Você está na página 1de 28

Índice

1. Introdução ............................................................................................................................. 2
2 ADOÇÃO: O SEU PROCESSO EM PORTUGAL. O que é, seu o processo e leis associadas,
evolução e dados estatísticos ligados ao fenómeno..................................................................... 3
2.1 Noção de Adoção .......................................................................................................... 3
2.2 Processo de Adoção ...................................................................................................... 4
2.3 Dados Estatísticos Ligados ao Fenómeno ..................................................................... 7
3 A estrutura das famílias adotivas e idade dos adotados....................................................... 8
3.1 Possíveis indivíduos a adotar e estado civil dos mesmos ............................................. 8
3.2 Adoção por casais LGBT ................................................................................................ 9
3.3 Análise sociológica, imaginação sociológica e estatísticas............................................ 9
4 Idade das crianças adotadas e influência no número de crianças em instituições ............ 11
5 Obras e estudos sociológicos acerca do tema .................................................................... 12
6 Sumário ............................................................................................................................... 13
7 Institucionalização ............................................................................................................... 13
7.1 Razões pelas quais as crianças e jovens são institucionalizados................................. 13
7.2 Razões pelas quais as crianças ou jovens podem ser retirados aos pais biológicos ou
responsáveis ............................................................................................................................ 14
7.3 Entidades comunicantes de situações de perigo à CPCJ ............................................. 15
8 Vida nas instituições ............................................................................................................ 15
8.1 Consequências da falta de acompanhamento e de desenvolvimento adequado ...... 16
8.2 Soluções para reduzir os efeitos ................................................................................. 16
9 Influência das experiências traumáticas na relação com a família adotiva ........................ 17
10 Efeitos da adoção ............................................................................................................ 17
11 Reflexão Final .................................................................................................................. 19
12 Referências Bibliográficas ............................................................................................... 20
13 Anexos ............................................................................................................................. 21
14 Ficha Técnica ................................................................................................................... 27

1
1. Introdução

Neste trabalho vamos abordar o tema da adoção como fenómeno social em Portugal,
desde o seu processo e burocracias, às estruturas das famílias adotivas, idade dos
adotados, consequências da adoção nas crianças e problemas das instituições utilizando
obras de diferentes autores e notícias como apoio.

A adoção é o processo que leva alguém a aceitar espontaneamente uma criança como seu
filho ou filha. Temos como objetivo deste trabalho, entender melhor como funciona este
fenómeno em Portugal e fazer uma relação dos resultados obtidos através do nosso estudo
principalmente com a sociedade portuguesa e a sua história, utilizando a imaginação
sociológica de acordo com C. Wright Mills. Seguindo a linha de pensamento do mesmo,
chegámos a algumas conclusões olhando além das nossas experiências pessoais ou
instituições com as quais convivemos. No nosso trabalho olhámos para o fenómeno como
algo introduzido numa sociedade com uma história e um passado, com tradições e valores
para além do individual. Utilizámos ao longo do nosso estudo, várias notícias como forma
de comprovar e exemplificar casos e dar a conhecer melhor a atualidade relacionando-a
com os acontecimentos e situações em análise.

De modo mais contextualizado, o trabalho está organizado pela introdução, a


apresentação do tema, no qual utilizámos três notícias mais específicas e onde abordámos
também as leis de adoção e demos a conhecer melhor o sistema de adoção português e a
sua história, em seguida o desenvolvimento, que contém o estudo da estrutura das famílias
adotivas e da influência que a história social tem no mesmo. Terminamos o
desenvolvimento com os efeitos e consequências da adoção nas crianças e os problemas
das instituições tutelares de menores e, por fim, apresentamos uma reflexão final acerca
do estudo feito.

2
2 ADOÇÃO: O SEU PROCESSO EM PORTUGAL. O que é, seu o
processo e leis associadas, evolução e dados estatísticos ligados ao
fenómeno

Este momento do trabalho visa dar um maior entendimento acerca do que é a adoção e a
maneira como o seu processo ocorre em Portugal, recorrendo a fontes jurídicas e por fim,
descrever a corrente situação do sistema relacionado com o fenómeno, através de dados
estatísticos.

2.1 Noção de Adoção

Adoção é um termo que funde duas óticas, a jurídica e a social, em que a primeira prende-
se essencialmente com a maneira como este processo é administrado e regularizado pelo
Estado, através do planeamento e execução de leis que facilitem e direcionem
corretamente a intenção dos cidadãos em acolher a criança e fornecer-lhe um ambiente
familiar saudável e seguro em que a mesma tenha a oportunidade de desenvolver-se e
tornar-se um membro funcional da sociedade. Enquanto a segunda envolve um fundo
ligado às relações afetivas, aos sentimentos, os pensamentos e à forma como estes jovens
reagirão dado a esta nova realidade com que se deparam, bem como os efeitos que
ocorrerão na vida dos que os rodeiam.

Esta dualidade permite constatar a relevância deste fenómeno social e como este afeta
não só a política, mas a própria sociedade, observável através de notícias e investigações
que são feitas envolvendo o mesmo, que o distanciam da ideia de que poderia partir duma
mera decisão condicionada pelo ambiente envolvente de um número reduzido de
indivíduos (Mills, C., 1959). A própria media e os inúmeros outros meios de comunicação
apresentam exemplos em que esta realidade se verifica, como o Diário de Notícias que a
5 de janeiro do ano decorrente publicou o caso da figura do Papa, a entidade de mais alto
estatuto na Igreja Católica, partilha a sua visão com os fiéis face a uma situação crescente
em que pessoas têm optado pela adoção de animais em prol da de crianças e numa
mensagem de conscientização, apela à regularização dos procedimentos pelas instituições
de forma a tornar o processo de adoção mais simples e um maior número de indivíduos
se sinta encorajado a prover abrigo e amor a “tantos pequeninos que precisam de uma
família” e prevenir o mundo de um problema do mundo atual, o envelhecimento da
população mundial (Diário de Notícias [DN], 2022 – anexo 1).

3
De seguida, após uma breve apresentação das duas raízes das quais descende a adoção,
parece coerente e adequado um aprofundamento na área legal do sistema vinculado à
mesma e ainda verificar como a lei portuguesa, de certa forma, define e encara o processo.

Em análise à Constituição da República Portuguesa de 1976, encontra-se o ato jurídico


da adoção consagrado no artigo 36.º, Família, casamento e filiação, nº7, “A adoção é
regulada e protegida nos termos da lei, a qual deve estabelecer formas céleres para a
respetiva tramitação”, o que impõe sob o Estado Português a responsabilidade de
providenciar a todas as crianças carentes de um meio familiar, um lar confortável e
protegido em que a educação seja um direto garantido e a sua identidade pessoal
preservada. Esta lei é reforçada com a Convenção Internacional Sobre os Direitos da
Criança, um tratado que visa à proteção de crianças e adolescentes de todo o mundo,
assinado em 20 de novembro de 1989 e ratificado por Portugal a 21 de setembro de 1990,
nomeadamente, pelo artigo 21º Parte I, relativo ao tema abordado, com destaque para dois
pontos: o reconhecimento de que esta ação é tomada tendo em conta o interesse superior
da criança e que apenas se torna efetiva uma vez asseguradas as devidas necessidades e
autorizações das entidades legais responsáveis (UNICEF, 2019).

Passando para o Código Civil, a adoção é citada nos artigos 1576.º como uma fonte de
relações jurídicas e familiares, juntamente com o casamento, o parentesco e a afinidade,
e 1586.º em que é dada a entender a sua definição: “adoção é o vínculo que, à semelhança
da filiação natural, mas independentemente dos laços do sangue, se estabelece legalmente
entre duas pessoas nos termos dos artigos 1973.º e seguintes.”

De certa forma, a adoção funciona como um contrato legal no qual é estabelecido uma
relação de afiliação entre os responsáveis adotantes e/ou adotados, ambos com direitos e
deveres, validada e tida pelo Estado como tão legítima e fidedigna quanto uma ligação
biológica.

2.2 Processo de Adoção

Uma vez facultadas algumas das definições de adoção pela lei portuguesa, passemos para
uma apresentação de como sucede o processo da mesma, recorrendo novamente ao
Código Civil, que, entre os artigos 1973.º a 2002.º, consagra o regime jurídico desta,
fazendo algumas referências àqueles que considerámos mais pertinentes ao trabalho.

4
Um passo fundamental anterior ao início do processo de adoção baseia-se na integração
dos candidatos, bem como das crianças suscetíveis a serem adotadas, numa lista nacional
com vista a este fim. Desenrolado por meio de três fases, a primeira etapa do seu processo
designada por “fase preparatória” foca-se num conjunto de ações tomadas pelos órgãos
de segurança social, juntamente com as instituições responsáveis, encarregues duma
avaliação das crianças, em especial, ao nível físico e psicológico, tal como a sua interação
social com os outros e da escolha dos candidatos, ou seja, dos indivíduos que pretendem
adotar. Segue-se então a fase de ajustamento entre crianças e candidatos, em que se realiza
uma averiguação daquelas que são as condições dos adotantes e constatar se estas se
mostram eficazes na resposta do que quer que seja indispensável ao bem-estar do adotado.
Ocorrem também neste passo, o estabelecimento dum período de transição, o
acompanhamento e julgamento do período de pré-adoção. Por último, a fase final visa um
requerimento por parte do adotante, cujos requisitos e informações necessárias são
analisadas e legitimadas por autoridade judicial, que, se se mostrarem integralmente em
acordo com a lei, é efetivado por sentença judicial o vínculo adotivo (Assembleia da
República, 2017).

Como referido anteriormente, o Código Civil expressa ao longo de trinta artigos, alguns
com alíneas, todas as condições e ditos requisitos para a realização de uma adoção, que,
dada a sua relevância e natural relação com o objeto de estudo, torna-se imprescindível a
citação de alguns para um maior entendimento e rigor na continuação deste trabalho.
Posto isto, iniciamos com o artigo 1974.º, no qual se dá a conhecer o intuito principal
deste laço familiar efetuado entre a criança e os seus novos pais, o superior interesse da
primeira em que se observe, de facto, uma mais-valia para a mesma, sem causar
constrangimentos ou infortúnios aos outros filhos dos candidatos e que se desenvolva
uma relação de parentalidade tão genuína como uma natural.

Casos em que estas conexões se tornam tão fortes e gratificantes para os acolhidos são
inúmeros, todos os dias, com o próprio jornal Observador a publicar uma notícia a 9 de
maio de 2022 onde é relatado o episódio dum jovem chamado Alexandre, que em janeiro
de 2007 aos três anos de idade, fora acolhido por Teresa e Gonçalo Mendes Barata, um
jovem casal sem filhos biológicos até então, numa iniciativa inovadora da Santa Casa da
Misericórdia. “O projeto (…) traduzia-se num acolhimento permanente e a longo prazo
— que incluía também a visita de terapeutas e assistentes sociais —, mas mantendo-se a
tutoria da criança a cargo do provedor da Santa Casa da Misericórdia” descreve o

5
Observador Lab. A futura família rapidamente formou uma grande união e Teresa reforça
este sentimento ao afirmar que “desde o primeiro dia, é como se tivesse estado grávida
dele” - e após o encerramento do projeto, dada a mudança do provedor da instituição, o
casal optou pela adoção, concluída por completo em 2009. Desde então, Alexandre, até à
altura da publicação da notícia, já com 18 anos, vive com a sua família, junto de novos
irmãos e celebra o dia em que a sua vida mudou para sempre (Observador Lab [OL], 2022
– anexo 2)

Já o artigo 1979.º regista aqueles que detêm as qualificações exigidas que lhes concede a
permissão para adotar:

“1 - Podem adotar duas pessoas casadas há mais de quatro anos e não separadas
judicialmente de pessoas e bens ou de facto, se ambas tiverem mais de 25 anos.

2 - Pode ainda adotar quem tiver mais de 30 anos ou, se o adotando for filho do cônjuge
do adotante, mais de 25 anos.

3 - Só pode adotar quem não tiver mais de 60 anos à data em que a criança lhe tenha sido
confiada, mediante confiança administrativa ou medida de promoção e proteção de
confiança com vista a futura adoção, sendo que a partir dos 50 anos a diferença de idades
entre o adotante e o adotando não pode ser superior a 50 anos.

4 - Pode, no entanto, a diferença de idades ser superior a 50 anos quando, a título


excecional, motivos ponderosos e atento o superior interesse do adotando o justifiquem,
nomeadamente por se tratar de uma fratria em que relativamente apenas a algum ou
alguns dos irmãos se verifique uma diferença de idades superior àquela.

5 - O disposto no n.º 3 não se aplica quando o adotando for filho do cônjuge do adotante.

6 - Releva para efeito da contagem do prazo do n.º 1 o tempo de vivência em união de


facto imediatamente anterior à celebração do casamento.”

Por sua vez, o artigo 1980.º descreve as crianças que se encontram aptas para ingressar
no processo de adoção:

“1 - Podem ser adotadas as crianças:

a) Que tenham sido confiadas ao adotante mediante confiança administrativa ou medida


de promoção e proteção de confiança com vista a futura adoção;

6
b) Filhas do cônjuge do adotante.

2 - O adotando deve ter menos de 15 anos à data do requerimento de adoção.

3 - Pode, no entanto, ser adotado quem, à data do requerimento, tenha menos de 18 anos
e não se encontre emancipado quando, desde idade não superior a 15 anos, tenha sido
confiado aos adotantes ou a um deles ou quando for filho do cônjuge do adotante.”

Terminamos este momento do estudo com o artigo 90.º-A, uma alínea do artigo 90º,
porém considerámos que a primeira é suficiente ao expor a questão do acesso ao
conhecimento das origens de forma direta e objetiva: “às pessoas adotadas é garantido o
direito ao conhecimento das suas origens, nos termos e com os limites definidos no
diploma que regula o processo de adoção.” A história de Pedro Filipe, publicada
juntamente com a de Alexandre, constata esta mesma realidade. Filipe, hoje com 37 anos
e consultor de comunicação, foi deixado pela mãe biológica num parque em Cascais, logo
após o nascimento, porém aos quatro meses foi adotado por uma família que passou a
considerar como sua e única e embora consciente da adoção e reconhecer que é um direito
seu, não se mostra deveras interessado em conhecer os seus pais biológicos, mesmo com
o suporte da família adotiva. “Disse uma vez que tinha curiosidade em conhecer a minha
mãe biológica e os meus pais disponibilizaram-se para me ajudar. Mas foi uma vontade
que durou pouco. As pessoas fazem muito essa questão, sobretudo pela origem africana,
mas não é mesmo algo com o qual me debata”, informa Pedro Filipe (Observador Lab,
2022 - anexo 2).

2.3 Dados Estatísticos Ligados ao Fenómeno

Neste estágio final da apresentação do fenómeno da adoção, pretendemos expor alguns


dados estatísticos relativamente a três tópicos muito significativos ao tema - o número de
processos findos de adoção plena, total e por duração (gráfico – anexo 3) de processos
findos de adoção, por tipo de vínculo (gráfico – anexo 4) e de crianças e jovens em centros
de acolhimento, por idades (gráfico – anexo 5) - disponibilizados PORDATA, estatísticas
sobre Portugal e a Europa até ao ano de 2020 e fazer uma pequena interpretação sobre o
que se pode retirar dos mesmos.

Após uma análise ao gráfico do anexo 3, podemos inferir que a maior parte dos processos
de adoção em Portugal, há sensivelmente vinte anos, têm tido uma duração de no máximo
três meses. Apenas entre 1995 e no início dos anos 2000 os processos apresentavam uma

7
maior variabilidade na extensão de tempo para as suas conclusões. Já o gráfico do anexo
4, diz-nos que o número de processos de crianças adotadas por vínculo de adoção plena
é o que revela maior aderência em Portugal, que entre 1995 e 2005 apresentou um
crescimento, uma estabilidade entre 2005 e 2010, quando este começou a ter um
decréscimo exponencial. Para terminar, o gráfico do anexo 5 demonstra que o número de
menores em instituições tutelares tem apresentado um decréscimo acentuado com uma
breve estabilidade entre os 200 e 300 jovens entre 2005 e 2010, onde os mesmos se
encontram, em maioria, entre os 16 anos ou superior desde o começo da primeira década
do século XXI, apenas com anos anteriores, pelos dados até 1995, uma maioria
representada por crianças com idades entre os 12 e os 15 e abaixo dessa faixa num valor
deveras inferior aos anteriormente referidos.

Os números que se encontram neste último gráfico expõem uma conjuntura ainda muito
comum em Portugal, a dificuldade para várias crianças em encontrar um lar ou uma
família que lhes abra as portas, muitas vezes, dada a sua idade já avançada, fator citado
por Nuno Cardoso-Ribeiro, entre outros como problemas de saúde física e mental ou
deficiências, no seu artigo de opinião ao Público, divulgado a 28 de março de 2022.
Cardoso-Ribeiro atenta para a gravidade desta situação, fazendo menção à única solução
para estes meninos a quem chama de “inadotáveis”, numa expressão melancólica e
carregada de desilusão, ao verem-se submetidos a participarem de agências internacionais
de adoção, porque no seu país de origem não conseguem uma casa, referindo a lentidão
e dificuldade que é o término total deste procedimento. Encerra o texto com uma
manifestação de esperança pelos jovens e um desejo de que estes tenham, embora longe
da terra natal “um final feliz” (Nuno Cardoso-Ribeiro, 2022 – anexo 6).

3 A estrutura das famílias adotivas e idade dos adotados

A adoção tem vários fatores de análise pertinente, entre eles as características das famílias
adotivas. Nomeadamente, no que toca à orientação sexual, à estrutura das famílias de
adoção (monoparental; casal; entre outros…) e também à idade das crianças adotadas.
Vamos então apresentar e estudar essas mesmas características estruturais e relacioná-las
com os valores sociais presentes para uma melhor análise sociológica dos mesmos.

3.1 Possíveis indivíduos a adotar e estado civil dos mesmos

8
Em Portugal, é permitida que uma adoção seja feita por duas pessoas se estas forem
casadas, ou viverem em união de factos há mais de quatro anos e tenham ambos no
mínimo 25 anos. Já quando feita por apenas uma pessoa, a adoção é permitida a
indivíduos de idade superior a 30 anos ou 25 anos quando o adotado seja filho do cônjuge.

Socialmente o termo adoção é na maioria das vezes associado à adoção por casais ou
famílias já formadas, contudo, as adoções monoparentais são também bastante comuns.
Podemos apresentar como exemplo, a família da notícia em (anexo 7). Gonçalo relata a
sua experiência na adoção de Duda, e retrata a realidade de muitos pais/mães cujo facto
de serem solteiros/as não influencia de qualquer forma negativa a sua vontade de adotar
e vivenciar o que é a parentalidade. Gonçalo confessa que o processo foi cansativo
psicologicamente, demorado e existente, mas deixa claro que o esforço valeu a pena e
não foi diferente do que seria uma preparação para a chegada de um filho biológico,
comparando as duas situações de forma a normalizar a adoção e o seu processo. Diz
também que teve o apoio da sua família, mas que o processo em si, foi algo totalmente
da sua responsabilidade. Este exemplo pode ser utilizado como uma referência ou reflexo
da adoção por apenas uma só pessoa que apesar de mais complexa é uma possibilidade.

3.2 Adoção por casais LGBT

No que toca à adoção por casais LGBT é algo bastante recente em Portugal tendo sido
aceite a lei em março de 2016. Em Portugal o número de adoções por casais homossexuais
é ainda muito baixo sendo que desde o ano de aprovação da lei, de acordo com a notícia
em (anexo 8), apenas 16 casais homossexuais adotaram uma criança. Apesar de o número
ter vindo a aumentar desde o começo, são aumentos, ainda assim, de valores baixos. A
notícia deu-nos a conhecer também o exemplo de Mário que juntamente com o seu marido
adotou João, um menino com graves problemas de saúde e tempo de vida indeterminado
que conheceu por ser enfermeiro. Este exemplo teve um processo de adoção atópico pela
doença do rapaz que acabou por facilitar o processo.

3.3 Análise sociológica, imaginação sociológica e estatísticas

Analisando agora sociologicamente a sociedade portuguesa, podemos chegar à conclusão


de que o número baixo de adoções pode ter várias causas e motivos. Começando pelo
número baixo das adoções em Portugal por casais LGBT pode ser consequência de, como
partilhada na notícia anteriormente mencionada, muitos casais terem receio do

9
preconceito que os filhos adotivos poderão sofrer devido a terem pais homossexuais. A
discriminação histórica causa o receio e é algo que impede a adoção por parte de muitos
casais. Outro motivo, é o desconhecimento das características e especificidades da adoção
por casais do mesmo sexo. Porém, vários estudos foram feitos e concluíram que não existe
qualquer diferença no desenvolvimento cognitivo, no bem-estar psicológico, na
adaptação nem na relação entre filhos e pais entre as famílias monoparentais
comparativamente às de casais heterossexuais.

Mas o que mais causa o reduzido número de adoções em Portugal, quer nos casais
heterossexuais, quer nos homossexuais, nas adoções por casais ou solteiros… é a demora
e dificuldade dos processos de adoção. Muitas famílias queixam-se às instituições da
demora dos processos e como consequência, muitas crianças saem do sistema por
completarem a maior idade e não por serem adotadas, da mesma forma que muitas são
também adotadas por pessoas de países estrangeiros. Existem cada vez menos crianças
adotadas em Portugal, os números tendem a baixar gradualmente de ano para ano.
Informações estas que nos foram possíveis retirar da notícia em (anexo 9), que diz que
quase metade das crianças que saem do sistema de adoção, saem por completarem os 18
anos, tendo sido a adoção algo que ou nunca chegou a acontecer ou aconteceu durante
um período muito curto já que existem também muitas crianças que são “devolvidas” ao
sistema. Podemos observar casos como o da notícia em (anexo 6) que conta a história e
situação de crianças portuguesas que têm sido “esquecidas” e com impossibilidade de
serem adotadas por serem portadores de deficiências ou perturbações físicas ou mentais
que têm de ser dadas a adoção a famílias estrangeiras por não encontrarem quem as adote
no seu próprio país. Estas falhas no sistema de adoção português têm sido alvo de várias
críticas ao longo dos anos. Existem muitos processos de adoção iniciados, contudo poucos
são os que têm a possibilidade de ser finalizados e este tipo de situações causa que cada
vez mais seja difícil adotar uma criança na sociedade portuguesa.

Portugal por ser um país com números muito reduzidos de adoção e até um dos países da
Europa com menos adoções, não dispões de muitos dados ou estatísticas no que toca a
comparações e valores certos. Como tal propusemo-nos a fazer uma análise completa a
dados estatísticos pertinentes que encontrámos referentes à sociedade americana. Através
do gráfico circular apresentado no (anexo 10) podemos retirar que a grande maioria das
adoções é feita por casais heterossexuais, correspondendo a 78% das adoções, segue-se
solteiros (monoparental) heterossexuais com 15% das adoções, depois solteiros

10
homossexuais e casais heterossexuais não casados, ambos com 3% das adoções e por fim,
casais homossexuais com apenas 1% das adoções. Podemos com isto concluir que, na
sociedade em estudo, é mais comum a adoção por heterossexuais tanto casados como
solteiros e que as adoções por casais homossexuais são quase nulas. Relacionando estes
dados com a situação portuguesa, podemos ver que não é a única com valores de adoções
por homossexuais tão reduzidos o que nos permite a perceção de que é algo geral.
Analisando socialmente este resultado podemos concluir que é algo consequente da
história devido à discriminação anterior da homossexualidade, que era até considerada
uma doença e que apesar de atualmente estar progressivamente a diminuir, faz com que
casais/indivíduos heterossexuais e homossexuais ainda não sejam vistos de igual forma e
por isso apresentem resultados diferentes como o exemplificado. Quanto ao valor dos
casais heterossexuais ser superior ao dos solteiros heterossexuais, podemos também
relacionar com a história da sociedade em estudo, que é uma sociedade em que
historicamente o casamento é visto como uma tradição e como meio fundamental para a
existência de uma família o que faz com que devido a essa tradição e a esse conceito
prévio de família iniciada por uma mãe e um pai casados, atualmente o número de
solteiros a adotar uma criança ser menor, já que a maioria das pessoas devido aos valores
transmitidos desde sempre pela sociedade, optam por ter filhos apenas depois de casados,
visto que o casamento é visto socialmente como um ato causador de estabilidade.

Com isto podemos retirar que a adoção em Portugal tem muito que melhorar em prol do
aumento da mesma e que existem vários fatores externos procedentes da sociedade em
que vivemos e das suas condições que influencias os resultados dos dados estudados. As
análises feitas foram resultado meramente do uso da imaginação sociológica que temos
que permitiu a relação entre os dados e a sociedade em estudo. Sem a imaginação
sociológica não nos seria possível entender socialmente os resultados das estatísticas em
análise de acordo com os valores sociais e a história da evolução dos mesmos.

4 Idade das crianças adotadas e influência no número de crianças em


instituições

Uma característica também importante de mencionar no que toca a adoções é o facto das
crianças que mais tempo ficam nas instituições serem as crianças com mais de 12 anos.
É nos possível observar a partir do gráfico previamente analisado na apresentação (anexo
5), que entre 1995 até 2020 sempre houve uma grande distinção refente ao número de

11
crianças em instituições tutelares consoante a faixa etária em que se encontram. Por
norma, o número de crianças aumenta de acordo com o aumento da faixa etária sendo que
a partir do início dos anos 2000 a 2020 podemos observar que o número de crianças com
idade superior os 16 anos é sempre mais elevado que o de crianças entre os 12 e os 15.
Sociologicamente falando, isto pode ser consequência da ideologia que não só a
portuguesa, mas as sociedades em geral têm de que para ter um filho, é necessário tê-lo
desde o nascimento logo, mesmo na adoção as pessoas geralmente preferem adotar
crianças quanto mais novas forem para melhor se integrarem no padrão social de que
educar e criar alguém é desde os seus primeiros anos de vida. As situações em que as
crianças são adotadas mais velhas são muitas vezes por motivos de grau de parentesco
afastados, como adotar sobrinhos após serem retirados aos pais/ficarem órfãos ou a
adoção de filhos de cônjuges.

5 Obras e estudos sociológicos acerca do tema

No que toca a obras de estudos sociológicos acerca do tema, existem muito poucos acerca
do fenómeno. Inclusive Allen Fisher, um poeta britânico escreveu no seu comentário da
literatura sociológica que existem várias razões pelas quais os sociologistas se deveriam
interessar no tema da adoção citando quatro razões que se destacam a seu ver. A primeira
razão é o aumento da diversidade das famílias: famílias de casais nunca casados, pais
solteiros, divorciados, do mesmo sexo, a partilha de residência com avós, entre outros…;
A segunda, é a construção social que o conceito de família tem. Este ponto refere-se ao
conceito de família tradicional que muitas vezes acaba por nos prender e influenciar na
formação de um meio familiar; A terceira razão, levanta a complexidade de questões
acerca de raça e etnia, classe social e género. Barbara Katz Rothman´s, é uma socióloga
que estudou o facto de existirem crianças que tiveram adoções inter-raciais e que ao
passar do tempo, desenvolvem crises de identidade racial devido ao afastamento da sua
cultura em termos sociais e origem biológica; finalmente, a última razão é do processo
adotivo interferir e afetar milhares de pessoas. Pais biológicos, adotivos e as crianças
adotadas.

Contudo, ainda que poucas existem algumas obras acerca da adoção entre eles decidimos
destacar o livro Modern Families de Joshua Gamson. A obra explica a forma como
indivíduos criam famílias não convencionais através do acesso a tecnologia, medicina e
escolhas legais que expandem a definição de parentesco e família. Relata casos mais

12
específicos de adoções entre eles uma reprodução assistida de uma criança a fim de ser
adotada por um casal homossexual. Para além desta, o comentário, previamente
mencionado, Still “not quite as good as having your own?” Toward a sociology of
adoption, de Allen Fisher, é também importante a mencionar. A obra fala de como a
adoção tem sido um tema de pouca atenção aos olhos dos sociólogos e expande
sociologicamente o fenómeno. Resume a empiricamente quem adota crianças e quem dá
crianças à adoção e o porquê.

6 Sumário

Em resumo, podemos dizer que o número de adoções aumenta conforme mais tradicionais
e comuns forem as estruturas familiares dos indivíduos que adotam e que, quanto mais
velhas forem as crianças, menor a probabilidade de serem adotadas logo, a maioria das
crianças que permanecem em instituições tutelares têm mais de 16 anos. A adoção, é
então um tema com várias vertentes a analisar no que diz respeito à estrutura das famílias.
Existem vários temas que possibilitam análises sociológicas, porém, é um tema a que os
sociólogos têm prestado pouca atenção. Todas as estatísticas são possíveis de relacionar
com a sociedade e a história da evolução dos valores sociais.

7 Institucionalização

7.1 Razões pelas quais as crianças e jovens são institucionalizados

Antes de desenvolver os efeitos da adoção propriamente dita, é necessário perceber


tudo aquilo que os antecede, desde os motivos pelos quais as crianças são
institucionalizadas, como o ambiente vivido nesses estabelecimentos e as consequências
do mesmo.

Segundo Silva (s/d), são vários os motivos pelos quais inúmeras crianças e jovens
vivem em instituições. Entre eles destaco:

• Carência de recursos materiais da família biológica


• Abandono pelos pais ou responsáveis

13
• Orfandade
• Prisão dos pais biológicos ou responsáveis
• Retirados aos pais ou responsáveis por diversos motivos

7.2 Razões pelas quais as crianças ou jovens podem ser retirados aos pais
biológicos ou responsáveis

Seguindo o mesmo raciocínio, há também diversos motivos pelos quais as crianças


ou jovens podem ser retirados aos seus pais biológicos ou responsáveis. Destaco os maus
tratos físicos, psicológicos, a dependência química, falta de alojamento, o abuso sexual e
a negligência.
De acordo com Magalhães (2005), cit por Pereira (2020, p.13), maltratar fisicamente
uma criança ou adolescente é um ato provocado intencionalmente, com o intuito de causar
ferimento ou dano físico. Muitas vezes pode traduzir-se na prática de queimaduras,
fraturas, traumatismos crânio-encefálicos, lesões abdominais, sufocação, afogamento ou
intoxicações intencionais.
Já os maus tratos psicológicos, passam pela falta de afetividade e de promoção de um
bem-estar emocional na criança, da responsabilidade dos pais ou responsáveis, dando por
vezes lugar a insultos, ameaças, humilhações, descriminação, indiferença, culpabilização
e ainda desvalorização das reivindicações ou necessidades do jovem. Tudo isto, terá como
consequência o desenvolvimento de sentimentos de medo, insegurança, ansiedade, baixa
autoestima, isolamento e muitas outros problemas.
Por sua vez, a dependência química e alcoolismo por parte dos pais biológicos ou
responsáveis é uma razão evidente para a criança lhes ser retirada, pois este problema
poderá causar-lhes instabilidade, colocando em risco a saúde, a educação e a segurança
do jovem, gerando ainda maus exemplos. Tal como afirma Magalhães (2005), cit por
Pereira (2020), o consumo de álcool e drogas levará a comportamentos impulsivos e em
casos mais graves, a violência física.
Além disso, a falta de alojamento, ou seja, viver na rua, é inaceitável, principalmente
na infância, fase crucial para o desenvolvimento da criança, onde todas as experiências
contribuem para a formação da sua personalidade.
Ainda de acordo com o mesmo autor, o abuso sexual praticado pelos pais ou
responsáveis a uma criança consiste na satisfação sexual do adulto, envolvendo-se para

14
esse efeito, com o jovem menor, e poderá ser grande gerador de traumas, pois nem o
corpo, nem o cérebro da criança estão preparados para um ato de tal gravidade.
Por fim, a negligência parental, passa pela falta de oferta de cuidados e necessidades
básicas às crianças, por parte dos responsáveis, colocando mais uma vez em risco a saúde,
educação e desenvolvimento da criança (Fontes, 2016).

Tal como mostra o gráfico de barras (anexo 11), em Portugal, no ano de 2019, a
negligência parental era a categoria de perigo com a percentagem mais elevada de casos
diagnosticados, atingindo 34,5% do total das diferentes categorias que constituem perigo
a crianças e jovens.
Segue-se a violência doméstica e os comportamentos de perigo na Infância e
Juventude, ambos com valores um pouco acima dos 20%.
O abuso sexual e a exploração infantil são as categorias com a percentagem mais
baixa, e talvez por serem tão gravosas, são também as menos frequentes, atingindo
valores abaixo de 1%, no mesmo ano.

7.3 Entidades comunicantes de situações de perigo à CPCJ

Em 2021, a comunicação de situações de perigo à CPCJ, Comissões de Proteção de


Crianças e Jovens, foi feita principalmente pelas forças de segurança e pelos
estabelecimentos de ensino, com 16 261 e 9 084 comunicações, respetivamente, valores
que se mantêm relativamente constantes ao longo dos anos (valores apresentados no
gráfico do anexo 12). No entanto, no mesmo ano, houve ainda um grande número de
denúncias anónimas das situações de perigo mencionadas (4 012).

8 Vida nas instituições

Tal como afirma Cansado (2008), institucionalizar uma criança é um processo que
permite a esta afastar-se de situações problemáticas ao seu desenvolvimento, mas, por
outro lado, contrair uma nova forma de violência para o seu estado emocional. Este
poderá ser o principal problema da institucionalização, pois os jovens irão viver com a
consciência de que foram abandonados ou retirados da sua família biológica, além de

15
terem uma estrutura familiar incoerente e distinta da estrutura de grande parte dos outros
jovens.

8.1 Consequências da falta de acompanhamento e de desenvolvimento


adequado

A falta de acompanhamento adequado acontece pela diferença entre a grande


quantidade de crianças institucionalizadas e o reduzido número de cuidadores ao seu
serviço, o que dificulta a criação de laços afetivos entre os jovens e os funcionários,
devido à distribuição constante da atenção, embora esse apego seja algo necessário ao
correto desenvolvimento da personalidade da criança.
Como referido, a incoerência da nova estrutura familiar destas crianças passa pela
falta da atenção individual que, a longo prazo, poderá trazer consequências como carência
afetiva, dificuldade em estabelecer relações ou falta de autoestima, além da ausência de
convívio em família ou com a sociedade (Turminha do MPF, 2019).

8.2 Soluções para reduzir os efeitos

Algumas formas de atenuar um pouco a agressividade que a institucionalização


oferece às crianças e de trazer até elas um ambiente acolhedor, mais parecido possível ao
familiar, são a construção destes edifícios, evitando a existência de elementos que as
identifiquem como instituições, com características de uma habitação comum e o
fornecimento de uma atenção mais individualizada a cada criança ou jovem, de modo a
responder às suas necessidades afetivas. Além disso, os jovens institucionalizados devem
ter uma vida semelhante à dos jovens que vivem com a sua família biológica, com acesso
a liberdade, atividades de lazer, educação, saúde e tudo o que possa permitir a convivência
com a sociedade. Uma questão também relevante é a relação entre o número de
cuidadores e de crianças e/ou adolescentes ao seu cuidado, que infelizmente nunca será
suficiente para responder a todas as necessidades afetivas (Turminha do MPF, 2019).

16
9 Influência das experiências traumáticas na relação com a família
adotiva

Segundo Frank W. (2006) a relação com a família adotiva, jovens que sofreram maus
tratos físicos e psicológicos antes de serem institucionalizados e adotados, podem ter
comportamentos negativos, como violência e agressão, por se sentirem revoltados,
desprotegidos e não confiarem em ninguém.
Além disso, a família adotiva precisa de ter uma atenção especial em relação à
confiança que é necessário criar com o jovem. Se a criança tiver sofrido graves privações
antes da adoção e institucionalização, esta poderá expressar o seu ódio por não lhe terem
sido atendidas as suas necessidades, no momento em que os pais adotivos oferecem os
cuidados necessários. Assim, é necessário que os pais possam suportar os possíveis
ataques de raiva da criança, pois significa que esta sente que o ambiente é confiável para
o poder fazer.
Com um bom ambiente, onde a criança e sinta confortável, acolhida e que pertence à
família, com tranquilidade e afeto, é possível criar uma boa relação entre pais e filhos
adotivos, ainda que este seja um processo lento, complexo e exigente (Alves J. et al,
2017).

10 Efeitos da adoção

Tal como referido ao longo dos tópicos 8.1., 8.2. e 9.1., a adoção é um processo
complexo, e assim que se inicia o procedimento, deve ter-se em conta que pode já existir
uma grande bagagem de experiências e emoções na mente da criança ou adolescente em
causa. A notícia em anexo (13) mostra isso mesmo, afirmando que o acompanhamento
após a adoção está a falhar, pois esta é uma mudança violenta e, dependendo da idade, é
também uma mudança em fases de vulnerabilidade e de formação da personalidade.
Desse modo, deve existir, segundo as investigadoras Joana Soares e Maria Barbosa, um
acompanhamento mais prolongado, a nível psicológico das crianças e também a nível
pedagógico, para a família adotiva, de modo a que esta possa estar informada, através de
vídeos de testemunhas e estratégias para saber lidar da melhor forma com os jovens ou
responder às necessidades emocionais das crianças.
Foi também paralelamente mencionado ao longo do desenvolvimento do trabalho e
da notícia que “grande parte das crianças acompanhados passou por experiências
17
traumáticas com a família biológica e isso tem grande influências nas relações com a
família adotiva” (excerto da notícia).
Por fim, foram mencionadas ainda ao longo do trabalho, nomeadamente no tópico
9.1., as consequências da falta de acompanhamento e de desenvolvimento adequado nas
instituições. O mesmo menciona Joana Soares e Maria Barbosa, afirmando que, em
Portugal, 97% dos jovens em processo de adoção estão em instituições que não oferecem
um acompanhamento e desenvolvimento adequado. As crianças crescem em ambiente
com diversos profissionais, que trabalham por turnos, com imensas crianças para cuidar
ao mesmo tempo, trazendo impactos para o seu desenvolvimento. Os efeitos destas
consequências são visíveis no desenvolvimento destas crianças, pois, segundo Fonseca
(2017), o seu progresso e êxito profissional é baixo, quando comparado ao de jovens que
vivem noutros contextos, evidenciando o que, no final, todas estas mudanças podem
trazer de muito negativo, sendo este o resultado da acumulação de todas as consequências
apresentadas.

18
11 Reflexão Final

Com a finalização deste estudo sobre o fenómeno da adoção, tivemos a oportunidade de


aprendermos mais em relação a um tema de bastante relevância na nossa sociedade, que
apesar de discreta, afeta diretamente muitos dos aspetos ligados à vida de vários
indivíduos, a relação destes com os outros e as consequentes posições que ocupam na
sociedade em que estão inseridos.

Numa perspetiva mais ligada à burocracia e à legislação, a adoção, embora reconhecida


pelo Estado Português como uma importante questão social e judicial e tenha tido uma
melhoria significativa quanto à rapidez dos procedimentos e uma maior eficácia das
próprias instituições que organizam o seu processo como um todo, ainda há uma carência
de inovação e agilidade na área ligada à mesma, caracterizada por uma lentidão e
dificuldade na administração. Esta circunstância mostra-se preocupante quando, por mais
indesejado que seja, as falhas vinculadas a um sistema atrasado manifestam-se nas
crianças envolvidas, desenvolvendo comportamentos ou perturbações que têm um efeito
deveras negativo à medida que se desenvolvem e na tentativa de integração nos diversos
espaços socias em que se vão encontrar.

Numa face mais inclinada para o mundo moderno e próxima das pessoas, a pesquisa feita
em relação às novas estruturas de família que vieram com a abertura a novas mentalidades
e o progresso da humanidade, ficámos a conhecer mais sobre a dura realidade de vários
indivíduos e minorias que tiveram de lutar contra preconceitos e combater injustiças para
terem direito, entre vários outros, a adotar pequenos e jovens como qualquer pessoa.
Permitiu-nos também ver como o nosso presente é tão diferente do passado e a maneira
como evoluímos tanto em certos assuntos e, por fim, descobrir a abrangência deste tema
da adoção num contexto social duma forma interessante e que nos levou a concluir que
algo que, inicialmente, qualquer um de nós consideraria total e completamente fruto duma
escolha ou decisão pessoal, conduzida ou influenciada pelo meio envolvente do ou dos
indivíduos, na verdade, revela-se muito mais do que isso, sendo essa apenas uma parte de
toda uma cadeia estrutural movida por inúmeros e inúmeros membros, a que chamamos
sociedade.

19
12 Referências Bibliográficas
• Mills, C. (1959). The Sociological Imagination. A Promessa. Segunda Edição
(pp.12-14) Zahar Editores.
https://elearning.iscsp.ulisboa.pt/pluginfile.php/29431/mod_resource/content/3/
Normas%20APA_7%C2%AA%20Edi%C3%A7%C3%A3o_IPVC.pdf
• UNICEF. (2019). Convenção sobre os Direitos da Criança e Protocolos
Facultativos
https://www.unicef.pt/media/2766/unicef_convenc-a-
o_dos_direitos_da_crianca.pdf
• Assembleia da República. (2017). PROCESSOS DE ADOÇÃO
https://www.parlamento.pt/ArquivoDocumentacao/Documents/Processo_Adoca
o.pdf
• Caixa Geral de Depósitos. (2022). Quero adotar uma criança: o que devo fazer?
https://www.cgd.pt/Site/Saldo-Positivo/leis-e-impostos/Pages/adotar-crianca.aspx
• Macieira F. A. N. (2020). Adoção homoparental em Portugal – Evolução,
estigma e aceitação.
[Dissertação de mestrado não publicada]. Universidade da Beira Interior.
https://ubibliorum.ubi.pt/bitstream/10400.6/10709/1/7426_15849.pdf
• Wynn J. (2021). Sociology of Adoption. Everyday Sociology Blog.
https://www.everydaysociologyblog.com/2021/03/sociology-of-adoption.html
• Gamson J. (2015). Modern Families. Imprensa da NYU.
https://nyupress.org/9781479842469/modern-families/
• Fisher A. P. (2003). Annual Review of Sociology. Annual Reviews.
https://www.annualreviews.org/doi/abs/10.1146/annurev.soc.29.010202.100209
• Silva E. R. A. (s.d.). O perfil da criança e do adolescente nos abrigos
pesquisados.
http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/3050/4/Livro_cap.%202
• Pereira T. F. S. (2020). O Impacto da Negligência Parental no desenvolvimento
académico das crianças do 1º e 3º ciclo de escolaridade: um estudo de caso.
[Tese de mestrado, Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de
Castelo Branco]. Repositório Aberto do Instituto Politécnico de Castelo Branco.
https://repositorio.ipcb.pt/bitstream/10400.11/7206/1/TESE%20TANIA%20tese
.pdf

20
• Fontes M. (2016). Negligência parental. Knoow.net – Enciclopédia temática.
https://knoow.net/ciencsociaishuman/psicologia/negligencia-parental/
• Cansado T. (2008). Institucionalização de crianças e jovens em Portugal
Continental: O caso das Instituições Particulares de Solidariedade Social. Open
Edition Journals. https://journals.openedition.org/eces/1387
• Turminha do MPF. (2019). Como é a vida de crianças e adolescentes nos
abrigos?. https://turminha.mpf.mp.br/Sobre%20o%20Site
• Fonseca P. N. (2017). O impacto do acolhimento institucional na vida de
adolescentes. PEPSIC.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-
84862017000300006
• Frank W. (2006). The Impact of Trauma o Child Development. Weley Online
Library. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1755-
6988.2006.tb00110.x
• Alves J. et al. (2017). Desenvolvimento emocional de crianças que vivenciaram
o processo adotivo: revisão integrativa da literatura. PEPSIC.
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-
34822017000200012

13 Anexos

• Diário de Notícias. (2022). Papa Francisco pede às autoridades que facilitem


procedimentos da adoção
https://www.dn.pt/internacional/papa-francisco-pede-as-autoridades-que-
facilitem-procedimentos-da-adocao-14462932.html (anexo1)
• Observador Lab. (2022). O caminho para a adoção: “Desde o primeiro dia, é
como se tivesse estado grávida dele”
https://observador.pt/2022/05/09/o-caminho-para-a-adocao-desde-o-primeiro-
dia-e-como-se-tivesse-estado-gravida-dele/ (anexo 2)

21
• (anexo 3)

• (anexo 4)

22
• (anexo 5)

• https://www.publico.pt/2022/03/28/impar/opiniao/inadoptaveis-meninos-
ninguem-quer-2000404 (anexo 6)
• https://www.publico.pt/2020/12/13/impar/noticia/adopcao-menino-queria-
cavalomarinho-barriga-pai-1942600 (anexo 7)
• https://www.publico.pt/2021/06/27/sociedade/noticia/menos-16-casais-sexo-
adotaram-crianca-desde-mudancas-legais-ha-cinco-anos-1968128 (anexo 8)
• https://www.dn.pt/sociedade/cada-vez-ha-menos-criancas-adotadas-e-quem-sai-
do-sistema-e-por-ter-atingido-a-maioridade-14297079.html (anexo 9)

23
• (anexo 10)

• (anexo 11)

24
• (anexo 12)

25
• https://www.jn.pt/nacional/investigadoras-dizem-que-acompanhamento-apos-
adocao-esta-a-falhar-15108746.html (anexo 13)

26
14 Ficha Técnica

Leandro Sales: Pontos 2. e 11.


Weza Cruz: Pontos 1., 3. a 6.
Rúben Lopes: Pontos 7. a 10.

27

Você também pode gostar