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Resumo
Aborda-se a investigação em Serviço Social no Portugal contemporâneo, após o processo de qualificação e
atribuição do grau de licenciatura (1989). Resgatam-se as implicações deste processo, analisando a investigação
como componente integrante da formação em Serviço Social, das competências profissionais, cujos resultados
se traduzem na produção do conhecimento e na criação de novas organizações da categoria, nomeadamente a
primeira unidade de I & D desta área – o CPIHTS.
Situa-se a expansão da formação a partir dos anos 90, no ensino privado e público; sinaliza-se a componente da
investigação nos actuais planos curriculares de 1º e 2º ciclos em Serviço Social; aponta-se nesta conjuntura um
processo de desregulamentação da formação e uma tendência para a desqualificação com o processo de Bolonha.
Por último, analisam-se paradoxos e desafios à investigação em Serviço Social fazendo-se um balanço da última
década.
Abstract
The article approaches Social Work research in contemporary Portugal, after the process of qualification and of
acknowledgement of the degree (1989). The implications of this process are analyzed, looking at research as an
inner part of Social Work education, of professional skills, which outcomes are knowledge production and creation
of new organizations of the professional category, namely its first R&D unit – CPIHTS.
The expansion movement on Social Work education is located from the nineties onwards, in private and public
sector, the research component of the first and master degree is signaled, and in this picture a process of deregulation
of the courses and a trend for the disqualification brought by the Bologna Process is pointed out. Finally, the article
analyzes the challenges and paradoxes of Social Work research departing from the balance of the last decade.
Dez anos antes da criação destes centros, institucionaliza-se o CPIHTS, pioneiro no domínio
da investigação em Serviço Social, independente das escolas, integrando Assistentes Sociais
que, na qualidade de estudantes do primeiro curso de mestrado em Serviço Social em 1987,
criaram o “Núcleo de Investigação em História do Serviço Social Português”. Neste âmbito
criaram e desenvolveram o projecto colectivo, na perspectiva do estruturalismo genético3, “A
construção do conhecimento do Serviço Social Português” (da sua génese aos anos 70) que
tinha subjacente os projectos individuais de investigação tendentes à dissertação. A investigação
histórica coloca-se como área de investimento estratégico no Núcleo e posteriormente no
CPIHTS.
Constitui-se em 1993 como associação científica de Serviço Social (Diário da República, III
Série de 29/9/1993) integrando a primeira doutorada em Serviço Social e Assistentes Sociais
em processo de qualificação (mestrado e doutoramento), investigadores de Serviço Social e
de outras áreas como Filosofia, Sociologia e Economia. Professores e colaboradores de países
europeus, dos Estados Unidos e do Brasil e outros países da América Latina.
É presidente do CPIHTS o investigador e Mestre Alfredo Henríquez que desde a sua criação
constitui a sua principal referência, dinamizando permanentemente este movimento que
associa investigação, produção e divulgação do conhecimento, cooperação e intercâmbio e o
debate e a interpelação do Serviço Social na sociedade contemporânea.
O CPIHTS apresenta como principais objectivos o estudo e a investigação do Serviço Social e
da sua história, dos problemas sociais, das políticas sociais e da intervenção social na realidade
portuguesa; a publicação dos resultados da sua actividade; a promoção e a realização de
debates e eventos de natureza científica sobre temáticas sociais relevantes para a intervenção
social e profissional; o estabelecimento de relações de intercâmbio com organizações similares
de carácter nacional e internacional.
Ao nível internacional destaca-se a cooperação no Brasil, com o Programa de Pós-Graduação
Académica em Serviço Social, o “Núcleo da Criança e do Adolescente” e o “Núcleo de Ética e
Direitos Humanos” da PUC-SP; o Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade
Federal do Rio de Janeiro; o CIPEC – Centro Interdisciplinar de Pesquisa e Consultadoria em
Políticas Públicas de Curitiba; em Espanha e Argentina através do Instituto de Ciências Sociais
Aplicadas e nos Estados Unidos, com a Division of Social Work da Califórnia State University,
Sacramento e ao nível nacional com as organizações da categoria e as escolas de Serviço
Social.
Se a conquista do grau de licenciatura em Serviço Social despoletou interesses por esta área
no ensino superior privado e posteriormente, no ensino público, veja-se como se configura,
UNIVERSITÁRIO/ PRIVADO 2 1 4 1 8
UNIVERSITÁRIO/ PÚBLICO 1 2 2 5
POLITÉCNICO/ PÚBLICO 4 1 5
POLITÉCINICO/ PRIVADO 1 1 2
TOTAL 1 6 4 3 5 1 20
QUADRO Nº 2 – Número total de ECTS das UC com referência à Investigação, nos cursos de 1º Ciclo
em Serviço Social, por tipo de ensino
5 ECTS IPLeiria,
IPCastelo Branco 3
IP Portalegre
12 - 16 ECTS U Açores 5
UTAD
ISCSP – UTL
UCP – Braga
U. Lusíada
A formação em Serviço Social com a aplicação das políticas vigentes, parece ter cedido às
exigências do mercado. Tornou-se permeável a concepções de um perfil profissional mais
tecnicista em detrimento dum mais crítico, com maior solidez e qualidade, fragilizando ou
mesmo fazendo regredir os avanços já conquistados.
À desqualificação do grau académico de licenciatura segue-se a obtenção de outro grau
académico, o mestrado.
Analisando as 8 IES com 2º ciclo em Serviço Social, seis apresentam cursos com uma duração
2 UC UCP – Viseu
4 UC ISMT
ISSSP
DISSERTAÇÃO/
TRABALHO DE PROJECTO/ 2 CURSOS DO ISSSP
ESTÁGIO PROF COM REL.
QUADRO Nº 4 – Número total de ECTS das UC com referência à Investigação/ Dissertação, Projecto/
Estágio nos cursos de 2º Ciclo em Serviço Social de 90 e 120 ECTS
No I Congresso Nacional de Serviço Social em 2002 referia-se que a Fundação para a Ciência
e a Tecnologia (FCT) e organizações similares ainda não consideravam o Serviço Social como
disciplina autónoma das Ciências Sociais, a integrar o elenco das áreas disciplinares (Martins,
2003: 58). Passados estes anos, a situação não se alterou neste domínio e presentemente
outros organismos dentro do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior integram o
Serviço Social em áreas distintas.
A Direcção Geral do Ensino Superior (DGES) no que respeita ao acesso ao ensino superior
integra o curso de Serviço Social na “Área de Direito, Ciências Sociais e Serviços”, já o Gabinete
de Planeamento Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais (GPEARI) nas estatísticas do
ensino superior insere-o na área de formação e educação designada de “Trabalho Social e
Orientação” 25, mas na abordagem do emprego coloca os diplomados em Serviço Social na
área denominada de “Serviços Sociais”.
Em 2006 a Direcção Geral de Ensino Superior criou uma Comissão de Especialistas em Serviço
Social, constituída pela primeira vez por Assistentes Sociais, para dar parecer sobre os pedidos
de autorização de novos cursos, apresentados pelo ensino particular e cooperativo. Mas
Referências
APSS (2006). Posição da Associação de Profissionais de Serviço Social (APSS) sobre o processo de Bolonha
e a formação em Serviço Social, http://www.cpihts.com/PDF02/BOLONHA%20POSIÇAO%20
DA%20APSS.pdf
CNAVES - Comissão de Avaliação Externa dos Cursos de Acção Social (2005). Relatório Síntese
Global.
CPIHTS (2001). Carta Aberta sobre a Investigação em Serviço Social, 7 de Maio, http://www.cpihts.
com/investiga.htm
Franco, Ana Cristina de Almeida M. (2003). A Investigação em Serviço Social e a formação ao nível
da licenciatura. Análise dos Planos de Estudo nos anos 90, em Portugal (Dissertação de Mestrado em
Serviço Social, Instituto Superior Miguel Torga).
Henríquez, B. Alfredo (2000). 1999: Trabalhadores Sociais Comprometidos com o seu Futuro, Estudos
& Documentos, 4/5.
Martins, Alcina e Tomé, Maria Rosa (2008). O Estado Actual da Formação em Serviço Social em
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Martins, Alcina (2007). O processo de Bolonha e a formação em Serviço Social - questões e problemas,
http://www.cpihts.com/PDF02/O%20Processo%20de%20Bolonha.pdf
Martins, Alcina (2003), Investigação em Serviço Social: perspectivas actuais. In Serviço Social:
Unidade na Diversidade. Encontro com a Identidade Profissional. Actas do I Congresso de Serviço
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Martins, Alcina (1999). Serviço Social e Investigação. In Serviço Social, Profissão & Identidade,
Que Trajectória? (pp. 45-65), Lisboa e São Paulo: edição dos autores em associação com Veras
Editora.
Martins, Alcina e Coutinho, Manuela (1995). Le Travail Social au Portugal. Vie Sociale, 4, 42–
Tomé, M. Rosa (2007). O processo de Bolonha e o Serviço Social em Portugal: os desafios à formação e
à profissão, comunicação apresentada ao 3º Seminário Nacional – Estado e Políticas Sociais no
Brasil, Cascavel, 23 -25 de Agosto, recuperado de http://www.cpihts.com/PDF02/Rosa%20
Tomé.pdf
Santos, Boaventura de Sousa (2004). A Universidade no Século XXI: para uma Reforma Democrática
e Emancipatória da Universidade. São Paulo: Cortez Editora.
Notas
1
Para desenvolvimento desta componente da formação nos Institutos de Serviço Social de Lisboa, Porto e Coimbra
veja-se a Dissertação de Mestrado em Serviço Social apresentada ao Instituto Superior Miguel Torga de Ana Cristina
de Almeida M. Franco, A investigação em Serviço Social e a formação ao nível da licenciatura. Análise dos Planos
de Estudo nos anos 90, em Portugal, 2003, págs 145 a 172.
2
Para a análise desta produção veja-se: Fernanda Rodrigues e Francisco Branco, “A Investigação em Serviço Social
em Portugal: uma aproximação a partir da formação pós-graduada”, 19ª Conferência Mundial Serviço Social,
IFSW e CFESS, Brasil, Bahia, 2008.
3
O estruturalismo genético de Lucien Goldman foi aplicado à investigação em Serviço Social em Portugal, tendo
sido inicialmente proposto e desenvolvido no âmbito do 1º curso de mestrado em Serviço Social (1987) pela Profª
Doutora Myrian Veras Baptista responsável pela disciplina “História e Tendências Teóricas do Serviço Social”.
Realizaram-se trabalhos para esta disciplina que tomaram como objecto a história e trajectória do Serviço Social
Português, tendo merecido posteriores aprofundamentos em projectos de investigação, de dissertação e de
doutoramento em Serviço Social e influenciado a criação do Núcleo de Investigação.
4
Em co-edição as teses de doutoramento em Serviço Social: Fernanda Rodrigues, Assistência Social e Políticas
Sociais em Portugal, Lisboa, CPIHTS, ISSSL, 1999 e de Marlene Braz Rodrigues, Corpo, Sexualidade e Violência
Sexual, Lisboa, CPIHTS, Veras, 2007. A tese em Economia de Manuela Coutinho, A Economia Social em Portugal.
A emergência do Terceiro Sector na Política Social, Lisboa, CPIHTS, APSS, 2003.
5
A dissertação de mestrado em Serviço Social de Maria Rosa Tomé, A Criança e a Delinquência Juvenil na Primeira
República, Lisboa, CPIHTS, NCA, CIPEC, ICSA, 2003.
6
Vejam-se os artigos de Joseph R. Merighi e Maria Cesaltina Dinis “Surface Acting as a Predictor of Emotional
Exhaustion in Portuguese Social Workers”, The International Journal Of Interdisciplinary Social Sciences,Volume
3, Number 1, 2008, p. 304 a 310; “The influence of Alcohol Consumption and Sedative Use on life satistaction in
Portuguese Social Workers”, The International Journal Of Interdisciplinary Social Sciences,Volume 3, Number 2,
2008, p. 15 a 22.
7
Alcina Martins, “Frauen in der Geschichte der Wollfahrtspflege in Portugal”, Die geschichte der sozialen arbeit in
europa: Wichtige Pionierinnen und ihr Einfluss auf die Entwicklung internationaler Organisationen, Sabine Hering,
Berteke Waaldijk (ed), Hamburg, Opladen, 2002, pág 173 a 182. Alcina Martins, “Women in the History of Social
Work in Portugal”, History of Social Work in Europe (1900-1960).Female Pioneers and their Influence on the
Development of International Social, Organisations, Sabine Hering, Berteke Waaldijk (ed), Hamburg, Opladen,
2003, pág 177 a 185.
8
Alfredo Henriquez e Alcina Martins (org.), Serviço Social no Feminino, Lisboa, CPIHTS, 1997 integra o capítulo
de Alcina Martins, “As Mulheres e as suas organizações na emergência e institucionalização do Serviço Social