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Introdução
O Século XX foi marcado pelas guerras (Hobsbawm,1995), dois conflitos mundiais seguidos
por duas ondas de rebeliões e revoluções que levaram ao poder governos socialistas que se
diziam uma alternativa previamente pré-destinada à sociedade capitalista burguesa. Para
Hobsbawm (1995) a tentativa de construir o socialismo produziu conquistas notáveis, mas a
um custo enorme e inteiramente intolerável daquilo que acabou se revelando uma economia
sem saída.
Neste século os imensos impérios que haviam sido erguidos na chamada Era do Império
(Hobsbawm,1988) se abalaram e ruíram. No fim sobrou apenas um regime único de
economia capitalista e organização social baseado na competitividade e exclusão.
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As soluções propostas pelas instituições globais e seus burocratas, para ajustar este
sistema, nas últimas décadas do século XX (a chamada globalização neoliberal) foi o
afunilamento da lógica privatizante, que subjugaram os Estados dos países pobres aos
interesses do mercado. Na confissão do renomado economista Joseph Stiglitz (ex-Banco
Mundial):
Já o século XXI começa, numa das épocas mais complexas da história, uma complexidade
ainda carente de definições. Em praticamente todas as áreas do conhecimento os
paradigmas estabelecidos não conseguem explicar as diversas faces que perpassam os
problemas socioambientais. A busca por novos paradigmas para responder a novas
problemáticas é uma urgência inerente ao desenvolvimento científico. O que é preocupante
é que diante destas novas interrogações, não surgiram novas respostas, ou pior as
respostas continuam baseadas em pressupostos clássicos geralmente incompletos e ou
inadequados.
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Para David Harvey (2010) este transmudado capitalismo (porém o mesmo) alterou o escopo
da economia no globo:
“Assim como o advento das vias férreas e do telégrafo no século XIX reorganizou por
inteiro a escala e a diversidade das especializações regionais, bem como da urbanização e
da regionalidade em geral, assim também a onda mais recente de inovações (de aviões a
jato e do uso de contêineres à Internet et.) alterou a escala de articulação da atividade
econômica.” (HARVEY,2010,p. 86).
Cientistas, escritores, economistas, sociólogos, etc, criam neologismos que tentam explicar
o momento atual, todos eles aceitos e convincentes mais por representarem parte do que
ocorre, do que por conterem todas as explicações possíveis. Segundo Floriani (2000, p.25):
Alguns autores que inauguraram essa discussão(Daniel Bell, Alan Touraine, Ralf
Dahrendorf, Alvin Toffler, entre outros) não chegaram a extrair todas as conseqüências
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teóricas e empíricas das sociedades pós-industriais, uma vez que seus estudos foram
feitos ainda no calor daquelas mutações. Mas recentemente, De Masi e Castells
conseguiram avançar melhor na compreensão dessas mudanças.
Nunca a civilização teve tantos recursos tecnológicos a sua disposição, porém, em nenhuma
outra época se viu tanta fome e miséria em praticamente todos os recantos do planeta. Ao
mesmo tempo não há ainda, nem numa perspectiva remota, a possibilidade de em um futuro
próximo os graves problemas socioambientais serem resolvidos.
Vale ainda lembrar algumas sombrias estatísticas sobre a desigualdade social. Segundo
dados do IMDPE (Instituto Mundial para o Desenvolvimento de Pesquisas Econômicas ) da
Universidade das Nações Unidas, uma minoria de 1% dos mais ricos possuía 40% dos bens
do mundo em 2000, e os 10% mais ricos possuíam 85%. Já a metade da camada mais
baixa da população mundial mal possuía 1% dos bens do planeta. Ainda neste sentido os
Cinco países mais ricos do mundo – EUA, Japão, Alemanha, França e Reino Unido –
possuem 13% da população mundial e desfrutam de 45% da renda do mundo. Enquanto
isso China e Indonésia que possuem 42% da população mundial recebem 9% da renda. Ou
de outra maneira 50 milhões de pessoas mais ricas do mundo recebem mais renda do que
57% da população mundial, 3,5 bilhões de pessoas.
Destarte, mesmo diante das evidências deste paradoxo o “modelo” capitalista de produção
continua baseado na otimização de três princípios que o sustentam desde a sua origem: a) a
busca de melhores meios de competitividade, b) o aproveitamento de mão-de-obra mais
barata e c) a exploração do meio ambiente. Neste último item deve-se salientar que os
mecanismos produtivos implantados, na busca de maior produtividade e eficiência
econômica tiveram pouca preocupação com a preservação e/ou conservação dos recursos
ambientais do qual se utiliza. Utilização esta que se acirrou acintosamente nas últimas cinco
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décadas (Leis, 1999). A evolução tecnológica não obedeceu a critérios de parcimônia com
os recursos naturais.
Assim com os desgastes ambientais causados pela expansão das atividades produtivas, caí
por terra no final do século XX o otimismo, principalmente dos liberais, em se acreditar que
após a Segunda Grande Guerra se poderia ter um desenvolvimento/ crescimento em todas
as Nações do ocidente. Ou, em outras palavras, descobriu-se ser “ambientalmente”
impossível todos os países do ocidente chegarem aos mesmos índices de desenvolvimento
dos países ricos. Com isso, condena-se quase da metade da população mundial a viver
“infinitamente” com pobreza e a fome (Ilich,2000).
Mesmo assim, parece haver um consenso generalizado entre a maioria dos empresários,
políticos, governos e cientistas de que o livre mercado será capaz de se auto-regular em
prol, tanto da diminuição da injustiça social como da racionalização no uso dos recursos
naturais. Estes não querem acreditar que muitos dos problemas sociais e ambientais
emergiram, em grande parte, da própria desregulamentação do mercado. Esse sistema já
provou que será impossível conciliar tanto a necessidade básica· da grande maioria dos
habitantes do planeta e muito menos ainda diminuir/racionalizar o uso dos recursos naturais
(Foladori,1999).
Pela primeira vez na história se tem consciência de que as atividades humanas podem por
fim na estada da espécie humana na terra.
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Paradoxalmente, o fim da humanidade poderá ser causado pelos impactos ambientais que o
próprio homem causou no habitat em que vive, pretensamente em busca de melhores meios
para se viver.
A partir do século XIX a ciência passa explicitamente a ser colocada a serviço da técnica e
da produtividade industrial. As atividades humanas tornam-se, cada vez mais fragmentadas
e específicas. A visão Durkaniana se comprova: o homem para ser útil neste sistema, tem
que ser especialista.
Um dos exemplos clássicos desta trajetória pode ser visto na obra de F.W. Taylor (1856-
1915), que surge no momento da segunda revolução industrial, ou seja, na fase de produção
em série, em que o industrialismo necessitava de uma organização sistemática das
atividades dos trabalhadores.
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Segundo Floriani (2000): “Taylor buscará desenvolver a idéia de que todo o trabalho
industrial é capaz de receber um tratamento científico”(p.35).
Nesta trajetória fica clara a intenção de separar a execução da concepção das atividades
dos trabalhadores. Ou seja, como Floriani (2000) afirma:
O cálculo e o planejamento científico do trabalho não deverão ser feitos pelo operário.
Essa concepção chega à seguinte conclusão: o melhor conhecedor do trabalho do
mecânico não é o próprio mecânico. Deve-se retirar-lhe sua iniciativa (p.35).
Nesta mesma linha Habermas (1988) admite que o fim do século XIX marcou o surgimento
de uma nova tendência de desenvolvimento do sistema capitalista. Uma fase que se
caracteriza pelo surgimento mais frequente de novos produtos, serviços e equipamentos
oriundos do que ele denominou de cientifização da técnica. Nesta fase ocorre uma forte
pressão institucional para aumentar a produtividade do trabalho. Dinamiza-se a introdução
de novas e produtivas técnicas.
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A partir deste fenômeno provocado pela exigência de mais produtividade, mas eficiência,
menos custos e especialmente mais lucros, cada setor das ciências tanto natural como
social se compartimentaliza a ponto de surgirem especialistas que pouco ou nada sabiam de
atividades de sua mesma área, como o surgimento das inúmeras especialidades nas
engenharias.
Segundo Crane e Smaal (1992) citados por Coutinho et al.(2000) existem cerca de 8530
campos definidos do conhecimento. Esta macro especialização gerou uma enorme
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Além disso, muitos dos problemas ambientais, como por exemplo, à perda de
biodiversidade, foram resultados em grande parte do tido “sucesso” na intervenção da
natureza de técnicas empregadas por especialistas competentes, mas desconhecedores,
desinteressados ou descomprometidos com a complexidade da abordagem ambiental
(Coutinho et al., 2000).
Ainda para Coutinho et al., (2000) a pesquisa disciplinar abarca só um determinado aspecto
da realidade, assim ela elabora conhecimentos somente sobre certa parte da questão
ambiental. Não possuí a capacidade para entender toda complexidade que envolve os
problemas ambientais contemporâneos, para Coutinho et al: “A prática dessas
subdisciplinas exige um conhecimento especializado cada vez mais sofisticado, o que pode
provocar seu isolamento. Em conseqüência, há o risco da formação de um especialista
alienado...”(Coutinho et al.,2000, p. 1).
A pesar de que la realidad es siempre una sola, la división científica del trabajo ha llevado
a la consolidación de teorías e instrumentos de experimentación e investigación acotados
a esferas o espacios de la realidad relativamente diferenciados. Esta división científica del
trabajo es parte de la división social del trabajo, y tiene sus raíces en el desarrollo de la
productividad en las distintas ramas económicas, en la formación de las clases sociales
de la moderna sociedad capitalista,...” (Foladori,1996,p. 62)
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Para Floriani (2000) “A divisão social do trabalho nas sociedades pós-industriais, reproduz
ainda, em grande medida, os resquícios da organização taylorista do trabalho.” E segue
mais adiante: “Se estes princípios forem encontrados na prática da concepção e execução
do trabalho científico nas chamadas agências de conhecimento (laboratórios, universidades,
escolas técnicas, etc.) não é mera coincidência. São racionalidades do sistema de
mercado,de conceber e executar tarefas,que impregnam o ethos do trabalho e da
ciência.”(p.35)
A sustentabilidade do desenvolvimento
Sem dúvida este processo gerou um incremento importante na produção e no consumo nas
últimas décadas, e com ele uma destruição sem precedentes dos recursos naturais.
Também não possibilitou um desenvolvimento equitativo para a humanidade, como
acreditavam os economistas liberais e kenyesianos que delinearam a economia ocidental a
partir das políticas do Fundo Monetário Internacional (FMI) após a segunda guerra mundial.
Os debates sobre o meio ambiente surgidos neste contexto, particularmente a partir do final
dos anos sessenta, trazem o diferencial histórico de relacionar a degradação ambiental com
o desenvolvimento. Assim a noção predominante e unificadora de desenvolvimento
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econômico que sucedeu a Segunda Guerra Mundial até meados dos anos sessenta, é
associada à possibilidade de desequilíbrios ambientais e a desigualdade social.
O limite desta visão e dos projetos que ela orientava, fez com que gradativamente uma série
de aspectos sociais fossem incorporadas à ideia de desenvolvimento, entre os quais o
emprego, a saúde, a educação, a equidade social e principalmente o direito a um ambiente
de qualidade.
Desta crítica decorre a noção de desenvolvimento como mito ou ilusão. Essa análise,
descrita pelo mestre Furtado na década de 1970, se refere a uma crítica sobre a às noções
evolucionistas que homogeneízam as sociedades e estabelecem critérios à priori de
desenvolvimento. Da mesma forma esta crítica centra-se nas pretensões universalistas das
abordagens que qualificam o modo de vida de um povo, tendo como referência o modelo
ocidental.
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deve ser vista sob o ponto de vista da exploração dos recursos renováveis e não renováveis
onde a base tecnológica é a dos parâmetros do consumismo ocidental.
Neste sentido precisa-se admitir que a tecnologia também evoluiu. Contudo a dúvida é saber
se poderá surgir uma nova base sustentável da natureza, aos moldes da crença
cornucopiana de um mundo infinito em sua capacidade de regeneração?
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ainda pode-se identificar, tanto no âmbito das investigações científicas como na formulação
das políticas de intervenção social, duas grandes correntes predominantes:
a) A que considera que o problema é, antes de tudo, ecológico, que a ameaça fundamental
consta nos danos aos quais as ações dos homens submetem a terra: patrimônio e base de
sua existência presente e futura. A "sustentabilidade" que se deve procurar é ecológica. Isso
é a tendência "protecionista" e "conservacionista" dura.
Esta noção origina-se de teorizações e práticas ecológicas que tentam analisar a evolução
temporal dos ecossistemas, tomando por base sua persistência a um presumido estado de
equilíbrio. Para manter e/ou recuperar este equilíbrio, seria então preciso atuar nos meios de
perturbações que podem afetá-los, particularmente naquelas introduzidas pelas atividades
humanas.
Porém deve-se admitir que o grau de diversidade são atributos dos sistemas naturais
(ecossistemas) e a perda de diversidade - a extinção acelerada de espécies, por exemplo -
constituem uma das maiores consequências das perturbações. As perturbações também
podem não ser necessariamente promovidas pelas atividades humanas. Elas fazem parte
das dinâmicas dos sistemas naturais que possuem mecanismos de reação, chamados de
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Esta capacidade é específica de cada sistema que reage diferentemente frente às diferentes
perturbações e à intensidade e frequência das mesmas. Por muito tempo, prevaleceu na
teoria ecológica a noção unidirecional da resiliência, ou seja, os sistemas perturbados
retornariam à sua conformação anterior à perturbação, ao seu estado natural de equilíbrio
estático. Esta concepção levou à acepção preservacionista, na qual assegurar a
"sustentabilidade" de um meio natural implica protegê-lo das perturbações humanas,
diminuindo os impactos, permitindo que o mesmo recupere e retorne a seu estado "natural"
de equilíbrio anterior à perturbação.
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Assim para se chegar à sustentabilidade ecológica é preciso definir quais e com que
intensidade poderá se promover alterações nas dinâmicas específicas dos ecossistemas
para que estas sejam absorvidas sem comprometer sua capacidade de resiliência. Cabe
aqui salientar que se deve ter neste contexto as escalas locais e regionais de uso dos
recursos naturais.
Permanência e estabilidade
A palavra estabilidade tem sido utilizada nas mais diversas acepções, mesmo dentro da
teoria ecológica. Duas acepções são mais comuns:
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mesma conformação inicial. Um sistema, após uma perturbação, reage podendo chegar a
múltiplos pontos de equilíbrio. Assim não há previsibilidade.
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Apesar de todos os debates e das dúvidas relativas à representação científica que se pode
fazer dos sistemas naturais, uma ideia forte parece ganhar certa força: a que um sistema
natural tem uma história, que sua dinâmica não é apenas norteada por uma tendência a
voltar a um estado inicial de equilíbrio (mesmo que se aceite que exista uma tendência a se
voltar a estados anteriores), ele se transforma e que essas transformações fazem parte da
sua existência.
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A justiça social, incluindo aqui a redução das desigualdades sociais, a participação política, a
participação da sociedade civil, a democracia, a governança, etc, é, então, a condição
básica para cumprir a sustentabilidade social.
Por último, apesar de minoritárias, existem correntes teóricas que consideram que a
insustentabilidade social, bem como a insustentabilidade ambiental originam-se nos próprios
princípios de funcionamento do sistema econômico capitalista e nas relações capitalistas de
produção.
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Por último, o que está acontecendo localmente, tanto do ponto de vista social como
ambiental, é um desdobramento da lógica geral do sistema e dos interesses que se
manifestam no quadro dela. Para pretender chegar a um "desenvolvimento sustentável" é
imprescindível modificar o funcionamento global deste sistema.
Ainda que tentadora a utilização de um mesmo modelo teórico para os sistemas naturais e
sistemas sociais não se pode pensar em uma analogia entre sistemas de “ordens” tão
diferenciadas. Seria prudente considerar a semelhança entre os sistemas naturais e
sistemas sociais somente a característica que se refere ao sistema como um conjunto de
elementos interdependentes, ou seja, em sua característica mais geral. A complexidade das
relações existente nos sistemas sociais requer cautela na transposição de modelos. Só na
sua singularidade e em escalas definidas (tempo, espaço) é que se pode efetivamente
definir o funcionamento de cada sistema social.
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Esses ajustes são tanto o resultado da intervenção de fatores externos como das
contradições e tensões mútuas que vêm operando entre os vários campos da reprodução.
Ou seja, a tensão da ordem e desordem (reprodutivamente) é fundamental para o
funcionamento dos sistemas sociais. Bem como no caso da análise dos sistemas naturais,
as dimensões históricas das mudanças constituem-se como uma dimensão fundamental da
questão da “sustentabilidade social”.
Mas seria prudente deixarmos claro aqui que a “história” não se limita a uma sucessão de
ajustes a fatores externos ou contradições internas, ou seja, não se limita a uma sucessão
de ajustes. Assim como para os sistemas naturais, a ruptura é uma das possibilidades que
pode se desenvolver em dimensões constitutivas dos sistemas - naturais e sociais - fazendo
parte também da história dos sistemas. Quando os ajustes não são mais possíveis, pode
ocorrer transformação na própria natureza da dimensão analisada, como por exemplo, no
caso da teoria marxista, a revolução social é algo inevitável para se chegar a uma nova
ordem (capitalismo socialismo comunismo).
A noção de "sustentabilidade social" tal como assim aplicada, tem que ser criticada em
relação ao conceito muito mais amplo de reprodução social utilizada pelas ciências sociais.
A palavra "reprodução" é ambígua, na medida em que sugere a ideia de repetição
invariante. Não é nesse sentido que é utilizada pelas ciências sociais, mas como processo
dinâmico de perpetuação de uma entidade coletiva ao longo do tempo. Ela integra a noção
de mudança porque essa perpetuação só pode se realizar a custa de transformações e
ajustes, uma vez que consideramos a possibilidade de transformação cujo limite seja a
ruptura. Sabemos que, apesar da reprodução contínua de certas dimensões sociais ao longo
de um determinado tempo e de um determinado espaço, não podemos afirmar, no entanto,
que estas dimensões sejam eternas.
No que se referem à mudança social, as ciências sociais abordam este fenômeno sob
diversos ângulos e chegam a conclusões diferenciadas. É por este mesmo motivo que nas
ciências sociais não se pode falar em uma única teoria de mudança social, e nem em um
único fator determinante para todas as mudanças, ou seja, não necessariamente um
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Consideramos que há diversidade dos tipos de mudança social que dependem das
sociedades e das dimensões nela analisadas, como a estrutura econômica, as relações
sociais, a estrutura simbólica, etc.. As diferentes teorias sociais que constituem as ciências
sociais são o exemplo da diversidade de possibilidades de situações existentes, não só de
mudança, como de reprodução social.
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Tratando-se da análise dos processos de reprodução e mudança dos sistemas sociais, uma
das linhas de questionamento mais forte que norteiam hoje as ciências sociais diz respeito
às relações que os atores sociais, ou os "sujeitos" sociais, mantêm com as lógicas globais
do funcionamento dos sistemas sociais. Os atores sociais (individuais e/ou coletivos) são
formatados pela ordem da sociedade da qual integram (cultura, instituições, relações de
poder) mas, ao mesmo tempo, interagem com essa ordem, opõem-se a ela, recuperam
práticas e estratégias de sobrevivência e desviam-na para novas direções, exercitam sua
capacidade de inovação: eles não são atores passivos mas autores, sujeitos e criadores da
ordem social. Nesse sentido, associa-se diretamente gestão de ralações sociais e de relação
com a natureza. Os atores, à medida que têm referência nos movimentos sociais, se
instituem como sujeitos formuladores de projetos de vida, bem como de projetos sociais. Os
processos de reprodução e mudança são estritamente ligados a esta tensão dialética entre
ator e coletividade.
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Essa dicotomia não dá conta da maneira como, tanto as ciências naturais como as ciências
sociais, começam hoje pensar as relações entre sociedade e natureza.
A própria noção de "natureza", como se esta fosse pensável enquanto realidade em si, é
uma abstração. A quase totalidade dos meios naturais que se pode observar é produto da
ação dos homens. Então é preciso considerar escalas de tempo e de espaço, só assim
pode-se entender que não há uma natureza, mas “formas de natureza”, que são construídas
sob certos aspectos culturais, políticos, econômicos etc. em épocas distintas.
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Há que considerar que os homens, não só enquanto elos da cadeia trófica, mas como seres
sociais, participam dos processos de formatação dos meios que eles ocupam. Pois, nas
suas características presentes bem como na sua história de transformações e mudanças
esses meios não podem ser analisados independentemente da história de suas relações
com as sociedades.
Os seres humanos não podem ser pensados apenas como perturbadores mas sim como co-
autores dos meios naturais. Evidentemente isso não implica que as atividades humanas
tenham sempre efeitos positivos sobre o meio: elas podem influenciar suas dinâmicas
intrínsecas de mudança num sentido que modifiquem profundamente e de maneira
irreversível suas características. Isso significa simplesmente que os dois sistemas estão em
uma co-evolução interdependente. Evolução no sentido de história e não como percurso
finalizado ao longo de um eixo temporal.
Porém, deve-se levar em conta também que a interação do homem com o meio ambiente
não foi de troca mútua, foi de conquista. A história da humanidade evidencia uma
progressiva apropriação dos espaços físicos da superfície terrestre na busca do homem por
“novos” limites. Esta apropriação de espaços se deu não só pelo aumento populacional, que
para os malthusianos até poderia ser considerado matematicamente natural, mas,
especialmente, pela necessidade que o homem teve de explorar e dominar os espaços à
sua volta.
Com o sistema capitalista este processo se intensificou, pois à medida que o relacionamento
do homem moderno com o meio ambiente se aprofundava, ocorria à valorização econômica
dos mais variados recursos naturais dos diversos lugares do planeta. Assim a natureza fez
parte do desenvolvimento social, econômico, cultural e político de quase todos os lugares
habitados.
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De maneira simétrica, uma vez que o quadro de análise integra as inter-relações entre os
dois sistemas, não se pode pensar na estrutura e no funcionamento do sistema social sem
levar em conta o fato de ele ser também resultado de relações com suas bases materiais.
Pelos próprios corpos dos indivíduos que a constituem, uma sociedade faz parte da
natureza. Ela tem que se ajustar, se compatibilizar a seu ambiente. A análise desses
processos de adaptação e de ajuste consta dos objetivos centrais da Ecologia humana.
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O pensamento científico, por específico que seja no seus procedimentos, constitui também
uma forma de representação do mundo material e contribui na produção de imagens da
Natureza. Por seu lado, saberes tradicionais, taxonomias não científicas, mitos são a
expressão de um trabalho de representação do mundo e uma das manifestações mais
profundas do gênio de uma cultura (Levi-Strauss, 1962).
A relação dos homens com o meio físico-natural não pode ser apenas analisada em função
de finalidades práticas e da satisfação das necessidades básicas. Ela passa
necessariamente por uma atividade mental e simbólica de representação da natureza.
(meio, relações sociais, história de vida, etc) Nesse sentido, as práticas são manifestações
culturais e sociais (Haudricourt, 1987).
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elege-se a rainha das ciências, pois consegue construir uma visão de mundo apaziguante e
otimista.
Com o cientificismo o homem é levado a buscar uma única realidade. O determinismo entra
na história das idéias absorvendo todas as ciências. Também os dogmas e ideologias que
devastaram o século XX vieram do pensamento da física clássica. A partir dai a natureza
passa a ser vista como uma amante para ser penetrada, dominada e conquistada
(Nicolescu,1999).
Segundo Nicolescu(1999) no início do século XX, por uma estranha coincidência, três fatos
marcaram a humanidade e mudaram os caminhos de todas as ciências, são eles:a primeira
guerra mundial e a revolução russa no mundo visível e a mecânica quântica no mundo
invisível. As duas primeiras foram marcadas por violências e massacres. Já a segunda iria
mudar profundamente a visão de ciência do mundo ocidental. A partir daí passa-se do
determinismo da física clássica para o indeterminismo da física quântica. Pois neste novo
mundo quântico as entidades continuam a interagir independente de seu afastamento. A
noção do espaço e do tempo já não mais pode ser explicada “banalmente” pela física
clássica.
Foi com a física quântica, descoberta por Max Planck, que o homem passou a ter que
considerar a coexistência paradoxal da reversabilidade e irreversabilidade do tempo. Este é
um dos aspectos dos diferentes níveis da realidade ora descoberto. A física aproxima-se aí
ao tempo filosófico, que nunca conseguiu definir o “tempo presente”, pois ele é um tempo
vivo. Como os filósofos haviam descoberto a vida, a nossa vida, não é algo delimitado no
tempo e no espaço. É certo que pensamento humano ainda é impotente para apreender
toda a riqueza do tempo presente.
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Um outro “escândalo” demonstrado pela física quântica é a lógica do terceiro incluído que,
ao contrário da física clássica, admite que o contraditório está no seu oposto, e que então a
noite é dia , o preto é branco, a mulher é homem, a vida é a morte, caindo por terra o dogma
de um único nível de realidade, que domina o pensamento ocidental. Seguindo este único
dogma foi que, segundo Nicolescu(1999), ocorreram milhões de morte no regime Stalinista
da Rússia e no Nazismo alemão, pois uma lógica, quando seguida sem admitir-se outra,
nunca é inocente.
Assim o homem ocidental passa a rever seus próprios conhecimentos. E o que é mais
ameaçador e fantástico, rever sua própria existência.
Nas últimas décadas do século XX a complexidade instala-se por toda a parte, com isso
observa-se um big-bang disciplinar sem precedentes na civilização, proliferam-se disciplinas
cada vez mais específicas. Nicolescu não considera este fato de todo ruim, porém salienta
que não se pode esquecer que a complexidade se revela em todas as disciplinas. Se isso for
esquecido continuar-se-á a parcelar ainda mais o conhecimento, afastando-se, cada vez
mais da noção do todo.
Para Nicolescu (1999) a complexidade infinita do objeto transdisciplinar passa a ser uma
unidade aberta entre o objeto transdisciplinar e o sujeito transdisciplinar. Esta orientação dá
um novo sentido à verticalidade do ser humano diante do mundo. A visão transdisciplinar
propõe a verticalidade consciente e cósmica da passagem entre diferentes níveis de
realidade, o que para ele poderá fundamentar toda o projeto social de vida.
A transdisciplinaridade, para Nicolescu está ao mesmo tempo entre, através e além das
disciplinas, assim, a estrutura descontínua dos níveis de realidade determina a estrutura
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mundial. Para Wallerstein(1996,p. 56): “ Cada uma destas três novas realidades sociais veio
colocar um problema para as ciências sociais tal como estas haviam sido, historicamente,
institucionalizadas”.
Seguindo uma outra lógica, Santos(1999) também condena a incapacidade conceitual das
ciências sociais, frente aos novos pressupostos da modernidade, para ele:
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Para Immanuel Wallerstein, isso se deve em grande parte, porque “... a ciência (newtoniana
havia triunfado sobre a filosofia (especulativa), afirmando-se como a encarnação mesma do
prestígio social do mundo do conhecimento. Este triunfo se dava muito especialmente por
que “ Do ponto de vista político, o conceito de leis deterministas afigurava-se mais útil ás
tentativas de controle tecnocrático dos movimentos- potencialmente anarquizantes-
apostados na mudança (Wallerstein, 1996,p. 24-25).
O momento atual requer uma nova fase do conhecimento científico. Fase em que os
caminhos metodológicos se farão no andar do processo de elaboração do conhecimento e
estarão subordinadas diretamente a eles. Nisso a própria produção e reprodução do
conhecimento deve ser entendida enquanto processo, pois é o conhecimento que se faz. É,
portanto, o conhecimento se fazendo.
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Propõe Becker (2000) que uma das formas de enfrentar essa visão ou concepção
reducionista é conceber o processo de produção do conhecimento como um processo em
aberto, composto por múltiplos procedimentos e formas de conhecimento. Em
consequência, os caminhos e as técnicas também precisam compor um leque instrumental
em aberto, se fazendo e refazendo, no tempo e no espaço, ao andar da realidade efetiva. É
este novo desafio que está posto a todas as ciências.
Considerações finais
As limitações disciplinares têm uma íntima ligação com a problemática ambiental. Estas
duas preocupações começaram a ser contempladas nos debates científicos, a partir da
década de 1970. Década, em que após o mundo ocidental ter passado por trinta anos de
crescimento acelerado, o saber científico passa a questionar-se sobre as formas
depredatórias desse crescimento.
A preocupação teórica desta problemática teve como ponto de partida o relatório do Clube
de Roma. Documento de repercussão internacional, que pela primeira vez na história do
sistema capitalista apontava (mesmo que por um “criticado” programa de computador) os
limites do crescimento da produção. Limite este que se devia à constatação do caráter finito
das reservas mundiais de recursos não renováveis, especialmente os relativos à energia.
É desta época em diante que praticamente todas as ciências passam a questionar suas
abordagens tanto epistemológicas quanto metodológicas.
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Com a constatação das limitações ambientais surge a complexidade das relações entre o
homem e a natureza, que passa a expor as limitações das abordagens reducionistas para o
trato da questão ambiental. Assim, Segundo o professor Paulo Lana: “Neste contexto há
pelos menos duas décadas que diversas abordagens ditas integradoras, sejam elas
multidisciplinares,interdisciplinares ou transdiciplinares, são discutidas em todo o mundo,
tanto no plano epistemológico como metodológico.(Lana,2000,p.103)
Devemos começar a dizer que o que temos a oferecer não são fórmulas simples e
acabadas, mas antes de mais nada um conjunto de propostas provisórias que nos
parecem apontar na direção correta. Hoje em dia, não há clareza das ciências sociais, o
que é o resultado de um processo de ofuscação cujas raízes procuramos explicar. Como
é óbvio, é sempre possível proceder a ajustamentos- e leis estão constantemente a ser
feitos- no sentido de atenuar algumas das irracionalidades existentes. De modo algum
defendemos que se devera abolir a idéias da divisão no interior das ciências sociais, a
qual bem pode continuar a assumir a forma de disciplina. As disciplinas desempenham
uma determinada função: a função de disciplinar as mentes e de canalizar a energia
utilizada na atividade intelectual e de investigação.Tem, contudo,que haver algum grau de
consenso quanto à validade das linhas de demarcação,se é que estas hão de servir para
alguma coisa (p.134).
Já Enrique Leff (2000) propõe pensar as questões ambientais sobre o prisma dialógico que
paute pela dinâmica da complexidade, que para ele esta inerente na questão ambiental
contemporânea. Com isso procura dar impulso a uma pedagogia da complexidade que
abarque uma concepção de Educação Ambiental. Esta concepção deverá utilizar-se das
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mais diversas áreas do saber. É por este meio que deverá ocorrer à hibridização que
relacione e correlacione os saberes disciplinares. Para Leff tal forma de prática pedagógica é
antes uma construção social do que um aparato que regre as relações de ensino-
aprendizagem, levando a uma perspectiva social de solidariedade e de equidade em relação
á natureza.
Para ele a ciência moderna não pode, esquecer-se de refazer tanto seus fundamentos
como resultados. Estes sob à luz de juízos éticos. E questiona afinal: “..para que e para
quem serve a ciência?” (p. 4)
Dizer que a ciência passa por uma crise de paradigma passou a ser lugar comum. A ciência
clássica fez da natureza um autômato. A era industrial equipou este autômato com um motor
cujos recursos (meio ambiente) iriam se esgotar mais cedo ou mais tarde, portanto esta era
uma trajetória prevista. O que se busca agora é uma reinvenção da natureza. Porém não
propomos abandonarmos de forma radical e por completo os paradigmas clássicos, mas sim
construirmos novos pressupostos baseados não só no rigor científico, mas também na
criatividade, na imaginação, nos sonhos, na ilusão, nos sentidos... e principalmente num
diálogo permanente, efetivo, afetivo e apaixonante com a natureza. Admite-se com isso,
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que certamente não haverá um só caminho na busca de explicações para este novo e
complexo mundo.
Essa “parafernália” de técnicas a qual o planeta se encontra dotado hoje, em uma textura
infindável de comunicações (aviões, telefone, fax, Internet, etc), que nenhuma outra
sociedade do passado jamais teve, levou o homem a reconhecer a complexidade em que
vive, e ao mesmo tempo, a um paradoxo: este era o destino humano na terra? Conhecê-la
nas suas entranhas, explorá-la até seu esgotamente e finalmente esgotá-la irreversivelmente
é esse o destino que nos resta? O que é quase consenso (quase!?) é que chegamos a um
limite, ou revemos este processo, ou viveremos, como sugere o falecido economista,
considerado um dos mentores da economia ecológica, Georgecus-Rogen: “[...]o destino da
humanidade talvez seja ter uma vida curta, mas ardente, extravagante e excitante, em vez
de uma vida longa, uma existência vegetativa. Talvez seu destino seja deixar outras
espécies- as amebas, que não possuem nenhuma ambição espiritual – herdar a Terra ainda
banhada plenamente em raios solares.”
Referências Bibliográficas
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