Você está na página 1de 23

N ação e Civilização

nos Trópicos:
o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
e o Projeto de uma História Nacional

,�I,JIloel Luís Salgado Guimarães

o caso brasileiro não escapará. nes­


I
Le sentido, ao modelo europeu - e
pensar a história é uma das isto certamente trará conseqüências
marcas características do sé­ cruciais para o trabalho do historia­
culo XIX, ao longo do qual dor em nosso país -, ainda que des­
são formulados os parâme­ te lado do Atlântico outro será o es­
Lros para um moderno LraLamento do paço da produção historiográfica. Não
tema. O discurso historiográfico ga­ o espaço sujeito à competição acadê­
nha foros de cientificidade num pro­ mica própria das universidades euro­
cesso em que a "disciplina" história péias, mas o espaço da academia de
conquista definitivamente os espaços escolhidos e eleitos a partir de rela­
da universidade.' Neste processo, o ções sociais, nos moldes das acade­
historiador perde o caráter de hom­ mias ilustradas que conheceram seu
mes de lel/res e adquire o estatuto de auge na Europa nos fins do século
pesquisador, de igual entre seus pa­ XVII e no século XVIII. O lugar
res no mundo da produção científi­ privilegiado da produção historiográ­
ca. No palco europeu, onde desde o
fica no Brasil permanecerá até um pe­
inicio do século este desenvolvimento
ríodo bastante avançado do século
é observável, percebe-se claramente
XIX vincado por uma profunda mar­
que o pensar a história articula-se
num quadro mais amplo, no qual a ca elitista, herdeira muito próxima de
discussão da questão nacional ocupa uma tradição iluminista.' E este lugar,
uma posição de destaque. Assim, a ta­ de onde o discurso historiográfico é
refa de disciplinarização da história produzido, para seguirmos as coloca­
guarda íntimas relações com os lemas ções de Michel de Certeau 3, desem­
que permeiam o debate em torno do penhará um papel decisivo na constru­
nacional. Em lermos exemplares, a ção de uma certa historiografia e das
historiografia romântica nos permiti­ visões e interpretações que ela pru­
ria um campo fértil para detectar e porá na discussão da questão nacio­
analisar tais relações. nai.
'j.]7 .
6 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1988/1

Assim, é no bojo do processo de resto da sociedade - que preside o


consolidação do Estado Nacional que pensar a questão da Nação no espaço
se viabiliza um projeto de pensar a brasileiro.
história brasileira de forma sistema­ E aqui tocamos em um ponto que
tizada. A criação, em 1838, do Insti­ nos parece central para a discussão da
tuto Histórico e Geográfico Brasileiro questão nacional no Brasil e do papel
(IHGB) vem apontar em direção à que a escrita da história desempenha
materialização d�ste empreendimento, neste processo: trata-se de precisar
que mantém profundas relações com com clareza como esta historiografia
a proposta ideológica em curso. Uma
definirá a Nação brasileira, dando-Ihe
vez implantado o Estado Nacional,
uma identidade própria capaz de atuar
impunha-se como tarefa o delinea­
mento de um perfil para a " Nação tanto externa quanto internamente.
brasileira", capaz de lhe garantir uma No movimento de definir-se o Brasil,
identidade própria no conjunto mais define-se também o "outro" em rela­
amplo das " Nações", de acordo com ção a esse Brasil. Num processo muito
os novos princípios organizadores da próprio ao caso hrasileiro, a constru­
vida social do século XIX. Entretan­ ção da idéia de Nação não se assenta
to, a gestação de 11m projeto nacional sobre uma oposição à antiga metrópole
para uma sociedade marcada pelo tra­ porlullUesa; muito ao contrário, a
balho escravo e pela existência de po­ nova Nação brasileira se reconhece
pulações indígenas envolvia dificul­ enquanto continuadora de uma certa
dades específicas, para as quais já tarefa civilizadora iniciada pela colo­
alertava José Bonifácio em 1 8 1 3: nização portuguesa. Nação, Estado e
Coroa aparecem enquanto uma uni­
" .. . amalgamação muito difícil dade no interior da discussão historio­
será a liga de tanto metal hetero­ gráfica relativa ao problema nacional.
gêneo. como brancos, mulatos, Quadro bastante diverso, portanto, do
pretos livres e escravos, índios exemplo europeu, em que Nação e
etc. etc. etc., em um corpo sólido Estado são pensados em esferas dis­
e político".' tintas.
E Francisco Adolfo Varnhagen que,
E, portanto, à tarefa de pensar o em carta ao imperador dom Pedro li,
Brasil segundo os postulados próprios explicitaria os fundamentos definido­
de uma história comprometida com o res da identidade nacional brasileira
desvendamento do processo de gênese enquanto herança da colonização eu­
da Nação que se entregam os letrados ropéia. Diz ele a propósito do posicio­
reunidos em tomo do IHGB. A fisio­ namento de sua obra Hist6ria geral
nomia esboçada para a Nação bra­ do Brasil frente à discussão do proble­
sileira e que a historiografia do lHGB ma nacional:
cuidará de reforçar visa a produzir
uma homogeneização da visão de Bra­ " Em geral busquei inspirações de
sil no interior das elites hrasileiras. E patriotismo sem ser no ódio a por­
de novo uma certa postura iluminista tugueses, ou à estrangeira Europa,
- O esclarecimento, em primeiro lu­ que nos beneficia com ilustração;
gar, daqueles que ocupam o topo da tratei de pôr um dique à tanta de­
pirâmide social, que por sua vez en­ clamação e servilismo à democra­
carregar-se-ão do esclarecimento do cia; e procurei ir disciplinando
NAÇÃO E CIVILIZAÇÃO NOS TRÓPICOS 7

produtivameme certas idéias sol­ parentesco para caracterizar as rela­


las de nacionalidade . . . • • ções entre o Brasil e a antiga metrÓ­
pole.' Por outro lado, esta definição
Coma afirmamos anterÍonnente, é d o nacional brasileiro em oposição às
no mesmo movimento de definição da repúblicas do continente trouxe con­
Nação brasileira que se eSlá deCinin­ seqüências políticas visíveis, por
do também o ·outro· em relação a exemplo, na formulação da política
ela. Movimento de dupla face, tanto externa do Segundo Reinado e nos
para dent.ro quanto para fora. Cabe­ desdobramentos futuros da história
nos, aqui, perguntar quem é deCinido da região.
co.mo o. "outro" desta Nação, seja Da
� sobre o pano de fundo mais am­
plano interno, seja no plano externo.
plo desta discussão que o 1HGB enca­
Ao definir a Nação brasileira en­ minhará suas reflexões acerca do Bra-
-
quanto representante da idéia de civi­ sil, realizando a tarefa de sistematizar
lização no Novo Mundo, esta mesma uma produção historiográCica capaz
historiograCia estará deCinindo aqueles de contribuir para o desenho dos con­
que internamente Cicarão excluídos tornos que se quer deCinir para a Na­
deste projeto por não serem portado­ ção brasileira.
res da noção de civilização: índios e
negros. O conceito de Nação operado
ti
é eminentemente restrito aos brancos,
sem ter, portanto, aquela abrangência Ao reconstruirmos os passos que le­
a que o conceito se propunha no es­ varam à fundação do lHGB em 1838,
paço europeu. Construída no campo interessa-nos recolocá-lo na tessitura
limitado da academia de letrados, a social que permite entender a criação
Nação brasileira traz consigo forte de uma instituição cultural nos moldes
marca excludente, carregada de ima­ de uma academia, como aquelas pró­
gens depreciativas do ·outro·, cujo prias do iluminismo 7, tendo contudo
poder de reprodução e ação extrapola como projeto o traçar a gênese da na­
o momento histórico preciso de sua cionalidade brasileira - preocupação
construção. particular à historiografia do século
Na medida em que Estado, Monar­ XIX. Curiosa permanência a se obser­
quia e Nação conCiguram uma totali­ var ao longo da história brasileira essa
dade para a discussão do problema tentativa de integrar o "velho" e o
"'novo", de forma a que as rupturas
nacional brasileiro, externamente de­
sejam evitadas. Herdeiro de uma tra­
Cine-se o ·outro· desta Nação a par­
d.ição marcadamente iluminista e vi­
lir do critério político das diferenças
venciado como tal por seus mem­
quanto às formas de organização do
bros ., o instituto propõe-se a levar a
Estado. Assim, os grandes inimigos
cabo um projeto dos novos tempos,
externos do Brasil serão as repúblicas
cuja marca é a soberania do princípio
latino-americanas, corporilicando a
nacional enquanto critério fundamen­
forma republicana de governo, ao
tal deCinidor de uma identidade social.
mesmo tempo, a representação da bar­
Mas como conciliar o ideal iluminista
bárie. supranacional da república das letras
Assegurava-se desta forma .a pos­ com a necessidade de fundamentar
sibilidade de continuidade com Portu­ historicamente um projeto nacional,
gal e da construção das metáforas de construindo seus mitos e representa-
8 ESTUDOS H ISTÓRICOS - 1988/ I

ções, porém dando-lhes um estalulO 1838, e que vem a ser aprovada em


de objetividade e evidência fundados assembléia geral a 19 de outubro do
na própria história? mesmo ano. A instalação definitiva
A leitura da história empreendida do IHOB se dá a 21 de outubro de
pelo IHOB está, assim, marcada por 1838, ocupando provisoriamente as
instalações cedidas pela Sociedade Au­
um duplo projeto: dar conta de uma
xiliadora.
gênese da Nação brasileira, inserin­
do-a contudo numa tradição de civili­ Em 25 de novembro do mesmo ano,
zação e progresso, idéias tão car�s ao 'anuário da Cunha Barbosa, na quali­
i1uminismo_ A Nação, cujo retrato o dade de primeiro-secretário do IHGB.
instituto se propõe traçar, deve, por­ apresenta em discurso de caráter pro­
tanto. surgir como o desdobramento, gramático os estatutos da recém-criada
nos trópicos, de uma civilização bran­ instituição. então aprovados 11 que de­
t

ca e européia_ Tarefa sem dúvida a finem duas diretrizes centrais para o


exigir esforços imensos, devido à rea­ desenvolvimento dos trabalhos: a co­
lidade social brasileira, muito diversa leta e publicação de documentos rele­
daquela que se tem como modelo_ vantes para a história do Brasil e o
A idéia de criação de um instituto incentivo, ao ensino público, de estu­
histórico é veiculada no interior da dos de natureza histórica. Estes pri­
Sociedade Auxiliadora da Indústria meiros estatutos estabelecem também
Nacional (SAIN), criada em 1827 com as pretensões do IHGB em manter re­
a marca do esprrito iluminista presen­ lações com instituições congêneres,
quer naCionaiS, quer lOternaCIOn8lS, e
• • • • •

le em instituições semelhantes que bro­


taram no continente europeu durante em constituir-se numa central, na capi�
os séculos XVII e XVI li, e que se tal do Império, que, incentivando a
propunha a incentivar o progresso e criação de institutos históricos provin�
desenvolvimento brasileiros_' Da mes­ ciais, canalizasse de volta para O Rio
m. forma que aquelas sociedades eu­ de Janeiro as informações sobre as
ropéias que, segundo a análise de diferentes regiões do Brasil. As seme­
IM HOFIO, devem ser vistas como lhanças com o modelo francês parecem
parte do processo de centralização do bastante evidentes: da mesma forma
Estado, e portanto com funções de que as academias literárias e científi�
poder muito específicas, também a cas provinciais francesas do século
SAIN e posteriormente o IHGB pen­ XVIII articulavam-se na teia mais
sam em projetos de natureza global, ampla do processo de centralização le­
de forma a integrar as diferentes re­ vado a cabo pelo Estado, sediado em
giões do Brasil, ou melhor, de forma a Paris, do Rio de Janeiro as luzes de­
viabilizar efetivamente a existência de �eriam expandir�se para as provincias.
uma totalidade' Brasil". Integrando-as ao projeto de centrali­
zação do Estado e criando os supor­
No interior da SAIN são o militar
tes necessários para a construção da
Raimundo José da Cunha Matos, na
. Nação brasileira.1!
ocaSI30 seu pnmeuo-secretano, c o cô-
. - . .. .

n' Embora criado por iniciativa da Sa­


:.
If80 empreender os primeiros passos ciedade Auxiliadora da Indústria Na­
no sentido da viabilização de um ins­ cional, o Instituto Histórico organi­
tituto histórico, através de proposta za�se administrativamente indepen·
que apresentam ao conselho da Socie­ dente daquela instituição. Os estatutos
dade Auxiliadora em 18 de agosto de deCinem um número de cinqüenla
NAÇÃO E CIVILIZAÇÃO NOS TRÓPICOS 9

membros ordinários (25 na Seção de o recrutamento, segundo as nor­


História e 25 na Seção de Geografia), mas estabelecidas peJos primeiros es­
um número ilimitado de sócios cor­ tatutos, dava-se fundamentaJmente
respondentes nacionais e estrangeiros. pela via das relações sociais, sem que
além de sócios de honra. Já por oca­ o candidato tivesse que provar -
sião da sua reunião de constituição, a como os estatutos de 1851 definiram
1.0 de dezembro de 1938, o Instituto - uma produção intelectual na área
Histórico colocava-se sob a proteção de atuação e do instituto. Deste modo.
do imperador, proteção esta que terá um outro elemento importante se agre­
como expressão uma ajuda financei· ga à fisionomia do IHGB, confor­
ra, que a cada ano significará uma mando o tipo de produção historio­
parcela maior do orçamento da insti­ gráfica e - mais do que isso - o
tuição. Cinco anos após a sua funda­ próprio retrato da Nação em pro­
ção, as verbas do Estado Imperial já cesso de esboço. Marcada pelos cri­
representavam 75% do orçamento do térios que presidem e organizam um
IHGB, porcentagem que tendeu a se tipo de sociabilização própria de uma
manter constante ao longo do século sociedade de corte", esta produção
XIX. Tendo em vista que, para a rea­ historiográfica escapa, assim, às re­
lização de seus projetos especiais, tais gras e injunçães específicas do mundo
como viagens exploratórias, pesquisas acadêmico, cujo critério de recruta­
e coJetas de material em arquivos es­ mento básico apóia-se no domínio de
trangeiros, o IHGB se via obrigado a um certo saber específico. Enquanto
recorrer ao Estado com o pedido de na Europa o processo de escrita e dis­
verbas extras, pode-se avaliar como ciplinarização da história estava-se
decisiva a ajuda do Estado para sua eCetuando fundamentalmente no espa­
existência material. ço universitário, entre nós esta tareCa
ficará ainda zelosamente preservada
Tais injunções têm de ser neces­
dentro dos muros da academia de tipo
sariamente pesadas quando se pensa
ilustrado, de acesso restrito, regula­
o Instituto Histórico e Geográfico
mentado por critérios que passam ne­
Brasileiro enquanto produtor de uma
cessariamente pela teia das relações
certa historiografia, cujos limites são
sociais e pessoais. Como traços maT­
dados pelo lugar onde ela é produzi­ cantes desta história nacional em cons­
da, lugar este que traz as marcas e as trução, teremos o papel do Estado
fronteiras do Estado Nacional. Numa Nacional como O eixo central a par­
perspectiva inaugurada pelos traba­
tir do qual se lê a história do Brasil,
lhos de Foucault, pode-se pensar que
produzida nos círculos restritos da
este saber articulado pelo IHGB, ao
elite letrada imperial.
produzir uma certa individualidade­
Um exame da lista dos 27 Cunda­
Brasil, marca-a de sinais específicos e
dores do IHGB nos fornece uma amos­
particuJares, historicamente datáveis.
tra significativa do perfil do inte­
IÕ interessante observar a este respei­
to a preocupação de alguns de seus lectual atuante naquela instituição. A
mais destacados membros em não de­ maioria deles desempenha funções no
finir a instituição como oficial, mas aparelho de Estado, sejam aqueles
fundamentalmente como uma institui­ que seguem a carreira da magistratu­
ção científico-cultural, e por isso mes­ ra, após os estudos jurídicos, sejam os
mo neutra em relação a disputas de militares e burocratas que, mesmo sem
natureza política-partidária." os estudos universitários. profissiona-
10 ESTUDOS HISTÓRICOS -- 1988/1

lizavam-se e percorriam urna carreira nova começo para a vida da entidade


na média burocracia. Parte significati­ e marcam nitidamente um aprofunda­
va destes 27 fundadores pertencia a mento de suas relações com o Estado
uma geração nascida ainda em Portu­ Imperial. A partir daquela data, o im­
gal, vinda para o Brasil na esteira das perador, cuja presença nos trabalhos
transformações produzidas na Euro­ do IHGB limitava-se até aquele mo­
pa em virtude da invasão napoleônica mento às reuniões anuais comemorati­
à Península Ibérica. Tal experiência vas de sua fundação, passa a ter uma
marcará certamente a socialização des­ presença assídua e participante, con­
ta geração, criada nos princípios de tribuindo desta forma para a constru­
recusa ao ideário e práticas da Revo­ ção da imagem de um monarca es­
lução Francesa e de fidelidade à casa clarecido e amigo das letras. Sua
reinante de Bragança. Se tomarmos o intervenção se faz sentir na sugestão
critério da origem social desses fun­ de temas para discussão e reflexão
dadores do IHGB, podemos constatar dos membros, no estabelecimento de
fenômeno semelbante ao já estudado prêmios para trabalbos de natureza
por José Murilo de Carvalho 15 em científica e no apoio financeiro que
seu trabalbo acerca da elite política assegura o processo de expansão da
imperial. A diversidade de origem so­ instituição. A data de 15 de dezem­
cial -- o que nos leva a 'questioná-la bro passou a ser anualmente comemo­
como critério único definidor de uma rada como aniversário do IHGB, ao
prática tanto política quanto inte­ invés da data inicial de fundação,
lectual -- é, contudo, nivelada por marcando desta forma simbolicamente
um processo de educação segundo a o sentido assumido por suas novas
tradição jurídica de Coimbra, seguida instalações materiais. Paralelamente,
o instituto passa a dar prioridade à
de treinamento e carreira no apare­
lbo de Estado. II a partir desta produção de trabalhos inéditos nos
perspectiva que a leitura da histó,ia campos da história, da geografia e da
etnologia, relegando a segundo plano
brasileira será encaminhada pelo Ins­
a tarefa até então prioritária de coleta
tituto Histórico e Geográfico Brasi­
e armazenamento de documentos. Os
leiro.
critérios de admissão, ainda que não
Se uma inter-relação entre Estado e deixassem de considerar as relações
produção do discurso historiográfico SOCiaIS e pessoaiS, passaram 11 se pau-
• • •

no Brasil no século XIX já se fazia tar por parâmetros mais objetivos, li­
sentir desde a fundação do IHGB, tal gados ao trabalho em uma das áreas
dinâmica tenderá a assumir formas de atuação do instituto.
mais claras e diretas a partir de O discurso pronunciado pelo impe­
1849-50, coincidindo com a estabili­ rador quando da inauguração das
zação do poder central monárquico e novas instalações no Paço Imperial é
de seu projeto político centralizador. carregado de sentido programático,
Escrever a história brasileira enquan­ marcando a maior aproximação entre
to palco de atuação de um Estado ilu­ os intelectuais -- empenhados na ta­
minado, esclarecido e civilizador, eis refa de escrita da história nacional -­

o empenho para o qual se concen­ o Estado e a Monarquia. Tradição por­


tram os esforços do Instituto Histó­ tuguesa, mantida deste lado do Atlân­
rico. A inauguração, a 15 de dezem­ tico, de intensas relações entre o Es­
bro de 1849. de suas novas instalações, tado e o intelectual: são os cargos pú­
no Paço da Cidade, simbolizam um blicos e as bolsas concedidas pelo pró-
NAÇÃO E CIVILIZAÇÃO NOS TRÓPICOS I I

prio imperador que freqüenlemente cesso de alargamento, consolidação e


viabilizam materialmente o trabalho profissionalização do IHGB. A pers­
intelectual. pectiva de englobar na instituição es­
Assim expressava-se o monarca tudos de natureza etnográfica, arqueo­
em seu discurso de 15 de dezembro lógica e relativos às línguas dos indí­
de 1849, ao inaugurar as novas ins­ genas brasileiros pode ser explicada
talações do IHGB: a partir da própria concepção de es­
crita da história partilhada pelos in­
"Sem dúvida, Senhores, que a telectuais que a integravam. Presos
vossa publicação trimestral tem ainda à concepção berdada do ilumi­
prestado valiosos serviços, mos­ nismo, de tratar a história enquanto
trando ao velho mundo o apreço, um processo linear e marcado pela
que tamhém no novo merecem noção de progresso, nossos historiado­
as aplicações da inteligência; mas res do lHGB empenhavam-se na tare­
para que esse alvo se atinja perfei­ fa de explicitar para o caso brasileiro
tamente, é de mister que não só essa linha evolutiva, pressupondo cer­
reunais os trahalhos das gerações tamente o momento que definiam
passadas, ao que vos tendes dedi­ como o coroamento do processo. Nes­
cado quase que unicamente, como te sentido, lançar mão dos conheci­
também, pelos vossos próprios, mentos arqueológicos, lingüísticos e
torneis aquela a que pertenço etnográficos seria a forma de se ter
digna realmente dos elogios da acesso a urna cultura estranha - a
posteridade: não dividi pois as vos­ dos indígenas existentes no territó­
sas forças, o amor da ciência é rio -, cuja inferioridade em relação
exclusivo, e concorrendo todos à "civilização branca" poderia ser,
através de uma argumentação cientí­
unidos para tão nobre, útil, e já
fica, como pretendiam, explicitada.
d.iIícil empresa, erijamos assim um
Por outro lado, este mesmo instru­
padrão de glória à civilização da
nossa pátria.' ( .. . ) mental capacitaria o investigador da
história brasileira a recuperar a ca­
"Congratulando-me desde já con­ deia civilizadora, demonstrando a ine­
vosco pelas felizes conseqüências
vitabilidade da presença branca como
do empenho, que contraís, reunin­
forma de assegurar a plena civili-
do-vos em meu palácio, recomendo -
zaçao.
ao vosso presidente que me infor­
me sempre da marcha das comis- Será, portanto, em torno da temá­
- .
soes, aSStnl como me apresente, tica indígena que, no interior do
quando lhe ordenar, uma lista, que IHGB, e também fora dele, travar-se-á
espero será a geral, dos sócios que um acirrado debate em que literatura,
bem cumprem com os seus deve­ de um lado, e história, de outro,
res; comprazendo--m e aliás em ve­ argumentarão sobre a viabilidade da
rificar por mim próprio os vossos nacionalidade brasileira estar repre­
esforços todas às vezes que tiver a sentada pelo indígena. Enquanto Var­
satisfação de tomar parte em vos­ nhagen, em carta dirigida ao impera­
sas lucubrações. · lO dor com data de 18 de julho de

As mudanças em curso se materia·


185218 a propósito do indianismo de
Gonçalves Dias o adverte para "não
I
lizaram nos novos estatutos promul­ deixar para mais tarde a solução de
gados em 1851 ", espelhando o pro- uma questão importante acerca da
12 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1988/1

qual convém muito ao país e ao trono des lois qui onl servi la cause de
que a opinião se não extravie, com I'humanité, quel esl le caraclere
idéias que acabam por ser subversi­ de celles qui en onl combaltu le
vas" 19, a literatura veicula a imagem progres ., 21
.

do indígena como portador da "brasi­


Em suma: com a história é possível
Iidade"
aprender de forma a não se compro­
_

Os estatutos de 185 1 deixam ainda meter a marcha do progresso social.


mais visíveis as relações entre a insti­ História vista segundo sua instrumen­
tuição e a monarquia: se até então a talidade para a compreensão do pre­
agremiação estivera sob a proteção da sente e encaminhamento do futuro,
Sociedade Auxiliadora da Indústria princípios tão caros também àqueles
Nacional, os novos estatutos definem que no Brasil se lançaram à tarefa de
diretamente o imperador como seu escrever uma história nacional.
novo protetor." A vitaliciedade dos
) á no início do empreendimento
cargos de presidente e primeiro-secre­
tário - os dois mais importantes - intelectual parisiense encontram-se ou­
é extinta, embora, na prática, os tms brasileiros, cuja atuação no futu­
ro IHOB, e de forma mais ampla na
ocupantes de cargos no instituto sejam
vida intelectual brasileira do século
a cada nova eleição confirmados em
suas funções. XIX, foi central: Manuel de Araújo
Porto Alegre, ardoroso defensor das
Já nos referimos a que tradição o estreitas relações entre monarquia e
Instituto Histórico pode ser vincula­ intelectuais ", Domingos José Gonçal­
do, não só em termos de sua con­ ves de Magalhães e Francisco Sales
cepção historiográfica, como também Torres Homem. Os três editaram a re­
em termos da forma específica de so­ vista científico-literária Nicleroy, aber­
cialidade que ele representa, parti­ ta a uma temática variada, e integra­
cular às sociedades estamentais. Cabe ram o Institut Historique de Paris
aqui, entretanto, apontar uma herança entre os 46 membros brasileiros arro­
mais próxima, oriunda do espaço in­ lados por Maria Alice de Oliveira Fa­
telectual francês. mais especificamente ria para o período de 1834-1850 23,
do Institut Hisrorique de Paris, fun­ dos quais 26 também faziam parte do
dado em 1834, que manterá com o IHOB. Os contatos entre as duas
LHOB durante seus primeiros anos de instituições estendiam-se ainda à troca
vida um intenso contato. A leitura dos de publicações e correspondência, e à
princípios norteadores do trabalho da abertura de espaço na revista do ins­
instituição francesa, escritos em 1834 tituto parisiense para tratamento de te­
por CasimirBroussais, nos permite en­ mas e veiculação de notícias relativas
trever semelhanças entre as duas ins­ ao Brasil.
tituições no que conceme ao traba­ O caráter que � agremiação fran­
lho historiográfico e à visão de cesa deveria desempenhar enquanto
história: instância legitimadora do trabalho da­
queles comprometidos com o projeto
"Le besoin de I'hisloire nous pour­ do Instituto Histórico deve ser tam­
suil parloul el à loul momenl. bém apontado para um melhor enten­
Voulons - nous faire des lois? dimento da intensidade das relações
Sachons d'abord quelles sonl celles estabelecidas entre as duas institui­
qui manquenl, el démandons à ções no período inicial de vida do
I'hisloire quel esl le caraclere IHOB. Na verdade, relações que ga-
NAÇÃO E CIVILIZAÇÃO NOS TRÓPICOS I)

nham sentido se remetidas ao quadro gráfico ao IHGB, e instância legitima­


mais amplo em que a França e o seu dora, cuja ch.ncela poderia dar um
p.pel "civilizador" fornecem os mo­ peso relevante e destaque a uma his­
delos da vida social e do trab.lho in­ tória nacional em construção, como a
telectu.l. Construir • im.gem de um brasileir•. As implicações de n.tureza
Br.sil como frente .v.nç.d. da civili­ política imbricad.s neste projeto pare­
z.ção francesa nos trópicos é, sem dú­ cem-nos também clar.s e não menos
vid., o projeto subjacente ao intenso significativas; .rticulada ao projeto de
cont.to que as duas instituições irão construção da Nação, a escrita da his­
incentivar. Debret, ao falar .os mem­ tória nacional tem assim os seus des­
bros do instituto francês sobre sua ex­ tinatários, não apenas no plano inter­
periência brasileira, assim se expres­ no, como também no externo. E é
s.va com rel.ção ao império: nessas duas frentes que ela se cons­
trói.
"La mode, cette magicienne Iran­
Embora não cl.ramente explicit.do
çaise, a de bonne heure lail ir­
nos primeiros est.tutos do IHO B, o
ruplion au Brésil. L'empire de
objetivo de escrever um. história do
D. Pedro esl devenu un des ses Brasil esteve sempre presente. O ins­
plus brillans domaines: là elle tituto seria, n.s p.lavras de Januário
régne en despole, ses caprices sonl
da Cunha Barbosa, a luz a retirar a
des lois: dans les villes, loilelles,
história brasileira de seu escuro
répas, danse, musique, spelaeles, caos 28, superando uma época percebi­
loul esl calquê sur I'exemple de
da e vivida como necessitada de "Luz
Paris, el, sous ce rapporl comme
e Ordem". O uso desta curiosa metá­
SOllS quelques aulres, cerlains dê­
fora nos discursos do IHGB indica
parlemenls de la France so1l1 en­
tradições intelectuais muito precisas e
p
core bien en arriere des rovinces
aponta no sentido da definição de uma
du Brésil." (... ) "Tel esl au re­
sumé, le peuple qui a parcollru en
identid.de, t.ref. para a qual estava
Irois sieeles loules les pilases de
reserv.do um p.pel centr.1 e diretor
la civilisation européetJne et qui, à instituição. Tratav.-se de desvendar
inslruil par nos leçons, naus ollri­ o "nosso verdadeiro caráter nacio­
ra bienlôl peul-êlre des rivaux n.l" ", e para este fim o IHGB de­
dignes de naus, comme I'Américan veria realizar a sua parte.
du Nord lui en ollre dans ce mo­ J:. preciso lembrar que t.mbém os
ment à lui-ntême. � 24 políticos comprometidos com o pro­
cesso de consolidaçao da mon.rquia
Quando da fundação do IHGB, Ja­ constitucional e do Estado centrali­
nuário da Cunha Barbosa explicitaria zado partilhavam desta percepção da
de forma clar. '0 l nstitut Historique necessidade de uma "ordem" que se
de Paris a influênci. que a instituição contrapusesse, no caso, ao "caos" das
parisiense pode ri. exercer sobre a bra­ repúblicas vizinhas. Portanto, nada
sileir.... Guardadas as especificidades havia de estranho no fato de que
históricas de cada um., próprias da aqueles diretamente comprometidos
n.tureza da discussão da "questão na­ com o projeto do IHGB definissem
cional" em seus respectivos espaços para a instituição o papel de única
de origem, podemos pensar o Institut e legítima instância para escrever a
Historique de Paris como fornecedor história do Brasil e para trazer à luz
dos parâmetros de trabalho historio- o verdadeiro c.ráter da Nação brasi-
14 ESTUDOS H ISTÓRICOS - 1988/1

leira. Pode-se mesmo pensar no Ins­ cional, resultado final, para que
tituto Histórico como o [oeus privile­ devem convergir todos os seus tra­
giado, naquele momento, a partir de balhos.· .s
onde se " fala" sobre o Brasil. Mais
interessante é, contudo, a constatação A história é, assim, o meio indis­
de que esse papel é legitimado no in­ pensável para forjar a nacionalidade.
terior da elite letrada imperial, o que Já pela adjetivação presente em seu
contribuirá para uma progressiva difu­ nome Histórico e Geográfico, fica
são e homogeneização do "projeto na­ claro o projeto da instituição de tra­
cional" no seio deste grupo social. As­ balhar com o instrumentário da his­
sim se expressava o jornal Minerva tória e da geografia. Na verdade, ca­
Brasiliense em sua edição de novem­ da uma dessas matérias forneceria os
bro de 1843: dados imprescindíveis para a defini­
ção do quadro nacional em vias de
"Estranhas umas às outras, falta eshoço; história e geografia enquanto
às nossas províncias a força do dois momentos de um mesmo pro­
laço moral, o nexo da nacionali­ cess �, ao final do qual o quadrp da
dade espontânea que poderia Naçao, na sua integralidade, em seus
prender estreitameDte os habitado­ aspectos físicos e sociais, estaria deli­
res desta imensa peça, que a natu­ neado.
reza abarcou com os dois maic:r Ao longo deste artigo já nos refe­
res rios do universo. A história do rimos diversas vezes à presença da
país ou depositada em antigos e tradição historiográfica iluminista Da
fastidiosos volumes e geralmente cCDcepção de história do IHGB ,.,
ignorada, ou escrita até certo pon­ tanto pelo tratamento linear dado ao
to por mãos menos aptas, por es­ desenvolvimento da história, quanto
trangeiros que, como Beauchamp, por sua instrumentalização como
trataram só de compor um roman­ " mestra d � vi �a". e a tradição par­
.
ce, que excitasse a curiosidade de ttcular do Ilummismo português, mar­
seus leitores na Europa, não pode ca?am �nte católico e conservador, que
despertar no espírito de Dossa ju­ deIxara suas marcas na geração fun­
ventude o nobre sentimento de dadora do Instituto Histórico. Já o
amor de pátria, que torna o cida­ número de laDçamento da "Revista do
dão capaz dos maiores sacrifícios, IHGB traz à luz um artigo do pri­
e o eleva acima dos cálculos mes­ meiro presidente da instituição, José
quinhos do interesse individual." Feliciano Fernandes Pinheiro, viscon­
( .). .
de de São Leopoldo, definindo-a como
presa à tradição iluminista, retoman­
" Uma história geral e completa do
Brasil resta a compor, e se até do lima linha de continuidade em re­
aqui nem nos era permitido a es­ lação ao século XVIII e às academias
perança de que tão cedo fosse iluministas criadas no Brasil àquela
satisfeito este desideratum, hoje altura.'· O mesmo artigo explicita ain­
assim não acontece, depois da fun­ da com clareza o papel reservado ao
dação do Instituto Histórico, cujas Brasil como Nação no quadro geral
• •

.mportanttss.mas pesqUIsas na
• •
das Nações em formação, papel este
nosso passado deixam esperar, que estará subjacente à leitura da his­
que esta ilustre corporação se dê tória hrasileira a ser empreendida
à tarefa de escrever a história na- pelo IHGB.
NAÇÃO E CIVILIZAÇÃO NOS TRÓPICOS 15

" . . . tudo enfim pressagia que o seguir, os escolhos que deve evi·
Brasil é destinado a ser, não aci­ tar, e o seguro porto, a que uma
dentalmente, mas de necessidade, sólida manobra pode Celizmente
11m centro de luzes e de civiliza­ Cazer chegar a nau do Estado. · ,.
ção, e o árbitro da política do
Novo Mundo· .'1 Outra não era aliás a prática de mui­
tos daqueles intelectuais que irão se
Herdeiro de uma concepção antiga ocupar do trabalho historiográfico no
de história, lança-se o Instituto His­ Brasil, como por exemplo Varnhagen,
tórico à tarefa de escrever a gênese que não se furtava a prestar consultas
da Nação brasileira, preocupação, e a elaborar pareceres para órgãos do
neste sentido, moderna da historia­ Estado Imperial, na qualidade de his­
grafia européia do século XIX. Mo­ toriador. O conhecimento da hist6ria
mento mesmo de passagem, esta histo­ adquiriu um sentido garantidor e le­
riografia abriga aspectos de uma vi­ gitimador para decisões de natureza
são antiga e de uma visão moderna política, mormente aquelas ligadas às
de se pensar a história. Utilizando-se questões de limites e fronteiras, vale
categorias próprias da história ilumi­ dizer, aquelas ligadas à identidade e
nista, vai-se tentar dar conta da espe­ singularidade física da Nação em
cificidade nacional brasileira em ter­ construção. O domínio de um saber
mos da sua identidade e do papel que específico parece neste caso estar in­
lhe caberá no conjunto de Nações. timamente ligado à viabilização de 11m
Projeto não só ideológico, mas tam­ certo poder em vias de definição.
bém político, este encaminhado pelo A Revista do IHGB, penetrada da
IHGB na sua tarefa de contribuir concepção exemplar da história, abre
para a construção da Nação brasi­ uma rubrica em seu interior dedica­
leira. Da história, enquanto palco de da às biografias, capazes de Cornece­
experiências passadas, poderiam ser rem exemplos às gerações vindouras,
filtrados exemplos e modelos para o contribuindo desta forma também pa­
presente e o futuro, e sobre ela d... ra a construção da galeria dos heróis
veriam os políticos se debruça;' como nacionais. Mas não é apenas uma vi­
forma de melhor desempenharem suas são pragmática e exemplar da histó­
Cunções. A história é percebida, por­ ria que se abriga no projeto historio­
tanto, enquanto marcha linear e pro­ gráfico do IHGB. A concepção de
gressiva que articula futuro, presente história partilhada pela instituição
e passado; só partilhando uma tal guarda um nítido sentido teleol6gico,
concepção, como nos indica Kosel­ conferindo ao historiador, através de
leck ", pode-se pretender aprender seu oCício, um papel central na con­
com a história, dando-Ihe um caráter dução dos rumos deste fim último da
pragmático. Já no segundo número da história. A este respeito exprimia-se
Revista, J anuário da Cunha Barbosa a Revista em seu número de abril a
afirmava a importância da história junho de 1847:
para o homem de Estado;

" Deve o historiador, se não qui­


"A História, tornando-Ihe presen­ ser que sobre ele carregue grave e
te a experiência dos séculos pas­ dolorosa responsabilidade, pôr a
sados, ministra-lhe conselhos tão mira em satisfazer aos fins políti­
seguros como desinteressados, que cos e moral da hist6ria. Com os
lhe aclaram os caminhos que deve sucessos do passado ensinara à ge-
16 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1988/1

ração presente em que consiste a bosa de transformar O IHOB numa


sua verdadeira felicidade, cha­ central de dados de natureza estatís­
mando-a a um nexo comum. inspi· tica, levantados nas diferentes provín­
rando-Ihe o mais nobre patrio . tis­ cias. Concebido de forma ampla, o
mo, o amor às instituições mo­ projeto de história nacional deveria
nárquico-constitucionais, o senti­ dar conta da totalidade, construindo
mento religioso, e a inclinação aos a Nação em sua diversidade e multi­
bons costumes." 34 plicidade de aspectos.
Os primeiros passos concretizados
A leitura da história enquanto legi­ no sentido da elaboração de uma his­
timação do presente, carregada, por­ tória do Brasil, que viria a ser pu­
tanto, de sentido político, é sem dú­ blicada anos mais tarde por um ho­
vida um aspecto importante do pro­ mem ligado ao lHOB - Francisco
jeto historiográfico do lHOB. O his­
Adolfo Varnhagen -, são dados por
toriador, na qualidade de esclarecido,
J2nuário da Cunha Barbosa em 1840,
deveria indicar o caminho da felici­
ao definir um prêmio para o traba­
dade e realização aos seus contempo­
râneos: fiéis súditos da monarquia lho que melhor elaborasse um plano
constitucional e da religião católica. para se escrever a história do Brasil.
O texto, premiado em 1847, do ale­
Como foi referido anteriormente,
mão von Marlius, cientista ocupado
este aspecto politico do projeto his­
toriográfico pode ser vislumbrado já das coisas brasileiras, já fora publica­
quando do desenho de um instituto do na Revista em 1844" e se reves­
histórico com sede no Rio de Janeiro, tia de um caráter pragmático, como
a partir do qual seriam criadas insti­ aliás o próprio título sugere. No ar­
tuições semelhantes nas províncias, di­ tigo, von Martius define as linhas
retamente subordinadas aos princípios mestras de um projeto historiográfico
formulados na capital do Império, on­ capaz de garantir uma identidade -
de deve-ser-ia, em última instância, especificidade à Nação em processo
concentrar a soma de conhecimentos de construção. Esta identidade estaria
acumulados sobre o Brasil. Esta con­ assegurada, no seu entender, se o his­
cepção articula-se na verdade ao pro­ toriador fosse capaz de mostrar a mis­
jeto mais amplo de centralização po­ são específica reservada ao Brasil en­
lítica, vitorioso em meados do século quanto Nação: realizar a idéia da
XIX. À idéia de transformar o IHOB mescla das três raças, lançando os ali­
em cenlro autorizado para a produ­ cerces para a construção do nosso
ção de um discurso sobre o Brasil, mito da democracia racial.
articulam-se inúmeras medidas to­
madas no interior da instituição, tais
"Portanto devia ser um ponto ca­
como a sugestão feita em reunião rea­
pital para o historiador reflexivo
lizada em 1842 de transformar sua
biblioteca em depósito central obriga­ mostrar como no desenvolvimen­
tório das obras publicadas no Brasil; to sucessivo doBrasil se acl:am es­
o pedido aos presidentes de província tabelecidas as condições para o
do envio de seus relatórios .nuais, aperfeiçoamento de três raças hu­
interferindo assim na esfera de com­ manas, que nesse país são coloca­
petência do Arquivo Nacional, cria­ das uma ao lado da outra, de
do no mesmo ano de 1838; ou ainda uma maneira desconhecida na his­
o plano de Januário da Cunha Bar- tória antiga . » "
. .
NAÇÃO E CIVILIZAÇÃO NOS TRÓPICOS 17

o texto de von Martius propõe uma dade de atuar sobre o presente e o


forma de tratar cada um dos três gru­ futuro. A Nação como unidade homo­
pos étnicos formadores, a seu ver, da gênea e como resultado de uma in­
nacionalidade brasileira, e inicia va· terpretação orgânica entre as clversas
lorizando os estudos relativos aos in­ províncias, este o quadro a ser dese­
dígenas, com a perspecúva de integrar nhado pelo hisloriador. E quantos não
à história nacional os conhecimentos são os pontos de interseção com o
por eles veiculados. Certamente a atua­ projeto político centralizador em an­
ção do elemento branco, através de damento!
seu papel civilizador, será particular­
mente sublinhada, resgatando espe­ "Por fim devo ainda ajuntar uma
cialmente a importância dos bandei­ observação sobre a posição do his­
raores e das ordens religiosas nesta toriador do Brasil para com a sua
tarefa desbravadora e civil izatória. Em pátria. A história é uma mestra,
seu projeto de leitura da história bra­ não somente do futuro, como tam­
sileira, von Martius curiosamente vai bém do presente. Ele pode difun­
apontando caminhos e destacando as­ dir entre os contemporãneos sen­
pectos que posteriormente encontrarão timentos e pensamentos do mais
eco nas interpretações, por exemplo, nobre patriotismo. Uma obra his­
de um Varnhagen. Do seu ponto de
tórica sobre oBrasi! deve, segundo
vista, o indígena merecia um estudo
a minha opinião, ter igualmente
cuidadoso da história, até mesmo pela
a tendência de despertar e reani­
possibilidade de tais investigações
contribuírem para a produção de mi­ mar em seus leitores brasileiros
tos da nacionalidade - neste ponto o amor da pátria, coragem, constân­
cia, indústria, fidelidade, prudên­
autor toma o exemplo dos mitos so­
cia, em uma palavra, todas as vir­
bre os cavaleiros medievais no es·
tudes cívicas. O Brasil está afeto
paço europeu. O branco, a seu ver, de­
em muitos membros de sua popu­
veria ser alvo de igual interesse por
lação, de idéias políticas imatu­
seu sentido claramente civilizador. O
ras. Ali vemos republicanos de to­
negro obtém pouca atenção de von
das as cores, ldeólogos de todas
Martius, reflexo de uma tendência que
as qualidades. E justamente entre
se solidificaria neste modelo de pro­ estes que se acharão muitas pes­
dução da história nacional: a visão do soas que estudarão com interesse
elemento negro como fator de impe­ uma história de seu país natal;
dimento ao processo de civilização. para eles, pois. deverá ser cal­
E, contudo, ao final do artigo que culado o livro, para convencê-los
a proposta de von Martius de leitura por uma maneira destra da ine­
da história se explicita em seu cará­ xigüidade de seus projetos utópi­
ter político. A premiação outorgada cos. da inconveniência de dis­
ao trabalho expressa a concordãncia cussões licenciosas dos negócios
do lHOB com este projeto, que esta­ públicos "por uma imprensa de­
rá também presente no sentido dado senfreada, e da necessidade de
por Varnhagen à sua obra histórica. uma monarquia em um pais onde
Ou seja: a idéia da história nacional há um tão grande número de es­
como forma de unir, de transmitir um cravos. S6 agora principia o Bra·
conjunto único e articulado de inter­ si! a sentir-se como um Todo
pretações do passado, como possibili- Unido." 3i
18 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1988/1

oexame da correspondência tro­ cia da coleta de fontes em Portugal e


cada entre von Martius e o IHGB nos Espanha, tarefa para a qual, segundo
permite supor que era intenção do ins­ Varnhagen, era necessária a interven­
tituto encarregá-lo de executar o pro­ ção do governo que, " devendo alimen­
jeto historiográfico contido em seu tar o espírito de nacionalidade, deve
trabalho. Von Martius, no entanto, re­ ter presente que são a primeira base
cusa a tarefa. E importante, observar, talvez desta, a história e o conheci­
todavia, que o seu " programa" pJlra a mento do pais natal" ", a preocupa­
história do Brasil será, em linhas ge­ ção com o trabalho de localização de
rais, aquele que se corporificará com fontes no Brasil e no exterior acompa­
a publicação de História nacional, de nhará o percurso do IHGB. Em 1841
Francisco Adolfo Varnhagen. Este as­ é publicado na Revista o artigo de Ro­
sim define em carta ao imperador, já drigo de Souza da Silva Pontes '.
anteriormente citada, o sentido de seu contendo as linhas mestras que deve­
trabalho de historiador: riam orientar o trabalho da institui­
ção na localização de fontes. Interes­
u era para ir assim enfeixan­ sante notar a representatividade da
• . •

do-as / as províncias / todas e documentação passível de ser utiliza­


fazendo bater os corações dos de da por uma história diplomática, as­
urnas províncias em favor dos das sim como o engajamento desses espe­
outras, ínfiltrando a todos nobres cialistas na tarefa de escrita da
sentimentos de patriotismo de na­ história nacional, características com­
ção, único sentimento que é capaz
preensíveis tendo-se em vista o mo­
de desterrar o provincialismo ex­
mento de tentativa de uma defmição
cessivo, do modo que desterra o
nacional especifica para o Brasil, ca­
egoísmo, levando-nos a morrer
paz de apresentá-lo enquanto Nação
pela pátria ou pelo soberano que
personifica seus interesses, sua singular no conjunto de Nações em
honra e sua glória. · ( . . . ) definição.
"Em geral busquei inspirações de Será fundamentalmente através de
patriotismo sem ser no ódio a por­ premiações e concursos que o IHGB e
tugueses, ou à estrangeira Europa, o próprio imperador, pela via do ins­
que nos beneficia com ilustrações; tituto, incentivarão uma produção de
tratei de pôr um dique à tanta de­ natureza historiográfica, entendida,
clamação e servilismo à democra­ bem verdade, num sentido ampliado
cia; e procurei ir disciplinando do que seja o trabalho historiográfi­
co. Domingos José Gonçalves de Ma­
produtivamente certas idéias soltas
galhães, expoente do romantismo li­
de nacionalidade." ••
terário, futuro visconde de Araguaia,
Respaldados nos princípios da mo­ viria a ser premiado pelo trabalho so­
derna historiografia, segundo os quais bre a Balaiada, resultado de observa­
as fontes primárias desempenhariam ções por ele realizadas quando de sua
para o trabalho do historiador um pa­ viagem à província do Maranhão na
pel central, os integrantes do IHGB qualidade de secretário de Governo
discutem os meios de localização de do presidente nomeado para a pro­
fontes imprescindíveis à história do vlncia, Luiz Alves de Lima. A idéia
Brasil. Desde a sugestão inicial vei­ de escrever um trabalho acerca do mo­
culada no interior da instituição, ain­ vimento contra o Estado Imperial jus­
da em 1839, a respeito da importân- tificava-se, segundo seu autor, pelo
NAÇÃO E CIVI LIZAÇÃO NOS TRÓPICOS 19

sentido de "ensinamento" de que organizada pelo cônego baiano Be­


pode se revestir uma d�da experiê� cia nigno José de Carvalho e Cunha. Em
histórica, repetindo assuo o prmclplO petição dirigida ao imperador e data­
tão caro ao IHGB e à sua historio­ da de 7 de novembro de J84J ", em­
grafia da "história como mestra da penha-se -o IHGB pelo projeto do reli­
vida", 41 gioso baiano, ressaltando os aspectos .
Trabalhos voltados para a proble­ culturais do empreendimento, sem
descuidar contudo daqueles de natu­
mática indígena - aliás um tema par­
reza prática: economicamente, a via·
ticularmente tratado nas páginas da re­
bilidade de integração de novas terras
vista do IHGB - obterão também
para o cultivo agrícola e ·a descoberta
premiação '2, numa clara demonstra­
de ev.entuais riquezas minerais; politi­
ção de que a reflexão sobre a "ques­
camente, um tal projeto poderia con­
tão indígena" era parte substancial da
tribuir para que o documento ca­
discussão mais ampla relativa à ques­
racterizava como " interiorização da
tão nacional. Novamente uma pers­
civilização" 45 e reconhecimento das
pectiva pragmática do trabalho inte­
fronteiras ocidentais do Império como
lectual expressa-se nas colaborações
forma de melhor protegê-Ias. Sem es­
premiadas; o prêmio geográfico é con­
quecer, conforme argumentação da pe­
cedido pela primeira vez a Conrado
tição, o fato de que o apoio a uma tal
J acob Niemeyer por sua carta geo­ empresa reforçaria para gerações futu­
gráfica do Império, retrato físico da ras a imagem de um monarca amigo
Nação em construção. U das ciências e letras" .
Coerente com o objetivo a que se Vários são os exemplos de empre­
propôs, de esboçar o quadro na Na­ endimentos de natureza semelhante,
ção, o IHGB incentivará ainda via­ tanto nacionais quanto estrangeiros,
gens e excursões pelo interior do que recebem o apoio do Instituto His­
Brasil, na expectativa de que venha a tórico e seu empenho junto ao Estado .
ser coletado material que subsidie a Na verdade, a diversidade de interes­
escrita da história nacional - par­ ses possíveis de serem atendidos por
ticularmente material referente aos
expedições cientificas desta natureza ,
diversos grupos indígenas - e que
poderiam explicar por que num mo­
possibilite o avanço no caminho da
mento específico de construção de um
identificação do Brasil. Segundo justi­
projeto nacional, tais viagens obtive­
ficava o próprio J anuário âa Cunha
ram apoio de uma instituição cultural
Barbosa, ainda que material relevan­
como o IHGB e, em última análise,
te não fosse apurado, mesmo assim " a
descoberta de terrenos, que podem do próprio Estado, que termina por
ser vantajosos ao Estado, compensará financiá-Ias.'·
de certo os esforços que se fizerem A concessão de prêmios e a organi­
com este fito· ... Quando não a ciên­ zação e o apoio a expedições cientí­
cia e o saber possam delas retirar pro­ ficas nas quais o IHGB se engaja visa­
veito, que pelo menos o Estado delas va à coleta de abundante material e à
usufrua vantagens. Na verdade, 1Ima produção de 11m saber sobre o Brasil,
argumentação recorrente para subli­ capazes de fornecer as bases seguras
nhar a importãncia de tais empreen­ de um projeto de escrita da bistória
dimentos e justificar os financiamen­ nacional, compreendida em seus as­
tos a serem requeridos pelo IHGB ao pectos mais amplos. Muito além do
Estado, como no caso da expedição que apenas os fatos de natureza poli-
20 ESTU DOS H I STÓRICOS - 1988/1

tica, O que esta história pretende re· gional. A classificação por nós empre­
gistrar e memorizar é uma dada ima­ endida visa tão-somente a facilitar a
gem da Nação brasileira em todos os compreensão dos núcleos centrais de
seus contornos. interesse da Revista, obscrvando-se
que em mUltos artIgos os temas se
• •

entrecruzam. particularmente os dois


111
primeiros.48
Foro privilegiado para se rastrear Trabalhos e fonles relativos à ques­
este projeto ambicioso é a revista trio tão indígena ocupam indiscutivelmente
mestral publicada com regularidade o maior espaço da Revista, abordando
pelo lHGB desde sua fundação. Além os diferentes grupos, seus usos, costu­
de registrar as atividades da institui· mes, sua língua, assim como das dife­
ção através de seus relatórios, divul· rentes experiências de catequese
gar cerimônias e atos comemorativos empreendidas e o aproveitamento do
diversos, as páginas da Revista se índio como força de trabalho. Neste
abrem à publicação de fontes primá· último ponto serão freqüentes as re­
rias como forma de preservar a infor­ ferências à escravidão negra, com­
mação nelas contida - aliás, parte parando-se os resultados advindos
substancial de seu conteúdo nos pri· da utilização desses dois tipos de
meiros tempos -, de artigos, biogra· mão-de-obra.
fias e resenhas de obras. Seu papel é
Podemos vislumbrar alguns cami­
destacado pelo primeiro-secretário Joa­
nhos para explicar como esta temá­
quim Manoel de Macedo:
tica encontrou especial ressonância,
não s6 no interior da Revista, como
"Não é um arrojo de orgulho, é
nos meios letrados brasileiros daquela
uma verdade incontestável: a cole­
quadra histórica, na teia de relações
ção de nossas revistas se têm tor­
políticas, econômicas e sociais em que
nado em um cofre precioso, onde tais discussões sobre a questão indíge­
se guardam em depósito tesouros na estavam sendo produzidas. Para os
importantíssimos; e a leitura delas círculos intelectuais, ocupar-se deste
será muitas vezes frutuosa para o tema ganhava sentido exatamente no
ministro, e legislador e o diploma­ momento em que a tarefa de constru­
ta, e em uma palavra para todos ção da N ação colocava-se como prio­
aqueles que não olham com indi­ ritária, envolvendo o processo de in,te­
ferença para as coisas da pá­ gração física do território e a discussão
tria. 47
n relativa às origens da Nação. Signi­
ficava pensar o lugar as populações
Uma análise do conteúdo da Re­ indígenas no projeto em construção,
vista nos revela a incidência de três definindo um sa\ler sobre estes grupos,
temas fundamentais, que chegam a para ser tornado memória, a fixar e
absorver 73% do volume de publi­ transmitir. Os estudos sobre as expe­
cações, quer em termos de fontes, quer riências jesuíticas no trabalho com os
em termos de artigos e trabalhos, o indígenas ganharão prioridade na Re­
que atesta o peso deste complexo te­ vista com o objetivo de valer-se dessa
mático no projeto de escrita da histó- . experiência histórica para a imple­
ria nacional. São eles a problemática mentação de um " processo de civili­
indígena, as viagens e explorações zação· capaz de englobar também as
científicas e o debate da história re- referidas populações.
NAÇÃO E CIVILIZAÇÃO NOS TRÓPICOS 21

As reflexões contidas no já citado histórica fornecendo exemplos e lições


,rabalho de von Martius " relativo à - para justificar uma maior partici­
forma de tratar a questão indígena, pação do Estado neste empreendimen­
assim como em um artigo de Varnha­ to. IÔ de se compreender que, num
gen 50, que viria a se posicionar radi­ momento de estruturação do Estado
calmente contra o projeto do rO­ Nacional, formas de poder que pudes­
mantismo literário de transformar O sem se chocar com este projeto fossem
indígena em representante da naciona­ analisadas criticamente, em particular
lidade brasileira, lançam as bases me­ por aqueles tão diretamente envolvi­
todológicas que encaminharam a dos em seu processo de legitimação.
discussão deste tópico. A perspectiva Aspectos de natureza político-estra­
predominante, apontando na direção tégica devem ser também considerados
de um possível projeto de política in­ para a melhor compreensão dos ele­
digenista para o Estado, aparece já no mentos que podem explicar o trata­
segundo número da Revista em um ar­ mento intensivo da questão indígena
tigo de Januário da Cunha Barbosa por parte da historiografia nacional
discorrendo sobre o melhor sistema de em elaboração. Para a jovem monar­
"colonizar os índios" ,51 Em sua opi­ quia. que constrói sua identidade a
nião, a catequese seria a forma mais partir da oposição às formas republi­
adequada de encaminhar este proces­ canas de governo. assegurar o contro­
so, apoiando-se em três pressupostos le sobre as populações indígenas fron­
básicos: em primeiro lugar, na criação, teiriças significava garantir o poder do
entre as populações indígenas, de ne­ Estado Nacionai sobre este espaço.
cessidades cuja satisfação exigiria um A produção de um discurso sobre a
contato pennanente com os brancos; questão indígena articula-se também a
em segundo lugar, na educação dos fi­ um quadro de referência no qual a
lhos dessas populações segundo os problemática econômica tem de ser
princípios da educação branca; e, fi­ levada em conta. Fundamentalmente a
nalmente, no incentivo à miscigenação partir da década de 40 do século
como forma de branqueamento desses XIX, os aspectos de natureza eco­
grupos indígenas. nômica relativos ao problema da
O que se pode perceber no tocante mão-de-obra dão um esrecial reforço
à formulação das bases de uma políti­ ao debate da questão indígena, debate
ca indigenista é a recuperação, por este articulado à discussão da escravi­
parte dos intelectuais empenhados nes­ dão negra nos seus variados aspectos:
te projeto de construção da Nação bra­ a força de trabalho escrava e a grande
sileira, de uma tradição ensaiada an­ propriedade e a questão negra frente
teriormente pela Coroa portuguesa ao projeto de construção nacional.
com relação a esta problemática. A Num momento em que a abolição
publicação de um artigo de Domingos do tráfico escravo coloca-se como ina­
Alves Branco Moniz Barreto sobre o diável, a Revista do Instituto Histó­
tema deixa entrever tal objetivo." A rico oferece um lorum privilegiado
questão fundamental colocada no tex­ para os debates e discussoes, visando
to dizia respeito à relação entre Esta­ à busca de alternativas para a questão
do e ordens religiosas na tarefa de " in­ do trabalho no Brasil frente ao pro­
tegração' das populações indígenas, jeto de construção nacional então em
lembrando-se os riscos da autonomia curso. Neste sentido, é exemplar o ar­
.
JcsuHlca - novamente a expenencl8 tigo publicado por J anuário da Cunha
. , . ... .
22

EST UDOS HISTÓRICOS - 1988/1

Barbosa no primeiro nÚmero da Re­ Na medida em que a questão do


vista " enfocando a relação entre es­ trabalho adquire uma importãncia cen­
cravidão negra e civilização do país. tral nos debates incentivados pelo
Sua argumentação - aliás, uma posi­ lHGB, não só a temática indigena é
ção cada vez mais presente no inte­ tratada tendo em vista este eixo orien­
rior da instituição aponta no sen­ tador, como as páginas da Revista
tido de imputar à escravidão negra a se abrem a publicações que levan­
responsabilidade pelo atraso do país tam e investigam alternativas capa­
na corrida da civilização, procurando zes de encaminhar uma solução
ao mesmo tempo resgatar a figura do para a qu�stão da escravidão - con­
indígena como possível solução para seqüentemente, para o problema da
a questão da mão-de-obra no país - mão-de-obra do país -, alternativas
s�nsibilização lenta de uma certa opi­ essas que contemplam desde a hipó­
nião pública para a problemática da tese da imigração estrangeira, até à re­
escravidão negra e dos seus " riscosn cusa deste 'caminho, com a priorização
para o projeto nacional. J anuário da do elemento "nacional" para a coloni­
Cunha Barbosa enfatiza a importãncia zação.
da temática indígena, desvendando Operando sempre com um par de
suas relações com a questão da escravi­ categorias - "civili.zação e estado so­
dão negra: cial" para caracterizar o mundo dos
brancos, e "natureza e barbárie" para
"Lembramos este fato para provar­ caracterizar o mundo dos indígenas -
mos que eles não são tão avessos esses textos que discutem a questão
ao trabalho, como os preten­ indígena deixam entrever uma certa
dem pintar os patronos da escra­ coincidência de visões no tocante a
vidão africana, e para que se veja alguns aspectos centrais, que pode­
que se forem removidas certas riam ser assim resumidos:
causas de seu horror e desconfian­
1) Unanimidade quanto à neces­
ça, se forem bem-tratados cum­
sidade de integração dos gru­
prindo-se fielmente as conven­
pos indígenas, particularmente
ções, que com eles fizerem, se
forem docemente chamados a um no momento em que a questão
nacional é prioritária, e na me­
comércio vantajoso e a uma
dida em que o problema racial
comunicação civilizadora, teremos,
senão nos que hoje existem habi­ coloca sérias questões a 11m
tuados à sua vida nômade, ao me­ projeto que se pretenda mini­
nos em seus filhos e em seus mamente integrador.
netos, uma classe trabalhadora, 2) Defesa do comércio e da edu-
.
caça0 como meIOs a serem pno-
.
-

que nos dispense a dos Africa­


nos" ,154 rizados no contato com as p0-
pulações indígenas.
A reunião de material voltado à te­ 3) Destinação de um papel cen­
mática indígena instrumentalizaria a tral ao Estado que, embora
produção de um saber sobre estes gru­ não alijando as ordens religiosas
pos, de forma a orientar uma prática desta empresa, deveria preser­
visando a solucionar o problema da var seu espaço de controle so­
mão-de-obra. A história ' mantém-se bre o desenvolvimento do' tra­
'
ainda como nwgistra vitae. balho.
NAÇÃO E CIVILIZAÇÃO NOS TRÓPICOS 23

Um segundo corpo temático ampla­ teira de Mato Grosso, nas quais os


mente tratado na Revista diz respeito conflitos de limiles datavam do perío­
a publicações relativas às viagens e do colonial, as áreas mais tratadas nas
explorações do território brasileiro, páginas da Revista. E preciso ter em
abordando questões de fronteiras e li­ conta que será o governo de dom Pe­
mites, as riquezas naturais do país e dro II aquele a encaminhar a solução
Dovamente a questão indígena. Se pen­ poUtica da problemática de fronteiras
sarmos que, num momento de consti­ através da definição de uma política
tuição da Nação, também a definição externa cuja formulação contou com a
de sua identidade físico-geográfica é assessoria do historiador-diplomata
parte do projeto mais amplo, podemos Francisco Adolfo Varnhagen, que viria
entender o porquê de o instituto re­ a ser considerado o pai da história

servar espaço tão amplo ao tratamen­ brasileira","


to do assunto. Na verdade, trata-se de Identidade física da Nação, possibi­
definir com precisão os contornos fí· lidades de exploração econômica do
sicos dessa Nação, integrando na ima­ território e integração das regiões mais
gem em elaboração os elementos con­ distantes ao eixo de poder do Estado
linentalidade e riquezas inumeráveis, Nacional são alguns aspectos desses
capazes de viabilizarem num futuro relatos de viagens e explorações que
não-definido a realização plena de sua podem indicar possíveis relações desse
identidade. Uma leitura desses relatos tema com a bistória da Nação em ela­
de viagens exploratórias e de reconhe­ boração, Particularmente esclarecedo­
cimeDto nos permite acompanhar a res Deste sentido são os trabalhos de
atividade cuidadosa de olhos atentos João da Silva Machado, futuro barão
a registrarem conhecimentos sobre as de Antonina, amplamente veiculados
diferentes regiões do país. Não só o pela Revista do Instituto Histórico.
tamanho dos rios e a altura das mon­ Grande proprietário na região da fu­
tanhas serão medidos e precisados, tura província do Paraná, dedicava-se
como também será avaliada a possi­ João da Silva Machado a experiências
bilidade de integração econômica das de colonização em suas terras, de con­
diferentes regiões. Plano cuidadoso de tatos com grupos indígenas e desbra­
esquadrinhamento e registro, diante vamento de regiões através de expedi­
do qual a realização de uma leitura ções que financiava. Em suma, tocava
apenas superficial não daria conta de naqueles pontos mais cruciais para a
revelar as profundas relações que ele elite política e intelectual relativos ao
encerra com o projeto de Nação que se encaminhamento da solução da ques­
quer cnar.

tão nacional. Neste sentido, suas ex­


Se, a princípio, todas as regiões do periências poderiam trazer novas lu­
país são definidas como igualmente zes para a discussão, tendo em vista
importantes, o material publicado re­ a perspectiva de se aprender com o
vela uma clara orientação em direção passado.'·
às regiões de fronteira, devido à ne­ Finalmente, são os temas que se
cessidade de integração dessas mesmas ocupam do que genericamente deno­
regiões ao poder do Estado Nacional. minamos história regional que ganham
sediado no Rio de ,a�eiro. Não por também espaço na Revista. No trata­
acaso são as regiões como a Colônia mento da questão, é privilegiada a
de Sacramento, a fronteira com a perspectiva de considerar as regiões
Guiana Francesa, ao Norte, e a fron- não nas suas especificidades - des-
24 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1988/1

cartando com isso a polêmica do re· 5 . Carta de Francisco Adolfo Vamha­


gen ao imperador datada de 1 4 de julho
gionalismo - mas na sua intrínseca
de 1857. Arquivo do Museu Imperial.
organicidade ao conjunlo nacional. O C6digo: Doc. 6234.
falO de que é a parlir do IHGB no 6 . Ver a este respeito o artigo sobre o
Rio de Janeiro que a leitura .dessas Brasil publicado no jornal O Panorama
histórias regionais será empreendida, de 30 de dezembro de 1837.
reunindo, assim, na capital da monar­ 7 . Ver nota 2.
quia todos os conhecimenlos relativos 8 . Ver P I N HEIRO, losé Felieiano
às pronvíncias, é expressão evidente da Fernandes. O Instituto Histórico e Geográ­
fico Brasileiro é o represen tante das idéias
existência, no interior da instituição,
de ilustração, que em diferentes épocas se
de um projelo inlelectual claramenle manifestaram em nosso conLinente. In:
centralisla. Projelo esle bem-articula· Revis/a do lHGB. Rio de laneiro, 1 (2) :
do a um conjunlo de inleresses e ques· 77-86. Abr./lun. 1839. No artigo, José
Feliciano Fernandes Pinheiro (1 714-1847) .
tões de natureza política, econômica e
primeiro presidente do lHGB. alinha o
social, que explicam o porquê de cer· instituto a uma tradição iluminista que
las temalizaçôes de uma histo�iogra· já no século XVI I I teria dado vida a
fia nacional em elaboração, visando a instituições culturais como as deferentes
uma soma de conhecimentos, c por academias que existiram no Rio de Janeiro,
Bahia c Minas Gerais.
que não a produção de um saber sobre
9. Sobre a SAIN ver SILVA, losé Luiz
o "Brasil" capaz de viabilizar uma de·
Werneck da. 1sl0 é o que me parece. A
terminada ordem. Sociedade Auxiliadora da Indús[ria Na­
cional ( 1827-1 904) na formação social bra­
sileira. A conjuntura de 1871 até 1877.
Notas N i terói, 1979. Tese de mestrado, Instituto
de Ciências Humanas e Filosofia, UFF.
1 . Sobre este processo nO quadro euro­ Ver também CARONE, Edgard. O Cen/ro
peu, ver artigo de: WEBER, Wolfgang. Industrial do Rio de Janeiro e sua impor­
WissenschaJtssoziologische Aspekte des tatJIe parricipaçõo IIU ecollomia nacional
Slruklurwandels der Geschichlswissenschaft ( 1 827· 1977). Rio de l aneiro, Cátedra, 1978.
von der AufkHirung zum Historismus. In: 196 p.
BLANKE, Horst Waher & ROSEN, Jorn. 10. Sobre as diferentes formas de sacia·
Org. Von der AulkliirulIg zum flislorismus. bilidade próprias do iluminismo, ver tra­
Zum Strukturwandel des historischen balho de I M HOF, Ulrich. Das ge..lli8e
Denkens. Padebom, München, Wien, Jahrhuflderl. Gesellschah und GeseIlscha­
Zürich, Schõningh, 1 984. p, 73·90. A obra ften im Zeit�lter der Aufklãrung. München,
fornece importantes subsídios para a dis­ .
C. H. Beck, 1982. 263 p.
cussão relativa à sistematização do pensa­
1 1 . Ver o discurso de Jonuário da Cunha
mento historiográfico.
Barbosa publicado na Revista do IHGB.
2 . A respeito das academias ilustradas, Rio de I.neiro. 1 ( 1 ) : 1 0-2 1 . I,n ./ M.r.
ver o importante trabalho de: ROCHE, 1839.
Daniel. Le s;ec/e des lumieres en province. 1 2 . I nteressante observar·se o comentá·
Académies et académiciens provinciaux, rio que 8 esle respeito tece o jornal Correio
1680·1789. 2 t. Paris. 1978. (Civil isations OJicial, de 26 de outubro de 1838, CXpl'cs·
,
ct Societés, 62). sando um VOto de esperança de que o
3 . CERTEAU, Michel de. A operação IHGB seja um primeiro passo para a
histórica. In: LE GOFF, Jacques & NORA, constituição de uma academia brasileira,
Pierre. Hist6ria: Novos Problemus. Rio de segundo o modelo francês. Já em edição
Janeiro, Francisco Alves, 1976. p. 1748. do dia anterior, o mesmo jornal realçava
4 . Cilado por DIAS, Maria Odila Silva. a decisiva importAncia da história e de
A interiorização da metrópole ( 1 808- 1853). um instituto histórico para um país civili­
In: MaTA, Carlos Guilherme (org.) 1822 zado.
Dimensões. São Paulo, Perspectiva, 1972. 1 3 . A este respeito é extremamcme rica
p. 174. a polêmica desenvolvida nas páginas dn
NAÇÃO E CIVILIZAÇÃO NOS TRÓPICOS 25

Revista do Instituto Histórico em tomo 2 1 . loumal de I'I"stitut Historique.


de um artigo de José Joaquim Machado Paris, 1 ( 1 ) : 1 . Ago. 1834.
de Oliveira ( 1 790-1867). produzido em 22. Ver o arLigo de sua autoria publi­
1852, tratando da problemática de demar­ cado n8 Revista Guanabara a respeito da
cação de fronteiras entre o Brasil e o inauguração das novas instalações do
Uruguai. Machado de Oliveira criticara IHGS, em 1 5 de dezembro de 1849, trans­
severamente 8 postura e a política do g()o crito em Revista do IHCB. Rio de Janeiro.
verno imperial, tentando provar, através 1 2 ( 16) : 555-7. OUI./Dez. 1849.
de uma argumentação histórica, o errO
2 3 . Op. cil. not8 20.
das fronteiras demarcadas e os riscos de
umB lal política para a tarefa de cons­ 2 4 . loumal de I'Illstitut Historique.
trução de uma nacionalidade brasileira. Paris 1 (3) : 1 7 1 . Oul. 1834.
A crítica ao artigo, Ceita pela pena de 2 5 . Carta de 'anuário da Cunha Bar·
Duarte da Ponte Ribeiro ( 1 794-1 878) . bosa e Eugene de Monglave datada de 10
Ilparcce também nas páginas da Revista e de janeiro de 1839. Journaf de J'l"stitut
acusa Machado de Oliveira de falso inter­ Historique. Paris, 10(57) : Abr. 1 839.
pretaçâo dos ratos históricos e de julga· 26. Ver a este respeito o relatório do
mento incorreto da poHLica imperial. Em primei ro-secretário do IHGB. Januário da
torno destes dois artigos polêmicos, outros Cunha Barbosa. por ocasião das l,;omemo­
membros do instituto comparecem 80 de­ rações do segundo aniversário do instituto.
bate. como por exemplo Cândido Batista I n : Revista do IHGB. Rio de Janeiro.
de Oliveira, Gonçalves Dias e Pedro de 2(8) : 557-89. OUI./Dez. 1840.
Alcântara Belegarde, exatamente com o
2 7 . Op. cio. p. 570.
rim de advertir sobre os riscos de uma
"polilização" do debate, que poderia com­ 28. Minerva Brasiliense. Rio de Janei­
prometer a objetividade visada por uma ro, 1 (2 ) : 51·3. Nov. 1 843.
instituição cuhural como o IHGB. O de­ 29 . O primeiro presidente do IHGB.
bate é encerrado com 8 publicação integral José Feliciano Fernandes Pinheiro. admi­
da polêmica. sem que o instiluto. contudo. rava particularmente o historiador ilumi­
houvesse se posicionado por qualquer dos nista inglês Gibbon.
lados em questão. Ver o debate na íntegra 30. Op. cil. nota 8.
em: Revista do IHCB. Rio de Janeiro.
3 1 . Idem. p. 78.
16 ( 1 2 ) : 385·560. OUI./Dez. 1853.
32. KOSELLECK, Reinharl. Historia
14. Estamos utilizando uma tradução
tnagistra vitae. I n : - . Org. Vergangene
livre do conceito trabalhado por Norbet
Zukunft. Fr.nkfurt/M .. Suhrkamp. 1984.
Elias em sua obra Vie hõ/iscile Cesells­
cltalt. Frankfurt/M. Suhrkamp, 1981. 456 p. p. 38-66.
3 3 . Revista do IHGB. Rio de Janeiro.
1 5 . CARVALHO. losé Murilo de. A
2(8) : 573. OuUDez. 1 840.
construção da ordem. A elite política im­
perial. Rio de Janeiro. Campus. 1980. 202 p. 1 4 . Revista do IHCB. Rio de Janeiro.
9(6) : 286. AbrJlun. 1847.
1 6 . Revista do IHGB. Rio de Janeiro.
1 2 ( 1 6) : 5 5 1 OUI./Dez. 1849. 3 5 . MARTlUS, Karl Friedrich Philipp
von. Como se deve escrever a História
1 7 . Ver Novos estatutos
do Irtstituto
do brasi!. I n : Revista do IHGB. Rio de
Hist6ri,'o e Geogrdlico Brasileiro. Rio de
lanciro, 6 (24) : 38 1-403. 'an. 1 845.
Janeiro. Tipografia de. F. de Paula Brito.
185 1 . 12 p. 36. Op. cit. p. 384.

18. Carta de Varnhagen ao imperador 3 7 . Idem. p. 401.


d.,.da de 18 de julho de 1852. In: 38. Op. cit. nota 5.
LESSA. Clodo Ribeiro de (org.) Francisco 39. Carta de Fr.'IOcisco AdoHo Varnha­
Adollo Vamilagen. Correspondt'!ncia ativa. gcn a Januário da Cunha Barbosa datada
Rio de I.nciro, I N L , 196 1 . p. 187. de 5 de outu bro de 1839. In: Revista do
1 9 . Op. dI. p. 18. IHGB. Rio de Janeiro. 1 (4) : 376. Oul.!
20. Sobre a relação cntre as duas insti­ Dez. 1839.
tuiçõcs ver FARIA. Maria Alice de Oli­ 40. PONTES, Rodrigo de Souza da
veira. Os brasileiros no I nstituto Histórico Silva. Quais os meios de que se deve lan­
(11: Paris. I n : Revis'u do IHCB. Rio de çar mão para obler o maior número pos­
' .. "ciro. (266) : 64·148. 1965. sível de documentos relJllivClS 11 hist6ria
I
26 ESTUDOS HISTÓRICOS - 1988/1

e geografia do Brasil? In: Revista do ocasião das comemorações do aniversário


IHOB. Rio de Janeiro, 3 ( 10) : 149-57. da instituição em 1 5 de dezembro de
JuUSel. 1841. 1852. In: Revista do IHOB. Rio de Ja·
41 . Ver o artigo premiado de Domin­ neiro, 15(8) : 480-512. Out.lDez. 1852.
gos José Gonçalves de Magalhães. In: 48. Ver POPPINO, Rolli e E. A century
Revista do IHOB. Rio de Janeiro, 10(1 1) : of lhe Revista do Instituto Histórico e
263·354. Jul.lSel. 1848. Geogrdjico Brasileiro. In: The Hispanic
42. Ver particularmente os trabalhos American Historical Review. Durbam,
de: OLIVEIRA, José Joaquim Machado 33(2) : 307-23. Maio 1953. Poppino pu­
de. NOlícia raciocinada sobre as aldeias de blicou em 1953 uma análise da Revista do
índios da província de São Paulo, desde lHGB, pautando-se por critérios cronoló­
o seu começo até à atualidade. In: Re· gicos de periodização da história do Bra­
vista do IH08. Rio de Janeiro, 8(2) : sil. Na medida em que nosso roca de
204·50. Abr./Jun. 1846; SI LVA, Joaquim análü;e está centrado no exame da produ·
Norberto de Souza e. Memória histórica ção intelectual da instituição e em sua
c documentada das aldeias de índios da relação com as questões mais gerais de·
província do Rio de Janeiro. In: Revista batidas naquela altura pela sociedade bra­
do IHGB. Rio de Janeiro, 17(14-5) : sileira, o critério temático é aquele capaz
109-552. Abr./Sel. 1854. de melhor possibilitar uma tal análise e
43. Revista do IHOB. Rio de Janeiro, discussão.
3 (12): 528. Our./Dez. 1841. 49. Op. cito nota 35.
44. Petição do Instituto Histórico e 50. VARNHAOEN, Francisco Adolfo.
Geográfico Brasileiro à sua majestade im­ Memória acerca da importância do estudo
perial de 7 de novembro de 1841. Ar­ e ensino das línguas indígenas do Brasil.
quivo Nacional. Rio de Janeiro. C6digo: In: Revista do lHGB. Rio de Janeiro,
AN IE' 8. 3 (9) : 53-6 1 . Jan.lMar. 1 84 1 .
45. Tomaodo-se o conceito de "proces­ 5 1 . BARBOSA, J anuário da Cunha.
so de civilização" trabalhado por Norbert Qual seria o melhor sistema de colonizar
Elias, pode·se também pensar essa intericr os índios entranhados em nossos sertões,
rização proposta em seus aspectos políti· se conviria seguir o sistema dos jesuftas,
cos de extensão do poder público do fundado principalmente na propagação do
Estado e de sua centralização. cristianismo, ou se outro do qual se espe­
Ver o importante trabalho de ELIAS, ram melhores resultados do que os atuais?
Norbert. "Uber den Prozeb der zivi/isa· In: Revista do IHGB. Rio de Janeiro.
tion. Sziogenetische und ' psychogenetische 2 ( 1 ) : 3-18. Mar. 1840.
Untersuchungen. Frankfurt/M., Suhrkamp. 52. BARRETO, Domingos Alves Bran­
1976 (2. v.). ca Moniz. Plano sobre a civilização dos
46. Ver Relatório anual do Instituto índios do Brasil. In: Revista do lHGB.
para o ano de 1843, no qual são assina· Rio de Janeiro, 19(2 1 ) : 33·91. Jan.lMar.

lados vários viajantes estrangeiros recebi­ 1856.


dos pelo IHOB. Rev;sta do lHOB. Rio 53. BARBOSA, Januário da Cunha. Se
de Janeiro, 5 (Suplemento) : 7-10. Dez. a introdução do trabalho africano emba­
1843. Pode-se citar também o exemplo de raça a civilização dos nossos indígenas.
Gonçalves Dias, membro do IHOB, c que In: Revista do IHGB. Rjo de Janeiro,
em 1851 viaja pelas províncias do Norte 1 (3) : 159-66. Jun.lSel. 1839.
c.om a tarefa de coletar documentação 54. Op. tit. p! 165.
histórica e elaborar relatório sobre a edu·
55. Ver a este respeito o texto produ­
cação naquela região brasileira. O relato
zido por Varnhagen em 1851, quando
com os resultados da viagem são entre·
ocupava o cargo de primeiro-secretário do
gues ao IHGS. Ver também o empenho
IHGB, a pedido do ministro dos Negó­
do instituto pela organização da Comis­
cios Estrangeiros, com observações rela­
são Científica de 1856, que deveria prcr
tivas à importância da questão de limites
duzir um retrato detalhado do Brasil.
e fronteiras para o Estado, e uma lista­
47. Relatório do primeiro-secretário do gem do material considerado indispensá­
IHGB, Joaquim Manoel de Macedo, por vel para possíveis negociações sobre estes
NAÇÃO E CIVILIZAÇÃO NOS TRÓPICOS 27

limites e fronteiras. As experiências acumu· 56. Ver Re.isla do IHGB. Rio de Ja·
ladas em negociações anteriores e regis­ neiro. 10(3): 260. Abr.ljun. 1848.
tradas pela "história" nestes documentos
poderiam ensinar o caminho para 85 ne­
gociações do presente. VARNHAGEN. Manoel Luís Uma Sa1gado Guimarães,
Francisco Adolfo. Memória sobre os tra­ doutor em história pela Universidade Li·
balhos que se podem consultar nss nego­ vre de BerJim, aulor da tese A escrita da
ciações de limites do Imp6rio. com algu­ história e a questão nacional nOBrasil
mas lembranças para a demarcação des­ - 1838-1857 (mimeo) . Alualmente é pro­
les. Arquivo do lHOS. Rio de Janeiro. fessor na Universidade Federal do Rio de
eMigo: La.. 340 Pasta 6. Janeiro (UFRJ) .

Você também pode gostar