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Geração, Transmissão e Distribuição de Energia – ETEC José Rocha Mendes

Introdução aos Sistemas


Elétricos de Potência – SEP

Histórico
Na história da sociedade, a energia elétrica, desde a sua descoberta, sempre ocupou
lugar de destaque. A eletricidade é a forma mais fácil de se transportar energia para
a sua utilização nos processos de manufatura. Ela surgiu como forma de substituir a
energia da máquina a vapor, pilastra mestra da revolução industrial.
Muito da tecnologia hoje em uso deve-se a grandes pioneiros e empreendedores da
eletricidade, podemos citar alguns deles:
. James Watt 1736 – 1819 (Escocês); mecânico, concebeu o princípio da máquina a
vapor, que possibilitou a revolução industrial. A unidade de potência útil foi dada em
sua homenagem (watt).
. Alessandro Volta 1745 - 1827 (Italiano); em 1800 anunciou a invenção da bateria. A
unidade de força eletromotriz foi criada em sua homenagem (volt).
. André Marie Ampère 1775 - 1836 (Francês); iniciou pesquisa em 1820 sobre campos
elétricos e magnéticos a partir do anunciado de Oersted. Descobriu que as correntes
agiam sobre outras correntes. Elaborou completa teoria experimental e matemática
lançando as bases do eletromagnetismo. A unidade de corrente elétrica foi escolhida
em sua homenagem (ampère).
. Hans Christian Orsted 1777- 1851 (Dinamarquês); físico e químico reconhecido por
ter descoberto que as correntes elétricas podem criar campos magnéticos que são
parte importante do eletromagnetismo. As suas descobertas moldaram a filosofia e os
avanços na ciência durante o final do século XIX.
. Georg Simon Ohm 1789-1854 (Alemão); em 1827 enunciou a lei de Ohm. Seu
trabalho só foi reconhecido pelo mundo científico em 1927. As unidades de
resistência, reatância e impedância elétrica foram escolhidas em sua homenagem
(ohm).
. Michael Faraday 1791-1867 (Inglês); físico e químico, em 1831 descobriu a indução
eletromagnética. Constatou que o movimento de um imã através de uma bobina de
fio de cobre causava fluxo de corrente no condutor. Estabeleceu o princípio do motor

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elétrico. Considerado um dos maiores experimentalistas de todos os tempos. A


unidade de capacitância é em sua homenagem (F).
. Joseph Henry 1797-1878 (Americano); descobriu a indutância de uma bobina. Em
sua homenagem seu nome foi dado à unidade de indutância (henry).
. Robert Kirchhoff 1824–1887 (Alemão); em 1847 anunciou as leis de Kirchhoff para
correntes e tensões.
. Thomas Alva Edison 1847-1931 (Americano); em 1879 inventou a lâmpada elétrica.
Patenteou 1100 invenções: cinema, gerador elétrico, máquina de escrever, etc. Criou
a Edison General Electric Company. Foi sócio da “General Electric Company”. Instalou
em 1882 a primeira usina de geração de energia elétrica do mundo com fins
comerciais, na área de Wall Street, Distrito Financeiro da cidade de New York. A
Central gerava em corrente contínua, com seis unidades geradoras com potência total
de 700 kW, para alimentar 7200 lâmpadas em 110 V. O primeiro projeto de êxito de
central elétrica havia sido instalado no mesmo ano em Londres, com capacidade de
geração para 1000 lâmpadas.
. William Stanley 1858-1916 (Americano); em 1885/86 desenvolveu comercialmente o
transformador.
. Nikola Tesla 1856-1943 (Croata-Americano); em 1888 inventou dos motores de
indução e síncrono. Inventor do sistema polifásico. Responsável pela definição de 60
Hz como frequência padrão nos EUA. A unidade para densidade de fluxo magnético
é em sua homenagem (T).
. George Westinghouse 1846-1914 (Americano); inventor do disjuntor a ar. Comprou
a patente do recém inventado transformador dos ingleses Lucien Gaulard e John
Dixon Gibbs. Comprou a patente do motor elétrico de Tesla. Em 1886 organizou a
Westinghouse Electric Company. Venceu a “batalha das correntes” contra Edison.

Os Sistemas Elétricos de Potência podem ser definidos como conjunto de


equipamentos físicos e elementos de circuitos elétricos conectados, que atuam de
modo coordenado, com o intuito de gerar, transmitir e distribuir Energia Elétrica aos
consumidores. A introdução dos Sistemas Elétricos de Potência remonta de meados
do século XIX, sendo os principais fatos ocorridos conforme a cronologia a seguir:
1831 – Indução eletro-magnética – Michael FARADAY
1867 – Dínamo – Werner von SIEMENS
1879* – Iluminação elétrica da Estação Central do Brasil

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1881 – Transformador – GAULARD-GIBBS


1882 - Primeiro “Sistema” de Distribuição de energia elétrica
Thomas EDISON - Nova York – Pearl Street (540 KW – 110 Vcc)
1883* – Primeiras Usinas brasileiras
Termoelétrica em Campos - RJ – 52KW (39 lâmpadas)
Hidroelétrica em Diamantina - MG – mineração
1886 – Primeiro Sistema CA – William STANLEY e Franklin POPE – George
WESTINGHOUSE - Great Barrington-MA (500V – 3KV – 100V)
1888 – CAMPO GIRANTE - NIKOLA TESLA
1889* – Primeira “grande” hidrelétrica brasileira
Marmelos - Juiz de Fora - MG – 250kW – 1KV (monofásica)
1891 – Primeiro sistema trifásico – Alemanha – 135Km
1892 – Motor de indução (CA) – Nikola TESLA
1895 - Entra em operação Complexo de Niagara Falls (20MW/30Km)
Westinghouse – Vitória do Sistema CA
1897 – Descoberta do elétron – John THOMSON
1920 – Primeiras interconexões regionais nos EUA
1948* – Criação da CHESF – UHE Paulo Afonso
1954 – Primeira linha de transmissão em alta tensão CC - LT HVDC – Suécia (100KV
– 100km)
1957 – Primeira Usina Nuclear - Shippingport, PA – WESTINGHOUSE
1965 – Grande Blecaute nos EUA
Década de 1970 – Crise do petróleo – Energias alternativas
1975* – Início da construção de UHE Itaipu
1976* – Início da construção da UHE de Tucuruí
1982* – Angra I entra em operação
1993 – Início da construção de Três Gargantas (China)
* Eventos ocorridos no Brasil

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Estrutura de um Sistema Elétrico de Potência


Normalmente, os sistemas elétricos de potência podem ser divididos em três grandes
blocos:
Geração: A geração de energia elétrica é a transformação de qualquer tipo de energia
em energia elétrica, ou seja, tem a função de converter alguma forma de energia
(hidráulica, térmica, eólica, solar, etc.) em energia elétrica;
Transmissão: transporta a energia elétrica dos Centros de Produção aos Centros de
Consumo. O transporte é realizado por linhas de transmissão de alta potência,
geralmente usando corrente alternada, que de uma forma mais simples conecta uma
usina ao consumidor. A transmissão também, pode transportar a energia a outros
sistemas elétricos que estão interligados. Uma linha de transmissão não armazena
energia elétrica – toda a energia fornecida na geração é transmitida à carga, exceto
pelas perdas no sistema;
Distribuição: faz a distribuição da energia elétrica recebida do sistema de transmissão
aos grandes, médios e pequenos consumidores. A rede de distribuição de energia
elétrica é um segmento do sistema elétrico, cuja construção, manutenção e operação
é responsabilidade das companhias distribuidoras de eletricidade. As redes de
distribuição alimentam consumidores industriais, consumidores comerciais e de
serviços e consumidores residenciais.

Estrutura de um Sistema Elétrico de Potência

Num sistema elétrico de potência, também temos sistemas de Cogeração de Energia.


De acordo com a ANEEL (Agencia Nacional de Energia Elétrica), “Cogeração de
energia é definida como o processo de produção combinada de calor e energia elétrica
(ou mecânica), a partir de um mesmo combustível, capaz de produzir benefícios
sociais, econômicos e ambientais. A atividade de cogeração contribui efetivamente

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para a racionalização energética, uma vez que possibilita maior produção de energia
elétrica e térmica a partir da mesma quantidade de combustível”.
Diferentemente da geração, na cogeração a energia térmica, ou outro tipo de energia,
é utilizado diretamente nos processos de manufatura, tais como fornos, caldeiras,
entre outros. A cogeração é o reaproveitamento dos “resíduos” de energia dessas
fontes para a geração de energia elétrica diminuindo, assim, as perdas e,
consequentemente, aumentando o rendimento e o aproveitamento das fontes de
energia.
A cogeração é a forma mais eficiente de gerar calor e energia elétrica a partir de uma
mesma fonte de energia. Comparando a utilização de combustível fóssil com a
quantidade de calor que é normalmente gasta no processo de geração de energia, a
cogeração alcança níveis de eficiência 3 vezes maior, podendo chegar a 4 vezes, do
que no processo convencional de geração. No entanto a cogeração passou a ser
utilizada há muito pouco tempo. No meio da década de 80, com o preço do gás natural
relativamente baixo, a cogeração tornou-se uma alternativa atrativa como uma nova
forma de geração de energia elétrica. De fato, a cogeração é um dos maiores
responsáveis pela grande diminuição da construção de usinas hidrelétricas e
termonucleares ocorrida na década de 80. Hoje a cogeração corresponde a mais da
metade da capacidade das novas usinas instaladas na América do Norte na última
década. Os equipamentos de cogeração podem utilizar outros combustíveis além do
gás natural.
Existem instalações em operação que utilizam madeira, bagaço de cana-de-açúcar, e
outros combustíveis dependendo do local e disponibilidade. As implicações
ambientais da cogeração são bem menores quando comparadas às do processo
convencional de geração, não apenas pela sua inerente eficiência, mas também pelo
seu caráter descentralizador. Isto se deve ao fato de ser impraticável o transporte de
calor (energia térmica) a grandes distâncias, e os equipamentos de cogeração são
localizados fisicamente próximos aos processos que utilizam calor. Desta forma a
energia elétrica tende a ser gerada.

O sistema de produção de energia elétrica do Brasil pode ser classificado como um


sistema hidrotérmico de grande porte, com forte predominância de usinas hidrelétricas
e com múltiplos proprietários.

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A maior parte da capacidade instalada é composta por usinas hidrelétricas, que se


distribuem em 14 diferentes bacias hidrográficas nas diferentes regiões do país de
maior atratividade econômica.
Um diagrama unifilar de um sistema elétrico de potência pode ser representado como
na figura a seguir,

127/220V

Exemplo de diagrama unifilar de um sistema elétrico de potência

A geração de energia é realizada por geradores síncronos acoplados a sistemas de


conversão de energia (turbinas hidráulicas, a vapor, de reação, eólicas, etc.) que
conferem o movimento de rotação no eixo do gerador. Normalmente o nível de tensão
nos geradores é de 6,9 KV a 30 KV. Os centros de consumo geralmente estão
afastados dos centros de geração, assim, é necessária a transmissão dessa energia
nos sistemas de transmissão e de subtransmissão de energia. O sistema opera com
tensões trifásicas, sendo os níveis de tensão praticados nos sistemas de transmissão
dependem do país, mas geralmente é estabelecido entre 13,8KV e 750KV. No Brasil
o nível de tensão estabelecido para as redes de transmissão é: 750KV; 500KV;
230KV; 138KV; 69KV; 34,5KV; 13,8KV. Sendo os níveis de tensão mais usuais
500KV, 230KV e 138KV.
Nos sistemas de sistemas de subtransmissão os níveis de tensão geralmente são de
69KV a 138KV; no Brasil de 34,5KV e 69KV.
Os níveis de tensão são ajustados em equipamentos denominados de subestações
de energia elétrica. As subestações de energia recebem várias classificações e

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denominações, assim, nas subestações de elevação de tensão (o próprio nome


define, são subestações responsáveis por elevar os níveis de tensão), ou seja, elevam
o nível da tensão de geração para a atenção de transmissão (de 6,9/30KV para
230/750KV) e subestações abaixadoras (que reduzem os níveis de tensão) que
reduzem o nível das tensões de transmissão para os níveis de tensão dos sistemas
de subtransmissão e distribuição. A tensão para os sistemas de distribuição primária
(níveis de tensão primária) varia entre 13,8KV e 34,5KV que alimentam outros
sistemas de distribuição, consumidores nesse nível de tensão ou, consumidores finais
nos níveis de tensão secundárias (110/220V ou 220/380V).
No Brasil o nível de tensão estabelecido para as redes de distribuição é:
. Distribuição primária em redes públicas: 34,5 e 13,8 kV
. Distribuição secundária em redes públicas: 380/220V e 220/127V, em redes
trifásicas; 440/220V e 254/127V, em redes monofásicas.
O sistema elétrico de potência é operado por empresas de geração e transmissão de
energia elétrica e por empresas concessionárias de distribuição de energia elétrica. O
sistema elétrico de potência brasileiro é interligado.

Estrutura de um sistema elétrico de potência

Um sistema elétrico de potência deve ser eficiente, ou seja, deve garantir:


. a continuidade: a energia elétrica deve sempre estar disponível ao
consumidor;
. a conformidade: o fornecimento de energia deve obedecer a padrões de
qualidade relativos aos valores das tensões fornecidas;

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. a flexibilidade: ser adaptável às mudanças contínuas de topologia exigidas


pelo desenvolvimento das regiões atendidas;
. a manutenabilidade: deve ser devolvido à operar o mais rápido possível em
caso de falhas ou de pane no sistema.

A geração e transmissão de energia elétrica em corrente alternada apresenta a


facilidade e flexibilidade em variar os níveis de tensão através de transformadores:
isso se constitui num dos maiores atrativos dos sistemas de corrente alternada
(juntamente com os geradores trifásicos síncronos), o que justifica sua ampla
utilização.
Existem sistemas de transmissão de energia elétrica em corrente contínua. A geração
é feita em corrente alternada que alimenta a linha de corrente contínua por meio de
um transformador e de um retificador eletrônico (de alta potência). Um inversor
eletrônico transforma a corrente contínua em corrente alternada no fim da linha de
transmissão para que a tensão possa ser reduzida pelo transformador. Para longas
distâncias, a transmissão em corrente contínua torna-se uma alternativa atraente.
Além disso, oferecem melhores possibilidades de controlar o fluxo de potência em
condições normais de operação e também em situações transitórias (como controle
de estabilidade).

Sistema de transmissão em CC da UHE de Itaipu

Características do Sistema Elétrico Brasileiro


A maior parte da capacidade instalada é composta por usinas hidrelétricas. São 14
diferentes bacias hidrográficas nas diferentes regiões do país de maior atratividade
econômica, ou seja, as bacias dos rios Tocantins, Madeira, Parnaíba, São Francisco,

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Paraguai, Paranaíba, Grande, Paraná, Tietê, Paraíba do Sul, Paranapanema, Iguaçu,


Uruguai e Jacuí onde se concentram as maiores centrais hidrelétricas.

Segundo dados da ANEEL, 2018, o Brasil possui no total 7.462 empreendimentos em


operação, totalizando 165.871.253 KW de potência instalada.

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Cenário em 2018

Matriz Elétrica Brasileira

Uma usina undi-elétrica é uma pequena central hidrelétrica: Pequena Central


Hidrelétrica (PCH), segundo definição da Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL), é uma usina de pequeno porte com capacidade instalada maior do que 3
MW e no máximo 30 MW.

Sistema de Geração
O sistema de geração é formado pelos seguintes componentes: Máquina primária,
geradores, transformador e sistema de controle, comando e proteção.

A Máquina Primária que faz a transformação de qualquer tipo de energia em energia


cinética de rotação para ser aproveitada pelo gerador. Por exemplo, a máquina que
transforma a energia liberada pela combustão do gás em energia cinética é a turbina
a gás. As principais máquinas primárias utilizadas hoje são motor Diesel, turbina
hidráulica turbina a vapor, turbinas a gás e eólicas. Normalmente as centrais elétricas
onde as máquinas primárias são turbinas a vapor, as centrais são classificadas em
relação ao combustível utilizado para aquecer o vapor. Onde ocorre o processo de
combustão as centrais são chamadas de termelétricas e onde ocorre o processo de
fissão nuclear são chamadas de termonucleares.
Uma vez gerada a energia elétrica, existe a necessidade de se compatibilizar o nível
da tensão de geração com o nível de tensão de transmissão e deste nível para o de

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distribuição até o consumidor final, elevando ou diminuindo os níveis de tensão ao


longo do sistema. O equipamento utilizado para elevar ou rebaixar o nível de tensão
é o transformador. Desta forma um grupo gerador que gera energia a uma tensão de
13.8 kV pode ser ligado a uma linha de transmissão de 69kV desde que um
transformador de 13,8/69 KV faça o ajuste da tensão.
Os sistemas elétricos devem ser interligados, assim, para interligar um grupo gerador
a uma rede de transmissão ou distribuição são necessários vários requisitos. Em
primeiro lugar, a tensão de saída do gerador não pode variar mais que 10% para cima
ou para baixo. O controle da tensão é feito através da excitatriz do próprio gerador.
No entanto, não basta apenas compatibilizar a tensão. É necessário que se faça o
sincronismo com a rede antes de comandar o fechamento da linha. Para que estas
medidas sejam tomadas, são necessários vários equipamentos de manobra, controle,
comando e proteção.

Geração de Energia Hidroelétrica


Toda eletricidade é proveniente de uma fonte de energia encontrada na natureza,
como os combustíveis fósseis, os ventos, entre outros. Nas hidrelétricas a fonte de
energia é a energia potencial de um volume de água, em função da diferença de
altitude entre o montante e a jusante.

Detalhe usina hidroelétrica

Para iniciar o processo de conversão da energia potencial da água em energia elétrica,


a água dos reservatórios é captada, através de um sistema de adução onde a água é
transportada através de condutos de baixa pressão. Os condutos de baixa pressão
possuem uma declividade muito baixa, pois a sua finalidade é apenas o transporte da

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água até a entrada dos condutos forçados, que conduzem a água até a casa de
máquinas onde se encontram as turbinas. A turbina hidráulica é uma máquina com a
finalidade de transformar a energia cinética do escoamento contínuo da água que a
atravessa em trabalho mecânico. Para isso elas são equipadas com uma série de pás
(ou conchas, no caso das turbinas Pelton). Quando a água atravessa essas pás, as
turbinas giram com uma grande força. A força com que gira essa turbina depende
inicialmente da altura da queda de água, que corresponde, aproximadamente, a
diferença de altitude entre a adução e a entrada da turbina. Existem várias formas de
conseguir um desnível aproveitável: Por represamento, onde uma barragem acumula
as águas dos rios em alturas necessárias para obtenção dessa energia. Neste caso
as casas de máquinas são localizadas nos pés das barragens. Por Desvio, onde uma
parte do rio é desviada de seu curso normal para aproveitar-se um desnível de terreno,
ou por derivação, onde parte da água de um rio é desviada e jogada em outro rio
aproveitando-se o desnível entre os dois rios. Nestes últimos as casas de máquinas
são localizadas o mais próximo possível da jusante dos desníveis.
Basicamente existem 2 tipos de turbinas hidráulicas: as turbinas de reação ou
propulsão e, as turbinas de ação ou impulso:
a) Turbinas de Reação (ou propulsão): São turbinas em que o trabalho mecânico é
obtido pela transformação das energias cinéticas e de pressão da água em
escoamento através do rotor. As turbinas de reação são as do tipo Francis e Kaplan.

Detalhe turbina Francis

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Detalhe turbina Kaplan

b) Turbinas de Ação (ou impulso): Aquela em que o trabalho mecânico é obtido pela
obtenção da energia cinética da água em escoamento através do rotor. As turbinas
de ação são as do tipo Pelton.

Detalhe turbina Pelton

Geração de Energia Termoelétrica


As máquinas a vapor foram às primeiras máquinas a produzirem energia mecânica
aproveitável para processos industriais. Por isto essas máquinas foram fundamentais
para o acontecimento da revolução industrial. Com o aparecimento da eletricidade, as
máquinas a vapor se tornaram peças fundamentais para a geração de energia elétrica,

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uma vez que já existia o domínio dessa tecnologia. As instalações de potência com
turbinas a vapor podem visar apenas a obtenção de energia elétrica ou mecânica ou
simultaneamente elétrica ou mecânica e vapor para o processo. Essas centrais podem
trabalhar em circuito aberto ou fechado, sendo o circuito aberto muito utilizado quando
se pretende utilizar calor para o processo.

Esquema usina Termoelétrica

O aquecimento da água é feito através da queima de algum combustível. Entretanto,


condições de baixo preço, existência na natureza ou processo de fabricação em
grande quantidade limitam o número de combustíveis usados tecnicamente: carvão,
óleo combustível, gás, óleo diesel dentre outros. Tendo em vista seu estado físico, os
combustíveis podem ser classificados em sólidos, líquidos ou gasosos. A combustão
ocorre na caldeira, dentro da câmara de combustão onde são injetados o combustível
e o comburente (ar). Após a combustão são retirados, como produto do processo,
gases e cinzas constituídos de produtos não queimados. A liberação de energia
térmica devido ao processo de combustão aquece a água na caldeira até evaporar.
Uma vez na tubulação um superaquecedor eleva a temperatura do vapor aumentando
assim a pressão para entrar na turbina. Ao passar pela turbina o vapor perde pressão
e vai para o condensador onde volta ao estado líquido e é bombeado de volta para a
caldeira. A turbina é a máquina que transforma a energia da pressão do vapor em
energia cinética de rotação e, através de um eixo de acoplamento, transmite essa
energia para o gerador.

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Detalhe turbina a vapor

As usinas termoelétricas também, podem ter turbinas a gás; em geral se usa gás
natural como o combustível para alimentar uma turbina de gás. A turbina a gás (TG)
é definida como sendo uma máquina térmica, onde a energia potencial termodinâmica
contida nos gases quentes provenientes de uma combustão é convertida em trabalho
mecânico ou utilizada para propulsão.
Os gases produzem uma alta temperatura através da queima, e são usados para
produzir o vapor para mover uma segunda turbina e, esta por sua vez de vapor – num
sistema de cogeração ou trabalhando em ciclos combinados. A diferença da
temperatura, que é produzida com a combustão dos gases liberados, torna-se mais
elevada do que uma turbina do gás e por vapor, portanto os rendimentos obtidos são
superiores, da ordem de 55%.

Detalhe turbina a gás

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As usinas termoelétricas constituem a principal forma de produção de eletricidade no


mundo atualmente, representando cerca de 70% da produção mundial. Elas são
amplamente utilizadas pelos países desenvolvidos, o que acirra os debates nas
conferências internacionais sobre recursos naturais e meio ambiente. No Brasil, onde
o uso é predominantemente de usinas hidroelétricas, as termoelétricas atuam para
abastecer as indústrias e, também, como fontes de reserva em casos de crise
energética. Mesmo assim, elas não ultrapassam os 7,5% da produção nacional de
eletricidade, e esse número só é alcançado quando todas as usinas estão em
funcionamento no país.
Ao longo das últimas décadas, o paradigma de que as térmicas apenas
complementariam a base hídrica foi sendo modificado. Cada vez mais, o setor
precisou contar com termelétricas para geração de base de modo a garantir a
segurança do sistema. Nesta nova realidade, as termelétricas a óleo combustível e a
diesel não são adequadas pois possuem um custo variável unitário (CVU) muito alto
e são chamadas a operar regularmente, impactando assim o preço da energia. Além
disso, um parque termelétrico com essa característica pode estimar o custo de água
de modo viesado, fazendo com que se turbine mais água do que o recomendado, o
que pode comprometer a segurança do sistema. Dessa forma, é preciso que o parque
termelétrico se adeque à nova realidade. Uma boa opção, e que já havia sido
imaginada anteriormente, são as termelétricas a gás natural. Atualmente, o gás
natural ainda figura como uma fonte adequada para se utilizar na base do sistema,
uma vez que, dentre as termelétricas, é a que emite menor índice de emissão de gases
do efeito estufa GEE e é capaz de apresentar CVU competitivo. O gás associado à
produção de petróleo dos campos de pré-sal pode ser utilizado para alavancar a
ampliação do gás na matriz brasileira.

Geração de Energia Termonuclear


As usinas termonucleares funcionam utilizando o mesmo princípio de funcionamento
das usinas térmicas, ou seja, as máquinas que entregam energia para o gerador são
as turbinas a vapor. O que torna essas usinas especiais é o combustível utilizado. Ao
invés de uma reação química de combustão, o que acontece é uma liberação de
energia a nível atômico. Em uma usina nuclear, a energia é gerada pelo processo de
fissão nuclear do urânio - ou seja, a quebra dos átomos - que ocorre dentro de uma
estrutura chamada de reator. Uma pequena pastilha de urânio enriquecido, com o

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tamanho de uma bala, é capaz de produzir a mesma eletricidade que 22 caminhões


tanques de óleo diesel. O combustível usado no reator é formado por centenas dessas
pastilhas. É um material radioativo, que se torna ainda mais radioativo com o processo
de fissão.

Esquema usina Termonuclear

O núcleo do átomo foi descoberto em 1911 por Rutherford ao analisar as partículas


liberadas pelos átomos, mas somente após a descoberta do nêutron por Chadwick
(James Chadwick, 1891 – 1974, físico britânico – prêmio Nobel em física em 1935
pela prova de existência do nêutron) e as pesquisas feitas pelo casal Joliot-Curie (Jean
Frédéric Joliot-Curie – 1900-1958 e Irène Joliot-Curie - 1897-1956 , trabalharam toda
a vida pesquisando a física nuclear, demonstraram a existência do nêutron e
descobriram a radioatividade, receberam o prêmio Nobel em química de 1935), em
1932 é que o núcleo começou a adquirir a sua real importância. O tamanho do núcleo
é muito pequeno. Ele ocupa o centro do átomo, e a carga total positiva, bem como
quase toda a massa do átomo está no núcleo. Ele é formado basicamente por prótons
e nêutrons. Os prótons possuem uma carga positiva numericamente igual à carga do
elétron (1.602x10-19C). Os nêutrons são eletricamente neutros. As partículas do
núcleo são chamadas de núcleos. As forças que mantém as partículas do núcleo
unidas entre si são provenientes da repulsão eletrostática entre os prótons e de forças
pequenas da natureza que aparecem dentro do núcleo que são chamadas de forças
nucleares.
O Brasil tem apenas duas usinas nucleares, Angra 1 e Angra 2, responsáveis pela
produção de 3% da energia consumida no país - para comparação, a usina hidrelétrica

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de Itaipu gera 15%. Angra 1 entrou em operação comercial em 1985 e, Angra 2, em


2001. A construção de uma terceira usina, Angra 3, foi iniciada há 35 anos, tem 62%
das obras executadas, mas atualmente o canteiro encontra-se paralisado.
A instalação das usinas em Angra levou em conta justamente a proximidade tanto do
Rio como de São Paulo. Dessa forma, é mais fácil transmitir a energia produzida para
os grandes centros de consumo. Além disso, estar perto do mar é importante, já que
é preciso muita água para resfriar o sistema - vale dizer que essa água não entra em
contato com a radioatividade. O reator usado em Angra 1 e Angra 2 é chamado PWR,
onde o processo de fissão é controlado com água pressurizada. É o tipo de reator
mais utilizado no mundo.

Geração de Energia Eólica


São hoje o que existe de mais moderno na área de geração de energia elétrica para
fins comerciais. Toda a energia renovável (exceto a geotérmica e a das marés), bem
como a energia dos combustíveis fósseis, é proveniente do Sol. O sol irradia 1014 KW
por hora de energia para a terra. Cerca de 1 a 2% dessa energia proveniente do Sol
é convertida em energia eólica. Isto corresponde a cerca de 50 a 100 vezes mais do
que a energia convertida em biomassa por todas as plantas do planeta.
Diferenças de temperatura fazem com que o ar circule. As regiões em volta do
equador, na latitude 0o, são mais atingidas pelo calor do sol do que o restante do
globo. Se não houvesse a rotação da terra o ar simplesmente circularia na direção
dos polos a 10 km de altitude, desceria e retornaria ao equador.
Uma turbina eólica obtém potência convertendo a força dos ventos em um torque
atuando nas pás do rotor. A quantidade de energia que o vento transfere para o rotor
depende da densidade do ar, da área do rotor, e da velocidade do vento.
Uma turbina eólica típica de 600KW possui um rotor com 43 a 44 metros de diâmetro,
o que significa que ocupa uma área de cerca de 1500m2. A área do rotor determina
quanta energia o rotor está apto “a retirar” do vento. Como a área do rotor aumenta
com o quadrado do diâmetro, uma turbina que possua um rotor 2 vezes maior recebe
2² = 4 vezes mais energia. Aerogerador (ou, turbina eólica) é o aparelho que converte
a energia eólica em elétrica.

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Esquema gerador Eólico

O potencial de geração de energia eólica no Brasil é estimado em cerca de 500GW,


de acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), energia
suficiente para atender o triplo da demanda atual de energia do Brasil. O número é
mais de três vezes superior ao atual parque nacional gerador de energia elétrica,
incluindo todas as fontes disponíveis, como hidrelétrica, biomassa, gás natural, óleo,
carvão e nuclear. Em dezembro de 2018, a capacidade de geração instalada somou
162,5GW, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Desse total, as
usinas eólicas responderam por 14,2GW, equivalente à capacidade instalada da usina
de Itaipu, de 14GW – quantidade suficiente para abastecer 22 milhões de residências.
A energia gerada com a força dos ventos ocupa o quarto lugar na matriz de energia
elétrica nacional. O potencial eólico de 500GW leva em conta apenas a geração
onshore (em terra) realizada por aerogeradores que representam o padrão atual, de
2MW a 3MW de potência, instalados em torres de 150m de altura.

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À flange do rotor está ligado um eixo de baixa rotação que é acoplada a um


multiplicador de velocidade.
Uma turbina de 600KW possui uma rotação relativamente baixa, cerca de 19 a 30
rpm.

Detalhe construtivo do gerador eólico

O multiplicador de velocidade é um dispositivo mecânico que transmite potência


através de dois eixos girando em velocidades diferentes. Em uma turbina de 600KW,
por exemplo, o ampliador transmite uma potência recebida da turbina através do eixo
de baixa rotação a uma velocidade de 19 a 30rpm para um gerador através do eixo
de alta rotação a uma velocidade de aproximadamente 1500rpm, isto é, 50 vezes mais
rápido. Por causa das perdas em função do atrito mecânico das engrenagens, a
temperatura do ampliador aumenta e um sistema de refrigeração a óleo é responsável
pela manutenção da temperatura dentro de faixas aceitáveis. O eixo de alta rotação
interliga o ampliador e o gerador. Ele está equipado com um freio a disco mecânico
de emergência que é usado no caso de o freio aerodinâmico falhar ou quando a
turbina está em manutenção. O gerador usado nas turbinas eólicas é um gerador de
indução ou gerador assíncrono, que utiliza o mesmo princípio de funcionamento do
motor assíncrono. Esta característica torna os geradores de turbinas eólicas mais
baratos e com um menor custo de manutenção. No entanto isso só é possível porque

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a potência máxima das turbinas eólicas fica compreendida em uma faixa que vai de
500 a 1500KW. O controlador eletrônico é um computador que monitora
continuamente as condições do vento na turbina e controla o mecanismo de
direcionamento da turbina, que tem a função de manter a turbina sempre
perpendicular à incidência do vento. No caso de algum defeito, como o
sobreaquecimento do gerador ou do ampliador, o controlador comanda a parada da
turbina e avisa o computador do operador via linha telefônica por meio de um modem.
O mecanismo de direcionamento utiliza um motor elétrico para virar o corpo da turbina
de forma que ela fique totalmente contra o vento. Ele é operado por um controlador
eletrônico que monitora a direção do vento utilizando o cata-vento. O sistema
hidráulico é utilizado para operar o freio aerodinâmico da turbina. Mudando se o
angulo de ataque das pás, pode-se variar a velocidade da turbina. Desta forma o
controlador atua no sistema hidráulico com o objetivo de manter a velocidade da
turbina constante. A unidade de refrigeração é responsável por manter a temperatura
do gerador e do ampliador dentro de uma faixa aceitável para que não se diminua a
vida útil destes equipamentos. Por isso o sistema de refrigeração possui um ventilador
elétrico independente que tem a função de resfriar o gerador, bem como o óleo que é
utilizado pelo ampliador.,

Detalhe de manutenção no gerador eólico

O papel da torre da turbina eólica é sustentar o corpo e o rotor da turbina. Geralmente


é uma vantagem a utilização de torres altas uma vez que a velocidade do vento cresce
conforme a distância do solo. Uma turbina de 600kW, hoje, fica suspensa a uma altura
que varia entre 40 e 60m, o que corresponde aproximadamente a uma altura de um

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prédio de 13 a 20 andares. As torres podem ser tubulares ou em treliça. Torres


tubulares são mais seguras para as pessoas que trabalham na manutenção, uma vez
que é utilizado o interior da torre para se alcançar o topo. A vantagem da torre em
treliça é que ela é bem mais barata.
O anemômetro é usado para medir a velocidade enquanto o cata-vento mede a
direção do vento. Os sinais eletrônicos enviados pelo transdutor de velocidade do
anemômetro são utilizados pelo sistema de controle da turbina para acioná-la quando
a velocidade do vento chegar a 5m/s. O computador, também, para a turbina
automaticamente se a velocidade do vento chegar a 25m/s com a finalidade de
proteger a turbina e seus arredores. Os sinais eletrônicos utilizados pelo transdutor de
direção do cata-vento são utilizados pelo sistema de controle para acionar o
mecanismo de direcionamento.

Geração de Energia Fotovoltaica


Quase todas as fontes de energia – hidráulica, biomassa, eólica, combustíveis fósseis
e energia dos oceanos – são formas indiretas de energia solar. Além disso, a radiação
solar pode ser utilizada diretamente como fonte de energia térmica, para aquecimento
de fluidos e ambientes e para geração de potência mecânica ou elétrica. Pode ainda
ser convertida diretamente em energia elétrica, por meio de efeitos sobre
determinados materiais, entre os quais se destacam o termoelétrico e o fotovoltaico.
A radiação solar pode ser diretamente convertida em energia elétrica, por meio de
efeitos da radiação (calor e luz) sobre determinados materiais, particularmente os
semicondutores. Entre esses, destacam-se os efeitos termoelétrico e fotovoltaico. O
primeiro se caracteriza pelo surgimento de uma diferença de potencial, provocada
pela junção de dois metais, quando tal junção está a uma temperatura mais elevada
do que as outras extremidades dos fios. Embora muito empregado na construção de
medidores de temperatura, seu uso comercial para a geração de eletricidade tem sido
impossibilitado pelos baixos rendimentos obtidos e pelos custos elevados dos
materiais.
O efeito fotovoltaico decorre da excitação dos elétrons de alguns materiais na
presença da luz solar (ou outras formas apropriadas de energia). Entre os materiais
mais adequados para a conversão da radiação solar em energia elétrica, os quais são
usualmente chamados de células solares ou fotovoltaicas, destaca-se o silício. A
eficiência de conversão das células solares é medida pela proporção da radiação solar

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incidente sobre a superfície da célula que é convertida em energia elétrica.


Atualmente, as melhores células apresentam um índice de eficiência de 25%.

Esquema de geração fotovoltaica

Atualmente há vários projetos, em curso ou em operação, para o aproveitamento da


energia solar no Brasil, particularmente por meio de sistemas fotovoltaicos de geração
de eletricidade, visando ao atendimento de comunidades isoladas da rede de energia
elétrica e ao desenvolvimento regional.
Existem muitos pequenos projetos nacionais de geração fotovoltaica de energia
elétrica, principalmente para o suprimento de eletricidade em comunidades rurais e/ou
isoladas do Norte e Nordeste do Brasil. Esses projetos atuam basicamente com quatro
tipos de sistemas: i) bombeamento de água, para abastecimento doméstico, irrigação
e piscicultura; ii) iluminação pública; iii) sistemas de uso coletivo, tais como
eletrificação de escolas, postos de saúde e centros comunitários e, iv) atendimento
domiciliar. Entre outros, estão as estações de telefonia e monitoramento remoto, a
eletrificação de cercas, a produção de gelo e a dessalinização de água.
Existem, também, sistemas híbridos, integrando painéis fotovoltaicos e grupos
geradores a diesel. O maior exemplo desse sistema no Brasil está localizado no
município de Nova Mamoré, Estado de Rondônia; está em operação, desde abril de
2001. O sistema a diesel possui 3 motores de 54 KW, totalizando 162 KW de potência
instalada. O sistema fotovoltaico é constituído por 320 painéis de 64 W, perfazendo
uma capacidade nominal de 20,48 KW. Os painéis estão dispostos em 20 colunas de
16 painéis, voltados para o Norte geográfico, com inclinação de 10 graus em relação
ao plano horizontal, ocupando uma área de aproximadamente 300 m2.

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Esquema de geração fotovoltaica

Principais tendências para o setor elétrico


A demanda mundial de energia elétrica deve continuar crescendo a um ritmo
acelerado. Para que seja viável atender à crescente demanda de energia, assim, é
imprescindível promover o uso eficiente dos recursos naturais. Além disso, outra
tendência que o setor deve se atentar é com relação à mudança de hábitos de
consumo impulsionada pela transformação digital. Nesse sentido, será cada vez mais
comum investimentos em inovações que promovam a eficiência e sustentabilidade do
setor elétrico.
As principais tendências para o futuro do setor elétrico podem ser elencadas como:
1. Diversificação da matriz energética
Nos próximos anos será possível constatar a popularização de soluções de fontes de
energia renováveis. Para promover a diversificação da matriz energética, a partir do
investimento em modernização e expansão da infraestrutura para o fornecimento de
serviços de energia sustentáveis, será preciso impulsionar investimentos em novas
tecnologias, mitigação dos impactos ambientais e inclusão social.
Pelo fato do Brasil possuir recursos naturais em abundância, o país terá maior retorno
sobre investimento ao incentivar geração e consumo a partir de fontes de energia
renováveis, tais como eólica e solar (fotovoltaica), por exemplo. Apesar da
diversificação de sua matriz energética, o país ainda precisa ter seu potencial
explorado de forma sustentável, promovendo o investimento em infraestrutura de
energia e em tecnologias de energia limpa.
Nesse sentido, será possível observar nos próximos anos um investimento cada vez
maior em Geração Distribuída e Energias Renováveis – expansão das fontes
renováveis de energia, seja na Transmissão e na Distribuição. Ao incentivar a
diversificação da matriz energética, a energia torna-se mais competitiva e acessível.

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De acordo com estudo sobre o mercado de energia global, em 2040, quase metade
(cerca de 48%) da energia usada no país deve vir de fontes limpas e renováveis.
2. Tecnologia e segurança de compartilhamento de dados
A tecnologia deve ser vista como uma forte aliada do setor elétrico. Isso porque
permite otimizar o custo e comercialização de energia para atender uma demanda
cada vez mais crescente. Por conta disso, nos próximos anos, vamos constatar um
investimento cada vez maior em inteligência artificial para revolucionar o sistema
elétrico e a relação com consumidor. Assim como, vamos passar a observar
investimentos em tecnologias para proteção e governança dos dados que auxiliem na
automatização da coleta, qualificação e segurança dos dados para promover a
melhoria da prestação de serviço e experiência do consumidor. Com isso, vamos
observar no setor elétrico a criação de modelos inovadores de negócios baseados na
disponibilidade de dados e informação.
3. Protagonismo do consumidor de energia
O consumidor se tornou protagonista no setor elétrico, passando a ter maior poder de
decisão sobre geração, armazenamento e comercialização da energia. Nesse
contexto, o modelo Energy as a Service (EaaS) torna-se uma forte tendência. Com
isso, o consumidor passa a ter maior liberdade de escolha do serviço de energia que
deseja contratar de forma transparente e facilitada por meio de soluções inovadoras
que promovem maior autonomia ao consumidor.
4. Mobilidade elétrica
Outra forte tendência é a aposta em carros elétricos. Apesar de desafiador, promover
uma mobilidade elétrica com baterias que podem se locomover pela cidade por meio
dos carros elétricos já é realidade em alguns países. Por conta disso, o
desenvolvimento de tecnologias e inovação em termos de armazenamento de energia
é considerada uma tendência irreversível, visto que diversos países já vem
incorporando essa tecnologia.
5. Armazenamento de energia
A tecnologia de armazenamento é outra tendência para o Brasil. O armazenamento
de energia em sistemas elétricos se torna cada vez mais viável ao se considerar o
advento das redes elétricas inteligentes. Trata-se de uma tecnologia incorporada ao
setor, seja para atendimento das necessidades das empresas (suporte a tensão e
reativos), seja para atendimento das necessidades dos consumidores. Embora seja
uma tecnologia ainda recente, especialistas apontam que os sistemas de

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armazenamento de energia já se mostram economicamente viáveis em determinadas


aplicações no Brasil. Por esse motivo, a indústria do armazenamento tem evoluído
consideravelmente, no intuito de se adaptar aos requisitos e avanços da tecnologia.
Os sistemas de armazenamento de energia fornecem uma variedade de soluções
tecnológicas para gerir o fornecimento de energia e criar uma infraestrutura energética
mais resistente.
O cenário atual impõe desafios e oportunidades ao mercado de energia, mas não há
dúvida que o futuro do setor elétrico será renovável. No entanto, para promover o uso
eficientes dos recursos naturais do planeta, será necessário investir em soluções
tecnológicas para modernização do setor elétrico.

Até 2030, o mercado livre, cada vez mais dinâmico e abrangente, alavancado pelas
reformas em debate e pelo avanço da digitalização, deve incorporar também os
recursos energéticos distribuídos como parte do portfólio de soluções, em combinação
com as usinas centralizadas e o sistema de transmissão. Empresas inovadoras têm
experimentado modelos de negócios que integram a comercialização de energia a
outros serviços, como geração distribuída, resposta da demanda, eficiência
energética, armazenamento, usinas virtuais, entre outros.

Novas tecnologias para geração de energia a partir de fontes


alternativas
Energia Eólica: pesquisas e estudos relacionados à energia eólica em alto mar, tem
encontrado desafios como a localização mais distantes da costa, turbinas flutuantes
e, também, a necessidade de interligar esse tipo de usina ao sistema de transmissão.
Outra nova tecnologia está relacionada com a turbina eólica sem hélices que, diferente
das turbinas tradicionais, apresenta menor risco para o ecossistema das aves e
menos ruídos. Também, tem sido foco de pesquisa o desenvolvimento e aplicação de
novos materiais supercondutores, considerando a capacidade para canalizar
eletricidade com zero resistência e muito pouca perda de energia.

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Turbina eólica sem hélices

Energia Solar: o desenvolvimento de painéis fotovoltaicos a partir de diferentes rotas,


como os concentradores de radiação, buscam obter maior eficiência a esta fonte
renovável. Entretanto, o aumento da eficiência ainda apresenta um desafio a ser
superado.
Biomassa: diversas são as matérias orgânicas utilizadas para a pesquisa de
tecnologias para a geração de energia. Algas, mandioca, babaçu, resíduos florestais
e vegetais são alguns exemplos de matérias orgânicas foco de pesquisa em
universidades, startups e empresas.
Geotérmica: as pesquisas de novas tecnologias visam a utilização da energia
geotérmica de forma mais segura. A utilização de nanoestruturas tem se configurado
como uma linha de pesquisa, que além da segurança pode aumentar em até 20 vezes
a capacidade dos trocadores de calor.

Esquema de uma usina geotérmica

Desafios desta fonte energética


Nem todas as localidades apresentam condições favoráveis para instalações
de usinas;
Perfurações para obter os recursos hidrotérmicos podem, às vezes, deflagrar
terremotos, principalmente no método de estimulação;
Necessidade de criar tecnologias que possam explorar fontes quentes de baixa
temperatura, às vezes abaixo de 100º C, já que são mais abundantes e mais próximas

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da superfície terrestre, o que reduz o risco de as perfurações interceptarem falhas


profundas.

Algumas soluções e inovações já existentes


Muitas tecnologias encontram-se em fase de pesquisa e desenvolvimento, com
protótipos de pequena escala, e se refere às tecnologias disruptivas ao utilizar novos
conceitos:
Makani kites: asas aerodinâmicas presas a uma estação terrestre. Os ventos fazem
girar os rotores enquanto as kites voam em loops;

Makani Kites

TYER Hummingbird: a turbina imita os movimentos das asas do beija-flor, gerando


energia em seu movimento vertical para cima e para baixo;

TYER Hummingbird

Torre eólica modular: o conceito básico é uma estrutura montada na forma de


colunas e painéis pré-moldados, feitos com concreto de alta resistência;
Drones que geram energia: as máquinas permanecem no ar como pipas para
captar a energia das correntes de ar em altitudes elevadas. A força dos ventos
empurra o drone para frente puxando um cabo ancorado para mover uma turbina de
energia;
Dióxido de carbono supercrítico: em vez de vapor, que atualmente é usado em
turbinas, é possível utilizar dióxido de carbono supercrítico, que requer menos energia
para movimentar motores e aumenta significativamente a conversão de energia
térmica-elétrica, resultando em mais eletricidade para a mesma quantidade de calor.

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A seguir, alguns exemplos de novas tecnologias para os Sistemas de Energia Elétrica:


Smart grids: as redes elétricas inteligentes combinam os sistemas de
transmissão e distribuição de energia com os recursos da Tecnologia da Informação.
Dotados desses novos aparatos e automatismos, esses sistemas ganham eficiência,
reduzem o desperdício de energia e possibilitam ao consumidor acompanhar (e
programar) o quanto é gasto de eletricidade. O desafio está relacionado com a
implementação das novas tecnologias nos sistemas de energia.
Geração Distribuída: geração elétrica realizada próxima do(s) consumidor(es)
independente da potência, tecnologia e fonte de energia. Tecnologia de dados
Blockchain é uma tendência tecnológica que permite a microgeração de energia e
possibilita transações descentralizadas de compra e venda de energia elétrica (novo
modelo de negócios do setor). Por ser um modelo disruptivo, o Blockchain precisa de
mais pesquisas, principalmente em relação a massificação da Geração Distribuída
para viabilização e à definição regulatória e comercial.
Transmissão de energia elétrica sem fio: a energia elétrica sem fio já existe em
pequenas escalas, mas em escalas maiores poderia permitir novas aplicações para
robôs e outros dispositivos móveis, eliminando a necessidade de substituir as baterias
e fios.
Robôs, câmeras especiais e equipamentos termográficos estão sendo
pesquisados para compor novos Sistemas para o Monitoramento e Diagnóstico de
Falhas de Ativos de Subestações, aumentando a segurança e evitando falhas no
fornecimento de energia.
Novos materiais, componentes, supercondutores e tecnologias de otimização
da transmissão também se configuram como tendências tecnológicas para os
sistemas elétricos.

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Geração, Transmissão e Distribuição de Energia – ETEC José Rocha Mendes

Bibliografia
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Não tem mais como escapar: a inovação já é realidade no setor elétrico.
Disponível em: https://new.siemens.com/br/pt/empresa/stories/energia/a-inovacao-ja-
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Pompermayer, Fabiano Mezadre; De Negri, Fernanda e Cavalcante, Luiz Ricardo.
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regulado pela Aneel. Brasília: Ipea, 2011. Disponível em: http://www.dbd.puc-
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Weedy, B. M., Sistemas Elétricos de Potência. São Paulo, Ed. Universidade de São
Paulo: Polígono, 1973.

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