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22/08/2022 19:02 Mês da Consciência Negra: Como falar sobre racismo com as crianças? | Bebe.com.

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FAMÍLIA

Como falar sobre racismo com as crianças?


Especialistas dão dicas para conversar sobre o assunto com crianças negras e brancas e ensinam a lidar com situações de preconceito

Por Chloé Pinheiro Atualizado em 2 jun 2020, 19h05 - Publicado em 22 nov 2019, 13h03

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 Juliana Pereira/Bebê.com.br

Em pleno 2020, milhões de famílias brasileiras ainda sofrem por conta do racismo. Seja por ver filhos excluídos das
brincadeiras, ler comentários maldosos na internet ou mesmo ser acusada de sequestrar a própria filha por ter uma cor de
pele diferente da dela.

Muito disso ainda é encarado como brincadeira ou escondido sob o discurso que somos todos iguais. Só que minimizar e
varrer para debaixo do tapete não é a melhor maneira de lidar com o preconceito, garantem as especialistas ouvidas nesta
reportagem. “Desde bebê, o filho precisa saber que existem pessoas diferentes e como lidar com elas”, resume Livia
Marques, psicóloga e autora do livro Dandara e Vovó Cenira (Editora Sinopsys).

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Ela e a sócia, a jornalista Paula Batista, criaram a iniciativa a partir de suas próprias experiências. Deh é mãe de um menino
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de pele mais clara que a dela, de 1 ano e 8 meses, com pai branco, e Paula é madrasta de duas meninas brancas.

A vontade de incluir mais gente na conversa sobre racismo, como elas fizeram com as famílias, é o norte do projeto, que dá
consultorias em escolas e promove palestras para orientar pais.

Veja a seguir algumas dicas delas e da Livia para trazer o diálogo para dentro de casa.

Seja um exemplo
Não adianta esperar que a criança lide com as diferenças na rua se, no ambiente familiar, os pais fazem piadas com isso e
estão cercados de negros apenas como funcionários, muitas vezes invisíveis.

A ideia é fazer uma autoavaliação da vida dos adultos: quem são os amigos mais próximos e que oportunidades a criança
tem de conviver com pessoas diferentes? E, mais importante ainda: como o diferente é tratado pela família?

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Mostre a diversidade na prática


Quando o filho ainda é pequeno, é bacana inserir referências diferentes, de outras culturas e raças, em suas brincadeiras,
bonecos, personagens de desenho, músicas, passeios e por aí vai. Conforme ela cresce, o ideal é que o tópico faça parte
das conversas em família de maneira transparente.

O termo é letramento racial. “Que é compreender que estamos em uma sociedade racista, e as crianças brancas precisam
refletir sobre onde estão os negros, e questionar isso com a gente”, comenta Paula Batista. Explique que existem pessoas
que tratam mal outras pessoas só por causa da cor da pele ou de características físicas, que há injustiças no mundo e que é
responsabilidade de cada um mudar esse cenário.

BLICIDADE

Empoderando crianças negras


E isso vai além de ter bonecas de pele escura. “Hoje somos marginalizados, então a criança precisa saber que há
possibilidades fora da subalternidade, que existem reis e rainhas negros”, comenta Livia Marques. As próprias história e
mitologia africana e afrobrasileira são fonte de relatos incríveis, hoje descritos em diversos livros infantis. E há uma
mãozinha da ficção, como o célebre exemplo do Pantera Negra.

Frequentar espaços afirmativos, como coletivos de música, quilombos urbanos, museus e atividades de resgate cultural
também ajuda nessa criação de repertório e valorização estética — outro ponto importante aqui. “Não gostar da própria
aparência traz prejuízos sérios para a criança, que desenvolve a autoestima com os pais, então o primeiro passo é gostar

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de você mesmo, se enxergar como uma pessoa negra, para que ela saiba que o padrão estético dela é valorizado em casa”,
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ensina Livia.

Vale destacar que, se o bebê tem a pele mais clara da mãe, é ela que é mais afetada pela discriminação racial. “O racismo
já é sutil, mas na família ele é mais sutil ainda”, aponta Deh. Uma saída para isso é deixar claro desde cedo à família que a
criança é negra e que pretende fazer uma criação com consciência racial.

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Não existe brincadeira ou fase


Quando o filho repercute uma fala racista, independente da idade dele, não releve. Enquanto ele está “passando por uma
fase” ou “fazendo uma brincadeira”, outra criança está sofrendo e pode ter cicatrizes pelo resto da vida. Explique que é
errado, que aquele comportamento é inadmissível e reveja se é algo na dinâmica da família que está transmitindo ideias
preconceituosas para ele.

A escola do seu filho é inclusiva?


Se os únicos negros da escola são porteiros, faxineiros e cozinheiros, sinal de que a escola pode não se importar muito
com a questão da diversidade. Vale verificar se eles realizam atividades sobre o tema, se tem um protocolo de como agir
em casos de racismo e como é o padrão estético dos livros e das ilustrações nas paredes.

O que fazer quando a criança é a vítima?


Não é possível saber como a criança vai reagir, não importa o quanto os pais se preparem para esse momento e
empoderem o pequeno. “Nós trabalhamos com isso e ainda não sabemos lidar quando somos as vítimas, é uma mistura
imobilizante de dor com raiva, muito difícil de descrever”, comenta Deh.

Fique de olho, pois muitas vezes uma criança pequena não conseguirá verbalizar o que aconteceu com ela. Pode ficar mais
amuada, quietinha. Essas mudanças de comportamento não podem passar batido, pois os efeitos negativos para o
desenvolvimento infantil são graves.

“A criança pode desenvolver transtornos de ansiedade, estresse pós-traumático, isolamento social e muitos outros que
impactarão sua vida adulta”, aponta Livia. Se ela verbalizar o que houve, vá a escola, ao local onde ocorreu e não deixe
passar batido. Racismo é crime e deve ser denunciado.

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Não existe fórmula mágica


Mesmo tomando todo o cuidado, dialogando e agindo contra a discriminação, o racismo não vai sumir do dia para a noite.
O tema é dolorido e as conversas não são fáceis, mas precisa ser discutido urgentemente, e as maneiras de inclui-lo no
cotidiano vão variar conforme o contexto familiar de cada um.

“Existem mais perguntas do que respostas, mas precisamos dessa reflexão. As crianças são a solução para enfrentar o
racismo, mas é com os adultos que mudamos as crianças”, ensina.

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