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CEO
Capítulo 1- Elisabete
Eu não era de acreditar em superstições e mau agouro, porém
hoje estava sendo um daqueles dias em que tudo dava errado.
Mesmo que ainda negasse que alguém podia carregar esse mal,
alguns fatos ainda me faziam ficar em dúvida.
Muito adiantado!
Depois que sai da faculdade, você pensa que será tudo um mar
de rosas, mas tristemente descobri que o mundo era cruel e existem
milhares de pessoas tão boas quanto eu.
O homem tirou do seu bolso o celular que não era um dos mais
novos da sua linha, e o estendeu para mim, mostrando o horário
correto.
Olhei para o objeto, ainda sem acreditar, aos poucos tudo veio à
minha mente e desejei morrer.
***
Andei poucos metros até a casa que tínhamos alugado. Não era
muito grande, mas servia. Vivíamos trabalhando, e era Miguel que
passava a maior parte do tempo em casa. Pelo menos até agora.
Foi por isso que minha noiva me deixou. Não que eu não
gostasse dela, mas Anastácia era uma mulher muito sentimental e
pegajosa.
***
Assim que cheguei em casa, coloquei um pouco de bebida no
copo e tomei. Como sempre, cheguei bem tarde.
— Ah, Henrique, até parece que não posso ligar para saber
como está meu filho. — Reclamou fingindo estar ofendida. — Mas
também queria lhe informar sobre um jantar beneficente.
Não gosto de ser rude com ela. Sei que a mulher vivia muito
deprimida devido ao meu pai, mas não suportava quando minha
mãe tentava arranjar uma mulher para mim.
***
Hoje trabalhamos juntos e fico feliz por isso, pois meu amigo era
um dos mais criativos.
Uma loira alta com vestido branco que se ajustava ao seu corpo,
sorriu ao me ver. Ela era responsável pelos hotéis que seriam
reformados.
Tenho sorte por ter uma irmã maravilhosa, pois quando liguei
para ela, rapidamente Mariana veio ao meu socorro. Eu ficaria com
ela até achar um novo emprego, já que não bastava o meu dia ter
sido conturbado, ainda descobri que fui traída e não tinha onde
morar.
***
Fui até a sala e bebi um pouco de água. O lugar não era muito
pequeno e tinha muitas coisas para os funcionários. Respirei fundo
ao sair da sala, mas meu corpo se chocou contra uma parede de
músculos que fez com que eu recuasse um pouco e quase caí.
Mantive minhas mãos em seu peitoral largo, ainda boba pela sua
imagem perfeita.
— Você deveria olhar para onde anda. — Ele disse com sua voz
grossa e arrogante.
Era inegável que esse homem era lindo e charmoso, mas tudo
isso não ofuscava a ignorância e a rispidez que destruía a bela obra
de Deus.
Não sei quem era ela ou o seu nome, no entanto, não consegui
parar de pensar naquela ocasionalidade. Resolvi que já era hora de
expulsar aquela estranha da minha cabeça e me concentrar no
trabalho. Finalmente achamos uma pessoa que possa trabalhar
comigo. Serena não disse muito sobre a mulher, só que ela era
perfeita para o cargo, pois sua personalidade batia com a minha
***
Ainda pensava na silhueta sexy que havia visto, mas isso não
mudou o meu humor. Sabia que até o fim do dia ficaria com dor de
cabeça.
Dava para ver que ela também havia ficado surpresa. Continuei
a minha ligação observando cada movimento da mulher que se
sentou à minha frente, ainda tentando entender o que estava
acontecendo. Assim que desliguei o telefone, nos observamos por
um instante antes que eu começasse a falar.
O pior era que a mulher não saiu da minha cabeça desde aquele
dia e agora ela estava aqui, parada em minha frente e iria trabalhar
comigo.
Capítulo 5 — Elisabete
Quando me ligaram para dar a notícia de que eu fui a escolhida,
quase surtei. No dia em que fui até a empresa vi tantas candidatas
que até pensei que eu não seria selecionada.
Na verdade, uma das perguntas foi bem estranha, pois não sabia
se era habitual ou era um teste. A mulher me perguntou se eu tinha
capacidade de trabalhar sob pressão e constante estresse, e quase
nem soube responder, mas como já havia trabalhado com uma
chefe muito irritante, já estava preparada para tudo.
Assim que ele terminou sua ligação, ficamos nos encarando por
alguns segundos. Era verdade que desde aquele dia eu não
consegui o tirar da cabeça. Henrique Vilella era o homem mais lindo
que já vira na vida, porém, sua personalidade era de um cavalo e
não iria suportar conviver com este homem.
— Serena podia muito bem ter escolhido alguém que não fosse
tão desatenta quanto você. — Falou arrogante, me deixando
levemente irritada. — Não dá para acreditar no que está
acontecendo.
— Senhor Vilella, por favor, não fique chateado, sei que isso
parece algo ruim, mas não tive culpa. Isso não me desqualifica para
trabalhar com o senhor. — Falei quase entrando em desespero. Eu
sabia que este homem frio e arrogante não iria ter pena de mim,
porém, eu não poderia desistir após ter conseguido chegar até aqui.
— Posso provar que sou capaz, só preciso de uma oportunidade e
vou me esforçar ao máximo.
Eu sabia que não poderia surtar e gritar com meu chefe. Ele
estava a ponto de me demitir e eu estava dando o armamento para
que ele pudesse fazer isso.
Eu não era conhecido por ser uma pessoa boa ou que tivesse
muita paciência, por isso a necessidade de alguém com experiência
e que pudesse suportar a minha oscilação de humor. Não posso
negar que Elisabete era uma mulher determinada e com
personalidade forte, que poderia até suportar um pouco a minha,
mas ela era petulante e me irritava constantemente, isso somado a
sua falta de experiência no ramo da arquitetura era inaceitável para
mim.
— Henrique, pedi para você não ser tão… Você. Sabe como foi
difícil achar alguém que pudesse trabalhar ao seu lado todos os dias
e não se demitir? — Falou ela com o cenho franzido.
— Não fique felizinha, você sabe que não sou fácil, penso que
ela mesma vá se demitir.
Esse era outro motivo para a minha preocupação. Ela era quente
e petulante, e no mesmo nível que me irritava, me atraía.
— Não serei tão malvado com você. — Falei com um sorriso no
rosto. Foi engraçado ver seu rosto surpreso. — Darei um período de
experiência de 3 meses, se você cometer um deslize sairá antes
desse prazo, se for boa ficará na posição. Porém, acredito que você
vai pedir para ir embora.
— Trate isso do jeito que quiser. Mas sei que estou certo e que
você não vai durar muito tempo aqui. — Afirmei.
Isso era perigoso. Não sabia o porquê de estar tão excitado com
a conversa, mas Elisabete era diferente das demais mulheres. Ela
me desafiava e isso era novo.
Capítulo 7 - Elisabete
Eu tentava me convencer de que não existia essa coisa de que
pessoas nasciam com azar, mas os acontecimentos recentes
comprovavam o contrário, e estava quase acreditando que
realmente poderia ter nascido com a vida azarada.
***
“ Acho que seu relógio está muito adiantado, pois ainda faltam
cinco minutos, senhor Vilella. ”
O homem virou-se para olhar para mim por cima dos óculos
escuros, e dei um sorriso amarelo.
— Desculpe. A pergunta foi tola. É óbvio que você não tem uma
namorada, afinal qual mulher aguentaria um homem como você. —
Falei sem medo algum.
Eu não sabia porque meu chefe diria que eu sou sua namorada,
pois vivíamos em pé de guerra, mas a loira com quem eu
conversava antes e que estava sendo muito simpática, agora me
olhava com desprezo.
— Interessante saber que não sirvo para ser sua assistente, pois
não tenho qualificação, mas para ser sua namorada de mentira
sirvo? — O questionei tentando não demonstrar toda a minha raiva,
fisicamente.
Eu não sabia se isso seria possível, já que nós dois não nos
dávamos muito bem, no entanto, esse mal-entendido que foi gerado
pelo meu chefe, já havia sido dito e não teria nada que pudéssemos
dizer para fugir da mentira.
Capítulo 8 - Henrique
Eu não sabia por que cometi a loucura de dizer que Elisa era
minha namorada. Eu poderia ter inventado qualquer outra desculpa
ou simplesmente ter ficado calado e aguentado a presença de
Amanda, mas não, algo dentro de mim quis se vingar pelo passado,
e quando notei a raiva e a inveja nos olhos da mulher, senti uma
satisfação inexplicável.
Isso não servia de justificativa para os meus atos nos dias atuais,
mas foi a raiva e o rancor da mulher que eu amava, dentre outras
coisas, que me fizeram ficar dessa forma.
— Por isso você ainda está solteiro, sem contar, é claro, com a
sua frieza e arrogância. Não conhece as mulheres, muito menos as
EXs. – Disse me fazendo bufa de tedio. – Não importa se não se
gostam, mulheres são muito inteligentes e ardilosas. Quero ter as
possíveis respostas para as possíveis perguntas e você vai me dar
isso de um jeito ou de outro.
***
— Está na hora de ir, vou leva-la para casa. – Falei olhando para
o aparelho telefônico que tinha várias mensagens da minha mãe.
Eu não sabia o porquê tinha me oferecido para fazer isso, já que ela
era a minha mais nova dor de cabeça. O problema era que eu sabia
que para parecermos um casal de verdade, deveríamos conhecer o
mínimo um do outro e ter uma curta intimidade. Porém, nada do que
eu fazia parecia agradar a Elisa.
— Então o que é?
— Não sei se considera isso pior, mas primeiro fui traída para
depois ser abandonada. O idiota estava transando com uma das
minhas amigas na cama onde nós dormíamos, e eu os peguei no
mesmo dia em que fui demitida.
— Acho que nós dois podemos passar por isso sem matar um ao
outro. – Falei assim que as portas se abriram. – Você não é tão
chata.
— Vista.
***
Por isso troquei de roupa rápido e saí de casa sem desejar ouvir
as suas besteiras. Minha irmã já tinha me maquiado e feito um
arranjo no meu cabelo. Não queria parecer como as outras
mulheres que estariam na festa, porém, também não podia ir de
qualquer jeito.
Não sabia o que estava acontecendo e nem por que estava tão
insegura.
Capítulo 10 – Henrique
Eu realmente estava tentando entender o que se passava na
cabeça de Elisabete Medeiros. Decidimos pegar leve e nos tratar
com cordialidade, mas agora ela parecia estar estranha e esquecido
do nosso acordo.
— É, talvez tenha razão, eles nem ligarão para mim mesmo. Não
sou ninguém notável. — Falou dando um meio sorriso.
Respirei fundo pensando se era uma boa ideia fazer o que ela
estava pedindo. Não estávamos em um dos melhores lugares para
se lembrar do dia em que Amanda me deixou.
— Foi difícil para mim ser rejeitado pelo simples fato de ser
quem eu era, então tentei mudar de todas as formas. — Confessei.
— De certa forma isso me ajudou a chegar onde cheguei, e agora
estamos aqui. Estou agindo novamente como um idiota por causa
dela.
Claro que ele não deveria deixar que uma mulher o mudasse
tanto, ao ponto de se tornar uma pessoa tão amarga e arrogante,
mas era compreensível quando se pensava que ele a amava e ela o
fez pensar que o seu modo de ser era horrível, o que não é verdade.
Mas acredito que tenha sido uma má ideia, já que assim que
meus lábios tocaram os deles, senti algo novo e muito forte que até
agora não conseguia explicar.
***
— Então foi por isso que você me deixou? — Ele disse com a
voz estranha, claramente embriagado. — Você queria um ricaço.
— Acho que tem que ir, Miguel. — Falei puxando meu chefe. —
Já está tarde e eu não quero briga aqui.
Nunca imaginei que o melhor beijo que já dei na vida seria com
alguém que me fazia tanta raiva, mas tenho que confessar que nos
últimos dias, Henrique estava sendo menos irritante.
Olhei para minha irmã com olhos arregalados após ouvir as suas
palavras ousadas.
— Como você…
— É, eu vi, tinha uma foto onde ela estava com cara de bunda.
Aposto que a essa hora o meu chefe estava bufando de raiva por
causa dessa mentira que ele mesmo inventou.
— Ok, Henrique, diga-me, por que veio me buscar? Por que não
está furioso pelo que estão dizendo na internet? — Perguntei quase
alterada demais.
Querida!
— Eu estava fazendo…
Foi difícil dormir na noite passada, pois minha cabeça, idiota, não
parava de imaginar a linda morena provocante e sua boca macia.
Somos muito diferentes, mas algo fazia com que nos sentisse
atraídos um pelo outro, mesmo que a danada tentasse negar a todo
custo.
Graças a sua ajuda, todos sabiam sobre nós. Claro que isso me
ajudava, o problema era ela que agora parecia que teria um surto só
porque todos sabiam sobre nosso relacionamento.
***
Pensei bastante, e ela tinha razão. Isso era um erro e não podia
continuar com essa loucura. Claramente não chegaríamos a um
acordo para nos darmos bem. Somos como fogo e gasolina, e
juntos só rola brigas.
— Estou dizendo que vou acabar com essa maluquice, já que foi
eu quem a começou. Você não tem que sofrer com os meus erros.
— Falei mais claramente.
— Olha aqui, senhor Vilella, não sou louca, mas seria estranho
terminarmos justo quando nossas fotos com nossas bocas coladas
aparecem na mídia. — Falou irritada.
— Tentar?
— Claro.
— Amanhã?
Ele iria fazer o que eu queria, era para ter aceitado, porém,
esses sentimentos tomaram conta do meu ser e confundiram o meu
cérebro.
Não sei como tive coragem de dizer “não”, já que estava claro
para nós dois que isso não daria certo.
Foi impossível não rir com ele. Quando queria, Henrique podia
ser engraçado, o que me fez pensar se ele escondia a sua real
personalidade por medo das pessoas. Claro que ele já falou sobre
não se importar com isso, no entanto, até um homem como ele
poderia ser afetado pelas coisas ruins que as pessoas falavam.
“Está criando uma lista sobre você? Essa é a sua tática para
fugir de conversas? ”
Ela deu uma gargalhada que a deixou ainda mais linda. Fiquei
apreciando esse momento de paz, pois sabia que poderia durar
pouco.
— Não vamos brigar hoje, Henrique, mas posso ser tudo isso
que você falou enquanto estivermos aqui, só nós dois.
— Ah, não fique irritada, só falei isso para que saiba que
conhecemos o lado ruim um do outro, agora teremos que conhecer
mais algumas partes boas.
***
Questionei a ideia de ter vindo com ela para essa casa distante,
mas confesso que agora tudo estava bem. Não tínhamos brigado
ainda, e preparávamos uma comida mais natural.
— Ótimo, você cozinha muito bem. Então isso quer dizer que o
seu único defeito é ser um péssimo chefe. — Ela disse enquanto
provava um pouco da comida.
Não sei se foi outro amor ou não, porém tinha que admitir que
estava curiosa.
— Sério?
Claro que fui eu que mais falei, entretanto, sou uma pessoa que
consegue o que quer e aos poucos ele foi falando.
Pelo que sei, meu chefe não tem uma boa relação com o pai, já
que ele esteve metido em muitas coisas que prejudicaram a família,
não só no seu vício em jogos.
Por sorte, eu tinha uma irmã que vivia no litoral praiano e pedi
emprestado um dos seus maiôs. Ela adorava vestir roupas
provocantes, e tive que escolher o menos exposto que ela tinha.
Sei que algo entre nós era impossível e todos os dias eu repetia
isso na minha cabeça, justamente quando ele estava dessa forma.
Respirei fundo e passei por ele.
Assim que voltei à atenção nele, notei estar sendo avaliada pelos
olhos atentos do homem. Tive dificuldade para respirar e um imenso
arrepio se passou pelo meu corpo.
— Não.
— Ah é?
— Que tal você e o senhor gostoso ficar por uma noite aqui em
Porto? — Revirei os olhos quando ela falou isso. — Estou com um
grupo de turista que dará uma festa na paia. Tipo um luau. Sei que
você nunca participou dessas coisas e seria a oportunidade perfeita.
— Não vai rolar. — Falei sem demora. — Você não conhece o
homem. Henrique nunca participaria de algo assim.
— Não é verdade.
Não queria nada além da sua amizade, e se ele visse que não
era boa o bastante para continuar a trabalhar ao seu lado,
entenderia e acharia outro emprego.
Cheguei ao local rápido, pois sua casa não ficava muito longe da
onde eles estavam. Ao me ver, Mariana quase pulou de alegria e
isso me motivou.
Henrique
Quando a diaba saiu da minha casa tive que travar uma batalha
interna. Não era o meu estilo ir a festas e curtir, muito menos correr
atrás de uma mulher que não se interessava em mim, porém aquela
conversa de: o que se faz aqui, fica aqui. Se repetiu na minha
cabeça em um loop infinito, e a ideia de Elisabete ficar com outros
homens me incomodou.
Claro que não tinha uma cláusula dizendo ser proibido ficarmos
com pessoas enquanto fingimos nos amar, no entanto, eu não
poderia permitir que tal coisa acontecesse. Foi isso que me
impulsionou e justificou a minha ida àquela festa idiota na praia.
Perguntei ao meu irmão onde seria o luau, já que ele sabe de
tudo nessa praia, e foi fácil achar.
Tive que chamar a atenção e fiquei surpreso por ela ter ficado
animada com a minha presença, e seu abraço foi… estranho.
Eu não tinha o direito, já que ela não era minha namorada, mas
isso não me impediu.
— Estávamos conversando.
Depois que ela se foi, ficamos só eu e a irmã que tinha uma cor
agradável no seu rosto, mostrando que ficou envergonhada.
— Ah.
Ela não lutou contra mim, muito pelo contrário, assim como eu,
Elisabete se entregou a tudo, me fazendo gostar ainda mais disso.
Capítulo 18 - Elisabete
Acordei com a minha cabeça doendo e sem lembrar de quase
nada. Meu corpo estava em um lugar muito confortável e macio.
Assim que abri os olhos, a claridade que entrava por uma pequena
brecha da cortina, ajudou-me a ver o ambiente em que estava e não
era o meu quarto.
Parei bem à sua frente, mas o homem não tirou os olhos das
folhas que lia. Limpei a garganta com esperança de que ele
finalmente me notasse.
— Não sei, então me fale, pois não sei como vim parar aqui. —
Disse alterando um pouco a voz. — Por favor. — Acalmei-me e
sorri.
— Você disse que iria pegar o número dele para “quando tudo
isso acabar”. — Falou de forma rude e irritada.
Estava tão irritada com a situação que nem pensei muito antes
de falar, e logo veio o arrependimento, mas não deixei transparecer
isso, pois Henrique Vilella não poderia pensar que sou como as
outras mulheres com quem sai. Eu nunca baixaria a cabeça para
homem nenhum, não mais.
— Tome seu café, você fica chateada quando está com fome. —
Falou descendo a escada em direção à praia. — Seja rápida, pois
quero chegar logo em casa.
— Ok. — Respondi.
***
Era para Judi tê-los trazido, mas a mulher estava uma pilha de
nervos por conta do receio de ter que enfrentar o Godzilla aqui.
— Você já disse que sua mãe não era muito… legal. — Ela disse
tomando cuidado com as palavras.
— Estou vendo.
E lavamos nós.
— Henrique?
— Sim. Você sabe que tem que se casar com uma mulher da
nossa classe, não uma…
— Acho melhor não continuar. — Ameaçou a morena.
— Ok. — Concordei. — Mas isso não vai fazer ela parar de nos
importunar.
Era verdade que eu não tinha uma boa relação com as pessoas.
Gostava de ficar no meu canto, sem perguntar sobre nada, mas a
cada dia eu queria ainda mais conhecer Elisa.
— Será surpresa.
Capítulo 21 - Elisabete
Ter que suportar aquela mulher, foi como estar sendo queimada
viva. Meu nível de estresse foi às alturas e quase gritei no meio
daquela confeitaria. Ainda não sabia o porquê não fiz, mas foi
melhor assim.
— Obrigado. — Falou.
— A única que já veio aqui foi Anastácia, mas ela nunca passou
muito tempo. — Respondeu abrindo um meio sorriso e caminhando
para outro cômodo. — Comprei esse lugar depois da minha
desilusão amorosa com Amanda, e de lá para cá eu nunca mais
quis conviver com ninguém. Minha relação com Anastácia era quase
a distância e foi isso que a fez ir embora também.
— Como você quer uma família se não pode nem conviver com
alguém?
Era óbvio que ele não queria falar sobre os seus… problemas
sociais, no entanto, sei que podemos chegar lá no futuro.
Após isso, fomos para fora onde ainda tinha um grande jardim
espaçoso.
Ele já havia falado sobre isso, mas agora, vendo sua casa e
seus objetos dava para ver o lado mais sensível do cara duro e sério
que conheci. Ninguém que admirasse algo tão lindo e extraordinário
como as estrelas eram alguém frio e sem emoções.
Não insisti, pois sabia que isso era difícil para ele. Eu não queria
que Henrique ficasse triste justo quando estávamos tendo uma
ótima conversa.
Capítulo 22 - Elisabete
Depois daquele dia na casa de Henrique, passamos a ter uma
relação excelente. Quem nos via, poderia jurar que éramos um
casal real. Eu realmente estava gostando, tanto que quando
lembrava que tudo isso estava acabando, meu peito apertava e uma
tristeza insana me atingia.
Por sorte ele teve uma reunião com um velho amigo de negócios
e teve que ficar mais um pouco, me dando a oportunidade de
preparar tudo. Tinha que admitir estar nervosa. Era tão idiota sentir
isso, pois já fiz muitos jantares, inclusive no início do meu namoro
com Miguel, porém dessa vez as coisas estavam mais tensas.
Uma frase que minha irmã ridícula falou não saía da minha
cabeça: “você realmente está gostando dele”.
***
— Sei que não faz muito tempo que nos vimos, mas você tem
algo que deixa tudo único. — Disse ele me fazendo ficar como uma
idiota.
— Eu sei.
Não podia negar que fiquei feliz, pois mesmo caprichando, não
era uma comida que ele pediria em um restaurante chique.
— Não era nada tão horrível quanto você pensa. Porém, quando
se é criança e sua mãe te proíbe de sair e jogar bola porque você
quebrou algo em casa, era uma tortura para mim. — Disse fazendo
drama.
Levantei-me do lugar e fui até ele. Não dava para ouvir tal coisa
e não dizer nada. Henrique perdeu a esperança e acredito que isso
tudo tenha a ver com a morte de sua irmã.
Senti que ele estava ficando irritado, então deixei que ele se
afastasse.
— Você pode estar satisfeito com o seu trabalho, mas isso não
te torna feliz, Henrique. — Falei triste pela sua dureza.
Cada vez que ele revelava mais um pouco de si, eu podia ver
como tudo isso era complicado. Não tinha muita informação sobre a
irmã dele, contudo, ela morreu em um acidente de carro com o
namorado. As palavras que ele usou na noite passada ainda
estavam na minha cabeça e eu desejava continuar descobrindo
quem era Henrique e o porquê dele se martirizar tanto.
— Por quê?
— Sua esposa, Susan, também é acionista e precisamos das
assinaturas dela para formarmos uma parceria, no entanto, eles
estão se odiando no momento e ela está dificultando as coisas. —
Ele não estava chateado comigo, mas dava para ver sua raiva com
esse assunto.
— Não, mas…
***
Depois daquele começo de dia conturbado com o chefe, o
escritório estava mais silencioso do que o normal. Parecia que todos
andavam nas pontas dos pés para que o barulho não incomodasse
o homem.
O problema era que Susan estava furiosa e não queria ver Heitor
nem pintado de ouro. Então seria difícil convencê-la. Os dois
estavam indo para um evento em Fernando de Noronha, e teríamos
que ir até lá com a papelada. Eu não perderia esse projeto, não só
porque poderia ser excelente para a agência, mas também porque
todos os envolvidos trabalharam duro para suprir as exigências do
casal, e eles não poderiam cancelar tudo devido a um casamento
que terminou ruim.
Era por isso que não se deveria unir negócios e prazer, pois se
tudo der errado em um lado pode afetar o outro. Mas sei o quanto
era difícil, pois eu estava encrencado em uma situação parecida.
Meu relacionamento com a minha assistente não era real, porém
sentia que a cada dia que passava aquela mulher conseguia me
prender a ela. Seja pela sua beleza ou pela cumplicidade em nossas
conversas, ou pior, pela forte atração que sentíamos. Ela poderia
negar, assim como eu, mas sim, sentíamos atração um pelo outro.
Perdi o número de vezes que desejei jogar tudo para o ar e tê-la
como desejava. No entanto, minha parte racional sempre me dizia
que isso nunca poderia acontecer.
Para Elisabete. Ele é seu chefe e não quer nada com você.
— Você tem que entender que eles são pessoas, e que estão
passando por um momento difícil. — Falei colocando minhas coisas
no canto da cama. — Por exemplo: se estivéssemos em um
relacionamento real e você fizesse merda para nos separarmos, eu
nunca mais iria querer ver você na vida.
— Sou humana.
Ele revirou os olhos para mim, caminhou até a varanda e o
acompanhei. O lugar era lindo, e como estava no fim da tarde, a
imagem azul do mar se unia ao pôr do sol. Por um instante, vi o cara
carrancudo apreciar a paisagem e respirar fundo.
Após conhecê-lo melhor, pude ver que Henrique tem uma alma,
e ela não era tão fria e arrogante quanto sua casca. Acredito que ele
faça tal coisa para se proteger. O chefe durão que conheci, era, na
verdade, um homem que teme amar e depois perder.
Não sei o que aconteceu para que ele se culpasse tanto pela
morte da irmã, mas isso fez com que ele pensasse que nunca
poderia ser como antes.
***
— Sei que vai parecer estranho, mas o lugar está lotado e aqui
tem a melhor comida de toda a ilha, então eu gostaria de saber se
você se incomodaria se eu me sentar com você à mesa?
***
Eu não queria que ele ficasse com dor no outro dia, porém ele
estava tão relaxado que decidi deixá-lo.
Ele poderia dizer uma coisa, mas seus olhos mostravam outra.
— Poderia ter ficado na cama. Ela cabia nós dois. — O olhar que
ele me lançou foi estranho, mas vi que seus lábios se curvaram um
pouco.
Era a segunda vez que ele era irônico dessa forma. Eu acabaria
acreditando que o homem tinha más intenções comigo.
Eu queria.
Eu contei para ela assim que entrei pela porta de casa, depois
que ele me deixou lá embaixo. Minha mente estava inquieta e eu
não sabia o que fazer.
Terminei o meu café e logo saí de casa. Eu sabia que ele não
viria hoje, então…
***
— Porque…
— Henrique!
Elisabete era uma mulher incrível e seu sorriso era a coisa mais
linda que eu já tinha visto. Sempre que estávamos juntos, nada mais
importava, nem mesmo o trabalho. O problema era justamente eu.
Não sou uma pessoa boa, muito menos digna do seu coração.
Eu não a via desde aquele dia, isso já fazia dois dias. Estava
tendo muitas reuniões fora, e Elisabete ainda trabalhava nos
detalhes do nosso novo projeto. Hoje, finalmente não havia reuniões
fora da agência, e mesmo sabendo que não deveria, eu queria
arrumar uma desculpa só para que ela viesse até mim.
— Aqui estão os desenhos que pediu. — Ela disse ao entrar pela
porta.
Sei que só ficamos dois dias sem nos ver, mas ela estava mais
linda que o normal. Seu rosto não estava tão alegre como antes e
não sabia se eu era o causador disso.
***
Já fazia uma semana que voltamos a trabalhar juntos e a mulher
ainda estava distante. Só falávamos sobre assuntos relacionados ao
trabalho e ela não sorria mais quando a elogiava pela manhã.
Encontro?!
Não havia quase ninguém na agência, não era muito tarde, mas
na sexta as pessoas saíam mais cedo.
— Com um novo amigo. — Respondeu dando de ombros.
No fim, Henrique não tinha culpa alguma, pois acetei fazer isso
sabendo do fim. O que eu não poderia adivinhar era que o arrogante
tinha uma alma tão doce e que meu coração, idiota, fosse se viciar
nesse açúcar.
Claro que era difícil vê-lo todos os dias sentindo todos esses
sentimentos, mas não significava que eu sairia da agência por
causa disso.
— Vou pegar uma bebida para nós. — Ele disse ao meu ouvido.
Não demorou muito para que Fábio voltasse. Agradeci, pois não
queria ficar sozinha em um lugar que eu não conhecia e com caras
estranhos.
Ele era muito mais alto que eu e forte, e estava ficando sufocada
com a aproximação.
— Vou ao banheiro. — Disse tentando me soltar.
Tentei dizer algo, no entanto, nada saía pela minha boca. Fui
praticamente arrastada para fora do lugar e nem pude protestar.
— Meu novo amigo, e você não tem direito algum de vir até aqui
para me questionar, Henrique.
— Não posso negar que sinto algo, e sei que sou um covarde
por não admitir, mas acredite, é melhor para você ficar longe.
Eu sabia que o homem iria tentar fugir, então teria que tomar
uma atitude para que ele finalmente começasse a falar sobre o que
estava tentando esconder.
— O quê?!
— Só saio daqui com você se falar a verdade, caso contrário,
aceitarei a proposta de Fábio.
***
— Vocês brigaram?
— Ela poderia estar viva se não fosse por mim. — Disse com
raiva de mim mesmo.
— Talvez sim, mas não muda o fato de que você não tem culpa
pelo acidente. — Insistiu. — Mesmo estando bravo, você não queria
que nada de ruim a acontecesse. Henrique, não pode sofrer devido
à culpa. Não pode deixar de viver, de ser quem você é por um erro
do passado.
Era nítido que ele se culpava pelo que aconteceu e seria difícil
convence-lo do contrário.
— Primeiro, como você sabe que pode ser ele, e segundo, por
que toda essa animação se até ontem você dizia ser melhor que eu
“saísse com outros caras” para esquecer a paixonite do chefe? — A
questionei franzindo o cenho.
— Olha, eu super apoio. Você nunca esteve tão feliz e tão triste
por alguém. Nem mesmo o idiota do Miguel conseguiu esse feito. —
Falou, deitando na cama enquanto eu arrumava algumas roupas. —
Vocês terão que enfrentar a mãe malévola, e quero ver como ela vai
reagir quando descobrir que agora é real e oficial.
— Você adora ver um estrago, não é, Mariana? — A questionei
enquanto ela se divertia com a situação.
Depois que ela saiu, peguei uma muda de roupa e fui tomar um
banho. As coisas da noite passada ainda estavam na minha cabeça,
e lembrei-me do momento que estávamos juntos.
Isso não era uma boa ideia. Se o cara com quem estou saindo
no momento, soubesse, ele enlouqueceria. Mesmo não querendo
deixar que as opiniões de Henrique me impedissem de sair ou ser
amiga de alguém, eu não faria isso agora. Estávamos tentando
começar direito o nosso relacionamento, e esperava que nossas
brigas ficassem no passado.
Henrique parecia muito mais feliz hoje. Ontem ele pareceu estar
em um estado de tristeza que eu nunca tinha o visto antes. Fiquei
bastante preocupada, mas conseguia entender que para ele deveria
ser difícil lembrar-se de algo que considera ser sua culpa.
Claro que vim com uma peça, mas gostaria de ter trazido algo a
mais. Sou uma precavida e gosto de ter muito mais opções de
escolhas.
— Por mim você não precisa usar nada, aliás, essa propriedade
é privada, assim como a praia, mas também temos piscinas. —
Disse dando uma piscada e um sorriso malicioso.
— Por quê?
***
— Sabe que pode fugir hoje, mas quando voltarmos você terá
que enfrentar as pessoas, não é?
— Não importa o que ela diga, nada vai mudar o que sinto. A
não ser, é claro, que eu estrague tudo. — Senti a pontada de
preocupação em sua voz.
***
Eu não temia passar para o próximo nível, mas não podia mentir
que lá no fundo existia uma preocupação, mas não tinha relação
com isso.
Estando em um lugar assim, depois de duas taças de vinho e
tendo o meu corpo tão relaxado, era o clima perfeito. Além disso, o
cara em questão era lindo de morrer. Tinha um sorriso sedutor que
me deixava derretida, seus beijos se tornaram muito mais intensos e
existia a atração, muita atração.
Senti-me uma tola por ficar tão envergonhada por estar falando
sobre isso. Abracei o seu belo corpo que agora não tinha quase
nada cobrindo a pele e o beijei.
Eu não queria chegar e dizer a ele que queria fazer isso logo,
pois tinha medo de parecer uma depravada, mas eu também estava
querendo isso. Mais do que eu imaginava.
— Penso que já podemos entrar. — Falei encarando seus belos
olhos verdes.
Sim, eu estava feliz por muitas coisas, e para ser sincero, isso
me assustava. A sensação era de calmaria antes do desastre, e
rezava para que ela passasse longe de nós.
Na segunda a agência estava calada. O local era uma área
aberta com várias mesas e computadores onde todos trabalhavam.
Os escritórios ficavam ao redor desse espaço, e ao caminhar até a
minha sala, notei como todos estavam estranhos, como se tivessem
tido uma péssima noite de sono.
— Não será preciso, senhor, na verdade, foi a sua mãe que nos
convidou. — Ela explicou.
— Sei bem, mas até quando você vai ficar assim? — Disse ela
aproximando-se. — Já faz dez anos, Henrique, não pode odiar
festas por toda a vida.
— Querido…
— Por favor.
Não deixei abertura para que ela continuasse. Sabia que isso
também a deixava triste, mas não queria, novamente, relembrar
desse acidente, quando tudo estava indo tão bem.
— Você deveria pegar leve com a sua mãe. Sabe que ela só
quer te agradar. — Disse Serena que ainda estava na sala.
— Henrique, Catarina não faz por mal. Ela só pensa que assim
você pode deixar a sua fobia de comemorações e seguir em frente.
— Falou aproximando-se. — Sei que é difícil, pois se culpa pelo
acidente de Anna, porém, a vida não parou com a morte dela, e
acredito que não era isso que ela iria querer.
Esse era um território novo para mim. Eu não queria que nada
ficasse estranho entre nós e era exatamente assim que eu sentia as
coisas no momento.
Ela ficou feliz com o que falei. Achei estranho Elisabete falar que
Serena tem interesse em mim, pois nos conhecemos há anos e
nunca notei intenção alguma dela.
— Não sou tão rica quanto você, então escolhi algo mais
significativo. — Disse me entregando a sacola.
— Eu sou o robô?
Era óbvio que teríamos que nos suportar, porém ela não ajudaria
muito, já que Catarina parecia ser uma mulher bastante
preconceituosa com as pessoas de classe inferior.
Tive que conter o sorriso para que ela não visse quanto me
deixou feliz e animada. Era verdade que o homem tinha melhorado
muito, mas sabia que a qualquer momento poderia explodir.
— Fica calma, Judi, acredito que Henrique não volte a ser como
antes. Ele só é um homem estressado, mas se for rude com você,
não permita. — Disse segura de si. Quando cheguei aqui, também
passei pelo estágio de terror com o chefe, e continuaríamos
passando se eu não tomasse a atitude. — Sei que ele é o chefe, no
entanto, não deve baixar a cabeça para tudo.
Depois que ela foi embora, esperei mais alguns minutos para ir
ao escritório dele. Sabia que o chefe já estava em sua sala, no
entanto, assim que me aproximei ouvi uma voz feminina, que não
era de nenhuma funcionária da empresa.
Pelo que entendi, Rodolfo tinha a deixado para ficar com uma
morena de 25 anos, o que me deixou surpreso, já que ele parecia a
amar muito.
Acabei decidindo que iria até sua casa, assim não precisaria
recorrer a algo tão fácil quanto o celular.
***
Eu não sabia se sua irmã já estava em casa, pois sabia que ela
sempre estava em viagens. Sempre que nos encontrávamos,
Mariana gostava de ser irônica em relação ao nosso
relacionamento, mas agora que tudo era real, ainda não tínhamos
nos encontrado.
Elisabete
Eu nunca o convidei para vir até aqui, e achei sua vinda muito
estranha. Ele tinha me chamado para sair, e tive que recusar
bastante. Claro que Fábio era alguém engraçado e nossas
conversas muito interessantes, mas já sabia da rivalidade entre
eles.
— Tudo bem, você pode falar. Eu sei que está chateado. — Falei
abrindo passagem para que ele entrasse.
Uma coisa que me agradava nesse lugar era que não tínhamos
vizinhos fofoqueiros, mas era óbvio que se algum barraco
acontecesse na frente do apartamento, todos iriam falar.
— Planejei um jantar para nós, mas penso que não estou mais
no clima. — Falou desanimado.
Não queria que ele fosse embora. Não queria vê-lo triste. Tive
que pensar rápido e propor algo simples, mas que nos mantivesse
juntos.
Eu estava em um impasse.
— Não importa, não quero brigar com Henrique e nem quero ter
o “rival” dele me cercando. — Disse voltando ao quarto para me
arrumar.
***
— Sua irmã está certa, por isso convido as duas para um jantar
na minha casa hoje.
Uma coisa sobre a minha irmã que me irritava, ela não tinha
vergonha de ser indelicada, irritante e muitos outros adjetivos que a
fazia ser Mariana.
Por isso ela tinha muita disposição para trabalhar com turismo.
Sempre estava em festas e trilhas. Eu amava a minha irmã e sem
ela eu não teria conseguido me reerguer após cair de tão alto.
— Sabe, Elisa, eu temo muita coisa, mas não o que sinto por
você. — Falou retirando os óculos. — Tenho medo que você me
deixe, que outras pessoas nos separem e que eu estrague tudo com
os meus medos. — Eu gostava desse lado revelador dele, pois
conseguia vê-lo como alguém comum que se igualava a mim. —
Ainda acredito que não a mereço, pois é alguém incrível e que gosta
de mim mesmo eu sendo um completo idiota. — Achei graça dessa
parte e não contive o sorriso. — Porém, não vou deixar que todas as
inseguranças nos atrapalhe, eu não quero mais esconder o que
sinto por você e isso significa não esconder mais. Se alguém tiver
algo contra nós, não é problema nosso. Nem minha mãe, nem Fábio
conseguirão nos separar, Elisabete, eu não vou permitir.
Rimos muito com suas loucuras. Judi era a melhor pessoa desse
escritório. Ela era alegre, companheira e carinhosa. Lembrava-se de
todas as datas comemorativas e sempre estava disposta a ajudar a
todos.
Nunca senti o que sinto por ela, nem mesmo meu período com
Amanda me fez querer tanto alguém.
Nunca fui tão distante dos negócios como estava sendo agora. O
impressionante era que isso não me incomodava mais. O trabalho
sempre foi o que me distraía da vida solitária e me sentia bem
trabalhando e conseguindo meu prestígio nos negócios, porém,
minha vida não podia se resumir a isso. Eu desejava algo mais e
agora tinha isso.
Tudo que eu imaginava sobre Serena caiu por terra. Ela era uma
mulher linda e inteligente, porém, não poderia imaginar que fosse
tão… não sei nem o que dizer sobre a mulher.
Alguns meses atrás, ela poderia ter minha atenção sobre isso,
mas agora, depois que encontrei Elisabete, não era mais o que eu
desejava.
— Você a ama!
— Espera, o quê?!
— Era óbvio que você não iria querer alguém como ela, sem
experiência e que tinha uma boca tão suja. Sim, ela era bonita, mas
eu pensava que você teria tanta raiva da vadia que não olharia para
ela. — Sua revelação me chocou bastante e tive vontade de
expulsa-la da minha sala. — Cometi um erro. Claramente ela estava
de olho em outro cargo, o de sua amante.
Primeiro achei que pisei em cocô de vaca, para ser tão azarada
e ter rios de mulheres atrás do meu namorado, mas depois fui
invadida por um sentimento de orgulho e de alegria que nem podia
descrever.
Não demorou muito para que Henrique entrasse pela porta. Ele
estava claramente chateado, mas nem pude disfarçar o sorriso.
***
Claro que ele nunca falou essas palavras diretamente para mim,
e sabia que deveria ser difícil para o homem revelar tal coisa
quando ainda sentia um sentimento de desmerecimento dentro dele.
Minha Irmã nunca foi tão exagerada. Ela sempre sabia o que
vestir e sempre ficava linda.
— O amarelo.
— Claro.
Eu não queria discutir, por isso deixei para lá. Já bastava Serena
ter me provocado mais cedo, eu não poderia enlouquecer com as
maluquices da minha irmã.
***
— Ele discutiu com uma vaca que queria se engraçar para cima
dele.
— Jura?
— Mariana! — A chamei.
Capítulo 38 - Henrique
A noite começara estranha. Não bastasse ter me irritado no
trabalho e passado o dia pensando na loucura que Serena aprontou,
meu irmão voltou de Porto de galinhas e se convidando para a noite
que eu tinha planejado com Elisabete e Mariana.
Tive que conter o sorriso que iria dar ao ver meu irmão
apaixonado. Pensei que esse dia nuca chegaria, mas aqui estamos
nós, dois caras que se diziam anti-amor, agora malucos por duas
mulheres e o mais curioso era que essas mulheres eram irmãs.
Elisabete
Algo me dizia que isso tudo tinha a ver com Dominic Vilella, pois
antes de virmos para cá Mariana estava animada e assim que os
dois se viram, ela mudou completamente.
— O que Dominic fez com você para ficar dessa forma na frente
dele? — Questionei assim que entramos no banheiro. — E nem vem
disfarçar.
— Elisa, não surta. Era por isso que não quis te contar. — Disse
segurando minha mão.
— Muito pelo contrário, era justamente por isso que deveria ter
me dito. Essa mulher pensa que é uma deusa intocável que não
quer se juntar com pessoas tão simples como nós. — Disse de
punhos cerrados. — O que mais ela fez?
— Responda, Mariana!
— O quê?!
— Mas…
— Pelo que Henrique falou, seu irmão não vem até a cidade com
frequência e só pode ter acontecido algo para que o homem
aparecesse do nada em sua casa. Aposto que ele sabia que
viríamos até aqui hoje.
— Pensa que está aqui por minha causa?
— Não seja boba, irmã, o cara ficou o jantar inteiro do seu lado,
não parava de te olhar e não ligava para as suas provocações.
Sabia que era muita coincidência os dois terem algo, e sabia que
o destino, mais uma vez, estava brincando conosco.
Não era muito cedo, pois não queria chegar e ver a dondoca
acordando e sabia que ela era a típica ricaça que dormia até mais
tarde.
Vida de privilegiada.
Ela deu um sorriso que não saiu som algum. Dava para ver o
deboche em sua essência e isso me irritava cada vez mais.
— Cuidado, seu coração pode ser fraco e não quero que meu
namorado perca a mãe tão jovem. — Ironizei.
— Não quero ofende-la usando tal coisa, mas não vou permitir
que me separe do seu filho e nem minha irmã de Dominic. — Disse
me afastando. — Se isso acontecer, será porque decidimos isso por
si e não porque desaprova as mulheres que eles escolheram. Pode
nos odiar, porém, peço que não prejudique ainda mais os dois.
Catarina não disse mais nada e não fiquei para ouvir mais das
suas palavras de desaprovação.
Como eu disse, tudo estava bem e isso deveria ser bom para
mim. Contudo, lá no fundo, sentia que algo poderia acontecer a
qualquer momento.
Não era muito tarde e o calor não estava tão intenso. Pelo
menos não por fora. Eu ainda não estava acostumada a viver ao
lado de alguém que tinha praticamente tudo. Como poderia imaginar
que namoraria um homem que tinha casas de praia com área
particular?
— Vamos, diga.
— Ir onde?
Não pude dizer nada. Estava feliz por seu desejo de me ter ao
seu lado nessa festa, porém sabia que isso poderia gerar um
conflito entre eles e não desejo isso para Henrique.
***
***
Seu sorriso me fez sorrir. Era incrível o quão bonito ele ficava
quando isso acontecia.
Senti meu corpo ficar tenso assim que vi Catarina Vilella vindo
em nossa direção. Ela estava ao lado de um homem alto e muito
elegante, e pela semelhança física, mesmo sendo mais velho, se
reconhecia a herança genética dos filhos.
Dominic era bem mais difícil que eu. Depois que descobriu o que
nossa mãe fez, ele foi embora e passou muito tempo sem querer vê-
la.
Nosso pai não deu nenhuma palavra, mas como ainda tínhamos
que parecer uma família perfeita, ficamos todos juntos.
Eu tentava não odiar o meu pai, mas cada vez mais sentia que
minha decepção aumentava.
— Não vim aqui para brigar. — Disse respirando fundo para não
perder totalmente a minha cabeça. — E não quero ouvi-lo falar tais
coisas sobre a mulher que amo. Esperava ouvir isso da minha mãe,
mas você?
— Acredita que eu faria algo que fizesse meu filho sair daquela
forma?
***
— Onde estava?
Ele olhou para mim com os olhos escuros devido à luz. Via algo
diferente nele, algo que me fazia ficar sem ar.
— Preciso de você.
Foi inevitável não sentir a temperatura aumentar. Seus olhos
eram pura luxuria. Geralmente, Henrique era mais romântico,
apesar de também ver paixão em seu olhar, porém, sua urgência
em me beijar, me fazendo deitar no sofá, fez com que meu corpo
inteiro pegasse fogo.
Dei graças a Deus por Mariana não estar em casa, pois ela
estragaria esse momento tão aguardado.
Sabia que teria que melhorar bastante para ser a pessoa digna
que ela merecia, e isso não era um problema, pois faria aquilo que
pudesse para lhe dar toda a paz e felicidade que ela me dava,
apenas por existir em minha vida.
— Ok.
Elisa contou sobre uma conversa ontem com a minha mãe. Não
acreditava que Catarina algum dia iria ter uma conversa civilizada
com a minha namorada, porém, essa não foi a única coisa que me
surpreendeu.
***
Havia fatos que não foram me ditos antes sobre o acidente que
matou minha irmã. O pior era saber que minha mãe omitiu a
informação de que Anna, na verdade, estava vindo para a nossa
casa naquela noite.
Todo esse tempo pensei que, por minha causa, ela estava no
lugar errado e na hora errada, no entanto, saber que Marcos, por
sua imprudência causou aquele acidente, ascendeu uma raiva que
contive na época.
Pedi para que ela ficasse na empresa para que pudesse terminar
seu projeto. Eu tinha que pensar em tudo o que ouvira, antes de
conversar com minha família.
Se meu pai sabia o que realmente aconteceu, então por que ele
parecia me odiar tanto?
— O que aconteceu?
— O quê?!
Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Como podíamos
ser roubados?
Isso só poderia ser uma piada. Acredito que sou um ímã de azar.
***
Claro. A mulher deve ter ficado com raiva, por isso decidiu se
vingar, vendendo nossos esboços para outro.
Não podia pedir por alguém melhor, pois ele era perfeito para
mim.
Quando falei a nossa mãe sobre essa novidade, ela só faltou dar
uma festa e publicar no jornal. Querendo ou não, cidade pequena
rola muitos boatos, e sabíamos que as pessoas achavam muito
estranhas as atitudes da nossa caçula. O bom que nossa família
nunca se importou. A felicidade da mamãe era porque finalmente
Mariana se acalmaria no canto.
— Relaxa Mariana, sabe que você não é a única que ela vai
interrogar. — Falei virando-me para ela. — O fácil de tudo isso é que
os dois são da mesma família.
***
Era maluco pensar que Henrique era meu chefe e que nossa
história começou com uma mentira que nem sabíamos se
funcionaria. Agora estávamos dentro de uma sala enorme, com
pessoas apreciando nosso trabalho, e realmente nos amávamos.
— É bom ver que o casal perfeito está feliz. — Disse Fábio que
apareceu atrás de mim.
Foi difícil provar que foi Serena que roubou e fez copias do
nosso trabalho, pois não tínhamos provas concretas, porém eles
mesmos nos deram o que precisávamos.
Ela continuou sorrindo, porém não como antes. Sabia que estava
com raiva e eu adorava estar do lado certo.
— Obrigado, mãe.
***
Ainda não falei para Mariana e nem para ninguém que eu estava
procurando um apartamento para me mudar. Amava ficar com
minha irmã, mas sabia que eu tinha que buscar o meu canto.
Dominic estava sempre vindo para cá, pois não queria deixar de
ficar a seu lado momento nenhum. Eu achava isso muito fofo, e
sempre ia para a casa do meu namorado para deixá-los
confortáveis.
— O que exatamente?
Ainda não estava acostumada com tanta coisa boa que estava
acontecendo.
— Nunca fiz isso, e pensava que nunca faria, mas quero estar a
seu lado para o resta da vida, então sim, estou perguntando se quer
morar comigo.
Capítulo 45 — Henrique
Desde que conheci Elisabete, venho fazendo e sentindo coisas
que nunca senti ou fiz com ninguém. Eu ainda estava surpreso com
o fato da mulher me suportar e me amar, porque eu sabia que isso
era difícil.
Eu não fazia ideia de como ou o que essa mulher tinha para ser
tão especial, só sabia que tinha sorte por tê-la em minha vida.
Nunca quis morar com mais ninguém. Sabia que seria difícil ter
alguém constantemente me julgando e atrapalhando a minha vida,
no entanto, minha namorada não era esse tipo de pessoa.
Ela sabia das minhas manias, dos meus jeitos e respeitava tudo
isso, assim como aprendi a respeitar os dela. Talvez tenha sido isso
que eu esperava desde o início, e Anna estava certa em dizer que
existia uma pessoa específica para cada um de nós.
Abri a porta com o meu mais belo sorriso. Era a primeira vez que
eu via a mulher, mas não dava para se confundir.
— Você é que nunca vem até aqui e não aprecia o meu novo eu.
— Vocês não estão brigando, não é? — Perguntou Mariana.
— Digamos que meu irmão está preocupado com o que sua mãe
vai pensar dele. — Falei me divertindo com a sua situação.
Não pude deixar de rir com a situação. Parecia que a noite seria
muito divertida.
— Só foi um comentário.
— Acredito que minha filha teve sorte, não são muitos homens
que cozinham.
Pensei que deveria ser o meu vizinho mais próximo, mas ao abrir
a porta, quase tive um troço. Minha mãe estava com um sorriso de
orelha a orelha e nem pediu licença, foi entrando do nada.
Tive que pigarrear antes de falar qualquer coisa. Foi bem difícil
fazer minha mãe aceitar nossos relacionamentos, e apesar dela ter
melhorado o seu comportamento, eu não queria estragar essa noite.
— Mãe, não pode nos julgar, sabemos como você foi terrível
com Mariana e Elisabete no início. — Disse colocando a mão na
cintura.
Fiquei surpresa com o bom humor dele assim que abriu a porta.
Certamente Henrique queria passar uma boa impressão. Estávamos
na transição para morarmos juntos, e tudo isso parecia maluquice.
Não sabia que ela viria, e mesmo não tendo nada contra a
mulher, atualmente, sabia que ela já causou muita dor de cabeça
para mim e minha irmã no passado.
— Ela não tem toda a culpa, viu que minha mãe também não
ajudou muito. Fiquei surpresa por Catarina ser tão comportada e
simpática. — Falei ainda surpresa.
— Não sou eu, Elisa, é ele. Sempre que tento conversar, ele se
afasta. — Diz com amargura na voz. — Talvez ele me odeie pela
briga com Anna e isso não fará com que nós voltemos às boas.
Henrique
Sim, existia uma pessoa específica para cada um, pois se não
fosse isso, penso que não estaria tão ansioso para hoje.
Claro que hoje sou muito mais forte e decidido do que há três
anos atrás.
— Tudo está tão bonito, e olha para mim com essas muletas.
Ainda era difícil para ele aceitar a sua nova condição, e nós
teríamos que o ajudar nisso.
— Você não vai estragar nada. Olha para você, está bonitão com
essa roupa. As suas muletas não tiram o seu charme. — Falei
tentando anima-lo.
— É cara, você não pode ficar triste hoje. — Disse meu irmão
me ajudando.
Elisabete
***
— Viu como ele ficou feliz. — Falou Henrique que estava ao meu
lado na mesa. Ele se referia a Lucas, que dançava com as nossas
mães. Ele era um garoto especial, e quando meu marido falou sobre
seu desejo em adota-lo confesso que me emocionei. Nunca pensei
que o homem que conheci iria gostar tanto de se tornar pai, porém,
a interação entre eles fluiu tão naturalmente que era como se ele
tivesse nascido para isso. — Fico feliz em vê-lo tão contente.
Não tinha como não me sentir emocionada com tudo o que ele
falou. Henrique sabia como mexer com as minhas emoções e fazia
isso com maestria.
— Não sei se vai dar para ir. Não me sinto bem. — Falei
levantando-me.
Foi impossível não rir. Henrique tinha bom humor quando queria
e estava aprendendo a fazer piadas com as coisas.
— Olha, vou te dar uma coisa, mas não exagera e toma logo.
Não quero ter que lembrar desse dia por outro motivo. — Falou me
entregando uma pequena garrafa prata.
Não sabia se era uma boa ideia, mas tomei o que ele me deu.
Era forte e amargo. Nunca tomei essa coisa, só cerveja. O liquido
desceu queimando.
Ele estava certo. Meu corpo sentiu menos peso depois desse
gole. Ainda sentia medo de falar besteira em cima do palco, mas
meu cérebro estava aproveitando mais a premiação do que antes.
Henrique
***
Quando Mariana abriu a porta, ela ainda estava rindo. E sua irmã
me olhando estranho.
A noite foi muito divertida, graças a ela. Parece que sempre que
Elisabete bebia, seu filtro sumia e ela falava o que dava vontade.
Pelo menos não tivemos um natal chato, como sempre.
Não demorou muito para que ela caísse no sono. Sabia que a
culpa era minha e esperava que seu amor por mim fosse maior que
seu ódio amanhã.
— O que aconteceu?
Ela não estava de bom humor, mas tentei amenizar tudo com um
beijo em seu rosto.
— Claro que não. Além disso, você não falou tanta besteira, só
coisas leves, e todos te adoraram.