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Revisão técnica

Carlos Augusto Liguori Filho


Líder de projetos e pesquisador do Centro de Ensino e Pesquisa em
Inovação da FGV Direito SP. Doutorando em Filosofia e Teoria Geral
do Direito pela Universidade de São Paulo. Mestre (2016) em Direito
e Desenvolvimento pela Escola de Direito da Fundação Getulio
Vargas de São Paulo. Bacharel (2014) em Direito pela Universidade
de São Paulo. Egresso da Escola de Governança da Internet do
Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br, 2017) e da South School
on Internet Governance (2017). Coordena e desenvolve pesquisas
nas áreas de Direito Digital, Políticas de Cibersegurança e Direito,
Privacidade e Proteção de Dados, Fake News nas Eleições
Brasileiras de 2018 e Propriedade Intelectual.
INICIANDO O ESTUDO ..................................................................................................................................................... 7

UNIDADE I – DIREITO À IMAGEM ................................................................................................................................. 9

UNIDADE II – DANOS À IMAGEM ............................................................................................................................... 11


LIMITAÇÕES OU EXCEÇÕES AO DIREITO À IMAGEM ............................................................................................. 12
DIREITO À IMAGEM NA SALA DE AULA............................................................................................................................. 14

UNIDADE III – IMAGEM DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA WEB ........................................................... 17

UNIDADE IV – MANIPULAÇÃO E DESCONTEXTUALIZAÇÃO DE IMAGENS ............................................. 21

RECAPITULANDO ............................................................................................................................................................ 25

BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................................................................. 26

GLOSSÁRIO........................................................................................................................................................................ 27
APRESENTAÇÃO
DO CURSO
Constantemente, estamos ocupados com a produção e o compartilhamento de imagens,
seja fotografando ou filmando pessoas, lugares e situações, seja compartilhando aquilo que
registramos ou que, simplesmente, chegou até nós por meio da internet, como fotos, montagens
engraçadas e vídeos de acontecimentos diversos. A verdade é que nós encaramos essas mídias de
forma tão natural que, raramente, paramos para nos perguntar coisas como: “Será que a pessoa
que aparece nesse vídeo autorizou a gravação da sua imagem? Será que estou autorizado a
compartilhar esse vídeo sem problemas? E se fosse eu no lugar dela, poderia solicitar a proibição
da divulgação de um vídeo meu? Que providências eu deveria tomar para tanto?”.
Essas perguntas nem sempre são fáceis de responder, já que, em algumas situações, é
necessário ter certas noções para poder agir com maior segurança. Nesse tema específico que
vamos trabalhar, uma das ferramentas mais valiosas é o Direito, que estabelece uma série de
parâmetros para avaliarmos a nossa conduta e a de outras pessoas ao lidar com fotos, vídeos,
montagens, memes, entre outros conteúdos que costumam circular na internet.
Em vista disso, neste curso, vamos estudar essas noções básicas, que vão ajudar a nos livrar
de “saias justas”, assim como auxiliar outras pessoas que tenham de lidar com as mesmas questões,
principalmente adolescentes, que já produzem, reproduzem, manipulam e compartilham, desde
muito cedo, conteúdo na web.

OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Adquirir noções básicas para lidar com situações corriqueiras envolvendo a produção e o
compartilhamento de imagens e vídeos na internet.

1
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• entender aspectos relevantes sobre a produção e o compartilhamento de imagens na
web, sejam elas imagens reais, sejam manipuladas ou descontextualizadas, e
• compreender as noções jurídicas básicas sobre direitos de personalidade e direito à
imagem, inclusive as particularidades relacionadas às imagens de crianças e adolescentes
na web.

AUTORES DA APOSTILA
Cesar André Machado de Morais

Pesquisador do Centro Internacional de Direitos Humanos


de São Paulo (CIDHSP) da Academia Paulista de Direito
(APD). Mestrando em Direito e Desenvolvimento pela
FGV Direito SP. Bacharel em Direito pela Universidade de
São Paulo (USP), campus Ribeirão Preto.

Guilherme Forma Klafke

Líder de projetos e pesquisador do Centro de Ensino e


Pesquisa em Inovação da FGV Direito SP. Doutorando
(2019) e mestre (2015) em Direito Constitucional pela
Universidade de São Paulo. Bacharel (2011) em Direito pela
Universidade de São Paulo. Colaborador da Sociedade
Brasileira de Direito Público desde 2011, onde coordenou a
Escola de Formação Pública (2017). Foi professor de
Filosofia do Direito da Faculdade de Direito de São
Bernardo do Campo (2017-2018). Coordena e desenvolve
pesquisas nas áreas de Direito Constitucional, Jurisdição
Constitucional, Ensino Jurídico, Ensino Participativo,
Direitos Humanos Digitais e Filosofia do Direito.

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Stephane Hilda Barbosa Lima

Pesquisadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação


da FGV Direito SP. Doutoranda em Teoria do Estado pela
Universidade de São Paulo. Mestre (2018) em Direito
Constitucional e graduada (2014) em Direito, ambos pela
Universidade Federal do Ceará, além de especialista (2016)
em Tributário e Processo Tributário pela Escola Jurídica
Juris. Desenvolve pesquisas e atividades de ensino nas áreas
de Ensino Jurídico, Metodologias Participativas, Direitos
Humanos Digitais, Direito Educacional, Educação Digital
e Regulação.

Tatiane Guimarães

Pesquisadora do Centro de Ensino e Pesquisa em Inovação


da FGV Direito SP. Graduada (2019) pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

ESTRUTURA DO CURSO
Neste curso, vamos abordar o conteúdo sobre Direitos de Imagem, por meio da seguinte
estrutura:

• Iniciando o Estudo
Inicialmente, vamos expor quatro casos hipotéticos com a intenção de antecipar ao leitor as
discussões e o tipo de conteúdo que ele vai encontrar ao longo do curso.

• Unidade 1: Direito à imagem


Apresentaremos, então, a síntese das principais noções jurídicas necessárias à resolução dos
casos propostos, sendo a principal delas o direito à imagem dentro da perspectiva de direitos de
personalidade.

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• Unidade 2: Danos à imagem
Aqui veremos as consequências decorrentes da violação do direito à imagem. Também serão
objetos de estudo as limitações e exceções existentes ao direito à imagem e, ainda, o direito de
imagem especificamente dentro sala de aula, com a possibilidade (ou não) do registro e
compartilhamento de imagens de alunos e professores.

• Unidade 3: A imagem de crianças e adolescentes na web


Nesta unidade, serão analisadas as particularidades do direito à imagem de crianças e
adolescentes, que têm parte da sua fundamentação no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

• Unidade 4: Manipulação e descontextualização de imagens


Por fim, serão mencionadas as práticas de manipulação e descontextualização de imagens,
bem como os efeitos danosos e desafios que elas geram.

BIBLIOGRAFIA COMENTADA
PARANAGUÁ, Pedro; BRANCO, Sérgio. Direitos autorais. Rio de Janeiro: FGV, 2009.
Disponível em: <https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/2756/Direitos
%20Autorais.pdf>. Acesso em: maio 2019.
Este livro aborda questões tradicionais de direito autoral, trazendo diversos temas atuais de
forma inovadora.

REVISTA terá de indenizar por divulgar fotos de crianças sem autorização de pais. Revista
Consultor Jurídico. 30 de março de 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-mar-
30/revista-condenada-divulgar-fotos-criancas-aval-pais. Acesso em: maio 2019.
Este artigo traz o exemplo de um caso de violação ao direito à imagem de crianças, em que
uma revista foi condenada a pagar indenização por danos morais por ter violado esse direito.

CABRAL, Isabela. O que é deepfake? Inteligência artificial é usada para fazer vídeo falso.
TechTudo. 28 de julho de 2018. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/
noticias/2018/07/o-que-e-deepfake-inteligencia-artificial-e-usada-pra-fazer-videos-falsos.ghtml.
Acesso em: maio 2019.
O artigo trabalha, de forma didática, o tema deepfake, explicando o que é e como são
criados. Por um lado, apresenta os riscos que o seu uso pode trazer ao nosso dia-a-dia, por
outro lado, os usos benéficos que essa tecnologia pode ter, bem como formas de reconhecer
o uso de deepfake e vídeos exemplificativos desse uso.

4
TEFFÉ, Chiara Spadaccini de. Considerações sobre a proteção do direito à imagem na internet.
Revista de Informação Legislativa. Brasília, 2016, p. 173-198.
O artigo aborda vários temas que circundam a ideia de direito à imagem: o seu conceito, a
relevância do consentimento do titular do direito, as possibilidades de utilização da imagem
mesmo sem autorização prévia, as possibilidades de reparação quando há violação a esse
direito e toca em assuntos como divulgação de imagens com cenas de nudez ou caráter
sexual à luz do Marco Civil da Internet

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INICIANDO O ESTUDO

Vamos considerar as seguintes situações hipotéticas:


Vídeo de briga – Após uma polêmica com o coordenador da escola em que você dá
aula, o clima esquenta e vocês acabam caindo em uma discussão um tanto alvoroçada.
Os alunos, ao notarem o que está ocorrendo, filmam a discussão e compartilham o
vídeo nas redes sociais e nos grupos de WhatsApp.
Seu passeio em notícia – Você e o seu filho adolescente estiveram em um shopping em
dezembro. Alguns dias depois, viram a imagem de vocês em uma matéria de um portal de
notícias on-line tratando sobre o vertiginoso aumento do consumo às vésperas do Natal.
Foto da filha em anúncio – Você leva a sua filha de nove anos, todos os dias, para uma
escola que fica a poucas quadras da sua casa. Eis que, em um belo dia, ao buscar
informações sobre uma escola nova que abriu na região, você se depara com a foto da
sua filha sendo usada como imagem ilustrativa no site da escola.
Gravação de aula – Os seus alunos do ensino médio gravam a aula de um professor
substituto de história e a publicam em uma plataforma on-line de vídeos. Sem saber ao
certo as consequências dessa conduta tomada pelos alunos, o professor, que é seu colega,
procura por você para pedir conselhos sobre como proceder.

De modo geral, o que todas essas situações têm em comum são questões envolvendo direitos
de imagem na internet. Nos tópicos seguintes, voltaremos a cada um desses casos e discutiremos as
suas possíveis soluções. Antes, é necessário introduzir algumas noções jurídicas, em certa medida
abstratas, mas fundamentais para poder compreender as implicações dos casos apresentados.

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8
UNIDADE I – DIREITO À IMAGEM

A primeira das noções jurídicas necessárias para entender os casos propostos é o que
chamamos de direitos de personalidade ou direitos personalíssimos. De modo geral, estudiosos do
direito (ou doutrinadores, como costumamos dizer) definem como o poder que as pessoas têm
sobre o todo ou sobre as partes dos seus próprios corpos, e sobre os seus atributos psíquicos e
intelectuais, seja em vida, seja após a morte.1 Dito de outro modo, os direitos de personalidade são
direitos inerentes a todas as pessoas e estão a elas ligados para sempre e sob qualquer circunstância,
não se podendo conceber alguém que não tenha direito à vida, à liberdade física e intelectual, ao
próprio nome, ao seu corpo, à sua imagem nem “àquilo que ela crê ser a sua honra”.2
Na legislação, os direitos de personalidade são mencionados na Constituição Federal, que,
no artigo 5o, inciso X, estabelece serem “invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a
imagem das pessoas”, assegurando ainda o direito à indenização pelo dano material (econômico)
ou moral decorrente da sua violação”. O Código Civil de 2002 também tem um capítulo
específico tratando dos direitos de personalidade, prevendo, inclusive, consequências para os casos
de violação desse direito, conforme mostraremos no tópico seguinte.
De fato, podemos afirmar que os direitos de personalidade estão atrelados à própria existência
dos indivíduos e, de certa maneira, refletem os pressupostos básicos da convivência entre as pessoas e
da vida em sociedade. Desde criança e ao longo de todo o processo de formação intelectual e social,
as pessoas vão internalizando esses pressupostos à medida que amadurecem: primeiro, assimilam
aqueles que são mais simples – por exemplo, que não se pode violar a integridade física de outras
pessoas. Depois, os pressupostos mais complexos também passam a fazer sentido e se mostram

1 BARRETO, Wanderlei de Paula. In: ALVIM, Arruda e ALVIM, Thereza (coords.). Comentários ao código civil brasileiro. Rio de Janeiro: Forense,
2005, v. 1, p. 107.

2 ROGRIGUES, Silvio. Direito civil. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 1994, v. 1, p. 81.

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necessários à permanência dos laços afetivos e da vida em sociedade – por exemplo, a partir de certa
idade, os adolescentes começam a perceber que “falar mal de colegas” ou expor a intimidade de
outras pessoas pode ser bastante negativo, inclusive para eles mesmos.
Pois bem, é dentro desses direitos de personalidade que se insere o direito à imagem, mais
evidente na ideia de “direito à própria imagem”,3 ou seja, na faculdade que os indivíduos têm de
usar a própria imagem e reproduzi-la, assim como impedir que terceiros o façam, indevida ou
injustificadamente. Aqui, “imagem” deve ser entendida como a “integridade psicofísica do
indivíduo”,4 isto é, tanto o aspecto físico – o corpo do ser humano, os traços, a fisionomia e as
várias características que tornam uma pessoa única – como o aspecto moral e psíquico do
indivíduo – aquelas características peculiares de cada um, que estão presentes, por exemplo, no
modo único de ser e se expressar do indivíduo. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o direito à
imagem abarca esses dois aspectos:

A “imagem-retrato” representa a fisionomia


e “a forma plástica” da pessoa; e a
“imagem-atributo” são as características
por meio das quais a personalidade do
indivíduo é percebida pela coletividade.

Essa divisão não é mera construção teórica, uma vez que reflete a própria organização do
tema na Constituição: a “imagem-retrato” estaria prevista no artigo 5o, inciso X, enquanto a
“imagem-atributo” estaria prevista no inciso V do mesmo artigo.5
Feitas essas primeiras considerações, já podemos passar do plano abstrato para a realidade
prática, de modo a entender como esses conceitos aparecem nas questões do dia a dia,
especialmente das crianças e dos adolescentes.
Aqui, veremos as consequências decorrentes da violação do direito à imagem. Também
serão objetos de estudo as limitações e exceções existentes ao direito à imagem e, ainda, o direito
de imagem especificamente dentro sala de aula, com a possibilidade (ou não) do registro e
compartilhamento de imagens de alunos e professores.

3 Entre outros autores, CHAVES, Antônio. Direito à própria imagem. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, p. 45-75, 1972.

4 TEFFÉ, Chiara Spadaccini de. Considerações sobre a proteção do direito à imagem na internet. Brasília: Revista de Informação Legislativa,
2016, p. 173-198.

5 “[...]
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
[...]
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação.”

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UNIDADE II – DANOS À IMAGEM

Conforme adiantamos, o Código Civil prevê a possibilidade de as pessoas proibirem o uso


das suas imagens, o que não exclui eventuais pedidos de indenização caso haja ofensa à “honra, a
boa fama ou a respeitabilidade” ou se essas imagens “se destinarem a fins comerciais”.
Aqui, convém observar que, de acordo com a legislação e o entendimento dos juízes
(jurisprudência), a situação Vídeo de briga, descrita na introdução deste curso como a divulgação
de um vídeo de briga entre docente e coordenação, é, evidentemente, um caso de uso indevido de
imagem, visto que o vídeo foi compartilhado de forma injustificada, abusiva e lesiva pelos alunos,
sem o seu consentimento. Por outro lado, sendo menores de idade os jovens que gravaram e
divulgaram o vídeo, ainda seria possível que você resolvesse o problema na Justiça, de modo a
buscar uma reparação pela violação do seu direito de imagem?
A resposta seria sim, já que não podemos esquecer que menores podem responder por ato
infracional no âmbito do Estatuto da Criança e do Adolescentes (ECA) se praticarem atos
caracterizados como crimes previstos em lei, tais como os crimes contra a honra (injúria, calúnia
ou difamação). Além da possível apuração da prática de crime ou ato infracional, a possibilidade
de indenização caberia da mesma forma, mas essa, em princípio, seria de responsabilidade dos
respectivos pais dos adolescentes que causarem o dano. Para exemplificar: o Tribunal de Justiça
do Paraná julgou um caso, em 2016, no qual alunos de um colégio criaram uma comunidade em
rede social para ofender uma das professoras da escola. Ao final, os juízes condenaram os pais
desses alunos ao pagamento de indenização por danos morais.6
Ainda que, no caso em questão, a Justiça tenha sido uma resposta aos problemas
enfrentados pela professora, a melhor forma de lidar com situações semelhantes a essa é por meio
da prevenção, ou seja, o esforço deve ser no sentido de conscientizar os alunos sobre possíveis

6 Tribunal de Justiça do Paraná TJ-PR – Apelação: APL 13700995 PR 1370099-5 (Acórdão).

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danos e consequências do uso indevido e irresponsável de imagens. Mesmo nos casos em que a
prevenção não é suficiente e a violação aos direitos de imagem ocorre, o diálogo com todos os
envolvidos, inclusive os pais dos adolescentes que ofenderam a imagem de um terceiro, pode ser
uma resposta bastante eficaz ao problema.

Limitações ou exceções ao direito à imagem


Se existem, por um lado, situações em que o direito prevê a possibilidade de a pessoa
proibir o uso de sua imagem, por outro, existem exceções para a utilização da imagem que
independem da autorização do seu titular. Vale a pena ressaltar que coube aos tribunais
estabelecerem algumas hipóteses nas quais seria possível fugir à regra que impõe a autorização do
titular da imagem para o seu compartilhamento. Essas hipóteses de exceção são várias, e discorrer
de forma exaustiva sobre todas elas foge das possibilidades do nosso curso. Nesse caso, de forma
bastante geral, tais hipóteses de exceção referem-se a:7

Imagens obtidas em locais públicos, acessíveis ao público em geral ou de uso coletivo –


como shoppings e praias, em que a pessoa é apenas um detalhe na fotografia ou vídeo.
Nessas situações, a fotografia deve focar no acontecimento público ou no ambiente que se
pretende retratar. A ideia é que a pessoa fotografada nesses espaços seja apenas um detalhe na foto,
e não o elemento principal. Por exemplo, na situação Seu passeio em notícia, que trabalhamos
na introdução do curso, você e o seu filho aparecem, por acaso, em uma fotografia que tem por
objetivo retratar o alto número de pessoas que comparecem ao shopping às vésperas do Natal, ou
seja, o foco da foto não era você e o seu filho, uma vez que poderiam ter sido fotografadas
quaisquer outras pessoas que estivessem passando pelo mesmo local naquele momento.

Imagens de pessoas públicas notórias – artistas, atletas e políticos.


Nesses casos, o uso das imagens dessas pessoas é livre desde que o objetivo seja de informar,
isto é, usar imagens de pessoas famosas com fins comerciais continua sendo uma violação ao
direito do retratado, assim como fotografá-las em situações descontextualizadas. Sendo assim,
ainda que, na situação Foto da filha em anúncio, a sua filha fosse uma personalidade já
conhecida da televisão, a escola não poderia usá-la para fins comerciais na sua publicidade!

7 TEFFÉ, Chiara Spadaccini de. Considerações sobre a proteção do direito à imagem na internet. Revista de Informação Legislativa. Brasília,
2016, p. 173-198.

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Imagens de elevado interesse público, como as que são veiculadas em notícias que
cobrem acontecimentos relevantes em determinada região.
A ideia dessa exceção é que as pessoas não fiquem privadas de ter acesso às informações que
lhes são relevantes, sejam fatos na política e no mundo do esporte, sejam acontecimentos
frequentes. Nesse sentido, se a discussão do Vídeo de briga, no qual a discussão entre professores
foi filmada pelos alunos, houvesse ocorrido entre dois políticos e envolvesse um assunto de
interesse público, como a verba a ser destinada a determinado serviço, por exemplo, a divulgação
do vídeo seria permitida.
Novamente, cada uma dessas exceções comportam um número amplo de ressalvas e, muitas
vezes, só podem ser analisadas conforme o caso concreto. Ainda assim, elas fornecem uma noção
básica sobre as situações nas quais é permitido usar a imagem de uma pessoa, independentemente
de autorização.

Memes: entre as risadas e a humilhação

Figura 1 – Memes: “Posso não ter a licença, mas não perco a piada”

Fonte: SodanieChea, 2012, Via Flickr, Licença Creative Commons.

Mesmo que você não saiba ao certo o que são os memes, provavelmente, você já viu muitos
deles na internet, deu risada e, possivelmente, compartilhou-os com outros colegas por meio
dos grupos do WhatsApp ou do seu Facebook. Geralmente, os memes são imagens – mas
também podem ser vídeos ou frases – que têm a característica comum de viralizar na internet
por conta de algum conteúdo de humor.

Acontece que a esmagadora maioria dos memes são feitos em cima de fotos de pessoas reais,
as quais não consentiram ou, às vezes, sequer souberam que as suas imagens seriam expostas a
milhões de pessoas ao redor do mundo.

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Como vimos, o Código Civil prevê que as pessoas possam proibir a utilização das suas imagens
nos casos em que ocorram prejuízos à sua “honra” ou “boa fama”. O problema é que existem
muitos empecilhos para o controle dessa situação no caso dos memes. É difícil, por exemplo,
definir quando a pessoa autorizou ou não o uso da sua imagem. Aliás, na maior parte das vezes,
nem ao menos se sabe quem é a pessoa retratada. Além disso, os memes são constantemente
modificados e reinterpretados, uma vez que a foto de uma mesma pessoa pode gerar dezenas
de memes com significados diferentes. Desse modo, mesmo que fosse possível saber quem é a
pessoa-alvo do meme, seria praticamente impossível pedir a autorização dela para cada um dos
novos memes criados. No que diz respeito à responsabilização, seria muito difícil descobrir
quem criou o meme ou quem o modificou.

Por todas essas razões, fica bastante evidente que, uma vez viralizado, é bastante difícil impedir
o meme de circular na internet, ainda que se possa fazê-lo, especificamente, em relação a
algumas plataformas e redes sociais por meio de mecanismos de denúncia. Por isso, o mais
importante é focar em medidas preventivas para evitar que uma foto sua se transforme em um
meme, sendo algumas delas, por exemplo, atentar-se para as políticas de privacidade das redes
sociais, não permitindo que desconhecidos possam ter acesso às suas fotos. Também é
importante ter cautela na hora de compartilhar fotos suas em grupos como os do WhatsApp, já
que elas podem ser repassadas e ficam armazenadas nos aparelhos de todos aqueles que as
recebem.

Direito à imagem na sala de aula


Outra questão bastante recorrente é a apresentada na situação Gravação de aula, na qual os
alunos gravaram a aula de um professor e publicaram em uma plataforma on-line de vídeos.
Trata-se de um caso em que não só a imagem (retrato e atributo) do professor foi divulgada sem
autorização como também o conteúdo da sua aula! Ora, a aula de um professor é resultado do seu
esforço intelectual, faz parte do seu modo particular de ensinar e de como organizou o seu
conhecimento e, dessa forma, está protegida por direitos autorais (há alguns detalhes sobre o tema
a seguir). Desse modo, quando os alunos gravam e divulgam a aula de um professor sem a sua
autorização, há violação tanto do direito à imagem quanto do direito autoral do docente. A
situação é diferente quando há regras da escola sobre gravação e filmagem das aulas, ou no caso
em que os professores, previamente, autorizam o registro das suas aulas para fins pedagógicos.

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Afinal, o que são direitos autorais?

Os direitos autorais são aqueles que o autor de uma obra possui sobre ela. De acordo com a Lei
de Direitos Autorais (Lei 9.610/98), um autor pode ter duas espécies de direito sobre sua obra: a)
direitos morais, que estão ligados à personalidade do autor, dos quais ele não pode abrir mão
nem transferir a terceiros, e b) direitos patrimoniais, que estão ligados à exploração econômica
que o autor faz da obra, que são renunciáveis e transferíveis a terceiros.

Os direitos morais visam defender a relação do autor com a própria obra, ou seja, o aspecto mais
básico de qualquer pretensão criativa, que é a de poder afirmar-se enquanto autor daquilo que
criou. Essa espécie de direito diz respeito, por exemplo, ao direito que um escritor tem de ter o
seu nome vinculado aos livros que escreveu ou, ainda, ao direito que um fotógrafo tem de
permitir ou não a manipulação das suas fotografias.

Já os direitos patrimoniais estão relacionados à comercialização dos vários conteúdos autorais,


como filmes, fotos, músicas, artigos científicos, softwares, entre tantos outros produtos frutos de
ideias. Eles dizem respeito, por exemplo, à reprodução em massa de um livro para venda,
situação em que o escritor transfere à editora os direitos patrimoniais da sua obra, ou seja, o
direito de comercializar o livro que ele escreveu.

No caso específico de fotos e vídeos, é muito comum que estejam em jogo tanto o direito à
imagem da pessoa filmada ou fotografada quanto os direitos autorais, que podem pertencer a
diferentes sujeitos, a depender da situação. Essa é uma questão relativamente complexa e que
varia muito caso a caso, por isso, vamos ilustrá-la, brevemente, com dois exemplos. Caso você
tenha mais interesse, poderá ver as nossas dicas de materiais sobre o tema no tópico “para
saber mais”.

Primeiramente, vamos ao exemplo de um profissional que fotografa determinada pessoa e


coloca a foto no seu site para que outros possam ver a qualidade do trabalho e também
contratá-lo. Veja, se alguém usa essa fotografia sem autorização do fotógrafo, está violando
tanto o direito autoral do profissional quanto o direito à imagem da pessoa fotografada, uma vez
que, muito provavelmente, a pessoa autorizou a divulgação da sua imagem apenas no site
daquele fotógrafo.

Outro exemplo seriam shows e espetáculos, nos quais os fãs filmam a performance dos artistas
e compartilham on-line, mesmo quando expressamente proibido pela instituição realizadora do
evento. Nesse caso, tem-se tanto a violação do direito à imagem do artista (mesmo que ele seja
pessoa famosa, lembre-se que essa exceção não é ilimitada) quanto a violação dos direitos
autorais do artista, uma vez que a performance realizada ou a interpretação de uma música são
parte da sua obra artística.

Ora, depois de ver esses dois casos, talvez você se pergunte: quando é possível usar uma foto
ou vídeo sem violar o direito à imagem ou os direitos autorais de alguém? Veremos a resposta
para essa pergunta na Unidade IV.

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Uso de redes sociais por professores
Agora, quando a situação se inverte, ou seja, quando são os professores do ensino
fundamental ou médio que filmam ou fotografam os seus alunos e compartilham nas suas redes
sociais? Bom, quando se trata de crianças e adolescentes, entende-se que há uma proteção ainda
maior do direito à imagem, o que demanda especial atenção de educadores e outros profissionais
que lidam com os menores no dia a dia. Muitas vezes por falta de conhecimento, outras vezes por
ignorar as consequências, pessoas acabam prejudicando tanto a si mesmas como os jovens por não
se atentarem às peculiaridades dos casos de fotografar, filmar e compartilhar conteúdos nos quais
apareçam crianças e adolescentes, especialmente durante as suas atividades escolares. Veremos
alguns detalhes sobre essas situações na unidade a seguir.

16
UNIDADE III – IMAGEM DE CRIANÇAS E
ADOLESCENTES NA WEB

Não é incomum ver Tribunais condenando pessoas ou entidades ao pagamento de


indenização por divulgar, indevidamente, a imagem de menores de 18 anos. Isso porque, embora
não exista uma lei prevendo expressamente tal violação, o Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) estabelece ser dever de toda a sociedade zelar pela integridade moral e psíquica das crianças
e dos adolescentes, o que abrange a preservação da imagem e da identidade dos menores, de modo
a colocá-los a salvo de qualquer tratamento vexatório ou constrangedor.8
Nesse sentido, você, educador, talvez possa se perguntar: “quando eu posso fotografar ou
filmar as minhas alunas e os meus alunos, ou outras crianças e adolescentes?”. Bom, a regra geral
para essa pergunta é:

Só podemos publicar foto de crianças e


adolescentes com a devida autorização
dos seus responsáveis legais.

Desse modo, a não ser que se trate do seu filho ou da sua filha, é necessário que você tenha a
autorização expressa dos pais para divulgar qualquer conteúdo que exponha a imagem de menores
18 anos. Em alguns casos, essa autorização é concedida diretamente à escola no momento da
matrícula, e tem a finalidade de permitir aos professores fotografar e filmar os alunos para fins
pedagógicos ou de divulgação da própria escola. Nos casos em que não existe essa autorização, o
registro da imagem de adolescentes pode gerar consequências bastante indesejáveis, uma vez que é
bastante comum ver, no Judiciário, casos em que o uso indevido da imagem do menor gerou o
dever de indenização por danos morais, principalmente se tal uso tiver fins comerciais.

8 Arts. 17 e 18 da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990.

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Lembra do caso Foto da filha em anúncio, no qual “você” se depara com a foto da sua filha
sendo usada como imagem ilustrativa no site de uma escola? Pois bem, recentemente, o Tribunal de
Justiça do Rio Grande do Sul tratou de caso bem semelhante.9 A situação envolvia um estúdio de
fotografia que usou a imagem de uma menor sem a devida autorização do seu responsável legal, ou
seja, sem a autorização de pais, avós ou de outra pessoa que exercesse a tutela da criança ou do
adolescente. No caso julgado pelo Tribunal gaúcho, entendeu-se que a questão era bastante simples,
não sendo necessário verificar os danos efetivos que a garota sofreu, isso porque, segundo os
julgadores, “não se pode admitir, em nenhuma hipótese, a utilização de imagem sem a autorização
ou da própria pessoa ou do seu representante legal”.
É claro, nessa frase, o Tribunal está usando uma força de expressão, uma vez que, conforme
nós vimos, existem, sim, algumas hipóteses de exceção à autorização do uso da imagem das
pessoas, mesmo quando se trata de crianças e adolescentes. Por exemplo, no caso Seu passeio em
notícia, ainda que uma adolescente tenha aparecido na foto que foi tirada no shopping, entende-se
que não há necessidade de solicitar a autorização dos pais ou responsáveis para publicá-la, uma vez
que (i) o local em que foi tirada a foto é de uso coletivo e (ii) trata-se de uma ilustração para ser
utilizada em uma notícia jornalística, que busca informar determinada região sobre o aumento do
consumo e a superlotação dos shoppings às vésperas do Natal, ou seja, provavelmente, é uma
imagem que carrega elevado interesse público.
De todo o modo, nessa decisão, o Tribunal buscou ressaltar a importância que o direito à
imagem tem, sobretudo de menores de idade. Essa posição reforça o entendimento de que
divulgar, indevidamente, a imagem de menores de idade afeta o desenvolvimento emocional e
desrespeita o princípio da proteção integral e do melhor interesse das crianças e dos adolescentes.
Casos muito mais graves são os que envolvem o compartilhamento de imagens íntimas de
crianças e adolescentes, o que é considerado crime pelo ECA e pode levar à pena de até seis anos
de prisão.10 O entendimento é que não importa se quem compartilhou é o autor da foto ou não,
uma vez que o fato de estar receptando e divulgando a imagem, por si só, já constitui crime.
Agora, talvez você possa se perguntar: e os adolescentes que compartilham imagens íntimas
de outros adolescentes na internet? Eles também estão sujeitos às penalidades previstas pelo ECA?
Bem, quando tais condutas são praticadas por adolescentes, a questão da responsabilidade pela
prática do crime é diferente, uma vez que, nesse caso, o menor vai responder a um procedimento
para apuração de ato infracional, o qual pode levá-lo a ser submetido a uma medida
socioeducativa prevista pelo ECA.11

9 TJ-RS – AC: 70073814378 RS, Relator: Luís Augusto Coelho Braga, Data de Julgamento: 28/09/2017, Sexta Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia 02/10/2017.

10 Art. 241-A da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990.

11 SPOSATO, Karyna Batista. Duas questões fundamentais sobre a responsabilização penal de adolescentes. IBCCRIM, Boletim 271, junho de
2015. Disponível em: https://www.ibccrim.org.br/boletim_artigo/5439-Duas-questoes-fundamentais-sobre-a-responsabilizacao-penal-de-
adolescentes. Acesso em: maio 2019.

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De todo modo, nesses casos, a melhor forma de lidar com a situação é por meios
alternativos, por exemplo, o diálogo com todas as partes envolvidas e os seus respectivos
responsáveis. Aliás, conforme é abordado no curso de “Sexualidade e intimidade na internet”,
existem algumas práticas recorrentes de compartilhamento de imagens eróticas entre adolescentes
que podem ter consequências bastante graves em todas elas. No entanto, a prevenção e o diálogo
são a maneira mais eficaz de lidar com o conflito.

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UNIDADE IV – MANIPULAÇÃO E
DESCONTEXTUALIZAÇÃO DE IMAGENS

Vimos que a produção e o compartilhamento de fotos e vídeos podem envolver tanto


questões de direito à imagem como de direitos autorais. Evidentemente, quando tratamos de
montagem desse tipo, vulgarmente conhecidos como photoshop, ambas as categorias de direitos
estão envolvidas, com a diferença de que, nesses casos, além da reprodução da imagem ou obra,
tem-se também a alteração da mesma, o que pode ser ainda mais problemático.

Quando podemos usar imagens de maneira legal?

Figura 2 – Charles Chaplin

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Charlie_Chaplin Acesso em: 10 jul. 2019.

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Existem duas categorias de imagens que podem ser reproduzidas e, em alguns casos,
modificadas de maneira legal. São as imagens em domínio público e licenciadas em Creative
Commons. A seguir, vamos entender o que cada um desses termos significa.

Obras em domínio público são aquelas sobre as quais não incidem mais direitos autorais devido
ao decurso do tempo, quando elas passam a ser disponibilizadas livremente, sem a necessidade
de qualquer autorização ou pagamento para que sejam usadas. No Brasil e em outros países do
mundo, uma obra entra em domínio público 70 anos após a data da morte do autor.

Por sua vez, quando se fala em Creative Commons, normalmente, está-se referindo a um
conjunto de licenças de direitos autorais gratuitas, que visam dar ao público a permissão de
compartilhar e usar os trabalhos criativos a ela associados. Nessa modalidade, são os próprios
autores que disponibilizam a obra ao público, abdicando da remuneração que a utilização desse
conteúdo por terceiros lhes poderia gerar. Ressalta-se, no entanto, que as licenças Creative
Commons não são todas iguais, já que cada uma delas vai atribuir certas permissões a partir das
quais o público pode interagir com as obras: desde a mais abrangente, que permite aos outros
distribuir, remixar, adaptar e criar a partir do trabalho licenciado, mesmo que para fins comerciais
(desde que seja atribuído o devido crédito pela criação original), até a mais restritiva, que só
permite aos outros fazer o download e compartilhar o trabalho licenciado, contanto que o
crédito seja atribuído ao autor.

A manipulação de imagens digitais está cada vez mais acessível, sobretudo por conta do
advento de aplicativos e softwares que permitem até a um usuário leigo fazer alterações
substanciais e realísticas em fotos e vídeos. Se, por um lado, esse é um fato positivo por refletir a
popularização da tecnologia em questão, por outro, ele também permite que surja uma série de
problemas, como a confusão entre imagens fidedignas à realidade e imagens manipuladas, a
violação de direitos de autor e do direito à imagem de indivíduos, a divulgação de notícias falsas
com base em imagens descontextualizadas, entre muitos outros problemas.
Por exemplo, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) divulgou uma nota
afirmando que houvera manipulação nas gravações das câmeras de segurança do presídio em que
um ex-governador afirmou ter sido agredido tempos atrás. Segundo notícias, a promotoria se
manifestou após o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) apresentar um laudo do setor de
segurança eletrônica em que os peritos afirmaram não ser possível confirmar se houve ou não
manipulação das imagens.12
Caso menos grave, mas igualmente sintomático, foi a repercussão local que houve no
Espírito Santo após uma jovem “roubar a selfie” do Instagram de uma influencer: na montagem, a
jovem teria retirado o rosto da pessoa original para colocar o seu próprio rosto no corpo

12 MP-RJ REAFIRMA que imagens da cela de Garotinho foram manipuladas. Portal R7. Disponível em: https://noticias.r7.com/rio-de-
janeiro/mp-rj-reafirma-que-imagens-da-cela-de-garotinho-foram-manipuladas-09032018. Acesso em: abril 2019.

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fotografado. Apesar de ser relativamente trivial, o caso acabou ganhando certa atenção da mídia
local depois que a foto modificada foi enviada à autora da foto real.13
Ainda, em São Paulo, um aluno foi condenado a pagar indenização por danos morais por
difamar um dos seus professores por meio da manipulação de fotos. No caso, o aluno teria publicado,
no Facebook, imagens manipuladas na qual o professor aparecia consumindo álcool e drogas.14

Deepfake: ilusão quase perfeita

Figura 3 – Utilização de deepfake a partir da imagem do presidente norte-americano Donald Trump

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=hoc2RISoLWU Acesso em: 10 jul. 2019.

Recentemente, ganhou atenção uma tecnologia que usa inteligência artificial para criar vídeos
falsos, mas extremamente realistas, na qual o rosto e a voz de uma pessoa são substituídos
pelos de outra pessoa! Essa técnica já gerou desde conteúdos pornográficos até discursos
fictícios, envolvendo celebridades e políticos influentes.

Efeitos especiais que criam rostos e modificam vozes já são usados, há bastante tempo, pela
grande indústria do cinema e do audiovisual. No entanto, a novidade do deepfake está na
popularização dessa técnica, que passa a ser usada com facilidade por qualquer pessoa que
saiba manejar certas ferramentas computacionais. Justamente por ser essa uma técnica
bastante acessível, tem-se a proliferação de notícias falsas, que ficam supostamente “provadas”
com base em tais vídeos falsos. Essa consequência é especialmente preocupante, porque, além
de dar respaldo às chamadas fake news, ela pode contribuir para a desconfiança em relação a
conteúdos audiovisuais verdadeiros, levando a um cenário caótico de verdadeira desinformação.

13 CAPIXABA denuncia “furto” de selfie nas redes sociais. FolhaVitoria. Disponível em: https://www.folhavitoria.com.br/
geral/noticia/2014/06/capixaba-denuncia-furto-de-selfie-nas-redes-sociais.html. Acesso em: abril 2019.

14 ALUNO pagará indenização por difamar professor no Facebook. Migalhas, danos morais, 19 de fevereiro de 2016. Disponível em:
https://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI234234,71043-Aluno+pagara+indenizacao+por+difamar+professor+no+Facebook . Acesso em:
abril 2019.

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É possível que, em algum momento, seja impossível distinguir os deepfakes dos vídeos
verdadeiros devido à paulatina sofisticação dessa técnica. Felizmente, por enquanto, ainda
existem alguns detalhes que ajudam a revelar um vídeo falso: segundo especialistas, é
importante prestar atenção nos movimentos da boca, de modo a verificar se eles correspondem
ao que está sendo dito, assim como verificar se os olhos da pessoa estão piscando e movendo
de forma natural.

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Neste curso, nós vimos que:
• Direitos de personalidade constituem o poder que a pessoa tem “sobre o todo ou sobre as
partes da sua integridade física, psíquica e intelectual, seja em vida, seja após a morte”.
• Direito de imagem é um dos direitos de personalidade e diz respeito à faculdade que os
indivíduos têm de dispor da própria imagem e reproduzi-la, assim como impedir que
terceiros, indevida ou injustificadamente, o façam. Esse direito abrange a “imagem-
retrato”, que representa a fisionomia e a “forma plástica” da pessoa, e a “imagem-
atributo”, que são as características por meio das quais a personalidade do indivíduo é
percebida pela coletividade.
• O Código Civil prevê a possibilidade de as pessoas proibirem o uso das suas imagens. Na
prática, os tribunais entendem que o simples uso injustificado da imagem de uma pessoa
já é suficiente para caracterizar o dano à vítima, o que pode levar ao dever de indenização.
• Existem exceções para a utilização da imagem, independentemente da autorização do
titular, sendo as principais delas: (1) imagens obtidas em locais público, acessíveis ao
público em geral ou de uso coletivo, como shoppings e praias; (2) imagens de pessoas
públicas notórias, como artistas, atletas e políticos, e (3) imagens de elevado interesse
público, como notícias que cobrem acontecimentos relevantes em determinada região.
• A regra geral para a produção e o compartilhamento de imagens de crianças e
adolescentes é a de que “só podemos publicar foto de crianças e adolescentes com a
devida autorização dos seus responsáveis legais”.

25
PARANAGUÁ, Pedro; BRANCO, Sérgio. Direitos autorais, FGV, Rio de Janeiro, 2009.
Disponível em: https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/2756/Direitos
%20Autorais.pdf . Acesso em 07 de junho de 2019.

CABRAL, Isabela. O que é deepfake? Inteligência artificial é usada pra fazer vídeo falso.
TechTudo. 28 de julho de 2018. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/noticias/
2018/07/o-que-e-deepfake-inteligencia-artificial-e-usada-pra-fazer-videos-falsos.ghtml. Acesso
em 08 de abril de 2019.

Revista terá de indenizar por divulgar fotos de crianças sem autorização de pais. Revista Consultor
Jurídico. 30 de março de 2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-mar-30/revista-
condenada-divulgar-fotos-criancas-aval-pais . Acesso em 08 de abril de 2019.

TEFFÉ, Chiara Spadaccini de. Considerações sobre a proteção do direito à imagem na internet.
Brasília: Revista de Informação Legislativa, 2016, p. 173-198.

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Doutrinador – aquele que escreve doutrinas, isto é, “ideias e ensinamentos de autores e juristas
que, no caso, servem de base para o Direito, e influenciam e fundamentam as decisões judiciais. É
fonte do Direito, utilizada também para a interpretação das leis, fixando as diretrizes gerais das
normas jurídicas”.15

Faculdade – direito ou permissão que os indivíduos têm para realizar algo.16

Fake news – literalmente, “notícias falsas”. Trata-se de um termo em inglês usado para se referir
às notícias inventadas ou fictícias, muitas vezes usadas como estratégias de “desinformação”, ou
seja, como meio de confundir os leitores, impedindo que saibam da realidade dos fatos.

Instituto – conjunto de normas que regulam determinada criação legal, como o casamento, a
sucessão, a propriedade, o domicílio.

Injúria, calúnia ou difamação – espécies de crime contra a honra, instituídos no Código Penal,
com penas de reclusão e multas, do art. 138 ao 140. A injúria é uma ofensa às qualidades do
sujeito, direcionada a ele. A calúnia ocorre quando alguém é acusado de um crime. Por fim, a
difamação acontece quando há um ataque à reputação de outra pessoa por meio da atribuição de
um fato ofensivo à reputação dela.

Jurisprudência – conjunto das decisões sobre determinado tema, adotado pelos tribunais de um
mesmo estado, região ou país.

Legislação – conjunto de leis de um país. O termo também é usado para se referir ao conjunto de
leis sobre um tema.

Meme – imagem, informação ou ideia que se espalha, rapidamente, por meio da internet, em
geral, correspondendo à reutilização ou alteração humorística ou satírica de uma imagem.17

15 DOUTRINADOR. Dicionário jurídico, DiretoNet. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/dicionario. Acesso em: maio 2019.

16 FACULDADE. Dicionário jurídico, DiretoNet. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/dicionario. Acesso em: maio 2019.

17 MEME. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/meme. Acesso em: maio 2019.

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