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INTRODUÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS

LYNN HUNT

Perguntas feitas pela professora (irão cair na prova):

1) De acordo com Honnet, qual a primeira forma de reconhecimento, a forma de


violação desse tipo de reconhecimento e a consequência dessa violação?

A primeira forma de reconhecimento é o amor. O amor é nutrido a partir das naturezas


carenciais. Ele formula a concepção de autoconfiança. E a violação é os maus tratos. A
consequência dessa violação à integridade física é a violação da noção de si mesmo e da
autoconfiança.

2) E a segunda forma de reconhecimento, a forma de violação desse tipo de


reconhecimento e as consequências e a consequência dessa violação?

A segunda forma de reconhecimento é o direito. É a relação de imputabilidade, a pessoa


reconhecer que possui direitos e deveres, ou seja, ela se vê integrada nas regras e por isso ela
se considera alguém com relações jurídicas, no direito. A forma de violação é a exclusão, a
privação de direitos. E a consequência é o autorrespeito.

3) E a terceira forma de reconhecimento, a forma de violação desse tipo de


reconhecimento e as consequências e a consequência dessa violação?

A terceira forma de reconhecimento é a solidariedade. A forma de violação é a degradação e a


ofensa. E a consequência é a perda de autoestima. O reconhecimento que a gente tem
depende do outro social. Não basta que nós mesmos tenhamos reconhecidos nossos valores.
Há uma relação dialética com o outro na sociedade. E por isso a importância do outro
reconhecer esses valores.

4) Qual a colaboração da feminista Nancy Fraser a toda teoria colocada pelo Honnet?

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Ela fala que determinados grupos precisam de políticas de reconhecimento porque não
necessariamente são injustiçados financeiramente. Por exemplo, a população LGBT: seria o
exemplo de um polo que precisa de reconhecimento cultural, ter seus valores afirmados na
autoestima, na comunidade de valores, que é aquele terceiro reconhecimento que falamos,
mas não necessariamente está sofrendo com falta de distribuição financeira. No outro polo,
ela fala das pessoas negras, que as pessoas negras em geral, na sociedade, passam por uma
falta de uma política de redistribuição justa. E no meio ela coloca a mulher como uma
categoria bivalente.

Por que a mulher é uma categoria bivalente? Isso vai cair na prova. Porque elas têm a
falta de valorização no sentido do reconhecimento das comunidades de valores culturais,
são inferiorizadas na dominação masculina, e também os trabalhos que essas mulheres
fazem parte, em geral, são pior remunerados. E aí ela entra falando, dessa forma a
população negra também é uma categoria bivalente, porque os trabalhos menos remunerados
acabam também, principalmente, para as mulheres negras.

Essa é a contribuição da Fraser: uma preocupação com a integração entre


reconhecimento e redistribuição. Ela tem uma noção de justiça integrada, de
reconhecimento valorativo e redistribuição financeira. (vai cair na prova)

Essa é a contribuição dela para a teoria do Honnet. Porque o Honnet fala de reconhecimento...
ela vai falar “olha, para uma justiça ampla, é necessário os dois”. Até porque um
reconhecimento social traz como consequência uma valorização financeira. E por outro lado,
uma valorização financeira, também traz como consequência uma valorização cultural. São
coisas que não se desconectam. Quando você dá um impulso para um lado, o outro lado
necessariamente caminha junto, é dialético.

A Nancy Frase fala em interseccionalidade. Por que? Lembra que ela fez esse polo: alguém
diz “ah, às pessoas LGBT, em geral, falta reconhecimento”... Ela fala “calma, mas não é bem
assim”, porque sempre que uma coisa tem falta de reconhecimento, tem falta de
redistribuição. E existem categorias que se acoplam. Uma pessoa pode ser uma mulher negra,
LGBT. E aí entra a teoria dela de interseccionalidade.

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Teoria da interseccionalidade – quando vários tipos de opressão interferem na vida de uma
pessoa. São intersecções de opressões.

Então como categoria geral, as mulheres e a população negra, são categorias bivalentes.

E no caso de as pessoas serem reconhecidos dentro de seus grupos, por exemplo, os LGBTs
serem reconhecidos dentro da comunidade LGBT... (pergunta de um aluno)

Para Fraser não basta isso. Para Fraser o importante é que os outros grupos valorizem esse
grupo. Para ela, não importa apenas que as pessoas se reconheçam dentro de suas
particularidades, mas que essas particularidades sejam reconhecidas no geral. Isso para ela é
dar autoestima. Isso para ela é ser reconhecido nas suas particularidades na sociedade. Isso
para o Honnet também: não basta que um professor seja valorizado entre professores. É
necessário que aquela nação valorize professores. E o que a Fraser diz é “não adianta essa
valorização ser apenas cultural, temos que ter uma valorização financeira porque as coisas
estão lincadas”.

Pergunta de um aluno que não havia entendido o que seria categoria bivalente.

Categoria bivalente – a Fraser dá um exemplo quanto falar da teoria de justiça dela. Ela dá o
exemplo de um espectro, uma linha. Nessa linha há a categoria LGBT. Os valores da
sociedade diminuem essas pessoas, culturalmente, inferiorizam essas pessoas. Nessa linha,
ainda, ela coloca as categorias bivalentes. Assim, há a falta de reconhecimento cultural e
redistribuição. Ainda na linha, haveria o que seria o colo da redistribuição, no caso, pessoas
pobres, marginalizadas, economicamente. O que é interseccionalidade? É quando uma pessoa
está na intersecção dessas faltas sociais. É quando uma pessoa está na intersecção, por
exemplo, é uma mulher e LGBT. É pobre, é negra e é mulher. Ocorre assim uma
interseccionalidade.

Essa teoria inicial faz parte de um campo crítico. A Escola de Frankfurt, a qual o Honnet faz
parte da terceira geração, é uma escola da teoria crítica, que estuda as noções críticas da
filosofia, da teoria social e do direito – escola de Frankfurt.

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LYNN HUNT

A Lynn Hunt é uma autora panamenha, professora de história moderna na Universidade da


Califórnia, e as especialidades dela são Direitos Humanos, Revolução Francesa e História e
Gênero.

A Lynn Hunt tem um livro chamado “A Invenção dos Direitos Humanos” (está no Drive e no
plano de aula).

No início do livro, a Hunt fala para o leitor sobre o que são Direitos Humanos. Só que a
perspectiva dela não é uma perspectiva positivista, tá mais para uma perspectiva liberal, uma
perspectiva mais próxima de um jusnaturalismo.

Então ela diz que há um paradoxo da autoevidência. O que significa isso? O que significa
esse paradoxo da autoevidência? É simples. Na Declaração da Independência dos Estados
Unidos de 1776, o Thomas Jefferson coloca o seguinte: “consideramos essas verdades
autoevidente, que todos são homens criados iguais, dotados pelo seu criador (criador é Deus)
de certos direitos inalienáveis, que entre esses direitos estão a vida, a liberdade, a busca da
felicidade...”. Isso está na Declaração de Independência dos Estados Unidos.

O que vocês notam nessa frase que o Thomas Jefferson coloca na Declaração de
Independência? Direito natural.

Por que é Direito natural?

Ele está dizendo... “faz parte do ser humano... dotados pelo Criador”. Isso está na Declaração
de Independência dos Estados Unidos de 1776 e essa é a primeira vez que os Direitos
Humanos são colocados na folha de papel, que eles são colocados na lei, que eles são
colocados em uma declaração.

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A primeira vez que eles aparecem tem essa forma direito natural. Porque ele não está falando
assim “olha, politicamente, teve uma luta e essa categoria atingiu os seus direitos...” ele não
está falando isso. Ele está falando “Deus, o Criador, dota os humanos de certos direitos
inalienáveis”, ou seja, é impossível tirar dos seres humanos esses direitos, que são busca da
felicidade, a vida, a liberdade...

E aí ela fala assim, ok, se no início dessa frase tem assim... “consideramos essas verdades
autoevidentes...”, ela diz que tem um paradoxo nessa autoevidência.

E qual o paradoxo disso? Se é autoevidente, por que você está colocando aí? Por que você
está colocando uma declaração de direitos se é autoevidente? Se é autoevidente não precisa
ser declarado. Se é autoevidente, por que está precisando afirmar numa declaração? Se é tão
natural assim, por que o Thomas Jefferson está declarando direitos que não declaráveis,
porque são naturais?

Esse é o paradoxo da autoevidência. Se a igualdade de direitos é autoevidente por que essa


afirmação tinha de ser feita? E por que ela é feita em um lugar específico, que é a Declaração
de Independência dos Estados Unidos? É específico, é contextual. Tem um tempo, tem um
local. Como é que é autoevidente? Como é que é universal se está num local, está num
contexto histórico... É isso que ela joga para o leitor.

E aí ela fala que são duas declarações assim iniciais em que aparecem os direitos humanos.
Essa na Declaração de Independência dos Estados Unidos e a Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão francesa de 1789 – a Revolução Francesa.

Então são dois momentos históricos, do mesmo século, que é o século XVIII, que está
começando a surgir declarações em que os direitos humanos se colocam pela primeira vez.

Essa é a importância dessas declarações. É a primeira vez que são colocados os Direitos
Humanos nas leis.

Só que essa Declaração francesa, por exemplo, não impede que períodos que venham depois
dela sejam ruins. Ela não impede a desigualdade formal. Ela não é inclusiva para crianças,

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para pessoas consideradas com insanidade para os prisioneiros, para os estrangeiros, para as
mulheres... Reparem no nome: Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Ou seja, é
uma declaração que, no fundo, é para pessoas brancas e homens. O próprio nome já fala isso.

Anos mais tarde, Olympe de Gouges fez a declaração dos direitos da mulher, como uma
resposta. Sabe o que aconteceu com ela? Guilhotinada.

O mais interessante e o mais peculiar... a declaração dela também está no Drive para quem se
interessar... e o interessante é que ela fala “se uma mulher tem o direito de subir ao cadafalso”,
ou seja, se uma mulher é imputável, se uma mulher pode subir ao cadafalso, pode ser
torturada, é considerada cidadã na hora de ser punida, ela também tem igualmente o direito de
subir à tribuna, de ser uma cidadã ativa.

O que aconteceu com ela?

Subiu ao cadafalso (risos). Essa é a maior ironia. Foi considerada alguém que estava contra a
Revolução, que estava atrapalhando o momento revolucionário. Tão importante aquele
momento, com várias coisas como liberdade etc... e ela estava lá atrapalhando, querendo criar
uma revolução dentro da Revolução. Não pode.

É isso que a Lynn Hunt fala: “é igualdade, mas não é tão igualdade assim”. “É universal, mas
não é tão universal assim”. “É natural, mas também não é tão natural assim, pois precisa ser
afirmado”.

Então vamos entender do que se tratam essas questões.

A primeira coisa que ela fala desse surgimento dessas declarações e dos Direitos Humanos é
que surgem a partir de uma nova mentalidade do século XVIII. Essa nova mentalidade, tinha
a ver com o Iluminismo, a racionalidade moderna, o antropocentrismo, o individualismo, tudo
isso faz parte dessa racionalidade do século XVIII... do Iluminismo, da Era Moderna.

E aí de acordo com essa autora, as artes foram essenciais para criar uma nova psicologia para
as pessoas. As artes também foram muito responsáveis por mudar mentalidades. E aí ela

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colocou alguns exemplos: os exemplos principais que ela coloca no livro são os romances
epistolares.

Romances epistolares – (possível questão de prova) – o que são esses romances epistolares?
São romances, narrativas, que se dão a partir de uma troca fictícia de cartas em que eram
colocados a partir desses personagens perspectivas de seus sentimentos mais interiores, mais
profundos. E esses personagens, no geral, eram personagens comuns, da vida comum, um
marinheiro, uma filha de um pai autoritário, pessoas comuns... E aí o que tudo isso gerava?
Em primeiro lugar, no século XVIII, mais pessoas sabiam ler. Foi um momento em que se
tinham ais pessoas lendo. Em segundo lugar, esses personagens comuns enfrentavam
problemas cotidianos do amor, do casamento, da sua carreira, construção de carreira... Em
terceiro lugar, esses romances não tinham um ponto de vista de fora, um ponto de vista do
alto. Era cada personagem falando com outro. Era o próprio diálogo. São as cartas. Essas
cartas não têm um narrador. E aí elas podem mostrar a subjetividade desses personagens
criando uma sensação de identificação, de realidade. Por que? É como se estivéssemos lendo
uma carta de verdade, um conjunto de cartas. Não tem uma história. Isso torna algo mais real.
Parece que você está lendo e descobrindo aquelas cartas. Esses romances mostravam os
personagens ao longo do tempo, que é diferente do diálogo do teatro. Porque no teatro é
aquilo, é uma cena. Esses romances mostravam o desenvolvimento daquele personagem. E aí,
era demonstrado que a individualidade do personagem dependia da sua interioridade, das suas
qualidades... Isso criou uma mentalidade naquela época, de acordo com a autora, de que as
pessoas começavam a ter noção de sentimentos dos outros e das semelhanças entre
sentimentos e sofrimentos. Semelhanças entre sentimentos e sofrimentos e relações de
empatia

Exemplos de romances epistolares: A Nova Heloísa – do Rousseau. Esse é o principal que ela
fala. Nesse romance, aparece uma mulher submissa ao pai autoritário que força ela a se casar
com um soldado russo. E aí ela precisa sacrificar os próprios desejos até a morte. Em geral,
esses personagens têm um final bem doloroso, bem dramático. Isso criava uma identificação
das pessoas querendo que ela prosperasse. E ao querer que ela prosperasse, essas pessoas
acabavam olhando para as mulheres do mundo, que também tinham pais autoritários, que à
época também tinham maridos autoritários. De acordo com ela, ao ler... a leitura teve um

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grande boom no século XVIII... essa leitura acabou chamando pessoas a terem empatia com
várias realidades que estavam perto delas e elas não percebiam.

Além disso, além desses romances epistolares também foram criadas muitas teorias sobre a
tortura. Como estava ali no Iluminismo, na racionalidade moderna, no individualismo,
começou a ser questionada a tortura como método de confissão ou como prova, e esses
questionamentos à tortura também impulsionaram essa nova forma das pessoas entenderem a
sociedade. Um exemplo disso muito importante foi o Beccaria.

Então de acordo com ela foram esses dois polos que impulsionaram... primeiro os romances
epistolares e segundo as teorias contra a tortura.

Então nesse contexto, junto com os romances do século XVIII, tiveram essas declarações,
tanto a de 1776 quanto a de 1789. E então essa expressão política começava a trazer esses
valores para o âmbito da lei, para o âmbito daquilo que é declarado, que é expresso
politicamente.

Essa afirmação formal e pública confirmava as mudanças, não só da mentalidade das pessoas,
mas também as mudanças políticas, as mudanças de soberania, mudanças sociais históricas.

De acordo com a autora, as mentalidades ajudaram a fornecer um novo contexto político-


jurídico.

É uma perspectiva que é idealista e não materialista. Por que? O materialismo é a ideia de que
as relações sociais e estruturais dominantes formam as ideias. O materialismo prega a
primazia da realidade material. Tá, tudo bem. As ideias dialogam com as relações, com a
economia e com a estrutura. E a estrutura também dialoga com a ideia, uma ideia faz surgir
muita coisa. Mas nesse diálogo, o materialismo coloca que a primazia é da realidade material,
é da estrutura dominante. Que a ideia só é dominante porque ela reflete a estrutura econômica
dominante.

O idealismo, não. O idealismo fala que na verdade a estrutura que temos é um conjunto de
várias ideias que deram naquilo.

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O racismo é um conjunto de várias atitudes racistas, de várias pessoas que acordaram ao
mesmo tempo, coincidentemente falaram “eu me acho superior porque eu sou branco e por
isso me acho superior. E você?”... “Ah, eu acordei hoje me achando superior. E você?”... “Ah,
eu também”. “Que coincidência, vamos juntar e fazer um grande racismo?”.

É isso, ou é colonialismo, as estruturas coloniais que vem da época da colonização que


colocam de forma que o branco esteja fazendo epistemicídios, genocídios, das populações que
eles colonizavam... e aí sim se tinha uma desvalorização dessas pessoas na sua forma de
conhecer a realidade, na sua integridade em si?

É a realidade material que condiciona ideia ou a ideia que condiciona a realidade material?

De acordo com ela, parece que ela tá colocando que a ideia transforma a realidade. Para ela a
ideia surge e isso é colocado. Mas ela não responde, de onde vêm esses romances? Do
Iluminismo. E dá onde vem o Iluminismo, se não de uma nova ordem econômica, onde a
burguesia se coloca no poder? E não mais o Clero, e não mais o rei absolutista?

Na verdade, o Iluminismo já está vendo de uma nova ordem social, que é uma ordem que
importa a quem está chegando, que é a burguesia. O Iluminismo está se colocando porque a
burguesia está se colocando. Essas declarações se colocam porque é necessária uma
autonomia desses comerciantes em relação àquele que era o absolutista. Está tudo interligado.

E aí, por exemplo, figuras como deputados franceses que surgem a partir daí, criam algo
radicalmente novo: governos justificados pela sua garantia de direitos universais.

E aí a autora começa a falar que daí começa a surgir o cidadão passivo. O que é isso? É
aquele que tinha o direito de sua proteção como pessoa, mas não podia ser ativo, não podia
participar das atividades públicas. Não tinha participação direta. Quem eram essas pessoas?
As crianças, os negros livres daquela época, os estrangeiros – já que eram declarações que
diziam respeito àquela nação, as mulheres. Isso reflete essa não universalidade, que essas
declarações colocavam. Eles eram reconhecidos como pessoa, mas sem participação ativa, ou
seja, ela chama de cidadão passivo – passivo no sentido do direito, não da atitude da pessoa.

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Ele é considerado passivamente um ser humano, só que ele não é considerado alguém que
possa eleger, possa participar diretamente. Então essa declaração traz uma igualdade
demagógica.

A ideia de cidadão passivo é a ideia do cidadão não ter o direito de participar, só de ser
considerado um ser humano.

E aí, ela coloca três qualidades para os direitos humanos: iguais, naturais e universais.

Então quando eu perguntar na prova o que são direitos humanos, você precisa me dizer de
acordo com quem. Se algum dia alguém perguntar o que são direitos humanos, você tem de
falar de acordo com quem: com a Lynn Hunt, com o Bobbio... Aí se eu perguntar, de acordo
com a Lynn Hunt, aí você vai responder:

São direitos que devem ser inerentes ao ser humano, ou seja, direitos naturais, que
devem ser iguais ou seja, o mesmo direito para todos, e universais, aplicáveis a toda a
parte.

Iguais, naturais e universais.

E de acordo com ela, devem ser estabelecidos politicamente, porque são direitos do homem
na sociedade, garantidos no mundo político secular (separação da igreja, com um contexto
cívico).

Quais eram os problemas que ela identificou?

Quando ela se vira para essas duas declarações, ela coloca assim... “tá, no caso americano, no
caso dos Estados Unidos, essa declaração ajuda a tornar efetiva uma transferência de
soberania, do Jorge III e o Parlamento Britânico, para uma nova República”.

No caso francês, ou seja, na Declaração de 1789, há uma transferência da monarquia


absolutista para representantes da nação.

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Nesse novo panorama político, as campanhas contra a tortura se uniram aos Direitos
Humanos. Teve uma ampliação dos direitos para minorias religiosas, concessão de direitos
políticos às pessoas negras... só que ela fala assim “isso não é tão igual assim, mas também
não é tão universal assim. Por quê? Há uma ideia excludente quando você diz que esses
direitos dependem da nacionalidade. Então não é universal, é só francesa. Então não é
universal, é só estadunidense.

Isso foi entrando no século XIX e essa afirmação de direitos de um povo com base na
nacionalidade foi tomando uma força que foi caminhando para um outro lugar. O que nós
tivemos no século XIX para o século XX? Principalmente o caso alemão?

Uma dificuldade de criar ou de manter uma homogeneidade étnica fez com que pessoas que
estavam no poder, em especial no caso alemão, ficassem preocupadas com a crescente
migração, fazendo com que esses Estados ficassem mais defensivos, mais fechados. E aí
começaram a surgir fundamentações racistas, fundamentações xenofóbicas, e essas
fundamentações, como a gente vem daquela racionalidade iluminista, elas não podem ser
simplesmente a partir da religião, ou partir da moral. Tinha que ter um fundamento científico,
pseudocientífico, um fundamento na biologia, e aí começaram a surgir teorias de
inferiorizarão de pessoas.

Nesse contexto do século XIX e XX, o feminismo foi tomando lugar como resistência a essas
explicações de inferioridade. Só que essas explicações da inferioridade feminina ficavam com
pouco coesão, porque afinal de contas, mesmo o nazismo precisava de mulheres. Todos os
governos precisam de mulheres, pois todos os governos precisam da reprodução da vida.
Então ficavam certas lacunas nessas explicações. E o feminismo tentou entrar nessas lacunas.

E aí, o antissemitismo ficou com uma explicação baseada em estereótipos cristãos negativos.
Ao contrário de como eram consideradas as pessoas negras, as pessoas negras eram
explicadas como pessoas inferiores, como subpessoas, os judeus não.

Como os judeus eram explicados? A partir de uma crítica que vinha dos próprios valores da
modernidade. “Ah, os judeus são excessivamente materialistas”, “são desarraigados da vida
urbana”, “tem um cosmopolitismo degenerado”...

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E aí no século XX, as baixas decorrentes da Primeira e da Segunda Guerras Mundiais, devido
ao nazismo, fizeram surgir de volta a preocupação universal. A partir das grandes guerras,
voltou uma preocupação universal e universalista, pois foi muita gente morrendo.

Em 1945, houve esse estabelecimento de uma estrutura das nações unidas. Para em 1948,
surgir a Declaração Universal de Direitos Humanos.

Em 1948, foi aprovada a Declaração Universal de Direitos Humanos que não reafirmava
simplesmente aquelas noções de direitos individuais do século XVIII (igualdade, liberdade de
expressão, liberdade de religião, proteção de propriedade privada, rejeição da tortura...), mas
ela também trazia um acréscimo. O que é isso? Proibição da escravidão, sufrágio universal
por votação secreta.

Então, o que podemos concluir?

Primeiro, essa empatia que foi fomentada no século XVIII, não se exauriu nos séculos
seguintes, não acabou nos séculos seguintes. Essa noção, esse salto de fé, que ela chama essa
empatia de salto de fé, que é você saltar e se colocar na pele de uma outra pessoa, imaginando
que você está na pele, sentindo os sentimentos de uma outra pessoa. E aí você sente em você
aqueles sentimentos da outra pessoa. Quando a outra pessoa fala em fome, em frio, em
autoritarismo, em sofrimento, em amor, você começa a conjecturar aquilo para você quando
está lendo, quando você vê um filme, quando você vê uma cena de cortar um corpo, você
sente aquilo... Isso é o que ela chama de empatia, é o salto de fé. De imaginar que está na pele
de outra pessoa. Essa empatia não se exauriu nos séculos seguintes. No entanto, segunda a
autora, essas grandes guerras, essa exclusão de judeus, tudo isso foi esse salto de fé capturado
para um outro lado. Porque as pessoas nazistas, as pessoas fascistas, também são tomadas por
emoções, por um sentimento de união, por um sentimento de nacional socialismo. Há um
sentimento de nacionalismo. Sentimentos de nacionalismo que colocam um sentimento de
grupo e o outro como o grande inimigo a esse sentimento.

Segundo a autora, esse contexto da união promovida por esse contexto de ultranacionalismo,
fornece a união entre semelhantes contra inimigos. E aí você precisa selecionar inimigos de

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acordo com o interesse. Você seleciona um inimigo para dizer, “vamos nos unir, ter empatia
um com o outro, contra esse inimigo”. Ou seja, há uma reversão do sentido da empatia.

E a estrutura dos direitos humanos, seus órgãos internacionais, cortes, convenções acaba
sendo lenta para atingir esses objetivos de união. Porém, é uma estrutura derivada de um
processo de luta e de preocupação universal com direitos das pessoas.

Só que para ela, a autora, esse efeito compensatório da violência ao outro, esse efeito sádico
também é compartilhado, esse efeito sádico de você fazer essa violência contra esse inimigo é
muito incrementado a partir de vários governos. Então essa é a grande disputa... preocupações
universais...

Então como podemos concluir isso?

As declarações de 1776, que é a dos Estados Unidos, a declaração de 1789, que é a francesa, e
a de 1948, que é a Declaração Universal de Direitos Humanos, providenciaram uma pedra de
toque para os direitos da humanidade. Recorrem ao senso do que não é mais aceitável na
contemporaneidade. E ajuda a tornar as violações mais inadmissíveis.

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