOS MULTIDISCIPLINARES volvimento do projeto e de uso do espaço. equipe enxuta, com um prazo reduzido, e
Autora: Designer Jacqueline Costa da Considerando que o escopo do projeto em alguns segmentos com pouca experi-
Silva prevê, além da reestruturação dos proces- ência em projetos básicos do mesmo porte,
O CCOx é um projeto de reestrutura- sos internos, a atualização tanto de infra- que mesclou escopos de áreas de manu-
ção do Centro de Controle Operacional estrutura civil quanto de sistemas, e sendo tenção e projetos de expansão.
(CCO), da Companhia do Metropolitano inadmissível impactar o desempenho dos
de São Paulo, o qual, ao invés de simples- operadores e a operação do Metrô, que é METRÔEXCELÊNCIA - INOVAÇÃO
mente revitalizar os ativos existentes, se controlada e supervisionada diretamente a E MELHORES PRÁTICAS NA
propõe reformular tanto a infraestrutura partir deste ambiente, foi necessário criar GESTÃO DE TREINAMENTOS
civil e computacional, como também sua uma nova lógica de desenvolvimento, para NO METRÔ DE SÃO PAULO
filosofia e abordagem frente aos desafios que os projetos de Sistemas Operacionais, Autor: Engenheiro Jackson de Carva-
da empresa. Design, Arquitetura, Infraestrutura para lho Galocha
Tanto no projeto original, do final da Sistemas, Sistemas Prediais e Obra Civil Desde 2019 o Metrô de São Paulo ini-
década de 1960, quanto na modernização, fossem concebidos e desenvolvidos de ciou um trabalho pioneiro que tinha o de-
em 1998, o CCO sempre foi projetado para maneira integrada e com uma visão úni- safio de otimizar e inovar nos processos de
um cenário e momento específicos, onde ca. Com isso, a filosofia adotada para o capacitação técnica operacional nas mais
qualquer mudança nas variáveis ao lon- projeto é que devemos nos preparar para diversas áreas da empresa, intensifican-

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dem interferir na regularidade do serviço.
Aceleramos o uso de tecnologias di-
gitais de aprendizagem, dando nova sig-
nificação a estes recursos. Capacitamos e
certificamos multiplicadores, com o menor
custo e com foco na excelência na presta-
ção dos serviços, além de elaborar fornecer
material técnico atualizado e específico
para cada atividade, registrando digital-
mente apostilas, manuais e documentos
técnicos que ficam à disposição dos trei-
nandos online, eliminando assim o gap
de competências críticas, pois nossa es-
tratégia é o foco no desempenho de cada
função. Desta forma foi possível acelerar a
velocidade do aprendizado de alta qualida-
Figura 3 de ao mesmo tempo em que valorizamos e
desenvolvemos pessoas.
do os resultados até então obtidos. Nesse lidade do atendimento dado a milhões de Conseguimos formar equipes de alta
sentido identificamos a oportunidade e passageiros, ao proporcionar alto rendi- performance, com capacidade para trans-
a necessidade de executar melhor o que mento de seu quadro funcional em todas formar ideias em atitudes. Em 2020 ti-
é planejado, pois literalmente existe um as situações encontradas diariamente. vemos um total de 383 capacitações, em
“buraco” entre estratégia e a execução, Ao reformular sua política de treina- 2021 saltamos para 2.717 (figura 5), o que
o que proporciona uma cultura de apagar mento e capacitação atendendo à neces- significa 600% do total de capacitações.
incêndios e/ou apenas concluir tarefas. sidade constante de se atualizar tecnolo- Tivemos, ainda, redução em 49,5% de cus-
Para eliminar esse problema foi imple- gicamente para acompanhar as demandas tos relacionados à Capacitação Técnica de
mentado no Metrô de São Paulo a meto- da mobilidade urbana. As soluções devem 4.000 empregados operativos, assim como
dologia OKR (Objetivos e Resultados Cha- acompanhar este avanço e utilizamos o ma- a redução de 82,29% da necessidade de
ves) que é a estrutura mais bem sucedida peamento de conhecimentos críticos, defi- atividades de treinamento no horário no-
do mundo para execução de estratégias no nição de objetivos e resultados chave e o turno. Registre-se também a conquista do
século 21, sendo atualmente utilizada pe- uso de recursos digitais de aprendizagem. índice de satisfação dos stakeholders aci-
las maiores empresas de diversos setores. Para se manter na vanguarda dos ma de 90% e índice de Pesquisa do Clima
O método OKR visa alcançar resultados transportes públicos e ser reconhecido no Organizacional acima de 80%.
exponenciais (figura 3) através do entendi- mundo todo pela excelência de seus servi- A área de engenharia responsável
mento do momento atual, do alinhamento ços, o Metrô de São Paulo sabe da necessi- pela gestão dos treinamentos realizou e
de expectativas, da identificação de opor- dade diária de se atualizar e investe maciça dedicou em torno de 900 horas em ca-
tunidades de melhoria, com foco na hu- e continuadamente na formação de seus pacitação da própria equipe. Em 2021
manização e no feedback contínuo. empregados. Tal estratégia visa capacitá- foram 52 reuniões de alinhamento e fee-
No processo de implementação da me- -los na prestação de um atendimento hu- dback, além de feedbacks individuais de
todologia OKR foi possível construir um manizado de excelência como também na desempenho, motivando e inspirando o
Mapa Estratégico (figura 4) inovador que resolução rápida de falhas técnicas que po- time. Com os clientes internos foram 13
consegue unir as diretrizes da empresa a
conceitos de Direcionadores de Valor, BSC,
KPIs, PDCA, Relação Causa e Efeito, Visão,
Missão, Valores, Análise SWOT e principal-
mente OKRs. Com o mapa é possível visu-
alizar de forma simples e transparente to-
das as prioridades e os OKRs Estratégicos,
Táticos e Operacionais em uma única folha.
A capacitação técnica operacional no
Metrô é atribuição da equipe de engenha-
ria da operação, que em parceria com as
demais áreas operacionais é responsável
pelo treinamento de cerca de 4.000 empre-
gados, criando equipes de alto desempe-
nho. Atualmente a área é reconhecida pelas
melhores soluções de capacitação técnica
operacional, atuando na vanguarda das
melhores práticas adotadas pelo mercado,
sendo diretamente responsável pela qua- Figura 4

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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

MUX, ATO e CMT era fortemente basea-


da em treinamento presencial, boa parte
realizado no período noturno, entre 1h
e 4h40, quando é possível simular anor-
malidades sem causar transtornos aos
passageiros na operação comercial.
Os custos de adicional noturno e
múltiplas jornadas noturnas para cobrir
a curta disponibilidade do equipamen-
to levou o Metrô a investir em recursos
para manter a qualidade do treinamento
e diminuir a carga horária e as jorna-
das noturnas. O contexto da pandemia
do Covid-19 contribuiu para acelerar o
desenvolvimento de recursos digitais
em treinamentos por videoconferência,
aproveitando empregados operacionais
afastados por comorbidades cujas ativi-
Figura 5
dades eram impossíveis de serem desen-
reuniões mensais para alinhar expectati- SIMULADORES PARA volvidas via teletrabalho.
vas e entregas. A equipe publicou 41 ar- TREINAMENTO OPERACIONAL O desenvolvimento de simuladores
tigos técnicos e conquistou três prêmios Autor: Engenheiro Armando de Rosso virtuais vai de encontro às necessida-
de melhores práticas outorgados por ins- O uso de tecnologias digitais de des de recursos digitais na otimização
tituições nacionais e internacionais do aprendizagem e simuladores virtuais dos treinamentos. Para os treinamentos
setor Metroferroviário. A metodologia contribuem significativamente no au- de sinalização, foram desenvolvidos si-
aplicada na empresa permitiu o desen- mento da efetividade da capacitação muladores referentes aos painéis PCL,
volvimento de produtos e serviços volta- técnica operacional nos equipamentos MUX e ATO. Foram mapeados os com-
dos a outras empresas do setor visando de sinalização de Sistemas Metrofer- portamentos funcionais dos painéis de
a transferência de tecnologia e obtenção roviários. controles de tráfego, que deveriam ser
de receitas não tarifárias. A capacitação dos funcionários de demonstrados nos treinamentos. A partir
Ficamos felizes em compartilhar e di- operação nos equipamentos de sinaliza- daí os simuladores foram desenvolvidos
fundir boas práticas que possibilitem su- ção normalmente era realizada com trei- utilizando-se apresentações PowerPoint
perar as expectativas dos clientes, obtendo namentos presenciais nos equipamentos com programação VBA simulando os
e sustentando resultados exponenciais a reais, com carga horária significativa comportamentos dos painéis.
partir da cultura de objetivos e resultados em períodos noturnos e uso efetivo do Os simuladores desenvolvidos permi-
chave (OKR), que na prática provou ser al- equipamento apenas no período da 1h tem visualizar de modo eficiente o com-
tamente eficaz para transformar ideias em até 4h40. Isso representa custos eleva- portamento dos painéis simulados. Nos
atitudes para sua consecução. dos associados a adicionais noturnos e treinamentos por videoconferência, os
Também é importante difundir as ino- carga horária de treinamento usada de treinandos podem atuar nos comandos
vações na implementação de metodologias forma ineficiente. do painel simulado e observar o efeito
ativas e sistema híbridos de aprendizagem Os simuladores virtuais permitem um de sua atuação.
para a capacitação técnica e gestão do co- melhor entendimento da operação do Os simuladores podem ser baixados
nhecimento na Gerência de Operações do equipamento, diminuindo a necessidade pelo treinando em seu computador pes-
Metrô de São Paulo. de atividades in loco. Dessa forma po- soal, para praticar no horário que desejar,
Experiências inovadoras contribuem demos reduzir carga horária, f lexibilizar independente dos horários reservados ao
para uma mudança de mindset e de que- horários de treinamento, provocando re- treinamento. Para fazer isso é necessário
bra de paradigmas profundamente arrai- dução de custos e maior efetividade na ter o aplicativo PowerPoint instalado no
gados. OKR representa inovação a todo capacitação. computador.
momento conseguindo mudar o patamar O Sistema de Sinalização controla a Uma sala de treinamento presencial
de desempenho, entregando resultados movimentação de trens, visando atender pode ser montada com um instrutor, “n”
exponenciais por meio de equipes de alta os passageiros em diversos quesitos ope- computadores e “n” treinandos, cada
performance, implantar essa metodologia racionais. Para atender esses quesitos, um com um painel virtual. Isso tem uma
nos processos propicia a execução da me- existe uma estrutura de equipamentos efetividade muito grande, pois cada trei-
lhor estratégia e acompanhamento do de- distribuídos em locais diferentes, como nando tem seu painel virtual disponível
sempenho com foco em resultados coleti- o Centro de Controle Operacional (CCO) por 8 horas durante o dia, ao passo que
vos, gerando o maior valor possível para o e salas técnicas nas estações. Essa estru- no modelo noturno você tem apenas um
Metrô de São Paulo, passageiros e demais tura controla a movimentação dos trens equipamento real, compartilhado por “n”
stakeholders, disseminando uma cultura de forma automática e com a menor in- treinandos durante cerca de 3 horas.
disruptiva, o espírito empreendedor e de terferência humana possível. Ressaltamos que o treinamento pre-
dono de negócio. A capacitação na operação do PCL, sencial com o equipamento real conti-

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Figura 7 - Página inicial do dashboard de capacitações técnicas
Figura 6 - Tela do simulador PCL L1 dos empregados das Estações (Fonte: autor)
nua a ser importante, mas a utilização sistema elétrico e sinalização. Por isso é na excelência nos serviços prestados no
do simulador aumenta muito a eficiência importante garantir a capacitação destes transporte metroviário (figuras 7, 8 e 9).
da parte teórica do treinamento, com os empregados, com informação atualizada,
treinandos se dirigindo à parte prática transparente e de fácil visualização. SIM360 – TREINAMENTOS EM
do treinamento com uma maturidade Os ganhos obtidos foram importan- REALIDADE VIRTUAL: SISTEMA
muito maior sobre a operação do equi- tes. O resultado gerou um impacto visual DE CAPACITAÇÃO IMERSIVA
pamento (figura 6). imediato, mostrando o que consegui- DO METRÔ DE SÃO PAULO
mos executar e aonde queremos chegar, Autores: Analista de Sistemas
DASHBOARD DE contribuindo para alinhar expectativas e Newton Ibelli de Araújo; Analista de Sis-
CAPACITAÇÃO TÉCNICA realizar o planejamento de capacitações temas Francisco Moraes Gomes; Enge-
Autor: Engenheiro Júlio Mitsuhiro técnicas com os nossos clientes internos. nheiro Willian Eder Reis da Silva; Técni-
Obuchi Possuir as informações de forma visual co Julian Del Rio; e Engenheiro Eduardo
O uso do BI (Business Intelligen- e com dinamismo proporcionou clareza, Campos
ce) permite compartilhar informações senso de foco, transparência e prioriza- As atividades de treinamento em
em dados úteis para o planejamento es- ção para as decisões estratégicas, em reu- empresas de transporte ferroviário são
tratégico, execução e monitoração das niões ágeis de planejamento. refletidas no número de acidentes, in-
capacitações técnicas operacionais dos Portanto, a aplicação de ferramentas terrupções na operação e principalmen-
empregados da Gerência de Operações de Business Intelligence permitiu veri- te na qualidade operacional percebida
do Metrô de São Paulo. O uso dos dash- ficar de forma direta e rápida quais são do sistema. São atividades essenciais,
boards permite aos gestores uma tomada os gaps das competências de um pro- porém de alto custo, dado que são rea-
de decisão efetiva, objetiva e ágil para o fissional de acordo com o seu posto de lizadas por profissionais seniores de for-
planejamento das atividades, contribuin- trabalho e não simplesmente ter uma ma presencial (figura 10).
do para uma otimização dos recursos uti- lista com o histórico de treinamentos O uso da Realidade Virtual promove
lizados e, consequentemente, para uma realizados. Além disso, contribui para maior eficiência e flexibilidade nos trei-
redução de custos. um trabalho maior que envolve toda namentos, reduzindo custos, otimizan-
A capacitação técnica envolve muita uma gestão efetiva da capacitação téc- do a realização das atividades e o uso
complexidade. Temos um quadro de mais nica operacional. No final, o grande be- dos ativos operacionais (figura 11).
de 4.000 empregados operativos que nefício é proporcionar a segurança na Os treinamentos ferroviários pos-
precisam estar aptos a operar diversos atuação dos nossos colaboradores, re- suem elevado custo, devido as necessi-
sistemas metroviários, tais como equi- f letindo no alto nível de satisfação e re- dades de afastamento para treinamentos
pamentos auxiliares, material rodante, conhecimento dos nossos passageiros e ou reciclagens, soma-se a isso o fato de

Figura 8 - Página com detalhe do backlog de capacitações técnicas Figura 9 - Capacitações nos Consoles do CCO
dos empregados das Estações

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Figura 11 - Retenção de conhecimento teórico e prático com a utilização de


Figura 10 - Pirâmide das experiências de aprendizado (Fonte: Dale, 1969) Realidade Virtual (Fonte: Nature, 2021)
os instrutores serem, quase sempre, pro- Metrô, além de contribuir para o pros- vivência em design thinking, facilitação e projetos de
fissionais seniores e de elevada capaci- seguimento do processo de inovação na inovação; pós em Novas Tecnologias, Transformação
dade técnica. A utilização da imersão em operação, com futuras implementações Digital e Agilidade; cursando MBA em Gestão de
realidade virtual permite flexibilizar as de projetos operacionais que permitirão Negócios, Inovação e Empreendedorismo; pós em
atividades de treinamento, aumentando ainda mais sustentabilidade e eficiência Gestão de Projetos de Arquitetura; Analista de
a eficiência e reduzindo os custos das operacional ao Metrô de São Paulo. Desenvolvimento e Gestão do Metrô-SP
atividades de treinamento (figura 12). E-mail: jacquelinecosta@metrosp.com.br
Também é possível utilizar o sistema * Marcelo Lemos é físico, engenheiro eletricista, ******** Jackson de Carvalho Galocha é
para aplicação de treinamentos compor- pós em Gestão de Negócios e Projetos  e pós em engenheiro eletricista, pós em Novas Tecnologias,
tamentais como por exemplo a simula- Tecnologia Metroferroviária, Chefe de Departamento de Transformação Digital e Agilidade; MBA em Liderança e
ção de atendimento aos passageiros ou Engenharia de Operação do Metrô-SP Gestão Organizacional; pós em Tecnologia Metroviária;
simulação de abordagens de rotina das E-mail: marcelo_lemos@metrosp.com.br Graduação em Administração de Empresas;
equipes de segurança (figura 13). ** Marcos Spigliatti é engenheiro eletricista, pós em Coordenador na Coordenadoria de Desenvolvimento e
O uso da realidade virtual no suporte redes de computadores, MBA em Gestão, Certificado Gestão da Capacitação Técnica Operacional do Metrô-SP
a educação vem sendo tema de muitas pela Módulo em Segurança Cibernética, Assessor E-mail: jgalocha@metrosp.com.br
pesquisas recentes, principalmente nos Técnico I do Metrô-SP ********* Armando de Rosso é engenheiro
campos da psicologia e da educação; um E-mail: spig@metrosp.com.br eletrônico, Engenheiro do Metrô-SP
estudo feito na Universidade de Saga, *** Renato Palata Santana é engenheiro eletricista, E-mail: armandorosso@metrosp.com.br
no Japão, aponta que os treinamentos Engenheiro do Metrô-SP ********** Julio Mitsuhiro Obuchi é engenheiro
utilizando a imersão em realidade virtu- E-mail: rpsantana@metrosp.com.br      eletricista, pós em Gerenciamento de Projetos e em
al promovem um nível de concentração **** Francisco Moraes Gomes é analista de Tecnologia Metroferroviária, Engenheiro do Metrô-SP
dos alunos até seis vezes maior do que sistemas, especialista em Desenvolvimento Web e E-mail: jmobuchi@metrosp.com.br
em um treinamento tradicional, e um Mestre em Cidades Inteligentes e Sustentáveis, Analista *********** Eduardo Augusto Campos é
aumento entre 20% e 30% na retenção de Desenvolvimento e Gestão do Metrô-SP engenheiro eletrônico, Mestre em Engenharia de
do conteúdo aplicado. Estes números E-mail: francisco_gomes@metrosp.com.br Produção, Coordenador de Engenharia do Metrô-SP
dão a dimensão dos ganhos em eficiên- ***** Marcelo Fernando Barreiros é matemático, ************ Willian Eder Reis da Silva é
cia, qualidade operacional e reduções de Supervisor de Manutenção do Metrô-SP engenheiro eletricista, especialista em eficiência
custo que esta inovação pode gerar para E-mail: mfbarreiros@metrosp.com.br energética, Engenheiro do Metrô-SP
as operações metroferroviárias. ****** Newton Ibelli de Araújo é analista de E-mail: willian_reis@metrosp.com.br
sistemas, Analista de Manutenção de Computador do ************* Julian Santos Del Rio é técnico em
CONCLUSÃO Metrô-SP Manutenção de Sistemas Metroferroviários, Técnico de
Todos esses projetos já trouxeram re- E-mail: ibelli@metrosp.com.br Sistemas Metroviários do Metrô-SP
sultados exponenciais para a operação do ******* Jacqueline Costa da Silva é designer com E-mail: julian.rio@metrosp.com.br

Figura 12 - Validação da tecnologia com os usuários (Fonte: Figura 13 - Console de trem modelado no software Blender (Fonte:
elaborado pelo autor) elaborado pelo autor)

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Tomada de decisão baseada


em dados: como aumentar
eficiência nas contratações

A
LEANDRO KOJIMA* / REINALDO TEIXEIRA NAPPO**

cisão. Necessário se fez o desenvolvimento


INTRODUÇÃO TABELA 1 – CLASSIFICAÇÃO DO TIPO
de sistemas que proporcionassem o auxílio
tomada de decisão baseada DE DECISÃO (SILVA, 2015)
aos gestores para que pudessem enfren-
em dados ou DDDM (Data-
tar os desafios do tempo atual e tomar
-Driven Decision Making), • Decisões Programadas
Grau de Familiaridade decisões mais assertivas e pautadas em
remete inicialmente a al- • Decisões Não Programadas
fatos e dados mais precisos e consistentes
guns conceitos que são
a utilização de ferramentas. A utilização
fundamentais para entender sobre a im- • Decisões Estratégicas
de ferramentas que apoiem o processo de
portância deste tema nas decisões de ges- Natureza • Decisões Gerenciais
tomada de decisão no nível estratégico
tão da maioria das empresas. • Decisões Operacionais
tornou-se ainda mais necessário (Petrini,
Segundo Gomes (Gomes, 2002) a pa-
• Decisões Individuais Pozzebon e Freitas, 2004).
lavra decisão é formada por “de” (que em Grau de Participação
• Decisões Coletivas O administrador tem o difícil papel de
latim significa parar, extrair, interromper)
• Decisões Satisfatórias avaliar os aspectos econômicos, operacio-
que se antepõe à palavra “caedere” (que
Tipo de Resultado • Decisões Maximizadas nais, as mudanças do mercado e buscar
significa cindir, cortar). Tomada ao pé da
• Decisões Otimizadas processos que facilitem a tomada de de-
letra, a palavra decisão significa “parar de
cisões. Os caminhos percorridos devido as
cortar” ou “deixar fluir”.
de controle sobre as variáveis, na maioria decisões tomadas podem trazer lucros ou
No cotidiano, decisões precisam ser to-
dos casos são situações associadas ao am- prejuízos ao seu negócio. A tabela 1 esta-
madas diante de problemas que possuem
biente externo das organizações. As deci- belece a classificação dos tipos de tomada
mais do que uma alternativa para solução.
sões tomadas sob condições de incerteza de decisão que devem ser considerados
É notório que o ato de decidir não é fácil e
têm sido amplamente pesquisadas, autores (Silva, 2015).
exige dos gestores uma capacidade analíti-
como Hammond, Keeney e Raiffa (2004), Decidir o que mudar, em qualquer em-
ca e apurada (Perdigão, 2012). Mesmo em
dentre outros, estudaram as condições presa ou negócio, é uma tarefa crítica, po-
soluções de problemas com apenas uma
deste processo de incerteza e as armadi- rém também é a única que faz com que
única opção, sempre haverá a alternativa
lhas envolvidas. a situação atual da empresa seja alterada,
de se tomar ou não essa ação.
Os autores corroboram este entendi- podendo levá-la ao sucesso ou ao fracasso.
A tomada de decisão é um dos pro-
mento citando armadilhas psicológicas Sempre que se pensa em tomada de
cessos no qual os gestores são envolvidos
que interferem no processo decisório e decisão devem ser avaliados quais aspec-
diariamente e, muitas vezes, não se dão
que chegam a “[...] sabotar mesmo as de- tos serão considerados para esta decisão,
conta de sua importância e necessidade.
cisões consideradas com maior cuidado”. além dos aspectos de certeza e incerteza,
Diante das mudanças ocorridas no mundo,
As principais armadilhas são: armadilha da já citados, pode-se também classificar es-
o processo de tomada de decisão também
âncora; armadilha do “status quo”; arma- ses aspectos em dois grandes grupos, as-
mudou significativamente, tornando-se
dilha do custo investido; armadilha da evi- pectos analíticos e aspectos emocionais.
mais evidente a necessidade de melhores
dência confirmada; armadilha das tabelas Em um mercado cada vez mais com-
condições para os tomadores gestores.
comparativas; armadilha da estimativa petitivo, a tomada de decisão deve sempre
Hoje existem mais fatores que influen-
e da previsão; armadilhas do excesso de caminhar e considerar muito mais aspectos
ciam no processo de tomada de decisão
confiança/prudência (Hammond, Keeney e analíticos do que emocionais. Essencial-
do que na antiguidade (Shimizu, 2001;
Raiffa 2004). mente, a tomada de decisão baseada na
Gomes, 2002; Bazerman, 2010). As deci-
Com o advento da globalização, do análise de dados correta acaba valorizando
sões geralmente são fundamentadas em
aumento da competitividade e da maior as escolhas apoiadas em informações verifi-
duas vertentes: em situações de certeza
consciência por parte dos consumidores cáveis e consistentes. As empresas não pre-
e em situações de incerteza. As condições
que exigem produtos e serviços cada vez cisam depender de colaboradores altamen-
de certeza são aquelas em que se pode
mais adequados às suas necessidades, o te capacitados para interpretar números e
exercer o controle sobre as variáveis que
processo decisório das empresas se tornou estatísticas. Hoje, os próprios executivos e
influenciam na decisão, geralmente situ-
muito mais complexo, tornando necessário os profissionais de todos os níveis podem
ações ligadas ao ambiente interno das or-
o uso de ferramentas computacionais para conseguir esses indicadores sozinhos, com
ganizações. Já as condições de incerteza,
dar suporte ao processo de tomada de de- a ajuda de ferramentas apropriadas.
por sua vez, configuram-se pela ausência

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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

Apesar de a experiência ajudar a não teligência artificial atingirão 52 bilhões de bases de conhecimento nas áreas de Inteli-
cometer os mesmos erros e a escolher o dólares até 2021 (ABES - Associação Bra- gência de Negócios do Metrô-SP, utilizan-
melhor caminho, basear-se em dados in- sileira das Empresas de Software, 2019). do os dados disponíveis nos sistemas de
teligentes acaba tornando o processo de Outro estudo realizado pela MicroStrate- informação, contratos, documentos e con-
tomada de decisão muito mais sistemático, gy, com profissionais de inteligência de troles das áreas responsáveis pelos proces-
pois eles independem de emoções. Dados, negócios, registra que no Brasil 60% das sos. Os painéis, integrados, com interface
de forma geral, são objetivos e racionais. empresas utilizam a Inteligência de Negó- visual amigável, navegável dinamicamente
Eles apresentam o que de fato está aconte- cios para orientar estratégias e mudanças e com alto grau de mobilidade, permitirão
cendo, independentemente se vão contra nos negócios com aplicações avançadas o monitoramento e controle preditivo dos
ou não às expectativas do negócio. e preditivas (MicroStrategy, 2020). Como eventos correlacionados e a visão global
Nesse sentido, tomar decisões impor- benefícios, a cultura baseada em dados, das aquisições. Além disto, a correlação
tantes com base em dados pode embasar apresenta: melhor competitividade, maior de dados integrados formará uma base de
melhor as estratégias e alterar o que for foco no cliente, minimização dos custos e conhecimento para agregar valor e propi-
necessário onde realmente seja preciso. aumento de agilidade (Moreira, 2020). ciar potencial de análise e métricas para
Tomar decisões com base em dados Com estes conceitos bem estrutura- tomada de decisão, com base em indica-
exige de forma essencial o conhecimen- dos, a gestão da Gerência de Logística do dores relevantes de complexidade, custo,
to do problema que deve ser solucionado. Metrô de São Paulo, avaliando a situação prazo, nível de risco e posicionamento es-
Desse modo, fica bem mais fácil explorar inicial de sua administração, entendeu ser tratégico. Deve ser considerado ainda, que
as informações e os dados disponíveis em premente a adoção de uma metodologia a construção de um sistema eficiente de
suas mãos. Ao identificar o problema, o de tomada de decisão baseada em dados, inteligência necessita de uma integração
passo seguinte é definir indicadores que utilizando ferramentas de Inteligência de forte entre pessoas e tecnologia (Petrini,
possam ser usados para análise e que vão Negócios, visando principalmente o au- Pozzebon e Freitas, 2004).
ser o seu verdadeiro norte para mapear mento do sucesso e eficiência das suas Um estudo de caso será descrito, de-
possíveis soluções. Toda e qualquer ação contratações. monstrando que a aplicação destas fer-
pode ser mensurada com a revolução digi- No caso da Gerência de Logística do ramentas e metodologia possibilitaram
tal. É preciso que você se faça as seguintes Metrô de São Paulo, o cenário inicial ob- analisar a causa raiz dos insucessos nos
perguntas: servado apresentava uma ineficiência no pregões, aumentando a eficiência de
(1) o que realmente preciso mapear para processo de aquisição, com fracassos nos 45,5% em janeiro de 2019 para 79,4%
solucionar meu problema? pregões na ordem de 45% ( jan/19), que em dezembro de 2019, ou seja, um ganho
(2) como vou mapear? resultavam em uma indisponibilidade de de 74%. Esse ganho implicou em menos
(3) o quanto uma determinada informação materiais críticos e estratégicos, para as retrabalho para todo o processo de con-
é importante para possíveis soluções? áreas de manutenção e operação. tratação do Metrô de São Paulo e maior
Agrupar os dados acaba passando pelo Além disto, havia uma série de con- disponibilidade de materiais estratégicos e
processo de estruturação. Sabe-se que em troles paralelos em planilhas distintas, críticos no estoque da empresa. O aumen-
sua maioria, um gestor não vai ter tempo descentralizadas e não integradas. Esse to na eficiência, possibilitou ainda maior
para agrupar as informações e os dados. cenário de caos somado as incertezas do assertividade na previsão orçamentária
Uma solução simples para esse caso é iden- mercado financeiro, a complexidade das dos gastos públicos, resultando em um in-
tificar ferramentas que podem coletar e es- aquisições e a necessidade de agilidade cremento de 39% de eficiência em relação
truturar dados, classificando-os de maneira e eficiência no processo decisório foram ao ano anterior.
padronizada e extraindo valor real deles. aspectos decisivos para a adoção de ferra- Outra oportunidade identificada foi
Um software confiável é fundamen- mentas e de uma metodologia para a to- relacionada aos leilões de materiais inser-
tal para o monitoramento de atividades mada de decisões baseada em dados. Essa víveis, que em razão da baixa movimenta-
de negócio, tendo a tarefa de apresentar descentralização da informação é um erro ção mapeada pela análise de dados, resul-
indicadores em tempo real. E quanto mais bem comum quando falamos de um pro- taram em uma receita não acessória de 3
a tecnologia avança, mais há necessidade jeto de data analytics (Openheimer, 2020) milhões de reais em 2019.
de se trabalhar com grandes volumes de e devemos considerar que transformar Serão descritas ainda, oportunidades
dados. A tomada de decisão baseada em dados em informação de valor é essencial de melhorias no gerenciamento de supri-
dados garante que você alcançará os resul- para o sucesso de qualquer negócio. mentos e os possíveis trabalhos futuros
tados esperados. A aplicação destas ferramentas e meto- resultantes do Artigo Técnico.
A sabedoria e o domínio do conheci- dologia, associadas ao Enterprise Resource
mento se traduzem em diferencial compe- Planning (ERP), possibilitam analisar, por DIAGNÓSTICO
titivo empresarial no século 21. Esse con- exemplo, a causa raiz dos insucessos nos Na fase de diagnóstico será analisado o
texto de incertezas e mudanças constantes pregões eletrônicos, aumentando a dispo- processo de contratação de materiais, as di-
reforça que as decisões que foram sucesso nibilidade dos materiais, bem como redu- ficuldades, os riscos e impactos, bem como
no passado, não são mais as únicas alter- zindo consideravelmente o retrabalho em a importância e relevância da análise de da-
nativas para a tomada de decisão nas aqui- todas as áreas de contratação do Metrô de dos para tomada de decisão, que propicia-
sições futuras. Um estudo chamado de São Paulo – Metrô-SP. ram a revisão de documentos importantes
Mercado Brasileiro de Software - Panora- Diante desse contexto este artigo pre- no Metrô-SP, com consequente mudança
ma e Tendências, realizado pela IDC Brasil, tende descrever os dashboards desenvol- de processo e posterior crescimento dos
indica que os investimentos globais em in- vidos, as possibilidades de integração das indicadores de performance, descritos no

150 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


PE-29-010 - Indicadores de Desempenho SP, disponível no endereço http://www. na ou o menor dos valores obtidos na
dos Macroprocessos GLG (Metrô, 2020) e bec.sp.gov.br/, pesquisa pública em mídia pesquisa de preços, desde que o cálcu-
eficiência das contratações de materiais no especializada e avaliação de contratos re- lo incida sobre um conjunto de três ou
Metrô-SP. Esses aspectos foram levantados centes ou vigentes, deveria ser adotado, mais preços, oriundos de um ou mais dos
em janeiro de 2019 pelos gestores da Gerên- preferencialmente, a média aritmética parâmetros adotados neste artigo, des-
cia de Logística com o intuito de apresentar (MA) entre a mediana (MEDV) dos valores considerados os valores inexequíveis e
melhor eficiência e resultado nos processos encontrados e o último preço (UP) pago os excessivamente elevados), combinado
de contratação de materiais. no último contrato, o que poderia não re- com o §3º (poderão ser utilizados outros
tratar a realidade e implicar na adoção de critérios ou metodologias, desde que de-
1. Tomada de Decisão Baseada valores abaixo do mercado. Esta ação sem vidamente justificados pela autoridade
em Dados – Contextualização dúvida alguma, tentava de forma unifor- competente).
O processo de aquisição de materiais me proteger a empresa de possíveis sobre Ficava ainda uma questão, esta alte-
no Metrô-SP é composto de quatro fases: preços, contudo por não ser uma análise ração de estratégia não poderia fazer com
Análise da necessidade de compra de caso a caso em razão da ausência de dados que o Metrô de São Paulo desembolsasse
materiais a serem adquiridos, mediante históricos, poderiam implicar em fracassos valores acima do praticado no mercado?
Material Requirement Planning (MRP). nos pregões, gerando um custo de retra- Para responder essa questão era fun-
-Pesquisa de Preços; balho de todo o processo, em boa parcela damental o acompanhamento, não so-
-Definição do orçamento estimado; dos casos acima da possível economia com mente do resultado dos pregões (sucesso
-Emissão da RC (Requisição de a adoção de um valor abaixo do praticado x insucesso), mas também a possível eco-
Compras). pelo mercado. Mais do que isso, o não res- nomia alcançada entre o valor referencial,
Nestes processos de aquisições, que suprimento no momento adequado, cau- adotado pelo Metrô-SP, e o valor negocia-
já eram consagrados dentro da Gerência sava prejuízos intangíveis para o Metrô-SP do. Em 2020 a economia dos pregões em
de Logística, destacava-se negativamen- em razão da eventual indisponibilidade de relação ao valor orçado foi na ordem de
te, em janeiro de 2019, o insucesso dos equipamentos vitais. Outro desdobramen- 26,9%, o que representa até o mês de ju-
pregões, que naquele momento havia al- to resultante dessa prática é a abreviação nho de 2020 o valor de aproximadamente
cançado o índice de 45,5%, ou seja, mais no ponto de reposição dos materiais, ou 10 milhões de reais.
da metade dos pregões realizados fracas- seja, para compensar o retrabalho e fra-
savam, o que acarretava para o Metrô-SP cassos nos pregões, adotava-se postura 2. Revisão do Regulamento de
altos custos com os retrabalhos de todo o conservadora com antecipação no ponto Licitações, Contratos e demais ajustes
processo de aquisição, que não envolve de reposição, implicando no aumento do da Companhia do Metropolitano
somente a Gerência de Logística, e prin- estoque contábil. de São Paulo – METRÔ-SP
cipalmente afetavam significativamente a Diante de todo esse contexto, após a O orçamento estimado na revisão 1
disponibilidade de materiais em estoque. análise baseada em dados, discussões com do Regulamento de Licitações, Contratos
Para este processo iniciou-se uma outras partes interessadas e simulações e demais ajustes da Companhia do Metro-
avaliação para buscar a causa raiz desses definiu-se que para a tomada de preços politano de São Paulo – METRÔ, baseado
fracassos, a primeira causa observada e dos processos de aquisição seria adotada, na Lei nº 13.303, de 30 de junho de 2016
que remete ao cerne deste artigo era a conforme preconiza a legislação vigente, (Brasil, 2016), não permitia que o prego-
evidente descentralização dos dados e in- preferencialmente a mediana (MEDV) dos eiro ou comissão de licitação o divulgasse,
formações do processo. Cada empregado valores encontrados durante todo o pro- anteriormente, na fase de negociação. Tal
envolvido no processo de aquisição tra- cesso de pesquisa de preços, com esta circunstância implicava em muitos casos
tava de uma parte do processo, de forma conclusão a Gerência de Logística enca- na desistência da negociação em razão da
segmentada, e o gestor não possuía uma minhou consulta à Gerência Jurídica do quantidade de lances ofertados, sem atin-
ferramenta que centralizasse todas as in- Metrô de São Paulo, sobre a possibilidade gir ao valor mínimo orçado. Como o pre-
formações, para que ele pudesse analisar de utilização pelo Metrô-SP dos regra- goeiro não tinha a previsibilidade, por lei,
todos os dados e assim tomar a melhor mentos trazidos pelo Decreto estadual nº de quebrar o sigilo, em muitos casos um
decisão sobre o processo. 63.316/2018, que revogou expressamente dos lados desistia e o processo resultava
Com a criação de um BI de monitora- a norma anterior sobre a formação de or- em fracasso. Com a revisão do Regula-
mento dos pregões pode-se observar que çamento para aquisição de materiais pelas mento, o art.º 35 permite, agora, a pos-
uma das principais causas dos insucessos empresas da Administração Direta e em- sibilidade de divulgação do orçamento o
ocorria devido aos preços acima do refe- presas controladas direta e indiretamente que facilita a fase de negociação, reduz o
rencial, ou seja, o Metrô de São Paulo re- pelo Estado. prazo e aumenta a chance de sucesso dos
ferenciava um preço para o pregão abaixo A manifestação jurídica foi favorável pregões eletrônicos.
do que o mercado praticava. à adoção da nova sistemática, apontan- “Art. 35. O orçamento estimado da
Essa adoção de preço era norteada por do que poderia ser utilizada metodologia contratação deixará de ter caráter sigilo-
um procedimento operacional de Aquisição que também leve em conta o histórico de so após a assinatura do contrato ou con-
de Materiais – PO-29- 089 (Metrô, 2019), preços praticados ao METRÔ-SP, desde firmação do recebimento de documento
que indicava para o analista do processo que respeitado o disposto no §2º do art. equivalente, permitindo-se ao pregoeiro
que após as pesquisas de mercado, junto a 2º (serão utilizados, como metodologia ou comissão de licitação divulgá-lo, ante-
fornecedores habituais e potenciais, banco para obtenção do preço de referência riormente, na fase de negociação, se assim
eletrônico de preços, denominado Preço para a contratação, a média, a media- entender conveniente.”

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3. Dificuldades encontradas no 1. Sucesso dos Pregões Eletrônicos e dezembro de 2019, respectivamente.


processo de tomada de decisão A figura 1 ilustra o gráfico de suces- Após revisão desses dois documentos e
O cenário no início de 2019 na Gerên- so nos pregões na qual observa-se que a implantação dos novos processos, ou seja,
cia de Logística do Metrô-SP contemplava meta de 60% no período de janeiro de utilização da mediana para o cálculo do
a utilização de controles descentralizados 2019 a agosto de 2019 e de 70% no pe- valor referencial, conforme legislação vi-
e individualizados, em pastas e computa- ríodo de setembro de 2019 a março de gente; possibilidade de abertura do orça-
dores específicos dos gestores, sem inte- 2020, bem como a evolução dos resul- mento na fase de negociação fizeram com
gração, base de dados confiável e critérios, tados dos pregões mensalmente desde que o percentual de sucesso nos pregões
dificultando ou retardando o processo de janeiro de 2019 até março de 2020, perí- aumentasse de 46% para 85%, em doze
tomada de decisão nas contratações. odo exato antes da pandemia de Corona- meses. Isto representa 84,78% de aumen-
Considerando esse contexto, soma- vírus. Pode-se observar que em janeiro to na eficiência do processo, ao longo de
do ao cenário de incerteza, volatilidade de 2019 ocorreu o menor percentual de doze meses, consequentemente resultando
cambial e de difícil aquisição de materiais sucesso nos pregões com apenas 46% , o em: (A) Menos retrabalho dos processos;
estratégicos, complexos e específicos fa- que demonstra que o retrabalho era su- (B) Menor custo administrativo para exe-
zem com que o processo decisório tenha perior ao êxito nos processos. A partir cução de todas as fases do processo; (C)
importância vital. Dessa forma, fatores desse baixo desempenho, com base na Aumento de disponibilidade dos materiais.
como agilidade e precisão na tomada de análise de dados verifica-se basicamente
decisão são prementes e somente possí- dois problemas. 2. Valor Orçamentário x
veis com a adoção de ferramentas e de a) Pesquisa de mercado defasada, Valor Contratado
uma metodologia para a tomada de deci- com base em um coeficiente de mino- A figura 2 ilustra o gráfico de Valor
sões baseada em dados. ração da mediana apontada no item Orçamentário x Valor Contratado de Mate-
“Tomada de Decisão Baseada em Dados riais no Metrô de São Paulo onde pode-se
ANÁLISE DOS RESULTADOS – Contextualização”, que ocasiona- observar o aumento de eficiência no perí-
Para a fundamentação na análise dos va parcela significativa de fracasso em odo de jan-jun/2020 em relação ao perío-
resultados e demonstração da importância razão de preço acima do orçamento na do de jun- dez/2019. A taxa de sucesso no
da análise de dados na tomada de deci- fase de pregão eletrônico. período de 2020 é de 78,26%, enquanto
são dos processos de contratação, foram b) Orçamento Sigiloso inclusive na nos seis meses anteriores de 2019, esse
analisados os resultados de dez critérios, fase de negociação, conforme apontado percentual era de 67,9%, o que representa
sendo eles: o sucesso dos pregões eletrô- no item “Revisão do Regulamento de Li- uma melhora de 15,25% com essas ações.
nicos, o valor orçamentário x valor execu- citações, Contratos e Demais Ajustes da Em contrapartida, também se verifica
tado, o Ranking de Fracasso nos Pregões Companhia do Metropolitano de São Paulo que a economia nos pregões reduziu de
por Grupo de Mercadorias, por Modalidade – METRÔ”, na qual ocasionava a desistên- 32,1% em média, para 26,9%, uma que-
de Participação, o Orçamento Previsto x cia das empresas, mesmo em circunstân- da de 16,1%. Essa redução na economia
Realizado – 2020, a Taxa de Aprovação dos cias próximas de valores, já que o pregoei- é mais um elemento que comprova que a
Materiais, a Disponibilidade de Materiais, ro não poderia informar quanto por cento mudança na metodologia na pesquisa de
o Estoque Contábil, a Acuracidade do Es- (%) estava de diferença entre o valor orça- mercado e/ou a abertura do orçamento
toque e o Custo de Pessoal. do e valor ofertado pelas empresas. sigiloso na fase de negociação não são
Para validação de qual tal metodologia Conforme já relatado nos itens an- fatores que implicam em aumento do
surtiu efeito, além dos números e resul- teriores, os documentos correspon- orçamento e consequente maior econo-
tados apresentados foi efetuada uma pes- dentes aos critérios de pesquisa de mia resultante da distorção entre o valor
quisa com 100% dos gestores da Gerência mercado (Metrô, 2019) e o Regulamen- adotado e o contratado. Pelo contrário, o
de Logística do Metrô-SP, na qual pode-se to (Metrô, 2019) que previa o orça- aumento no sucesso dos pregões prova-
constatar os ganhos observados na visão mento sigiloso na fase de negociação, velmente é resultante de pregões que ti-
desses gestores. foram revisados nos meses de outubro nham o preço da pesquisa muito aderente

Figura 1 - Gráfico do Sucesso nos Pregões Eletrônicos de Figura 2 - Valor Orçamentário x Valor Contratado de Materiais no
Materiais no Metrô de São Paulo Metrô de São Paulo

152 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


a todos existência digna, conforme os di-
tames da justiça social, observados os se-
guintes princípios: [...]
IX - Tratamento favorecido para as
empresas de pequeno porte constituídas
sob as leis brasileiras e que tenham sua
sede e administração no País.
Art. 179. A União, os Estados, o Distri-
to Federal e os Municípios dispensarão às
microempresas e às empresas de pequeno
porte, assim definidas em lei, tratamento
jurídico diferenciado, visando a incentivá-
-las pela simplificação de suas obrigações
Figura 3 - Ranking de Fracasso por Grupo de Mercadorias administrativas, tributárias, previdenci-
árias e creditícias, ou pela eliminação ou
redução destas por meio de lei.”
O art. 47 da LC 123/2006, determina
que, nas contratações dos entes públicos,
deverá ser concedido um tratamento dife-
renciado para pequenos empreendimentos
com a finalidade de fomentar políticas de
interesse coletivo, objetivando a promoção
do desenvolvimento econômico e social no
âmbito municipal e regional, a ampliação
da eficiência das políticas públicas e o in-
centivo à inovação tecnológica (BRASIL,
Figura 4 - Resultado por Modalidade de Participação 2006). Para alcançar esses objetivos o art.
48, I da LC 123/2006 estabelece que a ad-
à condição de mercado, o que denota um fazem com que ocorra uma dificuldade na ministração pública deve realizar licitação
menor percentual de economia. Outros análise de amostras apresentadas entre a exclusiva para ME e EPP nos itens de con-
aspectos que devem ser considerados fase de adjudicação e homologação desses tratação cujo valor seja de até 80.000 reais
no impacto na redução da economia nos materiais. (BRASIL, 2006).
pregões eletrônicos são: (A) As mudanças Ademais, a possibilidade de considerar
nos cenários econômicos e políticos; (B) 4. Ranking de Fracasso nos Pregões cada item ou lote separadamente, fizeram
As incertezas e riscos de mercado; (C) A por Modalidade de Participação com que aumentasse as possibilidades de
volatilidade cambial. A figura 4 ilustra o Ranking de Fra- licitações com participação exclusiva prin-
casso nos Pregões por Modalidade de cipalmente no caso de materiais que na
3. Ranking de Fracasso nos Pregões Participação. Pode-se destacar que 45% maior parte dos casos não supera esse valor.
por Grupo de Mercadorias dos processos na modalidade de licitação Outro aspecto relevante, foi incorpo-
Outro ponto fundamental na análise exclusiva ME/EPP, para valores abaixo rado com a Lei Complementar nº 147/14,
baseada em dados pode ser observado na de 80.000 reais fracassam, são desertos que estabeleceu que as cotas são uma
figura 3 que ilustra o Ranking de Fracas- ou revogados. No caso de licitações com obrigação ao gestor, no art. 48, III, caso
so nos Pregões por Grupo de Mercadorias. ampla participação mais com aplicação de o gestor público necessite adquirir bens
Pode-se destacar os cinco primeiros gru- 25% de cotas, ocorre fracasso em 20,62% de natureza divisível em valor que supere
pos de materiais que impactam no fracas- dos processos. Isto acontece, em razão 80.000 reais, deve separar uma cota de até
so em ordem quantitativa: Ferragens, Re- das microempresas (ME) e empresas de 25% para competição exclusiva de ME e
sistores, Capacitores, Condutores Elétricos pequeno porte (EPP) nem sempre pos- EPP, sendo o restante destinado à disputa
e Uniformes. suírem documentação regular ou receita de empresas de qualquer porte. Com isto,
Os quatro primeiros itens são materiais bruta para participação dos pregões ele- a condição de licitação para aquisição de
com volume considerável, ou seja, gran- trônicos para fornecer ao Metrô de São bens de natureza divisível sem estabele-
de quantidade adquirida, mas com baixo Paulo ou outros órgãos institucionais. cimento de cota não pode ser efetuada e
valor agregado. Nesses casos, em razão Pode-se observar que para o caso de am- configura prática ilegal do gestor.
do rigor nos critérios de análise técnica e pla participação os fracassos são reduzi- Dessa forma, somente pode-se lici-
condições comprobatórias de habilitação, dos para 16,43%. tar materiais sem a aplicação de cotas,
pode ocorrer a redução no interesse na Este tratamento diferenciado encontra após o fracasso da licitação exclusiva e
participação do certame. O item específi- amparo nos artigos 170, inciso IX e 179 da cotizada, ou se o material for indivisível,
co de uniformes possui uma característica CF/1988 (Brasil, 1988), respectivamente: ou ainda se houver justificativa de tais
singular de dificuldade de aquisição em “Art. 170. A ordem econômica, funda- materiais não podem ser fornecidos por
razão das características dimensionais, de da na valorização do trabalho humano e empresas de pequeno porte. A análise de
material e da diversidade de modelos que na livre iniciativa, tem por fim assegurar dados permite identificar essa taxa dife-

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renciada de eficiência nos três modelos,


bem como demonstra a importância de se
analisar caso a caso, e com base nas lições
aprendidas dos fracassos permitir que os
gestores justifiquem objetos indivisíveis
ou que não possam ser fornecidos por
empresas ME/EPP em razão de problemas
de habilitação.

5. Orçamento Previsto x
Realizado - 2020
A análise de dados colabora ainda para
a tomada de decisão quanto à aplicação
orçamentária ao longo do exercício fiscal.
A figura 5 ilustra o gráfico do orçamento
previsto x realizado no ano de 2020 que
demonstra ao longo dos meses, o fluxo de Figura 5 - Orçamento Previsto x Realizado em 2020
caixa da conta estoque e permite em razão
desse fluxo a antecipação ou controle mais No passado essa medição segmentada
apurado e balanceamento dos pedidos de não ocorria e conforme pode-se obser-
compra. Com isto, há possibilidade de ca- var no gráfico, há ainda uma destina-
librar essa taxa de execução com base no ção de recursos para materiais não tão
cenário econômico da empresa. Um exem- críticos com atendimento ao ANS dos
plo disto, ocorreu com a pandemia de co- materiais de índice de falta 2 e 3 e em
ronavírus, na qual foi necessária a redução contrapartida os materiais estratégicos
de 10% da conta estoque, o que represen- e com índice de falta 1 apresentam ca-
ta 8 milhões de reais, visando o equilíbrio rência no atendimento do ANS. Essa vi-
financeiro em razão da queda na arreca- são permitiu a adoção de ata de regis-
dação do Metrô-SP. Sem tais dados, não Figura 6 - Taxa de Aprovação de Materiais tro de preços para os materiais comuns
seria possível essa tomada de decisão tão de prateleira, com índice de falta 3 e
rápida e segura. um Acordo de Nível de Ser viços - ANS a priorização de recursos tanto finan-
com os clientes da área de logística. ceiros como humanos nas contratações
6. Taxa de Aprovação dos Materiais Essa segmentação é fator prepon- de materiais estratégicos e com índi-
A figura 6 demonstra a taxa de apro- derante na tomada de decisão conjunta ce de falta 1 que podem comprome-
vação dos materiais com base na análise quanto à priorização das contratações. ter a operação do sistema metroviário.
de conformidade da especificação duran-
te as inspeções de materiais e sistemas.
Tal percentual é importante para análise
e tomada de decisão quanto a eventuais
problemas nas especificações técnicas,
cláusulas contratuais, ou ainda na ne-
cessidade de desenvolvimento de forne-
cedores para determinado materiais que
tenham recorrentemente reprovações por
essas circunstâncias.

7. Disponibilidade de Materiais
A medição e transparência nos da-
dos de disponibilidade de materiais
para os clientes é fundamental na to-
mada de decisão e priorização das
contratações. A figura 7 ilustra essa
disponibilidade dividida por segmento
dos materiais. Além da disponibilida-
de geral de 94,7% , há a disponibilida-
de dividida em materiais estratégicos,
pelos índices de falta dos mesmos, por
materiais administrativos, EPIs, ma-
nutenção e uniformes. Para cada índi-
ce de disponibilidade foi formalizado Figura 7 - Disponibilidade de Materiais – Metrô de São Paulo

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da qualidade e confiabilidade da informa-
ção existente nos sistemas de controle,
no caso do Metrô-SP o SAP, em relação
à existência física desses materiais con-
trolados. A falta de precisão nos dados
coletados pode afetar e implicar em risco
aos gestores e ao Metrô-SP. Qualquer in-
formação errada do saldo de estoque pode
acarretar em uma decisão equivocada na
área de planejamento das contratações e
dos estoques, atrasando uma operação,
aumentando o estoque contábil e/ou até
impactando em materiais vitais para a
operação do sistema metroviário.

10. Custo de Pessoal


Finalmente, um dos aspectos mais im-
Figura 8 - Estoque Contábil – Materiais – Metrô de São Paulo portantes na análise de dados para a toma-
da de decisão é o efeito que as mudanças
nas tomadas de decisão afetam os recursos
empregados, ou seja, se para o aperfeiço-
amento dos processos há necessidade de
incremento de mão de obra.
Desde o início de 2019, com as mu-
danças efetuadas e subsidiadas na tomada
de decisão baseada em dados, verifica-se o
reflexo na melhora de performance e efi-
ciência dos processos, com comprovação
direta mediante a indicadores positivos.
Essa melhoria de eficiência poderia estar
Figura 9 - Acuracidade de Estoque – Materiais – Metrô de São Paulo diretamente associada a um incremento
de custo de pessoal e aumento de equipe,
contudo conforme demonstrado na figura
10 o custo mensal com pessoal da Gerên-
cia de Logística foi reduzido para aproxi-
madamente 4 milhões de reais por mês, o
que representa uma redução de 5%, em
relação à média do ano de 2019.
Em termos quantitativos, a figura 11
demonstra que houve uma redução no
quadro de profissionais de 356 emprega-
dos em jan/2019 para 321 em jan/2020, ou
Figura 10 - Custo de pessoal – Gerência de Logística – Metrô de São Paulo seja, uma redução de 9,83% no quadro de
empregados da gerência.
8. Estoque Contábil tocados nos almoxarifados da empresa no
Um dos pontos mais críticos e, um dos Pátio Jabaquara, Itaquera, Tamanduateí e 11. Pesquisa com empregados
principais objetivos da área de logística, Oratório. O gráfico ilustra ainda, o valor do Metrô-SP
é balancear o aumento na disponibilida- dos materiais em terceiros, ou seja, em A pesquisa cujo público alvo foram
de de materiais, resultante do aumento no manutenção externa e destinados para a os empregados do Metrô-SP da Gerência
sucesso dos pregões com a redução do es- operadora Via Mobilidade. O controle des- de Logística que possuem algum tipo de
toque contábil. A necessidade de manter o ses dados é fundamental para tomada de atividade relacionada às contratações, foi
estoque o mínimo possível visa diminuir o decisão quanto à política e estratégia para feita por meio de um questionário eletrô-
valor agregado a esse estoque, bem como gestão adequada de estoque. nico padronizado, respondido digitalmen-
o custo de manutenção e depreciação dos te via internet.
materiais, possibilitando destinar os recur- 9. Acuracidade de Estoque As características dos empregados pes-
sos e capital ocioso para outra finalidade. Com relação à acuracidade de esto- quisados estão demonstradas na figura 12.
A figura 8 ilustra o valor do estoque con- que, novamente pode ser observada a im- Pela pesquisa pode-se observar que
tábil do Metrô ao longo dos meses e pode portância na medição de tais dados para 100% dos empregados entrevistados
ser observado que em 2020 representa 205 balanceamento e alocação de recursos. O possuem no mínimo nível superior e par-
milhões de reais apenas em materiais es- gráfico da figura 9 ilustra esse indicador ticipam diretamente ou indiretamente de

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decisões estratégicas nas contratações.


A pesquisa visou analisar como os
empregados se relacionam com as ques-
tões relacionadas para a Tomada de Deci-
são e como estas permeiam suas ativida-
des, tentando identificar, oportunidades
e riscos para melhoria do processo. No
total foram 21 gestores entrevistados, o
que representa aproximadamente 10% do
número total de gestores da Diretoria de
Operações da empresa.
Com relação aos quesitos relaciona-
dos à tomada de decisão, nota-se que os
pesquisados estão cientes da importância,
conforme pode ser observado no Questio-
namento 1 (figura 13), sendo que pode-se
destacar como pontos relevantes na
Análise:
(a) Da tomada de decisão baseada em
dados e sobre a utilização do Dashboard Figura 11 - Quantidade de Empregados – Gerência de Logística – Metrô de São Paulo
como ferramenta para a Tomada de De-
cisão com 95% dos entrevistados opinan-
do que os dois quesitos são essenciais ou
muito importantes.
(b) Da tomada de decisão baseada
em experiência com 62% dos entrevista-
dos opinando que o quesito é essencial
ou muito importante, demonstrando que
a tomada de decisão baseada em dados é
extremamente importante, contudo não
deve ser descartada a decisão baseada na
experiência e a possível associação desses
dois conceitos no processo decisório eleva
o potencial de acerto, minimizando riscos
e perdas para a empresa.
(c) Da importância de integração de
dados em um único local com 90% dos
entrevistados opinando que é o quesito
é essencial ou muito importante. De nada
adianta um conjunto de dados disperso e
sem integração.
(d) Da disponibilidade de dados atua-
lizados com 100% dos entrevistados opi- Figura 12 - Características dos empregados do METRÔ-SP pesquisados
nando que o quesito é essencial ou muito
importante, ou seja, fundamental para o
processo decisório das contratações.
(e) Da mobilidade de dados em várias
plataformas com 52% dos entrevistados
opinando que o quesito é essencial ou
muito importante, demonstrando ser o
quesito menos relevante nessa fase de ma-
turidade da empresa.
(f) Da velocidade na tomada de deci-
são com 71% dos entrevistados opinando
que o quesito é essencial ou muito impor-
tante, demonstrando considerável grau de
relevância em um cenário volátil, incerto
e complexo.
Em relação ao questionamento 2, ob-
serva-se na figura 14, que 33% dos gesto- Figura 13 - Resposta ao questionamento 1: Em relação aos quesitos acima, opine

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Figura 14 - Resposta ao Questionamento 2 sobre Figura 15 - Resposta ao questionamento 3 sobre Figura 16 - Resposta ao questionamento 4
qual o grau de conhecimento em relação a DDDM a necessidade de treinamento específico em sobre o que é mais relevante, a experiência
(Data Driven Decision Management) - Tomada de Análise de Dados ou PowerBI do gestor ou uma análise de dados bem
Decisão Baseada em dados realizada
res entrevistados entendem que dominam 66,7% dos entrevistados como 1ª opção. O estudo de caso na Gerência de Lo-
totalmente ou conhecem muito o conceito (b) Redução de Custos indicado por gística no Metrô-SP demonstra um salto
de DDDM (Data Driven Decision Manage- 33,3% dos entrevistados como 2º opção. substancial nos indicadores de perfor-
ment) - Tomada de Decisão Baseada em (c) Controle de Metas indicado por mance no ressuprimento de materiais,
Dados. Uma parcela de 62% conhece o 23,8% dos entrevistados como 2º opção. com o aumento nos sucessos nos pre-
suficiente ou razoavelmente e apenas 5% (d) Aumento de produtividade indica- gões de 46% em janeiro de 2019 para
conhecem pouco o conceito de DDDM. do por 38,1% dos entrevistados como 4º 81% em março de 2020, ou seja, um
O questionamento 3, ilustra na figura opção. ganho de 76% . Esse ganho substancial
15 uma oportunidade relevante na aplica- (e) Distribuição de Tarefas e Alocação implicou em redução direta de custos
ção de treinamento específico em Análi- de Recursos indicado por 23,8% dos en- em todas as áreas envolvidas na contra-
se de Dados, considerando que 90% dos trevistados como 6º opção. tação, com menos retrabalho para todos
entrevistados entendem pertinente ou es- (f) Acordo do Nível de Serviço indica- os processos que retornavam por pre-
sencial a aplicação do mesmo aos empre- do por 23,8% dos entrevistados como 8º ços acima do referencial. Indiretamente
gados e gestores. opção. deve ser considerado que o aumento no
O questionamento 4 (figura 16), refor- (g) Indicadores apontados por 23,8% sucesso dos pregões implica em maior
ça que os gestores entendem que o mais dos entrevistados como 5º opção. disponibilidade de materiais estratégi-
relevante na tomada de decisão é a análise (h) Redução de Erros indicado por cos e críticos no estoque do Metrô-SP.
adequada dos dados. Importante destacar 38,1% dos entrevistados como 8º opção. Em junho de 2020, a disponibilidade de
que o questionamento 1 já denotava que a (i) Redução de Retrabalho indicado por materiais de demanda regular do Metrô-
experiência não deve ser descartada, mas 52,4% dos entrevistados como 9º opção. -SP é de 94,7% , ou seja, 2,32% acima
sempre que possível considerada como um do Acordo de Nível de Serviço – ANS es-
dos pontos a serem observados no proces- CONCLUSÕES tipulado com as áreas de manutenção e
so decisório. A tomada de decisão nas contrata- operação do Metrô-SP. Essa análise de
A figura 17 ilustra os apontamentos ções baseada em dados permite ao ges- dados permite ainda balancear o esto-
observados no Questionário 5, onde, po- tor aumentar a eficiência nos processos, que contábil que atualmente é de 203
de-se elencar e classificar os nove princi- reduzir os riscos e incertezas inerentes milhões de reais, priorizando aquisições
pais fatores, por grau de importância em ao cenário atual de volatilidade do mer- de materiais que apresentam reserva e
relação à aplicabilidade de um Painel em cado, restrição financeira e de altos ris- necessidade premente em detrimento de
BI (Dashboard), dos quais foram extraídos cos provenientes de um período de cala- outros cadastrados, mas sem demanda
os percentuais mais relevantes: midade pública resultante da pandemia regular. Tal balanceamento é de vital
(a) Tomada de Decisão indicada por de coronavírus. importância, sendo o ponto de desafio
no ressuprimento de materiais para que
o aumento na disponibilidade não in-
terfira negativamente e diretamente no
aumento do estoque contábil e compro-
metimento dos ativos da empresa.
O aumento na eficiência possibili-
tou ainda maior assertividade na previ-
são orçamentária dos gastos públicos,
resultando em um incremento de 39%
de eficiência de 2020 em relação ao
ano anterior e de 10% do primeiro se-
mestre de 2020, em relação ao segun-
do semestre de 2019, com economia
de 26,9% nos pregões eletrônicos em
relação ao valor orçado dos materiais a
Figura 17 - Resposta ao questionamento 5 sobre a importância em relação à aplicabilidade serem contratados.
de um Painel em BI (Dashboard) Cabe ainda destacar, que a adoção

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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

da tomada de decisão baseada em da- descrita no item 11 é a carência dos ges- gestores entrevistados entendem que
dos somente foi possível com o desen- tores, apontada por 90% dos entrevista- conhecem pouco ou razoavelmente a
volvimento e aplicação de painéis de dos, por treinamentos específicos para aplicação das ferramentas na tomada de
inteligência de negócios, oriundos de utilização das ferramentas e painéis de- decisão baseada em dados. Dessa forma,
uma base única de dados de um sistema senvolvidos para tomada de decisão ba- esse artigo resultará também em uma
integrado de gestão empresarial - SAP, seada em dados. Tal carência é reforçada ação para desenvolvimento interno de
centralizado, mantido e atualizado re- pelo questionamento 2, na qual 47% dos treinamentos específicos nessa área.
gularmente por profissionais da área.
A implantação permitiu ainda o ba- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
lanceamento adequado de recursos e
[1] ABES - Associação Brasileira das [8] MOREIRA, ESDRAS. O caminho
a distribuição de atividades de acordo
Empresas de Software. Mercado Bra- para a tomada de decisão baseada em
com critérios de priorização e critici-
sileiro de Software - Panorama e Ten- dados.
dade que em momentos anteriores não
dências. 1ª. ed. - São Paulo: ABES - <https://transformacaodig ital.com/
era possível de forma assertiva em ra-
Associação Brasileira das Empresas de dados /o-c aminho-para-a-tomada-
zão da imprecisão e indisponibilidade
Software, 2019. -de-decisao-baseada- em-dados/>.
de dados concisos.
[2] BAZERMAN, MAX HAL. Proces- Acesso em: 22 jun. 2020.
É importante salientar que todas
so decisório. Rio de Janeiro: Elsevier, [9] OPENHEIMER, MARCELO. Na cri-
essas ações foram implantadas e a me-
2010. se, transformar dados em informação
lhoria observada dos resultados, como
[3] BRASIL. Constituição da Repúbli- de valor é essencial. Disponível em:
um todo, não implicaram, em aumen-
ca Federativa do Brasil. Diário Oficial <https://www.inova.jor.
to do custo operacional da Gerência
[da] República Federativa do Brasil, br/2020/04/29/dados-informacao/>.
de Logística, pelo contrário, conforme
Brasília, DF, 5 out. 1988. Acesso em: 22 jun. 2020.
demonstrado no item 10 o custo médio
. Lei Complementar nº 123, de 14 de [10] PERDIGÃO, J. G. L. ET AL. Pro-
mensal com pessoal foi reduzido em
dezembro de 2006. Diário Oficial [da] cesso Decisório: um Estudo Compa-
aproximadamente 5% , o que represen-
República Federativa do Brasil, Brasí- rativo da Tomada de Decisão em Or-
ta uma economia de aproximadamente
lia, DF, 14 dez. 2006. ganizações de Segmentos Distintos.
3 milhões de reais em relação ao ano de
. Lei Complementar nº 147, de 7 de Simpósio de Excelência em Gestão e
2019. Em termos quantitativos, houve
agosto de 2014. Diário Oficial [da] Tecnologia, 2012.
uma redução no quadro de profissionais
República Federativa do Brasil, Bra- [11] PETRINI, M.; POZZEBON, M.;
de 356 empregados em jan/2019 para
sília, DF, 7 ago. 2014. FREITAS, M. Inteligência de Negócios
321 em jan/2020, ou seja, uma redução
. Lei nº 13.303, de 30 de junho de ou Inteligência Competitiva? Noivo
de 9,83% no quadro de empregados da
2016. Diário Oficial [da] República Neurótico, Noiva Nervosa. Curitiba:
Gerência.
Federativa do Brasil, Brasília, DF, 30 Anais do 30º Encontro da ANPAD –
Além disso, a pesquisa demonstra-
jun. 2016. Associação Nacional dos Programas
da no item 11 valida, com os gestores
[4] GOMES, L. F. A. M. Tomada de de Pós-graduação em Administração,
responsáveis, todas essas boas práticas
decisão gerencial: enfoque multicri- 2006.
de tomada de decisão baseada em dados
tério. São Paulo: Atlas, 2002. . Qual é o Papel da Inteligência de
para as contratações. Uma parcela de
[5] HAMMOND, J. S.; KEENEY, R. L.; Negócios (BI) nos Países em Desen-
95% dos gestores indicou que a tomada
RAIFFA, H. Decisões inteligentes: so- volvimento? Um Panorama das Em-
de decisão baseada em dados é essencial
mos movidos a decisões – como ava- presas Brasileiras. Curitiba: Anais do
ou muito importante como ferramenta
liar alternativas e tomar a melhor de- 28º Encontro da ANPAD – Associação
para o processo decisório e em 86% dos
cisão. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. Nacional dos Programas de Pós-gra-
casos esse critério é mais importante
[6] METRÔ. PE-29-010 - Indicadores duação em Administração, 2004.
que a tomada de decisão baseada exclu-
de Desempenho dos Macroprocessos [12] SILVA, LUCIANO. Tomada de
sivamente na experiência.
GLG. Revisão 07. São Paulo, 2020. Decisão Baseada em Dados (DDDM)
. PO–29–089 - Aquisição de Mate- e Aplicações em Informática em Edu-
1.Trabalhos Futuros
riais. Revisão 02. São Paulo, 2019. cação. Capítulo 2, IV Congresso Bra-
Como trabalho futuro, há oportuni-
. Regulamento de Licitações, Contra- sileiro de Informática na Educação,
dade de ampliar a aplicabilidade da to-
tos e Demais Ajustes da Companhia 2015.
mada de decisão baseada em dados para
do Metropolitano de São Paulo – Me- [13] SHIMIZU, TAMIO. Decisão nas
aumentar a eficiência das contratações
trô. Revisão 2. São Paulo, 2019. organizações: introdução aos proble-
ao aplicar os painéis e dashboards para
[7] MICROESTRATEGY. Global Sta- mas de decisão encontrados nas or-
outras áreas do Metrô de São Paulo, ou
te of Enterprise Analytics. Virgínia, ganizações e nos sistemas de apoio à
seja, ampliando o escopo de contratação
2020. decisão. São Paulo: Atlas, 2001.
para outros serviços, em outras gerên-
cias. Essa ampliação permitirá ainda a
coleta adequada de lições aprendidas e a * Leandro Kojima é engenheiro eletricista, mestre em ** Reinaldo Teixeira Nappo é engenheiro eletricista,
integração e troca de experiências entre Sistemas Eletrônicos, MBA em Gerenciamento de Projetos; administrador de empresas, e técnico em Mecânica; Chefe
os processos e áreas de contratação. gerente de Engenharia de Custos do Metrô-SP de Departamento de Logística de Materiais do Metrô-SP
Outro ponto constatado, na pesquisa E-mail: leandro_kojima@metrosp.com.br E-mail: reinaldo_nappo@metrosp.com.br

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃOTRANSPORTE
PAULO I ENGENHARIA

Sistema de gestão ambiental:


os benefícios de uma
abordagem sistematizada

N
RODOLFO LIMA CHIAPARIN*

o início da década de 1990 mentação de sistemas de gestão em outras Todos os elementos apresentados até o
o Metrô de São Paulo in- unidades de negócio da Companhia. momento demonstraram um contexto favo-
tensificou os estudos de Foi possível verificar que a ISO 9001 é uma rável para a implementação do SGA. Mes-
ferramentas de gestão da norma estruturadora, ou seja, uma vez imple- mo assim, logo no início foi evidenciado
qualidade, incluindo as mentada facilita significativamente a utiliza- que existiam desafios diferentes daqueles
normas ISO da série 9000, ção de outras normas de sistema de gestão. enfrentados nos projetos anteriores. O pri-
objetivando aprimorar os processos in- Em 2007 foi iniciada a implementação de meiro era que havíamos nos acostumado a
ternos, por meio de elementos de sistema um Sistema de Gestão Ambiental (SGA), com olhar para o modelo simplificado de pro-
de gestão da qualidade. Inicialmente não base nos requisitos da ISO 14001, tendo como cesso, pensando nas entradas e saídas, bem
se pretendia adotar todos os elementos da escopo inicial os processos de manutenção e como nos resultados desejados, esquecendo
norma de referência, tendo sido priorizados logística, por serem os responsáveis pela gera- que outrora também estudamos os produtos
aqueles que contribuiriam para a imple- ção dos aspectos ambientais mais significati- indesejados dos processos, ou seja, resíduos,
mentação dos requisitos de qualificação de vos no contexto da operação do Metrô de São efluentes, emissões atmosféricas, ruído etc.,
fornecedores e controle de documentos. Os Paulo. Iniciativas isoladas de controle ambien- que também precisam ser gerenciados. Hou-
resultados obtidos foram o ponto de parti- tal já vinham sendo tomadas, especialmente ve a necessidade de mudar o olhar sobre os
da para adoção dos demais requisitos. Em pelas áreas de engenharia, como objetivo de processos, para identificar os aspectos am-
2000, de forma pioneira para o setor, o Me- atender obrigações legais oriundas da evolu- bientais significativos gerados por cada um.
trô de São Paulo teve seu primeiro sistema ção da legislação ambiental, como, por exem- O segundo desafio, por se tratar de uma
de gestão certificado, tendo como escopo plo a eliminação gradativa dos PCBs (Bifeni- norma de identificação e gerenciamento dos
inicial a Manutenção do Material Rodante. las Policloradas), ou mesmo a destinação de riscos ambientais, seria a implementação de
A base estabelecida passou a ser uma refe- lâmpadas fluorescentes como Resíduo Classe elementos de monitoramento ambiental e
rência para ampliação do escopo e imple- I, com a reciclagem da maioria dos elementos. controle dos processos. Um diagnóstico am-

Estação Sé do Metrô de São Paulo, Linha 1-Azul e Linha 3-Vermelha

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Figura 1 - Pátio de Manutenção do Jabaquara, apresenta exemplos da diversidade de atividades


existentes, bem como, elementos do meio ambiente lindeiros à essa planta

biental preliminar realizado em abril de 2007 blico interno, em pátios, canteiros e edifícios Companhia é resguardada quanto a riscos am-
nos pátios de manutenção e demais depen- administrativos, bem como nas estações, para bientais e seus desdobramentos.
dências do contexto operacional demonstrou os colaboradores e passageiros; (5) Implemen- O SGA também contribui significativa-
a extensão dessa necessidade, confirmada tação de norma de contratação, de forma que mente para o monitoramento e cumprimento
posteriormente por meio de um levantamen- todos os fornecedores de serviço que podem das condicionantes estabelecidas nas Licen-
to detalhado realizado no mesmo escopo. gerar algum aspecto ambiental significativo ças Ambientais de Operação das linhas de
A figura 1, Pátio de Manutenção do Ja- em decorrência do trabalho prestado apre- Metrô e Monotrilho, que são tratadas de for-
baquara, apresenta exemplos da diversidade sentem um plano de gerenciamento ambiental ma semelhante aos demais requisitos legais.
de atividades existentes, bem como elemen- que, se aprovado pela área ambiental, é uti- Outros ganhos indiretos também foram
tos do meio ambiente lindeiros à essa planta. lizado, também, para fiscalização do serviço; evidenciados, em razão do reconhecimento
Ao elencar os aspectos ambientais gerados (6) Monitoramento de água e efluentes; (7) externo de organizações que possuem um SGA
nos seus processos, bem como os requisitos Remediação de áreas contaminadas; (8) Ade- certificado, conforme segue: (a) Prorrogação
legais e normativos a serem obedecidos, uma quação do monitoramento de ruído e vibra- da validade dos AVCB (Autos de Vistoria do Cor-
Organização passa a ter condições de imple- ção às condicionantes definidas nas Licenças po de Bombeiro), conforme IT 44, para as edifi-
mentar os controles necessários para operar de de Operação; (9) Implementação de normas cações que constam no escopo da certificação;
forma harmoniosa com o meio ambiente. internas para projetos, seja para fornecer di- (b) Linhas de crédito mais vantajosas.
Em maio de 2008 o Metrô de São Pau- retrizes de utilização de alternativas de água Além de todos os benefícios relatados, o
lo teve o seu SGA certificado na ISO 14001. para fins não potáveis, como para melhoria da SGA trouxe para a organização e seus stakehol-
Essa implantação trouxe avanços significati- eficiência energética; (10) Implementação de ders a tranquilidade de que internamente aos
vos no controle ambiental, seja na adequação Manual de Compras Sustentáveis; (11) Outor- seus processos o Metrô de São Paulo realiza
da infraestrutura existente ou nas etapas de gas para uso de água de infiltração. uma gestão ambiental coerente com o seu sig-
projeto de novas linhas, conforme exemplos Além dos ganhos relatados, que foram evi- nificado para com a sociedade.
apresentados a seguir: (1) Ligação das redes denciados nos últimos anos, entendemos que
de esgoto dos pátios de manutenção às redes o SGA estabeleceu uma estrutura dinâmica de * Rodolfo Lima Chiaparin é tecnólogo mecânico,
coletoras da Sabesp; (2) Implantação de bacias melhoria do desempenho ambiental. Alterações modalidade Projetos; Especialista em Engenharia
de contenção nos processos com potencial de de contexto, novos aspectos ambientais ou no- da Qualidade; MBA em Excelência Gerencial; MBA
derramamento e/ou vazamento; (3) Imple- vas diretrizes legais e normativas são identifica- em Gestão e Tecnologias Ambientais; Coordenador
mentação de Galpões para armazenagem de das e devidamente tratadas. Dessa forma, além Técnico de Sistemas de Gestão do Metrô-SP
resíduos Classe I; (4) Coleta Seletiva para o pú- de proteger o meio ambiente, a Alta Direção da E-mail: rchiapa@metrosp.com.br

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Utilização de geração
fotovoltaica no projeto da Estação
Ipiranga da Linha 15-Prata
ADALBERTO DE PAULA RAMOS* / ATILIO HENRIQUE LAUDANNA** / FABIO SANTOS BERNARDES*** /
MASSARU SAITO**** / RODRIGO COURA OLIVEIRA***** / THIAGO MOYSÉS DE LIMA******

NTRODUÇÃO Com a possibilidade de avaliar as condi- internamente pelas cargas da Estação Ipiran-

O
Metrô de São Paulo vem bus- ções do edifício projetado a partir do mode- ga. Caso a energia produzida pelo sistema de
cando a sustentabilidade fi- lo tridimensional, os estudos e a verificação geração fotovoltaica seja superior à quanti-
nanceira, social e ambiental, dos impactos no projeto possibilitaram uma dade requerida pelas cargas de tal estação na-
incorporando novas tecnolo- análise prévia das prováveis interferências quele instante, o excedente será consumido
gias e inovações para atingir que somente seriam detectadas durante por outras cargas de outras estações através
tais metas, alinhando esses preceitos à sua a etapa de obra civil e da implantação do do sistema de distribuição em média tensão
missão e seus valores. Diante disso, soluções sistema de geração fotovoltaica. Com isso, (22KV), resultando em um aproveitamento
que resultam em eficiência energética asso- eventuais custos adicionais e atrasos de cro- máximo da energia gerada e consequente
ciadas à maior produtividade nos projetos, nograma durante a obra são evitados com eficiência elétrica para o sistema.
com o intuito de otimizar recursos financei- um planejamento antecipado e detalhado.
ros, vem sendo aplicado nos projetos de ex- O projeto desta miniusina foi configurado APLICAÇÃO
pansão da rede do Metrô. É nesse contexto com a expectativa de aumentar a eficiência Sendo uma construção elevada, a Estação
que se insere o projeto da miniusina de gera- energética e, consequentemente, proporcio- Ipiranga da Linha 15-Prata possui uma cober-
ção fotovoltaica de energia elétrica no pro- nar uma economia no consumo de energia de tura de cerca de 3.600m² que também con-
jeto da Estação Ipiranga da Linha 15-Prata. baixa tensão das estações, apresentando uma templa faixas de vidro para iluminação inter-
O desenvolvimento do projeto da estação grande inovação diante dos atuais sistemas na da estação, solução técnica adicional que
por meio dos processos, das tecnologias e aplicados nas estações do Metrô de São Paulo. contribui na diminuição do consumo ener-
das ferramentas implementadas pelo uso da As placas ou módulos fotovoltaicos, res- gético do edifício. O projeto de captação de
Construção Digital no Metrô, a partir do BIM ponsáveis pela conversão da luz solar em energia solar foi incorporado ao projeto bási-
(Building Information Modeling, ou Modela- energia elétrica, são conectados aos inverso- co da Estação Ipiranga, previamente elabora-
gem da Informação da Construção), propor- res, os quais alimentam diretamente o siste- do, com a premissa de respeitar integralmente
cionou uma integração mais efetiva entre as ma elétrico de baixa tensão. Tal configuração a concepção arquitetônica e evitar mudanças
diversas disciplinas que compõe um projeto, evita a utilização de um transformador na significativas no projeto. O trabalho interdis-
desde a sua concepção até sua implantação. saída dos inversores da planta do sistema de ciplinar entre as equipes de arquitetura, civil e
Neste cenário, onde profissionais da arqui- geração fotovoltaica, fato que permite uma sistemas elétricos foi determinante para viabi-
tetura, da engenharia elétrica e da civil tra- significativa simplificação nos circuitos. O lizar a distribuição e posicionamento das pla-
balharam colaborativamente formando uma sistema fotovoltaico, ligado diretamente à cas, respeitando o desenho da cobertura, dos
equipe multidisciplinar, foi elaborado e de- fonte de energia da estação, não terá inter- encaminhamentos dos cabos até as salas téc-
senvolvido o projeto de captação e transfor- ferência com a rede externa de alimentação nicas e viabilizando espaços para instalação
mação de energia solar em energia elétrica, da concessionária. Deste modo, toda energia de equipamentos, sem prejuízo para o projeto
incorporado ao projeto da Estação Ipiranga. elétrica gerada pelo sistema será consumida civil já elaborado (figuras 1, 2 e 3).

Figura 1 - Estação Ipiranga do Monotrilho Figura 2 - Estação Ipiranga do Monotrilho Figura 3 - Vista da cobertura da Estação
da Linha 15-Prata (Imagem 1) da Linha 15-Prata (Imagem 2) Ipiranga do Monotrilho da Linha 15-Prata

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âmbito da Arquitetura, dos Sistemas Elétri-


cos e do Material Rodante, elaborada para
concepção e desenvolvimento de projetos de
novas linhas e para a modernização e atuali-
zação das linhas existentes, com a finalidade
de obtenção de formas alternativas de ge-
ração e economia de energia, o que vem ao
encontro da proposta deste trabalho.
O Sistema Fotovoltaico no Brasil segue o
disposto na Resolução Normativa nº 482/2012
da ANEEL, atualizada posteriormente pela
Resolução ANEEL nº687/2015, a qual regula-
menta e orienta o panorama da produção da
energia elétrica, com o objetivo de estabelecer
requisitos técnicos mínimos a serem elabora-
dos nas instalações elétricas consumidoras
conectadas a rede de média e baixa tensão das
distribuidoras do território nacional.
Destaca-se a promulgação da Lei 14.300
– em janeiro de 2022 – que institui o marco le-
Figura 4 - SNAPSHOT OF GLOBAL PHOTOVOLTAIC MARKETS 2020 (INDICES 2019)*
gal da micro e minigeração de energia no país.
* Fonte: “SNAPSHOT” - INTERNATIONAL ENERGY AGENCY (IEA)
As Normas existentes orientam as con-
Atualmente o Metrô de São Paulo adqui- tes – é uma realidade. Além disso, questões dições para aplicações dos sistemas de gera-
re previamente, no mercado livre, pacotes de ambientais contribuem para uma dissemina- ção fotovoltaica, aplicação de conversão de
energia elétrica em alta tensão, para utiliza- ção cada vez maior desta geração renovável. luz natural em energia elétrica, destacan-
ção nos meses subsequentes. A aplicação des- O estudo teve como ponto de partida a do-se: IEC 62446 (CENELEC), ABNT NBR
te sistema de geração de energia fotovoltaica adoção de tecnologia sustentável na aplica- 16690:2019, ABNT NBR 5419-1:2015, ABNT
é diferenciada e não está ligada diretamente ção de miniusina geradora de energia elétrica NBR 16274:2014 e para os sistemas foto-
à rede da concessionária, e assim não estará solar, com aproveitamento da área de cober- voltaicos conectados à rede a ABNT NBR
sujeita às normas do sistema de fornecimento tura existente da Estação Ipiranga, tendo 5410:2004.
convencional de energia elétrica, haja vista como prerrogativa o máximo aproveitamento O sistema elétrico de baixa tensão tem
que a energia gerada será consumida na sua energético possível, seja pelo adequado posi- elevada importância no funcionamen-
totalidade nas redes internas do Metrô. Este cionamento das placas fotovoltaicas, seja pelo to das estações, pois é responsável pelo
projeto se caracteriza por ser OFF GRID, o que aproveitamento de toda energia elétrica que conforto e segurança das pessoas que ali
permite a operação de forma interativa com será gerada pelo sistema previsto de transfor- circulam diariamente. Devido ao porte
a rede de energia de corrente alternada em mação de luz em energia elétrica. deste empreendimento, que é composto
460Vca da estação. Trata-se de uma inovação O Metrô de São Paulo, em sua norma por um grande conjunto de equipamen-
que contribuirá para redução do consumo de NGR-10-200 - Fontes Alternativas de Ener- tos associados, uma série de sistemas são
energia elétrica do sistema de baixa tensão. gia e Eficiência Energética, publicada em projetados e implantados, são eles: Ilu-
O panorama indicado, SNAPSHOT OF 2018, dispõe sobre diretrizes básicas, no minação, escadas rolantes, redes de fibra
GLOBAL PV (PHOTOVOLTAIC) MARKETS óticas, ventilação, elevadores, bombas,
2020 DA INTERNATIONAL ENERGY AGENCY sistema de câmeras, sonorização, sistema
(IEA) relativo ao ano de 2019, PHOTOVOL- de bloqueios, rotas de fuga, entre outros,
TAIC POWER SYSTEMS PROGRAMME mos- os quais são necessários para garantir a
tra a China classificada em 1º lugar em ge- operação e segurança aos usuários – bus-
ração elétrica fotovoltaica (30,1GW), seguido cando-se a excelência no atendimento do
da Europa (2º lugar, com 16 GW), e em 3º transporte público, sem deixar de observar
os EUA (com 13,3 GW), como partes do total a demanda elétrica necessária para o fun-
com outros países, totalizando 115 GW. A fi- cionamento de uma estação do Metrô.
gura 4 apresenta a classificação mencionada.
Percebe-se significativo crescimento na CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA
implantação de sistemas fotovoltaicos no DE GERAÇÃO FOTOVOLTAICA
mundo atualmente, notadamente no Brasil, O projeto básico do sistema elétrico de
que já possui – em janeiro de 2022 – pouco baixa tensão da Estação Ipiranga, foi com-
mais de 13 GW de capacidade instalada para plementado com o sistema de geração de
geração fotovoltaica. Sabe-se que os custos energia fotovoltaica composto por placas/
relacionados à aquisição de equipamentos e módulos solares que serão instalados no es-
implantação de tais sistemas estão decres- paço disponível da cobertura da estação. A
cendo significativamente, enquanto o desen- Figura 5 - Unifilar simplificado do Sistema energia gerada pelos conjuntos de módulos,
volvimento de novos produtos – mais eficien- Fotovoltaico da Estação Ipiranga em tensão e corrente contínua (CC) será di-

162 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


projeto arquitetônico, que também contem-
pla faixas de vidro para iluminação interna
da estação, solução técnica adicional que
contribui na diminuição do consumo ener-
gético de tal localidade.
A inclinação das placas foi definida com
base nas estimativas encontradas no atlas de
irradiação solar para o estado de São Paulo,
detalhado para a Região Metropolitana de São
Paulo (Atlas de irradiação solar, no caso luz,
kWh/m²/dia, desenvolvido pelo governo do es-
tado e disponibilizado para utilização pública).
A figura 6 mostra o corte longitudinal
da cobertura da estação e os detalhes pre-
Figura 6 - Corte longitudinal com projeção dos módulos, compatibilizados com faixas de vistos nas instalações dos equipamentos de
vidros para iluminação da estação, entre outros elementos do projeto captação de luz na cobertura da Estação Ipi-
recionada através de cabos aos conversores, pladas, injetando uma tensão de teste de ranga Linha 15-Prata, enquanto a figura 7
do tipo inversores, localizados nas salas téc- isolação, a partir da aplicação desta tensão, demonstra o corte transversal.
nicas da estação. Estes inversores convertem valores previstos são esperados e caso ocor- A figura 8 indica a fórmula associada ao
a tensão/ corrente contínua para tensão/ ra alguma anomalia o sistema é desligado e montante de energia produzida por placa/
corrente alternada (CA), havendo cone- alarmes são emitidos. Este teste é realizado módulo fotovoltaico.
xão com o quadro principal de distribuição diariamente ao raiar da luz nos módulos da
(QPD), na tensão nominal de 460 Vca. cobertura. No momento em que os inverso- PROJEÇÃO DE ENERGIA GERADA
A conexão dos inversores ao quadro res detectam a energia gerada, é aplicado o E CUSTOS ASSOCIADOS
de distribuição principal será direta, sem a teste de isolação na rede elétrica conectada. Considerando o módulo de 400Wp (Watt
utilização de transformador, cuja principal Uma vez realizada as verificações o sistema pico), do tipo monocristalino, com área de
função é equipotencializar a tensão da rede está apto a iniciar sua operação, de maneira 1,98m2, irradiação média anual de 4,6kWh/
e isolar galvanicamente os circuitos aplica- que os IGBTs são disparados produzindo a m2/dia, tem-se para cada placa/ módulo (em
dos, funções realizadas pelos inversores na tensão de 460Vca, na frequência de 60Hz KWh/dia): Ed = 4,6 x 1,98, 19,41% x 90%
conversão da energia CC (corrente contínua) e conectados ao barramento do QPD. O po- Assim sendo, estima-se a gera-
para CA (Corrente Alternada) e disjuntores/ tencial da rede começa a subir, acontecen- ção de 1,59kWh/dia, 47,73kWh/mês e
seccionadoras. do o que chamamos de sincronização, isto 572,79kWh/ano para cada placa/ módulo.
A não obrigatoriedade de uso dos trans- ocorre durante a existência de luz solar até Considerando-se os 522 módulos previs-
formadores implicará em ganho de espaço o nível máximo da incidência de luz sobre tos, estima-se a geração de 829,98kWh/dia,
físico na estação e consequente redução na os módulos instalados na cobertura da esta- 24,92MWh/mês e 299MWh/ano.
instalação de cabos, equipamentos de pro- ção, ou seja, o potencial elétrico irá variar de Tendo em vista os módulos de 0,4kWp
teção e monitoramento deste equipamento. acordo com as condições climáticas. (kilowatts/ pico) previstos, estima-se uma
Os inversores, através de seus controles, A figura 5 apresenta um diagrama bá- potência de pico aproximada de 209kWp.
suprem a necessidade de implantação do sico do projeto de instalação elétrica do sis- Para este projeto foram elaboradas ou-
transformador, pois possuem um sistema tema fotovoltaico previsto para a Estação tras pesquisas com outras aplicações e de
de segurança elétrica processado com mul- Ipiranga.Após a distribuição e posiciona- sucesso com sistemas equivalentes. Repor-
tifunções elétricas e controle através de mento das placas na cobertura, foi possível tando-se na notícia publicada sobre o Metrô
monitoramento, “encoder” – informações de verificar se a carga distribuída adotada pelo de Brasília (Panorama Nacional 15-4-2019)
saída realimentam as entradas, bem como da projeto da cobertura suportaria o peso das com previsão econômica de 300.000 reais
rede elétrica conectada a este equipamento. placas e de seus suportes, sabendo-se que o com a utilização da energia fotovoltaica em
No inversor destacam-se duas funções projeto estrutural previa um valor de 15kgf/ 2019 (www.procelinfo.com.br).
automáticas de proteção. A primeira é a m². É prevista a implantação de 522 placas/ O Metrô-DF conta atualmente com
função de anti-ilhamento, que é responsável módulos fotovoltaicos na cobertura da Es- duas estações abastecidas por usinas so-
por garantir que a rede de alimentação em tação Ipiranga, com dimensões aproximadas lares. Para a primeira, a Estação Guariro-
corrente alternada está integra e pode ope- de 2m² cada. Tais placas/ módulos fotovol- ba, inaugurada em 2017, foi montada uma
rar de forma interativa, ou seja, o sistema taicos serão instalados em harmonia com o estrutura com 578 painéis fotovoltaicos
de energia fotovoltaica desligará no caso de:
falta de tensão na rede do lado de corrente
alternada, falta de fase, curto-circuito, ope-
ração de desligamento por manobra, abertu-
ra dos disjuntores das saídas do QPD.
A segunda função de proteção refere-se
ao teste de isolação que o inversor realiza
no sistema elétrico conectado; os inversores
testam as conexões, cabos e ligações aco- Figura 7 - Corte transversal com visualização dos módulos fotovoltaicos

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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

de 320kWp que geram 288MWh por ano,


resultando em uma potência instalada de
187kWp ou 187.000Wp, valores registrados
e verificados no local.
Também foi instalada a planta de gera-
ção fotovoltaica na Estação Samambaia Sul,
inaugurada em dezembro de 2018, dentro
do Programa Metrô Sustentável, recebendo
o prêmio GOLDEN CHARIOT INTERNACIO-
NAL TRANSPORT ARWARD.

Custo estimado para Estação Ipiranga


Considerando-se 522 placas de 400Wp tem-se: Figura 8 - Fórmula para energia produzida por placa/ módulo fotovoltaico
522 x 400 = 209kWp
dade de placas a serem utilizadas, detecção e 38% da energia consumida pela estação,
Para cálculo de custo de implantação usa-se o
resolução das interferências, otimização no resultando em um importante passo para a
fator Watt pico gerado que varia entre 4,5 a 6
uso de equipamentos, bem como facilidades sustentabilidade ambiental, social e finan-
R$/Wp. Adotando-se fatores R$/Wp = 4,5 e 6,
para montagem e acessibilidade da manu- ceira da empresa.
observa-se:
tenção aos equipamentos. Tendo em vista a crescente participação
Custo = 4,5 x 209.000 = 940.500 reais
Além das inovações trazidas no processo do sistema de geração fotovoltaica na matriz
Custo = 6 x 209.000 = 1.254.000 reais
de projeto, o sistema de geração fotovoltaica energética brasileira, o Metrô de São Paulo
da Estação Ipiranga, alinhado às premissas tende a adotá-lo em diversas localidades nos
Cálculo de PAYBACK estimado com 2 fatores
de sustentabilidade e eficiência energética projetos futuros, sempre baseando-se na
alternativos
adotadas pelo Metrô de São Paulo, será res- disponibilidade de áreas para sua inserção e
Cálculo de PAYBACK 1:
ponsável pela geração de aproximadamente em análise de investimentos associados.
- Investimento: 940.500 reais
- Energia gerada: 24.920kWh/mês
- Tarifa atual: 0,41725 R$/kWh – referência Ge- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
rência de Operação, data base janeiro de 2020 [1] ANEEL - Resolução normativa Nº687 da Indústria Elétrica e Eletrônica.
- PAYBACK (mês) = investimento (R$)/[energia da Agência Nacional de Energia Elétrica. [6] _____ - “Energia Renovável na Ale-
gerada (kWh/mês) x valor da tarifa (R$/kWh)] [2] GESP - Atlas Solar do Estado de São manha (Renewable energy in Germany)”.
- PAYBACK (simples) = aproximadamente 90 Paulo - Governo do Estado de São Paulo. [7] AEAMESP - Trabalho da 19ª Semana
meses ou 7,5 anos [3] VILLALVA, MARCELO GRADELA; de Tecnologia Metroferroviária – Tema
GAZOLI, JONAS RAFAEL. - Energia viabilidade de implantação de sistema fo-
Cálculo de PAYBACK 2: Solar Fotovoltaica – Conceitos e Aplica- tovoltaica no Metrô de São Paulo.
- Investimento: 1.254.000 reais ções”, 2012 - Editora Érica Ltda. [8] PALZ, WOLFGANG. - Energia Solar
- Energia gerada: 24.920kWh/mês [4] GESP - Energia Solar Paulista, e fontes Alternativas – UNESCO PARIS -
- Tarifa atual: 0,41725 R$/kWh Levantamento do Potencial – 2012” – Edição: Hemus.
- PAYBACK (simples) = aproximadamente 120 Secretaria de Energia do Governo do [9] CORCORAN, KERCHNER. – Circuitos
meses ou 10 anos Estado de São Paulo. de corrente Alternada -Editora Globo.
Considerando-se que o consumo [5] ABINEE - “Propostas para In- [10] _____ - Sistemas Fotovoltaicos Co-
mensal de uma estação típica do mono- serção da Energia Solar Fotovoltaica nectados à Rede Elétrica - Sistemas Elé-
trilho da Linha 15-Prata é aproximada- na Matriz Elétrica Brasileira”, ju- tricos de Potência: Engenharia Elétrica
mente 65MWh/mês (referência Estação nho de 2012 - Associação Brasileira 621.3191 – Edição: Oficina de Textos.
Oratório), e que estima-se a geração de
24,92MWh/mês através do sistema foto-
voltaico, percebe-se que este contribuirá * Adalberto de Paula Ramos é engenheiro eletricista, **** Massaru Saito é engenheiro eletricista, exerceu
com a geração de aproximadamente 38% exerce o cargo de Chefe de Departamento de Projetos de o cargo de Especialista na Coordenadoria de Projetos de
da energia consumida na estação. Sistemas na Gerência de Projetos do Metrô-SP Sistemas Elétricos e Material Rodante da Gerência de
E-mail: aramos@metrosp.com.br Projetos do Metrô-SP
CONCLUSÃO ** Atilio Henrique Laudanna é engenheiro E-mail: msaito@metrosp.com.br
A aplicação do BIM no desenvolvimen- eletricista, exerce o cargo de Engenheiro Especializado ***** Rodrigo Coura Oliveira é engenheiro
to do projeto da Estação Ipiranga da Linha na Coordenadoria de Projetos de Sistemas Elétricos e eletricista, exerce o cargo de Coordenador de Projetos
15-Prata do Metrô de São Paulo, especifi- Material Rodante da Gerência de Projetos do Metrô-SP de Sistemas Elétricos e Material Rodante na Gerência de
camente no projeto do sistema de geração E-mail: laudanna@metrosp.com.br Projetos do Metrô-SP
fotovoltaica, promoveu uma integração e *** Fabio Santos Bernardes é engenheiro eletricista, E-mail: rcoliveira@metrosp.com.br
colaboração maior entre os profissionais de exerce o cargo de Engenheiro na Coordenadoria ****** Thiago Moysés de Lima é arquiteto e
cada disciplina envolvida neste trabalho, de Projetos Executivos de Elétrica, Auxiliares e urbanista, exerce o cargo de Arquiteto na Coordenadoria
permitindo estudos e soluções mais asser- Telecomunicações da Gerência do Empreendimento da de Projetos de Acabamento, Comunicação Visual e
tivas com o apoio dos modelos tridimensio- Linha 17-Ouro do Metrô-SP Luminotécnica da Gerência de Projetos do Metrô-SP
nais: determinação mais precisa da quanti- E-mail: fsbernardes@metrosp.com.br E-mail: tmlima@metrosp.com.br

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃOTRANSPORTE
PAULO I ENGENHARIA

Emissões de carbono no ciclo


de vida dos empreendimentos
do Metrô de São Paulo
CACILDA BASTOS PEREIRA DA SILVA* / RAMÓN CAROLLO SARABIA NETO** /

O
SORAIA SCHULTZ MARTINS CARVALHO***

s sistemas de transporte têm que vão do desenho arquitetônico às espe- vos de emissão de GEE por passageiro-qui-
um papel importante na mo- cificações de equipamentos e sistemas por lômetro, em comparação a outros modos de
bilização global em torno influenciarem significativamente no de- transporte movidos a combustível fóssil.
das mudanças climáticas. sempenho ambiental dos projetos na fase de
Têm o potencial de melhorar operação. DIRETRIZES PARA
a acessibilidade e a mobili- EMPREENDIMENTOS
dade da população, ao mesmo tempo em que O PAPEL DO METRÔ PARA As diretrizes gerais para a implemen-
reduzem os impactos ambientais e sociais. CENÁRIOS DE BAIXO CARBONO tação de empreendimentos do Metrô e que
A participação do setor de transportes A longa experiência do Metrô no pla- impactam positivamente em cenários de
nas emissões de gases de efeito estufa (GEE) nejamento e concepção de projetos para a baixo carbono são:
está relacionada ao consumo intensivo de expansão e na operação do transporte me- -Priorizar a melhoria da rede de transpor-
energia para a operação e à construção da tropolitano é reconhecida pela contribuição te metropolitano como forma de estimular
infraestrutura, responsável pelo consumo positiva para a mobilidade e para cenários a transferência de viagens do individual
de insumos, materiais e equipamentos. de baixo carbono. para o coletivo, e contribuir para a quali-
As vulnerabilidades que as questões am- O compromisso do Metrô com as mu- dade ambiental e bem-estar da população
bientais trazem para os negócios e para a danças climáticas está na essência do seu da metrópole, com a redução das emissões
vida nas cidades se tornaram sinônimo de so- negócio, que é promover a mobilidade sus- atmosféricas, do consumo de combustíveis,
brevivência, resiliência e competitividade das tentável e percorre o ciclo de vida dos em- de acidentes de trânsito, entre outros be-
empresas. Na avaliação do mercado, o tema preendimentos. nefícios;
passou a ser objeto da análise de boas práti- É um transporte rápido, com alta capa- -Melhorar a mobilidade da população consi-
cas para investimentos ESG (Environmental, cidade de transportar passageiros, confiá- derando a integração com outros modos de
Social and Governance), métrica criada pelo vel, com regularidade na oferta de viagens, transporte e a ampliação das redes de trans-
setor financeiro para avaliar riscos e ativos com trens circulando em vias segregadas porte metropolitano;
em sustentabilidade das empresas. utilizando-se de energia mais limpa. Assu- -Potencializar os ganhos operacionais e am-
Assim, os investimentos em transporte mindo, assim, uma contribuição importante bientais decorrentes da racionalização do
urbano ganharam relevância e são estraté- na redução do consumo de combustíveis de transporte metropolitano, articulando com
gicos para os cenários de baixo carbono. fontes não renováveis, por ser um sistema os sistemas municipais e promovendo o
No caso dos empreendimentos do Metrô, movido à energia elétrica, com fonte de ori- transporte ativo;
a abordagem das mudanças climáticas faz gem predominantemente hídrica. -Prever melhorias no tratamento urbanístico
parte do planejamento e concepção dos pro- O sistema metroviário é integrado a ou- da área de intervenção, considerando dire-
jetos porque incorpora estratégias de miti- tros modos, motorizados e não motoriza- trizes estabelecidas por políticas e planos de
gação das emissões de GEE que minimizam dos. É capaz de substituir outros meios de mobilidade e ordenamento urbano;
ou evitam os efeitos adversos dos eventos transporte que utilizam combustível fóssil, -Fortalecer diretrizes de sustentabilidade
climáticos extremos. como os ônibus e os automóveis, que geram para pautar a definição de soluções de pro-
A mitigação de emissões de GEE em congestionamentos e maior emissão de ga- jeto, visando reduzir impactos em todas as
projetos de transporte do Metrô está rela- ses poluentes. fases do ciclo de vida, como os relacionados
cionada a três frentes no planejamento de Com diretrizes de sustentabilidade in- às mudanças climáticas.
uma nova linha: a substituição modal e a ternalizadas no planejamento e na concep-
capacidade de transferência dos passageiros ção dos projetos de transporte metroviário, ESTRATÉGIAS DE
de outros modos para o metrô, a tecnologia o sistema de transporte metroviário apre- MITIGAÇÃO DAS EMISSÕES
e a eficiência energética e o planejamento senta características operacionais e tecno- No planejamento e na concepção de
integrado a outras abordagens para a pro- lógicas que conferem ganhos para a redução uma nova linha são analisados os impactos
moção do desenvolvimento urbano. das emissões de gases de efeito estufa-GEE. do empreendimento na melhoria da rede de
São considerados ainda os impactos em Ganhos que são evidenciados no cálculo transportes de forma a potencializar seus
termos de consumo de materiais e insumos dos benefícios sociais proporcionados pela benefícios, estimulando não apenas a trans-
referenciados na construção sustentável, rede em operação e por indicadores positi- ferência de viagens geradas no modo indivi-

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dual para o coletivo, mas também induzindo lho e serviços em áreas com alta densidade mudança do clima, que são compensadas
a redução da poluição ambiental e das emis- de população, diminuindo a necessidade de pelos benefícios promovidos pela rede em
sões de GEE. deslocamento, gerando benefícios como o operação.
Nesta fase do ciclo de vida do empreen- de redução do tempo de viagem, da polui- As emissões geradas com o consumo
dimento, são internalizadas também diretri- ção ambiental e de gastos com transporte. de energia na operação do Metrô pos-
zes referenciadas na construção sustentável, A implementação de novas linhas jun- suem grande influência no monitoramento
compreendendo desde a escolha da localiza- to a corredores de transporte também cria do desempenho climático pela intensidade
ção da área e terreno em que as edificações condições favoráveis de deslocamento da energética consumida, o que destaca um
serão inseridas, método construtivo, tecno- população, a atração de passageiros para o risco para a empresa se a matriz energética
logia, bem como o desenho arquitetônico, a transporte público e os benefícios da mobi- do país se tornar mais intensa em carbono.
definição de equipamentos e sistemas. lidade sustentável. Tendo em vista a importância estratégica
Para se obter ganhos na fase de opera- da energia para o transporte metroviário,
ção, são definidas soluções visando o de- c) Tecnologia e inovação existem ações que podem contribuir para a
sempenho ambiental, a eficiência e a redu- Definir soluções tecnológicas e constru- mitigação deste risco, como estudos para a
ção dos custos com energia, água, resíduos, tivas, incluindo estratégias para ampliar a geração de energia renovável.
entre outros. eficiência energética e reduzir o consumo de O monitoramento das emissões de GEE
Na fase de obras, são implementadas combustível fóssil são medidas importantes por empresas de transporte de passageiros
diretrizes para mitigar os impactos associa- que podem resultar na redução da emissão é voluntário e o desenvolvimento de me-
dos às atividades de construção civil pesada de gases de efeito estufa. todologia e ferramental para o cálculo das
e aos métodos construtivos, no consumo Algumas práticas do Metrô vêm sendo emissões em todas as fases do ciclo de vida
de materiais e uso de equipamentos. E, na aperfeiçoadas para incorporar diretrizes de é inovador.
fase de operação, é realizada a gestão e o sustentabilidade em seus projetos, garantin- Os indicadores dos benefícios sociais e do
monitoramento dos impactos previstos no do a melhoria do desempenho ambiental do inventário de emissões do Metrô têm garan-
projeto. sistema, além de agregar valor ao projeto, tido a elegibilidade de seus empreendimentos
As estratégias de mitigação de emissões possibilitam ganhos em qualidade e custo como um transporte sustentável, na avalia-
de GEE abordadas no planejamento e con- na implantação e na operação das infraes- ção dos agentes econômicos e financeiros
cepção de empreendimentos da Companhia truturas. nos processos para obtenção de recursos para
abrangem três frentes articuladas entre si. investimentos na expansão da rede.
São elas: OPORTUNIDADE PARA O próximo passo é o registro público de
AVALIAR OS BENEFÍCIOS DO METRÔ emissões em plataformas globais de desem-
a) Substituição modal No cenário atual em que vislumbramos penho ambiental, podendo dar transparên-
Diretriz de substituição de viagens rea- a importância da sustentabilidade para o fu- cia e se equiparar às práticas de mercado
lizadas em transporte individual motorizado turo da vida nas cidades, o papel do Metrô além de atender requisitos de agentes finan-
por viagens de transporte coletivo ou por para cenários de baixo carbono é ampliado. ciadores e investidores.
viagens não motorizadas. A racionaliza- Os empreendimentos do Metrô de São Além de internalizar suas práticas os fa-
ção dos sistemas de transporte existentes Paulo são projetos que exigem um olhar tores ASGI e atender a requisitos de mercado,
e a substituição por modos mais eficientes, apurado do que ocorre agora, para planejar os investimentos para a expansão e operação
além de contribuir para a redução das emis- o que poderá se transformar no futuro. Toda atendem a outros compromissos globais as-
sões de GEE, aportam também grandes be- a infraestrutura de transporte metroviário é sumidos pelo governo do estado para o de-
nefícios adicionais como a redução do con- projetada para ter uma longa vida útil e en- senvolvimento sustentável e que vislumbram
sumo de energia e dos custos de transporte. volve alterações significativas na cidade, no cenários de emissão zero e maior resiliência
Além dessa diretriz, outras abordagens que meio ambiente e na vida das pessoas. aos efeitos das mudanças climáticas, como o
integram pessoas, atividades, edifícios e espa- Assim, as questões das mudanças cli- Race to Zero e Race to Resilience.
ços públicos nos ambientes projetados podem máticas trazem a oportunidade para que se
incentivar a redução dos impactos, como o es- avaliem as dimensões de cada fase do ciclo * Cacilda Bastos Pereira da Silva é
tímulo ao transporte não motorizado. A cami- de vida dos empreendimentos para o apri- psicóloga, mestre em gestão ambiental e
nhada e o ciclismo têm potencial para acesso moramento das práticas e estratégias para especialista na Coordenadoria de Estudos de
intermodal ao transporte público e permitem cenários de baixo carbono. Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô -SP
que segmentos da população possam comple- Com o compromisso do Metrô com os fa- e-mail: cacilda.bastos@metrosp.com.br
mentar suas necessidades diárias de transporte, tores ASGI (Ambiental, Social, Governança e
melhorando a saúde e contribuindo para a qua- Integridade), os indicadores de desempenho **Ramón Carollo Sarabia Neto é químico e
lidade ambiental das cidades. climático são estratégicos porque evidenciam atua como analista na Coordenadoria de Estudos
os benefícios do sistema metroviário, tanto de Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô-SP
b) Planejamento integrado a outras abor- pelos menores valores de emissão de GEE por E-mail: rcsarabia@metrosp.com.br
dagens para a promoção do desenvolvi- passageiro-quilômetro, quanto pelo benefí-
mento urbano cio social líquido do metrô para a cidade. *** Soraia Schultz Martins Carvalho é
Promover a transformação do espaço Mesmo sendo considerado um modo economista e Coordenadora de Estudos de
urbano pode favorecer a criação de condi- estratégico em cenários de baixo carbono, Viabilidade e Sustentabilidade do Metrô-SP
ções para o surgimento de polos de traba- as operações do Metrô geram impacto em E-mail: ssmcarvalho@metrosp.com.br

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Figura 1 - Mapa da Linha 19-Celeste

Os desafios da Linha 19-Celeste


do Metrô de São Paulo

A
ADALBERTO DE PAULA RAMOS* / ALDO JOSÉ FRATI** /
ANTONIO IVO DE BARROS MAINARDI NETO*** /
CARLOS EDUARDO PAIXÃO DE ALMEIDA****
Linha 19-Celeste proporcio- estufa e 37,1 milhões de litros ao ano de ma gestão contratual formaram a base de
nará a ligação da região cen- consumo de combustível (figura 2). sustentação para a convicção de que este
tral de Guarulhos, segundo São números expressivos que indicam é, atualmente, o modelo mais adequado
maior município do Estado o tamanho do desafio, já iniciado na etapa para o desenvolvimento do Projeto.
de São Paulo e novo eixo de de contratação do Projeto Básico. Assim, todos os serviços, produtos e
desenvolvimento, ao centro da Capital, local Integrando as disciplinas de arquitetu- até a forma de desenvolvimento do proje-
onde se localiza grande parte dos empre- ra, civil, sistemas e material rodante em um to em BIM foram devidamente detalhados
gos da Região Metropolitana de São Paulo, único contrato, o Projeto Básico será desen- pela equipe técnica do Metrô, retratados
contribuindo para a redução dos tempos de volvido em BIM – Modelagem de Informa- em Termo de Referência, Diretrizes, Ins-
deslocamento e para a redução de deman- ção da Construção, compreendendo novos truções de Projeto, Instruções de Paga-
da sobre o sistema viário, com considerável processos e padrões em um ambiente cola- mento e outros documentos técnicos que
melhoria da qualidade de vida da população borativo em nuvem para trabalho simultâ- embasaram o processo de contratação.
atendida por esta nova linha. neo das equipes das projetistas e do Metrô Este modelo escolhido para esta contrata-
Esta nova linha tem como uma das de São Paulo, em um processo holístico de ção, melhor técnica e menor preço, levou
principais funcionalidades a de melhorar a criação e gerenciamento de informações, em consideração a natureza das necessi-
articulação da rede metroferroviária, contri- integrando dados estruturados e multidis- dades do Metrô e a natureza dos serviços
buindo para a redistribuição dos passageiros ciplinares para produzir a construção digital necessários à consecução do Projeto Bá-
dentro da rede de transporte, permitindo das unidades de projeto da Linha. sico da Linha 19-Celeste, sobretudo pelo
aliviar, principalmente, as linhas 1-Azul e A escolha do uso do BIM e da integra- fato de diferentes disciplinas de projeto
3-Vermelha, além de reduzir a demanda re- ção de disciplinas em um único contrato, terem necessidade de desenvolvimento
sultante do prolongamento da Linha 2-Verde até então inéditas no desenvolvimento de integrado. Os ganhos intrínsecos no uso
até o município de Guarulhos (figura 1). uma linha completa do Metrô, trouxe ques- do BIM e integração de disciplinas de-
Estima-se, após a sua implantação, que tionamentos de entidade de classe de em- mandaram da equipe técnica do Metrô a
os quase 630.000 passageiros que circula- presas, que buscaram retornar aos antigos imposição de grande parte das definições
rão por dia na Linha 19-Celeste gastem, processos de contratação, com a divisão prescritas nos documentos técnicos que
em média, 60 minutos a menos de tempo do escopo em lotes e disciplinas, além de embasaram a contratação, assim como a
de viagem entre Bosque Maia e Anhanga- questionar a obrigatoriedade da utilização forma e a sequência em que os serviços
baú, realizando este trajeto com mais con- do BIM no desenvolvimento dos projetos. serão desenvolvidos.
forto e segurança, além da regularidade e A experiência de sucesso do Metrô com Este amadurecimento do Metrô no
velocidade características do Metrô de São a utilização do BIM, implantado de forma trabalho em BIM e a integração discipli-
Paulo. Serão 15 estações em 17,6 quilôme- estruturada desde 2013 com a criação de nar, além do grande trabalho intelectual
tros de extensão totalmente subterrâneos, um Núcleo específico, investimento em de sua equipe técnica na elaboração dos
onde contarão com 31 trens e integrando espaços digitais e equipamentos, além da documentos técnicos e detalhamento do
com as linhas 1-Azul, 2-Verde, 3-Vermelha capacitação de seus colaboradores, aliada processo de desenvolvimento do projeto,
do Metrô e com a Linha 11-Coral da CPTM. aos ganhos que uma integração discipli- buscam vantagens, especialmente no que
São esperadas reduções de aproximada- nar traz, aumentando interfaces ao mesmo concerne à compatibilidade entre proje-
mente 727 toneladas ao ano de poluentes, tempo que reduz interferências e trazendo tos de disciplinas diferentes e a redução
75.197 toneladas ao ano de gases de efeito todos os agentes para dentro de uma mes- no risco de atrasos por divergências nos

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BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

Figura 2 - Ganhos Linha 19-Celeste Figura 3 - Poço de Ventilação e Saída Figura 4 - Utilização da Nuvem de Pontos para a
de Emergência – VSE Tipificado modelagem da situação real da estação
orçamentos e/ou planejamento da obra, captura de realidade que será realizada meras reuniões com os fabricantes de trens,
além da execução do projeto em menor nas estações São Bento e Anhangabaú. aliado ao avanço da tecnologia que utiliza
tempo e com maior apuração técnica. Como nessas duas estações haverá a modernos sistemas de controle de acelera-
Toda esta argumentação do Metrô integração dos projetos, ou seja, das no- ção e frenagem nos trens. Essa alteração,
levou ao indeferimento à solicitação da vas estações com as existentes, a captura trará uma redução enorme no volume de
entidade de classe das empresas pela im- de realidade proporcionará a obtenção de escavação que irá proporcionar a implanta-
pugnação do processo de contratação, levantamento topográfico com utilização ção de estações e VSE’s mais rasas.
permitindo o regular andamento do pro- de aparelho sensor Laser Scanner, dotado Outra inovação que será estudada na
cesso licitatório que culminou com a as- de tecnologia LIDAR – Light Detection and Linha 19-Celeste se refere ao transpor-
sinatura do Contrato em dezembro/2021. Ranging e/ou Fotogrametria com Câmera te vertical de passageiros nas estações. O
Vencido o processo de contratação, Calibrada, capaz de coletar informações Metrô sempre utilizou em suas estações
nos encontramos agora no maior dos desa- para a geração de uma nuvem de pontos escadas rolantes para essa finalidade, en-
fios: desenvolver o Projeto Básico de uma com coordenadas x, y, z para extração de tretanto, na Linha 19-Celeste, desenvolve-
linha completa de Metrô em um prazo de informações espaciais. As informações co- rá um estudo que leva em consideração,
dois anos, incorporando inovações arqui- letadas, em forma de nuvem de pontos e dentre outros, a profundidade das estações
tetônicas e tecnológicas, além de métodos imagens, complementadas por dados de (quantidade de pavimentos) e a quantidade
construtivos visando otimizar a implanta- levantamento topográfico cadastral, irão de passageiros previstos para cada estação,
ção, operação e manutenção da linha. dar origem a um modelo tridimensional de forma a avaliar e definir a utilização de
O Projeto Básico buscará potencializar que corresponderá, para todos os efei- elevadores de grande capacidade onde o
o uso dos recursos naturais para ilumina- tos, à condição existente e atualizada das estudo indicar sua aplicabilidade.
ção e climatização, contemplar sistemas estações São Bento e Anhangabaú e que Desafios enormes já vencidos e a ven-
e equipamentos de alta eficiência ener- servirá de base para o Projeto Básico em cer, onde o Metrô quebra paradigmas para
gética, inclusive com previsão do uso de BIM da reforma e adequação dessas es- otimizar os processos, diminuir as incer-
fontes renováveis de energia, maximizar tações. Espera-se que, com esse recurso, tezas e reduzir os riscos e os prazos, sem
o aproveitamento de águas com a adoção tenhamos uma gama mais precisa e abran- deixar de lado sua preocupação com meio
de dispositivos de economia, reservatórios gente de informações da realidade coleta- ambiente e sua veia inovadora e tecnoló-
para captação, armazenamento e reúso de da localmente, beneficiando as definições gica, tornando a Linha 19-Celeste a mais
água, além da utilização da vegetação em de projeto, e trazendo maior precisão da moderna linha do Metrô de São Paulo.
áreas permeáveis, calçadas, paredes e tetos intervenção necessária (figura 4).
verdes para amenização das ilhas de calor. A Linha 19-Celeste contará com Ope- * Adalberto de Paula Ramos é engenheiro eletricista,
Destaca-se, ainda, a previsão para o ração UTO – Unattended Train Operation, exerce o cargo de Chefe de Departamento do
projeto de Estações Tipificadas, com a pa- operação automatizada com trens sem ope- Departamento de Projetos de Sistemas na Gerência de
dronização de estações de baixa e média rador, proporcionando maior mobilidade à Projetos do Metrô-SP
capacidade, utilizando métodos construti- operação, implementação de miniusinas E-mail: aramos@metrosp.com.br
vos VCA – Vala a Céu Aberto, com plata- fotovoltaicas para geração de energia nas ** Aldo José Frati engenheiro civil, exerce o cargo de
formas centrais e laterais, e Poço Central, estações, pátio e VSE’s, utilizará o conceito Assessor Executivo do Gerente da Gerência de Projetos do
com plataformas em túnel, objetivando de eficiência energética, com uso de equi- Metrô-SP
otimizar os processos de projeto, implan- pamentos do tipo recuperadores de energia E-mail: ajfrati@metrosp.com.br
tação, operação e manutenção. É prevista, gerada pelos trens, iluminação LED, escadas *** Antonio Ivo de Barros Mainardi Neto é arquiteto,
também, a padronização de poços de VSE rolantes e elevadores com controle de velo- exerce o cargo de Supervisor na Coordenadoria de
– Ventilação e Saída de Emergência, nas cidade, aquecimento solar, entre outros. Projetos de Arquitetura, Paisagismo e Urbanização da
tipologias Poço Sobre Vias, Poço Lateral e Outra novidade a ser implantada na Li- Gerência de Projetos do Metrô-SP
em VCA (figura 3). nha 19-Celeste é a alteração da inclinação **** Carlos Eduardo Paixão de Almeida é engenheiro
Outro aspecto importante, relacionado das rampas vertical das vias que passam de eletricista, exerce o cargo de Gerente da Gerência de
ao desenvolvimento dos projetos em BIM, uma inclinação máxima de 4% para 5%. Projetos do Metrô-SP
se refere a utilização da Laser Scanner, Esta alteração somente é possível após inú- E-mail: calmeida@metrosp.com.br

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃOTRANSPORTE
PAULO I ENGENHARIA

O desenvolvimento dos projetos de


sistemas mitigadores de ruídos
primários no Metrô-SP: diretrizes,
normas e legislação
HELDER JOSÉ RIBEIRO SOARES* / ADILSON ROBERTO TAKEUTI**

O
INTRODUÇÃO sada, como é o caso de São Paulo, torna-se, de indutor de ocupação dos espaços em São
Metrô de São Paulo é sa- ainda, mais desafiador. Paulo, fato corroborado por prospectos e
bidamente um indutor de Dentre os inúmeros desafios de se im- propagandas de empreendimentos imobiliá-
ocupação do espaço urbano plantar novos empreendimentos metroviá- rios que utilizam, dentre outras vantagens,
e, notadamente o sistema de rios na cidade de São Paulo destacam-se os a proximidade a estações de Metrô, ratifi-
transporte de massa mais efi- projetos de sistemas mitigadores de efeitos cando, assim, o óbvio de que residir e/ou
ciente da Capital. indesejáveis tais como, por exemplo, ruídos trabalhar próximo a uma estação metrovi-
Entretanto, uma nova linha de metrô, e vibrações oriundos da passagem dos trens. ária representa uma grande facilidade de
além de ser um empreendimento de grande Neste trabalho, abordaremos apenas a deslocamento.
porte, que envolve também grandes inves- questão dos ruídos primários, ou seja, os ru- As linhas metroviárias de São Paulo são,
timentos, representa, para seu projeto e im- ídos aéreos, provenientes da passagem dos em sua maioria, subterrâneas. Assim, o pro-
plantação, enormes desafios, pois, se projetar trens em trechos em elevados e em super- blema do impacto nos lindeiros pela emissão
e executar um empreendimento desse porte fície. Abordaremos também alguns aspectos de ruídos pela passagem de trens inexiste.
já é algo bastante complexo, fazê-lo no am- das normas, legislação pertinente e seu de- Entretanto, há, nestas linhas, trechos em su-
biente de uma megalópole altamente aden- senvolvimento ao longo do tempo, com des- perfície e em elevado, além dos pátios e seus
taque à participação do Metrô acessos. Nestes trechos, os ruídos gerados
de São Paulo neste desenvolvi- pela passagem dos trens afetam o conforto
mento, inclusive na elaboração dos lindeiros e medidas mitigadoras têm de
da ABNT NBR 16425, parte 5, ser adotadas.
voltada ao modal metroviário.
O IMPACTO DOS RUÍDOS
A OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS O som é conhecido por ser uma energia
INDUZIDA PELO METRÔ gerada e propagada na forma de ondas que se
Nas grandes metrópoles, o propagam por meio material, seja este o ar ou
deslocamento sempre foi um outros. Chama-se de ruído ao som desorgani-
grande desafio, principalmente zado e, consequentemente, perturbador.
quando se trata de cidades não As grandezas relacionadas ao som são a
planejadas, que foram simples- Pressão sonora (Pa), relacionada à percepção
mente “inchando” com o passar humana do som, a Potência sonora (W), refe-
dos anos. São Paulo é o exem- rente à sua emissão na fonte e a Frequência
plo clássico disso! Na tentativa (Hz), relacionada ao “timbre” do som, ou seja,
de minimizar os transtornos se este é mais grave ou mais agudo. A pres-
quanto aos deslocamentos dos são sonora é dada em Pascais (Pa). Entre-
cidadãos, soluções diversas para tanto, os valores dessa pressão são muito
o transporte de passageiros são díspares, ou seja, variam de 20µPa (Limiar
adotadas, dentre as quais o Me- da Audição) a 100.000.000µPa (Limiar da
trô tem destaque por sua eficá- Dor). Assim, não há escala que comporte
cia e excelência no que diz res- adequadamente todos os valores da pres-
peito à rapidez, funcionalidade são sonora. Além disso, o som é percebido
e segurança. pelo ouvido humano de forma logarítmi-
Por uma série de motivos ca. Portanto, para se quantificar o ruído,
como a confiabilidade, “a certe- em vez de se utilizar a pressão sonora,
Figura 1 - Pressões Sonoras (Pa) x Níveis de Pressão Sonora za de chegar” do Metrô de São utiliza-se o conceito de nível de pressão
(dB) - (Traduzido de Bruel & Kjaer Instruments) Paulo, este se tornou um gran- sonora, ponderado em Decibel (dB), cujos

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169
BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

todas as pessoas são igual- forma a servirem de baliza para critérios


mente incomodadas por que atendam à maioria da população.
um mesmo efeito sonoro. Outro aspecto muito importante de ser
Desta forma, parâmetros considerado no estudo do som é a percep-
são estabelecidos por nor- ção humana deste fenômeno e, com base
mas e leis, a fim de se es- nisto, os níveis de pressão sonora são ava-
tabelecerem patamares de liados segundo à ponderação pela curva “A”.
valores a partir dos quais Por este fator, as normas atuais têm, em suas
qualquer excedente seja grandezas, o índice “A”, mencionando-as em
Figura 2 - Valores de ponderação da Curva “A” e curvas de considerado “poluição so- “dB”. Nas revisões anteriores de normas e da
ponderação “A”, “B” e “C” nora” e, consequentemen- literatura, estas grandezas eram expressas em
te, tenha de ser atenuado. “dBA” ou “dB(A)”.
valores são obtidos pela ponderação entre Entretanto, como as pessoas reagem A figura 2 apresenta as curvas de ponde-
os níveis de pressão e um valor de nível de diferentemente a efeitos sonoros, um nível ração “A”, “B” e “C”, referentes à percepção
pressão sonora de referência e variam de 0 sonoro de 60dB, equivalente a uma conver- do ouvido humano, sendo que a Curva “A” é
a 140 dB (Limiar da Audição ao Limiar da sação, por exemplo, pode ser considerado “de mais voltada para ruídos urbanos e, por isto,
Dor, respectivamente). convivência tranquila” por uma pessoa e “in- é a mais usual para as análises deste trabalho.
Entretanto, falar em Decibels não é algo suportável” por outra pes-
tão claro, ou seja, os valores por si só não são soa. E este nível de pressão
suficientes para uma pessoa ter a noção da sonora não necessariamente
grandeza do nível de uma pressão sonora e o precisa ter extrapolado ne-
quanto esta pode vir a prejudicar alguém. As- nhum valor normalizado, ou
sim, a figura 1 mostra um quadro que se tor- seja, para um indivíduo se
na uma ferramenta bastante útil para poder sentir incomodado por um
haver algum tipo de referência entre os níveis determinado som, basta que,
de pressão sonora, suas respectivas pressões por exemplo, fatores psico-
e os efeitos relacionados a elas. lógicos o levem a sentir este
Quanto aos incômodos gerados pelos ru- incômodo. Assim, fenôme-
ídos, três aspectos devem ser considerados: o nos sonoros não podem ser Figura 4 - Aspecto geral do elevado encapsulado chegando à
timbre, relacionado à frequência, a intensida- analisados apenas segundo o Estação Tamanduateí
de, relacionada ao nível de pressão sonora e o espectro do nível de pressão
tempo de exposição. Este último, por exem- sonora, mas precisam ser es-
plo, é altamente considerado na avaliação da tudados como um todo.
dose de ruído quando se estudam os ruídos Esta abordagem mais
ocupacionais gerados por atividades profis- “holística”, contudo, não é
sionais. tão simples assim e, caso
Quanto à percepção, os seres humanos fosse feito um levantamen-
com audição normal apenas conseguem to de todos os níveis e tim-
perceber sons em faixas de frequências bres sonoros considerados
entre 20Hz e 20.000Hz. O som com fre- incômodos por todas as pes-
quências abaixo de 20Hz é conhecido por soas, além de este levanta-
infrassom e os com frequências acima de mento nunca ficar pronto,
20kHz, por ultrassom. Sons com baixa fre- seus resultados levariam,
quência têm ondas longas e são conhecidos no máximo, à conclusão de Figura 5 - Vista da Estação Tamanduateí e do elevado
por graves. Sons de alta frequência ou de que determinadas faixas de encapsulado
onda curta são os sons agudos. Sons de- valores de níveis de pres-
sorganizados e com diversas frequências são e frequências sonoras
misturadas são indesejáveis e são simples- atenderiam a uma maioria,
mente chamados de ruídos. ou seja, sempre haveria
O incômodo gerado por ruídos, entretan- parcelas descontentes com
to, tem também caráter subjetivo, pois, nem a existência desses efeitos.
Por este
mot i vo,
p a r âm e -
tros são
estipula-
dos por
n o r m a s Figura 6 - Elevado encapsulado e estrutura da
Figura 3 - Linha 2-Verde – Representação Esquemática e leis, de saída de emergência

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TRANSPORTE I ENGENHARIA

Tabela 1 - Legislação brasileira pertinente a ruídos rias dos veículos que por ela trafegam.
Assim, diante deste cenário complicado,
Resolução CONAMA Nº 490, de 16/11/2018: houve, por iniciativa destas concessionárias
Legislação Federal de rodovias (ABCR) e, logo em seguida, com
Limites para veículos automotores
a adesão da CPTM e do Metrô, a condução
Lei 997, de 31/05/1976 e seus decretos: Definem de discussões e estudos técnicos, junto à
poluição e proíbem esta prática CETESB, buscando a criação de uma docu-
mentação técnica mais adequada a avaliar os
Legislação Estadual Decreto 8468, de 08/09/1976: Atribui à CETESB impactos da emissão de ruídos dos sistemas
suas atuais competências e dispõe, entre outros lineares de transportes, assim definidos, de
maneira a abordá-los como fontes móveis de
itens, sobre o critério da melhor tecnologia
ruídos e a estabelecer critérios técnicos e me-
prática existente (“auto-atualização”) didas mitigadoras que pudessem ser, de fato,
Lei 16.402, de 22/03/2016 – Uso e ocupação do factíveis.
Os trabalhos deste grupo envolveram cer-
solo – Art. 146: Ruídos de fontes fixas, invocando ca de dois anos de estudos e discussões, que,
Legislação Municipal a legislação das três esferas de poder, no final, levaram à elaboração e à aprovação,
prevalecendo a que for mais restritiva. Esta lei pela Diretoria da CETESB de dois importantes
revoga a anterior sobre este mesmo assunto documentos: o Procedimento para Avaliação
de Níveis de Ruído em Sistemas Lineares de
Transporte, conforme Decisão de Diretoria nº
Toda e qualquer atividade no mundo preocupação crescente em âmbito mundial 100-2009/P da CETESB, publicada no Diário
provoca algum tipo de som, ou seja, é sim- passou, então, a ser objeto de mais e mais es- Oficial do Estado em 23/05/2009 e a Regu-
plesmente impossível ocorrer qualquer tipo tudos, culminando com a criação de normas, lamentação de Níveis de Ruídos em Sistemas
de acontecimento sem que, com ele, ocorra diretivas e leis pertinentes ao assunto. Lineares de Transportes localizados no Estado
algum tipo de fenômeno sonoro. Com as ati- A legislação brasileira relacionada ao as- de São Paulo, conforme Decisão de Diretoria
vidades humanas, não é diferente! sunto conta com leis federais, estaduais e mu- nº 389-2010/P da CETESB, publicada no Diá-
No caso do Metrô, a circulação dos trens nicipais pode ser observada na tabela 1. rio Oficial do Estado em 24/12/2010.
sobre os trilhos gera uma série de ruídos, que Estes dois documentos foram de grande
vão do funcionamento dos motores elétricos O PROBLEMA GERADO PELA importância para os setores dos transportes,
ao atrito das rodas com os trilhos, passan- LEGISLAÇÃO E AS SOLUÇÕES pois, além de estabelecerem uma legislação
do pelos sistemas de ar-condicionado e pelo Os empreendimentos de expansão me- factível para as medidas mitigadoras deste
contato do dispositivo de captação de ener- troviários são submetidos ao Licenciamento tipo de poluição ambiental, com critérios e
gia com o sistema de alimentação elétrica. Ambiental e, para tal, têm de se adequar às metodologias mais adequadas a estes sistemas
Assim, muitas são as fontes dos ruídos que, emissões de todos os tipos de poluição, den- de transportes, não mais os abordando como
somados, geram efeitos que podem ser per- tre as quais se destaca, neste artigo, a de fontes estacionárias, culminaram em outra
turbadores aos receptores. Dentre estas inú- ruídos. Ao serem aplicadas as legislações das iniciativa de grande importância: a criação da
meras fontes de ruído, entretanto, a mais evi- três esferas de poder, num eventual conflito, ABNT NBR 16425, Partes 1 a 5, uma nova nor-
dente é o contato roda-trilho, principalmente prevalece a mais rigorosa. ma técnica, de âmbito nacional, voltada aos
os chiados emitidos nas curvas. Ocorre, entretanto, que, até o ano de sistemas de transportes rodoviário, aeroviário,
Os ruídos, sons desorganizados por defi- 2010, ao se avaliar o impacto gerado pelos ferroviário e metroviário, tendo ainda, em sua
nição, podem ocasionar uma série de male- ruídos emitidos pela passagem dos trens nas primeira parte, disposições gerais sobre as me-
fícios à população. Dentre estes, podem ser linhas metroviárias, devido à legislação, eram dições e avaliações de ruídos nestes diferentes
destacados o aumento da pulsação e da pres- obedecidos os níveis de ruído estabelecidos modais de transportes. Por serem fortemente
são sanguínea, a irritabilidade, cansaço, falta pela ABNT NBR 10151 que, por sua vez, teve inspiradas nas normas ISO, europeias, as par-
de atenção, estresse, a perda da audição ou seus limites inspirados nas diretrizes do do- tes 2 a 5 desta norma não estipulam limites,
até mesmo problemas mais graves de saúde. cumento Guideline for Night Noises, da Orga- mas trazem recomendações técnicas quanto à
Antigamente, falar em poluição sonora nização Mundial da Saúde (OMS) que estipu- medição e à avaliação dos ruídos emitidos pe-
não era muito comum e os incômodos e pro- la, por exemplo, para a Europa, um limite de los diferentes sistemas de transportes. No caso
blemas relacionados aos ruídos não eram tão 40dB para ruídos no período noturno, veio dos limites a serem obedecidos, estes ficam a
levados em consideração, chegando, muitas se mostrando ser totalmente inadequada à cargo da legislação local e, para o Estado de
vezes, até a serem considerados como “ca- avaliação de ruídos provenientes de fontes São Paulo, utilizam-se os limites estabelecidos
prichos” pessoais. Com o desenvolvimento da móveis como, por exemplo, os sistemas li- na Regulamentação de Níveis de Ruídos em
medicina e dos estudos, além do agravamen- neares de transportes. A avaliação, segundo Sistemas Lineares de Transportes localizados
to dos níveis de ruídos e suas consequências, estes critérios era extremamente rigorosa e, no Estado de São Paulo.
entretanto, o estudo deste fenômeno passou consequentemente, penalizava os sistemas Estes limites foram estabelecidos partindo-
a não mais ser restrito aos ambientes acadê- de transportes de passageiros sobre trilhos. -se, inicialmente, dos valores estabelecidos na
micos, mas sim a extrapolá-los, tornando-se Igualmente penalizadas eram as concessioná- ABNT NBR 10151:2000 (vigente, na época). Os
também um problema de saúde pública. Esta rias das rodovias, que sequer são proprietá- limites desta norma, entretanto, já eram muito

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171
BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

Tabela 2 - Níveis de ruídos estipulados: ABNT NBR 10151:2000 x Regulamentação de Níveis de Ruídos em
Sistemas Lineares de Transportes localizados no Estado de São Paulo, DD 389-2010/P – CETESB

Vias de tráfego novas Vias de tráfego existentes


com e sem alteração
Tipo de Ocupação Diurno Noturno Diurno Noturno

Atual Antigo Atual Antigo Atual Antigo Atual Antigo

- Hospitais
- Casas de saúde
- Asilos
I 55 50 50 45 50 50 55 45
- Unidades Básicas de
Atendimento a Saúde
- Creches

- Residências
II - Comércios 60 55 55 50 65 55 60 50
-Serviços Locais

- Instituições de ensino
- Escolas
- Faculdades
III - Centros Universitários 63 50 58 45 68 50 63 45
- Universidades
- Atividades Equivalentes
- Cultos Religiosos

rigorosos e, na maioria das situações práticas tentes e estas, muitas vezes, podem ter sido para níveis máximos de pressão sonora eram
observadas, fora da realidade, o que levava a construídas muito antes da legislação vigente muito baixos, frequentemente não eram aten-
situações em que a solução para o problema ou mesmo antes da existência da preocupação didos em praticamente nenhum local, pois, até
era simplesmente inviável, chegando a até com este assunto. Por este motivo, foram in- mesmo nas localidades mais silenciosas, o som
mesmo inviabilizar o empreendimento. As- cluídas, nos termos e definições, os conceitos residual não raramente já estava situado pró-
sim, os estudos e as discussões técnicas, en- de vias novas e vias existentes, com ou sem al- ximo aos critérios, isto quando estes não eram
volvendo, inclusive especialistas no assunto, teração, de forma a estipular limites de ruídos superados. Como consequência, as medidas
levaram ao consenso sobre os critérios e ní- adequados a cada situação. Na tabela 2, são mitigadoras, quando necessárias, já visavam
veis de ruído a serem adotados como limites comparados os níveis de ruído admissíveis se- ao atendimento dos níveis de pressão do som
para estes sistemas de transportes, sobretudo gundo a ABNT NBR 10151 vigente na época e residual.
por representarem uma fonte que submete o os da Regulamentação da CETESB. Os valores Na prática, a Regulamentação da CETESB
receptor a um tempo de exposição bem in- são todos ponderados pela curva “A”. acabou sendo bastante realista e factível, sen-
ferior ao a que este é submetido por fontes Na tabela 2, os níveis classificados como do, inclusive, adotada em outros estados bra-
estacionárias. “atuais” são os estipulados pela Regulamenta- sileiros que não dispõem de uma norma ou lei
Além disso, a Regulamentação da CE- ção e os “antigos”, pela norma da ABNT. Esta adequada.
TESB, de acordo com a legislação estadual, alteração, ao contrário do que muitos poderiam Na expansão da Linha 2-Verde do Metrô de
tem força de lei, por ser este organismo o vir a pensar, não se trata de uma “permissivi- São Paulo, de Alto do Ipiranga a Vila Prudente,
responsável pela fiscalização e pelo licencia- dade para poluir”, mas sim de uma adequação o trecho da Estação Tamanduateí, incluindo a
mento ambiental dos empreendimentos no aos efeitos das fontes móveis aos receptores, já própria estação, onde há conexão com a CPTM,
Estado de São Paulo e, tanto a Regulamen- que o tempo de exposição destes aos ruídos é foi construído grande parte em elevado e este
tação, quanto a ABNT NBR 10151 estabele- bem inferior ao das fontes fixas. Além disso, a tornou-se praticamente um túnel elevado, pois,
cem, em seu texto que, nos casos em que o experiência pode comprovar que os locais de- levando-se em consideração o zoneamento lo-
som residual ultrapassar os níveis de ruídos signados na tabela apresentam, na maior parte cal, seu potencial de ocupação e as condições
estipulados nas tabelas, este passará a ser das vezes, níveis sonoros bem superiores até locais de ruído residual, com os limites da ABNT
o critério a ser obedecido, pois não se pode mesmo aos das fontes nos sistemas lineares de NBR 10151, já que, na época, não existia a Re-
degradar mais o local, já degradado por um transportes. Desta forma, a alteração foi feita gulamentação da CETESB, o fechamento late-
som residual mais alto do que os limites pré- no sentido de uma maior adequação à realidade ral do elevado com barreiras acústicas não seria
-estabelecidos para ele. do que ocorria com os níveis anteriores. suficiente para mitigar o ruído da passagem dos
Além disso, como existe a questão da A ABNT NBR 10151:2000 ainda trazia um trens. Assim, houve a necessidade de se fechar
renovação da licença ambiental de vias exis- outro problema: como seus limites impostos o elevado com telhas também com tratamento

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TRANSPORTE I ENGENHARIA

acústico. A figura 3 mostra esquematicamente Entretanto, em situações em que o som residual CONCLUSÕES
a Linha 2-Verde com o trecho em elevado des- fosse baixo ou ficasse entre os níveis máximos Os estudos da mitigação dos ruídos pri-
tacado no retângulo. estabelecidos pela norma e os novos que foram mários, que vêm sendo conduzidos por mais
Ao ocorrer este fechamento, entretanto, estabelecidos para a Regulamentação, o uso da de uma década, estão se mostrando cada vez
o elevado passou a ser tratado como túnel e, norma levaria à necessidade de atenuações de mais adequados no sentido de serem tomadas
consequentemente, teve de ter incorporados valores em situações em que a prática mostrou as providências corretas na atenuação desses
ao projeto os sistemas de combate a incêndios, que nada precisaria ser feito, pois, mesmo não efeitos.
saídas de emergências, registros motorizados se ouvindo nada do ruído emitido pela fonte, o Os ganhos vêm sendo gradativos, pri-
(sistemas com persianas de funcionamento entorno ainda estaria degradado do ponto de meiramente, com o Procedimento de Medi-
motorizado para exaustão de gases, no caso vista acústico e a situação do lindeiro não seria ção, em segundo, com a Regulamentação,
de incêndios), sinalização etc. O resultado foi resolvida. Assim, os altos valores desembolsa- passando pela elaboração da norma ABNT,
uma estrutura com aspecto “pesado” e de cus- dos pelo Metrô na busca de soluções simples- ainda em curso e, finalmente, pela esfera le-
to significativo. Isto sem mencionar as ques- mente teriam sido desperdiçados na falsa ilusão gal com novas leis ou mesmo com os ajustes
tões estruturais e seus respectivos custos para de se estar preservando o meio ambiente. que forem necessários à legislação atual, de
sustentarem um maior peso próprio, além das Além disso, diferenças aparentemente pe- forma a fornecerem o embasamento legal
cargas de vento e do efeito pistão com a movi- quenas são, muitas vezes, impossíveis de se- adequado para a tomada correta das medi-
mentação dos trens. rem atenuadas, pois as grandezas são logarít- das preventivas e corretivas, com a devida
A estrutura em questão era composta por micas. Assim, um único decibel, dependendo divisão das responsabilidades.
pórticos e montantes metálicos, entre os quais da situação, pode significar a diferença entre Já foram grandes os avanços com as Deci-
eram instalados painéis em estrutura metálica, resolver o problema com uma solução simples sões de Diretoria da CETESB. Entretanto, mui-
placas cimentícias do lado externo, placas me- e gerar um grande incremento nesta solu- to ainda tem de continuar a ser feito, pois as
tálicas perfuradas do lado interno e janelas com ção ou mesmo inviabilizá-la, principalmente cidades são dinâmicas e, com elas, seus empre-
painéis de vidro laminado e temperado, ou seja, quando os níveis sonoros forem mais altos. endimentos e os efeitos advindos destes.
elementos com custos significativos no forne-
cimento, implantação e manutenção. Além do AS ETAPAS DOS TRABALHOS COM
peso próprio, os painéis e a estrutura receberam AS NORMAS E LEGISLAÇÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
uma pintura anti-pichação e foram preenchi- O desconforto que o uso de normas inade- [1] GERGES, SAMIR N. I. - Ruído: Fundamentos e Con-
dos com material fonoabsorvente. Nas figuras quadas causava ao Metrô e a outros concessio- trole – Segunda Edição, Florianópolis, N.R. Consultoria e
4, 5 e 6, podemos ver o aspecto do elevado, nários de sistemas de transportes foi o estopim Treinamento, 1 de janeiro de 2000.
[2] ABNT NBR 10151 - Acústica – Medição e avaliação
sua integração com o partido arquitetônico da do início dos trabalhos junto aos demais opera-
de níveis de pressão sonora em áreas habitadas – Aplica-
Estação Tamanduateí e a escadaria da saída de dores, à CETESB e à ABNT. ção de uso geral.
emergência exigida pelo Corpo de Bombeiros. A ABNT NBR 10151 era inadequada, fora da [3] ABNT NBR 10152 - Acústica — Níveis de pressão so-
Caso os critérios e os níveis de ruídos ti- realidade e, apesar de todo o seu rigor, não re- nora em ambientes internos a edificações.
vessem sido os da Regulamentação da CETESB, solvia o problema dos ruídos. Entretanto, como [4] ABNT NBR 15575 - Edificações Habitacionais – De-
sempenho.
a solução para o elevado poderia, muito pro- era o que existia para a avaliação de ruídos, era
[5] ABNT NBR 16425 - Partes 1 a 5 – Ruídos em sistemas
vavelmente, ter sido mais simplificada, leve e, adotada por todos os organismos e citada por de transportes.
consequentemente, bem menos custosa, ainda diversas leis, algumas, inclusive, escritas por [6] FTA REPORT Nº 123 – Transit Noise and Vibration Im-
sendo utilizados os critérios de projeto do Me- pessoas que desconhecem totalmente o assun- pact Assessment Manual, setembro de 2018.
trô, que preconizam o dimensionamento das to “ruídos”, seus efeitos e estudos. [7] CONAMA – Resolução - Nº 490, de 16/11/2018.
[8] LEI - Lei Estadual 997, de 31/05/1976.
soluções mitigadoras pelos níveis mais críticos, Como algum novo instrumento norma- [9] DECRETO - Decreto Estadual 8468, de 08/09/1976.
ou seja, no caso da tabela 2, os noturnos, quan- tivo teria de ser desenvolvido e este desen- [10] LEI - Lei Municipal 16.402, de 22/03/2016 – Uso e
do o som residual tende a ser menor, ficando volvimento deveria ter um embasamento ocupação do solo.
a fonte de interesse mais “exposta” e evidente. técnico e legal. Assim, além dos funda- [11] CETESB - Procedimento para Avaliação de Níveis de
Ruído em Sistemas Lineares de Transporte, conforme De-
Não bastassem estes custos, que poderiam mentos do ruído, normas e leis de diver-
cisão de Diretoria nº 100-2009/P da CETESB, publicada no
ter sido evitados, a região continuou acustica- sos países foram pesquisadas, de forma a Diário Oficial do Estado em 23/05/2009.
mente degradada devido ao tráfego intenso na subsidiarem as decisões com base em algo [12] CETESB - Regulamentação de Níveis de Ruídos em
Avenida Presidente Wilson e demais vias, ou que esteja sendo também feito em outros Sistemas Lineares de Transportes localizados no Estado de
seja, o Metrô teve de fazer um investimento países, ou seja, não seria uma “reinvenção São Paulo, conforme Decisão de Diretoria nº 389-2010/P
da CETESB, publicada no Diário Oficial do Estado em
de grande monta e o problema da degradação da roda”, mas sim um aperfeiçoamento da 24/12/2010.
acústica continuou, pois a legislação vigente na forma de se abordar o assunto, com base
época era muito permissiva com as demais fon- em medidas plausíveis existentes no exte-
tes móveis de ruídos. rior. Assim, foi também conduzida, após * Helder José Ribeiro Soares é engenheiro civil,
Quando o som residual está acima dos ní- a aprovação do Procedimento e da Regu- Engenheiro Especializado na Coordenação de Via
veis admissíveis para ambos os casos e a área lamentação da CETESB, uma pesquisa a Permanente da Gerência de Projetos do Metrô-SP
de interesse é extremamente degradada acus- normas e leis dos Estados Unidos, Canadá, E-mail: helder.jose@metrosp.com.br
ticamente, a avaliação da fonte de ruídos pelos Chile, Turquia, Malta, México, Espanha en- ** Adilson Roberto Takeuti é engenheiro
critérios da NBR ou da Regulamentação pode tre outros. Esta pesquisa buscou endossar o civil, Mestre, Doutor e Pós-doutorado em
não fazer muita diferença, pois há uma tendên- trabalho que já havia sido feito e orientar o Engenharia de Estruturas, Coordenador de
cia de os níveis de pressão sonora a serem ge- direcionamento dos futuros trabalhos que Projetos de Via Permanente do Metrô-SP
rados serem até mascarados pelo som residual. adviriam deste. E-mail: atakeuti@metrosp.com.br

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173
BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

Pioneirismo na área metroferroviária


brasileira: acreditação pelo
INMETRO ao Laboratório de
Calibração do Metrô-SP

E
MÁRCIO ANNIBAL PIMENTA*

m todo processo de ma- cedimentos de manutenção anualmente. ses instrumentos e dispositivos medem e
nutenção, medidas e Na sua imensa maioria, esses pro- parametrizam adequadamente? Através
parâmetros são necessá- cedimentos são baseados nas referidas de sua verificação ou calibração. O La-
rios, e no Metrô de São medidas e parâmetros descritos anterior- boratório de Calibração do Metrô de São
Paulo não é diferente. mente, uma vez que evidenciam a fun- Paulo, vinculado à Gerência de Manuten-
Para manter sua estru- cionalidade esperada do ativo mantido. ção da Companhia, é o responsável pela
tura, composta por 71,4km de trilhos, Existem diversos tipos de instrumentos verificação e calibração dos seus 7.000
63 estações e 169 trens, responsável por e dispositivos utilizados para auxílio na instrumentos, equipamentos e disposi-
transportar 4 milhões de passageiros dia- geração de medidas e parâmetros. tivos. Sua implantação se deu logo após
riamente, são realizados milhares de pro- Todavia, como é possível dizer se es- o início da operação comercial da Com-

Calibração de torquímetro Calibração de relógio comparador

Estrutura do laboratório Calibração de micrômetro externo

174 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


TRANSPORTE I ENGENHARIA

Calibração de paquímetro Calibração de micrômetro interno de 3 pontas

Calibração de paquímetro Equipe do Laboratório

panhia, no final da década de 1970, no à RBC – Rede Brasileira de Calibração. Oficinas de Manutenção do Metrô, o co-
Pátio Jabaquara. Fazem parte do Escopo de Acreditação nhecimento gerado ao longo de todo pro-
Esse Laboratório obteve em dezembro instrumentos de precisão como torquíme- cesso de busca pela acreditação do INME-
de 2021 a inédita Certificação de Acredi- tro, micrômetro interno de três pontas, TRO, gera uma economia anual advinda do
tação, atestada pela Cgcre - Coordenação micrômetro externo, relógio comparador, desenvolvimento de verificações e calibra-
Geral de Acreditação, do Instituto Nacio- relógio apaldador, paquímetro e compara- ções pelo Laboratório, além de possibili-
nal de Metrologia, Qualidade e Tecnologia dor de diâmetros internos, todos em suas tar outras soluções internas mais ágeis e
(INMETRO), sendo a primeira unidade de faixas de medições específicas. interessantes com relação a seus serviços.
metrologia do setor metroferroviário bra- “O Certificado de Acreditação, evi- Os ser viços de verificação e calibra-
sileiro a obter este certificado, de validade dencia que os procedimentos aplicados ção de instrumentos, equipamentos e dis-
internacional. na rotina do Laboratório de Calibração do positivos do Laboratório de Calibração do
Esta comprovação constitui a expres- Metrô-SP estão em conformidade com os Metrô estão disponíveis a qualquer clien-
são formal do reconhecimento da com- requisitos presentes na referida norma, e te, principalmente a outras empresas do
petência do Laboratório de Calibração do comunica ao mercado, a sua competência setor metroferroviário.
Metrô-SP para realizar atividades de cali- técnico-administrativa na prestação des-
bração, conforme Escopo de Acreditação ses ser viços”, destaca Ricardo dos Santos, * Márcio Annibal Pimenta é assessor técnico
e requisitos estabelecidos na ABNT NBR Gerente de Manutenção. da Gerência de Manutenção do Metrô-SP
ISO/IEC 17025:2017, integrando-se assim De acordo com o Departamento de E-mail: marciopimenta@metrosp.com.br

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175
BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

A influência do perfil geométrico das


vias no consumo de energia, conversão
de energia transformada em economia

D
ALBERT HAGA* / CASSIANO LOBO PIRES** /
RODRIGO COURA OLIVEIRA***

INTRODUÇÃO ANÁLISE dos): 3600/180 = 20 trens passando por


esde 1966, o Metrô de São Em sistemas metroviários, as partidas e uma determinada plataforma, por hora.
Paulo projetou e implantou chegadas dos trens nas plataformas das esta- Em uma linha com 30 estações, serão
as linhas 1-Azul, 2-Verde, ções acontecem frequentemente, conforme 20 x 30 = 600 partidas de trens, por via,
3-Vermelha, 4-Amarela, os headways projetados, ou seja, as chegadas por hora.
5-Lilás, e 15-Prata. São 94 dos trens em uma plataforma ocorrem em Então em uma linha há: 600 x 2 vias =
estações, com 104 quilômetros de vias cons- intervalos médios de 90 a 200 segundos. 1.200 partidas de trens por linha, por hora.
truídas em elevados, superfícies e túneis. Um exemplo prático: se considerarmos Ao longo do dia, no horário comer-
Nestes projetos e implantações, as cotas um headway médio diário de 150s, mais o cial (20 horas diárias), serão: 20 x 1.200 =
das estações, geralmente “acompanham” a tempo de parada de 30 segundos nas plata- 24.000 ciclos de partida e frenagem dos
cota das vias, antes e depois da estação. formas, temos em uma hora (3.600 segun- trens (figura 1).
Para sistemas metroferroviários, a ali-
mentação elétrica para a tração (subesta-
ções que alimentam os trens) representam
70% a 80% da energia elétrica consumida
por uma linha. Os demais 20% a 30% do
consumo de energia elétrica são referentes
aos sistemas auxiliares das estações: ilumi-
nação, ventilação, escadas rolantes, eleva-
dores, bombeamentos, sonorização, teleco-
municações etc.
Para melhor aplicarmos em ações atu-
ais e reais, temos sempre que relembrar o
passado, retomar, estudar e interagir com
históricos, questões e conceitos, em con-
junto com todos os envolvidos nos novos
projetos de futuras implantações de me-
trôs, nas várias especialidades (arquitetura, Figura 1 - Exemplo de tempos e distâncias típicas de sistemas metroviários
civil, elétrica, trens, eletrônica, automação,
mecânica, sinalização, custos, ambiental TABELA 1 - FATORES E CRITÉRIOS QUE INFLUENCIAM NO
etc.) e englobando todas etapas da vida útil CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA PELOS TRENS
de um empreendimento, ou seja, projetos FATOR CRITÉRIO
funcional, básico, executivo/ “design”, im- 1 Traçado da linha distâncias, rampas, curvas, túneis, etc.
plantação, operação, manutenção etc.
Nos dias atuais, temos acesso e opor- quantidades, composição, isolações, características dos
tunidades a muitas alternativas de “inova- 2 Trens motores, acionamentos, pesos, capacidade de regeneração
da energia das frenagens, receptividade do sistema, etc.
ções”, visando a otimização de prazos, cus-
tos, eficiência energética e ambientais, mas retificação (ou não), isolações, tensões, correntes,
que não podem ter apenas um caráter sim- 3 Suprimento de energia impedâncias, rendimentos, linhas de contato (ter-
ples, imediatista e localizado. Sempre conti- ceiro trilho, catenária, trilhos de retorno etc.).
nuará imprescindível que haja uma “avalia- confiabilidade, precisão, circuitos de via, simultaneidades,
ção do conjunto”, por toda a vida útil e nos distâncias permitidas, alternativas de desempenho, auto-
4 Sinalização e controle
contextos de todos os sistemas envolvidos. matismos nas acelerações, velocidades, previsão e controle
Este artigo visa relembrar, atualizar e dos tempos de deslocamento e parada (headway), etc.
recriar um pensamento global sobre o con- Forma de operação/ políticas de uso estratégias, desempenho imposto, uso de máximas
junto de sistemas, em todas as fases de uma 5 das alternativas disponibilizadas pe- acelerações, velocidades, mínimos tempos de desloca-
linha metroviária. los sistemas de sinalização e controle mento e parada (headway), número de viagens, etc.

176 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


Alguns grupos de fatores, que in-
fluenciam no consumo de energia elétri-
ca dos trens de uma linha de metrô, já são
conhecidos e poderiam ser “controláveis”
ou previsíveis.
A tabela 1, foi levantada e apresentada,
na 25º Semana de Tecnologia Metroferro-
viária da AEAMESP (Associação dos Enge-
nheiros e Arquitetos de Metrô) no trabalho:
“Considerações para o projeto - Escolha da
Tensão: Subestação Retificadora, Trens e
Eficiência Energética”, cujo autores foram
os engenheiros Albert Haga, Atilio Henri-
que Laudanna e Massaru Saito (http://www.
aeamesp.org.br/blog/t21-consideracoes-p-
-o-projeto-escolha-da-tensao-subestacao- Figura 3 - Inclinações das vias, antes e depois da chegada dos trens na plataforma (do
-retificadora-trens-e-eficiencia-energeti- Relatório “Traçado de vias de um metropolitano – Eng. Manfred Kraus – 1970”)
-massaru-saito-metro-sp/).
Conforme citado, reconhecemos que o d) a altura do túnel com sua cobertura ção do conjunto”, quando dos desenvolvi-
Traçado das linhas é um dos fatores que mínima; mentos de projetos básicos e/ou executivos
influenciam na “eficiência energética” dos e) a concordância vertical, no caso de mu- civis, elétricos e trens (figura 3).
trens e de uma linha de Metrô. danças de inclinação; Nas implantações de linhas metroviá-
f) a posição da drenagem do túnel, eventu- rias em São Paulo, na década de 1970, os
PESQUISA almente em conjunto com as passagens de túneis do Metrô eram escavados, constru-
Em 2019, quando da pesquisa em ar- emergência; ídos e cobertos (métodos cut-cover, NATM
quivos de históricos técnicos dos especia- g) os cruzamentos com outras linhas metro- etc.). Foram poucos os trechos com uso de
listas engenheiros Mario Giuriati (in me- viárias. tuneladora (Shield). Naquela época, uma
moriam) e Gil Augusto Lago Mello Freire, Havendo passagem sob edifícios pelo méto- alternativa de aumento na profundidade
tivemos a oportunidade de relembrar um do em couraça, ainda deverão ser conside- dos túneis acarretaria em um significativo
relatório dos anos 1970 em que já se pre- rados tipo e fundação dos edifícios. aumento nos custos de implantação civil,
via o chamado “efeito gangorra”, abordado No caso de um traçado em elevado, devem devido à maior escavação e movimentação
no trabalho “Traçado de vias de um me- ser consideradas as alturas livres das vias de terra, entre outros aspectos.
tropolitano – Eng. Manfred Kraus – 1970” de comunicação existentes e planejadas. Deste modo, algumas recomendações
(figura 2). Caso a localidade permita, deveriam ser não foram completamente “viáveis” quan-
“... previstos trechos mais inclinados em segui- do das implantações da linha.
1.4.2 Planejamento do gradiente da às estações. Desta providência, resulta Nas implantações “recentes”, os túneis
A determinação do gradiente dos metrôs, maior aceleração no arranque (movimento são escavados com métodos mais “mo-
deve ser feito considerando-se: de declive) e maior desaceleração (movi- dernos” (tuneladoras, também conhecidas
a) aclives máximos permissíveis; mento em aclive), com menos energia. como “tatuzões” ou shields), de forma a
b) as alturas dos terrenos existentes; ...” minimizar os impactos nas superfícies, en-
c) os cruzamentos com vias de comunica- Assim, já eram previstas as necessida- tretanto, em alguns casos, com uma maior
ção, canais etc.; des da importante “interação” e a “avalia- profundidade (maior altura de recobrimen-
to). Dentre alguns fatores e aspectos, estão
as características geológicas do solo para a
determinação das profundidades mais ade-
quadas, esforços nos anéis dos túneis etc.

DIAGNÓSTICO
A implantação de túneis mais profun-
dos poderá ser de menor custo e prazo,
entretanto, devemos estudar e avaliar al-
ternativas que também possibilitem uma
menor profundidade das estações para
uma otimização e economia no conjunto
de sistemas/ equipamentos, consumo de
energia elétrica ao longo de toda a vida
útil do empreendimento, e conforto dos
usuários (tempo e distância do trem ao
acesso das estações).
Figura 2 - Traçado de vias de um metropolitano Existem várias pesquisas e trabalhos

WWW.BRASILENGENHARIA.COM BRASILENGENHARIA 06/2022 177


BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

internacionais recentes, de inúmeros auto-


res no mundo, referentes aos estudos des-
te “efeito gangorra”, também chamado de
“alinhamento vertical” ou “cuvette”, apli-
cáveis nas linhas subterrâneas de metrôs.
Um outro exemplo, e que não é muito
percebido: geralmente as praças de pedá-
gios das rodovias estão em cota maior que
a rodovia, ou estão no topo, e logo depois
de uma depressão (antes e depois). Desta
forma, não é necessário o motorista fre-
ar em demasia, sendo a aceleração (após
a praça de pedágio) facilitada, “economi-
zando” o combustível e os freios dos seus
automóveis.
No Brasil, apesar de concebermos o
“efeito gangorra” em rodovias, ainda não
temos nenhum tipo de linha metroviária
implantada com este conceito.
Este mesmo conceito pode ser aplicá-
Figura 4 - “Efeito gangorra”, que também são chamados de “alinhamento vertical” ou “cuvette”
vel também a vias em superfície, ou em
elevados, considerando-se que as cotas
das plataformas das estações sejam mais
altas que a das vias (figura 4).

EXEMPLOS PELO MUNDO


a. Linha 52 de Amsterdam (Noord/
Zuidlijn), 9,7 quilômetros, 8 estações,
operacional desde 21 de julho de 2018
(figura 5).
b. Linha Azul de Estocolmo (Tunnel-
bana 3), entre as estações Hjulsta-Duvbo
(figura 6).
c. Linha Vermelha de Estocolmo (Tun-
nelbana 2), entre as estações Slussen e Li-
ljeholmen (figura 7).

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Ver figura 8.
A energia Et consumida por um trem
durante seu percurso é função da sua
potência Pt, desenvolvida neste percur-
so durante o tempo t através da seguinte
Figura 5 - Planta e perfil - Linha 52 de Amsterdam (Noord/Zuidlijn) equação:
Et = Pt ∙ t (Equação 1)
A potência Pt desenvolvida pelo trem,
por sua vez, é função do esforço motor
Fm produzido pelos motores de tração do
trem e da velocidade V [1].
Pt = (Fm ∙ V) / 3,6 (Equação 2)
A aceleração de um trem a é função
do esforço motor Fm, da resistência ao
movimento R e da massa do trem m’ afe-
tada das massas girantes. Esta relação é
bem conhecida através da Segunda Lei de
Newton [1]:
Fm – R = m’ ∙ a (Equação 3)
A resistência ao movimento R pode ser
dividida em resistência ao movimento em
Figura 6 - Croqui do perfil da Linha Azul de Estocolmo (Tunnelbana 3) nível e tangente Rmpt, resistência revido

178 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


às curvas Rc e resistência devido às rampas
Ri [1]. O único caso de resistência negati-
va, ou seja, resistência a favor do movi-
mento, é quando uma rampa é negativa;
um declive [1].
R = Rmpt + Rc ± Ri (Equação 4)
Conclui-se, portanto, que para ace-
lerar um trem a uma taxa de 1,12 m/s²,
como ocorre no Metrô, quanto maior for
a resistência ao movimento, maior será
o esforço motor Fm requerido e, conse-
quentemente, maior a potência Pt e ener-
gia consumida Et. Figura 7 - Croqui do perfil da Linha Vermelha de Estocolmo (Tunnelbana 2)
A ideia do posicionamento de um de-
clive depois da estação é baseada neste
princípio. Quando o trem parte e está em
fase de aceleração, o esforço motor neces-
sário é aquele para vencer as resistências
ao movimento e produzir uma aceleração
máxima de 1,12 m/s². Este declive intro-
duziria uma resistência negativa ao mo-
vimento -Ri, uma força a favor do movi-
mento, e exigiria um esforço motor Fm
menor, requerendo menor potência Pt e
menor energia Et.
[(-F)] _m – R = m’ ∙ a (Equação 5)
Nota-se que, durante a fase de frena-
gem, as resistências ao movimento ajudam
a desacelerar o trem. Então, quanto maior
a resistência ao movimento R, menor o
esforço motor Fm para uma dada taxa de
desaceleração a. A introdução de um acli-
Figura 8 - Fundamentação teórica
ve antes da estação faz com que haja um
aumento da resistência ao movimento R
durante a fase de frenagem.
Um outro modo de entender o concei-
to envolvido na inserção de rampas antes e
depois das estações é a teoria das energias
potencial e cinética.
Durante a chegada a uma estação, o
trem está desacelerando em uma rampa,
ou seja, perdendo energia cinética, que é
proporcional à diferença entre a velocida-
de inicial e a velocidade final. Entretan-
to, esta energia cinética é convertida em Figura 9 - Estudo de caso
energia potencial, que é proporcional à
massa do trem e à altura da estação em
relação à via. Esta energia potencial é no-
vamente convertida em energia cinética
quando o trem parte da estação e desce
uma rampa, uma vez que se perde altura
do ponto de referência e há um incremen-
to na velocidade do trem.

ESTUDO DE CASO – LINHA


2-VERDE DO METRÔ-SP
Conforme abordado a seguir, realiza-
mos o estudo com uma Simulação de Mar-
cha e a Simulação Elétrica CC para a Linha
2-Verde, buscando esclarecer quantitati- Figura 10 - Trem na Linha 2-Verde - Via 1 - Velocidade x Percurso

WWW.BRASILENGENHARIA.COM BRASILENGENHARIA 06/2022 179


BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

conforme as figuras 10 e 11, e tabela 2,


mostrando a velocidade do trem em fun-
ção do tempo de percurso (em laranja me-
dido e em azul simulado).
Estando as marchas de acordo com
as medições realizadas, partiu-se para o
processo de otimização do perfil da Linha
2-Verde.
Em princípio, pensou-se em alocar as
estações mais altas que as estações origi-
nais e adicionar rampas entre elas. Entre-
tanto, esta abordagem fez com que a ener-
gia para o percurso da Via 2 se tornasse
Figura 11 - Trem na Linha 2-Verde - Via 2 - Velocidade x Percurso maior que o perfil original. Desta forma,
partiu-se para o estudo e identificação in-
TABELA 2 – RESULTADOS DAS MARCHAS SIMULADAS dividual de cada percurso das vias 1 e 2,
- LINHA 2 VERDE – TRAÇADO ORIGINAL nos quais a energia de tração seria menor
no perfil otimizado. É importante observar
Original Via 1 Via 2 Total Acel. Resultante (m/s²) que as alterações feitas incidiram sobre as
Velocidade comercial [km/h] 31,71915 32,7933 32,25622 0,61 rampas, que devem ser menores que 4%,
o que modificou o traçado da linha, uma
Velocidade média [km/h] 45,42251 46,69848 46,0605 0,48
vez que a inclusão de uma rampa modi-
Energia consumida [kWh] 257,3307 153,2273 410,5581 0,60 fica a cota do túnel para aquela posição.
Energia específica [Wh/t.km] 46,23206 27,52884 36,88045 0,22 Os traçados “otimizados” e originais são
mostrados nas figuras 12 e 13, e tabela 3.

vamente sobre a influência e a importân-


cia do perfil da via (rampas), no consumo
e conversão de energia (elétrica, mecâni-
ca, cinética, potencial), e a comparação
com um outro “perfil hipotético”, apre-
sentando outros valores, cuja a diferença
significaria uma economia nos custos da
energia elétrica consumida (figura 9).
Para a aferição de uma possível “eco-
nomia de energia” que é consumida pelo
trens, em uma linha, propomos e utiliza-
mos um simulador, calculando, ilustrando
e comparando os consumos de energia das
subestações retificadoras de uma linha
existente e implantada, e desta mesma
linha se (hipoteticamente) houvesse um
perfil “otimizado” (com as plataformas em Figura 12 - Linha 2-Verde - Via 1 - traçados otimizados e originais
cota maior, ou seja, entradas e saídas das
plataformas em rampas)
O primeiro passo do processo de oti-
mização foi a simulação de marcha com
o software EBahn [22] para o perfil atual.
Como parâmetro para a energia consumi-
da pela marcha do trem, foi tomado o es-
tudo feito pelo Metrô e Alstom em 2012 na
Linha 2-Verde [23]. Neste estudo, foram
feitas diversas medições no trem durante o
percurso entre Vila Prudente - Vila Mada-
lena - Vila Prudente para uma sinalização
em ATO. Tomou-se uma medição realizada
como parâmetro do estudo.
A simulação de marcha foi feita de
acordo com as medições e considerando-
-se um trem cheio (378,44 toneladas), Figura 13 - Linha 2-Verde - Via 2 - traçados “otimizados” e originais

180 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


- Menor quantidade de pisos (níveis)
TABELA 3 – RESULTADOS DAS MARCHAS SIMULADAS -
na estação: menores necessidades de con-
LINHA 2 VERDE – TRAÇADO “OTIMIZADO”/ (HIPOTÉTICO)
servação, limpeza, manutenção etc.
Otimizada Via 1 Via 2 Total Acel. Resultante (m/s²) - Menor quantidade de equipamentos
Velocidade comercial [km/h] 31,76536 32,78899 32,27718 0,61 de iluminação, detecção de incêndio, so-
norização, CFTV, ventilação etc.
Velocidade média [km/h] 45,53576 46,68831 46,11204 0,48
- Menor quantidade de equipamentos
Energia consumida [kWh] 238,15 144,6598 382,8098 0,60 auxiliares de movimentação vertical (esca-
Energia específica [Wh/t.km] 42,78605 25,9896 34,38782 0,22 das rolantes, elevadores etc.).
- Menor quantidade de energia elétrica
Comparando-se os resultados das ta- simulação, passou-se para a avaliação do necessária para colocar e retirar os usuá-
belas (original e otimizada), pode-se ob- consumo de energia mensal com o per- rios do sistema (energia elétrica necessária
servar que a linha com uma pequena mo- fil otimizado. O resultado das simulações para o deslocamento vertical na estação).
dificação feita no traçado (hipotética, pois trouxe um consumo mensal de 5.915 - Menores custos de manutenção
a linha já foi construída) conseguiria eco- MWh, ou seja, uma redução de 4,37%, dos sistemas e materiais de frenagens
nomizar 6,75% de energia total de tração. pois nesta simulação estão sendo consi- dos trens.
Após esta comparação entre marchas, derados também os serviços auxiliares do - Maior conforto aos usuários: menor
efetuamos a comparação da energia elétri- trem e o ar condicionado. deslocamento, esforço físico e tempo den-
ca consumida pela Linha durante um mês Esta redução de 4,37% representa tro da estação etc.
(figura 14). Como a marcha de referência 270,2 MWh mensais. Considerando-se
foi feita em 2012, tomou-se como base o um consumo médio mensal residencial ESTUDOS FUTUROS
consumo mensal e a oferta de trens para no Brasil de 152,2 kWh, esta economia de Para futuros estudos, propomos ava-
um mês médio em 2012. Pelos registros da energia é equivalente a 1.775 residências liações, levantamento de critérios, custos
Gerência de Operações do Metrô-SP, foi (figura 15). e prazos, correlacionados ao perfil da via
considerado o consumo médio mensal de permanente e consumo de energia:
5.994 MWh na Linha 2-Verde (apenas o ESTAÇÕES MENOS PROFUNDAS - Estudar mais detalhadamente os fa-
sistema elétrico de tração). No caso de plataformas com cotas tores que envolvem o consumo de energia
Foi feita a simulação do consumo acima das cotas das vias (estações menos elétrica quanto à viabilidade de alterações,
mensal da Linha 2-Verde, considerando-se profundas) é esperado: relevância, facilidade de modificação, im-
um trem médio de 268 toneladas [23] e foi - Menor quantidade de pisos (níveis) pactos nos custos de implantação e econo-
obtido o consumo mensal de 6.185 MWh, na estação: menores volumes de concreto mias na operação.
ou seja, uma diferença de 3,2% entre o para a construção da estação, menos es- - Estudo comparativo entre as pro-
valor médio registrado e o valor simulado. cavação, menores necessidades de acaba- fundidades médias das estações de cada
Após esta calibração do modelo de mentos, esquadrias etc. linha implantada versus o consumo de
energia elétrica (trens e serviços auxi-
liares da estação).
- Estabelecer modelos matemáticos:
simulação CC ( já disponível), energia elé-
trica que é utilizada para colocar e retirar
os passageiros de “estações subterrâneas
profundas” etc.
- Avaliar mais detalhadamente as ne-
cessidades e premissas da recobertura
dos túneis.
- Avaliar mais detalhadamente os
custos de escavação, construção e aca-
Figura 14 - Redução de 6,75% da energia de tração! bamento de uma estação (e de um nível
intermediário).
- Avaliar os custos de uma eventual al-
ternativa de mudança no perfil no curso
da tuneladora.
- Avaliar mais detalhadamente os
custos de implantação e do consumo de
energia elétrica dos equipamentos de mo-
vimentação vertical (escadas rolantes, ele-
vadores etc.).
- Avaliar mais detalhadamente os cus-
tos ou periodicidades das manutenções
dos trens, no sistema de frenagem regene-
Figura 15 - Resultado das simulações rativa (elétrica) e mecânica.

WWW.BRASILENGENHARIA.COM BRASILENGENHARIA 06/2022 181


BRASIL ENGENHARIA I ME TRÔ DE SÃO PAULO

CONCLUSÕES ficativa redução nos custos operacionais mias estruturais das estações e no “con-
Com esta análise preliminar quanti- (OPEX), como visto neste estudo de caso. forto dos passageiros” (tempo e deslo-
tativa, é possível verificar que a energia Verifica-se também que o traçado de camento) ao entrar e sair das estações.
consumida pelos trens durante seus per- uma linha sob o ponto de vista energético Este trabalho teve a intenção de relem-
cursos é função direta do traçado. O tra- é um compromisso entre as áreas de en- brar conceitos passados, integrando-os
çado de uma futura linha a ser implantada genharia civil, elétrica e material rodante. aos conhecimentos e tecnologias atuais,
poderá ser otimizado, em termos energé- No caso de serem adotados acli- visando avaliações para avaliações futuras.
ticos, através da inserção de um aclive ves/ declives nas vias, as plataformas Quaisquer mudanças de filosofias ou cri-
antes da estação e de um declive após das estações ficarão menos profundas, térios precisam ser profundamente estuda-
ela. Esta prática pode trazer uma signi- podendo trazer outras possíveis econo- das por todos os envolvidos no projeto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Pires, C. L. Engenharia elétrica ferro- [9] García Alvaréz. A. Energía y trazado minimise energy. In: IEEE 17th Interna-
viária e metroviária: do trólebus ao trem ferroviario. Revista Vía Libre Técnica Nº 2 tional Conference on Intelligent Trans-
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routes. Journal of Transportation Engine- [15] Sarsembayev, B.; Suleimenov, T.; 2019 – http://www.aeamesp.org.br/blog/
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ghts on energy efficiency in a metro line Transportation Engineering. 4 (2). pp. 45- -saito-metro-sp/
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ternational Conference on Electrical and [16] Xin, T.; He, J.; Hillmansen, S.; Zhao, - Conversão de Energia, transformada em
Electronics Engineering (ELECO). Bursa, N.; Chen, L.; Tian, Z.; Su, S. Railway ver- economia - Trabalho apresentado na 27ª
2019. pp. 825-829 tical alignment optimisation at stations to STMF da AEAMESP - 2021

* Albert Haga - Engenheiro Eletricista. Cursou ** Cassiano Lobo Pires - Engenheiro Eletricista, *** Rodrigo Coura Oliveira - Engenheiro
Especialização em Tecnologia Metroferroviária - Poli/ Mestre, Doutor e Pos-Doc em Engenharia Elétrica Eletricista, PMP, Cursou Especialização em
USP e MBA em Excelência Gerencial na FIA. Exerce o pela Poli/ USP. Autor do livro “Engenharia Elétrica Tecnologia Metroferroviária – Poli/ USP.
cargo de Engenheiro Especializado, no setor de Projetos Ferroviária e Metroviária: Do Trólebus ao Trem de Coordenador do Setor de Projetos de Sistemas
de Sistemas Elétricos e Material Rodante, na Gerência Alta Velocidade”. Trabalhou no setor de Projeto Elétricos e Material Rodante, na Gerência de
de Projetos do Metrô -SP. Trabalhou na Gerência de e Concepção de Sistemas do Metrô -SP, no setor Projetos do Metrô -SP. Trabalhou na Gerência
Manutenção, na Gerência de Projeto e Concepção de de Sistemas e Infraestrutura da Alstom - Brasil e de Projeto e Concepção de Sistemas,
Sistemas, na Gerência do Empreendimento Linha 17 na Bombardier Hennigsdorf/ Alemanha pela Ikos na Gerência de Implantação de Sistemas
– Ouro, na Gerência de Implantação de Sistemas das Consulting. Atualmente trabalha na Alstom, setor de das Linhas 4 e 5, todas do Metrô -SP
Linhas 4 e 5, todas do Metrô - SP Sistemas Digitais e Integrados  E-mail : rcoliveira@metrosp.com.br
E-mail : ahaga@metrosp.com.br E-mail : cassiano.pires@alumni.usp.br

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Utilização de rampa de 5% em
projetos futuros no Metrô-SP
ADALBERTO DE PAULA RAMOS* / CLAUDIO ROBERTO VALENTIM** /

O
MARIO FUKUMORI*** / RODRIGO COURA OLIVEIRA****

INTRODUÇÃO TABELA 1 -VELOCIDADE E ACELERAÇÃO gência 1,50m/s², para as condições de


Metrô de São Paulo, durante MÁXIMA EM DIVERSAS RAMPAS carro vazio (AW0) a carregamento má-
a fase inicial do projeto bási- ximo de passageiros (AW4), nas mesmas
co civil da Linha 6-Laranja, Velocidade condições de via citdas acima.
Rampa Aceleração
observou que a profundida- Máxima Esses parâmetros são utilizados para
de em algumas das estações 0%0 1,12 m/s2 100 km/h estabelecer o tempo de percurso da li-
da linha ficaria em torno de 50 a 60 metros 40%0 0,73 m/s2 75 km/h nha, potência dos sistemas de tração e de
caso fosse adotada rampa de 40‰ nas vias freio, e para o dimensionamento da frota.
operacionais. Com as profundidades cita- 50%0 0,63 m/s 2
70 km/h Os valores de aceleração foram ado-
das, haveria um grande impacto na esca- 60%0 0,53 m/s 2
65 km/h tados considerando os requisitos de con-
vação do corpo da estação, na remoção de forto e segurança para usuários, princi-
terras, na concretagem e na necessidade de Dessa forma, observa-se pela tabela 1 que um trem normal palmente para os passageiros em pé.
(carregamento de AW0 a carregado AW4) poderá subir
grande quantidade de escadas rolantes para rampas de 50‰ ou mesmo de 60‰, porém isto implica em O gráfico da figura 1 mostra a curva
circulação dos usuários, com impacto dire- redução na velocidade máxima. de esforço de propulsão x velocidade de um
to nos custos da obra civil e implantação de trem vazio, com as curvas de resistência
sistemas. A proposta do Departamento Ci- REQUISITOS ao movimento e as resistências devidas às
vil, especificamente dos responsáveis pela Os trens do Metrô de São Paulo nor- rampas ascendentes de 40‰, 50‰ e 60‰
Via Permanente, foi alterar a rampa dimi- malmente são especificados para atender para trem tipo do Metrô de São Paulo.
nuindo o custo da obra. o desempenho com a aceleração nominal
Com a mudança da rampa para 50‰, de partida de 1,12m/s2, para a condição 1. Circulação da composição na via
permite-se uma redução na profundidade de carro vazio (tara-AW0) a carregamento No caso do trem do Metrô de São Pau-
de 5 a 10 metros, dependendo do traçado, máximo de passageiros (AW4 – passagei- lo, todos carros são motorizados e os valo-
em relação aos valores citados no pará- ros sentados mais 8 passageiro em pé/m²), res de aceleração de partida em função da
grafo anterior. Para o Material Rodante, a possibilitando que se obtenha a velocidade rampa ascendente estão na tabela 1.
mudança da rampa na via permanente traz de 80km/h em tempo inferior a 33 segun- Dessa forma, observa-se pela tabela
consequências no dimensionamento dos dos, para a via em reta e em nível. 1 que um trem normal (carregamento de
sistemas de propulsão e de freio para que o O freio de serviço deve produzir a AW0 a carregado AW4) poderá subir rampas
desempenho do trem não seja prejudicado. desaceleração de 1,20m/s2 e o de emer- de 50‰ ou mesmo de 60‰, porém isto
implica em redução na velocidade máxima.
Na tabela 2, observa-se que, mesmo
com falha em dois e meio carros (10 ro-
deiros motrizes) é possível a circulação em
rampa de 50‰ (a = 0,111m/s²), porém com
60‰ o trem terá muita dificuldade para
subi-la (a = 0,011m/s²). Se considerarmos
falha de propulsão em dois carros (8 ro-
deiros), a composição conseguirá subir a
rampa de 60‰ com taxa de 0,113m/s².
Na prática adota-se o seguinte critério: se
o sistema de tração da composição conseguir
imprimir uma aceleração resultante efetiva
acima de 0,3km/h/s (0,0833m/s²), possibilita-
rá o trem rebocador efetuar a movimentação.
Em resumo, o trem de 6 carros dispõem de
22 rodeiros motrizes e para cada rodeiro motriz
o esforço trativo representa 4,55% do total.
Somente a título comparativo, foram
realizados cálculos comparativos por mode-
Figura 1 - Curva de esforço de propulsão em relação a velocidade lamento matemático, simulando a operação

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rebocado
TABELA 2 – REDUÇÃO DA ACELERAÇÃO COM FALHAS EM DIVERSAS RAMPAS Trem de 6 Carros
F = força de arraste do trem rebocador
Aceleração Falha de tração a = aceleração do rebocador isolado em tan-
Aceleração Aceleração
Rampa Carregamento devido a ram- (Quantidade gente e em nivel
(m/s2) resultante
pa (m/s2) rodeiros) ac = aceleração do comboio em tangente e
0%0 (AWO) 1,12 0,00 8 0,713 em nível
25% = Reforço de tração para rebocamento.
0%0 (AW4) 1,12 0,00 8 0,713
40%0 (AWO) 1,12 -0,39 8 0,323 3.2. Cálculo da aceleração do com-
40%0 (AW4) -0,39 8 0,323 boio em rampas
Observa-se, na tabela 4, que a condição mais
50%0 (AWO) 1,12 -0,50 10 0,111 crítica é o caso de um trem vazio não conseguir
50%0 (AW4) 1,12 -0,50 10 0,111 rebocar outro trem carregado na rampa de 50‰.
60%0 (AWO) 1,12 -0,60 10 0,111 A operação de rebocamento nesta condição só
será possível com a implantação do dispositivo
60%0 (AW4) 1,12 -0,60 10 0,111 denominado “Reforço de Tração” no Material
60%0 (AWO) 1,12 -0,60 8 0,113 Rodante, que quando ativado, aumenta em 25%
60%0 (AW4) 1,12 -0,60 8 0,113 o torque nos motores da composição, possibi-
litando a movimentação do comboio. Portanto
Na tabela 2, observa-se que, mesmo com falha em dois e meio carros (10 rodeiros motrizes) é possível a circulação em rampa de a movimentação da composição, somente será
50‰ (a = 0,111m/s²), porém com 60‰ o trem terá muita dificuldade para subi-la (a = 0,011m/s²). Se considerarmos falha de
propulsão em dois carros (8 rodeiros), a composição conseguirá subir a rampa de 60‰ com taxa de 0,113m/s². possível se estiver equipada com o dispositivo
denominado “Reforço de Tração”, bem como
de trens carregados com intervalo de 90s tação ou a algum desvio na linha, que por a aderência disponível para este novo esfor-
(headway) por duas horas, com tração em sua vez poderá conter trecho em rampa. ço esteja garantida. Para demais configurações
corrente alternada, na Linha 3-Vermelha do Os valores estimados de aceleração do de rebocamento, com rampa igual ou menor
Metrô de São Paulo, nas condições de ram- comboio, formado para rebocamento entre que 50‰, não haverá problema, vide tabela 4.
pas atuais e alterando-se a rampa da via de um trem vazio com outro trem vazio ou Ressalta-se que os valores das tabelas
40‰ para 50‰. Nestas condições, o au- carregado estão indicados na tabela 3. 2, 3 e 4 consideram a condição da via per-
mento do consumo de energia foi inferior a manente com a superfície de contato roda/
0,5%, e o aumento do tempo de viagem foi 3.1. Cálculo da aceleração do comboio trilho limpa e seca (via em túnel), portanto
inferior a 1% (devido a redução da veloci- em tangente e em nível considera-se que o coeficiente de aderência
dade máxima nos trecho em rampa). Tabela 3 - Cálculo da aceleração do comboio disponível ficará sempre acima de 15%.
Os Veículos Auxiliares de Manutenção - trem de 6 carros
Auto Propelidos também deverão atender m = massa do trem rebocador (AW0) 3.3. Cálculo da aderência necessário
ao requisitos para prestação de serviço em m c = massa do comboio rebocador mais para circular na rampa de 50‰
rampa de 50‰.
TABELA 3 - CÁLCULO DA ACELERAÇÃO DO COMBOIO - TREM DE 6 CARROS
2. Auto reboque
a (m/ mc ac (m/
Em uma situação de degradação do Comboio com trem de 6 Carros m (tf) F (tf) F (tf)
s²) (comboio) s²)
trem, devido a eventuais falhas no sistema
de tração, o recurso do autorreboque pre- Vazio → Vazio 249 305,87 1,12 498 305,87 0,61
visto no Material Rodante poderá ser utili- Vazio → Carregado 249 305,87 1,12 632 305,87 0,48
zado independentemente do carregamento
Vazio (reforço tração 25%) → Carregado 249 382,35 1,40 632 382,34 0,60
da composição, sendo possível tracionar a
composição e seguir viagem mesmo com
até dois carros e meio sem propulsão (para TABELA 4 – COMBOIO COM COMPOSIÇÃO COM 6 CARROS
composição de 6 carros), com prestação de
serviço ao menos até a próxima estação. Rampa Acel. Comboio Acel. da rampa Acel. Resultante
Situação do comboio
(%) (m/s²) (m/s²) (m/s²)
3. Rebocamento 0‰ Vazio → Vazio 0,61 0,00 0,61
Outro fator a ser considerado é de ordem 0‰ Vazio → Carregado 0,48 0,00 0,48
operacional, numa situação de degradação
total do trem devido a eventuais falhas 0‰ Vazio (reforço tração 25%) → Carregado 0,60 0,00 0,60
que não permitam a locomoção por meios 40‰ Vazio → Vazio 0,61 -0,39 0,22
próprio. Este fato gera a necessidade de re- 40‰ Vazio → Carregado 0,48 -0,39 0,09
moção da composição por meio do reboca-
mento entre trens, ocasião em que um trem 40‰ Vazio (reforço tração 25%) → Carregado 0,60 -0,39 0,21
vazio (normalmente) deve empurrar outro 50‰ Vazio → Vazio 0,61 -0,50 0,11
trem vazio (ou mesmo carregado), forman-
50‰ Vazio → Carregado 0,48 -0,50 -0,02
do um comboio para levar até a próxima es-

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R’p > Rp ou Rp ≤ R’p e coeficien-
te de atrito mínimo para imprimir um
força de tração R’p sem que ocorra a
patinagem.
Condição necessário para arranque do
comboio imposto é ter uma aceleração
de pelo menos 0,3km/h/s = 0,08333m/s²
Considerando isso temos a seguin-
te situação de coef iciente de atrito
mínimo µ:
µ = R’p*(1,12+0,08333)/p1
µ = 0,180 (Coeficiente de atrito mí-
nimo para que consiga acelerar com
0,3kmh/s)
Condição necessário para arranque do
comboio imposto é haver uma ace-
leração de ao menos 0,5km/h/s =
0,138889m/s²
Considerando isso, tem-se a seguin-
te situação de coeficiente de atrito
mínimo µ:
µ = R’p*(1,12+0,138889)/p1
µ = 0,189 (Coeficiente de atrito mí-
nimo para que consiga acelerar com
0,5kmh/s)
Considerando o “Reforço de Tração” de
25% , tem-se que µ = R’p*1,25/p1
µ = 0,188 (Coeficiente de atrito mínimo
para que consiga acelerar com Reforço
TABELA 5 - COMPOSIÇÃO DE 6 CARROS de tração de 25%)

AWO (tf) = 249 Rp (tf) = 31,57472 3.4. Análise e comentários


AW4 (tf) = 249 5% ≈ α (rad) = 0,04996 Obser va-se na tabela 4 que, a con-
Coeficiente de atrito necessário µ = (R'p/p1) = 0,126 dição mais crítica é a de um trem va-
zio rebocando um trem carregado na
p1 - p2 - rampa de 50‰. A operação de rebo-
µ R'p (tf) a (m/s²)
Rebocador (tf) Reboque (tf) camento nesta condição só será possí-
249 249 0,15 37,4 0,0750 vel com a implantação do dispositivo
denominado “Reforço de Tração” no
249 383 0,15 37,4 0,0591 Material Rodante, que quando ativado,
383 383 0,15 57,5 0,0750 aumenta em 25% o torque nos motores
249 249 0,20 49,8 0,1000 da composição, possibilitando a movi-
mentação do comboio. Portanto a com-
249 383 0,20 49,8 0,0788 posição que irá circular nesta linha terá
383 383 0,20 76,6 0,1000 sucesso somente se estiver equipada
249 249 0,25 62,3 0,1250 com este dispositivo.
Ressalta-se que a operação de re-
249 383 0,25 62,3 0,0985 bocamento de um trem carregado por
383 383 0,25 95,8 0,1250 um trem vazio até a estação seguinte é
rara e somente utilizada nos casos ex-
P = Peso devido ao coeficiente de atrito (µ) tremos, quando por qualquer razão não
p1 = peso do trem rebocador µ = Coeficiente de atrito for possível o uso do “autorreboque”.
p2 = peso do trem rebocado P = P’ - (Para a condição de rampa menor Esta estratégia é utilizada pela opera-
P’ = Peso normal à superfície de apoio ou igual a 100‰, normalmente pode-se ção para evitar a evacuação de usuários
Rp = P*tan α: - Força Resistente para considerar que P é igual a P’, pois a varia- no trecho entre estações, em razão de
manter o comboio em repouso na rampa ção é muito pequena e não traz prejuizo grandes transtornos causados para en-
(50‰) no cálculo). caminhar os usuários de forma segura
P = p1 + p2 a = 1,12m/s² - aceleração nominal em nível e até a estação mais próxima.
α = rampa em rad tangente da composição do Metrô-SP O trem do Metrô de São Paulo des-
R’p = Força máxima disponível em rampa Condição para movimentar o comboio tinado para novas linhas com rampa de

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até 50‰ terá como requisito obrigatório trem sem tração para o pátio. Esta restri-
estar equipado com o dispositivo deno- ção deve-se ao fato de não haver garantia
minado “Reforço de Tração”, para garan- quanto a existência de cobertura nesta
tir que a composição terá capacidade de região, trazendo como consequência a
movimentar o comboio no caso de re- não garantia de coeficiente de atrito mí-
bocamento. Em condições normais, esta nimo, havendo risco do trem patinar com
frota, deverá ter capacidade para circular apenas um rebocador.
normalmente na via com rampa de 50‰,
mesmo com falha de propulsão em até CONCLUSÃO
dois carros e meio. A rampa de 50‰ poderá ser utili-
Ressalta-se que os valores das tabelas zada no projeto da Via Permanente das
2, 3 e 4 consideram a condição da via futuras linhas do Metrô de São Paulo,
permanente com a superfície de contato desde que seja em trecho coberto (tú-
roda/ trilho limpa e seca (via em túnel), nel). Deverão ser previstas facilidades
portanto o coeficiente de aderência fi- operacionais para remoções rápidas de
cará sempre acima de 15% em condições eventuais trens rebocados, sendo ne-
de circulação normal da composição; cessária a adoção de desvios próximos
já para condições de rebocamento com (antes e depois) das rampas.
reforço de tração (acréscimo de 25% O Material Rodante que circula nes-
no esforço trativo) será de no mínimo ta linha deverá ser, obrigatoriamente,
18,8%, e para condição de arranque com equipado com o dispositivo “Reforço
aceleração de 0,3km/h/s o coeficiente de de Tração”, que aumenta o torque em
atrito mínimo será de 18%. 25% no Motor de Tração, o qual será
disponibilizado somente na modalidade
a) Desempenho do trem e do comboio “Rebocamento”.
Para o desempenho da composição Considera-se coeficiente de atrito
normal (vazio ou carregado), não há mínimo de 15% para condições nor-
problema para circular pela rampa de mais, e no mínimo de 18,8% no caso de
50‰. Mesmo no caso de falha de até rebocamento.
dois carros e meio, será possível circular Não são recomendáveis vias com
de forma segura pela rampa de 50‰, rampa de 60‰ em função das implica-
não havendo necessidade do recurso do ções operacionais.
reforço de tração de 25% .
O desempenho da composição do REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
comboio (rebocador vazio e o reboca- [1] PIRES, CASSIANO LOBO. -
do carregado), na operação de reboca- Engenharia Elétrica Ferroviária e
mento com o dispositivo “Reforço na Metroviária (Do tróleibus ao trem de
Tração”, é de uso exclusivo para o re- alta velocidade). Editora LTC.
bocamento, melhorando o desempenho,
principalmente nas regiões de rampas, * Adalberto de Paula Ramos é engenheiro
e garantindo que o rebocador terá ca- eletricista, exerce o cargo de Chefe de
pacidade de movimentar o comboio, Departamento de Projetos de Sistemas na
mesmo com até dois rodeiros motores Gerência de Projetos do Metrô-SP
inoperantes no trem rebocador. E-mail: aramos@metrosp.com.br
** Claudio Roberto Valentim é engenheiro
b) Observação geral Eletricista. Exerce o cargo de Assessor Técnico
Como medida de prevenção, no caso no Departamento de Projetos de Sistemas da
da utilização de rampas, deve-se prever Gerência de Projetos do Metrô de São Paulo
e implantar AMVs (aparelhos de mudan- E-mail: cvalentim@metrosp.com.br
ça de via) antes e depois dos trechos *** Mario Fukumori é engenheiro Civil e
que as contenha e nas proximidades de Técnico Mecânico. Exerce o cargo de Engenheiro
vias de estacionamento, com a finalida- Especializado na Coordenadoria de Projetos de
de de recolhimento do trem rebocado Sistemas Elétricos e Material Rodante da Gerência
e aguardar o momento oportuno para de Projetos do Metrô de São Paulo
trasladar para o pátio. E-mail: mfukumori@metrosp.com.br
Nos trechos de acesso ao pátio de ma- **** Rodrigo Coura Oliveira é engenheiro
nutenção e estacionamento, não é reco- eletricista, exerce o cargo de Coordenador de
mendável a utilização de rampa de 50‰, Projetos de Sistemas Elétricos e Material Rodante
pois haveria a necessidade de utilização na Gerência de Projetos do Metrô-SP
de comboio com três trens para levar um E-mail: rcoliveira@metrosp.com.br

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Revolucionando a sinalização
metroviária com UWB
FELIPE COPCHE* / RUBENS NAVAS BORLONI**

Estudos sobre a tecnologia de banda ultralarga (UWB) aplicada na sinalização metroviária


CBTC visando o aprimoramento do desempenho na geolocalização dos trens e a redução de

A
elementos eletromecânicos, tais como balizas e tacômetros, ao longo das vias e na frota
INTRODUÇÃO / PARTE 1 Neste artigo, traremos um resumo so- tema de sinalização para linhas em opera-
pesar da indústria de tec- bre as iniciativas inovadoras capitaneadas ção, e futuramente reduzindo os custos de
nologia para a conectivi- pela Autoridade Metropolitana de Trans- manutenção, simplificando a distribuição
dade sem fio ter crescido porte da cidade de Nova Iorque (MTA), e dos equipamentos de localização do trem,
muito ultimamente graças aplicadas em seu plano de investimento e conforme ilustra a figura 1.
ao avassalador mercado de modernização que engloba a atualização Em relação a conectividade sem fio,
smartphones, é um grande desafio para os do sistema de sinalização e o aumento do embora a comunicação por Bluetooth Low
fabricantes de chips colocar em perspec- grau de automação para algumas linhas Energy (BLE) e o Wi-Fi já se beneficiem
tiva a prospecção de novas possibilidades de metrôs da sua rede de transporte. Uma atualmente de uma adoção massificada,
de comunicação em um mercado conso- vez que grande parte dos trens da cidade tais padrões carecem de precisão quando se
lidado em relação às marcas, produtos e ainda são operados manualmente, pois o trata de seus recursos de posicionamento e
uma cultura massificada vigente de seus sistema de sinalização por bloco automá- relativamente fornecem pouco ou nenhum
usuários finais. Como uma opção estra- tico foi instalado entre as décadas de 1930 nível de segurança para rádio frequências
tégica para a entrada no mercado, a pri- e 1960 do século passado em muitos tre- (RF), se comparados com a tecnologia de
meira etapa no ciclo de desenvolvimento chos, e com linhas de metrôs inauguradas banda ultralarga (UWB), a ser abordada
de uma solução inovadora seria explorar no século XIX, as operadoras de metrôs na com mais detalhes neste artigo.
as vantagens singulares, que algumas tec- cidade vem enfrentando uma crônica ob- Dentro do nosso contexto metroviário,
nologias emergentes, possuem para deter- solescência de materiais, a falta de peças apesar do padrão Wi-Fi adotado estar aten-
minados nichos de mercado, por exemplo, de reposição para a manutenção dos siste- dendo plenamente a comunicação entre o
a sinalização metroviária. Desta forma, a mas legados, e uma crescente tendência de módulo embarcado de Controle Automáti-
tecnologia será colocada à prova em am- saturação em sua capacidade de transporte co do Trem (VATC) com a via para a geração
bientes mais críticos de aplicação, partindo para algumas linhas. atual do CBTC, na qual a geolocalização
de alguns estudos pioneiros de prospecção, Fortes expectativas vêm sendo aten- dos trens se dá através do gerenciamento
passando pela superação de eventuais obs- didas com o recente estudo de aplicação do posicionamento relativo obtido pelos
táculos, a maturação da solução, e final- de uma nova tecnologia para aprimorar a tacômetros da sinalização e o posiciona-
mente, o atendimento em pequena escala informação de posicionamento dos trens mento absoluto pelas balizas instaladas ao
das necessidades mais rigorosas desses durante o upgrade para a sinalização por longo das vias, para projetos de sistemas
setores, validando assim a tecnologia an- Controle de Trens Baseado em Comunica- de sinalização, entende-se ser bem-vindas
tes de sua massificação, por exemplo, no ção (CBTC), já que reduzirá a quantidade o aumento na precisão da informação de
mercado de eletroeletrônicos de consumo de elementos necessários na via e de ade- posicionamento do trem, a maior imunida-
pelos integradores e fabricantes globais de quações no material rodante, facilitando a de às interferências por RF e um relativo
smartphones. implantação de um novo e moderno sis- melhor tempo de resposta que a tecnologia

Figura 1 - Representação gráfica da distribuição física dos rádios UWB (TAG) ao longo da margem da via

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UWB proporciona, sem dúvidas uma opção


interessante e que vem sendo testada nos
trechos de algumas linhas centenárias do
metrô de Nova Iorque.
É válido reforçar que a tecnologia UWB
vem recebendo muita atenção e esforços
de pesquisa em outros setores da economia
devido às suas atrativas características,
associadas ao recente e explosivo avanço
tecnológico com a revolução digital. Esses
esforços somados com a crescente escas-
sez de espectro de frequências têm con-
tribuído para acelerar o desenvolvimento
e maturação desta tecnologia indubita-
velmente inovadora, que pode ser imple-
mentada com, ou sem, uma portadora de
radiofrequência, possibilitando conjugar
dados digitais com altas taxas de transmis-
são e prover maior robustez em ambientes
fechados, valendo-se de uma baixíssima
Gráfico 1 - Histórico e cronograma de implantação do CBTC no Metrô de Nova Iorque
potência de transmissão.
Na parte final deste artigo, partindo distintos. Nesta iniciativa, participaram as nas próximas contratações. A implantação
da premissa de massificação da tecnologia empresas Siemens, Alstom e Thales, sendo de todo o escopo deste contrato foi con-
UWB em smartphones mais populares, com a Siemens (Matra) escolhida como líder do cluída em 2015.
a materialização esperada para os próximos projeto e que tomou a frente no desenvol- A partir de 2015, iniciou-se a contra-
cinco a dez anos, serão apresentadas algu- vimento um documento de interfaces dos tação de fornecimento e implantação do
mas possibilidades de aplicação da tecno- subsistemas CBTC de forma que as demais sistema CBTC para a Linha Queens Boule-
logia UWB para a sinalização das pessoas, empresas fornecedoras do grupo de traba- vard (QBL) já utilizando o documento I2S
neste caso aos passageiros nos acessos lho do projeto pudessem se adequar. Este através do contrato de USD 156,2 milhões
públicos, mas também às equipes de ope- documento leva o título de Interoperability com a Siemens e de USD 49,6 milhões com
ração e manutenção nos acessos privados Interface Specification (I2S). a Thales. Adicionalmente, outro contrato
das estações, vias, estacionamentos e pá- Em 1999, o Metrô de Nova Iorque as- de USD 1,2 milhão foi firmado com a Mit-
tios. Tais informações sobre fluxo de pes- sinou um contrato com a Siemens para o subishi Electric Railway para o desenvol-
soas e a geolocalização indoor podem ser desenvolvimento de um Sistema CBTC para vimento e teste de seu sistema CBTC. Tal
beneficamente utilizadas em plataformas a Linha Canarsie, ficando então a Thales sistema se encontra devidamente homolo-
colaborativas visando prover informações como a desenvolvedora dos equipamentos gado desde 2020.
em tempo real aos passageiros e para as e das interfaces para compatibilizar a co- A operação comercial em CBTC da Li-
operadoras de transporte, proporcionando nectividade plena entre seu sistema com o nha QBL, com 15,6km e 21 estações, foi
mais segurança e agilidade às equipes in- sistema de sinalização da Siemens. O Sis- prevista para o final de 2021 e atualmen-
ternas em campo. tema CBTC da Siemens entrou em opera- te o trecho da linha entre as estações Kew
ção em 2006 para toda a linha, entretan- Gardens e 71st St – Forest Hills já opera
SINALIZAÇÃO CBTC DE to somente uma parte dos equipamentos com o CBTC em todas as vias, enquanto
TRENS E UWB / PARTE 2 foram considerados interoperáveis. Com a outros dois demais trechos da linha operam
Geral Linha Canarsie operando plenamente com em CBTC somente na via expressa. A Li-
Com uma meta desafiadora de moder- o CBTC, em 2010 a Thales foi seleciona- nha QBL deve ser a primeira linha de metrô
nização de seus sistemas legados de sina- da em um contrato de USD 343 milhões no mundo a ter interoperabilidade aplica-
lização por bloco fixo, desde a concepção para o fornecimento do sistema CBTC para da na prática, já que uma parte dos trens
do projeto de modernização em 1997 da a Linha Flushing (Linha 7), implantado no será equipada pela Thales e outra pela Sie-
sua pioneira Linha Canarsie (14th Street– período de 2010 a 2018. mens, ocorrendo uma divisão similar para
Eastern Line), o Metrô de Nova Iorque tem Paralelamente, o Metrô de Nova Ior- a instalação dos equipamentos de via. Já os
se preocupado com requisitos de intero- que firmou outro contrato em 2011 com controladores de zona e os equipamentos
perabilidade e intercambialidade entre os a Siemens e a Thales de USD 60 milhões do controle centralizado serão exclusiva-
diversos de fornecedores para o produto com duração prevista de 4 anos para o de- mente da Siemens. O rádio será o mesmo
CBTC, além de outros requisitos manda- senvolvimento de uma via definitiva para a ser implantado na Linha Canarsie para a
tórios de Confiabilidade, Disponibilidade, testes e simulações na Linha Culver com o infraestrutura de comunicação terra-trem,
Manutenabilidade e Segurança (RAMS). escopo de testar e homologar sistemas de também desenvolvido pela Siemens, e pro-
Para este fim, a MTA estabeleceu um pro- novas empresas fornecedoras segundo as prietária do fornecedor Líder seguidor do
cesso com o propósito de permitir que os regras de interoperabilidade e intercam- sistema CBTC, neste caso a Thales.
diversos produtos CBTC sejam comprova- bialidade, mas também revisar e finalizar o O gráfico 1 apresenta uma visão geral
damente interoperáveis entre fornecedores documento I2S para adotá-lo como padrão do cronograma de implantação do CBTC

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derada válida para a certificação de segu-
rança por avaliadores independentes acre-
ditados e mostrou-se robusta ao alcançar
mais de 1 milhão de horas de operação.
Além disso, o teste piloto confirmou que
o equipamento UWB pode substituir di-
versos equipamentos tradicionais de po-
sicionamento CBTC, sendo mais fácil de
instalar e de manter, reduzindo as despesas
operacionais.
Na execução do teste piloto, o pessoal
Figura 2 - Máscara frontal dos trens equipados com UWB da Linha Canarsie (Linha L, Frota
R-143) e da Linha Flushing (Linha 7, Frota R-188) da NYCT instalou todos os equipamentos à
margem de via da Humatics para o trecho
para o Metrô de Nova Iorque. Além das transporte das linhas e uma melhora sig- escolhido, enquanto o equipamento mon-
etapas concluídas, são mostradas as eta- nificativa na experiência dos passageiros. tado dentro do trem eliminou a necessida-
pas em andamento tais como a sequência Em março de 2019, a Autoridade de de de longos acessos ao material rodante
de implantação do CBTC na Linha Culver Transporte da Cidade de Nova Iorque para a instalação dos equipamentos em-
(Linha F) e na extensão da Linha Queens (NYCT) concedeu então, ao Thales Group e barcados tradicionais do CBTC no sobes-
Boulevard. Este plano de investimento e a Piper Networks, um contrato de USD 14 trado do material rodante – tacômetros e
modernização da sinalização foi denomi- milhões para um projeto piloto de um sis- leitor de balizas. O desempenho do sistema
nado de Fast Forward. tema de sinalização baseado na tecnologia com o equipamento UWB da Humatics foi
Os fatos anteriormente mencionados UWB para a Linha Flushing, inaugurada demonstrado ao longo de 5 meses de cole-
demonstram os esforços hercúleos que em 1915, e um contrato para um piloto da ta de dados e a precisão de localização ob-
o Metrô de Nova Iorque vem empregan- tecnologia UWB com a Siemens Mobility e tida foi cerca de 30 centímetros ou menos,
do desde 1999 para atingir seus objetivos a Humatics Corporation para a Linha Ca- conforme o gráfico 2.
de interoperabilidade e intercambialidade, narsie, inaugurada em 1865, modernizada Segundo a Humatics, seus equipamen-
porém somente a partir de 2015 foi possí- com o produto CBTC em 2010. No escopo tos UWB, que são projetados e fabricados
vel alcançar a interoperabilidade requerida do projeto piloto, foi prevista a certificação nos EUA, passaram com sucesso no teste
com a contratação da linha Queens Boule- independente acreditada de segurança da funcional em conjunto com o sistema de
vard, quando apenas duas empresas foram tecnologia UWB fazendo interface com os sinalização e controle de trens da Siemens,
homologadas. produtos CBTC da Siemens e da Thales. fornecendo ininterruptamente dados em
Diante deste extenso cenário de mo- tempo real de localização, aceleração e fre-
dernização da sinalização e dos avanços SOLUÇÃO DA SIEMENS E HUMATICS nagem. Os principais insights e aprendiza-
tecnológicos, o Metrô de Nova Iorque Como parte do projeto piloto UWB de dos obtidos no teste piloto pela Humatics
elaborou um novo cronograma acelerado 2019, cerca de 9km de trilhos e 4 trens da foram a segurança certificável para seu
frente aos 20 anos ou mais para a moder- Linha Canarsie (ou Linha L) no Brooklyn sistema UWB de navegação ferroviária, o
nização com o CBTC. Ciente da potencia- foram equipados com o sistema CBTC da atendimento a todos os padrões ambientais
lidade da tecnologia de banda ultralarga, Siemens integrado com a tecnologia UWB da MTA, os ganhos em custos relacionados
a MTA teve a iniciativa estratégica de de- da Humatics. A solução passou nos testes a simplificação na instalação e manutenção
senvolver uma especificação técnica jun- funcionais de controle de trens, foi consi- dos equipamentos embarcados nos trens e
to com alguns detentores das tecnologias
de controle de trens e de conectividade
sem fio para um sistema UWB, intero-
perável, e com projeto piloto envolvendo
testes em campo que possam comprovar
a efetividade desta tecnologia ao traba-
lhar em conjunto com o produto CBTC,
de forma a habilitar a competição entre
fornecedores, expandir o ecossistema da
tecnologia UWB e, através dos resultados
de desempenho nos testes, ter evidências
necessárias para comprovar que a tecno-
logia UWB possa ser utilizada na operação
comercial, visando aprimorar a interope-
rabilidade dos sistemas, sem esquecer do
atendimento dos requisitos de Confiabili-
dade, Disponibilidade, Manutenabilidade
e Segurança (RAMS) para o sistema de
sinalização e controle, com vistas ao obje- Gráfico 2 - Precisão da localiza ção no trecho entre as estações Myrtle e Broadway Junction
tivo principal de aumentar a capacidade de (1 pé equivale a 30,48cm)

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no respectivo tempo de inatividade do ma-


terial rodante, a facilidade de montagem e
de manutenção dos equipamentos instala-
dos fora do leito da via e a comprovação
da robustez dos equipamentos quanto aos
ambientes adversos de transporte e even-
tos climáticos, os quais eventualmente,
podem prejudicar a geolocalização tradi-
cional dos trens CBTC pela não leitura das
balizas (posição absoluta).
Quanto a arquitetura do sistema, a so-
lução de navegação ferroviária da Humatics
utiliza o UWB como um sensor de detec-
ção primária juntamente com outros dois
sensores – a Unidade de Medição Inercial Figura 3 - Diagrama ilustrando os 5 sensores embarcados previstos na solução da Thales
(IMU) e o Sistema Global de Navegação por que foram instalados em um trem da frota R-188
Satélite (GNSS) – ao invés de sensores de
odometria tradicionais como tacômetros, nologia integrados ao seu sistema denomi- viária em um cronograma acelerado.
transponders e radares doppler. A leitura nado de Próxima Geração de Posição (NGP): (b) Maior precisão de posicionamento
desses sensores foi integrada para forne- 1) A comunicação UWB da Piper entre do trem, obtida por meio da utilização de
cer dados precisos de posição, velocidade e os rádios terra/via com os controladores modernos sensores embarcados, incluindo
aceleração do trem para o CBTC, mas tam- embarcados nos trens, consumindo uma os rádios UWB, e que pode contribuir para
bém para outros sistemas de controle de si- quantidade muito baixa de energia, com menores e mais curtos eventuais atrasos no
nalização tais como o Controle Positivo de ondas de curto alcance e banda ultra lar- serviço aos passageiros.
Trem (PTC) e o Sistema Europeu de Gestão ga no espectro de RF, para receber atuali- (c) Maior velocidade da obtenção da
do Tráfego Ferroviário (ERTMS). O sistema zações da localização do trem a cada 100 posição do trem antes de seu despacho,
também fornece dados sobre manutenção milissegundos. permitindo que o sistema embarcado ini-
preditiva e o monitoramento de infraestru- 2) Unidades de Medição Inercial (IMU) cialize e mude para a Operação Automática
tura em tempo real. que detectam mudanças de velocidade e de do Trem (ATO) mais rapidamente do que
direção com um nível de precisão fantásti- os sistemas CBTC da geração atual, pois
SOLUÇÃO DA THALES E PIPER co para a navegação inercial e a verificação nenhum movimento do trem é necessário.
Já na Linha Flushing (ou Linha 7), ou- de orientação.
tros 4 trens foram equipados com o sistema 3) Detecção de rádio e de alcance por ANÁLISE PRELIMINAR
CBTC da Thales integrando a tecnologia radar, que utiliza ondas de rádio para medir Levando em conta toda a experiência
UWB da Piper. Segundo a Autoridade de a distância e a velocidade dos objetos, ve- acumulada durante a concepção, implanta-
Transporte de Nova Iorque, o teste ocorreu locidade do trem e determinar a velocidade ção, operação e manutenção do sistema do
em via expressa central e demonstrou um zero ou estado estacionário do trem. CBTC na modernização das linhas existen-
potencial maior de precisão do sistema de 4)Utilização de feixes pulsados a laser tes do Metrô de São Paulo e nas linhas mais
posicionamento com UWB, melhorando o (LiDAR) para medir distâncias com alta pre- recentes da rede metroviária, uma vez que a
desempenho e a recuperação da sinaliza- cisão de qualquer objeto dentro do alcance solução esteja maturada e com certificação
ção, ajudando a acelerar a implementação visando escanear a rota e criar um mapa SIL4, entende-se que a tecnologia UWB in-
do CBTC, pois a tecnologia UWB é instala- digital denso em 3D real do ambiente e de tegrada ao CBTC poderá agilizar o processo
da na margem da via, e não diretamente no seus arredores na via, com o qual os dados de instalação e de homologação do sistema,
leito ferroviário, facilitando a manter fun- do sistema de posicionamento podem ser permitindo uma redução significativa dos
cional o sistema no longo prazo enquan- comparados. custos operacionais de manutenção (OPEX),
to reduz eventuais atrasos decorrentes de 5) Utilização de técnicas avançadas de pois produtos como as balizas CBTC de al-
mau funcionamento de equipamentos. O processamento de imagem com câmera de guns fornecedores específicos são ativas e
projeto piloto ao longo da linha durou 9 alta definição, sendo possível detectar ob- requerem a troca de suas baterias internas
meses, foi conduzido e acompanhado por jetos como trilhos, equipamentos ou traba- a cada 10 a 20 anos antes de exaurir a vida
executivos da Thales e da Piper Networks lhadores presentes à margem da via. útil. Essa manutenção deverá ser feita obri-
juntamente com funcionários da MTA para Essas duas últimas funções ainda estão gatoriamente pela operadora para garantir a
avaliação dos resultados. Todo o proces- em fase de testes preliminares, conforme continuidade do sistema, sendo necessário
so de homologação do uso da tecnologia ilustra a figura 3. também a reprogramação da baliza com o
UWB com o CBTC da Thales foi tam- As principais vantagens constatadas seu correto identificador, o qual está rela-
bém certificado por um órgão acreditado pela MTA com a demonstração do teste pi- cionado a uma posição absoluta no plano
independente, a TUV SUD, e obteve um loto UWB são: de vias sinalizadas, e que pode estar sujeita
certificado SIL 4, grau máximo do nível de (a) Rápida implementação, obtida gra- a retrabalhos.
segurança aplicado para sistemas críticos. ças a redução de equipamentos instalados Também se prevê a redução dos modos
Segundo informações da Thales, exis- no sobestrado dos trens, permitindo a MTA de falhas ao dispensar a periodicidade de
tem 5 componentes ou sensores de alta tec- modernizar a antiga infraestrutura metro- manutenção necessária para os dispositi-

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vos eletromecânicos como os tacômetros de até 5% em cenários de falhas no sistema tica de teste conhecida pelo termo Shadow
necessários para a geração do posiciona- de propulsão em um ou mais eixos do trem. Mode Running, pois mantêm a segurança e
mento relativo do trem para o CBTC tradi- Segundo dados de ambos os testes com o controle do sistema legado de sinalização
cional, sem contar com um certo grau de UWB no Metrô de Nova Iorque, entende-se ao longo de todo o processo de verificação
imprecisão devido ao desgaste das rodas que a tecnologia UWB integrada ao CBTC e validação do novo sistema, facilitando
do trem, eventuais ocorrências de peque- permite melhorar a precisão de localização sobremaneira a modernização de linhas já
nas patinagens e deslizamentos das rodas, do sistema na ordem de unidades de me- em operação, ou Brownfield.
demandando para alguns fornecedores a tros, mantendo a segurança do sistema, Outra vantagem técnica do UWB está
previsão de eixos livres em alguns carros através do constante ciclo de comunicação relacionada com sua maior robustez na
para a instalação dos tacômetros do CBTC. superior a 10 envios por segundo (entre os comunicação, seja em relação a imunida-
Embora existam balizas estáticas distri- rádios UWB embarcados e instalados em de aos ruídos ou outros sinais de RF, tais
buídas ao longo da via para a correção da cada cabeceira do trem com os rádios UWB como reflexões por múltiplos percursos,
informação relativa de posicionamento do das TAG instaladas nas vias) contra deze- mas também por ser concebido com uma
trem, deve ser considerada uma envoltória nas de metros na precisão de localização camada extra de proteção por criptografia
de segurança extra sobre a localização do do CBTC atual que faz o gerenciamento do com números aleatórios em seu protocolo
trem pelos algoritmos de sinalização e con- posicionamento relativo do trem pelo tacô- de dados visando maior segurança ciber-
trole ao longo de vias e pátios. metro e do posicionamento absoluto pelas nética, e que desta forma supera o padrão
Ao renunciar o uso de tacômetros do balizas instaladas no leito da via (figura 4). de comunicação Wi-Fi na frequência de
CBTC nos trens, pode-se instalar os siste- Além das vantagens na precisão da lo- 2,4GHz ou 5,8GHz adotado atualmente na
mas de propulsão e de frenagem em todos calização dos trens, entende-se que a tec- comunicação do sistema CBTC tradicional.
os eixos dos truques da composição, au- nologia UWB deve reduzir os custos iniciais Ao estudar outra solução de localiza-
mentando a redundância nesses sistemas de investimento (CAPEX) com a aceleração ção de trens por UWB de uma empresa de
bem como a disponibilidade geral do ma- na implantação devido a redução dos aces- conectividade sem fio sediada em Illinois
terial rodante em caso de falhas. Com as sos aos trens e nas vias, juntamente com os (EUA), a Metron Rail e seu produtos CER-
novas diretrizes de empreendimentos soli- custos de operação e manutenção (OPEX), TIS, constatou-se como pontos de desta-
citando esforços na redução da profundi- pois não é mais necessário o uso de balizas que a configuração da distância entre as
dade das estações para novas linhas, com e de tacômetros. Outra grande vantagem TAG de rádio UWB a margem da via de 150
vias comerciais 100% subterrâneas, ter no- do sistema CBTC conjugado com UWB é a 600 metros; uma precisão de localização
vamente a opção de instalar motores em to- permitir a realização de seus testes de ho- na ordem de dezenas de centímetros; o
dos os eixos do trem certamente aumentará mologação de forma paralela, sem interfe- agendamento da Certificação de Seguran-
a disponibilidade do sistema para rampas rências na operação comercial da linha, tá- ça para Cenelec SIL4; a existência de uma
interface configurável para integrar com
todos os sistemas CBTC comerciais usan-
do um protocolo de interface Ethernet vi-
tal; o fornecimento da informação sobre a
posição vital do trem, velocidade, direção
do movimento, comprimento e dados de
ocupação da via; a eliminação da incer-
teza de deslizamento da roda, patinagem
e problemas de calibração do diâmetro da
roda; determinação estática de orientação
de consistência e localização de trem ime-
diatamente após iniciação, sem necessida-
de de movimento; presença de módulos de
controle principal duplos hot-swap para
disponibilidade; e a execução do recurso
de registro de dados interno (histórico).
Diante das vantagens comprovadas pe-
los testes em campo do CBTC com a tecno-
logia UWB, como considerações finais para
o contexto metroviário brasileiro, entende-
-se a necessidade de obter a certificação e
homologação de sistemas UWB pela Agên-
cia Nacional de Telecomunicações (Anatel),
que prevê a alocação das faixas de 3,1GHz
a 3,3GHz e 3,7GHz a 10,6GHz, seja para
operar no interior de veículos, com trans-
missão condicionada à comunicação com
Figura 4 - Demonstração da triangulação na comunicação entre os rádios UWB das dispositivos portáteis, e para aplicações de
cabeceiras com as TAG à margem da via rastreamento e localização de “pessoas ou

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objetos” em ambiente aberto. Outra ques-


tão seria verificar se os limites de potência
estabelecidos pela Anatel, em sua consulta
pública nº. 21 (para atualização do Anexo
I do Ato nº. 14.448, de 04 de dezembro de
2017), atendem as necessidades de potência
e de faixa de espectro dos fornecedores para
a aplicação da tecnologia em sinalização
metroviária. Caso seja necessário limitar a
potência de transmissão das TAG dos rádios
UWB, mesmo para ambientes indoors como
túneis e estações, a distância entre as TAG
na via pode ser sensivelmente menor a pon-
to de impactar no custo global da solução,
mas limitada à distância entre as antenas
dos rádios UWB embarcados e posicionados
em cada cabeceira do trem (figura 5).
Caso não se obtenha redução de custos
Figura 5 - Detecção por IA de objetos, obstáculos e pessoas na via através de câmeras
na aquisição da solução global do CBTC
analíticas e mapeamento 3D do trajeto
com UWB, certamente o tempo e as pes-
soas envolvidas na implantação serão me- vel obter maior robustez na imunidade às por segundo, a identificação de um local é
nores, lembrando que a nova arquitetura interferências pelo fato da banda ocupada feita em tempo real. O UWB opera em uma
do sistema dispensa também os acessos pelo UWB ser extremamente extensa, mas parte diferente do espectro de rádio, lon-
programados para a instalação de equipa- também somado aos diversos esquemas de ge da movimentada e não regulamentada
mentos no leito da via e nos trens, ou seja, modulação, diferentes modos de acesso e banda de uso Industrial, Científico e Médico
um diferencial importante principalmente por se comunicar através do envio de pul- (ISM), agrupada em torno de 2,4GHz. Os
para a modernização de linhas existentes. sos de largura estreita, que praticamente pulsos UWB usados ​​para localização e al-
impedem que os sinais refletidos interfi- cance operam na faixa de frequência entre
HISTÓRICO E FUNCIONAMENTO ram com o sinal principal em ambientes 6,5GHz e 9GHz e não interferem nas trans-
/ PARTE 3 indoors onde ocorre uma maior incidência missões sem fio que ocorrem em outras
A tecnologia UWB foi inicialmente de- do efeito de percurso múltiplo na recep- partes do espectro. Tal característica con-
senvolvida para aplicações militares. Em ção, devido à reflexão ou refração causada tribui fortemente para o UWB coexistir com
fevereiro de 2002, a agência reguladora por objetos naturais ou artificiais próximos formatos sem fio massificados atualmente
norte-americana FCC (Federal Communi- ao caminho do sinal principal. tais como o Wi-Fi e o Bluetooth, juntamen-
cations Commission) expediu uma regula- Existem várias tecnologias em uso e te com a navegação por satélite e até Near
mentação para o uso comercial da tecno- cada uma delas tem seus próprios pontos Field Communication (NFC).
logia UWB, estabelecendo os limites para fortes para um conjunto selecionado de Uma das adições mais importantes ao
a banda e potência de transmissão. Porém, aplicações. Quando se trata de posiciona- UWB, sendo definida como parte da nova es-
os esforços para sua padronização conti- mento preciso, o UWB se destaca graças à pecificação 802.15.4z, é a utilização de uma
nuam. Os sinais UWB devem ocupar pelo sua capacidade de localizar dispositivos e porção extra da camada física do modelo
menos 500MHz em uma largura de banda objetos com precisão até menos de 10cm OSI das redes de computadores (PHY) para
total de 7,5GHz; o espectro para os siste- dentro ou fora da linha de visada. Com uma enviar e receber pacotes de dados, já que o
mas UWB está compreendido entre 3,1GHz taxa de atualização de 200 a 1.000 vezes novo recurso adiciona criptografia, geração
e 10,6GHz nos EUA, resultando em uma
atrativa solução tecnológica baseada na
sobreposição espectral (overlay systems),
uma vez que grande parte desta faixa do
espectro é ocupada por serviços e tecnolo-
gias de comunicação pré-existentes.
Tecnicamente, por utilizar níveis de po-
tência muito baixos na ordem de 50 micro-
watts (equivalente a 1/10.000 da potência
nominal de um smartphone), os sistemas
de comunicação por UWB podem coexis-
tir no ambiente com outras tecnologias na
mesma faixa de frequências de transmis-
são, tais como o Wi-Fi (IEEE 802.11x), GSM
e Bluetooth. Além de não impactar em ou-
tros serviços de rádiocomunicação, tam- Gráfico 3 - Ilustrativo da extensa faixa de banda que o UWB opera e a baixa potência de
bém não interferem entre si, pois é possí- transmissão, coexistindo com o Wi-Fi

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de números aleatórios e outras técnicas que bem superior ao padrão Wi-Fi, permitindo ção para medir distância para os mais mo-
dificultam o acesso ou manipulação das co- uma maior densidade de dispositivos TAG dernos sistemas de sinalização CBTC, mas
municações UWB por um invasor externo. nas vias e a opção de uso de baterias, pois também para uma ampla variedade de apli-
O gráfico 4 sumariza de forma simpli- se consume relativamente muito pouca cações, algumas ainda dentro do contexto
ficada as vantagens e desvantagens que energia na transmissão se comparado com de transporte de pessoas sobre trilhos uti-
a tecnologia UWB oferece em relação às os demais padrões Bluetooth BLE e Wi-Fi. lizando infraestruturas subterrâneas tais
principais tecnologias para a conectivida- No gráfico 4 a tabela comparativa tam- como estações e túneis, a ser visto com
de sem fio existentes. A tecnologia pode bém indica um custo total menor se compa- mais detalhes no tópico seguinte.
ser aplicada tanto em ambientes externos rado ao padrão Wi-Fi, adotado atualmente
como internos, possui precisão de localiza- na sinalização por CBTC, pois entende-se SINALIZAÇÃO DE PESSOAS
ção e confiabilidade similares à tecnologia que as TAG UWB sejam algo similar aos E UWB / PARTE 4
RFID, e um raio de cobertura superior ao Beacons Stand Alone Bluetooh BLE, com Conforme pontuado anteriormente,
Wi-Fi, caso não existam limites estabele- ganhos em relação a infraestrutura neces- com os inerentes diferenciais na conec-
cidos de potência de transmissão. Outras sária para sua instalação, custo dos equipa- tividade sem fio, as oportunidades de
vantagens importantes desta tecnologia mentos e menores custos na manutenção. aplicação da tecnologia UWB no setor de
para sistemas de sinalização são a inques- A combinação exclusiva de caracterís- transportes podem ir muito além da si-
tionável maior segurança cibernética, a ticas de sinal do UWB – fácil de identificar, nalização metroviária. Atualmente, uma
menor latência (ou tempo de resposta) in- resistente a ruído e reflexão, separado de equipe interna do Metrô de São Paulo
ferior a 1 milissegundo, uma escalabilidade outros sinais – o torna uma excelente op- vem testando a geolocalização indoor para
ocorrências e pontos de melhoria dentro de

Gráfico 4 - Tabela comparativa entre algumas tecnologias para a conectividade sem fio

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do trem bem como o nome da próxima es-


tação, pois estes dados serão obtidos au-
tomaticamente graças as TAG distribuídas
nos trens e na via.
(iv) Possibilidade de obter receitas
acessórias na prestação de serviços de
anúncios georreferenciados para os lojistas
locados no interior das estações, permitin-
do que os passageiros possam usufruir de
eventuais promoções de produtos ao longo
do seu trajeto.
(v) Mensagens, alertas e avisos con-
figuráveis em tempo real aos passageiros
sobre o funcionamento das linhas ao longo
de todo o seu percurso, ou até mesmo an-
tes de adentrar em uma estação, tudo isso
na palma da mão.
Figura 6 - Aplicativos UWB para smartphones para auxiliar os passageiros a navegar na Por outro lado, com a Lei Geral de Pro-
rede com dados de geolocalização em tempo real teção de Dados (LGPD) em vigor no Brasil
sua infraestrutura, futuramente apontados da viagem do passageiro na rede, dando desde 2020, existem certos cuidados no tra-
pelos próprios passageiros através de seus orientações oportunas de navegação em tamento das informações sobre localização
smartphones e com o auxílio de um APP tempo real, tais como avisos sobre a che- e deslocamento de pessoas que devem ser
de serviços e informações da empresa. Para gada da próxima estação de transferência, endereçados e conduzidos durante todo o
o georreferenciamento indoor no salão dos chegada à estação de destino, e o respec- ciclo de desenvolvimento de soluções para
trens e nas estações, atualmente estuda-se tivo lado de abertura de portas dentro da a navegação indoor, mesmo sendo para uma
a utilização do padrão Bluetooth BLE, cujo rota selecionada. Por alguma razão inten- plataforma colaborativa de serviços, conce-
recurso encontra-se disponível pratica- cional ou não, caso ocorra um desvio do bida para prover informações aprimoradas
mente em todos os smartphones populares. passageiro durante o trajeto, o aplicativo aos usuários e gestores da rede.
Para as TAG, são utilizados então peque- fará imediatamente o alerta assim que for Um grande benefício no tratamen-
nos dispositivos com baterias chamados de detectado o desvio, mas também uma op- to anônimo de dados das pessoas é que
Beacons BLE, facilmente encontrados no ção de recálculo da rota. passageiros bem-informados demandam
varejo com custos acessíveis, e que devem As informações coletadas em tem- menores esforços aos funcionários nas es-
ser aplicados em pontos estratégicos na po real sobre o fluxo de passageiros nos tações, contribuindo com a maior automa-
rede de transporte, tais como trens, plata- trens e estações através das TAG estrate- tização das estações e na operação plena-
formas e alguns acessos das estações. gicamente distribuídas na rede pode tra- mente automática da linha, sem contar o
Com a expansão das linhas metroferro- zer os seguintes ganhos em eficiência na apelo nobre de ações colaborativas.
viárias, a sinalização das pessoas também prestação de serviços pelas operadoras de ______
permitirá que os passageiros se desloquem transporte: “Juntos, somos mais de quatro milhões
de forma segura e precisa dentro da rede, (i) Acompanhamento em tempo real de passageiros por dia, mais do que isso, so-
possibilitando escolher, de forma autôno- do fluxo de passageiros nas estações pelo mos quatro milhões de colaboradores, porque
ma, a melhor opção a qualquer momento Centro de Controle Operacional (CCO), uma megaoperação de transporte só se faz
entre sua estação de origem e de destino, bem como a realização automática a qual- com a colaboração de todos. O Metrô cuida
baseando-se nas informações em tempo quer momento de pesquisas de origem e de cada passageiro como se fosse o único, e
real do fluxo de outros passageiros na rede, destino entre estações na rede, além do re- você também ajuda a cuidar do Metrô. É uma
similar ao que é feito hoje pelo APP Waze gistro de informações estruturadas sobre a via de duas mãos, com um único destino, a
com geolocalização dos automóveis via perda de objetos para a central de achados excelência nos transportes. É assim que se faz
GPS, ou seja, uma plataforma colaborati- e perdidos. um transporte de qualidade, com a colabora-
va principalmente para ambientes indoors (ii) Possibilidade de disparo automático ção e o respeito de ambos os lados. Metrô e
e que pode ser concebida com ou sem a e configurável de breves pesquisas de satis- Você. Juntos, a gente vai mais longe”.
integração com linhas de outras operado- fação ao término de um determinado traje- Campanha Publicitária do Metrô de
ras de transporte sobre trilhos. Para isso, to, para diferentes perfis de passageiros, ou São Paulo – 2016
o APP deve calcular em tempo real as op- somente para passageiros que se encontram
ções de melhor rota para uma determina- em determinadas localidades na rede. UWB NA NAVEGAÇÃO
da origem e destino, considerando o perfil (iii) Envio de informações estrutura- INDOOR DAS PESSOAS
do passageiro e as condições operacionais das e anônimas para o Centro de Controle As principais vantagens na aplicação
atuais de cada linha e de cada estação de da Segurança (CCS), sobre ocorrências de da tecnologia UWB para materializar as
transferência. abuso sexual, comércio irregular, delitos e possibilidades de sinalização das pessoas
Quando uma das opções disponibiliza- vandalismos nos trens e estações, mas sem descritas anteriormente são sua maior pre-
das de trajeto for selecionada pelo usuário, a necessidade de informar o número do cisão na geolocalização dos passageiros em
o aplicativo pode fazer o acompanhamento carro, a linha, o sentido de deslocamento locais mais amplos nas estações, tais como

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Figura 7 - Aplicação de TAG UWB na proteção ao trabalhador e no rastreamento de ativos tais como materiais e equipamentos
plataformas e mezaninos; o recurso de di- condutores para diversos setores de mer- robusto para permitir a implantação rápida
recionalidade, permitindo que o passageiro cado, existem três razões para acreditar da tecnologia.
futuramente aponte seu smartphone para que o caminho desta tecnologia deverá ser Além de grandes fabricantes de smar-
uma determinada direção para obter infor- pavimentado: O diferencial da percepção tphones tais como Apple e Samsung, são
mações sobre aquela localidade na estação; espacial, que permitirá que os dispositivos membros deste consórcio as empresas Tha-
e seu menor consumo de energia, possibi- naveguem e interajam com o ambiente ou les e BYD, atuantes no setor metroviário.
litando que o rádio UWB e os respectivos entre si; a emergente adoção pelos smar- Alguns laboratórios de testes, membros
APP permaneçam ativos durante todo o tphones, possibilitando que a tecnologia acadêmicos e educacionais também par-
trajeto do passageiro, sem onerar a carga esteja acessível em breve a todos; e a pa- ticipam no compartilhamento de conheci-
da bateria de seu aparelho móvel (figura 6). dronização da tecnologia, de forma que mento e expertise, na padronização e cer-
Futuramente, com a massificação da a interoperabilidade e intercambialidade, tificação da tecnologia.
tecnologia para os smartphones mais po- requerida para os equipamentos de sina- Uma vez que praticamente todos os
pulares, será possível a realização de um lização, esteja disponível também para os países possuem um mercado atrativo para
upgrade nos rádios ao substituir somente produtos de consumo. smartphones, a certificação de sistemas
os Beacons BLE por TAG UWB, aproveitan- Independente da massificação do UWB UWB junto às agências de telecomunica-
do os pontos estratégicos já mapeados da nos smartphones, já é possível colher fru- ções de cada nação possa ser de interesse
malha de dispositivos indoors de localiza- tos com a utilização do UWB no CBTC de uma parte dos membros deste consór-
ção na rede de transporte, e mantendo o para as equipes internas das operadoras de cio, aumentando as chances de certificação
APP, os servidores e a integração de rede já transporte: A figura 7 ilustra dois exem- desta tecnologia no Brasil com a Anatel.
desenvolvida para o tratamento das solici- plos de aplicação da tecnologia, seja para a Paralelamente a tudo isso, desde o co-
tações de serviços. segurança das pessoas trabalhando na ma- meço do ano passado a fabricante chinesa
Com a maior precisão na localização, nutenção da via operacional, ao criar uma de smartphones Xiaomi vem divulgando na
é possível integrar em um mesmo APP o bolha de segurança por meio de um pe- mídia a tecnologia UWB incorporada em um
recurso de navegação indoor nas estações queno pedestal incorporado com uma TAG de seus aparelhos de celular, configurado
para passageiros com deficiência visual UWB ativada na área acessada, ou para o para uma função de controlar outros dispo-
usando um feedback auditivo; habilitar a rastreamento em tempo real de alguns ma- sitivos do tipo Internet das Coisas (IoT) para
navegação indoor das estações e trens por teriais e ferramentas, principalmente para uma casa inteligente através da caracterís-
realidade aumentada para os demais passa- os pátios de manutenção. tica de direcionalidade do sinal UWB, com
geiros, ao apontar a câmera para determina- Finalizando, existe um consórcio de em- precisão de cerca de 3 graus na direção, e
da direção, indicando acessos, SSO, entra- presas globais denominado de FiRa, atual- com uma menor latência nos comandos re-
das e saídas, rotas de fuga, equipamentos de mente com mais de 1.000 membros ativos, motos de controle dos eletrodomésticos, to-
emergência, bem como informações sobre incluindo líderes de mercado em tecnologias mando proveito das características inerentes
lojas e serviços dentro das estações. de consumo, para semicondutores, redes e desta tecnologia. Alguns celulares high-end
Outras aplicações do UWB nos serviços controle de acesso, cuja motivação principal das gigantes Apple e Samsung também já
de transporte público seriam a validação é possibilitar que dispositivos adicionem con- possuem a tecnologia UWB embarcada, mas
para sistemas de bilhetagem, eliminando o texto espacial em tempo real através da tec- por enquanto configurada somente como
contato físico com células ou papéis, e até nologia UWB, permitindo novas experiências uma interface de comunicação sem fio para
mesmo a exploração de recursos de distan- aos usuários. A ação se dá através de grupos o pareamento entre dispositivos.
ciamento social, considerando a operação de trabalho estabelecidos internamente pelo
dos transportes em um contexto pandêmico. consórcio visando o apoio na expansão dessa * Felipe Copche é engenheiro, Supervisor de Projetos
Quanto a possibilidade de massifica- tecnologia com a seguinte abordagem: de Sinalização e Controle Centralizado do Metrô de São
ção do UWB em produtos eletrônicos de - Apoio no desenvolvimento de casos Paulo
consumo, segundo o Vice-Presidente Exe- atrativos de aplicação em variados domí- Email: fcopche@metrosp.com.br
cutivo para Conectividade e Segurança nios de negócios. ** Rubens Navas Borloni é engenheiro, Coordenador
Cibernética da NXP, empresa holandesa - Definição de especificações e certificação de Projetos de Sinalização e Controle Centralizado do
provedora de soluções tecnológicas atra- de produtos para garantir a interoperabilidade. Metrô de São Paulo
vés de projetos e fabricação de chips semi- - Promoção de um ecossistema UWB E-mail: rborloni@metrosp.com.br

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O projeto da Estação Santa


Marina e das VSE’s próximas
na Linha 6-Laranja do metrô

A
MARCELO WAIMBERG* / FERNANDO REBOUÇAS STUCCHI**

Linha 6-Laranja de me- projetado. Em Sara de Souza, um tú- zendo o papel de escoramento quando
trô em São Paulo pas- nel de ligação executado em NATM liga as escavações são retomadas.
sará por 15 estações, o poço ao túnel de via executado em Em função da solução de imperme-
desde Brasilândia, na anéis pré-moldados. Já em Venâncio abilização tipo “submarino” para todas
zona norte, até a inter- Aires, o poço está alinhado com o eixo as estações da linha, isto é, impermea-
ligação com a Linha 1-Azul, na Esta- da via, sendo projetado em forma de bilização total das estruturas definiti-
ção São Joaquim. “funil invertido”, isto é, com aumento vas, não é possível solidarizar as lajes e
A EGT Engenharia é responsável do diâmetro ao nível da via. vigas de borda às paredes diafragmas.
pelo projeto das estações Santa Ma- São executados consolos provisórios
rina e SESC-Pompeia, bem como de ESTAÇÕES chumbados nas paredes, que servem de
suas respectivas ventilações e saídas Originalmente concebidas em estru- apoio para as estruturas internas e a
de emergência (VSE’s) Sara de Souza e turas pré-moldadas, quando as obras impermeabilização com manta de PVC
Venâncio Aires, respectivamente. Parti- da Linha 6-Laranja foram retomadas contorna aqueles consolos.
cipa também do projeto das contenções as estruturas internas foram alteradas Ao final, quando a laje de fundo
da Estação 14 Bis, de responsabilidade para lajes maciças moldadas “in loco”, está concluída e as paredes internas são
da GPO. mantendo-se a escavação invertida e completadas, fazem o apoio definitivo
As 3 estações, ora em construção, boa parte do rebaixamento. na periferia das lajes.
são projetadas em VCA, com escavação Assim, após execução das paredes As lajes são também chumbadas
pelo método invertido e contenções em diafragmas e dos pilares centrais em nos pilares intermediários, executados
paredes diafragmas, enquanto as VSE’s estacas barretes, inicia-se a escavação como estacas barretes.
são projetadas com escavação em um até o nível da laje de cobertura. Esta A escavação prossegue até o nível
poço circular revestido com concreto é concretada contra as contenções, fa- da laje de fundo, repetindo-se o pro-
cesso para cada piso intermediário.
As paredes diafragmas e estacas
barretes, executadas com concreto de
fck = 40MPa, são calculadas com uma
redução de resistência gc = 3,6, como
estabelecido na NBR-6122 (fundações),
o que é equivalente a um concreto de
apenas 15,5MPa. Essa limitação, além
de afetar de maneira importante algu-
mas verificações de ELU, aumenta de
maneira muito significativa os com-
primentos de emenda das armaduras e
afeta, em tese, o comprimento das ar-
maduras chumbadas nesses elementos.
No entanto, o procedimento para
execução dos consolos provisórios nas
diafragmas ou de chumbamento das
armaduras das lajes nas barretes prevê
a escarificação completa do concreto
existente até exposição das armaduras
internas (ver figura 1). Desse modo, é
possível avaliar a qualidade do concreto
base e os comprimentos de ancoragem
são calculados conforme definido na
NBR-6118 (estruturas de concreto), o
Figura 1 - Chumbadores da armadura das lajes nos pilares que viabiliza o procedimento construti-

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vo. Em caso de dúvida, ainda é possível eye”), exceto na Estação Santa Marina, tão retirando CPs de uma boa série de
fazer a extração de um corpo de prova onde foi previsto rebaixamento parcial pontos ao longo dessas peças de forma
local para confirmar as propriedades do do lençol freático, a partir de cerca de a demonstrar que a distribuição dessas
concreto dessas peças. 10m de profundidade. resistências é próxima do usual, justi-
Para emboque/ desemboque da tu- As paredes armadas com fibra de ficando apenas pequeno aumento do
neladora nas estações, são previstas vidro têm novamente uma restrição coeficiente de redução da resistência
paredes diafragmas parcialmente arma- importante decorrente da limitação à à compressão do concreto, reduzindo
das com barras de fibra de vidro (“soft resistência de cálculo do concreto im- substancialmente o valor proposto pela
posta pela NBR-6122. Devido à baixa atual NBR-6122.
ductilidade do vidro, não é possível Assim, também nas estações SESC-
considerar uma redistribuição das fle- -Pompeia e 14 Bis, embora não se pre-
xões na parede, com plastificação das veja um rebaixamento generalizado do
seções mais solicitadas. Por outro lado, lençol freático, serão instalados poços
as barras de fibra de vidro não podem de rebaixamento junto às duas extremi-
ser consideradas à compressão, o que dades, emboque e desemboque, o que
reduz significativamente a resistência reduz as solicitações nas paredes e via-
à flexão dessas peças calculadas com biliza a execução do “soft eye”.
concreto de baixa resistência. Em Santa Marina, com o nível d’água
De forma a construir proposta para rebaixado, no emboque e desemboque
revisão da NBR-6122 no que respeita executaram-se paredes diafragmas mais
paredes diafragma e barretes, a Accio- curtas e, ao nível da tuneladora, uma
na e a Cia. do Metrô de São Paulo es- contenção de solo grampeado com bar-

Figura 2 - Contenção para emboque/ desemboque do TBM em Santa Marina

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Figura 3 - Modelo numérico para o poço Venâncio Aires Figura 4 - Modelo numérico para a VSE Sara de Souza

ras de fibra de vidro e parede em concre- dimensional, especialmente para verifi- um reforço ao longo daquela intersecção,
to armado com fibra de vidro, conforme cação da segurança das escavações ao moldado junto com o revestimento se-
figura 2. Para equilíbrio das paredes du- passar pelo alargamento do poço, reali- cundário do túnel de ligação.
rante a escavação, são também previstos zado em camada arenosa. Para dimensionamento desse refor-
tirantes, que “desviam” do TBM. A figura 3 ilustra o modelo adotado. ço e avaliação do efeito do carregamen-
Já na VSE Sara de Souza, utilizou-se to desequilibrado aplicado ao túnel de
VSE’s um modelo numérico de casca em elemen- via, foi elaborado um modelo conjunto
Para possibilitar a escavação dos tos finitos, com carregamento imposto. do poço, túnel de ligação e túnel de via,
poços com contenção em concreto pro- Adotando-se critérios adequados conforme figura 4.
jetado executado à medida que avança para esse carregamento, por exemplo O reforço ao longo da abertura mos-
a escavação através de camadas areno- com acréscimo de carga no poço devi- trou-se rígido o suficiente para controlar
sas, às vezes de baixa resistência, são do ao arqueamento de empuxo de solo os deslocamentos no túnel de via, resul-
executados poços de rebaixamento ao junto ao emboque do túnel de ligação, tando pequenos acréscimos de solicita-
redor da escavação. obtém-se resultados adequados com ções naquele revestimento.
Além disso, na passagem em argila modelos hierárquicos mais simples.
mole, em Sara de Souza, e areia no alar- A abertura do túnel de via na intersec- * Marcelo Waimberg é engenheiro civil, diretor
gamento da escavação, em Venâncio ção com o túnel de ligação abrange qua- executivo da EGT Engenharia
Aires, são executadas colunas de “jet se meia seção do túnel, para acomodar a E-mail: marcelo.waimberg@egtengenharia.com.br
grouting”, que protegem a escavação. passagem de pedestres e ventilação. ** Fernando Rebouças Stucchi é engenheiro civil,
O dimensionamento do poço Ve- Como o túnel em elementos pré-mol- diretor executivo da EGT Engenharia, professor titular
nâncio Aires foi feito com ajuda de um dados tem capacidade limitada para aco- da Escola Politécnica da USP
modelo numérico de meio contínuo tri- modar essa abertura, é necessário prever E-mail: frstucchi@gmail.com

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Monitoração do desempenho
estrutural de superestrutura de via
permanente em fixação direta 

V
TIAGO JULIANI* / LUCAS JULIANI** /
DANIELA DAVID*** / MARCO JULIANI****
INTRODUÇÃO E OBJETIVO base em parâmetros e tolerâncias que de- DESCRIÇÃO DA INSTRUMENTAÇÃO
s vias permanentes em laje vem ser comprovados por meio de ensaios PARA MONITORAÇÃO DE
de concreto armado são laboratoriais e monitoração in loco. VIA PERMANENTE
constituídas pelos trilhos A monitoração pode ocorrer em qual- O desempenho dos sistemas da supe-
fixados à laje por meio de quer fase após a construção da via e resul- restrutura da via permanente é avaliado
grampos e placas, engas- ta em informações relevantes para avalia- por meio de três principais instrumentos:
tadas por ancoragens e niveladas com ção do seu comportamento. Usualmente, transdutores de deslocamentos, exten-
palmilhas ou graute. a primeira monitoração é realizada antes sômetros, que têm por função avaliar as
Os componentes de uma via perma- da via entrar em operação comercial, com deformações e, consequentemente, as ten-
nente, como por exemplo, os trilhos, as fi- a passagem de trens em velocidade ope- sões, e acelerômetros, que têm por função
xações e as lajes, trabalham em conjunto, racional e carregados com sacos de areia, avaliar as vibrações por meio da medição
com o objetivo de manter a geometria e simulando sua massa real. das acelerações, as quais podem ser trans-
garantir a distribuição adequada das car- Este artigo tem como objetivos apre- formadas em velocidade no domínio da
gas, a elasticidade, a estabilidade, a segu- sentar os principais parâmetros ava- frequência.
rança e o conforto dos usuários dos trens liados em uma monitoração in loco em Neste artigo, serão apresentados os se-
e das edificações lindeiras. uma seção de via permanente com raio guintes parâmetros medidos durante uma
Para que esses objetivos sejam alcan- de 500m, os instrumentos utilizados e os monitoração de via:
çados, a via permanente é concebida com resultados obtidos. • Força de contato roda-trilho;

Figura 1 - Instrumentação para medição Figura 2 - Medição de deslocamento do Figura 3 - Grampo instrumentado na via
do L/V topo do boleto de um dos trilhos para permanente – extensômetro em destaque
obtenção da abertura dinâmica de bitola

Figura 4 - Acelerômetros para medição de vibrações Figura 5 - Acelerômetro instalado na laje da via permanente

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• Abertura dinâmica da bitola; FORÇAS NO CONTATO RODA-TRILHO mações por extensômetros no ponto de
• Tensões nos grampos de fixação; As cargas vertical e lateral no conta- maior concentração de tensão, conforme
• Espectros de vibração dos trens. to roda-trilho são obtidas por medições de apresenta a figura 3.
Os instrumentos são usualmente posi- deformações, utilizando-se extensômetros
cionados em seções diversas como: trecho estrategicamente posicionados nos trilhos, ESPECTROS DE VIBRAÇÃO
em tangente, trecho em curva, trechos com como ilustra a figura 1. DOS TRENS
diferentes sistemas de atenuação de vibra- Os espectros dos trens são obtidos
ção, região entre juntas, região contínua, ABERTURA DINÂMICA DE BITOLA por medições de vibração na laje da via
região com transição de sistemas etc. A medição de abertura dinâmica de bitola permanente durante as passagens dos
Os instrumentos são acoplados a um é realizada por transdutores de deslocamento trens utilizando-se acelerômetros. Adi-
sistema de condicionamento de sinais, com registrando-se simultaneamente os desloca- cionalmente, podem ser medidas as vi-
filtros e amplificadores e a um sistema de mentos dos topos do boleto dos dois trilhos, brações no piso e na parede do túnel,
aquisição de dados. Estes são ligados a um durante as passagens dos trens, como ilustra apenas para observação de seus níveis
computador, permitindo o armazenamen- a figura 2. nesses locais. A figura 4 ilustra o po-
to automático dos resultados, para poste- sicionamento dos acelerômetros na via
rior tratamento e análise. TENSÕES NOS GRAMPOS e no túnel e a figura 5 apresenta uma
Nos próximos itens serão descritas as Para obtenção das tensões nos gram- fotografia do acelerômetro instalado na
instrumentações supracitadas. pos são realizadas medições de defor- laje da via permanente.

Figura 6 - Carga vertical por eixo Figura 7 - Detalhe de carga vertical por eixo quando há impacto

Figura 8 - Detalhe de carga vertical da roda do trilho interno Figura 9 - Detalhe de carga vertical da roda do trilho externo
quando há impacto quando há impacto

Figura 10 - Detalhe de carga vertical por eixo quando não há


impacto Figura 11 - Cargas laterais nos trilhos interno e externo

200 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM


Figura 12 - Relação L/V em função da contagem de eixos dos trens Figura 13 - Histograma dos L/Vs obtidos no trilho externo

Figura 15 - Aberturas dinâmicas de bitola durante todo o dia


Figura 14 - Histograma dos L/Vs obtidos no trilho interno de monitoração

RESULTADOS OBTIDOS EM patamar estável no valor máximo da carga C)RELAÇÃO L/V


UMA MONITORAÇÃO vertical, havendo grande oscilação no valor O cálculo da relação entre a carga lateral e
1.Obtenção das forças na via do carregamento. Como pode ser observado a vertical (L/V) é realizado a partir dos picos de
A instrumentação para obtenção das car- na figura 7, o valor máximo atinge 220kN, carga lateral e vertical para cada passagem de
gas verticais e laterais nos trilhos consistem cerca de 80% superior aos valores médios roda sobre a seção instrumentada. A figura 12
primeiramente em uma calibração, na própria de 120kN, e o valor mínimo se aproxima mostra os L/Vs obtidos, onde o eixo das abs-
via permanente, das deformações dos exten- de 50kN, sugerindo que as rodas chegam a cissas representa a contagem de eixos de trens.
sômetros. Posteriormente, as deformações perder contato com os trilhos momentane- Conforme se observa nos gráficos da fi-
medidas resultantes das passagens das com- amente. Quando se analisa separadamente gura 12, para o trilho externo o L/V máximo
posições são correlacionadas com os coefi- as cargas verticais das duas rodas desse eixo foi de aproximadamente 0,60. Para o trilho
cientes de calibração. (figuras 8 e 9), verifica-se que a roda do trilho interno, o L/V máximo foi de 0,70.
Com as cargas vertical (V) e lateral (L) ob- interno chega a perder totalmente o contato As figuras 13 e 14 apresentam os histo-
tidas, é possível calcular a relação L/V. com a superfície de rolamento, aumentado o gramas dos L/Vs obtidos para os trilhos inter-
efeito do impacto. no e externo, com normalização do eixo das
A)CARGAS VERTICAIS OBTIDAS Por outro lado, a estabilização da carga ordenadas pela densidade de probabilidade.
A figura 6 ilustra as cargas verticais por vertical em um patamar, sem sofrer impacto, Desta maneira, é possível realizar uma análise
eixo obtidas ao longo de um período de mo- é evidenciada pela figura 10. estatística dos parâmetros medidos durante o
nitoração. Cada pico observado é causado tempo de monitoração.
por um trem com diversos eixos. Para este B)CARGAS LATERAIS OBTIDAS Como mostra a figura 13, para o trilho
caso, observou-se que a maioria das cargas A figura 11 apresenta as cargas laterais externo, houve grande concentração de L/
por eixo estavam no patamar de 120kN, en- registradas nos trilhos interno e externo nes- Vs nos valores de -0,16, -0,06 e 0,4. Para o
quanto outras passagens superam 150kN, te estudo de caso. O valor máximo da carga trilho interno, mostrado na figura 14, houve
podendo até ultrapassar o valor de 200kN. lateral, tanto para o trilho interno quanto grande concentração de L/Vs nos valores de
Uma investigação mais detalhada indi- para o externo, foi de, aproximadamente, 0,10, 0,20 e 0,65. Os valores negativos foram
ca a presença de cargas de impacto por eixo 40kN por roda. Vale lembrar que cada pico decorrentes do efeito da carga lateral de uma
onde a carga supera 200kN. A presença de observado nos gráficos equivale a uma pas- das rodas do truque, geralmente a roda trasei-
impacto é identificada pela ausência de um sagem de trem com diversos eixos. ra, que acaba fechando a bitola.

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Figura 16 - Histograma das aberturas dinâmicas de bitola obtidas Figura 17 - Tensões durante a instalação dos grampos

Figura 18 - Tensões nos grampos Figura 19 - Detalhe das tensões nos grampos

2.Obtenção das aberturas lise à fadiga desse componente, estiman- forços nos grampos, o que corrobora com o
dinâmicas de bitola do sua vida útil a partir das tensões resul- que foi detectado na medição da carga lateral
A figura 15 apresenta as aberturas de bi- tantes pelas forças de contato roda-trilho. que apontou fechamento de bitola em diver-
tola obtidas ao longo de todo o dia de mo- A figura 17 apresenta os gráficos das ten- sas passagens dos eixos dos trens.
nitoração na seção instrumentada, sendo a sões obtidas nos dois grampos, trilho externo A contagem de ciclos para cada amplitu-
abertura máxima de bitola o valor de 5,50mm. e interno, durante sua instalação na via. O de de tensão está apresentada na figura 20.
A figura 16 apresenta um histograma das grampo externo apresentou uma tensão de Como pode ser observado, no caso do
aberturas dinâmicas de bitola obtidas durante instalação de -523,7 MPa, enquanto o inter- grampo externo, a maior contagem de ciclos
a monitoração com normalização do eixo das no apresentou -572,3 MPa. Ambas as tensões correspondeu à faixa de variação de tensões
ordenadas pela densidade de probabilidade. foram compressivas no ponto instrumentado. entre 100,0 MPa e 160,0 MPa. O grampo in-
Como pode ser observado, a maior ocorrên- A figura 18 mostra os gráficos das ten- terno, por sua vez, apresentou maior conta-
cia de aberturas dinâmicas de bitola foi entre sões dinâmicas ao longo do tempo obtidas gem de ciclos na faixa de 60,0 MPa a 120,0
4,50mm e 4,90mm. para os dois grampos durante as passagens MPa, indicando menor solicitação provocada
de trem. Como pode ser observado, o gram- pela passagem de trens na via.
3.Obtenção das tensões nos grampos po localizado no lado externo à bitola sofreu
As tensões nos grampos foram obtidas uma variação média de tensão de, aproxima- 4.Obtenção dos espectros
pelas medições de deformação no ponto de damente, 200,0 MPa, com os valores oscilan- de vibração dos trens
maior concentração de tensão, durante suas do entre -50,0 MPa e 150,0 MPa. Por outro A figura 21 apresenta os picos relaciona-
instalações nas placas, nas passagens dos lado, o grampo localizado no lado interno à dos às passagens dos trens registrados na laje
trens e nas suas retiradas. Dois grampos fo- bitola sofreu uma amplitude de tensão me- da via permanente. Conforme se observa nos
ram instrumentados: um no trilho externo e nor, de, aproximadamente, 150 MPa e com gráficos, a maioria das passagens de trens ti-
outro no trilho interno, ambos no field side. oscilações entre -75,0 MPa e 75,0 MPa. veram valores de pico de velocidade na faixa
Após obtenção das tensões nos gramos A figura 19 detalha as tensões dinâmicas de 3mm/s, sendo observado de 30% a 40%
ao longo do tempo, realizou-se a contagem obtidas nos grampos da placa durante uma das passagens os níveis de velocidade maiores.
de ciclos por meio do algoritmo Rainflow, se- passagem de trem. Considerando os picos de Os níveis de velocidade maiores
gundo a norma ASTM E1049-85. Com isso, tensão de tração e de compressão, evidencia- ocorreram quando houve carga de im-
é possível realizar, por exemplo, uma aná- -se claramente a inversão do sentido dos es- pacto vertical causada por alguma das

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Figura 21 - Passagens dos trens durante pico da manhã
a) Velocidade de vibração ao longo do tempo
Figura 20 - Contagem de ciclos para os grampos b) Força vertical por eixo ao longo do tempo

Figura 22 - Espectro em bandas de 1/3 de oitava de uma Figura 23 - Espectro em bandas de 1/3 de oitava de uma
passagem sem impacto passagem com impacto

rodas do trem durante sua passagem. laje de concreto armado. Todavia, vários des- * Tiago Juliani é engenheiro civil na empresa IEME Brasil desde
Com base nos gráficos acima, é possível ses parâmetros e outros não citados podem 2008, graduado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e
afirmar que na presença de um nível de vi- ser obtidos em outros tipos de ferrovias, como mestre em estruturas pela USP-São Carlos. Trabalhou em diversos
bração maior, há impactos da carga vertical do por exemplo, vias lastradas com dormentes de projetos e instrumentação de superestrutura de via permanente
trem, porém nem sempre que há um impacto, qualquer tipo (madeira, aço, concreto etc.). e em diversas análises teóricas e experimentais de estruturas civis
ocorre um nível alto de vibração, o que mostra O estudo de caso apresentado teve por ob- E-mail: tjuliani@iemebrasil.com.br
a aleatoriedade do fenômeno vibratório. jetivo ilustrar os resultados obtidos por meio de ** Lucas Juliani é graduado em engenharia civil pela
A figura 22 apresenta um espectro em gráficos, sem aprofundar as análises ou chegar Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestre em estruturas
bandas de 1/3 de oitava para uma passagem de à alguma conclusão sobre o comportamento da pela USP-São Carlos. Atualmente é coordenador do LAEDE com
trem sem impacto no contato roda-trilho e a via em questão. Todavia, pelas análises dos es- experiência em ensaios estáticos e dinâmicos em laboratório
figura 23 um espectro com impacto. pectros dos trens apresentadas anteriormente, e em instrumentação de via permanente e de estruturas
Conforme se observa nos exemplos de ficou evidenciada uma alteração no espectro E-mail: ljuliani@iemebrasil.com.br
espectro de vibrações das figuras 22 e 23, as do trem que alterou os parâmetros de projeto. *** Daniela David é engenheira civil na empresa IEME
passagens com impacto tendem a aumentar o Ressalta-se a importância do monito- Brasil desde 2007, graduada e mestre pela Universidade
nível global de velocidade em mais de 10dBV, ramento para homologação da via, antes da Federal de Goiás e doutora em estruturas pela USP-São Carlos.
mostrando a influência da manutenção da via sua utilização comercial, ou em qualquer Trabalhou como coordenadora de contratos em alguns projetos
e material rodante nos níveis de vibrações emi- fase, como por exemplo, para avaliar com- e instrumentação de superestrutura de via permanente e em
tidos durante a operação de uma ferrovia, seja portamentos inesperados, desconforto dos várias análises teóricas e experimentais de estruturas civis
ela com sistema massa-mola, sem qualquer sis- usuários, quebras de grampos ou qualquer E-mail: ddavid@iemebrasil.com.br
tema de atenuação ou via em lastro com qual- outra investigação que se faça necessária. **** Marco Juliani é engenheiro civil e diretor técnico da
quer tipo de dormente. Por exemplo, pode-se, realizar as medições empresa IEME Brasil desde 1987, graduado e mestre pela
dos deslocamentos da laje da via permanente, USP-São Carlos e doutor em estruturas pela Escola Politécnica
CONCLUSÕES tanto em regiões de juntas, como fora delas, da USP. Trabalhou em diversos projetos e instrumentação
O presente artigo apresentou alguns ins- obtendo-se o módulo de via, o comportamen- de superestrutura de via permanente e em diversas
trumentos e parâmetros utilizados durante a to mecânico da junta entre lajes, condições de análises teóricas e experimentais de estruturas civis
instrumentação de uma via permanente em manutenção do lastro, entre outros. E-mail: mjuliani@iemebrasil.com.br

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

A AEAMESP como um agente


catalizador na disseminação
da expertise metroferroviária
SILVIA CRISTINA SILVA* / FELIPE COPCHE** /
DIONISIO MATRIGANI DE SOUZA GUTIERRES***

É
INTRODUÇÃO anos trabalhando no setor de transportes gias nos tempos atuais.
notório que a humanidade sobre trilhos já é possível o profissional A AEAMESP tem estado atenta a toda
está vivenciando de for- constatar ser humanamente inexequível ter essa dinâmica de forma sistêmica desde sua
ma atônita uma avalanche o domínio pleno de todas as disciplinas téc- fundação. Através da criação de um ecos-
de mudanças sob diversos nicas necessárias de arquitetura, engenha- sistema circunscrito e com 28 anos abor-
prismas nas últimas déca- ria, gestão, entre outras, para a concepção, dando temas de tecnologia em um fórum
das. Inquietudes sobre a desenvolvimento, implantação e operação ininterrupto de discussão sobre o setor, a
sustentabilidade de uma população global de um projeto da magnitude de um sistema Associação tem desempenhado com orgu-
em permanente crescimento frente às re- metroferroviário completo e toda a ineren- lho um papel-chave de representar, multi-
servas mundiais de combustíveis fósseis e te complexidade para a incorporação física plicar e disseminar o conhecimento técnico
sua disponibilidade voltam calorosamente à e urbana do empreendimento na cidade. metroferroviário brasileiro, e de defender
tona nas discussões em períodos de crises e Diante desta limitação humana, é sensato o nosso setor com a vital ajuda de nossos
de incertezas, com alguns desdobramentos que o profissional se especialize em alguma arquitetos, engenheiros, geólogos e outros
perceptíveis pela sociedade, principalmen- esfera do conhecimento conforme sua for- profissionais, de nossos parceiros institucio-
te em pilares estratégicos da economia tais mação, talento e afinidade, mas também que nais, apoiadores, diretores das operadoras de
como os setores de energia, transportes e esteja inserido em um ambiente colaborati- transporte, patrocinadores e empresas par-
alimentos. vo, seja no meio acadêmico ou profissional, ceiras, que nos auxiliam com conhecimento,
Em contrapartida, são notáveis as con- com gente dotada de uma miríade de co- tecnologia, apoio e recursos para viabilizar
quistas e os avanços obtidos neste mesmo nhecimentos para que haja imersão, coesão anualmente a realização da Semana de Tec-
período, logrando patamares inéditos de na interface entre as disciplinas e a troca de nologia Metroferroviária e dos eventos téc-
produtividade e eficiência graças ao co- conhecimentos, de forma que ocorra a tão nicos, promovendo também a valorização do
nhecimento, dedicação, ousadia e talento desejada inovação que faz mover a humani- trabalho empenhado por nossos associados
humano, em destaque de cientistas, pesqui- dade rumo à sua evolução. e de seus estudos de prospecção tecnoló-
sadores, empreendedores e de toda a indús- Nessas duas últimas décadas, com os gica.
tria principalmente nos campos da ciência e avanços acelerados na comunicação e na Com a robustez correlata à construção
tecnologia, que ardorosamente prosseguem computação, houve um aumento na am- de estações e trens, uma das vantagens do
na construção de um legado aprimorado de plitude do conhecimento técnico necessá- setor de transporte sobre trilhos é justamen-
conhecimento e de evolução acumulado por rio para atender o nível de modernidade e te a solidez quase imutável dos fundamen-
gerações. Desta maneira, para setores mais de eficiência requerido em todo o ciclo de tos metroferroviários até então desenvol-
críticos, nossa civilização recentemente vida de novos empreendimentos. Mesmo vidos, a validade de todo o acervo técnico
passou a explorar novas formas da geração com a crescente presença de profissionais coletivo, a competência dos profissionais
e armazenamento de energia através de mulheres nos quadros técnicos e de gestão e a importância de cada empreendimento,
fontes renováveis, a conceber dispositivos das empresas do setor metroferroviário para atual e futuro, à serviço da sociedade e da
eletromecânicos com menores perdas, e en- amenizar as lacunas que estão surgindo, economia durante um extenso ciclo de vida,
contra-se em curso uma somatória de esfor- pois carregam a competência socialmente sem uma data próxima de expiração ou ris-
ços para o aumento da eletrificação e para desenvolvida de estar a par e de tratar si- co de breve obsolescência conforme ocorre
a aplicação de fontes alternativas de energia multaneamente de diversos assuntos com com as tecnologias digitais presentes nos
menos poluentes inclusive nos transportes. maestria, a incômoda sensação de estar per- produtos de consumo, e até porque inova-
Da mesma forma, a inovação encontra-se dendo o trem da inovação e da atualização ções disruptivas como o teletransporte que
presente também na produção global de tecnológica vem assombrando até mesmo afetariam o nosso setor ainda permanecem
alimentos, seja na depuração de sementes, a nova geração de profissionais recém- no campo da ficção. Além do vasto conhe-
em novas técnicas de cultivo, na automação -formados, divididos entre o dilema de se cimento tecnológico, são também assuntos
agrícola, na pecuária, na cadeia logística de especializar ou de se tornarem generalistas, dos fóruns da AEAMESP as políticas públi-
abastecimento, dentre outros esforços e ini- reinventando-se reiteradamente diante da cas, o equilíbrio financeiro das operadoras
ciativas. maior fluidez, obsolescência e das mudan- de transporte, novos modelos de negócios
Dentro do nosso contexto, após alguns ças culturais advindas do uso das tecnolo- e formas de receita, inovações, estratégias

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TRANSPORTE I ENGENHARIA

de comunicação, mudanças culturais, novos podem até mesmo cruzar algumas barreiras como um fórum integrador entre o trans-
processos de melhoria, mitigações de riscos, da nossa realidade ao se explorar os eventu- porte de passageiros e de cargas, a realiza-
planejamento do setor, e uma infinidade de ais efeitos gerados por algumas tecnologias ção inédita da STMF em formato virtual em
oportunidades conforme a conjuntura do disruptivas na cultura da sociedade e os fu- tempos de pandemia em 2020, dentre ou-
período para integrar novos conhecimentos turos impactos em nosso setor, por exemplo, tros importantes marcos e conquistas.
ao setor. as consequências de um upgrade das redes Em 2021, ainda devido ao contexto pan-
Em relação às novas tecnologias, a sociais para Metaversos quanto aos desloca- dêmico, realizou-se a 27ª Semana de Tecno-
transformação e aceleração digital que mentos das pessoas para o trabalho, lazer e logia Metroferroviária também no formato
paulatinamente vem fazendo parte do nas relações humanas. 100% virtual com o tema “Trilhos para um
nosso cotidiano de trabalho, negócios, futuro sustentável”, já que o transporte so-
relacionamentos e do rol de conhecimen- A TRAJETÓRIA DA AEAMESP E bre trilhos deve permanecer no horizonte
tos necessários para o setor, a Associação DA SEMANA DE TECNOLOGIA dos tomadores de decisão como uma opção
deve avançar trazendo e expondo novas METROFERROVIÁRIA (STMF) ambientalmente sustentável para os novos
empresas com suas inovações para nossa No ano de aniversário de 30 anos da AE- tempos, fazendo uso da energia elétrica de
comunidade metroferroviária, promovendo AMESP, em 2020 foi lançada pela Associação forma eficiente, seja para o transporte de
debates, interações e atividades que com- uma segunda edição de nosso relatório es- passageiros ou de cargas, baixa emissão de
plementem eventuais lacunas encontradas pecial com foco na carreira e capacitação do carbono, características atrativas para um
para os domínios mais recentes do conheci- profissional metroferroviário, com circula- país como o Brasil repleto de grandes con-
mento, e que se encontram em convergên- ção gratuita e disponível para download em centrações urbanas e com dimensões conti-
cia com as crescentes exigências de nossos nosso site institucional. Consta nesta edição nentais. Com o ressurgimento da crise hídri-
passageiros, clientes e investidores, mas uma linha do tempo contando um pouco ca, o tema do uso eficiente da energia voltou
também colaborar em atender a ânsia de sobre a trajetória da AEAMESP desde sua a ter maior relevância para todos os setores
nossos profissionais em atingir novos níveis fundação, e redigida majoritariamente pelos da economia, sendo uma oportunidade para
de qualidade de serviço para o transporte presidentes de cada gestão da Associação. A nosso setor de transporte eletrificado rea-
de passageiros e de cargas. linha do tempo partiu de um acervo histó- presentar trabalhos mais atualizados que
Como alguns exemplos de tecnologias rico algumas décadas antes para ajudar na envolvem a redução de custos operacionais,
até recentemente fora do contexto metro- contextualização, começando pelos antece- sistemas mais eficientes de tração e de cli-
ferroviário, mas que podem e já vem trazen- dentes conjunturais da cidade de São Paulo, matização nos trens, maior aproveitamento
do inovações para o nosso setor, podemos as idas e vindas do sistema metroferroviário da energia regenerada, dentre outras inicia-
destacar a aplicação da modelagem digital e no Brasil, a inauguração do Metrô-SP, até a tivas de aprimoramento no consumo ener-
de novos processos na construção das uni- origem e os primeiros passos da Associação gético das operadoras de transporte.
dades construtivas para novos empreendi- em 1990. É oportuno lembrar que a AEA-
mentos; gêmeos digitais; a internet das coi- MESP já nasceu com a vocação de promover O FUTURO
sas e as cidades inteligentes; o aumento da e favorecer ao máximo o compartilhamento Para os próximos anos, a AEAMESP deve
automação, seja nas rotinas administrativas de conhecimentos e experiências. permanecer agindo e atuando na esfera na-
de trabalho, na operação e na manutenção; O relatório também informa que a pri- cional em prol da valorização da tecnologia
novas formas de sensoriamento remoto; a meira Semana da Tecnologia inicialmente metroferroviária, na defesa dos sistemas
impressão em 3D de peças de reparo; as tec- Metroviária - STM, após alguns anos Me- sobre trilhos e na promoção do desenvol-
nologias de realidade virtual e aumentada; a troferroviária – STMF, aconteceu de forma vimento tecnológico e profissional de seus
análise inteligente de dados de campo; novas tímida no Instituto de Engenharia (IE) em associados, conforme seu estatuto, sem viés
tecnologias de comunicação sem fio como a 1995, cinco anos após sua fundação, e que de cunho político ou partidário, com a fina-
geração 5G e a banda ultra larga (UWB); a somente a partir de sua sétima edição em lidade de atender a todos a que ela se asso-
aplicação de drones com câmeras térmicas; 2001 que a STMF passou a ter temas melhor ciem, independente de classe social, nacio-
o emprego da inteligência artificial e do definidos para direcionar os debates. Dentre nalidade, sexo, raça, cor e crença religiosa,
uso de blockchain, ou seja, um incontável outras etapas de amadurecimento da Asso- mas também promovendo a sustentabilidade
conjunto de novos termos, expectativas e ciação, o relatório cita a fase de melhor en- ambiental através da promoção do desen-
aplicabilidades que há cerca de uma década tendimento e atuação no quadro brasileiro, volvimento das relações entre transporte
beiravam a ficção. a busca pela maior amplitude e envergadu- e meio ambiente, o relacionamento com
Neste sentido, a contribuição da AEA- ra nacional, a presença em debates sobre o sindicatos e entidades de classe, o apoio e
MESP para nossos associados e parceiros é transporte público, o espaço “METROFERR incentivo na participação de associados da
justamente a cada ano trazer novos temas Lounge Experience®” para a apresentação AEAMESP em entidades que desenvolvem a
para a nossa comunidade através da exposi- de novas tecnologias, a mudança estatutária tecnologia, e a propagação do conhecimen-
ção de estudos e discussões de forma acessí- da Associação, a participação no Conselho to para associados, empresas e entidades
vel, palatável e já aplicada em nosso contex- das Cidades, o auxílio na criação da Frente ligadas ao setor.
to de transporte sobre trilhos, uma vez que Parlamentar do Transporte Público, a pre- Para enfrentar tais desafios e comple-
as novidades cada vez mais surgem de forma sença na aprovação da Lei de Mobilidade xidades multifacetadas advindas dos novos
orgânica e exponencial, com ciclos de vida Urbana, o intercâmbio de experiências entre tempos, nesta gestão atual 2021 – 2023, foi
mais curtos para as tecnologias mais recen- São Paulo e Argentina, a busca de foco e eleita a primeira líder mulher da Associação,
tes, necessitando assim de constante atu- equilíbrio em tempos de crise, a renovação a Presidente Engª Silvia Cristina Silva, com
alização. Eventualmente, alguns assuntos da AEAMESP e da Semana de Tecnologia vasta vivência, networking e experiência no

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

sitivas com relação ao término da pan-


demia, a Associação pretende retomar
algumas atividades técnicas presenciais,
organizar eventos sociais visando a rea-
proximação de nossos associados, e au-
mentar as interações com outras insti-
tuições em iniciativas do fortalecimento
do nosso setor de forma a atrair novos
associados e parceiros. A recente aproxi-
mação com o setor de cargas certamen-
te ajudará no acompanhamento de seus
passos na trilha de expansão da malha
ferroviária de forma que se possa pos-
teriormente se pensar na viabilização de
um ser viço inter-regional de transporte
Presidente Engª Silvia Cristina Silva (à esquerda), presente em recente evento da Comissão de de passageiros. Já o endosso na criação
Investimento & Infraestrutura da Câmara de Comércio Brasil-Canadá, com os palestrantes Luiz de linhas com menores distâncias entre
Alberto Fioravante, assessor especial da Secretaria Estadual de Logística e Transportes de São regiões próximas que façam uso de vias
Paulo, Jean Pejo, secretário-geral da ALAF no Brasil e Vicente Abate, presidente da ABIFER, junto existentes e subutilizadas podem promo-
com Márcio Francesquine, anfitrião e representante do Consulado Canadense, entre outros ver novos negócios nas regiões atendi-
convidados das, ajudar a recuperar os entornos com
a valorização imobiliária, aumentar a ar-
setor de transporte de passageiros sobre pandemia tenha impedido a realização da recadação para as prefeituras e reaque-
trilhos e que tem elevado a AEAMESP ao nossa tradicional Cerimônia de Posse da cer as atividades da indústria ferroviária
reconfigurar e trazer de forma inédita o Associação para esta Gestão, entendemos brasileira e de seus profissionais.
evento da STMF em formato digital em que o nosso papel diante dos lockdowns e Para o profissional que ainda perma-
dois anos consecutivos de pandemia e de de todo o isolamento social foi operar em nece indeciso em se afiliar junto à AEA-
incertezas, de forma que o compartilha- um modo econômico, estabelecendo algu- MESP, além da perspectiva positiva da
mento de informações em nossa comu- mas restrições orçamentárias de forma a expansão do sistema de metrôs para os
nidade fosse mantido frente as necessi- manter a saúde financeira para as gestões grandes centros urbanos e da tão espera-
dades das operadoras de transporte para seguintes, mas também de deixar um lega- da retomada de investimentos no aumento
tratamento das vultosas quedas na receita do relacionado com a experiência inédita da malha ferroviária do Brasil, de forma
tarifária, dos impactos nos investimentos de realizar os eventos da STMF no formato surpreendente vem fazendo parte do nos-
de expansão, dos financiamentos, na co- virtual e híbrido, conhecendo de antemão so meio empresas até então exclusivamen-
bertura dos custos de operação, mudan- as necessidades orçamentárias, os recur- te conhecidas em outros setores, mas que
ças culturais advindas das necessidades de sos humanos e tecnológicos envolvidos, os cada vez mais passam a oferecer produ-
isolamento social, bem como as diversas desafios, dificuldades, mensurando e ava- tos e serviços customizados voltados para
ações de conscientização e medidas em vi- liando seus riscos para que futuramente se atender as crescentes necessidades das
gor tomadas pelas operadoras de transpor- tenha mais flexibilidade e segurança para operadoras de transporte sobre trilhos de
te de passageiros em relação a mitigação manter o nosso ecossistema vivo e menos garantir a mesma robustez metroferroviá-
de riscos de contaminação dos passageiros suscetível às variáveis externas. ria para os novos equipamentos em campo
e funcionários durante a pandemia, visan- Diante da importância da dissemina- necessários para a transição, convergência
do preservar a integridade física e psico- ção da expertise metroferroviária para e transformação digital, buscando for-
lógica das pessoas, sustentando a atrati- equalizar o conhecimento coletivo e do necer também todas as funcionalidades
vidade do uso do transporte público na fórum técnico para networking e atuali- requeridas para a prestação dos serviços
retomada da normalidade frente ao trân- zação tecnológica frente à transformação de transporte com qualidade, segurança,
sito, tempo e aos custos de deslocamento exponencial em nosso setor visando o en- pontualidade e eficácia.
dos transportes individuais nas regiões frentamento dos novos tempos, entende-
metropolitanas. mos ser estratégico sensibilizar os profis-
Para este ano, será feito novamente sionais mais novos e as futuras gerações * Sílvia Cristina Silva é engenheira,
algo singular pela AEAMESP e que deve que farão parte da comunidade metrofer- presidente da Aeamesp
estar moldado com a escalada global de roviária sobre os ganhos ao se associar em E-mail: presidencia@aeamesp.org.br
retomada à normalidade: A realização da entidades de classe como a AEAMESP que
28ª Semana de Tecnologia Metroferro- ao longo de sua trajetória vem desempe- ** Felipe Copche é engenheiro, vice-presidente
viária em um formato híbrido, ou seja, nhando um papel catalizador para estimu- de Administração e Finanças da Aeamesp
uma parte presencial do evento voltada lar, premiar e disseminar o conhecimento Email: fcopche@metrosp.com.br
aos painéis temáticos e outra virtual com técnico metroferroviário no Brasil, além
toda a grandiosidade e diversidade dos de trazer oportunidades aos profissionais, *** Dionísio Matrigani de Souza Gutierres
trabalhos técnicos de empresas, órgãos, com indicação para as empresas. é diretor-secretário da Aeamesp
profissionais e universidades. Embora a Ao se confirmar as perspectivas po- E-mail: dgutierres@metrosp.com.br

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃOTRANSPORTE
PAULO I ENGENHARIA

O Metrô e a Engenharia Nacional


PLINIO ASSMANN* / PETER ALOUCHE**

O
Metrô de São Paulo é um
empreendimento de al-
tíssimo significado social
para a cidade e de grande
valor tecnológico para a
engenharia nacional. Na
implantação desse empreendimento hou-
ve importantes desafios tecnológicos que
a Companhia do Metrô, recém criada, teve
que transpor para formar esse imenso acer-
vo tecnológico que foi e ainda está sendo
objeto de transferência para outras cidades
do Brasil e do exterior.
De fato, o Metrô de São Paulo tem sido
um símbolo de avanço tecnológico na área
CCO - Centro de Controle Operacional do Metrô de São Paulo
de transporte urbano no Brasil. Ao ser im-
plantado, já apresentava uma tecnologia
moderna que contrastava e muito com o A primeira etapa dessa gestão consistiu da do sistema em operação, iniciava a etapa da
obsoletismo do transporte brasileiro por em estudar, antes da implantação desse em- preparação das equipes operacionais – opera-
ônibus, este operado na sua maior parte, preendimento até então desconhecido pela ção e manutenção – dentro de uma visão tec-
por pequenas empresas privadas, sem con- Engenharia Brasileira, o que outras cidades do nológica avançada para a época.
dições de enfrentar a demanda crescente de mundo tinham adotado como suas soluções E quando tudo estava instalado, um
transporte nas grandes regiões urbanas. O para o seu transporte de massa. Avaliar essas extenso e profundo esquema de testes de
transporte ferroviário apresentava-se obso- informações, filtrá-las, ver o que se adapta- aceitação pré-operacionais era iniciado,
leto e decadente, com uma leve esperança va à nossa condição peculiar de cidade e de para que os sistemas só fossem entregues às
de remodelação que só viria muitos anos povo, estabelecer as modificações necessárias equipes de operação depois de seus parâme-
depois, por influência, inclusive, do metrô. e pressentir como as condições tecnológicas tros perfeitamente ajustados e seu desem-
O Metrô de São Paulo, é um Projeto de En- e econômicas do país poderiam evoluir para, penho comprovado. A população também,
genharia que deu certo, o que pode ser cons- enfim, tomar a decisão de adotar essa, ou através das escolas, foi preparado para o
tatado após mais de quarenta anos de sucesso aquela solução. Logo de início, a Companhia novo transporte da Cidade. O Metrô sempre
operacional com uma eficiência e um desem- promoveu a participação de seus funcionários, comprovou ser, em suma, um ótimo gestor
penho, nacional e internacionalmente reco- a viagens técnicas, cursos e seminários, tanto da Engenharia, integrando todos os subsis-
nhecidos, principalmente pelos seus usuários. no país, como no exterior, preparando assim temas componentes desse empreendimento
E deu certo, porque de início, teve um direcio- a formação de um núcleo de técnicos aptos a tão complexo como é o transporte de massa
namento na sua gestão em geral – e mais es- absorver e até mesmo prosseguir no seu de- sobre trilhos em zona urbana.
pecificadamente, na gestão de sua tecnologia senvolvimento com a sua adaptação às condi-
– sério e eficiente, progressista, voltado para ções nacionais. A etapa seguinte foi a preocu- O DESENVOLVIMENTO
o futuro. Sério na concepção, eficiente na sua pação em implementar uma solução escolhida TECNOLÓGICO DO METRÔ
execução, progressista na sua evolução e sem- de modo criterioso, mas sempre perseguindo Ao inaugurar sua primeira linha, o Metrô
pre procurando soluções modernas que fossem os parâmetros estabelecidos em projeto. de São Paulo já podia se orgulhar de ter reali-
adequadas para o médio e longo prazo. Produtos tiveram que ser desenvolvidos, zado uma longa lista de eventos tecnológicos
Todas suas decisões tecnológicas ti- quando não havia. Fabricantes e fornecedores pioneiros, não só no país, como no resto do
nham como premissa ter um ótimo de- criados, quando não existiam. Consultores in- mundo e que conseguiu realizar com sucesso.
sempenho que se traduzisse numa melhor ternacionais foram procurados, quando um as- No campo da tecnologia, da Engenha-
qualidade de serviço, oferecido à cidade. A sunto específico exigia. Assim, além do núcleo ria Civil, a construção da linha Norte-Sul
tecnologia visava diretamente ao usuário interno à Empresa, estimulou-se a participação foi uma experiência ímpar, que apresentou
que dela iria se servir. de consultores nacionais que, da condição ini- aspectos técnicos até então, inéditos no
As etapas dessa gestão tecnológica, em- cial de simples detalhistas, puderam constituir Brasil, decorrentes desse tipo de obra em
bora não previamente estabelecidas de modo equipes que atingiram a plena capacitação em área urbana e dos métodos de construção
claro e definitivo, foram sendo executadas, projetos metroviários. Para um equipamento aplicáveis. Pela primeira vez, utilizou-se no
com sucesso, principalmente graças ao entu- novo, de muita responsabilidade, como o ma- país, o método de construção de túneis por
siasmo e empenho de uma equipe coesa, cheia terial rodante, um protótipo foi desenvolvido e Shield, com a utilização de couraças metá-
de ideias novas e liderada por homens capazes. testado em profundidade. Bem antes da entra- licas, para escavação do terreno, seguida da

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

exaustivo programa de Communications Based Train Control – isto


testes de protótipo, impli- é o Controle de Trens baseado em Comuni-
cando em que o nível de cação que substituiu a sinalização tradicio-
qualidade e as exigências nal de blocos fixos, e que permitiu a opera-
de desempenho, fossem as ção das linhas 4-Amarela e 5-Lilás (em breve
mais rigorosas. estará em UTO) do Metrô de São Paulo em
A decisão de se adotar o UTO (Unattended Trem Operation) além da
sistema de controle de pro- Linha 15-Prata (monotrilho), com a elimina-
pulsão na base do “Choper” ção do condutor e a instalação de portas au-
(um controle à base de “ti- tomáticas nas plataformas, para segurança
ristores”), representou uma dos usuários. Somos o primeiro Metrô pesa-
Implosão do edifício Mendes Caldeira decisão, extremamente ar- do das Américas, a adotar a operação UTO.
rojada para a época, visto A supervisão centralizada da operação,
montagem dos anéis. Essa tecnologia difícil que tal sistema se encontrava ainda nos pri- através do CCO (Centro de Controle Operacio-
e complexa, que tem a vantagem de evitar a mórdios de seu desenvolvimento nos grandes nal), se apresenta até hoje depois de renovado,
interdição das vias públicas durante a obra, metrôs em operação. Somos, o primeiro metrô como um dos sistemas mais avançados do mun-
deu ao metrô e às empresas de Engenharia do mundo, a ter iniciado com êxito, sua ope- do. O CCO é o cérebro da operação. Sua função
e construção, um domínio completo dessa ração comercial adotando o sistema Choper, o primordial é tomar as decisões estratégicas em
importante tecnologia. Nos túneis em trin- que provocou uma reunião internacional dos caso de falha, ou emergência na linha. Somos
cheira, iniciou-se o emprego do método mais importantes metrôs do mundo em São o primeiro Metrô do mundo, que adotou um
“berlinense”, sem câmera de trabalho entre a Paulo, para conhecer essa grande novidade. CCO único, para suas primeiras linhas. O CCO é
obra permanente, e a contenção da escava- O Metrô de San Francisco, que tinha também equipado por computadores online e uma com-
ção; e sem impermeabilização externa, com adotado o Choper, enfrentou dificuldades plexa aparelhagem para controlar a circulação
a estanqueidade do túnel sendo assegurada, tecnológicas que nós resolvemos com nossa dos trens, a sua entrada e saída dos pátios do
pelas características rigorosamente contro- Engenharia. O Metrô de Paris, experimentava estacionamento, o controle de energia, o fluxo
ladas pelo concreto. essa nova tecnologia, com timidez em uma de de passageiros e a segurança dos usuários.
Os trechos em elevado, propiciaram a in- suas linhas. Essa tecnologia está hoje ultra- Foi no campo da informática e das tele-
trodução de técnicas modernas para a cons- passada, sendo substituída, com vantagens, comunicações que as conquistas tecnológicas
trução de viadutos com a extensa aplicação para a operação e manutenção pelo sistema do Metrô e da Engenharia Brasileira, foram as
de elementos estruturais, modulados e pré- de tração a corrente alternada, controlado por mais contínuas, como por exemplo o controle
-moldados. No prolongamento norte da li- inversores a IGBT. da tração, a operação e a proteção automática
nha Norte-Sul, foi utilizado o método NATM No campo da tecnologia da Engenharia dos trens, a supervisão automática da circulação
(New Austrian Tunneling Method) inédito de Sistemas, as necessidades de equipamen- dos trens, as portas de plataforma, o sistema de
no Brasil. Para o trecho em superfície, foi tos sofisticados, em vista dos altos padrões de energia, o controle da ventilação dos túneis, a
usado um tipo de dormente de concreto mo- segurança e confiabilidade adotados, repre- vigilância das áreas públicas por circuito fechado
nobloco, protendido, abandonando a utili- sentaram, em muitos casos, um pioneirismo de televisão e o controle de arrecadação de pas-
zação tradicional de dormentes de madeira, no transporte metroviário. Destaca-se nesse sageiros (venda de bilhetes e controle de acesso).
prática cara e ultrapassada. particular a condução automática dos trens, Os requisitos de segurança levaram ao
Um dos eventos emblemáticos para a utilizando o ATO (Automatic Train Operation). emprego de componentes vitais e ao desen-
Engenharia Nacional foi a implosão do Edi- Somos o primeiro Metrô do mundo, a operar volvimento de técnicas de circuitos “failsa-
fício Mendes Caldeira, um dos maiores pré- os trens sem a atuação direta do operador. fe” (falhas seguras), que revolucionaram os
dios da Cidade de São Paulo, necessária para Este estava na cabine, só para controlar o fe- conceitos de segurança. A Informática foi
a construção da Estação Sé. chamento das portas
Para seus cálculos, o Metrô contou na nas estações e para
primeira linha, com a tecnologia de um con- assumir, em caso de
sórcio germano-brasileiro, que possibilitou falha na automação, a
a definição das características técnicas das condução manualmen-
linhas e o conhecimento de novos métodos te – mas sempre com a
construtivos, já utilizados na Alemanha, segurança assegurada
mas desconhecidos no Brasil. pelo sistema de sinali-
No que se refere ao Material Rodante zação ATP (Automatic
do Metrô, já em 1968, nas discussões para Train Protection).
estabelecer a especificação técnica dos car- O sistema de sina-
ros, havia dúvida quanto à conveniência e a lização evoluiu muito
possibilidade da fabricação dos veículos no desde os primeiros
Brasil. O Metrô decidiu enfrentar o grande anos de operação,
desafio de partir para produção nacional, chegando à sinaliza-
optando por um modelo tecnológico pró- ção por bloco móvel,
prio. Esta decisão levou à necessidade de um o chamado CBTC – Trem da Linha 1-Azul do Metrô de São Paulo

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outro lado, o Metrô de massa, bem como fortalecer a capacidade


São Paulo forneceu industrial brasileira, através do uso do poder
consultoria para os de compra de equipamentos, na busca de ín-
metrôs de Recife (Me- dices cada vez maiores de nacionalização.
trorec), Porto Alegre Em síntese, a política de desenvolvi-
(Transurb) e Belo Ho- mento de fixação da tecnologia na empresa,
rizonte (Demetrô). deve ser colocada como uma das prioridades
Enfim, é preciso essências, a serem consideradas no esforço
lembrar que o Metrô presente e futuro de manutenção e aprimo-
de São Paulo, em con- ramento no padrão de qualidade dos servi-
sórcio com empresas ços, ofertados aos usuários.
de consultoria nacio- O que se está decidindo, nos tempos
nais, colaborou na atuais, principalmente considerando a po-
implantação do Metrô lítica de concessão de novas linhas, são os
de Bagdá (hoje parali- rumos tecnológicos do Metrô, nos próximos
sado), e o treinamen- 20, 30, 40 e 50 anos.
Trens da Linha 4 - Amarela do metrô to de suas primeiras Os ganhos diretos e indiretos, como uma
equipes. Muito dos obra igual ao Metrô, são incalculáveis para a
técnicos do Metrô, sa- Engenharia Brasileira e seus benefícios tecno-
sem dúvida, um campo de pioneirismo no íram pelo Brasil afora, para ajudar a construir lógicos incomensuráveis para o país. Guardar
Metrô de São Paulo, merecem destaque os ou renovar, com seu talento e seus conheci- e salvar essa tecnologia é tarefa patriótica.
programas de simulação, que dimensionam mentos, outros empreendimentos brasileiros Em uma hora que se discute a sobrevivência
a eletrificação, para definição do sistema de no setor de transporte. Assim, empresas na- da empresa estatal, é importante que se leve
sinalização e desempenho dos trens e para o cionais ligadas, ao transporte urbano, apro- em conta que só ela é capaz de ser depositá-
controle da bilhetagem. veitaram sobremaneira dessa mão de obra de ria da tecnologia específica acumulada.
primeira grandeza, como a SPTrans, a CPTM,
TRANSFERÊNCIA TECNOLÓGICA a CBTU, além de muitas empresas privadas, * Plinio Assmann é engenheiro, graduado
O acervo tecnológico, acumulado no especializadas em engenharia de transporte. pela Escola Politécnica da USP em mecânica-
Metrô de São Paulo, foi objeto de transfe- Vale lembrar que o Metrô de São Paulo, elétrica, exerceu diversas atividades de grande
rência para outras cidades brasileiras e para foi evidentemente o grande suporte para re- responsabilidade, tanto no setor público quanto
outros países da América Latina. A tecnolo- modelação das linhas da CPTM, hoje total- na iniciativa privada, dentre as quais se destacam:
gia metroviária foi e sempre esteve à dispo- mente integradas à rede Metroviária. Assim, Secretário dos Transportes do Estado de São Paulo;
sição das cidades brasileiras que dela neces- o Metrô de São Paulo, tornou-se uma ver- Presidente da Companhia do Metropolitano de São
sitavam, mediante consultoria e apoio que o dadeira Universidade de transporte, para a Paulo – Metrô-SP (responsável pela construção e
Metrô de São Paulo, tem dado. comunidade brasileira. operação das linhas 1 e 3); Presidente da Companhia
Isso ocorreu, por exemplo, nos convê- A gestão da tecnologia do Metrô, é tarefa Siderúrgica Paulista - COSIPA; Diretor de Planejamento
nios de preparação de equipes de treinadores difícil e complexa, nisso a Companhia entendeu e Desenvolvimento da Companhia Paulista de Trens
e o pessoal de manutenção para o Metrô de desde o início, que ela só teria sucesso se to- Metropolitanos – CPTM; Diretor-superintendente do
Caracas, e de cooperação técnica e operacio- dos os funcionários da empresa participassem Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São
nal, com os metrôs do Rio de Janeiro, Recife, dela como um todo. Para o futuro nascem pre- Paulo – IPT; Presidente do Conselho de Administração
Porto Alegre, Fortaleza e Belo Horizonte. Por ocupações, principalmente face ao programa da Companhia do Metropolitano do Rio de Janeiro;
de concessão da operação das linhas em pleno Presidente do Conselho de Administração da FEPASA;
desenvolvimento. É vital fixar, preservar e de- Presidente do Conselho de Administração da DERSA;
senvolver o patrimônio tecnológico do qual a Fundador e primeiro presidente da Associação
Companhia é detentora, considerando os pesa- Nacional de Transportes Públicos – ANTP
dos investimentos públicos realizados ao longo E-mail: plinioassmann@gmail.com
dos anos e seu profundo cunho social.
Não há nenhuma empresa pública ou ** Peter Alouche é engenheiro eletricista pela
privada no Brasil, que detenha um patrimô- Universidade Mackenzie, com pós graduação de
nio igual, ou parecido. Buscar a crescente mestrado na Politécnica da USP. Por 35 anos na
conscientização do setor de transporte e das Companhia do Metrô de São Paulo foi responsável
autoridades públicas, além dos dirigentes, pela concepção dos sistemas, em especial do
funcionários e usuários em relação ao papel sistema de energia. Também foi coordenador dos
e importância de se manter e se desenvol- testes de aceitação dos equipamentos. Professor de
ver esse acervo tecnológico da empresa, é a Engenharia em duas universidades de Engenharia
única forma de garantir a qualidade dos ser- de São Paulo, Mackenzie e FAAP. Em 2006, deixou o
viços metroviários, oferecido à comunidade. Metrô-SP para atuar como consultor de transporte
Também é necessário induzir o surgi- na área de Tecnologia. Tem inúmeros artigos técnicos
Eng. Peter Alouche, circulando no metrô em mento de competências, nas áreas de pes- publicados em revistas do Brasil e do exterior
tempos de Pandemia quisas tecnológicas de transporte urbano de E-mail: peter.alouche@uol.com.br

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Tuneladoras EPB: funcionamento,


desafios e inovações
DANIELA GARROUX G. DE OLIVEIRA* / EDSON PEEV**

O
tipo de tuneladora mais de túneis de via em obras metroviárias. Há Este texto resume o funcionamento des-
utilizada, principalmente uma tendência no mercado mundial de se tes tatuzões chamados de EPB, assim como
para escavar túneis em área escolher este método construtivo, a escava- os seus principais desafios, principalmente
urbanas, é a tuneladora ção mecanizada, ao invés dos métodos de ao se escavar nosso subsolo típico de regiões
denominada EPB, também escavação tradicionais (por exemplo, méto- tropicais e subtropicais. Discorre, também,
conhecida como EPBM do NATM). Adicionalmente, com o avanço sobre os métodos de investigação, métodos
– Máquina de Frente Balanceada (Earth tecnológico destas máquinas, assim como operacionais, assim como as inovações tec-
Pressure Balance Machine). Este é o tipo de de seus componentes, as TBMs (Tunnel Bo- nológicas destas máquinas que visam solu-
máquina utilizada nas obras do Metrô de ring Machines), popularmente conhecidas cionar estes citados desafios, otimizando a
São Paulo, assim como em outras cidades como tatuzões, têm ultrapassado suas pró- operação destas máquinas, diminuindo con-
brasileiras (Rio de Janeiro e Fortaleza). Há prias limitações, escavando terrenos mais sideravelmente os riscos e os custos de obra.
inúmeras vantagens na utilização de má- complexos, mais profundos, ou de menor
quinas tuneladoras para se escavar túneis, cobertura, com taxas de avanço considerá- A MÁQUINA
principalmente em grandes extensões e em veis e com seções de escavação mais flexí- Segundo Maidl et al. (2012), a EPB é a
áreas urbanizadas, por exemplo, nos casos veis (Herrenknecht 2019). máquina mais utilizada em projetos de tú-

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como um anteparo para a estabilidade da


frente do túnel. Este material condicionado
ainda terá que ser transportado por correias,
que geralmente são inclinadas, e posterior-
mente, depositado, havendo ainda a possi-
bilidade de sua reutilização.
Toda a operação da máquina e de seu
sistema integrado, desde insumos, equipa-
mentos de transporte, área de depósito de
bota-fora etc., devem ser compreendidos
como um esquema intrinsecamente holísti-
co, onde a falha em algum dos itens poderá
implicar na parada da escavação (standstill),
levando a atrasos significativos. O sistema
do tatuzão, mais seu entorno, pode ser visto
como uma verdadeira fábrica no subterrâ-
Figura 1 - Tuneladora EPB e seus principais neo, com seus processos sendo controlados
elementos (modificado de Herrenknecht) por uma enorme quantidade de sensores, fa-
zendo de toda a operação praticamente um
neis. A cada 10 tatuzões vendidos, 9 são na frente do túnel, como água, espumas processo industrial de fabricação de túneis.
EPBs. Esta é uma máquina tipicamente e polímeros. Este processo é denominado
utilizada para solos, também servindo para condicionamento de solo, realizado pois OS DESAFIOS
escavar rochas, sendo bastante flexível em os materiais escavados devem possuir cer- Apesar de ser um método bastante se-
sua aplicação. A figura 1 ilustra os prin- tas propriedades para que o mecanismo do guro, principalmente para os trabalhadores
cipais componentes da EPB, detalhando a balanceamento da frente funcione adequa- dentro do túnel, assim como para toda a
parte do escudo (parte frontal do tatuzão, damente. Este material entra na câmara de obra, ainda há desafios na escavação com
com aproximadamente 10 metros de exten- escavação, onde também é misturado com tuneladoras. É necessário um projeto ade-
são), além de ilustrar o backup da máquina, aditivos aí acrescentados. Lentamente o ma- quado, o bom entendimento de sua opera-
que pode chegar a ter 100-150 metros de terial condicionado se dirige até o parafuso ção como um todo, e a utilização de pro-
extensão. Para manter o suporte da face sem fim, onde a pressão vai diminuindo até cedimentos e equipamentos que possam
do túnel, ou seja, para que a frente do tú- sair na válvula de descarga no final do sem justamente diminuir os riscos relacionados
nel não se desestabilize, o tatuzão EPB se fim. Este material é então transportado por com estes desafios. Neste item são aponta-
utiliza do próprio material escavado, fre- correias transportadoras ao longo do ba- dos os principais desafios encontrados nas
quentemente acrescido de aditivos, assim ckup e do túnel já construído, até a super- escavações com EPBs, focando principal-
como a velocidade do parafuso sem fim e fície, sendo então devidamente descartado. mente no tipo de subsolo encontrado em
o quanto a máquina avança para a frente, Para que o avanço da máquina aconteça, nosso país.
através de macacos hidráulicos. Por isso se e como mecanismo paralelo para o controle O Brasil, com clima tropical e subtropi-
chama frente balanceada, pois é justamente da pressão de frente, cilindros hidráulicos cal, caracteriza-se por terrenos típicos des-
com o balanço entre estes três elementos, se apoiam nos anéis montados. Assim que tas zonas climáticas, com pluviosidade alta e
material escavado e condicionado, veloci- um anel é montado, os macacos empurram a temperaturas elevadas. Estes mesmos desa-
dade de giro do parafuso sem fim e avanço máquina para a frente e, após a escavação, fios são similarmente encontrados em Cin-
da máquina por macacos hidráulicos, que são retraídos abrindo espaço para a monta- gapura e na Malásia, onde o mesmo cenário
o túnel é escavado sem que haja perda de gem do próximo anel. Dessa forma, todo o já foi caracterizado por diversos autores. As
pressão e, consequentemente, sem perdas revestimento final do túnel já é instalado, rochas mais antigas de nossos terrenos so-
de solo e recalques na superfície. resultando no túnel final assim que a má- frem alterações intempéricas, ou seja, dei-
A figura 2 detalha os elementos que de- quina avança, uma das razões que o método xam de ser rochas frescas e se transformam
vem ser considerados no cálculo da pressão mecanizado possui boas taxas de avanço. em solos e rochas em distintos estágios de
de suporte de frente de escavação. Devem Segundo Oliveira & Aguiar (2021a), a alteração, desde solos residuais maduros a
ser consideradas as pressões atuantes da questão do condicionamento do solo cer- saprólitos, que são rochas muito alteradas,
carga de solo acima do tatuzão, da coluna tamente é um dos fatores mais desafiantes porém, ainda sendo consideradas rochas. O
de água, assim como as cargas atuantes dos neste tipo de máquina, já que um mate- limite solo-rocha é geralmente difícil de ser
edifícios na superfície e do tráfego de veícu- rial não condicionado corretamente pode corretamente delimitado e frequentemente
los. Fatores de segurança devem ser sempre afetar a pressão de frente, causar paradas há matacões de rocha fresca no meio do
utilizados para se definir qual o intervalo de não programadas, assim como prejudicar o solo, implicando em desafios específicos
pressão que a máquina deverá contrabalan- transporte e bota-fora do material. O prin- para a escavação com tatuzões.
cear para que haja estabilidade do túnel. cipal objetivo desse processo de mistura do
No processo de escavação, o material é material escavado com aditivos, o condicio- Perda de pressão de frente
escavado pela cabeça de corte (figura 1) e namento de solo, é alterar as características Para máquinas tuneladoras que esca-
simultaneamente aditivos são adicionados desse material para que funcione melhor vam terrenos não autoportantes, ou seja,

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ta de terra (material escavado e condicio-


nado) segurar esta pressão e aos poucos ir
se dissipando através do parafuso sem fim.
Também pode ocorrer um erro no cálculo da
pressão de frente. Atualmente, há diversos
métodos para este cálculo: analíticos, em-
píricos, experimentais e numéricos; entre-
tanto, conforme explicado em DAUB (2016),
as pressões teóricas calculadas para quando
ocorre o colapso do túnel, todavia não fo-
ram validadas em experimentos na prática,
como se é feito em túneis convencionais
na ocasião de acidentes, fazendo uma re-
troanálise. Na prática, estas pressões são
calculadas e através dos dados da máquina
e de monitoramento geotécnico, a pressão
vai sendo ajustada. Isto requer sempre uma
equipe capacitada para gerenciar a operação
da máquina.
A pressão de frente também está dire-
tamente relacionada ao apropriado condi-
Figura 2 - Forças atuantes para se estabelecer a pressão de frente necessária para a estabilidade cionamento do material escavado, onde um
da face do túnel (modificado de Herrenknecht). “Sendo Psuporte de frente a pressão necessária para material escavado muito líquido não será
balancear os esforços da frente do túnel, Págua a pressão da água, hágua o fator de segurança para capaz de segurar esta pressão, já que escor-
a pressão de água, Psolo a pressão do solo acima do túnel, hsolo seu respectivo fator de segurança rerá pelo parafuso sem fim. No caso contrá-
e DP o fator de tolerância da operação”. As cargas dos edifícios na superfície assim como a carga rio, quando está muito duro, por exemplo,
do tráfego de veículos deve também ser consideradas uma argila sobreadensada de alta consistên-
cia, também é problemático pois aglomera-
dos argilosos voltarão para trás na esteira,
apesar de isso não causar a perda de pressão,
apenas necessidade de paradas para a lim-
peza manual (Wehrmeyer & Oliveira 2020).
Justamente por isso que a caracteriza-
ção do material a ser escavado, seja solos
e/ou rochas (ou sua mistura, no caso de
solos mistos), juntamente com a modifi-
cação deste por condicionantes, deve ser
preferencialmente realizada antes e du-
rante a escavação, conforme esclarecem
Oliveira & Aguiar (2021a, b). Na maior par-
te dos casos, esta caracterização é pratica-
mente ausente, sendo apenas feito ajustes
durante a escavação, além de verificar as
condições desse material na esteira. Ou
seja, normalmente se utilizam da técnica
de tentativa-e-erro, até ajustar os parâme-
tros da máquina, afetando as propriedades
Figura 3 - Ilustração dos dois principais cenários de faces mistas, sendo “a“ uma pequena porção
do material escavado condicionado, de-
de rocha e maior porção de solo, e “b” o contrário (modificado de Thewes 2004). As fotos “c” e “d”
nominado de muck. Entretanto, há riscos
ilustram o cenário tipicamente encontrado em solos tropicais, com rochas com distintos graus de
consideráveis em ficar testando soluções
alteração e dificuldades de se definir o limite solo-rocha (Oliveira 2018)
diretamente na escavação, além do custo
que se requer ao adquirir quantidade su-
que ao serem escavados podem simples- quentemente, podendo chegar até a super- ficientes de aditivos para serem testados
mente desmoronar, é essencial assegurar-se fície, ocasionando recalques e até mesmo in situ, quando comparado aos testes de
que haja a estabilidade na frente da escava- colapsos. Isto pode ocorrer por diversos laboratório, como detalhado a seguir.
ção, como ilustrado pela figura 2. Quando motivos, tal como, por não haver o material
isso não ocorre, por exemplo, por não haver adequado dentro da câmara de escavação, Frentes mistas
a pressão suficiente mantida na frente da tendo uma alta permeabilidade, e não criado Conforme afirmam diversos autores
máquina, haverá perdas de solo e, conse- o que chamamos de plug, o processo da pas- (Thewes 2004, Shirlaw 2016, Oliveira et al.

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dagens, onde haverá matacões, núcleos de


rocha intacta no meio do manto de alteração
de rocha.

Potencial de clogging
Clogging é um dos grandes problemas
encontrados nas escavações de solos (ou
rochas) com minerais argilosos. O mate-
rial escavado gruda nas partes metálicas
da máquina, impedindo o seu avanço. Al-
Figura 4 - Clogging em tuneladoras: “a” clogging ao redor de um disco de corte (Maidl et al.
gumas vezes este material pode também
2016), “b” procedimento necessário no caso de rochas argilosas e “c” evidência de clogging nos
atingir partes internas da máquina. Quan-
dados da máquina (imagem cedida por BabEng e publicada em Oliveira & Aguiar 2021b)
do há clogging ocorrendo, a máquina dei-
xa de avançar e a temperatura aumenta
2017, entre outros), as faces mistas são um dos caso os discos de corte sofrerão um gran- consideravelmente. É necessário parar a
maiores desafios nas escavações mecanizadas, de impacto ao girarem do solo para rocha, máquina e fazer intervenções, onde o ma-
portanto, devem ser identificadas o quanto desgastando-se rapidamente e rompendo-se terial deve ser retirado. Algumas vezes es-
antes. Segundo Oliveira (2018), estas frentes facilmente, principalmente as ferramentas sas paradas podem durar até 3 dias e todo
ocorrem quando dois ou mais materiais com periféricas da cabeça de corte do tatuzão. o processo de escavação cessa, elevando
comportamentos diferentes são encontrados No caso ilustrado em “b”, há uma grande os custos da obra.
na mesma face do túnel. Um tipo particular quantidade de rocha e uma pequena porção A figura 4 “a” apresenta um exemplo
destas faces mistas é o solo que resulta do cli- de solo não autoportante além de estar abai- de clogging em um disco de corte. A figura
ma tropical das rochas, justamente típico de xo do nível d’água, implicando numa perme- 4 “b” refere-se à necessidade de também
nossos subsolos. Oliveira e Diederichs (2016) abilidade muito alta sem ser possível criar se investigar a tendência de clogging em
usaram o termo frente de transição mista o efeito de plug em uma EPB, perdendo a rochas argilosas, pois esta se comportará
(MTG – mixed transitional ground), que é pressão, além de se elevar significativamen- como um solo. Portanto, nas investigações
justamente quando ocorre o solo de alteração te o torque da máquina. preliminares o material rochoso deve ser ra-
em distintos graus, o saprólito e sua rocha de Em solos tropicais o desafio é justa- lado e prosseguir com os testes para avalia-
origem, distribuídos caoticamente. mente delimitar o que seriam materiais se ção de clogging. Segundo Oliveira & Aguiar
A figura 3 ilustra os dois piores cenários comportando como solo ou como rocha, por (2021b), na análise de parâmetros opera-
de faces mistas e fotos de afloramentos aqui estar no limite do que chamamos de rocha cionais da máquina é possível identificar a
no Brasil. No caso “a”, a máquina está esca- branda – solo duro. Há trechos que é difí- ocorrência de clogging observando-se um
vando em um material menos competente, cil dizer se o material é uma rocha ou um aumento no torque, na força de contato e
por exemplo, um solo (residual ou não) e solo, como nas imagens “c” e “d”, ainda mais na temperatura na câmara de escavação
encontra o topo rochoso, ou um matacão. saber exatamente, tendo como base apenas juntamente com uma redução na penetra-
Conforme explica Thewes (2004), neste as investigações pontuais por meio de son- ção, conforme o diagrama da figura 4 “c”.

Abrasividade e troca de ferramentas


As ferramentas de corte de uma tune-
ladora estão constantemente sofrendo des-
gaste ao girarem, rasparem ou cortarem os
materiais na frente do túnel. Dependendo de
diversos fatores em solos e rochas, haverá
maior ou menor desgaste destas ferramen-
tas, e, consequentemente, necessitando sua
troca. Há diversas modelagens disponíveis
para se prever isso para escavações em ro-
cha, porém, no caso de solos ainda há ques-
tões a serem determinadas. De qualquer for-
ma, o que é unânime, é a contribuição de
minerais resistentes nos materiais escavados
no aumento destes desgastes. Quartzo, por
ser um mineral muito resistente e abundan-
te, pode ser considerado como o mineral
que mais contribui para que este desgaste
ocorra.
Figura 5 - Metodologia de teste de estimativa de clogging e condicionamento de solos: a- Todas as ferramentas de corte são mon-
batedeira, pá e ATUR, b- pá com o solo, c- ATUR, d & e- diferentes condições de material grudado tadas na cabeça de corte de forma que seja
na tigela, f- teste de mesa de fluxo, e g- aperto do solo, como uma complementação de sua possível trocá-las por dentro da própria
caracterização (Oliveira & Aguiar 2021a, b) máquina. Entretanto, é necessário que este

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desgaste seja apenas primário, ou seja, ape-


nas na porção periférica destas ferramentas,
pois assim elas podem ser reformadas. Este
desgaste não pode atingir a parte interna
destas ferramentas, o que seria denominado
de desgaste secundário, pois neste caso não
poderiam ser reutilizadas, elevando o custo
com a troca das ferramentas.

INOVAÇÕES TECNOLÓGICAS
E PROCEDIMENTOS
Apesar dos desafios citados acima, há
diversas opções de como mitigar tais pro- Figura 6 - Sistema de monitoramento de carga no disco de corte (DCLM)
cessos, ou pelo menos, diminuir conside-
ravelmente os problemas encontrados com (a ou b, da figura 4) e quais seriam as possí- realizados concomitantes com a escavação,
eles. Muitos dos mecanismos descritos estão veis soluções a serem adotadas (tratamento será possível avançar mais no conhecimento
inter-relacionados, assim como também as do maciço, operação e/ou equipamento adi- de condicionamento de solos em EPB, até
soluções propostas. Algumas destas solu- cional de injeção). mesmo pensar em possibilidades de uso de
ções implicam na aquisição de equipamen- Com relação ao clogging, além de uti- algoritmos para tal operação, ou seja, um
tos ou sistemas adicionais para a máquina, e lizar o diagrama universal de estimativa de condicionamento automatizado.
outras, apenas no procedimento empregado clogging (Hollman & Thewes 2012), testes
ao longo do projeto, antes mesmo da esca- de laboratório testando distintos aditivos Sensores de desgaste
vação da máquina. certamente influenciarão na mitigação des- As tuneladoras estão equipadas com di-
te fenômeno. No caso do diagrama univer- versos sensores, em torno de 900 a 1.500.
Investigações e testes preliminares sal, é necessário ter os dados de limites de Todos estes auxiliam no controle da opera-
Assim como qualquer outra disciplina, Atterberg do solo (ou rocha argilosa) e do ção da máquina e todos seus parâmetros. Há
caracterizar o problema é um primeiro pas- teor de umidade natural da face a ser esca- sensores que sempre fazem parte do pacote
so para resolvê-lo. O mesmo acontece com vada. Com relação à abrasividade, no caso básico de um tatuzão e há outros adicionais,
as tuneladoras. Quanto mais se conhecer o de rochas, parâmetros como CAI (índice de como é o caso do DCLM (Disc Cutter Load
terreno a ser escavado, melhor será o seu abrasividade Cerchar) e UCS (ensaio de com- Monitoring) e DCRM (Disc Cutter Rotation
planejamento e mais preparada a equipe de pressão uniaxial) são bastante relevantes, e Monitoring) da Herrenknecht. Estes senso-
operação estará para encontrar soluções. A no de solos, o índice de quartzo equivalente, res podem realmente fazer a diferença na
identificação e caracterização de faces mis- assim como a angularidade dos grãos. identificação de desgaste das ferramentas,
tas, de trechos com potencial de clogging, Finalmente, com relação ao condiciona- permitindo sua troca a tempo, antes que se
da estimativa do potencial abrasivo, ou zo- mento do solo, mesmo que seja um processo atinja o desgaste secundário. Isso implica
nas com riscos de perda de pressão deve ser que se detalha ao longo da escavação, muito numa relevante economia dos gastos com as
feita antes da escavação. Conforme esclare- pode ser investigado preliminarmente com ferramentas de corte, já que estas, sem que
cem Oliveira & Aguiar (2021 a, b), todos os testes simples de laboratório. Até mesmo um se atinja um desgaste secundário, podem ser
fatores relacionados ao cenário geológico laboratório pode ser instalado na obra, como renovadas e reutilizadas. Também permitem
devem ser detalhados ainda em estágios ini- já está sendo feito na Alemanha. economia de tempo de intervenção, evitan-
ciais, assim como a otimização do condicio- Em laboratório, e até mesmo na obra, do paradas para acessar a câmara de escava-
namento necessário para a escavação. podem ser realizados ensaios bastante sim- ção para inspeção dessas ferramentas, que
Com exceção do cálculo de pressão de plificados, com uma batedeira e um apara- em geral deve ser feito sob pressão com pes-
frente, que necessitam dos dados geológi- to que permite a queda da pá da batedeira, soal especializado.
co-geotécnicos de todo o terreno acima da conforme detalhado nos trabalhos de Olivei- O DCRM monitora continuamente o
tuneladora, na caraterização do processo de ra (2018) e Oliveira et al. 2019 (figura 5). movimento rotacional e a temperatura dos
escavação com o tatuzão é o material na Com este teste de laboratório é possível de- discos de corte, permitindo a otimização dos
face do túnel que mais importa. No caso de finir quais aditivos são mais eficientes em intervalos de manutenção das ferramentas.
identificação de zonas possíveis de perda de diminuir o potencial de clogging, ou, até Já o sistema DCLM (figura 6) mede a
pressão é necessário se conhecer a distribui- em alguns casos, aumentar. Nestes testes de força atuando sobre os discos de corte, o
ção granulométrica na face do túnel e sele- laboratório utiliza-se, também, a mesa de que permite tirar conclusões sobre a condi-
cionar os trechos onde há uma porcentagem fluxo que permite prever o comportamen- ção da face do túnel e, portanto, uma otimi-
de finos (argila + silte) menor que 30% e/ou to do material a ser escavado e possíveis zação dos parâmetros de acionamento. Nas
permeabilidade maior que 10-4 m/s. Nestes condicionamentos. A diferença em se fazer trilhas monitoradas, o sistema de monitora-
trechos, alguma alternativa de tratamento testes preliminares é que estes implicam em mento da força no disco de corte permite a
do maciço deve ser pensada, ou, adicionado menor risco do que proceder com tentativa- detecção de condições geológicas variáveis,
um mecanismo de injeção de suspensão na -e-erro diretamente na obra, além de ne- tais como fraturas, estratificações etc., em
máquina, como descrito a seguir. O mesmo cessitarem menos aditivos para tais testes. tempo real.
no caso de frentes mistas, estas devem ser Com mais obras fazendo testes preliminares A imagem para visualização dos dados
devidamente caracterizadas, qual o seu tipo e comparando com os resultados de testes do DCLM na cabine de controle pode ser

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TRANSPORTE I ENGENHARIA

transmissor posicionado no shield para den-


tro do solo, sendo refletido por superfícies
geológicas ou artificiais. Os sinais refletidos
são registrados e avaliados pelos receptores.
Desta forma, obstáculos até 40 m de distân-
cia à frente podem ser detectados e exibidos
através de gráficos de visualização em 3-D
(figura 9 ).
O SSP-E tem sido utilizado para a detec-
ção de obstáculos ou alterações na geolo-
Figura 7 - Sistema SSP-E em stand-by durante escavação, à esquerda, e efetuando medição
gia desde 2017 em máquinas EPB em vários
durante montagem do anel, à direita
projetos como Stuttgart, Alemanha, Grand
Paris Express e no Metrô de Lyon, França,
inclusive sendo atualmente utilizado em
máquinas tipo Mixshield em diversos pro-
jetos na China.

Mecanismos de injeção de lama


Cada tuneladora é uma máquina plane-
jada para um determinado projeto e equi-
Figura 8 - Receptor axial na posição de medição, estendido, nas fotos a) e b). A foto c) mostra o pamentos especiais podem ser adicionados,
transmissor na estrutura do shield tanto quanto até quase montar uma máqui-
na híbrida, como foi o caso da EPB do Rio de
complementada com um display adicional de extensas campanhas de investigação Janeiro, que possuía um sistema adicional
indicando a proporção de sub e sobrecargas. geológica, o solo ao longo do traçado do de injeção de lama (figura 10), especialmen-
Como resultado, o operador da máquina túnel pode trazer surpresas que afetam o te desenhado para escavar as camadas are-
pode reconhecer as sobrecargas críticas do desempenho da tuneladora. Atualmente, nosas do Leblon e Copacabana.
disco de corte durante o avanço em tempo a Herrenknecht vem aplicando o sistema Como mencionado, os materiais esca-
real, bem como condições instáveis na face de geofísica de frente de escavação para vados devem possuir certas propriedades
do túnel com base na subcarga do disco de EPBs, sendo possível, por exemplo, prever para que o mecanismo de balanceamento
corte. Além disso, devido à configuração de a ocorrência de matacões, topo rochoso de frente funcione adequadamente. O solo
certos valores-limite, o disparo de mensa- ou alterações bruscas na geologia. E isso deve possuir uma porcentagem mínima
gens de aviso, bem como o processamento é uma grande vantagem para o cenário de finos (argila + silte) acima de 20%. No
posterior através do CLP da máquina, são de faces mistas transicionais, descritas caso das areias de Leblon e Copacabana,
fáceis de implementar. no item “frentes mistas”. Sabendo-se que essa porcentagem era menor que 10% em
Os benefícios do sistema DCLM são: (a) a máquina se aproxima de um matacão, várias zonas. Com isso, o condicionamen-
Visualização contínua do impacto da carga ou uma rocha, que não foi até identifi- to usando apenas espuma e polímeros não
de todos os discos monitorados; monitora- cado durante as investigações, o operador seria suficiente para obter uma pasta capaz
mento de carga em tempo real (imagem de deverá reduzir a velocidade de avanço da de controlar o fluxo de água. A máquina foi
radar). (b) Detecção de sobrecarga. (c) Per- máquina e isso evitará a quebra e desgaste provida de vários pontos na cabeça de corte,
mite identificar formações heterogêneas, excessivo de ferramentas. antepara e no parafuso sem fim para a inje-
face instável do túnel e obstáculos. (d) Usu- O sistema desenvolvido para aplicação ção de espuma e polímeros, além de contar
ários experientes podem usar esta ferramen- em máquinas EPB é chamado Seismic So- com a possibilidade de preparação e injeção
ta para observar o desgaste da ferramenta. nic Soft Ground Probing, SSP-E (figura 7), de lama bentonítica para compensar a falta
Além desses sistemas, sensores de des- cujo hardware de medição é todo montado de finos.
gaste de ferramentas de solo e da estrutura dentro do shield e, portanto, acessível para Além disso, o alto volume de água em
da própria roda de corte também podem ser manutenção em condições atmosféricas. Ele determinadas zonas que não poderia ser
instalados para otimização da troca de fer- é composto de duas fontes instaladas dentro segregado por meio do condicionamento
ramentas de corte. do shield, cilindros receptores que são em- não permitiria a extração do solo através
purrados horizontalmente passando através das correias transportadoras. A solução foi
Geofísica de frente da câmara de escavação e a cabeça de corte incorporar à máquina uma planta de separa-
Este sistema foi inicialmente desen- estacionária para dentro da face do túnel e ção. Ao invés do solo escavado sair através
volvido para escavações com máquinas de transmissores que são instalados radialmen- da válvula de descarga no final do parafuso
rocha, sendo utilizado para se prever des- te na máquina (figura 8 ). sem fim, ele é bombeado através de bombas
continuidades, principalmente zonas de O procedimento de medição é integra- instaladas também ao final de sem fim, pas-
falha com potencial de ocorrência de alto do ao processo de escavação, permitindo a sando por essa planta de separação. O solo
fluxo d’água. O primeiro uso para escava- exploração preliminar contínua a cada anel separado é então lançado na correia trans-
ção em solo foi em uma máquina tipo Mi- montado em paralelo com a escavação do portadora do túnel, enquanto a água é bom-
xshield no projeto do 4º tubo do túnel sob túnel. Durante cada fase de montagem do beada separadamente através de tubulação.
o rio Elba, em Hamburgo em 1997. Apesar anel, um sinal de varredura é enviado do Estes mecanismos funcionam justamen-

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BRASIL ENGENHARIA I METRÔ DE SÃO PAULO

da máquina, seu as máquinas, já tendo sido feito para sua


projeto, especifi- navegação (escavação de sistema metrovi-
cações técnicas e, ário na Malásia, TunnelTalk 2019) e a ca-
sempre que ne- minho de se estender para outras funções
cessário, adicionar na máquina, como atualmente em proje-
equipamentos que tos na Austrália. Para que estas barreiras
realmente possam tecnológicas possam ser ultrapassadas, é
fazer uma diferen- certamente primordial a cooperação entre
ça no resultado. todas as partes envolvidas no processo de
Cada vez mais escavação, em todas suas fases, desde a
os desafios encon- viabilidade até o pós-obra.
trados na escava-
ção de túneis com
tuneladoras estão * Daniela Garroux G. de Oliveira é geóloga, PhD,
Figura 9 - Resultado da medição do SSP-E: visualizaçao em 3-D de sendo vencidos, consultora independente - TunGeo, tesoureira do
obstáculos no solo ou rocha branda até 40 metros à frente do TBM em parte devido Comitê Brasileiro de Túneis - CBT (Biênio 2021-2022).
ao avanço tecno- Embu das Artes (SP), Brasil
te para se evitar que haja perda de pressão lógico das máquinas e seus acessórios e, E-mail: do@tungeo.com.br
de frente, ou em trechos de face mista do em parte, devido ao aumento do conhe-
tipo “b” previamente identificado. cimento da interação destas com distintos ** Edson Peev é engenheiro da
Já os trechos em rocha gnaisse abrasiva cenários subterrâneos a serem escavados. Herrenknecht - São Paulo, Brasil
com UCS acima de 200 MPa puderam ser es- Há uma clara tendência a se automatizar E-mail: peev.edson@herrenknecht.com.br
cavados em modo aberto, lançando o mate-
rial escavado diretamente na correia trans-
portadora inserida na câmara de escavação, REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
sem passar pelo parafuso sem fim. [1]DAUB - Recommendations for face su- [9]OLIVEIRA, D.G.G.; THEWES, M.; DIEDERI-
pport pressure calculations for shield tun- CHS, M.S. - Clogging and flow assessment of
CONSIDERAÇÕES FINAIS nelling in soft ground. Prepared by Zizka, cohesive soils for EPB tunnelling: laboratory
A operação de uma tuneladora se Z., and Thewes, M. Deutscher Ausschuss für methodology and soil characterisation. Tun-
aproxima de um processo industrial, com unterirdisches Bauen (DAUB) & German Tun- nelling and Underground Space Technology
elevado grau de automação e diversas nelling Committee (ITA-AITES). Köln. 2016. 94, 2019, doi: 10.1016/j.tust.2019.103110.
atividades ocorrendo concomitantemente [2]HERRENKNECHT, M. - Innovations in Me- [10]OLIVEIRA, D.G.G.; AGUIAR, G. - Aspec-
durante a escavação. É importante que a chanized Tunnelling since 1970. Muir Wood tos geológico-geotécnicos relevantes para
máquina esteja adequadamente ajustada Lecture 2019 ITA-AITES WTC 2019, Nápoles. projetos com tuneladoras; Congresso Brasi-
ao terreno que será escavado, assim como [3]HOLLMANN, F.; THEWES, M. - Evaluation leiro de Túneis - CBT, 2021a.
a equipe de operação deve estar capacita- of the tendency of clogging and separation [11]OLIVEIRA, D.G.G.; AGUIAR, G. - Estima-
da para tal processo. Toda a operação, por of fines on shield drives. Geomechanics and tiva do potencial de clogging e trabalhabili-
ser contínua, pode sofrer atrasos quando Tunnelling 5, p. 574-580, 2012. dade de materiais coesivos para escavações
uma das operações para, como, por exem- [4]MAIDL, B.; HERRENKNECHT, M.; MAIDL, com tuneladora EPB; RBGEA, 1ª edição,
plo, a escavação da frente de túnel, crian- U. & WEHRMEYER, G. - Mechanised shield 2021b.
do um grande gargalo em toda a obra. tunneling. Ernst & Sohn Verlag, Berlin, 2012. [12]SHIRLAW, N. - Pressurized TBM tun-
Portanto, é necessária a correta caracteri- [5]MAIDL, U.; COMULADA, M.; STASCHEIT, nelling in mixed face conditions resulting
zação do terreno a ser escavado para uma J. - Performance Optimization in Clogging from tropical weathering of igneous rock.
escavação mecanizada, a eficiente escolha Soils Through Process Controlling. ITA-AITES Tunnelling and Underground Space Techno-
WTC 2016, São Francisco. logy 57: 225-240, 2016.
[6]OLIVEIRA, D.G.G.; DIEDERICHS, M.S. - [13]THEWES, M. - Schildvortrieb mit Flüs-
TBM interaction with soil-rock transitional sigkeits-oder Erddruckstützung in Bereichen
ground. TAC 2016 Annual Conference, Otta- mit gemischter Ortsbrust aus Fels und Lo-
wa, 2016. ckergestein. Geotechnik 27: 214-219, 2004.
[7]OLIVEIRA, D.G.G.; DIEDERICHS, M.S.; [14]WALLIS, S. - Award-winning auto-
THEWES, M.; FREIMANN, S.; AGUIAR, G. nomous TBM operations. TunnelTalk 2019.
- EPB conditioning of mixed transitional Disponivel online < https://tunneltalk.com/
ground: investigating preliminary aspects. Accolades-and-Awards-11Dec2019-Autono-
ITA-WTC 2017, Bergen, ITA-AITES, 2017. mous-TBM-operation-takes-highest-indus-
[8]OLIVEIRA, D. G. G. - EPB excavation and try-accolades.php>
conditioning of cohesive mixed soils: clog- [15]WEHRMEYER, G.; OLIVEIRA, D.G.G. -
ging and flow evaluation. Tese de doutora- Schnecken - und Bandförderung beim mas-
Figura 10 - Sistema adicional de injeção de do, Queen’s University, Kingston, 282p, 2018. chinellen Tunnelvortrieb. 2020. Tunnelbau
lama em máquinas EPBs http://hdl.handle.net/1974/24867. 2020 (1).

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CENAS DA VIDA

Falar “COM” ou falar “PARA”?

N
ão sou da área da educação, mas, quando li essa tes. Como não aceitar o con- NESTOR SOARES TUPINAMBÁ
lapidar frase de Paulo Freire guardei-a na memó- trole de trens sugerido pela é engenheiro, mestre em Urbanismo e
ria. Que admirável síntese! HMD e buscar o novíssimo, a consultor de Transporte
“Falar para” é atitude do vetusto e “admirável” (ou época, ATO (Automatic Train E-mail: nstupinamba@uol.com.br
abominável?) e antigo professor. Que fala do púl- Operation) que até hoje conti-
pito, do alto, como quem emana ordens e ensinamentos como se nua operando eficientemente?
fossem irrefutáveis, sem merecer o contraditório, unidirecionais. Como dávamos assistência técnica a outros metrôs, em
Sem discussões! formação, podíamos comparar padrões e soluções. Desde o
Vem de uma discutível hierarquia refletindo relações enges- projeto do metrô de Bagdá, a consultoria dos metrôs do Rio
sadas e paradas no tempo. de Janeiro e Salvador, a operar o metrô de Caracas, treinando
Já “falar com” mostra um relacionamento em ambos seus operadores.
os sentidos, interativo, que aceita contra argumentações As avaliações dos empregados eram feitas de modo bidirecio-
e contribuições, às vezes preciosas. Entra numa dinâmi- nal. O chefe avaliava o subordinado e vice-versa.
ca dialética (tese-antítese-síntese). Assim se evolui, numa Quando da implantação do TQM (Total Quality Manage-
simbiose assertiva, sinérgica e cooperativa. Onde 2+2 po- ment), à moda japonesa, todos os funcionários eram estimulados
dem ser maior que 4! a dar sugestões.
No ano que deixo o Metrô, após 45 anos, talvez mais por Todos eram os responsáveis e se sentiam donos do seu pro-
“fadiga de material” do que por vontade, comparo-o com essa cesso. Engenheiros, nas obras, davam entrevistas à imprensa sem
ideia de Paulo Freire. prévio consentimento.
Sem rancores, sem idealismos que ref letem pura falta de Então, veio o reconhecimento internacional. O honroso con-
memória (como os que sentem falta do Vulcabrás, da pomada vite da Universidade de Londres para ingresso no Comet Group
Minâncora e do Óleo de Fígado de Bacalhau, entre outros!). (Commission of Metros), onde só entravam os portadores de
Não e não! “benchmarkings” originais.
O Metrô de São Paulo continua uma eficiente e importan- Importantes instituições nasciam dentro da empresa, como a
te empresa com ótimos profissionais, com uma direção zelosa ANTP e o CBT (Comitê Brasileiro de Túneis) com escritórios nos
e engajada na importante missão da promoção da mobilidade próprios da companhia.
em São Paulo. Essa lista continuaria, porém, sua continuação seria
Porém, é difícil escapar da Era do Capitalismo Financeiro, enfadonha.
que atua de modo global e imperioso. Mas, é o suficiente para mostrar o clima de liberdade que
Economia neoliberal, financeirização da produção e dos ob- propiciou a criação (criação que nunca surge em ambientes
jetivos, processos mais atrelados ao lucro e a ganhos imediatistas hierarquizados) de novos métodos, processos originais e mais
do que à qualidade de vida do cidadão, ajuda aos desvalidos etc. eficientes.
Objetivos que, quase sempre, estão fora dos orçamentos. Penso que o leitor, que pacientemente leu até aqui (a quem
Assim, esse contexto contamina, também, as políticas pú- agradeço pelo dispêndio precioso de seu tempo), já intuiu sobre
blicas, mexe no foco das empresas, de modo quase sorrateiro, o falar ‘para’ e ‘com’.
invisível. Claro que é impossível não ser saudosista no desfecho do
É o “falar para” se instalando, mais e mais. meu “casamento” que deu certo. Paixões são arrebatadoras. E
Ordens emanadas, ordens cumpridas. Sem muitas discus- tento, então, levar em conta esse fator.
sões. Escolhas nem sempre com embasamento técnico, mas, que Mesmo porque todas as generalizações são perigosas (inclu-
cunham direções tomadas. Mesmo que, às vezes, existam diver- sive essa!).
gências. Simplesmente assim. Também considerando efeitos senis deletérios, além do
Já no “falar com” há uma ampla discussão, participação de saudosismo, deixo a discussão “em aberto”. Réplicas e trépli-
todos. Dos mecânicos ao diretor, passando pelos engenheiros. cas serão aceitas.
Lembro-me do CRE (Conselho Representativo dos Empre- Os defensores do “Naming Rights” de “Carrão Assai” e “Ul-
gados), com acesso às reuniões de diretoria e à documenta- trafarma Saúde” (virão “República Bradesco”, “Brahma Vila Ma-
ção oficial. dalena”?) terão voz.
Discussões, principalmente técnicas, eram travadas esponta- Difícil escapar da “cachaça Metrô” (sugestão?). Metroviário
neamente com a Academia, outros metrôs e empresas. Os sindica- será sempre metroviário! Trilhos da vida ...
tos tinham forte participação sendo incluídos nas questões. Esse Como será a existência fora dele?
clima permitia a descoberta de soluções originais e independen- Assim e sem adeus, deixo meu “até breve” companheiros!

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BRASIL ENGENHARIA I

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CIÊNCIA & TALENTO

A experiência que
constrói o metrô

O
engenheiro eletricista Massaru Saito viu foram enviados os técni- MASSARU SAITO
o Metrô de São Paulo nascer. Ele entrou cos para conhecer proje- Engenheiro eletricista pelo Mackenzie,
na companhia em 1972 e acompanhou os tos semelhantes em paí- atuou em projetos de energia fotovoltaica
trabalhos para que a primeira linha fosse ses como Suíça, Itália e no Metrô de São Paulo
inaugurada. “Quando entrei no Metrô, Estados Unidos”, relata.
todos os esforços eram direcionados para Visitas técnicas e seminários internacionais sem-
que se colocasse o sistema em funcionamento. Tenho pre fizeram parte da formação de Massaru, que visitou
orgulho de ter participado dessa etapa”, conta Massaru, o Japão algumas vezes para conhecer as indústrias e
que presenciou a inauguração do primeiro trecho Ja- companhias de transporte metropolitano daquele país,
baquara-Vila Mariana, no dia 14 de setembro de 1974. como a Tokyu Car Corporation e a Toshiba Corporation,
Aos 79 anos, está na ativa e trabalha em uma área em Yokohama, o Toshiba Science Institute e o Tokyo
nova na companhia, voltada para projetos de energia Municipal Subway, em Tokyo, e o Osaka municipal
fotovoltaica, assunto sobre a qual publicou o trabalho subway, em Osaka.
“Energia Solar Fotovoltaica: Viabilidade de Implanta- Para o profissional em início de carreira, ele ressalta
ção no Metrô de São Paulo”. Em 2014, Massaru fez a importância de conhecer outros trens metropolitanos
visitas técnicas a usinas de energia fotovoltaica do pelo mundo. “Mais vale uma vez ver do que mil vezes
Metrô de Nova Iorque, entre elas as localizadas na Co- ouvir”.
ney Island Terminal, no complexo de estações Jackson Ele reforça que, atualmente, as oportunidades para
Heights – Roosevelt Avenue / 74th Street (Broadway) um profissional da área de Engenharia Elétrica em uma
e no pátio de manutenção e de lavagem de trens em empresa como o Metrô são muitas, mas que “é impor-
Corona (Queens). tante ter uma boa base para acompanhar a rápida evo-
Em 2025, a Estação Ipiranga, com obras previstas para lução do sistema”.
conclusão no mesmo ano, terá a geração de energia so- Desde que começou na profissão, a principal mu-
lar como responsável por sua alimentação elétrica. A es- dança, ressalta, é a área tecnológica. “É preciso en-
tação será uma das primeiras a utilizar o novo sistema de tender que os equipamentos fixos ou móveis sempre
geração fotovoltaica, podendo gerar cerca de 25 MWh por deverão existir, mas com software moderno com simu-
mês, valor que corresponde a aproximadamente 39% da lação elétrica, até com diagnóstico para otimização de
demanda de uma estação de monotrilho. desempenho e custo”.
Neste projeto, estão o trabalho e o talento de Mas- Além de engenheiro, Massaru também é conhecido
saru. Entre as principais atribuições do seu cargo atual no Metrô de São Paulo como mestre do sushi. Há al-
estão a participação na definição das premissas para gum tempo, ele participava de eventos onde prepara-
elaboração de projetos básicos do sistema de alimen- va pratos da culinária japonesa e chegou a dar cursos
tação elétrica para a implantação de novas linhas; para muitos metroviários. Ele foi um dos precursores da
coordenar a elaboração dos cadernos de encargos para culinária japonesa em São Paulo e trabalhou no restau-
licitação de novos projetos; dar suporte técnico para rante Mariko, no Caesar Park da Rua Augusta.
solução de problemas de operação, de manutenção e da Saito é filho de japoneses – Yoshio e Shige – e tem
concessionária de energia elétrica (fator de potência, três irmãos mais velhos – Yoshimi, Ken e Yasu – que
harmônicas, demanda); estudar e desenvolver novos chegaram ao Brasil no dia 2 de abril de 1934, pelo Porto
produtos junto aos fornecedores, para atendimento das de Santos, vindos de Kobe. Massaru nasceu no Brasil,
necessidades de projetos, entre outras. em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, onde a
Formado pela Universidade Mackenzie, o Metrô de família se estabeleceu depois de algum tempo no país.
São Paulo foi seu segundo emprego, tendo antes traba- Em Mogi, a família Saito trabalhava na lavoura,
lhado na Eletropaulo (antiga Light Serviços de Eletrici- principalmente na plantação de batatas e hortaliças,
dade S. A.) e estagiado na Toshiba. e em granjas. Massaru estudava, ajudava a família na
Toda a trajetória de Massaru na companhia foi desa- plantação e ainda se dedicada a outra paixão, o judô.
fiadora, atuando na área de projetos com novas linhas, Quando entrou para a Faculdade Mackenzie, conti-
novos equipamentos e, ultimamente, no aproveitamen- nuou a se dedicar ao esporte e sua carreira como judoca
to da energia solar. “Logo que entrei no Metrô, na parte deslanchou, participando de competições nacionais e
da Engenharia Elétrica havia poucos engenheiros e ne- internacionais, como o Campeonato Mundial de Judô,
cessidade de implantar toda a operação do trem, então realizado em Tóquio em 1967 e Lisboa em 1968.

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ARTE&VINHO
BRASIL ENGENHARIA I

A Grécia

N
em é preciso ressaltar a importância
da Grécia, tanto no mundo dos vinhos,
mas principalmente como berço de
toda nossa civilização ocidental.
Os romanos, povo que difundiu a
cultura do vinho por toda a Europa, foi
herdeira da tradição vinícola dos gregos e dos etruscos.
Temos registros sobre o vinho na civilização grega
que remontam ao século VII antes de Cristo. Os gregos,
porém, não costumavam escrever compêndios agrícolas
ou deixar imortalizados manuais de plantio ou produção
em pedra, antes a usavam para esculturas, e aproveita-
vam seu tempo para a poesia, o teatro e a filosofia.
Já os romanos, no afã de expansão guerreira que
caracterizava sua civilização, costumavam deixar aos
centuriões aposentados glebas de terra, com a única
condição de que plantassem uvas. Como sabemos, es-
tas necessitam de quatro anos para dar sua primeira
safra e, assim, este homem era fixado na terra.
A introdução do vinho na Itália, pelos gregos, deu-
-se através do Sul, pelas Ilhas Sardenha e Sicília e pela
Calábria, porção territorial que os gregos chamavam
de “Oenotria”, ou país dos vinhos.
As culturas gregas insulares, como a Minóica, que
se desenvolveu na Ilha de Creta, já possuíam pala-
vras para vinho, vinhedo e comerciante de vinhos. Os
Minóicos exerciam forte comércio pelo Mediterrâneo
e provavelmente também receberam inf luências mi-
lenares dos ensinamentos vinícolas da Babilônia, da
Mesopotâmia e do Antigo Egito.
O fato é que Atenas comerciava vinhos com o Egito,
com a Scythia (atual Criméia) e com a Etruria (atual
Toscana na Itália). A intensidade deste negócio pode
ser mensurada pelo enorme número de cacos de ân- vazar nas travessias marítimas. Esta resina costuma-
foras que existem submersos no Estreito de Messina, va penetrar no vinho, dando a ele um odor e gosto
que une a Ilha da Sicília à Itália continental. característico, muito forte e penetrante. Ainda hoje
Algumas das uvas que eram plantadas pelos gregos persiste um vinho grego chamado “Retsina”, onde esta
permanecem até hoje vivas e produzindo vinhos na Itália, resina é adicionada. Este vinho é recomendado apenas
como a maravilhosa uva tinta Aglianico (uva da Campâ- como curiosidade histórica, pois seu sabor é bastante
nia), ou a Grecco di Tufo (uva branca também largamente estranho.
plantada na Campânia) ou a Grechetto (uva branca utili- A moderna vinicultura grega foi, contudo, abafada
zada nas regiões da Umbria, Lázio e Toscana). pelos séculos de dominação do Império Otomano, e só
A forma como os antigos gregos degustavam seus vi- voltou novamente a f lorescer no início do século XX.
nhos já foi objeto de outro artigo, já publicado, quando As principais modernas uvas da Grécia são:
abordei a cultura vinícola de todas as antigas civilizações. - A Assyrtiko, uva branca, nativa da famosa ilha
As ânforas de barro, onde os vinhos eram trans- vulcânica de Santorini, emblemática, e que, depen-
portados, eram fechadas com batoques também de dendo do estilo de vinificação, pode dar origem desde
barro envolvidas numa resina de pinheiro, para não vinhos secos e frescos até vinhos mais pesados e doces

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IVAN CARLOS REGINA
é engenheiro do setor de transporte público,

FOTO: MONTAGEM COM FOTOS DA PHOTODISC


palavra mosca, pois,
autor dos livros “Vinho, o Melhor Amigo
quando as uvas es-
do Homem” e “Harmonizando Vinho & Comida”
tão maduras, os in- E-mail: ivanregina@terra.com.br
setos ficam rodean-
do seu cacho.
- A Agiorgitiko é a casta mais difundida na Grécia
para vinhos tintos. Originária da região de Nemea, no
Peloponeso, dá origem a vinho muito coloridos, aber-
tos e frutados, com sabores que lembram morangos
e cerejas. Podem também lembrar frutas vermelhas
como cassis e ameixas, ou ter aromas de especiarias
como canela.
- A Xynomavro é uma uva tinta de pele muito es-
cura e alta acidez, originária e amplamente plantada
na Macedônia do Norte e na Grécia. Muito reputa-
da, com muitos taninos, pode e deve envelhecer um
pouco para dar origem a vinhos muito saborosos, que
lembram ameixa, morango e tomate seco.
A Grécia tem também larga tradição na fabricação
de vinhos generosos, alcoólicos e doces, que podem
acompanhar, muitas vezes, sobremesas difíceis de se-
rem harmonizadas com vinhos de mesa.
A Grécia vinícola está dividida em oito regiões pro-
dutoras, o Peloponeso, a Trácia, a Thessália, a Mace-
dônia, as Ilhas Jônicas, as Ilhas do Egeu (Santorini),
Epirus e Centro. Mais importante que o seu conheci-
mento, contudo, é a distinção das uvas que compõem
seus vinhos, no sentido de entender sua estrutura
para realizar sua harmonia com os pratos clássicos da
culinária grega.
A culinária grega tem forte relação com outras
também originárias do Mediterrâneo Oriental. Muitos
peixes e frutos do mar podem ser combinados com
para sobremesa. Hoje é cultivada amplamente em toda seus brancos intensos, como os feitos com as uvas
a Grécia, onde muitas vezes é usada, por sua acidez, brancas aqui citadas. A única exceção é o “Polvo ao
em cortes com outra uva grega, a Savatiano. vinho tinto”, que muitas vezes leva também lulas e
- A Rhoditis é uma uva para vinho de pele rosada, outros moluscos, e que neste caso pode ser combinado
cultivada tradicionalmente na região do Peloponeso. com um vinho tinto fresco como os feitos com a uva
Seus vinhos são brancos (assim como a uva francesa Agiorgitiko em Nemea.
alsaciana Gewurztraminer), elegantes e leves, com sa- Os pratos de carne ou de caça, também lá muito
bores cítricos e amendoados, toques minerais e acidez apreciados, podem ser acompanhados com um tinto
alta, e também é usada em cortes para compensar a da Xynomavro.
baixa acidez da Savatiano. E se os peixes forem muito temperados, oleosos, le-
- A Moscophilero é outra uva branca, de casca varem condimentos como alho e cebola, você pode, por
rosa, também originária do Peloponeso, mas bastante sua conta e risco, escoltá-los com um branco Retsina.
difundida por toda a Grécia, originando vinhos com No mundo do vinho, e mesmo no mundo, o que move a
sabores cítricos e frutados, com gosto de especiarias mulher e o homem é a sua curiosidade. Experimente alguns
e final muito agradável. Seu nome realmente vem da vinhos gregos e você não se arrependerá. Saúde!

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LIVROS TÉCNICOS
CARVALHO JÚNIOR, Roberto de. YAZIGI, Walid.
Patologia dos Sistemas Prediais Hidráulicos e Sanitários. A Técnica de Edificar.
São Paulo - SP, Blucher, 2021, 264p. São Paulo - SP, Blucher, 2021, 864p.
Como professor de disciplinas de instalações prediais em faculdades de Esta publicação tem como objetivo auxiliar o cons-
Engenharia Civil e Arquitetura e Urbanismo, o autor observou a carência trutor a alcançar em suas obras a qualidade total,
e a importância de uma bibliografia que atendesse às necessidades de exigência que vem crescendo em função da com-
aprendizado e consulta sobre patologia dos sistemas prediais de água fria, petitividade do mercado imobiliário, do controle de
água quente, esgoto e águas pluviais. desperdícios – antes mascarados pela inflação – e do recente e severo
Este livro foi desenvolvido com a finalidade de transmitir a engenheiros civis, Código de Defesa do Consumidor. Destina-se a estudantes de Engenharia
arquitetos, projetistas e alunos dos cursos de Engenharia Civil, Arquitetura e escolas técnicas, bem como a profissionais nos pri-
Civil e Arquitetura e Urbanismo, fundamentos teóricos meiros anos de suas atividades.
e soluções práticas sobre manifestações patológicas O trabalho abrange todas as áreas da construção de prédios de médio
em sistemas prediais hidráulicos e sanitários e suas porte, desde o levantamento topográfico do terreno até a gestão da
causas, visando prevenir de falhas e adoção de medidas manutenção da edificação. As informações expostas constam do Manual
adequadas de reparos, bem como ressaltar que o estudo de Normas Recomendadas para o Canteiro e Especificação para Obras,
desses problemas não reside somente na atuação da construtora do autor, acrescidas de transcrição de trechos de artigos
corretiva, mas na possibilidade da atuação preventiva. sobre a técnica de construir, em especial das normas da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
SOHLER, Flávio Augusto Settimi;
SANTOS, Sérgio Botassi dos (Coordenador). DUNDI, Guilherme Perego;
Gerenciamento de Obras, Qualidade e Desempenho PEINADO, Hugo Sefrian.
da Construção. Sustentabilidade na Habitação de
Rio de Janeiro - RJ, Editora Ciência Moderna, 2017, 480p. Interesse Social: abordagem a partir do
Nesta obra são tratados temas como: incorporações imobiliárias, selo Casa Azul.
construção enxuta, racionalização e coordenação de projetos, pla- Rio de Janeiro - RJ, Editora Ciência Moderna, 2019, 144p.
nejamento e controle de empreendimentos utilizando MS-Project, O livro faz uma síntese das conferências e iniciativas
ferramentas estatísticas aplicadas à qualidade da construção, gestão que marcaram o início e a continuidade da discussão a
da qualidade de obras, engenharia de segurança, práticas de gestão respeito da temática da sustentabilidade, a conceituação
ambiental na construção, engenharia de custos, viabilidade econô- de desenvolvimento sustentável, o surgimento das certi-
mica de projetos, princípios de gestão de projetos na ficações ambientais para edificações e como elas podem contribuir para a
construção, projeto de fundações, boas práticas para implementação de premissas sustentáveis no projeto de uma edificação.
execução de revestimentos, vedações e alvenaria, São abordadas as diretrizes gerais com foco na sustentabilidade ambiental a
tecnologias de impermeabilização, boas práticas para serem adotadas no projeto arquitetônico de uma edificação. Com o objetivo
execução de estruturas de concreto e metálicas, ma- de que o leitor compreenda a forma que essas premissas podem permear o
nifestações patológicas, boas práticas para instalações projeto arquitetônico, apresenta-se um estudo da aplicação delas no projeto
prediais, análise e soluções para desempenho acústico, de uma Habitação de Interesse Social (HIS). Para tanto, foram adotados os
práticas construtivas para conforto térmico e desem- critérios do selo Casa Azul, da Caixa Econômica Federal, que consiste em uma
penho acústico. certificação ambiental brasileira criada em 2010.

EAGLEMAN, David; BRANDT, Anthony; DEBS, Mounir Khalil El.


GARSCHAGEN, Donaldson M., GUERRA, Renata Pontes de concreto: com ênfase na
(Tradução). aplicação de elementos pré-moldados.
Como o cérebro cria: o poder da criatividade São Paulo - SP, Oficina de Textos, 2021, 512p.
humana para transformar o mundo. Pontes de concreto, com ênfase na aplicação de elementos
Rio de Janeiro – RJ, Editora Intrínseca, 2020, 303p. pré-moldados apresenta, na primeira parte, os conceitos
O que guarda-chuvas, sinfonias, viagens espaciais, estádios de futebol, os básicos sobre pontes e suas partes, as ações que atuam nelas,
quadros de Picasso e o calendário têm em comum? Todos foram concebidos, os sistemas estruturais que as suportam, as seções transver-
desenvolvidos e aperfeiçoados pelo poder da criatividade humana. sais e os apoios. Na segunda parte, apresenta e explica as
Em um passeio pelas criações que tornaram o mundo o que ele é hoje, o aplicações do concreto pré-moldado em pontes, seja na superestrutura,
compositor Anthony Brandt e o neurocientista David Eagle- na infraestrutura, em pontes enterradas ou em pontes em arco. O mesmo
man explicam os elos entre a criatividade na arte, na ciência conhecimento também pode ser aplicado para outros sistemas estruturais.
e na tecnologia e mostram as rotinas básicas do “software da Na terceira parte do livro, textos escritos pelo autor e contribuições de pro-
inovação” em funcionamento. Descrevendo as ferramentas fessores e engenheiros convidados aprofundam e enriquecem o conteúdo
e as estratégias responsáveis pela irrefreável inventividade apresentado nas duas partes anteriores, com temas avançados e alternativas
de nossa espécie, como o cérebro cria oferece inúmeros construtivas ainda pouco comuns no Brasil.
exemplos de como todos os atos criativos resultam das Obra repleta de exemplos e case histories reais, ilustrações, explicações passo
mesmas operações cerebrais aplicadas a algo que já existia. a passo dos cálculos e exemplos numéricos.

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COUTINHO, Rodrigo (Organizador). SCHMID, Manfred Theodor.
TUPER 50 anos. A Protensão Parcial do Concreto.
Florianópolis - SC, Expressão, 2021, 119p. São Paulo - SP, Blucher, 2022, 178p.
“O livro é o registro de cada etapa que a empresa Esta obra oferece a estudantes e projetistas de
viveu até chegar aqui”, conta o presidente & CEO, engenharia e arquitetura uma orientação inicial para
Frank Bollmann. O perfil da obra fica claro logo nas primeiras páginas, o uso da protensão do concreto em seus estudos e
quando há a comparação entre as imagens aéreas das instalações da projetos.
empresa no início dos anos 1970 e hoje. A técnica de cálculo apresentada é a protensão parcial,
Com dois mil funcionários, a Tuper fechou o ano do cinquentenário com um caminho coerente e objetivo para a consideração da força de
uma série de recordes. protensão e das suas consequências em vigas de concreto. A lógica das
Números fantásticos para uma empresa criada numa cidade que, à época, equações de cálculo aqui apresentadas possibilita ao projetista fazer o
sequer havia chegado a 20 mil habitantes. balanceamento das solicitações internas de uma peça com mais ou menos
Os desafios enfrentados ao longo do caminho também são narrados na protensão, a sua escolha, permitindo o equilíbrio perfeito de uma peça
obra. Um deles foi a dificuldade inicial para obter tubos de aço, o que com a interação segura entre suas armaduras passivas e ativas.
levou a Tuper a iniciar fabricação própria deste produto.

BRASIL, Reyolando M. L. R. F.
Estabilidade do Equilíbrio das Estruturas.
São Paulo - SP, Blucher, 2021, 132p.
SANTOS, Daniel Miranda dos. Este livro estuda a estabilidade do equilíbrio de estruturas civis, me-
Projeto estrutural por bielas e tirantes. cânicas, navais, e aeroespaciais do tipo barras e placas. Abordam-se a
São Paulo - SP, Oficina de Textos, 2021, 128p. teoria e os processos numéricos de solução, em especial o Métodos dos
Os modelos de bielas e tirantes são úteis e muito Elementos Finitos e sua implementação computacional.
mais interessantes para o dimensionamento de Com a modernização das técnicas de análise e a disponibilidade de ma-
alguns elementos estruturais em concreto armado. teriais cada vez mais resistentes e métodos construtivos mais apurados, é
Representam uma importante ferramenta para a a realidade atual da Engenharia de Estruturas que as
análise do fluxo de forças e o detalhamento de peças se tornem cada vez mais esbeltas e, portanto,
estruturas de concreto e de regiões onde há variações geométricas mais sujeitas a possíveis problemas de instabilidade.
ou concentrações de tensões. O fenômeno historicamente denominado de flam-
Projeto estrutural por bielas e tirantes fornece o conhecimento neces- bagem é aqui estendido para contemplar a inevitá-
sário para a aplicação do modelo de bielas e tirantes para elementos vel existência de imperfeições nas estruturas reais.
estruturais de concreto armado. Este livro é um texto básico para graduação ou
Após abordar os fundamentos da teoria da plasticidade intervenien- pós-graduação, mas também para o engenheiro
tes, o livro introduz o leitor ao modelo e analisa as propriedades dos estrutural praticante.
materiais e a transferência de forças entre a armadura e o concreto.

RIBEIRO, Fernando Luiz B.


COSTA, Alexandre Uchôa Lourenço da. Introdução ao Método dos Elementos Finitos.
Desenho Técnico de Estradas: Topografia, Projeto Rio de Janeiro - RJ, Editora Ciência Moderna, 2020, 304p.
Geométrico, Terraplanagem - Volume 1. Este livro é uma obra que completa um conjunto de saberes necessários a
Rio de Janeiro - RJ, Editora Ciência Moderna, 2018, 224p. todos que se interessam por problemas de mecânica do contínuo e mostra,
Neste livro, o leitor encontrará informações sobre como desenvolver e sobretudo, que o proposto na teoria é viável de ser aplicado com a precisão
apresentar desenhos técnicos de topografia e projetos rodoviários em esperada quando se entende bem os conceitos fundamentais da mecânica
geral, dentro das práticas usuais. Ele também apresenta os principais do contínuo e da análise funcional. Os problemas mais importantes da
parâmetros e critérios usados para o desenvolvimento do projeto de mecânica do contínuo são abordados em uma sequência de dificuldade
estradas como também dá uma noção de planejamento, recursos e crescente. Uma breve revisão da teoria, relativa a cada tópico, necessária
organização necessários para seus desenvolvimentos. para a formulação discreta, é desenvolvida em cada capítulo para sustentar
A maior parte do conteúdo deste livro é baseada na vivência e experiência a formulação numérica. Cada tipo de problema vem acompanhado de um
do autor, justamente por, praticamente, não existir bio- ou mais exemplos práticos demonstrando a eficácia do
grafias no mercado sobre esse tema em específico as método dentro dos limites estabelecidos na teoria. São
poucas que existem, estão de forma dispersa. tratados casos de não linearidade geométrica e de não
O livro procurou organizar, de forma simples e obje- linearidade física. O livro introduz também problemas
tiva, com muitas ilustrações, e proporcionar ao leitor dependentes do tempo, apresentando as formulações
não só o entendimento do desenho técnico de es- espaço-tempo e semi-discreta do método dos elemen-
tradas como também alguns conceitos fundamentais tos finitos. Problemas de transporte são abordados
para a compreensão de projetos. com a adoção de funções de ponderação da família
de Petrov-Galerkin.

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PONTO DE VISTA

Tecnologias emergentes
e o Metrô de São Paulo

A
última vez que andei de Metrô foi em 8 possibilita o processamen- JOSÉ ROBERTO CARDOSO
de dezembro de 2019 para assistir Corin- to no local do monitora- é engenheiro eletricista, professor
thians e Fluminense na Arena. As festas de mento, através da técnica doutor da Escola Politécnica da USP
final de ano se aproximavam e o ambiente edge computing, repassan- E-mail: jose.cardoso@usp.br
estava agradável. Estávamos em três e es- do aos ser vidores a infor-
perávamos uma reação da equipe naquele mação já trabalhada, ace-
final de campeonato, reação esta que não veio, pois o timão lerando em muito o processo de tratamento de dados.
foi derrotado e foi-se embora a esperança do título, vencido Com esta massa de dados e com técnicas atuais de Inteli-
pelo nosso mais tradicional rival. gência Artificial, a companhia consegue compor cenários fu-
Para evitar corre-corre, resolvemos dar início a nossa via- turos baseados em parâmetros de desempenho que precisam
gem na Estação Barra Funda, ponto inicial da linha vermelha, ser otimizados e efetuar planejamentos precisos.
onde conseguimos nos sentar onde queríamos. O Metrô também tem problemas de segurança de dados.
Já dentro da composição, nossa conversa se concentrou As ações de hackers e terroristas também precisam ser consi-
nos novos desenvolvimentos da tecnologia metroviária que deradas neste ambiente agressivo do mundo virtual. Protoco-
não aparecem para o usuário, mas que implicam em reflexos los, criptografia, confiabilidade de datacenters, são quesitos
substanciais no desempenho do sistema. mandatórios para garantir a operação segura do mais comple-
Comentei o caso do novo sistema sinalização CBTC, esta- to sistema de transporte público do mundo.
do da arte em sinalização, que permite, dentre outras funções, A chegada da tecnologia 5G nos colocará em outro pata-
que os trens andem mais próximos um do outro de forma se- mar de conexão. Não só a velocidade, mas também o formato
gura e com otimizações que reduzem consumo de pastilhas da internet será outro. Os processos industriais passarão a
de freio, de energia e redução do “headway”, aumentando a fazer parte desta rede mundial e, para tal, serão necessárias
eficiência, o conforto e a sustentabilidade do sistema, pois ações para garantir segurança, sigilo e outros requisitos de
resíduos de pastilhas são agressivos ao meio ambiente. confiabilidade. O princípio da internet democrática, em que
Estimulei a discussão sobre a importância da massa de todos têm acesso irrestrito a qualquer tecnologia, será ques-
dados gerada por uma viagem de metrô, como, por exemplo, a tionada e a LGPD exercerá papel ainda mais relevante.
quantidade de passageiros transportada, o registro da marcha A proximidade das antenas ao usuário serão reduzidas, de
do trem, operação das portas e outras. No passado, esta quan- modo que o tempo de latência, que é o tempo decorrido entre
tidade imensa de informações era desprezada, apenas aquelas a ação de solicitação da demanda e a resposta da rede, que no
mais importantes eram registradas por operadores, mas, ago- 4G é de 80 milisegundos, se reduzirá a um milisegundo na 5G.
ra, estas informações têm valor incalculável. Esta facilidade abrirá muitas portas para a inovação em
Os dados gerados em cada viagem são armazenados em uma companhia com as características de Metrô. No entanto,
bancos de dados imensos e guardados a sete chaves, pois estas portas só serão enxergadas por profissionais com espí-
retratam como aquele organismo está trabalhando, além de rito inovador, isento de ideias preconcebidas, que consegue
manter histórico de operação valiosíssimo, que tratados por conversar com seus pares sem exigir cumprimentos de hierar-
cientistas de dados competentes, consegue exibir todas as vir- quias, que só inibem a criatividade.
tudes e deficiências da gestão do sistema. Espaços de criação, onde essas competências são exter-
Boa parte desses dados são de interesse da manutenção, nadas, farão parte do dia a dia do processo de concepção
outros de interesse da operação e outros ainda de interesse da disruptiva exigida pela inovação, como é o caso do Metro-
gestão de estações e plataformas e, sem dúvida, boa parte de lab do Metrô.
interesse da presidência no suporte a decisões e planejamen- Tudo isso foi escrito como se fosse algo a ser feito na com-
to. Cada célula de gestão tem interesses diferentes, de modo panhia. No entanto, no Metrô de São Paulo já é realidade. Boa
que a ciência de dados bem realizada extrai as informações parte destas considerações estão implantadas ou em implan-
customizadas para a cadeia de comando do sistema. tação no nosso Metrô, mas são transparentes para o usuário.
Toda essa informação é obtida através da distribuição cri- A comunidade metroviária mundial é imensa e rigorosa nas
teriosa de sensores nos trens e nas plataformas, cujas infor- avaliações de desempenho de linhas de metrô ao redor do glo-
mações são coletadas através da tecnologia IoT. bo, seus indicadores de qualidade são difíceis de serem atendi-
Devido à grande quantidade de processamentos, que dos, mas o Metrô de São Paulo é um dos poucos que consegue
devem ser realizadas pelos ser vidores, a tecnologia atual cumprir as metas internacionais em sua completude.

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LEVANDO A CONSTRUÇÃO
A UM NOVO PATAMAR.
250 mil m² de exposições / 130 mil participantes / 1.800 expositores / 150 sessões educacionais

14 A 18 DE MARÇO / 2023 / LAS VEGAS / NEVADA

Não importa em qual setor da construção você atue:


você vai sair da CONEXPO-COM/AGG com novas
ideias, novos contatos e novas oportunidades para
ampliar seus negócios e sua posição na indústria.
Essa não é só a maior feira de construção da
América do Norte, como também está levando o
setor para o próximo patamar.
2020 Attendee Missy Scherber,
SAIBA MAIS EM CONEXPOCONAGG.COM T. Scherber Demolition & Excavating
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BRASIL ENGENHARIA I

228 BRASILENGENHARIA 06/2022 WWW.BRASILENGENHARIA.COM

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