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Sermão do Dia do Espírito de Profecia

De Volta ao Altar
Por Dwain N. Esmond, Diretor Associado, Patrimônio White

Se a Bíblia pudesse ser comparada com alguma coisa, talvez a escolha mais apropriada
seria uma montanha-russa. Suas histórias capturam os altos e baixos dos primeiros
milênios na Terra.
Há o alto da criação e o baixo da queda (Gn 3, 4). Há o alto das pessoas que nasceram da
descendência de um patriarca que Deus queria usar para salvar o mundo do pecado (Gn
12:1-3; Gn 17:4) e então há o baixo da perda de propósito e da falta de comprometimento,
de pecado e apostasia nacional, conforme encontramos em 1 Reis 18:16-45. Nessa
preocupante passagem, sentimos o poder majestoso do Deus Todo Poderoso e a total
fraqueza dos deuses humanos. Aqui vemos o cume da paciência de Deus e o vale da
desobediência da humanidade, o auge da adoração verdadeira e o limiar da falsa adoração,
a vitória do Deus verdadeiro e a derrota dos falsos deuses!
A atmosfera daquele decisivo dia no monte Carmelo estava carregada, embora um
misterioso silêncio houvesse tomado conta da multidão reunida. Em tempos anteriores,
essa montanha arborizada e elevada tinha sido exuberante, verde e linda. Ela recebia
muita chuva e era considerada um lugar santo, um lugar de bênção e fertilidade1. Mas
tudo isso mudou. O que costumava ser verde estava agora queimado e vazio, resultado de
uma dura seca de três anos e meio (1Rs 17:1; 18:1; Tg 5:17). Veja a descrição contundente
de Ellen White sobre Israel naquela época:
“A terra está calcinada como que pelo fogo. O abrasador calor do Sol destrói a pouca
vegetação que sobreviveu. Os rios secam, e os rebanhos mugindo e balando vagueiam
desesperados de um para outro lugar. Campos outrora florescentes, tornam-se como
escaldantes desertos de areia — uma desoladora ruína. Os bosques dedicados ao culto dos
ídolos estão desfolhados; as árvores das florestas, descarnados esqueletos da natureza,
não dão sombra. O ar é seco e sufocante; tempestades de poeira cegam os olhos e quase
impedem a respiração. Cidades e vilas outrora prósperas tornaram-se lugares de lamento.
Fome e sede atingem homens e animais com terrível mortalidade. A inanição, com todos
os seus horrores, aproxima-se cada vez mais”2.

Por dentro da seca


Talvez até maior que a seca física que dominava o reino do Norte de Israel fosse sua falta
de fé, uma seca espiritual que havia deixado o povo de Deus sedento e desidratado, e
aparentemente alheio à sua terrível condição. Israel era na época governada pelo cruel rei
Acabe e sua famosa esposa, Jezabel – provavelmente a pior escolha de esposa já feita.
Enquanto ele buscava satisfazer sua esposa sidônia (1Rs 16:29-33), ele deixou sua aliança
com o Deus verdadeiro para adorar falsos deuses. A escolha de um cônjuge tem
consequências eternas e poucas pessoas consideram seriamente suas ramificações
geracionais.
O que começou como um pequeno ato de compromisso religioso se tornou uma completa
apostasia ao chegarmos em 1 Reis 18. O sétimo rei de Israel foi tão longe que ele construiu
para sua esposa má um templo para Baal em Samaria, a capital do reino. E isso não acabou
por aí. Acabe também ergueu um poste para Aserá, reunindo 400 sacerdotes para
administrarem o culto pagão. Jezabel tinha não um, não dois, mas 850 profetas servindo
Baal e Aserá, seus deuses. E tudo isso não a satisfez!

1
Ellen G. White, Profetas e Reis (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 70.
2
Ellen G. White, Profetas e Reis (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 59.
Convivência turbulenta
O primeiro ato registrado de Jezabel nas Escrituras é o “genocídio dos profetas”. Um falso
culto e falsos adoradores sempre buscarão a morte de uma adoração verdadeira e de
adoradores verdadeiros. A falsa e a verdadeira adoração não podem coexistir. Uma
precisa morrer para que a outra possa viver.
Em 1 Reis 18:4, a Bíblia diz que quando Jezabel estava perseguindo e matando os profetas
do Senhor, Obadias, um oficial da corte de Acabe, que temia grandemente o Senhor,
escondeu 100 deles em duas cavernas e secretamente os alimentava com pão e água. A
Bíblia declara que Acabe “cometeu mais abominações para irritar o Senhor, Deus de
Israel, do que todos os reis de Israel que vieram antes dele” (1Rs 16:33). Acabe, Jezabel
e o reino de Israel tinham agora a atenção completa de Deus. Ellen White faz uma
observação: “Apelos constantemente repetidos, admoestações e advertências tinham
falhado em levar Israel ao arrependimento. Havia chegado o tempo em que Deus devia
falar-lhes por meio de juízos”3.
Foi nessa crise espiritual devastadora que Deus chamou o profeta Elias, um homem cujo
nome significa “Jeová é meu Deus”. É como se Deus tivesse visto esse momento na
história e sonhado com Elias para resolver a situação. Deus conhecia Elias antes mesmo
dele ter nascido, o santificou como profeta, e o trouxe para confrontar Acabe e Jezabel no
momento designado. Satanás pode ter tido seu casal no palácio, mas Deus tinha Seu servo
no campo.
Amigos, vocês podem não saber agora, mas seus dons, seus talentos e suas capacidades
únicas foram ordenadas por Deus para algum propósito maior. Nunca duvide que Deus
tem algo importante para vocês fazerem! Sobre Elias, Ellen White comenta: “Habitava
nos dias de Acabe um homem de fé e oração cujo destemeroso ministério estava destinado
a deter a rápida disseminação da apostasia em Israel”4.

Deus envia um profeta


Quando Elias confrontou Acabe, ele acusou o profeta de Israel de ser um “perturbador”
(1Rs 18:17). Talvez isso seja compreensível, pois foi Elias que declarou que não cairia
uma gota de chuva em Israel enquanto ele não dissesse o contrário (1Rs 17:1). Três anos
depois, a determinação de Acabe havia se acabado. Quando Elias ordenou que Acabe o
encontrasse no monte Carmelo, junto com os outros profetas de Baal e Aserá, ele
submissamente obedeceu. Tal era a autoridade espiritual e o favor de Deus sobre Seu
servo. Como ele possuía tanto poder? Ele estava em uma missão sagrada para reconstruir
o destruído altar de adoração de Israel ao Deus vivo e verdadeiro!
Este, queridos amigos, é sempre o foco da intervenção de Deus nos assuntos humanos.
Deus está sempre buscando trazer os seres humanos de volta a uma relação verdadeira
com Ele, e Ele chama profetas e profetisas para entregar Sua mensagem quando nos
perdemos. A Igreja Adventista do Sétimo Dia crê que Ellen G. White recebeu o dom
profético para chamar homens e mulheres – especialmente aqueles da Igreja Adventista
do Sétimo Dia – de volta ao “altar” das Escrituras.
No sexto volume do livro Testemunhos para a Igreja, ela escreve: “Temos de recebê-la
como a autoridade suprema”5. Ela, mais tarde, comenta na introdução do livro O Grande
Conflito, seu emblemático livro sobre o conflito entre o bem e o mal: “As Santas
Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalível revelação de Sua vontade. Elas
são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência”6. No

3
Ellen G. White, Profetas e Reis (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 57.
4
Ibid.
5
Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2004), v. 6, p. 402.
6
Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira,) p. 9.
segundo volume do livro Testemunhos para a Igreja, ela observa: “Se tivessem feito da
Bíblia o objeto de seus estudos, com o propósito de atingir o padrão bíblico e a perfeição
cristã, não necessitariam dos testemunhos. É porque negligenciaram tomar conhecimento
com o Livro inspirado de Deus que Ele procurou alcançar vocês por meio de testemunhos
simples e diretos, chamando a sua atenção para as palavras da inspiração que
negligenciaram obedecer, e insistindo com vocês para modelarem a vida de acordo com
os seus ensinamentos puros e elevados”7. E para que não pensássemos que seus
testemunhos deveriam substituir as Escrituras, ela deixou claro: “Não devem os
testemunhos da irmã White ser postos na dianteira. A Palavra de Deus é a norma infalível.
[…] Provem todos a própria atitude por meio das Escrituras e fundamentem pela Palavra
de Deus revelada todo ponto que vindicam ser verdade”8.
No chamado da Igreja remanescente de Deus de volta para a Bíblia, Ellen White estava
fazendo uma obra imbuída de um espírito parecido ao de Elias no monte Carmelo em 1
Reis 18. Aqueles que adoram a Deus, precisam adorá-Lo em espírito e em verdade (Jo
4:24). Elias estava chamando o povo de Israel de volta à Palavra de Deus, bem como à
adoração a Deus. De igual modo, os escritos de Ellen White devem nos chamar de volta
à Palavra de Deus, bem como à adoração a Deus!
“Venha se encontrar comigo no monte Carmelo”, o servo de Deus ordenou. “Convoque
também os quatrocentos e cinquenta profetas de Baal e os quatrocentos profetas da deusa
Aserá que são sustentados por Jezabel” (1Rs 18:19) e vejamos quem é o Deus verdadeiro!
Certifiquem-se de que todos estejam lá! Quando todo o povo de Israel se reuniu no árido
monte, Elias ordenou que dois novilhos fossem trazidos. Ele seriam mortos e um seria
preparado pelos profetas de Baal e o outro pelo próprio Elias. “Então eles invocarão o
nome de seu deus, e eu invocarei o nome do Senhor. E há de ser que o deus que responder
com fogo esse é que é Deus. E todo o povo respondeu: — É uma boa proposta!” (1Rs
18:24).
O restante da história é bastante conhecida. Os profetas de Baal clamaram a seus deuses
desde a manhã até ao meio-dia, e nenhum fogo consumiu o sacrifício deles. Anos de falsa
adoração, anos de pecado e apostasia, anos de impotência espiritual estavam em evidência
para toda a nação ver. As esvoaçantes vestes sacerdotais não significavam que os
charlatães espirituais de Baal possuíam poder. Os sermões sobre prosperidade que eles
pregaram por anos eram de proveito algum naquele dia. Ou se conhecia o verdadeiro Deus
ou não. Naquele dia, as poderosas alianças religiosas eram inúteis no monte Carmelo. A
única coisa que importava era se se conhecia o verdadeiro Deus vivo ou não, se era
possível elevar uma oração a Deus ou não!
Quando Elias começou a zombar dos profetas de Baal, exortando-os a gritar mais alto
para chamar a atenção dos deuses, a cena virou um pesadelo: “E eles clamavam em altas
vozes e se cortavam com facas e com lanças, segundo o seu costume, até ficarem cobertos
de sangue” (1Rs 18:28). Eles continuaram com a gritaria frenética e sangrenta até o
momento do sacrifício da tarde, mas nenhum fogo desceu por parte do deus deles. Baal
não tinha “poder de fogo”!

Poder de fogo
1 Reis 18:30 diz: “Então Elias disse a todo o povo: — Aproximem-se de mim. E todo o
povo se aproximou dele. Elias restaurou o altar do Senhor, que estava em ruínas”. O
profeta então pegou 12 pedras, uma para cada uma das 12 tribos descendentes de
Jacó/Israel, e com elas construiu um altar e fez uma vala ao redor dele (v. 32). Então, ele
armou a lenha no topo do altar, colocou o sacrifício sobre ele e pediu que três cântaros de
7
Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), v. 2, p. 605.
8
Ellen G. White, Evangelismo (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), p. 256.
água fossem derramados sobre o sacrifício. Com as línguas ressequidas provando o seco
ar, com os sedentos lábios horrorizados com o “desperdício” de água por parte de Elias,
o homem de Deus gritou: “Façam novamente”. Ele repetiu sua ordem mais duas vezes
até que a água escorresse pelo altar e enchesse a vala (v. 35).
1 Reis 18:36-39 registra o triunfo magnificente no Carmelo. E aconteceu que, no
momento do sacrifício da tarde, Elias orou a Deus: “Ó Senhor, Deus de Abraão, de Isaque
e de Israel, que hoje se fique sabendo que tu és Deus em Israel, e que eu sou o teu servo
e que, segundo a tua palavra, fiz todas estas coisas. Responde-me, Senhor, responde-me,
para que este povo saiba que tu, Senhor, és Deus e que fizeste o coração deles voltar para
ti. Então caiu fogo do Senhor e consumiu o holocausto, a lenha, as pedras e a terra, e ainda
lambeu a água que estava na vala. Quando o povo viu isso, todos se prostraram com o
rosto em terra e disseram: — O Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!”
A demonstração do poder de Deus foi inconfundível, incomparável e inesquecível! Em
um instante, Deus havia reequilibrado as balanças, restaurado Sua honra, reclamado Sua
credibilidade e reordenado as prioridades espirituais da nação.
Amigos, alguma vez Deus já reequilibrou as coisas na sua vida quando parecia que o
inimigo estava ganhando? Alguma vez Deus o fez gritar: “O Senhor é Deus! Só o Senhor
é Deus!”?

De volta ao altar
Não podemos deixar de comemorar o triunfo de Deus no monte Carmelo, mas há uma
parte dessa narrativa bíblica que é frequentemente esquecida. Fico profundamente tocado
por algo que Elias fez naquele dia especial. Vamos olhar com atenção para a história.
Você já pensou nas muitas maneiras pelas quais Deus poderia ter demonstrado Seu poder
no monte Carmelo? Por exemplo, se foi Deus quem nos deu fôlego (Gn 2:7), será que Ele
não poderia reter o fôlego dos profetas de Baal e de Aserá? Eles cairiam mortos no chão.
Isso seria uma maravilhosa prova da Sua divindade, mas as pessoas no monte Carmelo e
as gerações posteriores serviriam a Deus, para sempre, por medo. Talvez eles até O
apelidariam como “Jeová, o Deus que tira o fôlego”. Cada respiração seria um evento
cheio de medo com um Deus assim.
Elias poderia pedir para Deus erguê-lo nos ares acima dos falsos profetas no monte
Carmelo. Com certeza, se as pessoas o vissem flutuando no céu sem ajuda, isso seria um
sinal miraculoso de que seu Deus era o Deus verdadeiro. Isso poderia ter funcionado com
alguns curiosos naquele dia, mas muitos atribuiriam isso à mágica – alguma feitiçaria do
vento, alguma brisa forte, tudo menos Deus.
Querida família de Deus, Elias poderia ter pedido a Deus para demonstrar Seu poder
naquele dia de várias maneiras, mas naquele fatídico dia, Elias escolheu uma maneira:
Ele pediu para Deus Se provar no altar! Quando a disputa começou, quando os profetas
de Baal mataram o novilho deles, quando eles clamaram e se cortaram até à tarde, Elias
disse ao Israel apóstata: “Vamos voltar ao altar – o altar quebrado, esquecido, raramente
utilizado do Deus verdadeiro e vivo!”

Altares na Escritura
Este não é o primeiro altar mencionado nas Escrituras! Há uma insinuação da existência
de um altar no Éden, após a queda de Adão e Eva. Deus fez roupas de pele para cobrir a
nudez deles (Gn 3:21) sacrificando um animal, um tipo de Cristo que mais tarde se
sacrificaria para cobrir a nudez espiritual da humanidade. Em Gênesis 4, quando Abel
trouxe as primícias de seu rebanho ao Senhor como oferta, havia um altar implícito ali.
Quando Deus libertou Israel do cativeiro egípcio, Ele disse a Moisés em Êxodo 25:8: “E
farão para mim um santuário, para que eu possa habitar no meio deles”. O santuário tinha
um altar de bronze sobre o qual eram oferecidos sacrifícios diários a Deus.
Sem dúvida, há mais de quatrocentos altares mencionados na Bíblia. Os altares nas
Escrituras representam lugares de comemoração e consagração. Eles são símbolos da
experiência devocional de alguém com Deus, de adoração ao verdadeiro Deus. Os altares
nas Escrituras eram frequentemente construídos para comemorar encontros com Deus
que tiveram um impacto na vida de alguém. Quando Deus fazia algo acima do normal,
sobrenatural, muito especial ou pacífico, os beneficiários da bênção de Deus desejavam
lembrar o que Deus havia feito.
Por exemplo, quando Deus disse a Abraão que Ele daria a terra de Canaã aos seus
descendentes (Gn 12:7), Abraão construiu um altar ali, porque seu encontro com Deus foi
“acima do normal”. Naquele momento, Deus prometeu transcender tudo que era normal
na vida de Abraão e fazer de sua semente uma grande e poderosa nação.
Quando Isaque estava vagueando pelo deserto de Gerar e lutando com a população local
pelo poço de água, Deus apareceu para ele e disse: “Eu sou o Deus de seu pai Abraão.
Não tenha medo, porque eu estou com você. Eu o abençoarei e multiplicarei a sua
descendência” (Gn 26:24, 25). Isaque comemorou esse encontro divino construindo um
altar naquele mesmo lugar, porque seu encontro com Deus foi “sobrenatural”. Deus havia
rompido a ordem natural da vida de Isaque para reafirmar que Sua promessa a seu pai era
agora dele.
O filho de Isaque, Jacó, viajou para um lugar chamado Betel (Gn 35:3), e ali ele construiu
um altar em honra ao Deus que apareceu a ele durante sua fuga de Esaú. Porque aquele
encontro com Deus foi “muito especial”, Jacó construiu um altar ali!
O amedrontado Gideão ficou agradavelmente surpreso quando Deus apareceu para ele
em paz e o chamou para liderar a nação à vitória. Gideão ficou tão tocado que construiu
um altar naquele lugar e o chamou de “Jeová é paz” (Jz 6:24), porque seu encontro com
Deus foi “muito pacífico”!
Os altares representam o desejo de alguém de se consagrar totalmente a Deus e de nunca
esquecer o que Deus fez em seu favor. Eles são um reconhecimento de que nós não somos
Deus! Há coisas que não podemos fazer por nós mesmos! Eles dão presença visual ao
Deus invisível, e eles nos desafiam a lembrar Dele. É por isso que o primeiro ato de Elias
na busca por reconciliar o Israel apóstata com Deus foi chamar Israel de volta ao altar de
adoração ao Deus verdadeiro e vivo!

Quem o destruiu?
Uma pergunta que alguém precisa enfrentar nessa narrativa é: Como o altar de Israel foi
destruído e dilapidado? O altar de Israel ficou assim porque a nação havia acrescentado
coisas em sua adoração que eventualmente os desviaram de Deus. Em Êxodo 32:8, Arão
não proibiu a verdadeira adoração, ele apenas acrescentou um bezerro e disse: “São estes,
ó Israel, os seus deuses, que tiraram você da terra do Egito”. Afinal de contas, Moisés
estava no monte, Deus parecia estar em silêncio, e o povo estava inquieto. Eles
precisavam de algo, então Arão usou a criatividade. Ele acrescentou à experiência de
adoração deles, numa época em que estavam apenas aprendendo de novo a adorar a Deus
em espírito e verdade. Família de Deus, cuidado com o que você acrescenta à sua vida
quando Deus parece estar fora de vista!
Jeroboão não proibiu a adoração no templo em Jerusalém. Ele apenas acrescentou dois
bezerros em Dã e Betel (1Rs 12:26-30). Ele era um líder fraco com um complexo
narcisista. Se o povo do reino do Norte de Israel fosse adorar no templo do Senhor no
reino do Sul de Judá, ele pensava que seus corações o deixariam. Era simplesmente mais
conveniente mantê-los perto. Deus entenderia, não é? Israel se destruiu, em grande parte,
por causa da negligência. Eles desenvolveram conveniências que faziam a adoração “mais
fácil”. Família de Deus, cuidado com as conveniências que substituem a verdadeira
adoração pela falsa adoração!

Altares em crise
Neste momento, estamos testemunhando um dos desafios mais significativos da história
para o altar de culto pessoal e familiar. Estudos mostram que em 2022, a maioria das
pessoas gasta em média 2 horas e 27 minutos por dia em redes sociais9. A maioria desse
tempo é gasto em celulares. Crianças entre 8 e 12 anos nos Estados Unidos gastam de 4
a 6 horas por dia assistindo ou usando telas10. Adolescentes passam até 9 horas por dia
em frente das telas, e esse dado é ecoado em outras partes do mundo. Estudos estão cada
vez mais nos sensibilizando sobre o que essas telas estão fazendo conosco!
Estudos mostram que nosso uso não saudável de tecnologia, especialmente de celular e
rede social, está causando um grande dano em nós.
O uso prejudicial das redes sociais:

● Estraga nossa habilidade de concentração e foco;


● Faz-nos sentir solitários;
● Aumenta nosso nível de estresse;
● Aumenta a depressão e a ansiedade;
● Distorce negativamente nossa imagem corporal;
● Encoraja padrões de sono não saudáveis;
● Leva ao vício (ciclo de dopamina);
● Promove o bullying virtual;
● Causa medo de perder oportunidades;
● Promove expectativas não reais;
● Causa déficit de memória11.

Um autor observou que vivemos vidas mediadas pelas telas. As telas ficam entre a pessoa
que cria e a pessoa que recebe. Quanto mais o tempo frente a frente diminui, mais
perdemos a riqueza da comunicação pessoal. “Nós fomos criados por Deus com um
desejo inato de ter um contato intermediado e de comunicação com Deus”12. O que
acontece quando a mente está tão mudada que ela tem dificuldade para adorar a Deus sem
mediação? Podemos adorar a Deus dessa forma, sem sentir como se quiséssemos abortar
a experiência?
Muito antes dos cientistas descobrirem esses efeitos, Ellen White escreveu em 1888: “É
lei, tanto da natureza intelectual como da espiritual que, pela contemplação, nos
transformamos. O espírito gradualmente se adapta aos assuntos com os quais lhe é

9
World Economic Forum. https://www.weforum.org/agenda/2022/04/social-media-
internetconnectivity/#:~:text=Global%20internet%20users%20spend%20an,these%20markets%20poten
tially%20driving%20growth.
10
“Screen Time and Children” (2020). American Academy of Child & Adolescent Psychiatry.
https://www.aacap.org/AACAP/Families_and_Youth/Facts_for_Families/FFF-Guide/Children-And-
Watching-TV-
054.aspx#:~:text=On%20average%2C%20children%20ages%208,use%20may%20lead%20to%20problem
s.
11
Ibid.
12
Tim Challies, The Next Story: Faith, Friends, Family and the Digital World (Grand Rapids, MI:
Zondervan, 2011).
permitido ocupar-se. Identifica-se com aquilo que está acostumado a amar e
reverenciar”13.
Em 1872 ela fez essa surpreendente declaração: “Cada órgão do corpo foi feito para ser
servo da mente. A mente é a capital do corpo”14. E novamente em 1896: “A mente rege
o homem todo. Todas as nossas ações, quer sejam boas ou más, originam-se na mente. É
a mente que adora a Deus e nos põe em contato com os seres celestiais”15. Os aparelhos
têm cada vez mais se tornado deuses para nós, e você sabe que algo se tornou um deus
quando você não consegue imaginar sua vida sem ele.
É de se admirar que uma recente pesquisa mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia
mostrou que apenas 52% dos membros fazem o culto pessoal matinal e vespertino, e
apenas 37% das famílias fazem o culto familiar?16
Como é que uma igreja com a mensagem centrada em aceitar Jesus Cristo como Senhor
e Salvador, e adorar Aquele que fez os céus e a terra, o mar e as fontes das águas (Ap
14:6-7) entrega essa mensagem, se nem ela mesma O está adorando? Como é que
chamamos pessoas para o altar quando nossos altares estão destruídos? Nossos aparelhos
não são maléficos. A tecnologia não é maléfica, mas como nós a usamos pode roubar o
nosso precioso tempo com Deus, e a capacidade mental de experimentar uma comunhão
total com Ele.
Pela contemplação, nós somos transformados! Com frequência, o maior resultado é
negligenciado no altar da adoração – tempo reservado para a devoção a Deus.
Acabe e Jezabel tinham feito simplesmente o que os líderes antes deles haviam feito. Eles
acrescentaram deuses que roubavam o tempo do Deus verdadeiro. Eles acrescentaram
deuses que roubavam as mentes do Deus verdadeiro. Eles acrescentaram deuses que
mudavam a eles e aos seus desejos por Deus e Seu altar. O altar que Elias viu no monte
Carmelo estava em ruínas porque o comprometimento do povo para com o Deus
verdadeiro havia sido destruído.
O altar que Elias viu aquele dia estava despedaçado porque o coração do povo estava
despedaçado. O que nós contemplamos, o que desejamos, o que colocamos em frente de
nós nos muda! É uma lei da natureza tão certa quanto a lei da gravidade. Não é de se
admirar que o rei Davi declarou: “Não porei coisa injusta diante dos meus olhos” (Sl
101:3). O que colocamos diante de nosso rosto nos muda.

Um tesouro escondido
Frequentemente esquecido na história de Elias no monte Carmelo é uma nota em 1 Reis
18:36. Na “hora do sacrifício da tarde”, Elias orou para que fogo caísse do Céu, para que
Deus mostrasse que Ele era o Deus de Israel. As experiências de adoração matinal e
vespertina formavam os fundamentos espirituais da vida israelita. Deus havia instituído
essa experiência de adoração pessoal/familiar para desenvolver uma cadência em Seu
povo: “Ofereça um cordeiro de manhã e o outro, ao crepúsculo da tarde” (Ex 29:39), disse
Deus. De uma maneira bem real, Elias não estava apenas chamando a nação de volta ao
altar da adoração verdadeira; ele estava chamando a nação de volta ao altar da adoração
sistemática e regular do Deus verdadeiro! O altar de adoração corporativa de Israel estava

13
Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), v. 1, p.
331.
14
Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), v. 2, p.
72.
15
Ellen G. White, Mente, Caráter e Personalidade (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2007), v. 2, p.
396.
16
The Global Church Member Survey. (2018). Office of Archives, Statistics, and Research. (Silver Spring,
MD: General Conference of Seventh-day Adventists, 2018).
destruído, mas os altares pessoais e familiares de Israel haviam sido destruídos muito
antes.
Queridos, Elias escolheu reconstruir primeiro o altar porque ele não queria uma
manifestação eufórica, momentânea e temporária. A presença consumidora de Deus era
destinada a descer a cada manhã e a cada entardecer quando os israelitas se reuniam diante
do altar. Ele queria restaurar a adoração ao Deus verdadeiro, não apenas por um momento,
mas enquanto o povo estivesse respirando! Aqui estão duas lições que podemos extrair
dessa maravilhosa história:

1. Se reconstruirmos nossos altares, Deus virá novamente! Foi após Elias ter
reconstruído o altar molhado com água e elevado seu coração a Deus em oração que o
fogo veio do Céu e consumiu o sacrifício. Note a oração de Elias. Ele não queria provar
que era um profeta verdadeiro. Ele queria provar que Deus era o Deus verdadeiro! O
milagre não era sobre ele; era sobre Deus!
Amados de Deus, quando você constrói seu altar para Deus, Deus irá até você. Não
permita que nada roube seu tempo desse espaço sagrado com Deus. Se Deus já fez algo
por você, se Deus já o apoiou, se Deus o amparou em momentos de dificuldade,
reconstrua seu altar de adoração e Ele virá até você!
Ellen White escreveu em 1886: “Pela manhã, os primeiros pensamentos do cristão
deveriam ser em Deus. Achegue-se a Ele com humildade, com um coração cheio de
ternura e com um senso das tentações e perigos que cercam a você e seus filhos. Manhã
e tarde, através da oração fervorosa e da fé perseverante, faça uma proteção sobre seus
filhos. Instrua-os pacientemente; com bondade e incansavelmente ensine-os a como viver
para que possam satisfazer a Deus”17.
Isso não é tudo, amigos. Tem mais.

2. Se nós o edificarmos, ele nos edificará. Elias era um homem de adoração. Como
sabemos disso? Leia novamente sua oração no monte Carmelo (1Rs 18:36, 37). Você vai
notar que não há nenhum grito frenético, frenesi sem sentido, gesto brusco, gritos altos,
nem há a necessidade de uma equipe louvor — apenas autoridade pura, poder puro, fé
pura e sem medo. Pode-se conhecer muito o altar de uma pessoa pelo jeito que ela ora.
Quando Jesus alimentou a multidão com cinco pães e dois peixes, a Bíblia diz que Ele
olhou para o Céu e os abençoou, e então começou a reparti-los (Lc 9:16). Ele não
implorou a Deus por um milagre; simplesmente reconheceu que o milagre já havia sido
feito. Jesus tinha um altar! Quando Ele ressuscitou Lázaro dos mortos, Ele olhou para o
Céu e disse: “Pai, graças te dou porque me ouviste. Eu sei que sempre me ouves” (Jo
11:41-42). Jesus tinha um altar!
Com frequência, os milagres de Jesus nem eram precedidos por oração. Há um senso nas
Escrituras de que Jesus tem mais poder do que os perigos que Ele enfrentava no dia a dia.
De onde Jesus conseguia aquele poder? Ele adorava. Jesus tinha um altar—um momento
habitual em que Ele ficava a sós para adorar ao Pai em particular! Marcos 1:35 nos diz
que, após passar o dia curando e ajudando as pessoas, Ele passou a noite em Seu altar e
orou a Seu Pai. Quando Ele escolheu os 12 discípulos, Ele o fez após passar a noite inteira
em oração (Lc 6:12-13). Jesus havia construído Seu altar, e o tempo gasto em Seu altar O
transformou no poderoso expoente de justiça que Ele era. Se edificarmos nosso altar, ele
irá da mesma forma nos edificar! Se reedificarmos nosso altar pessoal e familiar como
Igreja Adventista do Sétimo Dia, ele nos reedificará. Ele nos preparará para o serviço ao
nosso Deus!

17
Ellen G. White, Signs of the Times, 18 de novembro de 1886.
Elias também tinha um altar de adoração pessoal. Do seu altar, ele viu o curso devastador
de Israel: “Contemplando esta apostasia, do seu retiro na montanha, Elias sentiu-se
oprimido pela tristeza. Em angústia de alma ele suplicou a Deus que detivesse em seu
ímpio curso.” Ele não estava disposto a ver o povo perdido em pecado. Ele não estava
confortável em ser parte do povo remanescente e fiel que não se importava com o restante
do mundo! Ele queria que Deus fizesse algo, e então ele passava longos momentos
inclinado sobre seu altar em súplica a Deus.
Esse tipo de devoção foi também a pulsação da vida e ministério de Ellen White. Ela
passava longas horas em oração, longas noites escrevendo os conselhos que Deus havia
mostrado a ela em visão, e longos dias trabalhando no “monte Carmelo” da sua época,
chamando a Igreja Adventista do Sétimo Dia de volta à Bíblia e de volta ao seu altar
sagrado de adoração pessoal e familiar!
Queridos amigos de Deus, agora é o momento de reedificar nossos destruídos altares
pessoais e familiares. Se nós os reedificarmos, Deus virá até nós novamente e consumirá
nossos sacrifícios. Se nós os reedificarmos, eles nos reedificarão. Eles nos prepararão para
tomar nosso lugar na proclamação das três mensagens angélicas, na mensagem final do
amor de Deus e na advertência para um mundo em ruínas. Eles nos prepararão para a
segunda vinda de Jesus. Que Deus nos leve de volta ao altar de Sua Palavra e de volta ao
altar de adoração ao Deus verdadeiro e vivo. Não podemos avançar se não voltarmos ao
início!

*Todas as citações das Escrituras são da Nova Almeida Atualizada

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