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Estudo sobre faltas de alta impedância em linhas de

transmissão: características e detecção através da proteção


diferencial de sequência zero
Rodrigo R. Tiferes (rr.tiferes@gmail.com)
10 de setembro de 2022

1 Introdução
Faltas de alta impedância são curtos-circuitos envolvendo a terra em que a resistência de falta é
elevada e as correntes de falta têm magnitudes similares a correntes de carga. Embora mais comuns no
contexto da distribuição, faltas de alta impedância também podem ocorrer em linhas de transmissão,
por exemplo, em:
• situações de condutor rompido em solos de alta resistividade (areia, calcário, asfalto, entre ou-
tros); e
• situações de faltas envolvendo árvores e/ou isolação danificada.
Do ponto de vista da proteção de linhas de transmissão, faltas de alta impedância são críticas,
sobretudo para funções de proteção como as de distância e sobrecorrente, por conta das baixas mag-
nitudes das correntes de falta. Além disso, faltas de alta impedância podem comprometer a precisão
de localizadores de faltas baseados em medições de apenas um terminal.
Portanto, este estudo tem por objetivo analisar o comportamento das magnitudes das correntes de
falta nos terminais de uma linha de transmissão de 500 kV para várias resistências e verificar que a
proteção diferencial de sequência zero pode ser uma alternativa potencial para a detecção de faltas de
alta impedância.

2 Sistema modelado e faltas simuladas

Figura 1: Sistema de 500 kV modelado em ATP/EMTP (autoria propria, fora de escala).

Conforme ilustrado na figura 1, a linha em que foram simuladas as faltas é a LT 500 kV Ribeirão
Preto - Poços de Caldas. Além disso, essa figura também apresenta as potências de curto-circuito mo-
nofásico (S1ϕ ) e trifásico (S3ϕ ) dos equivalentes em cada barra do sistema, em GVA e os comprimentos
de cada linha, em quilômetros.

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Na condição de carga/pré-falta considerada nas simulações, as potências complexas nos terminais
de Ribeirão Preto e Poços de Caldas (seguindo os mesmos sentidos das correntes) são respectivamente
iguais a (353,4 - j159,0) e (352,2 + j32,07) MVA. Além disso, os parâmetros de sequência de todas as
linhas de 500 kV (transpostas) do sistema modelado são:
• Seq. Positiva: R1 = 0,02 Ω/km, X1 = 0,33 Ω/km, B1 = 5,06 µS/km; e
• Seq. Zero: R0 = 0,24 Ω/km, X0 = 0,85 Ω/km, B0 = 3,35 µS/km.
Foram simuladas, no meio da LT 500 kV Ribeirão Preto - Poços de Caldas, faltas fase-terra envol-
vendo a fase A, com início em 25 ms. As resistências de falta consideradas foram: 0,1 Ω, 10 Ω, 100 Ω,
300 Ω, 500 Ω, 800 Ω, 1 kΩ, 3 kΩ, 5 kΩ e 10 kΩ.
Por mais improváveis que os valores de 1 a 10 kΩ possam vir a ser, eles foram simulados para
verificar como as magnitudes das correntes nos terminais são afetadas por faltas com tais resistências
e que, por serem faltas internas, as correntes de sequência zero nos terminais têm sentidos contrários,
o que permite a detecção correta das faltas.
Em todos os casos, os sinais provenientes do ATP/EMTP foram re-amostrados para a frequência
de 4,80 kHz (80 amostras por ciclo), as correntes de sequência zero foram calculadas como a média
entre as correntes de fase de cada terminal e os fasores de corrente dos terminais (fases e sequência
zero) foram determinados com a transformada discreta de Fourier na frequência de 60 Hz.

3 Resultados
Para a condição de pré-falta e na pós falta de cada caso, as correntes dos terminais (Ribeirão Preto
→ L e Poços de Caldas → R) são apresentadas na tabela a seguir. Pode-se observar que, a partir de 1
kΩ, não são significativas as magnitudes das correntes de falta em relação às correntes de carga.
Falta IAL [A] IBL [A] ICL [A] I0L [A] IAR [A] IBR [A] ICR [A] I0R [A]
Pré-Falta 407,6 ̸ 179,8◦ 407,6 ̸ 59,8◦ 407,6 ̸ -60,2◦ 0 369,7 ̸ 147,4◦ 369,7 ̸ 27,4◦ 369,7 ̸ -92,6◦ 0
0,1 Ω 5107 ̸ 77,4◦ 369,7 ̸ 59,2◦ 431,3 ̸ -64,3◦ 1711 ̸ 73,1◦ 4379 ̸ -112,3◦ 328,2 ̸ 23,0◦ 413,3 ̸ -96,0◦ 1518̸ -107,9◦
10 Ω 4809,4 ̸ 93,5◦ 375,5 ̸ 57,8◦ 435,6 ̸ -63,0◦ 1577 ̸ 88,8◦ 3934 ̸ -96,7◦ 339,7 ̸ 21,9◦ 413,8 ̸ -94,1◦ 1399 ̸ -92,3◦
100 Ω 1902 ̸ 145,2◦ 403,9 ̸ 58,3◦ 418,8 ̸ -59,9◦ 520,4 ̸ 136,9◦ 995,8 ̸ -48,1◦ 371,1 ̸ 25,1◦ 382,1 ̸ -91,4◦ 461,6 ̸ -44,2◦
300 Ω 939,7 ̸ 161,3◦ 407,0 ̸ 59,2◦ 411,4 ̸ -60,0◦ 186,8 ̸ 148,2◦ 116,7 ̸ -32,5◦ 371,2 ̸ 26,6◦ 373,4 ̸ -92,0◦ 165,6 ̸ -32,9◦
500 Ω 727,8 ̸ 166,4◦ 407,3 ̸ 59,5◦ 409,8 ̸ -60,1◦ 113,3 ̸ 150,6◦ 76,2 ̸ 137,8◦ 370,8 ̸ 26,9◦ 371,8 ̸ -92,3◦ 100,4 ̸ -30,5◦
800 Ω 607,3 ̸ 170,2◦ 407,4 ̸ 59,6◦ 409,0 ̸ -60,1◦ 71,2 ̸ 152,0◦ 185,4 ̸ 143,5◦ 370,4 ̸ 27,1◦ 371,0 ̸ -92,4◦ 63,1 ̸ -29,1◦
1 kΩ 567,1 ̸ 171,7◦ 407,5 ̸ 59,6◦ 408,7 ̸ -60,2◦ 57,0 ̸ 152,5◦ 222,0 ̸ 144,5◦ 370,3 ̸ 27,1◦ 370,7 ̸ -92,4◦ 50,5 ̸ -28,6◦
3 kΩ 460,3 ̸ 176,6◦ 407,5 ̸ 59,8◦ 408,0 ̸ -60,2◦ 19,1 ̸ 153,8◦ 320,4 ̸ 146,5◦ 369,9 ̸ 27,3◦ 370,0 ̸ -92,6◦ 16,9 ̸ -27,4◦
5 kΩ 439,1 ̸ 177,8◦ 407,6 ̸ 59,8◦ 407,8 ̸ -60,2◦ 11,5 ̸ 154,0◦ 340,1 ̸ 146,9◦ 369,8 ̸ 27,3◦ 369,9 ̸ -92,6◦ 10,1 ̸ -27,1◦
10 kΩ 423,3 ̸ 178,8◦ 407,6 ̸ 59,8◦ 407,7 ̸ -60,2◦ 5,7 ̸ 154,2◦ 354,9 ̸ 147,1◦ 369,8 ̸ 27,3◦ 369,8 ̸ -92,6◦ 5,1 ̸ -27,0◦

Aplicando-se a proteção diferencial de linha (ANSI 87L) a estes fasores de corrente, tem-se os valores
de corrente de operação (Iop ), calculada através do valor absoluto da diferença entre as correntes dos
terminais, de corrente de restrição (Ire ), calculada através da média entre os módulos das correntes
dos terminais multiplicada por uma inclinação típica de 0,70, e as saídas lógicas de trip (1 caso Iop >
Ire ) apresentados na tabela a seguir.

Falta Iop,A Ire,A Trip A Iop,B Ire,B Trip B Iop,C Ire,C Trip C Iop,0 Ire,0 Trip 0
0,1 Ω 9452 3320 1 220,3 244,3 0 231,3 295,6 0 3230 1130 1
10 Ω 8709 3060 1 223,4 250,3 0 228,9 297,3 0 2976 1042 1
100 Ω 2880 1014 1 223,8 271,2 0 219,9 280,3 0 981,9 343,7 1
300 Ω 1053 369,8 1 221,6 272,4 0 219,5 274,7 0 352,4 123,3 1
500 Ω 661,9 281,4 1 221,1 272,3 0 219,6 273,6 0 213,7 74,8 1
800 Ω 449,5 277,4 1 220,7 272,2 0 219,7 273,0 0 134,2 47,0 1
1 kΩ 383,3 276,2 1 220,6 272,2 0 219,8 272,8 0 107,6 37,6 1
3 kΩ 243,6 273,2 0 220,3 272,1 0 219,9 272,3 0 36,0 12,6 1
5 kΩ 228,7 272,7 0 220,2 272,1 0 220,0 272,2 0 21,6 7,6 1
10 kΩ 222,2 272,4 0 220,2 272,1 0 220,0 272,1 0 10,8 3,8 1

Pode-se observar que a proteção na fase A detecta faltas com até 1 kΩ corretamente, mas não
detecta faltas com resistências maiores. A proteção de sequência zero, por outro lado, detecta todas
as faltas, pois, por serem faltas internas, fazem com que as correntes de sequência zero dos terminais
tenham sentidos opostos (em faltas externas, as correntes de sequência zero possuem o mesmo sentido,
mesmo em linhas não transpostas).

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4 Oscilografias das correntes dos terminais

Figura 2: Correntes dos terminais da fase A e de sequência zero para a falta com resistência de 0,1 Ω
(autoria própria).

Figura 3: Correntes dos terminais da fase A e de sequência zero para a falta com resistência de 10 Ω
(autoria própria).

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Figura 4: Correntes dos terminais da fase A e de sequência zero para a falta com resistência de 100 Ω
(autoria própria).

Figura 5: Correntes dos terminais da fase A e de sequência zero para a falta com resistência de 300 Ω
(autoria própria).

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Figura 6: Correntes dos terminais da fase A e de sequência zero para a falta com resistência de 500 Ω
(autoria própria).

Figura 7: Correntes dos terminais da fase A e de sequência zero para a falta com resistência de 800 Ω
(autoria própria).

5
Figura 8: Correntes dos terminais da fase A e de sequência zero para a falta com resistência de 1 kΩ
(autoria própria).

Figura 9: Correntes dos terminais da fase A e de sequência zero para a falta com resistência de 3 kΩ
(autoria própria).

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Figura 10: Correntes dos terminais da fase A e de sequência zero para a falta com resistência de 5 kΩ
(autoria própria).

Figura 11: Correntes dos terminais da fase A e de sequência zero para a falta com resistência de 10
kΩ (autoria própria).

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