A ESPADA DO ESPÍRITO
"E a espada do Espírito, que é a palavra de Deus" (Ef 6.17).
Não será fácil estabelecer a época em que o homem
começou a usar a espada. Deveria ser rústica, a princípio, como
material de que era feita mudando, mas, embora, com pequenas
variações e adornos, conservando a forma. Nos exercícios,
usavam-se espadas grandes, maiores que as usadas em combate.
Estas costumavam ser leves e flexíveis. Podiam ser armas
defensivas e ofensivas. Algumas ficaram famosas e seus nomes
lendários ainda hoje são lembrados: A de Damasco, pela
têmpera, de seu aço; Durindana, do cavaleiro Rolando que lhe
dirige, ao morrer, um adeus comovente; tentando, em vão, parti-
la; a de Ricardo; Coração de Leão, que tanto amedrontava os
maometanos.
A espada larga e pesada fazia parte da panóplia do guerreiro
romano. Paulo, prisioneiro mais de uma vez, ouvia o tilintar do
metal das espadas batendo nas pedras, enquanto os soldados
caminhavam rondando a prisão. Apresentando o cristão como
guerreiro, Paulo não podia omitir a espada e encontra para ela
adequadíssima analogia, pensamento que ocorreu também a
quem escreveu a Epístola aos Hebreus(4.12): "Porque a palavra de
Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e
penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e apta para
discernir os pensamentos e propósitos do coração". Pensam alguns
comentadores dessa epístola que, embora não seja fácil atribuí-la
a Paulo, também é difícil deixar de admitir ter seu (ou sua)
autor(a) recebido alguma influência paulina.
Não deixa de ser curioso que, tendo o Apóstolo apresentado
várias peças da armadura, indique apenas uma arma, a palavra
de Deus. Assim, ao combatente cristão se oferece apenas uma
arma - "a espada do Espírito". No entanto, está claro que, quem
tal arma possui, pode dispensar quaisquer outras. É como se
alguém que, nos tempos atuais, possuindo a bomba atômica, não
vê necessidade de aparelhar-se com armas convencionais, in-
capazes e inúteis diante da arma super-poderosa.
Vale a pena observar que, ao ser tentado, Jesus fez frente ao
Diabo citando a palavra de Deus. E foi essa a arma única que o
Mestre usou do princípio ao fim da tentação, convindo anotar
que o Diabo mostrou conhecer as Escrituras, embora suas
citações fossem distorcidas, atendendo à sua conveniência. É que
faltavam ao Diabo a habilidade e a honestidade que sobravam
em Jesus. Ele sabia, como ninguém, manejar com perícia a
Espada do Espírito. O exemplo de Cristo é para ser usado por
seus seguidores da forma que Paulo recomendava a Timóteo
(2.15): "Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro... que
maneja bem a palavra da verdade".
A palavra de Deus se constitui das verdades, dos ensinos e
das revelações de Deus. O que Deus determinou, por inspiração
do Espírito Santo, que se registrasse no livro sagrado, a Bíblia:
Seu pensamento acerca da vida, do pecado, da santidade, do
culto, da moral, da vida humana em sua forma total. Ainda, os
mandamentos, suas leis e normas para orientação do homem e
para sua felicidade. Alguém já lembrou que há, no mundo, 32
milhões de leis que bem poderiam ser dispensadas se os 10
mandamentos fossem obedecidos. Isso afasta qualquer dúvida no
que diz respeito ao que é Palavra de Deus. Não sustenta ela as
invencionices resultantes dos problemas psicopáticos de alguns
(mormonismo, cientismo cristão, russelismo, espiritismo,
moonismo etc), nem mesmo as "vãs filosofias" criadas pela
mente finita e limitada do homem. É Palavra de Deus aquilo que
Deus quis que chegasse até à mente e ao coração do homem.
É por isso que é a "espada do Espírito", forjada pelo
Espírito. A Bíblia Sagrada foi inspirada pelo Espírito Santo, o
que quer dizer que tudo o que nela está escrito o foi por
orientação divina. Por essa razão, não tem o homem direito de
modificá-la a seu bel-prazer, mesmo porque, o Espírito
inspirador zela por ela e a usa na conversão de pecadores,
fazendo-o de modo eficiente e poderoso. O poder de penetração
da Palavra de Deus é como nos diz a Epístola aos Hebreus: "...
mais penetrante que qualquer espada afiada de dois gumes". Que espada
de Damasco ou Durindana poderá jamais comparar-se à aguda e
afiada espada do Espírito?
O "tomai", verbo que exprime a ação em relação ao
capacete, também comanda a ação em relação à espada. Não
deixa de ser curioso que esta arma é uso pessoal, exigindo valor
e habilidade, pois a luta, com ela, se processa a curta distância.
Combate-se de perto. E para se lutar bem é imprescindível a
destreza que vem pelo exercício constante, de forma a poder o
combatente maneja-la com sucesso frente a adversário hábil e
insidioso. Empunhar a espada sem estar preparado e, assim,
tentar duelar com um adversário bem treinado pode ser fatal e
resultar em derrota. Já vimos que o Diabo conhece a Bíblia e a
usa com artimanhas e casuísmos.
Não pouca gente está usando a Palavra de Deus para fins
injustificáveis. Conscientes da autoridade das Escrituras
Sagradas, muitos tentam usá-las para induzir pessoas a desvios
religiosos e morais. Seitas exóticas, com doutrinas heterodoxas,
o espiritismo, com todas as suas gradações desde o baixo ao alto
espiritismo; igrejas tradicionais alicerçadas mais na tradição do
que no texto sagrado; igrejas usando abusivamente da palavra
"messiânica" (sem qualquer relação com o Messias), por aí vão
proliferando e tentando embotar o fio dessa maravilhosa e
poderosa espada do Espírito.
E legítimo o pensamento de Greeley: "É impossível
escravizar, mental ou socialmente, um povo que lê a Bíblia".
Confirmando a veracidade do que acima está, registro aqui
curioso e notável incidente ocorrido num campo de
concentração, por ocasião da 2ª Grande Guerra. Na mesma cela,
estavam dois moços alemães. Um, oficial, era nazista fervoroso,
para quem o Führer era quase um deus. O outro era um jovem
soldado, cristão fiel que confiava no poder de Deus. Este levara
consigo sua Bíblia e a lia diariamente e, por alguma razão, lia em
voz alta. O oficial, para quem a Bíblia não passava de mitologia
judaica, detestava aquilo e gritava com o soldado para que
silenciasse. Mas, no campo de prisioneiros, a autoridade do
oficial sobre o soldado não existia como no campo de batalha. E
o nosso soldadinho continuou suas leituras em voz alta. Certo
dia, a leitura estava sendo feita no Salmo 137, que se constitui
num cântico cívico-religioso, cheio de nostalgia e de saudade da
pátria, que aqueles exilados na Babilônia cantam, lamentando
não poderem atender aos pedidos dos que os levaram cativos,
para que cantassem as canções de Sião. E, de inopino, o Salmo
passa a uma palavra agressiva e dura contra os escravizadores. E
o soldadinho leu: "Filha de Babilônia, que hás de ser destruída... Feliz
aquele que pegar teus filhos e esmagá-los contra a pedra". Nessa altura, o
oficial já estava de pé diante do soldado, pálido, exaltado e
pedindo: "Leia esse trecho outra vez..." O soldado leu. O oficial
não quis ter dúvidas: Arrancou a Bíblia das mãos do soldado e
foi ler com seus próprios olhos. "Ah! Agora sim! Que livro
formidável!" Era isso. Aos seus ouvidos e aos seus pendores
soavam bem aquelas palavras de ódio. Continuou a ler a Bíblia.
Converteu-se. Entregou seu coração a Cristo e, onde havia
apenas ódio, rancor, o amor floresceu. Na profundidade de sua
sabedoria, colocou Deus, na sua Palavra, a palavra que penetra o
mais empedernido coração.
Cada cristão é um soldado de Cristo, combatente das fileiras
dum exército de salvação. Importa que saiba empunhar e
manejar a Espada do Espírito para ser capaz de, com ela,
enfrentar o inimigo. O Mestre nos dá o exemplo quando se
defronta com o terrível adversário.
O mesmo Espírito que inspirou as santas páginas - se
buscarmos seu auxílio e sua luz - estará conosco, iluminando
nossas mentes para a compreensão certa e para a aplicação
própria às nossas vidas e à tarefa de comunicar a graça da
salvação a outras pessoas.