Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
de crianças e
adolescentes:
sistemas de proteção
integral
Direitos fundamentais de
crianças e adolescentes:
sistemas de proteção integral
Organizador
Autoras
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
138p.
Bibliografia
ISBN 978-65-993617-3-9
DOI https://doi.org/10.36599/esete.978-65-993617-3-9
1. Processos Socieducativos. 2. Medidas Socieducativas.
3. ARCE, Sergio Ruiz Díaz
CDD - 341.413
323.3
PREFÁCIO.................................................................................................................11
Sergio Ruiz Díaz Arce
CAPÍTULO I
Estratégias de trabalho em rede para a execução do Serviço de Convivência e
Fortalecimento de Vínculos no município de Chapecó – SC.................................16
Emanuelle Borsoi
CAPÍTULO II
Direitos fundamentais e princípio da proteção integral: uma análise exploratória
sobre a situação do trabalho infantil no município de São Luiz –
Maranhão...................................................................................................................44
Fátima de Nazaré dos Santos Nunes
CAPÍTULO III
Trabalho Infantil e o ciclo vicioso da pobreza e violência no Estado de
Sergipe..................................................………………...…........................................67
Ana Paula Lomes Cardoso
8
CAPÍTULO IV
A inserção da CIF no contexto da rede de atendimento para crianças e
adolescentes com diversidade funcional: um estudo de caso na perspectiva da
equoterapia...............................................................................................................94
Kelly Jackeline Oliveira Pereira Andrade
REFLEXÕES FINAIS...............................................................................................132
Capítulo I
1. Introdução
1 “O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é um sistema público que organiza os serviços de
assistência social no Brasil. Com um modelo de gestão participativa, ele articula os esforços e os
recursos dos três níveis de governo, isto é, municípios, estados e a União, para a execução e o
financiamento da Política Nacional de Assistência Social (PNAS), envolvendo diretamente estruturas e
marcos regulatórios nacionais, estaduais, municipais e do Distrito Federal” (BRASIL, 2015).
17
de tempo para a sua execução. Isso significa que, a partir dos eixos orientadores do serviço,
o planejamento das atividades a serem executadas junto aos grupos deve prever início, meio
e fim para o seu desenvolvimento, conforme objetivos e estratégias de ação reestabelecidas.
Isto não significa que ao final de um percurso a participação do usuário no serviço deve ser
encerrada. O usuário pode permanecer participando de quantos percursos forem necessários,
a partir da avaliação técnica, da disponibilidade de vagas para o SCFV e de seu desejo,
quando for o caso” (BRASIL, 2017, p. 62).
19
2. Trabalho em rede
traz desafios, pois as organizações e seus atores precisam repensar ações, para gerar
efetivos benefícios para segmentos expressivos da sociedade civil.
A realização de um trabalho com ações integradas entre os serviços requer
cooperação e troca complementar. O trabalho em rede permite que o Estado chegue
até o cidadão e atenda às suas necessidades, com o propósito de gerar o bem
comum.
Para Xavier, Silva, Ramos e Gonçalves (2009, p. 05), “[...] rede pressupõe uma
forma de organização horizontal, conectada, autônoma, participativa, colaborativa e
de decisão compartilhada, onde o cidadão, as famílias são atendidas em todas as
suas necessidades, por todas as políticas de maneira integral [...]”.
É importante aprofundar o conceito de rede nas relações humanas, para tanto
o pensamento de Guará (2010) ressalta que para construir redes é necessário apostar
em relações humanas articuladas entre pessoas e grupos e, mesmo nas diferenças,
trabalhar de forma produtiva visando o bem comum.
3. Procedimentos metodológicos
4 A Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais foi aprovada pela Resolução n.º 109
do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) e tipifica os Serviços Socioassistenciais
disponíveis no Brasil organizando-os por nível de complexidade do Sistema Único de
Assistência Social: Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta
Complexidade. (GESUAS, [2022]). Disponível em: http:// www.gesuas.com.br. Acesso em: 27
jan. 2022.
26
5 “Assim, a participação das crianças e dos adolescentes retirados do trabalho infantil no Serviço de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos e/ou em outras atividades socioeducativas da rede é
considerada estratégia fundamental para a interrupção do trabalho infantil e para a oferta de novas
oportunidades de desenvolvimento às crianças e aos adolescentes. [...]. É importante manter
articulação com a gestão do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil do município e com o PAEFI,
buscando integrar as ações realizadas com as famílias e com os usuários no SCFV.” (BRASIL, 2017,
p. 24).
27
6BORSOI, Emanuelle; NUNES, Rogério da Silva; COTO, Gabriela Cordioli. O Trabalho em Rede
Entre os Serviços Socioassistenciais da Secretaria de Assistência Social de Chapecó/SC-
SEASC. 2015. 23 f. Artigo (Especialização em Gestão Pública Municipal) – Universidade Federal de
Santa Catarina, Florianópolis, 2014.
29
I. Em situação se isolamento;
II. Trabalho infantil;
III. Vivencia de violência e, ou negligencia;
IV. Fora da escola ou com defasagem escolar superior a 2(dois) anos;
V. Em situação de acolhimento;
VI. Em cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto;
VII. Egressos de medidas socioeducativas;
VIII. Situação de abuso e /ou exploração sexual;
IX. Com medidas de proteção do estatuto da criança e do adolescente-ECA;
X. Criança e adolescente em situação de rua;
XI. Vulnerabilidade que diz respeito às pessoas com deficiência.
Cada situação deverá ser estudada pelas equipes para identificar como caso
prioritário, e, de acordo com as realidades, realizar o planejamento a fim de que
contribua na superação da condição pela qual foi encaminhado. O objetivo do serviço
será em primazia a superação das diferentes vulnerabilidades e quando isso é
percebido ocorrerá o desligamento aliado a outros encaminhamentos que se fizerem
necessários, para as diferentes políticas públicas e/ou privadas.
Importante frisar que os profissionais realizam todo o planejamento e percursos
consoante aos eixos previstos para o SCFV:
31
Quanto ao Orientador Social ou Educador Social é uma função que deve ser
exercida por profissional com no mínimo nível médio de escolaridade e lhe caberá:
7. Conclusão
compreensão coletiva do papel como membro da rede, o que difere é o perfil de cada
ator, a posição que ocupa e o grau de iniciativa.
É notório o empenho dos gestores em atender às necessidades com novos
serviços, e no redirecionamento daqueles já existentes. Observa-se experiências
exitosas, inovadoras no que tange às novas demandas. Entretanto, refletindo a
importância social da rede, a pesquisa revelou a carência de maior aproximação dos
atores e de serviços. Considera-se que tal aproximação garantirá melhoria na
integração das ações, na comunicação, no fluxo e na troca de experiências.
Identificou-se a necessidade dos atores conhecerem melhor a própria rede em que
estão inseridos de modo a aprimorar tais ações.
Outro fator relevante apurado é a constatação de que o CRAS, espaço
territorial, necessita manter-se atento e promover o diálogo e articulação com as
entidades e diferentes instituições, além disso, precisa circular pelo território e
estabelecer vínculos. Os cidadãos primeiramente têm de acessar os serviços do
CRAS de modo a prevenir a violação de direitos.
Considerando que na Assistência Social o trabalho é na sua maior parte
subjetivo, sempre pode ser aprimorado, contudo se faz necessário aperfeiçoar o
trabalho com o capital humano através de capacitações constantes, promovendo,
dessa forma, a cultura proativa, atualização e unificação das ações.
Tornar esta rede proativa, com vida, com interação dos atores deverá ser uma
tarefa constante a ser realizada pelos técnicos e gestores. Cabe ir além, incorporando
ações de plano de capacitação contínua com a integração dos agentes públicos das
demais Secretarias, observando que as ações ultrapassam as fronteiras da SEASC.
Nesse sentido, o desenvolvimento de programas de capacitações se faz
imprescindível, pois mesmo que o ambiente possua características positivas, mas não
são implementados novos elementos motivadores, corre-se o risco de estagnação dos
recursos humanos, comprometendo significativamente a efetividade no atendimento
ao público.
Em relação ao SCFV é executado conforme a Tipificação dos Serviços e
Cadernos de orientação, porém é premente o aprimoramento do trabalho para além
de orientações legais, desenvolver um olhar atendo ao potencial de cada território, de
modo a somar forças na qualificação do serviço por meio de parcerias.
Ao atender crianças e Adolescentes no SCFV é importante saber suas
aptidões, desejos e ao que estão vocacionados para que diante das constatações
39
Referências
BRASIL. Lei n.º 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança
e do Adolescente e dá outras providências. Diário Oficial: República Federativa do
Brasil, Brasília, DF, 16 jul. 1990. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8069.htm#art266. Acesso em: 11 jan.
2021.
BRASIL. Ministério da Cidadania. Vínculos crianças de zero até seis anos. Brasília,
DF: Ministério da Cidadania, 2011. Disponível em:
http://blog.mds.gov.br/redesuas/servico-de-convivencia-e-fortalecimento-de-vinculos-
para-criancas-de-0-a-6-anos/. Acesso em: 10 dez. 2021.
BRASIL. Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Resolução n.º 113
de 19 de abril de 2006. Dispõe sobre os parâmetros para a institucionalização e
fortalecimento do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Brasília, DF: Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda),
2006. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-br/acesso-a-
informacao/participacao-social/conselho-nacional-dos-direitos-da-crianca-e-do-
adolescente-conanda/resolucoes/resolucao-no-113-de-19-04-06-parametros-do-
sgd.pdf/view. Acesso em: 20 jan. 2022.
41
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Cartilh
a_PAIF_1605.pdf. Acesso em: 16 dez. 2021.
CHAPECÓ. Lei n.º 7.175, de 11 de setembro de 2018. Dispõe sobre o Sistema Único
de Assistência Social do Município de Chapecó e dá outras providências. Chapecó:
Câmara Municipal, 2018. Disponível em:
https://leismunicipais.com.br/a1/sc/c/chapeco/lei-ordinaria/2018/717/7175/lei-
ordinaria-n-7175-2018-dispoe-sobre-o-sistema-unico-de-assistencia-social-do-
municipio-de-chapeco-e-da-outras- providencias?r=p. Acesso em: 13 jan. 2022.
DUARTE, Jorge. Redes Sociais: um novo enfoque. Correio do Senac, São Paulo,
2003. Disponível em: http://www.senac.br/media/10182/correio697.pdf. Acesso em:
17 de set. 2022.
GIL, Carlos, A. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2002.
GUARÁ, Isa Maria F. R (org.). Redes de proteção social.1. ed. São Paulo:
Associação Fazendo História: NECA - Associação dos Pesquisadores de Núcleos de
Estudos e Pesquisas sobre a Criança e do Adolescente, 2010. 97 p.
TIPIFICAÇÃO dos Serviços Sócio Assistenciais 2009. Resolução n.º 109 de 11 nov.
2009 – Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS). Gesuas, Minas Gerais,
[201-?]. Disponível em: http://www.gesuas.com.br. Acesso em: 27 jan. 2022.
XAVIER, Helen Cristina Osório; SILVA, Jacqueline Ribeiro; RAMOS, Vanessa Martins;
GONÇALVES, Vera Lucia Canhoto. SUAS: Desafios para sua efetivação. Intertemas,
[S. l.], p. 1-21, [2009]. Disponível em:
http://intertemas.toledoprudente.edu.br/index.php/ETIC/article/viewFile/1358/1297.
Acesso em: 20 nov. 2021.
44
Capítulo II
1. Introdução
2. Referencial teórico
No mesmo sentido, José Ribeiro Dantas Oliva (2006, p. 84-85), em sua crítica
sobre a sociedade atual, alerta que "[...] mais de um século depois, trabalhadores
brasileiros ainda são reduzidos à condição análoga a de escravos, de diversas formas,
inclusive, crianças e adolescentes". Vale dizer, por fim, que a primeira norma brasileira
que tratou de proteger o trabalhador infantil ocorreu por meio do Decreto Nº 1.313, de
1891, no qual proibia-se o trabalho de crianças e adolescentes nas fábricas (BRASIL,
1891). Diante das experiências de vida de milhares de crianças e de seus familiares,
deparamo-nos com um problema social complexo e que gera debates desde o século
XX, em nível nacional e internacional, que é a questão do trabalho infantil.
Mesmo diante de uma legislação rígida, que proíbe o trabalho desse público,
mesmo com as lutas das organizações não governamentais e com a criação de
serviços e programas voltados para o combate do trabalho infantil, esse problema
ainda faz parte do universo de muitas crianças e adolescentes brasileiros e parece ser
uma questão “impossível” de ser resolvida (NASCIMENTO, 2011). É considerado
trabalho infantil todo trabalho realizado por menores de 14 anos de idade; todo o
trabalho desempenhado por adolescentes entre 14 e 16 anos de idade que não esteja
configurado como aprendizado e que esteja de acordo com os requisitos legais dessa
modalidade profissional; todo trabalho realizado por crianças e adolescentes, com
idade inferior a 18 anos, que seja caracterizado como perigoso, penoso, insalubre,
noturno, prejudicial à moralidade, realizado em locais ou horários que possam
prejudicar a frequência escolar ou com possibilidade de causar prejuízos ao
desenvolvimento físico e psicológico. O Art. 227 da Constituição Federal, determina
que:
O Art. 7°, inciso XXXIII, estabelece que a idade mínima para o ingresso no
mercado de trabalho é de 16 anos, exceto em condições de aprendiz, com idade a
partir de 14 anos. Ainda se tratando dos marcos legais brasileiros relacionados ao
combate e a erradicação do trabalho infantil, podemos utilizar como base: o Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA); a Lei Nº 8.069/1990, especialmente os seus
50
artigos 60 e 69; o artigo 402 da Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo
Decreto-Lei Nº 5.452, de maio de 1943; a Convenção Nº 138/1973 da OIT, que aponta
os limites de idade mínima para o trabalho, promulgada pelo Brasil em 1999; a
Convenção Nº 10.097, de dezembro de 2000, responsável por regulamentar a
aprendizagem; o Decreto Nº 6.481, de junho de 2008, que lista as piores formas de
trabalho infantil. Tais artigos são relevantes a esta discussão.
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é o principal diploma legal
acerca dos direitos de crianças e adolescentes e veio para regulamentar os preceitos
constitucionais a favor da infância e juventude; baseado na doutrina de proteção
integral reforça a ideia de prioridade, estabelecida anteriormente pela Constituição
Federal de 1988. Ao contrário do Código de Menores (que era direcionado às crianças
e adolescentes que se encontravam em situação irregular), o ECA se preocupa com
a proteção integral de todos os menores de 18 anos, criando instrumentos legais que
observam a garantia dos direitos que lhes são assegurados, independentemente da
condição (COSTA; DIEHL, 2016).
De acordo com Saraiva (2003), o ECA se firma no princípio de que todas as
crianças e adolescentes são detentores dos mesmos direitos, independentemente da
sua condição, desfazendo a ideia de que os Juizados de Menores eram destinados
apenas às crianças e adolescentes que se encontram em risco moral e social, sem
distinção entre menores infratores ou abandonados, conforme previa o Código de
Menores, a partir da doutrina da situação irregular. Sendo assim, o estabelecimento
dos limites de idade mínima para o trabalho está fundamentado na garantia do
desenvolvimento pleno das crianças e adolescentes que não podem ser prejudicados
pelas consequências advindas do trabalho infantil e pela garantia da conclusão de
escolaridade obrigatória no nível básico com tempo livre para estudar, brincar, lazer,
cultura, arte e esporte, bem como prevê a proteção contra as vulnerabilidades sociais.
No Brasil, por meio do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), o
Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário atua para implementar projetos,
serviços e programas que atuam na rede de proteção socioassistencial à criança e ao
adolescente. Fazem parte deste sistema único: o Centro de Referência Especializado
de Assistência Social (CREAS) e o Centro de Referência de Assistência Social
(CRAS) e dentro deles encontra-se o Programa de Erradicação do Trabalho Infantil
(PETI).
51
3. Metodologia
Tabela 3 - Situação do trabalho infantil segundo dados das famílias inseridas no CadÚnico em São
Luís - MA (janeiro de 2018 – dezembro de 2020)
MÊS ANO
2018 2019 2020
Janeiro 156 86 60
Fevereiro 153 85 55
Março 148 84 54
Abril 146 82 53
Maio 145 81 53
Junho 145 80 53
Julho 141 79 52
Agosto 126 78 52
Setembro 123 73 52
Outubro 118 70 52
Novembro 118 70 51
Dezembro 108 61 50
5. Conclusão
adolescentes aos seus direitos, ou seja, deve proporcionar a necessária proteção por
meio do desenvolvimento de ações governamentais direcionadas e de políticas
públicas e sociais de inclusão. Deve prestar educação, investir na saúde, propiciar
uma tutela jurisdicional diferenciada, enfim, converter impostos em bem-estar, o que
nada mais é do que sua obrigação.
Sendo assim, entende-se que para alcançar a proteção integral é essencial a
efetivação dos chamados direitos sociais de crianças e adolescentes, principalmente
“educação, saúde, profissionalização, direito ao não-trabalho no seu imbricamento
com direito à alimentação”. Neste contexto, é compromisso da família, da sociedade
e do Estado a efetiva concretização dos direitos infantis. Se houver uma conjugação
de esforços e todos cumprirem com a sua parte, as crianças e adolescentes “poderão
desfrutar, de fato e na sua plenitude, das conquistas que o ordenamento jurídico lhes
assegura, [...] justamente em razão do peculiar estágio da vida em que se encontram,
ou seja, do seu desenvolvimento incompleto” (OLIVA, 2006, p. 110). Portanto, com o
desenvolvimento deste trabalho, foi possível abordar a contextualização da temática
do trabalho infantil, elucidando, assim, os principais conceitos relacionados, bem
como o Princípio da Proteção Integral e sua aplicação no contexto nacional, visando
garantir os direitos fundamentais as crianças e adolescentes.
Para tanto, abordou-se mais especificamente o contexto do Maranhão, com
foco nos efeitos das políticas de incentivo de proteção a esses sujeitos nesse Estado
específico. Tendo em vista a problemática do trabalho infantil e suas implicações para
a sociedade, este trabalho é de extrema importância para os estudos sociais de modo
geral, visto que abordou conceitualmente os principais aspectos do trabalho infantil e
seus prejuízos no meio social. Elucidou também sobre o Princípio da Proteção Integral
como medida legal para combater esse problema, para, assim, garantir que os direitos
fundamentais das crianças e adolescentes sejam efetivados. Por fim, abordamos esse
contexto elucidando o Estado do Maranhão e as principais estatísticas que envolvem
o trabalho infantil nesse Estado, bem como apresentamos as políticas de combate ao
trabalho infantil existentes a nível nacional.
Esperamos, assim, com o desenvolvimento deste estudo, proporcionar uma
visão mais abrangente sobre o tema do trabalho infantil, bem como é uma forma de
esclarecer a atuação do Princípio da Proteção Integral, pois, assim, desenvolve-se
cada vez mais as habilidades necessárias para o exercício da profissão.
65
Referências
ALBUQUERQUE JUNIOR, A. B. de. et al. A política pública proeja (informática) no
instituto federal de educação, ciência e tecnologia do Ceará (IFCE) de UMIRIM:
análise de influências na evasão escolar. Brazilian Applied Science Review, v. 3, n.
6, p. 2323-2331, 2019.
Capítulo III
1. Introdução
7As autoras Behring e Boschetti (2011) se utilizam do conceito de Trotsky para tratar
especificamente da particularidade brasileira. Pela teoria trotskista “o desenvolvimento de uma
nação historicamente atrasada conduz, necessariamente, a uma combinação original das diversas
fases do processus histórico. A órbita descrita toma, em seu conjunto, um caráter irregular,
complexo, combinado” (TROTSKY, 1978, p. 25, grifo do autor).
68
2. Procedimentos metodológicos
Loic Wacquant (2001; 2008), Mário Volpi (1997), Karl Marx (2008), Luiz Silvio
Almeida (2019), Myrdal (1957) dentre outros.
Por conseguinte, foi elaborado material de apoio, com tabelas, gráficos e
figuras que possibilitem a coleta e sistematização de dados utilizados durante as
análises desta pesquisa. Por meio dessa coleta de dados e caracterização dos
mesmos, pretendeu-se descrever a situação das crianças e adolescentes no estado
de Sergipe em situação de TI e a relação dessa problemática com o racismo
estrutural.
Para fins desta análise, foram utilizadas as legislações pertinentes ao tema,
em especial a Constituição Federal de 1988 (CF/88), o Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), o Plano de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil e
Proteção ao Trabalhador Adolescente. Bem como, as bases de dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios (PNAD), Contínua 2020 sobre o TI, dentre outros disponibilizados nas
plataformas digitais disponíveis para análise pública.
Ademais, no primeiro tópico será apresentado o perfil de crianças e
adolescentes inseridas no trabalho infantil no estado sergipano. No segundo tópico, a
ênfase estará nos condicionantes socioeconômicos que levam à violação do trabalho
infantil. O terceiro e último tópico possui o escopo de apresentar as ações de
enfrentamento para erradicação do trabalho infantil.
Figura 2 - Pessoas de 05 a 17 anos de idade em situação de trabalho infantil em Sergipe por gênero
e raça
Fonte: elaboração da autora, a partir de dados da PNAD Contínua 2019 (BRASIL, 2020b).
Obs.: a) negros: pretos e pardos; b) não negros: brancos, amarelos e indígenas.
Figura 3 - Pessoas de 5 a 17 anos de idade que realizavam trabalho infantil perigoso no Brasil
Fonte: elaboração da autora, a partir dos dados produzidos pelo IBGE, via Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (BRASIL, 2020b)
Fonte: IBGE, via PNAD Contínua (BRASIL, 2020b), elaborado pela FNPETI
1709
1253
969
742
541
381
41 59 59
10 A Proteção Social Básica (PSB) atua de forma preventiva e proativa, a fim de evitar situações de
vulnerabilidades e riscos sociais. A Proteção Social Especial (PSE) oferta serviços, programas e
projetos que objetivam a superação de situações de risco e a reconstrução de vínculos familiares e
comunitários. Está estruturada em dois níveis de complexidade, Média e Alta Complexidade. A PSE de
Média Complexidade destina-se ao atendimento de pessoas e famílias que vivenciam situações de
risco em decorrência de violação de direitos.
81
Gráfico 4 - Crianças e adolescentes fora da escola ou com defasagem escolar superior a 2 (dois)
anos
181
131 130
105
86
82 79
77
72
67
61 59
56 56 57
53 53
49
45 44
40
26
15
11
Poço Redondo Itaporanga Monte Alegre Barra dos Pedra Mole Aracaju Ilha das Flores Tobias Barreto
d'Ajuda de Sergipe Coqueiros
estratégia racista contínua, em que, além de uma negação de direito social básico, é,
sobretudo uma das formas de genocídio.
Não se trata exclusivamente da morte do corpo físico, mas da morte simbólica
de corpos pretos, que ocorre por meio de processos de exclusão social que vai sendo
validado pelo racismo estrutural e sistêmico. Em decorrência dessas condições, o
trabalho precoce acaba sendo a única alternativa de sobrevivência oportunizada.
Outrossim, com o crescimento da crise sanitária e o isolamento social, não há
como negar que as pessoas não-brancas foram as mais afetadas com a precarização
do ensino à distância (EAD) e o aprofundamento das desigualdades. Dados da
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) – COVID-19, realizada no ano
passado, revelaram que, em setembro, 6,4 milhões de estudantes, que correspondem
a 13,9% do total, não tiveram acesso às atividades escolares no Brasil. O mesmo
levantamento mostrou que estudantes negros(as) e indígenas sem atividade escolar
são o triplo de estudantes brancos(as): 4,3 milhões de crianças e adolescentes
negros(as) e indígenas da rede pública e 1,5 milhão de adolescentes brancos(as),
respectivamente(BRASIL, 2020a).
Os impactos do período pandêmico irão repercutir durante muitos anos,
principalmente, no processo de desenvolvimento social e cognitivo dessas crianças e
adolescentes pretos(as) e não-brancos. Os atores do SGDCA precisarão encontrar
estratégias para reparar os danos causados. O caminho que é possível vislumbrar
neste momento é, primeiramente, estruturar um modelo de educação antirracista, que
possa equalizar os impactos dessa desigualdade história e pandêmica. Sob o
propósito de que eles(as) possam de fato acessar uma educação de qualidade, que é
um direito básico, e traçar novas rotas e novas perspectivas de vida sem a experiência
fatídica do TI.
Apreendido sobre tais acepções, o que se pretende discorrer desta análise é
que, embora os avanços nas legislações brasileiras no que concerne aos direitos de
crianças e adolescentes e de todo o aparato legislativo internacional, existe um
racismo estrutural que impede o acesso igualitário de pessoas negras a esse conjunto
essencial de direitos. Aqueles(as) que por anos foram escravizados(as) e
coisificados(as), mesmo após o período abolicionista e as legislações posteriores,
ainda se encontram extirpados(as) do acesso aos direitos igualitários e universais, de
que a toda pessoa humana deve ser assegurada.
87
DEFESA E RESPONSABILIZAÇÃO 9
MONITORAMENTO 31
PROTEÇÃO SOCIAL 45
IDENTIFICAÇÃO 46
Fonte: elaboração da autora, a partir de dados do Relatório SIMPETI - Estado SE, 2021.
6. Considerações finais
fornecer as bases para uma real proteção dos direitos deste segmento, em sua
universalidade. Esse fato agrava-se quando se trata de crianças e adolescentes
negros(as). Mas, isso se explica quando compreendemos que, ao tempo em que as
políticas surgem para atender a população vulnerabilizada, estas caminham também
no sentido de assegurar a reprodução do capitalismo. E, para isso, é necessário que
se apresentem por ora seletivas.
Segundo as análises consolidadas, foi possível compreender que raça e classe
dão sustentação para a hegemonia de um sistema que reifica, fetichiza e desumaniza
pessoas em detrimento da sua raça e condição socioeconômica. E isso ocorre desde
o momento que elas nascem, quando lhes é retirado os direitos básicos para um
desenvolvimento pleno e saudável. A essas crianças e adolescentes, são negados o
mínimo existencial para a manutenção da vida. Sem acesso pleno à saúde, à
educação e ao lazer, suas vidas são conduzidas a uma adultização precoce com
reduzidas chances de sobrevivência.
Em linhas gerais, as conexões que se buscou estabelecer neste trabalho, visam
demonstrar o perfil socioeconômico da população sergipana submetida ao TI. Bem
como, a falta de acesso somado às condições precarizadas de sobrevivência e ao
racismo estrutural, são fatores determinantes para a pulverização do TI no território
sergipano. E, até mesmo, a legitimação desta violação no senso comum como uma
prática emancipatória, quando, na realidade produz subjetividades dicotomizadas e
alienadas de si, do seu lugar no mundo e de suas potencialidades.
Nada que exclua ou que exproprie a experiência da infância pode ser
considerado uma prática emancipatória. Melhor que qualquer tipo de violência e
violação, é ter seus direitos resguardados e sua dignidade protegida. A infância é um
direito comum e precisa ser respeitado por todos(as), família, Estado e comunidade.
Do contrário, todo arcabouço legislativo conquistado até aqui, representará apenas
letra morta e a ordem vigente permanecerá sendo o ciclo vicioso da pobreza e
desumanização.
Referências
ALMEIDA, S. L. de. Racismo estrutural. 1 ed. São Paulo: Sueli Carneiro; Pólen,
2019.
92
GONZALEZ, L.; HASENBALG, C. Lugar de negro. 1 ed. Coleção 2 pontos, v. 03. Rio
de Janeiro: Marco Zero, 1982.
RIBEIRO, B. Mais de 60% das crianças que trabalham no Brasil são negras. 16 jun.
2017. Portal Géledes. Disponível em: https://www.geledes.org.br/mais-de-60-das-
criancas-que-trabalham-no-brasil-sao-negras/. Acesso em: 18 dez. 2020.
TROTSKY, L. A história da revolução russa. 3 ed. v. 01. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1978.
VOLPI, M (org.). O adolescente e o ato infracional. 1 ed. São Paulo: Cortez, 1997.
94
Capítulo IV
1. Introdução
sob o prisma dos temas transversais. As disciplinas passam, então, a girar sobre esse
eixo.
Para Garcia (2007) a transversalidade e a interdisciplinaridade são modos de
se trabalhar o conhecimento que buscam uma reintegração de aspectos que ficaram
isolados uns dos outros pelo tratamento disciplinar. Há temas cujo estudo exige uma
abordagem particularmente ampla e diversificada. Alguns deles foram inseridos nos
parâmetros curriculares nacionais, que os denominam temas transversais e os
caracterizam como temas que “tratam de processos que estão sendo intensamente
vividos pela sociedade, pelas comunidades, pelas famílias, pelos alunos e educadores
em seu cotidiano”. São debatidos em diferentes espaços sociais, em busca de
soluções e de alternativas, confrontando posicionamentos diversos tanto em relação
à intervenção no âmbito social mais amplo quanto à atuação pessoal. São questões
urgentes que interrogam sobre a vida humana, sobre a realidade que está sendo
construída e que demandam transformações macrossociais e também de atitudes
pessoais, exigindo, portanto, ensino e aprendizagem de conteúdos relativos a essas
duas dimensões.
1.4 Equoterapia
2. Procedimentos metodológicos
Condição de saúde
Fatores contextuais
Barreiras:
No mais é relevante entender que não existe hierarquia entre os domínios da CIF, eles
estão interligados e que ela é um instrumento centrado no sujeito e na família.
momento a CIF e sua aplicação, pelo contrário demonstra o quanto esta pode ser
inserida em diversas áreas, interdisciplinarmente e transversalmente, e o quanto pode
contribuir para entender as crianças e adolescentes assistidos em vários setores,
principalmente aqueles com diversidade funcional, em situação de vulnerabilidade
social.
Assim, a CIF não constitui apenas um instrumento para medir o estado
funcional dos indivíduos em sua estrutura demonstra a transversalidade, permite
avaliar as condições de vida e fornecer subsídios para políticas de inclusão social
(CIF, 2015). A CIF e a equoterapia, dialogam, pois ambas possuem uma linguagem
biopsicossocial, interdisciplinar, transversal e também centrada na família.
As quatro profissionais, menos a pesquisadora, que já conhecia e aplicava,
pensaram que á princípio seria difícil à aplicação, pois não eram familiarizadas com o
instrumento, mas conseguiram aplicar após terem acesso ao material explicativo
disponibilizado pela pesquisadora. Ao aplicar a CIF, relataram que consideram o
instrumento importante, reconheceram a sua relevância e que com a prática da
aplicação o olhar delas ficará treinado para as futuras aplicações e para o enxergarem
um indivíduo biopsicossocial em seus diferentes ambientes ou contextos, não só do
atendimento.
Nota-se que a aplicação do instrumento pelas profissionais de diferentes áreas
e a análise, está em acordo com Farias e Buchalla (2005) que os domínios inseridos
na CIF trazem um novo paradigma para pensar e trabalhar a diversidade funcional, e
que esta não é apenas uma consequência das condições de saúde/doença, mas são
influenciadas pelo contexto do ambiente, social e pessoal, pelas diferentes
percepções culturais e atitudes em relação à deficiência, pela disponibilidade de
políticas públicas, de acesso à informação, acesso também aos serviços e de
legislação mais atuante que tenha um olhar atento para as crianças e adolescentes
principalmente com diversidade funcional, seja na saúde, educação, assistência
social, enfim em toda a rede de atendimento que compõe o SGDCA, na comunidade
ou qualquer outro setor.
121
3.1.1 Dimensões
Estruturas e Funções: Observa-se que nesta dimensão, em relação ao
praticante JV, todas as profissionais colocaram as estruturas em comum
Sistema Nervoso e Sistema Sensorial, a fisioterapeuta e psicóloga
descreveram mais detalhadamente as regiões acometias, possivelmente
devido as suas formações profissionais, mas isto não comprometeu a
classificação já que as quatro identificaram as estruturas principais.
Quanto às funções, as profissionais descreveram cada uma á seu modo, e
colocaram as funções em comum: não verbal; desorganização sensorial,
aprendizagem, comportamento e estereotipias.
Atividades (limitações): Todas as profissionais colocaram que ele é não
verbal, descreveram que JV tem crises, não realiza as AVD´s sozinho sendo
dependente da mãe, não frequenta escola regular, e também alterações nas
atividades que envolvam aprendizagem e comunicação.
Participação (restrições): Todas as profissionais colocaram que o JV não tem
participação e interação social com outras crianças, restringi a participação
somente no ambiente familiar, não tem participação na comunidade, não tem
momentos de lazer e não é alfabetizado.
Fatores Ambientais:
o Facilitadores: Todas as profissionais citaram o ambiente em que mora,
contato com a natureza e menos estímulos externos que geram crises, a
boa relação com a mãe e que é beneficiário do BPC. Fisioterapeuta, a
psicóloga e pedagoga citaram a equoterapia, a assistente social que os
medicamentos do JV que são de altos custos são cedidos pela Regional de
Saúde, e a pedagoga e psicóloga colocaram que ele faz atendimento
psicopedagógico na APAE.
o Barreiras: As quatro profissionais trazem o início tardio das terapias, falta
de acesso socioeconômico e a informação e consequentemente nas
terapias, localização da moradia (sítio que fica em uma comunidade
quilombola, localizado a 18 quilômetros de distância, estrada de terra) e a
122
Deste modo a CIF (2011) fornece uma descrição das situações relacionadas
às funções do ser humano e suas restrições e serve como uma estrutura para
organizar estas informações de maneira significativa, integrada e facialmente
acessível.
Conforme é possível ver no Modelo a seguir, que trás o compendio da avaliação
das quatro profissionais envolvidas no atendimento do praticante JV, 11 anos; os
Modelos de Classificação individuais das Profissionais de Assistência Social,
Fisioterapia, Pedagogia e Psicologia fazem parte do presente estudo como anexos.
Figura 6. Resultados do raciocínio baseado na CIF, analisado pela equipe de profiss
Gráfico 7. Atividade
Gráfico 8. Participação
4. Conclusão
Referências
ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC, 2006.
content/uploads/2018/11/CIOMSfinal-Diretrizes-Eticas-Internacionais-Out18.pdf.
Acesso em: 25 jan. 2021.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
SELLTIZ, C. et. al. Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo: Herder,
1967.
WINNICOTT, Donald.W. O Brincar & a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975. BELO,
F.; SCODELER K. A Importância do Brincar. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010148382013000107.
Acesso em: 10 maio. 2021.
Organizador
Autoras