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Sistemas Elétricos de

Potência
Aula 1: Introdução ao curso

Prof. Raphael Paulo Braga Poubel (poubel@cefetmg.br)


Sumário

Introdução ao curso:
1 - Histórico dos Sistemas de Energia Elétrica
2 - Energia Elétrica Impacto na Sociedade
3 - Fontes de Energia Elétrica tradicionais e alternativas
4 - O Mercado de Energia Elétrica
5 - O Futuro dos Sistemas de Energia Elétrica

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INTRODUÇÃO AO CURSO
Histórico dos sistemas de energia elétrica
Histórico dos sistemas de energia elétrica

A história da geração de energia é longa e complexa, marcada por inúmeros


marcos tecnológicos, conceituais e técnicos, provenientes de centenas de
contribuintes.
Muitos relatos começam a história da energia com a demonstração da
condução elétrica pelo inglês Stephen Gray, que levou à invenção, em 1740,
dos geradores de atrito de vidro em Leyden, Alemanha.
Esse desenvolvimento é dito ter inspirado os famosos experimentos de
Benjamin Franklin, bem como a invenção da bateria por Alessandro Volta, da
Itália, em 1800, o primeiro "arco elétrico" eficaz de Humphry Davy em 1808 e,
em 1820, a demonstração da relação entre eletricidade e magnetismo por
Hans Christian Oersted.

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Histórico dos sistemas de energia elétrica

Em 1820, talvez a contribuição mais crucial para os sistemas modernos de


energia, Michael Faraday e Joseph Henry inventaram um motor elétrico
primitivo e, em 1831, documentaram que uma corrente elétrica pode ser
produzida em um fio próximo a um ímã em movimento — demonstrando o
princípio do gerador.
A invenção do primeiro dínamo rudimentar é creditada ao francês Hippolyte
Pixii em 1832.
Antonio Pacinotti o aprimorou para fornecer energia contínua de corrente
contínua (CC) até 1860. Em 1867, Werner von Siemens, Charles Wheatstone
e S.A. Varley quase simultaneamente conceberam o "gerador eletrodinâmico
autoexcitado".

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Histórico dos sistemas de energia elétrica

Talvez a melhoria mais importante tenha ocorrido em 1870, quando um


inventor belga, Zenobe Gramme, desenvolveu um dínamo que produzia uma
fonte estável de CC, bem adequada para alimentar motores — uma
descoberta que gerou um surto de entusiasmo sobre o potencial da
eletricidade para iluminar e energizar o mundo.
Em 1877, à medida que as ruas de muitas cidades ao redor do mundo
estavam sendo iluminadas por iluminação de arco (mas não em cômodos
comuns, pois as luzes de arco ainda eram extremamente brilhantes), o
americano Charles F. Brush, com base em Ohio, havia desenvolvido e
começado a vender o design de dínamo mais confiável até aquele momento.

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Histórico dos sistemas de energia elétrica

Um grupo de pensadores visionários estava ativamente explorando a


promessa da distribuição de eletricidade em larga escala. Eventualmente,
Thomas Edison inventou uma lâmpada incandescente menos potente em
1879 e, em setembro de 1882 ele estabeleceu uma estação geradora
central na Pearl Street (Figura) no sul de Manhattan.

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Histórico dos sistemas de energia elétrica

Exibição da Westinghouse Electric Corp. de motores elétricos construídos


com base na patente de Nikola Tesla, juntamente com demonstrações de
como eles funcionam, na Exposição Mundial Colombiana de 1893.

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INTRODUÇÃO AO CURSO
Evolução do sistema elétrico brasileiro
Evolução do sistema elétrico brasileiro

A aplicação de energia elétrica no Brasil pode ser agrupada em cinco


grandes períodos e está intimamente ligada ao seu desenvolvimento
industrial e a políticas governamentais [3].

Os grandes períodos podem ser definidos como a seguir:


• do Brasil Império até a República, período que se estende até 15 de
novembro de 1889;
• da proclamação da República até o governo de Getúlio Vargas (1930);
• do governo Getúlio Vargas até Juscelino Kubistchek;
• do governo Juscelino Kubistchek à Ditadura Militar;
• da Ditadura Militar ao governo Fernando Henrique.

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Primeiro período: brasil império

Durante a era monárquica no Brasil, a economia era predominantemente


agrária, com pouca presença industrial e quase nenhuma indústria de
eletricidade.

A introdução da eletricidade, impulsionada pela invenção da lâmpada


incandescente por Thomas Edison, focou principalmente na iluminação
pública. Em 1879, o imperador D. Pedro II autorizou Edison a implementar
sistemas de iluminação pública usando suas invenções.

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Primeiro período: brasil império

Isso levou à primeira instalação de iluminação pública com lâmpadas


incandescentes na Estação Central da Estrada de Ferro Dom Pedro II, atual
Central do Brasil, e em um trecho da Praça da República.

Nesse período, também foi estabelecida a primeira usina hidrelétrica


brasileira em Diamantina, em 1883, e a usina Marmelos Zero em Juiz de Fora,
em 1889.

O setor elétrico era gerido pela iniciativa privada, com pouca intervenção
governamental, e a rede de transmissão era limitada, com usinas localizadas
próximas aos centros de consumo.
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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Primeiro período: brasil império

Isso resultou em uma época em que o sistema elétrico era administrado por
produtores independentes, sem muitas restrições na exploração e
comercialização da energia elétrica.

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Segundo período: proclamação da república (1889 a 1930)

Após o fim da monarquia e o início da República brasileira em 1889, uma


série de marcos e desenvolvimentos moldaram o setor de energia elétrica.

O governo de Deodoro da Fonseca estabeleceu a regulamentação inicial,


concedendo a Thomas Edison o privilégio de introduzir aparelhos de
iluminação pública no país.

Durante a década seguinte, houve expansão do sistema elétrico,


destacando-se a criação das hidrelétricas Monjolinho e Piracicaba em São
Paulo.

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Segundo período: proclamação da república (1889 a 1930)

O surgimento da São Paulo Railway Light and Power Company Ltda. e da Rio
de Janeiro Tramway, Light and Power Company Ltda. trouxe iluminação e
transporte elétrico para São Paulo e Rio de Janeiro.

As usinas hidrelétricas, como a Parnaíba e a Billings, impulsionaram o


crescimento do setor, culminando na criação da Comissão Federal de
Forças Hídricas em 1920.

A Amforp, criada nos Estados Unidos, expandiu-se pelo Brasil, concentrando-


se em áreas fora do controle da Light, como o interior de São Paulo e várias
capitais estaduais.
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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Segundo período: proclamação da república (1889 a 1930)

Até a década de 1930, o setor elétrico brasileiro operava com sistemas


independentes e isolados, dominados por empresas como a Light e a
Amforp, enquanto a regulamentação governamental era incipiente e permitia
influência estrangeira nos preços e condições de venda.

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Terceiro período: governo Getúlio Vargas (1930 a 1954)

A ascensão de Getúlio Vargas em 1930 e sua liderança por 15 anos


trouxeram um forte sentimento nacionalista ao Brasil.

A discussão sobre o Código de Águas foi retomada, resultando no Decreto


n. 20.395 de 1931, que buscava limitar o monopólio da Amforp.

Mudanças regulatórias, como a revogação da "cláusula ouro" em 1933,


afetaram as empresas Light e Amforp.

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Terceiro período: governo Getúlio Vargas (1930 a 1954)

A criação de agências como o Conselho Nacional de Água e Energia em


1939 marcou uma abordagem mais regulatória, influenciando a indústria e
levando a uma redução de investimentos estrangeiros.

Durante esse período, o Brasil passou por dificuldades de abastecimento de


energia devido à Segunda Guerra Mundial e adotou medidas de emergência
em 1942.

Nas décadas de 1960 e 1970, houve desenvolvimento de grandes projetos


hidrelétricos, incluindo o Complexo Urubupungá, que contribuiu para
aumentar significativamente a capacidade instalada do país.
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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Jupiá

Ilha Solteira

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Quarto período: governo militar (1964 a 1985)

Durante o governo militar que durou 21 anos, presidido pelos generais


Humberto Castelo Branco, Artur da Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici,
Ernesto Geisel e João Figueiredo, a economia brasileira e o setor elétrico
passaram por distintos períodos:

1964 a 1967: Busca de saneamento financeiro e estabilização econômica.


1968 a 1973: "Milagre econômico", crescimento expressivo do PIB e
expansão do setor elétrico.
1974 a 1985: Fim do "milagre econômico", endividamento externo
crescente e dificuldades no setor elétrico devido à inflação.

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Quarto período: governo militar (1964 a 1985)

No setor elétrico, houve transformações significativas, incluindo a criação do


Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica (DNAEE) em 1969 e
mudanças tarifárias em 1971.

O choque do petróleo em 1973 impulsionou investimentos e expansão do


setor hidrelétrico. O Plano 90 estabeleceu metas ambiciosas de
crescimento, levando à construção de usinas como Tucuruí e Itaipu.

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Quarto período: governo militar (1964 a 1985)

Em 1984, a Usina Hidrelétrica Tucuruí foi inaugurada, com aumento na


capacidade de geração. Itaipu entrou em operação em 1984, e a energia foi
escoada através de complexas linhas de transmissão.

A criação do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel)


em 1985 buscava eficiência energética. Apesar do desenvolvimento, o
período encerrou com desafios financeiros no setor elétrico devido a
restrições impostas pelo governo e inflação.

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Quinto período: contemporâneo (a partir de 1985)

Nesse período, marcado pelo fim do governo militar e o retorno à


democracia com eleições diretas, houve presidentes como José Sarney
(1985-1990), Fernando Collor de Mello (1990-1992) e Itamar Franco (1992-
1995).

Sob José Sarney, ocorreu um aumento significativo da inflação e o insucesso


de vários planos para combatê-la, incluindo o Plano Cruzado e o Plano
Bresser. A Constituição de 1988 trouxe mudanças que afetaram o setor
elétrico, eliminando o IUEE e substituindo-o pelo ICMS.

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Quinto período: contemporâneo (a partir de 1985)

Durante a gestão de Fernando Collor de Mello, foi criado o Programa


Nacional de Desestatização (PND) em 1990, visando à privatização de
empresas controladas pela Eletrobras. Também foi criado o Sistema
Nacional de Transmissão da Energia Elétrica (Sintrel).

No governo de Itamar Franco e posterior de Fernando Henrique Cardoso


(1995-2003), a estabilização da moeda permitiu a reestruturação do setor
elétrico. Foram promulgadas leis que estabeleceram tarifas diferenciadas e
permitiram a existência de concessionários nos níveis de geração,
transmissão e distribuição.

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Quinto período: contemporâneo (a partir de 1985)

A criação da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a implantação da


nova estrutura do sistema elétrico ocorreram nesse período.

Diversas privatizações ocorreram, como a venda da Escelsa e Light Serviços


de Eletricidade S.A. A criação do Mercado Atacadista de Energia (MAE) e do
Operador Nacional do Sistema (ONS) também tiveram lugar nesse período
de reestruturação do setor elétrico.

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INTRODUÇÃO AO CURSO
Energia elétrica impacto na sociedade
Energia elétrica impacto na sociedade

Produção de energia elétrica nos EUA - 2004 [2]

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Energia elétrica impacto na sociedade

Geração de energia elétrica nos EUA - 2005 [2]

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Energia elétrica impacto na sociedade

Custo de combustíveis nos EUA [2]

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INTRODUÇÃO AO CURSO
Fontes de energia elétrica tradicionais e alternativas
Fontes tradicionais e alternativas

Energia hidráulica [2]

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Fontes tradicionais e alternativas

Energia termelétrica - Ciclo Rankine [2]

Rendimento: 35-40%
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Fontes tradicionais e alternativas

Energia termelétrica - Ciclo Brayton [2]

Rendimento: 35%
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Fontes tradicionais e alternativas

Energia termelétrica - Usina Nuclear [2]

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Fontes tradicionais e alternativas

Energia Eólica:

Potência de uma fonte de Energia Eólica:

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Fontes tradicionais e alternativas

Coeficiente de performance de geração eólica:

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Evolução do sistema elétrico brasileiro

Na prática o máximo atingível é próximo a 0,45 para um ângulo de inclinação


igual a 0 graus. (o ângulo é 0 quando as pás são verticais ao vento).
As curvas para diferentes valores do ângulo de passo, teta, demonstram que
a energia captada a partir do vento pode ser controlada ao regular o ângulo
de passo das pás (pitch-angle), e, dessa forma, "liberar" parte do vento em
velocidades muito altas para evitar que a saída de energia exceda o valor de
projeto (nominal).
Isso significa que o ângulo de passo das pás permite ajustar a quantidade de
vento aproveitada para evitar excessos na produção de energia em relação
ao valor para o qual o sistema foi projetado.

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Fontes tradicionais e alternativas

Energia Eólica:

Gerador de indução diretamente conectado à rede [2]:

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Fontes tradicionais e alternativas

Energia Eólica:

Gerador de indução de rotor bobinado duplamente alimentado [2]:

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Fontes tradicionais e alternativas

Energia Eólica:

Interface de eletrônica de potência conectada ao gerador (gaiola de esquilos ou


gerador imãs permanentes [2]:

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Fontes tradicionais e alternativas

Energia Fotovoltaica:

Características das células fotovoltaicas:

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Fontes tradicionais e alternativas

Energia Fotovoltaica:

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Referências

Para a preparação da presente aula, as seguintes referências “principais”


foram utilisadas:

[1] MONTICELLI, Alcir José; GARCIA, Ariovaldo. Introdução a sistemas de energia


elétrica. Ed Unicamp, 1999.

[2] MOHAN, Ned. Electric power systems: a first course. John Wiley & Sons, 2012.

[3] ROBBA, Ernesto João et al. Análise de sistemas de transmissão de energia elétrica.
Editora Blucher, 2021.

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