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FACULDADE ATENEU

INSITUTO FENIX DE ENSINO E PESQUISA

MICHELLE LUGON VALLADÃO GOMES

PROCESSO ARTETERAPEUTICO COMO CAMINHO DE INTEGRAÇÃO


PARA O FEMININO: A LIBERDADE INTERNA.

VITÓRIA
2019
MICHELLE LUGON VALLADÃO GOMES

PROCESSO ARTETERAPEUTICO COMO CAMINHO DE INTEGRAÇÃO


PARA O FEMININO: A LIBERDADE INTERNA.

Trabalho de conclusão de Curso de Pós


graduação em Arteterapia apresentado ao
Instituto Fênix de Ensino e Pesquisa, como
parte das exigências da disciplina sob
orientação da professora Luziane Silveira

VITÓRIA
2019
Dedico esse trabalho a todas nós, mulheres,
guerreiras, autenticas, batalhadoras, que
apesar dos percalços da vida, continuamos
firmes e fortes.
Dedico a minha madrinha Maria da Penha
Gomes, que sempre me apoiou em minhas
escolhas e era uma mulher forte,
determinada, batalhadora.
AGRADECIMENTOS

Ao divino criador que tudo é por me dar saúde e muita força para
superar todas as dificuldades.
A minha orientadora Luzi, por todo o tempo que dedicou a me ajudar
durante o processo de realização deste trabalho, pela paciência por aturar
meus quase surtos e pelo carinho que teve comigo e com meu trabalho.
Ao Fênix por ter nos dado a oportunidade de realizar esse curso de
especialização, todo seu corpo docente com profissionais qualificados que
disponibiliza para nos ensinar, além da direção e a administração, que
realizam, todos, o seu trabalho com tanto amor e dedicação, trabalhando
incansavelmente para que nós, alunos, possamos contar com um ensino de
extrema qualidade e com um excelente ambiente.
Aos meus pais, Carlos Alberto e Simone Lugon, a minha madrinha
Maria da Penha e minha madrasta Paula Portto Gomes por todo o amor que
me deram, além da educação, ensinamentos e apoio.
Aos meus amigos, em especial Layla Lagares, Nathália Meneghel e
Roberta Ferreira por me apoiar, me ajudar, me acalmar, aturar minhas crises,
meu desespero e, a todo o momento, acreditarem em mim e que iria conseguir.
As minhas atendidas do estágio clinico que confiaram, se permitiram,
se entregaram e colaboram de forma inimaginável para o meu aprendizado e
crescimento.
E enfim, a todos que contribuíram para a realização deste trabalho,
seja de forma direta ou indireta, fica registrado aqui, o meu muito obrigado!
“Somos o que fazemos, mas somos,
principalmente, o que fazemos para mudar o
que somos.”

Eduardo Galean
RESUMO

A arteterapia, como qualquer processo terapêutico, vem para auxiliar o


individuo a ter conhecimento sobre si, sobre sua vida e o mundo a sua volta.
Ela não é uma promessa vazia de cura como um milagre. É um trabalho
terapêutico sério e eficaz, que necessita do comprometimento do terapeuta e
da (o) atendida(o). A arteterapia vai além de um simples trabalho artístico, ela
proporciona autoconhecimento, autonomia de vontades, pensamentos,
escolhas, resolução de conflitos internos e externos, entre outras coisas.
Pensando nisso e no contexto atual, a ideia desse trabalho é mostrar como a
arteterapia pode auxiliar no processo de libertação interna do feminino.

Palavras-chave: arteterapia. feminino. Mulher contemporanea. Conflitos.


ABSTRACT

Before all content studied, we have come through this project to explain….
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – SÍMBOLO YIN E YANG ...............................................................31

FIGURA 2 – SÍMBOLO YIN E YANG ...............................................................31

FIGURA 3 – CONSCIENTE E INCONSCIENTE ..............................................36


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................09
1 – ARTETERAPIA ..........................................................................................11
1.1 Conceitos e fundamentos ...........................................................................11
1.2 História .......................................................................................................13
1.3 Especificidade ............................................................................................14
1.4 O setting arteterapeutico e o papel do arteterapeuta .................................15
1.5 Áreas que dialogam com a arteterapia .......................................................17
1.5.1 Psicologia Analítica ..................................................................................17
1.5.2 Gestalterapia ............................................................................................18
1.5.3 Terapias corporais de Reich ....................................................................19
2 – UNIVERSO FEMININO E SEUS DILEMAS ...............................................20
2.1 Aspectos Históricos ....................................................................................20
2.2 A realidade da mulher contemporânea .......................................................23
2.3 Aprisionamentos da mulher moderna: uma breve reflexão ........................27
3 – SIMBOLOS, MITOS E ARQUÉTIPOS .......................................................32
3.1 Símbolos .....................................................................................................32
3.2 Mitos ...........................................................................................................34
3.3 Arquétipos ...................................................................................................35
3.4 Os símbolos, mitos e arquétipos na arteterapia .........................................38
4 – PROCESSO ARTETERAPEUTICO COMO CAMINHO DE INTEGRAÇÃO
PARA O FEMININO: A LIBERDADE INTERNA ..............................................39
4.1 Propostas de vivências iniciais ...................................................................41
4.1.1 Banco de imagens ...................................................................................41
4.1.2 Linha do tempo ........................................................................................42
4.2 Propostas de vivências intermediárias .......................................................43
4.2.1 Modelagem simples .................................................................................43
4.2.2 Pintura com canudo .................................................................................44
4.3 Propostas de vivências principais ...............................................................45
CONCLUSÕES FINAIS ....................................................................................51
REFERÊNCIAS ................................................................................................53
9

INTRODUÇÃO

O tema deste trabalho foi escolhido ao observar os seres humanos, em


especial do sexo feminino, nos dias atuais, bem como por me deparar com
várias situações de pessoas próximas a mim e as altas estatísticas de violência
contra a mulher.

Visto isso, a fusão de tudo e as consequencias destes resultaram na razão que


foi propulsiva para a realização deste trabalho. Visando uma melhor qualidade
de vida e bem estar para as mulheres que na atualidade, apesar das inúmeras
conquistas de direitos e deveres, ainda sofrem com diversas coisas que
decorrem ainda do machismo e patriarcado.

Somos seres humanos e como tais estamos aqui para viver uma vida leve, livre
e da melhor forma possível mas para que isso seja factível, é necessário que o
individuo se auto conheça e saiba lidar com suas emoções, aceitando-as,
compreendendo-as para que consiga equilibrá-las de forma saudável.

É sabido que não é tão simples o processo de auto conhecimento e de


administração das emoções e dificilmente conseguirá alcançar isso sozinho.
Dessa forma, é relevante frisar a importância da terapia como meio auxiliar
nesse processo.

Prontamente a intenção dessa tese é mostrar como usar a arteterapia como


meio auxiliar desse processo.

Como ser humano, como mulher, desejo que esse trabalho sirva para assistir e
promover interesse dos demais terapeutas no assunto abordado e, com isso,
possam auxiliar cada vez mais mulheres encontrar o seu ponto de equilíbrio
para alcançar o bem estar, vivendo uma vida, em sua inteireza, de boa
qualidade.
10

Esse trabalho foca-se na correlação da baixa auto-estima, insegurança e o


medo da solidão o que resulta em um aprisionamento interno existente no
mundo feminino, bem como na mudança desse quadro, para que essas
mulheres vivam uma vida com uma qualidade melhor e bem com elas mesmas.

Vê-se o quanto, desde os primórdios, a sociedade impõe como devemos seguir


nossa vida, como estudar, trabalhar, casar, ter filhos, constituir uma família, etc.

No entanto, cada ser humano é único e tem suas singularidades, subjetividade,


não podendo, assim, generalizar. Quem ditou as regras? E por qual motivo
devemos segui-la? E quando não seguimos os scripts ditado de nossas vidas,
o que acontece? Gera angústia, tristeza, insegurança. Gera o medo! O medo
de fracassar, o medo de não ser boa o suficiente, o medo de ficar sozinha.

Todavia, o objetivo desse trabalho é mostrar como a arteterapia pode


possibilitar a resolução dos conflitos gerando uma liberdade interna através de
uma caminho de integração para o feminino.
11

1 CAPÍTULO I: ARTETERAPIA

1.1 CONCEITOS E FUNDAMENTOS

A Arteterapia é um método terapêutico que une nossos universos interno e


externo através da simbologia. O desenvolvimento terapêutico é realizado
através de vivências utilizando materiais artísticos, os quais trás a superfície da
consciência conteúdos subjetivos do inconsciente que nós não temos fácil
acesso.

Ademais, a União Brasileira de Associações em Arteterapia, a UBAAT, reitera


dizendo que:

A arteterapia, que é o uso da arte como base de um processo


terapêutico, propicia resultados em um breve espaço de tempo.
Visa estimular o crescimento interior, abrir novos horizontes e
ampliar a consciência do indivíduo sobre si e sobre sua
existência. Utiliza a expressão simbólica, de forma espontânea,
sem preocupar-se com a estética, através de modalidades
expressivas (...) a arteterapia possui a finalidade de propiciar
mudanças psíquicas, assim como a expansão da consciência,
a reconciliação de conflitos emocionais, o autoconhecimento e
o desenvolvimento pessoal. A arteterapia tem também o
objetivo de facilitar a resolução de conflitos interiores e o
desenvolvimento da personalidade.

Ainda de acordo com a UBAAT, o processo arteterapeutico pode ser realizado


em qualquer pessoa desde crianças até idosos, pessoas enfermas, com
necessidades especiais, podendo ser feito atendimentos em grupo ou
individual.

Ela utiliza o processo criativo e a linguagem expressiva para trazer a tona


conflitos internos e auxiliar na resolução dos mesmos, trazendo a tona,
também, conteúdos subjetivos que estão, muitas vezes enraizados e
adormecidos no inconsciente, os quais nos limitam e geram sentimentos
negativos. Auxiliando, também, no desenvolvimento psicomotor do individuo.

A autora REIS (2014) nos traz sobre que:


12

A arteterapia usa a atividade artística como instrumento de


intervenção profissional para a promoção da saúde e a
qualidade de vida, abrangendo hoje as mais diversas
linguagens: plástica, sonora, literária, dramática e corporal, a
partir de técnicas expressivas como desenho, pintura,
modelagem, música, poesia, dramatização e dança. Tendo em
vista a formação do profissional e o público com o qual
trabalha, a arteterapia encontra diferentes aplicações: na
avaliação, prevenção, tratamento e reabilitação voltados para a
saúde, como instrumento pedagógico na educação e como
meio para o desenvolvimento (inter) pessoal através da
criatividade em contextos grupais. Desse modo, o campo de
atuação da arteterapia tem se ampliado, abrangendo além do
contexto clínico também o educacional, o comunitário e o
organizacional.

Segundo Valladares (2008) através da arteterapia a pessoa pode resgatar,


desbloquear, e fortalecer potenciais criativos, além de possibilitar a
reconstrução e integração da personalidade por meio de formas de expressões
diversas. Portanto, a arteterapia é um meio que ajuda o ser humano a explorar,
descobrir e entender seus pensamentos e emoções. Também auxilia no
desenvolvimento da autoestima, redução da ansiedade, melhora da qualidade
de vida, prevenção e expansão da saúde.

O que se tem de diferencial e incrível em arteterapia é a liberdade para se


expressar e externalizar todas aquelas emoções que desconhecemos, que
omitimos, que reprimimos internamente. Assim, estas são reproduzidas sem
sutileza, trazendo a tona ao consciente o que está emergido nas profundezas
do inconsciente, permitindo o processo do efeito borboleta, transmutar
interiormente.

O fundamento principal da arteterapia é a possibilidade de representação


artística e não verbal de nossas experiências internas, expandindo nossa
consciência acerca dos fenômenos subjetivos.

Como Andrade (2000) mesmo pontua: a expressão ‘artística’ revela a


interioridade do homem, fala do modo de ser e visão de cada um e seu mundo.

Esse ato revela um suposto sentido, e cada teoria e método em arte- terapia e
terapia expressiva se apodera desse ato diferentemente, por intermédio desse
13

‘fazer arte’, expressar-se, o terapeuta pode estabelecer um contato com o


cliente possibilitando a este último o autoconhecimento, a resolução de
conflitos pessoais e de relacionamento e o desenvolvimento geral da
personalidade.

Em arteterapia é fundamental dar voz, atenção, a expressão mais direta do


universo emocional, pelo fato de não passar pela peneira da racionalização,
como acontece quando se tem uma manifestação verbalizada apenas.

1.2 HISTÓRIA

A prática de arteterapia surgiu através do médico alemão Johan Christian Reil


que, segundo os estudos, foi o primeiro a usar arte na área de saúde com
finalidade terapêutica almejando cura psiquiatra.

Cabe ressaltar que, Jung foi um dos principais influenciadores do uso da arte
no processo terapêutico. Segundo ele, nossa potencialidade para criar, onde
aflora o novo, estão compreendidos no nosso inconsciente coletivo e pessoal.

E como o próprio Jung (1920) diz: “Arte é a expressão mais pura que há para a
demonstração do inconsciente de cada um. É a liberdade de expressão, é
sensibilidade, criatividade, é vida.”

Contudo, Margareth Naumburg, psicóloga psicanalítica americana, foi à


precursora da arteterapia, desenvolvendo-a: seu trabalho é denominado
Arteterapia de Orientação Dinâmica, e foi desenvolvido com base na teoria
psicanalítica (Naumburg, 1966). Nessa perspectiva, as técnicas de arteterapia
visam a facilitar a projeção de conflitos inconscientes em representações
pictóricas.

Em contiguidade, no Brasil o prógono, inicialmente, foi Ulysses Pernambucano,


responsável por estabelecer relações entre arte e psiquiatria. Ato contínuo,
14

inspirado em Ulysses, Silvio Moura produziu seu trabalho de conclusão do


curso de medicina intitulado “Manifestações artísticas nos alienados”,
estimulando um maior interesse sobre o tema á outros profissionais da área da
saúde.

Todavia, temos nomes de destaque no país quando se trata de arteterapia,


primeiro deles é o Osório César que preconizava uma forma de entender as
produções artísticas dos sujeitos hospitalizados. Outro nome de grande valia é
de Nise da Silveira, que implantou ateliês de modelagem e pintura, nas
intervenções terapêuticas, no hospital em que trabalhava.

Cabe ressaltar, também, o instituto de Terapia expressiva centrada na pessoa,


que foi fundada por Natalie Rogers, na qual através se trabalhava pontos
expressivos como pinturas, danças, poesias, etc. Bem como, afirmava que,
cabia somente ao paciente verbalizar, de acordo com sua percepção, aquilo
que foi criado, não cabendo ao terapeuta dar-lhe os interpretações.

1.3 ESPECIFICIDADE

A arteterapia tem suas peculiaridades, tendo como essência a vivencia artística


em prol da saúde mental. Estas vivências são usadas como meio de mediação
profissional, melhorando qualidade de vida do sujeito, bem como promovendo
saúde do mesmo.

Como já dito inicialmente, o desenvolvimento terapêutico é realizado através do


processo criativo, usando diversos materiais artísticos, o qual a torna tão
singular em relação às demais terapias.

Dessarte, Ana Araújo e Luis Fernando, fomentam:

A arteterapia é um meio terapêutico e de diagnóstico em que


terapeuta e paciente desenvolvem uma relação interpessoal
dinâmica, com limites e objetivos específicos. Portanto, difere
da arte tradicional no sentido que é enfatizado o processo
15

criativo em detrimento do resultado final. O importante no


momento da criação é a pessoa não se preocupar com a
estética nem com o belo, pois não é esse o objetivo da técnicas
expressivas. Neste processo, é importante que as emoções e
os sentimentos contidos ou interiores cheguem à tela de forma
natural (...) (grifo nosso).

Cada vivencia é pensada e preparada de acordo com o caso concreto de cada


individuo, ou se for em grupo, de acordo com a demanda daquele grupo. Para
tanto, a possibilidade do uso de diversos materiais como papéis, lápis de cores,
tintas, argila, massinha, areia, instrumentos sonoros, sucata, entre outros.

1.4 O SETTING ARTETERAPEUTICO E O PAPEL DO ARTERAPEUTA

Para termos um bom desenvolvimento arteterapeutico deve se salientar a


relevância do setting terapeutico, o qual influencia diretamente no decorrer do
processo. É lá onde tudo acontece, onde o sujeito deixa de lado o mundo
externo e mergulha em seu mundo interno.

O ambiente tem que estar propicio as atividades/vivencias, bem como dispor


de uma gama de materiais diversos, para que essas vivencias possam ser
concretizadas da melhor forma possível e para estimular o individuo em seu
processo criativo e inovador.

À vista disso, Angela Philippini afirma que

todas as culturas têm seus territórios sagrados, um espaço de


proteção, calma e serenidade em que os indivíduos podem
realizar seus ritos de conexão com aquele que concebem como
divindade. Locais para renovar as forças, espaço de
reverenciar ancestrais, pedir proteção, inspiração e harmonia.
Nestes territórios, reúnem-se símbolos que facilitam o processo
de resgate de um chão original, uma verdadeira casa no
sentido psíquico.
O “setting” de arteterapia, com sua formatação de laboratório
de alquimia, recria nos tempos atuais, o tão necessário
território sagrado. Funciona como local de criação, de resgatar
16

e expandir potencialidades adormecidas, de desvelar


sentimentos e de compreender conteúdos inconscientes. (...)
O “setting” arteterapêutico deve contar com uma atmosfera
descontraída que, ao mesmo tempo, ofereça segurança e
receptividade. Deve ser estimulador da experimentação
expressiva, do comportamento criativo, de ousadias e
inovações nos modos de ser. Por outro lado, deve conter
múltiplos materiais, de modo a facilitar, através desta múltipla
materialidade, a descoberta de trilhas de acesso ao
inconsciente, singulares para cada indivíduo. (...) Que o
“setting” de arteterapia possa funcionar, então, como um
território sagrado da criação, um espaço acolhedor e flexível no
qual, em meio às asperezas do cotidiano, abrem-se trilhas de
entrada num espaço mítico de auto- descoberta, lugar de
gestar-se em sonhos e projetos. Um temenos onde é possível
criar e recriar o tempo, tal qual seria Kairós. Resgatando e
construindo fontes de proteção e nutrição psíquica. E, então,
neste tempo e espaço singulares, criações, criadores e
criaturas vão poder dançar a dança de Shiva, celebrando o
TODO CRIATIVO que assim, poderá viver e se multiplicar em
arteterapeutas e clientes.

Já o papel do arteterapeuta é ser um facilitador nesse processo que emerge


nas questões da mente em desequilíbrio que reverbera na vida do sujeito de
várias formas, muitas vezes limitando, outras vezes somatizando doenças,
entre outros.

O profissional dessa área tem que seguir o código de ética dos Arteterapeutas,
que foi elaborado pela União Brasileira de Associações de Arteterapia, também
conhecida por UBAAT, o qual designa os princípios, as responsabilidades do
profissional desta área, bem como os direitos e medidas disciplinares.

O arteterapeuta não irá analisar a estética do que foi produzido, e sim a


maneira que foi elaborado, analisando os gestos, postura, sentimentos,
emoções que o individuo está expressando ao produzir e, depois de pronto,
ouvir qual interpretação o atendido dá a sua produção.
17

1.5 ÁREAS QUE DIALOGAM COM A ARTETERAPIA

1.5.1 Psicologia Analítica

A psicologia analítica foi desenvolvida por Carl Jung, com base teórica na
psicanálise de Freud, a qual estuda fenômenos da psique através da
consciência e do inconsciente (pessoal e coletivo).

Na terapia Junguiana são trabalhados conteúdos com uma carga emocional


profunda com finalidade de mudança em todos os aspectos para uma melhor
qualidade de vida, compreendendo crenças, emoções, sintomas e sentimentos
que estavam abarcados no inconsciente do individuo.

A arte expressa o inconsciente de cada pessoa, segundo observava Jung,


possibilitando se deparar com elementos profundos da vida.

Através da arte, manifestamos aspectos psicológicos, proporcionando a


exposição das emoções que evidenciam o estado pessoal mais profundo do
individuo, utilizando diversas técnicas reunidas a fim de despertar, acarretando
conteúdos conscientes e inconscientes, essenciais para a maturação do sujeito
através de vivências e técnicas expressivas, as quais auxiliam na interlocução
entre o Self e o ego.

Para Jung, a cura terapêutica consistia em dar forma, modificar conteúdos


inconscientes em expressões simbólicas, acreditando que a criatividade
artística é uma atividade psíquica estruturante.

Ele propunha que os pacientes fizessem pinturas ou desenhos retratando


sentimentos, situações conflituosas, sonhos, entre outros, considerando a
expressão simbólica produzida como representação do inconsciente pessoa e
coletivo. Também confiava na capacidade do sujeito em organizar sua
desordem interna valendo-se da arte, simplificando a interação verbal com
indivíduo.

“Quando falamos da relação entre psicologia e arte, estaremos


tratando apenas daquele aspecto da arte que pode ser
submetido à pesquisa psicológica sem violar a sua natureza.
18

Seja o que for que a Psicologia possa fazer com a arte, terá
que se limitar ao processo psíquico da criação artística e nunca
atingir a essência profunda da arte em si.” (Jung, 1985, p.99)

Jung já dizia que o inconsciente se expressa através de figuras e signos.

1.5.2 Gestalterapia

A Gestalt-terapia é uma teoria dentro da abordagem psicológica Humanista,


elaborada por Fritz Perls, um médico alemão que, inicialmente, se interessou
pela psicanálise de Freud.

É conhecida como teoria da forma, a qual afirma que, para ter uma
compreensão das partes, antes de tudo, temos que compreender o todo, e que,
por sua vez é mais que a soma dessas partes, é um novo elemento que se
forma para ser percebido.

Ela tem influencia da fenomenologia, tendo como objeto de estudo os


fenômenos psicológicos, considerando-os totalidades estruturadas e
indivisíveis, bem como a consciência, a maneira que as pessoas percebem as
pessoas, as coisas e as situações.

A expansão da percepção do individuo sobre si mesmo e a compreensão de


sua personalidade como todo, é um dos objetivos das vivencias artísticas na
arteterapia gestaltista. O fazer artístico é um estímulo para manifestação dos
Insights (tomada de consciência) sobre nossa percepção de nós mesmo e do
mundo através das formas concebidas na produção artística do sujeito.

A arte em terapia promove provocar o individuo a perceber o que se passa com


ele naquele momento vivencial, obtendo uma autoconsciência.

Assim sendo, Rhyne (2000) reitera:


19

A experiência gestáltica de arte, então, é o seu eu pessoal


complexo fazendo formas de arte, envolvendo-se com as
formas que você está criando como fenômenos, observando o
que você faz, e, possivelmente, espera, percebendo por meio
de suas produções gráficas não apenas como você é agora,
mas também modos alternativos que estão disponíveis para
que você possa se tornar a pessoa que gostaria de ser.

Nós somos constituídos de experiências e vivencias, que são carregas de


emoções e sentimentos. Estamos, a todo tempo, colocando para dentro
diversas coisas, no entanto, colocamos para fora muita pouco dessas coisas.
Com isso nos sobrecarregamos de emoções que não são expressas, que nos
faz reprimir ou explodir qualquer estímulo subseqüente. Dessa forma, o
objetivo de toda terapia relevante é desprender essas emoções contidas.

1.5.3 Terapias corporais de Reich

Reich era médico e psicanalista que teve como base a psicanálise de Freud, no
entanto se distanciou do mesmo para dar ênfase ao estudo da psicologia
somática.

Ele desenvolveu dentro da sua teoria a analise de caráter que consiste


conhecer os campos energéticos do corpo.

Reich afirma que nossos desequilíbrios emocionais estão correlacionados com


as variações do corpo, acometendo o tônus muscular, percutindo como
tensões ou flacidez muscular.

Essas variações foram denominadas por ele de “couraças musculares”, que


serviram como base para compreensão das doenças psicossomáticas e
servem para proteger internamente e externamente o que nos ameaça. Em
contiguidade, elas são construídas com o passar do tempo, tendo inicio dessa
construção já na infância e se formando por meio da vinculação entre
repressão e satisfação dos impulsos.
20

As couraças musculares são representadas através de anéis segmentares nas


regiões especificas onde há emoções estagnadas.

A psicoterapia corporal une a analise verbal a diferentes métodos de


intervenção corporal e vivencial, bem como atenta concomitante aos processos
orgânicos e energéticos do corpo.

Este processo requer calma e paciência, pois é feito pouco a pouco, camada
por camada, da mais superficial a mais profunda, como descascar uma cebola.

2 UNIVERSO FEMININO E SEUS DILEMAS

2.1 Aspectos Históricos

Para mergulharmos no universo feminino, é preciso fazer um breve caminho


pelo contexto histórico, desde séculos atrás até os dias de hoje, sobre a
condição da mulher em determinadas épocas, para uma melhor compreensão
final.

Inicialmente, é sabido que as mulheres eram educadas, desde a infância, a


cuidar do lar, filhos e cônjuges, sendo ensinadas a depender deste
financeiramente e afetivamente.

A figura feminina na idade média era atribuída ao ambiente doméstico e tarefas


do lar, apenas. Como Macedo trás (apud Moreira, 2005), era atribuído o
símbolo da roca à mulher, ou seja, um símbolo de uma atividade na vida
privada. Já o homem, o símbolo da espada, denotando virilidade, fora e
violência, sugerindo as atividades no campo de batalha.

Ao analisar algumas pesquisamos pode-se perceber que no período clássico a


condição da mulher não era muito diferente, como afirma Torres (2001):
21

“Observamos precipuamente que as mulheres gregas em geral


eram despossuídas de direitos políticos ou jurídicos e
encontravam-se inteiramente submetidas socialmente. A
ateniense casada vivia a maior parte do tempo confinada às
paredes de sua casa, detendo no máximo o papel de
organizadora das funções domésticas, estando de fato
submissa a um regime de quase reclusão. Mesmo antes do
casamento, nem se pensava que a jovem pudesse encontrar
se livremente com rapazes, visto que viviam fechadas nos
aposentos destinados às mulheres – o gineceu. Deviam lá
permanecer para ficar longe das vistas, separadas até dos
membros masculinos da própria família. A inferioridade da
mulher e da sua posição pode ser atestada pela Política de
Aristóteles que a justificava em virtude da não plenitude na
mulher da parte racional da alma, o logos. Observamos
inclusive no texto aristotélico, que para tanto faz uso das
palavras de Sófocles, que as mulheres deviam, por sua graça
natural, permanecer em silêncio, o que é por demais
significativo de sua condição (...)”

Como Torres (2001) trás, também, as mulheres espartanas gozavam de uma


“liberdade” em comparação as atenienses, no entanto, tal liberdade era ilusória
uma vez que o propósito final de tal liberdade de praticar jogos, fazer exercícios
físicos entre outros, eram por acreditarem que, com isso, os filhos iriam ter
mais força e serem melhores quando provenientes de uma condição física
melhor de ambos progenitores, o que reduz a condição feminina a reprodução.

Ademais, Alvito, 1988 (apud Torres, 2001) relata:

“Se elas eram mais “livres”, podiam sair mais freqüentemente


de casa, não tratava-se, como salienta Marcos Alvito, de uma
aberração, mas de uma decorrência natural de uma
organização social que propositadamente enfraquecia a
família, retirando toda a força dos vínculos conjugais, fazendo
com que os filhos fossem criados pelo Estado e os maridos só
visitassem as esposas de vez em quando. Como se vê, estas
mulheres espartanas eram ainda menos importantes no
corpo social e na vida de seus maridos que as atenienses,
uma vez que se viam privadas de criar os próprios filhos a
partir de certa idade e de manter regularmente um
relacionamento conjugal com seus maridos. Em resumo, o que
se objetivava era fortalecer a comunidade de guerreiros em
22

detrimento da esfera privada (...)” (Alvito, 1988: 43-44). (grifo


meu)

Ato contínuo, a luz do estudo de Moreira (2005) sobre a condição das mulheres
da Roma antiga, observa-se que essas foram excluídas das funções públicas.
Tendo suas relações limitadas à “domus” (casa), eram submetidas ao poder do
homem dentro da família, já que esta era sempre governada pelo pai, marido
ou o sogro.

É de conhecimento amplo que até poucos anos atrás a figura feminina era
tratada como mero objeto doméstico e reprodutor, sem direitos, sem voz, sem
nada. Até determinada época eram objetos de negócio entre famílias.

Estudos apontam que a estrutura familiar deixou de ser de horizontalidade para


verticalidade após o século X, onde o ordenamento familiar era de
descendência direta. No entanto, segundo Moreira (2005) as mulheres não
tinham direito hereditário algum sobre os bens da família e os casamentos
eram meras alianças entre famílias com interesses masculinos. Ademais, ainda
segundo a autora, as mulheres eram referenciadas como esposa, filha ou irmã
de determinado individuo.

Ao advindo das guerras (primeira e segunda), concomitante com a revolução


industrial, as mulheres começaram a trabalhar em fábricas enquanto seus
maridos estavam lutando na guerra.

O inicio da conquista de direitos, ‘igualdade’, independência e liberdade externa


das mulheres é com o movimento feminista. Este movimento, conforme Lenzi
(2018), da primeira a terceira onda, veio para reivindicar os direitos politicos,
igualdade, social e direitos entre gêneros, passando a contestar e se opor a
qualquer condição de submissão, opressão, autoritarismo, e desigualdade que
enfrentavam, bem como pleitear a liberdade feminina como todo: liberdade de
decisão, sexual, etc.
23

Segundo a referida autora:


“As mulheres lutavam por mais igualdade. Desejavam o direito
à participação na vida política, direito ao voto, ao estudo e
melhor condição de trabalho. Foi neste período que as
mulheres começaram a questionar o papel que era imposto a
elas pela sociedade, principalmente em relação à
responsabilidadepela casa e pela família como sua única
função (...) Também fizeram parte dos questões debatidas pelo
movimento nessa fase as decisões sobre liberdade sexual,
maternidade e direitos de reprodução. (...) o período iniciado a
partir dos anos 90 e pode ser definido pela busca de total
liberdade de escolha das mulheres em relação ás suas vidas.
(...) Outra contribuição desta fase do feminismo é o
entendimento de que os comportamentos e opressões são
resultados de construções sociais (...)” (grifo meu)

Complementando a colocação desta autora, Sarti (2004, pág 40) traz: “a


autodenominação feminista implicava, já nos anos 1970, a convicção de que os
problemas específicos da mulher não seriam resolvidos apenas pela mudança
na estrutura social, mas exigiam tratamento próprio.”.

Contudo, da década de setenta até os dias atuais, as conquistas femininas


foram crescendo, se expandido e reverberando em todos os setores da vida da
mulher contemporânea.

2.2 A realidade da mulher contemporânea

Inicialmente, para refletir acerca deste assunto, é importante compreender


alguns pontos que abarca o mesmo.

Nesse sentindo, iremos começar refletindo sobre, entre tantos estereótipos


existentes na figura da mulher na atualidade, um chama muito a atenção nessa
era moderna: o da Mulher Maravilha as demais variáveis que ele traz.

No que tange ao padrão comum da Mulher Maravilha, os autores Brasileiro e


Brasileiro (2000) afirmam:
24

“O Complexo de Mulher Maravilha consiste no papel em que a


mulher dos tempos atuais assumiu, ao colocar sob sua
responsabilidade as funções masculinas sem deixar de exercer
as femininas, sobrecarregando-a excessivamente. Na prática,
quis não apenas agir como a Mulher Maravilha lutando por
direitos de igualdade junto aos homens, mas também sendo
mais forte e mais ágil que eles. Fantástico! No entanto, ela
terminou por colocar sobre seus ombros inúmeras atividades
como: trabalhos árduos de muitas horas, responsabilidades
outras que associadas às preocupações femininas com a
família (filhos, casa, marido, pais) lhe sobrecarregaram.
Levando-a a duplicar e até mesmo a quadruplicar suas tarefas.
O resultado tem sido um alto nível de estresse e doenças
cardíacas, bem como outras mais comuns nos homens, mas
agravadas pelo excesso de trabalho e preocupações. O
homem sempre conseguir suportar estas tarefas pois ao
chegar em casa não tinha outras obrigações, com isso ele
descansava mais, porém a mulher chega em casa e outra
jornada de trabalho a espera.”

Inclusive os autores trazem, além do complexo, uma das variáveis que é da


dupla, tripla jornada de trabalho da mulher moderna e as consequencias dessa
sobrecarga.

A mulher moderna tem poder de escolha, saiu de submissa, subordinada de


um marido para gerir a própria vida, saindo de um papel da sociedade de
coadjuvante para protagonista. No entanto, com todas essas conquistas vieram
o acumulo de funções, cuidar da casa, filhos, carreira, o que tem impactado
diretamente, segundo estudos, no campo mental e emocional das mesmas.

Mesmo depois da emancipação, fragmentada, feminina, as mulheres ainda são


marcadas pela ideologia naturalizada de cuidar de toda a tarefa doméstica e
dos outros que convive.

Outrossim, a sociedade quis romantizar a mulher multitarefa, que consegue dar


conta de tudo e ainda sim ser feliz. O que vale a reflexão: será que essa
multiplicidade de tarefas é positiva ou um jeito de opressão feminina? Será
25

que essa sobrecarga trabalhista traz a tão almejada felicidade a essas


mulheres ou estão adoencendo-as?

Amaral e Vieira (2009) trazem que

“A complexidade da situação feminina agrava-se, na


atualidade, com a crescente demanda das empresas por maior
qualificação do trabalhador, exigindo da mulher o cumprimento
de não apenas duas jornadas de trabalho, mas três, aqui
entendidas como a conciliação das atividades profissionais,
familiares e educacionais.”

Em continuidade, além do que foi trazido sobre a jornada de trabalho da mulher


moderna, ainda temos mais uma variável: a aparência física.

Visto isso, a autora MORAES (2012) elucida:

“(...) o estereótipo da mulher submissa foi substituído, em


grande medida, pelo da mulher múltipla: que trabalha fora,
cuida da casa, dos filhos e do marido e, ainda assim, deve
encontrar tempo para cuidar de si, fazer cursos de
aperfeiçoamento, manter cabelos e unhas impecáveis, praticar
exercícios físicos, balancear a dieta, etc. Pode-se mesmo dizer
que o grau de exigência em relação à mulher tornou-se maior
no conjunto de discursos dominantes de nossa sociedade: se
antes a “mulher perfeita” era a que cuidava bem do lar e da
família, hoje ela precisa se destacar profissionalmente sem
descuidar das questões anteriores e, ainda, ter um corpo de
modelo. Como isso tudo é quase impossível (até por razões
fisiológicas, nem todas as mulheres poderão atingir o mesmo
padrão de beleza), prevalecendo a sensação de
“incompletude”.” (grifo meu)

Nesse sentindo, entramos em mais uma questão acerca da atual realidade


feminina: a ditadura da beleza.

E por entrar nesse assunto, a autora Tomasuolo (2012) declara que:

“A menina aprende desde a mais tenra idade que as histórias


só acontecem a mulheres "lindas". São ensinadas pela mídia,
pelos brinquedos e por tudo que as cercam de que seu valor
está em sua "beleza". Porém cada vez mais este padrão de
"beleza" se afasta do atingível, e se torna realidade apenas em
26

imagens irrealísticas modificadas pelo photoshop. Isso faz com


que essas meninas se tornem mulheres em constante busca
por essa "beleza", sempre insatisfeitas, sempre infelizes, o que
por fim se transforma em quadros de depressão, em distúrbios
alimentares, em ataques de pânico, em mulheres que não
acreditam em seu potencial, que não esperam grandes
progressos em suas carreiras, que aceitam homens machistas
em suas vidas por não acreditarem que merecem algo melhor,
que acatam com tudo que o sistema patriarcal impõe por achar
que elas é que são as culpadas e merecedoras do mal que
lhes acomete.” (grifo meu)

Com todas essa imposição de padrão especifico e inatingível de beleza,


acabam por criar mais conflitos internos nas mulheres, o que reflete em um
adoecimento físico e emocional em muitas.

A autora Moreno (ano), extraordinária, trás em seu livro todas essas questões
discutidas anteriormente:

“A mudança do relacionamento entre homens e mulheres,


transformando as relações de dependência e a divisão de
papéis sexuais, leva à transformação do modelo de mulher.
Esta, que até então sinalizava acolhimento ou inatividade,
evolui até incorporar o modelo de mulher ativa, com iniciativa e
trabalho – mesmo que essas atividades correspondem mais a
um desejo ou ao imaginário social feminino do que a uma
realidade efetivamente vivida. (...) O sonho da beleza absoluta
se desfaz e se multiplica – cede seu lugar às belezas
singulares. (...) O espelho e a balança pessoal entraram em
cena no fim do século XIX. Depois disso, a magreza avançou,
sinalizando leveza, mobilidade e reflexo da psiquê. As gordas
passam a ser vistas como relaxadas ou como mulheres que
compensam frustrações diversas por meio da comida. Não
estão “de bem com a vida” e levam a culpa pelo sobrepeso,
que nada mais traduz do que seu desequilíbrio psicofísico-
emocional. Pelo menos é assim que são vistas. A ditadura do
peso se impõe de forma cada vez mais draconiana (...) Aos
trancos e barrancos, cresce o número de mulheres brasileiras
que chefiam suas famílias, sendo as únicas responsáveis por
seu sustento, enquanto as demais são crescentemente
responsáveis por uma boa proporção do orçamento familiar.
(...) Acumulamos funções e tarefas – trabalhamos mais horas
por dia porque juntamos ao que já fazíamos o trabalho
chamado “produtivo” (designação que torna “improdutivo” o
trabalho doméstico – apesar de necessário para gerar, criar e
devolver ao “mercado” a força de trabalho desta e da próxima
geração)”.
27

O que se percebe hoje é um mundo que cobra todos a todo momento, a


cobrança de ser os melhores, de fazer tudo perfeito, de ter o corpo perfeito, de
estar dentro dos padrões impostos, o que leva a uma cobrança excessiva que
gera ansiedade e stress e, consequentemente, tristeza e até depressão.

Com toda essa independência, vem uma questão que será discutida neste
trabalho, a solidão.

2.3 Aprisionamentos da mulher moderna: uma breve reflexão

Visto toda a trajetória da mulher até os dias atuais, é de suma importância


ressaltar um assunto que está tão enfatizado nesse contexto com todas essas
conquistas que é a solidão.

Para falar de solidão é necessário, inicialmente, perpassar por suas nuances,


até porquê existe a solitude proveniente da solidão que é algo positivo, um
recolhimento, um momento de introspecção a fim do autoconhecimento sem se
sentir só.

Já a solidão é um sentimento que leva a pessoa se isolar se afastando dos


relacionamentos interpessoais, sentindo um vasto vazio existencial.
Falando sobre solitude, a psicóloga Lia Clerot diz que a solidão “quando não
associada à tristeza, a solidão pode ser um momento para refletir, cuidar de si
e da mente. É importante estar só" (apud Adolfo)

No entanto, quando a pessoa se sentir só concomitante com sentimento de


tristeza e insatisfação com o ambiente que a circunda e as relações
interpessoais, é denominado sentimento de solidão, segundo trás a psicóloga
Raquel Staerke (apud Adolfo)
28

A psicóloga Adriana de Araújo (apud Adolfo) afirma que a dependência


emocional surge, também, no momento em que o individuo necessita da
presença de outra pessoa para ficar bem, não conseguindo ficar sozinha, é
nesse ensejo que a solidão se torna um problema.

A profissional supracitada diz:

"Essa dependência é destrutiva para a nossa liberdade e


leveza emocional. Ser ou estar introspectivo por um tempo não
é problema. Mas estar sempre assim nos torna inflexíveis, com
pouca capacidade de mudança e adaptação, o que nos traz
sofrimento, mal estar e a sensação de peso na vida" (apud
ADOLFO)

Dessa forma, podemos iniciar uma reflexão a cerca de tudo que foi
mencionado nesse trabalho até agora desde as conquistas feministas da
liberdade externa, a adaptação da mulher no mundo moderno e a solidão que
as abarcam na contemporaneidade.

Umas das coisas que se precisa entender é que somos seres sociais,
relacionais e que, apesar de todas as conquistas e discurso feminista sobre ser
feliz sozinha, os relacionamentos inter relacionais são necessários, faz parte da
vida de todo mundo.

Contudo a solidão não é um sentimento a ser resolvido e sim compreendido,


como todos os demais sentimentos.

Somos seres relacionais, somos influenciados pelo ambiente, pelas pessoas e


vice e versa, mas somos só, essencialmente nós temos a nós mesmo.
Ouvir dizer uma vez a monja Coen dizer que os índios não conseguiam
escravizar porque morriam de tristeza e essa tristeza era de impedir o outro de
sua liberdade, pois tudo que impede sua liberdade causa uma escravidão
interna, emocional.
29

E em falar em escravidão interna que entramos em um assunto que o próprio


nome já diz o que é: complexo de cinderela que, segundo Dowling (2012) é:

“a dependência psicológica – o desejo inconsciente dos


cuidados de outrem – é a força motriz que ainda mantém as
mulheres agrilhoadas*. (...) uma rede de atitudes e temores
profundamente reprimidos que retêm as mulheres numa
espécie de penumbra e as impedem de utilizar seu intelecto e
criatividade. Como Cinderela, as mulheres de hoje ainda
esperam por algo externo que venha transformar sua vida.”

A referida autora trás em seu livro sobre os conflitos interno que a maioria das
mulheres se depara alguma hora de sua vida: querer ser independente vivendo
por si apenas e querer depender de alguém para se garantir, o que cria um
vinculo compulsivo entre ter receio e ódio da dependência quanto da
independência.

E é nesse impasse que muitas mulheres esperam ser salvas por algum (a)
herói ou heroína, os quais são idealizados nas mentes como alguém externo,
esquecendo de um fator fundamental: nós somos nossos próprios heróis. Cabe
a nós nos salvar, pois somos, unicamente, detentores deste ‘poder’.

Só nós sabemos o que passamos os momentos e situações que


experienciamos, apenas nós nos conhecemos integralmente. O herói que tanto
almejamos sempre esteve aqui, dentro da gente, reprimido pelo medo e várias
emoções.

As emoções e sentimentos tendem a serem dicotomizadas, principalmente no


mundo de hoje o qual tanto o individuo quanto os relacionamentos inter
pessoais estão frágeis como cristais.

Para compreender tal conceito, é necessário saber o conceito de dicotomia,


que por sua vez é oposição, separação. Para uma melhor compreensão, vale
mencionar Platão e sua idéia dicotomizada de corpo e alma (psique).
30

Assim como Platão acreditava que corpo e mente eram separados, muitos
dicotomizam os sentimentos entre bons e ruins.

No momento em que se faz uma separação de emoções e sentimentos como


algo positivo e negativo, tendo uma concepção de que o negativo é algo ruim e
tem que ser exterminado, se inicia um grande problema para o individuo.

Para Vigotski (apud COSTA e PASCUAL, 2012):

“a psicologia caracterizava-se ainda por posturas


essencialmente dualistas, no que se referia ao estudo do
funcionamento psíquico humano. Ainda de acordo com o autor,
a psicologia de sua época havia esquecido o homem, na
medida em que se ocupava de análises fragmentadas das
partes componentes da consciência. Concebendo a tendência
à dicotomização e, consequentemente, a análise fragmentada
como entraves para a compreensão da consciência, Vigotski
(1931/1995) apontava que o sujeito encontra-se
necessariamente implicado no mundo em que vive, mas o faz
em sua inteireza: "Quando uma pessoa dança, será que de um
lado se encontra a soma dos movimentos musculares e do
outro a alegria e o entusiasmo? Um e outro estão
estruturalmente próximos."

Estão estruturalmente próximos, como Vitgosky anunciou, como arrisco a dizer


que um está dentro do outro, se complementando.

Para falar de complementação é necessária transitar, antes, pelos conceitos de


dualidade e dicotomia.

Falar de dicotomia é o mesmo que falar de separação. Grande parte das


pessoas tem essa ideia de que se deve dicotomizar sentimentos e emoções,
separando-as em boas e ruins e, com isso, estão, constantemente, querendo
eliminar as ruins.

A dualidade existe, mas não pode ser dicotomizada e sim integralizada.


Observa-se a dualidade no conceito chinês do Yin e Yang o qual diz que tudo é
dual no universo, forças que apesarem de serem oposta são complementares,
31

sendo esse complemento necessário para o estabelecimento do equilíbrio


saudável.

Figuras 1 e 2: símbolo do Yin e Yang.

Fonte: web site A mente é maravilhosa.

Assim sendo, uma vez compreendidos esses conceitos, é possível perceber


que a ideia de acabar com determinada emoção ou sentimento é errônea e
prejudicial para o sujeito, o que possivelmente levará a enfermidades psíquicas
e até físicas.

É por isso a importância da integração dos sentimentos e emoções para


estabelecer um equilíbrio saudável, o qual denominei de ‘equilíbrio pendular’ o
que consiste em perpassar pelos dois pólos de forma semelhante, mas sem
que aja uma estagnação e/ou uma linearidade.

Nesse sentido, é essencial uma reflexão: o que seria da alegria sem a tristeza?
O que seria da felicidade sem o sofrimento? O que seria da coragem sem o
medo? O que faríamos sem esses sentimentos denominados ‘ruins’?

A autora DINIZ (2018) respalda acerca do assunto:

“O homem tende a polarizar seu funcionamento psíquico em


um dos extremos, acarretando uma unilateralidade que pode
ser desvantajosa para o processo psíquico, na medida em que
a não integração do oposto exclui justamente o aspecto criativo
e as perspectivas de transformação e maior amplitude
psicológica.”
32

A pessoa se não tiver medo e, com isso, ter excesso de coragem é capaz de
pular de um prédio acreditando que não irá se machucar. Provavelmente irá
atravessar a rua sem olhar para vê se vem carro.

O medo é um sistema de precauções necessárias para nossa sobrevivência,


assim como as todas as nossas emoções e sentimentos. Sempre que um tiver
em excesso ou escassez irá provocar um desequilíbrio, acarretando diversas
consequencias.

3 SIMBOLOS, MITOS E ARQUÉTIPOS

3.1 Símbolos

O símbolo nada mais é que uma linguagem expressiva que da forma e


comunicação aos mitos e arquétipos.

Eles são usados a milhares de anos, antes do desenvolvimento da fala nos


seres humanos, observa-se nas pinturas rupestres, através da pintura e
símbolos eles já deixavam sua marca e se comunicavam.

Anos depois vieram um povo extraordinário, os egípcios. Eles tinham uma


organização hierárquica e de pólice. Quando se fala em símbolos lembramos
logo do Egito Antigo, o conhecimento e histórias foram registrados através de
símbolos em papiros.

A Psicóloga TRISTÃO (2018) alude:


“Dada sua impossibilidade de compreensão integral pela razão,
os símbolos não aludem a fenômenos inteiramente
concretos, mas a imagens que podem ser entendidas em
termos de “como se”, que indicam ou suscitam algo que
não pode ser acessado diretamente pelo conhecimento, a
não ser por intermediários (Whitmont, 2014). Semelhante à
33

função histórica de reconhecer e unir, os símbolos buscam


lançar uma ponte entre os opostos, consciência e
inconsciente, e assim equilibrar as diferenças (Jung, 2012),
tendo, portanto, uma função sintetizadora (Ulson, 1988).
Enquanto função mediadora entre o antagonismo consciente e
inconsciente, entre o desconhecido e o manifesto, o símbolo
não é racional nem irracional, nem abstrato nem concreto, mas
sempre as duas coisas (Jung, 2012). O símbolo presume que a
manifestação realizada é a melhor expressão possível do
fenômeno (relativamente desconhecido), não podendo assim
se utilizar de formas rígidas de interpretação, pois por si só ele
já confere certo significado. (...) Outra característica
importante a ser assinalada é que o símbolo também está
sujeito à consciência de quem o experiencia. Desta forma,
determinado fenômeno pode ser compreendido e vivido como
simbólico para um determinado indivíduo, não o sendo para
outro. Isso implica dizer que não basta que o fenômeno (do
mundo interno ou externo) seja observado apenas pela atitude
consciente, mas que se imponha a esse também um efeito
simbólico (Jung, 2013). Compete à atitude simbólica de quem
vivencia ou observa outorgar ao fenômeno o caráter de
símbolo.” (grifo meu)

Os símbolos expressam um pensamento, uma percepção das sensações,


afetos, intelectual, fazendo com que este pensamento, essa percepção não
fique restrita. Ele está relacionado com relações coletivas e individuais.

Podemos perceber a manifestação dos símbolos na cultura na esfera coletiva


decorrendo do inconsciente coletivo, bem como podem ser individuais no
decorrer de experiências pessoais.

A autora DINIZ (2018) sustenta que:


“O processo psíquico desenvolve seu dinamismo por meio de
imagens simbólicas. O símbolo (fruto da energia psíquica,
objetivada em imagens) traz a possibilidade de ‘...conhecer,
compreender, refazer, recuperar, rememorar, reparar estruturas
e transcender’ (PHILIPPINI, 2000:19).”

A dimensão simbólica seria a própria realidade psíquica (Clarke, 1993), visto


que tudo com que “entramos em contato transforma-se imediatamente em
conteúdo psíquico, de modo que somos isolados por um mundo de imagens
psíquicas” (Jung, 2001, p. 255). (apud TRISTÃO, 2018)
34

A autora COELHO (2012) nos trás:

“(...) entender a natureza da matéria-prima (mitos e


arquétipos), que a alimenta, e da linguagem (símbolos), que a
expressa e torna comunicável. Entretanto, definir ou
caracterizar essa matéria-prima e diferenciá-la da linguagem
em que ela se expressa e se comunica é tarefa difícil, porque o
mundo dos mitos, dos arquétipos e dos símbolos não tem
demarcações teóricas, nítidas, entre eles.”

Dessarte, ao se falar de símbolos, da linguagem simbólica, nos remete a falar


sobre os mitos e arquétipos também.

3.2 Mitos

Os mitos foram uma maneira que os povos antigos encontraram para narrar
através do imaginário e, ao mesmo tempo da ação, a origem da vida, fatos do
cotidiano (da época) e alguns fenômenos de forma simbólica.

As histórias têm uma grande importância no processo de aprendizado. Naquela


época nem todo mundo sabia ler e nem tinha acesso aos estudos, então o
conhecimento eram passados para o povo através de narrativas.

Vale ressaltar que o teatro surgiu na Grécia antiga e retratava muitas historias
da mitologia. Era através da imaginação e da simbologia que as pessoas
tinham acesso a conteúdos da vida e ate da psique coletiva.

O autor do livro O poder do mito, Joseph Campbell (1991) fala sobre as


funções dos mitos:

“Os mitos têm basicamente quatro funções. A primeira é a


função mística – e é disso que venho falando, dando conta da
maravilha que é o universo, da maravilha que é você, e
vivenciando o espanto diante do mistério. Os mitos abrem o
mundo para a dimensão do mistério, para a consciência do
35

mistério que subjaz a todas as formas. Se isso lhe escapar,


você não terá uma mitologia. Se o mistério se manifestar
através de todas as coisas, o universo se tornará, por assim
dizer, uma pintura sagrada. Você está sempre se dirigindo ao
mistério transcendente, através das circunstâncias da sua vida
verdadeira. A segunda é a dimensão cosmológica, a dimensão
da qual a ciência se ocupa – mostrando qual é a forma do
universo, mas fazendo o de uma tal maneira que o mistério,
outra vez, se manifesta. Hoje, tendemos a pensar que os
cientistas detêm todas as respostas. Mas os maiores entre eles
dizem-nos: “Não, não temos todas as respostas. Podemos
dizer lhe como – a coisa funciona, mas não o que é”. Você
risca um fósforo – o que é o fogo? Você pode falar de
oxidação, mas isso não me dirá nada. A terceira função é a
sociológica – suporte e validação de determinada ordem social.
E aqui os mitos variam tremendamente, de lugar para lugar.
Você tem toda uma mitologia da poligamia, toda uma mitologia
da monogamia. Ambas são satisfatórias. Depende de onde
você estiver. Foi essa função sociológica do mito que assumiu
a direção do nosso mundo – e está desatualizada. (...) existe
uma quarta função do mito, aquela, segundo penso, com que
todas as pessoas deviam tentar se relacionar – a função
pedagógica, como viver uma vida humana sob qualquer
circunstância. Os mitos podem ensinar lhe isso.”

3.3 Arquétipos

Os arquétipos são estruturas primeiras com uma organização psíquica, o qual


cada um tem sua função. Foi um termo criado pelo Psiquiatra Carl Jung que
desenvolveu os conceitos da Psicologia Analítica.

A psicóloga Kelly Tristão (2018) nos trás o conceito de arquétipo, segundo


Jung:
Segundo Jung (2014) por arquétipo pode-se compreender os
padrões basais de organizações psíquicas, desenvolvidos ao
longo da evolução filogenética humana, a partir das
experiências comuns a todos humanos como da maternidade,
enfrentamento, adaptação, dentre outros. Os padrões
arquetípicos representam não apenas a possibilidade de
organização psíquica, mas a compreensão dos
comportamentos tipicamente humanos que podem ser
observados seja nas expressões pessoais ou coletivas (seja
36

nos comportamentos sociais ou expresso pelas produções


culturais como mitos, expressões artísticas e literárias).

Para entender melhor é necessário a compreensão da divisão feita por Jung da


psique humana.

Usando da imaginética e a simbologia, imagine um Iceberg. Na ponta dele é a


consciência e tudo que está imerso é o inconsciente. Este inconsciente é
dividido em dois: o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo.

Figura 3 – Consciente e inconsciente

Fonte: site tribiologia.

Jung dizia que no inconsciente coletivo habitam os arquétipos, que são


imagens primeiras e antigas herdadas, passadas de geração em geração, com
significados iguais em todos os povos e culturas.

O inconsciente pessoal é onde constelamos os arquétipos de acordo com


nossas experiências individuais e é a morada dos complexos.

A autora DINIZ (2018) alude que:


“O inconsciente pessoal corresponde a ‘...uma camada mais ou
menos superficial’ (JUNG, OC V. XVIII/2, 1998, §1159) , sem
um marco divisório muito rígido com o consciente e composto
37

pelos conteúdos esquecidos e reprimidos pelo individuo,


deliberada ou involuntariamente, relacionados as experiências
vividas; refere-se a comportamentos civilizados ou passiveis de
aprendizado.”

Enquanto que o inconsciente coletivo, ainda segundo a autora


supramencionada:
“(...) seria a camada mais profunda da psique, constituída pelos
materiais herdados da humanidade, cuja existência não
depende de experiências individuais. Aí estariam os traços
funcionais comuns a todos os seres humanos, prontos para
serem concretizados por meio das experiências reais. No nível
do inconsciente coletivo, encontra-se os instintos e os
arquétipos – formas estruturantes comuns a toda espécie
humana, padrões de comportamentos coletivos -, que se
manifestam em motivos mitológicos nas mais diversas culturas
e são o resultado do depósito de impressões deixadas por
certas vivencias fundamentais, repetidas incontavelmente por
meio de milênios: registros de emoções e fantasias suscitadas
por fenômenos da natureza, experiências intrauterinas e as
relações iniciais que se estabelecem entre mãe e filho;
vivências da imposição do poder do mais forte sobre o mais
fraco...”

Vale ressaltar que o Ego é um complexo e o SELF um arquétipo. Os


complexos fazem morada no Inconsciente pessoal, portanto, são nutridos
lembranças, afetos, pensamentos, sentimentos que ficaram submersos ali por
determinado motivo. Os complexos têm núcleo arquetípico, os arquétipos são
constelados através dos complexos.

O Ego compõe o centro da consciência e a ponte entre o consciente e o


inconsciente. Ademais, o Self é o arquétipo organizador, o centro da mente de
cada indivíduo, a constelação da totalidade.

A autora DINIZ (2018) afirma que os símbolos “conectam a essência de cada


ser, atuando diretamente no eixo Ego-Self e apontando o rumo que a energia
psíquica segue.”
38

Os arquétipos são expressos com diversas simbologias, isso vai variar tanto
em relação a função quanto a cultura de cada lugar.

Para finalizar esses três conceitos, a autora NOVAES (2003) transcreve de


uma maneira muito interessante:

“Mito nasce na esfera do sagrado; arquétipos correspondem à


esfera humana e símbolos pertencem a esfera da linguagem,
pela qual mitos e arquétipos são nomeados e passam existir
como verdade a ser difundida entre homens e transmitidas
através dos tempos.”

3.4 Os símbolos, mitos e arquétipos na arterapia

Como já visto neste trabalho, a arteterapia é uma terapia através da arte, em


seu sentido amplo, englobando todo tipo de atividade artística. Os mitos, os
símbolos, as narrativas mitológicas podem ser bem exploradas nos
atendimentos arteterapeuticos.

A autora Ligia Diniz (2018) diz que:

“No trabalho com Arteterapia, a linguagem simbólica pela qual


o inconsciente se expressa emerge por meio das diferentes
técnicas, dando acesso à mente inconsciente do cliente. (...) As
artes, os mitos, as religiões e a literatura sempre expressaram
as mais profundas emoções humanas. São meios de
comunicação comuns a toda espécie humana, que permitem
que nos expressemos.”

Como já vimos anteriormente os mitos são seres que dão forma aos arquétipos
do inconsciente coletivo e o inconsciente se expressa através dos símbolos.
A autora supracitada afirma também que:

“A prática da Arteterapia facilita a decifração do mundo interno,


o confronto com as imagens e a energia psíquica que aí se
configuram. A compreensão destas formas simbólicas
possibilita o confronto com o inconsciente e a tomada de
consciência de seus conteúdos, pois o mundo das emoções e
o mundo das coisas concretas não estão separados por
fronteiras intransponíveis. (...) É, portanto, um processo
terapêutico baseado na criação e análise de séries de
39

produções artísticas (que isoladas, poderiam ser de difícil


codificação) que permitirão acompanhar com bastante clareza
o desdobramento de processos intrapsíquicos e identificar
temas que possuam relação significativa com os casos clínicos
em estudo. (...) Nas produções artísticas, pode-se promover a
transferência de energia de um nível para outro. Por meio do
processo criativo, estabelece-se uma ponte entre
extrapsíquico e o intrapsíquico, que pode vir a curar a
dissociação entre as revelações internas e externas.” (grifo
meu).

Com isso, podemos perceber a quão vastas e enriquecedoras são as


possibilidades de se trabalhar com esses três elementos em atendimentos
arteterapeuticos.

4 PROCESSO ARTETERAPEUTICO COMO CAMINHO DE INTEGRAÇÃO


PARA O FEMININO: A LIBERDADE INTERNA.

Podemos observar que mesmo com o passar dos séculos, o processo para
alcançar a liberdade internar não é tão simples a ponto de se alcançar sozinha.
Pode até ser que uma ou outra mulher consiga, no entanto a grande maioria
não.

Nesse viés, a finalidade é usar o processo terapêutico da Arteterapia como


caminho de integração para o feminino a fim de alcançar essa liberdade interna
a qual as mulheres necessitam.

O tema desse trabalho foi escolhido após uma intensa reflexão acerca da
realidade atual. Ademais, duas situações influenciaram para que eu fizesse
essa pesquisa.

A primeira influencia foi uma atendida do estágio clinico individual que trouxe
essa demanda de baixa autoestima, insegurança, ansiedade, medo de ficar
sozinha e, consequentemente, estava vivendo em um relacionamento afetivo
abusivo.
40

O atendimento terapêutico é um processo de troca, de confiança e para isso é


muito importante o estabelecimento de vinculo. É um processo o qual objetivo é
levar a pessoa chegar a um grau de conscientização para que, com isso,
consiga fazer escolhas conscientes em sua vida. Em tese, para ter autonomia
de escolhas, pensamentos, etc.

Junto com a minha orientadora e supervisora, delineamos um processo


terapêutico a fim de auxiliar essa pessoa a ter percepção de si, se amar, se
conhecer, a ter consciência do que está vivendo, como está vivendo, do mundo
e ter autonomia.

A maior parte das vivencias propostas nesse capítulo são baseadas em


vivencias que foram realizadas no estágio e, apesar da atendida não ter dado
continuidade depois de certo tempo, o trabalho arteterapeutico realizado com a
mesma surtiu efeitos extremamente positivos para ela como pessoa, como
mulher e em sua vida.

Essa atendida entrou em contato e foi me encontrar para contar do novo rumo
que ela tomou pra sua vida e para agradecer, solicitando até retornar os
atendimentos para trabalhar outras questões.

A principal demanda dessa pessoa e o feedback da mesma após as sessões


foi de grande influencia para que eu desenvolvesse esse trabalho que tem
como objetivo mostrar para as outras pessoas, tanto profissionais da área
quanto o publico feminino em geral, as possibilidades que a arteterapia trás
para trabalhar imerso nesse universo, o universo feminino.

Com isso, me deparei com um livro cujo titulo é Complexo de Cinderela da


Dowling (2012), o qual a autora descreve conflitos internos existentes no
interior da maior de nós, mulheres. Esse livro foi à segunda influencia na
41

escolha do tema desse trabalho. Inclusive trouxe a referida autora em vários


momentos em capítulos anteriores como referencial teórico.

Assim sendo, inicialmente é necessário delinear quais serão as propostas de


vivencias arteterapeuticas a serem aplicadas para chegar ao objetivo final.

A priori, pensei em vivências iniciais para que se possa conhecer melhor a


pessoa, sua história de vida, os principais pontos de sua vida que ainda
reverberam no presente, como se vê, se sente no momento atual e qual é o
estado desejado, entre outros.

4.1 Propostas de vivencias iniciais

As vivências iniciais se subdividem em duas:

 Percepção do estado atual e estado desejado e percepção de como se


vê e como acha que os outros vêem – banco de imagens.
 Linha do tempo com fitilhos.

4.1.1 Banco de imagens


Usando de um banco de imagens, você solicita a atendida para que respire,
relaxe, deixe todos os pensamentos preocupantes da fora do consultório para
fora e pede para ela pensar sobre o estado atual dela, de como ela está
internamente e de vida. Em seguida, peça a ela para que encontre uma
imagem que melhor retrate o referido estado e separe.

Nunca apresse a pessoa para escolher logo, deixe-a a vontade e no tempo


dela. Normalmente não é rápido. Assim que ela escolher, peça que ela pense
como ela gostaria de estar se sentindo internamente, com o mundo lá fora, qual
o estado que ela deseja alcançar, estar vivendo e aguarde.
42

A autora Maria Cristina Urrutigaya (2011) explica em seu livro sobre a técnica
da colagem usando a seleção de figuras. Com isso, é importante elucidar sobre
a parte da escolha das imagens, já que a técnica é a mesma com exceção da
colagem:
(...) escolha de imagens selecionadas em revistas, jornais ou
em outros, acrescido da tarefa de ordenação das mesmas,
pode trazer para o ambiente arteterapêutico um bom clima para
o estabelecimento de vínculos mais firmes para com as futuras
tarefas realizadas com outros materiais (...) Imagens de
catástrofes da natureza, de criaturas furiosas, de aleitamento
etc., podem estar sinalizando tópicos dificeis de serem
colocados de maneira mais direta, mas, sem sombra de
duvidas, já estão sendo projetadas para uma futura
confrontação. Quanto mais imagens são utilizadas em uma
mesma configuração, pode-se perceber o grau de defesas
utilizadas pelo cliente. (...) Ademais se constitui em uma
técnica que também atua sobre o padrão: ordem constituída no
cultural e coletivo (a figura escolhida) - recorte do que
interessa, a particularização ou a subjetivação (foco especial
da atenção) - destruição do antigo e coletivo, mas sendo a
construção inerente a uma necessidade e interesse de um
sujeito - para uma nova forma como interpretação individual
dos aspectos culturais, refazendo-se o esquema de ordem,
desordem e nova ordem.

Muitas vezes não conseguimos expressar o que sentimos no momento e como


gostaríamos de estar com palavras e a imagem entra exatamente para ajudar
organizar isso em nossa psique e expressar de forma mais fácil e leve.

4.1.2 Linha do tempo

Essa vivência é muito interessante, utilizando fitilhos coloridos e uma tesoura


trás muitas informações importantes, pertinentes sobre a pessoa atendida que
muitas vezes ela não irá trazer nos primeiros encontros.

A proposta condiz em pedir a pessoa para, com calma, pensar sobre sua vida
toda e selecionar quatros momentos que reflete fortemente em sua vida atual,
podendo ser momento bom ou ruim.
43

Ela vai escolher uma cor para cada momento de acordo com o sentimento dela
e irá cortar o tamanho de acordo com a intensidade que aquele momento tem
ainda para ela. Enquanto isso pode colocar uma musica instrumental de fundo
para ajudá-la a entrar na ressonância da vivência.

Após ter cortado os quatros fitilhos, peça para amarrar um com o outro na
ordem que quiser. Em seguida é o momento de saber o que é cada um, porque
da escolha da cor e do tamanho de cada, qual momento está amarrado em
qual e o motivo e como foi a vivencia para ela.

Após essas vivências iniciais, iremos passar para as propostas de vivências


intermediárias, que seriam duas vivências com a finalidade de flexibilizar a
percepção de si, das situações e de mundo do individuo, para que as vivências
posteriores possam refletir com uma maior eficácia no interior e exterior da
pessoa atendida.

4.2 Propostas de vivências intermediárias

Essas vivências também se subdividem em duas:

 Modelagem livre com massinha – trabalhar pontos de vista.


 Pintura com anilina através de canudo.

Essas duas propostas têm por objetivo fazer com que a pessoas tenha uma
visão e postura mais flexível frente a si mesmo e as situações da vida.

4.2.1 Modelagem livre


Nessa vivencia usaremos massinha de modelar como material, por alguns
motivos: com a massa de modelar podemos trabalhar vários aspectos, psico-
motor, físico e mental. Trazer a tona à criança interior e estimulando a
44

criatividade, ao mesmo tendo trazendo do inconsciente algo que será


expressado simbolicamente pelo produto final.

A massinha ela nos faz reviver a criança que reprimimos dentro de nós, ao
mesmo tempo em que é uma oportunidade de canalizar a energia. Ademais, a
plasticidade do material nos dá a oportunidade de moldar o que deseja com
facilidade para mudar, caso queira, saindo do modo abstrato para o concreto.

Trabalha também a psico motricidade, uma vez que é necessário articular as


mãos, fazer movimentos, ajustes, além de trabalhar o aspecto sensório tátil,
tendo a percepção se está fria ou quente, áspera ou lisa, etc.

Na modelagem você pega algo desordenado e organiza estruturando da


maneira que você pensou. Uma forma de organização mental também: sair do
campo da idéia para a concretização, dar forma.

Nesse sentindo, vale ressaltar o uso da massinha de modelar na vivência


arteterapeutica que a autora Urrutigaray (2011) trás em sua obra:
(...) viabiliza o desenvolvimento da coordenação motora, a
expressão da imaginação e produz sensações, principalmente
nas crianças, da realização de algo mágico (...) A possibilidade
de trocar de forma com uma intensa rapidez traz em si a
vivência do poder ser de diferentes maneiras, contudo sem
perder a noção de si mesmo, representado no tipo de material
que continua sendo o mesmo, apesar das diferentes
transformações produzidas.

Ao final, iremos conversar sobre o conteúdo final, o motivo de ter feito o que
fez, qual o significado que aquela produto final modelado tem para a pessoa.
Por conseguinte, pedimos a ela para rotacionar sua obra e olhá-la por outro
ângulo, e descrever como é, como se sente olhando por esse outro ângulo.

Em sequencia, peça para que a atendida rotacione mais uma vez e fazer as
mesmas perguntas para chegar a uma reflexão final junto com a atendida:
todas as coisas no mundo têm vários ângulos, inclusive as situações, no
45

entanto a maioria de nós seres humanos temos o olhar centrado para apenas
um ângulo de alguma situação. Como seria se olharmos uma única situação
por vários ângulos?

A intenção é que a pessoa reflita e começa ver mais oportunidades de


resoluções de problemas, bem como tenha a percepção que, uma vez que uma
situação tenha vários ângulos, nem todo mundo vê a mesma situação do
mesmo ângulo que nós vemos, saber compreender e aceitar isso. Também,
com isso, aprender ter alteridade, a famosa empatia para com o outro.

Além disso, essa vivência nos ajuda a refletir sobre ser mais flexíveis em nosso
ponto de vista, nossas opiniões, nossas atitudes. O que é essencial para que
vivermos em sociedade e ter um bom resultado ao final do processo
terapêutico.

4.2.2 Pintura com canudo

Para essa vivencia vamos precisas de uma folha de papel A4, um canudo e
anilinas de cores variadas. O objetivo dessa dinâmica é trabalho a questão do
controle.

Muitas vezes queremos ter o controle de tudo, o tempo todo. Controlar nossa
vida, de nossos filhos, nossa casa, controlar o mundo. No entanto, sabemos
que é minimamente impossível ter controle de tudo o tempo todo e está tudo
bem.

Contudo, não poder controlar tudo, quando algo sai diferente do que
planejamos, para muitas de nós, gera um grande sofrimento. E é isso que
iremos trabalhar nessa vivência.
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Com uma música de fundo, você irá deixa a atendida a vontade para iniciar a
vivencia no momento que ela quiser. Essa vivencia consiste em pensar em
algo a ser pintado e de posse de um canudo, pingar anilina no papel e ir
soprando para fazer o que tinha em mente.

A anilina é bem leve, mais rala, diferente de uma tinta que é mais consistente,
é difícil controlá-la ainda mais com um canudo. Essa é a intenção, mostrar que
nem sempre temos controle das coisas e está tudo bem, assim como fazer a
pessoa refletir que às vezes as coisas não saem do jeito que planejamos, mas
resulta algo belo (bom).

Contudo, tanto as vivências iniciais quanto as intermediárias são, também, uma


preparação para as vivências principais. É como preparar o solo para uma
grande plantação e para que o plantio vingue e cresça forte e saudável, é
necessário o preparo do solo anteriormente, assim, irão reverberar bons frutos
para a colheita.

4.3 Propostas de vivências principais

O nome dessa vivência se chama ‘Criação dos Reinos’ e é uma proposta de


uma vivência que terá que ser dividida em partes, em várias vivências, pelo
fato de ter que trabalhar cada parte minuciosamente.

Antes de dar inicio a essa vivência, é aplicado um exercício de


autoconhecimento/percepção corporal que consiste em:

 Em qual parte do corpo a pessoa sente: o medo, a raiva, a tristeza,


angustia, a mágoa, etc.
 Em qual parte do corpo a pessoa sente: a alegria, a felicidade, a
coragem, o contentamento, a tranquilidade, a paz, etc.
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A aplicação desse exercício é de suma importância, pois é a partir dele que


daremos inicio a vivência a seguir.

Nosso corpo é o nosso templo. Ele é habitado pela nossa consciência que é o
lar de nossas emoções e sentimentos.

Iniciamos essa vivência explicando o que será feito para a pessoa atendida e
perguntando por qual emoção/sentimento que ela quer começar. Eu indicaria o
medo, caso ela perguntasse.

Assim que a pessoa faz a sua escolha, chega o momento de sair um pouco do
abstrato e ir para o concreto. Nesse sentido, a primeira vivência constitui em
dar forma ao sentimento/emoção escolhido:

Com materiais básicos como farinha, bexiga, palito de picolé, tampa de garrafa
pet, garrafa pet de 600ml, rolo de papel higiênico, lantejoula e miçanga. A
pessoa vai da forma da maneira que desejar.

Dar forma a algo abstrato é de suma importância, uma vez que transformamos
em algo palpável e visual, acaba criando uma organicidade mental e fica mais
fácil falar sobre aquele sentimento como um “personagem” concreto.

A autora Urrutigaray (2011) trás em seu livro sobre o uso de sucata, o que é
muito interessante:
O exercício lúdico de montagem de personagens, como
marionetes ou simples bonecos, a criação de cenários, etc. (...)
provoca estados de profunda virtualidade e criatividade, onde
as dimensões: caos – ordem – desordem – nova ordem
conseguem interagir sem provocar sensações de recusas,
decorrentes das pressões de eliminação de um determinado
objeto, de destruição, de aniquilamento, viabilizando a projeção
desses conteúdos sombrios, provocadores de intensos
abismos sentidos no interior da psique, por meio da percepção
de novas configurações surgidas a partir da transformação, não
destruição, do material original, permitindo a experiência de
que tudo tem uma continuidade e de que, neste processo,
algumas peças são removidas por não serem mais necessárias
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no presente. Mas, aquilo tido como essencial no momento de


criação ainda pode ser mantido.

Assim que terminar, é hora de conhecer mais esse personagem. Pedir a


pessoa para que lhe de um nome e contar sua história: onde vive como ele é,
com quem vive, como é o lugar que ele vive, quem mais habita esse local, etc.

Caso a emoção/sentimento escolhido tenha sido algum que é considerado


negativo, como por exemplo, o medo, na próxima vivencia iremos dar forma a
algum considerado positivo e repetir o mesmo trajeto.

Agora com os dois personagens principais formados, é hora de delinear onde


ambos fazem morada, onde são os seus reinos.

Por exemplo: se a pessoa deu forma o medo ou ansiedade e lá no primeiro


exercício disse que sente o medo ou a ansiedade na área da cabeça, então ali
será o reino deles. Vamos supor que a mesma pessoa deu forma a alegria ou
tranquilidade e disse que sente na área do peitoral, então ali será o reino dela.

Vivência 1:
Reino – cartolina e lápis de cor e/ou tinta guache.
Por serem mais leves, flexíveis e maleáveis.
Saber a percepção sensória da pessoa acerca desse ambiente.
 Perguntar se lá tem algum cheiro, alguma textura, iluminação, barulho.
 Saber da pessoa os detalhes do que foi feito, como é o local, porque é
assim, o que ela sentiu qual a sensação que ele traz.

Como se trata de um sentimento considerado negativo, a escolha de um


material mais leve e flexível para desenhar é para a percepção que, apesar de
serem considerados sentimentos ruins, eles são maleáveis. Todo medo tem um
grau de coragem por trás, mesmo que reprimida, integrando esse medo, etc.
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A autora URRUTIGARAY (2011) fala sobre o uso do lápis em sua obra,


afirmando que:
Com eles, pode-se aprender a conhecer as cores, a obter tons
e a fazer misturas de cores. (...) Os diferentes degradês
surgidos indicam a intensidade do tônus afetivo interno. (...) A
maneira como o lápis é segurado também dará um resultado
formal. (...) Os lápis permitem efeitos de gradação de cor
produzindo o contato com elementos de luz e de sombra, de
claro ou de escuro. A gradação possibilita um encontro, um
destaque, um realce. Com as misturas de cores, novas cores
surgem, novas possibilidades, e emergem novos confrontos,
novas visões e, portanto, transformações.

Ato contínuo, sobre as tintas, a autora supramencionada trás:


Por ser um material essencialmente fluído, ou liquefeito,
proporciona um excelente meio para a manifestação das
emoções. (...) Os principais objetivos da pintura encontram-se
em poder experimentar seus afetos e poder conhecê-los
melhor, aumentando o conhecimento de si mesmo. (grifo meu)

Vivência 2:
Reino – cartolina e giz de cera.
Por ser mais rígido e ‘grosseiro’.
Saber a percepção sensória da pessoa acerca desse ambiente.
 Perguntar se lá tem algum cheiro, alguma textura, iluminação, barulho.
 Saber da pessoa os detalhes do que foi feito, como é o local, porque é
assim, o que ela sentiu qual a sensação que ele traz.

Como se trata de um sentimento considerado positivo, a escolha de um


material mais rígido para desenhar é para a percepção que, apesar de serem
considerados sentimentos bons, eles têm seu grau de dificuldade, de rigidez e
disciplina. Toda felicidade tem seu grau de tristeza por trás, integrando essa
felicidade, etc.

Já em relação ao material giz de cera a referida autora diz que:


Esse material apresenta sua particularidade adaptativa,
embora seu uso como técnica seja simples, e apresenta efeitos
bem variados. Facilita a aparição de distintas nuances ou
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condições exploratórias no seu campo de ação. (...) Sua rigidez


entendida pela sua dureza funde-se à rigidez e a falta de
maleabilidade, diante da dureza de sentimentos mais intensos.
Constitui-se, portanto, em uma excelente escolha, mesmo que
inconsciente, para a manifestação de impulsos agressivos
exógenos ou autógenos, bem como em um excelente
instrumento representativo de defesas pessoais, pois, por ter a
característica de ser facilmente controlável, faculta a sensação
de domínio do real. (URRUTIGARAY, 2011)

Ao final de cada uma dessas vivências, haverá uma conversa para a atendida
explicar o conteúdo produzido, o significado que ela deu aquilo, como poderia
melhorar, etc.

Feito isso com as duas vivências é hora de criar um enredo de ligação entre os
dois reinos, uma história de como eles lidam um com o outro. Por exemplo: a
pessoa conta que há guerra entre os dois, quem vence essa guerra? Por qual
motivo? Em quais momentos essa vence a guerra e em qual momento o outro
vence? Há uma maneira dos dois reinos viverem pacificamente? O que poderia
ser feito para que isso ocorra?

Vivência 3:
Criação do Elo
Questionar a atendida como ela criaria um elo entre os dois reinos para que
eles se integrem. Assim sendo, o arteterapeuta irá fornecer algumas opções de
materiais para que a pessoa reflita e escolha, materiais como: cola, durex,
clipes, massinha, etc.

Após escolher, é hora de concretizar e interligar os reinos com o material


escolhido. Em seguida, a arteterapeuta junto com a atendida irão conversar
sobre o motivo da escolha, como se dá essa interligação, o significado daquilo
para ela, e levar a reflexão sobre a importância da integração dos sentimentos
e emoções para uma vida mais equilibrada e com qualidade.
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Todas essas vivencias principais são vivencias que demandam, normalmente,


mais de uma sessão para cada. Não se deve apressar o processo de nenhuma
atendida, nunca.

Todavia, o processo terapêutico não acaba por aqui, existe uma continuação e
é necessária. Contudo, como esse é um trabalho de pesquisa, é necessário
delimitar as propostas de vivências por conta de tempo e espaço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi de grande satisfação realizar esse trabalho, apesar de alguns percalços


pelo caminho, bem como com a conciliação com um segundo curso de
graduação. Contudo, toda a jornada de pesquisa bibliográfica acerca desse
assunto foi de uma experiência extraordinária.

A arteterapia nos trás essa possibilidade, de forma leve e até lúdica, de auto-
expressão, resolução de nossos conflitos internos, de trabalhar nossa auto-
imagem, autoestima, autoconfiança, auto-eficácia. Deixar-nos consciente do
nosso eu, do mundo que nos circunda, dos nossos pensamentos, sentimentos
e nossas escolhas.

Promover a saúde e a qualidade de vida em mulheres em nossa atualidade é o


objetivo central desse trabalho.

Por fim, para fechar esse trabalho com chave de ouro, pedi a pessoa que
atendi no estágio supervisionado e a qual me referi no capitulo anterior, para
que escrevesse um depoimento sobre o processo arteterapeutico dela.

M. C., 27 anos:
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“Bom, sou suspeita a falar da arteterapia por que pra mim foi de longe uma das
minhas melhores escolhas! Eu sai de um relacionamento abusivo e só
consegui resgatar a pessoa que eu era, através da arteterapia. Foi um
processo muito difícil, onde eu me sentia sozinha, desvalorizada e com auto
estima no pé, mas com a arteterapia consegui enxergar em mim a mulher que
eu sempre fui mas que não conseguia ver. Independente, empoderada, bem
resolvida e extremamente apaixonada por quem eu sou.
Realmente a arteterapia, a terapia, salva vidas, sinto que deixei de apenas
sobreviver, pra realmente começar a viver. Sempre grata.”
53

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