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) textos filosóficos
Começar a ler filosofia não é fácil e pode desanimar muita gente já na primeira
tentativa. O motivo disso pode ser a pouca familiaridade do leitor com esse tipo de texto,
pouca bagagem anterior em filosofia – o que faz com que não entenda certos conceitos e
termos, desestimulando já na largada –, medo de não estar entendendo nada ou até uma
vontade excessiva de entender tudo de uma vez só, que, definitivamente, não costuma rolar
com textos filosóficos (ou acadêmicos em geral…).
Foto: Seven Shooter @ Unsplash
Este post é para apresentar alguns passos simples que, se seguidos, podem ajudar na
leitura e apreensão das ideias presentes em textos filosóficos. Serve, porém, para quem
precisa ler textos em geral, especialmente de teor acadêmico/científico. As orientações são
baseadas em dois livros do mineiro Antônio Joaquim Severino, que referencio ao final do
post. Severino desenvolveu uma metodologia para a leitura de textos filosóficos.
A etapa da análise textual significa fazer uma primeira abordagem do texto, ainda
não tão aprofundada. A ideia, neste primeiro momento de leitura, não é esgotar a
compreensão de todo o texto, mas que o leitor tenha contato com a unidade de leitura
escolhida; a ideia é que obtenha uma visão panorâmica, como Severino fala; nesse
momento, é possível observar o estilo do autor, o método que ele usa, isto é, a forma como
escreve e organiza suas ideias e pensamentos. Ainda neste momento, como a ideia é buscar
familiaridade com o texto, o leitor deve assinalar aqueles elementos que, à primeira vista,
lhe geram dúvidas. Severino recomenda que sejam buscados dados a respeito do autor,
com o cuidado para que os comentaristas (as pessoas que escreveram esses textos sobre o
autor) não “contaminem” a perspectiva individual que o leitor será do texto. Mas, eu
indiquei que você faça isso antes mesmo de dar início aos passos de Severino, láá no
início. Ainda na etapa de análise textual, o leitor deve assinalar termos e conceitos que
desconheça, mas que pareçam importantes para que aquele texto seja compreendido. Deve
anotar esses termos em uma folha/arquivo separado. O leitor deve anotar, ainda, eventuais
fatos históricos citados pelo autor e referências a outros autores que lhe causem dúvida.
Tema – Você deverá identificar, em uma linha ou duas, qual o TEMA da unidade
de leitura. Não se deixe enganar pelo título, que nem sempre é bom para revelar o tema do
texto.
Problema – A seguir, em algumas linhas, você deve expressar qual o problema que
o autor se propõe a resolver/argumentar sobre. Grande parte dos textos filosóficos e
científicos é motivada por um problema uma questão sobre a qual o autor se propõe a
argumentar. Ele vai elaborar argumentos justamente pensando na “defesa” que fará
daquela questão, que o provocou, o instigou. Ou irá “atacar” uma ideia com a qual não
concorda, desenvolvendo seus próprios argumentos para isso. Pode, ainda, concordar em
parte com uma determinada ideia/tese, mas querer colocar alguns pontos nos quais diverge.
Então, identifique essa questão, dificuldade, esse problema e anote. Tenha em mente que
nem sempre está tão óbvio qual é esse problema. Mas a sua esquematização ajudará a
identificá-lo.
Tese – Após expor a argumentação do autor, você será capaz de expor a tese dele;
em resumo, o que ele argumenta? O que propõe? Então, faz o próximo passo, e escreve a
tese, resumidamente.
PASSO 4 – Problematização
Esta é uma etapa em que se busca desde problemas textuais possivelmente
presentes no texto até possíveis problemas de interpretação. É uma etapa bacana
especialmente quando se realiza um trabalho em grupo, pois neste momento pode-se
debater essas impressões. Vale ler as palavras de Severino diferenciando esta etapa da fase
de identificar o problema, presente na análise temática: “Cumpre observar a distinção a ser
feita entre a tarefa de determinação do problema da unidade, segunda etapa da análise
temática, e a problematização geral do texto, última etapa da análise de textos científicos.
No primeiro caso, o que se pede é o desvelamento da situação de conflito que provocou o
autor
para a busca de uma solução. No presente momento, problematização é
tomada em sentido amplo e visa levantar, para a discussão e a reflexão, as
questões explícitas ou implícitas no texto”.
Lembre-se que, no caso de um ensaio filosófico ou texto acadêmico, o que vale não
é a nossa opinião livre, mas uma perspectiva embasada, bem argumentada – como você
terá observado no texto lido, se tiver gostado da maneira como o autor conduziu sua
argumentação 😉
Ah, também vale lembrar que um ensaio filosófico geralmente contém as sínteses
de vários textos e não somente de um.
Antes de terminar…
Tempo – Se você não tem tempo para seguir TODOS esses passos toda vez que se
propõe a ler um texto filosófico, indico que siga, pelo menos, os passos 1 e 2. Com esses
passos você terá uma excelente visão geral do texto, podendo partir para as etapas
seguintes somente se você for se aprofundar naquela leitura. Claro, o ideal é você
conseguir avançar o máximo possível, contrastar o texto com outras leituras do mesmo
autor, escrever as suas ideias, dialogar com ele etc., mas, de fato, muitas vezes não há
tempo para isso e os passos 1 e 2 são suficientes para uma apreensão excelente de um texto
filosófico/acadêmico. Só ler sem anotar nada não adianta muito no caso de textos
filosóficos.
Espero que este post, apesar de longo, tenha sido útil. Recomendo fortemente a
leitura dos materiais a seguir, dos quais as orientações foram retiradas. E agradeço ao meu
professor e orientador de doutorado Ralph Ings Bannell por ensinar essa metodologia em
suas aulas de filosofia.
Fontes:
SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez,
2013.
SEVERINO, Antônio Joaquim. Como ler um texto de filosofia. São Paulo: Paulus, 2009.