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Resumo
O objetivo deste trabalho foi contribuir para o estudo do regime dos ventos no Estado do
Paraná. Os dados analisados referem-se a 16 estações meteorológicas de primeira classe, per-
tencentes ao Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). A partir de tais dados foram determinadas
a direção predominante dos ventos, as velocidades médias diárias, mensais e anuais, a freqüên-
cia relativa, a distribuição da freqüência relativa acumulada, distribuição estatística de valores
extremos e os valores de picos máximos para períodos mensais e anuais de cada estação. Com
os resultados dessas análises foi possível correlacionar a dinâmica dos ventos com a revisão
bibliográfica sobre a dinâmica atmosférica predominante no estado, onde ocorrem ventos com
maiores velocidades médias no outono e na primavera.
Palavras- chave: Ventos. Direções e velocidades. Paraná.
Abstract
This paper aims to contribute to the study of wind regime in the state of Paraná, Brazil.
The data analyzed were collected from 16 first class weather stations belonging to the network of
Agronomical Institute of Paraná (IAPAR).Those data were used to determine the predominant
wind direction, the daily, monthly and yearly medium velocities, the relative frequency, the
distribution of the accumulated relative frequency, the statistic distribution of the extreme values
and wind gusts for monthly and yearly periods for each one of the weather stations. The results
of this analysis made it possible to correlate winds dynamical with bibliographical review about
predominant atmospheric dynamical in the Paraná, where occur winds with great velocities during
the fall and the spring.
Key words: Winds. Directions and velocities. Paraná.
1
Departamento de Geociências, Universidade Estadual de Londrina, Professora. E-mail: deise.ely@gmail.com
2
Pós-graduação em Geografia, Universidade Estadual de Londrina, Estudante. Campus Universitário -
Cx. Postal 6001 - CEP 86051-990 - Londrina-PR. E-mail: livia_mpp@yahoo.com.br
INTRODUÇÃO
nante em cada região e época do ano, o pico máximo, bem como determinar as direções
predominantes dos ventos em escala mensal, zonal e anual com a finalidade de otimizar o
desenvolvimento agrícola e o aproveitamento energético, além de determinar a freqüência
de ocorrência de ventos extremos que causam prejuízos à agricultura e danos às proprieda-
des.
O Estado do Paraná está localizado na região sul do Brasil (figura 1), com uma
extensão territorial de 199.314,85 km² que abrange as latitudes 22º a 27ºS e longitudes de
48º a 55ºW, sendo que o Trópico de Capricórnio atravessa o norte do estado.
As linhas orográficas e os sistemas hidrográficos delimitam as paisagens naturais do
Paraná e Maack (2002) as classificou em cinco regiões, do leste para o oeste: o litoral; a
serra do mar, constituída por um complicado tectonismo de falhas e zonas de maiores
elevações das rochas cristalinas, formando uma serra marginal que delimita o primeiro pla-
nalto e a planície litorânea; o primeiro planalto ou planalto de Curitiba que se estende entre
a serra do Mar e a escarpa devoniana. O segundo planalto ou planalto de Ponta Grossa, cuja
limitação entre o primeiro e segundo planalto é feita por uma linha de escarpa ou cuesta, a
escarpa devoniana e o terceiro planalto ou planalto de trapp do Paraná ou de Guarapuava
composto por latossolos roxos e vermelhos escuros e relevo levemente ondulado a aplainado
(Figura 3).
LI= Linha de Instabilidade; BCH= Baixa do Chaco; JBN= Jato de Baixos Níveis; ET= Cavado Equa-
torial; RA= Região Árida; RSA= Região semi-árida; CCM= Complexo convectivo de mesoescala;
CONV= Atividade convectiva; CG= Ciclogênese; ASAS= Alta subtropical; AE= Anticiclone
extratropical; B= Centro de Baixa Pressão; VC= Vórtice Ciclônico; AB= Alta da Bolívia; CCV= Vór-
tice Ciclônico frio; CO= Cirrus “Outflow”; JST= Jato Subtropical; JP= Jato Polar.
Ainda com relação aos controles climáticos que atuam sobre o sul do Brasil e do
Paraná, Grimm (2009, p. 263) destaca que a principal influência sobre os ventos de superfí-
cie é o sistema de alta pressão do Atlântico sul. Esse sistema atua sobre o sul do Brasil em
todas as estações do ano e produz vento médio na superfície de leste/nordeste e de fraca
intensidade.
Outro sistema de pressão importante para o Sul do Brasil é um
centro de baixa pressão intermitente no noroeste da Argentina,
Paraguai e sul da Bolívia, originado da interação entre os Andes,
ventos de oeste em altos níveis e aquecimento da superfície. Essa
baixa pressão aprofunda-se antes da passagem das frentes frias
e diminui um ou dois dias depois. É um sistema quente, menos
intenso no inverno, que afeta apenas a baixa troposfera (até 700
hPa) e com freqüência é acompanhado por subsidência, e,
consequentemente, por ausência de nebulosidade. Esse centro de
baixa pressão estende-se e aprofunda-se no verão (Baixa do
Chaco), fortalece o gradiente zonal subtropical de pressão e, com
isso, o componente meridional do vento, ajudando a fortalecer os
ventos de noroeste em baixos níveis que conectam os trópicos a
região Sul. (GRIMM, 2009, p. 264 -265)
Grimm (2009, p. 266) destaca que em nenhuma época do ano é observado vento
médio de sul em baixos níveis sobre a região sul do Brasil, sendo que o componente norte é
mais significativo e mais forte no inverno e na primavera; enfatizando que nos ventos de
norte e noroeste, com frequência, se desenvolve uma corrente de jato de baixos níveis que
pode aumentar a ocorrência de chuvas e ventos na região sul.
Os ventos médios na alta (e média) troposfera sobre a região Sul
são predominantemente de oeste, especialmente no inverno. [...]
No inverno, ventos de oeste estendem-se para o norte, atingindo
o sudeste/centro Brasil, enquanto no verão restringem-se ao ex-
tremo sul, pois se estabelece sobre grande parte do continente
uma circulação anticiclônica em torno da alta da Bolívia. [...] Nas
estações de transição, o jato subtropical de altos níveis está
centrado sobre o sul do Brasil/nordeste da Argentina, o que influ-
encia os máximos de precipitação na região e a ocorrência de com-
plexos convectivos de mesoescala. (GRIMM, 2009, p. 267)
Wagner (1989) realizou um estudo preliminar dos ventos no Estado do Paraná com o
fim de caracterizar o regime de ventos quanto à velocidade, direção predominante, veloci-
dade e direção do pico máximo e probabilidade de ocorrência das velocidades, para o período
de 1975 a 1986, com o objetivo de orientar a implantação de quebra-ventos, subsidiar
projetos de aproveitamento de energia eólica e fornecer elementos para instalação de
parques industriais e aeroportos.
A análise das séries anuais de dados permitiu a identificação das localidades de
Cascavel, Clevelândia e Ponta Grossa com velocidades médias diárias altas dos ventos,
constituindo as áreas mais indicadas para a viabilização do aproveitamento de energia eólica
no estado.
A direção do vento predominante na maior parte dos locais estudados foi a NE,
seguida das direções E e SE, fato que pode estar relacionado com os centros de alta
pressão do Atlântico e do Pacífico que originam ventos nesta direção e que atingem o
estado. Para os picos máximos dos ventos, embora a maior porcentagem tenha se concen-
trado nas direções NE, E e SE, os maiores valores verificados pelos autores citados ocorre-
ram nas direções S, SW e W, evidenciando uma correlação entre a entrada da massa de ar
polar, que é acompanhada de ventos do quadrante sul e a ocorrência de picos máximos
extremos.
v. 36, n. 3, set./dez. 2011 Ely, D. F. / Pereira, L. M. P. 595
MATERIAL E MÉTODOS
Para as análises das velocidades médias diárias dos ventos para diferentes níveis de
probabilidades foi utilizada a distribuição estatística de valores extremos denominada de
Gumbel. A função de probabilidade acumulada da distribuição de Gumbel é:
F(v) = exp{ exp[ + α (v + β)]},
n = número de observações.
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Contribuição para o estudo do regime dos
600 ventos no estado do Paraná GEOGRAFIA
A distribuição das direções predominantes dos ventos no estado foi representada por
meio das rosas-dos-ventos para os doze meses do ano e a média anual para as 16 estações
analisadas, mas são apresentados aqui apenas os exemplos de Paranavaí (figura 4), Londri-
na (figura 5) e Bandeirantes (figura 6).
A partir de tais gráficos foi observado que, tanto para os meses como para as
estações do ano, não ocorrem mudanças significativas nas direções dos ventos nos locais
estudados. Os dados revelam predominância de vento nordeste (NE) para a maioria das
localidades estudadas, sendo elas: Paranavaí, Palotina, Clevelândia, Guarapuava, Ponta
Grossa, Cascavel e Morretes.
A segunda direção de maior ocorrência foi Leste (E), para Londrina, Cianorte, Laran-
jeiras do Sul, Lapa e Pinhais. Em seguida verificou-se a direção predominante de sudeste
(SE) para as localidades de Bandeirantes, Ibiporã, Cambará e Telêmaco Borba.
Para as localidades que apresentaram direção NE dos ventos como predominante, a
segunda direção mais freqüente foi E, com exceções de Clevelândia e Morretes cujas dire-
ções secundárias foram N e SO, respectivamente.
Nos locais onde a direção E foi predominante, a segunda direção mais freqüente foi
NE e para os locais de maior ocorrência de direção SE tiveram na sequência as direções S e
E.
Os resultados mostraram que a direção predominante dos ventos para o estado se
concentra entre os quadrantes NE-E-SE.
Contribuição para o estudo do regime dos
602 ventos no estado do Paraná GEOGRAFIA
CONCLUSÕES
médias mensais dos ventos em relação às anuais. Foram observadas maiores velocidades
médias durante o inverno e a primavera, sendo que o mês de setembro apresentou os
maiores valores para quase todas as estações analisadas, exceto para Morretes, confirman-
do os dados identificados por Prates, Zaicovski e Guetter (2002).
Vale ressaltar que neste período de transição sazonal ocorre o gradativo aquecimen-
to do continente sul-americano favorecendo os contrastes barométricos com o retorno do
anticiclone do Atlântico Sul para sua posição climatológica confrontando com as passagens
frontais e a massa Polar atlântica que ainda atua sobre o estado, bem como o recuo das
massas de ar tropicais de baixa pressão. A atuação dessas massas está relacionada com os
valores das velocidades dos ventos abaixo da média anual registrados no verão e outono,
havendo valores médios bem próximos entre os meses para todas as estações.
A distribuição de freqüência das velocidades médias diárias do vento propiciou uma
análise mais consistente e a comparação com os dados de velocidade média diária, o que
mostra uma ampliação da concentração dos dados que ficaram entre as velocidades de 1,5
e 3,5ms-1. As cidades de Cascavel, Ponta Grossa e Clevelândia apresentaram velocidades
médias mensais acima de 3ms-1 em todos os meses do ano, com exceção apenas para o mês
de março em Ponta Grossa. Nas demais localidades essas médias ficaram abaixo de 3ms-1 e
em Morretes e Telêmaco Borba foram inferiores a 2ms-1.
A direção predominante dos ventos foi de NE nas localidades de Paranavaí, Palotina,
Cascavel, Clevelândia, Guarapuava, Ponta grossa e Morrestes. Em Londrina, Cianorte, La-
ranjeiras do Sul, Lapa e Pinhais os ventos tiveram direção predominante de E e em Cambará,
Bandeirantes, Ibiporã e Telêmaco Borba de SE, essas últimas localidades estão situadas na
margem direita do rio Tibagi podendo contribuir para a direção dos ventos. Verifica-se que as
direções predominantes dos ventos no Paraná são oriundas do quadrante leste, demons-
trando a influência do anticiclone do Atlântico sul sobre os ventos na superfície, que sofre
pequenas alterações nas direções em virtude do posicionamento latitudinal e do relevo das
localidades estudadas, indo de encontro com o que Wagner (1989) havia ressaltado.
A análise dos picos máximos dos ventos no estado demonstrou que tais eventos
possuem direção predominante de SW e o maior valor registrado foi de 50ms-1, na cidade de
Londrina. Conforme Maack (2002) e Waganer (1989), altos valores dos ventos oriundos do
quadrante sul demonstram a influência da entrada das massas polares no estado. Os antici-
clones que se infiltram desfazem a camada de nuvens em pouco tempo, trazendo consigo
dias claros e ensolarados. As massas de ar polares estagnadas sobre o continente se
aquecem, novamente devido ao acumulo das radiações solares, motivando a mudança da
direção dos ventos de E para NE.
Vale destacar também que os ventos extremos têm sua origem associada à atuação
de determinados sistemas meteorológicos, sendo que os sistemas convectivos de mesoescala
e os sistemas de grande escala (frontais e linhas de instabilidade) são os mais relevantes,
mas que requerem um estudo mais acurado para a identificação de sua atuação e a identi-
ficação dos impactos de sua ocorrência sobre as localidades estudadas, demonstrado a
necessidade de aprofundar tais análises.
v. 36, n. 3, set./dez. 2011 Ely, D. F. / Pereira, L. M. P. 607
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