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Resumo Fraser Filosofia UFPR:

-Esclarecimento de conceitos que serão úteis para Fraser na defesa de sua resposta:
Fraser diferencia 2 tipos de justiça e de injustiça: A socioeconômica, que diz respeito
à distribuição de recursos, à exploração do trabalho, à marginalização (espacial ou não),
etc; E a cultural (ou simbólica), que diz respeito à subordinação de uma cultura por outra, ao
respeito\desrespeito sistematicamente direcionado a certos grupos sociais, à
representatividade, etc.
Fraser também esclarece o que ela chama de ‘redistribuição’ e de ‘reconhecimento’.
O primeiro termo se refere àquilo que garante justiça socioeconômica e o segundo ao que
garante justiça cultural.
Fraser também difere remédios transformativos de afirmativos. Remédios
transformativos são políticas que reduzem uma injustiça alterando significativamente a
ordem social que cria ela. Já remédios afirmativos são políticas que reduzem uma injustiça
evitando as consequências injustas de uma ordem social sem alterar essa ordem social
significativamente.

-Contexto Político e Filosófico:


Com a derrota histórica do socialismo, a esquerda que rejeita, ao menos em grande
medida, o marxismo (chamada por Fraser de pós-socialista), passou a valorizar muito mais
a dominação cultural (ex: luta por representatividade negra, valorização da inteligência e
conhecimento femininos, contra a homofobia, etc). Assim, ‘justiça’ é entendida por eles
como uma justiça cultural. No geral, eles considerariam que a melhor forma de garantir a
justiça é por meio de remédios afirmativos de reconhecimento. Por outro lado a esquerda
socialista (de matriz marxista) valorizava mais as desigualdades econômicas e a exploração
material (ex: luta pela distribuição de renda igualitária entre negros e brancos, contra a
exploração do trabalho doméstico feminino, etc). Assim, ‘justiça’ é entendida por eles como
uma justiça socioeconômica. No geral, eles considerariam que a melhor forma de garantir a
justiça é por meio de remédios transformativos de redistribuição.

- Tese defendida por Fraser


Diferente do que pensa a esquerda marxista e a pós-socialista. Não é tão simples decidir
qual o modo adequado de garantir a justiça, pois há casos em que parecem haver bons
motivos para utilizar remédios afirmativos de redistribuição, remédios transformativos de
redistribuição, remédios afirmativos de reconhecimento e remédios transformativos de
reconhecimento.

-Estabelecimento mais detalhado da tese sobre a qual Fraser se opõe: O dilema


redistribuição-reconhecimento.
Fraser localiza uma visão que é compartilhada por ambos os lados (socialista e pós-
socialista) da discussão: enquanto as políticas de redistribuição buscam eliminar diferenças
entre grupos sociais, as de reconhecimento buscam ressaltar diferenças entre os grupos e
valorizá-las. Assim, cada tipo de política seria incompatível com o outro. Logo, OU defende-
se o reconhecimento OU a redistribuição. Fraser chama essa visão de ‘dilema
redistribuição-reconhecimento’.
-Primeira justificativa para a tese de Fraser: A luta de coletividades bivalentes pode ser um
caso que contradiz o dilema redistribuição-reconhecimento.
Existem coletividades que seguem o padrão apresentado pelo dilema redistribuição-
reconhecimento, como sexualidade e classe. Fraser considera que a desigualdade entre
homosexuais e heterosexuais é basicamente cultural, não há um sistema econômico que
marginalize ou explore homosexuais significativamente, todavia, existe uma discriminação
cultural. O contrário vale para a classe, sua subordinação é basicamente econômica, e não
há aspectos culturais relevantes que subjugam os proletários.
Todavia, existem também coletividades bivalentes, que são culturalmente e
economicamente exploradas, como é o caso do gênero. Por exemplo, mulheres são
coagidas (às vezes, obrigadas) a ocupar cargos menos valorizados do que os cargos
ocupados por homens. Essa injustiça é socioeconômica. Além disso, mulheres têm sua
intimidade e honra desrespeitada ao serem os principais alvos de assédio e estupro. Essa
injustiça é cultural. Fraser também considera que os grupos etinico-raciais injustiçados
sejam coletividades bivalentes. O argumento para eles é análogo ao das mulheres.
Essas coletividades bivalentes exigem, portanto, que feministas e antirracistas
conciliem redistribuição e reconhecimento, e, desse modo, superem o dilema redistribuição-
reconhecimento. Cabe agora, analisar as formas por meio das quais isso pode ser feito.

- Os diversos remédios possíveis para a redistribuição e o reconhecimento.


Mesmo nos casos extremos (sexualidade e classe), a forma de garantir justiça pode
ser afirmativa ou transformativa. Cada um desses caminhos possui vantagens e
desvantagens que podem afetar diversas àreas da luta política. Por exemplo, uma política
afirmativa contra a desigualdade social, como, por exemplo, garantia de mais direitos
trabalhistas, pode criar uma visão de que a classe trabalhadora é frágil e que deve sempre
receber auxílios, como se fosse menos capaz do que a burguesia. Em um caso como esse,
o tipo de remédio usado para a redistribuição afeta negativamente o reconhecimento.
Fraser segue dando mais exemplos, utilizando sempre os casos extremos de classe
e sexualidade. Porém, como foi visto anteriormente, existem também coletividades
bivalentes, e esse tipo de conflito acerca da forma com que se garante a justiça também
pode ser aplicado nesses casos. Desse modo, Fraser termina o artigo esclarecendo que a
questão é complexa e que não é possível praticar o feminismo e o anti-racismo com apenas
um tipo de reivindicação (redistribuição ou reconhecimento) e nem com um só tipo de
remédio (afirmativo ou transformativo).

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