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Manejo da salinidade na agricultura:

Estudos básicos e aplicados


Manejo da salinidade na agricultura:
Estudos básicos e aplicados

Editores

Hans R. Gheyi
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Nildo da S. Dias
Universidade Federal Rural do Semiárido

Claudivan F. de Lacerda
Universidade Federal do Ceará

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
Equipe Técnica

Editoração Eletrônica
Walter Luiz Oliveira do Vale

Normatização
Maria Sonia Pereira de Azevedo

Capa
Silvana Ramos Alves

Impressão
Expressão
Expressão GráfiGráfica
ca e Editora
Fortaleza, CE

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA UFCG

M274 Manejo da salinidade na agricultura: Estudo básico e aplicados / Editores:


Hans Raj Gheyi, Nildo da Silva Dias, Claudivan Feitosa de Lacerda.”
Fortaleza, INCT Sal, 2010.
472p. il.; 28 cm.

ISBN: 978-85-7563-489-9

1. Salinidade. 2. Estresse Salino. 3. Agricultura biossalina.


4. Drenagem agrícola. 5. Recuperação. I. Gheyi, Hans Raj. II. Dias, Nildo
da Silva. III. Lacerda, Claudivan Feitosa de. IV. Título.

CDU- 631.413.3

Os assuntos, dados e conceitos emitidos neste Livro, são de exclusiva responsabilidade dos respectivos autores.
A eventual citação de produtos e marcas comerciais não significa recomendação de utilização por parte dos autores/
editores. A reprodução é permitida desde que seja citada a fonte.
Apresentação

A missão do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Salinidade (INCTSal/MCT/CNPq) pode ser


resumida como: desenvolver e coordenar a pesquisa básica e aplicada; formar recursos humanos para pesquisa
em salinidade; difundir os resultados das pesquisas para conhecimento da comunidade científica e da
sociedade; e, finalmente, promover a articulação das agências governamentais com o setor produtivo. A
complexidade da salinidade requer o estabelecimento de equipes multidisciplinares de pesquisas básicas e
aplicadas, trabalhando de maneira coordenada e sem esquecer as demandas do setor produtivo.
A publicação deste livro foi encarada pelo INCTSal como mais uma estratégia para mostrar a
complexidade da salinidade na agricultura irrigada, facilitar a difusão dos conhecimentos nessa área do
conhecimento, integrar os cientistas que trabalham com pesquisa básica e aplicada e contribuir para a formação
de recursos humanos para pesquisa, através de sua utilização como texto nos Cursos de Pós-Graduação. Além
disso, o livro poderá ser uma fonte de consulta para os pesquisadores e técnicos que desejam se familiarizar
com assuntos diferentes daqueles com os quais está trabalhando.

Fortaleza/CE, Outubro de 2010.

José Tarquínio Prisco


Coordenador do INCTSal
Prefácio

Os solos de regiões Áridas e Semiáridas, em sua maioria, quando submetidos à prática da irrigação, estão
sujeitos a se tornarem salinos, notadamente quando não se adotam manejos de irrigação e drenagem adequados
aos fins a que se destina o uso da terra. Estima-se haver, no Nordeste brasileiro, mais de 9.000.000 ha de solos
propensos à salinização. Os efeitos negativos da salinidade para a agricultura são preocupantes, por afetarem
o crescimento, desenvolvimento e o rendimento das culturas. Ao prejudicar, também, a própria estrutura edáfica,
pode resultar em grandes áreas abandonadas, por serem onerosos e demorados os processos de recuperação
de solos, em geral, principalmente quando em avançado grau de salinidade, requerendo tecnologias mais
sofisticadas. Assim, prevenir é a melhor alternativa para assegurar o uso do solo pela agricultura de forma
sustentável.
Certamente, é uma tarefa desafiadora fazer com que os produtores rurais do Semiárido, particularmente
os das áreas irrigadas, adotem tecnologias adequadas e compatíveis com o solo, as culturas e as condições do
ambiente onde são praticadas as atividades agrícolas. Igualmente, o uso de águas salinas na irrigação das culturas
exige conhecimento e cuidados específicos ao seu manejo.
Vivemos um momento de alerta sobre os efeitos das mudanças climáticas, uma preocupação crescente
para a sociedade contemporânea, bem como, alerta sobre as incertezas de suas consequências em regiões Áridas
e Semiáridas. Urge a necessidade de as instituições envidarem esforços na busca de alternativas para o
enfretamento dos problemas decorrentes dessas mudanças. É imprescindível que os vários temas relacionados
à salinidade entrem na pauta de discussão governamental e da sociedade, em geral, como prioridades, por
afetarem o meio ambiente e a todos nós, de forma direta ou indireta.
Nesse contexto, este livro – Manejo da Salinidade na Agricultura: Estudos Básicos e Aplicados - contém
contribuições técnico-científicas para aqueles que precisam conhecer os efeitos, as causas, consequências e as
medidas de enfretamento dos problemas decorrentes da salinidade, seja de solos ou da água; contém, ainda,
contribuições significativas sobre tolerância das plantas ao estresse salino, manejo do sistema solo-água-planta
e informações relevantes sobre drenagem e aproveitamento de áreas afetadas por sais; ressaltamos, finalmente,
ser possível a expansão da produção agrícola, com utilização da água do mar em práticas de irrigação,
principalmente em áreas costeiras, com pouco dispêndio de energia e facilidade de drenagem dos solos arenosos.
Esta publicação vem em boa hora, notadamente quando nos preocupam os graves problemas ambientais,
sociais e econômicos por que passa a sociedade, em especial os que vivemos no Semiárido brasileiro.
Assim, o Instituto Nacional do Semiárido - INSA prefacia este livro com grande júbilo, pela sua valiosa
contribuição para a comunidade cientifica e para aqueles que precisam conhecer, mais profundamente, a
salinidade e seus efeitos sobre o meio ambiente, particularmente, aos decorrentes do uso da irrigação. Desfrutemo-
lo!

Campina Grande/PB, Outubro de 2010

Roberto Germano Costa


Diretor do INSA/MCT
Preface

Agriculture is a human activity that is intimately associated with climate. A major concern in the
understanding of the impacts of climate change is the extent to which agriculture will be affected. Thus, in the
long term, climate change is an additional problem that agriculture has to face in meeting global and national
food requirements while preserving the environment.
Climate models predict more extreme weather conditions for decades to come. The agriculture sector
will have to deal with larger differences in shortage and excess, compared with the current practice. Therefore,
there will be a need to develop adaptations or survival strategies and means for agriculture to become more
flexible in its dependence on water and go through extreme climate events. Future number of droughts and
flood events are likely to increase with the semi arid regions may face growing water shortage or even water
scarcity.
Worldwide population growth and rapid urbanization are causing imbalance between water supply and
demand. There are two ways to overcome this problem. First by increasing the efficiency with which current
needs are met (e.g. more crop per drop) and secondly by increasing the use of saline water resources such as
saline agriculture drainage water/brackish groundwater, reclaimed wastewater as well as the conjunctive use
of surface and groundwater.
The irrigation is most important water consumer. Many heavily irrigated regions of the world are facing
a lowering of water tables, land degradation, desertification, salinization and the destruction or degradation
of wetlands and aquifers. Bad irrigation practices may enhance salinization specially when irrigation water
contains salts or is reused. Salinization affects 25% of the irrigated land in the European Mediterranean. In the
particular case of Spain, salinization is widely spread along extensive areas of the Mediterranean coast, mainly
in the South East and inland regions.
Globally around 43 countries, mostly from arid and semi arid regions, are using saline water for irrigation.
The southern Mediterranean countries are using saline water in irrigation purely by necessity, rather than by
choice. Bad management of using saline water resources in irrigation could in the long run, seriously affect
crop production; deteriorate soil productivity and create serious environmental problems.
Semi-arid regions frequently suffer from years of below-average rainfall and severe drought. Studies and
field practices by farmers in many regions of the world have shown that water normally classified as too saline
for conventional agricultural use can in fact be used to irrigate a wide variety of annual and perennial crops.
Plants (trees, crops, fodder, halophytes, etc.) of moderate to high salt tolerance can be irrigated with saline
water especially at later growth stages.
The long-term success of irrigation with saline water depends largely on the evolution of practical
management strategies and the exchange of information among researchers and farmers. Careful integrated
management of irrigation water; proper crop selection, taking into consideration rainfall and climate; leaching
to control soil salinity; drainage; and amendment applications, if necessary to control sodicity, are the keys to
successful management. On the other hand, unsuccessful irrigation and drainage water management could
result in an increase of the proportion of salt-affected lands and consequent negative impacts on soil and ground
water quality. In the long term, this could lead to an increase in areas of degraded, salinized and unproductive
lands.
The yield of crops irrigated with saline water could be enhanced substantially, if an additional source
of good quality water were available for use at critical times during the season, or for crops that lack salt
tolerance but can be grown in a rotation. An alternative approach would be to use the good quality water in
x

a mixture of saline and non-saline water (water blending). The use of saline drainage water for irrigation has
the environmental advantages of reducing the non-saline water requirement for salt-tolerant crops and
decreasing the volume of drainage water requiring disposal or treatment.
In fact, there is no universal approach to achieve salinity control in irrigated agriculture; it varies from
country to another. It depends on economic, climatic, social and hydro-geological conditions.
Finally, sustainability and success of saline water uses depends on sound implementation and
management. Poor planning and management might bring environmental risks, and undesired economic and
social consequences. During the planning and management phases, the ecological, social and economic
aspects should be considered in order to assure social and economic viability of any reuse activities.
There are also a number of social and economic benefits that encourage the use of saline water for
agricultural purposes. Using saline water could improve the welfare for local communities, as the use of a
saline water resource for irrigation will reduce the stress that exists on conventional freshwater supplies. This
is particularly important given the scarcity that is predicted as a result of climate change. Moreover, using saline
water is a way to mitigate shortages of irrigation water within local communities and reduce conflict over water
resources. Additionally, it might also allow irrigated agriculture to take place in areas where it is currently not
possible due to the lack of good quality water.
Models can be very useful tools in agricultural water management. Not only can they help in irrigation
scheduling and crop water requirements calculation but also, they could be used to predict yields and soil
salinization. The latter is particularly a long term, slow process that goes beyond the traditional short term
experiments detection.
A successful water management scheme for irrigated crops requires an integrated approach that accounts
for water, crop, soil and field management. Saline water could be used to irrigate salt tolerant crops under a
proper management system. SALTMED model (Ragab, see chapter 18) was developed as an integrated tool to
predict yield, salinity and soil moisture profile, leaching requirements and water uptake.
Further research will have to give more attention to the following areas:
- Monitoring of water quality and quantity, as well as soil properties. At present, there is no clearly
defined policy and strategy on the use of saline water in irrigation. To formulate this policy and strategy,
appropriate monitoring programs are required;
- Integrated management of water of different qualities at farm level, irrigation systems and drainage basins
with the explicit goals of increasing agricultural productivity, achieving optimal efficiency of water use,
preventing on-site and off-site degradation and pollution, and sustaining long term production potential of land
and water resources;
- Development and use of mathematical models to relate crop yield to irrigation management under saline
conditions so that models can be reliably applied under a wide variety of field conditions;
- The incorporation of salinity into groundwater flow models to predict the development of not only water
logging but also of soil water salinity. Regional agro-hydro-salinity models would be of immense value in
planning appropriate water management strategies;
- Activating the role of policies and institutions in creating demand for technology to ensure the
sustainability of irrigated agriculture in saline environment;
- Conducting a comprehensive and coordinated research on potentials and hazards of the use of saline
water for irrigation;
- Establishing a working relationship between national, regional and international institutions dealing with
the reuse of saline water through the formulation of networks;
- Conducting and fostering a comprehensive multi-disciplinary basic and applied research programs on
the sustainable use of saline water in irrigation and related problems and obstacles;
- Improving the Institutional Capacity Building;
- Incorporation of environmental, institutional, political and social and economic concerns;
- Developing general guidelines, setting up a universal strategy and use systemic indicators for assessing,
monitoring and evaluating the sustainability of saline water reuse.
xi

The way foward


- The continued increase of domestic and irrigation water demand can only be met through an integrated
water management scheme that includes the use of all sources of water including saline waters.
- Saline water such as brackish water, drainage water, shallow ground water is a potential water source
in several countries and there is a wide experience exists for using it in irrigation as part of a fresh water saving
practice.
- The complex interaction of water, soil, plant and climate condition in relation to water salinity should
be considered when using saline water in irrigation.
- Water management strategies should establish when to use saline water in order to minimize the
negative impact on environment and soil. The management strategy should include efficient use of water,
sustainable and save use of water, suitable irrigation system and suitable crop (salt tolerant level matches the
salinity level). Efficient water use would minimize the drainage volume and rising water tables, which are an
environmental problem.
- Monitoring and evaluation programs should be carried out for water quantities and qualities, as well
as the soil’s salinity.
- Socio- economic, institutional, political, ecological and environmental aspects are to be taken into
consideration by decision-makers when considering using saline water resources for irrigation.
- Cost recovery is an essential requisite to ensure the economic sustainability of the use of saline resource.
- Supporting scientific and research centers and institutions for conducting integrated and applied water
research and studies since these centers and institutions are an integral part of the institutional structures
responsible for water resource development and utilization.
- Encouraging the establishment of networks between scientific and research centers on using saline water.
- Farmer’s participation in the planning and management is a key for the use of saline water in irrigation.
Involvement of the farmers in the exercise will close the knowledge gap between farmers and researchers.
- Further research is needed on integrated water, crop and land resources management.
- Use of mathematical models should be encouraged to predict long-term salinity impact on soil, plants
and the environment.
This book covers 5 parts and contains 25 chapters. The first part is dedicated to the concept of integrated
management to combat salinity in irrigated agriculture. The second part deals with the aspect of water and
salinity which covers issues such as, the salt affected soils (origin and classification), the physical and chemical
aspects of the semi arid soils, water quality for irrigation, monitoring soil salinity, green house salinity,
modelling of salt transport and statistical techniques to analyze salinity. The third part covers the subject of plant
tolerance to salinity. The issues covered are; salt impact on soil and plant, the effect of salt on the physiology
and biochemistry of the plant, plant resistance against salinity through biomolucular mechanisms, biosalinity
and agriculture production and improving plant tolerance to salinity. Part four covers the Integrated management
of soil-water-plant system. The issues covered are; the interaction between salt and fertilizers, evapotranspiration
in saline environment, Soil-water-plant management in saline environment, management strategies for using
saline water, SALTMED Model application as an integrated tool for water, soil, plant, and N-fertilizer
management and using saline water in hydroponic cultivation system. The last part of the book is focused on
Drainage requirements for salinity control and land reclamation. The issues covered are Drainage system design,
Biodraiange, Land reclamation, Land reclamation indicators and Phytoremadiation of salt affected soils.
This book is intended to benefit academics, researchers, students, extension services and farmers.

October, 2010

Ragab Ragab
Head, Water, Soils & Landscapes, Centre for Ecology & Hydrology, UK
Agradecimentos

A publicação de um livro envolvendo estudos básicos e aplicados na área de salinidade não poderia
prescindir da participação de pesquisadores de diversas instituições e nacionalidades, de modo que o produto
final pudesse apresentar informações de qualidade para a comunidade científica e para sociedade. Nesse sentido,
os editores deste livro agradecem aos mais de 50 colaboradores e às diversas instituições envolvidas na elaboração
dos 25 capítulos desse livro. Os editores agradecem, as respectivas instituições onde eles trabalham pelo uso
irrestrito da infraestrutura, também, ao Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Salinidade (INCTSal/CNPq)
a CAPES e o CNPq, que garantiram o suporte financeiro para realização das pesquisas apresentadas nesta
publicação.

Fortaleza/CE, Outubro de 2010

Editores

Hans Raj Gheyi


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Nildo da Silva Dias


Universidade Federal Rural do Semi-Árido

Claudivan Feitosa de Lacerda


Universidade Federal do Ceará
Autores
Isabel Alves - Profa. da Universidade Técnica Julian M. Beltrán - Doutor em Ciências Agríco-
de Lisboa e membro do CEER - Centro de las pela Agricultural University (Wageningen)
Engenharia dos Biossistemas. Mais recente- e em Eng. Agrícola pela Polytechnic University.
mente, dedica-se à termometria de infraverme-
Atualmente é Chefe da Sustainable Land and
lhos e sua utilização não só na condução da
Water Management Unit of Centre for Water
rega mas também na estimação dos consumos
de água pelas plantas. Studies (CEH), CEDEX, Madrid. Autor e co-autor
de vários livros.

Júlio R. A. de Amorim - Graduado em Tecnolo- Marlos A. Bezerra - Doutor em Fisiologia


gia Química e Agronomia pela UFAL, especiali- Vegetal. Pesquisador da Embrapa Agroindús-
zação em Drenagem de Terras Agrícolas pela tria Tropical. Trabalha na área da Fisiologia das
CODEVASF/ILRI e mestrado em Eng. Agrícola Plantas Cultivadas, com ênfase em: salinidade,
na área de Irrigação e Drenagem pela UFPB. estresse hídrico, fotossíntese, metabolismo de
carboidratos e fisiologia da produção.

Alberício P. de Andrade - Eng. Agrônomo. Flávio F. Blanco - Eng. Agrônomo pela UFLA.
Doutor em Agonomia - Ecofisiologia da Produ- Doutor em Irrigação e Drenagem pela ESALQ/
ção Vegetal pela Universidad de Cordoba. USP. Pesquisador da EMBRAPA. Realiza pes-
Atualmente coordena e desenvolve pesquisa quisas sobre o manejo da irrigação, salinidade,
sobre impacto ambiental e ecofisiologia de es- dinâmica de água e solutos no solo.
pécies da caatinga e exerce a função de Diretor
Adjunto do INSA/MCT.

Eunice M. de Andrade - Eng. Agrônoma. PhD João C. F. Borges Júnior - Eng. Agrícola. Doutor
em Recursos Naturais Renováveis pela Univer- em Eng. Agrícola pela UFV. Prof. da UFSJ.
sidade do Arizona. Prof. do Dept. de Eng. Agrí- Linhas de atuação: irrigação e drenagem, plane-
cola da UFC. Atua nas áreas de manejo de ba- jamento em agricultura irrigada, dinâmica de
cias gidrográficas, uso racional e conservativo água e solutos no solo e modelagem.
dos recursos solo e água.

Ana P. B. de Araújo - Eng. Agrônoma pela UFC. Lourival F. Cavalcante - Graduado em Eng.
Doutoranda em Eng. Agrícola pela UFC. Tem Agrícola pela EAN/UFPB. Doutor em Solos e
experiência na área de eng. agrícola, com Nutrição de Plantas pela ESALQ/USP.
ênfase em irrigação e drenagem e salinidade, Atualmente é Prof. da área de Manejo de Solo
em ciência do solo, com ênfase em nutrição e Água Afetados por Sais da UFPB.
de plantas.

José C. Barros - Eng. Agrônomo pela UFRPE Raimundo N. T. Costa - Graduado em Agrono-
com especialização “lato sensu” em Fruticultu- mia pela UFC. Doutor em Irrigação e Drenagem
ra pela UFLA. Trabalha atualmente na Projetos pela USP. Atualmente é Prof. da UFC. Tem ex-
Técnicos Ltda., presta apoio a CODEVASF. periência na área de eng. agrícola, com ênfase
Atividade: estudos e projetos de drenagem em irrigação e drenagem, atuando nos temas:
agrícola nos perímetros irrigados do sistema irrigação por superfície, drenagem agrícola e
Itaparica. racionalização de água em perímetros irrigados.
xvi

Nildo da S. Dias - Graduado em Agronomia Miguel Ferreira Neto - Eng. Agrônomo pela
pela UFERSA. Doutor em Agronomia pela USP. UFCG. Doutor em Agronomia pela USP.
Atualmente é Prof. na UFERSA. Tem experiên- Atualmente é Prof. da UFERSA, com atuações
cia na área de eng. agrícola, com ênfase em em pesquisas na linha de manejo de água e
eng. de água e solo, atuando nos temas: reuso solo, com ênfase em salinidade, fertigação,
de água, conservação de solos e água, manejo reuso de água, fertilidade de solo e nutrição de
da irrigação e salinização de áreas irrigadas. plantas.

Thiago J. Dias - Graduado em Agronomia pela Paulo A. Ferreira - Prof. Titular da UFV (aposen-
UFPB. Doutorando em Agronomia com área tado). Pesquisador do CNPq, PhD em Eng. de
de concentração em Solos e Nutrição de Água e Solo pela University of Arizona. Área
Plantas pela UFPB. Tem experiência com de atuação: drenagem agrícola e manejo de
pesquisa científica e tecnológica na área de água-planta em solos salinos.
agronomia, atuando no manejo de solo e água
em fruteiras tropicais e olerícolas.

Sérgio N. Duarte - Eng. Agrônomo pela UFRRJ. Fernando F. Ferreyra Hernandez - Eng. Agrô-
Doutor em Eng. Agrícola pela UFV. Atualmente nomo. Doutor em Solos e Nutrição de Plantas
é Prof. da USP. Tem experiência na área de eng. pela ESALQ/USP. Prof. do Dept. de Ciências do
agrícola, com ênfase em irrigação e drenagem, Solo/CCA/UFC. Áreas de atuação: química do
atuando nos temas: drenagem, concentração solo, fertilidade do solo e adubação.
iônica, ambiente protegido, salinidade e fertir-
rigação.

Nand K. Fageria - Eng. Agrônomo. Doutor em Marcos V. Folegatti - Eng. Agrônomo e Doutor
Agronomia pela Université de Louvain. Atual- em Solos e Nutrição de Planta pela ESALQ/USP.
mente é pesquisador da EMBRAPA Arroz e Fei- Atualmente é Prof. Titular da USP e membro
jão. Atua na área de fertilidade de solo, aduba- do Comitê de Assessoramento do CNPq (Eng.
ção e nutrição mineral, arroz e terras altas, solo Agrícola). Áreas de atuação: irrigação, evapo-
de cerrado e várzeas. Faz parte de comissão transpiração, manejo da água em agrossis-
editorial de várias revistas internacionais. temas e gestão de água em bacias hidrográficas.

Maria S. S. de Farias - Graduada em Eng. Maria B. G. dos S. Freire - Eng. Agrônoma pela
Agrícola pela UFPB. Doutora em Eng. Agrícola UFRPE. Doutora em Solos e Nutrição de Plantas
pela UFCG. Atualmente é Prof. da UFCG. Tem pela UFV. Prof. da Área de Solos do Dept. de
experiência nas áreas de ciências agrárias e Agronomia da UFRPE. Área de atuação: quími-
meio ambiente, atuando principalmente nos ca do solo, manejo, recuperação e fitorremedia-
temas de irrigação e drenagem, monitoramento ção de solos salinos e sódicos, monitoramento
da qualidade da água e águas residuárias. da qualidade do solo.

Pedro D. Fernandes - Eng. Agrônomo pela Fernando J. Freire - Eng. Agrônomo pela
Escola de Agronomia do Nordeste. Doutor pela UFRPE. Doutor em Solos e Nutrição de Plantas
ESALQ/USP e pós-doutorado na University of pela UFV. Prof. da Área de Solos do Dept. de
Arizona em Fisiologia da Produção. Atualmente Agronomia da UFRPE. Área de atuação: fertili-
é coordenador de pesquisas do INSA/MCT. dade de solos, fitorremediação de solos salinos
Lecionou na UNESP, UFPB e UFCG. e sódicos, manejo da nutrição mineral de
plantas cultivadas.
xvii

Hans R. Gheyi - Graduado em Agricultura. Vera L. A. de Lima - Graduada em Eng. Agrícola


Doutor em Ciências Agronômicas pela pela UFPB. Doutora em Eng. Agrícola pela UFV.
Université Catholique de Louvain. Atualmente Atualmente é Prof. na UFCG. Tem experiência
é Prof. da UFRB, Editor Chefe da Revista em eng. agrícola na área de irrigação e drena-
Agriambi. Tem experiência da área de Eng. gem e eng. sanitária, atuando principalmente
Agrícola com ênfase em eng. de água e solo, no tema reuso de água na irrigação.
atuando nos temas: salinidade, irrigação e
fertilidade.

Enéas Gomes Filho - Doutor em Biologia Mauro A. Martinez - Eng. Agrônomo pela UFV.
Vegetal UNICAMP. Atualmente é Prof. do Dept. Doutor em Eng. Agrícola pela Purdue Univer-
de Bioquímica e Biologia Molecular da UFC. sity. Prof. do DEA/UFV. Orientou e co-orientou
Linha de pesquisa: concentra-se no estudo da diversas teses com ênfase na modelagem da
fisiologia e bioquímica dos estresses hídricos dinâmica de água e soluto no solo.
e salino em plantas.

Antonio C. A. Gonçalves - Graduado em Eng. Pedro R. F. de Medeiros - Graduado em Eng.


Agrícola pela UFV. Doutor em Agronomia pela Agronômica UFERSA. Doutorando em Ciên-
ESALQ/USP. Atualmente é Prof. da UEM. cias na área de Irrigação e Drenagem pela USP.
Experiência na área de eng. de água e solo e Experiência na área de Eng. Agronômica e
irrigação e drenagem, nas quais concentra suas Agrícola com ênfase em movimento de água
linhas de pesquisa. no solo, sistemas de irrigação, física do solo,
salinidade do solo e da água.

Alan C. de Holanda - Eng. Florestal pela UFCG. José F. de Medeiros - Graduado em Agronomia
Doutorando em Ciências Florestais pela UFRPE. pela ESAM. Doutor em Agronomia: Irrigação e
Atualmente é Prof. do CCT Agroalimentar da Drenagem pela USP. Atualmente é Coorde-
UFCG. Tem experiência na área de recursos nador de Pós-graduação em Irrigação e Drena-
florestais e eng. florestal, com ênfase em recu- gem na UFERSA. Área de atuação: cultivo do
peração de áreas degradadas e conservação melão e melancia, salinidade, fertirrigação e
dos recursos naturais. manejo de irrigação.

José S. de Holanda - Graduado pela ESAM. Salomão S. de Medeiros - Eng. Agrícola pela
Doutor em Agronomia pela USP. Atualmente UFPB. Doutor em Eng. Agrícola pela UFV.
é pesquisador da EMPARN-EMBRAPA. Expe- Atualmente é pesquisador do Instituto Nacional
riência na área de agronomia, com ênfase em do Semi-Árido. Atualmente é pesquisador do
fertilidade do solo e atuação em adubação, INSA/MCT na área de recursos hídricos.
nutrição de plantas, fertigação, salinidade e
alimentos alternativos.

Claudivan F. de Lacerda - Eng. Agrônomo. Ana C. M. de Meireles - Eng. Agrônoma. D.Sc.


Doutor em Ciências Agrárias/Fisiologia Vegetal em Eng. Civil/Recursos Hídricos. Pós-Douto-
pela UFV. Atualmente é Prof. da UFC e pesqui- randa (CAPES) em Manejo de Bacias Hidrográ-
sador do INCTSal. Atua principalmente nos te- ficas. Atua em pesquisas sobre qualidade das
mas: eficiência no uso de água e de nutrientes águas superficiais no semiárido e sensoria-
em plantas sob condições normais e sob es- mento remoto no DENA/CCA/UFC.
tresse.
xviii

Iarajane B. do Nascimento - Eng. Agrônoma José T. Prisco - Prof. Emérito da UFC. Pesqui-
pela ESAM. Doutora em Agronomia/Fitotecnia sador Sênior do CNPq e Coordenador do
pela UFC. Atualmente realizando estágio Pós- INCTSal/MCT/CNPq. Graduado em Agrono-
Doutoral na INCTSal/UFERSA. Atua principal- mia pela UFC. PhD em Botânica na University
mente nos seguintes temas: área foliar, inseti- of Arizona. Dedica-se ao estudo da fisiologia e
cida natural e irrigação. bioquímica dos estresses hídricos e salino.

Jorge L. B. Oliveira - Eng. Agrônomo pela José E. Queiroz - Graduado em Eng. Agrícola
UFPel. Doutor em Eng. Agrícola pela UFV. pela UFPB. Doutor em Ciências Agronômicas
Atualmente é Prof. da UFSC. Tem experiência pela ESALQ/USP. Atualmente é Prof. da UFCG.
na área de eng. agrícola, com ênfase em irriga- Experiência em eng. de água e solo, principal-
ção e drenagem, atuando nos temas: cultivo mente em manejo de irrigação, drenagem e
hidropônico, fertirrigação, cultivo protegido e salinidade.
solução nutritiva.

Helba A. Q. Palácio - Licenciada em Ciências Ragab Ragab - Atualmente exerce função de


Agrícolas. Doutoranda em Eng. Agrícola - Chefe Água, Solo e Paisagem do Centre for Eco-
Manejo e Conservação de Bacias Hidrográficas logy & Hydrology do Reino Unido. Presidente
do Semiárido. Prof. do Instituto Federal de do Comitê Nacional da Irrigação e Drenagem
Educ. Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus da Inglaterra. Recipiente de vários prêmios
Iguatu. “Quem é Quem no Mundo”, “Quem é Quem
na Ciência e Engenharia”.

Vital P. da S. Paz - Eng. Agrícola pela UFPB. Mateus R. Ribeiro - Graduado em Agronomia
Doutor em Irrigação e Drenagem pela ESALQ/ pela UFRPE. PhDem Ciência do Solo pela
USP. Prof. da UFRB. Desenvolve pesquisas nos University of Saskatchewan. Prof da UFRPE e
temas de uso racional de água, fertirrigação, Coordenador do Comitê Regional Nordeste de
reúso e aplicação de águas residuárias na Classificação de Solos.
agricultura.

Donizete dos R. Pereira - Graduado em Eng. Hugo A. Ruiz - Prof. Titular da UFV (aposen-
Agrícola pela UFLA. Doutorando em Recursos tado). Atualmente é Prof. Visitante Nacional
Hídricos e Ambientais pela UFV. Experiência Sênior/CAPES na UFES. Área de atuação: física
na área de eng. de água e solo, com ênfase em: do solo, com pesquisa em transporte de solutos
recursos hídricos e meio ambiente, atuando nos na solução do solo e solos afetados por sais.
temas: monitoramento de bacias hidrográficas,
balanço hídrico e evapotranspiração.

Luís S. Pereira - Eng. Agrónomo pelo Instituto Rivaldo V. dos Santos - Graduado em Agrono-
Superior de Agronomia da Universidade Técni- mia. Doutor em Agronomia pela ESALQ/USP.
ca de Lisboa. Doutor pela Escola Politécnica Atualmente é Prof. da UFCG. Atua nas áreas
Federal de Zurique. Agregado pela Universi- de: recuperação de áreas degradadas, fertili-
dade Técnica de Lisboa. É Dr. h. c. pela Univer- dade e adubação.
sidade de Russe.
xix

José A. Santos Jr. - Eng. Agrícola. Doutorando Sérgio L. F. da Silva - Doutor pela UFC. Atual-
em Eng. Agrícola na UFCG. Experiência nas mente é Prof. da UFC, onde realiza pesquisa
áreas de extensão rural e capacitação de comu- básica nas áreas de bioquímica e fisiologia das
nidades rurais, manejo de oleaginosas, cultivos plantas cultivadas, com estudos voltados à
hidropônicos, salinidade, águas residuárias e compreensão de mecanismos de proteção
estudos relativos à qualidade de água e manejo oxidativa contra estresses abióticos típicos do
de sistemas de irrigação. semiárido.

Ênio F. de F. e Silva - Eng. Agrícola pela UFLA. Joaquim A. G. Silveira - Doutor pela USP.
Doutor em Irrigação e Drenagem pela USP. Atualmente é Prof. da UFC e líder de um grupo
Atualmente é Prof. da UFRPE, onde tem de pesquisa voltado para a compreensão de
trabalhado em pesquisas nas áreas de salini- mecanismos fisiológicos e bioquímicos envol-
dade, irrigação, reuso e qualidade de água. vidos com estresses abióticos múltiplos nas
áreas de metabolismo oxidativo, homeostase
iônica e balanço carbono-nitrogênio.

Evandro N. da Silva - Doutor em Bioquímica Tales M. Soares - Eng. Agrônomo pela UFBA.
pela UFC. Atualmente é bolsita de pós-douto- Doutor em Irrigação e Drenagem pela ESALQ/
rado (PNPD-CNPq) do Dept. de Bioquímica e USP. Prof. da UFRB. Tem experiência na área
Biologia Molecular, onde realiza pesquisa de eng. agrícola e fitotecnia, com ênfase em ma-
básica nas áreas de bioquímica e fisiologia de nejo da agricultura irrigada. Principais linhas
plantas cultivadas, voltado a compreensão de de pesquisa: qualidade e reúso de água e
diversos mecanismos. hidroponia.

João B. L. da Silva - Eng. Agrícola e Ambiental. Walter dos S. Soares Filho - Doutor em Agrono-
Doutor em Eng. Agrícola na área de Concentra- mia pela ESALQ/USP na área de Genética e
ção de Recursos Hídricos e Ambientais pela Melhoramento de Plantas. Pesquisador da
UFV. Experiência nas áreas de hidrologia, EMBRAPA, com atuação nos programas de
conservação de água e solo, manejo água-plan- melhoramento genético dos citros e de fruteira
ta, modelagem ambiental e sistemas de infor- tropicais nativas. Experiência nas culturas da
mação geográficos. bananeira e da aceroleira.

Jonathas B. G. Silva - Eng. Agrícola e Ambiental Jacob S. Souto - Eng. Agrônomo. Doutor em
pela UFV. Prof. Assistente, Msc, da UFRJ. Atua Agronomia pela UNESP. Pesquisador do
na área de transporte de solutos no solo e trata- CNPq. Tem experiência na área de agronomia,
mento e disposição final de resíduos agroindus- com ênfase em manejo e conservação de solos,
triais. nutrição mineral de plantas, atuando nos te-
mas: recuperação de áreas degradadas e maté-
ria orgânica do solo.

Luiz A. C. da Silva - Eng. Agrônomo pela UFC. Edivan R. de Souza - Eng. Agrônomo pela
Doutor em Economia pela USP. Atualmente é UFERSA. Doutor em Ciência do Solo pela
Prof. da UFC. Atua nas áreas de administração UFRPE. Atualmente é Prof. do Dept. de Agrono-
de agronegócio, análise de investimento e mia da UFRPE. Desenvolve pesquisa na área
planejamento e projetos agropecuários. de manejo e conservação do solo, com ênfase
no sistema solo-água-planta.
xx

Hermínio H. SWguino - Eng. Agrônomo, com Adriana de F. M. Vital - Graduada em Eng.


PhD em Agri. e Eng. de Irrigação pela Utah State Florestal. Mestre em Manejo de Solo e Água e
University. Especialista em drenagem de terras MBA em Desenvolvimento Regional Sustentá-
agrícolas e recuperação de solos salinizados. vel. Atualmente é Prof. da UFCG. Experiência
Funcionário da CODEVASF onde exerceu car- nas temáticas de solos, agroecologia, desenvol-
gos como Chefe da Unidade de Conservação vimento sustentável, ancorados em base holís-
de Solo, Água e Recursos Florestais. tica e na premissa interdisciplinar.

Ricardo A. Viégas - Doutor em Bioquímica pela


UFC. Atualmente é Prof. da UFCG. Tem expe-
riência na área de bioquímica vegetal, atuando
principalmente em metabolismo e nutrição de
plantas.
Sumário

Apresentação ............................................................................................................... v
Prefácio ...................................................................................................................... vii
Preface ........................................................................................................................ ix
Agradecimentos..........................................................................................................xiii
Autores....................................................................................................................... xv

Parte I - Introdução .................................................................................................. 1

1. Integrated approach to address salinity problems in irrigated agriculture .................................. 3


Julián Martínez Beltrán
Introduction.............................................................................................................................. 4
Soil and water salinity in irrigated agriculture ............................................................................. 4
Integrated approach for salinity management ............................................................................. 6
Conclusions ............................................................................................................................. 6
References................................................................................................................................ 8

Parte II - Salinidade no solo e na água ...................................................................... 9

2. Origem e classificação dos solos afetados por sais ................................................................... 11


Mateus R. Ribeiro
Introdução.............................................................................................................................. 12
Formação e evolução dos solos halomórficos .......................................................................... 12
Classificação química e caracterização dos solos salinos e sódicos ........................................... 14
Solos salinos e sódicos no sistema brasileiro de classificação de solos ....................................... 17
Solos salinos e sódicos no sistema de classificação da FAO/WRB ............................................. 18
Considerações finais ............................................................................................................... 18
Referências ............................................................................................................................. 19

3. Aspectos físicos e químicos de solos em regiões áridas e semiáridas......................................... 21


Paulo A. Ferreira, João B. L. da Silva & Hugo A. Ruiz
Introdução.............................................................................................................................. 22
Propriedades físico-químicas ................................................................................................... 22
Equilíbrio entre cátions em solução e adsorvidos ..................................................................... 28
Floculação e dispersão das argilas ........................................................................................... 31
Classificação dos solos salinos................................................................................................. 36
Comportamento das argilas decorrente da concentração salina e do pH .................................. 38
Efeitos da salinidade sobre a condutividade hidráulica ............................................................. 39
Referências ............................................................................................................................. 41
xxii

4. Qualidade da água para irrigação ........................................................................................... 43


José S. de Holanda, Julio R. A. de Amorim, Miguel Ferreira Neto & Alan C. de Holanda
Introdução.............................................................................................................................. 44
Importância da água para as plantas ........................................................................................ 44
A água na natureza ................................................................................................................. 45
Adequação da água para irrigação .......................................................................................... 47
Avaliação da qualidade da água para irrigação........................................................................ 50
Classificação da água para irrigação ........................................................................................ 53
Classes de água quanto ao risco de sodicidade ........................................................................ 54
Qualidade da água de mananciais do Nordeste ....................................................................... 57
Considerações finais ............................................................................................................... 58
Referências ............................................................................................................................. 59

5. Avaliação e monitoramento da salinidade do solo ................................................................... 63


José E. Queiroz, Antonio C. A. Gonçalves, Jacob S. Souto & Marcos V. Folegatti
Introdução.............................................................................................................................. 64
Diagnose e classificação dos solos salinos ............................................................................... 65
Amostragem para estudos de salinidade .................................................................................. 67
Variabilidade da salinidade do solo ......................................................................................... 72
Conclusões ............................................................................................................................ 81
Referências ............................................................................................................................. 81

6. Salinidade em ambiente protegido .......................................................................................... 83


Pedro R. F. de Medeiros, Ênio F. de F. e Silva & Sergio N. Duarte
Introdução.............................................................................................................................. 84
Causas mais frequentes e formas de controle da salinidade ...................................................... 85
Efeitos da salinização sobre o solo e as plantas ........................................................................ 86
Controle da concentração da solução do solo ......................................................................... 88
Controle da salinidade via lavagem de manutenção ................................................................ 89
Recuperação de solos afetados por sais ................................................................................... 90
Considerações finais ............................................................................................................... 91
Referências ............................................................................................................................. 91

7. Modelagem do movimento de sais no solo .............................................................................. 93


Mauro A. Martinez, Jonathas B. G. Silva & Donizete dos R. Pereira
Introdução.............................................................................................................................. 94
Armazenamento de solutos no solo ......................................................................................... 94
Deslocamento de fluidos miscíveis .......................................................................................... 95
Fluxo de solutos no solo ......................................................................................................... 98
Equação diferencial para o transporte convectivo e dispersivo ............................................... 100
Condições iniciais e de contorno .......................................................................................... 101
Soluções analíticas ............................................................................................................... 102
Soluções numéricas .............................................................................................................. 104
Parâmetros de transporte ....................................................................................................... 107
Exemplos de usos de modelos ............................................................................................... 108
Referências ........................................................................................................................... 111
Anexo .................................................................................................................................. 113
xxiii

8. Técnicas de estatística multivariada aplicadas a estudos de qualidade de água e solo............. 115


Eunice M. de Andrade, Ana C. M. Meireles & Helba A. Q. Palácio
Introdução............................................................................................................................ 116
Estatística multivariada .......................................................................................................... 116
Estudo de caso: Salinidade nos solos na Chapada do Apodi................................................... 118
Analise de componentes principais - ACP.............................................................................. 121
Estudo de caso: Qualidade das águas na bacia hidrográfica do Rio Acaraú, Ceará .................. 123
Referências ........................................................................................................................... 125

Parte III - Tolerância das plantas à salinidade .......................................................127

9. Efeitos dos sais no solo e na planta ........................................................................................ 129


Nildo da S. Dias & Flávio F. Blanco
Introdução............................................................................................................................ 130
Efeitos dos sais na planta ....................................................................................................... 130
Efeito dos sais sobre o solo .................................................................................................... 134
Tolerância das plantas à salinidade ....................................................................................... 136
Referências ........................................................................................................................... 140

10. Fisiologia e bioquímica do estresse salino em plantas .......................................................... 143


José T. Prisco & Enéas Gomes Filho
Introdução ......................................................................................................................... 144
Retrospectiva histórica da fisiologia e bioquímica do estresse salino ..................................... 144
Efeitos da salinidade no crescimento e desenvolvimento ...................................................... 147
Respostas fisiológicas e bioquímicas ao estresse salino ......................................................... 148
Aclimatação ao estresse ...................................................................................................... 152
Considerações finais ........................................................................................................... 154
Agradecimentos ................................................................................................................. 155
Referências......................................................................................................................... 155
Anexo. Glossário de termos usados ..................................................................................... 159

11. Mecanismos biomoleculares envolvidos com a resistência ao estresse salino em plantas ...... 161
Joaquim A. G. Silveira, Sérgio L. F. Silva, Evandro N. Silva & Ricardo A. Viégas
Introdução ......................................................................................................................... 162
Efeitos do estresse salino e principais mecanismos de respostas das plantas........................... 163
Mecanismos biomoleculares da resistência à salinidade ....................................................... 165
Homeostase iônica ............................................................................................................. 170
Homeostase redoxi e proteção oxidativa ............................................................................. 173
Seleção assistida com marcadores moleculares .................................................................... 177
Conclusoes e pespectivas ................................................................................................... 178
Referências......................................................................................................................... 179
xxiv

12. Biossalinidade e produção agrícola ..................................................................................... 181


Pedro D. Fernandes, Hans R. Gheyi, Albericio P. de Andrade & Salomão de S. Medeiros
Introdução ......................................................................................................................... 182
Halofitismo ......................................................................................................................... 183
Ecofisiologia das halófitas.................................................................................................... 184
Salinidade x produção ........................................................................................................ 191
Cultivos biossalinos ............................................................................................................ 192
Água do mar na agricultura biossalina ................................................................................. 195
Referências......................................................................................................................... 199

13. Melhoramento genético vegetal e seleção de cultivares tolerantes à salinidade ................... 205
Nand K. Fageria, Walter dos S. Soares Filho & Hans R. Gheyi
Introdução ......................................................................................................................... 206
Salinidade e rendimento das culturas .................................................................................. 207
Considerações sobre a metodologia de avaliação para tolerância à salinidade ..................... 207
Melhoramento genético vegetal para tolerância à salinidade ................................................ 212
Espécies de plantas adaptadas ao cultivo sob condições salinas ........................................... 214
Perspectivas futuras ............................................................................................................ 215
Conclusões ........................................................................................................................ 215
Referências......................................................................................................................... 216

Parte IV - Manejo do sistema solo-água-planta .....................................................219

14. Interações salinidade-fertilidade do solo ............................................................................. 221


Rivaldo V. dos Santos, Lourival F. Cavalcante & Adriana de F. M. Vital
Introdução .......................................................................................................................... 222
As interações salinidade-fertilidade ...................................................................................... 223
Dinâmica dos nutrientes em solos salinizados ...................................................................... 230
Influência da matéria orgânica............................................................................................. 234
Manejo da fertilidade em solos salinos e sódicos .................................................................. 235
Resultados de pesquisa ....................................................................................................... 239
Estudos de correlação ......................................................................................................... 249
Referências ......................................................................................................................... 250

15. Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino ....................................... 253


Luís S. Pereira & Isabel Alves
Evapotranspiração - conceitos fundamentais ........................................................................ 254
Evapotranspiração da cultura de referência, ETo ................................................................................................... 256
Evapotranspiração das culturas ........................................................................................... 257
Evapotranspiração real, correção da ETc e dos Kc devido a condições adversas de cultivo .... 262
Evapotranspiração real, balanço hídrico do solo e coeficientes de stress ............................... 263
Referências......................................................................................................................... 267
Anexo 1. Coeficientes de cultura médios, Kc, e de base, Kcb, para culturas com bom
manejo em clima sub-húmido para uso com a ETo FAO-PM (Fontes: Allen et al., 1998,
2007; Allen & Pereira, 2009). ......................................................................................... 269
Anexo 2. Altura máxima (h), profundidade radicular máxima (Zr) e fração de esgotamento
da água do solo em conforto hídrico (p) para diversas culturas (Allen et al., 1998) ............ 275
xxv

16. Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais ....................................................... 279


José F. de Medeiros, Iarajane B. do Nascimento & Hans R. Gheyi
Introdução ......................................................................................................................... 280
Origem da salinidade em áreas irrigadas .............................................................................. 281
Qualidade da água de irrigação .......................................................................................... 281
Efeitos prejudiciais dos sais nas áreas irrigadas ..................................................................... 282
Fatores que afetam a salinidade do solo e resposta das culturas à salinidade ......................... 286
Previsão de salinidade em áreas irrigadas ............................................................................ 291
Experiências no Nordeste brasileiro com água salina ........................................................... 295
Conclusões ........................................................................................................................ 299
Referências......................................................................................................................... 299

17. Estratégias de manejo para uso de água salina na agricultura .............................................. 303
Claudivan F. de Lacerda, Raimundo N. T. Costa, Marlos A. Bezerra & Hans R. Gheyi
Introdução ......................................................................................................................... 304
Caracterização do problema ............................................................................................... 305
Escolha da espécie ou cultivar e formação do ‘stand` .......................................................... 306
Misturas e substituição de águas .......................................................................................... 307
Práticas de manejo do solo e irrigação................................................................................. 309
Rotação de culturas e uso de cultivos adensados ................................................................. 311
Práticas que favorecem a aquisição de minerais pelas plantas .............................................. 313
Considerações finais ........................................................................................................... 315
Referências......................................................................................................................... 315

18. SALTMED Model as an integrated management tool for water, crop, soil and fertilizers ...... 319
Ragab Ragab
Introduction ....................................................................................................................... 320
The SALTMED 2009 Model main features ........................................................................... 322
Detailed description of the processes in the SALTMED Model .............................................. 324
SALTMED Model frames (user Interface) and examples of outputs ........................................ 330
Model application .............................................................................................................. 335
References ......................................................................................................................... 335

19. Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo ................................................ 337


Tales M. Soares, Sergio N. Duarte, Ênio F. de F. e Silva, Vital P. da S. Paz &
Jorge L. Barcelos-Oliveira
Introdução ......................................................................................................................... 338
A alternativa da produção hidropônica no semiárido .......................................................... 339
Qualidade química da água para hidroponia ...................................................................... 345
Considerações finais ........................................................................................................... 361
Agradecimentos ................................................................................................................. 363
Referências ........................................................................................................................ 363
xxvi

Parte V - Drenagem para controle da salinidade e recuperação de áreas


afetadas por sais ................................................................................................367

20. Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais ................................................... 369
Vera L. A. de Lima, Maria S. S. de Farias & João C. F. Borges Júnior
Introdução ......................................................................................................................... 370
Diagnóstico de problemas de drenagem .............................................................................. 370
Drenagem agrícola e salinidade .......................................................................................... 371
Critérios de drenagem ......................................................................................................... 374
Envoltórios ......................................................................................................................... 374
Aplicação de modelos na drenagem agrícola ...................................................................... 374
Referências......................................................................................................................... 381

21. Dimensionamento de sistemas de drenagem ....................................................................... 383


Hermínio H. Suguino & José C. Barros
Introdução ......................................................................................................................... 384
Drenagem superficial .......................................................................................................... 384
Cálculos de espaçamento entre drenos e dimensionamento de drenos subterrâneos ............. 395
Estudo de caso: Projeto irrigado brígida ............................................................................... 402
Referências......................................................................................................................... 403
Anexo 1. Terminologia e simbologia em drenagem agrícola ................................................ 404
Anexo 2. Quadro de quantitativos e custos .......................................................................... 407

22. Biodrenagem ...................................................................................................................... 409


Salomão de S. Medeiros, Pedro D. Fernandes, José A. Santos Júnior & Hans R. Gheyi
Introdução .......................................................................................................................... 410
Princípios da biodrenagem .................................................................................................. 410
Principais culturas utilizadas na biodrenagem ...................................................................... 411
Vantagens e limitações da biodrenagem .............................................................................. 411
Biodrenagem e controle da salinidade do solo ..................................................................... 411
Cenários para implantação do sistema de biodrenagem ....................................................... 414
Planejamento de sistemas de biodrenagem .......................................................................... 416
Dimensionameto do sistema de biodrenagem ...................................................................... 417
Estudos de casos e experiências .......................................................................................... 418
Considerações finais ........................................................................................................... 423
Referências ......................................................................................................................... 423

23. Recuperação de solos afetados por sais............................................................................... 425


Lourival F. Cavalcante, Rivaldo V. dos Santos, Fernando F. F. Hernandez,
Hans R. Gheyi & Thiago J. Dias
Introdução ......................................................................................................................... 426
Técnicas de recuperação de solos afetados por sais ............................................................. 426
Recuperação de solos salinos.............................................................................................. 428
Métodos de lavagem .......................................................................................................... 433
Recuperação dos solos sódicos e salino-sódicos .................................................................. 436
Referências......................................................................................................................... 447
xxvii

24. Indicadores de rentabilidade da recuperação de solos sódicos ............................................ 449


Raimundo N. T. Costa, Claudivan F. de Lacerda, Luiz A. C. da Silva & Ana P. B. de Araújo
Introdução .......................................................................................................................... 450
Análise de investimento ...................................................................................................... 450
Estudos de caso na bacia hidrográfica do Rio Curu-CE ......................................................... 454
Considerações finais ........................................................................................................... 457
Referências ......................................................................................................................... 457

25. Fitorremediação de solos afetados por sais .......................................................................... 459


Maria B. G. dos S. Freire, Edivan R. de Souza & Fernando J. Freire
Introdução ......................................................................................................................... 460
Definição de fitorremediação .............................................................................................. 460
Histórico da fitorremediação em solos afetados por sais ....................................................... 461
Período de recuperação...................................................................................................... 462
Espécies de plantas para fitorremediação ............................................................................. 463
Gênero Atriplex .................................................................................................................. 464
Uso da biomassa produzida na alimentação animal............................................................. 466
Mecanismos e processos envolvidos na fitorremediação ...................................................... 468
Manejo da fitorremediação ................................................................................................. 469
Considerações finais ........................................................................................................... 469
Referências......................................................................................................................... 470
Parte I - Introdução
Integrated approach to address salinity
1 problems in irrigated agriculture
Julián Martínez Beltrán1

1 Centro de Estudios Hidrográficos del CEDEX, Madrid, España

Introduction
Soil and water salinity in irrigated agriculture
Integrated approach for salinity management
Conclusions
References

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
4 Julian Martinez Beltrán

Integrated approach to address salinity


problems in irrigated agriculture

INTRODUCTION and on reclamation of saline soils can be consulted in the


Annex of the TRAGSA-publication “La ingeniería en
Irrigated agriculture is essential for crop production. los procesos de desertificación” (Martínez Beltrán,
Although the area under irrigation (277 million hectares) 2003).
is only about 20 percent of the total cropped area, it
contributes approximately 40 percent of the total food SOIL AND WATER SALINITY IN IRRIGATED
production. Therefore, the productivity of the irrigated AGRICULTURE
lands is approximately three times the productivity of rain-
fed areas (FAO, 2006). Approximately 40 percent of the world ´s irrigated
It is expected that in 2030 the contribution of irrigated land is located in arid and semi-arid regions (FAO, 2006),
agriculture to food production could be close to 50 as it can be observed in the FAO global map of irrigation
percent. To achieve this target there are two needs: to areas (Figure 1).
increase the area under irrigation and to increase the In those regions, secondary salinity is common in
productivity of the currently irrigated lands. The irrigation irrigated agriculture because of the salts added with the
expansion has important constraints: the scarcity of good irrigation water and the build up of saline groundwater in
quality water and of lands with irrigation suitability; the lands lacking of natural drainage (Figure 2).
resources needed to finance the investments; and the Figure 2B shows that adjacent to a well cropped field
need of legal and institutional development and capacity there is a plot where salt accumulates in the soil surface
building, especially in those countries with less irrigation due to capillary rise of saline groundwater (Figure 2A).
tradition. Therefore, consolidation and modernization of This illustrates the man made character of secondary
current irrigation schemes, in order to increase water salinity.
productivity, is being a priority action in many countries, Consequences of soil salinity are the progressive
as usually less financial resources are required and no decrease of crop yields and the loss of land productivity.
new natural resources need to be mobilised. If the salt accumulation process continues, the retirement
Improvement of existing irrigation schemes has two of land from cultivation is the following phase that drives
major components: increasing water productivity and to land desertification (Figure 2B).
conservation of the quality of land and water resources, In 2002, FAO (2002a) estimated that about 20-30
which frequently are affected by salinity in the arid and million hectares of irrigated land were seriously damaged
semi-arid regions. by soil salinity and 0.25-0.50 million hectares were
This paper is focused on the latter mentioned issue. estimated to be lost from production every year as a
The overall objective of this paper is to describe an result of salt build-up.
integrated approach to manage soil and water salinity in Figure 3 shows the world map of saline soils. By
irrigated lands. An overview of global salinity problems comparing with the global map of irrigation (Figure 1),
was described by Martínez Beltrán and Licona Manzur some coincidence between the areas affected by salinity
(2005). Details on the control of soil and water salinity and the areas under irrigation can be observed.
Integrated approach to address salinity problems in irrigated agriculture 5

Figure 1. The FAO digital global map of irrigation areas (February, 2007)

in < 1% of area
in < 1-10% of area
in < 11-20% of area
in < 21-30% of area
in < 31-40% of area
in < 41-50% of area
in < 51-60% of area
in > 60% of area
Figure 3. The world map of saline soils (FAO/UNESCO 2003)

The economic impact of soil salinity on irrigated


B agriculture has been estimated in some cases, in the
context of plans to reclaim salt affected soils for
productive agriculture and to prevent the further salinity
hazard. For example, this type of assessment was made
in the Río Fuerte Irrigation District, Sinaloa, Mexico,
where soil salinity has limited the agricultural production
of some irrigated lands mapped in Figure 4 according to
its salinity level.
In this case, the annual production losses due to soil
salinity were estimated as difference between the value
of the potential production in the irrigation district and the
actual production. The potential production was
determined from: the land use distribution, the average
crop yields in salt free soils and crop prices. The actual
Figure 2. A) Capillary rise of shallow saline groundwater. B) production of the salt affected soils was estimated by
Land degradation due to salt accumulation. Mendoza, applying to each mapping salinity class, whose area is
Argentina known, the crop yield losses due to soil salinity (Table 1).
6 Julian Martinez Beltrán

Table 1. Estimation of production losses due to soil salinity in the Río Fuerte Irrigation District, Sinaloa, Mexico (adapted
from Pulido Madrigal et al., 2000)

Chemical aspects:
Soil amendments
Mineral fertilization

Hydraulic aspects: Agronic aspects:


Color Classe Area Area
Irrigation Integrated Sowing techniques
dS m-1
0-4
(ha)
181,631
(%)
56.8 Drainage management of Mulching
4-8
8-12
69,316
27,428
21.7
8.6 Leaching salt affected soils Green manure
12-16
>16
14,909
26,692
4.6
8.3 Saline agriculture
Total 319,976 100.0

Mechanical aspects:
Socio-economic, Land levelling and smoothing
Figure 4. Salt affected lands in the Río Fuerte Irrigation enviromental and Deep plowing
District, Sinaloa, Mexico (Pulido et al., 1998) legal aspects Subsoiling
Sanding
INTEGRATED APPROACH FOR Figure 5. Integrated management of saline soils (Adapted
SALINITY MANAGEMENT from FAO, 2005)

affected by severe primary salinity are not cultivated and


A first step for salinity management is the estimation of
the magnitude of the socio-economic problem. For this natural vegetation, adapted to salinity conditions,
purpose, mapping the salt affected areas and the develops.
characterization of the salinity problem is needed. Maps The availability of effective precipitation or/and good
similar to that of Figure 4 can be obtained by remote quality irrigation water permits the leaching of salts, if the
sensing and field work. Methods for soil salinity assessment lands have natural drainage or are provided with drainage
can be consulted in the FAO Irrigation and Drainage Paper systems to control surface water and a shallow
No 57 (Rhoades et al., 1999). In addition to this, the impact groundwater table.
of salinity on the economy of the farmers involved should Figure 6 highlights the above mentioned concepts:
be done. For this purpose a method similar to that sustainable irrigated agriculture is possible in salt affected
described in the previous section could be applied. soils if the root zone is free of salts by leaching with
Reclamation of salt affected soils and the continuous irrigation water and the water table is controlled by a
control of soil salinity in irrigated lands need an integrated
approach. Such approach includes technical (hydraulic,
mechanical, chemical and agronomic), economic and
environmental measures, as it can be observed in Figure 5.
A first distinction should be made between rain-fed
agriculture, where soils generally have natural salinity
(primary salinity), and irrigated agriculture where
secondary salinity is due to inadequate water
management.
In dry lands of the arid and semi-arid regions, in the
absence of rainfall and irrigation water to leach salts from
the root zone, the economic use of slightly and moderately
saline soils is limited to growing salt tolerant crop varieties
and to the application of agronomic practices adapted to Figure 6. Irrigation and drainage of a soil affected by primary
the salinity conditions (saline agriculture). Generally, soils salinity (Lower Guadalquivir River, Spain)
Integrated approach to address salinity problems in irrigated agriculture 7

subsurface drainage system. In this case, the subsoil is If the sodium content of the soil is high, gypsum
still saline as the natural vegetation of the ditch bank amendments are recommended to maintain soil structure
indicates. stability and the infiltration rate of the soil.
Subsurface drainage systems have been installed in Crop selection is a key factor in the integrated
many irrigated areas of the world in large scale projects management of salinity in irrigated agriculture.
to reclaim lands affected by salinity and to control soil Differences in crop tolerance to soil salinity permit the
salinity, for example, in most of the lands of the Nile selection of the appropriate crops and the most resistant
Delta in Egypt. crop varieties according to the salinity levels of the soil.
The relevance of irrigation and drainage for salinity Good agronomic practices adapted to soil salinity
management is also highlighted in Figure 7, which shows should also be considered if the topsoil is still saline.
the contact between an irrigation scheme and the dry Sound mineral fertilization is needed to prevent the
lands in an area with an arid climate (Mendoza, increase of salinity due to nitrates application. Sowing
Argentina). techniques should also be adapted to the saline
environment to prevent the location of seeds in ground
patches where salts accumulate, as the top of the
irrigation furrows.
Finally, a third aspect in salinity management under
irrigated agriculture is sound agricultural drainage water
management. Irrigation and drainage are essential for
salinity management in irrigated lands. However,
deterioration of the quality of drainage water due to
salinity cause major problems for the safe disposal of
drainage flows, especially if water resources situated
downstream of the outlets of the drainage systems are
affected. Therefore, an overall view of drainage water
Figure 7. Irrigated lands and dry lands in an area affected by management is needed by considering the three levels
salinity (Mendoza, Argentina) involved: the irrigated field, the irrigation scheme and the
river basin. FAO has also provided guidelines for
In this arid zone, agriculture is only possible under agricultural drainage water management in arid and
irrigation. Dry lands are severely affected by salinity, as semi-arid areas (FAO, 2002b). In this publication
it can be observed in the right part of the above picture. measures for water conservation at the field level, reuse
Irrigation makes agriculture possible as the left part of of drainage water at the scheme level, safe disposal and
the picture shows. However, lands with insufficient in some cases water treatment have been described.
natural drainage are affected by secondary salinity.
Therefore, land productivity is clearly below the potential CONCLUSIONS
productivity obtained in the lands where subsurface
Irrigated agriculture is essential for food production
drainage systems have been installed (central part of the
and it will be in the future to reduce food insecurity in
picture).
developing countries. To cover the medium term food
Surface drainage and subsurface drainage are key
needs, the irrigated acreage in the developing countries
factors for successful salinity management. FAO (2007)
should be increased, especially in those with current low
has provided guidelines and computer programs for the
irrigation development. In addition, land and water
planning and design of land drainage systems. Details on productivity of existing irrigation schemes needs to be
salinity control can also be consulted in this FAO increased.
Irrigation and Drainage Paper. In many irrigated areas of the arid and semi-arid
Land leveling and smoothing are needed in irrigated zones land and water productivity is seriously affected by
fields to prevent surface water accumulation and in order soil and water salinity. Therefore, reclamation of the
to achieve sound surface drainage. In addition to this, affected lands should be an essential component of
other mechanical measures, such as deep plowing and projects for the rehabilitation and modernization of
subsoiling, are needed to increase the hydraulic irrigation schemes. Besides, in order to ensure the
conductivity of the top soil in order to improve the sustainability of the new projects, which are needed to
infiltration and percolation of the irrigation water. expand the present irrigation acreage, control of
8 Julian Martinez Beltrán

secondary salinity of the irrigated soils has also to be FAO. Guidelines and computer programs for the planning and
taken into account. In addition, agricultural drainage design of land drainage systems. In: van der Molen, W. H.;
water management is needed to reduce the Martínez Beltrán, J.; Ochs, W. J. (ed.) FAO Irrigation and
environmental impacts of irrigated agriculture. Drainage Paper No. 62. Rome. 2007. 228 pp.
Soil and water salinity management needs an FAO/UNESCO. Digital soil map of the world and derived soil
integrated approach by considering different technical, properties. Rome: Land and Water Digital Media Series rev.
socio-economic and environmental aspects which are 1. 2003.
Martínez Beltrán, J. Control de la salinización de suelos y
very specific of each agricultural development project.
aguas, y recuperación de suelos salinos. In: La ingeniería
Also several geographic levels should be considered in
en los procesos de desertificación. Annex, pp. 1003-1045.
the approach from the irrigated field to the river basin. Edited by TRAGSA and published by Mundi-Prensa,
There is enough knowledge and expertise on soil and Madrid. 2003.
water salinity to address this challenge. Frequently, this Martínez Beltrán, J.; Licona Manzur, C. Overview of salinity
knowledge and expertise have been applied successfully problems in the world and FAO strategies to address the
in pilot projects. However, commonly in developing problem. In: Proceedings of the International Salinity
countries farmers affected by salinity problems have not Forum, Riverside, California, United States of America.
enough economic resources to finance the investments 2005. p.311-314.a
needed to reclaim their salt-affected lands, although costs Rhoades, J. D.; Chanduvi, F.; Lesh, S. Soil salinity assessment,
generally are recovered in a short term. For this reason, methods and interpretation of electrical conductivity
governments have the responsibility to provide the initial measurements. Rome: FAO, 1999, 150p. FAO Irrigation and
resources and technical advice for up-scaling the good Drainage Paper, 57
results obtained at the pilot level. In order to formulate Pulido Madrigal, L.; González Meraz, B. J.; Robles Rubio, J.L.
an appropriate reclamation policy, it is useful to start with López de Santa Ana, J. L.; Cisneros Estrada, O. X.
a sound evaluation of the socio-economic and Identificación con imágenes de satélite y sistemas de
environmental impact of salinity on the project area. información geográfica, de la salinidad del suelo y de los
problemas de drenaje del distrito de riego 075 Río Fuerte.
Informe final del proyecto convenido entre el IMTA y la S.
REFERENCES
de R. L. del distrito de riego 075 Río Fuerte, según Anexo
FAO. Crops and drops: making the best use of water for Número Uno IMTA-ANUR DR 075, del 21 de enero de
agriculture. Rome. 2002a. 22 pp. 1998. Instituto Mexicano de Tecnología del Agua, Jiutepec,
FAO. Agricultural drainage water management in arid and semi- Morelos, México. 1998.
arid areas. In: Tanji, K. K.; Kielen, N. C. (ed.) FAO Irrigation Pulido Madrigal, L.; López de Santa Ana, J. L.; Cisneros
and Drainage Paper No. 61. Rome. 2002b. 188 pp. Estrada, O. X.; Robles Rubio, B. Estimación de cosechas
FAO. Management of irrigation-induced salt-affected soils. por medio de imágenes de satélite en el Distrito de Riego
Joint publication of CISEAU, IPTRID and FAO, Rome. 075 Río Fuerte, Sinaloa. Memorias de la XI Reunión
2005. Nacional SELPER-México, Sociedad de Especialistas
FAO. Water in agriculture; opportunity untapped. Rome: Food Latinoamericanos de Percepción Remota y Sistemas de
and Agriculture Organization of the United Nations, 2006. Información Espacial. Cuernavaca, Morelos, México. 2000.
Parte II - Salinidade no solo
e na água
Origem e classificação dos solos
2 afetados por sais
Mateus R. Ribeiro1

1 Universidade Federal Rural de Pernambuco

Introdução
Formação e evolução dos solos halomórficos
Salinização
Solonização
Solodização
Classificação química e caracterização dos solos salinos e sódicos
Solos salinos
Solos salino-sódicos
Solos sódicos
Solos salinos e sódicos no sistema brasileiro de classificação de solos
Solos salinos e sódicos no sistema de classificação da FAO/WRB
Considerações finais

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
12 Mateus R. Ribeiro

Origem e classificação dos solos


afetados por sais

INTRODUÇÃO No Brasil, solos salinos e sódicos ocorrem no Rio


Grande do Sul, no Pantanal Mato-Grossense e,
Os solos afetados por sais, também conhecidos por solos predominantemente, na região semiárida do Nordeste.
halomórficos ou solos salinos e sódicos, são solos Estimativas feitas por Pereira et al. (1986) relacionam uma
desenvolvidos em condições imperfeitas de drenagem, que área de 91.000 km2 de solos afetados por sais no Nordeste
se caracterizam pela presença de sais solúveis, sódio trocável do Brasil. Segundo Ribeiro et al. (2003), com base no Mapa
ou ambos, em horizontes ou camadas próximas à superfície. de Solos do Brasil, os solos salinos, solódicos e sódicos
Na classificação Americana de 1938, os solos
ocupam cerca de 160.000 km2 ou 2% do território nacional.
halomórficos foram incluídos na ordem dos solos
Na região Nordeste, o aumento da população e a
Intrazonais, aqueles que refletiam na sua formação a
influência dominante de um fator local, no caso, o excesso pressão econômica pela produção de alimentos tem
de sais solúveis. Estão relacionados, portanto, com resultado no aumento da área de solos degradados por
condições imperfeitas de drenagem, em regiões áridas ou salinidade e sodicidade, em virtude da expansão das
semiáridas, onde a baixa precipitação pluvial, a presença áreas irrigadas em terras marginais, do uso de águas
de camadas impermeáveis e a elevada evapotranspiração salinas na irrigação, do manejo inadequado da água e do
contribuem para o aumento da concentração de sais solo e da ausência de drenagem, com grandes prejuízos
solúveis na solução do solo (salinidade) e/ou o aumento para a economia regional.
da percentagem de sódio trocável (sodicidade), A adoção de práticas de manejo visando à
interferindo no desenvolvimento normal das plantas. sustentabilidade dos perímetros irrigados e o sucesso das
Os efeitos prejudiciais da salinidade e da sodicidade técnicas de recuperação, uso e manejo dos solos salinos e
no crescimento das plantas são conhecidos pelo homem sódicos estão na dependência do conhecimento da sua
a mais de 2100 anos, quando os sais foram, inclusive, gênese e evolução, principal objetivo deste trabalho. A
usados como instrumento de guerra pelos Romanos que, classificação taxonômica dos solos salinos e sódicos também
após a vitória sobre os Cartagineses, incorporaram cloreto será abordada porque constitui ferramenta indispensável
de sódio nos solos dos arredores da destruída cidade de para a realização dos levantamentos pedológicos
Cartago, com o intuito de torná-los improdutivos e impedir
necessários para a classificação de terras para irrigação e
o ressurgimento da cidade (Brady & Weil, 2008)
para o correto planejamento das atividades agrícolas.
O aumento da concentração de sais solúveis no solo
afeta o crescimento das plantas em virtude do aumento
da tensão osmótica da solução do solo, que reduz a FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DOS SOLOS
absorção de água pelas plantas, da acumulação de HALOMÓRFICOS
quantidades tóxicas de vários íons e de distúrbios no
balanço de íons (Henry & Johnson, 1977; Chhabra, 1996). As teorias clássicas sobre a formação e evolução dos
Por outro lado, a saturação do complexo de troca pelo Na+ solos afetados por sais são, geralmente, atribuídas ao cientista
resulta em condições físicas altamente desfavoráveis ao russo K. K. Gedroits em 1927, e foram posteriormente
crescimento vegetal, além de provocar distúrbios melhoradas por C. E. Kellog e outros cientistas americanos
nutricionais (USSL Staff, 1954; Oliveira, 2001). na década de 1930 (Fanning & Fanning, 1989).
Origem e classificação dos solos afetados por sais 13

De acordo com estas ideias, salinização, solonização e Os solos salinos geralmente se localizam em áreas
solodização são processos pedogenéticos sequenciais baixas, para onde convergem os sais das áreas
relacionados com a formação, evolução e degradação dos circunvizinhas, estando a salinização relacionada com
solos salinos e sódicos, embora estudos mais recentes
condições de restrição de drenagem, envolvendo lençol
confirmem que o desenvolvimento da sodicidade pode
também ocorrer independentemente de um estágio prévio freático alto ou baixa permeabilidade, que impedem a
de salinização, pela passagem direta do Na para as lavagem dos sais em profundidade, e com climas áridos e
superfícies coloidais, a partir do intemperismo de minerais semiáridos, cuja evapotranspiração elevada favorece a
ricos em sódio, particularmente albita (NaAlSi3O8), em ascensão capilar dos sais para a superfície. Pode ser um
condições de drenagem deficiente (Wilding et al., 1963). processo natural ou artificialmente induzido pelo homem,
Neste capítulo a gênese dos solos halomórficos será principalmente nas áreas irrigadas (USSL Staff, 1954;
abordada com base nos conceitos clássicos, considerados de Sommerfeldt & Rapp, 1978; Fanning & Fanning, 1989).
fundamental importância para a compreensão da evolução
O processo de salinização natural ou salinização
destes solos, única forma de se definir corretamente as
práticas de manejo visando à sustentabilidade e as técnicas primária pode ser desencadeado por várias causas,
de recuperação dos solos salinos e sódicos. podendo ser destacadas como mais importantes
O processo de salinização envolve a concentração de (Carvalho, 1966; Ribeiro et al., 2003; Ribeiro et al., 2009):
sais solúveis na solução do solo e resulta na formação dos a) Invasão da água salgada que deposita seus sais nos
solos salinos. O processo de solonização promove a terrenos atingidos. Este processo é característico das
formação de solos sódicos, e é constituído por dois sub- regiões costeiras, influenciadas pelo movimento das
processos: sodificação e dessalinização. A sodificação, marés, e o único que pode ocorrer em regiões mais
primeira etapa, é o processo de passagem do íon Na+ da
úmidas. Ocorre ao longo de toda a costa brasileira,
solução do solo para o complexo de troca, formando os
solos denominados de salino-sódicos, enquanto a estando relacionado com áreas de mangues e várzeas,
dessalinização, etapa final, promove a lavagem dos sais localmente denominadas de salgados ou apicuns;
solúveis, resultando na formação de solos unicamente b) Acumulação de sais provenientes de áreas
sódicos. Segundo a sequência clássica de evolução dos solos circunvizinhas, por escoamento superficial e drenagem
halomórficos, com o prolongamento da lixiviação, os solos lateral, nos horizontes superiores dos solos de áreas
sódicos podem ser levados a um processo de degradação, rebaixadas, devido à presença de estratos impermeáveis em
denominado de solodização, que promove a lavagem do
pequena profundidade (Figura 1). Esta é a principal causa
sódio e a sua substituição pelo hidrogênio, formando, no final
do processo, solos não salinos e não sódicos que, por esta de salinização natural no semiárido nordestino, ocorrendo
razão, não serão abordados neste capítulo (Tabela 1). geralmente em áreas baixas, constituídas por Neossolos
Flúvicos, Planossolos, Vertissolos, Gleissolos ou outros solos
Salinização relacionados com planícies aluviais ou áreas deprimidas;
O processo de salinização consiste na concentração
de sais mais solúveis que o gesso (CaSO4.2H2O), cuja
solubilidade é de 2,41 g L-1, nos horizontes ou camadas
do perfil de solo. Os principais sais solúveis encontrados
nos solos salinos são cloretos, sulfatos e bicarbonatos de
Na, Ca e Mg. Em menor quantidade podem ocorrer
potássio (K + ), amônio (NH 4 +), nitratos (NO 3 - ) e
carbonatos (CO3 2-). As fontes fornecedoras dos sais
solúveis são, primordialmente, os minerais primários
formadores das rochas, por intemperismo químico, sendo Figura 1. Diagrama do processo de salinização no semiárido
a água o principal agente carreador. (adaptado de Fanning & Fanning (1989))

Tabela 1. Esquema da sequência clássica dos processos e etapas da formação dos solos halomórficos

Fonte: Adaptado de Carvalho (1966).


14 Mateus R. Ribeiro

c) Ascensão por capilaridade, dos sais existentes no Se as condições ambientais forem mantidas,
próprio terreno e acumulados em camadas não prevalecendo o aporte de sais, a evapotranspiração
superficiais; e elevada e a deficiência de drenagem, os solos
d) Acumulação dos sais em áreas baixas, sopés de permanecerão indefinidamente na condição de solos
encosta, em consequência da drenagem subsuperficial salino-sódicos, ou seja, com excesso de sais solúveis e de
lateral das posições mais altas. Salinização típica das sódio trocável, condição dominante na grande maioria
posições de terço inferior de encostas em regiões das áreas salinizadas dos perímetros de irrigação do
semiáridas, muito comum nas áreas de Luvissolos e Departamento Nacional de Obras contra as Secas
Planossolos do semiárido nordestino (Figura 2). (DNOCS) no Nordeste.
Segundo Fanning & Fanning (1989), se houver,
entretanto, um processo de drenagem natural ou artificial,
pode ocorrer a dessalinização, última etapa do processo
de solonização, que promove a lavagem dos sais solúveis
do solo. Com a lixiviação dos sais solúveis, a salinidade
é removida e o complexo de troca fica saturado
predominantemente por sódio, que promove a dispersão
e consequente translocação das argilas, formando um
horizonte B textural e desenvolvendo condições físicas
Figura 2. Drenagem lateral em solo com substrato
extremamente desfavoráveis.
impermeável (adaptado de Sommerfeldt & Rapp (1977))
Como citado anteriormente, a sodicidade também
pode se desenvolver independentemente de um estágio
O processo de salinização induzido ou antrópico
prévio de salinização, pela passagem direta do Na para
ocorre em consequência das seguintes causas:
as superfícies coloidais, a partir do intemperismo de
a) Deposição dos sais pela água de irrigação
minerais ricos em sódio, particularmente albita
contendo sais em solução; (NaAlSi3O8 ), em condições de drenagem deficiente e
b) Elevação dos sais à superfície por ascensão do semiaridez (Wilding et al., 1963). Este tipo de sodificação
lençol freático, em virtude do manejo inadequado da está relacionado com as grandes áreas de Planossolos
irrigação (ausência de drenagem e/ou superirrigação). Nátricos e Planossolos Háplicos Eutróficos solódicos do
Em todos os casos, naturais ou induzidos, o processo semiárido nordestino, que têm relevo suave ondulado.
de salinização envolve o excesso de água e, geralmente,
evapotranspiração elevada. Solodização
O processo de lavagem que promove a dessalinização,
Solonização não se limita somente à lixiviação dos sais solúveis, mas,
Quando a concentração de sais de sódio aumenta, o pode continuar hidrolisando o sódio do complexo de
+
Na solúvel começa a ser adsorvido pelo complexo de troca. Este sódio vai sendo gradualmente substituído pelo
troca, iniciando-se o processo de Solonização, que se hidrogênio, que penetra no complexo de troca em
desenvolve em duas etapas: sodificação e dessalinização quantidades sempre crescentes e termina por modificar
(Tabela 1). a reação do solo de alcalina para ácida.
A sodificação, passagem do Na + da forma de íon A solodização, também denominada de fase de
solúvel para o complexo de troca, começa a ter degradação, remove inicialmente o sódio trocável do
horizonte A, permanecendo o B ainda sódico, e pode
importância quando este cátion constitui a metade ou
chegar a remover o sódio de todo o perfil, resultando em
mais dos cátions solúveis da solução do solo (USSL Staff,
perfis não salinos e não sódicos (Tabela 1). Evidentemente,
1954). Nestas condições, os íons Ca2+ e Mg2+, por serem
este processo só chegará a solos não salinos e não sódicos
menos solúveis, precipitam quando a solução do solo se se ocorrer uma mudança radical nas condições ambientais
concentra em consequência da evapotranspiração, favorecendo os processos de infiltração e lixiviação, em
ficando o Na + , praticamente, como o único cátion detrimento da evapotranspiração e enriquecimento
presente na solução. Por este motivo, o Na+, apesar de
ter menor poder de troca, consegue deslocar os outros CLASSIFICAÇÃO QUÍMICA E CARACTERIZAÇÃO
cátions por ação de massa (Ribeiro et al., 2003; 2009), DOS SOLOS SALINOS E SÓDICOS
pela seguinte reação:
]Ca + 2Na+ → ]Na Na
+ Ca2+, em que ] é o complexo Os solos halomórficos, formados pelos processos de
de troca do solo. salinização, solonização e solodização, são usualmente
Origem e classificação dos solos afetados por sais 15

classificados com base em dois critérios: (1) o conteúdo razão foram chamados por E.W. Hilgard, em 1906, de álcali
total de sais solúveis e (2) a percentagem de sódio brancos (USSL Staff, 1954). Em virtude da alta
trocável. Em virtude da propriedade dos íons em concentração de sais solúveis na solução do solo e da
solução conduzirem a corrente elétrica, a condutividade ausência de quantidades expressivas de sódio no complexo
elétrica do extrato da pasta saturada, mais conhecida de troca, os solos salinos são geralmente floculados,
como condutividade elétrica do extrato de saturação apresentando permeabilidade igual ou maior que a de solos
(CEes) é o mais rápido e simples método para se similares não salinos. Em virtude da floculação das argilas
estimar o total de sais solúveis do solo, tendo em vista estes solos também não apresentam estrutura prismática
que a condução da corrente elétrica é diretamente ou colunar, como pode ser observado na Figura 4.
proporcional à quantidade de íons em solução (Donahue
et al., 1977).
A PST, que representa o percentual de Na + em
relação à capacidade total de troca de cátions é calculada
pela Eq. 1:

(1)

Três grupos de solos halomórficos são definidos em


função destes parâmetros pelo USSL Staff (1954), mais
conhecidos a partir de 1963 como solos salinos, salino-
sódicos e sódicos (Tabela 1).

Solos salinos
Os solos são considerados salinos, segundo o USSL
Staff (1954), quando a CEes é  4 dS m-1 e a PST é <
15%. Normalmente, o pH destes solos é menor que 8,5.
Solos com altos níveis de salinidade apresentam, na
época seca, a superfície coberta por eflorescências salinas,
que formam uma crosta esbranquiçada (Figura 3). Por esta

Figura 4. Perfil de um solo salino (Gleissolo sálico) na


planície aluvial do rio Acaraú, CE, mostrando a presença
de um lençol freático com influência da salinidade
marinha. Foto do acervo pessoal do autor

Os solos salinos correspondem aos solos classificados


como Solonchak nos antigos sistemas de classificação
taxonômica e no sistema atual do World Reference Base
for Soil Resources (WRB). No atual Sistema Brasileiro
de Classificação de Solos (SiBCS) a salinidade é
considerada no caráter sálico (CEes  7 dS m-1, a 25 ºC)
Figura 3. Aspecto da superfície de um solo salino (CEes =
e no caráter salino (4CEes<7dS m-1, a 25 ºC), utilizados
47 dS m -1) no Perímetro Irrigado de Poço da Cruz,
Ibimirim, PE, mostrando a crosta salina esbranquiçada e
para separar classes no segundo terceiro e quarto níveis
a ausência de vegetação. A única planta presente é um categóricos (EMBRAPA, 2006).
indivíduo de Atriplex sp., espécie altamente tolerante à
salinidade. Foto cedida pelo Centro de Referência e Solos salino-sódicos
Informação de Solos do Estado de Pernambuco – Os solos são classificados como salino-sódicos
CRISEPE/UFRPE quando a PST atinge valores maiores ou iguais a 15% e
16 Mateus R. Ribeiro

os níveis de salinidade permanecem altos, com uma 8,5 e 10, resultante da hidrólise do Na do complexo de
CEes  4 dS m-1. Devido ao excesso de sais, os solos troca ou da formação de Na2CO3. O alto pH resultante
salino-sódicos possuem pH, geralmente,  8,5 e parte dos dispersa a argila e a matéria orgânica podendo dar cor
colóides permanece ainda floculada (Figura 5). Mantidas escura ao solo (álcali negro) e fazendo com que a argila
as condições ambientais, os solos permanecerão nestas migre no perfil formando um horizonte Btn, com alto teor
condições. Estes solos foram classificados como de sódio, estrutura colunar ou prismática e condições
Solonchak-Solonetzico nos antigos sistemas de físicas altamente desfavoráveis à penetração da água e
classificação taxonômica (Camargo et al., 1987) das raízes. O solonetz pode evoluir para o Solonetz
Solodizado, ainda considerado como sódico, por meio de
uma lavagem superficial do Na (solodização parcial),
tornando o solo menos alcalino e formando horizontes A
e E sobre um Btn mais profundo e sódico (Fanning &
Fanning, 1989) (Figura 6).

Figura 5. Aspecto morfológico de um solo salino-sódico


(Neossolo Flúvico Sálico sódico), mostrando a superfície
esbranquiçada e a ausência de estrutura colunar, em
consequência da salinidade, apesar da alta saturação por
sódio. A alta salinidade mantém as argilas parcialmente
Figura 6. Aspectos da estrutura colunar do horizonte Btn de
floculadas. Foto cedida pelo CRISEPE/UFRPE
dois solos com diferentes níveis de porcentagem de
sódio trocável, classificados como Planossolos Nátricos,
Solos sódicos com características físicas extremamente desfavoráveis à
Os solos sódicos, denominados de Solonetz (Camargo penetração da água e das raízes. Fotos cedidas pelo
et al., 1987) nos antigos sistemas de classificação CRISEPE/UFRPE
taxonômica, podem evoluir de um solo salino-sódico,
através de um processo de drenagem natural ou artificial Embora aceito em muitos paises, o nível de 15% de
que promova a lixiviação dos sais, ficando o solo apenas PST, como limite de separação de solos sódicos e não
com sódio no complexo de troca. sódicos, e como nível a partir do qual as propriedades
Os solos sódicos caracterizam-se por apresentar PST físicas do solo seriam gravemente afetadas, está longe de
 15% e CEes < 4 dS m-1, com um pH, geralmente, entre ser uma unanimidade universal. O efeito negativo da PST
Origem e classificação dos solos afetados por sais 17

sobre as propriedades físicas do solo depende, além dos Altos níveis de salinidade e sodicidade representados
níveis de PST, de vários outros fatores, entre eles: pelos termos, sálico e sódico, são utilizados,
presença de sais na solução do solo, textura, tipo de argila preferencialmente, nos níveis de subordem e grande
e CE da água usada na irrigação ou na determinação da grupo. Ocorrem naturalmente relacionados com a
condutividade hidráulica (Sumner, 1995; Ribeiro et al., formação de classes de solos como Planossolos,
2009). Segundo Sumner (1995), as diferenças entre os Neossolos Flúvicos, Vertissolos, Gleissolos e
limites de sodicidade estabelecidos pela USSL Staff Cambissolos, que são normalmente relacionadas com
(1954), de 15%, e o valor adotado na Austrália por posições baixas do relevo e apresentam subordens e
Northcote & Skene (1972), de 6%, foram consequência grandes grupos formados sob condições de deficiência
de drenagem e semiaridez, como nos exemplos abaixo:
do uso de águas com diferentes concentrações de
Planossolo Nátrico Órtico
eletrólitos nas determinações de condutividade hidráulica
Planossolo Nátrico Sálico
em laboratório, mais alta no laboratório da Califórnia e
Planossolo Háplico Sálico
requerendo, portanto, uma PST maior para que as
Neossolo Fúvico Sódico ou Sálico
condições físicas fossem afetadas. Devido a estas Vertissolo Hidromórfico Sódico ou Sálico
diferenças o SiBCS (EMBRAPA, 2006) considera dois Vertissolo Háplico Sódico ou Sálico
níveis de sodicidade para a separação de classes: o Cambissolo Flúvico Sódico ou Sálico
caráter sódico (PST 15%) e o caráter solódico (6% < Cambissolo Háplico Sódico
PST < 15%). Gleissolo Sálico Órtico
Gleissolo Sálico Sódico
SOLOS SALINOS E SÓDICOS NO SISTEMA
BRASILEIRO DE CLASSIFICAÇÃO DE SOLOS Níveis moderados de salinidade e sodicidade,
representados pelos termos salino e solódico, são
O SiBCS seguindo tendência mundial de diversos utilizados para separar classes no quarto nível
sistemas de classificação, adotou a definição de atributos (subgrupo) de várias classes de solos, como nos
e horizontes diagnósticos para a diferenciação das exemplos a seguir:
diversas classes de solos. Como os solos halomórficos não Neossolo Flúvico Ta Eutrófico solódico ou salino
constituem uma classe individualizada no 1º nível Neossolo Regolítico Eutrófico solódico
categórico, salinidade e sodicidade separam classes em Vertissolo Háplico Órtico salino ou solódico
níveis hierárquicos mais baixos de diversas ordens do Cambissolo Háplico Ta Eutrófico solódico
sistema, com base nos seguintes atributos diagnósticos Chernossolo Argilúvico Órtico solódico
(EMBRAPA, 2006). Luvissolo Crômico Órtico salino ou solódico
Caráter salino: Propriedade referente à presença de Argissolo Aamarelo Eutrófico solódico
Argissolo Aamarelo Eutrófico planossólico solódico
sais, mais solúveis em água fria que o CaSO4.2H2O, em
Plintossolo Argilúvico Eutrófico solódico
quantidades expressas por CE  4 e  7 dS m-1;
Gleissolo Háplico Tb Eutrófico solódico ou salino
Caráter sálico: Propriedade relativa à presença de
sais, mais solúveis em água fria que CaSO 4 , em
Nos casos em que os altos níveis de salinidade e
quantidades expressas por CE 7dS m-1;
sodicidade ocorrem em classes nas quais estes atributos
Caráter solódico: Termo usado para distinguir têm menor importância pedogenética e agronômica que
horizontes ou camadas que apresentam PST variando de outros processos ou atributos, como no caso dos
6 a <15%; Gleissolos Tiomórficos e dos Organossolos, os termos
Caráter sódico: Termo usado para distinguir sálico e sódico são usados no quarto nível, juntamente
horizontes ou camadas que apresentam PST 15%; com solódico e salino, como nos exemplos a seguir:
Estes atributos são considerados dentro dos primeiros Gleissolo Tiomórfico Húmico sódico ou sálico
120 cm do perfil, e são utilizados para diferenciar classes Gleissolo Tiomórfico Húmico solódico ou salino
no 2º, 3º e 4º níveis categóricos, na dependência da Gleissolo Tiomórfico Háplico sódico ou sálico
importância destes processos na formação dos solos e do Gleissolo Tiomórfico Háplico solódico ou salino
nível de restrição imposto ao desenvolvimento das plantas Organossolo Háplico Hêmico sálico ou sódico
e ao movimento da água. Organossolo Háplico Hêmico salino ou solódico
18 Mateus R. Ribeiro

SOLOS SALINOS E SÓDICOS NO SISTEMA Salic: Usado para indicar a presença de um salic
DE CLASSIFICAÇÃO DA FAO/WRB horizon dentro dos primeiros 100 cm de profundidade.
Para aumentar o detalhamento podem ser usados os
A classificação de solos da World Reference Base for termos endosalic, para horizonte sálico entre 50 e 100
Soil Resources (WRB) é uma classificação cm, e epysalic para horizonte sálico entre 0 e 50 cm.
compreensiva, construída com o propósito de servir de Exemplos: Salic Fluvisol - Neossolo Flúvico sálico
base para correlação e comunicação internacional em (SiBCS), Endosalic Gleysol - Gleissolo Sálico (SiBCS),
solos, sendo recomendada oficialmente pela International Hypersalic: Usado para indicar CEes ≥ 30 dSm-1 em
Union of Soil Sciences (IUSS) em 1998 (FAO, 2006). alguma camada dentro dos primeiros 100 cm do perfil.
O sistema, construído com a colaboração da FAO Exemplos: Hypersalic Solonchak - Gleissolo Sálico
(Food and Agriculture Organization of the United (SiBCS)
Nations) e do ISRIC (World Soil Information) é Hyposalic: Usado como sufixo para indicar CEes >
constituído por 32 grupos de referência estabelecidos com 4 dS m-1 em alguma camada dentro dos primeiros 100 cm
base em propriedades definidas em termos de horizontes de profundidade. Exemplo: Leptic Regosol (Hyposalic) -
diagnósticos, propriedades e materiais, em sua maioria, Neossolo Regolítico Eutrófico léptico salino (SiBCS)
passíveis de serem observados e determinados no campo Com relação à sodicidade, os seguintes termos são
(FAO, 2006). usados como prefixos ou sufixos, dependendo da classe
Segundo FAO (2006) o sistema da WRB considera a de solo:
salinidade e a sodicidade na definição de dois horizontes Natric: Usado para discriminar solos que não se
diagnósticos principais: enquadram como Solonetz e apresentam o horizonte
Salic horizon: Horizonte superficial ou subsuperficial nátrico dentro dos primeiros 100 cm do solo. Exemplo:
raso, com enriquecimento secundário de sais solúveis Natric Cryosol - sem equivalente no SiBCS.
(mais solúvel que o CaSO 4 ), apresentando CEes = Sodic: Usado para distinguir solos com 15% ou mais
15 dS m-1 a 25°C em alguma época do ano; CEes = de Na + Mg trocáveis no complexo de troca nos
8 dS m-1, se o pH do extrato de saturação for maior do primeiros 50 cm do solo. Exemplo: Vertic Luvisol
que 8,5; ou, o produto da espessura em cm pela CEes em (Sodic) - Luvissolo Crômico Órtico vértico sódico
dS m-1 maior que 450. (SiBCS)
Natric horizon: Horizonte subsuperficial denso, com Endosodic: Usado para distinguir solos com 15 % ou
alto conteúdo de argila em relação ao horizonte mais de Na + Mg trocáveis no complexo de troca entre
50 e 100 cm de profundidade.
superficial, e com PST ≥ 15 % nos primeiros 40 cm, ou,
Hyposodic: Usado para discriminar solos com PST
com um valor de PST menor, desde que Mg + Na ≥ Ca > 4 % e < 15 % nos primeiros 100 cm de profundidade.
+ H nos primeiros 40 cm, e a PST ≥ 15 % em algum Exemplo: Gleyic Vertisol (Hyposodic) – Vertissolo
sub-horizonte dentro de 200 cm de profundidade. Hidromórfico Órtico solódico (SiBCS).
Estes horizontes diagnósticos vão definir dois grupos Solodic: Usado para qualificar solos com estrutura
de referência no primeiro nível da classificação da WRB: prismática ou colunar típica do horizonte nátrico, mas,
com PST < 15%. Exemplo: Solodic Planosol - Planossolo
Solonetz: Solos apresentando um natric horizon com
Háplico Eutrófico solódico (SiBCS).
início dentro dos primeiros 100 cm de profundidade.
Como se pode observar pelos exemplos citados, a
Correspondem aos Planossolos Nátricos do SiBCS.
salinidade e a sodicidade tem atenção especial na WRB,
Solonchak: Solos com um salic horizon com início
permitindo uma boa correlação com as classificações
nos primeiros 50 cm da superfície do solo. Estes solos nacionais, particularmente com o SiBCS.
podem corresponder no SiBCS a Neossolos Flúvicos
Sálicos, Vertissolos Háplicos Sálicos ou Gleissolos CONSIDERAÇÕES FINAIS
Sálicos, entre outras classes relacionadas com posições
baixas, que podem apresentar o caráter sálico Este capítulo procurou destacar a importância do
O sistema ainda utiliza no segundo e terceiro níveis conhecimento da gênese, morfologia e classificação dos
uma série de prefixos e sufixos qualificadores que são solos na prevenção, controle e recuperação de solos
usados para separar os solos dos diversos grupos de salinos e sódicos.
referência, em função de características transicionais e O aumento da população mundial e das suas
especiais. Com relação à salinidade o sistema, é bastante demandas por alimentos, fibras e fontes renováveis de
detalhado, e considera os seguintes qualificadores: energia, tem resultado na expansão da área cultivada no
Origem e classificação dos solos afetados por sais 19

mundo. Nas regiões semiáridas a irrigação avança em Fanning, D. S.; Fanning, M. C. B. Soil morphology, genesis and
áreas de terras marginais, muitas vezes com utilização de classification. New York: John Wiley & Sons, 1989. 395p.
águas de baixa qualidade. Nesse contexto, o conhecimento FAO - Food and Agriculture Organization of the United
das propriedades e dos processos de formação e evolução Nations. World Reference Base for Soil Resources 2006. A
dos solos afetados por sais torna-se uma ferramenta framework for international classification, correlation and
indispensável na escolha das práticas de manejo do solo e communication. Rome: IUSS/ISRIC/FAO. 2006. 128p.
da água que visem a sustentabilidade destas explorações, World Soil Resouces Report, 103
e na seleção das técnicas mais indicadas para a Henry, J. L.; Johnson, W. E. The nature and management of
recuperação de áreas já afetadas por salinidade e,ou, salt-affected soils in Saskatchewan. Saskatoon: University
sodicidade of Saskatchewan, 1977. 26p.
O SiBCS na sua estrutura atual, permite classificar Northcote, J. H.; Skene, J. K. M. Australian soils with saline
os solos em função de diversos níveis de salinidade e and sodic properties. Melbourne: Commonwealth Science
sodicidade, contribuindo para a compreensão dos and Industrial Research Organization, 1972. 61p. Soil
processos envolvidos na sua formação e evolução. A Publication 27
inclusão de informações sobre o sistema de Oliveira, J. B. Pedologia aplicada. Jaboticabal: FUNEP, 2001.
classificação da WRB foi motivado pela necessidade de 414p
Pereira, J. R.; Valdivieso, C. R.; Cordeiro, G. G. Recuperação de
correlação e troca de informações internacionais sobre
solos afetados por sódio através do uso de gesso. In:
os solos salinos e sódicos.
Seminário sobre o uso do fósforo na agricultura, 1, 1985,
A realização de levantamentos detalhados e ultra-
Brasília, Anais... Brasília: IBRAFOS, 1986. p.85-105.
detalhados de solos constitui ferramenta indispensável para
Ribeiro, M. R.; Barros, M. F. C.; Freire, M. B. G. S. Química dos
a classificação de terras para irrigação e o correto
solos salinos e sódicos. In: Melo, V. F.; Alleoni, L. R. F.
planejamento da implantação ou recuperação dos
(ed.). Química e mineralogia do solo. Parte II – Aplicações.
perímetros irrigados. Os insucessos observados em alguns Viçosa: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2009.
dos perímetros irrigados implantados no Brasil (inclusive na p.449-484.
iniciativa privada) são uma consequência do total Ribeiro, M. R.; Freire. F. J.; Montenegro, A. A. Solos
desconhecimento dos solos e das suas características. halomórficos no Brasil: Ocorrência, gênese, classificação,
uso e manejo sustentável. In: Curi, N.; Marques, J. J.;
REFERÊNCIAS Guilherme, L. R. G. G.; Lima, J. M.; Lopes, A. S.; Alvarez V.
V. H. (ed.). Tópicos em ciência do solo. v.3. Viçosa:
Brady, N. C.; Weil, R. R. The nature and properties of soils. 14.
Sociedade Brasileira de Ciência do Solo, 2003. p.165-208.
ed. New Jersey: Pearson Prentice Hall, 2008. 975p.
Camargo, M. N.; Klant, E.; Kauffman, J. H. Classificação de Sommerfeldt, T. G.; Rapp, E. Management of saline soils.
solos usada em levantamentos pedológicos no Brasil. Ottawa: Canada Department of Agriculture, 1978. 30p.
Boletim Informativo da Sociedade Brasileira de Ciência do Publication 1624
Solo, v.12, n.1, p.11-33, 1987. Sumner, M. E. Sodic soils: New perspectives. In: Naidu, R.;
Carvalho, L. G. O. Gênese de solos halomórficos. Rio de Sumner, M. E.; Rengasamy, P. (ed.). Australian sodic soils:
Janeiro: Divisão de Pedologia e Fertilidade do Solo, Distribution, properties and management. Adelaide: First
Convênio MA/DPFS-USAID/BRASIL, 1966. 19p. National Conference and Workshop on Sodic Soils, 1995.
Chhabra, R. Soil salinity and water quality. Rotterdam: A.A. p.1-34.
Balkema Publishers, 1996. 283p. USSL STAFF - United States Salinity Laboratory. Diagnosis and
Donahue, R. L.; Miller, R. W.; Shickluna, J. C. Soils: An
improvement of saline and alkali soils. Washington: U.S.
introduction to soils and plant growth. New Jersey:
Prentice-Hall, 1977. 626p. Department of Agriculture, 1954. 160p. Handbook 60
EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Wilding, L. P.; Odell, R. T; Fehrenbacher, J. B.; Beavers, A. H.
Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Sistema Brasileiro Source and distribution of sodium in solonetzic soils in
de Classificação de Solos. 2.ed. Rio de Janeiro: Embrapa Illinois. Soil Science Society America Proceeding, v.27,
Solos, 2006. 306p. p.432-438, 1963.
Aspectos físicos e químicos de solos
3 em regiões áridas e semiáridas
Paulo A. Ferreira1, João B. L. da Silva1 & Hugo A. Ruiz1

1 Universidade Federal de Viçosa

Introdução
Propriedades físico-químicas
Equilíbrio químico
Constante de equilíbrio
Fatores que afetam o equilíbrio químico
Ilustração da lei de Chatelier
Concentração e atividade
Solubilidade dos sais
Fatores que afetam a solubilidade
Formação de pares iônicos
Formação de íons complexos
Condutividade elétrica
Equilíbrio entre cátions em solução e adsorvidos
Floculação e dispersão das argilas
Forças e energia no sistema solo-água
Força de Van der Waals-London (V-L)
A camada dupla eletrostática ou camada dupla difusa
Potencial zeta (x)
Floculação e dispersão
Classificação dos solos salinos
Classificação dos solos do Sudoeste americano (Richards, 1954)
Discussão sobre classificação de solos salinos
Comportamento das argilas decorrente da concentração salina e do pH
Expansão nos sistemas argila
Dispersão e expansão das argilas
Efeitos da salinidade sobre a condutividade hidráulica
Efeito do magnésio trocável
Referências
Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados
ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
22 Paulo A. Ferreira et al.

Aspectos físicos e químicos de solos em


regiões áridas e semiáridas

INTRODUÇÃO (Cl-), sulfato (SO42-), bicarbonato (HCO3-), carbonato


(CO32-), borato (BO33-) e nitrato (NO3-).
Em condições naturais, tanto os solos quanto as Neste capítulo, visando esclarecer as condições que
águas contêm sais. No solo, a concentração dos sais levam os solos das regiões áridas e semiáridas a salinizar
varia, principalmente, conforme sua origem, presença de e, seus colóides a flocular ou dispersar, serão
matéria orgânica, adubação e manejo. Em regiões de apresentadas: propriedades físico-químicas dos sais que
clima úmido e subúmido, a concentração salina nas águas compõem a solução do solo; equações de equilíbrio entre
é frequentemente expressa por traços de algumas cátions em solução e adsorvidos; fenômenos de interface
espécies de íons, enquanto em regiões áridas e sólido-líquido; e classificação dos solos em salinos, salino-
semiáridas as concentrações podem atingir valores sódicos e sódicos em decorrência do tipo de argila
elevados, prejudicando os solos e as plantas. predominante, pH, composição e concentração iônica.
No solo, dependendo da natureza e concentração dos
íons presentes, podem ocorrer danos inerentes à PROPRIEDADES FÍSICO-QUÍMICAS
estrutura como a dispersão de colóides e a formação de
estratos impermeáveis, decorrentes da precipitação de Equilíbrio químico
carbonatos e silicatos, com reflexos indesejáveis no Dentre as teorias empregadas para explicar as
arejamento e na taxa de infiltração e percolação da água reações de equilíbrio entre os reagentes e o produto da
no perfil. reação, destaca-se a Lei de Guldberg-Waage ou Lei de
No passado remoto, a acumulação de sais no perfil Ação das Massas: “A velocidade de uma reação, num
dos solos resultava, essencialmente, de processos certo instante e a uma dada temperatura é proporcional
naturais tais como inundações, drenagem natural ao produto das concentrações molares dos reagentes”.
deficiente e evaporação de águas salinas subterrâneas. Em outras palavras, a velocidade da reação depende do
Atualmente, vastas áreas vêm sendo afetadas por sais número de colisões eficazes totais por unidade de tempo
como resultado de ações antrópicas, tais como irrigação e fração molar. O número de colisões eficazes, por sua
sem previsão de drenagem, lâmina insuficiente de água vez, depende fundamentalmente da temperatura e do
de irrigação, uso de água salina ou mesmo a combinação catalisador.
destes fatores. Portanto, a velocidade de reação (V) entre os
Os solos afetados por sais podem ser considerados reagentes A e B, é
como: a) salinos - quando a concentração de sais em solução
se eleva ao ponto de provocar estresse osmótico às plantas; aA + bB  produto
b) sódicos - quando a relação de sódio trocável é alta; e c)
salino-sódico - quando as condições anteriores ocorrem V = K [A]a [B]b
simultaneamente. Os sais solúveis normalmente presentes
na solução dos solos de regiões áridas e semiáridas são: O símbolo [ ] representa a concentração Molar e K
sódio (Na+), cálcio (Ca2+), (Mg2+), potássio (K+), cloreto é uma constante de proporcionalidade.
Aspectos físicos e químicos de solos em regiões áridas e semiáridas 23

Exemplo: 3. Pressão: aumentando a pressão, o equilíbrio


desloca-se no sentido de que a pressão diminua. Por
2SO2 + O2  2SO3 exemplo, em

V = K [SO2]2 [O2]

Constante de equilíbrio
Seja a reação o equilíbrio se deslocará no sentido de formar o menor
número de moles, isto é, da esquerda para a direita.

Concentração e atividade
Atividade é a concentração efetiva 1 de um íon ou
(Velocidade da reação  produto) soluto i. O conceito de atividade restringe-se às
interações eletrostáticas de banda larga 2. Aquelas de
banda mais curta3 são denominadas íons complexos e
pares iônicos. Quando o comportamento do soluto i for
(Velocidade da reação  reagente) ideal, isto é, não houver qualquer interação íon-íon ou íon-
solvente, a concentração c i é igual à atividade a i. A
atividade é definida, quantitativamente, pela relação:
No equilíbrio, V 1 = V 2 (condições isotérmicas e
isobáricas), ou
a i = i c i (2)
K1 [A]a [B]b = K2 [C]c [D]d
em que,
a i - atividade do íon i;
ou
i - coeficiente de atividade do íon i;
c i - concentração analítica do íon i.
K 1 Cc Dd

K 2 A a Bb Quando a concentração da solução é relativamente
baixa, o coeficiente de atividade i é inferior a um, ou
seja, a concentração é maior do que a atividade. Esta
Fazendo a relação K 1 / K 2 = K e, em que, K e é a
condição corresponde à região A da Figura 1, na qual
constante de equilíbrio, obtém-se,
predominam as atrações íon-íon, isto é, ai < ci  i < 1.
A área sombreada, na região A da Figura 1, ilustra as
(1) concentrações dos solutos, normalmente encontradas no
solo. Na região B ocorre a solvatação 4 , ou seja, a

Fatores que afetam o equilíbrio químico


Lei de Chatelier - “Se num sistema em equilíbrio for
exercida uma ação externa tal que suas propriedades
termodinâmicas sejam modificadas, o equilíbrio deslocará
no sentido de opor-se àquela ação, para que um novo
equilíbrio seja alcançado”.

Ilustração da lei de Chatelier


1. Concentração: conforme a Eq. 1, aumentando
a concentração do reagente A, o equilíbrio desloca- Figura 1. Valores do coeficiente de atividade em função
da concentração
se no sentido de que A diminua, ou seja, para a
direita; 1 Concentração efetiva refere-se somente ao que está ionizado.
2. Temperatura: aumentando a temperatura, o 2
3
Na banda larga há maior liberdade dos íons, com grande parte em estado ionizado.
Na banda curta há pouca liberdade dos íons, com grande parte em estado complexado e/ou
equilíbrio desloca-se no sentido de que o sistema absorva pares iônicos.
4 A solvatação ocorre quando a concentração dos íons é alta, ou seja, quando começa ocorrer

a temperatura, e vice-versa; e também a interação íon-solvente.


24 Paulo A. Ferreira et al.

fixação de moléculas do solvente por íons ou partículas os íons trivalentes seguidos dos bivalentes e
do soluto pela coroa de hidratação, fazendo com que a monovalentes5 (Figura 2).
concentração efetiva aumente, isto é, ai > ci i >1.
Existem várias expressões para calcular o coeficiente
de atividade. Dentre elas, serão citadas as seguintes:
a) Lei de Debye - Huckel simplificada (válida apenas
para soluções muito diluídas)

(3)

b) Lei de Debye - Huckel estendida (válida para


soluções mais concentradas) Figura 2. Valores do coeficiente de atividade em função da
força iônica de íons monovalentes, bivalentes e
trivalentes
(4)
A atividade de um sal é o produto das atividades de
seus íons, elevadas ao número de átomos da molécula.
c) Equação de Guntelberg Por exemplo, a atividade do MgCl2 
 Mg
2+ + 2Cl- é

(8)
(5)

em que,
Mg e Cl - coeficientes de atividade do magnésio e
d) Equação de Davies
cloro; e
CMg e CCl - concentrações do magnésio e cloro.
(6)
Solubilidade dos sais
A solubilidade dos sais é uma propriedade importante
em que, porque quanto maior for a concentração salina da solução
A e B - constantes que dependem da temperatura do solo, maior será seu efeito sobre as plantas. Portanto,
e natureza do solvente, sendo que para água a 25oC, A = sais de elevada solubilidade são os mais nocivos às
0,509 e B = 0,33 108; plantas. Os sais pouco solúveis, geralmente, precipitam-
Zi - valência do íon i; se antes mesmo de alcançar níveis de concentração
aih - tamanho do íon hidratado; prejudiciais às plantas6. A temperatura exerce grande
b - parâmetro de distorção, o qual varia entre 0,2 a influência sobre a solubilidade da maioria dos sais
0,3; e presentes na solução do solo, conforme apresentado na
m - força iônica, parâmetro que considera a Figura 3.
concentração e os efeitos eletrostáticos dos íons. Nas soluções complexas, em geral, adicionando sais
de íons comuns, diminui a solubilidade desses sais. Por
A força iônica é calculada por meio da equação de outro lado, a adição de sais de íons diferentes resulta no
Lewis - Randall, aumento da solubilidade do sal menos solúvel. Por
exemplo, a solubilidade do gesso é 2,04 g L-1 na ausência
de NaCl. Esta solubilidade eleva-se para 7,09 g L-1 com
(7)
a adição de 358 g L-1 de NaCl.
Quando um soluto não totalmente ionizável é colocado
em meio a um solvente, ocorre um equilíbrio entre o
A força iônica é um índice da força do campo elétrico
que os íons experimentam em solução. Quando  0, 5 Quanto maior a valência maior a m, assim estes íons de maior valência ficam mais agrupados,
dificultando as reações.
i  1  ai  ci. O coeficiente de atividade  diminui 6 Sais de baixa solubilidade, geralmente, apresentam pouco risco de toxidez às plantas. Porém
podem causar problemas de aeração e infiltração da água no solo em razão da precipitação
com acréscimos em , sendo esta diminuição maior para dentro dos poros do solo.
Aspectos físicos e químicos de solos em regiões áridas e semiáridas 25

em que, S representa a solubilidade.

Fatores que afetam a solubilidade


Efeito salino ou de força iônica: a solubilidade de
um sólido aumenta com o aumento da concentração de
um eletrólito, cujos íons não são comuns aos do sólido
Figura 3. Influência da temperatura sobre a solubilidade de precipitado8. Concentração iônica±  S
diversos sais7 (Adaptado de Pizarro, 1985) = (Ksp1/2) / (±) aumenta, pois Ksp é constante.
Efeito do íon comum: a solubilidade de um sólido
número de moléculas do soluto, que ionizam ou diminui quando aumenta a concentração de um eletrólito,
abandonam o sólido, e os íons que abandonam a fase cujos íons são comuns aos do sólido precipitado. Tal fato
líquida depositando-se sobre o sólido, na unidade de é explicado, como: primeiro aumentando a força iônica, o
tempo, ou seja, coeficiente de atividade diminui e a solubilidade aumenta,
ou seja, ± S ; e segundo aumentando a
(9) atividade do íon A+, haverá decréscimo na atividade do íon
B-, porque Ksp é constante. Portanto, para que a atividade
de B- diminua, AB terá que precipitar, ou seja, que a
No sentido da esquerda para a direita, tem-se a
dissolução e, ao contrário, a cristalização. A solução solubilidade de AB tenha diminuído. O segundo efeito
formada, quando em equilíbrio com a fase sólida, prevalece sobre o primeiro, ocorrendo, portanto, a
denomina-se solução saturada e sua concentração a uma precipitação de AB.
dada temperatura constitui a solubilidade do soluto Efeito de associação iônica: A solubilidade de um
naquele solvente. sólido aumenta quando é aumentada a concentração de
A dissolução de um sólido é um fenômeno de um agente que se liga ou associa aos íons desse sólido.
superfície e, como tal, depende do grau de fragmentação Seja, por exemplo,
em que ele se encontra. Como o aumento na temperatura
e a agitação aumentam a velocidade de dissolução, isto ,
é, em temperaturas mais altas e a solução agitada o
tempo necessário para o estabelecimento do equilíbrio
entre as fases sólida e líquida do soluto, diminui. Além adicionado
disso, aumentando-se a temperatura ocorrerá aumento da
energia interna das moléculas e, consequentemente, a .
solubilidade aumentará.
A lei da ação das massas aplicada à equação acima,
depois de estabelecido o equilíbrio, permite escrever: Como aA aB = constante  solubilidade aumenta.
As posições de troca de cátions, na micela do solo,
podem atuar de modo semelhante.
(10)
Exemplos
Seja o caso do gesso,
Como a AB = 1  K a AB = K sp , em que K sp é a
constante do produto de solubilidade, isto é,

cuja

ou K sp  a Ca  a SO 4   Ca Ca  SO SO 4 
4

8 A adição de íons não comuns é muito útil para a aplicação de corretivos no solo, pois esta adição
7 Não se deve fazer lixiviação de sais de baixa solubilidade a temperaturas muito baixas. aumenta a solubilidade do corretivo, tornando este mais eficaz.
26 Paulo A. Ferreira et al.

- Adicionando sais cujos íons não são comuns aos íons


do gesso como, por exemplo, NaCl e MgCl2, a força iônica
da solução aumenta (μ) e, consequentemente, ocorrerá
redução do coeficiente de atividade (â) aumentando a em que:
solubilidade (S). Simbolicamente, adicionando CaSO40 - exemplo de par iônico em solução, mas
não ionizado.

Cálcio e sulfato totais em solução são frequentemente


encontrados nas seguintes proporções:

(aumenta a solubilidade), enquanto adicionando CaT = Ca2+ + CaSO40 = 20,88 + 9,8 = 30,68 meq L-1

MgCl2  [Ca] e [SO4]  SOT = SO42- + CaSO40 = 20,88 + 9,8 = 30,68 meq L-1

(aumenta ainda mais a solubilidade, devido ao efeito A formação de pares iônicos depende do tipo de íon.
bivalente do magnésio). 1. O íon Cl- não forma par iônicos, pois possui energia
cinética muito alta;
- Adicionando um sal que possui íon comum como 2. A formação de pares iônicos com o íon NO 3- é
Na2SO4, por exemplo, ocorrerão dois efeitos opostos, desprezível;
relativamente à solubilidade. O primeiro no sentido de 3. Geralmente, a formação de pares iônicos com o
aumentá-la em consequência do aumento na força iônica, SO42- é maior com cátions bivalentes do que com os
e o segundo no sentido de diminuí-la em consequência da monovalentes;
diminuição na atividade do Ca. Simbolicamente, 4. A formação de pares iônicos com o HCO3- só é
adicionando significativa em pH básico;
5. A formação de pares iônicos aumenta com a carga
e concentração dos íons.

Alguns exemplos de pares iônicos são: CaSO 40,


O efeito líquido manifesta-se no sentido da diminuição MgSO 40, NaHSO 40, CaCO 30, Ca(HCO 3) 20, NaSO 4-,
na solubilidade, porque Ksp é constante. CaHCO3-.
Embora permaneça em solução, a formação de pares
- Associação iônica iônicos condiciona a carga elétrica dos íons a se tornar
neutra ou quase neutra. A análise química fornece, por
exemplo, o CaT = Ca2+ Ca SO40. Empregando técnica de
eletrodo específico, determina-se aCa e, por diferença,
obtém-se a concentração de par iônico na solução.
Adicionando Na+ e Ca2+, irá formar NaSO4,
Formação de íons complexos
Enquanto os pares iônicos formam-se com a união
eletrostática de dois íons hidratados fora da esfera de
hidratação, os íons complexos formam-se da combinação
Formação de pares iônicos de um cátion central com um ou mais íons que penetram
As interações de banda curta entre íons em solução na esfera hidratada do cátion, ocupando o lugar de uma
podem resultar na formação de par iônico entre eles, os ou mais moléculas de água. A formação de íons
quais modificam o estado de equilíbrio do sistema. Por complexos ou pares iônicos depende da atração dos
exemplo, a solubilidade do gesso, expressa com maior cátions e anions envolvidos. A Figura 4 ilustra os dois
rigor, é: casos.

Condutividade elétrica
A condutividade elétrica de uma solução é
proporcional à sua concentração iônica. Esta propriedade
e permite conhecer a salinidade de uma solução medindo-
Aspectos físicos e químicos de solos em regiões áridas e semiáridas 27

A CE é uma medida unicamente dos solutos (íons)


carregados, conforme discutido no item sobre pares
iônicos e íons complexos. É uma característica da
solução do solo amplamente usada para medir sua
salinidade. Assim, a condutividade elétrica do extrato da
Figura 4. Ilustração de pares iônicos e íons complexos pasta saturada do solo, CEes, geralmente é tomada como
índice de salinidade do solo. Seu valor aumenta à medida
se sua condutividade elétrica. Seja o condutor que o teor de água do solo diminui, isto é, a solução
representado na Figura 5. A resistência elétrica R (ohm) concentra-se. Quando o objetivo é determinar o efeito da
de um condutor é diretamente proporcional ao salinidade sobre as plantas, é necessário obtê-la na faixa
comprimento d (cm) e inversamente proporcional à seção de teor de água do solo na qual a planta se encontra. Os
transversal S (cm2), ou seja, resultados podem ser influenciados pela porosidade do
solo.
Sejam, por exemplo, os solos:
.
Solo 1 - argiloso Solo 2 - arenoso
s =  = 43% s =  = 29%
cc = 36% cc = 16%
pm = 20% pm = 12%
Figura 5. Condutor de comprimento d e seção S
em que,  é o teor de água em base volume e  é a
Entrando com o fator de proporcionalidade , obtém- porosidade total. Os subscritos s, cc e pm correspondem
se a resistência do condutor aos teores de água em meio saturado, capacidade de
campo e ponto de murcha permanente, respectivamente.
Supondo que ao medir a condutividade elétrica do
extrato da pasta saturada dos dois solos, encontrou-se
CEes = 2 dS m-1, para ambos. As condutividades elétricas
em que,  é a resistência específica ou resistividade em teores de água em capacidade de campo e de ponto
elétrica (resistência por unidade de comprimento e área). de murcha permanente serão obtidas a partir das seguintes
O fator de proporcionalidade  depende apenas da relações:
natureza do condutor. Quanto maior for o seu valor, pior CEes   = CEcc  cc
é o condutor. CEes   = CEpm  pm
Ao inverso da resistividade denomina-se condutância
específica ou condutividade elétrica (CE). Portanto, Solo 1 - argiloso
CEcc = CEes  /cc = 2  43 / 36 = 2,4 dS m-1
CEpm = CEes  /pm = 2  43 / 20 = 4,3 dS m-1

Solo 2 - arenoso
CEcc = CEes  /cc = 2  29 / 16 = 3,6 dS m-1
As unidades de condutividade elétrica, normalmente, CEpm = CEes  /pm = 2  29 / 12 = 4,8 dS m-1
usadas são:
- solução do solo - miliohm cm-1 (mohm cm-1) = 10-3 Nota-se que a salinidade da solução do solo argiloso
ohm cm-1 = dS m-1 = 0,1 S m-1 = mS cm-1; é menor do que a do arenoso, quando não saturados, em
- água de irrigação - microohm cm-1 (mohm cm-1) =
razão da maior retenção água no argiloso. Este exemplo
10 ohm cm-1 = mS cm-1.
-6

Como a CE depende da temperatura, seu valor deve mostra a importância da textura e estrutura do solo na
ser sempre convertido para a temperatura de 25°C concentração salina da solução, quando os teores de
(Richards, 1954). Além da temperatura, a CE depende de água do estado saturado diminuem até atingir o ponto de
outros fatores, como: número de espécies iônicas murcha permanente.
presentes na solução; cargas das espécies iônicas; Se não houver nem fonte nem sumidouro de sal na
mobilidade de cada íon; área efetiva dos eletrodos; e solução do solo e se o teor de água reduzir do estado de
distância entre eletrodos. saturação ao ponto de murcha, existem entre as
28 Paulo A. Ferreira et al.

condutividades elétricas e os respectivos teores de água,


as seguintes relações:

CEes   = CEcc  cc = CEpm  pm = CE ()   =  = constante


Ocorre uma reação de equilíbrio ou incompleta
Entre a condutividade elétrica e outras unidades que porque a quantidade de íons de cálcio que entra na
expressão a salinidade da solução do solo, existem as solução do solo está em equilíbrio com a fração que
relações: permanece adsorvida na micela. O mesmo ocorre
- (10 a 12) dS m-1 = concentração total de cátions, em relação ao sódio. A quantidade adsorvida está
mmolc L-1; em equilíbrio com a fração que permanece na
- Pressão osmótica (kg cm-2) = 0,36 dS m-1; e solução. Assim, a constante de equilíbrio é,
- ppm (mg L-1) = (640 a 700) dS m-1. conforme Eq. 1,

Os intervalos nos quais os coeficientes de conversão


de unidades variam de 10 a 12 e de 640 a 700, decorrem (11)
da diferença existente entre as atividades dos íons
presentes na solução, que varia de espécie para espécie,
e da concentração do íon específico. Na Figura 6, que ou
ilustra este fato, observa-se que para uma concentração
de 100 mmolc L-1, se na solução prevalecer o sulfato de
magnésio (MgSO4), a CE é aproximadamente 6 dS m-1, (11)
ao passo que se na solução predominarem íons de
cloretos, a CE aproxima-se de 10 dS m-1.
Na Eq. 11, as relações (Na ads) / (Ca ads) e [Ca2+]
/ [Na]2, correspondem às concentrações nas fases sólida
e líquida, respectivamente.
Algumas equações têm sido propostas por vários
pesquisadores (Richards, 1954; Bresler, 1970; Bresler et
at., 1982) para quantificar, no equilíbrio, a distribuição de
pares de cátions entre aqueles encontrados na forma
trocável (adsorvidos) e aqueles em solução. Para pares
de cátions de mesma valência, muitas dessas equações
têm a mesma forma e conduzem a constante de equilíbrio
satisfatória. Todavia, resultados desencontrados têm sido
obtidos com o emprego de diferentes equações, quando
cátions de diferentes valências estão presentes.
Figura 6. Relação entre condutividade elétrica (dS m-1) e con-
Em solos de regiões áridas, o uso de equações de
centração (mmolc L-1), (adaptada de Richards, 1954)
troca de cátions para exprimir a relação entre cátions
EQUILÍBRIO ENTRE CÁTIONS em solução e cátions adsorvidos, envolve dificuldades
EM SOLUÇÃO E ADSORVIDOS próprias. Estas dificuldades decorrem da presença de
uma mistura de tipos diferentes de argila no solo, além,
A troca de cátions no solo pode ser representada por geralmente, da presença de quatro espécies de
equações semelhantes àquelas empregadas para reações cátions.
químicas em solução. Por exemplo, a reação entre argila Apesar dessas dificuldades, Gapon, Mattson e
saturada com cálcio e o cloreto de sódio na solução, pode Wiklander, Davis e Schofield, nas décadas de trinta e
ser escrita: quarenta, mostraram que a função entre a relação de
cátions adsorvidos monovalente e bivalente, com a
relação entre a concentração molar do cátion
monovalente pela raiz quadrada da concentração molar
do cátion bivalente é linear, conforme Eq. 11 e Figura 7
ou (adaptada de Richards, 1954), isto é,
Aspectos físicos e químicos de solos em regiões áridas e semiáridas 29

Comparando a equação de regressão da Figura 7, isto


(12) é,

y = - 0,0126 + 0,01475 x (15)

Fase sólida (RST) Fase líquida (RAS)


com a Eq. 12, observa-se que:
em que,
RST - Relação de sódio trocável; y = (Na ads) / (Ca ads) = RST
RAS - Relação de adsorção de sódio.
Obs.: O símbolo [ ] significa concentração em mmol L-1. ou

y = (Na ads) / (CTC - Na ads);

- 0,01475 = Ke = Kg  Coeficiente de Gapon


(Declividade da reta);

ou

Figura 7. Relação de sódio trocável em função da relação de


adsorção de sódio, para solos do Oeste dos EUA (Adap-
tado de Richards, 1954)
- 0,0126 = Coeficiente linear (intercepto).
A Eq. 12 é igual a 11 explicitada para a relação (Na Obs.: A RAS possui unidades de (mmolc L-1)1/2.
ads) / (Ca ads).
Duas relações semelhantes àquela apresentada no Os valores da Porcentagem de Sódio Trocável (PST),
segundo membro da Eq. 12, designadas Relação de em função da RST para o exemplo da Figura 7, podem
Adsorção de Sódio (RAS) e Relação de Adsorção de ser obtidos empregando-se a Eq. 15, ou seja,
Potássio (RAP) são empregadas para discutir, em
condições de equilíbrio, a relação existente entre cátions 100(0,0126  0,01475 RAS)
adsorvidos e cátions em solução. São elas: PST  (16)
1 + (0,0126 + 0,01475 RAS)

(13) ou

(14) A demonstração da Eq. 16 é feita a partir da definição


da PST e da expressão (Ca ads + Mg ads)  (CTC - Na
ads), isto é,

em que, as concentrações de Na+, K+, Ca2+ e Mg2+ são em


mmolc L-1 (Razão da divisão da soma, sob radical, por 2).
30 Paulo A. Ferreira et al.

Dividindo tudo por (CTC - Na ads), obtém-se adsorvido. A uma dada concentração, a ordem de
preferência em reações de troca de cátions é a
seguinte:

Al3+>Ca2+>Mg2+>NH4+>H+> K+>Na+>Li+ (solos de


regiões semiáridas e áridas)

Nas Eqs. 12 e 18, observa-se que o mecanismo de


Vale salientar que para a estimativa da RAS na Eq. adsorção favorece o cátion de valência mais alta e que
13, a concentração dos cátions Ca, Mg e Na refere-se essa preferência aumenta com a diluição da solução.
ao extrato da pasta do solo saturado, em condição de
equilíbrio entre as concentrações na fase sólida e líquida, Exemplos:
e não na água de irrigação. 1) Para manter uma RST = (Na ads) / (Ca ads) =
A equação geral de equilíbrio entre cátions adsorvidos 0,06, calcule a quantidade de sódio em solução à
e cátions em solução, equação de Gapon, pode ser escrita diferentes concentrações de cálcio.
a partir da reação,
Solução:
a) [Ca2+] = 5 mmol L-1
(17)
Pela Equação 2.12, obtém-se

Portanto, o coeficiente Kg é:

(18)
b) [Ca2+] =10 mmol L-1

em que, a, b - valência dos cátions A e B; ads - adsorvido;


e s - em solução.
A Eq. 18 transforma-se na Eq. 11 para A = Na+ e B
= Ca 2+ . Portanto, torna-se evidente que os cátions c) [Ca2+] =20 mmol L-1
adsorvidos podem ser substituídos ou trocados por outros
cátions introduzidos na solução do solo. Sob condições
quimicamente neutras, o número total de cargas
catiônicas trocáveis, expresso em termos de equivalentes
químicos por unidade de massas de partículas do solo, é
aproximadamente constante e independe da espécie de As razões entre sódio e cálcio em solução, para as
cátions presente. Esta é uma propriedade intrínseca do concentrações acima, são:
material de solo, denominada capacidade de troca de 1. [Na+] / [Ca2+] = 9,10 /5 = 1,82
cátions (CTC) que, normalmente, é expressa em termos 2. [Na+] / [Ca2+] = 12,86 /10 = 1,29
do número de cmolc de cátions por kg de solo. A CTC 3. [Na+] / [Ca2+] = 18,19 /20 = 0,91
varia, aproximadamente, de 0 (zero) nas areias
quartzosas lavadas a 1000 cmolc / kg de solo, ou mais, Nota-se que, para manter a RST = 0,06 à medida
nas argilas (Hillel, 1980). que a solução torna-se mais concentrada, necessita-se de
O fenômeno de troca de cátions afeta o movimento uma menor relação [Na+] / [Ca2+], comprovando, assim,
e a retenção de íons no solo, bem como os processos de que a diluição favorece o íon de valência mais alta. É
floculação e dispersão dos colóides do solo. necessário mais Na+ em relação ao Ca2+ (1,82) quando
Devido às diferenças em valências, raio e a solução é diluída (5 mmol L-1) do que quando ela é
propriedades hidratantes, cátions diferentes são concentrada (0,91), 20 mmol L-1.
adsorvidos nas micelas com diferentes graus de
preferência. Quanto menor for o raio iônico hidratado 2) Calcular a RST e as porcentagens de cálcio e
e maior for a valência, mais fortemente o íon será sódio adsorvidos no complexo de troca de cátions de um
Aspectos físicos e químicos de solos em regiões áridas e semiáridas 31

solo que se encontra em equilíbrio com uma solução 0,012 é a quantidade mínima de gesso necessária, por hectare,
M (Ca2+ + Na+). para substituir o sódio pelo cálcio na camada de 20 cm
de profundidade do solo?
no = 0,012mol = 12 mmol (Ca2+ + Na+) Dados:
Densidade do solo = 1,2 g cm-3;
ou Fórmula química do gesso = CaSO4.2H2O; e
Peso molecular = 172; peso equivalente = 86.
[Ca2+] = 6 mmol; e [Na+] = 6 mmol
Solução:
a) Massa do solo / ha  M = V da (volume  densidade)

V = 10.000 m2  0,2 m = 104  2  10-1 m3 = 2  103


m3 = 2  109 cm3.
Portanto,
M = V  da = 2  109 cm3  1,2 g cm-3 = 2,4  109 g
(Na ads) = 0,036 (Ca ads). de solo.

Mas, b) Número de equivalentes de Na à serem removidos


(substituídos) da camada de 20 cm de profundidade:
(Na ads) + (Ca ads) = 100%
mmolc de Na por g de solo = 0,25  0,4 mmolc g-1 = 0,1
ou mmolc Na g de solo-1

0,033 (Ca ads) + (Ca ads) =100% 2,4  109 g  (0,1 mmolc Na g-1  10-3 molc Na mmolc
Na-1) = 2,4  105 molc Na
Portanto 1,036 (Ca ads) = 100% , ou seja,
c) Massa de gesso necessária para substituir 2,4  105
(Ca ads) = 100% / 1,036 = 96,5% molc de Na:

e 86 g de gesso molc-1  2,4  105 molc = 206,4  105 =


2  107 g de gesso = 20 ton ha-1 de gesso.
(Na ads) = 100% - 96,5% = 3,5%.
FLOCULAÇÃO E DISPERSÃO
Este exemplo evidencia a intensidade com que o
DAS ARGILAS
mecanismo de adsorção favorece o íon de valência mais
alta em soluções diluídas.
Forças e energia no sistema solo-água
Em um sistema solo-água as forças moleculares
3) Verificar o efeito da diluição sobre a RST e as presentes podem ser divididas entre forças de coesão e
porcentagens de Na e Ca adsorvidos para adesão. Coesão é uma força de atração entre moléculas
a) no = 10 mmol; b) no = 6 mmol; c) no = 4 mmol. iguais enquanto a adesão é uma força de atração entre
moléculas diferentes. As forças de atração elétricas
Respostas: ocorrem tanto em nível molecular quanto em nível
a) RST = 0,033; (Ca ads) = 96,5%; (Na ads) = 3,2% atômico. As pontes de hidrogênio constituem exemplo de
b) RST = 0,025; (Ca ads) = 97,6%; (Na ads) = 2,4% força de atração eletrostática em nível molecular,
c) RST = 0,021; (Ca ads) = 97,9%; (Na ads) = 2,1% enquanto a força de van der Waals-London constituem
um tipo de atração elétrica em nível atômico.
Com a diluição a porcentagem de (Ca ads) em relação
ao (Na ads) aumenta. Este exemplo ressalta os efeitos Força de Van der Waals-London (V-L)
simultâneos da valência e diluição. Força de Van der Waals é aquela existente entre
moléculas neutras ou apolares e, portanto, não depende
4) Se a CTC de um solo é 40 mmolc / 100 g e se o de um excesso de carga elétrica. Antes do advento da
sódio ocupa 25% do complexo de troca desse solo, qual mecânica quantum, a atração entre moléculas era
32 Paulo A. Ferreira et al.

explicada pela física clássica como uma atração Juntos, a superfície da micela agindo como um ânion
eletrostática entre pólos opostos de moléculas bipolares múltiplo e o aglomerado de cátions flutuando ao seu
ou com dipolo induzido. redor formam uma camada dupla eletrostática ou dupla
Segundo Kirkham & Powers (1972), London usou a camada difusa (Figura 8).
mecânica quântica, em 1930, para obter uma expressão
quantitativa da força de van der Waals que passou a ser
denominada força de Van der Waals-London (V-L). Esta
força atrativa ocorre porque os elétrons de um átomo
oscilam em tal frequência (1015 a 1016 Hz) que o fazem,
instantaneamente, flutuar como átomo bipolar o qual, por
sua vez, polariza ou atrai outro átomo adjacente. Em
outras palavras, as atrações entre moléculas ocorrem em
razão da flutuação de cargas em dois átomos, ou
moléculas, que se encontram muito próximos. Devido ao
permanente movimento dos elétrons, cada molécula
possui, instantaneamente, um momento-dipolo diferente Figura 8. Formação da camada dupla difusa numa micela
de zero. Um dipolo instantâneo de um átomo ou molécula mostrando: (a) a partícula coloidal desidratada; e (b)
induz outro dipolo opostamente orientado de um átomo hidratada ou micela
e\ou molécula vizinha, e estes dipolos instantâneos se
atraem mutuamente. Os cátions fortemente adsorvidos formam uma
A força de atração, gerada entre os átomos, varia camada relativamente fixa junto à superfície da
inversamente com a distância entre eles à sétima partícula, conhecida como Camada de Stern. Enquanto,
potência (F μ 1/d7), isto é, atua em um campo menor que os cátions que se difundem a maiores distâncias,
100 Angströms (100 Å = 10-8 m). Isto significa que, a relativamente à superfície da partícula, formam a
uma distância acima de 10-8m um átomo não consegue camada difusa cuja concentração iônica decresce à
polarizar outro átomo. medida que a distância à superfície da partícula
Kirkham & Powers (1972) afirmam que as forças de aumenta. Juntas, a camada de Stern e difusa formam
(V-L) são aditivas significando que, no caso das a camada dupla difusa (Figura 9), a qual decorre do
partículas coloidais do solo que possuem muitos átomos, equilíbrio entre duas forças opostas:
as forças atrativas entre elas podem ser maiores. a) atração eletrostática das cargas negativas da
Segundo Adamson (1960), as forças atrativas entre micela para com os cátions, a qual tende a puxá-los para
partículas coloidais laminares e esféricas variam com o junto da partícula (Coulombiano), compreendendo uma
inverso das distâncias, entre elas, elevadas a terceira e força de atração; e
sétima potências, respectivamente. Assim, as forças
atrativas entre partículas coloidais atuariam a uma maior
distância, isto é, em uma banda mais larga do que entre
átomos individuais.
Sabe-se que as forças de (V-L) exercem papel
desprezível relativamente à atração água-argila e água-
água, porém essa força é muito importante para a
floculação de partículas de argila no sistema solo-
solução.

A camada dupla eletrostática ou camada dupla difusa


Quando uma partícula coloidal de argila está
relativamente seca, os cátions neutralizantes estão
fortemente presos à sua superfície. Umedecendo-a,
alguns íons dissociam-se e entram em solução.
Uma partícula coloidal hidratada de argila ou húmus Figura 9. Distribuição de potencial na camada dupla difu-
forma, então, uma micela, na qual os íons adsorvidos sa. Ao valor do potencial á distância  da superfície da
estão espacialmente separados, a uma maior ou menor micela denomina-se potencial zeta, V (Adaptada de Ki-
distância, em relação à micela carregada negativamente. rkham & Powers, 1972)
Aspectos físicos e químicos de solos em regiões áridas e semiáridas 33

b) movimento cinético (Browniano) induzindo no 2. Os íons neutralizantes das cargas negativas da


sentido da difusão dos cátions adsorvidos, isto é, no micela comportam-se como pontos de carga, ou seja, não
sentido de igualar a concentração através da fase líquida. possuem massa podendo, assim, aproximarem a
A concentração de cátions dentro da camada dupla distâncias infinitésimas da superfície da micela; e
difusa é aproximadamente 100 a 1000 vezes maior do 3. Inexistência de especificidade de íons, isto é, todos
que na solução ambiente. os monovalentes têm comportamento idêntico assim
Enquanto os cátions são adsorvidos positivamente pela como os bi e trivalentes.
partícula coloidal, os ânions são repelidos (cargas de Semelhantemente a Helmholtz, Gouy-Chapman
mesmo sinal) ou adsorvidos negativamente (Figura 10). também pressupuseram que a força consequente das
Evolução do conhecimento sobre a camada dupla cargas superficiais da micela é proporcional à densidade
de carga. Uma limitação ao emprego da teoria de Gouy-
Chapman é que ao calcular a quantidade de íons junto à
superfície da micela o valor resulta irreal, ou seja,
superestimado por causa da pressuposição de que os
íons, considerados como pontos de carga, não ocupam
espaço, isto é, não possuem massa.
A solução deste problema foi apresentada por Stern
ao propor um novo modelo para a dupla camada difusa.
Stern considerou o volume ocupado pelos íons e que a
aproximação deles à superfície da micela é limitada.
Figura 10. Distribuição de íons positivos e negativos, em Outro ponto importante foi caracterizar a camada dupla
solução, em função da distância à superfície da micela. ao pressupor a existência de uma camada de íons mais
Aqui, n0 é a concentração iônica da solução ambiente,
próximos à superfície da micela a uma distância de maior
fora da camada dupla eletrostática
aproximação, conhecida como camada de Stern, seguida
eletrostática: Uma das mais antigas teorias, objetivando de uma camada difusa de íons.
descrever o que mais tarde denominou-se dupla camada Na Figura 9 percebe-se que o potencial eletrostático
difusa, é a de Helmholtz. Conforme esta teoria, as é máximo na superfície da micela e que ele apresenta
cargas negativas de uma micela encontram-se decréscimos lineares e exponenciais dentro das camadas
uniformemente distribuídas na sua superfície e a carga de Stern e difusa, respectivamente.
positiva, total que a neutraliza, está contida num plano Características do modelo de Stern:
paralelo à superfície da micela a certa distância dela. - limita a aproximação dos íons à superfície da micela;
Portanto, a concepção de dupla camada difusa ainda não - atribui ao íon uma energia de interação específica -
existia. O decréscimo de potencial entre a superfície da íons diferentes interagem diferentemente com a superfície
micela e o plano de cargas positivas era considerado da micela; e
linear (Figura 11). - limita a capacidade da camada de Stern.
A carga negativa total na superfície da micela é igual
à soma das cargas positivas nas camadas difusa e de
Stern. Sua energia de interação específica é máxima
para os cátions trivalentes, mais fortemente adsorvidos,
e decresce no sentido dos cátions bi e monovalentes.
Dentre os de mesma valência aqueles que apresentam
maior grau de hidratação possuem menor energia de
Figura 11. Geometria da teoria de Helmholtz interação específica.
Estudos quantitativos da camada dupla eletrostática
O conceito de dupla camada difusa surgiu com as têm sido fundamentados na Teoria de Gouy-Chapman.
pesquisas de Gouy em 1910 e Chapman em 1913. Por exemplo, a espessura da camada dupla difusa é
Embora estes pesquisadores tenham trabalhado calculada pela equação:
independentemente, eles propuseram o conceito de dupla
camada difusa com base em três pressuposições:
1. As cargas negativas distribuem-se uniformemente (19)
por toda superfície da micela - conforme Helmholtz;
34 Paulo A. Ferreira et al.

em que, As considerações acima não levam em conta a


z - espessura da camada dupla difusa (Å); interação entre partículas, isto é, o caso em que a
e - carga elementar de um elétron (4,77 10-10 esu); camada dupla difusa de uma partícula sobrepõe-se à de
v - valência do íon em solução; outra (Figura 14). Quando isto ocorre, a concentração no
 - constante dielétrica da água; plano intermediário é maior do que na solução ambiente,
 - constante de Boltzmann (k = R/N, onde R é a a qual é estimada pela equação de Longmuir expressa
constante dos gases e N é o número de Avogadro); como:
T - temperatura (°K); e
no - concentração de íons na solução ambiente fora nc = 2p / [v 2 B (d + x) 210 - 16] (20)
do campo de forças da micela (íons cm-3).
em que,
Conforme a Eq. 19 e as Figuras 12 e 13, o valor de nc - concentração de cátion no plano intermediário
z varia inversamente com a valência do íon e com o (molc L-1);
inverso da raiz quadrada da concentração. Por exemplo, v - valência do cátion trocável;
se uma solução de cátions monovalentes for substituída B - constante relacionada com a temperatura e com
por outra de cátions bivalentes, a camada dupla difusa a constante dielétrica (1015 cm mmolc-1);
reduzirá à metade do seu valor inicial (Figura 12). Por d - distância de cada partícula (micela) ao plano
outro lado, aumentando-se em quatro vezes a intermediário (Å); e
concentração da solução ambiente (N 1 = 4N 2 ), a x - fator de correção (1 - 4 Å).
espessura da camada dupla difusa ficará reduzida à
metade (Figura 13).

Figura 12. Comparação entre a concentração de um cátion


monovalente, Na, e um bivalente, Ca, na camada dupla
Figura 14. Ilustração do aumento de concentração de cátions
difusa
na camada dupla difusa conseqüente à interação de duas
micelas de argila

Força repulsiva ou potencial eletrostático: Se um


ânion como o Cl- for liberado perto da superfície de uma
micela ele, será repelido no sentido contrário à superfície
da micela pela força de repulsão eletrostática entre a
micela e o Cl-. Isto significa que o sistema argila-solução
é capaz de realizar trabalho sobre o ânion, isto é, o
sistema tem energia potencial e esta varia de ponto para
ponto na solução do solo.
Em qualquer ponto próximo à superfície da micela, o
potencial é definido como o trabalho a ser realizado para
transferir uma unidade de carga negativa de um ponto
qualquer na solução ambiente, onde o potencial é zero, para
Figura 13. Influência da concentração da solução ambiente um ponto próximo à superfície da micela, onde o potencial
sobre a espessura da camada dupla difusa é V (Figura 9). Para explicar a distribuição de potencial
Aspectos físicos e químicos de solos em regiões áridas e semiáridas 35

dentro da camada dupla difusa, o conceito de campo de cisalhamento em relação ao seu valor na solução
força eletrostático é frequentemente usado. ambiente, denomina-se potencial zeta (Figura 9). A
Para um simples íon, movendo-se a uma distância ds distância do plano de cisalhamento à superfície da
ao longo de uma linha de força eletrostática, a mudança micela em condição de pH relativamente constante,
no potencial dV é expressa por dV = F ds, que integrando depende apenas da densidade de cargas na superfície
resulta: da micela.
O potencial zeta é o trabalho por unidade de carga
para mover, por exemplo, um ânion, como o cloreto (Cl-) de
(21) um ponto na solução ambiente até o plano de
cisalhamento.
Considerando a camada dupla eletrostática como
em que, sendo as duas camadas de carga de um simples
V - potencial; condensador de placas paralelas, pode-se utilizar a
F - força do campo elétrico (força elétrica por fórmula do condensador E = 4k/ para obter o potencial
unidade de carga); e zeta:
s = s1 - s0, sendo: s1 a distancia entre a superfície da
micela a um ponto próximo a ela, onde o potencial é V;
s0 é a menor distância entre a superfície da micela a (22)
um ponto na solução ambiente, onde o potencial é zero
(V = 0).
em que,
Potencial zeta ()  - diferença de potencial através das placas, isto é,
Quando uma partícula de argila, com um aglomerado potencial zeta;
de íons ao seu redor, é colocada em um campo elétrico, d - distância entre as placas;
a partícula, carregada negativamente, migrará em k - densidade de carga por unidade de área sobre
direção ao pólo (eletrodo) positivo, enquanto os cátions uma das placas;
irão, predominantemente, migrar para o pólo negativo.  - constante dielétrica da água; e
Todavia, os cátions muito próximos à superfície da x/d - intensidade de campo elétrico, E, entre as placas.
partícula de argila migrarão juntamente com ela em
direção ao pólo positivo, por estarem fortemente Conforme a Figura 9 e a Equação 2.19, o valor do
adsorvidos. Aqueles cátions mais distantes, isto é, com potencial zeta decresce com a diminuição da espessura
menor energia de adsorção, migrarão na direção do da dupla camada difusa. Portanto, se a concentração da
campo negativo (Figura 15). solução do solo permanece relativamente constante, mas
o potencial zeta, determinado em suspensões coloidais de
um solo, está diminuindo com o decorrer do tempo, isto
indica propensão para floculação dos colóides, ou seja,
íons de valência maior estão substituindo os de menor
valência na micela. Este fato é benéfico e indica que o
solo está em processo de floculação das micelas seguida
de estruturação. Reciprocamente, aumentos no potencial
zeta ao longo do tempo alerta para a dispersão dos
colóides com a consequente redução da condutividade
hidráulica e do arejamento do solo.

Figura 15. Separação iônica mostrando os eletrodos positivo Floculação e dispersão


e negativo, a micela e o plano de cisalhamento Quando as partículas de argila interagem podem atuar
tanto forças de atração quanto de repulsão. Dependendo
O plano que divide os cátions, dentre aqueles que das condições físicas e químicas, uma ou outra irá
migrarão juntamente com a partícula de argila hidratada predominar. Se a camada dupla difusa possui espessura
ou micela e os que movimentarão na direção do campo maior do que a distância sobre a qual a força de V-L
negativo, é denominado plano de cisalhamento ou plano atua então a força repulsiva dos cátions, das camadas
de deslizamento. O valor do potencial no plano de duplas difusas, irá prevalecer e as partículas de argila
36 Paulo A. Ferreira et al.

serão mantidas distantes entre si ou dispersas. Por outro espessa mantendo as micelas distantes entre si e,
lado, se a camada dupla difusa das partículas for consequentemente, dispersas.
compacta, as partículas de argila aproximam-se de tal Outro tipo de atração eletrostática pode ocorrer
modo entre si que a distância entre elas pode ficar menor quando as arestas de partículas laminares de argila
do que a distância sobre a qual as forças de V-L atuam. desenvolvem cargas positivas, a pH ácido. Se a repulsão
Neste caso, as forças de V-L prevalecerão sobre as não for muito forte de modo a permitir uma estreita
forças repulsivas dos cátions, as camadas duplas aproximação entre partículas, a carga positiva na aresta
sobrepõem-se e as partículas de argila agregam-se da partícula pode formar ligação com a carga negativa
formando flocos. Portanto, regulando a espessura da na face da outra partícula. Isto ocorrendo entre várias
camada dupla difusa com o aumento da concentração partículas, formará um tipo de estrutura denominada
iônica e/ou da presença de íons de maior valência, é casa de cartão (card house) (Figura 17).
possível promover a floculação dos colóides. Por outro
lado, em concentração baixa e a predominância de íons A B
monovalente implica na dispersão. Este princípio pode ser
demonstrado aplicando-se gesso (CaSO 4.2H 2O) em
suspensão obtida de um solo disperso pelo sódio, para
aumentar a condutividade hidráulica.
Além da força de V-L, as cargas negativas de uma
micela podem atrair íons positivos da camada dupla
difusa de outra micela, quando elas tornam-se muito
próximas (15 Å ou menos), de tal forma que os íons de
Figura 17. A - Representação esquemática de uma estrutura
uma e outra camada se misturam formando uma camada de argila do tipo “casa de cartão”( Hillel, 19800. B - vista
unificada de cargas positivas, que são polarizados pelas espacial das ligações eletrostática aresta-face em meio
cargas negativas de micelas vizinhas. A Figura 16A ácido e alcalino (Chuchman et al., 1995)
ilustra este fato onde as setas sobrepostas representam
as forças atrativas das cargas negativas sobre a camada CLASSIFICAÇÃO DOS SOLOS SALINOS
compactada de íons positivos, resultando na floculação.
Este fenômeno, também conhecido como condensação Classificação dos solos do Sudoeste americano
de placa, resulta na formação de “tactoids” ou sucessão (Richards, 1954)
de partículas laminares (Figura 16B). Já a Figura 16C Esta classificação, embora até hoje usada por muitos
corresponde a uma condição de camada dupla difusa pesquisadores ao classificar os solos salinos, é somente
válida para as condições dos solos e águas de irrigação do
(a) (b) sudoeste americano, os quais são ricos em carbonatos e
bicarbonatos. Os parâmetros classificatórios aqui
empregados são completamente adversos quando os solos
salinos são pobres em carbonatos e a condutividade
elétrica da água de irrigação for menor do que aquela do
sudoeste americano, como é o caso do nordeste brasileiro
e da Austrália.
Segundo esta classificação os solos salinos
classificam-se em três tipos:
a) Solos Salinos - a concentração elevada de sais
solúveis neutros 9 pode afetar seriamente o
desenvolvimento e a produção das culturas pelo estresse
(c) hídrico. Apresentam:
CEes > 4 dS m-1 a 250C;
PST < 15; e
7 < pH < 8,5.

Devido à predominância dos sais solúveis


neutralizantes, a porcentagem de sódio trocável é baixa.
Figura 16. Micelas saturadas: A – íons de Cálcio; B – íons 9 São os sais (Ca e Mg) que previnem a hidrólise do Na e, consequentemente, o aumento do pH.
monovalentes; C – estrutura laminar
Aspectos físicos e químicos de solos em regiões áridas e semiáridas 37

Quando predominam cloretos e sulfatos de sódio, cálcio Discussão sobre classificação de solos salinos
e magnésio, o excesso de sais solúveis pode ser Não há, ainda, uma definição unânime para solo
facilmente lixiviado sem que ocorra elevação apreciável sódico. Além disso, esta definição torna-se mais
do pH. A água de lixiviação não deve conter sódio em complicada com a presença dos sais neutralizantes da
concentração perigosa. hidrólise do sódio os quais, dependendo da concentração,
b) Solos Salino-Sódicos - apresentam concentrações podem tornar o solo salino-sódico. Na metade da década
apreciáveis de sais solúveis neutralizantes e quantidade de 60, o termo sódico passou a ser usado
de sódio suficiente para afetar as plantas. preferencialmente ao álcali, quando a PST > 15%.
Apresentam: Por outro lado, o tipo de textura tornou-se fator
CEes > 4 dS m-1 a 250C; importante ao adotar um valor crítico de PST = 10, para
PST > 15; e solos de textura fina, e 20 para os de textura grossa ao
pH < 8,5. cacterizar um solo como sódico, isto é, capaz de ocorrer
problemas estruturais (Greene et al., 1978).
Embora a PST > 15, o pH é frequentemente menor
No final da década de 70, o termo álcali foi
do que 8,5 devido à influência repressiva dos sais
considerado antiquado nos Estados Unidos, enquanto a
solúveis neutralizantes, como ocorrem em solos salinos.
definição de solo sódico tornou-se: um solo não salino
Ao contrário dos solos salinos, com a remoção dos sais
contendo sódio trocável em concentração suficiente para
neutralizantes, pela lixiviação, o sódio trocável hidrolisa-
causar danos à produção das culturas e à estrutura da
se resultando em um aumento repentino na concentração
de OH-, e no consequente aumento do pH. maioria dos solos, em condições de campo (Sumner,
1995).
Na Austrália estabeleceu-se, para até um metro de
profundidade no perfil do solo, um valor de PST > 6
como sendo a definição australiana de solo sódico, na
Para evitar a hidrólise e a consequente dispersão dos região estudada (Northcote & Skene, 1972). Mais tarde,
colóides, a lixiviação dos solos salino-sódicos só deve ser Mcintyre (1979) propôs uma PST > 5 como critério de
feita água de irrigação contendo sais de cálcio e/ou definição para o solo sódico. Observações semelhantes
magnésio em concentrações adequadas. foram, também, feitas no sul da África (Cass, 1972).
Posteriormente, constatou-se que o valor original de
c) Solos Sódicos10 - apresentam baixa concentração PST > 15, usado pelos pesquisadores da Califórnia como
de sais solúveis neutralizantes e alta toxicidade às plantas limiar, ou seja, acima do qual a estrutura do solo é
por Na+ e OH-. severamente afetada, foi baseado em medições de
Apresentam: condutividade hidráulica usando água com concentração
CEes < 4 dS m-1 a 250C; salina entre (3-10 mmolc L-1). Esse valor é muito acima
PST > 15; e daquele empregado pelos pesquisadores australianos, ou
pH > 8,5. seja, 0,7 mmolc L-1 (Shainberg et al., 1989). Portanto, na
Califórnia uma maior PST foi exigida antes que a
O pH é sempre muito alcalino devido à hidrólise do degradação da estrutura do solo ocorresse. Somam-se a
carbonato de sódio, isto é, esses fatos os problemas associados ao cálculo da PST
que, também, tem causado confusão porque alguns
autores usam a CTC como denominador no cálculo da
PST enquanto outros a soma dos cátions trocáveis (Ca
+ Mg + K + Na) (Rengasame et al., 1984). Isto significa
Como o H 2 CO 3 é um ácido fraco, os íons OH -
que quanto mais distante estiver o pH do solo em relação
provocam valores de pH  10. O sódio trocável pode
àquele no qual a CTC foi determinada, maior será a
também se hidrolisar porque a concentração de sais
solúveis neutralizantes é baixa. diferença nas duas maneiras de expressar a PST. Isto,
A alta alcalinidade, provocada pela presença do ainda, tem motivado o uso da RAS do estrato da pasta
NaCO3, faz com que a superfície desses solos fique preta saturada do solo, em certos casos, no lugar da PST, ao
por causa da acumulação de húmus que sobe juntamente classificar os solos.
com a água capilar. Por isto, são também conhecidos Em razão do efeito contínuo do sódio, desde níveis
como álcali-pretos. considerados baixos até aqueles mais altos, sobre o
comportamento do solo, o estabelecimento de um nível
10 Estes tipos de solo são inertes do ponto de vista microbiológico e, em geral, são dispersos. crítico para a PST é muito arbitrário e tem causado
38 Paulo A. Ferreira et al.

dificuldades. O que realmente importa é a inter-relação Carga variável - nas superfícies com cargas variáveis
entre a PST do solo e a concentração total de cátions em (argilas 1:1), tanto a intensidade das cargas quanto o sinal
solução ao determinar, em campo, o comportamento do delas são completamente dependentes do pH e da
solo face aos níveis de sódio. Por esta razão, o termo concentração catiônica total da solução (Figura 18B).
sódico deve ser usado somente em situações em que o Nas superfícies de cargas variáveis, aumentando tanto
as propriedades físicas do solo estejam apreciavelmente o pH quanto a concentração catiônica total acima do pH0
afetadas pela presença do sódio, independentemente da (valor do pH quando há um número igual de cargas
quantidade presente. positivas e negativas sobre a superfície da micela) as
cargas negativas aumentarão. Por outro lado, reduzindo
COMPORTAMENTO DAS ARGILAS o pH abaixo do pH0 e aumentando a concentração as
DECORRENTE DA CONCENTRAÇÃO cargas positivas aumentarão. Portanto, sob condições de
SALINA E DO pH soluções eletrolíticas diluídas e pH = pH 0, as cargas
superficiais opostas interagiriam ao máximo, promovendo
Em razão da natureza dos vários componentes da grande interação Coulombiana entre partículas (entre
fração sólida do solo, sua solução fica em contato com superfícies carregadas positiva e negativamente),
uma enorme variedade de superfícies as quais podem resultando na floculação do sistema.
exibir tanto cargas permanentes quanto variáveis, de Sistema misto - no caso de sistema misto, isto é, com
ambas as polaridades. As superfícies de argila dos cargas permanentes e variáveis, as curvas são
minerais silicatados, 2:1, como montmorilonita e deslocadas para cima e para a esquerda. Em condições
vermiculita, carregam cargas negativas permanentes, de pH0, o balanço de cargas não é zero, e sim negativo,
enquanto as argilas 1:1, como a caulinita, e em razão das cargas permanentes e, daí, a necessidade
principalmente as superfícies dos óxidos de Fe e Al, do deslocamento para a esquerda, pois, a pH mais baixo
podem carregar tanto cargas negativas quanto positivas, as argilas de carga variável neutralizaram as cargas
dependendo das condições na solução de equilíbrio, negativas das argilas de carga permanentes. Um novo
notadamente do pH. PCZ é, então, definido quando cargas positivas e
Pelo fato do campo de forças eletrostáticas ou negativas no sistema, como um todo, são iguais.
interações Coulombianas serem muito importantes em Para a maioria dos solos que contêm partículas
solos sódicos, pois estas forças podem governar tanto a minerais de argila negativamente carregadas e, ou
dispersão quanto a expansão das argilas, será matéria orgânica, o PCZ será sempre abaixo do pH 0.
apresentada, com base na Figura 18, uma descrição Para que as interações Coulombianas ocorram
resumida da variação de carga, decorrente das condições expressivamente, como num sistema de carga variável,
reinantes na solução ambiente. o pH do sistema de carga misto teria que ser mais baixo.
Tanto em sistemas de carga variável, quanto misto, o
grau de interações Colombianas entre partículas
aumentará na medida em que o pH 0 e o PCZ se
aproximam. Isto significa que quanto mais próximo o
sistema esteja do pH0 = PCZ, mais prontamente ele
flocula.
De um modo geral, à medida que se eleva o pH
acima de pH = PCZ, maior será a probabilidade dos
colóides do solo se dispersarem. Isto ocorre porque,
conforme as Figuras 18B e C, quanto maior o pH maior
será o excesso de cargas negativas na caulinita e,
Figura 18. Variação na carga da fração sólida do solo em
principalmente, nos óxidos de Fe e Al. Além disto, em pH
função do pH e da concentração eletrolítica da solução
ambiente para sistemas de carga permanente (A), bastante alcalino, a quantidade de cargas negativas de
variável (B) e misto (C) (Adaptada de Sumner, 1995) todas as partículas é alta e a presença de cátions
monovalentes e hidratados resulta na formação de duplas
Carga permanente - decorre da substituição camadas difusas expandidas e na consequente dispersão.
isomórfica nos minerais de argila 2:1, sendo que tanto a Por outro lado, a valores de pH abaixo do PCZ do solo
quantidade de carga quanto sua natureza independem do haverá um excesso de cargas positivas que
pH e da concentração catiônica total da solução, linha neutralizaram as cargas residuais negativas. Além disto,
horizontal (Figura 18A). o ataque ácido às estruturas das argilas silicatadas e a
Aspectos físicos e químicos de solos em regiões áridas e semiáridas 39

outros componentes sólidos do sistema libera o Al3+ no Dispersão e expansão das argilas
meio, o qual promoverá intensa compressão na camada Ambos os termos resultam do balanço entre as forças
dupla difusa das argilas, resultando na floculação dos repulsivas e as forças atrativas de van der Waals e
colóides. Coulombianas, nas camadas dupla difusas. Quando as
argilas expandem em um sistema aquoso ou não
Expansão nos sistemas argila confinado, a expansão é espontânea. Por outro lado, em
A expansão das argilas montmorilonita (argilas 2:1) sistemas não expansivos, a dispersão espontânea só
tem sido exaustivamente estudada e compreendida. Em ocorrerá quando as forças repulsivas excederem, em
sistema sódico puro, a montmorilonita separa-se em muito, as atrativas. Quando estas duas forças são
plaquetas individuais e desenvolve alta pressão de aproximadamente iguais, é necessário aplicar energia
expansão. Por outro lado, quando as plaquetas de mecânica externa ao sistema para promover a separação
montmorilonita estão saturadas com cálcio, a espessura das partículas ou a dispersão. Conforme a Figura 19, à
da dupla camada difusa é reduzida e elas agregam-se em esquerda, a dispersão das argilas implica num aumento
grupos de quatro a nove plaquetas resultando numa de volume e, portanto, nas camadas mais profundas do
agregação do tipo “tactóides”. A formação de solo as forças repulsivas terão também que superar as
“tactóides” resulta na redução da área efetiva superficial resistências mecânicas da massa de solo à expansão.
da montmorilonita que, por causa disto, comporta-se
como se fosse uma partícula maior na qual a camada EFEITOS DA SALINIDADE SOBRE
dupla difusa tem influência apenas sobre as superfícies A CONDUTIVIDADE HIDRÁULICA
externas do “tactóide” (Figura 19).
Tanto a dispersão quanto a expansão das argilas
afetam a porosidade do solo e, consequentemente, sua
condutividade hidráulica. Ao relatar valores de
condutividade hidráulica, determinados tanto em
laboratório quanto em campo, é muito importante
informar a concentração iônica da água usada no
procedimento. Nas determinações em laboratório, é
aconselhável o uso da água de irrigação disponível no
campo. Na Figura 20, o valor da condutividade hidráulica
de uma coluna de solo em função da RAS e da
concentração total de cátions na solução percolante,
diminui à medida que a RAS da solução percolante (ou
a consequente PST) aumenta e a concentração total de
cátions diminui. Portanto, esses resultados são coerentes
com a teoria de Gouy-Chapmen, Equação 19.

Figura 19. Arranjos de partículas de montmorilonita em um


sistema sódio à direita e sódio-cálcio à esquerda (Adap-
tada de Sumner, 1995)

Além disso, nos sistemas mistos sódio-cálcio (Figura


19) a distribuição de íons não ocorre ao acaso através do
sistema, e sim apresentando as cargas dentro dos
“tactóides” neutralizadas pelo cálcio, enquanto as cargas
relativas às superfícies externas são mais neutralizadas
pelo sódio do que pelo cálcio.
O efeito do Na sobre a expansão das argilas
montmorilonitas, mostrado na Figura 19B, sugere que em Figura 20. Efeitos de quatro relações de adsorção de sódio
níveis baixos da PST a expansão não é a principal causa e da concentração de sais na solução do solo sobre a
da degradação física do solo, e torna-se importante condutividade hidráulica, para um solo Lindley
somente quando a PST for alta. (Adaptado de Cass & Sumner, 1982)
40 Paulo A. Ferreira et al.

Em estudo de alguns solos do estado de Pernambuco por So, H. B. $ Aylmore, L. A. G. (Figura 21). Além deste
(Freire, 2001) determinou a condutividade hidráulica de valor da PST o efeito do sódio foi predominante
nove solos de textura e natureza diversas, tratados com independente da relação Ca/Mg. A maior presença do
soluções de diferentes condutividades elétricas e Cálcio em solução, relativamente ao Mg, provoca maior
relações de adsorção de sódio, em permeâmetros de atenuação dos efeitos do sódio sobre as argilas em razão
carga constante. As soluções para o ajuste da relação do cálcio possuir maior energia de adsorção em relação ao
Na:Ca (soluções saturante) foram preparadas com magnésio.
vistas a uma concentração final de 50 mmol c L-1 de
NaCl e CaCl. Após saturação por 48 horas, as colunas A
de solo foram montadas em permeâmetros vertical de
carga constante. A solução percolante foi a mesma
usada na saturação das amostras, sendo aplicada até o
momento em que a condutividade elétrica do efluente
era, aproximadamente, igual àquela da solução
saturante.
Aqui serão apresentados apenas resultados de
condutividade hidráulica relativa (K 0R) em função da
relação de adsorção de sódio (RAS), encontrados para
B
os solos: Neossolo Regolítico(NR), Luvissolo Crômico
(LC), Crernossolo Argilúvico (CA) e Luvissolo
Hipocrômico (LH) (Figura 2.21). Os teores de argila,
silte e areia dos solos NR, LC, CA e LH são,
respectivamente: 12,0, 14,6 e 20,8; 16,5, 18,3 e 65,2; 23,0,
27,4 e 49,6; e 34,6, 22,2 e 43,2.
Os menores valores de K0R foram obtidos para os
solos Luvissolo Hipocrômico e Argilúvico, notadamente
nas soluções mais diluídas, em razão de serem solos mais
argilosos dentre aqueles com presença de esmectita e, C
portanto, muito suscetíveis aos efeitos do sódio e à baixa
concentração salina da solução percolante. Vale ainda
ressaltar que estes foram os solos que apresentaram os
maiores valores de argila dispersa em água, ou seja, 11,2
e 14,6, respectivamente (Freire, 2001).
No Luvissolo Crômico, a K0R também decresceu,
mas linearmente, com a elevação da RAS e a diminuição
da concentração salina das soluções percolantes. Este
fato pode estar relacionado com baixos teores de argila D
dispersa em água (4,3%) e com a maior presença de
caulinita.
O Neossolo Regolítico apresentou resposta aos
incrementos da RAS até 24 (mmolc L-l)1/2 para as três
concentrações salinas, mas a partir deste valor da K0R,
tendeu a se estabilizar para todas as concentrações da
solução percolante. Este fato se relaciona com a textura
arenosa (CTC = 5,65) e o caráter fragipânico, induzindo
um adensamento inicial das partículas (Freire, 2001).
Figura 21. Condutividade hidráulica relativa (K0R) em função
da relação de adsorção de sódio (RSA) em amostras do
Efeito do magnésio trocável Luvissolo Hipocrômico, Argilúvico, Luvissolo Crômico, e
O efeito do sódio sobre a dispersão e a condutividade Neossolo Regolítico. Curvas determinadas por cortes nas
hidráulica de um Vertissolo é intensificado quando superfícies de resposta para condutividades elétricas de 175
predomina a presença do magnésio trocável em relação ao (........), 500 (_ _ _ _) e 1.500 mScm -1 (______),
cálcio, para valores de PST  12, conforme apresentado respectivamente
Aspectos físicos e químicos de solos em regiões áridas e semiáridas 41

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4 Qualidade da água para irrigação

José S. de Holanda1, Julio R. A. de Amorim2, Miguel Ferreira Neto3


& Alan C. de Holanda4

1 Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio Grande do Norte


2 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Tabuleiros Costeiros
3 Universidade Federal Rural do Semi-Árido
4 Universidade Federal de Campina Grande

Introdução
Importância da água para as plantas
A água na natureza
Água de chuva
Águas de superfície
Água subterrânea
Água do mar
Adequação da água para irrigação
Características da água de irrigação
Características do solo
Tolerância das culturas à salinidade
Condições climáticas locais
Manejo da irrigação e drenagem
Avaliação da qualidade da água para irrigação
Parâmetros que determinam a qualidade da água
Coleta de água para avaliação
Classificação da água para irrigação
Classes de água quanto ao risco de salinidade
Classes de água quanto ao risco de sodicidade
Classes de água quanto ao risco de toxicidade
Qualidade da água de mananciais do Nordeste
Conclusões
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
44 José S. de Holanda et al.

Qualidade da água
para irrigação

INTRODUÇÃO Essa situação, no entanto, está mudando, em muitos


lugares, em decorrência do aumento de consumo, tendo-
A prática da irrigação, em muitas situações, é a única se que recorrer ao uso de águas de qualidade inferior,
maneira de garantir a produção agrícola com segurança, cuja avaliação torna-se necessária (Ayers & Westcot,
principalmente em regiões tropicais de clima quente e 1999). Um manejo racional da irrigação envolve tanto
seco, como é o caso do semiárido do Nordeste a economia de água como os aspectos qualitativos para
brasileiro, onde ocorre déficit hídrico para as plantas a prevenção dos problemas causados por sais, e deve
devido à taxa de evapotranspiração exceder a de estar associado aos demais fatores de produção, em
precipitação durante a maior parte do ano. Nessas níveis ideais, de modo a maximizar os rendimentos
regiões, sem um manejo adequado da irrigação, a agrícolas.
salinização do solo é inevitável.
A crescente demanda por matéria-prima e alimentos, IMPORTÂNCIA DA ÁGUA
produzidos pela agricultura, torna o uso da irrigação PARA AS PLANTAS
imperativo em todo o mundo (Szabolcs & Darab, 1979).
A evolução mundial das áreas irrigadas vem tendo o Por ser o principal constituinte das células vegetais,
seguinte avanço: 8 milhões de ha em 1880, 48 milhões de podendo atingir até 95% do peso total (Sutcliffe, 1980),
ha em 1900, 94 milhões de ha em 1950, 198 milhões de a água é um fator vital na produção das plantas,
ha em 1970, 220 milhões de ha em 1990 (Jensen et al., participando de todos os fenômenos físicos, químicos e
1990) e 275 milhões de hectares em 2000 (Christofidis, biológicos essenciais ao seu desenvolvimento.
2002). Cerca de 3/4 das áreas irrigadas situam-se em A água atua também como veículo de transporte de
países em desenvolvimento, respondendo os cereais por nutrientes minerais e produtos orgânicos da fotossíntese,
60% do total das culturas exploradas. As áreas irrigadas absorvidos do solo e conduzidos para as plantas através
representam 18% das terras cultivadas e responderam da contínua demanda evapotranspirativa, com destino à
por 42% da produção mundial de alimentos (Christofidis, atmosfera (Reichardt, 1993).
2002). A água não é apenas a substância simples mais
Muito embora a irrigação venha sendo praticada há abundante na biosfera mas, provavelmente, a mais
vários milênios, a importância da qualidade da água só importante (Benincasa, 1984). Acredita-se que os
começou a ser reconhecida a partir do início deste organismos vivos tenham se originado em um ambiente
século (Wilcox & Durum, 1967; Shainberg & Oster, 1978; aquático (Sutcliffe, 1980) e tornaram-se dependente da
Araguez Lafarga, 1982). Segundo Ayers & Westcot água durante sua evolução, não sendo possível viver sem
(1999), a desatenção a este aspecto foi devido à ela.
abundância de fontes de água que, no geral, eram de boa De todas as substâncias absorvidas pelas plantas, a
qualidade e de fácil utilização. água é obviamente a que é necessária em maior
Qualidade da água para irrigação 45

quantidade. As moléculas de água são mais do que - Meio através do qual os gametas se locomovem
qualquer simples engrenagem na maquinaria metabólica para realizarem a fecundação;
das plantas: integram os seres vivos e, a nível ecológico, - Sua tensão superficial é a mais elevada que se
representam uma força importantíssima em configurar conhece e molha com facilidade a maioria das substância
padrões climáticos. Portanto, a água é essencial para a solidas naturais.
vida das plantas, tanto no sentido bioquímico como
A ÁGUA NA NATUREZA
biofísico e suas influências são internas e ambientais
(Benincasa, 1984).
A água existe na natureza nas fases sólida, líquida e
A maior parte da água absorvida por uma planta é
gasosa, como componentes do chamado ciclo hidrológico
perdida na forma de vapor pela superfície das folhas, ou ciclo da água. O ciclo hidrológico é um ciclo contínuo
processo este conhecido como transpiração. Plantas de em que a água no estado líquido se evapora da superfície
milho, por exemplo, transpiram mais de 98 % do total da terra, dos oceanos e outras reservas e se é incorporada
da água que absorvem. Do restante, a maior parte à atmosfera no estado gasoso, retornando ao estado
fica retida nos tecidos vegetais e somente uma porção anterior sob a forma de chuva ou neve. Anualmente, a
muito pequena ( 0,2%) é utilizada na fotossíntese energia do sol faz com que um volume aproximado de 500
(Miller, 1938). Esse fluxo de água é, no entanto, mil km3 de água se evapore, principalmente dos oceanos
necessário ao desenvolvimento vegetal (Reichardt, (Crise de água..., 1994). Do ponto de vista de suprimento
1993). de água para as plantas, mais precisamente para e uso em
A água, sendo o composto mais abundante na face da na agricultura irrigada, é de grande interesse estudos que
Terra e constituinte de toda a matéria viva, possui envolvam a água de chuva, água armazenada em
algumas características próprias que favorecem a reservatório de superfície e água subterrânea.
Conforme Amorim et al. (2008) são múltiplos os usos
manifestação de fenômenos físicos, químicos e
dos recursos hídricos nos dias atuais podendo-se
biológicos, vitais ao desenvolvimento das plantas, que
relacionar: abastecimento doméstico e industrial,
podem ser assim resumidos (Sutcliffe, 1980):
dessedentação de animais, irrigação, geração de energia
- É o principal constituinte do protoplasma,
elétrica, recreação, harmonia paisagística, navegação,
compreendendo, frequentemente, mais de 90% de sua preservação da biota aquática, aquicultura, pesca,
massa total; assimilação e transporte de esgotos, controle de
- É o meio natural de ocorrência de numerosas enchentes e melhoria das condições climáticas
reações químicas (hidrólise, oxidação, hidratação) e O expressivo aumento populacional impôs a
bioquímicas (digestão de amido, bioconversão protéica); necessidade de se aumentar a produção mundial de
- É uma fonte de prótons (íons H+) para a redução alimentos, fator que aliado ao acelerado desenvolvimento
do CO2 na fotossíntese e de íon hidroxila (OH -) que industrial fez aumentar a demanda de água. Considerando
fornecem elétrons para as reações de luz; o abastecimento doméstico e a dessendentação animal
- É uma substância química muito ativa, sendo o como prioritários estes passaram a ater a preferência de
solvente universal, natural de sais, açúcares, íons etc.; uso da água garantida pela Lei Federal nº 9443/97,
- É também o solvente no qual os materiais são conhecida como Lei das Águas (Brasil, 2001, 2002) de
transportados no xilema e floema, e provavelmente modo que as fontes de água de melhor qualidade lhes são
também através do citoplasma de células; asseguradas se destinando para a agricultura irrigada, em
- Pelo elevado calor específico (1 cal g-1 oC-1) atua caso de conflito de uso as de qualidade inferior (Airoldi et
al., 2005; Amorim et al., 2008).
como regulador de temperatura;
Embora 3/4 da superfície terrestre sejam cobertos
- A adsorção das moléculas de água às superfícies de
por água, as expectativas para este século são
partículas formam uma película de hidratação que preocupantes quanto à disponibilidade de água potável
influencia as reações físicas e químicas; para o consumo humano, tanto pelo crescimento
- Mantém a rigidez dos tecidos vegetais pela pressão populacional como, principalmente, pela poluição dos
de turgescência no interior das células (turgor celular) reservatórios naturais, rios, lagos, depósitos
responsável pelo crescimento vegetal; subterrâneos, etc. Entre 1940 e 1960, o consumo total
- Em plantas submersas, ou parcialmente submersas, de água dobrou de 1 mil para 2 mil km 3 ano-1 de 1960
a água externa proporciona sustentação devido à para 1990, saltou para 4,13 mil km3; e, para 2.000, foi
flutuabilidade de caules e folhas; previsto que seriam atingidos 5,19 mil km3 ano-1 (Crise
46 José S. de Holanda et al.

de água...., 1994). Também foi estimado que até o final semiárido do Brasil, partes do Chile, Argentina e a maior
do século 20, o consumo de água aumentaria em cerca parte da Austrália.
de 10 vezes em relação ao ano de 1900, continuando a A chuva é uma forma de irrigação natural das
agricultura como o maior consumidor, embora que em lavouras com água praticamente isenta de sais,
menor proporção, posto que, nesse mesmo ano o uso de apresentando condutividade elétrica (CE) em torno de
água por essa atividade representou cerca de 90,5%, 0,010 dS m-1 (Molle & Cadier, 1992), o que confere um
índice bastante elevado em relação aos atuais ótimo sabor para consumo humano. A baixa
(Ghassemi et al., 1995). concentração de sais na água de chuva é, no entanto,
Por outro lado, cerca de 9.000 km 3 de água doce fator favorável à dispersão de partículas do solo
são disponíveis para exploração humana em todo o causando problemas de infiltração (Ayers & Westcot,
mundo, o que seria suficiente para a manutenção de 1999).
20 bilhões de pessoas, correspondendo a cerca do Além do papel de alimentador dos seres vivos, a água
triplo da população atual (La Riviére, 1989). de chuva pode eventualmente ter mais uma função de
Entretanto, existem problemas sérios de distribuição ordem física, assegurando uma lixiviação satisfatória de
espacial. Países cuja disponibilidade de água não sais dos solos e amenizando os efeitos deletérios no
atinge 1 mil m 3 hab -1 ano -1 sofrem de escassez de desenvolvimento de plantas (Ayers, 1977; Scaloppi &
oferta. Em 1990, cerca de 20 países integravam o Brito, 1986).
bloco dos deficitários, prevendo-se para 2.025 a
Águas de superfície
inclusão de mais 10, entre os quais: Haiti, Marrocos,
Entende-se como águas de superfície as águas doces
África do Sul, Síria, Etiópia, Egito.
armazenadas em barragens, açudes, lagos, represas em
Entre os fatores responsáveis pelaA escassez de água
geral e as contidas nos fluxos dos rios. Apenas 2,5 % das
é causada pelo , ganha destaque o crescimento
águas da Terra, que corresponde a 35 milhões de km3, é
populacional desordenado aliado a redução da cobertura
considerada potável, entretanto, 2,2% não estão
vegetal e comprometimento das reservas hídricas pela
disponíveis por estarem presa nas geleiras e nas calotas
degradação ambiental. Nos últimos anos o problema tem
polares ou se achar a grandes profundidades
se acentuado pelo aumento do numero de barragens e
subterrâneas (Hawken et al., 1999; FAO, 2002). O
açudes (Laraque, 1989) cuja destinação das águas 70%
são é para irrigação e o restante para a industria e uso volume de água doce contido nos lagos é estimado em
doméstico (Christofids, 1997; Hawken et al., 1999; FAO, 91.000 km3, o que corresponde apenas a 0,007 % de toda
2002; Medeiros, 2003). água existente, e o volume dos rios compreende cerca de
2.120 km3 (Crise de água...., 1994; Ghassemi et al.,
1995). Além da disponiblidade limitada existe uma
Água de chuva
agravante no fato de as águas de rios, lagos e lençóis
A água de chuva é o componente mais importante do
freáticos estarem cada vez mais poluídas (Hawken et al.,
ciclo hidrológico por se constituir na principal fonte de
1999).
uso pelas plantas através da reposição da capacidade de
O Brasil possui o maior volume de água doce do
armazenamento hídrico do solo e do reabastecimento dos
mundo (8 % do total), dispondo de uma oferta de 46.631
reservatórios de águas superficiais e subterrâneas.
m3 habitante-1 ano-1. Entretanto, como no resto da Terra,
Estima-se que a contribuição do ciclo hidrológico, de água
a situação de distribuição é delicada, pois 80% se
oriunda dos oceanos, para a terra firme apresenta um
concentra na região Amazônica e o restante se distribui
saldo positivo próximo de 40 mil km3 ano-1, servindo
irregularmente para atendimento de 95 % da população
como alimentador dos rios e recarga dos depósitos
(Um mundo de água...,1996). Problemas de escassez
superficiais e subterrâneos (Crise de água...., 1994).
são sentidos em várias partes do Nordeste, Sudeste e
A média anual de precipitação na superfície da terra
Centro-Oeste, necessitando de estudos para controle de
é da ordem de 800 mm (Chow et al., 1988). Entretanto,
uso desses recursos, de modo a não agravar a situação
o ciclo hidrológico distribui água irregularmente, tanto do
existente.
ponto de vista espacial como temporal, havendo regiões As principais fontes de água para irrigação são
do globo com bom suprimento e outras com deficiências, representadas pelas águas de superfície que são
onde as chuvas não são suficientes para atender a abastecidas pelas águas de chuva e apresentam maior
demanda potencial da cobertura vegetal. São exemplos facilidade de captação. Quanto ao uso, em geral, o
de áreas deficientes: África, meio leste e oeste dos descaso é muito grande, pois, conforme estimativas da
Estado Unidos da América, noroeste do México, nordeste Associação Brasileira de Engenharia Sanitária, o Brasil
Qualidade da água para irrigação 47

perde 50 % de sua produção de água, simplesmente por representam cerca de 96,5 % e no estado natural não se
desperdícios com vazamentos em equipamentos de adéquam para uso humano. Se esse volume fosse
adutoras e falta de controle de consumo. A água, embora espalhado de maneira uniforme na superfície da terra
vital à sobrevivência e ao progresso de qualquer formaria um imenso oceano de 3.700 m de profundidade
sociedade, só é lembrada como tal por ocasião do período (Crise de água...,1994; Ghassemi et al., 1995).
de escassez ou de excesso (Rodriguez, 1991). Os mares e oceanos se constituem em depósitos
naturais de sais que são carreados pelas águas escoadas
Água subterrânea da superfície terrestre, tendo como parada final os pontos
A água subterrânea estende-se por toda a parte sob mais baixos do relevo, acumulando-se progressivamente
a superfície do solo, distribuída desde as planícies mais ao longo de milênios de anos. A água do mar, no entanto,
tem função básica de fomento do ciclo hidrológico
áridas até os pontos mais altos do relevo terrestre e se
através da evaporação, só participando dessa fase a
constitui em uma das principais fontes de toda a água
água pura, permanecendo os sais que aí se acumulam. Os
utilizável pelo homem. As reservas subterrâneas são
oceanos desenvolvem um papel fundamental no
abastecidas por infiltração lenta das águas superficiais,
condicionamento de fatores climáticos do planeta com
através dos solos e acomodam-se em camadas rochosas
efeitos na temperatura, ocorrência e distribuição de
a diferentes profundidades, sendo mantidas, muitas chuvas, etc. Dada a sua composição química, a água do
vezes, sob pressão. mar tem condutividade elétrica em torno de 48 dS m-1, o
Na natureza existe em torno de 10,53 milhões de km3 que corresponde a aproximadamente 36 g L-1 de sais.
de reservas de águas subterrâneas, a profundidades
abaixo de 600 m da superfície do solo, que correspondem ADEQUAÇÃO DA ÁGUA PARA IRRIGAÇÃO
a 0,76 % de toda a água disponível na terra e representa
37 vezes o volume armazenado em lagos e rios (O mapa A adequação da água para irrigação depende tanto de
da água...,1995; Ghassemi et al., 1995). sua própria qualidade quanto de fatores relacionados com
Com um custo menor que o da água de superfície, a as condições de uso (Wilcox & Durum, 1967). Uma
subterrânea deve ser tratada como reserva estratégica e mesma qualidade de água pode ser considerada
protegida como recurso natural capaz de assegurar a perfeitamente adequada para um certo tipo de solo ou
sobrevivência humana com direito a boa qualidade de cultura, mas ser inadequada para outros (Hoorn, 1971).
vida (Um mundo de água..., 1996). A qualidade da água de irrigação pode ser considerada
No que diz respeito a gestão de águas, Rodriguez como um importante fator, mas nunca deve ser esquecido
(1991) afirma que as águas subterrâneas não podem ter que ela é tão somente um dos fatores e que não é
tratamento distinto das águas de superfície já que no ciclo possível desenvolver um sistema de classificação
hidrológico elas interagem. Os cursos de águas perenes universal que possa ser utilizado sob todas as
se mantém com as águas das chuvas que se infiltram e circunstâncias (Logan, 1965; Hoorn, 1971; Yaron, 1973).
abastecem depósitos subterrâneos. Problemas, no Para Frenkel (1984), a água por si mesma não tem
entanto, podem surgir quando o uso consultivo superar a qualidade inerente, exceto no contexto para o qual é
recarga natural do manancial subterrâneo. usada, pois sua adequabilidade depende do que pode ser
feito com ela sob condições específicas de uso.
As águas subterrâneas tem temperatura pouco
Assim, além das características físico-químicas da
variável e geralmente acima da temperatura das águas
água, outros fatores devem ser levados em consideração
de superfície, correspondendo a média anual de
e analisados em conjunto quando de sua avaliação e
temperatura atmosférica do local acrescido do produto da
recomendação de uso para irrigação. Entre esses
profundidade pelo gradiente geométrico. Em geral não fatores, podem ser apontados: as características do solo;
tem material em suspensão e o pH situa-se entre 6,5 e a tolerância das culturas a serem exploradas; as
8, numa espécie de tamponamento pela presença de CO2 condições climáticas locais e o manejo da irrigação e
dissolvido e HCO3-. As chamadas subterrâneas doces drenagem (Logan, 1965; Palacios & Aceves, 1970;
contém em geral não mais que 1.000 mg L -1 de Hoorn, 1971; Rhoades, 1972; Kovda et al., 1973;
substâncias dissolvidas. Christiansen et al., 1977, Frenkel, 1984).

Água do mar Características da água de irrigação


O volume total de água na Terra é da ordem de 1,386 A rigor, todas as águas naturais, querem sejam elas de
bilhões de km3, dos quais as águas dos mares e oceanos origem pluvial, superficial (rios, lagos e açudes) ou
48 José S. de Holanda et al.

subterrânea (poços e cacimbas), contêm sais dissolvidos A composição da água de superfície pode ser alterada
em quantidades variadas (Jackson, 1958; Kovda et al., por influência da pluviosidade e da evaporação (Yaron,
1973; Yaron, 1973; Kamphorst & Bolt, 1976). 1973). A perda por evaporação é responsável pela
A variação na composição e qualidade das águas elevação progressiva da concentração de sais nas águas
destinadas à irrigação depende da zona climática, fonte de superfície (Srinivasan et al., 1986; Molle & Cadier,
da água, trajeto percorrido, época do ano, geologia da 1992) e associada às propriedades químicas das rochas/
região e desenvolvimento da irrigação (Shalhevet & solos atravessados por elas são as principais causas de
Kamburov, 1976). Geralmente, as água de zonas úmidas variação no teor de sais nas regiões áridas e semiáridas
apresentam menor teor de sais do que as de zonas (Costa & Gheyi, 1984). Leprun (1983) constatou que a
áridas; águas subterrâneas são mais salinas do que as composição da água de açudes varia entre a estação
águas de rios e estas, próximo da foz, contém mais sais chuvosa e a seca. Do inverno para o verão, as
do que as próximas à nascente; a concentração de sais concentrações de sódio e cloro crescem enquanto que as
nas águas de rios varia com a estação do ano, sendo de cálcio, potássio, sulfato e, principalmente, bicarbonato
maior no outono que na primavera. Numa determinada diminuem relativamente.
região, as águas naturalmente contém menos sais antes
do desenvolvimento de projetos de irrigação. Características do solo
Segundo Cruz & Melo (1969), os principais fatores O comportamento do solo em contato com água salina
que controlam a salinização das águas subterrâneas na depende de suas propriedades físicas e conteúdo de sais
região Nordeste, por ordem de importância, são: 1) iniciais (Kovda et al., 1973). Assim, o conteúdo de argila
quantidade de chuvas; 2) tipo do aquífero; 3) condição de do solo afeta a capacidade de adsorção de íons que, por
circulação (em zoneamentos verticais, dependendo do sua vez, influencia as propriedades fisico-hídricas do
comprimento, da trajetória e do tempo de contato há mesmo.
alteração na composição iônica da água) e 4) natureza Segundo Kovda et al. (1973), tendo em vista que a
geológica (composição lítológica). No mesmo sentido, composição química do solo influencia os processos de
Santos et al. (1984) afirmam que, em aquífero fraturado troca durante o contato solo-água, a aplicação de água
da região do cristalino do Rio Grande do Norte, a salina num solo sem problema de salinidade transforma-o
salinidade das águas provavelmente está associada a em salino, porém o uso de água desta mesma qualidade
composição dos diferentes tipos de solos que pode reduzir o nível de salinidade de um solo salinizado, se
predominam no ambiente. a drenagem for adequada.
O teor de sais nas águas superficiais é função das Ademais, como a infiltração e percolação de água
rochas predominantes nas nascentes da bacia podem variar bastante para diferentes tipos de solo,
hidrográfica, da natureza do solo em que a água flui e de diferentes graus de salinização do solo podem ocorrer
eventuais poluições causadas pela atividade humana com a mesma quantidade e qualidade de água de
(Kovda et al., 1973; Yaron, 1973). Quanto as irrigação aplicada (Kovda et al., 1973).
subterrâneas o teor de sais depende da origem da água, A adequação da água em relação ao tipo de solo se
do curso sobre o qual ela flui e da composição e refere principalmente aos aspectos estruturais que
facilidade de dissolução do substrato em que se encontra condicionam à sua permeabilidade e consequente
em contato (Yaron, 1973; Kovda et al., 1973). As condução de água e ar. Solos de baixa permeabilidade
mudanças no teor de sais no processo de recarga causam maiores problemas em terras irrigadas, limitando
resultam por reações de redução, troca catiônica, a lixiviação de sais, favorecendo a dispersão de partículas
evapotranspiração e precipitação (Yaron, 1973). Molle & e intensificando o grau de salinização.
Cadier (1992) mencionam que os primeiros escoamentos O tipo de solo da bacia hidrográfica pode ser o
que chegam aos reservatórios, no momento das cheias, indicador do risco de salinização das águas de superfície
são de boa qualidade; os posteriores, incorporam águas (Leprun, 1983; Laraque, 1989). A influência depende do
infiltradas que voltam aos rios por escoamento escoamento interno que, por sua vez, varia
subterrâneo e podem vir carregadas de sais. Conforme quantitativamente com a permeabilidade do solo e
os mesmos autores, diversos são os fatores que influem qualitativamente com a disponibilidade de sais. Os
no risco de salinização das águas de superfície Latossolos são solos bem desenvolvidos e bastante
armazenadas: a qualidade da água escoada, a permeáveis, entretanto, por serem continuamente lavados
profundidade e forma do reservatório, o dispõem de pouquíssimos sais para liberação. Os
dimensionamento, a utilização e infiltração na bacia Planossolos permitem boa infiltração na camada arenosa
hidrográfica. superior, mas as argilas das camadas inferiores podem
Qualidade da água para irrigação 49

liberar grandes quantidades de sais. O escoamento sensíveis, como as hortaliças e espécies frutícolas, em geral.
subterrâneo é desprezível sob condições de solo pouco Dentro de uma mesma espécie, pode haver variações entre
espesso, de baixa permeabilidade e com subsolo variedades, por adaptação ao meio onde se desenvolveram
impermeável como no caso do substrato cristalino do e, ainda, para uma mesma variedade, o nível de tolerância
sertão (Molle & Cadier, 1992). varia entre estádios de desenvolvimento (Maas &
A influência do tipo de solo da bacia hidrográfica na Hoffmann, 1977; Maas, 1986).
qualidade de água de riacho em condições do semiárido
nordestino brasileiro pode ser observada na Tabela 1, Condições climáticas locais
com destaque para os Solonetz e Planossolos, que são O clima atua como um dos fatores mais importantes
solos afetados por sais, como os que apresentam maior na adequação da água; as plantas suportam maiores
risco de salinização da água. concentrações de sais sob clima frio e úmido do que sob
clima quente e seco (Shainberg & Oster, 1978; Maas,
Tabela 1. Condutividade elétrica média da água (CE a) do 1985 e 1986).
manancial, em função da classe de solo da bacia A evapotranspiração e a pluviosidade são os principais
hidrográfica1
elementos climáticos a serem considerados para a
avaliação da água de irrigação (Hoorn, 1971; Kovda et
al., 1973). A quantidade de água a ser aplicada durante
um período de irrigação depende da evapotranspiração,
que afeta o regime de irrigação e, consequentemente, o
movimento sazonal de sais no perfil do solo. Maior
evapotranspiração requer uma maior quantidade de água
de irrigação, que, por sua vez, leva a uma maior
quantidade de sais e, geralmente, a uma maior salinidade
do solo, embora parte seja lixiviado (Hoorn, 1971).
Fonte: Adaptado de Leprun (1983)
1 Classes de solo de acordo com o novo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA,
A quantidade e a distribuição das chuvas é um segundo
1999) fator do clima a ser dado atenção. Uma dada quantidade
de chuva distribuída uniformemente durante a estação de
Tolerância das culturas à salinidade crescimento diluirá a solução do solo, mas não efetuará
Tendo em vista que o maior interesse na classificação uma lixiviação do perfil da mesma forma como faria igual
da água é com fins agronômicos, a cultura é o principal quantidade de chuva caindo durante um curto espaço de
e mais importante fator a ser considerado. Para Hoorn tempo (Hoorn, 1971; Kovda et al., 1973).
(1971) e Kovda et al. (1973), a avaliação da água deve A salinidade reduz mais os rendimentos das culturas
ser baseada na tolerância de uma cultura específica, ou quando a umidade atmosférica é baixa (Rhoades et al.,
culturas em rotação, ao conteúdo total de sais ou 1992). Sob condições de baixa umidade do ar, altas
concentração de um íon específico (sódio, cloreto, etc.). temperaturas e elevada velocidade dos ventos, a
Como o objetivo final de todo projeto de irrigação é toxicidade causada pela irrigação por aspersão é
uma agricultura rentável, uma redução dos benefícios
intensificada, com redução do limite de tolerância das
econômicos ou sociais em decorrência do problema de
culturas (Maas, 1985; Ayers & Westcot, 1999).
salinidade é um fator decisivo para a execução do
projeto. Segundo Hoorn (1971), esta redução deve-se
Manejo da irrigação e drenagem
tanto a um decréscimo direto na produção quanto ao fato
Os métodos de irrigação influenciam na acumulação
de se ter que mudar de culturas menos tolerantes para
mais tolerantes à salinidade, que podem ser menos de sais no solo e na planta. Por exemplo, uma água
rentáveis sob determinado ponto de vista. Por exemplo, relativamente salina aplicada por sulcos em solos
a troca de uma hortaliça de alto valor comercial e que permeáveis não trará nenhum efeito prejudicial ao
requeira bastante mão-de-obra por culturas forrageiras crescimento da planta, enquanto, água de mesma
de baixo valor comercial e que empregue pouco trabalho. qualidade aplicada por aspersão, poderá causar redução
Dada a grande variabilidade de comportamento existente na produtividade (Kovda et al., 1973).
entre as culturas em relação aos limites de tolerância à A aplicação de quantidades de água menores que o
salinidade, a adequabilidade da água é bastante influenciada, requerimento hídrico das culturas resultará na acumulação
variando, desde as classes que se adéquam para irrigação de sais na zona radicular; por outro lado, aumentando-se
de culturas bastante tolerantes a sais, como o algodão, até a aplicação, haverá lixiviação de sais para pontos abaixo
àquelas que podem não se adequar para culturas muito da zona das raízes e, um equilíbrio poderá ser alcançado
50 José S. de Holanda et al.

entre a concentração salina da água e do solo (Hoorn, na determinação da qualidade agronômica das mesmas.
1971; Kovda et al., 1973). Porém, uma drenagem O efeito da salinidade é de natureza osmótica podendo
inadequada, numa área com um lençol freático elevado, afetar diretamente o rendimento das culturas. A
provocará uma ascenção capilar da água subterrânea, sodicidade se refere ao efeito relativo do sódio da água
aumentando a salinidade do solo (Kovda et al., 1973). de irrigação tendendo a elevar a porcentagem de sódio
Tanto o método como a frequência de irrigação trocável no solo (PST), com danos nas suas propriedades
interferem na adequação da água e tolerância das plantas físico-químicas, provocando problemas de infiltração. A
à salinidade. Em métodos de irrigação por superfície toxicidade, diz respeito ao efeito específico de certos íons
(como inundação ou sulcos) e localizada (gotejamento), sobre as plantas, afetando o rendimento, independente do
a concentração de sais suportada pelas culturas é bem efeito osmótico. Em algumas situações, o efeito iônico
mais elevada do que no método de irrigação por pode se manifestar na forma de desequilíbrio nutricional.
aspersão. Ainda na irrigação por aspersão, o impacto das Em se tratando de irrigação localizada, além dos
gotas grandes na superfície do solo, pode desagregar as aspectos relacionados ao risco de salinidade e toxicidade,
partículas e provocar ou agravar os problemas de devem ser avaliados aqueles que permitam antever o
infiltração, causando escoamento superficial. A irrigação risco potencial de obstruções em emissores (Tabela 13).
por inundação associada a prática da subsolagem reduziu As causas de entupimento de emissores estão reunidas
a sodicidade em todo o perfil de um solo salino-sódico em três grupos principais, conforme sua natureza: física,
(Holanda, 1996). química e biológica (Bucks et al., 1979; Nakayama &
Bucks, 1981; Nakayama, 1982; Gilbert Ford, 1986; Ayers
Conforme Rhoades & Merril (1976), a salinidade
& Westcot, 1999; Faria, 2002; Faria et al., 2002; Soccol,
média da água do solo, em dado intervalo de tempo, é
2003; Resende, 2003; Faria et al., 2004; Airoldi et al.,
maior em solos que são irrigados com menor frequência,
2005).
quando se mantêm os outros fatores constantes.
A não observância de determinados princípios básicos,
Parâmetros que determinam a qualidade da água
como a escolha do método de irrigação apropriado para
O excesso de sais na zona radicular tem em geral um
a aplicação de água de qualidade conveniente, conduz,
efeito deletério no crescimento das plantas que se
quase sempre, a deterioração das propriedades físicas e
manifesta por uma equivalente redução na taxa de
químicas do solo, limitando com isso o potencial produtivo transpiração e crescimento. A excessiva salinidade reduz
das culturas (Amorim, 1994). O aprimoramento do o desenvolvimento devido ao aumento de energia que
manejo da irrigação será indispensável, portanto, para se precisa ser despendida para absorver água do solo e ao
obter uma produção agrícola sustentável e atender às ajustamento bioquímico necessário para sobreviver sob
crescentes demandas de alimentos nos países em estresse (Rhoades et al., 1992).
desenvolvimento (Jensen et al., 1990). A condutividade elétrica (CE) é o parâmetro mais
empregado para expressar a concentração de sais
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA ÁGUA solúveis na água. A determinação é rápida e tem boa
PARA IRRIGAÇÃO precisão para a maioria das águas (Doneen, 1975). Este
parâmetro é o oposto da resistividade elétrica e
A prática da irrigação é indispensável nas regiões corresponde a medida da capacidade de uma água em
áridas e semiáridas em virtude da ocorrência de déficit conduzir eletricidade, crescendo proporcionalmente à
hídrico para culturas na época seca. A acumulação de medida que a concentração de sais aumenta. A água
água no período chuvoso alternado com o aumento de pura tem uma condutividade elétrica (CE) muito baixa, da
evaporação na estação seca promovem uma variação ordem de 0,05 dS m-1, podendo crescer muito ao conter
quantitativa e qualitativa no teor de sais das águas com impurezas ou substâncias dissolvidas e se tornar um
implicações para uso na irrigação (Nunes Filho et al., bom condutor elétrico. Como a condutividade elétrica
1991) e esta, pode ser fator de salinização quando não aumenta com a temperatura ambiente, o valor é medido
manejada adequadamente (Pizarro, 1985, Hoorn & a uma temperatura de referência, geralmente, 25 oC.
Alphen, 1988). É portanto, imprescindível a avaliação da A condutividade elétrica da água de irrigação (CEa),
qualidade da água como medida preventiva dos conforme Rhoades et al. (1992), apresenta as seguintes
processos de salinização gradativos pelo acúmulo de sais relações com outros parâmetros de salinidade:
oriundos de irrigações sucessivas. Sais dissolvidos totais - SDT (mg L-1)  CEa x 640
As águas que se destinam a irrigação devem ser (0,1<CEa <5,0 dS m-1 )
avaliadas principalmente sob três aspectos: salinidade, Sais dissolvidos totais - SDT (mg L-1)  CEa x 800
sodicidade e toxicidade de íons, variáveis fundamentais (CEa > 5,0 dS m-1)
Qualidade da água para irrigação 51

Soma de cátions ou ânions (mmolc L-1)  CEa x 10


(1)
(0,1<CEa <5,0 dS m-1)
Log. sais solúveis totais (mmolc L-1)  0,990 + 1,055
. log CEa
Força iônica (mol L-1)  CEa x 0,0127
Pressão osmótica (kPa)  CEa x 0,40 .10-2 (3 < CEa onde,
< 30 dS m-1) Na - concentração de sódio na água, em mmolc L-1;
Está amplamente comprovado que valores altos da PST, Cao - concentração de cálcio na água, corrigida
especialmente sob condições de baixa salinidade, causam a pela relação HCO3-/Ca (mmolc L1) e CEa (dS m-1), de
dispersão de partículas com redução na condutividade acordo com a Tabela 2;
hidráulica do solo. A razão de adsorção de sódio (RAS) da Mg - concentração de Magnésio na água, em
água de irrigação é o parâmetro de melhor correlação com mmolc L-1.
a PST do solo. Richards (1954) foi o primeiro a introduzir
esse conceito num sistema de classificação de águas para A RASo, conforme procedimento sugerido por Suarez
irrigação que passou a ser usado e conhecido (1981), facilita o entendimento das alterações que ocorrem
internacionalmente. com o cálcio na água do solo através de reações com
Ultimamente, o risco de sodicidade passou a ser carbonatos e silicatos. Como as águas do nordeste do
avaliado com mais segurança relacionando a RAS Brasil, normalmente são pobres em sulfatos (Medeiros,
corrigida (RASo) com a salinidade da água, estimada 1992), este estimador é mais adequado para prever riscos
pela Eq. 1: de sodificação ou de infiltração de água no solo.
Tabela 2. Concentração de cálcio (Cao) contida na água do solo, próxima à superfície, que resultaria da irrigação com água
de determinada relação HCO3/Ca e CEa1,2,3
Condutividade Elétrica da Água Aplicada (CEa) - dS m -1

1Fonte:Suarez (1981).
2Supõe-se:a) Cálcio do solo proveniente do calcário (CaCO3) ou silicatos ; b) Não existe precipitação do Magnésio; c) Pressão parcial de CO2 perto da superfície do solo (pCO2) é 7.10-2 kPa.
3Cao e HCO /Ca são expressos em mmol L-1, e a CE , em dS m -1.
3 c a
52 José S. de Holanda et al.

Algumas espécies iônicas constituem parâmetros de Outros parâmetros como: pH, potássio, carbonatos,
importância pela toxicidade que podem causar às bicarbonatos e sulfatos também são considerados quando
plantas. Os íons cloreto, sódio e boro, quando presentes da avaliação da qualidade da água de irrigação. Nas
em concentrações elevadas na água, podem causar águas ricas em bicarbonato há uma tendência de
danos as culturas reduzindo a produção. A magnitude do precipitação, principalmente do cálcio, em forma de
dano depende, além da concentração do íon, do tempo de carbonato, à medida que a solução do solo se torna mais
exposição, da sensibilidade das plantas, do uso da água concentrada, aumentando o risco de sodicidade (Yaron,
pelas culturas, do tipo de irrigação, etc. (Maas, 1985). 1973; Kovda et al., 1973; Bohn et al., 1985) cujo efeito
Em irrigação por aspersão e sob condições de alta é prevenido pela correção da RAS conforme a Tabela 2.
evaporação o problema tende a se acentuar. As culturas Em resumo, os parâmetros básicos de avaliação da
arbóreas e plantas lenhosas em geral são sensíveis ao qualidade de água para irrigação, acompanhados dos
sódio e cloreto (Maas, 1986). respectivos símbolos e unidades internacionais adotadas
Entre os macronutrientes essenciais à nutrição vegetal estão contidos na Tabela 3. No caso de irrigação
destaca-se o nitrogênio que, quando em concentrações localizada é necessário a inclusão de mais alguns
elevadas na água de irrigação, pode causar desequilíbrio parâmetros prevenindo-se quanto ao entupimento de
nutricional, induzindo em plantas sensíveis (citros, emissores (ver Tabela 10).
beterraba, videira, etc.) um aumento no crescimento
vegetativo, um decréscimo na produção e na qualidade do Coleta de água para avaliação
produto, além de atrasar a maturação. É um parâmetro A amostra de água para fins de analise deve ser o
cuja determinação é necessária principalmente em águas mais representativa possível da fonte e a coleta o mais
residuarias e com altos teores de matéria orgânica. próximo do local de captação para uso. De modo
Usualmente os parâmetros referentes a metais recomendam-se os seguintes procedimentos:
pesados (Pb, Cr, Cd, Ni, etc.) não são incluídos na - As amostras de água deverão ser coletadas,
avaliação de qualidade de água de irrigação, exceto preferencialmente, em garrafas de plástico, herméticas.
quando suspeita-se de contaminação pela ação do Cada fonte de água deverá ser amostrada separadamente,
homem. mesmo que se encontrem em locais bem próximos um do

Tabela 3. Principais parâmetros utilizados na avaliação da qualidade da água para irrigação


Valores
Parâmetro Simbolo Unidade
normais
Salinidade (Teor de sais)
Condutividade elétrica CEa dS m-1 (25 oC) 0–3
Sais dissolvidos totais SDT mg L-1 0 – 2000
Cátions e ânions
Cálcio Ca++ mmolc L -1 0 – 20
Magnésio Mg++ mmolc L -1 0–5
Sódio Na+ mmolc L -1 0 – 40
Cloreto Cl- mmolc L -1 0 – 30
Sulfato SO4= mmolc L -1 0 – 20
Carbonato CO3= mmolc L -1 0 – 0,1
Bicarbonato HCO3- mmolc L -1 0 – 10
Nutrientes
Nitrogênio - Nitrato N-NO3- mg L -1 0 – 10
Nitrogênio - Amônio N- NH4+ mg L -1 0–5
Fósforo - Fosfato P – PO43- mg L -1 0–1
Potássio K+ mg L -1 0–2
Outros
Acidez pH - 6,0 – 8,5
Boro B mg L -1 0–2
Relação de adsorção de sódio RASo L)-1-1/2
(mmolcL-1
(mmol )½ 0 – 15
1 Fonte: Amorim et al (2008); UCCC(1974); Ayers & Westcot (1999). dS m -1(deci-Siemens por metro) = mmho cm -1; mg L-1(miligramas por litro) = partes por milhão (ppm); mmol c L-1 (milimol
carga por litro) = meq L-1(miliequivalente por litro).
2 N-NO - significa que se deverá determinar o NO - e expressá-lo como equivalente químico do N. Analogamente para N – NH + se determinará o NH + e expressa-lo-á na forma de equivalente
3 3 4 4
químico de N elementar. O mesmo procedimento deve ser utilizado para expressar o fósforo.
Qualidade da água para irrigação 53

outro. Antes de se coletar a amostra, a garrafa deverá ser embora com algumas limitações foi a que mais se
lavada duas a três vezes com a mesma água a ser destacou e ainda hoje é a mais utilizada. Numa avaliação
amostrada. qualitativa, as águas se dividem em quatro classes de
- No caso de coleta de água de rio, açude ou riacho, salinidade, à medida que aumenta a concentração de sais
quando possível, a amostragem próxima à margem e consequentemente sua condutividade elétrica,
deverá ser evitada. Após a lavagem, a garrafa (volume recebendo denominações sucessivas de C1, C2, C3 e C4,
em torno de 1 L) é introduzida na água com a boca com os limites apresentados por Richards (1954) e, por
fechada a uma profundidade de 4 a 5 cm. Enche-se conveniência, também adotados como índices de
completamente a garrafa dentro da água e em seguida salinidade por Frenkel (1984), conforme mostra a Tabela
a mesma é fechada completamente. No caso de 4, com as seguintes interpretações:
amostragem em poços, a coleta deverá ser feita depois C1 - Água de baixa salinidade. Pode ser usada para
que a bomba funcionar pelo menos 15 a 20 min, para irrigação da maioria das culturas, em quase todos os
retirada total da água parada no sistema. Sempre que tipos de solos, com muito pouca probabilidade de que se
possível, a amostra deve ser coletada perto do local onde desenvolvam problemas de salinidade. Se necessário
será utilizada, visto que a água pode sofrer variações na alguma lixiviação de sais, esta é conseguida em
sua composição, mesmo em tubos de PVC, durante sua condições normais de irrigação, exceto em solos de muito
condução. baixa permeabilidade.
- A amostra de água deverá ser identificada com C 2 - Água de média salinidade. Pode ser usada
indicações do local, propriedade, fonte e responsável pela sempre e quando houver uma lixiviação moderada de
coleta. Informações adicionais, tais como vazão de sais. Em quase todos os casos se adéqua ao cultivo de
poços, características do solo e da cultura a ser irrigada, plantas moderadamente tolerante aos sais, sem
se disponíveis, deverão ser enviadas ao laboratório. necessidade de práticas especiais de controle de
- A amostra de água coletada deverá ser transportada salinidade.
para o laboratório o mais breve possível, C3 - Água de alta salinidade. Não pode ser usada em
preferencialmente nas primeiras 72 h. Não sendo solos com drenagem deficiente. Mesmo com drenagem
possível, a mesma deve ser guardada em geladeira. Para adequada pode ser necessário práticas especiais de
análise de nitrogênio a determinação deve ser feita no controle da salinidade, devendo, portanto, ser utilizada na
máximo 24 h após a coleta. irrigação de espécies vegetais de alta tolerância aos sais.
- Para determinação de Mn e Fe na água Os riscos apresentados por esta classe de água podem
(características indispensáveis em irrigação localizada) ser amenizados quando do emprego do método de
precisa-se acidificar a água (solução de ácido nítrico ou irrigação localizada mantendo o solo continuamente
fosfórico diluída) com o objetivo de evitar a precipitação úmido.
desses elementos podendo-se optar pelo ácido acético na C4 - Água de muito alta salinidade. Não é apropriada
proporção de 3 ml L-1 da amostra. para irrigação sob condições normais, porém pode ser
usada ocasionalmente, em circunstâncias muito especiais.
CLASSIFICAÇÃO DA ÁGUA PARA Os solos devem ser permeáveis, a drenagem adequada,
IRRIGAÇÃO devendo ser aplicada água em excesso para se obter
uma boa lixiviação de sais e, mesmo assim devem ser
Classes de água quanto ao risco de salinidade explorados com culturas altamente tolerantes aos sais.
A classificação proposta pelo Laboratório de A salinidade afeta tanto o crescimento das plantas
Salinidade dos Estados Unidos, em Riverside, Califórnia como a produção e qualidade do produto, se
cujos trabalhos foram coordenados por Richards (1954) manifestando principalmente na redução da população e

Tabela 4. Classificação da água para irrigação quanto ao risco de salinidade

1 UCCC - University of California Committee of Consultantes (Fonte: Frenkel, 1984 ; Pizarro, 1985).
54 José S. de Holanda et al.

desenvolvimento das culturas, com sintoma similar ao realidade; para uma mesma RAS a adsorção de sódio
causado por estresse hídrico (Rhoades et al., 1992) As cresce ao aumentar a relação Mg/Ca devido a menor
culturas, no entanto, se comportam diferentemente energia de adsorção do magnésio; 2) Não leva em conta
quanto à tolerância a sais na água de irrigação desde as a possibilidade de precipitação de sais, fenômeno que
mais tolerantes como o algodão até as mais sensíveis pode aumentar o risco de sodicidade, já que o cálcio é o
como a maioria das hortaliças, conforme apresentado na cátion mais sujeito a reação, precipitando na forma de
Tabela 5. carbonato e sulfato que são de baixa solubilidade e 3) a
classificação tem um erro conceitual, pois, os sais da
CLASSES DE ÁGUA QUANTO solução do solo tem um efeito floculante, oposto ao efeito
AO RISCO DE SODICIDADE dispersante do sódio trocável; dessa forma, para uma
mesma RAS o risco de sodicidade será menor quanto
A classificação das águas de irrigação com respeito maior for a CE a. Assim, as linhas descendentes no
a RAS se baseia essencialmente no efeito do sódio diagrama de classificação passam a ser ascendentes
trocável nas condições físicas do solo causando conforme Figura 2, traçada empiricamente com os
problemas de infiltração pela redução da permeabilidade. valores das classes de salinidade do UCCC, citado por
A classificação de Richards (1954), conforme Pizarro (1985) e das classes de sodicidade/infiltração
apresentada na Figura 1, foi de muita utilidade como guia apresentada por Ayers & Westcot (1999). Das dezesseis
para classificação das águas de irrigação, numa época classes previstas da combinação da salinidade com a
que pouco se conhecia do assunto. Ainda hoje, continua sodicidade na classificação de Richards (1954), seis não
sendo bastante utilizada, embora estudos posteriores existem sob condições naturais (Bhumbla, 1977).
tenham mostrado alguns inconvenientes. Pizarro (1985) A recomendação de Ayers & Westcot (1999), quanto
aponta como principais problemas dessa classificação: 1) ao perigo de sódio, restringe-se a três classes de
a suposição de que o cálcio e magnésio tem a mesma sodicidade, obtidas relacionando-se a RAS o com a
seletividade de troca iônica, o que não corresponde a salinidade da água de irrigação, conforme Tabela 6.

Tabela 5. Níveis de tolerância à salinidade da água, apresentados por diferentes culturas, para 90 % do rendimento potencial

Culturas Culturas

Fonte: Adaptado de Ayers & Westcot (1999); Rhoades et al. (1992). 1 valores para 100% do potencial.
Qualidade da água para irrigação 55

Tabela 6. Riscos de problemas de infiltração no solo causados


pela sodicidade da água

(mmol L-1)-1/2

Fonte: Adaptado de Ayers & Westcot (1999).


1 Simbologia (S) não se refere a classificação de Richards (1954); foi inserida para resumir a

descrição da classe.

Classes de água quanto ao risco de toxicidade


Os elementos mais propensos a causarem toxidez
nas plantas, em decorrência de concentrações elevadas
na água de irrigação, são: sódio, cloro e boro. Quanto aos
riscos que apresentam, de acordo com Ayers & Westcot
(1999) podem ser divididos em três classes (Tabela 7).
Na irrigação por aspersão foliar, quando há uma
exposição direta da parte mais sensível da planta à água
contendo elevados teores de sais, os problemas de
toxicidade tendem a se intensificarem (Maas, 1985 e
1986; Ayers & Westcot, 1999) e as culturas se
subdividem quanto ao limite de tolerância ao sódio e
Figura 1. Diagrama de classificação de água para irrigação cloreto conforme Tabela 8.
(Richards, 1954)
Tabela 7. Concentrações de íons em água e respectivos riscos
de toxicidade às plantas

Fonte: Adaptado de Ayers & Westcot (1999).


1 Simbologia (T) não contida nos artigos originais; inserida neste item para resumir descrição da

classe.

Quanto aos riscos de desequilíbrio nutricional nas


plantas, por excesso de nitrogênio na água de irrigação,
Ayers & Westcot (1999) apresentam a seguinte
classificação (Tabela 9).
Os conceitos de salinidade, sodicidade e toxicidade
iônica aqui apresentados são aplicáveis também para
irrigação localizada, ressaltando-se, porém, que deve se
Figura 2. Diagrama aproximado de classes de água para levar em conta a qualidade da água do ponto de vista de
irrigação possíveis entupimentos de emissores causados por
56 José S. de Holanda et al.

Tabela 8. Tolerância relativa de algumas culturas a sódio e cloreto em água aplicada por aspersão

Fonte: Adaptado de Maas (1985).

Tabela 9. Concentrações de nitrogênio na água com composição, poderá acelerar o processo de deposição da
respectivos riscos de desequilíbrio nutricional nas plantas calcita na tubulação de abastecimento (Mendonça et al.,
2008). Com o intuito de prever problemas de obstrução
de emissores, deve-se efetuar análise química da água
para determinar principalmente os seguintes íons: cálcio,
carbonato, bicarbonato, ferro e manganês.
Para a avaliação do risco de obstrução pelo teor de
Fonte: Ayers & Westcot (1999). cálcio presente na água de irrigação, Nakayama (1982)
recomenda utilizar o Índice de Saturação de Langelier
problemas de ordem física, química e/ou biológica (IS). Por esse procedimento, calcula-se o pH da água e,
(Tabela 10). em seguida, obtém-se a diferença entre o pH lido, com
O entupimento de emissores em decorrência de causa a ajudada do aparelho, e o pH calculado (IS = pH lido -
física está, em sua grande maioria, relacionado com o pH calculado) Se resultar em valores positivos, deduz-se
nível dos sedimentos em suspensão na água de irrigação, haver tendência de formação de precipitados de CaCO;
ou que são succionados pelo conjunto motobomba. A valores negativos são indícios de tendência em se manter
condição de pH da água e a incompatibilidade entre o CaCO5 dissolvido em solução, não produzindo, portanto,
fertilizantes são também responsáveis diretos pela precipitados químicos (Ayers & Westcot, 1999).
formação de precipitados químicos (Resende, 1999). O desenvolvimento de microrganismos no interior das
O cálcio e o principal responsável por entupimentos instalações de irrigação, quando estimulado por excesso
em regiões áridas e semi-áridas. A precipitação de de nutrientes, como nitrogênio e fósforo (Ayers &
carbonato de cálcio (CaCO3) ocorre frequentemente em Westcot, 1999), talvez seja a causa mais frequente na
águas ricas em cálcio e bicarbonato (Gilbert & Ford, formação de obstruções, as quais se apresentam em
1986). Inclusive verifica-se um maior risco de qualquer conto da rede de tubulação, embora seu efeito
precipitação de calcita na água tratada do que na água mais prejudicial esteja em emissores (Pizarro Cabello,
bruta, indicando que a utilização, no tratamento da água, 1996). O uso de águas residuárias nos sistemas de
de substancias desinfetantes que possuem cálcio na irrigação localizada é particularmente problemático, por

Tabela 10. Influência da qualidade da água no surgimento de problemas de obstrução em sistemas de irrigação localizada

mL-1
Fonte: Nakayama (citado por Ayers & Westcot, 1999).
Qualidade da água para irrigação 57

conta do seu conteúdo de nutrientes, substâncias salinidade, sodicidade e toxicidade, respectivamente.


orgãnicas e microrganismos (Ayers & Westcot, 1999). Todas as letras devem ser acompanhadas de um número
Águas de irrigação provenientes de poços rasos subscrito (1,2,3 ou 4) designando a intensidade do
apresentam frequentemente problemas de qualidade problema apresentado. Assim, por exemplo, C1S2T1 seria
biológica. Actinomicetos e Vitreosci//a, gêneros de a interpretação de uma água de baixa salinidade, média
bactéria filarnentosa, são encontradas em profusão, sodicidade e sem problemas de toxicidade;
causando entupimento de emissores. Bactérias do gênero consequentemente o seu uso em irrigação não traria
Thiothríx, que oxidam enxofre, e as dos gêneros nenhum risco de salinidade para o solo, poderia provocar
Pseudomonas, Enterobacter; Gailioneila, teptothrix, problemas moderados de infiltração e não apresentaria
Toxothrx, Crenothrix e Sphaerotilus, oxidantes de Fe, nenhum risco de toxidez para as plantas.
também são frequentemente observadas (Gilbert & Ford,
1986). O tratamento químico da água com cloro QUALIDADE DA ÁGUA DE MANANCIAIS
(cloração) é um dos métodos mais eficazes para DO NORDESTE
controlar o desenvolvimento de microrganismos
(Vermeiren & Jobling, 1997; Ayers & Westcot, 1999). No semiárido do Nordeste do Brasil, os reservatórios
Medeiros & Gheyi (1994) enfatizam a necessidade do de água de maior capacidade de armazenamento,
desenvolvimento de um sistema de classificação de água, geralmente, contém água de boa qualidade para irrigação,
próprio para as condições brasileiras, como medida para com pequena variação na composição ao longo do ano
se ter um prognóstico seguro de seu efeito quando usada (Tabela 11). Medeiros (1992), estudando as águas
em irrigação. Enquanto não se define um sistema de tal utilizadas na pequena irrigação nos Estados do Ceará, Rio
natureza se sugere que, para classificação quanto a Grande do Norte e Paraíba, constatou que existe
salinidade seja utilizada a proposição do UCCC citada por consideráveis variações nas suas características durante
Frenkel (1984) e Pizarro (1985) por não ser conservadora o ano, principalmente naquelas oriundas de poços
como a de Richards (1954) nem generalista como a amazonas e naturais, em leitos de rios/riachos e pequenos
apresentada por Ayers & Westcot (1999). Com respeito e médios açudes. Além dessas fontes, poderia se
a sodicidade ou problemas de infiltração e a toxicidade acrescentar as águas contidas em lagoas, como de maior
iônica, as diretrizes apresentadas por Ayers & Westcot variação na composição química em relação ao tempo ou
(1999) são adequadas. estação climática.
Considerando que as variáveis fundamentais para Em levantamentos de avaliação de qualidade de água
avaliação da qualidade das águas de irrigação para irrigação realizados em Estados do Nordeste e
compreendem: salinidade, sodicidade e toxicidade iônica, considerando como de boa qualidade as que apresentam
se sugere aos laboratórios de análises que, para a níveis de salinidade entre baixo e médio, foram
classificação sejam mantidas as letras de costume C e S observados os seguintes percentuais para as fontes
com acréscimo da letra T, correspondendo aos riscos de incluídas nessa categoria: 74,3 % na microregião

Tabela 11. Composição química da água de alguns mananciais da região Nordeste


CEa Íons (mmolc L-1 )
Manancial Município pH
(dS m-1) Ca Mg K Na CO3 HCO3 Cl
S. Francisco Petrolina - PE - 0,067 0,40 0,25 0,00 0,25 0,00 0,63 0,03
São Gonçalo Souza - PB 7,1 0,240 1,05 0,80 0,20 0,61 0,00 1,69 0,65
Açude Boqueirão Boqueirão - PB 1,210 2,33 2,68 6,59 - 2,17 8,89
Açude Itans Caicó - RN 8,0 0,660 0,93 2,67 0,17 3,20 0,92 1,31 3,70
Açude Cruzeta Cruzeta - RN 8,0 0,730 1,37 1,88 0,12 3,70 0,30 1,80 4,50
Gargalheiras Acari - RN 8,1 1,320 2,92 0,65 0,14 8,08 0,15 1,75 3,50
Rio Piranhas J. Piranhas - RN 7,5 0,520 1,37 1,70 0,08 2,10 0,90 1,40 2,25
Rio P. Ferros - RN 0,630 1,47 1,08 - 3,60 2,63 3,54
Arm. Ribeiro Assu - RN 7,9 0,304 0,88 0,82 0,14 1,22 0,00 1,55 1,63
Serra Mossoró Mossoró - RN 6,7 1,900 7,20 7,70 - 7,50 - 5,00 7,40
Poço permnte Tauá - CE 0,960 2,12 2,64 5,11 4,10 5,11
Quixeré Quixeré - CE 6,7 1,750 8,90 4,30 - 4,50 - 5,20 10,6
Rio Capiá Vários
Alagoaslocais - AL 7,9 5,970 5,90 13,1 0,65 38,3 0,20 2,80 51,5
Fontes: Pereira et al., (1991); Leite (1991): Medeiros, (1992); Martins, (1993); Morais et al, (1998); Silva Jr., et al (1999).
58 José S. de Holanda et al.

homogênea de Catolé do Rocha na Paraíba (Costa & CONSIDERAÇÕES FINAIS


Gheyi, 1984); 64 % no sertão de Pernambuco (Nunes
Filho et al., 1991); 71,9 % a 75 % no Seridó e Zona A água é imprescindível aos seres vivos, ocupa 3/4 da
Oeste do Rio Grande do Norte (Pereira et al., 1992; superfície terrestre, sendo 96,5 % correspondente a água
Martins, 1993); 75 % nas pequenas propriedades irrigadas do mar que é inadequada para consumo direto.
do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba (Medeiros, O consumo de água potável no mundo neste final de
1992). século aumentou cerca de 10 vezes em relação ao início,
Avaliando a qualidade de águas do cristalino dos sendo a agricultura responsável pela maior demanda. A
estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, Silva disponibilidade atual daria para atender ao triplo da
Jr. et al., (1999) concluíram que em geral são cloretadas população existente entretanto, existe uma grande
sódicas com poucas restrições de uso para irrigação irregularidade na sua distribuição espacial e temporal.
(Tabela 5.11). Da mesma forma, Morais et al., (1998) Países com disponibilidade inferior a 1 mil m3 hab-1 ano-
trabalhando com resultados de mais de mil amostras de 1 já sofrem de escassez de oferta com previsão para o
águas do banco de dados da UFERSA (1990 – 1995) ano 2.025 de pelo menos 30 integrarem esse grupo,
observaram que 73,08% são de salinidade de média a principalmente os situados no Oriente Médio e na África.
baixa porém, 60% da amostras apresentaram risco de Em regiões áridas e semi-áridas, a irrigação é uma
toxidez de sódio ou cloreto requerendo um manejo e tipo maneira segura de garantir a produção agrícola. As
de irrigação adequado. áreas irrigadas representam aproximadamente 16 % das
No tocante a águas subterrâneas, Medeiros et al.
terras cultivadas e respondem por 36 % da produção
(2003) afirmam que as da zona produtora de melão da
mundial de alimentos.
chapada do Apodi, estados do Ceará e Rio Grande do
Um manejo racional da irrigação envolve tanto
Norte apresentam níveis elevados de salinidade, altas
aspectos quantitativos para economia de água como
concentrações de cloreto, baixa sodicidade e elevada
qualitativos, para prevenção dos processos de salinização.
alcalinidade (Tabela 5.11). No mesmo sentido, Andrade
Na adequabilidade da água para irrigação influi, além da
Jr. et al, (2006) avaliando águas de 225 poços de 29
sua composição iônica, fatores climáticos, solo, planta,
municípios do Piauí concluíram que os situados na
método e manejo da irrigação.
formação Serra Grande são de alta vazão com baixa
concentração de sais, não apresentando restrição para A concentração de sais nas águas de superfície
uso em irrigação. Por outro lado, os situados no depende da composição e grau de intemperismo das
embasamento cristalino do município de Simões rochas da bacia hidrográfica e da natureza e tipo de solo
apresentam alta salinidade. pelo qual ela flui. Os aspectos de salinidade, sodicidade
Em linhas gerais, em torno de 70 % das fontes de e toxicidade são as principais variáveis necessárias para
água avaliadas em Estados do Nordeste foram avaliação da qualidade agronômica das águas para
consideradas de boa qualidade para irrigação. irrigação.
Considerando apenas esse aspecto poderia se esperar A partir da década de 1950 evoluíram os estudos
que as áreas irrigadas com águas dessa qualidade não sobre avaliação da qualidade de água para irrigação.
desenvolvessem problemas por acumulação de sais, o Verificou-se que a classificação de Richards, que se
que não é verdade. Estima-se entre 25% e 30% a tornou mundialmente utilizada, apresentava alguns
porcentagem de áreas afetadas por sais nos perímetros inconvenientes, incluindo erros conceituais. A
irrigados do Nordeste (Goes, 1978; Cordeiro & Millar, classificação proposta pelo Comitê de Consultores da
1978). Este fato deve-se essencialmente ao manejo de Universidade da Califórnia é menos rigorosa. Sugere-se
irrigação adotado, sob condição de intensa evaporação e que os riscos de salinidade, sodicidade/infiltração e
drenagem deficiente, em solos de textura franco siltosa toxicidade iônica sejam representados pelas letras C, S
a argilosa, predominantes nas áreas de aluviões, onde se e T, respectivamente, com subscritos numéricos (1, 2, 3
concentra a maioria dos perímetros irrigados. Também ou 4) para designar o grau do problema.
vale ressaltar que os solos destes perímetros, Em torno de 70 % das águas dos principais
naturalmente já tinham algum problema de salinidade, mananciais da região Nordeste são consideradas de boa
porém o manejo inadequado da irrigação provocou a qualidade para irrigação (baixa a média salinidade). Os
acumulação de sais por falta de drenagem ou promoveu problemas de salinidade existentes nas áreas irrigadas
a elevação do lençol freático, com consequente aumento estão relacionados principalmente ao manejo inadequado
das áreas salinizadas. da irrigação.
Qualidade da água para irrigação 59

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Avaliação e monitoramento da
5 salinidade do solo
José E. Queiroz1, Antonio C. A. Gonçalves2, Jacob S. Souto1 & Marcos V. Folegatti3

1 Universidade Federal de Campina Grande


2 Universidade Estadual de Maringá
3 Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”

Introdução
Diagnose e classificação dos solos salinos
Diagnose dos solos salinos e sódicos
Parâmetros principais para avaliação da salinidade
Categoria dos solos afetados por sais
Monitoramento da salinidade
Amostragem para estudos de salinidade
Formas de amostragens
Estratégia de amostragens
Amostragem hierárquica
Exemplo de aplicação
Variabilidade da salinidade do solo
Análise exploratória de dados
Técnicas geoestatísticas
Conclusões
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
64 José E. Queiroz et al.

Avaliação e monitoramento
da salinidade do solo

INTRODUÇÃO requer habilidade, conhecimento, muita experiência e a


utilização de recursos computacionais, além de técnicas
A salinidade do solo é um dos fatores que afeta o estatísticas adequadas.
rendimento dos cultivos. Em se tratando de regiões Nas análises estatísticas usuais supõe-se que as
áridas e semiáridas irrigadas, a salinidade constitui um amostras são espacialmente aleatórias e independentes,
sério problema, limitando a produção agrícola e o que nem sempre é verdade. É de se esperar, por
reduzindo a produtividade das culturas a níveis exemplo, que amostras de solo mais próximas, numa
antieconômicos. Nessas regiões, caracterizadas por dada região, resultem valores de salinidade mais
baixos índices pluviométricos e elevada parecidos do que amostras mais distantes, o que indica
evapotranspiração, o manejo inadequado da irrigação, a a existência de alguma relação espacial entre as
qualidade da água de irrigação e as condições de medidas. As técnicas geoestatísticas podem ser utilizadas
drenagem insuficiente, contribuem para aceleração do como uma ferramenta apropriada para identificar a
processo de salinização do solo. existência de estrutura de dependência espacial entre as
Assim como outras de propriedades químicas e
observações. O processo de krigagem possibilita a
físicas do solo, a salinidade é uma propriedade bastante
estimativa de valores em pontos não medidos, permitindo,
variável no espaço e no tempo devido a natureza
assim, o mapeamento da área estudada com maior
dinâmica dos efeitos e interações de diversos fatores
precisão. Este processo quando feito para diferentes
edáfico-climáticos (permeabilidade do solo, nível do
variáveis de interesse permite estudar a correlação
lençol freático, quantidade e distribuição das chuvas,
espacial entre elas. Por exemplo, correlação entre níveis
umidade relativa, temperatura, etc.) e ação do homem
(irrigação, práticas culturais, etc.). Dessa forma, na de salinidade do solo e a elevação do lençol freático.
definição de estratégias de manejo e no estabelecimento A aplicação das técnicas geoestatísticas deve ser
de planos de recuperação dos solos afetados por sais, o orientada por uma análise descritiva geral e espacial dos
monitoramento espacial e temporal dos parâmetros que dados, isto é, através de uma boa análise exploratória dos
definem a salinidade constitui um aspecto de fundamental dados. Esta análise constitui uma forma de auxiliar na
importância a ser considerado. decisão de se assumir algum tipo de estacionariedade
O monitoramento da salinidade requer a aplicação de dos dados, o que é um pressuposto para aplicação das
técnicas rápidas e apropriadas de avaliação e análise dos técnicas geoestatísticas.
dados. A avaliação deve ter como objetivo identificar os Os recursos da geoestatística podem ser usados para
fatores que contribuíram e/ou estão contribuindo para tomada de decisão quanto ao manejo da salinidade e
aumentar o grau de salinidade, definir um sistema de estudos de recuperação dos solos afetados por sais.
amostragem adequado e classificar os resultados Russo (1984), por exemplo, descreveu um método
conforme a magnitude dos dados. Devido à grande usando a geoestatística para estudo do transporte de
variabilidade normalmente encontrada nos parâmetros de solutos em solos heterogêneos e sua aplicação no manejo
avaliação da salinidade do solo, a análise dos dados da salinidade.
Avaliação e monitoramento da salinidade do solo 65

Este capítulo trata da avaliação e classificação dos sais podem ser adicionados ao solo através de atividades
solos afetados por sais, do problema da amostragem e da antrópicas, incluindo o uso de águas de irrigação e
análise de dados por meio de técnicas exploratórias e o salmouras altamente salinas, ou resíduos industriais
emprego de técnicas geoestatísticas. Um exemplo de (Bohn et al., 1985).
aplicação é apresentado e discutido a partir de um
conjunto hipotético de dados de condutividade elétrica do Parâmetros principais para avaliação da salinidade
extrato de saturação, medida praticamente generalizada Diversas medidas de laboratório são usadas para
para avaliar a salinidade do solo. avaliar a salinidade do solo, sendo as mais importantes:
o pH, a condutividade elétrica do extrato de saturação
DIAGNOSE E CLASSIFICAÇÃO (CEes) e a porcentagem de sódio trocável (PST) (Raij,
DOS SOLOS SALINOS 1991). Para avaliar o perigo de sodificação do solo pelo
uso da água de irrigação utiliza-se um índice denominado
Diagnose dos solos salinos e sódicos relação de adsorção de sódio (RAS).
Os solos salinos e sódicos se desenvolvem em
consequência do acúmulo de sais e de sódio. Os sais O pH do solo: A reação do solo pode ser ácida, neutra
encontrados mais frequentemente são formados por ou alcalina, conforme a concentração de íons hidrogênio
cátions de cálcio, magnésio, sódio, e dos ânions cloreto (H+) ou hidroxila (OH-). Quando há predominância de
e sulfato. Nesses solos, com menos frequência, íons H+ sobre os íons OH- a reação é acida, e em caso
encontram-se outros íons como potássio, carbonato e
inverso alcalina. Em situações onde as concentrações
bicarbonato.
dos íons H + e OH - são iguais, as reações são ditas
A formação dos solos salinos e sódicos ocorre
neutras.
principalmente em climas áridos e semiáridos, onde a
A reação da solução do solo é geralmente expressa
ausência de lixiviação, juntamente com a excessiva
em termo de pH, definido como o logaritmo negativo da
evaporação da água, possibilita o acúmulo de sais no solo.
atividade do íon hidrogênio, ou seja, pH = - log[H+]. Sua
A situação pode ser muito agravada com a irrigação, já
que a água utilizada sempre transporta certa quantidade determinação pode ser feita a partir de uma solução
de sais para o solo, com consequente aumento do aquosa usando-se um potenciômetro, ou,
conteúdo de sais da solução do solo. Quando o conteúdo colorimetricamente, mediante indicadores que mudam de
de sódio é elevado, o problema é mais sério já que o cor com a atividade do íon hidrogênio. Existe certa
sódio geralmente persiste depois que os sais solúveis têm dúvida com relação à determinação do pH nas soluções
sido eliminados. por meio de métodos que utilizam suspensão do solo na
Apesar dos solos afetados por sais serem comuns em água (Richards, 1954).
regiões áridas e semiáridas, os problemas de salinidade O pH do solo é influenciado pela composição e
não ocorrem apenas nessas regiões. Os solos salinos e natureza dos cátions trocáveis, composição e
sódicos podem se desenvolver também em regiões concentração dos sais solúveis e a presença ou ausência
úmidas e sub-úmidas sob determinadas condições, a do gesso e carbonatos de cálcio e magnésio.
exemplo de solos em terras baixas nas proximidades do Fireman & Wadleigh (1951) realizaram um estudo
mar. quanto ao efeito do teor de umidade, do nível de
As três principais fontes naturais de sais do solo são: salinidade, da presença ou ausência de carbonatos e do
o intemperismo mineral, a precipitação atmosférica e os gesso, na relação entre pH e porcentagem de sódio
sais fósseis (aqueles remanescentes de ambientes trocável (PST) em solos de regiões áridas, cujos
marinhos ou lacustres). Os minerais primários que se resultados encontram-se na Tabela 1.
encontram nos solos e nas rochas expostas da crosta Teremos mais a frente neste capítulo, o pH para as
terrestre constituem a fonte primária de sais do solo. Os várias categorias de solos afetados por sais.

Tabela 1. Relação entre pH e PST

Fonte: Fireman & Wadleigh (1951).


66 José E. Queiroz et al.

Condutividade elétrica do extrato de saturação: A A Tabela 2 mostra a classificação dos solos de acordo
condutividade elétrica (CE) expressa à habilidade que um com a PST.
meio apresenta em conduzir uma corrente elétrica.
Devido ao fato de que a CE de uma solução aquosa Tabela 2. Classificação dos solos segundo sua porcentagem
está intimamente relacionada com a concentração de sódio trocável (PST)
total de eletrólitos dissolvidos (solutos iônicos) na
solução, ela é comumente usada como uma expressão
da concentração total de sais dissolvidos de uma
amostra aquosa, embora também seja afetada pela
temperatura da amostra, pela mobilidade, valência, e
concentração relativa dos íons contidos na solução
(Rhoades, 1994).
A determinação da CE geralmente envolve a medição Relação de adsorção de sódio (RAS): A RAS é um
da resistência elétrica da solução, a qual é inversamente índice que expressa à possibilidade de que a água de
proporcional a sua área seccional e diretamente irrigação provoque a sodificação do solo
proporcional ao seu comprimento. A magnitude da Na língua inglesa, este índice recebe a denominação
resistência medida depende, contudo, das características de SAR, iniciais de Sodium Adsorption Ratio. A
da célula condutivimétrica usada e dos eletrodos. expressão que define a RAS já foi vista no Capítulo 2
A CE de um solo pode ser determinada por meio de (Equação 19). Entre o complexo de troca e a solução do
um extrato de uma pasta de solo saturado ou em uma solo existe um equilíbrio no que se refere aos cátions
suspensão mais diluída. A preparação da pasta de adsorvidos e dissolvidos. Existe uma relação entre a
saturação requer uma boa capacitação técnica e certas RAS e a PST do solo, conforme a Eq. 22 do Capítulo 2.
precauções com a textura do solo (Filgueira & Souto, Para Klar (1984) é possível que a Eq. 22 não se aplique
1996). Em seu preparo, que consiste na agitação de uma em condições de campo, devido à solução do solo ser
amostra de solo (200- 400g) durante a adição de água sempre mais concentrada do que a água de irrigação.
destilada até alcançar o ponto final desejado (saturação). Entretanto, via de regra, considera-se que a
Erros podem ocorrer quanto a observação se o solo já concentração da solução do solo não é maior que duas
atingiu ou não o grau de saturação (Rhoades, 1994). a três vezes a concentração da água de irrigação nos 30
Diferentes relações solo: água são também utilizadas cm superficiais.
para determinação da CE de uma amostra de solo, de
Categoria dos solos afetados por sais
forma rápida e eficiente (por exemplo, 1:1, 1:2 e 1:5).
Existem várias classificações para os solos afetados
Entretanto, a segurança das determinações depende do
por sais, sendo as mais importantes a russa, francesa e
solo e dos sais nele presentes (Richards, 1954). Em solos
americana. A classificação russa combina os princípios
salino-sódicos e sódicos degradados da região de Patos,
da pedogênese, geoquímica dos sais e fisiologia vegetal.
Estado da Paraíba, verificou-se que há possibilidade de
Contudo, a classificação mais simples e mais prática tem
se utilizar extratos obtidos em relações mais diluídas de sido a americana (Richards, 1954).
solo: água (1:2 e 1:5), em substituição ao extrato de Esta classificação é baseada na concentração de sais
saturação, para estimar problemas de salinidade, por meio solúveis (expressa por meio da CE) extraídos da solução
da CE (Filgueira & Souto, 1996). do solo e da percentagem de sódio trocável do solo
(PST) e do pH. A CE indica os efeitos da salinidade
Porcentagem de sódio trocável (PST): No estudo de sobre as plantas, enquanto que, a PST indica os efeitos
solos com problemas de sais, a porcentagem que o sódio do sódio sobre as propriedades do solo.
representa em relação aos cátions adsorvidos constitui A linha divisória entre solos salinos e solos não-
um fator de grande importância, sendo denominada na salinos tem estabelecido o valor 4 dS m-1 para extratos
literatura porcentagem de sódio trocável (PST). Na de pasta saturada do solo. Entretanto, podem ser
literatura inglesa se expressa com as letras ESP, iniciais encontradas plantas sensíveis a sais que são afetadas em
de Exchangeable Sodium Percentage, em espanhol, com solos cujo extrato de saturação apresenta CE entre 2 e
as letras PSI (Porcentage de Sódio Intercambiable). Seu 4 dS m -1. O Comitê de Terminologia da Sociedade
valor é dado pela seguinte expressão: Americana de Ciência do Solo tem recomendado baixar
o limite entre solos salinos e não-salinos para 2 dS m-1
Na (Bohn et al., 1985). A classificação tradicional e a
PST  100 (1)
(Ca  Mg  K  Na  H  Al) proposta são apresentadas na Tabela 3.
Avaliação e monitoramento da salinidade do solo 67

Tabela 3. Classificação de solos afetados por sais certos casos, aos “Solonetz” de pesquisadores russos. O
pH dos solos sódicos é comumente maior que 9 ou 9,5,
e as frações orgânicas e argila encontram-se dispersas
(Bohn ,1985). A matéria orgânica dispersa pode
acumular-se na superfície do solo devido a evaporação,
causando um enegrecimento, dando origem ao termo
“álcali negro”.
Nos solos sódicos a percolação da água é muito baixa
e o controle da salinidade é o principal problema
associado com esses solos. Devido ter uma baixa
concentração de sais solúveis e elevado valor de pH alto,
os solos sódicos podem apresentar toxidez direta para
muitas plantas devido à ação direta do sódio.

Fonte: Bohn et al. (1985). Monitoramento da salinidade


* Valor de CE para extrato de pasta saturada do solo, em dS m -1 A agricultura irrigada em regiões áridas e semiáridas
requer um monitoramento periódico da salinidade do solo.
Embora sejam designados como sódicos os solos com
Para tanto, procedimentos práticos e rápidos de campo
PST > 15, vários resultados publicados na literatura têm para medida da CE, que permitam identificar áreas fontes
mostrado efeitos do sódio sobre a estrutura do solo de carregamento de sais e mapear a distribuição e
mesmo sob níveis inferiores, o que parece ser mais extensão dos solos afetados por sais, devem ser
prudente considerar como sódicos solos com PST > 7 utilizados.
(Pizarro, 1978). O nível de sais na zona radicular deve ficar abaixo do
Os solos salinos correspondem aos solos “álcali nível nocivo às plantas cultivadas. Assim, o
branco” descritos por Hilgard 1 (citado por Richards, monitoramento direto da salinidade na zona radicular é
1954) e aos “solonchacks” dos pesquisadores russos. recomendado para avaliar a eficiência dos diversos
Nestes, o crescimento das plantas é limitado pela grande programas de manejo na área irrigada (Rhoades et al.,
quantidade de sais solúveis, podendo ser convertidos a 1981).
solos normais simplesmente pela lavagem do excesso de A determinação da salinidade pode ser feita tanto
sais da zona radicular das plantas, o que requer um bom por métodos de laboratório como por métodos de
sistema de drenagem. Plantas crescendo em tais solos campo. No laboratório, conforme já comentado no ítem
podem apresentar-se raquíticas com folhas grossas e 3.2.2, estima-se a salinidade a partir de medidas da
uma coloração verde escuro. condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes)
Solos contendo altas concentrações de sais solúveis ou da CE em diferentes relações solo: água. Em
e altos níveis de sódio trocável são chamados de solos condições de campo, basicamente três métodos são
salino-sódicos. Tais solos geralmente limitam o disponíveis para se determinar a CE e avaliar a
crescimento das plantas pelos seus altos níveis de sais salinidade: a) técnica de indução eletromagnética; b)
solúveis. “four-electrode probes”; e c) “time domain
Bohn et al. (1985) relatam que o principal risco
reflectometry - TDR”. Estes três métodos são
quando da lixiviação dos sais solúveis dos solos salino-
amplamente usados, especialmente onde se deseja
sódicos é que a lixiviação dos sais ocorre mais
informações imediatas visando o mapeamento ou
rapidamente do que a remoção do sódio trocável, o que
monitoramento das variações de salinidade em escala
irá causar uma conversão para solo sódico, podendo
ocorrer uma redução na permeabilidade ou de campo. Cada um destes métodos tem vantagens e
condutividade hidráulica do solo, com consequentes desvantagens, sendo a escolha do mais apropriado ou
efeitos nas relações água-planta. Devido os sais solúveis uma combinação de métodos dependente das
prevenir as reações de hidrólise, o pH dos solos salino- necessidades específicas e dos objetivos de cada
sódicos é tipicamente menor que 8,5. situação particular de interesse (Rhoades, 1994).
Os solos sódicos correspondem aos chamados “álcali
negro” por Hilgard1 (citado por Richards, 1954) e, em AMOSTRAGEM PARA ESTUDOS
DE SALINIDADE

1
Quando se pretende avaliar a salinidade do solo,
Hilgard, E.W. Soils. Their formation, properties, composition, and relation to climate and plant
growth. New York and London, 1906. 593p., illus. propriedade que afeta diretamente a produção vegetal,
68 José E. Queiroz et al.

faz-se uso de uma metodologia padronizada, de forma a pode-se estimar o número de amostras necessário em
quantificá-la em alguns pontos dentro da área em estudo, futuras amostragens (N), para se obter uma previsão
selecionados para a amostragem. com um nível de probabilidade desejado, por meio da
A questão que se pretende discutir é a seguinte: que expressão abaixo:
critérios devem ser estabelecidos para se decidir como
amostrar uma determinada área, de forma que os valores
medidos permitam fazer inferências sobre esta (3)
propriedade do solo, com um desejado nível de precisão,
em toda a área?
Para abordar esta questão, inicialmente deve-se em que d é o limite de variação aceitável em torno da
considerar que o procedimento clássico da estatística médi a, expresso em porcentagem, S2 a variância
consiste em se assumir que o valor esperado de uma amostral dos n dados conhecidos e t o valor do parâmetro
propriedade do solo Z(x) qualquer, em uma posição x “t” da distribuição de Student para o nível de significância
dentro da área em estudo, é dado por: a desejado. Lascano & Hatfield (1992) salientam que,
caso a população siga a distribuição normal, a Eq. (3) é
Z( x )    e( x ) (2) adequada. Em caso contrário, esta expressão fornece
apenas uma aproximação do número necessário de
amostras.
em que  é a média populacional ou a esperança de Z(x)
Segundo Bresler et al. (1982), o procedimento
e e(x) são os desvios dos valores em torno da média.
descrito acima pressupõe estacionariedade e
Assume-se que estes desvios são aleatórios e
independência dos valores amostrais. Russo & Bresler
espacialmente independentes, apresentando distribuição
(1981), no entanto, afirmam que é usual propriedades do
normal com média zero e variância representada por 2
solo apresentarem estrutura de variação bem definida no
(Trangmar et al., 1985).
espaço, o que ocorre, segundo Ahuja & Nielsen (1990),
Assumindo estas hipóteses e sendo a distribuição de
em função do material originário e dos fatores de
frequências da propriedade Z(x) simétrica o bastante
formação do solo. Desta forma, as hipóteses formuladas
para ser suficientemente próxima da normal, a média
anteriormente são negadas, uma vez que os
aritmética dos dados amostrais é adotada como sendo
procedimentos clássicos da estatística assumem que os
uma boa estimativa da tendência central dos valores da
valores da propriedade se distribuem aleatoriamente na
população. A média é então tomada como uma estimativa
área. De acordo com Burgess & Webster (1980), uma
da propriedade em locais não amostrados, tornando
propriedade de solo é uma variável contínua cujo valor
necessário identificar o nível de precisão desta média
em uma dada posição deve ser função da direção e da
como estimador. Para tanto, tem sido usado algum
distância de separação em relação aos valores vizinhos
parâmetro que quantifica a dispersão dos dados em torno
amostrados. Em função desta dependência espacial, os
desta média, como o coeficiente de variação ou os
métodos tradicionais de interpolação tornam-se
limites de confiança para a média. Para a comparação
inadequados por não levarem em consideração a
da variação entre unidades de amostragem, a análise de correlação espacial e a posição relativa das amostras.
variância e subsequentes testes estatísticos são usados, O estudo da distribuição dos valores de uma
segundo Trangmar et al.(1985). propriedade do solo em uma área deve considerar a
Dentro desta abordagem do problema, o possível correlação espacial dos seus valores, tornando
procedimento de amostragem adequado para a necessário que não apenas os valores em uma série de
caracterização do comportamento de uma propriedade do locais sejam conhecidos, mas que se conheçam também
solo Z(x), em uma determinada área, consiste em se as coordenadas destes locais. Em outras palavras, deve-
proceder a uma amostragem aleatória na área, se conhecer o valor da propriedade em cada ponto,
garantindo, assim, a independência dos dados. A assim como a posição de cada ponto de amostragem,
intensidade de amostragem dependerá então da constituindo assim uma amostragem sistemática, como
variabilidade da propriedade na área, assim como do nível será descrito a seguir.
de precisão desejado em torno da média. Quanto maior
a variabilidade da propriedade, assim como quanto maior Formas de amostragens
a precisão desejada, maior será o número necessário de Não é possível medir o valor de uma propriedade do
amostras. solo em todos os pontos. É necessário tomar algumas
De acordo com Warrick & Nielsen (1980), a partir de amostras, as quais são úteis desde que sejam capaz de
um conjunto de valores de uma determinada propriedade, representar confiavelmente uma região. A teoria da
Avaliação e monitoramento da salinidade do solo 69

amostragem procura estabelecer bases seguras para a De acordo com Webster & Olivier (1990), sendo
definição do padrão de amostragem. De um modo geral, assegurado que todas as células sejam iguais e contenha
procura-se estabelecer uma amostragem aleatória como o mesmo número de pontos, a média de todas as
forma de garantir que esta será não tendenciosa. De observações é um estimador não tendencioso da média
posse de um conjunto de valores amostrais, pode-se populacional. Contudo, o desvio padrão deve ser estimado
calcular a sua média e a sua variância, assim como de acordo com a expressão:
momentos de maior ordem. Se a amostragem for não
tendenciosa, estes valores podem ser usados para estimar 1/ 2
 1  
m
os parâmetros populacionais correspondentes, ou seja, m
e s2 (média e variância amostral) estimam m e s2 (média
Sest 
    S2k / n k 
 m   k 1 
(4)

populacional e variância populacional), respectivamente.


Sendo a amostragem não tendenciosa, os valores
amostrais convergem para os valores populacionais, à em que m é o número de células, Sk2 é a variância das
medida que o número de amostras cresce. nk observações na célula k.
Em se tratando de uma área de solo, é usual Outro padrão de amostragem é a amostragem
representá-la em um primeiro quadrante de um sistema sistemática, na qual os pontos de amostragem são
de eixos cartesianos, de forma que cada ponto tenha localizados em intervalos regulares em um “grid” ou ao
duas coordenadas (x e y). Buscam-se então valores longo de um “transect”. Isto garante uma cobertura total
aleatórios para estas coordenadas, definindo assim os da área, sendo a forma mais simples de se identificar os
pontos que serão amostrados. Para tanto, pode-se fazer pontos e demarcá-los na área. Para se determinar a
uso das tabelas de números aleatórios ou pode-se usar localização dos pontos, inicialmente, de forma aleatória,
um gerador de números pseudo-aleatórios disponível em escolhem-se as coordenadas x e y do primeiro ponto e,
calculadoras e computadores. Este procedimento em seguida, adota-se o espaçamento constante nas duas
constitui uma amostragem aleatória simples, o qual é direções, identificando-se os demais pontos. Reichardt et
mais apropriado para solos homogêneos. Um grave al. (1986) salientam que a distância constante entre as
inconveniente deste padrão de amostragem é que amostras não é estritamente necessária, desde que a
algumas regiões tendem a ser intensamente amostradas, posição relativa de cada amostra seja conhecida.
enquanto outras o são precariamente. A aleatoriedade Neste tipo de amostragem como normalmente é
não garante uma boa distribuição dos pontos de obtida apenas uma observação por intervalo, não há
amostragem em toda a área. Assim, pode-se fazer uso como estimar o desvio padrão da média amostral.
da amostragem aleatória estratificada, técnica mais Peterson & Calvin (1967) e Yates (1981) recomendam
apropriada para solos heterogêneos, que consiste em se estratificar a amostra sistemática em blocos, com um
subdividir a área total em células relativamente mínimo de duas amostras por bloco, assumindo que a
homogêneas, usualmente quadradas, dentro das quais é variação dentro do bloco é apenas a variação amostral.
feito a casualização dos pontos amostrais, como Com isto, a estimativa do desvio padrão pode ser feita de
descritos anteriormente. É necessário que cada célula modo similar ao caso da amostragem aleatória
seja de igual tamanho, sem haver superposição, sendo a estratificada.
seleção de cada uma baseada nas diferenças em termos Quando a propriedade em estudo não se distribui
de aparência das culturas, textura do solo, acumulação aleatoriamente na área, mas segundo um padrão definido,
de sais na superfície do solo ou práticas de manejo. a amostragem sistemática pode conduzir a erros de
Em estudos de salinidade do solo, por ser esta uma estimativa. De acordo com Webster & Olivier (1990), no
propriedade altamente variável e dinâmica, esta técnica entanto, existem evidências de que esta forma de
de amostragem proporciona uma boa caracterização da amostragem é mais precisa que a amostragem aleatória
região estudada. Uma grande região heterogênea é simples e mesmo que a estratificada.
subdividida em sub-regiões menores que apresentam Além destas formas de amostragem, pode-se citar
níveis de salinidade relativamente homogêneos, também a amostragem sistemática estratificada não
associando-se a estes, fatores edáficos, climatológicos e alinhada, na qual a área é subdividida em células e dentro
operações de manejo dentro de cada sub-região. destas, de forma não alinhada, os pontos amostrais são
O número de amostras por célula deve ser distribuídos sistematicamente. Outra forma é a
proporcional a porcentagem da área total representada amostragem desigual, onde subáreas são mais
pela célula. Com a amostragem aleatória estratificada intensamente amostradas. Existem outras formas de
elimina-se o erro amostral entre células, sendo o erro amostragem, porém tratam de estudos específicos que
amostral proveniente apenas de dentro de cada célula. não são aqui tratados.
70 José E. Queiroz et al.

Estratégia de amostragens com problemas mais severos e evita despesas com


Na estratégia de amostragens para estudos de tratamentos além das necessidades em outras áreas. Este
salinidade, vários aspectos devem ser considerados tipo de estudo permite subdividir a área em zonas de
(seleção da forma de amostragem, a distribuição espacial menor variabilidade onde valores médios podem ser
e temporal da salinidade, a independência das usados como representativos, se a distribuição for normal.
observações, o volume da amostra, o tamanho da área, Nesse caso, o número necessário de amostras pode ser
entre outros). estimado pela Eq. (3), apresentada no item 3.3.1.

Seleção da forma de amostragem: A seleção de uma Independência das observações: As técnicas de


determinada forma de amostragem depende dos objetivos amostragens comumente utilizadas assumem
e das fontes de variação. Para problemas de salinidade independência entre as observações, o que implica dizer
em áreas relativamente pequenas, um critério de que cada observação proporciona completamente uma
amostragem composta pode ser usado. Se, entretanto, nova informação acerca do parâmetro populacional.
necessita-se avaliar a salinidade em uma grande área, Entretanto, até uma determinada distância, as
uma técnica de amostragem não tendenciosa e precisa propriedades do solo podem ser autocorrelacionados,
pode ser requerida, principalmente quando o indicando uma dependência espacial dos dados, isto é,
monitoramento da salinidade com o tempo é um dos cada observação não fornece uma nova informação à
objetivos. Para este propósito, os erros amostrais devido respeito do parâmetro populacional. Neste caso, a
a variabilidade espacial devem ser mínimos para detectar estratégia de amostragem deve considerar a distância
diferenças na salinidade (Tanji, 1990). amostral para satisfazer independência espacial das
As causas comuns de variação estão associadas com amostras para uso das técnicas clássicas da estatística.
a tendência, descontinuidade, periodicidade e
aleatoriedade. A tendência em salinidade do solo pode ser Volume da amostra: O volume da amostra é um fator
resultante de variações na textura ou infiltração da água que deve ser considerado no planejamento amostral, pois
no solo, de forma que se esta é a maior causa de os estudos mostram que existe uma relação direta entre
variabilidade, pode ser melhor realizar uma amostragem o volume amostrado por observação e a variância ou
aleatória estratificada ou sistemática. Em áreas com coeficiente de variação dos dados. Vários autores
descontinuidade ou mudanças relativamente abruptas na (Hawley et al., 1982; Hassan et al., 1983; entre outros)
salinidade, deve-se usar também a técnica de têm mostrado que quando o volume amostrado aumenta,
amostragem aleatória estratificada. Se a maior fonte de a variância diminui. Portanto, aumentando o volume da
variabilidade é devida ao acaso e o extenso campo amostra por observação, um menor número de
populacional parecer homogêneo, então a amostragem observações é requerido.
aleatória simples seria satisfatória.
No caso da periodicidade ser substancial, a estratégia Tamanho da área: O número necessário de amostras
de amostragem deve considerar esta fonte de variação. depende da variância dos dados. Assim, o número de
Amostragem em blocos de observações de tamanhos observações aumenta com o aumento da área apenas se
iguais pode ser necessária para períodos relativamente a variância aumentar.
curtos (alta frequência de amostragem). Os blocos A relação entre o coeficiente de variação e o
poderiam ser distribuídos aleatoriamente ou tamanho da área amostrada varia muito. O efeito do
sistematicamente sobre todo o campo, dependendo da tamanho da área sobre a variabilidade depende da
forma de amostragem desejada. Em áreas cultivadas, o distribuição das observações na área de interesse.
período e o tamanho dos blocos podem ser estimados a
partir de informações das práticas culturais. Variabilidade local: Quando existe uma substancial
variabilidade na salinidade do solo em pequena escala,
Distribuição espacial: Se os parâmetros que mais cuidados são necessários na amostragem. Os
caracterizam a salinidade variam espacialmente e não se fatores locais que estão contribuindo para esta
ajustam a uma distribuição normal de probabilidade, a variabilidade devem ser observados. O sistema de
média não pode ser usada como um parâmetro irrigação utilizado é um dos fatores que pode
representativo para recomendações quanto as técnicas proporcionar diferenças na variabilidade da salinidade,
de recuperação e manejo. O conhecimento da conforme a distribuição da água no solo. Amostragens
distribuição espacial dos dados permite o planejamento em um particular local podem ser necessárias para
quanto a aplicação de tratamentos adequados nas áreas considerar esta variabilidade. Para os sistemas de
Avaliação e monitoramento da salinidade do solo 71

irrigação por aspersão e gotejamento, por exemplo, nível i. m é a média de z na área. A i , Bij e Cijk são
amostras obtidas no espaço médio entre os emissores variáveis aleatórias associadas aos níveis 1, 2 e 3, com
resultaria em níveis diferentes de salinidade em relação variâncias s12, s22 e s32 , respectivamente. eijkl é o termo
a amostras próximas aos emissores. residual com variância s 4 2 . Sendo n o número de
Quando o monitoramento da salinidade é feito em subdivisões em cada nível, o quadro de análise de
função do tempo, cada observação deve ser feita na variância é apresentado na Tabela 4.
mesma posição relativa.
Tabela 4. Graus de liberdade e quadrados médios para
Amostragem composta: As amostras compostas são análise de variância hierárquica de três níveis,
frequentemente utilizadas com o objetivo de reduzir o balanceados
custo de análises. Cline 2 (citado por Tanji, 1990)
condiciona que a amostra composta é válida se:
1. O volume amostrado representa uma população
homogênea. Para populações heterogêneas, o
conhecimento da distribuição espacial é importante, no
qual uma amostra composta resultaria em erros;
2. Quantidades iguais de cada unidade amostral
Exemplo de aplicação
contribuem para a amostra composta;
Para exemplificar o uso da amostragem hierárquica,
3. Não ocorrem interações dentro da amostra
vamos tomar uma situação semelhante à descrita por
composta como resultado da composição, e
Youlden & Mehlich (1937), porém com dados hipotéticos.
4. Uma estimativa não tendenciosa da média é o
Estes autores mediram o valor de pH do solo em nove (9)
único objetivo. Amostragem composta não é satisfatória
estações, espaçadas entre si de 1,6 Km. Em cada estação,
se qualquer outra estatística é requerida.
foram definidas duas subestações espaçadas de 305 m
Amostragem hierárquica (nível 2), em cada uma, duas áreas de amostragem
A amostragem hierárquica pode ser usada quando se espaçadas de 30,5 m (nível 3) e, em cada uma, foram
deseja fazer uma avaliação preliminar da variação em definidos dois pontos de amostragem defasados de 3,05 m
uma população, permitindo identificar a variação devida (nível 4). Este é um esquema hierárquico balanceado, com
a diferentes níveis de subdivisão da população. Em uma progressão geométrica dos espaçamentos. Um
ciência do solo, é de grande interesse a adaptação desta quadro de análise de variância com valores hipotéticos de
técnica realizada por Youden & Mehlich (1937), os quais variância é apresentado a seguir, com o propósito de
associaram as diferentes componentes da variância total exemplificar o uso das informações resultantes.
de um conjunto de valores de propriedades do solo à Na Figura 1 é mostrado o gráfico da distribuição da
distância de separação entre os respectivos valores. variância acumulada em função da distância de
Uma vez amostrado o solo em alguns subníveis, separação entre os pontos, ou seja, da distância
correspondentes a regiões ou mais apropriadamente a correspondente aos níveis adotados (Tabela 5).
diferentes distâncias de separação entre pontos A análise da Figura 1 permite avaliar a utilidade desta
amostrais, a variância total pode ser particionada por técnica. Inicialmente, pode-se observar que para o menor
meio de uma análise de variância hierárquica. O espaçamento, a variância assume um valor de 20,5 % do
programa computacional para análises estatísticas SAS total, o que é usualmente denominado “nugget effect” e
apresenta recursos para a execução desta análise de corresponde à variação da propriedade em distâncias
variância, que pode ser esquematizada como apresentado
por Webster (1985) por meio de um exemplo onde se tem
dados hierarquizados em três estágios. O modelo de
Variância acumulada

variação é dado por:

Zijkl = m + Ai + Bij + Cijk + eijkl (5)

em que Zijkl é o valor da propriedade no ponto l no k-


ésimo sub-nível, dentro do j-ésimo subnível, dentro do
Distância (m)
Figura 1. Distribuição da variância acumulada com a
2 Cline, M.G. Principles of soil sampling. Soil Science, v. 58, p.275-288. 1944. distância de separação
72 José E. Queiroz et al.

Tabela 5. Análise de variância hierárquica para amostragem balanceada com 4 níveis

inferiores à amostrada, bem como a erros experimentais. interpretação dos dados. Uma análise exploratória
À medida que a distância cresce, a variância acumulada adequada dos dados constitui o ponto de partida para
também cresce. No entanto, 88,5 % da variância total observar o comportamento das variáveis de interesse, o
estão concentrados nas distâncias de até 30,5 m, o que que pode ser feito por meio de técnicas estatísticas
permite dizer que a contribuição restante é muito descritivas gerais e espaciais. Esta análise servirá de
pequena. Assim, pode-se admitir que para distâncias base para orientar na decisão de se assumir algum tipo
maiores que 30,5 m, o gráfico assume um patamar de estacionariedade dos dados, o que é de fundamental
praticamente constante, denominado “Sill”. Assim, pode- importância nas análises geoestatísticas.
se concluir que a variância desta propriedade é função A salinidade, assim como outras propriedades físicas
da distância de separação entre os pontos, para e químicas do solo, apresenta uma variabilidade espacial
distâncias de até 30,5 m. A partir daí, a distância de (e temporal) natural devido a influências das práticas de
separação entre pontos amostrais não mais altera a manejo utilizadas, profundidade do lençol freático,
variância dos dados. Evidentemente, estudos futuros da permeabilidade do solo, taxa de evapotranspiração,
variabilidade espacial desta propriedade devem chuvas, salinidade da água subterrânea e outros fatores
concentrar a atenção em distâncias desta ordem. geohidrológicos.
Muito embora as ferramentas da geoestatística A análise de dados de salinidade deve ser realizada
permitam um estudo muito mais bem elaborado da de modo a permitir a identificação de áreas problema e
variabilidade espacial, a amostragem hierárquica pode ser o monitoramento de variações temporais, tornando
de grande utilidade para uma análise exploratória em
possível planejar o estudo de recuperação, definir
áreas onde nada se conhece sobre a variação da
estratégias de manejo, bem como identificar que fatores
propriedade no espaço. De fato, como ponto de partida,
estão contribuindo para o problema.
pode-se realizar uma amostragem hierárquica com
diferentes espaçamentos na área em estudo e, com base
Análise descritiva geral: A análise descritiva geral tem
nas informações resultantes da análise de variância
por objetivo fazer uma identificação inicial do
hierárquica, estabelecer espaçamento adequado para
comportamento dos dados, tratando os valores de cada
uma futura amostragem sistemática com vistas ao estudo
usando as ferramentas da geoestatística, discutidas a variável como independentes espacialmente, isto é, neste
seguir. tipo de análise a posição onde a variável é medida não
é levada em consideração. Os procedimentos utilizados
VARIABILIDADE DA SALINIDADE permitem a interpretação dos dados por meio de medidas
DO SOLO sínteses, conhecidas como estatísticas descritivas.
Assumir independência entre as medidas de
Análise exploratória de dados salinidade do solo, por exemplo, significa considerar que
Introdução: A estatística atualmente é empregada em a obtenção de um determinado valor não tem nenhum tipo
praticamente todas as áreas do conhecimento humano, de influência na obtenção de qualquer outro.
tendo se tornado uma poderosa ferramenta no Assim como todas as outras técnicas estatísticas, a
planejamento de experimentos, organização, descritiva exige muita experiência, bom senso e precisão
apresentação e análise de dados, permitindo a dedução para interpretação dos resultados.
de conclusões válidas, para um dado nível de confiança, Neste item comentaremos, de forma resumida, os
e auxiliando na tomada de importantes decisões. seguintes recursos da estatística descritiva: a) principais
Em agricultura irrigada, os parâmetros envolvidos, estatísticas descritivas; b) histogramas; c) gráficos de
sejam relativos a água, ao solo, a planta ou a atmosfera, probabilidade e d) “box-plot” ou gráficos de caixa. O
exibem um comportamento variável no espaço e no objetivo é fazer uma apresentação didática, incluindo um
tempo, requerendo uma boa análise estatística para exemplo de aplicação com dados hipotéticos de CEes.
Avaliação e monitoramento da salinidade do solo 73

Principais estatísticas descritivas: As estatísticas caracterizam uma distribuição normal, sendo utilizado a
descritivas resumem o comportamento geral dos dados, teoria estatística da decisão (testes de hipóteses) para
sendo representadas por meio de medidas de posição e testar se os valores encontrados para um conjunto de
de variabilidade. As medidas de posição são utilizadas dados são estatisticamente iguais a 0 e 3,
para representar um determinado fenômeno por meio de respectivamente. Segundo Spiegel (1985), muitas vezes,
valores em torno dos quais tende a haver uma maior utiliza-se apenas a raiz quadrada do coeficiente momento
concentração dos dados observados (Fonseca & de assimetria (b 1), definido conforme a Eq. 8, para
Martins, 1993). representar o coeficiente de assimetria da distribuição de
A média aritmética, a moda e a mediana, representam probabilidade:
as três medidas de posição mais frequentemente
utilizadas para descrever a tendência central de um m32
conjunto de dados. As médias geométrica, quadrática, b1  (8)
m 23
biquadrática, harmônica e cúbica, são de uso menos
frequente.
Os quartís, embora não sendo medidas de tendência onde m2 e m3 são os momentos de segunda e terceira
central, são medidas de posição que apresentam ordem, centrados na média. Para uma distribuição
concepção semelhante a mediana. Enquanto a mediana perfeitamente simétrica,
divide o conjunto de dados em duas partes iguais quanto
ao número de elementos de cada parte, os quartis divide- b1  0 .
os em quatro partes iguais. Ao leitor interessado numa
leitura detalhada sobre estas medidas, sugere-se
consultar literaturas específicas de estatística (Toledo & No estudo da variabilidade dos dados, as medidas
Ovalle, 1982; Spiegel, 1985; Costa Neto, 1990; Fonseca clássicas mais utilizadas da estatística são: a variância, o
& Martins, 1993; Beiguelman, 1994; entre outros). desvio padrão e o coeficiente de variação. A amplitude
Numa distribuição normal, como os dados são total e a amplitude interquartílica, também são medidas
simétricos em torno de um valor central, a média, a moda frequentemente utilizadas para analisar a dispersão de
e a mediana, são coincidentes, podendo-se utilizar a um conjunto de dados. A amplitude total constitui uma
média como medida de posição representativa dos dados, medida que apresenta grande instabilidade por ser
caso seja necessário obter outros parâmetros como o bastante influenciada pela ocorrência de observações
desvio padrão e a variância. Por outro lado, sendo a perturbadoras, isto é, por observações que produzem
distribuição assimétrica, como é o caso de dados com efeito adverso substancial nas medidas estatísticas não
distribuição do tipo log-normal, por exemplo, é preferível resistentes, podendo conduzir a interpretações errôneas
usar a mediana, por tratar-se de uma medida resistente a respeito do fenômeno estudado. Por outro lado, a
a influência de valores extremos (Parkin & Robinson, amplitude interquartílica representa uma medida
1992). insensível a estas observações, constituindo uma medida
A verificação da normalidade dos dados pode ser considerada resistente.
baseada nos coeficientes de assimetria (C s) e curtose
(Cr), definidos conforme as Eq. 6 e 7, ou através de Histogramas: Uma vez coletado um conjunto de dados,
testes de aderência como o qui-quadrado (X 2 ) ou o passo seguinte consiste em fazer uma apuração dos
Kolmogorov-Smirnov (Spiegel, 1985; Costa Neto, 1990). mesmos, para posterior tabulação. A apuração diz
respeito a ordenação (ordem crescente ou decrescente)
m̂  M o e contagem. Após a ordenação, tomando-se os valores
Cs  (6) máximo e mínimo, por diferença se obtém a amplitude
S
total, a qual é dividida pelo número total de classes para
determinação do intervalo de classes. Tendo-se os
M4
Cr  (7) intervalos de classe e a frequência de ocorrência dos
S4 dados em cada intervalo, constrói-se o histograma.
Os histogramas constituem uma ferramenta gráfica
^ é a estimativa da média da população, M é a
onde m muito importante da estatística descritiva, os quais dão
o
moda, S é a estimativa do desvio padrão, M 4 é o uma primeira visão sobre o comportamento do fenômeno
momento da quarta ordem centrado na média e S 4 é o como um todo e permitem observar características como:
quadrado da variância. Valores de C s = 0 e C r = 3, simetria, distribuição, observações perturbadoras (valores
74 José E. Queiroz et al.

discrepantes em relação ao conjunto de dados), Normalmente acima dos limites críticos são destacados
concentração e lacunas nos dados. Uma predominância os valores considerados “outliers”. De acordo com
de valores superiores à moda revela uma distribuição Hoaglin et al. (1983) os limites críticos inferior (L i) e
assimétrica à direita (assimetria positiva). Neste caso, superior (L s ) são dados pelas Equações 9 e 10,
ocorre uma maior concentração dos dados na escala respectivamente:
inferior do gráfico, sendo a média aritmética superior a
mediana e a moda. Por outro lado, uma predominância Li = Qi - 1,5Dq (9)
de valores inferiores à moda indica uma distribuição
assimétrica à esquerda (assimetria negativa), tendo-se Ls = Qs + 1,5Dq (10)
uma maior concentração de dados na escala superior do
gráfico. A média é menor que a mediana e a moda. onde Qi e Qs correspondem aos quatís inferior e superior,
Atualmente a construção de histogramas, inclusive respectivamente; e Dq a dispersão dos quartís.
com o ajuste da melhor distribuição de frequência, é feito
Exemplo:
de forma eficiente e rápida através de inúmeros
A partir de um conjunto de dados hipotéticos de CEes,
programas computacionais disponíveis (EXCEL,
serão utilizados alguns recursos da estatística descritiva
STATÍSTICA, SANEST, GeoEAS, GRAPH, etc.).
com o objetivo de mostrar a utilização de tais recursos na
análise de dados de salinidade, sem, no entanto, ter a
Gráficos de probabilidade: Os gráficos de
pretensão de discutir detalhadamente os resultados. Para
probabilidade ou “probability plot” constituem um tanto, será adotado um esquema de amostragem
instrumento bastante útil na análise descritiva geral, sistemática, numa área retangular de 45 m x 120 m,
permitindo verificar se os dados são provenientes ou não quadriculada com espaçamento de 5 m, totalizando 10
de uma população de distribuição normal, como também linhas e 25 colunas, com um total de 250 pontos.
detectar a existência de valores discrepantes. Quando o A Tabela 6 resume as principais estatísticas dos dados
gráfico apresenta um comportamento linear aceita-se a de CEes e dos valores transformados na forma
hipótese de que os dados se ajustam a uma distribuição logarítmica, Yi = LnCEes, obtidas com o programa
normal, podendo-se usar a média como medida de STATÍSTICA. O GeoEAS permite o cálculo de todos os
tendência central representativa do conjunto de dados. momentos estatísticos apresentados, assim como vários
Ao se usar o logaritmo dos dados, um comportamento outros programas computacionais. Pode-se verificar pela
linear no gráfico de probabilidade indica ser razoável tabela que os valores de CEes não se ajustam a uma
aceitar a hipótese de que os dados originais (X i ) são distribuição normal, enquanto os valores transformados se
provenientes de uma população log-normalmente ajustam bem a este tipo de distribuição. Os histogramas das
distribuída e que os dados transformados, Yi = LnXi, se Figuras 2 e 3 e os gráficos de probabilidade das Figuras
ajustam a uma distribuição normal. Os programas Geo- 4 e 5, construídos no módulo STAT1 do programa GeoEAS
EAS (Geostatistical Enviromental Assement Software) e
o SAS (Statistical Analysis Sistem) permitem a obtenção Tabela 6. Momentos estatísticos para os dados originais
dos gráficos de probabilidade com relativa facilidade. (CEes) e transformados (Yi = Ln(CEes)) de condutividade
elétrica do extrato de saturação
“Box-plot” ou gráfico de caixa: O gráfico “box-plot”
representa o resumo de 5-números de um conjunto de
dados (limite inferior, limite superior, quartil inferior, quartil
superior e mediana), podendo também apresentar os
valores acima dos limites considerados “críticos”, isto é,
os valores discrepantes ou “outliers”. Constitui um gráfico
especialmente útil para comparação de vários grupos de
dados. Quando feito com o dados de cada linha e de cada
coluna permite uma visualização do comportamento
espacial dos dados em duas dimensões.
A caixa tem comprimento igual a dispersão dos
quartís ou amplitude interquartílica. Duas linhas
contínuas saindo da caixa, uma da base inferior e outra
da base superior, indicam os limites críticos inferior e
superior das das observações não “outliers”.
Avaliação e monitoramento da salinidade do solo 75
Frequência

CEes
CEes (dS m-1) Porcentagem acumulada
Figura 2. Histograma dos dados de condutividade elétrica do Figura 4. Gráfico de probabilidade normal dos dados de
extrato de saturação (CEes) condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes)

Ln (CEes)
Frequência

Ln (CEes) (dS m-1) Porcentagem acumulada


Figura 3. Histograma dos dados transformados de Figura 5. Gráfico de probabilidade normal dos dados
condutividade elétrica do extrato de saturação Y = transformados de condutivididade elétrica do extrato de
Ln(CEes) saturação Y = Ln(CEes)

e melhorados em um programa de tratamento de de continuidade, são frequentemente de considerável


imagens (o Paint, por exemplo), ilustram e reforçam esta interesse (Isaaks & Srivastava, 1989).
análise. Observa-se claramente um comportamento A análise descritiva espacial, por considerar de
assimétrico dos dados de CEes e simétrico para LnCEes, alguma forma a posição espacial em que as variáveis são
com média igual a mediana, o que é uma das medidas, constitui uma alternativa para orientar na
características de dados com distribuição normal. tomada de decisões quanto a eliminação ou não de dados,
Observa-se por meio das medidas de dispersão uma bem como a remoção de tendências, o que é de
elevada variabilidade dos dados. A amplitude total (39,93 fundamental importância nas análises geoestatísticas.
dS m -1 ) apresenta uma elevada diferença quando Os principais recursos gráficos para análise descritiva
comparada com a amplitude interquartílica (4,80 dS m-1), espacial são: mapa de localização e valores de cada
o que se deve ao fato da primeira ser uma medida observação ou “datapost”, “postplot”, mapa de contorno,
estatística de dispersão muito influenciada por gráficos por linhas e colunas (dispersão dos dados brutos,
observações discrepantes, o que não ocorre com a médias e desvios padrão, box-plot, etc.) e janelas móveis.
segunda, a qual é considerada uma medida estatística de No exemplo de aplicação somente alguns desses recursos
dispersão resistente. serão utilizados para o mesmo conjunto de dados usados
na análise descritiva geral. O objetivo é verificar a
Análise descritiva espacial: As características existência de tendências, heterogeneidades de variâncias
espaciais de um conjunto de dados, tais como a e comportamentos de dados isolados. Para maiores
localização de valores extremos, a tendência, ou o grau detalhes sobre estes recursos sugere-se aos interessados
76 José E. Queiroz et al.

consultar Isaaks & Srivastava (1989) e Ribeiro Júnior O “postplot” é um recurso gráfico muito parecido
(1995). Alguns desses recursos também foram utilizados com o “datapost”, onde o valor da propriedade analisada
por Queiroz (1995) na análise da variabilidade espacial de é distribuído em classes, em vez de ser assinalado o seu
parâmetros hidrodinâmicos de um solo de várzea para valor bruto. No caso de uso do programa GoeEAS, as
fins de drenagem subterrânea. seguintes classes são consideradas: C1 - entre o mínimo
O “datapost” é um recurso gráfico que, além de e o quartil inferior, C2 - entre o quartil inferior e a média,
revelar possíveis erros quanto a localização dos dados, C3 - entre a média e o quartil superior e C 4 - entre o
permite chamar atenção quanto a valores possivelmente quartil superior e o valor máximo. Este gráfico dar uma
errôneos ou que estão associados a algum fenômeno idéia inicial sobre a continuidade do fenômeno. Variações
localizado que precisa ser investigado. Algumas gradativas numa dada direção indicam a existência de
características dos dados aparecem de forma clara no tendência, o que é incompatível com as hipóteses de
“datapost”, podendo-se destacar zonas de valores estacionariedade assumidas nas análises geoestatíticas.
máximos e mínimos. Para o mesmo conjunto de dados A Figura 7 mostra o “postplot” dos valores dos
utilizado na análise descritiva geral, obteve-se o logaritmos dos dados de condutividade elétrica do estrato
“datapost” apresentado na Figura 6. Observa-se uma de saturação (Y = LnCEes), gerado no módulo
concentração de maiores valores no canto inferior direito POSTPLOT do GeoEAS. Observa-se, conforme já
da área, o que está associado a algum efeito localizado. confirmado pelo “datapost”, uma tendência de
concentração de maiores valores no canto inferior direito
da área, o que não chega a caracterizar uma tendência
global.

Figura 7. “Postplot” dos dados transformados de CEes, Yi =


Ln(CEes), na área amostrada

Os gráficos por linhas e por colunas permitem


identificar variações da propriedade de interesse em
relação às direções da malha experimental, podendo-se
também utilizar para esta finalidade janelas móveis, as
quais consistem na divisão da área em várias subáreas
vizinhas e de igual tamanho, englobando certo número de
linhas e de colunas, podendo haver ou não superposição.
Através das janelas móveis é possível identificar regiões
Figura 6. “Datapost” de condutividade elétrica do estrato de onde os dados são mais variáveis do que outras,
saturação em 250 pontos amostrais em uma área de indicando heterocedasticidade nos dados, o que tem
45 m x 120 m, quadriculada com espaçamento de 5 m sérias implicações práticas que devem ser analisadas.
Avaliação e monitoramento da salinidade do solo 77

Para o conjunto de dados de CEes que vem sendo assumir que a variabilidade em torno da média é
utilizado como exemplo, foram construídos os gráficos de aleatória e independente da posição espacial dos valores
“box-plot” múltiplos por colunas (25 dados por coluna) e amostrais. No entanto, muitos trabalhos, como o de
por linhas (10 dados por linha), sem delimitação de Vieira et al. (1981), mostram que a variabilidade de
janelas móveis, apresentados através das Figuras 8 e 9. propriedades do solo é espacialmente dependente, ou
As colunas e as linhas com valores elevados ficam bem seja, dentro de um certo domínio, as diferenças entre
evidenciadas nestas figuras. Observa-se, entretanto, não valores de uma propriedade do solo podem ser expressas
haver uma tendência global nas direções X e Y da malha como uma função da distância de separação entre estes
experimental. De um modo geral as análises descritivas pontos medidos.
mostram que a estacionariedade intrínseca pode ser Webster & Olivier (1990) afirmam que muitas
assumida, indicando não haver restrição quanto a propriedades do solo variam continuamente no espaço e,
construção do semivariograma. consequentemente, os valores em locais mais próximos
entre si tendem a ser mais semelhantes, até um
determinado limite, correspondente ao domínio destas
propriedades, que aqueles tomados a maiores distâncias.
Caso isto ocorra, os dados não podem ser tratados como
independentes e um tratamento estatístico mais adequado
é necessário.
As ferramentas estatísticas que consideram a
posição de cada valor no espaço tem como base
trabalhos desenvolvidos por Krige (citado por Webster &
Olivier, 1990), em mineração, os quais foram seguidos
pelos trabalhos de Matheron (1971). Estes trabalhos
formalizam a teoria das variáveis regionalizadas,
fundamento da geoestatística. Os conceitos de variável
aleatória, variável regionalizada, funções aleatórias e
Figura 8. Gráficos “box-plot” por coluna dos dados de estacionariedade são fundamentais para a geoestatística.
condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes)
A geoestatística possibilita a descrição quantitativa da
variação espacial no solo, a estimativa não tendenciosa
e de variância mínima de valores da propriedade em
locais não amostrados, permitindo a construção de mapas
de valores e também a identificação de esquemas de
amostragem eficientes.

Hipóteses de estacionariedade: Uma medida de uma


propriedade do solo em uma posição qualquer pode ser
entendida como uma realização de uma variável aleatória
(v.a.), a qual deve variar segundo alguma lei de
distribuição de probabilidade que pode ser descrita pelos
seus parâmetros. De acordo com Journel & Huijbregts
(1978), uma variável regionalizada z(x) é uma variável
Figura 9. Gráficos “box-plot” por linha dos dados de aleatória que assume diferentes valores z em função da
condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) posição x dentro de uma certa região. De acordo com
Trangmar et al.(1985), uma variável regionalizada z(x)
Técnicas geoestatísticas pode ser considerada como uma realização particular de
Dependência espacial: Os métodos clássicos da uma variável aleatória Z para uma dada localização x. O
estatística assumem que o valor médio de uma conjunto de variáveis z(x) medidas em todos os pontos x
propriedade de solo em uma região amostrada é igual ao pode ser considerado uma função aleatória Z(x), uma vez
valor da esperança desta propriedade em qualquer ponto que, segundo Isaaks & Srivastava (1989), são variáveis
dentro da região, com um erro de estimativa aleatórias, regionalizadas e assume-se que a dependência
correspondente à variância dos dados amostrais, entre elas é especificada por algum mecanismo
conforme Trangmar et al. (1985). Isto corresponde a probabilístico.
78 José E. Queiroz et al.

Segundo Journel & Huijbregts (1978), a interpretação independente da posição na região, dependendo apenas
probabilística de que a variável regionalizada z(x) é uma do valor de h, ou seja:
particular realização de uma função aleatória Z(x) é
consistente quando se pode inferir toda ou pelo menos VAR[Z(x) - Z(x+h)] = E[Z(x) - Z(x+h)]2 = 2 G(h) (14)
parte da lei de distribuição de probabilidade que define
esta função aleatória. Em problemas práticos, no entanto, Nesta expressão é definida a função de semivariância,
em cada ponto x tem-se apenas uma realização z(x) e o G(h), igual a esperança do quadrado da diferença entre
número de pontos x é sempre finito. Isto torna dois valores defasados de uma distância h.
usualmente impossível inferir sobre a distribuição de A determinação do valor do semivariograma poderia
Z(x). Em vista disto, certas hipóteses são necessárias, as ser feita para cada valor de h, caso houvesse disponível
quais envolvem diferentes graus de homogeneidade várias realizações da v.a. z(x) em cada posição x. Como
espacial, sendo comumente denominadas hipóteses de em cada posição x usualmente tem-se apenas uma
estacionariedade. realização da v.a., apenas um par de valores [Z(x),
Assumir que em cada ponto x tem-se uma v.a. e que Z(x+h)] existe para cada posição x. Para contornar este
todas elas apresentam a mesma distribuição de problema, segundo Journel & Huijbregts (1978), é
frequência seria uma hipótese de estacionariedade introduzida a hipótese intrínseca, segundo a qual a função
extremamente forte, denominada estacionariedade estrita de semivariância é função apenas do vetor de separação
por Journel & Huijbregts (1978). O que se adota h, e não da localização na região. Isto torna possível
usualmente então são hipóteses menos rígidas, admitindo- estimar a semivariância G(h) a partir dos dados
se que apenas alguns momentos das distribuições das v.a. disponíveis, definindo-se um estimador G*(h) igual à
são iguais, uma vez que isto é o bastante para a média aritmética das diferenças quadradas entre dois
geoestatística. valores experimentais [Z(xi), Z(xi + h)], em todos os
A hipótese de estacionariedade de primeira ordem é pontos separados pela distância h:
definida por Trangmar et al. (1985) como sendo a
2
hipótese de que o momento de primeira ordem da N(h )

z(x i )  z(x i  h)


1
distribuição da função aleatória Z(x) é constante em G * (h )  (15)
N(h ) i 1
toda a área, ou seja:

E[Z(x)] = m (11) em que N(h) é o número de pares de pontos defasados


pelo vetor h.
em que m é a média dos valores amostrais. Journel & Huijbregts (1978) salientam ainda que a
Decorre desta definição que se for tomado um vetor hipótese intrínseca corresponde à hipótese de
h de separação entre dois pontos, o qual apresenta estacionariedade de segunda ordem da v.a. constituída
módulo e direção, para qualquer h tem-se: pela diferença [Z(x) - Z(x+h)]. Esta v.a. está sempre
presente na geoestatística. Em termos físicos, assume-se
E[Z(x) - Z(x+h)] = 0 (12) que a estrutura de variabilidade entre dois pontos, dentro
da região de estudo, independe da posição. Quando a
A estacionariedade de segunda ordem é definida por propriedade se distribui de forma homogênea, isto é
Journel & Huijbregts (1978) quando a função aleatória, verdadeiro.
além de atender à estacionariedade de primeira ordem, Na prática, contudo, muitas vezes uma propriedade
apresenta a característica de, para cada par de valores nega a estacionariedade dentro da região estudada,
{Z(x), Z(x+h)}, a covariância existe e depende apenas apresentando, por exemplo, uma tendência de
da distância de separação h: crescimento de valores numa determinada direção. No
entanto, Journel & Huijbregts (1978) definem uma
C(h) = E[Z(x+h) - m] [Z(x) - m] = E[Z(x+h).Z(x)] - m2 (13) vizinhança de quase estacionariedade (b), dentro da qual
a propriedade pode ser considerada estacionária. Caso o
Usualmente a geoestatística não necessita do semivariograma, como definido a seguir, seja usado em
atendimento a esta estacionariedade, bastando uma distâncias inferiores a este valor b, pode-se assumir
estacionariedade menos forte, definida como sendo a estacionariedade da propriedade.
hipótese intrínseca que, segundo Journel & Huijbregts
(1978), corresponde ao fato de que para todo vetor h, a Análise da dependência espacial: A partir dos
variância da diferença [Z(x) - Z(x+h)] é finita e conceitos apresentados para variáveis regionalizadas,
Avaliação e monitoramento da salinidade do solo 79

funções aleatórias, estacionariedade, assim como a independentes, condição assumida pela estatística. Para
definição da função de semivariância e do seu estimador distâncias maiores que o alcance, o semivariograma
clássico, pode-se estudar a dependência espacial em um tende a se estabilizar em torno de um valor denominado
conjunto de valores de uma determinada propriedade, em patamar, representado por C + C0, onde C é denominado
uma região onde se procedeu a amostragem, usualmente “Sill”, nos textos de geoestatística. A curva apresentada
sistemática, mas que, sobretudo, sejam conhecidas as na Figura 10 corresponde a um modelo matemático
posições correspondentes aos valores. ajustado aos valores experimentais, o que será tratado a
A função de semivariância pode ser estimada para um seguir.
dado valor de h, vetor de separação entre dois pontos,
por meio do estimador clássico definido. Se na região Modelos de semivariogramas: Uma vez que as
amostrada a máxima distância de separação for propriedades do solo variam continuamente no espaço,
representada por L e os pontos estiverem espaçados os seus semivariogramas são funções contínuas. O
entre si de uma distância “e”, então, pode-se definir um semivariograma experimental consiste em alguns pontos
conjunto de valores de h, variando de zero até à metade
estimados ao longo desta função, a partir dos pontos
de L, com incremento igual a “e” e, em seguida, calcular
experimentais e, portanto, sujeitos a erros. De acordo
o valor da função de semivariância para cada valor de h.
com Webster (1985), embora os pontos em um
Inicialmente, tomam-se todos os pares de pontos
semivariograma experimental bem estimado se
defasados entre si do valor de h, independente da
apresentem de forma ainda irregular, usualmente é
direção. O mesmo procedimento pode ser adotado para
possível ajustar funções simples a eles. Basicamente, um
diferentes direções dentro da área. O gráfico que
relaciona o valor de semivariância obtido com o modelo matemático a ser ajustado ao semivariograma
correspondente valor de h, é denominado precisa incluir os três parâmetros descritos anteriormente:
semivariograma. A Figura 10 representa um esquema de um intercepto ou efeito pepita, um patamar ou “Sill”,
um semivariograma, mostrando os seus elementos atingido após uma distância correspondente ao alcance.
constituintes. Além disto, a forma da curva deve se ajustar aos pontos
experimentais na região de crescimento da função, ou
seja, para h entre zero e o alcance. Diversos modelos
matemáticos podem ser usados desde que algumas
Semivariância Gama (h)

condições sejam atendidas, como descritas por


Mcbratney & Webster (1986). Estes autores apresentam
os modelos mais comumente usados, ou seja:

1) modelo linear com patamar:

G(h) = C0 + C(h/a) para 0 < h < a


(16)
Distância de separação (h)
G(h) = C0 + C para h > a
Figura 10. Semivariograma experimental e modelo matemático
ajustado
2) modelo esférico:
Na Figura 10 é mostrado o comportamento típico de
um semivariograma experimental de uma propriedade G(h) = C0 + C {[3h/2a] - [(1/2) (h/a)3]} para 0 < h < a
(17)
que apresenta dependência espacial. Pontos próximos
entre si são mais semelhantes que pontos mais afastados. G(h) = C0 + C para h > a
Como a função de semivariância quantifica a
dessemelhança entre os pontos, ao contrário da 3) modelo esférico:
correlação, então o semivariograma começa com um
baixo valor, denominado efeito pepita ou “nugget effect” G(h) = C0 + C{1 - exp(-3h/a)} para h > 0 (18)
e representado por C0 e cresce à medida que h cresce,
até uma distância “a”, denominada alcance ou “range” Esta função cresce assintoticamente em relação ao
do semivariograma, a qual determina a distância até onde patamar. Outros modelos podem ser encontrados na
a propriedade se apresenta espacialmente dependente. A literatura de geoestatística. Webster (1985) apresenta
partir desta distância, os dados podem ser considerados uma discussão detalhada sobre o assunto.
80 José E. Queiroz et al.

Obtido o semivariograma experimental para um os valores de CEes pode ser analisada através da
conjunto de valores de uma propriedade e ajustado um construção do semivariograma.
modelo matemático a este, tem-se uma função contínua Para obtenção do semivariograma pode-se usar o
que descreve a dependência espacial da propriedade, módulo PREVAR do GeoEAS para construir todos os
sendo de grande utilidade para a compreensão de vários pares de valores possíveis, usando-se como FRACTION
aspectos da variabilidade do solo, da sua formação e o valor 0,6, de forma a que o número de pares não
implicações no manejo. Trangmar et al. (1985) supere o máximo possível. Após o uso deste módulo, usa-
apresentam discussão muito útil sobre estas aplicações. se o módulo VARIO, para a construção do
Pode-se dizer que a função de semivariograma descreve semivariograma, com distância máxima de 45 m e lag de
uma característica intrínseca àquela propriedade, nas 5 m. O gráfico resultante, bem como o modelo ajustado,
condições estudadas. Esta característica, quantificada e é mostrado na Figura 11.
descrita por um modelo matemático, pode ser usada para,
talvez, o mais importante recurso da geoestatística: a

Semivariância para LN(CEes)


interpolação por Krigagem, descrita a seguir.

Interpolação por krigagem: A krigagem é uma


técnica de interpolação para estimativa dos valores de
uma propriedade em locais não amostrados, a partir de
valores vizinhos resultantes da amostragem realizada.
Diversas outras técnicas estão disponíveis para este
propósito. A krigagem, no entanto, faz uso de um Leq (m)
interpolador linear não tendencioso e de variância mínima Figura 11. Semivariograma experimental e modelo ajustado
que assegura a melhor estimativa. Este estimador tem para LnCEes
como base os dados amostrais da variável regionalizada
e as propriedades estruturais do semivariograma obtido O modelo que melhor se ajustou ao semivariograma
a partir destes dados. A teoria pertinente a esta técnica experimental foi o modelo exponencial com efeito pepita
está descrita em Journel & Huijbregts (1978), Isaaks & igual a 0,062, “Sill” igual a 0,154, ou seja o patamar do
Srivastava (1989), Vieira et al. (1983) e outros, não sendo semivariograma igual a 0,216 e um alcance de 18 m. A
o propósito deste texto. Diversas formas de krigagem são curva correspondente a este modelo é mostrada na
utilizadas, cada qual compatível com as características do Figura 11. O ajuste do modelo pode ser feito dentro do
problema em questão. Para fins de estudo de salinidade módulo VARIO do GeoEAS ou utilizando-se o software
de solo, a forma mais simples de krigagem, a krigagem VARIOWIN. Também pode ser feito um ajuste por
ordinária pontual, pode fornecer resultados muito úteis, tentativas em uma planilha eletrônica qualquer.
permitindo o mapeamento dessa propriedade em áreas Os programas computacionais elaborados por Vieira
amostradas. (1995) também podem ser usados para o estudo
Para o uso da krigagem em mapeamento de uma descritivo e para o estudo da dependência espacial dos
propriedade do solo, o mais conveniente é a estimativa dados. O uso destes programas, elaborados em
de valores nos vértices de um grid suficientemente fino
FORTRAN, é descrito na referência citada. Apresentam
para os propósitos em questão. Diversos programas
a conveniência de não serem programas fechados, mas
computacionais permitem a realização da krigagem desta
sim rotinas que podem ser seguidas passo a passo,
forma, a partir do grid de dados originais e do modelo
possibilitando a compreensão do que está sendo
matemático ajustado ao semivariograma experimental. A
seguir apresenta-se um exemplo de aplicação destes executado.
recursos computacionais. De posse da função de semivariograma pode-se
proceder à Krigagem, ou seja, a partir dos pontos
Exemplo de aplicação usando programas experimentais e do semivariograma, estimar o valor da
computacionais: Para aplicação da teoria geoestatística propriedade em locais não amostrados. Diversas formas
em estudos de salinidade será considerado o mesmo de krigagem podem ser usadas. A mais simples é a
conjunto de dados utilizado nas análises descritivas. De Krigagem ordinária pontual, que atende aos nossos
um modo geral, estas análises mostraram não haver propósitos e será usada neste exemplo. Inicialmente
incompatibilidade em aceitar a hipótese intrínseca, deve-se definir espaçamento do grid fino para os vértices
indicando que a estrutura de dependência espacial entre dos quais será feita a estimativa.
Avaliação e monitoramento da salinidade do solo 81

Para o exemplo, adotar-se-á um espaçamento de 2 m estrutura de dependência espacial entre os parâmetros


em ambas as direções, X e Y. O módulo KRIGE do que definem a salinidade do solo. Uma vez detectada a
programa GeoEAS permite a realização desta krigagem. dependência espacial entre as observações, o processo
Outra forma é pelo uso do programa SURFER para de krigagem permite estimar valores em locais não
Windows, onde os dados amostrais são fornecidos, o amostrados, sem tendência e com variância mínima,
modelo do semivariograma e o espaçamento para as duas assegurando a melhor qualidade das estimativas. Por
direções. O programa retorna um conjunto de dados outro lado, caso as observações sejam independentes
estimados, além dos dados experimentais. Estes dados espacialmente, os procedimentos clássicos da estatística
podem ser usados para se traçar uma superfície de podem ser utilizados para avaliar a distribuição de
valores, assim como um mapa de curvas de nível. Para probabilidade e os momentos estatísticos dos parâmetros
o exemplo, ambos são mostrados na Figura 12. estudados.
O mapeamento pelo processo de krigagem é de
grande importância para orientação do manejo e controle
da salinidade, como também o planejamento de estudos
quanto à resposta de cultivos em diferentes setores. O
mapeamento permite uma visualização espacial da
salinidade na área de interesse, o que constitui um
aspecto de inquestionável importância no manejo da
agricultura irrigada em zonas áridas e semiáridas. Em
resumo, neste capítulo procurou-se apresentar um texto
didático quanto à importância de uma boa análise
exploratória dos dados de salinidade, como base para
orientação de posteriores análises geoestatísticas, e das
técnicas geoestatísticas, como recursos complementares
na análise e monitoramento da salinidade do solo.

Figura 12. Superfície de valores da condutividade elétrica do REFERÊNCIAS


extrato de saturação (CEes) e mapa de isoCEes na área
em estudo Ahuja, L. R.; Nielsen, D. R. Field soil-water relations. In:
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A observação da Figura 12 fornece uma idéia da 30. p.143-189. 1990.
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utilidade das técnicas da geoestatística na ciência do solo,
Preto: Sociedade Brasileira de Genética, 1994. 244p.
bem como na irrigação e na drenagem, por permitir o Bresler, E. G.; Dagan, G.; Hanks, R. J. Statistical analysis of
mapeamento de uma propriedade dentro da área em crop yield under controlled line-source irrigation. Soil
estudo, de forma a se ter um conhecimento detalhado do Science Society of America Journal, v.46, n.4, p.841-847,
seu comportamento, não se limitando a um valor único, 1982.
considerado como representativo da área, qualquer que Bohn, H. L.; McNeal, B. L.; O’Connor, G. A. Soil chemistry.
seja a forma de sua obtenção. New York, John Wiley & Sons, 1985. 341p.
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CONCLUSÕES
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A salinidade do solo é uma propriedade que varia no Costa Neto, P. L. O. Estatística. 10.ed. São Paulo: Edgard
tempo e no espaço, o que requer processos adequados Blücher, 1990. 264p.
de amostragens, determinações e análises dos dados, que Filgueira, H. J. A.; Souto, J. S. Avaliação de quatro níveis de
permitam obter informações de seu comportamento. relação solo: água para a caracterização da condutividade
O monitoramento da salinidade é de fundamental elétrica em solos da região de Patos, PB. In: Reunião
importância para orientar as práticas de manejo da Brasileira de Fertilidade do Solo e Nutricão de Plantas, 22.
Manaus, 1995. Anais, 1995. p.282-283.
irrigação e as técnicas de recuperação de áreas
Fireman, M.; Wadleigh, C. H. A statistical study of the relation
afetadas. A utilização de recursos da estatística clássica between pH and the exchangeable-sodium-percentage of
e da geoestatística se complementam na análise e western soils. Soil Science, v.71, p.273-285, 1951.
interpretação dos dados de salinidade. Porém, somente Fonseca, J. S.; Martins, G. A. Curso de estatística. São Paulo:
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82 José E. Queiroz et al.

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6 Salinidade em ambiente protegido

Pedro R. F. de Medeiros1, Ênio F. de F. e Silva2 & Sergio N. Duarte1

1 Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”


2 Universidade Federal Rural de Pernambuco

Introdução
Causas mais frequentes e formas de controle da salinidade
Efeitos da salinização sobre o solo e as plantas
Controle da concentração da solução do solo
Controle da salinidade via lavagem de manutenção
Recuperação de solos afetados por sais
Considerações finais
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
84 Pedro R. F. de Medeiros et al.

Salinidade em ambiente protegido

INTRODUÇÃO profunda), falta de acompanhamento técnico (os próprios


agricultores tomam as decisões) e a falta de uma
A salinização é um tema discutido em todo o mundo, drenagem eficiente do solo. Este processo pode ocorrer
devido praticamente a seus efeitos sobre a produção de mesmo quando se irriga com água de boa qualidade, pois
alimentos e também sobre os recursos hídricos. Estudos na maioria das vezes, a maior parte dos sais é
têm apresentado resultados que justificam todos os proveniente do próprio solo, sais estes que se encontram
esforços sobre os seus efeitos, causas e origens da insolúveis por causa da falta de umidade.
salinização nos diferentes ambientes agrícolas. A salinização secundária pode ocorrer em função do
A salinização dos solos pode ter origem natural ou ser fato da água de irrigação ter uma qualidade inferior.
induzida pelo homem. Nas regiões úmidas não há Neste caso, mesmo se adotando um manejo adequado,
condições para formação natural de solos salinos, pois os a água pode ser fator limitante, principalmente para
sais no perfil do solo são intensamente lixiviado durante culturas mais sensíveis, como por exemplo, hortaliças
sua formação e alcançam os rios sendo depositados nos cultivadas em ambiente protegido.
oceanos. Exceções se fazem para as terras baixas ao Apesar dos avanços tecnológicos da agricultura
longo do litoral e para os deltas dos rios devido à ação do irrigada, milhões de hectares continuam sendo
lençol marinho. salinizados, comprometendo produções rentáveis das
Nas regiões áridas e semiáridas os fatores áreas agrícolas. Grandes esforços vêm sendo realizados
potencializadores do processo de salinização, evaporação por profissionais de várias áreas do conhecimento, no
e transpiração, predominam sobre a precipitação. Assim, sentido de se avaliar, monitorar e manejar o efeito dos
águas carregadas de sais procedentes da meteorização sais no sistema água-solo-planta-atmosfera.
com lavagem deficiente se acumulam em depressões Segundo informações da FAO (2005) estima-se que
constituindo lençóis freáticos salinos. Por ascensão dos 250 milhões de hectares irrigados no mundo,
capilar esta água atinge a superfície do solo, evapora, aproximadamente 50% já apresentem problemas de
deixando os sais na superfície. Este é o processo mais salinização e que 10 milhões de hectares sejam
comum de salinização natural ou primária; entretanto, abandonados anualmente, em virtude desse problema.
existem outras causas, como o fato de algumas regiões Tais problemas de salinização referentes às regiões
do planeta terem sido fundo de oceano em épocas semiáridas podem facilmente serem considerados para
remotas ou a salinização devido a aerosóis trazidos pelo sistemas de cultivo em ambiente protegido, visto que tais
vento (Pizarro, 1978). sistemas dispõem sempre da técnica da irrigação para
A salinização secundária, devido à ação do homem, reposição das necessidades hídricas das culturas e nesses
geralmente está associada a práticas de cultivo e ao ambientes a inexistência de precipitação concentrada nos
manejo inadequado da irrigação e da fertigação. Em períodos chuvosos inibe a lavagem natural dos sais
processo mais comum, ocorrido em regiões semiáridas, acumulados no solo.
há elevação do lençol freático devido à irrigação com Uma das técnicas da agricultura moderna muito
baixa eficiência (grandes perdas por percolação utilizada para viabilizar o cultivo fora de época, diminuir
Salinidade em ambiente protegido 85

custos e aumentar a produtividade é o cultivo protegido CAUSAS MAIS FREQUENTES E FORMAS


que, juntamente com as novas tecnologias aplicadas à DE CONTROLE DA SALINIDADE
área de irrigação, como a fertigação, tem propiciado
bons resultados (Factor et al., 2008); além de outros Existem duas causas principais que proporcionam o
resultados sobre distribuição da radiação, acúmulo de sais nos solos com maior frequência no
evapotranspiração, consumo hídrico das plantas, sempre cultivo comercial sob ambiente protegido. A primeira
na busca da maximização em quantidade e qualidade da deve-se à utilização de águas de qualidade inferior,
produtividade por unidade de produção. geralmente proveniente de poços. Na região de
O desenvolvimento do cultivo em estufas agrícolas tem Piracicaba - SP, por exemplo, segundo Oliveira & Salati
crescido no mundo a uma taxa muito elevada. Os países (1981), é frequente a ocorrência de poços tubulares
mediterrâneos que antes tinham pouca tradição de uso profundos com águas ricas em cloretos e sulfatos de
desta tecnologia passaram a utilizá-la intensivamente. Esta sódio, com teores responsáveis por uma condutividade
tecnologia desponta como alternativa para os horticultores, elétrica (CE), às vezes superior a 3,0 dS m-1 e razão de
haja vista que minimiza os efeitos da variabilidade adsorção de sódio elevada.
ambiental, melhorando o desenvolvimento dos cultivos, Caso a salinização seja consequência da utilização de
permitindo a produção durante todo o ano e alcançando, águas de qualidade inferior, a técnica utilizada de controle
assim, maiores preços no mercado (Silva et al., 1999a); é a mesma utilizada em campo aberto: consiste em
além de proteger a cultura dos efeitos negativos do vento, permitir que lâminas excedentes de irrigação percolem no
chuva e granizo, possibilita aumentos consideráveis na
perfil do solo e garantam um equilíbrio favorável dos sais
produtividade, também de precocidade, melhor qualidade
na zona radicular da cultura. Essa lâmina de lixiviação
e economia de insumos (Gomes et al., 1999).
pode ser aplicada intencionalmente ou pode ocorrer
No Brasil também se tem observado um aumento
como consequência das perdas espontâneas
significativo do uso de ambientes protegidos, sobretudo
proporcionadas pela irrigação.
nas regiões Sudeste e Sul, atualmente com espaços em
A quantificação da lâmina total a ser aplicada pode
eventos especializados da área. Entretanto, a pesquisa
ser calculada com base na evapotranspiração, na
cientifica no Brasil sobre o cultivo em ambiente protegido
condutividade elétrica da água de irrigação e na tolerância
ainda é incipiente. E com a expansão da atividade, vários
problemas surgidos têm sido relatados por agricultores e da cultura. A razão entre a lâmina de lixiviação e a
técnicos envolvidos com esta atividade agrícola. Devido lâmina total de irrigação é denominada na literatura de
à falta de conhecimento da tecnologia apropriada para fração de lixiviação.
este tipo de cultivo, tem sido frequentes os problemas de Entretanto, para que esta prática de controle seja
salinização do solo, prejudicando o cultivo das hortaliças eficiente é necessário que a drenagem natural do solo
nessas condições. Estes problemas provavelmente estão seja adequada (Silva et al., 1999) ou se disponibilize de
associados ao manejo inadequado da irrigação e instalações artificiais para a drenagem, principalmente se
fertilização. tratando de ambientes protegidos que são fechados e
Embora as águas de irrigação utilizadas sejam correm o risco de conter solos altamente compactados.
geralmente de boa qualidade, altas doses de fertilizantes A irrigação praticada em ambientes protegidos,
aplicadas via água de irrigação têm elevado os níveis de entretanto, faz uso principalmente de águas superficiais
salinidade. Especialmente quando utilizam recomendações captadas em rios e em córregos, águas estas que
de adubação quantificadas para campo aberto, em possuem baixos teores de sais. Assim sendo, pode-se
ambientes protegidos artificialmente modificados em todos considerar que o excesso e o inadequado manejo da
os sentidos; o manejo da irrigação também deve ser adubação como as principais causas do problema em
diferente, por ser a única fonte hídrica disponível paras as virtude da adição de sais fertilizantes de elevado índice
culturas. salino em quantidades superiores à requerida para a
Torna-se necessário, portanto, estudos e posterior nutrição das plantas.
utilização de técnicas básicas para solucionar ou pelo O excesso na aplicação de fertilizantes pelos
menos reduzir os impactos causados pela utilização agricultores em ambiente protegido ocorre principalmente
indevida de técnicas impróprias para ambientes porque são utilizadas recomendações de adubações para
protegidos, que são geralmente praticadas ou por falta de campo aberto, devido a ausência de investigações
informação do agricultor ou até mesmo por economia do considerando a extração de nutrientes pelas plantas
recurso financeiro, deixando totalmente de lado a cultivadas em ambiente protegido, onde as condições
preservação e sustentabilidade dos recursos naturais. ambientais e as práticas agrícolas são bastantes
86 Pedro R. F. de Medeiros et al.

diferenciadas, destacando-se a ausência de chuvas que consequentemente 10.240,00 kg de sais por hectare
poderiam promover perdas de nutrientes por lixiviação ou aplicados no solo ou longo do ciclo da cultura. Entretanto,
escoamento superficial. Recomendações existentes de como estes sais fertilizantes são nutrientes e que parte
adubação para o campo devem servir apenas como destes serão absorvidos pela cultura, apenas o excesso
referenciais, havendo necessidade de obtenção de será acumulado no solo. Todavia, ciclos de cultivos
informações específicas para o sistema de cultivo sucessivos vão proporcionando incremento no teor de sais
protegido (Gomes et al., 1999). no solo se tal fato ocorrer frequentemente.
Em condições protegidas as plantas de pimentão, por Na realidade, a principal causa do uso excessivo de
exemplo, têm maior crescimento vegetativo em relação fertilizantes por parte dos agricultores, seria a obtenção
ao campo aberto, principalmente em virtude da aplicação de elevadas produtividades, procurando garantir elevados
de quantidades elevadas de nitrogênio (Silva et al., lucros, sem preocupação com impactos ambientais e
1999b), pois as condições de cultivo em ambientes impossibilitando a sustentabilidade da atividade.
protegidos são diferentes daquelas em campo a céu
aberto, sobretudo com relação a perdas de nutrientes por EFEITOS DA SALINIZAÇÃO SOBRE O SOLO
erosão e lixiviação. E AS PLANTAS
O acúmulo de sais no solo em cultivos protegidos é
bastante comum em virtude, principalmente, das altas O processo de salinização dos solos sob condições de
doses de fertilizantes aplicadas, à falta de lixiviação dos ambiente protegido, assim como em qualquer situação
sais acumulados após um cultivo e a utilização de águas está relacionado diretamente ao acúmulo de sais em
salobras provenientes de poços (Blanco, 2004), o que tem excesso na solução do solo. Em geral, ocorre com a
motivado a condução de diversas pesquisas nos últimos
acumulação de determinadas espécies iônicas, como os
anos, visando avaliar métodos de controle da salinidade
cátions Na + , Ca 2+ e Mg 2+ e os ânions Cl - e SO 4 2- ,
nessas condições de cultivo.
podendo assim ser identificados, assemelhando-se muito
Uma alternativa para minimizar o incremento da
aos efeitos ocorridos em regiões semiáridas, e descritos
salinidade em ambientes protegidos é utilizar fertilizantes com
a seguir.
menor poder de salinização. Na Tabela 1 estão
apresentados diversos fertilizantes usados e seus índices O efeito dos sais sobre a estrutura do solo ocorre,
salinos. basicamente, pela interação eletroquímica existente entre
Existem assim opções de fertilizantes que podem ser os cátions e a argila e devido ao processo de contração
selecionados para fornecimento de uma determinada e expansão da argila esta, começa a se dispersar
quantidade de nutrientes a serem aplicados ao solo, com apresentando problemas de permeabilidade por
maior ou menor efeito sobre o incremento na obstruírem os poros do solo e qualquer excesso de água
condutividade elétrica da solução do solo. causará encharcamento na superfície do solo, impedindo
Aplicando uma solução nutritiva com uma a germinação de sementes, crescimento radicular das
condutividade elétrica em torno de 4,0 dS m-1, estamos plantas e falta de aeração. Tais problemas podem ser
aplicando aproximadamente 2,56 kg m -3 de sais. Se ainda mais severos se considerarmos que solos cultivados
levarmos em conta, por exemplo, o consumo hídrico de em ambiente protegido têm elevada tendência a serem
uma cultura em torno de 0,4 m de lâmina por ciclo, altamente compactados.
instalada em um espaçamento de 0,5 m x 1,2 m, será Em condições salinas, principalmente em ambiente
colocado no solo 0,61 kg de sais por planta e protegido, ocorre uma redução na disponibilidade de água
Tabela 1. Índice salino dos principais fertilizantes solúveis utilizados na fertirrigação em ambiente protegido
Solubilidade
Fertilizantes Índice Salino*
(g L-1 a 20ºC)
Nitrato de Cálcio (Ca(NO3)2 . 4H2O) 1.200,00 82,25
Nitrato de Potássio (KNO3) 327,58 99,47
Nitrato de Amônia (NH4NO3) 2.075,00 32,80
Fosfato monoamônico (NH4H2PO4) 361,29 68,06
Fosfato monopotássico (KH2PO4) 238,53 55,60
Sulfato de Potássio (K2SO4) 123,80 112,94
Sulfato de Magnésio (MgSO4 . 7H2O) 500,00 91,45
Sulfato de Amônio ((NH4)2SO4) 830,00 34,50
Uréia (CO(NH2)2) 1.170,00 75,00
* Valor proporcional quando se aplicam o mesmo peso dos fertilizantes, tendo o nitrato de sódio como referência, com índice de salino atribuído igual a 100. Fonte: adaptado de Knott (1957).
Salinidade em ambiente protegido 87

pelo solo, ou seja, com o acúmulo de sais no solo o representa o ponto a partir do qual a produção da
potencial total deste irá sofrer uma redução, ocasionado cultura começa a ser influenciada pela salinidade do
pela contribuição do potencial osmótico (Lima, 1997). solo.
O efeito da salinidade do solo sobre o consumo hídrico Pesquisas realizadas permitem observar que a
das culturas em ambiente protegido mostra que, a salinização induzida com excesso de fertilizantes
evapotranspiração real apresenta decréscimo em função aplicados ao solo é menos incisiva na redução da
do incremento da salinidade do solo e que há diferença produtividade que a salinização ocasionada pelo
no consumo hídrico entre níveis de salinidade (Silva, acúmulo de sais provindos de água de irrigação de
2002; Dias, 2004; Eloi, 2007; Medeiros, 2007). qualidade marginal (Tabela 2). Resultados como os
Porém, a ação da salinidade do solo, pode ir além de apresentados por Maas & Hoffman (1977) apresentam
uma simples diminuição no potencial hídrico, atingindo
a salinidade limiar sempre associada a salinidade
ainda a fertilidade do solo, modificando e tornando
ocasionada pelo acúmulo de sais não nutrientes.
indisponíveis certos nutrientes, ocasionando distúrbios
Entretanto, caso o incremento da salinidade seja
nutricionais e toxicidade nas plantas, principalmente em
consequência do acúmulo de fertilizantes no solo, pode
áreas que a aplicação de fertilizantes ocorre em excesso,
ocorrer efeitos nutricionais que possibilitam aumento de
problemática ocorrida em ambientes protegidos.
O aumento da salinidade da água de irrigação em produtividade, compensando o efeito negativo da
Neossolo e em Latossolo, por exemplo, aumenta a diminuição do potencial osmótico da solução.
disponibilidade de cálcio e sódio trocáveis, bem como os
Tabela 2. Valores de salinidadelimiar para algumasculturas
valores da soma de bases, CTC total e efetiva, saturação
sugeridas na literatura (A)1 e determinadas em pesquisa
por bases, porcentagens de cálcio e sódio trocáveis, sob ambiente protegido (B)2
salinidade do solo, razão de adsorção de sódio e as
relações cálcio/magnésio e da porcentagem de sódio
trocável com a razão de adsorção de sódio (Garcia et al.,
2008).
Cramer et al. (1994) afirmam que o grau com que
cada um dos componentes do estresse salino influência
a nutrição mineral das plantas é dependente de muitos
fatores, dentre eles a cultivar, a intensidade e duração do
1 Fonte: Maas & Hoffman (1977)
estresse salino, o teor de água no solo e o estádio de 2 Fonte: Eloi (2007); Medeiros (2007); Silva (2002); Dias (2005)
3 CEes, significa salinidade da zona radicular medida em condutividade elétrica no extrato de
desenvolvimento da planta. saturação do solo
O aumento da concentração de NaCl na água de
irrigação, ao elevar os teores Cl- no caule e de Na+ nas Em geral, uma comparação destes resultados de
diferentes partes da planta, inibe a absorção de nutrientes tolerância obtidos em campo aberto e em ambiente
ocasionando redução nos teores de N, K+ e Mg2+ nas protegido, mostra que os resultados oriundos de cultivos
raízes das plantas (Costa et al., 2008). A salinidade eleva em ambiente protegido se apresentam mais elevados
a relação Na + /K + nas raízes, caules e folhas, numericamente ao efeito estufa proporcionado pelo
respectivamente, mostrando-se como importante variável ambiente protegido, modificando principalmente as
no estudo nutricional das plantas sob condições de variáveis meteorológicas: temperatura, umidade e
salinidade (Bosco et al., 2009).
radiação solar.
O aumento da CE reduz os teores de fósforo,
Silva et al. (2005), estudando a evapotranspiração da
nitrogênio, cálcio e de magnésio nas folhas, raízes e frutos
cultura do pimentão sob ambiente protegido, bem como
de berinjela cultivada em casa de vegetação (Souza et
os seus coeficientes de cultura (Kc) e de salinidade (Ks),
al., 2005). Medeiros, et al. (2009) estudando a tolerância
da cultura do pepino a salinidade em ambiente protegido, concluiu que, o incremento na salinidade do solo
verificou que a cultura apresentou valores satisfatórios promoveu redução na evapotranspiração real,
nas suas variáveis respostas para o nível de salinidade do observando-se os maiores efeitos da salinidade sobre os
solo, de 3,5 dS m-1. valores médios de evapotranspiração durante a fase de
Tais efeitos sobre as plantas podem ainda, serem crescimento. A produção de massa de matéria seca das
investigado de outras formas, como por exemplo, a folhas foi inversamente proporcional à salinidade do solo,
partir de estudos da tolerância destas a salinidade que sendo a redução do dossel da cultura um dos fatores
podem ser expressa em termos de salinidade limiar que responsáveis pelo decréscimo na evapotranspiração real,
88 Pedro R. F. de Medeiros et al.

associado ao decréscimo no potencial osmótico da meio da instalação de tensiômetros e fazendo o uso da


solução do solo. curva característica de retenção de água no solo com
relativa precisão. A Figura 1 apresenta um esquema
CONTROLE DA CONCENTRAÇÃO destas ferramentas instaladas no campo.
DA SOLUÇÃO DO SOLO

Dentre os métodos empregados para se estimar a


concentração de sais no solo e controlar a salinidade dos
solos em ambientes protegidos destaca-se a medição da
condutividade elétrica da solução do solo, sendo um
método bastante prático.
A medida da condutividade elétrica pode ser expressa
em soluções de solo a diversos níveis de umidade,
todavia a quantificação da condutividade elétrica do
extrato de saturação (CEes) é a mais evidenciada na
literatura e portanto tida como método padrão (Richards,
1954). Entretanto este método revela-se excessivamente
trabalhoso para um controle rotineiro em nível de
propriedade rural. Experiências bem sucedidas vêm
sendo realizadas com os métodos de diferentes relações
solo:água destilada como 1:1, 1:2,5 e, ainda com o uso de Figura 1. Esquema ilustrativo do extrator de solução e
extratores de cápsula porosa ou Time-Domain tensiômetro instalados junto as plantas no campo
Reflectometer (TDR).
A extração da solução do solo por intermédio de Uma vez que o monitoramento periódico tenha sido
cápsulas porosas em umidades próximas à máxima estabelecido, a concentração de fertilizantes aplicados via
capacidade de retenção é de fácil execução. Considerando- água de irrigação, geralmente com frequência diária ou
se também que os poros da cápsula do extrator se de poucos dias pode ser controlada de forma a manter
assemelha aos poros do solo, no que se refere a retenção a concentração da solução do solo oscilando em uma
iônica, visto que o fluxo dos íons no solo é devido ao faixa de CEes adequada (Burgueño, 1996), garantindo a
processo de difusão que seria o movimento de íons devido disponibilidade de nutrientes sem a ocorrência de
ao gradiente de atividade e ao processo de transferência de problemas osmóticos.
massa que seria o movimento de íons arrastados pelo fluxo Considerando que a aplicação de fertilizantes esteja
de água. Além disso, estes equipamentos podem ser monitorada, não há geralmente necessidade de aplicações
recomendados para quantificar íons específicos solúveis na intencionais de frações de lixiviação de manutenção,
solução do solo como nitrato e potássio, podendo ser evitando possíveis desperdícios com água, energia e
utilizado para controlar e monitorar a quantidade destes fertilizantes (Silva, 2002; Dias, 2004; Eloi, 2007;
fertilizantes, evitando a contaminação ambiental. Medeiros, 2007).
Outras vantagens do uso dos extratores de solução é A aplicação de fertilizantes deve ser diferenciada ao
que a solução encontra-se em umidade equivalente ao longo do ciclo da cultura, visto que a absorção de
momento em que a solução do solo é absorvida pela nutrientes específicos é função da fase fenológica da
planta e os solutos dissolvidos serão os mesmos, a cultura. Assim, é inevitável que com o passar do tempo
amostragem é sistemática, verdadeiramente pontual e ocorram certos desequilíbrios nutricionais em virtude da
não destrutiva, a aferição da condutividade é dificuldade de se quantificar com precisão os nutrientes
praticamente instantânea podendo ser automatizada com absorvidos pela planta e as interferências inerentes do
equipamentos extremamente disponíveis e simples, e tal complexo de troca catiônica do sistema solo. Tendo em
método de medida da CE pode ser utilizado sem vista a ocorrência de situações onde se perde o controle
calibração prévia, mesmo que, no solo, ocorra a presença sobre o estado nutricional do solo, pode-se lançar mão de
de sais de baixa solubilidade, bastando, pois, que seja testes rápidos de íons da solução do solo.
conhecida a umidade no momento da extração e a O conhecimento da concentração iônica da solução
umidade da pasta saturada (Silva et al., 2003). do solo é importante para verificar a disponibilidade de
A solução do solo pode ser extraída a diferentes nutrientes às plantas. Entretanto, a amostragem e a
níveis de umidade do solo, sendo estes quantificados por realização periódica de análise de solo, com a finalidade
Salinidade em ambiente protegido 89

de acompanhar as concentrações de nitrato e de potássio recomendações adequadas, adotadas no manejo


na solução, durante as fases de crescimento e de tradicional, para um ciclo de cultivo, ressaltando ainda
produção da cultura, são inviáveis economicamente, em que, cultivos sucessivos podem causar o aumento da
uma atividade agrícola comercial, além de não ser uma salinidade e a redução dos rendimentos alcançados.
metodologia instantânea, que possibilite tomar decisões
imediatas. O extrator de solução surge como uma CONTROLE DA SALINIDADE VIA LAVAGEM
alternativa capaz de solucionar o problema de forma DE MANUTENÇÃO
eficaz e a baixo custo, principalmente se associado a
determinações rápidas de campo. Entretanto são A necessidade de lavagem (NL) é a fração de água
necessários estudos para validar os resultados obtidos aplicada com a irrigação que deve atravessar a zona
por meio de extração via cápsulas porosas, assim como radicular para manter os sais a um nível determinado.
a utilização de testes rápidos para determinar íons Esta quantidade extra de água percola abaixo da zona
específicos em campo. radicular, removendo parte dos sais acumulados.
Silva (2002) conclui que, com o auxílio dos extratores Salienta-se que a quantidade de água necessária para
providos de cápsulas porosas cerâmicas, é possível prevenir a salinização dos solos irrigados (lavagem de
determinar a concentração de nitrato e de potássio, com manutenção) é diferente da quantidade necessária para
boa precisão e monitorar a concentração do íon cálcio na recuperação dos solos salinos (lavagem de recuperação)
solução do solo, quando comparado ao método padrão. (Dias et al., 2003).
Para se estimar a necessidade de lavagem de
Segundo Dias (2004), fica evidenciado que o
manutenção de um solo necessita-se conhecer tanto a
monitoramento da condutividade elétrica da solução do
salinidade da água irrigada como a salinidade tolerada
solo, extraída por cápsulas porosas, permite evitar
pela cultura. A salinidade da água de irrigação pode ser
possíveis processos de salinização e/ou deficiência
medida diretamente em termos de sua condutividade
nutricional.
elétrica (CEa), já a salinidade tolerada pela cultura é a
A metodologia mais usual na quantificação dos
salinidade média da água contida na zona radicular,
fertilizantes a adicionar na água de irrigação baseia-se em representada pela salinidade do extrato de saturação
recomendações realizadas após estudos da necessidade resultante (CEes), que pode ser considerada utilizando
nutricional das culturas e da sua marcha de absorção de dados da literatura.
nutrientes ao longo do ciclo. Entretanto esses estudos são Desta forma, para culturas específicas a aproximação
realizados em uma determinada região, sob os efeitos mais exata da necessidade de lixiviação de manutenção
climáticos locais e para certas variedades e/ou hídridos (NL) pode ser obtida utilizando-se a Eq. 1, proposta por
específicos. Rhoades (1974) e Rhoades & Merril (1976).
Nesse aspecto, seria mais viável racionalizar o
manejo da fertigação, por meio da determinação da
condutividade elétrica e/ou da concentração parcial de (1)
íons da solução do solo. Caso a condutividade elétrica da
solução do solo apresente valores inferiores ao máximo
tolerado pela cultura, sem decréscimo de rendimento em que:
relativo, e superiores ao mínimo necessário para sua NL - necessidade de lixiviação mínima que se
nutrição, a concentração da solução do solo estará necessita para controlar os sais dentro do limite de
controlada. tolerância da cultura, decimal;
Segundo Silva (2002), comparando dois manejos de CEa - salinidade da água de irrigação, dS m-1;
fertigação sobre o rendimento da cultura do pimentão, um CEes - salinidade média do extrato de saturação do
com o monitoramento da concentração da solução do solo, em dS m-1, que representa a salinidade tolerada por
solo e o outro com o manejo tradicional de fertigação via determinada cultura.
aplicação de doses específicas, segundo a marcha de
absorção da cultura do pimentão, ambos em ambiente Considerando-se que toda a água aplicada durante o
protegido, conclui que, os valores de condutividade evento da irrigação se infiltra uniformemente no solo e
elétrica da solução do solo mostraram maior estabilidade que não existam perdas por escoamento superficial, a
no manejo baseado no monitoramento das lâmina anual de irrigação que se deve aplicar para
concentrações, sendo que, os manejos de fertigação satisfazer tanto a demanda da cultura como a
utilizados não diferiram no rendimento da cultura, necessidade de lavagem de manutenção, pode ser
possivelmente em consequência da utilização de estimada pela Eq. 2.
90 Pedro R. F. de Medeiros et al.

Considera-se que 70 a 80% dos sais solúveis


(2)
poderão ser lavados por meio da aplicação de uma lâmina
igual a profundidade de solo considerada,variando sua
eficiência de acordo com a textura (Silva et al., 1999).
em que: O primeiro requisito para a recuperação de qualquer
LA - lâmina anual de irrigação, mm ano-1; solo afetado por sais é a drenagem adequada. Tendo-se
ETc - evapotranspiração da cultura, mm ano-1; a drenagem, a salinidade pode ser reduzida para um nível
NL - necessidade de lixiviação, decimal. aceitável por meio da lixiviação; para solos sódicos, a
aplicação de corretivos apropriados pode ser requerida
RECUPERAÇÃO DE SOLOS em adição à lixiviação para reduzir o teor de Na trocável
AFETADOS POR SAIS (Ayers & Westcot, 1991; Rhoades & Loveday, 1990).
A quantidade de água necessária para realizar a
Caso a salinidade do solo não seja controlada pelos lavagem de sais do perfil do solo é determinada em
métodos preventivos, ou diagnósticos de problemas de função do nível inicial da salinidade do solo, do nível final
salinidade em estágios avançados, devem ser utilizados desejado, da profundidade de solo a recuperar, que
como solução, métodos de recuperação. É importante depende da cultura que será explorada, de certas
salientar que o controle da salinização por meio de propriedades do solo, da área a ser recuperada, do
técnicas de prevenção é primordial e que as técnicas de método de aplicação de água e seu nível de salinidade
recuperação do solo deverão ser utilizadas apenas se (Rhoades & Loveday, 1990).
realmente necessárias. Hoffman (1980), baseado em dados experimentais de
Considerando também que tal operação demanda campo estabeleceu a seguinte relação para a estimativa
uma certa quantidade de capital, principalmente em se da lâmina de lixiviação de recuperação (Eq. 3):
tratando de ambientes protegidos, com as estruturas
montadas em locais estratégicos em relação a radiação (3)
solar e topografia, deve-se realizar uma análise
econômica para a escolha da melhor decisão.
Mas, quando o diagnóstico da salinização dos solos é
em que:
realizado em situações onde a concentração eletrolítica
CEf - condutividade elétrica final desejada no perfil,
encontra-se elevada, torna-se necessária a aplicação de
dS m-1;
lâminas de lavagem de recuperação do perfil. Esta
CEo - condutividade elétrica média inicial, dS m-1;
técnica promove a eliminação dos sais solúveis por
D1 - lâmina de lixiviação a ser aplicada, m;
intermédio da aplicação de uma lâmina de água que
Ds - profundidade do perfil a ser recuperado, m.
lixívia os sais para camada de solo abaixo da zona
radicular, o que é essencial para a recuperação dos solos O valor da constante k varia com o tipo de solo e
afetados por sais, lâmina essa eliminada do perfil do solo com o método de aplicação de água. Segundo Hoffman
por um sistema eficiente de drenagem. (1980), os valores representativos de k para inundação
De acordo com Hoffman et al. (1992), a aplicação de contínua são de 0,45 para solo orgânico, 0,3 para argiloso
uma lâmina de recuperação no final do ciclo da cultura e 0,1 para solo franco arenoso. Geralmente é assumido
é viável para manutenção dos sais na zona radicular o valor 0,3 para inundação contínua.
quando a salinidade de água de irrigação não é tão Miller et al. (1965), comparando a irrigação por
elevada. inundação contínua com a intermitente para recuperação
É bastante difícil estimar com exatidão a lâmina de solo salino, verificaram que houve uma redução para
necessária à lixiviação de recuperação devido à presença um terço da água requerida quando se utilizou inundação
de fendas no solo, dissolução dos sais precipitados, intermitente. A lixiviação de sais ainda pode ser mais
restrições na difusão dos sais e dispersão hidrodinâmica. eficiente quando se utiliza irrigação por aspersão
Os modelos matemáticos desenvolvidos ainda não (Nielsen et al., 1966). Também Hoffman (1980) mostra
conseguem representar adequadamente as grandes que k praticamente não depende do tipo de solo quando
variações que ocorrem em condições naturais de campo. a lavagem é feita por inundação intermitente ou
Devido a isto, as estimativas baseadas em relações aspersão, podendo assumir o valor de 0,1 para lavagem
empíricas de experiências de campo são mais utilizadas. de recuperação usando estes métodos de irrigação.
Salinidade em ambiente protegido 91

Estudando a recuperação de um solo salinizado em as técnicas de monitoramento e controle da salinização


ambiente protegido, Blanco & Folegatti (2001) devem ser apropriadas para cada caso, observando se os
observaram que o aumento de lâmina relativa de lavagem sais acumulados são provenientes de água de qualidade
proporcionou redução da salinidade, sendo as mesmas inferior ou fertilizantes e para cada situação usar
aplicadas por inundação ou gotejamento. Os autores alternativas mais viáveis do ponto de vista técnico,
afirmam ainda que para métodos de irrigação por econômico e ambiental.
inundação o perfil de salinidade do solo apresenta-se mais
uniforme e que o coeficiente k proposto por Hoffman
(1980) subestimou a lâmina de lavagem por inundação e REFERÊNCIAS
superestimou para o gotejamento.
Duarte et al. (2007) concluíram que a recuperação de Ayers, R. S.; Westcot, D. W. A qualidade da água na
um solo salinizado devido a excesso de fertilizantes em agricultura. Campina Grande: UFPB, 1991. 218p. FAO.
ambiente protegido utilizando a fórmula de Hoffman, Estudos de Irrigação e Drenagem, 29
aplicada com a constante k de 0,1 subestimou a lâmina Blanco, F. F. Tolerância do tomateiro à salinidade sob
fertirrigação e calibração de medidores de íons específicos
de lavagem ideal para a recuperação do solo por
para determinação de nutrientes na solução do solo e na
gotejamento, havendo, portanto a necessidade de se planta. Piracicaba: ESALQ/USP, 2004. 115p. Tese
aplicar mais água. Doutorado
Blanco, F. F.; Folegatti, M. V. Recuperação de um solo salinizado
CONSIDERAÇÕES FINAIS após cultivo em ambiente protegido. Revista Brasileira de
Engenharia Agrícola e Ambiental, v.5, n.1, p.76-80, 2001.
Sob condições de ambiente protegido a falta de Bosco, M. R. O.; Oliveira, A. B.; Hernandez, F. F. F.; Lacerda,
precipitação pluviométrica possibilita uma dinâmica de C. F. Influência do estresse salino na composição mineral
sais bastante semelhante a regiões semiáridas, da berinjela. Revista Ciência Agronômica, v.40, n.2, p.157-
possibilitando a salinização e consequentemente os 164, 2009.
Burgueño, H. La fertirrigacion en cultivos hortícolas com
efeitos deletérios sobre o solo e plantas cultivadas. Dessa
acolchado plástico. Culiacan, Sin. Mexico. 1996, v.1, 45p.
forma, é necessário fazer uso de técnicas de Costa, D. M. A.; Melo, H. N. S.; Ferreira, S. R.; Dantas, J. A.
monitoramento, controle e se necessário recuperação do Conteúdo de N, P, K + , Ca 2+ e Mg 2+ no amaranto
solo. Sob ambiente protegido são exploradas (Amaranthus spp) sob estresse salino e cobertura morta.
comercialmente culturas de elevado custo e valor Revista Ciência Agronômica, v. 39, n.2, p.209-216, 2008.
comercial e normalmente tais sistemas ocorrem em áreas Cramer, G. R.; Alberico, G. J.; Schmidt, C. Salt tolerance is not
com alto preço da terra. Além disso, a intensa associated with the sodium accumulation of two maize
periodicidade com ciclos sucessivos de cultivo exige hybrids. Australian Journal of Plant Physiology, v.21,
estratégias de manejo que possibilitem a convivência e p.675-692, 1994.
minimização do problema, sem reduções nas Dias, N. S. Manejo da Fertirrigação e Controle da Salinidade
em Solo Cultivado com Melão Rendilhado Sob Ambiente
produtividades e paradas para recuperação de estufas
Protegido. Piracicaba: ESALQ/USP, 2004. 110p. Tese
agrícolas salinizadas. Doutorado
Apesar de similaridades entre a salinização em Dias, N. S.; Gheyi, H. R.; Duarte, S. N. Prevenção, manejo e
ambiente protegido e em regiões semiáridas algumas recuperação dos solos afetados por sais. Departamento de
peculiaridades do cultivo sob ambiente protegido Engenharia Rural, ESALQ/USP. Série Didática Nº13,
permitem levantar alguns pontos de discussão, como: o Piracicaba, 2003, 118p.
consumo hídrico e as condições climáticas são Dias, N. S.; Duarte, S. N.; Yoshinaga, R. T.; Teles Filho, J. F.
Produção de alface sob diferentes níveis de salinidade do
diferenciadas, ocasionando menores efeitos as plantas
solo. Irriga, v.10, n.1, p.20-29, 2005.
quando cultivadas em estufas agrícolas, entretanto, o Dias, N. da S.; Medeiros, J. F. de; Gheyi, H. R.; Silva, F. V.; Barros,
acúmulo de sais é mais intenso no tempo, visto a A. D. Evolução da salinidade em um Argissolo sob cultivo de
freqüência intensa de utilização e da total inexistência de melão irrigado por gotejamento. Revista Brasileira de
lixiviação de sais por precipitações; a carência de estudos Engenharia Agrícola e Ambiental, v.8, n.2/3, p.240-246, 2004.
específicos para ambientes protegidos e principalmente Duarte, S. N.; Dias, N. da S.; Teles Filho, J. F. Recuperação de
da difusão aos agricultores dos poucos resultados de um solo salinizado devido a excesso de fertilizantes em
ambiente protegido. Irriga, v.12, n.3, p.422-428, 2007.
pesquisa sobre a demanda nutricional da cultura
Eloi, W. M. Níveis de salinidade e manejo da fertirrigação sobre
proporciona aplicações excessivas de fertilizantes, visto o cultivo do tomateiro (Lycopersicon esculentum Mill) em
a utilização de recomendações para campo aberto, onde ambiente protegido. Piracicaba: ESALQ/USP, 2007. 110p.
ocorrem perdas por lixiviação e escoamento superficial; Tese Doutorado
92 Pedro R. F. de Medeiros et al.

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Modelagem do movimento de sais
7 no solo
Mauro A. Martinez1, Jonathas B. G. Silva2 & Donizete dos R. Pereira1

1
Universidade Federal de Viçosa
2 Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

Introdução
Armazenamento de solutos no solo
Deslocamento de fluidos miscíveis
Tipos de escoamento
Curvas de efluentes para escoamento em meio poroso
Isotermas de adsorção
Fluxo de solutos no solo
Fluxo de solutos por convecção
Fluxo de solutos por difusão
Fluxo de solutos por dispersão
Equação diferencial para o transporte convectivo e dispersivo
Condições iniciais e de contorno
Soluções analíticas
Soluções numéricas
Diferenças finitas
Elementos finitos
Parâmetros de transporte
Exemplos de usos de modelos
Determinação dos parâmetros de transporte de solutos no solo
Deslocamento de solutos em uma coluna de solo saturado
Simulação da distribuição no solo de nitrato e fósforo provenientes de fertigação
Simulação de curvas de efluente e perfis de distribuição de sulfona de aldicarbe em
colunas de solo saturado
Referências
Anexo

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
94 Mauro A. Martinez et al.

Modelagem do movimento
de sais no solo

INTRODUÇÃO permitido o desenvolvimento de modelos que descrevem,


de forma mais realística, o transporte de solutos no solo.
A água em estado líquido, mesmo aquela de elevado A principal vantagem do uso de modelos é a economia
grau de pureza, como a das chuva, a rigor é uma de tempo e de capital investido, uma vez que
solução. De igual modo, a água presente no solo, experimentos de campo e laboratórios são, geralmente,
constituindo a fase líquida, não é quimicamente pura, pois laboriosos e caros.
a água da chuva, ao infiltrar e movimentar-se no perfil do
solo, dissolve vários solutos ali presentes, podendo atingir
ARMAZENAMENTO DE SOLUTOS NO SOLO
significativas concentrações.
No solo, os solutos encontram-se nos estados
Em geral, os solutos podem existir nas três fases do
associados, formando compostos, e dissociados, na forma
solo: gasosa, dissolvido na água do solo e adsorvido na
de íons positivos e negativos. Em estado associado, os
solutos combinam-se formando os sais. Os sais mais matriz do solo (matéria orgânica e superfícies minerais).
presentes nos solos salinos são: NaCl, CaCl 2, MgCl2, Matematicamente, podemos expressar a concentração
Na2SO4 e MgSO4. total de soluto no solo, em termos da contribuição de cada
A importância do estudo do transporte de solutos no fase, como:
solo reside no fato de que, a partir do conhecimento das
propriedades e das interações de determinada substância CT  ρs Cs  θ C L  β Cg (1)
química com o meio e de sua movimentação e
persistência no solo, é possível estabelecer práticas de em que:
manejo de solo-água-planta, objetivando disponibilizar os CT - concentração total de soluto no solo (massa de
nutrientes na profundidade de máxima densidade do
soluto por volume de solo), M L-3;
sistema radicular.
C s - concentração de soluto adsorvida a fração sólida
Diante disso, o uso de modelos físico-matemáticos
(massa de soluto por massa de solo seco), M3 M-3;
constitui uma valiosa ferramenta no estudo do transporte
de solutos no solo. Nesses modelos, procura-se tanto CL - concentração de soluto dissolvido (massa de
descrever o estado atual como prever o comportamento soluto por volume de solução do solo), M L-3;
futuro do movimento dos solutos no perfil do solo. Sendo C g - concentração de soluto na fase gasosa (massa
assim, a modelagem permite compreender, dentre outros de soluto por volume de ar), M L-3;
aspectos, a distribuição de nutrientes na solução do solo, ρs - massa específica do solo (massa de solo por
a lixiviação de sais em solos salinos, além de possibilitar volume de solo), M L-3;
propor formas de reduzir a poluição das águas θ - teor de água no solo (volume de água por
subterrâneas. volume de solo), L3 L-3;
Os avanços nas tecnologias dos computadores, β - teor de ar no solo (volume de ar por volume de
aliados aos métodos numéricos e analíticos, têm solo) L3 L-3.
Modelagem do movimento de sais no solo 95

DESLOCAMENTO DE FLUIDOS MISCÍVEIS magnitude e direção através da seção transversal de um


poro. A velocidade do fluido assumirá um valor zero na
O deslocamento de fluidos miscíveis é um processo superfície do sólido e um valor máximo em algum ponto
que ocorre quando um fluido mistura-se com outro fluido no interior do poro (Bear, 1979; Anderson, 1984),
e o desloca. A lixiviação de sais no solo é um exemplo conforme observado na Figura 1A. Ocorre, também,
de deslocamento miscível. A água de irrigação ou de variação na trajetória e na velocidade média do
chuva mistura-se com a solução do solo e a desloca no escoamento, decorrente da variabilidade da geometria
perfil. dos poros (Figura 1B, 1C e 1D). Esta variação de
Abaixo estão definidos termos utilizados no estudo de velocidade de escoamento faz com que os solutos sejam
deslocamento de fluidos miscíveis: também transportados em diferentes velocidades,
a) solução - líquido com características físicas e resultando num processo de mistura junto à interface de
químicas definidas, como a água contendo íons de nitrato; dois líquidos miscíveis de diferentes concentrações, que
b) solução deslocadora – aquela que desloca a macroscopicamente, é semelhante à mistura decorrente
solução atual e ocupa o espaço por ela deixado no meio da difusão.
poroso;
c) solução deslocada - aquela que é substituída no
espaço poroso pelo solução deslocadora;
d) efluente - solução coletada na seção de saída de
uma coluna de solo.
Quando uma solução é deslocada para baixo em uma
coluna de solo, a interface entre a solução deslocadora
e a deslocada perde nitidez ou definição à medida que o
tempo transcorre. Isso ocorre porque há uma mistura
entre as duas soluções junto à interface. Esta mistura é
decorrente da difusão de solutos de uma solução para
dentro da outra e da diferença de velocidade da solução
dentro de um mesmo poro e de poros de diferentes
tamanhos. Outro aspecto importante decorre da
geometria irregular da matriz do solo, que torna o
escoamento de natureza errática e faz com que os
solutos da solução deslocadora dispersem para dentro da Figura 1. Mecanismos que contribuem para a dispersão
deslocada, caracterizando uma dispersão. Portanto, o mecânica dos solutos no solo (Leij & van Genuchten,
movimento dos solutos resulta da diferença de 2000)
concentração (difusão), da natureza errática do
escoamento (dispersão) e da diferença de energia A aplicação de uma solução deslocadora e a ação
potencial da solução (fluxo de massa). conjunta desses processos faz com que a concentração
O movimento convectivo, também denominado fluxo de solutos ao longo da coluna e no seu efluente variem
de massa de soluto no solo, refere-se ao movimento temporalmente.
passivo do soluto com a água, isto é, o movimento do As mudanças na concentração de solutos no efluente
soluto se dá na mesma velocidade do escoamento linear de uma coluna de solo devem ser apresentadas em uma
médio da água. forma padrão, denominada curva de efluente. Uma curva
A difusão molecular é um processo espontâneo e de efluente é obtida plotando-se, no eixo vertical, os
ocorre, geralmente, na fase líquida, resultante do valores da relação C/Co e, no eixo horizontal, o volume
movimento errático, chamado movimento Browniano, de solução percolado expresso em termos do número de
com repetidas colisões e deflexões de moléculas e íons. volume de poros, percolados. Na relação C/C o, C é a
Esse movimento é devido à existência da diferença de concentração do soluto no efluente e Co a concentração
concentração entre pontos na solução do solo, fazendo do soluto na solução deslocadora.
com que os solutos se difundam do ponto de maior para O número de volumes de poros (nvp) é dado pela
menor concentração. expressão:
A dispersão resulta da não uniformidade microscópica
da velocidade da solução nos poros condutores do solo.
Em escala microscópica, a velocidade varia em
Modelagem do movimento de sais no solo 97

O fator de retardamento (R) é igual a um em meio A


poroso não reativo e maior do que um em meio poroso
reativo. No entanto, em alguns casos, o valor de R pode
tornar-se menor que a unidade, indicando exclusão iônica

Concentração relativa
e/ou ocorrência de regiões onde o líquido está
relativamente imobilizado como dentro de agregados e,
portanto, não contribuindo com o fluxo de massa.
Na Figura 6 são apresentadas curvas de efluentes
para as situações de escoamento de um soluto em uma
coluna de solo considerando os processos de dispersão
e difusão com exclusão, dispersão-difusão somente e
dispersão e difusão com adsorção, onde a concentração
relativa C/Co igual a 0,5 ocorre para nvp < 1, nvp = 1 e Número de volume de poros
nvp > 1, respectivamente.
B

Concentração relativa

Figura 6. Curvas de efluentes para as situações em que


ocorre dispersão-difusão com exclusão, dispersão-difusão
apenas e dispersão-difusão com adsorção de um soluto
em uma coluna de solo (adaptado de Bresler et al.,1982) Número de volume de poros

No que diz respeito à dispersão, quando as curvas de Figura 8. Curvas de efluente dos íons fosfato e amônio para
efluentes se apresentam mais verticalizadas, com maior um Neossolo Quartzarênico órtico (RQo) (A.) e um
declividade, aproximando-se do escoamento teórico tipo Latossolo Vermelho distrófico (LVd) (B.) (Adaptado de
pistão, há um indicativo de baixa dispersão-difusão do Oliveira et al, 2004)
soluto no meio. No entanto, quando as curvas se
apresentam mais horizontalizadas, com menor Analisando a Figura 8, observa-se que para ambos os
declividade, há uma maior dispersão-difusão do soluto no solos, as curvas do íon fosfato estão deslocadas para a
meio, como ilustrado na Figura 7. direita em relação às curvas do íon amônio, evidenciando
maior adsorção deste íon, e consequentemente maior o
fator de retardamento. Comparando o comportamento dos
íons fosfato e amônio entre os dois solos, observa-se que
no LVd os íons são mais adsorvidos. Tal fato está
associado à maior capacidade de troca catiônica (CTC) do
LVd, em relação ao RQo, ou seja, o solo LVd possui mais
sítios de ligação comparativamente ao RQo, o que o torna
np np
mais reativo. Pode-se observar também que as curvas de
efluentes obtidas a partir de amostras do RQo, para ambos
Baixa dispersividade Alta dispersividade
os íons, são mais horizontalizadas, ou seja, possuem menor
Figura 7. Curvas de efluente para um soluto com baixa e alta declividade, o que indica maior dispersão do soluto neste
dispersão-difusão em um determinado solo meio. Esse comportamento pode estar associado à maior
velocidade de escoamento da solução deslocadora no
Na Figura 8 apresentam-se as curvas de efluente dos perfil do RQo, comparativamente ao LVd.
íons fosfato e amônio determinadas em amostras de solo
retiradas de um Neossolo Quartzarênico órtico (RQo) Isotermas de adsorção
(Figura 8A) e um Latossolo Vermelho distrófico (LVd) Segundo Drever (1997), para um bom entendimento
(Figura 8B). da mobilidade dos solutos nos solos é preciso ser capaz
98 Mauro A. Martinez et al.

de modelar quantitativamente o processo de adsorção. A


equação (ou representação gráfica) que relaciona a
quantidade de solutos adsorvidos na superfície dos sólidos
e a quantidade dissolvida na solução, a uma dada
temperatura, é referida como isoterma de adsorção (Jury
& Gardner, 1991).
As isotermas podem ter as formas mais variadas
dependendo das características do adsorbato (soluto) e
da superfície adsorvente (fração sólida do solo) e
algumas vezes são influenciadas por outros constituintes
da solução. As isotermas mais comumente utilizadas são
Figura 9. Formas de isotermas de adsorção (Jury & Gardner,
as de Langmuir, de Freundlich e Linear (Jury & Gardner, 1991)
1991).
A isoterma de Langmuir é um tipo de isoterma na Analisando a Figura 9, verifica-se que quando a
qual a concentração de soluto adsorvida (Cs) aumenta concentração de soluto na solução é baixa, a relação
linearmente com a concentração de soluto dissolvido
Cs/CL tende a ser linear, tanto na isoterma de Langmuir
(C L ), quando em baixas concentrações de C L , e
quanto na de Freundlich, indicando que a isoterma linear,
aproxima-se de um valor constante em altas
ajustada para baixos valores de CL, produzirá resultados
concentrações de CL. Esta isoterma é mais apropriada
para solos que possuem finita capacidade de adsorção próximos aos daquelas isotermas. Isto é importante, pois
(Jury et al., 1991). Matematicamente, a isoterma de devido à sua forma linear, esta isoterma facilita a
Langmuir é descrita pela equação: obtenção de soluções matemáticas para problemas
complexos.
k S max C L
Cs  (3) FLUXO DE SOLUTOS NO SOLO
1  kCL

A análise relativa à modelagem do transporte de


em que: soluto no solo será feita considerando o movimento
k - parâmetro empírico (ads) unidimensional na direção da coordenada cartesiana x e
Smax - adsorção máxima de soluto no solo (M M-3) que o deslocamento de solutos no solo se dá em
decorrência dos processos de convecção ou fluxo de
Muitos solutos não adsorvem ao solo de acordo com
massa, de difusão e de dispersão. O termo fluxo de
a isoterma de Langmuir, mas, ao invés, reagem como se
soluto representa a massa de soluto que atravessa uma
o solo possuísse diferentes tipos de sítios com capacidade
unidade de área do solo na unidade de tempo.
ilimitada de adsorção (Jury & Gardner, 1991). Para estes
solutos, a forma da isoterma pode frequentemente, ser
descrita pela isoterma de Freundlich: Fluxo de solutos por convecção
O fluxo convectivo de soluto é proporcional ao fluxo
Cs  K d C L N (4) da solução e à sua concentração, ou seja:

J cs  qC L (6)
em que:
K d - coeficiente de partição (L3 M-1)
N - parâmetro empírico (ads) em que:
J cs - fluxo convectivo (M L-2 T-1);
Na isoterma de Freundlich, o parâmetro N é q - fluxo da solução (L3 L-2 T-1).
normalmente menor do que 1. No caso especial em que
N =1, a isoterma de Freundlich torna-se uma equação Fluxo de solutos por difusão
linear e é denominada de isoterma linear: O fluxo de solutos por difusão, o qual é decorrente da
diferença de concentração entre diferentes pontos, pode
Cs  K d C L (5) ser expresso, de forma similar à primeira lei de Fick, por:

Na Figura 9 são ilustradas as isotermas de Langmuir, dC L


J d  D o (7)
de Freundlich e linear. dx
Modelagem do movimento de sais no solo 99

em que: Fluxo de solutos por dispersão


J d - fluxo difusivo (M L-2 T-1); Devido à similaridade entre os processos de difusão
D o - coeficiente de difusão molecular de soluto em e de dispersão mecânica, a equação que descreve o
água (L2 T-1); movimento dispersivo de solutos no solo é dada por:
dCL/d - gradiente de concentração (M L-4).
dC L
J h  D h θ (11)
Na fase líquida do solo, o coeficiente de difusão é dx
geralmente menor que o coeficiente de difusão em água
pura (Do) (Hillel, 1980). A fase líquida ocupa somente em que:
uma fração do volume do solo, sendo que no estado de J h - fluxo dispersivo (M L-2 T-1);
saturação esse volume é igual à porosidade do solo. D h - coeficiente de dispersão mecânica (L2 T-1).
Segundo Reichardt (1996), os poros do solo são tão
Ao contrário da difusão molecular, que ocorre tanto
tortuosos que o comprimento do caminho percorrido pelo
em condições estáticas quanto dinâmicas da solução, a
soluto na solução do solo é significativamente maior que
dispersão mecânica ocorre apenas em condições
uma aparente linha reta a ser percorrida pelo soluto em dinâmicas, isto é, quando há movimento da solução.
um meio contendo apenas água. No solo não saturado, Quando a velocidade da solução for suficientemente alta,
com o decréscimo da umidade, a fração do volume o efeito relativo do mecanismo da dispersão mecânica
disponível na fase líquida diminui enquanto a tortuosidade poderá exceder, em muito, o da difusão e vice-versa
aumenta.O coeficiente de difusão de um soluto no solo (Prevedello, 1996). Assim, o coeficiente da dispersão
pode ser estimado por: mecânica pode ser descrito como uma função da
velocidade da solução no meio:
D m  Doξ (8)
D h  λv n (12)
em que:
Dm - coeficiente de difusão molecular na solução do em que,
solo (L2 T-1); λ - dispersividade (L);
ξ - fator de tortuosidade (ads). v - velocidade média do escoamento da solução no
solo (L T-1) e
Millington & Quirk (1961) desenvolveram uma n - parâmetro que depende da geometria do meio
relação para se estimar o fator de tortuosidade, de (ads).
maneira simples, dada por:
O valor da dispersividade varia com a escala do
10 problema (Zheng & Bennett, 2002). Em coluna de solo
θ3 destorroado, em laboratório, o valor de  varia entre 0,5
ξ (9)
θ s2 e 2,0 cm e em condições de campo, entre 5 e 20 cm
(Fried, 1975).
A velocidade média de deslocamento da solução nos
em que: poros de um solo pode ser estimada a partir do fluxo da
θ s - teor de água do solo saturado (L3 L-3) solução e da seção efetiva do escoamento definida por
θ, isto é:
Em um determinado volume de solo, tendo em vista
que a concentração refere-se à fase líquida apenas, q
v (13)
substituindo o coeficiente de difusão molecular de soluto θ
no solo (Eq. 8) na Eq. 7 obtém-se:
Em razão de apresentarem efeitos
dC L
J ds   D m θ (10) macroscopicamente semelhantes, os coeficientes de
dx
difusão e dispersão mecânica são frequentemente
considerados aditivos, ou seja,
em que:
J ds - fluxo difusivo de soluto no solo (M L-2 T-1). D  Dm  Dh (14)
100 Mauro A. Martinez et al.

em que, D é denominado de coeficiente de dispersão


hidrodinâmica (L2 T-1). Doravante, o efeito combinado
dos processos difusivo e de dispersão mecânica será
denominado de transporte dispersivo.

EQUAÇÃO DIFERENCIAL PARA O


TRANSPORTE CONVECTIVO E DISPERSIVO

O fluxo total de solutos no solo (Js), desconsiderando


a fase gasosa, é determinado pela soma dos componentes
difusivo, dispersivo e convectivo, ou seja, Figura 10. Representação do volume de controle

J s  J cs  J ds  J h (15)   C 
Me  Ms   Dθ L  qC L ΔxΔyΔz (20)
x  x 

Combinando as Eqs. 6, 10, 11 e 14 resulta a equação


diferencial de primeira ordem do movimento do soluto no Desconsiderando a fase gasosa, a quantidade de
meio poroso: massa de soluto armazenada no volume controle é igual
a (θCL+ ρsCs)xyz, e a taxa de variação da massa de
dC L soluto , dentro do volume controle é
J s  D θ  q CL (16)
dx

θC L   s C s ΔxΔyΔz   θC L   s C s  ΔxΔyΔz (21)
t t
As equações anteriormente apresentadas descrevem
o transporte de solutos apenas em condições de
escoamento permanente. As equações diferenciais Pelo princípio de conservação das massas, a massa
capazes de descrever o escoamento em condições de soluto transferida para dentro do volume controle
menos a massa de soluto que sai do volume de controle,
transientes são obtidas por meio da lei de conservação
por unidade de tempo (Eq. 20), equivale à variação da
das massas, conforme o princípio de continuidade ou do
massa de soluto dentro do volume-controle na unidade de
balanço de massa.
tempo (Eq. 21), isto é:
Considerando que o soluto esteja movendo-se através
do volume de controle (Figura 10), na direção x por
unidade de área e tempo, a quantidade de massa que

θC L  ρ s C s     Dθ C L  qC L  (22)
t x  x 
entra (Me) no elemento através da face esquerda é:

M e  J s ΔyΔz (17) Admitindo a extração de soluto pela plantas e a


transformação química e/ou biológica do soluto no solo,
e a quantidade de massa que sai (Ms) pela face oposta a Eq. 22 torna-se:
é:

θC L  ρ s C s     Dθ C L  qC L   Γ  Ψ (23)
t x  x 
  J 
M s  J s   s Δx  ΔyΔz (18)
  x 
em que:
Γ - taxa de extração de soluto do solo pelas plantas
A mudança na quantidade de soluto dentro do volume (M L-3 T-1);
controle, na unidade de tempo e na direção x, é: Ψ - taxa de transformação do soluto no solo (M L-3
-1
T ).
  J  J
M e  M s  J s ΔyΔz  J s   s Δx  ΔyΔz   s ΔxΔyΔz (19)
  x  x Segundo van Genuchten & Wierenga (1986),
considerando a isoterma de sorção linear (Eq. 5) e o
escoamento permanente (q constante) em um perfil
Substituindo a Eq. 16 na Eq. 19 tem-se, homogêneo de solo saturado, a Eq. 23 reduz-se a:
Modelagem do movimento de sais no solo 101

C L  2CL C CONDIÇÕES INICIAIS E DE CONTORNO


R D v L ΓΨ (24)
t x 2 x
Para completar a discrição matemática do transporte
de solutos através de um meio semi-infinito (0 ≤ x < ∞ ),
em que R é o fator de retardamento definido por: como é o caso de problemas reais de campo, ou de
coluna de comprimento finito L (0 ≤ x ≤ L), comum em
ρs K d
R 1 (25) experimentos em laboratório, a Eq. 24 deve ser
θ complementada com condições auxiliares denominadas
de condições inicial e de contorno. A condição inicial
A solução da Eq. 24 resulta numa função que permite representa as concentrações no interior da região em
calcular CL(x,t), isto é, o valor de CL em um dado ponto estudo num tempo inicial t = zero. As condições de
x e num tempo t. A concentração CL é denominada de contorno (ou de fronteira) descrevem as condições do
concentração residente, a qual representa a concentração transporte do soluto no limite da região estudada. A
média do soluto num volume de solução. No entanto, em correta formulação das condições de contorno é
muitas situações experimentais, as condições são tais que importante para uma correta análise do processo de
a concentração medida representa a concentração média transporte envolvendo tanto trabalhos de laboratório
no fluxo da solução e não no volume da solução. Isto quanto de campo.
acontece quando as concentrações de solutos são Em todos os casos, a condição inicial é representada
determinadas em efluentes de experimentos com colunas pela equação:
de solo e lisímetros. Portanto, para interpretar
adequadamente tais medições, é necessário considerar C L (x,0)  C i (x) (29)
que estas concentrações não representam a
concentração residente (CL) na superfície de saída da em que Ci(x) representa a concentração ao longo de x
coluna, mas sim a concentração média no fluxo (CF), a no início do processo de transporte.
qual é definida por:
Parker & van Genuchten (1984) e van Genuchten &
J
CF  s (26) Wierenga (1986), apresentam e discutem os tipos de
q condições de contorno que são mais apropriadas para os
meios finitos e semi-infinitos.
Substituindo a Eq. 16 na Eq. 26, obtém-se: Quando uma solução deslocadora é aplicada a uma
determinada taxa na superfície de entrada (x=0) de um
D C L perfil de solo finito ou semi-infinito, a continuidade do
CF  CL  (27) fluxo de soluto através desta superfície conduz a uma
v x
condição de contorno do terceiro tipo (condição de
contorno do tipo fluxo) da forma:
em que CF representa a massa de soluto por unidade de
volume de fluido que passa através de uma dada seção
 C 
transversal durante um intervalo de tempo unitário.  vC L  D L   v C0 (30)
 x  x 0
Assim, a solução para CF pode ser obtida a partir dos
valores de C L por meio da Eq. 27. De maneira
alternativa, uma equação para CF pode ser encontrada A Eq. 30 implica em descontinuidade na concentração
usando, primeiramente, a Eq. 27 para reescrever a através da superfície de entrada, a qual aumenta com o
equação de transporte Eq. 24 em termos de CF e suas valor da dispersividade aparente D/v. Esta
condições iniciais e de contorno e, subsequente, resolver descontinuidade é uma consequência direta da suposição
o grupo de equações transformadas. de que na superfície de entrada ocorre uma camada de
Diferenciando a Eq. 27 em relação à “x” e “t” e espessura infinitesimal, na qual os parâmetros do sistema
substituindo na Eq. 24, obtém-se, após alguns arranjos: mudam descontinuadamente daquele de um reservatório
com mistura perfeita (x < 0) para aquele de um meio
C F  2CF C poroso (x > 0). Microscopicamente, esta mudança
R D v F ΓΨ (28)
t x 2 x sempre ocorre em região de transição finita.
102 Mauro A. Martinez et al.

A condição de contorno do primeiro tipo (condição em C L


(L, t)  0 (35)
que uma dada concentração é especificada para o limite x
da região) também tem sido usada:
Esta condição desconsidera o desenvolvimento de
C L (0, t)  C 0 (31)
uma camada de transição similar àquela discutida para a
superfície de entrada da coluna. Efetivamente, a
Apesar de matematicamente ser mais fácil de concentração é forçada a ser contínua através da saída
programá-la, esta condição pressupõe que a própria da coluna. Entretanto, a presença de uma camada limite
concentração pode ser especificada na superfície de em x = L conduz a uma descontinuidade na distribuição
entrada, situação esta que não é possível na prática. A da concentração através do limite inferior da coluna e,
solução analítica obtida a partir desta condição não portanto, a um gradiente em C L nesta camada de
satisfaz o balanço de massa, sendo que os maiores erros transição, o qual não é obrigatoriamente zero. Desde que
acontecem para pequenos valores do parâmetro a mistura imediatamente antes da saída seja desprezível,
adimensional v2t/DR. Portanto, não é recomendável usar o que geralmente acontece, a Eq. 32, para o caso de
perfil semi-infinito, pode ser usada com impunidade e a
esta condição para avaliar CL.
solução resultante para CL (x,t) aplicada a regiões 0 = x
Para regiões semi-infinitas é necessário estabelecer
= L (Parker & van Genuchten, 1984).
a condição de contorno que específica o comportamento
de CL(x,t) quando x → ∞ . A condição que efetivamente
SOLUÇÕES ANALÍTICAS
atende a esta situação é:
Soluções da equação de transporte (Eq. 24),
C L
(, t)  0 (32) desconsiderando o termo extrator (), sujeitas à
x condição inicial (Eq. 29) e às condições de contorno
(Eqs. 30, 31, 32 e 35) são apresentadas em Parker & van
A formulação adequada para a condição de contorno Genuchten (1984) e van Genuchten & Wierenga (1986).
na saída de uma coluna finita, de comprimento L, é mais Aqui serão apresentadas aquelas de maior interesse
difícil que para perfis de solo semi-infinito, como prático.
acontece em problemas de campo. Análogo ao que Parker & van Genuchten (1984), desenvolveram a
acontece na entrada de uma coluna finita ou semi-infinta solução da Eq. 24, desconsiderando os termos () e (Ψ)
e para um perfil de solo semi-infinito, sujeita às condições
(Eq. 30), para que ocorra continuidade do fluxo de soluto
inicial e de contorno representadas pelas Eqs 29, 30 e
através da saída da coluna, isto é, em x = L, a condição
32. Os autores consideraram a aplicação da solução
deve ser do tipo:
deslocadora na forma de pulso, em que no intervalo de
tempo 0 < t = t1 a concentração de soluto na solução
 C  deslocadora era igual a C0 e para t > t1 a concentração
 vC L  D L   v Ce (33)
 x  x  L era igual a zero. Neste caso, a condição de contorno (Eq.
30) é reescrita na forma:

em que Ce é a concentração no efluente. Como C e é


C 0 0  t  t1
desconhecido, a Eq. 33 torna-se indeterminada. Portanto,  D C L  
CL    (36)
é necessária uma relação adicional para descrever o  v x  x 0 
sistema. Tal relação é fundamentada na consideração 0 t 0
intuitiva de que a concentração deva ser contínua através
da saída da coluna, isto é, em x = L (vanGenuchten &
Wierenga, 1986): A solução para este problema é:

C(L, t)  C e (t) (34)  C i  C 0  C i  A L (x, t) 0  t  t1



C L (x, t)   (37)
C 
 i C 0  C i  A L (x, t)  C 0 A L (x, t  t 1 ) t  t1
Substituindo esta equação em Eq. 33 resulta na
condição de contorno, frequentemente, usada para a
saída de uma coluna finita: em que:
Modelagem do movimento de sais no solo 103

   2  12 O número de Peclet é um adimensional que relaciona


   v t  exp  Rx  vt  
1 Rx  vt  2
A L (x, t)  erfc    o fluxo convectivo de soluto ao fluxo dispersivo, e pode
2  1
2 πDR   4DRt 
 2(DRt)   ser calculado por:
(38)
 
1 vx v t  vx 
2
Rx  vt 
 (1   ) exp  erfc Pe 
vL
(45)
2 D DR D  1
2 D
 2(DRt) 

Número de Peclet alto significa que o fluxo


Em que erfc é a função erro complementar (ver
convectivo predomina sobre o fluxo dispersivo, o que
Apêndice A) e exp é o número neperiano.
acontece, normalmente, quando a velocidade média do
No caso de se analisar, para este problema, a
escoamento (v) é elevada; caso contrário há predomínio
concentração no fluxo (CF), as condições inicial e de do fluxo dispersivo.
contorno são reescritas usando a Eq. 27, isto é: Fazendo x = L na Eq. 37 e usando as Eqs. 44 e 45,
obtém-se:
C F (x,0)  C i (39)
 C i  C 0  C i  A L  0  β  β1

C F C L     (46)
(, t)  0
x
(40) C 
 i C 0  C i  A L  C 0 A L (β β1 ) β  β1

C 0 0  t  t1 em que:

C F (0, t)   (41)
0 t 0  1 

1
 P  2 P β 2   P 
A L  
1
erfc (R  β)  e     e  exp  (R  β) 2  e 
2   4Rβ    πR  
  4Rβ 
 
(47)
A solução da Eq. 28, desconsiderando os termos Γ e Pβ   P  
2
 (1  Pe  e ) expPe  erfc R  β  e  
1
Ψ, sujeita às condições dadas pelas Eqs. 39 a 41 é: 2 R   4Rβ  



 
C i  C 0  C i A F (x, t) 0  t  t1
C F (x, t)   (42) De maneira similar encontra-se para a Eq. 42:
0 i 
C  C  C A (x, t)  C A (x, t  t )
 i F 0 F 1
t  t1
 C i  C 0  C i  A F β  0  β  β1

C F β    (48)
em que: C 
 i C 0  C i  A F β  C 0 A F (β β1 ) β  β1

   
1 Rx  vt  1  vx   Rx  vt 
A F (x, t)  erfc  exp  erfc 1  (43) em que:
2  1 
2 2 D  2
 2(DRt)   2(DRt) 
 1   1 
 Pe  2  1  Pe  2 
A F β   erfc R  β   exp(Pe ) erfc R  β 
1  
   (49)
Considerando que as Eqs. 37 e 42 são, também, 2  4Rβ   2   4Rβ  
   
aplicadas a colunas de solo de comprimento L (Parker &
van Genuchten, 1984), soluções para x = L em termos do
Nas Eqs. 46 e 49, β = nvp.
número de volume de poros (nvp) e do número de Peclet Em continuidade, van Genuchten & Wierenga (1986)
podem ser obtidas (van Genuchten & Wierenga, 1986). avaliaram, além de outras, as soluções representadas
Considerando uma coluna de solo de seção pelas Eqs. 37 e 42 quanto a eficiência em simular a curva
transversal A e de porosidade , o número de volume de de efluentes de colunas finitas. Concluíram que a Eq. 42
poros que passa pela saída da coluna, num tempo t, é: prediz corretamente a curva de efluente de colunas
finitas, independente do número de Peclet, e que deve ser
Qt qAt qt vt usada determinação dos parâmetros de transporte R e D
nvp     (44)
V0 η A L η L L a partir de dados experimentais de colunas finitas. No
104 Mauro A. Martinez et al.

entanto, a Eq. 37 não é precisa em simular a curva de O objetivo dos parágrafos seguintes é de introduzir o
efluente, principalmente para pequenos números de leitor a algumas técnicas numéricas comumente usadas
Peclet (Pe < 20). Recomendam que a Eq. 42 seja usada para resolver problemas de transporte de solutos no solo.
para calcular concentrações no fluxo (C F), tanto para Não pretendemos apresentar uma revisão completa, mas
sistemas finitos (curvas de efluentes) quanto para perfis mostrar as principais características dos métodos e
de solo semi-infinito, e que a Eq. 37 seja usada para indicar como eles podem ser aplicados na solução de
calcular a concentração residente (CL). problemas.
Usando as soluções apresentadas anteriormente e A análise numérica existe desde os tempos dos
outras que consideram a transformação e o decaimento Babilônios (Huyakorn & Pinder, 1983). No entanto,
de solutos, Parker & van Genuchten (1984) somente após a Segunda Guerra Mundial é que
desenvolveram um software, denominado CXTFIT. Este ocorreram significantes avanços em metodologias de
software permite simular alguns problemas de campo e simulação. Nas últimas décadas, o uso intenso da análise
determinar os parâmetros de transporte R e D, a partir numérica em simulações é devido, em grande parte, ao
da curva de efluente determinada experimentalmente em rápido desenvolvimento da capacidade dos computadores
colunas de solo. atuais.
Borges Júnior & Ferreira (2006) desenvolveram o Existem vários métodos alternativos para se obter a
software DISP com vistas ao cálculo dos parâmetros das solução numérica de uma equação diferencial (Pinder &
equações de transporte de solutos no solo, com base no Gray, 1997; Huyakorn & Pinder, 1983; Segerlind, 1984;
ajustamento de modelos teóricos a dados observados, e Gerald & Wheatley, 1984; Zheng & Bennet, 2002).
executar simulações para a variação espacial e temporal Dentre os mais importantes incluem-se: diferenças finitas
da concentração e do balanço de massa de solutos no (finite difference method), elementos finitos (finite
solo. Os modelos de transporte de solutos no solo element method), colocação (collocation method),
disponibilizados no programa Disp são: - modelo 1 (Eq. características (characteristics method) e elemento-de-
38), trabalha com a concentração residente do soluto na contorno (boundary element method).
fase líquida do solo; - modelo 2 (Eq. 43), trabalha com a Os métodos numéricos mais populares são os
concentração do soluto no efluente; - modelo 3, métodos das diferenças finitas e dos elementos finitos, os
simplificação dos modelos 1 e 2, não considerando o quais serão apresentados a seguir. Ambos fundamentam-
efeito da difusão e modelo 4, não considera o efeito da se no conceito de discretização, segundo o qual uma
difusão e trabalha com um fator de retardamento região contínua RC é representada por um número de
unitário. subáreas adjacentes (Figura 11).

SOLUÇÕES NUMÉRICAS Diferenças finitas


A obtenção da solução de uma equação diferencial,
Na seção anterior foram apresentadas soluções usando diferenças finitas, é obtida por meio de uma
analíticas para as situações específicas de transporte de sequência de passos. Para exemplificar o procedimento,
solutos no solo representadas pelas Eqs. 24 e 28 sem os consideraremos uma região unidimensional (Figura 12A).
termos Γ e Ψ. Embora matematicamente simples, estas O primeiro passo consiste em substituir as derivadas
soluções têm aplicação prática restrita devido à das equações diferenciais parciais por equações na
complexidade, no campo, do transporte de soluto no solo. forma de diferenças finitas. Essas equações relacionam
Tal complexidade decorre, dentre outros fatores, da entre si os valores das variáveis dependentes em pontos
heterogeneidade e anisotropia do solo, o que faz com que vizinhos. Por exemplo, a Eq. 24, sem os termos Γ e Ψ,
as características hidrodinâmicas variem conforme a pode ser escrita em diferenças finitas, na forma
direção do movimento e de ponto a ponto no perfil do
solo. Além disso, a ocorrência de escoamento em  C j1  C L j  j1 j1 J 1
  D { C L i 1  2C L i  C L i 1  C L i 1  2C L i  C L i 1 } 
j j j
condições de meio não saturado torna os parâmetros R  Li i
 Δt  2(x) 2
2(x) 2
 
hidrodinâmicos dependentes da umidade do solo, (50)
C L iJi1  C L ij11 C L ij1  C L ij1
resultando em equações diferenciais não-lineares. A v{  )
4x 4 x
geometria irregular do meio constitui, também, num fator
que dificulta muito a obtenção de soluções analíticas.
Dentre outros, esses fatores tornam os métodos em que i e j estão relacionados à posição espacial e
numéricos uma das principais ferramentas para a solução temporal do ponto onde se deseja obter CL. A forma de
de problemas de transporte de interesse prático. diferenciação apresentada na Eq. 50 é conhecida com
Modelagem do movimento de sais no solo 105

A 31, não há necessidade de escrever as equações para


aqueles nós e os valores de C 0 serão incorporados às
equações dos nós 1 e n-1. Caso as condições de contorno
sejam do tipo expresso na Eq. 30, então, escrevem-se
equações específicas para os nós dos contornos. É
possível ter, ainda, condições de contorno diferentes nos
diferentes contornos da região. Neste caso, para a
obtenção das equações nos contornos, aplica-se a cada
contorno o descrito anteriormente.
O último passo consiste na solução do sistema de
equações, resultante da implementação do passo anterior.
O sistema de equações com n (ou n-1, ou n-2,
B dependendo do tipo de condição de contorno) equações
e respectivas variáveis dependentes é resolvido para
cada tempo jt. Dessa forma, são obtidos valores da
variável dependente, C L, em cada tempo e pontos
discretos da região.

Elementos finitos
A análise de um problema físico, empregando
elementos finitos, inicia-se pela divisão da região em uma
série de elementos finitos (Figuras 11B e 12B). Os
Figura 11. Discretização de uma região RC (duas dimensões) elementos, conectados por um número discreto de nós,
para aplicação dos métodos diferenças finitas (A) e podem ter forma triangular, retangular, etc. Cada
elementos finitos (B) elemento é identificado por um número e pelas linhas que
A B
ligam os nós situados em seu contorno.
A seguir escolhe-se uma solução aproximada, que é
substituída na equação diferencial. Como a solução
aproximada não satisfaz a equação diferencial, resultará
um resíduo ou erro. Suponha, por exemplo, que a função
CL = c(x,t) seja uma solução aproximada da Eq. 24.
Então, a substituição de CL = c(x,t) nessa equação resulta
em um resíduo Re(x), isto é,

c  2c c
Figura 12. Discretização de uma região unidimensional RC R D 2 υ  Re(x) (51)
para aplicação dos métodos diferenças finitas (A) e t  x x
elementos finitos (B)
No entanto, o método requer que este resíduo torne-
diferença centrada ou formulação de Crank-Nicolson.
se zero dentro da região 0 = x = L, isto é,
Porém, outras formas de diferenciação podem ser
usadas. Conhecendo-se os valores de CLij no tempo jt, L
resolvemos para CLij+1 no tempo (j+1) Dt.  W (x)Re(x)dx  0
0
i (52)
O próximo passo consiste em escrever a equação em
diferenças finitas, Eq. 50 para cada ponto (nó), nos quais
os valores da variável dependente são desejados (Figura em que Wi é uma função de ponderação e L é o
12A). A Eq. 50 é escrita para os nós internos, isto é, para comprimento da região (no caso de uma região
aqueles que não fazem parte do contorno da região. unidimensional). Há várias possibilidades para a função
Assim, para uma região unidimensional discretizada com de ponderação. Uma delas consiste em escolher, como
“n” nós, seriam determinadas n-2 equações. As equações função de ponderação, a função usada para a solução
para os dois nós restantes (os dos contornos) são aproximada. Quando esta função de ponderação é
escritas em função do tipo de condição de contorno. Se utilizada, o método recebe o nome de método de Galerkin,
as condições de contorno forem do tipo expressa na Eq. o qual é a base do método elemento finito para problemas
106 Mauro A. Martinez et al.

envolvendo derivada de primeira ordem. Geralmente, a e


solução aproximada utilizada é uma função polinomial de
primeiro grau, mas podem-se escolher polinômios de  E  j w 
maior grau. Bj w   1  w K  j w cj w  Fj w (56)
 Δt 
Uma vez definida a forma da solução aproximada, a
equação do resíduo (Eq. 51) é escrita para cada nó de
um elemento, obtendo-se expressões que relacionam os Nas Eqs. 53, 54 e 55, w é um fator de ponderação
valores das variáveis nos nós daquele elemento. Essas relacionado ao tempo. A solução do sistema de equações
expressões são escritas em forma matricial e recebem o (Eq. 53) resulta na obtenção de valores de c(x,t), nos
nome de matrizes dos elementos. Este procedimento é pontos discretizados na região e em um tempo jt.
repetido para cada elemento existente na região. Os métodos de diferenças finitas e elementos finitos
As matrizes dos elementos são combinadas de modo foram apresentados de uma forma bastante simples por
a fornecer um sistema de equações algébricas que meio da Eq. 24. No entanto, a potencialidade dos
descreve a região como um todo. Aplicando-se o métodos está justamente em solucionar problemas mais
procedimento anteriormente descrito à equação Eq. 24, complexos. De modo semelhante ao descrito
sem os termos Γ e Ψ, obtém-se: anteriormente, é possível obter a solução de uma equação
de transporte geral (Eq. 23) considerando-se: solos
heterogêneos e anisotrópicos; solutos que podem ser
G dc   Kc  F  0 (53) adsorvidos ao solo; transporte de água no solo em
 dt  condições transientes; coeficiente de dispersão
hidrodinâmico dependente da concentração de soluto na
em que [G] e [K] são denominadas matrizes de solução e da velocidade da água no solo; etc.
capacitância global e de rigidez global, respectivamente. Vários modelos, fundamentados em soluções
A matriz [G] depende das características geométricas numéricas, que simulam o transporte de soluto no solo
dos elementos e da interação soluto-solo (parâmetros estão disponíveis aos profissionais que atuam na área de
relacionados aos termos do lado esquerdo da Eq. 24) e movimento de água e soluto no solo. Dentre eles,
destacamos o Hydrus - 1D (Simunek et al., 2005) e o
a matriz [K] depende das características geométricas
SIMASS-C (Costa et al., 1999, Corrêa, 2001, Rocha et
dos elementos e dos parâmetros de transporte do meio
al., 2007).
(parâmetros relacionados aos dois termos do lado direito
O modelo Hydrus – 1D é um programa para simular
da Eq. 24). {F} é denominado vetor de força global e
o movimento unidimensional de água, calor e múltiplos
depende, além da geometria dos elementos, das
solutos em um meio não saturado. O programa é
condições iniciais e de contorno e da existência de fontes fundamentado na solução da equação de Richard para o
ou sumidouros na região. No caso presente, o da Eq. 24, movimento de água em meio não saturado e nas
{F} inclui apenas as condições iniciais e de contorno, equações do tipo convecção-dispersão (Eq. 23) para o
uma vez que ela não contempla a existência de fontes ou transporte de soluto e calor. A equação de movimento de
sumidouros na região. No caso da solução de uma água incorpora um termo extrator para levar em
equação mais abrangente como, por exemplo, a Eq. 24 consideração a extração de água pelas raízes da planta.
completa, os termos relativos à produção ou degradação A equação de transporte considera o transporte
de soluto (Ψ) no solo e a extração de solutos pela planta convectivo-difusivo na fase líquida, bem como difusão na
(Γ) poderiam ser incluídos no vetor {F}. fase gasosa. Considera também reações de equilíbrio
A Eq. 52 representa um sistema de equações não lineares (isotermas não lineares) entre as fases
diferenciais ordinárias de primeira ordem em t. sólida e líquida. Maiores detalhes em (Simunek et al.,
Aplicando-se diferenças finitas à Eq. 52, obtém-se um 2005). Este programa pode ser usado para analisar o
sistema de equações algébricas na forma movimento de água e soluto em solos heterogêneos
saturados e não saturados. A direção do escoamento
Aj w cj1  Bj w (54) pode ser vertical, horizontal ou inclinada. As condições de
contorno para o movimento de água pode ser do tipo
carga constantes, fluxo, controladas pela condições
em que: atmosféricas, bem como contorno com drenagem livre.
As equações de movimento de água e transporte de
Aj w  E
j w
 wK  j w (55)
solutos são resolvidas numericamente usando a técnica
Δt numérica elementos finitos.
Modelagem do movimento de sais no solo 107

O modelo SIMASS_C (Simulação do Movimento de Mélo et al. (2006) determinaram o fator de


Água e Soluto no Solo com Cultura) foi desenvolvido para retardamento (R) e o coeficiente dispersivo-difusivo (D)
simular o movimento unidimensional de água e solutos no dos íons potássio, sódio, cálcio e magnésio, presentes na
solo e é fundamentado na solução da equação de Richard água residuária do processamento da mandioca, para
para o movimento de água em meio não saturado e na solos de texturas distintas (Neossolo Quartzarênico
equação do tipo convecção-dispersão (Eq. 23) para o órtico espódico, RQo; Latossolo Amarelo Distrófico
transporte de soluto. Estas equações possuem termos típico, LAd; e Latossolo Vermelho Amarelo Distrófico
extratores para levar em consideração a extração de típico, LVAd). Melo et al. (2006) utilizaram o software
água e solutos pelo sistema radicular das plantas. Fazem Disp para ajustar os parâmetros de transporte. Os
parte do SIMASS_C um sub-modelo que simula o valores obtidos estão apresentados na Tabela 1.
crescimento de plantas de milho e uma rotina que permite De acordo com Mélo et al. (2006) os valores mais
simular a concentração de nitrato e amônio no solo, elevados dos fatores de retardamento ocorreram para o
considerando as transformações biológicas e o efeito da solo argiloso, indicando maior retenção dos cátions
temperatura e do teor de água no solo. É considerado potássio, sódio, cálcio e magnésio neste solo. Esperava-
reação de equilíbrio linear (isoterma linear) entre as se que os cátions bivalentes apresentassem maiores
fases sólida e líquida. Permite estabelecer condições do valores de R, o que não ocorreu. Tal comportamento
primeiro tipo (carga e concentração constante), para pode ser explicado pela competição catiônica, que,
ambos os movimentos de água e solutos, do segundo tipo embora a valência do íon cálcio e magnésio sejam duas
vezes maiores que a do íon potássio e sódio, a
(fluxo) para água, e do terceiro tipo (fluxo convectivo e
concentração dos íons monovalentes era 10 vezes maior
dispersivo) para solutos. As equações de movimento de
que a dos bivalentes, prevalecendo o fator quantidade
água e de transporte de solutos, sujeitas ás diferentes
como definidor da capacidade de deslocamento de íons
condições de contorno são resolvidas numericamente
do complexo de troca do solo. Os valores dos
usando a técnica numérica diferenças finitas. O modelo
coeficientes dispersivos-difusivos decresceram no
pode ser utilizado para analisar o movimento de água e
sentido do solo arenoso para o argiloso. Resultados
soluto em solo heterogêneo saturado e não saturado, semelhantes foram obtidos por Ferreira et al. (2006).
considerando a extração ou não de água e solutos pela Oliveira et al. (2004) determinaram os parâmetros de
planta. transporte de solutos no solo para os íons fosfato,
potássio e amônio, em colunas com amostras de cinco
PARÂMETROS DE TRANSPORTE solos de diferentes texturas (um Neossolo Quartzarênico
órtico - RQo; três Latossolos Vermelhos distróficos -
O sucesso dos modelos matemáticos desenvolvidos LVd1, LVd2 e LVd3; e um Latossolo Vermelho-Amarelo
para descrever o transporte de solutos no solo depende distrófico - LVAd), do Estado de Minas Gerais, utilizando
do grau de confiabilidade das variáveis de transporte. o modelo CXTFIT. Os resultados obtidos estão
Assim, parâmetros importantes como o fator de apresentados na Tabela 2.
retardamento (R) e o coeficiente dispersivo-difusivo (D), Silva (2009) comparou valores dos parâmetros de
as quais expressam a capacidade de um soluto em se transporte dos íons magnésio e potássio determinados em
mover no solo, devem ser determinadas com a maior amostras de solo com estrutura inalterada com aqueles
precisão possível (van Genuchten & Wierenga, 1986). A obtidos em amostras destorroadas, ambas retiradas de
fim de melhor descrever o transporte de soluto no solo um Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico. Observou
e por estar fortemente relacionada com a interação solo- que as médias dos valores obtidas em amostras com
soluto, a determinação dos parâmetros de transporte de estrutura diferiram, significativamente, daquelas obtidas
soluto no solo tem sido objetivo de várias pesquisas. em amostras destorroadas. Na Tabela 3 estão

Tabela 1. Fator de retardamento (R), coeficiente dispersivo-difusivo (D - cm2 h-1), coeficiente de distribuição (Kd - cm3 g-1) e
dispersididade ( - cm) dos íons potássio, sódio, cálcio e magnésio, para solos de textura distinta (RQo; LAd e LVAd)
(Mélo at al., 2006)
Potássio Sódio Cálcio Magnésio
Solo1 Text.2
R D Kd* * R D Kd* * R D Kd* * R D Kd* *
RQo A 1,75 125,0 0,22 5,30 1,83 62,7 0,24 2,66 1,18 98,2 0,08 4,16 1,69 99,3 0,20 4,21
LAd F 1,52 30,8 0,21 1,66 1,58 42,1 0,23 2,27 1,28 35,1 0,40 1,90 2,00 35,1 0,40 1,90
LVAd M 2,39 6,1 0,81 2,01 2,36 6,7 0,79 2,21 2,00 8,6 0,10 2,84 2,37 8,6 0,80 2,84
* Valores calculados a partir dos dados apresentados em Mélo at al. (2006)
1 RQo - Neossolo Quartzarênico órtico espódico; LAd - Latossolo Amarelo distrófico típico; LVAd - Latossolo Vermelho Amarelo distrófico típico
2 A - argilosa; F - franca; M - média
108 Mauro A. Martinez et al.

Tabela 2. Fator de retardamento (R), coeficiente dispersivo-difusivo (D), coeficiente de distribuição (Kd) e dispersididade
() do íons fosfato, potássio e amônio, em colunas com amostras de cinco solos de diferentes texturas (RQo, LVd1,
LVd2 e LVd3 e LVAd), do Estado de Minas Gerais (Oliveira et al., 2004)
Fosfato Potássio Amônio
Solo R D K d* * R D K d* * R D K d* *
(cm min ) (cm g ) (cm)
2 -1 3 -1
(cm min ) (cm g ) (cm)
2 -1 3 -1
(cm min ) (cm g ) (cm)
2 -1 3 -1

RQo 7,04 123,10 2,18 13,27 3,16 48,63 0,78 13,27 2,54 48,87 0,56 13,27
LVd1 15,20 109,93 6,57 22,34 2,40 51,00 0,65 22,34 1,80 81,33 0,37 22,34
LVAd 15,33 59,58 7,55 20,83 2,37 31,57 0,72 20,83 1,61 41,89 0,32 20,83
LVd2 17,70 28,12 8,74 11,77 2,59 34,65 0,83 11,77 2,62 77,23 0,85 11,77
LVd3 15,66 83,14 11,71 20,79 4,18 58,20 2,54 20,79 2,96 299,89 1,57 20,79
* Valores calculados a partir dos dados apresentados em Oliveira et al. (2004)
1 RQo - Neossolo Quartzarênico órtico espódico; LAd - Latossolo Amarelo distrófico típico; LVAd - Latossolo Vermelho Amarelo distrófico típico

Tabela 3. Fator de retardamento (R), coeficiente dispersivo-difusivo (D), coeficiente de distribuição (Kd) e dispersividade
(), obtidos a partir de amostras com estrutura e amostras destorroadas, para os íons potássio e magnésio
Com estrutura Destorroada
Soluto R D Kd * R D Kd *
(cm h )
2 -1
(cm g )
3 -1
(cm) (cm h )
2 -1
(cm g )
3 -1
(cm)
Potássio 1,97 242,56 0,56 17,07 1,72 12,12 0,42 7,65
Magnésio 1,7 311,75 0,41 0,5 1,39 11,55 0,22 0,47

apresentados os valores médios do fator de retardamento As curvas de efluente dos íons amônio, potássio e
(R), coeficiente dispersivo-difusivo (D), do coeficiente de fosfato para o LVAd, obtidas nos ensaios de lixiviação,
distribuição (Kd) e da dispersividade (l), obtidos a partir estão apresentadas na Figura 13.
de amostras com estrutura e amostras destorroadas,
para os íons potássio e magnésio.
Rossi et al. (2007) compararam valores do fator de
retardamento, dispersividade e do coeficiente de dispersão
Concentração relativa

para o íon nitrato em dois Latossolos, considerando


amostras com estrutura e destorroadas. Neste trabalho
os autores obtiveram valores superiores do fator de
retardamento e do coeficiente dispersivo nas amostras
destorroadas, enquanto a dispersividade foi maior nas
amostras com estrutura. Os autores afirmam que os
parâmetros obtidos a partir de amostras destorroadas não
são representativos, uma vez que não representam as
condições naturais do solo.
Número de volume de poros

EXEMPLOS DE USOS DE MODELOS Figura 13. Curvas de efluente experimentais dos íons amônio,
potássio e fosfato (Adaptado de Oliveira et al., 2006)
Determinação dos parâmetros de transporte de
solutos no solo A partir das curvas de efluente experimentais (Figura
Determinar o fator de retardamento (R) e o 13) e usando o modelo 2 do software Disp, foi possível
coeficiente dispersivo-difusivo (D) dos íons amônio, determinar os parâmetros de transporte dos íons nas
potássio e fosfato em um Latossolo Vermelho-Amarelo amostras de solo retiradas do LVAd (Tabela 4).
distrófico (LVAd), de massa específica igual a 1,09 g cm-3 Os valores do parâmetro K d , para os íons
e porosidade 0,574 cm3cm-3. apresentados na Tabela 4, foram calculados utilizando-se
Amostras do solo LVAd foram retiradas e conduzidas a Eq. 25 e considerando que a amostra de solo estava
ao laboratório onde foram montados permeâmetros e saturada durante os ensaios, isto é è corresponde à
realizados os ensaios de lixiviação (Oliveira et al. 2006) porosidade do solo. Usando o íon fosfato para
com uma solução deslocadora multiespécie contendo os exemplificar os cálculos, temos:
íons amônio, potássio e fosfato. O fluxo e a velocidade
de avanço da solução deslocadora ao longo das colunas ρs K d θ
 K d  R - 1  K d  15,33 - 1
0,574
R  1  K d 7,55 cm 3 g 1 (57)
de solo foram, respectivamente, 1,64 e 2,86 cm min-1. θ ρs 1,09
Modelagem do movimento de sais no solo 109

Tabela 4. Valores do fator de retardamento (R), do coeficiente dispersivo-difusivo (D), do coeficiente de distribuição (Kd)
e da dispersididade ()do íons fosfato, potássio e amônio (Oliveira et al., 2006)
Fosfato Potássio Amônio
Solo R D K d* * R D K d* * R D Kd* *
(cm2 min-1) (cm3 g-1) (cm) (cm2 min-1) (cm3 g-1) (cm) (cm2 min-1) (cm3 g-1) (cm)
LVAd 15,33 59,58 7,55 20,83 2,37 31,57 0,72 20,83 1,61 41,89 0,32 20,83
* Valores calculados a partir dos valores de R e D

Os valores da dispersividade () apresentados na A


Tabela 4 foram calculados a partir das Eqs. 14 e 12.
Considerando n igual a 1 na Eq. 12 e Dm igual a 5,34 x
10-4 cm2min-1, para o íon fosfato, tem-se,

Concentração residente
D  D m  D h  D h  D - D m  D h  59,58 - 0,000534  D h  59,58 cm 2 min -1

(58)
D 59,58
D h  λv  D h  λv  λ  h  λ 
n 1
 λ  20,83 cm
v 2,86

Deslocamento de solutos em uma coluna de solo


saturado
Determinar a concentração dos íons amônio, potássio Profundidade (cm)
e fosfato ao longo de uma coluna de solo saturado,
B
considerando que será aplicada, por uma hora, uma
solução deslocadora multiespécie, constituída dos íons
citados acima, com concentração C 0 , seguida da
Concentração residente

aplicação de água pura, por duas horas. A concentração


inicial (Ci) dos íons amônio, potássio e fosfato ao longo
da coluna é igual zero.
A partir dos valores apresentados na Tabela 4 foram
simuladas as concentrações residentes relativa dos íons
amônio, potássio e fosfato no perfil do solo após 1, 2 e
3 horas do início da aplicação da solução deslocadora.
Utilizou-se o modelo 1 do software Disp que trabalha
com a concentração residente do soluto na fase líquida
do solo. Na Figura 14 estão apresentadas as curvas de Profundidade (cm)
concentração residentes relativas dos íons no perfil do
C
LVAd.
Observa-se na Figura 14 que o íon amônio alcançou
maiores profundidades após as três horas de ensaio,
Concentração residente

comparativamente aos íons potássio e fosfato, cujos


picos de concentração ocorreram a, aproximadamente,
100, 74 e 13 cm, respectivamente. Tal fato está
associado do fator de retardamento. O íon amônio
apresenta o menor fator de retardamento, seguido dos
íons potássio e fosfato, respectivamente, ou seja, NH4+
< K + < PO 4 3- , conforme apresentado na Tabela 4.
Portanto, por apresentar o menor fator de retardamento,
o íon amônio foi pouco adsorvido pelo meio quando a
solução deslocadora percolou pela coluna de solo, o que Profundidade (cm)
garantiu ao íon um maior avanço no perfil do solo. Já, o Figura 14. Concentração residente relativa dos íons amônio
íon fosfato por apresentar um maior valor do fator de (A), potássio (B) e fosfato (C) no perfil do solo após 1,
retardamento avançou pouco no perfil do solo, ficando 2 e 3 horas de aplicação da água limpa
110 Mauro A. Martinez et al.

praticamente retido na superfície. Tal comportamento Fósforo


Contração total (mg L-1)
está associado à maior interação entre este soluto e o
meio, ou seja, o íon fosfato é muito adsorvido quando a
solução deslocadora percola pela coluna de solo.

Profundidade (cm)
Simulação da distribuição no solo de nitrato e
fósforo provenientes de fertigação
Simular a distribuição de nitrato e fósforo aplicados no
solo por meio de fertigações realizadas em diferentes
momentos da irrigação, considerando as seguintes
condições: Figura 15. Distribuição de fósforo aplicado no solo por meio
Irrigação: microaspersão, com intensidade de de fertigação realizadas em diferentes momentos da
aplicação de 2 mm h-1 e duração de 2 h. irrigação
Fertigação: duração de 0,5 h, com os cenários
mostrados na Tabela 5. Serão aplicadas soluções de Nitrato
nitrato e fósforo nas concentrações de 3,2 e 4,8 g L-1, Contração total (mg L-1)
respectivamente, correspondente a uma aplicação de 40
e 60 kg ha-1 de nitrogênio e fósforo.

Tabela 5. Momentos da fertigação (X) durante a irrigação Profundidade (cm)


(O).
Tempo de Irrigação (h)
Cenários
0,5 1,0 1,5 2,0
1 X O O O
2 O X O O
3 O O X O Figura 16. Distribuição de nitrato aplicado no solo por meio
4 O O O X de fertigação realizadas em diferentes momentos da
irrigação
Solo:Neossolo quartzarenico (RQo), textura franco-
arenosa. Observa-se na Figura 15 que, para os quatro cenários,
Massa específica = 1,67 g cm-3 a concentração de fósforo atingiu pequenas
Teor de água do solo saturado = 0,369 cm3 cm-3 profundidades, chegando a 7 cm após a aplicação de 0,5
Capacidade de campo = 0,126 cm3 cm-3 h de fertigação seguida de 1,5 h de irrigação (cenário 1).
Ponto de murcha permanente = 0,074 cm3 cm-3 Esse fato é explicado pelo fator de retardamento deste
Condutividade hidráulica do solo saturado = 51 cm h-1 íon, o qual apresenta um elevado valor, R=7,0 (Tabela 6),
Parâmetros do modelo de Brooks & Corey: provocando uma maior retenção deste soluto pelo solo.
Teor de água residual = 0,076 cm3 cm-3 A localização do fósforo na superfície restringiria a sua
Potencial matricial de entrada de ar = 10,5 cm absorção pelas raízes das plantas, ficando restrito às
α = 1,013 raízes superficiais, indicando que a aplicação de fósforo
As simulações foram realizadas com o software via fertigação não é recomendável.
SIMASS_C. Iniciaram-se as simulações considerando Na Figura 16, observa-se que a concentração de
que os teores de água no solo eram aqueles antecedentes nitrato atingiu profundidades maiores em comparação ao
a uma nova irrigação. Estes valores foram obtidos do fósforo, chegando a 16 cm após a aplicação de 0,5 h de
trabalho experimental realizado por Simões (2007). As fertigação seguida de 1,5 h de irrigação (cenário 1). A
concentrações iniciais de nitrato e fósforo no solo foram maior distribuição do íon nitrato no perfil do solo,
consideradas iguais a zero. comparativamente ao fósforo, está associada ao seu
Os resultados das simulações são apresentados nas
Figuras 15 e 16. Analisando estas figuras, nota-se que os Tabela 6. Parâmetros de transporte do nitrato e do potássio
íons atingiram maiores profundidades quando as usados na simulação.
fertigações foram realizadas nos períodos iniciais da Do Kd R *
irrigação, principalmente para o nitrato. Isto acontece (cm2 min-1) (cm3 g-1) (cm)
porque a água de irrigação aplicada após a fertigação Nitrato 6,84 x 10-2 0,00 1,0 2,0
lixívia os íons para camadas mais profundas. Fósforo 5,34 x 10-4 1,5 7,0 8,0
Modelagem do movimento de sais no solo 111

menor fator de retardamento, R=1,0 (Tabela 6), o qual inseticida sulfona de aldicarbe para duas situações
indica que não há interação entre íon nitrato e o solo. distintas. Na primeira, a curva de efluente foi construída
a partir da aplicação de solução aquosa do inseticida
Simulação de curvas de efluente e perfis de distribuição durante todo o tempo de coleta do efluente. Na segunda,
de sulfona de aldicarbe em colunas de solo saturado a curva de efluente foi obtida considerando a aplicação
Corrêa (2001) simulou curvas de efluente e perfis de tipo pulso, quando a solução contendo o pesticida foi
distribuição de sulfona de aldicarbe (inseticida), sob aplicada durante a metade do tempo de coleta e na outra
condições de solo saturado, (Figuras 17A, B e C) usando metade foi aplicado somente água. A Figura 17C
os modelos SIMASS_C e o CXTFIT. Nas Figuras 17A apresenta os perfis de concentração residente do
e 17B estão apresentadas as curvas de efluentes do inseticida para os tempos 60, 120 e 180 minutos após o
inicio da aplicação do produto.
A De acordo com Figura 17, observa-se que o modelo
SIMASS-C simulou curvas de efluente de solutos e perfis
de concentração bem próximas daquelas obtidas com o
modelo CXTFIT. O modelo CXTFIT foi utilizado como
modelo comparativo, porque apresenta solução analítica
C/Co

da equação de transporte de solutos e, por isso, apresenta


resultados matematicamente mais precisos.

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Modelagem do movimento de sais no solo 113

ANEXO b) erf 0 = 0 ;
c) erf  = 1 ; e
A função-erro é uma função de densidade de d) erf  = 1 .
probabilidade e seu valor está entre 1 e +1. De acordo
com a Figura 12, ela é assintótica à reta y = 1 quando x Ainda, pela Equação 52, resulta:
  e à reta y = 1 quando x  . Sua expressão a) erfc  = 0 ; e
analítica é b) erf c () = 2 .
x

π
2
e  t dt
2
erf 
o Para uso corrente, pode-se usar os valores de erf x
e erfc x da Tabela A, onde se observa que a erf x
converge rapidamente, isto é, x = 2,5, erf 2,5 = 0,999593.
Como a integral do segundo membro é complexa, é
preferível calcular seu valor por meio do desenvolvimento Tabela A. Função-erro e função-erro complementar.
em série, isto é: x erf x erfc x x erf x erfc x
2  x3 x5 x7  0 0 1,0 1,0 0,842701 0,157299
erfx   x     ... 0,05 0,056372 0,943628 1,1 0,880205 0,119795
π 1!3 2!5 3!7  0,1 0,112463 0,887537 1,2 0,910314 0,089686
0,15 0,167996 0,832004 1,3 0,934008 0,065992
0,2 0,222703 0,777297 1,4 0,952285 0,047715
0,25 0,276326 0,723674 1,5 0,966105 0,033805
0,3 0,328627 0,671373 1,6 0,976348 0,023652
0,35 0,379382 0,620618 1,7 0,983790 0,016210
0,4 0,428392 0,571008 1,8 0,989091 0,010909
0,45 0,475482 0,524518 1,9 0,992700 0,007210
0,5 0,520500 0,479500 2,0 0,995322 0,004678
Figura A. Representação gráfica da função-erro. 0,55 0,563323 0,436677 2,1 0,997021 0,002979
0,6 0,603856 0,396144 2,2 0,998137 0,001863
A função-erro complementar (erfc x) é dada por: 0,65 0,642029 0,357971 2,3 0,998857 0,001143
erfc x  1 - erf x 0,7 0,677801 0,322199 2,4 0,999311 0,000689
0,75 0,711156 0,288844 2,5 0,999503 0,000407
0,8 0,742101 0,257899 2,6 0,999764 0,000236
Pelo gráfico da função, observa-se que: 0,85 0,770668 0,229332 2,7 0,999866 0,000134
a) trata-se de uma função ímpar, isto é, erf(x) =  0,9 0,796908 0,203092 2,8 0,999925 0,000075
erf x ; 0,95 0,820891 0,179109 2,9 0,999959 0,000041
Técnicas de estatística multivariada
8 aplicadas a estudos de qualidade
de água e solo
Eunice M. de Andrade1, Ana C. M. Meireles1 & Helba A. Q. Palácio2

1Universidade Federal do Ceará


2 Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará - Campus Iguatu

Introdução
Estatística multivariada
Análise de agrupamento
Medidas de similaridade
Algoritmo de agrupamento
Número de grupos
Estudo de caso: Salinidade nos solos na Chapada do Apodi
Análise de componentes principais - ACP
Estudo de caso: Qualidade das águas na bacia hidrográfica do rio Acaraú, Ceará
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
116 Eunice M. de Andrade et al.

Técnicas de estatística multivariada aplicadas


a estudos de qualidade de água e solo

INTRODUÇÃO entre variáveis dificultam a interpretação do fenômeno


(Everitt, 1993).
Nos últimos anos, a importância da água e do solo tem Um caminho que pode ser adotado para se reduzir
se tornado cada vez mais evidente, tanto pela sua esta limitação é o emprego da estatística multivariada. A
escassez como pela larga demanda em decorrência do denominação “Análise Multivariada” corresponde a um
crescimento da população mundial. A maior demanda grande número de métodos e técnicas que utilizam
pela produção de alimentos vem impulsionando o uso da simultaneamente todas as variáveis na interpretação
irrigação, não só para complementar as necessidades teórica do conjunto de dados obtidos, sendo, portanto,
hídricas das regiões úmidas, mas também para tornar ferramentas estatísticas que apresentam uma visão mais
produtivas as regiões áridas e semiáridas do globo. global do fenômeno que aquela possível numa abordagem
A prática da irrigação, associada ao regime irregular univariada (Everitt & Dunn, 1991).
das chuvas e às elevadas taxas de evapotranspiração nas Há mais de duas décadas que pesquisadores de
regiões secas promovem alterações nos teores de sais diferentes partes do mundo (Nathan & MCmahon, 1990;
nos solos e nas águas com consequente elevação na Mohan & Arumugam, 1996; Singh et al., 2004) vêm
concentração de íons tóxicos. Ante esta condição, torna- empregando técnicas de estatística multivariada nas
se imprescindível o conhecimento do status salino no ciências naturais para auxiliar na interpretação de
solo e na água, bem como quais os sais que estão se matrizes geradas pelo monitoramento dos processos
acumulando, uma vez que os mesmos atuam naturais multivariados. Recentemente, pesquisadores
diferentemente sobre a estrutura do solo. como Andrade et al. (2008); Meireles (2007) e Palácio
No monitoramento de sais adotam-se medidas de (2004) iniciaram a aplicação de técnicas de estatística
múltiplos parâmetros, as quais são efetuadas em multivariada - análise de agrupamento hierárquico e
diferentes épocas e originadas de diferentes áreas, análise fatorial/análise de componentes principais na
gerando uma complexa matriz multivariada de difícil identificação de grupos similares e dos fatores
interpretação decorrente do grande número de determinantes da qualidade das águas em áreas irrigadas
informações interdependentes contidas na mesma. no estado do Ceará, respectivamente.
Em oposição a este fato, intuitivamente, o ser humano Neste capítulo serão apresentadas as etapas de como
tende a analisar as variáveis de um fenômeno qualquer se aplicar as técnicas de análise de agrupamento
isoladamente e a partir desta análise fazer inferências hierárquico e análise fatorial/análise de componentes
sobre a realidade. Esta simplificação tem vantagens e principais em investigações sobre processos de salinidade
desvantagens. Quando um fenômeno depende de muitas no solo e na água.
variáveis, geralmente este tipo de análise falha, pois não
basta conhecer informações estatísticas isoladas, mas é ESTATÍSTICA MULTIVARIADA
necessário também conhecer a totalidade destas
informações fornecida pelo conjunto das variáveis. Desta Análise de agrupamento
maneira as relações existentes entre as variáveis não são Pode-se dizer que análise de agrupamento consiste de
percebidas e assim efeitos antagônicos ou sinérgicos uma técnica multivariada cujo objetivo primário é formar
Técnicas de estatística multivariada aplicadas a estudos de qualidade de água e solo 117

grupos de objetos homogêneos com base na semelhança Qual o algoritmo de agrupamento a ser selecionado?
de suas características. Deste modo, cada objeto deverá Qual o número de grupos a ser formado?
apresentar a maior semelhança possível com outros no A resposta a cada uma destas indagações será
agrupamento com relação aos critérios de seleção abordada nos três sub-itens subsequentes.
predeterminados. Um dos métodos mais utilizado de
análise multivariada, para se classificar objetos em Medidas de similaridade
categorias de similaridade, é a análise de agrupamento. Na análise de agrupamentos (cluster analysis), a
Os agrupamentos resultantes dos objetos deverão similaridade entre duas amostras pode ser expressa
então apresentar elevada homogeneidade interna (dentro como uma função da distância entre os dois pontos
dos grupos) e elevada heterogeneidade externa (entre representativos destas amostras no espaço n-
grupos). De fato, trata-se de uma metodologia dimensional. A maneira mais usual de calcular a
classificatória com base em métodos numéricos onde se distância entre dois pontos a e b no espaço n-dimensional
considera um conjunto inicial de objetos aos quais são é conhecida por distância Euclidiana. No entanto,
existem outros métodos para se calcular distâncias, tais
associadas medidas de várias grandezas, denominadas
como: quadrado da distância Euclidiana, a distância de
variáveis classificatórias. Essas grandezas são utilizadas
Mahalanobis, entre outras (Moita Neto & Moita, 1998).
para se definir grupos de objetos similares em relação
Como em estudos de qualidade de água ou dos sais
aos valores assumidos por essas variáveis (Everitt, 1993).
no solo as variáveis classificatórias escolhidas são
Um ponto importante que não pode ser esquecido
variáveis reais e, portanto, são mensuradas em uma
pelo pesquisador, no momento de empregar a técnica de
escala de intervalo, convencionou-se adotar uma medida
análise de agrupamento, é investigar as unidades e as de distância com propriedades métricas, tendo a escolha
escalas de grandeza das variáveis que serão empregadas recaída no quadrado da distância Euclidiana (Eq. 2), por
na definição de grupos homogêneos. A similaridade entre a mesma ser bastante utilizada em estudos de recursos
as variáveis é extremamente dependente da escala e das naturais (Nathan & MCmahon, 1990).
unidades em que as mesmas são expressas (Dillon &
Goldstein, 1984).
Esta dependência de escala ou unidade é superada (2)
efetuando-se a padronização dos dados. A forma mais
comum de padronização é a conversão de cada variável
para escore padrão (escores Z), a qual consiste em
em que:
subtrair a média da variável X e dividir por seu desvio
De é a distância Euclidiana; e P p,j e P k,j são as
padrão (Eq. 1). Este processo converte cada valor do dado
variáveis quantitativas j dos pontos de amostragem p e k,
original em um valor padronizado para  = 0 e  = 1.
respectivamente.

(1) Algoritmo de agrupamento


Muitos são os algoritmos propostos para se efetuar a
análise de agrupamento. O algoritmo ou conjunto de
regras mais usado no agrupamento de objetos similares
em que: podem ser classificados em duas categorias: hierárquicos
Xij - representa o valor observado da j-ésima e e não hierárquicos. Existem basicamente dois tipos de
i-ésima variável; procedimentos hierárquicos de agrupamento
Xi - representa a média da amostra Xij; aglomerativos e divisivos.
Si - representa o desvio padrão da variável Xij; Entre as técnicas supra citadas, será abordada a
Xsij - representa a observação da variável hierárquica aglomerativa, a qual produz um arranjo
j-ésima e i-ésima normalizada; hierárquico em forma de árvore, conhecido como
i = 1...m - variáveis; dendrograma, onde as amostras semelhantes, segundo as
j = 1...n - amostragens. variáveis escolhidas, são agrupadas entre si. A suposição
básica de sua interpretação é esta: quanto menor a
Finalizada a padronização dos dados, torna-se distância entre os pontos, maior a semelhança entre as
necessário responder os seguintes pontos: amostras (Moita Neto & Moita, 1998).
Qual a medida de similaridade ou de distância entre Uma primeira idéia do que seja um dendrograma é
os grupos a ser empregada? apresentada na Figura 1. Este dendrograma expressa o
118 Eunice M. de Andrade et al.

arranjo hierárquico da qualidade das águas coletadas em chamada regra de parada). Infelizmente não existe um
sete pontos de amostragem no açude Orós, Ceará. O procedimento padrão objetivo de seleção. Como não há
arranjo de similaridade das águas do Orós se fundamentou critério estatístico interno usado para inferência, tal como
nos seguintes atributos: Condutividade Elétrica (CE), pH, Ca, os testes de significância estatística de outros métodos
Mg, Na, K, Cl, HCO3, SO4, NH4, NO3, PT, PO4, Oxigênio multivariados, vários critérios e guias para tratar do
Dissolvido (OD), Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), problema foram desenvolvidos.
sólidos totais, sólidos totais fixos e voláteis, total de sólidos O principal obstáculo é que existem muitos
em suspensão, sólidos em suspensão fixos e voláteis, procedimentos de ocasião (ad hoc), envolvendo técnicas
turbidez, cor verdadeira e aparente, transparência, bastante complexas que devem ser computadas (Corrar
temperatura e Razão de Adsorção de Sódio (RAS). As et al., 2009). Um tipo de regra de parada relativamente
informações utilizadas na elaboração deste dendrograma simples é examinar alguma medida de similaridade ou
são oriundas do projeto de pesquisa “Aplicabilidade de distância entre grupos. A parada deverá ocorrer quando
sensoriamento remoto como sistema de suporte ao a distância de similaridade exceder a um valor
monitoramento da qualidade das águas superficiais do
especificado ou quando ocorrer uma súbita elevação. As
semiárido cearense”, financiado pelo CNPq.
medidas de similaridades, comumente, empregadas nesta
Os cinco tipos de algoritmos aglomerativos mais
tomada de decisão são os coeficientes aglomerativos e
utilizados na definição de grupos semelhantes são: ligação
a distância reescalonada.
individual (single linkage), ligação completa (complete
linkage), ligação média (average linkage), método de O coeficiente de aglomeração é particularmente
Ward (Ward’s method) e método do centróide (Centroid utilizado para uso em uma regra de parada que avalie
method) (Hair et al., 2005). as mudanças no coeficiente em cada estágio do
No método de Ward, a distância entre dois processo hierárquico. Pequenos coeficientes indicam
agrupamentos é a soma dos quadrados entre ambos, feita que agrupamentos bem homogêneos estão sendo
sobre todas as variáveis. Em cada estágio do procedimento fundidos. Reunir dois agregados de baixa similaridade
de agrupamento, a soma interna de quadrados é resulta em um elevado coeficiente ou uma grande
minimizada sobre todas as partições (o conjunto completo variação percentual no coeficiente. Desta forma, para
de agrupamentos disjuntos ou separados) que podem ajudar na identificação de grandes aumentos na
ser obtidas pela combinação de dois agregados do homogeneidade dos agrupamentos, calcula-se o
estágio anterior. Esse procedimento tende a combinar percentual de mudança no coeficiente de agrupamento
agrupamentos com um pequeno número de observações (Hair et al., 2005).
(Hair et al., 2005).
ESTUDO DE CASO: SALINIDADE NOS
Número de grupos SOLOS NA CHAPADA DO APODI
Possivelmente, a questão mais complexa quando se
utiliza a análise de agrupamentos é a determinação do Para ilustrar a aplicação de análise de agrupamento
número final de classes a serem formadas (também serão investigadas as concentrações de sais presentes no

Figura 1. Dendrograma de análise de agrupamento hierárquico pelo método de Ward dos sete pontos de coleta de água
no açude Orós
Técnicas de estatística multivariada aplicadas a estudos de qualidade de água e solo 119

extrato de saturação do solo em áreas irrigadas e explorados pela agricultura irrigada e sob condições de
campos naturais da Chapada do Apodi, Ceará. campos naturais?
A pesquisa foi desenvolvida em três áreas, sendo uma As variáveis selecionadas na investigação foram
com campos naturais (Mata Nativa) e duas irrigadas do CEes (Condutividade Elétrica do extrato de saturação do
Distrito de Irrigação Jaguaribe-Apodi (DIJA), nos solo), Ca2+ + Mg2+, Cl-, Na+ e K+ e a RAS (Razão de
municípios de Limoeiro do Norte e Quixeré. As áreas Adsorção do Sódio). As análises resultaram em uma
estão localizadas entre as coordenadas geográficas matriz de 6 colunas e 30 linhas totalizando 180 entradas
05o06’38” e 05o11’39” de latitude Sul e ao Oeste de (Tabela 1). Optou-se por uma matriz de poucas entradas
Greenwich entre os paralelos 37o52’21” e 37o56’05” de para uma melhor compreensão e interpretação dos dados
longitude. A região apresenta clima quente e semi-árido, obtidos pela técnica de análise de agrupamento.
BSw’h’, com temperatura média mensal sempre superior Entre os pacotes computacionais que executam
a 18 ºC. A pluviosidade média de 750 mm, sendo que o análises multivariadas e que podem ser usados sem
período mais seco ocorre de julho a dezembro. A grandes dificuldades por iniciantes em estatística
evaporação média anual da região é de 3.215 mm e a multivariada cita-se o SPSS, MINITAB e Stata.
umidade relativa média anual é de 62%. Destaca-se que o SPSS, v. 13 ou superior apresenta a
O questionamento a ser investigado será: Tomando- elaboração de gráficos de boa qualidade e de uma
se variáveis indicadoras da salinidade do solo, é possível interface bem amigável.
identificar padrões significativos de similaridade ou Investigando-se a matriz (Tabela 1) observa-se que
dissimilaridade, que permitam afirmar a existência de os dados apresentam três unidades distintas (dS m -1,
grupos semelhantes ou distintos entre e dentre os solos mmolc L-1, (mmolc L-1)0,5) e números variando em até

Tabela 1. Dados empregados na investigação de similaridade das condições salinas em solos da Chapada do Apodi, Ceará

1 Local, camada e data de coleta de solo. DJ –DIJA, MN – mata nativa e QX - Quixeré


120 Eunice M. de Andrade et al.

três magnitudes (0,04 – 35,96), portanto os dados separadamente daqueles que representam as áreas
necessitam ser padronizados para ( = 0;  = 1). Os irrigadas do DIJA e do Quixeré de forma independente
pacotes estatísticos que executam este tipo de análise da data de amostragem.
oferecem a opção de padronizar os dados por ocasião de Neste estudo, o número ótimo de grupos a serem
realização das análises, não havendo a necessidade de formados foi definido examinando-se a medida de
efetuar a padronização antecipadamente. Bem como, em similaridade ou distância entre grupos, a cada passo. A
caso de matrizes compostas por um grande número de solução foi definida quando os sucessivos valores entre
colunas e linhas, se torna imprópria a realização de uma os passos tiveram uma súbita elevação, evidenciando um
padronização antecipada. substancial decréscimo na similaridade (Tabela 2).
Como já definido anteriormente no início deste
capítulo, a similaridade foi estimada por meio da distância Tabela 2. Coeficientes de agrupamentos gerados para
determinação do ponto ótimo de corte
Euclidiana ao quadrado, uma vez que se trata de
variáveis quantitativas, e na definição dos agregados
empregou-se o algoritmo de Ward. A escolha recaiu
sobre o método de Ward devido o mesmo ser usado por
diferentes pesquisadores em estudos de água e solo
(Palácio et al., 2009; Meireles, 2007; Andrade, 1997).
O resultado final da técnica de análise multivariada/
análise de agrupamento é expresso em um gráfico com
forma de árvore, conhecido como dendrograma (Figura
2). De acordo com o output gerado observa-se
claramente a existência da similaridade e dissimilaridade
entre os objetos investigados (Na+, Cl-, Ca2+ + Mg2+, K+,
CEes e a RAS para distintas camadas, datas e local de
coletas). O dendrograma expressa claramente que a
similaridade da salinidade do solo para as áreas
estudadas foi definida pelo uso da terra, não ocorrendo
uma maior influência da variabilidade temporal ou
espacial. Na construção dos arranjos, os objetos
representativos da área não cultivada se agruparam

No dendrograma estes aumentos são representados


pelos maiores valores da distância reescalonada da
combinação de agregados (Corrar et al., 2009). Este fato
foi registrado entre o estágio 28 e 29 quando a diferença
entre os coeficientes de aglomeração foi de 48%, o que
corresponde a uma variação na distância reescalonada
de 12,9, originando dois grupos.
O grupo 1 contém todas as coletas realizadas nos
solos da Mata Nativa, nove oriundas do DIJA e uma do
Figura 2. Dendrograma das amostras de solos agrupadas Quixeré, independentemente da profundidade amostrada
quanto a concentração iônica em áreas de mata nativa e ou da época de coleta. Identifica-se que dentro do grupo,
campos irrigados na Chapada do Apodi, Ceará as variáveis investigadas (Na +, Cl-, Ca2+ + Mg2+, K+,
Técnicas de estatística multivariada aplicadas a estudos de qualidade de água e solo 121

CEes e a RAS para distintas camadas, datas e local de (1901) já o tivesse lançado de forma geométrica. O
coletas) para a mata nativa apresentaram a maior objetivo da ACP é similar ao da Análise Fatorial, no
similaridade, visto que todos os objetos se uniram com o sentido de que ambas as técnicas tentam explicar parte
menor valor da distância reescalonada. A homogeneidade da variabilidade de um conjunto de dados.
das variáveis para a Mata Nativa expressa a sua Resumidamente, a principal diferença entre as duas
condição de equilíbrio com relação aos sais solúveis no técnicas é a de que a ACP parte da ausência de um
extrato de saturação do solo. modelo estatístico e focaliza a explicação da variância
Percebe-se, também, que embora não exista total das variáveis observadas, baseando-se nas
diferença significativa ao nível de 5% entre os objetos propriedades da variância máxima dos componentes
que compõem o grupo 1, existe uma dissimilaridade entre principais. A análise fatorial, por outro lado, parte de um
as informações representativas da mata nativa e aquelas modelo estatístico prévio que divide a variância total
oriundas do DIJA e do Quixeré. Esta diferença expressa (Dunteman, 1989). Atualmente, estas técnicas são
a sensibilidade do teste em identificar as diferenças entre também utilizadas no campo da sociologia, medicina,
os objetos do mesmo grupo, embora a diferença entre as tecnologia de alimentos, educação, economia, agronomia,
mesmas não seja estatisticamente significativa. liminologia e hidrologia (Shoji et al., 1966; Possoli, 1984;
O grupo 2 foi composto por nove informações Vidal et al., 2000; Bressan et al., 2001; Silveira &
provenientes das amostras realizadas no campo irrigado Andrade, 2002).
do Quixeré e uma oriunda do DIJA, expressando uma Esta técnica possibilita, em investigações com um
completa dissimilaridade das informações da Mata Nativa, grande número de dados disponíveis, a identificação das
visto que nenhuma informação desta área se faz medidas responsáveis pelas maiores variações entre os
presente neste grupo. Investigando-se o dendrograma resultados sem perdas significativas de informações. O
com um pouco mais de detalhe se observa que as conjunto de dados referentes a um trabalho contém muitas
informações representativas da profundidade de 15 cm inter-relações imperceptíveis numa avaliação inicial, pois
(QX15) para as datas de 11/2001 e 12/2001 apresentam os resultados correspondentes às variáveis podem ser
um menor grau de homogeneidade em relação as diferentes em ordem de magnitude. Assim, na ACP, os
informações representativas das outras datas e camadas. valores das medidas são transformados em escalas
Esta característica identificada pelo teste de padronizadas, onde as distâncias entre os pontos individuais
agrupamento pode ser confirmada na Tabela 1, onde se
(dados referentes a uma unidade experimental) são
observa que os maiores valores dos atributos
interpretadas em termos de similaridade padrão, e o
investigados foram registrados nestes dois meses.
tamanho da variação é representado pela extensão do
O grupo 2 é composto por solos que receberam
vetor a partir do ponto de origem.
maiores adições de sais pelo manejo da irrigação. Estes
Um problema comumente encontrado na aplicação
maiores acúmulos podem ser explicados pela qualidade da
de modelos estatísticos multivariados é que estes são
água empregada na irrigação, C3S1, e pelo emprego da
dependentes das unidades e escalas em que as variáveis
fertiirrigação (D’Almeida, 2002). Destaca-se que embora
foram medidas (Nathan & MCmahon, 1990). Por
no período estudado o total precipitado (1.275 mm) tenha
exemplo, enquanto a condutividade elétrica é expressa
sido 62% superior a média da região, a mesma não foi
em desissimens por metro (dS m -1 ); o cálcio é
suficiente para efetuar a lixiviação dos sais adicionados
determinado em milimol carga por litro (mmolc L-1), o pH
pelo manejo da irrigação. Portanto a técnica de análise de
(admensional) e os sólidos suspensos em miligrama por
agrupamento mostra-se como uma ferramenta que pode
litro (mg L-1).
ser empregada na identificação de áreas similares com
A solução padrão para este problema é a
maiores ou menores riscos de salinidade
normalização dos dados ( = 0;  = 1). Esta forma é
ANALISE DE COMPONENTES assumida pelas variáveis no momento em que se calcula
PRINCIPAIS - ACP a matriz de correlação. A nível de entendimento serão
apresentadas as etapas de como efetuar o cálculo da
A análise de componentes principais (ACP) é uma matriz de correção, no entanto esclarece-se que todo
técnica estatística de análise multivariada, que este processo é efetuado pelo pacote computacional que
transforma linearmente um conjunto original de variáveis executa análises multivariadas.
num conjunto substancialmente menor de variáveis não Os dados em forma de matriz corrigida são
correlacionadas, que contêm a maior parte das representados pelas Eqs. 3 e 4.
informações do conjunto original. Esta idéia foi
desenvolvida por Hotteling (1933), embora Pearson (3)
122 Eunice M. de Andrade et al.

em que:
Xd - matriz da variável corrigida; (7)
X - matriz dos dados na dimensão (N = amostragens
x M = variáveis);
a’ - [a11 a22 ...a1M]; sendo a = 1
em que:
S = Xd’Xd representa matriz da soma dos quadrados
dos valores corrigidos pela média

Após a definição da matriz de correlação, deve-se


representa a matriz linha contendo a média das M realizar a inspeção entre as variáveis com o objetivo de
variáveis. se identificar as variáveis mais específicas, visto que a
finalidade da ACP é obter “fatores” que ajudem a
A variância da amostra pode ser calculada para cada explicar estas correlações. Para averiguar se o modelo
variável Xd como: da ACP pode ser aplicado aos dados levantados neste
estudo deve-se aplicar o teste proposto por Kaiser,
Meyer e Olkin (1974), apresentado por Norusis (1990).
(4) O teste Kaiser-Meyer-Olkin (KMO) é um índice que
compara a magnitude de coeficientes de correlação
observada e as magnitudes dos coeficientes de
Normalização é efetuada empregando-se as Eq. 5 e correlação parciais, sendo computado pela Eq. 8.
6.

(5) (8)

em que:
D-1/2 - representa a matriz da variância individual
em que:
da i-ésima variável, a qual é uma matriz diagonal na
rij - coeficiente de correlação simples entre a variável
forma:
i e j;
a ij - coeficiente de correlação parcial entre a variável
i e j.

Se a soma do quadrado dos coeficientes de


correlação parciais entre todos os pares de variáveis for
pequena quando comparada à soma dos coeficientes de
correlação simples ao quadrado, a medida de KMO será
próxima de um. Valores pequenos para KMO indicam
que o modelo de análise de fator não deve ser
empregado. Os intervalos do teste podem ser vistos na
Tabela 3.
A ACP pode ser representada, geometricamente, sob
a forma de uma nuvem de pontos individuais das

(6) Tabela 3. Intervalo de validade do teste KMO, para aplicação


do modelo de análise de fator

em que:
Xs - matriz dos dados normalizados composta pelos
valores Xij (i = M e j = N)

A Matriz de Correlação, R, é calculada empregando-


se da Eq. 7. Adaptada por Silveira e Andrade (2002).
Técnicas de estatística multivariada aplicadas a estudos de qualidade de água e solo 123

variáveis no espaço. Os fatores ou eixos principais saídos O modelo assume que os erros experimentais não têm
de uma ACP fornecem imagens aproximadas dessa correlação com os fatores comuns. Os fatores são
nuvem de pontos e a ACP propõe-se a medir a qualidade deduzidos das variáveis observadas e podem ser
dessa aproximação (Dunteman, 1989). Na realidade a calculados como combinações lineares. É possível que
ACP fundamenta-se em encontrar os autovalores e todas as variáveis contribuam para um dado fator, no
autovetores da matriz de covariância amostral. Os entanto, espera-se que o fator seja caracterizado por um
autovalores da matriz expressam a variância de cada único subconjunto de variáveis com elevados coeficientes.
componente principal. Quanto maior o autovalor, maior é Os fatores são obtidos através da combinação linear das
sua capacidade de resumir as variáveis e, portanto, maior variáveis normalizadas observadas (Eq. 10):
explicabilidade é apresentada por este fator. Um
autovalor inferior a 1,0 indica que o eixo sintetiza menos (10)
dados que uma variável isolada.
A determinação do número de fatores representativos
dos dados deve se fundamentar no preceito que se tenha
um menor número de fatores com a máxima em que:
explicabilidade da variância contida nos dados originais. W - coeficiente de contagem de cada fator;
Foram propostos vários procedimentos para determinar XSi - valor de cada variável normalizada,
o número de fatores para ser usado em um modelo. M - número de variáveis.
Porém, o critério mais aceito pela comunidade científica
é aquele em que apenas fatores com variância maior que Mesmo com a matriz de componentes obtidos na fase
de extração, onde o resultado descreve a relação entre os
um (autovalores maiores que um) sejam incluídos
fatores e as variáveis individuais, às vezes este resultado
(Norusis, 1990). Este critério fundamenta-se no fato de
é de difícil interpretação dos fatores significantes. Para
que qualquer fator deve explicar uma variância superior
superar esta limitação efetua-se a rotação da análise de
àquela apresentada por uma simples variável. Os fatores
fator, a qual transforma a matriz em uma outra de mais
são chamados de componentes principais, que são fácil interpretação (Dillon & Goldstein, 1984).
formados por combinações lineares das variáveis A rotação não afeta o valor de ajuste de uma solução
observadas. O primeiro componente principal é a de fator; ou seja, embora a matriz de fator mude, a
combinação entre as variáveis que respondem pela maior percentagem de variância total explicada não é alterada.
quantidade de variância na amostra. O segundo A percentagem de variância considerada por cada um
componente principal responde pela segunda maior dos fatores faz, porém, a mudança.
variância sem estar correlacionada com a primeira. Um método de rotação que vem sendo bastante
Componentes sucessivos explicam porções empregado pelos pesquisadores (Palácio, 2004; Mondal
progressivamente menores da variância da amostra total, et al., 2010; Huang et al, 2010) é o Varimax. O referido
sem apresentarem correlação com os componentes método tem por finalidade minimizar a contribuição das
anteriores (Manly, 2008). variáveis com menor significância no fator, e assim, as
Segundo Norusis (1990), o modelo matemático para variáveis passam a apresentar pesos próximos a um ou
análise de fator apresenta semelhança com uma equação zero, eliminando os valores intermediários, que dificultam
de regressão múltipla. Cada variável é expressa como a interpretação dos fatores (Wunderlin et al., 2001).
uma combinação linear de fatores que não são Para uma melhor compreensão da aplicação da
observados de fato. Análise de componentes principais apresentaremos um
O modelo para a i-ésima variável normalizada é estudo de caso sobre a investigação da qualidade das
escrito através da regressão linear múltipla entre fatores: águas na bacia do Acaraú, Ceará.

(9) ESTUDO DE CASO: QUALIDADE DAS ÁGUAS


NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO
ACARAÚ, CEARÁ
em que:
F - fatores comuns, isto é, uma nova variável; A referida bacia está localizada ao norte do Estado do
A i - constantes de ajuste do modelo (i = 1, ... L ); Ceará e detém uma área de 10.000 km2, abrangendo 15
 - erro experimental; municípios, com uma população de 314.455 habitantes. A
L - total de fatores. capacidade de acumulação da bacia é de
124 Eunice M. de Andrade et al.

aproximadamente 1.215.390.000m 3, distribuída nos Após avaliar a adequacidade do modelo, realizou-se


principais açudes: o Araras Norte, no rio Acaraú, no a extração dos fatores/componentes sendo selecionado
município de Varjota, com capacidade de 860,96 milhões um modelo com três componentes. Os pesos fatoriais
de m3; o Edson Queiroz, localizado no rio Groaíras, atribuídos a cada componente, bem como a percentagem
município de Santa Quitéria, com capacidade de 250 da variância total explicada por cada componente, podem
milhões de m3; e o Forquilhas, no rio Madeira, município ser vistos na Tabela 4. Nota-se que os três primeiros
de Sobral, com capacidade de 50,13 milhões de m 3 componentes explicaram respectivamente 46,44, e 25,12
(DNOCS, 1977). Na bacia estão inseridos quatro e 16,62% da variância total dos dados, concentrando em
perímetros irrigados a saber: Araras Norte, São Vicente, três dimensões 88,18% das informações antes dissolvidas
Forquilhas e Baixo Acaraú. em 16 dimensões.
O clima da região é do tipo BSw’h’ – semiárido
Tabela 4. Matriz do peso fatorial das variáveis nos três
quente com precipitações de outono e temperaturas
componentes principais selecionados
médias mensais sempre superiores a 18 ºC. A
pluviosidade média anual da bacia é de aproximadamente
938 mm, com estação chuvosa ocorrendo geralmente de
janeiro/fevereiro a maio/junho, concentrando-se 80% nos
meses de março e abril. A evapotranspiração média
anual, estimada por tanque classe “A”, é de 1.900 mm
e a média da umidade relativa do ar situa-se em torno de
70%. Predominam na bacia solos como Luvissolos e
Neossolos (CEARÁ, 1992).
O questionamento para esta pesquisa será: Levando-
se em consideração a condição natural, as atividades
agropecuárias, a agricultura irrigada e a presença de
aglomerados populacionais existentes na bacia, é possível
identificar quais os fatores que determinam os
indicadores da qualidade da água?
As variáveis selecionadas na investigação foram: pH,
temperatura, cor, turbidez, nitrato, amônia total, amônia
livre, amônia ionizada, sódio, cloretos, potássio, sulfato,
dureza, cálcio, magnésio, alcalinidade total, alcalinidade
do bicarbonato, condutividade elétrica, sólidos suspensos, CP – Componente Principal.

oxigênio dissolvido (OD), demanda bioquímica de


oxigênio (DBO), fósforo total, ortofosfato solúvel, Os valores elevados dos pesos fatoriais sugerem
clorofila “a”, coliformes totais e coliformes quais são as variáveis mais significativas em cada fator,
termotolerantes. explicando, assim, o relacionamento entre um conjunto de
variáveis. No primeiro CP, as variáveis CE, sódio,
A associação entre as variáveis que influenciam a
alcalinidade do bicarbonato, dureza, cloreto, cálcio e
qualidade das águas superficiais foi identificada mediante
magnésio apresentaram um peso superior a 0,82,
as técnicas de estatística multivariada, Análise Fatorial/
indicando que estas variáveis são as mais significativas
Análise de Componentes Principais (AF/ACP). Tendo na definição da qualidade da água estudada, evidenciando
por base os dados normalizados foi construída a matriz que o CP 1 está relacionada com o processo natural de
de correlação com todas as variáveis estudadas. intemperismo dos componentes geológicos do solo
Para averiguar se o modelo da ACP poderia ser (Brodnjak-Voncina et al., 2002).
aplicado aos dados levantados neste estudo foi aplicado Já o segundo CP é explicado, principalmente, pelas
um teste de adequacidade do modelo AF/ACP. O teste variáveis pH, sólidos suspensos, sulfato, potássio e nitrato
de adequacidade aplicado ao modelo foi o Kaiser-Meyer- (peso > 0,62), as quais indicam o uso da terra pela
Olkin (KMO), o qual apresentou um índice igual a 0,625 agropecuária. A presença do nitrato em águas
(regular), demonstrando que o modelo promoverá superficiais pode ter sua origem em fertilizantes
significante redução na dimensão dos dados originais. A orgânicos, enquanto que o sulfato e o potássio em
matriz resultante neste exemplo foi formada por 16 fertilizantes químicos (Elmi et al., 2004). O CP 3
colunas e 16 linhas totalizando 256 entradas. apresentou uma maior interrelação com cor e turbidez
Técnicas de estatística multivariada aplicadas a estudos de qualidade de água e solo 125

(peso >0,8), sugerindo serem estas as únicas variáveis Pisuerga, na Espanha. O CP 2 passou a ser composta
significativas neste componente. Este componente, por sulfato, nitrato, fósforo total, ortofosfato solúvel e
basicamente, expressa o efeito do escoamento superficial potássio, sendo eliminado o percentual de explicação da
com uma carga de sedimentos oriundos das áreas variância pelo pH para esta componente.
agrícolas e a contribuição de esgotos e resíduos sólidos O CP 2 sugere que as atividades agrícolas e pastoris
dispostos, inadequadamente, próximos às margens dos da região, fontes de poluição difusa, influenciam
cursos d’águas. Segundo dados do Censo 2000 (IBGE, significativamente a concentração dos nutrientes nas
2002), 40% dos domicílios da área urbana e 99% da área águas superficiais. O nitrato e o fósforo, elementos
rural realizam a queima, enterram ou dispõem o lixo em definidos pela literatura como indicadores das atividades
terreno baldio, rio, lago, mar ou então destino que não a agropecuárias (Brooks et al., 1992; Palácio, 2004; Elmi
coleta. et al., 1996), fazem-se presentes nesse componente com
De um modo geral, a matriz do peso fatorial (Tabela pesos superiores a 0,8. O CP 3 mostrou inter-relação com
4) apresenta dificuldades na identificação das variáveis a cor, a turbidez, os sólidos suspensos e o pH,
mais significativas, em decorrência de valores muito apresentando-se como um fator de transporte de
próximos entre si (Dillon & Goldstein, 1984). Para sedimentos. Os altos pesos (> 0,96) atribuídos à cor e à
suplantar essa limitação, aplicou-se a transformação turbidez podem ser explicados pelas características
ortogonal pelo emprego do algoritmo Varimax. A adoção climáticas das regiões semiáridas (baixa cobertura
da matriz transformada, neste estudo, gerou mudanças vegetal e chuvas de alta intensidade).
significativas em relação à matriz original (Tabela 5). Verifica-se assim, que o emprego da Análise Fatorial/
Análise de Componentes Principais (AF/ACP) é uma
Tabela 5. Fatores dos componentes da matriz transformada técnica adequada para ser empregada na identificação
pelo algoritmo Varimax dos fatores determinantes da qualidade das águas, bem
como concentrar em poucos fatores a explicabilidade da
variância antes dissolvida em um grande número de
variáveis.

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Parte III - Tolerância das plantas
à salinidade
9 Efeitos dos sais no solo e na planta

Nildo da S. Dias1 & Flávio F. Blanco2

1Universidade Federal Rural do Semi-Árido


2 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Meio Norte

Introdução
Efeitos dos sais na planta
Efeito osmótico
Efeitos tóxicos
Efeitos indiretos
Efeito dos sais sobre o solo
Efeitos sobre a estrutura
Efeito sobre o pH
Alteração dos parâmetros físico-hídricos do solo
Tolerância das plantas à salinidade
Estado nutricional das plantas
Ajuste osmótico
Sinalização bioquímica e melhoramento genético
Toxidez
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
130 Nildo da S. Dias & Flávio F. Blanco

Efeitos dos sais


no solo e na planta

INTRODUÇÃO EFEITOS DOS SAIS NA PLANTA

A agricultura está enfrentando um grande problema em Efeito osmótico


todo o mundo com a falta de recursos hídricos adequado, As plantas retiram a água do solo quando as forças de
forçando muitos produtores a utilizar água salobra para a embebição dos tecidos das raízes são superiores às forças
irrigação das culturas (Reed, 1996). Em muitas áreas de com que a água é retida no solo. A presença de sais na
produção, o uso de água de baixa qualidade para irrigação solução do solo faz com que aumentem as forças de
e a aplicação de quantidades excessivas de fertilizantes são retenção por seu efeito osmótico e, portanto, a magnitude
as principais razões para o problema do aumento da do problema de escassez de água na planta. O aumento
salinidade do solo. Em se tratando de regiões áridas e da pressão osmótica (PO) causado pelo excesso de sais
semiáridas irrigadas, constitui um sério problema, limitando solúveis, poderá atingir um nível em que as plantas não
a produção agrícola e reduzindo a produtividade das terão forças de sucção suficiente para superar esse PO e,
culturas a níveis anti-econômicos. em consequência, a planta não irá absorver água, mesmo
Os efeitos da salinização sobre as plantas podem ser de um solo aparentemente úmido (seca fisiológica).
causados pelas dificuldades de absorção de água, Dependendo do grau de salinidade, a planta, em vez
toxicidade de íons específicos e pela interferência dos de absorver, poderá até perder a água que se encontra
sais nos processos fisiológicos (efeitos indiretos) no seu interior. Esta ação é denominada plasmólise e
reduzindo o crescimento e o desenvolvimento das ocorre quando uma solução altamente concentrada é
plantas. No solo, os efeitos negativos da salinização são posta em contato com a célula vegetal. O fenômeno é
desestruturação, aumento da densidade aparente e da devido ao movimento da água, que passa das células para
retenção de água do solo, redução da infiltração de água a solução mais concentrada.
pelo excesso de íons sódicos (Rhoades et al., 2000) e A Figura 1 mostra a curva de retenção de água de um
diminuição da fertilidade físico-química. solo franco-argiloso para vários níveis de salinidade.
A implicação prática da salinidade sobre o solo é a perda Observa-se que a disponibilidade de água para a cultura
da fertilidade e a susceptibilidade à erosão, além da é reduzida a medida em que a salinidade aumenta.
contaminação do lençol freático e das reservas hídricas O potencial osmótico de um solo pode ser estimado
subterrâneas. Nas plantas, estes efeitos implicam na perda conhecendo-se a CE, a partir da equação:
de produtividade e de qualidade, ou perda total da produção.
O conhecimento dos efeitos dos sais na planta e no  o  0,36  CE (1)
solo, bem como os fenômenos envolvidos são
fundamentais quando se pretende adotar práticas de em que:
manejos adequados da água e de cultivo visando à Ψ o - potencial osmótico, atm
produção comercialmente com água salina. Deste modo, CE - condutividade elétrica, dS m-1
este capítulo trata das interações dos sais com a planta
e o solo em cultivos agrícolas e a tolerâncias das culturas Assim, o potencial total com que a água é retida em
à salinidade. um solo salino, pode ser expresso por:
Efeitos dos sais no solo e na planta 131

em que:
 S - umidade do solo nas condições de saturação,

% DE REDUÇÃO NA
ABSORÇÃO DE
cm cm-3 ou %
3
TENSÃO D’ ÁGUA

CC e PM - umidade do solo à capacidade de


campo e ponto de murcha permanente, respectivamente,
1 4 8 12 16
cm3 cm-3 ou %.
SALINIDADE DO SOLO (dS m-1)
CAPACIDADADE DE CAMPO
0,33 Supõe-se:
Procedimentos:
1. Não há aumento nem diminuição de sais na
água do solo a) Solo à capacidade de campo
2. Os efeitos de esgotamento e da salinidade na
disponibilidade de água se somam (Potencial
osmótico = - 0,36 CE)
- A condutividade elétrica, em dS m-1, à capacidade
3. A água disponível é a diferença entre a
capacidade de campo e o ponto de de campo (CECC) é obtida considerando-se que a solução
murchamento
4. A água é extraída do solo por efeito de salina se concentra no solo duas vezes, mediante a Eq.
evapotranspiração da cultura (ETc)
4:
Figura 1. Curvas de retenção de água de um solo franco-
argiloso para vários níveis de salinidade (Ayres &
Westcot, 1999) CE cc  2  CE es (4)

T  m  o (2)
CE cc  2 10  20 dS m 1

em que:
ΨT - potencial total com que a água é retida no solo, atm - O potencial osmótico deste solo à capacidade de
Ψm - potencial matricial do solo, atm campo é obtido segundo a Eq. 1:
Ψ o - potencial osmótico da solução do solo, atm.
 o  36  20  720 kPa
Devido à baixa concentração de sais solúveis, o
potencial osmótico em solos não salinos é considerado - O potencial total com que a água é retida no solo a
desprezível (Ψ o = 0); logo, a água deste solo está capacidade de campo, é obtido substituindo-se os valores
disponível a uma faixa de potencial de -33 e -1500 kPa, do “Ψm” e “Ψ0” na Eq. 2:
em condições de capacidade de campo e ponto de
murcha permanente, respectivamente, porém a presença  T  33  720  753 kPa
de sais faz com que essa faixa de disponibilidade seja
diminuída, em razão do aumento da tensão total pois, - A contribuição relativa do Ψ0 na diminuição do
neste caso, considera-se o potencial osmótico (Ψ0 < 0). potencial total à capacidade de campo é obtida mediante
Exemplo: a relação percentual entre o potencial osmótico e o
potencial total

O procedimento a seguir determina a   720 


% o     100  95% do potencial total
salinidade e a contribuição relativa do potencial   753 
osmótico para o aumento do potencial total de um
solo salino de textura média, em condições de
umidade à capacidade de campo e ponto de b) Solo no ponto de murcha
murcha permanente. - A condutividade elétrica, em dS m-1, no ponto de
murcha (CEPM) é obtida, considerando-se que a solução
salina se concentra no solo quatro vezes, conforme a Eq.
Dados: 3:
- Salinidade do solo: CEes= 10 dS m-1
CE PM  4 10  40 dS m -1
- Considerando-se que um solo de textura média tem,
normalmente, umidade à capacidade de campo e ponto
de murcha, respectivamente, igual à metade e a um - O potencial osmótico deste solo no ponto de murcha
quarto da condição de saturação, ou seja: é obtido de acordo com a Eq. 1:

 S  2 CC  4 PM (3)  o  36  40  1440 kPa


132 Nildo da S. Dias & Flávio F. Blanco

- O potencial total com que a água é retida no solo em proteínas das células. Esta compartimentação do sal é
ponto de murcha é obtido, substituindo-se os valores do que permite, às plantas tolerantes, viverem em ambientes
“Ψm” e “PO” na Eq. 8.2: salinos, porém as plantas sensíveis à salinidade tendem
a excluir os sais na solução do solo, mas não são
 T  1500  1440  2940 kPa capazes de realizar o ajuste osmótico descrito e sofrem
com decréscimo de turgor, levando as plantas ao estresse
- A contribuição relativa do Ψ0 na diminuição do hídrico, por osmose.
potencial total no ponto de murcha é obtida mediante a
relação percentual entre o potencial osmótico e o Efeitos tóxicos
potencial total Esses efeitos acontecem quando as plantas absorvem
os sais do solo, juntamente com a água, permitindo que
haja toxidez na planta por excesso de sais absorvidos.
  1440 
% o     100  48,97% do potencial total Este excesso promove, então, desbalanceamento e
  2940 
danos ao citoplasma, resultando em danos principalmente
na bordadura e no ápice das folhas, a partir de onde a
Os cálculos anteriores mostram que a tensão total com planta perde, por transpiração, quase que tão somente
que a água é retida no solo à capacidade de campo e ponto água havendo, nessas regiões, acúmulo do sal
de murcha é, respectivamente, 753 e 2940 kPa. É obvio translocado do solo para a planta e, obviamente, intensa
que a contribuição relativa do Ψ0 é maior quando o solo toxidez de sais.
se encontra à capacidade de campo e a mesma é Os danos podem reduzir significativamente os
aumentada a cada elevação da CEes. A medida em que o rendimentos e sua magnitude depende do tempo, da
conteúdo de água no solo diminui, a disponibilidade de água concentração de íons, da tolerância das plantas e do uso
para as plantas varia continuamente em cada camada da da água pelas culturas. Os problemas de toxicidade
zona radicular, já que tanto o conteúdo de água como Ψ0 frequentemente acompanham ou complicam os de
variam continuamente, entre dois eventos de irrigação, salinidade ou permeabilidade, podendo surgir mesmo
devido ao consumo de água pela planta. Para a mesma quando a salinidade for baixa. Os sintomas de toxicidade
profundidade, pouco depois da irrigação o teor de água podem aparecer em qualquer cultura se as concentrações
no solo se aproxima de seu máximo, enquanto a de sais no interior são suficientemente altas ou acima de
concentração dos solutos é mínima; consequentemente, níveis de tolerância da cultura.
ambos os teores variam à medida que a água é consumida Normalmente, a toxicidade é provocada pelos íons
pela planta, sendo que o teor de umidade diminui enquanto cloreto, sódio e boro; entretanto, muitos outros
os sais aumentam. oligoelementos são tóxicos às plantas, mesmo em
A salinidade do solo reduz a disponibilidade da água pequenas concentrações.
no solo; no entanto, nem todas as culturas são igualmente A absorção foliar acelera a velocidade de acumulação
afetadas pelo mesmo nível de salinidade, pois algumas são de sais dos íons tóxicos na planta sendo, muitas vezes, a
mais tolerantes que outras e podem extrair água com mais fonte principal da toxicidade. Os íons, sódio e cloreto
facilidade. Com base na resposta aos sais, as plantas são podem, também, ser absorvidos via foliar, quando se
classificadas em glicófitas e halófitas. As glicófitas molham durante a irrigação por aspersão e, sobretudo,
representam o grupo das plantas cultivadas e, na sua durante períodos de altas temperaturas e baixa umidade.
maioria, são as menos tolerantes à ação dos sais, enquanto A Tabela 1 mostra algumas culturas afetadas por íons
as halófitas compõem o grupo de plantas que adquirem específicos.
condições fisiológicas; portanto, ajustam-se osmoticamente
e sobrevivem em meio altamente salino. Cloreto: O cloreto não é retido nem adsorvido pelas
Plantas mais tolerantes ao meio salino aumentam a partículas do solo, deslocando-se facilmente com a água
concentração salina no seu interior, de modo que do solo, mas é absorvido pelas raízes e translocado às
permaneça um gradiente osmótico favorável para folhas, onde se acumula pela transpiração.
absorção de água pelas raízes. Este processo é chamado O primeiro sintoma deste íon, evidenciado pelas
ajuste osmótico e se dá com o acúmulo dos íons plantas, é a queimadura do ápice das folhas que, em
absorvidos nos vacúolos das células foliares, mantendo a estágios avançados, atinge as bordas e promove sua queda
concentração salina no citoplasma em baixos níveis, de prematura; nas culturas sensíveis, os sintomas aparecem
modo que não haja interferência com os mecanismos quando se alcançam concentrações de 0,3 a 1,0 % de
enzimáticos e metabólicos nem com a hidratação de cloreto, em base de peso seco das folhas.
Efeitos dos sais no solo e na planta 133

Tabela 1. Algumas culturas afetadas por íons específicos Tabela 2. Tolerância relativa das plantas (variedades e porta
(Pizarro, 1978) enxerto) ao cloreto, medidas no extrato de saturação e na
água de irrigação (Ayers & Westcot, 1991)

A sensibilidade das culturas a este íon é bastante


variável como, por exemplo, as frutíferas, que começam
a mostrar sintomas de danos a concentrações acima de 0,3
% de cloreto, em base de peso seco, as espécies tolerantes
podem acumular até 4,0 a 5,0 % de cloreto sem manifestar
qualquer sintoma de toxicidade. A Tabela 2 apresenta, para
certas culturas, os valores de tolerância ao cloreto,
medidos no extrato de saturação e na água de irrigação.
É recomendável manter baixos os níveis de salinidade
no solo durante o plantio e lembrar que os dados
publicados na literatura foram obtidos de parcelas com
culturas irrigadas por superfície. Por esta razão, é * Valores máximos aplicáveis apenas para culturas irrigadas por superfície. Para culturas irrigadas
por aspersão pode causar queimadura das folhas a nível inferiores a esses
necessário considerar-se que a irrigação por aspersão
pode causar queimaduras das folhas a nível inferior a Tabela 3. Tolerância relativa das culturas* ao porcentagem
esses, pois as folhas também absorvem os sais. do sódio trocável (PST) (Ayers & Westcot, 1991)
Sensíveis Semi-tolerantes Tolerantes
Sódio: A toxicidade ao sódio é mais difícil de diagnosticar (PST < 15) (PST de 15 a 40) (PST > 40)
que ao cloreto, porém tem sido identificada claramente Caupi Trigo Capim de Rhodes
como resultado de alta proporção de sódio na água (alto Grão de bico Tomate Capim Angola
teor de sódio ou RAS). Amendoim Espinafre Algodão
Ao contrário dos sintomas de toxicidade do cloreto, Lentilha Sorgo Capim Bermuda
que têm início no ápice das folhas, os sintomas típicos do Beterraba
Tangerina Centeio
sódio aparecem em forma de queimaduras ou necrose, Açucareira
Pêssego Arroz Beterraba
ao longo das bordas. As concentrações de sódio nas Laranja Rabanete Cevada
folhas alcançam níveis tóxicos após vários dias ou Pomelo (grapefruit) Cebola Alfafa
semanas e os sintomas aparecem, de início, nas folhas Ervilha Aveia
mais velhas e em suas bordas e, a medida em que o Milho Mostarda
problema se intensifica, a necrose se espalha Algodão
Trevo
progressivamente na área internervural, até o centro das (germinação)
folhas. Para as culturas arbóreas, o nível tóxico nas Feijão Cana-de-açúcar
Noz Milheto
folhas se encontra em concentrações acima de 0,25 a
Frutas caducifólias Alface
0,50 % de sódio, em base de peso seco. A Tabela 3 Abacate Fetusca
classifica a tolerância de várias culturas ao sódio, Cenoura
utilizando-se três níveis de percentagem de sódio trocável. *
Listada em ordem crescente de tolerância
134 Nildo da S. Dias & Flávio F. Blanco

Boro: O boro é um elemento essencial ao os sintomas se manifestam mediante exudação gomosa


desenvolvimento das plantas, porém em quantidades nos ramos e no tronco como, por exemplo, na amendoeira.
relativamente pequenas. Para algumas culturas, se o Na maioria das culturas, os sintomas aparecem
nível de boro na água é de 0,2 mg L -1 , as quando a concentração de boro nas folhas excede 250 a
concentrações entre 1 e 2 mg L -1 são tóxicas. As 300 mg kg-1 de matéria seca.
águas superficiais raramente contêm níveis tóxicos de
boro, mas as águas de nascentes e as águas de poços Efeitos indiretos
podem conter concentrações tóxicas, principalmente Esses efeitos acontecem quando as altas
nas proximidades de falhas sísmicas e áreas concentrações de sódio ou outros cátions na solução
geotérmicas. De modo geral, os critérios de qualidade interferem nas condições físicas do solo ou na
de água em relação ao boro podem ser interpretados disponibilidade de alguns elementos, afetando o
a partir das Tabelas 4 e 5. crescimento e o desenvolvimento das plantas,
indiretamente.
Tabela 4. Níveis de tolerância das culturas ao boro na água Quando no extrato de saturação há teores apreciáveis
de irrigação (Ayers & Westcot, 1999) de carbonato de sódio, o pH do solo poderá alcançar
Concentração
Interpretação valores elevados e haver a diminuição na disponibilidade
(mg L-1)
de zinco, cobre, manganês, ferro e boro, podendo ocorrer
< 0,5 Bom para todas as plantas deficiência nas plantas cultivadas nessas condições,
Danos ocorrem nas folhas de plantas
0,5 a 1,0 principalmente se em pequenas quantidades. Portanto, o
sensíveis sem alterar a produção
Tolerado por semi-tolerantes, mas
crescimento da planta é influenciado não diretamente
1,0 a 2,0 pelo excesso de carbonato de sódio, mas pelo seu efeito
reduz a produção de plantas sensíveis
Somente plantas tolerantes produzem sobre o pH do solo.
2,0 a 4,0
satisfatoriamente A presença de um íon em excesso poderá provocar
> 4,0 Danos em quase todas as plantas deficiência ou inibir a absorção de outro, devido à
precipitação. Por exemplo, o excesso de sulfato,
Tabela 5. Tolerância relativa das plantas* ao boro na água carbonato e bicarbonato, poderá precipitar o cálcio e
de irrigação (Ayers & Westcot, 1999) afetar o crescimento da planta pela falta do elemento
Sensíveis Semi-tolerantes Tolerantes precipitado e não pelo excesso de outro íon. Um outro
(0,5 a 1,0 mg L-1) (1,0 a 2,0 mg L-1) (2,0 a 4,0 mg L-1)
efeito indireto é o excesso de sódio trocável no solo,
Limão Batata Doce Cenoura que provoca condições físicas desfavoráveis para
Pomelo (grapefruit) Pimentão Alface
o crescimento das plantas, sobretudo para o
Abacate Tomate Repolho
Laranja Morango Nabo desenvolvimento do sistema radicular. A presença de
Amora Aveia Cebola sais de sódio também tende a restringir a taxa de
Damasco Milho Alfafa mineralização do nitrogênio (N) já que, com o aumento
Pêssego Trigo Beterraba de sua concentração no solo, em geral a mineralização
Cereja Cevada Tâmara do N orgânico é reduzida, afetando o crescimento da
Caqui Azeitona Aspargo planta, pela redução do N disponível e não pelo excesso
Figo Ervilha
de sódio.
Uva Algodão
Maçã Batata
Pera Girassol EFEITO DOS SAIS SOBRE O SOLO
Ameixa
Alcachofra Efeitos sobre a estrutura
Noz O efeito dos sais sobre a estrutura do solo ocorre,
Noz Pecan basicamente, pela interação eletroquímica existente entre
*
Listadas em ordem crescente de tolerância
os cátions e a argila.
Os problemas de toxicidade ocorrem, com maior A característica principal deste efeito é a expansão da
frequência, por causa do boro na água que no solo. Os argila quando úmida e a contração quando seca, devido
sintomas causados na folha pelo boro se resumem em ao excesso de sódio trocável. Se a expansão for
manchas amarelas ou secas, principalmente nas bordas exagerada, poderá ocorrer a fragmentação das
e no ápice das folhas velhas. Na medida em que o boro partículas, causando a dispersão da argila e modificando
se acumula, os sintomas se estendem pelas áreas a estrutura do solo. De modo generalizado, os solos
internervurais até o centro das folhas. Em alguns casos, sódicos, ou seja, com excesso de sódio trocável,
Efeitos dos sais no solo e na planta 135

apresentam problemas de permeabilidade e qualquer Tabela 6. Raio iônico hidratado e não hidratado em Aº
excesso de água causará encharcamento na superfície (angstrons)
do solo, impedindo a germinação das sementes e o Raio não Raio
Íon
crescimento das plantas, por falta de aeração. hidratado hidratado
A dispersão do solo pode ser explicada com base na Lítio 0,60 10,03
interação dos cátions com a argila. Como já mencionado, Sódio 0,98 7,90
Potássio 1,33 5,32
a micela do solo ou partícula de argila tem cargas
Magnésio 1,43 5,37
predominantemente negativas que são neutralizadas por
atraírem cátions presentes no sistema coloidal. Por outro
assim, a força de hidratação é superada com mais
lado, os ânions, por terem cargas negativas, são repelidos,
facilidade pelos bivalentes, fazendo com que o cálcio e o
afastando-se da partícula de argila. Deste modo, é
magnésio sejam mais atraídos à argila que, por exemplo,
formada ao redor da argila uma dupla camada iônica.
o sódio; então, a dupla camada de íons existente ao redor
O modelo mais aceitável desta dupla camada é o de
da argila tem espessura menor quando predominam
Stern, que consiste de uma camada de íons adsorvidos na
cátions bivalentes ou mesmo trivalentes, como o Al3+.
superfície da argila e de uma camada difusa de cátions,
Por outro lado, o aumento da concentração da solução
de concentração decrescente, à medida que se afasta da
do solo faz com que os cátions sejam atraídos fortemente
partícula de argila. A certa distância da argila a
pela superfície da argila (Tabela 7); assim, com o aumento
concentração de cátions diminui e a de ânions aumenta
da relação Ca/Na na solução do solo, a espessura da dupla
na solução a medida que se afasta da partícula, tornado-
camada diminui porém, quando a dupla camada de íons
se balanceadas (Figura 2).
junto à argila contiver muito sódio e poucos íons em
solução (solo irrigado com água de baixa concentração
Contraíons
de sais) terá espessura relativamente maior. Então, a alta
concentração de sais solúveis no solo (salinidade) não
altera a estrutura do solo com argilas expansivas mas, sim,
a baixa concentração de sais (CE < 0,2 dS m-1) e/ou a
alta concentração de sódio.

Tabela 7. Efeito da concentração de cátions no tamanho da


Líquido polar dupla camada difusa
Tamanho da dupla
Concentração camada iônica (Å)
Partícula Camada difusa (Normal)
NaCl CaCl2 AlCl3
Camada adsorvida (Stern) 10-5 954 477 318
Figura 2. Modelo de Stern (distribuição dos íons em solução 10-4 302 151 101
em função da distância da superfície da argila) 10-3 95 48 32
10-2 30 15 10
Quanto maior a carga, maior também será a força de 10-1 10 5 3
10 0 3 1,5 1
atração, razão pela qual os cátions bivalentes (como Ca2+
e Mg2+) são atraídos pela superfície da argila com maior
A espessura da dupla camada exerce efeito
força eletrostática que os monovalentes (como Na+ e K+).
pronunciado no comportamento físico do solo e quando
A força de atração entre as cargas opostas (positiva este se encontra mais ou menos em capacidade de
e negativa) é inversamente proporcional ao quadrado da campo, a espessura da dupla camada desenvolve seu
distância entre as cargas, ou seja, quanto maior o raio potencial máximo e, a medida em que o solo vai perdendo
iônico, menor é a espessura da dupla camada, porém a água, pode alcançar níveis em que a dupla camada não
hidratação dos cátions é um fator importante a se poderá permanecer em sua espessura normal,
considerar quando se refere ao raio iônico. Assim, particularmente as camadas grossas encontradas em
embora o lítio seja o cátion de menor raio iônico, ao se solos sódicos, transformando-se em uma dupla camada
hidratar ele tem maior raio e, portanto produzirá menor truncada. Ao umedecer o solo, a dupla camada se
espessura da dupla camada (Tabela 6). expande, causando o fechamento dos poros
A força eletrostática dos bivalentes é superior ao efeito interagregados e reduzindo a condutividade hidráulica do
da hidratação, diminuindo a espessura entre cargas solo; além disso, a pressão que originou a expansão
negativas da argila e as cargas positivas dos cátions; empurra as partículas individuais de argila uma contra a
136 Nildo da S. Dias & Flávio F. Blanco

outra, dispersando o solo e seus agregados, fazendo-os Retenção de água no solo: Os solos, cuja estrutura foi
desaparecer em partes. As partículas finas que ficam modificada pela sodicidade e/ou ausência de íons em
soltas, obstruem os poros do solo, reduzindo ainda mais solução, tendem a armazenar mais água quando
a permeabilidade à água e ao ar. expostos aos mesmos níveis de potencial matricial (Russo
& Bresler, 1980). As alterações na curva característica
Efeito sobre o pH de água do solo são maiores para níveis de umidade
Em geral, para reduzidas concentrações de sais o pH próximos da saturação, podendo ocorrer mesmo sob
das águas pode ser elevado, pois a medida em que baixos níveis de potencial como 1,5 MPa. Lima et al.
aumenta a salinidade da água, o pH diminui. Para (1990) estudaram os efeitos da sodicidade e da
salinidade maior que 5 dS m-1 as águas têm pH neutro. concentração de sais sobre as curvas características de
Fenômeno semelhante ocorre com a solução do solo. Por um solo argiloso e também observaram aumento da
exemplo, a Figura 3 mostra como o pH de um solo umidade retida quando o solo era exposto a maior
aluvial, textura argilosa e pobre em matéria orgânica, concentração de sódio na fase trocável e/ou menor
concentração de sais em solução. Após ajustarem os
diminui quando se aumenta a condutividade elétrica,
dados obtidos à equação de van Genuchten (1980),
cujos valores não podem ser generalizados para outros
conforme a Eq. 5, observaram que a sodicidade reduz o
tipos de solo, pois esta diminuição varia com as
valor do parâmetro  (alfa), enquanto aumenta os valores
características do solo.
de n e m.

s   r
  r  (5)
PST > 10
PST < 10 1  (h) 
n m
pH do solo

em que:
 - umidade volumétrica,
h - é o potencial matricial e os subscritos r e s
correspondem, respectivamente, aos níveis de umidade
residual e de saturação.

TOLERÂNCIA DAS PLANTAS


À SALINIDADE

A redução do crescimento da planta devido o estresse


-1 salino pode estar relacionado com os efeitos adversos do
CEes (mS cm a 25 ºC)
Figura 3. Relação entre o pH de um solo aluvial e a excesso de sais sob homeostase iônica, balanço hídrico,
condutividade elétrica (Pizarro, 1977) nutrição mineral e metabolismo de carbono fotossintético
(Zhu, 2001; Munns, 2002). Os mecanismos pelo qual o
Alteração dos parâmetros físico-hídricos do solo estresse salino deprecia as plantas ainda é uma questão
Densidade aparente: A contração das partículas de discutida devido à natureza muito complexa do estresse
argila com a redução da umidade do solo pode ser salino na planta.
caracterizada pela curva de encolhimento que relaciona Devido ao rápido acúmulo de sais no solo das áreas
o volume ocupado pelo solo com a umidade. Lima & irrigadas, os problemas de salinização é um fator crítico
Grismer (1994) observaram que solos sódicos encolhem- para produção vegetal. Entre as espécies sensíveis ao
se mais acentuadamente com a redução da umidade do estresse salino, o efeito da salinidade manifesta-se por
que solos normais, apresentando densidade aparente severas reduções do crescimento e distúrbio na
maior, provavelmente como consequência da permeabilidade da membrana, atividade de troca hídrica,
desestruturação do solo que elimina os poros. As condutância estomática, fotossíntese e equilíbrio iônico
diferenças notadas no encolhimento dos solos permitiram (Shannon & Grieve, 1999; Navarro et al., 2003;
observar, através de análise computadorizada de Cabanero et al., 2004).
imagens, que solos normais apresentam, quando secos, Existem na literatura muitas tabelas de tolerância das
cerca de 8% de sua superfície aberta na forma de fendas, plantas à salinidade, expressando o efeito generalizado de
enquanto nos solos sódicos esta área varia de 15 a 20% sais sobre as plantas. Entre estas, pode-se destacar os
(Lima & Grismer, 1994). dados publicados por Berstein (1974), Maas e Hoffman
Efeitos dos sais no solo e na planta 137

(1977), Ayers (1977), Bresler et al. (1982), Maas (1984), deve ser dada ao estado nutricional das plantas.
e Ayers e Westcot (1999). Alguns valores extraídos Incrementos na concentração de NaCl na solução do
dessas publicações são listados na Tabela 8. solo prejudicam a absorção radicular de nutrientes,
Existem diferentes mecanismos de tolerância das principalmente de K e Ca, e interferem nas suas funções
plantas à salinidade. Tester e Davenport (2003) sugerem fisiológicas (Zhu, 2001; Yoshida, 2002). Então, a
a existência de dois grupos de mecanismos de tolerância: habilidade dos genótipos de plantas em manter altos
(1) tolerância individual das células, envolvendo, por teores de K e Ca e baixos níveis de Na dentro do tecido
exemplo, a compartimentação intracelular e a sinalização é um dos mecanismos chaves que contribui para
bioquímica, e (2) tolerância a um nível superior em expressar a maior tolerância à salinidade. Na maioria dos
relação ao grupo anterior, envolvendo, por exemplo, o casos, genótipos tolerantes à salinidade são capazes de
controle da absorção e transporte interno de sais e o manter altas relações K/Na nos tecidos (Mansour, 2003;
acúmulo de Na nos interior da planta. Zeng et al., 2003). Pelo aumento da absorção de K e
consequente redução da absorção de Na, o K contribui
Estado nutricional das plantas para manter a relação K/Na alta na planta conforme
Dentre os fatores estudados para caracterizar a constatado em plantas de pimentão (Rubio et al., 2003).
tolerância das plantas à salinidade, uma grande atenção A habilidade dos genótipos de excluir Na da raiz é uma

Tabela 8. Valores limites de condutividade elétrica do extrato saturado do solo para evitar efeitos generalizados no
desenvolvimento das plantas
CEes CEes
Nome Nome cientifico Nome Nome cientifico
(dS m-1) (dS m-1)
Abacate Persea americana 1,3 Damasqueiro Prunus armeniaca 1,6
Abobrinha Cucumis sativus 2,5 Elimo Elymus triticoides 2,7
Abobrinha Cucurbita pepo melopepo 3,2 Ervilha Pisum sativum L. 2,5
Abobrinha italiana Cucurbita pepo melopepo 4,7 Espinafre Spinacia oleracea 2,0
Aipo, salsão Apium graveolens 1,8 Feijão fava Vicia faba 1,6
Alface Lactuca sativa 1,3 Feijoeiro Phaseolus vulgaris 1,0
Alfafa Medicago sativa 2,0 Festuca Festuca elatior 3,9
Algodoeiro Gossypium hirsutum 7,7 Figo Ficus carica 2,5
Ameixa Prunus domestica 1,5 Framboesa Rubus idaeus 1,0
Amêndoa Prunus dulcis 1,5 Laranja Citrus sinensis 1,7
Amendoim Arachis hypogaea 3,2 Limão Citrus limon 1,7
Amoreira Rubus ursinus 1,5 Linho Linum usitatissimum 1,7
Amoreira preta Rubus spp, 1,5 Maçã Malus sylvestris 1,7
Arroz Oryza sativa 3,0 Melão cantaloupe Cucumis melo 2,2
Azeitona Olea europaea 2,7 Milho doce Zea mays 1,7
Azevém Lolium perenne 5,6 Milho forrageiro Zea mays 1,8
Batata Solanum tuberosum 1,7 Milho grão Zea mays 1,7
Batata doce Ipomoea batatas 1,5 Morango Fragaria spp, 1,0
Beterraba Beta vulgaris 4,0 Nabo Brassica rapa 0,9
Beterraba açucareira Beta vulgaris 7,0 Noz Junglans regia 1,7
Brócolis Brassica oleraceae botrytis 2,8 Pêra Pyrus communis 1,5
Cana de açucar Saccharum officinarum 1,7 Pêssego Prunus pérsica 1,7
Capim bermuda Cynodon dactylon 6,9 Pimentão Capsicum annuum 1,5
Capim doce Phalaris tuberose 4,6 Pomelo (grapefruit) Citrus paradisi 1,8
Capim dos pomares Dactylis gromerata 1,5 Rabanete Raphanus sativus 1,2
Capim mimoso Eragrostis spp, 2,0 Repolho Brassica oleracea capitata 1,8
Capim sudão Sorghum sudanense 2,8 Romã Punica granatum 2,5
Cártamo Carthamus tinctorius 5,3 Sesbânia Sesbania exaltata 2,3
Caupi Vigna unguiculata 1,3 Soja Glycine Max 5,0
Cebola Allium cepa 1,2 Sorgo Sorghum bicolor 4,0
Cenoura Daucus carota 1,0 Tamareira Phoenix dactylifera 4,0
Cevada (forragem) Hordeum vulgare 6,0 Tomateiro Lycopersicon lycopersicum 2,5
Cevada (grão) Hordeum vulgare 8,0 Trigo Triticum aestivum 6,0
Cornichão Lotus uliginosus 2,3 Vagem Phaseolus vulgaris L. 1,5
Couve-flor Brassica oleracea 2,5 Videira Vitis spp. 1,5
138 Nildo da S. Dias & Flávio F. Blanco

importante característica da planta, contribuindo para tolerantes aos sais em relação àquelas que crescem em
aumentar a relação K/Na e expressar a alta tolerância solos deficientes, pois a fertilidade é o principal fator
aos sais (Yoshida, 2002; Zhu, 2002). limitante do crescimento; então, a adição de fertilizante
Como a aplicação de fertilizantes aumenta a extra não alivia a inibição do desenvolvimento causada
concentração de nutrientes no solo, alguns autores têm pela salinidade (Rhoades et al., 2000). De fato, algumas
afirmado que a aplicação de fertilizantes em quantidade pesquisas têm demonstrado que a aplicação de
maior do que a quantidade recomendada traria benefícios fertilizantes não resultam em aumento da tolerância à
em condições de salinidade moderada, pois haveria maior salinidade de algumas culturas. Blanco et al. (2008a,
absorção de nutrientes, aumentando as relações K/Na, 2008b) utilizaram água de irrigação de alta salinidade na
Ca/Na e NO3/Cl (Cuatero & Muñoz, 1999). irrigação do tomateiro em ambiente protegido e
O aumento da absorção de K, e consequente redução verificaram, nas folhas, aumento da relação N/Cl com as
da absorção de Na, contribuiu para manter a relação K/ doses de N, e da concentração de K e prolina
Na mais alta em plantas de pimentão (Rubio et al., 2003) (aminoácido relacionado à tolerância das plantas à
e espinafre (Chow et al., 1990). salinidade) com as doses de K. Entretanto, os efeitos da
Com relação à relação NO 3 /Cl, o aumento na salinidade não foram aliviados e a produtividade não foi
concentração de NaCl na solução nutritiva promoveu alterada, demonstrando que o aumento na dose de
redução nos teores foliares de NO 3 em plantas de fertilizantes aplicados não conferiu maior tolerância do
tomate, e não teve efeito sobre os teores de K, apesar tomateiro à salinidade. Resultados apresentados por
do aumento dos teores de Na nas folhas (Phills et al., Tabatabaei e Fakhrzad (2008) demonstram aumento na
1979). Pessarakli e Tucker (1988) verificaram que sob relação K/Na em folhas de azevem somente quando
baixas concentrações de NaCl na solução nutritiva a compararam plantas que receberam nitrato de potássio
absorção de N não foi afetada, porém esta foi reduzida com plantas que não receberam (condição de deficiência
em 70% sob altos níveis de salinidade. A inibição da em K); já na presença de doses crescentes desse
absorção de nitrato pode ocorrer devido à interação NO3/ fertilizante, não houve aumento de K/Na nas folhas do
Cl nos sítios de absorção ou à despolarização da azevem, corroborando com a afirmação de Rhoades et
membrana pelo Na (Suhayda et al., 1990), o que tem sido al. (2000).
associado à inibição não-competitiva de absorção de NO3 Com base nessa discussão, nota-se que ainda há
(Hawkins e Lewis, 1993). controvérsias sobre a eficiência da aplicação de
Além do N e do K, outros íons também podem nutrientes em excesso visando aumentar a tolerância das
conferir certo grau de tolerância das culturas à culturas à salinidade. De qualquer forma, é fato que
salinidade. A aplicação de Si em plantas de moringa plantas bem nutridas toleram mais à salinidade do que
cultivadas em solução nutritiva elevou os teores foliares plantas submetidas à deficiência de algum nutriente e,
de K e Ca e reduziu os de Na e Cl; entretanto, não se portanto, é importante que haja um programa eficiente de
observou redução nos efeitos depressivos do NaCl sobre manejo do solo e da adubação para que a convivência
a produção de matéria seca das folhas, caule e raízes com a salinidade seja possível.
(Miranda et al., 2002). Por outro lado, Matoh et al. (1986) De acordo com Munns e James (2003), o mecanismo
demonstraram que o Si promove aumento do teor de K de exclusão de Na correlaciona-se muito bem com a
e da relação K/Na nas folhas em arroz e da produção de tolerância em genótipos de trigo tetraplóide. Em plantas
matéria seca em cevada. de Arabidopsis thaliana (Elphick et al., 2001) e yeast
Apesar dessas evidências, existem controvérsias (Almagro et al., 2001), foram observados elevadas
sobre o aumento da tolerância das culturas à salinidade sensibilidade à NaCl sendo associada com a habilidade
pelo aumento da adubação. Em extensa revisão deficiente dos genótipos no sistema de efluxo de Na. O
bibliográfica sobre os efeitos de doses de nutrientes na ‘screening’ em genótipos de plantas para alta tolerância
tolerância de culturas à salinidade, Grattan e Grieve ao estresse salino as relações K/Na e Na/Ca e a
(1999) verificaram que muitos estudos têm sido concentração de Na nos tecidos, entretanto, são
conduzidos com o solo ou o substrato deficiente em N, parâmetros usados constantemente para diferentes
P e/ou K. Com isso, os efeitos benéficos de altas doses espécies cultivadas (Munns e James, 2003).
de nutrientes não implicam em aumento da tolerância das
culturas à salinidade, uma vez que as culturas respondem Ajuste osmótico
positivamente aos níveis crescentes de fertilizantes As plantas tolerantes à salinidade são designadas
mesmo nos tratamentos não-salinos. Plantas que se como plantas halófitas e podem necessitar cerca de 15
desenvolvem em solos férteis podem parecer mais g L -1 de cloreto de sódio, equivalente à metade da
Efeitos dos sais no solo e na planta 139

concentração da água do mar, para completar seu ciclo nestas regiões acúmulo do sal translocado do solo para
fenológico. Essas plantas absorvem, por exemplo, o a planta, e obviamente intensa toxidez de sais.
cloreto de sódio em altas taxas e o acumula em suas
folhas para estabelecerem um equilíbrio osmótico com o Sinalização bioquímica e melhoramento genético
baixo potencial da água presente no solo. Este ajuste Já se pode conseguir cultivares de espécies de plantas
osmótico se dá com o acúmulo dos íons absorvidos nos originalmente sensíveis à salinidade mais tolerantes aos
vacúolos das células das folhas, mantendo a sais.
concentração salina no citoplasma e nas organelas em A resposta das plantas aos estresses abióticos, nos
baixos níveis de modo que não haja interferência com os quais inclui-se o estresse salino, envolve uma série de
mecanismos enzimáticos e metabólicos e com a reações bioquímicas, que são reguladas por genes
hidratação de proteínas das células. Esta específicos. Para entender completamente a resposta
compartimentação do sal é que permite, segundo Lauchi biológica das plantas à salinidade, é preciso entender os
e Epstein (1984), às plantas halófitas viverem em mecanismos pelos quais as plantas “percebem” os sinais
ambiente salino. de estresse do meio e como elas respondem a esses
Para esse ajuste osmótico, na membrana que separa sinais, através da transmissão de sinais às células, os
o citoplasma e o vacúolo não há fluxo de um quais ativarão os mecanismos de resposta adaptativa da
compartimento para outro, mesmo que haja elevado planta.
gradiente de concentração. O ajuste osmótico é obtido De acordo com Xiong et al. (2002), de um modo
por substâncias compatíveis com as enzimas e os geral, a transcrição de um sinal começa com a
metabólitos ali presentes. Esses solutos são, na maioria, percepção, seguido da geração de mensageiros
orgânicos como compostos nitrogenados e, em algumas secundários (fosfatos, inositol, dentre outras). Esses
plantas, açúcares, como o sorbitol (Lauchi e Epstein, mensageiros secundários podem alterar as concentrações
1984). intracelulares de Ca, iniciando várias fosforilações de
As plantas sensíveis à salinidade tendem, em geral, a proteínas que, no final, resultam na síntese de proteínas
excluir os sais na absorção da solução do solo, mas não diretamente envolvidas na proteção celular ou em fatores
são capazes de realizar o ajuste osmótico descrito e de transcrição que controlam grupos específicos de
sofrem com decréscimo de turgor, levando as plantas ao genes reguladores de estresse. Os produtos desses genes
estresse hídrico por osmose. Embora o crescimento da podem participar da geração de moléculas reguladoras,
parte aérea das plantas se reduza com o aumento da como o ácido abscísico (ABA), etileno e ácido salicílico.
concentração salina do substrato onde vivem, a redução Um desses genes é o SOS1 (Wu et al., 1996), um gene
da absorção de água não é necessariamente a causa altamente sensível ao Na e o responsável pelo fluxo Na+/
principal do reduzido crescimento das plantas em H+ que ocorre pela membrana celular, regulando, assim,
ambientes salinos. De fato, Kramer (1983) aponta que a concentração de Na no interior das células (Shi et al.,
plantas que crescem em substratos salinos mantêm seu 2000).
turgor e chama atenção para o fato de que suculência é O avanço no conhecimento dos processos bioquímicos
uma característica comum entre as halófitas. Este fato envolvidos na tolerância das plantas à salinidade
sugere que essas plantas não percam água por salinidade possibilitam a inserção de novos genes ao código
como se estivessem em solos secos e também não se genético desses organismos, dando origem às variedades
recuperem, como fazem as plantas estressadas por falta transgênicas tolerantes à salinidade. Pela introdução do
de água, ao receberem água novamente. Assim, parece gene AtNHX1 tem-se obtido aumento considerável na
que o efeito no crescimento, de níveis similares de tolerância à salidade do milho (Yan et al., 2004), tomate
potencial osmótico e mátrico, é diferente. Esta inferência (Zhang e Blumwald, 2001), festuca alta (Tian et al.,
permite questionar o emprego da soma algébrica com a 2006), dentre outras.
mesma ponderação para potencial gravitacional, matricial
e osmótico ao calcular o potencial total da água no solo. Toxidez
Plantas muito sensíveis à salinidade também absorvem Os sais também podem apresentar toxidez específica
água do solo juntamente com os sais permitindo que haja originada de alguns íons como por exemplo cloreto, boro
toxidez na planta por excesso de sal absorvido. Este e sódio. Sousa (1995) observou que o feijoeiro apresenta
excesso promove desbalanceamentos no citoplasma danos maiores quando irrigado com altos níveis de cloreto
resultando em danos principalmente na bordadura e no de sódio comparado ao cloreto de cálcio. Também há
ápice das folhas, a partir de onde a planta perde, por diferenças entre cloreto e sulfato. Por exemplo, sabe-se
transpiração, quase que tão somente água, havendo que algumas plantas crescem menos quando sujeitas a
140 Nildo da S. Dias & Flávio F. Blanco

níveis de sulfato do que aos mesmos níveis de cloreto. Lima, L. A.; Grismer, M. E.; Nielsen, D. R. Salinity Effects on
Alguns autores citados por Kramer (1983) também citam Yolo Loam Hydraulica Properties. Soil Science, v.150. 1990.
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Fisiologia e bioquímica do estresse
10 salino em plantas
José T. Prisco1 & Enéas Gomes Filho1

1 Universidade Federal do Ceará

Introdução
Retrospectiva histórica da fisiologia e bioquímica do estresse salino
Seca fisiológica e ajustamento osmótico
Estresse hídrico em plantas osmoticamente ajustadas
Solutos responsáveis pelo ajustamento osmótico
Hormônios e o estresse salino
Ca2+ como meio para minorar os efeitos da salinidade (NaCl)
Uso de culturas in vitro de células e tecidos
Estresse oxidativo decorrente do estresse salino
Estresse salino e a biologia molecular
Efeitos da salinidade no crescimento e desenvolvimento
Respostas fisiológicas e bioquímicas ao estresse salino
Percepção e transdução do sinal do estresse salino
Transdução do sinal do estresse salino
Outras mudanças no metabolismo
Aclimatação ao estresse
Homeostase osmótica e homeostase iônica
Homeostase bioquímica
Desintoxicação
Considerações finais
Agradecimentos
Referências
Anexo 1. Glossário de termos usados

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
144 José T. Prisco & Enéas G. Filho

Fisiologia e bioquímica do estresse


salino em plantas

INTRODUÇÃO (Türkan & Demiral, 2008). Nos últimos 50 anos, a


fisiologia e a bioquímica do estresse salino progrediram
A maioria dos cientistas acredita que a solução de bastante, mas antes de analisar os resultados mais
grande parte dos problemas da salinidade na produção recentes, pretende-se apresentar e discutir as
agrícola depende da compreensão do que acontece com descobertas mais relevantes que ocorreram ao longo de
a Fisiologia e Bioquímica das Plantas cultivadas sob mais de um século de estudos.
essas condições. Imagina-se que o esclarecimento dos
mecanismos de tolerância e susceptibilidade à salinidade Seca fisiológica e ajustamento osmótico
seja de fundamental importância para o desenvolvimento No final do século XIX, o botânico alemão Schimper
de cultivares que produzam economicamente sob tentou explicar os efeitos do estresse salino como sendo
condições de estresse. Além disso, esses conhecimentos resultantes da “seca fisiológica” (Schimper, 1898). De
poderão contribuir para o desenvolvimento de novas acordo com essa teoria, o excesso de sais acumulado na
técnicas de manejo das culturas, que possibilitem solução do solo seria responsável pela diminuição do
aumentar a tolerância das plantas à salinidade. potencial osmótico () e do potencial hídrico (w) da
Apesar da importância desses estudos, as pesquisas solução do solo e provocaria uma diminuição no
nessa área só começaram a apresentar resultados gradiente de potencial hídrico (w) entre o solo e a
promissores a partir da segunda metade do século planta, dificultando, portanto, a absorção de água pelas
passado. Pretende-se, neste capítulo, fazer uma plantas.
retrospectiva histórica das descobertas mais relevantes Como as plantas que crescem sob condições de
dos efeitos da salinidade no crescimento e estresse salino continuam transpirando, as diminuições na
desenvolvimento das plantas e, com base em resultados taxa de absorção de água seriam responsáveis pelo
experimentais, alguns deles obtidos em nosso laboratório, aparecimento de um déficit hídrico (Transpiração >>
apresentar uma sequência de mudanças fisiológicas e Absorção → Déficit hídrico). Segundo a teoria de
bioquímicas que ocorrem quando uma planta é submetida Schimper, plantas cultivadas nessas condições, na
ao estresse salino. realidade, sofreriam déficit hídrico, ou seja, “seca
fisiológica”. Portanto, as reduções no crescimento
RETROSPECTIVA HISTÓRICA deveriam ser proporcionais aos aumentos na
DA FISIOLOGIA E BIOQUÍMICA concentração de sais da solução do solo (diminuição no
DO ESTRESSE SALINO  e no w), ou seja, a diminuição do w da solução do
solo, resultante do decréscimo do potencial mátrico ()
Existem registros na literatura que responsabilizam a ou do , deveria acarretar reduções equivalentes no
salinidade pelos prejuízos causados à agricultura que crescimento. Em outras palavras, a reação da planta à
remontam a mais de 3.000 anos (Läuchli & Grattan, salinidade seria idêntica a da falta de água no solo e os
2007) e, apesar dos avanços científicos que ocorreram no efeitos do estresse salino nas plantas seriam os mesmos
mundo, esses danos ainda são evidentes na atualidade daqueles decorrentes do déficit hídrico.
Fisiologia e bioquímica do estresse salino em plantas 145

Essa teoria foi aceita durante muitos anos e recebeu fisiológica”, que também passou a ser questionada por
suporte de vários pesquisadores do Laboratório de cientistas de outros países (Flowers et al., 1977;
Salinidade do USDA (Ministério de Agricultura dos Greenway & Munns, 1980).
Estados Unidos). Eles demonstraram que as reduções na
produção de grãos de Phaseolus vulgaris (Wadleigh & Estresse hídrico em plantas osmoticamente ajustadas
Ayers, 1945) e no crescimento de guayule (Wadleigh et Examinando-se a literatura, verifica-se que mesmo
al., 1946) eram proporcionais às reduções no w do solo. plantas consideradas como osmoticamente ajustadas
Isso ocorria quando as reduções no w do solo eram podem apresentar sintomas que se assemelham àqueles
devidas ao aumento na concentração de sais da solução induzidos pelo estresse hídrico (Bernstein & Hayward,
do solo (diminuição no ), à redução no conteúdo de 1958; Oertli, 1966). Cabe então a indagação: será que
água (diminuição no ) ou à combinação dos dois uma planta cultivada em ambiente salino e ajustada
(diminuição de  e de ). osmoticamente pode sofrer déficit hídrico?
No início da década de 1960, Leon Bernstein, do Quando  e w da solução do solo são baixos, como
Laboratório de Salinidade dos Estados Unidos, descobriu no caso dos solos salinizados, a planta tende a absorver
que plantas de Phaseolus vulgaris cultivadas sob íons e há diminuições nos valores de  e de w das
condições de salinidade eram capazes de absorver íons raízes e das folhas. Essas diminuições nos w da planta
e em decorrência disso, diminuir o  de suas células. possibilitam a manutenção do w no sistema solo-planta,
Fenômeno semelhante foi observado na Austrália, quando ou seja, manutenção da capacidade de absorção de água
tomateiro foi cultivado sob condições de estresse salino pela planta. Acontece que o aumento da concentração de
(Slatyer, 1961). A consequência dessas observações seria solutos nas raízes, especialmente os iônicos, pode
a diminuição do  w celular, de modo a garantir a provocar uma redução da permeabilidade do sistema
manutenção do  w do sistema solo-planta. A esse radicular à água, ou seja, redução na condutividade
fenômeno deu-se o nome de “ajustamento osmótico”. hidráulica das raízes (O’Leary, 1969). A consequência
Entretanto, devido à metodologia usada para disso é que, apesar da manutenção do w, a planta
determinação do  (medições crioscópicas do suco passa a absorver menos água e, se isso acontece em um
celular), argumentava-se, à época, que os valores de  ambiente de alta demanda evaporativa do ar, a taxa de
do suco celular não correspondiam à realidade, pois a transpiração da planta passa a ser mais elevada do que
solução do vacúolo era contaminada com solutos do a taxa de absorção de água. O resultado disso é que o
citosol (endosmose) ou era diluída com a água vegetal passa a sofrer déficit hídrico, que, eventualmente,
proveniente do apoplasto (efeito diluição). Para levará à redução na taxa de fotossíntese e na taxa de
esclarecer isso, Bernstein realizou uma série de crescimento (O’Leary, 1971; Prisco, 1980).
experimentos com algodão e pimentão, usando os
métodos plasmolítico e crioscópico para determinação do Solutos responsáveis pelo ajustamento osmótico
 das raízes. Teve o cuidado de levar em conta não só Os descobridores do ajustamento osmótico
o efeito diluição como também a endosmose. Seus preconizaram que a diminuição no  da planta devia-se,
resultados mostraram, mais uma vez, que as plantas basicamente, ao acúmulo de íons nas células (Bernstein,
diminuíam o  à medida que a salinidade do ambiente 1961). Entretanto, isso conflitava com o fato de que
radicular aumentava e que isso se devia ao acúmulo de enzimas isoladas do citosol, tanto de glicófitas como de
íons em seus tecidos. Se isso acontecesse, o w entre halófitas, eram igualmente inibidas na presença de Na+
o ambiente radicular e a planta deveria ser mantido e, se e de Cl- (Greenway & Munns, 1980) e isso só poderia
a turgescência das células fosse também mantida, não se acontecer se todos os íons, inclusive os tóxicos (Na+ e
poderia pensar em “seca fisiológica” em plantas que se Cl-), estivessem compartimentalizados no vacúolo.
“ajustam osmoticamente” (Bernstein, 1961). Mesmo partindo do princípio de que os íons estariam
A seca fisiológica foi também questionada por concentrados no vacúolo, os baixos valores de  e de
pesquisadores soviéticos, os quais demonstraram que w no ambiente externo à célula e no vacúolo iriam
quando plantas eram submetidas à mesma concentração expor o citosol e as organelas nele mergulhadas a um
salina, provocada por diferentes tipos de sais, por estresse hídrico, pois estariam entre dois ambientes com
exemplo, concentrações isosmóticas de NaCl e de w inferiores ao seu, (w)vac < (w)cito > (w)ext, ou seja,
Na2SO4, as respostas eram diferentes, ou seja, a inibição estariam perdendo água para o ambiente externo e para
do crescimento dependia do tipo de sal e não apenas do o vacúolo. Para equilibrar os potenciais hídricos do
 da rizosfera (Strogonov, 1964). Esses resultados, sistema ambiente externo, citosol + organelas nele
portanto, eram conflitantes com a teoria da “seca mergulhadas e vacúolo, o citosol teria que acumular íons,
146 José T. Prisco & Enéas G. Filho

solutos orgânicos ou ambos. O acúmulo de íons não 1998), de etileno e de giberelinas, Gib (Taiz & Zeiger,
seria factível, pois provocaria inibição das enzimas 2006). Entretanto, o que se tem observado ultimamente é
envolvidas no metabolismo. Portanto, a diminuição do  que as pesquisas têm se concentrado apenas nos efeitos
e do w do citosol teria que ser feita, principalmente, à do ABA, como se ele fosse o único “hormônio envolvido
custa de solutos orgânicos que não inibissem o nos estresses abióticos” (Taiz & Zeiger, 2006; Maathuis,
metabolismo, mesmo quando acumulados em elevadas 2007).
concentrações (solutos compatíveis).
A partir da década de 1970, foram identificados vários Ca2+ como meio para minorar os efeitos da salinidade
desses solutos compatíveis (Hellebust, 1976; Wyn Jones (NaCl)
& Gorham, 1983; Bray et al., 2000; Sairam & Tyagi, Durante a década de 1960, observou-se que a adição
2004), sendo os mais conhecidos: açúcares (glicose, de Ca2+ ao ambiente radicular minimizava os efeitos
frutose, sacarose, trealose, rafinose); álcoois poliídricos deletérios do Na+ no estresse salino (LaHaye & Epstein,
(sorbitol, manitol, glicerol, arabinitol, pinitol, inositóis 1969). Isso foi atribuído ao fato de que o Na+, além de
metilados); proteínas (peptídios de pequena massa desestabilizar as membranas, que, por sua vez, são
molecular); aminoácidos e seus derivados (glutamato, estabilizadas por Ca2+, compete com o K+ por sítios nos
aspartato, glicina, prolina, prolina-betaina, glicina-betaina canais existentes nas membranas, provocando aumento
e -alanina-betaina); ácidos orgânicos (oxaloacetato, na concentração de Na+ e diminuição na de K+ dentro
malato); aminas terciárias (1,4,5,6-tetrahidro-2-metil-4- das células, ou seja, diminuição da relação K+/Na+. Essas
carboxil piridamina); poliaminas (putrescina, cadaverina, mudanças provocariam distúrbios metabólicos, com sérias
espermidina, espermina); e compostos derivados de implicações no crescimento e desenvolvimento das
sulfonium (propionato de dimetil-sulfonio e colina-O- plantas estressadas pela salinidade. Portanto, esperava-
sulfato). Infelizmente, ainda persistem muitas dúvidas se que aplicações exógenas de Ca 2+ ao ambiente
sobre o papel metabólico e a importância fisiológica radicular minorassem os efeitos da salinidade no
desses solutos compatíveis (Bray et al., 2000). crescimento e desenvolvimento das plantas (LaHaye &
Entretanto, pode-se afirmar que o ajustamento Epstein, 1971). Infelizmente, isso não tem acontecido
osmótico se faz à custa da absorção e acúmulo de íons (Caines & Shenan, 1999; Sohan et al., 1999; Silva et al.,
(principalmente os tóxicos) no vacúolo e de íons não 2003) e quando acontece, a resposta depende das
tóxicos e solutos orgânicos no citosol, compatíveis com condições ambientais em que a planta foi cultivada
a manutenção da atividade metabólica das células. (Lacerda, 1995). Posteriormente, usando-se técnicas de
Convém salientar que esse fenômeno é uma resposta da biologia molecular em mutantes com diferentes
planta ao baixo w existente no ambiente externo, seja tolerâncias à salinidade, chegou-se à conclusão de que o
ele causado pelo excesso de sais na solução do solo Ca2+ parece estar envolvido, não apenas na manutenção
(baixo ), seja pela carência hídrica (baixo ) ou por da integridade das membranas (Cramer et al., 1985), mas
ambos (O’Leary, 1971). também no processo de “transdução do sinal” do local de
percepção do estresse para o de síntese das proteínas
Hormônios e o estresse salino codificadas pelos “genes do estresse”, os quais regulam
Durante a década de 1960, verificou-se que plantas o controle da “homeostase” da célula, do tecido ou do
submetidas a estresses abióticos mostravam decréscimo indivíduo (Türkan & Demiral, 2009).
na atividade das citocininas (CITOC) presentes na solução
exsudada das raízes para a parte aérea (Adreenko et al., Uso de culturas in vitro de células e tecidos
1964; Itai & Vaadia, 1965; Kuraishi et al., 1966; Burrows Os soviéticos usaram culturas de células e tecidos
& Carr, 1969) e que essa diminuição repercutia no como meio de entender porque as halófitas toleravam o
metabolismo e crescimento desta última (Ben-Zioni, et al., estresse salino enquanto que as glicófitas eram sensíveis
1967; Itai et al., 1968). Verificou-se, posteriormente, uma à salinidade (Strogonov, 1974). A conclusão mais
correlação entre decréscimo na atividade das CITOC importante que eles chegaram foi a de que a tolerância
exsudadas das raízes e a aceleração da senescência dos à salinidade era uma característica do indivíduo, que não
tecidos foliares de plantas não ajustadas (O’Leary & se mantinha quando suas células ou tecidos eram
Prisco, 1970) ou ajustadas osmoticamente (Prisco & cultivados in vitro. Essa publicação e uma anterior
O’Leary, 1972), depois de submetidas ao estresse salino. (Strogonov, 1964) repercutiram em muitos Laboratórios
Sabe-se que estresses abióticos também induzem do ocidente, principalmente em Israel (Universidade
alterações nos níveis de ácido abscísico, ABA (Mizrahi et Hebraica de Jerusalém e Instituto do Negev), Austrália
al., 1970), de brassinoesteróides, BR (Clouse & Sasse, (CSIRO) e Grã Bretanha (Universidade de Sussex), que
Fisiologia e bioquímica do estresse salino em plantas 147

passaram a estudar a fisiologia comparada de halófitas é suficiente para neutralizar as EROs, estas se acumulam
e glicófitas, na esperança de encontrar marcadores e a planta passa a sofrer de estresse oxidativo. Isso
fisiológicos ou bioquímicos que conferissem tolerância à também acontece em plantas submetidas a outros
salinidade e que não afetassem qualitativa nem estresses abióticos (Scandalios, 2002; Azevedo Neto et al.,
quantitativamente a produção (Flowers et al., 1977). 2008). Essas descobertas abriram novas perspectivas para
Infelizmente, os resultados obtidos pelos soviéticos os estudos de fisiologia e bioquímica da tolerância ao
foram relegados por muitos pesquisadores, especialmente estresse salino (Azevedo Neto et al., 2008).
americanos e canadenses, que àquela época estavam
deslumbrados com a possibilidade de se produzir uma Estresse salino e a biologia molecular
planta a partir de uma célula (Nabors, 1983; Salisbury & Nos últimos 20 anos, foram observados inúmeros
Ross, 1985). Achavam eles que células tolerantes à progressos na fisiologia e bioquímica do estresse salino,
salinidade poderiam ser selecionadas e a partir delas se graças ao uso de mutantes de Arabidopsis thaliana e
obter plantas tolerantes. Durante a década de 1970 e das técnicas de biologia molecular. Em decorrência disso,
grande parte da de 1980, surgiram vários trabalhos que caminha-se para o estabelecimento de como as plantas
mostraram culturas de células com alta tolerância à percebem os agentes estressores, como ocorre a
salinidade (Nabors, 1983). Os autores, por razões óbvias, transdução do sinal de estresse do local de percepção
selecionaram espécies que possuíam protocolos para o local onde irão ocorrer as reações metabólicas
mostrando como se obtinha uma planta, partindo-se de responsáveis pela mudança no funcionamento celular e,
células ou de embrióides. Infelizmente, os resultados finalmente, como ocorre a homeostase das células,
obtidos foram completamente diferentes do que eles tecidos e indivíduos que são submetidos ao estresse
esperavam. As plantas selecionadas dessa maneira não salino (Zhu, 2001, 2002, 2003; Türkan & Demiral, 2009).
conservaram a tolerância das células que lhes deram
origem e, mesmo aquelas que conseguiam aumentar a EFEITOS DA SALINIDADE NO
tolerância, perdiam suas características de valor CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO
econômico.
Apesar disso, esses resultados negativos forneceram De posse dessa análise retrospectiva do estudo da
importantes informações metodológicas sobre culturas de fisiologia e bioquímica do estresse salino e tentando
células in vitro que possibilitaram progressos nos estudos escalonar as mudanças que ocorrem em uma escala
de fisiologia do estresse salino. A partir da década de temporal, pode-se afirmar que a salinidade altera,
1990, dois grupos de excelência nessa área, um na inicialmente, a absorção de água, de nutrientes e a
Universidade de Purdue e outro na Universidade do permeabilidade das membranas (Figura 1). Essas
Arizona, ambos nos Estados Unidos, passaram a explorar alterações refletem no balanço hídrico e nutricional da
essa metodologia nos estudos dos mecanismos de planta e provocam mudanças no metabolismo, no balanço
absorção e compartimentalização de íons sob condições hormonal, nas trocas gasosas e na produção de EROs.
de salinidade (Hasegawa et al., 2000). Essa metodologia Todas essas mudanças comprometem a expansão e
também auxiliou no estudo do papel dos solutos divisão das células, o crescimento vegetativo e
compatíveis no ajustamento osmótico e na proteção das reprodutivo e a aceleração da senescência das folhas,
membranas e das enzimas presentes no citosol e nas que resultam na eventual morte da planta.
organelas nele mergulhadas (Bray et al., 2000).
Senescência foliar
Estresse oxidativo decorrente do estresse salino
Crescimento vegetativo e reprodutivo
Durante a década de 1990, vários pesquisadores
demonstraram que plantas produzem intermediários Expansão e divisão celulares

metabólicos, conhecidos como EROs (Espécies Reativas Balanço hormonal, trocas gasosas
de Oxigênio) ou ROS (do inglês, Reactive Oxigen e produção de EROs

Species), tais como o peróxido de hidrogênio (H2O2) e os Mudanças


Mudançasno
no metabolismo
metabolismo

radicais livres superóxido (·O2-) e hidroxil (·OH), que são Balanço hídrico e nutricional
capazes de oxidar lipídios de membranas, desnaturar Absorção de água, nutrientes e
proteínas e reagir com DNA, provocando mutações. Sob permeabilidade de membranas

condições normais de cultivo, as plantas neutralizam esses SALINIDADE

efeitos deletérios graças aos antioxidantes por elas Figura 1. Mudanças na fisiologia das plantas em consequência
produzidos. Quando a produção desses antioxidantes não da salinidade
148 José T. Prisco & Enéas G. Filho

As mudanças no metabolismo e seus efeitos no 4. culturas de células, tecidos ou órgãos (nos estudos
crescimento e desenvolvimento da planta irão depender em que são investigados os efeitos do estresse em nível
das interações que ocorrem entre as características do celular e molecular).
estresse e as características do vegetal que está sendo Portanto, torna-se difícil comparar resultados obtidos
submetido ao estresse (Figura 2). Essa figura mostra que em condições experimentais diferentes, do mesmo modo
os efeitos da salinidade irão depender: da concentração que se deve ter muito cuidado em extrapolar resultados
e da composição iônica da solução que estará em obtidos com culturas de células, tecidos ou órgãos para
contato com a rizosfera (Strogonov, 1964), da a condição de planta inteira. Também não se deve
granulometria do solo (Boyko, 1966), do local da planta esquecer que, nas condições de campo, a planta pode ser
exposto ao estresse (raiz ou parte aérea), do modo como exposta simultaneamente a mais de um estresse.
o estresse é aplicado (abrupto ou escalonado), da
duração da exposição ao estresse e, finalmente, da RESPOSTAS FISIOLÓGICAS
interação do estresse salino com outros, de natureza E BIOQUÍMICAS AO ESTRESSE SALINO
biótica ou abiótica. Analisando-se as características do
vegetal, pode-se afirmar que a tolerância à salinidade Apesar das dificuldades experimentais, tentar-se-á
varia com a espécie, e dentro de uma mesma espécie, apresentar esquemas que generalizem, resumidamente, o
ela varia com o genótipo e o estádio de desenvolvimento que acontece quando uma planta é submetida ao estresse
em que a planta se encontra e se o estresse é imposto salino. A salinidade possui dois componentes que são
a uma célula, a um tecido ou a um órgão do indivíduo. As responsáveis pelo estresse: um osmótico e outro iônico.
interações entre as características do estresse com as do O componente osmótico altera o balanço hídrico da
vegetal podem resultar em tolerância ou susceptibilidade, planta, enquanto que o componente iônico é responsável
ou seja, vida ou morte da planta. pelos efeitos sobre o desbalanceamento nutritivo e pelos
efeitos tóxicos dos íons (Läuchli & Grattan, 2007; Munns
CARACTERÍSTICAS CARACTERÍSTICAS
RESPOSTA RESULTADO
& Tester, 2008). A predominância de um desses fatores
DO ESTRESSE DO VEGETAL
irá depender das características e condições do estresse,
Concentração que serão discutidos mais adiante.
de sais
De maneira geral, quando uma planta é exposta ao
Composição
iônica
Espécie estresse, observa-se que sua resposta irá depender de
uma sequência de reações que ocorrem desde a
Granulometria
Genótipo Tolerância VIDA
do solo exposição ao estresse até que se possa perceber o efeito
Local e modo Estádio de daquele estresse na planta (Figura 3).
Susceptibilidade MORTE
de aplicação desenvolvimento

Duração da Célula, tecido Percepção Transdução Mudanças


exposição ou órgão Estresse
do sinal do sinal Metabólicas

Interação com
outros estresses Processamento da
Informação
Figura 2. Interações entre características do estresse salino, Resposta

características do vegetal e a resposta da planta ao


estresse (Adaptado de Bray et al., 2000) Figura 3. Seqüência de reações que ocorrem quando uma
planta é submetida a um estresse
Essas interações complicam o estabelecimento de uma
metodologia que possa ser considerada como ideal para os Em termos de tempo, essa sequência pode ocorrer
estudos da Fisiologia e Bioquímica do Estresse Salino. em milissegundos, segundos, minutos, horas, semanas ou
Portanto, o que se tem feito é tentar compatibilizar o que meses, dependendo das condições e características do
estresse e da respostas que se está observando.
se pretende estudar com o que é possível fazer, em termos
Na maioria das situações, o órgão do vegetal que é
de condições de cultivo. Por essa razão, a maioria dos
exposto à salinidade em primeiro lugar é a raiz, exceto
estudos tem sido realizada em: quando a planta é irrigada por aspersão com água salina
1. sistemas hidropônicos cuja solução nutritiva ou quando está exposta à maresia. Nessas situações, a
contém NaCl, Na2SO4 ou uma mistura de sais; parte aérea passa a ser exposta em primeiro lugar.
2. solo ou vermiculita irrigados com soluções salinas de
composição iônica e condutividade elétrica conhecidas; Percepção e transdução do sinal do estresse salino
3. gel de ágar ao qual são adicionados os sais; e, Baseando-se em resultados obtidos com leveduras,
finalmente, com culturas de células de plantas superiores e com
Fisiologia e bioquímica do estresse salino em plantas 149

mutantes de Arabidopsis thaliana, acredita-se que a um registro da percepção do estresse, que dará inicio a
nível celular a percepção seja feita pela membrana transdução do sinal de estresse (Figura 5).
plasmática e nela estejam envolvidos receptores que
detectam o componente osmótico e o componente iônico. Perda da Volume Retração da
turgescência celular membrana
Alguns detalhes do que acontece nessa etapa ainda são
especulativos, mas sabe-se que existe mais de um sensor
para esses sinais e que os caminhos de transdução (osmo-sensor) Abertura de canais
desses sinais também variam. Para simplificar, serão
mostrados os mais conhecidos.
Despolarização da membrana e [Ca2+]cito

Percepção do componente osmótico: Descobriu-se,


em Arabidopsis thaliana, uma proteína na membrana Transdução do
plasmática que parece ser o osmo-sensor (receptor) do sinal
sinal do componente osmótico do estresse salino. Esta Figura 5. Percepção do componente osmótico do estresse
proteína, AtHK1 (do inglês, Arabidopsis thaliana salino pelos canais iônicos presentes na membrana
Histidine Kinase 1), é constituída de um domínio quinase plasmática e início do processo de transdução do sinal
do tipo histidina e de outro, que funciona como regulador (Adaptado de Urao et al., 1999)
de resposta. A hiper-osmolaridade do meio externo induz
uma perda de turgescência das células, que provoca Essas duas maneiras de percepção do componente
mudanças de conformação da membrana plasmática e osmótico do estresse salino podem refletir na expressão
ativa o processo de autofosforilação de um resíduo de gênica de enzimas envolvidas, por exemplo, na
histidina (His) no domínio quinase da AtHK1. biossíntese de osmólitos (solutos compatíveis), os quais
Posteriormente, se dá a transferência desse radical podem contribuir para o ajustamento osmótico do citosol
fosforil para um resíduo de aspartato (Asp), que pertence + organelas, e de proteínas componentes das
ao domínio regulador de resposta e que irá exercer sua membranas, como a aquaporina (canal de água), que
ação via transdução desse sinal (Figura 4). aumenta a capacidade de absorção de água das células.
Sabe-se que o ABA está relacionado com algumas
Perda da Mudança respostas da planta às variações de osmolaridade
[sais]ext conformacional em
turgescência
AtHK1
~PO4 (autofosforilação.)
ocasionadas, por exemplo, pelo componente osmótico do
estresse salino, no entanto, ainda não foi possível
P
His Asp identificar os receptores desse hormônio vegetal (Fan et
domínio-
quinase
regulador da resposta al., 2004; Wasilewska et al., 2008). Contudo, estudos
P
His Asp recentes têm revelado algumas proteínas candidatas a
domínio- regulador da resposta esse papel e que a percepção ao ABA pode ocorrer tanto
quinase
no nível extracelular quanto no intracelular (Fan et al.,
Transdução do 2004; Maggio et al., 2006).
sinal

Figura 4. Percepção do componente osmótico do estresse


Percepção do componente iônico: A descoberta dos
salino pela AtHK1, presente na membrana plasmática e
mutantes de Arabidopsis thaliana possuidores de
início do processo de transdução do sinal (Adaptado de
Urao et al., 1999) hipersensibilidade ao íon Na+, mutantes SOS (do inglês,
Salt-Overly-Sensitive), possibilitou uma melhor
compreensão, não só da percepção do componente
Outra maneira da célula perceber o estresse osmótico
iônico, como da transdução desse sinal do estresse.
decorre do “efeito mecânico” que o excesso de sais no Sob condições normais (ausência de salinidade), as
ambiente extracelular exerce sobre os canais iônicos células vegetais mantêm um potencial eletroquímico
existentes na membrana plasmática. Quando a célula através da membrana plasmática (j) da ordem de -140
perde água, ela diminui de volume e a membrana mV (lado interno negativo). Isso se deve às diferenças
plasmática sofre mudanças de conformação, que em concentrações de íons dentro e fora das células,
facilitam a entrada de íons na célula, via canais iônicos, resultante do funcionamento das bombas de prótons (H+-
que funcionam como osmo-sensores. A entrada desses ATPases) da membrana. Do mesmo modo, a ação das
íons na célula provoca a despolarização da membrana bombas presentes no tonoplasto (H +-ATPases e H +-
plasmática e aumento na concentração de cálcio no PPases) faz com que a membrana vacuolar também
citoplasma. Esse aumento na [Ca2+]cito funciona como esteja polarizada (j + 60 mV).
150 José T. Prisco & Enéas G. Filho

Sob condições de salinidade, há um aumento da Receptores da Ativa vias de


membrana sinalização
[Na+]ext, que favorece a penetração de cátions na célula.
Assim, o Na+ pode penetrar passivamente, através de [Na+] [Ca2+]cito
diferentes tipos de canais ou transportadores, os quais
Despolarização Abertura de
podem funcionar como sensores de Na +. Dentre os da membrana canais de Ca2+
canais, destacam-se o NSCC (do inglês, Nonselective- Transdução
Cation-Channels), que transporta Na+ e K+ para dentro do sinal

da célula, dependendo da concentração externa desses Figura 6. Percepção do componente iônico do estresse salino
íons (se a [Na+] > [K+] → entra Na+ e quando a [Na+] pelos canais e transportadores presentes na membrana
plasmática e início do processo de transdução do sinal
< [K+] → entra K+) e o NORC (do inglês, Nonselective- (Baseado em Tyerman & Skerret, 1999)
Outward-Retifying-Channels), que não discrimina K+ de
Na + . Neste caso, o NORC abre-se durante a oxigênio. As transduções mais conhecidas são: a
despolarização da membrana, entretanto, sob condições sinalização SOS, já definida anteriormente; a das quinases
de salinidade, quando a [Na+]ext > [K+]ext → entra Na+. protéicas do tipo MAPK (do inglês Mitogenic-Activated-
Dentre os transportadores, destaca-se o simporte HKT1 Protein-Kinases); a que envolve fosfolipídios; a
(do inglês, High-affinity K + -Transporter 1,) que, dependente de cálcio/calmodulina; a sinalizada por ABA;
dependendo da [Na+]ext, pode transportar: Na+/Na+, Na+/ e, finalmente, a sinalizada por H 2O2 (Taiz & Zeiger,
K+, K+/K+, K+/Na+ e K+/H+, sendo considerado um dos 2006).
sensores do estresse salino (Blumwald et al., 2000;
Yamagushi & Blumwald, 2005; Türkan & Demiral, Transdução do sinal osmótico: A transdução do sinal
2009). Nos últimos anos, uma proteína conectada a desencadeada pela percepção do componente osmótico
resíduos de arabino-galactanas, a SOS5, que está do estresse salino pode ser classificada em duas rotas de
presente na parte externa da membrana plasmática sinalização distintas: a dependente de ABA e a
também tem sido apontada como forte candidata para independente de ABA (Taiz & Zeiger, 2006). Ambas as
detectar [Na + ] ext (Mahajan et al., 2008; Türkan & rotas levam à ativação de proteínas reguladoras (fatores
Demiral, 2009). de transcrição) que interagem com regiões específicas
A despolarização decorrente da passagem do Na + dos genes, denominadas promotores, resultando na
para o citosol pode contribuir para a abertura de outros indução ou repressão da expressão de um determinado
canais, tanto da membrana plasmática como do gene.
tonoplasto, permitindo a entrada de outros íons (Cl-, K+, Na rota de sinalização dependente de ABA, os
etc), que contribuem para alterar a turgescência da célula promotores dos genes regulados por este hormônio
(ajustamento osmótico). Outro aspecto importante é que possuem uma sequência de seis nucleotídeos,
os canais de Ca2+, que são dependentes do potencial denominada elemento de resposta ao ABA ou ABRE (do
eletroquímico da membrana, podem aumentar a inglês, ABA Response Element), à qual se ligam os
[Ca 2+ ] cito , fato de grande relevância, porque ele é fatores de transcrição envolvidos nesse processo. Já na
importante como sinal secundário de transdução (Figura rota independente de ABA, os fatores de transcrição se
6). Já existem dados que mostram que quando as raízes ligam a outro tipo de elemento de regulação nos
são expostas a excesso de Na+ ocorre um aumento na promotores, o elemento de resposta à desidratação ou
[Na + ] e na [Ca 2+ ] no citosol das células do córtex DRE (do inglês, Dehydration Response Element). A rota
radicular (Munns & Tester, 2008). O aumento na independente de ABA pode também envolver a atuação
[Na+]cito, seguido pelo incremento na [Ca2+]cito pode ser direta de uma cascata de sinalização de MAPK (Taiz &
visualizado na Figura 6. Zeiger, 2006) (Figura 7). Em alguns genes que possuem
o ABRE, pode haver também o DRE, o que leva à
Transdução do sinal do estresse salino intensificação das respostas ao estresse, já que ambas as
Após a percepção do sinal, há um aumento na rotas estão presentes na transdução do sinal, sendo os
[Ca2+]cito que funciona como um mensageiro secundário íons Ca2+ os responsáveis pela interação entre essas vias
e inicia uma série de reações (cascata de sinalização) que de sinalização (Mahajan & Tujeta, 2005).
serão responsáveis pelas mudanças no funcionamento Dentre os genes cuja expressão é induzida pelo
das células. A essa “cascata de sinalização” deu-se o estresse osmótico, através das vias mencionadas
nome de transdução do sinal do estresse, que pode ser anteriormente, estão aqueles que codificam vários tipos
bastante complexa, envolvendo: proteínas, lipídios, de transportadores, proteínas reguladoras (fatores de
hormônios vegetais, cálcio e espécies reativas de transcrição, quinases protéicas e fosfatases) e proteínas
Fisiologia e bioquímica do estresse salino em plantas 151

Receptor do ativada, também atua como ativador do antiporte Na+/H+


estresse osmótico localizado no tonoplasto ou NHX1 (do inglês, Na +/H+
Exchanger Protein 1), que regula o nível de Na +
citoplasmático ao compartimentalizá-lo no vacúolo. Além
disso, SOS2 ativada regula a expressão gênica da
proteína SOS1 e restringe a entrada de Na + para o
Dependente de ABA Independente de ABA citoplasma, através de seu efeito inibitório na atividade
do transportador simporte HKT1, que se encontra na
membrana plasmática. A proteína SOS2 ativada atua
Fatores de transcrição Cascata de MAPK como regulador da [Ca2+]cito, através da modulação da
atividade do transportador CAX1 (do inglês, Calcium
Exchanger 1) existente no tonoplasto. Além desses
Expressão gênica alterada
papéis, a SOS2 ativada, também está envolvida na
regulação da expressão do gene SOS4, cujo produto é
Figura 7. Transdução do sinal do componente osmótico uma quinase do piridoxal, responsável pela produção de
do estresse salino através das vias dependente e piridoxal-5-fosfato, o qual contribui para a homeostase
independente de ABA (Adaptado de Taiz & Zeiger, iônica da célula através da regulação de canais iônicos
2006) e transportadores (Turkan & Demiral, 2009).

envolvidas na tolerância ao estresse, tais como as


Estresse
enzimas do sistema antioxidativo e as que atuam na salino

síntese dos solutos compatíveis. Já dentre os que são


reprimidos, estão genes cujos produtos atuam no Componente Componente
osmótico iônico
Cadeias polissacarídicas

crescimento da célula, incluindo a parede celular, e que Na+


SOS5 Apoplasto
? SOS1 Membrana plasmática

codificam algumas proteínas dos cloroplastos e da SOS3


SOS2
HKT1 AKT1
P
H+
Citosol

Na+ K+
membrana plasmática (Cutler et al., 2010). ABA [Ca2+] ?
P

Piridoxal-P

Regulação da
H+
Transdução do sinal iônico: Existem várias rotas de NHX1
expressão gênica
(p. ex., SOS1 e SOS4)
Quinase do
piridoxal-P

transdução do sinal iônico, mas aqui será descrita a via ADP + Pi


H+ Vacúolo
Na +
H+
Núcleo

de sinalização SOS, porque é a melhor caracterizada e, ATP Ca 2+

CAX1 V-ATPase e PPase

segundo Türkan & Demiral (2009), já foi observada H+ Citosol


Membrana plasmática
tanto em glicófitas (arroz, trigo e Arabidopsis thaliana) SOS5 Apoplasto

como em halófitas (Tellungiella halophyla e Populus Figura 8. Estresse salino e a via de sinalização SOS (Adaptado
euphratica). de Türkan & Demiral, 2009)
Como ilustrado na Figura 8, a percepção de ambos os
componentes do estresse salino provoca um aumento na Outras mudanças no metabolismo
[Ca2+] cito (mensageiro secundário). Esse aumento é Como consequência das mudanças no metabolismo,
percebido pela proteína SOS3, que é o produto da iniciadas com a percepção e transdução do sinal de
transcrição do gene SOS3 e que faz parte de uma família estresse, ocorrem alterações no balanço hormonal e na
de genes responsáveis pela hipersensibilidade ao sódio, produção de EROs.
encontrada em mutantes de Arabidopsis thaliana (Zhu,
2002). A proteína SOS3 liga-se ao íon cálcio, formando
Desbalanceamento hormonal: Sabe-se que CITOC,
um complexo que irá interagir com uma proteína quinase
Gib, etileno e ABA podem ser sintetizados nas raízes e
do tipo histidina, a proteína SOS2. O complexo SOS3-
SOS2-PO4 (proteína SOS2 ativada) dirige-se para a transportados para a parte aérea, onde afetam o
membrana plasmática, a fim de ativar, via fosforilação, a crescimento e desenvolvimento (Weiss & Vaadia, 1965;
proteína SOS1 que, depois de ativada (SOS1-PO4) passa Skene, 1967; Taiz & Zeiger, 2006). Por outro lado, as
a funcionar como antiporte Na+/H+, que transporta para auxinas e os BR são sintetizados e exercem sua ação
o apoplasto o excesso de Na+ presente no citoplasma, ao tanto nas raízes como na parte aérea (Taiz & Zeiger,
mesmo tempo em que transporta H + para dentro do 2006). Um fato que merece mais investigação é o de que
citosol. Portanto, este antiporte é fundamental para a os BRs parecem estar envolvidos no estresse salino
manutenção da relação K + /Na + adequada para o (Clouse & Sasse, 1998), pois são capazes de minorar os
metabolismo. Convém salientar que a proteína SOS2 efeitos do estresse na produtividade vegetal (Ikekawa &
152 José T. Prisco & Enéas G. Filho

Zhao, 1991; Taiz & Zeiger, 2006). Os estresses hídrico Ribulose-


H2 O O2 NADP+
e salino diminuem a atividade das CITOC e das Gib na e- Fotossistema II
e-
Fotossistema I
e-
Ferredoxina NADPH
1,5-bifosfato

O2
parte aérea do vegetal ao mesmo tempo em que e-
O2
3-Fosfoglicerato

aumenta a atividade do ABA (Itai et al., 1968; Taiz & Cloroplasto e- e- 2-Fosfoglicolato
HO· H2 O2 O2 ·-
Zeiger, 2006). Essas mudanças foram associadas com o
fechamento dos estômatos, a diminuição do crescimento Fumarato
e-
e a aceleração da senescência das folhas de plantas Desidrogenases
do NAD(P)H e-
Complexo II
e-
Succinato Glicolato
O2
submetidas a estresse hídrico ou salino (Prisco & NADH
e-
Complexo I
e-
Ubiquinona
e-
Complexo III
e-
Complexo IV

O’Leary, 1972; Taiz & Zeiger, 2006) e todos os e-


O2 ·-
e-
e- O2 H2 O2
Glioxalato
hormônios, acima mencionados, atuam nos caminhos de O2 e- O2
H2 O

H2 O2
transdução do sinal de estresse e na expressão gênica e-
Mitocôndria Peroxissomo
(Hedden & Thomas, 2006). HO·

Mesmo sabendo das dificuldades experimentais Figura 10. Principais sítios de produção de espécies reativas
encontradas quando se estudam os efeitos de balanços de oxigênio (EROs) nas células vegetais (Adaptado de Apel
hormonais sobre plantas submetidas a estresse salino, os & Hirt, 2004)
dados existentes sugerem que as mudanças no balanço
hormonal estão mais próximas da realidade do que se Miller et al., 2010); além da produção de H 2O2 nos
atribuir a apenas um “hormônio do estresse”, o ABA peroxissomos durante a fotorrespiração, também pode
(Taiz & Zeiger, 2006). Partindo dessa premissa, quando haver a fotorredução direta do O2 a superóxido (·O2-)
se descreve a sequência de mudanças fisiológicas e pelos elétrons provenientes dos componentes da cadeia
bioquímicas que ocorrem quando uma planta é submetida transportadora de elétrons associados ao fotossistema I,
a estresse salino, os efeitos atribuídos ao ABA (Hirt & nos cloroplastos (Figura 10). Já na mitocôndria, os sítios
Shinozaki, 2004; Taiz & Zeiger, 2006) foram substituídos principais de produção de EROs são os complexos I e III
pelos efeitos devidos ao “desbalanceamento hormonal”. da cadeia transportadora de elétrons, nos quais os
Isto será discutido mais adiante. elétrons são doados ao O2, gerando ·O2-, o qual pode
sofrer redução e levar à produção das demais EROs
Produção de EROs: O estresse salino provoca (Apel & Hirt, 2004; Miller et al., 2010).
acúmulo de espécies reativas de oxigênio (EROs), que O superóxido, o peróxido de hidrogênio e o hidroxil
são responsáveis pelo estresse oxidativo. Como a são altamente reativos e podem lesionar membranas,
salinidade é o agente estressor primário, o estresse ácidos nucléicos e proteínas. Nas condições normais, as
oxidativo é considerado como um estresse secundário. O plantas não sofrem esses danos porque há um equilíbrio
termo EROs é aplicado às espécies químicas entre a produção de EROs e a de antioxidantes (enzimas
intermediárias, que aparecem durante a redução do e outros compostos orgânicos). Entretanto, sob condição
O2 a H 2O (O 2 + 4e - + 4H + → H2O) como mostra a de estresse, há o acúmulo de EROs, pois nessas
condições a planta não produz antioxidantes suficientes
Figura 9. para neutralizar os efeitos deletérios desses poderosos
e- e- e- e- oxidantes. Recentemente, esse estresse secundário tem
2 H+ H+ recebido muita atenção dos pesquisadores, tendo em
Oxigênio Superóxido Peróxido de Hidroxil Água vista que a tolerância à salinidade parece estar
hidrogênio

Figura 9. Espécies químicas intermediárias que aparecem


correlacionada com a atividade antioxidante dos
durante a redução do O2 a H2O (O2 + 4e- + 4H+ → diferentes órgãos do vegetal (Azevedo Neto et al.,
H2O). São consideradas espécies reativas de oxigênio 2008).
(EROs): radical livre superóxido, peróxido de hidrogênio
e o radical livre hidroxil (modificado de Scandalios, 2002) ACLIMATAÇÃO AO ESTRESSE

Reações produtoras de EROs ocorrem nos Enquanto essas alterações no metabolismo


cloroplastos, mitocôndrias e peroxissomos durante a acontecem, as plantas realizam ajustes metabólicos,
fotossíntese, respiração e fotorrespiração, estruturais e fisiológicos a fim de conseguir seu equilíbrio
respectivamente (Figura 10). Além do que é produzido homeostático (osmótico, iônico e bioquímico), bem como
nessas organelas, pode também haver formação de a desintoxicação de suas células (eliminação das EROS

EROS na membrana plasmática (Slesak et al., 2007). e exclusão e compartimentalização de íons tóxicos).
A fotossíntese é o processo metabólico que mais Esses ajustes são sincronizados e obedecem a uma
produz EROs nas células vegetais (Apel & Hirt, 2004; sequência, que no final pode resultar em tolerância ou
Fisiologia e bioquímica do estresse salino em plantas 153

susceptibilidade ao estresse, como será visto mais eles provoquem redução do  no citosol + organelas
adiante. nele mergulhadas sem inibir as reações metabólicas.
Além disso, eles são hidrofílicos e podem desempenhar
Homeostase osmótica e homeostase iônica papel protetor da estrutura das proteínas citoplasmáticas
A homeostase osmótica e a iônica podem ser tratadas e daquelas associadas às membranas (Botela et al.,
simultaneamente, uma vez que são interdependentes. A 2005). Outra função desses osmólitos é a de proteção
primeira é o resultado do ajustamento osmótico, descrito das macromoléculas da célula contra a ação deletéria das
anteriormente, e envolve a absorção de íons (Bernstein, EROs (Hasegawa et al., 2000; Zhu, 2001).
1961; Slatyer, 1961), sua compartimentalização em certos
tecidos (Munns & Tester, 2008) e organelas das células, Homeostase bioquímica
associadas ao acúmulo de solutos orgânicos no A homeostase bioquímica é bastante complexa, pois
citoplasma. envolve todas as reações do metabolismo, ou seja,
Nas condições consideradas fisiológicas, a representa os ajustes metabólicos necessários para que
concentração de K+ no citosol varia de 100-200 mM, o organismo possa manter-se funcional, a despeito do
enquanto que a de Na+ está na faixa de 0-10 mM. Para aumento na concentração de íons que ocorre no
que se tenha uma idéia da importância fisiológica da ambiente externo. Durante esse processo, a atividade de
manutenção de uma relação K+/Na+ alta no citosol, a certas enzimas é aumentada, a de outras é diminuída e
síntese de proteínas depende de uma concentração de K+ novas enzimas podem também ser sintetizadas. Tudo isso
entre 100-150 mM e é inibida quando a concentração de requer um controle coordenado da percepção e
Na+ ultrapassa 100 mM (Blumwald et al., 2000). Além transdução do sinal do estresse e da síntese e
disso, o K + é ativador de enzimas importantes do degradação das proteínas. Isso pode ser visualizado
metabolismo, enquanto que o Na+ é inibidor da atividade quando se compara, quantitativa e qualitativamente, as
de várias enzimas citoplasmáticas. Portanto, a proteínas solúveis presentes em determinado órgão de
homeostase iônica e a osmótica devem envolver uma planta que foi submetida ao estresse com outra
exclusão de Na+ do citosol para o meio externo e sua cultivada sob condições normais (Figuras 11 e 12).
compartimentalização no vacúolo, a fim de manter uma pI
pI
alta relação K +/Na + e o balanço hídrico entre meio 4,0 7,0 4,0 7,0

Mr
externo, citosol + organelas nele mergulhadas e vacúolo. (kDa) 66

Para se compreender os mecanismos de exclusão e 45

compartimentalização de Na+, precisa-se ter em mente 36

que, em condições normais, as membranas plasmáticas 29


24

das células vegetais estão polarizadas, devido às


20
diferenças em concentrações de íons dentro e fora das
células, resultante do funcionamento das bombas de 14,2

prótons (H + -ATPases) da membrana. No caso do


vacúolo, existem no tonoplasto, além das bombas de Controle NaCl a 150 mM (  15 dS.m-1 )
próton, as pirofosfatases (H+-PPases), que bombeiam H+
49 aumentaram
do citosol para o interior do vacúolo, de modo que essa 91 sofreram 36 diminuíram
Total de 358 04 desapareceram
membrana também fica polarizada. proteínas alterações
02 sintetizadas de novo
As mudanças que ocorrem durante a homeostase
Figura 11. Proteínas solúveis de folhas de plântulas de
iônica têm forte repercussão na homeostase osmótica. A cajueiro anão-precoce irrigadas com solução nutritiva
concentração de íons (tóxicos ou não), ácidos orgânicos (controle) e com solução nutritiva contendo NaCl a 150
e, em menor proporção, de outros compostos orgânicos mM (Abreu et al., 2008)
contribui para a redução do  e do w dos vacúolos.
Com relação ao que acontece no citoplasma, a fim de Nos últimos anos foram identificados vários RNAs
que seja mantido o equilíbrio osmótico entre apoplasto, pequenos, que se formam em consequência de estresses
citosol + organelas nele mergulhadas e vacúolo, pode-se abióticos e foram estabelecidos os seus papéis no
afirmar que se concentram neste compartimento celular, estresse oxidativo, no acúmulo de compostos orgânicos,
além dos íons não tóxicos, como K + , os solutos que, além de contribuírem para o ajustamento osmótico
compatíveis. Estes últimos possuem baixa massa funcionam como osmo-protetores e, finalmente, no
molecular, alta solubilidade em água e não possuem carga silenciamento pós-transcricional de certos genes
líquida em pH neutro. Essas características permitem que (Chinnusamy et al., 2007; Türkan & Demiral, 2009).
154 José T. Prisco & Enéas G. Filho

Controle Estresse Controle Estresse percepção do sinal do estresse até a aclimatação das
22 22

Aumento plantas à salinidade. Já está bem estabelecido que as


23 23
raízes da planta percebem os dois componentes da
salinidade: o osmótico e o iônico, sendo o local de
21 21
percepção mais provável a membrana plasmática. Como
Diminuição
resultado da percepção desses componentes, produz-se
um ou mais mensageiros secundários que iniciarão o
Desaparecimento
processo de transdução do sinal. Na parte final dessa
18 19 18 19
sequência, observa-se a homeostase (osmótica, iônica e
bioquímica) e a desintoxicação. O equilíbrio ou
Síntese de novo desequilíbrio das diferentes homeostases resultará em
plantas tolerantes ou susceptíveis ao estresse salino.
Figura 12. Aumento, diminuição, desaparecimento e síntese
de novo de proteínas solúveis de folhas de plântulas de
Componente Osmótico Salinidade Componente Iônico

cajueiro anão-precoce irrigadas com solução nutritiva Percepção e Transdução do Sinal do Estresse
(controle) e com solução nutritiva contendo NaCl a 150
mM (estresse), obtidas a partir das eletroforeses Fitormônios Alterações Produção de EROs

bidimensionais (Abreu et al., 2008)


desbalanceados Metabólicas

Aclimatação

Desintoxicação
O processo de desintoxicação envolve a exclusão dos Homeostase
Osmótica
Homeostase
Iônica
Homeostase
Bioquímica
Desintoxicação

íons tóxicos do citoplasma, que foi vista anteriormente, e


a remoção sincronizada de EROs nos diferentes
compartimentos celulares, que é feita por antioxidantes Relações Hídricas
Equilibradas
Desbalanceamento
das Relações

de natureza enzimática ou não-enzimática a fim de que Hídricas

a planta não sofra estresse oxidativo. Os principais Excesso de


Níveis normais Nutrição Desbalanceamento
antioxidantes celulares, bem como sua localização de EROs e de
íons tóxicos
Equilibrada
EROs e Íons
Tóxicos Nutricional

subcelular e as EROs alvo estão listados na Tabela 1.


Tolerância Sensibilidade
CONSIDERAÇÕES FINAIS Figura 13. Proposta para a seqüência de mudanças fisiológicas
e bioquímicas que ocorrem quando plantas são
A Figura 13 resume o que foi discutido anteriormente, submetidas a estresse salino (Modificado de Azevedo-Neto
mostrando uma sequência de etapas que vão desde a et al., 2008)

Tabela 1. Tipos, natureza e locais de atuação de antioxidantes dentro da célula (Adaptado de Mittler (2002)
Mecanismo Antioxidante Enzima ou Composto Orgânico Local na Célula EROs
Dismutase do Superóxido Cloroplasto Citosol Mitocôndria
O2-
(SOD – EC 1.15.1.1) Peroxissomo Apoplasto
Peroxidase do Ascorbato Cloroplasto Citosol Mitocôndria
H2O2
(APX – EC 1.11.1.11) Peroxissomo Apoplasto
Catalase
Peroxisomo H2O2
(CAT – EC 1.11.1.6)
Enzimático
Peroxidase da Glutationa
Citosol H2O2 e ROOH
(GPX – EC 1.11.1.9)
Peroxidases
Parede Citosol Vacúolo H2O2
(POD – EC 1.11.1.7)
Peroxidase da Tiorredoxina
Parede Citosol Mitocôndria H2O2 e ROOH
(TPX – EC 1.11.1)
Cloroplasto Citosol Mitocôndria
Ácido Ascórbico O2- e H2O2
Peroxissomo Apoplasto
Cloroplasto Citosol Mitocôndria
Não Enzimático Glutationa H2O2
Peroxissomo Apoplasto
-Tocoferol Membranas O2- e ROOH
Carotenóides Cloroplasto O2-
Fisiologia e bioquímica do estresse salino em plantas 155

Apesar do progresso científico no campo da fisiologia plantas com peróxido de hidrogênio, na concentração
e bioquímica de plantas submetidas ao estresse salino, adequada, aumentou a tolerância à salinidade em arroz
pouco se conseguiu em termos de produção de genótipos (Uchida et al., 2002) e em um genótipo de milho sensível
mais tolerantes à salinidade e que produzam ao estresse (Azevedo Neto et al., 2005). Também o pré-
economicamente. Os resultados obtidos em laboratório e tratamento de sementes de trigo com H2O2 acelerou a
casa de vegetação com a superexpressão de genes que germinação e aumentou a tolerância das plantas à
codificam para antiportes responsáveis pela exclusão e salinidade (Wahid et al., 2007). A indução dessa
compartimentalização de Na+ (Apse et al., 1999) e pela tolerância precisa ser melhor investigada em condições
síntese de alguns solutos compatíveis (Hmida-Sayari et de campo, pois poderá resultar em uma prática de
al., 2005) não se repetiram em condições de campo. A manejo a ser usada, visando minorar os efeitos deletérios
tolerância ao estresse salino, por ser dependente da do estresse salino no crescimento e produção das
expressão coordenada e sincronizada de vários genes, culturas.
não pode ser conseguida com a simples transferência ou Como conclusão final, pode-se afirmar que a
superexpressão de um ou dois genes. Além disso, os complexidade dos problemas de salinidade necessita de
estudos sobre tolerância em condições de campo são mais estudos básicos sobre fisiologia e bioquímica do
bem mais complexos e requerem o trabalho coordenado estresse, mas para que eles possam produzir os
de fisiologistas, geneticistas, especialistas em solo e em resultados práticos que se deseja, precisam ser acoplados
engenharia de irrigação. Nos últimos anos, se tem aos programas de pesquisa em melhoramento genético,
trabalhado tanto em laboratório como em condições de em solos e em engenharia de irrigação. Não se pode
campo, utilizando-se técnicas do melhoramento continuar trabalhando em compartimentos estanques - o
tradicional e da engenharia genética, visando à obtenção solo, a água e a planta – deve-se enfatizar a abordagem
de cultivares mais tolerantes ao estresse salino. Os que envolva o sistema solo-água-planta.
resultados obtidos com arroz (Li & Xu, 2007), trigo
(Munns & Richards, 2007), milho (Bänziger & Araus, AGRADECIMENTOS
2007), cevada (Li et al., 2007), tomateiro (Fooland,
2007), mandioca (Setter & Fregene, 2007), batata (Byun Ao CNPq, a CAPES, e a FUNCAP, que direta ou
et al., 2007), soja (Pathan et al., 2007), algodão (Lubbers indiretamente financiaram parte das pesquisas aqui
et al., 2007), espécies arbóreas (Bem-Hayyim & Moore,
relatadas. Aos nossos colegas dos Departamentos de
2007; Griplet et al., 2007) e forrageiras (Zhang & Wang,
Bioquímica e Biologia Molecular e de Engenharia
2007) são promissores, mas até que se consiga o que se
Agrícola da UFC e aos nossos alunos, especialmente
espera obter, o caminho a percorrer ainda é longo.
Elton Camelo Marques e Carlos Eduardo Braga de
No que se refere ao manejo do solo e da água, pode-
Abreu pela ajuda que deram na preparação desta
se afirmar que em determinadas situações o uso de
revisão.
lavagem, de correção química do solo e de métodos de
irrigação mais apropriados para uso de águas salobras
REFERÊNCIAS
algumas vezes têm se mostrado eficazes.
Como foi visto anteriormente, o estresse salino induz
Abreu C. E. B.; Prisco, J. T.; Nogueira, A. R. C.; Bezerra, M. A.;
ao acúmulo de H 2 O 2 e segundo alguns autores o Lacerda, C. F.; Gomes Filho, E. Physiological and
peróxido de hidrogênio pode desempenhar papeis biochemical changes occurring in dwarf-cashew seedlings
diferentes, dependendo da concentração em que ele se subjected to salt stress. Brazilian Journal of Plant
encontra no tecido: em baixas concentrações ele pode Physiology, v.20, p.105-118, 2008.
funcionar como um sinal para aclimatação ao estresse e Adreenko, S. S.; Potapor, N. G.; Kosulina, L. G. The effect of
em concentração alta, ele funciona como indutor da sap from maize plants grown at various pH levels on
morte programada das células (Dat, 2000; Van growth of carrot callus. Botanical Science: Proceedings of
Breusegem et al., 2001). Resultados recentes the Academy of Sciences of the URSS (English
demonstram a existência de várias isoenzimas translation), v.35, p.155-156, 1964.
Apel, K.; Hirt, H. Reactive oxygen species: metabolism,
antioxidantes que variam de acordo com o local de
oxidative stress, and signal transduction. Annual Review
produção e remoção das EROs (Miller et al., 2010). Isso of Plant Biology, v.55, p.373-399, 2004.
nos leva a sugerir que os estudos nessa área deveriam Apse, M. P.; Aharon, G. S.; Snedden, W. A.; Blumwald, E. Salt
ser feitos no nível de organelas e não, de planta ou órgão, tolerance conferred by overexpression of a vacuolar Na+/
a fim de que se tenha um quadro mais claro do processo H+ antiport in Arabidopsis. Science, v.285, p.1256-1258,
de desintoxicação. Apesar disso, o pré-tratamento de 1999.
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Fisiologia e bioquímica do estresse salino em plantas 159

ANEXO - Aquaporinas – também conhecidas como canais de


água, são proteínas integrais da membrana, que formam
Glossário de termos usados poros nas mesmas e, através deles a água penetra ou sai
Os filósofos da Grécia antiga, quando se reuniam das células.
para discutirem as preocupações dos homens que - Estresse ambiental – qualquer componente do meio
tentavam desvendar o mundo que os cercava, iniciavam ambiente que seja capaz de alterar o funcionamento
pela conceituação dos termos que iriam ser usados normal do indivíduo que está crescendo nesse ambiente.
durante suas discussões. Com isso, evitavam mal - Estresse oxidativo – quando o fator de estresse é
entendidos, comuns nessas ocasiões. Infelizmente, essa uma Espécie Reativa de Oxigênio (ERO), resultante das
prática foi esquecida e tem sido muitas vezes a causa de reações metabólicas que reduzem parcialmente o
desencontros. Partindo-se desse princípio, estão oxigênio molecular.
relacionados abaixo, os conceitos dos principais termos - Estresse salino – quando o fator de estresse ou
usados neste capítulo. agente estressante é o excesso de sais solúveis; são
- Aclimatação – refere-se a mudanças fisiológicas, considerados salinos os solos que possuem CEes ≥ 4,0 dS
bioquímicas e morfológicas temporárias, que ocorrem em m-1, PST < 15% e pH < 8,5; são considerados sódicos,
um organismo e aumentam sua tolerância às variações aqueles que possuem CEes < 4,0 dS.m-1, PST > 15% e
no ambiente externo; embora possa envolver mudanças pH > 8,5; e, finalmente, os salino-sódicos são os
na expressão gênica, ela é uma resposta homeostática possuidores de CEes ≥ 4,0 dS m-1, PST > 15% e pH <
que não se transmite para as gerações futuras (Salisbury,
8,5 (Richards, 1954).
1996; Taiz & Zeiger, 2006).
- Homeostase – é o processo de manutenção do
- Adaptação - refere-se à capacidade desenvolvida
equilíbrio interno das células, tecidos e órgãos do
por um organismo, através da seleção natural ou artificial, indivíduo, a despeito das variações no ambiente externo.
de tolerar ambientes estressantes, graças a mudanças - Percepção do sinal de estresse – maneira como as
fisiológicas, bioquímicas e morfológicas permanentes; células do indivíduo percebem a presença de um fator de
como essas mudanças são reguladas por genes elas são estresse.
transmitidas para as gerações futuras (Salisbury, 1996; - Transdução do sinal de estresse – uma sequência de
Taiz & Zeiger, 2006). processos em que um fator de estresse interage com um
- Antioxidante - pode ser definido como qualquer receptor, em geral, junto à superfície celular, causando
substância que, mesmo presente em baixas uma alteração no nível de um mensageiro secundário e,
concentrações em relação a um substrato oxidável, por fim, uma mudança no funcionamento celular (Taiz &
retarda significativamente ou evita sua oxidação. Zeiger, 2006).
Mecanismos biomoleculares
11 envolvidos com a resistência
ao estresse salino em plantas
Joaquim A. G. Silveira1, Sérgio L. F. Silva1, Evandro N. Silva1 & Ricardo A. Viégas2

1Universidade Federal do Ceará


2 Universidade Federal de Campina Grande

Introdução
Efeitos do estresse salino e principais respostas das plantas
Efeitos osmóticos e efeitos iônicos
Mecanismos da inibição do crescimento de plantas pela salinidade
Mecanismos biomoleculares da resistência à salinidade
Considerações iniciais
Papel da expressão gênica na resistência ao estresse salino
Ajustamento osmótico e homeostase hídrica: Aspectos fisiológicos
Papel da prolina no ajustamento osmótico e proteção celular de plantas sob estresse
salino
Papel de glicina betaina no ajustamento osmótico e proteção celular sob estresse salino
Outros solutos importantes no ajustamento osmótico sob estresse salino
Homeostase iônica
Considerações iniciais
Vias de transporte de Na+ na célula vegetal
Exclusão e compartimentalização do Na+ celular
Homeostase redoxi e proteção oxidativa
Considerações iniciais
Fotossíntese, fotorespiração e produção de EROS
Mecanismos de proteção oxidativa
Seleção assistida com marcadores moleculares
Conclusões e perspectivas
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
162 Joaquim A. G. Silveira et al.

Mecanismos biomoleculares envolvidos com


a resistência ao estresse salino em plantas

INTRODUÇÃO relacionadas nos últimos anos, ainda é limitada a


compreensão dos mecanismos que conferem resistência
Com a expansão da área agrícola cultivada no mundo, ao estresse salino numa determinada espécie vegetal. Em
partes marginais sujeitas à secas frequentes e solos parte essa dificuldade está associada com a própria
salinos estão sendo progressivamente incorporadas. Além complexidade da interação estresse-planta, que envolve
disso, com a expansão da irrigação, o problema da caracteres genéticos poligênicos e interativos com o
salinização secundária tem se tornado grave, ambiente. Por outro lado, ainda existe um grande
particularmente nas regiões tropicais onde prevalecem distanciamento entre a pesquisa básica em biologia
condições climáticas adversas como evapotranspiração vegetal e o melhoramento genético de plantas.
e temperaturas elevadas. Esses problemas são O melhoramento vegetal tradicional esteve sempre
frequentemente associados com manejo inadequado da mais focado no aumento da produtividade sob condições
água e do solo e do uso de águas com elevado teor de favoráveis, sendo o melhoramento para áreas agrícolas
sais, o que agrava intensamente o problema da marginais – como as áreas salinizadas, deixado em
salinização dos solos. Esse quadro é típico das regiões segundo plano. A maior integração entre a bioquímica e
semiáridas, onde a irrigação aparece como uma técnicas de biologia molecular (fatores biomoleculares)
importante alternativa tecnológica para incrementar a com a genética molecular e melhoramento de plantas
produtividade agrícola. deverá, em muito, contribuir para a obtenção de
Paradoxalmente, apesar dos enormes prejuízos genótipos resistentes ao excesso de sais. Para isso, é
econômicos e sociais causados pela salinidade na necessário, inicialmente, descobrir os elos fracos das
redução na produção agrícola, poucos são os programas diversas vias metabólicas envolvidas com a resistência ao
de melhoramento genético, em desenvolvimento no Brasil estresse salino, para em seguida eleger genes que
e no mundo, visando a obtenção de variedades possam controlar a resistência. Essa é uma tarefa muito
resistentes, especialmente genótipos adaptados às difícil, haja vista que a resistência ao estresse salino é um
regiões semiáridas tropicais. Ainda mais preocupante é caráter quantitativo que envolve diversas redes
o fato de atualmente ainda não se dispor de marcadores metabólicas, com forte interação com o ambiente.
moleculares, bioquímicos e fisiológicos (biomoleculares) Neste capítulo, iremos descrever, inicialmente, os
seguros ou viáveis para incorporação em programas de principais mecanismos biológicos envolvidos com os
seleção assistida de melhoramento genético, para uma efeitos do estresse salino assim como os principais tipos
dada cultura específica, quer seja por meio dos métodos de respostas das plantas cultivadas. Serão destacados os
convencionais, quer seja pelas técnicas de engenharia processos atualmente mais utilizados nas pesquisas,
genética. enfatizando as vias metabólicas, os passos bioquímicos e
A despeito do enorme progresso ocorrido na biologia os genes como maior potencial de controlar a resistência
vegetal, proporcionado pelo surgimento de ferramentas das plantas. Em seguida, será dado destaque
analíticas modernas e na grande quantidade de pesquisa especificamente aos seguintes processos: (1)
publicada nas áreas de fisiologia vegetal e outras mecanismos biomoleculares de resposta das plantas ao
Mecanismos biomoleculares envolvidos com a resistência ao estresse salino em plantas 163

estresse salino; (2) ajustamento osmótico e proteção Na fase de toxicidade iônica da salinidade ocorrem
celular com ênfase nos solutos orgânicos prolina e glicina efeitos diretos e indiretos causados pelo excesso de íons
betaina; (3) transporte celular, homeostase iônica e no tecido ou mesmo no meio externo radicular. Esses
compartimentalização vacuolar; (4) proteção e estresse mecanismos ainda não são bem compreendidos, mas
oxidativo; (5) fotossíntese e (6) uso de marcadores acredita-se que concentrações, acima de certo limiar,
moleculares na seleção e melhoramento genético. desencadeiam inicialmente cascatas de reações
bioquímicas de percepção e expressão de genes ligados
EFEITOS DO ESTRESSE SALINO E PRINCIPAIS ao fator modulador do estresse (presença de íons,
MECANISMOS DE RESPOSTAS DAS PLANTAS potencial osmótico, mudanças na pressão de turgescência
etc). Em seguida, ocorre a resposta da planta,
Efeitos osmóticos e efeitos iônicos envolvendo expressão gênica, síntese de proteínas e
A salinidade causa grandes distúrbios no metabolismo balanço hormonal. Essas respostas desencadearão
das plantas, acarretando restrição de crescimento e diversos processos fisiológicos importantes. A Figura 1
perda de produtividade. Diversos são os processos apresenta as fases correspondentes aos efeitos osmóticos
biomoleculares afetados pelo estresse salino, sendo muito e iônicos do estresse salino na restrição do crescimento
difícil estabelecer uma sequência dos eventos que são os de uma planta.
“passos limitantes”, uma vez que o metabolismo opera Os processos mais diretamente associados com a
toxicidade iônica são a senescência e a morte celular
em redes complexas com milhares de reações
programada, ambas induzidas por salinidade. Esses dois
bioquímicas interconectadas. Na realidade, os primeiros
processos são complexos e interligados e são respostas
efeitos causados pelo excesso de sais são de natureza
comuns das plantas a estresses bióticos, como aqueles
biofísica, se destacando os efeitos osmóticos, restringindo
desencadeados por ataque por patógenos. Acredita-se
o transporte de água. Em seguida, rapidamente é
que esses dois processos sejam os responsáveis pela
desencadeada uma sequência de reações, moduladas por
sintomatologia visual da toxicidade iônica tais como
hormônios, que levam restrição à abertura estomática e
clorose foliar (degradação de clorofila) e surgimento de
assimilação fotossintética do CO2.
pontos necróticos no limbo foliar (sintomas de apoptose
Esses efeitos predominam na primeira fase do ou morte celular). Portanto, aparentemente, muitos dos
estresse salino (“fase osmótica”), a qual ocorre nos
estágios iniciais da exposição das plantas à salinidade ou
na presença de níveis moderados de sais em contato
com o sistema radicular. Na verdade, comumente, nesse
Taxa de crescimento

período o que as plantas exibem é na realidade mais uma


resposta fisiológica do tipo aclimatativa ao estresse do que
mesmo danos sofridos pelo estresse salino per si. Em
outras palavras, muitas vezes o que comumente se
diagnostica como sintomas de efeitos negativos do
estresse salino, são, na realidade, respostas fisiológicas
normais das plantas para superar ou se aclimatar àquela
situação adversa. NaCl
À medida que os íons salinos se acumulam em
excesso no citosol das células das plantas surgirão
Fase osmótica Fase iônica
problemas de toxicidade (fase tóxica ou iônica) nas Figura 1. Esquema hipotético mostrando a restrição de
plantas expostas à salinidade. Entretanto, as espécies crescimento imposta pela exposição ao estresse salino:
diferem largamente na resistência protoplasmática ou uma resposta rápida e de alta intensidade é causada por
tecidual ao estresse salino. Essa capacidade de resistir o aumento da pressão osmótica no meio externo (fase
está ligada principalmente com a intensidade de osmótica) que reduz intensamente o crescimento. Uma
compartimentalização dos íons salinos dentro dos resposta posterior, devido à acumulação excessiva de
íons tóxicos nos tecidos (fase iônica), que em geral
vacúolos e com a manutenção de um balanço K+/Na+
levam ao surgimento de sintomas visuais de toxicidade
favorável no citosol. Atualmente, esse tem sido um dos nas folhas (geralmente clorose seguida por surgimento de
alvos para a seleção e melhoramento genético de áreas necróticas). Essas respostas variam intensamente
cultivares resistentes de algumas culturas, como será entre genótipos, nível de salinidade, solo e fatores
mostrado posteriormente. ambientais (Adaptado de Munns & Tester, 2008)
164 Joaquim A. G. Silveira et al.

sintomas visuais da salinidade são mais efeitos indiretos o crescimento. É possível que esta resposta envolva uma
do excesso de íons do que efeitos tóxicos diretos na cadeia de sinalização molecular (moduladores e
célula. proteínas), ativação e expressão de genes ligados às
Entretanto, o excesso de íons no citosol, proteínas do ciclo celular (ciclinas), modulando a síntese
especialmente o Na+, causa grandes alterações sobre a protéica e a divisão celular, com participação de
atividade de enzimas e estrutura funcional de proteínas, hormônios. Portanto, a modulação no crescimento,
causando efeitos diretos de toxicidade. Nessas exercida pela salinidade moderada, deve-se a uma nova
condições, a salinidade pode induzir problemas sérios no homeostase ditada por menores taxas de crescimento
transporte de água e de nutrientes minerais, acarretando associadas, principalmente, como menor fotossíntese.
“seca por salinidade” e desbalanço nutricional, Nessa fase, as reações bioquímicas funcionam
especialmente na relação Na+/K+ no citosol. Em geral, normalmente, porém com menores velocidades.
esses efeitos manifestam-se somente na presença de Dessa maneira, afirma-se que os efeitos da salinidade
níveis elevados de salinidade (estresse agudo) nas são “silenciosos”, pois as plantas, nessa fase do estresse,
espécies sensíveis. Entretanto, muitas vezes, os sintomas frequentemente não exibem sintomas de toxicidade ou de
de severidade do estresse não são positivamente injúrias, nem de desbalanço nutricional ou desidratação
associados com as concentrações dos íons salinos nos visível. Assim, frequentemente, sob condições de baixo
tecidos das plantas, mas sim com as concentrações no nível de salinidade, torna-se difícil, nas condições de
meio radicular externo. campo, diagnosticar os efeitos e os sintomas da
A aclimatação à salinidade, que poderá ocorrer na salinidade. Um exemplo bastante ilustrativo ocorre com
presença de níveis moderados de sais ou nos genótipos plantas de feijão caupi que reduzem intensamente seu
mais resistentes, constitui um processo complexo que
crescimento sem, entretanto, exibirem sintomas de
envolve o surgimento de uma nova homeostase
toxicidade iônica nas folhas, conforme mostra a Figura 3.
metabólica envolvendo alterações hormonais, no
O desenvolvimento das plantas em presença de
metabolismo celular e na expressão gênica. A
salinidade na faixa baixa a moderada, que pode ser
consequência mensurável causada pelos efeitos do
arbitrariamente definida de 2 a 4 dS m-1 de condutividade
excesso de sais na primeira fase do estresse é a rápida
na solução do solo, é reduzido significativamente devido
e intensa redução na taxa de crescimento, principalmente
na área foliar. Por muito tempo e ainda presente nos dias a modulação negativa no crescimento. Nessas condições,
de hoje, a explicação geral para essa resposta fisiológica em geral, as plantas conseguem completar seus ciclos de
é dada pela modulação no crescimento associada com a desenvolvimento, mas pagando o preço de uma menor
diminuição na expansão da parede celular (redução na produtividade. Pode-se dizer que o principal fator
pressão de turgescência). A Figura 2 ilustra os principais restritivo nessa fase é o da utilização de água devido à
efeitos do estresse salino nas plantas. menor transpiração (maior resistência estomática) e,
como consequência indireta, menor fotossíntese.
Mecanismos da inibição do crescimento de plantas Entretanto, sob certas condições específicas, essa
pela salinidade desvantagem (menor uso de água) poderá se tornar em
No nível bioquímico, ainda não existe, na literatura, um uma vantagem competitiva tendo em vista uma melhor
modelo teórico capaz de explicar a rápida modulação aclimatação às condições de restrição hídrica e fatores
exercida pelo excesso de sais (no meio radicular) sobre climáticos adversos como àquelas predominantes nas
regiões semiáridas tropicais. Contudo, é fundamental que
aqueles genótipos possuam a capacidade de restringir e
compartimentalizar o excesso de íons salinos, evitando a
toxicidade, especialmente nas folhas. A fase mais aguda
do estresse salino causa intensos distúrbios metabólicos,
os quais poderão levar à morte de tecidos e abscisão
foliar. Nessas condições, virtualmente todos os processos
celulares entram em colapso, dependendo da severidade
do estresse e da resistência do genótipo.
Um dos estresses secundários decorrentes da
salinidade nessas condições é o estresse oxidativo,
Figura 2. Esquema simplificado mostrando os principais especialmente nas folhas, decorrente do descontrole
efeitos do excesso de sais causando os efeitos osmóticos metabólico envolvendo processos chaves tais como
e iônicos do estresse salino fotossíntese, respiração, fotorespiração e o metabolismo
Mecanismos biomoleculares envolvidos com a resistência ao estresse salino em plantas 165

10 Controle 100

100 mM NaCl

8 80
(mg MS g MS dia )
-1

6 60

C.R.A.
T.C.R.

(%)
-1

4 40

2 20

0 0
Pérola Pitiúba Pérola Pitiúba

Figura 4. Esquema geral mostrando os principais processos


envolvidos com a resistência ao estresse salino. O
estresse salino induz pelo menos três tipos de estresses:
estresse osmótico + estresse iônico + estresse oxidativo.
Para cada tipo de estresse, as plantas desenvolvem
mecanismos de reparação e proteção, que levarão aos
novos estados de homeostase osmótica, homeostase
iônica e homeostase oxidativa. Em função da eficácia de
cada mecanismo de novo ajustamento poderão ocorrer
respostas finais de sobrevivência e crescimento
continuado (resistência) ou de parada de crescimento e
morte da planta (sensibilidade)
Figura 3. Taxa de crescimento relativo (TCR), conteúdo
relativo de água (CRA) e aspectos morfológicos de folhas principais alvos moleculares (genes) e bioquímicos com
de duas cultivares de feijão-caupi (Pérola e Pitiúba) maior potencial de utilização na obtenção de plantas
cultivadas na ausência (0), 100 e 200 mM de NaCl resistentes atualmente.
durante 15 dias. A fotografia mostra que apesar dos altos É importante frisar que ao se analisar a resposta de
níveis de salinidade as folhas não mostraram sintomas de uma espécie ou cultivar ao estresse salino deve-se ter em
toxicidade iônica, mas apresentaram forte restrição no mente duas situações bem distintas, mas difíceis de
crescimento (Extraído de Freitas, 2006; Maia et al., 2009)
separação. Assim, é necessário separar os mecanismos
de resposta envolvidos como estratégia de defesa ao
celular em geral. A despeito das plantas disporem de
estresse salino daqueles que são efeitos danosos da
diversos mecanismos de proteção e reparação celular, o
crescimento e a sobrevivência nessas condições irão salinidade sobre o metabolismo. Por exemplo, a redução
depender de um complexo balanço envolvendo a base na biossíntese de clorofilas pode ser uma resposta
genética (genótipo) e o ambiente. A Figura 4 mostra de aclimatativa ao estresse no sentido de economia de
forma simplificada, os principais mecanismos que energia e menor captação de energia luminosa, para
poderão conferir resistência ao estresse salino. evitar estresse foto-oxidativo, e não um efeito danoso em
si. Inversamente, o aumento na concentração de prolina,
MECANISMOS BIOMOLECULARES uma substância que favorece muitas espécies no
DA RESISTÊNCIA À SALINIDADE ajustamento osmótico e proteção celular, muitas vezes é
simplesmente um efeito de distúrbio metabólico causado
Considerações iniciais pelo estresse.
Neste item, serão apresentados os principais O metabolismo opera em centenas de rede de
mecanismos bioquímicos e de expressão gênica reações bioquímicas e frequentemente é muito difícil
envolvidos com a aclimatação e adaptação das plantas ao interpretar suas mudanças por efeito de estresses. Além
excesso de sais. Serão destacados alguns dos processos disso, a resistência a estresse salino se dá por diversas
biomoleculares mais importantes, enfatizando os mudanças aclimatativas ou adaptativas e raramente por
166 Joaquim A. G. Silveira et al.

uma ou algumas isoladamente. De fato, as respostas das invariavelmente mudanças metabólicas e fisiológicas
plantas ao estresse salino é a consequência final de uma assim como o controle da expressão gênica está ligado
série de eventos bioquímicos e de expressão gênica de com o metabolismo e a fatores ambientais. Atualmente,
análise complexa. A Figura 5 mostra um esquema o grande desafio da biologia vegetal é compreender como
simplificado envolvendo o paradigma atual da resposta esses fatores se interligam. No caso do estresse salino,
das plantas ao estresse salino e a outros tipos de a questão é saber como as alterações na expressão de
estresses. genes envolvidos com resistência podem, de fato,
contribuir (e de que maneira) com a resistência. A Figura
7 ilustra de modo simplificado, a interação entre fatores
de estresse e a resposta gênica no nível celular.

Figura 5. Modelo esquemático mostrando o mecanismo


geral de resposta biomolecular das plantas à salinidade
e a fatores de estresses em geral, ressaltando os eventos
celulares e a resposta no nível de planta inteira.
(Adaptado de Bray et al., 2000)

Figura 7. Modelo esquemático mostrando os três principais


A Figura 6 mostra um esquema simplificado de
sítios celulares, com respectivos componentes
diferentes vias envolvidas com as respostas ao estresse
moleculares, que podem ser manipulados geneticamente
salino e as consequências na resistência ou sensibilidade visando alterar a tolerância a estresses abióticos em
das plantas. plantas. O sítio 1 (BOX 1) está relacionado com as
proteínas responsáveis pela resposta metabólica de
proteção às alterações induzidas pelo estresse. O sítio 2
(BOX 2) se refere ao controle do processo de transcrição
dos genes específicos e potenciais, enquanto o sítio 3
(BOX 3) engloba os componentes envolvidos com os
mecanismos de percepção dos estímulos externos, que
culmina com a transdução e amplificação do sinal
emitido pelo fator de estresse até o núcleo. Após a
expressão gênica, ocorrerá a resposta ao fator de estresse
Figura 6. Vias potenciais de sinalização ao estresse salino. (BOX 1). (Adaptado de Grover et al., 1999)
O estímulo causado pelos efeitos iônicos e osmóticos
da salinidade é percebido por receptores que transmitem Ajustamento osmótico e homeostase hídrica:
essa informação para o núcleo celular através de vias Aspectos biomoleculares gerais
moleculares de transdução de sinais. As respostas na O ajustamento osmótico é caracterizado como o
expressão gênica, de genes específicos relacionados, aumento líquido na concentração de solutos na célula,
podem levar aos mecanismos de homeostase iônica e
descontando-se os aumentos devido à redução no volume
osmótica, regulação de crescimento e de reparo de danos
celulares. Em conjunto, essas respostas podem resultar na
celular. Esses incrementos ocorrem graças ao aumento
tolerância ou sensibilidade da planta ao estresse. na síntese de solutos orgânicos, mobilização desses
(Adaptado de Zhu et al., 2002) solutos de outros tecidos e aumento na absorção e/ou
migração de outros tecidos de solutos inorgânicos,
Papel da expressão gênica na resistência ao especialmente K+ e principalmente dos próprios íons
estresse salino salinos. Esse mecanismo permite a redução no potencial
Em ultima análise, a expressão de genes faz parte do osmótico e aumento no potencial de turgescência da
metabolismo celular, sendo cada parte dependente uma célula, facilitando a absorção de água e a manutenção do
da outra. Assim, alterações na expressão de genes levam crescimento celular.
Mecanismos biomoleculares envolvidos com a resistência ao estresse salino em plantas 167

O ajustamento osmótico é crítico especialmente nos têm discutido a osmoproteção em plantas e sua potencial
tecidos meristemáticos de raízes e folhas, possibilitando aplicação na tolerância à salinidade. Tem sido proposto,
o crescimento continuado. Mais uma vez, as halófitas são por diversos autores, que esses compostos beneficiam as
os melhores modelos de ajustamento osmótico sob células estressadas de duas formas: (1) pela ação como
condições de salinidade. Essas espécies são capazes de osmólitos citoplasmáticos, desse modo facilitando a
exibir intenso e eficiente ajustamento mesmo sob absorção de água e (2) e na proteção e estabilização de
condições extremas de excesso de sais, como em estruturas e macromoléculas (proteínas, membranas,
ambientes com concentrações próximas da água do mar. cloroplastos e lisossomos).
Infelizmente, a capacidade de ajustamento osmótico na A Figura 9 mostra a compartimentalização de solutos
maioria das espécies cultivadas (glicófitas) é, em geral, inorgânicos e orgânicos em uma célula de folha que
muito limitada sob condições de salinidade elevada. Como apresenta ajustamento osmótico em presença de
essas espécies não dispõem de estruturas especiais para salinidade.
acumular concentrações elevadas dos sais em suas folhas
– como fazem as halófitas, a utilização dos próprios íons
salinos para fins osmóticos torna-se limitada devido à
possibilidade de atingirem níveis tóxicos.
As glicófitas lidam como uma situação delicada entre
absorver mais íons para permitir absorver mais água e ter
mais crescimento e não sofrer os efeitos tóxicos dos íons
salinos. Essa situação é mais crítica ainda em tecidos
meristemáticos – os que mais requerem crescimento,
porque as células jovens possuem menor quantidade de
vacúolos para armazenar os sais tóxicos. A situação ideal
seria regular as taxas de absorção dos íons salinos, com
a armazenagem em tecidos mais velhos, síntese de
solutos orgânicos osmoticamente compatíveis e Figura 9. Esquema geral de compartimentalização celular de
incremento na absorção de K+ e outros nutrientes. A solutos inorgânicos e orgânicos envolvidos no
ajustamento osmótico de folhas submetidas ao estresse
Figura 8 representa um esquema simplificado mostrando
salino (Adaptado de Bray et al., 2000)
o ajustamento osmótico favorecendo o balanço hídrico e
a manutenção da pressão de turgescência. Uma das respostas metabólicas ao estresse salino em
Os mecanismos de ajustamento osmótico e a algumas espécies é o aumento na síntese de osmólitos
acumulação de solutos compatíveis em plantas têm compatíveis. Eles auxiliam o ajustamento osmótico,
chamado a atenção durante muito anos. Vários trabalhos protegem estruturas subcelulares e reduzem os danos
oxidativos em resposta à salinidade. Os mais importantes
desses compostos osmoticamente ativos são açucares,
açúcares-poliois, aminoácidos e compostos quaternários
Ψp = +0,5 MPa Ψp = 0 MPa de amônio. Os solutos mais estudados e com maior
Ψs = -2,0 MPa Ψs = -1,2 MPa
Ψw = -1,5 MPa Ψw = -1,2 MPa potencial de beneficiar as plantas com maior resistência
ao estresse salino são: o aminoácido prolina, o composto
quartenário de amônio glicina betaina, o açúcar-alcool
manitol e o açúcar trealose. A Figura 10 mostra a
estrutura química dos principais solutos compatíveis.
Deficit
hídrico Papel da prolina no ajustamento osmótico e
proteção celular de plantas sob estresse salino
Com ajustamento
osmótico
Ψw (solo) = -1,5 MPa Sem ajustamento A salinidade estimula um aumento na concentração
osmótico
de alguns aminoácidos livres, dentre eles a prolina. A
observação de que a acumulação de prolina ocorria em
Figura 8. Esquema geral mostrando a importância do tecidos de plantas expostas à deficiência hídrica ocorreu
ajustamento osmótico na absorção de água sob pela primeira vez em 1953, nos Estados Unidos. A partir
condições de baixo potencial hídrico do solo (Adaptado daí milhares de trabalhos mostraram que esse fenômeno
de Bray et al., 2000) ocorria em diversos organismos e em diferentes tipos de
168 Joaquim A. G. Silveira et al.

geralmente ocorria após o surgimento dos sintomas de


injúrias causados após o estresse já ter sido estabelecido
(Rocha, 2003).
Outros estudos, utilizando plantas transgênicas ou
espécies com diferente capacidade para acumulação de
prolina nos tecidos sob estresse, mostraram que tais
concentrações não eram suficientemente elevadas para
provocar uma contribuição significativa no potencial
osmótico celular ou mesmo na proteção celular (Silva et
al., 2009). Isso tudo levou a uma situação que ainda
persiste nos dias atuais: a prolina contribui de fato para
Figura 10. Estrutura química dos principais solutos a resistência ao estresse salino ou sua acumulação é
compatíveis encontrados em plantas superiores. meramente um sintoma de distúrbio metabólico?
(Adaptado de Hasegawa et al., 2000) Um fato que pesa a favor do papel benéfico da
prolina é que algumas espécies halófitas – as plantas
estresses. Criou-se, então, o paradigma de que prolina
mais evoluídas para lidarem com excesso de sais,
estaria envolvida com a proteção de plantas contra
acumulam efetivamente esse aminoácido em grande
estresses tais como seca e salinidade. quantidade para beneficiar o ajustamento osmótico do
Inicialmente, foi demonstrado em cultivo de células, citosol e proteção de estruturas celulares. Independente
bactérias e sistemas livres de células (extratos de da corrente de pensamento científico, a tentativa de
plantas) que concentrações muito elevadas de prolina (na aumentar os níveis de produção de prolina em plantas
ordem de 1000 mM) eram capazes de proteger proteínas transgênicas por meio do aumento da expressão de
contra desnaturação (Figura 11). Outros estudos, com genes codificadoras de enzimas de sua biossíntese tem
genótipos contrastantes demonstraram que os mais sido um dos alvos preferidos para a obtenção de plantas
resistentes à seca e salinidade apresentavam maior resistentes (Silva et al., 2010a).
acumulação de prolina. Infelizmente, diversos outros Os genes alvos mais utilizados são os das enzimas
estudos não confirmam àquelas conclusões, ou seja, P5CS (1-pirroline-5-sintase de carboxilato) e P5CR (1-
outros genótipos mais sensíveis também acumulavam pirroline-5-redutase de carboxilato), consideradas como
mais prolina na condição de estresse. Em seguida, foi passos limitantes da via de biossíntese da prolina em
claramente demonstrado que a acumulação de prolina plantas (Figura 12). Plantas transgênicas de diversas
espécies têm sido transformadas com sucesso e sob
condições restritas de laboratório essas plantas têm

NADP+ + Pi NADP+ + Pi
CH2 CH2 NADPH NADPH
CH2 CH2 CH2 CH2 CH2 CH2
P5CS P5CR
HOOC CH Espontânea
COOH CH CH CH CH CH2 CH
O=

NH2 COOH COOH COOH


ADP NH2 N N
L-ác. glutâmico GSA H
ATP P5C
L- prolina
Ornitina – δ –
Íons desnaturantes aminotransferase
NADPH
P2CR
Solutos compatíveis CH2 CH2 NADP+
(Prolina) Arginase CH2 CH2
Arginina CH2 CH O P2C
COOH CH2 CH
NH2 NH2 COOH
Uréia
Ornitina CH2 CH2 N
Espontânea
CH2 CH
COOH
NH2

Figura 12. Vias de biossíntese da prolina em plantas. A via


iniciada pelo ácido glutâmico é considerada a mais
importante sob condições de estresse osmótico. As
reações consideradas mais importantes o são a primeira,
Proteínas Proteínas catalisada pela P5CS, que converte o ácido glutâmico
desnaturadas nativa em semi-aldeido glutâmico (GSA) e a PSCR que reduz
Figura 11. Esquema mostrando provável papel protetor de o ( 1-pirroline 5- carboxílico = P5C) até prolina.
prolina e outros solutos orgânicos compatíveis na Entretanto, em algumas espécies, como o cajueiro, a via
proteção de proteínas contra desnaturação causada por da OAT – ornitina -aminotrasferase, é importante sob
excesso de sais. (Adaptado de Bray et al., 2000) condições de estresse salino (Rocha, 2003)
Mecanismos biomoleculares envolvidos com a resistência ao estresse salino em plantas 169

mostrado maior aclimatação às doses elevadas de NaCl. A glicina betaína age como estabilizador osmótico e
Entretanto, algumas plantas transformadas se mostraram ajuda na proteção de macromoléculas sob desidratação,
mais resistentes sem porém apresentar níveis desse sendo considerado um excelente osmoprotetor (Hassine
soluto em quantidade suficiente para contribuir com o et al, 2008). Em plantas superiores, a via biossíntetica de
ajustamento osmótico ou com proteção de proteínas glicina betaína é curta e direta: colina monoxigenase
contra desnaturação causada por excesso de sais. (CMO) converte colina para betaína aldeído, que por sua
Como prolina pode exercer um papel na proteção vez é convertido em betaína pela desidrogenase de
contra espécies reativas do oxigênio ou mesmo como betaína aldeído (BADH) – Figura 13. O aumento da
sinalizador celular, alguns autores têm mais recentemente expressão de transcritos de BADH em resposta ao
postulados esses efeitos benéficos para as células sob estresse osmótico tem sido amplamente observado.
condições de estresse salino. Os poucos trabalhos
Colina
existentes com genética clássica não são suficientes para CH2OH monoxidase CHO
Betaina aldeido
desidrogenase COO-
concluir se de fato prolina é um caráter bioquímico CH2
O2 2H2O
CH2
H2O
CH2
favorável à resistência de plantas ao estresse salino. +
H3C- N - CH3 +
H3C- N - CH3 H3C- N+- CH3
Portanto, a despeito dos grandes avanços nas técnicas de 2Fd(red) 2Fd(ox) NAD+ NADH + H+
CH3 CH3 CH3
biologia molecular, ainda não se sabe o efetivo papel
Colina Aldeido betaina Glicina betaina
protetor exercido por prolina na resistência aos estresses Figura 13. Via de biossíntese da glicina betaina em plantas.
abióticos. (Adaptado de Chen & Murata, 2008)
Estudos em nosso laboratório com algumas espécies
regionais do semiárido têm mostrado que a acumulação Em geral, as espécies glicófitas cultivadas
de prolina é mais expressiva sob condições de seca do apresentam baixas concentrações de glicina betaina. Em
que sob estresse salino, como ocorre com feijão-caupi, diversas espécies, em especial o arroz, o gene da BADH
cajueiro, pinhão manso e Atriplex nummularia (Santiago, tem sido transferido com sucesso gerando plantas
2006; Silva et al. 2010a; Silveira et al. 2009). É transgênicas com produção aumentada de glicina betaina.
interessante observar que feijão-caupi acumula Algumas dessas espécies transformadas, semelhante ao
quantidades expressivas de prolina nas raízes sob observado para as transformações com prolina, têm
estresse hídrico, porém níveis bem mais baixos sob mostrado melhor aclimatação em níveis elevados de
estresse salino. NaCl quando comparadas com as plantas não
Na realidade, todas aquelas espécies acumulam transformadas. Apesar das concentrações desse soluto
pouca prolina, mas são as espécies de pinhão manso e protetor em plantas transgênicas muitas vezes não ser
erva sal as que possuem níveis endógenos elevados de elevadas, essa área da pesquisa é promissora na
outro importante soluto orgânico: a glicina betaina (Silva obtenção de plantas mais resistentes.
et al., 2009; Silveira et al., 2009). Nesses casos, as Entretanto, da mesma forma do que a prolina, o papel
quantidades acumuladas nessas espécies são importantes benéfico de glicina betaina em plantas transgênicas ainda
para a proteção e ajustamento osmótico sob estresse não é totalmente claro. Alguns autores têm sugerido que
salino. o fato desse soluto se acumular preferencialmente em
organelas como o cloroplasto, poderia assim exercer seu
Papel de glicina betaina no ajustamento osmótico e papel protetor uma vez que comumente as concentrações
proteção celular sob estresse salino determinadas são no tecido ou na célula inteira. Como os
Outro soluto sintetizado em algumas espécies em cloroplastos representam uma pequena fração do volume
condições de estresse salino é a glicina betaína, um celular, as medidas de concentração poderiam estar
composto quaternário de amônio, cujo papel fisiológico muito subestimadas. De fato, essa é uma limitação
estar relacionado à osmorregulação do citosol e metodológica que é válida para outros solutos assim
compartimentos celulares, na proteção de proteínas e na como para interpretação de outras medidas de
estabilização de membranas (Sakamoto & Murata, 2000). biomoléculas envolvidas com compartimentalizaçao
Sob salinidade, os níveis desse soluto aumentam celular, tal como atividade enzimática.
intensamente em diversas espécies halófitas da família
das Chenopodiaceae. Nessas espécies, esse soluto atinge Outros solutos importantes no ajustamento
concentrações elevadas mesmo na ausência de osmótico sob estresse salino
salinidade, evidenciando que talvez ela seja sintetizada Diversos outros solutos são importantes no
constitutivamente a partir de um processo genético- ajustamento osmótico de diversas espécies vegetais,
biomolecular e evolutivo (Silveira et al., 2009). destacando-se: açucares solúveis (sacarose e glicose),
170 Joaquim A. G. Silveira et al.

manitol e trealose, dentre outros. Além disso, o conjunto ligada à resistência das plantas ao estresse salino tem
dos aminoácidos livres totais e dos açucares solúveis recebido muita atenção da pesquisa nos últimos anos.
representam quantitativamente os solutos orgânicos mais Neste caso, as plantas do tipo halófitas têm funcionado
importantes no ajustamento osmótico ou contribuição como modelo devido sua grande compatibilidade para
para a manutenção do estado hídrico em níveis aceitáveis conviver com concentrações extremas de sais.
durante o estresse salino. Além do fator quantitativo,
esses solutos se acumulam preferencialmente no citosol Vias de transporte de Na+ na célula vegetal
e organelas, fazendo o contraponto na homeostase O influxo de sódio nas células das raízes é um
osmótica com os íons salinos que se acumulam processo predominantemente passivo, sendo mediado por
preferencialmente nos vacúolos. canais iônicos e sistemas de transporte do tipo uniporte.
Outro soluto frequentemente negligenciado na As principais vias envolvidas no influxo de Na+ na celular
questão do ajustamento osmótico de plantas sob estresse vegetal são os transportadores de potássio de alta
salino é o K+. Este íon é um componente essencial para afinidade (HKT), os transportadores de cátions de baixa
o ajustamento osmótico celular além de influenciar no afinidade (LCT), os canais de cátions insensíveis a
estado hídrico por participar da abertura e fechamento voltagem (VICs) e os canais de cátions não seletivos
estomático. A sua importância no ajustamento osmótico (NSCC) (Apse & Blumwald, 2007). Embora o papel
de plantas sob estresse salino deve ser vista pelo menos específico de cada um desses sistemas de transporte
sob três aspectos: (1) ele atinge concentrações elevadas possa variar em função da espécie e/ou das condições
nas células e se concentra preferencialmente no citosol; de crescimento, fortes evidências sugerem que esses
(2) não se liga quimicamente a nenhuma biomolécula, diferentes tipos de sistemas de transporte podem operar
portanto, possui alta atividade osmótica; (3) é capaz de em conjunto durante a absorção de Na+.
causar antagonismo com os íons Na+. As proteínas da família HKT representam um sistema
Infelizmente, na maioria das espécies, incluindo as de co-transporte tipo simporte Na+/K+, uma via seletiva
halófitas, sob condições de elevadas concentrações Na+ para o influxo do Na+ na célula. Em arroz (Oryza sativa),
as concentrações de K + são geralmente diminuídas a expressão de alguns membros que compõem a família
devido ao mecanismo de competição ou antagonismo do HKT reforça o seu papel no influxo do Na+. O gene
entre eles. Entretanto, esse processo é bastante OsHKT2;1 está presente em folhas e raízes de variedades
dependente do genótipo e por isso tem sido apontado de arroz resistente e sensível ao sal. A expressão do
como um alvo potencial na obtenção de genótipos mais OsHKT2;1 na variedade resistente é reduzida em resposta
resistentes ao estresse salino por meio de índices simples a salinidade, indicando um mecanismo de redução na
como a relação K+/ Na+ em diferentes órgãos ou tecidos. absorção de Na+ associado com a tolerância ao estresse
salino (Kader et al., 2006). O HKT também atua como
HOMEOSTASE IÔNICA simporte Na+/K+ em trigo e a redução de sua expressão
na espécie resulta no menor acúmulo de Na+ na raiz, o que
Considerações iniciais está associado com o aumento da resistência ao sal.
O aumento na concentração de sais na solução Embora represente uma importante via para o influxo
externa das raízes induz aumento no fluxo de íons na de Na+ na célula vegetal, as proteínas do tipo HKT não
direção das células da epiderme, acarretando elevação são as principais vias para esse transporte. O transporte
nas concentrações iônicas no apoplasto, nas proximidades por canais iônicos (proteínas mediadoras da passagem de
da membrana plasmática. Indubitavelmente, essa íons) é considerado a via mais importante, em termos
situação levará ao influxo crescente de íons salinos, quer quantitativos, para a entrada passiva do Na+ na célula
seja por canais não seletivos, quer seja por meio de vegetal. Nesse sentido, recentes estudos têm
canais de íons específicos (ex. canais de K+) ou por meio demonstrado que os canais de cátions não seletivos
de proteínas transportadoras de cátions e anions (NSCC) são as principais vias de influxo de Na + nas
específicas para outros íons nutrientes da planta. células sob salinidade elevada (Tester & Davenport,
Esse processo levará ao aumento progressivo na 2003).
concentração de sais no citosol e vacúolos até que uma Apesar de existirem muitos genes candidatos que
nova homeostase se estabeleça. Nesse processo, proteínas possam codificar os NSCC, a identidade desses canais
transportadoras e canais de membranas podem ter suas (proteínas) permanece pouco clara. Duas famílias desses
sínteses aumentadas ou diminuídas (expressão gênica) no canais de cátions não seletivos, os CNGCs – canais
sentido de compatibilizar um balanço favorável ao ativados por ciclonucleotídios, e os GLRs – canais
metabolismo celular. Essa área do metabolismo celular ativados por glultamato têm sido sugeridos como
Mecanismos biomoleculares envolvidos com a resistência ao estresse salino em plantas 171

candidatos a canais do tipo NSCC (Tester & Davenport, das bombas de H+ (H+-ATPase ou ATPases dependentes
2003). A Figura 14 mostra as principais vias de influxo de do fluxo de prótons) fornecerem a força eletromotriz
Na+ nas células vegetais. necessária para a exclusão de Na+ a partir do citosol
para dentro do vacúolo ou para o meio externo celular
pH = 5,5 – 5,7 (apoplasto), que ocorre sempre contra um gradiente
+
K =Na +
Na+>K+ K+>Na+ K+ Na+ eletroquímico.
As bombas de prótons promovem o fluxo de H +
através das membranas pelo sistema de transporte ativo
Exterior
primário, utilizando energia química na forma de ATP. Por
outro lado, os sistemas de contratransporte Na +/H +
∆ψ = -140 mv realizam o transporte ativo secundário, onde o fluxo do
sódio contra o gradiente eletroquímico ocorre sempre
acoplado ao fluxo de prótons, previamente bombeados
Citosol pelas H + ATPases, a favor do seu gradiente de
concentração. Duas classes de sistemas de
NORC VIC AKT1 HKT1 contratransporte Na+/H+, que atuam na exclusão do Na+
pH = 7,0 – 7,4 citosólico, estão presentes em plantas, os transportadores
Figura 14. Vias de influxo de sódio localizadas na SOS1 (Salt Overly Sensitive) na plasmalema e os NHX
plasmalema de células vegetais. Diferentes carreadores localizados no tonoplasto (Blumwald et al., 2000).
de potássio podem mediar o influxo de Na+ para dentro As proteínas SOS1 estão localizadas na membrana
da célula. Os canais de potássio de baixa afinidade
plasmática e sob condições de excesso de Na+ no citosol
(AKT1) possuem alta seletividade K +/Na+. O canal de
potássio de alta afinidade (HKT1) é um simporte K +/
podem atuar na sua exclusão pelo contratransporte Na+/
Na+. Os canais de cátions insensíveis a voltagem (VICs) H+ (Blumwald et al., 2000; Shi et al., 2002). Nesse
apresentam uma maior seletividade Na+/K+. Os canais sistema de co-transporte, a maior concentração de H+ no
retificadores de cátions (NORC) são vias ativadas por exterior da célula, gerada e mantida pela ação de
Ca++ e não discriminam entre K+ e Na+. (Adaptado de H + ATPases da plasmalema, gera um gradiente de
Blumwald et al., 2000) concentração de H+ entre os lados da plasmalema. Este
gradiente de prótons representa a força eletromotriz para
Exclusão e compartimentalização do Na+ celular impulsionar a ação do contratransporte Na+/H+ realizado
A homeostase iônica intracelular é fundamental para pela SOS1, que acopla o influxo de H+ na célula, a favor
a fisiologia normal das células vivas. Assim, a estrita do seu gradiente de concentração, com o efluxo de Na+
regulação do controle dos mecanismos de influxo e da célula contra seu gradiente de concentração.
efluxo de íons é essencial para a manutenção da No sistema radicular, as proteínas SOS1 podem está
concentração de íons tóxicos em níveis baixos e para o presentes na plasmalema de células epidérmicas, que
acúmulo de íons essenciais (Apse & Blumwald, 2007). podem excluir o Na+ citosólico para o exterior, bem como
As células vegetais empregam o transporte ativo na plasmalema de células que circundam o estelo ou nas
primário, mediado por H + ATPases, associado ao célualas do parênquima adjacentes ao xilema. Quando
transporte ativo secundário, realizado por canais e localizada em torno do xilema da raiz, a exclusão do Na+
carreadores em sistemas de co-transporte, para manter realizada por esses transportadores pode levar a
uma elevada relação K +/Na+ no citosol. Essa é uma deposição desse íon no xilema e consequentemente no
condição essencial para a manutenção da turgescência fluxo transpiratório, favorecendo transferência do Na +
celular e manutenção da homeostase metabólica celular. para a parte aérea. Dessa foram, esse sistema de
Os mecanismos de transporte presentes nas células transporte, que corresponde a um mecanismo de
vegetais estão relacionados com a tolerância ao excesso exclusão celular do Na+, pode está diretamente envolvido
de Na+ no meio externo. Essa tolerância é conferida pela com mecanismos que regulam o transporte e a
exclusão do Na+ celular através da plasmalema ou o seu distribuição desse íon na planta.
acúmulo nos vacúolos, através do tonoplasto, evitando Além de atuar no contratransporte Na + /H + , as
acúmulo no citosol (Apse & Blumwald, 2007). Os proteínas SOS1 também atuam como sensores de
sistemas de contratransporte Na + /H + , presentes na plasmalema responsável pela percepção do excesso de
plasmalema e no tonoplasto, são essenciais para a Na+ extracelular. Conforme observado na Figura 15 essa
homeostase dos íons Na+ e K+ na célula. Esses sistemas proteína está localizada na plasmalema onde pode servir
de transporte representam um custo energético pelo fato como um receptor de sinal, podendo desencadear uma
172 Joaquim A. G. Silveira et al.

resposta metabólica de sinalização através de proteínas principalmente atribuída a compartimentalização do


quinases dependentes de Ca 2+ no citosol. Por esse excesso de Na + citosólico para dentro do vacúolo,
modelo, a presença do Na+ externo leva a um aumento evitando danos em estruturas e macromoléculas
no teor de Ca2+ livre no citosol que modula a atividade celulares. Esse mecanismo de tolerância à salinidade tem
de proteínas dependentes desse íon. Por essa via, a se mostrado eficiente em plantas transgênicas de
percepção e a transdução de sinal do efeito iônico da Arabidopsis (Apse et al., 1999), fumo (Wu et al., 2004)
salinidade podem resultar na modulação da expressão de e algodão (He et al., 2005), apresentando aumento de
genes ligados com a atividade de proteínas expressão do gene NHX que codificam para a síntese
transportadoras envolvidas com a exclusão de Na + do dessa proteína.
citosol (Zhu, 2003). Em Arabidopsis, o aumento da expressão do gene
AtNHX resultou no significativo aumento da resistência
Na+Ext à salinidade das linhagens transformadas, comparadas
aquelas do tipo selvagem (Figura 16). Esse aumento de
resistência foi correlacionado com o nível de expressão
Sensor Plasmalema dos transcritos (mRNA) do gene e com o aumento do
conteúdo e atividade da proteína NHX (Apse et al.,
SOS3 Ca2+ Tonoplasto 1999). Em algodão a resistência diferencial de cultivares
ao estresse salino está relacionada com a expressão do
Na+ gene GhNHX (Wu et al., 2004). Quando as cultivares
SOS2 AtNHX1 Vacúolo
H+ ZM3, resistente a salinidade e as ZMS17 e ZMS12,
sensíveis a salinidade, foram expostas 400 mM de NaCl
Na+ foi observado que o nível de mRNA do GhNHX em
SOS1
folhas do ZM3 foi 3 e 7 vezes maior comparado ao
Plasmalema
observado nas cultivares ZMS17 e ZMS12,
H+ respectivamente.
Figura 15. Esquema geral mostrando o envolvimento de A maior resistência à salinidade conferida pelo
transportadores de Na+ de plasmalema e de tonoplasto GhNXH no algodoeiro foi transferida para plantas de
na presença de excesso de NaCl. A proteína SOS1 da fumo pela inserção do cDNA desse gene. Nas plantas de
plasmalema atua na exclusão do excesso de Na+ celular,
fumo expressando o gene GhNHX de algodoeiro, foi
pelo contratransporte Na+/H+ e na percepção do Na+
extracelular. A SOS1 é ativada pela ação das proteínas
observado um significativo aumento da resistência ao
quinases dependentes de cálcio SOS2 e SOS3. A via
SOS3-SOS2 também ativa a proteína NHX1, outro
sistema de contratransportador Na+/H+ do tonoplasto,
que realiza a inclusão do Na+ no vacúolo (Adaptado de
Zhu, 2003)

A exemplo do mecanismo de co-transporte realizado


pela SOS1 da plasmalema, a NHX1 realiza um
transporte ativo secundário, aproveitando a energia do
gradiente eletroquímico gerado pelas H +ATPases do
tonoplasto como força eletromotriz. O gene da proteína
NHX foi inicialmente identificado em plantas de
Arabidopsis thaliana, denominado para essa espécie
como AtNHX1 (Gaxiola et al., 1999). A proteína NHX1
está localizada no tonoplasto, onde atua como um
contratransportador Na+/H+ acoplando a exclusão do
próton, a favor do gradiente de concentração, com a
Figura 16. Plantas de Arabidopsis tipo selvagem (A) e
inclusão do Na + no vacúolo, contra um gradiente
transformada (B) apresentando nível elevado de
eletroquímico. expressão do gene AtNHX expostas a concentrações
A ação da proteína transportadora NHX1 do crescentes de NaCl durante 16 dias. (A) controle; (B) 50
tonoplasto pode atenuar a toxicidade iônica causada pelo mM; (C) 100 mM; (D) 150 mM e (E) 200 mM. (Extraido
estresse salino nas plantas. Essa proteção é de Apse et al., 1999)
Mecanismos biomoleculares envolvidos com a resistência ao estresse salino em plantas 173

estresse salino. As plantas transgênicas, expressando o carbono. As Figuras 18 e 19 mostram os principais sítios
GhNHX, a diferença do aspecto visual e da produção de de produção de EROs (Espécies Reativas de Oxigênio) na
massa seca quando expostas a concentrações crescentes célula vegetal, e os primeiros eventos envolvendo a planta
de NaCl foi marcante (Figura 17). A maior capacidade inteira relacionados com os distúrbios nas trocas gasosas
de crescimento, baseada na massa seca, foi relacionada que podem levar a geração excessiva dessas EROs.
com a indução da expressão do gene GhNHX,
demonstrando que esse gene é um forte alvo para Fotossíntese, fotorespiração e produção de EROs
manipulação genética de plantas visando o aumento de O excesso de poder redutor na forma de elétrons nos
resistência à salinidade. fotossistemas, se não dissipado de maneira eficaz,

Figura 17. Plantas de fumo do tipo selvagem (WT) e


transformadas (T) expressando o gene GhNHX de algodão
(Gossypium hirsutum) expostas a concentrações
crescentes de NaCl durante 30 dias. As plantas
transgênicas foram obtidas pela inserção do cDNA do
gene GhNHX no genoma do fumo. (Extraído de Wu et
al., 2004) Figura 18. Esquema mostrando que a restrição estomática
causada por estresse salino poder levar a restrição na
HOMEOSTASE REDOXI fixação de CO 2 e conseqüente desbalanço na
E PROTEÇÃO OXIDATIVA fotossíntese, resultando no aumento na produção de
EROs e danos oxidativos, que poderão causar morte
Considerações iniciais celular. (Adaptado de Bray et al., 2000)
Mesmo mantendo um equilíbrio favorável na nova
homeostase metabólica, envolvendo o balanço iônico e
hídrico nas células, na condição de estresse salino a Luz Cloroplasto Peroxissomo
planta necessita ainda desenvolver novos mecanismos de Glicolato
proteção contra estresses secundários. Dentre esses se PSII PSI O2•− H2O2
destaca o estresse oxidativo, que poderá surgir devido a H2O2
Glioxilato Glicina
mudanças causadas pela salinidade. Esses efeitos são Fixação de CO ,
mais importantes nas folhas expostas a um ambiente Fotorrespiração2 H2O2
Ciclo Glicina
Krebs
desfavorável tais como aqueles que apresentam baixa O2 SOD
•−
NADP O2 NADH
umidade do ar, temperaturas elevadas e alta radiação
NADPH oxidase NADH CTE
solar. Em conjunto, esses fatores podem intensificar os Mitocôndria Serina
NADP
danos oxidativos induzidos pelo estresse salino.
Nessas condições, o fechamento estomático, induzido O2•− Plasmalema
H2O2 Peroxidases H2O + O2
pela salinidade, pode causar profundo desbalanço no
Figura 19. Principais sítios de produção de EROs na célula
processo de fotossíntese, iniciado por um excesso de
vegetal em tecidos fotossintetizantes. Os principais sítios
energia nos sistema de captação de luz, transporte de celulares, responsáveis pela produção de EROs, são o
elétrons e fotossistemas dos cloroplastos. Esse excesso de cloroplasto, peroxissomo e a mitocôndria. Além desses,
energia passa a não ser aproveitado eficientemente pelo pode ocorrer a geração de EROs no espaço apoplasto,
processo de redução do CO 2 , culminando com um pela ação da enzima NADPH oxidase localizada na
desbalanço entre as reações luminosas e de fixação de plasmalema (Adaptado de Œlesak et al., 2007)
174 Joaquim A. G. Silveira et al.

poderá reduzir o O2 convertendo-o em diferentes tipos de Aproximadamente 75% do carbono que entra como 2-
EROs, principalmente o oxigênio singleto (1O2), radicais fosfoglicolato é reciclado para 3-fosfoglicerato por uma
superóxido (O 2•”), peróxido de hidrogênio (H 2O 2) e série complexa de reações envolvendo enzimas
radical hidroxil ( • OH). Além disso, sob condições localizadas nos cloroplastos, peroxissomos e
adversas, o processo de fotorespiração pode ser mitocôndrias. Este conjunto de reações que representa
intensificado, aumentando a produção de peróxido de o maior destino metabólico do carbono glicolato,
hidrogênio nas folhas, através de reação nos constitui a via fotorrespiratória. Em adição às enzimas
peroxisomos. Em relação à capacidade de produção de diretamente envolvidas na reciclagem do carbono,
EROs em tecidos fotossintéticos, os cloroplastos são outras enzimas possuem importantes papéis ligados aos
considerados as principais organelas geradoras, seguidos processos como a assimilação de nitrogênio.
pelos peroxissomos e mitocôndrias (Foyer & Noctor, O processo fotorrespiratório provavelmente demanda
2003). mais energia que a fixação de CO 2 . Entretanto, a
Nos cloroplasto a geração de EROs pode ocorrer pela oxigenação da RuBP aumenta significativamente a energia
fotorredução direta do oxigênio molecular, gerando o requerida por molécula de CO2 fixado. Na realidade, os
radical superóxido, seguido da produção de peróxido de processos iniciados pela oxigenação podem ser
hidrogênio oriundo da ação da dismutase do superóxido, considerados em termos metabólicos, ser um ciclo fútil que
localiza nessa organela. Nessa sequência de reações, o usa ATP e poder redutor para evitar densidades de energia
radical superóxido (O2•”) é formado no fotossistema I de excitação potencialmente deletérias para o aparato
(PSI) pela transferência de elétrons da água para o O2, fotossintético. Um efeito da via fotorrespiratória,
via o sistema de transporte da ferredoxina, processo entretanto, é prevenir danos aos centros de reação quando
denominado reação de Mehler. O O 2•” gerado é em a energia luminosa está em excesso.
seguida dismutado para H 2 O 2 pela ação de uma Na sequência de reações para regeneração do 3-
isoforma da enzima dismutase do superóxido (Fe-SOD), fosfoglicerato a partir do 2-fosfoglicerato ocorre a produção
localizada nos cloroplastos. O peróxido de hidrogênio de H 2O 2 nos peroxissomos. No cloroplasto o 2-
produzido é reduzido a H 2O e O2 pela peroxidase do fosfoglicerato é desfosforilado à glicolato, pela ação da
ascorbato cloroplástica, evitando assim dano oxidativo. fosfatase do fosfoglicolato e em seguida, o glicolato é
Embora a formação de EROs nos cloroplastos seja convertido à glioxilato no peroxissomo, pela oxidase do
uma condição natural da fotossíntese, diversos estímulos glicolato. Nessa reação, ocorre a geração simultânea de
ambientais podem causar distúrbios no metabolismo do H2O2 que faz do peroxissomo uma das principais organelas
cloroplasto e intensificar essa produção, causando dano produtoras de EROs da célula vegetal. Devido à meia vida
oxidativo. O fechamento estomático, induzido pela relativamente longa e sua permeabilidade as membranas, o
salinidade, causa desequilíbrio entre as fases H 2O 2 produzido pode causar dano oxidativo no
fotoquímicas e de redução do carbono (Silva et al., peroxissomo bem como em outros sítios celulares.
2010b). Como consequência, ocorre um aumento na Sob condições ambientais que favoreçam a atividade
relação NADPH/NADP+ no estroma devido à redução de oxigenase da Rubisco, como a restrição estomática
de funcionamento do Ciclo de Calvin, que consome o imposta pela salinidade, o processo fotorrespiratorio pode
NADPH, acarretando diminuição no conteúdo de ser intensificado. Nessas condições a produção do H2O2
NADP+, o principal aceptor de elétrons do PSI. nessa organela é significantemente aumentada e os
Sob condições de alta luminosidade esse distúrbio é danos oxidativos podem se tornar bastante acentuados,
exacerbado em função do excesso de elétrons nos caso os sistema de proteção presentes na célula não
sistemas de transporte dos tilacóides e dos fotossistemas, eliminem o excesso de H 2 O 2 produzido. Dentre os
os quais se tornam sítios potenciais para fotorredução do mecanismos de proteção a enzima catalase (CAT)
O2 e produção de EROs. Um dos principais distúrbios presente no peroxissomo é essencial para a remoção do
metabólicos relacionados com a eficiência do processo excesso de H 2O 2 produzido sob tais condições, por
fotossintético é a ocorrência e a intensificação do realizar a proteção da própria organela, além de evitar o
processo fotorrespiratório (Silva et al., 2010c). A vazamento do H 2 O 2 para outros locais da célula,
fotorrespiração é uma rota metabólica que descreve a conforme mostra a Figura 20.
absorção de luz dependente de O2 associada à liberação
de CO2. Mecanismos de proteção oxidativa
A reação inicial da fotorrespiração é a oxigenação A produção em excesso de EROs no tecido vegetal
da ribulose 1,5-bisfosfato (RuBP) pela Rubisco, poderá levar a uma situação metabólica extrema no
formando 3-fosfoglicarato e 2-fosfoglicolato. ambiente celular, em que às espécies reativas irão se
Mecanismos biomoleculares envolvidos com a resistência ao estresse salino em plantas 175

Nessas condições os mecanismos de proteção


oxidativa, representados principalmente pelos
antioxidantes não enzimáticos ascorbato e glutationa,
estão estritamente relacionados com a resistência ao
estresse oxidativo em diferentes espécies. Além desses,
a maior proteção oxidativa frente ao estresse salino é
dependente também das principais enzimas oxidativas,
como a dismutase do superóxido (SOD), a catalase
(CAT), a peroxidase do ascorbato (APX), a redutase de
glutationa (GR), a redutase do ácido
monodeidroascórbico (MDHAR) e a redutase do ácido
deidroascórbico (DHAR).
Figura 20. Esquema mostrando a integração metabólica entre A biossíntese do ascorbato (ácido ascórbico) pode
citosol, cloroplasto, mitocôndria e peroxissomos com ocorrer em tecidos fotossintetizantes e não
destaque para a produção de EROs durante a via fotossintetizantes, indicando que sua produção não
fotorrespiratória e o papel protetor das catalases (CAT) depende diretamente do processo fotossintético. No
na eliminação do H2O2 produzido no peroxissomo. entanto, a localização exata da biossíntese do ascorbato
(Adaptado de Foyer & Noctor, 2000)
na célula vegetal não está muito clara, embora estudos
indiquem que possa ocorrer no citosol e mitocôndrias
acumular progressivamente e acarretar danos por meio
(Shao et al. 2008), ou nos cloroplastos, organela que
da peroxidação de lipídeos de membrana, proteínas e
possui altas concentrações de ascorbato. No vacúolo
ácidos nucléicos, podendo levar à morte celular. Para
celular a concentração do ascorbato está próxima de 0,6
lidar com esses distúrbios metabólicos as plantas dispõem
mM, enquanto que em alguns compartimentos dos
de um complexo sistema de proteção oxidativa,
cloroplastos e do citosol pode atingir concentrações entre
representado por pigmentos, antioxidantes de baixa
20 e 50 mM.
massa molecular e enzimas catalisadoras de reações de
O ascorbato reduzido (ASA) é considerado o mais
eliminação (desintoxicação) de EROs.
importante substrato para redução do H2O2 em água e
Todo esse arsenal bioquímico é constituído por uma
fração constitutiva (já existente na célula antes do oxigênio molecular na célula vegetal. A APX utiliza duas
estresse) e por uma fração induzível, que é expressa em moléculas de ascorbato como doadoras de elétrons para
resposta ao surgimento do estresse. Sob condições reduzir uma molécula de H 2O 2 a H 2O e O 2, com a
salinas, o balanço entre a produção das EROs e a formação de duas moléculas do ácido
capacidade de remoção pela célula vegetal, poderá levar, monodeidroascórbico (MDHA). O MDHA é um radical
ou não, a um certo grau de aclimatação da espécie ou instável e pode ser rapidamente desprotonado, de forma
genótipo ao estresse oxidativo causado pela salinidade. espontânea, para produzir ascorbato e ácido
De fato, pesquisas nos últimos anos têm mostrado deidroascórbico (DHA). Além de ocorrer de forma
evidências de que a resistência ao estresse salino pode espontânea, à redução do MDHA para ascorbato pode
estar ligada como a capacidade de proteção oxidativa, também utilizar doadores de elétrons específicos como o
atribuída a componentes de proteção enzimática e não citocromo tipo b, a ferredoxina reduzida ou o NADPH.
enzimática. Na célula vegetal, o ascorbato pode atuar como
A produção de EROs ocorre naturalmente associado antioxidante secundário, doando elétrons para a redução
ao metabolismo respiratório e fotossintético, do H 2 O 2 na reação catalisada pela APX, ou
representando uma condição metabólica normal das primariamente, pela interação direta com diferentes
células vegetais. Em função dessa condição, a célula EROs, como o H2O2, O2˙¯ , HO˙, 1O2 e hidroperóxidos
vegetal possui uma complexa rede de sistemas de lipídios. O ascorbato pode ainda atuar na manutenção
antioxidativos constituída por componentes de natureza do estado reduzido do α–tocoferol, um importante
enzimática e não enzimática que atua continuamente na antioxidante não enzimático na fase aquosa, pela redução
proteção oxidativa. No entanto, em plantas sob salinidade da sua forma oxidada. O tocoferol (vitamina E) é um
pode ocorrer um aumento na produção de EROs devido antioxidante solúvel em lipídio e capaz de interagir com
ao desbalanço metabólico entre os sistemas de produção as EROs e impedir as reações finais que causam
de EROs e de proteção oxidativa celular, podendo peroxidação de lipídios no interior dos diferentes sistemas
resultar em danos oxidativos severos. de membranas da célula vegetal (Ślesak et al., 2007).
176 Joaquim A. G. Silveira et al.

A glutationa reduzida (GSH) é um tripeptídeo que proteção oxidativa ocorre a produção imediata do H2O2,
ocorre na célula simultaneamente com a forma oxidada outro tipo de EROs que é removido da célula pela ação
GSSG, formando o par redox GSH/GSSG. A glutationa de diferentes peroxidases.
pode ser sintetizada no citosol e/ou nos cloroplastos, onde As peroxidases mais importantes na proteção
estão localizadas as enzimas sintetase da γ- oxidativa do tecido vegetal são as APXs e as CATs. As
glutamilcisteina e sintetase da glutationa, duas enzimas diferentes isoformas da APX estão amplamente
que compõem a via biossintética desse tripeptídeo. A distribuídas dentro da célula vegetal, enquanto a CAT
glutationa reduzida é a forma predominante de grupos está localizada exclusivamente dentro dos peroxissomos.
SH não protéico, da célula, e está relacionada à As CATs são enzimas tetraméricas, com quatro
regulação da absorção de enxofre no tecido radicular, subunidades idênticas de 60 kDa, contendo um grupo
além de atuar como antioxidante, no tamponamento redox heme que catalisam a redução do H2O2 para H2O e O2,
e na expressão de genes de defesa. protegendo a célula dos danos oxidativos oriundos da
Nas reações envolvendo a GSH, o grupo SH do acumulação excessiva do H 2O 2. Essas enzimas que
resíduo de cisteína é oxidado para produzir GSSG, estão presentes nos peroxissomos, glioxissomos e
enquanto que a reação reversa é catalisada pela GR, organelas relacionadas, onde enzimas produtoras de
utilizando NADPH. Na célula um pool de GSH em peróxido de hidrogênio, como a glicolato oxidase, estão
estado altamente reduzido, mantido pela atividade localizadas.
constante da GR, é necessário para a manutenção da Comparadas com as APXs, as catalases possuem
atividade de muitas enzimas e para evitar a formação de baixa afinidade pelo substrato (H2O2), porém apresentam
pontes dissulfeto entre proteínas, impedindo a agregação alta atividade catalítica. Essa diferença de propriedade
e inativação enzimática. Em plantas, os tecidos cinética é atribuída à necessidade da ligação simultânea
metabolicamente ativos possuem concentrações de duas moléculas de peróxido de hidrogênio ao sítio
relativamente altas de GSH, em torno de 4,5 mM nos catalítico das CATs, para que ocorra a reação. Apesar
cloroplastos. GSH podem atuar no tamponamento redoxi, disso, o papel das CATs na proteção oxidativa é
formando barreiras entre os grupos SH dos resíduos de extremamente importante, por essas enzimas estarem
cisteína das proteínas e as espécies reativas de oxigênio, localizadas em pontos estratégicos da célula, em que há
produzidas durante o metabolismo normal ou quando produção localizada de H2O2. Durante a fotorrespiração
aumentadas sob condições de estresse. a catalase é essencial para a remoção do H2O2 gerado
Na célula, as enzimas oxidativas dismutases do no peroxissomo.
superóxido (SODs) são responsáveis pela dismutação do Em plantas existem três isoformas de CATs, CAT1,
O2•- para H2O2 e O2, sendo elas consideradas a primeira CAT2 e CAT3, classificadas em três classes distintas.
linha de defesa antioxidativa enzimática. A produção do Na classe I estão as catalases SU2, do algodão, CAT1,
radical superóxido (O2•-) pode ocorrer em qualquer sítio de Nicotiana plumbaginifolia, CAT 2, de A. thaliana e
celular que possui cadeia de transporte de elétrons e CAT-2 do milho. Essas enzimas estão envolvidas com a
oxigênio disponível, como as mitocôndrias e os remoção do H 2 O 2 durante a fotorespiração e são
cloroplastos, além daqueles onde ocorrem reação redox, dependentes de luz. A classe II inclui a CAT 2, do feijão
como os microssomos, glioxissomos, peroxissomos, (Suzuki et al., 1994), CAT 3, de milho e tomate, CAT 2
apoplasto e citosol. Em plantas, as SODs podem ser da batata, e CAT 1 de A. thaliana, encontradas
encontradas em todos os compartimentos da célula principalmente no tecido vascular. A classe III inclui a
capazes de produzir EROs, particularmente em SU1 do algodão, CAT 3 de N. plumbaginifolia, CAT 1 de
cloroplastos, mitocôndria e peroxissomos, os principais feijão e CAT 3 de A. thaliana, localizadas nos
sítios de produção de EROs na célula vegetal. glioxissomos de sementes.
As SODs constituem uma família de metalo-proteínas A Figura 21 mostra as principais organelas e sítios
que está subdividida em três grupos distintos, dependendo celulares onde atuam os principais antioxidantes
do co-fator enzimático: Fe-SOD, Mn-SOD e Cu/Zn- enzimáticos. As enzimas APXs compõem uma família de
SOD, localizadas em diferentes sítios celulares. As isoenzimas com características bastante distintas,
isoformas Fe-SOD estão localizadas nos cloroplastos, localizadas em diversos sítios celulares, como citosol,
enquanto as Mn-SOD podem ser encontradas nas cloroplastos, mitocôndrias, peroxissomos e glioxissomos
mitocôndrias e peroxissomos. As isoformas Cu/Zn-SOD (Shigeoka et al, 2002). As APXs cloroplásticas estão
podem ser encontradas simultaneamente nos localizadas no estroma (sAPX) e nos tilacóides (tAPX).
cloroplastos, citosol e no espaço extracelular (Alscher et As isoformas citosólicas (cAPX) estão solúveis no
al., 2002). Como resultado da ação das SODs na citosol, enquanto aquelas presentes nos microcorpos e
Mecanismos biomoleculares envolvidos com a resistência ao estresse salino em plantas 177

nas mitocôndrias (mAPX/mitAPX) estão associadas às produção da sua forma oxidada GSSG. A regeneração da
membranas dessas organelas. As APXs cloroplásticas GSH ocorre pela ação da GR, que utiliza o NADPH
são monômeros com massa molecular de 37,2 kDa, as de como poder redutor.
mitocôndria e dos microcorpos possuem 31 kDa, e a
citosólica é um homodímero com subunidades de 28 kDa.

Apoplasto

Cadeia de transporte de elétrons Mitocôndria

Citosol

Estroma
Figura 22. Ciclo ascorbato-glutationa na célula vegetal. APX
Cloroplasto
Sinalização – Peroxidases de ascorbato; MDHA – Redutase de
Membrana do tilacóide
β-oxidação
fotorrespiração
monodehidroascorbato; DHAR – Redutase de
dehidroascorbato; GR – Redutase de glutationa.
(Adaptado de Foyer e Noctor, 2000)
Lúmem do tilacóide Microcorpos

Figura 21. Esquema mostrando as principais organelas e


sítios celulares, bem como os componentes metabólicos SELEÇÃO ASSISTIDA COM MARCADORES
envolvidos com os processos de produção e de remoção MOLECULARES
de EROs na célula vegetal. AsA (ascorbato reduzido);
MDAsA (ascorbato oxidado). (Adaptado de Shigeoka et
al., 2002)
A seleção assistida com marcadores moleculares
(SAM) consiste em integrar a genética molecular com a
Apesar dessas diferenças, todas as APXs utilizam o seleção fenotípica, através da procura de alelos
ascorbato reduzido (AsA) como doador específico de desejáveis, indiretamente, por meio do uso de marcadores
elétrons para reduzir o H2O2 para H2O e O2. No geral, ligados. Quanto mais próximo o marcador molecular
a enzima APX utiliza dois elétrons intermediários, estiver do gene ou do conjunto dos genes ligados com o
localizados no átomo de Fe +3 e em um resíduo de processo fisiológico de resistência à salinidade, mais
triptofano, para catalisar a redução do H2O2. O ciclo de eficiente será o processo. Uma das técnicas de SAM
reação inicia-se pela transferência dos elétrons do Fe +3 mais utilizadas com sucesso em algumas culturas é
e do resíduo de triptofano do complexo reduzido APX- mapeamento de locos controladores de caracteres
Fe(III)-R para o H2O2, resultando no complexo oxidado quantitativos – QTLs (“quantitative Trait Loci”).
APX-Fe(IV)-R+. Em seguida, ocorre a regeneração do A vantagem do uso da técnica de QTLs na seleção
estado redox do grupo R, pelo consumo de uma molécula para resistência ao estresse salino é que os caracteres
de ASA, seguido da regeneração do complexo APX- analisados possuem distribuição contínua e
Fe(III), pelo consumo da segunda molécula de ASA. Ao frequentemente são controlados por muitos genes, os
final da reação para cada duas moléculas de ASA quais são altamente influenciados pelo ambiente.
oxidada (MDHA) uma de H2O2 é reduzida. Portanto, espera-se que essa técnica possa cobrir a
O papel da APX na proteção oxidativa ocorre lacuna deixada pela técnica de plantas transgênicas
associado com a ação das enzimas GR, MDHAR e modificadas com um ou pouco genes, a qual tem se
DHAR, que compõem a ciclo do ascorbato-glutationa mostrado muito limitada na obtenção de plantas mais
(Figura 22). Esse ciclo é uma rota metabólica essencial resistentes nas condições de campo. O uso dos QTLs
na proteção oxidativa e ocorre na mitocôndria, nos permitirá a incorporação de um maior número de alelos
cloroplastos e nos peroxissomos. Nessa via a utilização desejáveis nos indivíduos, portanto, acelerando o
do ascorbato leva a formação da sua forma oxidada, o melhoramento genético (Flowers, 2004).
monodeidroascorbato (MDHA). O MDHA é reduzido Alguns trabalhos com tomateiro mostraram que a
para ASA pela enzima redutase do monodeidroascorbato produtividade sob salinidade foi associada com a
(MDHAR), utilizando NADPH, enquanto que o DHA é participação de QTLs e que as características desses
reduzido pela redutase de deidroascorbato (DHAR), marcadores foram diferentes entre as plantas cultivadas
utilizando glutationa reduzida (GSH). A redução do DHA na presença ou na ausência da salinidade. Outros
para regenerar o ascorbato consome GSH, levando a trabalhos têm demonstrado que os QTLs associados com
178 Joaquim A. G. Silveira et al.

tolerância variam com o estágio de desenvolvimento da representadas pelo conjunto das “ômicas” (genômica,
planta. Por outro lado, em outras espécies tem sido proteômica, metabolômica etc), muito ainda deverá ser
demonstrado que os QTLs associados com diferentes feito na pesquisa.
tipos de resposta ao estresse salino (germinação, A biologia vegetal (bioquímica, biologia molecular,
transporte iônico, tipo de fruto) são diferentes entre si, e fisiologia vegetal, genética, genética molecular) deverá,
sofrem influencia do ambiente (Flowers, 2004). primeiramente, descobrir o que faz uma cultivar ser mais
A utilização de QTLs para a obtenção de plantas resistente à salinidade do que outra. Paradoxalmente,
resistentes à salinidade abre uma boa perspectiva porque ainda não sabemos por que uma cultivar é mais resistente
essa técnica permite a identificação e futuramente a do que outra! Em seguida, é necessário descobrir como
transferência de vários genes ligados com a resistência. alguns genes podem de fato interferir nos mecanismos
Alguns poucos QTLs ligados à tolerância têm sido biomoleculares de resistência das plantas.
identificados dentro de alguns genomas, sugerindo que os Somente após uma compreensão clara de como
caracteres possam ser determinados por um limitado agem os genes e seus produtos (proteínas e outras
numero de locais ou que genes associados com biomoléculas), será possível identificar os mecanismos e
caracteres fisiológicos possam estar agrupados nos os marcadores moleculares para serem utilizados de
cromossomos. De cinco QTLs associados com efeitos maneira eficaz em programas de melhoramento genético
da salinidade sobre o crescimento de arabidopsis, dois para obtenção de cultivares resistentes à salinidade. Em
estavam localizados próximos de dois genes envolvidos outras palavras, primeiro deveremos abrir as caixas
com resposta ao estresse salino. pretas para depois gerar técnicas e tecnologias seguras,
Devido à complexidade genética da resistência ao como a transgenia.
estresse salino, a identificação e transferência de vários Na verdade, a biologia vegetal dispõe hoje de uma
genes ligados com os mecanismos de resistência, quantidade imensa de potenciais mecanismos
poderão contribuir no futuro para o melhoramento das bioquímicos e genes envolvidos com os processos que
culturas. No entanto, o fato de um QTL poder podem controlar a resistência ao estresse salino. A
representar muitos, talvez centenas de genes, ainda grande dificuldade parece ser canalizar esforços para que
constitui um desafio no sentido da identificação de locos avanços reais de longo prazo não sejam fragmentados ao
chaves dentro de um determinado QTL. Outro desafio longo do caminho. Para isso, parece essencial a
será descobrir a natureza dos QTLs, por exemplo, se eles formação de redes interdisciplinares na grande área de
são genes reguladores, para no futuro fazer biologia vegetal no sentido da elaboração de programas
melhoramento vegetal assistido com marcadores de de longo prazo, tendo como meta a obtenção de produtos
DNA. finais: a geração de cultivares resistentes à salinidade.
Após a seleção dos processos biomoleculares mais
CONCLUSOES E PESPECTIVAS limitantes para a resistência ao estresse numa especifica
cultura, parece ser essencial a operacionalização desses
Centenas de reações bioquímicas e de ação de caracteres selecionados em programas de melhoramento
promotores e expressão de genes deverão estar, de genético. Para isso, a seleção assistida com marcadores
alguma maneira, envolvidas com a resistência ao moleculares por meio do uso de QTLs parece ser a mais
estresse salino. Essa previsão é baseada não somente a promissora por envolver diversos genes e o ambiente.
partir da natureza poligênica da resistência à salinidade, Em paralelo, programas de melhoramento convencionais
mas também no fato de que o metabolismo opera em com técnicas de cruzamentos intraespecíficos e
redes com milhares de reações estreitamente interligadas interespecíficos, com auxilio de marcadores bioquímicos,
entre si. Assim, dificilmente genes únicos ou alguns moleculares e fisiológicos, também devem ser
marcadores moleculares serão capazes de controlar a estimulados.
resistência ao estresse salino porque outras reações, Por outro lado, a técnica da transgenia com plantas
outros genes e mudanças ambientais afetam a resposta transformadas com um ou pouco genes parece ter seu
de genes e moléculas. potencial maior como ferramenta para estudos de
Outros fatores que fazem aumentar a complexidade mecanismos biomoleculares envolvidos a resistência ao
para o conhecimento dos mecanismos biomoleculares que estresse salino. O conjunto dos resultados obtidos nos
controlam a resistência é a própria complexidade das últimos anos com essa abordagem tem mostrado sua
interações planta-estresse e planta-ambiente. A despeito limitação na produção de cultivares com atributos
dos enormes avanços da biologia moderna, com o favoráveis para resistência ao estresse salino em cultivos
surgimento de um arsenal poderoso de ferramentas comerciais.
Mecanismos biomoleculares envolvidos com a resistência ao estresse salino em plantas 179

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12 Biossalinidade e produção agrícola

Pedro D. Fernandes1, Hans R. Gheyi2,


Alberício P. de Andrade1 & Salomão de S. Medeiros1

1
Instituto Nacional do Semi-Árido
2 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Introdução
Halofitismo
Ecofisiologia das halófitas
Ecofisiologia da adaptação ao estresse salino
Escape, tolerância ou resistência
Adaptações morfológicas e anatômicas
Germinação - Propagação via vegetativa
Absorção, transporte e acumulação de íons - Metabólitos orgânicos e ajustamento
osmótico
Eficiência de uso da água e fotossíntese
Outros fatores considerados na ecofisiologia das halófitas
Salinidade x Produção
Espécies para a agricultura salina
Cultivos biossalinos
Água do mar na agricultura biossalina
Aspectos técnicos e econômicos
Sustentabilidade
Exemplos de agricultura irrigada com água do mar
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
182 Pedro D. Fernandes et al.

Biossalinidade e produção agrícola

INTRODUÇÃO atingindo taxas superiores a 16 g L-1 (20 dS m-1), chegando


a 20 g L-1 (25 dS m-1) em zonas costeiras (FIDA, 2004).
Em nível global, a cada ano vem declinando a taxa de Aliás, extensas áreas do planeta são, naturalmente,
aumento populacional, o que poderia ser alvissareiro, salinas ou têm sido salinizadas por ações antrópicas,
considerando a necessidade de produzir alimentos e geralmente como consequência de práticas equivocadas
suprir as demandas de tanta gente. Entretanto, tal de irrigação (Pereira et al., 2002). Naturalmente,
declínio em nada diminui as perspectivas sombrias para ocorrem solos salinos ao longo da costa de continentes,
o futuro, exigindo maior responsabilidade de governos e, em estuários e em áreas salinas internas (‘Great Salt
principalmente, maior compromisso dos organismos de Lakes’ nos Estados Unidos, Mar Morto em Israel,
CT&I, em gerar novos conhecimentos para aumentar a ‘Neusiedlersee’ na Áustria, dentre outros). À ação do
produção de alimentos. Mesmo com a queda de homem é atribuída a salinização de áreas em regiões
prolificidade, a cada ano a população do planeta aumenta áridas e semi-áridas, manejando, inadequadamente, a
cerca de 80 milhões de pessoas, sendo projetados pelas água em projetos de irrigação; civilizações antigas
Nações Unidas mais de 9 bilhões em 2050;
desapareceram na Mesopotâmia (Tigris e Eufrates), na
aproximadamente, 95% desse aumento ocorrerá em
China e na América pré-Colombiana; áreas foram
países do Terceiro Mundo, onde justamente se
salinizadas, posteriormente no Norte da África, no rio
concentram os menos desenvolvidos, com deficiências de
Indus - Paquistão, rio Ganges na Índia e no Vale de São
água e alimento. A população mundial, em 01/01/2010,
Joaquim - Califórnia (Choukr-Allah et al., 1996; Ozturk
era estimada em 6.793.593.686 habitantes (USCENSUS,
2010). et al., 2006).
Em várias regiões do planeta, está aumentando a A lição desastrosa da salinização parece não ter sido
dificuldade para se conseguir água, em termos apreendida totalmente pela humanidade, considerando a
quantitativos e qualitativos, para satisfazer a demanda continuidade de ocorrência do processo nos tempos
sempre crescente da população; o problema é mais sério contemporâneos (Abdelly et al., 2008). Segundo
na Ásia Ocidental e no Norte da África. Segundo estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio
Ozturk et al. (2006), a crise por água é o maior desafio Ambiente, contidas em Jaradat et al. (2004), 20% das
a ser enfrentado pela humanidade; desde o início do terras agricultáveis e 50% das atualmente cultivadas
século passado, a demanda pelo precioso líquido tem estão afetadas por sais.
aumentado duas vezes mais que o crescimento da Um dos problemas mais urgentes da sociedade atual é
população. Altas temperaturas, resultantes do encontrar suficiente água e terra para dar suporte à
aquecimento global, e escassez de precipitações pluviais necessidade de alimentos do mundo. A FAO (2005) estima
e de águas de superfície têm provocado desertificação à em 200 milhões de hectares a área adicional necessária a
medida que os aquíferos e as águas subterrâneas se produção de alimentos, até 2025, para alimentar tanta
tornam mais salinos, como resultado de bombeamento gente. As terras de boa qualidade, passíveis de serem
crescente e da incorporação de sais. Em muitas áreas, cultivadas, agricolamente, cerca de 93 milhões de ha,
a salinidade de aquíferos do interior está aumentando, estão hoje cobertas por florestas, sendo difícil visualizar a
Biossalinidade e produção agrícola 183

sua devastação para atender à demanda de alimentos. Em Rozema, 1996). Posteriormente, vários pesquisadores
contraste, água do mar é abundante, mares e oceanos constataram não ser verdadeira tal interpretação, ao
contêm, aproximadamente, 97% das águas; em muitos verificarem que as halófitas não têm exigência por
locais, por características de solo e clima, as águas concentrações altas de sais, mas vegetam em uma faixa
superficiais e de poços rasos são, também, salinos. de concentração salina, específica para cada genótipo,
Igualmente, solos salinos ocorrem em todo o globo, 43% sem causar alterações em sua fisiologia e sem reduzir,
das terras do planeta são áridas ou semi-áridas, com cerca significativamente, seu crescimento (Orcutt & Nilsen,
de 15% (130 milhões de hectares), em áreas costeiras ou 2000; Ashraf et al., 2006).
de interior que poderiam ser cultivadas com água do mar Com a evolução das pesquisas, conhece-se,
para produção de alimentos, preservando-se florestas e atualmente, a importância do sódio na fisiologia das
destinando-se águas de boa qualidade para fins de uso halófitas, considerando prevalecer na maioria de suas
direto pelas populações (Glenn et al., 1998a, 1998b; Ozturk espécies, o mecanismo de fixação de CO2 do tipo C4, em
et al., 2006). que o substrato orgânico básico do ciclo inicial de
Claramente, fica patente a necessidade de serem carboxilação é o fosfoenolpiruvato, envolvendo a enzima
incorporadas à agricultura terras marginais, como as PEP-carboxilase. Epstein & Bloom (2006) citam ser Na
naturalmente salinas, as encharcadas, as areias de um micronutriente essencial para as plantas C4 e CAM,
desertos e as áreas costeiras arenosas. Desde o início da por estar envolvido, diretamente, na reconstituição do
década de 60, século passado, muitos cientistas vêm se fosfoenolpiruvato. Com esse novo conhecimento,
dedicando a estudos de reabilitação e funcionamento de entende-se a importância do sódio para as halófitas, mas
ecossistemas salinos, com a preocupação constante de na concentração de um micronutriente, o que é muito
monitorar a acumulação de sais e mantê-los produtivos. menor do que o conteúdo do elemento em águas e solos
O conhecimento científico será, absolutamente, essencial salinos, onde ocorrem. Portanto, não há relação direta
ao desenvolvimento de práticas adequadas ao manejo da entre concentrações altas de sais e sua exigência pelas
agricultura biossalina (Mohammad & Scanes, 2004; halófitas, mas o Na deve estar presente em seu habitat/
Shahid & Hasbini, 2007; Toderich et al., 2008a ) . nicho ecológico. Visando a um melhor entendimento da
Como agricultura biossalina entende-se o uso de importância de Na para as halófitas, apresentamos na
águas salinas, geralmente em solos salinos ou salinizados, Figura 1 os ciclos de carboxilação, típicos das plantas C4,
para o cultivo de espécies tolerantes ao estresse salino, com explicações.
quando água e solos de boa qualidade se tornam
escassos. Na agricultura biossalina tem predominado o
uso de halófitas, espécies naturalmente adaptadas a
crescer e produzir em condições com alta concentração
de sais, tema a ter uma melhor abordagem em outros
subitens deste trabalho.
Caberá à agricultura biossalina um papel relevante na
produção de alimentos de origem vegetal ou animal. Tal
necessidade é mais patente quando se constata estar a
água doce se tornando escassa; segundo Hendricks &
Bushnell (2009) e Khan et al. (2009), os usos doméstico,
industrial e agrícola de água fresca estão aumentando tão
rapidamente que haverá escassez em todo o mundo.
Outro fator agravante foi detectado nas últimas décadas,
com a constatação de estarem se tornando
progressivamente salinas as águas superficiais e
subterrâneas, em muitas áreas agrícolas (Wilt & Oosten,
2000; Miranowski, 2004).

HALOFITISMO

Durante muito tempo, acreditou-se que a ocorrência


de halófitas em solos salinos tinha relação com uma Figura 1. Ciclos de carboxilação das plantas C4, em que se
possível exigência dessas plantas por concentrações altas enquadra a maioria das halófitas, ocorrendo o primeiro
de sais, particularmente sódio e cloreto, para seu nas células do mesófilo e o segundo - Ciclo de Calvin
crescimento e desenvolvimento (Flowers et al., 1986; - em células da bainha vascular
184 Pedro D. Fernandes et al.

Halofitismo ocorre em cerca de 1/3 das angiospermas concentração máxima de sais em que ocorre o máximo
(classe mais importante para agricultura biossalina que as de incremento de biomassa da espécie ou, em termos de
gimnospermas) e cerca de 50% dos gêneros tolerantes a probabilidade, à concentração de sais no meio a partir da
sais pertencem a 20 famílias; entre as angiospermas qual é menos provável a sua ocorrência. Sob tais
dicotiledôneas, a família Chenopodiaceae abrange a maior condições de salinidade, dificilmente uma glicófita teria
parte das halófitas (20% delas), distribuídas, também, em condições de vegetar, o que explica ser considerado
Aizoaceae, Caryophyllaceae, Cruciferae (Brassicaceae), ‘ótimo’ para a halófita, por não ter que competir com
Compositae (Asteraceae), Leguminoseae e outras espécies.
Plumbaginaceae (O’Leary & Glenn, 1994; Abdelly et al.,
Faixa favorável fisiologicamente

probabilidade de ocorrência de uma espécie


2008). para espécie

ECOFISIOLOGIA DAS HALÓFITAS

Incremento de biomassa ou
Em ecologia, o termo ‘nicho ecológico’ representa a
soma das características que determinam a posição e
função de uma espécie em um determinado ecossistema;
deve-se distinguir ‘nicho ecológico’ de ‘habitat’, sendo
este o local onde evolui a espécie, enquanto o ‘nicho’ é
a função desempenhada pelos indivíduos da espécie no
ecossistema. Entre as características determinantes,
estão fatores químicos e físicos, além de sua distribuição Concentração de sais no meio
espacial e temporal, todos eles requeridos para a
Ótimo ecológico
ocorrência e sobrevivência da espécie em um
Figura 2. Relações entre incremento de biomassa ou
determinado habitat, condicionando seu crescimento probabilidade de ocorrência de uma espécie (eixo “y”)
(Larcher, 2000; Hans-Werner et al., 2008). e aumento da concentração de sais no meio (Fonte:
No habitat das halófitas, determinante para Adaptado de Rozema, 1996)
caracterizar o seu nicho ecológico, são encontradas altas
concentrações de sais no solo e na água (Flowers et al., Ecofisiologia da adaptação ao estresse salino
1986; Rozema, 1996; Orcutt & Nilsen, 2000). No Norte São variadas as adaptações das plantas ao meio
da Holanda, por exemplo, o valor médio de concentração salino, razão de estudos da ecofisiologia, abrangendo
de sais para ocorrência de Glaux maritima é de 8880 desde mecanismos de ordem fenológica, morfológica e
mg de NaCl L-1 (Rozema, 1978), considerado o ‘ótimo fisiológica, passando, também, por eficiência de uso de
ecológico’ em relação à característica de salinidade do água, aspectos bioquímicos, biomoleculares e genéticos
nicho dessa halófita; através de estudos hidropônicos (Arzani, 2008). As halófitas desenvolveram mecanismos
esse autor verificou não ser afetada a acumulação de diversos para se adaptar a ambientes com altas
biomassa daquela espécie, até esse nível de NaCl, concentrações de sais. Algarie et al. (2007) destacam
significando que 0 – 8880 mg de NaCl L-1 é a faixa de três adaptações principais: acumulação de osmólitos,
controle do fluxo de água no interior da planta e a
salinidade favorável, fisiologicamente, para ocorrência de
manutenção da homeostase iônica. Em algumas halófitas,
Glaux marítima; pelos novos conhecimentos sobre a
enzimas exercem, também, importante função, fazendo
essencialidade de Na, como micronutriente, para essa
com que sejam menos sensíveis ao estresse salino
classe de plantas, esse elemento deve ter estado presente (Ghosh et al., 2006)
no meio de estudos para suprir suas necessidades Conhecimentos sobre alguns desses itens serão
fisiológicas. abordados em outros capítulos deste livro. No caso
Entretanto, a interpretação não é tão simples assim, presente, pretende-se tecer considerações sobre tais
devendo ser, ainda, considerada a competição por espaço aspectos, quando diretamente relacionados ao meio de
com outras espécies. Na Figura 2 está esquematizada a ocorrência de espécies vegetais (ecofisiologia), ou seja,
relação entre concentração de sais e crescimento de nos casos de uso de água com altas concentrações de
plantas da espécie Glaux maritima, em que no eixo “y” sais na agricultura biossalina.
está representado o incremento de biomassa ou a
probabilidade de ocorrer uma determinada espécie numa Escape, tolerância ou resistência
área, em função da concentração de sais no meio (eixo Hans-Werner et al. (2008) usam os termos escape
“x”) (Rozema, 1996); o ‘ótimo ecológico’ corresponde à (‘fuga’) e tolerância para aspectos específicos de
Biossalinidade e produção agrícola 185

respostas das plantas ao estresse. Como exemplos de 2008). Algumas halófitas descartam as folhas mais
escape têm-se os casos de plantas anuais que completam velhas quando estão repletas de sais; o excesso de sais
o seu ciclo no curto tempo de condições climáticas vai sendo acumulado nas folhas mais velhas, ao mesmo
favoráveis, evitando as estações mais secas, e os casos tempo em que contribui para tornar mais negativo o
de plantas com raízes profundas (Prosopis e Tamarix, potencial osmótico das células e consequente aumento
por exemplo), capazes de absorver água do subsolo, onde, na retenção de água nos tecidos; enquanto
geralmente, são mais baixos os teores de sais. O termo compartimentaliza os sais nas folhas mais velhas, novas
escape ou ‘fuga’ se aplica, também, aos casos em que folhas são formadas sem problemas de aumento na
o vegetal protege os seus tecidos do efeito do estresse; concentração de sais e suprem a planta de
em algumas halófitas, é o caso de prevenir a entrada de fotoassimilados, por sua atividade fotossintética maior, até
sal nos tecidos da planta, conhecido como exclusão de passarem a servir de estoque de sais, quando novas
íons. A resistência é mais abrangente, decorrente da folhas passam a desempenhar aquela importante função
combinação de vários mecanismos de escape e de (Gorham, 1996; Yensen, 2006). A acumulação de sódio
tolerância. O escape (evitar) contrasta com o termo nas folhas mais velhas é uma consequência, também, da
tolerância, por se relacionar este último à presença do saída de potássio dos seus tecidos (agindo como fonte),
fator antiestressante dentro da planta; no caso de translocando-se para as folhas novas em formação
estresse hídrico, ocorre tolerância à dessecação dos (dreno).
tecidos e, no estresse salino, há tolerância à alta Glândulas de sal - Em diversas espécies, a adaptação
concentração de sais nos tecidos das halófitas. consiste na formação de glândulas de sal nas folhas,
Bem conhecido de todos os estudiosos, as plantas através das quais excretam sais, uma forma de controlar
variam muito a sua tolerância à salinidade, com o seu excesso no interior das células. As glândulas são
diferenças entre espécies, dentro de genótipos de uma formações frouxas de células, com espaço intercelular
mesma espécie e, até mesmo, entre estádios de mais aberto do que geralmente ocorre nos outros tecidos
desenvolvimento de um mesmo genótipo (Tester & (Mohr & Schopfer, 1995); a solução flui para o espaço
Davenport, 2003; Hendricks & Bushnell, 2009). Em entre as células e daí para uma abertura na cutícula, onde
outras palavras, a sensibilidade ao estresse salino tem se evapora a água, cristalizando-se os sais na superfície
sido identificada como um fenômeno específico a um da folha, sendo lavados pelas chuvas ou pela irrigação.
estádio de desenvolvimento da planta, podendo variar em A estrutura da glândula de sal é similar dentro de uma
outros estádios (Orcutt & Nilsen, 2000; Ashraf et al., mesma espécie e, com raras exceções, também nas
2006; Ahmed et al., 2008). Ainda mais, em cada estádio espécies de uma mesma família, mas com variações entre
de desenvolvimento, a tolerância à salinidade é famílias. O tipo mais simples é encontrado nas Poáceas
controlada por mais de um gene e altamente influenciada (gramíneas) e os mais complexos - glândulas
por fatores ambientais (Flowers, 2004; Flowers & multicelulares - foram identificados nos gêneros
Flowers, 2005; Munns, 2005; Ozturk et al., 2008). Limonium, Limoniastrum e Distichlis (Figura 3) e na
Entre as adaptações ao estresse salino, relacionadas espécie Cressa cetica. O número e localização das
a aspectos de ecofisiologia, já foram identificados vários glândulas de sal também variam: em Limoniastrum
mecanismos, com destaque para os de natureza monopetalum, Batanouny & Sitta (1979) encontraram
morfológica e anatômica, abscisão (descarte) de tecidos 1955 glândulas por cm2 na face adaxial e 2315 cm-2 na
e órgãos, ajustamento osmótico e metabólitos orgânicos, abaxial das folhas; na espécie Limonium delicatulum os
suculência e germinação/multiplicação via vegetativa. autores Batanouny et al. (1992) registraram 2022 e 2930,
respectivamente.
Adaptações morfológicas e anatômicas A secreção de sais contribui para a adaptação da
As adaptações das halófitas podem variar em planta à salinidade de forma quantitativa e qualitativa;
natureza, grau ou eficácia, dependendo da espécie e, quantitativamente, quando o status de sal na folha
também, do habitat. Há certo grau de plasticidade no alcança um limite máximo tolerável, sendo a excreção de
efeito da salinidade sobre as plantas, em diferentes sais fundamental para a sobrevivência da planta;
condições ambientais, dependendo da severidade do qualitativamente, por contribuir para o balanço iônico das
estresse (Batanouny, 1996; Khan & Weber, 2006) folhas, quando fica alterada a relação entre íons
Uma das adaptações de ordem morfológica é a essenciais e tóxicos, secretando o que estiver em
redução de área foliar, quer pela formação de um menor excesso (Hans-Werner et al., 2008).
número de folhas, quer pela redução de seu tamanho ou A taxa de secreção de sais é afetada por inúmeros
por abscisão foliar (Khan & Weber, 2006; Taiz & Zeiger, fatores, com destaques para concentração e natureza de
186 Pedro D. Fernandes et al.

denominadas de células vesiculares ou pelos vesiculares,


comuns em alguns gêneros de Chenopodiaceae,
especialmente em espécies de Atriplex (Mohr &
Schopfer, 1995; Hans-Werner et al., 2008; Ahmed et al.,
2008) e espécies de Salsola, Chenopodium, Obione,
Halimione e em Mesembryanthemum crystallinum
(Figura 4) (Luttge et al., 1978; MBARI, 2005; Agrarie et
al., 2007). As vesículas se caracterizam por um grande
vacúolo central, em que podem se acumular
componentes inorgânicos (sódio, cloreto) e orgânicos,
como flavonoides e betacianinas (Steudle et al., 1977;
Vogt et al., 1999); açúcares compatíveis com álcoois,
pinitol e seus precursores inositol e ononitol (Bohnert et
al., 1995; Nelson et al., 1998). As vesículas, além de
participarem na regulação do sequestro de íons e
regulação das relações hídricas nas células, atuam,
Figura 3. Extrusão de sais de glândulas de sal, localizadas também, no controle dos níveis de malato em células do
no caule de Distichlis palmieri. Fonte: MBARI (2005) mesófilo de plantas CAM (Rygol et al., 1989; Agarie et
al., 2007).
íons no meio, luz, temperatura, balanço hídrico na planta, As vesículas podem se romper ou se destacar das
umidade relativa e presença de metabólitos inibidores, folhas, reduzindo o conteúdo salino da planta.
dentre outros. A eficácia da excreção através de Comparadas com as glândulas salinas, as células
glândulas depende de condições que impeçam a sua vesiculares têm uma ação comparativamente menor, mas
reabsorção pela cutícula. Na Tabela 1 consta uma são particularmente efetivas em proteger folhas jovens,
relação de espécies em que é comum a excreção de sais em expansão.
através de glândulas salinas nas folhas. A descarga de sais em vacúolos de células vesiculares
Pelos vesiculares - Além de glândulas, os sais podem pode, efetivamente, reduzir o fluxo de sais para tecidos
ser acumulados em formações especiais, tipo tricomas, fotossintetizantes ativos, em plantas se desenvolvendo
que se desenvolvem na epiderme de caules e folhas, em meio de alta salinidade. Batanouny (1996) se refere

Tabela 1. Plantas que excretam sais através de glândulas salinas encontradas em folhas

Fonte: Gorham (1996)


Biossalinidade e produção agrícola 187

A comum em Juncus spp e em folhas suculentas de


Suaeda spp. As folhas, quando estão lotadas com íons
indesejáveis, são descartadas (‘shedding’), contribuindo,
também, para a redução da área foliar, resultando em
menor perda de água através da transpiração, importante
nas estações de déficit hídrico (Yensen, 2006).
Além do descarte de folhas, em Atriplex podem
ocorrer seca de ramos e do córtex do caule que, após
morte das células, se desprendem da planta (Batanouny,
1996); em ambos os casos, os tecidos são carregados de
íons, contribuindo para o seu descarte, diminuindo a
concentração de sais no vegetal.
Suculência – A exposição das espécies halófitas ao
ambiente salino resulta em numerosas mudanças
estruturais nas plantas, destacando-se, dentre elas, a
B suculência, caracterizando-se por: maior espessura das
folhas, células maiores, especialmente as do parênquima
esponjoso, menor espaço intercelular, maior elasticidade
da parede celular, desenvolvimento de tecidos
estocadores de água, menor relação entre superfície/
volume, baixo conteúdo de clorofila e menor número e
menores estômatos por unidade de área (Batanouny,
1993; Ahmed et al., 2008; Hans-Werner et al., 2008).
Suculência tem o efeito de diluição dos íons dentro das
células, o que possibilita que as halófitas convivam com
altas concentrações de sais em parte de seus tecidos.
Dois tipos de suculência têm sido distinguidos em
halófitas: suculência mesomórfica e suculência
xeromórfica. Na mesomórfica, típico das hidrohalófitas,
todas as células das folhas, inclusive as da epiderme, são
Figura 4. Planta florida de Mesembryanthemum crystallinum suculentas e é baixo o número de estômatos por unidade
(A) com pelos vesiculares no caule (B). Fonte: MBARI de área; as plantas do tipo xeromórfico, usualmente,
(2005) vegetam em condições de alto estresse hídrico e são
caracterizadas por terem mesófilo com células grandes
à concentração de sais 60 vezes superior em pelos e suculentas, grande número de estômatos e um sistema
vesiculares de Helimione portulacoides, em relação às vascular altamente lignificado (Batanouny, 1993). A seiva
células do mesófilo circundante; conforme o autor, uma orgânica das suculentas xeromórficas, geralmente,
poderosa bomba de sais deve operar entre as células contém mais ácidos orgânicos que a seiva das
vesiculares e as do mesófilo, para garantir a alta mesomórficas, em que predominam íons inorgânicos.
diferença de gradiente entre ambos os tecidos. O cloreto de sódio tem sido considerado o sal mais
Suberização de cutículas e formação de cera - Outro eficiente em promover suculência. Decréscimo em
fator que limita a entrada de sais com o fluxo da suculência, associado ao aumento de características
transpiração é a prevenção à perda de água, através da xeromórficas, foram observados em plantas expostas a
suberização de cutículas e da formação de cera na sulfato de sódio. Chapman (1974) cita haver uma
superfície foliar, comuns em halófitas (Flowers et al., relação entre concentração de Cl -, SO42- e o grau de
1986; Yensen, 2006), isto é, reduzindo-se a transpiração, suculência, em halófitas suculentas típicas, com
menos sais entrarão pelas raízes. Tais formações têm prevalência mais favorável do cloreto.
importante função, também, em prevenir a reabsorção de
sais de glândulas salinas ou de vesículas. Germinação - Propagação via vegetativa
Abscisão de órgãos e tecidos – A abscisão (descarte) As sementes das halófitas sobrevivem em solos
de órgãos e tecidos é, também, um dos importantes altamente salinos (Rozema, 1996; Atia et al., 2006), mas
mecanismos de adaptação das plantas ao meio salino, fato só germinam em condições de maior diluição dos sais,
188 Pedro D. Fernandes et al.

em épocas coincidentes com precipitações pluviais; Em relação à propagação vegetativa, esta é a principal
fatores diversos, como vento e animais, dentre outros, via de multiplicação de muitas halófitas, especialmente,
podem dispersá-las em áreas diversas, propiciando a Limonium vulgare, Limonium humile e Tamarix aphylla;
germinação das que forem depositadas em solo com uma característica vantajosa é a formação de raízes
menor concentração de sais. adventícias, fundamental para a formação dos novos
As fases de germinação e de crescimento das indivíduos (Hans-Werner et al., 2008).
plântulas, em geral, são as mais sensíveis ao estresse Nas espécies de halófitas, Aeluropus littoralis,
salino (Tester & Davenport, 2003; Atia et al., 2006; Liu Prosopis farcta e Tamarix aphylla, a multiplicação
et al., 2006). Estabelecidas, após condições favoráveis vegetativa é de grande importância, por se
para germinar, as halófitas são favorecidas por baixa desenvolverem rebentos (‘runners’), ligados à planta
competição com outras espécies, devido aos fatores do mãe, formando raízes à medida que vão se afastando do
ambiente em que poucos genótipos sobrevivem; caso não ponto inicial de sua emissão; essas raízes são
fosse salino o meio, as halófitas não teriam como dependentes da planta mãe, na absorção de água e de
competir com glicófitas, na fase inicial de íons, até atingirem uma camada do solo com menor
estabelecimento. Esta interpretação é útil para se concentração de sais, onde se tornam independentes,
compreender melhor o conceito ‘ótimo ecológico’, originando novas plantas (Pollak & Waisel, 1972); isso
abordado nas relações entre incremento de biomassa e ajuda as novas plantas, formadas via vegetativa, a
aumento de concentração de sais no meio, apresentado aprofundar suas raízes, atravessando os horizontes de
na Figura 2. concentração mais alta de sais, enquanto estão
Fato comum a muitas espécies não domesticadas, nas dependentes da planta matriz.
halófitas a germinação das sementes se distribui no Toda essa gama de variações é importante,
tempo, em um mesmo habitat, e é afetada pelo conteúdo ecologicamente, para a adaptação das espécies à
de cloreto na casca que as envolve, bem como pelo seu salinidade.
grau de polimorfismo. Muitas espécies de Atriplex
contam com unidades de dispersão polimórficas; como Absorção, transporte e acumulação de íons -
exemplo, Atriplex hortensis tem quatro tipos de flores, Metabólitos orgânicos e ajustamento osmótico
cada uma resultando em frutos de cores e formas Embora seja motivo de controvérsias, o efeito maior
diferentes; as sementes de Atriplex dimorphostegia da salinidade sobre o crescimento vegetal deve-se mais
diferem em tamanho e variam na germinação (Liu et al., à toxicidade dos sais acumulados nas células que ao
2006; Ahmed et al., 2008). efeito osmótico. Há, contudo, diferenças consideráveis
Digno de atenção, também, são os resultados entre espécies, entre genótipos de uma mesma espécie,
divulgados por Batanouny (1993), sobre a importância da bem como, entre estádios de desenvolvimento e, também,
origem das sementes para a germinação de Limonium entre órgãos e células de uma mesma planta, quanto aos
pruinosum, Alhagi maurorum, Prosopis farcta e níveis de concentração interna de sais capazes de causar
Phragmites australis; nessas espécies, taxas mais altas toxidez (Hans-Werner et al., 2008; Hendricks &
de germinação foram obtidas quando as sementes eram Bushnell, 2009).
provenientes de plantas sob condições de halofitismo Outra questão é sobre qual o mais tóxico, se sódio ou
(desenvolvendo-se em altas concentrações de sais), em cloreto, quando em excesso; em glicófitas, as evidências
comparação com a germinação obtida de sementes são para o sódio, principalmente em trigo, segundo
originadas das mesmas espécies, produzidas em plantas resultados obtidos por Kingsbury & Epstein (1986); em
vegetando sem estresse salino; contudo, o autor cita que halófitas, o crescimento das suculentas pode ser inibido
tal conhecimento não é válido para todas as espécies pelo excesso de potássio na ausência de sódio e a
vegetais. maioria das halófitas tolerantes à salinidade acumula
Em mangues, as condições não são favoráveis à altas concentrações de sódio e cloreto em seus tecidos
germinação de sementes, desenvolvendo algumas (Fricke & Peters, 2002; Ahmed et al., 2008).
espécies mecanismos especiais de propagação. Foi Vários autores citam que regular a absorção de sais
constatado em espécies de Rhizofora, Bruguiera e é uma das características mais importantes para a
Avicennia o fenômeno de viviparidade, isto é, a semente tolerância à salinidade das plantas (Tester & Davenport,
germina ainda na planta e o seedling, enquanto ainda 2003, Abdelly et al., 2006; Izzo et al., 2008).
está ligado à planta mãe, desenvolve um longo hipocótilo, Os sais chegando à parte aérea, através do fluxo de
garantindo-lhe a ancoragem no solo, para depois se seiva inorgânica, não são distribuídos uniformemente
desprender da planta (Batanouny, 1996). entre as folhas e não seguem, obrigatoriamente, o fluxo
Biossalinidade e produção agrícola 189

da transpiração (Izzo et al., 2008). Um dos mecanismos Foi elemento chave, para se entender a tolerância das
de tolerância à salinidade consiste na redistribuição dos plantas superiores à salinidade, a descoberta de serem
sais, em toda a planta, de modo a evitar a sua muitas enzimas inibidas por altas concentrações de sais
concentração em folhas novas e naquelas com altas (Greenway & Osmond, 1972; Blumwald et al., 2000;
taxas de fotossíntese e, também, nos frutos em início de Ashraf & Foolad, 2007). Em halófitas, as enzimas
formação (Khan et al., 2000; Zhang & Blumwald, 2001). citoplasmáticas são protegidas de concentrações salinas
Para melhor entendimento desse processo, foi altas, através do sequestro do excesso de sais no
fundamental a evolução do conhecimento, quando se vacúolo, livrando organelas vitais do protoplasma desse
observou haver fluxo de íons entre xilema e floema (Taiz contato direto (Munns et al., 2002). A pressão osmótica
& Zeiger, 2008). Em folhas de Puccinellia peisonis foi (e o volume) do citoplasma é garantida pela acumulação
constatada a formação de um tipo de endoderme, com de metabólitos, compatíveis com as atividades
suberização de células, acumulando-se o sódio em enzimáticas (osmólitos compatíveis); citam-se, dentre
vacúolos da bainha vascular, sem chegar, portanto, às eles, os carboidratos (trealose, frutose, sacarose,
células do mesófilo (Gorham, 1996; Blumwald et al., frutanos), polióis (glicerol pinitol, sorbitol, manitol, ornitol),
2000). compostos de amônio quaternários ou derivados de
A acumulação de sais em vacúolos é, aminoácidos (prolina, glicina, glicina-betaína) e o potássio
particularmente, evidente em dicotiledôneas halófitas do (K+) (Hasegawa et al., 2000; Arzani, 2008); o tipo de
gênero Salicornia e Suaeda, plantas com folhas soluto produzido depende do genótipo, mas em geral,
suculentas, compostas por células grandes, nas quais o uma espécie produz no máximo dois ou três deles.
vacúolo ocupa a maior parte de seu volume. Nessas Segundo Ashraf & Harris (2004), as vias enzimáticas
plantas, a concentração de sódio nas folhas (mais adotadas pela planta para adaptação ao estresse podem
particularmente nos vacúolos) pode exceder 1.000 mol ser mais importantes que a acumulação do metabólito,
m-3, enquanto a concentração de potássio fica em torno em si.
de 40 mol m-3. Tal comportamento raramente é visto em Com relação à prolina, no início foi considerada um
gramíneas e outras monocotiledôneas que tenham células importante metabólito para o processo de ajustamento
menores e mais rígidas (menos expansíveis), com osmótico, especialmente nas plantas que não
exceção de Triglochin maritimum (NRCS/USDA, acumulavam íons inorgânicos. Com a evolução das
2005). Aliás, como já abordado em um dos parágrafos pesquisas, ficou constatado, entretanto, que a quantidade
anteriores, a suculência é um dos mecanismos de de prolina acumulada não poderia ser considerada como
adaptação ao estresse salino, uma forma de diluir os sais um bom fator para diagnóstico de tolerância à salinidade,
no citossol; o volume da célula aumenta, diminuindo a em todos os grupos de plantas; além do fator genético,
concentração dos íons no protoplasto (Larcher, 2000; a quantidade de prolina varia durante o dia, por sua
Hans-Werner et al., 2008). estreita relação com as condições hídricas dos órgãos
Espécies das famílias Chenopodiaceae e transpirantes (Khan & Weber, 2006; Yensen, 2006; Hans-
Mesembryanthemaceae ajustam o potencial osmótico Werner et al., 2008). Por exemplo, Batanouny et al.
das raízes por grande acumulação de íons sódio e cloreto, (1985) encontraram valores de prolina, em Sporobolus
compartimentalizados em vacúolos (Albert & Popp, virginicus, variando de 20 μ moles g-1 às 6 horas da
1977; Agrarie et al., 2007). Em outras espécies, o manhã a 45,2 μ moles g-1 às 17 h.
ajustamento osmótico ocorre através da síntese de Em alguns genótipos, a concentração dos solutos no
compostos orgânicos de baixo peso molecular, citoplasma é muito superior à real necessidade da célula,
denominados de solutos compatíveis (Hasegawa et al., uma clara evidencia de protegerem as enzimas dos
2000; Hans-Werner et al., 2008; Izzo et al., 2008). efeitos das altas concentrações de sais (Hans-Werner et
Em geral, plantas crescendo sob condições de al., 2008; Taiz & Zeiger, 2008). Segundo Munns (2005),
salinidade mantêm altas concentrações de substâncias quando presentes em concentrações ligeiramente
osmoticamente ativas nas células, uma forma de garantir superiores às necessidades da célula, os metabólitos têm
a absorção de água do meio em que vegetam, no qual é função protetora e quando em concentrações muito altas,
muito negativo o potencial hídrico da solução do solo, a função é de osmorregulação.
decorrente do componente osmótico; o ajustamento se dá Segundo Tester & Davenport (2003) e Mansour &
por metabólitos, com destaque para ácidos orgânicos e Salama (2004), na produção de solutos orgânicos, para se
açúcares, além de íons, principalmente Na + e Cl – , adaptarem ao estresse salino, as plantas gastam energia,
conforme Hasegawa et al. (2000), Hans-Werner et al. com consequências na redução da fitomassa produzida
(2008). e esse dispêndio energético é maior que o do ajustamento
190 Pedro D. Fernandes et al.

osmótico, através da compartimentalizaçao de íons; na O metabolismo de fixação do CO2 na fotossíntese de


produção dos solutos, grande proporção do carbono plantas tolerantes a sais é variável, com predominância
assimilado é desviada, representando cerca de 10% do do ciclo comum às plantas C4, sendo exemplo típico as
peso total da planta, segundo Hans-Werner et al. (2008) espécies de Atriplex. Entretanto, têm sido observadas,
e Ashraf & Foolad (2008). em plantas tolerantes a sais da família
Outro fator fisiológico, a considerar na tolerância de Mesembryanthemaceae, alterações no metabolismo do
uma planta ao estresse salino, refere-se à velocidade CO 2 , variando de C3 ao metabolismo ácido das
com que os sais que chegam às folhas são incorporados crassuláceas (CAM), uma adaptação fotossintética
às células, uma vez que as enzimas de genótipos dependendo das condições do meio (Flowers et al., 1986;
tolerantes ao estresse salino têm a mesma sensibilidade Ungar, 1991; Winter & Holtum, 2005).
à presença de sais que as de espécies glicófitas; caso A salinidade diminui a fixação de CO2, por afetar a
haja demora na incorporação, os sais ficarão durante um abertura dos estômatos e a eficiência do aparato
tempo mais longo no apoplasto (parede celular e espaços fotossintético (Hans-Werner et al., 2008; Taiz & Zeiger,
intercelulares), com sérios problemas osmóticos ao 2008), decorrente da quebra da homeostase hídrica e
tecido foliar, resultando em plasmólise das células iônica, em nível celular e em toda a planta (Zhu, 2001;
(Muhling & Lauchli, 2002; Fricke & Peters, 2002; Izzo Izzo et al., 2008); como consequência, reduz-se a
et al., 2008). Na célula, por sua vez, a concentração de expansão celular e a área foliar disponível para a
sais no citossol não poderá ultrapassar 100 mM, sob fotossíntese. Nas halófitas, mecanismos de proteção são
pena de injúrias a diversas organelas, desnaturação de
desenvolvidos pelas plantas, para contornar tais
proteínas e de serem inibidas muitas enzimas (Munns,
problemas. Agarie et al. (2007), por exemplo, estudando
2002); o caminho é a compartimentalização dos sais em
a importância da formação de pelos (tricomas) na
vacúolos ou sua extrusão através de glândulas ou
epiderme de Mesembryanthemum crystallinum,
vesículas celulares (Figuras 3 e 4).
verificaram que os mesmos contribuem para a suculência
A compartimentalização de íons nos vacúolos deve
das plantas, como reservatórios de água, e para a
ser considerada, também, como um mecanismo de
acumulação de sais em partes da planta, como súber do tolerância à salinidade, pelo sequestro de íons e
caule e partes mais externas de frutos (evitando prejuízos manutenção de homeostase nos tecidos
ao embrião). Em frutos de coqueiro irrigado com águas fotossinteticamente ativos.
salinas de até 15 dS m–1, Ferreira Neto et al. (2002;
2007b) encontraram maior concentração de Na em Outros fatores considerados na ecofisiologia das
cascas do coco que no endosperma líquido. halófitas
Pode ocorrer, também, exclusão de íons diretamente Em seu nicho, as halófitas enfrentam, além do
de tecidos da planta, através de substâncias voláteis, estresse salino, outros fatores decorrentes das
principalmente na forma de clorometano, bromometano características do habitat: hipoxia, associada à
ou iodometano (Wuosmaa & Hager, 1990). toxicidade de sulfetos e desarranjos nutricionais;
períodos de inundação e de deposição de solos ou areia;
Eficiência de uso da água e fotossíntese períodos de estresse hídrico, dentre outros (Khan &
Vale tecer considerações sobre ‘eficiência de uso da Weber, 2006).
água’, considerando-se a relação entre a quantidade de Entre as mais promissoras halófitas estão árvores e
água transpirada e a quantidade de CO 2 fixada na arbustos tropicais, coletivamente denominados de
fotossíntese, resultando em aumento da fitomassa. Como mangroves (plantas de mangues), algumas das quais
o fluxo de sais para a parte aérea é função da taxa sobrevivem, diariamente, a flutuações de alguns metros
transpiratória, um aumento na eficiência de uso da água do nível da água do mar; no outro extremo, plantas das
pode retardar a acumulação de sais nas folhas, segundo várias espécies de Atriplex sobrevivem em áreas
Gorham (1996), já detectado em algumas espécies da desérticas à alta salinidade e a secas prolongadas (Glenn,
família Mesembryanthemaceae; a fixação do CO2 por 1998a, 1998b).
essas plantas à noite, favorece uma maior eficiência de Em zonas áridas e semi-áridas, o estresse salino é
uso da água, decorrente de queda na taxa transpiratória. agravado pela falta de água, na maior parte do ano;
Da mesma forma, o metabolismo de plantas C 4 se quando ocorrem chuvas, os níveis de salinidade variarão
reflete em menor transpiração e menor bombeamento de diária, mensal ou sazonalmente, dependendo da
sais para o interior das folhas, por sua própria natureza quantidade e frequência das precipitações. Como
de maior eficiência de uso da água (Mohr & Schopfer, consequência, a salinidade raramente é uniforme em um
1995; Mahmoudi, et al., 2008; Taiz & Zeiger, 2008). terreno, variando no perfil do solo, geralmente com
Biossalinidade e produção agrícola 191

valores mais altos de CE nas camadas superiores, devido É importantíssimo o estabelecimento inicial da planta,
à evaporação da água (Levy et al., 2003). A salinidade coincidindo com período de chuvas, por serem, em geral,
varia, também, espacialmente, podendo ocorrer em uma críticas as fases de germinação e início de formação do
área, circundando solos com valores de CE relativamente sistema radicular; se a planta sobrevive na fase inicial,
baixos (Souza et al., 2008; Shahid et al., 2009). aumentam as chances de sobrevivência nas estações
seguintes (Tester & Davenport, 2003; Atia et al., 2006;
SALINIDADE X PRODUÇÃO Liu et al., 2006). Além do efeito favorável de chuvas,
lixiviando sais, outras práticas, altamente recomendáveis
A pressão por água de boa qualidade vem na agricultura salina, são: cobertura morta para
forçando o uso das consideradas marginais, conservar a umidade e diminuir a evaporação; semeio
requerendo o desenvolvimento de tecnologias, e plantio em camalhões; irrigações com lâminas
visando à dessedentação de pessoas e de animais e pequenas, mas frequentes; rotação de culturas,
produção de alimentos, condições indispensáveis à explorando as diferenças nutricionais entre genótipos.
garantia de vida. Drenagem e lixiviação são as principais providências
Para alimentar a população mundial que cresce a para manter a produtividade do solo em agricultura
cada segundo, deverão ser desenvolvidas tecnologias que salina irrigada.
garantam a produção sustentável de alimentos de origem Mesmo nos níveis de salinidade mais alta, objetiva-se
vegetal e animal. Os cientistas terão a missão de obter um benefício mínimo que compense o balanço de
explorar os recursos naturais, garantindo a energia e os custos e cuja atividade tenha
sustentabilidade, sem agredir o meio ambiente, e deverão sustentabilidade, sem causar impactos adicionais ao meio
incorporar ao processo produtivo as áreas naturalmente ambiente. Como benefícios, podem ser consideradas
salinas e as salinizadas pelo homem, ao longo da história. utilidades as mais diversas, a começar por produção de
A possibilidade de utilização de águas de qualidade alimentos, forragens, óleos, ceras, bioprodutos para a
marginal liberará água doce para beber e a identificação farmacologia e uso industrial, flores (inclusive secas) e
e obtenção de genótipos tolerantes a sais abrirão folhagens ornamentais, bioenergia e paisagismo, além de
perspectivas para produção de alimentos, para consumo recuperação de áreas degradadas e sequestro de
direto da população e para alimentação animal, gerando carbono.
proteínas para uso humano, além da produção de outros
bens de origem vegetal.
Espécies para a agricultura salina
A utilização de água salina para produção de
É limitado o conhecimento desenvolvido em
alimentos requererá estudos de novos ‘designs’ e de
agricultura salina. Um paradoxo, pois a literatura sobre
manejos mais apropriados de sistemas de irrigação.
halófitas é extensiva, mas a utilização desse
No tocante a plantas, há uma divisão entre as que
conhecimento é mínima. Um exemplo disso está no fato
toleram a salinidade do solo e da água, denominadas de
de os programas de desenvolvimento da agricultura
halófitas, e as que são sensíveis ao estresse salino, as
convencional terem, em geral, como foco o uso de boa
glicófitas (Taiz & Zeiger, 2008), já mencionadas em itens
terra, culturas especializadas glicófitas e manejo de
anteriores. Com base em abordagens contidas na
literatura especializada (Rozema, 1996; Yensen, 2006; irrigação com água de boa qualidade, sem incluir o uso
Hamed et al., 2008; Hans-Werner et. al., 2008), dividimos de halófitas sob condições salinas.
as halófitas em dois grupos: (i) espécies halófitas de São muitas as espécies adaptadas à salinidade, com
origem, as que evoluíram sob condições permanentes de graus variados de tolerância, dependendo dos habitats e
alta salinidade, e (ii) halófitas facultativas, abrangendo nichos em que evoluíram. Na Tabela 2 constam
espécies evoluídas em ambientes sujeitos a variações na informações sobre tolerância à salinidade, registradas em
concentração de sais, durante parte das estações de trabalhos conduzidos pelo NIAB (Nuclear Institute for
crescimento/desenvolvimento. Agriculture and Biology) do Paquistão. Antes, porém,
Em função da salinidade da água, podem ser destacamos alguns genótipos, com maiores
distinguidos quatro níveis de agricultura salina (ULPGC, potencialidades econômicas, indicados por autores
2005): diversos: Atriplex spp (erva sal – há 36 espécies de
a - agricultura em baixa salinidade (concentração de Atriplex – Huxley, 1992) Distichlis palmeri (capim sal),
sais < 1,5 g L-1); Salicornia spp (‘glasswort’), Suaeda spp (‘sea blithe’)
b - agricultura em média salinidade (1,5 a 15 g L-1); e Batis spp (DaSilva, 2002; Yensen, 2006; Khan &
c - agricultura em salinidade alta (15 a 25 g L-1); Weber, 2006); Suaeda fruticosa (Khan et al., 2000);
d - agricultura com uso de água do mar (> 25 g L-1). Kochia scoparia (Kafi & Jami-Al-Ahmad, 2008); Batis
192 Pedro D. Fernandes et al.

marítima e Crithmum maritimum (Hamed et al., 2008); muito utilizada em estudos de fisiologia vegetal e é uma
Atriplex lentiformis (Al-Attar, 2002); Atriplex das indicadas para trabalhos de recuperação de áreas
nummularia (Glenn et al., 1998b); Atriplex halimus salinizadas (Kholodova et al., 2002).
(Ahmed et al., 2008); Kosteletzia virginica (Ruan, Uma curiosidade é haver genótipo de arroz,
2008); Panicum turgidum (Khan et al., 2009); Distichlis classificado como halófita; Dastidar et al. (2006), por
palmieri, Distichlis spicata, Sporobulus virginicus e exemplo, identificaram uma espécie de arroz selvagem,
Sporobulus airoides (Huxley, 1992; Al-Attar, 2002); classificada como Porteresia coarctata (Roxb.) Tateoka,
Cakile marítima (Debez et al., 2006); Salicornia espécie halofítica, isolando e caracterizando, por meio de
bigelovi (Al-Attar, 2002). estudos bioquímicos, aminoácidos relacionados à
tolerância ao estresse salino.
Tabela 2. Tolerância de diferentes genótipos à salinidade, Como complemento, estão listadas na Tabela 3
com os níveis de CEes (Condutividade elétrica do extrato informações sobre a tolerância à salinidade, ao
de saturação) em que há redução de 50% de produção
encharcamento e à seca de diversas espécies de
da matéria verde, em trabalhos conduzidos no
Paquistão. diferentes portes (arbóreas, arbustivas e gramíneas),
muito úteis para as atividades relacionadas à agricultura
biossalina.
Em síntese, são muitos os exemplos de cultivos
apropriados para condições de salinidade, a depender
do nível de concentração de sais. Considerando-se
glicófitas, quando a concentração de sais na água de
irrigação está abaixo de 15 g L -1 , as espécies
recomendadas são: arroz, fava (Vicia faba) trigo,
aveia, sorgo, colza, cana, espinafre, beterraba
açucareira (Beta vulgaris ssp vulgaris), figo, uva e
algodão; para níveis mais altos de salinidade, podem ser
cultivadas tamareira, coco, capins, cereja selvagem,
sena, beterraba de praia (Beta vulgaris ssp maritima).
Plantas diversas de mangues e halófitas em geral, são
capazes de suportar condições hostis, principalmente
quando a única fonte de água é de má qualidade (Ashraf
et al., 2006; Daoud et al., 2008).

CULTIVOS BIOSSALINOS

Em todos os casos de uso de águas salinas na


agricultura, devem-se manejar, adequadamente, solo,
água e plantas, visando a controlar e minimizar a
acumulação de sais e/ou de sódio na superfície do solo
e na zona radicular das plantas; algumas técnicas e
práticas já foram desenvolvidas e são, hoje, consagradas
Fonte: Adaptação de Ahmad (1988) para esse fim. Objetiva-se com tais práticas: reduzir e
controlar a concentração excessiva de sais na zona
Vale ser ressaltado que tais potencialidades apenas radicular; reduzir problemas de formação de crosta,
são indicativos de terem sido mais estudadas as espécies. impermeabilização ou desestruturação em solos sódicos;
Tomando Mesembryanthemum crystallinum (Figura 4), promover condições para o desenvolvimento desejável de
como exemplo de planta pouco citada entre as de maior plantas e utilizar o excesso de água, quando existente na
potencialidade, destacamos, a seguir, algumas de suas zona radicular, geralmente salina.
utilidades, uma evidência de haver, ainda, muito a ser Os cuidados se aplicam em todos os casos onde a
pesquisado e difundido sobre as halófitas. Utilidades de concentração ou toxicidade de sais limita o crescimento das
M.crystallinum: folhas e sementes são comestíveis; plantas cultivadas ou quando o excesso de Na pode criar
podem ser utilizadas as folhas para preparar sopa, crosta e problemas de permeabilidade. O conhecimento
inclusive com propriedades medicinais; esta espécie é sobre tais temas será objeto de outros capítulos deste livro,
Biossalinidade e produção agrícola 193

Tabela 3. Tolerância à salinidade e sodicidade, ao encharcamento e à seca de diferentes espécies arbóreas, arbustivas e
gramíneas

Fonte: Ahmad (1988)

com ênfase para manejo de irrigação, drenagem, Segundo Wilt & Oosten (2000), com o cultivo de
biodrenagem, recuperação de solos salinos, sódicos e halófitas em sistemas irrigados com águas marginais, é
salinos sódicos, dentre outros, razão por que nos ateremos, possível se ter benefícios os mais diversos, já
diretamente, ao manejo da agricultura biossalina. comprovados, destacando-se, dentre eles: alimento para
194 Pedro D. Fernandes et al.

consumo humano e animal; óleo comestível de excelente Uma glicófita que se destaca é a cevada (Hordeum
qualidade; produtos de química fina; obtenção de vulgare L.), tolerante à salinidade, com genótipos que
biomassa a baixo custo para produção de energia germinam com uso da água do mar, cerca de 47 dS m-1
renovável; biofiltração de efluentes urbanos, efluentes de (Mano & Takeda, 1997) e com níveis satisfatórios de
criação de peixes/camarões e de indústrias; produtos produtividade a 20 dS m-1, com redução de apenas 7,9%,
bioativos; materiais de construção; produção de papel; em relação ao tratamento testemunha (Jaradat et al.,
recuperação de áreas degradadas, com benefícios 2004).
ecológicos importantes; proteção e desenvolvimento de Segundo Maas (1990), os maiores valores de
áreas costeiras; estabilização de solos e de dunas; salinidade limiar em glicófitas foram observados em:
melhoria do clima; drenagem de terrenos alagados e centeio (Secale cereale: 11,4 dS m-1); guar (Cyamopsis
salinos; quebra-ventos; enriquecimento paisagístico; tetragonoloba: 8,8 dS m-1); trigo (Triticum aestivum: 8,6
recreação e campos de golf; sequestro de CO2 – todos dS m-1); cevada (Hordeum vulgare: 8,0 dS m-1); algodão
de máxima importância no contexto internacional. Vale (Gossypium hirsutum: 7,7 dS m -1); beterraba (Beta
ser destacado, ainda, o benefício de contribuir para a vulgaris: 7,0 dS m-1).
contenção do processo de desertificação, possibilidade Coqueiro (Cocos nucifera) é outra glicófita tolerante
de converter desertos localizados na orla marítima em à salinidade. Em trabalhos conduzidos em casa-de-
áreas produtivas, mudando a paisagem, com grande vegetação e em condições de campo, pesquisadores da
significado ambiental, ecológico e social. Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola/CTRN/
UFCG estudaram os efeitos da aplicação de água salina
Tomando, como exemplo, espécies de Salicornia,
em várias fases fenológicas da cultura de coco ‘Anão
capazes de crescer e produzir em condições de alta
Verde’. Nas fases de germinação e crescimento inicial
salinidade, muitas utilidades já foram identificadas, com
de plântulas, foram testados cinco níveis de salinidade da
destaque para o uso de brotos em saladas; as sementes
água de irrigação (CEa = 2,2, 5, 10, 15 e 20 dS m-1), até
são fonte de proteína e de óleo comestível fino e de boa
120 dias após semeadura; as águas salinas foram
qualidade para consumo humano; ramos e folhas são
preparadas com adição de NaCl comercial. O
fontes de forragens para animais e a madeira tem,
incremento da CEa não influenciou, significativamente, a
também, utilidades diversas (Abdelly et al., 2006;
germinação que variou de 80 a 97,5%, porém afetou a
Toderich et al., 2008b). velocidade de germinação e o crescimento das plântulas.
São muitos os exemplos de sucesso no cultivo de O tempo necessário para as sementes germinarem
halófitas. Fazendas de Salicornia e de Atriplex foram aumentou de 0,63 dia por incremento unitário da CEa,
implantadas no Egito, México, Paquistão, Emirados acima de 2,2 dS m-1; a fitomassa total das plântulas foi
Árabes, na Índia e na Arábia Saudita (Glenn et al., afetada a partir de 5,4 dS m-1, sendo o sistema radicular
1998b). Segundo DaSilva (2002), na China são cultivados mais sensível que a parte aérea (Marinho et al., 2005a;
300 mil hectares de terras costeiras com halófitas, nas Marinho et al., 2005b).
províncias de Hainan, Hebei, Guandog e Shandong; Numa segunda etapa desse trabalho, após repicagem
aquele autor relaciona, ainda, os seguintes casos: no Egito para o viveiro, as plantas provenientes dos vários
halófitas são cultivadas para alimentação animal e como tratamentos se recuperaram do estresse salino, após
elemento paisagístico; em Marrocos, há cultivo de passarem a ser irrigadas com água de CEa = 2,2 dS m-1,
halófitas como plantas ornamentais; na Tunísia e na durante 120 dias, crescendo no mesmo ritmo daquelas
Arábia Saudita, em gramados de golfe, irrigados com germinadas em baixos níveis de salinidade (Marinho et
água do mar; no Chile, também com água do mar é al., 2005a).
cultivada a leguminosa Tamarugo (Prosopis tamarugo) Em condições de campo, na Estação Experimental
no deserto de Atacama (Habit et al., 1981; Asatudillo et de Jiqui, em Parnamirim, RN, pertencente à Empresa
al., 2000). de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte -
Algumas espécies têm sido utilizadas em trabalhos EMPARN, a mesma equipe de pesquisadores estudou,
agroflorestais, em solos com altos teores de sais e/ou de durante dois anos, a viabilidade de utilização de águas
sódio, com destaques para Prosopis juliflora, Acacia de elevada salinidade (CEa = 0,1, 5,0, 10,0 e 15 dS m -1
nilotica, Tamarix articulata e Casuarina equisetifolia a 25º C) na irrigação do coqueiro, cv. Anão Verde, em
(Islam, 2009); algumas dessas espécies voltarão a ser fase inicial de produção, com 3,5 anos de cultivo
mencionadas no capítulo sobre biodrenagem, pela (Marinho et al., 2005a; Marinho et al., 2006).
importância de seu cultivo em solos encharcados ou com Constatou-se tendência de aumento do número de
lençol freático próximo à superfície. flores femininas por inflorescência, com o uso de águas
Biossalinidade e produção agrícola 195

salinas. Aumentou, também, o efeito da salinidade da


água (p < 0,01) sobre a relação flor / fruto colhido (FL/
FC), entre o 10° e o 19° cachos, com acréscimo linear
de 11,1% por incremento unitário da CEa, em relação
ao controle; ou seja, houve formação de 1,23 flor a
mais por fruto colhido para cada unidade de acréscimo
da CEa, relativamente ao nível mais baixo de
salinidade, o que corresponde a 11,12 flores para cada
fruto colhido (Figura 5). Apesar de a salinidade ter
aumentado o número de flores femininas, conforme
abordado, anteriormente, elas não resultaram em maior
produção de frutos, havendo, portanto, maior percentual
de abortamento de flores femininas nas plantas
expostas ao estresse salino.

Figura 6. Valores médios mensais do número de frutos


colhidos (NFC) do coqueiro ‘Anão Verde`, entre a 8ª e
a 13ª (A) e entre a 14ª e a 19ª colheitas (B), em função
do nível de salinidade da água (CEa) aplicada na
irrigação (Fonte: Ferreira Neto et al., 2007a)
Figura 5. Relação flor/fruto colhido (FL/FC) entre o 10º e 19º
cacho de coco, cv. Anão Verde, em função do nível de cv. Anão Verde, sendo os decréscimos, respectivamente,
salinidade da água (CEa) aplicada na irrigação (Fonte:
de 2 e 3,4%, por aumento unitário da condutividade
Ferreira Neto et al., 2007a)
elétrica da água de irrigação. Durante a fase produtiva,
Quanto à produção (Figura 6), no período o coqueiro da cv. Anão Verde pode ser classificado como
compreendido entre a 8 a e a 13 a colheita (época de uma cultura tolerante à salinidade.
chuvas), foi crescente o número de frutos colhidos
(NFC), até o nível de 10 dS m-1 e, mesmo no nível mais ÁGUA DO MAR NA AGRICULTURA
alto de salinidade (15 dS m-1), a produção foi maior que BIOSSALINA
no tratamento controle; ressalte-se ter este período
coincidido com período de chuvas, em que a irrigação O ser humano depende, basicamente, de vegetais,
com água salina complementava a exigência hídrica das produzidos em larga escala sob irrigação, com uso de
plantas, quando era negativo o balanço hídrico. Por outro água de boa qualidade. As cinco espécies mais utilizadas
lado, na época de estiagem ou seca, coincidindo com o na alimentação humana – trigo, milho, arroz, batata e soja
período entre a 14ª e a 19ª colheitas, a média mensal de – morrerão se expostas à água do mar. Mas a natureza
NFC decresceu linearmente (p < 0,01), com taxa de 3,4% é repleta de vegetais, desenvolvendo-se em condições
por incremento unitário da CEa, em relação ao nível mais de alta salinidade e diretamente em contato com a água
baixo de salinidade. As perdas do número de frutos de mares, oceanos e lagos salgados. Da mesma forma
colhidos nesse período, em relação a N1, foram de 16,4, como os cientistas souberam domesticar e melhorar as
33,1 e 49,8% em N 2 , N 3 e N 4 , respectivamente espécies, tradicionalmente cultivadas, saberão fazer o
(Ferreira Neto, 2007a). mesmo com essas plantas adaptadas a condições
Com base, ainda, nos dados de produção, obtidos adversas de salinidade.
pelos pesquisadores da UAEAg/CTRN/UFCG, conclui- A agricultura com água do mar é uma idéia antiga,
se que é preferível irrigar coqueiro ‘Anão Verde’ com posta em prática após a II Guerra Mundial. Em 1949,
águas de 15 dS m-1, do que deixar a cultura em condições o ecologista Hugo Boyko e a horticultora Elisabeth
de sequeiro, com base em registros de produção Boyko (Tromp, 1971; Glenn et al., 1998a), durante a
comercial nessas condições de cultivo. A salinidade da formação do Estado de Israel, foram para a cidade de
água reduz o número e o peso de frutos de coqueiro da Eilat, próxima ao Mar Vermelho, com o objetivo de
196 Pedro D. Fernandes et al.

alterar a paisagem, de modo a permitir a sua habitação halófitas, para uso alimentar, forragem e produção de
e instalação de colônias. Na falta de água doce, os sementes ricas em óleo. Esta linha de trabalho tem como
Boykos usaram água salgada de poços e água garantia de sua viabilidade, o fato de povos antigos,
bombeada diretamente do mar. Os frutos desse trabalho habitantes do golfo do Rio Colorado, terem se alimentado
difundiram a idéia para áreas semelhantes em todo o de grãos de capim-sal (Distichlis palmieri) (Dregne,
globo. Novos ecossistemas foram criados, em países 1991). Vale, ainda, ressaltar que as culturas tradicionais
como Índia, México, países do Golfo Árabe, China, tiveram origem em formas selvagens.
dentre outros, onde áreas estão sendo cultivadas, De grande valia pode ser a observação de plantas
utilizando água salgada, diretamente ou através de vegetando em áreas costeiras e em mangues, em
diluição com águas residuárias. contato direto com a água salgada, uma indicação de
No deserto Negev, em Israel, por exemplo, Tamarix sua tolerância a altas concentrações de sais, a serem
aphylla cv. Erecta está sendo irrigada por gotejamento, utilizadas em pesquisas para melhor avaliação da
com sucesso, para produção de madeira. No Golfo tolerância à salinidade. Na Figura 7 estão detalhes de
Árabe, pesquisadores da University of Arizona estão uma planta de Terminalia cattapa (sombreiro), em
produzindo, experimentalmente, óleo de Salicornia e de praia de Maragogi, Alagoas, com produção abundante
Arthrocnemum, irrigadas com água do mar (Aronson & de frutos, onde diariamente a maré banha as raízes da
Floc’h, 1996). planta, expostas ao ar, devido à ruptura do quebra mar.
Segundo Glenn et al. (1998a), a utilização de águas Essa espécie é comum em arborização de cidades,
salgadas de oceanos e mares precisa atender a duas sendo a polpa dos frutos utilizada como alimento de
condições: crianças e jovens famintos; a maior riqueza, entretanto,
a - os cultivos devem ser úteis, com rendimento está na amêndoa, rica em proteínas, que, por
suficiente para justificar os custos de bombeamento da desconhecimento, geralmente é desprezada. Portanto,
água do mar; a Terminalia cattapa pode ter grande potencial para
b - devem ser desenvolvidas tecnologias para o cultivo cultivo em áreas costeiras, com irrigação com água do
de forma sustentável, sem agressão adicional ao meio
ambiente.
No desenvolvimento da agricultura com água do mar,
os pesquisadores têm buscado duas alternativas: (a)
tentam melhorar geneticamente as culturas tradicionais,
como aveia e trigo, para tolerância a sais, ou (b) buscam
domesticar plantas selvagens tolerantes a sais. Em 1979,
por exemplo, a equipe de Emanuel Epstein registrou, com
uso de água do mar, produção de pequena quantidade de
grãos de aveia, em linhagens previamente propagadas por
gerações em ambiente com baixos níveis de sal (Epstein,
1980).
São limitados os resultados dos trabalhos de
melhoramento, visando à seleção de genótipos tolerantes
à salinidade, com base em métodos convencionais. A
falta de sucesso se deve, em parte, à metodologia
utilizada pelos melhoristas, na avaliação à tolerância ao
estresse salino dos materiais genéticos. Segundo
Yamaguchi & Blumwald (2005), as melhores
perspectivas estão nos estudos de biologia molecular e
de transgenia; esforços recentes de especialistas da
engenharia genética visam incorporar genes de tolerância
a sais em culturas tradicionais, sem divulgação de
Figura 7. Vista de uma planta de Terminalia cattapa à beira
resultados, até então (Glenn et al., 1998a; Arzani, 2008). mar em Maragogi, AL, com detalhes de frutos e folhas
Considerando-se a dificuldade de alterar a fisiologia (no alto), sem sinais de injúrias, mesmo com o sistema
de uma espécie, tradicionalmente sensível à salinidade, radicular exposto ao ar e em contato direto com a água
outros pesquisadores têm investido seu trabalho em salgada, devido à ruptura do quebra mar (Foto:
domesticar plantas selvagens tolerantes a sais, as P.D.Fernandes, 15/11/2005)
Biossalinidade e produção agrícola 197

mar, objetivando a produção de frutos, madeira (presta-


se à fabricação de embalagens, por sua baixa
densidade) ou, simplesmente, visando ao sequestro de
carbono.
No litoral de Maragogi, Al, foi encontrada outra
espécie, não classificada pelos autores, ocorrendo à beira
mar (Figura 8), com aspectos muito semelhantes a outras
espécies, com potencialidades econômicas já
comprovadas, ilustradas nas Figuras 9 e 10.

Figura 10. Atriplex em habitat natural e detalhe de ramos


na fase reprodutiva. Fonte: Ogle & St John (2003)

para repor a quantidade evapotranspirada pela cultura.


Com água do mar, a irrigação precisa ser diária e em
quantidade maior que a utilizada pelas plantas, para
prevenir a acumulação de sais na zona radicular.
Como o cultivo se dá em solo arenoso, com alta
facilidade de drenagem, tal manejo é facilitado,
lavando os sais que se depositam na superfície do
terreno; outro aspecto a considerar, é a necessidade
de ser mantida a umidade do solo em altos potenciais,
tornando menos críticas a pressão osmótica e a
absorção de água pelas plantas.
O maior custo da agricultura irrigada, geralmente, é com
Figura 8. Espécie de folhas suculentas, não identificada,
o acesso à água, sendo proporcional à quantidade necessária
ocorrendo naturalmente à beira mar do litoral, em e à profundidade de bombeamento. Na agricultura com
Maragogi, Alagoas, com detalhes de ramos com flores. água do mar, comumente esse custo é baixo, devido ao
Foto: P.D.Fernandes (17/01/2006) nível do mar, ao contrário do bombeamento de água na
agricultura irrigada convencional, em que, muitas vezes, é de
poços profundos.
Uma vez bombeada a água, a irrigação com água do
mar não requer equipamentos especiais de distribuição,
por ser muito utilizado o sistema de distribuição superficial
em bacias. Quando é utilizado pivô central ou aspersão
por linha móvel, é imprescindível o revestimento interno
com tubos plásticos para a água do mar não ter contato
direto com a tubulação de metal (Glenn et al., 1998a).
O cultivo de halófitas deve ser rentável,
economicamente, avaliando-se se podem substituir
culturas convencionais para uso específico. Como um dos
maiores desafios, em terras áridas e semi-áridas, é
Figura 9. Salicornia bigelovii em habitat natural e desenho de alimentar animais, geralmente visa-se produzir forragem
detalhes de uma planta. Fonte: Ogle & St John (2003) para bois, carneiros, cabras e aves.
Além das utilidades já abordadas, muitas halófitas são
Aspectos técnicos e econômicos fontes, também, de produtos químicos especiais,
Normalmente, as culturas são irrigadas quando a utilizados como fármacos. Como exemplos, folhas de
umidade do solo baixa a 60-50% da capacidade de Excoecaria agalloca tem sido utilizadas no tratamento de
campo (Bernardo et al., 2008); além disso, com água epilepsia e as cinzas da madeira no tratamento de lepra;
doce os irrigantes aplicam apenas a lâmina necessária efusão de cascas e de raízes de Acanthus ilicifolius é
198 Pedro D. Fernandes et al.

recomendada para tratamento de alergias e doenças de Exemplos de agricultura irrigada com água do mar
pele (Albert & Popp, 1977). Produção de forragem: Glenn et al. (1998a) relatam
experiências conduzidas em Puerto Peñasco, no Golfo da
Sustentabilidade Califórnia, com uso de águas salinas (40.000 ppm de
A maior exigência para uso de águas salgadas do sais) para irrigar halófitas, sendo obtidas produções de
mar deve ser a sustentabilidade da agricultura salina, biomassa seca de até 2 kg m-2, aproximadamente igual
preservando-se a possibilidade de produção por tempo à produção de alfafa irrigada com água doce. As
longo. Contudo, este não é um problema apenas da espécies mais produtivas foram dos gêneros Salicornia
agricultura irrigada com água do mar, pois muitos (‘glasswort’ – Figura 9), Atriplex (erva-sal – Figura 10)
projetos de irrigação convencional não obedeceram a e Suaeda (‘sea blite’ – Figura 11), todos da família
esse critério, com sérios impactos sobre o meio ambiente. Chenopodiaceae que abrange cerca de 20% das
Em regiões áridas, a irrigação com água de boa espécies halófitas. Foram, também, altamente produtivos
qualidade é praticada, geralmente, em terras do interior, o capim Distichlis spp (família Poaceae) e a espécie
com restrições de drenagem, resultando na elevação do Batis spp (família Batidaceae – Figura 12).
teor de sais e do lençol freático. Quando o problema se
agrava, os agricultores precisam instalar sistemas caros
de drenagem subterrânea; a água coletada dos drenos
passa a ser um outro problema, a exemplo dos grandes
projetos no Vale São Joaquim na Califórnia, cuja água de
drenagem contém alto teor de selênio, elemento presente
em muitos solos do oeste americano; a acumulação de
selênio tem causado morte e deformações de animais da
fauna local, além de riscos à saúde humana (EPA, 1998;
Hamon, 2004).
O cultivo de halófitas é uma solução para esse caso
de selênio, pelo fato de as plantas absorverem
quantidades não muito altas do elemento, sem atingir
níveis tóxicos, considerando que na quantidade retida pelo Figura 11. Detalhes de uma planta da espécie Suaeda linearis.
vegetal não há riscos para alimentação animal (National Fonte: Ogle & St John (2003)
Research Council, 1990).
Pode ser, também, solução para as extensas fazendas
de criação de camarão localizadas em zonas costeiras;
a descarga de efluentes dos tanques de criação têm
causado proliferação de algas e de doenças em rios e
baías, onde são despejados, pela riqueza em nutrientes.
Nesses casos, o cultivo de halófitas pode ser uma
solução, reciclando os efluentes na irrigação, em vez de
descarregá-los em rios; no México há exemplos dessa
associação (Glenn et al., 1991).
A agricultura irrigada com água do mar não está
isenta de tais problemas, mas tem algumas vantagens
(Glenn et al., 1998a, 1998b):
a - existe drenagem livre em terras costeiras, Figura 12. Batis marítima em seu habitat natural e detalhes
de ramos com flores. Fonte: Ogle & St John (2003)
retornando a água drenada para o mar; em áreas
cultivadas por mais de 10 anos não houve elevação dos
Muitas halófitas são ricas em proteínas e carboidratos
teores de sais;
b - aquíferos na costa e em áreas desérticas digestíveis. Infelizmente, essas plantas contêm, também,
geralmente contém concentrações elevadas de sais, sem grandes quantidades de sais; acumular sais é uma das
problemas de serem agravadas com uso de água do mar; maneiras de ajustamento osmótico para as plantas se
c - geralmente, os solos nessas condições são estéreis adaptarem aos ambientes salinos, conforme já abordado
ou quase estéreis, de modo que o cultivo com água do anteriormente. Como os sais não têm valor calórico, ao
mar causa menos impacto no ecossistema que o da ocuparem espaço nas células, diluem o valor nutricional das
agricultura tradicional. plantas. Outro problema é a limitação da quantidade de
Biossalinidade e produção agrícola 199

forragem rica em sais que deve ser fornecida aos animais. REFERÊNCIAS
A solução é limitar a 30-50% a substituição de feno
convencional por forrageiras halófitas. No trabalho Abdelly, C.; Barhoumi, Z.; Ghnaya, T.; Debez, A.; Hamed, K.
relatado por Glenn et al. (1998a, 1998b), os animais B.; Ksouri, R. Potential utilization of halophytes for the
alimentados com forragem de Salicornia, Suaeda e rehabilitation and valorization of salt-affected areas in
Atriplex ganharam peso correspondente aos alimentados Tunisia. In: Ozturk, M.; Waisel, Y.; Khan, M. A.; Gork, G.
apenas com feno, sem ser afetada a qualidade da carne; (ed.). Biosaline agriculture and salinity tolerance in plants.
eles foram atraídos pelo gosto dos sais e beberam mais Berlin: Birkhauser Verlag, 2006. p.163-172.
Abdelly, C.; Ozturk, M.; Ashraf, M.; Grignon, C. (ed.).
água.
Biosaline agriculture and high salinity tolerance. Berlin:
Fazendas produtoras de óleo: Segundo Glenn et al. Birkhauser Verlag, 2008. 367p.
(1991; 1998a), a mais promissora halófita é a Salicornia Agarie, S.; Shimoda, T.; Shimizu, Y.; Baumann, K.; Sunagawa,
bigelovii, uma planta anual suculenta, presente em H.; Kondo, A.; Ueno, O.; Nakahara, T.; Nose, A.; Cushman
mangues, com produção de grande quantidade de J.C. Salt tolerance, salt accumulation, and ionic
sementes, ricas em óleo (30%) e em proteínas (35%); o homeostasis in an epidermal bladder-cell-less mutant of the
óleo é rico em poli-insaturados, similar ao de girassol na common ice plant Mesembryanthemum crystallinum.
composição de ácidos graxos; é comestível, com sabor Journal of Experimental Botany, v.58, n.8, p.1957-1967, 2007.
e aroma agradáveis, similar ao óleo de oliva e pode ser Ahmad, C. N. Coordinated research programme on saline
refinado em equipamentos da indústria convencional. Na agriculture. Islamabad, Pakistan: PARC, 1988, 115p. Final
Figura 9 está uma foto e o desenho de uma planta dessa Report
espécie. Ahmed, H. D.; Ammar, D. B.; Zid, E. Physiology of salt
A torta, após extração do óleo, é rica em proteína, mas tolerance in Atriplex halimus L. In: Abdelly, C.; Ozturk, M.;
Ashraf, M.; Grignon, C. Biosaline agriculture and high
contém uma saponina amarga, que restringe o volume
salinity tolerance. Berlin: Birkhauser Verlag, 2008. p.107-
ingerido pelos animais; entretanto, na quantidade possível
114.
de ingestão, atende às necessidades da criação de Al-Attar, M. Role of biosaline agriculture in managing
frangos. Felizmente, a saponina não contamina o óleo. freshwater shortages and improving water security. Dubai:
Há áreas cultivadas com Salicornia bigelovii no International Center for Biosaline Agriculture (ICBA),
México, Emirados Árabes, na Arábia Saudita e Índia. No World Food Prize, No.24-25. 2002. 10p.
México, durante 6 anos de cultivo, a média de produção Albert, R.; Popp, M. Chemical composition of halophytes from
é de 1,7 kg m-2 de biomassa total, correspondendo a 0,2 the Neusiedler lake region in Áustria. Oecologia, v.27, n.1,
kg de óleo m-2, produção esta superior à produção de p.157-170, 1977.
óleo de soja irrigada com água doce. Um dos problemas Aronson, J.; Floc’h, E. L. Restoration ecology of salt-affected,
é a irrigação da cultura, por causar a água salgada arid and semi-arid lands. In: Choukr-Allah, R.; Malcolm, C.
corrosão dos equipamentos de irrigação, passível, V.; Hamdy, A. (ed.). Halophytes and biosaline agriculture.
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entretanto, de ser solucionado.
Arzani, A. Improving salinity tolerance in crop plants: A
Em testes de lisimetria, foi verificado que essa espécie biotechnological view. Vitro Cell Developmental Biology -
de Salicornia pode sobreviver com uso de água de até Plant, v.44, n.5, p.373-383, 2008.
100.000 ppm (cerca de 3 vezes à do mar). Para altas Ashraf, M. Y.; Foolad, M. R. Roles of glycine betaine and
produções de biomassa há necessidade de uma lamina de proline in improving plant abiotic stress resistance.
água do mar 35% maior do que se fosse na agricultura Environmental and Experimental Botany, v.59, p.206-216,
convencional, devido à seletividade da espécie na 2007.
absorção de água, concentrando demasiadamente os sais Ashraf, M. Y.; Harris, P. J. C. Potential biochemical indicators
no solo; o excesso de água contribuirá para a lixiviação of salinity tolerance in plants. Plant Science, v.166, p.3-16,
do excesso de sais da área cultivada. 2004.
Para altas produções, o período de 100 dias anteriores Ashraf, M. Y.; Sarwar, G.; Hussain, F.; Wahed, R. A.; Igbal, M.
ao florescimento da Salicornia precisa coincidir com M. Growth performance and nutritional value of salt
temperaturas baixas, restringindo-se, portanto, o seu tolerant plants growing under saline environments. In:
Ozturk, M.; Waisel, Y.; Khan, M. A.; Gork, G. (ed.).
cultivo em regiões sub-tropicais; não é possível cultivá-
Biosaline agriculture and salinity tolerance in plants.
la na maioria das áreas costeiras desérticas do planeta,
Berlin: Birkhauser Verlag, 2006. p.35-44.
situadas nos trópicos quentes. Atia, A.; Hamed, K. B.; Devez, A.; Abdelly, C. Salt and
Portanto, é viável e promissor o uso de água do mar seawater effects on the germination of Crithmum
para irrigar halófitas, dependendo da necessidade de maritimum. In: Ozturk, M.; Waisel, Y.; Khan, M. A.; Gork,
produção de alimentos e da demanda de água de boa G. (ed.). Biosaline agriculture and salinity tolerance in
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Melhoramento genético vegetal
13 e seleção de cultivares tolerantes
à salinidade
Nand K. Fageria1, Walter dos S. Soares Filho2 & Hans R. Gheyi3

1Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Arroz e Feijão


2 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Mandioca e Fruticultura
3 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Introdução
Salinidade e rendimento das culturas
Considerações sobre a metodologia de avaliação para tolerância à salinidade
Aspectos gerais
Análise e interpretação de dados
Caracteres morfológicos
Características fisiológicas
Melhoramento genético vegetal para tolerância à salinidade
Variação em germoplasma
Plantas nativas e exóticas como fontes de tolerância à salinidade
Estratégias relacionadas ao melhoramento genético
Introdução de cultivares tolerantes à salinidade
Espécies de plantas adaptadas ao cultivo sob consições salinas
Perspectivas futuras
Conclusões
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
206 Nand K. Fageria et al.

Melhoramento genético vegetal e seleção


de cultivares tolerantes à salinidade

INTRODUÇÃO no crescimento das plantas (Saqib et al., 2008). Com o


aumento dos teores de Na + e de Cl - ocorre uma
A salinidade é um dos principais fatores que reduzem diminuição dos teores de K + e de Ca 2+ na planta
a produtividade das culturas. Em nível mundial, estima- (Mansour et al., 2005; Kumar et al., 2008). Com a
se que 20% da área cultivada e 33% da área irrigada acumulação de altos teores de Na e Cl diminui a
sejam afetados por excesso de sais, boa parte dos quais absorção de cátions e anions, ocasionando desequilíbrios
situados no continente asiático (Heuer, 2003; Rains & nutricionais na planta, diminuindo seu rendimento
Goyal, 2003; Sharma & Goyal, 2003; Ashraf & Foolad, agronômico (Romero et al., 1994; Maathuis, 2006;
2005; Rengasamy, 2006; Ashraf & Foolad, 2007; Kant et Kumar et al., 2008). Portanto, é altamente interessante
al. 2008), abrangendo uma área total em torno de 900 a seleção de plantas tolerantes à salinidade, que excluem
milhões de hectares. De acordo com Pessarakli & o Na+ no processo de absorção e tentam manter elevada
Szabolcs (1999), todos os continentes, à exceção da a concentração de K na parte aérea (Munns et al., 2000;
Antártica, apresentam problemas de salinização do solo. Tester & Davenport, 2003; Davenport et al., 2005; Saqib
Ainda em termos globais, a salinização dos solos está et al., 2004, 2005). Alta relação K/Na nos tecidos das
aumentando a uma taxa anual de 10% (Szabolcs, 1994). plantas é considerada um bom indicador de tolerância à
Além desses dados alarmantes, há que se acrescentar: salinidade (Gorham, 1990; Wei et al., 2003). O excesso
i) a população mundial vai aumentar de 6,5 bilhões de de sais reduz o processo fotossintético nas plantas,
indivíduos em 2009 para cerca de 10 bilhões em 2050 aumenta a respiração e diminui o crescimento (Saíram et
(Evans, 1998; Epstein & Bloom, 2005), ii) a urbanização al., 2002; Bayuello-Jimenez et al., 2003; Khadari et al.,
e industrialização vão aumentar a competição por água 2006). Os sais solúveis consistem, normalmente, de
de alta qualidade (Evans, 1998; Rains & Goyal, 2003) e várias proporções dos cátions Ca 2+, Mg2+ e Na+, dos
iii) o manejo inadequado do solo e da água aumentará a ânions Cl-, SO42- e HCO3- e, às vezes, de K+, CO32- e
dimensão do problema da salinidade (Hillel, 1994; NO3-. Devido à alta concentração de sais solúveis, solos
National Academy of Sciences, 1999). salinos são caracterizados por uma alta condutividade
Solos afetados por sais são definidos como aqueles elétrica. A Tabela 1 mostra o efeito da condutividade
que têm sido adversamente modificados para o elétrica na produção das culturas. O pH de solos salinos
crescimento da maioria das plantas pela presença, na normalmente encontra-se na faixa de 7 a 8,5 (Mengel et
zona radicular, de sais solúveis, sódio trocável, ou ambos al., 2001). Solos cuja porcentagem de sódio trocável
(Soil Science Society of America, 1997). A salinidade (PST = Na trocável/CTC X 100) mostre-se superior a
reduz o crescimento das plantas em razão do acúmulo de 15% são denominados salino-sódicos.
quantidades tóxicas de vários íons e em virtude do A ocorrência de solos salinos e sódicos é comum em
aumento da tensão osmótica da solução, que restringe a regiões áridas e semiáridas, devido à baixa precipitação
absorção de água pelas plantas (Munns, 1993; Saqib et e à alta taxa de evaporação, fazendo com que os sais, não
al., 2004, 2005, 2006, 2008; Ribeiro et al., 2009). A lixiviados, acumulem-se em quantidades prejudiciais ao
toxicidade de Na+ é o mais notável efeito da salinidade crescimento normal das plantas. A salinização também
Melhoramento genético vegetal e seleção de cultivares tolerantes à salinidade 207

Tabela 1. Resposta das culturas à condutividade elétrica da SALINIDADE E RENDIMENTO


saturação do solo DAS CULTURAS

A salinidade afeta o crescimento e consequentemente


a produção das culturas (Pardo et al., 2006). Seus efeitos
no crescimento das plantas são discutidos
detalhadamente no Capítulo 9. Relativamente a culturas
anuais, a Tabela 2 traz informações sobre valor de
salinidade limiar, decréscimo no rendimento das principais
culturas com o aumento unitário da salinidade acima
desse limiar e classificação de várias culturas quanto à
tolerância à salinidade.

CONSIDERAÇÕES SOBRE A METODOLOGIA


DE AVALIAÇÃO PARA TOLERÂNCIA
Fonte: Adaptada de Mengel et al. (2001).
À SALINIDADE
ocorre em regiões litorâneas, em consequência da
Aspectos gerais
inundação do solo pela água salgada de mares ou
Existem inúmeros trabalhos na literatura que relatam
oceanos.
a avaliação de espécies ou de genótipos de uma mesma
Em nível global, a cada ano verifica-se um aumento
das áreas afetadas por sais, especialmente onde a espécie relativamente à sua tolerância à salinidade em
irrigação é praticada sem um manejo adequado da água condições de campo e em condições controladas
e do solo. A maior parte dos solos afetados por sais (Fageria, 1985a e b; François, 1994; Akhtar et al., 2003;
localiza-se em países em desenvolvimento, onde a Murtaza et al., 2009). A escolha de metodologia
densidade populacional é alta e, consequentemente, há apropriada de avaliação é a primeira etapa para o
necessidade de mais alimentos. No Brasil, além da região sucesso do processo de desenvolvimento de cultivares
Nordeste, são encontrados solos salinos no Rio Grande tolerantes à salinidade. Não existe uma regra geral para
do Sul e no Pantanal Mato-grossense (Ribeiro et al., avaliação de material genético quanto à tolerância à
2009). Segundo Ribeiro et al. (2003), com base no mapa salinidade. A metodologia pode variar de acordo com as
de solos do Brasil, os solos afetados por sais ocupam condições climáticas da região, tipo de solo, grau de
cerca de 160.000 km2 (16 milhões hectares) ou 2% do salinidade do solo e disponibilidade de recursos físicos,
território nacional. A maior parte desses solos encontra- humanos e financeiros. Desse modo, a metodologia deve
se no Estado da Bahia (44% do total), seguido pelo ser desenvolvida e adaptada para cada condição. Para
Ceará, que compreende 25,5% da área total de solos tanto, é necessário conduzir experimentos em campo e
afetados por sais do País. Conforme já mencionado, em casa de vegetação no sentido de alcançar resultados
prevê-se que em 2050 a população mundial chegue a satisfatórios. Indubitavelmente, porém, em todas as
aproximadamente 10 bilhões de indivíduos, estando a situações, alguns princípios de avaliação óptica devem ser
maior parte desse aumento populacional projetada nos levados em conta no processo de avaliação do material
países em desenvolvimento, onde a demanda de genético, a saber:
alimentos será maior. Neste contexto, a incorporação de 01. Substrato de crescimento uniforme.
áreas afetadas por sais no processo produtivo de 02. Genótipos com ciclos de desenvolvimento iguais
alimentos, no futuro, terá papel fundamental do ponto de no mesmo experimento.
vista socioeconômico. 03. Metodologia de validação de resultados deve ser
A literatura indica que, além de recuperar o solo, o simples e permitir avaliar grande número de genótipos com
uso de cultivares tolerantes à salinidade pode ser uma razoável precisão.
ação complementar para a produção de alimentos em 04. Parâmetros de avaliação bem definidos.
solos salinos (François, 1994; Shalhevet, 1995; François, 05. Se o experimento é conduzido em campo, deve-se
1996; Khadri et al., 2006; Gama et al., 2009). Assim, este determinar o nível de salinidade antes de instalar o ensaio.
capítulo objetiva discutir o melhoramento genético e a É necessária uma clara definição, na área experimental,
metodologia de avaliação de genótipos relacionados a do problema de salinidade para o qual se espera que a
culturas anuais no tocante à tolerância à salinidade. planta possa responder.
208 Nand K. Fageria et al.

Tabela 2. Limiar de salinidade, decréscimo no rendimento e tolerância de várias culturas à salinidade


Condutividade Elétrica
de Extrato de Saturação
Cultura Classificação1
Limiar Decréscimo no rendimento
(dS m-1) (% por dS m-1 acima limiar)
Cereais, Fibrosas e Culturas especiais
Algodão (Gossypium hirsutum L.) 7,7 5,2 T
Amendoim (Arachis hypogaea L.) 3,2 29,0 MS
Arroz (Oryza sativa L.) 3,0 12,0 S
Aveia (Avena L.) - - MT
Beterraba (Beta vulgaris L.) 7,0 5,9 T
Cana-de-açúcar (Saccharum oficinarum L.) 1,7 5,9 MS
Caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.) 4,9 12,0 MT
Centeio (Secale cereale L.) - - MT
Cevada (Hordeum vulgare L.) 8,0 5,0 T
Feijão (Phaseolus vulgaris L.) 1,0 19,0 S
Girassol (Helianthus annuus L.) - - MS
Guar (Cyamopsis tetragonoloba (L.) Taub.) - - MT
Linho (Linum spp.) 1,7 12,0 MS
Milheto (Pennisetum glaucum (L.) R. Br.) - - MS
Milho (Zea mays L.) 1,7 12,0 MS
Soja (Glycine max (L.) Merr.) 5,0 20,0 MT
Sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) 6,8 16,0 MT
Trigo (Triticum aestivum L.) 6,0 7,1 MT
Triticale (Triticum aestivum x Secale cereale) - - T
Forrageiras
Alfafa (Medicago sativa L.) 2,0 7,3 MS
Capim Bermuda (Cynodon dactylon (L.) Pers.) 6,9 6,4 T
Capim Sudão (Sorghum sudanense (Piper) Stapf) 2,8 4,3 MT
Fetusca Alta (Festuca arundinacea Schreb.) 3,9 5,3 MT
Sesbânia (Sesbania grandiflora (L.) Pers.) 2,3 7,0 MS
Trevo Ladino (Trifolium repens L.) 1,5 12,0 MS
Trevo Vermelho (Trifolium repens L.) 1,5 12,0 MS
Hortaliças e Fruteiras
Alface (Lactuca sativa L.) 1,3 13,0 MS
Aspargo (Asparagus officinalis L.) 4,1 2,0 T
Batata (Solanum tuberosum L.) 1,7 12,0 MS
Batata-doce (Ipomoea batatas (L.) Lam.) 1,5 11,0 MS
Berinjela (Solanum melongena L.) - - MS
Brócolis (Brassica oleracea L. var. italica Plenck) 2,8 9,2 MS
Cebola (Allium cepa L.) 1,2 16,0 S
Cenoura (Daucus carota L.) 1,0 14,0 S
Couve-flor (Brassica oleracea L. var. botrytis L.) - - MS
Ervilha (Pisum sativum L.) - - S
Espinafre (Spinacia oleracea L.) 2,0 7,6 MS
Melancia (Citrullus lanatus (Thunb.) Matsum. & Nakai) - - MS
Morango (Fragaria x ananassa Duch.) 1,0 33,0 S
Nabo (Brassica rapa L.) 0,9 9,0 MS
Pepino (Cucumis sativus L.) 2,5 13,0 MS
Rabanete (Raphanus sativus L.) 1,2 13,0 MS
Repolho (Brassica oleracea L. var. capitata L.) 1,8 9,7 MS
Tomate (Solanum lycopersicum L. var. lycopersicum) 2,5 9,9 MS
1S = sensível; MS = muito sensível; T = tolerante; MT = muito tolerante.
Fonte: Maas (1986).
Melhoramento genético vegetal e seleção de cultivares tolerantes à salinidade 209

06. Determinação do nível de salinidade em que a


produção de uma dada espécie de planta começa a
decrescer.
07. Na avaliação de genótipos para tolerância à
salinidade é necessário que todos os nutrientes essenciais
sejam aplicados em quantidades adequadas.
08. Os ensaios de avaliação devem ser acompanhados
de práticas culturais adequadas, como época e densidade
de plantio convenientes, controle de doenças, pragas e
invasoras e colheita na época apropriada.
09. Na avaliação deve-se incluir uma cultivar tolerante
e uma suscetível para se estabelecer comparações.
10. A tolerância das culturas à salinidade varia com o
estádio de crescimento.
Figura 1. Influência da salinidade no peso da matéria seca
A parte aérea é mais sensível à toxidez de salinidade das raízes e da parte aérea de cultivares de arroz (Oryza
do que o sistema radicular, tanto em experimentos de sativa L.) (Adaptada de Fageria, 1992)
longa como de curta duração (Tabela 3, Figura 1).
Portanto, em experimentos em casa de vegetação, a enchimento de grãos (Figura 2). Nessas culturas,
parte aérea pode ser usada como elemento indireto de portanto, a seleção para tolerância à salinidade deve ser
avaliação das raízes. A Figura 1 mostra a resposta da feita no estádio mais sensível. É interessante, também,
parte aérea e das raízes de cultivares de arroz (Oryza irrigar essas culturas com água salina durante o estádio
sativa L.) à salinidade. O peso da matéria seca da parte de menor sensibilidade e usar água com baixa salinidade
aérea foi reduzido mais do que o das raízes. Isto significa durante o estádio mais sensível. Trabalho realizado por
que a parte aérea é mais sensível à salinidade do que as Grattan et al. (1987) mostrou que a irrigação com água
raízes e, também, que o peso da matéria seca da parte de 8 dS m-1, do início da floração até a colheita, não
aérea é um parâmetro mais adequado para a afetou significativamente a produção de melão (Cucumis
classificação de cultivares de cereais tolerantes à melo L.) e tomate (Solanum lycopersicum L. var.
salinidade do que o peso da matéria seca das raízes. Na
avaliação do efeito da salinidade em condições de
campo, a produção de grãos é o melhor parâmetro a ser
considerado no caso de culturas graníferas anuais.

Tabela 3. Nível de salinidade na redução de 50% do peso


da matéria seca da parte aérea e das raízes de algumas
culturas anuais
Parte
Raízes
Cultura Aérea
dS m-1
Cevada (Hordeum vulgare L.) 16,9 19,2
Algodão (Gossypium hirsutum L.) 13,3 18,9
Milho (Zea mays L.) 15,3 17,5
Milho verde (Zea mays L.) 15,0 30,0
Sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench) 11,1 27,8
Fonte: Shalhevet et al. (1995).

De acordo com Shalhevet et al. (1995), resultados de


experimentos conduzidos em casa de vegetação mostram
que o sorgo (Sorghum bicolor (L.) Moench), o trigo
(Triticum aestivum L.) e o caupi (Vigna unguiculata
(L.) Walp.) são mais sensíveis à salinidade durante o Figura 2. Relação hipotética mostrando a tolerância de uma
estádio vegetativo e no início da fase reprodutiva, menos dada cultivar à salinidade em função de ciclo de
sensíveis no estádio de floração e insensíveis durante o crescimento
210 Nand K. Fageria et al.

lycopersicum), em comparação com a água de irrigação Tabela 4. Classificação de genótipos de plantas cultivadas
com salinidade de 0,2 dS m-1. quanto à sua tolerância à salinidade, baseando-se na
porcentagem de folhas mortas
Análise e interpretação de dados Folhas Mortas (%) Nota Classificação
0-20 1 Tolerante
A tolerância à salinidade de uma espécie ou cultivar 21-35 2 Tolerante
pode ser interpretada de três maneiras: 36-50 3 Tolerante
1. Pode ser considerada como a capacidade de 51-70 Moderadamente
5
sobrevivência da planta sob condições de elevada tolerante
concentração salina. Uma espécie, em alta concentração 71-90 Moderadamente
7
de sal, pode crescer pouco ou não crescer, embora suscetível
permaneça viva. Assim, a capacidade de sobrevivência 91-100 9 Suscetível
Fonte: Ponnamperuma (1977).
de uma planta, quando submetida a aumentos crescentes
de salinidade, é uma medida de tolerância à salinidade. Tabela 5. Classificação de genótipos de arroz (Oryza sativa
2. Pode ser considerada do ponto de vista da L.) irrigado segundo sua tolerância à salinidade
capacidade produtiva da planta, quando esta é exposta a Folhas
Genótipo Nota Classificação
um dado nível de salinidade. Por exemplo, ao se avaliar Mortas (%)
cultivares de uma mesma espécie em um solo contendo BG 11-11 18 1 Tolerante
certo nível de salinidade pode-se considerar a cultivar IR 9129-102-2 12 1 Tolerante
mais produtiva como a mais tolerante. TOX 711-6 25 2 Tolerante
IR 22 47 3 Tolerante
3. Pode, ainda, ser considerada com base em um
IR 3511-39-3-3 Moderadamente
gradiente de salinidade, avaliando-se o comportamento 53 5
tolerante
de uma planta ou cultivar em solos com diferentes níveis Suvale 1 Moderadamente
de salinidade: baixos, médios e altos, de modo a verificar 59 5
tolerante
sua reação nessas condições. IR 2070-414-3-9 Moderadamente
62 5
tolerante
Após a condução de ensaios, os resultados da De Abril Moderadamente
71 7
avaliação da tolerância de genótipos à salinidade devem suscetível
Labelle Moderadamente
ser analisados e interpretados adequadamente antes de 77 7
suscetível
serem aplicados na prática. Os critérios de avaliação BR 4 91 9 Suscetível
podem compreender caracteres morfológicos IR 8 100 9 Suscetível
(porcentagem de folhas mortas, redução em peso da Fonte: Fageria et al. (1981).

matéria seca da parte aérea ou de grãos) e fisiológicos.


RP = [(PSTS - PCTS) / PSTS] x 100
Caracteres morfológicos
Dentre as formas de avaliação de caracteres onde:
morfológicos, uma baseia-se na resposta das folhas da RP - redução da produção;
PSTS - produção sem tratamento de salinidade;
cultivar em dado nível de salinidade. Considerando a
PCTS - produção com tratamento de salinidade.
porcentagem de folhas mortas, os genótipos podem ser
classificados como tolerantes, moderadamente tolerantes
A maneira de interpretar esses resultados é
ou moderadamente suscetíveis e suscetíveis (Tabela 4).
apresentada na Tabela 6.
Conforme este critério, a Tabela 5 apresenta a
Além desses critérios, pode-se utilizar o Índice de
classificação de 11 genótipos de arroz irrigado. Eficiência de Produção (IEP) na classificação de
Outros caracteres morfológicos compreendem a diferentes genótipos quanto à tolerância à salinidade.
produção de matéria seca ou de grãos, avaliando-se as Este índice pode ser calculado como descrito a seguir
reduções na expressão dos mesmos que se verificam sob (Fageria, 1991):
certo nível de salinidade, em relação à testemunha
cultivada em solo não-salino. Este critério de avaliação IEP = (PANS / PMANS) x (PBNS / PMBNS)
é considerado como o mais adequado para aplicação em
condições de campo. Conforme Fageria (1985a, 1985b, onde:
1992), pode-se utilizar a seguinte fórmula no cálculo da IEP - Índice de Eficiência de Produção;
redução da produção de matéria seca ou de grãos: PANS - produção com alto nível de salinidade;
Melhoramento genético vegetal e seleção de cultivares tolerantes à salinidade 211

PMANS - produção média do experimento com alto Tabela 8. Influência da salinidade no peso da matéria seca
nível de salinidade; da parte aérea (g) de cultivares de arroz (Oryza sativa L.)
PBNS - produção com baixo nível de salinidade; e sua classificação para tolerância à salinidade, conforme
PMBNS - produção média do experimento com Índice de Eficiência de Produção (IEP)
Nível de
baixo nível de salinidade. Cultivar/ IEP e
Salinidade (dS m-1)
Linhagem Classificação1
Testemunha 10 g
Resultados obtidos empregando este critério são GA 3459 1,16 0,42 0,60 (MT)
apresentados na Tabela 7. L 440 1,99 0,47 1,16 (T)
IET 2881 1,87 0,81 1,88 (T)
Tabela 6. Classificação de genótipos quanto à tolerância à GA 3461 1,32 0,49 0,80 (MT)
salinidade, baseando-se na redução da produção de CNA 12 1,92 0,56 1,33 (T)
matéria seca ou de grãos GA 3452 1,96 0,59 1,53 (T)
Redução da CNA 294-B-BM-4-4 1,85 0,61 1,40 (T)
Classificação
Produção (%) CNA 237-F-130-1 1,57 0,56 1,09 (T)
0-20 Tolerante CNA 108-B-28-2-1 1,15 0,16 0,23 (S)
21-40 Moderadamente tolerante CNA 296-B-BM-M-4 1,63 0,28 0,56 (MT)
41-60 Moderadamente suscetível Média 1,64 0,49
> 60 Suscetível 1
T = Tolerante, MT = Moderadamente tolerante, MS = Moderadamente suscetível e S =
Suscetível. Fonte: Fageria (1985b).
Fonte: Fageria (1985a).

Tabela 7. Influência da salinidade no peso da matéria seca revisão publicados neste sentido (Lauchli & Epstein, 1990;
da parte aérea (g/5 plantas) de cultivares de arroz (Oryza Noble & Rogers, 1992) mostram que vários mecanismos
sativa L.) e sua classificação para tolerância à salinidade de tolerância são envolvidos e que, além disso, a
Condutividade Elétrica Redução da importância relativa de muitos mecanismos pode variar
Cultivar/
(dS m-1) Matéria Seca (%) entre espécies de plantas (Rush & Epstein, 1981) e entre
Linguagem
Testemunha 5 10 5 10 cultivares da mesma espécie (Yeo & Flowers, 1983).
CNA 3,30 3,25 2,76 2 (T) 16 (T) Faltam informações, entretanto, sobre o controle genético
810098 desses mecanismos. Alguns parâmetros fisiológicos de
CNA 3,76 2,85 0,97 24 (MT) 74 (S) avaliação, como acumulação e exclusão de íons e
810112 ajustamento osmótico, estão entre os mais importantes.
CNA 4,66 3,33 1,67 29 (MT) 64 (S)
Plantas halófilas, que habitam meios ricos em sal,
810115
CNA 2,99 2,89 1,13 3 (T) 62 (S)
acumulam certos íons inorgânicos em altas
810129 concentrações e utilizam-se deles para manter o
CNA 3,76 2,16 1,37 43 (MS) 64 (S) potencial osmótico de seus tecidos abaixo do que o
810138 potencial externo apresenta. Em muitas alicofíticas, a
CNA 3,12 2,69 1,96 14 (T) 38 (MT) diferença entre cultivares tolerantes à salinidade está
810168 associada ao baixo teor de absorção e à acumulação de
T = Tolerante, MT = Moderadamente tolerante, MS = Moderadamente suscetível e S =
Suscetível
Na+ ou Cl- em toda a planta ou na parte aérea. Neste
caso, a tolerância é relacionada ao mecanismo de
A classificação de genótipos com base neste índice exclusão de íons. A Tabela 9 mostra a acumulação de
pode ser feita da seguinte maneira: genótipos tolerantes Na + na parte aérea de sete cultivares de arroz. Nas
apresentam índice de eficiência maior que 1, genótipos cultivares tolerantes, o teor de Na + na parte aérea foi
moderadamente tolerantes relacionam-se a índices entre muito menor que nas suscetíveis. Lauchli (1984)
0,5 e 1, e genótipos suscetíveis compreendem índices de observou que a maioria das leguminosas responde à
eficiência entre 0 e 0,5. Observando esse critério, salinidade pela exclusão de sais das folhas. A tolerância
trabalho realizado em casa de vegetação utilizando solo à salinidade em soja (Glycine max (L.) Merr.), alfafa
pertencente à ordem Inceptissolo, possibilitou o seguinte (Medicago sativa L.) e trigo também se relaciona à
agrupamento de cultivares de arroz, conforme sua exclusão de Na+ e/ou de Cl- na parte aérea (Noble &
tolerância à salinidade (Tabela 8). Rogers, 1992). Assim, a avaliação da tolerância à
salinidade de genótipos dessas espécies com base na
Características fisiológicas exclusão de Na+ ou Cl- pode ser um bom critério de
A seleção baseada em parâmetros fisiológicos pode seleção.
resultar em maior sucesso no desenvolvimento de Plantas tolerantes à salinidade devem ser capazes de
cultivares tolerantes à salinidade. Alguns trabalhos de ajustar seu potencial osmótico, o que envolve tanto a
212 Nand K. Fageria et al.

Tabela 9. Concentração de Na+ na parte aérea de cultivares do excesso de sais de seus órgãos (exemplo: Spartina
de arroz (Oryza sativa L.) e sua classificação quanto à alterniflora Loisel.), ou por várias combinações desses
tolerância à salinidade mecanismos.
Teor de Na+
Cultivar Classificação
(mol m-3)
MELHORAMENTO GENÉTICO VEGETAL
Pokkali 39 Tolerante
PARA TOLERÂNCIA À SALINIDADE
Nova Bokra 62 Tolerante
IR 2153 50 Tolerante
99 Moderadamente Variação em germoplasma
IR 5 Existem grandes diferenças entre espécies e entre
tolerante
125 Moderadamente cultivares de uma mesma espécie com relação à
IR 58
tolerante tolerância à salinidade (Figuras 3 e 4). Algodão
IR 36 150 Suscetível (Gossypium hirsutum L.) e cevada (Hordeum vulgare
IR 22 247 Suscetível L.) seguidas pelo trigo, estão entre as espécies mais
Fonte: IRRI (1994).
tolerantes à salinidade. A maioria das leguminosas é
absorção e a acumulação de íons como a síntese de suscetível à salinidade, estando entre as exceções a
solutos orgânicos. Esses mecanismos, usados como base alfafa (Munns, 2001). Quando ao nível de salinidade
de classificação de plantas halófilas (Waisel, 1972), encontra-se em torno de 10 dS m -1 , a maioria das
geralmente operam juntos. O mecanismo dominante leguminosas morre antes da maturação. Nessas
varia entre espécies de planta e, em alguns casos, entre condições, porém, culturas como a cevada e o trigo
partes da planta.
A contribuição relativa de vários íons no ajustamento
osmótico depende do mecanismo regulador do transporte
de íons, como permeabilidade da membrana, cinética de
transporte, energia e seletividade. A taxa de absorção é
variável de íon para íon e, por isso, influencia o balanço
iônico na planta. A contribuição do Cl - para o
ajustamento osmótico é muito maior que a do SO 42-,
porque a absorção de Cl- é muito mais rápida que a de
SO42-. Quando a salinidade consiste predominantemente
de cátions monovalentes e ânions divalentes, como
Na2SO4, a taxa de absorção de cátions é maior que a de
ânions. Nesta situação, o balanço iônico é alcançado
através da síntese e da acumulação de ácidos orgânicos
(Maas & Nieman, 1978). Figura 3. Curva de resposta de espécies de plantas à
É possível que o mecanismo mais importante para salinidade (Adaptada de Shannon, 1984)
regular o potencial osmótico seja a absorção seletiva de
íons. Plantas tolerantes possuem capacidade de absorver
nutrientes essenciais na solução salina em que a
concentração de íons não-essenciais (tóxicos) é muito
maior que a de íons essenciais. Por exemplo, em solução
de solos salinos a concentração de Na+ é maior que a de
K+. Entretanto, a relação Na/K, em plantas que crescem
nesse tipo de solo, é aproximadamente um ou menos.
Esta alta especificidade para absorção de K + está
presente em várias espécies de plantas (Pitman, 1970).
Entre as plantas halófilas, uma classe de eualofíticas
ajusta-se ao ambiente salino pela acumulação de grande
quantidade de sal, geralmente NaCl (Waisel, 1972). Essas
plantas possuem adaptação para alta concentração de
sais pelo aumento de suculência (exemplo: Salicornia Figura 4. Influência da salinidade no peso da matéria seca
herbacea (L.) L.), pelo acúmulo de sais em partes da parte aérea de duas cultivares de arroz (Oryza sativa
menos sensíveis (exemplo: Atriplex sp.), pela secreção L.) (Adaptada de Fageria, 1989)
Melhoramento genético vegetal e seleção de cultivares tolerantes à salinidade 213

chegam a produzir, embora com baixas produtividades


(Munns, 2001).
François et al. (1989) estudaram os efeitos da
salinidade na produtividade de centeio (Secale cereale
L.). A produção relativa de duas cultivares não foi
afetada até 11,4 dS m-1. A cada aumento de uma unidade
de salinidade, acima de 11,4 dS m-1, verificou-se redução
na produção em 10,8%. Esses resultados colocam o
centeio na categoria de espécie tolerante à salinidade.
François et al. (1984) também estudaram os efeitos
da salinidade na produção de duas cultivares de sorgo
granífero. A produtividade não foi afetada até 6,8 dS m-1.
Após este nível, a cada aumento de uma unidade de
Figura 6. Tolerância à salinidade de genótipos de arroz (Oryza
salinidade houve diminuição na produção de grãos em
sativa L.) - IAC 435, IR9129-102-2 e IR5624-2-1, irrigado
16%. O sorgo foi classificado por esses autores como durante a fase inicial de crescimento sob 10 dS m -1
espécie moderadamente tolerante à salinidade. nível de salinidade aplicado com 2% de solução de NaCl
Devitt et al. (1984) mostraram que, sob condições
salinas, o sorgo é bem adaptado para explorar regiões coleção, manutenção e distribuição desse germoplasma
com potencial osmótico mais favorável. François et al. para pesquisadores, com vistas à sua utilização em
(1990) determinaram os efeitos da salinidade do solo programas de melhoramento genético. Diversos estudos
sobre a produtividade de duas cultivares de guar mostram que muitas plantas nativas e exóticas possuem
(Cyamopsis tetragonoloba (L.) Taub.), sendo esta espécie alta tolerância à salinidade e que esta pode ser transferida
classificada como moderadamente tolerante à salinidade. para plantas cultivadas mediante a aplicação de técnicas
Subbarao & Johansen (1994b) também relataram de melhoramento genético. Lycopersicon cheesmani, por
diferenças significativas entre espécies leguminosas em exemplo, é uma espécie silvestre relacionada ao tomateiro,
relação à sua tolerância à salinidade. As Figuras 5 e 6 distinguindo-se por sua alta tolerância à salinidade, podendo
mostram a tolerância à salinidade de seis cultivares/ produzir satisfatoriamente mesmo quando irrigada com
linhagens de arroz irrigado. Duas cultivares brasileiras, água do mar, cujo nível de salinidade é altamente tóxico
EEA 304 e IAC 435, morreram, mas quatro linhagens do para tomateiros cultivados. Semelhantemente,
International Rice Research Institute - IRRI sobrevieram considerando o trigo, a espécie silvestre Elytrigia
sob o nível de salinidade de 10 dS m-1. elongata (Host) Nevski também mostrou alta tolerância
à salinidade em relação à espécie cultivada Triticum
aestivum. Por outro lado, plantas silvestres relacionadas à
cevada, como Hordeum jubatum L. e Hordeum
marinum Huds., em comparação com a espécie cultivada
Hordeum vulgare, não possuem alta tolerância a sais
(Subbarao & Johansen, 1994a).

Estratégias relacionadas ao melhoramento genético


O melhoramento genético de cultivares para
tolerância a sais é plenamente viável, uma vez que não
se verificam relações de antagonismo entre alta
Figura 5. Tolerância à salinidade de genótipos de arroz (Oryza produtividade e tolerância à salinidade (Akbar &
sativa L.) - EEA 304, IR4422-164-3-6 e IR4432-22-5, Ponnamperuma, 1980). Dentre híbridos obtidos de
irrigado durante fase inicial de crescimento sob 10 dS m-1 cruzamentos entre cultivares de arroz, tolerantes e
nível de salinidade aplicado com 2% de solução de NaCl suscetíveis à salinidade, alguns apresentaram alta
tolerância a sais, conforme Akbar & Ponnamperuma
Plantas nativas e exóticas como fontes de (1980), que constataram, em geração F2, ampla faixa de
tolerância à salinidade variação entre genótipos, permitindo a seleção, nas
Plantas nativas e exóticas são frequentemente gerações F3 e F4, de plantas tolerantes à salinidade.
empregadas como fontes de tolerância à salinidade. Em A tolerância a sais varia em conformidade com o
nível mundial, várias instituições são responsáveis pela estádio de crescimento da planta. Assim sendo, em
214 Nand K. Fageria et al.

programas de melhoramento genético, deve-se O IRRI demonstrou, também, que o uso de


concentrar esforços nos estádios críticos da planta. Não cruzamento cumulativo, envolvendo várias cultivares
se deve esquecer, todavia, que a resposta da planta à tolerantes à salinidade, pode possibilitar o
salinidade está diretamente relacionada à duração da desenvolvimento de cultivares mais tolerantes que seus
exposição ao estresse, e que, na seleção, o desempenho respectivos parentais. Progênies de cruzamentos entre
geral deve levar em conta todos os estádios de duas cultivares tolerantes à salinidade manifestaram alta
crescimento do vegetal. tolerância em F1 e F3, superior à de seus parentais.
São poucos os trabalhos realizados em melhoramento
genético para tolerância de cultivares a sais. Nesse Introdução de cultivares tolerantes à salinidade
contexto, verifica-se a necessidade da formulação de Apesar da existência, entre e dentro de espécies, de
métodos que permitam uma rápida e eficiente avaliação variabilidade genética suficiente para a geração de
do material em teste. indivíduos tolerantes à salinidade (Venables & Wilkins,
As técnicas de seleção e os métodos de 1978; Norlyn, 1980; Fageria, 1985b, 1991), poucos são os
melhoramento genético para tolerância a sais foram exemplos de lançamento de cultivares que apresentam
discutidos por vários pesquisadores (Nieman & Shannon, essa característica (Tabela 10).
1976; Ponnamperuma, 1977), tendo sido sugerido o uso Tomando-se por base o conhecimento da
de técnicas de genética quantitativa, uma vez que variabilidade genética existente em nível de cultivares de
diversos genes podem estar envolvidos no culturas anuais, relativamente à tolerância à salinidade,
comportamento da tolerância à salinidade.
conclui-se que esta ainda não foi suficientemente
No processo de geração de cultivares tolerantes à
explorada em programas de melhoramento genético.
salinidade é importante definir corretamente os níveis de
Dentre as razões que levaram a essa situação
salinidade a serem aplicados durante o crescimento e
encontram-se:
desenvolvimento dos genótipos sob avaliação; deve-se ter
1. Falta de conhecimento da complexidade da
em mente a não viabilidade de utilização de uma só
natureza da tolerância e do modo como esta é
cultivar em diferentes tipos de solos salinos. Portanto, é
necessário o conhecimento da composição de sais modificada pelas condições ambientais.
existente nos solos para os quais as novas cultivares 2. Variação da tolerância da planta à salinidade em
serão desenvolvidas. Inicialmente os genótipos podem ser conformidade com sua idade.
avaliados sob condições controladas, devendo os testes 3. Em geral, os melhoristas estão preocupados com
finais, entretanto, serem conduzidos sob condições de outros objetivos, como: alta produtividade, resistência a
campo, de modo a se avaliar sua produtividade. Nas doenças e ao acamamento e qualidade do que se
avaliações preliminares de germoplasma, da germinação pretende produzir. Pouquíssima atenção tem sido dada
à maturação, o emprego de soluções nutritivas é a aos estresses de natureza abiótica relacionados ao solo.
melhor opção para a identificação de genótipos
tolerantes à salinidade (Subbarao & Johansen, 1994b). ESPÉCIES DE PLANTAS ADAPTADAS
O IRRI desenvolveu a cultivar de arroz IR50 tolerante AO CULTIVO SOB CONDIÇÕES SALINAS
à salinidade. Em média, esta variedade produziu 3 t ha-1
em ensaios de rendimento em locais onde as cultivares Várias espécies de plantas possuem alta tolerância à
tradicionais não conseguiram sobreviver. salinidade, tendo adaptação ao cultivo em solos salinos;

Tabela 10. Cultivares de diferentes espécies de plantas tolerantes à salinidade lançadas comercialmente
País
Cultivar (Espécie) Método de seleção
(ano de lançamento)
Arizona 8601 (Milho, Zea mays L.) Programa de seleção natural Estados Unidos (1987)
Arsola 1-18 (Abacate, Persea americana Mill.) Cruzamento de variedades Estados Unidos (1951)
AZ Germ Salt 1 (Alfafa, Medicago sativa L.) Seleção recorrente Estados Unidos (1983)
AZ Germ Salt 2 (Alfafa, Medicago sativa L.) Seleção recorrente Estados Unidos (1990)
BG 84-3 (Melão, Cucumis melo L.) Seleção natural de ecotípica Israel (1990)
Edkway (Tomate, Solanum lycopersicum L. var. lycopersicum) Programa de seleção natural Egito (1982)
Giza 159 (Arroz, Oryza sativa L.) Cruzamento de variedades Egito (1966)
Giza 160 (Arroz, Oryza sativa L.) Cruzamento de variedades Egito (1984)
Nebraska 10 (Agropiro, Agropyron spp.) Seleção natural de ecotípica Estados Unidos (1962)
Saltol (Festuca vermelha, Festuca rubra L.) Seleção natural de ecotípica Canadá (1981)
Adaptado de Shannon (1996), Noble & Rogers (1992).
Melhoramento genético vegetal e seleção de cultivares tolerantes à salinidade 215

Tabela 11. Espécies de plantas tolerantes à salinidade


Nome comum Nome científico
Culturas de fibra, sementes e açúcar
Algodão Gossypium hirsutum L.
Beterraba açucareira Beta vulgaris L.
Cevada Hordeum vulgare L.
Jojoba Simmondsia chinensis (Link) C. K. Schneid.
Culturas forrageiras e gramíneas
Agropiro alto Agropyron elongatum (Host) P. Beauv.
Agropiro crestado Agropyron crestalum (L.) Gaertn.
“Alkali sacaton” Sporobolus airoides (Torr.) Torr.
Capim-bermuda Cynodon dactylon (L.) Pers.
“Desert saltgrass” Distichlis stricta (Torr.) Rydb.
Elimo de Altai Elymus angustus Trin.
Elimo da Rússia Elymus junceus Fisch.
Grama “Karnal” Diplachne fusca (L.) P. Beauv. ex Roem. & Schult.
“Nuttall” Puccinellia airoides S. Watson & J. M. Coult.
Hortaliças
Aspargo Asparagus officinalis L.
Fruteiras
Tâmara Phoenix dactylifera L.
Fonte: Maas (1986).

dentre as mesmas, algumas são apresentadas na Tabela CONCLUSÕES


11. Espécies de Chenopodiaceae são bem conhecidas
quanto à sua capacidade de acumular altos teores de Na+ Em nível mundial, o maior potencial de expansão da
na parte aérea da planta, associada a uma baixa relação fronteira agrícola situa-se em regiões tropicais, que
K+/Na+, em torno de 2,2 (Haneklaus et al., 1998). Além incluem o Brasil, país onde existem grandes áreas
disso, a alta tolerância à salinidade está associada à afetadas por sais.
exclusão de íons tóxicos no processo de absorção Práticas comuns de recuperação de solos salinizados
(Greenway & Munns, 1980). compreendem o uso de corretivos e da água para
lixiviação de sais. Essas práticas, entretanto, são muito
PERSPECTIVAS FUTURAS dispendiosas, tornando o emprego de espécies ou
cultivares adaptadas a tais condições adversas uma
A salinização, do solo e da água, é um dos problemas estratégia promissora para a sustentabilidade da produção
mais graves na produção agrícola, particularmente em de alimentos.
regiões áridas e semiáridas. Em nível das diferentes No futuro, prevê-se a expansão do emprego da
culturas, a avaliação do germoplasma disponível, incluindo irrigação, com vistas à produção de alimentos em
o silvestre, pode fornecer fontes de tolerância à quantidade suficiente para satisfazer à demanda da
salinidade para programas de melhoramento genético. crescente população mundial. Com isso, corre-se o risco
Além disso, diversas técnicas relacionadas à moderna de ampliação das áreas que apresentam solos salinos e
biotecnologia não foram suficientemente utilizadas em sódicos, caso não sejam adotadas medidas adequadas de
programas de melhoramento genético dirigidos ao manejo do solo e da água. Nesse sentido, será
desenvolvimento de cultivares tolerantes à salinidade. Em fundamental o uso conjunto de práticas que envolvam o
futuro próximo, o desenvolvimento de novos genótipos manejo do solo, da água e da planta. Embora as
tolerantes à salinidade dependerá de esforços diferenças entre espécies com relação à tolerância à
multidisciplinares e multi-institucionais, envolvendo salinidade sejam bem relatadas, é necessário intensificar
pesquisadores de diversas áreas do conhecimento, como a realização de trabalhos, de natureza básica e aplicada,
melhoramento genético, fisiologia, física de solo, nas áreas de fisiologia, genética e melhoramento das
fertilidade do solo e nutrição, cultura de tecidos, plantas, de modo a permitir um melhor entendimento dos
citogenética, transgenia, métodos quantitativos, entre processos envolvidos nas respostas de tolerância à
outras. salinidade.
216 Nand K. Fageria et al.

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Parte IV - Manejo do sistema
solo-água-planta
Interações salinidade-fertilidade
14 do solo
Rivaldo V. dos Santos1, Lourival F. Cavalcante1 & Adriana de F. M. Vital1

1 Universidade Federal de Campina Grande


2 Universidade Federal da Paraíba

Introdução
As interações salinidade-fertilidade
Origem e classificação dos solos salinizados
Classificação-interação
Atributos do solo na interação
Dinâmica dos nutrientes em solos salinizados
Disponibilidade de nutrientes
Deficiência de nutrientes
Toxicidade de íons Na+
Influência da matéria orgânica
Disponibilidade de nutrientes
Efeitos da sodicidade
Manejo da fertilidade em solos salinos e sódicos
Fertilização e nutrição mineral
Resultados de pesquisa
Espécies arbóreas
Gramíneas e leguminosas
Oleaginosas
Frutíferas
Corretivos e atributos químicos
Estudo de correlação
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
222 Rivaldo V. dos Santos et al.

Interações salinidade-fertilidade
do solo

INTRODUÇÃO concentrar elementos químicos na solução do solo,


principalmente sais solúveis e sódio, reduzindo sua
A busca por áreas ou solos férteis antecede a era fertilidade e resultando em severos prejuízos à
cristã e tem dependência direta pela demanda dos povos produtividade agrícola.
por alimentos e seu crescimento populacional. Escritos Nesse contexto, fica evidenciado que os solos podem
antigos (2500 a.C) fazem referência a fertilidade do solo ser bem supridos em nutrientes sob a forma disponível e
na Mesopotânia entre os rios Tigres e Eufrates; já serem inférteis e improdutivos, pois outros fatores que
Heródoto (500 a.C) e Theophrastus (300 a.C) atribuem o limitam o desenvolvimento vegetal. Por exemplo, os solos
aumento de produção a maior fertilidade do solo pela salinizados, presentes principalmente em áreas irrigadas do
inundação das áreas pelas águas dos rios. A partir do semi-árido, contêm elevada concentração de nutrientes, no
século XIX a explosão demográfica exigiu novas fronteiras entanto, por apresentarem altos conteúdos de sais solúveis
agrícolas e atualmente há limitação de solos férteis e e/ou de sódio trocável não são produtivos.
produtivos, devido ação antrópica inadequada ou clima, Conceitualmente, por apresentarem elevada saturação por
principalmente nas regiões áridas e semi-áridas. bases, a princípio, se poderia afirmar que estes solos tem
Na região semi-árida, caracterizada por elevada elevada fertilidade química, no entanto as condições
evapotranspiração, em torno de 2000 mm ano-1, e baixos adversas presentes nestes provocam prejuízos nos atributos
do solo com drásticas limitações na disponibilidade de
índices pluviométricos, os solos tendem a apresentar alta
nutrientes e toxicidade de elementos químicos nos vegetais.
concentração de bases trocáveis decorrente do incipiente
Quando o crescimento vegetal é limitado por outros
processo de lixiviação, indicando a princípio, solos de alta
fatores que não seja a disponibilidade de nutrientes, a
fertilidade. No entanto em áreas irrigadas, pelo intenso
eficiência no uso de fertilizantes é reduzida. Mas os solos
processo de solubilização de minerais há acúmulo de íons, com problemas salinos, comuns em regiões áridas e
que quando precipitam, originam solos com acúmulo de semi-áridas, apresentam limitações químicas específicas
sais, muitas vezes de reação alcalina, limitando sua e sua correção e aplicação de nutrientes é indispensável
fertilidade e a produtividade das culturas. à produção agrícola.
O termo “fértil” é sinônimo de “frutífero” e “prolífico”. A compreensão da dinâmica dos atributos físicos nos
Na realidade, na Ciência do Solo a fertilidade é sinônimo solos salinizados e o domínio de técnicas visando a
de disponibilidade de nutrientes assimiláveis às plantas em recuperação dos mesmos constituem-se avanços
quantidades suficientes e balanceadas, de modo que a promissores, onde comprovadamente o uso de corretivos
produção agrícola seja satisfatória. Além disso, devem traz melhoria dessas condições. No entanto, quanto aos
estar livres de substâncias ou elementos tóxicos e possuir atributos químicos há um longo caminho a ser percorrido,
atributos físicos, químicos e biológicos satisfatórios. Deve- seja relativo ao balanceamento iônico na solução do solo
se deixar claro que um solo fértil apenas produz após a lavagem do solo ou a aplicação de corretivos. A
satisfatoriamente caso localize-se em zonas climáticas compreensão dessa interação salinidade-correção-
favoráveis. Os solos localizados na região semi-árida, por fertilidade constitui-se num desafio para reintegrar tais
apresentarem elevada evapotranspiração, tendem a áreas degradadas à exploração agrícola e minimizar o
Interações salinidade-fertilidade do solo 223

impacto sócio-ecômico-ambiental resultante do processo destacar que o pH do solo não é fator decisivo na
de salinização nas regiões áridas e semi-áridas. Nesse classificação, pois é comum encontrar-se solos sódicos
capítulo será enfatizado o efeito do excesso de sais e de ou salino-sódicos com reação ácida, com pH variando de
sódio trocável nos atributos do solo, sua interação com a 5,0 6,0.
fertilidade e, em especial, sua influência na nutrição A alcalinidade dos solos salinizados é mais frequente
mineral e na produção de culturas. nos solos salino-sódico e sódicos, e esta deve-se a baixa
concentração hidrogeniônica (H + ) e a elevada
AS INTERAÇÕES concentração dos ânions OH-, CO32- e HCO3-.
SALINIDADE-FERTILIDADE
Classificação-interação
Origem e classificação dos solos salinizados Solos salinos: O pH é um atributo químico do solo que
Nas regiões áridas e semi-áridas, devido ao baixo exerce intensa influência nas trocas iônicas do solo
conteúdo de água nos solos, os minerais primários e principalmente nos solos com mineralogia onde predomina
secundários sofrem um incipiente processo de as argilas 1:1, tais como caulinita, nontronita e óxidos de
degradação química, onde as reações de hidrólise, Fe e Al, que são situações onde as cargas negativas
hidratação, carbonatação e oxi-redução restringem-se a presentes na superfície externa dos minerais são
um curto período de tempo, liberando poucos eletrólitos dependentes do pH, ou seja, aumentam juntamente com
para a solução do solo; no entanto, ao longo do tempo o pH.
há acumulações periódicas de cátions e ânions que, por Nos solos salinos devido a alta concentração de sais
estarem localizados em ambiente com grande índice de solúveis os valores de pH variam de 6,5-8,0, quanto a
evapotranspiração, tendem a precipitar-se sob a forma de fertilidade e disponibilidade de nutrientes apresentam
sais. Esses compostos apresentam solubilidade variável, uma faixa adequada; no entanto a concentração
sendo representados por sulfatos, carbonatos, cloretos e excessiva de sais solúveis aumenta a CE da solução do
bicarbonatos. A influência desses sais confere aos solos solo tornando seu potencial osmótico (os) mais negativo.
características específicas e têm impacto direto e indireto Na realidade o potencial osmótico tomado como
em sua fertilidade. referência é o os da água pura, livre de sais, nesta a
A ocorrência de minerais no ambiente do solo e seu energia livre da água é máxima e o os é igual a zero.
intemperismo são de extrema importância para À medida que a concentração de sais aumenta o os vai
compreensão da salinização primária do solo. As reações tornando-se mais negativo, tornando o meio hipertônico,
de hidrólise, hidratação, oxidação e redução são e a força de retenção de água no solo é maior,
discutidas em capítulo específico por Kampf et al. aumentando a dificuldade das plantas obterem água e
(2007) nutrientes para seu crescimento, restringindo a fertilidade
Os solos afetados por sais têm sua classificação desses solos. Como a água migra de uma região de maior
baseado na concentração de sais solúveis do extrato da concentração (mais moléculas de água) para outra de
solução do solo, na percentagem de sódio trocável e no menor concentração, é evidente que as raízes vegetais
pH. Os solos salinos (álcali-branco) são aqueles em que quando em contato com a solução salina não conseguem
o crescimento das plantas é limitado pela grande absorver água, ao contrário perdem, originando
quantidade de sais solúveis. Podem ser convertidos em murchamento das células vegetais, com consequente
solos não salinos pela lixiviação do excesso de sais da secamento e morte das plantas.
zona radicular. A condutividade elétrica (CE) é maior Relativo ao atributo físico, a concentração excessiva
que 4 dS m-1 e o percentual de sódio trocável (PST) de sais confere uma maior permeabilidade aos solos
menor que 15%. O pH é geralmente inferior a 8,5 e salinos. È um aspecto positivo no manejo desses solos
normalmente são bem floculados. Os solos salino- e na melhoria de sua fertilidade. Dessa forma sua
sódicos apresentam CE maior que 4 dS m -1 e PST recuperação exige a adição de volumes de água no solo
superior a 15%, enquanto seu pH situa-se em torno de de modo que ocorra a lixiviação de sais do perfil e a
8,5. A sua limitação à produtividade vegetal deve-se ao manutenção do lençol freático abaixo da zona radicular.
efeito conjunto da concentração excessiva de sais Na realidade, a maior concentração de eletrólitos há uma
solúveis e de sódio trocável. Nestes solos ocorre a maior compressão da dupla camada difusa, fazendo com
lixiviação mais intensa dos sais solúveis que do sódio que as partículas fiquem mais próximas; nesta caso as
trocável, convertendo-o a solo sódico. Os solos sódicos forças de Van der Waals superam as forças repulsivas,
(álcali-negro) têm CE inferior a 4 dS m-1, PST maior que resultando num aumento do grau de floculação das
15% e frequentemente pH superior a 8,5. Deve-se partículas. Isso ocorre quando a distância entre as
224 Rivaldo V. dos Santos et al.

partículas é inferior a 20 Angstrons (A). A maior do solo, separando as partículas unitárias de areia, silte
floculação é também proporcional à concentração de e argila. A argila, por apresentar menor diâmetro,
Ca2+ e Al3+. preenche toda a porosidade do solo, provocando o
Assim, apesar dos solos salinos apresentarem uma encrostamento do solo, minimizando a condutividade
elevada soma por bases trocáveis e solúveis, com hidráulica do solo, aumentando sua densidade e
saturação por bases superior a 70% (V), a rigor não são compactação, reduzindo a capacidade de retenção de
solos férteis, devido seu fator osmótico limitar sua água, provocando uma maior resistência mecânica à
fertilidade. Dessa forma a V não é recomendável na germinação e ao crescimento radicular e restringindo a
avaliação da fertilidade dos solos salinos, devido a dinâmica dos nutrientes no solo. Há sob essa condição
concentração excessiva de sais, mesmo quando subtrai- uma forte limitação à produtividade vegetal.
se do total dos sais aqueles solúveis e considera-se A má aeração dos solos sódicos, devido a ausência do
apenas os cátions trocáveis. oxigênio, provoca implicações negativas na
Os valores do pH em solo salino tendem a ser baixo disponibilidade de nutrientes. O oxigênio é o receptor
em decorrência da elevada concentração iônica na primário de elétrons no solo e, em sua ausência, outros
solução do solo, principalmente excesso de K+, Cl- que receptores secundários passam a substituí-lo, dentre
são quantificados no processo potenciômetro. esses o Mn3+, Mn4+, Fe3+, NO3- e SO42-. Tais nutrientes
sofrem redução, convertendo-se em formas indesejáveis
Solos salino-sódicos: A fertilidade do solo é limitada à agricultura, ou seja, Mn2+, Fe2+, NO, N2 N2O e H2S,
pelos aspectos apresentados no item anterior, que volatilizam ou passam a atingirem concentrações
acrescentando-se a esses os aspectos da sodicidade, que tóxicas.
caracteriza-se pela alta concentração de sódio trocável
e, na maioria das vezes, está associada também a b) Reação do solo e disponibilidade de nutrientes
condições de reações básicas. A forte reação alcalina (pH=10) de muitos solos
Os solos salino-sódicos são comuns nos perímetros sódicos é causada pela alcalinização, que resulta da
irrigados do semi-árido paraibano e sua implicação na hidrólise dos íons Na+ adsorvido a argila do solo e do
fertilidade dos solos têm três vertentes: a primeira deve- Na2CO3 (TAN, 1982 ).
se ao aspecto químico desfavorável da alta concentração Reações
de sais solúveis e seu impacto negativo do baixo os na Na2CO3 + 2H2O → 2 Na+ + 2 OH- + H2CO3.
solução do solo e a segunda refere-se a concentração Os íons OH- produzidos aumentam com o pH do
excessiva de sódio solúvel e trocável que acrescenta uma solo.
dificuldade específica no manejo desses solos, e a terceira ARGILA- Na+ + H2O → ARGILA–H+ + Na+ + OH-
relaciona-se com a reação dos solos, normalmente têm pH A sodificação do solo está associada a excessos dos
que variam de 8,5 a 11, esta com influência direta e
ânions OH - , HCO 3 - e CO 3 2- , conferindo-o forte
indireta na disponibilidade de nutrientes. A primeira
alcalinidade, a qual implica, para o vegetais, numa severa
implicação já foi discutida no item A.
toxicidade de sódio e boro e deficiências de Zn, Fe, Cu,
Solos sódicos: A fertilidade do solo é afetada pela Mn e P. Os solos sódicos intensamente lixiviados tendem
concentração excessiva de sódio trocável e solúvel o a ser ácidos (pH~5,5) e com baixas concentrações de
qual provoca implicações negativas nos atributos Ca, Mg e K. Sob condições de pH variando de 8,5 a 11,
químicos e físicos do solo. A alta concentração de sódio associado a alta PST, há acúmulo de matéria orgânica e
resulta em sua toxidez na zona radicular e antagonismo reduzida mineralização, com a consequente diminuição na
com a absorção de potássio pelas plantas. disponibilidade de N, P, S e B aos vegetais.
a) O sódio e a dispersão
O excesso de sódio provoca um aspecto Atributos do solo na interação
extremamente desfavorável no solo: a dispersão das A fertilidade do solo é grandemente afetada pelas
argilas. Estando ainda associado a dominância de cargas condições salinas. Quanto a influência da concentração
negativas, adsorvidas e em solução, excesso de Mg2+ e excessiva de sais solúveis destaca-se seu efeito no
matéria orgânica e a baixa concentração de eletrólitos. aumento da condutividade elétrica e na concentração de
Tal fato ocorre quando a distância inter-partículas supera ânions, tais como cloretos, sulfatos, carbonatos,
20 Angstrons, as forças repulsivas são dominantes, bicarbonatos e boratos, na solução do solo. Sob
criando uma suspensão de argilas estáveis, provocando condições sódicas um outro agravante é a presença de
severos prejuízos no solo. A dispersão destrói a estrutura elevado pH (> 8,5). Tais condições originam toxicidade
Interações salinidade-fertilidade do solo 225

e provocam deficiências nutricionais às plantas. A dS m -1, utiliza-se PO (atm)= CE (dS m -1) x (-0,36)
compreensão da dinâmica desses íons, assim como da (Bohn et al., 1985).
reação do solo é indispensável para que se possa evitar O principal efeito dos sais é osmótico, já que o alto
concentrações excessivas e desbalanceadas de nível de sais no solo dificulta a absorção de água pelas
nutrientes, ou adicionar aqueles que estão em plantas. As plantas apresentam uma membrana semi-
concentrações muito baixas. permeável que permite a passagem de água, mas evita a
Além de influir nos atributos químicos, as condições passagem de sais. Quanto mais salina a água, mais
salinas, especificamente o excesso de íons de sódio, osmoticamente difícil é de extraí-la da solução do solo.
provocam alterações desfavoráveis nos atributos físicos No interior do citoplasma ou vacúolo celular há uma
do solo. O elevado poder dispersante do sódio reduz a solução composta com uma determinada PO, essas
floculação e a estabilidade dos agregados do solo, quando em contato com uma solução muito salinizada,
aumentando a densidade, reduzindo sua porosidade e a com menos moléculas de água, tendem a perder água
capacidade de retenção e de infiltração de água no solo. para o meio, murchando e levando esse murchamento
Na realidade o sistema salinizado é complexo: o solo para toda a parte aérea das plantas. Sabe-se que os
com excesso de sais solúveis pode apresentar uma nutrientes apenas são absorvidos pelos vegetais quando
saturação por bases alta, porém não é fértil; e o solo com encontram-se sob forma iônica e solubilizados, e antes
excesso de sódio exerce implicação negativa direta e de ocorrer o processo de absorção há necessidade que
indireta na química e na física do solo O acúmulo de ocorra o contato íon-raiz, que verifica-se por fluxo de
matéria orgânica em solos sódicos é outra característica massa, difusão ou interceptação radicular. No fluxo de
marcante, indicada pela presença de manchas massa o nutriente desloca-se com a solução do solo e é
escurecidas na superfície. muito reduzida pelo aumento da condutividade elétrica,
Os atributos químicos, físicos e biológicos restringindo principalmente a absorção de nitrogênio e
característicos dos solos afetados por sais restringem a potássio.
disponibilidade de nutrientes para as plantas e, portanto, Há necessidade de eliminar das áreas salinas o
a fertilidade do solo. A adoção de práticas de manejo excesso de sais solúveis. O manejo dos solos salinos
nesses solos exige a compreensão da complexidade e deve considerar prioritariamente o balanço de sais na
intensidade da interação salinidade-sodicidade- área. Deve-se ter em mente que a quantidade de sais que
fertilidade; só assim podem-se ter uma melhor nutrição sai da área deve ser maior ou igual àquela que entra, de
mineral das plantas e tornar esses solos economicamente modo que a CE do extrato de saturação seja, no mínimo
viáveis à exploração agrícola. 4 dS m-1, ou 2 dS m-1 segundo conceito mais recente
(Bohn, 1985). A alternativa é manter o excesso de sais
Potencial osmótico: O potencial osmótico (PO) é precipitados, e assim, inativos com relação às plantas ou
resultante da hidratação dos íons na solução do solo. mesmo solúvel, desde que o lençol freático permaneça
Pode-se usar a equação de Van’t Hoff para calcular o abaixo da zona radicular. Apesar das plantas
potencial osmótico de uma solução: PO = -RTC, onde desenvolverem-se normalmente quando os sais estão
R é a constante universal dos gases (84,7 cca.L.mol - precipitados deve-se atentar para que isso não conduza
1 .K -1 ), T é a temperatura absoluta da solução em à condições sódicas ou a desequilíbrios nutricionais.
Kelvin, e C é a constante do soluto em Mol. L-1 (Amaro Entre os manejos, o mais recomendável é a eliminação
Filho et al, 2009). A osmose corresponde a um processo do excesso de sais solúveis, aplicando-se uma lâmina de
pelo qual a água, e não os sais, passam através de uma água de boa qualidade. A quantidade de água a ser
membrana semi-permeável de uma solução menos aplicada para reduzir a concentração de sais a um nível
concentrada para outra com maior teor de sais. A tolerável é calculada através da necessidade de
concentração excessiva de sais na solução do solo lixiviação (NL), sendo tratada em outro capítulo.
diminui a energia livre da água, reduzindo sua absorção
pelas plantas e aumentando a condutividade elétrica Reação do solo: A alcalinidade do solo refere-se a
(CE). Para determinar-se a CE, a solução é colocada condição onde o pH do solo é superior a 7,0; ocorrendo
entre dois eletrodos com mesma geometria e colocados em áreas de formação geológica com altas
a mesma distância. È proporcional a concentração de concentrações em calcita e dolomita e atividades
sais na solução, sendo determinada pela relação: TSS bioclimáticas favoráveis à decomposição química desses
(mg L-1) = CE (dS m-1) x 640, para soluções cuja CE minerais, com a consequente adição de ânions à solução
varia de 0,1 a 5 dS m-1, onde TSS representa o total de do solo, tais como OH -, CO 3=, HCO 3-, superando a
sais solúveis. Em extratos com CE variando de 3 a 30 concentração hidrogeniônica. Tais solos apresentam
226 Rivaldo V. dos Santos et al.

bases, que conceitualmente são substâncias que, a suspensão solo:água de solos sódicos ou salino sódicos
dissolvidas em água, se dissociam, fornecendo íons aproxima-se de uma unidade de pH em solos com baixa
hidróxido como único tipo de ânion: NaOH → Na+ + salinidade, e de 0,2 a 0,4 unidades de pH em solos
OH-. Quimicamente base é toda espécie química que altamente salinos. A Figura 1 apresenta a variação do pH
produz OH- ou que recebe prótons H+. e da condutividade elétrica em extratos obtido da pasta
A reação dos solos sob condições salinas é variável. saturada e de suspensão solo:água (1:2 ).
Os solos salinos tendem a apresentar reação salina
levemente alcalina ou ácida, normalmente tem pH < 8,5.
Quanto aos solos salino-sódicos, apresentam pH  8,5; Sódico
já nos solos sódicos o pH é superior a 8,5. Em alguns Extrato de saturação
solos sódicos intensamente lixiviados o pH atinge valores
baixos que variam de 5,5 a 6,0, sendo denominados de

pH
solodi. Tais solos são comuns na área irrigada de São
José do Bonfim, no semi-árido da Paraíba. 1:2
A reação desses solos durante muito tempo tem sido
Salino
expressa por sua alcalinidade, ou seja, pela diferença
Extrato de saturação
entre a concentração total de cátions e a concentração
total de ânions. Como nos solos com excesso de sais e
de sódio os ânions dominantes são o carbonato, o
CE (dS m-1)
bicarbonato e a hidroxila, sua alcalinidade é expressa por: Figura 1. Efeito da diluição e de sais solúveis na alteração
do pH em solos salino-sódicos e sódicos (Gupta &
Alcalinidade = [HCO 3 ] + 2 [CO3 2 - ] + [OH-] - [ H+] Abrol, 1990)

Apesar do maior valor de pH nas suspensões


Os colchetes denotam concentração molar. Dessa
solo:água, têm-se observado menor alcalinidade em
forma, a elevação de pH é acompanhada pelo aumento
extratos aquosos, quando comparado com os valores do
na concentração de carbonatos como ocorre no extrato de saturação. Esse paradoxo pH-alcalinidade foi
intemperismo de carbonatos sob a influência de CO2: associado com o equilíbrio cálcio-carbonato
(Lindsay,1979). No sistema carbonato de cálcio (H2O -
CaCO3 + H2O = Ca2+ + 2HCO3- CO2 - CaCO 3), a relação entre PCO2 e pH tem sido
representada pelas Eqs. 4 ou 5:
ARGILA - Na + H2O + CO2 = ARGILA - H+ + Na+ + HCO3-
pH = 5,983 - 2/3 log (PCO2) + 1/3 log(gH2CO3) - 1/3 log (gCa2+)
Assim, a elevação da pressão parcial de CO 2
log (PCO2) = 8,975 - 1,5 pH + ½ log (gHCO3) - ½ log (gCa2+)
aumenta o pH do sistema. Em solos sódicos, devido à
elevada concentração de carbonatos e bicarbonato de
onde g refere-se ao coeficiente de atividade do íon. A
sódio, o pH situa-se em torno de 10.
relação entre pH e alcalinidade (alcalinidade do
Solos ricos em CaCO 3 tem frequentemente pH carbonato) pode ser estabelecida pela substituição dos
próximo a 8,0. Sob tais condições, o pH da pasta saturada valores de CO32- e HCO3- nos termos da Eq. 6:
varia de 7,1, em solos altamente salinos a 8,2 em solos
não salinos. Medições do pH em suspensão solo:água
(1:2) revelam pH de 7,6 para solos altamente salinos e,
em torno de 8,5 - 8,6 em solos não salinos. O acúmulo
de sais reduz o pH em solos salinos, pois íons em
excesso como K + e Cl- são quantificados. Em solos Substituindo a Eq. 5 em 6, obtém-se uma relação que
sódicos, contudo, o pH aumenta com a elevação da sugere que o aumento na PCO2 poderia reduzir o pH e
sadicidade, devido a presença de altas concentrações de aumentar a alcalinidade do carbonato. Dessa forma
íons carbonato e bicarbonato de sódio. parece que o paradoxo pode ser devido a queda na
A diluição da suspensão solo-água também aumenta PCO2 com o aumento da relação solo:água e perda do
o pH. A diferença do pH entre o extrato de saturação e H2CO3 durante a extração a vácuo da amostra.
Interações salinidade-fertilidade do solo 227

Quanto a relação entre sodicidade e pH, verifica-se A manutenção do pH entre 6,0 e 6,5 em solos com
que o alto valor de pH sob tais condições é causado pela condições salinas deve ser meta prioritária, já que esse
presença de minerais de carbonato e bicarbonato de sódio atributo químico apresenta uma estreita relação com a
em solos sódicos ou salino-sódicos, os quais precipitam disponibilidade de nutrientes (Figura 2), e assim com a
os carbonatos de cálcio e magnésio durante a fertilidade dos solos. Evidentemente não há
evaporação e conduz a um aumento na relação de disponibilidade máxima de todos os nutrientes nessa
adsorção de sódio (RAS) da solução do solo. Uma faixa de pH.
íntima relação entre pH e sodicidade (RST) foi
verificada em solos sob condições de alcalinidade. Gupta
et al. (1981) desenvolveram uma relação de dependência

Disponibilidade crescente
do pH simultaneamente com o complexo de troca Na+ e
Ca2+ + Mg2+ e o equilíbrio da calcita em solos sódicos
a salino-sódicos (pH > 7,0). A relação é expressa por
(Eq. 7):

log RST = pH -5,2336 + 0,5 log[P(CO2)] + log (Na+) + 0,5I1/2

onde RST refere-se a relação de sódio trocável (Na T),


conforme Eq. 8, e I é a força iônica da solução do pH
solo. Figura 2. Gráfico ilustrativo do efeito do pH na disponibilidade
de nutrientes. (Fonte: Lopes, 1989, adaptado)

A aplicação de doses crescentes de ácido sulfúrico


em solo salino-sódico do perímetro irrigado de São
Gonçalo, Sousa-PB (PST = 94 e pH inicial 10,4) reduziu
A variação aproximada da PST correspondente ao pH os valores de pH, por um período de 48 semanas,
do solo em pasta saturada do solo e em suspensões indicando que com a dose de ácido de 3,06 mL kg-1, após
solo:água (1:2) é frequentemente observada sob 16 dias, obtém-se um pH de 6,5, quimicamente
condições de campo, conforme Tabela 1. Seu cálculo é adequado ao crescimento vegetal (Tabela 2). No mesmo
feito pela Eq. 9.
solo, adição do ácido sulfúrico resultou em um aumento
na disponibilidade de fósforo segundo a equação P =
1,19x H2SO4 + 12,03, onde a unidades são P (mg kg-1)
e H2SO4 (mL kg-1). (Costa Silva, 1997)

Para estabelecer-se a metodologia de análises da Dispersão e floculação: Dispersão significa


fertilidade dos solos, a padronização do método de separação, desagregação ou distanciamento das
extração é de extrema importância, já que existe partículas unitárias do solo. Consistindo basicamente no
diferenças nos valores de pH e evidentemente, da afastamento das partículas de areia, silte e argila
concentração iônica de cátions mono e bivalentes resultando na desestruturação do solo. As partículas de
quando se utiliza diferentes métodos de obtenção do argila, que formam um sistema coloidal (< 0,001mm) ou
extrato. não (< 0,002mm), dispersas sofrem eluviação e

Tabela 1. Dependência do pH na sodicidade do solo

PST - Percentagem de Sódio Trocável. Fonte : Gupta & Abrol (1990)


228 Rivaldo V. dos Santos et al.

Tabela 2. Efeito do H 2SO 4 no pH do solo em vários AUMENTO NA:


Energia mecânica, cargas negativas,
períodos smectita ou ilita, K e Mg, adsorção de
Aniônica, exposição de novas superfícies

Disperso

PST
DIMINUIÇÃO NA:
PCO2, matéria orgânica
Floculado cargas positivas, sesquióxidos,
caulinita, sais do intemperismo

CE
Figura 3. Fatores que afetam a curva da “concentração
limiar” para separar solos dispersos de floculados. Fonte:
Sumner (1993)
preenchem toda a porosidade do solo, reduzindo a
apenas podem ser mantidos em solos que contenham
aeração e infiltração de água. O aumento da densidade
argilas floculadas, quando há atração entre as partículas,
acarreta acúmulo de água na superfície do solo,
denominadas forças de Van der Walls, predominando em
encharcando-o e originando um ambiente de baixa
distâncias muito pequenas. Se a argila permanece
reação de oxi-redução.
dispersa, o solo compacta-se.
A dispersão é um fenômeno típico de solos com
Solos adensados são pegajosos quando úmidos e
excesso de sódio trocável. Os sistemas argilosos são
duros quando secos. O crescimento das raízes e a
dispersos devido a predominância de cargas negativas,
de íons sódio e magnésio, e a reduzida concentração de aeração dos solos requerem uma condição porosa. Caso
eletrólitos. O alto raio hidratado do sódio e do magnésio a água da chuva promova a lixiviação dos eletrólitos do
e as forças repulsivas na dupla camada difusa são solo, as partículas de argila podem tornar-se dispersas.
decisivos na explicação do processo de dispersão. Tornando-se seco, o solo endurece e a compactação pode
Devido a repulsão das partículas unitárias, a dispersão ocorrer. Isso reduz a porosidade do solo, que inibe sua
da argila resulta na formação de uma suspensão de aeração, condição indispensável para o adequado
partículas estáveis em água. Na dispersão de argilas crescimento radicular, já que a presença de oxigênio é
típicas de solos sódicos, tais como a montmorilonita e a essencial ao metabolismo vegetal, especialmente na
ilita, predominam movimentos brownianos. Ao se síntese de energia, ou seja, ATP. Por outro lado, pode-
aumentar a concentração de eletrólitos, as forças se manter uma concentração de eletrólitos no solo que
repulsivas são reduzidas, prevalecendo as forças de provoque floculação. Para alcançar tais condições pode-
atração de van der Walls. Sob tais condições, os sistemas se aplicar gesso, CaCl2, H2SO4 ou calcário. O cálcio é
floculam, permitindo a separação das fases sólida e conhecido por apresentar alto poder de floculação das
líquida. O mínimo de eletrólitos para que esse processo partículas de argila com cargas negativas, melhorando as
ocorra é denominado de concentração de floculação condições de fertilidade física do solo. O agravante é que
crítica (CFC). Quirk & Schofield (1955) ilustram em um as quantidades exigidas de “corretivos” de sodicidade
gráfico a complexidade da interrelação entre os fatores são em quantidades demasiadas, provocando um
que influem na dispersão da argila: a curva da desbalaceamento nas proporções adequadas de
“concentração limiar” (Figura 3). nutrientes, principalmente nas relações Ca/Mg, Ca/K,
A dispersão e a floculação das argilas depende da Na/K, SO42-/HPO42-, etc.
espessura da dupla camada difusa ao redor das partículas Apesar da mesma valência que o Ca, o Mg apresenta
e, portanto da concentração de cátions (Ca2+, Mg2+, K+, menor raio iônico e, por isso, maior raio hidratado,
Na +, etc) que estão próximos a sua superfície. Por dificultando sua aproximação das partículas coloidais
influenciar na disponibilidade de nutrientes e em carregadas negativamente para neutralização de suas
atributos físicos do solo, tais condições, especialmente cargas elétricas. Isto gera um remanescente de carga
a dispersão das argilas em solos sódicos, podem negativa nas partículas dos solos, com consequente
restringir o crescimento vegetal. dispersão e movimentação de colóides ao longo do perfil
O fenômeno da floculação e a estabilidade dos do solo, provocando a criação de camadas mais
agregados é de extrema importância no equilíbrio água- adensadas que funcionam como impedimento à
ar, e sua manutenção nos solos degradados por sódio movimentação de ar e água em profundidade (Ribeiro et
constitui-se em um desafio. Os agregados estáveis al., 2009).
Interações salinidade-fertilidade do solo 229

Estabilidade dos agregados: Na realidade o grau de


estabilidade dos agregados é diretamente proporcional à
floculação. Nos solos cultivados e úmidos, os agregados
quebram-se originando microagregados que deslocam-se
verticalmente no perfil, bloqueando a porosidade do solo,
e originando camadas adensadas, o que restringe a taxa
de infiltração da água no solo. No entanto, apenas o
umedecimento do solo não reduz necessariamente sua
fertilidade e produtividade. Porém, se a umidade é seguida
pela dispersão, observações no campo mostram que isso
conduz, em muitos casos, a atributos físicos indesejáveis,
tais como, drenagem deficiente, superfície encrostada,
endurecimento e difícil traficabilidade e trabalhabilidade
do solo, o que eventualmente conduz a uma redução na
fertilidade do solo e, portanto, na produção das culturas.
É importante destacar que essa compactação ocorre
naturalmente, sem ação do homem, tendo como fator
decisivo o clima, destacando-se a alta evaporação da
água dos solos.
O nível baixo de salinidade (< 0,3 dS m-1) provoca Figura 4. Modelo dos mecanismos do efeito do
umedecimento e da dispersão nos atributos físicos do
expansão da argila, resultando em quebra dos agregados,
solo (Adaptado de So & Aylmore, 1993)
adensamento e reduzida permeabilidade do solo. A alta
salinidade reduz a expansão, a quebra dos agregados e
determinam a velocidade de fluxo de água no subsolo, que
a dispersão das partículas do solo, enquanto que a é o fator determinante do crescimento e produção das
elevada sodicidade tem efeito oposto. Portanto, tanto a culturas desenvolvidas nestes solos.
salinidade quanto a Relação de Adsorção de Sódio tem Uma consequência da reduzida taxa de redistribuição
sido considerada conjuntamente para avaliar o potencial ou da drenagem da superfície do solo, é a temporária
de perigo da qualidade da água nos atributos físicos do saturação, que não é benéfica à germinação, e
solo. Quando o RAS é elevada (> 15) recomenda-se geralmente atrasa o preparo do solo. A saturação do solo
adicionar à água gesso agrícola. Quanto ao impacto está associada com a ausência de oxigênio necessário à
negativo dos sais da água na fertilidade dos há uma respiração das sementes, as quais apresentam uma
classificação segundo a CE (Tabela 3). embebição excessiva, prejudicando o desenvolvimento
adequado do embrião, a germinação, o crescimento
Tabela 3. Perigo da salinidade na fertilidade do solo vegetal e a produção agrícola. Tanto o encrostamento
quanto o endurecimento de camadas do solo reduzem a
emergência de plântulas.
O elevado conteúdo de água durante o período de
saturação na superfície são seguidos por uma elevada
taxa de evaporação (estágio 1), similar a evaporação em
Fonte: Richards (1954) citado por Tan (1982).
uma superfície livre. No entanto, caso a condutividade
hidráulica do solo seja muito baixa e incapaz de igualar-
A Figura 4 mostra os possíveis mecanismos pelo qual se à perda de água, a superfície seca rapidamente
a sodicidade pode afetar o comportamento físico do solo seguida pela contração e rachadura. Isso é limitado a
e sua fertilidade, com consequências negativas em poucos centímetros de espessura do perfil do solo. Ao
atributos químicos e à produção agrícola em solos contrário, se a condutividade hidráulica do solo é alta e
cultivados. a capacidade de contração do solo é limitada, tais como
Quando o solo hidrata-se após rápido umedecimento em solos com alto conteúdo de silte e areia, o secamento
seguido pela dispersão, resulta na formação de camadas pode estender-se a uma maior profundidade do solo,
superficiais endurecidas com reduzida condutividade resultando em seu endurecimento.
hidráulica. Isto por sua vez provoca redução na taxa de A superfície encrostada ou endurecida representa
infiltração, redistribuição e evaporação da água no solo. uma camada “protetora” seca onde o movimento de
Esses são os três processos fundamentais que água é lento e predominantemente na forma de vapor
230 Rivaldo V. dos Santos et al.

(estágio 2 de evaporação). Logo a taxa de evaporação condições anóxicas reduzem a concentração de


é reduzida consideravelmente, resultando em uma nutrientes e a fertilidade do solo, limitando o crescimento
velocidade de secamento mais lenta. Consequentemente vegetal. O delicado balanço de nutrientes é facilmente
o subsolo tende a permanecer úmido e torna-se alterado em solos sódicos devido à adoção de práticas de
susceptível a compactação. O tráfego de máquinas e o manejo impróprias. O que se necessita é a condução de
cultivo nesse momento intensificam a compactação ensaios em solos sódicos relacionando a disponibilidade
antrópica do subsolo e a excessiva formação de torrões, de nutrientes com atributos do solo afetados pela
que é prejudicial à germinação de sementes. Os subsolos toxicidade, assim como a resposta de plantas aos
úmidos são também susceptíveis a compactação devido nutrientes em menor disponibilidade no solo. Na escolha
a pressão de argilas expandidas e/ou da sobrecarga do do fertilizante a ser aplicado, o conhecimento da reação
solo úmido. do solo é um aspecto importante a ser considerado. Para
A redução da quantidade de água no subsolo restringe a maioria dos solos sódicos deve-se optar por produtos
também a dissolução de minerais e a disponibilidade de de reação ácida. Compreender a química da solução do
nutrientes na solução do solo, causando efeito também na solo, os processos que afetam sua composição e a
fertilidade química do solo, provocando influência da matéria orgânica na disponibilidade de
consequentemente significante redução na produção das nutrientes são aspectos de extrema relevância.
culturas. Além disso, a reduzida infiltração e o aumento Até uma década aspectos da fertilidade em solos
no escorrimento superficial, conjuntamente com a salinizados tem sido pesquisada principalmente na
hidratação e a dispersão, aumentam as perdas do solo
literatura estrangeira. No Brasil essa preocupação em
pela erosão. O sódio reduz o processo de redistribuição
compreender a interação salinidade-fertilidade em solos
e evaporação da água no perfil do solo, o que pode
do semi-árido é recente (Santos el al. 1997) e
resultar em uma temporária inundação da superfície do
ultimamente outras publicações tem colaborado com
solo, que prejudica a germinação das sementes devido a
informações de extrema importância no que se refere a
ausência de oxigênio. Essa condição também resulta em
disponibilidade de nitrogênio e fósforo e também na
um período mais prolongado de umedecimento,
dinâmica da matéria orgânica em ambientes degradados
dificultando as operações de manejo.
por sais (Freire et al., 2007).
DINÂMICA DOS NUTRIENTES
EM SOLOS SALINIZADOS Disponibilidade de nutrientes
Os solos sódicos e salino-sódicos apresentam
A redução da concentração de sais solúveis através degradação física e isso acarreta prejuízos quanto a
da lavagem e a neutralização do sódio trocável e solúvel disponibilidade de nutrientes. Abaixo são citadas as
e sua remoção também por lavagem, constituem-se em classes de solo sódico e os prejuízos mais comuns em
práticas consolidadas que resultam em melhoria nos sua fertilidade, conforme Rengasamy & Olsson (1991).
atributos físicos dos solos. No entanto, tais benefícios não São apresentados interações com atributos físicos e
são estendidos à produção vegetal. Há necessidade de morfológicos.
intensificar estudos do balanço iônico buscando, após a A) Solo Sódico Alcalino (pH > 8)
adoção de práticas de recuperação destes solos, um a) Toxicidade dos nutrientes Mo, B, Na (quando o
balanceamento iônico adequado, de modo que ocorra uma pH > 9)
maior disponibilidade de nutrientes resultando numa b) Deficiências de nutrientes Cu, Zn, Mn, Fe, Co,
maior nutrição mineral às plantas. A compreensão da N, Mg, Ca (se pH > 9) e P (8,0 < pH < 8,5)
química desses solos associado com a seleção de plantas c) Efeitos físicos prejudiciais no subsolo saturado,
mais tolerantes a estas condições adversas é a chave pobre infiltração e pobre aeração
para reintegrar tais áreas à exploração agrícola e resolver B) Solo Sódico Neutro (6< pH <8)
um grave problema sócio-econômico e ambiental nas a) Toxicidade dos nutrientes Mo, B, Fe, Cu e Mn
áreas irrigadas das regiões áridas e semi-áridas. b) Efeitos físicos prejudiciais: superfícies
Em solos salinos as plantas são adversamente encrostadas, superfície e subsuperfície saturadas,
afetadas pela baixa absorção de água pelas raízes devido condições anóxicas: toxidez de Mn e Fe.
aos efeitos do potencial osmótico (Bernstein, 1975). C) Solo Sódico Ácido (pH < 6)
Quando a salinidade é dada principalmente por cloreto de a) Toxicidade de Fe, Mn, Al, Cu e Zn
sódio, a toxicidade de íons também afeta a produtividade b) Deficiências de Mo, P, Ca, Mg e K
vegetal. Em solos sódicos a elevada alcalinidade e as c) Duripans em alguns solos
Interações salinidade-fertilidade do solo 231

Desse modo, tanto a fertilidade química quanto a Juntamente com os componentes do solo e do clima,
física dos solos, são afetadas pela sodicidade. Altas o manejo do solo tal como a adição de gesso, calcário,
concentrações de sódio, alto pH, alto estresse osmótico matéria orgânica, o cultivo, a irrigação e o período que o
e pobre aeração induzem muitos problemas de fertilidade solo encontra-se exposto (sem proteção), também
química nos solos. A utilização de nutrientes via afetam os processos que ocorrem na solução do solo.
fertilizantes em solos sódicos é restrita. A grande maioria Quando não se aplicam fertilizantes os nutrientes são
dos trabalhos refere-se à aplicação de corretivos e seus derivados principalmente dos produtos do intemperismo
efeitos na melhoria das propriedades físicas do solo. A dos minerais primários e de argila e da decomposição da
compreensão da dinâmica da solução do solo também é matéria orgânica. A liberação de nutrientes na solução do
solo envolve vários mecanismos, entre os quais a troca
um aspecto importante para entender as reações
iônica, a solubilização e precipitação, a formação de par
químicas que se verificam nestes solos, e em que
iônico, a adsorção específica e a assimilação e excreção
intensidade elas influem na disponibilidade de nutrientes
microbiológica. A assimilação e excreção microbiológica
para as plantas. são importantes processos que podem afetar a
concentração de nutrientes na solução do solo. As
Química da solução do solo sódico: A composição complexações com ligantes, a quelação, são reações
química de uma solução do solo é dinâmica (Figura 5) e vitais que controlam a concentração de micronutrientes
determinada por um equilíbrio multifase envolvendo: em solos.
a) a fase sólida, compreendendo minerais de argila, Ânions como sulfato e carbonatos associam-se a
compostos inorgânicos amorfos e materiais orgânicos; cátions multivalentes e formam espécies não iônicas,
b) uma fase líquida, representada pela água do solo; reduzindo a atividade das espécies iônicas e a
c) uma fase gasosa, compreendendo principalmente disponibilidade dos nutrientes. Tais complexos podem
oxigênio e dióxido de carbono, e também reduzir a toxicidade de íons para as plantas. Por
d) o complexo de troca. exemplo, a formação de par de íons de Al 3+ com SO42-
reduz a atividade de Al 3+ e sua toxicidade às raízes das
plantas, mas tal reação não é comum em solos sódicos,
pois apresentam baixa concentração de Al3+. Em solos
sódicos os pares iônicos com carbonato, bicarbonato e
sulfato reduzem a atividade de íons divalentes (Ca 2+,
Mg 2+ ). Por isso a RAS calculada a partir da
concentração iônica superestima seu valor.
Devido ao constante acúmulo de água em solos
sódicos, nestes predominam reações de redução. O
estado de redox do solo é descrito pela atividade dos
elétrons livres, pE (isto é: - log(e-)), em conjunto com a
atividade dos prótons (pH). A pH 7 solos sub-óxicos tem
um pE que varia de +2 a +7, enquanto solos anóxicos
Figura 5. A dinâmica da química da solução do solo sódico. tem um pE < +2. Em solos sódicos o Fe, Mn, N, O, S e
(Fonte: Adaptado de Naidu & Rengasamy, 1993) C são os nutrientes mais comuns que sofrem reações de
oxi-redução, originando outras espécies (Tabela 4).

O cloreto, carbonato, bicarbonato, sulfato, magnésio Tabela 4. Atividade dos elétrons (pE) a pH 7 para algumas
e sódio são os íons dominantes no extrato de solos reações químicas em solo sódico
sódicos. O cálcio, nesses solos, está presente em baixas
quantidades e é geralmente um fator limitante tanto para
a nutrição de plantas quanto para a estabilidade
estrutural do solo. O potássio é também encontrado em
baixas proporções, mas o constante suprimento de
potássio é garantido na solução de solos sódicos devido
a prevalência da mica hidratada. O borato, nitrato e
fosfato são encontrados em consideráveis quantidades na
solução de alguns solos sódicos e água subterrânea.
232 Rivaldo V. dos Santos et al.

Na ausência de oxigênio tanto organismos facultativos sódio e reduzir o pH em solos sódicos ou salino-sódicos
quanto anaeróbios usam o Mn4+, Fe3+, NO3- e SO42- nas com pH acima de 9,0.
reações de transferência de elétrons e produzem Mn 2+, Não está claro se o aumento na solubilidade de P sob
Fe2+, N2 e S2-. Essas reações aumentam excessivamente condições sódicas reduz a necessidade de aplicação de
a disponibilidade de nutrientes (Mn 2+, Fe2+) para as superfosfatos nesses solos. O fósforo encontra-se
plantas ou suas perdas (N 2, S2-). Embora comente-se predominantemente sob a forma de fosfato de cálcio em
que os íons Zn 2+, Co 2+, Cu 2+, Fe 2+ e MoO 42- sejam solos sódicos. Neste caso, sugere-se sua extração
solúveis em solos pobremente drenados, o efeito do pH utilizando o método de Olsen (NaHCO3 0,5 N). O efeito
é dominante em solos sódicos alcalinos e provoca a do sódio trocável na adsorção/dessorção do P tem sido
precipitação desses íons. Embora esses metais pesados estudada (Sharpley et al., 1988). Geralmente aceita-se
possam ser solubilizados através da quelação por que o fósforo em solução aumenta quando a saturação
moléculas orgânicas, derivadas da decomposição por sódio no complexo de troca aumenta. Quando o
anaeróbica da matéria orgânica, o estado de oxi-redução sódio substitui o Ca, Mg e Al nos sítios de troca o
que ocorre em solos sódicos conduz a sua complexação potencial negativo da superfície é aumentado,
com a superfície sólida do solo e a sua indisponibilidade conduzindo a dessorção de P.
às plantas. Os efeitos interativos da salinidade sobre os níveis de
Nos solos com excesso d’água pode ocorrer também nutrientes no crescimento do trigo mostraram que a
perdas de N por desnitrificação. Em solos com alto pH, aplicação de doses crescente de N, P, K, Ca, Mg e S
por exemplo, os solos sódicos calcários, o N pode ser aumentou a tolerância do trigo à salinidade. Os autores
volatilizado na forma de NH 3 ou precipitado como acrescentam ainda que a salinidade exerce seus
(NH4)2CO3. A disponibilidade de N é muito reduzida sob principais efeitos na fase inicial de crescimento, e que,
essas condições quando a uréia é a fonte de N, devido a principal estratégia para aumentam a produção de trigo
a baixa atividade da urease a altos valores de pH (Nitant em solo salino é: (1) aumentar o suprimento de
& Bhumbla, 1974). A disponibilidade de N em solos nutrientes em solos pobres, (2) criar condições
sódicos é problemática. Estudos são necessários para favoráveis na zona radicular pela eliminação dos sais e
relacionar a influência da sodicidade nas transformações (3) aumentar a densidade das plantas (Hu et al, 1997).
do N nesses solos. Leite et al. (2007), estudando a correção da
A disponibilidade de fósforo é geralmente aumentada sodicidade de dois solos irrigados em resposta à
em solos alagados devido a redução de fosfatos férrico aplicação de gesso agrícola, verificaram que aplicação
e a dissolução de outros fosfatos. O sódio trocável pode das doses de gesso 0,0; 2,5; 7,5; 10,0 e 12,5 g kg -1
aumentar a dissociação de ânions orgânicos, os quais aumentou a concentração do Mg extraído da pasta
substituem o P dos fosfatos de Fe e Al. A alta saturada. Isso pode ser atribuído a impurezas de Mg
disponibilidade de P em solos sódicos alcalinos indianos contidas no gesso ou, segundo Fassender (1986) ao
foi atribuída por Gupta & Abrol (1990) aos altos níveis maior poder de seletividade do Ca no complexo de troca
de pH, RAS e CO32-. A aplicação de superfosfatos é uma do solo (Ca>Mg>K>Al>Na), o qual substitui o Mg
prática comum em solos australianos para aumentar sua fazendo com que este desloque-se para a solução do solo
absorção pelas plantas. Outros solos sódicos aluviais e seja quantificado.
também apresentam alta concentração total de P. O
feijão vigna responde significavamente à aplicação de Deficiência de nutrientes
H3PO4 (Santos, 1996). Deve-se procurar saber se esse A preocupação com ao ajustamento na concentração
efeito deve-se ao P aplicado ou a redução do pH do solo iônica na solução do solo remonta algum tempo.
devido a aplicação de fonte ácida de P. Pesquisas com Champagnol (1970) em revisão sobre o tema relação
solo salino-sódico do Nordeste brasileiro indicam entre a nutrição fosfatada e a toxicidade dos sais nas
também com a aplicação de doses crescentes de H 3PO4 plantas, observou um efeito positivo em 34 das 37
(0, 70, 140 210 mg dm-3) tem reduzido o pH do solo, espécies estudadas, e recomenda uma aplicação
aumentado a disponibilidade de P no solo e moderada de fertilizantes solúveis (nitratos, cloretos,
proporcionado aumento na produção de milheto sulfatos) para evitar um aumento na concentração de sais
forrageiro, cuja massa seca (g vaso-1) aumentou segundo na solução do solo e o risco no aumento da toxicidade.
as equações Y=11,78+ 0,04X e Y = 7,4 + 0,04X ( Y= No entanto, deve-se considerar que os solos salinizados
massa seca e X= doses de P, mg dm-3) ( Ferreira et al. apresentam uma elevada heterogeneidade química e,
2008a; Ferreira et al. 2008b). O ácido sulfúrico constitui- numa mesma área ou perímetro irrigado necessita-se
se em outra alternativa para minimizar o efeito nocivo do fazer estudo específico.
Interações salinidade-fertilidade do solo 233

Os solos sódicos apresentam de moderada a fraca Tabela 5. Impacto da salinidade do cloro e sulfato na
fertilidade, com variada capacidade de fornecer concentração de nutrientes da parte aérea da alfafa
nutrientes às plantas. Acentuadas deficiências de N e P
são comuns e frequentemente estão associadas com a
deficiência de outros nutrientes, especialmente o S e os
micronutrientes Mo, Cu, Zn e Mn. A baixa fertilidade
desses solos pode estar relacionada com sua idade e
materiais de origem. A limitada lixiviação e a inundação
dos solos afetados por influência da salinização e a
consequente sodificação também causam
transformações de nutrientes reduzindo a fertilidade. A
extensiva salinização em solos de regiões áridas e semi-
áridas resulta em alto pH, causando deficiências de
nutrientes e, em alguns casos, a toxicidade de íons.
A deficiência de micronutrientes resulta da interação
das condições do solo, variação genética entre espécies,
clima e desbalanços de nutrientes. As condições de
sodicidade apresentadas pelos solos sódicos afetam a Fonte: Adaptada de Soltanpour et al (1999)
natureza da solução do solo e a disponibil;idade de
nutrientes. O baixo conteúdo de O 2 em solos sódicos dados da Tabela 6. Em solos salino-sódicos uma
inundados conduz à transformações químicas dos alternativa para aumentar a absorção de macronutrientes
nutrientes, tornando-os indisponíveis às plantas ou é a aplicação de uma fonte ácida de fósforo, tal como o
atingindo níveis tóxicos. Na realidade há poucas H3PO4 (Santos, 1996).
informações sobre a disponibilidade de micronutrientes
em solos sódicos. Trabalhos indicam apreciável Tabela 6. Características químicas de um solo salino-sódico
liberação de Zn2+ de solos sódicos (pH ³ 9,1) apenas antes da aplicação do gesso (AAG), após a lixiviação dos
sais (ALS) e após cultivo do feijão (ACF)
após o solo ser acidificado para eliminar o CaCO3. Sem
esse tratamento, tanto o Zn 2+ quanto o Cu 2+ são
praticamente indetectáveis no solo, apresentando
concentrações na solução do solo de 10-3 a 10-6 e de 10-
6 a 10-7 mol L-1, respectivamente para o Zn2+ e Cu2+. A

incorporação de matéria orgânica no solo pode mobilizar


estes nutrientes e fornecer Zn e Cu para as plantas.
Em trabalhos com solução nutritiva (Tabela 5)
constataram que os teores de N, P, e Ca na alfafa
reduziram nas soluções com Cl e SO4 com o aumento da
salinidade, enquanto os de K e Mg aumentaram
(Soltanpour et al, 1999).
Quanto ao Fe 3+ , Fe 2+ e Mn 2+ em solos sódicos,
apresentam redução de suas atividades
logaritmicamente, para cada aumento de uma unidade no
pH e alcançam o valor mínimo ao redor de pH 9
(Lindsay, 1979). A “clorose de Fe induzida pelo
calcário” é comum sob essas condições. Entre os fatores
que restringem a disponibilidade de Fe citam-se o
excesso de CaCO3 e de HCO3-, excesso de água, o alto SS = saturação por sódio

pH (> 8,5), a pobre drenagem e a deficiente aeração das


raízes (Naidu & Rengasamy, 1993). O boro e o molibdênio são mais solúveis em solos
A necessidade da aplicação prévia de gesso nos solos sódicos que em solos com pH neutro. Todavia,
salino-sódicos provoca desbalanços dos teores de bases alterações no pH e a complexação por compostos
trocáveis, além de reduzir a disponibilidade de fósforo orgânicos têm maior influência sobre a sua
ao longo do seu manejo (Santos, 1955), como mostra os disponibilidade. A deficiência de Mo ou B ocorre mais
234 Rivaldo V. dos Santos et al.

facilmente sob condições de acidez que sob sodicidade. O acúmulo de matéria orgânica em solos sódicos é
Já a toxidez de B é bastante comum em solos sódicos, difícil porque os complexos orgânicos com Na + são
onde encontra-se frequentemente concentrações acima altamente solúveis e móveis. O grau de formação de
de 10 mg kg-1. A aplicação de gesso seguido de lavagem ligações covalentes do Na+ com moléculas orgânicas é
do solo reduz os níveis de B a concentrações toleráveis. baixa devido ao seu pequeno potencial quando
comparado com o de íons divalentes ou trivalentes. No
Toxicidade de íons Na+ entanto, devido a baixa atividade microbiana em
A acumulação de sais solúveis nos solos inibe ambientes com excesso de sódio, é comum encontrar
drasticamente o crescimento das plantas. Tal ocorrência manchas superficiais escurecidas (álcali-negro) em solos
induz a plasmólise, pela qual a água move-se da planta sódicos.
para a solução do solo. Muito do N e s em solos agrícolas provem da matéria
A presença de altas quantidades de íons de Na + orgânica. Evidentemente, para que o suprimento destes
origina condições tóxicas às plantas. A sensibilidade das nutrientes seja contínuo é necessário que ocorra a
plantas ao Na + varia entre os genótipos. Entre as mineralização da matéria orgânica e que esta esteja em
espécies, a cultura do arroz tem apresentado maior quantidade suficiente para uma maior atividade
tolerância a toxicidade. Além do efeito direto do Na+, a microbiológica. A principal limitação é que em solos
baixa concentração de Ca2+ (< 1 mmol L-1) conduz a sódicos ou salino-sódicos, o excesso de sódio ou o
uma alta relação Na/Ca causando desbalanços estresse osmótico reduz a população microbiana. Sabe-
nutricionais e efeitos fisiológicos adversos nas plantas. se que a nitrificação é completamente inibida a PST >
Devido a alta absorção de Na + e baixa de Ca2+ pelas 7,0, portanto a manutenção de baixas concentrações de
plantas, em solos sódicos, a permeabilidade da membrana Na+ no solo é indispensável para que ocorra uma maior
é afetada, reduzindo o transporte de íons. A baixa disponibilidade de N. Em geral, a capacidade dos cátions
concentração de Ca2+ nesses solos também conduz a um de estimular a mineralização do N orgânico diminui
aumento na absorção e toxicidade dos elementos Zn, Ni, juntamente com o seu potencial iônico (Al3+ > Fe3+ >
Mg, Pb, Se, Al e B. Ca2+ > Mg2+ > K+ > Na+). Assim, como ocorre em solos
A proporção relativa de Ca2+ na solução do solo, que sódicos, quando o valor da RAS é aumentado, a
é normalmente adequada para as plantas sob condições contribuição de nutrientes via matéria orgânica é
não salinas, torna-se inadequada sob condições salino- diminuída.
sódicas. O fato é que os baixos níveis de Ca2+ e Mg2+ em Trabalhos em solo salino-sódico tem indicado, entre
solos sódicos aumenta a RAS da solução do solo outros, um acentuado aumento nos teores de fósforo
conduzindo a deficiências de Ca 2+ e/ou Mg2+ para as extraído em resina quando se aplicou material vegetal
plantas. A alternativa é a aplicação de uma fonte de Ca2+, proveniente de mucuna-preta (Tabela 7) (Santos, 1996).
como o gesso.
A disponibilidade de Ca2+ é um importante fator no Efeitos da sodicidade
manejo de solos sódicos e salino-sódicos. Nos primeiros A matéria orgânica é conhecida como promotora da
a deficiência de Ca2+ ocorre principalmente devido a alto macroagregação do solo, melhorando suas propriedades
pH e a inadequada aeração, já no segundo deve-se a físicas. Mas os agentes cimentantes da matéria orgânica
competição iônica durante o processo de absorção. A alta são representados pelos polissacarídeos, que
concentração de Na+ também provoca deficiência de correspondem a apenas ¼ da matéria orgânica. De fato,
outros nutrientes, tais como o K, Zn Cu e Mn. o material orgânico pode provocar tanto expansão
quanto a dispersão quando aplicado nos solos,
INFLUÊNCIA DA MATÉRIA ORGÂNICA especialmente em solos salino-sódicos ou sódicos que já
apresentam um alto potencial dispersivo.
Disponibilidade de nutrientes A literatura é conflitante quando trata dos efeitos da
Há uma aceitação geral que a matéria orgânica matéria orgânica na dispersão de solos sódicos. A
aumenta a fertilidade do solo por sua capacidade de dispersão tem sido inversamente correlacionada com os
fornecer nutrientes para as plantas, especialmente o N. conteúdos de matéria orgânica em solos sódicos com
Na realidade, a matéria orgânica é a maior fonte de baixos valores de PST (Loveday et al., 1987). Todavia,
cargas negativas, sendo responsável tanto pela retenção a adição de matéria orgânica aumenta a dispersão de
quanto pela liberação de nutrientes para a solução do argila em altos valores de RAS (Gupta et al., 1984),
solo, especialmente o N, P e S, através do processo de indicando que sua remoção pode reduzir a dispersão em
mineralização. solos saturados por sódio. Oades (1984) estudando os
Interações salinidade-fertilidade do solo 235

Tabela 7. Efeito de resíduos orgânicos nos teores de nutrientes nas diferentes doses de gesso aplicadas em solo salino-sódico

Gesso Mat. org. Ca Mg K P Fe Cu Zn Mn


Mg ha-1 g vaso-1 cmolc dm -3
g cm -3

0 0 12,6a 2,8a 0,31a 17,0a 168a 2,6a 4,1a 115a


35 12,8a 2,8a 0,35b 26,3b 170b 2,7a 3,7a 118a
7 0 14,3a 2,5a 0,26a 16,1a 167a 2,5a 3,2a 114a
35 14,2a 2,5a 0,27a 25,3b 163a 3,0a 3,8b 116a
14 0 15,1a 2,1a 0,24a 16,1a 186a 3,6a 3,7a 118a
35 16,0b 2,0a 0,32b 25,7b 205b 5,7b 3,7a 126b
21 0 17,1a 1,9a 0,23a 13,9a 167a 6,2a 4,2a 110a
35 17,8a 1,6b 0,29b 25,0b 168a 6,3a 4,1a 116a
Na vertical,números seguidos por letras distintas diferem a 5% de probabilidade pelo teste de tukey.

mecanismos e as implicações da matéria orgânica no O efeito isolado do Na trocável em promover


manejo do solo concluiu que a dispersão das partículas dispersão da matéria orgânica pode ser explicado, pelo
de argila nos microagregados é promovida por sua menos em parte, pela ineficiência do sódio como cátion
complexação com ácidos orgânicos, os quais aumentam ligante, quando comparado com cátions polivalentes
as cargas negativas na superfície das argilas. como o Ca2+, Al3+ e Fe3+. O cátion ligante une tanto as
Acredita-se que a matéria orgânica pode dispersar argilas com cargas negativas permanentes a grupos
partículas do solo, principalmente quando presente em funcionais da matéria orgânica quanto os ânions
pequenas quantidades, pelo fato de incluir alta orgânicos às cargas variáveis das argilas, quando estas
concentração de ácidos orgânicos de baixo peso são positivamente carregadas sob condições ácidas. Sem
molecular, e pelas cargas negativas do complexo argila- estes cátions, a agregação nos solos é reduzida.
óxido metálico-matéria orgânica estarem a maior
distância da partícula devido a presença de Na + no sítio MANEJO DA FERTILIDADE EM SOLOS
de troca. SALINOS E SÓDICOS
O efeito dispersivo da matéria orgânica pode ser
explicado pelo efeito da alta concentração de ácidos Os efeitos interativos da fertilidade-salinidade-
orgânicos (fúlvicos, húmicos, oxálicos, cítricos, sodicidade tem sido estudados apenas superficialmente.
tartárico) nas partículas do solo. Os passos abaixo Os resultados tem sido contraditórios, dependendo da
explicam o processo: condição particular de cada estudo. Os efeitos osmóticos
a) O alto percentual de ácidos orgânicos eleva a da alta concentração de sais são os mais prejudiciais em
concentração de cargas negativas na dupla camada solos salino-sódicos (Figura 6). Em solos sódicos, a
degradação estrutural é o fator primário que afeta
difusa (DCD), aumentando a distância entre as partículas
diretamente as propriedades físicas do solo e, portanto,
sólidas,
a disponibilidade de nutrientes.
Em solos salino-sódicos, quando a concentração de
Na aumenta, a necessidade de nutrientes para as plantas,
tanto no substrato quanto nos tecidos vegetais, também

b) Os ânions orgânicos podem ainda complexar o


Fe3+ e Al3+ que tem poder agregante, contribuindo para Figura 6. Mecanismos que explicam o efeito prejudicial da
a menor agregação do solo, deixando a argila contida nos CE e da RAS na disponibilidade de nutrientes. Fonte:
agregados mais propensa a sofrer a dispersão. Adaptado de Naidu & Rengasamy, 1993)
236 Rivaldo V. dos Santos et al.

aumenta. Caso a cultura não seja sensível aos sais e o Fertilização e nutrição mineral
nível de salinidade não seja alto, o estresse osmótico Em revisão sobre a interação salinidade e a absorção
pode ser compensado pela aplicação de fertilizantes. A de nutrientes em hortícolas (Grattan & Grieve, 1998)
produção vegetal aumenta devido a aplicação de afirmam que a adequada Nutrição Mineral depende
fertilizantes até um certo nível de CE na solução do solo intensamente da fertilidade dos solos e
(Figura 7). consequentemente do balanço iônico da solução do solo.
A relação entre a salinidade e a nutrição mineral em
hortícolas é muito complexa e uma melhor compreensão
dessa interação exige um grupo multidisciplinar de
cientistas. O crescimento das culturas pode ser afetado
pela salinidade e esta induzir desordens nutricionais, tais
como, efeito na disponibilidade de nutrientes,
competitividade na absorção, transporte ou
redistribuição de nutrientes. No entanto, relativo a
aspectos de nutrição mineral, pouca atenção tem sido
dado ao sulfato.
Figura 7. A produção relacionada a condições salinas e Os efeitos dos sais da solução do solo nas plantas são
sódicas geralmente dispostos em três categorias: (1) impacto
fisiológico, (2) deficiências de nutrientes e (3) excesso
Por outro lado, a indisponibilidade de nutrientes em de elementos ‘não nutrientes’. A primeira influência
solos sódicos são causados indiretamente por efeitos refere-se ao ‘efeito osmótico’, correspondendo à redução
físicos prejudiciais, tais como o reduzido transporte de do potencial osmótico (PO) da solução e a
água e nutrientes. No entanto é importante ter em mente disponibilidade de água para as plantas; os outros dois
que, para a aplicação de fertilizantes proporcionar referem-se ao ‘efeito iônico não específico’. O PO é
aumentos à produção das culturas é necessário que a definido pela expressão: PO (o) = RT N/V, onde R (
correção das propriedades físicas, para solos sódicos, e 0,082 L.atm/K.Mol) é a constante dos gases, T é a
a lixiviação do excesso de sais, para os solos salinos, temperatura em Kelvin (K = o C + 273) e N/V =
sejam efetuadas. concentração osmótica. A toxicidade de íons refere-se ao
A deficiência de nutrientes e a toxicidade de íons aumento na concentração de elementos provocando
ocorre tanto em solos salinos quanto em sódicos. redução na produção devido ao desbalanceamento na
Todavia, os mecanismos do efeito prejudicial no disponibilidade de outro nutriente, resultando em
crescimento das plantas em solos sódicos difere dos deficiências nutricionais. Deve-se deixar claro que o
solos salinos. A fertilidade dos solos sódicos depende (1) nutriente tem uma ‘dose resposta’, expressa por uma
da presença de água, oxigênio e nutrientes na forma ‘curva resposta’, fato que não ocorre com os elementos
iônica; (2) da capacidade do solo em liberar oxigênio e tóxicos. A adequada nutrição mineral das plantas nos
nutrientes por fluxo de massa e difusão para a superfície solos salinizados depende de um ajuste favorável dos
das raízes; (3) da presença de uma composição iônica atributos químicos e físicos dos solos e de um balanço
favorável e (4) da ausência de substâncias que reduzam de nutrientes durante os processos de absorção, uma vez
que há uma interação natural entre os elementos
o movimento de nutrientes para as raízes. O
essenciais: nos sítios de absorção há competição entre o
fornecimento de água, oxigênio e nutrientes para as
nitrato e cloro, o amônio reduz a absorção de cálcio e
raízes em solos sódicos é restringida pela deterioração
magnésio, já quanto ao fósforo os resultados têm sido
da estrutura do solo causada pela sodicidade. A maior
conflitantes (Kafikafi, 1987).
concentração de Na+ que de Ca2+ nesses solos é a maior
A fertilização líquida atenuou os efeitos depressivos
causa dos problemas físicos e de disponibilidade de da salinidade mais que a sólida, no que se refere a
nutrientes. Portanto, a correção da sodicidade é o produção de frutos de tomateiro cultivado em solo ‘não
primeiro passo a ser considerado quando se tenta salino’ salinizado. Os fertilizantes sólidos foram nitrato
aumentar a produtividade dos solos sódicos. A redução de amônio superfosfato e sulfato de potássio, aplicados
do pH superior a 9,0 para valores menores que 8,0 seria nas doses de 49 g ha-1 de N, 62 kg ha-1 de P2O5 e 30 kg
um dos maiores passos para melhorar a correção de solos ha -1 de K, respectivamente; quanto a líquida foi
sódicos. A liberação de H + no sistema através da composta por uma mistura de ácido fosfórico, sulfato de
mineralização da matéria orgânica e reações de potássio e ácido nítrico, aplicados em igual quantidade
transformações do N podem adequar o pH. (Sami et al., 1992).
Interações salinidade-fertilidade do solo 237

Epstein & Bloom (2006) citam que uma das Tabela 8. Interação da salinidade na produção de grãos de
principais condições que impõem estresses minerais às trigo
plantas são a salinidade, pela alta concentração de sais,
mais frequentemente o sódio, e a sodicidade,
principalmente quando há alta proporção de sódio (>
10%) adsorvidos nos sítios de troca catiônica do solo.
Além disso ainda citam relevantes aspectos da fisiologia
do estresse por sais.
0= omissão; 1=presença.
Nitrogênio: O Nitrogênio seja na forma nítrica (NO3),
amoniacal (NH4) ou gasosa (N2), corresponde em torno Por exemplo, a solução saturada que se produz na “Zona
de 80% do nutriente mineral absorvido pelas plantas. do fertilizante” é alcalina quando se aplica fosfato
Evidentemente o seu emprego adequado no solo diamônico (pH = 7,98; 3,82 Mol L-1 P) e é ácida para o
frequentemente aumenta a produção vegetal, em monoamônico (pH = 3,47; 2,87 Mol l -1 P); assim, é
ambiente salino ou não, e acredita-se que o nitrogênio favorável o uso desta fonte em solos sob condições
reduz os efeitos prejudiciais, em certa extensão da alcalinas. Os produtos resultantes da reação de
salinidade do solo. São inúmeros os trabalhos de fertilizantes em solos sódicos calcários pode ser um
pesquisa procurando compreender a interação parâmetro para se escolher a fonte a ser usada, segundo
nitrogênio-salinidade: macieira, feijão, cenoura, caupi, mostram as reações do sulfato de amônio, fosfato
diamônico (Figura 8) e nitrato de amônio (Figura 9).
milho, tomate, espinafre; isto quando o grau de
salinidade é baixo e quando a dose de nitrogênio
aplicada é menor que aquela considerada ótima para
condições não-salinas. A presença de nitrato reduz a
absorção e acumulação de Cl nas plantas. A interação
nitrogênio-salinidade obviamente é complexa. A maioria
dos estudos indica que a absorção ou acumulação de
nitrogênio na parte aérea pode ser reduzida pelas
condições de salinidade.
Devido a baixa fertilidade dos solos sódicos a salino-
sódicos, as culturas tem o suprimento de N deficiente e
este deve ser suplementado através de fertilizantes. A
uréia é um dos fertilizantes mais frequentemente usados.
Quando a uréia é hidrolizada à amônia e CO 2 pela
enzima urease, ocorre perdas de N através da Figura 8. Reação do sulfato de amônio e fosfato diamônico
volatilização da amônia, e tal processo é mais intenso em em um solo sódico calcário
solos com pH elevado, característica típica de solos
sódicos ou salino-sódicos. Devido o aumento do pH
provocar maior volatização da NH3 da uréia ou de outras
fontes (Fenn & Kissel, 1973), deve-se procurar
alternativas que minimizem essas perdas. A aplicação de
fontes ácidas, como o H2SO4 ou de reação ácida como
a pirita (FeS2), a incorporação do fertilizante a maiores
profundidades ou seu parcelamento em 3 ou 4 vezes são
práticas recomendáveis.
Foram aplicados 150 kg ha-1 N e 37,5 kg ha-1 P2O5
em trigo cultivado em solução salina e constatou-se que
ocorreu efeito positivo do nitrogênio e fósforo na fase de
enchimento dos grãos (Soliman et al, 1994) (Tabela 8).
Por influirem na reação do solo e, portanto, em sua Figura 9. Reação do nitrato de amônio em um solo sódico
fertilidade, deve-se aplicar outras fontes nitrogenadas. calcário
238 Rivaldo V. dos Santos et al.

A precipitação dos produtos pouco solúveis Champagnol (1970) em revisão sobre o tema
resultantes da reação do sulfato de amônio e do fosfato salinidade-fertilidade mostra a relação entre a nutrição
diamônico acelera a reação e a intensidade de perdas de fosfatada e a toxicidade dos sais nas plantas. Observaram
NH3. Por outro lado, a formação de produtos solúveis, no um efeito positivo em 34 das 37 espécies estudadas,
caso do NH 4 NO 3 evita a precipitação, cessando a recomendando inclusive uma aplicação moderada de
fertilizantes solúveis (nitratos, cloretos, sulfatos) para evitar
liberação de NH4+ para a solução do solo quando esta
um aumento na concentração de sais na solução do solo
atinge alta concentração.
e o risco no aumento da toxicidade vegetal.
As perdas de nitrogênio, em forma NH 3, após a Os sintomas visuais da toxicidade de sais no trigo
aplicação de fontes nitrogenadas em solos com excesso foram minimizados com a aplicação de fósforo, em solo
de sódio variam grandemente entre os solos: 87% a pH ‘não salino’, com aplicação de doses crescentes de NaCl
10,5 (Jewitt, 1942), ou de 30 a 65% (Rao & Batra, (Gibson, 1985).
1983). Apesar de existir, segundo a literatura, uma maior
As taxas de volatilização e as perdas de N podem ser concentração de fósforo disponível com o aumento da
substancialmente reduzidas ( 90%) se o fertilizante for sodicidade e dos níveis de CaCO3 nos solos, Chhabra et
aplicado na profundidade de 6 a 7 cm do solo, e em torno al. (1981) relatam que o fósforo extraído pelo método de
de 10 cm para a cultura do arroz. A incorporação de Olsen reduziu-se à medida que a dose de gesso aplicada
resíduos orgânicos pode também compensar as possíveis no solo foi aumentada. A aplicação de gesso em solos
perdas do nitrogênio. A dose de N recomendada para salino-sódicos de origem aluvial tem provocado redução
nos teores de fósforo disponível (Santos, 1995). Isso
solos com pH alto é em torno de 120 kg ha-1 de N.
apesar destes solos apresentarem teores totais de P
A aplicação de 60 gplanta -1 de nitrogênio e 60 g
elevados (547 mg cm-3).
planta-1 ano-1 de fósforo em solo sódico, PST = 20 e pH A aplicação de esterco e palha de arroz em solo em
8,9 aumentou a produção de flores. (R.S. Kativar et al., solo sódico aumentou o teor de Fe, Mn e P extraídos. A
1999). disponibilidade de fósforo no solo foi maior com a
aplicação de esterco e palha de arroz, superior ao gesso
Fósforo: A interação entre salinidade e nutrição de (Anad Swarup, 1982). O fósforo extraído por Olsen (05,M
fósforo é igualmente complexa como a de nitrogênio, e NaHCO3 pH 8,5) decresceu na seguinte ordem: controle
depende da espécie vegetal, estágio de crescimento das > esterco > palha de arroz > gesso. A formação de fosfatos
plantas, composição, nível de salinidade e da orgânicos como fosfolipídios e fosfoproteínas pode ter
concentração de fósforo no substrato. Os resultados de elevado tal disponibilidade. Já em trabalho em solução
pesquisa da interação fósforo-salinidade têm sido nutritiva o fósforo aumentou a tolerância do tomateiro à
conflitantes: têm aumentado a absorção de fósforo, salinidade e os autores associam a um aumento no turgor
osmótico nas células proporcionado pela adição de
reduzido ou não apresentado efeito.
fósforo, que nesse estudo foi aplicado via ácido fosfórico
A interação salinidade-fertilidade em milho e algodão
(Tabela 10) (Awad et al., 1990).
demonstra um melhor efeito da fertilização fosfatada nos
índices mais baixos de salinidade. Para o algodão a Tabela 10. Efeito do NaCl na concentração de P nas folhas
produção foi maior em menor salinidade maior dose de de idade mediana
nitrogênio (Khalil et al., 1967). A Tabela 9 apresenta os
valores para a cultura do milho.

Tabela 9. Teores de fósforo no milho em diferentes


salinidades

Adaptado de Awad et al., (1990)

A indisponibilidade de fósforo em solos sódicos


corrigidos com gesso pode estar associada a formação
de fosfatos de cálcio insolúveis, que precipitam na
solução do solo com altos valores de pH, o que é comum
Interações salinidade-fertilidade do solo 239

em solos com excesso de sódio. A necessidade de alta concentração de cálcio nas folhas reduz
aplicar-se corretivo em tais solos exige a adoção de drasticamente a de magnésio.
práticas que reduzam a precipitação do fósforo nos solos Ainda relativo a aspectos da nutrição mineral, pouca
sódicos ou salino-sódicos. A aplicação de ácidos tem atenção tem sido dada ao sulfato, que é um nutriente de
aumentado a disponibilidade de fósforo em solo salino- extrema importância na dinâmica fertilidade-salinidade,
sódico (Tabela 11). visto que é adicionado durante a correção do solo
salinizado em grandes proporções como gipsita moída,
Tabela 11. Efeito das doses de fósforo na quantidade de gesso agrícola, fosfogesso, ácido sulfúrico ou enxofre
nutrientes absorvidos pelo feijoeiro vigna cultivado em elementar, elevando a concentração de eletrólitos e a
solo salino-sódico concentração aniônica na solução do solo e reduzindo a
absorção do molibdênio por provocar inibição
competitiva.
Plântulas de arroz cultivadas em solos sódicos
fertilizados com fósforo apresentaram maior crescimento
radicular. A maior absorção de fósforo e potássio
restringiram a absorção de sódio e levaram as plantas até
a maturidade (Qadar, 1998).

RESULTADOS DE PESQUISA
Na horizontal números seguidos por letras distintas diferem a 5% pelo teste de Tukey.

Na última década tem-se desenvolvido pesquisas em


Potássio: Em solos salino-sódicos ou sódicos, a alta solos degradados por sais do semi-árido do Estado da
concentração de sódio na solução do solo, não apenas Paraíba com o escopo de observar-se o comportamento
interfere na absorção de potássio pelas raízes, mas de espécies arbóreas no estágio inicial de crescimento,
também pode deformar a membrana das células das de gramíneas forrageiras, leguminosas, frutíferas e
raízes e sua seletividade. De modo geral a concentração oleaginosas. Objetiva-se ainda, com outros estudos,
de K + nas plantas em ambientes salinos tende a ser compreender a ação dos corretivos e fertilizantes na
menor com o aumento do Na+ ou da relação Na+/Ca2+ reação dos solos, na disponibilidade de nutrientes e
nutrição mineral das plantas, e também a correlação
na solução do solo.
entre atributos químicos dos solos, com o intuito de
A disponibilidade de potássio em solos salino-sódicos
buscar uma metodologia mais simplificada que substitua
ou sódicos é adequada. A predominância de micas em as determinações em extrato de saturação, já que esta é
solos de regiões áridas e semi-áridas, as trocas Na-K na mais demorada e dispendiosa. Esses trabalhos visam,
biotita, e a dissolução das unidades estruturais das através do uso de corretivos de salinidade, tal como o
muscovitas liberam grande quantidade de potássio sob gesso agrícola, ácido sulfúrico ou de rejeitos de
condições com excesso de sódio. mineração, minimizar os efeitos nocivos dos sais e do
Hu e Schmidhalter (1997) estudaram o crescimento sódio, aumentar a fertilidade do solo, proporcionando
do trigo, em experimento de hidroponia, em soluções uma maior produção vegetal.
salinas crescentes (0, 30, 60, 90, 120 e 150 M NaCl) e A região semi-árida apresenta uma intensa exploração
constataram que, ao contrário das folhas e ramos, os de minérios, dentre as quais a de caulim e vermiculita,
grãos apresentaram um aumento na concentração de Na as quais produzem uma quantidade excessiva de rejeitos,
e Cl, e redução na de Ca, Mg e K com aumento da que são depositados em áreas adjacentes à empresa. A
salinidade. Nas folhas e ramos o Na e Cl aumentaram sua utilização em solos degradados por sais visa também
significativamente com o aumento na concentração de buscar um fim agrícola para esses rejeitos. Convém
destacar que muitos dos resultados de pesquisa citados
sais.
a seguir ainda não foram publicados em periódico
especializados ou encontram-se em fase de publicação,
Cálcio: A sodicidade não apenas reduz a
e são dados parciais de experimentos conduzidos no
disponibilidade de cálcio, mas também o seu transporte Centro de Saúde e Tecnologia Rural, Campus de Patos.
e redistribuição nas plantas, afetando os órgãos
vegetativos e reprodutivos. Dessa forma, a salinidade Espécies arbóreas
pode afetar diretamente a absorção de nutrientes: o As espécies arbóreas constituem-se numa alternativa
Na+ reduzindo a absorção de K+ , Cl- e de NO3-. E a para áreas degradadas por sais por apresentar um sistema
240 Rivaldo V. dos Santos et al.

radicular profundo e extenso, as quais após a morte forma Tabela 12. Médias de altura e material vegetal seco
canalículos no solo, contribuindo para uma maior observadas nos 4 tipos de solos
porosidade e fluxo d‘água nas camadas subsuperficiais,
fato extremamente benéfico em solos com argilas
dispersas e pouco aerados. Apesar de exigirem uma maior
área para plantio e, como os lotes apresentam superfície a
restrita, deve-se deixar claro que essas espécies podem
ser associadas a outras em sistemas agrosilviculturais.
Evidentemente que o fator econômico deve ser
considerado na recuperação dessas áreas, mas não deve-
se esquecer que por estarem inseridas no semi-árido, sua ambientes da região semi-árida degradados quimicamente
revegetação, independente de espécies, constitui-se num por sais e sódio. Comparando-se as espécies, tomando-se
avanço sob o ponto de vista ambiental. por base seu crescimento relativo, comprova-se as
Tem-se conduzido trabalhos em solo salino-sódico, com informações mencionadas (Leite et al., 2002).
PST 98, do Perímetro Irrigado de São Gonçalo, Sousa-PB. Comparando-se o crescimento das espécies com no
Um destes com seis espécies arbóreas moringa (Moringa solo tratado com ácido com o no solo não salino
oleifera), algaroba (Prosopis julifora), sabiá (Mimosa constata-se que a moringa apresenta 111 %, leucena
caelsalpiniaefolia), jucá (Caesalpinia ferrea), leucena 102,8%, algaroba 82,5 %, tamboril 80,3%, jucá 75,8 %
(Leucaena leucocephala), tamboril (Enterolobium e sabiá 74,7% de crescimento relativo (Tabela 13).
contortisiliquum). Avaliando-se os resultados constatou- No mesmo solo realizou-se um outro experimento
se que as espécies arbóreas apresentaram uma severa com quatro espécies: mororó (Bauhinia cheilantha),
redução em seu crescimento quando cultivadas em solos catingueira (Caesalpinia pyramidalis), jurema-preta
salinizados sem a aplicação prévia do gesso e ácido (Mimosa hostilis) e favela (Cnidoscolus phyllacanthus).
sulfúrico comprovando a necessidade de utilizar-se Na Tabela 14 são apresentados resultados estatísticos da
corretivos, principalmente o ácido sulfúrico (Tabela 12), já altura das plantas na sétima semana. Considerando o
que este proporcionou maior crescimento e produção de comportamento das espécies em um solo salino-sódico
material vegetal seco das plantas. Quanto a comparação com corretivo, o ácido sulfúrico foi mais eficaz que o
entre as espécies verificou-se que nas condições do gesso, e a catingueira com ácido sulfúrico apresentou
experimento recomenda-se a utilização do tamboril, desenvolvimento estatisticamente igual a um solo não
algaroba e moringa (Tabela 13) com a aplicação prévia de salino. Para o mororó e a catingueira não ocorreu
ácido sulfúrico nestas últimas, como as mais indicadas diferenças estatísticas entre os solos não salino e com
para serem implantadas na recuperação de áreas ou ácido sulfúrico, sugerido-se que essas são as mais

Tabela 13. Médias das alturas das plantas na 5a semana em diferentes solos e tratamentos

Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade

Tabela 14. Médias das alturas das plantas na 7a semana em diferentes solos e tratamentos
Plantas
Tratamento/
Corretivo Mororó Catingueira Jurema-preta Favela
Solo
cm
Não salino - 15,8a 12,2a 21,6a 18,3a
Salino-Sódico - 3,7b 2,6b 2,7b 5,6b
Salino-Sódico H2SO4 9,5ab 10,4a 6,7b 10,5b
Salino-Sódico Gesso 6,5b 7,9ab 3,8b 9,7b
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade
Interações salinidade-fertilidade do solo 241

indicadas para o plantio nas áreas salinizadas tratadas

Crescimento relativo (%)


com ácido. A favela e a jurema-preta não apresentaram
diferenças quando cultivadas em solos salino-sódico sem
tratamento e no salino-sódico com ácido indicando uma
tolerância relativa (Leite et al., 2000). Comparando-se o
crescimento das espécies com no solo tratado com ácido
com o no solo não salino constata-se que a catingueira
apresenta 85,3 %, o mororó 60,1%, a favela 57,4 % e a
jurema-preta 31,0% de crescimento relativo.
Os resultados da Tabela 15 apresentam ainda
médias de altura, matéria vegetal seca (MVS), nos Tratamentos
quatro tratamentos, independentemente das espécies. Figura 10. Crescimento relativo das espécies em solo não
A altura e a MVS apresentaram um aumento salino (NS), salino (S), salino mais rejeito (SR) e salino
significativo quando se adicionou os corretivos, mais gesso (SG)
destacando-se o ácido sulfúrico, o que pode ser
atribuído à forte reação alcalina apresentada por esses indica A. Juss), angico (Anadenanthera macrocarpa
solos. Leite et al. (1999) estudando também o (Benth) Brenan), aroeira (Myracrodruon urundeuva Fr.
crescimento de espécies arbóreas em ambientes All) e turco (Parkinsonia aculeata L), constatou-se que,
salinizados, verificaram que o tamboril alcançou um a princípio, as espécies nim e turco demonstraram maior
desenvolvimento significativo, cultivado em solos com tolerância às condições salinas, sendo estas as mais
aplicação de corretivo ácido e gesso. indicadas para recuperar áreas degradadas quimicamente
por sais sem a utilização de corretivos e que, com a adição
Tabela 15. Médias de altura e material vegetal seco (MVS) do gesso, houve um maior crescimento (Figura 11).
observadas nos 4 tratamentos
Crescimento relativo (%)

Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível
de 5% de probabilidade.

O cultivo de outras espécies arbóreas em solo não


salino, solo salinizado, solo salinizado mais gesso e solo
salinizado mais rejeito de caulim, na área irrigada de São Tratamentos
José do Bonfim-PB, com pH =6,7; CEes = 40 dS m-1 e Figura 11. Crescimento relativo das espécies em solo não
PST = 95, revelou que as espécies cauaçu (Triplaris salino (NS), salino (S), salino mais rejeito (SR) e salino
gardneriana Wedd), craibeira-(Tabebuia aurea Benth mais gesso (SG)
& Hook), embiratanha (Pachira aquatica Aubl), mulungu
(Erythrina velutina Willd) e pereiro (Aspidosperma Gramíneas e leguminosas
pirifolium Mart) apresentaram crescimento diferenciado. As gramíneas e leguminosas apresentam implicações
Calculando-se o crescimento relativo em altura dessas diferenciadas nos solos degradados por sais. As
plantas verifica-se que a embiratanha, craibeira e mulungu gramíneas, sejam para fins de pastagem ou para
mostraram-se mais adequadas à recuperação de áreas implantação de capineiras representam uma opção para
degradadas quimicamente por sais, principalmente quando os proprietários de lotes, já que estes frequentemente
se incorpora o gesso no solo (Figura 10). A embiratanha também desenvolvem uma atividade pecuária, e o
merece destaque por seu maior crescimento em solo aproveitamento de parte do lote para produção de
salinizado sem correção, quando praticamente igualou-se volumoso é uma necessidade. Acrescente-se que os solos
ao solo não salino (Holanda et al., 2007). com gramíneas têm maior conteúdo de matéria orgânica
No mesmo solo, avaliando-se o crescimento inicial de em profundidade que melhoram os atributos químicos e
outras seis espécies arbóreas: cumaru (Parkinsonia físicos do solo, principalmente quando há remoção prévia
aculeata L), gliricídia (Gliricidia sp), nim (Azadirachta do sódio. Além disso, o emprego de leguminosas têm uma
242 Rivaldo V. dos Santos et al.

vantagem adicional: contribui para aumentar a planta teste, constatou que o ácido sulfúrico foi mais
disponibilidade de nitrogênio por fixação simbiótica, que eficiente que o gesso na melhoria química e física dos
é uma contribuição positiva já que ao processo de solos, bem como no crescimento do milheto.
nitrificação praticamente cessa a PST superior a 75. Os resultados da Tabela 17 apresentam o peso do
Desse modo conduziu-se experimento em solo material vegetal seco para as leguminosas, mostrando
salinizado do Perímetro Irrigado de São Gonçalo, Sousa- que as duas espécies analisadas sofreram severa redução
PB, com pH = 10,2; CE = 28,2 dS m -1 e PST = 97, na matéria seca quando cultivadas no solo salino-sódico
classificado como salino-sódico. As espécies cultivadas na ausência de corretivos, sendo que com adição de
foram as leguminosas lab-lab (dolichos lab-lab) e feijão corretivos ao solo salino-sódico, aumentou
de porco (Canavalia ensiformis), e as gramíneas capim significativamente a produção de matéria seca, os quais
buffel (Cenchrus ciliaris), capim urocloa (Urochloa não se diferiram entre si, tanto nos corretivos, como nas
mosambicencis) e capim elefante (Pennisetum espécies utilizadas. O feijão de porco mostrou mais
purpureum). Os tratamentos foram: solo não salino, solo eficaz para os solos em estudo.
salino sem corretivos, solo salino com de gesso, solo
salino com H2SO4. (Leite et al., 2001). Tabela 17. Peso de material vegetal seco das leguminosas
Na Tabela 16 são apresentados resultados estatísticos em diferentes tratamentos
da produção de matéria vegetal seca (MVS) sessenta Tratamento Plantas
dias após, demonstra que o capim urocloa foi a espécie Feijão de Porco Lab-Lab
Solo Corretivo
que apresentou maior produção de matéria seca em um g vaso-1
solo salino-sódico sem corretivos, mostrando assim que Normal - 34,5 a 23,8a
essa espécie é bastante tolerante ao ambiente salino. Salino-Sódico - 2,6c 0,5c
Xavier et al. (1998) relata que a seleção de capim- Salino-Sódico H2SO4 19,2b 6,0b
elefante (Pennisetum purpureum) com maiores Salino-Sódico Gesso 17,7b 5,5b
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível
produções de matéria seca, em condições de doses de 5% de probabilidade.
baixas de nitrogênio, mineral é de suma importância para
a redução de uso de fertilizantes nitrogenados nesta O cultivo de leguminosas em solos salino-sódicos com
forrageira. Quanto ao capim buffel, o corretivo mais a posterior incorporarão nos solos constitui-se numa
eficiente na acumulação de MVS foi o ácido sulfúrico alternativa no manejo desses solos, como prática
qual não diferenciou do solo não salino, indicando que seu preventiva, principalmente nas áreas em princípio de
cultivo é recomendado para os solos corrigidos com sodificação. Apesar da matéria orgânica apresentar alta
ácido. Já Leite et al. (2005) utilizando corretivos químicos CTC e existir pesquisas que corroboram com seu efeito
em solos degradados por sódio usando milheto como dispersante, é evidente que em solos numa fase inicial de
degradação pode ser utilizada, devido seu poder de
Tabela 16. Peso de material vegetal seco das gramíneas em agregação das partículas sólidas do solo.
diferentes tratamentos Experimento realizado com solos de outro setor do
Perímetro Irrigado de São Gonçalo revelou pH = 10,2;
CE = 28,2 dS m-1 e PST = 97. Este objetivou avaliar o
crescimento relativo de leguminosas em solo salino-sódico
que recebeu aplicação prévia de gesso e ácido sulfúrico
nos tratamentos: omissão de corretivos, presença de
gesso, presença de H2SO4. As leguminosas foram feijão-
de-porco (Canavalia ensiformis), lab-lab (Doliclos lab-
Gesso
lab), crotalaria (Crotalaria juncea), guandu (Cajanus
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível
de 5% de probabilidade. cajan) e cunhã (Clitória ternatea). A Tabela 18 traz a

Tabela 18. Peso de material vegetal seco das leguminosas em diferentes tratamentos
Tratamento Plantas
Feijão de porco Lab-lab Crotalária Cunhã Guandu
Solo Corretivo
g vaso-1
Não salino - 34,5a 23,8a 10,6a 7,3a 14,4a
Salino-sódico - 2,6c 0,5c 0,1b 0,1b 0,1c
Salino-sódico H2SO4 19,2b 6,0b 2,9b 3,3b 3,4b
Salino-sódico Gesso 17,7b 5,5b 3,1b 3,0b 1,2b
Interações salinidade-fertilidade do solo 243

produção de matéria vegetal seca para as leguminosas:


feijão-de-porco, lab-lab, crotalária, cunhã e guandu.
Todas as espécies apresentaram uma maior produção de

MMVS (g vaso-1)
biomassa quando foram cultivados em solos com a
aplicação de corretivos. No entanto não ocorreu
diferenças entre os corretivos gesso e ácido sulfúrico. As
maiores produções de massa de material vegetal foram
dadas pelas espécies feijão de porco, cunhã e crotalária,
quando comparadas com suas produções em solo não
salino.
Avaliando-se os resultados observou-se que as
leguminosas sofreram severa redução no crescimento Fósforo (mg kg-1)
quando cultivadas em solo salino-sódico, ocorrendo Figura 13. Efeito do fósforo na produção de material vegetal
aumento em sua produção vegetal quando adicioram-se seco do milheto
os corretivos, recomendando-se o feijão-de-porco e a
pH = 10,2; CE = 28,2 dS m-1 e PST = 97. Esse trabalho
cunhã como as mais indicadas para implantação em
avaliou a tolerância à salinidade de 4 gramíneas : capim
áreas degradadas quimicamente por sais. elefante (Pennisetum purpureum), capim buffel
Diagnóstico nos solos salino-sódico da área irrigada (Cenchrus ciliaris), urocloa ou capim corrente (Urocloa
de São José do Bonfim-PB revelaram que 78 % das mosambicensis) e o milheto (Pennisetum typhoideum),
amostras de solo apresentaram baixos níveis de fósforo nos 4 diferentes solos: não salino, salinizado, salinizado +
disponíveis e que a aplicação de doses de fósforo gesso, salinizado + H 2 SO 4 . As gramíneas ao se
provocou um aumento na produção de biomassa do desenvolverem no solo salino-sódico com ou sem
milheto, principalmente na ausência do gesso (Peres et corretivos, apresentaram-se, bastante amareladas nas
al., 2000) (Figura 12). folhagens e também em algumas, como o capim elefante,
mostravam-se manchas roxas, evidenciando assim,
deficiências de nitrogênio e potássio. A análise da produção
MMVS (g vaso-1)

de material vegetal verde (MVV), é apresentada na Tabela


19, na qual se observa que houve um maior decréscimo
em MVV para o capim elefante no tratamento salino-
sódico, como também no salino-sódico com ácido, já no
salino-sódico + gesso aumentou a produção de MVV.

Tabela 19. Peso de material vegetal verde das gramíneas em


diferentes tratamentos
Ácido fosfórico (mg kg-1)
Figura 12. Efeito do ácido fosfórico na massa de
material vegetal seco (MMVS) nas doses de gesso

Outros solos salino-sódico, do setor 54 do Perímetro


Irrigado Engenheiro arco verde, que receberam aplicação
prévia de gesso e apresentaram 12,4 mg kg-1 de fósforo
disponível, constatou-se que a aplicação de fósforo Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível
de 5% de probabilidade.
aumentou a produção de material vegetal seco do milheto
(Figura 13). O que comprova que além do corretivo há Na Tabela 20 são apresentados resultados estatísticos
necessidade de uma fertilização complementar, que torne da produção de matéria vegetal seca (MVS) no final do
o solo mais fértil, minimize o efeito nocivo das sais e experimento, demonstrando que o capim urocloa foi a
sódio, e aumente a produtividade vegetal. espécie que teve maior produção de matéria seca em um
Outras espécies tem sido pesquisadas em ambientes solo salino-sódico sem corretivos, sendo menor para os
adversos de salinidade: as gramíneas forrageiras, também demais tratamentos, mostrando assim que esta espécie é
com o escopo de avaliar seu crescimento em solo salino- bastante tolerante ao ambiente salino. Observa-se, ainda
sódico que recebeu aplicação prévia de gesso e ácido que o solo salino-sódico com ou sem corretivos não
sulfúrico. O solo, coletado no setor 10 do Perímetro Irrigado apresentou diferenças entre tratamentos para o capim
de São Gonçalo, caracterizou-se por apresentar também elefante na produção de MVS.
244 Rivaldo V. dos Santos et al.

Tabela 20. Peso de material vegetal seco das gramíneas em uma maior significância na concentração de N, P, Ca e
diferentes tratamentos Mn quando aplicou-se gesso e de K e Fe com a presença
de calcário (Sertão, 2005).

Oleaginosas
A aplicação de ácido sulfúrico em girassol no solo
salino-sódico indicou um aumento na produção de
material vegetal seco na cultura de mamoneira (Figura
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível 15) e do girassol (Figura 16). Em ambas culturas
de 5% de probabilidade.
verifica-se que a dose de ácido sulfúrico de 2 mL kg-1
Recomenda-se, portanto, a utilização de capim urocloa tende a ser mais recomendável para a aplicação nos solos
e capim buffel como as mais indicadas para implantação degradados por sais em estudo. Evidentemente que
em áreas degradadas por sais e sódio, desde que os devem ser repetidas pesquisas em outras
corretivos sejam aplicados previamente. áreassalinizadas, e apenas após seus resultados é que
Estudo conduzido com dois solos salino-sódicos, um pode-se chegar a uma conclusão definitiva sobre o
proveniente do Perímetro Irrigado de São Gonçalo (SG), comportamento dessas espécies.
Sousa-PB e outro da área irrigada de São José do Bonfim
(SJB)-PB, revelaram que o gesso e o calcário reduziram
a CE e o PST em ambos os solos e que o solo derivado

MMVS (g vaso-1)
de São José do Bonfim apresentou maior produção de
material vegetal verde e seco do capim urocloa. No
entanto como não se constatou diferenças entre a
testemunha e os tratamentos que receberam corretivos,
sugere-se que o capim urocloa é tolerante quando
cultivado em solos salinizados por sais e sódio trocável.
Avaliação dos teores de macronutrientes da parte aérea
constata-se na Figura 14 que houve diferenças
significativas nos teores de nitrogênio, fósforo, potássio, H2SO4 (mL kg-1)
cálcio e magnésio, sendo que o calcário utilizado no solo Figura 15. Ácido sulfúrico na produção massa seca da
de São Gonçalo obteve melhor resultado do que no solo mamoneira
de São José do Bonfim. Os teores de enxofre não foram
significativos para nenhum dos solos. Pode-se observar
que para os teores de nitrogênio, fósforo e cálcio as
diferenças foram quando se usou o calcário. Já para os
Altura (m)

teores de magnésio e potássio as diferenças foram quando


se usou o gesso, e por último, para os teores de enxofre
as diferenças ocorreram entre solos. Observou-se ainda,
quanto a composição química da parte aérea da planta,

35 Gesso SG
ab
30 Calcário SG
H2SO4 (mL kg-1)
25 Gesso SJB
Teores (g kg-1)

Figura 16. Ácido sulfúrico na altura do girassol


b Calcário SJB
20
a aa Na região semi-árido, é comum a presença de olarias,
15 a
b caieiras que utilizam como matéria-prima a camada
a
10 ab
bbb a b aa ab bb superficial de solos argilosos localizados em áreas mais
5 aa baixas e planas da caatinga, identificados como da alta
0 fertilidade e recomendáveis às atividades agrícolas. Tal
N P K Ca Mg S deterioração ambiental origina horizontes subsuperficiais
Nutrientes com prováveis limitações à produção agrícola e redução
Figura 14. Teores de macronutrientes da parte aérea do capim no valor das terras visto que há uma deformação do
urocloa nos solos e corretivos solo-paisagem consequência dessa ação antrópica.
Interações salinidade-fertilidade do solo 245

Muitos desses subsolos apresentam baixos conteúdos de altura, peso de material vegetal seco (parte aérea e raiz)
fósforo, matéria orgânica e, em algumas áreas, têm alta e comprimento da raiz principal. Verificou-se que as
salinização e sodificação. mudas de goiabeira apresentaram um melhor
Objetivando compreender tais solos e propor comportamento quando comparada com as mudas da
alternativas de cultivo é que se conduziu trabalhos de pinheira, independentemente das doses de gesso
diagnóstico e de comportamento de espécies vegetais aplicadas no solo (Tabela 22). Conclui-se ainda que a
nesses subsolos. Um dos dois subsolos analisados mudas da goiabeira apresentaram um aumento linear no
apresentaram teores de matéria orgânica de 3 g dm-3 e crescimento ao longo dos 104 dias do experimento,
condutividade elétrica, em extrato solo:água de 1:5, foi enquanto as da pinheira apresentaram pouca variação, e
de 3,6 dS m-1. Após gessagem do subsolo, 20 g kg-1, e que as mudas da goiabeira exibiram um maior
lavagem, aplicou-se doses de fósforo via superfosfato crescimento em altura, comprimento da raiz principal,
simples, e cultivou-se pinhão-manso. Os resultados número de folhas e produção de material vegetal da
revelaram que o pinhão-manso não germinou no subsolo parte aérea do que a pinheira (Araújo et al., 2002).
salino que não receberam gesso. No subsolo degradado
salino que recebeu gessagem, a produção de massa Tabela 22. Crescimento relativo das espécies em altura
vegetal seca da parte área e raiz, sem aplicação de (CRA), peso da massa seca da parte aérea (PMSPA), peso
fósforo, não diferiu daquela obtida nos solos não da massa seca da raiz(PMSR) e crescimento relativo da
raiz principal (CRRP)
degradados da camada superficial, indicando a
contribuição positiva da aplicação do gesso em subsolos
degradados por sais do semi-árido da Paraíba (Tabela
21) (Santos et al., 2009).

Tabela 21. Massa vegetal seca da parte aérea e raiz do


pinhão manso nas áreas
Massa Vegetal Seca
Áreas Parte aérea Raiz
-1
g vaso
Subsolo degradado salino 5,6 ab 1,2 ab
Subsolo salino não tratado 0,0 b 0,0 b
Camada superficial do subsolo Corretivos e atributos químicos
6,9 ab 1,3 ab
degradado salino A heterogeneidade dos atributos químicos dos solos
salinizados é uma realidade. Seja um solo salino, salino-
Alguns trabalhos têm demonstrado que os teores de sódico ou sódico observa-se que não há uma
fósforo disponíveis são muito baixos em solos salinizados continuidade nesses atributos, o que é identificado
de São José do Bonfim-PB, da ordem de 1 mg dm-3 de facilmente pela manchas esbranquiçadas e escuras na
P. A adição de doses crescentes de gesso aumentou a superfície desses solos.
concentração de cálcio de 6,4 para 12 cmol c dm -3 , Pesquisa com o intuito de identificar tal variabilidade
inclusive com uma redução na percentagem de sódio espacial tem sido conduzidas em solos do Perímetro
trocável, no entanto quando cultivou-se cajueiro nos solos Irrigado de São Gonçalo, Sousa-PB. O solo foi coletado
não houve aumento na produção de massa vegetal,
nos setores 10 e 7, onde foi coletado solo, de 0-20cm de
apesar da absorção de fósforo aumentar juntamente com
profundidade, em cinco diferentes pontos (Tertuliano et
as doses aplicadas no solo (Vital, 2002).
al., 1999). Inicialmente foi realizada a classificação das
Frutíferas amostras de solo coletadas em cinco locais diferentes em
O cultivo de frutíferas nos perímetros irrigados tem- São Gonçalo, segundo o grau de salinidade (Tabela 23).
se constituído numa alternativa promissora, destacando- A classificação foi baseada na concentração de sais
se o coqueiro, bananeira e goiabeira. No entanto solúveis (expressa pela CE), na percentagem de sódio
pesquisas com essas culturas em áreas de degradadas trocável (PST) e pelo pH, extraídos todos da solução da
por sais é incipiente, carecendo-se de tecnologias de pasta de saturação. Os cinco grupo de solos foram
manejo que aumentem suas produtividade agrícola. classificados como sendo solos salino- sódicos, observa-
Pesquisa com frutíferas em solo salino-sódico de São se que os valores do PST variaram de 95 a 99. Essa
Gonçalo, Sousa-PB, com pH = 8,9, CE=8,1 dS m -1 e classe de solos apresenta em seus perfis sais solúveis tais
PST = 86 avaliaram a produção relativa para as variáveis como sais de sódio, que elevam a concentração na
246 Rivaldo V. dos Santos et al.

solução do solo, e também provocam degradação Tabela 24. Doses de ácido que deixaram o pH a 6,5
estrutural, efeitos que se relacionam diretamente ao
desenvolvimento das plantas, pois comprometem a
absorção de nutrientes pelos vegetais, em razão do
desequilíbrio que os mesmos promovem nas propriedades
físicas do solo.

Tabela 23. Classificação dos cinco grupo de solos coletados


em São Gonçalo
Relativo à disponibilidade de fósforo Tertuliano et al.
(1999) constataram ainda que os teores de P disponíveis
pelos extratores de Mehlich (Tabela 25) e Olsen (Tabela
26), em diferentes PST e doses de ácido sulfúrico,
observou-se que ocorreu uma redução dos teores de P
com o aumento de doses crescentes de ácido sulfúrico em
todos os PST, exceto o PST 95. Os resultados encontrados
conflitam com aqueles obtidos por Costa e Silva et al.
Esses resultados comprovam a complexidade durante
a correção dos solos degradados por sais. A amostragem (1997) que demonstrou que a aplicação de ácido sulfúrico
do solo após uma subsolagem profunda e aração é aumentou a disponibilidade de P, possivelmente porque
recomendável para maximizar a eficácia de utilização de neste caso os teores iniciais de P do solo é mais alto.
corretivos evitando que a quantidade a ser usada seja ou
não superestimada. Pela Figura 17 verifica-se a variação Tabela 25. Teores de fósforo extraídos pelo método de
do pH em relação as doses de ácido aplicada. Observa- Mehlich, nos diferentes PST nas várias doses de ácido
sulfúrico
se que os solos com PST mais elevados apresentam
também um pH elevado, por isso os solos com estes PST
necessitaram de uma dose maior de ácido para promover
a redução de seu pH em torno de 6,5, enquanto que PST
com valores intermediários necessitaram de uma menor
dose de ácido. Desta forma a curva do pH em relação ao
ácido sulfúrico foi decrescente mostrando que quando
maior a PST, maior a dosagem de ácido a ser aplicada.
A partir então das curvas foram calculadas as doses de
H2SO4 que deixaram o pH a 6,5 (Tabela 24). Na horizontal, números seguidos de letras distintas diferem entre si, a 5% de probabilidade, pelo
teste de Tukey.
Como se sabe, o ácido reage com os sais solúveis
existente neste tipo de solos, principalmente os
Tabela 26.Teores de P nos diferentes PST com dosagens
carbonatos de cálcio e magnésio, diminuindo desta forma
crescentes de ácido sulfúrico, pelo método de Olsen
a concentração aniônica da solução, fazendo com que o
pH do solo diminua.
pH

Em relação a diminuição da concentração dos teores


de P com a adição do corretivo ácido o que pode ter
ocorrido e consequentemente ocasionado a diminuição
dos teores de P, foi uma reação do ácido sulfúrico com o
H2SO4 (mL kg-1) carbonato de cálcio presente no solo, fazendo com que o
Figura 17.Variação do pH em relação a aplicação de níveis ácido se transformasse em sulfato de cálcio, o gesso como
crescentes de ácido sulfúrico em solos com diferentes já foi visto e comprovado por trabalhos desenvolvidos por
PST Chhabra et al. (1981) e Santos (1995), que adicionaram
Interações salinidade-fertilidade do solo 247

gesso como tratamento, verificou-se que a concentração


dos teores de P também diminuiu.

Mg (cmolc dm-3)
Com relação a determinação dos teores de P, através
da Tabela 27, verificamos que o método de Mehlich
apresentou uma concentração maior de P do que o método
de Olsen, isto deve-se ao fato que o método Mehlich
utiliza como extrator dois ácidos muito fortes, o ácido
clorídrico e o ácido sulfúrico. Já o método de Olsen utiliza
o bicarbonato de sódio, isto fez com que extrator Mehlich

Mg (cmolc dm-3)
retirasse uma concentração maior de P do solo do que o
extrator Olsen, fazendo com que ocorresse esta variação,
comprovada pelo teste de Tukey nos teores de P para o
mesmo tipo de solo.
H2SO4 (mL vaso-1) H2SO4 (mL vaso-1)
Tabela 27. Teores de fósforo seguido de diferentes PST e
extratores Figura 19. Efeito do ácido sulfúrico na disponibilidade de
Magnésio
Extratores
PST mg dm-3
Olsen Mehlich
64 9,2 a 32,5 a
97 7,4 a 8,5 b

Mg (cmolc dm-3)
79 9,7 ab 14,2 c
95 9,8 ab 11,4 cd
61 13,0 ab 20,0 d
Na horizontal letras distintas diferem entre si, a 5% de probabilidade pelo teste de tukey

O extrator Mehlich apresentou um aumento na


disponibilidade de P quando aumentou a quantidade de
gesso aplicado, enquanto que para o extrator Olsen H2SO4 (mL vaso-1)
ocorreu uma pequena diminuição do P do solo quando Figura 20. Efeito do ácido sulfúrico na disponibilidade de
aumentou a quantidade de gesso (Figura 18). Magnésio no PST21

y=0,095x+16R2=0,46 A concentração de fósforo em solos salinizados tem


apresentado valores variáveis. Na área irrigada de São
José do Bonfim–PB, com pH = 5,9, CE = 41dS m -1 e
Na+ = 46 cmolc dm-3, o diagnóstico dos teores de P,
P (mg kg-1)

analisando 49 amostras, revelaram valores que variaram


de 0,5 a 2,2 mg kg-1, indicando teores extremamente
baixos e não apresentando correlação com o pH do solo
y=-0,197x+15,10R2=0,86
(Figura 21), verificando-se que o fósforo também trata-
se de um fator limitante em alguns solos degradados por
sais (Lopes et al., 2002).
Gesso (g kg-1)
Figura 18. Disponibilidade de fósforo em função das doses
crescentes corretivo

Tertuliano et al. (1998) trabalhando com amostras de


pH

solos salino-sódico de cinco setores (10, 9, 11, 14 e 16) do


Perímetro Irrigado de São Gonçalo verificaram que os
teores de magnésio aumentaram conjuntamente com as
doses crescentes de ácido sulfúrico, fato que também
atribui-se ao abaixamento do pH e a maior liberação do Mg P (mg dm-3)
dos carbonatos de magnésio do solo (Figuras 19 e 20). Figuras 21. Correlação entre P e pH
248 Rivaldo V. dos Santos et al.

Neste solo a aplicação de doses crescentes de P (00, A


50, 100 e 150 mg kg -1 P) utilizando duas fontes, o

Ca (cmolc dm-3)
superfosfato simples e o fosfato ácido de potássio,
indicou que houve uma diferença significativa ao nível
de 5%, independente da dose de fertilizante e de gesso,
indicando uma superioridade da fonte fosfato de potássio
em relação ao superfosfato simples aos 7, 15 e 22 dias
após o transplantio das mudas de goiabeira (Figura 22).
A superioridade do KH2PO4 pode ser atribuída a sua
maior solubilidade e a não resposta às doses de P e a alta B
CE (15 dS m-1) e concentração de sódio (18 cmolc dm-3)
no extrato de saturação, mesmo após a aplicação do

CE1:5 (dS m-1)


gesso e lavagem.

KH2PO4
SS

PST

Figura 22. Diâmetro da goiabeira no superfosfato simples


(SS) e fosfato ácido de potássio (KH 2PO4) nos vários
períodos

Amostras de solos foram coletadas do setor 10, lote


17, do Perímetro Irrigado de São Gonçalo, Sousa-PB, que
apresentaram a análise abaixo (Tabela 28). Dose de fosfogesso (% da NG)
A aplicação de fosfogesso aumentou os teores de
Figura 23. Doses de fosfogesso nos teores de Ca(A), CE (B)
cálcio e reduziu a condutividade elétrica, na dose 100% e PST (C)
da necessidade de gesso, e a concentração de sódio
(Figura 23). A elevação da condutividade elétrica na de sódio e sais na maioria da vezes não são extendidos
dose máxima do fosfogesso deve-se ao aumento a uma maior produção vegetal. As plantas cultivadas
acentuado na concentração de eletrólitos em apresentaram fortes sintomas de deficiências, indicando
consequência dos íons Ca 2+ e SO4= que compõem o a necessidade de estudos aprofundados no
corretivo (Araújo et al., 2004) balanceamento iônico do solo e em sua fertilidade
Nesse solo propôs-se testar o comportamento de 4 química (Figura 24).
clones de cajueiro (CP 09, CP 95, CP1001 e CP76) e Estudo em cinco setores do Perímetro Irrigado
constatou-se que apesar da redução na CE e nos teores Engenheiro Arco verde, Condado-PB, revelou
de sódio os clones não apresentaram aumento no significativa variabilidade nas variáveis de salinidade
crescimento em altura e no diâmetro com a aplicação de (pH, CE e Na) e nos teores de fósforo disponível,
corretivo, reforçando a tese de que durante a correção indicando valores de médio a alto (Tabela 29). Os solos
dos solos salinizados os benefícios na redução dos teores dos vários setores foram homogeneizados e, em seguida,

Tabela 28. Características químicas do extrato de saturação do solo utilizado no experimento


CE Ca+2+Mg+2 Na+ K+ PST
pH Classificação
dS m-1 cmolc dm-3 %
8,9 8,1 1,4 8,67 0,01 86,0 salino-sódico
Interações salinidade-fertilidade do solo 249

MMF (g vaso-1)
Figura 24. Sintomatologia foliar do cajueiro
Fósforo (mg kg-1)
Tabela 29. Variáveis de salinidade e teores de fósforo no Figura 26 . Massa vegetal fresca do milheto em função das
solo doses de fósforo
CE Na P
Setores pH
dSm-1 cmolcdm-3 mg dm-3 doses de ácido sulfúrico concentrado ( 0, 1, 2, 3, 4 e 5 mL
30 5,16a 6,93ab 23,03a 21,2bc kg-1). O valor estimado da CE em extrato de saturação
36 1,49b 5,96c 6,37bc 31,5b pode ser calculado, para essa área, pela equação CEES=
48 1,13b 7,54a 10,75b 60,3a 8,85xCE1:5 + 0,24. Dessa forma esse solo teria uma
54 0,19b 6,63bc 0,41c 12,4c
CEES de 13,5 dS m-1. Constatou-se que a aplicação de
55 0,15b 6,71abc 0,67c 16,9bc
gesso e água reduziu o pH inicial do solo de 8,8 para 7,6
e isso pode ser atribuído ao processo de lavagem, visto
cultivou-se milheto forrageiro (Pennisetum sp) nesse que há substituição dos ânions OH-, CO3= pelo cátion H+,
solo, com aplicação prévia de doses de P (0, 50, 100 e acidificado o meio. A adição das doses crescentes de
150 mg kg-1) e observou-se um aumento na concentração ácido sulfúrico reduziram significativamente o pH do solo
de P na parte aérea do milheto nas tres fontes utilizadas: salino-sódico de 7,6 para 6,5 (Figura 27) e que o ácido
superfosfato simples (SS), fosfato ácido de potássio sulfúrico não aumentou os parâmetros de crescimento da
(KH 2 PO 4 ) e ácido fosfórico (H 3 PO 4 ) (Figura 25). mamona e do girassol.
Independentemente das fontes de fósforo verificou-se
um aumento na produção de milheto o que indica a
necessidade de fertilização nos solos degradados por sais
no período pós correção e lavagem (Figura 26) (Lopes
et al., 2002).
pH

Solo salino-sódico (pH = 8,8, PST = 83 e CE 1:5 = 1,5


dS m-1) do Perímetro Irrigado de São Gonçalo, Sousa-
PB, receberam uma gessagem e lavagem e em seguida
Fósforo na planta (g kg-1)

Doses de H2SO4 (mL kg-1)


Figura 27. Efeito do ácido no pH do solo

ESTUDOS DE CORRELAÇÃO
SS
KH2PO4
H3PO4 A classificação dos solos salinizados baseia-se nas
determinações do pH, CE no extrato de saturação e PST,
que é um processo demorado e dispendioso. A adoção de
outros métodos mais práticos e rápidos agilizaria a
Fósforo aplicado (mg kg-1) caracterização dos solos, trazendo benefícios à
Figura 25. Variação dos teores de P na parte aérea do atividades de pesquisa ou à demandas por parte dos
milheto em três fontes de fósforo agricultores.
250 Rivaldo V. dos Santos et al.

Trabalhos foram conduzidos, com solos salinizados A B


da área irrigada do Capoeira, em São José do

CEes (dS m-1)


Bonfim-PB, buscaram estabelecer a correlação da
condutividade elétrica obtidas em extrato de saturação
e em extrato 1:5 (solo:água). A alta correlação (0,82;
0,88; 0,98 e 0,99) entre a CE nos quatros setores da
área irrigada permite estimar a CE do extrato de CE1:5 (dS m-1) CE1:5 (dS m-1)
saturação utilizando os resultados determinados em Figura 29. Correlação da condutividade elétrica entre os
extratos 1:5 (Figura 28). Deve-se deixar claro que extratos de saturação e 1:5 em solos de Perímetro
esse resultado não deve ser aplicado de uma forma Irrigado de São Gonçalo (A) e Condado (B)
universal. Recomenda-se repetir estes estudos nos
diversos ambientes salinos, devido a heterogeneidade REFERÊNCIAS
na composição salina, e aplicar a equação de
correlação específica para cada área (Lopes et al., Abrol, I. P.; Chhabra, R.; Gupta, R. K. A fresh look at the
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extratos de saturação e 1:5 nos setores 15 (A), 14 (B), 18 Chang, C. W.; Dregne, H. E. Effect of exchangeable sodium on soil
(C) e 21 (D) properties on growth and cations content of alfafa and cotton.
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Resultados similares foram obtidos nos solos dos Chhabra, R.; Abrol, I. P.; Singh, M. V. Dinamics of phosphorus
Perímetros Irrigados de São Gonçalo, em Sousa-PB, e during reclamation of sodic soil. Soil Science, Baltimore,
Engenheiro Arco Verde, em Condado-PB. Neste caso v.132, n.5, p.319-324, 1981.
coletaram-se 50 amostras de solo, de 0-20cm de Fassbender, H. W.; Bornemista, E. Quimica de suelos, com
enfaisi em suelos as América Latina. 2ed. Ver. San José
profundidade, em cada perímetro irrigado. Além da Costa Rica. II Ca, 1987. 420p. il.
condutividade elétrica (Figura 29) efetuaram-se Fenn, L. B.; Kissel, D. E. Ammonia volatilization from surface
também estudos de correlação entre as variáveis CE x applications of ammonium compounds on calcareous soils.
pH, CE x Na e pH x Na. Concluiu-se que ocorreu I. General theory. Soil Science Society America Proceeding,
correlação positiva entre na concentração de sais v.37, p.855-859, 1973.
solúveis e de sódio trocável, que as variáveis obtidas Ferreira, R. C.; Menezes Jr., J. C.; Santos, R. V.; Farias Jr., J. A.
pelo extrato de saturação apresentaram alta correlação Efeito de doses de ácido fosfórico na melhoria química de
um solo salino-sódico e na produção do Pennisetum
com extratos 1:2,5 e 1:5 e que o pH, a condutividade glaucum L. In: II Workshop Internacional de Inovações
elétrica e o sódio trocável podem ser estimados a partir Tecnológicas na Irrigação, 2 e Simpósio Brasileiro sobre o
dos teores obtidos nos extratos 1:2,5 e 1:5. (Pereira et uso Múltiplo de Água, 1, 2008a, Fortaleza. Resumo
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Interações salinidade-fertilidade do solo 251

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Estimativa da evapotranspiração
15 das culturas em ambiente salino
Luís S. Pereira1 & Isabel Alves1

1 Universidade Técnica de Lisboa

Evapotranspiração - Conceitos Fundamentais


Evapotranspiração da cultura de referência, ETO
Evapotranspiração das culturas
Coeficientes de cultura simples
Coeficientes de cultura duais
Evapotranspiração real. Correção da ETC e dos KC devido a condições adversas de cultivo
Evapotranspiração real, balanço hídrico do solo e coeficientes de stress
Coeficiente de stress em função da água do solo
Coeficiente de stress em função da perda relativa de produção
Coeficiente de stress em função da água do solo e da salinidade
Referências
Anexo 1. Coeficientes de cultura médios, Kc, e de base, Kcb, para culturas com bom manejo
em clima sub-húmido para uso com a ETo FAO-PM (fontes: Allen et al., 1998, 2007; Allen &
Pereira, 2009)
Anexo 2. Altura máxima (h), profundidade radicular máxima (Zr) e fração de esgotamento
da água do solo em conforto hídrico (p) para diversas culturas (Allen et al., 1998)

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
254 Luís S. Pereira & Isabel Alves

Estimativa da evapotranspiração
das culturas em ambiente salino

EVAPOTRANSPIRAÇÃO - CONCEITOS A equação do balanço de energia pode ser formulada


FUNDAMENTAIS em função de Rn e G e dos parâmetros que comandam
H e ET. Assumindo que todos os fluxos são verticais
A evaporação da água exige grandes quantidades de (ausência de advecção), que os coeficientes de
energia. O processo evapotranspirativo é regulado por transferência relativos à difusão turbilhonar são os
trocas de energia à superfície dos cobertos vegetais e é mesmos para o vapor e o calor (i.e., para ET e H) e que
limitado pela quantidade de energia disponível. Assim, é as diferenças entre coeficientes de transferência
possível estimar a taxa de evapotranspiração através do relativos à quantidade de movimento e ao calor podem
balanço dos fluxos de energia. Os termos principais do ser quantificadas através de uma simples razão, a
balanço de energia, correspondentes a ganhos ou perdas equação de Penman-Monteith (Monteith, 1965; Monteith
para as superfícies vegetais, são a radiação líquida e Unsworth, 1990) toma a forma:
proveniente da atmosfera (Rn), o calor sensível para o ar
ou para a camada limite (H), o calor sensível a partir do  R n  G    c p e s  e a  / ra
E 
(ou para o) solo (G) e a evapotranspiração, expressa 
   1  rs / ra  (2)
como densidade de fluxo de calor latente (ET). O
balanço de energia pode ser expresso por:
onde (es – ea) é o défice de pressão de vapor (VPD) do
ET  R n  H  G (1) ar ao nível do plano de referência (altura das medições
meteorológicas) onde a temperatura é Ta e a pressão de
Todos os termos desta equação são densidades de vapor é ea,  é a densidade média do ar, cp é o calor
fluxo, sendo por isso expressos em unidades de energia específico do ar a pressão constante,  é o declive da
por unidade de área horizontal e por unidade de tempo. relação entre a pressão de vapor à saturação e a
temperatura do ar,  é a constante psicrométrica, rs é a
Os termos do lado direito da equação do balanço de
resistência de superfície e r a é a resistência
energia (Eq. 1) podem ser calculados a partir de fatores
aerodinâmica (que se definem de seguida).
climáticos e de fatores relativos à vegetação (fatores Nesta aproximação (Monteith, 1965; Monteith e
culturais), medidos ou estimados. Os fatores climáticos Unsworth, 1990), o copado é reduzido a uma única
englobam os fluxos de radiação de curto e longo comprimento “grande folha” (“big leaf”) onde é recebida toda a energia
de onda, de e para a atmosfera, os efeitos sobre H resultantes proveniente do sol e da atmosfera (Rn) e de onde parte o
do movimento horizontal do ar (velocidade do vento) e das fluxo de calor sensível (Figura 1). O fluxo de vapor
temperaturas do ar e da superfície e os fluxos de calor do originar-se-á numa outra superfície, à mesma temperatura,
solo. Os fatores culturais englobam a resistência à difusão mas saturada. Assim, o fluxo de vapor é regulado por duas
de vapor entre o interior e o exterior das folhas e caules e a resistências, de superfície e aerodinâmica, que operam em
resistência à difusão de vapor desde as superfícies da série entre a superfície evaporante e um plano de
vegetação ou da superfície do solo até à atmosfera. referência acima da cultura (Figura 1).
Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 255

resistência é principalmente afectada pela salinidade


através do aumento da resistência estomática.

Figura 1. Representação esquemática do modelo de Penman-


Monteith com identificação dos termos essenciais do
balanço de energia, Rn, lET e H, e das resistências
aerodinâmicas para o calor e o vapor (raH = raV = ra) e da
resistência de superfície (rs) Figura 3. Resistências aos fluxos de transferência de vapor
no interior do copado, rs, e entre este e a atmosfera, ra
A resistência de superfície (rs), ou resistência do (Pereira, 2004)
copado, pode ser calculada a partir da resistência à
A resistência aerodinâmica (r a ) representa a
passagem dos fluxos de vapor através das aberturas
resistência à transferência turbulenta do vapor (raV) entre
estomáticas (rl) tomando em conta a área foliar total da
o coberto vegetal e um plano de referência na atmosfera,
cultura ou recorrendo a modelação (ainda insatisfatória).
associada à correspondente transferência vertical de
As resistências estomáticas representam o controlo que
calor sensível de ou para a cultura ou vegetação (raH),
a planta exerce sobre a evapotranspiração e o seu valor
como se representa na Figura 1, e é uma função da altura
é influenciado pelo teor de humidade e pela salinidade do
da cultura e da área foliar e sua distribuição vertical.
solo (Figura 2). A salinidade não só influencia o
Estes assuntos são abundantemente tratados na literatura
movimento de água do solo para as raízes das plantas
(e.g. Jensen et al., 1990; Allen et al., 1998; Pereira et al.,
como o movimento da água das raízes até às folhas e, 1999; Pereira & Alves, 2005; Allen et al., 2007).
nestas, considerando o aumento do potencial osmótico, a Existem várias expressões na literatura usadas para
passagem de água de umas células para outras e para as calcular a resistência aerodinâmica. A mais vulgarmente
cavidades estomáticas. Estes aspectos são tratados em utilizada é:
outros capítulos deste livro.
lnz  d  / z oH ln z  d  / z o 
ra  (3)
k2 uz

em que z é a altura de referência na atmosfera, onde é


medida a velocidade do vento uz [m/s], d é a altura de
deslocamento do plano de referência [m], e zo e zoH são,
respectivamente, as resistências aerodinâmicas para a
quantidade de movimento e para o calor. Usando esta
expressão, a superfície da “big leaf” é implicitamente
colocada ao nível d + zoH. A altura de deslocamento do
plano de referência, d, é sobretudo função da altura das
Figura 2. Representação esquemática do percurso percorrido plantas e, secundariamente, da densidade do coberto,
pelo vapor de água desde a câmara estomática até à podendo ser estimada pela expressão (Perrier, 1982):
atmosfera

A resistência de superfície, embora o seu componente



d  h 1 

2
LAI
 
1  e  LAI / 2 

 (4)
principal seja a resistência estomática, engloba também
a resistência aos fluxos de vapor relativos à evaporação
directa da água à superfície do solo e aos fluxos não onde h é a altura das plantas (m) e LAI é o índice de
turbulentos de vapor que ocorrem no interior do copado área foliar. Num coberto completo podem obter-se
até este atingir a superfície exterior (Figura 3). Esta estimativas aceitáveis recorrendo à expressão
256 Luís S. Pereira & Isabel Alves

2 crescimento activo, cobrindo totalmente o solo e bem


d h (5)
3 abastecido de água.
Consequentemente, como descrito em Allen et al.
(1994 a, b; 1998; 2006 a, b; 2007), a Eq. (2) toma a
A rugosidade aerodinâmica relativamente à
forma seguinte, designada como equação FAO-PM para
transferência da quantidade de movimento, por seu lado,
a evapotranspiração de referência:
pode ser estimada através de (Perrier, 1982):


z o  h e  LAI / 2 1  e  LAI / 2  (6) 0.408  R n  G   
Cn
T  273
u 2 e s  e a 
ETo  (8)
   1  C d u 2 
ou, no caso de cobertos contínuos, onde a maior
concentração de folhas ocorre no terço superior das
plantas, através de onde:
ETo - evapotranspiração de referência (mm d-1);
1 Rn - radiação líquida à superfície da cultura (MJ m-2 d-1);
zo  h (7) G - densidade do fluxo de calor do solo (MJ m-2 d-1);
3
T - média da temperatura do ar a 2 m de altura (ºC);
u2 - velocidade do vento a 2 m de altura (m s-1);
A rugosidade aerodinâmica aos fluxos de calor, zoH, é (es – ea) - défice da pressão de vapor medido a 2 m de
tomada como uma fração de zo (normalmente 10%). altura (kPa);
A salinidade afecta r a através do efeito que tem  - declive da curva de pressão de vapor (kPa ºC-1);
sobre a altura das plantas (h) e a densidade foliar que  - constante psicrométrica (kPaºC-1);
determina o LAI. C n - coeficiente para a cultura de referência (kJ-1 kg K)
resultante da conversão de segundos para dias ou horas e
EVAPOTRANSPIRAÇÃO DA CULTURA DE de coeficientes devidos à substituição das variáveis , cp e ra
REFERÊNCIA, ET O (definidas na Eq. (2));
C d - coeficiente de vento para a cultura de referência
A Eq. (2) pode ser utilizada directamente para (kJ kg K), resultante da razão rs/ra (no denominador da
-1

calcular a ET de qualquer coberto vegetal desde que se Eq. (2);


conheçam os valores dos parâmetros culturais ao longo 0.408 - valor para 1/ com = 2.45 MJ kg-1.
das várias fases vegetativas. Alguns valores indicativos
são apresentados por Allen et al. (1996) e por Pereira & Cn = 900 para cálculos diários e Cn = 37 (≈ 900/24)
Alves (2005) Porém, tais parâmetros não se conhecem para cálculos horários. Assumindo rs = 70 s m-1 tem-se Cd
para a maioria das culturas agrícolas, estando apenas = 0.34 para cálculos diários. Para cálculos horários é
bem determinados para o gramado de climas temperados preferível distinguir as horas do período noturno e do
(cold season grass) e para a alfalfa. O gramado de período diurno, fazendo rs = 50 s m-1 durante as horas do
climas temperados foi assim tomado como cultura de dia e rs = 200 s m-1 durante as horas de noite (Allen et
referência pelo que, normalizando a altura da cultura, de al., 2006a). Nestas condições tem-se Cd = 0.24 para as
que dependem as resistências referidas, foi possível dar horas de dia (quando Rn > 0) e Cd = 0.96 para as horas
à Eq. (2) uma forma tal que a evapotranspiração da de noite (Rn = 0).
cultura de referência é apenas dependente do clima, isto A Eq. 8 aplica-se também no caso de a cultura de
é, o seu cálculo pode realizar-se recorrendo apenas às referência ser a alfalfa, mas os coeficientes tomam
variáveis climáticas correntemente observadas em valores distintos dadas as diferenças entre as
estações agrometeorológicas (cf. Allen et al., 1994a, características aerodinâmicas e de superfície
1998; Pereira et al., 1999). relativamente ao gramado. Assim, tomam-se os valores
Nestas condições, a evapotranspiração da cultura de Cn = 1600 e Cd = 0.38 no caso de cálculos diários; para
referência (ETo) – ou simplesmente evapotranspiração de cálculos horários toma-se Cn = 66 e Cd = 0.25 e 1.7,
referência - define-se como a taxa de evapotranspiração respectivamente no caso de cálculos horários diurnos e
de uma cultura de referência hipotética, para a qual se noturnos.
assume uma altura de 0.12 m, uma resistência de O fluxo de calor sensível para o solo (G) assume-se
superfície constante de 70 s m-1 e um albedo de 0.23, como nulo para cálculos diários. Para cálculos horários
semelhante à evapotranspiração de um extenso coberto far-se-á Ghr = 0.1 Rn durante as horas de dia e Ghr = 0.5
de relva (gramado) verde, de altura uniforme, em Rn durante as horas de noite.
Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 257

O cálculo dos parâmetros da Eq. (8) deve ser - a altura da cultura (h), que afecta a rugosidade e a
padronizado e serem sempre escolhidas as equações que resistência aerodinâmica;
permitem melhor rigor de cálculo (vd. Allen et al., 1998, - a resistência de superfície relativa ao par cultura -
2006b, 2007; Pereira, 2004). Em caso de falta de solo, que é afectada pela área foliar (determinando o
observações ou de má qualidade de dados da humidade número de estomas), pela fração de cobertura do solo pela
do ar, da radiação solar ou duração da insolação, ou da vegetação, pela idade e condição das folhas, e pelo teor
velocidade do vento, é preferível seguir-se a metodologia de humidade à superfície do solo;
de estimação de variáveis em falta indicada por Allen et - o albedo da superfície cultura - solo, que é
al. (1998; 2006b), que permite o cálculo da ETo diária ou influenciado pela fração de cobertura do solo, pela
mensal recorrendo apenas a observações da temperatura vegetação e pelo teor de humidade à superfície do solo e
máxima e mínima, como demonstrado por Pereira et al. influencia a radiação líquida disponível à superfície, Rn, que
(2003) e Popova et al. (2006a e b) e confirmado por é a principal fonte de energia para as trocas de calor e de
Gondim et al. (2010). De referir que é igualmente massa no processo de evaporação.
possível estimar os valores diários de ETo a partir de O Kc também é influenciado pelo manejo do solo,
simples previsões meteorológicas com erros aceitáveis, nomeadamente no caso de plantio direto e da utilização
maiores em caso de climas áridos e pequenos em climas de “mulch” de plástico, por reduzir a evaporação do solo;
húmidos e sub-húmidos (Cai et al., 2007). pode também ser influenciado pelo clima, embora a
De grande importância, porém, é a qualidade das principal influência deste se reflita sobretudo em ETo.
observações e que à estação meteorológica não Durante o período vegetativo, o valor de Kc varia à
correspondam condições de aridez já que a Eq. (8) foi medida que a cultura cresce e se desenvolve, refletindo
estabelecida, conforme a definição acima, para condições a fração de cobertura da superfície do solo pela
de pleno abastecimento hídrico da vegetação acima da vegetação, e à medida que as plantas envelhecem e
qual se fazem as observações. Allen et al. (1998; 2006b) atingem a maturação. Por este motivo, tem sido
propuseram metodologias simples para análise e correção procurado calcular Kc em função do LAI efetivo dado
de dados que é conveniente utilizar. De referir que os que a transpiração de uma cultura varia ao longo do
erros devidos à falta de qualidade dos dados observados ciclo vegetativo de forma semelhante ao LAI. No
em estações meteorológicas induz frequentemente erros entanto, apenas se tem atingido um sucesso relativo
superiores, ou mesmo muito superiores, aos erros devidos porque a ET da cultura varia também com a evaporação
à estima dos parâmetros culturais - caso dos coeficientes da água do solo, a qual é mais importante na fase inicial
de cultura - utilizados no cálculo da evapotranspiração da cultura, quando a cobertura do solo é pequena, e se
das culturas. reduz muito em culturas que sombreiam bem o solo
A ETo, dizendo respeito à cultura de referência, a ser quando desenvolvidas. Tem-se igualmente procurado
cultivada em condições ideais, não se relaciona com a encontrar relações entre K c e GDD (growth degree
salinidade e apenas depende das condições climáticas days) mas tais relações variam de cultura para cultura.
locais. Desta forma, opta-se normalmente pela construção de
uma curva padronizada de coeficientes de cultura em
EVAPOTRANSPIRAÇÃO DAS CULTURAS função das fases da cultura (Figura 4), seguindo os
passos seguintes:
Coeficientes de cultura simples a) Dividir o ciclo vegetativo em quatro períodos de
A evapotranspiração das culturas, ETc [mm d-1], é acordo com a fenologia e o desenvolvimento da cultura:
calculada multiplicando a evapotranspiração de (1) período inicial, (2) período de crescimento rápido, (3)
referência, ETo [mm d-1], pelo coeficiente de cultura, Kc período intermédio e (4) período final.
(adimensional), como vulgarizado por Doorenbos & Pruitt b) Identificar os três valores de Kc que correspondem
(1977) e adoptado posteriormente (Allen et al., 1998, a Kc ini , Kc mid e Kc end:
2007; Pereira, 2004; Pereira & Alves, 2005): Kc ini: valor durante o período inicial:
 culturas anuais - da sementeira ou plantação até
ETc  K c ETo (9)
≈ 10% de cobertura do solo
 culturas perenes - desde que termina a dormência
O coeficiente de cultura, conforme bases teóricas até que se estabelece o crescimento vegetativo.
analisadas por Pereira et al. (1999), representa a Kc mid: valor durante o período intermédio:
integração dos efeitos de três características que  culturas anuais - desde que se estabelece a
distinguem a evapotranspiração da cultura da cobertura total do solo até ao início da maturação ou
evapotranspiração da cultura de referência: senescência
258 Luís S. Pereira & Isabel Alves

 culturas perenes - desde que se atinge o publicada sem cuidado de padronização, como acontece
desenvolvimento vegetativo pleno até ao início da com muita informação recolhida e publicada no Brasil,
senescência ou a mudança de coloração das folhas onde é muito frequente que o número de períodos
vegetativos seja superior, mesmo o dobro dos quatro
K c end: valor na data de colheita ou do início da
períodos padronizados internacionalmente. Insuficiente é
dormência. também a informação disponível sobre os impactos da
c) Traçar os segmentos de recta relativos aos quatro salinidade na duração dos períodos vegetativos.
períodos de desenvolvimento como indicado na Figura 4. Apresenta-se em Anexo 1 uma Tabela reunindo
informação sobre os coeficientes de cultura. Para a estima
de K c de quaisquer culturas apresenta-se adiante a
aproximação recentemente proposta por Allen & Pereira
(2009).
Coeficiente de cultura no período inicial: Em
culturas anuais, durante o período inicial, a ET c é
predominantemente devida à evaporação da água do solo
na sua camada superficial. Consequentemente, Kc ini deve
ser estimado considerando a procura evaporativa da
atmosfera (representada pela ET o), a frequência de
humedecimentos da superfície do solo durante o período
inicial, tanto pela irrigação como pela precipitação, as
quantidades de água infiltradas e as características do
Figura 4. Curva dos coeficientes de cultura e definição dos
solo para reter água nos 10 a 15 cm superficiais e para
períodos vegetativos correspondentes (adaptado de Allen
et al., 1998) ceder água por capilaridade até esta camada evaporativa
a partir da camada inferior. Por estes motivos, o Kc ini é
O traçado das curvas dos coeficientes de cultura e os muito variável, mesmo considerando o mesmo local, de
consequentes resultados do cálculo da ET c são ano para ano. Para o seu cálculo pode usar-se um método
particularmente sensíveis à definição temporal dos gráfico (Figura 5) ou procedimentos de cálculo numérico
quatro períodos vegetativos acima referidos (Figura 4). como referido por Allen et al. (1998, 2005b; 2006a) e
Não há regras objectivas para a sua definição; é Pereira (2004).
necessário observar a cultura no campo e definir tais Os K c ini calculados tanto gráfica como
períodos a partir das observações. Os erros na estima da numericamente devem ser corrigidos pela fração de solo
evapotranspiraçao das culturas resultantes da definição humedecida (fw), que varia entre 1.0 para a chuva e a
incorreta de tais períodos vegetativos são irrigação por aspersão e por canteiros ou submersão, 0.5
frequentemente maiores dos que os devidos à escolha a 0.7 para a irrigação por sulcos, e 0.3 a 0.5 para a
dos K c - pelo que os mesmos devem basear-se na irrigação por gotejamento. Assim se a lâmina de
observação das culturas, particularmente quando tais irrigação D for aplicada em irrigação tal que fw = 0.5 isto
períodos sejam influenciados por stress hídrico ou salino significa que 50% do solo se mantém seco e toda a
que atrasam o desenvolvimento das culturas. lâmina se infiltra em 50% do solo. Os cálculos devem
Os valores das durações dos períodos vegetativos então realizar-se para a lâmina D/fw que efetivamente se
tabelados por Allen et al. (1998; 2006b; 2007) afastam-se infiltra na fração fw de solo molhado e o valor resultante
frequentemente dos reais dado que estes dependem das para Kc ini, deverá ser corrigido multiplicando o valor
condições climáticas, das variedades, das datas de calculado por fw, i.e., Kc ini = fw (Kc ini)calc
sementeira ou plantação, das práticas culturais e das O valor de Kc ini não é em geral influenciado pela
condições ambientais, nomeadamente as que influenciam salinidade. Porém, Kc ini depende também grandemente
as taxas de crescimento e a maturação dos produtos finais das práticas culturais, tais como sementeira directa (plantio
como é o caso da salinidade do solo. No caso das fruteiras, direto), cobertura do solo com resíduos da cultura ou filmes
também é necessário ter em conta a idade do povoamento, plásticos, e outras práticas similares. Nestas situações,
e o seu efeito sobre a densidade do coberto, bem como a dois efeitos ocorrem: por um lado, regista-se uma
existência (ou não) de sub-coberto herbáceo, que também diminuição da energia disponível ao nível da superfície do
utiliza água, nomeadamente durante o período de solo, o que reduz a taxa de evaporação potencial; por outro
dormência das árvores. A informação relativa às culturas lado, a resistência à transferência do vapor de água desde
tropicais é ainda insuficiente por estar dispersa e ser o solo até à atmosfera aumenta. Desta forma, o Kc ini em
Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 259

A h
0.3
K c mid  K c mid tab  0.04 u 2  2  0.004 RH min  45   (10)
3

onde o valor do coeficiente de cultura para o período


intermédio, Kc mid, se obtém do respectivo valor tabelado,
Kc mid tab, em função de u2, de RHmin e da altura média da
cultura, h [m], durante o período intermédio, i.e., quando
o seu desenvolvimento vegetativo é máximo. O Anexo 2
apresenta valores indicativos para h.
A Figura 6 mostra como a correção dos efeitos do
clima local é tanto maior quanto mais alta é a cultura, isto
é, quanto maiores são as diferenças entre as
características aerodinâmicas e de copado relativamente
à cultura de referência, um gramado de apenas 0.12 m
B de altura. A mesma figura mostra igualmente que os
impactos devidos a um clima árido e ventoso são mais
importantes do que os impactos de um clima húmido e
calmo. Como acontece que a salinidade ocorre muito
mais frequentemente em climas áridos e ventosos, é
essencial tomar esta correção em consideração ao
calcular a ET potencial das culturas em ambiente salino.

Figura 5. Coeficiente de cultura para o período inicial (Kc ini)


em função da frequência de humedecimento do solo (1
a 20 dias) e da evapotranspiração de referência para: A)
pequenos humedecimentos (cerca de 10 mm) pela chuva
ou pela irrigação e qualquer tipo de solo; B) grandes
dotações em solos médios a pesados
Figura 6. Variação dos K c mid de algumas culturas em
presença de “mulch” pode ser muito inferior ao verificado consequência das condições climáticas relativas a
em condições de solo completamente exposto à radiação. humidade do ar e vento
Estes efeitos vão-se reduzindo até praticamente
desaparecer quando a cultura atinge o desenvolvimento Esta correção (Eq. 10) aplica-se igualmente ao
completo. coeficiente de cultura final Kc end se este for superior a
0.45 (valores menores correspondem a condições em que
Coeficiente de cultura nos períodos intermédio e a cultura secou ou perdeu as folhas nessa data tornando
final: Os valores tabelados de Kc mid propostos por Allen desnecessário o ajustamento).
et al. (1998; 2006b; 2007) ou Pereira (2004) e O Kc end é largamente determinado pela gestão da
apresentados no Anexo 1 correspondem a condições de cultura, que determina a colheita e, assim, o fim do ciclo
clima sub-húmido, caracterizadas por humidade relativa da cultura. Uma colheita mais precoce faz aumentar o
mínima diária média RHmin  45% e velocidade média Kc end relativamente a uma colheita mais tardia da mesma
diária do vento u2  2 m s-1. É absolutamente necessário cultura, mas também diminui a duração do último
corrigi-los para as condições climáticas locais, incluindo período. Colheitas precoces são praticadas em culturas
efeitos advectivos. Tomando como base considerações cujo produto se consome em fresco (tal como as
empíricas e a base teórica analisada por Pereira et al. hortícolas), enquanto que colheitas perto do fim do ciclo
(1999), tal correção para o período intermédio faz-se são praticadas em culturas cujo produto se conserva
através de melhor quando seco (caso dos cereais). Ao milho usado
260 Luís S. Pereira & Isabel Alves

em salada corresponde um Kc end quase igual ao Kc mid; Para irrigação de alta frequência e para culturas com
se usado para silagem, o Kc end será um pouco mais baixo cobertura parcial do solo, assim como para regiões com
mas ainda alto; se o milho é usado para cozer, o Kc end será precipitação frequente, o uso da metodologia dos
mais baixo; e se colhido em grão e secando no campo, coeficientes de cultura duais (Figura 7) permite produzir
o Kc end será então muito baixo. estimativas da evapotranspiração das culturas mais
exactas (Allen et al., 2005b). De facto, dividir o
Coeficientes de cultura duais coeficiente de cultura (K c ) nas componentes de
Na forma dual, o coeficiente de cultura pode ser evaporação do solo (Ke) e de coeficiente de cultura basal
descrito usando um componente relativo à transpiração (K cb) permite uma melhor percepção das frações de
das plantas (Kcb) e um componente relativo à evaporação água, provenientes da precipitação ou da irrigação,
do solo (Ke), da forma como se apresenta na Figura 7. utilizadas pela cultura, assim como avaliar as vantagens
de manter uma fração do solo seca ou de utilizar
“mulches” e o plantio direto para controlar a evaporação
do solo (E). De salientar a propósito que diminuindo os
fluxos evaporativos à superfície do solo se reduz o
transporte de sais para as camadas superficiais do solo,
o que poderá ter vantagens no produção agrícola em
condições de salinidade.
As primeiras aplicações da metodologia dos
coeficientes de cultura duais propostas no manual FAO
56 (Allen et al., 1998) são relatadas por Allen (2000) para
a cultura do algodão e por Liu e Fernando (1998) e Pereira
et al. (2003) para as culturas de trigo e milho na China.
Depois disso, várias outras aplicações têm sido referidas,
nomeadamente a aplicação ao algodão relatada por
Howell et al. (2004). Tais aplicações confirmaram a
Figura 7. Curva típica dos coeficientes de cultura, mostrando exactidão do método e a sua capacidade para comparação
o coeficiente de base, Kcb, o coeficiente da evaporação do da ETc entre irrigação deficitária, irrigação para a produção
solo, K e, e o K c simples como média temporal dos
máxima e sem irrigação. Outros estudos referem bons
anteriores
resultados na sua utilização em pomares (e.g. Paço et al.,
O coeficiente de cultura basal Kcb representa a razão 2006).
ETc/ETo quando a camada superficial do solo se encontra Os valores de K cb para numerosas culturas estão
seca mas o conteúdo em água do solo na zona radicular tabelados (Allen et al., 1998, 2006b) ou podem ser
é suficiente para manter a cultura em conforto hídrico. calculados a partir dos Kc simples (Pereira, 2004; Pereira
Deste modo, o Kcb representa o limite inferior (ou valor de & Alves, 2005) definindo-se uma curva de coeficientes
base) do K c quando se lhe subtraem os efeitos do de cultura de base em tudo semelhante à dos Kc simples
humedecimento da camada superficial do solo pela referida acima já que as fases de desenvolvimento das
irrigação ou pela precipitação. Por seu lado, o coeficiente culturas (Figura 4) são as mesmas. Os valores de Kcb
de evaporação do solo (Ke) representa a evaporação do para numerosas culturas incluem-se igualmente na Tabela
solo húmido à superfície, a qual se adiciona à transpiração apresentada no Anexo 1. Os valores de Kcb devem ser
representada no Kcb.para se obter a ET. corrigidos para o clima conforme a Eq. (10).
Nesta perspectiva (Figura 7), o Kc simples representa O valor máximo para K e ocorre num período
a soma dos valores médios de Kcb e Ke para cada fase imediatamente a seguir a uma irrigação ou uma chuvada.
vegetativa da cultura, isto é: A evaporação a partir do solo é governada pela
quantidade de energia disponível à superfície do solo, a
K c  K cb  K e (11) qual depende da porção da energia total que é consumida
pela planta na transpiração. O coeficiente Ke decresce
Tomando valores diários, como se faz em modelação, depois de cada humedecimento à medida que aumenta a
resulta: quantidade acumulada de água evaporada a partir da
camada superficial do solo. Consequentemente, Ke pode
K c  K cb  K e (12) ser calculado como
Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 261


K e  K r K c max  K cb  (13) na camada evaporativa do solo e De é a evaporação
acumulada (ou depleção da água do solo da camada
superficial) [mm] originada na fração f ew de solo
onde Kr é coeficiente de redução da evaporação[0-1], humedecido e exposto à radiação solar directa.
Kcb é o coeficiente de cultura de base, e Kc max é valor
máximo para Kc imediatamente a seguir a uma chuvada
ou uma irrigação, o qual se pode calcular recorrendo à
função “max” (máximo entre) por:

 h
0.3  
K c max  max 1.20   0.04 u 2  2   0.004 RH min  45    , K  0.05 (14)
  cb
 3  
 

Esta equação estima a evaporação que ocorre numa


superfície cultivada, independentemente do grau de
cobertura. No entanto, a evaporação a partir do solo é
maior na fração de solo que não esteja coberta pela
cultura e que tenha sido humedecida pela chuva ou pela
irrigação, f ew 0 - 1. Nestas condições o fluxo
evaporativo concentra-se na fração de solo humedecido
exposta à radiação, resultando por isso:
Figura 8. Teoria bifásica da evaporação para estimar a
K e  f ew K c max (15) evaporação a partir de um solo com vegetação recorrendo
ao coeficiente de decréscimo da evaporação (Allen et al.,
2005a, b)
Quando se calcula um único Kc max, então u2, RHmin e
h correspondem a valores médios referentes ao período De calcula-se através de um balanço hídrico diário do
vegetativo intermédio. Quando se realizam cálculos mais solo relativo à camada superior do solo (Figura 9), com
detalhados, u2 e RHmin correspondem a valores médios uma espessura Ze, menor em solos ligeiros (100 mm) e
referentes a períodos curtos (p. ex. 5 ou 10 dias). h pode maior em solos pesados (= 150 mm), referente apenas à
ser estimado para os mesmos intervalos de tempo: Para fração few de solo húmido e exposto à radiação solar.
o período inicial, h pode assumir-se artificialmente igual
ao da cultura de referência (h = 0.12 m).
O método usado para estimar a evaporação a partir
do solo é semelhante ao usado para calcular K c ini,
admitindo-se uma evaporação bifásica (Figura 8). Na
primeira fase, a taxa de evaporação é máxima enquanto
a evaporação acumulada, De [mm], não atingir o limite
de água facilmente evaporável, REW. Quando D e
excede REW, o processo evaporativo decorre na
segunda fase e a taxa de evaporação decresce
proporcionalmente à quantidade de água ainda
disponível para evaporar, TEW-REW. Deste modo, o
coeficiente Kr (Eq. 13) pode calcular-se como se indica
na Figura 8:

Kr  1 para D e  REW (16a)


TEW  D e
Kr  para D e  REW (16b)
TEW  REW

onde REW e TEW [mm] correspondem, respectivamente, Figura 9. Balanço hídrico da camada evaporativa de um solo
à água facilmente evaporável e à água evaporável total cultivado
262 Luís S. Pereira & Isabel Alves

A equação do balanço hídrico da camada evaporativa


do solo, limitada a [0 = De, j = TEW], é então:

 
D e , j  D e , j1  P j  RO j 
Ij
fw

Ej
f ew
 Te , j  DPe , j (17)

onde o índice j identifica o dia para o qual a estima é


feita, Pj representa a precipitação [mm] ROj o
escoamento [mm], limitado a [0 = ROj = Pj], Ij a lâmina
média de irrigação que se infiltra em toda a parcela
[mm], Ej a evaporação a partir da fração few de solo
humedecido e exposto à radiação solar directa [mm], Te j
a transpiração [mm] originada na mesma fração few de
solo humedecido e exposto [0.01 - 1], DPe j a percolação
a partir da mesma fração quando o teor de humidade
excede a capacidade de campo, e fw é a fração de solo
humedecido pela irrigação ou precipitação [0.3 – 1]. Os
procedimentos para a estimativa destes parâmetros são
dados por Allen et al. (2005b; 2006b) e Pereira (2004).
A complexidade dos cálculos obriga a utilizar modelos Figura 10. Representação esquemática das relações entre
de que são exemplos o folha de cálculo constante do evapotranspiração da cultura de referência e
manual FAO 56 (Allen et al., 1998) e o modelo evapotranspiração potencial (ou máxima) e real de uma
SimDualKc (Rosa et al., 2010a, b). cultura (adaptado de Allen et al., 1998)

EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL, CORREÇÃO onde K c real é o coeficiente de cultura “real”, isto é,


DA ETC E DOS KC DEVIDO A CONDIÇÕES incorporando um conjunto de impactes de stress hídrico,
cultural e ambiental, nomeadamente stress salino,
ADVERSAS DE CULTIVO
tomando a forma:
Os valores de Kc representam a ET para condições K c real  K s K c (19)
de cultivo óptimas, i.e., para culturas submetidas a uma
gestão agronómica apropriada às condições de meio e a
uma gestão da água que evite stress hídrico, permitindo onde o Kc é corrigido por um coeficiente de stress. No
assim atingir o seu potencial produtivo. Na prática, caso de se adoptarem os coeficientes duais tem-se:
porém, a ET real das culturas é frequentemente inferior
à ET c potencial (ET c = K c ET o) devido a condições K c real  K s K cb  K e (20)
culturais (preparação da cama da semente, data de
sementeira, densidade de sementeira ou de plantação, onde Ks se aplica apenas ao coeficiente basal.
fertilização, controlo de doenças e infestantes) ou a A forma mais simples de corrigir os Kc de forma a
gestão hídrica sub-ótima, ou devido à salinidade do solo refletir a menor área foliar duma cultura gerida de forma
ou da água, que afectam a densidade da cultura, a altura sub-ótima ou submetida a stress hídrico e/ou salino é
das plantas e/ou o controlo estomático. Convém, assim, através da forma empírica proposta por Allen et al.
estabelecer uma diferença clara entre a ET c , que (1998, 2006b):
representa condições potenciais de produção, e a ET
durante o período intermédio e final relativa a condições K c real  K c tab  A cm (21)
não óptimas, que designamos por “ETc real” (ETc = Kc
ETo (Eq. 9 e Figura 10).
sendo o fator de correção Acm calculado através de:
A evapotranspiração real de uma cultura é definida
por: 0.5
 f 
A cm 1  c  (22a)
ETc real  K c real ETo (18)  f c dense 
Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 263

ou

0.5
 LAI 
A cm 1   (22b)
 LAI dense 

onde f c dense e LAI dense correspondem aos valores


Figura 11. Esquema do cálculo da fração sombreada fc eff em
esperados para fc e LAI quando a cultura é cultivada sem
função da fração coberta fc e do ângulo do sol acima do
stress e fc e LAI nos numeradores das Eq. 22a e b são horizonte β durante o período em que a ET é máxima
os valores respectivos observados no campo. (geralmente entre as 11.00 e as 15.00 horas)
Adoptando os coeficientes de cultura duais, a
correção pelo LAI pode ser feita através de: K c min  0.0 durante longos períodos sem chuva ou
irrigação e Kc min  0.15 a 0.20 em períodos em que
 
K cb  K c min  K cb full  K c min 1  exp 0.7 LAI (23) ocorre irrigação ou chuva.
No caso de fruteiras com solo vegetado (relva ou
Para o caso de culturas que cobrem o solo apenas outra herbácea) a Eq. (26) toma a forma
parcialmente, é conveniente o recurso ao coeficiente de
densidade da vegetação (Kd), cuja equação se baseia na  
K cb  K cb cover  K d max K cb full  K cb cover , 0  (27)
fração de solo coberto (ou ensombrado ao meio dia) pela
vegetação e na altura média das plantas como proposto onde Kcb cover é o Kcb da cobertura do solo em ausência
por Allen et al. (2007) e Allen & Pereira (2009):
de folhagem.
Na Tabela 1 apresentam-se para várias fruteiras os
  1 
  valores de Kcb full, Kc min e Kcb cover relativos aos períodos
 1 h 
K d  min 1, M L , f c eff , f c eff   (24) inicial, intermédio e final para uso com as Eqs. (25) a (27)
 
  (Allen et al., 2007).

EVAPOTRANSPIRAÇÃO REAL, BALANÇO


onde fc eff é a fração do solo efetivamente coberto ou HÍDRICO DO SOLO E COEFICIENTES
ensombrado ao meio dia pela vegetação [0 a 1.0], h é a DE STRESS
altura média das plantas, [m], e ML é um multiplicador de
fc eff para impôr um limite superior à transpiração relativa
Coeficiente de stress em função da água do solo
por unidade de área [geralmente 1.5 a 2.0]. A fração fc
Quando a cultura se encontra submetida a stress
calcula-se genericamente a partir de fc tomando em
eff hídrico, o valor de K s é normalmente modelado em
conta a altura da cultura e o ângulo solar ao meio-dia
função do teor em água do solo (Allen et al., 1998)
(β):
através de:
fc
f ceff  1 (25)    WP
sin() Ks  1 ,  p (28a)
 FC   WP
1    WP    WP
conforme se define na Figura 11. Ks  ,  p (28b)
p  FC   WP  FC   WP
Nestas condições, o Kcb das culturas cuja densidade
das plantas e/ou a área foliar são inferiores à cobertura
completa pode estimar-se pela equação em que  é o teor de humidade do solo [m3 m-3], FC e
WP são, respectivamente, o teor de humidade do solo à

K cb  K c min  K d K cb full  K c min  (26)
capacidade de campo e no ponto de emurchecimento (ou
ponto de murcha permanente), e p é a percentagem da
onde Kc min é o valor mínimo de Kcb representando solo reserva facilmente utilizável, abaixo da qual a cultura
nu, Kcb full é o Kcb que teria a vegetação se ocorressem entra em stress hídrico (Figura 12). Para além de
condições de cobertura total (corrigido para o clima depender da cultura (vd. Anexo 2), densidade de
local) e Kd é o fator densidade (Eq. 24). Pode tomar-se enraizamento e tipo de solo, o fator p depende do clima,
264 Luís S. Pereira & Isabel Alves

Tabela 1. Valores de Kcbafull, Kcamin e Kcb cover para fruteiras relativos aos períodos inicial, intermédio e final para uso com as
Eqs. (25) a (27) (Allen et al., 2007)
Kcb full[1] Kcb full[1] Kcb full[1] Kcb cover[1] Kcb cover[1]
Kc min[1]
-ini -mid -end -ini -mid, end
Amêndoas
- s/ cobertura do solo[2] 0,20 1,00 0,70[3] 0,15 - -
- solo coberto 0,20 1,00 0,70[3] 0,15 0,75 0,80
Pomóideas (maçãs, cerejas, peras)
- c/ vernalização[4] 0,30 1,15 0,80[3] 0,15 0,40 0,80
- s/ vernalização [4]
0,30 1,15 0,80 [3]
0,15 0,75 0,80
Prunóideas (alperces, pessegos, ameixas)
- c/ vernalização [5] 0,30 1,20 0,80[3] 0,15 0,40 0,80
- s/ vernalização [6]
0,30 1,20 0,80[3] 0,15 0,70 0,80
Abacate
- s/ cobertura do solo [7] 0,30 1,00 0,90 0,15 - -
- solo coberto 0,30 1,00 0,90 0,15 0,75 0,80
Citrinos[8] 0,80 0,80 0,80 0,15 0,75 0,80
Manga
- s/ cobertura do solo [9] 0,26 0,85 0,70 0,15 - -
Oliveiras[10] 0,60 0,70 0,60 0,15 0,70 0,70
Pistaquios 0,30 1,00 0,70 0,15 0,70 0,70
Nozes[11] 0,40 1,10 0,65 0,15 0,75 0,80
Uvas
- de mesa[12] 0,20 1,15 0,90 0,15 0,70 0,70
- para vinho[12] 0,20 0,80 0,60 0,15 0,70 0,70
[1]
Geralmente, o valor de Kc ini é estimado como 0.10 + Kcb ini dado pela Eq. (25) e Kc mid e Kc end são estimados por 0.05 + Kcb mid ou Kcb end dados pela Eq. (27).
[2]
Fazendo fc eff = 0.4, ML = 1.5 e h = 4 m para Kd na Eq.(24), obtêm-se pela Eq. (27) valores de Kcb similares aos de FAO-56.
[3]
Os Kc end representam Kc antes da queda das folhas; depois tem-se Kc end » 0.20 para solo nu e seco ou vegetação morta e Kc end » 0.50 to 0.80 para vegetação em crescimento activo.
[4]
Fazendo fc eff = 0.5, ML = 2 e h = 3 m para Kd na Eq.(24), obtêm-se pela Eq. (27) valores de Kcb similares aos de FAO-56.
[5]
Fazendo fc eff = 0.45, ML = 1.5 e h = 3 m para Kd na Eq.(24), obtêm-se pela Eq. (27) valores de Kcb similares aos de FAO-56.
[6]
Fazendo fc eff = 0.45, ML = 1.5, h = 3 m para Kd na Eq.(24), obtêm-se pela Eq. (27) valores de Kcb similares aos de FAO-56.
[7]
Fazendo fc eff = 0.4, ML = 2 e h = 4 m para Kd na Eq.(24), obtêm-se pela Eq. (27) valores de Kcb similares aos de FAO-56.
[8]
Fazendo fc eff = 0.2, 0.5 e 0.7, ML = 1.5 e h = 2, 2.5 e 3 m para Kd na Eq.(24), obtêm-se pela Eq.(27) valores de Kcb cerca de 15% superiores aos valores indicados no FAO-56 para os mesmos 3 níveis
de valores de fc eff
[9]
Fazendo fc eff = 0.7 to 0.85, ML = 1.5 e h = 5 m para Kd na Eq.(24), obtêm-se pela Eq. (27) valores de Kcb similares aos de Azevedo et al. (2003).
[10]
Fazendo fc eff = 0.7, ML = 1.5 e h = 4 m para Kd na Eq.(24), obtêm-se pela Eq. (27) valores de Kcb similares aos de FAO-56.
[11]
Fazendo fc eff = 0.7, ML = 1.5 e h = 5 m para Kd na Eq.(24), obtêm-se pela Eq. (27) valores de Kcb similares aos de FAO-56.
[12]
Fazendo fc eff = 0.45, ML = 1.5, h = 2 m para Kd na Eq.(24), obtêm-se pela Eq. (27) valores d e Kcb similares aos de FAO-56.

(29)

Em termos operacionais, é mais usual determinar-se


o Ks em função da depleção de água no solo:

 TAW  D r 
K s    (30)
 TAW  RAW 

onde TAW e RAW são, respetivamente a reserva total e


facilmente utilizável de água no solo (Figura 12), e Dr é
a depleção de água no solo acumulada entre duas
precipitações ou duas irrigações. A Eq. (30) indica que
Ks < 1 quando a água do solo é esgotada para além do
limite RAW (Figura 13). TAW define-se
Figura 12. Representação esquemática da água do solo e dos
TAW  1000 FC   WP Z r (31)
componentes do balanço hídrico do solo

devendo ser ajustado às condições climáticas onde Zr é a espessura efetiva da zona radicular (m); por
prevalecentes no local através de: seu lado, RAW é dado por :
Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 265

 RYL 
ETreal  1  ETc (35)
 K y 

Valores de Ky variam com as culturas e respectivas


variedades conforme a sua sensibilidade ao stress hídrico
(Figura 14). Para algumas culturas, tais valores
encontram-se tabelados na bibliografia, em particular por
Doorenbos & Kassam (1979). Porém, podem ser obtidos
por análise de regressão entre (1-ETo/ETm) e (1-Ya/Ym)
como se mostra, por exemplo em Popova et al. (2006a).
No caso brasileiro, existem dezenas, senão centenas, de
Figura 13. Coeficiente de stress, Ks, em função da depleção trabalhos publicados relacionando produções com as
de água no solo (Dr) lâminas de irrigação para grande variedade de culturas.
Somente que são raros os casos em que os valores de Ky
RAW  p TAW (32) foram calculados.

Coeficiente de stress em função da perda relativa


de produção
O efeito do stress hídrico sobre a produção das
culturas pode ser descrito pelo modelo de Stewart
(Stewart et al., 1977, Doorenbos & Kassam, 1979):

 Y   ETc real 
1  a   K y 1   (33)
 
 Ym   ETc 

onde Ky é o coeficiente de resposta da produção ao


stress hídrico [-], ETc real é a evapotranspiração real da Figura 14. Relação entre perda relativa de produção e défice
cultura [mm], ETc é a evapotranspiração da cultura em relativo de evapotranspiração para algumas culturas
condições ideais (ausência de stress hídrico) [mm], Ya é agrupadas segundo os respetivos coeficiente de resposta
a produção da cultura quando ET = ETc real, e Ym é a da produção ao stress hídrico (Ky) (Doorenbos & Kassam,
produção máxima, correspondente a ETc. Recombinando 1979)
os termos da Eq. (33), o coeficiente de stress Ks pode
ser expresso por: A salinidade é um dos mais importantes stresses
ambientais que reduz a ET duma cultura e,
1  Y  consequentemente, a sua produção. A maneira mais fácil
K s  1 1  a  (34a) de modelar o efeito dos sais sobre a produção das culturas
Ky  Ym 
é através de relações lineares empíricas, tais como as
apresentadas por Minhas et al. (2006) (Tabela 2 e Figura
que mostra o efeito da produção relativa (Ya/Ym) sobre o Ks 15). Este tipo de modelação tem o problema de não poder
através do coeficiente de resposta da produção ao stress ser transposto para outras situações climáticas e culturais.
hídrico. A Eq. (34) pode ainda ser escrita na forma: Rhoades et al. (1992) e Hoffman & Shalhevet (2007)
apresentam uma forma mais geral de relacionar a
RYL produção relativa com a salinidade, com a forma:
Ks  1  (34b)
Ky
Ya
Ym

 1  EC e  EC e threshold 
b
100
(36)
onde RYL é a perda de produção relativa, o que permite
calcular a ETc real a partir de ETc quando se conhece o
impacto do stress hídrico na produção final (Pereira et onde Y a é a produção real [kg/ha], Ym é a produção
al., 2007): máxima, quando EC e < EC e threshold, EC e é a
266 Luís S. Pereira & Isabel Alves

Tabela 2. Funções produção-salinidade do solo para trigo em função do número de irrigações (Minhas et al., 2006)
Número de Nível de Salinidade que
Funções*
Irrigações Anula a Produção (dS m-1)
1 Y = 3.62 - 0.222 (ECe - 3.62) 21.0
2 Y = 3.58 - 0.382 (ECe e - 6.57) 15.4
3 Y = 6.02 - 0.438 (ECe - 1.98) 15.7
4 Y = 5.20 - 0.372 (ECe - 4.59) 18.6
*Y é a produção em ton ha-1 e ECe é a condutividade elétrica (dS m -1) do extracto saturado de solo extraído na camada superficial do solo, até 0.3 m de profundidade.

Figura 16. Classificação das culturas segundo a sua


Figura 15. Efeitos da salinidade do solo a 30 cm de profundidade sensibilidade aos sais expressa em termos do limiar
sobre a produção de trigo com 1, 2, 3 e 4 irrigações (Minhas ECe threshold da condutividade elétrica [dS m-1] do extrato
et al., 2006) saturado do solo na zona radicular a partir do qual a
produção decresce, e da taxa b de redução da produção
condutividade elétrica do extracto saturado na zona por unidade de acréscimo de ECe [%/(dS m-1)] (Hoffman
radicular [dS m -1 ], EC e threshold é o valor limiar da & Shalhevet, 2007)
condutividade elétrica do extrato saturado do solo na zona
que estima o valor de Ks < 1 quando ECe threshold ou o
radicular a partir do qual a produção decresce abaixo de
limite de humidade no solo (indicado por RAW) são
Ym [dS m-1], e b é a taxa de redução da produção por
atingidos, como se exprime na Figura 17.
unidade de acréscimo de ECe [%/(dS m-1)]. Valores de
Naturalmente, a salinidade do solo diminui a
ECe threshold e b encontram-se tabelados em Rhoades et
disponibilidade da água existente no solo para uso pelas
al. (1992), Allen et al. (1998) e Hoffman & Shalhevet culturas devido ao aumento do potencial com que a água
(2007) relativamente às principais culturas. Em geral, as aí é retida devido à ação conjunta do potencial mátrico
culturas são agrupadas segundo a sua sensibilidade aos
sais (Figura 16).
Assim, o efeito combinado do stress hídrico e da
salinidade podem ser descritos por (Pereira et al., 2007):

b    ETreal 
1
Ya 

  EC e  EC e threshold 
K y
100  
1   (37)
Ym,   ETm 

Coeficiente de stress em função da água do solo e


da salinidade
Considerando as Eqs. (30) e (34), pode dar-se à Eq.
(37) a forma

 
Figura 17. Relações entre o coeficiente de stress Ks e o teor
 TAW  D r 
K s  1 

b

EC e  EC e threshold 

  (38) de água do solo em para vários graus de salinidade do
 K y 100   TAW  RAW  solo (Allen et al., 1998)
Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 267

e do potencial osmótico. No entanto, este efeito varia Allen, R. G.; Pruitt, W. O.; Businger, J. A.; Fritschen, L. J.; Jensen,
com a sensibilidade das culturas à salinidade. Assim, M. E.; Quinn, F. H. Evaporation and Transpiration. Chapter
considerando que a salinidade afeta as propriedades 4. In: Wootton et al. (ed.), Hydrology Handbook (2nd ed.),
hidráulicas e as constantes hídricas do solo, em particular ASCE, New York: 125-252, 1996
aumentando o teor de água no ponto de murcha Allen, R. G.; Pereira, L. S. Estimating crop coefficients from
permanente θWP, uma vez que as raízes das plantas, para fraction of ground cover and height. Irrig Sci., v.28, p.17-
34, 2009.
conseguir absorver água do solo, têm que vencer não só
Allen, R. G.; Smith, M.; Perrier A.; Pereira L. S. An update for
o potencial mátrico mas também o potencial osmótico
the definition of reference evapotranspiration. ICID
(Beltrão & Ben Asher, 1997), utiliza-se com sucesso o Bulletin, v.43, n.2, p.1-34, 1994a.
ajustamento seguinte (Pereira et al., 2007): Allen, R. G.; Smith, M.; Pereira, L. S.; Perrier, A. An update for
the calculation of reference evapotranspiration. ICID
 EC e  EC e threshold 
  FC   WP  (39)
b Bulletin, v.43, p.35-92, 1994b.
 WP salt   WP  
100  10  Allen, R. G.; Pereira, L. S.; Raes, D.; Smith, M. Crop
 
Evapotranspiration: Guidelines for Computing Crop Water
Requirements. FAO Irrigation and Drainage Paper 56.
onde WP é o teor de humidade do solo no ponto de Rome, 1998, 300p.
murcha permanente em condições não salinas [mm/mm], Allen, R. G.; Pereira L. S.; Smith, M.; Raes, D.; Wright, J. L.
 FC é o teor de humidade do solo à capacidade de FAO-56 dual crop coefficient method for estimating
campo [mm/mm], e WP salt é o teor de humidade do solo evaporation from soil and application extensions. Journal
no ponto de murcha permanente [mm/mm] em presença of Irrigation and Drainage Engineering, v.131, p.2-13, 2005a.
de sais. Por seu turno, resulta também alterado TAW: Allen, R. G.; Pruitt, W. O.; Raes, D.; Smith, M.; Pereira L. S.
Estimating evaporation from bare soil and the crop

TAWsalt   FC   WP salt 10 Z r  (40) coefficient for the initial period using common soils
information. Journal of Irrigation and Drainage
Engineering, v.131, p.14-23, 2005b.
onde TAWsalt é o valor da reserva de água utilizável do Allen, R. G.; Pruitt, W. O.; Wright, J. L.; Howell, T. A.; Ventura,
solo corrigida [mm] e Zr é a profundidade da zona radical F.; Snyder, R.; Itenfisu, D.; Steduto, P.; Berengena, J.;
[m]. Yrisarry, J. B.; Smith, M.; Pereira, L. S.; Raes, D.; Perrier, A.;
No caso de se utilizar a Eq. (28), o parâmetro p Alves, I.; Walter, I.; Elliott, R. A recommendation on
standardized surface resistance for hourly calculation of
deverá também ser ajustado (Pereira et al., 2007)
reference ETo by the FAO56 Penman-Monteith method.
através de:
Agricultural Water Management, v.81, p.1-22, 2006a.
Allen, R. G.; Pereira, L. S.; Raes, D.; Smith, M.
p cor  p  b (EC e  EC e threshold ) p (41)
Evapotranspiración del Cultivo. Guias para la
Determinación de los Requerimientos de Agua de los
Esta equação mostra que p diminui quando EC e Cultivos. Estudio Riego y Drenaje 56, FAO, Roma, 2006b.
Allen, R. G.; Wright, J. L.; Pruitt, W. O.; Pereira, L. S.; Jensen,
ultrapassa o ECe threshold, dependendo essa diminuição da
M. E. Water Requirements. In: Hoffman, G. J.; Evans, R. G.;
sensibilidade da cultura aos sais (através de b).
Jensen, M. E.; Martin, D. L.; Elliot, R. L. (ed.) Design and
Quando não se refiram a observações para uma maior
Operation of Farm Irrigation Systems (2nd ed.), ASABE, St.
gama de valores, as Eqs. (31) a (38) são utilizáveis Joseph, MI, 2007, p.208-288.
apenas enquanto RYL não exceder 50%, uma vez que Azevedo, P. V.; Silva, B. B. da; Silva, V. P. R. da. Water
este é o valor geralmente assumido como limite para a requirements of irrigated mango orchards in northeast Brazil.
validade da equação água-produção (Eq. 33) tal como Agricultural Water Management, v.58, p.241-254, 2003.
reproduzida por Doorenbos & Kassam (1987). Desta Beltrão, J.; Ben Asher, J. The effect of salinity on corn yield
forma, assume-se também que uma cultura não será feita using the CERES-maize model. Irrigation and Drainage
num solo salino que conduziria a uma produção relativa System, v.11, p.15-28, 1997.
Ya/Ym inferior a 0.50. Doorenbos, J.; Kassam, A. H. Yield Response to Water. FAO
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Allen, R.G. Using the FAO-56 dual crop coefficient method Girona, J.; Gelly, M.; Mata, M.; Arbones, A.; Rufat, J.; Marsal,
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Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 269

Anexo 1. Coeficientes de cultura médios, Kc, e de base, Kcb, para culturas com bom manejo em clima sub-húmido para uso
com a ETo FAO-PM (fontes: Allen et al., 1998, 2007; Allen & Pereira, 2009).
Culturas Kc ini1 Kc mid Kc end Kcb ini Kcb mid Kcb end
a. Hortícolas de pequeno porte 0.7 1.05 0.95 0.15 0.95 0.85
Brócolos 1.05 0.95 0.95 0.85
Couve de Bruxelas 1.05 0.95 0.95 0.85
Couve comum 1.05 0.95 0.95 0.85
Cenouras 1.05 0.95 0.95 0.85
Couve-flor 1.05 0.95 0.95 0.85
Aipo 1.05 1.00 0.95 0.90
Alho 1.00 0.70 0.90 0.60
Alface 1.00 0.95 0.90 0.90
Cebola - seca 1.05 0.75 0.95 0.65
- verde 1.00 1.00 0.90 0.90
- semente 1.05 0.80 1.05 0.70
Espinafres 1.00 0.95 0.90 0.85
Rabanetes 0.90 0.85 0.85 0.75
b. Hortícolas - Solanáceas 0.6 1.15 0.80 0.15 1.10 0.70
Beringela 1.05 0.90 1.00 0.80
Pimentão (fresco) 1.052 0.90 1.002 0.80
Tomate 1.152 0.70-0.90 1.102 0.60-0.80
c. Hortícolas - Cucurbitáceas 0.5 1.00 0.80 0.15 0.95 0.70
Meloa 0.5 0.85 0.60 0.75 0.50
Pepino (fresco) 0.6 1.002 0.75 0.952 0.70
Pepino (colheita mecânica ) 0.5 1.00 0.90 0.95 0.80
Abóbora de Inverno 1.00 0.80 0.95 0.70
Abóbora de mesa 0.95 0.75 0.90 0.70
Melão 1.05 0.75 1.00 0.70
Melancia 0.4 1.00 0.75 0.95 0.70
d. Hortícolas tuberosas 0.5 1.10 0.95 0.15 1.00 0.85
Beterraba de mesa 1.05 0.95 0.95 0.85
Mandioca - 1ºano 0.3 0.803 0.30 0.703 0.20
Mandioca - 2ºano 0.3 1.10 0.50 1.00 0.45
Pastinaga 0.5 1.05 0.95 0.95 0.85
Batata 1.15 0.754 1.10 0.654
Batata doce 1.15 0.65 1.10 0.55
Nabo 1.10 0.95 1.00 0.85
Beterraba açucareira 0.35 1.20 0.705 1.15 0.505
e. Leguminosas 0.4 1.15 0.55 0.15 1.10 0.50
Feijão verde 0.5 1.052 0.90 1.002 0.80
Feijão (seco) 0.4 1.152 0.35 1.102 0.25
Feijão carrapato 1.00 0.35 0.95 0.25
Fava - verde 0.5 1.152 1.10 1.102 1.05
- seca 0.5 1.152 0.30 1.102 0.20
Grão de bico 0.4 1.15 0.35 1.05 0.25
Feijão frade (caupi) 1.05 0.60-0.356 1.00 0.55-0.256
Amendoim 1.15 0.60 1.10 0.50
Lentilha 1.10 0.30 1.05 0.20
Ervilha - verde 0.5 1.152 1.10 1.102 1.05
- seca 1.15 0.30 1.10 0.20
Soja 1.15 0.50 1.10 0.30
f. Hortícolas perenes (com dormência invernal
0.5 1.00 0.80
e solo inicialmente nu ou com mulch)
Alcachofras 0.5 1.00 0.95 0.15 0.95 0.90
Espargos 0.5 0.957 0.30 0.15 0.907 0.20
Hortelã pimenta 0.60 1.15 1.10 0.40 1.10 1.05
Morangos 0.40 0.85 0.75 0.30 0.80 0.70
Continua...
270 Luís S. Pereira & Isabel Alves

...Continuação
Culturas Kc ini1 Kc mid Kc end Kcb ini Kcb mid Kcb end
g. Fibras 0.35 0.15
Algodão 1.15-1.20 0.70-0.50 1.10-1.15 0.50-0.40
Linho 1.10 0.25 1.05 0.20
8
Sisal8 0.4-0.7 0.4-0.7 0.4-0.7 0.4-0.7
h. Oleaginosas 0.35 1.15 0.35 0.15 1.10 0.25
Rícino 1.15 0.55 1.10 0.45
Colza 1.0-1.159 0.35 0.95-1.109 0.25
Cártamo 1.0-1.159 0.25 0.95-1.109 0.20
Sésamo 1.10 0.25 1.05 0.20
Girassol 1.0-1.159 0.35 0.95-1.109 0.25
i. Cereais 0.3 1.15 0.4 0.15 1.10 0.25
Cevada 1.15 0.25 1.10 0.15
Aveia 1.15 0.25 1.10 0.15
Trigo 1.15 0.25-0.410 1.10 0.15-0.310
Trigo de inverno - com solo gelado 0.4 1.15 0.25-0.4 10 0.15-0.511 1.10 0.15-0.310
- sem solo gelado 0.7 1.15 0.25-0.4 10
Milho (grão) 1.20 12
0.60,0.3513 0.15 1.1512 0.50,0.1513
Milho doce13 1.15 12
1.0514 1.10 12
1.0014
Milho painço 1.00 0.30 0.95 0.20
Sorgo - grão 1.00-1.10 0.55 0.95-1.05 0.35
- açucareiro 1.20 1.05 1.15 1.00
Arroz 1.05 1.05-1.2015 0.90-0.60 1.00 1.00-1.1515 0.70-0.45
j. Forragens e gramados
Alfalfa (feno) - media dos cortes 0.40 0.9516 0.90
- períodos de cada corte 0.40 17 1.2017 1.1517 0.3017 1.1517 1.1017
- para semente 0.40 0.50 0.50 0.30 0.45 0.45
Erva da Bermuda
0.55 1.0016 0.85 0.50 0.9518 0.80
(feno) - media dos cortes
- corte de primavera, semente 0.35 0.90 0.65 0.15 0.85 0.60
Trevo e bersim
0.40 0.90 16
0.85
(feno) - media dos cortes
- períodos de cada corte 0.40 17 1.1517 1.1017 0.3017 1.1017 1.0517
Gramíneas (rye grass)
0.95 1.05 1.00 0.85 1.0018 0.95
(feno) - media dos cortes
Erva do Sudão
0.50 0.9017 0.85
(feno) - média dos cortes (anual)
- períodos de cada corte 0.50 17
1.15 17
1.1017 0.3017 1.1017 1.0517
Pastagem com pastoreio em rotação 0.40 0.85-1.05 0.85 0.30 0.80-1.00 0.80
Pastagem com pastoreio extensivo 0.30 0.75 0.75 0.30 0.70 0.70
Gramínea perene19 0.20 1.05 0.20 0.15 1.00 0.10
Gramados - climas temperados20 0.90 0.90 0.90 0.80 0.85 0.85
- climas quentes 20 0.85 0.90 0.90 0.75 0.80 0.80
k. Cana de açucar 0.40 1.25 0.75 0.15 1.20 0.70
l. Frutos Tropicais
Banana - 1º ano 0.50 1.10 1.00 0.15 1.05 0.90
- 2º ano 1.00 1.20 1.10 0.60 1.10 1.05
Cacau 1.00 1.05 1.05 0.90 1.00 1.00
Café - solo nu/sem vegetação activa 0.90 0.95 0.95 0.80 0.90 0.90
- solo com vegetação activa 1.05 1.10 1.10 1.00 1.05 1.05
Palmeiras (incluindo tamareiras) 21
- solo s/ veget. activa - densidade alta
0.90 0.95 0.95 0.80 0.85 0.85
fceff = 0.7)22
- solo s/ veget. activa - densid. média
0.80 0.80 0.80 0.70 0.70 0.70
(fceff = 0.5)
- solo s/ veget. activa - densid. baixa
0.50 0.55 0.55 0.40 0.45 0.45
(fceff = 0.25)
Continua...
Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 271

...Continuação
Culturas Kc ini1 Kc mid Kc end Kcb ini Kcb mid Kcb end
- solo s/ veget. activa - densid. m.
0.35 0.35 0.35 0.25 0.25 0.25
baixa (fceff = 0.1)
- solo c/ veget. activa 31 - densidade
0.95 0.95 0.95 0.85 0.90 0.90
alta (fceff = 0.7)
- solo c/ veget. activa - densid. média
0.90 0.90 0.90 0.80 0.85 0.85
(fceff = 0.5)
- solo c/ veget. activa - densid. baixa
0.85 0.85 0.85 0.75 0.80 0.80
(fceff = 0.25)
- solo c/ veget. activa - densid. m.
0.80 0.80 0.80 0.70 0.75 0.75
baixa (fceff = 0.1)
Abacaxi23 - solo nu 0.50 0.30 0.30 0.15 0.25 0.25
- solo com vegetação 0.50 0.50 0.50 0.30 0.45 0.45
Árvores de Borracha 0.95 1.00 1.00 0.85 0.90 0.90
Chá - não sombreado 0.95 1.00 1.00 0.90 0.95 0.90
- sombreado 24 1.10 1.15 1.15 1.00 1.10 1.05
m. Uvas e Bagas
Bagas (arbustos) 0.30 1.05 0.50 0.20 1.00 0.40
Uvas de mesa 21
- solo não vegetado - densidade alta
0.29 1.09 0.8727 0.19 1.04 0.8227
(fceff = 0.7) 25
- solo não vegetado - densid. média
0.29 0.95 0.7627 0.19 0.90 0.7127
(fceff = 0.5)22
- solo não vegetado - densid. baixa
0.27 0.58 0.4827 0.17 0.53 0.4327
(fceff = 0.25)
Uvas p/ vinho
- solo não vegetado - densidade alta
0.30 0.7523 0.6026, 27 0.20 0.7026 0.5526, 27
(fceff = 0.7)
- solo não vegetado - densid. média
0.30 0.7023 0.5526, 27 0.20 0.6526 0.5026, 27
(fceff = 0.5)22
- solo não vegetado - densid. baixa
0.30 0.4523 0.4026, 27 0.25 0.4026 0.3026, 27
(fceff = 0.25)
Lúpulo 0.3 1.05 0.85 0.15 1.00 0.80
n. Fruteiras
Amendoa21
- solo não vegetado - densidade alta
0.40 1.00 0.7027 0.20 0.95 0.6527
(fceff = 0.7)
- solo não vegetado - densid. média
0.40 0.85 0.6027 0.20 0.80 0.5527
(fceff = 0.5)22
- solo não vegetado -densid. baixa
0.35 0.50 0.4027 0.15 0.45 0.3527
(fceff = 0.25)
- solo c/ veget. activa 31 - densidade
0.85 1.05 0.8527 0.75 1.00 0.8027
alta (fceff = 0.7)
- solo c/ veget. activa - densid. média
0.85 1.00 0.8527 0.75 0.95 0.8027
(fceff = 0.5)
- solo c/ veget. activa - densid. baixa
0.85 0.95 0.8527 0.75 0.90 0.8027
(fceff = 0.25)
Pomóideas (maçã, pera) 21
- solo não vegetado - densidade alta
0.50 1.15 0.8027 0.30 1.10 0.7527
(fceff = 0.7)
- solo não vegetado - densid. média
0.45 1.05 0.7527 0.30 1.00 0.7027
(fceff = 0.5)22
- solo não vegetado - densid. baixa
0.40 0.70 0.5527 0.25 0.65 0.5027
(fceff = 0.25)
- solo veget. activa 31, vernaliz. -
0.50 1.20 0.8527 0.40 1.15 0.8027
dens. alta (fceff = 0.7)
Continua...
272 Luís S. Pereira & Isabel Alves

...Continuação
Culturas Kc ini1 Kc mid Kc end Kcb ini Kcb mid Kcb end
- solo veget. activa., vernaliz. -dens. m.
0.50 1.15 0.8527 0.40 1.10 0.8027
(fceff=0.5)22
- solo veget. activa, vernaliz.- dens. b.
0.50 1.05 0.8527 0.40 1.00 0.8027
(fceff = 0.25)
- solo veget. activa, s/ geada -dens. alta
0.85 1.20 0.8527 0.75 1.15 0.8027
(fceff = 0.7)
- solo veget. activa, s/ geada -dens. m.
0.85 1.15 0.8527 0.75 1.10 0.8027
(fceff = 0.5)22
- act. grnd cov., s/ geada -dens. b.
0.85 1.05 0.8527 0.75 1.00 0.8027
(fceff = 0.25)
Prunóideas (Alperces, Pêssegos) 21, 28
- solo não vegetado - super denso
0.50 1.20 0.8527 0.30 1.15 0.8027
(fceff = 0.9)25
- solo não vegetado - dens. alta
0.50 1.15 0.8027 0.30 1.10 0.7527
(fceff = 0.7)29
- solo não vegetado - dens. med.
0.45 1.0 0.7027 0.25 0.95 0.6527
(fceff = 0.5)22
- solo não vegetado -dens. baixa
0.40 0.60 0.4527 0.20 0.55 0.4027
(fceff = 0.25)30
- solo c/ veget. activa 28, vern. - super
0.50 1.25 0.8527 0.40 1.20 0.8027
denso (fceff = 0.9)
- solo c/ veget. activa, vern. -dens. alta
0.50 1.20 0.8527 0.40 1.15 0.8027
(fceff = 0.7)22
- solo c/ veget. activa, vern. -dens. m.
0.50 1.15 0.8527 0.40 1.10 0.8027
(fceff = 0.5)
- solo c/ veget. activa, vern. - dens. b.
0.50 1.00 0.8527 0.40 0.95 0.8027
(fceff = 0.25)
- solo c/ veget. activa, s/ geada - super
0.80 1.25 0.8527 0.70 1.20 0.8027
denso (fceff = 0.9)
- solo c/ veget. activa, s/ geada - dens.
0.80 1.20 0.8527 0.70 1.15 0.8027
alta (fceff = 0.7)22
- solo c/ veget. activa, s/ geada -dens.
0.80 1.15 0.8527 0.70 1.10 0.8027
m. (fceff = 0.5)
- solo c/ veget. activa, s/ geada -dens.
0.80 1.00 0.8527 0.70 0.95 0.8027
b.(fceff = 0.25)
Abacate21
- solo não vegetado - dens. alta
0.50 1.00 0.90 0.30 0.95 0.85
(fceff = 0.7)
- solo não vegetado - dens. med.
0.50 0.90 0.80 0.30 0.85 0.80
(fceff = 0.5)22
- solo não vegetado - dens. baixa
0.40 0.65 0.60 0.25 0.60 0.50
(fceff = 0.25)
- solo c/ veget. activa 31 - dens. alta
0.85 1.05 0.95 0.75 1.00 0.90
(fceff = 0.7)
- solo c/ veget. activa - dens. med.
0.85 1.00 0.95 0.75 0.95 0.90
(fceff = 0.5)
- solo c/ veget. activa - dens. baixa
0.85 0.95 0.90 0.75 0.90 0.85
(fceff = 0.25)
Citrinos21
- solo não vegetado - dens. alta
0.85 0.80 0.80 0.75 0.75 0.75
(fceff = 0.7)
- solo não vegetado - dens. med.
0.75 0.70 0.70 0.65 0.65 0.65
(fceff = 0.5)
- solo não vegetado - dens. baixa
0.50 0.45 0.45 0.40 0.40 0.40
(fceff = 0.25)
Continua...
Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 273

...Continuação
Culturas Kc ini1 Kc mid Kc end Kcb ini Kcb mid Kcb end
- solo c/ veget. activa 31 - dens. alta
0.90 0.85 0.85 0.80 0.80 0.80
(fceff = 0.7)
- solo c/ veget. activa - dens. med.
0.90 0.85 0.85 0.80 0.80 0.80
(fceff = 0.5)
- solo c/ veget. activa - dens. baixa
0.85 0.85 0.85 0.75 0.80 0.80
(fceff = 0.25)
Coníferas32 1.00 1.00 1.00 0.95 0.95 0.95
n. Fruteiras
Kiwi 0.40 1.05 1.05 0.20 1.00 1.00
Manga21
- solo não vegetado - dens. alta
0.35 0.90 0.75 0.25 0.85 0.70
(fceff = 0.7)33
- solo não vegetado - dens. med.
0.35 0.75 0.60 0.25 0.70 0.55
(fceff = 0.5)
- solo não vegetado -dens. baixa
0.30 0.45 0.40 0.20 0.40 0.35
(fceff = 0.25)
Oliveira21
- solo não vegetado - dens. alta
0.65 0.70 0.60 0.55 0.65 0.55
(fceff = 0.7)22, 34
- solo não vegetado - dens. med.
0.60 0.60 0.55 0.50 0.55 0.50
(fceff = 0.5)35
- solo não vegetado - dens. baixa
0.40 0.40 0.35 0.30 0.35 0.30
(fceff = 0.25)36
- solo não vegetado - dens. m. baixa
0.30 0.25 0.25 0.20 0.20 0.20
(fceff = 0.05)36
- solo c/ veget. activa 31 - dens. alta
0.80 0.75 0.75 0.70 0.70 0.70
(fceff = 0.7)
- solo c/ veget. activa - dens. med.
0.80 0.75 0.75 0.70 0.70 0.70
(fceff = 0.5)
- solo c/ veget. activa - dens. baixa
0.80 0.75 0.75 0.70 0.70 0.70
(fceff = 0.25)
- solo c/ veget. activa - dens. m. baixa
0.80 0.75 0.75 0.70 0.70 0.70
(fceff = 0.05)
Pistáchios21
- solo não vegetado - dens. alta
0.40 1.00 0.70 0.30 0.95 0.65
(fceff = 0.7)
- solo não vegetado - dens. med.
0.35 0.85 0.60 0.25 0.80 0.55
(fceff = 0.5)
- solo não vegetado - dens. baixa
0.30 0.50 0.40 0.20 0.45 0.35
(fceff = 0.25)
- solo c/ veget. activa r31 - dens. alta
0.80 1.00 0.75 0.70 0.95 0.70
(fceff = 0.7)
- solo c/ veget. activa - dens. med.
0.80 1.00 0.75 0.70 0.95 0.70
(fceff = 0.5)
- solo c/ veget. activa - dens. baixa
0.80 0.85 0.75 0.70 0.80 0.70
(fceff = 0.25)
Nogueiras21
- solo não vegetado - dens. alta
0.50 1.10 0.6527 0.40 1.05 0.6027
(fceff = 0.7)22
- solo não vegetado - dens. med.
0.45 0.90 0.6027 0.35 0.85 0.5527
(fceff = 0.5)
- solo não vegetado - dens. baixa
0.35 0.55 0.4027 0.25 0.50 0.3527
(fceff = 0.25)
- solo c/ veget. activa 31 - dens. alta
0.85 1.15 0.8527 0.75 1.10 0.8027
(fceff = 0.7)
Continua...
274 Luís S. Pereira & Isabel Alves

...Continuação
Culturas Kc ini1 Kc mid Kc end Kcb ini Kcb mid Kcb end
- solo c/ veget. activa - dens. med.
0.85 1.10 0.8527 0.75 1.05 0.8027
(fceff = 0.5)
- solo c/ veget. activa - dens. baixa
0.85 0.95 0.8527 0.75 0.90 0.8027
(fceff = 0.25)
1
Estes valores para Kc ini correspondem a condições típicas de manejo da irrigação e de humedecimento do solo. Se os humedecimentos são mais frequentes seja porque se usa irrigação por aspersão
quase diária ou a chuva é quase diária estes valores podem aumentar substancialmente e aproximar-se de 1.0 a 1.2. Kc ini é função do intervalo entre humedecimentos e da evaporação potencial do
solo pelo que deve ser calculado recorrendo aos gráficos da Figura 5 ou usando o Kcb ini + Ke.
2
Feijão, ervilha, tomate, pimentão, pepinos e outras hortícolas podem ser cultivadas com canas de em barrar com 1.5 a 2 metros de altura. Nestas condições, os valores de Kc devem aumentar para
1.15 no caso de feijão verde, pimentão e pepino, e para 1.20 no caso de tomate, ervilhas ou feijão seco. O valor de h deve ser também aumentado.
3
Os valores de Kc mid e Kcb mid para a mandioca referem-se a condições de conforto hídrico durante a estação das chuvas. Os valores de Kc end e Kcb end incluem a dormência durante a estação seca.
4
Os valores de Kc end e Kcb end para batata decrescem para 0.40, 0.35 ou menos quando a colheita se faz com a planta já seca.
5
Estes valores de Kc end e Kcb end correspondem a um manejo sem irrigação no ultimo mês do ciclo vegetativo. Estes valores aumentam até Kc end = 1.0 e Kcb end = 0.9 quando ocorre irrigação ou chuva
significativa durante este ultimo mês.
6
O primeiro Kc end refere-se a produto colhido em fresco e o segundo a colheita em seco.
7
Kc para espargos mantém o valor do Kc ini durante a colheita dos brotos dado a cobertura do solo ser esparsa. O Kc mid é usado para o período em que as plantas voltam a crescer após a colheita dos
brotos.
8
O Kc para o sisal depende da densidade de plantação e do manejo da água (irrigação), como é o caso do manejo intencional de stress hídrico.
9
Os valores mais baixos referem-se a cultivo em sequeiro e com densidade de plantação menor.
10
O valor mais elevado refere-se a colheita temporã e manual.
11
Os dois valores de Kcb ini para o trigo de inverno correspondem respectivamente a uma cobertura < 10% e ao período de dormência invernal se a vegetação cobre totalmente o solo e o solo não
está gelado.
12
Estes valores de Kc mid e Kcb mid para o milho correspondem a cultura saudável, em condições ideais e densidade de pelo menos 50000 plantas/ha. Para densidades de plantação inferiores ou crescimento
não uniforme Kc mid and Kcb mid podem ser reduzidos de 0.10 a 0.20.
13
O primeiro Kc end refere-se a colheita com o grão húmido (necessitando de secagem posterior). O segundo Kc end é para colheita com grão seco, i.e., com cerca de 18% de humidade.
14
Quando colhido fresco para consumo humano. Usar o Kc end para milho grão se o milho doce seca no campo.
O menor Kc mid é para arrozais densos, uniformes, apresentando baixa rugosidade aerodinâmica (superfíce da canópia regular) e em condições de vento baixo a moderado (< 2 m s -1). O valor mais
15

alto é para vegetação algo esparsa, o que provoca maior rugosidade e menor albedo, cultivada em condições de inundação e de vento mais forte.
16
Este Kc mid para forragens para feno é um Kc mid médio que corresponde ao valor médio dos Kc relativos aos períodos que antecedem e seguem os cortes. Aplica-se a todo o período que vai desde o
primeiro período de crescimento até ao ultimo período final.
17
Estes valores de Kc para forragens para feno correspondem respectivamente aos períodos que seguem imediatamente um cort e, de cobertura total, e imediatamente antes do corte. A estação
vegetativa é descrita por uma série de períodos de corte.
18
Este Kcb mid é um valor médio dos Kcb que antecedem e seguem os vários cortes. Aplica-se a todo o período que vai desde o primeiro período de crescimento até ao ultimo período final.
19
Baseia-se em medições de ET no Kansas por Verma et al. (1991) em pasto composto por Panicum virgatum, Andropogon gerardii e Sorghastrum nutans.
20
Os gramados de clima temperado incluem populações densas de azevém, festuca e “bluegrass”. Os grama dos de clima quente incluem grama da Bermuda e grama de St. Augustine. Os valores
apresentados referem-se a gramados com 0.06 a 0.08 m de altura. Os gramados, especialmente os de cli ma quente podem ser sujeitos a stress e manter aparência aceitável resultando valores de
K de cerca de 0.8 para gramados de clima temperado e de 0.65 para gramados de clima quente.
21 c real
Estes valores para Kcb ini, Kcb mid e Kcb end foram modelados com recurso ao coeficiente de densidade (Eqs. 24 a 27)
22
Estes valores são semelhantes aos apresentados no FAO-56 (Allen et al., 1998).
23
Esta planta possui um controlo estomático muito forte, fechando os estomas durante o dia e abrindo- os durante a noite. Resulta que larga fração da ETc é evaporação do solo. Assim Kc mid < Kc ini
porque Kc mid ocorre quando é maxima a cobertura do solo e, portanto, a evaporação do solo diminui. Os valores ap resentados correspondem a 50% de cobertura do solo por plástico negro e
irrigação por aspersão. Para gota-a-gota, com a tubagem debaixo do mulch de plástico, os K c’s podem ser reduzidos de 0.10.
24
Inclui as necessidades de água das árvores de sombra.
25
Estes valores são semelhantes aos apresentados por Johnson et al. (2005).
26
Estes Kc mid e Kc end incluem implicitamente um factor de stress Ks ˜ 0.7, valor comum em produção vinícola. Na prática, o valor de Ks a aplicar pode variar entre 0.5 e 1.0. Em condições sem stress,
os Kc mid e Kc end para uvas de vinho pode ser igual ao das uvas de mesa, dependendo da densidade de plantas, idade, poda e condução.
27
Estes valores de Kc end correspondem ao Kc antes da queda das folhas. Após a queda de folhas, Kc end » 0.20 para um solo nu e seco ou com vegetação morta (resíduos da cobertura do solo) ou
K » 0.50 a 0.80 no caso de vegetação activa cobrindo o solo.
28 c end
Refere-se a todas a fruteiras conhecidas como frutos de caroço.
29
Valores obtidos a partir de Girona et al. (2005).
30
Valores semelhantes aos referidos por Paço et al. (2006).
31
Vegetação não activa ou apenas moderadamente activa cobrindo o solo (activa indica verde e em crescimento activo com LAI aproximadamente > 2) implica que o Kc deve ser ponderado entre o
Kc para condições de solo não vegetado e o Kc para cobertura active do solo, estimando “peso” conforme a cor e o LAI da cobertura do solo.
32
As coníferas exibem forte controlo estomático quando sujeitas a deficit hídrico. O Kc pode facilmente ser inferior aos valores apresentados visto estes se referirem a condições de conf orto hídrico
em grandes areas florestadas.
33
Valores obtidos a partir de Azevedo et al. (2003).
34
Pastor & Orgaz (1994) referem Kc mensais para olivais com fc ~ 60% semelhantes aos valores apresentados, excepto que o Kc mid = 0.45, com duração das fases = 30, 90, 60 e 90 dias, respectivamente
para os períodos inicial, de desenvolvimento, intermédio e final e usando Kc = 0.50 durante o inverno (“off season”), de Dezembro a Fevereiro.
35
Estes valores são semelhantes aos de Villalobos et al. (2000) quando se usa fc eff ~ 0.3 a 0.4.
36
Valores obtidos a partir de Testi et al. (2004).
Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 275

Anexo 2. Altura máxima (h), profundidade radicular máxima (Zr) e fração de esgotamento da água do solo em conforto
hídrico (p) para diversas culturas (Allen et al., 1998)
Altura Máxima das Profundidade Radicular Fração,
Cultura
Plantas1 h (m) Máxima2 Zr (m) p3
a. Hortícolas de pequeno porte 0.4
Cenouras 0.3 0.5-1.0 0.35
Aipo 0.6 0.3-0.5 0.20
Cruciferas (couves) 0.4 0.4-0.6 0.40
Alho 0.3 0.3-0.5 0.30
Alface 0.3 0.3-0.5 0.30
Cebola (seca) 0.4 0.3-0.6 0.30
Cebola (verde) 0.3 0.3-0.6 0.30
Espinafres 0.3 0.3-0.5 0.20
Rabanetes 0.3 0.3-0.5 0.30
b. Hortícolas tuberosas 0.5
Beterraba de mesa 0.4 0.6-0.1 0.50
Mandioca 1ºano 1.0 0.5-0.8 0.60
Mandioca 2ºano 1.5 0.7-1.0 0.60
Pastinaca 0.4 0.5-1.0 0.40
Nabo 0.6 0.5-1.0 0.50
Beterraba açucareira 0.5 0.7-1.2 0.55
c. Leguminosas 0.5
Feijão verde 0.4 0.5-0.7 0.45
Feijão (seco) 0.4 0.6-0.9 0.45
Feijão carrapato 0.5 0.6-0.9 0.45
Feijão frade (caupi) 0.4 0.6-1.0 0.50
Grão de bico 0.4 0.6-1.0 0.50
Amendoim 0.4 0.5-1.0 0.50
Lentilha 0.5 0.6-0.8 0.50
Ervilha verde 0.5 0.6-1.0 0.35
Ervilha seca 0.5 0.6-1.0 0.40
Soja 0.5-1 0.6-1.3 0.50
Fava verde 0.8 0.5-0.7 0.45
Fava seca 0.8 0.5-0.7 0.50
d. Solanáceas 0.8
Beringela 0.8 0.7-1.2 0.45
Pimentão (fresco) 0.7 0.5-1.0 0.30
Batata 0.6 0.4-0.6 0.35
Batata doce 0.5 1.0-1.5 0.65
Tomate 0.6 0.7-1.5 0.40
e. Cucurbitáceas 0.4
Meloa 0.3 0.9-1.5 0.45
Pepino (fresco) 0.3 0.7-1.2 0.50
Pepino (colheita mecânica) 0.3 0.7-1.2 0.50
Melão 0.4 0.8-1.5 0.40
Abóbora de Inverno 0.4 1.0-1.5 0.35
Abóbora de mesa 0.3 0.6-1.0 0.50
Melancia 0.4 0.8-1.5 0.40
f. Fruteiras e culturas tropicais
Banana, 1º ano 3 0.5-0.9 0.35
Banana, 2º ano 4 0.5-0.9 0.35
Ananás (solo nu) 0.6-1.2 0.3-0.6 0.50
Ananás (solo com vegetação) 0.6-1.2 0.3-0.6 0.50
Tamareiras 8 1.5-2.5 0.50
Palmeiras 8 0.7-1.0 0.65
Continua...
276 Luís S. Pereira & Isabel Alves

...Continuação
Altura Máxima das Profundidade Radicular Fração,
Cultura
Plantas1 h (m) Máxima2 Zr (m) p3
Cacau 3 0.7-1.0 0.30
Café (solo nu) 2-3 0.9-1.5 0.40
Café (solo com vegetação) 2-4
Árvores de Borracha 10 1.0-2.0 0.60
Chá não sombreado 1.5 0.9-1.5 0.40
Chá sombreado 2 0.9-1.5 0.45
g. Hortícolas plurianuais
Alcachofra 1.5 0.6-0.9 0.45
Espargo 0.2-0.8 1.2-1.8 0.45
Lúpulo 5 1.0-1.2 0.50
h. Fibras
Algodão 1.2-1.5 1.0-1.7 0.60
Linho 1.2 1.0-1.5 0.50
Sisal 1.5 1.0-2.0 0.80
i. Oleaginosas 1.5
Cártamo 0.8 1.0-2.0 0.60
Girassol 2.0 0.8-1.5 0.45
Sésamo 1.0 1.0-1.5 0.60
Rícino 0.3 1.0-2.0 0.50
Colza 0.6 1.0-1.5 0.60
j. Cereais 1.5
Cevada 1.0 1.0-1.5 0.55
Aveia 1.0 1.0-1.5 0.55
Trigo 1.0 1.0-1.5 0.55
Trigo de Inverno 1 1.0-1.8 0.55
Milho (grão) 2.2 1.0-1.7 0.55
Milho doce 1.5 0.8-1.2 0.50
Milho painço 1.5 1.0-2.0 0.55
Sorgo (grão) 1-2 1.0-2.0 0.55
Sorgo doce 2-4 1.0-2.0 0.50
Arroz 1.0 0.5-1.0 (0.20)
k. Forragens
Luzerna (feno) 0.7 1.0-2.0 0.55
Trevo corte de feno 0.6 0.6-0.9 0.50
Pastagem com pastoreio em rotação 0.15 0.5-1.5 0.60
Pastagem com pastoreio extensivo 0.10 0.5-1.5 0.65
Relvados (climas temperados) 0.10 0.5-1.0 0.40
Relvados (climas quentes) 0.10 0.5-1.0 0.50
Erva do Sudão, corte p/ feno 0.8-1.2 1.0-1.5 0.60
Gramíneas (rye grass), corte p/ feno 0.35 0.5-1.0 0.60
Erva da Bermuda, para semente 0.4 1.0-1.5 0.60.
Erva da Bermuda, corte p/ feno 0.35 1.0-1.5 0.55
l. Cana de açúcar 3-4 1.2-2.0 0.65
m. Hortícolas perenes
Hortelã 0.60 0.4-0.8 0.40
Morangos 0.20 0.2-0.3 0.20
n. Bagas, uvas
Bagas arbustivas (ex.: groselha) 1.5 0.6-1.2 0.50
Uva “concord” 2.0 1.0-2.0 0.35
Uva de mesa e de vinho 1.5-2 1.0-2.0 0.60
Continua...
Estimativa da evapotranspiração das culturas em ambiente salino 277

...Continuação
Altura Máxima das Profundidade Radicular Fração,
Cultura
Plantas1 h (m) Máxima2 Zr (m) p3
o. Árvores de fruto18
Amendoeiras, solo nu19 4 1.0-2.0 0.60
Abacateiros, solo nu 3 0.5-1.0 0.70
Citrinos, solo nú20
70 % de coberto 4 1.2-1.5 0.50
50 % de coberto 3 1.1-1.5 0.50
20 % de coberto 2 0.8-1.1 0.50
Citrinos, com solo revestido20
70 % de coberto 4 1.2-1.5 0.50
50 % de coberto 3 1.1-1.5 0.50
20 % de coberto 2 0.8-1.1 0.50
Coníferas 10 1.0-1.5 0.70
Pomares de caducifólias19
Pomóideas, solo nu 4 1.0-2.0 0.50
Prunóideas, solo nu 3 1.0-2.0 0.50
Pomóideas, solo coberto 4 1.0-2.0 0.50
Prunóideas, solo coberto 3 1.0-2.0 0.50
Pomares de caducifólias sem
vernalização19
Pomóideas, solo nu 4 1.0-2.0 0.50
Prunóideas, solo nu 3 1.0-2.0 0.50
Pomóideas, solo coberto 4 1.0-2.0 0.50
Prunóideas, solo coberto 3 1.0-2.0 0.50
Kiwi 3 0.7-1.3 0.35
Oliveiras (40% - 60% de coberto) 3-5 1.2-1.7 0.70
Pistacheiros, solo nu 3-5 1.0-1.5 0.60
Nogueiras19 4-5 1.7-2.4 0.50
1
A altura máxima h tabelada é frequentemente superior à altura correspondente observada no campo já que h depende da variedade e das condições reais de crescimento . Assim, o ajustamento do
Kc deve ser realizado utilizando nos cálculos os valores de h adequados ao caso em estudo, nomeadamente alturas observadas no campo.
2
Os valores mais baixos indicados para a profundidade máxima radicular referem-se às culturas regada s e os mais elevados a condições de sequeiro, quando o solo não impõe restrições ao
desenvolvimento radicular.
3
Os valores tabelados para p referem-se a ETc da ordem dos 5 mm/dia e para condições de não salinidade. Normalmente, deverá aumentar-se o valor d e p quando ETca<a5 mm/dia e diminuir-se
quando ETca>a5 mm/dia
Manejo do solo-água-planta
16 em áreas afetadas por sais
José F. de Medeiros1, Iarajane B. do Nascimento2 & Hans R. Gheyi2

1Universidade Federal Rural do Semi-Árido


2 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Introdução
Origem da salinidade em áreas irrigadas
Qualidade da água de irrigação
Efeitos prejudiciais dos sais nas áreas irrigadas
Efeitos da salinidade da água sobre o solo
Efeitos dos sais sobre as plantas
Fatores que afetam a salinidade do solo e resposta das culturas à salinidade
Fatores que afetam a salinidade do solo e respostas das culturas à salinidade
Salinidade integrada no espaço e no tempo
Integração com a profundidade
Integração no tempo
Frequência de irrigação
Necessidade de lixiviação
Frequência de lixiviação
Previsão de salinidade em áreas irrigadas
Balanço de sais na zona radicular
Avaliação da água de irrigação através de simulação e previsão da salinidade do solo
Manejo da água e tolerância das culturas considerando os valores de CE das águas dos poços
na região de Mossoró
Experiências no Nordeste brasileiro com água salina
Conclusões
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
280 José F. de Medeiros et al.

Manejo do solo-água-planta
em áreas afetadas por sais

INTRODUÇÃO para a salinização dos solos irrigados. Embora as águas


salinas tenham sido consideradas inadequadas para a
Para atender o acelerado crescimento populacional irrigação existem amplas evidencias em todo mundo, que
mundial, surge, a cada dia, a necessidade de maior seu uso pode ser viabilizado, desde que adotem técnicas
produção de alimento. Com isso, expandiram-se as áreas de manejo adequadas e culturas tolerantes á salinidade
agricultáveis em todo mundo, impulsionado pelo uso da (Steppunh, 2001).
irrigação, para tornar produtivas as regiões áridas e semi- No mundo, numerosos exemplos de empreendimentos
áridas, bem como complementar as necessidades agrícolas com sucessos sob condições salinas podem ser
hídricas das regiões úmidas. No Brasil, a área irrigada citados (Hoffman et al., 1992). Nos Estados Unidos, alfafa,
corresponde a três milhões de hectares, ocupando o 18º sorgo e trigo são irrigados nos vale de Arkansas e Colorado
lugar no mundo em termos de área irrigada; quando se com água contendo de 1500 a 5000 mg L-1 de sólidos
leva em consideração a relação área irrigada/área total dissolvidos totais (SDT). Bons rendimentos de algodão tem
cultivada, o Brasil encontra-se no 23º lugar, com 5% da sido obtidos no Uzbekistão irrigando-se com água de
área total cultivada (Hoffman & Evans, 2007), mas drenagem contendo de 5000 a 6000 mg L-1 de SDT.
produzindo mais de 17% da produção total. Por essa Neste contexto, o grande desafio mundial consiste em
capacidade produtiva e maior necessidade de se produzir aumentar os níveis de produtividade na agricultura,
por unidade de área, a tendência atual é de um mediante aproveitamento de águas marginais (qualidade
crescimento acelerado das áreas irrigadas. inferior), atualmente disponíveis.
Por outro lado, a expansão das áreas irrigadas tem No Brasil, aproximadamente nove milhões de hectares
causado alguns problemas, dentre eles, destaca-se a de solos são afetados pela presença de sais, cobrindo sete
salinização do solo. Isso ocorre pelo fato da água de Estados. Na região do Nordeste brasileiro, a maior área
irrigação apresentar sais dissolvidos que, mesmo em afetada está localizada no estado da Bahia (44% do total),
baixa concentração, podem ser incorporados ao solo, seguido pelo estado do Ceará, com 25% da área total
podendo tornar-se salino em poucos anos (Medeiros, (Fageria & Gheyi, 1997). Nesses estados, a salinidade
2001). Segundo Ayers & Westcot (1999), quanto maior tem sido apontada como um dos principais fatores
o conteúdo de sais no solo, maior será o esforço que a responsáveis pela diminuição no crescimento e na
planta terá para absorver a água; assim, ocorre a produtividade das culturas (Pereira et al., 2005).
diminuição no consumo da planta à medida que cresce a Os efeitos negativos da salinidade podem ser observados
concentração de sais na zona radicular (Allen et al., 1998; no “stand” da cultura, no crescimento das plantas e em
Medeiros, 1998). rendimentos, sendo que em casos extremos pode haver até
Na agricultura irrigada, a qualidade da água deve ser perda total da cultura (Richards,1954). Portanto,o manejo de
questionada antes do início do cultivo, pois se trata de um água nas áreas irrigadas, associada ao manejo do solo e das
dos fatores que tem limitado ou impossibilitado a culturas é fundamental para manter a atividade da
expansão da produção agrícola nas regiões áridas e semi- agricultura irrigada por várias gerações.
áridas do mundo. Além disso, a alta taxa de Neste contexto, em seguida serão apresentadas
evapotranspiração e a baixa pluviosidade contribuem informações sobre a origem da salinização dos solos em
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 281

áreas irrigadas, a importancia da qualidade da água, os QUALIDADE DA ÁGUA DE IRRIGAÇÃO


efeitos prejudiciais dos sais no solo e nas culturas, os
fatores de manejo que controlam os efeitos da salinidade Partindo-se do princípio de que todas as águas
para planta, a previsão de salinização do solo em áreas contêm sais, mesmo utilizando águas para irrigação que
irrigadas a partir da qualidade da água de irrigação e apresentam reduzidas concentrações, existe um certo
manejo da irrigação. potencial de salinização em condições de chuvas e/ou
drenagem insuficientes. Normalmente, em regiões áridas
ORIGEM DA SALINIDADE e semi-áridas, as águas superficiais e subterrâneas
EM ÁREAS IRRIGADAS apresentam maior concentração salina do que em regiões
úmidas e sub-úmidas, o que vai se somar ao problema de
O processo de salinização do solo pode ser ocasionado salinização e sodificação do solo (Medeiros, 1998). O
por processos natural e o induzido (Ferreira, 1998). O conceito de qualidade da água refere-se às
natural ocorre através de intemperização das rochas, e características que podem afetar as necessidades do
os diversos constituintes da mesma que são liberados em usuário, definidas por uma ou mais propriedades físicas,
forma de compostos simples. Já o processo induzido químicas e/ou biológicas. Assim, uma água pode ser
ocorre pela ação do homem, através do manejo considerada de melhor qualidade se produzir melhores
inadequado da irrigação, excesso de fertilizantes e resultados (Figueirêdo, 2008).
drenagem deficiente em regiões áridas e semi-áridas. De acordo com Medeiros et al. (2003), nas regiões
áridas e semi-áridas, como acontece mundialmente, o
Embora a fonte principal de todos os sais encontrados
aumento da demanda por água tem levado à utilização da
no solo seja a intemperização das rochas, raros são
maioria das fontes de boa qualidade disponível e
exemplos onde esta fonte de sais tenha provocado
obrigando à utilização de águas que apresentem níveis de
problema de salinização do solo (Richards,1954).
salinidade mais elevados. No nordeste brasileiro a maioria
Frequentemente, problemas de salinidade tem sido
das fontes de água utilizada na irrigação apresenta boa
associados a água de irrigação e a presença de lençol
qualidade, porém o volume de águas de qualidade inferior
freático não controlado, situado entre os primeiros metros
e bastante elevado e com custo de obtenção mais barato,
do solo.
que pode ser utilizado para o crescimento da área
Normalmente, a salinidade em áreas irrigadas na irrigada (Tabela 1).
região nordeste é consequência da drenagem interna Existem amplas evidências em todo o mundo, que
deficiente dos solos juntamente com a evaporação águas de alta salinidade, classificadas como inadequada
superior a precipitação, onde essa excessiva para irrigação, podem ser usadas na irrigação de várias
evaporação produz acumulação de sais solúveis e o culturas selecionadas sob certas condições (Rhoades et
incremento do sódio trocável na superficie do solo al., 2000). Por outro lado, a utilização indiscriminada de
(Barros et al., 2004). águas com concentração elevada de sais pode salinizar
De maneira geral, o processo de salinização pode ser os solos, comprometendo a produção das culturas.
evitado ou desacelerado caso ocorram precipitações A classificação proposta pelos técnicos do
pluviométricas concentradas em quantidades suficientes, Laboratório Americano de Salinidade para classificar as
associadas à boa permeabilidade do solo ou sistema de águas destinadas à irrigação é a mais utilizada no Brasil.
drenagem eficiente, promovendo assim uma lavagem De acordo com Richards (1954), baseia-se geralmente
natural do perfil (Medeiros, 1998). na condutividade elétrica (CE), que indica o risco de
Estima-se em aproximadamente 30% da área dos salinidade e na razão de adsorção de sódio (RAS) como
projetos públicos de irrigação do Nordeste brasileiro é indicador de sodicidade. As águas dividem-se em quatro
afetado por salinidade (Bernardo, 2006). Nesses classes de acordo com a concentração total de sais
perímetros irrigados do Nordeste, segundo Goes (1978), solúveis (C 1, C2, C3 e C4), cada qual representando
cerca de 25% a 30% das áreas irrigadas apresentam condutividades elétricas de 0-0,25; 0,25-0,75; 0,75-2,25;
problemas de salinidade, percentagem esta considerada 2,25-4,00 dS m-1, respectivamente (Richards, 1954).
bastante conservadora, pois levantamento detalhado Para se determinar a viabilidade do uso de uma
realizado por Cordeiro et al. (1988), mostrou que 24% da determinada água de irrigação, deve-se levar em
área de projeto de irrigação de São Gonçalo, PB, estão consideração a concentração e composição química da
afetados por sais, isto sem considerar as áreas já mesma, a tolerância das culturas aos sais, as
abandonadas. propriedades físicas e químicas do solo, as práticas de
282 José F. de Medeiros et al.

Tabela 1. Composição química de águas utilizadas para irrigação no NE


Cátions (mmolc L-1) Ânions (mmolc L-1)

* As águas de poço, sobretudo as ricas em bicarbonatos, o pH 24 horas após coletados pode passar para valor superior a 8,0. Fonte: Gheyi et al. (2001); Medeiros et al. (2003).

manejo do solo, água e culturas, as condições climáticas, Segundo Medeiros (1992) e Oliveira & Maia (1998)
o método de irrigação e as condições de drenagem são relativamente elevadas as concentrações de sais nas
(Medeiros, 1998). águas do aquífero calcário, às vezes superando 2000 mg L-1
Segundo Rhoades et al. (2000) a utilização das águas (aproximadamente 3,0 dS m-1). Neste caso, sua utilização
para irrigação depende das condições de uso, incluindo- fica condicionada à tolerância das culturas à salinidade
se culturas, clima, solos, métodos de irrigação e práticas e ao manejo da irrigação, com vistas ao controle da
de manejo, o que torna as classificações de água quanto salinização das áreas.
à salinidade não aconselhadas para avaliar a
adequabilidade da água de irrigação. No entanto, os EFEITOS PREJUDICIAIS DOS SAIS
mesmos autores sugerem que, com o propósito de NAS ÁREAS IRRIGADAS
identificar os níveis de salinidade de água, é necessário
dispor de um esquema de classificação, sugerindo a
Efeitos da salinidade da água sobre o solo
mesma em termos de concentração de sais, expressos
O acúmulo de sais solúveis, e especificamente de
em condutividade elétrica e o tipo de água
correspondente dentro das classes (Tabela 2). sódio, no solo, além de reduzir o potencial osmótico da
No Estado do Rio Grande do Norte, a água usada na solução do solo, produz alteração no pH,
região produtora de melão é proveniente de poços desbalanceamento nutricional e desestruturação de seus
artesianos profundos que, embora de boa qualidade, agregados. O efeito dos sais sobre a estrutura do solo
apresenta alto custo de obtenção, impossibilitando o uso ocorre basicamente pela interação eletroquímica
por parte de pequenos produtores, e vem levando os existente entre os cátions e a argila. A característica
grandes produtores a buscarem fontes alternativas de principal deste efeito é a expansão da argila quando
água, como poços abertos no calcário Jandaíra, a um úmida e a contração quando seca, devido o excesso de
custo consideravelmente menor. Entretanto, essas fontes sódio trocável. Se a expansão for exagerada, poderá
de água apresentam níveis elevados de sais, podendo ocorrer a fragmentação das partículas, causando a
causar a salinização dos solos e prejudicar o rendimento dispersão da argila e modificando a estrutura do solo. Em
das culturas. geral, os solos sódicos, ou seja, com excesso de sódio

Tabela 2. Classificação das águas em função da condutividade elétrica (CE) em dS m-1 e concentração de sais em mg L-1

Tipos de Água
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 283

trocável, apresentam problemas de permeabilidade e saturação partindo da equação de Gapon (Richards,


qualquer excesso de água causará encharcamento na 1954):
superfície do solo, afetando a germinação das sementes
e o crescimento das plantas, por falta de aeração Na T Na
 KG (1)
(Medeiros et al., 2008). Ca T  Mg T Ca  Mg
Várias são as causas que podem levar à salinização
do solo. Geralmente, a origem dos sais está relacionada
à drenagem deficiente do solo. Os sais tendem a se em que o primeiro membro da Eq. (1) representa a relação
acumular no solo devido à ascensão capilar do lençol de sódio trocável (RST), com o sub-índice “T” denotando
freático e evaporação da água, na ausência de lixiviação. íons trocáveis em cmolc kg-1, KG representa o coeficiente
O uso excessivo de fertilizantes, a influência de ventos de Gapon, variando de 0,008 a 0,016 e a razão do segundo
que carregam sais encrostados na superfície de solos membro, denominada de relação de adsorção de sódio
altamente salinos para outras áreas e inundações de áreas (RAS), é composta pela concentrações dos íons no extrato
cultivadas pela água do mar devido à maré alta, também de saturação do solo, em mmol L-1.
podem ser a causa de salinização do solo (Blanco, 1999). Considerando que em solos afetados por sais, os
A acumulação de sais solúveis torna o solo floculado, cátions trocáveis do solo correspondem ao Ca, Mg e Na,
fofo e bem permeável; o aumento do sódio trocável poderá a PST pode ser calculada por:
torná-lo adensado, compacto em condições secas,
disperso e pegajoso em condições molhadas. RST 100  K G  RAS
PST   100  (2)
A dispersão do solo poderá ser explicada pela teoria 1  RST 1  K G  RAS
da dupla camada difusa (DCD) de Gouy & Chapman. A
micela do solo ou partículas de argila contém cargas
Gheyi (1986) estudou a troca entre sódio-cálcio em
negativas, as quais são equilibradas pela adsorção de uma
solos aluvionais (fração argila) dos perímetros irrigados do
quantidade equivalente dos cátions presentes na solução.
Estado da Paraíba, utilizando-se metodologia proposta por
Os cátions são atraídos pela superfície das partículas de
Fletcher et al. (1984) e soluções mistas de Na-Ca em
solos e, portanto, a concentração relativa dos cátions perto
várias proporções (RAS variando de 0 a 150 (mmol L-1)0,5
da superfície é maior do que em qualquer lugar afastado
porém concentração total (Ca2+ + Na+) constante de 50
desta, tornando a distribuição resultante em uma camada
mmolc L-1 e constatou existência de uma correlação
dupla difusa. Por outro lado, os ânions, por terem carga
altamente significativa entre RST e RAS (r2 = 0,987),
negativa, são repelidos e sua concentração relativa perto
permitindo a estimativa da PST do solo a partir da RAS.
da superfície é igual a zero. A uma certa distância da
superfície da micela, as concentrações de cátions e ânions
100  (0, 01407  RAS  0, 0122)
tornam-se equivalentes. O espaço onde as concentrações PST  (3)
1  (0,01407  RAS  0,0122)
de cátions e ânions são diferentes é conhecido como
espessura da DCD, que varia com a concentração da
solução e a valência dos cátions. As curvas de isotermas de troca sódio-cálcio
Os cátions bivalentes (Ca e Mg) são atraídos pela mostraram que o cálcio é adsorvido com preferência no
superfície da micela mais fortemente do que os solo, e a presença de cálcio solúvel entre 20 e 30% na
monovalentes (Na e K). Assim, com o aumento da relação solução foi suficiente para evitar que o solo atingisse
Ca/Na na solução do solo, o tamanho da dupla camada PST superior a 15.
diminui, acontecendo o mesmo quando aumenta a A dispersão (liberação das plaquetas individuais de
concentração da solução do solo (Bohn et al., 1985). argila dos agregados) é primariamente importante em
Quanto maior ou menor for a DCD, maior a facilidade, solos que contêm quantidades substanciais de minerais
respectivamente, de dispersão ou floculação dos colóides filossilicatados de argila com camadas expansíveis
do solo. (esmectitas e montmorilonitas) nos quais a PST excede
No solo, a quantidade de sódio trocável (Na T) em cerca de 15%. A dispersão e a desestruturação
relação a sua capacidade de troca catiônica, denominada (desarranjo dos agregados em subagregados) do solo
de percentagem de sódio trocável (PST), associada a pode ocorrer mesmo em condições de baixos valores de
concentração total da solução solo, são as grandes PST (< 15), desde que, a concentração eletrolítica seja
responsáveis pela agregação e dispersão das partículas suficientemente baixa. A reunião de agregados resulta
coloidais. A PST do solo pode ser estimada a partir da em mais espaço poroso que o de partículas individuais ou
composição da solução do solo, medida no extrato de de microagregados; portanto, a permeabilidade e a
284 José F. de Medeiros et al.

friabilidade são melhores em condições de solo agregado Valores representativos críticos de RAS ajustada ou
(floculado). As micelas dispersas de argila ou corrigida (aproximadamente igual à PST) e condutividade
microagregados podem alojar-se nos poros reduzindo, elétrica da água de infiltração para manutenção da
também, a permeabilidade. Assim, soluções de solo permeabilidade do solo, são mostrados nas Figuras 1 e 2.
compostas de altas concentrações de solutos (salinidade) A relação de adsorção de sódio (RAS c), conforme
ou com predominância de sais de cálcio e magnésio, Suarez (1982), é recomendada por Ayers & Westcot
proporcionam aos solos boas propriedades físicas. (1999) e Rhoades et al. (2000).
Reciprocamente, baixas concentrações de sais e
proporções relativamente altas de sais de sódio afetam

RASc ou RAS da superfície do


drasticamente a permeabilidade e a friabilidade, enquanto

solo (mmol L-1)0,5


o alto valor de pH (>8) também afeta adversamente a
permeabilidade e a friabilidade, porque aumenta a
quantidade de cargas negativas da argila e da matéria
orgânica e, ainda, as forças repulsivas entre elas
(Rhoades et al., 2000).
A elevação do pH do solo afeta a fertilidade do solo,
diminuindo principalmente a disponibilidade de fósforo e
de micronutrientes.
Condutividade elétrica da água de irrigação (dS m -1)
A infiltração refere-se à facilidade com que a água
Figura 1. Valores limites da RAS corrigida (ou da RAS na
atravessa a superfície do solo, e é medida em termos de
superfície do solo) e CE da água de irrigação associados
velocidade. Uma velocidade de infiltração (VI) de 3 à probabilidade de redução substancial na infiltração da
mm h-1 considera-se baixa, enquanto que acima de 12 água no solo (adaptado de Rhoades, 1982)
mm h-1 é relativamente alta (Ayers & Westcot, 1999).
Decréscimos na velocidade de infiltração do solo
RASc da água de irrigação (mmol L -1)0,5

geralmente ocorrem na época de irrigação, por causa da


gradual deterioração da estrutura do mesmo e formação
de um “lacre”, crosta superficial (arranjo horizontal em
camadas das partículas de solo) como consequência de
sucessivas irrigações (sedimentações, eventos de
molhamento e secamento). A VI é ainda mais sensível
ao sódio trocável, à concentração eletrolítica e ao pH, que
a condutividade hidráulica, o que se deve à expressiva
vulnerabilidade da camada superior do solo às forças
mecânicas, as quais aumentam a dispersão das argilas,
a desestruturação dos agregados e o movimento da argila
desagregada no solo próximo à superfície, e também à
baixa concentração eletrolítica que, geralmente, existe aí, Salinidade da água de irrigação (dS m -1)
em particular sob condições de chuva. Figura 2. Redução relativa da infiltração, provocada pela
As crostas, devido à deposição, frequentemente salinidade e relação de adsorção de sódio ajustada da água
ocorrem em sulcos irrigados, onde partículas de solo, de irrigação (Ayers & Westcot, 1999)
suspensas na água, são depositadas quando a vazão de
água é baixa ou quando a água se infiltra. A Para Medeiros & Gheyi (1997), o nível de salinidade
condutividade hidráulica de tais crostas é dos solos deve ser sempre inferior ao nível nocivo às
frequentemente, de duas a três vezes menores, em plantas cultivadas. Assim, o monitoramento direto da
ordem de magnitude, que a do solo abaixo, salinidade na zona radicular é recomendado para avaliar
especialmente quando a concentração eletrolítica da a eficiência dos diversos programas de manejo nas áreas
água infiltrada está reduzida e o sódio trocável, está irrigadas. Essas águas nem sempre são adequadas para
elevado. A adição de gesso (tanto no solo como na irrigação, contribuindo para o aparecimento de problemas
água) pode frequentemente ajudar, de maneira de salinidade e, consequentemente, problemas
apreciável, na prevenção ou alívio dos problemas de nutricionais do cultivo, resultando em prejuízos para os
redução da VI ou condutividade hidráulica. agricultores. A água de irrigação, mesmo de baixa
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 285

salinidade, pode se tornar um fator de salinização do solo Sabe-se que as diferentes espécies e cultivares de
se não for manejada corretamente (Ayers & Westcot, plantas reagem diferentemente à salinidade, havendo
1991). para cada espécie ou cultivar um limite tolerável de
Silva et al. (2007) estudando o risco de salinização em salinidade que não causa redução na produtividade
quatro solos do Rio Grande do Norte sob irrigação com potencial (salinidade limiar - SL) a partir do qual a
águas salinas verificaram que o uso de águas de produtividade passa a diminuir a medida que se
incrementa a salinidade do solo (Ayers & Westcot,1991;
condutividade elétrica crescente promoveu a elevação do
Rhoades et al., 2000).
pH, da CEes e da RAS no extrato de saturação dos solos.
Para Maas & Hoffmam (1997), além de haver
O aumento na relação de adsorção de sódio das águas diferenças de tolerância entre as espécies e cultivares,
promoveu o incremento dos efeitos das soluções salinas dentro de uma mesma espécie pode também existir
sobre os solos indicando a necessidade do monitoramento diferenças entre as fases fonológicas. A resposta das
da qualidade da água e das propriedades físico-químicas plantas aos sais depende, sobretudo, do tipo de sal,
dos solos submetidos a irrigação com águas salinas. método e frequência de irrigação (Roades et al., 1992).
A tolerância de várias culturas a salinidade é
Efeitos dos sais sobre as plantas convencionalmente expressa, segundo Maas &
As plantas em ambientes com alta concentração de Hoffmam (1977), em termos de rendimento relativo (Y),
sais podem sofrer estresse de duas maneiras: em razão o valor de salinidade limiar (SL) e decréscimos
da baixa disponibilidade de água no solo, em percentuais de produção por unidade de aumento da
consequência da diminuição do potencial osmótico na salinidade acima da salinidade limiar (b) onde a salinidade
zona radicular, e pelo efeito de altas concentrações de do solo é expressa, de CEes em dS m-1 , como segue:
íons específicos (Marron, 2001).
100%, para CEes < SL
Dias et al. (2003) relatam que dependendo do grau de
salinidade, a planta em vez de absorver, poderá até Y= 100-b(CEes -SL), para SL < CEes < CEmax (4)
perder a água que se encontra no seu interior. Esta ação
é denominada plasmólise, e ocorre quando uma solução 0% para CEes > CEmax
é altamente concentrada é posta em contato com a célula
vegetal. O fenômeno é devido ao movimento da água que
em que,Y é o percentual de rendimento esperado sob
passa das células para a solução mais concentrada.
condições salinas, em relação ao obtido sob condições
Deste modo, energia necessária para absorver água de
não salinas, mantidas comparáveis para as demais
uma solução salina é adicional a energia requerida para
condições e CEmax é salinidade do solo que o
absorver água de uma solução de solo não salina. rendimento tende a ser zero.
Os efeitos da salinidade nos vegetais caracterizam-se Este uso da CEes para expressar o efeito da
por redução e não uniformidade do crescimento, presença salinidade na produção, implica no fato de que as plantas
de coloração verde-azulado e queimaduras nas bordas respondem primariamente ao potencial osmótico da
das folhas das plantas (Richards, 1965). Por outro lado, solução do solo.
a salinidade pode afetar positivamente a composição e o A tolerância relativa da maioria das culturas é
crescimento de algumas plantas, pode promover o suficientemente conhecida, o que enseja a preparação de
crescimento de halófitas ou incrementar a produção ou diretrizes técnicas da salinidade. A Figura 4 mostra,
a qualidade de frutos (Pastercak et al., 1987). esquematicamente, os grupos de tolerância relativas das
Os efeitos causados pela toxidade acontecem quando culturas e a Tabela 3 inclui valores de tolerância de
algumas culturas extensivas, hortaliças e frutíferas, a qual
as plantas absorvem os sais do solo, juntamente com a
se refere à salinidade da água de irrigação e a salinidade
água, permitindo que haja toxidez na planta por excesso
medida no extrato da pasta saturada do solo (CEes). Os
de sais absorvidos. Este excesso promove então valores deverão ser considerados apenas como de
desbalanceamento e danos principalmente na bordadura tolerância relativa entre os grupos de culturas, pois os
e no ápice das folhas, a partir de onde a planta perde, por valores de tolerância absoluta variam com o clima,
transpiração, quase que tão somente água havendo, condições de solo e práticas culturais. Esses limites de
nessas regiões acumulo do sal translocado do solo para salinidade foi calculado, considerando que a relação entre
a planta para obviamente, intensa toxidez de sais (Dias salinidade do solo e da água (CEes = 1,5 CEa) e a fração
et al., 2005). de lixiviação equivalente a 15-20 %, adotando-se um
286 José F. de Medeiros et al.

modelo de absorção de água na zona radicular igual a 40- Merrill (1976), a salinidade dos solos e resposta das
30-20-10 (padrão de extração normal). O rendimento plantas à salinidade são afetadas pelas características de
potencial zero implica na salinidade máxima teórica retenção de água do solo, frequência de irrigação, fração
(CE es ) com a qual cessam o crescimento e o de lixiviação adotada e salinidade da água de irrigação.
desenvolvimento da planta. Baseado nesse estudo para as condições de equilíbrio,
Rhoades et al. (2000) retirou as seguintes conclusões:
i) A salinidade da água de irrigação e a FL são
combinadas para se estabelecer a distribuição de
Rendimento relativo (%)

estresse osmótico na zona radicular e o seu valor médio


na zona radicular; ambos também afetando o potencial
total médio;
ii) a fração de lixiviação tem pouco efeito no potencial
mátrico médio, mas a frequência de irrigação afeta
significativamente, devido a depleção de água entre
irrigações e características de retenção de água do solo;
iii) a duração do estresse, tais como “dias de
Salinidade do solo (dS m -1) estresse”, é afetado pela salinidade da água de irrigação,
Figura 3. Curva típica de tolerância das culturas à salinidade, fração de lixiviação, frequência de irrigação e
mostrado os parâmetros salinidade limiar (SL) e o declínio características de retenção de água do solo;
de rendimento ou perda relativa (b) iv) embora a importância desses índices de “status”
de água na resposta das culturas possa variar com a
tolerância das plantas, a composição da água,
propriedades do solo e condições de estresse climático
parecem justificar a conclusão de que, onde águas salinas
Rendimento relativo (%)

são usadas para irrigação, a FL deveria ser aumentada


para elevar o potencial osmótico e, todos outros fatores
sendo mantidos constantes, a frequência de irrigação
deveria ser aumentada para elevar o potencial mátrico,
que combinados maximizam o potencial total e minimizam
a duração dos “dias de estresse”;
v) a salinidade média no espaço (profundidade)
deveria ser um índice razoavelmente bom de resposta
das plantas à salinidade da água do solo nos casos onde
dS m-1 o estresse mátrico é significativo, como nas condições de
Figura 4. Limites de tolerância à salinidade das culturas
irrigação pouco frequente, devido a dependência
(Maas, 1986)
acentuada da duração de “dias de estresse” à fração de
lixiviação. Isso é assim porque a FL primeiramente afeta
FATORES QUE AFETAM A SALINIDADE o nível de salinidade no fundo da zona radicular;
DO SOLO E RESPOSTA DAS CULTURAS
entretanto, um parâmetro de salinidade que está
À SALINIDADE
relacionado à distribuição da salinidade, especialmente da
salinidade da parte inferior da zona radicular, deveria ser
Fatores que afetam a salinidade do solo e respostas
das culturas à salinidade usada como um índice aproximado para estimar a
Sendo a salinidade do solo expressa pela resposta das culturas para o caso de irrigação pouco
concentração dos sais no extrato de saturação, e que o frequente.
valor médio do perfil de salinidade na profundidade da vi) quando o intervalo entre as irrigações é
zona radicular é o parâmetro utilizado para correlacionar prolongado, a duração de estresse aumenta e menos
com o rendimento da cultura, os fatores de manejo que condições é dada para o desenvolvimento da cultura “vir
interferem na distribuição dos sais no perfil e na diluição equiparar-se” a irrigações frequentes. A diminuição do
dos sais na solução do solo são preponderantes na potencial osmótico associada a frações de lixiviação
resposta das plantas à salinidade. pequenas e ao uso de águas de irrigação salina, torna-se
Conforme Rhoades et al. (2000), como foi mostrado especialmente perigosa, porque o nível de “estresse
pelo estudo de modelagem conceitual de Rhoades & crítico” do potencial total será alcançado mais
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 287

Tabela 3. Tolerância das culturas herbáceas à salinidade1 (adaptado de Maas, 1986)


SL3 Perda Rel. – b Classe de
Cultura Nome Botânico²
(dS m-1) %/(dS m-1) Tolerância4
Fibra, grão e culturas especiais
Algodão Gossypium hirsutum 7,7 5,2 T
Amendoim Arachis hypogaca 3,2 29,0 MS
Arroz Oryza sativa 3,05 12,0 S
Cana-de-açúcar Saccharum officinarum 1,7 5,9 MS
Caupi Vigna unguiculata 4,9 12,0 MT
Cevada Hordeum vulgare 8,0 5,0 T
Fava Vicia Faba 1,6 9,6 MS
Feijão Phaseolus vulgaris 1,0 19,0 S
Gergelim Sesamun indicum S
Girassol Helianthus annuus MS*
Milheto, foxtail Setaria italica MS
Milho Zea mays 1,7 12,0 MS
Soja Glycine max 5,0 20,0 MT
Sorgo Sorghun bicolor 6,8 16,0 MT
Trigo Triticum aestivum 6,0 7,1 MT
Forrageiras
Alfafa Medica sativa 2,0 7,3 MS
Aveia (forrageira) Avena sativa MS*
Capim Bermuda Cynodon 6,9 6,4 T
Capim Buffel Cenchrus ciliaris MS*
Caupi (Forrageira) Vigna unguiculata 2,5 11,0 MS
Cevada (Forrageira) Hordeum vulgare 6,0 7,1 MT
Milho (Forrageira) Zea mays 1,8 7,4 MS
Trigo (forrageira) Triticum aestivum 4,5 2,6 MT
Hortaliças e Fruteiras
Aspargo Asparagus officinalis 4,1 2,0 T
Feijão Phaseolus vulgaris 1,0 19,0 S
Beterraba vermelha Beta vulgaris 4,0 9,0 MT
Repolho B. oleracea capitata 1,8 14,0 MS
Cenoura Daucus carota 1,0 S
Pepino Cucumis sativus 2,5 6,9 MS
Berinjela S. melongena esculentum 1,1 MS
Alface Lactuca sativa 1,3 12,0 MS
Melão Cucumis melo 2,2 7,5 MS
Cebola Allium cepa 1,2 S
Pimentão Capsicum annuum 1,5 12,0 MS
Batata Solanum tuberosum 1,7 MS
Espinafre Spinacia olaracea 2,0 16,0 MS
Abobrinha, scallop Cucurbita pepo melopepo 3,2 9,4 MS
Abobrinha, zucchini C. pepo melopepo 4,7 33,0 MT
Morango Fragaria sp. 1,0 11,0 S
Batata doce Ipomoea batatas 1,5 9,9 MS
Tomate L. esculentum 2,5 9,0 MS
1 Esses dados servem apenas como indicativo da tolerância relativa entre culturas. Tolerância absoluta depende do clima, das condições do solo e práticas culturais
2 Os nomes botânicos e comuns em inglês, conforme a convenção de “Hortus Third”, quando possível
3 Em solos gipsíferos, as plantas toleram CEes cerca de 2 dS m -1 acima do indicado
4 T = Tolerante, MT = Moderadamente Tolerante, MS = Moderadamente Sensível e S = Sensível. Classes com * são estimativas
5 Como arroz é cultivado sob condições de inundação, os valores se referem às condutividades elétrica da água do solo, enquanto plantas estão inundadas. Menos tolerantes durante fase de plântula

rapidamente (para uma dada quantidade de uso de resposta das plantas à salinidade deveria torna-se
água), quanto maior for o potencial osmótico no começo relativamente mais relacionada à salinidade da água de
da depleção de água; irrigação (CEa) e potencial osmótico médio, do que à FL
vii) sob condições de irrigações mais frequentes, a e salinidade média com a profundidade. Alguns
288 José F. de Medeiros et al.

resultados experimentais confirmam isso (Meiri, 1984; estatisticamente. Isso sugere que as plantas respondem
Bresler & Hoffman, 1986; Bresler, 1987). a média aritmética dos valores de salinidade da zona
Em seguida serão discutidos os diferentes fatores que radicular. Os resultados dos estudos de milho em solos
afetam a salinidade do solo e resposta das plantas à orgânicos concordam com resultados de experimento de
salinidade. campo em Israel com solo mineral cultivando amendoim
e tomate e com resultados da Califórnia para alfafa
Salinidade integrada no espaço e no tempo (Hoffman et al., 1992).
No campo, a distribuição dos sais nem é uniforme no
espaço (profundidade), nem é constante com o tempo. A Integração no tempo
aplicação de resultados experimentais dos estudos de Para avaliação, a salinidade do solo é tipicamente
tolerância à salinidade das culturas para as condições de monitorada no começo e fim do ciclo da cultura e os
campo, requer conhecimentos de resposta das plantas à valores são usados para determinar a salinidade média do
salinidade variando com o tempo e profundidade. Até o solo. Em experimentos, a salinidade do solo é
momento, muitos experimentos de campo têm sido normalmente monitorada com maior frequência.
conduzidos considerando a hipótese que as plantas Relacionar a resposta das culturas à salinidade do solo
respondem à salinidade média da zona radicular a integrada no tempo é difícil porque, para algumas
estação de crescimento. culturas, a sensibilidade varia com o estádio de
Rhoades (1972) introduziu o conceito de salinidade desenvolvimento.
média integrada da solução do solo, ao longo do ciclo de Bernstein & Pearson (1954), comparando a influência
irrigação, para considerar as variações de salinidade de um nível constante de salinidade com níveis crescendo
entre irrigações. Conforme Rhoades & Merrill (1976), a e diminuindo, em vários ciclos, porém mantendo o valor
salinidade média da água do solo, em determinado médio do potencial osmótico idêntico ao produzido pelo
intervalo de tempo, é maior em solos que são irrigados nível constante, concluíram que o pimentão respondeu a
com menor frequência, quando se mantêm outros fatores salinidade média do período, independente se variava ou
constantes. não durante o desenvolvimento da cultura, enquanto o
Ingvalson et al. (1976) correlacionaram rendimento de tomate foi mais afetado por períodos de alta salinidade.
alfafa, obtido sob condições de salinidade, para vários Então, a resposta à salinidade média do período é
índices de salinidade, e verificaram que o rendimento foi provavelmente uma estimativa razoável, a não ser que
melhor correlacionado à salinidade da água de drenagem valores de salinidade durante o ciclo oscilem ao redor da
do que à da água de irrigação. Também, correlacionou- salinidade limiar da cultura ou, como foi provavelmente
se melhor à salinidade média integrada no tempo e no o caso para tomate, existam alguns valores de salinidade
espaço (profundidade), do que com a salinidade média da que excedam a faixa de resposta linear na curva de
zona radicular e ponderada com a absorção de água, tolerância à salinidade.
embora estes índices tenham mostrado correlações Avaliar a resposta de culturas perenes à salinidade no
relativamente altas. Vale salientar que o método de tempo é mais complexo do que para as anuais, porque o
irrigação adotado era inundação intermitente e a rendimento pode ser afetado pela salinidade do solo de
frequência das aplicações de água correspondia a de anos anteriores. É difícil explicar como ocorre a
irrigações convencionais. compensação do efeito da salinidade devido períodos de
Meiri & Polijakoff-Mayber (1970) observaram que a dormência e mudanças drásticas do tempo como as
área foliar relativa do feijão, de diferentes experimentos monções, chuvas de inverno ou grandes mudanças da
de salinidade, foi afetada linearmente com a salinidade. demanda evaporativa da atmosfera. Segundo Hoffman
et al. (1992), o período de tempo apropriado para
Integração com a profundidade determinar a salinidade média dependerá da cultura e de
Em experimento de campo, para estabelecer a seu ambiente.
tolerância à salinidade do milho, Hoffman et al. (1983),
utilizando dois métodos de irrigação (microaspersão e Frequência de irrigação
subirrigação), obtiveram perfis de salinidade do solo Para o cultivo em solos salinos a frequência de
diferentes para cada método de irrigação, entretanto, as irrigação é um fator muito importante, pois, quanto maior
curvas de resposta de tolerância à salinidade para os a frequência, menor será a concentração dos sais, devido
métodos de irrigação, usando a salinidade média linear do ao efeito da diluição. Poucas evidencias experimentais
perfil para todos os níveis de salinidade testados durante existentes, entretanto, sustentam como recomendação
os três anos de experimento não diferiram comum, que o intervalo de irrigação deveria ser
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 289

diminuído quando se utiliza água salina (Hoffman et fazendo com que uma fração da água aplicada percole
al.,1992). abaixo da zona radicular, lixiviando parte dos sais
Quando o solo seca devido à evapotranspiração, acumulados.
depois de uma irrigação, os potenciais mátrico e A lixiviação é a chave da irrigação bem sucedida
osmótico diminuem. A taxa de decréscimo depende da onde a salinidade é excessiva, e também é considera
taxa de evapotranspiração e da relação entre o como o único meio pelo qual a salinidade do solo pode
potencial mátrico e o teor umidade do solo. A taxa de ser mantida em níveis aceitáveis sem riscos para as
secamento do solo decresce quando o potencial culturas. Pois, quanto mais salina é a água de irrigação
osmótico diminui, produzindo, assim, um maior potencial ou mais sensível é a cultura à salinidade, a mais lixiviação
mátrico antes da próxima irrigação. Contrapondo a esse deve existir para manter o rendimento da cultura
processo, o intervalo de irrigação influencia na forma da explorada.
distribuição de sais no perfil e no nível total de A necessidade de lixiviação (NL) é a fração mínima
salinidade do solo da quantidade total de água aplicada que deve passar
Conforme Ayers & Westcot (1999), o momento da através da zona radicular, para prevenir a redução no
lixiviação não é o fator decisivo, a menos que a rendimento da cultura. Devido à condutividade elétrica
concentração de sais exceda o limite de tolerância da (CE) ser facilmente medida e quase linearmente
cultura por tempo prolongado. Pelo suposto, isto não quer relacionada com a concentração de uma solução do solo
dizer que a lixiviação tenha menos importância relativa, relativamente diluída, comumente substitui-se a
pelo contrário, para evitar a acumulação excessiva e concentração por CE.
perigosa é imprescindível que se satisfaça a necessidade Para Rhoades et al. (2000), a necessidade de
de lixiviação. A frequência de lixiviação deve ser tal que lixiviação é outro aspecto do manejo da irrigação, além
permita manter a salinidade abaixo da concentração que da frequência de irrigação, que influencia na resposta
ocasionaria reduções inaceitáveis nos rendimentos. Isso das culturas à salinidade da água de irrigação. Ele não é
implica que a lixiviação pode ser praticada a cada suficientemente entendido, especialmente quando suas
irrigação, com irrigações intercaladas, ou ainda, com interações de equilíbrio com a frequência de irrigação são
menos frequência, como em cada período (estação) ou consideradas em conjunto. Bower et al. (1969) considera
intervalos ainda maiores. Em muitos casos, as irrigações quando o solo está em condições de equilíbrio com a
de aplicações aceitáveis, satisfazem as necessidades de
salinidade da água de irrigação, a interação entre
lixiviação e, portanto, aplicar água adicional para lavar
concentração de sais da água de irrigação e a fração de
sais poderá ser desnecessário.
lixiviação é quem primeiramente determina a
A lâmina de lixiviação, que controla a acumulação de
concentração e a distribuição de sais na zona radicular,
sais na zona radicular das culturas irrigadas, depende da
assim, como o valor médio do potencial osmótico da água
concentração salina da água, do método de aplicação, da
do solo. A fração de lixiviação é também o principal fator
precipitação pluviométrica e das peculiaridades do solo
de manejo que afeta a salinidade ponderada com a
(Kelley, 1963). Segundo Bower et al. (1969), frações de
absorção de água. Isso pode ser verificado na Eq. (2),
lixiviações maiores produzem perfis de salinidade mais
desenvolvida por Bernstein & François (1973b) para
uniforme. Shalhevet & Reiniger (1964), durante o ciclo
descrever a concentração média de sais considerando a
de culturas anuais, observaram que com lixiviações )
absorção de água pela planta, C , que é independente do
elevadas houve aumento gradativo da salinidade com a
profundidade, enquanto pequenas frações de lixiviação padrão de absorção de água pelas raízes (Hoffman &
induziram maior concentração na parte intermediária da van Genuchten, 1983; Smith & Hancock, 1986):
zona radicular.
Considerando a salinidade do solo, Meire & Shalevet (5)
(1973) concluíram que lixiviações mais frequentes
proporcionaram maiores salinidades na zona radicular no
final do experimento, no cultivo de pimentão. sendo:
Va e Vr - volume de água de irrigação infiltrado e
Necessidade de lixiviação drenado, respectivamente;
A forma de controlar o acúmulo de sais no solo é Ca e Cr - concentração das águas de irrigação e
pela lixiviação, que pode ser proporcionada pela drenada, respectivamente;
precipitação pluvial ou pela aplicação de uma lâmina de FL - fração de lixiviação, que é a relação entre a
água de irrigação superior aquela requerida pela cultura, lâmina drenada e a irrigação.
290 José F. de Medeiros et al.

A equação acima aplica-se somente para a condição Smith & Hancock (1986) apresentaram a mesma
em que ocorre conservação de massa, ou seja, relação e aproximação como a de Bernstein & Francois
Ca.Va = Cr.Vr (Medeiros, 1998). Entretanto, segundo (1973b), Rhoades (1982), Hoffman & van Genuchten
Ingvalson et al. (1976), pode ser modificada para considerar (1983) para calcular NL. Eles sugeriram que a relação
efeitos de precipitação ou dissolução de sais como segue: ponderada com a extração de água do solo é único
método aceitável para calcular a NL. Os resultados da
ln FL  
b c avaliação recente feita por Bresler (1987), quanto a
Ĉ  a  (6)
1  FL FL resposta da cultura à salinidade e manejo da irrigação,
pode ser interpretado como o suporte do conceito de “NL
em que, “a”, “b” e “c” são considerados constantes dual” de Rhoades (1982). O conceito de “NL dual” é um
empíricas da equação polinomial de 2ª ordem, que caminho indireto de ajustamento da NL para os efeitos
descreve a concentração da solução do solo para uma do estresse mátrico sobre a resposta da cultura à
dada água de irrigação como função de (1/F) derivada salinidade e é recomendada para isto, até que um método
do modelo “Watsuit” (Rhoades et al., 2000). mais convincente seja desenvolvido (Rhoades &
Segundo Raats (1974), C não é corretamente descrito Loveday, 1990).
pelas equações acima, quando a dispersão hidrodinâmica Para Rhoades et al. (2000), a necessidade de
e difusão afetam apreciavelmente a distribuição de sais lixiviação é outro aspecto do manejo da irrigação, além
na zona radicular. da frequência de irrigação, que influencia a resposta das
De acordo com Rhoades (1974), para culturas culturas à salinidade da água de irrigação mas é, também
específicas e aproximações mais exatas de NL, pode-se suficientemente entendido, especialmente quando suas
utilizar a seguinte equação: interações com a frequência de irrigação são juntamente
considerados. Com o solo em condições de equilíbrio
CEa com a salinidade da água de irrigação e a fração de
NL  (7)
5  CE es  CEa lixiviação (FL) que determina concentração e
distribuição de sais na zona radicular, assim como o valor
médio do potencial osmótico da água do solo, como
em que a NL é a necessidade de lixiviação mínima que
evidenciam os dados de Bower et al. (1969). A fração de
se necessita para controlar os sais dentro do limite de
lixiviação é também o principal fator de manejo que
tolerância da cultura, empregando-se métodos de
afeta a salinidade ponderada com a absorção de água.
irrigação convencional; CEa é salinidade da água de
irrigação, em dS m-1, e CEes* é a salinidade média do Isso pode ser verificado na equação desenvolvida por
extrato de saturação do solo, em dS m -1 , que Bernstein & Francois (1973) para descrever a
representam a salinidade tolerada pela cultura concentração média de sais na solução do solo
considerada. considerando à absorção de água pela planta, C, que é
A necessidade de lixiviação (NL) para o controle da independente do padrão de absorção de água pelas
salinidade, também pode ser determinada usando as raízes:
relações apresentadas por Rhoades (1977, 1982), quando Shalhevet & Reiniger (1964) observaram, durante o
se conhece a tolerância da cultura à salinidade, a ciclo de culturas anuais que, com lixiviações elevadas,
salinidade da água de irrigação e o tipo de manejo de ocorreu aumento gradativo da salinidade com a
irrigação. Nesse caso, a relação para “irrigação profundidade, enquanto pequenas frações de lixiviação
convencional” é usada onde o solo pode ser deixado induziram uma concentração maior na parte intermediária
secar entre as irrigações, isto é, onde o estresse matricial da zona radicular.
significante ocorre junto com o estresse osmótico Para Rhoades et al. (2000) o nível de sais na zona
induzido pela salinidade; a relação para “irrigação com radicular deve ficar abaixo do nível nocivo às plantas
alta frequência” é usada onde o solo não seca cultivadas. Assim, o monitoramento direto da salinidade
significativamente entre irrigações. Inerente a essas duas na zona radicular é recomendado para se avaliar a
relações, está a mudança no índice de salinidade usado eficiência dos diversos programas de manejo na área
para relacionar a resposta da cultura á salinidade. A irrigada.
salinidade média na zona radicular (média aritmética) é
usada para “irrigações convencionais”, enquanto a Frequência de lixiviação
salinidade da zona radicular ponderada com a absorção Altas concentrações de sais na porção inferior da
de água da cultura é usada para irrigação de alta zona radicular das culturas pode ser tolerada com efeitos
frequência (Medeiros, 1998). mínimos no rendimento, quando a porção superior é
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 291

mantida com teor de sais relativamente baixo (Bernstein drenabilidade do solo, a precipitação dos sais de baixa
& Francois, 1973). As plantas compensam reduzindo a solubilidade, manejo da irrigação e manejo agronômico.
absorção de água da região mais salina e aumentando a A salinidade do solo pode aumentar
absorção da parte menos salina (Shalhevet & Bernstein, consideravelmente em apenas um período de irrigação
1968). Embora essa compensação possa ocorrer sem com água salina, quando não ocorrem chuvas nesse
redução de rendimento, questões frequentemente período (FAO/UNESCO, 1973). Em Israel, o uso de
levantadas são: (i) quanto de sais pode ser armazenado água com uma condutividade elétrica variando entre 0,70
na zona radicular antes que a lixiviação seja necessária e 4,00 dS m-1 tem aumentado a condutividade elétrica do
e (ii) quantas vezes água em excesso deve ser aplicada extrato de saturação do solo de 0,20 a 2,50 dS m-1 após
para proporcionar lixiviação. um período de irrigação (Medeiros, 1992). O Comitê de
A maioria das águas de irrigação apresenta salinidade Terminologia da Sociedade Americana de Ciência do
que, mesmo sem lixiviação, muitas irrigações possam ser Solo classifica um solo de sódico quando este apresenta
aplicadas antes que a salinidade atinja níveis prejudiciais às RAS > 15 (mmol L-1)0,5 e salino para CEes > 2dS m-1 a
culturas. Esse atraso na lixiviação é claro, depende da 25ºC (Glossary of Soiul Science Terms, 1975).
tolerância da cultura; mais tolerante a cultura, maior o Segundo Medeiros (1998), sendo conhecido o teor de
atraso. Um exemplo de atraso da lixiviação, foi o sais no início, na zona radicular, pode-se calcular a
experimento de lisímetro em casa de vegetação com variação de armazenamento de sais (Z) no intervalo de
alfafa usando água de irrigação de 1 dS m-1, em perfis de tempo considerado, como:
solo franco arenoso de 0,6, 1,2 e 1,8 m de profundidade,
durante 9, 14 e 20 meses, respectivamente (Francois,
1981). O rendimento foi reduzido menos de 25%, embora (8)
mais de 14, 30 e 45 Mg ha-1 de sais fossem armazenados
na metade inferior dos três perfis sem lixiviação. Assim,
quanto mais profundo for o solo, maior será a capacidade
de armazenar sais, com redução mínima de rendimento.
sendo,
Reduções drásticas de rendimento somente ocorreram
Z1 - quantidade de sais na zona radicular (Z =
quando os sais começaram a se acumular na porção CEcc.Wcc), no início da irrigação ou período considerado,
superior da zona radicular. expresso como CEmm, em dS m-1.mm;
Considerando a salinidade do solo, Meiri & Shalhevet Wcc - lâmina de água que o solo retém à capacidade
(1973) concluíram que lixiviações mais frequentes de campo (cc) na profundidade da zona radicular, em
proporcionaram maiores salinidades no final do mm;
experimento. R* - lâmina de percolação, (mm);
Sendo assim, para irrigações de alta frequência, o I - lâmina de irrigação (mm);
problema do pico de salinidade mais raso pode ser Ca - concentração de sais na água de irrigação (dS m-1).
resolvido aplicando-se as lâminas de lixiviação apenas
quando a salinidade do solo atinge valores críticos para Medeiros (1998) considera que a variação de CE da
as culturas. água do solo à capacidade de campo, num período de
tempo, pode ser obtida, dividindo-se a variação de
PREVISÃO DE SALINIDADE EM armazenamento de sais (Z) pela lâmina de água à
ÁREAS IRRIGADAS capacidade de campo (Wcc).

Balanço de sais na zona radicular Avaliação da água de irrigação através de


A água de irrigação contém sais solúveis e seu uso simulação e previsão da salinidade do solo
constante, na ausência de lixiviação, faz com que o sal Segundo Rhoades et al. (2000), as condições de
se deposite na zona do sistema radicular devido à equilíbrio não ocorrem na maioria das situações
evaporação. A remoção de sais da zona radicular para encontradas na agricultura irrigada. Nesse caso, são
manter a solução do solo a um nível de salinidade necessários modelos dinâmicos complexos (Bresler,
compatível como sistema de cultivo depende da 1987; Bresler & Hoffman, 1986; Letey & Dinar, 1986;
manutenção do balanço de sais. Essa lixiviação dos sais Letey et al., 1990; entre outros) para levar em conta as
é o fator mais importante para evitar a salinização de variáveis climáticas, culturas, solos, água, atmosfera,
uma área irrigada. Além disso, vários outros fatores manejo de irrigação e tempo, relacionando as variáveis
podem ainda afetar o processo de salinização, como a que influenciam o potencial total da água e seus
292 José F. de Medeiros et al.

componentes. Entretanto, a maioria dos dados de entrada Tabela 4. Média ao longo do tempo da salinidade medida e
requeridos por esses modelos não está geralmente simulada, assumindo a média aritmética para a
disponível para muitas aplicações práticas e existem profundidade da zona radicular de 60 cm, e salinidade
medida no final do ciclo. (Medeiros, 1998)
muitas incertezas a respeito de como relacionar a
resposta das culturas à salinidade e ao potencial mátrico
variável no tempo e espaço, tal como pode ser previsto
por estes modelos. Por estas razões, modelos
conceitualmente simplificados, como os existentes para
condições de equilíbrio, podem ser mais apropriados para
avaliar a adequabilidade da água de irrigação. Estes
modelos, provavelmente, fornecem a pior situação que
resultaria da irrigação com uma determinada água
(Rhoades et al., 2000).
Assim, Rhoades & Loveday (1990) e Rhoades et al.
(2000) recomendam um modelo para condições de
equilíbrio relativamente simples desenvolvido por
Rhoades & Merrill (1976). A sequência básica é a O exemplo apresentado em seguida apresenta uma
versão adaptada por Medeiros & Gheyi (1997) para
seguinte: (1) prever a salinidade, sodicidade e
cálculo em planilha eletrônica para simular a salinidade
concentração de íons tóxicos da água do solo em uma
no perfil do solo para diferentes valores CE da água e
zona radicular simulada, resultante do uso de uma
valores de fração de lixiviação, considerando a irrigação
determinada água de irrigação de dada composição,
convencional e alta frequência. Este procedimento
aplicada com uma fração de lixiviação específica e (2)
apresenta boa precisão para as águas do Brasil, pois as
avaliar o efeito deste nível de salinidade (ou mesmas, em sua grande maioria são pobres em SO4, não
concentração iônica) no rendimento da cultura e do nível havendo formação de precipitados de sulfato de cálcio.
de sodicidade sobre a permeabilidade do solo. Também E ainda pode identificar culturas que possam ser
existe uma versão deste modelo, com mais sofisticação, exploradas na área em estudo. A mesma planilha utiliza
em forma de programa para computador, denominado um procedimento, sugerido por Suarez (1981), que é o
“Watsuit” (Rhoades & Merrill, 1976). cálculo da RAS ajustada ou corrigida (RASaj ou RASc)
A tendência atual é desenvolver modelos capazes de para predizer potenciais problemas de infiltração devido
prognosticar os riscos de salinização e/ou sodificação a alta concentração de Na ou baixa concentração de Ca
partir de dados meteorológicos do local e as na água de irrigação, como também estimar a sodicidade
características do solo, água e cultura a serem utilizadas. do solo no seu perfil, conforme a equação:
No Brasil, de nosso conhecimento, essa linha de pesquisa
ainda encontra-se na fase inicial de adaptação. Os Na
RASaj  (9)
técnicos da CODEVASF elaboraram um mapa de riscos Mg  Ca e
relativos de salinização para bacia do rio São Francisco 2
utilizando dados climatológicos (evapotranspiração e
precipitação) e a qualidade da água disponível para
irrigação. Por outro lado, a Universidade Federal da em que, Na e Mg são concentrações de sódio e
Paraíba com base de balanço de sais no solo tem magnésio na água de irrigação, em mmolc L-1 e Cae é
verificado boas correlações entre os resultados teor de cálcio da água, modificado pela pressão parcial
simulados e experimentais obtidos em cultivo de banana do dióxido de carbono (PCO2) exercida no perfil do solo.
(Santos, 1997), o mesmo tem sido verificado em plantio O valor de Cae representa a concentração final de
cálcio que permaneceria na solução do solo, como
de melão, em Mossoró/RN (Costa, 1999), e por Medeiros
resultado da aplicação de uma água de determinada
(1998), sob cultivo de estufa, onde verificou, que em
salinidade (CEa) e teor relativo de bicarbonato em
termos médios a salinidade simulada ficou próxima da relação ao cálcio (HCO3/Ca) e foram apresentados por
medida (Tabela 4), divergindo apenas na evolução ao Suarez (1981), na forma de tabela. Medeiros & Gheyi
longo do tempo. O valor médio simulado 15 a 20% acima (1997) desenvolveram a partir de um ajustamento
do valor medido pode ser atribuído a posição das coletas matemático dos valores da tabela apresentada por
das amostras de solo, que foi feita na região central do Suarez (1981), adaptando-a às grandezas e unidades a
bulbo, onde a salinidade tendeu a ser menor. Equação seguinte:
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 293

2 / 3
  HCO3 
X  9,32  2,47CE1 / 2  0,136CE    (r 2  0,999) (10)
a.1) Estimar o perfil de salinidade sem considerar
precipitação de sais para FL = 0,10.
 Ca 
a.2) Estimar a composição da solução do solo,
assumindo precipitação da calcita, para FL = 0,10.
onde, X é concentração molar de cálcio dissolvido ou a.3) Determinar a necessidade de lixiviação para se
precipitado na solução do solo para alcançar o equilíbrio obter rendimento potencial e 90% para irrigação
com a calcita, em mmol L-1 e (HCO3/Ca) é teor relativo convencional e de alta frequência.
de bicarbonato em relação ao cálcio, com concentração
expressa em mmolc L-1. Solução:
O valor da concentração de cálcio em equilíbrio na a.1) Previsão do perfil de salinidade para as condições
solução do solo, em mmolc L-1, é obtido por: de equilíbrio, sem considerar precipitação de sais:
Os cálculos de balanço de sais serão feitos por
Ca e  0, 43  X  ( P(CO2 ) )
1/ 3
(11) camada, conforme procedimento mostrado para
elaboração da Tabela 4.
A lâmina de irrigação necessária para suprir a
em que, PCO2 é pressão de CO2 no perfil do solo, em kPa. demanda hídrica da cultura e a fração de lixiviação será:
Para a superfície do solo, usa-se PCO2=0,03 a 0,07
1 1
kPa; para a parte da zona radicular mais profunda, na IE P  EP   1,1111E P  (12)
ausência de informações específicas, usa-se valores de 1 1FL 0,9
e 3 kPa para solos arenosos e argilosos, respectivamente
(Rhoades et al., 2000). Segundo Rhoades & Loveday A lâmina percolada abaixo da zona radicular para a
(1990), o programa “Watsuit” adota para P CO 2 na FL proposta será:
superfície do solo e nos quatros quartos subsequentes, de
abrangência do sistema radicular, respectivamente, os
RE P   0,1111E P 
FL
(13)
seguintes valores: 0,07; 0,5; 0,15; 2,3 e 3,0 kPa. 1- FL
As perdas (ou ganhos) em concentração de Ca são
iguais à diferença [(Caa.Fc) – Cae], todos em mmolc L-1,
e a perda (ou ganho) correspondente em CE (dS m-1) é
igual ao produto de 0,1 vezes esta diferença.
Exemplo de aplicação:
Avaliar a qualidade da água de irrigação, baseado nas
condições de manejo, sabendo-se que vai ser utilizada para 1 (E-P) representa a quantidade da água de irrigação líquida consumida pela cultura.
2 Assume-se que a CE da água percolada é igual a CE da solução do solo à capacidade de campo.
irrigar tomate. A composição da água é a seguinte: Cl =
15,3; HCO3 = 7,0; Ca = 9,3; Mg = 4,0 e Na = 10,0 mmolc
a.2) Assumindo a precipitação do Ca.
L-1, CE = 2,3 dS m-1 e pH =7,0. O solo é um Latossolo
Como a concentração do sulfato na água de irrigação
Vermelho Amarelo Eutrófico com boa drenagem. A área é baixa e o maior fator de concentração da água no solo
irrigada se localiza em Mossoró-RN, cuja precipitação ser 10, o sulfato irá se concentrar abaixo da solubilidade
pluviométrica média é de 700 mm, com uma precipitação do sulfato de cálcio. Assim a ocorrência de precipitados
efetiva de 420 mm. deve ocorrer apenas como carbonato de cálcio.
O padrão de absorção radicular, assumindo quatro Os quadros seguintes apresentam os resultados para
camadas, será 60-30-7-3%, que é típico para irrigação de cada posição da zona radicular.
alta frequência, e a pressão parcial de CO2 nas interfaces
de cada camada são: 0,07; 0,5; 1,5; 2,3 e 3 kPa.
O tomateiro tolera a uma salinidade de 2,5 dS m-1 e a
partir daí há uma redução no rendimento da ordem de 10%
por unidade de salinidade do solo (CEes).
Pede-se:
a) Utilizar a planilha eletrônica para simular o
comportamento da salinidade do solo para condições de
equilíbrio, aplicando diferentes frações de lixiviação.
294 José F. de Medeiros et al.

Assim, para irrigação convencional, a necessidade de


lixiviação deve ficar por volta de 12%, e para irrigação
de alta frequência, 2%.

1 Valor calculado fazendo-se a média de cada camada e posterior média das médias parciais.
Manejo da água e tolerância das culturas
considerando os valores de CE das águas dos poços
Os procedimentos de como se calcular os valores na região de Mossoró
apresentados nestes dois últimos quadros estão A área explorada sob condições de irrigação no
apresentados em seguida: Nordeste do Brasil ainda é pequena (aproximadamente
CE r - CE da água percolada das respectivas 663.672 ha, em 2001), mas existe potencial para chegar
camadas, sem considerar ocorrência de precipitações. a 1.304.000 ha (Christofidis, 2001). Embora a irrigação
O valor para a posição “0” corresponde a CE da água seja apontada como uma das alternativas para o
de irrigação. desenvolvimento socioeconômico das regiões semi-
Fc - fator de concentração da solução do solo, obtido áridas, ela deve ser manejada racionalmente, a fim de
pela razão entre CEr de cada posição da zona radicular evitar problemas de salinização dos solos e de
e CEa. degradação dos recursos hídricos e edáficos, uma vez
Na, Mg, Ca, HCO 3 e Cl - concentração dos que as condições climáticas dessas regiões são
elementos contidos na água de irrigação vezes o fator de extremamente favoráveis à ocorrência desses problemas
concentração de cada posição. (Medeiros, 2008).
RAS determinada pela equação: RAS = Na/ Souza et al. (2000) reforçam que, em áreas irrigadas,
[(Ca+Mg)/2]0,5 o processo de salinização pode acontecer mesmo em
RASaj determinada pelas Eqs. 17, 18 e 19 solos com boas características, em especial nas situações
CE as - CE da solução do solo na capacidade de em que não existe manejo de solo e água adequado. Na
campo, corrigida pela precipitação ou dissolução da realidade, a concentração de sais nos solos irrigados
calcita, ou seja, CEas=CEr - 0,1.(Ca - Cae). apresenta relação direta com a precipitação total anual,
com as características físicas do solo e com as condições
CEesaj - CE da solução do solo (CEas) expressa como
de drenagem.
do extrato de saturação, obtido por:
Sabe-se que todas as águas utilizadas na irrigação
contêm sais, que se concentram no solo à medida que as
US
CEes aj  CE as (14) plantas retiram a água do mesmo. Uma lâmina de 100
U cc
mm mesmo com, relativamente, baixo teor de sais
(condutividade elétrica de 0,50 dS m-1 ou 320 mg L-1 de
Assim, CEes e CEes, assumindo a precipitação do sólidos dissolvidos totais), pode incorporar no solo cerca
CaCO 3, foram respectivamente 2,22 e 4,01 dS m -1, de 320 kg ha -1 de sais, sendo que cada irrigação ou
lâmina adicional provocaria um aumento progressivo se
representando uma redução de 30,8 e 33,9% em relação
estes sais não forem lixiviados ou sofrerem qualquer
aos valores obtidos sem considerar as precipitações. Por
outra transformação - precipitação ou retirada pelas
outro lado, as médias aritmética e ponderada da RAS
plantas. Na presença do lençol freático alto, a água
apresentaram um aumento de 51,3 e 45,3%, quando se
ascende por capilaridade na zona radicular à medida que
efetuou a correção da precipitação do Ca. esta é evapotranspirada. A rapidez deste processo
a.3- Necessidade de lixiviação para se obter o depende do manejo da irrigação, da concentração de sais
rendimento potencial de 90%. na água do lençol, da profundidade do lençol freático, do
Considerando os parâmetros de tolerância para o tipo de solo e do clima (Ayers & Westcot, 1999).
tomate, aplicando a Eq. (1), a salinidade do solo para o Na agricultura irrigada, a utilização indiscriminada de
rendimento de 90% é de 3,5. águas com concentração elevadas de sais pode salinizar
Utilizando a planilha de cálculo acima, para FL de os solos, comprometendo a produção das culturas.
0,02 a 0,30, têm-se os seguintes valores de salinidade do Porém, existem amplas evidências em todo o mundo, que
solo para irrigação convencional e de alta frequência: águas de alta salinidade, classificadas como inadequada
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 295

para irrigação, podem ser usadas na irrigação de várias Nas culturas moderadamente tolerantes (mamão,
culturas selecionadas sob certas condições (Rhoades et abobrinha, sorgo, etc.) a irrigação convencional pode ser
al., 2000). utilizada sem nenhuma restrição quando se utilizar águas
Alguns autores (Medeiros et al., 2003; Maia, 1996) com CE a ≤ 1,75 dS m -1,contudo estas culturas não
verificaram a existência de relações entre diferentes suportam irrigação com águas de CEa ≥ 5dS m-1, sem que
características da água. Na Tabela 5 são apresentadas
haja prejuízo. Para se utilizar águas com CEa de 2,5; 3,5
relações existentes entre a CE e as concentrações de
e 4,5 dS m-1 sem redução do seu rendimento, é preciso
(Ca 2+ + Mg 2+ , Ca 2+, Na + e Cl - ), as duas podem ser
adicionar lâmina de irrigação com frações de lixiviação
estimadas com boa precisão (R2 > 0,69) a partir da CE, ≥ 5%, 10% e 18%, respectivamente.
crescendo todos proporcionalmente com a salinidade da
água, enquanto o HCO 3- não apresentou correlação Utilizando-se irrigação de alta frequência (Figura 6),
significativa, mas podendo ser obtido por diferença observa-se que todas as águas avaliadas podem ser
(HCO 3 =Ca+Mg+Na-Cl). De uma forma geral, as aplicadas na irrigação das culturas tolerantes. Para
relações foram similares entre as épocas, exceto para a moderadamente tolerantes, existem restrições para águas
relação Na x CE, cujas águas mais salina tenderam a com CEa > 3,5 dS m-1.
apresentar maiores teores de Na.

Tabela 5. Relação entre condutividade elétrica e as


concentrações de diferentes íons
CEes (dS m-1)
Primeira coleta
Relação
Equação R2
(Ca+Mg) x CE y = 6,188x+2,539 0,971
Ca x CE y = 3,856x+2,830 0,931
Na x CE y = 3,874 – 2,699 0,697
Cl x CE y=11,298– 10,183 0,944
FL (%)
Figura 6. Comportamento da CEes em função da CEa e da
O uso da irrigação com águas de qualidade inferior em fração de lixiviação aplicada através de métodos de
regiões semi-áridas exige manejo adequado, com irrigação de alta freqüência
aplicação de frações de lixiviação e o uso sistemas de
drenagem como estratégia para minimizar a acumulação Para a cultura do melão, considerada moderadamente
de sais na área do sistema radicular das culturas. sensível, não pode ser irrigada sem que haja prejuízo pela
Na Figura 5 verifica-se que as culturas classificadas água de CEa ≥ 3,5 dS m-1 (Figura 6). Já as águas de 2,5
como tolerantes (algodão, coqueiro, grama) podem ser dS m-1 podem ser utilizadas sem prejuízos na produção,
irrigadas sem nenhuma restrição pelo método convencional desde que se aplique fração de lixiviação ≥ 14%.
quando se utiliza águas com CE ≤ 3,5 dS m-1. Já as águas
com CEa a 4,5 apresenta restrição para o uso convencional EXPERIÊNCIAS NO NORDESTE
em culturas tolerantes, recomendando-se uma lixiviação BRASILEIRO COM ÁGUA SALINA
de ≥ 8 % .
Na área semi-árida do Brasil, embora exista uma boa
disponibilidade de água doce, há uma má distribuição
espacial, muitas vezes distante dos bons solos para
irrigação. Um exemplo concreto disso ocorre na área da
CEes (dS m-1)

Chapada do Apodi, no estado do Rio Grande do Norte,


onde existe uma área significativa de solos apropriados
para culturas irrigadas, sem problemas de drenagem, mas
a água que tem disponibilidade a custo relativamente
barato apresenta salinidade alta (1,0 a 4,0 dS m -1).
Mesmo assim, cerca de 50% do melão produzido pelo
FL (%)
Figura 5. Comportamento da CEes em função da CEa e da país é produzido nesta área.
fração de lixiviação aplicada através de métodos de Na Figura 7 mostra-se o rendimento e peso médio de
irrigação convencional e de alta freqüência frutos de duas cultivares de melão irrigadas com
296 José F. de Medeiros et al.

diferentes níveis de salinidade. Verifica-se que a cultivar


Trusty, que é melão cantaloupe, seu rendimento é
reduzido apenas a partir de uma salinidade 3,3 dS m-1,
enquanto a cultivar Orange flesh decresceu seu

Lâmina (mm)
rendimento a partir do uso de água de CE 2,5 dS m-1.
Rendimento comercial (Mg kg -1)

Dias após o início do Exp. I

Salinidade da água (dS m -1) (a)

Lâmina (mm)
Pe so médio comercial (kg)

Salinidade da água (dS m -1) (c)


Dias após o início do Exp. I
Figura 7. Rendimento comercial (A) e peso médio de fru- Figura 8. Lâmina de irrigação e de chuva ocorrida durante o
tos das cultivares de melão Trusty (C1) e Orange flesh cultivo de melão, milho e melão. Cultivo de milho foi
(C2) (B) submetidas a diferentes níveis de salinidade de realizado 120 dias após o início do Exp. I e o segundo
água de irrigação (Barros, 2002) ciclo do melão 335 dias após o início do Exp. I

Estudando o risco de salinização em quatro solos do


Rio Grande do Norte sob irrigação com águas salinas
Silva et al. (2007) verificaram que o uso de águas de
CE 1:2 média do solo (dS m-1)

condutividade elétrica crescente promoveu a elevação do


pH, da CEes e da RAS no extrato de saturação dos solos.
O aumento na relação de adsorção de sódio das águas
promoveu o incremento dos efeitos das soluções salinas
sobre os solos, indicando a necessidade do
monitoramento da qualidade da água e das propriedades
físico-químicas dos solos submetidos a irrigação com
águas salinas.
Dias após semeadura do Exp. I
Os solos da região de Mossoró são solos sedimentares
Figura 9. Curvas de salinidade do solo durante um período
que apresentam na sua maioria boa drenagem e que a
de um ano e meio, onde se cultivou dois ciclos de
precipitação média na região fica ao redor de 700 mm, melão e um de milho
o que tem sido suficiente para lixiviar os sais que se
acumulam durante o período seco, com irrigações. Na Gurgel et al. (2003) observando a evolução da
Figura 8 são mostradas as lâminas de irrigação e
salinidade no solo em dois cultivos consecutivos de melão
precipitação pluviométrica que ocorreram durante dois
irrigado com águas de diferentes salinidades na Fazenda
ciclos de melão intercalado do cultivo de milho no período
das chuvas, enquanto na Figura 9 mostra-se a salinidade São João, no município de Mossoró, estado do Rio
do solo durante esse período para a área irrigada com Grande do Norte, verificou que de modo geral, a
quatro níveis de sais. Verifica-se que o período chuvoso salinidade do solo tendeu ao equilíbrio, a partir do final do
foi suficiente para reduzir os sais do solo acumulados no primeiro ciclo do meloeiro. Apesar da concentração
período seco para valores similares aos níveis existentes salina do solo no segundo ciclo da cultura, ter aumentado
antes do cultivo. Resultados similares podem ser nas camadas mais profundas, a intensidade foi superior
observados em Barros (2002). na camada superficial e tanto no primeiro como no
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 297

segundo ciclo, a salinidade média na zona radicular, ao econômica quando essa cultivar foi irrigada com água de
longo de cada ciclo, foi reduzida linearmente com o máxima salinidade equivalente CEa = 2,4 dS m -1 e
aumento da lâmina de irrigação (Figura 10). adubada com doses maiores de K2O.
No caso do coqueiro admite-se que possua elevada
tolerância aos sais, levando em consideração os cultivos
existentes na orla marítima. De acordo com Ferreira Neto
et al. (2002) a água de irrigação com CE de até 10
dS m-1 pode ser utilizada no cultivo de coqueiro anão,
Salinidade do solo (dS m-1)

para coco verde sem alterar a qualidade do fruto


comercialmente.
A utilização de água de qualidade inferior nas plantas
além de promover efeito osmótico ocasiona também
desbalanceamento dos nutrientes essenciais.
Recentemente Carmo (2010) estudando o efeito de cinco
níveis de salinidade da água de irrigação (S1 – 0,66, S2
Dias após início do primeiro ciclo – 2,21, S3 – 3,29, S4 – 4,11 e S5 – 4,38 dS m-1) associados
Figura 10. Evolução da salinidade (medido e via balanço de com três níveis de doses de N aplicadas em fertigação
sais) ao longo de dois ciclos do meloeiro irrigado com água (26, 51 e 76 kg ha -1 ) na produção e nos seus
de duas condutividades elétricas (Gurgel et al., 2003) componentes, verificou que a salinidade da água de
irrigação diminuiu a produtividade, número de frutos
Na perspectiva de aproveitamento de água salina por planta e peso médio de frutos de abóbora (Figura 11),
podemos destacar várias pesquisas com intuito de
minimizar o problema de salinidade, através da utilização
de espécies mais tolerantes. Sabe-se que as espécies e
cultivares se comportam diferentemente em relação á
Produção (kg ha-1)

salinidade. Costa et al. (2008) estudando a emergência


de plântulas de melões híbridos Goldex e Vereda, em
diferentes níveis de salinidade (CE= 0,45; 1,30; 2,15;
3,00; 3,85; 4,70 dS m-1) da água de irrigação observaram
que a salinidade interferiu em todos os parâmetros
estudados: índice de velocidade de emergência (IVE),
emergência das plântulas em casa de vegetação, altura
da parte aérea da plântula e massa da matéria seca da
parte aérea das plântulas, sendo que concentrações a
No de Frutos por

partir de 2,15 dS m-1 são mais prejudiciais ao híbrido


Goldex que o Vereda. Em melão tipo ‘Honey Dew’,
Planta

Pereira et al. (2007) verificaram redução 6,2% na


fotossíntese entre a menor (0,57 dS m-1) e a maior (4,50 dS
m-1) salinidade da água de irrigação.
Objetivando avaliar o crescimento e o
desenvolvimento do híbrido Gold mine, submetido a dois
níveis de salinidade da água de irrigação (0,55 e 2,65
dS m -1 ), em Mossoró (RN), Farias et al. (2003)
verificaram que o acúmulo de fitomassa seca foi afetado
Peso Médio (g)

pela água de maior salinidade ao longo de todo o ciclo


da cultura.
Em vários trabalhos conduzidos na região do Agropólo
Mossoró-Assu foram avaliados os efeitos da salinidade
da água de irrigação no crescimento, produção e
qualidade pós-colheita do meloeiro (Dutra et al., 2000;
Porto Filho et al., 2006a, 2006b; Queiroga et al., 2006; Cea (dS m-1)
Silva Júnior et al., 2007). Gurgel et al. (2005) mostraram Figura 11. Produtividade, número de frutos por planta e
que é viável, economicamente, produzir melões de cultivar peso médio de frutos totais e comerciais de abóbora,
Orange Flesh, utilizando água salina (CEa = 3,02 dS m-1), híbrido atlas, em função do nível de salinidade da água
mas para a cultivar Goldex só houve viabilidade de irrigação (Carmo, 2010)
298 José F. de Medeiros et al.

quer seja da produção total quer seja da produção o uso de água de salinidade incremental sendo utilizada
comercial, entretanto, na produção total as perdas na irrigação do melão, onde se verifica, que o uso de
relativas por unidade de salinidade acima do menor águas salinas no terço final do ciclo não provoca efeitos
nível utilizado para produtividade, número de frutos por negativos à cultura.
planta e peso médio de frutos foram respectivamente de
8,0, 3,2 e 3,5%/(dS m -1), enquanto para a produção A
comercial os respectivos valores foram 10,3%, 7,9% e
3,2%/(dS m -1). Constataram ainda que as doses de

Produção comercial relativa (%)


nitrogênio incrementaram a produção, exceto para peso
médio de frutos comerciais.
Na Figura 12 (A e B) mostra a produção de melancia
Mickely irrigada com água de diferentes salinidades
Verifica-se que a salinidade influenciou linearmente
parâmetros analisados, sendo a característica mais
afetada a produtividade com uma redução de ate 41,28% CE (dS m-1)

em relação ao menor nível salino. B


y50=- 2,5026x+101,5
A R2=0,4033

Produção comercial (%)


Produtividade (kg ha-1)

y0=- 8,3513x+105,01 y30=- 5,5179x+103,31


R2=0,9847 R2=0,8396

0 DAS
CEa (dS m-1) 30 DAS
50 DAS

Salinidade da água (dS m -1) Figura 13. Relação entre rendimento relativo a água S1
B (CE=0,6) em função da salinidade da água de irrigação
aplicada de forma incremental à partir diferentes dias
após semeadura (DAS) em dois ciclos (Porto Filho,
2003). (A) – primeiro ciclo e (B) – segundo ciclo
Número de frutos por planta

Peso médio de frutos (kg)

Na Figura 14 é apresentado os valores de rendimento


da bananeira, em termos de peso de cacho, e que a planta
responde a salinidade média do solo durante o ciclo

Salinidade da água (dS m -1)


Peso de cacho (kg planta -1)

Rendimento relativo (%)

Figura 12. Produtividade (A) e número de frutos (B) e peso


médio dos frutos de melancia irrigada com diferentes
níveis salinos

Outras alternativas podem ser utilizadas no caso de


existir águas de baixa e alta salinidade como a mistura de
água com elevada concentração de sais com água de
boa qualidade, vem sendo uma alternativa para melhorar
Salinidade do solo (dS m-1)
a qualidade e aumentar a disponibilidade de água nessas
Figura 14. Peso de cacho de banana, em valor absoluto e em
regiões, principalmente nas áreas em que as águas relação ao valor obtido para o menor nível de salinida-
apresentam elevados teores de sais, ou se irrigar nas de (0,55 dS m -1), em função da salinidade do solo
fases iniciais de cultura com água doce e posteriormente média ao longo do ciclo cultural (CEa= 0,55, 1,70, 2,85
utilizar as águas de maior salinidade. A Figura 13 ilustra e 4,0 dS m-1)
Manejo do solo-água-planta em áreas afetadas por sais 299

cultural, apresentando um decréscimo no peso de 2,61 kg Bernardo, S.; Soares, A. A.; Mantovani, E. C. Manual de
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Estratégias de manejo para uso
17 de água salina na agricultura
Claudivan F. de Lacerda1, Raimundo N. T. Costa1,
Marlos A. Bezerra2 & Hans R. Gheyi3

1
Universidade Federal do Ceará
2 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Agroindústria Tropical
3 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Introdução
Caracterização do problema
Escolha da espécie ou cultivar e formação do `stand’
Misturas e substituição de águas
Práticas de manejo do solo e irrigação
Rotação de culturas e uso de cultivos adensados
Práticas que favorecem a aquisição de minerais pelas plantas
Considerações finais
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
304 Claudivan F. de Lacerda et al.

Estratégias de manejo para uso de água


salina na agricultura

INTRODUÇÃO devem contribuir para a melhoria das condições químicas,


físicas e biológicas do solo, a redução da concentração
Em regiões que apresentam climas como o do semi- e a entrada de sais no ambiente radicular, a redução dos
árido brasileiro, com baixas e irregulares precipitações impactos sobre a planta, o aumento da eficiência do uso
pluviométricas e com elevadas taxas de da terra e da água, o aproveitamento de áreas e águas
evapotranspiração, a prática da irrigação constitui a salinas (Oster et al., 1984; Glenn et al., 1998; Sharma &
única maneira de garantir a produção agrícola com Rao, 1998; Malash et al., 2005; Murtaza et al., 2006;
segurança. Os bons resultados obtidos demonstram a Neves et al., 2009).
importância da agricultura irrigada para o As estratégias de manejo utilizadas para cultivo sob
desenvolvimento do semi-árido nordestino, contribuindo condições de salinidade podem ser divididas em dois
para o fortalecimento de outros aspectos da economia grupos: 1. não específicas e 2. específicas (Lacerda,
através de práticas de cultivos diversificados, da 2009). As estratégias não específicas são utilizadas em
estimulação da agroindústria e da exportação de diferentes condições de cultivo, e podem aumentar a
produtos. Porém, mesmo nestas condições de cultivo, a produtividade e o aproveitamento da terra tanto sob
produtividade das culturas é frequentemente afetada por condições salinas quanto sob condições não salinas.
diversos fatores, sendo que a disponibilidade dos Dentre essas estratégias, destacamos: aplicação de
recursos hídricos de boa qualidade é um dos mais matéria orgânica, aplicação de biofertilizantes líquidos,
importantes. O grande consumo de água na agricultura uso de melhoradores químicos (adubos e corretivos),
irrigada e a escassez de água de boa qualidade para micorrização, aplicação foliar de substâncias orgânicas e
atender a demanda crescente da população (consumo, inorgânicas, rotação de culturas, aumento da densidade
indústrias, etc.), tem aumentado o interesse pelo uso de plantio, dentre outras. Por outro lado, as estratégias
múltiplo de fontes de água para irrigação, de forma a específicas são aquelas que estão diretamente
aumentar a eficiência na utilização desses recursos. relacionadas ao problema da salinidade, e que
Isso envolve, dentre outras coisas, o uso de fontes de normalmente não se aplicam aos cultivos em condições
águas salinas, comuns em regiões semi-áridas, a re- não salinas. Dentre essas estratégias, destacamos: uso de
utilização de água de drenagem com elevados teores de glicófitas tolerantes e moderadamente tolerantes, cultivo
sais, a utilização de rejeitos de dessalinizadores, a de halófitas, misturas de água de diferentes salinidades,
utilização de águas residuárias e a utilização de espécies uso cíclico de água, uso de águas salinas nos estádios em
capazes de apresentar elevada rentabilidade quando que a cultura apresenta maior tolerância, biodrenagem,
irrigadas com esses tipos de água (Seckler et al., 1998; estabelecimento de condições específicas para a
Ayers & Westcot, 1999; Rhoades et al., 2000). germinação (pré-tratamentos de sementes, usar
A utilização dessas fontes de água depende de quantidade de sementes além da necessidade, alto
estratégias de longo prazo que garantam a potencial mátrico), dentre outras (Lacerda, 2009).
sustentabilidade sócio-econômica e ambiental dos Embora existam muitos estudos relacionados às
sistemas agrícolas (Beltrán, 1999). Essas estratégias estratégias de convivência com o problema da salinidade,
Estratégias de manejo para uso de água salina na agricultura 305

no Brasil eles ainda são escassos, particularmente no que RAS o risco de sodicificação será menor quanto maior for
se refere a trabalhos de campo. A seguir são discutidas a condutividade elétrica da água; por exemplo, uma água
algumas estratégias que visam a utilização sustentável de com RAS entre 6 e 12 poderá ser usado sem restrição se
águas salinas na irrigação. a sua condutividade elétrica for maior que 1,9 mas terá seu
uso restrito se a condutividade elétrica da água for menor
CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA que 0,5 (Tabela 1).

Toda água superficial ou subterrânea contém certo Tabela 1. Avaliação conjunta da CEa e da RAS para análise
teor de sais em solução, os quais têm origem na de água para irrigação
dissolução e intemperização de solos e rochas, incluindo Grau de Restrição para Uso
a dissolução lenta do calcário, do gesso e de outros RAS Ligeiro a
Nenhum Severo
minerais. Há, contudo, uma grande variação na Moderado
concentração de sais solúveis nas águas, indo desde a 0a3 CEa > 0,7 0,7 a 0,2 < 0,2
3a6 CEa > 1,2 1,2 a 0,3 < 0,3
água praticamente pura (menos de 100 ppm de sais) até
6 a 12 CEa > 1,9 1,9 a 0,5 < 0,5
à altamente salina (mais de 3000 ppm). Já as águas dos 12 a 20 CEa > 2,9 2,9 a 1,3 < 1,3
oceanos contêm, aproximadamente, 3% de sais (cerca de 20 a 40 CEa > 5,0 5,0 a 2,9 < 2,9
30000 ppm). Fonte: Ayers & Westcot (1999)

A qualidade da água para irrigação é avaliada pela


determinação da concentração de cátions e de ânions, do Muitos resultados sobre qualidade de água no semi-
pH, da condutividade elétrica (CE) e da relação de árido brasileiro indicam que os sais de cloreto
adsorção de sódio (RAS). As amostras coletadas e predominam nas águas do nordeste brasileiro (Medeiros,
acondicionadas em garrafas previamente lavadas 1992). Um estudo sobre a qualidade da água em 129
permitem identificar, mediante análises laboratoriais, a açudes localizados no semi-árido nordestino mostrou que
presença de elementos químicos em concentrações que haviam muitos sais dissolvidos, porém, o mais frequente
podem causar toxidez às plantas, tais como sódio, cloreto era o NaCl (Wright, 1981). No entanto, é possível
e boro, e também riscos de salinidade e sodicidade do solo. encontrar variações em análises de água de diferentes
A condutividade elétrica é o parâmetro mais empregado fontes e locais, destacando-se as diferenças na salinidade
para expressar a concentração de sais solúveis na água e e na composição iônica das mesmas (Tabela 2).
corresponde à medida da capacidade de uma água em No Nordeste brasileiro é comum a ocorrência de águas
conduzir eletricidade, sendo crescentes à medida que a subterrâneas (poços) e superficiais (açudes e lagoas) com
concentração de sais aumenta. A RAS expressa a problemas de salinidade, que restringe seu uso para irrigação
quantidade relativa de sódio que é adsorvida pelas e também para outros fins (consumo humano e, ou animal,
partículas do solo quando a água é aplicada ao mesmo. De indústria, etc.). Além disso, a concentração salina nestas
acordo com Ayers & Westcot (1999), para uma mesma águas aumenta durante o período seco, quando o volume de

Tabela 2. Características de águas de diferentes fontes e locais, utilizadas na irrigação

A1 = Água de poço tubular em aluvião (Pentecoste, CE)


A2 = Água de canal de irrigação proveniente do Açude General Sampaio (General Sampaio, CE)
A3 = Água de poço do Aqüífero Serra Grande (Simplício Mendes, PI)
A4 = Água de poço do Aqüífero Calcário Jandaíra, profundidade de 80 m (Porto Filho et al., 2006)
A5 = Água de poço amazonas no município de Iguatu, CE
A6 = Água de poço amazonas no município de Choro Limão, CE
A7 = Amostra proveniente de rejeitos de dessalinizador, no município de Pentecoste, CE
1 C - Risco de salinização; S - Risco de sodificação; 1, 2, 3, 4 - Risco baixo, médio, alto e muito alto, respectivamente
306 Claudivan F. de Lacerda et al.

água é significativamente reduzido. Já as águas de rios ou entanto, muitos dos dados de classificação de tolerância
riachos podem, também, apresentar problemas de salinidade, relativa à salinidade foram obtidos em condições climáticas
dependendo dos solos por onde ele passa ou, ainda, do diferentes daquelas observados no semi-árido brasileiro e
retorno da água de drenagem (mais rica em sais do que a utilizando-se genótipos também diferentes. Por exemplo, de
água de irrigação). De uma maneira geral, os reservatórios acordo com o manual 29 da FAO (Ayers & Westcot, 1999)
de água de maior capacidade de armazenamento contêm o milho é considerada uma espécie moderadamente sensível
água de boa qualidade para irrigação, com pequena enquanto o feijão-de-corda é considerada uma espécie
variação na composição ao longo do ano. Por outro lado, em moderadamente tolerante. Entretanto, resultados obtidos no
pequenos e médios açudes, em poços amazonas e naturais estado do Ceará têm evidenciado maior sensibilidade do
e em leitos de rios e riachos, existe considerável variação feijão-de-corda, em comparação com milho, tanto em termos
ao longo do ano, com os valores mais elevados sendo de crescimento vegetativo como em termos de produção de
encontrados no final da estação seca. grãos (Sousa, 2008; Bezerra, 2009).
Alguns levantamentos de avaliação da qualidade da A relação linear entre a salinidade e o rendimento das
água para irrigação em Estados do Nordeste indicaram culturas , desenvolvida por Maas & Hoffman (1977) é
que cerca de 70% das fontes de água podem ser representada pela seguinte equação:
consideradas de boa qualidade para irrigação,
pertencendo às classes C1 e C2 e apresentando níveis Y = 100 - b. (CE – SL) (1)
baixos ou médios de salinidade (Holanda & Amorim,
1997). Isto parece indicar que os problemas de em que, Y = rendimento potencial (%); CE = condutividade
salinização de solos nessa região não se devem à elétrico no extrato de saturação do solo (CEes) ou da água
qualidade da água e sim a outros fatores, tais como, de irrigação (CEa), em dS m-1; SL = salinidade limiar da
manejo inadequado da irrigação, drenagem deficiente, cultura, em dS m-1; b = queda no rendimento por aumento
etc. É preciso, no entanto, avaliar cada caso e, o unitário da salinidade acima da salinidade limiar.
conhecimento da qualidade da água é fundamental na
Além das variações na tolerância relativa das culturas,
implantação de projetos de irrigação.
também podemos encontrar variações na tolerância
absoluta, sendo que essa última varia com as condições
ESCOLHA DA ESPÉCIE OU CULTIVAR
climáticas, de solo, além de diversas práticas de cultivo
E FORMAÇÃO DO `STAND`
(Medeiros et al., 2009). Em outras palavras, uma espécie
ou cultivar poderá apresentar maior crescimento e
As espécies vegetais podem ser agrupadas em
produtividade para um mesmo nível de salinidade, desde
halófitas e glicófitas em relação as suas respostas à
salinidade. As halófitas são nativas de ambientes salinos. que as condições de cultivo sejam mais favoráveis ao seu
Por outro lado, as glicófitas ou não halófitas incluem a desenvolvimento. Por exemplo, quando as plantas estão
maioria das espécies cultivadas, as quais sofrem inibições crescendo em ambiente com alta umidade relativa do ar
no crescimento mesmo em baixos níveis de sais o efeito da salinidade no crescimento é menor. Este
(Greenway & Munns, 1980). No entanto, esta distinção
não é absoluta, visto que as espécies variam desde
altamente tolerantes até muito sensíveis.
O nível máximo de salinidade média da zona radicular
que pode ser tolerado pelas plantas cultivadas, sem
Rendimento relativo (%)

afetar negativamente o seu desenvolvimento, é a


salinidade limiar (SL), em que o rendimento potencial da
cultura é 100% (Figura 1). A partir da salinidade limiar,
o crescimento diminui linearmente com o aumento da
salinidade do solo (Maas & Hoffman, 1977).
Os valores de salinidade limiar (do solo e da água de
irrigação) e as taxas de decréscimo no rendimento das
culturas (Figura 1) tornam possível classificar as diferentes
espécies cultivadas de acordo com o seu grau de tolerância
à salinidade (ver tabelas em Ayers & Westcot, 1999). Entre
Condutividade Elétrica (dS m -1)
as mais sensíveis encontram-se, principalmente, as hortaliças Figura 1. Limites de tolerância relativa das plantas aos sais
e algumas árvores frutíferas, como a laranjeira e o abacateiro. (CEa - água, CEes - extrato de saturação). Fonte: Ayres
Já o algodão e a cevada estão entre as mais tolerantes. No & Westcot (1999)
Estratégias de manejo para uso de água salina na agricultura 307

resultado tem sido observado em diversas culturas. Altos conta com mais de 400 espécies distribuídas em diversas
níveis de umidade relativa do ar resultam em menores regiões áridas e semi-áridas do mundo, sendo que cerca
velocidades de transpiração e, portanto, menores efeitos de 15% interessam à produção animal, sendo a Atriplex
sobre o desbalanceamento hídrico causado pela nummularia uma das mais importantes, como forrageira
salinidade. Além disto, a relação peso fresco/peso seco (Porto et al., 2001). Essa espécie se destaca por
é também aumentada sob condições úmidas, e isto reduz conseguir produzir e manter uma abundante fitomassa,
a concentração de eletrólitos nas folhas. Do ponto de mesmo em ambientes de alta aridez e salinidade,
vista prático, isto significa que plantas crescendo sob alta adaptando-se muito bem a regiões com precipitação ao
umidade relativa do ar podem ser irrigadas com água redor de 100 a 250 mm ano -1. Mais recentemente, as
moderadamente salina ou cultivadas em solos plantas de Atriplex têm-se destacado na perspectiva de
relativamente salinos sem grandes reduções na produção. seu uso em áreas salinas ou sob irrigação com água
Infelizmente, em áreas onde geralmente ocorrem salina, apresentando alta produtividade de forragem com
problemas com água e solos salinos, a umidade relativa elevado teor de proteínas sob estas condições. Essa
do ar é usualmente baixa na maior parte do ano. espécie também se comporta como hiperacumuladora de
Um outro aspecto bastante importante no cultivo sob Na+, com potencial de uso na fitoextração deste elemento
condições salinas é o estabelecimento do estande (Oster no solo (Leal et al., 2008). No entanto, em função dessa
et al., 1984; Melo et al., 2006). Sabe-se que a fase inicial elevada acumulação de sais ela deve ser fornecida aos
da cultura que vai da emersão da radícula ao animais em mistura com outros alimentos volumosos
estabelecimento da plântula é bastante sensível na (Glenn et al., 1998).
grande maioria das espécies. Portanto, deve-se buscar
minimizar os impactos da salinidade nessa fase e garantir MISTURAS E SUBSTITUIÇÃO DE ÁGUAS
um estande composto de plantas vigorosas capazes de
enfrentar o estresse salino. Para a obtenção desse Em muitas regiões pode-se obter produção de
estande deve-se utilizar um número de sementes além do forragem ou de grãos o ano inteiro, utilizando águas salinas
recomendado sob condições não salinas, o que favorece na estação seca e água de chuva na estação úmida, sem
a seleção de plantas mais vigorosas por ocasião do alterar significativamente o ambiente (Vieira et al., 2005;
desbaste, além de procurar utilizar genótipos mais Murtaza et al., 2006). O acúmulo de sais durante a
tolerantes durante esse estádio (Melo et al., 2006). A irrigação de culturas na estação seca pode ser revertido,
colocação de solo arenoso na cova de plantio, ou de total ou parcialmente, durante o período chuvoso, sendo
outros substratos não salinos, e a manutenção do solo que esse processo de lavagem dependerá do total de
com alto teor de umidade também reduzem os efeitos da precipitação anual, da intensidade das precipitações e das
salinidade e favorecem o estabelecimento das plântulas. características físicas do solo (Sharma & Rao, 1998; Assis
Em algumas circunstâncias, no entanto, o cultivo de Júnior et al., 2007). Os dados da Figura 2 mostram que a
glicófitas é praticamente inviável, particularmente em prática da irrigação na estação seca provocou acúmulo
áreas onde somente água de alta salinidade é disponível,
nas áreas em que rejeitos de dessalinizadores são 1,40

liberados, ou quando o lençol freático é salino e raso e a 1,20

permeabilidade do solo é baixa. Em alguns desses casos, 1,00


) -1)

o uso de práticas culturais, como aração profunda ou


c kg
-1
(cmol Kg

0,80
subsolagem, que favorecem a penetração de água no
+ (cmol
c

Água do Poço
Água s alina
perfil do solo e diminuem a salinidade na camada 0,60
+
NaNa

superficial do solo, pode ser recomendado. Em outros, no 0,40

entanto, a melhor alternativa é a utilização de espécies


0,20
altamente tolerantes, definidas como halófitas. O uso
potencial dessas espécies para produção de energia, óleo 0,00
set/04 jan/05 jun/05 dez/05 jun/06 dez/06 mai/07 dez/07 mai/08 dez/08 jun/09

e forragem tem sido avaliado em algumas regiões do Mês/Ano


Mês/Ano

Figura 2. Teores médios de Na+ na camada de 0,0 a 0,6 m,


mundo, tanto em condições de alta salinidade do solo
no período de setembro de 2004 a maio de 2007, em
como sob irrigação com água altamente salina (Brown & Fortaleza, Ceará. Durante as estações secas foram
Glenn, 1999). realizados cultivos irrigados por sulcos (sorgo e feijão-
Uma halófita bastante estudada é a erva-sal, nome de-corda) com água do poço (CEa de 0,8 dS m-1) e salina
vulgar dado, no Brasil, às plantas do gênero Atriplex. (CEa de 5,0 dS m-1); durante as estações chuvosas foram
Esse gênero pertence à família Chenopodiacea, a qual realizados cultivos de sequeiro
308 Claudivan F. de Lacerda et al.

de íons sódio no solo, especialmente quando se utilizou Evidentemente que a mistura de águas somente pode
água salina, e esse efeito foi revertido, em grande parte, ser viável quando se dispõe de mais de uma fonte de
pelos totais de chuvas na região de Fortaleza, Ceará, água, sendo isso possível em muitas situações práticas,
durante os meses de fevereiro a maio. É importante particularmente quando se dispõe de fontes de água
destacar, no entanto, que nas condições de clima semi- superficiais e subterrâneas. Alternativamente pode-se
árido o total de chuvas pode ser insuficiente para a optar pelo uso cíclico de fontes de água com diferentes
lavagem dos sais do solo (Meireles et al., 2003). Ademais, concentrações de sais (Flowers et al., 2005). Essa
sempre que se utilizam águas ricas em sódio é estratégia reduz os impactos da salinidade sobre o solo
recomendável o uso de condicionadores químicos, de e sobre a planta, além de aumentar a eficiência do uso
forma preventiva, no sentido de aumentar a eficiência do de água de boa qualidade. Barbosa et al. (2009)
processo de lixiviação desse íon e reduzir os impactos verificaram que o uso cíclico da água de alta e baixa
sobre as propriedades físicas do solo. salinidade na irrigação da cultura do milho reduziu a
Uma alternativa que pode reduzir a concentração de salinidade do solo na profundidade de 0 a 30 cm e não
sais e aumentar a disponibilidade de água para irrigação influenciou negativamente a produtividade da cultura
é a misturas de águas de diferentes qualidades (Malash (Tabela 3).
et al., 2005). A qualidade final da água obtida na mistura Um aspecto importante que deve ser considerado
pode ser estimada pela fórmula: quando da utilização de fontes de água com diferentes
níveis de salinidade é que genótipos de uma mesma
( CE a1 .V a1 ) ( CE a 2 .V a 2 ) espécie podem responder de modo diferente aos efeitos
CE af   (2)
(V a1a 2 ) (V a1a 2 ) salinos, nas várias fases de seu desenvolvimento. Além
disso, a maioria das espécies cultivadas de importância
econômica é relativamente sensível à salinidade na fase
onde: de estabelecimento da plântula e quase todas as culturas
CEaf - concentração final da mistura, dS m-1 não toleram condições permanentes de salinidade no solo.
CEa1 - Condutividade elétrica da água de menor De uma maneira geral, a sensibilidade das culturas é
salinidade, em dS m-1 maior nos estádios iniciais de crescimento, sendo que a
CEa2 - Condutividade elétrica da água de maior tolerância torna-se maior durante as fases de floração e
salinidade, em dS m-1 frutificação (Fageria & Gheyi, 1997; Sharma & Minhas,
Va1 - Volume de água de menor salinidade 2005). No entanto, as informações sobre os estádios mais
Va2 - Volume de água de maior salinidade sensíveis e mais tolerantes são desconhecidas para a
Va1 + a2 - Volume final da mistura maioria das culturas, principalmente em condições de
Va1/Va1 + a2 - representa a proporção da água de campo (Shannon & Grieve, 1999). Além disso, não está
menor salinidade (Pa1) claro se os efeitos observados se devem à sensibilidade
Va2/Va1 + a2 - representa a proporção da água de da cultura à salinidade em um determinado estádio ou à
maior salinidade (Pa2) duração do estádio em que a planta ficou exposta ao
substrato salino, ou ainda se isso se deve a combinação
destes fatores (Gheyi et al., 2005).
A equação pode ser re-escrita:
Resultados de experimentos conduzidos em casa de
vegetação mostram que o sorgo, o trigo e o feijão-de-
CE af  ( CE a1 .P a1 )  (CE a 2 .P a 2 ) (3)
corda são mais sensíveis durante o estádio de
crescimento vegetativo e no início da fase reprodutiva,
sendo que Pa1 + Pa2 = 1. menos sensíveis no estádio de floração e insensíveis

Tabela 3. Níveis de salinidade do solo e produtividade da cultura do milho irrigada com água de baixa e alta salinidade
Tratamentos1
T1 T2 T3 T4 T5 T6 T7
-1
CE1:1 (dS m )
0,5 0,6 0,7 0,7 1,2 0,6 0,6
-1
Produtividade (kg ha )
8480 a 8609 a 8449 a 8526 a 6068 b 8544 a 7139 ab
1
T1: Água de baixa salinidade (A1), durante todo o ciclo; T2: Água com CE de 2,5 dS m -1 (A2), durante todo o ciclo; T3: Uso cíclico de A1 e A2 (iniciando com seis irrigações com A1 a part ir da
semeadura seguidas de seis irrigações com A2), alternando-se entre A1 e A2 até o final do ciclo; T4: Uso cíclico de A2 e A1, iniciando com A2 na semeadura e alternando com A1 até o final do ciclo;
T5: Água com CE de 5 dS m-1 (A3), durante todo o ciclo; T6: Uso cíclico de A1 e A3 (iniciando com seis irrigações com A1 na semeadura seguidas de seis irrigações com A3), alternou-se entre A1 e A3
até o final do ciclo; T7: Uso cíclico de A3 e A1, iniciando com A3 na semeadura e alternando com A1 até o final do ciclo. Fonte: Barbosa et al. (2009).
Estratégias de manejo para uso de água salina na agricultura 309

durante o enchimento de grãos (Shalhevet et al., 1995). com água de poço (T1), resultando na manutenção das
Outros trabalhos têm mostrado que os efeitos da eficiências de utilização de água, calculadas tanto com
salinidade sobre a produção de trigo e de algodão podem base na produção primária (MST) como na base de
ser sensivelmente reduzidos, quando a irrigação com produção de interesse agronômico (MSGR). A aplicação
águas salinas é iniciada após o estabelecimento da contínua de água salina (T2 – 92,1% de água salina)
plântula (Murtaza et al., 2006; Chauhan et al., 2008). reduziu tanto a MST como a MSGR, implicando na
Desse modo, é possível irrigar muitas culturas anuais redução tanto da EUAP como na da EUAGR. Por outro
com água salina durante os estádios menos sensível e lado, as plantas irrigadas com água salina durante os
usar água de baixa salinidade no estádio de maior processos de germinação e crescimento inicial (T3 –
sensibilidade, ou seja na fase inicial e no período de 26,7% de água salina) apresentaram redução de 33% na
crescimento vegetativo. De acordo com Mitchell et al. MSGR, porém não tiveram a MST afetada, resultando na
(2000) o uso de água de baixa salinidade na fase de redução da EUAGR, mas não da EUAP (Lacerda et al.,
estabelecimento da cultura pode reduzir os impactos 2009). Isso demonstra a eficiência dessa estratégia de
sobre a produtividade final, mesmo que seja utilizada água uso de águas de diferentes qualidades, levando em conta
salina no restante do ciclo. a tolerância de cada estádio de desenvolvimento da
Diversos trabalhos têm mostrado que a tolerância à cultura (Murtaza et al., 2006).
salinidade em plantas de melão varia de acordo com o
estádio de desenvolvimento (Botía et al., 2005; Porto Tabela 4. Matéria seca total (MST), matéria seca de grãos
(MSGR) e eficiência no uso da água considerando a
Filho et al., 2006), sendo que a aplicação de águas salinas
produção de matéria seca total (EUAP) e a produção de
na fase de frutificação pode melhorar a qualidade dos grãos (EUAGR) ao final do ciclo da cultura
frutos (Botía et al., 2005). Os resultados obtidos por MST MSGR EUAP EUAGR
esses últimos autores demonstraram que a aplicação de Trat.1
(kg ha-1) (kg MS mm-1)
água salina durante a frutificação não afeta a produção
1 4526,4 a2 1864,5 a 13,9 a 5,7 a
comercial da cultura, sendo observadas melhorias na 2 2586,3 b 984,8 b 7,9 b 3,0 b
qualidade dos frutos com incremento no teor de sólidos 3 3956,1 a 1241,4 b 12,1 a 3,8 b
solúveis totais. 4 4524,3 a 1827,3 a 13,9 a 5,6 a
De acordo com Rhoades et al. (2000) a produção de 5 4693,9 a 1877,4 a 14,4 a 5,8 a
1
T1(testemunha) - plantas irrigadas com água de poço com condutividade elétrica (CEa) em torno
algodão não é afetada quando se irriga com água salina de 0,8 dS m-1 durante todo o ciclo; T2 - água salina com CEa de 5,0 dS m -1, com aplicação iniciada
após a germinação e permanecendo até o final do ciclo; T3 – aplicação de água salina da
(6.000 mg L-1 de sais dissolvidos) nas fases do ciclo da semeadura até 22 dias após o plantio (DAP), correspondendo às fases de germinação e crescimento
planta que sejam tolerantes à salinidade e, com água de inicial, e água de poço no restante do ciclo; T4 - água salina aplicada de 23 a 42 DAP (fase de
intenso crescimento vegetativo até a pré-floração), e água de poço nas demais fases do ciclo; T5
melhor qualidade (300 mg L-1 de sais dissolvidos), nas - água de poço da semeadura até 42 dias após o plantio e água salina aplicada a partir de 43
DAP (floração e frutificação). 2 Médias seguidas de mesma letra, nas colunas, não diferem
fases susceptíveis, principalmente as fases de estatisticamente pelo teste de Tukey (P ≤ 0, 05). Fonte: Lacerda et al. (2009)

germinação e estabelecimento da cultura. Ainda, segundo


este autor, a rotação de culturas de diferentes tolerâncias PRÁTICAS DE MANEJO DO SOLO
e o manejo de águas de diferentes qualidades pode E IRRIGAÇÃO
permitir o cultivo por vários anos sem prejuízos ao solo
e às produções. Em muitos cultivos em solos salinos, as reduções na
Na cultura do feijão-de-corda, cv. EPACE 10, se produção são maiores do que as previstas com base nos
verificou que o uso de água salina apenas nos estádios dados de tolerância. De acordo com Maas (1984) isto
de maior tolerância pode limitar os impactos da ocorre devido a maior sensibilidade à salinidade durante
salinidade sobre o ambiente e sobre o desenvolvimento a fase de estabelecimento da plântula, o que acarreta
das plantas, aumentando as eficiências de uso de água e grandes reduções no estande. Uma alternativa pouco
de nutrientes (Lacerda et al., 2009). As plantas que econômica para resolver tal problema seria usar uma
foram continuamente irrigadas com água salina após a quantidade de sementes acima da necessária para o
germinação (T2) receberam 92,1% de água salina, plantio, uma prática aceitável em Israel (Ayers & Westcot,
enquanto que os tratamentos T1, T3, T4 e T5 receberam 1999). Outra alternativa seria a manutenção de baixos
0; 26,7; 33,9 e 39,4% de água salina, respectivamente. níveis de sais na zona de plantio, pelo menos nos estágios
A aplicação de água salina nos períodos de intenso iniciais do crescimento da plântula. Assim, a escolha do
crescimento (T4 – 33,9% de água salina) e nas fases de método de irrigação é de fundamental importância para
floração e frutificação (T5 – 39,4% de água salina) não cultivo sob condições de salinidade. No caso da irrigação
afetou o crescimento vegetativo e a produção de grãos por sulcos, os sais se acumulam no topo do sulco, assim,
pelas plantas (Tabela 4), em relação à irrigação somente o semeio sendo realizado na rampa do mesmo favorece
310 Claudivan F. de Lacerda et al.

a formação de um bom estande de plantas. Por outro lado, com uma água de CE alta (5,0 dS m-1) sem nenhuma
a irrigação por gotejamento mantém um alto nível de fração de lixiviação.
umidade na zona radicular da planta, o que reduz os efeitos A lavagem dos íons cloreto, sódio e boro pode contribuir
dos sais na germinação e estabelecimento da plântula. na redução dos efeitos da salinidade sobre o
Quando a irrigação é feita com água salina, os desenvolvimento das culturas. A facilidade de lavagem,
métodos de aplicação por gotejamento, sulcos, inundação desses íons, normalmente segue a ordem: Cl > Na > B.
e microaspersão apresentam melhores resultados do que Para a eliminação dos cloretos pode-se seguir a mesma
a aspersão, visto que este método pode acarretar o fórmula usada para eliminar o excesso de sais solúveis.
acúmulo e toxidez de sais nas folhas em algumas Para o caso do sódio, necessita-se uma fração de lixiviação
espécies (Sharma & Minhas, 2005). Além disto, na de 0,3 ou maior quando a RAS da água é superior a 9,
aspersão observam-se ciclos de umedecimento e pelo que às vezes é preferível aplicar corretivos. O boro
secagem o que resulta em maiores prejuízos à planta. é mais difícil de lixiviar que o cloreto e o sódio, requerendo
Neste aspecto, o gotejamento torna-se o melhor método uma necessidade de lavagem três vezes superior a dos
de irrigação, visto que o potencial mátrico é mantido
cloretos e sais em geral.
próximo de zero no ambiente radicular, o que reduz os
Os problemas de salinidade acarretam, em muitas
efeitos osmóticos dos sais na planta. No entanto, neste
situações, alterações nas propriedades físicas do solo que
caso, pode ocorrer um acúmulo de sais no solo a longo
afetam de forma negativa o estabelecimento da cultura e
prazo. Uma saída para este problema seria utilizar os
a produtividade final da área cultivada. Para minorar tais
métodos por gotejamento e inundação ou aspersão de
problemas algumas práticas aplicadas conjuntamente,
forma alternada. É importante destacar que a escolha do
método de irrigação depende, em grande parte, do tipo de como a aplicação de gesso, a rotação de culturas, a
cultura. A irrigação por gotejamento, por exemplo, é, em incorporação de restos culturais e o uso cíclico de água
geral, utilizada somente para fruteiras e algumas de baixa e alta salinidade têm sido testado (Mitchell et al.,
hortaliças de alto valor comercial. Desta forma, deve-se 2000). Esses autores verificaram efeitos benéficos dessas
analisar com cautela o uso desta alternativa de manejo. estratégias na estabilidade de agregados e no
Quando se utilizam águas salinas na irrigação, o uso estabelecimento e produtividade de tomate e algodão,
de frações de lixiviação pode também contribuir para quando irrigadas principalmente com águas salinas, porém
reduzir o acúmulo de sais no solo (Sharma & Rao, 1998; os efeitos benéficos diminuíram ao longo do tempo,
Ayers & Westcot, 1999; Beltrán, 1999). A fração de principalmente para a cultura do tomate. Também se
lixiviação consiste na lâmina de água que atravessa e verificou acúmulo progressivo de sais, mesmo após a
percola a zona radicular da cultura, sendo calculada pela lixiviação natural dos sais durante a estação chuvosa.
seguinte equação: O uso de diferentes estratégias de manejo para
garantir o uso sustentável de águas salinas na irrigação
Lx parece algo consensual entre diferentes grupos de
FL  (4)
Ln pesquisa. No entanto, a viabilidade econômica também
precisa ser levada em consideração. Um estudo
FL - fração de lixiviação desenvolvido durante três anos no Paquistão buscou
Lx - lâmina de lixiviação ou lâmina que percola abaixo avaliar os efeitos benéficos do uso do gesso, de adubo
da zona radicular orgânico e do uso cíclico de água de alta e baixa
Ln - lâmina de irrigação necessária para satisfazer a salinidade/sodicidade em cultivo de trigo e algodão em
demanda hídrica da cultura mais a lixiviação. sistema de rotação (Murtaza et al., 2006). Verificou-se
que a irrigação apenas com água salina/sódica reduziu a
Assis Júnior et al. (2007) avaliaram o acúmulo de sais produtividade das culturas e os tratamentos testados
no perfil do solo em função da fração de lixiviação e da foram eficientes na redução dos impactos da salinidade
salinidade da água de irrigação. Os autores verificaram da água sobre a produtividade das culturas e sobre o
que nos tratamentos com frações de lixiviação de 0,14 e acúmulo de sais no solo. No entanto, considerando-se os
0,28, ocorreu distribuição mais uniforme dos sais no perfil aspectos econômicos verificou que o uso cíclico de água
do solo, enquanto no tratamento sem fração de lixiviação de baixa e alta salinidade foi o que apresentou a melhor
ocorreu maior acúmulo de sais e de sódio nas camadas relação benefício/custo, seguido dos tratamentos com
superiores, bem como a maior percentagem de sódio uso de água do canal (controle), com água salina/sódica
trocável na profundidade de 0 a 30 cm. Isto pode ser + gesso, água salina/sódica + adubo orgânico e por último
explicado por conta desse tratamento ter sido irrigado o tratamento em que usou apenas água salina/sódica.
Estratégias de manejo para uso de água salina na agricultura 311

ROTAÇÃO DE CULTURAS E USO Tabela 5. Taxas de fotossíntese líquida (A), radiação


DE CULTIVOS ADENSADOS fotossinteticamente ativa (RFA) e temperatura foliar (TF)
medidas aos 36 DAP em folhas de plantas de feijão-de-
corda submetidas a diferentes espaçamentos de plantio
Embora a diminuição da área foliar das plantas sob
(ESP) e irrigadas com água de baixa e alta salinidade (CEa)
condições de estresse salino seja um mecanismo
importante para a redução das perdas de água pela
planta, o mesmo não é de todo benéfico, pois o processo
fotossintético depende da interceptação da energia
luminosa e sua conversão em energia química, sendo este
um processo que ocorre diretamente na folha, atuando
na formação de carboidratos, que são alocados para os
órgãos vegetativos e reprodutivos. Estudo desenvolvido
por Assis Júnior et al. (2007) mostrou que a salinidade
reduz mais o crescimento vegetativo do que a produção
de feijão-de-corda, sendo que cada planta nessa
condição ocupa uma área menor do que aquelas irrigadas
com água de baixa salinidade. Como consequência, as
plantas sob estresse salino apresentam taxas de
fotossíntese médias superiores àquelas de plantas
irrigadas com água de baixa salinidade (Lacerda, 2009a).
Fonte: Gomes et al. (2009)
Isso ocorre devido ao menor sombreamento das plantas Médias nas colunas seguidas de mesma letra minúscula para o mesmo nível de CEa, não diferem
entre si, pelo teste de Tukey (P = 0, 05); Médias nas colunas seguidas de mesma letra maiúscula
cultivadas sob estresse salino, sugerindo que, nessa para o mesmo espaçamento, não diferem entre si, pelo teste de Tukey (P = 0, 05)
condição, seu cultivo pode ser realizado utilizando-se um
menor espaçamento. bastante promissora para culturas anuais, podendo
Plantas de feijão-de-corda cultivadas em diferentes contribuir para aumentar a eficiência do uso da terra. A
espaçamentos e irrigadas com água de baixa e alta mesma pode ser associada com a rotação de culturas e
salinidade apresentaram taxa fotossintética diferenciada com outras estratégias de manejo; é aplicável sob
em função da salinidade e localização da folha na planta condições salinas (solo e água). No entanto, se faz
(Gomes et al., 2009). Isso decorre do fato das plantas necessário conhecer as respostas sob diferentes níveis
sob estresse salino apresentarem menor crescimento de salinidade; no caso da irrigação por sulcos, o
vegetativo e menor índice de área foliar, o que altera a espaçamento pode influenciar no acúmulo de sais no
distribuição da radiação dentro da cultura. Nas folhas solo. Por fim, a sua utilização requer a realização de uma
apicais a fotossíntese é limitada somente pelo estresse análise econômica e financeira.
salino causado pela água de irrigação, já que a radiação O uso da rotação de culturas na produção agrícola,
não variou entre os tratamentos. Por outro lado, o uso de prática que consiste em alternar, anualmente, espécies
vegetais, numa mesma área agrícola, tem recebido,
água salina na irrigação aumentou a radiação
através do tempo, reconhecimento acentuado, do ponto
interceptada pela folhas basais, aumentando a taxa
de vista técnico, como um dos meios indispensáveis ao
fotossintética e a temperatura foliar destas (Tabela 5).
bom desenvolvimento de uma agricultura mais estável.
Dessa forma, os valores de radiação fotossinteticamente
Diversos estudos têm demonstrado os efeitos benéficos
ativa variaram entre as folhas analisadas, em função do da rotação de culturas, tanto sobre as condições de solo
espaçamento e do nível de salinidade da água de quanto sobre a produção das culturas subsequentes
irrigação (Tabela 5). (Fontaneli et al., 2000).
De acordo com os dados da tabela 5, é possível A rotação de culturas pode ser citada como benéfica
cultivar feijão-de-corda com maior densidade de plantio à melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do
sob condições de salinidade, mantendo o índice de área solo, ao controle de plantas daninhas, bem como ao de
foliar (IAF) e a distribuição da radiação doenças e pragas, à reposição de restos orgânicos, e à
fotossinteticamente ativa (RFA) em valores adequados proteção do solo contra a ação dos agentes climáticos;
ao processo fotossintético. Nessas condições, a redução é recomendável usar espécies das plantas fixadoras de
do espaçamento de plantio resulta em ganhos de nitrogênio com sistema radicular profundo ou abundante,
rendimento e na eficiência do uso da água do feijão-de- espécies capazes de aproveitar os fertilizantes residuais
corda, aumentando a eficiência do uso da terra (Albano das culturas comerciais. O manejo da matéria orgânica
et al. 2009; Lacerda, 2009). Essa é uma estratégia mediante rotação de culturas, adubação verde e
312 Claudivan F. de Lacerda et al.

consorciação de culturas pode proporcionar melhor redução do rendimento do trigo atingiu o valor de até
aproveitamento de adubos químicos e possibilitar redução 22,2% no maior nível de salinidade empregado, enquanto
nos custos com adubação nitrogenada mineral, uma vez que os efeitos residuais da salinidade sobre sorgo e
que propicia aumento da atividade biológica do solo. milheto somente foram observados nas áreas que haviam
O uso de rotação de culturas pode ser mais uma sido irrigadas com água de CE superior a 12 dS m-1. A
alternativa para regiões de ambientes semi-áridos, que quantidade de chuvas, associada ao sistema de drenagem
apresentam problemas de salinidade (Murtaza et al. 2006; instalado na área, foi suficiente para lixiviar os sais
Lacerda, 2009). Essa estratégia se mostra bastante acumulados durante o cultivo da estação seca. Os
promissora para culturas anuais, principalmente para resultados mostram que o uso desse conjunto de
solos de boa drenagem ou que esteja associada a outras estratégia permite o uso sustentável de águas salinas,
estratégias que favoreçam a lixiviação, podendo sem reduções significativas na produtividade e sem a
contribuir para aumentar a eficiência do uso da terra e degradação do solo.
a conservação do solo. Para obtenção de melhores Estudos desenvolvidos no Brasil para avaliar ciclos de
resultados com uso de rotação de culturas utilizando-se rotação cultural entre feijão-de-corda e milho
águas salinas, deve-se cultivar a espécie demonstraram que o cultivo na estação seca utilizando-
reconhecidamente mais tolerante durante a estação seca, se águas salinas na irrigação provocou aumento da
quando se utiliza principalmente águas de maior condutividade elétrica e da PST no solo (Tabela 6); no
salinidade. entanto, os valores de condutividade elétrica medidos
Com o uso de rotação de culturas em regiões semi- após o cultivo do período chuvoso decresceram em todos
áridas é possível obter produção de forragem ou de grãos os tratamentos, em consequência das chuvas ocorridas
de janeiro a abril de 2008 (Sousa, 2008). O efeito de
o ano inteiro, utilizando águas salinas na estação seca e
lavagem do solo, em decorrência da estação chuvosa, foi
água de chuva na estação úmida, sem alterar
similar ao observado em outro estudo similar com algodão
significativamente o ambiente (Rhoades et al., 2000;
e trigo (Murtaza et al., 2006).
Murtaza et al., 2006; Sousa, 2008; Bezerra, 2009). O A irrigação com água salina nos cultivos da estação
acúmulo de sais durante a irrigação de culturas na seca também provocaram reduções na produtividade de
estação seca pode ser revertido, total ou parcialmente, milho e feijão-de-corda, porém, o acúmulo de sódio e de
durante o período chuvoso, sendo que esse processo de sais no solo durante o cultivo da estação seca não foi o
lavagem dependerá do total de precipitação anual, da bastante para causar efeitos significativos no crescimento
intensidade das precipitações e das características físicas e na produtividade das culturas durante a estação
do solo. Não se pode descartar, no entanto, que os sais chuvosa (Tabela 6). A elevada precipitação antes e
acumulados no período seco podem afetar o durante o cultivo da estação chuvosa, cerca de 1300 mm,
desenvolvimento inicial das culturas na estação chuvosa, proporcionou boa lixiviação dos sais, tanto antes como
afetando a sua produtividade final. Além disso, se durante o cultivo na estação chuvosa (Sousa, 2008;
considerarmos a variabilidade temporal da estação Bezerra, 2009). De acordo com Santos et al. (2005) e
chuvosa nas regiões semi-áridas, particularmente, no Assis Júnior et al. (2007), o excedente da água de
semi-árido brasileiro, deve-se trabalhar com culturas que irrigação ou da chuva lixivia o excesso de sais no perfil
apresentem ao mesmo tempo, bons graus de tolerância
à salinidade e de resistência à seca, além da utilização Tabela 6. Produtividades de milho e feijão-de-corda em
de práticas que auxiliem na lavagem do solo evitando a sistema de rotação cultural, utilizando-se águas salinas
na irrigação
degradação do mesmo pela salinização.
Estudo conduzido na Índia durante sete anos mostrou Produtividades (kg ha-1)
Tratamentos
a viabilidade do uso da rotação de culturas, associada ao CEa (dS m-1) Rotação 1 Rotação 2
emprego de um sistema de drenagem sub-superficial Milho Feijão-de-corda
(Sharma & Rao, 1998). Nesse trabalho, a cultura do 0,8 4362,0 1758,0
trigo foi irrigada com água de crescente salinidades (0,5, 2,2 4366,0 1458,0
6, 9, 12 e 18,8 dS m-1), obtidas pela mistura de água de 3,6 3606,0 1358,0
canal de irrigação e água de drenagem, durante a estação 5,0 3110,0 1266,0
seca, enquanto as culturas do sorgo e milheto foram Feijão-de-corda Milho
0,8 (residual) 160,0 5212,0
cultivadas durante a estação chuvosa. Para garantir a
2,2 (residual) 181,0 5181,0
formação do estande, em todos os cultivos foram 3,6 (residual) 168,0 5093,0
realizadas irrigações com água de baixa salinidade antes 5,0 (residual) 169,0 5350,0
da semeadura. Os resultados obtidos mostraram que a Fonte: Sousa (2008) e Bezerra (2009)
Estratégias de manejo para uso de água salina na agricultura 313

do solo, resultando em menor efeito da salinidade no redução no crescimento é inicialmente afetada pelos
ambiente radicular, o que favorece o crescimento e o efeitos osmóticos e posteriormente pelo acúmulo
desenvolvimento da cultura. Murtaza et al. (2006) excessivo de íons tóxicos (Munns, 2002). Embora seja
também notaram pouca influência da irrigação com água óbvio que o excesso de determinados íons influencia na
salina no cultivo do algodão na estação seca, em um aquisição de nutrientes pela planta não se sabe, com
sistema de rotação cultural com trigo irrigado com água certeza, se as alterações nos teores de nutrientes
de baixa salinidade na estação chuvosa. No entanto, os minerais contribuem para a redução no crescimento
resultados podem ser alterados pelas condições associada à salinidade, ou se são meras consequências
ambientais, principalmente as chuvas no início do cultivo da redução no crescimento.
da estação chuvosa. Observa-se, na grande maioria dos casos, que a
adubação em áreas salinas promove o crescimento, mas
PRÁTICAS QUE FAVORECEM A AQUISIÇÃO não é aumentado o grau de tolerância à salinidade e
DE MINERAIS PELAS PLANTAS essas respostas de crescimento são óbvias apenas em
solos pobres em nutrientes minerais (Grattan & Grieve,
As interações iônicas que afetam a disponibilidade, 1999; Lacerda et al., 2003). Sob condições de baixa
absorção e transporte de nutrientes são altamente fertilidade do solo as plantas estão limitadas pelo estresse
complexas mesmo na ausência de salinidade e de outros nutricional, de modo que a aplicação de fertilizantes
estresses. A salinidade adiciona um novo nível de favorece o seu crescimento. No entanto, as respostas à
complexidade para a nutrição mineral das culturas, adubação tendem normalmente a serem maiores em
afetando a atividade dos íons em solução e os processos plantas não estressadas, conforme mostra o modelo
de absorção, transporte, assimilação e distribuição. Essa hipotético apresentado na Figura 3A e os dados
complexidade é explicada pelas diferenças na apresentados na Figura 3B.
concentração e na composição iônica dos meios salinos Por outro lado, elevados níveis de nutrientes em meios
aos quais as plantas são submetidas, pelo número de salinos e a manutenção da absorção poderiam levar ao
nutrientes essenciais envolvidos e pelas diferentes acúmulo do nutriente nos tecidos, em consequência de um
respostas das plantas tanto em relação à salinidade como efeito de concentração. Isso pode resultar em uma falta
em relação à eficiência na aquisição de minerais do solo. de ajuste entre a aquisição e a assimilação de um
Isso gera uma gama de interações que não podem ser determinado nutriente, acarretando toxidez e intensificando
facilmente explicadas. As dificuldades na interpretação os efeitos deletérios causados pela salinidade. É possível,
dos resultados são aumentadas em face das diferentes portanto, que o nível ótimo de alguns nutrientes, como o
condições de cultivo utilizadas, do tempo de exposição ao fósforo, para a produção vegetal, na ausência de sais, possa
estresse e do tipo de tecido amostrado (Lacerda, 2005). ser tóxico para algumas plantas quando cultivadas em meio
Os resultados mais prováveis dos efeitos da salinidade salino (Grattan & Grieve, 1999; Lacerda et al., 2006a;
na nutrição mineral podem ser a redução no crescimento Lacerda et al., 2006b), ou seja, pode ocorrer um desajuste
e as alterações na qualidade do produto vegetal, como por excesso que pode alterar a curva dose x resposta
aumento no grau brix de frutos, acúmulo excessivo de (Figura 4).
sais em plantas forrageiras, acúmulo de nitrato e de Além das técnicas convencionais de adubação com
outros nutrientes, alterações na forma e no tamanho de base no emprego de fertilizantes minerais, um aspecto
frutos e redução na concentração de K+. Por outro lado, que vem sendo recentemente estudado é o emprego de
é possível sugerir que a redução no crescimento e formas alternativas que favorecem a aquisição de
produtividade das plantas em meios salinos pode reduzir nutrientes pelas plantas em condições de salinidade,
o requerimento de alguns nutrientes essenciais, ou seja, como a aplicação de biofertilizantes líquidos, o aporte de
a quantidade de fertilizantes requerida por plantas matéria orgânica e a inoculação das raízes de plantas
cultivadas em solos salinos pode ser menor do que a com fungos micorrízicos. Os resultados obtidos nesses
requerida por plantas cultivadas em solos não salinos. estudos mostram incremento no desenvolvimento e na
Isso pode acarretar a contaminação do lençol freático, produtividade em algumas culturas, embora esses
visto que menor quantidade de nutrientes será absorvida aumentos sejam inferiores aos obtidos em ambientes não
e maior quantidade ficará disponível para lixiviação. salinos (Cavalcante et al., 2004; Campos, et al., 2009;
De acordo com a maioria dos autores, a salinidade Lacerda, 2009; Lima Neto, et al., 2009; Silva et al.,
reduz o crescimento das plantas em decorrência dos 2009a).
efeitos osmóticos, tóxicos e nutricionais. No entanto, Estudos recentes indicam que a associação simbiótica
alguns estudos mais específicos têm mostrado que a de plantas com os fungos micorrízicos arbusculares
314 Claudivan F. de Lacerda et al.

AA 40
Feijão-de-corda
120 35
Não Salino
30

Teores de P (g kg )
100

-1
Salino 25
Rendimento relativo

20
80
15

60 10
Controle
Salino
5
40
0
0,025 0,250 0,500 1,000
20 Concentração de P (mM)

Figura 4. Teores de P em folhas de feijão-de-corda em função


0 da concentração de fósforo, na ausência (controle) ou
Baixa fertilidade Alta fertilidade presença de NaCl 72 mM. Para maiores informações ver
Fertilidade do Solo legenda da Figura 5. Fonte: Lacerda (2005)
B B
50
totais extraídos de N, P e K, principalmente nos níveis
Controle
baixos e médios de salinidade, e redução na absorção dos
40 Salino
íons potencialmente tóxicos (Na e Cl) a partir da
Área Foliar (dm2)

salinidade da água de irrigação de 3 dS m-1 (Lúcio, 2008).


30
A associação com os FMA também proporcionou um
incremento no crescimento vegetativo e na taxa de
20
fotossíntese, porém o efeito benéfico da micorriza
10
(61) (57) (59) decresceu com o incremento da salinidade. A salinidade
(36) reduziu a colonização micorrízica, especialmente nos
0 níveis superiores a 3 dS m -1 (Figura 5), o que pode
0,025 0,250 0,500 1,000 justificar, em parte, a redução da eficiência da associação
Concentração de P (mM) com o incremento da salinidade.
Figura 3. A. Respostas hipotéticas de plantas em função da
Colonização micorrízica (%)

salinidade e da fertilidade do solo. (Fonte: Lacerda, 60

2009). B. Área foliar de plantas de feijão-de-corda em 50


função da concentração de fósforo, na ausência 40
(controle) ou presença de NaCl 72 mM. Os valores
30
apresentados entre parênteses indicam a percentagem de
redução em relação ao tratamento controle. As plantas 20

foram cultivadas em casa-de-vegetação em vasos 10


contendo 3 litros de solução nutritiva, na ausência 0
(controle) ou presença de NaCl 72 mM (salino). A 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
colheita foi realizada após 20 dias do início da adição Níveis de salinidade (dS m ) -1

dos sais. O fósforo foi aplicado na forma de KH 2PO4 e


a concentração de K + foi ajustada para 2,0 mM, y = 49,75 + 5,57x - 2,05*x2 (R2= 0,91**)
utilizando-se KCl. Os dados são médias de quatro Figura 5. Percentagem de colonização micorrízica arbuscular
repetições ± desvio padrão. Fonte: Lacerda (2005) em raízes de meloeiro cultivado em diferentes níveis de
salinidade de água de irrigação. ** significativo a 1%
pelo teste F. Fonte: Lúcio (2008)
promovem maior tolerância das plantas aos vários tipos
de estresses abióticos, dentre eles o salino. Essa maior Diversos estudos têm demonstrado que o uso de
tolerância das plantas micorrizadas à salinidade deve-se
biofertilizantes em ambientes salinos pode atenuar
a possíveis mecanismos de proteção proporcionados
parcialmente os efeitos da salinidade sobre o crescimento
pelos fungos, dentre eles a maior absorção de nutrientes,
alteração na morfologia da raiz (maior número de raízes das plantas (Cavalcante et al., 2004; Campos, et al., 2009;
adventícias) e a influencia do FMA na condutividade Lima Neto, et al., 2009; Rodolfo Júnior et al., 2009). A
elétrica do solo (Giri et al., 2003). Em estudo importância do uso de biofertilizantes líquidos, na forma
desenvolvido com plantas de melão irrigadas com águas de fermentados microbianos simples ou enriquecidos,
salinas verificou-se que a associação simbiótica entre os está nos quantitativos dos elementos, na diversidade dos
FMA e as plantas de meloeiro proporcionou aumento nos nutrientes minerais quelatizados e disponibilizados pela
Estratégias de manejo para uso de água salina na agricultura 315

atividade biológica e como ativador enzimático do permitir o uso de águas salinas na irrigação, substituindo
metabolismo vegetal. parcialmente o uso de água de boa qualidade e aumentar
Em feijão-de-corda submetido à salinidade, a a eficiência do uso da terra e a sustentabilidade de
aplicação de biofertilizante bovino melhorou o sistemas agrícolas sob condições de salinidade.
desempenho em todos os parâmetros analisados
(crescimento e fotossíntese), quando comparada aos que REFERÊNCIAS
não receberam biofertilizante (Silva et al., 2009a e b). Os
tratamentos que receberam biofertilizante bovino tiveram Albano, F. G.; Silva, F. B.; Amorim, A. V.; Lacerda, C. F.; Gomes,
a área foliar superior aos que não recebem biofertilizante K. R.; Silva, F. L. B.; Gomes Filho, E. Crescimento e
aos 45 dias após a semeadura (Figura 6), porém, os produtividade em plantas de feijão-de-corda em função da
efeitos benéficos do biofertilizante decresceram com o salinidade e do espaçamento de plantio In: Congresso
aumento da salinidade da água de irrigação. Apesar Brasileiro de Fisiologia Vegetal, 12, 2009, Fortaleza.
Resumos... Fortaleza: SBFV, 2009, p.197.
disso, verifica-se que o uso do biofertilizante pode ser
Assis Jr., J. O.; Lacerda, C. F.; Silva, F. B.; Silva, F. L. B.; Bezerra,
uma alternativa viável que pode permitir o aumento da
M. A; Gheyi, H. R. Produtividade do feijão-de-corda e
produtividade em condições de salinidade moderada, acúmulo de sais no solo em função da fração de lixiviação
sendo necessários novos estudos que busquem aumentar e da salinidade da água de irrigação. Engenharia Agrícola,
a eficiência desse insumo em condições de campo. v.27, n.3 p.702-713, 2007.
Ayers, R. S.; Westcot, D. W. A qualidade da água na agricultura
TR SB
1600
(Estudos FAO). Campina Grande, UFPB, 1999, 153 p.
2
y = 1,9232x - 190,7x + 1649,2 TR CB
R2 = 0,9875
Barbosa, F. S.; Lacerda, C. F.; Silva, F. L. B.; Lage, Y. A.; Silva
1400 Junior, R. J. C. Irrigação com água de alta e baixa salinidade
Área foliar (cm2)

1200 no desenvolvimento e na produção de milho. In:


Congresso Brasileiro de Ciências do Solo, 32, 2009,
1000 y = -39,395x2 + 183,13x + 503,89
Fortaleza. Resumos... Viçosa: SBCS, 2009, p.412.
R2 = 0,8403
800 Beltrán, J. M. Irrigation with saline water: benefits and
environmental impact. Agricultural Water Management,
600
v.40, p.183-194, 1999
400 Bezerra, A. K. P. Avaliação de um ciclo de rotação cultural
0,8 2,5 3,5 5 6 feijão-de-corda/milho utilizando-se águas de salinidades
CEa (dS m-1)
Fonte: Silva et al. (2009a)
diferentes. Fortaleza: UFC, 2009. 70p. Dissertação
Figura 6. Área foliar de plantas de feijão-de-corda irrigada Mestrado
com diferentes níveis salinos, na ausência e presença de Botía, P.; Navarro, J. M.; Cerdá, A.; Martínez, V. Yield and fruit
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Embora existam diversas estratégias que podem ser effluent to irrigate a potential forage halophyte, Suaeda
utilizadas no manejo da salinidade em cultivos irrigados, esteroa. Aquacultural Engineering, v.20, p.91-111, 1999.
os estudos desenvolvidos no Brasil ainda são escassos, Campos, V. B.; Cavalcante, L. F.; Rodolfo Júnior, F.; Sousa, G.
e normalmente são avaliadas estratégias isoladas sem G.; Mota, J. K. M. Crescimento inicial da mamoneira em
uma visão de longo prazo da sustentabilidade dos resposta à salinidade e biofertilizante bovino. Magistra,
sistemas agrícolas. Além disso, verifica-se uma v.21, p.41-47, 2009.
Cavalcante, L. F. ; Silva, P. S V ; Santos, G. D.; Mesqita, E. F.;
complexidade das condições de salinidade em situações
Alves, G. S.; Cavalcante, Í. H. L; Gondim, S. C ; Oliveira, A.
de campo, o que muitas vezes limita o uso de
P. Crescimento do maracujazeiro - amarelo em substrato
determinadas estratégias de manejo. Em função do
envasado com aplicação de biofertilizantes bovino. Anais
exposto, sugere-se uma nova abordagem nas pesquisas do CPG em Manejo de Solo e Água, v.26, p.51-71, 2004.
que busque uma avaliação conjunta de diferentes Chauhan, C. P. S.; Singh, R. B. Gupta, S. K. Suplemental irrigation
estratégias, de preferência em estudos de longo prazo, of wheat with saline water. Agricultural Water Management,
que possam resultar no melhor aproveitamento da terra v.95, p.253-258, 2008.
e dos recursos salinos (solo e água). Esses estudos Fageria, N. K.; Gheyi, H. R. Melhoramento genético das culturas
devem contribuir para o alcance dos seguintes objetivos: e seleção de cultivares. . In: Gheyi, H. R., Queiroz, J. E.,
reduzir os impactos da salinidade sobre a planta, Medeiros, J. F. (ed.) Manejo e controle da salinidade na
prevenindo também a degradação do solo, reduzir o uso agricultura irrigada. Campina Grande: UFPB, 1997. p.363-
de fertilizantes químicos em plantas sob estresse salino, 383.
316 Claudivan F. de Lacerda et al.

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SALTMED M model as an integrated
18 management tool for water, crop,
soil and fertilizers
Ragab Ragab1

1 Centre for Ecology & Hydrology (CEH), Wallingford, Oxon, OX 10 8 BB, UK

Introduction
The SALTMED 2009 Model main features
Default data in the databases
Data requirements
Detailed description of the processes in the SALTMED Model
Evapotranspiration
Calculating the stomata conductance from the absecic acid, ABA
Calculating the stomata conductance from regression equation
Plant water uptake in the presence of saline water the actual water uptake rate
The rooting depth
The tooting width
The relative crop yield, RY
The actual yield, AY
Water and solute flow
Soil hydraulic parameters
Drainage
Crop growth and biomass production
Calculating soil temperature from air temperature
Soil nitrogen dynamics and nitrogen uptake
Plant nitrogen uptake
SALTMED Model frames (user Interface) and examples of outputs
Model application
References

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
320 Ragab Ragab

SALTMED M model as an integrated management


tool for water, crop, soil and fertilizers

INTRODUCTION drainage water, use of brackish water (groundwater), use


of seawater, desalinated saline water, treated waste water,
Agricultural water use has increased 5 fold since 1940 etc. In applying these non-conventional methods a great
and accounts for almost 70% to 80% of world fresh water deal of care should be exercised in order not to harm the
use (Figure1). This led in some parts of the world to environment or cause soil degradation, Ragab (1997, 1998,
significant water resources over-exploitation and using 2002, 2004), Hamdy et al. (2003) and Malash et al. (2008).
low-quality (i.e. saline) water when good-quality supplies
were in short supply. Over-exploitation of groundwater of
the coastal regions can cause the groundwater level to fall
below the seawater level and in presence of permeable
stratum, seawater can flow into and add salts to the fresh
water of the aquifers and turn it to “brackish water”.

Figure 2. The ratio of world fresh water to saline water

Semi-arid regions frequently suffer from years of


below-average rainfall and severe drought.
Studies and field practices by farmers in many regions
of the world have shown that water normally classified as
too saline for conventional agricultural use can in fact be
Figure 1. Water use increase in agriculture since 1940 used to irrigate a wide variety of annual and perennial
crops. Plants (trees, crops, fodder, halophytes, etc.) of
The limited fresh water resources (Figure 2) and the moderate to high salt tolerance can be irrigated with saline
increasing need for food and fibre to feed the growing water especially at later growth stages. Saline water could
populations has put immense pressure on water resources. be used to irrigate salt tolerant crops under a proper
In a competition with other sectors for fresh water, management system. High salt concentrations limit plant
agriculture sector usually looses out. As a result, the growth by making this water less available for uptake by
agriculture sector in different parts of the world searched for the roots. Salt movement is intimately tied to water
alternative water resources sometimes known as non- movement, and therefore salinity management is a largely
conventional water resources e.g. re-use of agriculture a function of water management in any irrigation system.
SALTMED M
model as an integrated management tool for water, crop, soil and fertilizers 321

The use of saline water for irrigation requires a


selection of appropriate salt tolerant crops and an
improvement in water management and maintenance of
soil physical properties to ensure adequate soil permeability
to meet leaching requirements. A truly integrated approach
is essential to encourage the increased use of saline water
for irrigation, in order to both minimise drainage disposal
problems and maximise the beneficial use of multiple water
sources. Management of soil or crop or water in isolation
would lead to soil deterioration, increasing water table levels
causing further soil salinization, reducing oxygen levels in
Figure 3. Poor management of saline water could lead to
the root zone and affecting nutrients availability and
soil salinization
possibly creating wet lands which could be a health hazard
(e.g. Malaria, etc.).
Poor management of water and soil could lead to soil
salinization (Figure 3) and could lead to land and
groundwater degradation. Loss of agricultural land through
salinity takes at least 1.5 million ha worldwide out of use
per annum (Figure 4). Sustaining production is central to
food production for the next century in which population
pressure will increase substantially. More salt tolerant
crops and better irrigation management will both help
sustainable agriculture. Once aquifers are contaminated
with salt it will persist until diluted by rainfall which may
not take place as long as exploitation exceeds recharge.
Figure 5 shows the experimental fields of tomato irrigated Figure 4. Salinity affected soils in some parts of the world
with saline water in Egypt. In Syria saline water up to 9
dS m-1 was used to irrigate tomato crop. Figure 6 shows
the mixing tank of fresh and saline water in Egypt
experimental farm. One of the irrigation strategies was to
irrigate the crop with mixed saline drainage water with
fresh water at different ratios, a second strategy was to
irrigate with fresh water at early growth stages then saline
water at later stages, a third strategy was to alternate the
use of fresh and saline water. Saline water was
successfully applied to grow barley, pearl millet and fodder
(Figure 7) in Dubai by the International Centre for
Biosaline Agriculture, ICBA. Furthermore, the saline
water has been recycled and reused in a sequential water
management system (Figure 8) in San Joaquin Valley, Figure 5. Drip irrigating tomato with saline water, Egypt
California. In such system, saline water was first applied
to the least tolerant plants then drainage water collected under different strategies of water management (blending
and used to irrigate a relatively more salt tolerant plant then & alternative use of fresh and saline waters), water and
drainage water is collected and used again to irrigate more leaching requirements have been developed in parallel
salt tolerant plant and so on until the salinity of water with the field and greenhouse experiments.
becomes only suitable for Halophytes (could be fodder, These models were developed to predict the soil
flowers, pharmaceutical plants), or to be released to a salinity levels over time and as a tool to manage the
wetland or routed to an evaporation pond. irrigation water in order to prevent a build up of high salt
Salinity impact on soil and the environment is a slow concentration in the root zone. However, one should bear
long term process and therefore short term experiments in mind that a model is an attempt to translate assumptions
are unable to show the salinity impact. For that reason, concerning the behaviour of a system into a mathematical
models to predict the long term effect on soil and form. The model assumed to represent the natural system
environment, crop yield, soil water and salinity profiles and be able to predict the behaviour, and test how well a
322 Ragab Ragab

Figure 6. Fresh water, saline drainage water and mixing tanks


for drip irrigation, Egypt

Figure 8. Recycling saline water in sequential application


across different fields and different salinity tolerant
plants

stratifications, crops and trees, water application


strategies (blending or cyclic), leaching requirements and
different water qualities (fresh or saline).
SALTMED model has been developed for such
generic applications. To account for different irrigation
systems, crops, soil types and fertilizer applications, the
SALTMED model (Ragab, 2002, 2005, 2009) was
developed to predict dry matter and yield, soil salinity and
soil moisture profiles, salinity leaching requirements and
Figure 7. Saline water use to produce barley, pearl millet, and
fodder, International Centre for Biosaline Agriculture, soil nitrogen dynamics and nitrate leaching, soil
ICBA, Dubai, UAE temperature, water uptake and evapotranspiration. The
model is friendly and easy to use benefiting from the
given system is truly understood. Models can be invaluable WindowsTM environment; however, it is a physically based
in identifying gaps in our knowledge and in pointing out model using the well-known water and solute transport,
towards areas needing further research. evapotranspiration, and water uptake equations.
Models can be very useful tools in agriculture water
management. Not only they could help in irrigation THE SALTMED 2009 MODEL MAIN
scheduling and crop water requirements calculation but
FEATURES
also, they could be used to predict yields and soil
salinization. Some existing models are designed for a
specific irrigation system, specific process such as water The SALTMED model was designed to include a
and solute movement, infiltration, leaching or water number of physical processes acting simultaneously under
uptake by plant roots or a combination of them. There is field conditions. It was also designed to be generic,
a shortage in models of a generic nature, models that can physically based, and friendly to use. The model
be used for a variety of irrigation systems, soil types, soil contained the following key processes:
SALTMED M
model as an integrated management tool for water, crop, soil and fertilizers 323

1. Evapotranspiration: several options to calculate the The model implemented the following processes:
evapotranspiraion that include: - Mineralization, Immobilization, Nitrification,
- Penman-Monteith equation according to the Denitrification
modified version of FAO - 56 (1998) with average - N-Leaching;
seasonal value of surface conductance of 70 s m-1. - Plant N Uptake.
- Penman Monteith equation with options to specify 4. Modelling soil temperature: Soil temperature has
the surface conductance. The latter is calculated by been calculated from air temperature according to the
different methods: approach of Kang et al. (2000) and Zheng et al. (1993).
A. Applying Penman – Monteith equation using It is based on average air temperature, damping ratio,
stomata conductance calculated from environmental thermal diffusivity as a function of soil water, air and
parameters: according to Jarvis 1976 and modified by mineral content, Leaf Area Index, LAI and litter fraction.
Körner (1995). It is based on multiplication of maximum 5. Modelling water uptake: Plant water uptake was
stomata conductance by the relative effects of calculated according to Cardon and Letey (1992) taking
environmental stress factors such as Vapour Pressure into account the water stress and the salinity stress in
Deficit, VPD, temperature, soil water availability and case of using saline water.
radiation; 6. Modelling soil water and solute movement: The
B. Applying Penman – Monteith equation using water flow in soil was described mathematically using
stomata conductance calculated from the Absecic Richards equation. The movement of solute in the soil
system was described by the convection–dispersion
Acid, ABA and leaf water potential. The equation
equation. Under irrigation from a furrow or trickle line
suggested by Tardieu et al. 1993 was implemented. The
source, the water and solute transport can be viewed as
equation is based on minimum stomata conductance, leaf
two-dimensional flow. In the model, sprinkler, Centre
water potential, Absecic Acid concentration, and other
Pivot, rain-fed, flood and basin irrigation are described by
fitting coefficients;
one-dimensional flow equations. Trickle point source
C. Applying Penman – Monteith equation using
including the PRD system is described by cylindrical
average seasonal value of stomata conductance;
flow equations.
D. Applying Penman – Monteith equation using
measured daily value of stomata conductance. Default data in the databases
2. Modelling crop growth, biomass, dry matter The model has 3 built-in databases:
production and yield: The crop growth, biomass, dry - Crop database (based largely on the FAO 1992 &
matter production and yield have been calculated based 1998), contains different crops, trees and shrubs (>200)
on: radiation, photosynthetic efficiency, water uptake, air from different regions, duration of each growth stage,
temperature, leaf nitrogen content, leaf area index, sowing and harvest dates, K c & Kcb values for each
respiration losses and the harvest index. growth stage, maximum height and maximum rooting
3. Modelling soil nitrogen dynamics: Soil nitrogen depth, Leaf Area Index, LAI, water potential at which
dynamics was based largely on the approach of Johnsson the water uptake reaches 50% of the potential level, H50
et al. (1987) in SOIL – N model. The approach has and the osmotic pressure at which the water uptake
largely been adapted. The model takes into account the reaches 50% of the potential level, 50 . The model uses
different external N-sources as: Kcb as it runs on a daily time step.
1 - Dry deposition from the atmosphere; - Soils database: Contains the hydraulic and thermal
2 - Wet deposition with rainfall; characteristics and solute transport parameters of more
3 - Commercial Fertilizers added as dry chemicals than 40 different soil types.
(Urea, Ammonium based fertilizer, Nitrate based Fertilizer - Irrigation system database: Contains information on
and mixed Ammonium Nitrate Fertilizer, etc.); the wetting fraction and the frequency of application of
4 - Commercial fertilizers added with the irrigation water the irrigation systems.
(Fertigation) these are as above (Urea, Ammonium based
fertilizer, Nitrate based Fertilizer and mixed Ammonium Data requirements
Nitrate Fertilizer etc.); Plant characteristics: these include for each growth
5 - Manure; stage; the crop coefficient, Kc , Kcb, root depth and lateral
6 - Incorporated crop residues of previous crop on expansion, crop height and maximum / potential final
ploughing day before sowing. yield observed in the region under optimum conditions.
324 Ragab Ragab

Soil characteristics: include depth of each soil where ETo is the reference evapotranspiration, (mm day-1),
horizon, saturated hydraulic conductivity, saturated soil Rn is the net radiation, (MJ m-2 day-1), G is the soil heat
water content, salt diffusion coefficient, longitudinal flux density, (MJ m-2 day-1), T is the mean daily air
and transversal dispersion coefficient, initial condition temperature at 2 m height, ( oC),  is the slope of the
of : soil moisture, NO3-N, NH4-N and salinity in each saturated vapour pressure curve, (kPa oC-1),  is the
soil layer, tabulated data of soil moisture versus soil psychrometric constant, 66 Pa oC -1, es is the saturated
water potential and soil moisture versus hydraulic vapour pressure at air temperature (kPa), e a is the
conductivity. prevailing vapour pressure (kPa), and U 2 is the wind
Meteorological data: include daily values of temperature speed at 2 m height (m s-1) . The calculated ETo here is
(maximum), temperature (minimum), relative humidity, for short well-watered green grass. In this formula, a
total or net radiation, wind speed, and daily rainfall. hypothetical reference crop with an assumed height of
Water management data: include the date and 0.12 m, a fixed surface resistance of 70 s m-1 and an
irrigation application rate, time of start and stop of the albedo of 0.23 were considered.
irrigation and fertilizers concentrations (fertigation) and In presence of stomata / canopy surface resistance
the salinity level of the applied irrigation. data, one could use the widely used equation of Penman-
Nitrogen fertilization data: This includes amount and Monteith (1965) in the following form:
date of dry fertilizers added, dry and wet N deposition,
initial soil humus and litter contents.
( -e )
Model parameters: include the number of  R n +  Cp es a
compartments in both vertical and horizontal direction,  Ep = ra
(1b)
tortuosity parameters, diffusion parameters, uptake (1 + r s)
+
parameters, position of plant relative to irrigation source ra
and the maximum time step for calculation.
Model run: The model runs at maximum time step of
200 seconds and output values on daily basis. The model where “rs” and “ra” are the bulk surface and aerodynamic
calculates the water and solute movement on grid square resistances (s m-1). The rs can be measured or calculated
basis. The default grid size is 4 cm by 4 cm. The model from environmental and meteorological parameter or from
considers different plant positions from the irrigation the leaf water potential and Absecic Acid, ABA.
source and accommodates rainfed as well as subsurface In the absence of meteorological data (temperature,
irrigation including deficit irrigation and Partial Root radiation, wind speed etc.) and if Class A pan
Drying, PRD. The model is freely available at: http:// evaporation data is available, the SALTMED model can
www.safir4eu.org or from the author at rag@ceh.ac.uk use this data to calculate ET o according to the FAO
(1998) procedure. The model can also calculate the net
DETAILED DESCRIPTION OF radiation from solar radiation according to the FAO
THE PROCESSES IN THE SALTMED MODEL (1998) procedure if net radiation data is not available. The
crop evapotranspiration ETc is calculated as:
The first version of the SALTMED model has been
described in detail in Ragab (2002) with some examples of ETc  ETo (K cb  Ke) (2)
applications. The SALTMED model includes the following
key processes: evapotranspiration, plant water uptake, where Kcb is the crop transpiration coefficient (known
water and solute transport under different irrigation also as basal crop coefficient) and K e is the soil
systems, nitrogen dynamics and dry matter and biomass evaporation coefficient. The values of Kcb and Kc, (the
production. A brief description of the above mentioned crop coefficient) for each growth stage and the duration
processes will be given in the following sections. of each growth stage for different crops are available in
the model’s database. These data can be used in the
Evapotranspiration absence of measured values. Ke is calculated according
Evapotranspiration has been calculated using the to FAO (1998). Kcb and Kc are adjusted according to
Penman-Monteith equation according to the modified FAO (1998) for wind speed and relative humidity if
version of FAO (1998) in the following form: different from 2 m s -1 and 45%, respectively. The
SALTMED model runs with a daily time step and uses
900 Kcb and Ke. These parameter values are not universal
0.408 (R n  G ) +  U 2 ( eSs  eaa)
T  273 and their values differ according to climatic conditions and
ETo = (1a)
 +  (1  0. 34U 2) other factors.
SALTMED M
model as an integrated management tool for water, crop, soil and fertilizers 325

Calculating the stomata conductance from the Tminimum and Toptimum are user input, oC
absecic acid, ABA f(SW) = 0 if soil water content,  is ≤ soil water
The modelling approach is based on Tardieu et al. content at wilting point WP
(1993). f(SW) = [( - WP) / (fc - WP)] if WP <  < FC
f(SW) = 1 if FC <  < SAT
gs = gs minimum +  * Exp (ABA * * Exp ( *l )) (3)  is the average root zone soil water content and can be
obtained from the model run as average values of the
where: fully rooted squares.
gs - Stomata conductance, mole m-2 sec-1 WP, FC, SAT are soil water content at wilting point,
gsminimum - mimimum Stomata conductance, (mole m-2 at field capacity and at saturation (or porosity) given as
sec-1) input in the soil data base.
ABA - Absecic Acid concentration, daily values, F (PAR) = 1 - exp (- *PFD)
(mmole m ) -3  is a user input = 0.2
 -leaf water potential in M pa, daily values, (Mpa) PFD is photons flux density in micromole m-2 sec-1
, ,  - are fitting parameters, default values are: (range : 0-900 , average is 450)

Plant water uptake in the presence of saline water


the actual water uptake rate
The formula adopted in the SALTMED model is that
ABA and l are given as daily values.
suggested by Cardon and Letey (1992), which determines
the water uptake S (d-1) as:
Calculating the stomata conductance from regression
equation
The modelling approach for stomatal conductance is  
 
based on the multiplicative model described by Jarvis  S max (t ) 
S( z, t)   3  (z , t ) (5)
(1976) and modified by Körner (1994):  a ( t) h    
1    
   50 ( t)  
gs = gsmax * f(VPD) * f(T) * F(SW)*f(PAR) (4)

where:
where
gsmax - Maximum stomata conductance

f(VPD) - is the relative effect of the vapour 5 / 3L for z  0.2L (6)



pressure deficit, VPD on stomata conductance  (z )  25/12L * 1- z/L for 0.2L  z  L (6a)
0.0 for z  L (6b)
f(T) - is the relative effect of the temperature on 
stomata conductance
f(SW) - is the relative effect of the soil water
content, SW on stomata conductance where Smax(t) is the maximum potential root water uptake
f(PAR) - is the relative effect of the photosynthetic at the time t; z is the vertical depth taken positive
active radiation, PAR on stomata conductance downwards, (z,t) is the depth-and time-dependent
fraction of total root mass, L is the maximum rooting
depth, h is the matric pressure head,  is the osmotic
The sum of f(VPD) * f(T) * F(SW)*f(PAR) ≤ 1
pressure head; 50 (t) is the time-dependent value of the
osmotic pressure at which Smax(t) is reduced by 50%,
f(VPD) = 1- [(VPDmin - VPD) / (VPDmin - VPDmax)] and a(t) is a weighing coefficient that accounts for the
differential response of a crop to matric and solute
VPD is calculated on daily basis from temperature pressure. The coefficient a(t) equals 50(t)/h50(t) where
and relative humidity, RH data given as daily values in h50(t) is the matric pressure at which Smax(t) is reduced
the input file of the climate data. by 50%.
VPD min and VPD max are User input values
F (T) = 1- [(T – Tminimum) /(Toptimum – T The Maximum Water Uptake S max (t). S max (t) is
minimum)]2 calculated as:
T is daily average temperature given as input in
climate data file Smax(t) = ETo (t)* Kcb (t) (7)
326 Ragab Ragab

The values of h 50 and  50 can be obtained from where Ymax is the maximum yield obtainable in a given
experiments or from literature such as FAO (1992). region under optimum and stress-free condition. The
other option to obtain the actual yield is by calculating the
The rooting depth daily biomass production and obtaining the actual yield
The rooting depth was assumed to follow the same from the harvest index times the total dry matter (see the
course as the crop coefficient Kc. Therefore, it has been relevant section on crop growth and dry matter).
described by the following equation:
Water and solute flow
Root depth (t) = [Root depthmin + ( Root depthmax - Root depthmin )] * Kc (t) (8) The water flow in soils was described mathematically
by the well-known Richards equation. It is a partial non-
The maximum root depth is available either from linear differential equation, partial in time and space. It
direct measurements or from the literature. is based on two soil physical principles: Darcy’s law and
mass continuity. Darcy’s law reads:
The rooting width
Compared with rooting depth, there is a very little H
q =  K(h) (12)
information in the literature on lateral extent of the Z
rooting systems of field crops over time. Therefore, a
simple equation has been suggested as follows:
where q is the water flux, K(h) is the hydraulic
Root width (t) = [Root width / Root depth] ratio * root depth (t) (9)
conductivity as a function of soil water pressure head, Z
is the vertical coordinate directed downwards with its
The [Root width/Root depth] ratio is dependant on origin at soil surface, and H is the hydraulic head which
the crop and soil type and other factors. It can be is the sum of the gravity head, Z, and the pressure head,
obtained either from experimental data or from the , thus:
literature. During the growth, new roots enter new grid
cells. H =  +Z (13)
The model then calculates the water uptake only from
those cells with roots. The model grid cells are identified The vertical transient-state flow water in a stable and
by 0, 1 or 2 . The value of 0 is associated with cells with uniform segment of the root zone can be described by a
no roots and 1 for cells fully occupied with roots and 2 Richards equation as:
for cells with partial root presence. The model produces
a data file showing the two – dimensional root distribution     z  
  K ( )  Sw (14)
z 
for every day of the simulation. t z 
The relative crop yield, RY
Due to the unique and strong relationship between where  is volume wetness; t is the time; z is the depth;
water uptake and biomass production, and hence the final K () is the hydraulic conductivity (a function of wetness);
yield, the relative crop yield RY is estimated as the sum  is the matrix suction head; and Sw is the sink term
of the actual water uptake over the season divided by the representing extraction by plant roots. The movement of
sum of the potential water uptake (under no water and solute in the soil system, its rate and direction, depends
salinity stress conditions) as: greatly on the path of water movement, but it is also
determined by diffusion and hydrodynamic dispersion. If

RY  S(x ,z , t) (10)
the latter effects are negligible, solute flow by convection

 S ( x, z, t)
can be formulated (Hillel, 1977) as:
max

J c  qc  vc (15)
where x, z are the horizontal and vertical coordinates of
each grid cell that contain roots, respectively. where Jc is the solute flux density; q is the water flux
density of the water; c the concentration of solute in the
The actual yield, AY flowing water and v is the average velocity of the flow.
The actual yield, AY is simply obtainable by: The rate of a diffusion of a solute (Jd) in bulk water at
rest is related (by Fick’s law) to the concentration
AY  RY * Y max (11) gradient as:
SALTMED M
model as an integrated management tool for water, crop, soil and fertilizers 327

J d  D o c x  (16)

where D0 is the diffusion coefficient. In soil the diffusion


coefficient, Ds , is decreased due to the fact that the
liquid phase occupies only a fraction of soil volume, and
also due to the tortuous nature of the path. It can
therefore be expressed according to the following
equation:

D s  D0  (17) Figure 9. Example of the flow domain under drip irrigation, two
dimensional flow
 
7/ 3
(18)
s2 1) a “plane flow” model involving the Cartesian co-
ordinates x and z. Plane flow takes place if one considers
a set of trickle sources at equal distance and close
where  is the tortuosity, an empirical factor smaller than enough to each other so that their wetting fronts overlap
unity, which can be expected to decrease with decreasing after a short time from the start of the irrigation.
 as shown in Eq. 16 (Šimùnek and Suarez, 1994). The 2) a “cylindrical flow” model described by the
convection flux generally causes hydrodynamic cylindrical co-ordinates r and z.
dispersion too, an effect that depends on the microscopic Cylindrical flow takes place if one considers the case
non-uniformity of flow velocity in the various pores. Thus of a single trickle nozzle or a number of nozzles spaced
a sharp boundary between two miscible solutions far enough apart so that overlap of the wetting fronts of
becomes increasingly diffuse about the mean position of the adjacent sources does not take place. For a stable,
the front. For such a case, the diffusion coefficient has isotropic and homogeneous porous medium, the two-
been found by Bresler (1975) to depend linearly on the dimensional flow of water in the soil can be described
average flow velocity v, as follows: according to Bresler (1975) as:
D h  v (19)
       (   z ) 
 K    K  (22)
t x  x  z  z 
where  is an empirical coefficient. By the combination
of the diffusion, the dispersion and the convection the
overall flux of solute can be obtained as: where x is the horizontal co-ordinate; z is the vertical-
ordinate (considered to be positive downward); K () is
J   D h  D s c x   vc (20) the hydraulic conductivity of the soil. Considering isotropic
and homogeneous porous media with principal axes of
dispersion oriented parallel and perpendicular to the mean
If one takes the continuity equation into consideration, direction of flow, the hydrodynamic dispersion coefficient
one-dimensional transient movement of a non-interacting Dij can be defined as follows:
solute in soil can be expressed as:
D ij   T V  ij   L   T Vi V j / | V |  D s ( ) (23)
c    c  qc 
  Da    Ss (21)
t z  z  z
where L is the longitudinal dispersivity of the medium;
T is the transversal dispersivity of the medium; ij is
in which c is the concentration of the solute in the soil Kronecker delta (i.e., ij =1 if i = j and ij = 0 if i = j) ;
solution, q is the convective flux of the solution, Da is a Vi and Vj are the ith and jth components of the average
combined diffusion and dispersion coefficient, and Ss is interstitial flow velocity V respectively, V = (V2x + V2z)1/2
a sink term for the solute representing root adsorption/ and Ds () is the soil diffusion coefficient as defined in
uptake. Eq. 15. If one considers only two dimensions and
Under irrigation from a trickle line source, the water substituting Dij , the salt flow equation becomes:
and solute transport can be viewed as two-dimensional
flow (Figure 9) and can be simulated by one of the C   C C   C C 
  D xx  D xz  q x C   D zz  D zx  q z C  (24)
following: t x  x z  z  z x 
328 Ragab Ragab

In the model, sprinkler, flood and basin irrigation are Crop growth and biomass production
described by one-dimensional flow equations (e.g. Eqs. The approach used is very much based on the work
12 & 19). Furrow and trickle line source are described of Eckersten & Jansson (1991).
by 2-dimensional equations (e.g. Eqs 20 & 22). Trickle The increase in Biomass  q, g m -2 day -1 = Net
point source is described by cylindrical flow equations Assimilation “NA”
obtained by replacing x by the radius “r” and rearranging The net Assimilation “NA” = Assimilation “ A “ –
Eqs. 20 and 22 as given by Bresler (1975) and Fletcher Respiration losses “ R”
Armstrong and Wilson (1983). The water and solute flow The assimilation rate, “A”per unit of area = E* I*
equations were solved numerically using a finite f(Temp)* f(T)*f(Leaf-N) (30)
difference explicit scheme (Ragab et al., 1984).
where
Soil hydraulic parameters E - is the photosynthetic efficiency, g dry matter /
Solving the water and solute transport equations MJ (=~2.0)
require two soil water relations, namely the soil water
I - is the radiation input: = Rs (1- e –k*LAI)
content - water potential relation and the soil water
Rs - is global Radiation, MJ m-2 day-1, k is extinction
potential - hydraulic conductivity relation. They were
coefficient (~=0.6) and
taken according to van Genuchten (1980) as:
LAI - is the leaf area index (m2 m-2).
Rs - is given in climate data, LAI is interpolated in
(h) = r + [(s - r) / (1+|h|n )m] (25)
SALTMED
K(h) = Ks Kr (h) = Ks Se1/2 [1- (1- Se1/m)m ]2 (26) Assimilation rate,”A”per unit of area (g m-2 day-1) =
E* I* (stress factors related to Temperature,
where r and s denote the residual and the saturated Transpiration and Leaf Nitrogen content)
moisture contents, respectively; Ks and Kr are saturated
and relative hydraulic conductivity respectively,  and n Calculating soil temperature from air temperature
are shape parameters, m = 1 - 1/n and S e is effective The top soil layer is the most biologically active layer
saturation or normalized volumetric soil water content. , where most of the organic matter decomposition and
n and  are empirical parameters. mineralization takes place. The microbial activity is
Eqs. (23 and 24) were used after being re-arranged affected by soil temperature of this layer. This
to obtain the soil water potential and hydraulic temperature was found to be correlated to air
conductivity as functions of effective saturation as: temperature. The approach used here is to infer the soil
temperature of the top layer (ploughing layer) from the
Se = ( - r) / (s - r) (27) air temperature based on the work of Kang et al. (2000)
and Zheng et al. (1993).
h(Se) = [(Se -1/m - 1)1/n ] /  (28) For air temperature “A” and soil temperature “T”, the
relation can be described as:
K(Se) = Ks Se [1-(1- Se1/m )m ]2 (29) For A j > Tj-1 (z):

Based on Pedotransfer functions, values of r, s, , Tj(z) = Tj-1(z) + [Aj - Tj-1 (z)] * Exp [-z (( / (ks * p))0.5] * Exp [-k(LAIj + litterj)] (31)
Ks , water content at field capacity and wilting point,
bubbling pressure and n and m (as n =  + 1 and m =  For A j d” Tj-1 (z):
/ n) for several soil types are given in the data base.
These values and other values obtained from different Tj(z) = Tj-1(z) + [Aj - Tj-1 (z)] * Exp [-z (( / ( ks * p))0.5] * Exp [-k(litterj)] (32)
sources are included in the model’s database and can be
used as default values in the absence of measurements. Aj is average Air Temperature at day “j” in °C .
The model could also use tabulated pair values of both This is calculated from Tmin and Tmax given as input
soil moisture-soil water potential and soil moisture - in climate data file.
hydraulic conductivity and interpolate for in-between Tj-1 (z) is soil temperature at day “j-1” previous day
range values. at depth “z” below soil surface, °C
Tj (z) is soil temperature at day “j” and depth “z “
Drainage below soil surface, °C
The model has two options for drainage. Two options Exp [-z (( / ( ks * p))0.5] is a damping ratio
are available, either free drainage or an impermeable ks is the thermal diffusivity as a function of soil water,
layer at the bottom of the soil profile. air and mineral content m2 s-1
SALTMED M
model as an integrated management tool for water, crop, soil and fertilizers 329

ks = (thermal conductivity/(bulk density* specific heat Cll z   f e 1  f h Cld  z  (37)


capacity)).
P: is period of either diurnal or annual temperature
variation, z is in meters are governed by a synthesis efficiency constant (ƒe) and
LAI: is calculated already in the model on daily basis, a humification factor (ƒh).
Litter fraction is given as user input. Cl→ CO2, Cl→ h and Cl→ l are expressed in g carbon
Soil thermal parameters are given in Marshall et al. m day-1, Cl(d) is in g carbon m-2, ƒe and ƒh are dimensionless.
-2

(1996). From Eqs. (2), (4) and (5), net mineralization or


immobilisation of nitrogen in litter (N l(z)) is then
Soil nitrogen dynamics and nitrogen uptake determined:
This is very much based on SOIL N model of
Johnsson et al. (1987). The following processes were  N ( z) fe 
implemented in SALTMED model: N l NH z    l   Cl( d ) (z ) (38)
 C l (z ) ro 
4
- Mineralization
- Immobilization
- Nitrification where Nl→NH4 is in g nitrogen m-2 day-1, Nl is g nitrogen m-2,
- Denitrification
- Leaching C l is g carbon m -2, ƒ e and r o (the C-N ratio of
- Plant N Uptake microorganisms and humified products) are dimensionless.
The transfer rate of ammonium to nitrate:
Nitrogen input included dry and wet deposition,
incorporation of crop residues, manure application,  N NO 3 ( z ) 
N NH (z)  k n e t ( z) e m ( z) N NH ( z)   (39)
4 NO 3
chemical fertilizer application and with irrigation water as

4
q 
fertigtion.
Mineralisation of humus, Nh(z), is calculated as a first-
order rate: depends on the potential rate (kn) which is reduced as the
nitrate-ammonium ratio (q) is approached.
N h  NH  z   k h e t z e m z N h z  (33) NNH4→NO3 is expressed in g nitrogen m-2 day-1, NNH4
4
and NNO3 are in g nitrogen m-2, kn is in day-1, and q, et
and em are dimentionless.
where kh is the specific mineralization constant and et(z)
and em(z) are response functions for soil temperature and  T( z) t o 
moisture, respectively.  10 
 
e t ( z)  Q10 (40)
N h  NH  is in g nitrogen m-2 day-1, kh is in day-1, et and
4

em are dimensionless, Nh(z) is in g nitrogen m-2. where T(z) is the soil temperature for the layer, to is the
Decomposition of soil litter carbon, C l (z), is a base temperature at which et(z) equals 1 and Q10 is the
function of a specific rate constant (k l), temperature factor change in rate with a 10-degree change in
and moisture: temperature.

Cl d  z   k le t z e m z Cl z  (34)   s (z)   (z) 


m

e m ( z)  e s  (1  e s )  s z   ( z)   ho ( z) (41)
  s ( z )   ho ( z ) 
C1(d)(z) is expressed in g carbon m-2 day-1; kl in day-1,
et and em are dimensionless and Cl(z) is in g carbon m-2. e m ( z )  1  ho z   z   l o z  (41a)
The relative amounts of decomposition products
formed:
  z    w z  
m

ClCO 2 z   1  f e Cl d  z  e m z     l o z   z    w z  (41b)


 l o z    w z 
(35)

Cl h  z   f e f h Cld z  (36)


where (z) is the saturated water content, ho(z) and
lo(z) are the high and low water contents, respectively,
and for which the soil moisture factor is optimal and w(z) is
330 Ragab Ragab

the minimum water content for process activity. The


 z    d z  
d
coefficient es defines the relative effect of moisture when e md  z    
  s z    d z  
(45)
the soil is completely saturated and m is an empirical
constant. The two thresholds, defining the optimal range
are calculated as: The denitrification rate for each layer depends on a
potential denitrification rate (kd(z)), the soil water/aeration
 lo z    w z    l (42) statue (emd(z)) and the temperature factor (et(z)) used
for the biologically-controlled processes.
 ho z    s z    2 (42a)

z   k d z e md z e t z 
N NO 3 z  
where 1 is the volumetric range of water content
N NO
3


 N NO3 z   c s 
 (46)

where the response increases and  2 is the


corresponding range where the response decreases.
The water content is in m3m-3, soil temperature is in NNO3→(z) and kd(z) are expressed in g nitrogen m-2 d-1,
oC and e and e are dimensionless.
t m NNO3(z) is in g nitrogen m-2, Cs is in mg l-1, et and emd are
dimensionless.
Plant nitrogen uptake Parameter value ranges are reported in Wu et al.
A logistic uptake curve is used to define the cumulative (1998).
potential N demand during the growing season
SALTMED MODEL FRAMES (USER
INTERFACE) AND EXAMPLES
 ut dt  1 u
ua
(43)

a u b u c t OF OUTPUTS
e
ub

where ua is the potential annual N uptake, ub and uc are


shape parameters and t is days after the start of the
growing season, ua is expressed in g nitrogen m-2 season-1.
Daily uptake of nitrate is then calculated from the
relative root fraction in the layer (ƒ(z)), the proportion of
total mineral N as nitrate and the derivative of the growth
curve (u). u is obtained from Eq. 11 on daily basis
axpressed as gram nitrogen m -2 day -1 , N NO 3 (z) and
NNH4(z) are in gram nitrogen m-2.

N NO3 p z   MIN (44)


Main input tabs
of

N NO3 z 
f r z  u (44a)
N NO3 z   N NH4 z 

and

f ma N N O3 z  (44b)

The denitrification rate is expressed as a power


function which increases from a threshold (d(z)) and is
maximum at saturation (s(z)), where d is an empirical
constant Model input can be saved and uploaded via a text file
SALTMED M
model as an integrated management tool for water, crop, soil and fertilizers 331

Climate data input Evapotranspiration calculation options (4)

Evapotranspiration calculation options (1) Evapotranspiration calculation options (5)

Evapotranspiration calculation options (2) Evapotranspiration calculation options (6)

Evapotranspiration calculation options (3) Evapotranspiration calculation options (7)


332 Ragab Ragab

Evapotranspiration calculation options (8) Crop growth input parameters (2)

Irrigation input file (drip sub subsurface example) Crop rotation option 1 (no rotation)

Irrigation input file (drip sub subsurface PRD example) Crop rotation option 2 (rotation)

Crop growth input parameters (1) Soil input parameters


SALTMED M
model as an integrated management tool for water, crop, soil and fertilizers 333

Soil temperature, N-Fertilizer input file, N-mineralization, Output selection options


N-transformation parameters initial N condition and envi-
ronmental input parameters

Output selection folder


Soil initial condition - input parameters per soil layer

Output example of Dry matter


Model input parameters

Output specifications for plotting output parameters Output example of plant –N uptake
334 Ragab Ragab

Output example of N-Leaching Output example of soil moisture under subsurface drip irrigation

Output example of soil moisture under drip irrigation

Output example of Evapotranspiration

Output example of soil salinity under drip irrigation Output example of irrigation+ rainfall
SALTMED M
model as an integrated management tool for water, crop, soil and fertilizers 335

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Uso de águas salobras em sistemas
19 hidropônicos de cultivo
Tales M. Soares1, Sergio N. Duarte2, Ênio F. de F. e Silva3,
Vital P. da S. Paz1 & Jorge L. Barcelos-Oliveira4

1 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia


2 Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
3 Universidade Federal Rural de Pernambuco
4 Universidade Federal de Santa Catarina

Introdução
A alternativa da produção hidropônica no semiárido
Qualidade química da água para hidroponia
Águas salobras como fonte de íons benéficos
Águas salobras e seu efeito osmótico
Águas salobras e seu efeito específico
Considerações finais
Agradecimentos
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
338 Tales M. Soares et al.

Uso de águas salobras em sistemas


hidropônicos de cultivo

INTRODUÇÃO restrições principais: a baixa vazão e a salinidade de suas


águas. A inserção dessas águas em sistemas agrícolas
O Nordeste do Brasil é apenas uma das muitas produtivos pressupõe a superação dessas duas
regiões de poucas chuvas deste globo, semiárido em restrições, devendo existir viabilidade técnica, sócio-
mais de 50 % de suas terras. É a mais chuvosa das econômica e ambiental. Nesse sentido, aponta-se para
terras consideradas secas no planeta, pois, recebe duas sistemas intensivos de cultivo baseados no uso racional
ou até três vezes mais água do que as norte-americanas, e otimizado da água disponível.
mexicanas, argentinas, sul-africanas, argelinas, Os métodos de irrigação se diferenciam em termos de
tripolitanas, espanholas, árabes, persas, centro-asiáticas, eficiência de aplicação da água, sendo consenso que a
australianas, peruanas e chilenas. E esta relativa irrigação localizada proporciona maior economia desse
abundância de chuvas é a razão maior das catástrofes insumo. Quando se trata de uso de águas salobras, a
que se abatem na região em todas as secas periódicas. irrigação localizada também é mais vantajosa, uma vez
E explica-se: no largo período de chuvas mais que sua alta frequência de irrigação favorece a resposta
abundantes, os habitantes adaptaram cultura e pecuária das plantas em meio salino, pois, com a manutenção da
a estas condições mais favoráveis. Adaptação que falha umidade do solo, o aumento da concentração de sais
fragorosamente nos anos de pluviosidade bem abaixo da entre um evento de irrigação e outro tende a ser menor.
média (Gomes, 1984). Além disso, na irrigação localizada o contato das águas
O presente capítulo é aberto com essa afirmação salobras com as folhas, o que potencializa as injúrias
provocativa de Pimentel Gomes porque ela é lúdica para foliares provocadas por íons tóxicos, ou inexiste ou ocorre
contextualizar as razões pelas quais se deve buscar apenas eventualmente. Nesse sentido, em comparação
novas alternativas agrícolas para o Semiárido. Um com outros métodos de irrigação, a irrigação localizada
sistema de produção que pode ser uma dessas deve ser mais apropriada ao aproveitamento de poços no
alternativas é a hidroponia, técnica de cultivo sem solo e Semiárido que detenham águas salobras exploradas sob
na qual as plantas são cultivadas em solução nutritiva. A baixas vazões.
referida provocação também serve para particularizar o Entretanto, deve-se ponderar sobre três aspectos: o
Semiárido, região do Brasil que abrange grande parte alto custo inicial e a suscetibilidade dos emissores ao
dos Estados da Região Nordeste, além de parte de Minas entupimento em sistemas de irrigação localizada e o risco
Gerais e do Espírito Santo, e onde as águas salobras de salinização com águas salobras. A despeito de
tornam-se importantes por sua grande ocorrência nos proporcionar melhores condições de desenvolvimento
poços perfurados e pela baixa disponibilidade de águas para as plantas em condições de salinidade, a irrigação
doces superficiais. localizada por si só não é capaz de evitar a salinização
Inúmeros poços perfurados no Semiárido estão do solo irrigado com águas salobras. Assim, sistemas de
abandonados ou subutilizados em função de duas irrigação localizada devem compulsoriamente ser
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 339

associados às técnicas de controle da salinidade, ampará-los, detectando possíveis gargalos correntes e


sobretudo com o emprego de frações de lixiviação, o que antecipando-se aos futuros entraves e eventualidades.
torna imprescindível, na ausência de drenagem natural do
solo, um sistema de drenagem artificial. A ALTERNATIVA DA PRODUÇÃO
A hidroponia é quase sempre exposta como um HIDROPÔNICA NO SEMIÁRIDO
sistema de produção, mas também deveria ser encarada
como um sistema de irrigação localizada. De fato, cultivos Nesse momento do texto é interessante discutir a
comerciais hidropônicos em substrato pouco se hidroponia como sistema de produção para o Semiárido,
diferenciam dos cultivos convencionais irrigados por questionando-se: a hidroponia pode ser condizente com
gotejamento, incluindo as três desvantagens anteriormente a realidade do Semiárido? Para responder a esse
ponderadas. Por outro lado, na hidroponia com questionamento torna-se importante definir hidroponia e
recirculação da solução nutritiva, a salinização que ocorre contextualizar suas vantagens para as condições
nessa solução pode ser mais facilmente administrada, semiáridas. Conceitualmente, hidroponia (das palavras
evitando-se a salinização de áreas adjacentes. Além disso, gregas hidro e ponos, que significam água e trabalho,
na hidroponia, a pouca oscilação da água disponível às respectivamente) é uma técnica alternativa de cultivo de
plantas entre eventos sucessivos de irrigação potencializa plantas com solução nutritiva na ausência ou na
a vantagem supracitada da irrigação localizada para o uso presença de substratos naturais ou artificiais. Ou seja, na
de águas salobras, somando-se a isso o fato de que alguns hidroponia não se tem a presença do solo. A solução
sistemas hidropônicos não têm partículas, como as do solo, nutritiva é preparada com água e fertilizantes, devendo
as quais retêm a água e diminuem sua disponibilidade para ter pH e concentração de nutrientes adequados para cada
as plantas. Muitos sistemas de hidroponia empregam cultura. Um sistema hidropônico pode ser classificado
microtubos ou simplesmente orifícios perfurados na como do tipo fechado (Figura 1A), em que há
tubulação de derivação, o que proporciona menor risco de recirculação da solução nutritiva, e do tipo aberto (Figura
entupimento e facilidade e desoneração para substituição 1B), no qual a solução nutritiva que passa além da zona
de peças, superando, em parte, a desvantagem da radicular não é reaproveitada, podendo conduzir a
irrigação localizada convencional que diz respeito ao prejuízos financeiros e à contaminação ambiental, razão
diâmetro reduzido e à atenuação da vazão em seus pela qual se proibiu o uso de sistemas abertos em alguns
emissores, como características favoráveis às obstruções. países (Rodrigues, 2002; Furlani et al., 1999). Nota-se na
A associação da hidroponia com águas salobras sob Figura 1B o risco da contaminação ambiental e as perdas
a condição semiárida brasileira é um tema que merece monetárias de um sistema hidropônico aberto em
considerações sobre suas potencialidades e limitações. substrato usado para o cultivo de pimentão ao ar livre; a
Por essa razão, o presente texto foi elaborado com os chuva incidente sobre a fibra de coco leva à lixiviação de
seguintes objetivos: discutir as razões que tornam fertilizantes para o solo.
apreciável a alternativa da produção hidropônica no Existe uma ampla gama de sistemas hidropônicos, mas,
Semiárido; informar sobre a importância da qualidade da com viabilidade econômica comprovada até agora,
água em cultivos sem solo; apresentar alguns resultados destacam-se os sistemas NFT (técnica do fluxo laminar de
de pesquisas nacionais e linhas correntes de investigação nutrientes, do inglês nutrient film technique) e DFT
sobre o uso de águas salobras para produção (técnica do fluxo profundo, do inglês deep flow technique),
hidropônica; e apontar limitações para o uso de águas ambos classificados como sistemas fechados (Rodrigues,
salobras visando a hidroponia comercial. 2002). Em países do Hemisfério Norte, como EUA,
Obviamente, a ocorrência de águas salobras não é Canadá e boa parte da Europa, há uma predominância de
exclusividade do Semiárido e por isso o presente texto cultivo em vasos ou canteiros com substrato, mas com
pode ser útil para agricultores de outras regiões do Brasil. reaproveitamento da solução nutritiva (sistema fechado).
Nesse sentido, tem-se que encarar a temática abordada No Brasil, onde tem crescido o interesse nos últimos anos
sob dois aspectos: o aproveitamento de águas salobras em pela hidroponia, o sistema NFT é bastante consolidado
uma atividade econômica racional, a hidroponia, o que traz entre os hidroponistas, sendo predominante (Mathias, 2008;
como novidade o sistema de produção; e a adaptação da Furlani et al., 1999). Conforme Furlani (1999), no País, ao
hidroponia para a disponibilidade de águas salobras, final dos anos 90, a alface representava 80% da produção
trazendo as águas salobras como novo insumo de hidropônica e o restante da produção era distribuído entre
produção. Em ambos os casos, o desafio se lança aos as culturas de agrião, rúcula, salsa, cebolinha, morango,
agricultores interessados e à pesquisa científica que deve manjericão e menta.
340 Tales M. Soares et al.

A objetivos a organização de informações sobre a difusão


territorial e a importância econômica da técnica
hidropônica no Brasil. A despeito dessa carência de
informações, de maneira geral, tem-se afirmado que os
cultivos hidropônicos são mais comuns nas regiões Sul e
Sudeste do País. Por outro lado, nos últimos anos se tem
testemunhado o avanço da hidroponia nas diversas
regiões do País, inclusive na Região Nordeste. Em Porto
Velho - Rondônia, Região Norte, praticamente 100% das
verduras comercializadas são hidropônicas, e a produção
de tomate-cereja e pepino japonês hidropônico é
significativa.
No sistema NFT, a solução nutritiva é bombeada aos
canais e escoa por gravidade formando uma fina lâmina
de solução que irriga as raízes das plantas fixadas em
orifícios presentes nos canais de cultivo (Furlani et al.,
1999), daí o nome de batismo da técnica. O fluxo
corrente de água não deve inundar as raízes por
completo. Aproximadamente 2/3 delas devem estar
submersos para absorver a água e os nutrientes, e 1/3 no
B
ar, absorvendo oxigênio. Manter uma provisão constante
de oxigênio é fator determinante para garantir o êxito
desse método (Staff, 1997). Além disso, o sistema NFT
opera, mediante um temporizador, fornecendo solução
nutritiva em intervalos regulares. Para a cultura da
alface, por exemplo, o controlador deve ser regulado
para funcionar em intervalos de 15 minutos (15 minutos
ligado, 15 desligado), desde o amanhecer até o anoitecer
e, durante a noite, 15 minutos a cada duas horas
(Alberoni, 1998).
Respeitando-se as recomendações técnicas, a
hidroponia pode propiciar inúmeras vantagens aos
agricultores, as quais são citadas por Teixeira (1996) e
Rodrigues (2002) como: produção de melhor qualidade;
maior produtividade; menor emprego de mão-de-obra;
mínimo uso de defensivos; colheita precoce; maiores
eficiências no uso da água e fertilizantes; melhoria da
ergonomia nas atividades; dispensa da rotação de
culturas; eliminação de alguns tratos culturais; e utilização
racional de áreas sub-utilizadas pelo cultivo tradicional.
Como desvantagens, citam-se: o alto custo de instalação;
Figura 1. Exemplos de sistemas hidropônicos fechado (A), a dependência de eletricidade nos sistemas automáticos;
em NFT, e aberto (B), em substrato a necessidade de mão-de-obra especializada; a
possibilidade de negligência às atividades que são
É possível que esse cenário nacional tenha mudado, rotineiras; acúmulo de matéria orgânica; e a rápida
mas faltam dados para confirmar o predomínio da alface disseminação de patógenos.
e a inserção de novas culturas como pimentão, tomate e A imagem mais típica que se tem de uma produção
pepino na atividade hidropônica. Também são raros e hidropônica é a de plantas sendo cultivadas apenas em
desatualizados os dados sobre a área de cultivos solução nutritiva, no que se costumou denominar de
hidropônicos no Brasil. Visando contornar essas cultivo em água, como no caso da hidroponia NFT. Em
dificuldades, a recém criada Associação Brasileira de virtude disso, pode-se imaginar que a hidroponia requer
Hidroponia (novembro de 2008), tem como um dos seus água em abundância.
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 341

Entretanto, é justamente a alta eficiência de uso da Segundo o Ministério da Integração Nacional


água na hidroponia uma de suas principais vantagens, em (BRASIL, 2007), aproximadamente 500 mil propriedades
relação ao cultivo tradicional em solo. Na hidroponia, as rurais na área semiárida brasileira não dispõem de oferta
perdas por evaporação podem ser substancialmente adequada de água, aumentando sobremaneira sua
menores (Sanjuán & Gavilán, 2004), o que implica em vulnerabilidade às secas, cujo impacto se traduz,
economia de água. Por outro lado, as condições gravemente, na baixa-estima das comunidades atingidas.
controladas e o constante suprimento de água e Nessa região, é muito recorrente testemunhar que a
nutrientes podem favorecer o aumento da produtividade agricultura extensiva de sequeiro falha nas condições de
da cultura. Portanto, com a hidroponia, pode-se ter a seu característico regime pluvial irregular. Por outro lado,
possibilidade de aumento do rendimento da cultura por a agricultura irrigada também é muito suscetível às falhas
unidade de volume de água consumida, constituindo-se (Bernardo, 1992), o que decorre das condições climáticas
uma vantagem muito desejável para o Semiárido. e dos solos mal drenados favoráveis à salinização,
O volume de água requerido para uma produção sobretudo quando o manejo da água é irracional.
hidropônica deve ser menor que no cultivo convencional, Sobretudo em climas áridos e semiáridos, a
sendo essa a razão, conforme Schwarz (1995), para sua agricultura irrigada mal manejada pode implicar em
adoção em regiões áridas. E, se o cultivo hidropônico for salinização e degradação do solo (Medeiros & Gheyi,
associado a uma casa-de-vegetação, o gasto de água 2001; Bernardo, 1992). As áreas semiáridas do Nordeste
deve ser ainda menor, pois nesse ambiente se pode ter não são exceção (Barros et al., 2004; Andrade et al.,
uma redução de 20 a 40 % no consumo hídrico, em 2004; Nunes Filho et al., 2000; Lopes et al., 2008).
relação ao cultivo a céu aberto, em virtude da menor Nessa região, as maiores incidências da salinização
demanda evaporativa (Rodrigues, 2002). secundária se concentram nas terras mais intensamente
Nesse particular, pode-se evidenciar o emprego e cultivadas com o uso da irrigação, nos chamados
sucesso da hidroponia em condições de baixa Perímetros Irrigados (Oliveira, 1997), mesmo quando se
disponibilidade hídrica e mesmo de aridez. São exemplos utilizam águas de boa qualidade química. Um dos
encontrados na literatura (Raviv & Lieth, 2008; Resh, principais motivos da salinização é a drenagem deficiente
1992; Douglas, 1987; Schwarz, 1995) os cultivos em do solo, o que é condição natural em muitas áreas do
Tucson e Phoenix (Arizona), México, Ilhas Canárias e Nordeste, além de ser ponto negligenciado em projetos,
devido ao fato de que sistemas artificiais de drenagem
Espanha (inclusive a região semiárida de Almeria),
são relativamente onerosos.
Caribe, Havaí, Austrália, Nova Zelândia, Iran, Kuwait e
A agricultura irrigada quando bem manejada pode
outros países árabes, Israel (particularmente no deserto
contribuir significativamente para o desenvolvimento
de Neveg e ao longo do Mar Morto), África do Sul e
regional no Nordeste, o que tem sido verificado em pólos
regiões central e leste da África.
como Juazeiro/Petrolina. Entretanto, esse progresso nem
Em algumas regiões áridas do mundo, tais como
sempre chega até comunidades difusas no território do
México e Oriente Médio, as instalações hidropônicas
Semiárido. Para essas comunidades, a adução de água
combinadas com unidades de dessalinização da água
superficial pode ser bastante onerosa, assim como o
estão sendo desenvolvidas para usar água do mar como abastecimento por caminhões-pipa. Além disso, a
fonte de água de irrigação. Esses complexos estão construção de açudes, ação por muito tempo priorizada,
localizados próximos ao oceano, e as plantações se fazem não garante a oferta regular de água, especialmente em
na areia da praia (Resh, 1992). virtude das altas taxas de evaporação, superiores a 2.000
Ainda que a utilização de cultivos hidropônicos no mm anuais.
Brasil seja criticada em razão da grande extensão de Uma alternativa razoável são as águas subterrâneas,
área cultivável no País, esse tipo de cultivo é uma opção que podem ter melhor qualidade sanitária (Steel, 1966) e
para o emprego em pequenas áreas e também onde o também menor custo de exploração. Essas águas
cultivo convencional não seria possível (Teixeira, 1996). também podem ser exploradas em escala compatível
Particularmente para o Semiárido, a hidroponia poderia com o crescimento de sua demanda, não onerando o
em muitas oportunidades reverter o caráter lotérico da investimento inicial, uma importante vantagem,
agricultura convencional extensiva, a qual ora dá especialmente ao se lembrar que na Região Nordeste
retornos financeiros razoáveis, ora dá prejuízos sempre foi tendência a escolha de projetos de vulto
irrecuperáveis. (Rebouças, 1999b). Soma-se a isso o fato de o Brasil ser
342 Tales M. Soares et al.

hoje um dos países mais desenvolvidos do mundo em dessalinizadas culturas de alta rentabilidade vendidas no
tecnologia de poços profundos. Um litro de água mercado europeu.
proveniente de poço profundo, em alguns casos, pode Nos últimos anos, algumas pesquisas têm procurado
custar até 15 vezes menos que um litro de água captada avaliar a viabilidade de aproveitamento direto de águas
de recursos hídricos superficiais (Tomaz, 1998). salobras em cultivos hidropônicos (Soares et al., 2007;
Por causas geológicas, águas salobras são comuns Soares, 2007; Paulus, 2008; Santos, 2009; Gomes, 2009;
nas reservas subterrâneas no semiárido brasileiro (Audry Soares et al. 2010; Paulus et al., 2010; Santos et al.,
& Suassuna, 1995; Zoby & Matos, 2002). Conforme 2010). Essas pesquisas são propostas com o intuito de
Rebouças (1999a), no contexto das rochas cristalinas gerar tecnologia para uso racional das águas
desse semiárido, os teores de sólidos totais dissolvidos subterrâneas salobras do Semiárido e do rejeito da
(STD) nas águas subterrâneas são superiores a 2.000 mg dessalinização por osmose reversa, sendo que nesse
L-1 em 75% dos casos. Esse é um aspecto importante, último caso o impacto tecnológico seria duplo, por mitigar
pois, apesar da reconhecida escassez de águas aquela que é uma das maiores restrições a essa
superficiais, tem-se ali um considerável armazenamento tecnologia: a destinação apropriada do seu rejeito
de água no subsolo, o que poderia servir ao preferencialmente para um fim mais nobre, como a
desenvolvimento da região (Carvalho, 2000). produção agrícola (Soares et al., 2006).
No âmbito agrícola, a exploração dessas reservas Trabalhos com águas salobras em hidroponia não são
subterrâneas somente se justificará caso haja tecnologia uma novidade. De fato, a hidroponia é uma técnica muito
suficiente e disponível aos agricultores para lidar com empregada e recomendada na pesquisa agrícola
águas salobras, seja com o seu emprego direto nas (Martinez, 1997), incluindo as avaliações da resposta das
lavouras, seja via dessalinização para obtenção de água plantas à salinidade. Por outro lado, pesquisas como as
doce. Outra limitação à agricultura em extensas áreas, supracitadas tentam trazer como diferencial as bases
mediante o emprego dessas águas, diz respeito à reduzida para viabilizar as produções de subsistência e comercial
vazão de muitos dos poços já perfurados: em média 4 m3 com o insumo águas salobras. Por isso mesmo, na
h-1, segundo Audry & Suassuna (1995). Baixas vazões medida do possível, tenta-se reproduzir as mesmas
podem ser incompatíveis para a agricultura irrigada em condições de cultivo comercial.
grandes áreas, mas suficiente para cultivos hidropônicos Para entender melhor a possível vantagem da
intensivos. hidroponia, como objeto de investigação, torna-se
Ao se utilizar água salobra, a salinização do solo e interessante utilizar a abordagem termodinâmica.
suas consequências podem ser ainda mais graves. Na As propriedades das soluções são descritas pelo
agricultura irrigada convencional, a utilização conceito termodinâmico do potencial químico, como
indiscriminada desse tipo de água pode salinizar e primeiro exposto por J. Willard Gibbs (1875-1876). Todos
desestruturar os solos (Rhoades et al., 2000), sendo as organismos vivos, incluindo as plantas, requerem uma
agravante aos problemas de desertificação já adição contínua de energia livre para aumentarem e
documentados para a região semiárida brasileira repararem suas estruturas altamente organizadas, assim
(Schenkel & Matallo, 2003). como, para crescerem e se reproduzirem (Kramer &
Diversas pesquisas tratam da possibilidade de Boyer, 1995).
utilização de águas salobras na agricultura. Quase O potencial químico da água é uma expressão
sempre, entretanto, simulam o uso dessas águas nas quantitativa da energia livre a ela associada. Em
mesmas condições de cultivo empregadas pelos termodinâmica, energia livre representa potencial para
agricultores. Novas alternativas de cultivo para o realizar trabalho. Observa-se também que o potencial
aproveitamento dessas águas são pouco estudadas. químico é uma grandeza relativa: ela é expressa como a
Dessa forma, aos agricultores geralmente estão diferença entre o potencial de uma substância em um
disponíveis pesquisas que comprovam as substanciosas determinado estado e o potencial químico da mesma
reduções da produtividade e a insustentabilidade da substância em um estado padrão (Angelocci, 2002;
atividade com o uso de águas salobras. Libardi, 2006; Taiz & Zeiger, 2004).
Enquanto a técnica da dessalinização de águas Em base termodinâmica, o potencial químico da água
subterrâneas no Semiárido tem se mostrado viável presente no solo pode ser estimado conforme a eq. (1)
economicamente para dessedentação de comunidades (Reichardt & Timm, 2004). Nessa equação, fica exposto
difusas, seu emprego para fins agrícolas é questionável. que o potencial químico da água é dado pelo somatório
Conforme Medina (2006), a dessalinização para produção de componentes.
agrícola tem viabilidade econômica limitada. O autor
abre exceção para a Espanha, que produz com águas
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 343

em que: energia livre ponderada no tempo (entre um evento de


TOTAL - potencial total da água, kPa irrigação e outro) é menor no cultivo convencional em
G - potencial gravitacional da água, kPa solo que na hidroponia, mesmo sob o regime de irrigações
P - potencial de pressão da água, kPa frequentes. Quando não se faz o manejo da irrigação via
M - potencial mátrico da água, kPa  M crítico, mas via turno de rega, por exemplo, a
OS - potencial osmótico da água, kPa variação do  M pode ser ainda maior, podendo
 T - potencial de temperatura da água, kPa representar maior submissão das plantas à diminuição da
energia livre da água no solo.
Para um sistema isotérmico (T = 0), em equilíbrio O componente potencial osmótico em geral é
com a referência gravitacional (G = 0), sem lâmina desprezível na maioria das regiões agrícolas do Brasil,
d’água acima do solo (P = 0), os componentes capazes com exceção dos solos de regiões áridas e semiáridas do
de reduzir a energia livre da água são o M e o OS. Nordeste (Miranda et al., 2001). Em geral, diferenças de
O componente potencial mátrico representa as forças  OS entre dois pontos não causam movimento
de retenção entre a matriz do solo e as moléculas de significativo de água, mas sim de solutos. É o que ocorre
água. Dessa maneira, está diretamente relacionado com entre dois pontos no solo. Por outro lado, quando há a
a umidade do solo, sendo tanto menor quanto mais seco presença de membrana semipermeável, há restrição de
estiver o solo. Essa interação diz respeito aos fenômenos movimento para alguns íons e há movimentação de água
da capilaridade e da adsorção, os quais conferem à água para o ponto em que a concentração de água é menor.
menores estados de energia que o da água livre sob É o que ocorre entre a planta e o solo. Trata-se da
pressão atmosférica, de forma que o seu valor é sempre osmose. No caso da água no solo, o OS diz respeito à
negativo. Em condições de saturação, os poros presentes pressão necessária para impedir a osmose (pressão
no solo estarão totalmente ocupados com água, não osmótica), mas com sinal negativo, pois, considerando a
existindo, portanto, a interface ar-água, e anulando água pura como referência, a presença dos solutos leva
também as forças entre a matriz do solo e as partículas à diminuição da energia livre da água e, por conseguinte,
da água, o que torna o M nulo. À medida que o solo vai o  OS é sempre negativo ou nulo. Em cultivos
secando, a capilaridade começa a atuar, e o M vai se comerciais, o OS precisa variar de um valor mínimo até
tornando mais negativo, contribuindo para diminuir a um máximo tolerado pelas culturas. Quando o OS está
energia livre da água (Libardi, 2006; Miranda et al., além do OS mínimo, sinaliza-se a falta de nutrientes
2001). Em condições de campo, para mensurar o M (solutos essenciais) às plantas, o que deverá implicar em
pode se utilizar o tensiômetro. Para fins de manejo da menor nível de produtividade, daí a necessidade das
irrigação, o valor do M é usado para estimar a umidade adubações de fundação e de manutenção. Por outro lado,
do solo mediante a curva característica do solo. As quando o OS se encontra aquém do OS máximo, há
culturas respondem diferentemente à depleção da água indicação de problemas relacionados à salinidade,
disponível no solo e para cada cultura há um M crítico, também implicando negativamente na produtividade. Em
que indica o momento de uma nova irrigação. Para a cultivo convencional baseado no solo, o OS equivalente
cultura da alface, por exemplo, que suporta uma ao nível ótimo de adubação não é estático, sendo
depleção de 30% na água disponível do solo, o M crítico estabelecido apenas quando o solo está na capacidade de
é -20 kPa. Portanto, para seu cultivo, o M deve ser campo. À medida que o solo seca, o OS diminui. Ao se
idealmente mantido entre - 20 kPa (Santos & Pereira, cultivar com base no OS máximo medido na capacidade
2004) e o limite correspondente à capacidade de campo. de campo, a oscilação entre esse limiar e valores de OS
Em condições de campo, não é incomum se ultrapassar ainda menores poderá ser muito prejudicial à
o M crítico em virtude da rapidez com que o solo perde produtividade, à medida que se deixa o solo perder água
água, o que nem sempre se compatibiliza com sistemas entre as irrigações. No caso da hidroponia NFT, não há
de irrigação não automatizados. O importante é não aumento do  OS por redução do volume de água
permitir o prolongamento de níveis de M aquém do (solvente), desde que o reservatório tenha abastecimento
crítico. Por sua vez, no cultivo hidropônico do tipo NFT, de água constante.
as raízes estão em meio aquoso, não havendo os O cálculo da pressão osmótica total é dado pelo
fenômenos de capilaridade e adsorção. Tal qual um solo somatório das pressões osmóticas parciais de cada sal
saturado, na hidroponia NFT, o M é nulo. E, portanto, a adicionado (Rodrigues, 2002) e/ou presente na água.
344 Tales M. Soares et al.

O potencial osmótico da solução nutritiva pode ser O maior potencial da água na hidroponia, em relação
calculado pela eq. (2) de Van’t Hoff. ao cultivo em solo, deve representar uma maior absorção
de água e nutrientes pelas plantas, com menor gasto
energético e menores prejuízos morfo-fisiológicos, para
uma mesma quantidade de sais dissolvidos na água de
irrigação.
em que:
Manter equivalente estado de saturação no solo,
PO - pressão osmótica, atm
apesar de exequível, implica incorrer em riscos
m - número de moles, moles
fitossanitários maiores, sendo condição epidemiológica
i - correção devido à ionização do sal (constante de
dissociação do produto multiplicado pelo número de para patógenos muitas vezes já presentes no meio (Vida
moles de íons fornecidos pelo sal) et al., 2004), além de representar maiores chances de
R - constante dos gases (0,0823 atm L °K-1 mol-1), lixiviação de íons, com perdas financeiras (íons de
atm fertilizantes) e/ou ambientais (poluição do solo e das
T - temperatura em graus Kelvin (correspondente à águas receptoras). Também torna-se desaconselhável
temperatura °C + 273), °K manter um solo saturado por causa das dificuldades
operacionais, incluindo a mecanização. Solos encharcados
Dentro de uma gama considerável, há uma relação resultam em menores produtividades em virtude da falta
linear entre a concentração de sais e a condutividade de oxigênio e acúmulo de CO 2 , redução de pH e
elétrica da solução e, portanto, a condutividade elétrica acúmulo de elementos tóxicos, diminuição da temperatura
(CE) é usada como medida da salinidade da solução. Em na zona radicular, etc. (Millar, 1978). Reitera-se aqui que
termos práticos, 1 cmol L-1 de solução tem cerca de 1 a saturação na hidroponia sem prejuízos de hipopoxia às
dS m-1 de CE e uma pressão osmótica de aproximadamente plantas pressupõe oxigenação da solução nutritiva, seja
-0,355 atm (a 25 °C) (Silber & Bar-Tal, 2008). Muitos textos mediante aeração artificial, ou aproveitando as quedas da
sobre salinidade indicam outra relação prática: 1 dS m-1 solução recirculada.
de CE equivalente a 640 mg L-1 de sais totais dissolvidos A adição de ácidos em águas salobras ricas em
(para CE entre 0,1 e 5 dS m-1). Essa relação, entretanto, bicarbonato e Na ajustam um pH ótimo, previnem a
foi determinada em outros países para determinada precipitação de cátions bivalentes nutrientes (Ca e Mg),
condição de águas salobras; não necessariamente se valida mas não eliminam a concentração de sódio. O efeito
para todo tipo de água salobra do Brasil e muito menos dispersante do sódio sobre a estrutura do solo é um dos
para soluções nutritivas. mais graves problemas relacionados à salinidade da água
Feitas essas considerações, espera-se que na e do solo (Ayers & Westcot, 1999). Como na hidroponia
hidroponia o TOTAL da água seja maior que no solo não há efeito da salinidade sobre a matriz, pois essa
quando se empregar água salobra com um mesmo nível inexiste (hidroponia tipo NFT) ou é relativamente inerte
de salinidade. A implicação prática disso pode ser um (hidroponia em substrato), os prejuízos às plantas, como
menor efeito dos sais sobre o rendimento das plantas em
verificados nos sistemas convencionais e decorrentes das
hidroponia quando comparada ao plantio no solo.
alterações da estrutura do solo (especialmente em função
A hipótese básica de estudos recentes conduzidos no
do íon Na+), tornam-se nulos ou menores, sendo esse
Brasil é que na hidroponia a resposta das plantas em
outro fator que, em hipótese, também contribuiria para o
condições salinas é melhor que no cultivo convencional
baseado no solo, visto que, na hidroponia, pode não uso de águas salobras na hidroponia, em mais longo prazo
existir o potencial mátrico, que no solo é uma das causas de sustentabilidade que aquele obtido em solo.
da diminuição da energia livre da água (Soares et al., Partindo do princípio que as tecnologias existentes
2007). Enquanto a tensão da água no solo aumenta entre (Santos & Hernandez, 1997) para recuperação dos solos
um evento de irrigação e outro, o que se percebe no salinizados são laboriosas, dispendiosas e baseadas na
monitoramento com tensiômetros (Santos & Pereira, aplicação de lâminas de lavagem, havendo aí, além do
2004), na hidroponia (em água) a tensão tende à custo ambiental associado, os custos de oportunidade da
nulidade, pois o meio é saturado com água (forças de água e corretivos empregados, dever-se-á, ao se aceitar
adesão e retenção não se estabelecem) e neste cultivo utilizar águas salobras como recursos hídricos alternativos
os eventos de irrigação são repetíveis em alta frequência. na realidade do semiárido brasileiro, manejá-las em
Na hidroponia do tipo NFT (nutrient technique film), por sistemas de produção intensivos, baseados na maior
exemplo, é usual que a irrigação se processe de 15 em produção vegetal em menor ocupação do solo, e que
15 minutos (Zanella et al., 2008). garantam menor impacto ambiental.
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 345

Nesse sentido, também se tem apontado a vantagem gargalos deste tipo de cultivo, as doenças disseminadas
dos sistemas de hidroponia do tipo fechado para uma via água (Rodrigues, 2002), além de contribuir para
maior segurança ambiental ao se aproveitar águas menores contaminações ambiental e alimentar
salobras, pois nesses sistemas sua estrutura de provocadas por defensivos.
recirculação da solução nutritiva funciona tanto para
irrigação quanto como sistema de drenagem da solução. QUALIDADE QUÍMICA DA ÁGUA
Ao final do ciclo, seja em solo ou em hidroponia NFT, PARA HIDROPONIA
pode-se ter no meio de cultivo o aporte de elementos
essenciais e não essenciais às plantas. Em ambos os
Conforme Rodrigues (2002), a qualidade da água é
sistemas de cultivo, há carga salinizante/poluente. No
fator a ser considerado na seleção de áreas mais
cultivo em solo, a drenagem natural associada à fração de
lixiviação pode remover essa carga, mas a remoção pode favoráveis para o cultivo hidropônico, sendo a análise
levar às águas subterrâneas. Quando se instalam drenos química e microbiológica da água o primeiro passo a ser
subterrâneos, a carga poluente pode ser captada e emitida dado na elaboração de um projeto.
para fora do meio de cultivo, mas quase sempre a emissão Entretanto, existe uma carência na sistematização de
as leva para terrenos ou corpos d’água, eutrofizando-os resultados sobre os efeitos da salinidade em cultivos
com nutrientes e contaminando-os com elementos tóxicos hidropônicos. Talvez por tal carência, e também por
(incluindo defensivos). Na hidroponia NFT, a carga segurança, Resh (1995) e Schwarz (1968) preconizem
poluente já está captada e, com a vantagem de poder ser que se evite na hidroponia o uso de água que contenha
menos tóxica que o lixiviado de solos, pode ser diluída para mais de 50 mg L-1 de cloreto de sódio, limite esse muito
recirculação, utilizada para irrigar outras culturas, ou ainda aproximado do indicado por Benoit (1992) (11,5 mg
ser facilmente direcionada para concentração em tanques L-1 de Na e 35,5 mg L-1 de Cl).
de evaporação. Por outro lado, informa Rodrigues (2002) que algumas
Gerando-se tecnologia para uso de águas salobras em pesquisas realizadas no Exterior indicam a possibilidade
sistemas hidropônicos, poder-se-ia programar, desde que de utilizar águas salobras com mais de 2.500 mg L-1 de
rentáveis, sequências de cultivo de modo a rebaixar o sais, desde que a água se movimente livremente no
efeito do potencial osmótico e/ou se extrair íons sistema radicular e que haja drenagem. Para cultivo em
específicos a partir de soluções nutritivas ‘envelhecidas’
lã de rocha em sistema fechado, Sonneveld (2004)
(desbalanceadas e salinizadas). Amparando-se na
informa que são sugeridas como concentrações máximas
premissa de que quanto menor o volume de águas
de Na e Cl (mmol): 12 para tomate; 10 para pepino e
residuárias com poder poluente, mais fácil seu manuseio
e destinação, sendo idealizado o resíduo sólido, o rejeito pimentão em crescimento vegetativo; 8 para berinjela e
líquido final de todo o processo poderia ser lançado em pimentão em plena produção de frutos. Outra
tanque de evaporação. recomendação apresentada por Silber & Bar-Tal (2008)
A poluição ambiental pode ser uma desvantagem da é para uma salinidade da água inferior a 1 dS m-1.
hidroponia quando se projeta o descarte da solução Os padrões de qualidade da água recomendados por
nutritiva. Nos sistemas abertos esse problema é maior e Benoit (1992) incluem ainda: 80,2 mg L-1 de cálcio; 12,2
alguns países, como a Alemanha, já começaram a proibir mg L-1 de magnésio; 48,1 mg L-1 de sulfato; 244 mg L-1
esse tipo de sistema. Em sistemas fechados, o problema de carbonato; 0,0027 mg L-1 de boro; 0,00063 mg L-1 de
é menor, mas também existe, especialmente quando a cobre; 0,00028 mg L -1 de ferro; 0,00549 mg L -1 de
solução nutritiva envelhecida é descartada no solo. Além manganês; 0,00327 mg L-1 de zinco; 0,00475 mg L-1 de
do custo ambiental, Rodrigues (2002) estima que do gasto flúor; e CE de 0,5 dS m-1 à 25 °C.
com água e fertilizantes, correspondentes a R$ 1,00 m-3 Produtores em potencial podem perder a segurança
ano-1, cerca de 80 centavos são perdidos no descarte da em investir em sistemas hidropônicos no Semiárido, pois
solução não reaproveitada. tais exigências parecem ser muito rígidas e não
Devido à escassez de produtos registrados para enquadrariam como apta a maioria das águas
controle fitossanitário em ambiente protegido e em subterrâneas da região, sejam as exploradas das rochas
hidroponia (Rodrigues, 2002), também se justificam sedimentares, sejam, principalmente, as do embasamento
pesquisas com águas subterrâneas salobras nos cultivos cristalino.
hidropônicos, considerando, a despeito de sua qualidade Nas bacias sedimentares do Semiárido, águas de boa
química, sua melhor qualidade fitossanitária que as águas qualidade podem ser encontradas em grandes lençóis
superficiais (Steel, 1966), o que pode prevenir um dos freáticos quando se trata de formação de arenitos. Pode
346 Tales M. Soares et al.

não ocorrer o mesmo em rochas sedimentares ricas em Rio Grande do Norte, observaram que a condutividade
minerais alteráveis ou solúveis, resultando na elétrica das águas das rochas cristalinas no seu contexto
diversificação de tipos de águas, com aparecimento de geral (espacial) varia de 0,03 dS m-1 a 24,32 dS m-1, com
tipos bicarbonatados e mistos (praticamente os sulfatos um valor médio de 4,36 dS m-1 e um desvio padrão de
não existem nas águas do Nordeste) e com vários 4,49. Também podem ocorrer variações em função do
equilíbrios entre sódio, cálcio e magnésio. No período seco ou chuvoso. Por exemplo, a água de poço
embasamento cristalino, por sua vez, as águas fissurais utilizada por Santos (2009) na região semiárida de
apresentam níveis de salinidade sempre elevados (CE Pernambuco para produção hidropônica, apresentou
sempre maior que 1,5 dS m-1, atingindo frequentemente condutividade elétrica de 1,70 dS m-1 em março de 2008
4,5 dS m-1 e podendo ultrapassar muito esse valor). (período chuvoso) e 3,50 dS m-1 em janeiro de 2009
Apesar de protegidas da evaporação direta pela (período seco). Outros exemplos bem documentados
profundidade em que se encontram as águas fissurais, a sobre a sazonalidade da qualidade da água subterrânea
aridez do clima é fator determinante de suas do semiárido brasileiro são apresentados por Audry &
concentrações salinas elevadas. Há predominância do
Suassuna (1995).
fator climático sobre o litológico e a prova disso é a
Zoby & Oliveira (2005) descrevem a qualidade da
ocorrência quase exclusiva do tipo de água cloretado
água subterrânea no Brasil. Em relação ao Semiárido,
sódico, já que se considera o cloro, que é ausente das
esses autores corroboram com as informações
rochas cristalinas, como trazido pelas chuvas (Audry &
anteriormente fornecidas, apresentando, porém, uma visão
Suassuna, 1995).
mais abrangente da qualidade da região para os diversos
A composição química das águas subterrâneas
sistemas de aquíferos que abastecem a região.
depende, tanto em quantidade como em qualidade, da
origem no qual ela flui, ou seja, depende da composição
da rocha a qual ela tem contato, e da facilidade de Águas salobras como fonte de íons benéficos
dissolução desta rocha. De modo geral, os principais sais Em 1936, Hoagland & Broyer formularam uma
solúveis encontrados nas águas subterrâneas do cristalino solução nutritiva que, com modificações, ainda é
são os ânions CO32-, HCO3-, Cl- e SO42- e os cátions amplamente usada (Epstein & Bloom, 2006). Conforme
Ca2+, Mg2+, K+ e Na+ (Silva Júnior et al., 1999). Schwarz (1995), já foram publicadas em todo o mundo
Em seu trabalho, Audry & Suassuna (1995), ao aproximadamente 300 fórmulas de solução nutritiva
analisarem águas superficiais (21,1 % de rios e 25,4 % hidropônica, para diversas culturas. Interessantemente,
de açudes) e os lençóis aluviais do cristalino (53,5 % de soluções nutritivas convencionais são relativamente
poços) no semiárido dos Estados do Ceará, Paraíba, concentradas em comparação com soluções do solo
Pernambuco e Rio Grande do Norte, confirmaram que as (Rodrigues, 2002; Epstein & Bloom, 2006). Na verdade,
águas menos concentradas são bastante diversificadas, informam Epstein & Bloom (2006), Hoagland
mais frequentemente do tipo bicarbonatado cálcico e, estabeleceu sua formulação com as maiores
possivelmente, de tipo misto sódico. As águas mais concentrações que a maioria das plantas tolerariam sem
concentradas são sistematicamente do tipo cloretado exibir estresse osmótico.
sódico: acima de 1,5 dS m -1 não se observa mais Seja qual for a recomendação para a solução nutritiva
praticamente qualquer ocorrência de tipo bicarbonatado usada, concentrada ou não, sempre se deve ter para o
ou misto. cultivo hidropônico o emprego dos elementos essenciais
Esse é um aspecto importante, pois diferentemente do às plantas, quais sejam: N, P, K, Ca, Mg, S, Fe, Zn, Mn,
que se possa imaginar uma água com menor Cu, B, Mo e Cl. Os nutrientes C, H e O são fornecidos
condutividade elétrica pode não necessariamente ser pela atmosfera e pela própria água pura. Outros
menos prejudicial aos cultivos; enquanto o efeito elementos considerados benéficos (Co, V, Ni, Si e Na)
osmótico dos sais tende a ser maior quanto maior for sua podem ser considerados no preparo da solução nutritiva
solubilidade, problemas por toxidez de íons específicos a depender da espécie a cultivar.
podem ser causados em baixa salinidade. Por exemplo, As quantidades de fertilizantes para o preparo da
a depender das condições de cultivo, sais de bicarbonato solução nutritiva devem obedecer aos requerimentos
de baixa solubilidade e, portanto, baixa salinidade, podem nutricionais da cultura, mas também, conforme Furlani et
ser mais danosos que sais de cloreto, de maior al. (1999) devem ser limitadas pelas quantidades já
solubilidade e salinidade. dissolvidas originalmente na água disponível. Nesse
Costa et al. (2006), estudando os aspectos da sentido, a análise química da água é fundamental para o
salinização das águas do aquífero cristalino no Estado do preparo da solução nutritiva.
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 347

Schwarz (1995) ilustrou o ajuste de solução nutritiva Figura 2A, cada acréscimo unitário na salinidade da água
para produção hidropônica comercial a partir de uma (g L-1 de NaCl) representa uma redução de 9,22 % no
água salobra encontrada em Arava (Israel). Essa água consumo de água; nesse caso, a solução nutritiva foi
apresentava os seguintes limites de concentração (mg L-1): preparada com água salobra e a reposição das perdas
700 a 900 de cloreto; 600 a 1.000 de sulfatos; 400 a 500 pela evapotranspiração foi feita com água doce. Para o
de sódio; 350 a 450 de cálcio; 120 a 180 de magnésio e experimento da Figura 2A, a redução foi menor, 3,69%,
total de sais de 2.500 a 3.500. Segundo o autor, a água e nesse caso a água salobra foi usada apenas na
continha quase duas vezes a quantidade de Ca e Mg e reposição da evapotranspiração. Em ambos os casos o
mais que o dobro da quantidade de sulfato normalmente consumo da alface foi reduzido com o aumento da
adicionados à água doce, além de Na e Cl em excesso. salinidade, uma vez que quanto maior a salinidade do
O ajuste dessa água foi feito apenas adicionando N, P e meio maior é a dificuldade para absorção de água; esta
K; Ca, Mg e sais de sulfato não foram usados. é uma assertiva fisiológica para todo tipo de cultivo,
Segundo Furlani et al. (1999), quando a concentração inclusive o hidropônico, no qual a abundância de água
de um dado macronutriente na água for superior a 25% não impede a dificuldade em sua absorção na condição
da exigência da cultura, deve-se descontar a quantidade salina.
no cálculo do fertilizante da solução nutritiva. Para
micronutrientes, os autores sugerem o limite de 50%.
Nesse sentido, águas salobras podem ser vantajosas na
economia de fertilizantes (Schwarz, 1995), a depender de
sua composição química.

Águas salobras e seu efeito osmótico


Mesmo os íons nutrientes podem prejudicar as
culturas quando sua concentração na água for superior
ao requerimento da cultura. Nesse caso, têm-se dois
tipos de efeito: o efeito osmótico e o efeito específico (os
desequilíbrios nutricionais e a toxidez).
O efeito osmótico é determinado pela pressão osmótica
da solução. Esse efeito independe do tipo de partícula de
soluto que provoca a osmose e, geralmente, não afeta a
absorção de íons ou sua remobilização na planta
(Sonneveld, 2004).
O efeito osmótico traz como implicação prática a
dificuldade das raízes em absorver água. Como toda
substância tende a se movimentar de onde sua
concentração é maior para onde é menor, no cultivo com
uma solução (do solo ou da hidroponia) que contenha
maior salinidade, os sais tenderiam a se movimentar
dessa solução para as células das raízes, enquanto a água
se movimentaria no sentido inverso. Essa tendência é em (**) Representa significativo a 1% de probabilidade
parte evitada pela presença da membrana semi- A relação a/b é a razão dos coeficientes angular e linear das equações de primeiro grau ajustadas.
Figura 2. Consumo de água (ETc) em função da salinidade da
permeável nas células, a qual permite a passagem da
água quando se empregou águas salobras apenas no
água, mas restringe a movimentação de íons. Para que preparo da solução nutritiva (A) e ou apenas na reposição
haja um fluxo de água para a célula em meio concentrado da evapotranspiração (B) (Fonte: Soares, 2007)
em íons, há um dispêndio de energia. Assim, quanto
maior a concentração de sais numa solução maior é a Para os experimentos descritos anteriormente, as
dificuldade e gasto energético da planta para absorver reduções lineares das massas de matéria fresca da parte
água, podendo haver desidratação mesmo na presença de aérea da alface em função do aumento da salinidade
água (seca fisiológica). seguiram a mesma ordem de valores percentuais
Na Figura 2 é apresentada a relação entre o consumo encontrados para o consumo hídrico. Para o experimento
hídrico e a salinidade da água usada em dois tipos de correspondente ao consumo hídrico indicado na Figura
experimento com águas salobras. Para o experimento da 2A, a redução da produção foi de 10,9% para cada g L-1
348 Tales M. Soares et al.

de NaCl acrescida na água (Figura 3A), sendo o aspecto A


geral das plantas mostrado na Figura 4A; para o outro
experimento, a redução foi de 3,91% (g L-1)-1 (Figura
3B), sendo o aspecto geral das plantas mostrado na
Figura 4B.

Figura 4. Aspecto geral da alface produzida em condições


não salinas (esquerda) e com água salinizada (4,095 g L-
1) (à direita) usada apenas no preparo da solução nutritiva

(A) e aspecto geral da alface produzida com a mesma


água salobra usada apenas na reposição da
evapotranspiração (esquerda) em contraste com plantas
em condições não salinas (à direita) (B) (Fonte: Soares,
2007)
(**) Representa significativo a 1% de probabilidade
A relação a/b é a razão dos coeficientes angular e linear das equações de primeiro grau ajustadas.
Figura 3. Massa de matéria fresca da parte aérea da alface de crescimento das plantas produzidas em condições
em função da salinidade da água quando se empregou salinas quando a salinização foi gradual (Figura 4B),
águas salobras apenas no preparo da solução nutritiva (A) As mudanças na tonalidade do verde foliar e o
e ou apenas na reposição da evapotranspiração (B) aspecto coriáceo das plantas submetidas às maiores
(Fonte: Soares, 2007)
salinidades da água também foram verificadas por outros
Em ambos os experimentos descritos acima não autores (Paulus, 2008; Shannon et al., 1983; Tesi et al.,
foram observados sintomas de toxidez ou deficiência 2003). O aspecto coriáceo das plantas submetidas à
mineral ou injúrias foliares como manchas e queimaduras salinidade está de acordo com a redução do teor de água
que pudessem ser atribuídos à salinidade e que levassem nos tecidos; isso pode representar também maior teor de
ao comprometimento da qualidade do produto. Nos matéria seca nos tecidos. Além disso, o aumento da
maiores níveis de salinidade, as plantas de alface salinidade pode resultar no aumento da suculência e da
apresentaram coloração verde mais escuro, além de espessura do mesófilo, como demonstrado para os
aspecto mais coriáceo. Esses sintomas foram menos cultivos hidropônicos de feijão e algodão (Longstreth &
evidentes quando se estabeleceu a salinização gradual, Nobel, 1979).
mediante uso das águas salobras apenas para reposição Em análise de intenção de compras para plantas de
das perdas por evapotranspiração. Na Figura 4 se tem o alface produzidas com águas salobras em hidroponia,
exemplo do aspecto visual de plantas de alface cv. com os mesmos sintomas anteriormente descritos, Paulus
Verônica quando submetida à água doce e à água mais (2008) não registrou efeito negativo da salinidade
salobra (4,095 g L-1): notou-se semelhança na magnitude (Tabelas 1 e 2). Não foi observado pelos provadores,
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 349

sabor salgado nos níveis mais elevados de salinidade (T5 salinidade ideal para o cultivo hidropônico. Andriolo et al.
e T7), diferentemente dos resultados obtidos por Soares (2005), por exemplo, observaram um aumento benéfico
(2007) que obteve sabor levemente salgado para plantas da concentração de solução nutritiva até um limite (2 dS
de alface. Os resultados obtidos no experimento estão de m-1) a partir do qual ocorre um efeito negativo do aumento
acordo com os obtidos por Mizrahi & Pasternak (1985) da concentração de nutrientes sobre a produção (Figura
que não encontraram diferenças significativas no sabor 5). Também pode ser observado em pesquisas que visando
de alface desenvolvida sob condições salinas. mitigar o efeito de íons tóxicos (como Cl - , Na + )
aumentaram o teor de íons nutrientes (NO3, Ca+2, K+),
Tabela 1. Resultados do teste de preferência aplicando escala mas que acabaram por criar um efeito osmótico
hedônica para as amostras de alface cv. Verônica em prejudicial.
função da salinidade da água (Fonte: Paulus, 2008)

Massa fresca da parte aérea


(g planta-1)
Médias seguidas pela mesma letra na coluna não diferem estatisticamente entre si (p<0,05).

Tabela 2. Freqüência de intenção de compra (%) pelos


provadores de alface “Verônica” em função dos níveis de
salinidade da água (Fonte: Paulus, 2008)

Condutividade Elétrica (dS m-1)


Figura 5. Massa de matéria fresca da parte aérea da alface
hidropônica cultivada com diferentes concentrações de
solução nutritiva (Fonte: Andriolo et al., 2005)
* Nota 1= Não; Nota 2 = Talvez; Nota 3=Sim
A salinidade ótima da solução nutritiva devido apenas aos
Em hidroponia, o nível de oxigênio parece reduzir o nutrientes deve ser maior no inverno que no verão. Furlani
efeito osmótico. Na Itália, Tesi et al. (2003) estudaram et al. (1999), por exemplo, indicam para cultivo da alface uma
os efeitos da salinidade, provocada por NaCl, e do nível solução com 2,0 dS m-1, mas recomendam diluí-la para 1,0
de oxigênio no cultivo da alface utilizando solução ou 1,5 dS m-1 para regiões de clima quente como o Norte e
hidropônica com CE de 2,5 dS m-1. Observaram que os o Nordeste do Brasil. Esse tipo de preconização diz respeito
efeitos da salinidade são mais pronunciados na ausência à concentração de absorção dos nutrientes (Sonneveld,
de aeração da solução nutritiva, registrando, neste caso, 2004), que se obtém pela relação das quantidades de
diminuição no acúmulo de massa de matéria fresca e nutrientes absorvidos pelo volume de água consumida. Sendo
seca da parte aérea ao utilizarem, respectivamente, esperado menor consumo hídrico no inverno ou em regiões
solução nutritiva com CEs de 4,6 dS m-1 e 3,6 dS m-1. de clima mais ameno, deve-se concentrar mais a solução
Com aeração, estes autores não registraram diferenças para essa condição. Em outras palavras, para que a planta
nos acúmulos de massa de matéria seca da parte aérea absorva a mesma quantidade de nutrientes, a salinidade da
e das raízes usando soluções nutritivas com até 5,8 dS m- solução básica deve ser menor se o consumo hídrico for alto
1 . Drew et al. (1988) observaram interação entre a (verão ou região quente como o Semiárido). Nos
salinidade por NaCl e anoxia na solução nutritiva de experimentos de verão com rabanete avaliados por
plantas de milho cultivadas em hidroponia, sendo Sonneveld (2004), a concentração de absorção dos
reportado aumento no transporte de sódio para a parte nutrientes foi cerca de quatro vezes menor que no inverno.
aérea, acompanhado de redução no transporte de K. Apesar de não ter fundamento fisiológico, já que a
O efeito osmótico de íons nutrientes em excesso fica absorção de água e de nutrientes pelas plantas são
bem demonstrado em trabalhos como o de Andriolo et al. processos independentes (Sonneveld, 2004), o conceito
(2005) e Costa et al. (2001), que elevam da concentração de absorção é útil porque é relativo,
proporcionalmente a concentração dos nutrientes na diferentemente da absorção (kg por unidade de área),
solução nutritiva, visando estabelecer a concentração ou que é absoluta.
350 Tales M. Soares et al.

Tabela 3. Concentração de nutrientes usada no preparo da solução nutritiva para o cultivo hidropônico de alface (Furlani,
1998)

As plantas não exigem as altas concentrações de baixo poder tampão (menor resistência às alterações
nutrientes encontradas nas formulações usuais de químicas). Assim, enquanto um erro de adubação, uma
soluções nutritivas. Numerosos estudos sobre potássio, falha na irrigação ou ainda a rápida transição para
fósforo e nitrogênio têm demonstrado que as plantas irrigação com água salobra têm parte do efeito osmótico
crescem normalmente e contêm concentrações normais atenuado pelos colóides do solo (poder tampão), na
desses nutrientes, se os mesmos estão disponíveis na hidroponia, espera-se que a mudança tenha efeito
faixa de 0,1 mg L-1. Essa descoberta tem levado alguns osmótico integral e prontamente sentido pelas plantas,
pesquisadores a enfatizarem que a taxa de suprimento de com possibilidade de grave choque osmótico.
nutrientes, não sua concentração, é o fator importante. Portanto, a hipótese básica, de que em hidroponia o
Para contraste, observa-se na Tabela 3 que as uso de águas salobras pode proporcionar melhor
concentrações de K, P e N são bastante superiores às rendimento que no solo, pode não ser comprovada, a
concentrações no solo. A razão para a alta concentração depender do procedimento metodológico empregado na
de nutrientes nas formulações-padrão recai na pesquisa. O solo contrastado deve ter nível de salinidade
dificuldade experimental de reabastecimento de equilibrado com seu poder tampão, o que demanda
nutrientes a partir de um depósito, à medida que as tempo; do contrário, pode haver atenuação da salinidade
plantas os exaurem (Epstein & Bloom, 2006). mediante neutralização de íons e melhor resposta das
Soluções-padrão também devem ser concentradas plantas à salinidade que na hidroponia, ao menos nos
por outro motivo. Segundo Sonneveld (2004), o simples primeiros ciclos de cultivo. Esse procedimento é
fornecimento dos nutrientes baseado nas concentrações necessário para evitar subestimativas e superestimativas
de absorção não é suficiente para as produtividades quanto às diferenças de resposta entre os cultivos
máximas em cultivo sem solo, sendo essas, a rigor, tradicional e hidropônico. O solo contrastado deve ter um
alcançadas com maiores concentrações de solução nível de fertilidade equivalente ao da hidroponia e para
nutritiva, estando bem registrado na literatura isso deve-se lançar mão de um princípio básico da
especializada que diferentes cultivos desenvolvidos em fertigação (Alvarenga et al., 2004), a correção do solo
soluções nutritivas equilibradas com concentrações (saturação do complexo catiônico pela adubação de
iônicas com menos de 1,5 dS m-1 frequentemente são base).
menos produtivos. Para evitar o choque osmótico devido ao uso de águas
O fato é que em hidroponia as soluções são mais salobras, em muitas pesquisas (a exemplo de Feigin et al.,
concentradas que a solução do solo e geralmente a 1991) para se preparar altos níveis de salinidade, procura-
concentração ideal pode estar próxima do limite de se aumentar gradativamente a salinidade do meio até o
tolerância das plantas. Isso pode imprimir uma menor início da experimentação.
amplitude de trabalho para controle da adubação e da Na condição de campo, o choque osmótico também
salinidade na hidroponia, representando um risco maior deve ser evitado e para isso se pode recorrer à mistura
para as plantas sensíveis ao efeito osmótico. de águas doce e salobra para produção de uma água de
Esse também é um aspecto importante porque o salinidade mais moderada. Também é possível impor uma
cultivo hidropônico em substratos quimicamente inertes mistura gradativa dessas águas ao longo do ciclo. No já
(Milner, 2002) ou em água (NFT) confere ao sistema um citado trabalho de Soares et al. (2010) (Figura 3), por
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 351

exemplo, apresenta-se um experimento em que produziu


a solução nutritiva com água doce e se fez a reposição
das perdas pela evapotranspiração mediante águas
salobras, fomentando a salinização gradual da solução.
Outra maneira de se utilizar uma fonte de água
salobra em associação com uma fonte de boa qualidade
foi testada por Soares (2007) para a cultura da alface
crespa Verônica e da alface lisa Elisa. Foram avaliados
períodos de exposição aos sais, alternando o uso de
águas salobra e doce, conforme Tabela 4. O ciclo da
cultura, estimado em 35 dias no inverno, foi dividido em
fases de uma semana de duração. Em todos os Figura 7. Massa de matéria fresca da cultivar Elisa (dms =
tratamentos propostos, foi estudado um único nível de 68,746 g; cv = 8,01 %) em função de diferentes períodos
salinidade na solução nutritiva, qual seja, 4,4 dS m-1, de exposição ao uso de água salobra
obtido com a adição de NaCl (2,048 g L -1) à solução
nutritiva (1,8 dS m -1). Não se verificou períodos de foliar. Ao submeter plântulas de alface à salinidade
menor sensibilidade das cultivares de alface Verônica e promovida por polietileno glicol (PEG), observaram nas
Elisa aos sais, tão pouco qualquer aclimatação das plantas produzidas menor acúmulo de íons Na+ e Cl- que
plantas que fosse manifestada em benefício à produção nas plantas não tratadas. As plantas ‘haloacondicionadas’
de massa foliar (Figura 6, Figura 7). por PEG com -0,5 a -1,3 MPa por 12 horas no estádio
A ineficácia da aclimatação de plantas de alface pode de emergência das radículas produziram 20 a 35% mais
estar relacionada ao rápido ciclo da cultura e também às biomassa que as plantas não tratadas, após seu cultivo
condições da primeira exposição ao estresse salino, por 44 dias sob salinização em hidroponia provocada por
envolvendo idade da plântula, potencial osmótico utilizado, 50 mM de NaCl.
tipo de sal, etc. Pérez-Alfocea et al. (2002) observaram Também se poderia avaliar como outra possibilidade
efeito significativo da aclimatação da alface e do tomate de combinação de água doce e salobra o emprego de
sobre o rendimento e o acúmulo de íons tóxicos no tecido água doce no primeiro ciclo de cultivo, visando apenas a
obtenção de folhas, sem o corte do caule e do sistema
Tabela 4. Descrição dos tratamentos aos quais foram
radicular. Para o ciclo sucessivo, seria corrigida a
submetidas as plantas de alface
salinidade mínima (por íons essenciais) da solução,
efetuando-se posteriormente a reposição de água
consumida mediante o emprego de água salobra. Nesse
contexto, seria interessante avaliar a capacidade de
rebrota de algumas hortaliças, investigando a
possibilidade de altas produções sob condição salina
proporcionada pela massa radicular já estabelecida do
ciclo anterior. A redução dos custos, a precocidade da
produção, o rendimento relativo poderiam proporcionar
maior receita líquida.
A produção da rebrota de alface (Delistoianov, 1997;
Wagner et al., 1994) é uma alternativa compatível ao
segmento de mercado interessado em folhas previamente
selecionadas, lavadas e embaladas com atmosfera
modificada (Ferreira, 2000).
Para o agricultor que dispuser apenas de água
salobra, a solução nutritiva preparada será naturalmente
salinizada e o nível de salinidade aumentará
dramaticamente à medida que se for repondo a água
Figura 6. Massa de matéria fresca da cultivar Verônica (dms salobra de acordo com o consumo hídrico. Paulus et al.
= 138,44 g; cv = 14,819 %) em função de diferentes (2010) e Santos et al. (2010) simularam esse tipo de uso.
períodos de exposição ao uso de água salobra Conforme Schwarz (1968), pressões osmóticas
352 Tales M. Soares et al.

extremamente altas (acima de 1010 kPa; ≈ 27 dS m-1) luz. Um nível alto de salinidade melhora a qualidade do
durante curtos períodos de tempo na solução hidropônica fruto, já que a salinidade restringe a absorção de água,
são menos prejudiciais que as pressões moderadamente reduzindo seu teor no fruto, enquanto exerce menor
altas (404-505 kPa; ≈ 11-14 dS m-1) durante longos efeito sobre a entrada de outros elementos no fruto. Em
períodos. consequuência, o tamanho dos frutos é menor, mas se
Outra possibilidade de atenuação do efeito osmótico aumenta a concentração de açúcares e ácidos, os
é trabalhar com maiores volumes de solução disponível principais componentes do sabor. Essa resposta à
por planta. Quanto maior for o volume de solução por salinidade é utilizada para conferir aos tomates cerejas
planta, menores são as alterações ocorridas nas seu distinto sabor.
concentrações de nutrientes, fato que também leva à Sonneveld (2004) também apresenta exemplos de
menor necessidade de correção da solução. benefícios à qualidade do produto comercializável em
função do efeito osmótico. Esses benefícios incluem
A vida útil da solução nutritiva de um sistema
melhor coloração em crisântemo (Dendranthema) e na
hidropônico fechado é de três a quatro semanas,
bromélia Guzmania sp; maior tempo de prateleira
dependendo da fase de desenvolvimento da planta e da
(pepino, tomate e morango); aumento da concentração
estação do ano (Castellane & Araújo, 1995). E segundo
de óleos essenciais em endro (aneto) e tomilho; obtenção
Jones Jr. (1983), um maior volume por planta permite um
de plantas compactas; melhoria nas propriedades
maior contato dos elementos essenciais com o sistema
organolépticas.
radicular e uma diluição do efeito de substâncias tóxicas Bertoldi et al. (2009) utilizaram água residual de
ou inibitórias que porventura possam estar inseridas no dessalinizador instalado na comunidade de Uruçu, em São
sistema. Essa é uma observação muito útil, quando se João do Cariri – Paraíba, no cultivo hidropônico de
dispõe de água com qualidade inferior. tomate cereja, tipo grape. Sob sistema NFT, foram
Soares (2007) trabalhou com uma disponibilidade de testadas as CE 3,0, 6,0 e 9,0 dS m-1, a partir do momento
5,3 L de solução nutritiva por pé de alface, o que não está que as plantas foram transferidas para o local definitivo.
de acordo com a recomendação para produção comercial O único parâmetro que apresentou diferença
dessa cultura, qual seja, 1 a 2 L por planta (Furlani et al., significativa foi a massa do fruto, sendo menor com a
1999). Por outro lado, observaram menores taxas de elevação da CE. Os demais parâmetros analisados e que
salinização do que as obtidas por Soares et al. (2007), o não apresentaram diferença estatística, mesmo com CE
que se atribuiu, dentre outras variáveis, às diferenças de de 9,0 dS m-1 foram: produtividade; número de frutos por
volume, já que Soares et al. (2007) disponibilizaram 1,1 penca; número de frutos por planta; massa de frutos por
planta; massa de frutos por penca; licopeno; ácido
L de solução nutritiva por planta. Em ambos os
ascórbico; total de fenóis; e atividade antioxidante. Os
experimentos, a solução nutritiva foi produzida com água
resultados indicam que o cultivo de tomate cereja, em
doce, sendo a reposição da evapotranspiração efetuada sistema hidropônico NFT, utilizando água residual de
com águas salobras. dessalinizador na formulação da solução nutritiva,
Pesquisas futuras com águas salobras deverão testar aparenta ser uma opção atrativa para reciclagem desse
maiores disponibilidades de solução nutritiva por planta, em resíduo de forma sustentável. A boa produtividade aliada
relação às preconizações de disponibilidade para condições às propriedades antioxidantes dos frutos são favoráveis
não salinas. Tais pesquisas devem ser consonantes com a a produção de um alimento funcional com amplas
avaliação econômica, já que volumes maiores implicam em características benéficas a saúde humana. Além disso, as
custos variáveis (bombeamento de água dos mananciais, baixas massas dos frutos obtidos nos cultivos que
fertilizantes, etc.) e fixos (investimento em reservatórios utilizaram essa água residual permitem a elaboração de
maiores, etc.) diferenciados. produtos diferenciados, como por exemplo, a produção de
mini-tomates hidropônicos.
A despeito dos aspectos negativos, o efeito osmótico
Sonneveld & van der Burgh (1991) observaram que
produzido por águas salobras pode ser trabalhado para
ao se elevar a CE de 2,5 para 5,2 dS m-1 a vida útil do
incrementar a qualidade dos produtos. Por exemplo, de tomate aumentou 2 dias e houve diminuição nos danos
acordo com Adams (2004), para cultivos precoces de por ‘russeting’, uma desordem fisiológica caracterizada
tomate no Norte da Europa, a CE da solução nutritiva por fissuras na epiderme. Para o pepino, cultivado nas
normalmente é aumentada de dezembro para fevereiro mesmas condições, o aumento da CE reduziu os danos
para restringir o vigor vegetativo e aumentar o por ‘russeting’. Em ambos os casos, o aumento da CE
crescimento reprodutivo sob condições de restrição de promoveu maior incidência de podridão apical, outra
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 353

desordem fisiológica, que será mais detalhada mais à Na literatura especializada são disponibilizados valores
frente no presente texto. de salinidade limiar para diversas culturas em solo, quase
Na literatura especializada são apresentados vários sempre baseados em Maas & Hoffman (1977). Por outro
modelos para se estudar a resposta das culturas à lado, esse trabalho é um compêndio das informações
salinidade e classificá-las de acordo com sua tolerância obtidas de outros estudos, havendo citação de cinco
aos sais (Steppuhn et al., 2005; Ferreira et al., 2005). referências bibliográficas para algumas culturas e apenas
Dentre os modelos disponíveis, o mais difundido é o uma referência para outras. Para a cultura da alface, por
platô de resposta linear desenvolvido por Maas & exemplo, foram utilizadas três referências, quais sejam:
Hoffman (1977) e apresentado na Eq. (3). Segundo Ayers et al. (1951); Bernstein et al. (1974) e Osawa
Ferreira et al. (2005), esse modelo é usado praticamente (1965). Ainda que o número de referências utilizadas
em todos os trabalhos relacionados à produtividade seja reduzido, e tenha havido relevantes avanços no
relativa em função da salinidade. Na Figura 8, que manejo da água, no melhoramento genético e nas
exemplifica o modelo aplicando-o à cultura da alface, práticas fitotécnicas, ainda hoje, 30 anos depois, a
observa-se que há dois segmentos lineares, um tolerância indicada por Maas & Hoffman (1977) é muito
constituído por um platô com declividade nula e o outro utilizada.
por uma reta cuja declividade indica a redução relativa Os próprios Maas & Hoffman (1977) e também
por unidade de acréscimo na salinidade do solo. Essa Ayers & Westcot (1999) informam que a salinidade
declividade é fornecida pelo coeficiente b do modelo, limiar indicada por eles deve ser entendida apenas como
sendo, no caso da alface cultivada em solo, igual a de tolerância relativa entre grupos de culturas, pois,
12,987 % (dS m -1 ) -1 . O ponto em que as retas se valores de tolerância absoluta variam com o clima,
interceptam indica a salinidade limiar (SL), que é a condições de solo e práticas culturais.
máxima tolerada pela cultura (no caso da Figura 8, SL Nesse sentido, o uso irrestrito desses valores pode
da alface = 1,3 dS m -1). Com esse modelo, torna-se levar às subestimativas e superestimativas da
possível simular cenários de produtividade para cada produtividade, pois dificilmente se manteriam as mesmas
nível de salinidade do solo disponível ao irrigante, condições de contorno dos trabalhos originais. Assim,
permitindo estudá-los mediante ferramentas de análise com os dados disponibilizados por Maas & Hoffman
econômica. (1977) e também Ayers & Westcot (1999), pode-se
agrupar culturas e se ponderar pela maior tolerância de
umas sobre as outras. Por exemplo, pode-se escolher
cultivar beterraba (tolerante) ao invés de alface
(sensível).
Mais uma vez, reitera-se que a extrapolação de dados,
em que:
obtidos em condições de solo e com águas salobras, para
y - rendimento potencial, %
o planejamento da implantação de cultivos hidropônicos
CEes - salinidade do extrato de saturação, dS m-1
precisa ser avaliada com cuidado.
SL - salinidade limiar da cultura, dS m-1
Sonneveld (2004) recomenda para as
b - diminuição do rendimento por aumento unitário
experimentações com salinidade em cultivos sem solo,
da salinidade acima do valor de SL, % (dS m-1)-1
iniciar a exposição à salinidade sempre a partir da
concentração de nutrientes que promova o máximo
desenvolvimento do cultivo. Segundo esse autor, no
modelo de Maas & Hoffman não há lugar para a
salinidade causada pelos nutrientes, pois o modelo
começa com uma salinidade igual a zero atrelada à
produção máxima, sendo isso compreensível já que foi
desenvolvido para cultivo tradicional em solo.
Enquanto em cultivo sem solo a CE da solução
nutritiva é quase exclusivamente promovida pelos
nutrientes, no solo esses têm uma papel marginal sobre
a CEes. E quando têm, nunca é durante um longo
período de tempo (Sonneveld, 2004), valendo lembrar que
Figura 8. Modelo de Maas e Hoffman aplicado à cultura da as soluções nutritivas hidropônicas são muito mais
alface (Fonte: Ayers & Westcot, 1999) concentradas que a solução o solo (Epstein & Bloom,
354 Tales M. Soares et al.

2006; Taiz & Zeiger, 2004). Sonneveld (2004) também Por outro lado, para o cultivo hidropônico com águas
informa que enquanto a CEes é o parâmetro da salobras a manutenção de níveis constantes de salinidade
salinidade limiar em cultivos em solo, na hidroponia poderá ser alcançada apenas por duas vias: em sistemas
frequentemente se utiliza a CE da solução no substrato abertos, com drenagem da solução e a correspondente
(considerada aproximadamente igual à da rizosfera) ou poluição ambiental e em sistemas fechados desde que a
a própria CE da solução nutritiva. reposição da evapotranspiração seja com água doce.
Considerando o valor de salinidade mínima (Sm) para Para sistemas fechados como o NFT, do qual se
a hidroponia, reescreve-se a equação de Maas & espera maior segurança ambiental, o uso de águas
Hoffman (1977), em conformidade às condicionais do salobras mais provável para o agricultor, qual seja, tanto
modelo proposto por Sonneveld (1991) e apresentado na no preparo da solução nutritiva quanto na reposição da
Eq. (4). evapotranspiração, leva compulsoriamente ao aumento da
salinidade. Nesse procedimento, perde-se a possibilidade
de comparar valores de tolerância com cultivos em solo.
Esse aspecto deve ser lembrado pelos produtores e
consultores envolvidos com uso de águas salobras na
hidroponia, pois em suas consultas à literatura devem se
0 atentar para o tipo de metodologia empregada nas fontes
de recomendação.
Para ilustrar esse problema, apresenta-se na Figura 10
em que:
as diferentes variações da CE da solução nutritiva e as
Pr - produtividade relativa, %
respectivas produções de alface de três experimentos
Sm - concentração mínima de nutrientes para o
(em NFT) conduzidos concomitantemente sob as
crescimento ótimo, dS m-1
mesmas condições ambientais, nas instalações da
CE - salinidade da solução nutritiva ou do solo, dS m-1
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (em Cruz
Sz - salinidade acima da qual o rendimento é zero, dS m-1
das Almas, BA). Nota-se que há um parâmetro comum
entre os experimentos, a condutividade elétrica da água
(eixo das abscissas), mas que a forma de aproveitamento
dessas águas traz diferentes impactos na solução
nutritiva: salinização da solução nutritiva a partir da
salinidade inicial exclusiva aos nutrientes, sendo feita a
reposição das perdas por evapotranspiração com águas
salobras (no caso do Experimento I); manutenção da
salinidade a partir de diferentes valores iniciais de
salinidade (Experimento II), sendo feita reposição das
perdas por evapotranspiração com água doce; salinização
da solução nutritiva a partir de diferentes salinidades
iniciais, sendo feita a reposição das perdas por
Figura 9. Representação do modelo de Sonneveld aplicado evapotranspiração com águas salobras (Experimento
às respostas das plantas à salinidade III). O tipo de informação que se obtém pode ser
bastante distinto entre os experimentos. Por exemplo, ao
Estudos envolvendo tolerância das plantas aos sais
se usar uma água salobra com salinidade de 7 dS m-1,
geralmente são conduzidos mantendo-se constantes os
espera-se não ter prejuízo na produção de massa de
níveis de salinidade. Mais do que preferência dos
matéria fresca das folhas (MFF) com o procedimento do
pesquisadores, isto se deve às metodologias Experimento I (sem efeito significativo); com o
primordialmente empregadas em cultivos em solo. Ayers procedimento do Experimento III (y=-21,196x + 328,74;
& Westcot (1999) atestam como tal procedimento faz jus R2 = 0,7893), espera-se maior prejuízo que com o
à sua ampla aceitação: como o manejo das águas procedimento do Experimento II (y=-12,444x + 267,96;
salobras diz respeito ao equilíbrio dos íons do meio, R2 = 0,7893).
mediante o uso da fração de lixiviação, é natural que se Tratando do aproveitamento de águas salobras em
busque repetir na pesquisa tal equilíbrio. Daí se justificar hidroponia, seu uso exclusivamente para a reposição da
a busca dos níveis constantes nos estudos de tolerância evapotranspiração pode ser menos prejudicial às culturas
(Silva, 2002; Eloi et al., 2007; Medeiros et al., 2009). de ciclo curto do que o seu emprego apenas para o
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 355

Isso abre uma linha de pesquisa envolvendo a


equiparação de produtividades com o uso de águas
salobras ao se buscar ganhos de produção baseados em
taxas de crescimento (produtividade no tempo) e não na
produção máxima usual (produtividade na área). Os
custos de produção devem aumentar com o aumento dos
ciclos e das colheitas, devendo a análise econômica ser
usada para definir o quanto se pode perder quando se
busca evitar a salinização intolerável mediante a
precocidade das colheitas. Nessa análise, o tamanho ou
CE (dS m-1)

volume mínimos da parte vendável e sua qualidade


devem ser considerados de acordo com as exigências do
mercado e, nesse particular, são preferíveis as culturas
cuja unidade de venda possa compensar ao consumidor
as perdas pelo rendimento individual das plantas.
Outro objeto de estudo econômico que merece
atenção é a possibilidade de equiparação de produção
mediante o aumento da densidade de plantio, uma vez que
o menor porte das plantas sugere o uso de menores
espaçamentos; esse é um ponto interessante a se
explorar quando a água salobra exerce mais efeito sobre
o tamanho e volume da parte vendável do que sobre a
qualidade do produto, o que provavelmente seja mais
particular para águas de maior efeito osmótico do que
DAT outras com efeitos mais específicos (nutricional e/ou
Cea 0,5 dS m -1 Cea 1,5 dS m -1 Cea 2,5 dS m -1 tóxico).
Cea 3,5 dS m -1 Cea 5,5 dS m -1 Cea 7,5 dS m -1
Em relação ao uso exclusivo de águas salobras para
Figura 10. Variação da CE da solução nutritiva ao longo do preparo da solução nutritiva e reposição das perdas por
tempo (DAT, dias após o transplantio) em função do evapotranspiração, o aumento unitário na salinidade da
emprego de águas salobras: apenas para reposição da água (em dS m-1) promoveu as seguintes perdas: 7,81%
evapotranspiração (A); apenas para preparo da solução
para alface crespa ‘Verônica’ (Paulus, 2008); 17,06%
nutritiva (B) e tanto para preparo da solução nutritiva
quanto para reposição da evapotranspiração
para alface crespa ‘Vera’ e 15,74% para alface lisa ‘AF-
1743’ (Santos, 2008). As diferenças observadas podem
preparo da solução nutritiva, pois a salinização gradual ser decorrentes das cultivares utilizadas, mas também
seria menos danosa do que a salinidade constante, mas das condições climáticas e das fontes de sais. Enquanto
Paulus (2008), nas condições de Piracicaba, SP,
estabelecida desde o início do ciclo. Com base nessa
empregou NaCl para salinizar suas águas, Santos (2009),
hipótese e depois de analisar dois experimentos, Soares
no semiárido (Ibimirim, PE), utilizou águas salobras de
et al. (2010) concluiu que, levando em conta o curto ciclo
origem subterrânea e concentradas pela rejeição da
da alface, quando houver interesse em se combinar
osmose reversa. Em todos esses trabalhos, simulou-se a
águas doce e salobra, poderá ser mais produtivo usar a
disponibilidade exclusiva de águas salobras, mas as
água doce no preparo da solução nutritiva e empregar a mudas foram preparadas com água doce. Isso pode
água salobra para a reposição do volume consumido. representar um equívoco das pesquisas, mas como
A aclimatação das plantas à solução lentamente atenuante cita-se o fato de se usar pouca água na fase
sendo salinizada pode promover melhor resposta que a de berçário, o que pode justificar inclusive a aquisição de
obtida com o choque osmótico da submissão das plantas água doce pelo produtor, sobretudo porque de maneira
à solução de salinidade constante, especialmente se o geral as plantas podem sofrer mais com a salinidade nos
ciclo da espécie é curto, a cultivar é precoce ou se a estádios iniciais de desenvolvimento.
reposição de água é baixa. Intuitivamente, pode-se
aceitar que quanto maior a precocidade da produção, Águas salobras e seu efeito específico
menor deve ser o efeito da salinidade quando a água Segundo Sonneveld (2004), é difícil distinguir o efeito
salobra é usada para reposição do volume consumido. osmótico do efeito específico de um ou de mais íons, mas,
356 Tales M. Soares et al.

espera-se que para a maioria das culturas haja Em hidroponia são comuns os relatos de podridão apical
predominância do efeito osmótico. em hortaliças frutíferas e também de queima dos bordos
A água salobra de um poço pode apresentar nível de foliares (tip burn) em hortaliças folhosas, ambos os
salinidade e composição química bastante diferente das problemas relacionados à deficiência de Ca nos tecidos.
águas encontradas em outros poços, mesmo que todos Benoit & Ceustermans (1989) apud Koefender
estejam inseridos numa mesma região. Considerando (1996) afirmaram que não é fácil estabelecer uma
poços com águas que tenham diferentes composições relação segura entre a concentração de nutrientes
químicas, é razoável esperar diferentes respostas na estimada pela CE da solução e a produtividade de plantas
produção, inclusive ao se pressupor águas com um tenras. Se a CE for alta, consegue-se obter plantas bem
mesmo nível de salinidade. Com base nessa hipótese, desenvolvidas mais quebradiças; se a CE for baixa as
Santos (2009) conduziu um trabalho na cidade de plantas desenvolvem-se bem, ficando mais macias,
Ibimirim (Pernambuco) no qual avaliou águas de cinco porém aparece queima dos bordos.
diferentes poços. As águas tiveram a CE ajustada para Trabalhando com CE variando de 1,5 a 3,5 dS m-1,
um mesmo nível de salinidade (2,2 dS m-1), suprimindo Burrage & Varley (1980) encontraram grande
assim o efeito osmótico oriundo de suas diferentes uniformidade em plantas de alface, sendo que as queimas
concentrações. As águas salobras dos cinco diferentes nos bordos foliares diminuíram com o aumento da
poços não produziram efeitos significativamente salinidade. Huett (1994) atribuiu à constante diminuição
diferentes entre si, contrariando a hipótese. Entretanto, da salinidade a redução da severidade desse tipo de
para o autor, é provável que não se encontre a mesma sintoma, demonstrando que diminuindo a relação K:Ca na
resposta ao se trabalhar com águas salobras iso- solução nutritiva diminui-se a gravidade da queima.
osmóticas em maiores níveis de salinidade. Cresswell (1991) e Huett (1994) provaram que o
Diferentemente do efeito osmótico, que pode ser aumento do acúmulo de cálcio nas folhas leva à
rapidamente sentido pelas plantas (horas, minutos), os diminuição da queima dos bordos.
efeitos específicos da salinidade (distúrbios nutricionais As folhas mais novas que contêm as menores
e toxidez) podem demorar a se evidenciarem (dias, concentrações de cálcio são as mais suscetíveis à queima
semanas). Ao se elevar a salinidade da água usada na dos bordos (Thibodeau & Minotti, 1969), pois o cálcio é
solução nutritiva, tende-se a reduzir o crescimento e o pouco móvel na planta e sua redistribuição das folhas e
rendimento comercial das culturas; por outro lado, a tecidos mais velhos para as folhas novas é muito
qualidade do produto comercial pode não limitada. Segundo Cresswell (1991), baseado na
necessariamente ser prejudicada. De fato, em muitos presença consistente de sintomas em folhas jovens de
casos, o aumento da salinidade pode melhorar a alface, a concentração marginal de cálcio varia de 2,6 a
qualidade. Silber & Bar-Tal (2008), Adams (2004) e 3,8 g kg-1.
Sonneveld (2004) fizeram uma ampla revisão sobre a A falta de Ca pode estar relacionada com o ritmo de
interação da salinidade com a nutrição e a qualidade dos crescimento e a umidade do ar, dois fatores muito
produto em hidroponia, apresentando aspectos negativos influenciados em ambiente protegido (Sonneveld, 2004).
e positivos. Esse é um ponto importante porque a hidroponia é
Quando a qualidade da água é comprometida pela normalmente conduzida nessa condição. A alta umidade
presença excessiva de certos íons (como os nutrientes Cl do ar pode induzir à falta de Ca nas folhas (tip burn) por
e B e os não essenciais Na e HCO 3 ) os efeitos da reduzir a absorção de água e, portanto, de Ca; já a baixa
salinidade sobre as plantas podem ser ainda mais umidade pode ter o mesmo efeito em frutos (podridão
dramáticos. Esses íons, além de provocar o efeito apical), sendo esperados maiores prejuízos em condições
osmótico e produzir desequilíbrios nas relações ótimas de mais salinas.
nutrientes, podem levar à toxidez específica, outro A incidência de podridão apical é frequentemente
agravante do efeito negativo da salinidade sobre a atribuída à salinidade alta na zona radicular, mas,
qualidade dos produtos. segundo Adams (2004), isso é uma simplificação. O
O desequilíbrio nutricional provocado por águas antagonismo entre nutrientes tem um papel importante.
salobras ocorre quando as relações entre as Adams (1991) contrastaram duas fontes extras de sais
concentrações dos nutrientes na solução são modificadas, para elevar a salinidade da solução nutritiva básica de 3
o que pode levar à maior absorção e/ou posterior maior para 17 dS m-1, quais sejam: NaCl (4.500 mg L -1) e
translocação de um nutriente, em detrimento de outro(s), solução de macronutrientes (NO3, K e Ca). Para plantas
provocando desordens fisiológicas que muitas vezes de tomate cultivadas com NaCl, o percentual de frutos
comprometem irreversivelmente o rendimento da cultura. com a podridão foi nulo, enquanto a fonte de
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 357

macronutrientes produziu um percentual de quase 100%


de podridão. Conforme os autores, a concentração muito
alta de K (5.486 mg L -1 ) aplicado na solução de
macronutrientes, mesmo com a alta concentração de Ca
(1.580 mg L -1 ), reduziu a absorção de Ca e seu
movimento até a parte distal do fruto. Pelo mesmo
motivo, a acidez dos frutos foi menor nos frutos
produzidos com o aporte adicional de macronutrientes.
Adams (1991) relata maior preferência de
provadores independentes para tomates cultivados com
NaCl, em comparação com aqueles produzidos com
aporte extra de macronutrientes, sendo que essa
preferência foi detectada para a salinidade de 8 dS m -1
e se intensificou em 12 dS m-1.
Outro resultado interessante foi apresentado no já
citado trabalho de Tesi et al. (2003) com alface. Os
autores observaram maior rendimento em plantas
submetidas à salinidade e à aeração da solução nutritiva, Figura 11. Planta não submetida à salinidade exibindo
mas também maior incidência de ‘tip burn’ nessas sintomas de tip burn nas folhas mais novas aos 29 dias
plantas, em relação as não aeradas; esse resultado foi após o transplantio (Fonte: Soares, 2007)
atribuído ao fato de que sob salinidade o crescimento da
alface diminui e assim o suprimento de cálcio nas folhas em ambiente protegido e o acúmulo de nitrato em alface.
jovens pode tornar-se adequado à taxa de crescimento e, Os autores partiram da premissa que sob ambiente
paradoxalmente, ser prevenido o distúrbio fisiológico. protegido, onde não se tem lixiviação do excesso de sais
Esses resultados contrariam a hipótese de que quanto fertilizantes, deve haver ajuste osmótico pelas plantas
maior a salinidade, maior a ocorrência de ‘tip burn’, para facilitar a absorção de água. Em função da menor
sendo concordantes com os reportados por Feigin et al. intensidade luminosa nesse tipo de ambiente, tem-se
(1991) em aeroponia. menor acumulação de fotoassimilados nas plantas, o que
Soares (2007) reportou algo semelhante ao conduzir se compensa pela acumulação de nitrato. Em seu
um experimento com alface (Piracicaba - SP) em trabalho, Chung et al. (2005) demonstraram haver uma
hidroponia NFT. Segundo o autor, no dia da colheita, em função osmótica regulatória do nitrato, em substituição
algumas plantas isoladas, e pertencentes aos tratamentos aos compostos orgânicos, no desenvolvimento da alface
menos salinos na hidroponia, foram observados sintomas onde a intensidade de luz e o potencial da água no solo
são baixos. Esses resultados são importantes para
iniciais de ‘tip burn’ (Figura 11). Esses sintomas foram
estudos envolvendo salinidade e segurança alimentar,
caracterizados como pontuações necróticas presentes
pois, o excesso de nitrato na dieta provoca riscos à
nas bordas das folhas mais novas. Quatro dias após a
saúde, considerando-se aceitável (Chung et al., 2005) um
colheita (29 DAT), os sintomas observados nas plantas
consumo diário máximo de 3,65 mg kg -1 de peso
remanescentes foram evoluídos para a coalescência dos
corpóreo.
pontos necróticos, levando à queimadura do tecido foliar O controle dos níveis de nitrato é importante para a
das bordas das primeiras folhas sintomáticas. As folhas hidroponia, pois uma propaganda negativa feita a esse
mais novas apresentavam-se necróticas em quase todo tipo de cultivo se estabeleceu no suposto fato de que
o limbo (Figura 11). Para os níveis mais salinos não produtos hidropônicos contêm maiores teores de nitrato.
foram detectados quaisquer tipos de sintomas. Isso pode Essa relação foi posteriormente não comprovada, mas
ser explicado pelas maiores taxas de crescimento e de como marketing negativo à atividade restou a apreensão
esgotamento da solução de cultivo pelas plantas dos consumidores desatualizados. No Brasil, a alta
submetidas aos menores níveis de salinidade, com radiação solar não favorece a acumulação de nitrato em
consequentes desequilíbrios nutricionais, levando à níveis intoleráveis (Luz et al., 2008), um ponto favorável
deficiência de cálcio. sobretudo para a região do Semiárido. Considerando,
Outro aspecto interessante da salinidade em cultivos porém, o possível papel osmorregulador do nitrato para
hidropônicos diz respeito à segurança alimentar. A partir as plantas, é importante que a pesquisa elucide a
de amostras coletadas na Coréia, Chung et al. (2005) influência de águas salobras no acúmulo dessa
avaliaram a relação existente entre a salinidade do solo substância.
358 Tales M. Soares et al.

O limite máximo permitido para teores de nitrato na Deficiências nutricionais podem ocorrer por
massa fresca de alimentos pela comunidade européia mudanças no pH e por precipitação química. Nesse
varia de 1500 a 4500 mg kg -1, dependendo da época do sentido, a análise da água quanto ao pH e teores de
ano (McCall & Willumsen, 1998). O nitrato ingerido por sulfatos, carbonatos, bicarbonatos e íons Ca e Mg é
alimentos pela população humana sofre na boca, ação fundamental.
microbiana, reduzindo-se a nitrito. Este, na corrente O pH é uma medida importante por estar intimamente
sanguínea, oxida o ferro (Fe2+ para Fe3+) da hemoglobina, relacionado com a concentração de outras substâncias
presentes na água. Uma água que tenha pH acima de
produzindo a metahemoglobina. Essa forma de
8,3 contém altas concentrações de Na, carbonatos e
hemoglobina é incapaz de transportar o oxigênio,
bicarbonatos (Paterniani & Pinto, 2001).
causando a chamada metahemoglobinemia. Enquanto
A faixa ideal de pH nos cultivos hidropônicos
esse processo é reversível em pessoas adultas, pode normalmente é de 5 a 6. Conforme Furlani et al. (1999),
levar lactentes à morte, principalmente até os três meses variações na faixa de 4,5 a 7,5 são toleradas, sem
de idade (Maynard et al., 1976). problemas ao crescimento das plantas. No entanto,
Miceli et al. (2003), avaliando a produção de duas valores abaixo de 4 prejudicam a integridade da
cultivares de alface, observaram que, aumentando a membrana celular. Quando o pH supera 6,5, deve-se ter
salinidade de 1,6 para 4,6 dS m-1 mediante NaCl, o teor cuidado com possíveis sintomas de deficiência de Fe, P,
foliar de nitrato diminuiu de 2,218 para 1,634 mg kg-1 de B e Mn. As variações no pH são reflexo da absorção
massa de matéria fresca. Tesi et al. (2003) também diferenciada de cátions e ânions. Para esses mesmos
observaram redução na acumulação de nitrato pela alface autores, é mais conveniente manter a solução nutritiva
submetida à salinidade. Pardossi et al. (1999) equilibrada em cátions e ânions para atender a demanda
observaram baixo acúmulo de nitrato em trabalhos com da planta, que tentar manter o pH numa faixa estreita de
plantas de aipo submetidas a diferentes níveis de valores mediante ácidos (sulfúrico, fosfórico, nítrico ou
salinidade (2, 6 e 10 dS m-1) mediante adição de NaCl. clorídrico) ou bases (hidróxido de sódio, de potássio ou de
Segundo os autores, os resultados são em função da amônio) para diminuir ou aumentar o pH do meio.
redução da absorção de nitrato devido ao antagonismo Águas subterrâneas em estratos calcários e de rocha
existente com o cloreto presente na solução nutritiva. O dolomítica podem conter altos níveis de carbonato de
cálcio e de magnésio. Águas duras normalmente têm
cloreto é um substituto osmótico do nitrato em meio
níveis aceitáveis de sais de cálcio e magnésio para
salino. Blom-Zandstra & Lampe (1993) encontraram
produção hidropônica, pois ambos os elementos são
resultados semelhantes em alface.
essenciais para o preparo da solução nutritiva. A maioria
No Brasil, em Londrina, PR, Filgueiras et al. (2002) das águas duras contem o Ca e o Mg como carbonatos
registraram aumento linear dos teores de nitrato à ou sulfatos. Ainda que o enxofre seja um nutriente, o
medida que concentração a solução nutritiva. Já nas carbonato não o é; não obstante, em baixas
condições de Piracicaba, SP, Paulus (2008) observou concentrações, o bicarbonato não é prejudicial às plantas
aumento nos teores de nitrato na seiva de duas cultivares (Resh, 1992).
de alface em resposta ao aumento da salinidade da água Segundo Schwarz (1995), a toxidez por bicarbonato
(Figura 12). ainda não tinha sido observada em cultivos sem solo.
Mas, Bie et al. (2004) chamam a atenção para o fato de
que íons como bicarbonato e o sulfato podem ser tóxicos
quando em altas concentrações, em função do efeito seu
Nitrato (mg L-1)

específico.
A dureza na água geralmente se refere à
concentração de cátions divalentes Ca e Mg; não traz
consequências sanitárias além do sabor desagradável e
dificuldade de formação de espuma quando se usa sabão.
Mas, na irrigação pode provocar incrustações nas
tubulações, principalmente em regiões onde a
CEa (dS m-1) temperatura é elevada (Paterniani & Pinto, 2001). Tanto
(ns), (*), (**) representam não significativo, significativo a 5% e a 1% de probabilidade, respecti-
vamente.
o Ca quanto o Mg podem se associar com carbonatos ou
Figura 12. Teor de nitrato na seiva de alface ‘Verônica’ e ‘Pira sulfatos. Quanto maior a dureza da água, maior o pH e,
Roxa’ conduzida em sistema hidropônico em função da portanto, maior a resistência da solução à oscilação do
salinidade da água (Fonte: Paulus, 2008) pH, ou seja, maior a capacidade tampão.
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 359

Uma solução nutritiva preparada com água contendo que 3mM de bicarbonato, cerca de 2-2,5 mmol de H3PO4
bicarbonato provavelmente terá pH elevado e, quando deveriam ser adicionados por litro de solução com o
isso ocorre, pode inativar quelatos de ferro e também intuito de neutralizar tanto bicarbonato quanto necessário
precipitar parte dos íons de Ca e Mg, aparecendo para alcançar o pH ideal. Porém, a concentração de
carbonatos e sulfatos menos solúveis, que, além de não H2PO4 na solução nutritiva normalmente não deveria
serem absorvidos pelas plantas, podem obstruir o sistema
exceder valores acima de 1 mM. O uso de ácido nítrico
de irrigação (Rodrigues, 2002).
não se limita por tal consideração, pois a concentração
Segundo Silber & Bar-Tal (2008), além dos
problemas com precipitados de carbonatos e sulfatos, de NO3 almejada na solução nutritiva é normalmente
águas salobras podem precipitar ortofosfatos. Em pH maior que 10 mM e a concentração de bicarbonato
maior que 7,2, a proporção de HPO4- diminui em relação jamais atinge esse nível.
a de HPO4-2, que é um íon menos disponível para as Na pesquisa de Santos (2009), anteriormente citada,
plantas. Assim, valores altos de pH podem induzir trabalhou-se com a hipótese de que o uso de águas
deficiência de P mesmo quando há um adequado aporte salobras, provenientes de poços do embasamento
de P total na solução. Os mesmos autores lembram cristalino, proporciona menores prejuízos à produção de
também que nas condições de pH elevado os alface que as águas salinizadas com NaCl, pois enquanto
micronutrientes são menos disponíveis devido às reações esse último sal apresenta dois íons tóxicos às plantas, as
de precipitação. águas dos poços geralmente têm misturas de íons tóxicos
Santos (2009), trabalhando com águas salobras no e íons nutrientes.
Semiárido (Ibimirim, PE), reportou sintomas de
Essa hipótese não foi confirmada. A fonte NaCl
deficiência nutricional em plantas de alface cultivadas
proporcionou menor prejuízo ao crescimento. Por
com águas salobras no sistema NFT, atribuindo-os às
exemplo, a produção média para a fonte NaCl de massa
precipitações por bicarbonato. Esse autor relatou também
a dificuldade para manter o pH na faixa ideal. Para de matéria fresca da parte aérea foi de 287,94 g, sendo
neutralizar o bicarbonato foi utilizado ácido nítrico. Na de 250,16 g a média da fonte AS (águas salobras locais),
Figura 13 são mostradas imagens de precipitação química com diferença mínima significativa de 28,80 g. De acordo
registradas pelo autor. com os resultados apresentados, há que se questionar a
razão da maior redução da produção de massa de
matéria fresca da parte aérea da alface ‘Vera’ quando
submetida aos níveis de salinidade provocados pelas
águas salobras locais (AS), em relação aos níveis criados
pela adição de NaCl. A resposta para essa contrariedade
da hipótese levantada pode ser encontrada na análise do
pH. Nesse experimento, não se teve um controle diário
do pH da solução nutritiva nas parcelas. Nesse sentido,
pode ter ocorrido precipitação de cátions essenciais (Ca,
Figura 13. Deposição de sais no reservatório (A); limpeza do Mg) pela combinação com os ânions carbonato,
reservatório (B); depósito de precipitados na calha e no bicarbonato e sulfato presentes nas águas naturais,
tampão de saída (C e D); limpeza das calhas (E) sobretudo no início do ciclo, quando essas águas
produziram soluções nutritivas alcalinas (pH > 8). Em
Apesar desses efeitos prejudiciais das águas salobras
contraste, as soluções produzidas com NaCl
ricas em carbonatos e bicarbonatos, é aconselhável tirar
apresentavam pH em torno de 6, independente do nível
vantagem da capacidade tampão sobre o pH, mantendo-
de salinidade, o que está de acordo com o fato da
se o nível da relação carbonato/bicarbonato em um valor
entre 30-50 ppm, faixa suficiente para prevenir dissociação desse sal não alterar muito o pH de soluções
flutuações bruscas no pH (Smith, 1987; Rodrigues, 2002). aquosas. Essa hipótese da precipitação de cátions nos
Silber & Bar-Tal (2008) acrescentam que para tratamentos com AS também foi suportada na análise
concentrações de bicarbonato maiores que 2-3 mM não visual de sintomas efetuada no início do ciclo. Desde os
é possível usar somente o ácido ortofosfórico (H3PO4) 3 DAT, observou-se clorose nas plântulas de alface
para ajustar o pH para 5-5,5 sem acrescentar submetidas à salinidade provocada pelas AS. Por outro
quantidades excessivas de fosfato na solução. lado, plantas submetidas ao NaCl conservavam o verde
Exemplificam os autores que se a água contiver mais foliar (Figura 14).
360 Tales M. Soares et al.

a alface romana, a resposta à salinidade depende


principalmente da fonte de sais, mais do que do nível de
potencial osmótico na solução.
Os resultados de Soares (2007) diferem dos
apresentados por Tas et al. (2005) para a alface.
Também diferem dos resultados de Bie et al. (2004),
conduzidos na Ásia com duas cultivares de alface lisa.
Esses últimos autores, apesar de não trabalharem com
soluções iso-osmóticas, encontraram grandes diferenças
no rendimento da alface quando submetida aos efeitos de
Na2SO4 e NaHCO3. E justamente o mais surpreendente
no seu trabalho é o fato de terem investigado Na 2SO4
adicionado à solução nutritiva (0; 20; 40 e 60 mM) com
maiores valores de CEsol (1,9; 5,7; 9,3 e 12,6 dS m-1), em
contraste às concentrações de NaHCO 3 aplicado à
Figura 14. Contraste visual (aos 8 dias após o transplantio) solução (0; 2,5; 5,0 e 7,5 mM) com menores valores de
de uma planta submetida à salinidade por NaCl (esquerda) CEsol (1,9; 2,1; 2,3; 2,5 dS m -1), sendo o efeito do
e outra submetida à água salobra de origem subterrânea NaHCO 3 mais acentuado sobre a redução da
(direita), ambas com CE de 5,2 dS m-1. Fonte: Santos produtividade. Segundo os autores, o maior dano da
(2009)
salinidade por NaHCO3 provavelmente não foi causado
Soares (2007), trabalhando com hidroponia em vasos pelo excesso de acúmulo de Na +, já que as plantas
com sílica, avaliou as respostas da alface ‘Hortência’ à apresentaram maiores concentrações no experimento
salinidade provocada por NaCl ou por uma mistura de com Na2SO4. Os autores concluem pelo efeito específico
CaCl2 e KCl. Como estabeleceu níveis iguais de Cl para do íon bicarbonato.
ambas as fontes de salinidade, trabalharam sob a hipótese Os resultados de Bie et al. (2004) parecem realmente
de obter melhor rendimento com a mistura de comprovar uma exceção à predominância do efeito
fertilizantes, por conter dois nutrientes (Ca e K). osmótico sobre os atribuíveis aos íons tóxicos. Tanto que
Entretanto, não obtiveram diferenças significativas entre Sonneveld (2004) informa que na ‘Research Station for
as fontes de salinidade. Floriculture and Glasshouse Vegetables’, nos Países
Esse resultado está de acordo com a discussão Baixos, os efeitos dos íons específicos na horticultura
apresentada por Sonneveld (2004), que, tratando da protegida têm sido determinados baseando-se em
salinidade em cultivos sem solo, informa ser o efeito condições de igual concentração de íons na fertigação,
osmótico da salinidade predominante sobre o efeito de sendo mostrada uma importante resposta principalmente
íons específicos. Sonneveld & van den Ende (1975) devido ao efeito osmótico, havendo relevante redução na
obtiveram produções semelhantes no cultivo do tomateiro produção somente com a adição de bicarbonato.
ao acrescentarem NaNO3, NaCl e Na2SO4 em idênticas Considerando a predominância de águas cloretadas
concentrações iônicas à solução nutritiva. Nesse caso, foi sódicas no Semiárido, torna-se imprescindível dirimir a
contrastado o efeito dos ânions Cl-, do NO3- e do SO4-, discrepância de resultados do presente trabalho com o de
como acompanhantes do cátion Na + . Em trabalho Tas et al. (2005). Não obstante, outros tipos de águas
posterior e com a mesma cultura, Kafkafi (1984) disponíveis da região deveriam ser investigados sob as
demonstrou resultado semelhante. mesmas condições de cultivo e com iguais potenciais
Por outro lado, trabalhando com alface do tipo osmóticos. A evolução dessa linha de pesquisa poderia
romana, na Grécia, Tas et al. (2005) observaram redução permitir gerar recomendações mais generalistas para o
no crescimento da parte aérea das plantas quando emprego direto de diferentes tipos de águas salobras em
aumentaram a salinidade da solução nutritiva (2,2 dS m-1) hidroponia, utilizando-se ou não o abatimento dos íons
mediante aplicação de NaCl (3,2 e 5,0 dS m -1), não essenciais que as constituem, e verificando as melhores
reportando efeitos significativos quando aplicaram CaCl2 alternativas de tratamento.
visando níveis iso-osmóticos de salinidade (3,1 e 4,7 dS Como forma de empregar as cultivares de interesse
m-1). Em relação ao seu controle (2,2 dS m-1), os autores em condições de salinidade, pode-se combinar a
obtiveram 76 e 62% de rendimento para os níveis aplicação de corretivos químicos visando mitigar os
crescentes de NaCl, e 93% de rendimento para ambos efeitos de íons específicos, sobretudo do Cl- e do Na+.
os níveis de CaCl2. Nesse sentido, concluíram que para Esse tipo de controle foi postulado (Kafkafi, 1984;
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 361

Ravikovitch & Yoles, 1971), e um dos fatos que suporta agricultura convencional e das limitações de acesso ao
a hipótese é o antagonismo entre íons (K+ e Na+; Ca+2 crédito. Em contrapartida, a hidroponia exige considerável
e Na+; NO3- e Cl-). Para tanto, o incremento do efeito investimento. Essa restrição pode ser superada ao se
osmótico deve ser compensado pelo benefício dessa implantar e ampliar a unidade de produção de maneira
mitigação. Conforme Feigin et al. (1991), as diferenças escalonada. Além disso, a hidroponia pode ser conduzida
nas respostas envolvendo a aplicação de corretivos, à céu aberto ou com ambiente protegido não tão
respostas positivas e negativas, parecem ser atribuídas às hermético e oneroso quanto as casas-de-vegetação
distintas combinações de salinidade e manejo nutricional. empregadas no eixo Sul-Sudeste.
Nesse sentido, torna-se importante averiguar o efeito c) A distância de grandes centros consumidores,
corretivo em cada situação. incongruente com a instalação hidropônica em
Achilea (2003), cultivando alface ‘Salinas’ em sistema comunidades difusas e com a produção de hortaliças
de aeroponia com solução nutritiva salinizada à 6 dS m-1 folhosas facilmente perecíveis. Essa consideração deve
(34 e 9 mM de NaCl e CaCl 2 , respectivamente), ser tratada sob dois aspectos: a finalidade da produção,
demonstrou que a aplicação de nitrato de potássio aos se para abastecimento externo ou se para consumo
níveis de 1 e 5 mM resultou em produções de massa de próprio, sendo que nesse último caso, deixa-se de ter a
matéria fresca equivalentes a 113 e 127%, em relação às restrição; as espécies cultivadas, podendo-se optar por
plantas não tratadas com esse fertilizante. Apesar de não implantar nessas comunidades culturas menos perecíveis.
demonstrado pelo autor, a produtividade equivalente às d) A dependência da energia elétrica dos sistemas
plantas não salinizadas (CEsol = 1,8 dS m-1), pode ser hidropônicos, frente ao fornecimento irregular na região.
estimada em cerca de 90% quando se aplicou 5 mM de Apesar de ser uma restrição importante, é preciso
nitrato de potássio. considerar que há grande diversidade de dependência
Apesar do grande número de estudos que dos tipos de sistema hidropônico: enquanto para a
demonstram que a salinidade reduz a absorção e hidroponia NFT, torna-se maior o prejuízo pela falta de
acumulação de nutrientes ou afeta sua partição dentro da energia, para a hidroponia em substrato, que retém a
planta, pouca evidência existe de que a adição de umidade por mais tempo na zona radicular, esse prejuízo
nutrientes em níveis acima do que é considerado ótimo torna-se menor. Trabalhando no sistema NFT,
em condições não-salinas melhore a produtividade das pesquisadores da UFRPE testemunharam o
culturas (Grattan & Grieve, 1999). comprometimento do cultivo da rúcula no Semiárido em
virtude da falta de energia elétrica. Alternativamente,
CONSIDERAÇÕES FINAIS têm-se outras opções, como a hidroponia no sistema
pavio, onde a irrigação se processa mediante os princípios
Inúmeras críticas vêm sendo feitas sobre a viabilidade da capilaridade e dos vasos comunicantes aplicados em
técnica e econômica do uso de águas salobras em substratos. Pesquisas da UFRB deverão ser conduzidas
hidroponia visando uma alternativa de agricultura nesse tipo de sistema visando avaliar a resposta das
intensiva para o Semiárido, quais sejam: plantas à salinidade.
a) A baixa escolaridade na região, em contrapartida e) As condições climáticas adversas. As altas
ao nível tecnológico envolvido em cultivos hidropônicos. temperaturas características do Semiárido são apontadas
De fato, a produção hidropônica por si só já pressupõe como limitantes aos cultivos hidropônicos na região, pois
uma série de conhecimentos nem sempre sistematizados os meios para amenizá-las muitas vezes são onerosos e
pelo agricultor típico do Semiárido. O número de proibitivos. Entretanto, deve-se atentar para o fato de
equipamentos incorporados à lida diária (condutivímetro, que essa consideração muitas vezes pressupõe uma
pHmetro, termômetro, temporizador, etc.), incluindo sua associação da hidroponia com ambiente protegido.
necessidade de leitura e interpretação, ajustes e Reconhece-se que essa associação é vantajosa, mas ela
calibração, é visto como um impedimento ao uso da não é compulsória, sendo exemplificado, na literatura
hidroponia. Além disso, o insumo águas salobras pode especializada, cultivos hidropônicos à céu aberto
tornar a produção ainda mais vulnerável e suscetível ao (Hochmuth & Hochmuth, 2007). Outro equívoco é
fracasso, mesmo para produtores experientes em cultivos considerar que o tipo de ambiente protegido para
hidropônicos; hidroponia é a ‘estufa’. Mesmo em outras regiões do
b) A baixa renda dos agricultores, incompatível com País, estruturas simplificadas, muitas vezes sem uso de
os altos investimentos característicos de cultivos laterais, ou com teto telado ao invés de coberto com
hidropônicos. É sabido que no Semiárido os agricultores filme plástico, são estudadas e empregadas. Visando
têm renda baixa, resultado do baixo faturamento com a oferecer uma casa-de-vegetação de baixo custo,
362 Tales M. Soares et al.

adaptada à condição tropical, Leal et al. (2006) segundo alguns críticos o sistema de produção, seja
apresentam a descrição de uma com 280 m2, orçada em hidropônico ou convencional, apesar de poder influenciar
R$ 2.525,40. no rendimento das culturas, não pode interferir numa
Críticas como essas precisam ser elencadas e característica intrínseca, e que tem apenas um ótimo,
submetidas à apreciação geral dos pesquisadores e como a tolerância à salinidade, sendo um equívoco falar
potenciais agricultores. A troca de informações, em maior tolerância à salinidade em hidroponia.
sobretudo partindo da experiência em experimentos de Outro ponto a se debater são as estruturas de
caráter extensivo, é fundamental para avaliar a pesquisa, que deveriam ter o mesmo design das
viabilidade dessas críticas, buscando-se soluções e novos instalações comerciais, sem detrimento dos requisitos
objetos de estudo, como: a viabilidade da hidroponia à céu estatísticos. Nesse sentido, uma abordagem crítica da
aberto; sistemas hidropônicos passivos (sem gasto de influência de componentes do sistema de produção sobre
energia elétrica) ou circulantes, mas sem gasto de a resposta das plantas em condições salinas deve ser
energia elétrica; seleção de culturas/cultivares menos conduzida. Adicionalmente, as principais vantagens e
perecíveis e adaptadas à condição climática local. limitações técnicas das mudanças estruturais impostas
Como o objetivo principal dessas pesquisas recentes pelo rigor científico precisam ser discutidas (Soares et al.,
é apresentar uma nova alternativa para aproveitamento 2009). Se por um lado, espera-se melhor resposta das
de águas salobras, a comparação com a agricultura plantas aos sais em hidroponia do que no solo, por outro,
convencional torna-se inevitável. Mas, a comparação espera-se diferenças nas respostas entre os diferentes
direta entre os sistemas hidropônico e convencional tipos de sistemas hidropônicos.
(baseado no solo) não se pode processar sem um A grande maioria das espécies cultivadas em
parâmetro comum de salinidade. A definição desse hidroponia são glicófitas e, portanto, mais sensíveis à
parâmetro deveria ser elucidada e acordada por um salinidade. Em função disso, a maioria dos estudos com
grupo de especialistas. águas salobras em hidroponia é com tais espécies. Isso
O foco principal de Soares (2007) foi demonstrar que se torna aceitável já que essas culturas são as que
na hidroponia NFT a tolerância à salinidade é maior que proporcionam melhor rendimento financeiro e conseguem
no cultivo convencional. Para isso, o autor cultivou alface boas relações benefício/custo frente ao investimento
crespa ‘Verônica’ tanto em NFT quanto em vasos. Para necessário ao empreendimento hidropônico. Por outro
a produtividade comercial, baseada na massa de matéria lado, a hidroponia pode ser bastante flexível e essa
fresca da parte aérea, a salinidade limiar em hidroponia característica pode ser adequada à produção de culturas
tipo NFT foi de 4,03 dS m-1, com base na salinidade da menos tradicionais.
solução nutritiva. Sob as mesmas condições, a salinidade Por se tratar da hortaliça folhosa mais importante para
limiar para a alface em solo foi de 2,51 dS m-1, mas com os brasileiros, sendo também a mais cultivada em
base no extrato de saturação do solo. Concluiu-se que a hidroponia no Brasil, a alface tem se tornado a principal
tolerância da alface à salinidade foi maior em cultivo cultura nos estudos envolvendo o uso de águas salobras
hidropônico tipo NFT do que em Latossolo Vermelho em hidroponia, o que poderá repercutir na sobreposição
Amarelo em vaso e sob mulch. Entretanto, parece de resultados. Nesse sentido, também visando aumentar
equivocado comparar a tolerância mediante esses dados, a eficiência dos esforços científicos e dos recursos
pois não trazem uma base comum de comparação. financeiros captados, é importante a proposição de
Apesar de ser correto avaliar a resposta em hidroponia estudos multi-institucionais, com o planejamento de ações
a partir da salinidade medida na solução nutritiva, pois ela isoladas e coletivas e a repartição de linhas de pesquisa.
representa a salinidade na zona radicular, para o cultivo Um dos problemas históricos dos cultivos protegidos
em solo, a despeito da salinidade no extrato de saturação (incluindo a hidroponia) no Brasil foi que a pesquisa
ser o método padrão, não parece correto utilizá-lo, pois científica não acompanhou a expansão desse tipo de
não representa a salinidade a salinidade na zona radicular. agricultura, o que resultou no abandono de áreas e
Outra autocrítica do autor relaciona-se ao fato de que descrédito na tecnologia. Sistemas hidropônicos são
em outro experimento conduzido na mesma unidade de naturalmente fascinantes aos agricultores, tendo a
pesquisa, obteve-se uma salinidade limiar de 2,69 dS m- capacidade de atrair mesmo as pessoas não ligadas ao
1 para a mesma cultivar em hidroponia NFT. A despeito trabalho rural, entretanto, a simples empolgação não garante
das variações climáticas e melhorias no sistema de sucesso nesse tipo de cultivo, que exige qualificação e
produção que podem ter interferido nesse valor, trata-se capacitação. O uso de águas salobras tende a complicar o
de uma diferença considerável, o que merece a repetição manejo da hidroponia, pois os íons incorporados podem
dos experimentos. Outro ponto questionável é que causar perdas produtivas pelo efeito osmótico, por toxidez
Uso de águas salobras em sistemas hidropônicos de cultivo 363

e por desequilíbrios nutricionais. Trabalhos envolvendo águas Andrade, E. M.; D’almeida, D. M. B. A.; Meireles, A. C. M.;
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Parte V - Drenagem para controle
da salinidade e recuperação
de áreas afetadas por sais
Drenagem agrícola no manejo
20 dos solos afetados por sais
Vera L. A. de Lima1, Maria S. S. de Farias1 & João C. F. Borges Júnior2

1 Universidade Federal de Campina Grande


2 Universidade Federal de São João del-Rei

Introdução
Drenagem agrícola e salinidade
Diagnóstico de problemas de drenagem
Profundidade do lençol freático
Poços de observação
Condutividade hidráulica do solo
Porosidade
Critérios de drenagem
Envoltórios
Aplicação de modelos na drenagem agrícola
Modelagem com base no balanço hídrico e de sais na zona radicular
Modelagem com base na equação de Richards (ER) e na equação de convecção-
dispersão (ECD)
Critérios de dimensionamento implementados na modelagem
Exemplo de aplicação
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
370 Vera L.A. de L. et al.

Drenagem agrícola no manejo


dos solos afetados por sais

INTRODUÇÃO saneamento e mitigação de impactos ambientais.


Conceitos atuais, como de drenagem controlada,
A necessidade do aumento da produção agrícola, a Biodrenagem, tem sido consolidados.
criação de novas demandas e a perspectiva de Exemplos de insucesso, em Projetos de Irrigação pelo
desenvolvimento levou alguns setores a procurarem não uso da técnica de drenagem, podem ser citados
meios de produção mais eficientes, nesse contexto como os casos ocorridos nas áreas do Departamento
inscreve-se a ampliação das áreas irrigadas, essa ação Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS),
na perspectiva da sustentabilidade ambiental deve localizadas no Polígono das Secas, onde pelo menos
contemplar um manejo eficiente da drenagem agrícola, 3.268 ha estão desativados, o que corresponde a 13,7%
minimizando os impactos nos solos, principalmente no das superfícies irrigadas em operação nos projetos de
que diz respeito aos processos de salinização e ou irrigação. Em alguns perímetros, a área salinizada atinge
sodificação. porcentuais elevados, como Sumé, PB, com 30,1%, Vaza
Tradicionalmente, tem-se como objetivo da drenagem Barris, BA, com 29,4%, Jucurici, BA, com 23,l% e São
possibilitar condições ambientais propícias ao Gonçalo,PB, com 22,0%( Barreto et, al. 2004).
desenvolvimento de plantas, além de preservar
propriedades físicas e químicas do solo (Ferreira, 2001). DRENAGEM AGRÍCOLA E SALINIDADE
Em regiões de clima úmido, a drenagem propicia a
retirada do excesso de água no perfil do solo, criando Embora os solos afetados por sais ocorram
condições de aeração, que permitam o desenvolvimento extensivamente, sob condições naturais, os problemas de
adequado das culturas, e de execução de operações maior importância econômica para a agricultura surgem,
mecanizadas, como preparo de solo e colheita. quando solos produtivos tornam-se salinizados
Em regiões irrigadas de clima árido ou semiárido, a (salinização secundária), como resultado da irrigação mal
drenagem é implantada como vistas à manutenção do operacionalizada, uma vez que um projeto de irrigação
lençol freático a profundidades suficientes para controle envolve elevados custos para o produtor, seja na
da concentração de sais na solução do solo em níveis aquisição de equipamentos e obras de infra-estrutura
adequados à produção agrícola, além da retirada de como na operação dos sistemas. Segundo Tanji (1990) e
lâminas percoladas advindas de excedentes de irrigação Rhoades et al. (1992), a ameaça de salinização
ou chuva ou da aplicação de lâminas de lixiviação. antropogênica e elevação das superfícies freáticas, aliada
Nestas regiões, portanto, verifica-se a expressiva às recentes descobertas de elementos tóxicos nas águas
retirada de sais de áreas produtivas ou em recuperação de drenagem, constituem-se a principal dificuldade para
por meio da drenagem. a sustentabilidade da agricultura irrigada.
A drenagem deve ser vista, portanto, integrada a outros As culturas, quando produzidas em regiões áridas
processos, como irrigação e, ou subirrigação, de modo a consumem grandes quantidades de água segundo
promover um manejo adequado de água e solo, orientado Smedema & Shiati (2002), enquanto a produção de 1 kg
conforme objetivos diversos, como produção agrícola, de grão em zona temperada consume menos do que 0,5
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 371

m3 de água nas zonas áridas são necessários de 1.5–2.5 A destinação adequada da água de drenagem inclue
m 3 . O elevado consumo de água nesta atividade a redução dos volumes de água drenada, o uso de bacias
contribui para elevar a concentração de sais no solo e de evaporação, o reuso da água de forma direta ou pela
nas fontes de água. mistura com água de boa qualidade para a irrigação e o
A acumulação de sais, na rizosfera, prejudica o emprego da biodrenagem. Este sistema consiste em
crescimento e desenvolvimento das culturas, provocando remover, por meio do uso de vegetação, da água perdida
um decréscimo de produtividade e, em casos mais por percolação, nos sistemas de irrigação. Thiyagarajan
severos, pode levar a um colapso da produção agrícola. & Umadevi (2006) confirmam que o uso da vegetação,
Isto ocorre em razão da elevação do potencial osmótico ou biodrenagem pode ser combinado a drenagem
da solução do solo, por efeitos tóxicos dos íons específicos convencional promovendo a disposição dos efluentes com
e alteração das condições físicas e químicas do solo. menor custo e de forma ambientalmente adequada.
Desta percepção, elucida-se que diante da Na concepção de um projeto de irrigação, quando da
problemática econômica e ambiental da salinização na etapa de diagnóstico da área, deve ser incluído na
agricultura, é essencial a indicação de medidas que avaliação estudos de drenagem, com objetivo de elaborar
apontem soluções concretas para o problema um projeto considerando as necessidades de implantação
apresentado. Diversos pesquisadores afirmam que um dos da drenagem na área. O plano de monitoramento do
meios mais efetivos para controlar o problema da sistema, deve fazer parte do projeto, só assim é possível
salinidade consiste na lixiviação dos sais e no fazer uma retroalimentação de ações estratégicas que
rebaixamento do lençol freático, o que pode ser viabilizado possam ser implantadas no projeto.
aplicando-se uma lâmina de irrigação extra e construindo Manter uma produtividade satisfatória das culturas
sistemas de drenagem subterrânea, que possibilitem em áreas intensamente irrigadas, depende de uma
coletar e conduzir a água salina de drenagem para fora drenagem adequada. Em longo prazo, a sustentabilidade
da área irrigada. da atividade agrícola sem a drenagem é questionável, em
Sales et al. (2004) analisando o desempenho de um termos de se manter não só a integridade ambiental e o
sistema de drenagem subterrânea em área cultivada com lençol freático baixo mas, também, a própria
a cultura da videira no Ceará, constataram que embora o produtividade das culturas, devido aos riscos acelerados
sistema de drenagem reduziu os níveis de salinidade do de encharcamento e salinidade na zona radicular efetiva
solo, que antes da instalação da drenagem alcançava das culturas (Manguerra & Garcia, 1997). Esses riscos
valores de até 10 ds m-1 , para uma faixa de salinidade podem ser prevenidos por um controle melhor da água,
que não apresenta riscos para a cultura. assegurando-se que todo projeto de irrigação tenha uma
A fração da água de irrigação, que percola, drenagem adequada (Garcia et al., 1992; Datta et al.,
normalmente arrasta consigo sais solúveis, fertilizantes, 2000).
resíduos de defensivos e de herbicidas, nutrientes e outros
produtos químicos de modo que, o efluente da drenagem DIAGNÓSTICO DE PROBLEMAS
subterrânea constitui uma fonte de contaminação das DE DRENAGEM
águas, a jusante do perímetro irrigado Lima (1998).
Frota Júnior et al. (2007) investigando a influência O conhecimento e diagnóstico dos problemas de
antrópica na adição de sais no trecho perenizado da bacia drenagem agrícola têm como principal finalidade
hidrográfica do Rio Curu, Ceará concluíram que as maiores determinar a extensão da área com problemas de
alterações foram registradas quando as águas cruzavam drenagem, identificar as causas dos excessos de água,
perímetros irrigados e áreas urbanas, expressando a ação quantificar as entradas e saídas de água, a freqüência e
antrópica sobre a qualidade das águas superficiais na bacia duração das recargas, determinar a profundidade do
do Curu, sendo que o íon que apresentou maior incremento nível freático e sua relação com a precipitação e os
na sua concentração foi o sódio; níveis das águas superficiais da área de entorno.
Os impactos da irrigação na elevação da salinidade O diagnóstico compreende o estudo básico sobre o
das águas dos rios é destacada por Smedema & Shiati solo, precipitação, águas superficiais e subterrâneas, para
(2002) como um problema que ocorre quase sempre nas tanto é necessário o levantamento de dados da área por
áreas semi-áridas ou áridas e que está diretamente meio de fotografias aéreas, mapas topográficos e de
relacionada com a retirada da água, de boa qualidade, do solos, e dados de clima, cultivos,
rio para atender a irrigação e o retorno da água de O levantamento topográfico deverá fornecer
drenagem salina para o rio, ocasionando a degradação da informações sobre a localização de pontos de descarga
qualidade da água a juzante da área irrigada. do sistema de drenagem subterrâneo. A partir desta
372 Vera L.A. de L. et al.

análise, sendo necessário implantação de um sistema de A B


drenagem deverá ser realizado levantamento com escala
adequada à área analisada; curvas de nível adequadas ao
relevo / natureza do terreno; delimitação do terreno,
demarcando as vias de entorno; referências topográficas
e geográficas: edificações, cercas, estradas, caminhos e
no mínimo dois pontos de referência com as respectivas
cotas, de fácil identificação no campo, para verificação
do levantamento topográfico; delimitação das áreas onde
ocorre vegetação de maior porte, se houver;
detalhamento dos acidentes topográficos e geográficos
levantados em campo.

Profundidade do lençol freático


Para um tratamento adequado dos problemas de
drenagem é necessário o conhecimento das flutuações do
nível freático no espaço e no tempo. A profundidade do
lençol freático pode ser determinada através do uso de
poços de observação, piezômetros, sendo o poço de
observação o mais utilizado nas pesquisas de drenagem.
A partir dos dados da profundidade do lençol em 16 16

relação à superfície do terreno são construídos mapas de 14 14

isoprofundidade, ISOBATAS (profundidade do lençol) 12 12

Figura 1A. Este é o mapa mais importante para mostrar 10 10

áreas com problemas de drenagem subterrânea. 8 8

Os mapas de elevação do Lençol freático em relação 6 6

4 4

a um plano de referência ou de ISOHYPSAS, Figura 1B 2 2

fornecem dados de: gradiente hidráulico, direção do fluxo, 0


0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

área de recarga ou descarga e o valor relativo da Figura 1. (A) Mapa de Isobatas; (B) Mapa de Isoypsas
condutividade hidráulica.

Poços de observação
São poços perfurados com trado manual, revestidos
ou não com tubos de 1 a 2 polegadas, perfurados ou
ranhurados de modo a permitir a entrada da água do
lençol freático, devem ser envelopados com tela de
material sintético. Recomenda-se deixar uma sobra no
tubo a partir da superfície do terreno de 0,50 m e usar um
tampão na extremidade superior.
Entretanto, devido à sua simplicidade podem sofrer
obstruções e outros efeitos destrutivos que os inutilizam
especialmente se o solo for instável. Assim convém tomar
certos cuidados a fim de preservar a sua funcionalidade
por um tempo prolongado. A Figura 2 mostra o esquema Figura 2. Esquema de um poço de observação
de um poço de observação.
Para se conhecer a situação do lençol freático em a seguinte densidade de pontos de observação em função
uma área são necessárias informações de vários pontos da área (Tabela 1), segunda Ridder (1974).
motivo pelo qual se deve instalar uma rede de poços na As medições da profundidade do lençol freático
área em estudo. Recomenda-se que sejam instalados em podem ser realizadas: semanais, quinzenais ou mensais,
locais de fácil acesso em qualquer tempo e sua posição dependem do objetivo do estudo, pode ser utilizada uma
deve ser imediatamente identificada a fim de não sonda que emita um som ao entrar em contato com a
prejudicar a coleta sistemática de dados. Recomenda-se água ou uma sonda elétrica, entre outros.
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 373

Tabela 1. Número de poços de observação por área constante de proporcionalidade entre o gradiente e o
Área (ha) Número de Pontos de Observação fluxo de um meio poroso.
100 20 A determinação de K 0 pode ser feita através de
1.000 40 métodos de laboratório e de campo, em que os de
10.000 100 laboratório mais usuais, são: permeâmetro de carga
100.000 300 constante e carga variável. Os métodos de campo, são
mais precisos, tendo em vista o maior volume de solo
Os níveis de água de superfície em contato com a considerado sem alteração da sua estrutura. No campo,
água subterrânea não podem ser esquecidos nesse tipo destacam-se os métodos que usam o princípio do fluxo
de levantamento. A água de um curso natural é contínuo, como o furo de trado (poço), os de fluxo
alimentada basicamente pelo lençol freático. Quando isso constante, sendo que o princípio do fluxo contínuo é mais
ocorre continuamente, o curso é perene ou efluente. utilizado; os mais aplicados são o do furo de trado (não
Quando o nível freático é rebaixado durante certo tempo, aconselhado para solos arenosos) e o método de Porchet,
o curso passa a ser intermitente ou afluente. A também conhecido como método inverso, uma vez que
verificação do nível de um curso d’água ou lago que mede a K0 na ausência do lençol freático (Barreto et al.,
estejam em contato com o lençol freático é de grande 2004).
utilidade. Os métodos de laboratório apresentam o
Farias (1999) avaliando a profundidade do lençol inconveniente de usarem amostras de tamanho reduzido,
freático no Perímetro irrigado de São Gonçalo-PB, e, portanto, representativas de pequeno volume de solo.
verificou que aproximadamente 80% da área avaliada, Os métodos de campo, são mais precisos, tendo em vista
encontrava-se com o lençol freático próximo a superfície, o maior volume de solo considerado sem alteração da
indicando a necessidade de implantação de um sistema sua estrutura.
de drenagem na área. Não sendo possível, medir a condutividade hidráulica,
Com base no diagnóstico, deverão ser identificadas e valores de referencia podem ser encontrados em livros
apresentadas as áreas de solo que necessitam a de drenagem em função do tipo de solo (Tabela 2).
implantação de sistema de drenagem subterrânea,
imediata, ou seja, juntamente com a implantação do Tabela 2. Valores de condutividade hidráulica para solos de
projeto de irrigação; áreas que poderão necessitar diferentes texturas
drenagem subterrânea após o início da irrigação da área Tipo de Solo Condutividade Hidráulica (m dia-1)
e áreas que não necessitarão de drenagem subterrânea, Textura fina < 0,036
Textura media 0,036 - 1,560
mesmo após a introdução de irrigação.
Textura grossa 1,560 - 3,000
Turfa 3,000 - 6,000
Condutividade hidráulica do solo Fonte: Silveira (1992)
Back et al. (1990) afirmam, que para a aplicação das
equações de drenagem, deve-se conhecer a No Perímetro irrigado de São Gonçalo-PB (Barreto
condutividade hidráulica do solo saturado, a et al., 2004) constataram grandes variações espaciais,
macroporosidade, a estratigrafia do perfil, os parâmetros horizontal e vertical, nos valores da condutividade
geométricos do sistema, o critério de drenagem e a hidráulica saturada, no solo aluvial estudado atribuídas,
recarga do lençol freático; entretanto, essas variações em parte, à gênese e à evolução do solo local, devido aos
processos de sedimentação aluvial. O autor sugere, um
podem, também, estar associadas a efeitos de outros
estudo mais detalhado em campo, utilizando-se um
parâmetros físicos de solo. A condutividade hidráulica
método mais abrangente como o da descarga dos
depende da textura, do arranjo das partículas (estrutura),
drenos, agregando-se a condutividade hidráulica a outros
da dispersão das partículas finas e da sua densidade, e
parâmetros físicos de solo, estudados para fins de
da massa sólida. drenagem.
Entre os parâmetros físicos de solo para fins de
drenagem, a condutividade hidráulica do solo saturado K0, Porosidade
medida no campo, tem a maior importância no A Porosidade total (P) é o nome dado à porção do solo
dimensionamento e planejamento da drenagem interna, não ocupada por sólidos. Essa porção varia de 30 a 60%
particularmente importante quando se busca a eficácia do (0,3 a 0,6). Em geral solos arenosos são menos porosos,
domínio hidrológico para uma decisão correta dos embora seus poros sejam maiores. A porosidade total
critérios de drenagem, em termos de espaçamento entre exerce influência sobre a retenção de água no solo,
drenos, uma vez que o valor de K 0 representa a aeração e enraizamento das plantas.
374 Vera L.A. de L. et al.

A porosidade drenável ou macroporosidade (), salinização dos solos. Nas regiões semi-áridas a definição
representa a proporção de macroporos responsáveis pela dos critérios de drenagem deve conjugar a manutenção
drenagem e aeração do solo Pizarro (1978) e Beltran de uma profundidade que permita condições adequadas
(1986) definem a porosidade drenável como uma fração de aeração na zona radicular dos cultivos, o atendimento
da porosidade total na qual a água se move livremente, a necessidade de lixiviação e minimizar a capilaridade
cujo valor equivale ao conteúdo de ar presente no solo das águas salinas Sarwar et al. (2000).
na capacidade de campo. Em condições de regime
variável a porosidade drenável é utilizada, juntamente ENVOLTÓRIOS
com a condutividade hidráulica do solo saturado (K), para
cálculo do espaçamento entre linhas de dreno. A operação dos sistemas de drenagem requer o
A determinação da porosidade drenável em campos controle do carreamento de partículas do solo, pela água
experimentais de drenagem ou em modelos reduzidos de para o interior do tubo drenante, este transporte de solo
laboratório pode ser feita através de medições pode reduzir significativamente a eficiência do sistema de
simultâneas de descarga de drenos (q) e cargas drenagem. Para o controle deste problema recomenda-
hidráulicas (h). Os resultados obtidos por este se o emprego de envoltório apropriado ao tipo de solo e
procedimento são mais representativos das condições tubo utilizado (Dierickx & Yuncuoglu, 1982).
reais estudadas, por envolver um volume maior de solo Stuyt & Dierickx (2004) enfatizam que o envoltório
nas determinações, o que contribui para a redução da deve ser usado não apenas para proteger o sistema de
variabilidade espacial dos dados (Queiroz, 1997). drenagem da entrada de partículas de solo, mas também
para facilitar a entrada da água nos drenos em razão da
CRITÉRIOS DE DRENAGEM maior permeabilidade que esses materiais criam em torno
da tubulação.
Segundo Oosterbaan (1988) os critérios de drenagem O envoltório pode ser constituído de material mineral,
devem ser definidos para períodos longos, levando-se em sintético ou orgânico (Batista et al., 1998). Materiais
conta a produção da cultura, o solo, o período crítico, e, orgânicos, inclusive resíduos como palhas de arroz, fibras
se possível, obter dados em campos pilotos vizinhos; de coco e folhas podem ser usados como envoltórios,
definir a profundidade do lençol freático mais elevada muitos desses produtos tem apresentado segundo Stuyt
durante o período crítico; fazer um balanço d’água para & Dierickx (2004) desempenho hidráulico superior aos
estes locais e determinar a taxa de descarga nos drenos, materiais utilizados comercialmente.
a cada mês, calculando-se também a descarga média no Almeida (2005) avaliando os envoltórios em manta
período crítico. bidim OP-20, brita zero e espuma encontrou um
Se o regime de fluxo da água para os drenos é desempenho hidráulico satisfatório, Os envoltórios de sisal
constante, o primeiro critério consiste em adotar uma e raspas de borracha provenientes de sandálias inibiram,
descarga específica, s, de forma que o nível freático visualmente, a entrada de partículas do material poroso
permaneça estacionário. O segundo critério estabelece para o interior dos tubos Drenoflex, PVC liso e Kananet
que a profundidade mínima do lençol freático no ponto sendo o envoltório em brita zero superior, seguido do
médio entre dois drenos consecutivos. Se a recarga é material espuma. O autor salienta que a espuma, produto
variável a adoção de critérios de regime permanente sintético à base de poliuretano, pode ser utilizada como
levaria a adoção de sistemas muito densos de custo opção para material envoltório na drenagem,
elevado. Neste caso assevera Beltrán (1986) pode-se apresentando, inclusive, desempenho hidráulico superior
armazenar a água no espaço poroso drenável do solo ao envoltório em manta bidim OP-20.
acima do nível de drenagem, para reter parte da água
que percola. Sarwar et al. (2000) avaliando parâmetros APLICAÇÃO DE MODELOS
hidráulicos em projetos de drenagem no Paquistão NA DRENAGEM AGRÍCOLA
identificaram como principal causa da baixa eficiência
dos sistemas o estabelecimento de critérios baseados Um modelo pode ser considerado como uma
em regime permanente deixando de considerar as representação simplificada da realidade, auxiliando no
condições hidrológicas de campo que eram de regime entendimento dos processos que envolvem esta
variável. realidade. Os modelos estão sendo cada vez mais
A posição ótima do lençol freático depende da relação utilizados em estudos ambientais, pois ajudam a entender
entre o nível freático e a produção dos cultivos, a o impacto das mudanças no uso da terra e prever
trafegabilidade de máquinas agrícolas e os riscos de alterações futuras nos ecossistemas.
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 375

Modelos computacionais podem ser utilizados para Precipitação Irrigação


Escoamento
embasar decisões na agricultura. Há décadas, o Superfície
superficial Infiltração
desenvolvimento de modelos vem sendo incentivado para Evapotranspiração do solo
lidar com a complexidade inerente ao planejamento e Zona
radicular
manejo de sistemas de irrigação e, ou drenagem,
Percolação
decorrente do grande número de variáveis e processos Fluxo
ascendente Lençol
envolvidos no sistema solo-planta-atmosfera. Estrato
freático
No escopo da agricultura irrigada, modelos de Dreno Dreno semipermeável
simulação são aqueles nos quais são considerados, de
forma contínua, os efeitos e interações dos processos que Drenagem Drenagem
governam os estados do sistema solo-agua-planta-
atmosfera ou de seus subsistemas (Borges Júnior et al., Sípege
2008). Podem computar o fluxo de água e solutos no
solo e incluir o termo de ascensão e extração da água, Estrato
diferindo quanto às aproximações conceituais, grau de permeável
complexidade e aplicações em pesquisas e propostas de
Estrato
manejo (Tarjuelo & Juan, 1999). De modo geral, as impermeável
aplicações empregam dados meteorológicos (séries
históricas), solo, culturas, manejo de irrigação, Figura 3. Representação esquemática do balanço hídrico na
configurações de sistemas de drenagem. Dados zona radicular e do movimento de água abaixo da zona
financeiros podem também serem requeridos em alguns radicular, considerando-se a drenagem artificial
casos.
Geralmente, modelos mais sofisticados envolvem Vinculado ao balanço hídrico, o balanço de sais tem
maior quantidade de processos descritos e, sido utilizado em modelagem (Prajamwong et al., 1997;
conseqüentemente, maior requerimento de dados de Cai et al., 2003; Borges Júnior, 2004) para monitorar
entrada, devendo-se considerar, na escolha do modelo, os tendências na variação da salinidade em longos períodos
objetivos do estudo em questão e recursos disponíveis. em projetos de irrigação, em larga ou pequena escala,
Diversos modelos computacionais têm sido propostos conforme discutido por Or & Wraith (1997).
para simular processos em sistemas agrícolas sujeitos à A aplicação destes modelos ao delineamento de
irrigação e, ou drenagem. Entre as aproximações sistemas de drenagem em áreas irrigadas de regiões
implementadas nesses modelos, cita-se o balanço hídrico áridas ou semiáridas requer que a dinâmica de sais na
na zona radicular e as soluções numéricas da equação de zona radicular seja considerada, o que permitirá
Richards para escoamento combinado em meio saturado inferências acerca do impacto da salinidade, aliada ao
e não-saturado, em uma, duas ou três dimensões (Skaggs, déficit hídrico, sobre a produtividade de culturas.
1999). Enquanto na primeira categoria se tenha, Modelos computacionais como o DRAINMOD-S
comumente, o balanço de sais vinculado ao balanço hídrico (Kandil et al., 1992; Wahba & Christen, 2006) e o MCID
na zona radicular, aproximações numéricas da equação (Ferreira et al., 2006; Borges Júnior et al., 2008) são
de convecção-dispersão (ECD), relativa ao transporte de exemplos.
solutos no solo, são, geralmente, empregadas em modelos Sendo o movimento de sais dependente do
baseados na equação de Richards. movimento de água no solo, uma abordagem simples
para a dinâmica de sais na zona radicular consiste em
Modelagem com base no balanço hídrico e de sais vincular o balanço de sais ao balanço hídrico. O balanço
na zona radicular de sais na zona radicular para uma área irrigada pode ser
O balanço hídrico na zona radicular é um dos expresso pela Eq. 1:
procedimentos básicos implementados em vários modelos
de simulação aplicáveis como ferramentas de decisão em c Arm , t Arm t  c Arm, t 1A rm t 1  c I, t I t  c FA , t FA t 
irrigação e drenagem, como o DRAINMOD (Skaggs, c TR , t TR t  c PP , t PPt (1)
1981), o SISDRENA (Miranda, 1997) e o MCID (Borges
Júnior et al., 2008). Juntamente com o monitoramento do
teor de água do solo e de dados climáticos, o balanço em que:
hídrico, esquematizado na Figura 3, pode ser empregado cArm - concentração de sais na solução do solo,
no manejo da irrigação e no cálculo de suas componentes, kg m-3;
como a evapotranspiração real e a percolação profunda. t - inteiro representando o intervalo de tempo;
376 Vera L.A. de L. et al.

Arm - lâmina armazenada na zona radicular, m; K(h) - condutividade hidráulica do meio não-
cI - concentração de sais na água de irrigação, saturado, m dia-1.
-3
kg m ;
I - lâmina de irrigação, m; Dividindo-se o perfil do solo em incrementos z, a
cFA - concentração de sais na água freática, Eq. 2 pode ser escrita na forma de diferenças finitas,
kg m-3; como
FA - fluxo ascendente oriundo do lençol freático
(ascensão capilar), m; h i 1  h i
q  K(h i )  K(h i ) (3)
c TR - concentração média de sais na solução Δz
absorvida pelas plantas, kg m-3;
Tr - transpiração real, m;
Explicitando-se a equação acima para hi+1, obtém-se
cPP - concentração de sais na solução percolada,
kg m-3;
Δz
PP - percolação profunda ou lâmina percolada h i 1  h i  Δz  q (4)
K(h i )
para abaixo da zona radicular, m.

É usual considerar que a retirada de sais pelas plantas Nas Eqs. 3 e 4, os valores de h são negativos, assim
é desprezível, ou seja, que cTR é igual a zero. Porém, esta como os valores de q, visto que o eixo de coordenadas
componente pode ser significativa, já que reflete a vertical é orientado para baixo.
absorção de nutrientes, como o potássio, pelo sistema O procedimento para obtenção de valores de
radicular. Vale também notar a capacidade de algumas profundidade do lençol freático correspondentes a
espécies, por exemplo, as do gênero Atriplex (erva sal), determinados valores de fluxo ascendente máximo (qmax)
com notável capacidade de desenvolvimento em consiste das seguintes etapas:
ambientes salinos, bem como de dessalinização de solos.
i. Obter as funções K() e (h) para o solo em
O balanço hídrico em áreas de lençol freático raso
questão, em que  é o teor de água em base volumétrica
requer a estimativa do fluxo ascendente proveniente do
(m3 m-3).
lençol freático (escoamento na região não saturada do
ii. Estabelecer valores de q = qmax, para os quais serão
perfil do solo), que chega à base da zona radicular. Esta
estimativa pode ser baseada na curva característica do calculadas as respectivas posições do lençol freático.
solo, evapotranspiração real da cultura e profundidade do iii. Considerar, como condição de contorno, que o teor
lençol freático. Procedimentos numéricos similares aos de água do solo, junto ao plano que passa pela base da
descritos por Skaggs (1981), Duarte (1997) e Borges zona radicular, é baixo em relação à capacidade de
Júnior (2004), possibilitam a determinação de valores campo. Sugere-se que este valor seja -5 mca (-50 kPa).
máximos do fluxo ascendente, para cada profundidade do A consideração de um baixo valor de potencial matricial
lençol freático em relação à base da zona radicular. Estes na base da zona radicular é empregada visando calcular
procedimentos são relativos à condição de regime o fluxo ascendente máximo, já que quanto menor o valor,
permanente. maior será o fluxo.
A equação para o fluxo ascendente, em qualquer iv. Calcular h2 pela Eq. 4, utilizando o valor de K(-5)
ponto abaixo da zona radicular, pode ser obtida a partir e um dos valores de qmax já estabelecidos.
da Darcy-Buckingham, dada por v. Calcular h3, utilizando o valor de K(h2) na Eq. 4 e,
assim, sucessivamente.
q   K h   K h 
dh
(2)
dz A posição do lençol freático, correspondente ao valor
de qmax utilizado e tendo como referência a base da zona
em que: radicular, é aquela para a qual o valor de h = 0.
q - fluxo ascendente oriundo do lençol freático, A aplicação da técnica acima descrita requer o
-1
m dia ; conhecimento da relação funcional entre condutividade
z - coordenada vertical, positiva para baixo, m; hidráulica e potencial matricial, que pode ser obtida a
h - carga de pressão, m (somatório das partir da curva característica. Considerando que a carga
componentes de pressão e matricial do potencial total da de pressão, h, é igual ao potencial matricial, m, pode-se
água no solo; para meio não saturado, portanto, equivale utilizar o modelo de Genutchen (1980) e Mualem (1976)
ao potencial matricial); para estas funções.
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 377

A função (m), conforme descrita pelo modelo de Hydrus1-D (Simunek et al., 2005), com base apenas em
Genuchten (1980), é expressa por: classes texturais.

θS  θ r Tabela 3. Parâmetros dos modelos de Genuchten e Mualem


θ(Ψ m )  θ r 
1  αΨ 
(5) para curva característica e condutividade hidráulica de
n m
m solo não saturado
S r  Kvo
Solo n
(m m )
3 -3 (cm -1
) (m dia-1)
em que:
(m) - teor de água como função do potencial Argiloso 0,4588 0,0982 0,015 1,2529 0,1475
Franco 0,3991 0,0609 0,0111 1,4737 0,1204
matricial m (m), m3 m-3;
Franco
r - teor de água residual do solo, m3 m-3; arenoso
0,3870 0,0387 0,0267 1,4484 0,3825
S - teor de água do solo saturado, m3 m-3;
 - parâmetro com dimensão igual ao inverso
-1 Com os dados presentes na Tabela 1, utilizou-se o
da tensão, m ; e
programa MCID (Borges Júnior et al., 2008) para obter a
n, m - parâmetros adimensionais, em que
variação do fluxo ascendente máximo para diferentes
m = 1-1/n.
profundidades do lençol freático, conforme apresentado na
Figura 4. Na figura, verifica-se que, para uma profundidade
Genuchten (1980) utilizou o modelo estatístico de
do lençol freático igual a 0,5 m, os fluxos ascendentes
distribuição de tamanho de poros de Mualem (1976) para
máximos serão iguais a 6,7, 16,8 e 4,7 mm dia-1, para os
obter uma equação para estimativa da função de
solos argiloso, franco e franco arenoso considerados,
condutividade hidráulica em meio não saturado em
respectivamente, indicando diferentes potencialidades de
termos de parâmetros da retenção de água no solo:
carreamento de sais para a zona radicular.

 
2
K θ   Kvo S ej 1  1  S1/m
m 25

 e  (6)
dia ) dia )
-1

20
-1
máximo (mm(mm

em que:
Fluxo ascendente máximo

15

K() - condutividade hidráulica do solo não-


saturado, em função do ao teor de água , m dia-1;
Fluxo ascendente

10

Kvo - condutividade hidráulica vertical do solo


saturado, m dia-1; 5

Se - teor de água efetivo, adimensional; e


j - parâmetro relativo à conectividade de 0
poros, adimensional. 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Profundidade do lençol freático (m)
Profundidade do lençol freático (m)
Argiloso Franco Franco arenoso

O teor de água efetivo, Se, é dado por Figura 4. Fluxo ascendente máximo para diferentes
profundidades do lençol freático
θΨ m   θr 1
Se  
1  αΨ 
(7)
θ S  θr n m Modelagem com base na equação de Richards (ER)
m
e na equação de convecção-dispersão (ECD)
Lorenzo Adolph Richards (1904–1993) formulou, em
O parâmetro j foi estimado em 0,5, representando 1931, uma equação que governa a dinâmica da água em
uma média obtida para muitos solos (Mualem, 1976; solos não saturados. Trata-se de uma equação diferencial
Simunek et al., 2005). não linear, não tendo, de modo geral, solução analítica.
A aplicação dos procedimentos acima descritos Portanto, requer-se o uso de métodos numéricos para
possibilita verificar, para diferentes solos, o fluxo obtenção de soluções.
ascendente máximo. Para fins de ilustração, estes Em uma dimensão, a equação de Richards (ER) pode
procedimentos foram executados para três tipos de solo, ser expressa por:
cujas características apresentadas na Tabela 3 foram
obtidas por meio do modelo computacional de θ h   h 
 C(h)   K(h)  K(h)  S(h) (8)
pedotransferência Rosetta, implementado no programa t t z  z 
378 Vera L.A. de L. et al.

em que C(h) é a capacidade hídrica específica em função A modelagem em duas ou três dimensões, embora
da carga de pressão, z e t são, respectivamente, as tenha maior requerimento computacional, aplica-se
variáveis de posição e tempo, K(h) é a relação funcional prontamente às zonas saturadas e não saturadas do solo.
entre condutividade hidráulica e carga de pressão e S(h) Permite a consideração adequada da heterogeneidade do
é o termo fonte ou sumidouro de água, que pode ser solo e fluxo preferencial, bem como uma representação
usado para representar a retirada de água pelas raízes de mais realística de estruturas, como drenos e linhas
plantas. subsuperficiais de irrigação, implantadas no sistema a ser
Generalizando para três dimensões, a ER é descrita estudado.
como: Segundo McWhorter & Marinelli (1999), alguns
autores tem empregado simplificações do modelo físico-
θ K z (h)
 .K (h)h  
matemático considerando separadamente o fluxo nas
 S(h)  div q  S(h) (9)
t z zonas não saturada e saturada. Um exemplo é o
programa CSUID (Garcia et al., 1995; Mangerra e
em que K é o tensor condutividade hidráulica, Kz(h) é a Garcia, 1995), em que o fluxo é calculado na zona não
condutividade hidráulica na direção z em função de h, div saturada aplicando-se a equação de Richards na forma
é o operador divergente e q é o vetor fluxo. unidimensional, vinculado à zona saturada em que o a
A equação de convecção-dispersão (ECD), para dinâmica de água é modelada bidimensionalmente pela
transporte de solutos, pode ser escrita como: aplicação da equação de Boussinesq. Em ambas as
zonas, a dinâmica de solutos é modelada pela equação de
θc  convecção-dispersão.
 .cq  θD.c   c' (10) O SWATRE é um modelo para escoamento transiente
t
vertical no solo. O modelo inclui um termo sumidouro
para extração de água pelas raízes e duas funções para
em que escoamento em direção aos drenos. Uma versão mais
c - concentração de soluto, kg m-3; avançada incorpora o transporte de soluto. A vantagem
q - vetor fluxo, m h-1;
desta aproximação é que ela é baseada numa teoria
D - tensor do coeficiente de dispersão, cm2 h-1; e
robusta para movimento vertical de água na zona não-
c’ - termo fonte ou sumidouro, kg m-3 h-1.
saturada. Como a maior parte do movimento de água em
meio não-saturado tende a ocorrer em direção vertical,
Como exemplos de modelos baseados em soluções
mesmo com drenos no solo, esta aproximação pode
numéricas da equação de Richards e da equação de
fornecer estimativas realistas das condições de solo
convecção-dispersão (ECD), fora do País, cita-se:
acima do lençol freático. Outra vantagem do modelo é a
SWATRE (Belmans et al., 1983), CSUID (Garcia et al.,
1995) e Hydrus (Rassam et al., 2003; Hassam et al., possibilidade de sua aplicação para solos sem lençol
2005; Simunek et al., 2005; Simunek et al., 2008), este freático. Devido o SWATRE combinar conceitos de
último talvez o mais difundido atualmente no âmbito escoamento de água no solo, salinidade do solo e
global. drenagem, ele pode ser usado para analisar problemas de
Abordagens em uma, duas ou três dimensões são excesso de água e salinidade em agricultura irrigada
verificadas em modelos desta categoria. A modelagem (Skaggs, 1999; Tarjuelo & Juan, 1999).
em uma dimensão tem como vantagem o menor O modelo computacional Hydrus-1D (Simunek et al.,
requerimento computacional, em termos de memória e 2005) simula o movimento de água com base na
capacidade de processamento, e menor requerimento de equação de Richards, o transporte de calor e de solutos,
dados. O fluxo na zona saturada na base do perfil em uma dimensão, em regime variável. No modelo
(condição de contorno de base) pode ser calculado por Hydrus-2D (Rassam et al., 2003; Hassam et al., 2005)
meio de relações entre fluxo de drenagem e nível o movimento de água, calor e transporte de solutos são
freático. Outras vantagens como robustez nos tratados em duas dimensões. Recentemente foi
procedimentos numéricos e disponibilidade de dados disponibilizada a versão Hydrus-2D/3D, para modelagem
hidrodinâmicos do solo são citadas por Dam et al. tridimensional.
(2004). Como desvantagens, estes autores citam a O pacote Hydrus-2D é constituído pelo programa
validade apenas para a região não saturada do solo e a computacional Hydrus2 e pela interface gráfica
necessidade na utilização de parâmetros médios para Hydrus2D, que facilita sua utilização. Resolve,
tratamento da heterogeneidade do solo e do fluxo numericamente, a equação de Richards para escoamento
preferencial. em meio saturado e não saturado, e a equação de
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 379

convecção-dispersão para transporte de calor e solutos. No modelo DRAINMOD-S, a resposta geral da


A equação regente do movimento de água incorpora um cultura é calculada por (Skaggs, 1999):
termo sumidouro para considerar a extração de água por
raízes. A equação de transporte de solutos considera o Y
YR   YRW * YRD * YRS * YRP (11)
transporte convectivo-dispersivo na fase líquida e a Yp
difusão na fase gasosa. Neste modelo, as equações
diferenciais são resolvidas numericamente por esquemas
de elementos finitos do tipo Galerkin (Segerlind, 1984; em que
Gerald e Wheatley, 2003). Um recurso importante é a YR - produtividade relativa total, decimal;
inclusão do algoritmo de Marquardt-Levenberg para Y - produtividade real, kg ha-1;
obtenção, por meio de estimativa inversa, de parâmetros Yp - produtividade potencial, kg ha-1;
hidráulicos do solo e, ou parâmetros de transporte de YRW - produtividade relativa, caso ocorra
solutos, a partir de dados observados para variáveis de estresse devido somente ao excesso de água no solo,
estado em escoamentos sob regimes transientes e decimal;
permanentes. YRD - produtividade relativa, caso ocorra
No Brasil, o desenvolvimento de modelos estresse devido somente ao déficit hídrico, decimal;
computacionais, baseados em soluções numéricas de YRS - produtividade relativa, caso ocorra
equações diferenciais relativas ao movimento de água no estresse devido somente à salinidade, decimal; e
solo e ao transporte de solutos teve início ao final da YRP - produtividade relativa, caso ocorra perdas
década passada. Cita-se, dentre outros voltados para de produtividade devido a atraso nas operações de
aplicações na agricultura, os trabalhos de Costa (1998; plantio em decorrência de umidade elevada do solo,
modelo SIMASS), Oliveira et al. (2000; modelo MTSES), decimal.
Miranda (2001); Miranda et al. (2005; modelo MIDI) e
Corrêa et al. (2006; modelo SIMASS-C). No modelo
No DRAINMOD-S, tanto YRW quanto YRD são
SIMASS-C levou-se em consideração também a
calculados com base no índice diário de estresse
presença de sistema radicular ativo. As aproximações
(Hardjoamidjojo et al., 1982; Evans & Fausey, 1999),
numéricas mais empregadas das equações diferenciais
IDS, que é a soma, ao longo do período de cultivo, do
parciais envolvidas são baseadas nos métodos de
diferenças finitas (Costa, 1998; Oliveira et al., 2000; produto do fator diário de estresse, por meio do qual se
Corrêa et al., 2006) e volumes finitos (Miranda et al., quantifica a magnitude e duração do estresse, pelo fator
2005; Rivera et al., 2006). de susceptibilidade da cultura em cada fase fenológica.
O método de elementos finitos (MEF), implementado Já a resposta da cultura à salinidade emprega relações
no pacote Hydrus, é uma técnica numérica empregada similares à apresentada por Allen et al., (1998).
na solução de equações diferenciais, especialmente as No modelo computacional MCID, o estresse devido
parciais (EDP), como a equação de Richards e a à salinidade e ao déficit hídrico são baseados na seguinte
equação de convecção-dispersão (ECD). Uma relevante relação, preconizada por Allen et al., (1998):
vantagem do MEF sobre outros métodos, como o de
diferenças finitas, é a adequabilidade no tratamento de  Y   ETr 
1    Ky1   (12)
regiões com geometria complexa, ou seja, com contornos  Yp   ETp 
irregulares.

Critérios de dimensionamento implementados na em que


modelagem Ky - fator de resposta da cultura, decimal;
Em ambas as categorias de modelagem, a dinâmica ETr - evapotranspiração real, mm, somada para
de água e solutos na zona radicular deve ser relacionada uma fase fenológica ou para o ciclo;
com funções quer permitam estimar o impacto do déficit ETp - evapotranspiração potencial, mm, somada
hídrico e de sais sobre a produtividade de culturas. Em para uma fase fenológica ou para o ciclo;
áreas sujeitas a períodos de elevado lençol freático, com
invasão total ou parcial da zona radicular, o estresse O cálculo de ETr leva em consideração os estresses
sujeito ao excesso de água também deve ser devido à salinidade e ao déficit hídrico, conforme Allen
considerado. Por meio da produtividade, pode-se, então, et al. (1998), por meio do cálculo de coeficientes de
verificar quais configurações de drenagem (espaçamento estresse devido à salinidade e ao déficit hídrico, aplicados
e profundidade de drenos) são mais apropriadas. diariamente. O estresse devido ao excesso de água é
380 Vera L.A. de L. et al.

calculado de modo similar ao implementado para o avaliados. A profundidade de drenos considerada foi de
DRAINMOD-S (Borges Júnior et al., 2008). 1,2 m.
Comumente, modelos computacionais mecanísticos, O programa converte valores de condutividade
baseados nas equações de Richards e da convecção- elétrica, dS m-1, para concentração, mg L-1, usando uma
dispersão, não abrangem, dentre as variáveis de saída, relação de 700 (mg L -1) por dS m -1. Esta relação é
estimativas da produtividade. Contudo, estes modelos têm aproximada, dependendo da composição de íons
algoritmos implementados que visam a estimar o impacto verificada (Rhoades et al., 1992).
de condições no ambiente da zona radicular sobre a Na Figura 5 apresenta-se a variação da salinidade na
evapotranspiração. Assim, por meio de relações como zona radicular ao longo do primeiro ano da modelagem,
aquela apresentada na Eq. 12, estimativas de simulada para os espaçamentos de 30 e 50 m.
produtividade podem também ser feitas. Em algumas Observam-se maiores concentrações para o
versões do Hydrus e no SWATRE, a extração de água espaçamento de 50 m, conforme esperado, já que
pelas raízes é feita empregando a metodologia proposta maiores espaçamentos proporcionam menores
por Feddes et al. (1978, apud Simunek et al., 1999; profundidades do lençol freático e, consequentemente,
Skaggs, 1999). Nesta metodologia, a extração é maiores fluxos ascendentes que levarão sais presente na
dependente da carga de pressão h. zona saturada para a zona radicular.
A adoção de critérios financeiros tem sido também
7
uma opção para projeto de sistemas de drenagem. A
6
análise financeira abrange o cálculo de produtividade,
Salinidade (kg m -3)
5
com base em dados climáticos, solos e de cultura. Além 4
disso, permite identificar, por meio do fluxo de caixa ao 3
longo da vida útil do projeto, combinações de 2
espaçamento e profundidade de drenos que otimizem o 1
retorno financeiro. Critérios de avaliação de projeto, 0

como o valor presente líquido, podem ser empregados. 0 50 100 150 200 250 300 350 400
Dia do ano

L = 30 m L = 50 m
Exemplo de aplicação
Figura 5. Variação da salinidade na zona radicular para o ano
Será apresentada, a fim de ilustração, a aplicação do
de 1978 e espaçamentos entre drenos iguais a 30 e 50 m
modelo MCID para determinação do espaçamento entre
drenos, considerando dados de clima e solo obtidos por
Andrade et al. (2008) no perímetro de irrigação do De todos os espaçamentos avaliados, aquele indicado
Gorutuba, no Norte de Minas Gerais. Neste perímetro para o projeto foi o de 30 m, que proporcionou maior
são observados processos de salinização em algumas retorno financeiro, com base no critério do valor presente
áreas com lençol freático pouco profundo. líquido. Neste exemplo, este espaçamento também
Considerou-se o cultivo de milho, plantado em 15 de proporcionou a máxima produtividade relativa total, YR.
fevereiro. Foram utilizadas séries históricas de dados A variação de YRW, YRD, YRS e YR é apresentada na
Figura 6. Observa-se, como esperado, decréscimo em
diários de precipitação e evapotranspiração de referência
YRW e YRS e acréscimo em YRD com aumento no
de 1978 a 2003. Empregou-se dados de cultura obtidos
espaçamento entre drenos. YR, obtido pelo produto de
de Allen et al. (1998), inclusive para estimativa do
impacto na evapotranspiração real decorrentes de 100

estresse hídrico e salinidade. Assim, considerou-se uma 90


80
condutividade elétrica limiar no extrato da pasta saturada 70

do solo, CElimiar, igual a 1,7 dS m-1 e um coeficiente b de 60


(%)

50
redução na produtividade por acréscimo em CElimiar igual 40

a 12% (dS m-1)-1. Dados para cálculo do estresse devido 30


20
ao excesso de água foram obtidos de Duarte (1997). 10
0
Considerou-se cultivo irrigado, com turno de rega fixo 0 20 40 60 80 100
de sete dias e lâmina constante de 20 mm, bem com Espaçamento (m)

condutividades elétricas da água de irrigação e freática YRW YRD YRS YR

iguais a 2 e 3 dS m-1, respectivamente. Figura 6. Variação de produtividade relativas em resposta a


Testaram-se espaçamentos de 10 a 100 m, em estresse por excesso de água, YRW, déficit hídrico, YRD,
intervalos de 10 m, totalizando 10 espaçamentos salinidade, YRS e produtividade relativa total, YR
Drenagem agrícola no manejo dos solos afetados por sais 381

YRW, YRD e YRS, tem um máximo para o Duarte, S. N.; Ferreira, P. A.; Pruski, F. F.; Martinez, M. A.
espaçamento igual a 30 m. Modelo para avaliação de desempenho de sistemas de
drenagem subterrânea e cálculo de espaçamento de
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Dimensionamento de sistemas
21 de drenagem
Hermínio H. Suguino1 & José C. Barros2

1 Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba


2 Projetos Técnicos Ltda

Introdução
Drenagem superficial
Escoamento superficial
Tempo de concentração (Tc)
Duração das chuvas
Tempo de recorrência
Intensidade máxima de chuva (I)
Coeficiente de escoamento (c)
Seleção de chuvas
Fórmula Cypress-Creek
Fórmula de McMath
Cálculo da vazão de escoamento superficial pelo método das curvas-número
Cálculo para duração maior que o tempo de concentração
Dimensionamento de sistemas de drenagem
Seção mais eficiente de um dreno
Dreno parcelar
Obras complementares
Drenagem de áreas com altos teores de matéria orgânica
Escavação de drenos
Nomenclatura dos drenos
Conservação e manutenção de drenos
Cálculos de espaçamento entre drenos e dimensionamento de drenos subterrâneos
Cálculo de espaçamento entre drenos
Dimensionamento
Estudo de caso: Projeto irrigado Brígida
Referências
Anexo 1. Terminologia e simbologia em drenagem agrícola
Anexo 2. Quadro de quantitativos e custos
Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados
ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
384 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Dimensionamento de sistemas
de drenagem

INTRODUÇÃO Para bacias maiores que 50 ha, pode ser usada a


fórmula de McMath que contém fator de correção de
A implantação de sistemas de drenagem superficial área, evitando assim que a vazão aumente na mesma
e subterrânea, permite controlar os níveis de salinidade proporção que a área da bacia. Por outro lado, a fórmula
nos perfis dos solos, além de escoar os excessos d´água fornece valores muito baixos para bacias grandes,
em velocidades não erosivas e proteger estradas e digamos, aleatoriamente, da ordem de 800 ha.
estruturas de irrigação. Toda água de irrigação possui Valores mais confiáveis para bacias maiores que 50
pequenas quantidades de sais dissolvidos, que se não ha podem ser obtidos utilizando o método das curvas-
forem removidas proporcionalmente na mesma número, desenvolvido pelo Serviço de Conservação de
quantidade em que estão sendo adicionadas, o sal poderá Solos dos EEUU.
estar se concentrando, onde a partir de determinado nível Há ainda a possibilidade de uso da fórmula Cypress-
começa a ocorrer quebra de produção chegando até a creek que também será apresentada neste trabalho.
esterilização do solo. A terminologia e simbologia
frequentemente utilizada nos estudos de drenagem - Fórmula racional
agrícola estão resumidos no Anexo I.

DRENAGEM SUPERFICIAL

Escoamento superficial
É a parte da precipitação total, em uma área, que onde:
escoa sobre a superfície do terreno. Existem muitas Q - vazão (m3 s-1);
fórmulas que permitem fazer estimativas das descargas C - coeficiente de escoamento que é a razão entre
máximas de escoamento superficial em função das o volume de água escoado superficialmente e o volume
características da bacia, do seu uso e da intensidade de água precipitado (adimensional);
máxima de precipitação para a duração e recorrência I - intensidade máxima de chuva (mm h-1);
desejados. Como base deste trabalho foi escolhida a A - área da bacia (ha).
fórmula racional por ser de uso simples e prático. Esta
fórmula, por outro lado, superestima os resultados para Tempo de concentração (Tc)
bacias maiores que 50 ha. O motivo principal da É o tempo de deslocamento de uma partícula de água
obtenção de vazões altas é o fato da fórmula admitir do ponto mais distante de uma bacia até o ponto de saída
em seus princípios que a chuva é uniformemente desta. Neste momento toda bacia estará contribuindo
distribuída em toda a área da bacia, o que geralmente simultaneamente na formação da descarga máxima de
não acontece quando a chuva é do tipo convectiva, que escoamento.
comumente é bastante localizada, de alta intensidade Supõe-se, para efeito de cálculo, que a precipitação
e baixa duração. é uniforme em intensidade, em toda a bacia considerada
Dimensionamento de sistemas de drenagem 385

quando a duração da chuva é igual ao tempo de Tempo de recorrência


concentração. Tempo de recorrência ou período de retorno é o
Existe também um grande número de fórmulas de período em que uma determinada chuva apresenta a
cálculo do tempo de concentração (Tc); apresenta-se a probabilidade de ocorrer pelo menos uma vez. A título
seguir a fórmula de Kirpich, utilizado pelo U.S. Bureau de ilustração, uma chuva de 1 hora de duração e tempo
of Reclamation. de recorrência de 10 anos deverá ocorrer em torno de
10 vezes para cada 100 anos.
Os projetos de drenagem superficial são concebidos
geralmente para tempo de recorrência superiores a 5
anos. A decisão quanto ao período de recorrência de uma
determinada chuva deveria ser feita em função de um
balanço econômico entre os prejuízos anuais previstos,
provenientes de perdas agrícolas e danos a estruturas e
os custos anuais de escavação de drenos e construção
onde: de estruturas de maior capacidade.
Tc - tempo de concentração (min);
L - comprimento máximo percorrido pela água (m); Intensidade máxima de chuva (I)
H - diferença de altura entre o ponto mais distante De uma maneira geral, os valores de precipitações
e o ponto de saída da bacia (m). pluviométricas disponíveis no Brasil são provenientes de
leituras feitas com o emprego de pluviômetros, que
A declividade geral da bacia é dada pela fórmula fornecem somente leituras diárias.
S = H/L. Outra fórmula recomendada, por levar em Nos cálculos de vazões de escoamento superficial é
comum necessitar-se de valores de precipitação para
consideração a altitude média da bacia, é a de Giandotti,
durações que vão de frações de hora a algumas horas.
a seguir:
Este tipo de dado é fornecido por pluviógrafos, que
registram as alturas de precipitações em função do
tempo. Neste caso, de posse de registros de várias
estações para uma série de anos, pode-se preparar
tabelas ou curvas de intensidade-duração-frequência de
chuvas. Pfafstetter (1975) a partir de dados provenientes
em que: de pluviógrafos preparou, para muitas áreas do Brasil,
S - superfície da bacia (km2); uma série de curvas de alturas de precipitação para
L - comprimento da linha do talvegue (km); diversas durações e tempos de recorrência. Pode
Hm - altitude média da bacia (m); ocorrer que a área a ser estudada não esteja coberta
Ho - altitude no final do trecho (m). pelo seu trabalho e nem disponha de leituras provenientes
de pluviógrafos. Neste caso, se os únicos dados
Duração das chuvas disponíveis forem de leituras de pluviômetros, é
Tempo utilizado para a determinação da chuva de necessário que sejam empregados artifícios de cálculo
projeto em bacias que possuam áreas de acumulação da para transformar valores de chuvas diárias em chuvas
água. Pode ser igual ao tempo de concentração ou ao com duração de 24 h e chuvas de períodos inferiores,
tempo de drenagem. inclusive frações de hora. Torrico desenvolveu um
A duração das chuvas pode ser igual ou superior ao método capaz de fazer as transformações desejadas no
tempo de concentração, dependendo da existência de preparo de tabelas ou curvas, que permitam obter
área de acumulação de água dentro da bacia e também intensidades de chuvas para diversas durações e
da tolerância da cultura à inundação. frequências. Segundo Torrico, a metodologia a ser
Algumas culturas podem permanecer inundadas por adotada é a seguinte:
períodos de tempo que variam de algumas horas a dias, - Compilam-se para cada ano os dados das chuvas
como a cultura do arroz que tem mostrado tolerar máximas diárias dos postos pluviométricos da região do
períodos maiores podendo chegar a 6 dias, embora não projeto.
sejam conhecidas pesquisas nesse sentido. Na grande - Os projetos que abranjam regiões muito extensas,
maioria das vezes a duração das chuvas, para efeito de com climas diferentes, ou que contenham micro-clima,
projeto, é igual ao tempo de concentração. deverão ser subdivididos em sub-regiões.
386 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Tabela 1. Valores para converter alturas de chuva de 24 h em chuva de 1 h e chuva de 6 min

- Calcula-se, empregando qualquer método estatístico


(Hazen, Gumbel, Person, etc.) e, para cada estação
meteorológica, a chuva máxima de um dia para o tempo
de recorrência desejado. Para a conversão das chuvas
máximas diárias em chuvas com duração entre 6 min e
24 h, adota-se a seguinte metodologia.
- Converte-se a chuva de um dia em chuva de 24 h,
multiplicando-se a primeira pelo fator 1,10.
- Determina-se, através da Figura 1, a isozona na qual
a área do projeto se situa.
- Na Tabela 1 fixam-se, para a isozona do projeto e
para o tempo de recorrência previsto, as percentagens
para 6 min e 1 h.
- A partir dos percentuais para 1 h e para 6 min,
obtidos na mesma tabela e da chuva de 24 h (100%),
calcula-se as alturas de precipitação para 6 min e para
1 h.
- Delimitam-se, Figura 2, as alturas de chuva para
24 h, para 1 h e para 6 min de duração. Figura 1. Isozona de igual relação
- Liga-se a seguir os pontos para obter as alturas de
chuva versus duração em horas. Pode-se assim obter
as alturas de chuvas para qualquer tempo de duração
entre 6 min e 24 h.
- A partir da altura de chuva e sua duração obtém-
se a intensidade de precipitação em mm h-1.
Uma outra forma de solucionar o problema é aquele
que consiste em estimar diretamente a intensidade
Altura da chuva (cm)

máxima de chuva a partir, segundo Pires (1982), de


valores da precipitação máxima diária para o período de
recorrência desejado, o que pode ser feito empregando-
se a fórmula:

onde:
I - intensidade máxima de chuvas (mm h-1); Tempo de duração (h)
p - precipitação máxima diária (mm); Figura 2. Alturas de chuvas versus tempo de duração em
Tc - tempo de concentração (min). horas
Dimensionamento de sistemas de drenagem 387

Esta fórmula, recomendada por Pizarro para as Várias outras fórmulas poderão ser usadas para o
condições da Espanha, vem, de acordo com Pires (1982), cálculo do escoamento superficial sendo que a escolha
dando bons resultados na drenagem de várzeas do Estado desta ou daquela vai depender das informações
de Minas Gerais. O autor, no entanto, não apresenta uma hidrológicas existentes, da dimensão e forma fisiográfica
análise dos resultados obtidos, considerando as da área e do grau de precisão desejado.
recorrências utilizadas nos dimensionamentos dos drenos,
áreas das bacias drenadas e períodos decorridos após a Seleção de chuvas
implantação e cada sistema de drenagem. Não é indicado Os dados de chuvas podem ser apresentados em
também para que condições da Espanha em que a fórmula tabelas, onde as intensidades máximas de precipitação
foi desenvolvida. de cada ano e para cada duração escolhidas, são
Tendo-se calculado o tempo de concentração (Tc) e colocados em colunas decrescentes.
tendo-se escolhido o tempo de recorrência desejado (5, Na Tabela 3 são apresentados a título de exemplo,
10, 15, 20, 25 anos etc.) que é uma função do risco Luthin (1973), valores tabulados de um posto dos E.U.A.
assumido para a estrutura projetada, calcula-se com base para precipitações máximas de 31 anos, ocorridas no
nos registros de precipitações da região a intensidade período de 1904 a 1934 inclusive. Não são apresentados
máxima de chuva em mm h-1. os dados em ordem decrescente até ao 31º pelo fato de
que o décimo número da coluna já representa o valor
Coeficiente de escoamento (c) correspondente a uma recorrência igual a 1:2,3 ou
Este coeficiente depende de vários fatores como solo, aproximadamente 1:3 anos. Usando esta tabela a seleção
cobertura vegetal, grau de saturação do solo e declividade da chuva seria feita da seguinte maneira:
geral da bacia.
O ideal é que fosse obtido através de dados N=fn
experimentais, colhidos na própria bacia ou então que
fosse proveniente de bacias próximas, mas que onde:
apresentem condições similares. N - número de anos de registro de chuvas;
É comumente obtido em função de fatores como f - frequência ou recorrência desejada;
textura predominante da área, declividade geral da bacia n - número de ordem, na coluna, de valores anuais
e tipo de cobertura vegetal, utilizando- se para isso tabelas decrescentes de chuvas.
existentes, como a Tabela 2.
Exemplo:
Tabela 2. Valores do coeficiente de escoamento superficial
(c)
a) Registro de chuvas para período de 31 anos: N =
31;
b) No caso de querermos uma recorrência de 10
anos: f = 10;
c) N = fn n = N/f = 31/10 = 3,1 ~ 3.

Neste caso, os valores de precipitação situados na


3ª linha apresentam probabilidade de se repetirem a cada
10 anos. Para tempo de concentração ou duração de 30
min e recorrência de 10 anos encontra-se, na Tabela 3,
o valor 34,5 mm. Como na fórmula o valor de "I" é
tomado em mm h-1, basta então multiplicá-lo por 2;
obtêm-se então I = 69,0 mm h-1.
Muitas vezes são preparadas tabelas que apresentam
os valores de precipitação de uma dada região, em
Tendo-se obtido os valores de C, I e A, calcula-se a mm h-1, em função do período de retorno e do tempo de
vazão Q empregando-se a fórmula Q = CIA/360. Em concentração (ver Tabela 4). Neste caso basta determinar
função da descarga obtida, dimensiona- se a obra o tempo de concentração e assumir qual o período de
desejada que pode ser a seção de um dreno, um bueiro retorno desejado para obter-se intensidade de precipitação
ou um outro tipo de estrutura desejado. diretamente em mm h-1.
388 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Tabela 3. Alturas máximas de precipitação anuais para diversas durações


Duração
5 10 15 30 60 90 120
(min)
Ordem Ano Prec. Ano Prec. Ano Prec. Ano Prec. Ano Prec. Ano Prec. Ano Prec.
1 1908 21,6 1908 30,5 1908 35,6 1908 43,7 1908 54,6 1908 62,5 1919 75,4
2 1921 19,3 1915 26,4 1915 30,0 1904 49,4 1904 48,8 1915 60,5 1908 66,8
3 1915 18,5 1921 23,6 1904 28,2 1915 34,5 1915 43,2 1904 54,4 1904 59,8
4 1934 18,3 1904 22,4 1921 26,2 1921 31,0 1926 36,8 1921 46,0 1921 53,9
5 1929 16,8 1926 21,3 1926 24,6 1926 30,0 1921 35,6 1926 41,9 1926 46,5
6 1926 15,8 1934 20,3 1934 23,4 1931 28,0 1914 33,8 1914 38,1 1917 41,7
7 1931 13,0 1929 19,8 1929 22,7 1934 26,1 1931 31,8 1931 35,6 1914 39,4
8 1904 11,4 1931 17,3 1931 20,8 1929 25,7 1934 30,5 1917 34,5 1931 38,4
9 1917 9,1 1911 13,2 1911 17,0 1911 24,1 1929 29,0 1934 34,0 1934 37,1
10 1914 7,1 1917 13,0 1917 15,8 1917 21,1 1911 28,2 1929 32,3 1929 35,8
11 1911 5,3 1914 8,9 1914 12,7 1914 20,1 1917 27,7 1911 31,2 1911 34,0

Tabela 4. Intensidade de precipitação em mm h -1 para o posto “x” em função do tempo de concentração e período de
retorno
Tempo de
Concentração 2 5 10 15 20 25 50 75 100
(anos) (min)
5 123,6 159,0 182,4 195,4 202,8 221,8 233,4 246,0 255,0
10 102,0 127,8 144,6 154,2 160,2 167,4 182,4 191,4 198,6
15 85,8 110,4 126,6 136,2 141,6 147,6 162,6 171,6 177,6
20 76,2 98,4 112,8 121,8 126,0 131,4 144,6 153,0 158,6
25 67,2 86,4 99,0 106,2 110,4 114,6 126,6 133,8 138,6
30 61,2 78,0 89,4 96,0 99,6 103,8 114,6 120,6 124,8
40 51,6 66,6 76,2 81,6 85,2 88,8 97,8 103,2 106,8
50 45,0 58,2 67,2 72,6 75,0 78,6 87,0 91,8 95,4
60 39,6 52,8 61,2 66,0 69,0 72,6 80,4 85,2 88,8
75 32,4 43,2 50,4 54,6 57,0 60,0 66,6 70,8 73,2
90 27,6 37,2 43,2 46,8 48,6 51,0 57,0 60,0 62,4
105 24,0 31,8 37,2 40,2 42,0 43,8 48,6 51,6 54,0
120 21,6 28,2 33,0 35,4 37,2 39,0 43,2 45,6 47,4

Para algumas áreas existem curvas como aquela da Fórmula Cypress-Creek


Figura 3, que correlacionam a precipitação, em mm,
com a duração em horas, para determinadas curvas de
recorrência. Neste caso, após estimar-se a duração da
chuva, entra-se no gráfico e acha-se a altura da lâmina
de água precipitada para a duração considerada; a onde:
seguir, calcula-se a precipitação ou intensidade (I) de Q - descarga (m3 s-1);
precipitação em mm h-1. A - área da bacia (ha);
A obra intitulada “Chuvas Intensas no Brasil” C - coeficiente que engloba características de solo,
apresenta grande quantidade de curvas provenientes de cobertura vegetal, declividade e condições de
leitura de pluviógrafos de postos de serviços de precipitação.
meteorologia do Ministério da Agricultura. Nas curvas
estão correlacionadas as alturas de precipitação, em mm, O valor “C” pode ser obtido diretamente na área a
com as durações e os tempos de recorrência ser drenada ou nas imediações desta.
(Pfafstetter, 1975). Para obter-se o valor desejado é preciso que existam
Também são apresentadas fórmulas empíricas e bueiros ou pontilhões sob estradas ou canais, e que se
tabelas que visam definir precipitações máximas em disponha de plantas topográficas para delas obter-se as
função da duração e do tempo de recorrência. áreas das bacias que contribuem para cada ponto de
Uma outra fórmula que é bastante utilizada nos deságue. De posse desses valores, adicionados do
Estados Unidos, é a fórmula Cypress Creek. conhecimento, mesmo que aproximado, do tempo de
Dimensionamento de sistemas de drenagem 389

onde:
Q - vazão (m3 seg-1);
C - coeficiente de escoamento de McMath;
i - intensidade de chuvas (mm h-1);
A - área da bacia (ha);
- declividade no talvegue principal (m m-1).
Altura (mm)

Na Tabela 5 são apresentados os coeficientes de


McMath, sendo o valor "C" a soma dos três coeficientes
selecionados para caracterizar a bacia.
Esta fórmula foi obtida em função da fórmula racional,
sendo que o valor da intensidade de chuvas é obtido da
mesma forma que para a fórmula citada. Possui um fator
Duração (h)
Figura 3. Curva de altura-duração-frequência de chuvas para de redução de área que evita um aumento linear e irreal
o posto meteorológico de Piaçabuçu-AL das vazões em função das áreas de contribuição.

existência de cada estrutura e após obter-se informações, Cálculo da vazão de escoamento superficial pelo
na área, sobre o funcionamento de cada estrutura método das curvas-número
considerada, se já houve transbordamento, quantas vezes É um método prático que aparentemente tem
e quando, pode-se então determinar o valor do resultado na obtenção de valores confiáveis de
coeficiente “C” com razoável segurança. escoamento superficial. É o método mais utilizado pela
O valor “C” é empregado para obter-se a descarga CODEVASF para bacias de contribuição maiores que
máxima para determinada recorrência. Só pode ser 50 ha.
extrapolado para áreas que apresentem condições de O fluxograma da Figura 4 indica como proceder no
solo, topografia e clima semelhantes. uso do método, enquanto que as Tabelas 6, 7 e 8 orientam
O Serviço de Conservação de Solos dos Estados como obter os dados necessários para os cálculos de que
Unidos (USDA, 1971) apresenta uma série de tabelas e trata o fluxograma.
curvas que visam a obtenção do coeficiente desejado. Valores de curva-número para as condições
Para fazer uso das curvas precisa-se, no entanto, de uma anteriores de precipitação podem ser obtidos utilizando-
série de informações que geralmente não existem em se os fatores constantes da Tabela 8.
nossas condições, o que limita entre nós o uso da fórmula.
Esta fórmula foi utilizada no cálculo de vazões do Precipitações dos 5 dias anteriores a chuva considerada
sistema de drenagem superficial do projeto Senador Nilo
Coelho - Petrolina - Pe, com área de 25.000 ha. Condição (mm)
A partir de estimativas de vazões máximas ocorridas em I 0 - 35
bueiros de estradas que cortam a área, observando marcas II 35 - 52
de nível de água deixados, foi possível obter um valor “C” III Mais de 52
razoavelmente confiável, que no caso foi igual a 35.
Exemplo de cálculo de escoamento superficial Bacia
Fórmula de McMath de 400 ha.
a) Método - curvas-número
- Grupo hidrológico - B

Tabela 5. Valores representativos de média ponderada de características de bacias, necessários para o cálculo do coeficiente
de McMath
Condições de Tipo de Condições Topográficas
Tipo de Solo
Escoamento Cobertura Vegetal da Bacia
Baixa Área coberta de gramíneas - 0,08 Areia - 0,08 Área plana - 0,04
Moderada Cobertura vegetal iCtensa - 0,12 Textura leve - 0,12 Ligeiramente ondulada 0,06
Média Cobertura razoável a rala - 0,16 Textura média - 0,16 Ondulada a montanhosa 0,08
Alta Cobertura rala a esparsa - 0,22 Textura pesada (argilosa) - 0,22 Montanhosa a escarpada 0,11
Muito alta Cobertura esparsa e solo Textura pesada a área Escarpada 0,15
descoberto - 0,30 rochosa - 0,30
390 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Tabela 6. Dados da bacia


Grupo Características Características
A Baixo potencial de escoamento. Solos que
possuem altas taxas de infiltração ainda em
condições completamente úmidas. Neste
grupo se classificam os solos arenosos e muito
bem drenados.
B Solos que tem taxas de infiltração moderadas
quando úmidos.
Compreende principalmente solos profundos
e moderadamente profundos, drenagem boa e
moderada. Textura de moderadamente fina a
moderadamente grossa. São solos que
possuem taxas moderadas de transmissão de
água.
C Solos que tem infiltração lenta quando
completamente úmidos e consistem
principalmente de solos com uma camada
que impede o movimento descendente da
água, ou que possuem texturas finas a
moderadamente fina. Estes solos tem uma
lenta transmissividade de água.
D Alto potencial de escoamento. Solos com uma
baixa taxa de infiltração quando
completamente molhados. Consistem
principalmente de solos argilosos com um alto
potencial de expansão, solos com um lençol
freático alto e permanente. Solos com fragipan
Figura 4. Fluxograma para o escoamento superficial (barreira) ou camada argilosa superficial, e
solos muito superficiais sobre uma camada
- CN = 75. impermeável. Estes solos tem taxa de
- Infiltração potencial transmissão de água muito baixa.
Grupos de solo segundo o potencial de escoamento superficial (*) Segundo Schwab et al., Soil
- Tempo de concentração and water conservation engineering, pág.105.

Tc = 0,0195 K 0,77

sendo,

- Para L = 4 770 m e H = 6,5 m, Tc = 168 min = 2 h


e 50 min ou 2,8 h.
- Para Tc = 2 h e 50 min e TR = 10 anos, a - Fórmula Cypress-Creek
precipitação total estimada para a área é P = 44 mm.
- Precipitação total que escoa é igual

Para 0,00028 C = 0,01, obtido a partir de estimativas


de campo provenientes de estruturas existentes em área
com condições que, mais ou menos, se aproximam da
- Calculo de vazão de escoamento superficial área do projeto Formoso de Irrigação, obtêm-se:
Dimensionamento de sistemas de drenagem 391

Tabela 7. Curvas-número (cn) representando escoamento superficial para as condições de solo, cobertura vegetal e umidade
abaixo apresentadas (condições de umidade ii e ia = 0,2 S)*
Grupos de Solo
Cobertura Uso
Tratamento ou Prática Condição Hidrológica A B C D
da Terra
Número da Curva
Cultura em fileiras (milho, Fileiras retas Ruim 72 81 88 91
algodão, tomate, etc.) Fileiras retas Boa 67 78 85 89
Fileiras em contorno Ruim 70 79 84 88
Fileiras em contorno Boa 65 75 82 86
Anterior + terraças Ruim 66 74 80 82
Anterior + terraças Boa 62 71 78 81
Culturas em fileiras Fileiras retas Ruim 65 76 84 88
estreitas (trigo, arroz) Fileiras retas Boa 63 75 83 87
Fileiras em contorno Ruim 63 74 82 85
Fileiras em contorno Boa 61 73 81 84
Anterior + terraças Ruim 61 72 79 82
Anterior + terraças Boa 59 70 78 81
Leguminosas em Fileiras retas Ruim 66 77 85 89
fileiras estreitas ou Fileiras retas Boa 58 72 81 85
forrageiras em rotação Fileiras em contorno Ruim 64 75 83 85
(também hortaliças) Fileiras em contorno Boa 55 69 78 83
Anterior + terraças Ruim 63 73 80 83
Anterior + terraças Boa 51 67 76 80
Pastagens Ruim 68 79 86 89
(pastoreio) Regular 49 69 79 84
Boa 39 61 74 80
Fileiras em contorno Ruim 47 67 81 88
Fileiras em contorno Regular 25 59 75 83
Fileiras em contorno Boa 6 35 70 79
Pastagens (feno) Boa 30 58 71 78
Floresta Ruim 45 66 77 83
Regular 36 60 73 79
ou Bosque Boa 25 55 70 77
* Boa - Cobertura em mais de 75% da área; Regular - entre 50 e 75%; Ruim - menor de 50% da área; Ia = água inicial retida (plantas, empoçamento e água que se infiltra antes do início do
escoamento superficial. (*) Segundo Shwab et al. Soil and water conservation engeneering - pag. 104

Tabela 8. Fatores de conversão de curvas-número para as - Fórmula de McMath


condições I e III para Ia = 0,2 S*

onde:
S - declividade em m m-1 (S = 6,5 m/4.770 m).

Esta fórmula não deve ser recomendada principalmente


* Segundo Schwab et al. Soil and water conservation engineering - pág.106. para áreas grandes.
392 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

- Fórmula Racional - Tolerância da cultura do arroz à submersão = 6 dias.


- Perdas de água das chuvas por infiltração,
evaporação e transpiração - 15%.

Q = 6,1 m3 s-1 - valor muito alto. Não é recomendado


o seu uso para áreas maiores que 50 ha.
Área = A = 120 ha.
Bacia de 10.000 ha Duração da chuva = 6 dias ou 144 h. Recorrência
Método das curvas-número assumida = 10 anos.
- Tempo de concentração - Tc = 0,0195 k0,77 - Para 144 h de duração e 10 anos de recorrência
encontra-se, na Figura 3, uma lâmina de chuva de 245
mm.

- Precipitação total para a duração escolhida O coeficiente de escoamento superficial é a


relação entre o volume escoado e o volume
P = 64 mm precipitado; como 15% da água precipitada se infiltra
e evapora, restam, para escoar, 85% do total ou
- Total da precipitação que escoa

- Coeficiente de escoamento
- A vazão neste caso pode também ser estimada da
seguinte forma

- Vazão do dreno
Neste caso o método racional pode ser usado para
áreas maiores que 50 ha, desde que haja segurança
quanto ao cálculo estimativo da lâmina de chuvas do
período considerado, mesmo ocorrendo chuvas
- Fórmula Cypress-Creek convectivas que geralmente cobrem áreas pequenas.
Em função das condições especificas de dedução de
cada fórmula ou método de determinação da vazão de
escoamento superficial e suas limitações e não existindo
uma fórmula especifica ou adaptada para as condições
da área a ser estudada, recomenda-se:
1. Áreas de até 50 ha - usar o método ou fórmula
racional.
Cálculo para duração maior que o tempo de concentração 2. Para áreas de 50 ha até cerca de 400 ha, utilizar
Área de várzea argilosa contendo 120 ha de arroz valores médios obtidos entre a fórmula de McMath e o
irrigado. Assume-se: método das curvas-número, tomando valores nunca
Dimensionamento de sistemas de drenagem 393

inferiores aos obtidos pela fórmula racional para área de


até 50 ha.
3. Para áreas de bacias situadas entre 400 e 2000 ha,
usar preferencialmente os valores da curva que une
dados obtidos para 400 ha e o valor obtido através do
método das curvas-número para bacia de contribuição de
2000 ha.
Figura 5. Seção trapezoidal de dreno
4. Na falta de dados de chuvas e em última opção,
poderá ser usada a fórmula Cypress Creek, desde que Seção mais eficiente de um dreno
sejam obtidas informações confiáveis no campo. É aquela que mais se aproxima da forma semicircular,
5. Para áreas de contribuição maiores que 2000 ha, no entanto, em drenagem dificilmente pode- se seguir
usar método das curvas-número. este princípio, tendo em vista os seguintes fatos:
6. Para áreas maiores poderá ser usado, como opção, - Talude - é uma função das características do solo
hidrograma de escoamento superficial. a ser drenado.
- Profundidade - é definida em função da posição da
Dimensionamento de sistemas de drenagem área em relação ao ponto de descarga; da profundidade
O dimensionamento dos sistemas de drenagem é da camada que apresente resistência ao corte ou ainda
comumente feito utilizando-se a fórmula de Manning em função da necessidade ou não de drenar também o
onde: perfil do solo.
- Largura - geralmente de 0,50 m; 0,80m; 1,00m;
1,50m ou 2,00m, dependendo da profundidade e vazão de
projeto e também do tipo de equipamento de escavação
disponível.
Para o dimensionamento de drenos abertos são
onde:
apresentados nas Tabelas 9, 10 e 11 os valores de
Q - vazão - m³ s-1;
coeficientes de rugosidade, velocidades de fluxo da água e
n - coeficiente de rugosidade;
taludes compatíveis com os diversos tipos de solo.
R - raio hidráulico - A/P;
S - declividade do dreno - m m-1;
Dreno parcelar
A - área do dreno - m².
É um dreno raso que tem como finalidade principal
Na Figura 5 é apresentado desenho esquemático de
coletar os excedentes de irrigação do lote ou parcela.
dreno trapezoidal, onde:
Tabela 9. Coeficientes de rugosidade de Manning
A = bh + h2z;
Características dos Drenos
Características dos Drenos Coeficientes
Coeficiente
Drenos cortados em rocha, trechos retos
0,035
P = b + 2h e regulares
Drenos retos, bem limpos e regulares 0,023
b - base menor, m; Drenos de seção grande e bem limpo 0,032
h - altura considerada, m; Drenos largo, profundo escavado em
solo
z - talude, m;
Drenos em solo aluvial e com
p - perímetro molhado, m. 0,030
vegetação pouco densa
A vazão de um dreno é igual a sua sessão vezes a Drenos com vegetação intensa 0.040
Drenos com pequena seção 0,040
velocidade média de fluxo, onde:
Drenos com pouca irregularidade e
0,035
limpos
Q = VA Drenos de seção média, fundo e taludes
0,045
irregulares e vegetação densa
Drenos escavados com draga, talude e
0,045
fundo irregulares e com vegetação rala
Drenos com paredes irregulares,
escavados com draga e muita 0,080
V - velocidade, m s-1. vegetação em seu leito
394 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Tabela 10. Velocidades máximas de fluxo d’água recomendadas Drenagem de áreas com altos teores de matéria
em função do tipo de solo orgânica
Velocidade Nestas áreas é comum o fenômeno da subsidência,
Textura do SoloTextura do Solo
(m s-1) podendo haver, em casos especiais, rebaixamento de até
Argiloso (argila 1:1 fortemente 50 cm. Frequentemente as valas são abertas e após o
1,8
cimentada, tipo argilito) rebaixamento do material, devido à oxidação são, então,
Argilosa (argila 1:1) 1,2
aprofundadas. A oxidação da matéria orgânica se dá
Argilosa (argila dispersiva) 0,4*
Franco argilosa 0,8 após a drenagem e ocupação pelo ar dos poros do solo,
Franca 0,9 devido a ação de bactérias aeróbicas, que convertem a
Franco arenosa e areia fina 0,7 matéria orgânica em dióxido de carbono. A subsidência
Cascalho fino 1,5 é também devida a perda de suporte do solo com a
Cascalho grosso 1,8 eliminação de água. Observações feitas em solos
Velocidade mínima para evitar orgânicos da Europa e Estados Unidos indicam que há
0,3
deposição de silte ou areia fina em média um rebaixamento de ordem de 2,5 cm/ano e
Mínima para evitar a germinação de que a subsidência é uma função da espessura da camada
0,5
ervas daninhas drenada ou profundidade do lençol freático. Nos
Mínima para inibir o crescimento de
0,8 primeiros anos após a drenagem a subsidência é maior
ervas daninhas
* Sugerido em função de problemas encontrados. Não existem valores experimentais.
devido a compactação inicial sofrida pelo solo drenado.
Onde não existam dados referentes a subsidência, pode-
Tabela 11. Taludes de drenos recomendados em função do se assumir que haverá, com o tempo, um rebaixamento
tipo de solo da ordem de 25 a 35% em relação a profundidade inicial
Tipo de Solo Taludes (V - H) dos drenos.
Solo turfoso 1:0 a 1:0,25
Argiloso pesado 1:0,5 a 1:1 Escavação de drenos
Argiloso e franco siltoso 1:1 a 1:1,5 É feita com emprego de dragas, para drenos de
Franco arenoso 1:1,5 a 1:2 grandes dimensões ou retroescavadeira, para drenos
Areia 1:2 a 1:3 menores. É conveniente, sempre que os drenos forem de
* Para argilas dispersivas não existem dados. Supõe-se que o melhor é implantar o dreno e vegetar
artificialmente as suas paredes para protegê-las da erosão principalmente pelo impacto das águas dimensões pequenas confeccionar e utilizar na
da chuva.
retroescavadeira uma concha de forma trapezoidal. A
Tem em geral a forma de “V” com talude que de um lado implantação de drenos pode ser também manual, o que
torna o serviço em geral muito caro e demorado, só se
pode ser, por exemplo, de 1:1. Do outro, o talude deve ser
justificando para trabalhos de pequena monta e quando
suave, podendo ser de 1:10 ou mais. De início a sua
não existe máquina na proximidade da área a ser
construção pode fazer parte das obras de preparo do lote
drenada. Para pequeno volume de trabalho, o transporte
para a irrigação. É um dreno que pode ser destruído e
de uma máquina situada a grande distância pode tornar
refeito após cada cultivo, principalmente quando se trata
o seu emprego economicamente inviável, devido
de irrigação por gravidade, em sulcos. Pode ter
principalmente a componente relativa a custo de
profundidade ligeiramente superior à dos sulcos, devendo
transporte. Deve-se ter sempre em mente que os
ser reconstruído pelos ocupantes do lote, após cada
trabalhos de escavação de drenos jamais devem ser
cultivo, empregando sulcadores apropriados, enxada,
feitos sem acompanhamento topográfico, com checagem
motoniveladora etc.
de cotas de fundo, para que a sua escavação seja feita
De uma maneira geral, as atribuições de um de acordo com a declividade do projeto.
engenheiro de drenagem terminam quando começa o
dreno parcelar, sendo que a drenagem de projeto vai Nomenclatura dos drenos
obrigatoriamente até esse nível. As denominações de cursos d’água existentes, de
fluxo temporário ou permanente, devem ser mantidas.
Obras complementares A nomenclatura, sempre que se tratar de rede de
Bueiros, quedas, pontes, pontilhões são as obras drenagem de grande porte, deve ser codificada conforme
complementares mais comuns. São projetadas segue de acordo com a norma da ABNT, NBR 14143:
geralmente em escala 1:50, devendo a topografia do local 1º Espaço - Letra D (maiúscula)
de cada obra ser feita a nível de detalhe. Na parte 2º Espaço - Letras P,S,T ou Q, identificando
referente a anexos são apresentadas plantas-tipo para respectivamente, o dreno principal, secundário, terciário
diferentes obras. ou quaternário.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 395

3º e 4º Espaços - Número correspondente ao dreno O plantio de gramíneas ou leguminosas de pequeno


principal, ou zero, caso não haja mais de um dreno porte em taludes de drenos, com fins de protegê-los, não
considerado como principal; tem sido feito até o momento em nosso país por ser uma
5º e 6º Espaços - Número, a partir de 01, prática muito onerosa, mesmo sendo empregado o
correspondente ao dreno secundário; processo da hidros- semeadura.
7º e 8º Espaços - Número, a partir de 01, O problema de proteção de taludes se torna mais
correspondente ao dreno terciário; necessário em áreas onde há predominância de argila
9º e 10º Espaços - Número, a partir de 01, expansiva tipo 2:1 (teor de argila natural baixo).
correspondente ao dreno quaternário. Em casos como esses, tudo indica que a melhor opção
O dreno DPO1 será sempre aquele cujas águas é proteger as paredes do dreno, imediatamente após a
desembocam mais a jusante do maior coletor natural (rio, sua escavação, por meio do plantio de vegetação
riacho ou talvegue). Os demais drenos principais serão apropriada.
denominados de jusantes para montante segundo a ordem Quanto a limpeza de vegetação, é geralmente feita
de deságue. manualmente através de roçagem. Esta deveria, para
Para drenos secundários, terciários e quaternários, o drenos de seções maiores, ser sempre feita com o
número correspondente ao dreno deve estar em ordem emprego de máquinas apropriadas, constituídas de
crescente, de jusante para montante. Quando dois drenos ceifadeira hidráulica de braço móvel e ajustável, acoplada
desaguarem em um mesmo ponto, a numeração será a trator de roda, que poderia roçar não só as paredes
crescente da esquerda para a direita. como também o fundo do dreno.
Existem todavia situações em que não é possível No caso de desassoreamento, este também pode ser
enumerar os drenos principais (DP) de acordo com o feito manualmente, para drenos pequenos, ou
esquema proposto. Nesses casos, sugere-se que o DP mecanicamente para drenos maiores sempre que a
01 seja o de maior porte e os demais sejam enumerados operação for julgada necessária.
no sentido horário. A Figura 6 exemplifica o
procedimento proposto. CÁLCULOS DE ESPAÇAMENTO ENTRE
DRENOS E DIMENSIONAMENTO
DE DRENOS SUBTERRÂNEOS

Cálculo de espaçamento entre drenos


Existem muitas fórmulas para o cálculo do
espaçamento entre drenos. A escolha da fórmula a ser
usada vai depender das características do perfil do solo
da área a ser drenada, principalmente no que se refere
a profundidade da barreira e às características dos
horizontes ou camadas de solo.
As fórmulas mais comumente empregadas são:
- Fluxo contínuo
Donnan (fluxo horizontal)
Hooghoudt (fluxo horizontal e radial)
Figura 6. Desenho esquemático mostrando a nomenclatura Ernst(fluxo vertical,horizontal e radial)
do sistema de drenagem (NBR 14143)
- Fluxo variável
Conservação e manutenção de drenos Glover-Dumn(fluxo horizontal)
O ideal é que cada dreno, imediatamente após a sua Boussinesq (fluxo horizontal)
escavação, tivesse as suas paredes cobertas com vegetação
de porte rasteiro para evitar a erosão de seus taludes. Fórmulas de Donnan: Foi desenvolvida para fluxo
Em áreas úmidas e de solos férteis em profundidade, horizontal proveniente de irrigação, tendo sido
essa cobertura é feita espontaneamente por plantas empregada com êxito no Vale Imperial da Califórnia -
nativas em curto período de tempo. Em áreas menos EUA.
favorecidas pelas condições climáticas e de solo, as Condições de uso:
paredes dos drenos se mantém parcialmente desnudas ou - Fluxo permanente com lençol freático constante;
desprotegidas por longos períodos de tempo, o que facilita - Fluxo somente horizontal;
a erosão de seus taludes. - Solo homogêneo até a barreira;
396 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

- Sistema de drenos paralelos e infinitos; Esse principio baseia-se na hipótese de Dupuit -


- Recarga homogeneamente distribuída. Forchheimer que considera que o fluxo ocorre em
trajetória horizontal, o que na realidade não ocorre,
O cálculo do espaçamento entre drenos e dado pela principalmente nas imediações dos drenos onde as linhas
fórmula: de fluxo são notadamente curvas;entretanto para os
pontos onde a declividade da superfície do lençol for
pouco inclinada, a hipótese de D F pode ser considerada
como válida para:
- Solo homogêneo, portanto com um único valor de
condutividade hidráulica representativo do perfil do solo.
onde os parâmetros são ilustrados através da Figura 7, - Fluxo da água em solo saturado segundo os
sendo: princípios da Lei de Darcy.
L - espaçamento entre drenos - m; - Existência de barreiras abaixo das linhas de dreno
K - condutividade hidráulica - m dia-1; a uma profundidade - d.
B - altura do lençol freático em relação ao - Existência de uma recarga contínua - R.
impermeável, no ponto médio entre drenos - m; - Origem das coordenadas (referência) tomada sobre
D - distância entre a superfície da água, na vala ou a barreira, situada abaixo das linhas de dreno.
tubo de drenagem e a barreira - m; Esquema para dedução da formula, concebido por
R - coeficiente de drenagem subterrânea ou recarga Houghoudt é apresentado na Figura 8.
- m dia-1.

Figura 7. Desenho mostrando os parâmetros da fórmula do Figura 8. Desenho ilustrativo da dedução da formula de
Donnan Hooghoutt para o calculo do espaçamento entre drenos
subterrâneos
Se a vala ou tubos de drenagem estiverem sobre o
impermeável a fórmula fica reduzida a: Observa-se que um plano vertical, que passe pelo
centro, entre dois drenos consecutivos, divide a figura
acima em duas partes iguais com dois sentidos de fluxo.
Toda água que penetre no solo pelo lado esquerdo do
plano flue para o dreno situado deste lado, o mesmo
ocorrendo para o lado oposto.
Esta fórmula é mais recomendada para solos rasos a
Ao considera-se uma seção situada entre o dreno e o
serem drenados por valas abertas com bases inferiores
situadas próximo da barreira. plano divisor de fluxo, tem-se que o volume de água que
passa por essa seção ou plano vertical, tendo como limites
Fórmula de Hooghoudt: Foi desenvolvida por as superfície do lençol e a barreira,considerando-se uma
Hooghoudt, na Holanda, para fluxo horizontal e radial. largura unitária, é igual a recarga (R) multiplicada pela
Utiliza as mesmas suposições que a fórmula de Donnan, distância entre essa seção e o plano situado entre os
tendo após sua dedução sido incluído o fluxoradial. drenos ou:
A dedução da fórmula baseia-se nos seguintes
princípios:
- Fluxo de água contínua, com drenos paralelos e
equidistantantes.
- Gradiente hidráulico em qualquer ponto do terreno
igual à inclinação do lençol freático sobre o ponto Aplicando-se a lei de Darcy, pode-se obter uma
considerado - dy/dx. segunda equação para o fluxo de água, ou seja: qx = K i.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 397

Igualando-se as equações tem-se: A fórmula aplica-se para drenos subterrâneos, tipo


vala aberta ou drenos tubulares.
h - altura do lençol freático no ponto médio entre os
drenos - m;
L - espaçamento entre drenos - m;
K1 - condutividade hidráulica acima do nível dos
drenos - m dia-1;
K2 - condutividade hidráulica acima do nível dos
drenos - m dia-1.

A equação pode ser integrada entre os limites: A formula de Hooghoudt, a principio, não considerava
X = 0 e Y= D (para fins práticos despreza-se o valor o fluxo radial que ocorre abaixo da linha dos drenos, no
“b” por ser muito pequeno). que o seu emprego resultava em grandes distorções para
X = L/2 e Y = B = D + h. os espaçamentos maiores quando a barreira se encontrava
mais profunda.
Para barreira situada a 2,0 m abaixo das linhas de
dreno o erro já era significativo.
Para resolver o problema foi introduzido, pelo autor,
o concerto de profundidade equivalente da barreira (d)
onde os valores das distancias entre o fundo dos drenos
e a barreira (D) são substituídos, na formula, por valores
menores obtidos através de tabela ou cálculos.
É recomendada para solos homogêneos, ou seja, com
uma única camada ou horizonte até a barreira, ou para
solos com dois horizontes onde os drenos ficariam
situados na transição destes, conforme ilustrado na Figura
9, sendo:

Para

Figura 9. Desenho mostrando os parâmetros utilizados na


fórmula de Hooghoudt
398 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Para d = 0, drenos-m dia-1; drenos entubados o perímetro molhado p = r para o dreno


h - altura do lençol freático no ponto médio entre trabalhando a meia seção.
drenos - m; Com fins ilustrativos, a Tabela 12 mostra valores de
D - espessura da camada de solo saturado entre o espessura do estrato equivalente d, segundo Hooghoudt,
fundo do dreno e a barreira - m; obtidos para tubos de 0,10 m de raio.
d - espessura do estrato equivalente - m; O cálculo do valor d e consequentemente, de L, pode
R - coeficiente de drenagem subterrânea - m dia-1. ser feito conforme segue:
- Estima-se um valor para L, atribuindo-se a d um
Estrato equivalente: Na fórmula de Hooghoudt foi valor menor que D;
introduzido um fator de resistência radial, representado pela - Com o valor obtido para L, obtém-se outro valor
letra “d” ou espessura do estrato equivalente, para para d;
compensar a resistência ao fluxo que ocorre nas - Com o valor obtido para d, calcula-se um novo valor
proximidades dos drenos. para L e assim sucessivamente, até que os valores se
A espessura do estrato equivalente é uma função da tornem constantes; desta forma chega- se aos valores
espessura real da camada de solo, situada entre o dreno finais de d e do espaçamento entre drenos L.
e a barreira, representada pela letra D, do espaçamento
entre drenos L e do raio do tubo. Pode ser calculada pela Exemplo de uso da fórmula
seguinte expressão: - Drenos instalados a 1,30 m de profundidade e lençol
a 0,80 m da superfície do terreno:
- K = condutividade hidráulica = 0,3 m dia-1;
- h = altura do lençol freático no ponto médio entre
drenos = 0,50 m; (1,30 m - 0,80 m)
- R = coeficiente de drenagem subterrânea = 0,008 m
dia-1;
Sendo D, d e p expressos em metros - m, onde p - D = espessura da camada de solo situada entre o
representa o perímetro molhado do tubo ou da vala. Para fundo do dreno e a barreira = 1,70 m;

Tabela 12. Profundidades equivalentes de barreira - d


Dimensionamento de sistemas de drenagem 399

- p = raio hidráulico do tubo = 0,103 m. hr - perda de carga hidráulica devido ao componente


Obtenção da espessura do estrato equivalente: d de fluxo radial, m.
=10,40 m (assumidos)

Figura 10. Desenho esquemático mostrando os parâmetros


da fórmula de Ernst

o que resulta em uma equação de 2º grau, do tipo ax² +


bx + c = 0, sendo: L - Espaçamento entre drenos - m
R - coeficiente de drenagem subterrânea - m dia-1;
d L Dv- espessura da camada onde ocorre fluxo vertical
1,40 15,73 - m;
0,96 13,46 Kv- condutividade hidráulica da camada onde ocorre
0,89 13,09 fluxo vertical - m dia-1;
0,88 13,02 h -altura do lençol freático no ponto médio entre
drenos - m;
- d = espessura do estrato equivalente = 0,88 m; Kr - condutividade hidráulica da camada onde ocorre
- L = espaçamento calculado entre drenos = 13,02 m. fluxo radial - m dia-1;
Dr - espessura da camada onde ocorre fluxo radial m;
Fórmula de Ernst - Condições de uso: Foi a - fator geométrico para fluxo radial = 4,2;
desenvolvida para condições de solos que contenham dois p - perímetro molhado do dreno - m.
ou mais horizontes, onde a fórmula de Hooghoudt não
Exemplo
possa ser aplicada.
Lâmina a ser drenada devido ao rebaixamento do
O princípio geral de desenvolvimento da fórmula
lençol freático de 74,4 cm para 80 cm de profundidade
consiste na divisão das perdas de carga hidráulica durante em período de 3 dias;
o fluxo da água em 3 componentes, conforme ilustrado h = Altura do lençol freático no ponto médio entre
na Figura 10. drenos = 0,50 m; R = (55,6 cm - 50 cm) x 0,10/3 = 0,19
cm/dia = 0,0019 mm dia-1;
h = hh + hv + hr L = Espaçamento entre drenos - m;
Kv =Condutividade hidráulica para fluxo vertical = 1,0
em que: m dia-1;
h - perda total de carga hidráulica, m; Kr = Condutividade hidráulica na camada com fluxo
hh - perda de carga hidráulica devido ao componente radial = 1,0 m/dia; Dv =Espessura da camada onde
de fluxo horizontal, m; ocorre fluxo vertical = 0,50 m dia-1;
hv - perda de carga hidráulica devido ao componente Dr = Espessura da camada onde ocorre fluxo radial
de fluxo vertical, m; = 0,30 m dia-1;
400 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

a = Fator geométrico para fluxo radia l = 4,2, obtido onde:


da Figura 11 ou nomograma de Ernst para K2 / K1 = K - condutividade hidráulica = 0,3 m dia-1;
0,15 eD2/D0 = 4,7; t - tempo de drenagem = 3 dias;
p = Perímetro molhado = 0,13 m. V - porosidade drenável = 0,055;
ho - altura máxima assumida para o lençol freático no
ponto médio entre drenos = 0,93 m;
ht - altura assumida para o L freático, no ponto
médio entre drenos, após um determinado tempo = 0,50
m;
d - profundidade do estrato equivalente = 0,88 m.

0,50 = 0,095 + 0,0007L2 + 0,00137L h = (ho + ht)/4 = 0,36m

0,00047L2 + 0,004L - 0,50 = 0

L = 34 m

L = 16,14

Figura 11. Nomograma para a determinação do fator


geométrico “a” da fórmula de Ernst para o cálculo da
resistência radial (Wr)
Figura 12. Desenho mostrando os parâmetros da fórmula de
Glover-Dumn
Fórmula de Glover-Dumm - fluxo variável: As
fórmulas de fluxo variável não trabalham diretamente As recomendações contidas na literatura sempre
com valores de recarga e sim com os valores de apontam para um ajuste no espaçamento entre drenos
porosidade drenável e tempo estimado de rebaixamento para valores maiores, havendo inclusive sugestões para
do lençol freático até uma profundidade prefixada. dobrar o espaçamento e se necessário implantar
Porosidade drenável é o volume de poros de um volume posteriormente linhas intermediárias.
de solo, saturado, que fica livre de água quando Para o caso deste trabalho julga-se conveniente
submetido a uma tensão de 6 kPa (59,2 cm de coluna de implantar o sistema com espaçamento entre drenos de 20,0
água). A porosidade drenável pode ser obtida em mesa m e observar o seu desempenho para as chuvas de projeto.
de tensão, em laboratório, o que é trabalhoso e
dispendioso, razão pela qual é obtida, normalmente em Fórmula de Boussinesq: A fórmula é apropriada para
barreira situada próxima da zona radicular, onde o dreno,
função da média dos valores de c. hidráulica saturada de
por problema de profundidade da barreira, deve ser
campo, com o uso da fórmula. V2 = k(m dia-1)/100
situado sobre a mesma, para que seja aproveitada, ao
Foram desenvolvidas considerando que a irrigação máximo, a profundidade efetiva do solo. O seu uso é
não é um processo contínuo a sim aplicada por um idêntico ao da fórmula de Glover-Dumn, conforme
determinado período e intervalo de tempo. A Figura 12 ilustrado na Figura 13, com exceção da existência de
ilustra o emprego da fórmula a seguir: fluxo radial.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 401

de drenagem com alinhamento vertical perfeito, onde


sempre ocorre pequenos desalinhamentos.
Especificações técnicas para fins de implantação de
drenos subterrâneos entubados exigem que não ocorram
afastamentos do eixo vertical de projeto de mais de 1,0
cm por cada 3,0 m e que esses valores não sejam
cumulativos.
O cálculo do comprimento máximo do tubo pode ser
feito conforme segue:
a) Cálculo da capacidade do tubo dreno
Figura 13. Esquema mostrando os parâmetros da fórmula de Como o fluxo de água nos drenos se dá a pressão
Boussinesq atmosférica, o cálculo da vazão ou descarga e feita pela
fórmula de Manning onde:
Exemplo de cálculo:
L - espaçamento entre drenos - m; Q = 1/n A r 2/3 S 1/2
K - condutividade hidráulica = 0,27 m dia-1;
hi - altura do lençol antes do início das irrigações ou sendo:
das chuvas. Q - descarga (m3 s-1 ou l s-1);
ho - altura máxima estimada para o lençol freático no n - coeficiente de rugosidade de Manning;
ponto médio entre drenos = 1,24 m ; A - área molhada (m2);
ht - altura estimada para o lençol freático no ponto R - raio hidráulico (m);
médio entre drenos após o tempo de drenagem estimado S - declividade do tubo (m m-1).
= 0,60 m; No caso dos tubos corrugados de drenagem o
t - Tempo de drenagem assumido 3 dias; coeficiente de rugosidade, n = 0,016; em função deste
v - Porosidade drenável = 0,052. valor e empregando-se a fórmulas acima citada chega-
se às seguintes fórmulas simplificadas:
- Dreno trabalhando a ½ seção.

Q = 10 D 8/3 S 1/2

L = 9,0 m. sendo “D” o diâmetro interno do tubo


- Dreno trabalhando a ¾ de seção. Área de fluxo -
O espaçamento do projeto deve ser de 10 ou 15 m, com A = 0,63 D2
a finalidade de reduzir custos de implantação do sistema. Perímetro Molhado - P = 2,09 D Raio Hidráulico - R
= 0,30 D
Dimensionamento
O dimensionamento de drenos subterrâneos na Q = 17,5 D 8/3 S 1/2
realidade se resume ao cálculo dos comprimentos das
linhas de drenos, tendo em vista que obrigatoriamente Para tubos corrugados de PVC, DN 65, o diâmetro
tem-se que trabalhar com os tubos de drenagem interno é de 58,5 mm; para tubo de polietileno DN 75, é
existentes no mercado. O primeiro passo consiste então de 67,0 mm; para tubo de PVC DN100 é de 91,4 mm e
em conhecer os tipos tubo existentes na praça para para DN 110, de 101,4 mm.
então, com base em cálculos, definir-se qual a extensão Exemplo: Para tubo de PVC, DN 65, trabalhando a
a ser adquirida de cada tipo de tubo no que se refere a ½ seção e com declividade de 0,4% ou 0,004 m m-1 tem-
diâmetro interno e nominal. se:
De uma maneira geral é recomendado que os tubos
de drenagem trabalhem, para recarga de projeto, a ½ Q = 10 x (0,0585) 8/3 x (0,004) 1/2 = 0,0003 m³ s-1
seção ou no máximo ¾ de sua capacidade, o que permite
que mesmo após um pequeno assoreamento a linha ainda b) Cálculo da recarga unitário (q)
funcione satisfatoriamente. Um outro motivo dessa folga Para um coeficiente de drenagem subterrânea de R
se deve ao fato de se trabalhar com tubos de pequeno = 0,004 m/dia e espaçamentos entre drenos de L = 30,0
diâmetro e em função de dificuldades em instalar linhas m, conforme a Figura 14, tem-se:
402 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Distribuição dos lotes parcelares:

Figura 14. Representação esquemática de área unitária de


captação de água por um dreno

q = 30,0 m x l,0 m x 0,004 m dia-1

q = 0,120 m³/dia x m

q = 1,389 x 10-6 m³/s x m Os estudos e projetos de drenagem realizados no


Perímetro Irrigado Brígida foram iniciados em 1996, com
c) Cálculo do comprimento do tubo: a contratação, por parte da CODEVASF, de empresa de
O comprimento do tubo é obtido dividindo-se a engenharia para a realização de estudos e elaboração de
capacidade de projeto deste pela quantidade de água a projetos de drenagem coletora e drenagem do solo,
ser captada a cada metro de linha ou recarga unitária. propriamente, dita. Nessa época, foram selecionados 126
(cento e vinte e seis) lotes que apresentavam indícios de
má drenabilidade, com perdas significativas de produção,
no período chuvoso (dezembro-março), devido à
localização topográfica ou a profundidade do solo, inferior
a 1,0m.
A empresa contratada, na época, foi a Habítese
Engenharia LTDA, que, ao final dos trabalhos
executados de campo (realizando tradagens, abertura de
trincheiras e testes de condutividade hidráulica),
Entende-se que a linha ao atingir 216 m estará, para as tomando-se como base os estudos pedológicos existentes,
condições acima mencionadas, trabalhando a ½ seção. elaborou o projeto, e, após a aprovação da CODEVASF,
foi licitada a implantação, em 1998. Durante esse período
ESTUDO DE CASO: PROJETO (de 11 anos, aproximadamente), a CODEVASF, realizou
IRRIGADO BRÍGIDA outras etapas de estudos, devido ao surgimento de outros
lotes com problemas de drenagem. Os dados referentes
O Perímetro Irrigado Brígida, integrante do Sistema aos projetos de drenagem implantados, no período de
Itaparica, está localizado na região semiárida do nordeste 1998 a 2009, estão resumidos na Anexo 2.
brasileiro, à margem esquerda do Rio São Francisco, no Foram implantados no Perímetro Brígida, nesse
município de Orocó, no Estado de Pernambuco. Tem na BR período, compreendendo 05(cinco) etapas de
- 428 sua principal via de acesso. As suas coordenadas implantação, drenos subterrâneos em uma área de
geográficas são as seguintes: latitude sul entre 8º 18’ a 8º 1.014,0 ha (mil e quatorze), atendendo a 307 (trezentos
34’, longitude oeste entre 39º 22’ a 39º 27’. e sete) lotes parcelares, que representam 71% da área
As características edafoclimáticas da área são as irrigável, totalizando 510.165,0 m e, aproximadamente
seguintes: 80,0 km de drenos coletores superficiais;
Nessa última etapa, o investimento para a
Clima;
implantação de drenos subterrâneos, considerando o
BSh - tropical semiárido;
espaçamento médio entre as linhas de drenos de 20,0 m,
Temperatura média anual - 26 °C; instalados a uma profundidade média de 1,20 m,
Umidade relativa média anual - 60%; utilizando retroescavadeira de pneus, foi de,
Evaporação média anual - 2.080 mm; aproximadamente, R$ 8 mil ha-1;
Tipos de solos existentes no perímetro (%): Como exemplo, apresentamos abaixo o orçamento
- Argissolos - 65; para implantação de 19,70 km de drenos coletores
- Latossolos - 2,5; abertos, 1,04 km de drenos coletores entubados e 103.500
- Neossolos litólicos - 26,5; m de drenos subterrâneos, para a tender a 70 (setenta)
- Planossolos háplicos - 6,0. lotes agrícolas do Perímetro Brígida, em 2008/9.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 403

REFERÊNCIAS Rhodia S. A. Drenos; princípios básicos e sistemas drenantes.


São Paulo: 1978. 64p.
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simbologia. Rio de Janeiro,1998. 6p. Conservation Engineering. 2ed. New York: John Wiley &
CODEVASF/GEEPI CHESF. Drenagem subterrânea do Projeto Sons, 1966.
Taborga, J. J. T. Práticas hidrológicas. Rio de Janeiro:
Caraíbas: setor 01- agrovilas 01 e 02: Brasília:1994. v.1.
TRANSCON, 1974. 120p.
Luthin, J. N. Drainage engineering. New York: Robert E.
Teixeira, A. L. Cálculo estimativo de hidrograma de cheia. Belo
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Pires, E. T. Informações mínimas para drenagem de várzea. Belo technical publication. Denver: 1978. 268p.
Horizonte: EMATER, 1982. 30p. Villea, S. M., Matto, A. Hidrologia aplicada. São Paulo
Pfafstetter, O. Chuvas intensas no Brasil; Relação entre McGraw-Hill do Brasil, 1975. 245p.
precipitação, duração e freqüência de chuvas com Wilken, P. S. Engenharia de drenagem superficial. São Paulo:
pluviógrafos. SP: DNOS, 1975. 419p. 1978. 478p.
404 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

ANEXO 1 Drenagem subterrânea: processo de remoção do


excesso de água do solo, com a finalidade de propiciar
Terminologia e simbologia em drenagem agrícola condições favoráveis de umidade, aeração, manejo agrícola
Neste capítulo são apresentadas as definições e os e prevenir a salinização ou remover excesso de sais.
símbolos mais comumente utilizadas em drenagem agrícola, Dreno: condutor aberto ou subterrâneo, tubular ou
o que contribui para a uniformização da linguagem entre de material poroso, destinado a remover o excesso da
os técnicos da área. As definições e símbolos aqui água proveniente de sua área de influência.
utilizados constam de uma relação parcial extraída da NBR Dreno interceptor: dreno que tem por finalidade
14145 (ABNT, 1998), estando portanto sujeitas a interceptar fluxo superficial e/ou subterrâneo de áreas
modificações sempre que a norma citada for revisada. adjacentes situadas à montante.
Dreno de encosta: dreno interceptor situado em pé-
Terminologia-definições de-morro ou encosta.
Área de influência do dreno: área efetiva da qual Dreno subterrâneo: conduto subterrâneo utilizado
a água em excesso é captada e removida pelo dreno. para coletar e conduzir, por gravidade, a água proveniente
Base de drenagem: cota mínima ou cota de do lençol freático de sua área de influência.
chegada de um sistema de drenagem. Indica se a área Dreno vertical: condutor vertical através de camada
será drenada por gravidade ou bombeamento. impermeável, pelo qual a água de drenagem da
Caixa de inspeção: estrutura intercalada na linha superfície ou subsuperfície é escoada.
de dreno subterrâneo entubado para facilitar a inspeção
Duração de chuvas: tempo utilizado para a
e a manutenção do sistema.
determinação da chuva de projeto em bacias que
Camada impermeável ou barreira: camada de
possuam áreas de acumulação de água. Pode ser igual
solo cuja condutividade hidráulica vertical saturada é igual
ao tempo de concentração ou ao tempo de drenagem.
ou inferior a 1/10 da média ponderada da condutividade
Envoltório: material mineral, sintético ou vegetal,
hidráulica saturada das camadas superiores.
colocado ao redor do tubo de drenagem com a finalidade
Carga hidráulica: potencial de pressão expresso em
altura equivalente a uma coluna de água em relação a de facilitar o fluxo da água para o seu interior e minimizar
um plano de referência (mca). a desagregação e o carreamento de partículas do solo.
Coeficiente de drenagem subterrânea ou recarga: Escoamento superficial: fração da água de
taxa de remoção do excesso de água do solo, expressa precipitação ou irrigação que alcança os cursos de água
em altura de lâmina de água por dia (m dia-1). através do fluxo de superfície.
Coletor: condutor aberto ou subterrâneo destinado Espaço aéreo do solo: volume de poros ocupado
a receber as águas de outros drenos e conduzi-las ao pela fase gasosa para um dado conteúdo volumétrico de
ponto de descarga. água no solo, expresso em porcentagem.
Condutividade hidráulica saturada (k): propriedade Fluxo: volume de água que atravessa uma dada
hidráulica de um meio poroso saturado que determina o seção transversal de solo por unidade de tempo.
fluxo em função do gradiente hidráulico (m dia-1). Franja capilar: faixa do solo acima do nível freático
Densidade de partículas: relação entre a massa das onde o valor da tensão da água é inferior a 6 kPa.
partículas do solo seco a 105ºC, até massa constante, e o Gradiente hidráulico: expressão numérica da
volume das partículas (g cm-3). variação da carga hidráulica por unidade de distância
Densidade do solo: relação entre a massa do solo (adimensional).
seco a 105º C, até massa constante e o volume total do Infiltração: movimento vertical descendente da água
solo coletado com estrutura não deformada (g cm-3). no solo (cm h-1).
Dique: obra hidráulica, de terra ou concreto, de Infiltração básica: lâmina de água que flui através
proteção contra inundações. de um solo, por unidade de tempo, após a estabilização
Drenagem: processo de remoção do excesso de do fluxo (cm h-1).
água da superfície do solo e/ou subsolo. Linhas equipotenciais: são curvas imaginárias que
Drenagem agrícola: processo de remoção do unem pontos de mesmo potencial de água no solo.
excesso de água da superfície do solo e/ou subsolo Linhas de fluxo: trajetória seguida por uma
visando o aproveitamento agrícola. molécula de água durante o seu movimento no solo.
Drenagem natural do solo: escoamento natural do Linhas de isoprofundidade (isóbatas): linhas que
excesso de água do solo e/ou subsolo. unem pontos de mesma profundidade do lençol freático.
Drenagem superficial: processo de remoção do Linha piezométrica: linha que representa a
excesso de água da superfície do solo para torná-lo distribuição da pressão ao longo de condutos ou meios
adequado ao aproveitamento agrícola. porosos.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 405

Macrodrenagem: sistema de drenos escavados para Tempo de recorrência ou período de retorno:


coletar os excedentes de águas de chuvas e subterrâneas período, em anos, que uma chuva de intensidade igual
de sua área de influência. ou superior, apresenta a probabilidade de ocorrer pelo
Nível freático: medida da profundidade da superfície menos uma vez.
freática num determinado ponto do perfil do solo.
Vazão: volume de um fluido que atravessa uma seção
Permeabilidade: propriedade do solo de conduzir
água. transversal por unidade de tempo (m3 s-1).
Piezômetros: tubo de medição pontual da pressão Velocidade de escoamento superficial: Velocidade
piezométrica (hidrostática) de aquífero subterrâneo. com que a água escoa sobre uma dada superfície do
Indica a direção do movimento vertical da água no solo. terreno.
Poço de observação do lençol freático: furo de Talude: inclinação das paredes de dreno.
trado no solo, revestido ou não por tubo perfurado, com
a finalidade de medir o nível freático. Simbologia - representação
Ponto de descarga: ponto final de um sistema de Talvegue ou dreno natural
drenagem, onde ocorre o deságue por gravidade.
Porosidade drenável: volume de poros de um
volume de solo, saturado, que fica livre de água quando
submetido a uma tensão de 6 kPa. Dreno ou coletor superficial aberto
Porosidade total: relação entre o volume de poros
e o volume total de solo, expressa em porcentagem.
Potencial de água no solo: representa o trabalho Dreno subterrâneo entubado
realizado, por unidade de volume de água, no estado
padrão, quando é elevada isotérmica, isobárica e
reversivelmente para o ponto considerado no solo.
Pressão artesiana: pressão hidráulica existente em Caixa de inspeção
um aquífero subterrâneo confinado, como consequência
da situação do nível freático do aquífero em ponto mais
elevado. Caminho de serviço-estrada
Queda: estrutura que visa a dissipação de energia
da água em ponto localizado.
Rede de fluxo: representação gráfica das linhas de
fluxo e das linhas equipotenciais. Bueiro
Sistema de drenagem: conjunto de drenos,
estruturas e equipamentos interligados visando o
escoamento do excesso de água de sua área de
influência.
Sistema de drenagem subterrânea: conjunto de
drenos subterrâneos, coletores, estruturas e Ponte
equipamentos, que tem por finalidade controlar o nível
de ascensão do lençol freático de sua área de influência.
Sistema de drenagem superficial: conjunto de
drenos, estruturas e equipamentos interligados, visando
o escoamento do excesso de água superficial de sua área Passagem molhada
de influência.
Superfície freática: superfície da água livre no solo
ou na sua superfície, submetida à pressão atmosférica.
Taxa de difusão de oxigênio: massa de oxigênio Açude
que passa por unidade da área do solo e por unidade de
tempo.
Tempo de concentração: tempo que a água de
escoamento superficial leva para se deslocar do ponto
mais distante da bacia de captação até ao ponto de Dique de proteção
descarga.
Tempo de drenagem: tempo de escoamento de toda
a água acumulada em uma área.
406 Hermínio H. Suguino & José C. Barros

Estação de Bombeamento Área inundável

Pântano
Canal de irrigação

Regadeira
Córrego

Adutora
Rio

Tubulação de pressão

Limite de propriedade
Curvas de nível

Limite de área do projeto

Isóbata-Isoprofundidade do lençol

Cerca

Isoípsa-Curva de nível do lençol


Tradagem

Lago ou lagoa perene


Cores propostas para planta de isoprofundidade de
lençol freático (isóbata) ou representações gráficas:

- 0-50 cm - Vermelho
Lago ou lagoa periódica - 50-100 cm - Azul
- 100-150 cm - Laranja
- 150-200 cm - Verde
- 200 - + cm - Sem cor
Mangue
Observação: as dimensões dos símbolos podem variar
em função da escala adotada em cada projeto.
Dimensionamento de sistemas de drenagem 407

ANEXO 2
Quadro de quantitativos e custos
Item Discriminação Un. Quant. Pr. Unit. Pr. Total
1.0 Instalação, mobilização e desmobilização conforme
especificações técnicas vb 1,00 54.175,06 54.175,06
2.0 Locação de veiculo básico para 5 passageiros, com
ar condicionado, ano não inferior a 2006, com até
10.000 km rodados dia 310,00 108,47 33.627,18
3.0 Serviços topográficos: locação, nivelamento e
contra-nivelamento, fornecimento de caderneta de
campo calculadas e digitadas km 124,30 588,10 73.101,25
4.0 Sondagem geotécnica - Tradagem manual até 1,5m,
a cada 20m, ao lado da estaca topográfica un 149,34 16,42 2.452,81
5.0 SERVIÇOS PRELIMINARES
5.1 Desmatamento e limpeza da faixa, p/exec. de drenos
coletores abertos conf. Especificações técnicas m2 157.600,00 0,22 35.156,65
5.2 Limpeza da faixa de construção p/exec. De drenos
colet. entubados e drenos subterrâneos, conforme
especificações técnicas m2 418.160,00 0,16 66.074,12
6.0 ESCAVAÇÃO DE DRENOS COLETORES ABERTOS
6.1 Escavação em material de 1a. Categoria m3 100.312,40 2,19 219.483,51
6.2 Escavação em material de 2a. Categoria m3 4.868,42 2,92 14.202,80
6.3 Escavação em material de 3a. Categoria m3 411,18 51,05 20.989,48
7.0 DESTINAÇÃO DO MATERIAL ESCAVADO
7.1 Espalhamento ao longo das faixas de execução dos
drenos - material de 1a. Categoria m3 63.355,20 1,09 69.310,58
7.2 Transporte para locais de bota-fora, incluindo carga e
descarga - materiais de 2a. e 3a. Categoria m3 42.236,80 5,90 248.988,96
8.0 IMPLANTAÇÃO DE DRENOS SUBTERRANEOS
PARCELARES COM TUBOS CORRUGADOS
PERFURADOS DN65 E DN100 DE PVC OU PEAD,
de acordo com ABNT NBR 15073.2004, envelopados
com manta geotextil, conforme especificações técnicas
8.1 Escavação de valas p/ instalação de drenos subterrâneos
8.1.1 Escavação mecânica de valas m3 49.680,00 2,19 108.699,83
8.1.2 Escavação manual de valas m3 993,60 13,69 13.599,37
8.2 Aquisição, fornecimento e instalação de tubos corrugados
perfurados DN65 m 103.000,00 8,12 836.574,22
8.3 Aquisição, fornecimento e instalação de tubos corrugados
perfurados DN100 m 500,00 11,70 5.849,98
8.4 Reaterro de valas
8.4.1 Reaterro mecânico de vala m3 30.404,16 1,09 33.262,15
8.4.2 Reaterro manual de vala m3 20.269,44 5,47 110.970,83
9.0 FORNECIMENTO E INSTALAÇÃO DE CAIXAS DE
INSPEÇÃO E INSPEÇÃO/JUNÇÃO
Conforme especificações técnicas um 173,00 66,62 11.525,72
10.0 ESTRUTURAS
10.1 Em alvenaria de pedra argamassada 1:3 m3 370,00 189,44 70.091,03
11.0 FORNECIMENTO E INSTALAÇÃO DE TUBOS DE
CONCRETO TIPO CA II PARA CONSTRUÇÃO DE
BUEIROS, conforme especificações técnicas
11.1 Bueiro - d=800mm m 145,00 179,35 26.005,70
11.2 Bueiro - d=1000mm m 10,00 267,77 2.677,67
11.3 Bueiro - d=1200mm m - 363,24 -
12.0 IMPLANTAÇÃO DE DRENOS COLETORES ENTUBADOS,
conforme especificações técnicas
12.1 Escavação mecânica de valas
12.1.1 Escavação em material de 1a. categoria m3 898,56 2,92 2.621,40
12.1.2 Escavação em material de 2a. categoria m3 99,84 4,38 436,90
12.2 Reaterro manual compactado de valas m3 332,80 8,03 2.671,43
12.3 Reaterro mecânico de vala m3 665,60 1,09 728,17
12.4 Aquisição, fornecimento e instalação de tubos de PVC
rígido, classe leve - DN 150, conforme especificação
técnica m 1.040,00 16,64 17.301,65
TOTAL GERAL 2.080.578,45
22 Biodrenagem

Salomão de S. Medeiros1, Pedro D. Fernandes1,


José A. Santos Jr.2 & Hans R. Gheyi3

1
Instituto Nacional do Semi-Árido
2 Universidade Federal de Campina Grande
3 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Introdução
Princípios da biodrenagem
Principais culturas utilizadas na biodrenagem
Vantagens e limitações da biodrenagem
Biodrenagem e controle da salinidade do solo
Cenários para implantação do sistema de biodrenagem
Sistema de cultivo em sequeiro
Interceptação dos fluxos de águas subterrâneas
Controle das vazões de descarga
Sistema de cultivo irrigado
Interceptação do fluxo de água
Complementação ao sistema de drenagem convencional
Planejamento de sistemas de biodrenagem
Dimensionamento do sistema de biodrenagem
Estudos de casos e experiências
Índia
Israel
Considerações finais
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
410 Salomão de S. Medeiros et al.

Biodrenagem

INTRODUÇÃO Já a drenagem subterrânea pode ser entendida como


um sistema de canais abertos conectados a uma malha
Extensas superfícies irrigadas estão localizadas em de tubos perfurados, ou constituídos de material poroso,
áreas com problema de drenagem, onde o elevado nível enterrados e conectados entre si, visando à remoção do
do lençol freático tem provocado perdas na produção, excesso de água do perfil do solo, com a finalidade de
dificuldades no manejo do solo e até deterioração de propiciar aos cultivos condições favoráveis de umidade,
suas propriedades físico-químicas; segundo Heuperman aeração, manejo agrícola e prevenindo a salinização e a
remoção do excesso de sais da área. Dessa forma a
et al. (2002), cerca de um terço das áreas irrigadas no
drenagem interna facilita a melhoria das condições
mundo enfrentam problema desta natureza (60 milhões
físicas, químicas e biológicas do solo, criando condições
de hectares), e destas, aproximadamente 20 milhões de favoráveis para o aumento e a melhoria da produtividade
hectares apresentam-se acúmulo de sais (salinização). e qualidade dos produtos.
Ante toda essa problemática, a drenagem convencional No entanto, um dos maiores entraves para utilização
(superficial e/ou subsuperficial) apresenta-se como desses sistemas de drenagens são o seu alto custo e os
técnica de engenharia amplamente difundida e impactos ambientais gerados por ocasião da instalação,
consolidada na resolução do problema. operação e manutenção. Neste contexto, o presente
A drenagem convencional é uma prática que permite texto se propõe a abordar a técnica da biodrenagem
a incorporação de áreas com deficiência de drenagem ao como tecnologia alternativa para resolução dos
processo produtivo, possibilita o incremento da problemas de alagamento, rebaixamento do nível do
produtividade agrícola, controla e recupera áreas com lençol freático e controle das concentrações de sais
problemas de salinidade e/ou sodificação, evita a (salinidade) no perfil do solo, que vem sendo
ocorrência de inundações, promovendo o seu largamente empregada em países como a Índia,
saneamento, e mantendo sob controle os agentes Austrália, Israel, Paquistão e Estados Unidos (Ram, et
causadores de doenças de veiculação hídrica, além de al., 2008; Gafni & Zohar, 2007; Heuperman et al., 2002;
Gafni & Zohar, 2001).
evitar danos à infra-estrutura de obras civis (Bernardo,
2005; Batista et al., 2002).
PRINCÍPIOS DA BIODRENAGEM
Quando de caráter superficial, a drenagem consiste
de um sistema de canais abertos conectados entre si, O termo biodrenagem é relativamente novo, embora,
com a função de remover o excesso de água da o uso da técnica tenha sido observado em diversas áreas
superfície do solo, na ocorrência de um evento de na resolução dos problemas de drenagem. Heuperman et
precipitação ou irrigação. Normalmente, este tipo de al. (2002) e Ram et al. (2008), relatam que a
sistema de drenagem é empregado em áreas planas, com biodrenagem pode ser entendida como o processo de
solo de baixa capacidade de infiltração e permeabilidade extração de água do solo através do sistema radicular das
ou com camadas impermeáveis logo abaixo da superfície plantas, e sua eliminação na forma de vapor, por meio dos
do solo. processos de evaporação e transpiração (Figura 1).
Biodrenagem 411

nível do lençol freático e controle das concentrações de


sais no solo em áreas com deficiência de drenagem.
Holmes & Wronski (1981) sugerem que nas
condições climáticas do sudeste da Austrália, com
precipitação média anual de 700 mm, as florestas de
eucaliptos podem promover um déficit anual de 250 mm,
enquanto culturas agrícolas, em condições semelhantes,
algo em torno de 180 mm. Tais estimativas implicam que
uma bacia que contém floresta de eucalipto, por exemplo,
deve, naquelas condições, produzir cerca de 70 mm a
Figura 1. Conceito de biodrenagem
menos de deflúvio anual, em comparação a exploração
A evaporação é o processo no qual a água na forma somente de culturas anuais.
líquida é convertida em vapor de água a partir de uma Já Akram et al. (2009), em seus trabalhos realizados
superfície evaporante (logos, rios, solo úmido, vegetação na Índia citam a Tamarix troupii, Tortilis acácia e
molhada, etc.). Já o processo de transpiração consiste na Acacia nilótica como espécies de alto potencial para
vaporização da água líquida contida nos tecidos vegetais utilização em sistemas de biodrenagem.
para a atmosfera, controlada predominantemente através
da abertura e/ou fechamento dos estômatos. VANTAGENS E LIMITAÇÕES
Considerando, a disponibilidade de água na superfície DA BIODRENAGEM
do solo, o processo de evapotranspiração pode ser
influenciado pelo clima, características da cultura Segundo Ram et al. (2008), as principais vantagens da
explorada, o tipo de manejo adotado e o meio de cultivo. biodrenagem em relação aos sistemas de drenagem
Então, a escolha de espécies de vegetais que promovam convencional são: baixo custo de implantação e
uma intensa demanda evapotranspirométrica é fator manutenção; inexistência de custos operacionais, em
determinante para o sucesso da biodrenagem. No razão das plantas utilizarem sua bioenergia para drenar
entanto, em áreas com problemas de drenagem o excesso de água do solo para a atmosfera; maior vida
localizadas em regiões áridas e semiáridas, e que útil do sistema, e sua consequente valorização ao invés
possuam problemas de salinidade, as espécies escolhidas de depreciação; inexistência de emissário e de geração
também devem apresentar tolerância aos efeitos dos sais, de efluentes; redução dos impactos ambientais; resolução
uma vez que a capacidade de absorção de água pode ser dos problemas de alagamento e controle da salinidade do
diretamente afetada. solo; auxilia também no sequestro de carbono, atenuando
Outra característica a ser considerada por ocasião da os problemas decorrentes dos gases do efeito estufa;
escolha da cultura a ser utilizada na biodrenagem é a sua aumento da cobertura vegetal; atua como quebra vento
posterior rentabilidade, isto é, aliar culturas que atendam em sistemas agroflorestais; além de proporcionar renda
aos requisitos da técnica (ter uma alta demanda adicional ao produtor devido a produção de madeira,
evapotranspirométrica), e que promova uma frutos etc.
remuneração ao produtor através dos seus produtos: Na Tabela 1, encontram-se elencados alguns
madeira, frutas, forragens etc. parâmetros que apontam as potencialidades e limitações
do sistema de biodrenagem em relação aos sistemas
PRINCIPAIS CULTURAS UTILIZADAS convencionais; e na Tabela 2, estão sumarizado diversos
NA BIODRENAGEM cenários, e que tipo de sistema de drenagem é mais
adequado a cada situação.
Atualmente, vários trabalhos têm sido desenvolvidos
com diversas espécies vegetais, na busca de selecionar BIODRENAGEM E CONTROLE
as mais adaptadas para resolução dos problemas de DA SALINIDADE DO SOLO
drenagem.
Heuperman et al. (2002) e Ram et al. (2008), A prática da irrigação sempre aporta certa
descrevem em seus trabalhos desenvolvidos em regiões quantidade de sais ao solo, mesmo quando o suprimento
de clima árido e simiárido, que a implantação do sistema de água é de boa qualidade; as causas deste processo
de biodrenagem utilizando o cultivo de eucaliptos tem remetem aos grandes volumes de água aplicados via
tornado-se uma opção bastante interessante, frente a irrigação, que ao final de um ciclo de cultivo aporta
resolução dos problemas de alagamento, rebaixamento do quantidades significativas de sais.
412 Salomão de S. Medeiros et al.

Tabela 1. Comparação entre diferentes métodos de drenagem


Métodos de Drenagem

Parâmetros Convencional
Biodrenagem
Horizontal Vertical

Eficiência e dependência - Boa eficiência - Boa eificiência - Vários sistemas têm


- Necessida de emissário - Necessidade de reúso dos apresentado bons resultados
- Lagoa de evaporação tem efluentes - Atualmente, não tem sido uma
apresentado resultados - Lagoa de evaporação tem alternativa em grandes projetos
intermediários apresentado resultados de irrigação
- Evaporadores solares podem intermediários - Não há necessidade de
compor o sistema. - Evaporadores solares podem implantação de emissários.
compor o sistema.

Custo - Médio a alto - Médio a alto - Baixo custo e com


possibilidade de retorno
econômico

Vantagens / limitações - Apresenta maior controle do - Proporciona controle do nível - Permite incorporação de áreas
nível do lençol freático do lençol freático e do alagadas ao processo produtivo
- Permite incorporação de áreas escoamento superficial - Proporciona controle do nível
alagadas ao processo produtivo - Permite incorporação de áreas do lençol freático
- Oferece maior controle da alagadas ao processo produtivo - Oferece segurança a cultura
salinidade do solo e a - Oferece maior controle da explorada quanto as ações de
possibilidade da retirada do salinidade do solo e a ventos fortes
excesso de sais da área. possibilidade da retirada de sais - Possibilita uma renda extra ao
da área. produtor, devido a extração de
madeira, óleos vegetais e
produtos florestais
- Incrementa a biodiversidade
local
- Ocupa uma área considerável
quando comparado ao sistema
de drenagem superficial
- Proporciona controle limitado
da salinidade do solo.

Operação e Manutenção - Manutenção periódica da - Manutenção periódica da - Necessidade de poda, desbaste


tubulação e drenos abertos tubulação, motobombas, telas, e colheita da madeira
- Remoção periódica dos sais etc. - Controle de pragas e doenças.
nas lagoas de evaporação. - Consumo de energia elevado
em relação a outros métodos.

Área ocupada - Somente para os drenos - O sistema ocupa uma área - Ocupa áreas relativamente
abertos e lagoas de evaporação. muito pequena. grande; em sistemas
implantados na Índia o sistema
chega a ocupar 10% da área
irrigada.

Exigência de água de boa - Não se aplica. - Não se aplica. - Somente durante a fase de
qualidade estabelecimento das árvores.

Necessidade de energia - Eventualmente, utiliza-se de - Para retirada da água - Não se aplica.


estações de bombeamento subterrânea através das estações
elevatórias quando o terreno de bombeamento elevatória.
apresenta limitações
topográficas que não permite o
escoamento gravitacional.

Impacto ambiental causado no - Adverso; devido à água de - Adverso; devido à água de - Positivo; pelo fato do sistema
entorno drenagem apresentar altas drenagem apresentar altas não produzir afluentes.
concentrações de sais, produtos concentrações de sais, produtos - Em face da possibilidade de
químicos e nutrientes químicos e nutrientes. acúmulo de sais na área do
- Lagoas de evaporação quando sistema, haverá necessidade de
não bem manejadas podem implantação de uma área de
causar impactos ambientais disposição final dos sais.
significativos.
Adaptado de Heuperman et al. (2002).
Biodrenagem 413

Tabela 2. Escala de eficiência dos sistemas de drenagem segundo as características da região


Potencial e Limitações da Biodrenagem
Escala de Eficiência
Cenários Benefícios/
Viabilidade Méritos dos Sistemas de Drenagem
Limitações
Região úmida com Viável Menor custo com Ocupação de Região com Região com
água subterrânea de impacto ambiental parte da área excesso de água déficit de água
boa qualidade positivo. com o sistema 1. Biodrenagem 1. Drenagem
2. Drenagem superficial
subsuperficial 2. Biodrenagem
3. Drenagem 3. Drenagem
superficial subsuperficial
Região úmida com Quando a Menor custo com Ocupação de Região costeira Interior
água subterrânea de salinidade do solo impacto ambiental parte da área
má qualidade é excessiva (por positivo com o sistema 1. Drenagem 1. Biodrenagem
exemplo, mais de subsuperficial 2. Drenagem
12 dS m-1) a 2. Biodrenagem superficial
efetividade do 3. Drenagem 3. Drenagem
sistema pode ser superficial subsuperficial
comprometida
Regiões áridas e Viável Menor custo com Não apresenta 1. Drenagem superficial
semiárida, com água impacto ambiental limitações 2. Biodrenagem
subterrânea de boa positivo 3. Drenagem subsuperficial
qualidade
Regiões áridas e Quando a Menor custo com Quando se Região costeira Interior
semiárida, com água salinidade do impacto ambiental dispõem da água
subterrânea de má solo é excessiva positivo de qualidade 1. Drenagem 1. Biodrenagem
qualidade (por exemplo, inferior para subsuperficial 2. Drenagem
mais de 12 dS m-1) irrigação 2. Biodrenagem superficial
a efetividade do 3. Drenagem 3. Drenagem
sistema pode ser superficial subsuperficial
comprometida
Adaptado de Kapoor (2010).

Estudos desenvolvidos por Akram et al. (2009), e semiáridas é o equilíbrio do balanço de sais e a sua
demonstram que em sistemas de biodrenagem, a acumulação na região dos biodrenos; para estes autores
salinidade do solo na região das linhas de plantio, a sustentabilidade do sistema é questionável, exceto
denominado biodrenos, eleva-se nos primeiros dois anos quando a qualidade da água de irrigação é boa ou, o
e, mantendo-se estáveis nos anos subsequentes. No sistema está implantado em um local onde a precipitação
entanto, a salinidade do solo é proporcional à média anual é elevada.
concentração de sais da água de irrigação; porém, Em zonas áridas e semiáridas, a viabilidade desse
quando se utiliza águas com baixas concentrações, sistema só pode ser alcançada se algum tipo de
pequenas frações de lixiviação são suficientes para mecanismo de remoção sal for incluído o sistema; estes
manter os níveis de sais baixos na zona radicular dos mecanismos podem ser a colheita da folhagem,
biodrenos. Contudo, à medida que a concentração de sais raspagem de sais acumulados na superfície do solo onde
na água de irrigação aumenta, há um incremento estão os biodrenos e consórcio utilizando culturas que
significativo da salinidade na zona radicular dos possuem a capacidade de extrair sais do solo, como a
biodrenos, interferindo de forma negativa na absorção de atriplex. Nesses casos alguns autores como Heuperman
água. et al. (2002) sugerem combinar a técnica da biodrenagem
Em contrapartida, nas áreas onde a camada com as tecnologias de engenharia de drenagem
impermeável esta localizada em maiores profundidades, convencionalmente utilizadas.
menor será a concentração de sais na zona radicular dos Obviamente que os estudos relativos à utilização da
biodrenos, devido o deslocamento vertical dos sais para biodrenagem como alternativa para a prevenção e
as camadas mais profundas. controle da salinidade em regiões áridas e semiáridas
De acordo com Akram et al. (2009), a principal necessita de estudos mais aprofundados, no entanto,
restrição da utilização da biodrenagem em regiões áridas Akram et al. (2009), apontam que a salinidade máxima
414 Salomão de S. Medeiros et al.

inicial da água do solo passível de controle através da quando o sistema de biodrenagem é superdimensionado
técnica da biodrenagem num período de 5 a 10 anos é de – onde se cria uma zona (área localizada no topo da
cerca de 5 dS m-1. Em muitos casos, até mesmo uma encosta) de elevada demanda de água
salinidade do solo inicial de 3 dS m -1 não pode ser (evapotranspiração), que ocasiona uma brusca redução
tolerada durante um longo período de tempo, por exemplo, do nível do lençol freático no trecho de jusante (Figura
20 anos. 2), reduzindo a disponibilidade de água no solo para as
Nessas condições, assumindo que a salinidade da culturas de sistema radicular pouco profundo, além da
água do solo é quase 1,5 vezes a salinidade da água de diminuição do fluxo de água para o leito dos rios e
irrigação (Ayres & Westcot, 1999), pode-se concluir que abastecimento dos poços explorados na área.
o sistema de biodrenagem pode não funcionar
corretamente quando a salinidade da água de irrigação
excede 3,3 dS m -1 . Isso é verdade, claro, onde a
precipitação anual é de 250 mm, como foi o caso da área
onde estes estudos foram realizados. Considerando que
a chuva dilui a salinidade da água do solo, pode-se
esperar que o risco de salinização do solo seja menor em
áreas úmidas.

CENÁRIOS PARA IMPLANTAÇÃO


DO SISTEMA DE BIODRENAGEM

Segundo Heuperman et al. (2002) a biodrenagem


pode ser empregada tanto em sistemas de cultivos de
sequeiro como irrigados.
Em sistema de cultivo de sequeiro a biodrenagem
pode atuar no controle de recarga dos aquíferos, na Figura 2. Plantio de árvore em área de recarga objetivando
interceptação dos fluxos das águas subterrâneas e no controle do nível do lençol freático. (Adaptado de
controle das vazões de descarga; já em sistemas Heuperman et al., 2002)
irrigados sua atuação é no controle do nível do lençol
Interceptação dos fluxos de águas subterrâneas
freático da área; na interceptação do fluxo de água em
Outra contribuição da biodrenagem nos sistemas de
áreas que apresentam maiores probabilidade de
cultivo de sequeiro é a interceptação dos fluxos de água
ocorrência de infiltração (áreas próximas aos canais de
subterrânea nas áreas de encostas; então, a instalação
irrigação) e/ou complementando ações dos sistemas de
dos biodrenos deve ser na mudança da face convexa para
drenagem convencional.
côncava (Figura 3).
Sistema de cultivo em sequeiro
Controle de recarga dos aquíferos: Em sistemas
naturais a sustentabilidade ambiental depende do
equilíbrio entre os fluxos de recarga e descarga da água
subterrânea. Notadamente em sistemas de cultivos
anuais, caracterizadas por apresentarem sistemas
radiculares pouco profundos e com baixo consumo de
água, associado à baixa capacidade de movimentação de
água dos aquíferos têm favorecido invariavelmente a
elevação do nível freático e a consequente salinização
dos solos, frente ao desequilíbrio entre os fluxos de água
de recarga e descarga.
Na Figura 2, apresenta-se o cenário onde a
biodrenagem pode atuar no caso do controle da recarga
de aquíferos; entretanto, deve-se ressaltar que sistema de Figura 3. Plantio de árvore em encosta objetivando interceptar
biodrenagem mal planejados em áreas de recarga pode o fluxo de água subterrânea lençol freático. (Adaptado de
ocasionar efeitos negativos. Tal situação pode ocorrer Heuperman et al., 2002)
Biodrenagem 415

Controle das vazões de descarga consequência a ruptura de suas placas de concreto,


Nas áreas de várzeas onde o nível do lençol freático ocasionado pela elevação do nível do lençol freático,
é superficial, a introdução da técnica da biodrenagem provocado pela irrigação excessiva e agravada pela
pode favorecer condições satisfatórias ao precipitação ocorrida no período chuvoso.
desenvolvimento de sistema de cultivo de sequeiro
(Figura 4). Todavia, neste caso existem contestações a
cerca da sustentabilidade do sistema. Smedema (1997)
e Heuperman (2000) sugerem que em áreas de várzeas
o sistema de biodrenagem pode ser implantado apenas
como ação complementar ao sistema convencional.

Figura 5. Área localizada no Perímetro Irrigado de São


Gonçalo, Sousa-PB, em completo abandono devido altas
concentrações de sais na superfície do solo (detalhe A) e
do nível do lençol freático a menos de 20 cm da superfície
(detalhe B)

A B
Figura 4. Plantio de árvore em área de várzea objetivando
controle das vazões de descargas. (Adaptado de
Heuperman et al., 2002)

Sistema de cultivo irrigado


Controle do nível do lençol freático: É vasta a
quantidade de áreas cultivadas no Brasil, irrigadas ou
não, que apresentam problemas de drenagem natural.
Segundo Batista et al. (2002), somente no Vale do Rio
São Francisco estima-se que existam, aproximadamente,
50.000 ha irrigados que apresentam problemas de
salinidade, ocasionado principalmente pela deficiência
de drenagem, e destas, somente na região do sub-médio Figura 6. Deslocamento de um trecho do canal principal do
São Francisco existem em torno de 15.000 ha Perímetro Irrigado Formoso, Bom Jesus da Lapa-BA (A)
salinizados e em completo abandono. A existência de com a consequente ruptura de suas placas de concreto
áreas irrigadas com problemas de salinização (B) decorrente do alto nível do lençol freático
ocasionados principalmente pela falta de drenagem e
manejo inadequado da irrigação não é exclusividade do Na Figura 7, observa-se o afloramento de água em
Vale do São Francisco, atualmente, no estado da uma área de carga e descarga de um “packing house”
Paraíba vários perímetros irrigados encontram-se em ocasionando danos à estrutura de pavimentação, em
situação semelhante (Figura 5). razão do elevado nível do lençol freático.
Além da salinização dos solos, outro grave problema Em ambas as situações (Figuras 5, 6 e 7) os
ocasionado pela elevação do nível do lençol freático são transtornos e perdas econômicas são grandes, porém, a
os danos causados as obras civis das áreas irrigadas. Na adoção de um manejo de irrigação racional (baseado nas
Figura 6 (A e B), pode ser constatado o levantamento necessidades hídricas das culturas), associada a
(empuxo) de um trecho de canal, tendo como implantação de um sistema de biodrenagem podem
416 Salomão de S. Medeiros et al.

Figura 7. Afloramento superficial de água em área de carga e


descarga de um packing house ocasionado pelo elevado B
nível do lençol freático no Perímetro Irrigado Nilo
Coelho, Petrolina-PE

constituir em soluções eficientes, frente ao controle do


nível do lençol freático.

Interceptação do fluxo de água


Os vazamentos ocorridos ao longo dos canais de
irrigação (Figura 8) é também uma das causas
relacionadas à elevação do nível do lençol freático em
áreas irrigadas. Dependendo da natureza do vazamento
podem ocorrer altas taxas de infiltração de água
causando nas áreas adjacentes alagamento e
consequentemente problemas de salinidade. Outro
problema relacionado com vazamentos dos canais são os Figura 8. Ocorrência de vazamentos ao longo dos canais de
irrigação no Perímetro Irrigado Tourão (A), Juazeiro-BA
danos a infraestrutura da propriedade, em especial, a
e São Gonçalo (B), Sousa-PB
malha viária (Figura 8 B).
Sendo, o desgaste das juntas de dilatação e as trincas
em áreas que requer gastos com sistemas de
ocorridas nas placas de concreto (Figura 8 A e B,
bombeamento, em face das limitações topográficas
respectivamente) as principais causas para a ocorrência
(Figura 9).
de vazamentos nos canais de irrigação; a solução
precede de uma adequada manutenção preventiva dos
PLANEJAMENTO DE SISTEMAS
canais; entretanto, dependendo da natureza do
vazamento a implantação da biodrenagem pode minimizar DE BIODRENAGEM
os efeitos negativos, pela interceptação do fluxo de água
subterrânea, evitando assim encharcamento e O planejamento de qualquer sistema de drenagem
alagamento das áreas adjacentes e os danos a malha requer o conhecimento das características do solo,
viária. geologia, topografia, estudos da variação do lençol
freático e da qualidade de sua água, qualidade da água
Complementação ao sistema de drenagem de irrigação e do tipo de sistema a ser utilizado,
convencional condutividade hidráulica, porosidade drenável, condições
A biodrenagem também pode, e deve sempre ser climáticas e quais culturas irão ser exploradas
utilizada quando possível complementando ações dos economicamente na área do projeto. Então, na
sistemas de drenagem convencional. O principal cenário implantação de um sistema de biodrenagem além destas
que se pode lançar mão da biodrenagem como ação características, deve-se conhecer a taxa de
complementar, é na retirada de parte do excesso de água evapotranspiração diária da espécie vegetal, de modo
Biodrenagem 417

Figura 9. Área de várzea em que as limitações topográficas restringem o escoamento de água por meio gravitacional

que seu valor seja compatível com a taxa de recarga  - declividade da curva de pressão de vapor, kPa
líquida. °C-1;
Para fins de planejamento consideram-se que as Rn - radiação líquida na superfície de cultivo,
plantas que irão constituir os biodrenos estão livres de MJ m-2 dia-1;
pragas e doenças, sem restrições nutricionais, em G - fluxo de calor do solo, MJ m2 dia-1;
excelentes condições de umidade no solo, baixo níveis de  - constante psicrométrica, kPa °C-1;
salinidade e, alcançando elevados índices de Tméd - temperatura média do ar medida a 2 m de
produtividade; nestas condições a evapotranspiração altura, °C;
processa-se em condições padrão, podendo ser estimada e s - pressão média de saturação de vapor, kPa;
pelo produto da evapotranspiração do cultivo de ea - pressão real de vapor, kPa;
referência e o coeficiente de cultivo (Eq. 1). u2 - velocidade do vento medida a 2 m de altura,
m s-1.
ETc  ETo * K c (1)
Por outro lado, a capacidade de absorção de água pela
em que: plantas é bastante influenciada pelas concentrações de
sais no solo, no entanto, as plantas que irão constituir os
ETc - evapotranspiração do cultivo em condições
biodrenos deverão apresentar tolerância (Tabela 3) a fim
padrão, mm dia-1;
de minimizar esse efeito.
ETo - evapotranspiração do cultivo de referência,
mm dia-1;
DIMENSIONAMETO DO SISTEMA
Kc - coeficiente de cultivo, admensional.
DE BIODRENAGEM
O conceito de evapotranspiração do cultivo de Do ponto de vista hidrológico, o dimensionamento dos
referência foi introduzido para estudar a demanda de sistemas de drenagem consiste em determinar a relação
evapotranspiração da atmosfera, independente do tipo e entre o espaçamento e a profundidade dos drenos
estádio de desenvolvimentos das culturas, e das práticas laterais, de modo que, o sistema satisfaça um
de manejo; porém, em face da não restrição de água na determinado critério de drenagem. Todavia, os modelos
superfície de evapotranspiração de referência, as utilizados no cálculo dos espaçamentos dos drenos são
características do solo não influenciam o seu valor, sendo, agrupados de acordo com o regime de escoamento:
as variáveis meteorológicas (temperatura do ar, umidade permanente e variável.
relativa, velocidade do vento e radiação solar) as únicas A aplicação dos modelos de regime permanente
a influenciá-la, onde, o modelo FAO Penman-Monteith pressupõe que o lençol freático encontra-se estabilizado no
tem sido proposto como padrão para sua estimativa tempo e no espaço, isto é, a quantidade de água que entra
(Allen et al., 2006). no sistema (carga) é igual à quantidade eliminada pelos
drenos (descarga). Esta situação geralmente ocorre em
  regiões, onde as chuvas têm baixa intensidade e longa
0,408 * R n  G    u 2 e s  e a 
900
 duração. Neste caso, Heuperman et al. (2002), indicam o
 Tmed  273 
ETo  (2) modelo desenvolvido por Hooghoudt (Eq. 3) como o mais
   1  0,34u 2 
indicado na estimativa do espaçamento entre biodrenos.

onde: 8KYo h 4Kh 2


L2   (3)
ETo - evapotranspiração de referência, mm dia1; R R
418 Salomão de S. Medeiros et al.

Tabela 3. Relação de algumas espécies arbóreas que podem Considerando o cenário apresentado na Figura 10,
ser utilizadas em biodrenagem, classificadas segundo a uma R = 0,0005 m dia -1; Yo = 10 m e h = 10 m; as
tolerância ou sensibilidade à salinidade distâncias entre biodrenos (L) serão de 1.500, 500 e 150
Classificação Espécies m para valores de K de 1, 0,1 e 0,01 m dia -1 ,
Tolerante Tamarise troupii, Tamarise
respectivamente.
(CEes 25 - 35 dS m-1) artiaulata, Prosopis juliflora,
Pithecollobium dulce, Sob condições de regime variável a principal proposta
Parkinsonia aculeata, para espaçamento de drenos foi feito por Glover-Dumm
Acacia farnesiana (Eq. 4), pressupondo que: em consequência do evento de
Moderadamente tolerante Callistemon lanceolatus, chuva ou de irrigação, o lençol freático eleva-se a certa
(CEes 15 - 25 dS m-1) Acacia nilotica, Acacia altura, em relação a seu nível inicial e, cessada o evento,
pennatula, Acacia tortilis, ele começa a descer; esta situação corresponde ao caso
Casuarina glauca, Casuarina de regiões com precipitação irregular, de intensidade
obessa, Casuarina variável e de curta duração. No Brasil, especialmente no
equisetifolia, Eucalyptus
semiárido, os regimes pluviométricos têm esta
camaldulensis, Leucaena
leucocephala, Erescentia
característica, sendo este modelo uma boa aproximação.
alata
Moderadamente sensível Casuarina cunninghamiana,  2 K d  h t
(CEes 10 - 15 dS m-1) Eucalyptus tereticornis, L2  (4)
 h 
Acacia auriculiformis,   ln1,16 o 

Guazuma ulmifolia,  ht 
Leucanea shannonii,
Samanea saman, Albizzia
caribea, Senna atomeria, em que:
Terminalia arjuna, Pongamia L - distância entre os biodrenos (m);
pinnata K - condutividade hidráulica do extrato saturado
Sensível Syzigium cumimi, Syzigium (m dia-1);
(CEes 7 - 10 dS m-1) fruticosum, Tamarindus d - estrato do solo (m);
indica, Salix spp., Acacia t - tempo transcorrido a partir do momento que o
deanei, Albizia quachepela,
lençol freático começou a descer (dias);
Alelia herbertsmithi,
Ceaselpimia eriostachya,
h - raiz quadrada do produto entre h0 e ht;
Caesalpinia velutina, μ - espaço poroso drenável que se considera
Halmatoxylon brasiletto constante;
Adaptado de Heuperman et al., 2002. h0 - carga hidráulica inicial no ponto médio entre os
biodrenos (m).
onde: ht - carga hidráulica inicial no ponto médio entre os
L - Distância entre biodrenos (m) biodrenos no tempo (t).
R - Taxa de recarga (m dia-1)
Yo - Distância entre o rebaixamento do nível do ESTUDOS DE CASOS E EXPERIÊNCIAS
lençol freático e a camada de impedimento (m)
K - Condutividade hidráulica do extrato saturado Índia
(m dia-1) O estudo ora apresentado foi desenvolvido na
h - depressão do lençol freático (m) Unidade de Pesquisa de Puthi, distrito de Hissar no

Figura 10. Rebaixamento do lençol freático em razão da distância entre linhas de plantio. (Adaptado de Heuperman et al., 2002)
Biodrenagem 419

estado de Haryana, e consistiu em avaliar a configuração foi de 60 m e entre poços de 33 m (Figura 11 B). No
de um sistema de biodrenagem, em uma área com sentido Norte/Sul da área foram construídos quatro
problemas de alagamento devido à deficiência de camalhões no formato trapezoidal (base maior 2,60 m,
drenagem natural e a ocorrência de vazamentos em base menor 2,00 m e altura de 0,50 m), espaçados a cada
canais de irrigação (Figura 11 A). Anteriormente, ao 66 m. Em cada camalhão foram plantadas duas fileiras
agravamento dos problemas de drenagem na área era de árvores (Eucalyptus tereticornis) no espaçamento
possível a exploração de milheto, feijão, mostarda, 1,0 x 1,0 m, resultando em uma densidade de 300 plantas
algodão e trigo, todavia, à medida que o problema foi se por hectare. Em razão desta densidade de plantio, o
intensificando a exploração resumiu-se ao cultivo de trigo sistema de biodrenagem ocupou apenas 4% da área
e arroz. O clima da região é semiárido monsonico, com total, permitindo que 96% da área fossem exploradas
verão quente, inverno frio e precipitação média de 212 com trigo.
mm. O solo da área experimental apresentava textura Por meio da Figura 12, constata-se que a configuração
arenosa, sodicidade e condutividade elétrica (CE) da do sistema de biodrenagem apresentou eficácia no
pasta saturada do solo variando de 0,53 a 2,67 dS m-1. controle do nível do lençol freático da área. Segundo
Para monitorar o nível do lençol freático da área Ram, et al. (2008), dois anos e três meses após a
experimental foram instaladas duas fileiras de poços de implantação do sistema, a redução média do lençol
observação, uma mais ao Norte e outra mais ao Sul; o freático na área experimental foi em torno de 18 cm;
espaçamento entre as fileiras dos poços de observação enquanto, durante o período compreendido entre abril de
2005 a abril de 2008 o rebaixamento médio foi de 85 cm
A (Figura 12).
Profundidade (m)

Distância (m)
Figura 12. Comportamento do lençol freático antes e após
B implantação do sistema de biodrenagem. (Adaptado de
Ram et al., 2008)

Ram, et al. (2008), também relatam que em maio de


2008, a taxa de transpiração das plantas alcançou
valores médios de 50 L dia-1 por planta, correspondendo
a 438 mm por ano em uma região com precipitação
média de 212 mm. Diante do exposto, evidencia-se que
o sistema de biodrenagem pode a vir como uma
alternativa na incorporação de áreas com deficiência de
drenagem ao processo produtivo, possibilitando assim o
incremento da produção agrícola. Outros aspectos
importantes do sistema é a geração de renda adicional na
Figura 11. Localização (A) e layout (B) da Unidade de propriedade, por meio da produção de madeira, e a
Pesquisa de Puthi. (Adaptado de Ram et al., 2008) contribuição ao meio ambiente, pela possibilidade de
420 Salomão de S. Medeiros et al.

sequestro de carbono; os autores relatam ainda que o A


sistema de biodrenagem implantada na Unidade de
Pesquisa de Puthi, após cinco anos e quatro messes,
produziu em média 47 m 3 ha -1 de madeira, reteve
aproximadamente, 25 t ha-1 de carbono e possibilitou que
os rendimentos de trigo na área fosse 3,34 vezes
superior as das áreas adjacentes ao sistema.

Israel
O Vale de Yizre’el é uma extensa planície circundada
de montanhas localizada na porção Norte do Estado de
Israel (Figura 13 A); caracteriza-se por apresentar clima
semiárido, e preponderância de Vertissolos crômicos
com predomínio de argila montmorilonita, e não
isotrópicos. Em meados dos anos 1960, quando o
algodão tornou-se a cultura dominante no Vale, a
irrigação foi amplamente difundida e diversos
reservatórios foram construídos visando regularizar a
oferta de água no período de escassez (verão). Ao longo B
dos anos, essas ações associadas às condições climáticas
e ao uso indiscriminado de águas de qualidade inferior
(águas residuárias tratadas) associado à falta de manejo
de irrigação em solos com deficiência de drenagem
resultou na elevação do nível do lençol freático,
provocando a salinização e o início do processo de
sodificação de extensas áreas agrícolas (Gafni & Zohar,
2001 e Heuperman et al., 2002). Gafni & Zohar (2007),
relatam que os efeitos da salinidade foram mais
pronunciados em meados da década de 1980, quando,
estudos identificaram que em todo o Vale de Yizre’el
mais de 1.500 ha apresentavam indícios de salinização, Figura 13. Mapa de situação do Vale Yizre’el no Estado de
dos quais, 800 ha já se encontravam em processo Israel (A) e localização das cinco áreas piloto de
avançado de salinização e sodificação. biodrenagem (B)
Estudos apontaram que a primeira ação para inibir os
avanços da salinização e sodificação, e a incorporação área de 0,625 ha utilizando-se de onze clones diferentes
das áreas já afetadas ao processo produtivo, passava no espaçamento de 3 x 3 m, alcançando uma densidade
inicialmente, pelo rebaixamento do nível do lençol de plantio de 1.100 árvores por hectare. As variáveis
freático; então, vários tipos de sistemas de drenagem monitoradas foram nível do lençol freático; salinidade do
convencional foram concebidos, testado e amplamente solo, expressa pela concentração de cloreto (Cl -) e
utilizados em todo o Vale, provando-se ser um sucesso. condutividade elétrica do extrato da pasta saturação do
No entanto, com o declínio da rentabilidade das culturas solo (CE), e a sodicidade pela relação de adsorção de
exploradas, e agravada pela falta de subsídio do governo, sódio (RAS).
a drenagem convencional tornou-se economicamente No entanto, sendo as áreas experimentais de Nahalal
inviável, abrindo discussões entre os especialistas, acerca e Genigar (Figura 13 B) representativas dos dois
da viabilidade da biodrenagem (Gafni & Zohar, 2007). extremos em termos de clima, hidrologia, salinidade,
Os estudos de biodrenagem foram realizados com sodicidade e associada à taxa de crescimento das
duração de dez anos (1993 a 2003), em cinco áreas espécies de eucalipto plantadas, foram objeto de estudo
experimentais (Figura 13 B), representativas da mais detalhado por Gafni & Zohar (2007). De acordo
variabilidade climática, regime hidráulico e do grau de com relatos desses autores, a precipitação média anual
salinização e sodificação que o Vale Yizre’el apresentava. em Nahalal é de 650 mm, e a área também recebe o
Na implantação do sistema de biodrenagem foram excesso de água a partir de várias outras fontes locais;
plantadas mudas de Eucalyptus camaldulensis em um já em Genigar, a precipitação média anual é de 450 mm
Biodrenagem 421

e não recebe contribuição de nenhuma fonte externa de Já na área experimental de Genigar (Figura 14 B), o
água. A evaporação máxima registrada durante a sistema de biodrenagem mostrou-se mais efetivo no
execução do experimento foi de 6,9 mm dia-1 em agosto controle do nível do lençol freático, mantendo-se
de 2003. aproximadamente a 2,0 m de profundidade, na maior
Na Figura 14, são registradas as flutuações sazonais parte do tempo. Segundo Gafni & Zohar (2007), a
dos níveis dos lençóis freáticos nas áreas experimentais efetividade do sistema deve-se a maior extração de água
de Nahalal (A) e Genigar (B), e em áreas nas suas
pelas plantas (evapotranspiração) quando comparadas
adjacências. Observa-se que nas áreas experimentais o
com o volume precipitado e a baixa influência de fontes
sistema de biodrenagem influenciou o nível do lençol
de águas externas (irrigação).
freático em relação às áreas sem o sistema; no entanto,
Na Figura 15 e na Tabela 4, apresenta-se o
na área experimental de Nahalal apesar do sistema de
biodrenagem extrair aproximadamente 1.350 mm por ano, comportamento da salinidade do solo, expressa pela CE
as flutuações do nível do lençol freático foi semelhante e a concentração de Cl- no perfil do solo (por ser o íon
a da área em sua adjacência, em virtude das presente em maior concentração em relação aos demais
contribuições dos volumes de entrada de água íons na solução do solo) durante os dez anos de
(precipitação e fontes externas) se aproximar dos monitoramento nas áreas experimentais de Nahalal e
extraídos (evapotranspiração das árvores) pelo sistema Genigar. Constata-se que na área experimental de
de biodrenagem, em grande parte do tempo, exceto no Nahalal o comportamento da salinidade no perfil do solo
período de estiagem. (Figura 15 A e Tabela 4) até 4,0 m de profundidade foi

A A
Condutividade elétrica (dS m-1)
Profundidade (m)

Profundidade (m)

B B
Condutividade elétrica (dS m-1)
Profundidade (m)

Profundidade (m)

Figura 14. Comportamento do nível do lençol freático nas Figura 15. Comportamento da condutividade elétrica do
áreas experimentais de Nahalal (A) e Genigar (B) e em extrato saturado do solo nas unidades experimentais de
áreas nas suas adjacências no Vale Yizre’el, Israel. Nahalal (A) e Genigar (B) no Vale Yizre’el, Israel.
(Adaptado de Gafni & Zohar, 2007) (Adaptado de Gafni & Zohar, 2007)
422 Salomão de S. Medeiros et al.

Tabela 4. Concentrações de Cl- no perfil do solo nas áreas experimentais de Nahalal e Genigar localizadas no Vale Yizre’el,
Israel. (Adaptado de Gafni & Zohar, 2007)
Concentração de Cloreto (mg L-1)
Prof.
(m) Nahalal Genigar
1993 1999 2001 2002 2003 1993 1999 2001 2002 2003
0,00 - 0,30 232 1498 1558 1007 1052 3607 705 293 226 484
0,30 - 0,60 612 1370 2245 632 816 1072 1390 524 852 744
0,60 - 0,90 682 1216 673 422 482 725 1513 974 1471 1194
0,90 - 1,20 533 676 675 388 472 489 1446 1567 1644 1651
1,20 - 1,50 610 600 706 415 275 730 1267 1484 1766 1999
1,50 - 1,80 476 320 547 389 293 559 1260 1500 1753 2028
1,80 - 2,10 414 277 801 412 186 450 1267 1402 1619 2147
2,10 - 2,50 - 233 618 516 171 - 1493 1321 1678 2027
2,50 - 300 - 531 256 251 192 - 1589 1409 2228 2356
3,00 - 350 - 405 248 260 233 - 1376 1787 1596 2105
3,50 - 400 - - 266 271 248 - - 2054 467 820
4,00 - 4,50 - - 337 282 181 - - 1729 459 207
4,50 - 5,00 - - 334 245 187 - - 307 293 179
5,00 - 5,50 - - 280 280 203 - - 421 221 213
5,50 - 6,00 - - - 280 211 - - 424 212 193

altamente variável; influenciada pela limitada capacidade (Figura 15 B), a camada superficial (0 – 0,60 m)
de drenagem do solo, que manteve o nível do lençol apresentava altos valores de CE (> 10 dS m -1 ), e
freático elevado na maior parte do tempo (Figura 14 A), posteriormente, observa-se uma redução significativa; em
restringindo a lixiviação dos sais para as camadas uma análise mais cuidadosa do comportamento da CE no
inferiores. Gafni & Zohar (2007), ressaltam que, além das perfil do solo ao longo do tempo, observa-se aumento da
condições ambientais locais (condutividade hidráulica do CE com aumento da profundidade; revelando uma
solo, regime pluviométrico, balanço hídrico, qualidade da migração gradual dos sais para as camadas mais
água local e o volume extraído pelo sistema de profundas (Tabela 4).
biodrenagem), o uso excessivo de insumos agrícolas A implantação do sistema de biodrenagem não
(adubos) e o manejo de irrigação inadequado nas áreas demonstrou efetividade na redução dos níveis de
adjacentes pode ter influenciado esse comportamento. sodicidade do solo nas áreas experimentais (Tabela 5).
Quanto à área experimental de Genigar, observa-se Na área experimental de Nahalal observa-se um ligeiro
que antes da implantação do sistema de biodrenagem aumento da RAS na camada de 0 – 0,60 m, atingido um

Tabela 5. Valores da razão de absorção de sódio (RAS) no perfil do solo nas áreas experimentais de Nahalal e Genigar
localizadas no Vale Yizre’el, Israel. (Adaptado de Gafni & Zohar, 2007)
RAS L-1)1/2
RAS (mmol
Prof.
(m) Nahalal Genigar
1993 1999 2001 2002 2003 1993 1999 2001 2002 2003
0 - 0,30 4,79 4,70 7,21 5,53 6,31 7,63 4,37 6,31 6,76 9,50
0,30 - 0,60 5,10 4,03 6,34 4,95 7,36 7,93 6,5 7,11 9,62 9,80
0,60 - 0,90 5,12 3,84 3,85 4,58 4,44 7,35 6,83 8,00 8,37 9,46
0,90 - 1,20 4,97 2,97 3,67 3,61 4,20 8,11 7,17 8,54 8,27 10,74
1,20 - 1,50 5,09 2,79 3,74 3,54 3,57 8,18 7,40 8,73 8,14 10,67
1,50 - 1,80 4,25 2,56 3,20 3,90 3,03 8,48 7,30 9,06 8,82 11,18
1,80 - 2,10 3,96 2,50 3,36 2,92 2,93 7,92 7,27 8,55 9,67 11,22
2,10 - 2,50 - 2,36 3,03 2,69 3,08 - 8,83 9,24 10,29 11,78
2,50 - 300 - 2,58 2,52 2,43 3,09 - 10,08 10,15 11,16 11,23
3,00 - 350 - 2,77 2,51 2,38 3,20 - 8,84 11,44 8,56 14,46
3,50 - 400 - - 2,66 2,31 3,19 - - 12,09 6,36 10,01
4,00 - 4,50 - - 2,66 2,30 3,07 - - 10,73 6,22 6,06
4,50 - 5,00 - - 2,63 2,28 2,82 - - 6,78 4,90 6,17
5,00 - 5,50 - - 2,67 2,34 3,05 - - 6,83 4,32 5,78
5,50 - 6,00 - - - 2,25 3,06 - - 7,92 4,16 5,45
Biodrenagem 423

valor máximo de 7,36 em 2003, posteriormente, foi Densidade de plantio é outro ponto que deve ser
observado uma pequena redução nas demais camadas. considerado, visto que, o sistema deve promover a
Na área experimental de Genigar o efeito da máxima taxa de evapotranspiração por unidade de área
sodicidade no solo foi mais pronunciado que em Hahalal, ocupada.
muito embora, tenha ocorrido redução do nível do lençol 2. Tolerância das espécies florestais a salinidade do
freático ao longo dos anos (Figura 16 B), a migração de solo: geralmente, as áreas com problemas de drenagem,
sódio no perfil do solo foi incipiente, quando comparados especialmente, aquelas localizadas em regiões áridas e
aos de Ca2+, Mg2+ e Cl- resultando em aumentos nos semiáridas, apresentam concentrações significativas de
valores de RAS, mas, sem afetar de forma significativa sais na solução do solo; em princípio, os sais tendem
a condutividade hidráulica do solo. afetar negativamente o desenvolvimento das plantas,
devido o efeito osmótico restringir a disponibilidade de
CONSIDERAÇÕES FINAIS água e, reduzindo a taxa de evapotranspiração da
cultura. Pode haver também o efeito tóxico de íons
Atualmente no Brasil, não existem relatos na literatura específicos, como sódio, cloreto e boro, dentre outros,
especializada acerca do uso da biodrenagem, apesar do que causam sintomas característicos de injúria,
sistema apresentar inúmeras potencialidades, em associados à acumulação do íon específico na planta.
especial em áreas irrigadas no semiárido. Entretanto, estudos direcionados na definição de espécies
A bacia do São Francisco atualmente apresenta uma florestais tolerantes a salinidade, constitui-se fator
superfície irrigada de 514 mil hectares (ANA, 2009), preponderante para a eficiência do sistema de
onde, uma porção significativa tem apresentado biodrenagem.
problemas de drenagem. Nessa bacia, atualmente, 3. Balanço de sais: a rigor, todas as águas naturais,
encontram-se implantados vários Perímetros Públicos de quer sejam elas de origem pluvial, superficial ou
Irrigação, onde é possível verificar áreas com problemas subterrânea, contêm sais dissolvidos em quantidades
de alagamento, nível do lençol freático elevado e com variadas, porém, a prática de irrigação, mesmo quando se
problemas de salinização. Nessas condições, a utiliza água de boa qualidade aporta significativas
implantação de sistemas de biodrenagem pode constituir quantidades de sais ao solo, em razão dos elevados
em uma alternativa viável, frentes a resolução dos volumes de água aplicados. Pesquisas em várias regiões
problemas de drenagem e os elevados custos dos demonstram que a absorção do sais pelas plantas é
sistemas convencionais; todavia, estudos norteadores insignificante em comparação com as aportas via
deverão ser realizados objetivando a definição de irrigação. Hoffman (1990) menciona que na maioria das
critérios técnicos adequados as condições locais. condições agrícolas onde a salinidade é uma
Dentre as prioridades de pesquisas destacamos: preocupação, as remoções dos sais pelas colheitas podem
1. Extração de água pelo sistema de biodrenagem: as ser ignoradas na equação do balanço de sais. Então,
plantações florestais de eucalipto têm estado no meio de estudo direcionado a espécies florestais que, além de
grandes controvérsias e continuam a despertar promover a extração máxima de água, incorpore em sua
acalorados debates quanto a seus impactos no meio biomassa, significativa quantidade de sais, visando à
ambiente. De modo geral, criticam-se os efeitos sobre o manutenção do equilíbrio de sais no solo.
solo (empobrecimento e erosão) e a água (impacto sobre 4. Manejo do sistema de biodrenagem: estudos
a umidade do solo, os aquíferos e lençóis freáticos) (Vital, também devem orientar os critérios técnicos quanto aos
2007); neste contexto, estudos comparativos entre o tratos culturais, desbaste, modelo de exploração do
consumo de água em plantações de eucaliptos potencial madeireiro sem o comprometimento da
(Eucalyptus grandis W. Hill ex Maiden) e de florestas eficiência do sistema e a relação custo beneficio do
nativas (Mata Atlântica) desenvolvidos por Almeida & sistema.
Soares (2003), constataram que os consumos se
equivalem. Sendo a evapotranspiração da cultura o meio REFERÊNCIAS
de extração de água pelo sistema de biodrenagem,
Akram, S.; Kashkouli, A, H.; Pazira, E. Sensitive variables
pesquisas quanto ao consumo de espécies florestais mais
controlling salinity and water table in a bio-drainage
adaptadas as condições do semiárido brasileiro precisam system. Berlin: Springer Science, 2009, p.271-285.
ser realizadas, demonstrando que o balanço entre as Allen, R. G.; Pereira, L. S.; Raes, D.; Smith, M.
entradas (precipitação, irrigação e/ou contribuição Evapotranspiración del cultivo - Guías para la
externas) e saídas (evapotranspiração) de água na área determinación de los requerimientos de agua de los
seja negativo, comprovando a eficácia do sistema. cultivos. Rome: FAO, 2006. 298p. Riego y Drenaje Paper 56
424 Salomão de S. Medeiros et al.

Almeida, A. C.; Soares, J. V. Comparação entre uso de água em Holmes, J. W.; Wronski, E. B. The influence of plant
plantações de Eucalytus grandis e floresta ombrófila densa communities upon the hydrology of catchments.
(Mata Atlântica) na costa leste do Brasil. Revista Árvore, Agricultural Water Management, v.4, p.19-34, 1981.
v.27, n.2, p.159-170, 2003. Kapoor, A. S. Bio drainage - potential and limitations. http://
ANA - Agência Nacional de Águas. Conjuntura dos recursos l i b r a r y. w u r. n l / e b o o k s / d r a i n a g e / d r a i n a g e _ c d /
hídricos no Brasil 2009. Brasília: ANA, 2009. 204p. 2.2%20kapoor%20as.html#_ftn1. Capturado em fevereiro
Ayers, R. S.; Westcot, D. W. A qualidade de água na de 2010.
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Batista, M. J.; Novaes, F.; Santos, D. G.; Suguino, H. H. coeficiente cultural (Kc) do feijoeiro (Phaseolus vulgaris
Drenagem como instrumento de dessalinização e L.), em Campos dos Goytacazes, RJ. Revista Brasileira
prevenção da salinização de solos. Brasília: CODEVASF, Engenharia Agrícola Ambiental, v.11, n.5. p.471-475. 2007.
2002. 216p. Série Informes Técnicos Ram, J.; Dagar, J. C.; Singh, G.; Lal, K.; Tanwar, V. S.; Shoeran,
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Recuperação de solos afetados
23 por sais
Lourival F. Cavalcante1, Rivaldo V. dos Santos2, Fernando F. Ferreyra H.3,
Hans R. Gheyi4 & Thiago J. Dias1

1
Universidade Federal da Paraíba
2Universidade Federal de Campina Grande
3 Universidade Federal do Ceará
4 Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

Introdução
Técnicas de recuperação de solos afetados por sais
Técnicas fundamentais
Técnicas auxiliares
Recuperação de solos salinos
Fundamentos da lavagem
Necessidade de lavagem
Lavagem de manutenção
Lavagem de recuperação
Métodos de lavagem
Lavagem por inundação contínua
Lavagem por inundação intermitente
Lavagem superficial
Recuperação dos solos sódicos e salino-sódicos
Tipos de corretivos usados na recuperação de solos afetados por sódio
Calculo da necessidade de corretivos e recomendações práticas
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
426 Lourival F. Cavalcante et al.

Recuperação de solos
afetados por sais

INTRODUÇÃO outro lado, no processo de recuperação de solos


afetados, para que a lavagem dos sais seja efetiva, as
Os solos afetados por sais ocorrem em importantes condições de drenagem dos solos devem ser adequadas
extensões no mundo, principalmente em regiões áridas de maneira que os sais solúveis, sódio trocável e ou boro
e semiáridas, onde a irrigação é necessária para uma possam ser removidos da zona radicular.
agricultura bem sucedida. A elevação do conteúdo de
sais solúveis no solo influencia no comportamento das TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO DE SOLOS
culturas de diversas maneiras, através de mudanças nas AFETADOS POR SAIS
proporções de sódio trocável, na reação dos solos, nas
propriedades físicas dos solos, no potencial osmótico da Diversas técnicas são empregadas para a
solução do solo e nos efeitos tóxicos de íons recuperação de solos afetados por sais e, dentre elas,
duas são consideradas fundamentais: a lavagem dos
específicos. Estas mudanças influenciam na atividade
sais e a aplicação de melhoradores químicos, por
das raízes das plantas e dos microorganismos do solo,
atuarem diretamente na eliminação ou correção dos
consequentemente, na produtividade das culturas.
problemas de salinização; entretanto, existem as
O manejo adequado dos solos afetados por sais é
técnicas auxiliares, tais como: aração profunda,
essencial para uma agricultura irrigada eficiente e
subsolagem e aplicação de resíduos orgânicos, entre
sustentável. Compreende a recuperação de solos outras, que têm a função não exatamente de recuperar
afetados por sais, geralmente causada por uma os solos, mas de atuarem sobre algumas propriedades
irrigação inadequada e a manutenção ou prevenção dos do solo, que tornam mais eficiente as técnicas
solos irrigados não afetados e os recuperados. Envolve fundamentais de recuperação.
as aplicações das teorias e conhecimentos existentes Raramente se consegue a recuperação dos solos
da física e química do solo, como também das relações afetados por sais utilizando-se um método isoladamente.
irrigação-salinidade e produção-salinidade. A eficiência pode ser mais expressiva combinando-se
Na recuperação e manejo dos solos afetados, o fator duas ou mais técnicas, simultaneamente. O método ou
chave é o movimento da água através do perfil do solo. técnica utilizada na recuperação desses solos depende do
A taxa de infiltração (q) e a condutividade hidráulica do diagnóstico, uma vez que, se tem causas de salinização
solo (K) diminuem com a diminuição da salinidade do solo diferentes. Neste sentido, o estudo da drenabilidade do
e com o aumento do sódio trocável. Isto, em parte, é solo constitui prática indispensável antes de se iniciar os
devido ao impacto mecânico e ação dispersante da água trabalhos de recuperação.
aplicada e deposição das partículas liberadas do solo na
superfície. No entanto, através de várias combinações de Técnicas fundamentais
cultivos, uso de corretivos do solo e práticas de lavras Lavagem: A lavagem é a técnica mais prática de se
podem ser mantidas a q e K em valores adequados. Por reduzir os sais do solo, e consiste em se fazer passar,
Recuperação de solos afetados por sais 427

através do perfil do solo, determinado volume de água homogêneo, mais poroso para a dinâmica de ar, água e
que, por sua vez, carreia os sais solúveis para além do nutrientes.
ambiente radicular. Esta técnica pode ser realizada com Subsolagem: É uma operação que tem basicamente os
duas finalidades: a) minimizar a alta salinidade inicial do mesmos objetivos da aração profunda só que em menor
solo para níveis toleráveis pela maioria das culturas, profundidade, mas é recomendada para profundidades
denominada lavagem de recuperação; b) prevenir contra além de 30 cm. Tem ainda como objetivo, romper as
a salinização dos solos irrigados não afetados, camadas compactadas do perfil de baixa permeabilidade
denominada lavagem de manutenção e se caracteriza aumentando o espaço poroso, sem inverter as camadas,
como técnica de prevenção contra a expansão acelerada melhorando a permeabilidade do solo. A subsolagem
dos sais nas áreas irrigadas. reduz os efeitos prejudiciais de camadas compactadas
Melhoramento químico: Nos solos salinos, a lavagem que estão a mais de 30 cm de profundidade, porém seu
é suficiente para sua recuperação, devido os sais já efeito é de duração temporária, variando de um a dois
estarem dissolvidos na solução do solo, sendo facilmente anos.
arrastados pela lâmina de lavagem; entretanto, em solos Mistura com areia: A adição e mistura de areia em
sódicos o uso de melhoradores ou corretivos químicos se camadas de solos de textura fina têm a finalidade de
faz necessário para deslocar o sódio que está adsorvido aumentar a macroporosidade e a permeabilidade para
na micela, mediante a adição de substâncias que crescimento mais eficiente das raízes no solo. Esta
contenham, preferencialmente, cálcio. Deste modo, os técnica aumenta as propriedades transmissoras de água
corretivos têm a finalidade de fornecer elementos como no solo, como infiltração, percolação profunda, facilitando
o cálcio, ou liberá-lo, quando presente no solo, para a lixiviação dos sais. A adição de areia é feita pela
substituir o sódio trocável, pois o cálcio desloca o sódio incorporação na superfície do solo e, em seguida, uma
do complexo de troca para a solução que será lixiviado cultura de sistema radicular pouco profundo é cultivada.
após a lavagem. Após vários cultivos e práticas culturais, haverá a
Deve-se ressaltar que, o cálcio por ter maior mistura e a inversão da areia para as demais camadas,
seletividade, ou seja, maior força de atração pelas favorecendo a permeabilidade em todo o perfil (Pizzarro,
partículas de argila, mesmo estando presente em menor 1978). Uma das inconveniências dessa prática é a grande
proporção em relação ao sódio, consegue substituí - ló quantidade de areia exigida em geral, de 700 a 1.000
como indicado no esquema seguinte: t ha-1.
Inversão de perfis geológicos: Consiste em deslocar
Micela Na
Na  Ca

 Micela Ca  2 Na  o horizonte superficial de um solo de características
indesejáveis e substituí-lo por materiais provenientes de
horizontes mais profundos para melhorias nos atributos
Porém se o sódio substituído não for removido mediante físico-químicos. A aração profunda também pode ser
o processo de lavagem seguido de drenagem, o solo pode aplicada nos solos com excesso de sódio na camada
tornar-se sódico; isto evidencia a importância da superficial e contendo, em profundidades maiores,
drenagem no processo de recuperação dos solos salinos camada de solo rica em gesso; neste caso, a inversão
– sódicos e sódicos. de perfil remove o gesso para a superfície e desloca o
solo com excesso de sódio para as camadas mais
Técnicas auxiliares profundas. Quando se tem uma camada de solo muito
Técnicas mecânicas: espessa, com impedimento à água, ar e crescimento
Aração profunda: Consiste em arar o solo até a das raízes, de modo que não se permita a inversão do
profundidade de 60 e 70 cm, com o objetivo de promover perfil, recomenda-se o uso da técnica de drenos
a ruptura do solo e a formação de torrões. Essa prática verticais no horizonte de baixa permeabilidade. Esta
contribui para a melhoria da estrutura do solo, técnica viabiliza a drenagem da água, de um horizonte
favorecendo a infiltração e percolação da água durante de boas condições hídricas para outro, sem passar
uma ou duas irrigações, resultando em menor acúmulo de fisicamente pelo horizonte intermediário de baixa
permeabilidade, não ocorrendo à acumulação de sais na
sais solúveis na zona de semeadura. Esta técnica é
camada superficial (horizonte A), conforme ilustrado na
recomendada quando o solo possui camadas de baixa
Figura 1.
permeabilidade entre outras mais permeáveis, devido o
Técnicas biológicas:
arado reverter e misturar o solo, tornando-o mais Aplicação de adubos orgânicos: A adição de matéria
428 Lourival F. Cavalcante et al.

assim, a produção de alimentos e a sustentabilidade da


agricultura irrigada.
O tempo de recuperação e a lâmina de água
necessária para lavar os sais da zona radicular,
dependem dos fatores que afetam a eficiência de
lixiviação, tais como: a salinidade inicial do solo, a
qualidade da água de irrigação e a profundidade do solo
a ser recuperado.
Figura 1. Esquema do uso de drenos verticais no solo Em solos de baixa permeabilidade o tempo de
recuperação pode levar até 120 dias. Neste caso se
orgânica tem como objetivo, melhorar a estrutura, reduzir recomenda o cultivo de arroz após se ter infiltrado no solo
a densidade e aumentar a permeabilidade e na atividade uma lâmina de água de 100 a 150 mm. Evidentemente,
microbiológica (Silva et al., 2008) com reflexo positivo no a lâmina necessária para lavagem de recuperação dos
aumento da fertilidade do solo. Os resíduos podem ser sais em solos cultivados deve ser maior, pois a maior
usados como cobertura na superfície ou incorporados ao parte desta lâmina aplicada será utilizada para atender à
solo; quando aplicados na superfície reduzem a evapotranspiração da cultura.
evaporação mantendo o solo mais úmido, reduzindo os A profundidade do solo a ser recuperada pela
riscos de salinização. O efeito desta prática é temporário lavagem depende da cultura que se deseja explorar. Em
e requer incorporações periódicas durante os cultivos. Os culturas que apresentam sistema radicular superficial,
adubos orgânicos podem ser adubos verdes e/ou recomenda-se uma profundidade de 0,60 m e, para
composto. culturas de sistema radicular profundo aconselha-se
Cultivos de elevada evapotranspiração: São cultivos dessalinizar cerca de 1,50 m de profundidade, porém não
que provocam o abaixamento do lençol freático, necessariamente de uma única vez (Tanji, 1990). Para
contribuindo para maior eficiência da lavagem dos sais. otimizar o processo de recuperação do solo, recomenda-
Além desta vantagem a sombra das plantas reduz a se prolongar-lo pelo prazo de 2 a 3 anos, aproveitando a
intensidade da evaporação pela superfície do solo, área logo após a primeira lavagem de 10-15 cm de
diminuindo o acúmulo de sais. Quando o nível elevado da profundidade.
salinidade inicial do solo não permitiu o cultivo de Durante o processo de lavagem do solo, com a
espécies economicamente viáveis, como alfafa e outras lixiviação dos sais em excesso que são prejudiciais ao
forrageiras, podem ser usadas culturas como cana-de- crescimento e desenvolvimento das plantas, são lixiviados
açúcar. também os nutrientes essenciais, como N, K, Ca, Mg e
Técnicas termelétricas: A exposição do solo às altas S; portanto, logo após a lavagem se deve estabelecer a
e baixas temperaturas melhora a permeabilidade, fato fertilidade do solo, preferencialmente pela incorporação
explicado pela expansão e contração dos minerais do solo de matéria orgânica.
quando submetido às variações de temperatura. A
passagem de corrente elétrica mediante eletrodos Fundamentos da lavagem
instalados no solo durante a lavagem dos sais acelera o A necessidade de lavagem é fundamentada no balanço
processo de recuperação dos solos afetados por sais. O de água e sais na zona radicular, os quais se baseiam nos
catodo, eletrodo negativo, atrai os cátions do solo, diferentes fluxos de água de um solo irrigado. A superfície
principalmente o sódio, tornando a lavagem mais do solo recebe a água proveniente das lâminas de
eficiente; já o cloreto é atraído pelo anodo, eletrodo precipitação e da água aplicada por irrigação, parte da
positivo, transformado em gás (Cl2) que é liberado para qual é infiltrada na zona radicular e outra parte, o excesso,
a atmosfera. é perdido por escoamento superficial; já a zona radicular
recebe a água infiltrada e a lâmina de água capilar como
RECUPERAÇÃO DE SOLOS SALINOS contribuição do lençol freático. Quando o conteúdo de
água na zona radicular excede sua capacidade de
A recuperação de solos salinos consiste na aplicação retenção, o excesso de água é extraído por percolação
de uma lâmina de água ao solo, capaz de lavar o excesso profunda. Parte da lâmina de precipitação e de irrigação,
de sais solúveis do perfil abaixo da zona radicular das dependendo do método empregado, pode ser perdida
plantas. O processo de recuperação envolve a dissolução quando interceptada pelas plantas.
dos sais presentes no solo e seu transporte em O balanço de água na zona radicular de um solo pode
profundidade abaixo da zona radicular das plantas. ser obtido pela soma algébrica dos diferentes fluxos de
Desta forma, é possível se reduzir a alta salinidade inicial entrada e saída de água no perfil do solo, em dado
do solo até níveis toleráveis pelas culturas garantindo, período de tempo, de acordo com a Eq. (1):
Recuperação de solos afetados por sais 429

LEa  LSa  L A (1) ser aplicada aumenta de 164,6 para 210 mm, mas a
redução da lâmina de água percolada ou drenada de 31,5
ou para 25,1 mm resulta num balanço de água positivo, isto
é, DLA > 0, com valor de 6,4 mm. Esta situação expressa
Lap  Lai  Lag  Laet  Lad  L A que foram adicionados mais sais ao solo do que lixiviados
e ao longo do período de uso da área, caso não se faça
uma drenagem, o solo tenderia a se tornar salino.
em que: O balanço de sais no solo deve ser deduzido do
LEa - Fluxo de entrada de água, mm balanço da água, multiplicando-se cada componente por
LSa - Fluxo de saída de água, mm sua respectiva concentração salina, assumindo que a
Lap - Lâmina de precipitação, subtraída do única fonte de sais seja a lâmina de água aplicada no solo
escoamento superficial, mm durante o evento de irrigação. Devido os sais serem
Lai - Lâmina de irrigação, mm altamente solúveis e não se precipitam e que são
Lag - Lâmina de água capilar como contribuição desprezíveis as adições de sais pelas águas de chuvas e
do lençol freático, mm fertilizantes como, também, as extrações pelas culturas;
Laet - Lâmina de evapotranspiração, mm o balanço de sais na zona radicular pode ser expresso
Lad - Lâmina de percolação profunda, mm pela Eq. (2):
LA - Variação da lâmina de água armazenada
na zona radicular, mm. (2)

O balanço de água no solo pode ser anual, sazonal ou


diário; no balanço anual, quase não há variação da lâmina em que:
de água armazenada na zona radicular. Em áreas Csai - Concentração de sais na água de irrigação,
irrigadas, onde a precipitação é de pequena intensidade, g L-1
a lâmina de escoamento superficial é considerada Csag - Concentração de sais na água capilar, g L-1
desprezível (Les = 0). A lâmina capilar de contribuição Csad - Concentração de sais na água percolada,
do lençol freático é igual a zero quando em solos argilosos g L-1
o lençol estiver a mais de 7 m de profundidade e, para S - Variação do conteúdo de sais na zona
solos arenosos, a mais de 3 m de profundidade. radicular, g m-2

A diferença líquida entre o fluxo de entrada e de saída


Exercício 1
equivale às mudanças resultantes da salinidade da água
No intervalo de 30 dias, uma área deve ser irrigada
ao solo. Para valores de Z > 0 ocorre acúmulo de sais,
com uma lâmina de 210 mm (Lai) até uma faixa de 50
dando origem à salinização secundária do solo, porém
cm, adotando uma fração de lixiviação (FL) de 15%. No
quando Z < 0, indica remoção ou lixiviação de sais da
mesmo período, foram registradas pluviosidades (Lap) de
zona radicular (Pizarro, 1978; Tanji, 1990).
32 mm e o lençol freático contribuiu por ascensão capilar O valor da concentração de sais da Eq. 2 pode ser
(Lag), com 13,4 mm para a camada onde se situam as substituído pela condutividade elétrica, pois o mesmo
raízes das plantas. A evapotranspiração da cultura (Laet) apresenta relação linear com a concentração de sais em
foi de 178,5 mm e a lâmina de água drenada (Lad) 31,5 soluções relativamente diluídas, além de se constituir
mm. Nesta situação, se verifica que a lâmina de água a numa variável fácil de ser medida.
ser aplicadas por irrigação com base na Eq. (1) é de
164,6 mm. O fluxo de entrada de água é: LEa = Lap + Exercício 2
Lai + Lag = 32 + 164,6 + 13,4 mm = 210 mm e o fluxo No primeiro caso do exercício 1 o balanço de água na
de saída: LSa = Laet + Lad = 178,5 + 31,5 mm = 210 área foi nulo. Entretanto, isso não significa que o balanço
mm, resultando em balanço nulo de água: DLA = LEa – de sais também seja nulo, isto é, a quantidade de sais
LSa = 210 – 210 mm = 0. adicionada à área pela pluviosidade, irrigação e por
Em termos de manejo, pelo menos duas situações capilaridade (ascensão capilar) seja igual a retirada pelas
devem ser consideradas nessa área: a) ausência de plantas e lixiviada com a drenagem ou percolação. Na
pluviosidade e da lâmina de água por ascensão capilar; b) grande maioria dos casos, a salinização ocorre porque a
mesmo admitindo uma fração de lixiviação de 15% a extração pelas plantas e por percolação é inferior ao
lâmina de drenagem ou percolação profunda foi reduzida adicionado pela água de irrigação e a fertilização do solo
de 31,5 para 25,1mm. Neste caso, a lâmina de irrigação a com insumos químicos.
430 Lourival F. Cavalcante et al.

Os valores de condutividade elétrica medidos na Exercício 3


água de irrigação (CEai), de precipitação (CEap), da Adotando as condições de equilíbrio de balanço de
água capilar (CEag) e percolada ou drenada (CEad) sais no solo (S = 0), uma cultura que exige uma lâmina
foram respectivamente: 1,2; 0,009; 0,9 e 6,7 dS m -1. de evapotranspiração de 60 mm e tolera uma CEad de
Estes dados devem ser multiplicados pelo fator 0,64 até 6 dS m -1, deve ser irrigada durante 10 dias em
para o cálculo da concentração de sais (Pizarro, 1978)
quatro propriedades que apresentam o mesmo tipo de
e cada lâmina de água deve ser multiplicada por 10 para
transformação de mm em L m -2 . Desta forma, o solo e águas de 0,6; 0,9; 1,2 e 1,5 dS m-1. Qual a lâmina
balanço de sais usando a expressão (2) do primeiro de água a ser aplicada em cada propriedade?
caso do exercício 1 é: Inicialmente deve ser calculada a necessidade de
S = (Lai Csai + Lap x Csap + Lag Csag) - (Lad x lixiviação (NL) para o solo de cada propriedade
Csad) através da Eq. 3. Em seguida, admitir que a Lai = Lad
S = (164,6 x 10 x 0,77 + 13,4 x 10 x 0,58 + 32 x 10 + Laet e substituir em Lad/Lai obtendo Lai = Laet/1-
x 0,006) - (31,5 x 10 x 4,28) NL e a eficiência de lavagem pela relação Laet/Lai,
S = 1347 - 1347 = 0 como apresentado na Tabela 1.
Verifica-se na Tabela 1 que para um mesmo tipo de
No segundo caso, do exercício 1, sem a participação solo a necessidade de lavagem, a lâmina de água a ser
da precipitação e da ascensão capilar a condutividade
aplicada e a lâmina de água que deve ser drenada no
elétrica da água drenada foi 8 dS m-1, a capacidade de
drenagem do solo foi reduzida para 25,1mm, a lâmina de período aumentam, e a eficiência de lavagem é
água de irrigação foi aumentada de 164,6 mm para 210 comprometida com o aumento do teor salino (CEai) da
mm. Pelos resultados a adição de sais à área foi superior água de irrigação.
à lixiviada. Salienta-se que CEad não significa CEes, pois a água
S = (Lai x Csai) - (Lad x Csad) de drenagem nem sempre é proveniente de solo saturado
S = 1.617 – 1.285 = 332 g m 2, equivalente 3.320 mas, na maioria das vezes, a água é removida do solo, em
kg ha-1 teores de umidade inferiores à saturação e próximo à
capacidade de campo. Neste caso, a CEad é superior a
Sob condições de equilíbrio (S = 0) e assumindo CEes se o solo for de textura média, a relação Cead
que não há variação do conteúdo de sais na zona CEes será igual a 2, se o valor da umidade do solo
radicular, ou seja, os sais incorporados pela lâmina de estiver ao nível capacidade de campo e será a metade
irrigação são lixiviados em sua totalidade pela
(0,5) se o solo atingir o nível de saturação, como
drenagem, o balanço dos sais na zona radicular se
apresentado em Ayers & Westcot (1999).
reduz a:
Nas áreas intensamente cultivadas pode ocorrer
adensamento e a relação CEai/CEes pode ser alterada
(3) devido a redução na macroporosidade do solo. Este
fenômeno se reflete na diminuição da capacidade de
drenagem resultando em maior acumulo de sais no solo.
ou Uma das técnicas capaz de manter o nível de sais no solo
tolerável pelas plantas pode ser obtida pela fração de
lixiviação, a partir da Eq. 4:

em que a condutividade elétrica da água de irrigação e (4)


da água drenada (CE) substitui a concentração de sais.

Tabela 1. Valores da necessidade de lavagem (NL), lâmina de água de irrigação (Lai), lâmina de água de drenagem (Lad) e
eficiência de lavagem (EL) em função da salinidade da água de irrigação (CEai) e da água de drenagem (CEal) do solo

LEs = Fluxo de entrada de sais; LSs = Fluxo de saída de sais; DS = Balanço de sais
Recuperação de solos afetados por sais 431

em que: Exercício 5
FL - Fração de lixiviação. Uma cultura deve ser irrigada com água de 1,2 dS m-1,
em que o padrão de extração (ETC = Laet) está indicado
Exercício 4 na Figura 2. A evapotranspiração de 1.200 mm conforme
A concentração salina da água que percola abaixo do o modelo padrão indica que 40% da água são extraídos
ambiente radicular das plantas, expressa pela pelas raízes do primeiro quarto superior, 30% do segundo,
condutividade elétrica da água de drenagem (CEad), deve 20% do terceiro e 10% pelas raízes do último quarto
ser calculada em função da concentração da água de inferior. A fração de lixiviação (FL) adotada deve ser
irrigação (CEai), adotando uma fração de lixiviação (FL) 0,15. Isto indica que 15% da água de irrigação percolam
ou necessidade de lavagem (NL) de 0,15 (Ayres & abaixo da zona radicular e que os restantes 85% são
Westcot, 1999). Esta situação convenciona que 85% da absorvidos pelas plantas.
água fornecida referem-se à evapotranspiração da cultura.
Ao empregar a Eq. (4) contata-se que a
concentração de sais da água que ultrapassa a área
radicular das plantas (CEad) irrigada com cada tipo de
água do exercício 3 é 4, 6, 8 e 10 dS m -1 ,
respectivamente, e a lamina de evapotranspiração das
plantas (Laet) corresponde a 51 mm. Entretanto, as
planas não absorvem igualmente a água contida em toda
a faixa onde se situam as raízes. A proporção absorvida
em relação à evapotranspiração diminui com o aumento
da profundidade do sistema radicular.
Para se estimar aCEad a partir da CEai e FL, deve-
se considerar que a planta não absorve água
uniformemente, de toda a zona radicular. Ayers &
Westcot (1999) consideram que a planta absorve do solo,
para suas necessidades hídricas, um padrão de extração
de 40, 30, 20 e 10% da água consumida pelas culturas,
respectivamente, da quarta parte superior à inferior da
zona radicular. Portanto, a estimativa da condutividade
elétrica média da água de drenagem (CEad) da zona
radicular deverá ser ponderada de acordo com a Figura 2. Esquema representativo da absorção de água ao
proporção de água retida em cada respectiva faixa da longo do sistema radicular das plantas
zona radicular. A Tabela 2 apresenta o fator de
concentração de sais no solo (CEes/CEai) com base nas Esse modelo ou procedimento considera que o
considerações do padrão de extração normal, aliado à consumo da água pelas plantas aumenta a concentração
relação CEes = 2 x CEad. de sais da água de drenagem, ao longo das faixas, onde
se localizam as raízes como apresentado na Figura 2. O
Tabela 2. Fatores de concentração (Fc) para se estimar a modelo também considera que a salinidade deve ser
salinidade do extrato de saturação do solo (CEes) a partir avaliada da seguinte forma:
da salinidade da água (CEai) e da fração de lixiviação (FL) a) na superfície do solo - CEadZr0 (Z0); b) final do
(Ayers & Westcot, 1999)
primeiro quarto superior - CEadZr 1 (Z1); c) final do
segundo quarto - CEadZr 2 (Z2); d) final do terceiro
quarto - CEadZr 3 (Z 3); e) final do quarto inferior -
CEadZr4 (Z4).
Esse tipo de prática obedece às seguintes etapas:
1) Cálculo da lâmina de irrigação (Lai) de modo a
atender a evapotranspiração (ETC = Laet) da cultura
para uma fração de lixiviação (FL = NL) de 0,15.
432 Lourival F. Cavalcante et al.

A salinidade média da água contida ou que atravessa


toda a zona radicular (CEadZr) é obtida pela média
aritmética dos cinco valores referentes a CEadZr 0,
CEadZr 1 , CEadZr 2 , CEadZr 3 e CEadZr 4 .
2) Toda a água aplicada atravessa a superfície do solo Correspondente a:
(Z 0 ) e lixivia os sais acumulados. Nessa faixa, a
salinidade da água drenada (CEad) corresponde a
salinidade da água de irrigação (CEai). Pela expressão:
CEaiZr 0 = CEadZ 0 = CEai = 1,2 dS m -1 . Em que:
CEaiZr0 = salinidade da água de irrigação na superfície
do solo; CEadZr0 = salinidade da água que atravessa a Este valor expressa que a salinidade da água do solo
superfície do solo. contida no ambiente radicular corresponde a 3,2 vezes a
3) A concentração salina da água que drena do solo salinidade da água de irrigação, como comentado por
(CEad) de cada quarta parte do ambiente das raízes para Ayers & Westcot (1999).
a quarta parte seguinte deve ser calculada pela Eq. (4):
Necessidade de lavagem
A necessidade de lavagem (NL) refere-se a fração
de água aplicada além da irrigação que deve atravessar
a zona radicular para manter os sais a um nível tolerado
pelas culturas. A quantidade extra de água que percola
Ao adotar os critérios admitidos pelo modelo padrão abaixo da zona radicular remove parte dos sais
de extração de água pelas plantas os valores da CEad no acumulados no ambiente das raízes.
final de cada faixa (quarta parte) da Figura 2 é: Salienta-se que a quantidade de água necessária para
a) Primeiro quarto superior, prevenir a salinização dos solos irrigados correspondente
a lavagem de manutenção é diferente da quantidade
FL1 = (1.411 - 0,4 x 1.200) / 1.411 = 931/1.411 = 0,66 necessária para a recuperação de solos salinos, expressa
pela lavagem de recuperação.

Lavagem de manutenção
Para se estimar a necessidade de lavagem de
manutenção de um solo irrigado, necessita-se conhecer
b) Segundo quarto, tanto a salinidade da água de irrigação como a salinidade
tolerada pela cultura. A salinidade da água de irrigação
FL2 = (931 - 0,3 x 1.200)/1411 = 573/1.411 = 0,40 pode ser medida diretamente, em termos de condutividade
elétrica (CEa). A salinidade tolerada pela cultura é a
salinidade média da água contida na zona radicular,
representada pela salinidade do extrato de saturação
resultante (CEes) e pode ser estimada utilizando-se
dados da literatura, com base na Tabela 2.
c) Terceiro quarto, Desta forma, para culturas específicas a aproximação
mais exata da necessidade de lixiviação de manutenção
FL3 = (573 - 0,2 x 1200)/1.411 = 333/1.411 = 0,24 (NL) pode ser obtida utilizando-se a seguinte equação
(Rhoades, 1974; Rhoades & Merril, 1976; Ayers &
Westcot, 1999):

(5)
d) Último quarto ou fim da zona radicular,

FL4 = (333 - 0,1 x 1.200)/1.411 = 213/1.411 = 0,15 em que:


NL - Necessidade de lixiviação mínima que se
necessita para controlar os sais dentro do limite de
tolerância da cultura.
Recuperação de solos afetados por sais 433

CEai - Salinidade da água de irrigação, dS m-1 lençol freático próximo à superfície; portanto, antes de se
CEes - Salinidade média do extrato de saturação iniciar o processo de lavagem deve-se avaliar a
do solo, que representa a salinidade tolerada por drenabilidade da área e, caso seja necessário, instalar um
determinada cultura, dS m-1 sistema de drenagem.
Existem diversos modelos matemáticos para simular o
Considerando-se que toda a água aplicada durante o movimento e as reações de sais no solo, durante a
evento de irrigação se infiltra uniformemente no solo e lixiviação, mas nenhum deles disponível é capaz de superar
que não existem perdas por escoamento superficial, a adequadamente as grandes variações que ocorrem com o
lâmina anual de irrigação que se deve aplicar para fluxo de água em condições de campo. Por isto, esses
satisfazer tanto a demanda da cultura como a modelos teóricos não são quase utilizados e, normalmente,
necessidade de lavagem de manutenção, pode ser as estimativas da necessidade de lavagem de recuperação
estimada pela equação abaixo: de solos salinos se baseiam principalmente em
experiências de campo in loco. Desta forma, antes de se
(6)
proceder à lavagem de recuperação, deve-se realizar um
pré-teste em condições de campo, para verificar a
capacidade de infiltração e drenagem para avaliar a
eficiência de lavagem, determinando a lâmina de água
em que: ideal e o tempo necessário de recuperação. O pré-teste
Lai - Lâmina anual de irrigação, mm ano-1 mostra as dificuldades reais a serem encontradas no
ETc - Laet - Evapotranspiração da cultura, mm ano-1 processo de recuperação em larga escala e deve ser
NL - Necessidade de lixiviação ou fração de realizado em áreas representativas de solos e grau de
lixiviação. salinização, pois qualquer pré-teste na área mais afetada
irá recuperar em grau, pelo menos igual ou maior que nas
Lavagem de recuperação áreas menos afetadas.
Na prática, não é possível se estimar, com exatidão, a
lâmina de lavagem de recuperação necessária, pois ela é MÉTODOS DE LAVAGEM
influenciada por diversos fatores que ocorrem
simultaneamente, como o fluxo de água, a presença de Lavagem por inundação contínua
fendas no solo, diferenças na solubilidade dos sais, O método de aplicação de água e a textura do solo
restrições na difusão dos sais e a dispersão hidrodinâmica. são as principais variáveis que define o volume ou lâmina
Neste caso, nem toda a água aplicada contribui, no de água requerida para lixiviar os sais. Dependendo da
processo de dessalinização, para a lavagem dos sais. textura do solo, pode-se ter diferentes graus de
Muitas vezes, parte da lâmina de lavagem passa recuperação para uma mesma lâmina aplicada.
diretamente através das fendas e macroporos do solo e O método de lavagem por inundação contínua possui
sai da zona radicular com a mesma concentração salina vantagens e desvantagens em relação aos outros
inicial, enquanto outra parte se mistura com a solução do métodos de lavagem, assim relacionadas:
solo e sai da zona radicular com uma concentração salina Vantagens:
que depende da proporção da mistura, realizando a a) Lixivia os sais das camadas mais profundidades;
lavagem dos sais. Enfim, a eficiência da lavagem varia b) É adequado para o solo com lençol freático
com os diferentes métodos utilizados na aplicação da elevado e salino, devido a lâmina para lavagem por
lâmina de lavagem. inundação contínua impedir o fluxo capilar para a
Antes de se iniciar a lavagem, deve-se nivelar e superfície, reduzindo a acumulação de sais.
gradear o terreno e, em seguida, adicionar uma lâmina de Desvantagens:
água adequada após a construção dos diques. Não a) O tempo de recuperação é maior que em
havendo possibilidade de se nivelar o terreno, qualquer outro método de recuperação;
recomenda-se a construção dos diques que separam as b) Uma elevada proporção de água de lixiviação se
parcelas em curvas de nível. desloca rapidamente pelos poros maiores necessitando,
A medida que a lâmina de águas se infiltra, lâminas desta forma, de um volume maior de água para deslocar
adicionais poderão ser aplicadas até completar a lâmina uma unidade de sais, ocorrendo grande desperdício de
total preestabelecida. Se a drenagem do solo não for água e, em áreas com drenagem deficiente, poderá
adequada, a lavagem poderá agravar ainda mais o causar elevação do lençol freático e possível acumulação
problema, com a saturação do solo e a formação do de sais (Pizarro, 1978).
434 Lourival F. Cavalcante et al.

c) Exige nivelamento do terreno, em curvas de nível formam quando há perdas de água na evaporação ou
e a água deve ser aplicada em parcelas; drenagem e pelos poros finos dos agregados, quando
d) A eficiência de lavagem depende da textura do úmidos.
solo.
Para a lixiviação por inundação contínua, pode-se
considerar que 70 a 80% dos sais solúveis inicialmente
contidos no solo, poderão ser lavados com lâmina igual

concentração inicial, C/Co


Sais no solo em relação à
à profundidade do solo a ser recuperado; por exemplo,
uma lâmina de 1,0 m ou 1000 mm é suficiente para
lixiviar 70 a 80% dos sais contidos na profundidade de um
metro de solo.
Entre as equações empíricas utilizadas para se estimar
a lâmina de lixiviação necessária para recuperar um solo
salino, pode citar-se a equação desenvolvida por
Hoffman (1986):

Lâmina de lixiviação por unidade


(7)
de profundidade do solo, Lar/Ls
Figura 3. Lâmina de lixiviação por unidade de profundidade
do solo, necessária para recuperar um solo salino por
inundação contínua (Hoffman, 1980)
em que:
C - Concentração de sais que se deseja obter
Exercício 6
no solo após a lixiviação, dS m-1
Atualmente os problemas de salinidade também são
Co - Concentração de sais originalmente
frequentes em áreas sob cultivo protegido de hortaliças,
presentes no solo, dS m-1
flores e produção de mudas. Blanco (1999), Medeiros et
Lar - Lâmina de necessária água para lixiviação
ou recuperação de um solo salino, m al. (2002), Souza et al. (2003) e Silva et al. (2004) após
Ls - Profundidade do solo a ser recuperado, m avaliarem a salinidade do solo, em função de fontes e
K’ - Constante que varia com a textura do solo, doses de fertilizantes nitrogenados, potássios e
e o método de aplicação da lâmina de água. concluíram a necessidade de lavagem dos respectivos
solos, ao final de cada cultivo.
Quando o valor da CEai utilizada na recuperação for Blanco & Folegatti (2001) realizaram a lavagem
elevado deve-se subtraí-lo tanto da concentração de sais contínua de um Nitossolo (Palendalt Oxico) salinizado
original (Co) como da concentração desejada (C). Nesta durante o cultivo com pimentão. O solo foi lavado com
equação o valor de Lai não inclui as perdas por água de boa qualidade (CEai = 0,22 dS m-1) usando as
evaporação e deve ser corrigido quando a evaporação é lâminas (L): 2/3L, 1L e 3/2L, para lixiviação dos sais e
maior que 10% da lâmina de água que infiltra (0,1 x Lai). os métodos de aplicação de água foram por gotejamento
Desse modo, na lavagem dos sais por inundação e inundação.
contínua, que depende da textura do solo, os valores de Pelos resultados, conforme a Figura 4 se constata que
K’ encontrados para solos turfosos, franco-argilosos e o aumento da lâmina relativa de lavagem promoveu maior
franco-arenosos, foram de 0,45; 0,3 e 0,1 extração de sais; entretanto, o método por gotejamento
respectivamente, conforme ilustrado na Figura 2. foi mais eficiente na recuperação do solo do que por
Observa-se que solos de textura franco-arenosos têm inundação. Este comportamento pode variar entre solos
maior eficiência de lixiviação que os solos de textura fina. de textura diferentes, adensamento natural e tipo de
Tal fato se deve ao menor conteúdo de água nos solos cultura explorada.
franco-arenosa e, também, por possuírem poros de Nos cultivos em ambientes protegidos em que as
diâmetros mais uniformes que os solos argilosos e águas em geral, são de boa qualidade, o aumento da
franco-argilosos. salinidade do solo está diretamente associado ao índice
A menor eficiência na lixiviação dos sais nos solos de salino e as doses dos fertilizantes aplicados diretamente
textura fina é causada pela maior microporosidade que no solo ou por fertirrigação. Esta limitação tem sido mais
limita a dinâmica de água, presença de fendas com poros severa na produção contínua da olericultura, floricultura
grandes entre agregados e fendas na superfície, que se e formação de mudas pela elevada exigência de
Recuperação de solos afetados por sais 435

Lavagem por inundação intermitente


O método de lavagem por inundação intermitente ou
intercalada consiste em aplicações de lâminas de água
por ciclo em intervalos de inundação semanais ou
CEes (dS m-1)

mensais. Neste método de lavagem, a relação entre a


y=-0,2887+1,8777 R2=0,93
lâmina de água e a profundidade de solo lixiviado é
também de 1:1, porém a quantidade de sais lavados varia
entre 80 e 90% dos sais inicialmente contidos no solo.
Esse método de lavagem também possui vantagens e
y=-0,7048+2,1281 R2=0,97
desvantagens em relação aos outros métodos, assim
relacionados:
Lâmina relativa de lavagem Dentre as vantagens se destacam:
Figura 4. Valores da salinidade do solo (CEes) antes (A) e a) Possui maior eficiente que a lavagem contínua,
depois (D) da aplicação de lâminas de lixiviação por go- porque necessita de menor lâmina de água para
tejamento (G) e inundação (I) utilizando diferentes lâmi- lixiviação dos sais. Em solo de textura fina, para remover
nas de lavagem 70% dos sais solúveis à lâmina de água necessária para
inundação intermitente gira em torno de um terço da
nutrientes como nitrogênio, potássio, cálcio, magnésio requerida por inundação contínua;
(Blanco, 1999; Folegatti, 2001; Medeiros et al., 2002). b) Não é necessário fazer o nivelamento do solo;
c) No fluxo não saturado da lixiviação intermitente, o
Exercício 7 teor de água é baixo e o seu deslocamento é lento,
O monitoramento da salinidade do solo provocada permitindo maior difusão de sais do solo;
por fontes e doses de nitrogênio durante a formação d) A recuperação é mais rápida;
de mudas de maracujazeiro amarelo, sem aplicação de As principais desvantagens são:
lâmina de lixiviação evidencia, como indicado na a) Não lava os sais das camadas mais profundidades,
Figura 5, que dentre as fontes, o sulfato de amônio foi acima de 1 m;
a que mais elevou o caráter salino do solo, seguido do b) Não pode ser aplicado quando o lençol estiver
nitrato de cálcio e uréia respectivamente. A excessiva próximo à superfície e a água freática for salina.
elevação da condutividade elétrica do solo de valores Na lavagem por inundação intermitente, a constante
abaixo de 4 para até próximo de 14 dS m -1 revela a K’ da Eq. 7 assume um valor constante de 0,1,
necessidade de lavagem do solo até mesmo para independente da textura do solo, conforme ilustrado na
doses menores fornecidas juntamente com a água de Figura 5.
irrigação. Outra inconveniência observada por Sousa
et al. (2003) é que, dentre as fontes de nitrogênio, o
sulfato de amônio foi a que mais acidificou o
substrato.
à concentração inicial, C/Co
Sais no solo em relacão
CEes (dS m-1)

Lâmina de lixiviação por unidade


Doses nitrogênio (gL-1) de profundidade do solo, La/Ls
Figura 5. Valores da condutividade elétrica do extrato de Figura 6. Lâmina de lixiviação por unidade de profundidade
saturação do solo fertirrigado com distintas fontes e de solo, necessária para recuperar um solo salino por
doses de nitrogênio inundação intermitente (Hoffman, 1980)
436 Lourival F. Cavalcante et al.

Lavagem superficial originariamente possui baixo teor de sais solúveis


A lavagem superficial poderá ser utilizada para (menor CEes) e em geral, maiores conteúdos de sódio
eliminação de crostas salinas da superfície do solo. Uma trocável a lavagem promove a lixiviação destes
grande lâmina de água é aplicada rapidamente e, respectivos sais sem deslocar ou transferir o sódio
enquanto a água se move, a mesma arrasta a crosta com adsorvido às micelas para a solução do solo e ser
os sais dissolvidos, desaguando-as no dreno coletor, lixiviado com a lavagem.
localizado no outro lado da parcela. Com a lixiviação do material solúvel a proporção do
O método de lavagem superficial possui algumas
sódio trocável adsorvido ao solo passa a predominar
vantagens e desvantagens em relação aos outros
ainda mais, resultando em maior dispersão das argilas,
métodos.
diminuindo as propriedades físicas como infiltração,
Vantagens:
a) Usado para solos de baixa permeabilidade; permeabilidade, drenagem e macroporosidade que são
b) Não é necessário nivelar nem gradear o solo antes essenciais à dinâmica da água, ar, nutrientes e ao
da lavagem; crescimento vegetativo das plantas (Gobran et al., 1982;
c) Elimina crostas salinas da superfície do solo. Hussain et al., 2001).
Desvantagens:
a) Não poderá ser usado em solos de boa Tipos de corretivos usados na recuperação de
permeabilidade nem em terrenos nivelados. solos afetados por sódio
Os corretivos químicos usados na recuperação de
RECUPERAÇÃO DOS SOLOS SÓDICOS solos afetados por sódio trocável têm o objetivo de
E SALINO-SÓDICOS fornecer cátions bivalentes, usualmente o cálcio, para
eliminar parte do sódio adsorvido no complexo de
Solos com excesso de sódio trocável podem ser troca, isto é, diminuir a percentagem de sódio trocável
recuperados com o uso de corretivos que forneçam (PST).
cálcio seguido de lavagem com a própria água utilizada O tipo e a quantidade de corretivo químico necessário
para irrigação. A adição de corretivos aos solos afetados para recuperar um solo comprometido por sódio
por sódio promove a substituição e a remoção do sódio
dependem das características próprias do solo, da
trocável por outros cátions, preferencialmente cálcio, mas
em menor proporção pode ocorrer a substituição do sódio disponibilidade no mercado e custo de recuperação.
por hidrogênio. A correção do solo pode ser feita de Dentre essas características, salienta-se a adequabilidade
várias maneiras, dependendo da fonte de cálcio do corretivo, que se baseia na presença ou ausência de
disponível, do tipo de cultura que deverá ser implantada carbonatos alcalinos terrosos e pH do solo. Com base
na área e da intensidade do nível de degradação do solo. nesses critérios, pode-se classificar o solo em três
Nos solos comprometidos pela sodicidade, a lavagem grupos: a) solos que contêm carbonatos alcalinos
isolada ao invés de corrigir, muitas vezes, eleva ainda terrosos; b) solos praticamente livres de carbonatos
mais o caráter sódico. Essa prática nesse tipo de solo, alcalinos terrosos e pH maior que 7,5 e c) solos
lixívia os sais solúveis, mas não desloca o sódio adsorvido praticamente livres de carbonatos alcalinos terrosos e pH
ao complexo de troca para ser lixiviados com a lavagem menor que 7,5.
e a drenagem, como indicado na Tabela 3. Os diferentes corretivos químicos utilizados na
recuperação dos solos afetados por excesso de sódio
Tabela 3. Valores da condutividade elétrica do extrato de
trocável têm sido agrupados em três tipos: a) sais
saturação - CEes, antes e depois da lavagem de dois solos
degradados por sódio sem utilização de corretivos
solúveis de cálcio (gesso e cloreto de cálcio); b) ácidos
químicos. ou formadores de ácido (ácido sulfúrico, enxofre, sulfeto
ferroso e sulfato de ferro e alumínio) e c) sais de cálcio
de baixa solubilidade (calcário e resíduo de engenho de
cana-de-açúcar).

Gesso: O gesso (CaSO 4 2H2O) apesar da sua baixa


Extraído de Cavalcante (2000); PSL = Percentual de sais lixiviados
solubilidade em água, é o corretivo mais utilizado como
fonte de cálcio para substituir o sódio trocável, em razão
Exercício 8 do baixo preço, disponibilidade no mercado e fácil
No solo salino-sódico por possuir mais sais solúveis manuseio; além disso, ele funciona como fonte de
(maior CEes) o percentual de lixiviação de sais sempre enxofre e cálcio para as plantas. A reação abaixo
é superior ao do solo sódico. Neste último, que descreve a substituição do sódio trocável no solo:
Recuperação de solos afetados por sais 437

MicelaNa
Na  CaSO 4  Micela Ca  Na 2 SO 4
salino-sódico. Estes resultados indicam também que a
recuperação física do solo degradado por sódio (PST) é
mais lenta do que a recuperação química (CEes).
A reação é reversível, por isso torna-se necessário
aplicar-se uma lâmina de lavagem para lixiviar o sulfato Exercício 10
de sódio, que é produto final da reação, para que a A matéria orgânica oriunda do esterco bovino,
recuperação paulatinamente ocorra e seja satisfatória. associada à drenagem também exerce eficiência na
Para isso, uma rede de drenagem se constitui em prática recuperação de solos afetados pela sodicidade. Um solo
obrigatória para lixiviação dos sais e do excesso de água. salino-sódico de Sumé - PB, abandonado há mais de 10
Tal reação é mais fortemente limitada pela reduzida anos pelo excesso de sais solúveis (CEes = 13,4 dS m-1)
solubilidade do gesso, que na temperatura de 25 ºC é e sódio trocável (PST = 18,4%), um ano após ser tratado
aproximadamente igual a 2,1 g L-1. com esterco bovino e drenagem subterrânea produziu
tomate em nível econômico.
Exercício 9
Pelos resultados a lavagem nos tratamentos sem Tabela 5. Produtividade de tomate Santa Clara em um solo
drenagem, independentemente da dose do gesso salino-sódico submetido à drenagem e esterco bovino.
aplicada, compromete ainda mais o nível salino (CEes)
e sódico (PST) em relação ao solo antes da aplicação
do corretivo químico. Nestas situações, ocorre a
solubilização do gesso através das irrigações, mas sem
a lavagem seguida de drenagem os sais solubilizados
que não são lixiviados voltam a ser adsorvidos pelo
complexo argílico do solo. Ao considerar que a reação
do cálcio pelo sódio é reversível, o sódio volta a
dispersar as argilas, depauperado ainda mais as
propriedades físicas do solo. Extraído e adaptado de Araújo (1990); SD = Sem drenagem; CD = Com drenagem; A 0 = Sem
NPK; A1 = com NPK; M0 = sem matéria orgânica: M 1 = 7 t ha-1; M2 = 14 t ha-1 de esterco de
Verifica-se também que apesar da lavagem reduzir a curral

CEes de 23,4 para 15,5 dS m-1 o nível de sodicidade ao


invés de diminuir foi incrementado de 18,8 para 20,2%. Uma avaliação nas linhas indica a expressiva
No solo com drenagem, o aumento da dose de gesso superioridade dos efeitos da drenagem no solo sem
de 25 para 50% da necessidade do solo (NG) com matéria orgânica e nas colunas a importância da
apenas uma lavagem, aos 30 dias após a incorporação do fertilização do solo com NPK (A1), no incremento da
corretivo, não foi suficiente para reduzir a salinidade produtividade.
(CEes) e a sodicidade (PST) para valores abaixo de 4 O monitoramento do nível salino e da sodicidade de
dS m-1 e de 15% respectivamente. um solo na maioria dos casos é feito pela avaliação
No solo com 25 e 50% de gesso sob condições de simultânea da condutividade elétrica do extrato de
drenagem a condutividade elétrica foi reduzida de 23,4 saturação (CEes) e da percentagem de sódio trocável -
para 13,6 e 8,5 dS m-1, a percentagem de sódio trocável PST (Richards, 1974; Pizarro, 1978; Tanji, 1990; Santos
de 18,8 para 17,5 e 16,2% respectivamente. Os & Ferreyra, 1997; Ruiz et al., 2004; Freire & Freire,
decréscimos apesar de promissores, com diminuições de 2007). Além destas variáveis, também devem ser
41,8 e 63,6% na salinidade e de 6,9 e 13,8% na monitoradas o aumento da capacidade de drenagem pela
sodicidade, expressam que o solo ainda permanece como condutividade hidráulica, aumento da porosidade total e

Tabela 4. Dados do extrato de saturação antes e depois da incorporação de doses de gesso em um solo salino-sódico sem
e com drenagem

Extraído e adaptado de Agra & Cavalcante (1992); NG = Necessidade de Gesso do solo; SD = Solo sem drenagem; CD = Solo com drenagem
438 Lourival F. Cavalcante et al.

diminuição da microporosidade do solo (Cavalcante & propiciou maior dinâmica de água e lixiviação mais
Silveira, 1985; Silveira, 1997). rápida do sódio transferido dos locais de troca para a
Um solo salino-sódico foi incorporado com gesso e solução do solo e para ser lixiviado juntamente com
acondicionado em colunas de PVC de 75 mm de outros cátions dissolvidos com as lavagens subsequentes.
diâmetro e 50 cm de altura. Aos 70 dias de incubação, Quanto ao gesso aplicado na superfície do solo os
o solo apresentava os resultados químicos e físicos resultados da literatura são conflitantes. Khosla & Abrol
indicados na Tabela 6. (1972) e De Jong (1982) constataram maior eficiência
A eficiência de aplicação do gesso depende da quando aplicado na superfície em relação ao incorporado
granulometria de suas partículas sendo que, de acordo ao solo. Para Barros et al. (2004), apesar da eficiência
com Abrol (1982) conseguem-se resultados promissores do gesso em reduzir a condutividade elétrica e a relação
com partículas de gesso menores que 2 mm de diâmetro, de adsorção de sódio, em solos salino-sódicos de distintas
devido aumentar a sua dissolução e reduzir a classes texturais, não obtiveram diferenças entre o gesso
precipitação do cálcio. na superfície e incorporado. Por outro lado, Gobran et al.
O gesso pode ser aplicado diretamente no solo (1982) e Cavalcante & Silveira (1985) obtiveram maiores
incorporando na superfície ou adicionando a água de reduções das variáveis químicas e físicas para o gesso
irrigação. No primeiro caso, adotam-se dois incorporado ao solo.
procedimentos: o corretivo é distribuído a lanço e Para maior eficiência na substituição do sódio
incorporado através de gradagem até a profundidade que trocável, é conveniente lavar quase todos os sais solúveis
se deseja recuperar, ou pode também ser fornecida antes de se aplicar os corretivos, para que uma
diretamente na superfície do solo; em ambas as proporção maior de cálcio contido no corretivo seja
situações, recomenda-se a lavagem após a adição do adsorvida pelo complexo; no entanto, a lavagem dos sais
corretivo para promover a distribuição mais homogênea solúveis em excesso poderá causar a dispersão das
no perfil. No segundo caso, o gesso é misturado com a partículas de argila, diminuindo a permeabilidade do solo;
água de irrigação (Silveira, 2000). por isto, as lavagens prévias não devem ser aplicadas
para solos pouco permeáveis.
Exercício 11
Os valores antes e aos 70 dias depois da Exercício 12
incorporação do corretivo químico, evidenciam reduções Após avaliar a efetividade agronômica do gesso na
expressivas de natureza química pela diminuição da recuperação de solos salino-sódicos e sódicos indicada
salinidade (CEes), da sodicidade (PST) e de natureza na Tabela 7, Magalhães (1995), concluiu que o aumento
física pelo aumento da macroporosidade, condutividade das doses de gesso na superfície de dois solos
hidráulica, redução do espaço microporoso e melhoria da comprometidos por sódio, do estado de Pernambuco,
estruturação do solo (Oster & Frenkel, 1980; Gheyi et al., reduziu expressivamente a sodicidade. A redução da
1997; Barros et al., 2006). PST em função do gesso aplicado em relação aos
Os dados expressam a ação positiva do gesso quando valores iniciais dos respectivos solos aumentou de 62,8
associado à drenagem na recuperação de solos para 83,9% no perímetro irrigado de Ibimirim e de 30,9
degradados pela sodicidade, ao nível de proporcionar a 75,7% em Custódia respectivamente. Em ambos os
condições para a germinação das sementes e solos, a PST foi reduzida para níveis abaixo de 10% e,
crescimento das plantas. O aumento da macroporosidade portanto, com condições de cultivo em ambos os solos.

Tabela 6. Condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes), percentagem de sódio trocável (PST), macro, microporosidade
e condutividade hidráulica do solo saturado, após incorporação do gesso.

Extraído e adaptado de Morais (1990); A = Antes da aplicação do gesso; M = Macroporosidade; m = Microporosidade; M e m = Respectivamente incrementos da macro e microporosidade; Ks =
Condutividade hidráulica do solo saturado
Recuperação de solos afetados por sais 439

Tabela 7. Valores referentes à percentagem de sódio trocável foram mantidas sob regime de saturação com água
inicial (PSTi), percentagem de sódio trocável final (PSTf) sintética (NaHCO 3 , Na 2 SO 4 , NaCl, KCl, MgCl 2 e
e redução da percentagem de sódio trocável (PST) em
função do gesso aplicado na superfície de dois solos
CaCl2) de condutividade elétrica 1,01 d Sm-1 sem e com
degradados por sais. saturação de gesso, ao nível de 2,5 g L -1. A cada 24
Gesso PSTi PSTf PST horas eram avaliados, do volume lixiviado, as variáveis
Perímetro de
Aplicado contidas na Tabela 8.
Irrigação/Local %
cmolc kg-1 A lavagem do solo com qualquer tipo de água reduziu
5,9 18,7 62,8 significativamente a condutividade elétrica, a
Ibimirin-01, PE 11,8 50,3 13,0 74,2
percentagem de sódio trocável e aumentou a dinâmica da
17,7 8,1 83,9
água em relação ao solo antes da aplicação dos
3,5 24,8 30,9
Custódia-07, PE 7,0 16,9 52,9 tratamentos. Observa-se também que a superioridade foi
35,9 mais expressiva nas amostras tratadas com água
10,5 8,7 75,7
Extraído e adaptado de Magalhães (1995); PSTi e PSTf = Respectivamente percentagem de só- sintética mais gesso. Estas melhorias nos aspectos
dio trocável dos solos antes e depois da aplicação superficial do gesso
químicos e físicos constatados também por Shainberg et
Quanto ao gesso fornecido juntamente com a água de al. (1988) evidenciam efeitos positivos do cálcio, oriundo
irrigação, em geral, as dosagens aplicadas são menores gesso ou de outro composto químico que o contenha, na
do que quando incorporadas ou aplicadas na superfície do redução da salnidade, sodicidade, concentração de sódio
solo. Este modo de aplicação apesar de fornecer o gesso trocável e aumento da capacidade de drenagem expressa
com boa parte já solubilizada e proporcionar distribuição pela condutividade hidráulica do solo.
mais homogênea na profundidade requerida, não tem sido
recomendado para sistema de irrigação pressurizado de
Cloreto de cálcio: A alta solubilidade do cloreto de
alta frequência como microaspersores, gotejamento e
outros afins. cálcio (CaCl2 2H2O) aproximadamente igual a 427 g L-1
A baixa solubilidade do corretivo químico em doses à 20 oC, torna o um corretivo químico mais eficiente e
comparadas às aplicadas diretamente no solo pode rápido que o gesso na recuperação de solos afetados por
promover a obstrução dos emissores e comprometer todo sódio, porém seu emprego é limitado, por ser
o sistema de irrigação. Por isso, juntamente com a água rapidamente lixiviado do perfil do solo e, principalmente,
o gesso é mais frequentemente fornecido na irrigação por seu elevado custo. A substituição do sódio trocável
por inundação ou infiltração em sulco. no solo, quando se aplica o cloreto de cálcio, é descrita
pela seguinte reação:
Exercício 13
Amostras de solos com CEes entre 1,15 e 8,76 d Sm-1
e PST de 4,62 a 33,77%, foram avaliadas em tubos de
MicelaNa
Na  CaCl 2  Micela Ca  2 NaCl

PVC de 4,7 cm de diâmetro interno com 20 e 50 cm de


altura, dreno na base final inferior para drenagem e A aplicação do cloreto de cálcio pode ser direta sobre
lixiviação dos sais. Durante 10 dias as colunas de solo o terreno ou via água de irrigação.

Tabela 8. Valores médios da condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes), percentagem de sódio trocável (PST),
teores trocáveis de cálcio e sódio, condutividade hidráulica do solo saturado (Ks) e condutividade elétrica do lixiviado
(CEl)
CEs PST Ca2+ Na+ Ks CEl
Tratamentos
dS m-1 % cmolc kg-1 cm h-1 dS m-1
Antes 4,97 a 15,28 a 5,89 c 2,22 a - -
Água sem gesso 2,35 b 11,18 ab 6,75 b 1,59 ab 0,37 b 10,84 a
Água com gesso 2,35 b 8,30 b 7,24 a 1,19 b 0,61 a 11,77 a
Z1 0-20 cm 3,00 a 8,92 b 6,77 a 1,23 b 0,47 a 8,82 b
Z2 20-50 cm 3,45 a 14,25 a 6,48 a 2,11 a 0,51 a 15,79 a
CV (%) 70,00 57,45 10,27 63,17 90,70 101,03
dms águas 1,60 4,61 0,47 0,73 0,8 4,63
dms Z - 3,13 - 0,49 0,18 4,63
Extraído de Silveira (2000); Z= Tamanho da amostra
440 Lourival F. Cavalcante et al.

Enxofre: O enxofre é um corretivo químico bastante solos com calcário dolomítico, o ácido sulfúrico forma
utilizado, tendo em vista seu baixo custo. Antes de agir gesso, como explicita a reação abaixo:
como corretivo, o enxofre elementar passa por uma fase
de oxidação microbiana para produzir o H 2SO4. Este H 2SO 4  CaCO 3  CaSO 4  CO 2  H 2 O
processo de oxidação do enxofre no solo é resultante da Micela Na
Na  CaSO 4  Micela Ca  Na 2 SO 4
ação de bactérias do gênero Thiobacillus, tal como
descritas pelas reações seguintes:
A reação do ácido sulfúrico com o calcário produz o
2S  3O 2  Irrigação  2SO 3 (oxidação microbiana) gesso. A dissolução do gesso fornece cálcio para a troca
SO 3  H 2 O  H 2SO 4 com o sódio, que substituirá o sódio adsorvido ao solo
através da reação de simples troca. Nos solos sem os
H 2SO 4  Micela Na
Na  Micela H  Na 2 SO 4
H
carbonatos alcalinos terrosos esse corretivo causa
Micela Na
Na  CaSO 4  Micela Ca  Na 2 SO 4 excessiva acidez, o que justifica seu emprego nos solos
ricos em carbonatos alcalinos terrosos.

O tempo de oxidação microbiana depende do grau de Exercício 14


finura ou granulometria do enxofre, da mistura com o solo Após fornecer ácido sulfúrico aos níveis de 0; 1,8; 3,6;
e dos fatores que favorecem a atividade bacteriana, como 5,4 e 7,2 g kg -1 , em dois solos salino-sódicos dos
umidade, temperatura e população microbiana no solo, perímetros irrigados de Condado, PB, com CEes (8,4 dS
entre outros. A bactéria do gênero Thiobacillus é do tipo m-1), PST (47,3%) e pH = 9,1 e de São Gonçalo, Sousa,
aeróbica, por isso, torna-se indispensável promover a PB, com CEes (17,1 dS m-1), PST (52,9%), pH 8,1 e
aeração, mantendo o solo com umidade na capacidade de proceder a lavagem com água não salina (CE = 0,5 dS
campo, durante a oxidação para acelerar ou pelo menos m-1) a cada 30 dias, ao final de quatro lavagens, Leite
manter a atividade microbiana. Pelo exposto, os solos (2005) constatou eficiência do ácido sulfúrico na
tratados com enxofre não deverão ser inundados antes do correção dos respectivos solos, como mostrado na
tempo de oxidação microbiana, que varia em média de 20 Figura 7.
a 30 dias. Com a lavagem e a aplicação do ácido sulfúrico a
Por ser o enxofre um corretivo que aumenta a acidez condutividade elétrica do extrato de saturação – CEes foi
do solo, sua aplicação deverá se limitar aos solos que reduzida no solo de Condado de 8,4 e de 17,1 dS m-1 em
contenham carbonatos alcalinos terrosos. Neste caso, o São Gonçalo, para valores menores de 2 dS m-1 em
uso de enxofre tem a vantagem adicional de reduzir o ambos os solos (Figura 7A). Nas mesmas condições a
pH, aumentando a disponibilidade de nutrientes para as percentagem de sódio trocável foi diminuída de 47,3 para
plantas, como Zn, Mn e Fe, mas, nos demais casos, sua menos de 7% em Condado e de 52,9 para menos de 8%
aplicação reduz o pH, tornando o solo excessivamente em São Gonçalo (Figura 7B) e o pH de 9,1 para 6,0 e de
ácido; para evitar esse perigo, deve-se aplicar, a uma 8,1 para abaixo de seis nos solos de Condado e São
amostra de solo, uma quantidade de H2SO4 equivalente Gonçalo respectivamente (Figura 7C).
à dosagem de enxofre e verificar se o pH depois que
ocorrer a reação não foi reduzido para valores abaixo de Calcário dolomítico: O calcário (CaCO 3 ) é um
6,0. corretivo de adequada disponibilidade no mercado e
muito barato, principalmente quando se aproveitam os
Ácido sulfúrico: Além dos corretivos químicos como carbonatos existentes no próprio solo. A sequência de
cloreto de cálcio, gesso, formadores de ácidos com reações que ocorrem quando o calcário é aplicado em
sulfato de alumínio e sulfato de ferro, o ácido sulfúrico solos afetados por sódio, envolve as seguintes etapas:
também pode ser empregado na correção dos solos
comprometidos pela sodicidade. Resultados de Yahia et Micela Na
Na  CaCO 3  Micela Ca  Na 2 CO 3
al. (1975), Gheyi et al. (1995), Niazi et al. (2001), Sadiq
et al. (2003), Leite (2005) e Sadiq et al. (2007) revelaram
ou
eficiência da aplicação do acido sulfúrico em solos
degradados por sódio trocável.
O ácido sulfúrico é um corretivo químico de ação MicelaNa
Na  2 H 2 O  Micela H  2 NaOH
H

muito rápida. Na presença de carbonatos, sobretudo em MicelaHH  CaCO3  MicelaCa  CO 2  H 2 O


Recuperação de solos afetados por sais 441

A Para melhorar a eficiência do CaCO3 como corretivo,


o método mais prático é fazer sua aplicação, juntamente
com adubos orgânicos seguido de aração ou gradagem
para ativar o processo de decomposição microbiana da
CEes (dS m-1)

matéria orgânica.

Matéria orgânica: A matéria orgânica mesmo não


sendo considerado corretivo químico, exerce efeitos
positivos na melhoria química e física dos solos afetados
por sais (Gheyi et al., 1995; Neves, 1997; Cavalcante
B et al., 2002). Apesar de seus baixos valores
quantitativos, principalmente em cálcio, promove a
liberação de CO2, produz ácidos orgânicos e estimula a
oxidação biológica e a atividade microbiana (Grupta et
PST (%)

al., 1984; Leite, 1990; Silva, 1997). Essa situação


resulta na diminuição da CEes, PST e aumenta a
dinâmica da água no solo.

Exercício 15
A adição de matéria orgânica oriunda do esterco de
C curral a um solo salino-sódico contribuiu para redução do
caráter salinidade (CEes) e sodicidade (PST). Verifica-
se que apesar da redução crescente da PST,
numericamente a diminuição dos efeitos deletérios da
sodicidade é mais lenta do que o da salinidade. Dentre
pH

as doses aplicadas a maior redução da condutividade


elétrica correspondeu a 10 t ha -1; a partir desse valor
houve uma maior dissolução de sais resultando em
maiores valores de condutividade elétrica do extrato de
saturação do solo Tabela 9.
O aumento da CEes com o aumento das doses da
Ácido sulfúrico (g kg-1)
Figura 7. Valores de condutividade elétrica do extrato de
matéria orgânica não se constitui em desvantagem porque
saturação (CEes) – A, percentagem de sódio trocável observam-se diminuições da PST, com a redução dos
(PST) – B e de pH – C de dois solos salino-sódicos riscos de sodicidade; nessas situações em geral, há
tratados com ácido sulfúrico: solo de Condado (——) e aumento da porosidade total, da capacidade de drenagem
de São Gonçalo (___) expressa pelo aumento da condutividade hidráulica do
solo saturado como indicado na Tabela 10.
Os efeitos do calcário na correção dos solos afetados
por sódio são inferiores aos do gesso, devido à sua baixa Exercício 16
solubilidade, que é de contra 2,1 g L-1. O uso do calcário O teor de matéria orgânica do solo salino-sódico foi
é indicado em solos de pH inferior a 7,5 e que não elevado para 1,68 e 2,52% com esterco de curral.
possuem carbonatos alcalinos terrosos, em especial para Durante 10 dias o solo foi irrigado mantendo-se a
solos degradados, por sódio trocável. umidade ao nível da capacidade de campo. Após esse

Tabela 9. Valores da condutividade elétrica do extrato de saturação (CEes) e da percentagem de sódio trocável (PST) em
resposta à aplicação de matéria orgânica

Extraído e adaptado de Neves (1997); PST = Percentagem de sódio trocável; SS = Solo salino-sódico; S = Solo salino; Valor entre parêntese corresponde à redução percentual em relação ao valor
original (A)
442 Lourival F. Cavalcante et al.

Tabela 10. Valores de condutividade elétrica dos lixiviados (CEl) e condutividade hidráulica (Ks) de um solo salino-sódico
cultivado com plantas leguminosas antes e depois da aplicação de matéria orgânica

Extraído e adaptado de Cavalcante et al. (2002); * antes da semeadura

período efetuou-se uma lavagem com água não salina


adotando uma fração de lixiviação de 0,15 e foram
avaliadas a condutividade elétrica dos lixiviados (CEl) e

Umidade (g kg-1)
a condutividade hidráulica do solo saturado.
Imediatamente após a lavagem do solo, sementes de
feijão guandu (Cajanus cajan L.) e de Mucuna preta
(Stylozobium atterrinum Pit. Et. Tmacc) foram semeadas
e 60 dias após foi realizada outra lavagem e obtidos os
valores da condutividade elétrica das suspensões
drenadas e a condutividade hidráulica do solo saturado.
A adição de matéria orgânica e a lavagem Potencial matricial (MPa)
Figura 8. Curva de retenção de água de um solo salino-
promoveram a lixiviação dos sais e aumento da
sódico sem corretivo químico (—), com aplicação de
hidrodinâmica do solo. Do ponto de vista químico a vinhaça (———), com gesso e lixo urbano (—’”’”—).
condutividade elétrica foi expressivamente reduzida e Extraído de Santos (2002)
fisicamente à matéria orgânica elevou consideravelmente
a velocidade da água no perfil de lenta, variando de 1,27 Pela referida figura, se verifica que no solo com
a 5,08 mm h-1 para lenta a moderada que se situa entre vinhaça a disponibilidade de água às plantas supera a do
5,08 a 20,32 mm h -1 no período de 60 dias após a solo com gesso + lixo urbano e do solo sem nenhum tipo
incorporação do esterco de bovino. Apesar da marcante de acondicionador. A superioridade na armazenagem de
redução dos índices da salinidade e do aumento da água do solo com vinhaça é atribuída à ação da matéria
dinâmica da água no solo não foram detectadas orgânica coloidal nela contida, que aumenta o estado de
diferenças estatísticas entre as doses do esterco bovino agregação e aeração do solo, resultando em aumento do
sobre a melhoria química e física do solo e nem sobre a espaço macroporoso como indicado na Figura 9.
germinação das sementes, matéria seca total e das raízes
de ambos os tipos de plantas (Cavalcante et al., 2002). Exercício 18
Resultados da literatura indicam que a vinhaça Um solo salino-sódico de condutividade elétrica do
também exerce ação positiva na correção de solos extrato de saturação 42,5 dS m-1, percentagem de sódio
afetados por sódio trocável (Ruiz et al., 1997). Em geral,
tem se verificado diminuição da elevada força de
retenção de água, da condutividade elétrica do extrato de
saturação no caso dos solos salino-sódicos e aumento da
Macroporos (%)

condutividade hidráulica do solo saturado, da


macroporosidade e da porosidade total em solos salino-
sódicos e sódicos.

Exercício 17
Após avaliar os efeitos da vinhaça e lixo urbano sobre
a retenção de água em um solo salino – sódico, Santos
(2002), verificou que a ordem de retenção de água nos Doses de vinhaça (%)
diferentes tratamentos foi: solo com vinhaça < solo com Figura 9. Valores médios de macroporos do solo, em
gesso + lixo urbano < solo sem nenhum dos insumos função das doses de vinhaça aplicadas. Extraído de
(Figura 8). Silva (2004)
Recuperação de solos afetados por sais 443

Tabela 11. Valores da condutividade elétrica, pH, sódio, total de sais lixiviados e condutividade hidráulica de um solo
salino-sódico saturado

Extraído e adaptado de Silveira (1997); CEl e TSL = Respectivamente condutividade elétrica e total de sais medidos no lixiviado; Ks = Condutividade elétrica do solo saturado. Médias seguidas de
mesmas letras nas colunas não diferem entre si por Tukey para p < 0,05

trocável 52,1%, pH 10,6, condutividade hidráulica do Exercício 19


saturado 0,8 mm h1 foi tratado com as doses de gesso 0, Um solo salino-sódico do Perímetro irrigado de Sumé
25, 50, 75 e 100% e incubado com água e vinhaça com CEes variando 3,9 a 11 dS m-1, PST = 26,6 a 36,9%
(Tabela 11). Durante 330 dias o solo foi irrigado com e pH = 8 a 9,1, na camada de 0-160 cm, foi tratado com
água destilada, mantendo-se a umidade próxima à 1,2 t ha-1 de ácido sulfúrico, 16 t ha-1 de esterco de curral
capacidade de campo. Duas lavagens foram feitas uma e 30 t ha-1 de gesso. Em seguida foi submetido ao cultivo
aos 210 e outra aos 330 dias; os valores de condutividade de quatro cultivares de arroz (Oryza sativa) seguido de
elétrica, pH, sódio, total de sais lixiviados e a Capim cameron (Pennisetum purpureum).
condutividade elétrica do solo saturado referentes à No período de 1983 a 1987, foi verificado que apesar
segunda lavagem estão contidos na Tabela 11. das acentuadas reduções da condutividade elétrica do
Ao considerar a situação inicial do solo se constata extrato de saturação (CEes) e a percentagem de sódio
expressiva redução da condutividade elétrica, do total de trocável (PST) entre todos os métodos de recuperação,
sais e de sódio lixiviados. inclusive a testemunha, a maior eficiência numérica
Os maiores valores de pH, os mais baixos de sobre estas variáveis foi constatada nos tratamentos com
condutividade elétrica, de sódio, do total de sais lixiviados gesso. Os valores da CEes aos sete meses após o cultivo
e os menores da condutividade hidráulica expressam do arroz já apresentava valores entre 1,6 e 3,2 dS m-1,
como discutidos por Richards (1974), Pizarro (1978), mas a percentagem de sódio trocável, exceto no solo com
Tanji (1990), Santos (2002) que a lavagem isolada de gesso, ainda se apresentava elevada, variando de 20,5 a
solos comprometidos por sódio agrava ainda mais o 31,6%, principalmente na camada de 30-60 cm.
caráter sodicidade. Esta situação ocorre porque a No final do experimento, constatou-se os mais baixos
lavagem sem aplicação de um corretivo lixivia os sais valores da CEes, variando de 0,2 a 1,4 dS m-1 na faixa
solúveis, mas não desloca o sódio dos sítios de troca para de 0-60 cm, com maiores reduções em relação à
a solução para ser lixiviado com a lavagem seguinte do condição inicial do solo, na profundidade de 0-30 cm.
solo. Registrou-se também declínio acentuado da PST
No que se refere ao gesso o aumento das doses, inclusive na testemunha, principalmente na faixa de solo
apesar das marcantes reduções, em relação ao solo antes entre 0-30 cm. Para Gheyi et al (1995), a redução da
da aplicação dos tratamentos, não interferiu na PST mesmo no tratamento controle (testemunha), pode
condutividade elétrica, pH e teor de sódio nos lixiviados. ser resposta da melhoria da permeabilidade do solo, em
Verifica-se também que a utilização de doses acima de função do cultivo da área associada a decomposição da
75% da exigência de gesso do solo não resultou em matéria orgânica constituída pelas raízes.
superioridade estatística no total de sais lixiviados e na Finalmente, os distintos métodos de recuperação de
condutividade hidráulica do solo. solo salino-sódico não revelaram efeitos significativos
Comparativamente a vinhaça superou o gesso tanto entre si sobre as produções médias de arroz e capim
em proporcionar maior lixiviação de sódio, de sais Cameron. Entretanto, verifica-se na Tabela 12
lixiviados bem como proporcionar maior nível de melhoria tendências de superioridade do gesso de ácido sulfúrico
física para a drenagem, pelo aumento da condutividade para o arroz, esterco de curral e gesso sobre o
hidráulica e redução do pH. A superioridade da rendimento do capim Camerom.
condutividade elétrica comparada ao gesso evidencia Um solo salino-sódico do Perímetro Irrigado de São
maior ação da vinhaça na capacidade de extração de sais Gonçalo, Sousa, PB, foi submetido às aplicações de 20
de solos degradados por sódio. t ha-1 de gesso, 15 t ha-1 de casca de arroz, 40 m3 ha-1
444 Lourival F. Cavalcante et al.

Tabela 12. Produção de quatro cultivares de arroz e massa fresca de capim-camerom referente a oito cortes em um solo
salino-sódico do perímetro irrigado de Sumé, PB, submetido aos distintos métodos de recuperação

Extraído e adaptado de Gheyi et al. (1995); 1-BR IRRGA 409; 2= POKALI; 3=IR 2058; 4=IR2053. Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas nas colunas e minúsculas nas linhas não diferem pelo
teste de Tukey para p < 0,05

de vinhaça, 40 t ha -1 de esterco de curral e um em todas as variáveis estudadas. Indica também que das
tratamento controle ou testemunha, isto é, solo tratado oito variáveis a sequência esterco de curral > gesso foi
apenas com água. O solo foi lixiviado continuamente registrada em sete, inclusive na produtividade. Pelos
durante 40 dias mantendo uma lâmina de 8 cm de carga resultados a correção de solos com o uso de
hidráulica nas parcelas e em seguida foi cultivado com condicionadores orgânicos apresenta viabilidade como
arroz e avaliadas as variáveis indicadas na Tabela 13. observado também por Gheyi et al. (1995), Neves (1997),
Ruiz et al. (1997), Cavalcante et al. (2002).
Exercício 20
No período de 1996 a 1997, Gomes et al. (2000) Tabela 14. Ordem de sequência dos diferentes métodos de
verificaram que dentre os métodos de recuperação o recuperação de um solo salino-sódico do Perímetro
gesso foi o que mais reduziu a percentagem de sódio Irrigado de São Gonçalo, Sousa, Paraíba
trocável e a vinhaça foi a que mais contribuiu para a
diminuição da condutividade elétrica do extrato de
saturação do solo. No tocante as variáveis relativas à
cultura, exceção feita ao número de panícula, massa da
panícula e produtividade do arroz, todos os métodos de
recuperação superaram a testemunha nas demais
variáveis avaliadas. Especificamente no rendimento da
cultura, a ordem crescente da produtividade foi: Esterco
de curral (8,81 t ha-1) > Gesso (6,78 t ha-1) > Casca de EC = Esterco de curral; G = Gesso; CA = Casca de arroz; V = Vinhaça; T = Testemunha
arroz (6,28 t ha-1) > Vinhaça (5,66 t ha-1) > Testemunha
(3,38 t ha-1). Resíduos industriais: Alguns subprodutos de indústria
A ordem das sequências crescentes dos efeitos dos poderão atuar como corretivos, em virtude de serem
distintos condicionadores do solo, como indicado na acidificadores e possuírem cálcio. Dentre esses
Tabela 14, evidencia a superioridade do esterco de curral subprodutos, o mais utilizado é o resíduo dos engenhos de

Tabela 13. Valores médios e incrementos, em relação à testemunha do comprimento (CP) e número de panícula (NP),
número de ramificações (NR) e massa de panícula (MP), número de grãos (NG), e densidade da panícula (DP), massa
de 100 grãos (MG) e rendimento de arroz sob inundação de um solo salino-sódico do perímetro irrigado de São Gonçalo,
Souza, PB, submetido a diferentes métodos de recuperação

Extraído e adaptado de Gomes et al. (2000); T=testemunha; Valores seguidos de mesmas letras minúsculas nas linhas não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey para p < 0,05; Números entre
parêntese expressa a superioridade percentual em relação à testemunha
Recuperação de solos afetados por sais 445

cana-de-açúcar. A vinhaça tendo um pH baixo, alto teor em que:


de matéria orgânica e potássio também pode ser NG - Necessidade de gesso (kg ha-1);
empregada como corretivo para solos afetados por sódio Ds - Densidade do solo (g cm-3);
trocável com ou sem carbonato alcalinos terrosos tanto h - Profundidade do solo a ser recuperada;
para melhoria química como das propriedades físicas PEq - Peso equivalente do gesso = 86;
(Almeida, 1994; Ruiz et al., 1997; Santos, 2002; Silva, Na+x - Teor de sódio trocável do solo (cmolc kg-1).
2004).
Para Pizarro (1978) a estimativa da dosagem de
Calculo da necessidade de corretivos e gesso a ser utilizado durante a correção da sodicidade de
recomendações práticas um solo depende da percentagem inicial de sódio trocável
Na literatura há diversos procedimentos metodológicos (PSTi), da capacidade de troca de cátions (CTC), da
para se quantificar a dosagem de corretivo químico a ser densidade do solo (Ds), da percentagem final de sódio
aplicado num solo salino-sódico ou sódico. Dentre os trocável desejada que o solo atinja (PST f ), da
métodos três podem ser empregados: a) Richards (1974); profundidade do solo a ser recuperada (h) e do peso
b) Awad & Abbott (1976); c) Pizarro (1978). Ao equivalente do corretivo químico.
considerar os aspectos econômicos e disponibilidade no A dose teórica de gesso necessária para recuperação
mercado, o gesso tem sido o corretivo mais empregado, do solo para ser obtida pela Eq. (9):
apesar de não ser o mais eficiente na redução da
sodicidade dos solos. Dt  PSTi  PSTf   CTC  PEq  h  Ds 100 (9)
Baseado na concentração de sódio trocável, densidade
do solo, profundidade de aplicação e peso equivalente em que:
Richards (1974) sugere a quantificação da dosagem de
Dt - Dose teórica do corretivo, kg ha-1;
gesso exigida pelo solo com base na Tabela 15.
(PSTi – PSTf) - Diferença entre a porcentagem de
Tabela 15. Dosagem de gesso calculada em função do teor
sódio inicial e final, desejada, isto é, a PST que se deseja
de sódio trocável para corrigir o solo até a profundidade que o solo atinja em %. Em geral esse valor é de 10%;
15 ou 30 cm PEq - Peso equivalente do elemento ou composto
usado como corretivo (Tabela 16);
h - Profundidade do solo a ser recuperado, cm;
Ds - Densidade do solo, g cm-3.

Tabela 16. Peso equivalente de diferentes corretivos


utilizados na recuperação dos solos afetados por sódio

Os cálculos referentes às dosagens para recuperação


do solo às profundidades de 0-15 e de 0-30 cm foram
feitos para solos com densidade 1,4 kg dm-3. Isto requer
correções em função desse valor para solos com
densidades diferentes. Em todos os casos as doses de corretivo foram
Awad & Abbott (1976) admitem que teores de sódio obtidas considerando-se o aproveitamento total do cálcio
abaixo de 0,5 cmol c kg -1 não oferecem riscos de adicionado e o corretivo com 100% de pureza. Por isso,
sodicidade; para eles a necessidades de gesso (NG) pode (Pizarro, 1978) a dose prática do corretivo pode ser
ser obtida pela Eq. (8). estimada mediante a equação:

NG = (Na+x - 0,5) Ds h PEq (8) (10)


446 Lourival F. Cavalcante et al.

em que: Tabela 18. Atributos químicos e físicos dos solos empregados


Dp- Dose prática, kg ha-1 no cálculo da necessidade de gesso para correção da
C - Coeficiente de correção (indicado na Tabela 17), sodicidade de dois solos irrigados
adimensional.

Tabela 17. Valores dos coeficientes de correção (C)


recomendados para diferentes corretivos químicos
(Pizarro, 1978)

*=Extraído Leite et al. (2007); **=Extraído de Pereira et al. (1982); Na+x = Sódio trocável; CTC
= Capacidade de troca catiônica; h = profundidade do solo que se deseja recuperar; Ds = Den-
sidade do solo

Ao considerar, em função da baixa solubilidade do


gesso (2,1 g L-1), que a dose máxima recomendada para
aplicação seja de 10 t ha-1 no primeiro ano (Rhoades &
A dose prática de corretivo pode ser determinada em Loveday, 1990), se constata que ambos os solos,
laboratório, agitando-se um peso conhecido de solo com independentemente da forma de calcular (Tabela 19)
solução saturada do gesso de concentração conhecida e exigem elevadas quantidades de gesso. Nestas
se comparando o teor remanescente de Ca + Mg no condições, o mais viável é efetuar os cálculos para
extrato, determinado pelo método de titulação. correção da sodicidade até a camada de 15 cm e nos 2
Na prática, a quantidade de corretivo é determinada ou 3 seguintes fazem-se aplicação de 4 t ha -1 com
pela experiência local e por condições financeiras, lixiviações até a profundidade de 30 cm para que haja
sobretudo quando o gesso é o corretivo usado e as distribuição do cálcio solubilizado para substituição do
aplicações são frequentemente efetuadas num sódio no complexo de troca.
determinado número de anos. A prática mais comum
para se recuperar um solo sódico com gesso é se aplicar Tabela 19. Dosagens de gesso estimadas conforme diferentes
autores, para os solos do Perímetro Irrigado Engenheiro
no máximo 10 t ha -1 no primeiro ano e se usar uma
Arco Verde, Condado, PB e Perímetro Irrigado de São
lâmina de água de 150 cm, para lixiviar. Se nos 2 a 3 Gonçalo, Sousa, PB, até a profundidade de 30 cm
anos subsequente fazem-se aplicações adicionais de 4 t
ha-1, com algumas lixiviações até que a profundidade do
solo desejada esteja eventualmente recuperada (Rhoades
& Loveday, 1990).
Um aspecto importante que deve ser considerado
durante o planejamento para recuperação de áreas
afetadas por sais, é a escolha de uma espécie tolerante
à salinidade ou a sodicidade, conforme o caráter salino *Considerando a percentagem de sódio trocável final (PSTf) de 10%

ou sódico da área para ser cultivada. Neste caso, o


Dentre as metodologias a que mais superestima a
arroz é a espécie mais recomendada durante a
quantificação da necessidade de gesso para correção da
recuperação desses solos, em razão da grande tolerância
sodicidade dos solos é a de Richards (1974). O
à sodicidade e a possibilidade de ser cultivado em
procedimento sugerido por Pizarro (1978), para qualquer
condições de inundação. dos solos é o que apresenta maior viabilidade em relação
aos demais. Neste sentido, deve-se considerar ainda que
Exercício 21 foram adicionados à dose teórica 25% para obtenção da
Dois solos salino-sódicos, um do Perímetro Irrigado dose prática ou técnica. Caso a adição não fosse feita,
Engenheiro Arco Verde, Condado, PB e outro do as dosagens seriam de 28.898 e 23.590 kg ha -1 para o
Perímetro Irrigado de São Gonçalo, Sousa, PB, com os solo de Condado e São Gonçalo respectivamente.
atributos químicos e físicos contidos na Tabela 18 Mesmo assim continuaram sendo excessivas.
exigem dosagens distintas de gesso para redução da Uma das tentativas de não se aplicar doses elevadas
sodicidade. com riscos de se prejudicar ainda mais o solo é fracionar
Recuperação de solos afetados por sais 447

a dosagem de 100% para 25,50 e 75% e selecionar a De Jong, E. Reclamation of soils contaminated by sodium
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448 Lourival F. Cavalcante et al.

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Indicadores de rentabilidade
24 da recuperação de solos sódicos
Raimundo N. T. Costa1, Claudivan F. de Lacerda1,
Luiz A. C. da Silva1 & Ana P. B. de Araújo1

1 Universidade Federal do Ceará

Introdução
Análise de investimento
Atualização de fluxos monetários
Taxa interna de retorno (TIR = r*)
Cálculo da TIR (r*)
Relação benefício-custo (Rb/c)
Cálculo e análise do fator de recuperação de capital
Estudos de caso na bacia hidrográfica do Rio Curu-CE
Características do solo e processo técnico da recuperação (Caso I)
Indicadores de rentabilidade e payback da recuperação (Caso I)
Características do solo e processo técnico da recuperação (Caso II)
Indicadores de rentabilidade e payback da recuperação (Caso II)
Considerações finais
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
450 Raimundo N. T. Costa et al.

Indicadores de rentabilidade
da recuperação de solos sódicos

INTRODUÇÃO desenvolvida para as condições peculiares de cada


região. Visando propiciar condições favoráveis de
A salinização e a sodificação dos solos constituem um umidade, aeração e balanço de sais ao sistema radicular
fator extremamente importante no contexto do universo das culturas, faz-se necessária a instalação de um
agronômico, haja vista proporcionarem ao longo do sistema de drenagem subterrânea em áreas irrigadas, o
tempo, expansão significativa de áreas com restrições à que constitui uma das principais infra-estruturas no
exploração agrícola, especialmente em se tratando de processo de dessalinização dos solos, além de prevenir e
regiões áridas e semi-áridas irrigadas, reduzindo
solucionar os problemas associados à elevação do lençol
sensivelmente a produtividade das culturas a níveis
freático. Na recuperação de solos sódicos, que
antieconômicos.
De acordo com Leite et al. (2007), nos perímetros constituem os que apresentam o maior grau de
irrigados é frequente o surgimento de solos afetados por degradação, deve-se fazer o uso de corretivos que
sais devido o manejo ineficiente do solo e da água, a contenham cálcio solúvel, bem como práticas mecânicas
drenagem deficiente em decorrência da baixa adequadas.
condutividade hidráulica dos solos, a falta de manutenção A importância da inserção desta vasta área
dos coletores, as condições topográficas desfavoráveis e degradada por sais ao processo produtivo se faz
a constante exploração agrícola das terras. necessária, tendo em vista os retornos, seja na dimensão
A grande maioria dos problemas de sais está inserida social, pela geração de empregos diretos e indiretos, seja
nos perímetros irrigados pelo método de superfície, tanto pelos aspectos relacionados à dimensão econômica. No
por aspectos relacionados ao manejo do sistema solo- Brasil, os dados demonstram que, aproximadamente 3,2
água, quanto pela falta de manutenção dos drenos milhões de hectares irrigados, correspondem a 5% da
coletores, que funcionam como fonte de recarga de água área cultivada, 16% da produção total e 35% do valor
salina para o interior dos lotes. econômico da produção (Mantovani et al., 2006).
A deficiência no suprimento de energia elétrica, a Diversas pesquisas têm demonstrado a viabilidade
carência de capital humano qualificado, de recursos técnica do processo de recuperação de solos degradados
financeiros, a tradição, a qualidade da água de irrigação,
por sais com resultados promissores já no primeiro ano.
dentre outros fatores levam o agricultor irrigante
No entanto, o custo do processo de recuperação e, o
nordestino a utilizar, em grande escala, a irrigação por
superfície para desenvolver suas atividades agrícolas. tempo necessário para a recuperação do capital alocado
Conforme Walker & Skogerboe (1987), a prática da tem inibido o investimento por parte dos agricultores
irrigação por superfície data de milhares de anos e irrigantes.
representa coletivamente a prática da irrigação mais
comum na atualidade. Dentre as vantagens da utilização ANÁLISE DE INVESTIMENTO
desse método de irrigação, os autores citam o mínimo de
inversão de capital necessário para se desenvolver a prática. Atualização de fluxos monetários
A recuperação de solos afetados por sais deve seguir Ao se efetuar um investimento, é de suma
uma aplicação criteriosa de tecnologia específica importância analisar a rentabilidade do mesmo no longo
Indicadores de rentabilidade da recuperação de solos sódicos 451

prazo, visto que os retornos advindos deste investimento n

 (1  r)
Ii
ocorrerão durante vários anos. Para isto faz-se (Ia)  i
i 1
necessário do conhecimento do conceito de valor
presente de um fluxo monetário.
Segundo Lapponi (2000), para atualizarmos um fluxo - Valor atual das receitas
monetário ou de renda, necessitamos definir a princípio
uma taxa de desconto real r, que normalmente considera- n

 (1  r)
Ri
se a taxa média de juros de mercado. Assim, dado um (Ra)  i
fluxo de renda V 1 , V 2 , ..., V n , proveniente de um i 1

investimento, podemos determinar várias medidas de


análise de investimentos. - Valor atual dos custos
Sendo Vi um valor monetário no ano i, o valor atual
de Vi (Vi0), isto é, o valor Vi no ano zero é obtido através n

 (1  r)
Ci
da seguinte expressão: (Ca)  i
i 1
1
Vi0  Vi 
(1  r ) i
- Valor atual líquido

onde r é o custo de oportunidade do capital. n n n

 (1  r)  (1  r)  (1  r)
Ri Ci Ii
(VAL)  Ra  Ca  Ia  i
 i
 i
i 1 i 1 i 1
Considere a Tabela 1.
O valor final apresentado na tabela (345) denomina-
se benefício líquido atual (BLA) ou valor atual líquido ou,
(VAL). Sempre que este valor (VAL), estimado a uma
taxa de desconto correspondente ao custo de oportunidade n n
Ri  Ci
 (1  r)  (1  r)
Ii
do capital, for superior a zero, o investimento será viável. VAL  i
 i
Ao compararmos dois investimentos seleciona-se aquele I 1 i 1

que apresenta maior VAL.


Cálculo dos valores atuais, considerando que o custo No caso particular em que todos os investimentos
de oportunidade do capital seja r% ao ano, e que a vida
sejam realizados no ano zero (I0), temos:
útil do investimento (o horizonte de planejamento do
investimento) seja de n anos, tem-se: n
Ri  Ci
- Valor atual dos investimentos
VAL   (1  r)
i 1
i
 I0

Tabela 1. Fluxos monetários em valores correntes (nominais ou de mercado) e atualizados (reais ou constantes)
Valores Correntes F.D. Valores Atualizados
Anos
(r = 5%)
Invest. Receita Custos RL Invest. Receita Custos RL
0 400 - - (400) 1 400 - - (400)
1 400 - - (400) 0,9524 381 - - (381)
2 200 300 150 (50) 0,9070 181 272 136 (45)
3 - 350 150 200 0,8638 - 302 130 172
4 - 400 200 200 0,8227 - 329 165 164
5 - 400 200 200 0,7835 - 313 157 156
6 - 400 200 200 0,7462 - 298 149 149
7 - 400 200 200 0,7107 - 284 142 142
8 - 400 200 200 0,6768 - 271 135 136
9 - 400 200 200 0,6446 - 258 129 129
10 - 400 200 200 0,6139 - 246 123 123
Total 1.000 3.450 1.700 750 - 962 2.573 1.266 345
Benefício Líquido Atualizado (Valor Líquido Atualizado) 345
RL: Renda Líquida; FD: Fator de desconto
452 Raimundo N. T. Costa et al.

O VAL representa o retorno líquido atualizado gerado L

pelo investimento. Isto significa que todo o investimento


realizado foi ressarcido (recuperado) e remunerado à
taxa de desconto r utilizada, e ainda gerou um lucro extra
igual ao VAL (R$ 345,00).
O VAL não deve ser tomado, de uma maneira geral, L1

como um critério básico suficiente para a determinação


da viabilidade do investimento, dada as dificuldades em L2
se determinar o valor exato da taxa de desconto a ser
aplicada na atualização. r*

r1 r2 r
Taxa interna de retorno (TIR = r*)
Uma maneira de se fugir das dificuldades de se
Figura 1. Relação entre receita líquida atualizada e taxa de
determinar a taxa de desconto correspondente ao custo desconto
de oportunidade do capital, na determinação da
viabilidade de investimentos, é o emprego da taxa interna L1  L 2 L
de retorno que tem a característica de ser calculada  * 1 1
r2  r1 r r
somente através dos dados próprios (internos) do
investimento.
Sabe-se que a taxa de juros que se paga por um L 1 (r2  r1 )
r*   r1
financiamento pode ser considerada como o “preço do L1  L 2
dinheiro”, é o que se paga pelo uso de capitais
monetários de terceiros. Portanto, uma elevação na taxa
de juros provoca, simultaneamente, um aumento nos Exemplo: considerando a Tabela 2:
custos do investimento e queda da receita líquida. Assim,
existe uma relação inversa entre a taxa de desconto (r) 1
F.D.  (fator de desconto) 
e a receita líquida atualizada (L), conforme Figura 1. (1  r ) i
Nota-se que dentre as inúmeras taxas de desconto
possíveis apenas uma (r*) anula a receita líquida
109(18  10)
atualizada. Esta taxa específica recebe a denominação r*   10  15,2%
de taxa interna de retorno. De modo mais formal; 109  ( 59)
podemos definir taxa interna de retorno como a taxa de
desconto que anula a receita líquida atualizada. Ou seja: Observações: uma taxa interna de retorno de 10%
pode ser facilmente comparada com opções de
n n
Ri  Ci investimento no mercado financeiro; tais como uma
 (1  r )  (1  r
Ii
 0
* i * i
) rentabilidade de 10% em títulos, rentabilidade de 6% em
i 1 i 1
poupança, etc.
Cálculo da TIR (r*)
A partir do gráfico acima, pode-se deduzir através do Relação benefício-custo (Rb/c)
teorema de semelhança de triângulo que a seguinte A relação benefício-custo (Rb/c) é definida como a
relação é verdadeira: relação entre o somatório das receitas atualizadas (Ra)
e o somatório dos custos atualizados (Ca), a uma taxa
Tabela 2. Transformação de valores nominais em valores reais
Valores Nominais F.D. Valores Atualizados F.D. Valores Atualizados
Anos
(r1=10%) (r2=18%)
R C Ra Ca Ra Ca
0 - 1.000 1 - 1.000 1 - 1.000
1 450 100 0,9091 409 91 0,8475 381 85
2 450 100 0,8264 372 83 0,7182 323 72
3 450 100 0,7513 338 75 0,6086 274 61
4 450 100 0,6830 307 68 0,5158 232 51
Total 1.800 1.400 - 1.426 1.317 - 1.210 1.269
Receita líquida atualizada L1 = $109 L2 = -$59
R: Receita; C: Custo; Ra: Receita atualizada; Ca: Custo atualizado
Indicadores de rentabilidade da recuperação de solos sódicos 453

de desconto adequada (o custo de oportunidade do onde, r é a taxa de desconto.


capital). Como.
Sabemos que o valor atualizado (Ro) de uma renda
n
Ri no ano n (Rn) é obtido através da seguinte relação:
 Ra   (1  r)
i 1
i

RN
Ro 
1  r n
e

n
Ci Substituindo-se Rn obtido anteriormente nesta expressão,
i 1
Ca 
(1  r ) i
teremos:

R
1  r n  1
teremos: r
Ro 
1  r n
n
Ri
 Ra   (1  r) i
Rb / c  i 1 ou
 Ca  n
Ci
i 1 (1  r ) i
Ro  R
1  r n  1
r 1  r n

Considerando os dados da Tabela 2, obtemos:


Assim, o termo
1426
Rb / c   1,08
1317 1  r n 1
r
O critério de decisão é que o investimento será
considerado viável se Rb/c  1. Assim, quanto maior a ou
relação benefício-custo mais viável tende a ser o
investimento, e, consequentemente mais estável este 1  r n  1
investimento se apresenta às oscilações de mercado
r 1  r n
(preço do produto, preços dos insumos e a taxa de juros
de mercado).
é denominado de fator de recuperação de capital, ou seja;
Cálculo e análise do fator de recuperação de capital é o fator que remunera um capital a uma taxa de desconto
Todo o investimento deve gerar ao longo de sua vida r durante um período de investimento n.
útil um fluxo de renda que, a princípio, para que esse
investimento seja viável, faz-se necessário que os Outra variável relevante, sobretudo para tomada de
valores atualizados desses rendimentos, através de uma decisão do agricultor, refere ao número de anos
taxa de juros adequada (custo de oportunidade do necessários para que todo o investimento realizado seja
capital) devam ser no mínimo iguais ao total do capital recuperado (as receitas geradas superem os custos),
investido. também conhecido como período de recuperação do
Considerando-se que um investimento I gere uma capital, ou payback period. Segundo Azevedo Filho
renda anual constante, durante toda a sua vida útil, igual (1996), o payback period ou período de recuperação
a R, podemos determinar o valor acumulado das rendas do capital é um indicador voltado à medida do tempo
no ano n (Rn), através da seguinte expressão1 : necessário para que um projeto recupere o capital
investido. Dessa forma, quanto menor o payback
Rn  R
1  r n  1 period mais atrativo é o investimento em termos
r econômicos.
454 Raimundo N. T. Costa et al.

ESTUDOS DE CASO NA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO CURU-CE

Características do solo e processo técnico da


recuperação (Caso I)
Costa et al. (2005) desenvolveram estudo na área
irrigada DS2 da Fazenda Experimental Vale do Curu,
contígua ao Perímetro Irrigado Curu Pentecoste, Ceará.
Atributos físicos e químicos do solo apresentados nas
Tabelas 3 e 4 respectivamente, verificam de acordo com
Richards (1954) tratar-se de um solo sem problemas de
sodicidade na camada de (0-0,20m), a extremamente
sódico na camada de (0,40-0,60m), porém, sem problemas
de salinidade. A transmissão de água no solo avaliada
através da condutividade hidráulica do solo saturado (Ko) Figura 2. Terreno sistematizado
era no início dos trabalhos de recuperação praticamente
nula.

Tabela 3. Atributos físicos do solo no início do experimento


Dens. do Cap. de Porosidade
Prof. Classificação
solo campo total
(m) textural
(kg m-3) (m3 m-3) (%)
0,00 - 0,20 Fra. siltoso 1400 0,39 48,50
0,20 - 0,40 Fra. argiloso 1560 0,41 46,50
0,40 - 0,60 Fra. argiloso 1560 0,42 47,50

Tabela 4. Atributos químicos do solo no início do experimento


Prof. pH em CE Mat. Org. PST
(m) Água (dS m-1) (%) (%)
0,00-0,20 7,4 1,12 1,52 6,71 Figura 3. Sistema de drenagem subterrânea
0,20-0,40 7,5 1,35 0,98 25,76
0,40-0,60 7,7 1,84 0,96 36,56

Após a sistematização do terreno (Figura 2) para ser


irrigado por sulcos, instalou-se um sistema de drenagem
subterrânea com drenos laterais espaçados de 17,5 m
(Figura 3). Em seguida a área foi submetida a tratamento
mecânico constituído pela associação de aração,
subsolagem e gradagem.
No primeiro período de irrigação cultivou-se feijão-
de-porco, procedendo-se, na época da floração, a
incorporação de sua massa verde através de duas
gradagens cruzadas. Em seguida incorporou-se gesso
(Figura 4) em quantidade equivalente a 17876 kg ha -1
Figura 4. Incorporação de gesso
calculada para reduzir a percentagem de sódio trocável
(PST) a 10,0% até a profundidade de 0,45 m. Por fim Indicadores de rentabilidade e payback da
cultivou-se arroz, sob regime de irrigação por inundação, recuperação (Caso I)
objetivando proceder a uma lavagem dos sais solúveis, Na Tabela 5 visualizam-se os fluxos monetários em
solubilizar o gesso e a obtenção de uma renda para valores correntes e atualizados para uma safra de arroz
minimizar os custos da recuperação. No segundo período (1o semestre) e uma safra de melão (2o semestre) com
de irrigação cultivou-se melão, oportunidade em que o vistas ao cálculo dos indicadores de rentabilidade. Na
solo já apresentava um valor de Ko igual a 0,25 m dia-1 elaboração do referido quadro considerou-se o ano “zero”
e PST em torno de 8%. como o ano dos investimentos: instalação de drenos
Indicadores de rentabilidade da recuperação de solos sódicos 455

Tabela 5. Fluxos monetários em valores correntes e atualizados para uma safra de arroz (1o semestre) e uma safra de melão
(2o semestre) em área de 1,0 ha - março 2000
Investimento/ Valores Atualizados
Custo Receita F.D.*
Ano Reinvestimento
(R$) (R$) (r=12%) Custo/Investimento (R$) Receitas (R$)
(R$)
0 - 3.019,54 - 1,0000 3.019,54 -
1 990,90 - 102,11 0,8929 884,77 91,17
2 2.513,66 - 4.004,33 0,7972 2.003,89 3.192,25
3 2.513,66 2.820,00 4.004,33 0,7117 3.795,97 2.850,28
4 2.513,66 - 4.004,33 0,6355 1.597,43 2.544,75
5 2.513,66 - 4.004,33 0,5674 1.426,25 2.272,06
6 2.513,66 - 4.004,33 0,5066 1.273,42 2.028,59
7 2.513,66 - 4.004,33 0,4523 1.136,93 1.811,16
8 2.513,66 - 4.004,33 0,4039 1.015,27 1.617,35
9 2.513,66 - 4.004,33 0,3606 906,43 1.443,96
10 2.513,66 - 4.004,33 0,3220 809,40 1.289,39
Somas 23.613,84 5.839,54 36.141,08 17.869,50 19.140,96
* FD = fator de desconto

laterais, aplicação de gesso, tratamentos mecânicos e em estudo. A TIR, estimada em 17,7%, por ser maior do
custo de produção e de incorporação de adubação verde que o custo de oportunidade do capital (12% a.a),
(feijão-de-porco), num total de R$ 3.019,54 (março de também demonstra viabilidade do referido processo.
2000). Os benefícios iniciaram-se apenas a partir do ano Tendo em vista a implantação de um novo sistema de
“1”. drenagem, considerou-se que o mesmo seria capaz de
No ano “1” as despesas se compuseram do custo de incrementar os benefícios do plano de recuperação em
produção da cultura do arroz, custo da irrigação 10%. Dessa forma, analisaram-se os indicadores de
(aquisição de sifões, tarifa de água e aplicação) e rentabilidade através de uma análise de sensibilidade
manutenção do sistema de drenagem. Já os benefícios considerando-se tal incremento das receitas e dos custos,
ou receitas foram compostos pelo incremento da inalterados.
produtividade de arroz em relação à produtividade obtida Conforme Hillier & Lieberman (1988), a análise de
antes do processo de recuperação do solo por Ferreyra sensibilidade tem como objetivo testar a estabilidade do
& Coelho (1986), cujo incremento foi de 392,75 kg ha-1. projeto em termos de sua rentabilidade e, assim, avaliar
No ano “2”, as despesas se compuseram dos custos a influência de variações em determinados parâmetros
de produção das culturas do arroz e do melão, do custo sobre os resultados básicos do projeto. Nessa análise,
da irrigação e da manutenção do sistema de drenagem. considerando-se os custos inalterados e um incremento
Já os benefícios foram compostos pelo incremento da de 10% nas receitas, obtêm-se os indicadores Rb/c =
produtividade do arroz acrescida da produção física do 1,18; VPL = R$ 3.185,46 e TIR = 25,49%.
melão. Justifica-se a utilização de toda a produção física A análise do fluxo de caixa apresentada na Tabela 5
do melão, tendo em vista que o solo da área do demonstra que somente ao final do oitavo ano, período
experimento se prestava unicamente ao cultivo de arroz “payback”, as receitas começariam a superar os custos,
antes da sua recuperação. com uma margem de R$ 253,61. Esta condição limita
Os custos e receitas dos anos subsequentes foram consideravelmente investimentos por nossos agricultores
considerados iguais ao ano “2”, tendo sido considerado irrigantes no processo de recuperação dos solos.
um reinvestimento em um novo sistema de drenagem Há que se considerar a carência de informações de
subterrânea no ano “3”, considerando que o sistema indicadores econômicos da recuperação de solos
instalado inicialmente constituído de manilhas de barro se afetados por sais. Finalmente, há de se convir que se
apresentava vulnerável a avarias. deva estabelecer sempre um manejo adequado da
Os indicadores de rentabilidade do processo de irrigação a fim de minimizar os riscos de salinidade do
recuperação em que consta um plano anual constituído solo.
por uma safra de melão e uma de arroz foram de: Rb/c
= 1,07; VPL = R$ 1.271,34, considerando-se uma taxa de Características do solo e processo técnico da
desconto r de 12% ao ano e TIR = 17,7%. Estes recuperação (Caso II)
resultados demonstram, com base nos critérios de Araújo (2009) desenvolveu pesquisa no núcleo D do
decisão, viabilidade do processo de recuperação do solo Perímetro Irrigado Curu Pentecoste–CE em solo de
456 Raimundo N. T. Costa et al.

textura franco-argilosa, classificado como Neossolo e/ou investimentos na recuperação do solo sódico e
flúvico com percentagem de sódio trocável em torno de instalação de um sistema de drenagem subterrânea.
50% e transmissão de água no perfil de solo praticamente Quanto aos benefícios foram constituídos pelos valores
nula. brutos da produção associados às culturas do feijão-de-
A área da pesquisa, cultivada com coqueiro e feijão- corda consorciado com a cultura do coqueiro até o
de-corda, recebeu o seguinte preparo mecânico: aração, terceiro ano.
gradagem, sistematização do terreno, subsolagem (Figura A amortização dos investimentos da recuperação do
5), nova gradagem e sulcamento. Em seguida a aplicação solo sódico e instalação do sistema de drenagem
de 40 t ha-1 de matéria orgânica (Figura 6A) e 20 t ha-1 subterrânea foram realizadas em três anos com período
de gesso (Figura 6B).
de carência de dois anos.
O valor inicial da PST da ordem de 50% foi reduzido
Na Tabela 6 são apresentados os elementos
após o período chuvoso, ou seja; um ano após a aplicação
econômicos para cálculo dos indicadores de
dos tratamentos mecânicos e químicos para o nível de
4%. De acordo com Gheyi et al. (1995), a aplicação de rentabilidade, considerando-se um horizonte de 10 anos.
gesso em solos salino-sódicos resulta em uma expressiva As receitas dos dois primeiros anos foram compostas
diminuição da PST logo no primeiro ano de sua pelo valor bruto da produção (VBP) da cultura do feijão-
aplicação. de-corda. No terceiro ano, pelo VBP das culturas do
feijão-de-corda e do coqueiro e, nos demais anos, pelo
Indicadores de rentabilidade e payback da VBP da cultura do coqueiro.
recuperação (Caso II) Quanto aos custos do processo de recuperação
A análise dos indicadores de rentabilidade foi realizada compuseram-se no primeiro ano do custo de produção da
de forma ex-ante e ex-post. Consideraram-se os custos cultura do feijão-de-corda e custo de instalação e
produção da cultura do coqueiro. No segundo ano, do
custo de produção da cultura do feijão-de-corda e
manutenção da cultura do coqueiro. No terceiro ano, do
custo de produção e manutenção das culturas do
coqueiro e feijão-de-corda, além da primeira parcela da
amortização dos investimentos. No quarto e quinto anos,
do custo de manutenção da cultura do coqueiro e
respectivas amortizações e, do sexto ao décimo anos, do
custo de manutenção da cultura do coqueiro.
Os indicadores de rentabilidade, considerando-se uma
taxa de desconto de 12% ao ano, do processo de
recuperação foram de: relação benefício/custo (Rb/C)
de 1,14; valor presente líquido (VPL) de R$ 2.391,90 e
Figura 5. Subsolagem do terreno taxa interna de retorno (TIR) igual a 20,86 %. Os

A B

Figura 6. Distribuição de matéria orgânica (A) e de gesso agrícola (B)


Indicadores de rentabilidade da recuperação de solos sódicos 457

Tabela 6. Dados para o cálculo dos indicadores de rentabilidade


Valores Nominais (R$) F.D. Valores Atualizados (R$)
Ano*
Custos Receitas (r=12%) Custos Receitas
1 2.745,00 1.473,00 1,0000 2.745,00 1.473,00
2 1.745,00 1.473,00 0,8929 1.558,11 1.315,24
3 5.472,00 3.167,00 0,7972 4.362,28 2.524,73
4 4.527,00 2.543,00 0,7118 3.222,32 1.810,11
5 4.527,00 3.391,00 0,6355 2.876,91 2.154,98
6 800,00 4.239,00 0,5674 453,92 2.405,21
7 800,00 4.239,00 0,5066 405,28 2.147,48
8 800,00 4.239,00 0,4523 361,84 1.917,30
9 800,00 4.239,00 0,4039 323,12 1.712,13
10 800,00 4.239,00 0,3606 288,48 1.528,58
Soma 23.016,00 33.242,00 16.597,26 18.988,76
*Definiu-se como ano 1 o primeiro ano do horizonte de planejamento do projeto, para efeito de análise do investimento.

referidos indicadores demonstram, com base nos critérios impacto social associado à geração de empregos
de decisão, boa viabilidade do processo de recuperação diretos e indiretos em razão da incorporação destas
(Rb/c > 1,0 e VPL > 0). áreas ao processo produtivo, há a necessidade do
Quanto à taxa interna de retorno (20,86%), principal governo criar uma linha de crédito específica para
indicador de rentabilidade de um projeto, por ser maior investimentos e custeio destinado à recuperação de
do que o custo de oportunidade do capital considerado na solos degradados por sais, a uma taxa de juros, prazo
presente análise (12%) mostra a viabilidade do referido de carência e tempo de amortização dos investimentos
processo. Em outras palavras, a TIR igual a 20,86 % compatíveis com as condições atuais dos agricultores
significa que o capital alocado no projeto suporta uma familiares destes perímetros irrigados.
elevação da taxa de desconto de até 20,86 ao ano para
cada ano do horizonte de análise do projeto. Ou seja, o REFERÊNCIAS
referido investimento só será inviável se a taxa média de
juros de mercado atingir valores superiores à referida Araújo, A. P. B. Análise técnico-econômica da recuperação de
taxa interna de retorno (20,86 %). um solo sódico no Perímetro Irrigado Curu Pentecoste, CE.
Na análise de rentabilidade para uma taxa de juros Fortaleza: UFC, 2009, 61p. Dissertação Mestrado
de 6% ao ano, a relação benefício/custo (Rb/c) é de Azevedo Filho, A. J. B. V. Elementos de matemática financeira
e análise de projetos de investimento. Piracicaba: DESR/
1,28; o valor presente líquido (VPL) é de R$ 5.328,85
ESALQ, 1996. (Série Didática,109). Disponível em: <http:/
e a taxa interna de retorno (TIR) igual a 20,86,
am.esalq.usp.br/desr/dum/dum.html>. Acesso em 1996.
demonstrando alta viabilidade do processo de Costa, R. N. T.; Saunders, L. C.U.; Oliveira Jr., N. M.; Biserra,
recuperação; pois, a esta taxa todo o investimento J. V. Indicadores econômicos da recuperação de um solo
realizado será recuperado e remunerado à taxa de 6%, sódico em condições de drenagem subterrânea no Vale do
e ainda provocará um lucro extra igual a R$ 5.328,85. Curu, CE. Irriga. v.10, n.3, p.272-278, 2005.
Somente ao final do nono ano, período payback, as Ferreyra H., F. F.; Coelho, M. A. Efeito de doses de gesso e
receitas começariam a superar os custos, com uma subsolagem na produtividade de arroz em solo sódico.
margem de R$ 1.151,40. Revista Brasileira de Ciências do Solo, v.10, n.3, p.157-161,
1986.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Gheyi, H. R.; Azevedo, N. C.; Batista, M. A. F.; Santos, J. G. R.
Comparação de métodos na recuperação de solo salino-
sódico, Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.19, p.173-
Considerando os elevados investimentos realizados
178, 1995.
pela União na construção e manutenção dos Perímetros
Hillier, F. S.; Lieberman, G. J. Introdução à pesquisa operacional.
Públicos Irrigados, a significativa área de solos 3 ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
degradada por sais e, fora do processo produtivo, à 806 p.
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458 Raimundo N. T. Costa et al.

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Fitorremediação de solos afetados
25 por sais
Maria B. G. dos S. Freire1, Edivan R. de Souza1 & Fernando J. Freire1

1 Universidade Federal Rural de Pernambuco

Introdução
Definição de fitorremediação
Histórico da fitorremediação em solos afetados por sais
Período de recuperação
Espécies de plantas para fitorremediação
Gênero Atriplex
Uso da biomassa produzida na alimentação animal
Mecanismos e processos envolvidos na fitorremediação
Manejo da fitorremediação
Considerações finais
Referências

Manejo da salinidade na agricultura: Estudos básicos e aplicados


ISBN 978-85-7563-489-9

Fortaleza - CE
2010
460 Maria B.G. dos S. Freire et al.

Fitorremediação de solos
afetados por sais

INTRODUÇÃO envolvem o emprego de plantas e sua microbiota


associada e de amenizantes do solo, além de práticas
O crescimento de áreas degradadas pela salinidade e, agronômicas que, se aplicadas em conjunto, removem,
ou, sodicidade de solos tem ocorrido no Brasil e no imobilizam ou tornam os contaminantes inofensivos ao
mundo, especialmente em regiões de clima árido e semi- ecossistema (Accioly & Siqueira, 2000).
árido em que a baixa precipitação pluvial não é suficiente Esta prática é utilizada com frequência quando o
para promover a lixiviação dos sais advindos do contaminante do solo trata-se de um metal pesado,
intemperismo dos minerais formadores dos solos. porém pode ser empregada em solo sódico ou salino
Processos de recuperação química destes solos sódico, onde o contaminante é o sal e, ou, o sódio (Qadir
demandam o uso de corretivos e aplicação de lâminas de et al., 2007). Neste caso, a técnica empregada,
lixiviação, exigindo um sistema de drenagem, sendo de fitoextração, utiliza espécies de plantas que absorvem e
elevados custos e difíceis de serem implementados. acumulam o sódio na parte aérea, a qual pode ser
Algumas pesquisas têm apontado a técnica da removida da área. Estes autores afirmam que a
fitorremediação como alternativa de manejo dessas fitoextração é uma estratégia eficiente de recuperação
áreas degradadas, através do cultivo de plantas capazes de solos salino sódicos, com performance comparável à
de acumular os sais em excesso, retirando-os do solo. utilização de corretivos químicos.
Para isso, é preciso utilizar espécies de plantas Para que a técnica se torne mais viável é desejável
capazes não só de tolerar elevados níveis de sais, como que se possa aproveitar a biomassa retirada após a
também de produzir biomassa suficiente para extrair extração. No caso dos metais pesados esta pode ser
quantidades consideráveis dos sais. Por outro lado, a compactada e incinerada ou passar por um processo de
introdução de plantas em áreas sem cobertura vegetal industrialização e reaproveitar alguns elementos
possibilita melhora na estruturação do solo e incrementa metálicos. No caso da remoção de sais, existe um destino
a atividade biológica por meio de microorganismos final que ajuda no processo que é o aproveitamento de
associados às plantas. algumas espécies na alimentação animal. A taxa de
Contudo, são necessários estudos aprofundados sobre remoção de um contaminante é dependente da biomassa
espécies mais adequadas, bem como formas de manejo coletada no final do ciclo, do número de cortes por ano
das mesmas, para que propiciem a melhoria da qualidade e da concentração do contaminante na porção colhida
ambiental em solos degradados pela salinidade e (Accioly & Siqueira, 2000).
sodicidade, além da utilização racional da produção da A fitorremediação apresenta-se como um método de
cultura como fonte de renda adicional no meio rural. remediação de solos contaminados de custo razoável,
ambientalmente mais seguro e de maior aceitação pelo
DEFINIÇÃO DE FITORREMEDIAÇÃO público do que os métodos mais agressivos ao ambiente
(Nascimento et al., 2009). Comentam ainda que é uma
A fitorremediação é uma estratégia de tecnologia emergente, ainda com diversas limitações e
biorremediação que consiste de procedimentos que com poucos exemplos de técnicas comercialmente
Fitorremediação de solos afetados por sais 461

disponíveis, mas com grande chance de sucesso, devido cultivadas com algodão (Gossypium hirsutum L.), a
a sua viabilidade econômica e benefícios ambientais. primeira cultura pós fitorremediação. As produtividades de
É importante destacar que a fitorremediação envolve, algodão foram de 1,82 Mg ha-1 para o tratamento com
por ação direta da planta ou indireta pelo estímulo gesso e 2,10 Mg ha -1 para o tratamento com
desta sobre a microbiota rizosférica, a descontaminação, fitorremediação. A PST na camada de 0,3 m do solo
por meio da extração ou degradação por diversos decresceu de 70 para 5% no tratamento com gesso e 65
processos: fitoextração, fitodegradação, fitovolatilização, para 6% no tratamento com fitorremediação (Tabela 1).
fitoestimulação e fitoestabilização (Accioly & Siqueira ,
Tabela 1. Percentagem de sódio trocável (PST) de um solo
2000).
de Fresno (Califórnia) em função da aplicação de gesso
O processo aplicável à técnica de remediação pelos (recuperação convencional de solos sódicos) e
vegetais de solos afetados por sais é a fitoextração, em fitorremediação (cultivo de plantas). Baseado em dados
que as plantas extraem e translocam os íons para a parte de Kelley & Brown (1934) e Kelley (1937)
aérea, que pode ser colhida e destinada a um manejo
apropriado, dependendo do tipo de cultura adotada. O
objetivo nesse caso é a redução das concentrações de
sais e depende, principalmente, da habilidade das plantas
em extrair tais elementos, considerando as condições de
clima e solo.

HISTÓRICO DA FITORREMEDIAÇÃO
EM SOLOS AFETADOS POR SAIS

Relatos de estudos de fitorremediação em solos a

b
Aplicação de gesso: 37 Mg ha-1 (22 Mg em 1920 e 15 Mg em 1921);
Cultivo de cevada por dois anos, trevo por dois anos, e alfafa por cinco anos;
afetados por sais são encontrados na literatura desde os c
Cultivo de grama bermuda por dois anos, cevada por um ano, alfafa por quatro anos e aveia
por um ano.
anos de 1920 e 1930, em que Kelley e associados Fonte: Radir et al. (2007)

(Kelley, 1937; Kelley & Brown, 1934) realizaram uma


Na fase seguinte dos ensaios de campo na Califórnia,
série de experimentos de campo na Califórnia que fazem
Kelley (1937) iniciou um experimento de fitorremediação
parte dos primeiros estudos sobre fitorremediação em
com a grama bermuda [Cynodon dactylon (L.) Pers.]
solos sódicos. O solo usado na pesquisa foi um como a primeira cultura fitorremediadora. A gramínea foi
“solonetz” (sódico) de textura argilo-arenosa localizado cultivada por dois anos seguida de cultivo de um ano com
no Rancho Kearney, próximo de Fresno, Califórnia, com cevada, alfafa por quatro anos, e aveia (Avena sativa L.)
as seguintes propriedades químicas nos 30 cm por um ano, totalizando oito anos de cultivo. Após a
superficiais: pH=9,2-9,7; CTC=4,3-4,4 cmol c kg -1; fitorremediação, a PST na camada de 0,3 m decresceu
PST=57-70% e CE 1:5 =6,1-7,2 dS m -1 . O solo de 57 para 1%, com uma redução média no perfil (0-1,2
apresentava-se uniforme quanto à textura na camada de m) de 73 para 6% (Tabela 1).
0,6-0,9 m, com uma fina camada compactada de 0,05- Partindo do mesmo princípio de utilização de plantas
0,15 m rica em calcita. como extratoras de sais de solos, em 1920, DeSigmond
Na primeira fase dos estudos, Kelley & Brown (1934) (1924) realizou experimento em Bekescsaba, na Hungria,
aplicaram um total de 37 Mg ha -1 de gesso utilizando uma mistura de gramíneas e leguminosas
parceladamente, 22 Mg em 1920 e 15 Mg em 1921. Após em solo sódico de baixa permeabilidade, obtendo
cada aplicação de gesso as parcelas eram inundadas e melhoramento das condições do solo. Trabalhos
mantidas submersas por três semanas, com água de CE semelhantes com o uso de plantas no manejo de solos
de 0,3 dS m-1 e RAS de 0,7. A mesma quantidade de água sódicos foram desenvolvidos por Knight (1935) em
Fallon, Nevada e por Wursten & Powers (1934) em
foi aplicada no tratamento com fitorremediação. Cevada
Vale, Oregon.
(Hordeum vulgare L.) foi a primeira cultura usada no
Na Índia, o cultivo de gramíneas e arbóreas tolerantes
tratamento com fitorremediação, mantida por dois anos, a sais é um importante passo no manejo de solos salinos
seguida de um ano com cultivo de trevo de cheiro indiano e sódicos (Singh, 1998). Assim, diversos sistemas de
(Melilotus indicus L.), um ano com trevo branco indiano cultivo baseados no uso de plantas no manejo de solos
(M. albus Medik.) e cinco anos com cultivo contínuo de afetados por sais foram usados no século vinte em
alfafa (Medicago sativa L.). Após o cultivo da alfafa, as variados locais no mundo e continuam atualmente,
parcelas foram mantidas em pousio por um ano e especialmente pelo aumento da demanda de gesso para
462 Maria B.G. dos S. Freire et al.

Fitorremediação Química
outros fins, encarecendo o produto para a agricultura, e 18
a redução de subsídios ao setor agrícola. 17
16
15
PERÍODO DE RECUPERAÇÃO 14
13
12

Experimentos
De acordo com Nascimento et al. (2009), um dos 11
gargalos à implementação da fitoextração em escala 10
9
comercial é o prazo relativamente longo requerido para 8
a diminuição dos teores de sais no solo a níveis 7
requeridos. Este problema torna-se menos preocupante 6
5
diante das inúmeras vantagens verificadas com o uso de 4
vegetação em área inóspita para o crescimento de 3
2
culturas alimentares, pastagens convencionais, etc. Tais 1
benefícios são citados por Qadir et al. (2007):
0 20 40 60 80 100
a) Elimina o custo com corretivos químicos; Percentagem de decréscimo da PST ou RAS
Fonte: Radir et al. (2007)
b) Possibilita o uso de produtos fornecidos pela Figura 1. Sumário de 17 experimentos comparando o
espécie cultivada; decréscimo da percentagem de sódio trocável – PST e
c) Melhora a estabilidade dos agregados do solo e relação de adsorção de sódio – RAS por meio da
criação de macroporos, o que otimiza as propriedades fitorremediação e recuperação química. As barras indicam
a percentagem de decréscimo em relação aos níveis
hidráulicas do solo e proliferação das raízes;
iniciais de RAS e PST. Fontes: 1 (Robbins, 1986a), 2 e 3
d) Promove maior disponibilidade de nutrientes; (Kausar & Muhammed, 1972), 4 (Qadir et al., 1996), 5
e) Possibilita a recuperação do solo em profundidades e 6 (Rao & Burns, 1991), 7 (Ahmad et al., 2006), 8 (Singh
maiores; e & Singh, 1989), 9 (Ahmad et al., 1990), 10 (Ilyas et al.,
f) Após a fitorremediação e no próprio processo, o 1997), 11 (Kelley & Brown, 1934), 12 (Batra et al., 1997),
solo pode aumentar o sequestro de carbono, tendo 13 e 14 (Muhammed et al., 1990), 15 (Qadir et al.,
implicações ambientais positivas. Além de ser uma 2002), 16 (Ghaly, 2002), 17 (Helalia et al., 1992) e 18
(média dos 17 experimentos). Os experimentos de 1 a 7
solução viável para pequenos agricultores que, foram conduzidos em lisímetros e os demais em
normalmente, dispõem de poucos recursos financeiros. condições de campo
Diversas espécies de plantas podem ser adotadas, no
entanto, quando o objetivo é a retirada do cloro e sódio Entretanto, no Brasil, experimentos conduzidos com
do solo, as halófitas apresentam-se como a alternativa halófitas com objetivo de fitorremediar o solo ainda são
mais indicada, pela capacidade de sobreviver em solos escassos. Dentre as pesquisas que vem sendo
com teores de sódio mais elevados. desenvolvidas nesse sentido, a Atriplex nummularia L.
Em uma avaliação de 17 experimentos conduzidos é a espécie com maior destaque, tendo em vista as
em diferentes partes do mundo, Qadir et al. (2007) características de crescimento vegetativo e a alta
realizaram uma comparação entre corretivos químicos concentração de sais encontrada nos tecidos. Trabalhos
e fitoextração, com resultados bem interessantes desenvolvidos por pesquisadores do Centro de Pesquisa
(Figura 1). Os tratamentos químicos (aplicação de Agropecuária do Trópico Semi-Árido da EMBRAPA e
do grupo de Ciência do Solo da Universidade Federal
gesso em todos os experimentos) resultaram em um
Rural de Pernambuco vem adotando a Atriplex
decréscimo de 60% dos níveis de sodicidade inicial
nummularia L. como forma de minimizar os efeitos dos
(PST e RAS) enquanto um decréscimo de 48% foi
sais no solo. Na Tabela 2 são apresentados dados já
calculado para os tratamentos que adotaram a publicados de experimentos desenvolvidos por
fitorremediaçãoo. Em alguns experimentos, a pesquisadores nessas instituições.
fitorremediação foi menos eficiente que, segundo os Considerando-se um solo salino-sódico com CEes de
autores, pode-se atribuir a: 1) não foi usada uma cultura 30 dS m-1; sódio trocável de 3,31 cmolc kg-1; CTC de
tolerante à salinidade e sodicidade; 2) o período de 4,68 cmolc kg-1 e PST de 70,58 % na camada de 0-30 cm;
cultivo não foi o suficiente ou o mais adequado. Em e CEes de 16,00 dS m-1; sódio trocável de 4,8 cmolc kg-
média (últimas barras-18), a correção química reduziu 1
; CTC de 6,5 cmolc kg-1 e PST de 73,85 % na camada
a PST ou a RAS em cerca de 60% e a fitorremediação de 30-60 cm. Estimando-se a concentração de sais
em aproximadamente 50%. solúveis (CS), em mg L-1, pela equação: CS = 800 CE
Fitorremediação de solos afetados por sais 463

Tabela 2. Produção de matéria seca e extração de sais pela Atriplex nummularia L. em condição de campo e casa-de-vegetação
Finalidade Tempo (dias) Condição MS1 (kg ha-1) Extração (kg) Referência
2
Fitorremediação 135 Casa veg. 7.283 966 (Na, K, Cl) Souza (2010)
Fitorremediação3 130 Casa veg. 3.000 300 de Na Leal et al. (2008)
Fitorremediação 480 Campo 8.040 560,50 (Na, K, Cl) Souza (2010)
IRD4 375 Campo 13.819,8 2.222 (cinzas) Porto et al. (2006)
IRD5 380 Campo 9.436 1.053 (cinzas) Porto et al. (2001)
1
Matéria seca;
2
Estimativa baseada na produção em vaso de 12 kg, planta mantida a 75% da umidade na capacidade de campo (caule + folha);
3
Estimativa baseada na produção em vaso de 8 kg, planta mantida na capacidade de campo (caule + folha);
4
Irrigação com rejeito de dessalinizador, planta irrigada com 300 L semana -1 (caule grosso + caule fino + folha);
5
Irrigação com rejeito de dessalinizador, planta irrigada com 75 L semana -1 (caule grosso + caule fino + folha).

(Rhoades et al., 1992) e calculando-se o Na adsorvido suprir suas demandas inorgânicas, as halófitas
eletrostaticamente, chega-se aos valores de sais de apresentam-se como alternativas economicamente
26.040 kg ha-1 e 14.952 kg ha-1 contidos na primeira e viáveis.
segunda camada, respectivamente. Sendo assim, o
aporte de sais até 60 cm de profundidade é de 40.902 ESPÉCIES DE PLANTAS PARA
kg ha-1. FITORREMEDIAÇÃO
Tomando-se como referência dados de produção de
A seleção de espécies a serem utilizadas na
matéria seca e conteúdos de Na+, K+ e Cl- extraídos pela
fitorremediação deve ser baseada não só na habilidade
Atriplex nummularia L. (Souza, 2010), de 966 kg ha-1 em
de suportar elevados níveis de salinidade e sodicidade,
quatro meses e meio de cultivo em casa de vegetação
mas também na capacidade de fornecer um produto útil
(2.608,2 kg ha-1 ano-1), seriam necessários em torno de na propriedade rural. Outro pré requisito para uso na
oito anos para reduzir em cinquenta por cento os teores fitorremediação em solos afetados por sais é a
de sais até 60 cm de profundidade. Essas estimativas capacidade de suportar ambientes com deficiência de
apontam para uma eficiência de extração de sais pela oxigênio, problema que frequentemente ocorre em solos
Atriplex, mas para conclusões mais detalhadas e dessa natureza, quer pela necessidade de irrigações
direcionadas para as diversas condições de solo e clima intensivas na lixiviação de sais, ou pela dificuldade natural
faz-se necessária a realização de experimentos em de infiltração de água nas épocas chuvosas, mantendo o
condição de campo com um tempo maior de avaliações solo inundado por períodos relativamente longos. Assim,
das propriedades do solo e da planta, para que se possa genótipos que apresentem estas condições conjuntamente
adequar um programa de manejo eficiente de devem ser preferidos para uso na fitorremediação de
fitoextração no semi-árido do Brasil. solos salinos e sódicos.
Além da Atriplex nummularia L., outras espécies Existem inúmeras espécies halófitas que concentram
halófitas podem ser adotadas para biorremediar solos sais e tem boa produção de biomassa vegetal, além de
afetados por sais. Ravindran et al. (2007) encontraram servir como bom alimento forrageiro, com teores de fibra
resultados promissores para as seguintes espécies: e proteína bruta dentro dos padrões exigidos para
Suaueda maritima, Sesuvium portulacastrum, produção de animais. Embora muitas dessas halófitas não
sejam difundidas no Brasil, podem ser objeto de
Excoecaria agallocha, Clerodendron inerme,
pesquisas futuras, pois são encontrados resultados
Ipomoea pes-caprae e Heliotropium curassavicum
promissores, já que produzem boas quantidades de massa
extraindo do solo, num período de quatro meses: 504,00;
seca em curto período de tempo e, mesmo as que são
473,93; 396,34; 359,50; 325,18 e 301,46 kg ha -1 de
perenes, podem sofrer corte ao longo do ano, fornecendo
NaCl, respectivamente; nos solos sob estes cultivos a forragem para alimentação animal.
relação de adsorção de sódio foi reduzida em 82, 75, 71, Como exemplo dessas halófitas com bom
67, 58 e 50%, respectivamente. desempenho para serem cultivadas em ambientes com
Durante ou após o processo de fitoextração ainda é altas concentrações de sais no solo e água, podendo
bastante questionado o destino final da biomassa vegetal revegetar as áreas salinas e ao mesmo tempo
com altos teores de sais nos tecidos. No caso dos proporcionar o uso como forragem para os animais
elementos contaminantes serem sais que, normalmente, caprinos, ovinos e bovinos, encontram-se: Kochia
os animais requerem na alimentação, principalmente para scoparia (Kafi et al., 2010); Aster trifolium L. (Geissler
464 Maria B.G. dos S. Freire et al.

et al., 2009); Panicum turgidum e Suaeda fruticosa dias


(Khan et al., 2009).
Ravindran et al. (2007), comparando seis espécies de
halófitas na recuperação de solos salinos em campo,
observaram declínio gradual da RAS e da CE do solo num
período de 120 dias de cultivo, paralelamente ao aumento

CE - dS m-1
da CE medida em extrato de tecidos vegetais (Figuras 2
e 3). Das seis espécies, a Suaeda marítima e a Sesuvium
portulacastrum exibiram maior acumulação de sais em
seus tecidos, coincidindo com os menores valores de RAS
no solo cultivado com as mesmas. Vale ressaltar o curto
período de cultivo das espécies, de apenas 120 dias, sendo
possível a obtenção de resultados mais expressivos em
intervalos mais prolongados.
Fonte: Ravindran et al. (2007)
Espécies:
dias 1. Suaeda marítima
2. Sesuvium portulacastrum
3. Excoecaria agallocha
4. Clerodendron inerme
5. Ipomoea pes-caprae
6. Heliotropium curassavicum
Figura 3. Condutividade elétrica (CE) de amostras de solos
salinos naturais cultivados com seis espécies de
RAS

halófitas. Valores mostrados são as médias ± desvios


padrões de cinco repetições. *Significativo a 5% de
probabilidade

com mais de 400 espécies distribuídas nas diversas regiões


áridas e semiáridas do mundo, particularmente na Austrália,
Fonte: Ravindran et al. (2007)
onde apresenta uma elevada diversidade de espécies e
Espécies: subespécies (Franclet & Le Houérou, 1971). É um arbusto
1. Suaeda marítima de vida longa que se constitui em um dos recursos
2. Sesuvium portulacastrum forrageiros adaptados a terrenos de sequeiro das regiões
3. Excoecaria agallocha áridas e semiáridas em diversos continentes.
4. Clerodendron inerme As halófitas podem regular a concentração de sais de
5. Ipomoea pes-caprae várias maneiras: eliminação do sal, através de eliminação
6. Heliotropium curassavicum
de substância volátil, glândulas e pêlos vesiculares
Figura 2. Relação de adsorção de sódio (RAS) de amostras
de solos salinos naturais cultivados com seis espécies de
(Atriplex); suculência, diluição dos sais pelo aumento do
halófitas. Valores mostrados são as médias ± desvios volume celular; redistribuição do sal, Na+ e Cl- podem ser
padrões de cinco repetições. *Significativo a 5% de translocados pelo floema de um local de maior
probabilidade concentração para outro de menor; entre outros processos
(Zhu, 2001).
Barrett-Lennard (2002) sugerem 26 espécies de A literatura brasileira ainda é escassa no que concerne
plantas resistentes a sais possíveis de serem utilizadas em aos trabalhos que exploram a Atriplex nummularia Lindl,
fitorremediação na Austrália, capazes de fornecer produtos sob condição de campo com intuito de recuperação de
ou serviços de valor para a agricultura, mas isso vai solos afetados por sais. Uma grande parte dos trabalhos
depender das peculiaridades de cada região. está relacionada com aspectos anatômicos e fisiológicos,
e poucos relacionados à fitorremediação dos solos. No
GÊNERO ATRIPLEX entanto é de extrema importância aliar o conhecimento
da anatomia e fisiologia da planta com os aspectos
Dentre as culturas mais utilizadas na fitorremediação relacionados ao solo.
de solos afetados por sais, destacam-se espécies do gênero A tolerância das plantas à salinidade, notadamente de
Atriplex, pertencente à família Chenopodiaceae, que conta muitas halófitas, é devida a mecanismos fisiológicos
Fitorremediação de solos afetados por sais 465

especializados de acumulação de sais no interior das A estrutura de tricomas vesiculares e dos elementos
células, ou de eliminação através de vesículas especiais de condução do xilema em folhas jovens e adultas de
existentes na superfície das folhas. Quando cheias, essas Atriplex nummularia Lindl produzidas sob diferentes
vesículas se rompem e liberam os sais em finas camadas níveis de salinidade em experimentos sob condições de
de cristais que se aderem à superfície da folha. Estes campo e casa de vegetação foi estudado por Pimentel-
cristais de sais contribuem na economia de água pela Galindo (2001). Verificou-se que a extensibilidade da
planta, pela reflexão dos raios solares, minimizando as parede das vesículas promoveu aumento nas dimensões
perdas de água, reduzindo a temperatura da folha e da célula vesicular, em resposta à elevação da salinidade,
mantendo a turgidez das células (Glenn et al., 1998). Na compensando a redução na área foliar e na densidade dos
Atriplex nummularia os dois mecanismos acontecem tricomas, tanto em folhas jovens quanto em folhas adultas,
juntamente, mas o de acumulação no interior dos tecidos resultando numa significativa capacidade acumuladora de
da planta é de maior importância e ocorre principalmente sais no interior dessas células.
nas folhas, que apresentam aspecto brilhoso de coloração Avaliando o potencial da Atriplex nummularia na
verde-acinzentada (Figura 4). fitorremediação de solo salino-sódico sob irrigação com
águas salinas (175, 500 e 1.500 S cm-1), Leal et al. (2008)
A B verificaram o potencial do gesso como potencializador da
fitoextração de sódio (ausência e aplicação de 50% da
dose recomendada pela necessidade de gesso), em
experimento de casa de vegetação. As avaliações se
deram até 130 dias após o transplantio. Os autores
afirmam que a Atriplex nummularia comportou-se como
planta hiperacumuladora de sódio, possuindo potencial de
uso na fitoextração deste elemento no solo. No entanto
Figura 4. (A) Folha de Atriplex nummularia aos 10 meses de
só puderam detectar reduções significativas de sódio no
idade cultivada em campo (foto própria); (B) Detalhe de
vesículas de acúmulo de sais em folha de Atriplex solo a partir de 100 dias após o transplantio. Observa-se
nummularia (Porto et al., 2001) a necessidade de estudos a longo prazo, seja em casa-
de-vegetação ou no campo, para a obtenção de resultados
Cabral (1998) avaliou a influência das halófitas do mais consistentes da atuação desta planta na redução dos
gênero Atriplex na salinidade e sodicidade do solo no teores de sais em solos.
município de São Bento do Una – PE em três subáreas Outro aspecto que deve ser considerado em um
(sem cultivo de Atriplex, cultivo de Atriplex nummularia, programa de fitorremediação é o tempo gasto para
cultivo de Atriplex undulata) com espaçamento de 5 x 5 recuperar a área. Barrett-Lennard (2002) estimou que
m. As amostragens iniciaram-se aos dois anos de idade sob condições de não irrigação, espécies halófitas com
para a Atriplex nummularia e 3 meses para a Atriplex uma produtividade de 10 t ha-1 e 25% de concentração
undulata em profundidades variando de 0 a 120 cm em de sal na biomassa seca (250 g kg -1) seria necessário
pontos localizados a 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0 m do caule da planta. em torno de vinte anos consecutivos para remover
Verificou-se que a Atriplex nummularia foi mais eficiente metade do conteúdo inicial de sais (86 Mg ha-1) presente
no processo de ciclagem do sódio e contribuiu para maior em dois metros de profundidade de um solo afetado por
retenção de umidade no solo. sais. Tomando-se como referência dados de produção
Krishnapillai & Ranjan (2005), usando um solo salino- da massa seca de Atriplex nummularia (Porto et al.,
sódico abandonado de um parque da província de 2006) e teores de Na + nas diferentes partes da planta
Manitoba (Canadá), aplicaram a técnica de fitoextração (Leal et al., 2008), estima-se que a Atriplex extraia em
com a Atriplex patula e avaliaram o potencial de
torno de 500 kg ha-1 ano-1 de sódio nas condições do
remoção de sais durante um período de 150 dias de cultivo
Nordeste Brasileiro. Nesse contexto, considerando um
em laboratório com potes em camada de 20 cm de
profundidade. As plantas foram colhidas aos 150 dias, solo com percentagem de sódio trocável média de 51%,
atingindo altura de 45 cm; após a análise da massa concentração de sódio trocável de 5,7 cmol c kg -1 ,
seca estimou-se que o potencial de remoção foi de 0,25 densidade do solo de 1,3 g cm-3 e condutividade elétrica
kg m-3 de cloreto e 0,06 kg m-3 de sódio. Com esses do extrato de saturação média do solo de 26 dS m -1,
resultados, estimou-se que as plantas chegariam a valores seriam contabilizados algo em torno de 3.600 e 14.600
de extração de 2.500 kg ha-1 de cloreto e 600 kg ha-1 de kg ha -1 de sódio presentes em 20 e 80 cm de
sódio, ao considerar uma profundidade do sistema profundidade do solo, respectivamente. Sendo assim,
radicular de 20 cm. seriam necessários dezessete anos de cultivos sucessivos
466 Maria B.G. dos S. Freire et al.

para extrair metade do conteúdo de sódio, quando se da espécie, ou como feno ou silagem quando cultivada,
considera uma extração de 500 kg ha -1 ano-1 de sódio. mas a forma de feno é a mais utilizada (Araújo, 2009).
Vale salientar que os dados dos teores de sódio extraídos A disponibilidade de ovinos a serem abatidos no
de Leal et al. (2008) foram obtidos de plantas com 130 Nordeste Brasileiro não supre a demanda interna por este
dias após o transplantio, em virtude da ausência de dados produto. Assim, a superação dos problemas que
com idades superiores. interferem no fornecimento de carne ovina, dentro das
Pesquisas futuras ainda são necessárias para a exigências de qualidade, regularidade e quantidade
definição do manejo mais adequado da cultura, como requerida pelos demais segmentos da cadeia produtiva,
espaçamento, podas, irrigação e adubação. Contudo pode representar perspectiva concreta de aumento de
existem alguns trabalhos em andamento comparando a renda para os agricultores do Nordeste (Souto et al.,
Atriplex nummularia com outras técnicas de recuperação 2005).
de solos salino sódicos (gesso, estercos, polímero O termo “Agricultura Biossalina” é bem amplo e tem
sintético), verificando a efetividade da poda no sido utilizado para descrever agricultura em escala que
desenvolvimento da cultura e na retirada de sais do solo aborda a salinidade nos níveis água e solo, ou ambas
e avaliando a influência da umidade do solo na extração (Masters et al., 2007). As halófitas crescem sob
de sais pela planta (Souza, 2010). condições salinas e, historicamente, têm sido usadas
Fato curioso é observado em relação a sua capacidade como forragem para ruminantes ou como componentes
de produção de biomassa com alto teor de proteína sem de rações mistas para substituir volumoso, podendo
uso de fertilização nitrogenada, apesar do N ser ajudar na conversão, pelo animal, em carne, lã e outros
componente dos aminoácidos formadores das proteínas. subprodutos [Araújo (2009); Mattos (2009); Norman et
Em estudo da microbiota associada às plantas de Atriplex al. (2008); Masters et al. (2007); Ghaly (2002)].
nummularia em condições de campo no Agreste de O Brasil possui um grande potencial para a exploração
Pernambuco, já foi possível determinar a presença de de pequenos ruminantes domésticos frente às condições
inúmeras bactérias, algumas delas fixadoras de N que, favoráveis para a produção de carne e seus derivados,
possivelmente, explicam esta observação (Santos, 2010). além de calçados e vestuários oriundos do abate desses
animais. As condições ambientais propícias, aliadas à
USO DA BIOMASSA PRODUZIDA ampla disponibilidade de terras, principalmente nas
NA ALIMENTAÇÃO ANIMAL fronteiras em expansão do semiárido nordestino,
propiciam custo de produção relativamente baixos,
Historicamente têm-se buscado alternativas para favorecendo esse mercado. Entretanto, os sistemas de
convivência com os longos períodos de estiagens e a produção vigentes representam um retrato de baixos
baixa oferta de biomassa em regiões da caatinga, e isso níveis de organização da cadeia produtiva, com reflexos
vem se intensificando nos últimos anos, como tentativa de nos índices de produtividade, na qualidade dos produtos e
fixar o homem no campo. A concentração de chuvas em na falta de regularidade na oferta (Leite, 2005).
um período curto do ano tem levado a busca de A ovinocaprinocultura no Nordeste tem elevada
forrageiras que consigam suportar estas longas estiagens. importância por constituir fonte alternativa de renda para
Em contrapartida, tentativas de acúmulo de água e a agricultura familiar, tradicionalmente adotada em áreas
manejo errôneo em cultivos irrigados têm possibilitado o secas. Contudo, não atingiu todo seu potencial pela
aparecimento de reservatórios salinos e áreas escassez de alimento nas épocas de estiagem, assim, o
salinizadas, dificultando a produção racional da carne conhecimento e aprimoramento de dietas alternativas para
ovina (Araújo, 2009). A caatinga, vegetação natural e esses rebanhos, ressaltando a função das forrageiras
base da alimentação dos ruminantes na região Nordeste halófitas, notadamente a Atriplex nummularia L., seria
do Brasil, encontra-se submetida a um processo de fundamental para o incremento da produtividade dos
degradação que diminui a produção de fitomassa, rebanhos e, consequentemente, para a melhoria das
reduzindo ainda mais o alimento disponível para os condições de vida da população rural.
animais nos meses secos do ano. As halófitas têm a capacidade de fornecer alimento
A erva-sal (Atriplex nummularia Lind.) é uma planta verde, muitas vezes durante a estação seca, quando
halófita, que pode ser considerada como alimento ocorre escassez de alimento (Masters et al., 2007).
volumoso de digestibilidade aparente variando de 39% a Quando se trabalha com produção intensiva, a integração
70% (Souto et al., 2005). Sua oferta tem sido feita na de rações formuladas com forragens halófitas também se
forma de pastejo direto em área de geração espontânea apresenta com uma estratégia promissora.
Fitorremediação de solos afetados por sais 467

Os pastos de erva-sal podem produzir alimento ovinos se alimentando de uma mistura 1:1 de feno
suficiente e de boa qualidade para justificar os custos de (digestibilidade da massa seca de 0,57) e atriplex (1,5 kg
estabelecimento dos sistemas de produção. Além disso, de massa seca dia-1) foi significativamente maior que na
suplementos com alto teor de fibras, como palha ou ingestão somente de feno (0,9 kg massa seca dia-1) ou
restolhos de culturas, podem complementar a dieta dos somente atriplex (0,7 kg de massa seca dia -1). Com a
animais e melhorar seu desempenho (Norman et al., mistura, o ovino apresentou um ganho de peso de 70 g
2008). O corte de forrageiras halófitas estimula o dia-1.
crescimento de ramos mais tenros, possibilitando assim Outros resultados interessantes foram observados por
o pastejo e a melhor digestibilidade pelos ruminantes, Thomas et al. (2007) oferecendo vários tipos de dietas,
devendo-se, sobretudo, escolher uma altura e idade em que os ovinos preferiram aquelas com alto teor de
adequada para esse corte, evitando assim a morte do sais e alta energia; assim, os autores concluíram que
vegetal cultivado (Souza, 2010). suplementos com alta energia são mais fáceis de serem
Norman et al. (2008) comentam que a Atriplex consumidos junto com atriplex. Sugerem, ainda, que
nummularia apresenta bons valores de proteína bruta suplementos volumosos devem ter digestibilidade entre
(140 g kg-1 de massa seca) e digestibilidade da celulase 0,52 e 0,60 para complementar com uma dieta com alto
pepsina (0-52 g kg-1 de massa seca). Contudo, apresenta teor salino.
altas concentrações de sais solúveis nas folhas (220 Mattos (2009), avaliando o desempenho de dietas a
g kg -1 de massa seca), enxofre (4-6 g kg -1 de massa base de palma forrageira e feno de atriplex para
seca) e nitrato (173 g kg -1 de massa seca). Estas cordeiros da raça Santa Inês em confinamento no semi-
concentrações são maiores que as recomendadas árido Nordestino (Petrolina – PE), concluíram que o nível
para os ruminantes e poderiam conduzir à redução da de 35% de palma forrageira e 20% de feno de atriplex
ingestão da biomassa da planta (Masters et al., 2007). (complementadas com grão de milho moído, farelo de
A acumulação de sais resulta em concentração de cinzas soja e uréia) na dieta, resultou em maior taxa de
nas folhas de 150-270 g kg-1 de massa seca, podendo crescimento; todavia, do ponto de vista econômico, a
diminuir a digestibilidade. No entanto, há escassez de inclusão de 67,9% de palma e 8,3% de feno de atriplex
estudos que avaliem a produção de biomassa e valor promoveu melhor retorno financeiro, com rentabilidade de
nutritivo, em particular sob condições de campo, em que 69%. Os resultados indicam que a utilização de palma
as características espaciais e morfológicas da planta forrageira (Opuntia fícus-indica Mill) em dietas
diferem das observadas em sistemas controlados completas à base de feno de erva-sal (Atriplex
(Norman et al., 2008). nummularia L.) apresenta-se como alternativa viável
Norman et al. (2008), comparando a performance de para a produção de cordeiros em confinamento.
ovelhas alimentadas com Atriplex nummularia e Observou-se, ainda, que tais dietas possibilitam uma
Atriplex amnicola atribuem a preferência pela primeira produção de carne que não compromete os aspectos de
às seguintes características: as plantas de Atriplex qualidade relacionados à composição centesimal, fração
nummularia são eretas, de forma cônica e podem lipídica e características sensoriais.
alcançar dois metros de altura, com folhas largas de 2- A substituição total da palma forrageira por farelo de
5 cm de diâmetro com formato oblongo. Muitas das milho e feno de atriplex (48% de feno de atriplex)
folhas são encontradas próximas aos galhos mais tenros. possibilitou um ganho de peso médio diário de 233 g dia-1
Já as plantas de Atriplex amnicola são prostradas, (Araújo, 2009). A associação do feno de atriplex com o
chegando a diâmetros que variam de 1 a 4 m com média farelo de milho e farelo de soja promoveu ganho de peso
de altura menor que 1 m. As folhas são menores (0,5 de acima dos relatados por Souto et al. (2005), que
diâmetro e 1-2 cm de altura) e estão em galhos mais encontraram ganhos de 190 g dia -1 em ovinos
lenhosos. Embora não testado, especula-se que a consumindo dieta com 38% de feno de Atriplex, 7% de
arquitetura da planta promova a facilidade da mordida ao melancia forrageira e 55% de raspa de mandioca.
animal alimentando-se da Atriplex nummularia. Os Souto et al. (2004) avaliaram o consumo e a
autores observaram maior ganho de peso e crescimento digestibilidade aparente de nutrientes em cinco dietas
de lã para alimentação a base de Atriplex nummularia. para carneiros contendo diferentes níveis de feno de
A complementação entre atriplex e a utilização de erva-sal (Atriplex nummularia L.): 38,30; 52,55; 64,57;
outro volumoso com baixa qualidade tem sido 74,85 e 83,72%, associadas à melancia forrageira
demonstrada em vários experimentos de nutrição animal. (Citrulus lanatus cv. citroides) e à raspa de mandioca
Warren et al. (1990) observaram que o ganho de peso de (Manihot esculenta Crantz) enriquecida com 5% de
468 Maria B.G. dos S. Freire et al.

ureia, em formulação. Os resultados obtidos para algumas espécies como Distichlis spicata e Sporobolus
consumo e digestibilidade aparente, da maioria dos virginicus irrigadas com água subterrânea de 30 dS m-
1
nutrientes, revelaram um bom potencial para combinação produziram acima de 45 t ha-1 ano-1 de massa seca de
entre o feno da erva-sal com a melancia forrageira e a feno. Estes resultados demonstram o potencial de
raspa de mandioca, em dietas para ovinos no semi-árido fornecimento de forragem de plantas utilizadas na
nordestino. fitorremediação de solos afetados por sais, material esse
Souto et al. (2005), nas mesmas condições passível de ser utilizado no incremento de produção de
experimentais, observaram que as médias diárias de animais em condições de estresse hídrico e salino.
ganho de peso vivo obtido pelos carneiros, ao longo do Araújo et al. (2002) estimaram a relação benefício/
período de engorda, revelaram um bom potencial custo de dietas para engorda de ovinos em confinamento
forrageiro do feno de erva-sal combinado em quaisquer contendo diferentes percentuais de feno de erva sal,
das proporções estudadas com melancia forrageira e com encontrando que a dieta contendo 64,57% de feno
raspa de mandioca. permitiu ganho de peso intermediário, mas foi a que
A utilização do feno de erva-sal, como fonte volumosa apresentou melhor relação benefício/custo, evidenciando
em dietas para ovinos, garantiu um aporte de nutrientes a viabilidade econômica e ambiental de uso da atriplex na
e ganhos de peso vivo de até 145 g dia-1 (Souto et al., alimentação de ovinos em confinamento.
2005). A elevação dos níveis de feno de erva sal nas
MECANISMOS E PROCESSOS ENVOLVIDOS
dietas, não alterou o consumo da massa seca e proteína
NA FITORREMEDIAÇÃO
bruta, demonstrando que os ovinos podem apresentar boa
tolerância à participação de plantas halófitas em suas
O processo da fitorremediação envolve não apenas a
dietas (Souto et al., 2004). O nível médio de consumo de extração de sais pela cultura utilizada, mas é a junção dos
massa seca das dietas com o feno de erva sal foi de efeitos de alguns mecanismos que atuam em conjunto
1.033 g dia-1. para a melhoria do solo inicialmente degradado (Figura
Santos et al. (2009) avaliaram a composição de macro 5). Qadir et al. (2007) citam como mecanismos:
e microminerais de silagens e os teores de ácidos a) O incremento na pressão parcial de CO2 na zona
orgânicos (lático, acético e butírico) em dietas compostas radicular pela respiração das raízes e aumento da
de erva sal (Atriplex nummularia Lindl.) e capim elefante atividade biológica com o cultivo das plantas elevaria a
(Pennisetum purpureum Schum.) nas proporções de dissolução de calcita em solos calcáreos, promovendo a
100:0, 80:20, 60:40, 40:60, 20:80 e 0:100 e concluíram que
em todas as proporções os teores de macrominerais e
microminerais foram considerados adequados, além da
melhoria no perfil de ácidos orgânicos.
As informações obtidas permitem sugerir o uso
combinado da erva sal, da melancia forrageira e da
raspa de mandioca, como fontes de nutrientes em dietas
para acabamento de ovinos no semiárido. Resultados
promissores misturando a Atriplex com concentrados
também foram encontrados por Abu-Zanat &Tabbaa
(2006).
Quanto à oferta de forragem, a Atriplex spp irrigada
com água salina de drenagem apresentou rendimentos de
2,2-5,3 t ha-1 ano-1 de massa seca (Watson & O’Leary,
1993). Gêneros como Atriplex, Salicornia, Distichlis,
Cressa e Batis apresentaram bons rendimentos com
água de condutividade elétrica de até 70 dS m-1 (Masters
et al., 2007). Embora algumas dessas plantas necessitem
Adaptada: Qadir et al. (2007)
de cuidados especiais quanto à propagação, Atriplex
Figura 5. Ilustração dos processos atuantes na
lentiformis, Batis maritima, Atriplex canescens, fitorremediação de solos afetados por sais: aumento na
Salicornia bigelovii e Distichlis Palmeri produziram pressão parcial de CO2 na zona radicular, liberação de
mais de 10 t ha-1 ano-1 (Glenn & O’Leary, 1985). De prótons (H+), efeitos físicos das raízes, aumento no teor
acordo com o Centro Internacional de Agricultura Salina de matéria orgânica e remoção de sais pela colheita da
(Internacional Center for Biosaline Agriculture, 2004), parte aérea das plantas
Fitorremediação de solos afetados por sais 469

liberação de Ca2+, HCO3- e CO32- na solução do solo; em permenaneçam na área afetada e que se procure
solos não calcáreos, o aumento na pressão parcial de conciliar um manejo das mesmas com culturas agrícolas,
CO2 resultaria na liberação de H+ e redução do pH do preferencialmente em forma de consórcio. Trabalhos
solo; em que o Ca 2+ na primeira situação e o H + na nesse sentido vêm sendo desenvolvidos em sistemas
segunda, atuariam na substituição do Na+ do complexo de agrosilvipastoris, que associam a planta fitorremediadora
troca do solo, minimizando seus efeitos sobre as com culturas agrícolas e animais.
propriedades físicas do solo e sobre as plantas; Quando a salinidade e, ou, sodicidade é oriunda de
b) A liberação de prótons pelas raízes no processo de causas antrópicas, se o processo de acúmulo for contido,
absorção de elementos do solo contribui para a redução após a fitorremediação, a medida que o solo possibilitar
do pH nas proximidades das raízes. É reconhecido o o crescimento de outras plantas podem ser adotadas
processo de extrusão de H+, associada à atividade de uma culturas agrícolas inicialmente tolerantes aos sais, sendo
H+-ATPase da membrana plasmática das células, e esse substituídas gradativamente por outros cultivos, desde
atuaria no pH e substituiria o Na + liberando-o para a que o manejo adotado após a recuperação não implique
solução do solo, facilitando sua absorção pela planta; em nova exposição do problema.
c) O efeito físico das raízes está relacionado a sua Outro ponto que deve ser observado quanto ao tempo
importância na formação de macroporos e manutenção de recuperação são as propriedades do solo, ou seja, se
da estrutura do solo, facilitando a infiltração de água no o problema predominante for a sodicidade, com elevados
perfil juntamente com o Na+ liberado do complexo de teores de sódio trocável comparado a um solo salino-
troca, bem como as trocas gasosas, principalmente em sódico, com acúmulo de sais solúveis além do sódio
camadas mais profundas, difíceis de serem atingidas por trocável, provavelmente esse último será recuperado em
menor tempo. Mas tudo depende dos níveis destes sais
outras técnicas de recuperação de solos salinos e
solúveis e trocáveis. Nesse sentido, o tipo de salinização
sódicos;
é um fator que fornecerá subsídios para indicar o tempo
d) O aumento nos teores de matéria orgânica com o
do processo de recuperação e o manejo das possíveis
cultivo de plantas atuaria na agregação das partículas do
práticas agropecuárias que poderão ser implementadas.
solo, possibilitando maior estabilidade de agregados;
e) Extração de sais pela parte aérea das plantas, na
CONSIDERAÇÕES FINAIS
dependência da produção de biomassa aérea e da
concentração de sais no tecido vegetal retirado do
A necessidade de recuperação dos solos afetados por
sistema (folhas, ramos, galhos, caules). Todos os
sais, assim como aqueles que apresentam problemas de
mecanismos associados à fitorremediação dependem da
acidez e contaminação por metais pesados é
espécie de planta envolvida e das condições ambientais
fundamental, já que o recurso solo tem se tornado cada
reinantes no meio. Assim, plantas que tenham a
vez mais importante quando se pretende manejar
capacidade de aumentar a pressão parcial de CO 2 no adequadamente os diversos sistemas produtivos
solo, de liberar mais prótons para o meio externo, de mantendo a sustentabilidade do ambiente.
adicionar mais matéria orgânica ao sistema e, finalmente, O uso de plantas para fitorremediar o solo está se
de extrair maiores quantidades de sais, seriam as mais tornando cada vez mais presente devido aos benefícios
indicadas para uso na fitorremediação de solos afetados que propiciam às propriedades químicas e físicas do solo,
por sais. Adicionalmente, é preciso que as mesmas além da possibilidade de um manejo sustentável e
tenham a capacidade de sobreviver e produzir aproveitamento dos produtos advindos dos vegetais, quer
satisfatoriamente em regiões de clima árido e semiárido, seja diretamente para o agricultor e, ou, para os animais
onde normalmente são mais frequentes os solos salinos explorados na pecuária regional.
e sódicos. Pesquisas na área de fitorremediação de solos
afetados por sais, embora escassas no Brasil, evidenciam
MANEJO DA FITORREMEDIAÇÃO a possibilidade de recuperação de solos degradados pela
salinidade e sodicidade por agricultores, especialmente
O conhecimento dos processos de acúmulo de sais aqueles com reduzidos recursos financeiros e técnicos,
nos solos é importante para que o manejo da haja vista o preço para implementação dessas
fitorremediação seja efetivo. Por exemplo, ao se “tecnologias verdes”. Nesse sentido, os resultados das
considerar um solo salino em que a fonte dessa pesquisas e os próprios ensaios experimentais devem ser
acumulação de sais é de origem primária, o processo da repassados e inseridos nessas comunidades rurais para
fitorremediação deverá ser contínuo, ou seja, é que as mesmas observem os benefícios através das
interessante que as espécies fitorremediadoras experiências in situ.
470 Maria B.G. dos S. Freire et al.

As espécies adotadas para fitorremediação são as Cabral, C. D. G. Dinâmica da salinidade no sistema solo-planta
mais diversas, algumas destacadas nessa revisão, mas o sob cultivo de Atriplex spp. Recife: UFRPE, 1998. 80p.
manejo dessas ainda deve ser pesquisado, procurando Dissertação Mestrado
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que a Atriplex nummularia L. fornece ao “sistema Technique, 7
solo-animal-homem”, precisando acontecer uma Geissler, N.; Hussin, S.; Koyro, H. W. Interactive effects of
conscientização de pesquisadores, extensionistas e NaCl salinity and elevated atmospheric CO2 concentration
respectivos órgãos de trabalho, para que só assim os on growth, photosynthesis, water relations and chemical
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agricultores também se conscientizem sobre a sua
tripolium L. Environmental and Experimental Botany, v.65,
adoção. As pesquisas ainda são escassas, motivo pelo p.220-231, 2009.
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