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nos Trópicos:
o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
e o Projeto de uma História Nacional
no Brasil no século XIX já se fazia tar por parâmetros mais objetivos, li
sentir desde a fundação do IHGB, tal gados ao trabalho em uma das áreas
dinâmica tenderá a assumir formas de atuação do instituto.
mais claras e diretas a partir de O discurso pronunciado pelo impe
1849-50, coincidindo com a estabili rador quando da inauguração das
zação do poder central monárquico e novas instalações no Paço Imperial é
de seu projeto político centralizador. carregado de sentido programático,
Escrever a história brasileira enquan marcando a maior aproximação entre
to palco de atuação de um Estado ilu os intelectuais -- empenhados na ta
minado, esclarecido e civilizador, eis refa de escrita da história nacional -
qual convém muito ao país e ao trono des lois qui onl servi la cause de
que a opinião se não extravie, com I'humanité, quel esl le caraclere
idéias que acabam por ser subversi de celles qui en onl combaltu le
vas" 19, a literatura veicula a imagem progres ., 21
.
leira. Pode-se mesmo pensar no Ins cional, resultado final, para que
tituto Histórico como o [oeus privile devem convergir todos os seus tra
giado, naquele momento, a partir de balhos.· .s
onde se " fala" sobre o Brasil. Mais
interessante é, contudo, a constatação A história é, assim, o meio indis
de que esse papel é legitimado no in pensável para forjar a nacionalidade.
terior da elite letrada imperial, o que Já pela adjetivação presente em seu
contribuirá para uma progressiva difu nome Histórico e Geográfico, fica
são e homogeneização do "projeto na claro o projeto da instituição de tra
cional" no seio deste grupo social. As balhar com o instrumentário da his
sim se expressava o jornal Minerva tória e da geografia. Na verdade, ca
Brasiliense em sua edição de novem da uma dessas matérias forneceria os
bro de 1843: dados imprescindíveis para a defini
ção do quadro nacional em vias de
"Estranhas umas às outras, falta eshoço; história e geografia enquanto
às nossas províncias a força do dois momentos de um mesmo pro
laço moral, o nexo da nacionali cess �, ao final do qual o quadrp da
dade espontânea que poderia Naçao, na sua integralidade, em seus
prender estreitameDte os habitado aspectos físicos e sociais, estaria deli
res desta imensa peça, que a natu neado.
reza abarcou com os dois maic:r Ao longo deste artigo já nos refe
res rios do universo. A história do rimos diversas vezes à presença da
país ou depositada em antigos e tradição historiográfica iluminista Da
fastidiosos volumes e geralmente cCDcepção de história do IHGB ,.,
ignorada, ou escrita até certo pon tanto pelo tratamento linear dado ao
to por mãos menos aptas, por es desenvolvimento da história, quanto
trangeiros que, como Beauchamp, por sua instrumentalização como
trataram só de compor um roman " mestra d � vi �a". e a tradição par
.
ce, que excitasse a curiosidade de ttcular do Ilummismo português, mar
seus leitores na Europa, não pode ca?am �nte católico e conservador, que
despertar no espírito de Dossa ju deIxara suas marcas na geração fun
ventude o nobre sentimento de dadora do Instituto Histórico. Já o
amor de pátria, que torna o cida número de laDçamento da "Revista do
dão capaz dos maiores sacrifícios, IHGB traz à luz um artigo do pri
e o eleva acima dos cálculos mes meiro presidente da instituição, José
quinhos do interesse individual." Feliciano Fernandes Pinheiro, viscon
( .). .
de de São Leopoldo, definindo-a como
presa à tradição iluminista, retoman
" Uma história geral e completa do
Brasil resta a compor, e se até do lima linha de continuidade em re
aqui nem nos era permitido a es lação ao século XVIII e às academias
perança de que tão cedo fosse iluministas criadas no Brasil àquela
satisfeito este desideratum, hoje altura.'· O mesmo artigo explicita ain
assim não acontece, depois da fun da com clareza o papel reservado ao
dação do Instituto Histórico, cujas Brasil como Nação no quadro geral
• •
.mportanttss.mas pesqUIsas na
• •
das Nações em formação, papel este
nosso passado deixam esperar, que estará subjacente à leitura da his
que esta ilustre corporação se dê tória hrasileira a ser empreendida
à tarefa de escrever a história na- pelo IHGB.
NAÇÃO E CIVILIZAÇÃO NOS TRÓPICOS 15
" . . . tudo enfim pressagia que o seguir, os escolhos que deve evi·
Brasil é destinado a ser, não aci tar, e o seguro porto, a que uma
dentalmente, mas de necessidade, sólida manobra pode Celizmente
11m centro de luzes e de civiliza Cazer chegar a nau do Estado. · ,.
ção, e o árbitro da política do
Novo Mundo· .'1 Outra não era aliás a prática de mui
tos daqueles intelectuais que irão se
Herdeiro de uma concepção antiga ocupar do trabalho historiográfico no
de história, lança-se o Instituto His Brasil, como por exemplo Varnhagen,
tórico à tarefa de escrever a gênese que não se furtava a prestar consultas
da Nação brasileira, preocupação, e a elaborar pareceres para órgãos do
neste sentido, moderna da historia Estado Imperial, na qualidade de his
grafia européia do século XIX. Mo toriador. O conhecimento da hist6ria
mento mesmo de passagem, esta histo adquiriu um sentido garantidor e le
riografia abriga aspectos de uma vi gitimador para decisões de natureza
são antiga e de uma visão moderna política, mormente aquelas ligadas às
de se pensar a história. Utilizando-se questões de limites e fronteiras, vale
categorias próprias da história ilumi dizer, aquelas ligadas à identidade e
nista, vai-se tentar dar conta da espe singularidade física da Nação em
cificidade nacional brasileira em ter construção. O domínio de um saber
mos da sua identidade e do papel que específico parece neste caso estar in
lhe caberá no conjunto de Nações. timamente ligado à viabilização de 11m
Projeto não só ideológico, mas tam certo poder em vias de definição.
bém político, este encaminhado pelo A Revista do IHGB, penetrada da
IHGB na sua tarefa de contribuir concepção exemplar da história, abre
para a construção da Nação brasi uma rubrica em seu interior dedica
leira. Da história, enquanto palco de da às biografias, capazes de Cornece
experiências passadas, poderiam ser rem exemplos às gerações vindouras,
filtrados exemplos e modelos para o contribuindo desta forma também pa
presente e o futuro, e sobre ela d... ra a construção da galeria dos heróis
veriam os políticos se debruça;' como nacionais. Mas não é apenas uma vi
forma de melhor desempenharem suas são pragmática e exemplar da histó
Cunções. A história é percebida, por ria que se abriga no projeto historio
tanto, enquanto marcha linear e pro gráfico do IHGB. A concepção de
gressiva que articula futuro, presente história partilhada pela instituição
e passado; só partilhando uma tal guarda um nítido sentido teleol6gico,
concepção, como nos indica Kosel conferindo ao historiador, através de
leck ", pode-se pretender aprender seu oCício, um papel central na con
com a história, dando-Ihe um caráter dução dos rumos deste fim último da
pragmático. Já no segundo número da história. A este respeito exprimia-se
Revista, J anuário da Cunha Barbosa a Revista em seu número de abril a
afirmava a importância da história junho de 1847:
para o homem de Estado;
•
tica, O que esta história pretende re· gional. A classificação por nós empre
gistrar e memorizar é uma dada ima endida visa tão-somente a facilitar a
gem da Nação brasileira em todos os compreensão dos núcleos centrais de
seus contornos. interesse da Revista, obscrvando-se
que em mUltos artIgos os temas se
• •
limites e fronteiras. As experiências acumu· 56. Ver Re.isla do IHGB. Rio de Ja·
ladas em negociações anteriores e regis neiro. 10(3): 260. Abr.ljun. 1848.
tradas pela "história" nestes documentos
poderiam ensinar o caminho para 85 ne
gociações do presente. VARNHAGEN. Manoel Luís Uma Sa1gado Guimarães,
Francisco Adolfo. Memória sobre os tra doutor em história pela Universidade Li·
balhos que se podem consultar nss nego vre de BerJim, aulor da tese A escrita da
ciações de limites do Imp6rio. com algu história e a questão nacional nOBrasil
mas lembranças para a demarcação des - 1838-1857 (mimeo) . Alualmente é pro
les. Arquivo do lHOS. Rio de Janeiro. fessor na Universidade Federal do Rio de
eMigo: La.. 340 Pasta 6. Janeiro (UFRJ) .