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Resenha – Elizabeth Jelin:

 
O testemunho é um momento de reelaboração, de afirmação e de reconhecimento da própria
subjetividade, de manifestação da necessidade de voltar a se subjetivizar. Podemos dizer que
o testemunho é uma tentativa de recomposição simbólica pessoal e sempre está dirigido a um
outro. É um ato colaborativo. Segundo Vich e Zavala “el testimonio nos permite acceder al
conflicto entre un decir posible y un imposible decir.” (p.109) “El testimonio es una especie de
‘épica de la cotidianidad’ y, como tal, su sistema narrativo no permite abstracciones. Por tanto,
su política consiste en mostrar cómo lo privado se vuelve público y como - en tanto privado - se
convierte en un imprescindible lugar para observar el asentamiento del poder.” (p. 111)

• Testemunha é aquele que vivenciou o acontecimento, assim como também testemunha é o


sobrevivente e testemunha é o observador. O testemunho também é trasnmitido, assim surgem
novas gerações que dão testemunho daquilo que não vivenciaram, com o intuito de que se
reestabeleça a justiça e não volte a repressão política. Pergunta: o que acontece com os
testemunhos dos “sem voz”, pensando nos povos indígenas, naqueles que falam outra língua -
distinta a língua do repressor ou a língua dominante. O que acontece com testemunhos
daqueles que nunca são chamados a dar a sua palavra, como as crianças? Quem, como, para
que se interpretam os testemunhos, quais narrativas se fazem públicas, quais não? O Que
acontece quando há uma exposição excessiva da palavra?

• Jelin dedica um capítulo ao tema do género das memórias. Ela chama a atenção para os
mecanismos diversos da repressão atuando sobre as mulheres e os homens, e também para
os trabalhos diferentes das memórias das mulheres e dos homens. Assim, (…) los símbolos de
dolor y sufrimiento personalizados tienden a corporizarse en mujeres, mientras que los
mecanismos institucionales parecen ‘pertenecer’ a los hombres.” (p. 99)

• É importante observar que a maioria de movimentos pelos direitos humanos, de procura dos
“desaparecidos”, são movimentos liderados por mulheres, elas são as primeiras em denuncias
a violência: mães, filhas, irmãs, avós, esposas dos desaparecidos. Embora a maioria de mortos
e desaparecidos sejam homens, a repressão exerce mecanismos particulares de violência
sobre as mulheres. Violentando seus corpos (torturas sexuais, estrupos, servitude sexual),
violentando seu lugar na familia e na sociedade (partos feito em sequestro, sequestro dos seus
filhos, desarticulação da familia e das comunidades, sequestro e morte das liderenças
comunitarias, etc.), degeneração do feminino (os atributos femininos passam a ser usados para
humilhar os pressos).

• As mulheres são as sobreviventes e se convertem em chefes de familias e em lideranças


comunitárias, se tornando o novo alvo da repressão. Elas procuram reconstituir os laços
familiares e sociais, daí se nota que a maioria dos movimentos pela “verdade” dos
desaparecidos seja de cunho familiar (Madres de Plaza de Mayo). O tema de gênero, violência
e memória é um vasto campo que precisa ser estudado nas suas particularidades: mulheres
estudantes e inteletuais engajadas nos movimentos de guerrilha (como o caso da Argentina,
Brasil, Chile e Uruguai), os sequestros de mulheres grávidas que pariram em cativeiro e foram
desaparecidas (dentro do Plano Cóndor, Argentina, Uruguai), a matança de líderes populares
(caso do Peru), os estrupos, torturas e servitudes sexuais de mulheres indígenas, camponesas
ou pobres, assim como o auto-exílio (Peru, Guatemala, Colômbia). Diversas abordagens se
tecem para o trabalho destas memórias, como o gênero e a etnicidade.

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