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Ostranenie

REFERÊNCIA RÁPIDA
Um conceito central na tentativa do formalismo russo de descrever e de nir o
que constitui literatura (literariedade). Neologismo, implica dois tipos de
ações: tornar estranho e afastar. Consistente com este duplo signi cado, o
conceito se refere às técnicas que os escritores usam para transformar a
linguagem comum em linguagem poética, que para os formalistas russos é
uma linguagem que induz a um estado de percepção elevado. O hábito, de
acordo com os formalistas russos, é o inimigo da arte; portanto, para produzir
arte, o escritor deve forçar o leitor a sair dos padrões usuais de percepção,
fazendo com que o familiar pareça estranho ou diferente. O principal teórico
desse conceito, Victor Shklovsky, usa uma passagem famosa em Guerra e
paz de Tolstói (1869), onde uma ópera é descrita como 'papelão pintado e
homens e mulheres vestidos de maneira estranha que se moviam, falavam e
cantavam estranhamente em um retalho de chamas para exempli car este
conceito. Basicamente, o que Tolstói faz, de acordo com Shklovsky em
Theory of Prose (1990), é ver as coisas fora do contexto, ou dito de outra
forma, ele falha em ver o que torna as ações que ele descreve signi cativas
ou coerentes e, dessa forma, ele os desfamiliariza. Em The Prison-House of
Language (1972), Fredric Jameson enumera três vantagens do conceito de
ostranenie: em primeiro lugar, permite que a própria teoria literária surja ao
fornecer uma maneira de distinguir seu objeto - a saber, a linguagem poética;
em segundo lugar, permite que uma hierarquia seja estabelecida dentro das
obras e entre as obras (ou seja, mais ou menos desfamiliarizante); em
terceiro lugar, gera uma nova maneira de pensar a história literária em
termos de rupturas e rupturas, em vez de continuidades e in uências. O
problema com esse conceito, entretanto, é que ele é mais psicológico do que
puramente textual, na medida em que se baseia nos sentidos amortecidos do
leitor sendo despertados por uma escrita inteligente, em vez de algo
especí co da própria escrita. Obviamente, também, esse processo sofre da
lógica de retornos decrescentes - o que foi chocante ontem é muito familiar
hoje, exigindo um nível cada vez maior de choque para atingir um nível cada
vez menor de valor de choque (isto, como muitos comentaristas observaram,
é o problema que a arte não representacional contemporânea também
enfrenta). Veja também estranhamento cognitivo; efeito de estranhamento.

Leitura adicional:

T. Bennett, Formalism and Marxism (1979) .V. Erlich Russian Formalism:


History - Doctrine (1955).
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De: ostranenie em A Dictionary of Critical Theory »

Estranhamento

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Estranhamento ou ostranenie (остранение) foi um termo utilizado pelo


formalista russo Viktor Chklovski em seu trabalho “Iskusstvo kak priem” (“A
Arte como processo”) ou ("A Arte com procedimento"), publicado pela
primeira vez em Poetika (1917). Este artigo está publicado em português na
coletânea Teoria da literatura: formalistas russos (Porto Alegre, 1971; São
Paulo, 2013) e em Todorov (Lisboa, 1999).
O conceito nasce das discussões entre os formalistas russos com as idéias
do crítico ucraniano Aleksandr Potebnia ou Oleksander Potebnia (1835–91)
sobre a função da arte na sociedade e a mimesis. Potebnia a rmava que “As
imagens não têm outra função senão permitir agrupar objetos e acções
heterogéneas e explicar o desconhecido pelo conhecido”. Segundo o
Poetbnia a arte apresentava o desconhecido como referência da natureza
conhecida pelo homem (in Chklovski em “A arte como processo”, em Teoria
da Literatura I: Textos dos Formalistas Russos apresentados por Tzvetan
Todorov, Edições 70, Lisboa, 1999, p.75).
Para Chklovski, ao contrário, “A nalidade da arte é dar uma sensação do
objecto como visão e não como reconhecimento; o processo da arte é o
processo de singularização ostranenie - (estranhamento) dos objectos e o
processo que consiste em obscurecer a forma, em aumentar a di culdade e
a duração da percepção. O acto de percepção em arte é um m em si e deve
ser prolongado; a arte é um meio de sentir o devir do objecto, aquilo que já
se ‘tornou’ não interessa à arte.” (ibid., p.82).
O estranhamento para Chklovski seria então o efeito criado pela obra de
arte literária para nos distanciar (ou estranhar) em relação ao modo comum
como apreendemos o mundo e a própria arte, o que nos permitiria entrar
numa dimensão nova, só visível pelo olhar estético ou artístico.
Conforme esclarece Carlos Ceia, O termo é de difícil tradução: a palavra
original, ostranenie, não existe na língua russa (quer como substantivo,
ostranenie, quer como verbo, ostranit’; a palavra russa para “estranhar” é
otstranit). Maiores detalhes sobre o termo russo podem ser acompanhados
na introdução de Gerald L. Burns a Theory of Prose (Dalkey Archive Press,
Illinois, 1998).
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Índice
1 Problemas Ver Referência
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de tamb s
Bibliogra aProblemas de tradução
A tradução do termo ostranenie, para o português ou para o inglês tem sido
escolhida como singularização ou desfamiliarização (defamiliarization) e
estranhamento (estrangement).
A tradutora portuguesa (Isabel Pascoal) opta pelo termo “singularização”,
mas este é limitador. Burns considera o termo desfamiliarização (introduzido
por Lee T. Lemon e Marion J. Reis em inglês, na publicação Russian
Formalist Criticism, 1965) também incorreto, porque a acepção que
Chklovski pretendia era precisamente a de um efeito contrário a uma
desfamiliarização.
Burns rma que "ao contrário, o seu signi cado procede do que é
cognitivamente conhecido (a linguagem das ciências), as regras e fórmulas
que sobressaem da procura de uma economia do esforço mental, pela
familiaridade conhecida, ou seja, ao real conhecimento que expande e
'complica' nosso processo perceptivo pelo rico uso de metáforas, similares e
múltiplas guras de linguagem da fala". ("on the contrary, it proceeds from the
cognitively known (the language of science), the rules and formulas that arise
from a search for an economy of mental effort, to the familiarity known, that
is, to real knowledge that expands and ‘complicates’ our perceptual process
in rich use of metaphors, similes and a host of other gures of speech.” (ibid.,
p.xix).
Burns apresenta como alternativa, na língua inglesa, o neologismo
enstrangement, também intraduzível ao português, parecendo mais
apropriada a forma portuguesa “estranhamento”.
O termo de Chklovski está próximo do conceito de desautomatização
proposto por Mukarovskýy e também não distante do conceito de efeito de
des-alienação V-effekt, que mais tarde Bertolt Brecht vai propor.
Este conceito não era totalmente novo pois os poetas românticos ingleses
(Coleridge, Biographia Literaria, 1817), faz o elogio da poesia de Wordsworth
chamando a atenção para uma capacidade especial do poeta enquanto
criador único de um discurso único (The Defense of Poetry - 1840).
O estranhamento é essa forma singular de ver e apreender o mundo e
aquilo que o constitui, visão que a literatura e a arte alargam, porque desa a
e transforma as idéias pré-concebidas sobre o mundo e sobre as próprias
formas da Arte.
Ver também
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• Teatro Épico
• V-effekt
• Anatol Rosenfeld
• Teatro de feira
• Erwin Piscator
• Viktor Chklovsky
• Formalismo russo
• Aleksandr Potebnia
Referências
• verbete estranhamento de Carlos Ceia
Bibliogra a
• Teoria da literatura: formalistas russos, organização de Dionísio de
Oliveira Toledo e prefácio de Boris Schnaiderman. Porto Alegre, Editora
Globo, 1971.
• Chklovski in “A arte como processo”, em Teoria da Literatura I: Textos
dos Formalistas Russos apresentados por Tzvetan Todorov, Edições
70, Lisboa, 1999.
• Shklovskij, Viktor. “Art as Technique.” Literary Theory: An Anthology. Ed.
Julie Rivkin and Michael Ryan. Malden: Blackwell Publishing Ltd, 1998.
• KOTHE, F. R. . Estranho estranhamento, ensaio sobre Chklóvski..
Suplemento Literário de Minas Gerais, Imprensa O cial., Belo
Horizonte, v. 1, p. 1 - 1, 20 ago. 1977.
• Texto de Huang Zuolin: Brecht e o Estranhamento no Teatro Chinês -
versão ao português por Robson Corrêa de Camargo - 1982 -
Conferência Brecht e o Teatro na Ásia
• R. H. Stacy: Defamiliarization in language and literature (1977)
• Victor Erlich: Russian Formalism: History, Doctrine (4ªed., 1980).
• Modern literary theory: a reader, editado por Philip Rice e Patricia
Waugh. Londres, Arnold, 1996.
• Narrative composition: a link between german and russian poetics, de
Lubomír Dolezel. em:Russian formalism. A collection of articles and
texts in translation, editado por Stephen Bann e John E. Bowlt.
Edimburgo, Scottish Academic Press, 1973.
• Russian formalism: history, doctrine, de Victor Erlich. The Hague/Paris,
Mouton, 1969.
• Alexander A. Potebnja's Psycholinguistic Theory of Literature: A
Metacritical Inquiry de John Fizer. Harvard Series in Ukrainian Studies,
1988.
• Crawford, Lawrence. “Victor Shklovskij: Différance in Defamiliarization.”
Comparative Literature 36 (1984): 209-19. JSTOR. 24 February 2008.
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• Margolin, Uri. “Russian Formalism .” The Johns Hopkins Guide to
Literary Theory and Criticism. Ed. Michael Groden, Martin Kreiswirth,
and Imre Szeman. Baltimore, Maryland: The Johns Hopkins University
Press, 1994.

V-effekt

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

V-Effekt ou efeito V (do alemão Verfremdungseffekt) é uma elaboração


artística do dramaturgo e diretor alemão Bertolt Brecht.
Pode ser traduzido como "efeito de estranhamento" ou "efeito de
distanciamento" porém, há outras maneiras de se traduzir a palavra, como:
"efeito de desilusão".
O efeito de estranhamento foi prática comum no teatro do início do século
XX na Rússia e na Alemanha, principalmente entre os encenadores Erwin
Piscator e Meierhold, assim como nas representações do agit-prop
soviético. Este conceito se torna conhecido mundialmente a partir dos
trabalhos teóricos de Bertolt Brecht, seu objetivo é tornar claro ao espectador
que ele está frente a uma obra de arte, de que a representação teatral é uma
ilusão.
Diversos artifícios na encenação ou na interpretação devem colocar o
espectador dentro desta possibilidade. A encenação teatral baseada no
efeito V deve lembrar ao espectador que ele sempre está no teatro,
diferentemente das propostas artísticas de cunho naturalista que objetivam
transformar a ação vivida no palco ou na arte num lugar onde o espectador
esteja frente a uma "suposta" realidade.
Bertolt Brecht lembra que o v-effekt pode ser encontrado nas tragédias
gregas, no teatro chinês e mesmo no dadaísmo, onde o admirador da obra
de arte pode se deparar com coisas e situações estranhas, não habituais.

Índice
1 No Formali Bibliogr Ver
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cin sm a ta
ReferênciasNo cinema
Esta forma de apresentação estranhada pode ser encontrada no cinema
quando as câmeras podem ser mostradas durante o lme, sons
desincronizados e fundos pretos ou atores olhando para as câmeras,
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procurando sempre lembrar que tudo é uma ação produto de uma lmagem,
não se pretendendo criar uma situação real, prática comum nos lmes de
Hollywood e mesmo na telenovela brasileira.
Formalismo Russo
O conceito de V-Effekt se interliga diretamente com o de
"defamiliarization" (остранение) muito utilizado dentro do Formalismo Russo,
que o utiliza na literatura e na poesia. Ambos procuram produzir um efeito de
estranhamento no leitor/platéia (sendo que a tradução literal dos dois termos
se confundem). Brecht, que não seguiu os ditames do regime da burocracia
soviética no terreno das artes, teve entre seus amigos alguns dos formalistas
russos o dramaturgo (Sergei Tretyakov, executado em 1937). Lukács, crítico
de arte e um dos principais teóricos do stalinismo no terreno da arte, atacou
Brecht como formalista, por suas propostas estéticas, como destaca Mark W.
Clark (Revista Estudos avançados 21 (60), 2007).
Bibliogra a
• Teoria da literatura: formalistas russos, organização de Dionísio de
Oliveira Toledo e prefácio de Boris Schnaiderman. Porto Alegre, Editora
Globo, 1971.
• Chklovski in “A arte como processo”, em Teoria da Literatura I: Textos
dos Formalistas Russos apresentados por Tzvetan Todorov, Edições
70, Lisboa, 1999.
• Shklovskij, Viktor. “Art as Technique.” Literary Theory: An Anthology. Ed.
Julie Rivkin and Michael Ryan. Malden: Blackwell Publishing Ltd, 1998.
• Kothe, F. R. . Estranho estranhamento, ensaio sobre Chklóvski.
Suplemento Literário de Minas Gerais, Imprensa O cial., Belo
Horizonte, v. 1, p. 1 - 1, 20 ago. 1977.
• «Texto de Huang Zuolin: Brecht e o Estranhamento no Teatro Chinês -
versão ao português por Robson Corrêa de Camargo - 1982 -
Conferência Brecht e o Teatro na Ásia»
• R. H. Stacy: Defamiliarization in language and literature (1977)
• Victor Erlich: Russian Formalism: History, Doctrine (4ªed., 1980).
• Modern literary theory: a reader, editado por Philip Rice e Patricia
Waugh. Londres, Arnold, 1996.
• Narrative composition: a link between german and russian poetics, de
Lubomír Dolezel. em:Russian formalism. A collection of articles and
texts in translation, editado por Stephen Bann e John E. Bowlt.
Edimburgo, Scottish Academic Press, 1973.
• Russian formalism: history, doctrine, de Victor Erlich. The Hague/Paris,
Mouton, 1969.
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• Alexander A. Potebnja's Psycholinguistic Theory of Literature: A
Metacritical Inquiry de John Fizer. Harvard Series in Ukrainian Studies,
1988.
• Crawford, Lawrence. “Victor Shklovskij: Différance in Defamiliarization.”
Comparative Literature 36 (1984): 209-19. JSTOR. 24 February 2008.
• Margolin, Uri. “Russian Formalism .” The Johns Hopkins Guide to
Literary Theory and Criticism. Ed. Michael Groden, Martin Kreiswirth,
and Imre Szeman. Baltimore, Maryland: The Johns Hopkins University
Press, 1994.

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