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Ana Paula Silva dos Santos et al.

A SUBCONTRATAÇÃO COMO ESTRATÉGIA


COMPETITIVA NA CONSTRUÇÃO CIVIL
Ana Paula Silva dos Santos
Graduanda em Administração de Empresas
pela Universidade Federal do Ceará
ssanapaula@yahoo.com.br

João Adriano Ponciano Nobre


Eng. º Civil, Mestre em Administração
pela Universidade Federal do Ceará
adrianonobre@bol.com.br

Leonardo Leocádio Coelho de Souza


Economista, Mestre em Administração
pela Universidade Federal do Ceará
leoleocadio@yahoo.com.br

José de Paula Barros Neto


Eng.º Civil, Dr. em Administração,
Prof. Adjunto da Universidade Federal Do Ceará
jpbarros@ufc.br

RESUMO ABSTRACT
O presente artigo tem como objetivo investigar a
subcontratação na construção civil através de um ponto de
vista mais estratégico do que operacional. A preocupação
com este assunto é justificada pelo crescimento do ato de The goal of this paper is to investigate the underhiring in the civil
subcontratar / terceirizar as atividades ou serviços. Este construction through a point of view which is more strategical than
trabalho se inicia com a caracterização do macrocomplexo operational. The concern about this subject is justified by the growth
da Indústria da Construção Civil, que é fundamental para o of underhiring in companies activities and services. This study begins
desenvolvimento das idéias, seguido por uma discussão with the characterization of the macro complex of the civil
sobre a administração estratégica no ambiente da constru- construction industry, which is essential to the development of the
ção civil que embasa a discussão sobre subcontratação. ideas presented, followed by a discussion about strategic management
Realizaram-se duas entrevistas com diretores de duas em- in the context of civil construction, which supports the discussion
presas construtoras de Fortaleza com a finalidade de verifi- about underhiring. Two construction companies managers in the city
car a visão do mercado com relação a este assunto. A partir of Fortaleza, Ceará, were interviewed with the purpose of identifying
desta discussão inicial, desenvolve-se a análise da the view of the market regarding this subject. Based on this, an
subcontratação na construção civil, discutindo-se suas defi- analyses about civil construction’s underhiring is developed, in which
nições e razões, as relações de parcerias entre as empresas definitions, motivations and partnerships between the hiring
contratantes e as contratadas, bem como a avaliação da real companies and the hired ones are discussed, as well as an assessment
necessidade dessas parcerias. of the real needs for such partnerships is made.

Palavras-chave: Subcontratação; Estratégia; Construção civil Key-words: Underhiring; Strategical; Civil Construction

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A Subcontratação como Estratégia Competitiva na Construção Civil

1. INTRODUÇÃO de Fortaleza. Posteriormente fez-se uma análise comparan-


do-se a visão do mercado (resultado das entrevistas) com a
A importância sócio-econômica e estratégica para o literatura existente sobre o assunto.
desenvolvimento do país que todos os subsetores da Indús-
tria da Construção Civil (ICC) possuem é inegável. De acor-
do com Mello (1997), baseado em dados do SENAI de 1995, 2. O MACROCOMPLEXO
esta importância é traduzida em uma participação conside- DA CONSTRUÇÃO CIVIL
rável do PIB nacional e nos níveis de atividades da indústria
de fornecedores ao longo de toda a cadeia produtiva. Além A Indústria da Construção Civil, a partir dos estudos
disso, a ICC constitui-se em um dos elementos-chave na atuais da economia industrial, passou a ser analisada não
geração de emprego e consumo e bens e serviços proveni- mais como uma atividade fim isolada, mas sim através de
entes de outros setores de produção. uma visão mais ampla, onde se analisa o Macrocomplexo da
Como integrante da ICC encontra-se o subsetor de Construção Civil. Isto é conseqüência das relações muito
edificações, que se caracteriza por ser muito dependente estreitas que existem entre a Construção Civil e as várias
das políticas macroeconômicas, sendo altamente vulnerá- cadeias produtivas precedentes e sucedentes, que fornecem
vel a flutuações econômicas. Devido ao baixo fôlego eco- os insumos necessários para a realização de um projeto con-
nômico-financeiro, a empresa de pequeno porte costuma cebido (SILVA apud PORTO, 1999).
sucumbir diante das pressões dos períodos recessivos pro- Do ponto de vista da mão-de-obra a ICC tem como
longados (MELLO, 1997). característica principal o baixo nível tecnológico e a pou-
Nota-se que o setor da construção civil estava acostu- ca escolaridade, haja vista que o seu treinamento se reali-
mado a uma economia em que o preço do produto final era za quase sempre durante a execução das obras, onde os
resultante da soma dos custos de produção da empresa e do trabalhadores mais qualificados agem como agentes de
lucro previamente arbitrado. No atual momento o setor passa
formação dos menos qualificados. Além disso, a absor-
por uma nova formulação na qual o lucro passa a ser resul-
ção deste contingente é potencializada em tempos de cri-
tante do diferencial entre o preço praticado pelo mercado e
se em outros setores. Outro fator a ser considerado é que
os custos da empresa.
o principal fornecedor de força de trabalho para a cons-
Neste novo ambiente, mesmo com um bom segmen-
trução civil é o setor agrícola, sendo esta composta, pre-
to de mercado regional é essencial a elaboração de análises
ponderantemente, por imigrantes rurais (MEDEIROS
estratégicas, pois a competitividade está se tornando cada
apud SOARES, 1997).
vez mais acirrada. Mesmo que a Indústria da Construção
Partindo para o subsetor de edificações dentro do
Civil – Subsetor de Edificações (ICCSE), alvo deste estudo,
macrocomplexo da construção civil, de acordo com Fisher
seja uma indústria tipicamente tradicional, ela não está livre
(apud MELLO, 1997), pode-se ter a seguinte forma de
desta ameaça. Daí, uma das necessidades de se obter uma
maior vantagem competitiva. segmentação deste subsetor: edificações industriais,
Partindo para uma visão de gerenciamento dos riscos edificações comerciais, restauração, habitação para o setor
de um empreendimento na construção civil, verifica-se que privado, habitação para o setor público, serviços de manu-
os principais responsáveis são o proprietário e o construtor. tenção, serviços especializados.
Entretanto, sabe-se que muitos dos riscos identificados são Com a decadência do BNH (Banco Nacional da Habita-
também transferidos para outros agentes participantes do ção) e os entraves no acesso a outras fontes de financiamento,
empreendimento (terceirizados/subcontratados). as empresas de pequeno porte tiveram que estudar novas for-
O objetivo deste trabalho encontra-se nesta perspecti- mas de alavancagem financeira, optando, muitas delas, pelas
va. É necessário investigar a questão da subcontratação na obras por grupo fechado na qual os clientes financiam os em-
construção civil do ponto de vista estratégico, pois se visualiza preendimentos da empresa. Pela mesma razão, uma parte con-
uma tendência de crescimento no ato de subcontratar/ siderável destas empresas passou a lançar mão de uma política
terceirizar atividades ou serviços. de marketing mais agressivo (PORTO, 1999).
Sendo assim, este trabalho tem como objetivo analisar Sendo assim, a ICCSE (Indústria da Construção Ci-
a subcontratação na construção civil, a partir de uma abor- vil Subsetor de Edificações), como toda a Indústria da
dagem estratégica, tratando das razões de se terceirizar uma Construção Civil, sofre influência direta com as flutuações
atividade, analisando os critérios de seleção desses parceiros sócio-política-econômicas do país, principalmente devido
e discutindo a real necessidade de se terceirizar. às características do seu produto. Constr utoras e
Para isso realizou-se uma pesquisa qualitativa com incorporadoras brotam e desaparecem com freqüência e
aplicação de uma entrevista semi-estruturada com os dire- poucas são as que conseguem atravessar uma década de
tores de duas empresas do subsetor Edificações da cidade vida (MELLO, 1997).

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3. ADMINISTRAÇÃO ESTRATÉGICA que uma simples expansão de mercado vem acompanhada por
NA CONSTRUÇÃO CIVIL uma invasão de micro empresas, já que as mesmas ingressam
com um mínimo de investimento (PORTO, 1999).
No âmbito empresarial as decisões constituem o nú- •Ameaça de produtos substitutos: devido a não exis-
cleo da responsabilidade administrativa. Cabe ao adminis- tência de produtos similares na indústria, praticamente não
trador decidir, o que implica selecionar entre as várias alter- existem ameaças provindas de produtos substitutos ao pro-
nativas de cursos de ação aquela que lhe pareça mais ade- duto final da ICCSE, embora haja grandes pressões quan-
quada para o momento. Para tanto, utiliza-se dos avanços da to a tecnologias alternativas de materiais e processos em-
tecnologia da informação, porém não despreza suas crenças pregados. De acordo com Barros Neto (1999), na ICCSE
e experiências anteriores, bem como sua visão de futuro. não há praticamente produtos substitutos quando se tem
Aplica, simultaneamente, os métodos quantitativos para tor- como enfoque a moradia e a tipologia do imóvel, pois as
nar a decisão o mais racional possível e sua própria percep- empresas são capazes de realizar o projeto que lhe for con-
ção dos fatores ou condições que proporcionam a solução veniente e permitido, dentro das condições técnicas e le-
gislação vigente, apesar de elas se especializarem em de-
do problema, principalmente se este é do tipo não-
terminados mercados. Entretanto, quando os imóveis são
estruturado (SOLINO; EL-AOUAR apud SERRA, 2001).
adquiridos para fins de investimento, os produtos do
Para o início da discussão sobre estratégia faz-se ne-
subsetor de edificações possuem inúmeros substitutos
cessário adotar uma definição para estratégia. Sendo assim,
como por exemplo, mercado de ações, caderneta de pou-
adotou-se para este trabalho a visão de Andrews (apud BAR-
pança, entre outros (PORTO, 1999).
ROS NETO, 1999) que afirma que as estratégias são mode-
•Intensidade de rivalidade: em um mercado com con-
los de decisão em uma companhia que determinam e reve-
corrência quase perfeita, constituído majoritariamente de
lam seus objetivos e propósitos, produzem as principais empresas de pequeno porte, como no subsetor de
políticas e planos para realizarem esses objetivos e definem edificações, as poucas grandes empresas existentes são res-
o alcance dos negócios que a companhia persegue, o tipo de ponsáveis pelo atendimento, já garantido, de uma fatia de
organização econômica e humana que ela pretende ser e a mercado devido, principalmente, ao acesso aos planos de
natureza das contribuições econômicas e não-econômicas financiamento governamentais e a pressões políticas. No
que a empresa propicia para seus acionistas, empregados, contexto das pequenas empresas, as estratégias adotadas
clientes e a comunidade em geral. não se diferem muito o que atenua um pouco a
De acordo com Farias Filho (apud PORTO, 1999), competitividade (PORTO, 1999).
não existe nas micro, pequenas e médias empresas da ICCSE •Poder de barganha dos clientes: reside no fato dos
grandes preocupações em se fazer um planejamento estra- imóveis constituírem uma enorme parcela de suas econo-
tégico de longo prazo consciente e explícito e nem fazer uso mias, o que desencadeia uma proporcional seletividade. Vis-
das teorias a respeito. Não há, na grande maioria destas to isso, pode-se entender que as poucas diferenciações dos
empresas, uma política estratégica que viabilize a empresa a produtos existem mais nas formas de pagamentos e servi-
ter a produção perene durante a sua existência, ficando su- ços agregados. Mas este poder vem aumentando
jeitas às idas e vindas da conjuntura. gradativamente, à medida que o cliente toma consciência
A visão de curto prazo domina o pensamento dos dos seus direitos, principalmente através do Código de De-
empresários da construção civil, sendo a assim a não fesa do Consumidor, exigindo mais qualidade e serviços pós-
visualização do processo estratégico (visão de longo prazo) entrega (PALÁCIOS; VILLACRESES, 1994).
na empresa pode gerar sua invalidação no mercado. •Poder de barganha dos fornecedores: os fornecedo-
res da ICCSE possuem auto poder de barganha, pois são
3.1. As cinco forças de Porter na construção civil organizados em torno de uma estrutura oligopolizada, prin-
cipalmente nos insumos básicos com pouco ou nenhum
Analisando a ICCSE, utilizando-se da metodologia produto substituto. Individualmente, entretanto, este poder
proposta por Porter (1986), bem como da experiência de de barganha é atenuado devido a homogeneidade do pro-
aplicação do modelo na ICCSE e do estudo da estrutura de duto e do seu preço, e ao baixo custo de mudança. Nesta
mercado realizado por diversos autores e de pesquisas reali- posição, pode-se afirmar também que os fornecedores são
zadas em algumas empresas do setor, é possível fazer algu- os grandes agentes de desenvolvimento de soluções
mas considerações sobre as cinco forças que atuam no ce- tecnológicas (PORTO, 1999).
nário estratégico empresarial: Considerando a importância do subempreiteiro nes-
•Ameaças de novos entrantes: a proliferação de empre- te subsetor e que este participa de um mercado
sas de pequeno porte é gerada pela existência de baixas barrei- concorrencial, pode-se também traçar a sua estratégia, ana-
ras de entrada na ICCSE. Isto é notório quando se visualiza lisando a influência das “forças competitivas de Porter”.

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Sendo assim, de acordo com Obata e Serra (apud SERRA, •A estratégia de liderança no custo total muitas vezes
2001), o modelo de análise aplicado à empresa é conseguida. Entretanto isto acontece de forma distorcida,
subempreiteira pode ser entendido em função: como por exemplo através da não conformidade de produ-
•do número de competidores existentes: os tos em relação às normas técnicas, da sonegação fiscal, da
subempreiteiros competem em um ambiente de grande ri- ausência de serviços associados (assistência técnica e garan-
validade. As mudanças e novas exigências das construtoras tia da qualidade). Entretanto, existem algumas empresas que
fazem com que as empresas procurem trabalhar com firmas atingem a liderança no custo através de programas de quali-
que, além de serem idôneas e qualificadas, procurem criar o dade e produtividade.
sistema de parcerias; •A estratégia de liderança por diferenciação é muito
•do poder de barganha dos fornecedores: passam se pouco utilizada, se limitando apenas em alguns serviços dife-
unir em cooperativas para aquisição de suprimentos e equi- renciados como atendimento personalizado, mas nada que
pamentos, aumentando o seu poder de negociação; seja resultado de investimentos em pesquisa e desenvolvimento
•da ameaça de novas empresas: as barreiras existentes e mesmo do conhecimento das necessidades dos clientes.
não dificultam a entrada de novas empresas, porém o seu •A estratégia mais comum na ICCSE é a liderança
posicionamento estratégico influenciará na aceitação e por enfoque, pois as pequenas empresas se especializam em
competitividade no mercado; construir um padrão de imóvel para uma faixa de renda es-
•do poder de barganha dos clientes-contratantes: pres- pecífica. As empresas também podem restringir a sua região
são exercida pelos contratantes em busca de um melhor de- de atuação para um bairro, cidade, etc.
sempenho através da capacitação dos subempreiteiros, da Assim, uma empresa de construção de edifícios pode
formulação de contratos (responsabilidades, prazos, condi- executar as diversas etapas do seu ciclo produtivo, com com-
ções de fornecimento de materiais), da preocupação com a petência e de diversas formas. Porém, o mais importante é
formação de parcerias. considerar que o processo é dinâmico, e que ele constante-
Assim, em função do conhecimento do comporta- mente deve ser verificado a fim de atualizar as estratégias
mento do seu mercado, as empresas deverão montar suas empresariais ao ambiente competitivo.
respectivas estratégias competitivas e se organizar admi-
nistrativamente.
4. ESTRATÉGIAS DE INTEGRAÇÃO VERTICAL
3.2. A busca pela vantagem competitiva na ICC
A integração vertical é uma das estratégias que mais
se destacam no ambiente competitivo de indústrias frag-
Para Porter (1985), o grau de competitividade de qual-
mentadas. A construção civil encaixa-se nesse modelo de
quer empresa depende de construir e manter uma vantagem
ambiente fragmentado.
competitiva. Considera também que a vantagem competiti-
va tem sua origem nas inúmeras atividades distintas que uma São quatro os tipos de estratégias de integração vertical,
empresa pode executar no projeto, na produção, no sendo que cada estratégia genérica representa diferentes
marketing, na entrega e suporte do seu produto. Embora graus de aversão ao risco, desejos de controle e objeti-
uma empresa possa ter inúmeros pontos fortes e fracos em vos - fatia de mercado (“market share”), lucros de longo
prazo, ou outras formas de liderança (HARRIGAN apud
relação a seus concorrentes existem dois tipos básicos de
VILLACRESES, 1994, p. 12).
vantagem competitiva que a mesma pode possuir.
A primeira é a vantagem custos, que é obtida através Essas estratégias são nomeadas como: integração to-
do desenvolvimento de atividades econômicas e tecnológicas tal, integração parcial, quase-integração e não-integração.
a custo menor que dos concorrentes para um mesmo con- Segundo Serra (2001), a essência da estratégia de
junto de benefícios ofertados aos clientes. A segunda é a integração vertical consiste em definir se uma empresa irá
vantagem da diferenciação que é atingida pelo desenvolvi- “fazer ou comprar” (make or buy) seus insumos básicos, com-
mento de atividades econômicas e tecnológicas de tal forma ponentes ou serviços auxiliares. Porter (apud SERRA, 2001)
que gere oferta de benefícios diferenciados, viabilizando um complementa que a decisão de integrar verticalmente uma
sobrepreço (PALÁCIOS; VILLACRESES, 1994). empresa deve extrapolar uma simples análise de custos e in-
Quando o escopo das estratégias referir-se a um seg- vestimentos necessários. Ao decidir integrar, a questão prin-
mento, tem-se uma posição de foco, podendo buscar vanta- cipal da empresa passa a ser como se auto organizar para com-
gem sob a forma de custo ou diferenciação em um segmento pletar o seu trabalho (ECCLES apud SERRA, 2001).
específico de mercado e não para o mercado como um todo. As principais vantagens da integração vertical se apre-
O processo de implantação de estratégias competiti- sentam como menores custos de transação, garantia de for-
vas na ICCSE, ainda é muito raro no Brasil. Entretanto, necimento e venda, facilidade de integração, maior retorno
Barros Neto (apud PORTO, 1999) faz algumas considera- financeiro e maior barreira à entrada de novas empresas
ções que valem a pena serem apresentadas: (BIANCHI apud SERRA, 2001).

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Na indústria da construção civil, quando se refere a Queiroz, Davis, Leite (apud BRANDLI, 2000 p. 32) infor-
flexibilidade estratégica, a integração parcial é similar a mam que a terceirização refere-se à transferência das ativi-
integração total, pois elas removem as restrições de nichos dades-meio (atividades de apoio) que até então eram reali-
de mercados (VILLACRESES apud SERRA, 2001). zadas pelas próprias unidades de produção e/ ou serviços
De uma maneira geral, a quase-integração vertical ca- da empresa. No tangente a subcontratação, envolve a trans-
racteriza-se por (LIPIETZ; LEBORGNE apud ferência das atividades-fins da empresa.
VILLACRESES, 1994): a) relações estáveis entre fornece- Paralelamente, existem autores que defendem que não
dores e clientes; b) uma importante participação do cliente há diferença entre subcontratação e terceirização no que
no volume de negócios do fornecedor; c) um campo de concerne ao tipo de atividade envolvida. “Nos vários seto-
subcontratação intenso, indo da concepção à res industriais esses termos são utilizados corriqueiramente
comercialização; d) formas não mercantis de relações como sinônimos por empresários e profissionais atuantes,
interformas, indo da subordinação à parceria. sem preocupação relacionada ao seu conceito e origem”
Dessa forma, “as relações de subcontratação que têm (SERRA, 2001, p. 88).
um caráter permanente, representam a essência da quase- Parece importante atentar-se para o posicionamento
integração” (SALLEZ apud VILLACRESES, 1994). de Silva (apud BRANDLI, 2000, p. 33), que encara a
Sallez (1962) faz uma analogia entre a subcontratação terceirização como uma nova for ma de gestão
e a quase-integração no sentido de serem definidas a partir organizacional e que sob a ótica da parceria, muitas vezes
de dois critérios: a) um critério de “substituição”, que pres- pode ser confundida com a subcontratação. Pagnani (apud
supõe a transferência de responsabilidade do cliente para o BRANDLI, 2000, p. 33), deixa claro que a estratégia de
subcontratado; b) um critério, mencionado na época por subcontratação na pequena e média empresa pode ser fiel
Sallez (1962) como “novo”, de “ligação duradoura”, que a todos os princípios da terceirização.
pressupõe uma colaboração e uma interdependência das duas “Contudo, verifica-se a existência de uma divergência
partes, muito semelhante ao conceito atual de parceria entre as várias definições dos autores pesquisados e a inter-
(SALLEZ apud VILLACRESES, 1994). pretação subjetiva da realidade do setor da construção por
A quase-integração vertical se mostra um tipo de rela- parte daqueles que tentam dar o veredicto final em assuntos
cionamento muito competitivo no mercado pelo fato das jurídicos nessa área” (SERRA, 2001, p. 88).
formas clássicas fordistas caminharem paralelamente a exis- Na indústria da construção civil, o emprego do termo
tência da firma especializada, dotada de capacidade de con- subcontratação é considerado o mais adequado por Eccles
cepção e, correlatamente, o desenvolvimento de parceria no (apud BRANDLI, 2000, p. 34), que defende a aplicação da
interior do relacionamento (VILLACRESES, 1994). definição terceirização um tanto ambígua nesta indústria,
Finalmente, as estratégias não-integradas são utiliza- pelo fato da dificuldade em determinar a atividade-meio ou
das para a obtenção de materiais sem precisar recorrer a não-essencial de uma empresa de construção civil. Dessa
transferências internas nem aos riscos da propriedade, sen- forma, torna-se importante, para melhor desenvolvimento
do, portanto, representadas pela contratação deste trabalho, considerar a subcontratação como repasse
(VILLACRESES, 1994). de atividades ligadas aos serviços de execução das obras.
As empresas de construção devem fazer o menos pos-
sível dentro da empresa, comprando a maioria de seus pro- 5.1 Razões para terceirizar
dutos no mercado. Assim, fica claro o por que do modelo
simplificado das estratégias de integração vertical sugerir Com base na própria estratégia e nas características
que as empresas de construção devem procurar estratégias do setor da construção, as empresas apontam várias ra-
de quase-integração (fazendo uso da subcontratação) ou zões para a subcontratação, apesar de identificarem gran-
de não-integração por meio de contratação des vantagens com relação à mão-de-obra própria
(VILLACRESES, 1994). (BRANDLI, 2000).
As principais razões para terceirizar se apresentam da
5. SUBCONTRATAÇÃO VERSUS TERCEIRIZAÇÃO seguinte forma (TOMÉ, 1998):
a) razões operacionais: minimização dos custos, rela-
Tanto o termo subcontratação como terceirização apon- ção custo x benefício, pouca repetitividade do serviço e ra-
tam na mesma direção quando referem-se ao processo atra- pidez da execução.
vés do qual as empresas transferem para terceiros atividades b) razões táticas: redução do quadro de pessoal, redução
anteriormente desenvolvidas por elas (BRANDLI, 2000). de encargos sociais e redução de problemas com a legislação
Existem algumas discordâncias entre terceirização e trabalhista, serviços específicos que necessitam de recursos.
subcontratação. Vários autores incorporam estes conceitos c) razões estratégicas: eliminação de atividades secun-
de acordo com os tipos de atividades envolvidas. Lieira, dárias da empresa e aumento da agilidade nas decisões.

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5.2 Seleção dos parceiros c) os fatores mais usados pelo nível estratégico são
a idoneidade das empresas candidatas à prestação de ser-
Com base nos resultados apontados por Villacreses viço e empresas que se destacam na área.
(1994), que tomou como estratégia de pesquisa a aplicação
de uma escala de grau de importância variando de nenhuma 6. A NECESSIDADE DE PARCERIAS
importância (1) a importantíssimo (5), verifica-se os critéri-
os de seleção para as empresas contratantes e A necessidade de enxugar as estruturas organizacionais
subcontratantes. A pesquisa tratou de uma questão aberta é uma das grandes tendências gerenciais atuais, ocasionan-
que apontasse a percepção do subcontratante sobre a pos- do mudanças tecnológicas e organizacionais na produção
tura das empresas contratantes quanto ao processo de sele- de bens, ou, no setor de serviços (FALGETANO, 1995).
ção. Os resultados obtidos junto às empresas contratantes Isto tem sido motivo para transformações ocorridas nas
estão apresentados no gráfico 1. empresas dos mais diversos segmentos da economia. Estas
A partir da análise do gráfico 1, nota-se que o item transformações buscam otimizar a utilização de seus recur-
mais relevante para os contratantes é a qualidade dos ser- sos e racionalizar os seus sistemas produtivos, recorrendo a
viços. O fator cumprimento de prazos aparece como mui- processos de terceirização e de formação de parcerias com
to importante, ficando o preço como importante somente fornecedores, clientes e concorrentes (VALE, 1992). Segun-
para três empresas. do Villacreses (1994, p. 43):
Existe outra forma de selecionar os parceiros; os cri-
[...] a indústria da construção deve procurar novas estra-
térios de seleção e avaliação do prestador de serviço podem
tégias para diminuir custos e ganhar vantagem competi-
ser vistos também da seguinte forma (TOMÉ, 1998):
tiva num ambiente em contínua mudança. A parceria é
a) aspectos considerados pelo nível operacional: cus- uma nova maneira de administrar um negócio neste novo
to das empresas a serem contratadas para executar os ser- ambiente. A competição global, o alto custo de desen-
viços, relação custo x benefício e menor preço, através de volvimento de produto e a crescente preocupação com
licitação de acordo com a lei 8.666, quando a seleção é a qualidade estão forçando os construtores a buscar mé-
para empresas públicas; todos mais eficientes para executar suas obras. Os cons-
b) o nível tático de decisão utiliza os fatores: qualida- trutores e engenheiros estão procurando maneiras de
de dos produtos ou serviços prestados, informações com crescer e de manter a competitividade [...].
outras empresas, do mesmo ramo ou porte semelhante ao
Estrategicamente, o relacionamento contratante-
da contratante, ou seja, buscar referências com outras
subcontratante vai além do simples “fazer-ou-subcontratar”,
tomadoras de serviço de um determinado prestador, coleta
definindo a forma de posicionar a capacidade construtiva da
de preços dos prestadores de serviço, análise crítica das
empresa para maximizar os benefícios que possam resultar da
empresas candidatas à terceirização, observando seu porte,
combinação das habilidades internas da empresa com as forças
suas instalações, e, seu processo produtivo, acompanhamento
de seus subcontratantes (LYONS et al. apud VILLACRESES,
dos serviços quando executados em outras empresas e ser-
1994). Conseqüentemente, percebe-se a importância das
viços prestados anteriormente, ou seja, experiência em exe-
construtoras formarem uma parceria estratégica com as
cutar a atividade;
empresas contratadas.
A parceria pode ser en-
tendida como um acordo de
longo prazo entre duas ou
mais organizações com o pro-
pósito de atingir objetivos es-
pecíficos do negócio por
meio da maximização da
efetividade dos recursos de
cada participante. Essa defi-
nição apresentada por
Villacreses (1994), tendo
como base o Construction
Industry Institute, implica em
mudar os relacionamentos tra-
dicionais para uma cultura
compartilhada sem considerar
Gráfico 1 – Critérios de seleção de Subcontratantes (adaptado de Brandli, 1999) fronteiras organizacionais.

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Porter (1989) esclarece que ao buscar a competência fenômenos e aprofundar determinada realidade e a pesquisa
essencial, uma determinada empresa emprega processos de qualitativa, que, por sua vez, caminha para o universo de sig-
terceirização ou de agregação de atividades. As forças que nificações, motivos, aspirações, atitudes, crenças e valores.
levam à tomada de decisões no sentido de aumentar ou di- As empresas que compõem a pesquisa atuam no mes-
minuir o número de atividades totalmente controladas são mo ramo do segmento imobiliário: construção de empreen-
definidas pela estrutura de custos operacionais, pelo poten- dimentos verticais para classe média alta, porém, são de
cial de controle estratégico e pelas metas de estratégias portes diferentes: a empresa X é grande e a Y pequena.
corporativas. Sendo assim, é necessário que as empresas A empresa X possui mais de 200 mil metros quadra-
busquem parcerias estratégicas para todas as atividades para dos de área construídos, atuando no segmento de edificações
as quais não estejam especializadas, no sentido de se agregar residenciais, comerciais e obras públicas, estando atualmen-
valor aos produtos e serviços. te com cinco obras em andamento no estado do Ceará. Além
A parceria oferece o potencial de responder rapida- disso, a referida empresa possui certificação ISO 9001 e tra-
mente às oportunidades do mercado sem duplicação de re- balha com obras sob o sistema de incorporação.
cursos, pois enquanto a integração vertical administra o ris- Especializada na construção de edificações residenciais
co internalizando-o, a parceria distribui o risco entre várias e comerciais, a empresa Y possui mais de 50 mil metros
entidades, reduzindo assim a exposição de cada participante quadrados de área construídos, possuindo cinco obras em
(VILLACRESES, 1994). Portanto, o objetivo é mudar o andamento e certificação ISO 9001, além de trabalhar ape-
posicionamento estratégico da empresa, tendo em vista que nas em obras a preço de custo.
as metas da parceria estratégica são sustentar as capacidades Como instrumento de coleta de dados foram realiza-
críticas, incrementar o fluxo de inovação e melhorar a flexi- das entrevistas semi-estruturadas com altos gerentes das
bilidade em resposta a mudanças tecnológicas e de mercado empresas do estudo de caso, pois estes são os responsáveis
(CONRADS apud VILLACRESES, 1994). diretos pela decisão estratégica com relação à escolha de
As empresas encontram nas parcerias vantagens e subcontratar ou não empresas para determinados serviços.
oportunidades que dificilmente teriam num relacionamento Cada entrevista teve a duração de aproximadamente 50
tradicional. A junção dos pontos fortes contribui para o êxi- minutos e o roteiro da mesma encontra-se no apêndice 1. O
to do relacionamento. mesmo foi adaptado do trabalho de Brandli (2000), visto que
Sendo assim, a necessidade de parcerias se confirma se encontraram semelhanças entre os objetivos pesquisados,
quando se analisa a evidência de todas as empresas terem sendo que o presente trabalho tem um objetivo mais focado
que buscar a sua competência essencial através do aumento no processo da escolha estratégica entre terceirizar ou não
ou da redução do escopo de atividades totalmente controla- um serviço. Dessa maneira alguns questionamentos foram
das, através da terceirização, resultando em redução de cus- omitidos e outros inseridos no referido roteiro.
tos e aumento da especialização. Contudo, a busca da com- A análise dos dados foi realizada a partir da leitura
petência essencial é feita através de alianças que permitem a cuidadosa do material proveniente das entrevistas e da per-
manutenção de níveis ideais da qualidade de todos os pro- cepção desenvolvida pelos pesquisadores ao longo do tra-
cessos na cadeia de valor (PORTER, 1989). balho. A preocupação essencial na interpretação foi manter
Tão importante quanto salientar a necessidade da par- a fidelidade dos significados, bem como a busca de infor-
ceria é lembrar das dificuldades para o seu estabelecimento. mações intrínsecas às declarações dos entrevistados.
As barreiras que inibem o crescimento da parceria são: a) a Com isso, foram realizados comparativos entre as res-
cultura corporativa; b) os relacionamentos tradicionais pro- postas obtidas por cada empresa, bem como comparações
prietário-construtor-subcontratante / fornecedores e c) o entre estas respostas de “mercado” com a literatura
tempo requerido para desenvolver a parceria. É necessário pesquisada. A partir daí foram tecidos comentários sobre o
tempo e esforço significativo para encontrar o parceiro cer- objetivo principal desta pesquisa que é o de analisar os crité-
to e para desenvolver um acordo de parceria eficaz (COOK; rios estratégicos que determinam a escolha de terceirizar ou
HANCHER apud VILLACRESES, 1994). não uma atividade.

7. METODOLOGIA 8. ANÁLISE DAS ENTREVISTAS

Esta pesquisa orientada pelo enfoque qualitativo e Na empresa X as decisões sobre quais atividades se-
exploratório foi baseada no método do estudo de caso, no rão terceirizadas ou subcontratadas depende de cada situa-
qual foram escolhidas duas empresas que atuam no segmento ção. Para pequenos serviços (baixo valor financeiro e curta
de edificações residenciais da região de Fortaleza. duração) a decisão fica por conta da gerência regional. Se o
Segundo Triviños (apud BRANDLI, 2000), o estudo valor for representativo e demandar um maior período de
de caso descritivo permite conhecer com exatidão os fatos e tempo, passa-se para a apreciação junto à diretoria. Para cada

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A Subcontratação como Estratégia Competitiva na Construção Civil

obra existe um planejamento, não sendo padrão a escolha de médio porte, a existência de um quadro funcional redu-
sobre terceirizar ou não; se a empresa possuir recursos (mão- zido dificulta a execução de diversas atividades.
de-obra) disponíveis no momento da decisão, opta por fa- Nas duas empresas, a partir da escolha das atividades
zer o serviço em vez de terceirizar. Ou seja, uma equipe a terceirizar, a seleção das empresas a ser subcontratadas se
bem estruturada custa (financeiramente) menos do que con- dá respeitando principalmente o aspecto qualidade.
tratar um terceirizado, segundo o respondente. Para as duas empresas, constata-se a existência de par-
Na empresa Y, as decisões sobre quais atividades se- ceria a partir do momento em que a empresa subcontratada
rão terceirizadas ou subcontratadas são tomadas pela dire- volta a executar o mesmo serviço em uma outra obra. Para
toria e gerência de planejamento e controle, existindo um que isso ocorra é necessário que, na obra anterior, a empre-
padrão para esta escolha. sa tenha demonstrado níveis de qualidade e organização de
Verifica-se que as empresas analisadas possuem vi-
acordo com o padrão estabelecido pela contratante. Entre-
sões diferentes sobre a decisão de terceirizar, tendo a em-
tanto devido à certificação de qualidade que as construtoras
presa X uma visão mais comercial enquanto a empresa Y
possuem, estas realizam sempre tomada de preços antes do
uma visão mais estratégica.
início dos serviços, indo de encontro à filosofia de forma-
Numa escala de importância variando de um a cinco (1
– menos importante / 5 – mais importante), as duas empre- ção de parcerias (item 6).
sas caracterizaram qualidade como o item de maior impor- As empresas apontaram como vantagem da
tância, seguido do critério custo na hora de escolher as ativi- terceirização o controle real e antecipado do custo do servi-
dades a serem terceirizadas. Dessa forma, pode-se concluir ço, enquanto que com a mão-de-obra própria este custo pode
que o binômio qualidade-custo é considerado como critério variar. Com relação as desvantagens existe um custo com
fundamental na escolha das atividades a serem terceirizadas. administração dos terceiros, além do risco que se corre com
As atividades consideradas “chaves”, tanto para a em- a perca de qualidade pelo mercado não ofertar certos servi-
presa X quanto para a empresa Y (orçamento, serviços de ços qualificados.
recursos humanos, planejamento e controle das obras), não Outro problema apontado na subcontratação é a difi-
são terceirizadas, seguindo o que a literatura trata (item 5). culdade que as empresas terceirizadas possuem para gerir
No quadro 1 encontra-se um quadro com as princi- sua mão-de-obra, acarretando uma preocupação a mais para
pais atividades de uma obra consideradas no momento a empresa contratante, com relação ao pagamento de direi-
da terceirização e a decisão de cada empresa sobre estas tos trabalhistas, por exemplo.
atividades. Como desvantagens da mão-de-obra própria consta-
tou-se nas entrevistas que, se a
equipe interna não estiver bem
treinada, os níveis de qualida-
de estarão comprometidos.
Entretanto, ao conseguir esta-
belecer um know-how para a
execução de determinados ser-
viços, a construtora consegue
uma vantagem com sua mão-
de-obra própria por aumentar
a experiência desta.

9. CONSIDERAÇÕES
FINAIS

Com a crescente
Quadro 1 – Relação de atividades subcontratadas competitividade no mercado, as
empresas passaram a desenvol-
ver formas alternativas de organização empresarial. Na in-
Esta diferença na quantidade de atividades terceirizadas
entre as duas construtoras pode ser explicada pelo porte das dústria da construção civil a subcontratação passou a ser
empresas. No caso da empresa X, de grande porte, a exis- uma estratégia amplamente utilizada, apesar de responder
tência de mão-de-obra qualificada própria é capaz de reali- mais como uma estratégia implícita de adaptações às condi-
zar uma grande quantidade de atividades. Já na empresa Y, ções de mercado do que uma estratégia competitiva.

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Ana Paula Silva dos Santos et al.

A essência deste trabalho foi considerar a subcontratação Tese (Doutorado em Administração) – Programa de Pós-gradua-
como elemento estratégico da empresa de construção. Po- ção em Administração, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
rém, verificou-se a necessidade de abordar o planejamento Porto Alegre, 1999.
estratégico da empresa com mais atenção, de uma maneira BRANDLI, Luciana L. A estratégia de subcontratação e as relações
sistemática e estruturada. Dessa forma, o construtor passaria organizacionais na construção civil de Florianópolis. (Coleção trabalhos
a tornar esta estratégia implícita numa estratégia competitiva acadêmico-científicos. Série dissertações de mestrado). Ijuí: Edi-
explícita através do planejamento estratégico formal. tora Unijuí, 2000.
Por conseguinte, observa-se que a análise estratégica FALGETANO, Edylita. Terceirização conquista seus aliados. Re-
da integração vertical indica a conveniência de baixos níveis vista Administração, nº. 6, janeiro 1995.
de integração em grade parte das empresas de construção. MELLO, Rodrigo B. O estudo da mudança estratégica organizacional em
Apesar de um cenário marcado pela necessidade das em- pequenas empresas de construção de edificações: um estudo de caso em
presas em aumentar a qualidade dos produtos/serviços, Florianópolis. 1997. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Pro-
melhorar a produtividade da mão-de-obra e reduzir os cus- dução) - Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produ-
tos, as vantagens e desvantagens da subcontratação depen- ção, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1997.
dem do contexto de cada organização. PALACIOS, Victor Hugo R.; VILLACRESES, Xavier E.R. Análi-
A subcontratação na construção civil deve ser tratada se do perfil estratégico de empresas de construção civil de peque-
com alguns diferenciais em relação aos demais setores do no porte. In: FORMOSO, Carlos Torres (ed). Gestão da qualidade
mercado, por apresentar características intrínsecas ao setor, na construção civil: uma abordagem para empresas de pequeno porte. Porto
Alegre: Programa de Qualidade e Produtividade da Construção
como a rotatividade da mão-de-obra devido a sazonalidade
Civil no Rio Grande do Sul, 1994.
da produção, entre outras.
O binômio qualidade-custo é o principal fator que PORTER, Michael E. Estratégia Competitiva: Técnicas para Análise de
motiva as empresas a decidir que atividades terceirizar. Pos- Indústria e da Concorrência. Rio de Janeiro: Ed. Campus, 1986.
teriormente, a escolha do subcontratado depende principal- PORTER, Michael E. Como as forças competitivas moldam a es-
mente da qualidade dos seus serviços, visto que o custo já tratégia. Harvard Business Review, maio-jun. 1989.
foi analisado na etapa inicial. PORTER, Michael E. Vantagem Competitiva: criando e sustentando um de-
Notou-se uma visão míope em relação a definição de sempenho superior. Rio de Janeiro: Campus, 1985.
parceria por parte dos entrevistados, isto por que parceria
PORTO, Clarice B. Redes de empresas: uma nova configuração
vai além de somente continuar executando os mesmos ser- organizacional para as micro, pequenas e médias empresas da indús-
viços com a mesma empresa. tria da construção civil – subsetor de edificações. 1999. Dissertação
Visualizou-se que a empresa X por ter um porte mai- (Mestrado em Engenharia Civil) - Programa de Pós-Graduação em
or terceiriza menos atividades pois possui mais mão-de-obra Engenharia Civil da Universidade Federal Fluminense, Niterói, 1999.
disponível, isto gera uma menor experiência no assunto SERRA, Sheyla M. B. Diretrizes para gestão dos subempreteiros. 2001.
subcontratação, acarretando, conseqüentemente, em uma 360 f. Tese (Doutorado em Engenharia da Construção Civil e
visão comercial do tópico. Urbana) - Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Cons-
Já a empresa Y, se trata de uma empresa menor que trução Civil da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
terceiriza mais seus serviços, obtendo maior experiência no São Paulo, 2001.
assunto e uma conseqüente visão mais estratégica. SOARES, Carlos Alberto P. Modelo de sistema de gestão aplicado a em-
Diferenciando-se da literatura pesquisada, além do presas de construção. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção)
custo, o fator qualidade aparece nas respostas dos funcioná- – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da
rios como premissa básica na decisão sobre terceirização COPPE UFRJ, Rio de Janeiro, 1997.
dos serviços. TOMÉ, Danusa M. Metodologia para estruturar o processo de terceirização.
Devido aos diversos fatores apresentados neste estu- Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa
do, verifica-se que a visão de mercado obtida através da pes- de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade
quisa qualitativa realizada está semelhante ao levantamento Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1998.
bibliográfico realizado. VALE, Gláucia V. V. Terceirização e Competitividade. Rumos, p.
18-22, setembro/outubro 1992.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS VILLACRESES, Xavier E. R. Análise estratégica da subcontratação em


empresas de construção de pequeno porte. Dissertação (Mestrado em
Engenharia de Construção) – Programa de Pós-Graduação da
BARROS NETO, José de Paula. Proposta de um modelo de formulação de Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do
estratégia de produção para pequenas empresas de construção habitacional. 1999. Sul, Porto Alegre, 1994.

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A Subcontratação como Estratégia Competitiva na Construção Civil

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