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Uma breve resenha de ontem, sábado, 5 de fevereiro de 22.

Depois de um hiato que a pandemia forçosamente nos impôs, eis-nos aqui de volta.
Reunimo-nos nesse início de noite de sábado, Josinelma, Freitas (Nosso anfitrião, o
homem do Espaço Cérebro), Jomar, Matheus e este metido a resenhista. Junto conosco,
nossos convidados: Conceição Evaristo, Josinelma Rolande (Isso mesmo, Pinheiro tem
gente escrevendo contos fantásticos), Rubem Alves e Carlos Drummond de Andrade.
Sapere aude!
Sem combinar as escolhas, as escolhas se combinaram. Sim, nossas leituras
amalgamaram-se no humano, na humanidade, no corpo, na vida, no conhecimento.
Ouse saber!
O grande Rubem Alves, acompanhado de Aristóteles, de Walt Whitman, de Kant, de
Camus, de deuses e de Deus, nos fez pensar sobre o conhecimento e nos interpelou com
questões deveras pertinentes.
Pensem conosco vocês também! O que julgam?
Concordam com Aristóteles, que afirma em sua Metafísica: “Todos os homens têm,
naturalmente, um impulso para adquirir conhecimento”? Ou ousadamente discordam do
estagirita, corroborando o quê enuncia a psicanálise: “Todos os homens têm,
naturalmente, um impulso para evitar o conhecimento.”?
Respeitariam e amariam um deus com pé de barros, que proibisse o exercício do
pensamento, ou um Deus que que não temesse o pensamento e que lhes dissesse, como
desafio: “Ouse pensar!”?
Alves veio convidado por mim.
A literatura tem esse poder: fazer pensar, fazer calar, fazer chorar...
Conceição Evaristo nos fez aumentar o nó da garganta.
Jomar a convidou! Trouxe-a naquele livro que ganhou de “amigo invisível”, que agora
não é mais oculto, Inácio. Não, não o de Loiola. Inácio, o nosso English teacher e
membro de nosso grupo. Evaristo nos fez ficar com Olhos d’Água, cheios, claro.
Diante dos lamentáveis eventos, não tão contemporâneos, de ataque à vida de nossa
gente afro-brasileira (nós pretos e pretas, nós negras e negros...), de misoginia,
machismo, racismo... Conceição Evaristo, sem sentimentalismo, a partir de seu conto
Maria, nos fez pensar a nossa humana condição...
E chorar... E engasgar... E silenciar (só para pensar) ...
Josinelma, iluminada por Evaristo e provocada por sua amiga de leitura (De outros
espaços de leituras, que não este), aceita o desafio de produzir a sua “escrevivência” e
homenageia a sua amada e saudosa avó, e nos brinda, como debutante na literatura de
ficção com o seu A promessa de dona Tatá. Um conto de nossa gente, realismo
fantástico pinheirense.
Lembram do Gabo, o Gabriel, não o pensador, o Gabriel da cidade fictícia de Macondo,
isso mesmo: Gabriel Garcia Marques, de Cem anos de Solidão? Lembram do seu
realismo fantástico?
Nas “escrevivências” de Josinelma Rolande somos contagiados não pela Covid, mas
pela beleza de seu conto, de sua narrativa, de suas memórias afetivas do tambor de sua
avó. O realismo fantástico de nossa companheira de leituras nos interpela e faz pensar a
vida, em meio ao estado pandêmico, de rupturas, de partidas e urgência de continuar...
Maria me convidou... Pra uma festa de tambor... Eu vou, mamãe, eu vou... Com Maria
baiar tambor...
Pensar o humano, a humanidade, o conhecimento, a vida em sua
unipluridimensionalidade e toda a sua complexidade e nuanças... a literatura e a leitura
provocam isso...
Assim, Drummond, convidado por Matheus, nos faz pensar o corpo e suas contradições.
Matheus emprestou a sua voz ao texto reescrito a punho. Sim, ele transcreveu os versos
drummondianos, As contradições do corpo, a fim de lê-los para nós, um exercício de
respeito ao poeta. Simples, mas ousadamente subversivo nos dias de hoje de novas e
novíssimas tecnologias.
Enfim, drummondianamente, fomos instados a ousar saber mais sobre o nosso corpo:
Meu corpo não é meu corpo,
é ilusão de outro ser.
Sabe a arte de esconder-me
e é de tal modo sagaz
que a mim de mim ele oculta.

E assim foi, a partir de onde olhava o óculos, a nossa noite de leitura.

Sapere aude!

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