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Uma breve análise do sistema de justiça proposto por

Iris Young em contraposição à teoria binária de Nancy Fraser

Bárbara Oliveira Marcondes


Fabiana Cristina Severi

RESUMO: O presente artigo tem como proposta compreender alguns aspectos


do sistema de justiça proposto por Iris Young que poderá nos ajudar na pesquisa ainda
em andamento, intitulada “Análise da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência à luz de teorias jus-filosóficas feministas”. Nos propomos, assim, a analisar
os textos Da redistribuição ao reconhecimento? Dilemas da justiça numa era “pós-
socialista”, de Nancy Fraser, e Categorias desajustadas: Uma crítica à teoria dual de
sistemas de Nancy Fraser, de Iris Young.

SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. As formulações de Young em contraposição às de


Fraser; 3. Conclusão

PALAVRAS-CHAVE: redistribuição; reconhecimento; opressão; Iris Young;


Nancy Fraser.

1 Introdução

A teoria do modelo de justiça proposta por Iris Young (2009) se pauta, entre
outros aspectos, no diálogo estabelecido com a teórica Nancy Fraser (1995).
Trabalharemos a crítica que Young (2009) faz em relação à teoria binária proposta por
Fraser (1995) quanto à existência de duas categorias analíticas: a econômico-política e a
simbólico-cultural.

2 As formulações de Young em contraposição às de Fraser


Fraser (1995) aproxima-se de uma linha teórica marxista na qual a categoria
classe ocupa espaço de destaque na análise das opressões e das injustiças sociais. Dessa
forma, a autora critica a perspectiva teórica da “sociedade pós-socialista”, na qual as
identidades culturais e de grupo parecem tomar relevância maior do que os debates
ligados à classe. Fraser (1995) sugere haver uma preponderância das demandas por
reconhecimento cultural de vários movimentos sociais em comparação às demandas
sócio-econômicas do final do século XX:
As demandas por “reconhecimento da diferença” estimulam as lutas de
grupos mobilizados sob as bandeiras da nacionalidade, etnicidade, “raça”,
gênero e sexualidade. Nesses conflitos “pós-socialistas”, a identidade de
grupo suplanta os interesses de classe como o principal meio de mobilização
política. A dominação cultural suplanta a exploração como injustiça
fundamental. E o reconhecimento cultural substitui a redistribuição sócio-
econômica como remédio e objetivo da luta política1 (FRASER, 1995, p.68,
tradução nossa).

Young (2009) sugere que a dissociação proposta por Fraser (1995) da categoria
econômico-política e da simbólico-cultural, não serviria à análise dos movimentos
sociais nem em sede de debate teórico, já que essas categorias não seriam suficientes
enquanto categorias meramente analíticas. Exemplo disso seria a tentativa de
transposição dessas duas categorias para se tentar analisar as pautas propostas pelo
movimento negro: a dissociação da esfera econômico-política da esfera cultural não dá
conta de tratar das demandas desse movimento na medida em que as lutas travadas pelo
grupo por reconhecimento cultural se relacionam diretamente com as demandas
ansiadas por redistribuição econômica.
Assim, Young (2009) sugere não ser possível fazer essa distinção tão clara entre
as categorias político-econômica e a simbólico-cultural. Outro exemplo que pode ser
citado seria a tentativa de transposição dessas categorias para as pautas dos movimentos
LGBTTT2. No cenário dos movimentos sociais, é muito difícil trabalhar com a ideia de
dissociação de que o grupo anseia apenas por reconhecimento e não por redistribuição,
já que, na medida em que as pessoas pertencentes a esse grupo são atores políticos na
sociedade disputando a todo o tempo por espaços, há reflexos econômicos nas pautas
levantadas por eles que serão contrapostas às pautas de outros grupos com maior
representatividade social. É difícil, desse modo, conceber a ideia de que grupos não
amparados pelo ordenamento jurídico possam sair intactos das lutas econômicas e
sociais.
Young (2009), a respeito do texto de Fraser (1995), sugere que a autora propõe
uma diferenciação clara entre as questões de cunho cultural e as de cunho econômico a
fim de se possibilitar um balanço mais apurado e consistente quanto a quais políticas de
reconhecimento seriam compatíveis com o objetivo transformativo relacionado às
questões de injustiça de base econômica.

1
No original: “Demands for „recognition of difference‟ fuel struggles of groups mobilized under the
banners of nationality, ethnicity, „race‟, gender, and sexuality. In these „post-socialist‟ conflicts, group
identity supplants class interest as the chief medium of political mobilization. Cultual domination
supplants exploitation as the fundamental injustice. And the cultural recognition displaces socioeconomic
redistribution as the remedy and the goal of political struggle” (FRASER, 1995, p. 68).
2
Entendemos o movimento LGBTTT como o movimento social pela luta de direitos sexuais que abarca
lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros.
Desse modo, na visão de Fraser (1995), a luta pelo reconhecimento de um grupo
social não se aproxima dos embates de cunho econômico, ou seja, elas seriam
dissociadas, motivo pelo qual Young (2009) a critica, uma vez que, para essa última,
essas duas lutas estariam fortemente imbricadas (YOUNG, 2009, p. 194-195).
É difícil sustentar, no campo dos movimentos sociais, que grupos de minorias
representativas demandem somente questões econômicas sem transpassar por questões
culturais e vice-versa. Young (2009) critica, também, a teoria de Fraser (1995) por se
basear demais na discussão acadêmica, já que ao se tentar transpor sua teoria para o
campo das demandas dos movimentos sociais, a cisão entre demandas culturais e
demandas econômicas proposta por Fraser (1995), como sugerido anteriormente, não se
sustenta.
A demanda por reconhecimento no âmbito dos movimentos sociais é uma forma
de primeiramente conseguir a tutela de direitos – na medida em que grupos
representativamente minoritários muitas vezes não recebem proteção legal alguma –,
fazendo com que essas pessoas passem a ser consideradas sujeito de direitos para depois
conseguirem galgar anseios econômicos e políticos. O reconhecimento de grupos, dessa
forma, é a primeira etapa para um processo que abrange questões econômicas e políticas
extremamente importantes, mas que sem o reconhecimento não é possível pensar essas
outras dimensões.
Young (2009), desse modo, se contrapõe a Fraser (1995) quanto à concepção
apresentada por essa última no tocante à possibilidade de se apartar a economia política
e a cultura, visto que, para Young, a luta por reconhecimento no campo dos movimentos
sociais não pode ser compreendida como um fim e si mesmo, mas como um meio para
se atingir outras dimensões de justiça, como a econômica e a social (YOUNG, 2009, p.
195).
Young (2009) sugere também que essa dicotomia apresentada por Fraser vai de
encontro às teorias propostas pela Nova Esquerda da época que frisava a correlação
existente entre os efeitos materiais da economia política e a cultura. (YOUNG, 2009, p.
195)
Em uma crítica à teoria polarizadora de Fraser (1995), Young (2009) entende
que o debate tanto teórico quanto político se torna muito mais enriquecido quando há o
esforço de se ampliar categorias, entendendo-as de modo interseccional ao invés de
sustentar a existência de uma polarização entre economia política e cultura (YOUNG,
2009, p. 195).
Young (2009) sugere, ainda, que ao polarizar política de cultura e política de
economia, Fraser enfraquece politicamente a possibilidade de coalizões de resistência
dos diversos movimentos sociais, uma vez que a existência de pontos em comum pode
propiciar articulações e alianças mais fortificadas em face dos conflitos enfrentados por
todos esses grupos (YOUNG, 2009, p. 195-196).
Assim, como já foi sugerido anteriormente, de acordo com Young (2009), Fraser
(1995) elenca dois tipos fundamentais de injustiça, quais sejam: a sócio-econômica que
teria origem na estrutura política e econômica da sociedade; e a injustiça cultural ou
simbólica que teria origem nos “padrões sociais de representação, interpretação e
comunicação”. Para cada uma dessas espécies de injustiça haveria duas soluções
correspondentes: a redistribuição e o reconhecimento. Enquanto a primeira objetivaria a
produção de mudanças políticas e econômicas com vistas a uma maior igualdade
econômica, a segunda buscaria reparar os danos causados pelos estereótipos, pelo
desrespeito e pelo imperialismo cultural (YOUNG, 2009, p. 196).
Acerca das categorias de redistribuição e reconhecimento trabalhadas por Fraser
(1995), Young (2009) entende que a diferenciação entre desses dois conceitos seria
inteiramente teórica, visto que a própria Fraser sugere não ser possível separar no
mundo real as estruturas da economia política e as da representação cultural (YOUNG,
2009, p. 196).
Fraser (1995) trabalha, ainda, com outras duas categorias: as ações afirmativas e
as transformativas. Para ela, um exemplo de ação afirmativa seria a distribuição de
renda, bens e serviços para a classe trabalhadora. Tal atitude não alteraria, porém, a
estrutura econômica capitalista. Dessa forma, uma ação transformadora para a injustiça
de classe seria a eliminação do proletariado. Ou seja, as ações afirmativas na visão de
Fraser reforçariam injustiças – culturais, econômicas e sociais – enquanto as
transformativas eliminariam as bases das estruturas que causam tais injustiças
(YOUNG, 2009, p. 197).
A teoria de Fraser (1995) encontra, porém, desafios nas experiências concretas
de grupos em que a separação entre opressões culturais e opressões econômicas não
pode ser feita de forma clara. Fraser (1995) situa os grupos que sofrem opressões de
raça e de gênero nessa situação. Segundo a teórica, as demandas desses movimentos
encontram formas potencialmente opostas de injustiças, já que, tomando o debate
feminista como exemplo, enquanto no âmbito da economia política as lutas
transformadoras travadas pelas mulheres deveriam ansiar pela eliminação de
diferenciações de gênero, tal objetivo entraria em conflito com políticas de
reconhecimento identitário enquanto grupo. Desse modo, a política afirmativa de
reconhecimento entraria em choque com a política transformadora de redistribuição
(YOUNG, 2009, p. 197).
Young (2009), entretanto, critica duramente a formulação teórica dicotômica de
Fraser (1995), já que a autora reduz as injustiças sofridas por todos os grupos a apenas
duas categorias e que são excludentes entre si – as injustiças sócio-econômica e a
simbólico-cultural. Ainda, os remédios para tais injustiças são apenas de duas categorias
que também se excluem mutuamente – o reconhecimento e a redistribuição (YOUNG,
2009, p. 198).
Desse modo, Young (2009) escreve: “Assim, redistribuição e reconhecimento
não apenas são categorias exclusivas, mas, conjuntamente, compreendem tudo que é
relevante para opressão e injustiça” (YOUNG, 2009, p. 198).
Young (2009) sugere que a adoção de uma estratégia analítica mais plural seria
mais adequada para lidar com essas questões complexas, ao invés de reduzir as
categorias a um espectro bifocal (YOUNG, 2009, p. 198).
A autora ressalta que Fraser (1995), apesar de pontuar um terceiro aspecto
importante – que seria o aspecto político da realidade social – além das categorias de
economia política e de cultura, ela não enfrenta a questão, e reduz os fenômenos
políticos ao dualismo de economia política e de cultura (YOUNG, 2009, p. 199).
Contrariamente à visão de Fraser (1995), Rodrigues afirma que Young (2009)
não dissocia as esferas político-econômica e cultural, já que na visão dessa última há
uma sobreposição quase total entre elas. Desse modo, as lutas por justiça social seriam
concomitantemente políticas e econômicas (RODRIGUES, p. 5).
Para Young (2009a), justiça não se refere somente à distribuição, mas também
às condições institucionais necessárias para o desenvolvimento e o exercício de
capacidades individuais, de comunicação coletiva e de cooperação. Tendo em vista esse
conceito de justiça, as injustiças referem-se primariamente a duas formas restritivas e
incapacitantes: a opressão e a dominação (YOUNG, 2009a, p. 55).
Young (2009a) utiliza-se das categorias de opressão e dominação numa tentativa
de explicar como os arranjos político-institucionais e culturais sustentam uma estrutura
de exploração de minorias (RODRIGUES, p.6).
Dessa forma, opressão se refere à vasta e profunda injustiça que alguns grupos
sofrem como consequência das frequentes suposições, muitas vezes inconscientes, e das
reações de pessoas bem intencionadas quando das interações diárias, dos meios de
comunicação e dos estereótipos culturais, de características estruturais das hierarquias
burocráticas e dos mecanismos de mercado. Em resumo, opressão refere-se aos
processos cotidianos. Esses processos não são “naturais”, mas construções histórico-
sociais da vida diária. Assim, não é possível eliminar a opressão estrutural por meio da
eliminação ou da elaboração de novas leis, já que as opressões são sistematicamente
reproduzidas em grandes instituições econômicas, políticas e culturais (YOUNG,
2009a, p. 56).
No sentido mais geral, todas as pessoas oprimidas sofrem alguma inibição
quanto às suas capacidades de desenvolvimento, ao exercício de suas capacidades e à
expressão de suas necessidades, pensamentos e sentimentos (YOUNG, 2009a, p. 55).
Já dominação, na sociedade moderna, é legalizada por meio de poderes
amplamente dispersos de vários agentes que mediam as decisões de outras pessoas
(YOUNG, 2009a, p. 65).
Diferentemente da formulação dicotômica de Fraser (1995), Young (2009)
elenca cinco faces da opressão: exploração, marginalização, carência de poder,
imperialismo cultural e violência (YOUNG, 2009, p. 198).
Young (2009a) oferece uma explicação acerca das cinco faces da opressão por
acreditar ser um conjunto útil de categorias e distinções abrangentes que contemplariam
todos os grupos pertencentes aos movimentos sociais da nova esquerda que são
oprimidos, além de todas as formas pelas quais esses grupos são oprimidos. A teórica
pontua que diferentes fatores ou a combinação de diferentes fatores influem nas formas
de opressão que um determinado grupo pode vir a sofrer. É válido salientar, ainda, que
Young (2009a) acredita não ser possível fazer a formulação de uma definição que seja
essencial acerca do termo opressão (YOUNG, 2009a, p. 57).
Quanto à exploração, podemos inferir que esta opressão se caracteriza pelo
constante processo de transferência dos resultados do trabalho de um grupo social em
prol do benefício de outro grupo, produzindo, assim, desigualdades distributivas
(YOUNG, 2009a, p. 61).
Já o conceito de marginalização está atrelado à ideia de que toda uma categoria
de pessoas é excluída da participação na vida social útil e, portanto, potencialmente
sujeita à grave privação material ou até mesmo ao extermínio (YOUNG, 2009a, p. 63).
A carência de poder pode ser interpretada pela falta de participação de alguns
grupos na tomada de decisões que afetam suas ações e suas condições de vida. Essas
pessoas normalmente recebem ordens, e muito raramente as formula (YOUNG, 2009a,
p. 65).
O imperialismo cultural pode ser entendido como a escolha da sociedade em
eleger a perspectiva de um grupo em particular, e a partir disso invisibilizar e
estereotipar outros grupos. Assim, ocorre a universalização das experiências culturais de
um grupo dominante, que são estabelecidas como a norma (YOUNG, 2009a, p. 66).
E por fim, diversos grupos sofrem a opressão da violência sistêmica – já que a
violência é dirigida às pessoas de um determinado grupo simplesmente por fazerem
parte desse. A opressão da violência consiste não só na vitimização direta, mas também
no conhecimento diário compartilhado por todos os membros de grupos oprimidos que
são suscetíveis às violações devido, exclusivamente, às suas identidades de grupo.
Assim, a violência pode ser entendida como um fenômeno da injustiça social por não
ser um erro moral individual, mas por ter caráter sistêmico, ou seja, a sua existência é
uma prática social (YOUNG, 2009a, p. 68).
De acordo com Young (2009a), com a aplicação destes cinco critérios nas
diversas situações de diferentes grupos, é possível haver a comparação das opressões
sem reduzí-las a essencializações comuns a todos ou sem haver a alegação de que uma é
mais fundamental do que a outra. Pode-se, assim, ocorrer a comparação de como as
diferentes faces da opressão aparecem em diferentes grupos (YOUNG, 2009a, p. 70).
Para Young (2009), o objetivo de se construir categorizações plurais, mas de
forma limitada, acerca da opressão é o de ajustar diferentes estruturas opressivas que
podem recair sobre sujeitos e grupos, sem limitar a opressão a apenas duas facetas
(YOUNG, 2009, p. 198).
Assim, Young (2009) questiona a construção dual proposta por Fraser (1995)
por entender haver uma limitação quando da transposição das categorias propostas pela
última teórica para os processos imbricados nas lutas políticas da maioria dos
movimentos sociais no que tange à questão do reconhecimento como um meio para
grupos conseguirem igualdade, liberdade econômica e social, que, na perspectiva de
Fraser, compõem a categoria de redistribuição (YOUNG, 2009, p. 200).
É importante salientar, no entanto, que Young (2009) concorda com Fraser
(1995) quanto às políticas redistributivas relacionadas à injustiça econômica manterem
uma estrutura e não alterarem as condições que produzem tal injustiça (YOUNG, 2009,
p. 201).
As autoras discordam, porém, quanto às esferas econômico-social e cultural, já
que, para Young (2009), o componente cultural está indissociado do componente
econômico e do social (YOUNG, 2009, p. 202).
Assim, em contraposição à proposta polarizadora de Fraser (1995) entre as
questões de justiça ligadas à economia e as ligadas à cultura, Young (2009) sugere que a
formulação de categorias mais plurais pode analisar de modo mais satisfatório as lutas
políticas travadas por movimentos sociais (YOUNG, 2009, p. 202).
Young (2009) defende, dessa forma, que a formulação de categorias mais fluidas
e amplas acerca de questões de justiça contribui para uma leitura mais clara acerca dos
elementos que precisam ser analisados para se pautar instituições justas e para se extrair
tensões que possam decorrer delas. Ainda, atenua o endurecimento da redistribuição e
redimensiona a cultura como mais uma dentre outras variáveis possíveis que podem ser
agregadas na análise da justiça social (YOUNG, 2009, p. 202).
Numa tentativa de buscar uma alternativa teórica para a dicotomia entre
redistribuição e reconhecimento na leitura de Fraser (1995), Young (2009) sugere que
pode ser mais apropriado “conceituar questões de justiça envolvendo reconhecimento e
identidade como tendo inevitavelmente fontes e consequências econômicas, sem por
isso serem redutíveis à dinâmica do mercado ou à exploração econômica e privação”
(YOUNG, 2009, p. 203).
Assim, Young (2009) sugere uma visão que concatene os aspectos culturais,
sociais e econômicos na luta política (YOUNG, 2009, p. 204), uma vez que para a
teórica, a cultura e a política são indissociáveis: “A economia política é cultural, e a
cultura é econômica” (YOUNG, 2009, p. 203).

3 Conclusão
Frente a tudo que já foi exposto, fica claro que, enquanto na visão de Fraser
(1995) as demandas de grupos ligadas a uma especificidade cultural e ao
reconhecimento são vistas como um fim em si mesmo, para Young (2009) uma política
de reconhecimento é na verdade uma maneira para se chegar a outros propósitos, como
o de igualdade econômica e social (YOUNG, 2009, p. 206).
O reconhecimento é, portanto, para Young (2009), uma forma para que grupos
que são invisibilizados, a partir do reconhecimento perante a sociedade, possam
reivindicar direitos de ordem política, econômica e social. Ou seja, se um grupo não
recebe nenhuma proteção do ponto de vista formal – não sendo ao menos considerado
titular de direitos –, não é possível que esse grupo social demande questões de ordem
política, econômica ou social.

Referências Bibliográficas

FRASER, Nancy Fraser. 1995. From redistribution to recognition? Dilemmas of


justice in a ‘postsocialist’ age. New Left Review, n. 212, p. 68-93, July/August.
(Reprinted in Nancy Fraser, Justice Interruptus: Critical Reflections on the
“Postsocialist” Condition. London: Routledge, 1997).

RODRIGUES, Cristiano Santos. Teoria Crítica e novas gramáticas: Um diálogo entre


Iris Young, Nancy Fraser e Boaventura de Sousa Santos. Disponível em:
<https://www.academia.edu/4370438/Teoria_Cr%C3%ADtica_e_Novas_Gramáticas_P
ol%C3%ADticas_um_diálogo_entre_Iris_Young_Nancy_Fraser_e_Boaventura_de_Sou
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YOUNG, Iris Marion. 2009. Categorias desajustadas: Uma crítica à teoria dual de
sistemas de Nancy Fraser. Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 2, p. 193-
214, jul.-dez. Disponível em: <http://rbcp.unb.br/artigos/rbcp-n2-24.pdf>. Acesso em:
18 de abr. 2016.

YOUNG, Iris Marion. 2009a. Five faces of oppression. In: HENDERSON, George;
WATERSTONE, Marvin (Ed.). Geographic thought: a praxis perspective. London;
New York: Routledge, 2009a. Cap. 4. p. 55-71.

YOUNG, Iris Marion. 1990. Justice and the politics of difference. Princeton:
Princeton University Press.

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