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O singular processo de miscigenação do Brasil refletiu na construção

da identidade cultural e musical brasileira.


O momento era o de um que país passava por um processo de
modernização, em que os objetivos eram o desenvolvimento
econômico de diversos setores, com intuito maior de tornar o Brasil
um país industrializado. O lema do presidente que na época Juscelino
Kubitschek(1950-1960) era: "O Brasil era desenvolver 50 em 5".

Neste contexto, a bossa nova assume papel importante. A música


jamais deve ser analisada de forma dissociada do contexto histórico.
A estética da bossa nova contemplava todo esse novo ideal de
modernização do país, "do urbano" , "do cosmopolita", que se
identificava com a classe média. Classe essa de onde surgiu a bossa
nova, na Zona Sul do Rio de Janeiro.

O movimento foi considerado elitista em contraposição ao samba que


já existia e que se desenvolvia em muitos lugares, mas sobretudo nas
favelas. Jacob do Bandolim teria afirmado que a bossa era um falso
movimento musical, por que ele tentava mudar a estética do samba e
ainda substituir e questionar a representação nacional já estabelecida
pelo samba e pelo choro.

O termo "Bossa" teria sido utilizado pela primeira vez numa canção
composta por Noel Rosa, Coisas Nossas, na década de 1930. Na letra,
Noel diz: "O samba, a prontidão e outras bossas, são coisas nossas".
Bossa seria um jeito de fazer as coisas. O termo "Bossa Nova" foi
utilizado para sugerir que os artistas estavam compondo e cantando
de uma nova maneira.

Já dentro do movimento bossanovista ela aparece em "Desafinado"


Antonio Carlos Jobim e Newton de Mendonça, gravada em 1958 por
João Gilberto.

João Gilberto, o criador do estilo novo de cantar e tocar o violão,


apresentou uma síntese do samba, modificando alguns elementos: A
forma intimista e diferenciada de cantar que o afastam da tradição do
canto, de até então; e a síntese harmônica, diretamente relacionada
ao ritmo, em que os acordes aparecem isolados, claros, sem a
interferência constante de ornamentações e profusões de notas
sobrepostas.

Resumindo: No estilo dedilhado de João Gilberto, o polegar se


encarrega da linha de graves – o baixo – nota a nota, e os dedos
indicador, médio e anelar tocam outras três cordas para completar o
acorde, tudo de forma simultânea. Não há alternância de dedos e
baixo é tocado apenas uma nota por tempo, sem variação de
acentuação o que já apresentaria uma uma diferença em relação ao
samba.
O conjunto de bateria padrão era utilizado para o acompanhamento,
embora deixando de fora o bumbo e utilizando-se uma vassourinha
na caixa e no aro.

Walter Garcia em seu livro, que discorre sobre a batida de João


Gilberto: "Bim bom. A contradição sem conflitos de João Gilberto"
fala o seguinte:

“Trocando em miúdos, os ataques de acorde alteram um desenho


básico e suas síncopes não se perdem porque o baixo, por todo o
acompanhamento, sinaliza os dois tempos de cada compasso.” (1999:
69) Combinando diferentes subdivisões do tempo nos dedos do
recheio, combinando também ataques mais stacatto e mais legato, o
resultado é tudo, menos monótono, e sobre essa ideia aparentemente
simples, todo o estilo rítmico do acompanhamento da bossa nova fica
definido.

Referência: CARLO MACHADO PIANTA. A GÊNESE DA BOSSA NOVA: João Gilberto e Tom
Jobim, Porto Alegre 2010. Dissertação de Mestrado em Literaturas Brasileira, Portuguesa e
Luso-Africanas, apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre, sob
orientação pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/25411

Reflexões sobre a Bossa Nova, um Estilo Musical Eterno, por Welson Tremura, dipsonível em
https://www.academia.edu/35185171/Reflex
%C3%B5es_sobre_a_Bossa_Nova_um_Estilo_Musical_Eterno

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