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3.

COLETA E ANÁLISE DE DADOS CINÉTICOS

3.1. BALANÇO MATERIAL E COLETA DE DADOS EM REATORES IDEAIS


ISOTÉRMICOS

A equação geral do balaço de massa para um sistema qualquer é dada pela seguinte
equação:
𝐸−𝑆+𝐺 =𝐴
O projeto de reatores, que será estudado posteriormente, estará intimamente ligado ao
balanço de massa para os componentes que serão analisados nos reatores. Esta equação será
utilizada com as simplificações necessárias e características de cada reator químico.

3.1.1 Reator tanque descontínuo (BSTR) ou reator batelada (batch)

O reator batelada é utilizado para operação em pequena escala, para testes de novos
processos que ainda não foram completamente desenvolvidos, para fabricação de produtos
caros, e para processos que são difíceis de converter em operações contínuas. A Figura 3.1
mostra um reator do tipo batelada. As principais características do reator batelada são:
− Operação descontínua (as variáveis mudam com o passar do tempo);
− Mistura assumida como perfeita;
− O volume normalmente é fixo. Mas existem casos de volume variável;

Figura 3.1 – Esquema ilustrativo de um reator batelada.

Fonte: FOGLER, 2014.

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Principal vantagem do reator batelada: permite altas conversões de reagentes.


Principais desvantagens: alto custo de mão de obra, variabilidade do produto obtido e
dificuldade de produção em larga escala.
Para o desenvolvimento do modelo, primeiro deve-se identificar o elemento sobre o qual
se deve realizar o balanço material, ou seja, o sistema de interesse. A seguir será descrito o
passo a passo para obter a equação de desempenho desse reator.

𝐸−𝑆+𝐺 =𝐴

𝑑𝑁𝑗
𝑁𝑗𝑜 − 𝑁𝑗 + 𝐺𝑗 =
𝑑𝑡

Onde: Njo – número de mols inicial da espécie j;


Nj - número de mols na saída da espécie j;
Gj (rjV) - taxa de geração da espécie j;
𝑑𝑁𝑗
– Taxa de acúmulo do número de mols da espécie j.
𝑑𝑡

Considere a reação:

𝐴 → 𝑝𝑟𝑜𝑑𝑢𝑡𝑜𝑠

Balanço molar da espécie j no reator batelada é:

𝑑𝑁𝑗
= 𝑟𝑗 . 𝑉
𝑑𝑡

E em função da conversão:

𝑑𝑋𝑗 𝑁𝑗0
=
𝑑𝑡 −𝑟𝑗 . 𝑉

Para volume constante:


𝑑𝑋𝑖 𝐶𝑗0
=
𝑑𝑡 −𝑟𝑗

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Para volume variável:

𝑑𝑋𝑖 𝐶𝑗0
=
𝑑𝑡 −𝑟𝑗 (1 + 𝜀𝑋𝑗 )

3.1.2 Reator tanque de mistura contínuo (CSTR)

É o reator químico mais comum em nível industrial. Ele é referido como reator tanque
agitado contínuo (CSTR), reator de retromistura ou tanque de reação, e é utilizado
principalmente para reações em fase líquida. Normalmente é operado em regime estacionário,
e assume-se como tendo uma mistura perfeita, consequentemente não há dependência espacial
para a temperatura, concentração ou taxa no interior do CSTR.
Como a temperatura e concentrações possuem o mesmo valor em qualquer ponto do
reator, elas têm o mesmo valor no ponto de saída. É claro que existem reatores que não assumem
esse comportamento e são ditos não ideais. A Figura 3.2 ilustra um reator CSTR.

FIGURA 3.2 – Ilustração de um reator do tipo CSTR.

Fonte: FOGLER, 2014

Em virtude das propriedades do sistema serem uniformes ao longo do volume do reator,


o balanço de massa para obtenção da equação de desempenho é realizado considerando o
volume do reator como sistema. Assim, realiza-se um balaço MACROSCÓPICO de forma
análoga aos realizados na disciplina de balanço de massa e energia. A seguir, é apresentada a
dedução da equação de desempenho para o CSTR ideal:

𝐹𝑖0 − 𝐹𝐼 + 𝑟𝑖 𝑉 = 0

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𝐹𝑖0 − 𝐹𝐼
𝑉=
−𝑟𝑖

𝐹𝑖0 𝑋𝑖
𝑉=
−𝑟𝑖

3.1.3 Reator tubular (PFR)

Além dos reatores CSTR e batelada, outro tipo de reator bastante utilizado
industrialmente é o reator tubular. Ele consiste em um tubo cilíndrico e é normalmente operado
em regime estacionário, assim como o CSTR. Os reatores tubulares são normalmente utilizados
para reações em fase gasosa.
Neste reator, os reagentes são continuamente consumidos à medida que avançam ao
longo do seu comprimento. Na modelagem do reator tubular, assumimos que a concentração
varia continuamente na direção axial do reator, consequentemente, a velocidade de reação varia
na direção axial.
O reator tubular ideal considera um perfil uniforme de escoamento (isto é, de velocidade
uniforme analogamente ao escoamento turbulento em tubulações). Neste caso, não existe
variação radial na velocidade de reação e o reator é designado reator de escoamento uniforme
ou reator contínuo de fluxo pistonado (PFR). A Figura 3.3 ilustra um reator deste tipo.

FIGURA 3.3 – Ilustração de um reator PFR.

Fonte: FOGLER, 2014

Reatores tubulares são utilizados para várias reações gasosas em grande escala, como
exemplos temos:
• Reações homogêneas (o tubo contém apenas reagentes, produtos e inertes):
2 NO + O2 → 2 NO2

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• Reações heterogêneas (o tubo é um leito empacotado com catalisador e os gases


percolam o meio poroso):
CO + 2 H2 ⇌ CH3OH
N2 + 3 H2 ⇌ 2 NH3
A suposição de simplificação do reator para fluxo pistonado torna o modelo deste reator
bem simples. Abaixo é apresentada a dedução da equação de desempenho para o reator tubular
ideal, começando pelo balanço molar:

𝑑𝑁𝑖
𝐹𝑖0 − 𝐹𝑖 + 𝑟𝑖 𝑑𝑉 =
𝑑𝑡

𝐹𝑖0 − (𝐹𝑖0 + 𝑑𝐹𝑖 ) + 𝑟𝑖 𝑑𝑉 = 0

Na forma diferencial:

𝑑𝐹𝑖
− = −𝑟𝑖
𝑑𝑉

Em função da conversão:
𝑑𝑋𝑖
𝐹𝑖0 = −𝑟𝑖
𝑑𝑉

𝑑𝑋𝑖 −𝑟𝑖
=
𝑑𝑉 𝐹𝑖0
Na forma integral:

𝑋𝑖
𝑑𝑋𝑖
𝑉 = 𝐹𝑖0 ∫
0 −𝑟𝑖

3.2 MÉTODOS DE ANÁLISE E AJUSTE DOS DADOS CINÉTICOS

Uma equação de taxa caracteriza a velocidade de uma reação; sua forma pode ser
consequência de considerações teóricas de um modelo ou resultado do ajuste de uma curva

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empírica. Em ambos os casos, os valores das constantes da equação só podem ser determinados
experimentalmente.
A determinação da equação da velocidade é, de modo geral, um procedimento
em duas etapas; primeiro, é estabelecida a influência da concentração fixando-se a temperatura
e, em seguida, determina-se a dependência entre as constantes de taxa e a temperatura, obtendo-
se a equação completa da velocidade.
O equipamento para obtenção das informações experimentais pode ser dividido
em dois tipos: reatores contínuos e reatores descontínuos (intermitentes ou de batelada). O
reator descontínuo é, simplesmente, um tanque que armazena as substâncias enquanto estas
reagem. O que deve ser determinado é a extensão da reação após diversos períodos de tempo.
Pela facilidade decorrente na interpretação dos resultados, o caso de um reator descontínuo
experimental, operando isotermicamente e a volume constante, será exemplificado aqui. O
andamento de uma reação, em um reator descontínuo, pode ser acompanhado por uma das
formas apresentadas a seguir:
− Pela concentração de um dado componente.
− Pela variação de alguma propriedade física do sistema, como condutividade
elétrica ou índice de refração.
− Pela variação da pressão total de um sistema que opera a volume constante.
− Pela variação de volume de um sistema que opera a pressão constante.
Os métodos mais utilizados para analisar os dados cinéticos experimentais são o
método integral e o método diferencial. No método de análise integral, seleciona-se um modelo
cinético e sua correspondente equação de taxa e relaciona-o ao balanço molar de um reator
batelada, após tratamentos matemáticos e integrações apropriadas, relacionam-se em um
gráfico cartesiano os dados de C e t para obter uma reta. A obtenção de uma função
razoavelmente linear indica o acerto na escolha do mecanismo. Este método é um método de
tentativa e erro.
No método de análise diferencial, seleciona-se um modelo cinético e ajusta-se
diretamente aos dados ao balanço molar do reator batelada. Entretanto, como o balanço molar
do reator é uma equação diferencial, tem-se que determinar a relação (1/V)(dN/dt) a partir dos
dados experimentais, antes de proceder-se com o ajuste.

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Ambos os métodos têm suas vantagens e desvantagens. O método integral é de


uso mais simples, recomendado no teste de mecanismos específicos, mecanismos simples, ou
quando os dados são tão divergentes que tornem impraticáveis as derivações.
O método diferencial é mais usado nas situações complexas, mas requer maiores
cuidados ou maior número de dados. O método integral exige que se estabeleça um mecanismo
de reação hipotético, o que não é necessário no método diferencial, que pode ser utilizado na
pesquisa da equação empírica que melhor se ajusta aos dados.
Em geral, tenta-se inicialmente o método integral e, se não há sucesso, passa-se
ao método diferencial. Em alguns casos complexos, podem ser desenvolvidos métodos
experimentais que envolvam soluções parciais do problema ou o uso de reatores contínuos com
análise diferencial. Neste capítulo vamos dar uma maior ênfase aos métodos integral e
diferencial em virtude da sua ampla aplicabilidade.

3.2.1 Método integral

O método integral testa uma equação de taxa específica acoplada ao balanço molar do
reator batelada, integrando e comparando os valores teóricos e experimentais de C e t. A
equação de taxa é sempre sugerida por um mecanismo hipotético ou modelo. Quando o ajuste
não é satisfatório, o mecanismo é rejeitado e outro mecanismo é sugerido e testado. Sendo
assim, este método é de tentativa e erro. O procedimento pode ser resumido como segue:
Passo 1: Admite-se um mecanismo hipotético e determina-se a expressão de taxa
(chuta-se uma taxa e um mecanismo para a reação). Normalmente, o primeiro chute é para a
expressão de taxa mais simples possível e daí, se não der certo, vai se complicando os modelos
atribuídos. Essa expressão, escrita para o conjunto do reagente A em um sistema de volume
constante, será da forma:

−𝑟𝐴 = 𝑘𝑓(𝐶)

E será é acoplada ao balanço molar para o reator batelada, obtendo-se:

𝑑𝐶𝐴
= 𝑘𝑓(𝐶)
𝑑𝑡

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Podendo ser resolvida se for uma equação diferencial de variáveis separáveis, obtendo-
se:
𝑑𝐶𝐴
∫ = ∫ 𝑘𝑑𝑡
𝑓(𝐶)

Passo 2: A Equação acima pode e deve ser integrada analiticamente, pois o termo f(C)
envolve apenas concentrações de materiais, podendo ser expresso em termos de CA. Assim,
resultando em:
𝐶𝐴 𝑡
𝑑𝐶𝐴
∫ = 𝑘 ∫ 𝑑𝑡
𝐶𝐴0 𝑓(𝐶) 0

Essa função-concentração é proporcional ao tempo e, um gráfico Ca versus t DEVERÁ


MOSTRAR uma reta de inclinação k para essa taxa de reação particular.
Passo 3: Experimentalmente, determinam-se valores numéricos para a integral e esses
valores são colocados em um gráfico. Se a análise levar a resultados satisfatórios, então se
assume que a equação de taxa escolhida que está sendo testada se ajusta satisfatoriamente aos
resultados obtidos. Se os resultados se ajustam melhor a uma curva, então essa equação de
velocidade e seu mecanismo são rejeitados e é feita uma nova tentativa com outra equação de
velocidade.

Para um engenheiro químico pleno, é importante saber como se obtém gráficos de


funções lineares de CA versus t para reações de ordem zero, de primeira ordem e de segunda
ordem. Por isso, esses serão os casos apresentados.

− Reações de ordem zero do tipo: A → produtos.

Equação de taxa:
−𝑟𝐴 = 𝑘

Balanço molar (equação de projeto) para o reator batelada (V = constante):

𝑑𝐶𝐴
= 𝑟𝐴 = −𝑘
𝑑𝑡

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Separando variáveis e integrando:

𝐶𝐴 = 𝐶𝐴0 − 𝑘𝑡

Graficamente, CA x T apresenta-se como:

FIGURA – Reação de ordem zero.

Fonte: FOGLER, 2014.

O mesmo pode ser feito aplicando a expressão de taxa e o balanço molar em função da
conversão:
𝑘
𝑋𝐴 = − 𝑡
𝐶𝐴0

− Reações unimoleculares irreversíveis de primeira ordem do tipo: A → produtos.


Equação de taxa:

−𝑟𝐴 = 𝑘𝐶𝐴

Balanço molar (equação de projeto) para o reator batelada (V = constante):

𝑑𝐶𝐴
= 𝑟𝐴 = −𝑘𝐶𝐴
𝑑𝑡

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Separando variáveis:

𝐶𝐴 𝑡
𝑑𝐶𝐴
∫ = −𝑘 ∫ 𝑑𝑡
𝐶𝐴0 𝐶𝐴 0

Integrando:

𝐶𝐴0
ln ( ) = 𝑘𝑡
𝐶𝐴

𝐶
Graficamente ln ( 𝐶𝐴0 ) x T apresenta-se como:
𝐴

FIGURA – Reação de primeira ordem.

Fonte: FOGLER, 2014.

O mesmo pode ser feito aplicando a expressão de taxa e o balanço molar em função da
conversão:

ln(1 − 𝑋𝐴 ) = −𝑘𝑡

− Reações bimoleculares irreversíveis de segunda ordem do tipo: 2 A → produtos.


Equação de taxa:

−𝑟𝐴 = 𝑘𝐶𝐴2

Balanço molar (equação de projeto) para o reator batelada (V = constante):

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𝑑𝐶𝐴
= 𝑟𝐴 = −𝑘𝐶𝐴2
𝑑𝑡
Separando variáveis:
𝐶𝐴 𝑡
𝑑𝐶𝐴
∫ 2 = −𝑘 ∫ 𝑑𝑡
𝐶𝐴0 𝐶𝐴 0

Integrando:

1 1
= + 𝑘𝑡
𝐶𝐴 𝐶𝐴0

Graficamente 1/CA x T apresenta-se como:

FIGURA – Reação de segunda ordem.

Fonte: FOGLER, 2014.

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Exemplo 3.1: A isomerização irreversível

𝐴→𝐵

Foi conduzida em um reator batelada e os dados de concentração-tempo obtidos estão


dispostos na tabela abaixo.
t (min) Ca (mol/L)
0,0 4,000
5,0 2,250
8,0 1,450
10,0 1,300
12,0 0,800
15,0 0,250
17,5 0,060
20,0 0,008

Determine a ordem de reação e a taxa específica com a unidade apropriada.


Resposta: Ordem zero; k = 0,1961 min-1.

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3.2.2 Método diferencial

O método diferencial de análise, aplicado diretamente à equação de projeto na forma


diferencial, permite avaliar todos os termos da equação, inclusive a derivada dCi/dt, e testa o
ajuste da equação aos pontos experimentais.
Passo 1: Supõe-se um mecanismo hipotético com uma expressão de taxa hipotética. A
fim de ilustração, utilizaremos como exemplo uma reação isotérmica em um reator batelada a
volume constante com a concentração de A medida em função do tempo. Combinando o
balanço de massa para o BSTR e a equação de taxa tem-se:

𝑑𝐶𝐴
= −𝑘𝐶𝐴𝑛
𝑑𝑡

sendo que o objetivo é determinar experimentalmente os valores de k e n.


Passo 2: Toma-se o logaritmo nos dois lados da equação de projeto na forma diferencial
com o objetivo de obtê-la na forma linearizada:

𝑑𝐶𝐴
ln (− ) = ln 𝑘 + nln 𝐶𝐴
𝑑𝑡

Percebe-se, com isto, que esta equação deve fornecer uma reta, sendo que o coeficiente
angular desta reta é a ordem da reação (n) e o coeficiente linear é o logaritmo da constante de
taxa.
Passo 3: Plota-se um gráfico de ln(-dCA/dt) versus ln(CA) e ajusta-se uma reta
utilizando o Excel. Com a equação da reta ajustada, obtêm-se os parâmetros desejados.
A grande questão aqui é: como obter a derivada dos dados experimentais se não temos
a função? Poderíamos utilizar 3 métodos para determinar essa derivada:
1) Diferenciação gráfica. Método extremamente antigo, mas que pode fornecer uma
resposta aproximada “na mão”.
2) Fórmulas de diferenciação numérica. Pode-se utilizar o Método das Diferenças
Finitas.
3) Diferenciação do polinômio ajustado aos dados. Este é o método mais utilizado
atualmente em virtude dos computadores pessoais acessíveis. Utilizaremos sempre este método

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para obter a derivada da função: Primeiro, ajusta-se um polinômio aos dados: pode-se utilizar
interpolação Lagrangiana. Mas utilizaremos o ajuste no Excel de modo a visualizar o polinômio
que melhor se ajusta. Segundo, derivamos esse polinômio e, assim, em cada tempo escolhido,
têm-se o valor da derivada da função.
Exemplo 3.2: Uma reação de degradação de um componente em sucos naturais ocorre
de forma não elementar, sendo que o mecanismo da reação pode ser representado por: A →
produtos. Um ensaio em um reator batelada forneceu os seguintes resultados experimentais:

Tempo (s) 0 20 40 60 120 180 300


Concentração (mol/L) 10 8 6 5 3 2 1

Com base nesta informação, determine a constante e taxa e a ordem desta reação
utilizando o método diferencial de análise.
Resposta: n = 2,4; k = 0,000684 L1,4/mol1,4.s

3.2.3 Método do tempo de meia vida

O método do tempo de meia vida é aplicado quando se conhecem os dados de


concentração de um reagente ao longo do tempo de reação. O tempo de meia vida (t1/2) é o
tempo necessário para que a concentração do reagente se reduza a metade. Para aplicar o
método do tempo de meia vida é necessário que vários experimentos sejam realizados com
diferentes valores de CA0.

𝐶𝐴0
𝐸𝑚 𝑡 = 𝑡1⁄ , 𝐶𝐴 =
2 2
A seguir são descritos os passos para aplicar o método da meia vida.
Passo 1 – Considera-se uma expressão de taxa para uma reação unimolecular de ordem
n:
−𝑟𝐴 = 𝑘𝐶𝐴𝑛

Passo 2 – Utiliza-se a expressão de taxa acima juntamente com o balanço molar para o
reator batelada:

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𝑑𝐶𝐴
= −𝑘𝐶𝐴𝑛
𝑑𝑡

Passo 3 – Realiza-se a separação das variáveis e a integração:

𝐶𝐴1−𝑛 − 𝐶𝐴0
1−𝑛
= (𝑛 − 1)𝑘𝑡

Passo 4 – Aplica-se o método da meia vida, substituindo t = t1/2 e CA = CA0/2:

1−𝑛 [2𝑛−1
𝐶𝐴0 − 1] = (𝑛 − 1)𝑘𝑡1/2

Passo 5 – Linearizar a equação:

ln(𝑡1/2 ) = ln 𝑘 ∗ + (1 − 𝑛) ln 𝐶𝐴0

Sendo:


2𝑛−1 − 1
𝑘 =
(𝑛 − 1)𝑘

Passo 6: Plota-se um gráfico de ln(t1/2) versus ln(CA0) e ajusta-se uma reta utilizando o
Excel. Com a equação da reta ajustada, obtêm-se os parâmetros desejados.
Para ordens de reação diferentes de um, o tempo de meia vida pode ser determinado
como:
1−𝑛 [2𝑛−1
𝐶𝐴0 − 1]
𝑡1/2 =
(𝑛 − 1)𝑘

Exemplo 3.3 – A reação

𝐴→𝐵+𝐶

Ocorre em um reator batelada a volume constante. O experimento foi realizado várias


vezes com diferentes valores de concentração inicial e quando metade dessa concentração foi

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consumida, o tempo correspondente foi coletado. A tabela a seguir apresenta os dados para
diferentes temperaturas. Determine a ordem de reação, a taxa específica e a energia de ativação.
CA0 0,0250 0,0133 0,0100 0,0500 0,0750
100°C
t1/2 4,10 7,70 9,80 1,96 1,30
CA0 0,025
110°C
t1/2 2,00

Resposta: n ~2; k = 10,16 L/mol.s; E = 20373,66 cal/mol

A coleta de dados para o método do tempo de meia vida é difícil em reações muito
rápidas, pois o tempo no qual a concentração atinge metade do valor inicial é muito pequeno.
Já para reações lentas, o tempo de meia vida é muito alto e o método também não é o mais
adequado.

3.2.4 Método do reagente em excesso

O método do reagente em excesso é utilizado quando precisa-se determinar a ordem de


reações com dois ou mais reagentes e é utilizado em conjunto com um dos métodos citados
acima. Para ilustração, considere a reação

𝐴+𝐵 →𝐶

Passo 1 – Considera-se uma expressão de taxa com  e  sendo as ordens parciais em


reação a A e B, respectivamente:

𝛽
−𝑟𝐴 = 𝑘𝐶𝐴𝛼 𝐶𝐵

Precisamos determinar  e , porém com os métodos apresentados até agora só é


possível determinar a ordem de um reagente.
Passo 2 – Suponha que a mistura reacional inicial tenha grande excesso de B. Desta
forma, a concentração de B permanece virtualmente constante conforme se processa a reação.

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−𝑟𝐴 = 𝑘 ′ 𝐶𝐴𝛼

𝛽
Sendo 𝑘 ′ = 𝑘𝐶𝐵
Passo 3 – Utiliza-se a expressão de taxa considerando a concentração de B em excesso
(−𝑟𝐴 = 𝑘 ′ 𝐶𝐴𝛼 ) acoplada ao balanço molar do reator batelada:

𝑑𝐶𝐴
= −𝑘 ′ 𝐶𝐴𝛼
𝑑𝑡

Passo 4 – Utiliza-se um dos métodos apresentados anteriormente (integral, diferencial


ou meia vida) para determinar .
Passo 5 - Suponha que a mistura reacional inicial tenha grande excesso de A. Desta
forma, a concentração de A permanece virtualmente constante conforme se processa a reação.

𝛽
−𝑟𝐴 = 𝑘 ′ 𝐶𝐵

Sendo: 𝑘 ′ = 𝑘𝐶𝐴𝛼
Passo 6 – Utiliza-se a expressão de taxa considerando a concentração de A em excesso
𝛽
(−𝑟𝐴 = 𝑘 ′ 𝐶𝐵 ) acoplada ao balanço molar do reator batelada:

𝑑𝐶𝐴 𝛽
= −𝑘 ′ 𝐶𝐵
𝑑𝑡

Passo 7 – Utiliza-se um dos métodos apresentados anteriormente (integral, diferencial


ou meia vida) para determinar .
Passo 8 – uma vez determinados  e , k pode ser obtido por meio da medição de -rA
para valores conhecidos de CA e CB.

−𝑟𝐴
𝑘= 𝛽
𝑘𝐶𝐴𝛼 𝐶𝐵

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Exemplo 3.4: A reação reversível em fase líquida: A + B → produtos é não elementar e


foi conduzida em reator batelada com excesso de B (CB0 = 0,5 mol/dm³). Sabe-se que a reação
é de primeira ordem em relação a B. A concentração de A foi medida em relação ao tempo e é
mostrada abaixo:
t (min) 0 50 100 150 200 250 300
CA (mol/dm³) 0,05 0,038 0,0306 0,0256 0,0222 0,0195 0,0174
Use o método integral para determinar a ordem da reação em relação ao componente A.
Determine, com isto, os parâmetros cinéticos desta reação e expresse a correta equação de taxa.
Resposta: Segunda ordem em relação a A; k = 0,2496 L2/mol2min;
𝐿2
−𝑟𝐴 = 0,2496 (𝑚𝑜𝑙2 .𝑚𝑖𝑛) 𝐶𝐴2 𝐶𝐵

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Referências bibliográficas

FELDER, R. M.; ROUSSEAU, R. W. Princípios elementares dos processos químicos. 3. ed.


Rio de Janeiro: LTC, 2005.

FOGLER, H. S. Cálculo de reatores: o essencial da engenharia das reações químicas. 1ª


edição. Rio de Janeiro: LTC, 2014.
FOGLER, H. S. Elementos de engenharia das reações químicas. 3ª edição Rio de Janeiro:
LTC, 2002.
FROMENT, G. F.; BISCHOFF, K. B.; DE WILDE, J. Chemical reactor analysis and design.
3rd edition. New York: John Wiley and Sons, 2010.
LEVENSPIEL, O. Engenharia das reações químicas. 3ª edição. São Paulo: Edgard Blücher,
2000.
SCHMAL, M. Cinética e reatores: aplicação na engenharia química. Rio de Janeiro:
Synergia Editora, 2010.

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