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A ciência sob os pressupostos da problemática ambiental contemporânea: a busca


por novas abordagens teóricas

Jefferson Marçal da Rocha

Introdução

O Século XX foi marcado pelas guerras (Hobsbawm,1995), dois conflitos mundiais seguidos
por duas ondas de rebeliões e revoluções que levaram ao poder governos socialistas que se
diziam uma alternativa previamente pré-destinada à sociedade capitalista burguesa. Para
Hobsbawm (1995) a tentativa de construir o socialismo produziu conquistas notáveis, mas a
um custo enorme e inteiramente intolerável daquilo que acabou se revelando uma economia
sem saída.

Ao mesmo tempo, após o segundo conflito mundial se consolidou no ocidente um sistema


ditado pelo liberalismo econômico, regido pela égide da diplomacia econômica e política
norte-americana e pelos ditames de um mercado que sujeita a seu modo todos Estados
Nacionais. A denominada Era do ouro foi à expansão econômica de um modelo de
desenvolvimento único, que se revela, no final do século injusto para dois terços da
população mundial.

Neste século os imensos impérios que haviam sido erguidos na chamada Era do Império
(Hobsbawm,1988) se abalaram e ruíram. No fim sobrou apenas um regime único de
economia capitalista e organização social baseado na competitividade e exclusão.
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As soluções propostas pelas instituições globais e seus burocratas, para ajustar este
sistema, nas últimas décadas do século XX (a chamada globalização neoliberal) foi o
afunilamento da lógica privatizante, que subjugaram os Estados dos países pobres aos
interesses do mercado. Na confissão do renomado economista Joseph Stiglitz (ex-Banco
Mundial):

Los críticos de La globalización acusan a los países occidentales de hipócritas, com


razón: forzaron a los pobres a eliminar lãs barreras comerciales, pero ellos mantuvieron
lãs suyas e impidieron a los países subdessarrollados exportar productos agrícolas,
privándolos de uma angustiosamente necesaria renta via exportaciones( Stiglitz, 2006)

Já o século XXI começa, numa das épocas mais complexas da história, uma complexidade
ainda carente de definições. Em praticamente todas as áreas do conhecimento os
paradigmas estabelecidos não conseguem explicar as diversas faces que perpassam os
problemas socioambientais. A busca por novos paradigmas para responder a novas
problemáticas é uma urgência inerente ao desenvolvimento científico. O que é preocupante
é que diante destas novas interrogações, não surgiram novas respostas, ou pior as
respostas continuam baseadas em pressupostos clássicos geralmente incompletos e ou
inadequados.

É preciso então encontrar novas respostas para os novos e os velhos problemas.

A instantaneidade e a virtualidade da informática, por exemplo, transformam verdades


históricas em passado. No campo econômico, empresas sólidas naufragam, investimentos
surgem e desaparecem de um dia para o outro, parece que a sina que Marx previa a mais
de 150 anos se confirma e “Tudo que é sólido desmancha no ar”.

Segundo o filósofo americano Marshall Berman (1986) a modernização causou um turbilhão


na vida do homem contemporâneo. Este movimento passou a ser alimentado por grandes
transformações nos âmbitos sociais, políticos, tecnológicos e culturais. Os maiores
exemplos, para ele são: I) as grandes descobertas nas ciências físicas, que mudaram a
imagem que o homem tinha do universo e do seu lugar nele; II) a industrialização da
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produção, que transformou o conhecimento científico em tecnologia, criando novos


ambientes para a vida humana e destruindo os antigos, acelerando com isso o ritmo da vida
cotidiana e gerando novas formas de poder corporativo e de luta de classes; III) uma
descomunal explosão demográfica, que acabou penalizando milhões de pessoas, que
obrigatoriamente foram arrancadas do seu habitat ancestral, e empurradas pelos caminhos
do mundo em direção as novas vidas; IV) um rápido e catastrófico crescimento urbano; V)
um sistema de comunicação de massa, dinâmico e em desenvolvimento, que embrulham e
amarram, no mesmo pacote,os mais variados indivíduos e sociedades e por fim VI) um
mercado capitalista mundial,drasticamente flutuante e em permanente expansão.

Para David Harvey (2010) este transmudado capitalismo (porém o mesmo) alterou o escopo
da economia no globo:

“Assim como o advento das vias férreas e do telégrafo no século XIX reorganizou por
inteiro a escala e a diversidade das especializações regionais, bem como da urbanização e
da regionalidade em geral, assim também a onda mais recente de inovações (de aviões a
jato e do uso de contêineres à Internet et.) alterou a escala de articulação da atividade
econômica.” (HARVEY,2010,p. 86).

Para ele é substancial o volume de capital incorporado as infra-estrutura física de poucas


cidades do mundo como Nova York, Londres ou Tóquio. O 11 de setembro foi uma prova de
que tudo que detém os fluxos de capital para dentro e para fora desses locais pode ter
efeitos catastróficos ( HARVEY,2010).

Com isso a paisagem geográfica do capitalismo esta eivada de contradições e tensões,


perpetuamente instáveis diante de todos os tipos de pressões técnicas e econômicas que
incidem sobre seres humanos.

Cientistas, escritores, economistas, sociólogos, etc, criam neologismos que tentam explicar
o momento atual, todos eles aceitos e convincentes mais por representarem parte do que
ocorre, do que por conterem todas as explicações possíveis. Segundo Floriani (2000, p.25):

Alguns autores que inauguraram essa discussão(Daniel Bell, Alan Touraine, Ralf
Dahrendorf, Alvin Toffler, entre outros) não chegaram a extrair todas as conseqüências
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teóricas e empíricas das sociedades pós-industriais, uma vez que seus estudos foram
feitos ainda no calor daquelas mutações. Mas recentemente, De Masi e Castells
conseguiram avançar melhor na compreensão dessas mudanças.

Nunca a civilização teve tantos recursos tecnológicos a sua disposição, porém, em nenhuma
outra época se viu tanta fome e miséria em praticamente todos os recantos do planeta. Ao
mesmo tempo não há ainda, nem numa perspectiva remota, a possibilidade de em um futuro
próximo os graves problemas socioambientais serem resolvidos.

Deve-se considerar também fortes indícios que se trajetória expansiva do sistema


capitalismo continuar no mesmo ritmo das últimas décadas o meio ambiente do planeta não
resistirá.

Vale ainda lembrar algumas sombrias estatísticas sobre a desigualdade social. Segundo
dados do IMDPE (Instituto Mundial para o Desenvolvimento de Pesquisas Econômicas ) da
Universidade das Nações Unidas, uma minoria de 1% dos mais ricos possuía 40% dos bens
do mundo em 2000, e os 10% mais ricos possuíam 85%. Já a metade da camada mais
baixa da população mundial mal possuía 1% dos bens do planeta. Ainda neste sentido os
Cinco países mais ricos do mundo – EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido –
possuem 13% da população mundial e desfrutam de 45% da renda do mundo. Enquanto
isso China e Indonésia que possuem 42% da população mundial recebem 9% da renda. Ou
de outra maneira 50 milhões de pessoas mais ricas do mundo recebem mais renda do que
57% da população mundial, 3,5 bilhões de pessoas.

Destarte, mesmo diante das evidências deste paradoxo o “modelo” capitalista de produção
continua baseado na otimização de três princípios que o sustentam desde a sua origem: a) a
busca de melhores meios de competitividade, b) o aproveitamento de mão-de-obra mais
barata e c) a exploração do meio ambiente. Neste último item deve-se salientar que os
mecanismos produtivos implantados, na busca de maior produtividade e eficiência
econômica tiveram pouca preocupação com a preservação e/ou conservação dos recursos
ambientais do qual se utiliza. Utilização esta que se acirrou acintosamente nas últimas cinco
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décadas (Leis, 1999). A evolução tecnológica não obedeceu a critérios de parcimônia com
os recursos naturais.

Assim com os desgastes ambientais causados pela expansão das atividades produtivas, caí
por terra no final do século XX o otimismo, principalmente dos liberais, em se acreditar que
após a Segunda Grande Guerra se poderia ter um desenvolvimento/ crescimento em todas
as Nações do ocidente. Ou, em outras palavras, descobriu-se ser “ambientalmente”
impossível todos os países do ocidente chegarem aos mesmos índices de desenvolvimento
dos países ricos. Com isso, condena-se quase da metade da população mundial a viver
“infinitamente” com pobreza e a fome (Ilich,2000).

Há fortes evidências de que não há possibilidade de se rever às injustiças sociais nem os


desgastes ambientais, enquanto as relações forem regidas pela economia do livre mercado.
Dito isso, deve-se considerar ainda que, contrariamente ao que se esperava da
“modernidade tecnológica” não há “uma produção limpa”, pelo contrário, os resíduos das
indústrias e do consumo são cada vez maiores e de difícil solução (as baterias de celulares
são o exemplo clássico disso).

Mesmo assim, parece haver um consenso generalizado entre a maioria dos empresários,
políticos, governos e cientistas de que o livre mercado será capaz de se auto-regular em
prol, tanto da diminuição da injustiça social como da racionalização no uso dos recursos
naturais. Estes não querem acreditar que muitos dos problemas sociais e ambientais
emergiram, em grande parte, da própria desregulamentação do mercado. Esse sistema já
provou que será impossível conciliar tanto a necessidade básica· da grande maioria dos
habitantes do planeta e muito menos ainda diminuir/racionalizar o uso dos recursos naturais
(Foladori,1999).

Pela primeira vez na história se tem consciência de que as atividades humanas podem por
fim na estada da espécie humana na terra.
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Paradoxalmente, o fim da humanidade poderá ser causado pelos impactos ambientais que o
próprio homem causou no habitat em que vive, pretensamente em busca de melhores meios
para se viver.

A hipótese de que ao descobrirem-se os problemas a solução está iminente, na questão


socioambiental contemporânea parece ser uma hipocrisia, pois os problemas cada vez mais
se complexificam e as soluções parecem cada vez mais distantes.

A Ciência sob os ditames da produtividade

A modernidade que acompanhou a industrialização a partir da metade do século XVIII


delineou além da especialização industrial uma divisão social e econômica do trabalho. Com
isso fragmentaram-se as atividades profissionais, aparentemente de uma forma irreversível.
A industrialização e o progresso tecnológico reorganizaram a produção, alterando não só as
relações de trabalho, mas também as relações sociais. Construiu-se uma sociedade
baseada na urbanização, na indústria, na técnica e na ciência positivista.

A partir do século XIX a ciência passa explicitamente a ser colocada a serviço da técnica e
da produtividade industrial. As atividades humanas tornam-se, cada vez mais fragmentadas
e específicas. A visão Durkaniana se comprova: o homem para ser útil neste sistema, tem
que ser especialista.

Admite-se que muitas das inovações tecnológicas surgiram da especialização e da


especificação das atividades científicas, que reorganizou o processo da produção industrial
e aumentou a produtividade do trabalho. Como consequência desse processo, aumentou-se
a rentabilidade e a competitividade empresarial na sociedade de mercado.

Um dos exemplos clássicos desta trajetória pode ser visto na obra de F.W. Taylor (1856-
1915), que surge no momento da segunda revolução industrial, ou seja, na fase de produção
em série, em que o industrialismo necessitava de uma organização sistemática das
atividades dos trabalhadores.
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Segundo Floriani (2000): “Taylor buscará desenvolver a idéia de que todo o trabalho
industrial é capaz de receber um tratamento científico”(p.35).

Nesta trajetória fica clara a intenção de separar a execução da concepção das atividades
dos trabalhadores. Ou seja, como Floriani (2000) afirma:

O cálculo e o planejamento científico do trabalho não deverão ser feitos pelo operário.
Essa concepção chega à seguinte conclusão: o melhor conhecedor do trabalho do
mecânico não é o próprio mecânico. Deve-se retirar-lhe sua iniciativa (p.35).

Também para o sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein(1996), a história intelectual


do século XIX é marcada por um processo de disciplinarização e profissionalização do
conhecimento, o que significa dizer, pela criação de estruturas institucionais permanentes
destinadas simultaneamente, a produzir tanto os executores como os produtores desse
conhecimento. Assim, para o Wallerstein:

A criação de disciplinas múltiplas teve por premissa a crença segundo a qual a


investigação sistemática exigia uma concentração especializada nos múltiplos e distintos
domínios da realidade, um estudo racionalmente retalhado em ramos de conhecimento
perfeitamente distintos entre si (Wallerstein,1996,p.21).

Nesta mesma linha Habermas (1988) admite que o fim do século XIX marcou o surgimento
de uma nova tendência de desenvolvimento do sistema capitalista. Uma fase que se
caracteriza pelo surgimento mais frequente de novos produtos, serviços e equipamentos
oriundos do que ele denominou de cientifização da técnica. Nesta fase ocorre uma forte
pressão institucional para aumentar a produtividade do trabalho. Dinamiza-se a introdução
de novas e produtivas técnicas.

O progresso técnico entra em circuito sinergético com o progresso da ciência moderna. A


pesquisa industrial em grande escala, a ciência, a técnica e a valorização foram inseridas
em uma mesma trajetória.

Ao contrário dos cento e cinquenta anos anteriores em que as inovações dependiam de


invenções esporádicas que, por sua vez, poderiam ter sido induzidas economicamente,
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tento, entretanto ainda o caráter de um crescimento natural. A exigência do sistema


industrial capitalista, nesta fase, era que o destino de toda a pesquisa estivesse em busca
de técnicas e mecanismos mais eficientes de produtividade. A busca era explicitamente a
valorização do capital.

A partir da segunda metade do século XX ocorre um advento tecnológico sem precedentes


na história. Este passou a ser imperativo da acumulação capitalista, adquirindo, com isso um
dinamismo próprio, a ponto de tornar o progresso tecnológico condição sina qua non para se
participar do jogo competitivo das relações internacionais.

Muitos pesquisadores ao analisarem os processos de produção industrial e suas


consequências a partir de um ponto de vista exclusivamente técnico, são levados a terem a
falsa noção de um sistema de desenvolvimento tecnológico autônomo da ciência. Esta
através de uma lógica sutil se estruturou sob uma base técnica que determina uma
organização social voltada a uma crescente rentabilidade econômica. Ao mesmo tempo em
que acaba transformando as condições naturais de existência, a exclusão e a transformação
das relações sociais. Assim toda a organização construída a partir do final do século XIX
passa a ser socialmente e unidimensionalizada pela lógica da racionalidade econômico-
instrumental. Ou seja, a racionalidade produtivista do industrialismo surgida a partir do final
do século XIX, teve como consequência à subordinação das ciências a racionalidade
instrumental econômica. Este fenômeno proporcionou o chamado big-bang disciplinar
(Nicolescu,1999).

A partir deste fenômeno provocado pela exigência de mais produtividade, mas eficiência,
menos custos e especialmente mais lucros, cada setor das ciências tanto natural como
social se compartimentaliza a ponto de surgirem especialistas que pouco ou nada sabiam de
atividades de sua mesma área, como o surgimento das inúmeras especialidades nas
engenharias.

Segundo Crane e Smaal (1992) citados por Coutinho et al.(2000) existem cerca de 8530
campos definidos do conhecimento. Esta macro especialização gerou uma enorme
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quantidade de especialistas competentes em micro problemas, porém, a maioria deles


desinteressados por respostas em questões mais abrangentes e necessárias para a solução
de problemas complexos, especialmente os ligados as questões ambientais.

Além disso, muitos dos problemas ambientais, como por exemplo, à perda de
biodiversidade, foram resultados em grande parte do tido “sucesso” na intervenção da
natureza de técnicas empregadas por especialistas competentes, mas desconhecedores,
desinteressados ou descomprometidos com a complexidade da abordagem ambiental
(Coutinho et al., 2000).

Ainda para Coutinho et al., (2000) a pesquisa disciplinar abarca só um determinado aspecto
da realidade, assim ela elabora conhecimentos somente sobre certa parte da questão
ambiental. Não possuí a capacidade para entender toda complexidade que envolve os
problemas ambientais contemporâneos, para Coutinho et al: “A prática dessas
subdisciplinas exige um conhecimento especializado cada vez mais sofisticado, o que pode
provocar seu isolamento. Em conseqüência, há o risco da formação de um especialista
alienado...”(Coutinho et al.,2000, p. 1).

Também para Foladori (1996) o enfoque parcial e disciplinar da realidade obedece a


elementos derivados da forma de conceber a realidade externa pelo ser humano. E esta
divisão obedece a lógica”...de división científica del trabajo que se profundiza y potencia em
occidente durante la época moderna.”(Foladori,1996,p. 63). E ainda afirma:

A pesar de que la realidad es siempre una sola, la división científica del trabajo ha llevado
a la consolidación de teorías e instrumentos de experimentación e investigación acotados
a esferas o espacios de la realidad relativamente diferenciados. Esta división científica del
trabajo es parte de la división social del trabajo, y tiene sus raíces en el desarrollo de la
productividad en las distintas ramas económicas, en la formación de las clases sociales
de la moderna sociedad capitalista,...” (Foladori,1996,p. 62)

Assim chega-se ao Século XXI, com perplexidades diante de problemas “inter-intra-pluri-


multi-trans” disciplinares, porém com paradigmas enraizados em disciplinariedades, que
fragmentaram o conhecimento.
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Para Floriani (2000) “A divisão social do trabalho nas sociedades pós-industriais, reproduz
ainda, em grande medida, os resquícios da organização taylorista do trabalho.” E segue
mais adiante: “Se estes princípios forem encontrados na prática da concepção e execução
do trabalho científico nas chamadas agências de conhecimento (laboratórios, universidades,
escolas técnicas, etc.) não é mera coincidência. São racionalidades do sistema de
mercado,de conceber e executar tarefas,que impregnam o ethos do trabalho e da
ciência.”(p.35)

A sustentabilidade do desenvolvimento

A problemática ambiental adquiriu evidência no século XX em função de três fatores: a


amplitude dos efeitos nocivos da poluição, a crescente quantidade de eventos impactantes
dos recursos naturais e a constatação da irreversibilidade que muitas transformações
causadas pelo processo de produção de riquezas causou aos recursos naturais. Também a
partir do final deste século os efeitos nocivos ao meio ambiente passaram a superar as
escalas locais e regionais e adquiriram dimensões planetárias.

Os desequilíbrios ecológicos em escala planetária e os processos de degradação ambiental


decorrem do desenvolvimento progressivo das forças produtivas e destrutivas, guiadas pelo
objetivo de maximizar os lucros nas economias capitalistas, e os excedentes nas economias
socialistas (Leff,2000).

Sem dúvida este processo gerou um incremento importante na produção e no consumo nas
últimas décadas, e com ele uma destruição sem precedentes dos recursos naturais.
Também não possibilitou um desenvolvimento equitativo para a humanidade, como
acreditavam os economistas liberais e kenyesianos que delinearam a economia ocidental a
partir das políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) após a segunda guerra mundial.
Os debates sobre o meio ambiente surgidos neste contexto, particularmente a partir do final
dos anos sessenta, trazem o diferencial histórico de relacionar a degradação ambiental com
o desenvolvimento. Assim a noção predominante e unificadora de desenvolvimento
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econômico que sucedeu a Segunda Guerra Mundial até meados dos anos sessenta, é
associada à possibilidade de desequilíbrios ambientais e a desigualdade social.

O limite desta visão e dos projetos que ela orientava, fez com que gradativamente uma série
de aspectos sociais fossem incorporadas à ideia de desenvolvimento, entre os quais o
emprego, a saúde, a educação, a equidade social e principalmente o direito a um ambiente
de qualidade.

A percepção de que os modelos de desenvolvimento estariam comprometendo os recursos


naturais levou a inserção na década de 1980, da noção de “desenvolvimento sustentável”.

A multiplicação de teorias e indicadores de desenvolvimento a partir da década de 1950 já


evidenciava a dificuldade de definir com precisão um conceito de desenvolvimento. Nessa
busca “desenvolvimento” passou a se constituir numa palavra que incorporava tudo que
estivesse associado à ideia de progresso e também a todos os dilemas da sociedade
capitalista.

Contudo, persiste a crítica segundo a qual é impossível generalizar os padrões de vida


característicos dos países centrais ao resto do planeta, ou mesmo de áreas urbanas para
áreas rurais ou, como no Brasil de uma região para outra.

Desta crítica decorre a noção de desenvolvimento como mito ou ilusão. Essa análise,
descrita pelo mestre Furtado na década de 1970, se refere a uma crítica sobre a às noções
evolucionistas que homogeneízam as sociedades e estabelecem critérios à priori de
desenvolvimento. Da mesma forma esta crítica centra-se nas pretensões universalistas das
abordagens que qualificam o modo de vida de um povo, tendo como referência o modelo
ocidental.

A noção de sustentabilidade nasceu a partir da noção dos limites do uso produtivo de


estoques de recursos físicos renováveis (ritmos de regeneração), dos recursos não
renováveis (substitutos a serem achados). Vale salientar então que a finitude dos recursos
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deve ser vista sob o ponto de vista da exploração dos recursos renováveis e não renováveis
onde a base tecnológica é a dos parâmetros do consumismo ocidental.

Neste sentido precisa-se admitir que a tecnologia também evoluiu. Contudo a dúvida é saber
se poderá surgir uma nova base sustentável da natureza, aos moldes da crença
cornucopiana de um mundo infinito em sua capacidade de regeneração?

No entanto a sustentabilidade tem um enfoque mais amplo: a preservação dos


ecossistemas, cuja permanência pode ser ameaçada pelo uso produtivo.

Nessas duas primeiras interpretações, a economia é colocada numa relação de


concorrência com o meio ambiente, cujo equilíbrio está sendo perturbado pelos usos
produtivos descontrolados. A noção de "sustentabilidade" está, então, atrelada àquela de
"proteção" da natureza e o desenvolvimento é considerado como contraditório com a
preservação dos recursos e a manutenção dos equilíbrios naturais.

Com as noções de "ecodesenvolvimento" de Ignacy Sachs na década de 1970 e, depois, de


"desenvolvimento sustentável" no Relatório Brundtland na década de 1980, operou-se um
esforço para compatibilizar os dois: pretendendo fazer sustentável o desenvolvimento
mesmo.

Nessa linha, não se faz contestações do funcionamento da economia de mercado. Afirma-


se, pelo contrário, que graças aos avanços científicos e técnicos, a uma racionalidade
econômica integrando a perspectiva do longo prazo, e uma ética mais atenta aos
desdobramentos externos do processo produtivo (pobreza, desgastes ambientais), pode-se
conseguir uma durabilidade do próprio processo de desenvolvimento, reduzindo assim as
contradições sociais e ambientais que ele tem gerido até então, e preservando o bem estar
das próximas gerações.

Pode-se observar que o debate sobre a noção de sustentabilidade evoluiu no sentido de


incorporar dimensões diversas além daquela relacionada aos recursos naturais. No entanto,
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ainda pode-se identificar, tanto no âmbito das investigações científicas como na formulação
das políticas de intervenção social, duas grandes correntes predominantes:

a) A que considera que o problema é, antes de tudo, ecológico, que a ameaça fundamental
consta nos danos aos quais as ações dos homens submetem a terra: patrimônio e base de
sua existência presente e futura. A "sustentabilidade" que se deve procurar é ecológica. Isso
é a tendência "protecionista" e "conservacionista" dura.

b) A que considera que a questão da sustentabilidade não se coloca apenas em termos


ecológicos, mas também sociais: para alguns autores porque não tem resposta aos
problemas ambientais sem tratamento dos problemas sociais; para outros a natureza não
tem valor intrínseco, mas que este valor origina-se da própria existência dos homens e dos
usos que dela eles fazem. Esta é a tendência "desenvolvimentista".

Isso conduz a identificar dois campos de "sustentabilidade" - solto um do outro segundo


algumas acepções, interligados segundo outras: a sustentabilidade ecológica e a
sustentabilidade social.

A noção de sustentabilidade ecológica

Esta noção origina-se de teorizações e práticas ecológicas que tentam analisar a evolução
temporal dos ecossistemas, tomando por base sua persistência a um presumido estado de
equilíbrio. Para manter e/ou recuperar este equilíbrio, seria então preciso atuar nos meios de
perturbações que podem afetá-los, particularmente naquelas introduzidas pelas atividades
humanas.

Porém deve-se admitir que o grau de diversidade são atributos dos sistemas naturais
(ecossistemas) e a perda de diversidade - a extinção acelerada de espécies, por exemplo -
constituem uma das maiores consequências das perturbações. As perturbações também
podem não ser necessariamente promovidas pelas atividades humanas. Elas fazem parte
das dinâmicas dos sistemas naturais que possuem mecanismos de reação, chamados de
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resiliência. Resiliência ou homeostasia é, portanto, a habilidade dinâmica de um sistema


retornar a um estado de equilíbrio após alguma perturbação. Quanto maior a resiliência de
um ecossistema menor a probabilidade de sua extinção.

Esta capacidade é específica de cada sistema que reage diferentemente frente às diferentes
perturbações e à intensidade e frequência das mesmas. Por muito tempo, prevaleceu na
teoria ecológica a noção unidirecional da resiliência, ou seja, os sistemas perturbados
retornariam à sua conformação anterior à perturbação, ao seu estado natural de equilíbrio
estático. Esta concepção levou à acepção preservacionista, na qual assegurar a
"sustentabilidade" de um meio natural implica protegê-lo das perturbações humanas,
diminuindo os impactos, permitindo que o mesmo recupere e retorne a seu estado "natural"
de equilíbrio anterior à perturbação.

Hoje, as descobertas das ciências naturais incorporaram as incertezas evidenciando que os


ecossistemas caracterizam-se por uma forte variabilidade que os faz reagir diferentemente
às perturbações, levando a diferentes pontos de equilíbrio dinâmico, o que envolve
mudanças contínuas, com ciclos de perturbações e de rejuvenescimento. Tais ciclos são
fundamentais para a diversidade biológica, que é maior nos estágios intermediários de
recuperação dos ecossistemas.

Quando uma perturbação é suficientemente forte ultrapassa o limite de resiliência de um


sistema, caracterizando uma ruptura. Surge, assim, um novo sistema e novos estados de
equilíbrio, estes nem sempre desejados.

O conceito inicial de sustentabilidade ecológica, ou simplesmente sustentabilidade, tinha


intenção de submeter todo o processo de desenvolvimento, e as relações
sociedade/ambiente, à compreensão das dinâmicas do mundo natural conhecidas até então.
Sustentabilidade ecológica seria alcançar um desenvolvimento compatível com a
capacidade de sustentação da natureza.
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Assim para se chegar à sustentabilidade ecológica é preciso definir quais e com que
intensidade poderá se promover alterações nas dinâmicas específicas dos ecossistemas
para que estas sejam absorvidas sem comprometer sua capacidade de resiliência. Cabe
aqui salientar que se deve ter neste contexto as escalas locais e regionais de uso dos
recursos naturais.

No resgate das etapas de evolução da questão ambiental, primeiro se considerou a


percepção dos problemas ambientais localizados que desencadeiam ações de natureza
reativa, corretiva e repressiva. Numa segunda etapa a degradação é percebida como um
problema generalizado, porém confinado nos limites territoriais dos estados nacionais. Às
práticas corretivas e repressivas acrescentam-se novos instrumentos de intervenção
governamental voltados para a prevenção da poluição e a melhoria dos sistemas produtivos.
Havia a compreensão de que as dinâmicas ambientais deveriam ser a base nas relações do
meio natural com a sociedade, porém a partir da percepção de que a degradação ambiental
é um problema planetário, além da contestação das visões economicistas e das relações
entre os países desenvolvidos e não desenvolvidos, são incorporados novas dimensões ao
entendimento de sustentabilidade, que se afasta das propostas baseadas exclusivamente
numa visão ecológica.

Permanência e estabilidade

A palavra estabilidade tem sido utilizada nas mais diversas acepções, mesmo dentro da
teoria ecológica. Duas acepções são mais comuns:

1ª) Estabilidade como persistência estática de um sistema ao longo do tempo,


eventualmente ligada à própria persistência das condições ambientais. Esta pode ser
considerada como estabilidade global ou estabilidade lato sensu.

2ª) Estabilidade como habilidade dinâmica de um sistema retornar a um estado de equilíbrio


após uma perturbação. O que diferencia é a compreensão de que o estágio de equilíbrio que
se pode chegar é dinâmico, onde são mantidas características do sistema, mas não com a
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mesma conformação inicial. Um sistema, após uma perturbação, reage podendo chegar a
múltiplos pontos de equilíbrio. Assim não há previsibilidade.

O conceito dinâmico de resiliência parece corresponder mais à realidade do mundo natural


do que o conceito de estabilidade estática ou de estabilidade global. Mas ele mesmo fica
aberto para discussões. Se a definição teórica da resiliência considera a hipótese de um
presumido retorno a um estado inicial de "equilíbrio", na prática é quase impossível definir o
que este pode ser no caso de um sistema natural. Todo sistema concreto observado
encontra-se numa fase de transição. Alem disso, a própria ideia de "sistema natural" é uma
abstração, o que se encontra na realidade concreta (uma floresta, por exemplo) não são
"ecossistemas" que possam ser considerados por si mesmos, mas espaços - meios
especializados - onde coexistam e interagem vários ecossistemas.

Em uma determinada área, em função da combinação de vários fatores (tipo, intensidade,


frequência da perturbação, tamanho da área, fatores intrínsecos do sistema afetado,etc.)
dinâmicos diferenciados podem-se operar conduzindo a múltiplos pontos de estabilidade
possíveis para os sistemas biológicos que nela se encontram. Nessas condições, é
necessário lançar mão de explicações históricas para entender a existência atual destes
espaços e de suas configurações de sistemas.

A diversidade influencia nas características da estrutura e do funcionamento de um meio


natural. Mas o conceito de biodiversidade, por si mesmo bem como na suas relações com a
estabilidade de um sistema e sua resiliência, permanece muito discutido. Faltam
instrumentos científicos e indicadores sólidos para medir a perda de biodiversidade de um
sistema natural em relação ao estado anterior à perturbação.

Muitas dúvidas científicas permanecem, então, no que diz respeito à "sustentabilidade" de


um sistema natural bem como à possibilidade de isolar as mudanças ligadas à própria
dinâmica do sistema daquelas ligadas às atividades humanas específicas. Nenhum modelo
geral pode-se aplicar e, em cada caso particular, cada situação específica precisa-se
conduzir uma análise detalhada da história do sistema que se pretende proteger e utilizar.
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Apesar de todos os debates e das dúvidas relativas à representação científica que se pode
fazer dos sistemas naturais, uma ideia forte parece ganhar certa força: a que um sistema
natural tem uma história, que sua dinâmica não é apenas norteada por uma tendência a
voltar a um estado inicial de equilíbrio (mesmo que se aceite que exista uma tendência a se
voltar a estados anteriores), ele se transforma e que essas transformações fazem parte da
sua existência.

A noção sustentabilidade social

Tal como esta noção é geralmente abordada na perspectiva do "desenvolvimento


sustentável", ela privilegia a dimensão econômica, quer dizer as condições de acesso aos
recursos necessários para o bem-estar dos seres humanos. Nesse ponto de vista, diversos
correntes coexistem.

Para alguns, não há contradição entre economia de mercado e desenvolvimento


sustentável. Um uso racional e mais eficiente dos recursos naturais é economicamente
viável. Um crescimento econômico ao longo prazo é conciliável à conservação do ambiente
enquanto as iniciativas privadas e os mercados globais, criando mais riqueza, podem dar
satisfação às necessidades de todos em longo prazo. A proteção do meio ambiente torna-se
uma condição da permanência de um sistema econômico considerado como o único que
tenha a flexibilidade suficiente para responder ao mesmo tempo aos desafios sociais e
ambientais. Tem-se chamado essa corrente de "esverdeamento do capital”.

Para outros, o problema fundamental é o do acesso desigual aos recursos e às riquezas


produzidas. A pobreza - ao nível interno das nações bem como ao nível internacional - é o
principal desafio ao qual tem que responder as políticas sócio-ambientais tanto para resolver
os problemas de hoje como para segurar o futuro das próximas gerações. Isto, por razões
éticas, por ser a pobreza inaceitável; por razões políticas, por ser a pobreza uma fonte de
conflitos e de desordens presentes e futuras; por razões ambientais, por que o meio
ambiente é um direito de todos; e enfim, não menos importante, por que a pobreza é uma
fonte grave de danos ambientais.
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A justiça social, incluindo aqui a redução das desigualdades sociais, a participação política, a
participação da sociedade civil, a democracia, a governança, etc, é, então, a condição
básica para cumprir a sustentabilidade social.

Neste sentido, além da desigualdade de acesso aos recursos e riquezas materiais, as


discussões em torno da redução das desigualdades sociais, da participação política, da
cidadania, do respeito à diversidade, da qualidade de vida (educação, saúde, lazer, vida
sexual sadia, acesso à informação, etc.) tornam-se fundamentais. Essa corrente não
contesta os princípios de funcionamento do mercado, mas afirma que se precisa enquadrá-
lo por mecanismos de regulações que deem prioridade à justiça social enquanto fomentando
a participação dos vários atores sociais e a uma governança democrática.

Para que o desenvolvimento possa tornar-se sustentável, para compatibilizar as exigências


da "reprodução social" com aquelas da "reprodução ecológica" há que se integrar na sua
concepção noções mais abrangente do que as que estão estritamente ligadas aos
mecanismos do mercado stricto sensu, entre outras a de capital social que são definidos
como conjuntos de recursos sócio-culturais capazes, na sua conjunção, de promover a
melhor utilização dos ativos econômicos e a de território visto como conjunto de fatores
físico-naturais, históricos e sócio-culturais articulado em um determinado espaço.

Por último, apesar de minoritárias, existem correntes teóricas que consideram que a
insustentabilidade social, bem como a insustentabilidade ambiental originam-se nos próprios
princípios de funcionamento do sistema econômico capitalista e nas relações capitalistas de
produção.

Num período histórico de concentração acelerada do capital e de globalização das relações


produtivas -divisão internacional do trabalho- o "desenvolvimento" é norteado pelos ditames
que os centros de decisão do sistema impõem para a periferia. Nessas condições a
"reprodução social" resolve-se, por último, naquela do sistema global.
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Por último, o que está acontecendo localmente, tanto do ponto de vista social como
ambiental, é um desdobramento da lógica geral do sistema e dos interesses que se
manifestam no quadro dela. Para pretender chegar a um "desenvolvimento sustentável" é
imprescindível modificar o funcionamento global deste sistema.

"Sustentabilidade" e "desenvolvimento sustentável", tal como são expressos nessas várias


acepções, na sua grande maioria não envolvem conceitos analíticos, mas noções
operacionais, objetivos, metas para ação. Noções que falam de equilíbrio a recuperar,
pobreza a aliviar, deveres a cumprir, direitos a exercitar, justiça a aplicar. São noções
normativas, axiomáticas, que não podem ser utilizadas como instrumentos para entender a
realidade. Contudo, elas pressupõem modelos de explicação da realidade que se apóiam
em raciocínios científicos. Considerando isso, elas devem ser submetidas a uma crítica
epistemológica.

O conceito de sistema, como conjunto de inter-relações dinâmicas entre elementos


componentes, constitui um quadro de referência relevante para a análise tanto dos sistemas
naturais como dos sistemas sociais?

Ainda que tentadora a utilização de um mesmo modelo teórico para os sistemas naturais e
sistemas sociais não se pode pensar em uma analogia entre sistemas de “ordens” tão
diferenciadas. Seria prudente considerar a semelhança entre os sistemas naturais e
sistemas sociais somente a característica que se refere ao sistema como um conjunto de
elementos interdependentes, ou seja, em sua característica mais geral. A complexidade das
relações existente nos sistemas sociais requer cautela na transposição de modelos. Só na
sua singularidade e em escalas definidas (tempo, espaço) é que se pode efetivamente
definir o funcionamento de cada sistema social.

A história de todas as sociedades humanas (até as mais tradicionais) é o produto de uma


tensão constante entre permanência (reprodução) e mudança. Todas tendem a se
reproduzir nas suas características demográficas, sociais e culturais essenciais, mas só
podem conseguir isso através de ajustes e mudanças que se operam ao longo do tempo.
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Esses ajustes são tanto o resultado da intervenção de fatores externos como das
contradições e tensões mútuas que vêm operando entre os vários campos da reprodução.
Ou seja, a tensão da ordem e desordem (reprodutivamente) é fundamental para o
funcionamento dos sistemas sociais. Bem como no caso da análise dos sistemas naturais,
as dimensões históricas das mudanças constituem-se como uma dimensão fundamental da
questão da “sustentabilidade social”.

Mas seria prudente deixarmos claro aqui que a “história” não se limita a uma sucessão de
ajustes a fatores externos ou contradições internas, ou seja, não se limita a uma sucessão
de ajustes. Assim como para os sistemas naturais, a ruptura é uma das possibilidades que
pode se desenvolver em dimensões constitutivas dos sistemas - naturais e sociais - fazendo
parte também da história dos sistemas. Quando os ajustes não são mais possíveis, pode
ocorrer transformação na própria natureza da dimensão analisada, como por exemplo, no
caso da teoria marxista, a revolução social é algo inevitável para se chegar a uma nova
ordem (capitalismo socialismo comunismo).

A noção de "sustentabilidade social" tal como assim aplicada, tem que ser criticada em
relação ao conceito muito mais amplo de reprodução social utilizada pelas ciências sociais.
A palavra "reprodução" é ambígua, na medida em que sugere a ideia de repetição
invariante. Não é nesse sentido que é utilizada pelas ciências sociais, mas como processo
dinâmico de perpetuação de uma entidade coletiva ao longo do tempo. Ela integra a noção
de mudança porque essa perpetuação só pode se realizar a custa de transformações e
ajustes, uma vez que consideramos a possibilidade de transformação cujo limite seja a
ruptura. Sabemos que, apesar da reprodução contínua de certas dimensões sociais ao longo
de um determinado tempo e de um determinado espaço, não podemos afirmar, no entanto,
que estas dimensões sejam eternas.

No que se referem à mudança social, as ciências sociais abordam este fenômeno sob
diversos ângulos e chegam a conclusões diferenciadas. É por este mesmo motivo que nas
ciências sociais não se pode falar em uma única teoria de mudança social, e nem em um
único fator determinante para todas as mudanças, ou seja, não necessariamente um
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determinado fator que desencadeia as mesmas respostas em todas as sociedades. Há


vários níveis e ângulos a partir dos quais a questão pode ser examinada, da própria
complexidade de funcionamento dos sistemas sociais.

Consideramos que há diversidade dos tipos de mudança social que dependem das
sociedades e das dimensões nela analisadas, como a estrutura econômica, as relações
sociais, a estrutura simbólica, etc.. As diferentes teorias sociais que constituem as ciências
sociais são o exemplo da diversidade de possibilidades de situações existentes, não só de
mudança, como de reprodução social.

Para se analisar a maneira como um sistema social funciona, se reproduz, muda e se


transforma, se deve considerar também muitas outras dimensões do que estritamente
econômicas, em particular culturais e imateriais - simbólicas, cognitivas, representacionais.
A característica essencial de um sistema social, o que o distingue mais radicalmente dos
sistemas naturais, tornando cautelosa, portanto, a analogia entre os modelos de
funcionamento destes sistemas, é que ele se organiza e funciona através da produção e de
circulação de sentido.

A questão das relações que se estabelecem, dentro do processo de reprodução e mudança,


entre as dimensões materiais e econômicas de um sistema social e suas dimensões
culturais imateriais (modelos que regem as relações sociais, instituições, quadros de
representação) permanece uma das mais essenciais discussões das ciências sociais Toda
discussão sobre a "sustentabilidade social", para ser cientificamente relevante, tem que
ampliar seu enfoque até abranger essas dimensões.

No domínio mais específico da economia, as ciências sociais têm desenvolvido conceitos e


quadros de análise que não confundem o conceito de "economia" com a sua forma
dominante da "economia de mercado". Elas até denunciam o caráter ideológico de uma
confusão que mascara muitas outras formas de produção, de circulação e de distribuição, de
bens e de serviços, operando-se fora do mercado, e que contribuem na reprodução social a
vários níveis (trabalho doméstico, economia "informal", rede de ajuda) que participam da
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produção e circulação de sentido (dons e contra-dons, produção artística, consumo


simbólico). O valor econômico de um bem, serviço ou recurso não se pode reduzir
meramente ao valor do mercado, tem que se levar em conta o valor de uso – considerando
como a contribuição à reprodução social. A noção de "sustentabilidade social" tem que ser
reexaminada à luz dessas acepções mais amplas da economia. Aqui não há ilusão! Para
uma sustentabilidade ambiental, há necessidade de uma mudança nos paradigmas da
economia de mercado. Precisa-se construir uma nova racionalidade econômica em que as
transações de troca estejam vinculadas a estratégias de sustentabilidade. Esta mudança
requer uma reorganização nas relações essenciais da sociedade e uma redefinição das
ações dos governos e das empresas. Mas para isto precisa-se ousar tanto para destruir a
hegemonia de um sistema depredador como para reconstruir um “novo” e ainda sem bases
concretas um “mercado sustentável”( Nove,1989)

Tratando-se da análise dos processos de reprodução e mudança dos sistemas sociais, uma
das linhas de questionamento mais forte que norteiam hoje as ciências sociais diz respeito
às relações que os atores sociais, ou os "sujeitos" sociais, mantêm com as lógicas globais
do funcionamento dos sistemas sociais. Os atores sociais (individuais e/ou coletivos) são
formatados pela ordem da sociedade da qual integram (cultura, instituições, relações de
poder) mas, ao mesmo tempo, interagem com essa ordem, opõem-se a ela, recuperam
práticas e estratégias de sobrevivência e desviam-na para novas direções, exercitam sua
capacidade de inovação: eles não são atores passivos mas autores, sujeitos e criadores da
ordem social. Nesse sentido, associa-se diretamente gestão de ralações sociais e de relação
com a natureza. Os atores, à medida que têm referência nos movimentos sociais, se
instituem como sujeitos formuladores de projetos de vida, bem como de projetos sociais. Os
processos de reprodução e mudança são estritamente ligados a esta tensão dialética entre
ator e coletividade.

Colocar a questão da "sustentabilidade social" em termos que não signifiquem o que, a


priori, ela deve ser, implica que deve ser considerada a posição dos vários atores sociais
em relação a ela, bem como os embates, as concorrências, os jogos de poder, as
negociações que se enredam em torno dela. É nesse sentido que se deve examinar as
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noções de participação, democracia, governança, muitas vezes associadas à busca de


"sustentabilidade social". Nesse tipo de análise as escalas de tempo e as escalas espaciais
são dimensões essenciais.

Abordagem crítica da noção de sustentabilidade

A essas várias interpretações das noções de sustentabilidade e de desenvolvimento


sustentável estão subjacentes vários pressupostos analíticos que dizem respeito às
realidades naturais, bem como às realidades sociais. Uma discussão crítica passa por um
questionamento desses pressupostos. Isso é a condição para conduzir análises que não
estejam numa mera ilustração destas noções, mas que coloque à prova sua validade e
possa produzir um conhecimento científico novo.

O primeiro pressuposto já embutido na própria palavra “sustentabilidade" é relativo à ideia de


permanência. Para que um sistema seja sustentável, ele tem que permanecer na suas
características essenciais. Isso levanta a questão do sentido dado à ideia de permanência
relacionada ao equilíbrio dos sistemas e da sua pertinência quando aplicada à análise, tanto
dos sistemas naturais como sociais. Nesse sentido é necessário, antes de tudo, questionar a
ideia de sistema.

O conceito de sistema é essencialmente dinâmico: a representação da realidade que propõe


considera que as propriedades de um sistema são o resultado das interações constantes
entre os elementos que os compõem. Existem sistemas que têm um grau elevado de
estabilidade, mas uma grande maioria deles, em particular os que são constituídos por seres
vivos, são significativamente instáveis. Eles são constantemente submetidos a tensões,
crises, ajustes ao longo de um processo de luta contra a entropia acompanhada de
intercâmbios com o exterior.

A permanência não se compatibiliza com a definição de qualquer sistema complexo e


aberto. Ela tem que integrar a noção de transformação e de mudança. Em outros
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termos, para permanecer ao longo do tempo, um sistema aberto precisa se


transformar.

A distinção entre "sustentabilidade natural" e "sustentabilidade social", apesar de ser útil


inicialmente para delimitar campos de reflexão, pode introduzir um grave desvio na maneira
de colocar a questão das relações entre sociedades e natureza na medida que ela cria uma
dicotomia que não dá conta da real interdependência das duas ordens da realidade.
Essa dicotomia fundamenta a quase totalidade das acepções da "sustentabilidade". A
sustentabilidade do meio natural é pensada como passando por sua proteção das
perturbações criadas pelas atividades dos homens. A "sustentabilidade social" é pensada
como um desenvolvimento que não desgaste o meio natural. A "sustentabilidade" seria o
resultado de uma vinculação dos dois sistemas.

Essa dicotomia não dá conta da maneira como, tanto as ciências naturais como as ciências
sociais, começam hoje pensar as relações entre sociedade e natureza.

A própria noção de "natureza", como se esta fosse pensável enquanto realidade em si, é
uma abstração. A quase totalidade dos meios naturais que se pode observar é produto da
ação dos homens. Então é preciso considerar escalas de tempo e de espaço, só assim
pode-se entender que não há uma natureza, mas “formas de natureza”, que são construídas
sob certos aspectos culturais, políticos, econômicos etc. em épocas distintas.

O homem está presente em praticamente todos os lugares do planeta, mas a forma de


apropriação que as diferentes sociedades fazem dos recursos naturais é diferenciada.
Alguns sistemas podem nem “perceber” certas perturbações causadas por sociedades
tradicionais, por exemplo. Ou seja, a escala da perturbação causada é muito pequena em
relação ao sistema. Além disto, determinados fenômenos da dinâmica natural ainda não são
influenciados pela ação do homem, mas o influenciam grandemente, e configuram o
ambiente, como erupções vulcânicas, terremotos, el niño, el niña, entre outros.
Para muitos não há ainda comprovações concretas de que muitos destes fenômenos seja
resultado do processo de antropisação do planeta.
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Há que considerar que os homens, não só enquanto elos da cadeia trófica, mas como seres
sociais, participam dos processos de formatação dos meios que eles ocupam. Pois, nas
suas características presentes bem como na sua história de transformações e mudanças
esses meios não podem ser analisados independentemente da história de suas relações
com as sociedades.

Os seres humanos não podem ser pensados apenas como perturbadores mas sim como co-
autores dos meios naturais. Evidentemente isso não implica que as atividades humanas
tenham sempre efeitos positivos sobre o meio: elas podem influenciar suas dinâmicas
intrínsecas de mudança num sentido que modifiquem profundamente e de maneira
irreversível suas características. Isso significa simplesmente que os dois sistemas estão em
uma co-evolução interdependente. Evolução no sentido de história e não como percurso
finalizado ao longo de um eixo temporal.

Porém, deve-se levar em conta também que a interação do homem com o meio ambiente
não foi de troca mútua, foi de conquista. A história da humanidade evidencia uma
progressiva apropriação dos espaços físicos da superfície terrestre na busca do homem por
“novos” limites. Esta apropriação de espaços se deu não só pelo aumento populacional, que
para os malthusianos até poderia ser considerado matematicamente natural, mas,
especialmente, pela necessidade que o homem teve de explorar e dominar os espaços à
sua volta.

Com o sistema capitalista este processo se intensificou, pois à medida que o relacionamento
do homem moderno com o meio ambiente se aprofundava, ocorria à valorização econômica
dos mais variados recursos naturais dos diversos lugares do planeta. Assim a natureza fez
parte do desenvolvimento social, econômico, cultural e político de quase todos os lugares
habitados.

A sociedade como parte da natureza


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De maneira simétrica, uma vez que o quadro de análise integra as inter-relações entre os
dois sistemas, não se pode pensar na estrutura e no funcionamento do sistema social sem
levar em conta o fato de ele ser também resultado de relações com suas bases materiais.
Pelos próprios corpos dos indivíduos que a constituem, uma sociedade faz parte da
natureza. Ela tem que se ajustar, se compatibilizar a seu ambiente. A análise desses
processos de adaptação e de ajuste consta dos objetivos centrais da Ecologia humana.

O problema da influência do quadro físico-natural sobre a gênese das instituições e da


cultura de uma sociedade é também central nas reflexões da Antropologia. Essas questões
gerais não cabem ser discutidas aqui, no entanto, as dinâmicas da reprodução e da
mudança de um sistema social não devem ser analisadas sem integrar o papel dos fatores
ambientais e naturais, e vice-versa. Por exemplo, as estratégias (técnicas, políticas
econômicas e sociais, etc.) de ajuste a modificações nas condições físico-naturais
constituem um elemento imprescindível da compreensão das dinâmicas sociais. Uma
reflexão crítica sobre a noção de "sustentabilidade social" e de “sustentabilidade natural” tem
que integrar também essas dimensões. Ou seja, temos que recuperar a noção de inte-
relações entre os sistemas naturais e sociais.

Na interpelação do homem e de sua organização social com o meio natural há uma


especificidade em relação às demais espécies. Especificidade esta que torna complexa a
reprodução e mudança da sociedade e da relação estabelecida com o meio ambiente que a
cerca.

Assim as características específicas das sociedades humanas é que elas se organizam e


funcionam a partir da produção e da circulação de sentido: saberes, representações,
símbolos, valores, etc. Por isso, a maneira como elas ordenam as relações entre seus
membros bem como o relacionamento com o meio ambiente são o produto dessa
"economia" do sentido. A própria ideia de Natureza nasce do pensamento humano,
profundamente marcado pelos quadros culturais. Desse ponto de vista, as noções de
"sustentabilidade, "proteção", "preservação" assentam-se sobre representações da Natureza
e têm que ser analisadas como tais (Diegues,1996).
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O pensamento científico, por específico que seja no seus procedimentos, constitui também
uma forma de representação do mundo material e contribui na produção de imagens da
Natureza. Por seu lado, saberes tradicionais, taxonomias não científicas, mitos são a
expressão de um trabalho de representação do mundo e uma das manifestações mais
profundas do gênio de uma cultura (Levi-Strauss, 1962).

A relação dos homens com o meio físico-natural não pode ser apenas analisada em função
de finalidades práticas e da satisfação das necessidades básicas. Ela passa
necessariamente por uma atividade mental e simbólica de representação da natureza.
(meio, relações sociais, história de vida, etc) Nesse sentido, as práticas são manifestações
culturais e sociais (Haudricourt, 1987).

A representação é uma forma de conhecimento determinada por dimensões sociais


presentes na relação homem/natureza, dentre elas a prática social dos atores, incluindo a
exploração econômica desta natureza. Em outras palavras é determinada pela posição que
os atores ocupam na sociedade e pela relação que eles estabelecem com o sistema social e
o objeto representado, além da visão de mundo construída e reconstruído historicamente por
cada grupo social. Elas não apenas contribuem às dinâmicas de transformação dos meios
naturais, mas também são intimamente ligadas aos processos de mudança social. Por isso,
elas colocam-se no cerne da rede de relacionamento entre sistema social e sistema natural
e tem-se que levá-las em conta num esforço de análise crítica tanto da noção de
"sustentabilidade natural" como daquela de "sustentabilidade social".

A busca de novos pressupostos para o conhecimento científico

A ciência moderna, seguindo a trajetória da evolução do pensamento humano,


historicamente sempre teve a necessidade de ordenar o “caos”. Este princípio obedece a
três postulados: a busca de leis universais, a descoberta por comprovação científica e a
reprodutividade dos dados experimentais. Assim das explicações sagradas passou-se para
as explicações logicamente articuladas pelo pensamento científico metodizado. Com isso a
física clássica, que é talvez a única que confirma com justeza os três postulados científicos,
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elege-se a rainha das ciências, pois consegue construir uma visão de mundo apaziguante e
otimista.

Com o cientificismo o homem é levado a buscar uma única realidade. O determinismo entra
na história das idéias absorvendo todas as ciências. Também os dogmas e ideologias que
devastaram o século XX vieram do pensamento da física clássica. A partir dai a natureza
passa a ser vista como uma amante para ser penetrada, dominada e conquistada
(Nicolescu,1999).

Segundo Nicolescu(1999) no início do século XX, por uma estranha coincidência, três fatos
marcaram a humanidade e mudaram os caminhos de todas as ciências, são eles:a primeira
guerra mundial e a revolução russa no mundo visível e a mecânica quântica no mundo
invisível. As duas primeiras foram marcadas por violências e massacres. Já a segunda iria
mudar profundamente a visão de ciência do mundo ocidental. A partir daí passa-se do
determinismo da física clássica para o indeterminismo da física quântica. Pois neste novo
mundo quântico as entidades continuam a interagir independente de seu afastamento. A
noção do espaço e do tempo já não mais pode ser explicada “banalmente” pela física
clássica.

Para Nicolescu as questões agora passam a ser: Como compreender a descontinuidade ?


Como imaginar que entre dois pontos não há nada? Como lidarmos como uma outra
realidade?

Foi com a física quântica, descoberta por Max Planck, que o homem passou a ter que
considerar a coexistência paradoxal da reversabilidade e irreversabilidade do tempo. Este é
um dos aspectos dos diferentes níveis da realidade ora descoberto. A física aproxima-se aí
ao tempo filosófico, que nunca conseguiu definir o “tempo presente”, pois ele é um tempo
vivo. Como os filósofos haviam descoberto a vida, a nossa vida, não é algo delimitado no
tempo e no espaço. É certo que pensamento humano ainda é impotente para apreender
toda a riqueza do tempo presente.
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Um outro “escândalo” demonstrado pela física quântica é a lógica do terceiro incluído que,
ao contrário da física clássica, admite que o contraditório está no seu oposto, e que então a
noite é dia , o preto é branco, a mulher é homem, a vida é a morte, caindo por terra o dogma
de um único nível de realidade, que domina o pensamento ocidental. Seguindo este único
dogma foi que, segundo Nicolescu(1999), ocorreram milhões de morte no regime Stalinista
da Rússia e no Nazismo alemão, pois uma lógica, quando seguida sem admitir-se outra,
nunca é inocente.

Assim o homem ocidental passa a rever seus próprios conhecimentos. E o que é mais
ameaçador e fantástico, rever sua própria existência.

Nas últimas décadas do século XX a complexidade instala-se por toda a parte, com isso
observa-se um big-bang disciplinar sem precedentes na civilização, proliferam-se disciplinas
cada vez mais específicas. Nicolescu não considera este fato de todo ruim, porém salienta
que não se pode esquecer que a complexidade se revela em todas as disciplinas. Se isso for
esquecido continuar-se-á a parcelar ainda mais o conhecimento, afastando-se, cada vez
mais da noção do todo.

Ao se perguntar se seria possível entender o mundo presente, Nicolescu propõe como


resposta: Esta compreensão só será possível quando forem incorporados os diferentes
níveis de compreensão da realidade, em especial no campo do sagrado, que é um dos
campos que poderá nos trazer sentidos tanto para a nossa vida como para nossa morte.

Para Nicolescu (1999) a complexidade infinita do objeto transdisciplinar passa a ser uma
unidade aberta entre o objeto transdisciplinar e o sujeito transdisciplinar. Esta orientação dá
um novo sentido à verticalidade do ser humano diante do mundo. A visão transdisciplinar
propõe a verticalidade consciente e cósmica da passagem entre diferentes níveis de
realidade, o que para ele poderá fundamentar toda o projeto social de vida.

A transdisciplinaridade, para Nicolescu está ao mesmo tempo entre, através e além das
disciplinas, assim, a estrutura descontínua dos níveis de realidade determina a estrutura
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descontínua do espaço transdisciplinar. Os três pilares que dão sustentação a


transdisciplinaridade são: os vários níveis de realidade; a lógica do terceiro incluso, e a
complexidade.

Segundo Nicolescu(1999) para o saber transdiciplinar a natureza é viva é a matriz do


autonascimento do homem, pois natura tem como raiz nasci(nascer). Assim ela se mostra
como um órgão de reprodução. Mas para isto o homem terá que voltar a se espantar no
espelho da natureza. O autonascimento do homem torna-se inseparável do autonascimento
do universo.

A consciência da noção de vários níveis de compreensão esclarece o que poderia ser a


evolução do homem moderno. Para Nicolescu, esta exploração esta apenas começando e
marca uma nova etapa na história, que, segundo ele, estará baseada no conhecimento do
universo exterior em harmonia com o autoconhecimento do ser humano (Nicolescu,1999).

A descoberta do Espaço Tempo Cibernético (ETC), a virtualidade do computador talvez seja


um sinal da descoberta de uma nova realidade, pois o espaço virtual é Natural (ele existe)
ou é artificial (Não existe). Para Nicolescu o ETC permite a noção de níveis de realidade e
da lógica do terceiro incluído, pois ele é potencialmente um espaço transcultural,
transnacional e transpolítico.

Já na análise que a Comissão Gulbenkian (tento como presidente Immanuel Wallerstein)fez


da reestruturação da Ciências Sociais frente aos novos paradigmas da modernidade, são
colocados os três pressupostos que segundo a comissão teriam norteado-as após 1945.
Estes chamados “desenvolvimentos” afetaram profundamente a estrutura das ciências
sociais que tinha sido montada ao longo dos cem anos precedentes. São eles:1º) a mudança
verificada na estrutura política mundial pós segunda guerra mundial, em que os Estados
Unidos emergiram tanto política como economicamente dotados de um poder esmagador,
2º) o fato de nos quase 30 anos seguintes a segunda Guerra Mundial o mundo conhecer a
sua maior expansão econômica em todos os tempos e 3º) é que neste período se deu uma
extraordinária expansão tanto qualitativa como quantitativa das universidades a nível
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mundial. Para Wallerstein(1996,p. 56): “ Cada uma destas três novas realidades sociais veio
colocar um problema para as ciências sociais tal como estas haviam sido, historicamente,
institucionalizadas”.

Dentre as muitas críticas as formas de abordagens que até a metade do século XX as


ciências sociais tipo convencional (mainstream) utilizavam-se, uma ganhou destaque a partir
da década de 1960, a acusação de que elas tinham descurado a centralidade das
transformações sociais e favorecido com isso uma mitologia do consenso além de que,
haviam manifestado uma autoconfiança ingênua e mesmo arrogante ao aplicarem conceitos
ocidentais à análise de fenômenos e de culturas muito diferentes. Para Immanuel
Wallerstein(1996):

O desmantalamento da segregação intelectual entre o estudo das regiões ocidentais veio


colocar uma questão intelectual fundamental e de vastas implicações políticas. Seriam as
duas regiões ontologicamente idênticas ou diferentes?(p.63)

Seguindo uma outra lógica, Santos(1999) também condena a incapacidade conceitual das
ciências sociais, frente aos novos pressupostos da modernidade, para ele:

A rapidez, a profundidade e a imprevisibilidade de algumas transformações recentes


conferem ao tempo presente uma característica nova:a realidade parece ter tomado
definitivamente a dianteira sobre a teoria. Com isto, a realidade torna-se hiper-real e
parece teorizar-se a si mesma. Esta auto-teorização da realidade é o outro lado da
dificuldade das nossas teorias em darem conta do que se passa, em última instância, da
dificuldade em serem diferentes que supostamente teorizam. Esta condição é, no entanto,
internamente contraditória. A rapidez e a intensidade com que tudo tem acontecido se, por
um lado, torna a realidade hiper-real, por outro lado, triviliza-a, banaliza-a, uma realidade
sem capacidade para nos surpreender ou empolgar (Santos,1999,p.19).

Já para Floriani (2000):

[...] a possibilidade de se definir o que seja conhecimento em especial conhecimento


científico só ganha consenso relativo no interior de comunidades científicas que
legitimam determinadas formas de procedimentos técnicos, ao produzirem resultados
submetidos à apreciação e ao controle da prova pela comunidade de cientistas e ao
desenvolverem alguns interesses em torno a benefícios e as formas prestigiosas de
poder. Esta dimensão é captada pela sociologia da ciência (p.25-26).
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Mesmo assim apesar da dicotomia epistemológica que estruturou o embate e organizou o


debate da teoria do conhecimento durante todo o século XX, sobrou muito pouco espaço
para avanços e superação de algumas contradições basilares da ciência moderna.Isso,
porque de um lado, enfileiram-se os positivistas, defensores das ciências naturais como a
fundante e única fonte lógico-metodológica de cientificidade do conhecimento moderno. Para
estes, o quantitativo, o objetivo, a neutralidade (a realidade do fato sem valor), o imediato
observado pelos sentidos (a aparência), o objeto dado, o sujeito separado do objeto, o
isolamento do objeto, a dedução, entre outras, são os pressupostos determinantes do
processo de produção do conhecimento (Becker, 2000).

Em compensação do outro lado, encontrava-se os “não positivistas” defensores das


ciências sociais como alternativa lógico-metodológica de produção do conhecimento
científico. Para estes, a qualidade, a subjetividade, a não-neutralidade (a ideologia do valor
contido no fato), o mediato das relações, o objeto construído pelo cientista, a impossibilidade
de separar o sujeito do objeto, as limitações de um objeto esterilizado, a indução, entre
outras, são os elementos limitantes do processo de produção do conhecimento.

Para Immanuel Wallerstein, isso se deve em grande parte, porque “... a ciência (newtoniana
havia triunfado sobre a filosofia (especulativa), afirmando-se como a encarnação mesma do
prestígio social do mundo do conhecimento. Este triunfo se dava muito especialmente por
que “ Do ponto de vista político, o conceito de leis deterministas afigurava-se mais útil ás
tentativas de controle tecnocrático dos movimentos- potencialmente anarquizantes-
apostados na mudança (Wallerstein, 1996,p. 24-25).

O momento atual requer uma nova fase do conhecimento científico. Fase em que os
caminhos metodológicos se farão no andar do processo de elaboração do conhecimento e
estarão subordinadas diretamente a eles. Nisso a própria produção e reprodução do
conhecimento deve ser entendida enquanto processo, pois é o conhecimento que se faz. É,
portanto, o conhecimento se fazendo.
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Segundo Becker (2000) é possível e muitas vezes imprescindível, desfazer o conhecimento


que estava feito para refazê-lo com base em outra concepção da realidade ou em outra
realidade. Em sendo assim, sempre é possível rever e revisar e até mesmo desfazer,
refazendo os caminhos percorridos. Para isso terá que se enfrentar as posições rígidas
firmadas ao longo do processo de afirmação cartesiana do rigor científico ou do que seja
cientificidade na crença positivista e não-positivista.

Propõe Becker (2000) que uma das formas de enfrentar essa visão ou concepção
reducionista é conceber o processo de produção do conhecimento como um processo em
aberto, composto por múltiplos procedimentos e formas de conhecimento. Em
consequência, os caminhos e as técnicas também precisam compor um leque instrumental
em aberto, se fazendo e refazendo, no tempo e no espaço, ao andar da realidade efetiva. É
este novo desafio que está posto a todas as ciências.

Considerações finais

As limitações disciplinares têm uma íntima ligação com a problemática ambiental. Estas
duas preocupações começaram a ser contempladas nos debates científicos, a partir da
década de 1970. Década, em que após o mundo ocidental ter passado por trinta anos de
crescimento acelerado, o saber científico passa a questionar-se sobre as formas
depredatórias desse crescimento.

A preocupação teórica desta problemática teve como ponto de partida o relatório do Clube
de Roma. Documento de repercussão internacional, que pela primeira vez na história do
sistema capitalista apontava (mesmo que por um “criticado” programa de computador) os
limites do crescimento da produção. Limite este que se devia à constatação do caráter finito
das reservas mundiais de recursos não renováveis, especialmente os relativos à energia.
É desta época em diante que praticamente todas as ciências passam a questionar suas
abordagens tanto epistemológicas quanto metodológicas.
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As explicações disciplinares passaram a ser insuficientes para abordar a complexidade


ambiental do mundo contemporâneo.

A especialização científica “exigida” na busca de produtividade econômica era agora


insuficiente para explicar o “todo”. Além disso, o big-bang disciplinar fez do homem um
explorador da natureza sem, ou com poucos critérios de preservação/conservação. A
estratégia produtivista sempre foi de usufruir-se dos recursos ambientais que acreditava-se
estar a disposição “só” para a geração atual. Não havia nenhuma preocupação com as
gerações que viriam.

Com a constatação das limitações ambientais surge a complexidade das relações entre o
homem e a natureza, que passa a expor as limitações das abordagens reducionistas para o
trato da questão ambiental. Assim, Segundo o professor Paulo Lana: “Neste contexto há
pelos menos duas décadas que diversas abordagens ditas integradoras, sejam elas
multidisciplinares,interdisciplinares ou transdiciplinares, são discutidas em todo o mundo,
tanto no plano epistemológico como metodológico.(Lana,2000,p.103)

Immanuel Wallerstein(1996) referindo-se as ciências sociais admite que:

Devemos começar a dizer que o que temos a oferecer não são fórmulas simples e
acabadas, mas antes de mais nada um conjunto de propostas provisórias que nos
parecem apontar na direção correta. Hoje em dia, não há clareza das ciências sociais, o
que é o resultado de um processo de ofuscação cujas raízes procuramos explicar. Como
é óbvio, é sempre possível proceder a ajustamentos- e leis estão constantemente a ser
feitos- no sentido de atenuar algumas das irracionalidades existentes. De modo algum
defendemos que se devera abolir a idéias da divisão no interior das ciências sociais, a
qual bem pode continuar a assumir a forma de disciplina. As disciplinas desempenham
uma determinada função: a função de disciplinar as mentes e de canalizar a energia
utilizada na atividade intelectual e de investigação.Tem, contudo,que haver algum grau de
consenso quanto à validade das linhas de demarcação,se é que estas hão de servir para
alguma coisa (p.134).

Já Enrique Leff (2000) propõe pensar as questões ambientais sobre o prisma dialógico que
paute pela dinâmica da complexidade, que para ele esta inerente na questão ambiental
contemporânea. Com isso procura dar impulso a uma pedagogia da complexidade que
abarque uma concepção de Educação Ambiental. Esta concepção deverá utilizar-se das
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mais diversas áreas do saber. É por este meio que deverá ocorrer à hibridização que
relacione e correlacione os saberes disciplinares. Para Leff tal forma de prática pedagógica é
antes uma construção social do que um aparato que regre as relações de ensino-
aprendizagem, levando a uma perspectiva social de solidariedade e de equidade em relação
á natureza.

Sem entrar no mérito dos valores da “di,trans,multi,pluri” ou interdisciplinar Ilya


Prigogine(1996) acredita otimistamente que: “Assistimos ao surgimento de um ciência que
não mais se limita a situações simplificadas,idealizadas, mas nos põe diante da
complexidade do mundo real,uma ciência que permite que se viva a criatividade humana
como a expressão singular de um traço fundamental comum a todos os níveis da
natureza”(p.14)

Seguindo esta linha Floriani (2000a) acredita que:

O desafio do cientista de hoje seria o de transpor a repetição, alterando procedimentos


convencionais na reprodução do conhecimento, buscando a fonte de sua imaginação em
diferentes referenciais cognitivos, não apenas em sua disciplina científica, mas também
em outras fontes da estética, dos conhecimentos espontâneos, em especial daqueles
arraigados na cultura dos povos (do presente e do passado) (p.4).

Para ele a ciência moderna não pode, esquecer-se de refazer tanto seus fundamentos
como resultados. Estes sob à luz de juízos éticos. E questiona afinal: “..para que e para
quem serve a ciência?” (p. 4)

Dizer que a ciência passa por uma crise de paradigma passou a ser lugar comum. A ciência
clássica fez da natureza um autômato. A era industrial equipou este autômato com um motor
cujos recursos (meio ambiente) iriam se esgotar mais cedo ou mais tarde, portanto esta era
uma trajetória prevista. O que se busca agora é uma reinvenção da natureza. Porém não
propomos abandonarmos de forma radical e por completo os paradigmas clássicos, mas sim
construirmos novos pressupostos baseados não só no rigor científico, mas também na
criatividade, na imaginação, nos sonhos, na ilusão, nos sentidos... e principalmente num
diálogo permanente, efetivo, afetivo e apaixonante com a natureza. Admite-se com isso,
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que certamente não haverá um só caminho na busca de explicações para este novo e
complexo mundo.

A questão ambiental transformou-se em uma emergência caótica nesse desigual e


embrionário processo em construção a qual denominaremos aqui, por falta de adjetivos
melhores, de sociedade-mundo(modernidade!). Esta sociedade inserida em um território
finito (planeta) que ficou pequeno para comportar um sistema complexo de relações, tanto
entre os seres humanos – guerras por espaços e meios de produção- e entre seu meio-
ambiente – ocupação de todas as áreas do planeta, depleção da camada de ozônio,
extinção de espécies.

Essa “parafernália” de técnicas a qual o planeta se encontra dotado hoje, em uma textura
infindável de comunicações (aviões, telefone, fax, Internet, etc), que nenhuma outra
sociedade do passado jamais teve, levou o homem a reconhecer a complexidade em que
vive, e ao mesmo tempo, a um paradoxo: este era o destino humano na terra? Conhecê-la
nas suas entranhas, explorá-la até seu esgotamente e finalmente esgotá-la irreversivelmente
é esse o destino que nos resta? O que é quase consenso (quase!?) é que chegamos a um
limite, ou revemos este processo, ou viveremos, como sugere o falecido economista,
considerado um dos mentores da economia ecológica, Georgecus-Rogen: “[...]o destino da
humanidade talvez seja ter uma vida curta, mas ardente, extravagante e excitante, em vez
de uma vida longa, uma existência vegetativa. Talvez seu destino seja deixar outras
espécies- as amebas, que não possuem nenhuma ambição espiritual – herdar a Terra ainda
banhada plenamente em raios solares.”

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