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Por dentro do Estudo de Impactos Ambientais

Além do conceito

RODRIGO ANTÔNIO ESTEVES FILARDI

RIO DE JANEIRO 2021


Palavras do autor

A segunda edição da apostila foi feita com um embasamento diferente. Agora minha
intenção não foi simplesmente levar conceitos de forma resumida e de fácil assimilação para
melhor compreendimento dos alunos, mas sim despertar dentro de cada a curiosidade o interesse
pelo Estudo dos Impactos Ambientais.

A primeira parte da apostila é dada pela história da humanidade, desde os primeiros


hominídeos que surgiram, até a nossa espécie atual. Para evitar um conteúdo maçante, não foi
aprofundado o tema, e como é uma área de pesquisa em constante mudança, pode ser que em
breve os valores de data de aparição e de costumes estejam desatualizados. A ideia foi mostrar
os avanços da humanidade desde as primeiras comunidades nômades, até o aperfeiçoamento da
agricultura mecanizada, intercalando com dados populacionais, visando evidenciar a relação
produção de alimento x crescimento da população. Muitos conceitos filosóficos irão aparecer ao
longo do material, estimulando o pensamento crítico de cada aluno.

A segunda parte do material é sim mais técnica e voltada para o EIA/RIMA. Uma vez com
os conceitos anteriores estabelecidos em mente, cabe ao profissional agora decorar e
compreender os aspectos da legislação na sua melhor forma.

Tenham uma boa leitura

“...Não acredito que um deus que


nos dotou de tamanho intelecto,
seria a favor que limitássemos
seu uso...”

Galileu Galilei

Meus sinceros agradecimentos:

Cayo Matheus de Amorim Scot


Geovane Barbosa
Raysa Gabrielle Tavares Martins
Thaina Oliveira

Dúvidas: rodrigo_filardi@hotmail.com
SUMÁRIO

A EVOLUÇÃO DO HOMEM COMO AGENTE MODIFICADOR DO MEIO AMBIENTE ... 6


A origem do Homem na África ................................................................................................. 6
Os Hominídeos .......................................................................................................................... 7
Homo Sapiens e suas variações ................................................................................................. 8
As comunidades nômades ....................................................................................................... 10
Os limites do sistema de predação e coleta ............................................................................. 11
A sedentarização das comunidades e o nascimento da Agricultura ........................................ 12
Exemplos na natureza.............................................................................................................. 13
A transição de modelo para a agricultura sedentária ............................................................... 15
Derrubada e queimada............................................................................................................. 16
Cultivos hidráulicos de vazante e irrigação............................................................................. 17
Cultivo em Alqueive com tração leve e pesada ...................................................................... 19
Cultivo sem alqueive e revolução industrial ........................................................................... 22
BRASIL: DO DESCOBRIMENTO A INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL ................................. 25
Descobrimento e início da colonização ................................................................................... 25
O cultivo e os latifúndios ........................................................................................................ 25
Transição para a industrialização ............................................................................................ 27
O Regime militar e o a política de crédito agrícola ................................................................. 30
Os reflexos da industrialização Rural...................................................................................... 32
Agricultura X crescimento da população ................................................................................ 34
CONFERÊNCIAS MUNDIAIS ECOLÓGICAS ....................................................................... 37
O século XX ............................................................................................................................ 37
Os limites do crescimento ....................................................................................................... 39
Conferência de Estocolmo ...................................................................................................... 40
Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano – 1972 ..... 44
Proclamações: ..................................................................................................................... 44
Princípios............................................................................................................................. 45
Nosso futuro comum ............................................................................................................... 49
Rio-92...................................................................................................................................... 51
MEIO AMBIENTE E BRASIL .................................................................................................. 54
A constituição federal e o meio ambiente ............................................................................... 54
Conceitos de poluição ............................................................................................................. 56
A política nacional do meio ambiente ..................................................................................... 57
Conselho Nacional do Meio Ambiente ................................................................................... 58
AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS ........................................................................ 60
Introdução ............................................................................................................................... 60
Impactos Ambientais além das fronteiras ............................................................................... 63
AIA no Brasil .......................................................................................................................... 64
POR DENTRO DO EIA/RIMA .................................................................................................. 66
Introdução ............................................................................................................................... 66
Resolução CONAMA 001 /1986 ............................................................................................ 68
Resolução CONAMA Nº 237 ................................................................................................ 72
Competência para legislar ....................................................................................................... 78
Responsabilidade..................................................................................................................... 80
Responsabilidade civil objetiva ............................................................................................... 81
Audiência pública.................................................................................................................... 82
Área de influência ................................................................................................................... 85
Diagnose ambiental ................................................................................................................. 88
Análise dos impactos ambientais do projeto ........................................................................... 90
Medidas mitigadoras ............................................................................................................... 93
Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento............................................ 95
METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS ................................... 96
Espontâneo (ad hoc) ................................................................................................................ 96
Check-list ................................................................................................................................ 97
Matrizes de interações ............................................................................................................. 98
Superposição de cartas .......................................................................................................... 100
USO DO GEOPROCESSAMENTO EM ESTUDOS AMBIENTAIS ..................................... 101
Introdução ............................................................................................................................. 101
Mapa de Modelo Digital de Elevação. .................................................................................. 102
Mapa de Declividade............................................................................................................. 102
Mapa de curvatura. ................................................................................................................ 103
Mapa de Direção do Relevo. ................................................................................................. 104
Mapa de sombreamento. ....................................................................................................... 105
Análise temporal da fisionomia vegetal. ............................................................................... 105
Lei de proteção a vegetação nativa (código florestal) ............................................................... 107
Breve Histórico ..................................................................................................................... 107
O novo código florestal ......................................................................................................... 107
Áreas de preservação Permanente ......................................................................................... 108
Reserva Legal ........................................................................................................................ 111
QUALIDADES AMBIENTAIS ............................................................................................... 113
A Política Nacional dos Resíduos sólidos (12.305/10) ......................................................... 113
Lançamento de efluentes industriais ..................................................................................... 113
QUALIDADE DA ÁGUA ........................................................................................................ 115
Introdução ............................................................................................................................. 115
Turbidez ................................................................................................................................ 115
pH .......................................................................................................................................... 116
Demanda bioquímica de oxigênio – dbo ............................................................................... 118
QUALIDADE DO AR .............................................................................................................. 123
Introdução ............................................................................................................................. 123
Efeitos sobre a qualidade do ar ............................................................................................. 124
Medição da qualidade do ar .................................................................................................. 125
Padrões de qualidade do ar .................................................................................................... 127
Fontes de poluição................................................................................................................. 127
Técnicas de controle .............................................................................................................. 128
Aspectos Legais e Institucionais ........................................................................................... 128
QUALIDADE DO SOLO ......................................................................................................... 129
Mecanismo de formação dos Solos ....................................................................................... 129
A água como agente transformador ...................................................................................... 130
A conservação dos solos ....................................................................................................... 130
A contaminação dos solos ..................................................................................................... 131
A qualidade do solo ............................................................................................................... 131
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A EVOLUÇÃO DO HOMEM COMO AGENTE MODIFICADOR DO MEIO


AMBIENTE

A origem do Homem na África

A origem da história humana é cercada de muitos mistérios e divergências. Existem atualmente


diferentes correntes de pensamento sobre a origem do Homem moderno (Homo Sapiens) e a
forma com que ele se espalhou pelo planeta. A discussão se torna ainda mais acalorada quando
voltamos milhões de anos atras, observando os nossos ancestrais, sendo que a cada passos para
trás, menos pistas e vestígios temos dessas espécies de primatas.

Porém no meio de tantas teorias e divergência, existe um consenso da maioria da academia, de


que o ser humano, em sua forma mais primitiva quanto moderna surgiram na África, com um
espaço de milhões de anos.

Sem adentrar na história da espécie humana em si, o que é importante saber é como se
organizavam essas espécies e como era suas relações com a natureza e com os diferentes
ecossistemas que estavam envolvidos.

Do ponto de vista biológico os seres humanos são uma espécie que chama atenção pela
capacidade de modificar os ecossistemas que estão inseridos, porém, assim como os demais
animais com esse perfil(mesmo que m uma escala menor) a capacidade de modificação da
espécie humana variou muito ao longo dos anos da evolução da espécie, resultando hoje em
uma espécie dominadora. O temo “Engenheiro de ecossistema” é referido a organismos que
criam, modificam e alteram os habitats que estão inseridos. O termo se aplica perfeitamente a
nossa espécie (Homo Sapiens) e é possível observar essa característica em todas as atividades
que a espécie esta envolvida.

Porém os ancestrais do Homo Sapiens, como o Homo Habilis, Erectus e indo mais a fundo, o
Australopitecos, não tinham a mesma capacidade de modificação do habitat que a espécie atual,
tendo uma característica de menor impacto e nível organizacional.

Na “origem do Homem” ao invés de observar uma criatura imponente, dotada de ferramentas


ferozes e uma alta capacidade de destruição e imposição, seria visto um primata, curvado, com
pouca capacidade de comunicação e um nível de organização primitivo. Desarmado, sem a
presença de ferramentas e utensílios para auxílio, o Homem primitivo era uma presa fácil dentro
dos ecossistemas que estava inserido. A caixa craniana menor, indicava menos massa cefálica,
sendo assim, uma menor capacidade de raciocínio, sendo uma criatura mais parecida com o seu
primo “macaco” do que com o Homem Moderno

Por não ser dotado de garras e presas afiadas, o Homem primitivo tinha que restringir sua dieta
alimentar dentro do que ele podia ter acesso. Até a especialização da caça, muito se acredita que
no início, o Homem primitivo era marcado pelo consumo de restos de carne, evitando o
confronto com os animais carnívoros e disputando com animais que apresentam menos riscos, o
que sobrou da carne da presa.
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Os Hominídeos

Essa primeira forma de hominídeo é conhecida como Australopitecos, tendo surgido, segundo
alguns autores a cerca de 6 milhões de anos atras, no leste da África. Como dito anteriormente
ele era mais similar á um macaco, do que ao Homem Moderno, o que é esperado, se pensarmos
que o Homem Moderno teria surgido á 40 mil anos atrás, mostrando uma amplitude gigantesca
entre as duas espécies.

Pequeno, curvado, com uma caixa craniana pequena e com pouca ou quase nenhuma habilidade
com manuseio de ferramentas(pedras), que chance teria esse Homem primitivo competindo com
os maiores animais?. Todas essas características somadas davam a entender que essa forma de
hominídeo era em maioria vegetariana, não abrindo mão do consumo de carne, mas sem a
chance de se obter ela. Alguns autores sugerem que existiam Australopitecos onívoros, porém
não como exímios caçadores, mas como já citado, ficando com a sobras das presas.

A mobilidade do Australopiteco era limitada e sua dispersão não ultrapassou as fronteiras da


África. Por não se ter muitas informações a respeito das suas comunidades é difícil afirmar com
precisão como eram as comunidades desse hominídeo e sobretudo como era a sua relação com a
natureza, porém o que é indicado pela literatura é de que eram comunidades nômades, pouco
especializadas, focadas na coleta de frutos e raízes.

Agora se tratando gênero Homo, temos o Homo Habilis, que viveu entre 3 a 1 milhão de anos, e
já apresentou algumas mudanças em relação ao Australopitecos. Com uma caixa craniana
variando entre 500 a 800 cm³ (O Australopitecos por exemplo, tinha cerca de 500 cm³) é
atribuída a esta espécie a fabricação de instrumentos de forma intencional, fazendo uso de
choque entre pedras, visando aperfeiçoar suas atividades. Agora com uma dieta mais onívora e
com maior poder de caça e raciocínio, a espécie apresentou um ganho evolutivo importante,
porém sua dispersão não foi muito abrangente, ficando restrito também a África.

Surgindo entre 1,7 milhões de anos, até 200 mil anos atras, surge então o Homo Erectus que
embora possa parecer sugestivo o nome, não se assemelha ainda ao Homem moderno. Com uma
caixa craniana na ordem de 1000 cm³, após analises de fósseis, chegou-se a conclusão que esta
espécie ainda não tinha uma capacidade de fala semelhante ao Homem atual porém muitos
ganhos evolutivos foram obtidos. Com uma capacidade de criação de ferramentas mais apurada
e mais ambientado no habitat, a espécie agora se apresentava como um exímio caçador, sendo
sua capacidade de organização fundamental para obter um ganho sobre as presas.

A dispersão do Homo Erectus se expandiu além do território Africano, atingindo os continentes


Europeu e Asiático, porém, este ainda não estava totalmente adaptado a ambientais com um
clima temperado mais extremo, não chegando assim as Américas. O uso do fogo, no seu
manuseio teria surgido a partir desta espécie, principalmente como forma de adaptação a lugares
com climas mais frios, onde este procurou se agrupar em cavernas e grutas, as quais hoje
servem de consulta arqueológica pela nossa espécie.

Essa mudança nos hábitos alimentares, sobretudo pela complexidade da caça e da busca por
melhores condições de moradia obrigou a espécie a buscar um aperfeiçoamento na forma de se
comunicar e de se organizar como um todo, gerando então como citado anteriormente uma
revolução cultural por parte da espécie.
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Figura 1 - A dispersão do Austraopitecos, Homo Habilis e Homo Erectus, disponível em "História das
agriculturas no mundo. Do Neolítico à crise contemporânea" Mazoyer 2008

Homo Sapiens e o Homem moderno

Antes de abordar nossa espécie propriamente dita, é preciso citar que existem divergências
quanto a sua aparição, dispersão e interação com a demais espécies, e o assunto não será
abordado a fundo neste material, sendo optado por uma linha cronológica constituída pelo
Homo Sapiens Neandertalensis e o Homo Sapiens Sapiens.

Observação: Comprovadamente existem outras espécies além destas duas, que teriam surgido
antes e algumas até convivido junto do Homo Sapiens e o Homo Neandertalensis. O campo
científico referente a história da humanidade é muito diverso e está sempre se alterando, por
isso lembre de sempre buscar averiguar a data da fonte.

O Homo Sapiens Neandertalensis e outros mais primitivos apresentaram uma mobilidade


acentuada, sendo encontrado desde a Africa, até no Oriente médio, e sua aparição se deu por
volta de 300 ou 100 mil até 20 mil anos atrás(fósseis mais novos), sendo então uma espécie que
desapareceu recentemente (quando lidamos com tempo geológico).

Por muito tempo essa espécie foi tratada como uma forma muito primitiva e diferente do
Homem atual, porém descobertas recentes tem mostrado, que embora, diferente sim do Homo
Sapiens sapiens, o Neaderthal não é uma espécie tão primitiva assim. Estudos mostram que a
capacidade de fala , não era igual a nossa, porém mais avançada que espécies anteriores, e a sua
postura, bípede agora é mais acentuada, principalmente se pensarmos que esta caraterística
surgiu grosseiramente no Homo Erectus ( 1 milhão de anos atrás).

Em relação a sua capacidade organizacional, é atribuída uma forma de caça mais avançada,
sobretudo no quesito das emboscadas a animais de grandes portes além da condução de
rebanhos para armadilhas por eles arquitetadas.
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No campo cultural, já é atribuída uma mínima preocupação artística, evidenciada pela coloração
em alguns utensílios, porém nada muito robusto. A questão de covas, dando indícios a
cerimônias funerárias, teria surgido através desta espécie, demonstrando que a ideia primitiva e
grosseira da espécie , muito distante de nós, deve ser deixada de lado. Uma prova da capacidade
intelectual da espécie é a dominação do fogo, não só aproveitando ele em sua forma natural
(incêndio, raios) mas na sua confecção, permitindo a espécie se adaptar com muito mais
maestria a condições adversas, além do cozimento de alimentos, permitindo, melhor uso das
carnes da caça.

A nossa espécie como conhecemos é muito mais recente, tendo surgido cerca de 40 a 15 mil
anos atrás, e foi sem dúvida a espécie que mais revolucionou dentro da história natural da Terra.

A fabricação de instrumentos teve um elevado salto, com aperfeiçoamento de lanças, agora


maiores, criação de arpões, além de uma outra série de instrumentos visando não so a caça, mas
também a pesca, coleta de alimentos e também nas moradias.

Essa evolução permitiu a espécie se expandir rapidamente, até aonde o Neandertal atingiu e
atingir lugares mais distantes, sobretudo os que estavam separados pelo Oceano, afinal a
navegação é atribuída a esta espécie. As Américas, começando pela América do norte, teria sido
alcançada através da Sibéria oriental e Alaska (existem evidências atuais que através do Japão o
Homem teria chego também por navegação as Américas). Da América do Norte o Homem
desceu para a América do Sul onde estendeu mais ainda a sua migração e colonização, não
atingindo apenas o Polo Sul.

Tanto o Homo Sapiens Neandertal quanto o Sapiens Sapiens coexistiram juntos durante um
tempo, porém com a miscigenação, aos poucos o Sapiens Sapiens foi tomando o lugar como a
única espécie presente.

Atual o Homem moderno está presente em todos os lugares do planeta, com alto grau de
intervenção em todos os ecossistemas.
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Figura 2-A dispersão do Neandertal e do Sapiens Sapiens , disponível em "História das agriculturas no
mundo. Do Neolítico à crise contemporânea" Mazoyer 2008

As comunidades nômades

O exato momento em que os humanos, em sua forma mais primitiva, resolveram se reunir em
comunidades é um verdadeiro mistério, muito em função de que as espécies mais antigas, e do
pouco registro sobre elas. O próprio conceito de comunidade varia dentro da academia, porém
nesta obra vamos aceitar que desde a primeira forma conhecida (Australopiteco, ou como era
conhecido “Macaco do Sul”) eles se organizam em comunidades nômades.

Se sozinho era uma espécie vulnerável, não dotada de garras ou grandes presas, juntos, as
chances de sobrevivência aumentavam. A opção por comunidades não é uma novidade na
natureza, tendo uma série de exemplos já encontrados, como abelhas, vespas e formigas, que
adquiriram uma capacidade de organização mais especializada justamente em função de se
organizarem em comunidades, o que por um lado exigiu maior organização, porém
proporcionou uma estrutura mais sólida e bem dividida. Vale citar que muitas revoluções,
sobretudo do Homem moderno foram realizadas por práticas que ou já eram realizadas ,
milhões de anos atrás por outros animais, ou simplesmente foram aperfeiçoadas.

Remontando então para a África temos um animal curvado, com pouca capacidade de fala e de
organização, com uma caixa craniana 6 vezes menor que a do Homem atual. Este animal não
domina o fogo, o que limita sua capacidade de adaptação nos ambientes além de sua mobilidade
noturna, e não tem consigo ferramentas, sejam elas nas suas formas mais básicas.

Dotado com estas características, os “Macacos do Sul” não tinham então outra opção a não ser
fazer uso da coleta de frutos e raízes comestíveis, além de se aproveitar de carcaças de animais
abatidos. Por não ter como reproduzir os alimentos dentro das comunidades e considerando o
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período de frutificação que não era o ano inteiro, a opção por serem comunidades nômades foi
logo adotada.

Esse perfil acarretou em comunidades menores, principalmente pela incapacidade de


alimentação, que buscavam fugir de animais selvagens, além de intemperes da natureza, visto
que era uma espécie com pouca capacidade de adaptação a mudanças bruscas no clima. A
construção de edificações não existia, o que tornava as comunidades vulneráveis.

Com o tempo as comunidades foram se aperfeiçoando e mudando suas estruturas, e como citado
anteriormente, conforme foram mudando as espécies envolvidas, novas características surgiram,
assim como ferramentas novas, novas formas de caça, que perduraram até o Homem moderno
que agora com as mudanças que estão pra ocorrer no planeta, e a sua distribuição já consolidada
pro praticamente todo o globo, necessitava de uma mudança quanto a sua organização e forma
de predar alimentos. Após milhares de anos de convivência com os animais e plantas, a espécie
Homo Sapiens estava agora disposta a revolucionar toda a sua forma de viver, através da
sedentarização e domesticação de animais e plantas.

Os limites do sistema de predação e coleta

Dentro de uma comunidade, é preciso ter em mente que a produção de alimentos, ficará, no
melhor dos casos possíveis, em condições igualitárias, onde todos os seus membros atuam na
obtenção do recurso, o que é algo praticamente inviável em uma comunidade, sobretudo
conforme o seu tamanho aumenta.

Quando é colocado que nem todos os membros da comunidade estão ligados a atividade, é
preciso assumir a máxima de que uns membros irão produzir a comida para os demais, sejam
pessoas que não estão em condições de atuar (crianças, mulheres, idosos, deficientes e etc) ou
em pessoas que farão outras atividades.

Sendo assim, conforme a comunidade cresce, aumentam o número de indivíduos que não estão
aptos ao trabalho, e com isso a necessidade de se obter mais alimento, porém a capacidade de
coleta de alimentos depende de fatores fora do alcance das comunidades, principalmente em
sistemas que são constituídos pela coleta de recursos do local, e por isso a população tende a se
manter dentro de um limite, e isso pode ocasionar no esgotamento dos recursos do local que a
comunidade está envolvida.

O sistema até então era focado no caráter nômade das comunidades, sendo assim, não haveria
um maior esgotamento dos recursos, porém conforme as populações foram aumentando e se
distribuindo, essas ações passaram a não ser suficientes para suportar as populações e por muito
tempo a população humana permaneceu com um número reduzido até os próximos eventos,
relacionados com a aparição da agricultura. A agricultura como será visto a seguir,
proporcionou um aumento significativo da população em um curto tempo e por muito tempo, os
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seus limites de produção significaram os limites de da população humana. A questão nos dias
atuais é mais complexa e não está mais tão relacionada com a capacidade de produção de
alimentos, mas sim sua distribuição.

Portanto a população humana que antes tinha como principal limitante na sua sobrevivência, a
sua adaptação e a competição, agora encontrava um limite para sua expansão relacionado a
quanto poderia produzir de alimentos e assim sustentar todos os seus indivíduos.

A sedentarização das comunidades e o nascimento da Agricultura

Quando o Homo Sapiens Sapiens ou como iremos tratar adiante “Homo Sapiens” já havia se
estabelecido como espécie única no planeta, praticamente todas as regiões já estavam
colonizadas e o Homem adaptado e ambientado dentro delas. A forma de caça já era abrangente
e a predação aos animais de grande porte em breve daria início a um processo de extinção em
massa da megafauna.

Aos poucos, as diferentes comunidades ao longo do planeta estavam crescendo e começando a


impactar de forma mais direta ao seu redor. A forma de alimentação que começou focada na
coleta de frutos e raízes, e evoluíra para a caça agora estava atingindo o limite de capacidade de
sustentação que estes modelos poderiam lhe oferecer.

O aprimoramento de uma forma de se obter recursos resulta em ganhos, na produtividade, além


da diminuição da mortalidade da espécie, principalmente quando se trata da caça de animais. A
melhoria da tecnologia relacionada aos sistemas traz enormes ganhos, porém existe um limite
em quanto os aprimoramentos poderão acarretar em maiores ganhos na atividade, e este limite
está geralmente relacionado com os avanços da espécie. Quanto mais avançada a espécie,
melhor o seu rendimento , porém até mesmo essa linha não é infinita, e não se poderá para
sempre aumentar a produtividade nas suas tarefas, e o que ficou claro foi que as formas de
coleta de frutos e raízes , além da caça já estavam atingindo o limite de recursos a serem
oferecido a raça humana, e que seria necessários novas formas de se obter recursos, sobretudo
para continuar com a expansão da espécie Homo Sapiens.

Se as ferramentas e habilidades cognitivas e intelectuais proporcionaram ao Homem uma


chance de ganhar vantagem sobre os demais animais e ganhar os territórios, a expansão da sua
população apresentava a limitação da capacidade produtiva local, que conforme as populações
cresciam, deveria ser suficiente para sustentar toda a comunidade. Aos poucos, o principal
limitante das comunidades, seriam elas mesmas. Quanto maior a comunidade, maior a pressão
sobre os recursos da área, fazendo com que a peregrinação por áreas não fosse suficiente para
um aumento expressivo, afinal, quanto mais pessoas, mais alimentos deveriam ser coletados,
além de recursos para construção de moradias e etc.

A população, embora esparsada e pequena (para os padrões que veremos a seguir) já não
enxergava na forma nômade, uma melhor saída para a satisfação das suas necessidades, visto
que a coleta e caça dos recursos a volta, se apresentava como um importante limitante de
crescimento, além de começar a acarretar em impactos na fauna e flora locais, ainda que em
menor escala.
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Somada esta necessidade, temos também o fato de que o Homem durante o processo evolutivo,
conviveu e aprimorou seus conhecimentos sobre os vegetais coletados e os animais caçados.
Aos poucos seus conhecimentos foram aperfeiçoados e seu entendimento sobre todo o entorno a
sua volta o permitiu começar a reproduzir por conta própria a natureza, seja no pastoreio e
domesticação de animais selvagens, as culturas agrícolas, agora começando a serem empregadas
em uma escala maior que o normal.

Se por um lado o nascimento da agricultura e a domesticação dos animais proporcionou o


aumento das populações, por outro, implicou na sedentarização das comunidades, que não
precisariam mais ficar se movendo buscando a obtenção de recursos. Agora elas poderiam se
fixar numa região e se fortalezar como comunidade, produzindo mais alimentos e se protegendo
melhor, como veremos a seguir

Exemplos na natureza

O cientista iluminista francês Antoine Laurent de Lavoisier(1743-1794) em uma das suas frases
mais emblemáticas teria dito que “Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se
transforma..” que embora estivesse sendo colocada em um contexto da química, pode ser
estendida para todos os outros campos do saber, sobretudo com outros olhares.

Que a espécie humana se mostrou uma espécie poderosa e vencedora sobre as adversidades, não
existem muitas dúvidas. Quando olhamos para trás e observamos que aquela espécie curvada,
peluda, não dotada de garras ou grandes presas, quem iria pensar que esta mesma espécie, que
vivia de restos e do que podia alcançar, iria dominar os territórios mais remotos do planeta e que
praticamente iria ditar sobre o destino das demais.

Essa ideia hegemônica da nossa espécie, nos faz pensar que ela revolucionou toda a natureza
com suas ferramentas, chegando ao ponto de hoje colocar o próprio planeta em risco. A
revolução realmente ocorreu, em praticamente todos os setores, porém o quesito “novidade” não
é bem uma regra.

Como dito antes, nossa espécie é recente, quando olhamos para o tempo da Terra, e isso
englobando os demais hominídeos. Quando pensamos na nossa espécie mesmo, Homo Sapiens,
que surgiu faz uns 50 mil anos, o recorte é menor ainda. É um tempo muito curto de existência,
e por isso se olharmos bem, a raça humana mais aprimorou o que já existia na natureza, do que
criou mesmo. É óbvio que muitas coisas conquistadas foram criadas, aperfeiçoadas, melhoradas,
aprimoradas ou qualquer palavra que se encaixe quanto a inovação.

Animais já praticavam a agricultura e domesticação de animais muito antes dos humanos,


porém a diferença básica ficou na velocidade com que a nossa espécie avançou nas atividades.
Como exemplo vou tratar exclusivamente das criaturas, que segundo eu, são as que melhor
executam a agricultura no mundo, e se parece absurdo eu as colocar a frente dos humanos,
sobretudo pela simplicidade, se torna mais coerente quando nos deparamos com o fato de que a
atividade dela não é prejudicial ao meio que está inserida, então no final de contas a atividade
dela , embora bem menos produtiva, é menos nociva ao seu entorno, e podemos chegar a
conclusão de que uma espécie que não é comprometida com o seu entorno, está seriamente
fadada a enfrentar dificuldades.
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O homem sempre olhou para o céu. Desde os tempos mais antigos, durante as noites estreladas,
ele contemplava as estrelas e a imensidão do Universo, seja com medo, ansioso e depois
curioso.

O céu sempre foi também motivo de discussão e de interesse do Homem. O mesmo céu que
motivou os estudos do posicionamento das estrelas como forma de se locomover, dos nativos,
foi o céu que a igreja usou por anos , para provar que a Terra era plana. Na teoria cristã foi desse
céu, que uma estrela guiou três reis magos, até o local, onde o suposto Messias teria nascido.
Esse mesmo messias quando queria conversar com Deus olhava para o céu, porque sempre foi
de opinião comum que Deus estaria nele, dentro de sua imensidão. Todos olham para o céu,
pois talvez seja ele, o melhor exemplo de infinito que temos

A questão é que o ser humano ao sempre olhar para cima e almejar as estrelas, deixou muitas
vezes de olhar para baixo, seja por soberba ou por mero descuido. Esse descuido custou caro
demais. Talvez o Homem se tivesse ao longo do processo evolutivo, comtemplado os chãos da
floresta como contemplou as estrelas, hoje estaria sem duvidas, muito mais avançado.

Embora pequenos, os insetos tem muito a ensinar a todos que se dispõem a aprender. São deles
os melhores exemplos de sociedades, no quesito organização e forma de viver. São seres dos
mais variados e com as melhores experiências possíveis.

As formigas cortadeiras são compostas por dois gêneros de formigas, presentes sobretudo nas
Américas que coletam materiais vegetais (principalmente folhas) de diversas espécies. Diferente
do que muitos acham, estas formigas não se alimentam diretamente das folhas, mas sim as usam
como substrato para a criação de um fungo subterrâneo. Deste fungo saíra o alimento delas.
Podemos dizer então que as formigas são verdadeiras agricultoras.

No Brasil, sob o ponto de vista econômico, são criaturas que causam preocupação, sobretudo
em plantações florestais, porém do ponto de vista biológico, são animais muito importantes,
sendo conhecidas por serem engenheiras de ecossistema.

Analisando a forma de agricultura das formigas cortadeiras, é possível perceber existe uma certa
limitação, principalmente na questão alimentícia, uma vez que não existe uma variedade de
fungos que elas cultivam, mas por outro lado, essa falta de diversidade gerou uma
especialização com a espécie, que não tem vida livre fora dos ninhos das cortadeiras. Uma
espécie não vive sem a outra.

A questão aqui abordada será em relação ao tempo de prática da agricultura. Se hoje, passados
12.000 anos, o Homem evoluiu constantemente sua agricultura, imagine se ativesse começado,
milhões de anos atrás, o quanto hoje já estria amis evoluído. Existem estudos que apontam mais
de 40 milhões de ano para o surgimento das formigas e da sua prática agrícola, o que remonta à
um período anterior a aparição do primeiro hominídeo.

Quando os primeiros Macacos do Sul passaram a caminhar sobre a Terra, as formigas já


estavam lá, cultivando e se multiplicando. Enquanto as comunidades nômades se arriscavam em
busca de alimento e sofrendo com as limitações de suas formas de vida, as formigas já estavam
em tempos, protegidas dentro de seus ninhos e sobe um sistema sólido e consolidado de
obtenção de fragmentos vegetais para o cultivo, dentro de seus domínios, dos jardins de fungo.
15

Quando o Homem percebeu que para continuar progredindo ele iria precisar se fixar na terra e
cultivar por conta própria o seu alimento, as formigas, já estavam há tempos fazendo uso de
suas técnicas.

Podemos discutir o rápido avanço, mas não, a inovação.

Assim como a agricultura, o pastoreio não é novidade e como um exemplo é possível também
citar espécies de formigas, que pastoreiam outros insetos, cuidando, alimentando e em troca se
alimentam de seus excrementos. Embora seja do feitio humano comer a carne, a ótica de se
obter os excrementos, segue a mesma lógica de produtos como o leite, que podem continuar
sendo extraídos.

Essa relação das formigas é harmoniosa com os insetos pois elas em troca garante proteção ao
inseto, que não tem desvantagem na retirada de seus excrementos

Os seres humanos assim como na agricultura aprimoraram a forma de pastoreio, conseguindo


cuidar de grandes rebanhos e obtendo dele suma boa fonte de recursos.

A transição de modelo para a agricultura sedentária

É um erro comum acreditar que esta transição de modelos nômades de caça coleta para
comunidades agricultoras e sedentárias, ocorreu simultaneamente em todo o globo, e em um
curto período de tempo. O momento exato da transição é impreciso, muito em função de que
não foi um processo simples e natural. Não era cômodo pros coletores decidirem se fixar em um
só local de uma hora para a outra e retirar toda a sua sobrevivência dele, como veremos a seguir.
Outro ponto importante de frisar é que as comunidades nômades não sumiram, ainda ocorrendo
ao longo da nossa história.

O primeiro problema em relação a sedentarização, era a necessidade de uma organização mais


complexa que envolveria a delimitação de um espaço para a agricultura, além da divisão de
tarefas colheita e distribuição. Conforme as populações foram crescendo, a disputa por espaço
começou a ganhar forma e é preciso ter em mente que nem todas as áreas seriam adaptadas para
o plantio e o Homem ainda não tinha consigo meios de conseguir expandir suas fazendas.
Muitos se debate sobre aonde eram as primeiras terras destinadas para a agricultura, em um
cenário florestal, com pouca chance de intervenção até então.

A mudança na forma de vida das comunidades passou muito pela necessidade da mudança e não
pela facilidade. A domesticação de animais já estava ocorrendo, sejam cachorros, ovelhas, bois
e tantos outros. Aos poucos as espécies florestas já estavam sendo também domesticadas e
propagadas, porém sempre se esbarrando em limitantes como o tamanho da área e de sua
capacidade produtiva.

Por isso que ao invés de entender a transição como algo linear é preciso olhar o processo de
forma ampla e difundindo pelo planeta. Embora existam pequenas lacunas de tempos, de poucos
milhares de anos, os centros em que se originaram a agricultura, teriam surgido por volta de
12.000 anos atrás, sendo alguns 12.000, outros 10.000 e outros mais recentes, uns 6.000 anos
atras, o que não tira o feito por parte das civilizações que atingiram tal feito
16

A verdade é que todas essas comunidades , embora isoladas entre si, estavam passando por esse
processo de evolução, até chegar nos dias atuais e conforme suas populações e práticas agrícolas
cresciam, a forma com que modificavam o meio ambiente também crescia.

Nos próximos capítulos será tratada a forma com que a agricultura era praticada e como isso
implicava no meio ambiente. A temática não será abordada tão afundo, e será sempre com uma
visão focada para os impactos ambientais.

Derrubada e queimada

Em relação as operações dentro da agricultura tradicional, a limpeza da área é de fundamental


importância e consiste basicamente na remoção da cobertura vegetal para a posterior
implementação da cultura. Logicamente essa limpeza implica no desmatamento, que é um
problema até os dias de hoje, porém como era essa relação milhares de anos atras?

Quando a agricultura começou, a prioridade das áreas a serem usadas eram aquelas já
antropizadas, que já estavam com a cobertura vegetal removida, sendo assim mais propensas ao
cultivo. Áreas com alta carga de dejetos humanos, era também mais favoráveis, embora, ainda
não se tivesse indícios do uso proposital dos dejetos para melhorar a fertilidade dos solos.

Porém com o tempo, essas áreas de fácil acesso já não estavam mais disponíveis, seja pela
ocupação humana, ou por já terem sido convertidas em áreas de agricultura. Com isso a opção
foi a remoção intencional da vegetação , dentro de suas limitações, para poder praticar o cultivo.

É preciso salientar que o Homem ainda não tinha consigo, formas mais rebuscadas de retirar a
vegetação, e com isso no início sua atuação ficou muito restrita de acordo com o porte a
vegetação a ser removida.

Porém mesmo assim conforme ele avançava na criação das ferramentas, seu poder destrutivo se
expandia. A áreas a serem convertidas eram desmatadas para criação de culturas agrícolas, e por
isso podemos dizer que foi nesse período que o desmatamento começou a se intensificar dentro
da cultura humana. Ao longo do tempo, o Homem mostraria que conforme sua tecnologia
ficasse mais avançada, a sua interferência seria muito maior

A técnica de derrubada e queimada, consiste na retirada da vegetação original e na queima da


área. A prática acarreta em um aporte de nutrientes, através das cinzas para a terra, mesmo que
hoje seja conhecimento que esse aporte é mais momentâneo do que consistente. A questão aqui
colocada será no grande impacto que essa prática ocasiona, com grandes áreas verdes
desmatadas, sobretudo no início das operações, onde toda a área possível de conversão era
assim submetida.

Essa prática perdura até os dias atuais, sendo ainda usadas por muitas tribos indígenas e
apresenta um rendimento de alimentos muito superior a coleta de alimentos oriundos da
natureza. Porém como implicação temos a destruição em massa de grandes áreas verdes, além
da exposição ao solo, contribuindo para a erosão deste. As áreas com nascentes expostas
passaram a secar e com isso o equilíbrio hídrico ficou comprometido. É notório que todas essas
ações teriam efeitos posteriores, e não foi diferente.
17

As terras submetidas a essa prática, quando não respeitados caracteres ecológicos da região,
podem vir a ficar exauridas e toda a composição de espécies do local pode ficar comprometida.
Embora como tenha citado anteriormente, que tribos ainda praticam esse sistema, um ponto
fundamental é de que as tribos fazem uma rotação de cultura, não exaurindo assim a área
escolhida e dando chance para que ela se recupere. Muitas áreas que não se recuperavam eram
então destinados ao gado, como forma de ocupação.

A técnica de pousio consiste em dividir a terra, e após o uso e colheita de determinada área,
deixar em “em pousio” por um determinado tempo, a fim de que ela recupere seus atributos
referentes aos nutrientes.

A área então submetida a este sistema passe a ter menos impacto, do que quando é explorada até
ser totalmente exaurida e depois abandonada. É preciso indicar que mesmo com o pousio, nem
sempre a produtividade se mantem uniforme nos usos posteriores , por isso uma estratégia
adotada era uma cultura principal ser implementada, e posteriormente culturas secundárias, que
exigiam menos da terra, garantindo maior produtividade as culturas principais.

Infértil ou não, é de conhecimento que aquela área, possivelmente não voltará a ter uma
cobertura vegetal como antes , seja pelo uso constante inconsequente ou não, e se ela for
deixada de lado, as espécies que irão ocupa-las posteriormente não serão as mesmas que antes,
uma vez que houve uma alteração no local, fazendo com que a chegada de novas espécies (ou as
antigas) dependa muito do entorno da área. A chegada de novas espécies depende diretamente
de dispersores, matrizes próximas e etc. Quando se trata de diversas áreas de cultivo, uma ao
lado da outra, as chances das antigas espécies presentes, surgirem novamente naquele local é
remota, porém isso não significa algo ruim, caso as espécies que estejam no local, consigam
estabilizar a áreas. É muito comum que nesses casos, espécies invasoras, com maior facilidade
de crescimento, ocupem os locais, prejudicando o ecossistema.

Então é possível inferir que mesmo que a derrubada e queimada tenha proporcionado ao
Homem expandir os cultivos agrícolas ao longo do mundo e aumentar a produção agrícola, os
seus efeitos nos ecossistemas foram sim significativos, e acarretaram em um longo processo de
desmatamento, que persiste até os dias atuais. Como veremos a seguir, outros sistemas foram
sendo implantados, aumentando a produção de alimentos e propiciando ao ser humano, uma
chance de aumentar sua população.

Cultivos hidráulicos de vazante e irrigação

Até então o cultivo de derrubada e queimada estava sendo bem difundido pelo planeta, porém
essa forma de cultivo, é praticamente sem nenhum tipo de preparo do solo (exceto a remoção da
vegetação), ou qualquer modificação quanto a sua irrigação, muito em função de que condições
climáticas eram favoráveis nestas terras, e ao invés de buscar a melhoria delas, o comum era se
deslocar até onde existiam as melhores condições e assim ter menos preocupações.

Porém não era esta a realidade de todas as comunidades e civilizações do planeta. As regiões
desérticas não podiam dispor de uma alta carga hídrica para a manutenção de seus cultivos da
mesma forma que as regiões ocupadas por florestas em sua maioria.
18

Uma solução que os agricultores foram encontrando, foi a aproximação com as regiões onde
estavam inseridos corpos d’água, sobretudo rio extensos, como caso do Rio Nilo. A
aproximação aos rios não era uma novidade, afinal os seres humanos precisavam da água para
as suas necessidades fisiológicas. Os exemplos usados a seguir serão preferencialmente nas
comunidades do Nilo, que estavam sob o comando dos Faraós. Embora estivessem perto dos
rios, a forma de cultivo ainda sim era limitada, e os agricultores precisavam se adaptar a ela.
Duas formas de cultivo serão abordadas: Vazante e Irrigação

O cultivo de vazante é caracterizado por um cultivo aproveitando a cheia dos rios.


Primeiramente essa forma de cultivo era bem primitiva, se adequando apenas ao nível do rio, o
que ocasionava em suas cheias ou secas foras do comum em prejuízos nas plantações. Com o
tempo , diques foram construídos, visando aproveitar melhor os períodos de cheia , preservando
a água por mais tempo, além de evitar maiores danos, com eventuais mudanças climáticas

Essa forma de cultivo foi muito eficiente e sua aplicação resultou em grandiosas obras
hidráulicas, demonstrando todo poderio da civilização Egípcia.

O cultivo de irrigação, segue uma lógica parecida, mas ele é mais centralizado em torno da
utilização da água subterrânea de forma que sua captação possa se estender a áreas maiores.
Máquinas que puxavam água de profundidades maiores que 40 metros passaram a ser usadas e
com isso a possibilidade de se cultivar ainda mais longes dos rios se estendeu por um grande
território.

Muitas tecnologias foram criadas nesse período e o aumento da população egípcia foi eminente,
porém todos esses mecanismos exigiam um alto investimento, sobretudo em mão de obra, ainda
mais quando pensamos que o estado egípcio era composto por uma série de pessoas que
dependiam do trabalho alheio para poder se alimentar.

Os faraós exerciam uma forte carga tributária sobre os camponeses que passavam praticamente
todo o ano sob forte regime de trabalho, seja na preparação das áreas e nos cultivos, ou na
manutenção das estruturas hidráulicas. O Estado tinha que manter exércitos e toda a máquina
pública e por isso os camponeses estavam cada vez mais sobrecarregados.

Do ponto de vista da produção, os sistemas davam um rendimento até 10 vezes maior que o
derrubada queimada, principalmente por questões relativas as sucessivas produções, com uma
oscilação na produção muito menor que no sistema de derrubada e queimada. Como viés, foi
citado anteriormente que era um sistema complexo, que mesmo coma tecnologia, não estava
isento de mudanças bruscas na cheia do rio e exigia um alto investimento na manutenção de
todas as estruturas. O uso da tração animal já estava sendo empregado, sobretudo para a coleta
de água para irrigação, o que proporcionou um aumento expressivo no rendimento do trabalho.
Um boi conseguia puxar com mais eficiência, muito mais litros de água que dois camponeses
revezando, e que agora estariam fazendo outras funções, menos exaustivas.

Sob a ótica ambiental, a primeira mudança é em relação ao desmatamento, que nesse caso é
inexistente, porém pela ausência de vegetação e não por uma maior preocupação com o meio
ambiente. Em contrapartida, é preciso frisar que os cultivos são em sua maioria fazendo uso
direto do rio, principalmente no caso do cultivo de vazantes

Como consequência as margens dos rios ficam todas tomadas por estruturas e sem proteção
contra assoreamentos e outros problemas relativos a erosão destes rios. A coleta excessiva da
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água também pode ocasionar em reduções do nível do Rio, e considerando que era dele que as
cidades retiravam a água para consumo próprio, uma crise abastecimento poderia ser eminente.

Todos esses impactos são em relação ao uso e coleta da água, porém também existe um impacto
direto, com o envio de dejetos nos rios, ampliando a poluição destes e podendo comprometer
toda a estrutura dos rios.

Atualmente as áreas no entorno de rios, são protegidas, consideradas áreas de Preservação


permanentes, visando a manutenção da estabilidade e da qualidade dos corpos hídricos, porém
pela importância da água, ao longo do processo evolutivo, as civilizações buscaram se
desenvolver próximas aos rios, para a coleta e uso do recursos, o que ocasionou em um processo
de poluição dos rios e aumento de doenças relacionadas a infecção por água contaminada

Um ponto positivo destes cultivos foi na forma de coleta de água, que se mostrou eficiente,
sendo assim uma ótima forma de poder se desenvolver sem necessariamente estar colado
fisicamente à um corpo d’água.

Cultivo em Alqueive com tração leve e pesada

Se as regiões da mesopotâmia e do Nilo estavam fazendo uso dos avanços das tecnologias
hidráulicas e com isso conseguindo aumentar sua produção de alimentos, Na Europa, de uma
forma geral o uso do cultivo em derrubada e queimada começava a sofrer modificações. O
cultivo em Alqueive, de início com uso de tração leve, surgiu antes dos aperfeiçoamentos
cultivos agrícolas, o que indica que esta forma de cultivo foi surgindo, muito em virtude de da
necessidade de mudança. A Europa passava por transformações sociais e políticas, que não
podem ser deixadas de lado.

Mudanças como a formação de Estados, povos sendo massacrados, mudanças religiosas e a


variações de tributos, não eram bem uma novidade, porém conforme elas iam ocorrendo, e a
população crescia, ocorriam então transformações no campo, sobretudo na forma com que os
alimentos estavam sendo produzidos. Quanto mais pessoas dependiam diretamente da
agricultura, mais existiam pressões para as comunidades agrícolas, e com isso os agricultores
foram sendo mais explorados e sobrecarregados.

As terras, não eram, como muitos achavam, livres, sem donos e assim muitos agricultores
acabaram se endividando para conseguir pagar tributos, ora à um senhor feudal, ora a um Rei e
assim por diante. Durante a idade média, muitos agricultores acabando caindo na servidão, por
conta a insustentável forma com que eles tinham que pagar seus tributos

A derrubada e queimada como dita anteriormente , era composta por um alto desflorestamento,
que já não estava sendo possível em muitas regiões. Era preciso um novo sistema que fosse
capaz de ampliar a produção de alimentos.

Nesse cenário começou a ser implementados os alqueives, que consistiam na divisão da terra em
pequenas formações, com objetivos específicos, gerando ao final uma produção de alimentos,
suficiente para abastecer as cidades, ao menos na teoria, porque na prática, o sistema já nasceu
insuficiente, mas como um início promissor do que viria adiante
20

As terras eram divididas em:

Florestas(Silva) : Área com florestas, geralmente densa, com impossibilidade de


desmatamento, ou por questões de relevo impróprias para produção, sendo assim as áreas
seriam destinadas a exploração de lenha. As vilas, cidades e campos eram muito dependentes da
madeira, e era preciso terem terras disponíveis para a retirada do material, seja para
aquecimento, cozinhar ou o que fosse. Esse consumo desenfreado acabaria por destruir muitas
florestas pelo Mundo todo.

Pastagem(Saltus) : Uma área de pasto, para a acomodação dos animais, sobretudo visando a
transferência de matéria orgânica para a área principal de cultivo. É nessa área de pastagem que
os animais passariam o dia, para a noite, despejar seus dejetos na área principal (Alqueive). A
ideia era melhorar as condições do solo, que agora teria um melhor preparo

Alqueive: A área principal onde seriam cultivadas as culturas principais, que exigiam mais do
solo. Quando o solo estivesse um pequeno pousio, os bois passariam a noite no local,
aumentando a matéria orgânica do local. O solo era revolvido, através do arado com
escarificador, melhorando as propriedades deste.

Figura 3 Sistema de Alqueive disponível em "História das agriculturas no mundo. Do Neolítico à crise
contemporânea" Mazoyer 2008
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O primeiro ponto a citar desse sistema é agora a tração animal mais empregada, sobretudo no
arado e carregamento das sementes. A opção pelo revolvimento do solo, no Alqueive era
visando melhorar as condições de plantio.

O sistema era então muito mais complexo que o de derrubada e queimada, porém ao mesmo
tempo, ele proporcionava uma produção maior e muito mais variada, que trazia mais variedade
para os agricultores. Uma forma de organização era então necessária, sobretudo na divisão das
tarefas. Um sistema complexo exige maior organização, mas em contrapartida amplia os
horizontes dos produtores de alimento.

Se por um lado era um sistema mais amplo, com a possibilidade de produção de mais alimentos,
ele apresentava muitos pontos negativos.

Era um sistema que necessitava de uma área de pastagem muito grande, pra poder abastecer
uma área pequena de Alqueive. Muitas vezes a proporção era de 8:1, sendo então 8 hectares de
área de pastagem para poder produzir em 1 hectare de alqueive, o que muitas vezes tornava a
produção inviável. O arado escarificador não era tão muito eficiente e na prática os agricultores
necessitam usar seus equipamentos disponíveis, diminuindo o rendimento das operações do
solo.

As regiões não eram uniformes então as produções variavam demais, seja ao sul e ao norte da
Europa, o que tornava a produção inconstante de certa forma. Outro ponto negativo era que a
transferência de matéria orgânica por parte dos bois era muito ineficaz, além de exigir uma
grande quantidade de animais, que tinham gastos consigo. A conta muitas vezes não fechava do
sistema e muitas regiões tiveram altas crises conforme a produtividade oscilava.

O acesso as terras também era um problema, pois se as famílias necessitavam de grandes


espaços a disposição e não tinham, a fome era eminente, e conforme as populações passavam
por necessidades, mais pressões existiam para que houvesse uma distribuição de terras mais
igual dando origem a movimentos que pediam uma reforma agrária. Era preciso então uma
mudança sobretudo na produtividade.

Foi então por volta do final do primeiro milênio, já da nossa Era, que algumas tecnologias
passaram a fazer parte do cotidiano de certos agricultores. Como citado anteriormente o sistema
de cultivo com alqueive e tração leve era insuficiente e acarretava em uma série de problemas,
por isso uma solução foi a otimização do sistema para uma variação deste de forma mais eficaz,
ficando com o nome de alqueive com tração pesada.

A primeira mudança foi em relação a estrutura do sistema. Antes os Bois pernoitavam no


alqueive aonde ocorria a “transferência de fertilidade” (matéria orgânica). Como dito
anteriormente esse sistema não era nada eficaz, então como solução começaram a serem criados
os estábulos, onde os bois podiam ficar e assim transferir , através de seus dejetos, a matéria
orgânica. A formação do esterco começou então a entrar em uso, misturando os dejetos com
restos vegetais, assim eles eram passíveis de deslocamento para os alqueives, pois agora os
agricultores iriam dispor de carroças. As carroças ate então eram raras e muito caras para serem
realizadas e após sua popularização, o serviço de transporte teve um aumento considerável na
produtividade.
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A alimentação dos bois que também era um limitante, começou a ser sanada pela criação dos
fenos. Com os fenos disponibilizados aos animais, não havia mais a necessidade de comida
imediata para os bois no pasto, pois com o feno sendo armazenado, em caso de baixa produção
de pasto, a alimentação era suprida.

Uma das principais mudanças foi a modificação do arado, não sendo mais o escarificador, mas
sim o Arado charrua, que era uma versão mais aprimorada, e que essa sim revolvia o solo. Além
deles outras ferramentas foram melhoradas, visando o aumento do rendimento das operações.

Como resultado de todas essas mudanças, tivemos então um aumento da produção de alimentos,
e um aumento da qualidade de vida no campo, pois eram necessárias menos terras para produzir
e agora era possível ter a disposição mais animais.

É óbvio que todo esse maquinário era mais caro de adquirir, e como os agricultores vinham de
um sistema falido e insustentável, seria difícil conseguir recursos para essas aquisições, então na
prática a mudança levou certo tempo para se espalhar por todos os cantos e muitas vezes o que
ocorreu foi que as aquisições foram acontecendo aos poucos, e então se formou um sistema de
ajuda entre os trabalhadores, que faziam trocas de materiais, visando uma ajuda mútua.

A verdade é que o campo melhorou muito com essa forma de cultivo, mas é importante colocar
que agora o poder destrutivo do Homem estava também maior, e que muitas florestas foram
destruídas nesse processo. A população começava a crescer na Europa, embora com alguns
períodos de declínio (Peste negra, guerras) é inegável que a agricultura estava tornando a
expansão das populações muito mais facilitada.

Um ponto interessante é que já existia a troca entre reinos, e que uma comunidade não precisava
exatamente consumir o que ela produzia. Os egípcios e outros povos asiáticos já exportavam
alimentos, sobretudo o trigo, por parte dos egípcios, e esse comércio fazia com que as nações
começassem a não só crescer, mas a se formarem quanto Estados.

Cultivo sem alqueive e revolução industrial

O cultivo com Alqueire e tração pesada proporcionou uma expansão dos campos cultivados na
Europa, que acarretaram não só no crescimento da população, mas também na expansão do
desmatamento por todas as regiões. Possibilitar o maior alcance da agricultura significava que
mais florestas podiam ser convertidas em pastos e cultivos, e com isso o desmatamento
aumentou pela Europa de forma que em muitas regiões começou a faltar madeira.

O principal destino da madeira era construção, móveis e lenha para as atividades, e com a falta
do material, algumas crises ocorreram pela Europa. Embora o sistema de alqueive com tração
pesada estivesse em expansão, ele ainda não era absoluto quanto a produção, e conforme a
população crescesse muito, mais crises poderiam ocorrer.

Guerras, pestes, problemas climaticos, ocasionaram um declínio da população Europeia. A


diminuição da produção em virtude destes fatores, agravou ainda mais a crise dentro das cidades
23

Europeias, que passaram a conviver com a fome e assim tiveram sua expansão restrita a
pequenos intervalos de abundância.

Pós século XV, com a população dando indícios de que voltaria a crescer, o sistema em alqueive
ainda não era totalmente adequado e não estava totalmente espalhado pelo território. Muitos
locais já estavam exauridos e destruídos e a saída agora não era mais procurar novas terras mas
assim utilizar melhor a produção dentro dos espaços.

Os solos já desgastados eram tomados por invasoras e os efeitos do desmatamento desenfreado


era escancarado dentro das cidades que começavam a se formar, com primeiramente a falta de
matéria prima para as construções e também para o aquecimento das casas, além da geração de
energia.

Uma saída em relação a produção foi o cultivo, sem alqueive, mas que consistia na adubação da
terra com culturas que proporcionavam uma fixação maior de nutrientes (leguminosas, fixadoras
de nitrogênio, por exemplo).

Como consequência dessa nova forma de plantio, o preparo do solo se mostrou mais eficiente,
com as plantas que antecediam as culturas principais, melhorando aspectos químicos, físicos e
biológicos do solo, fazendo com que menos terras fossem necessárias para uma maior produção.
Essa nova forma de sistema embora mais eficiente, era em certa forma, mais simples,
necessitando de uma área menor e gerando um impacto menor sobre o solo da região.

A nova forma de agricultura, embora seja praticada em outras regiões no mundo, ainda não era
totalmente difundida na Europa, e também não resolvia totalmente os problemas do solo e do
tamanho da área para a produção, embora ela tenha ganhos significativos no rendimento da
produção. Os problemas com as técnicas relativas ao plantio e colheita ainda iriam persistir, de
forma que a produção de alimentos tenha significado um limitante por muito tempo. Nos dias
atuais já é consenso, que após a revolução verde, que a produção de alimentos não é mais
limitante e que a distribuição destes alimentos é um fator a ser levado em conta. As pesquisas
visando aumentar a produção de alimentos continuam a todo vapor, mas não com o viés social,
mas sim de lucro

Vale lembrar que a revolução industrial, embora tenha fomentado uma política de êxodo rural
com novas ofertas de serviço, o campo ainda continuou como fonte de sobrevivência de boa
parte das populações. Com a possibilidade de um maior rendimento, as populações voltaram a
crescer e a medida que os Estados se mantinham em paz e novos avanços tecnológicos surgiam,
aos poucos, a instabilidade populacional europeia foi diminuindo.

As industrias foram se expandindo e seus efeitos passaram a ser mais intensos. A matéria prima
para a manutenção das atividades era mais diversificada, e com isso os recursos naturais das
regiões passaram a ser drasticamente afetados. Rios poluídos, florestas destruídas e aos poucos
os cenários foram mudando. A ideia de natureza infinita perdia força, fazia séculos, com o
desaparecimento de animais, destruição da flora e a emissão exacerbada de poluição na
natureza.

A preocupação com o meio ambiente ainda caminhava, ainda devendo serem superados
diversos obstáculos referentes sobretudo a forma de conservar, sem diminuir o crescimento.
Para muitos, crescer economicamente, implicaria na destruição dos recursos naturais. E essa
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relação jamais seria deixada de lado ao longo dos anos, sendo motivo de debate até os dias
atuais.

Vale citar que mais evoluções surgiram, com a mecanização dos procedimentos, dando origem
aos maiores saltos de produção existentes em toda a história. Após a revolução verde, a
produção teve um aumento significativo. O uso de fertilizantes em larga escala, faz com que a
produção seja uniforme e sempre com um rendimento alto. Mais uma vez é posto que nos dias
atuais, a alimentação mundial é um problema maior de distribuição, do que de rendimento.

Estudem: Revolução verde/ Mecanização agrícola

Discussão: Malthus estava errado? A população cresce acima da produção de alimentos?

O questionamento apresentado pelo pastor Thomas Malthus, embora seja um marco para os
estudos da Ecologia, é visto sob a ótica dos dias atuais, como uma visão totalmente equivocada,
principalmente no que diz respeito a questão da fome no mundo, que é mais entendida como
uma questão de abastecimento e distribuição, do que de produção propriamente dita.

Porém antes de julgar os conceitos abordados por Malthus, é preciso ter em mente que a
agricultura evoluiu muito ao longo dos anos, e que a produção por área mais que quadriplicou se
compararmos com a época que o pastor questionou a produção alimentícia. É necessário sempre
estar atento ao contexto que uma obra foi feita e as projeções que existiam na época.

Questionamento: Estaria Thomas Malthus orgulhoso de que a produção de alimentos não é


mais um problema, ou envergonhado de não termos conseguido acabar com a fome?.

”..E Deus disse: Haja Luz; e houve luz..” Gênesis 3


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BRASIL: DO DESCOBRIMENTO A INDUSTRIALIZAÇÃO RURAL

Descobrimento e início da colonização

O Brasil só viria a entrar na história quanto país, a partir do século XVI, a partir do
descobrimento do país, por parte de Portugal. A história em si é muito mais antiga, com os
povos tradicionais espalhados pelo território e a sua maneira expandida suas comunidades.

A fim de impactos sobre o meio ambiente, a situação no território americano era similar a
algumas regiões da Europa, que tinham como característica a derrubada e queimada como forma
agrícola.

A relação índio e natureza é mais complexa do que se aparece a princípio. É de senso comum
que as comunidades indígenas não tinham por si uma característica de exploração da natureza e
que viviam em harmonia.

A verdade é que as comunidades indígenas tem sim uma relação mais próxima da natureza que
o habitual do “homem civilizado” (ironia), mas essa relação pode ser dada de diversas formas.

Alguns autores defendem que por ter um conhecimento tecnológico menos avançado, o índio
não pode interferir mais bruscamente dentro do ecossistema, pois acarretaria em mudanças no
ambiente, prejudicando a sua própria comunidade.

Por outro lado, outros autores atribuem a esse comportamento mais conservacionista por parte
do índio, justamente um pensamento mais avançado, afinal, por que uma espécie destruiria seu
próprio habitat, tendo consciência disso?

A questão é que embora fosse parecer primitiva a forma de exploração por parte dos índios, as
comunidades eram bem abastecidas e certamente enfrentaram menos variações populacionais
que os demais humanos pelo mundo. O declínio de suas populações viria com a chegada dos
Portugueses e demais europeus.

Primeiramente com o país sendo ocupado, a forma de exploração pioneira se deu pelo Pau
Brasil, que viria a dar nome ao país. A madeira, valiosa até os dias de hoje é muito presente na
costa do país, principalmente na Mata Atlântica.

O impacto foi significativo da exploração, devastando imensas regiões. Vale citar que na
retirada da madeira, outras espécies acabam sendo derrubadas, aumentando ainda mais o
impacto da atividade. É estimado que para a retirada de 1 árvore, até 50 (de todos os tamanhos)
poderiam ser derrubadas.

O cultivo e os latifúndios
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Com a instalação dos europeus já no país, os cultivos foram tomando forma, principalmente
como forma de incrementar a economia do país. O cultivo da Cana de Açúcar se popularizou e
com ele todo o sistema de plantio foi remodelado, fazendo uso da mão de obra escrava e do
sistema hierárquico dentro da agricultura como forma de se perpetuar. A escolha da Cana de
Açúcar não se deu por acaso, e alguns fatores foram importantes para isso.

Era uma cultura já conhecida por Portugal, com uma experiência bem sucedida na África (Cabo
Verde), o que proporcionou a coroa Portuguesa ter a capacidade de plantar em um outro local. O
produto em si era escasso no mercado, e tinha boa aceitação, o que favoreceu também a escolha.
As terras na nova colônia eram bem esparsas e abundantes, facilitando a inserção do novo
cultivo.

Porém também haviam condições desfavoráveis para a implementação, sobretudo relativo a


mão de obra, com os nativos não aceitando a servidão facilmente, sendo então necessário
importar a mão de obra escrava. Um erro muito comum é acreditar que os Africanos aceitaram
de bom gosto a escravidão, porém isso não ocorreu, e houve luta por parte dos escravos até o
momento final da escravidão, mais de 200 anos depois.

A necessidade da escravidão sempre foi discutida, sendo associada ao baixo rendimento da


produção da época, embora seja altamente discutível essa questão. Aristóteles teria dito: “O dia
que as máquinas de tecer, o fizerem sozinhas, não vamos precisar de escravos” indicando a
necessidade da mão de obra de escravos. O mesmo argumento era usado em pelas elites para
não ser a favor da escravidão, dizendo que não seria rentável uma agricultura sem a mão de obra
escrava, o que para muitos autores é uma demonstração do atrasado na agricultura brasileira,
que se limitava à uma postura tradicional quanto a produção das culturas agrícolas.

O latifúndio dentro desse contexto da agricultura, é uma necessidade e a sua presença serve para
manter as bases das culturas agrícolas. A concentração de terras e de poder, favoreceu o sistema
escravista dentro do país, e conforme os anos passavam, mais difícil seria romper essa corrente
de pensamento dentro do meio rural. Romper com o latifúndio seria romper com toda cultura
escravista, o que as elites não queriam de forma alguma.

Entre esses latifúndios, também existiam trabalhadores das mais diversas formas, livres e que
desempunhavam diversas funções dentro da sociedade. Alguns tinham pequenas terras e dentro
de seus limites buscavam se sustentar, embora optassem por outras culturas mais simples, longe
da competição com os senhores de engenho.

O país ainda viria a passar por diversas transformações, com diferentes períodos de exploração,
como a época mineradora, depois a libertação dos escravos e por diante a cultura do café.
27

Quantidade Caça de açucar exportada século XIX


350000

300000

250000

200000

150000

100000

50000

0
1810 1820 1830 1840 1850 1860 1870 1880 1890 1900

Figura 4 - Quantidade de Cana de açucar exportada . Fonte: IBGE. Elaboração do autor

Transição para a industrialização

No início do século XX, a escravidão já estava abolida, e a sociedade era majoritariamente rural.
Não existia industrialização ainda no país, com uma república ainda caminhando.

A unidade de produção era constituída pelos latifúndios, que contavam com uma mão de obra
não mais escrava, porém ainda mal remunerada, pautada no ganho por produção, ficando assim
seu rendimento associado a sua própria força de trabalho. Um trabalho basicamente análogo a
escravidão.

O Brasil comercializava poucos produtos, principalmente pelo teor conservador na produção,


sendo o Café o principal destaque. A cultura estava nas mãos de oligarquias que continham no
governo, sua base para manutenção de suas operações. As super produções eram um problema
antigo, o que fazia com que o governo comprasse o excedente.

Era uma política visando não quebrar a economia cafeeira, que se mantinha nessas condições e
não buscava ampliar suas opções de exportação. O governo era um aliado nessa política dos
cafeeiros e mantinha consigo os latifundiários sempre em apoio.

Essa política de apoio ao café não iria durar para sempre, uma vez que se mostrava cada vez
mais insustentável, a sua manutenção. Os preços da safra do café desde o final do século XIX se
mostravam em declínio, e assim deveriam vir outras opções que não só o café para a
manutenção das atividades. A crise de 1929 teve um papel central sobre a economia do Café,
visto que o país exportaria ainda menos o produto.
28

Quantidade de café em grão exportado


20000
18000
16000
14000
12000
10000
8000
6000
4000
2000
0
1800 1820 1840 1860 1880 1900 1920 1940 1960

Figura 5 - Quantidade de grãos de café exportados. fonte IBGE. Elaboração do autor

A transição para a industrialização começou por volta do início do século XX, com importação
de equipamentos voltados para o setor agrícola, porem a transição se deu lenta, dando indícios
de crescimento a partir da década 30, pós crise de 29. Uma nova política de substituição de
importações seria formada, e se iniciou no país de forma mais intensa um projeto de
urbanização. Até a década de 50, a industrialização viria a tomar uma forma mais concreta no
país, a medida que as exportações de comodities cairiam e a manufatura de bens de consumo
cresceria. Até a década de 60 os processos industriais iriam aumentar ainda mais, através de
políticas públicas voltadas para o crescimento da indústria, como metalurgia, petroquímica entre
outras. O país aos poucos tomava um rumo industrial, e a população brasileira começava a
invadir mais o espaço das cidades, dando início a mudanças nas ocupações no meio rural e
urbano.

Valores da produção industrial século XX(Cr $)


12.000.000.000

10.000.000.000

8.000.000.000

6.000.000.000

4.000.000.000

2.000.000.000

0
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990
29

Estabelecimento Industriais Censo 1920


4500,0
4000,0
3500,0
3000,0
2500,0
2000,0
1500,0
1000,0
500,0
0,0

Número de estabelecimentos industriais


século XX
214158
187238
164793

110771
83703

43250

1939 1949 1959 1970 1975 1980

Número de estabelecimentos
30

O Regime militar e o a política de crédito agrícola

O regime Militar no Brasil durou cerca de 21 anos (1964- 1985) e deixou fortes marcas no
cenário político, econômico e social do país. No campo não foi diferente, ocorrendo uma
transformação na realidade de agricultores, produtores rurais e sobretudo nos latifundiários.

Dados do IBGE mostram que anteriormente ao regime, durante a década de 40 a população


rural representava cerca de 70% do país, indicando que a principal atividade no país ainda era
voltada para o meio agrícola. Políticas nacionais nas décadas seguintes resultaram no aumento
da população urbana e no aparecimento do êxodo rural, culminando já na década de 70 uma
inversão de cenário, sendo a população rural representando agora 45% de toda população no
País.

A política estatal adotada pelo regime militar visava o crescimento do país a todo custo, o que
gerou uma série de medidas econômicas e questionáveis quanto a sua execução. Para se ter uma
ideía durante a conferência de Estocolmo, em 1972, considerada um marco como primeiro
grande encontro relacionado ao meio ambiente, o Brasil, representado pelo ministro Costa e
Cavalcanti manteve uma posição conservadora quanto ao controle da sua poluição, inclusive
fazendo uso da seguinte frase “Desenvolver primeiro e pagar os custos da poluição mais tarde”
já mostrando que o Brasil em pleno “Milagre Econômico” iria continuar a crescer a todo custo.
Para a afirmação dessa política, uma das alternativas foi o investimento na modernização da
agricultura no país, passando a incluí-la no circuito de produção industrial, seja como
consumidora de produtos e máquinas, ou como fornecedora de matéria prima para produção e
transformação industrial.

Entre as medidas tomadas pelo governo Militar relacionadas a modernização da agricultura


podemos citar as políticas de Crédito Rural, fomentação de pesquisa agropecuária e Extensão.

Em relação ao credito rural, muitos autores consideram que tais políticas foram as que tiveram
mais influência sobre a mudança de realidade no meio rural, por meio de sua industrialização. A
aplicação do crédito rural não se restringia somente a um segmento da atividade agrícola, sendo
avaliado que durante o período de 1969 até 1981 o crédito rural era empregado em diversas
modalidades como custeio, investimento, pecuária e os produtos agrícolas. A distribuição do
crédito já dava indício do direcionamento que as políticas governamentais tinham, sendo 45%
do valor aplicado a produtos exportáveis ou industriais e 37% para produtos alimentícios, e 17%
aos demais produtos. Destes 45% de produtos exportáveis, durante o triênio de 1977 até 1980 a
soja representava quase metade de todo o valor investido.

Produtos que mais receberam crédito agrícola


Produto 1977 1978 1979
Soja 19,10% 19,80% 20,20%
Cana-de-açúcar 8,30% 8,90% 6,50%
Café 12,20% 11,30% 12,30%

A distribuição do crédito agrícola por região não foi igualitária, sendo as regiões Sul Sudeste
com em média 70% de toda aplicação demonstrando que a disponibilidade de crédito era mais
susceptível nas regiões onde o retorno financeiro seria mais ordenado. A partir de 1976 a
31

política de crédito passou a sofrer restrições internas, havendo só em 1981, com a crise
alimentar já instaurada uma tentativa do governo de restabelecer a política de crédito

1970 1975 1980


Região Crédito Valor Crédito Valor Valor
Crédito Rural
Rural produção Rural produção produção
Norte 1,01% 2,90% 1,30% 2,66% 3,03% 2,43%
Nordeste 10,77% 21,33% 12,71% 17,86% 16,63% 20,55%
Sudeste 49,94% 35,27% 37,69% 30,59% 34,07% 34,50%

MG 11,67% 8,92% 10,58% 7,75% 10,06% 10,00%

ES 1,06% 1,94% 1,14% 1,20% 1,34% 2,12%


RJ 3,83% 2,55% 2,39% 2,04% 1,90% 1,58%
SP 33,38% 21,86% 23,58% 19,60% 20,77% 20,80%
Sul 31,81% 34,67% 38,20% 42,35% 35,72% 34,76%
PR 14,12% 12,47% 17,16% 19,81% 15,55% 14,82%
SC 2,41% 4,43% 3,32% 4,08% 3,82% 5,04%
RS 15,28% 17,72% 17,72% 18,46% 16,35% 14,90%
Centro-Oeste 6,47% 5,84% 10,10% 6,53% 10,55% 7,77%
Figura 6- Crédito rural por região . Disponível em MOLINAR, Eldis C. Barnes. O crédito rural no Brasil.
Piracicaba, ESALQ/USP, 1984

A extensão rural no Brasil surgiu na década de 40, e foi fortemente ligada aos movimentos
sociais rurais, pautados em ideias reformistas, porém com a política de crédito adotada na
década de 60 tomou um rumo diferente, sendo então mais direcionada aos produtores mais
capitalizados e com mais facilidade de obtenção dos créditos, deixando em segundo plano, os
agricultores mais pobres, o que favoreceu ao longo da história a concentração de renda e
aumento do êxodo rural. Em 1974 houve a substituição da ABCAR e suas filiadas pela
EMBRATER, porém agora neste período existia uma maior preocupação com a assistência aos
produtores mais pobres, evitando o maior agravamento dos problemas sociais que se
intensificaram nos últimos anos. Hoje a EMBRATER é reconhecida pelas suas assistências aos
agricultores de baixa renda e tem transformado cada vez mais a realidade de pequenas
comunidades, que estão cada vez mais excluídas das políticas públicas.

Em relação à pesquisa o tema é centrado em volta da criação da EMBRAPA em 1972, A


pesquisa agropecuária é voltada para produção, aperfeiçoamento e otimização de tecnologia
para o setor. Inevitavelmente houve um direcionamento das pesquisas para as culturas que
estariam na mira da exportação como algodão, soja, milho e etc. Culturas relacionadas com
questões alimentares internas também tiveram seu espaço nas publicações embora em menor
número. Se o direcionamento das publicações era desigual, a regionalização dos gastos da
EMBRAPA com pesquisas manteve o mesmo padrão em 1975, embora quando verificado os
mesmos gastos em 1979 pode se perceber uma maior alocação de recursos para o Nordeste e
Norte e uma diminuição para o Sul e Sudeste, que embora tenham diminuído, ainda
representavam 40% dos gastos totais. A descentralização dos gastos da EMBRAPA por região
ao final da década de 70 já demonstrava o rumo das políticas que iriam seguir, sendo a
32

EMBRAPA um forte aliado do setor agrícola, com inúmeros benefícios prestados. Uma herança
do governo Militar.

Gastos públicos com pesquisa EMBPRAPA

REGIÃO 1975 1979


Sul e Sudeste 62,70% 40,20%
Nordeste 5,30% 18,20%
Centro-Oeste 27,10% 29,50%
Norte 4,90% 12,10%
TOTAL 100,00% 100,00%

Figura 7 – Gatos públicos por região EMBRAPA entre 1975 e 1979 . disponível em KOHL, B. A. State and
capital agricultural poliny in post-comp Brazil. Columbus, The Ohio State University, 1981 (Ph.D.
Dissertation).

Os reflexos da industrialização Rural

Como citado anteriormente, ocorreu uma mudança na proporção das populações rurais e
urbanas, sendo que a industrialização favoreceu significativamente o êxodo rural, com a saída
do Homem para a cidade, visando melhores condições de vida.

A concentração de terras também se favoreceu durante esse processo, a partir do momento que
os maiores agricultores tiveram acesso as políticas de crédito e conseguiam comprar também as
terras dos menores agricultores, muitas vezes isolados, e não tendo outra alternativa a nãos ser
vender suas terras, quando não sua força de trabalho, ficando em condições muitas vezes,
similares a escravidão.
33

Índice de urbanização (%)


34

Agricultura X crescimento da população

Como citado nos capítulos anteriores, a população humana desde o momento que colonizou
todas as regiões, passou a contar com um fator limitante referente a sua capacidade de alimentar
a si mesma, para poder crescer. Os ambientes por conta própria já não podiam mais oferece ro
suficiente para um alto crescimento e conforme as populações humanas se expandiam e
cresciam, a demanda era maior e consequentemente a pressão sobre os recursos naturais que
começaram a faltar, não só para os humanos, mas para todos os animais, acarretando em
impactos diretos sobre a fauna e flora locais, desestabilizando ecossistemas e etc.

A população humana enfrentou uma estagnação por muito tempo que a agricultura e as
atividades de pastoreio tomassem forma, proporcionando aos humanos a possibilidade de se
fixar em um local, se proteger melhor e assim crescer.

O crescimento das populações não foram uniformes, visto que existiam diferentes comunidades
espalhadas e cada comunidade lidou de uma forma com seus recursos e com as ferramentas que
tinha para produzir se expandir. Nesse meio tempo o fator social também surgiu, uma vez que
sociedades maiores, exigiam maiores organizações e com isso, divergências passaram a surgir
com maior frequência, a medida os interesses das diferentes comunidades eram confrontados.

Sendo assim houve uma explosão demográfica em algumas regiões, enquanto que outras não,
por isso uma análise simplista, relacionando os avanços na produção de alimentos junto do
crescimento populacional, não são precisos, sendo necessário um olhar mais aprofundado,
procurando sempre relacionar os acontecimentos datados da época. Nossa espécie, embora
ainda seja cercado de mistérios em seus primórdios, por outro lado, guarda consigo uma série de
registros, que nos dão uma visão melhor de tudo que ocorreu com as civilizações, desde que
passaram a registrar.

Por mais que existam muitos fatores, é inegável que os avanços da população tenham relação
direta com o avanço da agricultura e por mais que guerras, pestes e problemas de abastecimento,
tenham marcado as populações, o crescimento proporcionado pela melhoria nos sistemas
35

agrícolas atingiu níveis marcantes, que nos fazem, hoje ,observado os gráficos, perceber os
impactos destas melhorias na população mundial.

Inicialmente um crescimento lento, até que os sistemas agrícolas surgissem, e dali em diante a
população humana cresceu significativamente, com variações entre regiões, que enfrentaram em
certas oportunidades declíneos mas de uma forma geral, a população humana não parou mais
de crescer.

Figura 8-Variação da população Mundial ,disponível em "História das agriculturas no mundo. Do Neolítico à
crise contemporânea" Mazoyer 2008
36

Discussão: Na sua opinião a pobreza e a fome, são relacionadas a produção de alimentos ou a


má distribuição? Como acabar com a fome?

Cabe aos países pobres diminuir sua taxa de natalidade para conter a fome?
37

CONFERÊNCIAS MUNDIAIS ECOLÓGICAS

O século XX

O século XX foi um período muito conturbado para toda a humanidade. No início do século se
acreditava que seria um período de avanços, sobretudo pela expansão da mecanização, dos
automóveis, da rede elétrica pelas cidades, Aviões, navios. Nos campos das artes, as telas de
cinema encantavam o mundo, e tratavam de exibi-lo de uma forma melhor. No campo científico
a ciência avançaria demais, com grandes nomes surgindo ao longo de todo século. A escravidão
já extinta em todo o globo indicava que nossos tempos estavam surgindo. Era o que todos
pensavam.

Porém o século ainda teria consigo uma série de adversidades, de pequenos conflitos a guerras
globais, levando pobreza e destruição por toda parte. Ditaduras surgiram, doenças se espalharam
e a fome no mundo não só não foi resolvida, como virou tema central em muitas regiões. A
organização a nível global melhorou e alguns setores da sociedade, conforme tinham mais
acesso a comunicação, buscaram mostrar uma maior preocupação com muitos temas sociais,
relacionados a religião, racismo e pobreza.

Até meados do século, já haviam ocorrido duas guerras mundiais, além de um período entre
guerras marcado por conflitos políticos e crises econômicas, como a “grande depressão” (1929),
a expansão do fascismo na Europa, entre outros fatores, que iriam resultar em uma série de
ascensões, que mudariam drasticamente o cenário mundial.

O cenário pós guerra era marcado por uma Europa destruída, necessitando se reerguer, e no
meio disso tudo uma polarização entre EUA X URSS, fazendo uso de um embate ideológico,
sobre Comunismo X capitalismo.

Os países necessitavam se reconstruir e com isso o investimento na urbanização e na indústria


ocorria a todo vapor. Os países subdesenvolvidos, embora tenham começado tardiamente,
estavam buscando se industrializar e tentar ocupar seu espaço no mercado O próprio Brasil
estava em pleno aquecimento da industrialização, com uma série de governos marcados por uma
característica de desenvolvimento nacional, pautado na indústria como base.

Todo esse investimento na reconstrução dos países, somado as tecnologias que surgiram no
século, tiveram como resultado um aumento da pressão sobre os recursos naturais, o que
começaria a acarretar em problemas mais graves.

Durante as guerras, já houve um forte impacto no meio ambiente como um todo. Florestas
incendiadas pelos conflitos ou suprimidas para obtenção de matéria prima. Extração de
38

combustíveis fósseis incrementando a fabricação de novas armas para abastecer a guerra. Rios
contaminados, cidades destruídas, entre outros impactos diretos que as guerras tinham sobre o
meio ambiente.

Após o período de guerra a pressão continuaria. O crescimento a todo custo teria um alto preço
e conforme o poder destrutivo do ser humano aumentasse, caso não houvesse uma preocupação
com a conservação dos ecossistemas, não seria possível garantir que as próximas gerações
tivessem acesso aos recursos da mesma forma. Esse déficit a longo prazo culminaria em um
momento de colapso, que embora tivesse sido previsto anos antes, em figuras mais
conservadoras como Malthus, foram deixados de lado, visto o crescimento tecnológico. A
discussão iria voltar a acontecer, e assim como ela, os mesmos argumentos seriam recolocados,
e por todos os lados.

Embora a década de 70 seja um marco pelos eventos que vamos ver a seguir, ela não foi
exatamente aonde tudo começou. O movimento ambiental como um todo é recente, porém a
preocupação com os recursos ambientais e como a população vai lidar com a sua escassez é algo
mais antigo. O pastor Thomas Malthus teve uma contribuição bastante significativa no campo
da ecologia ao questionar o crescimento da população humana com o crescimento da produção
de alimentos. O questionamento era válido pelo cenário que o pastor se encontrava, e como
resposta a ele, foi então levantada a hipótese do crescimento humano como algo nocivo ao
planeta e que deveria haver um limite na expansão do ser humano.

Existe todo um debate social sobre essa discussão, que não pode ser retirado do debate
ecológico. Para a felicidade geral, as projeções do pastor não tinham em mente dos avanços
tecnológicos que estariam por vir, na produção de alimentos, que ocorrendo em escala mundial,
se somados, teriam como resultado, uma produção alimentícia ainda maior.

É importante citar que a população mundial também não cresceu em um ritmo como era
esperado, e isso favoreceu para que as previsões não estivessem corretas. Até existe um debate
se o colapso que era previsto, realmente ocorreu em alguns lugares, porém a questão prevista
era em escala mundial e isso de fato nunca ocorreu.

Dando um salto no tempo, alguns estudiosos começaram a olhar para a forma como o seres
humanos exploravam os recursos naturais, identificando muitas atividades insustentáveis e
conforme os impactos foram sendo sentidos, ficava cada vez mais nítido que as ações antrópicas
estavam alterando os ecossistemas, a partir do momento que estavam ultrapassando os limites
que a natureza cedia para poder se restabelecer. Se o Homem estava se tornando mais social e
estudioso, não iria demorar muito para que percebesse que suas ações estavam o levando à um
caminho perigoso, e talvez sem volta.

Rachel Carson ao escrever “Primavera Silenciosa” na década de 60 chamava a atenção de todos


para o uso dos agrotóxicos nas plantações e como isso afetava não só a flora e fauna, mas
também as pessoas que aplicavam e consumiam. O uso de agrotóxicos, ou melhor, defensivos
agrícolas intensificou no pós guerra, com a adaptação da indústria de guerra, agora se
transformando em uma indústria agrícola, onde tanques se tornaram tratores, e agente biológicos
usados em guerra, sendo adaptados para uso de controle de ervas daninhas.

O estudo e o livro embora tenham sido alvo de boicotes por parte das industrias, serviu de base
para uma série de estudos posteriores, que consolidaram os perigos dos compostos químicos
presentes nos agrotóxicos sobre as pessoas, e mesmo sob alvo de muitas críticas, continuam
39

operando, pelo alto retorno econômico que geram, mas agora estão sujeitos a uma legislação
mais rigorosa na aplicação, e venda dos produtos.

O aquecimento global já era algo presente em alguns estudos, embora não seja da forma que
ficou concebido depois. O estudos eram mais localizados e apenas observavam os efeitos em
diferentes locais, do aumento da temperatura dos mares, e o que isso acarretaria. A fauna e flora
dentro da sua riqueza biológicas se mostram como ótimos indicadores ambientais, e conforme
os avanços nos campos dos estudos e pesquisas científicas surgiam, era irrisório que mais
conhecimento era produzido e interligado. Aos poucos todos não estavam mais só vendo que as
mudanças estavam ocorrendo, mas sim provando as mudanças.

As novas descobertas no ramo da ecologia iam de confronto direto com os interesses industriais
e comerciais, de empresas e países. Não era simples apontar um problema ambiental, e
conforme surgiam questionamentos, estes eram sufocados, de todas as formas possíveis. Porém
o mundo caminhava em uma direção que estava cada vez mais difícil fechar os olhos para a
temática ambiental, e pro mais que a temática causasse preocupação em diversos países, as
nações que buscavam ampliar seu crescimento econômico viam nesse tema, um entrave para o
seu crescimento. Como veremos a seguir, enquanto os esforços eram espalhados e dispersos,
pouco se notavam os problemas em âmbito mundial, mas quando os maiores líderes mundiais
resolveram se reunir e discutir, além de impor sanções e metas, a situação mudou drasticamente,
mesmo que lentamente.

Os limites do crescimento

Foi então que na década de 70, um estudo encomendado pelo clube de Roma ( Fundado pelo
escocês Alexander King e o Italiano Peccei) intitulado “Os limites do crescimento” (Tradução
de “The Limits to Growth” ) iria mexer com todo o cenário mundial e da origem a um debate
mais universal voltado para o meio ambiente, cujo os objetivos seriam adequar os países a nova
realidade e estabelecer meios de se proteger o planeta, ou em tese, era essa a ideia original que
deveria ser seguida.

O clube de Roma foi fundado em 1968 pelo Italiano Aurélio Peccei e o escocês Alexander
King, que convocaram uma reunião na cidade de Roma, Itália (dai o nome do grupo) com
alguns cientistas europeus com intuito de discutir os desdobramentos das ações antrópicas em
relação ao meio ambiente. Segundo o próprio site oficial do Clube de Roma, a reunião a
princípio falhou em criar uma unidade, porém, serviu para poder reunir pessoas com o mesmo
propósito, e que dali em diante iriam trabalha juntos em uma mesma direção.

Site: https://www.clubofrome.org/about-us/

Um relatório foi encomendando pelo clube de Roma, a pesquisadores do “Massachusetts


Institute of Technology” com tradução livre de “Instituto de tecnologia de Massachusetts. O
relatório ficou intitulado de “Limites do crescimento” e rapidamente ganhou repercussão
mundial, obtendo milhões de cópias de impressão e uma tradução para mais de 10 idiomas.
40

O relatório trazia uma visão pessimista a respeito do crescimento da população e por meio de
modelos computacionais, mostrava que no ritmo que a população estava, e com as tecnologias
atuais, um colapso seria inevitável a longo prazo.

A princípio, a repercussão do estudo levantou a discussão a nível global dos efeitos das ações
antrópicas, sobre o meio ambiente, seno alvo de muita discussão, de que forma as nações
poderiam se ajustar a essa terrível previsão. A ideia de “crescimento zero” surgiu como uma
forma de frear o colapso eminente dos recursos naturais, porém ela seria muito discutida ainda
muito criticada pelas nações com objetivos totalmente contrários a esta ideia. Como veremos a
seguir as nações pouco seriam sensibilizadas por essa ideia de crescimento zero e deveria ser
buscada outras alternativas, mais convenientes com os objetivos de cada um.

Os desdobramentos da obra “Limites do Crescimento” irão refletir posteriormente na


Conferência de Estocolmo e nas demais e por meio de muitos jogos políticos, muitas bandeiras
serão levantadas. Como cada nação ira lidar com o cenário atual e como fazer para diminuir sua
contribuição para uma eventual catástrofe? Os modelos matemáticos estariam corretos? Seria
essa uma nova de revisar o pensamento de Malthus? A tecnologia não poderia intervir em prol
do meio ambiente?. São todas perguntas qe deveriam ser respondidas, nos bastidores ou não.

Conferência de Estocolmo

Como citado anteriormente, já havia preocupação com os recursos naturais frente a exploração
do Homem, porém ainda não havia um consenso de forma global, sobre esses efeitos, e muito
menos sobre quais medidas deveriam ser adotadas. Estudos anteriores já haviam alertado sobre
os efeitos da exploração por parte do Homem, como o da escritora Rachel Carson, porém é
preciso lembrar que na década de 70, a forma com que as informações circulavam era muito
mais restrita que hoje. Para efeitos de comparação, internet era algo inexistente, e a televisão,
como um dos principais veículos de comunicação, ainda caminhava pelo Brasil urbano, porque
no rural, era totalmente restrito. A pressão interna que as industrias faziam sobre a censura dos
estudos impediam qualquer circulação maior por rádios, como exemplo. Todos esses fatores
contribuíram para que por mais muitos tivessem levantado a voz sobre os impactos ambientais
causados pelo Homem, os seus gritos foram pouco ouvidos.

Mas dentro desse cenário, não haveria como censurar por muito tempo os efeitos que ocorriam,
afinal, eles estavam afetando a todos, a em pouco tempo caminhariam para algo talvez
irreversível. Aos poucos as nações começavam a dar mais atenção a questão ambiental, que teria
dentro da década de 70, um período de início de caminhada para diversas legislações
ambientais, como nos estados Unidos, por exemplo, com a sua “Constituição Ambiental”
assinada no início da década.

Foi então que em 1972, na Suécia, país desenvolvido, de boa qualidade de vida, que se reuniram
as grandes nações, para que seria conhecida como “A Conferência das Nações Unidas sobre o
Meio Ambiente”, cuja alcunha ficou como “Conferência de Estocolmo”, em alusão a cidade do
encontro, Estocolmo, capital da Suécia. A conferência não foi de fato o primeiro encontro sobre
a temática ambiental, visto que houveram antecedentes, incluindo encontros preparatórios para a
conferencia de Estocolmo, visando reunir e discutir sobre dados de diferentes pontos do planeta,
visando uma maior compreensão da temática ambiental.
41

Ao todo eram 113 países, contando com a presença das principais nações do Mundo, a exceção
da União Soviética, por motivos de Guerra fria Seria interessante ter visto a visão dela, visto
que tinha uma indústria altamente poluidora). O encontro global, logo se transformaria em um
debate entre países ricos X países pobres que teriam que entrar em acordo, visando a
manutenção dos recursos naturais pelo planeta.

A conferência foi marcada por um embate entre países com uma postura mais preservacionista,
estes em maioria, países “desenvolvidos” que atentavam aos perigos da exploração desenfreada,
e países com uma postura mais conservadora em relação a preservação ambiental, estes em
maioria, países em desenvolvimento, que relutavam em abrir mão de seu modelo de
crescimento, em detrimento da preservação dos recursos ambientais.

Dois pontos de discussão podem ser destacados sobre a conferência, sendo estes o Crescimento
populacional e o “Crescimento zero” que tratariam de dividir opiniões a respeito de suas raízes,
mas sobretudo, nas medidas que deveriam ser tomadas visando o controle de ambos os pontos
de discussão.

A respeito do Crescimento populacional foi debatido a explosão demográfica que o planeta


estava passando. Em 1900 a população Mundial era estimada em aproximadamente 1,5 Bilhão
de habitantes, sendo que em 2000 o número havia passado para 6 bilhões de habitantes,
crescendo então quatro vezes. Em 1950, 20 anos antes da Conferência, a população já estava em
2,5 bilhões, crescendo quase o dobro do quem em 1900 (Isso mesmo com as inúmeras
adversidades, como doenças, guerras e etc).

Embora o crescimento tenha sido significativo, ele não foi uniforme, sendo bastante desigual
entre regiões. Como citado anteriormente avanços na agricultura na Ásia somado com fatores
sociais e políticos resultaram em uma explosão demográfica. Para efeitos de comparação a
América do Sul e Caribe tinham por volta de 170 milhões de habitantes, enquanto que a Ásia já
tinha 1,4 bilhões, indicando uma alta disparidade. Na América do Norte, a população era um
pouco maior que 173 milhões, enquanto que na África, beirava os 230 milhões.

Esse crescimento na população mundial pode ser explicado por diversas maneiras. A
expectativa de vida praticamente dobrou em diversos países, além dos avanços na medicina e da
qualidade de vida das pessoas, proporcionando uma vida mais longa e mais fértil.

A visão Malthusiana logo voltou aos debates, sendo então posto em discussão, quanto que o
planeta suportaria de população humana e em quanto tempo haveria o chamado colapso.
Modelos matemáticos computacionais eram utilizados por cientistas, que visavam alertar toda
comunidade para um eminente final catastrófico caso não fosse tomada nenhuma atitude.
Estudos como “Limites do Crescimento” reforçavam essa ideia e eram usados como base para
sustentar hipóteses pessimistas sobre a capacidade do planeta de suportar a nossa espécie.

A defesa de políticas de natalidade não eram uma novidade e com o surgimento novamente
dessa corrente atentando ao crescimento populacional, elas voltariam a serem discutidas. Os
países pobres geralmente acabam levando a culpa sobre o crescimento descontrolado, sendo
orientados pelos ricos a controlarem melhor suas populações. Os países em desenvolvimento
embora estivessem com populações bem abaixo dos dias atuais, se encontravam na época em
pleno crescimento, e o próprio Brasil iria experimentar de uma explosão demográfica, com uma
mudança já citada (ler capitulo sobre industrialização no Brasil) sobre o cenário de populações
rurais e urbanas. O slogan do Tricampeonato Mundial de 70 intitulado “90 milhões em ação” já
42

indicava a população brasileira, e que no último censo (2010) alcançava a marca de mais 200
milhões de habitantes, demonstrando o rápido crescimento em um curto intervalo de tempo.

Muito se acreditava que a agricultura poderia evoluir para poder aumentar a produção de
alimentos, mas o aumento da população não implicava em só mais comida. Eram necessários
outros recursos também em um nível mínimo para a manutenção da vida e por isso não era
somente a agricultura que iria ter que expandir, mas todos os outros setores, se adequando
melhor a realidade. Era preciso também diminuir os impactos da própria tecnologia

Outro tema debatido, mas também relacionado com o anterior, era o de “crescimento zero”,
onde era discutido que para que o planeta pudesse se manter em condições estáveis, seria
necessário que os países limitassem o seu crescimento a níveis baixíssimos, o que certamente
não seria bem visto pelos países em pleno desenvolvimento e que eram maioria na cúpula.
Talvez seja esse o principal tema do encontro e que duraria por alguns anos até um ponto de
acordo fosse chego.

O primeiro ponto a discutir sobre a ideia de crescimento zero é sua inviabilidade no cenário
atual. O sociólogo e ecólogo Murray Bookchin ao final do século XX iria dizer “Pedir ao
Capitalismo que limite seu crescimento é como pedir à uma pessoa que pare de respirar” o que
se associa muito bem ao momento em que as nações foram apresentadas a ideia de crescimento
zero. As justificativas para a corrente eram sim justas mas sua execução seria totalmente
inviável dentro daquele modelo proposto pelo capitalismo.

Uma observação importante é que mesmo a URSS sendo um país de regime socialista, dentro
das competências ambientais, ela manteve um sistema similar ao capitalismo, por isso não seria
correto dizer que o modelo dela seria mais ecológico, afinal ele tão pouco era. Segundo alguns
autores a destruição massiva do meio ambiente é causada pelo capitalismo dentro da sua procura
pelo lucro, e o comunismo, oferecido pela URSS manteve o padrão da destruição e exploração
porque ele não se libertou da exploração sobre a natureza, então mesmo que o modelo
econômico e social mudasse, o destino seria o mesmo, pois a forma de exploração havia
perpetuado. É uma discussão longa e que em outros textos será retomado, devendo ficar aqui
somente o registro que o capitalismo é sim predador da natureza, mas que em outros modelos,
se não for arrancada a essência destruidora e conquistadora do ser humano sobre as outras
formas de vida, nada mudará. “Uma raça que explora si, inevitavelmente explorará as demais”.

O primeiro pilar da corrente de Crescimento zero era em relação as “tecnologias falhas”, termo
que associa as tecnologias como uma grande emissão de poluentes, sendo estas muitas vezes
incapazes de trazerem melhorias ao meio ambiente, e ao invés disso, deterioram suas condições
ainda mais. Com o aumento da industrialização, essa corrente ganhou força, visto que não
haviam muitas preocupações a respeito da emissão de fluentes e poluentes na Atmosfera. O
Brasil só irá consolidar leis relacionadas a resíduos, 40 anos depois, e mesmo com todas as
evidência, o aquecimento global ainda é questionado por uma parcela da comunidade científica,
o que demonstra que avanços na área ambiental são sempre curtos e quando existe sorte,
contínuos.

Obviamente houve uma resposta contrária a ideia de crescimento zero. Os países em


desenvolvimento, se colocaram em oposição ao proposto mas se colocaram dispostos a
dialogarem.
43

O Brasil teve um papel importante nesse debate. Internamente ele estava sob regime Militar e
enfrentando uma fase de amplo desenvolvimento econômico. A posição do governo brasileiro
foi contrária as ideias de crescimento zero, inclusive assumindo um papel de liderança sob os
demais países em desenvolvimento, que segundo ao autores, eram aproximadamente 77 dos 113
ali presentes. A postura já era esperada por todos e ficou ainda mais evidente quando o ministro
que liderava a comitiva disse “ Primeiro a gente cresce e depois cuida dos efeitos da poluição”
indicando ao mundo qual era a posição do Brasil em relação ao que havia sido feito.

A conferência em sí não obteve uma aceitação ampla sobre as medidas a serem tomadas, devido
aos inúmeros percalços já citados. Os países entraram em acordo com uma série de medidas,
mas a ideia de não crescer foi deixada de lado, ao menos momentaneamente. Os países
assinaram uma declaração se comprometendo à uma serie de medidas e com isso mais pautas
seriam levantadas como veremos a seguir

Muitos pontos não foram debatidos na conferência, porém essa reunião pioneira serviu de base
para encontros posteriores, além de alianças em prol do meio ambiente. Se o modelo de
crescimento não se adequava, era necessária a criação de um modelo que servisse tanto para o
crescimento quanto para a conservação dos recursos, e se isso não era possível, que alguém o
fizesse ser, da forma que fosse necessária. O sistema capitalista que viria a triunfar de vez sobre
o socialismo na Europa, não era compatível com o modelo de conservação debatido na
conferência e como os países ricos que estavam a frente, logo seriam propostas formas mais
adequadas com a atual conjuntura para serem impostas aos demais países.

A década de 70 ainda traria uma série de inovações, sobretudo a criação de mecanismos nas
legislações mundiais a respeito do meio ambiente. Aos poucos o mundo iria se voltar mais para
o tema.
44

Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano – 1972

Proclamações:
1) O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, o qual lhe
dá sustento material e lhe oferece oportunidade para desenvolver-se intelectual, moral,
social e espiritualmente. Em larga e tortuosa evolução da raça humana neste planeta
chegou-se a uma etapa em que, graças à rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o
homem adquiriu o poder de transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala sem
precedentes, tudo que o cerca. Os dois aspectos do meio ambiente humano, o natural e o
artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para o gozo dos direitos humanos
fundamentais, inclusive o direito à vida mesma.

2) A proteção e o melhoramento do meio ambiente humano é uma questão fundamental que


afeta o bem-estar dos povos e o desenvolvimento econômico do mundo inteiro, um desejo
urgente dos povos de todo o mundo e um dever de todos os governos.

3) O homem deve fazer constante avaliação de sua experiência e continuar descobrindo,


inventando, criando e progredindo. Hoje em dia, a capacidade do homem de transformar o
que o cerca, utilizada com discernimento, pode levar a todos os povos os benefícios do
desenvolvimento e oferecer-lhes a oportunidade de enobrecer sua existência. Aplicado
errônea e imprudentemente, o mesmo poder pode causar danos incalculáveis ao ser
humano e a seu meio ambiente. Em nosso redor vemos multiplicar-se as provas do dano
causado pelo homem em muitas regiões da terra, níveis perigosos de poluição da água, do
ar, da terra e dos seres vivos; grandes transtornos de equilíbrio ecológico da biosfera;
destruição e esgotamento de recursos insubstituíveis e graves deficiências, nocivas para a
saúde física, mental e social do homem, no meio ambiente por ele criado, especialmente
naquele em que vive e trabalha.

4) Nos países em desenvolvimento, a maioria dos problemas ambientais estão motivados


pelo subdesenvolvimento. Milhões de pessoas seguem vivendo muito abaixo dos níveis
mínimos necessários para uma existência humana digna, privada de alimentação e
vestuário, de habitação e educação, de condições de saúde e de higiene adequadas. Assim,
os países em desenvolvimento devem dirigir seus esforços para o desenvolvimento, tendo
presente suas prioridades e a necessidade de salvaguardar e melhorar o meio ambiente.
Com o mesmo fim, os países industrializados devem esforçar-se para reduzir a distância
que os separa dos países em desenvolvimento. Nos países industrializados, os problemas
ambientais estão geralmente relacionados com a industrialização e o desenvolvimento
tecnológico.

5) O crescimento natural da população coloca continuamente, problemas relativos à


preservação do meio ambiente, e devem-se adotar as normas e medidas apropriadas para
enfrentar esses problemas. De todas as coisas do mundo, os seres humanos são a mais
45

valiosa. Eles são os que promovem o progresso social, criam riqueza social, desenvolvem
a ciência e a tecnologia e, com seu árduo trabalho, transformam continuamente o meio
ambiente humano. Com o progresso social e os avanços da produção, da ciência e da
tecnologia, a capacidade do homem de melhorar o meio ambiente aumenta a cada dia que
passa.

6) Chegamos a um momento da história em que devemos orientar nossos atos em todo o


mundo com particular atenção às consequências que podem ter para o meio ambiente. Por
ignorância ou indiferença, podemos causar danos imensos e irreparáveis ao meio ambiente
da terra do qual dependem nossa vida e nosso bem-estar. Ao contrário, com um
conhecimento mais profundo e uma ação mais prudente, podemos conseguir para nós
mesmos e para nossa posteridade, condições melhores de vida, em um meio ambiente
mais de acordo com as necessidades e aspirações do homem. As perspectivas de elevar a
qualidade do meio ambiente e de criar uma vida satisfatória são grandes. É preciso
entusiasmo, mas, por outro lado, serenidade de ânimo, trabalho duro e sistemático. Para
chegar à plenitude de sua liberdade dentro da natureza, e, em harmonia com ela, o homem
deve aplicar seus conhecimentos para criar um meio ambiente melhor. A defesa e o
melhoramento do meio ambiente humano para as gerações presentes e futuras se
converteu na meta imperiosa da humanidade, que se deve perseguir, ao mesmo tempo em
que se mantém as metas fundamentais já estabelecidas, da paz e do desenvolvimento
econômico e social em todo o mundo, e em conformidade com elas.

7) Para se chegar a esta meta será necessário que cidadãos e comunidades, empresas e
instituições, em todos os planos, aceitem as responsabilidades que possuem e que todos
eles participem equitativamente, nesse esforço comum. Homens de toda condição e
organizações de diferentes tipos plasmarão o meio ambiente do futuro, integrando seus
próprios valores e a soma de suas atividades. As administrações locais e nacionais, e suas
respectivas jurisdições são as responsáveis pela maior parte do estabelecimento de normas
e aplicações de medidas em grande escala sobre o meio ambiente. Também se requer a
cooperação internacional com o fim de conseguir recursos que ajudem aos países em
desenvolvimento a cumprir sua parte nesta esfera. Há um número cada vez maior de
problemas relativos ao meio ambiente que, por ser de alcance regional ou mundial ou por
repercutir no âmbito internacional comum, exigem uma ampla colaboração entre as nações
e a adoção de medidas para as organizações internacionais, no interesse de todos. A
Conferência encarece aos governos e aos povos que unam esforços para preservar e
melhorar o meio ambiente humano em benefício do homem e de sua posteridade.

Princípios
Princípio 1

O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida


adequadas em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna e gozar
46

de bemestar, tendo a solene obrigação de proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações
presentes e futuras. A este respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o apartheid, a
segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de opressão e de
dominação estrangeira são condenadas e devem ser eliminadas.

Princípio 2

Os recursos naturais da terra incluídos o ar, a água, a terra, a flora e a fauna e especialmente
amostras representativas dos ecossistemas naturais devem ser preservados em benefício das
gerações presentes e futuras, mediante uma cuidadosa planificação ou ordenamento.

Princípio 3

Deve-se manter, e sempre que possível, restaurar ou melhorar a capacidade da terra em produzir
recursos vitais renováveis.

Princípios 4

O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrar judiciosamente o


patrimônio da flora e da fauna silvestres e seu habitat, que se encontram atualmente, em grave
perigo, devido a uma combinação de fatores adversos. Consequentemente, ao planificar o
desenvolvimento econômico deve-se atribuir importância à conservação da natureza, incluídas a
flora e a fauna silvestres.

Princípio 5

Os recursos não renováveis da terra devem empregar-se de forma que se evite o perigo de seu
futuro esgotamento e se assegure que toda a humanidade compartilhe dos benefícios de sua
utilização.

Princípio 6

Deve-se por fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais que liberam calor, em
quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não possa neutralizá-los, para que não
se causem danos graves e irreparáveis aos ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos
de todos os países contra a poluição.

Princípio 7

Os Estados deverão tomar todas as medidas possíveis para impedir a poluição dos mares por
substâncias que possam por em perigo a saúde do homem, os recursos vivos e a vida marinha,
menosprezar as possibilidades de derramamento ou impedir outras utilizações legítimas do mar.

Princípio 8

O desenvolvimento econômico e social é indispensável para assegurar ao homem um ambiente


de vida e trabalho favorável e para criar na terra as condições necessárias de melhoria da
qualidade de vida.
47

Princípio 9

As deficiências do meio ambiente originárias das condições de subdesenvolvimento e os


desastres naturais colocam graves problemas. A melhor maneira de saná-los está no
desenvolvimento acelerado, mediante a transferência de quantidades consideráveis de
assistência financeira e tecnológica que complementem os esforços internos dos países em
desenvolvimento e a ajuda oportuna que possam requerer.

Princípio 10

Para os países em desenvolvimento, a estabilidade dos preços e a obtenção de ingressos


adequados dos produtos básicos e de matérias primas são elementos essenciais para o
ordenamento do meio ambiente, já que há de se Ter em conta os fatores econômicos e os
processos ecológicos.

Princípio 11

As políticas ambientais de todos os Estados deveriam estar encaminhadas para aumentar o


potencial de crescimento atual ou futuro dos países em desenvolvimento e não deveriam
restringir esse potencial nem colocar obstáculos à conquista de melhores condições de vida para
todos. Os Estados e as organizações internacionais deveriam tomar disposições pertinentes, com
vistas a chegar a um acordo, para se poder enfrentar as consequências econômicas que poderiam
resultar da aplicação de medidas ambientais, nos planos nacional e internacional.

Princípio 12

Recursos deveriam ser destinados para a preservação e melhoramento do meio ambiente tendo
em conta as circunstâncias e as necessidades especiais dos países em desenvolvimento e gastos
que pudessem originar a inclusão de medidas de conservação do meio ambiente em seus planos
de desenvolvimento, bem como a necessidade de oferecerlhes, quando solicitado, mais
assistência técnica e financeira internacional com este fim.

Princípio 13

Com o fim de se conseguir um ordenamento mais racional dos recursos e melhorar assim as
condições ambientais, os Estados deveriam adotar um enfoque integrado e coordenado de
planejamento de seu desenvolvimento, de modo a que fique assegurada a compatibilidade entre
o desenvolvimento e a necessidade de proteger e melhorar o meio ambiente humano em
benefício de sua população.

Princípio 14

O planejamento racional constitui um instrumento indispensável para conciliar às diferenças que


possam surgir entre as exigências do desenvolvimento e a necessidade de proteger y melhorar o
meio ambiente.

Princípio 15

Deve-se aplicar o planejamento aos assentamentos humanos e à urbanização com vistas a evitar
repercussões prejudiciais sobre o meio ambiente e a obter os máximos benefícios sociais,
48

econômicos e ambientais para todos. A este respeito devem-se abandonar os projetos destinados
à dominação colonialista e racista.

Princípio 16

Nas regiões onde exista o risco de que a taxa de crescimento demográfico ou as concentrações
excessivas de população prejudiquem o meio ambiente ou o desenvolvimento, ou onde, a baixa
densidade d4e população possa impedir o melhoramento do meio ambiente humano e limitar o
desenvolvimento, deveriam se aplicadas políticas demográficas que respeitassem os direitos
humanos fundamentais e contassem com a aprovação dos governos interessados.

Princípio 17

Deve-se confiar às instituições nacionais competentes a tarefa de planejar, administrar ou


controlar a utilização dos recursos ambientais dos estado, com o fim de melhorar a qualidade do
meio ambiente.

Princípio 18

Como parte de sua contribuição ao desenvolvimento econômico e social deve-se utilizar a


ciência e a tecnologia para descobrir, evitar e combater os riscos que ameaçam o meio ambiente,
para solucionar os problemas ambientais e para o bem comum da humanidade.

Princípio 19

É indispensável um esforço para a educação em questões ambientais,dirigida tanto às gerações


jovens como aos adultos e que preste a devida atenção ao setor da população menos
privilegiado, para fundamentar as bases de uma opinião pública bem informada, e de uma
conduta dos indivíduos, das empresas e das coletividades inspirada no sentido de sua
responsabilidade sobre a proteção e melhoramento do meio ambiente em toda sua dimensão
humana. É igualmente essencial que os meios de comunicação de massas evitem contribuir para
a deterioração do meio ambiente humano e, ao contrário, difundam informação de caráter
educativo sobre a necessidade de protegê-lo e melhorá-lo, a fim de que o homem possa
desenvolver-se em todos osaspectos.

Princípio 20

Devem-se fomentar em todos os países, especialmente nos países em desenvolvimento, a


pesquisa e o desenvolvimento científicos referentes aos problemas ambientais, tanto nacionais
como multinacionais. Neste caso, o livre intercâmbio de informação científica atualizada e de
experiência sobre a transferência deve ser objeto de apoio e de assistência, a fim de facilitar a
solução dos problemas ambientais. As tecnologias ambientais devem ser postas à disposição dos
países em desenvolvimento de forma a favorecer sua ampla difusão, sem que constituam uma
carga econômica para esses países.

Princípio 21

Em conformidade com a Carta das Nações Unidas e com os princípios de direito internacional,
os Estados têm o direito soberano de explorar seus próprios recursos em aplicação de sua
própria política ambiental e a obrigação de assegurar-se de que as atividades que se levem a
cabo, dentro de sua jurisdição, ou sob seu controle, não prejudiquem o meio ambiente de outros
Estados ou de zonas situadas fora de toda jurisdição nacional.
49

Princípio 22

Os Estados devem cooperar para continuar desenvolvendo o direito internacional no que se


refere à responsabilidade e à indenização às vítimas da poluição e de outros danos ambientais
que as atividades realizadas dentro da jurisdição ou sob o controle de tais Estados causem a
zonas fora de sua jurisdição.

Princípio 23

Sem prejuízo dos critérios de consenso da comunidade internacional e das normas que deverão
ser definidas a nível nacional, em todos os casos será indispensável considerar os sistemas de
valores prevalecentes em cada país, e, a aplicabilidade de normas que, embora válidas para os
países mais avançados, possam ser inadequadas e de alto custo social para países em
desenvolvimento.

Princípio 24

Todos os países, grandes e pequenos, devem ocupar-se com espírito e cooperação e em pé de


igualdade das questões internacionais relativas à proteção e melhoramento do meio ambiente. É
indispensável cooperar para controlar, evitar, reduzir e eliminar eficazmente os efeitos
prejudiciais que as atividades que se realizem em qualquer esfera, possam Ter para o meio
ambiente, mediante acordos multilaterais ou bilaterais, ou por outros meios apropriados,
respeitados a soberania e os interesses de todos os estados.

Princípio 25

Os Estados devem assegurar-se de que as organizações internacionais realizem um trabalho


coordenado, eficaz e dinâmico na conservação e no melhoramento do meio ambiente.

Princípio 26

É preciso livrar o homem e seu meio ambiente dos efeitos das armas nucleares e de todos os
demais meios de destruição em massa. Os Estados devem-se esforçar para chegar logo a um
acordo – nos órgãos internacionais pertinentes - sobre a eliminação e a destruição completa de
tais armas.

Nosso futuro comum

A década de 70, como discutido anteriormente, foi um período de mudanças. A conferência de


Estocolmo, embora tenha falhado em guiar todas as nações por uma única direção, serviu como
base para mostrar que uma organização é possível e partir dela, criar um direcionamento comum
visando a proteção dos recursos naturais. Os países, mesmo tendo divergências se
comprometeram com uma série de medidas como visto anteriormente na Declaração de
Estocolmo sobre meio ambiente.

Porém a ideia de diminuir o crescimento ou até “Crescimento zero” ainda não tinha sido
assimilada e sequer aceita, principalmente pelos países em desenvolvimento, por isso ainda era
50

necessário adequar um modelo de conservação que fosse mais equalizado com o


desenvolvimento da economia, embora a princípio essa ideia fosse questionada.

Ao longo dos próximos anos, importantes instrumentos ambientais seriam criados, através de
legislações mais específicas com a temática ambiental em foco. Nos EUA, logo no início da
década a “Constituição Ambiental “seria criada e com ela importantes medidas seriam incluídas
sobretudo no licenciamento de atividades poluidoras por parte do Estado. O licenciamento de
atividades poluidoras seria um instrumento a ser criado, modificado e adaptado em cada país,
dentro deu seus limites, e se provaria como um dos mais importantes instrumentos no que diz
respeito a conservação de recursos naturais.

Por meio dele o estado iria avaliar e checar se um empreendimento oferece perigo ao meio
ambiente e se sim, como esse perigo seria sanado. É um início promissor por parte das
legislações mundo a fora, sendo um reflexo das diversas catástrofes ambientais que tinham
ocorrido ao longo da história e não poderiam mais ser facilmente aceitadas. Estavam surgindo
as Avaliações de Impactos Ambientais.

Dentro desse cenário de crescimento, já na década de 80 o Brasil passava por um período


turbulento, com o final do governo militar, com o país em crise e com uma postura de
industrialização menos intensiva que nos anos anteriores, No campo embora o cenário da
população tenha se invertido, já não havia um crescimento acentuado da industrialização
agrária, visto que a política de crédito rural por parte do regime militar recuava e já erma
observados fortes traços da concentração fundiária que ela acabou impulsionando.

A extensão rural no Brasil tentava balancear esse cenário, oferecendo ao pequeno produto os
acessos a tecnologia e consultoria sobre suas atividades, o que facilitou o crescimento da
qualidade de vida de muitos produtores, embora uma série de problemas também fosse notada.

Foi nesse cenário, ao final da década de 80, surgiu o documento Nosso futuro Comum “Our
future common” ou então Relatório Brundtland, em alusão a coordenadora do evento, a ex
primeira ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland.

O relatório foi elaborado pela “Comissão Mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento”
presidido pela Gro Harlem Brundtland e que tinha na sua comissão ao todo 20 membros,
incluindo o Brasileiro Paulo Nogueira Neto, que ocupara durante o período do regime militar
um cargo equivalente ao de Ministro do meio ambiente.

Uma série de medidas e definições foram apontadas pelo relatório, para conseguir resolver os
problemas ambientais pelo Mundo. Sem adentrar muito nos méritos do documento e tendo
como base o momento da época, o conceito de “Desenvolvimento Sustentável” era então
apresentado de forma clara, podendo ser definido como “Desenvolver economicamente de
forma que os recursos sejam mantidos para as gerações posteriores”.

Logo de cara é possível observar algumas mudanças em relação aos conceitos anteriores,
sobretudo os do “Limites do crescimento” o qual muitos se baseavam no início das reuniões.
Agora não seria mais preciso para o crescimento, mas sim adequar ele, o que era de certa forma
muito mais propenso a ser aceito pelos países de uma forma geral.

A tecnologia, que antes era vista como um mau, trazendo destruição e degradação, agora seria a
maior aliada, pois é a partir dela que o desenvolvimento das nações seria sustentado de forma a
não prejudicar o meio ambiente. Seriam através de medidas tecnológicas, que os recursos
51

seriam melhor aproveitados, e reutilizados, gerando assim menos desperdício e menos impactos
sobre os ecossistemas.

O crescimento dos países seria estimulado por esse novo modelo ecológico e não mais barrado,
como antes era proposto. Os índices sociais, relacionados com a degradação ambiental, estavam
agora sob um olhar mais intenso da Comissão e seriam usados como parâmetros, partindo da
ideia que países pobres tendem a destruir mais seus recursos.

A princípio parece uma ótima ideia e que enfim os problemas estariam resolvidos, porém é
preciso ter em mente que as tecnologias precisavam ser aperfeiçoadas e que os Estados
necessitam ter um rigor maior quanto ao cumprimento de normas ambientais visando um maior
controle sobre o uso dos recursos naturais, o que implicaria em embates entre o setor privado e
o estado, e que causariam uma série de disputas políticas, por leis mais flexíveis, menos
rigorosas e etc.

O Desenvolvimento sustentável seria efetivado em seguida, no Rio de Janeiro, mas o seu


surgimento em sí já era uma alternativa necessária ao desenvolvimento do capitalismo, que
agora poderia continuar a se desenvolver, mesmo que com ressalvas pelos países no mundo.
Muitas críticas foram feitas ao desenvolvimento sustentável, sobretudo na sua estrutura, que não
previa mecanismos de melhora efetiva nos índices sociais, além de não questionar uma série de
incoerências do capitalismo em si, que não permitiam a conservação dos recursos naturais.

O desenvolvimento sustentável apresenta uma série de incoerências e para alguns autores, são
essas incoerências que o mantem vivo.

Observação: Não irei abordar mais a fundo aqui este tema, por não achar pertinente a este
material, porém certamente serão feitos melhores avaliações sobre em outras obras. É uma
tema muito extenso e controverso.

Tiver interesse escrever para rodrigo_filardi@hotmail.com

Rio-92

Contribuição: Raysa Tavares

Com o tempo as discussões a respeito de questões ambientais ganharam mais visibilidade após a
conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio-92. A partir
dessa conferência a discussão sobre os impactos ambientais ganhou atenção da sociedade
internacional, se popularizou e conquistou muitos interessados nessa temática ambiental. Desde
então criou-se a busca de mecanismos que atenuem a pressão que a sociedade exerce sobre o
meio ambiente de modo a minimizar as alterações no sistema climático da Terra, assim garantir
52

a sobrevivência e a existência de recursos naturais. Com a Rio+20 a discussão de conciliar


desenvolvimento com proteção do meio ambiente é retomada. Várias alternativas para o
enfrentamento das alterações no clima foram debatidas durante a Rio+20 e em outras
conferências similares. Como estabelecer metas para emissão de gases de efeito estufa, criação
de mecanismos de Desenvolvimento Limpo e a consequente criação de um mercado de carbono
são exemplos de propostas que visam ao menos tentar atenuar as mudanças climáticas que já
estão em curso, por estratégias econômicas. (SIQUEIRA et al, 2012).

É importante destacar que o problema da poluição foi abordado em dois itens da Declaração das
Nações Unidas sobre o Meio Ambiente:

Deve-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outras matérias e a liberação de calor
em quantidades ou concentrações tais que possam ser neutralizadas pelo meio ambientes, de
modo a evitarem-se danos graves e irreparáveis aos ecossistemas. Deve ser apoiada a justa luta
de todos os povos contra a poluição. (Nascimento e Silva, 1995:163) apd. RIBEIRO 2005.

Os países deverão adotar todas as medidas possíveis para impedir a poluição dos mares por
substancias que possam pôr em perigo a saúde do homem, prejudicar os recursos vivos e a vida
marinha, causar danos às possibilidades recreativas ou interferir em outros usos legítimos do
mar.(Nascimento e Silva, 1995:163) apd. RIBEIRO 2005.

Segundo Gonçalves (2002), em seu livro os descaminhos do meio ambiente. O autor


afirma que o movimento ecológico está na “moda”. Porém, o autor atenta para a questão das
condições histórico-culturais das quais emerge o movimento ecológico tanto no Brasil como no
mundo. Para o autor, o modo como à sociedade ocidental construiu o seu conceito de natureza é
ponto fundamental da obra, quando o mesmo nos traz reflexões a respeito do movimento
ecológico, como já havia dito anteriormente como um movimento de caráter politico-cultural,
nos mostrando que cada povo/cultura constrói seu conceito de natureza ao mesmo tempo a suas
relações sociais.

A partir da década de 1960 o mundo assistirá um crescimento de movimentos que não


criticavam exclusivamente o modo de produção, mas, fundamentalmente, o modo de vida.
Durante a década de 1960 surgiram vários movimentos, como os das mulheres, dos negros, e
claro o movimento ecológico. Contudo, foi a partir do movimento ecológico que inúmeros
questionamentos surgiram, inúmeras preocupações no âmbito ambiental começaram a ser
discutidas e pensadas a nível internacional. (GONÇALVES, 2002)
53

REFERÊNCIAS:

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. Os descaminhos do meio ambiente. São Paulo:


Contexto, 2002. 148 p.

RIBEIRO, Wagner Costa. A ordem ambiental internacional. São Paulo: Contexto


Acadêmica, 2005. 176 p.

SIQUEIRA, Monica Maria; MORAES, Maria Silvia de. Saúde Coletiva Resíduos
Urbanos e os Catadores de lixo. Ciência e Saúde Coletiva, São Jose do Rio Preto, p.1-9,
2012
54

MEIO AMBIENTE E BRASIL

A constituição federal e o meio ambiente

A constituição federal, em seu artigo 225, deixa claro que “Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Pressuposto isso , temos então o direito
garantido de acesso a à um meio ambiente Ecologicamente equilibrado. Para que esse direito
seja garantido, a Constituição Federal definiu os deveres do poder público perante a
conservação do meio ambiente É nesse momento que são citados os estudos de impactos
ambientais para atividades potencialmente poluidoras. A seguir tem o artigo 225 em sua integra
com comentários a respeito dos estudos de Impactos Ambientais.

“§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das


espécies e ecossistemas;

II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as


entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a


serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de
lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de


significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade

Comentário: Nesse trecho é evidenciada a necessidade de se ter o estudo de Impactos


Ambientais das atividades potencialmente poluidoras, sendo ainda necessário dar transparência
sobre o processo.

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias


que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente
55

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública


para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco
sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

§ 2º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente
degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da
lei.

Comentário: Além de necessitar do Estudo de Impacto, a Constituição aqui chama atenção para
que o responsável por explorações minerais e consequentemente, degradações ambientais, deve
recuperar o meio ambiente.

§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores,


pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da
obrigação de reparar os danos causados.

§ 4º A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-


Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da
lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao
uso dos recursos naturais

§ 5º São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações


discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais.

§ 6º As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei
federal, sem o que não poderão ser instaladas.

§ 7º Para fins do disposto na parte final do inciso VII do § 1º deste artigo, não se consideram
cruéis as práticas desportivas que utilizem animais, desde que sejam manifestações culturais,
conforme o § 1º do art. 215 desta Constituição Federal, registradas como bem de natureza
imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro, devendo ser regulamentadas por lei
específica que assegure o bem-estar dos animais envolvidos.”

Lendo todo o artigo 225º podemos perceber o caráter conservacionista da constituição, que
tenta equilibrar o desenvolvimento nacional com a conservação do meio ambiente. Esta
tentativa de conciliação é presente no conceito de Desenvolvimento Sustentável, que surgiu
ainda na década de 80.
56

Se antes a natureza era vista como um impecílio para o desenvolvimento nacional, agora
ela está alinhada aos interesses de crescimento, através não só de políticas, mas tambem
tecnologias verdes que promovem tanto o desenvolvimento nacional, quanto a preservação
ambiental. Em 1987 a comissão Bruntdland definiu como “O desenvolvimento sustentável é o
desenvolvimento que encontra as necessidades atuais sem comprometer a habilidade das
futuras gerações de atender suas próprias necessidades”.

É preciso reiterar que o artigo 225 é o marco para a proteção ambiental no país e todas as
leis que vêm na sequência são para legitimar o nossos direito ao Meio Ambiente
Ecologicamente equilibrado

Conceitos de poluição

É preciso fazer a correta distinção a respeito dos diferentes conceitos, dentro do estudo de
impactos Ambientais. Embora possam existir semelhanças, legalmente existem diferenças
dentro dos conceitos de : Poluição, Impactos Ambientais, degradação entre outros. A correta
distinção dos conceitos é fundamental para uma avaliação de impactos ambientais eficientes.

A lei 9.638/81 (Política Nacional do Meio Ambiente) em seu artigo 3º traz a definição de
Meio Ambiente, degradação e poluição. Todos serão abordados com maior profundida. Em
relação ao meio ambiente, a definição é dada por

“meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,


química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas;”

Uma vez que a constituição Federal nos diz que todos tem direito a um Meio ambiente
ecologicamente equilibrado, é necessário trazer luz a definição do Meio ambiente e a partir dela
traçar todos os objetivos para cumprir esse direito. Diversas vezes o meio ambiente é resumido a
somente à um cenário, de ambiente natural, que abriga a flora e a fauna. Esse conceito embora
seja de senso comum, abrange em parcialidade o que é abordado na legislação. Um fato
interessante é o trecho “abriga e rege a vida em todas as suas formas” o que pode ser
interpretado como a inserção do ser humano nesse meio, como integrante do meio ambiente, o
que vai de confronto com uma corrente de pensamento que separa o homem da natureza, como
se ele fosse diferente dela, por todo seu desenvolvimento.

Questionamento: O Homem faz parte ou não do meio ambiente?

A PNMA define o termo poluição como:

“A degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente:

a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população;


b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas;
c) afetem desfavoravelmente a biota;
d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente;
e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos;”

É possível observar que a definição de poluição é muito abrangente, e envolve diretamente


a degradação da qualidade ambiental, demonstrando que a poluição causa um prejuízo ao meio
57

ambiente. E é justamente nesse prejuízo que a poluição pode ser desmembrada, relacionando ela
com o recurso natural que foi afetado, ex: Poluição sonora, Poluição aquática e etc.
Quando a PNMA traz a definição de degradação da qualidade ambiental, como “..a
alteração adversa das características do meio ambiente” o que gera confusão do termo com o
termo “Poluição” , sendo assim colocado como sinônimo, embora existam diferenças sutis na
forma com que os termos se apresentam.
Um equívoco muito recorrente é a junção do termo “Impacto Ambiental” como sinônimo
de “Poluição” porém quando abordado o conceito de Impactos ambientais, redigido pela
resolução Conama 001 é possível identificar as diferenças. Resolução Conama 001 – artigo 1º:

“...qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente,


causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que,
direta ou indiretamente, afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;


II - as atividades sociais e econômicas;
III - a biota;
IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
V - a qualidade dos recursos ambientais.”

Observando a definição de Impactos Ambientais, é possível notar que o termo Poluição


pode ser enquadrado como um impacto ambiental, porém nem todos os impactos ambientais são
enquadrados como poluição. O caráter a definição do termo “poluição” é muito abrangente,
porem mesmo assim é possível distinguir os termos. A geração de empregos por parte de um
empreendimento é um impacto ambiental e não se enquadra no conceito de poluição. Outra
diferença é que a poluição tem uma conotação negativa, e os impactos ambientais podem
apresentar tanto fatores positivos, quanto negativos.
Por isso é possível afirmar que a poluição é um impacto ambiental, mas nem todo impacto
ambiental é poluição.

A política nacional do meio ambiente

Para estabelecer as diretrizes gerais das políticas publicas ambientais, foi criada a lei
6.938/81 que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente .

O artigo 2º da referida lei enfatiza o objetivo da Política Nacional do Meio Ambiente


sendo: “Art 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,
melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no
País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional
e à proteção da dignidade da vida humana. ...”

Entre os instrumentos da Política Nacional do Meio ambiente (artigo 9º) vamos nos atentar
a dois deles, que são:
58

• Avaliação de Impactos Ambientais (AIA)


• O licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras

Estes dois instrumentos que vão guiar o Estudo de Impactos Ambientais. A avaliação de
Impactos Ambientais é feita pelo proprietário do empreendimento potencialmente poluidor,
aonde através do EIA (Estudo de Impactos Ambientais) é elaborado um relatório, com todos os
impactos ambientais que serão gerados pelo empreendimento, seja na sua instalação, construção
ou na operação.

O licenciamento é o procedimento administrativo pelo qual o empreendimento


potencialmente poluidor deve passar para ter sua construção aprovada. É com o licenciamento
que a população tem a garantia que a empresa cumpriu com todas as suas obrigações ambientais
a respeito da instalação e operação. Cabe ao poder público atuar no licenciamento das atividades
. A avaliação de impactos ambientais é uma das etapas do licenciamento

Todos os impactos devem estar citado no EIA, e cabe ao poder público a fiscalização a
respeito do EIA citado. Além dos impactos, devem estar presentes tambem no Estudo, as
medidas compensatórias e mitigadoras dos impactos ambientais gerados.

É através do EIA, que chegamos ao RIMA (Relatório de Impacto Ambiental). O RIMA é o


EIA em uma linguagem mais acessível, para fazer jus a transparência de todo empreendimento.

EIA: Estudo de Impacto Ambiental, Relatório elaborado contendo todos os impactos positivos e
negativos que o empreendimento terá, além das medidas mitigadoras e compensatórias.

RIMA: Relatório de Estudo de Impacto Ambiental; Consiste basicamente em uma versão do


EIA , porem com uma linguagem mais acessível e didática

Conselho Nacional do Meio Ambiente

Conselho Nacional do Meio Ambiente. Criado a partir da lei 6.938/81 , o CONAMA é o


órgão consultivo e deliberativo do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio Ambiente). Sua
definição é dada pelo artigo 6º, parágrafo II da lei 6.938/81 “II - órgão consultivo e
deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de
assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas
governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua
competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente
equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida;”.

Ele estabelece mediante proposta do IBAMA normas e critérios para o licenciamento de


atividades efetiva ou potencialmente poluídoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado
59

pelo IBAMA. Tambem atua na realização de normas a respeito de controle de poluição de


veículos, aeronaves, além de estabelecer critérios para o controle e manutenção da qualidade do
meio ambiente. (artigo 8º. Lei 6.938) .O CONAMA é presidido pelo Ministro do Meio
Ambiente

A partir do decreto 9.806/19, o CONAMA passou a te ruma nova reformulação, diminuindo de


96 para 23 os seus membros.

• Ministro do Meio Ambiente (Presidente)


• Secretaria Executiva do MMA
• Presidência do Ibama

Um representante de cada um dos ministérios listados abaixo:

• Casa Civil da Presidência da República


• Ministério da Economia
• Ministério da Infraestrutura
• Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
• Ministério de Minas e Energia
• Ministério do Desenvolvimento Regional
• Secretaria de Governo da Presidência da República

• Um representante de cada uma das cinco regiões geográficas do País indicado pelos
governos estaduais
• Dois representantes de governos municipais, dentre as capitais dos Estados
• Quatro representantes de entidades ambientalistas de âmbito nacional
• Dois representantes de entidades empresariais (CNI, CNC, CNS, CNA e CNT)

Observação: Em 2019, através do decreto 9.806/19 altera o número de titulares do


CONAMA, alterando de 96 para 23 membros.
60

AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS

Introdução

No Brasil , a avaliação de Impactos Ambientais é um instrumento da Política Nacional do Meio


Ambiente ( PNMA) presente na lei 6.938/81. A avaliação consiste em um estudo realizado a fim
de se conhecer, prevenir ou se antecipar a um impacto ambiental que será gerado por um
determinado empreendimento. O AIA é um instrumento importante de gestão ambiental,
presente na maioria dos países, e sua criação foi reflexo do aumento da preocupação com os
recursos naturais do planeta, sobretudo após a metade do século XX.

Como veremos a seguir o AIA nasceu da necessidade de antecipar ou de conhecer melhor os


impactos ambientais gerados por empreendimentos de qualquer natureza. A incerteza de
determinados impactos ambientais não poderia ser usada como escudo por parte dos
empreendedores afim de resguardar a sua responsabilidade frente aos impactos gerados.

Como a avaliação é dada pelo empreendedor da atividade, cabe a ele apresentar os impactos que
serão gerados em todas as fases da instalação e operação do empreendimento. Qualquer impacto
posterior, apresentado ou não pelo empreendedor será de sua responsabilidade (responsabilidade
objetiva).

Não existe um roteiro pronto sobre como executar uma AIA e por isso existem diversos
métodos que tentam a sua maneirar caracterizar da melhor forma os impactos que serão gerados.
Existe ainda um diálogo sobre a forma com que os estudos são realizados, sejam eles de uma
forma mais superficial, fazendo uso apenas de listagens de elementos que serão afetados, como
lista de flora e fauna, e estudos mais aprofundados sobre a correlação dos impactos ambientais
dentro da natureza.

A abordagem mais superficial, fazendo uso de somente listas, não apresenta a dimensão real dos
impactos gerados pelo empreendimento, e uma vez que a natureza é um conjunto de
ecossistemas interligados, a apresentação de modificações em sua estrutura de forma isolada e
sem conexões, não demonstra de forma real os impactos que serão gerados por um determinado
empreendimento.

Se hoje o assunto é alvo de polêmica, principalmente pelo custo dos estudos, quando surgiu não
era diferente, havendo muita resistência como um todo a essa modalidade de estudo, sobretudo
na forma que ele deveria ser conduzido e avaliado. Como veremos a seguir existem muitos
interesses por trás de cada argumento.
61

Histórico

A avaliação de Impactos Ambientais, também chamada de AIA como um instrumento de


Gestão Ambiental , surgiu em sua primeira forma nos EUA com a aprovação no congresso
americano da “Constituição Ambiental Americana” ,através da “National Environmental Policy
Act” (NEPA) em dezembro de 1969, entrando em vigor no dia 1º de janeiro de 1970 . A NEPA
trazia uma série de mudanças dentro do território americano, sobretudo nas obras que envolviam
direta (agente responsável pelo empreendimento) ou indireta (agente fiscalizador) o governo
federal americano, além de fazer a criação do “Concil on Evironmetal Quality (CEQ)” ou em
português “Conselho de Qualidade Ambiental” .

O CEQ, formado por três membros, indicados estes pelo presidente americano e aprovados no
Senado, teria como função assegurar que a política do NEPA estivesse sendo realizada de forma
correta. O NEPA passou a ser compreendido melhor após sua proclamação, fazendo com que
em um primeiro momento, muitas dúvidas fossem geradas, por se tratar de uma política nova e
que trazia responsabilidade ao Estado para com os empreendimentos de caráter federal. Por se
tratar de uma lei com aplicação somente na esfera Federal, seu caráter passou a ser mais
relacionado com diretrizes e normas gerais, deixando aos estados americanos a função de
criação de suas leis para complementar as políticas ambientais federais, semelhante ao que
ocorre no Brasil hoje.

No mundo, houveram reflexos do NEPA, servindo de base para diversos países implementarem
suas políticas próprias, todos adaptados a sua realidade pessoal. Países com problemas
semelhantes aos EUA, sobretudo os desenvolvidos, tiveram mais facilidade na incorporação do
NEPA em suas legislações próprias. O modelo de exploração acelerado pós segunda Guerra
culminou em uma necessidade maior de preocupação a respeito da exploração dos recursos
naturais, e o pioneirismo dos EUA na formulação dessa política foi o gatilho para a
implementação o AIA como instrumento ao redor do Mundo.

Seguindo a lógica americana, ainda na década de 70, países desenvolvidos, com destaque para
Canadá (1973), Nova Zelândia (1973) Australia(1974) e França (1976) começaram a formular
políticas relativas a avaliação de impactos ambientais, passando por reformulações ao longo do
tempo conforme a aplicação da lei era moldada em suas características pessoais. O conselho de
Estocolmo(1972) teve um papel importante nessas reformulações, e embora ele fosse mais
centralizado na temática ambiental mundial, a Avaliação de Impactos Ambientais tinha relação
direta com as atividades exploratórias dentro dos países e consequentemente com a exportação
de recursos naturais, sendo assim um alvo indireto e reflexo dessas conferências. Até o final do
século ainda haveriam outros encontros e protocolos estabelecidos entre os países, o que geraria
diversas mudanças em suas políticas ambientais e para muitos destes, as leis que originaram
seus estudos de avaliação de Impactos Ambientais foram precursoras das leis ambientais, de
uma forma geral.

A preciso destacar que a princípio a Europa não absorveu bem a ideia de uma AIA, devido em
muito a situação dos países no pós guerra, alegando que as leis de AIA, poderiam evidenciar
uma excessiva burocracia que colocaria em risco o crescimento e soberania nacional dos países.
As discussões a respeito da exigência de Avaliação de Impactos Ambientais foram intensas,
sendo estendidas até 1985 com a União europeia formalizando uma normativa (Diretiva
85/337/EEC) a respeito da avaliação de estudo de impactos ambientais, em empreendimentos
62

públicos e privados. A França como citado anteriormente já havia aderido as leis de AIA, porém
esse pioneirismo foi explicado pela forma com que tudo ocorreu, sendo leis mais
descentralizadas e menos burocráticas e exigentes quanto a forma do estudo de impactos
ambientais, fazendo com que mesmo com resistências, a AIA fosse ser cobrada e fiscalizada.

Fora do âmbito governamental (mas ainda com uma relação direta) as organizações mundiais,
sobretudo os bancos de investimentos e desenvolvimento tiveram um papel crucial na difusão
do AIA ao redor das políticas ambientais. A partir da década de 80, muitos investimentos
passaram a ser questionados, se estariam financiando projetos que culminavam em prejuízos
ambientais aos países que recebiam o valor. Como resposta muitas organizações, como a OCDE
(Organização para Cooperação Desenvolvimento Econômico) elaboraram documentos que
passavam a cobrar estudos de impactos ambientais de seus integrantes.

Organizações não governamentais (ONG’s) também apresentaram um papel importante,


pressionando autoridades e organizações no que diz respeito a responsabilidade pelo dinheiro
investido, o que refletiu em uma política de crédito somada aos estudos de impactos ambientais,
em diversos países. Tais políticas são comuns até os dias de hoje e seguem sendo fiscalizadas
pelos bancos. Do ponto de vista dos doadores e investidores, ter a sua imagem ligada a um
processo de deterioração dos recursos ambientais era péssimo

Embora tardia, se comparada com os países industrializados, os países em desenvolvimento


passaram adotar as políticas de avaliação de impactos ambientais, muito em virtude das
exigências e pressões externas. A política ambiental avançava e era preciso se adequar a nova
realidade. Como resultado dessa nova política, muitos países passaram a receber recursos, a
medida que se adequavam e com isso houve uma consolidação das leis ambientais, até o final
do século XX

Obs: As leis citadas acima e suas datas são referentes a Avaliação de Impactos Ambientais,
sobretudo na sua exigência e não na criação de leis ambientais, que por si só já existiam,
embora com menor eficiência e embasamento científico.
63

Impactos Ambientais além das fronteiras

Um dos impasses que surgiu durante a formulação de políticas ambientais sobre a Avaliação de
Impactos Ambientais, foi em relação aos impactos que poderiam ser gerados através das
fronteiras.

Internamente era difícil difundir as ideias de AIA, esbarrando em setores mais conservacionistas
empresariais, preocupados com a burocratização dos procedimentos referentes aos
empreendimentos, além de próprios setores dos governos que temiam o freio do crescimento
econômico do país. A discussão sobre os impactos de forma externa as fronteiras ficou de lado
inicialmente e só seria incorporada conforme as ideias de AIA fossem mais dispersadas ao
longo do Mundo. Os EUA por terem uma política externa forte e uma ligação direta com
diversos bancos investidores tiveram que adentrar a esta discussão primeiramente, sendo um
caso do tribunal americano decidir que os EUA (governo federal) tinham responsabilidade sobre
os impactos gerados no exterior. A decisão serviu de base para implementar estudos e
discussões a respeito, o que iria acarretar em encontros Mundiais para tratar do assunto, uma
vez que as decisões políticas e ambientais sairiam dos domínios nacionais, esbarrando em
outros países. Em 1991 foi firmada a Convenção de Avaliação Ambienta, conhecida como
Convenção de Espoo, Finlândia, originando um tratado internacional, que entraria em vigor em
1997, onde estabeleceria que em relação aos impactos ambientais gerados em mais de um país:

• Notificação dos países que sofrerão os impactos


• Participação pública de todos os países envolvidos
• Um documento de Avaliação de Impactos Ambientais

As medidas eram pioneiras e ainda iriam esbarrar em diversas questões, quanto a


responsabilidade do estudo, da verificação das informações na participação dos países
envolvidos quanto ao veredito final do empreendimento. A cooperação evidente que seria
gerada, deveria na prática resultar em menos conflitos entre nações e internamente entre as
entidades públicas. Atualmente no Brasil a legislação implica que obras que afetem em caráter
mais de um estado e mais de um país ficam a cargo do órgão Federal (IBAMA) sendo a
participação de todos os setores envolvidos, indispensável durante a elaboração dos estudos de
impacto ambiental e posteriormente na audiência pública
64

AIA no Brasil

A Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) no Brasil, não surgiu oriundo de uma legislação
própria, que só viria a ser exigida dez anos depois. Na década de 70, o país estava em pleno
crescimento econômico e recebendo dinheiro do exterior para diversas obras no país, sobretudo
em regiões do Norte, visando o desenvolvimento da região. A postura do Brasil durante a
Conferência de Estocolmo (1972) foi conservadora quanto a preservação dos recursos naturais
em detrimento do crescimento econômico, por isso não seria esperado por parte do governo
brasileiro ações voltadas para a exigências de estudos de impactos ambientais, caso esses
refletissem no emperramento de obras e empreendimento nacionais. Diante do crescimento
brasileiro, sobretudo em infraestrutura e com a criação de rodovias, usinas hidrelétricas, foi se
formalizando um crescimento também do pensamento ecológico, que observava (dentro do
possível diante de um regime militar) a depredação dos recursos ambientais e ensaiava os
primeiros protestos formais.

Porém embora o país apontasse uma postura conservadora e cautelosa quanto a novos
instrumentos de avaliação de impactos ambientais, o cenário mundial estava se alterando, sendo
alguns financiadores externos sofrendo pressões locais por uma cobrança maior em cima da
aplicação e destinação dos seus recursos. Empreendimentos como Hidrelétricas, com alto aporte
financeiro exterior passaram a ser o centro dos primeiros estudos de impactos ambientais no
país.

Inicialmente esses estudos foram marcados pela subjetividade e simplicidade, servindo mais
como resposta a uma pressão interna (isso do ponto de vista dos investidores, que
encomendaram os estudos) do que com o real intuito de avaliar os impactos ambientais do
empreendimento. O estudo sobre a hidrelétrica de Tucuruí foi realizado já com ela em operação,
servindo apenas para identificar os impactos gerados pela usina, porém sem qualquer
aprofundamento.

Após alguns casos isolados de iniciativas estaduais (Rio de Janeiro e Minas Grais) a política de
avaliação de impactos ambientais foi se firmar somente com a criação da Política Nacional do
Meio Ambiente em 1981, através da lei 6.938/81. A lei se tornou um marco por fazer uma série
de definições quanto a competências, objetivos e instrumentos de politicas ambientais.

Ainda assim, haviam divergências quanto a estrutura dos estudos de impactos ambientais e
como seria feita a sua avaliação, sendo alvo de muito debate os custos e como isso iria
influenciar no crescimento do país, sobretudo em cada estado, que tinham maneiras diferentes
de enxergar o uso de seus recursos naturais. O Brasil entrava em um processo de
redemocratização e muitas mudanças políticas ocorriam. A criação da PNMA também criou o
Sistema Nacional do Meio Ambiente e os órgãos que faziam parte, assim como suas atribuições.
Dentro deles o órgão consultivo, CONAMA (Conselho nacional do meio ambiente) iria criar
forma e ao passar dos anos assumiria uma postura importante frente ao licenciamento ambiental
no país. Posteriormente em 1986 o CONAMA através de sua primeira resolução tratou de dar
mais luz aos Impactos Ambientais no país, estabelecendo inclusive critérios relativos aos
estudos dos impactos ambientais.
65

Regionalmente os Estados passaram a legislar dentro de seus limites sobre o licenciamento


ambiental das atividades poluidoras e dos empreendimentos, passando então a contar com os
AIA de forma obrigatória. Haviam algumas incertezas sobre a competência para legislar sobre o
licenciamento, muito em função de uma resolução CONAMA (237 – Licenciamento) que
atribuía essas competências, porém era questionada por estar na prática, “fazendo papel de lei”,
o que seria ilegal e toda essa discussão abria espaço para várias interpretações gerando
inseguranças jurídicas no país. A lei complementar número 140/2011 colocaria fim a essa
discussão, ou em tese, deveria.
66

POR DENTRO DO EIA/RIMA

Introdução

O Estudo de Impactos Ambientais (EIA) e o Relatório de Impactos Ambientais (RIMA)


consistem em um documento, elaborado por uma equipe multidisciplinar, a mando do
responsável do empreendimento que está caracterizado como atividade poluidora. Dentro da
legislação são abrangidos pela resolução Conama 001/1986 os quesitos que devem ser
preenchidos para a criação de um EIA/RIMA, servindo como base para que os responsáveis
possam elaborar o RIMA.

“Artigo 7º - O estudo de impacto ambiental será realizado por equipe multidisciplinar


habilitada, não dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto e que será
responsável tecnicamente pelos resultados apresentados.”

O artigo demonstra que a equipe contratada será responsável pelo documento elaborado, porém
não retira a responsabilidade civil do preponente do projeto, junto a ações de reparação, visto
dano ambiental

Em relação a estrutura do EIA/RIMA algumas considerações:

“Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em especial os


princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às
seguintes diretrizes gerais:

I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-as


com a hipótese de não execução do projeto;

II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de


implantação e operação da atividade;

III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos
impactos, denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia
hidrográfica na qual se localiza;

lV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área


de influência do projeto, e sua compatibilidade.

Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental o órgão estadual


competente, ou o IBAMA ou, quando couber, o Município, fixará as diretrizes adicionais que,
pelas peculiaridades do projeto e características ambientais da área, forem julgadas necessárias,
inclusive os prazos para conclusão e análise dos estudos.”

Através do EIA, serão levantados os recursos ambientais da região direta ou indiretamente


afetada, como recursos hídricos, solos e biológicos como fauna e flora. A caracterização correta
do meio ambiente é fundamental para se poder avaliar como o empreendimento afetará todo seu
entorno. Todo estudo de impactos ambientais começa com uma varredura bem elaborada da
área direta ou indiretamente afetada. Em relação aos impactos sobre a área de influência do
67

empreendimento, devem ser considerados momentos, antes, durante e após as operações do


empreendimento.

“Artigo 8º - Correrão por conta do proponente do projeto todas as despesas e custos referentes
á realização do estudo de impacto ambiental, tais como: coleta e aquisição dos dados e
informações, trabalhos e inspeções de campo, análises de laboratório, estudos técnicos e
científicos e acompanhamento e monitoramento dos impactos, elaboração do RIMA e
fornecimento de pelo menos 5 (cinco) cópias.”

“Artigo 9º - O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá as conclusões do estudo de


impacto ambiental e conterá, no mínimo:

I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas


setoriais, planos e programas governamentais;

II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para


cada um deles, nas fases de construção e operação a área de influência, as matérias primas, e
mão-de-obra, as fontes de energia, os processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes,
emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados;

III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência do
projeto;

IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade,


considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e
indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e
interpretação;

V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as


diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese de sua
não realização;

VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos
negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado;

VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;

VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de ordem


geral).

Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua
compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por
mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se
possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as conseqüências
ambientais de sua implementação”
68

Resolução CONAMA 001 /1986

Artigo 1º - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração das
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II - as atividades sociais e econômicas;

III - a biota;

IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

V - a qualidade dos recursos ambientais.

Para caracterização como um Impacto Ambiental, é necessário que seja oriunda de atividade
humana, sendo assim excluímos fenômenos da natureza.

Artigo 2º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo relatório de


impacto ambiental - RIMA, a serem submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e do
IBAMA e1n caráter supletivo, o licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente,
tais

como:

I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de rolamento;

II - Ferrovias;

III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos químicos;

IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48, do Decreto-Lei nº 32, de 18.11.66;

V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e emissários de esgotos sanitários;

VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de 230KV

O Artigo 2º lista uma série de empreendimentos que vão necessitar da elaboração do


EIA/RIMA. Vale se atentar a resoluções posteriores que podem excluir alguns
empreendimentos do processo de licenciamento.
69

Ainda no Artigo 2º é possível inferir que alguns empreendimentos estão isentos do


relatório de Impactos Ambientais, como Linhas de transmissões de energia elétrica abaixo de
230 KV e atividades que utilizem carvão vegetal em quantidade inferior a 10 toneladas ao dia.

Artigo 3º - Dependerá de elaboração de estudo de impacto ambiental e respectivo RIMA, a


serem submetidos à aprovação do IBAMA, o licenciamento de atividades que, por lei, seja de
competência federal.

Artigo 4º - Os órgãos ambientais competentes e os órgãos setoriais do SISNAMA deverão


compatibilizar os processos de licenciamento com as etapas de planejamento e implantação das
atividades modificadoras do meio Ambiente, respeitados os critérios e diretrizes estabelecidos
por esta Resolução e tendo por base a natureza o porte e as peculiaridades de cada atividade.

Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à legislação, em especial os


princípios e objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às
seguintes diretrizes gerais:

I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de localização de projeto, confrontando-as


com a hipótese de não execução do projeto;

II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos ambientais gerados nas fases de


implantação e operação da atividade;

III - Definir os limites da área geográfica a ser direta ou indiretamente afetada pelos impactos,
denominada área de influência do projeto, considerando, em todos os casos, a bacia hidrográfica
na qual se localiza;

lV - Considerar os planos e programas governamentais, propostos e em implantação na área de


influência do projeto, e sua compatibilidade.

Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental o órgão estadual


competente, ou o IBAMA ou, quando couber, o Município, fixará as diretrizes adicionais
que,pelas peculiaridades do projeto e características ambientais da área, forem julgadas
necessárias, inclusive os prazos para conclusão e análise dos estudos.

Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes atividades


técnicas:

I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto completa descrição e análise dos


recursos ambientais e suas interações, tal como existem, de modo a caracterizar a situação
ambiental da área, antes da implantação do projeto, considerando:

a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos minerais, a


topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d'água, o regime hidrológico, as correntes
marinhas, as correntes atmosféricas;

b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a flora, destacando as espécies


indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas de
extinção e as áreas de preservação permanente;

c) o meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os usos da água e a sócio-economia,


destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais da comunidade, as
70

relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e a potencial utilização


futura desses recursos.

II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas alternativas, através de


identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis impactos
relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e adversos), diretos e
indiretos, imediatos e a médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau de
reversibilidade; suas propriedades cumulativas e sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios
sociais.

III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os equipamentos
de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência de cada uma delas.

lV - Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento (os impactos positivos


e negativos, indicando os fatores e parâmetros a serem considerados.

Parágrafo Único - Ao determinar a execução do estudo de impacto Ambiental o órgão estadual


competente; ou o IBAMA ou quando couber, o Município fornecerá as instruções adicionais
que se fizerem necessárias, pelas peculiaridades do projeto e características ambientais da área.

Artigo 7º - O estudo de impacto ambiental será realizado por equipe multidisciplinar habilitada,
não dependente direta ou indiretamente do proponente do projeto e que será responsável
tecnicamente pelos resultados apresentados.

Artigo 8º - Correrão por conta do proponente do projeto todas as despesas e custos referentes á
realização do estudo de impacto ambiental, tais como: coleta e aquisição dos dados e
informações, trabalhos e inspeções de campo, análises de laboratório, estudos técnicos e
científicos e acompanhamento e monitoramento dos impactos, elaboração do RIMA e
fornecimento de pelo menos 5 (cinco) cópias,

Artigo 9º - O relatório de impacto ambiental - RIMA refletirá as conclusões do estudo de


impacto ambiental e conterá, no mínimo:

I - Os objetivos e justificativas do projeto, sua relação e compatibilidade com as políticas


setoriais, planos e programas governamentais;

II - A descrição do projeto e suas alternativas tecnológicas e locacionais, especificando para


cada um deles, nas fases de construção e operação a área de influência, as matérias primas, e
mãode-obra, as fontes de energia, os processos e técnica operacionais, os prováveis efluentes,
emissões, resíduos de energia, os empregos diretos e indiretos a serem gerados;

III - A síntese dos resultados dos estudos de diagnósticos ambiental da área de influência do
projeto;

IV - A descrição dos prováveis impactos ambientais da implantação e operação da atividade,


considerando o projeto, suas alternativas, os horizontes de tempo de incidência dos impactos e
indicando os métodos, técnicas e critérios adotados para sua identificação, quantificação e
interpretação;

V - A caracterização da qualidade ambiental futura da área de influência, comparando as


diferentes situações da adoção do projeto e suas alternativas, bem como com a hipótese de sua
não realização;
71

VI - A descrição do efeito esperado das medidas mitigadoras previstas em relação aos impactos
negativos, mencionando aqueles que não puderam ser evitados, e o grau de alteração esperado;

VII - O programa de acompanhamento e monitoramento dos impactos;

VIII - Recomendação quanto à alternativa mais favorável (conclusões e comentários de ordem


geral).

Parágrafo único - O RIMA deve ser apresentado de forma objetiva e adequada a sua
compreensão. As informações devem ser traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por
mapas, cartas, quadros, gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se
possam entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as conseqüências
ambientais de sua implementação.

Artigo 10 - O órgão estadual competente, ou o IBAMA ou, quando couber, o Município terá
um prazo para se manifestar de forma conclusiva sobre o RIMA apresentado.

Parágrafo único - O prazo a que se refere o caput deste artigo terá o seu termo inicial na data do
recebimento pelo estadual competente ou pela SEMA do estudo do impacto ambiental e seu
respectivo RIMA.

Artigo 11 - Respeitado o sigilo industrial, assim solicitando e demonstrando pelo interessado o


RIMA será acessível ao público. Suas cópias permanecerão à disposição dos interessados, nos
centros de documentação ou bibliotecas da SEMA e do estadual de controle ambiental
correspondente, inclusive o período de análise técnica,

§ 1º - Os órgãos públicos que manifestarem interesse, ou tiverem relação direta com o projeto,
receberão cópia do RIMA, para conhecimento e manifestação,

§ 2º - Ao determinar a execução do estudo de impacto ambiental e apresentação do RIMA, o


estadual competente ou o IBAMA ou, quando couber o Município, determinará o prazo para
recebimento dos comentários a serem feitos pelos órgãos públicos e demais interessados e,
sempre que julgar necessário, promoverá a realização de audiência pública para informação
sobre o projeto e seus impactos ambientais e discussão do RIMA.
72

Resolução CONAMA Nº 237

Resolução CONAMA Nº 237 – Regulamenta os aspectos de licenciamento ambiental


estabelecidos na Política Nacional do Meio Ambiente.

Art. 1º Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes definições:

I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambienta


competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e
atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente
poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental,
considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso.

II - Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece
as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo
empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar
empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação
ambiental.

III - Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais
relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou
empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como:
relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar,
diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise
preliminar de risco. IV166 – Impacto Ambiental Regional: é todo e qualquer impacto ambiental
que afete diretamente (área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de
dois ou mais Estados.

IV – Impacto Ambiental Regional: é todo e qualquer impacto ambiental que afete diretamente
(área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de dois ou mais Estados.

Art. 2º A localização, construção, instalação, ampliação, modificação e operação de


empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras, bem como os empreendimentos capazes, sob qualquer forma,
de causar degradação ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão ambiental
competente, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis

§ 1o Estão sujeitos ao licenciamento ambiental os empreendimentos e as atividades relacionadas


no anexo 1, parte integrante desta Resolução. § 2o Caberá ao órgão ambiental competente defi
nir os critérios de exigibilidade, o detalhamento e a complementação do anexo 1, levando em
consideração as especifi cidades, os riscos ambientais, o porte e outras características do
empreendimento ou atividade.

Art. 3o A licença ambiental para empreendimentos e atividades consideradas efetiva ou


potencialmente causadoras de signifi cativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de
73

impacto ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente (EIA/RIMA), ao


qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de audiências públicas, quando couber, de
acordo com a regulamentação. Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verifi cando que
a atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de signifi cativa degradação do
meio ambiente, definirá os estudos ambientais pertinentes ao respectivo processo de
licenciamento.

Art. 4º Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
- IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o licenciamento ambiental a que se refere o artigo 10
da Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com significativo
impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber:

I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em país limítrofe; no mar territorial;


na plataforma continental; na zona econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de
conservação do domínio da União.

II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;

III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais do País ou de um ou


mais Estados

IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar, transportar, armazenar e dispor material


radioativo, em qualquer estágio, ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e
aplicações, mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN;

V - bases ou empreendimentos militares, quando couber, observada a legislação específica.

§ 1o O IBAMA fará o licenciamento de que trata este artigo após considerar o exame técnico
procedido pelos órgãos ambientais dos Estados e Municípios em que se localizar a atividade ou
empreendimento, bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de
licenciamento

§ 2o O IBAMA, ressalvada sua competência supletiva, poderá delegar aos Estados o


licenciamento de atividade com significativo impacto ambiental de âmbito regional,
uniformizando, quando possível, as exigências.

Art. 5o Compete ao órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal o licenciamento


ambiental dos empreendimentos e atividades:

I - localizados ou desenvolvidos em mais de um Município ou em unidades de conservação de


domínio estadual ou do Distrito Federal;

II - localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas de vegetação natural de


preservação permanente relacionadas no artigo 2o da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e
em todas as que assim forem consideradas por normas federais, estaduais ou municipais;

III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites territoriais de um ou mais


Municípios;

IV – delegados pela União aos Estados ou ao Distrito Federal, por instrumento legal ou
convênio. Parágrafo único. O órgão ambiental estadual ou do Distrito Federal fará o
74

licenciamento de que trata este artigo após considerar o exame técnico procedido pelos órgãos
ambientais dos Municípios em que se localizar a atividade ou empreendimento, bem como,
quando couber, o parecer dos demais órgãos competentes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de licenciamento.

Art. 6o Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os órgãos competentes da União, dos
Estados e do Distrito Federal, quando couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos e
atividades de impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado por
instrumento legal ou convênio.

Art. 7o Os empreendimentos e atividades serão licenciados em um único nível de competência,


conforme estabelecido nos artigos anteriores.

Art. 8º O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes


licenças:

I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou


atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e
estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de
sua implementação;

II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de


acordo com as especifi cações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo
as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo
determinante;

III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a


verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de
controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.

Parágrafo único. As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente,


de acordo com a natureza, características e fase do empreendimento ou atividade.

Art. 9o O CONAMA definirá, quando necessário, licenças ambientais específicas, observadas a


natureza, características e peculiaridades da atividade ou empreendimento e, ainda, a
compatibilização do processo de licenciamento com as etapas de planejamento, implantação e
operação.

Art. 10. O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes etapas:

I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do empreendedor, dos


documentos, projetos e estudos ambientais, necessários ao início do processo de licenciamento
correspondente à licença a ser requerida;

II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos documentos,


projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida publicidade;

III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA , dos documentos,
projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de vistorias técnicas, quando
necessárias;
75

IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente


integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da análise dos documentos, projetos e
estudos ambientais apresentados, quando couber, podendo haver a reiteração da mesma
solicitação caso os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;

V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a regulamentação pertinente;

VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental competente,


decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo haver reiteração da solicitação
quando os esclarecimentos e complementações não tenham sido satisfatórios;

VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico;

VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida publicidade.

§ 1º No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar, obrigatoriamente, a certidão


da Prefeitura Municipal, declarando que o local e o tipo de empreendimento ou atividade estão
em conformidade com a legislação aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a
autorização para supressão de vegetação e a outorga para o uso da água, emitidas pelos órgãos
competentes.

§ 2º No caso de empreendimentos e atividades sujeitos ao estudo de impacto ambiental - EIA,


se verificada a necessidade de nova complementação em decorrência de esclarecimentos já
prestados, conforme incisos IV e VI, o órgão ambiental competente, mediante decisão motivada
e com a participação do empreendedor, poderá formular novo pedido de complementação.

Art. 11. Os estudos necessários ao processo de licenciamento deverão ser realizados por
profissionais legalmente habilitados, às expensas do empreendedor.

Parágrafo único. O empreendedor e os profissionais que subscrevem os estudos previstos no


caput deste artigo serão responsáveis pelas informações apresentadas, sujeitando-se às sanções
administrativas, civis e penais

Art. 12. O órgão ambiental competente definirá, se necessário, procedimentos específi-cos para
as licenças ambientais, observadas a natureza, características e peculiaridades da atividade ou
empreendimento e, ainda, a compatibilização do processo de licenciamento com as etapas de
planejamento, implantação e operação

§ 1º Poderão ser estabelecidos procedimentos simplificados para as atividades e


empreendimentos de pequeno potencial de impacto ambiental, que deverão ser aprovados pelos
respectivos Conselhos de Meio Ambiente.

§ 2º Poderá ser admitido um único processo de licenciamento ambiental para pequenos


empreendimentos e atividades similares e vizinhos ou para aqueles integrantes de planos de
desenvolvimento aprovados, previamente, pelo órgão governamental competente, desde que
definida a responsabilidade legal pelo conjunto de empreendimentos ou atividades

§ 3º Deverão ser estabelecidos critérios para agilizar e simplificar os procedimentos de


licenciamento ambiental das atividades e empreendimentos que implementem planos e
programas voluntários de gestão ambiental, visando a melhoria contínua e o aprimoramento do
desempenho ambiental.
76

Art. 13. O custo de análise para a obtenção da licença ambiental deverá ser estabelecido por
dispositivo legal, visando o ressarcimento, pelo empreendedor, das despesas realizadas pelo
órgão ambiental competente.

Parágrafo único. Facultar-se-á ao empreendedor acesso à planilha de custos realizados pelo


órgão ambiental para a análise da licença.

Art. 14. O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de análise diferenciados para
cada modalidade de licença (LP, LI e LO), em função das peculiaridades da atividade ou
empreendimento, bem como para a formulação de exigências complementares, desde que
observado o prazo máximo de 6 (seis) meses a contar do ato de protocolar o requerimento
até seu deferimento ou indeferimento, ressalvados os casos em que houver EIA/RIMA e/ou
audiência pública, quando o prazo será de até 12 (doze) meses

§ 1º A contagem do prazo previsto no caput deste artigo será suspensa durante a elaboração dos
estudos ambientais complementares ou preparação de esclarecimentos pelo empreendedor.

§ 2o Os prazos estipulados no caput poderão ser alterados, desde que justificados e com a
concordância do empreendedor e do órgão ambiental competente.

Art. 15. O empreendedor deverá atender à solicitação de esclarecimentos e complementações,


formuladas pelo órgão ambiental competente, dentro do prazo máximo de 4 (quatro) meses, a
contar do recebimento da respectiva notifi cação Parágrafo único. O prazo estipulado no caput
poderá ser prorrogado, desde que justifi cado e com a concordância do empreendedor e do órgão
ambiental competente.

Art. 16. O não cumprimento dos prazos estipulados nos artigos 14 e 15, respectivamente,
sujeitará o licenciamento à ação do órgão que detenha competência para atuar supletivamente e
o empreendedor ao arquivamento de seu pedido de licença.

Art. 17. O arquivamento do processo de licenciamento não impedirá a apresentação de novo


requerimento de licença, que deverá obedecer aos procedimentos estabelecidos no artigo 10,
mediante novo pagamento de custo de análise

Art. 18. O órgão ambiental competente estabelecerá os prazos de validade de cada tipo de
licença, especificando-os no respectivo documento, levando em consideração os seguintes
aspectos:

I - O prazo de validade da Licença Prévia (LP) deverá ser, no mínimo, o estabelecido pelo
cronograma de elaboração dos planos, programas e projetos relativos ao empreendimento ou
atividade, não podendo ser superior a 5 (cinco) anos.

II - O prazo de validade da Licença de Instalação (LI) deverá ser, no mínimo, o estabelecido


pelo cronograma de instalação do empreendimento ou atividade, não podendo ser superior a 6
(seis) anos.

III - O prazo de validade da Licença de Operação (LO) deverá considerar os planos de controle
ambiental e será de, no mínimo, 4 (quatro) anos e, no máximo, 10 (dez) anos.

§ 1o A Licença Prévia (LP) e a Licença de Instalação (LI) poderão ter os prazos de validade
prorrogados, desde que não ultrapassem os prazos máximos estabelecidos nos incisos I e II.
77

Licença Mínimo Máximo


Prévia - 5
Instalação - 6
Operação 4 10

§ 2o O órgão ambiental competente poderá estabelecer prazos de validade específicos para a


Licença de Operação (LO) de empreendimentos ou atividades que, por sua natureza e
peculiaridades, estejam sujeitos a encerramento ou modificação em prazos inferiores.

§ 3o Na renovação da Licença de Operação (LO) de uma atividade ou empreendimento, o órgão


ambiental competente poderá, mediante decisão motivada, aumentar ou diminuir o seu prazo de
validade, após avaliação do desempenho ambiental da atividade ou empreendimento no período
de vigência anterior, respeitados os limites estabelecidos no inciso III.

§ 4o A renovação da Licença de Operação (LO) de uma atividade ou empreendimento deverá


ser requerida com antecedência mínima de 120 (cento e vinte) dias da expiração de seu prazo de
validade, fixado na respectiva licença, ficando este automaticamente prorrogado até a
manifestação defnitiva do órgão ambiental competente.

Art. 19. O órgão ambiental competente, mediante decisão motivada, poderá modificar os
condicionantes e as medidas de controle e adequação, suspender ou cancelar uma licença
expedida, quando ocorrer:

I - violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou normas legais;

II - omissão ou falsa descrição de informações relevantes que subsidiaram a expedição da


licença;

III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.

Art. 20. Os entes federados, para exercerem suas competências licenciatórias, deverão ter
implementados os Conselhos de Meio Ambiente, com caráter deliberativo e participação social
e, ainda, possuir em seus quadros ou a sua disposição profissionais legalmente habilitados.

Art. 21. Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação, aplicando seus efeitos aos
processos de licenciamento em tramitação nos órgãos ambientais competentes, revogadas as
disposições em contrário, em especial os artigos 3o e 7o da Resolução CONAMA nº 1, de 23 de
janeiro de 1986.
78

Estudar decreto: Nº 44820 DE 02/06/2014.

Competência para legislar

A competência legal para licenciar determinada atividade sempre foi um dos principais
imbróglios dentro do direito ambiental brasileiro. Até a ocorrência da Lei complementar n
140/2011, a base para consulta da competência era dada pela resolução Conama nº 237, o que
muitos autores, consistiam em um erro grave, uma vez que a resolução poderia ter efeito de lei.

Com a criação da lei complementar nº 140, ficou melhor evidenciado e documentado as


competências para licenciamento, nos âmbitos federal, estadual e municipal. Na prática foi
mantida as bases da resolução Conama 237 no texto da lei, que serviu com o intuito de
reafirmar os conceitos e diminuir a insegurança jurídica gerada por essa lacuna na legislação.

Usando como base a lei complementar nº 140 é possível inferir os seguintes comentários:

❖ Competência federal:

O artigo 7º da referida lei, redige, na parte de licenciamento que é de dever da União licenciar
áreas militares, em territórios indígenas, áreas que tenham como limite 2 ou mais estados, áreas
que envolvam outros países e Unidades de Conservação de competência da União, salvo áreas
de proteção ambiental, atividades que envolvam energia nuclear e atividades do poder executivo
federal.

❖ Competência estadual:

Em relação a esfera estadual, o artigo 8º coloca que é de competência estadual atividades que
ocorram em mais de um município, ou que sejam do poder executivo estadual, áreas de
Unidades de Conservação estaduais(exceto Apa’s).

❖ Competência municipal:

A lei complementar nº 140 concedeu aos municípios competência para licenciar as atividades
que causem, ou possam causar Impacto ambiental de âmbito local, além de atividades em
Unidades de Conservação de caráter Municipal (exceção Apa’s)

No município do RJ a resolução conema nº 42 tem a seguinte definição:

Impacto ambiental de âmbito local: qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e
biológicas do meio ambiente, que afetem a saúde, a segurança ae o bem-estar da população; as
atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;
e/ou a qualidade dos recursos ambientais, dentro dos limites do Município

*Atividades que já estejam listadas como de competência estadual/federal devem permanecer


em suas instâncias.
79

Figura 9- Tabela retirada da FIRJAN Manual de licenciamento


80

Responsabilidade

Como citado anteriormente todo custo dos estudos referentes ao EIA/RIMA serão a cargo do
proprietário do empreendimento. Por consequência cabe a ele contratar a equipe que julgar
melhor para elaboração do estudo, que deverá ser apresentado de forma acessível e de fácil
entendimento ao órgão ambiental licenciador.

Em relação as informações presentes nos estudos, fica toda responsabilidade a cargo da equipe
técnica que elaborou o documento, porém é preciso citar que em caso de dano ambiental, que o
responsável pelo empreendimento também responde, sendo geralmente necessário a reparação
por parte dele do dano.

Essa manobra é justamente visando garantir ao poder público que em casos de dano ambiental,
previsto ou não, que o meio ambiente não saia lesado e que o preponente do projeto irá reparar o
dano causado.

O EIA/RIMA tem como objetivo se anteceder a possíveis impactos ambientais quando possível,
e como o estudo é de responsabilidade do preponente do projeto, qualquer impacto gerado deve
ser reparado por ele, mesmo que sem a comprovação de culpa.

Em casos mais graves de laudos falsos, ou omissões, os responsáveis técnicos do projeto


poderão responder criminalmente pelo ocorrido, sendo assim, o Estado fica ressalvando tanto
em casos de omissão, quanto por casos de desconhecimento dos impactos ou imprevistos, e até
em casos de má fé por parte dos responsáveis.

Figura 10 - RIMA Autódromo Internacional do Rio de Janeiro


81

Responsabilidade civil objetiva

A responsabilidade civil consiste na reparação de um dano causado por ação ou omissão. Sem
aprofundar muito podemos dividir em subjetiva e objetiva.

A responsabilidade civil subjetiva é dado quando o causador de um determinado ato ilícito


causar dano por dolo ou culpa através da sua conduta. Ele somente será condenado a reparar o
dano, caso tenha responsabilidade sobre o ato.

Considere a hipótese em que um motorista tenha causado um dano durante um acidente de carro
por uma ação ou negligência. Caso confirmada sua responsabilidade no ato, ele terá que reparar
os danos ao outro carro.

Na responsabilidade civil objetiva o dano deve ser reparado independente de haver culpa ou
dolo na ação, sendo enquadrado em matérias ambientais. Nesse caso, mesmo que não exista
uma ligação direta de ação ou omissão por parte do agente deve haver a reparação.

A dúvida da necessidade da responsabilidade civil objetiva em matéria ambiental é muito


comum. Para melhor explicar usarei o seguinte exemplo:

Imagine que uma empresa de barragens, fez um estudo pluviométrico da região em que irá
construir uma barragem e com base nos índices construiu uma barragem que suporte as cargas
de chuva da região. Porém em um determinado ano, choveu 10 vezes acima do normal, nunca
antes tendo sido registrada uma carga de chuvas dessa forma, e a barragem se rompeu, causando
destruição adiante.

Caso a responsabilidade civil fosse subjetiva, a empresa poderia alegar que fez estudos na área
e que aquela quantidade de chuva era totalmente atípica e por isso ela não teria culpa do
desastre, podendo assim, sobre interpretação jurídica, ficar isenta de reparação ao dano causado.

Como em caso de matéria ambiental a responsabilidade civil é objetiva, mesmo que sem uma
culpa comprovada, ao construir a barragem a empresa indiretamente “assumiu o risco” da sua
construção, e em tese deveria se antecipar a eventuais contra tempos, por mais absurdos que
sejam. É a partir desse dispositivo que o poder público pode condenar as empresas a reparar os
danos causados.

Crimes relacionados ao fogo também estão sobe essa égide, visto que a comprovação de culpa
por parte do baloeiro ou do proprietário é em muitos casos, difícil provar.
82

Audiência pública

A instalação e operação de um empreendimento pode causar uma série de alterações na


região em que ele se localiza, além de mexer em diversos setores da sociedade. A fim de dar voz
a diferentes entidades e promover uma maior transparência a respeito do empreendimento, a
audiência pública é uma ferramenta importante dentro do processo licitatório, quando
convocada. É na audiência Pública que veremos os diferentes setores da sociedade debaterem a
respeito dos impactos causados pelo empreendimento. É na audiência pública que um
representante do empreendimento apresentará o RIMA do projeto e posteriormente ficara aberto
ao esclarecimento de dúvidas e sugestões.

Ela é regulada pela resolução Conama 009. É importante citar que a aprovação da licença
requerida pelo empreendimento, não é dada na audiência pública, e que o papel dela é mais
relacionado com a transparência a respeito do empreendimento.

Figura 11 - Manifestação contrária a instalação do Aterro sanitário em Seropédica RJ

É importante deixar claro que a audiência pública embora seja um instrumento


democrático de acesso a informação, que ela não é obrigatória em todos os processos
licitatórios. A resolução Conama 009 em seu artigo 2º coloca que “Sempre que julgar
necessário, ou quando for solicitado por entidade civil, pelo Ministério Público, ou por
50 (cinqüenta) ou mais cidadãos, o Órgão de Meio Ambiente promoverá a realização
de audiência pública.”, então não serão todos os empreendimentos que irão necessitar
da realização de uma audiência pública, embora os empreendimentos com maior
cobertura midiática e que apresentem maior atenção da sociedade em uma forma geral,
geralmente tenham a sua realização. Caso tenha ocorrido a solicitação de uma audiência
pública, e o órgão estadual não a realize, a licença não terá validade, sendo necessário
então nesse caso, a realização da audiência componente obrigatório.

Por se tratar de procedimento, a audiência pública deve ocorrer em um local de


fácil acesso a todos os interessados, favorecendo a apresentação do RIMA e um debate
83

saudável com todos os envolvidos. O ideal de uma audiência pública consiste em algus
quesitos

• Presença e participação de todas as organizações que direta ou indiretamente


tenham interesse no empreendimento
• Apresentação clara do RIMA por parte de um representante do empreendedor
• Discussão pós apresentação, esclarecendo dúvidas e dando sugestões a respeito
da instalação e operação do empreendimento
• Voz ativa a todos as organizações presentes no debate, priorizando as que estão
diretamente envolvidas com os impactos do empreendimento.

Embora como dito anteriormente, a audiência não tenha a finalidade de aprovação


da licença, o órgão ambiental licenciador deve recolher o maior número de informações
possíveis geradas na audiência e pautar sua decisão final com base no que foi discutido
durante a audiência pública. A parcialidade do órgão ambiental é fundamental para
garantir que mesmo que um setor esteja em “desvantagem” (Quando temos por exemplo
uma empresa de grande porte contra uma comunidade ribeirinha) que ele seja
representado e que sua voz seja levada em consideração para a decisão final.

Figura 12- Manifestação Contrária a instalação do aterro sanitário em Seropédica RJ


84

Figura 13- Audiência pública a respeito da instalação de 8 centrais hidelétricas no rio Bolsas, no estado de
Pernanbuco

Leitura sugerida: Resolução CONAMA 009/87


85

Elaboração do EIA/RIMA

Área de influência

Todo empreendimento tem uma área de influência, que pode variar em tamanho
dependendo da atividade que será realizada. A área de influência consiste na demarcação, por
meio de um recurso gráfico visível (mapa, tabela, imagem) de um espaço que será afetado direto
ou indiretamente pelo empreendimento. Na demarcação da área é são precisos estudos
referentes ao empreendimento que será instalado e suas consequências ao meio ambiente, nos
meios físicos, biológicos e sócio econômicos.

Em relação a apresentação da área de influência, visando melhor visualização o uso de um


mapa na escala adequada com as demarcações da área de influência aborda de maneira eficiente
o que é proposto. Quando o proponente do projeto opta por simplesmente digitar um texto
falando sobre a área de influência, sem nenhum recurso gráfico para visualização ocorre uma
perda de entendimento, ficando muito subjetivo os limites dos impactos ambientais gerados pelo
empreendimento. Um fator que deve ser levado em consideração na hora de traçar a linha da
área de influência é o espaço aéreo que também é influenciado pelos impactos ambientais.

Outro ponto que tambem deve ser levado em consideração é a duração dos efeitos, não
podendo ser deixado de lado efeitos que ocorram por um tempo somente. Tudo tem que estar
bem definido.

A área de influência pode ser dividida em Área de influência Direta (AID) , Área de
influência Indireta(AII), além da Área diretamente afetada( ADA).

Área diretamente afetada(ADA): Região em que serão feitas as modificações nos meios
físico, biológico e sócio econômico do empreendimento.

Área de influência Direta(AID): Área que os efeitos serão sentidos prioritariamente, seja nas
fases de instalação ou de operação do empreendimento

Área de influencia Indireta(AII): Nessa região os efeitos serão secundários, porém não menos
importantes que nas demais áreas.
86

Figura 14 - RIMA Autódromo Internacional do Rio de Janeiro

Figura 15 - RIMA Usina Hidrelétrica SINOP


87

Figura 16 - RIMA Linha de transmissão de 345 Kv da derivação para o COMPERJ


88

Diagnose ambiental
A diagnose ambiental é uma etapa fundamental do EIA/RIMA , porque é nela que são
levantados todos os recursos ambientais e sociológicos da região do empreendimento. A
caracterização da fauna, da flora, do relevo e dos recursos minerais, além de aspectos sociais das
cidades envolvidas.

Uma vez reunida todas as informações em um banco de dados , é possível o poder público
e a população terem uma maior compreensão a respeito da região que sera afetada pelo
empreendimento, principalmente porque em muitos casos, a instalação do empreendimento
implica em remoção da vegetação, da fauna, além de modificações nas estruturas físicas e
sociais da região, causando um sério prejuízo ambiental, por isso a necessidade de conhecer
tudo que será afetado. É a partir da diagnose que muitos empreendimentos são barrados, pela
presença de espécies em extinção, ou no efeito que gerará sobre as comunidades tradicionais na
região.

Uma vez proposta a diagnose, ela é dividida em três conceitos:

❖ Meio físico

Durante a elaboração do EIA/RIMA o proprietário terá que fazer o mapeamento das condições
físicas da área de abrangência, incluindo o ar. Levantamento dos corpos hídricos, do
zoneamento do solo, incluindo a aptidão agrícola dos solos ali presente. É necessário tambem
verificar os recursos mineirais presentes na área de abrangência, além das condições topológicas
do local. O uso de drones tem se tornado cada vez mais comum na elaboração do mapeamento
físico, proporcionando além de fotos aéreas, o uso dos sensoriamento remoto para verificação
de qualidades físicas.

❖ Meio biológico

Nessa diagnose é necessário fazer o levantamento da fauna e da flora. A utilização de


inventários florestais nesse caso abrange todos os requisitos, uma vez que você consegue ter o
levantamento das espécies, classificando-as nas suas qualidades ambientais e econômicas.
Como geralmente vai ocorrer a supressão de vegetação, é necessário que o poder público, na
qualidade órgão fiscalizador, se mantenha atento ao inventário realizado, evitando que ocorram
fraudes. Se tratando da fauna com o levantamento, é possível então realizar o resgate da mesma,
a realocando em local apropriado.

❖ Meio sócio econômico

Nessa diagnose é necessário enfatizar o impacto social que aquele empreendimento vai gerar
naquele local. É preciso ter ciência de quantas pessoas moram ali e quais são suas qualidades de
vida. No caso de empreendimentos que necessitem de desapropriação, é necessário um levanto
mais a fundo para verificar qual impacto seria tido naquela população. É necessário conhecer o
modelo econômico da cidade, para verificar posteriormente como o empreendimento se encaixa
naquele cenário.
89

A apresentação das diagnoses pode ser feita de forma separada ou colocando todos juntos,
ficando a caráter da equipe responsável. A opção pela forma em que as diagnoses ocorre de
forma separada é mais organizada e facilita a melhor apresentação dos resultados. A diagnose é
fundamental para traçar todo mapeamento da região, afim de tomar posteriormente as medias
cabíveis referente a cada impacto gerado pelo empreendimento

Todos juntos:

Figura 17 RIMA Autódromo Internacional do Rio de Janeiro


90

De forma separada

Figura 18 RIMA Usina Hidrelétrica de SINOP

Análise dos impactos ambientais do projeto


Uma vez caracterizada a área de abrangência dos impactos e os meios físicos, biológico e
socioeconômico, cabe aos elaboradores do RIMA a identificação de todos os impactos dentro
91

dessas áreas. É de inteira responsabilidade do proprietário as informações contidas nessa análise


de impacto, sob a fiscalização do órgão ambiental, que pode contestar o que está escrito no
documento.

Para melhor visualização dos impactos, geralmente é optado pela divisão nos meios Físico,
biológico e sócio-economico, facilitando para o leitor que obter o RIMA para estudo. Em
relação aos impactos positivos, o meio sócio-economico é geralmente o mais citado, aonde se
atribui geralmente o ganho econômico que o empreendimento trará para a cidade, com a
geração de emprego por exemplo.

É BOM LEMBRAR: O RIMA é elaborado pelos responsáveis do empreendimento, então não


espere encontrar um documento que critique a instalação do empreendimento. As informações
contidas no RIMA são do ponto de vista do empreendimento, mesmo que sob olhar
fiscalizatório do Estado

Figura 19 RIMA Pequena Central Hidrelétrica (PCH) Salto Alemã


92

Figura 20 - RIMA Pequena Central Hidrelétrica (PH) Santo Alemã


93

Medidas mitigadoras
Uma vez classificados os impactos positivos e negativos, devem ocorrer então as medidas
mitigadoras dos impactos negativos. As medidas mitigadoras tem o objetivo de reduzir ou
anular a abrangência ou severidade dos impactos negativos que ocorrem no empreendimento,
seja na sua fase de instalação ou de operação. Além das medidas mitigadoras tambem existem
as medidas potencializadoras, que tem como objetivo ampliar o alcance dos impactos positivos
do empreendimento.

As medidas mitigadoras podem ser divididas em:

• Medida mitigadora preventiva: Tem o objetivo de anular ou diminuir um evento que


pode causar sérios danos ao meio ambiente e as pessoas inseridas dentro da área de
abrangência. Como ocorreu anteriormente uma análise dos impactos ambientais,, é
possível então se anteceder a um futuro impacto ambiental negativo.

Ex: Coleta de óleos evitando contaminação ambiental, uso de equipamentos anti ruído por parte
dos funcionários da empresa, monitoramento da fauna e flora evitando degradação do meio
ambiente.

• Medida mitigadora corretiva: Visa mitigar o efeito de um impacto ambiental, já


conhecido, fazendo uso de ferramentas a fim de reestabelecer o controle sobre o
impacto ambiental. Podem ser usados novas situações de equilíbrio, que mesmo que
alterem a paisagem, restabeleçam o equilíbrio ambiental da área anteriormente ao
empreendimento.

Ex: Uso de filtros em chaminés de industrias, Resgate de Fauna, Instrução através de placas
com avisos de educação ambiental

• Medidas mitigadoras compensatórias: Uma vez já estabelecido o impacto ambiental,


o empreendimento faz uso de medidas que compensem seus efeitos, cabendo ao Estado,
no papel de órgão fiscalizado avaliar se as medidas compensatórias são efetivas.

Ex: Plantio de mudas devido a supressão da vegetação, Programas sociais, Construção de


estradas.

• Medidas potencializadoras: Medidas que visam a maximização de um efeito positivo


do empreendimento, relacionado a geração de emprego, investimento na cidade.
94

Figura 21 -RIMA Autódromo Internacional do Rio de Janeiro

Figura 22 -RIMA Usina Hidrelétrica de SINOP


95

Elaboração do programa de acompanhamento e monitoramento


Os programas de monitoramento são um compromisso firmado do empreendimento junto a
manutenção dos índices de qualidade ambiental, a qual ele se responsabilizará em caso de
alteração, direta ou indiretamente causado pelo seu empreendimento. Os parâmetros de
qualidade do meio ambiente são um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, e
o empreendedor deve estar atento as normas vigentes, inclusive se atentando as modificações
que ocorrerem ao longo dos anos.

O monitoramento pode ser feito por meio de estudos regulares, por profissionais
competentes que avaliem as qualidades ambientais, reunindo as informações em um banco de
dados, comparando com as condições aceitáveis e de antes do empreendimento. É uma etapa
fundamental pois é a partir do monitoramento que as licenças ambientais podem ser renovadas,
comprada a adequação do empreendedor com o que havia sido colocado no EIA/RIMA

Elaboração do programa de
monitoramento

Elaboração do autor
96

METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DE IMPACTOS AMBIENTAIS

A legislação especifica que ele deve ser feito por uma equipe técnica multidisplinar, porém
ela não dá uma fórmula exata, de como deve ocorrer os estudos de impactos ambientais e sim o
conteúdo mínimo que deve estar presente nele. Cabe ao proprietário do empreendimento, na
contratação da empresa responsável, optar pela metodologia escolhida, ou simplesmente delegar
essa função a empresa contratada.

Metodologias diferentes, implicam em vantagens e desvantagens diferentes. O principal na


elaboração será o produto final e a forma com que ele é apresentado ao órgão público e a todos
os leitores.

Espontâneo (ad hoc)

Utiliza profissionais técnicos em uma equipe multidisciplinar que reúnem informações


qualitativas a respeito do empreendimento, com base nas experiências de cada um é montado
um relatório contendo os impactos gerados pela atividade.

Como vantagem, pode ser destacada a forma simples de ser feito, em um curto espaço de
tempo, além de demandar menores custos. Uma estimativa rápida do AIA, além de facilmente
organizada e apresentada. A principal desvantagem é em relação a profundidade da análise, que
é superficial, não abrangendo na totalidade os impactos causados. Uma análise quantitativa seria
mais custosa, porém mais precisa a respeito dos impactos ambientais gerados.

Fator SE EN EP CP MP LP R I
Fauna x x x
Flora x x x
Espécies
x x x
ameaçadas
Água
Ar x x x
Ruído x x x
Segurança x x x
Economia x x x
SE = Se efeito / EM = Efeito negativo / EP = Efeito Positivo
CP= Curto Prazo / MP = Médio Prazo / LP = Longo Prazo R = Reversível/ I = Irreversível
97

Check-list
Ocorre uma listagem dos impactos organizados dentro dos meios Fisico, biológico e sócio
econômico, aonde são definidos o teor dos impactos (negativo x positivo) e sua abrangência.
Tambem é um método de elaboração rápido, uma vez que consulta valores e parâmetros já
instaurados na legislação. Como desvantagem pode ser em relação da eficácia da lista, que pode
ser muito extensa e pouco aprofundada não estabelecendo relação entre os impactos, por isso
não deve-se optar por somente este método.

Dentro das check-list existem:

a) Check-list Simples: Baseada nas experiências dos profissionais envolvidos


b) Chek-list Descritivo: Identificação dos parâmetros e diretrizes ambientais
c) Check-list Escalar: Uma lista descritiva mas com informações adicionais sobre o
dimensionamentos dos parâmetros.
d) Check-List Escalar Ponderado: Uma avaliação semelhante a escalar porem com
informações adicionais para avaliação subjetivad e cada parâmetro em relaçãoa todos
os parâmetros.
98

Matrizes de interações

A atriz de interações consiste em uma lista, no formato de matriz que correlaciona fatores
ambientais seus impactos. Um dos tipos mais comuns é a Matriz de Leopold, que surgiu com o
propósito de relacionar quase todos os tipos de impactos com os tipos de projetos. A principal
vantagem nesse método além do baixo custo e a possibilidade de comparar diferentes tipos de
intervenção nos meios físicos, biológicos e sócio-economico. Tambem é uma metodologia de
baixo custo.
Em relação a desvantagem, podemos citar que ela não avalia com clareza os impactos
gerados, uma vez que não avalia impactos quanto a origem, se são primários ou secundários, de
curto , médio ou longo prazo, diminuindo a precisão quanto as medidas mitigadoras;
99

Figura 23 RIMA PROJETO DE AMPLIAÇÃO DA CAPACIDADE DA RODOVIA BR280

I = Incidência : Direta (D), Indireta (I)


A = Abrangência : Local (L). Regional (R), Global (G)
Pr = Probabilidade : Alta (3 pontos), Média (2 pontos), Baixa (1 ponto)
Sr = Severidade : Severo (3 pontos), Leve (2 pontos) , Sem dano (1 ponto)
Es = Escala : ampla (3 pontos), Limitada (2 pontos), Isolada (1 ponto)
De = Detecção : Difícil (3pontos), Moderada (2 pontos), Fácil (1 ponto)

Resultado = Pr.Sr.Es.D
100

Superposição de cartas

Refere-se ao uso de mapas na aplicação de avaliação de impactos ambientais. Neste tipo de


metodologia são montados diversos tipos de mapas contendo características sociais, físicas ou
biológicas. Uma vez integrados, os mapas refletem na amplitude geográfica do impacto gerado.
Muito utilizado em conjunto coma tecnologia SIG e permite assim uma melhor visualização
dos recursos ambientais de determinada área geográfica.
A principal desvantagem em relação a este método consiste no fato de que ele avalia
basicamente somente as qualidades ambientais da área, não aprofundando sobre os impactos
gerados, por isso é um método que embora seja bem ilustrativo, não deve ser usado de forma
isolada, e sim complementar a outra metodologia impregada.

Figura 24 Mapa de agressividade climática na Amazônia. IBGE

Fontes:

DE MORAES, Ciro Dandolini; DE ABREU DAQUINO, Carla. Avaliação de impacto ambiental:


uma revisão da literatura sobre as principais metodologias. 2016.

DE OLIVEIRA, Francisco Correia; DE MOURA, Héber José Teófilo. Uso das metodologias de
avaliação de impacto ambiental em estudos realizados no Ceará. Revista Pretexto, v. 10, n. 4,
2009.

MARTINHA, Danielle Dutra. METODOLOGIAS UTILIZADAS NA AVALIAÇÃO DE IMPACTO


AMBIENTAL. Varia Scientia Agrárias, v. 4, n. 1, p. 145-158.

PIMENTEL, Geraldo; PIRES, S. H. Metodologias de avaliação de impacto ambiental:


Aplicações e seus limites. Revista de Administração Pública, v. 26, n. 1, p. 56-68, 1992.
101

USO DO GEOPROCESSAMENTO EM ESTUDOS AMBIENTAIS

Geovane Barbosa

Introdução
O SIG atualmente está ganhando grande destaque no meio ambiental, pois tem
como função analise de biodiversidade, tomada de decisão para instalação de
determinado empreendimento, realização de série temporal de expansão urbana de
determinada cidade, análise de uso e cobertura do solo, mudança da fisionomia vegetal,
seja em pequena ou grande escala e dentre outros atributos. Porém uma grande tomada
de decisão na área ambiental que o geoprocessamento vem ganhando força é a análise
do grau de severidade do desmatamento, assim inferindo a amplitude térmica antes e
após a área desflorestada.

Outro ponto importante a destacar no mundo do SIG na área ambiental é propor


a criação de medidas mitigadoras para a minimização da ação que está ocorrendo em
determinado lugar, seja, para restituir um fragmento, descontaminação das propriedades
físicas (solo, água e ar), manejo das propriedades biológica (flora e fauna) e antrópica
(residências, economia monumentos históricos...) danificado por um empreendimento
que deu errado, exemplo: Rompimento da barragem de Brumadinho/MG

Análises como topografia, declividade, densidade de uma determinada variável,


permitem chegar a uma conclusão lógica sobre a preservação de um determinado
remanescente florestal, seja ela uma área protegida ou não (TUCCI, 1993). Entretanto,
destacando as APA’S e reservas legais que corroboram com grandes destaques para a
preservação da biodiversidade.

Ainda convém lembrar que, o SIG também tem uma grande importância no
estudo de precipitação e bacias hidrográficas, pois pode inferir a época em que
determinada ação poderá ser realizada, seja, um estudo de impacto com segurança,
pesquisas em campo e diversas outras aplicabilidade na área ambiental. Todavia, com o
uso do geoprocessamento pode-se destacar se houve a mudança de curso de um leito
d’água de importância significativa, com isso podendo influenciar no desabastecimento
de determinada cidade.
102

Mapa de Modelo Digital de Elevação.


O Modelo Digital de Elevação evidencia a altitude do terreno, assim podendo
abordar na área ambiental a ocorrência de espécies da fauna e da flora que ocorre em
determinada altitude e dentre outros fatores.

Mapa de Declividade.
O mapa de declividade pode ser gerado em grau ou porcentagem. Utilizando-se as
técnicas de geoprocessamento, destaca-se a confecção do mapa de declividade para a
análise do relevo, os mapas de declividade emergem como produto de vital importância,
uma vez que objetiva demonstrar as inclinações de uma dada área em relação a um eixo
horizontal, servindo como fonte de informações para as formas de relevo, aptidões
agrícolas, riscos de erosão, restrições de uso e ocupação urbana, entre outros
(RAMALHO FILHO; BEEK, 1995).

O uso do mapa de declividade em área ambiental para estudos de impactos pode


inferir se em determinada área de estudo pode-se instalar um empreendimento,
103

realização da supressão da vegetação baseado na lei da proteção da vegetação nativa,


também pode ajudar a visualizar o grau de periculosidade de um local.

Mapa de curvatura.
O mapa de curvatura vem inferir se determinado terreno vem a obter mais ou
menos umidade, destacando que às áreas planas e concava tende a obter mais umidade e
as áreas convexas a ter monas umidade, com isso tendendo a exemplificar em muitos
dos casos o tipo de fisionomia vegetal da área. Entretanto, tendo influencia se
determinado terreno é abito a instalação de um empreendimento de acordo com seus
requisitos.
104

Mapa de Direção do Relevo.


105

Mapa de sombreamento.
O mapa de sombreamento permite visualizar a homogeneidade do terreno, fazer o
emprego de conjunto de outros mapas temático para obter uma melhor visualização.

Análise temporal da fisionomia vegetal.


106

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

TUCCI, C.E.M. Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Editora da


Universidade/ABRH, 1993. cap.1, p.25-33; cap.22, p.849-75.

RAMALHO FILHO, A.; BEEK, K.J. Sistema de avaliação da aptidão agrícola das
terras. Rio de Janeiro: EMBRAPA, 1995.

Figura 25 - Terras protegidas na Amazônia. Elaboração Rodrigo Filardi


107

Lei 12.651/12. Proteção a vegetação Nativa

Breve Histórico
Considerada uma das leis mais importante do país, a lei de proteção a vegetação nativa
(12.651/12) embora tenha sido feita em 2012, sua abordagem não é tão recente, sendo sua
primeira forma, do início do século XX.

A presente lei está atualmente em sua “terceira edição” sendo a primeira em 1934 (decreto
23.793/34). O então, primeiro código florestal apresentava uma visão simplista sobre a proteção
ao meio ambiente. Através dele, o proprietário da terra era obrigado a manter 25% da cobertura
vegetal. As florestas eram divididas em protetoras, remanescentes, modelo e de rendimento, e
era possível notar uma maior preocupação em relação aos recursos hídricos, algo que já era
possível observar desde o final dos tempos do império no Brasil.

Em 1962 foi proposto o novo código florestal, e em 1965, no início do regime militar foi
sancionada a lei 4.771/65 que mantinha as bases do código florestal anterior, sobretudo na
proteção dos recursos hídricos, porém vinha com novos termos importantes até os dias atuais,
como as áreas de preservação permanente (APP’s) definidas em 5 metros, e as áreas de
Reservas Legais, definidas em 50% na Amazônia e 20% nas demais regiões do país indicando
um olhar diferenciado para as áreas localizadas dentro da Amazônia.

Muitos progressos foram notórios nessa mudança entre códigos. porém ainda existiam lacunas a
serem preenchidas. O desmatamento na Amazônia ainda iria atingir níveis elevados, tendo seu
ápice na década de 90, forçando o presidente Fernando Henrique Cardoso a edição da medida
provisória 1551/96 que aumentava área de reserva legal na Amazônia para 80% e reduzia a
proteção para 35% nas áreas de cerrado, dentro da Amazônia Legal. Em 200 essa medida
provisória foi editada e os proprietários passaram a ter que recuperar os danos causados.

Em 2012 foi sancionado o novo “código florestal” que procurou unificar alguns conceitos,
manter objetivos em comum e realizar ajustes pontuais sobre a legislação de forma em geral.
Mesmo que tendo sido revogada, em casos em que a lei atual não abranja, o antigo código pode
ser usado ( essa alteração foi possível graças a Lei nº 12727/2012). O código antigo na prática
ainda pode ser usado como base.

O novo código florestal

O primeiro ponto a citar dentro da nova lei é que ela trata de dois regimes jurídicos distintos,
sobretudo nas ações nocivas ao meio ambiente por parte dos proprietários das terras, sendo a
data que define a linha “flexível/rígida” 22/07/2008. Ações causadas antes dessa data tem uma
consequência mais flexível, que as mesmas ações causadas após essa data, em função do o
Decreto 6.514, que dispõe sobre as infrações e sanções administrativas ao meio ambiente, que
instituiu uma série de novos tipos administrativos para punir os infratores da legislação
ambiental.
108

Áreas de preservação Permanente

Chamadas de APP’S, elas foram mantidas, do antigo código e são um importante instrumento
de proteção ambiental, visto que estão relacionadas com os recursos hídricos da propriedade, e
que interferem de certa forma em todo balanço hídrico da região, sendo assim, alvo da proteção
por parte da legislação.

Sua definição é dada por:

“Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em zonas rurais ou urbanas, para os

efeitos desta Lei:

I - as faixas marginais de qualquer curso d'água natural, desde a borda da calha do leito

regular, em largura mínima de:

a) 30 (trinta) metros, para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura;

b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros
de largura;

c) 100 (cem) metros, para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)
metros de largura;

d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600
(seiscentos) metros de largura;

e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d'água que tenham largura superior a 600
(seiscentos) metros;

II - as áreas no entorno dos lagos e lagoas naturais, em faixa com largura mínima de:

a) 100 (cem) metros, em zonas rurais, exceto para o corpo d'água com até 20 (vinte) hectares de
superfície, cuja faixa marginal será de 50 (cinquenta) metros;

b) 30 (trinta) metros, em zonas urbanas;

III - as áreas no entorno dos reservatórios d'água artificiais, na faixa definida na licença
ambiental do empreendimento, observado o disposto nos §§ 1º e 2º;

IV - as áreas no entorno das nascentes e dos olhos d'água, qualquer que seja a sua situação
topográfica, no raio mínimo de 50 (cinquenta) metros;

V - as encostas ou partes destas com declividade superior a 45°, equivalente a 100% (cem por

cento) na linha de maior declive;

VI - as restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues;

VII - os manguezais, em toda a sua extensão;


109

VIII - as bordas dos tabuleiros ou chapadas, até a linha de ruptura do relevo, em faixa nunca
inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais;

IX - no topo de morros, montes, montanhas e serras, com altura mínima de 100 (cem) metros

e inclinação média maior que 25°, as áreas delimitadas a partir da curva de nível correspondente
a 2/3 (dois terços) da altura mínima da elevação sempre em relação à base, sendo esta definida
pelo plano horizontal determinado por planície ou espelho d'água adjacente ou, nos relevos
ondulados, pela cota do ponto de sela mais próximo da elevação;

X - as áreas em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a
vegetação;

XI - as veredas
110

Observação: Existem exceções presentes na lei, que alteram esses valores, sobretudo quando
levada em consideração o tamanho da propriedade, que é dado em Módulos fiscais

Módulos fiscais são valores que variam de município a município, sendo fixados pelo INCRA,
levando-se em consideração fatores relativos a :

➢ O tipo de exploração predominante no município (hortifrutigranjeira, cultura


permanente, cultura temporária, pecuária ou florestal)
➢ A renda obtida no tipo de exploração predominante
➢ (outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam
expressivas em função da renda ou da área utilizada
➢ O conceito de "propriedade familiar"

Disponível em:

https://www.embrapa.br/codigo-florestal/area-de-reserva-legal-arl/modulo-fiscal

Para se ter noção o módulo fiscal no Rio de Janeiro(município) é de 5 há, o que


significa que a cada 5 hectares, tem-se um módulo fiscal. No Mato Grosso, no
município de água boa, é de 80 hectares, demonstrando que um modulo fiscal em Água
boa equivale a 16 módulos fiscais no Rio de Janeiro.
111

Reserva Legal

A reserva Legal consiste em uma porcentagem da área da propriedade que deve ser mantida,
visando a proteção da fauna e flora do local. Se no primeiro código foi adotado um valor igual
de 25%, nos dias atuais varia conforme o bioma inserido.

Em relação a porcentagem da reserva legal é dado:

“Art. 12º. Todo imóvel rural deve manter área com cobertura de vegetação nativa, a título de

Reserva Legal, sem prejuízo da aplicação das normas sobre as Áreas de Preservação

Permanente, observados os seguintes percentuais mínimos em relação à área do imóvel:

I - localizado na Amazônia Legal:

a) 80% (oitenta por cento), no imóvel situado em área de florestas;

b) 35% (trinta e cinco por cento), no imóvel situado em área de cerrado;

c) 20% (vinte por cento), no imóvel situado em área de campos gerais;

II - localizado nas demais regiões do País: 20% (vinte por cento). “

Assim como em relação as APP’s, as áreas de reserva legal, tambem estão sujeitas a alterações,
conforme o tamanho da propriedade e em casos mais específicos, quando a porcentagem de
áreas de preservação públicas (Unidades de conservação e Terras indígenas) ultrapassar um
determinado valor, no município em que as propriedades estiverem inseridas

Todos esses dispositivos servem para na prática flexibilizar mais a legislação.

Figura 26 - reserva Legal por Bioma. Disponível em: IPEA


112

Essa variação ocorre pelas diferentes necessidades de proteção dentro dos ecossistemas, o que
não implica em uma medida totalmente correta, uma vez que por exemplo, o Cerrado tenha uma
faixa de proteção menor que a de florestas na Amazônia Legal, e mesmo assim apresente um
alto risco, por conta dos avanços da agricultura em suas terras.

O ajuste ideal da faixa de terra que deve ser destinada ainda é algo de discussões, que inferem
sobre o real motivo dos valores, sendo eles meros números, ou então comprovadamente valores
que asseguram a biodiversidade das propriedades?

Figura 27 - Taxa de desmatamento na Amazônia, disponível em https://www.wwf.org.br/?68662/maior-


aumento-desmatamento-amazonia-dez-anos

Figura 28 - Ocupaçção e uso do solo no Brasill. Disponível em: http://www.geografia-


ensinareaprender.com/2012/10/novo-codigo-florestal-brasileiro.html
113

QUALIDADES AMBIENTAIS

A Política Nacional dos Resíduos sólidos (12.305/10)

A Política Nacional dos Resíduos Sólidos (lei 12.305/10) foi um marco para a questão
ambiental no país. Os conceitos de corresponsabilidades na geração dos resíduos, autuando
tanto entes privados, quanto público, gerou um enorme debate a respeito de quem e como deve
ser feito o gerenciamento de resíduos no país. Através da lei 12.305 fica instituído que os
resíduos sólidos domiciliares são de responsabilidade municipal, embora o Estado tenha que ter
um plano de gerenciamento, a fim de poder obter recursos a serem destinados a questões
ambientais. Os resíduos industriais são de responsabilidade da empresa geradora, que deve dar
um destino adequado a eles, ou se possível, fazer seu próprio tratamento. Um dos instrumentos
do Estado para assegurar que essa obrigação seja cumprida é o PGRS (Plano de gerenciamento
de resíduo sólido) que fica a cargo da empresa colocar todas as informações a respeito da sua
geração, armazenamento e descarte dos seus resíduos. As informações contidas no PGRS são de
responsabilidade da empresa.

Os padrões de qualidade dos resíduos lançados em corpos hídricos , são definidos pelo
CONAMA(Conselho Nacional do Meio Ambiente), órgão consultivo e deliberativo do
SISNAMA, através da resolução 357, que sofreu alterações por parte das resoluções 397, 410 e
430. A classificação dos resíduos sólidos é dada pela NBR 10004. Vale salientar que os
resíduos de origem radiotiva tem legislação específica.

Lançamento de efluentes industriais

Em relação aos impactos mais comuns é o lançamento de efluentes industriais e corpos


hídricos. Dentro da resolução nº 357, a parte que tratava do lançamento de efluentes industriais
foi substituída pela resolução nº 430. Sem se aprofundar dentro da resolução é preciso fazer
alguns comentários.

Condições do lançamento de efluentes

a) pH entre 5 a 9;
114

b) temperatura: inferior a 40°C, sendo que a variação de temperatura do corpo receptor não
deverá exceder a 3°C no limite da zona de mistura;

c) materiais sedimentáveis: até 1 mL/L em teste de 1 hora em cone Inmhoff. Para o lançamento
em lagos e lagoas, cuja velocidade de circulação seja praticamente nula, os materiais
sedimentáveis deverão estar virtualmente ausentes;

d) regime de lançamento com vazão máxima de até 1,5 vez a vazão média do período de
atividade diária do agente poluidor, exceto nos casos permitidos pela autoridade competente;

e) óleos e graxas: 1. óleos minerais: até 20 mg/L; 2. óleos vegetais e gorduras animais: até 50
mg/L;

f) ausência de materiais flutuantes; e

g) Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO 5 dias a 20°C): remoção mínima de 60% de DBO
sendo que este limite só poderá ser reduzido no caso de existência de estudo de autodepuração
do corpo hídrico que comprove atendimento às metas do enquadramento do corpo receptor;

II - Padrões de lançamento de efluentes: Observar tabela Resolução nº 430

Art. 18. O efluente não deverá causar ou possuir potencial para causar efeitos tóxicos aos
organismos aquáticos no corpo receptor, de acordo com os critérios de ecotoxicidade
estabelecidos pelo órgão ambiental competente

Art. 24. Os responsáveis pelas fontes poluidoras dos recursos hídricos deverão realizar o
automonitoramento para controle e acompanhamento periódico dos efluentes lançados nos
corpos receptores, com base em amostragem representativa dos mesmos.

§ 1o O órgão ambiental competente poderá estabelecer critérios e procedimentos para a


execução e averiguação do automonitoramento de efluentes e avaliação da qualidade do corpo
receptor.

§ 2o Para fontes de baixo potencial poluidor, assim definidas pelo órgão ambiental competente,
poderá ser dispensado o automonitoramento, mediante fundamentação técnica.

Art. 27. As fontes potencial ou efetivamente poluidoras dos recursos hídricos deverão buscar
práticas de gestão de efluentes com vistas ao uso eficiente da água, à aplicação de técnicas para
redução da geração e melhoria da qualidade de efluentes gerados e, sempre que possível e
adequado, proceder à reutilização.

Art. 28. O responsável por fonte potencial ou efetivamente poluidora dos recursos hídricos deve
apresentar ao órgão ambiental competente, até o dia 31 de março de cada ano, Declaração de
Carga Poluidora, referente ao ano anterior

Mais informações: Resolução CONAMA Nº 430 & Política nacional dos Resíduos Sólidos.
115

QUALIDADE DA ÁGUA

Introdução
Fonte essencial da vida, a água está intimamente relacionada com a evolução do ser
humano. Quando nômades, as populações precisavam estar sempre próximas aos receptores
aquáticos, a fim de se manterem abastecidos. Conforme a agricultura surgia e era aperfeiçoada a
necessidade por água tambem aumentava, uma vez que era necessário o aumento da
disponibilidade hídrica para o crescimento dos vegetais.

As civilizações humanas foram marcadas pela proximidade com os rios(rio Nilo por
exemplo), não só com uso de abastecimento, mas tambem como local de recreação ou
lançamento de resíduos. Como consequência dessa proximidade e do uso desenfreado dos
recursos, muitos corpos hídricos foram seriamente afetados pelo homem, sendo em muitos
casos, reações irreversíveis. Hoje a água potável está seriamente ameaçada em todo mundo,
devido a distribuição desigual da disponibilidade hídrica e do alto nível de degradação que
muitos corpos hídricos se encontram.

Turbidez
A turbidez é um dos parâmetros de qualidade de água. Ela é a medida da dificuldade de um
feixe de luz atravessar uma certa quantidade de água. Ela é causada por partículas sólidas em
suspensão como argilas,silte, areia e matéria Orgânica. Sua unidade é o NTU (Nephelometric
Turbidity Unity ou em portugûes “unidades nefelométrica de turbidez”). Quanto mais elevado o
número, maior a presença de partículas sólidas em suspensão.

Como consequência do aumento da turbidez, ocorre menor entrada de luz, podendo causar
diminuição na fotossíntese de algas, menor taxa de oxigênio, causando aumento da mortalidade
de peixes, além da evidência de nível acima do indesejado de substancias tóxicas.

O aparelho que mede a turbidez é o Turbidímetro.


116

pH
Conhecido como Potencial hidrogeniônico, o pH representa um valor que varia de 0 a 14,
indicando acidez, neutralidade e alcalinidade da solução aquosa. O valor referente a 7 ,
representa o valor neutro, sendo quanto mais abaixo de 7 mais ácido, e acima alcalino. Uma
amostra de água com pH igual a 6 é 100 vezes mais ácida que uma amostra com pH 7.

Os valores pH influenciam diretamente na sua dinâmica dentro de um ecossistema,


principalmente por afetarem os seres vivos que estão ali presentes. A maioria das espécies de
espécies de peixes tem uma tolerância quanto aos valores de pH numa faixa de 6 a 8, sendo que
quando se encontram em águas com pH abaixo, ocorre aumento da mortalidade e em casos em
que o Ph se encontra muito abaixo, a morte total e instantânea das espécies. pH’s muito altos
tambem apresentam um risco as espécies de peixes, como por exemplo a Amônia que quando
presente em pH acima de 9 e alta temperatura, se torna extremamente tóxica aos peixes, por isso
o valor mais próximo do neutro (7) é o mais indicado para manutenção da qualidade do
ecossistema.

Existem diversos aparelhos e forma de medir o Ph, sendo o mais comum o pHmetro. O aparelho
é constituído por um eletrodo e um circuito potenciométrico. A medição ocorre após o aparelho
ser calibrado com a medição da solução tampão, e assim inserir o eletrodo dentro da amostra,
registrando um valor de potencial do eletrodo e convertendo na escala do pH
117

Além deste aparelho mais sofisticados, existem também no mercado aparelhos mais
simples, que podem ser manuseados no campo, ideais para trabalhos mais práticos.
118

Demanda bioquímica de oxigênio – dbo

Cayo Matheus de Amorim Scot

Introdução

A Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO – é a quantidade de oxigênio


dissolvido (OD) necessária para a matéria orgânica ser oxidada por vias bioquímicas
através de microorganismo (bactérias). Ela é lida como uma medida indireta da
quantidade de matéria orgânica presente em um corpo hídrico, efluente ou esgoto
doméstico (efluente é o termo usado para caracterizar os despejos líquidos provenientes
de diversas atividades ou processos).

A matéria orgânica biodegradável é consumida por microorganismos por vias


aeróbias (ou seja, com gasto de O2), gerando gás carbônico (CO2) e H2O. Corpos
hídricos com altas concentrações de material orgânico demandam altas quantidades de
oxigênio dissolvido para que haja a oxidação desse material por vias metabólicas
(bioquímicas). Há, deste modo, uma estreita relação entre a demanda de oxigênio e a
concentração de matéria orgânica.

Corpos hídricos contaminados por matéria orgânica possuem concentração de OD


reduzidas, visto que a demanda de consumo de oxigênio é maior. O consumo de OD
impacta na vida da fauna aquática e em casos de contaminações mais agressivas,
quando a DBO está em concentrações bem elevadas (ou seja, concetração de OD está
muito baixa), há a ameaça de destruição de tal ecossistema.

De acordo com Piveli, a DBO é o parâmetro fundamental para o controle da


poluição das águas por matéria orgânica:
i. é uma ferramenta imprescindível nos estudos de autodepuração
dos cursos d’água.
ii. é importante parâmetro na composição dos índices de qualidade
das águas.
iii. no campo do tratamento de esgotos (e efluentes) é um
parâmetro importante no controle da eficiência das estações de
tratamento.

A autodepuração é a capacidade que um corpo hídrico possui de, após contaminado


por algum efluente, voltar ao seu estado de equilíbrio inicial. É entendida como um
fenômeno de sucessão ecológica. Para rios considerados classe I, a DBO5,20 deve ser de
até 3 mg/L O2, e o OD, em qualquer amostra, não deve ser inferior a 6 mg/L O2.
Quando há despejo de um efluente composto por material biodegradável, há, nesta
119

região de despejo, a elevação da DBO e a diminuição de OD, contribuindo para a


degradação da qualidade da água deste corpo hídrico.

A DBO, portanto, é um parâmetro de grande importância para a classificação da


qualidade da água e, por isso, está elencada na CONAMA 357/2005, que é a legislação
a nível nacional que dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes
ambientais para o seu enquadramento. Deste modo também é elencada na CONAMA
430/2010, que dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes. Essas
resoluções operam juntas para que haja, assim, a classificação e garantia da qualidade
dos corpos hídricos. É importante salientar que há outras legislações nas esferas
estaduais e podem existir, também, nas esferas municipais, prevalecendo aquela(s) de
caráter mais restritivo no que tange aos padrões, ou seja, prevalece o padrão mais
rigoroso do parâmetro de qualidade da água e/ou do lançamento de efluente.

Nessas legislações, trabalha-se com a DBO5,20 (condição padrão), que é quantidade


de oxigênio requerida para oxidar a matéria orgânica pela ação de bactérias, sob
condições aeróbias controladas no período de 05 dias a 20ºC. Essas condições
controladas dizem respeito às condições dos ensaios nas determinações, que são a parte
experimental que se refere à quantificação de um parâmetro. Vale ressaltar que a
demanda bioquímica de oxigênio, independente da quantidade de dias e quais
temperaturas levam a incubação, será expressa em mg O2/litro (mg/L O2).

Esta DBO abordada, referente à biodegrabilidade da matéria orgânica, é chamada


de DBO carbonácea, entretanto é possível determinar a demanda de oxigênio necessária
para oxidar formas reduzidas de nitrogênio. Esta é chamada de DBO nitrogenada. A
oxidação das espécies nitrogenadas ocorre após a degradação da matéria orgânica,
portanto a DBO nitrogenada surge após a demanda carbonácea. Neste sentido, destaca-
se que a condição padrão (DBO5,20) é referente apenas à biodegração de compostos
orgânicos.

DBO e os efluentes

A DBO também possui seu protagonismo quando se trata de tratamento de esgoto e


efluentes industriais. É um parâmetro extremamente necessário para o controle da
eficiência das estações de tratamento (normalmente trabalha-se também com a
DBO5,20). Sperling expõe os principais parâmetros a serem observados e determinados
em função dos ramos de atividades industriais, ilustrando, em vista disso, o
protagonismo da DBO frente aos parâmetros para o controle dos processos de
tratamento:
120

V
ON
SPER
LING,
M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos

Cada efluente possui sua especificidade e terá sua faixa própria de concentração de
DBO como ilustra a imagem abaixo. Isso reflete no tratamento, seja nas etapas do
processo, seja no dimensionamento da estação. Deve-se destacar que esses valores da
imagem não excluem a necessidade da determinação experimental do parêmentro para
saber de maneira exata o valor da DBO no contexto real.
121

Determinação da DBO

Em linhas gerais, para a determinação da DBO faz-se necessário determinar o


oxigênio dissolvido em um intervalo de tempo (ex: dia 0 e dia 5) e em uma determinada
temperatura (ex: 20ºC), em seguida, calcula-se a variação do OD frente ao volume do
sistema, deste modo obtém-se a demanda bioquímica de oxigênio na prática. Há duas
maneiras de determinação de OD: método titulométrico (iodometria) e método
eletrométrico (oxímetro). A coleta da amostra deve ser em frasco de polietileno ou vidro
âmbar e o tempo máximo entre a coleta e a determinação analítica deve ser de 24h, caso
o tempo seja superior a 2h, faz-se necessário a preservação da amostra sob refrigeração
a 4ºC.
122

REFERÊNCIAS

BRASIL. Resolução CONAMA 357 de 17 de março de 2005. Brasília, DF, 2005.

BRASIL. Resolução CONAMA 430 de 13 de maio de 2011. Brasília, DF, 2011.

PINTO, Karla; RIBEIRO, Renato; SILVA, Gabriel. Sistemas Residúarios I. IFRJ,


2016.

PIVELI, Roque Passos; KATO, Mario Takayuki. Qualidade das águas e poluição:
aspectos físico-químicos, 2006.

VON SPERLING, M. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias.


Vol. 1. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgotos. DESA -
UFMG. 2ª ed. 1996.

Disponivel em: https://tratamentodeagua.com.br/artigo/estudo-autodepuracao/


123

QUALIDADE DO AR
Raysa Gabrielle Tavares Martins

Introdução

É sabido que o ar é considerado um recurso que deve ser preservado para melhora da
qualidade de vida. Dessa forma o ar compõe um dos indicadores ambientais denominado de
qualidade ambiental.

A troposfera é uma das camadas cinco camadas da atmosfera, a mesma encontra-se até
cerca de 12 km acima da crosta terrestre, e onde o homem desenvolve as suas atividades, acima
dessa camada encontra-se a estratosfera, chegando até uns 100 km sobre ela encontra-se a
ionosfera, onde a radiação ultravioleta da luz solar provoca reações fotoquímicas, com formação
de moléculas ativadas ou decomposição de moléculas em átomos ou íons. Quanto a composição
média da troposfera, esta camada é constituída por gases como Nitrogênio N², Oxigênio O²,
Argônio Ar, Dióxido de Carbono CO², Neônio Ne, Hélio He, Kriptônio Kr, Hidrogênio H²,
Óxido nitrosoN²O, Xenônio Xe, Ozônio O³, Dióxido de nitrogênio NO² , Iodo I, Monóxido de
carbono CO e Amônia NH³. Cabe ressaltar que além desses componentes citados acima a
troposfera também apresenta outros componentes de origem natural, cuja concentração pode
apresentar grandes variações, um exemplo de componente natural gasoso que é possível citar
trata-se dos óxidos de nitrogênio produzidos pelas descargas elétricas durante tempestades.
(DERISIO, 2012).

Como foi citado acima o ar é considerado um recurso, e é muito utilizado pelo homem, por
suas comunidades de maneira muitas vezes não harmônica, o que significa que as ações
humanas geram um ônus para o ar. O ar por sua vez apresenta-se de forma “livremente
disponível” o que dificulta o controle de seu uso, porém ainda assim é possível realizar controle
do uso para controle da poluição do ar. É importante destacar que o uso do ar é utilizado de
forma natural como uso metabólico natural do homem, dos animais e da vegetação e dos
benéficos meteorológicos. Outros usos também merecem destaque, pois são os mais
impactantes para a qualidade do ar, são eles: os processos industriais, combustão, transporte,
comunicação e principalmente a utilização do ar como receptor e transportador de resíduos da
atividade humana. E como resultado desses tais efeitos mencionados a partir do uso
indiscriminado ou abusivo, sobretudo em áreas geográficas limitadas ou confinadas, surge a
poluição do ar. (DERISIO, 2012).
124

Efeitos sobre a qualidade do ar

De forma geral podemos definir poluição do ar como a presença ou o lançamento, no


ambiente atmosférico, de substancias em concentrações suficientes para interferir direta ou
indiretamente na saúde, na segurança e no bem-estar do homem, ou no pleno uso e gozo de sua
propriedade. Em linhas gerais o uso básico do recurso ar é manter a vida. Todos os outros usos
devem sujeita-se à manutenção de uma qualidade de ar que não degradará a saúde ou o bem-
estar humano. Aspectos estéticos e o impacto econômico da poluição do ar e seu controle
também merecem ser apontados como setores importantes. (DERISIO, 2012).

Quanto aos danos causados pela qualidade do ar podem ser considerados levando-se em
conta alguns aspectos principais, como: saúde, materiais, propriedades da atmosfera, vegetação
e economia. Os efeitos da poluição no ar sobre a saúde podem provocar: doença aguda ou
morte; doença crônica, encurtamento da vida ou dano ao que crescimento; alteração de
importantes funções fisiológicas, tais com ventilação do pulmão, transporte de oxigênio pela
hemoglobina, adaptação ao escuro ou outras funções do sistema nervoso; sintomas adversos,
como por exemplo, a irritação sensorial, que na ausência de uma causa óbvia como a poluição
do ar, pode levar uma pessoa a procurar um médico; desconforto, odor, prejuízo da visibilidade
ou outros efeitos da poluição do ar suficientes para levar indivíduos a trocar de residência ou
local de emprego. Cabe ressaltar que estudos realizados têm apontado que a poluição é um fator
causador de doenças crônicas, enfisema e asma. (DERISIO, 2012).

Danos aos materiais também podem ser identificados no processo de poluição do ar sobre
materiais, entre eles é possível destacar a deposição e a remoção, abrasão, os ataques químicos
direto e indireto e a corrosão eletroquímica. Também vale destacar outros fatores que
influenciam os danos causados a materiais por atmosferas poluídas são eles: umidade relativa,
temperatura, luz solar, velocidade do ar, posição do material no espaço. (DERISIO, 2012).

Danos às propriedades da atmosfera refere-se a deterioração da visibilidade, ou seja quando


torna-se perceptível para um cidadão comum a existência da poluição que dificulta a
visibilidade. Define-se visibilidade como a maior distancia, numa dada direção, na qual é
possível ver e identificar a “olho nu”, durante o dia, um proeminente objeto escuro contra o céu
no horizonte, e durante a noite, contra uma conhecida e moderada fonte de luz. A visibilidade
urbana pode ser afetada pelos seguintes fatores meteorológicos: altura de inversão e velocidade
dos ventos, elevadas condições de umidade. (DERISIO, 2012).

Danos a Vegetação as plantas também podem ser afetadas pelos poluentes atmosféricos por
meio dos seguintes mecanismos: redução da penetração da luz (redução da capacidade de
fotossíntese) por sedimentação de partículas nas folhas ou por interferência de partículas em
suspensão na atmosfera. Deposição de poluentes no solo, pela sedimentação ou pela água da
chuva (carregamento) permitindo a penetração dos poluentes pelas raízes e alterando o solo. E
por fim, pela penetração dos poluentes pelos estômatos das plantas. Esta é a forma que
apresenta mais estudos e sobre a qual se tem maior de informações. (DERISIO, 2012).

Quanto aos danos à economia os efeitos adversos são diretamente provocados pela
poluição do ar são muito onerosos para os habitantes de áreas urbanas industrializadas. O custo
deste tipo de dano é complexo de se determinar, porém, estimativas podem e devem ser feitas.
A título de exemplo estima-se que o custo-benefício, estima-se que para cada dólar gasto no
125

controle da poluição do ar, evita-se o gasto de US$16 decorrente dos danos causados.
(DERISIO, 2012).

Medição da qualidade do ar
A Meteorologia pode ser entendida como o estudo dos fenômenos físicos da atmosfera que
se manifestam e ocorrem na natureza. Tais fenômenos exercem uma importante relação com a
poluição do ar. É relevante mencionar que as condições meteorológicas possibilita estabelecer
uma forma de ligação entre a fonte de poluição e o receptor, tendo como referencia o transporte
e a dispersão dos poluentes.

Estabilidade atmosférica refere-se aos movimentos ascendentes e descendentes de volumes


de ar. A mesma também depende da velocidade do vento, da turbulência atmosférica, do
gradiente de temperatura, da insolação, da chuva, da neve e de outras condições climáticas.
(DERISIO, 2012).

As alterações de estabilidade na atmosfera podem ocorrer pela:

• Aquecimento ou resfriamento de superfície;

• Da advecção ou transporte horizontal;

• Do deslocamento vertical de camadas;

Fonte: pp 121

Glossário: advecção - transmissão do calor pelo deslocamento de massa atmosférica no


sentido horizontal.

Qualidade do ar

Está relacionada com a avaliação de concentrações de poluentes na atmosfera é


fundamental importância no desenvolvimento de um programa de controle da poluição do ar
que pode ser realizado por órgão do governo responsável. Alguns propósitos da avaliação
podem ser:

Indicadores de qualidade referem-se ao nível de poluição do ar ou qualidade do ar, tais


indicadores são medidos pela quantidade das suas substancias poluentes. São considerados
poluentes do ar qualquer substância nele presente e que, pela sua concentração, possa torna-lo
improprio, nocivo à saúde, que cause desconforto ao bem-estar público, que gere danos
materiais, à fauna e à flora, prejudicial à segurança da comunidade, e que alguma forma afete
uso de propriedades ou traga alguma anormalidade às atividades normais. (DERISIO, 2012).

Os poluentes são divididos em duas categorias: Poluentes primários (emitidos diretamente


pelas fontes d emissão) e poluentes secundários (formados na atmosfera pela reação química
entre poluentes primários e constituintes naturais da atmosfera). (DERISIO, 2012).

As substancias usualmente consideradas poluentes são classificadas como:


126

Compostos de enxofre, compostos de nitrogênio, compostos orgânicos de carbono,


monóxido de carbono e dióxido de carbono, compostos halogenados, material particulado
(mistura de compostos no estado sólido ou líquido). (DERISIO, 2012).

Cabe mencionar que, mesmo mantidas as emissões, a qualidade do ar pode mudar em


função, basicamente, das condições meteorológicas, que determinam uma maior ou menor
diluição dos poluentes. É exatamente por isso, que a qualidade do ar piora durante os meses de
inverno, devido as condições meteorológicas serem desfavoráveis para dispersão dos poluentes.
Vale ressaltar também, que a interação entre fontes de poluição e a atmosfera vai definir o nível
de qualidade do ar, que determina, por sua vez, o surgimento de efeitos adversos da poluição do
ar sobre os receptores, que podem ser o homem, os animais, os materiais e as plantas.
(DERISIO, 2012).

Cabe mencionar como pode ser feito o índice de qualidade do ar. O índice é obtido através
de uma função linear segmentada, na qual os pontos de inflexão são os padrões de qualidade do
ar. A partir dessa função relaciona-se a concentração do poluente como o valor do índice,
resultará em um número adimensional relacionado a uma escala com base em padrões de
qualidade. Como aponta a tabela abaixo:

Fonte: DERISIO, 2012 pp.139.

• Índices entre que ultrapassem 100 são considerados de qualidade inadequada;

• Índices que ultrapassem 200 são classificados como Má;

• Índices classificados acima de 300 são classificados como Péssima;

• Índices acima de 400 são classificados com Crítica.

Contudo, a escolha sempre recai sobre um grupo de poluentes que são indicadores de
qualidade do ar, considerados universalmente: dióxido de enxofre, poeira em suspensão
(material particulado ou partículas em suspensão), monóxido de carbono (CO), oxidantes
fotoquímicos expressos como ozônio, hidrocarbonetos totais e óxidos de nitrogênio. (DERISIO,
2012).
127

Padrões de qualidade do ar
Princípios:

Fornecer dados para ativar ações de emergência durante período de estagnação atmosférica,
quando os níveis de poluentes na atmosfera possam representar risco à saúde pública.

Avaliar a qualidade do ar à luz de limites estabelecidos para proteger a saúde e o bem-estar


das pessoas;

Acompanhar as tendências e mudanças na qualidade do ar decorrentes de alterações nas


emissões dos poluentes.

Representam os objetivos a avaliação da qualidade do ar por monitoramento e ou


vigilância. (DERISIO, 2012)

Fontes de poluição

A partir do exposto, viu-se que as ações humanas, principalmente as atividades indústrias


são os principais poluidores do ar, tais ações resultam na produção de resíduos e até substâncias
poluentes. E por esta razão, as fontes de poluição podem ser classificadas em múltiplas ou
específicas. Fontes múltiplas podem ser oriundas de diversas atividades como veículos,
lavanderias, hospitais, evaporação de produtos de petróleo, queima de resíduos sólidos,
atividades que produzem odores, como restaurantes, aviários e quase todas essas atividades são
realizadas a partir da queima de combustível. Já as fontes específicas são aquelas que ocupam
na comunidade uma área considerada limitada, quase sempre são ligadas a atividades
industriais. (DERISIO, 2012).

Fontes fixas: indústria de minerais não metálicos, indústrias de metalúrgicas-fundições,


indústrias metalúrgicas-produtos, indústria de madeira e mobiliário, indústria têxteis, indústrias
de papel e papelão, indústrias de produtos alimentares e bebidas. (DERISIO, 2012).

Fontes móveis: veículos leves, veículos pesados. (DERISIO, 2012).


128

Técnicas de controle
Sobre o problema de poluição do ar podem ser consideradas quatro etapas, a saber:
produção, a emissão, o transporte e a recepção de poluentes. Em todas as etapas acima
mencionadas é possível intervir para reduzir os riscos da poluição e aplicar, na maioria dos
casos, métodos científicos e técnicos já conhecidos. É possível citar os seguintes métodos:

• Planejamento territorial e zoneamento;

• Eliminação e minimização de poluentes;

• Concentração dos poluentes na fonte para tratamento antes do lançamento;

• Diluição e mascaramento dos poluentes;

• Equipamentos de controle de poluentes.

(DERISIO, 2012).

Aspectos Legais e Institucionais

É fundamental mencionar os aspectos legais e institucionais que representam ferramentas


essenciais à implantação de programas de controle da polução do ar. Faz-se necessário no que
tange aos aspectos legais, a clareza, a simplicidade, a dinamicidade e a viabilidade de aplicação
dos dispositivos a serem considerados. A realidade brasileira, no que tange aspectos legais
relacionados à poluição do ar são representados pelas distintas esferas, federal e estadual,
quanto a municipal até o presente momento não há nada específico em termos de medidas legais
e institucionais relativas à poluição do ar. Na esfera federal o Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), criado em 1989, é órgão responsável
pela formulação, coordenação e execução da política nacional de controle da poluição do ar.
(DERISIO, 2012).

É importante destacar sete dispositivos, duas portarias e cinco resoluções:

• Primeiro a portaria Minter nº235, de 27/4/1976, estabelece os padrões de Qualidade do


ar;

• Segundo, a Resolução Conama nº18, de 6/5/1986, que instituiu o Programa de Controle


da Poluição do Ar por Veículos Automotores (Proconve), tendo sido editadas novas Resoluções
Conama com novas fases de controle e envolvendo outros tipos de veículos, tais como máquinas
agrícolas e rodoviárias;

• Terceiro, a Resolução Conama nº03, de 28/6/1990, que ampliou os poluentes


atmosféricos indicadores da qualidade do ar, passíveis de monitoramento e controle;
129

• Quarto, a Resolução nº08, de 6/12/1990, que fixou limites máximos de emissão de


poluentes do ar para processos de Combustão Externa em novas fonte fixas (caldeiras, geradores
de vapor, fornos, fornalhas, incineradores etc.);

• Quinto, a portaria do Ibama nº85, de 17/10/1996, que estabeleceu a criação e adoção de


um programa Interno de Autofiscalização da Correta Manutenção da Frota quanto à Emissão de
fumaça Preta;

• Sexto, a Resolução Conama nº297/2002, que instituiu o programa de Controle da


Poluição do Ar por Motocicletas e Veículos similares (Promot) contendo novas fases de
controle;

• Sétimo, a Resolução Conama nº382, de 26/12/2006, que estabeleceu limites máximos


de emissões para a atmosfera para as novas fontes fixas por tipo de poluente e por tipologia d
fonte geradora.

Sobre a qualidade, foram considerados padrões primários e secundários, são eles:

• Padrões primários que qualidade do ar representam as concentrações de poluentes que,


excedidas, podem afetar a saúde da população.

• Padrões secundários de qualidade do ar representam as concentrações de poluentes


abaixo das quais é possível prever o mínimo de efeito adverso sobre o bem-estar da população,
assim como dano mínimo à fauna , à flora, aos materiais e ao meio ambiente.

QUALIDADE DO SOLO

Thaina Oliveira

Mecanismo de formação dos Solos

O solo pode ser entendido como um corpo natural tridimensional e dinâmico que está inserido
na paisagem, de acordo com Pennock e Veldkamp (2006). Para conseguirmos entender o
conjunto solo, é fundamental estudar seus aspectos de formação separadamente, pois os mesmos
resultarão em sua classificação.

Durante esse processo de formação, o solo apresentará características físicas, químicas,


biológicas e morfológicas que podem ou não diferirem entre si, isto é, mediante ao mecanismo
de formação, é possível analisar essas diferenças.

Através de uma equação proposta por Jenny:

Solo = f (clima, organismo, relevo, material pariental, tempo)


130

Esses fatores podem ser estudados isoladamente, no caso do material pariental ou material de
origem, estão inclusos rochas e sedimentos que mais tarde irão influenciar na composição
quimica e mineralógica, cor e textura (Brady e Weil, 2013). As rochas ainda podem ser
classificadas como ácidas e claras, que são as rochas magmáticas ou ígneas; rochas escuras e
básicas, são resultados de rochas ígneas e metamórficas escuras; os sedimentos consolidados
originam solos variados, sedimentos inconsolidados tendem a originar solos arenosos. O
material de origem, ainda pode estar relacionado com a disponibilidade de alguns elementos,
como é o caso das rochas félsicas, que apresentam baixos teores de Ca, Mg, Fe e Mn; rochas
máficas disponibilizam altos teores de Ca, Mg e Fe; rochas ultrabásicas ao fornecer altos teores
de Ni, Co, Cu e Mg podem gerar problemas de toxidez no solo, aqui podemos, por exemplo,
citar mais um fator de formação, o tempo, e mostrar como pode estar ligado com o material
pariental. Quando exposto ao tempo, o mesmo pode resultar em um solo mais jovem ou maduro,
de acordo com o grau de intemperismo, que também pode ter a influência do clima, através da
precipitação pluviométrica, as taxas de evaporação e a temperatura, importante para processos
de formação do solo, pois solos formados em condições de climas semi-áridas ou frios possuem
elevada fertilidade, já solos condicionados de elevadas temperaturas e umidades resultam em
solos de baixa fertilidade. A temperatura também contribui para o crescimento de organismos,
presente no inicio da formação do solo, nesse caso os líquens e o musgos.

“ A água fornecida pelas chuvas tem efeito direto na formação do solo, pois através das
reações de hidrólise, há a alteração do material de origem e a remoção dos solutos originados
na reação. Além disso, a água atua na translocação, adição ou remoção de materiais no
interior do perfil do solo.”

A atuação da água pode ter como um dos principais veículos, o relevo, como como lixiviação de
solutos, atuação de processos erosivos e condições de drenagem

A água como agente transformador

A parcela de água precipitada sobre a superfície sólida, pode ter três vias distintas: a
infiltração, a evapotranspiração e o escoamento superficial. É por meio da infiltração que se
realiza o recarregamento das reservas freáticas e a reidratação dos solos, ou seja, dos depósitos
de água disponível para a vegetação terrestre e para as atividades biológicas que se desenvolvem
nas camada superficiais dos continentes. Essa água, acumulada por efeito de infiltração, é
restituída a atmosfera por meio da evapotranspiração.

Desse modo, a água não é só importante na formação do solo, como também, pode servir
de canal para a contaminação do mesmo, na introdução e no transporte de determinados
resíduos. Nessa interação, esses dois recursos, importante para a vida e a manutenção do
planeta, afetam também a sua economia e sociedade. Ao pensar nesses recursos como infinitos e
pela escassa educação ambiental sua exploração se torna mais intensa.

A conservação dos solos


A vida no solo para ser bem compreendida, é necessário obedecer e seguir o seu estado
natural, o seu tempo de formação pode acontecer em bilhões de anos, enquanto sua
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deterioração, questão de meses. A sua conservação acontece, quando conservamos também os


ciclos envolvidos no mesmo, como o ciclo do carbono, nitrogênio, fósforo, elementos essenciais
para o ecossistema. O solo funciona como um organismo vivo, o qual depende de temperatura,
umidade, ph, microrganismos, isto é, tantos fatores físicos, químicos e biológicos para se manter
produtivos. Para isto, são adotadas práticas de manejo que visam a conservação do solo que
passa desde a forma com que serão feitas as técnicas de intervenção, ao tipo de cultura que será
instalada.

A contaminação dos solos

Atividades potencialmente poluidoras tendem a gerar resíduos, que por diversas vezes são
armazenados e descartados em locais inadequados, o que pode gerar a contaminação do solo. A
situação é ainda mais crítica, quando a contaminação dos solos, acarreta também na
contaminação dos lençóis freáticos, que devido ao aumento da crise hídrica, tem um papel cada
vez maior no abastecimento agrícola e domiciliares. Uma vez contaminado, toda captação pode
estar comprometida, agravando ainda mais o déficit hídrico no campo e principalmente na
cidade.

Locais inadequados como lixões e terrenos baldios, onde são geralmente depositados todo tipo
de resíduo, apresentam um grande perigo para a conservação dos solos. A criação dos Aterros
sanitários tem como característica o armazenamento e descarte de forma segura dos resíduos,
sobretudo industriais, salvo os radioativos, que por questões de segurança, estão sujeitos a um
tratamento especial, que consiste no seu armazenamento e não descarte, como os demais.

O impacto gerado pela contaminação do solo, pdoe ocasionar na deterioração de todas as formas
de vida ali presentes, trazendo ume enorme prejuízo ambiental ao ecossistema inserido.
Acidentes ambientais como o ocorrido em Mariana, pela empresa Samarco, ocasionaram na
contaminação do solo, com os rejeitos das barragens, prejudicando o crescimento de plantas,
contaminando animais ao redor, entre muitos outros impactos gerados.

A qualidade do solo

Os estudos referentes a qualidade do solo, geralmente são direcionados para a capacidade


produtiva do solo. As grandes culturas exigem bastante teor nutricional, e para que a adubação
não seja feita de forma excessiva ou insuficiente, são elaborados testes afim de quantificar a
quantidade de nutrientes no solo, além do Ph, que pode vir a indicar se o solo é ácido ou mais
básico.

Embora esses estudos sejam relacionados com a adubação, eles também podem ser indicativos
da contaminação do solo, uma vez que a estrutura do solo, química e física podem ser alterada
por resíduos de empreendimentos.

Quando se trata de medir a qualidade do solo é preciso estar atento ao aspecto:

Físico: Relacionado com a estrutura do solo, como a densidade, maleabilidade, forma dos
agregados e etc. Resíduos industriais podem afetar diretamente a estrutura do solo presente,
embora os demais fatores sejam mais afetados.
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Químico: Relacionado com as propriedades do solo, uma vez que ocorre uma alteração das
suas características químicas, todo o solo pode ficar comprometido. Resíduos industriais podem
modificara s propriedades químicas do solo torna-lo toxico, além de prejudicar seu uso para
pecuária e agricultura.

Biológico: Estão presentes no solo, uma série de seres vivos, que interagem entre sí e
participam da dinâmica do solo, sendo quanto mais complexo os processos dentro dos
ecossistemas, maior a interação e participação de seres vivos. Ecossistemas como o de florestas
tropicais apresentam uma alta dependência da ciclagem de nutrientes, que ocorre justamente
pela participação dos seres vivos ali presentes, da mciro e macro fauna do solo. Alterações no
solo, podem ocasionar em um dano sobre os seres vivos, ai presentes, podendo causar a
esterilidade do solo ou até sua toxidez mais elevada, fazendo com que represente um perigo para
a sociedade de uma forma geral.

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