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DOI: 10.22278/2318-2660.2017.v41.n2.

a1930

ARTIGO ORIGINAL DE TEMA LIVRE

CARTILHA EDUCATIVA PARA MULHERES SOBRE INCONTINÊNCIA URINÁRIA:


CONCEPÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Antônio Hérbetty Arcanjo Martins Oliveiraa


Thiago Brasileiro de Vasconcelosb
Raimunda Hermelinda Maia Macenac
Vasco Pinheiro Diógenes Bastosd

Resumo
A Incontinência Urinária é um distúrbio frequente entre mulheres que causa
incômodo e constrangimento. O desconhecimento sobre a patologia e seu tratamento (clínico
ou cirúrgico) tem aparecido como um grave problema de saúde pública. Este estudo teve o
objetivo de descrever o processo de concepção e desenvolvimento de um material educativo
sob o formato de uma cartilha destinada à promoção da saúde da mulher acometida pela
doença. Para tanto, realizou-se uma pesquisa-ação que se utilizou dos pressupostos freireanos de
abordagem qualitativa e interpretativa na área do processo de ensino-aprendizagem que foi
desenvolvida em quatro etapas (escolha do conteúdo, criação das ilustrações, preparação do
layout e validação do material por peritos). Foi elaborada uma cartilha com dimensões de 20 x 14
centímetros de altura e largura, impressa em papel couchê e denominada com o título
Incontinência Urinária não é normal em nenhuma fase da vida e tem tratamento. Concluiu-se
que o desenvolvimento de material de informação, educação e comunicação firma-se como um
ponto promissor do trabalho do fisioterapeuta no tocante às ações de promoção e prevenção na
saúde da mulher na atenção básica.
Palavras-chave: Incontinência Urinária. Prevenção de Doenças. Assoalho Pélvico. Educação
em Saúde.

a
Fisioterapeuta. Centro Universitário Estácio do Ceará. Fortaleza, Ceará, Brasil.
b
Fisioterapeuta. Mestre em Farmacologia. Quixadá, Ceará, Brasil.
c
Enfermeira. Doutora em Ciências Médicas. Fortaleza, Ceará, Brasil.
d
Fisioterapeuta. Doutor em Farmacologia. Fortaleza, Ceará, Brasil.
Endereço para correspondência: Rua Eliseu Uchoa Becco, 600. Bairro: Água Fria. Fortaleza, Ceará, Brasil.
CEP: 60810-270. E-mail: vascodiogenes@yahoo.com.br

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Revista Baiana EDUCATIONAL GUIDELINE FOR WOMEN CONCERNING URINARY INCONTINENCE:
de Saúde Pública
DEVELOPMENT AND CRIATION

Abstract
Urinary Incontinence is a frequent disorder to women that causes discomfort and
shame. The lack of knowledge about the disease and its treatment (surgical or clinical) has
become a serious public health problem. The objective of this study was to describe the process
of development and creation of an educational material in the form of a pamphlet for the
promotion of the health if women affected by Urinary Incontinence. This is an action research,
which used Freire’s assumptions of qualitative and interpretative approach in the field of the
teaching-learning process developed in four stages (choice of contents, creation of graphics,
layout preparation and validation of material by experts). A pamphlet with dimensions of 20 x 14
centimeters of tall and wide, printed on coated paper with the title Urinary Incontinence is not
normal at any stage of life and have treatment was created. In conclusion, the development of
information, education and communication material is set as promising part of physiotherapeutic
work regarding actions for promotion and prevention of women’s health in primary care.
Keywords: Urinary Incontinence. Disease Prevention. Pelvic Floor. Health Education.

FOLLETO EDUCATIVO PARA MUJERES SOBRE INCONTINENCIA URINARIA:


CONCEPCIÓN Y DESARROLLO

Resumen
La Incontinencia Urinaria es un trastorno frecuente entre las mujeres que causa
malestar y vergüenza. La falta de conocimiento sobre la enfermedad y su tratamiento (clínico
o quirúrgico) se ha convertido en un grave problema de salud pública. Este estudio describe
el proceso de concepción y desarrollo de un material educativo en forma de un folleto para la
promoción de la salud de las mujeres afectadas por la enfermedad. Tratase de una investigación-
acción que utilizó presuposiciones freireanas de enfoque cualitativo e interpretativo en el
área del proceso de enseñanza-aprendizaje que se desarrolló en cuatro etapas (selección de
contenidos, creación de gráficos, preparación del diseño y validación del material por expertos).
Fue creado un folleto con dimensiones de 20 x 14 centímetros de alto y de ancho, impresos
en papel cuché con el título La Incontinencia Urinaria no es normal en cualquier etapa de la
vida y tiene tratamiento. Concluyóse que el desarrollo de material de información, educación

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y comunicación se establece como un punto promisor en el trabajo del fisioterapeuta con
respecto a las acciones de promoción y prevención en la salud de la mujer en la atención básica.
Palabras clave: Incontinencia Urinaria. Prevención de Enfermedades. Piso Pélvico. Educación
en Salud.

INTRODUÇÃO
A Incontinência Urinária (IU) é a perda involuntária de urina, uma condição
de saúde crônica que pode comprometer diferentes domínios da funcionalidade1, incluindo
afastamentos do trabalho2 e acarretando altos custos para o sistema de saúde3, constituindo-se
um grave problema de saúde pública4. Nos Estados Unidos são gastos cerca de 32 bilhões de
dólares anualmente com o tratamento de IU4. No Brasil, somente em 2011, foram gastos em
torno de R$ 2,30 milhões com tratamento cirúrgico da IU, sem considerar os investimentos com
exames diagnósticos ou medicamentos5.
As mulheres representam 51,03% da população brasileira e são as principais
usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS)6, além de serem as pessoas mais acometidas pela
IU. Nos últimos anos, a saúde da mulher tornou-se prioridade nacional, tanto que o governo
assumiu o compromisso de implementar de ações de saúde que reduzam a morbimortalidade
por causas preveníveis e evitáveis7-8.
No caso da IU, há uma diversidade de opções terapêuticas, incluindo-se
medicamentos, cirurgias e intervenções conservadoras, como a fisioterapia9. Dentre os recursos
fisioterapêuticos, o Treinamento dos Músculos do Assoalho Pélvico (TMAP) possui nível A de
evidência, sendo preconizado como o tratamento conservador de primeira escolha10. Desse
modo, o desenvolvimento de ações fisioterapêuticas no tratamento da IU tem sido apontado
como uma alternativa efetiva, principalmente na Atenção Básica, pelo menor custo financeiro,
ao baixo risco de efeitos colaterais e por não prejudicar tratamentos subsequentes11.
Entretanto, é necessário o empoderamento das mulheres para a manutenção do
treinamento dos músculos do assoalho pélvico12. Para tanto, o uso de materiais de informação,
educação e comunicação (IEC) tem sido efetivo na manutenção de condutas terapêuticas e
promotoras da saúde13-15. No caso da IU, acredita-se que o uso de material de IEC poderá
potencializar a adesão das mulheres ao tratamento fisioterapêutico.
Assim sendo, este estudo objetiva descrever o processo de concepção e
desenvolvimento de um material educativo sob o formato de uma cartilha destinada à promoção
da saúde da mulher acometida por IU.

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Revista Baiana METODOLOGIA
de Saúde Pública
Trata-se de uma pesquisa-ação que se utilizou dos pressupostos freireanos de
abordagem qualitativa e interpretativa na área do processo de ensino-aprendizagem que foi
desenvolvida em quatro etapas: escolha do conteúdo, criação das ilustrações, preparação do
layout e validação do material por peritos, sendo o método de pesquisa conduzido no período
entre agosto e novembro de 2014.
Optou-se pelo uso do método da pesquisa-ação por considerar que o mesmo
possibilita a construção do conhecimento de maneira coletiva e participativa, buscando
identificar soluções para um problema que necessita ser estudado16.
Os pressupostos freireanos foram utilizados tendo em vista que o material de
IEC pautou-se no contexto de aprendizado dialógico para subsidiar uma nova concepção
do empowerment que conduz às mudanças sociais, sendo esse o resultado da aquisição de
conhecimento relativo às capacidades discursivas, cognitivas e processuais17, ademais, as
oportunidades de conhecimento são criadas com a participação de ambos os sujeitos15,18-19.
Na primeira fase foi realizada busca dos conteúdos que se apresentavam
desconhecidos pelas mulheres com IU (esses achados direcionaram os tópicos da cartilha).
Tal busca ocorreu nas bases virtuais e nos relatos das usuárias do projeto de responsabilidade
social da Unidade de Reabilitação dos Distúrbios do Assoalho Pélvico (UREDAPE), do Centro
Universitário Estácio do Ceará (Estácio FIC). O Programa de Responsabilidade Social da Estácio
do Ceará baseia suas ações no compromisso que as organizações devem ter com a sociedade,
trabalhando os pilares da ação responsável com relação aos diversos públicos interessados.
O estímulo ao desenvolvimento de projetos e ações que beneficiam o público atendido pelas
entidades conveniadas também é um pilar da instituição, pois socializa o conhecimento
adquirido na faculdade.
A questão norteadora adotada para esse estudo foi: quais os déficits de
conhecimentos que as mulheres com IU têm sobre sua doença? A busca dos artigos foi realizada
nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS)
e Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (MEDLINE), tendo como limite de
publicação o período compreendido entre 2004 e 2014. Foi utilizada, como palavra-chave,
incontinência urinária e sua tradução no idioma inglês ou espanhol. A inclusão dos trabalhos
foi baseada nos seguintes critérios: resumo disponível nas bases de dados acima descritas;
idioma de publicação em português, inglês ou espanhol; publicação no período proposto.
Foram excluídos os estudos que apenas citavam o termo IU e que não discutiam o tema sob a
perspectiva da mulher.

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Sabe-se que o material educativo utilizado para informar a população geralmente
é um instrumento de leitura ou de elementos ilustrativos que chamem a atenção do leitor
para o tema abordado e, por isso, na segunda fase, foram acessados livros e websites na busca
por imagens que se adequassem aos tópicos que seriam incorporados na cartilha. As imagens
foram selecionadas e usadas como base para a elaboração das ilustrações por um profissional
especializado na área de Designer gráfico.
Na terceira fase, preparação do layout, foi estruturado um protótipo do conteúdo
com as imagens trabalhadas pelo designer. A seguir, o material foi submetido ao trabalho de
edição e diagramação por meio do software CorelDRAW® X7.
Após essa etapa, a primeira versão da cartilha foi submetida à avaliação de peritos
para validação das informações concebidas. Foram selecionados como peritos dois professores
universitários na área da saúde (uma da área de Fisioterapia e outro da área de Educação em
saúde) e dois profissionais atuantes na área de IU. Para atuar como peritos, os profissionais
necessitavam ter experiência prévia com serviços de assistência à saúde da mulher e ações de
promoção da saúde.
Foram propostas três rodadas de avaliação: a primeira constituída de uma questão
aberta para brainstorming, o que é importante para orientação da mulher com IU?; a segunda,
avaliação do material educativo construído quanto à coerência/pertinência e ilustração da
informação. Estabeleceu-se como critérios de avaliação dos peritos: adequação e a apresentação
das informações (conceitos mais importantes eram abordados com vocabulário claro e
objetivo); linguagem (conveniência e a facilidade de compreensão); ilustrações (adequação da
composição visual, atratividade, organização, quantidade e a adequação). Novo processo
de edição, revisão e diagramação foi realizado e uma nova versão da cartilha foi produzida.
A terceira rodada foi composta pela avaliação final do material após as correções realizadas com
base nas sugestões da segunda rodada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
A primeira rodada de avaliação tinha por intuito detectar os elementos considerados
importantes para informar a mulher com IU. As informações fornecidas pela literatura e pelos
peritos relacionavam-se às orientações listadas a seguir:

• Quando você faz algum esforço, espirra, perde urina?


• O que é Incontinência Urinária?
• Qual a classificação da Incontinência Urinária?

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Revista Baiana • Porque eu tenho Incontinência Urinária?
de Saúde Pública
• Como saber se tenho Incontinência Urinária?
• Conhecendo seu corpo.
• Quais os exercícios que melhoram a Incontinência Urinária?
• Agora que sabe vamos tentar?
• Treinando.
• Para descontrair.
• Lembre-se.
• Minhas dúvidas para a próxima consulta.

Na segunda rodada, na qual se avaliou o material educativo por quatro peritos,


construído quanto à coerência/pertinência e ilustração da informação, foi observado que o
item mais questionado foi relacionado à conveniência e à facilidade de compreensão da
linguagem, além da adequação da composição visual, atratividade, organização, quantidade e
a adequação das ilustrações (Tabela 1).

Tabela 1 – Avaliação inicial do conteúdo da cartilha segundo a opinião dos peritos.


Fortaleza, Ceará, Brasil – 2015
Categoria Favorável Desfavorável
Adequação e apresentação das informações 4 -
Linguagem 3 1
Ilustrações 4 -
Fonte: Elaboração própria.

Nota: Sinal convencional utilizado:


- Dado numérico igual a zero não resultante de arredondamento.

Algumas sugestões foram propostas pelos peritos, tais como: colocar o texto
ao lado das ilustrações e destacá-las de forma clara para que os leitores tenham um melhor
aprendizado em relação ao assunto aqui abordado. Elas foram vistas como melhorias e acatadas
pelo pesquisador. A análise por categoria permitiu observar que as alterações realizadas no
primeiro esboço do material proporcionaram modificações significativas para o aprimoramento
do material, conforme perspectivas dos peritos e do pesquisador.
Após a terceira rodada, o material ficou assim composto. A paciente incontinente
tende ao isolamento social, pois tem medo de estar em público e ocorrer uma perda urinária20-21.
A primeira página da cartilha já demonstra o local mais procurado pelas pacientes o banheiro

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e faz uma correlação e interliga esse isolamento das pacientes ao não saírem de casa ficando
dependente desse local, assim enfatizando a ideia principal para chamar atenção dos leitores
(Figura 1).

Figura 1 – Demonstração das páginas iniciais do material educativo

Fonte: Elaboração própria.

A IU caracteriza-se por ser uma condição multifatorial e que afeta muitas pessoas,
em diferentes faixas etárias. No passado achava-se que estava relacionada apenas ao processo
do envelhecimento, sendo, muitas vezes, negligenciada pelos profissionais da área da saúde.
Na atualidade sabe-se da importância do conhecimento e diagnostico precoce da IU22.
Alguns pesquisadores23 destacam que a rotina de pacientes com IU, circula em
torno de uma certa dependência da disponibilidade de banheiros. Nesse sentido, no decorrer
das páginas a cartilha, continuou-se colocando em destaque o local de mais acesso pelas
pacientes com IU e começou-se a estimular a reflexão sobre seu cotidiano (Figura 2).

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Revista Baiana Figura 2 – Figura ilustrativa questionando as mulheres sobre a presença de
de Saúde Pública
incontinência urinária

Quando você faz


algum esforço,
espirra perde
urina?

Fonte: Elaboração própria.

O sobrepeso, presente em mulheres em período gestacional ou com elevado


índice de massa corpórea (IMC) e os partos vaginais também aumentam o risco para a IU, por
maior chance de lesões de fibras musculares e nervosas no assoalho pélvico24. Entre outros
citados que enfatizam as principais informações sobre a IU (Figura 3).

Figura 3 – Características da mulher incontinente

Fonte: Elaboração própria.

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De acordo com a International Continence Society (ICS), a IU pode ser classificada
em: Incontinência Urinária de Esforço (IUE), de Urgência (IUU), e a Mista (IUM)25. Assim descrita
de forma transparente para os leitores a diferença de cada tipo, sintomas e alterações (Figura 4).

Figura 4 – Classificação da incontinência urinária

Fonte: Elaboração própria.

Também foi destacado o questionamento Por que eu tenho incontinência


urinária?, sendo subdividido em duas colunas: as causas clínicas (problemas anatômicos,
bloqueios, distúrbios musculares nervosos, distúrbios neuromusculares entre outros) e as
causas temporárias (utilização de alguns medicamentos como diuréticos, antidepressivos e a
gravidez)26 (Figura 5).

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Revista Baiana Figura 5 – Causas da incontinência urinária
de Saúde Pública

Fonte: Elaboração própria.

O diagnóstico de IU pode ser clínico, investigando o início dos sintomas, e por


testes urodinâmicos que vão determinar se existem outras alterações da bexiga e da uretra22.
As ilustrações da página cinco da cartilha demonstram uma história em quadrinhos
de duas pessoas, paciente e fisioterapeuta, em uma porta de banheiro em que a paciente figura
reclamando do seu estado, pois não consegue mais segurar a urina, e é abordada por um
profissional da saúde, o fisioterapeuta, que soluciona suas dúvidas sobre a morbidade.
O tratamento fisioterápico na IU vem ganhando importância e credibilidade
nos últimos anos em face da melhora dos resultados e dos poucos efeitos colaterais que ele
provoca. O fisioterapeuta tem um papel importante junto a essa população na prevenção, no
diagnóstico por meio da queixa clínica e na orientação do manejo adequado, evitando que

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condutas inadequadas, como a restrição prolongada de líquidos e a micção não frequentes,
sejam adotadas, o que pode originar complicações e danos à saúde dessas mulheres22.
A função dos músculos do assoalho pélvico é de sustentar as vísceras em posição
vertical, além da manutenção da continência urinária. Para tanto, esses músculos necessitam
estar fortes e em perfeitas condições27. Na página 6 da cartilha pode-se visualizar, com mais
ênfase, o corpo feminino e os músculos responsáveis pela sustentação e manutenção do
assoalho pélvico, com o objetivo de transmitir maior conhecimento à paciente sobre seu corpo
e, assim, incentivar a correta execução dos exercícios recomendados.
O fisioterapeuta tem sido um aliado importante no tratamento das mulheres
incontinente há vários anos, na verdade, desde 1912. Por volta dos anos 50, Arnold Kegel,
médico ginecologista, foi o primeiro a introduzir o treinamento da musculatura do assoalho
pélvico feminino para tratar a incontinência urinária28. Portanto, da página 7 até a 12 da cartilha
existe uma demonstração da importância dos exercícios e as posições corretas para realização
dos mesmos (Figura 6).

Figura 6 – Importância dos exercícios e as posições corretas de treinamento

Fonte: Elaboração própria.

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Revista Baiana O exercício terapêutico é uma das ferramentas-chave que um fisioterapeuta
de Saúde Pública
usa para restaurar e melhorar o bem-estar musculoesquelético. Os exercícios perineais,
também conhecidos como exercícios de Kegel, constituem uma opção simples, no entanto,
é preciso salientar a necessidade de motivação para a obtenção de bons resultados29. Foram
destacados, na cartilha, os exercícios de Kegel, especificando os principais e demonstrando
como podem ser realizados, assim ajudando a mulher a conhecer seu corpo e a musculatura
do assoalho pélvico.
A metodologia proposta foi ao encontro com um estudo30 em que se criou uma
cartilha educativa embasada em teoria existente18, responsável por estimular a interação dos
seres vivos com o ambiente. As autoras demonstraram que a metodologia foi adequada, de fácil
compreensão e condução para os objetivos propostos, possibilitando novas perspectivas para as
atividades de Educação em Saúde.
Vale salientar que os materiais educativos devem ser disponibilizados nas práticas
educativas no âmbito da saúde. Entretanto, seu emprego não pode ser feito como uma
substituição do processo comunicativo, que precisa existir nesse ambiente31-32.
Esta pesquisa apresentou como limitação a inexistência de padronização de
instrumentos para avaliação de materiais educativos e método para sua validação. Contudo,
a concepção e o desenvolvimento de materiais educativos voltados às mulheres com IU, com
a participação de peritos, pode elevar a aceitação e adesão dos pacientes na utilização dessa
ferramenta de promoção da saúde. Durante o processo de construção da cartilha as principais
dificuldades foram com os prazos das avaliações realizadas pelos peritos, não obstante, ressalta-
-se que os mesmos foram responsáveis por três rodadas de avaliações, o que denotou tempo e
cansaço, no entanto, suas contribuições foram de grande valia para a versão final do material
educativo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A fisioterapia dispõe de muitos recursos para combater a IU e o uso de materiais
de informação, educação e comunicação validados por peritos pode ampliar a adesão ao
tratamento não farmacológico, além de trazer benefícios também no campo sócio-psicológico,
influenciando no bem-estar, autoestima e na qualidade de vida das pacientes.
Assim sendo, conclui-se que o desenvolvimento de material de informação,
educação e comunicação firma-se como um ponto promissor do trabalho do fisioterapeuta no
tocante às ações de promoção e prevenção na saúde da mulher na atenção básica.

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COLABORADORES
1. Concepção do projeto, análise e interpretação dos dados: Antônio Hérbetty
Arcanjo Martins Oliveira, Thiago Brasileiro de Vasconcelos, Raimunda Hermelinda Maia
Macena e Vasco Pinheiro Diógenes Bastos.
2. Redação do artigo e revisão crítica relevante do conteúdo intelectual: Antônio
Hérbetty Arcanjo Martins Oliveira, Thiago Brasileiro de Vasconcelos e Raimunda Hermelinda
Maia Macena.
3. Revisão e/ou aprovação final da versão a ser publicada: Antônio Hérbetty
Arcanjo Martins Oliveira, Thiago Brasileiro de Vasconcelos, Raimunda Hermelinda Maia
Macena e Vasco Pinheiro Diógenes Bastos.
4. Ser responsável por todos os aspectos do trabalho na garantia da exatidão e
integridade de qualquer parte da obra: Raimunda Hermelinda Maia Macena e Vasco Pinheiro
Diógenes Bastos.

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