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Padrões brasileiros
Até a segunda metade do século XIX, os modelos de tensão e frequência existentes no Brasil ora
seguiam as referências europeias, ora as americanas, em virtude do custo, local ou procedência
dos equipamentos fornecidos. Essa diversidade só deixou de existir a partir da década de 1960,
quando as medidas foram uniformizadas por meio de leis e decretos. Conheça esse processo.
Aclamação, hoje Praça da República, também elétrica correta. Como o Brasil tem dimensões
no Rio de Janeiro, com energia fornecida de um territoriais, até que isso se tornasse uma verdade no
locomóvel com dois dínamos. País, muito tempo e trabalho foram necessários.
Em seguida, em 1883, a cidade de Campos
dos Goytacazes, litoral norte fluminense, foi a Frequência elétrica
primeira cidade sul-americana a receber iluminação
elétrica pública. O imperador inaugurou naquele A frequência elétrica é uma grandeza física
município uma máquina térmica acionadora por que indica quantos ciclos a corrente elétrica
três dínamos com potência de 52 kW, que era completa em um segundo. Se ela não for a
capaz de fornecer energia para 39 lâmpadas de correta, os equipamentos elétricos não funcionam
duas mil velas cada. Considerando que a lâmpada ou funcionam de modo inadequado. Quando as
elétrica foi inventada por Thomas Alva Edison em empresas de eletricidade começaram a se instalar
1879, podemos perceber como o Brasil, de fato, no Brasil, elas funcionavam de acordo com as
era pioneiro na aplicação dessa tecnologia e seus máquinas importadas, projetadas para determinada
experimentos eram contemporâneos aos dos demais frequência. As advindas da Alemanha funcionavam
países desenvolvedores de técnicas, equipamentos e em 50 Hz, e as americanas em 60 Hz.
conceitos relativos à eletricidade. O engenheiro Duílio Leite explica a origem
Mas a definição de padrões se fez mais dessas diferenciações: “sempre houve duas
importante só depois que a energia passou a frequências para o sistema de potência, 50 Hz
ser gerada no País em usinas, que ampliavam na Europa e 60 Hz na América do Norte (Estados
a capacidade produtiva e potencializavam Unidos e Canadá)”. A origem, no primeiro caso,
a distribuição. A primeira usina de geração conta Duílio, é que “os europeus sempre pensaram
hidrelétrica para uso privado também é de 1883. no sistema métrico, múltiplos e submúltiplos de
Ela, a Usina do Ribeirão do Inferno, aproveitava as 10 (como no caso do metro, decímetro, centímetro,
águas do afluente do rio Jequitinhonha, localizado etc.). Por isso, pensaram que o segundo deve
na cidade de Diamantina, em Minas Gerais. ter 100 meios ciclos ou 50 ciclos”, surgindo aí a
Seis anos depois, em 1889, no ano da definição da frequência em 50 Hz, porque ela é
Proclamação da República, foi inaugurada a dependente de tempo em segundos.
primeira hidrelétrica para serviço de utilidade Por sua vez, “os americanos pensaram que, como
pública também em Minas Gerais, mas, dessa vez, a frequência depende do tempo e o sistema do tempo
no município de Juiz de Fora. A usina, chamada sexagesimal é universal, a hora tem 60 minutos, o
de Marmelos-Zero, foi instalada no rio Paraibuna, minuto tem 60 segundos, portanto, o segundo deve
próxima à estrada União-Indústria, que ligava a ter 60 ciclos. Parece lógico, não?”, questiona o ex-
cidade de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, a diretor da divisão de potência do IEE/USP.
Juiz de Fora. Em Marmelos-Zero foram instalados Mas não só dessas duas faixas de frequência
dois geradores monofásicos de 125 kW cada, com vivia o mundo e, em especial, o Brasil. A adoção
tensão de 100 V e frequência de 60 Hz. de uma frequência para o intercâmbio energético
Com a instalação de usinas, a energia gerada dentro de um mesmo país era imprescindível, mas
no País passou a atender, gradativamente, a mais como o Brasil é territorialmente muito grande,
tipos de consumidores. A iluminação pública, os as faixas de frequência adotadas até a metade do
transportes públicos, o fornecimento para empresas século XX eram diversas, como apresenta o livro
e, por último, o atendimento a residências. Aos Energia elétrica no Brasil. Além da divisão entre 60
poucos, a energia elétrica foi se tornando parte da Hz e 50 Hz, havia cidades como Curitiba, no Estado
vida das pessoas, mas, para que o fornecimento do Paraná, que adotava a frequência de 42 Hz.
pudesse atingir cada vez mais consumidores, a Outros exemplos da pluralidade brasileira eram as
geração tinha que aumentar e os equipamentos a cidades de Jundiaí, em São Paulo, e de Petrópolis,
serem beneficiados por essa energia tinham que no Rio de Janeiro, que utilizavam 40 Hz e 125 Hz,
seguir um mesmo padrão de grandezas elétricas. respectivamente.
Assim, as máquinas tinham que estar Na Europa, no mesmo período, de acordo com
preparadas para receber a tensão exata de o livro, coexistiram até 11 frequências diferentes.
fornecimento, caso contrário, poderiam não Na Alemanha, a frequência utilizada era de 50 Hz.
funcionar e, inclusive, oferecer risco aos usuários e Assim, as cidades brasileiras que importavam mais
deveriam estar também de acordo com a frequência equipamentos alemães utilizavam essa frequência
Memória da eletricidade 62
Tensão