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J o ã o A lfr e d o

Deputado escreve política com “P ”


maiúsculo e defende a utopia do socialismo
nas um homem que continua fiel aos seus ideais e
sentimentos. Aliás, ele é todo sentimento. Turrão?
Talvez. Briga, mas faz as pazes, com quem vale à
pena, ninguém duvida. É impossível não se ouvir uma
palavra de sua boca, sem uma exclamação que dê para
sentir sua alma.
A cada história que conta é uma viagem que faz
voltar ao tempo e pensar como são as angústias do
ser humano. Perder? Ninguém gosta! Ele também não
e, principal mente por isso, agarra com unhas e dentes
cada vontade, cada pedacinho de esperança que pos­
sa existir em uma conquista. Nessa mesma peleja,
aprendeu a arriscar mais, com cada perda emotiva,
profissional ou política que bateu à sua porta. É um
fatalista por natureza e fiel aos seus amigos. Como
diria a música de Gonzaguinha, vive e não tem vergo­
nha de dizer o quanto é feliz, apesar de todo o pesar
do caminho que escolheu para sua vida.
Mesmo vindo de uma família tradicional do interi­
or do Ceará, Ibiapina, onde o pai era político, João
resolveu se envolver num paitido historicamente de
esquerda, o que denuncia uma certa tendência a desafi­
ar o que é regra. Ele conta que não sofreu relutância da
família. Ao contrário, foi nos momentos mais difíceis
que percebeu a importância dela. O diálogo era algo
comum, o que guarda como lição de vida. Já a Igreja
talvez tenha dado um caminho espiritual, mas foi ali,
que ele exercitou todo o seu potencial da retórica.
Quem o olha hoje não imagina o menino tímido
0 deputado João Alfredo falo de sua trajetória política, desde a que foi. A ponto de sair correndo de uma apresenta­
ção na escola. Ao longo dos anos, João já cresceu e
Entrevista com João militância até a ocupação de cargo eletivo. Ele também cito os muito, como gente, como político c como sindicalis­
Alfredo Telles Melo, amigos e os trabolhos que realizou como advogado. ta, na luta pela terra. Mesmo que nunca tenha passa­
do fome como vários trabalhadores rurais, envolveu-se
dia 11/07/2005
intensamente na proposta dc uma vida decente para
Produção, redação, os que moram no campo. Talvez por influência dos
edição e texto "m y a vida dc João Alfredo de Telles Melo, cada Direitos Humanos aprendeu a respeitar mais a vida e
fin a l: l\ I detalhe é sinónimo de política. A política menos as instituições, chegando a comctcr atos con­
/ V Que vem das pastorais da Igreja, do Movi- siderados loucos. Isso porque ninguém invade dele­
Érika Meneses, Gobriel T mento Estudantil, da terra, do Partido dos gacias todos os dias.
Bomfim, Giselle Dutra e Trabalhadores, do pai, Antônio Fernando É um homem muito ocupado, sim. Mas muito aces­
Melo. A estrela 6 algo muito forte na trajetória dele. sível também. Não vive apenas em Brasília, vive o
Raquel Mourão acima dc tudo uma direção. É essa estrela de sonhado­ Ceará, a militância e as causas sociais do sofrimento da
Texto de abertura: res, é desse grupo seleto que faz parte o deputado, o população cearense. Os olhos negros e profundos e a
Giselle Dutra sindicalista, o advogado e apaixonado João Alfredo. barba cheia podem meter medo na facção mais conser­
Sua ação política desconstitui até teorias de poder. vadora da sociedade cearense. Porém, o sorriso largo e
Participação: Afinal, ele não é o típico “Príncipe” de Maquiavcl. o radicalismo são apetrechos para conseguir os novos
Amando Bezerra, Érika Mas João Alfredo não é só política, embora a po­ adeptos e manter os antigos “companheiros”.
Meneses, Gabriel lítica seja uma necessidade em sua vida, assim como Essa vocação em desafiar, cm mexer na ferida o
beber água. Ele é também um romântico nato. Escreve fez realizar mudanças profundas na forma de ver a
Bomfim, Giselle Dutra, poesias e nelas, levanta amor, liberdade e Cariri. É política. Críticas ao governo que ajudou a eleger e
Natálio Paiva e Raquel efervescente, o que o faz muitas vezes perder o con­ defendeu durante toda sua trajetória, além de diver­
Mourão trole e chutar o pau da barraca. Os estóicos pediriam gências dentro do partido o fizeram agora acordar de
que tivesse mais calma. Seus opositores diriam que ele um sonho. João Alfredo abre o peito e fala um pouco
FotO: é teimoso, não acompanha as tendências. Mas o João, dos amigos e inimigos que fez na política, dos estu­
Arquivo do João Alfredo como é carinhosamente chamado pelos amigos, é ape­ dos, do Direito e de experiências de vida.
João Alfredo

Gisclle - Deputado João não tinha fraternidade. Isso conversar política com todo
Alfredo, o senhor entrou na ficou marcado. Acho que tinha mundo.Tem esse corte. Ele
política, teoricamente, por uns quatorze, quinze anos de teve uma formação humanista
meio do movimento Pasto­ idade. muito forte. Foi a primeira vez
ral, de uma forma marcante. Pequeno ainda tinha que que ouvi falar em social-demo­
Mas como fo i que começou conviver com política porque cracia, em estado do bem es­
o interesse por política exa­ meu pai, por exemplo, em 1966 tar social, da Alemanha, dos
tamente ? (João Alfredo tinha oito países nórdicos. Tinha esses
João Alfredo - Se a gente anos), foi candidato a deputa­ dois aspectos. Era um homem
pensar tem várias fontes. do estadual. Era (o ano da) de Interior, de formação tradi­ Depois de três adiamen­
Primeiro, lá cm casa mesmo. Copa do Mundo na Inglaterra cional, mas uma pessoa muito
tos, conseguimosentrevis-
A pesar de que na minha e eu recordo da gente viajan­ letrada que acabou me influ­
primeira eleição em 1986, meu do numa ( camioneta ) Rural enciando porque passava muito
tar João Alfredo. Nessa
pai (Antônio Fernando Me­ velha e atolando nas estradas livro para eu ler. altura, todos já estavam
lo) não era mais vivo. Ele do Interior (do Estado). Vejo Giselle - No caso, seu pai de férias. Mesmo assim, a
morreu cm 1984. O papai foi muito essa imagem. Em 1970, participou do PDS, um parti­ turma manteve a entrevis­
prefeito (do município cea­ foi a última vez que ele se do considerado tradicional... ta. Mostrou compromisso!
rense de Ibiapina de 1959 a candidatou. Me acostumei João A lfredo - (In ter­
1962) e foi deputado (es­ rompendo ) Conservador
tadual de 1963 a 1972). - - mesmo.
Então, eu sempre convivi "(Papai) dizia que o capitalismo, Giselle - Como fo i a
muito com a política. Papai privilegiando a liberdade reação da fam ília diante
era uma personalidade que sacrificava a igualdade e que o de um filho participar de
era meio diferente de tudo. um partido esquerdista?
socialismo, ao privilegiar a
Por um lado, ele era um João Alfredo - Nunca
político tradicional, porque
igualdade, sacrificava a liberdade e teve problema. Ele tinha mui­
fez parte, naquela época, do sem liberdade e igualdade não ta tranquilidade em relação
PDS (Partido Democráti­ tinha fraternidade" a isso. Acho que pela for­
co S o cia l), da UDN mação humanista e demo­
(União Democrática Nacio­ muito com isso. No dia em que crática dele. Quando entrei
nal) e do PTN (Partido Tra­ foi se despedir da Assembléia com 14 anos de idade no grupo
balhista Nacional). Por ou­ (Legislativa), porque havia de jovens da Paróquia São
tro, ele era uma pessoa muito sido nomeado conselheiro do Vicente (de Paulo no bairro
democrática na relação com Tribunal dc Contas, (papai) Dionísio Torres) fiz parte da
os filhos. Ele nunca chegou me levou para assistir ao Pastoral da Juventude, nessa
para dizer em quem a gente discurso de despedida na As­ época, inclusive, fez parte o
tinha que votar. Tinha coisas sembléia velha. Ali, onde hoje Artur Bruno que hoje é deputa­
muito interessantes. As vezes, é o Museu do Ceará. Às ve­ do estadual (pelo PT). A gente
a gente ia para o sítio, no dia zes, ele me levava para o (res­ fez parte da mesma coorde­
de uma aula de história, por taurante) Belas Artes, para o nação desse grupo de jovens.
exemplo, ele dizia: “João, você Bancesa (Banco Comercial (Nesse período), também co­
vai faltar aula que nós vamos do Estado do Ceará SA ), meça o movimento estudantil
conversando junto”. Então, ele (locais) onde os deputados se ainda na época da ditadura mi­
me dava aula. E alguma coisa reuniam e conversavam. Acho litar. É verdade que já era lima
dessa época me marcou mui­ que isso teve uma influência. ditadura militar mais mitigada,
to. Ele se referenciava na Quando ele saiu da política já era época do Figueiredo
consigna da Revolução Fran­ para entrar no Tribunal de (General João Baptista de A entrevista estava mar­
cesa: “Liberdade, Igualdade e Contas, tinha um personagem Figueiredo, último presiden­ cada para as 15h30min,
Fraternidade” . Dizia que o do Chico Anysio (humorista te do regime militar, 1979- mas só se iniciou por volta
capitalismo, privilegiando a li­ cearense), que era um político 1985, marca o início do pro­ das 16 horas. É que o voo
berdade, sacrificava a igualda­ aposentado que todo mundo ia cesso de redemocratização de João Alfredo, oriundo
de e que o socialismo, então consultar e ele dizia que era o política do Brasil), época da de Brasília, atrasou um
existente, ao privilegiar a igual­ homem dos pássaros, que só abertura, mas ainda tinha mui­
pouco. Do aeroporto foi
dade, sacrificava a liberdade queria criar pássaros, mas, ta am eaça, muita pressão.
e sem liberdade e igualdade m esm o assim , só fazia Lembro que no primeiro con- direto encontrar a turma.

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gresso da UNE (União Naci­ te. Fique olhando lá para fren­ ção, Economia e Contábcis. Em
onal dos Estudantes), a gen­ te, fixe um ponto na parede e 1979, a gente reabre os cen­
te foi pregar cartazes na Fa­ comece a falar olhando para tros acadêmicos. O Tristão de
culdade de Direito onde eu o ponto. Não olhe para a pro­ Athaíde, na Comunicação, o
estudava. Os cartazes foram fessora, não olhe para nin­ Clóvis Beviláqua no Direito, o
arrancados e fui tomar satisfa­ guém, porque se não você vai da Medicina e o próprio Dire­
ção com o supervisor dc lá. Ele se encabular”. Nesse tempo, tório Central dos Estudantes
disse: “Olha, você, fulano e fu­ a gente também começou a ir (DCE). É neste momento que
lano estão sendo fichados. Os nessas missas das sete horas eu sou introduzido na literatura
nomes de vocês estão lá na rei­ na Paróquia São Vicente. Eu mais marxista. Naquela época,
A entrevista seria realiza­
toria, vocês vão ser expulsos”. me ofereci muito para ler a todas as tendências eram, na
da em uma sala do escri­ leitura, as Epístolas, para po­ verdade, partidos clandestinos.
Então, tinha uma ameaça. A
tório de João Alfredo, mas gente tinha muito medo, naque­ der vencer essa minha timidez. A Caminhando era o PCdoB
ele preferiu que a converso la época, disso tudo. Lembro No começo, as pernas tremi­ (Partido Comunista do Bra­
fosse ao ar livre. Ficamos que foi a primeira vez que a am, que eu pensava que ia cair, sil), a Refazendo era o MR-8
sentados próximosà gara­ gente teve uma greve de mo­ mas eu ia para enfrentar. (Movimento Revolucionário
gem. João disse que o local torista de ônibus. Isso deve ter A gente começa a formar Oito de Outubro), era o PCB
era mais agradável. sido em 1978, mais ou menos. equipes no grupo de jovens e (Partido Comunista Brasilei­
E a passeata passou em ro). A gente sempre perce-
frente à Faculdade de Direito - - bia que por detrás de um dis­
e nós fomos todos. Ali, es­ "Era uma pessoa muito tímida. curso, de uma fala, tinha uma
tudantes ainda sem conhe­ Quando era pré-adolescente, eu posição política, uma cor­
cer as coisas. Entramos na rente política. A primeira vez
passeata e, no final das con­ morria de medo que a professora que eu fui falar num encon­
tas, prenderam os motoris­ me chamasse para fazer uma tro de estudantes de Direito
tas. Então, fomos para o leitura. Minhas pernas tremiam fora, eu disse assim: “Sou
Dops (Departamento de João Alfredo da Faculdade
todinhas, faltava respiração"
Ordem Política e Social) da de Direito do Ceará, sou in­
Polícia (Federal) para ten­ dependente”. Aí o cara dis­
tar soltar os motoristas e saiu eu coordeno a equipe de fave­ se assim: “Me desculpe, mas
na televisão como se nós tivés­ las que era muito assistencia- no movimento estudantil nem
semos sido presos. Na verda­ lista. (Na época), na continu­ tem independente nem burro.
de, não tínhamos sido presos. ação da Rua Padre Valdevino Diz logo qual é a tua tendên­
Os dirigentes da greve é que tinha uma favelinha vizinha à cia”. Eu não tinha tendência
tinham sido presos. Houve um Igreja que havia sido trans­ nesse momento. Não tinha
medo muito grande lá em casa. ferida para o Conjunto Palmei­ mesmo.
Medo de mãe, natural não é? ras. Aí, as freiras faziam as­ Aí, eu começo a ler tudo.
Sendo que papai dizia para ela: sistência e eu ia lá, mas era A ler o Movimento, que era o
“Deixa ele seguir o caminho uma coisa muito assisten- jornal forte daquele tempo, e
dele”. Ele sempre teve essa cialista, caridosa, nessa visão o Opinião que estava se aca­
visão. Acho que o movimento mais religiosa, atrasada. bando. No Ceará, era o (jor­
estudantil foi a minha terceira É o movimento estudantil, é nal) Mutirão do (jornalista)
escola. Tive ainda a família c o a Faculdade dc Direito que vai Messias (Pontes) da Maria
grupo de jovens, que para mim me dar um rumo mais político- Luiza (Fontenelle, ex-pre-
foi uma escola de liderança. ideológico. Entrei, (na facul­ fe ita de Fortaleza). Tinha
Era uma pessoa muito tí­ dade) em 1977. Em 1978, eu também o jornal Companhei­
mida. Quem me vê falando e Veveu (Cl o do veu Arruda ro, que era do Mcp, Movimen­
Lá, realmente, ficamos assim hoje, acha que não, mas Coelho Neto —atual vice-pre- to pela Emancipação do Pro­
mais à vontade, porém o era. Quando era pré-adoles- feilo de Sobral pelo F l), que letariado. Tinha ainda o Povão,
barulho do entra e sai dos ccntc, cu morria de medo que vínhamos de grupos de jovens, que era o jornal do PCBR
carros atrapalhou a gra­ a professora me cham asse reconstruímos os diretórios aca­ (Partido Comunista Brasilei­
para fazer uma leitura. Minhas dêmicos por centros. (Nesse ro Revolucionário) de Bru­
vação do entrevista e dis­
pernas tremiam todinhas, fal­ tempo), o Centro de Estudos no Maranhão, hoje dirigente
persou, algumas vezes, o tava respiração. Papai dizia Sociais Aplicados incluía a Fa­ do PT (Partido dos Traba­
deputado. assim: “A técnica é a seguin­ culdade de Direito, Administra­ lhadores). Então, acabava

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lendo jornais porque queria co­ Beviláqua. É uma história até ga foi para levar o povo para
nhecer. Nesse tempo, fiz par­ engraçada porque a gente ti­ votar contra os que estavam
te de umas escolinhas de nha uma disputa muito grande empatando o povo de votar.
comunismo, das quais todo com o Ciro {Gomes, ex-go- Mandavam gente para a por­
mundo participava. Tinha a vernador do Estado do Ce­ ta do anfiteatro, onde estavam
escolinha do Auto (Francisco ará e atual ministro da Inte­ as urnas, para convencer as
Auto Filho, professor de Fi­ gração Nacional), que tinha pessoas a não votar. Eu era
losofia da Universidade Es­ uma liderança forte. O Ciro candidato a presidente, o
tadual do Ceará), que a vinha do PDS. O pai dele ha­ Alberto Fernandes (advoga­
Adelaide (Pereira Gonçalves, via sido prefeito e depois de­ do ) a vice e outras pessoas A conversa durou cerca de
professora de Sociologia da putado. Ele tinha um grupo em conhecidas hoje também fazi­
três horas. Nesse meio tem­
U niversidade Federal do torno dele. Até hoje, tem gen­ am parte da chapa, como
Ceará) e o Daniel Colares te que está com ele no minis­ Virgílio Maia, escritor, poeta, po, João Alfredo atendeu
(Procurador do Estado) fi­ tério. A gente fez um chapa de e Isabel Natércia, professora cinco vezes oo celular.
zeram parte, e a do Gilvan esquerda na expectativa de da Unifor ( Universidade de Uma das ligações era de
Rocha (ex-dirigente do PT) que o Ciro lançasse uma cha­ Fortaleza). Heloísa. Seria a senadora
que hoje está no PSOL, que pa, entendeu? Fizemos um Giselle - Mas qual era a Heloísa Helena? Sim. João
foi do PT e do PSD (Partido chapão chamado União. Aí ti- contraproposta de Ciro Go­ disse que é muito amigo
Social Democrático). Ele mes? Era continuar man-
dela.
juntava a gente na casa dele - tendo o centro acadêmico
e passava os livros para a "A vida política acaba em 1968 e fechado?
gente ler. Então, era Rosa João Alfredo - A pro­
recomeça, praticamente, em 1979,
Luxemburgo, Marx, Lenin e posta era não ter eleição
a gente tinha rodas dc dis­ ano da anistia. Então, volta porque eles achavam que o
cussão, de debates, essa Gabeira, volta Brizola, volta processo era viciado. A lei­
coisa toda. Agente ia tendo Arraes e os que estavam na tura que a gente fazia, na
a nossa formação político- época, era a de que eles não
ideológica. Nessa época, eu
clandestinidade aparecem" tinham peso dentro do pró­
fico m uito próxim o ao prio movimento que estava
PCdoB mas não entro. O nha gente da Igreja, que era ressurgindo para lançar uma
PCdoB era muito forte, como meu caso, pois estava na Pas­ chapa e eles foram para ten­
ainda é hoje, no movimento toral Universitária, gente do tar impedir. Engraçado é que
estudantil. A grande liderança PCdoB, do MR-8, do PCB. O fez parte desse grupo junto
deles era o (baia n o ) Rui Ciro resolve não participar das com o Ciro, o Cândido Albu­
César (Costa e Silva - presi­ eleições e resolve chamar o querque (advogado crimi-
dente da UNE de 1979-1980), boicote. Naquela época, não nalista), que depois veio ser
depois foi o Aldo Rebelo (de­ tinha uma lei, pelo contrário, a presidente da OAB (Ordem
putado federal pelo PCdoB - gente estava indo de encontro dos Advogados do Brasil).
São Paulo - e ex-ministro da ao decreto n° 477, que proibia Tenho todas as matérias de
Coordenação Política do Go­ a organização. Éramos cen­ jornal daquela época. Tudo
verno Lula). Para vocês terem tros acadêmicos e DCE livres. está guardadinho.
uma ideia, o Aldo Rebelo se A gente mesmo fazia nosso A posse era em 21 de no­
elegeu presidente da UNE em regimento e não tinha nenhu­ vembro e meu aniversário é no
1980, no congresso de Piraci­ ma previsão de se alcançar dia 20 do mesmo mês, muito
caba (município paulista), qualquer tipo de quorum para próximo do de Ciro que eu
em que eu estive presente. poder ter legitimidade na vo­ acho que é dia 07 ou 09. A
Dessa geração, alguns estão tação. E Ciro, muito cerebral, gente é do mesmo signo de Torcedor fanático do For­
na política, como eu e o Al­ como sempre foi, muito inteli­ escorpião. Ele me deu um li­ taleza Esporte Clube, João
berto Fernandes (advogado) gente, disse: “Não. Vamos fa­ vro, no dia do meu aniversá­ Alfredo relembrou, após a
que está na DRT (Delegacia zer um boicote para impedir rio, chamado Socialismo Utó­ entrevista, um episódio
R egional do Trabalho - essa chapa de ter 50% mais pico - Mas não é o socialismo engraçado envolvendo a
Alberto Fernandes deixou o um dos votos, porque se ela utópico ou socialismo científi­ contratação de seu atual
cargo em agosto de 2005). não tiver (esse percentual) co de Lenin e foi ao jornal
Então, reabri em 1979 o assessor de imprensa
não vai ter legitimidade e não dizer que a gente não iria to­
Centro A cadêm ico Clóvis vai tomar posse”. Então, a bri­ mar posse. No outro dia, a Felipe Araújo.

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gente abriu o jornal, eles dis­ ideias socialistas de modelo sido vencida completamente,
seram que iam impedir, mas cubano). Também foi o ano mas o governo estava isolado.
não foram. Por quê? da revolução da Teologia da Vamos lembrar que no Gover­
O ano de 1979 foi muito rico Libertação e da revolução no do Figueiredo, o Síl vio Fro­
em mobilização. A vida políti­ (islâmica) dos Aiatolás no Irã. ta (general ministro do Exér­
ca acaba em 1968 e recome­ Não foi um 68, mas foi um cito) tenta um golpe e o
ça, praticamente, cm 1979, ano ano de muita efervescência no F igueiredo afasta. Tem o
da anistia. Então, volta (Fer­ mundo todo e aqui. Equem nos Golbery (Couto e Silva, che­
nando) Gabeira (jornalista, deu posse (no centro acadê­ fe do Serviço Nacional de
João coníou que sua ex- militante de esquerda, depu­ mico) foi o Inocêncio Uchoa, Informação - SNI - do go­
tado fe d era l pelo Partido que tinha sido o último presi­ verno de E rnesto Geisel,
assessora de imprensa,
Verde do Rio de Janeiro, um dente do centro acadêmico em antecessor de Figueiredo e
Jonnina de Paula, ao in­ dos participantes do seques­ 1968, porque havia sido fecha­ que ficou no poder de 1974
dicar Felipe para substi­ tro do embaixador dos Es­ do com o AI-5 (Ato Insti­ a 1979), que é o mentor des­
tuí-la, teria recomendado tados U nidos no Brasil, tucional n° 5 - 1968 a 1978 sa abertura, que ele chamava
ao jornalista, alvinegro Charles Elbrick em 1969), - que atribuía ao Presiden­ lenta, gradual e segura, para
roxo, que não revelasse a volta (Leonel) Brizola (1922- te da R epública o p oder depois ter as eleições diretas.
sua adoração pelo time. 2004, ex-governador do Rio quase absoluto nos “anos de A extrema direita ainda está
de Janeiro e Rio Grande presente e tem força. Em
do Sul, fundador do PDT * - 1979, uma bomba mata uma
- Partido D em ocrático "Em 79, uma bomba mata uma secretária, a dona Lida
Trabalhista), volta (Miguel) Monteiro, na OAB do Rio
secretaria, a dona Lida Monteiro,
Arraes (1917- 2005, ex- go­ de Janeiro. Um momento
vernador de Pernambuco na OAB do Rio de Janeiro. Um que ainda tem esse embate
e fundador e presidente momento que ainda tem esse e o movimento estudantil
nacional do PSB - Parti­ embate e o movimento estudantil está muito presente nisso.
do Socialista Brasileiro) e Quando assumimos o
está muito presente nisso"
os que estavam na clandes­ centro acadêmico, tinha
tinidade aparecem. Setenta uma discussão, não sei se
e nove também é o ano da Re­ chumbo”. Assinado pelo en­ ainda tem no tempo de voccs,
volução Sandinista da Nicará­ tão presidente Costa e Silva, mas naquele tempo era muito
gua (o nome da revolução foi o A 1-5 determinou a censu­ forte. Ou você se voltava para
inspirado na figura do líder ra prévia à imprensa, o fe ­ as questões específicas do cur­
guerrilheiro Augusto César chamento do Congresso Na­ so, como disciplina, professor,
Sandino, assassinado em cional e a lim itação das biblioteca ou você tratava só
1934 a mando de Anastásio liberdades democráticas no das questões políticas. No
Somoza Garcia, comandan­ País). Onze anos depois, o caso, a ditadura militar, a luta
te da Guarda Nacional, que Inocêncio, que estava na clan­ pelas liberdades democráticas,
iniciou uma drástica ditadu­ destinidade, volta para nos dar a Anistia, a Constituinte e tudo
ra militar no País, ficando posse. Então, chamamos para mais. Nós procuramos equili­
no poder de 1936 a 1979) o ato Iranildo Pereira (ex-de- brar as duas coisas. Tanto é
que muitos de nós referen­ putado federal do PMDB - que fizemos um ato, nessa épo­
ciávamos. Ernesto Cardenal, CE) e Maria Luiza. Tinha o ca em que houve essa bomba.
que era o monge poeta (nica- clima da anistia. Era muito di­ Mas também lutávamos con­
ragiiense), D aniel O rtcga fícil se opor a isso, a essa vol­ tra a diretória do curso com
Após a entrevisto, João (Saavedra fo i membro da ta. Além disso, era um ano di­ relação a algumas medidas
Alfredo lamentou o fato Frente Sandinista de Liber­ fícil porque a ditadura ainda que considerávamos arbitrári­
de não termos explorado tação Nacional - FSLN- que, não tinha acabado, tanto é que as e pela reposição de livros
sua face poética. Ao de­ com o apoio popular, derru­ ainda era a época das bombas. para a biblioteca e pela recu­
putado e aos leitores, bou o d ita d o r A nastásio Teve bomba no DCE, na ban­ peração do prédio.
nossas desculpas, mas o Somoza. Foi também presi­ ca de revista. Teve um episódio muito in­
dente da Nicarágua de 1984 Giselle - Qual a proce­ teressante que foi a retomada
tempo e o espaço no jor­
a 1990. N esse período, dência dessas bombas? da sala do centro acadêmico.
nalismo são variantes procurou mudar a socieda­ João Alfredo - Da extre­ Nós descobrimos que não ti­
ingratas. de nicaragiiense com suas ma direita que ainda não tinha nha sala, porque o (centro)

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João Alfredo

havia passado 11 anos fecha­ uma espécie de micropolítica havia sido vice-presidente do
do. O coordenador do curso, institucional de hoje? DCE na chapa do PCdoB, que
que já faleceu, professor Fran­ João Alfredo- Claro que apoiamos em 1979, em 1980,
cisco Uchoa de Albuquerque, sim. Acho que toda experiên­ é candidato a presidente do
irmão do deputado (estadual) cia que você possa ter de dis­ DCE. Éramos quatro os can­
Pedro Uchoa ( ex-PMDB, atu­ puta de projetos e de gestão, a didatos a presidente. O próprio
almente sem parido) - todos partir de um programa que Veveu pelo PCdoB, eu, candi­
dois foram meus professores você estabelece, mesmo que dato por esse embrião de PT
- nos deu uma saletinha que, seja em um centro acadêmi­ e pelo grupo da Maria Luiza
na verdade, era uma sala de co, aquilo ali é fazer política. do PCR (Partido Comunista Quem quiser matar a cu­
espera de uma sala grande Ali, você está se confrontan­ R evo lu cio n á rio, prim eira riosidade sobre esse lado
ocupada pela coordenação e do com idéias contrárias e com dissidência do PCdoB), do
inusitado do deputado
que tinha sido a sala antiga do o poder maior que é o próprio Caminhando. A terceira can­
centro acadêmico. Já empos­ curso. Você, de alguma forma, didatura era a do Assis Papito poeta, basta acessarosite
sados, fizemos várias petições está se treinando na política, pelo PCB e MR-8. Hoje, ele é www.joaoalfredo.org.bre
solicitando a devolução da sala não deixa de ser. do PDT e assessor do gover­ conferir osversosque inte­
e nada de vir. Resolvemos, Giselle - Ainda, em rela­ nador (Lúcio Alcântara, do gram as obras "Solitude:
então, partir para a ação direta ção ao movimento estudan- Partido da Social Democra­ poemas à flor da pele" e
e ocupar a sala. Alguém cia Brasileira - PSDB). A "Sole girassol: (re) versos
subtraiu a chave, mandamos - - quarta candidatura era do
fazer uma cópia e marca­ "Acho que toda experiência que amorosos".
Júnior pela Liberdade e
mos a posse da sala. Cha­ você possa ter de disputa de Luta (Libelu), que depois
mamos o presidente da projetos e de gestão, a partir de um deu origem à corrente O tra­
OAB para (o alo) e dormi­ balho (do PT).
programa que você estabelece,
mos vários dias lá. O coor­ O Ciro foi candidato
denador passou uma sema­ mesmo que seja em um centro uma vez à vice-presidente
na sem ir para a faculdade, acadêmico, aquilo ali é fazer da UNE pela Maioria, que
porque nós havíamos toma­ _ _ _ _ _ _ _ _ _ política"_ _ _ _ _ _ _ _ _ era uma chapa de direita e
do a sala dele. Depois, o foi derrotado. Isso, se eu não
pessoal acabou perdendo essa til, gostaria que o senhor me engano, em 1980. (Nesse
sala. fa la sse um p ouquinho da mesmo ano), concorri ao DCE
Foi uma época também que experiência de concorrer ao e fui derrotado. Foi assim que
a gente introduziu a discussão Diretório Central dos Estu­ eu terminei a faculdade. Quan­
na Faculdade de Direito alguns dantes. do terminou meu mandato de
temas importantes como a João Alfredo - Em 1980, presidente do centro acadêmi­
questão da Reforma Agrária. fui candidato a presidente do co, o Alberto Fernandes me
A gente tinha a idéia de que o DCE. Fui derrotado pelo Veveu substituiu. Foram três gestões
estudo deveria ser voltado para (Clodoveu Arruda ), que era seguidas de um mesmo grupo
a nossa realidade social. Era o candidato do PCdoB. Quan­ político. Depois, quem assu­
o lema do centro acadêmico. do entrei na Faculdade de Di­ miu foi o Ilário Marques (pre­
A gente achava que o estudo reito, eu não era do PCdoB, fe ito petista do m unicípio
do Direito estava completa­ era próximo, foi a época que cearense de Quixadá). De­
mente desvinculado do que se começa a fazer a discus­ pois, o grupo do Aguiar Júnior
estava acontecendo na nossa são sobre o PT. Quando o PT ganhou (José Ribam ar
sociedade. Fizemos curso de surge, eu entro no partido, que Aguiar Júnior, fo i candida­
A equipe de produção,
Direito Agrário e seminários foi o meu primeiro e até agora to a governador do Ceará
com Dom Fragoso, bispo de único partido. A minha ficha de em 1990, pelo PRN, partido com o objetivo de captar
Crateús que tinha um trabalho filiação foi a número quatro. de Fernando Collor de Melo mais informações sobre o
belíssimo na região. O Auto foi presidente da pri­ e usava o slogan “O Collor universo político de João
Natália- O senhor falou meira comissão provisória. O do Ceara'. Hoje é represen­ Alfredo, entrevistou os de­
que o movimento estudantil foi segundo presidente foi o tante da Comissão Regional putados estaduais petistos
uma espécie de terceira esco­ Gilvan (Rocha, ex-dirigente Provisória do PTC). Ele fa­ Nelson Martins, Artur Bru­
la na sua formação política. do PT), com quem eu fazia os zia parte do MR-8, depois fez
no, José Guimarães e o
O senhor acredita que o mo­ cursos. Em 1980, a gente se parte do Partido da Juventude
vimento estudantil reproduz separa, porque o Veveu que no PRN (Partido da Recons-
tucano Fernando Hugo.

91
João Alfredo

trução Nacional) e apoiou o o curso era, e acho que ainda já faleceu, foi a tutora de to­
Collor. A disputa foi legal por­ é hoje, muito conservador, a fi­ dos nós.
que a chapa era apoiada pelo gura do Ciro era muito forte. Vou ter conhecimento so­
pessoal da Maria Luiza Fon- O meu nome, por não ser liga­ bre a Teologia da Libertação,
tenellc. Agente tinha reuniões do a nenhuma tendência da sobre os livros do Leonardo
fechadas porque o partido ain­ época, dava a idéia de que Boff (teólogo, escritor e um
da estava na clandestinidade. unificava todo mundo. A gen­ dos principais expoentes da
Ànianda - O senhor f a ­ te entendeu que o importante Teologia da Libertação), co­
lou primeiro que, durante a era reabrir, de forma indepen­ nhecer um pouco sobre Camilo
Também foi entrevistada concorrência para chapa dente, (o centro acadêmico) Torres (padre guerrilheiro
do C.A, houve um chapão pela esquerda. Acho que foi colombiano morto numa em­
a ex-mulher de João Alfre­
unindo várias tendências de isso que deu essa possibilida­ boscada em 1966) e Ernesto
do, Glória Diógenes, com esquerda, o que, aparente­ de dessa unidade. Cardenal na Faculdade de Di­
quem tem um filho, Ale­ mente, não aconteceu no Gabriel - O senhor falou reito, na Pastoral Universitá­
xandre, de 14 anos. A fi­ DCE. Houve uma separa­ desse enfrentamento com a ria, que aí já é outro clima.
lha mais velha de Glória, ção. Qual era a divergência ditadura na época do movi­ Esse clima de grupo de jovens
Isadora, 17 anos, também entre os projetos políticos m ento estudantil. Isso já era meio alienado mesmo, era
é considerada como filha universitários dessas ten­ acontecia no m ovim ento louvado seja o nosso senhor e
dências? Por que não música de grupo de jovens.
por João Alfredo.
apoiar uma candidatura ■ - Era uma época em que a
única mais forte? "No movimento de igreja, nas gente estava descobrindo
João Alfredo - Porque pastorais, era uma coisa meio fora esse outro lado, mas não sa­
tinha projetos partidários por da realidade. Esse clima de grupo bia o que estava acontecen­
trás. Tinha avaliações dife­ de jovens era meio alienado do. Era uma coisa meio
rentes da conjuntura. O mo­ fora da realidade. Para mim,
vimento estudantil, não sei
mesmo, era louvado seja o nosso é na Faculdade de Direito
como é hoje, mas na nossa senhor e música de grupo de que a coisa se apresenta
época, era uma forma de fa­ jovens" com muita força.
zer um enfrentamento de Erika - Deputado, an­
uma situação mais geral, a di­ pastoral, na época anterior tes que a gente fiq u e tão
tadura militar, e que tinha tam­ ao movimento estudantil? longe desse assunto da pas­
bém outras bandeiras como a João Alfredo - Não. Pri­ toral, do início da vida polí­
Anistia e a Constituinte. Tan­ meiro, esse enfrentamento não tica do senhor junto à Igre­
to é, que o movimento estu­ era um enfrentamento muito ja, eu não pude deixar de
dantil atuava junto a outros mo­ grande. Na greve (dos moto­ observar que o senhor usa
vimentos. Também era uma ristas de ônibus), a gente sa­ um anelzinho. E o anel de
forma de recrutamento - usan­ bia que tinha polícia reprimin­ tucum ?
do essa expressão bem de es­ do, mas não foi a mesma coisa João Alfredo - É.
querda - dos militantes para de 1968, 1969, de cacete mes­ Erika - É o anel de com­
os partidos legais e clandesti­ mo, de violência, de prisão, de promisso. Quando o senhor
nos, principalmente, para (es­ tortura. Se bem que, naquela começou a usar e por que
tes). O PCdoB, que depois época, quando o Geisel este­ continuar com ele?
teve um racha e virou PRC, o ve em Fortaleza, se eu não me João Alfredo - Esse anel
Segundo Glória Diógenes, MR-8, o Partidão, a organiza­ engano, no ano de 1977 ou aqui vocês conhecem, não é?
ção Liberdade e Luta eram 1978, algumas pessoas da Fa­ Essa aqui é uma mística da
foi após a separação de­
mais trotskistas, da Conver­ culdade de Direito foram pre­ Teologia da Libertação. As
les que João Alfredo come­ gência Socialista, pessoal da sas, inclusive o Daniel Cola­ pessoas que têm proximidade
çou a escrever poesias. Ela Centelha, que não teve muita res (Procurador do Estado). com esse trabalho da Igreja
reforçou que eles mantêm força aqui, mas que era um Houve algumas prisões. Ha­ P rogressista das pastorais
contatos de amizade até pessoal da Quarta Internacio­ via esse clima de terror, mas usam. Vou te responder da
hoje. "Um cara aparente­ nal Trotskista. O movimento ti­ não era uma coisa tão explíci­ saída justamente da faculda­
mente duro, mos de pro­ nha muito essa característica ta. No movimento de Igreja, de. Quando eu saí, fui advo­
de recrutamento. Na Faculda­ nas pastorais, era uma coisa gar para sindicatos e para as
funda delicadeza", relata
de de Direito, acho que como meio fora da realidade. A irmã pastorais. Nesse tempo, fui
Glória. a gente estava engatinhando e Iolanda Brasil, que parece que morar na serra da Ibiapaba e,

92
João Alfredo

lá tinha um trabalho de comu­ quem fazia o programa era eu, promotor gostam de usar pa­
nidade de base muito interes­ no qual dava orientações jurí­ lavras que sejam incompreen­
sante com trabalhadores rurais dicas na área do Estatuto da síveis. Então, foi um processo
que se chamava Movimento Terra. muito interessante porque se
do Dia do Senhor. Nas comu­ As relações lá eram de par­ criou uma consciência de clas­
nidades mais longínquas não ceria, não eram trabalhadores se ou de cidadania dos direi­
tinha padre e o Movimento do assalariados, eram aqueles que tos que se tinha. Por exemplo,
Dia do Senhor fazia celebra­ pagavam a renda. Foi um tra­ o Estatuto da Terra prevê que
ções e fazia muita reflexão a balho muito rico porque conhe­ se o proprietário entrega a ter­
partir da própria realidade. Foi ci a realidade do campo e do ra nua, não dá nenhuma con­ A equipe de produção ten­
o momento em que surgiram trabalhador e da trabalhadora. dição para o trabalhador, a ren­
tou contatar a primeira
as primeiras cartilhas de edu­ Primeiro, a gente rompeu com da que ele tem que pagar é só
cação política. (Ainda) tinha aquela ideia do advogado que 10% do que ele apurar. Mas o esposa, Magnólia Said, e
o Meb, Movimento de Educa­ tinha uma salinha e que só proprietário cobrava de terço a filha primogénita, Jana,
ção de Base, que tinha um tra­ atendia de um por um. Como ou de meia. A gente entrava mas não foi possível.
balho muito importante na re­ as questões, mesmo que não com uma ação chamada ação Também a última espo­
gião e lá, tinha também um fossem coletivas, fossem indi­ de consignação em pagamen­ sa, da qual não foi obtida
bispo cappuccino com uma viduais, eram semelhantes a to e mandava depositar no sequer a informação do
orientação bastante aberta, cartório aquela saca de fa-
nome.
Dom Timóteo, que já fale- - - rinha, de feijão que cabia ao
ceu. O tempo que eu advo­ "Quando tinha audiência, a gente proprietário. Isso revoltava
guei no Interior foi a minha os proprietários.
voltava para o sindicato e
quarta escola. E era uma No interior era assim:
coisa até contraditória por­ explicava tudo o que havia “Fulano de tal é caboclo e
que papai era proprietário de acontecido. 0 juiz, o advogado, o fulano de tal é de família”.
terras em lbiapina. Não era promotor gostam de usar palavras O caboclo é o trabalhador,
um grande proprietário, até descendente de índios e de
porque na serra não tem
que sejam incompreensíveis"
negros. Os de família são os
grandes propriedades. Mas proprietários. Uma vez uma
era uma pessoa que já tinha todos os trabalhadores daque­ proprietária foi falar comigo e
sido prefeito. le município, eu atendia a to­ disse assim: “Ah, eu não
Aí, eu vou morar na cidade dos, no sindicato, duas vezes aguento mais isso que está
dele, no sítio dele, com a mi­ por mês. A orientação jurídica acontecendo, vamos fazer um
nha primeira mulher, Magnólia que eu dava para um trabalha­ acordo?” Eu disse: “Vamos
(Azevedo Said, advogada e dor acabava servindo para to­ fazer um acordo, mas vamos
atual presidente do Centro dos que estavam lá. Por exem­ fazer no sindicato”. Ela olhou
de Pesquisa e Assessaxia à plo, se alguém tinha uma roça para mim e disse: “No sindi­
A gricultura F am ilia% - destruída, eu dizia: “Vamos cato, eu não vou porque lá só
Espiar). A gente pega uma calcular quanto foi o prejuízo”. tem caboclo atrevido”. Aí, eu
salinha, que cra do cartório dâ Aí, (eles) diziam : “Mas o se­ pequei aquela frase caboclo
minha tia, e faz o nosso escri­ nhor que é o doutor”. Eu dizia: atrevido e usei em todas as
tório na cidade de lbiapina. A “Não, sou o doutor em Direi­ reuniões do sindicato. Passei
gente começa a fazer esses to. Em agricultura são vocês. a dizer: “Os trabalhadores que A equipe de produção
trabalhos de advocacia mais Vocês é que vão dizer quanto se conscientizam, são cabo­
ligados aos sindicatos. No co­ pensou inicialmente abor­
produ^ a bananeira, a man­ clos atrevidos. Eles passam a
meço, era só o sindicato de gueira, quanto produzia a roça conhecer os seus direitos”. E dar um pouco mais a vida
lbiapina. Com o Movimento do destruída”. Um processo muito sobre isso tem um fato inte­ pessoal do deputado, mos
Dia do Senhor, a gente fazia interessante. ressantíssimo. Um trabalha­ ornais difícil foi conseguir
muito encontro de comunida­ Quando tinha audiência, a dor, o Hortêncio, foi preso ile­ informações sobre esse
de de base nos finais de se­ gente voltava para o sindicato galmente lá em Ubajara por lado da vida de João
mana. Também nesse período, e explicava tudo o que havia um delegado de polícia. Eu Alfredo. A equipe não teve
de 1981 até 1986, tinha um acontecido. Um negócio sério estava em Fortaleza, mobilizei
programa de rádio, Diocese em nenhum problema em
porque o formalismo no meio Maria Luiza, um monte de
Marcha, que durante um cer­ jurídico é uma coisa muito pe­ gente, e fomos ao secretário
encontrar dado da traje­
to período, na sexta-feira, sada. O juiz, o advogado, o (estadual) de Segurança, que tória política dele.

93
João Alfredo

era o doutor Feliciano de Car­ eu namorava a Magnólia, que C hristi, teólogo, filó so fo ,
valho {advogado). Como co­ se formou antes de mim e ad­ escritor) e o Dom Cláudio
m eçou a ju n ta r gente em vogava para o sindicato {dos Hummes {cardeal-arcebis­
Ubajara, o policial mandou ele trabalhadores rurais) de po de São Paulo) vieram.
para a delegacia regional de Pentecoste. Eu estagiava lá, Você tem a vertente do mo­
Tianguá, Aí, o pessoal de lá foi mas o sindicato não me paga­ vimento estudantil que é de
para a frente da delegacia. No va nada. Eu ficava acompa­ onde eu vim, que também é
final das contas, o cara foi li­ nhando os processos. E nessa Igreja. Você tem uma verten­
berado no mesmo dia. E em época, 1979, 1980, nós come­ te das organizações revoluci­
toda reunião {o Hortêncio) çamos a formar o PT. Lem­ onárias que vieram da luta
Na época em que a entre­
dizia assim: “Eu passei a mi­ bro da gente em cima de um contra a ditadura militar e de­
vista se deu, havia pouco nha vida toda dizendo nhô sim, caminhão, filiando, principal­ pois entraram no PT e alguns
estourara uma das maio­ nhô não de cabeça baixa, mas mente, nessa região dos tra­ permaneceram como corren­
res crises envolvendo o PT depois que eu levantei a cabe­ balhadores rurais e formando tes próprias.
e o Governo Lula. João ça, eu não baixo mais”. Achei essas comissões provisórias. A Evidentemente, que a ten­
Alfredo ainda negava ótimo aquele exemplo. Ele foi gente ajudou a formar o PT dência que hoje se chama
qualquer possibilidade de preso porque estava queren­ Natália - O senhor e o Campo Majoritário está, pra-
saída, mos já criticava ati­ do que se cumprisse a lei na deputado Artur Bruno tam- ticamente, desde o início na
parte do direito dele e o de­ direção nacional, com um
tudes governistas.
legado de polícia estava - - rápido intervalo em que a
sendo usado, como sempre "0 PT nunca foi um bloco esquerda ganhou. No come­
é usado pelos proprietários homogéneo e as pessoas têm de ço, o nome era Articulação
de terras. Ele foi solto e ele compreender isso. Essa realidade dos 113, {número) dos que
virou um exemplo. assinaram o documento.
de correntes sempre existiu porque
Érika - Deputado, o Esse é o grupo dos sindica­
senhor acabou não falan­ o PT é um desaguador de várias listas, de Lula, de Olívio
do exatam ente sobre o vertentes. Você tem a vertente do Dutra (ex-deputado fe d e ­
que eu tinha perguntado. movimento sindical, do Lula..." ral, ex-prefeito de Porto
João Alfredo - Ah, so­ Alegre, ex-governador do
bre o anel, não é? Veja, nessa bem participaram do grupo Rio Grande do Sul e ex-mi-
época, eu sou advogado da Vertente Socialista, não é? nistro das Cidades do Go­
Igreja da Diocese de Tianguá, João A lfredo - Mas o verno Lula) e de Jacó Bittar
que {abrangia) Camocim, Bruno entra no PT depois. Ele {ex-prefeito de Campinas -
Granja, Viçosa, Tianguá, Uba­ entra na época da eleição da SP-, fu n d a d o r da Central
jara, Ibiapina e São Benedito. Maria Luiza (prefeita de For ­ Única dos Trabalhadores e
Sempre prestei assessoria não taleza pelo PT em 1985). conselheiro da Cetros - Fun­
só jurídica, mas também parti­ dação Petrobrás de Segu­
cipei de encontros de Pastoral Natália - Nessa época, até ridade Social). O pessoal in­
da Juventude, de Pastoral da estar no grupo Vertente Soci­ telectual que nesse tempo era
Terra, de pastorais sociais. Eu alista, o PT era um bloco pra- o {Francisco) Welffort {ex-
sempre era chamado para dar ticamente homogéneo ? secretário geral do PT, cien­
palestras nessa área jurídica e João Alfredo - Não. O tista político, professor da
ganhei da Nininha, que é da PT nunca foi um bloco homo­ USP e ex-ministro da Cultu­
Comissão Pastoral da Terra do géneo e as pessoas têm de ra do governo de Fernando
Ceará. Na mística, você não compreender isso. Essa rea­ Henrique Cardoso), que de­
compra, alguém lhe dá. lidade de correntes sempre pois saiu do PT, o Marco Au­
Natália - Deputado, nes­ existiu porque o PT é um rélio Garcia ( Chefe da Asses­
sa época o senhor já era desaguador de várias verten­ soria Especial do Presidente
filiado ao PT, não é? O se­ tes. Você tem a vertente do da República) e o frei Betto.
Durante a entrevista, foi nhor participava mesmo do movimento sindical, do Lula, Eles deram uma cara mais for­
servido suco com biscoitos interior dessas articulações aliás, se a gente pensar, ele te ao PT. Mas tinham outras
iniciais do partido? tem duas vertentes, o movi­ correntes. A referência do
para os entrevistadores,
João Alfredo - Participa­ mento sindical e o movimento Lula aqui no Ceará era o gru­
sinal de que o entrevista­ va ainda quando era estudan­ dc Igreja do qual o Frei Betto po do Gilvan Rocha, ao qual
do foi um bom anfitrião. te. Na Faculdade de Direito, {C arlos A lb erto Libando pertenci, e depois rompi quan­

94
João Alfredo

do me aproximei mais do gru­ to do município de Icapuí). mandato eletivo, a se candi­


po da Igreja, que o pessoal Era um grupo muito forte. A datar a deputado estadual?
chamava de igrejeiros. (Des­ gente foi um período a maioria João A lfredo - Você
se grupo, participava) eu, dentro do PT. acha muito tempo?
Bruno e Durval ( Ferraz, ex- Natália - No caso os dis­ Raquel - Eu acho, por­
vereador de Fortaleza e pro­ sidentes desse grupo foram que o envolvimento do se­
fessor do ensino médio). para a DS (Democracia So­ nhor era tão intenso...
A Vertente surge em 1987, cialista,)? João Alfredo - Deixa eu
até lá fiz primeiro parte do gru­ João Alfredo -Mas aí é ver aqui. Em 1986 eu tinha 28
po do Gilvan. Houve embate outra história. Esse grupo anos. 0 processo de ediçõo foi
entre o grupo do Gilvan e o gru­ implode em 1990 com a minha
po do Auto (Filho) e a inter­
longo e dolorido. Primei­
candidatura a governador. Nós Raquel - O senhor não
venção da Articulação foi a fomos amplamente derrotados pensou primeiro em ser ve­ ro uma das integrantes
favor do grupo do Gilvan. De­ nesse processo eleitoral por­ reador, ou algum cargo an­ atrasou na entrega. De­
pois, o grupo da Igreja se apro­ que os nossos dois candidatos terior? pois um mal-entendido
xima para a fundação da Ver­ a estadual, Veveu e José Air­ João Alfredo - Mesmo fez com que Érika eGiselle
tente Socialista. (Esse grupo) ton, e o nosso candidato a fe­ morando em Fortaleza, acho tirassem todo o lado T
era ligado aos deputados Eduar­ deral, Juarez de Paula, que que cu sempre fui meio ciga­ da fita T , perdendo o
do Jorge (ex-deputado f e ­ no, de ter duas residências
deral do PT — SP) e Ro- -
sono.
e tudo mais. Então, como
berto Gouveia (médico e /yA atividade parlamentar e a era a minha vida? Ou foi um
deputado federal pelo PT atividade advocatícia me consumiam período inicial ou foi um pe­
de Minas Gerais) que fazi­ muito. Porque eu não era só o ríodo final em que nós mo­
am parte de um grupo cha­ ramos em Ibiapina. Eu e a
advogado, eu era o assessor
mado PPS, que não tem M agnólia (Said) que foi
nada a ver com o partido, e também. Então, por exemplo, finais minha mulher e a nossa
que também tinha um apeli­ de semana eu estava sempre prim eira filha Jana (em
do pomposo: Poder Popular assessorando encontros". homenagem à guerrilhei­
e Socialista. Era um pessoal ro cearense morta no Ara­
muito ligado ao trabalho de hoje trabalha no Sebrae naci­ guaia, Jana M oroni). Ou
Igreja na zona leste de São onal, não se elegeram. teve uma época que nós mo­
Paulo, principalmente, na área ramos aqui em Fortaleza c toda
de saúde pública. Eles também Gabriel - Essa eleição semana eu ia para o interior.
tinham um grupo muito forte era do PT ou da Vertente? Então, eu não tinha atividade
em Minas (Gerais), que (tinha João Alfredo - Da Ver­ política em Fortaleza. A ativi­
como principais lideranças) tente Social ista, tanto é que na dade parlamentar e a ativida­
a Sandra Starling (ex-deputa- eleição de 1990 só se elegeu de advocatícia me consumiam
da federal do PT - MG) e o um deputado do PT, mas tinha muito. Porque eu não era só o
Virgílio Guimarães (economis­ os dois deputados. advogado, eu era o assessor
ta e deputado federal pelo PT Raquel - Essa vertente também. Então, por exemplo,
- MG). Esse mesmo Virgílio política no movimento estu­ finais de semana eu estava
que deu esse maior rolo agora dantil veio à luta em defesa sempre assessorando encon­
(quando fo i candidato avul­ dos trabalhadores rurais, em tros. Então eu tinha muito
so do PT a presidente da 86 o senhor fo i candidato a isso. E tinha reuniões de
Câmara Federal, em que deputado estadual... diretó rio , era m em bro de
acabou ganhando Severino João Alfredo - Isso, o diretório e tudo mais.
Cavalcanti - PP-PE, que re­ padre Haroldo (Coelho) foi Porque nesse período o
nunciou em setembro de candidato a governador (do que foi? Nós tivemos a elei­
2005 em meio a denúncias Ceará pelo PT, em 1986). ção de 1982, eu tinha um ano Na sequência, o compu­
de corrupção). E tinha o pes­ Raquel —Mesmo com a de formado só. Foi a primeira tador da Giselle pifa com
soal do Ceará que era (forma­ atuação política e todo esse eleição que o PT participou. toda a edição. Com isso, o
do) por mim, deputado estadu­ tempo de formado, o início Nós do grupo da Igreja apoia­
material é entregue dois
al, por dois vereadores, Durval da carreira de advogado, mos os dois candidatos, que
e Bruno, além do Veveu e do por que o senhor passou tan­ inclusive chegaram a ser uns
meses depois de ocorrida
José Airton (Cirilo, ex-prefei- to tempo para pleitear um dos mais votados. Não se ele- a entrevista.

95
João Alfredo

geram. O PT não elegeu nin­ foi candidato em 1986, o Pau­ pegava Região de Itapipoca,
guém cm 1982. Em 1982 foi lo Mamede (jornalista, ex-pre- que o Pedro (Ivo) trabalhava.
um ano que teve, não era sidente do Sindicato dos Jor­ Região de Sobral, com que eu
verticalização, era a vincula- nalistas e vice-presidente tinha contato, por causa desse
ção, o voto era vinculado. Nordeste I da Fenaj - Fede­ trabalho da Igreja, e a região
Você só podia votar num úni­ ração Nacional dos Jornalis­ da Ibiapaba, que eu trabalha­
co partido. (Atende ao tele­ tas) . O Pedro Ivo (Pedro Ivo va também. E aqui em Forta­
fone — era a deputada fede­ de Souza Batista, ex-secre- leza, eu tive apoio - que foi im­
ral Heloísa Helena). Então, tário do meio-ambiente de portante - do Bruno (Artur
Após a indicação do 1982 foi a primeira campanha Fortaleza já na gestão de Bruno, deputado estadual
que o PT participou. Eu fiz a Luizianne Lins - PT, fo i di­ pelo PT), que nesse tempo já
nome de João Alfredo, o
campanha do Américo Barrei- retor do Sindicato dos Ban­ era professor de cursinho. De
assessor dele, Felipe
ra já na serraJadvogado, ex- cários e agora é assessor da 1985 a 1986, o Bruno entra no
Araújo, confirmou ime- prefeilo de Várzea Alegre - ministra do meio ambiente PT, conversa com a gente e
diatamenle que ele acei­ em 1934 - ex-vereador de Marina Silva) foi candidato vem, então, somar com a gen­
taria, mas iria apenas Fortaleza - 1947 a 1954. em 1986. O Ortins (Antônio te apoio. No ano da eleição do
confirmar com o próprio. Como deputado estadual, Ortins M onteiro Dias, ex- Tasso (senador Tasso Jereis-
Confirmou o acessibili­ teve o m andato cassado presidente da CUT e do Sin- sati - PSDB- ex-govemador
dade do deputado. pelo regime militar. Na do Ceará), eu me elegi
redem ocratização, fo i - com 9588 votos, o Ilário com
vice-prefeito de Fortaleza, "0 que aconteceu? Muitos 6080 votos. Eu tenho a im­
na gestão de Maria Luiza eleitores analfabetos na hora que pressão que nós fomos os
Fontenelle). Eu já trabalha­ iam votar, pensando que estavam dois menos (deputados)
va na serra, morava na ser­ votados eleitos.
votando no Tasso, votavam no 40.
ra. E nós apoiamos o grupo GiscIIe - O senhor é
da Igreja, dois candidatos: o E a nossa votação de legenda do responsável pela dissemi­
Joaquim Almeida, que já P SB foi altíssima. E deu para nação, pelo conhecimen­
morreu, que era da Pasto­ eleger dois deputados estaduais". to do PT no interior, um
ral Operária, (candidato) a dos responsáveis...
deputado federal; e o Pinhei­ dicato dos Metalúrgicos) foi João Alfredo - Não, mas
ro, Afrânio (ou Antônio??) candidato a (deputado) fede­ antes teve gente (que também
Pinheiro de Freitas, esse ad­ ral (pelo PT em 1986). Nós fo i responsável), é preciso
vogado como candidato a de­ tínhamos tido a eleição da fazer justiça a isso. Ao Auto,
putado estadual. Não fizemos Maria Luiza em 1985, que foi na época dele. Adelaide, prin­
legenda, não elegemos nin­ aquele negócio que ninguém cipal mente na região de Cra-
guém, naquela época. esperava. teús, eles trabalharam muito.
Na eleição seguinte, foi a E na sequência, em 1986, Tem muita gente aí. O próprio
de 1986, que foi a que eu par­ a campanha Padre Haroldo Ilário (Marques) naquela re­
ticipei. Então, nesses quatro para governador, Cleide Bernal gião dele lá de Quixadá. Mui­
anos, foram quatro anos de (econom ista e professora ta gente que participou desse
militância, também. Militância universitária - da UFC), processo aí.
política, dentro dos diretórios, Regis Jucá (médico especi­ G iselle - Certo, mas o
a formação desse grupo que a alizado em cirurgia cardía­ senhor como participante
gente fez, a formação da As­ ca, já falecido), (candidatos disso, como eram as articu­
sociação dos Advogados dos ao) senado. Valton ((de Mi­ lações do interior do Esta­
Trabalhadores Rurais: a ATR. randa Leitão, psicanalista) do para cá?
Eu até participei, acho, da pri­ era o (candidato a) vice, por­ João Alfredo - O PT se
meira diretória dessa associa­ que era uma aliança PT/ PSB. fortalece no interior a partir,
A cada resposta, João ção. Então, a gente tinha uma E nós fomos candidatos nessa praticamente, de duas fontes:
Alfredo contava umo militância nessa área e isso, época. Esse grupo da Igreja uma é o movimento sindical
história interessante que inclusive, desaguou na candi­ rachou. O pessoal do Sertão dos trabalhadores rurais e o
fazia a turm a ficar datura de 1986, porque os dois Central apoiou o Ilário. (In­ outro é o trabalho da Igreja.
vidrada e, algumas ve­ que se elegeram (João Alfre­ cluía) Quixadá, Quixcramo- Foi isso. O PT no interior é
do e Ilário Marques) vieram bim e tudo mais. O resto, prin­ isso. Ainda hoje praticamente
zes, dar gargalhadas.
desse movimento. O Paulinho cipalmente, Zona Norte, que aí é isso. Claro, hoje você tem os

96
João Alfredo

não-petistas. Nas cidades mé­ por causa das suas cartilhas, uma aristocracia coronelista
dias do interior, como Sobral, tinha educação política. Pre­ e se revezavam no Governo
como Crato, principalmente, gando o voto consciente, não do Estado do Ceará). Se
Crateús, Iguatu, você tem uma vendo volta. Essa coisa toda você olhar, hoje as pessoas
universidade. E aí você tem o cria esse caldo de cultura aí fazem uma leitura em retros-
pessoal do movimento estu­ para isso. pecti va, e acham que o Virgílio
dantil. Universitário, essa coi­ A m an d a - Mas há um foi moderno para a época dele.
sa toda. Mas, do ponto de vis­ momento em que, como o Ele começou o processo de
ta do início, era muito a partir senhor falou, o PMDB vem modernização aqui do Ceará.
daí. Do movimento sindical com o Tasso, um movimento Mas, como ele representava o A entrevisto foi o mais
dos trabalhadores rurais e do muito forte. E o PT vai mais PDS (Partido Democrático
longa da revista. En­
trabalho da Igreja. Vou até con­ fazer esse trabalho de base. Social), representava a dita­
tar uma coisa engraçada para Mas, como fo i feito esse tra­ dura, e na eleição anterior nós quanto as outras acu­
vocês. Quando eu advoguei no balho de base, de form a a tínhamos derrotado os coro­ mularam, no máximo,
sindicato em Ibiapina, terra do quebrar um pouco essa vi­ néis, com a candidatura da duasfitas e meia, o bate-
meu pai, e o presidente do sin­ são coronelista? Maria Luiza, na candidatura papo com João Alfredo
dicato era o seu Alfredo. E ele João Alfredo - Acho que de 1986, o Tasso se apropriou consumiu três fitas intei­
nunca, nunca que ia para ainda não quebrou, não, enten- disso. E aí surge um dos epi­ ros e um pedacinho da
Ibiapina. E aí, a gente co­ sódios mais controversos da
quarta.
meça a trazer o José Alfre- - - história do PT, que foi o
do para participar dos en­ "0 PT se fortalece no interior a acordo com os coronéis.
contros do PT, da CUT e Naquela época, havia um
partir, praticamente de duas
tudo mais. Ele começa a ver entendimento do Adauto
outra coisa. Uma pessoa lá fontes: uma é o movimento (Bezerra), que o PT cres­
do interior, acho que era Sí­ sindica! dos trabalhadores rurais e cesse, para tirar voto do
tio Vereda, lá em Ibiapina, o outro é o trabalho da igreja. Tasso em Fortaleza. E pro­
nunca foi. E aí foi engraça­ cura algumas pessoas da
do essa coisa também. Isso
Foi isso. 0 PT no interior é isso".
então direção para dar uma
é coisa que a gente vai pas­ ajuda financeira e tudo mais.
sando na vida e a gente vai deu? Do ponto de vista que a Coisas que nunca se compro­
lembrando. Aí ele está numa gente olhar, a quantidade de varam, mas acabaram levan­
reunião e olha para todo mun­ prefeituras que o PT tem, mí­ do ao escândalo porque teve
do e diz assim: “Companhei­ nimas ainda hoje. Não que­ a reunião do PT que foi gra­
ros!’'. Todo mundo toma um brou a estrutura ainda é muito vada e isso se tornou público.
susto. Ali em Ibiapina, está forte do poder do económico. As pessoas que estavam diri­
entendendo? Naquela época Porque veja, o Tasso se insur­ gindo o PT nessa época foram
era 1982, 1983. “Companhei­ ge contra os coronéis da polí­ expulsas. Então criou esse cli­
ro?” O pessoal olha para ele e tica cearense. E engraçado, se ma. Nós vivemos, nesse perí­
ele (diz) o seguinte: “Quando a gente olhar, são comuns às odo desse meu mandato de
a gente vai para reunião lá em políticas que já vinham sendo deputado estadual, muita con­
Fortaleza, da CUT, do PT, nós feitas. O (livro) “Coronelismo, vulsão. Porque nós tivemos,
só se trata tudim de compa­ Enxada e Voto” , (autor: logo em 1987, a expulsão dos
nheiro. Porque companheiro é Victor Nunes Leal. Editora: dirigentes que supostamente
como se nós fosse tudo um Nova Fronteira), que é até de teriam feito esse acordo com
magote de irmão” (risos). En­ um ministro do Supremo Tri­ os coronéis e depois nós tive­
tão é um negócio que eu não
No dia da entrevista,
bunal Federal. E um livro clás­ mos a expulsão da Maria Luiza
esqueço. Para mim, a tradu­ sico que trata disso. Então, ele Fontenelle. Justamente no ano haveria uma reunião do
ção de companheiro até hoje fala desse coronelismo. No de 1988. Eu então peguei uma PT, o que deixou a equi­
- hoje está meio desgastado, Ceará, você tem coincidente­ batata-quente no prim eiro pe de produção apreen­
né? - mas, era essa (a defi­ mente três coronéis de paten­ mandato de deputado estadu­ siva se iria m esm o
nição)i, ‘magote de irmãos’. te. O coronel Virgílio Távora, al, de duas crises grandes que acontecer o encontro com
Então é esse pessoal que a o coronel Adauto Bezerra e o o PT do Ceará viveu. Uma o deputado. M as João
gente vai e começa a trazer coronel César Cais (os três ainda em 1986, eu era apenas
Alfredo confirmou e com­
para participar dos encontros. mantiveram durante muito (deputado) eleito de 1986 a
Claro, nesse tempo a Igreja, tempo, até a década de 80, 1987. A outra, em 1988, quan- pareceu!

97
João Alfredo

do eu já era presidente do PT partido, o Partido da Revolu­ também um outro fato de na­


do Ceará. ção Operária, que tinha como tureza política. Há o fato tam­
N atália - Deputado, de mentor, um militante chamado bém de ter sido a primeira ex­
acordo com uma informação Jorge Paiva. E o Jorge tinha periência nossa de administrar
sigilosa que a gente apurou um dedo, sempre teve o dedo uma capital. Portanto, nós tí­
durante o período de produ­ muito heterodoxo para ser nhamos muito mais inexpe­
ção desta entrevista, o se­ bem... Usar de eufemismo. riência do que experiência,
nhor, o deputado Guimarães Eles achavam que a revolução não é? Uma administração
e o Ilário Marques foram os mundial ia começar em Forta­ com mil problemas, como fo­
De acordo com o ossessor grandes articuladores da leza, gente. Achavam mesmo, ram herdados, com essa difi­
Felipe Araújo, um dos fa­ expulsão da Maria Luiza e de forma sincera e honesta. culdade, mas também uma
da Rosa da Fonseca do Par­ Achavam que aqui era, vamos visão política-ideológica com­
tos mais marcantes para
tido dos Trabalhadores. Elas dizer, o centro da revolução plicada, no centro de poder
João Alfredo foi a morte que tinham vindo do PRC. mundial. E isso criou muitos dessa administração. E uma
do pai. Daí, como fo i esse episódio, problemas dentro da própria tensão permanente entre o
como se configurou o PT administração. Claro que era grupo da Maria Luiza e o res­
nesse momento? urna época completamente di­ to do PT.
João Alfredo - Nesse epi­ ferente dc hoje. Por quê? Nós Por exemplo, se a gente
sódio, essas três pessoas propunha Diretas Já, eles
são citadas (João Alfredo, - - propunham Já Já, está en­
Guimarães e Ilário) porque "Companheiro? 0 pessoal olha para ele tendendo? O tempo todo se
nós éramos os dirigentes do (José Alfredo, que à époco era diferenciava. Quando eu me
partido na época. Eu era o presidente do sindicato dos elegi presidente do PT em
presidente, o Ilário, se não 1987 eu chamei a Maria
trabalhadores rurais de Ibiapina) e ele
me engano, era o vice e o Luiza para entrar na dire­
Guimarães era o secretário- diz: "Quando a gente vai para reunião ção do PT, porque eu que­
geral. lá em Fortaleza, da CUT, do PT, nós só se ria comprometê-la com o
Primeiro, eu tenho um trata tudim de companheiro". partido e ela não quis. Por­
bem-querer eterno à Maria que eles funcionavam como
Luiza Fontenelle, apesar de ainda não tínhamos tido a um grupo a parte mesmo. O
todas as divergências políticas, C onstituinte (de 1988). A grupo era como se chama na
que são imensas. E, para mim, Constituição de 1969 dizia que esquerda como uma fração.
esse episódio foi muito doído. os municípios não tinham po­ Era uma fração mesmo do PT,
Tão doído que na reunião em der nenhum de tributar. Eles com linha própria de ação e
que a gente sacramentou essa (m unicípios) passam a ter tudo mais. Isso criou muito
discussão, eu tive uma das mi­ impostos, tributos próprios, a choque. Quando chegou o mo­
nhas piores enxaquecas. Eu partir de 1988, com a Consti­ mento da eleição de 1988, com
sofro desse mal. Ainda me tuição de 1988. Porque o mu­ todo o desgaste que a gente
lembro disso, no auditório da nicípio é considerado um ente vivia eu procurei a M aria
Assembléia Legislativa. O que da Federação. Até então não Luiza. Existia um restaurante
aconteceu foi o seguinte: nes­ era. chamado Gabriela, na (Aveni­
se processo de fracionamento, Então, os municípios, mes­ da) Barão de Studart, que ti­
divisão da esquerda, o grupo mo as capitais eram comple­ nha uma camc-de-sol maravi­
da Maria Luiza era um racha tamente dependentes do Go­ lhosa e fui ter uma conversa
do PCdoB, que era o PRC verno do Estado e houve um com a Maria Luiza naquela
(Partido Revolucionário Comu­ garroteamento mesmo. O (en­ época para propor um acordo.
nista), depois ele rachou e vi­ tão governador) Gonzaga Mota Para a gente encontrar um
rou um partido chamado PRO (deputado federal, PMDB- nome. E certo que o meu nome
- Partido da Revolução Ope­ CE), primeiro e o Tasso segun­ era lembrado, como candida­
Quem registrou o encon­ rária, rachou. Então, por do, ‘botaram foi pra quebrar’, to a prefeito, o nome do
tro foi o professor Ronaldo exemplo, o Guimarães (depu­ para impedir a administração Campeio (Antônio Campeio,
Salgado, pois dessa vez tado José Guimarães - PT), o da Maria Luiza dar certo. Eu arquiteto), o nome do Mário
não teve a participação Pedro Ivo, o Ortins, ficaram no acho que esse é um dado de Mamede (atualmente, subse­
PRC, e o grupo mais fiel à realidade mesmo. Isso é um cretário de Direitos Huma­
especial de Igor Graziano.
Maria Luiza, fundou esse novo fato real, concreto. Mas, há nos) e o nome do Dalton Ro­

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João Alfredo

sado (advogado, que fa zia la época”, (risos). E nós cas­ M aria Luiza Fontenelle foi
parle do grupo pelisla, lide­ samos mesmo. Quando cassa­ contatada c deu sua versão
rado pela ex-prefeita Maria mos, teve um encontro para dos fatos. M aria Luiza: “Não
Luiza Fontenelle). tirar os delegados do encontro houve episódio em que leva­
Então tinha quatro pré-can­ municipal, o grupo da Maria mos urnas. Houve até revól­
didatos, naquela época. 0 Luiza alugou os ônibus da ver puxado do lado de lá (da
Dalton era o nome dela. E nós CTC (Companhia de Trans­ então direção do PT). Eles
então fomos conversar com portes Coletivos), eles foram anularam 900 filiações e não
ela, para tentar chegar a um aos locais de votação e rasga­ deram direito às pessoas a re­
acordo de uma candidatura ram uns livros dc ata. Leva­ correr. Nós inclusive solicita­ Todos chegaram no hora
que pudesse unificar o parti­ ram as urnas. Foi um negócio mos que não fossem realiza­ e foram devidam ente
do. E a Maria Luiza não lo- horrível. E nós ficamos numa das as convenções'naquele
apresentados. Apenas a
poq. Ela disse assim: “Olha situação, o que nós vamos fa­ momento e eles insistiram. O
João Alfredo, você tem que zer diante disso? E naquele que aconteceu foi que uma Juliana Sousa não pôde
entender” - lembro bem de ela tempo a gente sc consultou pessoa que se sentiu preteri­ comparecer por motivo de
me dizendo isso - “que a gen­ com a direção nacional. Foi da, por ter lido sua filiação saúde.
te tem que ir para a disputa e com o José Dirccu (deputa­ impugnada rasgou a ata. Foi o
aí quem ganhar leva”. E eu do federal - PT, ex-chefe da Diassis Diniz que hoje é presi­
também fui ‘bravata’ na­ dente da CUT Ceará. To­
quele momento e disse: - dos os que falam nesse fato
“Olha Maria Luiza, você "Companheiro é como se nós fosse da minha saída não dizem
tem a prefeitura, mas nós que o processo foi antidemo-
tudo um magote de irmão" (risos)...
temos o partido” . E aí hou­ crático. Preparam os um
ve um processo que foi o Para mim, a tradução de documento para mostrar a
seguinte: eles, a partir da companheiro até hoje - hoje está incongruência desse fato,
prefeitura, começaram a meio desgastado, né - mas, era essa mas ele nunca foi analisado
filiar em massa. Filiaram pela presidência do PT.
(a definição), 'magote de irmãos'".
gente com critérios, é ver­ Havia uma discordância
dade, mas filiaram muita muito grande do modo
gente sem critério. Chegava Casa Civil do governo Lula, petista de administrar. Tínha­
na ocupação e ‘taca o pau’ a que à época era Secretário- mos divergências profundas a
pegar ficha de filiação. Para Geral do Diretório Nacional quem deveria me suceder.
quê? Para quando chegasse o do PT - permaneceu no car­ Para você ter uma idéia, des­
encontro, ganhar o encontro e go de 1987 a 1993), que veio ses 900 nomes que foram eli­
impor a candidatura, naquele aqui para conversar com a minados estão uma pessoa que
tempo, do Dalton Rosado. E gente e nós achamos que a hoje é assessora de um depu­
nós, do outro lado, naquele única saída era a expulsão. tado em Brasília e foi sub-
momento, já unificados em tor­ Não sei se teria sido melhor prefeita, e eles diziam que não
no da candidatura do Mário hoje, se a gente teria conse­ eram qualificadas. Mas não foi
Mamede. guido uma outra saída. Até por causa disso, foi porque
O que é que acontece? porque eu acho que mesmo eram pessoas ligadas ao nos­
Quando chegam aquelas filia­ com isso, o nome do PT ficou so grupo. Queríamos adiar o
ções todinhas, a gente faz muito marcado. Mas eu acho dia da convenção para saber
impugnação delas, a gente que houve intransigência dos porque eles estavam tirando as Após a entrevista, a tur­
cassa essas filiações. Como dois lados. Houve um proces­ nossas filiações. Como não
ma se reuniu com o pro­
uma medida de força nossa, so de choque, até porque era houve resposta teve esse úni­
contra uma medida de lá, úma fessor Ronaldo Salgado
como dois blocos brigando pelo co gesto mais drástico (de
medida de cá. Eu me lembro controle da situação e cada Diassis). na calçada do escritório
que, hoje eu sou muito amigo um, como eu até previ na con­ Eles queriam Mário Mame­ de João Alfredo. Em se­
de uma colega de vocês, (jor­ versa que tive com ela, usou de e nós o Dalton Rosado. Não guida, Amando e Natá-
nalista) a Andréa Fontenelle, as suas armas. E houve real­ houve tempo para entendimen­ lia saíram e Raquel deu
que é filha da Maria Luiza, que mente essa expulsão. Acho to. Foi totalmente antidemocrá­ carona para Gabriel,
mora em Brasília. E a Andréa que foi ruim para todo mundo. tico, até a forma de comunica­
Giselle e Ériko até a ro­
sempre me disse: “Vocês cas­ **Nota dos editores: A ção da nossa expulsão. Foi
doviária.
saram a minha filiação, naque­ e x -p re fe ita de F o rta le z a numa reunião de secretários da

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João Alfredo

prefeitura. O presidente do PT to, por exemplo, de um lado, M ário M amede, mesmo o


manda o (hoje deputado Josc) filiação cm massa, de outro Dalton Rosado, sendo candi­
Guimarães me entregar a expul­ cassa as filiações. De um lado, dato, como foi pelo PH (Parti­
são e o nosso documento nun­ impedir a realização da Con­ do Humanista), o Mário Ma­
ca foi apreciado. venção, atentado à democra­ mede pelo PT. O PT ainda
Havia divergência em cri­ cia, no nosso, a expulsão. En­ ficou sendo identificado com
ar o conselho político do PT tão foi um processo, vamos a adm inistração da M aria
porque eles queriam participa­ dizer, que faltou a possibilida­ Luiza, isso é natural.
ção dos setores empresariais. de de uma mediação que tal­ R aquel - Deputado, em
A mordomia foi por cau­ O PT nunca se reuniu para vez pudesse evitar isso. Ter 1990, sendo candidato a
fazer uma análise da nossa encontrado um nome e ter feito governador do E stado, o
sa do Gabriel, que esta­
administração. Seja da exclu­ a disputa, eu, pessoalmente. E senhor avalia que fo i um
va quase atrasado para acho assim, que nesse proces­ erro porque o senhor se
são daquelas filiações que fo­
viajar para Sobral. ram tiradas, até o processo de so todo, se você olhar a traje­ candidatou numa época em
expulsão. Foi totalmente auto­ tória do grupo da Maria Luiza, que o PT não dispunha de
ritário. Não é porque o presi­ hoje eles negam a própria po­ muitos recursos, não tinha
dente era o João Alfredo. lítica. Fazem parte de um gru­ uma boa estrutura para fa ­
Também estavam o Ilário po chamado Crítica Radical e zer uma campanha que pu­
(Marques) e o Guimarães. desse eleger o senhor?
Mesmo depois disso, ainda - ■ Quero saber se o senhor
subimos ao palanque do "Ele (Virgílio Távora) começou o processo avalia que fo i um erro
Lula na campanha de 1989. de modernização aqui do Ceará. Mas, porque o senhor linha nas
Nem cortamos a relação como ele representava o PDS (Parlido mãos um mandato de de­
com o João Alfredo, nem Democrático Social), representava a putado estadual? O se­
com o Ilário”. nhor poderia ter sido
ditadura, e na eleição anterior nós
Natália - Mas, respei­ reeleito.
tando as diferenças con­ tínhamos derrotado os coronéis, com a João Alfredo - E.
junturais, pode ser com­ candidatura da Maria Luiza". Raquel - O senhor se
parado ao caso da arrepende?
Heloísa Helena, do Babá, depois dali eles formaram o João Alfredo - Não. Não
da Luciana Genro (deputa­ PART (Partido da Revolu­ me arrependo, não. Eu penso
dos que foram expulsos do PT ção dos Trabalhadores pela um pouco assim: olhando em
e fundaram o P-SOL) por Em ancipação Humana). retrospectiva, de hoje para
não votarem a favor da ta- Depois abandonaram o PART trás, talvez eu me arrependes­
xação dos inativos e fazerem e hoje eles não aceitam nenhu­ se desse processo da Maria
duras críticas ao governo ma forma de representação Luiza. Para mim foi uma coi­
Lula? política. E aí estão completa­ sa que nunca se resolveu bem.
Jo ã o A lfred o - Não. mente, acho hoje, muito próxi­ Talvez se eu estivesse mais
Acho que não pode. Não pode. mos ao anarquismo. Mas foi maduro nessa época eu talvez
Por quê? Porque acho que a uma pena, porque foi a primei­ in sistisse ainda mais e
Heloísa Helena (AL), o Babá ra experiência do PT em ca­ trabalhasse ainda mais na
(João B atista - PA) t a pital. Eu lamento tanto isso perspectiva desse acordo.
Luciana (RS), eles votaram porque eu acho que a Maria Com relação à candidatura a
com a história, a trajetória do Luiza é uma grande figura hu­ governador, não.
PT. E eu acho que naquele mana que poderia ter continu­ Eu acho que foi um apren­
momento, na minha opinião, ado na política, depois ela foi dizado, tanto a eleição, como
com todo o respeito e amor que deputada federal, candidata ao foi um aprendizado o pós -
eu tenho à Maria Luiza, eles senado, não é? E acho que eleição. Eu, pessoalmente,
Entre os entrevistados, não tinham compromisso na­ nesse processo houve muita acho que as perdas são muito
João Alfredo foi quem deu quele tempo com o PT, nessa intolerância, muita intransi­ importantes na vida da gente.
respostas mais longas. A questão. Até porque eles se gência. Talvez pudesse ter E perder uma eleição... Pri­
cada resposta, uma his­ organizavam de forma à par­ sido diferente, está entenden­ meiro, enfrentar uma eleição
te. Então, eu acho que foi um do? Talvez pudesse ser dife­ daquelas. A gente, primeiro,
tória interessante para
processo de esgarçam ento rente. Tanto que o PT acabou não unificou a esquerda, é pre­
nos contar. mesmo. Que chegou ao pon­ pagando o preço. Mesmo o ciso lembrar disso. Foi uma

100
João Alfredo

candidatura de esquerda em nete. Era muito engraçado. das feiras. Como eu não tinha
que nós tínhamos três, quatro Era eu, ela, que era a primei­ dinheiro para trazer o povo
candidaturas. Tem a (candi­ ra-dama, o motorista. Iam os para o comício, então eu apro­
datura) do A guiar Júnior três na frente. Atrás, o Augus­ veitava que o povo já estava
(pelo PRN à época) que não to B onequeiro que fazia na praça no dia da feira. En­
contava. Tinha a do PSDB, animação com o boneco Fulei- tão, era em cima do caminhão
que era o Ciro (Gomes). Ele ragem, o Rogério (Gomes), e, às vezes, era em cima de
já era do PSDB, com o apoio que trabalha na TV Cidade, umas carroças de burro mes­
do Tasso, a força que eles ti­ que era o nosso locutor, e o mo. A gente encostava uma na
nham. Tinha a do PFL, que era pessoal da equipe de rádio e outra e aí a gente começava No dia 24 de setembro
o Paulo Lustosa (ex-secretái- televisão, que era um pessoal com o Augusto (Bonequeiro),
Jooo Alfredo deixo o PT e
rio-executivo do Ministério que fazia batizado e casamen­ com o boneco dele, Fulei-
das Comunicações do Go­ to. Então, as pessoas olhavam ragem. Começava o povo a ingresso no P-SOL, par­
verno Lula e atual presiden­ para mim assim pensando: vir. Quando juntava gente, eu tido da am igo Heloisa
te da Fundação Nacional de “Como você é muito melhor ao entrava para falar (risos). Aí Helena.
Saúde - Funasa). E tinha a vivo”. Meu programa de tele­ o povo começava a ir embo­
nossa candidatura, que era PT, visão era horrível. Era simples­ ra. Uma parte começava a ir
PSB, PCdoB e PCB, que é o mente horroroso, porque não embora. Uma vez, foi horrível.
campo de aliança que nós A gente estava, eu não sei
cham amos D em ocrática - ■ se a gente estava em Mau­
Popular. E a gente sempre ''Naquela época, havia um riti, ou se era Palestina, que
discutiu isso. entendimento do Adauto era distrito de Mauriti. O
Olha, apresentar qual­ (Bezerra), que o PT crescesse, para povo segurando lá os dois
quer candidatura, como foi burros e começaram a soltar
tirar voto do Tasso em Fortaleza. E
o Cartaxo (Joaquim Carta­ fogos, caiu todo mundo de
xo, arquiteto,eleito presi­ procura algum as pessoas da então cima do palanque (risos),
dente do Diretório Regio­ direção para dar uma ajuda porque balançou, os burros
nal do PT Ceará no último financeira e tudo mais". se espantaram e caiu todo
Processo de Eleições Di­ mundo de cima do palanque.
retas do partido, ocorridas tinha recurso, não é que os me­ E a outra vez que até en­
em 18 de setembro) em 1994, ninos fossem ruins, não. volveu o (deputado José No­
com todo o respeito ao Carta­ Aí algumas pessoas entram bre) Guimarães. Foi em Mila­
xo, era sinalizar que não esta­ no meio da campanha. Entra gres. A gente foi fazer o
va indo para a disputa. Tirar o a Luizianne (Lins, prefeita de comício e a gente ia à casa do
deputado do mandato e colocá- Fortaleza - PT), que era es­ companheiro do partido, toma­
lo como candidato, era dizer tudante naquele tempo, a Ana va banho e tudo mais. Depois
“ó, nós estamos acreditando Ângela Farias (jornalista), o ia para o comício. Aí, o Gui­
nessa campanha”. Então, eu Ismael (Furtado, jornalista). marães, com aquela voz em-
penso que foi uma campanha Entra depois o Marcos Moura postada dele (imitando o de­
de militância, talvez a última (cineasta cearense) c tudo o putado José G uim arães):
campanha de militância. Por­ mais. E muito, quase que com “Eu estava agora há pouco na
que era uma campanha que foi doação mesmo, está entenden­ casa do companheiro tal, to­
realizada, como você disse, do? Doação militante. Mas, foi mando banho com o compa­
sem recurso. Nesse tempo eu uma campanha muito bacana. nheiro João Alfredo!” (garga­
tinha uma cam inhonete de Uma campanha em que a gen­ lhadas). A í o pessoal
duas cabines, com uma ca­ te rodou esse Ceará todinho. “cceepa!”, c ele voltou e dis­
çamba fechada atrás. Nesse Vamos contar alguns episódi­ se assim: “E também com a
tempo eu era casado com a os engraçados também. Por­ companheira Glorinha”, e o
Glória Diógenes (ex-mulher que é muito interessante. A povo: “Suruba, suruba!” Tem
de João Alfredo. Glória atu­ gente fez um com ício em essas coisas assim. Mas, a Na ocasião de sua saída
almente é presidente da Fun­ Mauriti (município da Região gente rodou esse Ceará todi­ do PT, o deputado diz
dação da Criança e da Fa­ do Cariri cearense), se eu não nho e a gente fazia um comí­
acreditar levar consigo
mília Cidadã - Funci), que me engano, num distrito cha­ cio por noite e o Ciro fazia três.
um grupo de militantes
foi da UFC e está na FUNCI mado Palestina. E a gente fa­ De aviãozinho, de helicóptero,
e viajávamos nessa caminho­ zia muitos comícios no horário “papapa”, três comícios por para a nova legenda.

101
João Alfredo

noite. A minha história nessa visão a pesquisa e mostrava gente, comigo mesmo - Que­
história c que cu tinha que des­ que o senhor estava só com ria até o Felipe aqui para po­
mentir as pesquisas de opinião três por cento... der ouvir isso (refere-se no­
pública, porque nós vamos dar João Alfredo - Vou res­ vam ente ao a ssesso r de
a virada... Até o último mo­ ponder sua pergunta contan­ imprensa que dera uma rá­
mento falando na tal da virada do aqui uma história. Outro pida saída nesse momento).
porque tinha que animar a dia, eu saí daqui para a prefei­ Eu sou muito exigente comigo
militância, tinha gente que che­ tura, agora há pouco tempo, e mesmo. Então eu tenho que
gava e dizia: “João Alfredo, só me chateei com uma coisa lá ser exigente com os outros. E
está três porcento, só tem qua­ que eu não vou dizer qual é. tem uma terceira coisa, que eu
Deputado Fernando Hugo
tro”. “Não, mas é isso mes­ Eu me chateei profundamen­ acho que também é um defei­
(PSDB), um dos opositores
mo, vamos lutar. Ainda tem te. E tinha uma solenidade com to grande que eu tenho. Agen­
políticos de João Alfredo: uma que diz para mim sempre a prefeita e com o ministro do te vai ficando velho, a gente
"João representa o PT essa frase “Ainda há tempo no D esenvolvim ento Agrário, não vai melhorando, mas pelo
nascido nosidéias de 25 tempo que nos resta”. Eu usa­ Miguel Rossetto, que era meu menos a gente vai convivendo
an o s atrás. Ele não va muito esse bordão. E o pes­ amigo. Mas, me chateei tanto com os defeitos da gente. É o
metamorfoseou-se, não soal fez a campanha, a mili­ que larguei a tal da solenida­ tempo, que a gente conhece os
saiu daquela sua linho tância do partido, no interior, de. Estava chegando o Tin defeitos da gente e a gente
principalm ente, mas em acaba sabendo conviver
de pensar que é o histó­
Fortaleza também, fez a - - melhor.
ria básica do PT. Ele é tei­ campanha. E também eu "Para mim, esse episódio (da N esse tem po eu era
moso em defender suas passei quatro anos sem expulsão da Maria Luiza Fontenelle) muito novo, tinha trinta e
idéias. Tivemos históricas mandato. Acho que foi bom, foi muito doído. Tão doído que na poucos anos. Acho que sim,
discussões sobre o Caste- no começo me desacostu­ 1990, não é? 1990 é o quê?
mei, é verdade. Foram os
reunião em que a gente
lã o e o Porto do Pecém". 15 anos atrás. Então, mas
quatro anos que eu passei sacramentou essa discussão, eu eu tenho também esse ou­
sem m andato, fiz duas tive uma das minhas piores tro defeito, eu não gosto de
coisas muito boas que eu _ _ _ _ _ _ _ enxaquecas"._ _ _ _ _ _ _ _ perder. Eu tenho uma difi­
gostei. culdade. Quando eu quero
Raquel - Mas, deputado, (Gomes), presidente da Câ­ uma coisa e desejo, ele me do­
já já a gente volta a esse mara (Municipal de Fortale­ mina. Uma vez eu estava com
assunto. E que o deputado za) para a solenidade. Eu dis­ o doutor Feliciano de Carva­
Guimarães também nos rela­ se Tin, tu podes me emprestar lho (José Feliciano de Car­
tou essa história do banho aí o teu motorista?’ Ele disse: valho Júnior - Conselheiro
e ele disse também que o se­ “pòsso”. Aí fui, e o povo ligan­ federal da OAB) da OAB. Eu
nhor durante a campanha do para mim. O Roberto, meu era presidente da Comissão de
ficava muito agitado, muito chefe de gabinete ligou e eu Direitos Humanos da OAB. A
"Quando ele foi presiden­ nervoso, e era pouco paci­ disse assim: “Roberto, eu te­ Comissão de Direitos Huma­
te do PT, eu era o secretá­ ente. Que às vezes... nho um grande defeito e uma nos não tinha uma sala e eu
rio ge ral. Acho que dois João Alfredo - Acho que virtude. O grande defeito, eu insistindo com ele para conse­
fotos marcaram muito a não é só durante a campanha acho que não tem mais jeito. guir uma sala para a comissão,
nossa militância política não, não é, Felipe? (risos ao Eu sou extremamente emoci­ insistindo, insistindo, insistindo.
no PT. A primeira foi a falar com o seu assessor de onal, passional, visceral, san­ Quando ele me negou a sala,
imprensa, Felipe Araújo). guíneo”. Eu sou desses explo­ ‘pô’ eu me "amoei’ de um jei­
disputa paro governado
Raquel - E que às vezes sivos. Esse é um grande to! Ele olhou para mim e dis­
em 1990. Eu era o secre­ dava uns “esparros” tam ­ defeito. Eu acho que não mudo se: “João Alfredo você tem
tário do PT e a campa­ bém, como ele mesmo falou. mais. Agora eu tenho uma vir­ uma dificuldade muito grande
nha foi muito difícil. Ele Eu queria saber: se essa sua tude, que o tempo me ensinou. de perder”. É mesmo, é ver­
era muito agitado. Era impaciência, essa sua tole­ Quando eu estou desse jeito, dade. Isso é uma coisa que eu
pouco paciente frente aos rância, da form a como ele eu saio de perto, é que eu não tenho que ir trabalhando na
dilemas", deputado José descreveu, era devido às saía. Quando eu estou procu­ minha vida. E é porque eu já
pesquisas de opinião, p o r­ ro me afastar das pessoas. tive perdas. E de alguma for­
Nobre Guimarães (PT),
que ele disse que o senhor Porque eu sei que eu firo, que ma sobrevivi a elas. Perdas
sobre o ex-companheiro
teve um momento de nervo­ eu agrido. E junte-se a isso um políticas, como foi essa perda
João Alfredo. sismo quando viu pela tele­ outro fato, cu sou muito exi­ para governador. Foi uma per-

102
& 4*t/U A fr4t6' João Alfredo

da grande. Que eu fiquei sem tas divergências com o Bru­ uma candidatura muito difícil.
mandato, fiquei sem nada. E no, mas ele coordenou a mi­ Chegava a ter fatos em que
peidas pessoais fortes. Tanto, nha campanha. chegava num local e não tinha
vamos dizer, de morte, meu pai O que é que acontece? um cartaz do candidato a go­
que morreu de câncer (Antô­ Acho que isso serve para qual­ vernador. Tinha de todos os
nio Fernando Melo), que é quer partido, não é só para o candidatos a deputados estadu­
uma doença terrível. Eu acom­ PT. Quando as pessoas sen­ ais e federais. E não tinha um
panhei meio que à distância e tem que a candidatura majori­ de governador. Então, era uma
tudo mais, e meu irmão (Ale­ tária não tem chance, qual é a coisa que você pensa, “pô” eu
xandre Telles Melo), que foi tendência? As pessoas cuida­ tenho um mandato de deputa­ Deputado Nelson Martins
baleado em Recife. E perdas rem das suas candidaturas do estadual, estou colocando o
(PT): "H á um momento
também de amor. Três casa­ proporcionais. De se salva­ meu nome para o partido. Ti­
na história do PT que acho
mentos, três separações. En­ rem. Era uma eleição muito nha gente fazendo material de
muito importante. Foi
tão, quer dizer, ainda assim, eu difícil, mas qual foi o erro? O campanha sem meu nome. Eu
acho que eu tenho dificuldade quando ele tinha um
erro não foi eu ter me candi­ sou muito cricri, eles sabem dis­
com isso. Então, talvez seja datado, o erro foi a gente achar so (refere-se aos funcionári­ mandato de deputado es­
isso. As vezes, eu chego e digo que a eleição dc 1990 era um os do escritório político tadual, poderia tranqui-
assim: “Eu sou um péssimo terceiro turno. Ou seja, teve os dele). Eu vou atrás e cobro. lamente ser reeleito e
político”. Eu digo para as Não falo por trás, não. Eu colocou seu nome à dispo­
pessoas por causa disso. Eu cobro é na frente. Eu faço e sição para ser governador
olho alguns outros com os "...Houve um garroteamento reclamo e cobro. Tem outro do Estado em 1990. Na­
quais eu convivo, inclusive mesmo. 0 (então governador) episódio, que é uma pessoa quele momento, pela es­
com o próprio Guimarães, que é minha amiga até hoje, trutura que o PT tinha e
que são muito frios, são cal­ Gonzaga Mota, primeiro e o Tasso que é o Deodato Ramal ho pelo preconceito que exis­
culistas, eu não sou. Eu te­ segundo, 'bofaram foi pra quebrar', (Procurador Geral do tia contra o partido, ele
nho esse péssimo defeito. para impedir a administração da Município). Eu tive uma dificilmente seria eleito
G isellc - D eputado, briga com ele depois. Eu bri­
Maria Luiza dar certo". governador. Foi uma de­
ainda de acordo com o go, mas faço as pazes, é
monstração por parte dele
deputado Guimarães, na uma vantagem, com quem
de muito desprendimento
cam panha de 1990, o se­ dois turnos e o Collor (de vale à pena na minha opinião.
nhor havia dito que o parti­ Mello, ex-presidente do Bra­ do ponto de vista político".
Eu tive uma briga danada por
do não estava envolvido. Foi sil que sofreu impeachment) causa da história (da priva-
nessa época que algum as ganhou do Lula, em 1989. E tização) do BEC (Banco do "Em 86, me ofereci para
pessoas que estavam do seu em 1990 nós íamos dar o tro­ Estado do Ceará) - Mas o De­ ser um dos coordenado­
lado, começaram a ‘saltar co ao Collor, às elites e tudo o odato, em 1990 é candidato a res da cam panha dele
fo r a ', como o próprio José mais. Era essa a visão que a deputado estadual. E houve para deputado estadual.
G uim arães, como o A rtur gente tinha. Equivocada, como uma carreata cm Quixadá. E Era muito amigo dele eo
Bruno...? mostraram. na carreata de Quixadá, o car­ ajudei financeiramente.
Jo ão A lfredo - Não, o Naquele tempo, o Collor ain­ ro de som da frente só tocava Ele reconhece publico-
Guimarães nunca foi da minha da tinha muita força. O Collor a música do Uário (Marques), mente que fui um dos
tendência... ainda tinha muita força em que era candidato a deputado responsáveis pela eleição
Giselle - Mas, estavam 1990, não era? Então, o efeito estadual. Não tocava a minha dele, sobretudo na vota­
envolvidos com a mesma Lula não puxou a eleição. In­ fita, que era candidato a gover­ ção que teve em Fortale­
campanha... clusive não era junto, era só nador. Esse Deodato desce do za. Eu o levei à sala de
João A lfredo - É, está­ eleição para deputado. Quer caminhão, sai correndo até o
aula, levei aos colégios.
vamos. Mas, veja, numa cam­ dizer, o Lula não puxou a can­ carro dele e volta e traz a fita
panha como essa, que é uma didatura do PT no país todo. E Em 88, fui eleito verea­
para tocar. Eu não esqueço
campanha difícil - o Guima­ aqui a gente tinha uma hege­ dor. A gente participava
mais, eu no caminhão, olhando
rães foi candidato a deputado monia muito forte que ainda do mesmo grupo político,
para trás, e o Deodato corren­
federal naquela eleição, o está aí hoje. Desde 1986 para do com a fita, “tá aqui a fita!” a Vertente Socialista. Era
Bruno é que não foi, aliás o cá, esse grupo Tasso, Ciro, Tas­ Numa maratona, estava ali com um grupo muito ligado
Brunò se penitencia de ter me so, Tasso e agora Lúcio Alcân­ a tocha. A tocha ali chegando às pastorais da Igreja Ca­
lançado para governador, cm tara está aí dominando. Soube­ num revezamento, entregando tólica. A gente era tido
outros momentos. Mas, faça- ram construir uma hegemonia. ali aquela fita (risos). Então, eu comoigrejeiro." deputa­
se justiça a ele. Eu tenho mui­ Então, a minha candidatura era reconheço esses defeitos, e do Artur Bruno (PT).

103
João Alfredo

numa campanha majoritária, partido. Houve alguns episó­ Não é porque eu não fosse
que é uma campanha com mui­ dios em que eu me chateei estudioso, porque cu sempre
tas dificuldades, a gente acaba muito e me afastei da direção estudei. Mas eu acho que no
perdendo as estribeiras mesmo. do partido. E foi a coisa mais Mestrado foi onde eu estudei
Alguns choram, outros riem, certa que eu já fiz. Porque mesmo, que eu me dediquei
outros puxam os cabelos e ou­ como eu estava com uma má­ mesmo a isso. E fui o primeiro
tros dominam seus sentimen­ goa muito forte cm relação a da minha turma a defender a
tos, suas emoções, eu não. uma série de outros episódios dissertação. Quando os caras
Gabriel - Como ficou a re­ - que eu não quero relatar olharam para mim na entrevis­
lação do senhor com o PT, de­ aqui, eu achei que era melhor ta, disseram assim: “yocê não
No informativo do depu­
pois dessa derrota em 1990? me afastar. Talvez, se eu não vai defender a sua dissertação,
tado João Alfredo, o
Jo ã o A lfred o - M uito tivesse me afastado, eu tives­ você vai se candidatar a vere­
"Palavra Viva", ele apre­ ruim. se me desfiliado. O que eu fiz? ador”. Eu não me candidatei.
senta dados de político Gabriel - Um militante do Direcionei minhas energias Dois anos depois, teve ume
ambiental, sobre a Trans­ PT nos relatou que o senhor, para outras coisas. E foi a épo­ eleição para vereador e para
posição do Rio São Fran­ algumas vezes, fala da cam­ ca em que eu tive oportunida­ prefeito, eu não me candidatei,
cisco e sobre a melhorias panha de 1990 como um sa­ de de fazer o mestrado. Acho continuei sem mandato. E ter­
para os povos indígenas. crifício que fez pelo partido. que a Glória teve um peso minei, consegui terminar a mi­
João Alfredo - E foi. nha dissertação. E convivi
Não houve um outro do PT - - com gente muito legal nes­
até hoje - nós estamos em "...Lembro bem de ela me dizendo sa época, estudantes que ti­
2005 - que tivesse um man­ isso:"que a gente tem que ir para a nham terminado (a gradu­
dato na mão para disputar disputa e aí quem ganhar leva". E ação) havia pouco. Eu era
um cargo majoritário, não o mais velho da turma, pra-
houve. Pode olhar as elei­
eu também fui 'bravata' naquele ticamentc. Aprendi muito,
ções majoritárias de prefei­ momento e disse: 'Olha Maria muito, muito. Muito mesmo.
tos e governador, não hou­ Luiza, você tem a prefeitura, mas E fui para a OAB. E, na
ve. Não aconteceu ate OAB, nós formamos, na
nós temos o partido'".
agora. Na eleição passada, Comissão de Direitos Hu­
por exemplo, para governador, muito grande nisso. Quando eu manos, um grupo muito bom.
o José Airton (foi candidato). era casado com a Glória - a Éramos Deodato (Ramalho),
O Lula chamou o (deputado Glória da Academia, da Uni­ que hoje é procurador-geral do
João Alfredo sobre Refor­ Artur) Bruno para ser o can­ versidade - me incentivou município, o Arimá Rocha, que
mas do Governo: "A pa­ didato e o Bruno não topou. muito a fazer um mestrado e hoje é o diretor da guarda mu­
lavra reforma tornou-se Ele não quis colocar em risco me ajudou muito na minha nicipal (de F ortaleza), A
o seu mandato. Então, isso é tese, do ponto de vista da Neiara de M oraes Bezerra
uma das principais refe­
fato. Alguns perderam a elei­ metodologia. Evidentemente, que foi do Ccdeca e hoje está
rências do momento polí­ ção porque era eleição. Mas não é a área dela, era o Direi­ no Orçamento Participativo da
tico que o Brasil atravessa. ninguém chegou com o man­ to, mas, do ponto de vista da prefeitura e eu. Nós agluti­
Reforma da previdência, dato na mão e se candidatou. m etodologia e da própria namos dentro da Comissão de
do sistema tributário, das A Luizianne se elegeu prefeita, feitura da dissertação. E foi a Direitos Humanos da OAB um
leis trabalhistas e da le­ mas era deputada. Se perdes­ época que cu fui militante na grupo de militantes de Direi­
gislação que rege os se, ela voltava a ser deputada. OAB, que eu fui presidente da tos Humanos. Advogados e
Não estou tirando o mérito Comissão de Direitos Huma­ advogadas, alguns iam para
partidos políticos e os
dela, que é uma mulher guer­ nos da OAB, que foi outra área de meio ambiente, outros
eleições: divergências à reira e eu tenho uma admira­ experiência fundamental na iam para a área de defesa
parte sobre seu teor, elas ção muito grande por ela. Mas minha vida. (<defensoria) pública. Nós for­
constituem a base sobre isso é um fato, isso é verdade. Então, eu acho que essa mamos, inclusive, subcomis­
a qual o atual governo Agora, eu real mente fiquei capacidade de me renovar em sões. Tinha subcomissão do
vai implementar as mu­ muito magoado depois, porque outros aspectos me faz muito meio ambiente, tinha subco­
danças mais profundas eu acho que o PT não me tra­ bem, no sentido de que... Por missão de defesa do consumi­
que se fazem necessárias tou bem depois desse proces­ exemplo, eu convivia muito dor, tinha subcom issão de
so todo. Não reconheceu. A com estudantes - eu fiz um criança e do adolescente, tinha
para termos uma socie­
palavra sacrifício talvez seja curso de Direito muito voltado a subcomissão de assuntos
dade mais justa". forte, mas a minha doação ao para o Movimento Estudantil. penais.

104
João Alfredo

Então a gente saiu com um da tortura, porque, quando me respeitam porque cu co­
grupo muito forte e a gente chegamos lá, encontramos o nheço a matéria e por essa
viveu episódios muito interes­ Antônio Ferreira Braga (pe­ militância na causa dos Direi­
santes, como foi aquele episó­ dreiro, acusado à época de tos Humanos que para mim é
dio da tortura da (delegacia ter furtado uma televisão), uma coisa fundamental.
de) Furtos e Roubos, que foi a enrolado num cobertor, numa É rik a - Como o senhor
maior loucura que eu já fiz na espécie de tapete, num cober­ conseguiu se manter nesse
minha vida. Acho que foi a tor. Ao lado dele, um pedaço intervalo?
maior loucura que eu já fiz na de borracha de câm ara de João Alfredo - Consegui
minha vida, foi aquela. Que pneu, uns fios descascados e me manter abrindo um escritó­
0 professor do Faculdade
nós invadimos uma delegacia, o cara completamente deses­ rio de advocacia, lá na Praça
de Educação da UFC e
desarmados. Éramos eu, o perado c os torturadores sem Argentina Castello Branco, jun­
Paulo Mindêllo, que nesse tem­ camisa, suados. Suados. Sem to com Guilherme Rodrigues, filiado ao PT, Zezé Medeiros,
po era da comissão de Direitos camisa. Nós chegamos lá e que é procurador do município na ocasião da entrevista
Humanos da Câmara (atual- dissemos assim: “Como é que e junto com o Edm ar (Xi- com João Alfredo (em ju­
mente, secretário-executivo vocês fazem um negócio des­ menes), que é meu amigo, que lho de 2005): "H á um bo­
da Regional VI da prefeitu­ ses?” Para mim, a primeira tinha um escritório na área de ato de que João Alfredo e o
ra de Fortaleza), o M ário coisa foi essa. “Como é que consultoria, projetos. Prestei grupo ligado a ele vão para
Mamede da Comissão de algumas assessorias, numa
oP-SOLcasoseu nome não
Direitos Humanos da As- - ■ época prestei assessoria ao
sembléia (Legislativa) (<atu­ "As pessoas olhavam para mim Eudoro Santana (diretor- seja aprovado dentro do
almente, subsecretário de assim pensando:"como você é muito geral do D epartam ento partido para a candidatu­
Direitos Humanos) e eu da melhor ao vivo". Meu programa de Nacional de Obras contra ra ao Governo".
Comissão de Direitos Hu­ as Secas - Dnocs). No pe­
televisão era horrível. Era ríodo em que ele me contra­
manos da OAB, alguns es­
tudantes. Acho que o Ro­ simplesmente horroroso, porque tou, estava sendo discutida
berto Maciel (jornalista, não tinha recurso, não é que os uma lei de recursos hídricos.
ex-assessor da prefeitura E prestei uma assessoria um
meninos fossem ruins, não".
de Fortaleza na gestão de período à prefeitura de
Juraci Magalhães), o João vocês são capazes disso?” Icapuí e prestei, um tempo,
Accioly (diretor da Comissão (ele disse) e ficamos lá. Eles, uma assessoria ao Durval
de D ireitos H um anos da os policiais armados querendo Ferraz, que nesse tempo era
Arquidiocese de Fortaleza) desamarrar (Antônio Ferrei­ vereador. Inclusive, nessa épo­
e nós depois de uma semana ra) e eu disse: “A gente só sai ca, foi que a gente formou o
santa de 1994, acho, ou 1993. daqui quando a imprensa che­ escritório de Direitos Humanos
Nós, depois de receber uma gar e o secretário de seguran­ da Câmara (Municipal).
série de notícias de que esta­ ça pública”. Derrubamos um Nesse tempo, me procurou
va havendo tortura na Dele­ secretário de segurança públi­ o Renato Roseno, que hoje é
gacia de Furtos e Roubos, de­ ca (Francisco Quintino Fa­ (presidente) do Cedeca (Cen­
pois, inclusive, de eu ter falado rias). Naquela época fizemos tro de Defesa dos Direitos da
com o Ciro (que era gover­ isso. No outro dia, eu arriei, eu Criança e do Adolescente),
nador à época - PSDB) du­ adoeci. Nesse dia, foi adre­ que era estudante da Faculda­
rante uma solenidade no Au­ nalina lá em cima e no outro de de D ireito, a G iovana
ditório Castello Branco (da dia eu “bufo”, morri! Meu Cartaxo (vice-coordenadora
U niversidade Federal do Deus, é isso que eu estou di­ da Rede de ONGs da Mata
Ceará), como eu tinha sido zendo, se eu olhar assim, tal­ Atlântica), a Adeline. A gen­
colega do Ciro e, apesar das vez eu não teria passado por te, então, via o mandato do
nossas disputas eu sempre me isso. Nesses quatro anos que Durval, a gente forma o escri­ Estudos e graus universi­
dei bem com ele, eu disse: “Pô, eu fiquei sem mandato, talvez tório de Direitos Humanos lá tários de João Alfredo: for­
Ciro, você tem que olhar o pro­ eu não tivesse tido a oportuni­ na Câmara. E (me mantive m ou-se em direito na
blema da (delegacia de) Fur­ dade de estudar o D ireito com a) ajuda de família. Nes­ Universidade Federal do
tos e Roubos”. Ele disse: “É, Ambiental, que para mim é se tempo a Glória trabalhava,
Ceara (1977 a 1981) e
João A lfredo, isso é con- uma paixão hoje. Eu hoje lá na eu ganhava muito pouco, é
verdade. E eu fui me desfa­ mestrado em Direito na
versa”.Nós invadimos e fica­ Câmara sou da Comissão de
mos, nós presenciamos o fato Meio Ambiente, as pessoas zendo do pouquinho que cu ti- UFCde 1 9 9 2 a 1995.

105
João Alfredo

nha A gente tinha uma cami­ para senador, eu fui uma das Teve gente da vertente que foi
nhonete, eu vendi a caminho­ pessoas que falei com o Nil- para a Democracia Radical
nete. Eu tinha uma Kombi que mário (Miranda, ex-secretá- (D R), (Joaquim ) C artaxo
fez a campanha, eu vendi a rio de Direitos HumanosJ, (atualmente candidato a de­
Kombi. O som de cima da numa reunião, inclusive, em putado estadual do PT)...
Kombi, a gente vendeu. Tinha que ele me chamou em Bra­ Gente que foi para a articula­
duas linhas de telefone, a gen­ sília. Ele (Nilmário), na épo­ ção, o Artur (Bruno). Mas, até
te vendeu uma. Daqui a pou­ ca, ainda era deputado esta­ aquele momento, a gente era
co não dava mais para pagar dual. Já deputado federal eleito a hegemonia do partido.
o aluguel, eu fui morar na casa e nós, então, indicamos. Ele G iselle - Deputado, na
Mandatos eletivos: depu­
da minha mãe. Papai já tinha (Mário Mamede) ligou para eleição de 2002, houve uma
tado estadual (Constituin­ morrido, era uma época difí­ o Nilmário, o Mário estava verdadeira euforia nacional
te), 1987a 1991, PT-CE; cil, porque se quebrasse um com o mandato (de deputa­ em torno do nome do presi­
deputado estadual, de trinco de uma porta, não tinha do) estadual e se candidatou dente Lula. Esse período fo i
1995 01999, PT-CE; de­ como comprar. Era uma épo­ ao senado pelo PT, perdeu a o momento ideal para rea­
putado estadual, de ca em que a gente viveu uma eleição e é um militante da tar o namoro com o PT?
1999 a 2003, PT-CE; de­ situação meio “acochada”. área de Direitos Humanos. João Alfredo - Não. Você
putado federal, de Natália - Mas deputado, “Acho que você poderia apro- diz da minha parte? Não, da
p o r que o senhor disse minha parte, eu volto em
2003 a 2007, PT-CE. (Atu­
que o PT não lhe tratou - - 1994. Em 1994, eu acho que
almente no P-Sol). bem, nesse período? (Pós- "Com o eu não tinha dinheiro foi uma eleição heroica, mi­
campanha). para trazer o povo para o comício, nha volta à A ssem bléia
João Alfredo - Porque então eu aproveitava que o povo Legislativa. Eu tive perto de
veja: eu tinha um emprego já estava na praça no dia da 16 mil votos e foi uma cam­
público do qual, inclusive, eu panha difícil. Porque não ti­
estava licenciado, que era
feira. Era em cima do caminhão e nha mandato... Era uma ca­
no Tribunal de Contas. Eu às vezes, era em cima de umas sinha apertadinha, ali,
tinha feito concurso. Eu não carroças de burro mesmo". vizinha ao PT... Tinha a
achei que eu deveria voltar vantagem de ser uma casi­
para lá, com a militância que veitá-lo na Secretaria de Di­ nha, ali, vizinha ao PT. E um
eu tinha. Eu achava que tinha reitos H um anos” (disse a carro com um som em cima,
que fazer militância, tinha que Nilmário Miranda). De fato, que era o carro do Eduardo
fazer advocacia e tudo mais. o Mário foi aproveitado. E (Martins Barbosa), que hoje
E poderia ser o partido, atra­ acho que está fazendo um bom é o superintendente (regional)
vés do m andato do M ário trabalho. Eu acho que foi um do Incra, e uma pessoa pro­
(Mamede), poderia me apro­ processo que não foi, talvez, fissionalizada. Foi ali que sur­
veitar como assessor. E acho bem digerido nessa coisa toda. giu a minha relação com a DS
que essa coisa não foi bem tra­ Mas, para mim, hoje, não te­ (tendência petista mais à es­
Atividades Partidárias: tada dentro do partido nesse nho nenhuma mágoa com re­ querda do partido - Demo­
presidente do Diretório processo. Talvez nem por mim lação a isso. cracia Socialista). A DS, que
Estadual do PT-CE, de mesmo. Talvez, até nem por Amanda - Mas não houve iria apoiar o Bruno, resolveu
1987a 1991; líderdo PT mim próprio, talvez pudesse um ganho político para o par­ discutir comigo, e veio então
na Assem bléia Legis­ ter sido encaminhado melhor. tido diante dessa derrota? apoiar a minha candidatura
Mas eu não tenho mágoa, não, João Alfredo - Não. Por para deputado estadual. Isso
lativa do Ceará, 1987-
desse processo. Eu não tenho que não houve um ganho polí­ em 1994. De lá para cá, você
1988 e 19 9 8 -2 0 0 0 ; mágoa nenhuma, não. Isso são tico? O PT tinha dois (depu­ tem 1994, aí você tem 1998, e
membro do Diretório Es­ águas passadas, porque na­ tados) estaduais, que éramos eu já passo para uns 37 mil
tadual do PT, de 1995 a quela época, tive várias desa­ eu e Ilário (Marques-PT), e votos, mais ou menos. Depois,
2002; membro do Dire­ venças, como eu tive com o ficou com um, que foi o Mário teve 2002, com a eleição do
tório Nacional do PT, de Mário Mamede e hoje é uma (Mamede). Não fez nenhum Lula e a quase eleição do José
1995 a 2002; vice-líder pessoa que eu quero um “bem federal. E a (vertente) - aí Airton (para governador do
danado”. Tenho um respeito, vem a história que você per­ Ceará).
do PT na Câmara Fede­
um bem querer muito grande guntou, vamos chegar aí - e a Amanda - Como foi essa
ral, em 2005. (Até a saí­
ao Mário Mamede. Na época vertente se esfacelou. Porque retomada dentro do partido,
da dele do partido). em que ele perdeu a eleição cada um foi para o seu lado. já que não houve tanta

106
João Alfredo

m ilitância nesses quatro Quando você tem um uni­ no Lula. Entretanto, desde o
anos em que o senhor se verso mais amplo, você tem período pré-eleição...
manteve afastado? possibilidade de trocar mais Jo ão A lfredo - (Inter­
João Alfredo - Não hou­ opiniões, de você auscultar rompendo) Mas você leu toda
ve militância partidária, mas melhor a realidade, de você a carta de princípios - Na
houve militância social. Eu era formar melhor os seus juízos. Defesa dos Interesses...
presidente da Comissão de Di­ Então, para mim, foi muito le­ N atália - (Interrompen­
reitos Humanos da OAB. Isso gal. Foi muito legal. Foi um do) Na Defesa dos Interes­
aí era uma militância pública. momento de aperreio, de aper­ ses dos Movimentos Sociais.
Eu era estudante do mestrado, to, em casa e tudo o mais? Foi. Na verdade, é um apoio ao Atividade profissional ou
então eu tinha uma militância Mas a minha família foi muito governo. Não é irrestrito,
cargo público: foi analis­
dentro da Universidade. E vol­ solidária, a Glória foi muito obviamente.
tei à direção do partido, acho solidária. As coisas foram Jo ão A lfredo - (In ter­ ta de contas do Tribunal
que no ano de 1993. No ano de muito fortes nesse sentido. E rompendo) Nãó é irrestrito, e de Contas dos Municípios,
1993, eu volto ao diretório (es­ foi muita aprendizagem. Eu sim... Fortaleza - CE, de 1978
tadual) do PT. acho que, para mim, (tem) essa N atália - (Interrompen­ a 1992.
Giselle - Qual a diferença coisa de ser um eterno apren­ do) Mas é um apoio ao go­
dessa militância social para diz. O Gonzaguinha (1945 - verno.
a militância partidária? João Alfredo - Exata-
João Alfredo - Veja: eu - mente.
acho, talvez, que a melhor "A gente encostava uma (carroça) N atália - Entretanto,
coisa na política seja você na outra e aí a gente começava com mesmo no período pré-
não ser 100% alguma coisa. o Augusto (Bonequeiro), com o eleição do governo Lula,
Cem por cento PT, está en­ na “Carta ao Povo Bra­
boneco dele, Fuleiragem. Começava
tendendo? Você tem de ser sileiro”, o Lula explicita,
mais múltiplo e mais diver­ o povo a vir. Quando juntava gente, reafirma os compromissos
so. Eu acho isso. Eu acho eu entrava para falar (risos). Aí o do FHC (Fernando Hen­
que, hoje, poder olhar para povo começava a ir embora". rique Cardoso), a manu­
trás e ter tido essa gama de tenção desses compromis­
experiências - na Igreja; como 1991, Luiz Gonzaga Júnior, sos. Na sua opinião pessoal,
advogado sindical; como estu­ cantor e compositor da Mú­ a vitória do Lula fo i um gan­
dante de mestrado, que para sica Popular Brasileira) tem ho político para as esquer­
mim foi uma grande escola; uma música, “de ser um eter­ das do Brasil?
como militante dos Direitos no aprendiz”. Então, ser um João Alfredo - Pergunta­
Humanos dentro da OAB, e eterno aprendiz, não é? De ram ao Deng Xiaoping, que foi
tudo mais - então, primeiro, me estar sempre aberto às coisas dirigente chinês no ano de 1989,
dá uma visão mais ampla das novas. Para mim, foi muito qual era a avaliação que ele ti­
coisas. Eu acho que quando bom estar na OAB, estar no nha da Revolução Francesa. Ele
você fica muito preso ao parti­ mestrado, para ter essas ou­ olhou para o cara e disse assim:
do o seu universo é muito pe­ tras relações. Eu não tenho “Está muito recente. Faz só du­
queno. O que eu observo hoje, uma visão só. Eu não me rela­ zentos anos”. Aquela coisa do Atividades Sindicais, Re­
essa crise que o PT está pas­ ciono com um grupo só. Eu chinês, que tem uma sociedade presentativas de Classe e
sando? É que esses caras, que acho que tudo isso são meios, milenar (risos). Eu acho que Associativas: Assessor Ju­
acabaram tendo que sair, e não o fim. Para mim o fim qualquer opinião que a gente der
rídico do Sindicato dos
(como) o Delúbio (Soares, ex- ainda continua sendo a utopia agora é muito conjuntural. O
Trabalhadores Rurais,
secretário de fin a n ça s do de uma sociedade socialista. Lula, certamente, vai ser julga­
PT), o Sílvio (Pereira, ex-se- Democrática, humanista, eco­ do muito mais lá na frente. Para 1 9 8 2 - 1986; Presiden­
cretário geral do PT) e agora logista, ainda continua sendo. o bem ou para o mal, ou para o te-fundador do Instituto
o Genoino (José Genoino, pre­ O resto são instrumentos: par­ bem e para o mal. E nós, Ambiental de Estudos e
sidente do PT à época em que tidos, movimentos sociais, as todinhos, juntos, nessa história Assessoria, em Fortaleza
estourou a crise e que renun­ teses, enfim, as lutas. toda. Mas o que eu falar agora no ono de 1991; Presi­
ciou ao cargo no início de N a tá lia - Na carta de vai ser o meu sentimento. O que dente da Comissão de Di­
julho de 2005), o universo que princípios do seu mandato, eu estou passando, o que eu
reitos Hum anos da
eles dialogam, de pessoas, de na t(Palavra Viva ”, o senhor estou sentindo c tudo mais, a
partir da campanha. OAB-CE, de 1993 a 1994.
opiniões, é muito restrito. reafirma o apoio ao gover­

107
João Alfredo

A campanha foi contradi­ so, basta conhecer um pouco to em que se altera a correla­
tória. Veja: por que foi uma da história. Eu me lembro do ção de forças na sociedade, é
campanha contraditória, que almoço que eu tive com o Auto quando tem uma eleição pre­
acabou se materializando, in­ Filho, eu dizia: “Auto, um go­ sidencial. O presidencialismo
clusive, na formação do gover­ verno de esquerda, ele fracas­ no Brasil, ele diz, é deses-
no? Por quê? Porque você ti­ sa por duas razões”, e também tabilizador. Ou pode ser deses-
nha, efetivamente, esse lado, disse isso em várias palestras. tabilizador. Tanto é que, no li­
a aliança do Lula com o José “Por duas razões: ou quando vro que ele fez na época da
A lencar (vice-presidente), ele sofre um golpe ou quando C onstituinte, “A lternativa
grande empresário do setor ele capitula”, quando ele trai Transformadora” - não é esse
J ogo Alfredo participou dos
têxtil do PL (Partido Liberal, os seus compromissos. Então, que depois ele fez com o Ciro
Conselhos: foi Conselheiro que era ligado à Igreja Uni­ só tem duas formas de um go­ Gomes - é um livro anterior
do COEMA, em Fortale­ versal do Reino de Deus e verno de esquerda fracassar. dele, que pouca gente leu. Ele
za, 1989-1990; Conse­ fe z parceria com o PT nas E só tinha uma forma, vamos propõe mecanismos de demo­
lheiro do CDDH, em eleições presidenciais e de­ dizer, de o governo dar certo: cracia direta que hoje a OAB,
Fortaleza, de 1999 a pois com o governo petista era se ele trabalhasse no sen­ a CNBB (Conferência Naci­
2003. eleito), um partido de centro- tido de inverter a correlação onal dos Bispos do Brasil),
direita, significando uma alian­ de forças na sociedade e no a ABI (Associação Brasilei­
ça, do ponto de vista de ra de Imprensa) estão pro-
classes, de capital e traba- - ■ pondo, já naquela época, ele
lho, vamos dizer, e, do pon­ "0 povo segurando lá os dois burros dizia: “Nós temos que criar
to de vista do mercado, era (mecanismos de democra­
e começaram a soltar fogos, caiu
para sinalizar que não ia cia direta). Sabe por quê?
haver mudanças bruscas. A todo mundo de cima do palanque Porque, quando tiver um
“Carta aos Brasileiros”, de­ (risos), porque balançou, os burros impasse entre o presidente
pois do encontro com o se espantaram e caiu todo mundo transformador e o Congres­
Fernando Henrique, em que so conservador, nós joga­
ele chamou todos os candi­ de cima do palanque". mos a decisão para o povo”.
datos, para manter os com­ O que aconteceu na Vene­
promissos internacionais, vai Parlamento. Mas não foi isso zuela? As pessoas acham que
nesta mesma linha. Mas, por que o governo fez. Acho que o Chá vez é doido, eu não acho.
outro lado, o Lula falou em dez hoje a gente vive - eu, pesso­ (Hugo Cháveiy presidente
milhões de empregos, o Lula almente, vivo - uma frustra­ da Venezuela deposto que
falou em Reforma Agrária... ção muito grande. E eu acho retornou ao cargo em conse­
A contradição do governo está que grande parte da sociedade. quência de m anifestações
engolindo o próprio governo Giselle - Deputado, o se­ populares). Acho que o Chá-
agora. Está engolindo. Por nhor disse, em um dos arti­ vez sabe o que quer. Ele pode
quê? Porque a trajetória pes­ gos que eu li, que teme a ree­ cometer erros? Pode. É popu-

soal do Lula, a trajetória do PT, leição do presidente Lula. O lista? E. Mas sabe o que quer.
a sua vinculação com os mo­ senhor acha que Lula traiu E usou a presidência da Repú­
João Alfredo também re­ vimentos sociais, para nós... o os mandamentos do PT? blica, o personagem do presi­
cebeu condecorações: Pla­ que nós considerávamos era João Alfredo - Veja: essa dente da República, para mu­
ca de Honra ao Mérito da que aquilo seria um antídoto à é a parte mais difícil. (Pausa) dar essa correlação de forças.
direitização do governo. A for­ Essa é a parte mais difícil de O que aconteceu aqui, com
AMPEFORT, em 1998;
mulação ideal, que hoje não tudo, porque a gente está no o Lula? Primeiro, ele montou
"Amigo do Aluno", da As­ corresponde mais à verdade, olho do furacão. Eu vou voltar um ministério, vou usar uma
sociação dos Estudantes de que era um governo em dis­ um pouco para o que eu disse. expressão do Tarcísio Leitão
de Quixadá, em 2001; puta. Que projetos diferentes (Pausa). Um presidente da (de Carvalho, advogado):
Prémios: Personalidade da estavam sendo disputados ali República... O Mangabeira “de avestruz a vaca” . O
História Culturas de Nova dentro e, portanto, a gente ti­ (professor Roberto Manga­ Tarcísio gosta de usar essa
Russas, em 2001; I Pré­ nha que fazer essa disputa. beira Unger) é um que as expressão, “de avestruz a
Mas sem querer parecer pessoas acham ele meio lou­ vaca”, está todo mundo lá, de
mio OAB-CE de Meio-Am-
plutonismo (Governo em que co, mas eu acho ele genial. Ele avestruz a vaca. Marina Silva
biente, I o e 2o lugar, em
o poder pertence às classes diz que no Brasil, a única for­ (ministra do Meio Ambien­
2001 . ricas), porque não precisa dis­ ma de mudar, o único momen­ te), que veio do movimento dos

108
João Alfredo

seringueiros, uma m ulher para que a gente possa resol­ Tancredo Neves, eleito indi­
belíssima, da luta dela, e tudo ver os problemas, para depois retamente primeiro presiden­
o mais: defesa do meio ambi­ a gente dar a virada na nossa te civil após a ditadura). Pas­
ente, defesa daquelas causas política”. Ecom aquela histó­ saram pelo Collor, pelo Itamar
mais sentidas pelos trabalha­ ria de que não se pode dar (ltam ar Franco, que assu­
dores, e Roberto Rodrigues cavalo de pau, atrasando tudo, miu a presidência da Repú­
(M inistro da A gricultura, atrasando tudo... A verdade é blica após o impeachment
Pecuária e Abastecimento), que essa política é heg e­ de Fernando Collor de Mel­
representante do agronegócio mónica. Faz com que os ban­ lo)', e, depois, o Fernando
. Você vê isso aí, claramente. cos tenham os ganhos que eles Henrique Cardoso. Tanto é Obros publicadas de
Achando que você compa- têm hoje e que nós sejamos ci­ que o Roberto Jefferson (de­
João Alfredo: "Solitude.
tibilizaria tudo isso dentro do tados pelo FMI como um mo­ putado federcd pelo PTB-RJ,
mesmo governo. Lula hoje delo. Podia ser diferente? A responsável por denúncias Poemas à flor da pele",
está caindo na real, mas ele gente não mostrou que pode. de corrupção no governo Fortaleza, Oficina, 1999;
acha que, como dentro do PT, Um presidente eleito com 22% Lula), que era da nossa base "Sol e Girassol: (re) ver­
ele sempre se equilibrou em dos votos botou o pé na porta de apoio, até detonar tudo isso, sos amorosos", Brosília,
todas as correntes, ele teria a e disse: “Tudo bem! Eu pago era da tropa de choque do Códice, 2000; "Cidada­
capacidade de fazer uma sín­ a dívida que está em morató- Collor. Alguém fez uma piada nia e Segurança: a vio­
tese entre opostos tão opos­ horrorosa que diz assim: que
lência em questão",
tos como os que ele, inclu­ o governo Lula é uma sín­
sive, colocou dentro do "Aí, o Guimarães, com aquela voz tese dos vários governos Fortaleza, INESP/ALCE,
próprio governo. empostada dele (imitando o deputado que passaram pelo Brasil. É 2000; "Manual da Cida­
Segundo: se enredou em José Guimarães):"eu estava agora há a política externa do Geisel dania e des Direitos Hu­
duas armadilhas. Entrou em (Ernesto Geisel, presiden­ m anos", Fortaleza,
duas lógicas das quais ele
pouco na casa do companheiro tal,
te da República durante a INESP/ALCE, 2001.
não vai mais conseguir sair. tomando banho com o companheiro ditadura), que é uma polí­
Quais são as duas lógicas? João M\reâo\"(gargalhadas). Aí o tica externa independente.
Primeiro, a lógica da políti­ pessoal 'eeeepa!'". Isso é um exagero, o que eu
ca m acroeconôm ica de vou dizer, evidentemente: é
continuidade ao FHC (Fer­ ria. Mas eu quero um descon­ o fisiologismo do Sarney, é a
nando Henrique Cardoso), to de 75 por cento. Eu quero, corrupção do Collor e a burri­
da qual a “Carta aos Brasilei­ não. Eu só pago 25 por cento” ce do Figueiredo (João Fi­
ros” é uma antecipação de (João Alfredo se referiu a gueiredo, último presidente
tudo isso. Se você olhar a po­ Nestor Kirchner, presidente da ditadura). Isso é um exa­
lítica económica seguida pelo da Argentina). E peitou. E gero. Eu vou deixar bem claro
Palocci (Antônio Palocci, fez. E tem, hoje, um grau de que isso é um exagero. Mas
Ministro da Fazenda) e pelo aceitação melhor. Então, esse eu estou dizendo isso porque
Henrique Meireles (presiden­ foi o primeiro problema. não se criou uma forma dife­
te do Banco CentralJ, os fun­ O segundo problema foi a rente de colocar, como contra­
damentos dela são a mesma relação política com o Con­ ponto ao conservadorismo do
coisa da política do Fernando gresso. Qual foi a relação que Congresso, o movimento so­
Henrique Cardoso. E o mais o Lula estabeleceu com o Con­ cial organizado.
interessante é o seguinte: eu gresso Nacional? A mesma do Chávez fez isso. Qual foi a Em missões oficiais, o de­
digo isso porque participava “toma lá, dá cá”, do fisio- primeira medida do Chávez
putado viajou para Esto­
das prim eiras reuniões do logismo, do clientelismo, da tro­ quando se tornou presidente?
colmo Suécio, em 1997,
diretório nacional, apesar de ca de apoio por cargo, a troca Ele disse isso na campanha.
não ser do diretório - como de apoio por emenda parla­ Chamou a Constituinte. A como representante da
parlamentar, eu tenho o direi­ mentar. E constituiu, na sua Constituinte quebrou a estru­ ALCE: visita à Rede Inter­
to de participar, eu ia. E era base de apoio, um centro, um tura tradicional que tinha lá, nacional Terra do Futuro.
apresentado pelo José Dirceu, “centrão”, composto de PL, desde 1958, em que dois par­ Também como represen­
pelo Genoino e outros, como PTB e PP, e setores de tidos se revezavam no poder. tante da ALCE, participou
uma política de transição. PMDB, que são governo des­ Acabou com o bicameralismo, do II Encontro de Amiza­
(Cita) “Nós vamos ter que de o Sarncy (ex-presidente instituiu a democracia direta,
de e Solidariedade, em
adotar essas políticas aqui, José Sarney, que assumiu inclusive possibilidade de o
povo cassar parlamentares e Havana, Cuba, em 2000.
para o mercado não estourar, em 1985, após a morte de

109
João Alfredo

até o próprio Presidente da pelo PP-SP. Ocupou o car­ veneno. Estão provando do
República. Mudou a correla­ go de ministro do Planeja­ próprio veneno. Estão numa
ção (de forças), e vem mu­ mento durante a ditadura). situação de extrema dificulda­
dando. Sofreu um golpe. Tinha Era o que faltava! Depois de de. Então, eu acho que a ree­
tanto apoio popular e das For­ ressuscitar o Sarney, ressus­ leição - aí para responder a
ças A rm adas, que voltou. citar, agora, o Delfim Neto. tua pergunta - ela está mes­
Construiu. Jogou todas as fi­ Trair! Olhe, é duro pensar nis­ mo ameaçada. Eu acho que o
chas para fazer um processo so. Sabe, é como se a gente próprio mandato do Lula está
de mudança, para o bem ou dissesse que está tudo perdi­ ameaçado hoje! O próprio
0 deputado João Alfredo para o mal, mas fez. E aqui, do. Mas esses últimos episó­ mandato do Lula está amea­
não. Se acomodou a isso. E dios, agora, do ponto de vista çado hoje. O que é uma lásti­
foi o entrevistado que
ficamos reféns desses partidos da ética, são terríveis. Terrí­ ma. Porque, entre os parla­
mais citou pessoas em
tradicionais. Isso quer dizer que veis! Por quê? Porque decor­ mentares, a gente, é assim: um
sua entrevista. Sinol de nada mudou? Não. Seria um rem de uma ação de um pe­ dia, um está chorando, no ou­
que já conviveu com exagero da minha parte eu di­ queno grupo. E um pequeno tro dia, o outro baixa hospital
muitas pessoas. zer que nada mudou. Sc a gen­ grupo. O Paulo Delgado (de­ - é verdade. No outro dia, o
te olhar o esforço que o Mi­ putado fe d e ra l p elo PT- outro está deprimido, que não
nistério do Meio Ambiente faz MG), que não é da minha cor- consegue nem ir para uma
na área do meio ambiente, reunião. E, se você for para
é muito grande, embora - - a base social, é do mesmo
anulado pelos outros minis­ "Eu não esqueço mais, eu no jeito.
térios. Se a gente olhar a caminhão, olhando para trás e o Raquel - Há pouco, o
forma como o governo se Deodato correndo com a fita "está senhor fa lo u que o Lula
relaciona com os movimen­ prometeu, durante a cam­
aqui a fita!". Numa maratona estava
tos sociais, principalmente o panha, dez m ilhões de
MST (Movimento dos Tra­ ali com a tocha. Atochaali empregos. Falou disso,
balhadores Rurais Sem chegando num revezamento, mas não falou em Refor­
Terra), é diferente. Tanto é entregando ali aquela fita (risos)". ma da Previdência. E a
que eles querem... O Fer­ Reforma aconteceu. O se­
nando Henrique, por exemplo, rente nem nada, mas o Paulo nhor e mais oito parlamen­
criminalizava o MST. O MST Delgado é um cara muito in­ tares votaram a favor ou se
hoje tem diálogo com o gover­ teligente, um excelente fra- abstiveram na votação do
no. Mudou no apoio à peque­ sista, ele disse: “A crise é a texto global da Reforma da
na agricultura, mudou na polí­ crise da oligarquia do partido”. Previdência. Uma saída
tica externa, é fato, nós não Não sei sc vocês viram isso. para punição do partido.
temos mais uma política exter­ A crise é da oligarquia do par­ No entanto, o senhor votou
na como tinha a do Fernando tido. A oligarquia paulista do a favor da taxação dos ina­
Henrique Cardoso, embora partido. Se a gente olhar, são tivos. Naquele momento, de­
tenha sido um equívoco a ida eles. Os que dominam domes­ pois da votação, o senhor
ao Haiti (referindo-se ao en­ ticaram o partido, concentra­ chorou. Eu quero saber o
vio de tropas do Exército ram o poder nessa cúpula, ex­ que significou esse choro. O
Entre as atividades par­ Brasileiro àquele país). cessivos poderes em uma senhor naquele m om ento
lamentares de João Al­ Mas, do ponto de vista da cúpula, afastando todos os de­ sentiu que traía a trajetória
fredo estão as Comissões grande política, o que a gente mais, golpearam quem pensa­ política do PT e a sua pró­
queria? A gente queria um pro­ va diferente - alguns, corta­ pria biografia?
Permanentes de Defesa
cesso de transformações so­ ram a cabeça, como foi o caso João Alfredo - É. Eu acho
do Consumidor, Meio ciais. Com essa política econó­ da Heloísa Helena, do Babá, que esse foi o erro que eu co­
Ambiente e Minorias, e a mica, não dá. Nós queríamos da Luciana; outros, mantive­ meti nesse mandato. Se bem
de Meio-Am biente e um processo dc uma nova cul­ ram sob pressão permanente, que reparado, porque, se eu não
Desenvolvimento Susten­ tura política. Essa relação vi­ como foi o nosso caso, do blo­ votei no texto global na última
tável. Das Comissões Es­ ciada com o Congresso não co de esquerda. Suspensos, fase, anulou aquele meu voto,
peciais, faz parte das dá. Tanto é que agora nós ameaça de expulsão, essa coi­ no segundo turno, na votação.
estamos chamando para ser sa toda c sc sentiram livres O que não exime o erro que eu
Reformas do Judiciário e
conselheiro do governo o Del­ para fazer o que fizeram. Ago­ cometi. Tanto é que eu escrevi
da Reforma Política.
fim Neto (deputado federal ra estão provando do próprio no jornal, fiz questão de colo­

110
João Alfredo

car no jornal, dc reconhecer o so da inclusão de 40 milhões putados choraram. “Eu quero


eixo e dc fazer a autocrítica. de trabalhadores no setor for­ votar contra, mas eu não pos­
Eu acho que, quando a gente, mal, o discurso de que não ia so, porque o pessoal lá depen­
que tem um mandato público, atingir os trabalhadores rurais de de mim, lá da minha cida­
erra, a gente tem que reconhe­ e “papapá”... Tudo isso tam­ de” . Um clim a e os caras
cer isso. Foi um processo mui­ bém pesa. E a pressão, a ame­ (vieram) para cima. Eu não
to difícil. Eu nunca vi, eu nun­ aça de expulsão, não é? Na­ votei com o partido, nem com
ca... (pausa). Eu acho que, quele momento, é como se o governo. Era uma mediação,
nesses dois anos e meio de você tivesse quatro blocos que inclusive foi muito mal en­
mandato de deputado federal, dentro da bancada. Para vocês tendida, porque a abstenção João Alfredo de Telles
eu amadureci ou envelheci entenderem. Um grupo menor, nunca é um voto fácil. Mas,
Melo nasceu em Forta­
mais do que cm doze anos de Luciana, Babá, e depois He­ do ponto de vista de uma
mandato de deputado estadu­ loísa (Helena), lá no Senado, emenda constitucional, para leza, em 20 de novem­
al. Primeira coisa: eu nunca ti­ que já tinha decidido correr vocês entenderem, ela só é bro de 1958. É do signo
nha visto... Eu sempre estive todos os riscos, até o da ex­ aprovada se tiver três quintos de Escorpião. Os pais se
do lado dos movimentos soci­ pulsão, e votar contra, isso em dos votos. Então sair do local, chamam Antônio Fer-
ais. Dc repente, eu vejo o pre­ um extremo. No outro extre­ votar “não” ou se abster é o nandes Melo e Thereza
sidente da Câmara, do PT mo, os que votam com o go- mesmo voto: é contra. Mas a Maria Telles Melo.
(João Paulo Cunha), cha­ gente quis fazer essa medi­
mar a polícia para impedir os - ação. Essa foi a primeira
manifestantes de entrarem "Eu realmente fiquei muito votação. Quando chegou a
no Congresso. Reprimindo, m agoado depois (da eleição de segunda, a pressão que foi
com violência, inclusive, em 1990) porque eu acho que o PT feita em cima da gente na
alguns casos, as manifesta­ não me tratou bem depois desse madrugada foi terrível. A
ções sociais. Eu fiquei, con­ minha idéia era ficar firme
processo todo. Não reconheceu. A
fesso a vocês, atordoado. até o final, mas dos oito que
Atordoado, como muitos de palavra sacrifício talvez seja forte, ainda tínhamos nos abstido,
nós ficamos. mas a minha doação ao partido". a maioria tinha decidido que
Depois, vem o processo ia votar a favor. E eu votei
de Reforma da Previdência. vemo cm qualquer hipótese e, contra a minha vontade nessa
Onde todos os questiona- nesse meio aqui, dois grupos questão da taxação dos inati­
mentos que o PT tinha feito na diferentes: um que votaria com vos, para preservar o bloco
época da Reforma da Previ­ o governo, fazendo uma decla­ que estava lá: eu, Ivan (Valen­
dência do Fernando Henrique ração de voto, e outros, que te, PT-SP) e Valter (Pomar, 3 o
Cardoso, o governo, agora, re­ éramos nós, para saber o que vice-presidente nacional do
tomava. O governo Lula reto­ nós iríamos fazer. Nós fizemos PT). Eu acho que, dos oito,
mava. Tudo o que o PT... In­ uma reunião. Tinha uns 30. O éramos os três que queríamos
clusive, entrou na Justiça. grupo dos 30 surgiu logo no votar contra mesmo. Nesse
Entrou na Justiça. José Dirceu, começo do governo, quando a processo todo, quando voltou,
Genoino, quando eram depu­ gente viu o governo adotando a gente se absteve. Então do
tados federais, entraram na aquelas medidas. Qual era a ponto de vista do voto mais
Justiça contra Reforma do nossa idéia? Os trinta votarem global, é como se a gente ti­
FHC. E agora, defendendo contra. (João Alfredo bate vesse votado contra a refor­
isso. Um processo violento de uma mão na outra). E foi min­ ma da previdência. Porque,
desgaste, por um lado. Por ou­ guando. E foi minguando. por exemplo, o Inácio (Ar­
tro lado, uma esperança que Muitos de nós, como eu, por ruda) votou contra a taxação A entrevista foi fechada,
ainda existia, muito forte, na exemplo, recebemos ligações dos inativos, mas votou a fa­ depois de muita dificul­
população, tirando os setores de ministros para votar a fa­ vor na redação final, no segun­ dade, numa época em
mais atingidos, servidores pú­ vor da Reforma da Previdên­ do turno. E a redação foi an­ que os professores da
blicos, professores universitá­ cia, para dar esse crédito ao tes do segundo turno, portanto Universidade Federal
rios, mas as pessoas achando: governo, “parará”, “parará”, o juiz, na época da campanha do Ceará estava em gre­
se o Lula está apresentando “parará”. Teve uma reunião eleitoral, tomou uma decisão
ve, no dia 18 de outu­
isso, é porque é cometo, a gen­ nossa, quando a gente já esta­ nesse sentido. Aqui eu não
bro de 2005.
te confia no Lula, a gente con­ va menos, estava com uns 15, estou fazendo uma queimação
fia no governo Lula. O discur­ mais ou menos, (em que) de­ do Inácio não. Eu acho que ele

111
João Alfredo

cometeu os erros dele e eu (Soares), do Sílvio Pereira, deles, que é até formado em
cometi os meus, está enten­ deles todinhos. Saíram, não é? Filosofia, disse: “Quem nunca
dendo? A verdade é que para Quer dizer, há uma mudança. viveu nenhuma perda, acha
mim aquilo foi um divisor de Isso vai recuperar a credibi­ que não tem saída quando se
águas. Dali por diante, nem eu lidade do partido? Interro- dá uma crise como essa, acha
e nem o nosso grupo votamos gação.Uma interrogação bem que não tem como sair do PT
mais em algo que contrarias­ grande! Uma interrogação porque não vai ter uma outra
se o programa histórico do bem grande! A (revista) Veja opção, não vai se construir
partido. desta semana (de 10 a 17 de nada de novo. Quem já teve
Como o nome do ex- R aquel - Por que o se­ julho) traz uma pesquisa ter­ perda pessoal, acha que pode
nhor continua no partido? rível dizendo que 48 por cento reconstruir a sua vida. Isso vale
prefeiío de Fortaleza M a­
João Alfredo - Então eu dos pesquisados acham que o para a política também”. Aí, eu
ria Luiza Fontenelle foi vou dar os exemplos: votamos PT é composto por gente de­ fiz uma enquete rápida. De
citado por João Alfredo em contra os transgênicos, votamos sonesta. Ou seja, essa crise quatro pessoas que estavam lá,
um ossunto polêmico, o contra a “blindagem” (Medida moral agora e ética colocou o três que achavam que tem vida
equipe de produção en­ Provisória que daria status PT no mesmo patam ar de fora do PT, já estavam no ter­
trou em contoto com M á­ de ministro ao cargo de pre­ qualquer partido. Vai recupe­ ceiro casamento ou já tinham
rio Luiza, pora ouvir a sidente do Banco Central. rar essa credibilidade? Inter- tido perdas na família. E jus­
Isso significa que Meireles tamente o que achava que
versão dela dos fatos.
ganharia foro privilegia­ não tinha vida política fora
do e só poderia ser julga­ "A gente só sai daqui quando a do PT tinha só um casa­
do pelo Supremo Tribunal imprensa chegar e o Secretário de mento. E uma analogia tal­
Federal) do (H enrique) Segurança Pública. Derrubamos um vez fácil, talvez não tão pro­
M eireles (presidente do funda, mas às vezes eu levo
secretário de segurança pública. No
Banco Central), votamos em conta também esse as­
contra (a proposta de) sa­ outro dia, eu arriei, eu adoeci. pecto psicológico.
lário mínimo (R$ 300,00) do Nesse dia, foi adrenalina lá em cima Muitos estão muito im­
governo. Para dar os exem­ e no outro dia eu "bufo", morri!" pactados com isso tudo.
plos mais candentes e mais Muitos. Porque acham que
conhecidos. rogação bem grande. E uma - e com razão - é como a es­
Por que eu continuo no par­ interrogação maior: vai conse­ perança. Jogaram todas as
tido ainda? Você está me pe­ guir influir o Lula para resga­ suas fichas, toda a sua espe­
gando aqui no contrapé, não é? tar os seus compromissos his­ rança no Lula, no PT. E, de
Se fosse uma capoeira, você tóricos? Muito difícil, na minha repente, acham que não tem,
tinha me derrubado agora (Ri­ opinião. Na minha opinião, que se não tiver isso, não tem
sos). Se fosse na luta era muito difícil. E ... (Pausa).Vou mais saída: nós vamos ficar
touchè . E quase um xeque- contar uma historinha para órfãos, vamos morrer, não vai
mate, mas ainda não é, porque vocês. Estava no Cine Ceará, ter saída. Eu, pessoalmente,
essa discussão está colocada no lançamento daquela amos­ acho, volto a dizer, acho que o
para a gente. O Partido dos tra dos cinemas da reforma PT é um instrumento. Eu es­
Trecho da poesia "Sopram Trabalhadores... Primeira per­ agrária, sabe? Do Incra, lá, e tou avaliando isso, para respon­
no Cariri os Ventos da Li­ gunta: de quem é o Partido dos tudo mais. Lá no Dragão do der a sua pergunta (se vale a
berdade" de João Alfredo: Trabalhadores? É do Lula, do Mar. Aí, uma rodinha - gente pena ou não vale fic a r no
"De arajaras barbalhas José Dirceu ou dos milhões ou inclusive que foi da Vertente PT). Eu estou avaliando. Para
milhares que jogaram sua vida Socialista - discutindo se o PT mim, só vale a pena ficar no
descem, em caídas, os
para construí-lo? Essa é a pri­ tinha ou não tinha saída. E foi PT se for numa referência,
ventos camilos, os brisas meira questão. Então, há pos­ engraçado porque, nesse mo­ num PT de militância. Se for
patrícias, sibilando mo­ sibilidade de reverter essa si­ mento, chega um da Articula­ para continuar fazendo no PT
tins, coragem semeondo, tuação? A lgum a coisa se ção - os outros não eram de o que a gente está fazendo: um
forjando atitudes e ao povo alcançou agora. Veja, nós da corrente nem nada, eram mais bloco de esquerda, uma fração
chamando: de pé, juven­ esquerda estávamos pedindo a filiados. Chegou um militante - veja, eu voltei para a fração,
tude, te alevonta, crian­ saída deles todos. Saíram. Não da Articulação - não vou di­ não é? uma fração diferen­
é verdade? Nós lançamos um zer aqui o nome - disse: “Não, ciada que exprime uma parce­
ça, carrega nos braços a
manifesto pedindo a saída do mas mesmo que a gente saia la da militância e que essa par­
nosso esperanço...".
(José) Genoino, do Delúbio do PT, não tem outro”. Aí um cela da militância se sente
112
João Alfredo

representada. Nós vamos ter Enquanto eu penso nessa dela so da expulsão dela indo toda
que avaliar. Se eu e outros ti­ aqui. Eu penso como vou res­ semana, eu e o Walter Pinhei­
vermos que sair do PT, nós ponder (risos). ro, que somos amigos dela, no
temos um prazo. Para me Natália - Deputado, se o gabinete dela... Tenho uma ad­
candidatar numa próxima elei­ senhor acha m uito d ifícil miração muito grande por ela
ção, ou qualquer outro parla­ que o Lula retome bandeiras e tudo mais. Mas o P-SOL não
mentar federal ou estadual, históricas do partido, então se apresentou ainda como uma
tem um prazo até o final de rechaça esse discurso de alternativa. Não estou dizen­
setembro (um político tem de mudança de rumo, de dispu­ do que não será, mas não se
estar filiado ao partido se ta de rumo... apresentou. Parte de artigo de opinião
pretende se candidatar pelo João Alfredo - (Interrom­ Porque um partido não é
publicado no Jornol 0
menos um ano antes da elei­ pendo) Não, eu não rechaço, uma coisa fácil. Digo pelo PT,
ção). Mas eu tenho dito para eu digo que é difícil, não é POVO (24/05/2005)-"Ver-
como o PT surgiu. O PT sur­
as pessoas: eu não posso to­ rechaçar. giu, como eu falei, de todas ticalização e Reformo Polí­
mar essa decisão só. Por Natália - Então, o senhor aquelas vertentes. São movi­ tico": "A verticalização (das
exemplo, eu não sou um Ga- não rechaça esse discurso... mentos que acabaram desa­ candidaturas) não pode ser
beira (Fernando Gabeira, João Alfredo - Não, eu guando num projeto partidário, o único horizonte para a
deputado fe d era l, PV-RJ), não rechaço porque eu acho por isso que ele ainda tem tan­ luta em favor dessa reformo
que toma uma decisão sozi­ to enraizamento, por isso
(política)...
nho. Gosto muito do Gabeira, que ele não se acabou. Em
meu amigo, mas ele toma de­ todas essas crises o PT não
cisão sozinho. As vezes eu "Eu acho, talvez, que a melhor se acabou. Porque ele tem
dizia para ele: “Gabeira, fi­ coisa na política seja você não ser uma história, ele tem um
nal de semana, estou des­ 1 0 0 % algum a coisa. Cem por cento enraizamento, ele tem gen­
cendo para o interior”. (Ele te que bota a estrelinha lá
PT, está entendendo? Você tem de
dizia) “Pô, João Alfredo, em São Benedito, lá em
pois o meu eleitorado está na ser mais múltiplo e mais diverso". Croatá (município do in­
praia”. Ele começou a rir de terior do Ceará), e é PT
mim. “Eleitorado está na independente de qualquer
praia, vou para praia que coisa. Tem um sentimento,
meu eleitorado está na praia”. que as coisas não estão dadas, tem um petismo. Não tem um
Meu eleitorado não está na eu acho que pode haver, quem peemedebismo, tem um petis­
praia, claro que tem uma parte sabe, um movimento forte, or­ mo. Para o bem e para o mal,
na praia, mas tem um eleitora­ ganizado, que enfim... Mas eu mas tem.
do meu que tem uma referên­ acho muito difícil; impossível O P-SOL talvez tenha sido

cia no meu mandato, por exem­ não, mas é improvável. um projeto prematuro. E ver­
plo, no interior do Estado. Às Giselle - E a minha per­ dade que numa situação difí­
vezes, eu aposto muito no inte­ gunta? (Risos). cil, tanto para a Heloísa, como
rior, porque eu sei que ser mili­ João Alfredo - Não sei. para os três parlamentares
tante do PT verdadeiro no in­ Não sei (se vai para o P- (deputados federais que f o ­
terior é muito mais difícil do que SOL), vou dizer por quê. Eu ram expulsos do PT no mes­
ser aqui. Pela dificuldade, pela acho o seguinte... Naquela mo m om ento que H eloísa ... na medida em que,
pressão, por tudo que aconte­ hora que eu atendi (o telefo­ Helena: Luciana Genro, RS; mais importante do que o
ce lá. E essas pessoas que se ne celular) era a H eloísa João Batista “tíabá”, PA; e ordenamento das alianças
ligam ao nosso mandato têm Helena (senadora, P-SOL- João Fontes, SE). Nós da DS
eleitorais, é a discussão so­
uma referência nisso aqui. En­ AL. Foi expulsa do PT em achávamos, inclusive, que a
Heloísa poderia ter adiado bre o financiamento públi­
tão qualquer decisão que eu dezembro de 2004, depois
venha a tomar, cu tenho que de atritos com a ala majori­ esse projeto um pouco mais e co de campanha, sobre o
tomar ouvindo muita gente. tária do partido e de se opor ter participado, por exemplo, aprimoromentodos meca­
Giselle - A saída seria o à posição do partido na vo­ nas eleições municipais, como nismos de democracia di­
P-SOL? tação da Reforma da Previ­ uma pessoa sem partido e per­ reta e o fim do troca-troca
N atália - A minha per­ dência). Eu sou amigo da correr o Brasil todinho apoian­ imoral e vergonhoso de
gunta é antes... H eloísa H elena mesmo e do candidaturas da esquerda.
partidos por parte de al­
João A lfredo - Pronto, acompanhei o drama da He­ Ela não veio a Fortaleza; po­
guns parlamentares...".
vamos para a pergunta dela. loísa Helena naquele proces­ deria ter vindo, não veio. Por-

113
João Alfredo

que queria colar muito essa Isso também é uma coisa exemplo, a Tendência Popular
história do P-SOL, embora os que se coloca para a gente, (organismo suprapartidário
militantes do P-SOL aqui em para reflexão da gente. Isso da esquerda que coexistia
Fortaleza tenham apoiado a coloca também a reflexão se com e dentro do MDB na
Luizianne, é verdade. o PT vai se tomar um instru­ luta contra a ditadura mili­
Pessoalmente, eu acho o mento, ainda, de transforma­ tar) ou o Grupo dos Autênti­
seguinte: depois do governo ção, (se) ainda vai ser possí­ cos do PMDB (ala dos ‘ra­
Lula, desse governo aí, com ou vel. Eu, pessoalmente, acho d ic a is * do MDB). É uma
sem reeleição do Lula, a es­ difícil, eu acho que nesse pro­ perspectiva também de ficar
No dia 31 de março de querda vai ter que se reorga­ cesso, não é impossível, mas no PT como um bloco, como
nizar, vai ter que pensar um é improvável, vou usar essa um bloco independente, que
2006, João Alfredo inau­
novo projeto político. Porque expressão, de que haja essa em alguns momentos vota tam­
gurou o comité do P-SOL
o PED desse ano - que é o mudança pela esquerda. Eu bém contra a orientação da
em Fortaleza, onde há ati­ Processo de Eleição Direta, acho que a tendência é se con­ direção, e em alguns momen­
vidades culturais às sex­ (em que) vai ser renovado o solidar mais ainda essa visão tos vota contra o governo. Eu
tas-feiras. Diretório (Nacional do PT, e o PT se transformar num acho que isso é uma perspec­
com votação marcada para partido muito parecido com o tiva.
setembro)... Não é só a elei­ Labour, Labour Party, Partido A gente está vivendo um
ção da cabeça não, pesso­ momento de muita confu-
al, na eleição do partido - são. Um momento muito
você vota em teses, que ori­ "Ele (Hugo Chávez) pode cometer difícil, que essa crise ética
entam o partido nos três agravou ainda mais. Por isso
erros? Pode. E populista? E. Mas sabe
anos seguintes. A tese que que é um processo que a
o Campo Majoritário, que a o que quer. E usou a presidência da gente está fazendo muito
Articulação, Democracia República, o personagem do debate acerca disso e tem
Radical e outros estão de­ presidente da República, para que ter muita tranquilidade.
fendendo, assume como do Muita tranquilidade para
partido a política do Palocci. mudar essa correlação de forças". não com eter erros nesse
Até então, nós podíamos processo. Mas cu vejo que
dizer assim: “Olha, o Palocci Trabalhista inglês. Muito pare­ tem gente do PT, tem gente do
está em contradição com to­ cido, do ponto de vista da ide­ PCdoB, tem gente do PSB,
dos os documentos do parti­ ologia, da política, e tudo tem gente do PV, que pode se
do”, e é verdade. Se você pega mais... Se torne muito pareci­ juntar para um projeto que não
o último encontro nacional do do com isso. seria o ‘PT original’, porque ali
PT, que foi o encontro de Re­ A esquerda realmente so­ foi 1980, mas seria renovado,
cife, fala em ruptura com a cialista, que quer realmente continuaria a ser anticapi-
política económica, com o uma transformação nessa so­ talista, socialista, portanto, mas
modelo da política económica ciedade, que reivindica um pro­ incorporaria com mais clare­
de Fernando Henrique Cardo­ jeto diferente desse que está za algumas teses como a ques­
so. Fala essa palavra: ruptura. aí, para ela, certamente, pode tão da ecologia, como a ques­
Fala essa palavra. Então, você ser colocada a necessidade da tão do feminismo, como a
diz assim: “Não, quem é petista construção de um novo proje­ questão dos direitos humanos,
é o João Alfredo, é o Walter to. Ou perm anecer no PT como a questão da democra­
Pinheiro, é o Ivan Valente, c o como uma fração pública, até cia direta, como princípios de
Chico Alencar, o Palocci está o Labour permite isso. No um novo partido, de uma nova
fazendo a política do PSDB”. caso, por exemplo, da Guerra esquerda socialista. Eu acho
Mas no momento em que, no do Iraque, vários parlamenta­ que isso vai se colocar para
final do ano, uma tese como res do Partido Trabalhista (bri­ gente depois das eleições do
"A Revolução é apenas essa vier a ser aprovada, o tânico), da esquerda do Par­ Lula com certeza.
mais uma de suas namo­ partido vai ser um partido de tido T rabalhista, votaram R aquel - O senhor tem
radas", disse a historiado­ características que vai adotar contra o Blair (Tony Blair, medo de não sobreviver po­
ra Adelaide Gonçalves, essa política neoliberal como primeiro-ministro britânico liticamente caso vá para o
sobre João Alfredo, durante política sua. E aí, nós é que do Labour Party) e não fo­ P-SOL, e esse seria o prin­
vamos estar em contradição ram expulsos por isso. Tem um cipal motivo para não esco­
a inauguração do comité.
com os documentos do partido. bloco lá também, como foi, por lher, ainda estar indeciso?
114
João Alfredo

(Medo de) o P-SOL não fa ­ variável, porque eu tenho es­ gente não tivesse, a gente esta­
zer legenda... perança de que a administra­ va morto. Porque, semanalmen­
João Alfredo - Vou dizer ção de Fortaleza, guardadas te, a gente se reúne. A gente
como é que eu lido com o medo as devidas proporções, seja criou, vamos dizer, um clima
na minha vida. Eu sou uma um diferencial com relação de... É o nosso partido, pronto.
pessoa que tem medos, mas eu ao que foi essa experiência O PT, a bancada do PT, faz
lido com o medo. Eu, quando do governo Lula, do ponto de meses que não se reúne. O Blo­
era pequeno, dormia num quar­ vista de não ter sido ousado co de Esquerda se reúne toda
to e tinha medo que tivesse o suficiente, e um diferenci­ semana. E a gente avalia esse
ladrão ou alguma pessoa den­ al também em relação à ad­ processo. O que cada um está Por muitos vezes o torcido
tro de casa, e, ao invés de eu ministração da Maria Luiza, vivendo nos seus Estados, das
organizada do Ceará de­
me encolher, eu acendia, saia por causa dos erros que fo­ disputas que estão sendo reali­
em todos os quartos, todas as zadas e tudo mais e dos cami­ monstrou ontipatio a can­
ram cometidos naquela épo­
salas, ficava acendendo as lu­ ca. Uma administração que nhos que nós vamos tomar, de didatura de João Alfredo.
zes, todas as luzes, morrendo possa ser de esquerda, parti­ ficar ou de sair, de para onde ir Nos jogos do time, ela cos­
de medo, me tremendo to- cipativa, c que diga às pes­ e tudo mais. O ímpeto às vezes tuma estender uma faixa
dinho, mas ia. Acendia as lu­ soas que pode se administrar você tem, o impulso às vezes amarela com os dizeres
zes todinhas, aí, depois que eu com competência e ousadia. você tem, mas a decisão, ela pas­ "Quem torce Ceará nõo
via tudo isso aí, apagava sa por tudo isso.
vota João Alfredo".
todinhas e voltava e deita- - Não é fácil, nenhuma
va. “Não tem ninguém”. solução hoje fora do PT é
Eu acho que o medo não "0 Lula certamente, vai ser julgado fácil, nenhuma das que es­
pode paralisar a gente. O muito mais lá na frente. Para o tão apresentadas, nenhuma
que eu quero dizer é isso. bem ou para o mal, ou para o bem mesmo, nenhuma mesmo.
Eu acho que quem tem um Porque, no meu caso, é o
mandato, quem gosta de e para o mal. E nós, todinhos, mais longo casamento da
fazer um mandato... Porque juntos, nessa história toda". minha vida. Com as mulhe­
eu gosto. Em 1986, a pri­ res que eu casei, o máximo
meira vez que eu subi na tri­ que eu fiquei foram dez anos
buna da Assembléia Legis­ Para mim, (isso) é um - c mulheres maravilhosas,
lativa e fiz o meu primeiro referencial, então qualquer dis­ todas, todas - , mas no PT eu
discurso, o meu sentimento foi cussão do meu futuro, passa estou casado há quase 26
assim: “Eu nasci pra isso por um debate com a Luizianne anos. Impressionante!
aqui”. Tem aquele filme, “A e com o nosso grupo político, Natália - Deputado, nu­
pessoa nasce para o que é” que é o mesmo, que é a DS. ma resolução de 27 de feve­
( “A pessoa é para o que Essa é uma referência. A ou­ reiro deste ano, o Comité da
nasce”, 2003, documentário tra referência, evidentemente, IV Internacional, da qual a
dirigido pelo carioca Rober­ são as pessoas que me apoi­ DS fa z parte...
to Berliner), não é? Eu nasci am neste Estado todo. Eu não João Alfredo - (Interrom­
para isso aqui, eu gosto dessa posso tomar uma decisão so­ pendo) Foi longe ela. (Risos).
atividade parlamentar, eu me zinho e dizer: “Venham comi­ Natália - ... Fez várias
realizo, pessoalmente, me re­ go”. Eu tenho que ouvir. Até análises do governo e, por
alizo com isso, politicamente e para admitir que qualquer de­ fim , declarou: “Esses dois
tudo mais. cisão que eu venha a tomar, anos mostram também que a
Claro, quem tem um man­ de ficar ou de sair, eu vou ter dinâmica interna de sua polí­
dato tem medo de perder o perdas, claro. Não é uma de­ tica não pode ser mudada ”.
mandato, mas cu já perdi o cisão fácil: alguns vão me A DS, entretanto, continua no
mandato uma vez e consegui acompanhar e outros não vão governo, obviamente. Daí,
ressurgir lá na frente. Para me acompanhar, mas eu que­ como essa... Não vou dizer A anti-cam panha teve
mim, essa não é a questão ro ouvir todas essas pessoas. contradição, mas, essa dis­ início quando João Alfredo
principal, ela é uma variável, E o terceiro, é esse bloco que cussão interna configurou... presenteou o presidente
d en tre o u tras v ariá v eis. nós temos lá em Brasília. Jo ão A lfredo - (In ter­ Lula, então recém-eleito,
Quais são as outras variá­ Nós só estamos sobreviven­ rompendo) Contradição, con­
com uma cam isa do
veis? A adm inistração de do, gente, porque a gente tem tradição... Não, não, há uma
contradição. Fortaleza.
Fortaleza para mim é uma esse Bloco de Esquerda. Se a

115
João Alfredo

Natâlia - Isso também foi tudo mais, como a (ministra) a posição da DS local, e isso
seguido e antecedido p o r Marina (Silva) faz, no (Minis­ aí é fato. E na própria banca­
várias rupturas internas da tério do) Meio Ambiente. As da federal: os três (deputados
DS, principalmente a de ja ­ pessoas jogam a sua vida, o federais) da DS que nos abs­
neiro, que fo i massiva. En­ seu trabalho, as suas expecta- tivemos - eu, Walter Pinheiro
tão, como a DS está se tivas ali. (BA)z o(Orlando) Fantazzini
estruturando hoje com es­ Mas eu acho que a DS, ela (SP) - , durante muito tempo,
sas contradições? vai enfrentar... Primeiro, já há os outros quatro tiveram posi­
João Alfredo - Eu acho um racha, agora. Uma parte ções diferentes. Nós somos
que a realidade das correntes da DS já está apoiando o Plínio sete parlamentares, hoje é que
No site de relacionamen­
do partido hoje está ultrapas­ de Arruda Sampaio (Presi­ nós conseguimos unificar to­
tos Orkut, a comunidade
sada, de todas. Algumas que dente da Associação Brasi­ dos dentro do Bloco de Es­
virtual "CEARÁ não vota sobrevivem é porque são ex­ leira de Reforma Agrária, querda, mas era rachado tam­
em João Alfredo" reúne 23 tremamente centralizadas, que candidato à presidência do bém na bancada.
membros. Ironicamente, é o caso da Articulação de Es­ PT pela tendência Ação Po­ Am anda - O PT passou
os participantes atribuem querda. Na Articulação de Es­ pular Socialista), enquanto vinte e poucos anos constru­
a crise do governo Lula a querda, gente, é um negócio tem uma candidatura como a indo um projeto de socieda­
uma onda de má sorte impressionante, os parlamen­ do Raul, isso aí já existe. Eu de, um projeto como alterna­
tares não tomam uma deci­ tiva de sociedade, que
trazida pela camisa do
são sem perguntar ao che- - - pudesse ser referendado
time rival. fe deles, tanto é que eles "Só tinha uma forma, vamos dizer, p elo povo brasileiro.
não participam do Bloco de de o governo dar certo: era se ele Rearticular uma esquer­
Esquerda por causa disso, da, nesse momento, não
mas outras tendências que
trabalhasse no sentido de inverter dem oraria dem ais para
têm debate intenso... A DS a correlação de forças na sociedade um povo que urge por
só não rachou na última con­ e no Parlamento. Mas não foi isso mudanças?
ferência nacional, que tirou João Alfredo - Mas se
que o governo fez".
o Raul Pont (deputado es­ um instrumento não serve
tadual, RS) como candida­ mais, se nós chegarmos à
to (à presidência do Dire­ acho que isso tende a se conclusão de que um instru­
tório Nacional do PT), porque aprofundar. E esse documento mento não serve mais... Talvez
houve um recuo de lado a lado. que você leu foi um momento seja difícil dizer isso para as pes­
Por um lado, quem estava pro­ de racha entre o secretariado, soas, mas nós vamos ter que
pondo sair do governo retirou que está situado na Europa e avaliar, nós estamos avaliando,
isso aí, por outro, quem estava a DS local, tanto é que a DS nós vamos avaliar durante es­
querendo desconhecer o Bloco não mandou representantes ses quatro anos e vai continuar
de Esquerda acabou reconhe­ para esse encontro, não man­ sendo avaliado a vida toda, lá
cendo o Bloco de Esquerda. dou e não reconhece essa re­ na frente até com mais isen­
Meu nome foi lançado solução. ção, porque com mais distân­
como pré-candidato a presi­ Natália - Então, tem gente cia, em que medida esse gover­
dente nacional pela DS, a gen­ que faz parte da DS hoje mas no do Lula serviu efetivamente
te retirou em torno de um não é mais filiado ao PT? para o processo de transforma­
acordo com o Raul, mas está João Alfredo - Tem. Que ção social no país. Essa é uma
difícil, está difícil, porque esse é outro problema. Porque a grande interrogação.
processo tende a se acentuar. DS era um corrente que não Se nós chegarmos à con­
E aí é como eu falei. Não é se organizava como tendência clusão de que poderá ter sido
fácil. Do ponto de vista políti­ interna. Hoje ela é uma ten­ um atraso, como alguns já che­
co, a DS já tinha que ter saído dência interna do PT, mas ela garam, que terá sido uma trai­
do governo, ou já devia estar tem gente fora do PT. A pró­ ção, como alguns já chegaram,
num processo de afastamento pria Heloísa Helena era da DS, então se tem que construir um
Em contrapartida, as co­ maior. Mas eu reconheço a Heloísa ainda se reivindica outro instrumento. O que eu
m unidades virtuais de quem está trabalhando lá, o da IV Internacional. A IV In­ penso é o seguinte, talvez com
esforço que está jogando den­ ternacional reconhece militan­ toda a dificuldade que se tem
apoio ao deputado somam
tro disso aí. A tentativa de re­ tes seus no PT e fora do PT, e de falar dessas questões, e
263 membros. alizar a Reforma Agrária e isso entra em contradição com com todo o respeito que eu
116
João Alfredo

tenho à história do Lula, mas E, no entanto, no ano pas­ solucionática”, não é? Então,
eu nunca joguei todas as mi­ sado, o povo devolveu ao PT vai ter que ter uma ‘solucio-
nhas fichas no Lula ou nesse a chance de ter uma nova ad­ nática’ para esse problema
governo. Nesse sentido, para ministração, com outra mulher, também. Se o PT deixar de
mim, se esse governo fosse que inclusive enfrentou precon­ ser o instrumento, se o gover­
bem sucedido, seria um gover­ ceitos parecidos com os que a no Lula fracassar, nós vamos
no de transição para um go­ Maria Luiza enfrentou, gente. ter que ter outra solução, ou
verno mais avançado, o que A Maria Luiza, separada, essa nós não vamos continuar vi­
está muito difícil de acontecer, coisa toda; a Luizianne, com vos? Ou nós não vamos conti­
mas eu acho que o processo todas as coisas que saíram nuar achando que o mundo Felipe Araújo toca em um
social c um processo que não dela, jovem e tudo mais, e o pode ser melhor do que o que
grupo de sambo de raiz
pára, ele tem momentos em povo votou nela. As vezes a está aí? Ou nós não vamos
que ele vai ter refluxo, em que gente tende a ser muito pessi­ continuar lutando por isso, de grande popularidade
ele tem atraso, mas tem ou­ mista nisso, de achar que: “Se com todas as decepções? em Fortaleza, o "M adam e
tros momentos que ele vai po­ o governo Lula acabou, nós Giselle - Deputado, ao não Danço".
der avançar. estamos mortos, não tem saí­ falar do senhor, é impossível
Nós vamos achar que - não da”. E igual àquela piada. não lembrar da Luizianne
estou dizendo que isso acon­ Você, depois de um certo tem­ Lins e do seu apoio à candi­
teceu - mas nós vamos datura dela. Como fo i que
achar que se o governo - - as disputas internas inter­
Lula fracassou, fracassou o "A crise é da oligarquia do partido. feriram ou afetaram par­
projeto de esquerda no Bra­ Se a gente olhar, são eles. Os que ticularmente o senhor? A
sil? Alguns vão achar, por­ dominam domesticaram o partido. sua visão política diante do
que acham que o único pro­
Concentraram o poder nessa cúpula, partido, diante dessa
jeto de esquerda possível questão partidária, dian­
seria com o Lula. Eu não, excessivos poderes em uma cúpula,
te do PCdoD. O partido
cu acho que pode ter um afastando todos os demais, (PT) apoiava o candidato
outro processo. Claro, vai golpearam quem pensava diferente". do PCdoB (Inácio A r­
ter muito mais dificuldade, ruda), e vocês, a Demo­
porque a referência nisso aí, po, você diz: “Pô, hoje eu sou cracia Socialista, continua­
no que foi o governo Lula, vai ateu, acho que Deus não exis­ ram dando apoio a Luizianne
ser muito grande. te, Marx morreu e eu não es­ Lins. Como é que ficou sua
Foi como a história da Ma­ tou passando muito bem”. As visão (política) depois da elei­
ria Luiza (Fontenelle, ex- referências, a perda das refe­ ção de Luizianne Lins?
prefeita de Fortaleza, eleita rências. “Deus não existe, João Alfredo - Primeiro,
pelo PT em 1985). Volto a Marx morreu e eu não estou eu quero dizer que eu não te­
dizer: com todo o respeito e passando muito bem”. nho nenhum problema com o
bem querer que eu tenho a ela, Eu acho que a referência PCdoB. Eu tenho muito res­
mas o que ficou do ponto de na possibi lidade de renovação, peito pelo Inácio Arruda (de­
vista do governo dela foi um de transformação, da idéia de putado federal, PCdoB/CE,
fracasso. Claro que ninguém que, meu Deus do céu... O candidato a prefeito de For­
pode acusar a Maria Luiza de capitalismo tem saída para taleza em 2004), acho uma
ter saído com um tostão a mais, Humanidade? Não tem, não pessoa correta, acho que co­
pelo contrário, acho que ela é? Da forma como ele está meteu erros, e os erros que ele
empobreceu nesse processo hoje, inclusive, não tem. Então, cometeu foram justamente por
todo. (A Maria Luiza) é éti­ tem que se gestar uma outra fidelidade ao governo. Fideli­
ca, é correta, é de bons pro­ forma que seja essa (saída). dade ao partido e ao governo,
pósitos, é do bem, vamos di­ Vai ter atropelos, vai ter atra­ e a gente na política paga por
zer assim. Mas o que ficou da sos, vai ter contratempos, mas, isso, e ele pagou. Pagou por
simbologia do governo da Ma­ o velho Dadá Maravilha (ex- isso de forma muito clara, mas Por ser o político mais in­
ria Luiza foi um fracasso, da jo g a d o r de fu te b o l que isso não tira o mérito dele fluente do P-SOL no Cea­
experiência de três anos da atuou no Atlético Mineiro, como parlamentar, como mili­
rá, o nome de João Alfredo
administração dela, e estava entre outros clubes brasilei­ tante e tudo mais.
ero cotado para disputar o
colada à imagem do PT, não ros) jádizm: “Pra toda proble­ O que cabia era o seguin­
te: nós fizemos uma análise. governo do Estado.
estava? m ática, tem que ter uma

117
João Alfredo

Qual foi a análise que a gente sonesta, entendeu? Mas ele que a Luizianne representava
fez, principal mente depois da tomou essa atitude e isso ia ser muito isso, inclusive no voto que
Reforma da Previdência, o que jogado (contra ele na campa­ ela deu contra a Reforma da
é que a gente achava? A gen­ nha)... Tanto é, que na primei­ Previdência (estadual).
te achava que o Inácio teria ra vez que a Marina veio a Essa era a questão que es­
dificuldade de ganhar a elei­ Fortaleza, a primeira ministra tava colocada para gente, e
ção em Fortaleza. Nós come­ que veio apoiar a Luizianne, qual é o problema? O proble­
çamos a fazer essa avaliação. ainda no comecinho da cam­ ma é que a cúpula do partido
Porque, se você olhar o resul­ panha, a Luizianne tinha três, (PT), essa que acha que go­
No entanto, ele deverá ten­ tado das eleições no Brasil quatro porcento dos votos, nós verna sozinha, fez um acordo
todo, você vai encontrar isso: viemos juntos no mesmo voo: com o PCdoB nacional, e o
tar se reeleger como depu­
quando se é chefe do poder eu, ela, o Ciro Gomes (Minis­ PCdoB nacional confiou nis­
tado federal para ajudar a executivo, prefeito, você é tro da Integração Nacional so, e nós fizemos uma disputa
manter o novo partido na candidato à reeleição, você vai - PSB). E o Ciro (disse): “O legítima aqui e ganhamos a
Câmara Federal. ser julgado pelo seu mandato, que é que você acha da elei­ tese da candidatura própria
os quatro anos; quando você ção?” O Inácio estava em pri­ em torno da candidatura da
é parlamentar, você vai ser jul­ meiro lugar absoluto. Eu digo: Luizianne. E eles (a ‘cúpula'
gado pela sua conduta parla­ “Ciro, eu não sei se o Inácio do PT) fizeram o processo que
mentar, pelos seus atos lhes tira toda a autoridade
como parlamentar. E o que - de falar em questão de infi­
é que aconteceu com o "Um dima! E os caras (vieram) delidade partidária, porque
Inácio, aqui, com o Nelson ele, José Dirceu (deputado
para cima. Eu não votei com o
Pellegrino (deputado fede­ federal e ex-ministro-che-
ral, PT), na Bahia, e com partido, nem com o governo. Era f e da Casa C ivil), ele,
tantos outros que disputa­ uma mediação, que inclusive foi Genoino (ex-presidente do
ram? Cometeram erros gra­ muito mal entendida, porque a PT), os seus representantes
ves, que acabaram cm con­ aqui - Artur Bruno (depu­
abstenção nunca é um voto fácil".
tradição com toda uma tado estadual), (José)
trajetória e com toda uma Pimentel (deputado fe d e­
marca. resiste ao bombardeio”. Aí o ral e atual secretário de f i ­
Qual é a marca do Inácio? Ciro disse: “É, também não nanças do PT) e (José) Gui­
“Onde tem luta, tem Inácio”. sei”. Só isso. Porque isso ia marães (deputado estadual,
Era essa... E porque é verda­ acontecer. Quem está em pri­ ex-líder do PT na Assembléia
de isso, porque o Inácio, em meiro lugar, acontece. E foi o Legislativa do Ceará) -, pas­
todas as lutas sociais, ele es­ que aconteceu. saram a campanha toda deso­
tava presente mesmo. Não Qual era a nossa dúvida? bedecendo a uma decisão jus­
era um slogan à toa, o Inácio Era se a Luizianne ia capitali­ ta, democrática e legítima da
era conhecido como isso. zar ou se esse voto ia para di­ base do PT municipal. Essa
Quando o Inácio passa a ser reita, porque foi para a direita que é a verdade, eles fizeram
líder do PCdoB, ele toma po­ em São Paulo, contra a Marta isso e nós enfrentamos isso,
sições, como líder do PCdoB, Suplicy (ex-prefeita de São nós enfrentamos.
da base de apoio do governo, Paulo, PT), foi para a direita E, aqui para nós, a gente
que contradizem o Inácio an­ em vários locais do país. A está conversando aqui essas
terior a isso tudo. Contradi­ questão era essa, era saber, coisas todinhas: nós fizemos
A Lei dos Partidos Políticos
zem. A história da Previdên­ efetivamente, se ia (capitali­ um acerto, eu e a Luizianne.
determina que, para ter
cia, por mais que ele tenha zar). E nós decidimos não ba­ Qual foi o acerto? Eu digo:
funcionam ento p arla­ votado um aspecto contra, ele ter no Inácio. Houve um ou “Luizianne, você é candidata
mentar, o partido deve votou a favor da Reforma da outro episódio, já no final, mas a prefeita, você não tem que
obter no mínimo 5 % dos Previdência, ele votou a fa­ se você olhar no resto da cam­ se desgastar com ninguém,
votos apurados, distribuí­ vor do salário mínimo mais panha.... Aliás, (não batemos) você tem que ficar bem, não
dos em pelo menos 1/3 baixo. Por aquela conjuntura, em ninguém. Se fez uma cam­ pode sair na briga, deixe que
dos estados, com um mí­ porque acreditava... panha petista, onde se ressal­ eu brigo por você, pode dei­
Não estou fazendo um jul­ tava, vamos dizer, o PT do bem, xar”. E foi isso que aconteceu,
nimo de 2 % do total de
gamento moral do Inácio, o o PT que dá certo, o PT que se vocês prestarem atenção.
cada um deles. Inácio não é uma pessoa de­ faz certo e o PT da coerência, Se vocês olharem no jornal as

118
João Alfredo

brigas que eu tive com todo tido. Não toparam, nós fomos E cometemos um ato de
mundo, vocês não vão ver uma para a briga. ousadia, que foi na véspera do
vez a Luizianne batendo boca O que foi que aconteceu? A final do primeiro turno ali. A
com ninguém, porque eu as­ cada ação deles, a gente fez uma gente sabia que ia sair, ou pelo
sumi esse papel mesmo, com­ outra de reação. Quando eles menos fomos informados, que
binado com ela, para prcservá- disseram que a Luizianne ia re- ia sair uma gravação do Lula
la, para resguardá-la. tirar (a candidatura), nós pedindo voto para o Inácio.
Teve uma reunião em São trouxemos os parlamentares, 34 Entramos na Justiça para im­
Paulo, durante a convenção parlamentares assinaram o ma­ pedir o Lula. imagina um ne­
nacional eleitoral do PT, que nifesto de defesa da candidatu­ gócio desse, para impedir o Caso essa situação não se
foi terrível. Estava Genoino, ra da Luizianne. Quando o José Lula de aparecer na televisão,
confirme, o partido perde o
Sílvio Pereira (ex-secretário Dirceu veio aqui lançar o movi­ o presidente da República, e
geral do PT), José Airton (di­ mento “Sou PT, voto Inácio”, depois fizemos uma audiência direito à formação de ban­
retor da Agência Nacional nós entramos na Justiça e con­ com ele. cado e liderança, além de
de Transportes Terrestres e seguimos impedir a veiculação E tinha a questão do voto não poder participar de co­
ex-presidente do diretório da campanha “Sou PT, voto útil. Quando a Luizianne co­ missões de inquérito nem
estadual do PT), Dedé Tei­ Inácio”. Aquilo ali foi fatal. meçou a crescer c o Inácio de usufruir do fundo parti­
xeira (secretário executivo A gente tinha as pesquisas, começou a cair, nós dissemos: dário ou do propaganda
do Ministério da Pesca e “Ora, não tem mais voto útil
política gratuita no rádio e
ex-prefeito do município - ■ para esquerda ir para o se­
na televisão.
no litoral do Ceará, Ica- "Aqui eu não estou fazendo uma gundo turno”. Até porque
puí), Pimentel, Artur Bru­ queimação do Inácio não. Eu acho tinha saído na véspera da
no, Nelson Martins (depu­ eleição que a única que ga­
tado estadual, PT) e, do que ele cometeu os erros dele e eu nhava de todo mundo no
outro lado, eu e a Luizianne. cometi os meus, está entendendo? segundo turno era a Lui­
Imagina o massacre que A verdade é que para mim, aquilo zianne. Empatava com o
foi essa reunião, para a Lui­ Moroni (Torgan, deputado
foi um divisor de águas".
zianne retirar a candidatu­ federal, PFL), ganhava do
ra e apoiar o Inácio Arruda. (Antônio) Cambraia (depu­
Depois do que a gente já ti­ o PT era forte, mas as pessoas tado federal, PSDB), ganha­
nha decidido no encontro, identificavam o PT com o va do Inácio. Era o que falta­
aquele que a gente ganhou por Inácio, porque o Inácio sempre va ali, para dar a virada, era
um voto. foi identificado como PT. isso, era a garantia de que se
Aí eu disse lá: ‘‘Não tem Quando eu era candidato a (de­ votar na Luizianne, ela podia
acordo”. Aí o Genoino se le­ putado) estadual, as pessoas ganhar no segundo turno, ao
vanta. Genoino levanta, (eu chegavam para mim e diziam: contrário do que estava colo­
digo): “não. Vai ouvir. Eu lhe “Votei no PT de cabo a rabo: cado. Foi um processo duro,
ouvi, agora você vai ouvir”. Ele Lula, José Aiiton, Inácio e João foi um processo difícil, um pro­
ficou 4puto’ comigo. “Vai ou­ Alfredo”. “Votei no PT de cabo cesso de enfrentamento, mas
vir”. “Nós aceitamos qualquer a rabo”, era mesmo, o Inácio um processo que temperou
acordo, contanto que respeite sempre foi identificado como muito a gente, eu acho. E eu
a resolução do encontro mu­ PT. E agora a gente tinha que acho que foi uma campanha
nicipal”. Qualquer acordo sig­ dizer assim: “Não, o PT é em que a militância voltou à
nifica o quê? Linha de cam­ Luizianne”. Por isso que era “a rua com esse sentimento, de
panha, programa de governo, Luizianne do PT” . Porque a contra tudo c contra todos.
aparição das figuras públicas gente sabia que o PT era uma O Luiz Eduardo Greenhalgh
na televisão, não tem proble­ marca forte, as pessoas tinham (deputado federal, PT/SP),
ma. Coordenação, botamos referência, agora... Qual era a quando eu cheguei lá (em
todo mundo na coordenação, maior rejeição à Luizianne na Brasília), já do primeiro para Segundo José Maria Melo,
todo mundo vai para a televi­ pesquisa que a gente fazia? Era o segundo turno - sei nem se colunista do jornal Diário
são, todo mundo vai para os ser pouco conhecida. A maior ele autoriza dizer isso, mas eu do Nordeste, o parlamen­
palanques, a gente discute aqui rejeição dela. Tinha rejeição ne­ vou dizer - ele (falou): “João tar confirmou a coligação
uma campanha petista, mas nhuma, nada dela, qualquer Alfredo, vocês têm que cons­
d oP -SO Lcom o PCB para
não aceitamos mudar a reso­ coisa, por ser mulher... Então, truir duas estátuas na entrada
de Fortaleza. Uma para o José as eleições de 2006.
lução que foi tomada pelo par­ colamos isso aí.

119
João Alfredo

Dirceu e outra para o Genoino” depois ficamos só 12, manti­ pelo Palocci, e que como a in­
(risos). “Porque se não fosse vemos, e foram as nossas 12 flação não estourou, não hou­
essa oposição danada que eles assinaturas que viabilizaram a ve fuga de capitais, que era um
fizeram aí a Luizianne não ti­ CPI dos Correios, porque, se medo imenso que o Lula tinha
nha ganho”. Eles fizeram isso... nove tivessem retirado, não que acontecesse e não acon­
A Luizianne foi transformada teria tido CPI. Então, eu fico teceu, então o Lula passou a
em vítima, mas ela não se muito à vontade de responder confiar no Palocci e entregou
vilimizou. pelo contrário, ela en­ essa questão no sentido de que a gestão da econom ia ao
frentou uma injustiça imensa. primeiro tem que se apurar Palocci.
0 PCB apresentou o ad­ Eu me lembro, próximo às tudo. Tudo, tudo, tudo. Aí eu Na parte política, que eu
eleições, eu fui para o estádio vou usar uma expressão do acho que é onde vem essa
vo g ad o Tarcísio Leite
de futebol - eu vou para está­ Lula: “Nem que não sobre pe­ questão do ‘mensalão’, o Lula
como provável candidato dio e tudo mais o pessoal: dra sobre pedra”. Eu acho que entregou essa operação ao
oo governo do Estcdo. “Pó, aquele Genoino... Agora essa é a primeira questão. José Dirceu, e o José Dirceu,
Ainda de acordo com o é que eu vou votar nela, só Segundo, até o presente eu acho que pela formação
colunista, dentro do P- porque o Genoino foi dizer que momento, em que nós estamos que ele tem, ele pensa que os
SOL, as preferências são tinha que votar no Inácio, ago­ dando essa entrevista, não há fins justificam qualquer meio.
por Renato Roseno, coor­ ra é que eu vou votar nela”. nenhum envolvimento do Lula Na minha opinião essa é a for­
Porque viram esse proces­ mação dele. E frio, é calcu-
denador do Centro de
so, como eles vieram com - - lista, é estrategista, e ele
Defesa da Criança e do acabou nesse processo de
aquela arrogância... Porque "Prim eira pergunta: de quem é o
Adolescente (Cedeca), e está quebrada a castanha alianças que eu falei há pou­
Padre Lopes, de Icapuí.
Partido dos Trabalhadores? É do
deles hoje, mas a arrogân­ co. Outro dia, até, um jor­
cia do José Dirceu (dizen­ Lula, do José Dirceu ou dos nalista do (jornal) O Povo
do): “O candidato do PT é milhões ou milhares que jogaram me perguntou: “Você acha
Inácio Arruda”, desse jeito, sua vida para construí-lo? Essa é a que o José Dirceu se con­
está nos jornais. O Genoino: trapunha ao Palocci?” Eu
primeira questão". digo: “Em alguns aspectos
“Candidatura de Luizianne
é aventureira”; Aldo Rebe­ da política económica, mas
lo: “Luizianne está fazendo o com esse processo todo. Qual se a gente olhar as duas per­
jogo do PSDB e do PFL”, está é a minha avaliação desse pro­ nas da govemabilidade, uma
tudo na imprensa. A arrogân­ cesso todo? É que o Lula en­ era Palocci, a outra era José
cia desses caras foi muito tregou o com ando dessas Dirceu. Palocci na economia,
grande e o povo percebeu e ações para outras pessoas. José Dirceu na política”.
ficou do lado da Luizianne. Por exemplo, na economia, ele O Lula entregou, entregou,
Raquel - Deputado, ago­ entregou para o Palocci. Eu e foi fazer política externa,
ra, o PT vive em meio a uma estava lendo uma entrevista mais ou menos como o FHC
onda de denúncias que en­ hoje do Luiz Gonzaga Belluzzo fez, se a gente olhar, de fazer
volve um suposto esquema (economista e professor da essa grande política, grandes
de desvio de dinheiro públi­ U niversidade Estadual de temas internacionais, a ques­
co, de estatais, e o pagamen­ Campinas) na (revista) Car­ tão da fome no mundo e, ago­
to de propina, o ‘mensalão \ ta Capital, e ele coloca exata­ ra mais recentemente, a ques­
em troca de apoio partidá­ mente isso, de que tinha um tão do Conselho de Segurança
rio. Se o senhor soubesse de grupo que trabalhou desde o (da ONU), essa coisa toda. Eu
tudo isso, o senhor, como começo na parte económica, acho que isso deu super-
eleitor, teria votado em Lula ? que trabalhou, que era um gru­ poderes ao José Dirceu para
João Alfredo - Primeiro, po histórico: Ricardo Carneiro isso aí. Até que ponto tem essa
a gente tem que apurar tudo (economista, filiado ao PT, história de ‘mensalão’, eu não
João Alfredo faz parte do isso. Eu fico muito à vontade contribuiu para o programa sei, mas pelo que a gente está
Conselho Político do jornal de responder isso, porque eu económ ico do p a rtid o ), o levantando aí, pelo que está
Brasil de Fato, publicação fui um dos que assinei a CPI Belluzzo, a Maria da Concei­ sendo apurado, as relações
semanal que se propõe a dos Correios, que depois da ção Tavares (economista e promíscuas com os órgãos do
pressão que o governo fez - e ex-deputada fe d era l, PT- governo, principalmente as
ser alternativa à grande
o PT - para retirar, cu não re­ RJ), e que esse grupo depois estatais, que foram entregues
mídia.
tirei. Dezenove assinamos, e foi completamente escanteado a esses partidos que estão aí,

120
João Alfredo

e a política de tirar gente do Acho que o PT está viven­ dentro do ministério, Henrique
PSDB e do PFL para botar do a maior crise da sua histó­ Meirelles (presidente do Ban­
nesses partidos da base de ria, a maior crise da sua histó­ co Central) e Romero Jucá
apoio, ninguém sabe como isso ria, se olhar. Tanto que já caiu (senador e, no dia da entre­
pode ter sido feito. o José Dirceu do ministério, vista, ministro da Previdên­
Se isso tudo acontecer (for depois caíram os dirigentes do cia Social, PMDB. Deixou o
comprovadoj, não é o caso só partido, depois caiu o presiden­ ministério no dia 21 de ju ­
de expulsar essas pessoas do te do partido, que não queria lho, quando assumiu Nelson
PT ou até de cassar o manda­ sair, e com o episódio vergo­ Machado).
to não. É o caso de cadeia, é o nhoso, esse episódio aí da cu­ E rik a - O senhor falou Fernando Hugo, deputa­
caso de cadeia. Porque aí é eca do Adalberto (Vieira, ex- ao longo da entrevista da do estadual (PSDB-CE),
uma traição. Alguém chegar, secretário de Organização incoerência do PT com as
como foi dito que isso foi fei­ um dos opositores políticos
do PT Ceará e ex-assessor metas do partido, e, nas suas
to, a uma deputada de Goiás parlam entar do deputado próprias palavras, o senhor de João Alfredo: "João re­
(Raquel Teixeira, deputada estadual José Guimarães). disse que alguns definiriam presenta o PT nascido nas
fed era l licenciada, PSDB, Um negócio absurdo, absurdo, essa incoerência como trai­ idéias de 25 anos atrás.
secretária de ciência e tec­ completamente absurdo. Você ção, outros como o fra ca s­ Ele não metamorfoseou-
nologia de Goiás), que o depu­ pensar que isso pudesse estar so do processo de esquerda se, não saiu daquela sua
tado lá do PL, o Sandro no Brasil. E o senhor, de- linha de pensar que é a
Mabel (deputado federal, - - putado João Alfredo, se ti­
"De quatro pessoas que estavam lá, história básica do PT...
líder da bancada do PL, vesse que definir com uma
GO), dizer: “Olha, se você três que achavam que tem vida fora palavra, com uma fra se
mudar do PSDB para o PL, do PT, já estavam no terceiro muito resumida, o que fo i
você vai ter um milhão e 30 essa incoerência do PT, o
casamento ou já tinham tido perdas
mil a 50 mil por mês”. Quer que fo i isso?
dizer, isso é um absurdo. De na família. E justamente o que Jo ão A lfredo - Não,
onde é que vem esse dinhei­ achava que não tinha vida política primeiro, não vamos chamar
ro? E dinheiro público, di­ fora do PT tinha só um casamento". “a incoerência do PT”, por­
nheiro desviado que poderá que, eu volto a dizer, há um
estar vindo. acontecendo, nesse momento grupo - até eu vou usar a ex­
Esses fatos ainda não es­ inclusive! Num momento em pressão do Paulo Delgado (de­
tão completamente comprova­ que se está vivendo essa crise putado federal, PT-MG) -
dos, mas outros estão, como toda. Ou o PT se renova... E uma “oligarquia do PT”, até
esses empréstimos aí do Mar­ para mim se renovar significa uma outra expressão, essa não
cos Valério (empresário do sabe o quê? Derrotar a maio­ é uma crise do partido como
ramo de publicidade, acusa­ ria, o Campo Majoritário no um todo, é crise de uma pe­
do de recolher dinheiro para PED (Processo de Eleição quena parcela do partido que
o *caixa-dois * do PT e de Direta), ou o PT se acaba. detém a sua direção. Eu nao
operar o ‘mensalão \ que, por A gente vive aí uma crise generalizaria isso para o con­
sua vez, ganhou as concorrên­ imensa, que (o PT) tanto pode junto do Partido dos Trabalha­
cias, inclusive na Câmara dos sobreviver a ela, como pode dores. Eu acho que essa é a
Deputados, com o João Paulo submergir, porque não é fácil primeira questão. Se essa di­
( Cunha, deputado federal, tudo isso, até porque o PT sem­ reção continuar, aí sim, se es­
PT-SP, ex-presidente da Câ­ pre empunhou a bandeira da sas teses forem vitoriosas, aí
mara dos Deputados). Há um ética. A campanha do Lula foi sim, é como eu falei.
processo de desmanche, de “Por um Brasil descente”, e o Tem a questão do governo,
degradação ética muito forte. Lula, na minha opinião, aqui, que eu acho tão séria quanto.
E eu tenho certeza que não se­ com todo o respeito à história Aí tem a questão da reeleição.
ria só eu, não. Se as pessoas dele, ele demora demais a agir, Até numa entrevista que eu dei
soubessem disso antes, que demora demais a agir. A crise à revista Fale! (revista men­ ... "Ele é teimoso em de­
isso se fazia, e que não se está com mais de dois meses, sal de informação, produzi- fender suas idéias. Tive­
pune dentro do PT, ninguém e se arrasta com dificuldade da e dirigida pelo jornalista mos históricas discussões
votaria mais no Lula ou no PT, de afastar. Até hoje, tem dois e professor de Comunicação sobre o Castelão e o Porto
ou cm quem compactua com ministros processados no Su­ Social da UFC, Luís Sérgio
do Pecém".
tudo isso, é lógico. premo (Tribunal Federal) Santos, em Fortaleza), eu dis-

121
João Alfredo

se isso: para mim, só tem sen­ das suas ações, com relação ao Natália - Mas, deputado,
tido reeleger o Lula se for para governo Dos Estados Unidos. o senhor avalia que essa
um processo de ampliação de Condenou a Guerra do Iraque, confusão do partido com o
direitos, de transformações tem enfrentado brigas grandes governo, enquanto Estado...
sociais. Para continuar a mes­ nos organismos internacionais, Jo ão A lfredo - (Inter­
ma política que está aí, não tem trabalha na perspectiva da for­ rompendo) E péssima. E mui­
sentido. Esses dilemas estão mação de uma comunidade sul- to ruim, é muito ruim. Porque
colocados para gente nesse americana, impediu um novo é um governo de coalizão, e o
momento, para todos nós, mas golpe na Venezuela. Então, é partido devia ser o partido que
fundamentalmente para o PT, uma política externa diferente da puxasse para esquerda, e não
José Nobre Guimarães,
seus dirigentes, parlamentares do governo Fernando Henrique é. Qual foi o grande problema
deputado estadual (PT- e militantes, mas para o con­ Cardoso, e eu acho que em al­ da presidência do Genoino,
CE) "Quando ele foi presi­ junto da sociedade brasileira guns outros ministérios também além de ter passado a mão na
dente do PT, eu era o como um todo. Aonde é que é diferente, do ponto de vista da cabeça dos meninos aí? Foi
secretário geral. Acho que isso tudo vai desembocar? relação que se dá com os movi­ que ele funcionou muito mais
dois fatos marcaram mui­ A gente vai ter que ter uma mentos (sociais) e tudo mais. como - eu usei até a expres­
to a nossa militância po­ leitura mais completa disso, do Agora, se a gente olhar são que ele ficou ‘puto' e o
ponto de vista do partido (in­ numa avaliação global, eu Guimarães me respondeu -
lítica no PT...
terrompe para atender ao como um bedel, como um
telefone celular). A gente - ‘pau-mandado’ do governo
só vai ter a resposta disso, "Fala essa palavra: rupíura. Então, junto ao PT e junto à ban­
do ponto de vista do parti­ cada, do que alguém que
você diz assim :"não! Quem é
do, num processo de PED representa o PT junto ao
(Processo de Eleição Di­ petista é o João Alfredo, é o Walter governo.
reta), até porque houve uma Pinheiro, é o Ivan Valente, é o E hoje eu vi uma expres­
reação, foram afastadas as Chico Alencar, o Palocci está são interessante do Cristó-
pessoas finalmente (inter­ vam B uarque (senador,
fazendo a política do PSD B".
rompe para passar o ce­ PDT-DF) “Antes o PT es­
lular, que toca novamen­ tava no governo, agora o
te, para o seu assessor), e do acho que é extremamente ne­ governo está no PT”. Porque
ponto de vista do governo, gativo e por isso frustrante, os os dirigentes todos são ex-mi-
quando o governo terminar os resultados que nós vamos ver nistros: Tarso Genro, ex-minis-
quatro anos. com relação... Que continue tro da Educação, Ricardo
Mas evidentem ente que esse processo de apuração e Berzoini, ex-ministro do Tra­
dois anos e meio já é metade aí nós vamos ver qual vai ser balho, Humberto Costa, ex-
do mandato, não c? Metade do a atitude do governo e do par­ ministro da Saúde, e o Pimen-
mandato já dá para fazer uma tido com relação a isso. Se ti­ tel, que é o único que não é
avaliação, e a minha avaliação ver efetivamente comprovada ministro nessa nova executiva
desse governo, com as decep- a participação de dirigentes que foi formada.
ções que eu lhe falei, por do partido, (vamos ver) se o Então, pode haver, inclusi­
exemplo, do ponto de vista das partido vai ter coragem mes­ ve, um controle maior do go­
privatizações - vamos analisar mo, como disse o Lula, de verno sobre o partido agora,
ponto por ponto. Do ponto de “cortar na própria carne”. Já mesmo fazendo essa faxina éti­
vista das privatizações, talvez teve numa parte, de afastar. ca que está aí... Isso é ruim,
um governo do PSDB tivesse Nós vamos saber se vai re­ eu acho que são instâncias di­
continuado, privatizado o Ban­ almente expulsar... O Tarso ferentes, eu acho que o PT
co do Brasil, Banco do Nor­ Genro (presidente interino tem que ter uma autonomia
..."A primeira foi a dispu­ deste, Caixa Económica Fede­ do PT) anunciou: vai ter uma com relação ao governo. E
ta para governador em ral, P etrobrás, e isso não comissão de ética fazendo a dentro do governo, inclusive,
1990. Eu era o secretário aconteceu no nosso governo, apuração de todos esses fa­ nós escrevemos isso na carta
do PT e a campanha foi embora esteja privatizando os tos envolvendo o Delúbio aos petistas e às petistas. A
bancos estaduais. (Soares, ex-secretá rio de gente dizia: “Dentro do gover­
muito difícil. Ele era mui­
Do ponto de vista da política fin a n ça s do PT), o Silvio no, o PT tem que ser o polo da
to agitado. Era pouco pa­ externa, é uma política indepen­ Pereira (ex-secretário geral esquerda”, e não tem sido isso,
ciente frente aos dilemas", dente, na maioria dos seus atos, do PT), etc. e não tem sido.

122
João Alfredo

Natália - A Coordenação vidos com corrupção. O que foi duas partes: prim eiro, não
dos Movimentos Sociais, que aquela carta, na minha opinião? aceitar um impeachment do
inclui movimentos como a Há uma luta política intensa Lula. O golpe aí, a palavra
Marcha Mundial de Mulhe­ hoje, claro, não vamos desco­ implícita, se chama impea­
res, o MST, etc., lançou no nhecer isso. A direita, a oposi­ chment, seria um golpe cons­
fim de junho uma carta ao ção conservadora, está se titucional, (a prim eira
povo brasileiro em que rea­ aproveitando do episódio para parte é) não aceitar. Mas, por
firm a a sua confiança e tentar destruir o governo, o Lula outro lado, dizendo que o go­
identidade com o projeto de­ como símbolo, o PT como par­ verno tem que mudar, no com­
m ocrático-popular do g o ­ tido, isso é óbvio. Claro que bate à corrupção, no afasta­ Nelson Martins, deputado
verno Lula... está fazendo isso a partir dos mento dos ministros, está lá,
estadual (PT-CE): "H á um
João Alfredo - (Interrom­ erros cometidos pelo governo que estão envolvidos (em su­
momento na história do PT
pendo) Não só diz isso a car­ e pelo partido e pelo Lula, mas postos atos ilícito s), e na
ta. Veja, essa carta afirma que é uma campanha feroz. mudança da política econômi- que acho muito importan­
o governo tem que mudar... O José Dirceu deu a senha: ca, para fazer a Reform a te. Foi quando ele tinha
N atália - (Interrompen­ “É um golpe”. E a partir daí Agrária, para garantir os em­ um mandato de deputa­
do) A política económica. os movimentos se lançaram, pregos, a habitação e tudo do estadual, poderia tran­
João Alfredo - A política vamos dizer, num movimen­ mais. Infelizmente, as pesso­ quilamente ser reeleito e
económica, está lá. Que o go­ to... Os movimentos se lança­ as só leram essa primeira par­
colocou seu nome ó dis­
verno tem que punir os envol­ ram num movimento que tem te, como você leu ag o ra .Q
posição para ser governa­
dor do Estado em 1990...

IM PREN SA U N IVERSITÁRIA D A
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARA
Im p r e s s ã o e A c a b a m e n t o
Av. di UMVtfMd^dt, 2932 (fundot), Btnf.ca
• fone ttí} MK-TUS - Fm: 1J647U4

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