Você está na página 1de 30

Bárbara D. C.

Souto e Michel Lima Marques


Números de matrícula: 2100013630 e 200042033

UM BREVE ENSAIO DAS RELAÇÕES ENTRE:


A ARMADILHA DA RENDA MÉDIA E A IMIGRAÇÃO NA ARGENTINA E
BRASIL

Artigo apresentado ao Programa de Pós-Graduação em


Estudos Comparados sobre as Américas, do Departamento
de Estudos Latino-americanos, do Instituto de Ciências
Sociais da Universidade de Brasília, como requisito parcial
para a aprovação na disciplina Políticas e Estados nas
Américas.

Orientadores: Profa. Dra. Lia Zanotta Machado


Prof. Dr. Moises Villamil Balestro
Prof. Dr. Camilo Negri

BRASÍLIA, 2021
RESUMO

O artigo busca encontrar uma relação, mesmo que incipiente, entre a armadilha da renda
média e as migrações na Argentina e Brasil. Sabe-se que países que se encontram na
armadilha da renda média, conceito que será explorado neste artigo, atingem
determinados patamares intermediários de renda, porém estagnam e não conseguem
atingir níveis de desenvolvimento e bem-estar social similares ao de países
desenvolvidos. Os países de renda média se caracterizam em explorar recursos naturais,
itens de baixo valor agregado e venda de commodities em geral, diferenciando-se de
países que emergem da renda média, e alcançam um desenvolvimento por meio da
produção de itens de alto valor agregado oriundos de investimentos em Ciência,
Tecnologia e Inovação (CT&I), educação e conhecimento, proporcionando a ampliação
do bem-estar social a diversas estratificações sociais desse Estado. Nesse contexto,
fenômenos políticos e socioeconômicos estão relacionados, e diversas vulnerabilidades e
desigualdades sociais, latentes e manifestas, podem ser agravadas, como é o caso dos
imigrantes, foco do estudo. Assim, o artigo objetiva explorar variáveis que se conectam
e se relacionam com as migrações nesses dois países, tendo como hipótese que a
estagnação da renda média pode não favorecer à imigração, considerando fortes disputas
entre nacionais e imigrantes na economia formal e informal. Adicionalmente, vertentes
políticas e ideológicas podem favorecer ou desestimular a imigração, dificultando o
alcance de bem-estar social e conquista de valores de autoexpressão, incluídos os
imigrantes. Como exemplo, pode ser citado o populismo que propicia um ambiente com
sentimentos nacionalistas, exacerbando vulnerabilidades aos imigrantes. O trabalho
utilizará enquanto metodologia a pesquisa bibliográfica sobre as temáticas e empregará
análises quantitativas e qualitativas de dados oriundos das plataformas World Bank,
IPEA, World Values Survey, Latinobarometro e outras, para analisar as questões
supracitadas de Argentina e Brasil.

Palavras-chave: renda média, populismo, migrantes e bem-estar social.


ABSTRACT

The article aims to find a correlation, even if incipient, between the average income trap
and migration in Argentina and Brazil. It is known that countries that find themselves in
the middle income trap, a concept that will be explored in this article, reach certain
intermediate income levels, but stagnate and cannot achieve levels of development and
social welfare similar to those of developed countries. Middle-income countries are
characterized by the exploitation of natural resources, low value-added items, and the sale
of commodities in general, differentiating themselves from countries that emerge from
middle-income, and achieve development through the production of high value-added
items derived from investments in Science, Technology and Innovation (ST&I),
education, and knowledge, providing the expansion of social welfare to various social
stratifications of this state. In this context, political and socioeconomic phenomena are
related, and several vulnerabilities and social inequalities, latent and manifest, can be
aggravated, as is the case of immigrants, the focus of this study. Thus, the article aims to
explore the variables that are connected and related to migration in these two countries,
having as a hypothesis that the stagnation of middle income may not favor immigration,
considering strong disputes between nationals and immigrants in the formal and informal
economy. Additionally, political and ideological trends can favor or discourage
immigration, impeding the achievement of social well-being and the development of self-
expression values, including immigrants. As an example, we can cite populism, which
provides an environment with nationalistic feelings, exacerbating the vulnerabilities of
immigrants. The work will use as methodology the bibliographical research on the themes
and will use quantitative and qualitative analysis of data from the platforms World Bank,
IPEA, World Values Survey, Latinobarometro and others, to analyze the above-
mentioned issues in Argentina and Brazil.

Keywords: middle income, populism, migrants and social welfare.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 5
1 CONCEITO DA “ARMADILHA DA RENDA MÉDIA”............................................ 7
1.1 Breve análise dos contextos brasileiro e argentino em relação à renda média .. 9
1.2 Possíveis desdobramentos entre a renda média e a política .................................. 15
2 O CENÁRIO DAS IMIGRAÇÕES NO BRASIL E NA ARGENTINA .................... 18
CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 27
5

INTRODUÇÃO

Tal como nas Ciências da Natureza, mais precisamente no campo da física


mecânica quântica, em que partículas e subpartículas ficam aprisionadas em poços
quânticos e lá permanecem se não houver uma energia suficiente, a elas aplicadas, para
emergirem desses poços, são observadas similaridades com o fenômeno da “armadilha
da renda média” (MIT, conforme a sigla em inglês middle-income trap), conceito advindo
da economia política em Ciências Humanas, em que países em desenvolvimento atingem
níveis de renda intermediários e depois ficam estagnados como o comportamento
aproximado de um reta constante, e em referência ao supracitado poço não avançam para
níveis de renda similares ao de países desenvolvidos (PAUS, 2017; GLAWE, WAGNER,
2016). Tal conceito possui relação com aspectos políticos e sociais importantes, que serão
explorados no artigo.

Esse cenário tem causado instigação aos cientistas sociais e economistas políticos
sobre quais motivos inviabilizam o crescimento socioeconômico contínuo desses países,
a fim de alcançar patamares de renda alta, e proporcionar o aumento do bem-estar social
e econômico às diversas classes sociais, com melhorias na distribuição de renda e dos
indicadores sociais. A economista Eva Paus pesquisou a temática e apresenta alguns
motivos pelo qual os países de renda média ficam aprisionados:

A armadilha da renda média é compreendida como uma situação na qual um


país de renda média não pode mais competir globalmente em commodities
padronizadas porque há dificuldades para manter mão de obra com salários
relativamente altos e também não pode competir em atividades de maior valor
agregado em ampla escala porque a produtividade é baixa. (PAUS, 2017, p. 1,
tradução nossa).

O conceito de “armadilha da renda média” será utilizado como pano de fundo para
a discussão aqui proposta, ao refletir sobre possíveis relações entre a desaceleração do
crescimento econômico e seus possíveis efeitos nas questões migratórias de um país. A
inquietação motivante deste artigo é: a situação de um país imerso na renda média por
longo período desencadeia ambientes desfavoráveis a questões imigratórias? E quais são
as implicações da renda média no Brasil e Argentina no tocante à efetiva absorção de
imigrantes nesses Estados?
No contexto de renda média, é possível identificar países que já estiveram na renda
média e emergiram para a renda alta, como por exemplo, Irlanda, Israel e os tigres
asiáticos como Coreia do Sul, Taiwan e Singapura. Nesses casos, é possível identificar
6

que há fatores de investimentos e ações comuns para a ascensão econômica com


implicações sociais: “nossa análise oferece indícios de como esses países criaram
sociedades baseadas na produção de conhecimento, ou learning societies, e apresenta
uma visão multidimensional do deslocamento dos países rumo a economias mais
complexas” (ZAGATO, GALA, PINHEIRO e HARTMANN, p. 3, 2018, grifo nosso).
Contudo, muitos países permanecem por longos períodos na “armadilha da renda média”,
com ênfase para a região da América Latina e Ásia (GLAWE, WAGNER, 2016).
Ainda na analogia com as ciências naturais, “a energia” que os países de renda
média precisam ser submetidos é apontada, por exemplo, para o aumento de capacidades
produtivas por meio de tecnologia e inovação, que serão catalisadas por incentivos
governamentais às agências de fomento de pesquisa e parcerias público-privadas com
gestão eficaz, bem como por investimentos eficazes em educação.
E que relação deve possuir a armadilha da renda média com a imigração e com a
política em geral? Sabe-se que as estruturas políticas estão intrinsecamente relacionadas
ao desenvolvimento de um país, e determinadas ideologias políticas tendem a criar
ambientes que não favorem à imigração, como o caso do populismo que se relaciona
diretamente a nacionalistas extremistas.
Desprende-se de Eatwell e Goodwin (2017) que muitos estudiosos e críticos citam
o populismo como uma forma singular de obter e competir por espaços de poder e se
caracteriza, normalmente, por um líder que elenca inimigos como grupos minoritários e,
especial para este artigo, os imigrantes. Tais líderes surgem enquanto figuras
carismáticas, que se intitulam representantes das massas, e podem propagar teorias
conspiratórias que atuam contra o equilíbrio e o status quo das instituições e do Estado
como um todo, como por exemplo, discursos que colocam os imigrantes enquanto
oponentes do povo.
Tais estudos indicam que há populismos mais radicais e outros mais atenuados.
Entretanto, entre eles sempre haverá pontos de intersecção no tocante às estratégias
adotadas para as políticas econômicas e sociais. É importante ressaltar que o populismo
globalmente incorpora formatos tanto na direita quanto na esquerda e por vezes até
políticos não definidos como populistas tangenciam e absorvem características de um
líder populista.
O fato é que se houver uma influência da armadilha da renda média sobre a
questão migratória, isso pode ser potencializado por determinadas características políticas
e ideológicas, como o populismo, por exemplo. Sendo assim, esse artigo busca explorar
7

possíveis relações entre renda média e a imigração, e considerando orientações políticas


como pano de fundo que podem corroborar ou não para a consolidação de cenários
nacionais favoráveis aos imigrantes. Considera-se a relevância da temática, e sua extrema
importância na geopolítica contemporânea, ao observar o histórico das diversas
migrações globais no momento atual e seu crescimento.
Com ênfase sobre os movimentos migratórios no continente americano, pode-se
citar o caso dos haitianos, venezuelanos e sírios no Brasil, e a quantidade significativa de
estrangeiros latinos residindo na Argentina, conforme o gráfico 4 deste trabalho e
contextualização. Sendo assim, com a finalidade de obter respostas para a inquietação
apresentada, serão analisados os casos de Argentina e Brasil, por meio da busca de dados
e informações em plataformas de pesquisa para a compreensão e caracterização sobre tais
variáveis nos países estudados.

1 CONCEITO DA “ARMADILHA DA RENDA MÉDIA”

É possível observar o crescimento dos estudos sobre o fenômeno intitulado


“armadilha da renda média” nas últimas duas décadas principalmente, a fim de analisar a
evolução dos países em relação ao desenvolvimento econômico e social nos últimos anos,
e a transição entre as rendas média e alta. Uma revisão bibliográfica realizada por Glawe
e Wagner (2016) indica a utilização de metodologias e bases de dados diferenciadas,
utilizando-se principalmente de informações provenientes de variáveis como a renda per
capita e o Produto Interno Bruto (PIB).

As pesquisas analisadas buscam identificar os principais motivos que aprisionam


os países na renda média. Adicionalmente, foram desenvolvidos critérios para a
mensuração e diferenciação entre os países nesse aspecto, e as análises consideram o
período aproximado de 50 anos de um país na faixa da renda média para sua classificação
enquanto MIT.

Conforme Done e Schneider (2015, p.3), e dados do Banco Mundial, de cento e


um países que estavam na renda média em 1960, apenas 13 conseguiram transpor a
barreira e ingressaram num patamar de renda elevada, o que evidencia a complexidade
para essa transição. Sabe-se que países que emergiram da renda média tiveram
investimentos em conhecimento, tecnologias, ciência, educação em geral e
principalmente inovação, e alguns possuem históricos de desenvolvimento similares.
8

Nesse sentido, é importante ressaltar, que são necessários ajustes políticos e


institucionais que possibilitem tal transição, focadas no crescimento econômico a longo
prazo e estratégias sustentáveis. Adicionalmente, os fatores que geram o crescimento em
países de baixa renda, uma vez alcançada a renda média, não necessariamente serão
aqueles que irão facilitar o alcance da renda alta.

O contexto torna-se mais desafiador e complexo, já que é necessário implementar


um crescimento orientado pela inovação e mudanças estruturais, como por exemplo a
realocação de capital e mão de obra para setores industriais mais produtivos (GLAWE,
WAGNER, 2016). Consequentemente, é requerida a especialização e a obtenção de novas
habilidades a partir do capital humano, o acesso a infraestrutura e tecnologias, e reformas
intrinsecamente relacionadas às transformações produtivas de determinada sociedade,
como observa-se abaixo:

O avanço de capacidades produtivas leva tempo. Com um foco explícito na


transformação estrutural e no acúmulo necessário de capacidades para
alcançá-lo e sustentá-lo, a “mudança estrutural com aprendizagem” destaca
que a convergência de renda será temporária, a menos que seja baseada em
convergência de capacidades [...] Por sua própria natureza, um país de renda
média tem capacidades de inovação limitadas. (PAUS, 2017, p. 3, tradução
nossa, grifo nosso).

Por outro lado, conclui-se da leitura de Paus (2017) que essas capacidades
limitadas, citadas acima, tornam desafiante para um país recuperar o atraso no contexto
global atual, em virtude das pressões competitivas e o rápido e expressivo aumento das
mudanças tecnológicas, oriundas de potências, entre as quais cita-se a República Popular
da China. A atuação dessa potência, por um lado, é um fator importante para analisar o
rompimento do MIT, mas por outro, um dificultador, se considerado o acirrado cenário
de competição do mercado mundial para os países que ainda se encontram na renda
média.

Nesse âmbito, o aprimoramento de capacidades institucionais é, estrategicamente,


um ponto de inflexão para os países, na expectativa de emersão da renda média. Tais
capacidades estão relacionadas a diversos aspectos, desde a educação em todos os níveis
(básico, técnico e superior) a infraestruturas em geral do setor produtivo, com apoio do
Estado e coalizões com o setor privado e sociedade, a fim de haver produção baseada no
conhecimento e na sustentabilidade econômica. Há um consenso na literatura de que para
o país romper a barreira da renda média, são necessários investimentos em educação,
pesquisa e desenvolvimento, para que possam seguir trajetórias de países como Coreia do
9

Sul e Singapura, os quais realizaram as reformas necessárias para aumento de


capacidades. Sobre isso, o trecho abaixo corrobora:

Esta Seção concentra-se em duas dessas áreas de reforma intensivas em


instituições, essenciais para aumentar a produtividade: educação (capital
humano) e investimento em P&D. Estes estão, por um bom motivo,
geralmente no topo das prioridades políticas identificadas por estudos
econômicos da armadilha. (DONER, SCHNEIDER, 2015, p. 9, tradução
nossa, grifo nosso).

Enquanto o país continua na renda média, é natural que demandas de todas as


ordens, sejam sociais, econômicas, de direitos individuais e coletivos, fiquem reprimidas
e daí surjam diversas mazelas para um determinado Estado num horizonte temporal,
inclusive, que implique em ambientes hostis para imigrantes. Nesse aspecto, serão
apresentadas análises sobre o Brasil e Argentina a seguir.

1.1 Breve análise dos contextos brasileiro e argentino em relação à renda média

O Brasil é um país de dimensão continental, ator importante na geopolítica da


América do Sul, com economia forte e muitas riquezas naturais, figurando com
frequência entre as dez maiores economias, sendo a oitava até 2018 (FUNAG, 2020) e
que apesar de suas diversas desigualdades socioeconômicas, sempre teve o ingresso e a
absorção de imigrantes.
Com base nos dados do IPEADATA (2021), observa-se que o Brasil vive um
declínio econômico nos últimos anos, com destaque para o ano de 2015 em que
apresentou a maior baixa do PIB, considerando os dados disponíveis até 2019. Dentre
alguns aspectos identificados como possíveis causas para esta conjuntura estão: o fim do
ciclo do boom de commodities internacionais em 2014, os efeitos prolongados dos
desdobramentos da recessão global de 2008 e 2009, assim como a situação fiscal no país
nesse período de crise econômica. Ao considerar aspectos estruturais da economia
brasileira, identifica-se que o país também apresenta baixas taxas de investimentos
quando comparadas a outras economias emergentes, como Chile e China, conforme os
dados do Banco Mundial (2021) em relação à formação bruta de capita. Logo, o baixo
nível de investimento gera um ciclo vicioso de baixa inovação, competitividade e
produtividade, e, por conseguinte, influencia negativamente o crescimento econômico.
Somado a isso, segundo os dados do CEPALSTAT (2021), é possível observar
que a maior parte das exportações no Brasil são compostas de commodities primárias, que
passaram de 61,9% em 2015 para 66,6% em 2019, bem como um déficit externo em
10

produtos mais elaborados (bens de capital, refino de petróleo, produtos químicos


elaborados, farmacêuticos, materiais e componentes eletrônicos). Os dados supracitados
apontam características relacionadas ao cenário da renda média no Brasil.
Agrega-se ao contexto econômico dos últimos anos, a crise econômica, social e
sanitária desencadeada pela pandemia global da COVID 19 em 2020, o que pode
intensificar o mercado da informalidade e a predominância de atividades em setores de
baixa produtividade, bem como a fragilidade das relações de trabalho (IPEA, 2021).

A Argentina, país que possui potencial em diversas áreas. Mas, convive com
diversos problemas sociais e econômicos, conforme apontado abaixo:
“Inflação, recessão econômica, dívida externa, empréstimos internacionais e
desvalorização da moeda são termos comuns para os argentinos. A dolorosa
experiência com a crise econômica que enfrentou este grande país sul-
americano no início deste século colocou à prova a capacidade de
sobrevivência social e econômica, bem como o nível de confiança em
instituições políticas internas e instituições financeiras”. (MINOR, LOPEZ,
p. 484, 2021, grifo nosso).

Conforme Santarcángelo (2019), a Argentina vivenciou a abertura do comércio


exterior, processo de desindustrialização, e a hegemonia financeira a partir de 1976, com
o advento da Ditadura Militar. A partir de meados da década de 80, no período de
redemocratização, o país ainda se configurava-se com baixos salários, e enormes desafios
econômicos, que culminou numa grande crise econômica e social em 2001, a partir do
declínio do PIB, privatização de grandes empresas, endividamento do Estado e
liberalização econômica.
Nos anos seguintes, o cenário tornou-se mais favorável, devido principalmente a
tendência global, o aumento de exportação de bens primários e mudanças na orientação
política do país. Tais estratégias políticas visavam à industrialização por substituição das
importações, o estímulo ao mercado interno consumidos, e como consequências a
restauração dos salários da população argentina e a busca por liquidação da dívida externa
do país.
Ainda de Santarcángelo (2019), considera-se que a economia argentina cresceu
consideravelmente entre os anos de 2003 a 2007, período em que foram implementadas
transformações produtivas significativas, a fim de potencializar o setor manufatureiro.
Contudo, em 2008, o crescimento anual da economia que já se encontrava em redução,
foi acentuado com o aumento da inflação e a crise mundial. A baixa demanda global por
importações e ao mesmo tempo o aumento de importações por parte da Argentina,
expuseram o setor manufatureiro a crises desafiadoras, em um movimento pendular entre
11

avanços e retrocessos. Apesar da recuperação econômica que atingiu seu ápice em 2012,
com o crescimento do PIB, o cenário de recessão retornou nos anos posteriores e foi
agravado em 2017 com o governo de Macri, com um grande déficit industrial no país.
Quando se analisa os dois países latinos, percebe-se diferenças de posturas na
orientação da política econômica, de acordo com o trecho abaixo.
Durante a década de 2000, enquanto os dois países compartilharam uma maior
convicção sobre a necessidade de intervenções ativas de desenvolvimento
produtivo, observa-se uma diferença na orientação da política econômica: O
Brasil tem dado maior ênfase aos aspectos microeconômicos, voltados para
competitividade de sua indústria e de seus setores estratégicos, como pode ser
visto em programas implementados ao longo da década; Enquanto isso, a
Argentina baseou sua política de competitividade mais nos aspectos
macroeconômicos, por meio políticas para expandir a demanda e sustentar uma
taxa de câmbio real estável e competitivo. (BEKERMAN, DALMASSO,
p.167, 2014, tradução nossa).

Contudo, apesar das diferentes estratégias políticas e econômicas adotadas, é


possível identificar, através dos dados supramencionados, e a partir da literatura
disponível, que os dois países se encontram na situação de renda média há decadas. Os
esforços implementados ainda não foram eficazmente suficientes para proporcionar a
mudança em relação a esse cenário, sendo que as recessões econômicas de alguns
períodos consomem os avanços obtidos em outros.
Da leitura de Salama (2020) e Santarcángelo (2019), há algumas explicações
plausíveis para muitos países permanecerem na renda média como desindustrialização,
volatilidade econômica, crises econômicas, aberturas de economias forçadas e precoce
por vezes, problemas com o câmbio, dependência externa, baixo crescimento etc. Mas,
especificamente, por que alguns países com potenciais explícitos, como Argentina e o
Brasil, não saem da renda média?
Nesse sentido, políticas industriais em geral são primordiais para a mudança de
cenário. No Brasil, em particular, havia a expectativa do estabelecimento de políticas que
realmente impulsionassem o crescimento industrial, basta um breve passeio pela história
em alguns marcos temporais, como na metade das décadas de 1950 a 1970. O professor
Henrique Rattner, sociólogo e economista político, trazia ideias relevantes sobre Política
industrial e tecnológica na década de 1980:
Quanto à orientação do processo de industrialização e à formulação de diretrizes
que influem na configuração da estrutura industrial brasileira, o Estado
proporcionou amplo apoio à indústria, sem definir, todavia, a direção deste
crescimento mediante o estabelecimento de prioridades. (RATTNER, 1984, p.
8).

Nos países da América Latina, dada a debilidade relativa das empresas nacionais
e as dificuldades que enfrentam para financiar sua própria expansão, as
12

entidades financeiras estatais tornaram-se fonte principal de recursos para suprir


capital a longo prazo e, geralmente, a taxas negativas, para a indústria.
(RATTNER, 1984, p. 10).

Mas conforme Pietrobelli e Devlin (2016), apesar dos esforços de Governança


para promoção de Políticas de produtividade na América Latina nas últimas décadas,
crises e outros fatores não permitiram um sucesso conforme os planejamentos, nesse
aspecto, incluídos Brasil e Argentina. Dessa forma, pode-se afirmar que as políticas de
produtividade sempre foram temáticas importantes para se prospectar o desenvolvimento.
Com base nos textos que apresentam importantes indícios sobre a renda média e
alta, abaixo serão brevemente analisados e comparados possíveis fatores relacionados à
renda média no Brasil e Argentina.
Inicialmente, é possível observar no Gráfico 1 o comparativo sobre exportações
de manufaturas de alta tecnologia envolvendo os dois países latinos, e a Coreia do Sul
que é considerada como emergente da renda média, e que apresenta sua maior
expressividade na porcentagem de exportações:

Gráfico 1 - % de manufaturas na exportação de alta


tecnologia dos países Argentina, Brasil e Coreia do Sul
40
35
30
25
20
15
10
5
0
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019

ARG KOR BRA

Fonte: Banco Mundial. Elaboração dos autores.

Comparar parâmetros entre países que emergiram e os que continuam na renda


média, possibilita analisar indicadores e diferenças entre os países, e ampliar a
compreensão sobre o fenômeno da renda média. Para além do investimento em
tecnologia, conforme Paus (2017), Scheneider e Done (2015), e Perez e Espinosa (2020),
os investimentos em educação são pressupostos para superar a situação de renda média,
alcançar o desenvolvimento sustentável, e também representam um parâmetro importante
para o aprimoramento de capacidades. Isso engloba o aspecto social em que é inserido o
tema imigração.
13

Os gráficos em seguida apresentam a porcentagem de pessoas graduadas em


algumas áreas do nível superior, e ilustram a discrepância entre os três países
supramencionados. É importante ressaltar que o número estimado de habitantes entre a
Argentina e a Coréia do Sul em 2020, segundo o Banco Mundial1, é respectivamente
45,38 milhões de pessoas e 51,70 milhões de pessoas. Já o Brasil possui a população três
vezes maior, com aproximadamente 212,6 milhões de pessoas, o que evidencia
proporcionalmente os desafios experienciados.

Em relação aos campos de conhecimentos analisados nos gráficos, as ciências e


tecnologias são áreas que se relacionam ao desenvolvimento industrial, econômico, entre
outros. As ciências humanas são fundamentais para a defesa e promoção dos direitos
individuais e coletivos, e a elaboração de políticas públicas abrangentes. As áreas do saber
são complementares para o desenvolvimento sustentável de um país, e conforme
observado nos dados apresentados, é impossível lograr êxito sem uma valorização à
educação, o que influenciará diretamente as questões migratórias também. Há
deficiências nítidas nos países latinos conforme informações abaixo quando comparados
com o asiático que emergiu da renda média.

Gráfico 2 - % de graduados do ensino superior


concludentes de programas de Artes e
Humanidades, ambos os sexos
20

10

0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2014 2015

ARG BRA KOR

Fonte: Banco Mundial. Elaboração dos autores.

1
Disponível em: < https://datatopics.worldbank.org/world-development-
indicators/themes/people.html#population >. Acesso em 16 de out. 2021.
14

Gráfico 3 - % de graduados em áreas de engenharias,


matemática e ciências em geral
40
30
20
10
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2014 2015 2016 2017 2018

ARG BRA KOR

Fonte: Banco Mundial. Elaboração dos autores.

A fragilidade educacional dos países latino-americanos por décadas acarreta fortes


implicações em sua economia, já que para haver desenvolvimento, faz-se necessária a
qualificação de seus cidadãos e estrangeiros neles residentes em diversas áreas de acordo
com a Teoria das Inteligências Múltiplas de GARDEN, que envolve um conjunto de áreas
e habilidades de conhecimento, as quais estão contidas nos gráficos acima.

Segundo Silva, Melo, Araújo (2017 apud RICUPERO, 2007), ao analisar


comparativamente os processos de industrialização, e utilizando como subsídios os
relatórios da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento
(UNCTAD, conforme sigla em inglês) há a indicação de que países como Taiwan e Coréia
do Sul atingiram o crescimento da produção industrial, a expansão de empregos no setor
industrial e o aumento de exportação manufatureira. Por isso são reconhecidos por obter
um desenvolvimento industrial estável e significativo, com uma rápida acumulação de
capital e consequente emersão da renda média.

Já o Brasil e a Argentina são caracterizados pela estagnação dos processos de


industrialização, e o não desenvolvimento dos setores de alta tecnologia. Contudo, os
autores ressaltam as diferenças históricas observadas entre os países da América Latina e
do Leste Asiático:

Países grandes (Argentina, Brasil e Chile) que fazem parte do grupo da América
Latina não apresentam aumento de produtividade, dinamismo em
industrialização ou mudança estrutural, enquanto grande parte das economias
do Leste Asiático encontra-se em vários estágios de industrialização exitosas.
Para o autor, permanecem os resquícios da crise da dívida dos anos oitenta,
acontecimento que fez com que os latino-americanos adotassem drásticas
mudanças de política econômica na intenção de reduzir níveis de endividamento
e controlar inflações que potencialmente poderiam se tornar hiperinflações.
Essas reformas não conseguiram que os níveis de investimentos retornassem aos
patamares pré-crise (...) acrescenta que a debilidade econômica e a instabilidade
das taxas de juros e de câmbio não garantiram condições suficientes para que as
economias da América Latina se preparassem para o “choque de competição”
15

causado pela liberalização comercial e financeira da época. (SILVA, MELO,


ARAÚJO, 2017, p.26).

Conforme contextualização, a situação de renda média prolongada num país está


relacionada a diversos aspectos históricos, econômicos e políticos, que podem favorecer
ou prejudicar questões migratórias. Contudo, reconhecendo que as questões econômicas
e de desenvolvimento de um país alinham-se em grande medida às orientações políticas,
é também importante refletir sobre essa nuance, em consonância com os aspectos
migratórios.

1.2 Possíveis desdobramentos entre a renda média e a política

As orientações políticas relacionam-se às questões econômicas dos países, visto


que os governos de diferentes concepções irão adotar políticas que influenciam o
desenvolvimento econômico, como por exemplo o aumento ou diminuição de
investimentos em áreas estratégicas (educação, tecnologia, setor manufatureiro), que
possibilitarão a aceleração ou recessão da industrialização de um determinado país. Há
que se elencar ainda as relações estabelecidas com o comércio exterior, como a sua maior
abertura ou não para exportações, a dependência externa, a política de relacionamento
adotada com os países, enfim, são diversos os aspectos vinculados.
Nesse sentido, a teoria apresentada por Inglehart e Wilzel (2009) traz a noção de
que a consolidação da democracia pode-se relacionar ao desenvolvimento
socioeconômico e do estado de bem-estar, já que na medida que as ameaças existenciais
são reduzidas, amplia-se a liberdade de escolha humana e as oportunidades, e a população
transita dos valores de sobrevivência para os valores de autoexpressão. Embora existam
teorias que discordem com a relação proposta entre democracia e desenvolvimento
socioeconômico.
Os altos níveis de individualismo acompanham elevados níveis de autonomia e
autoexpressão, pois a democracia configura-se como o resultado de um processo mais
amplo do desenvolvimento humano e diminuição das restrições da escolha humana, sejam
elas culturais, cognitivas ou sociais. Ou seja: “a ênfase subjetiva na liberdade humana
aumenta na medida em que as restrições objetivas às escolhas autônomas diminuem”
(INGLEHART e WILZEL, p. 183, 2009). Espera-se que a ascensão de orientações
vinculadas à emancipação social e autonomia, se desdobre em relações sociais
antidiscriminatórias, com a centralidade do desenvolvimento nas pessoas.
16

Sendo assim, a partir dessa teoria, à medida que um país se desenvolve, os valores
de autoexpressão são viabilizados nessa sociedade, haja vista que os valores de
sobrevivência já estão adquiridos, significando uma evolução na pirâmide de Maslow, da
Teoria da Administração, conforme Chiavenato (2006).

Fig 1. Hierarquia das necessidades conforme Maslow.

Fonte: Teoria Geral da Administração de Idalberto Chiavenato (2004, p. 331).

Com base nessa teoria, supõe-se que imigrantes tendem a se beneficiar conforme
os países emergem da renda média, haja vista que as necessidades básicas serão atingidas
com mais facilidade, para em seguida usufruir de direitos relacionados aos valores de
autoexpressão na fase pós materialista, de acordo com Inglehart e Wilzel (2009).

Logo, nesse raciocínio o desenvolvimento socioeconômico é fator crucial para o


desenvolvimento social, e a promoção de segurança existencial, que guarda estreita
relação com os indicadores de satisfação de uma sociedade. Considerando a tese de
Maslow em que a autoexpressão é considerada uma necessidade inerente dos indivíduos,
e influencia os sentimentos de autoexpressão, a autonomia individual relaciona-se às
percepções de bem-estar social. Tal argumento foi analisado a partir da denominada
World Values Survey (WVS, conforme a sigla em inglês), realizadas em mais de 70
sociedades diferentes, em que é identificada uma significativa correlação entre a
satisfação com a vida e a percepção das pessoas ao terem livre escolha. Já foram
realizadas 7 ondas do WVS, sendo que o Brasil e a Argentina foram pesquisados na
maioria desses períodos, incluindo a sétima onda da pesquisa efetuada, entre 2017 a 2020.
Conforme Inglhehart e Norris (2019) ao buscar relações com a teoria da
“armadilha da renda média” e quais os valores predominantes nestas sociedades, se de
autoexpressão ou de sobrevivência, observa-se que os países aprisionados na renda média
apresentam ainda elevados níveis de desigualdades sociais, acompanhadas de diversas
restrições à escolha humana. O que levaria ao entendimento, que também estão na
17

transição entre os valores de sobrevivência, para aqueles de autoexpressão, em que a


sociedade poderia alcançar níveis medianos de satisfação com a vida, mas diversas
camadas sociais ainda vivem sob a ameaça da insegurança existencial.
Contudo, observa-se que essa passagem dos valores de sobrevivência para
autoexpressão, assim como a consolidação da democracia não é um elo automático, e o
aumento de valores individualistas e de liberdade podem variar em diversas sociedades,
mesmo naquelas com a democracia já estabelecida, como vem sendo observado nos
últimos anos com o surgimento de governos e estruturas populistas-autoritárias em países
europeus (CASTRO, SANTOS, BEAL, 2020). Concomitantemente, o mesmo ocorre em
países em desenvolvimento, como por exemplo na América Latina, fato que evidencia
lacunas no desenvolvimento da teoria, já que existem complexidades históricas, culturais,
entre outras que se interpõem ao processo de democratização das sociedades.
Segundo Inglehart e Norris (2019), o recente surgimento de governos populistas
e autoritários é uma reação dos públicos conservadores, que consideram os valores pós-
materialistas imorais. Sendo assim, os valores conservadores, também conhecidos como
tradicionais, valorizam a fé, a família, e a nacionalidade, e apesar de sua hegemonia no
século XX, observou-se a forte disputa social entre a transição destes para valores liberais
nas últimas décadas.
Mas o fato é que a ligação entre o populismo com o autoritarismo fragiliza as
proteções às liberdades individuais, a consolidação da democracia, e atinge os direitos
das minorias, em que os imigrantes estão incluídos.
Não é trivial identificar e taxar as características de um líder populista com
precisão. Tendo o foco sobre populistas de direita, e com referência a Eatwell e Goodwin
(2017) é plausível afirmar que ele se mostra como a solução para inúmeras demandas da
sociedade, voltando seu discurso para a população cética com relação às instituições
públicas e políticos em geral, bem como para os segmentos de maior vulnerabilidade
social.

Por vezes, comporta-se como um líder religioso radical, podendo ter roupagem
tanto na esquerda quanto na direita, com algumas características semelhantes e outras
distintas, vindo à tona questões de nacionalismo, foco na ajuda aos pobres e questões
imigratórias, por exemplo.

Populistas demagógicos foram acusados de enfraquecer as instituições


democráticas, rejeitando as regras democráticas do jogo político, negando a
legitimidade dos oponentes políticos, tolerando a violência e restringindo as
liberdades civis. Líderes como Alberto Fujimori, Hugo Chávez, Evo Morales,
18

Victor Orbán, Recep Tayyip Erdoğan e Nicolás Maduro destruíram direitos


humanos básicos e liberdades liberais. A Venezuela, em particular, viu uma
repressão à dissidência, brutalidade e perseguição política de oponentes, com
protestos pró-democracia reprimido pelas forças de segurança (INGLEHART,
NORIS, p. 410, 2019, Tradução nossa).

“No entanto, as promessas de populistas de esquerda como Bernier Sanders


nos EUA ou o Podemos na Espanha focam em desigualdades socioeconômicas
limitantes, enquanto os populistas de direita enfatizam a necessidade de limitar
a imigração e preservar a identidade nacional.” (EATWELL, GOODWIN,
2017, p. 73, grifo nosso).

Conforme Inglehart e Noris (2019), líderes populistas podem representar uma


ameaça aos direitos em geral, especialmente os fundamentais como o direito à liberdade,
à expressão, à propriedade, dentre outros. E a presença de nacionalismo exacerbado,
quando governos desse tipo se encontram no poder, influencia às questões migratórias,
assim como às econômicas. Observa-se um ciclo vicioso entre esses fatores: a economia
fragilizada, sem perspectivas de crescimento contribui negativamente para a imigração,
somado as orientações políticas que se mostram desfavoráveis a ambos.

2 O CENÁRIO DAS IMIGRAÇÕES NO BRASIL E NA ARGENTINA

No tocante aos países latinos estudados, foco deste artigo, o Brasil e a Argentina
possuem movimento imigratório em seu território, sendo o Brasil com maior intensidade,
o que pode ser observado através de sua história, e mais recentemente nos movimentos
de haitianos e venezuelanos em seu território.
O Brasil, considerando sua população com mais de 210 milhões de habitantes,
apresenta um percentual de cerca de 0,5% de sua população total sendo de imigrantes.
Entre eles, cerca de 46% são mulheres; 25% do número total de migrantes têm 19 anos
ou menos e 15,7% têm 65 anos ou mais, até meados do ano de 2021 (UN DESA, 2021).
Em relação aos venezuelanos, que passam por uma grave crise político-econômica, até
outubro de 2020, mais de 261 mil viviam no Brasil como refugiados, solicitantes de
refúgio ou residentes temporários (Plataforma R4V, 2021).

No tocante à Argentina, há também uma história de imigração principalmente com


europeus e mais recentemente com bolivianos e paraguaios. Segundo dados do Instituto
Nacional de Estadística y Censos da Argentina (INDEC) relativos ao censo 2010, o país
possui um percentual significativo de 4,5% de imigrantes em relação a sua população.
Esse Índice é maior que a média global de 3%. No Gráfico 4 segue uma amostragem do
quantitativo de imigrantes de alguns países da América do Sul na Argentina.
19

Gráfico 4 - Estrangeiros residindo na Argentina -


CENSO 2010
600.000

500.000

400.000

300.000

200.000

100.000

0
Bolivia Brasil Chile Peru Paraguay Uruguay

Fonte: INDEC. Elaboração própria dos autores.

A partir do cenário de enfraquecimento da “onda rosa”2, na América Latina, é


relevante indagar, houve mudanças nas políticas destinadas aos imigrantes? Nesse
contexto, analisar o contexto de renda média, as ações de governantes, as legislações
desses países e suas estruturas governamentais que lidam com a imigração, parece ser um
caminho pertinente. Em relação as últimas duas décadas na Argentina, há um estudo que
afirma que:

Observamos que ambos os discursos valorizam de forma diferente os


imigrantes. No caso de Mauricio Macri, a conclusão em que o interlocutor deve
alcançar é que os estrangeiros residentes no país representam uma ameaça e,
no caso de Cristina Fernández, o resultado final é que eles são benéficos para
os argentinos. Porém, nenhum deles deixa o bom senso sobre a imigração, [...]
nem reflete sobre as causas políticas e econômicas por trás desse fenômeno
populacional. Ambos os políticos usam caracterizações de imigrantes com
base no bom senso, que marca uma fronteira entre “nós, os argentinos ”e“
eles, os estrangeiros ”. Na fala do chefe da governo, a distinção nós / eles se
reflete na diferença entre pessoas que trabalham e pessoas que não trabalham
e cometem crimes. (FLAX, p. 18, 2019, grifo nosso).

Assim, apesar da recepção aos estrangeiros na Argentina, na ótica da


pesquisadora, há um tratamento diplomático quanto a eles, que por vezes mostra-se mais
receptivo e outras não, conforme a orientação política. Salienta-se que isso tudo é vivido
em meio a um contexto de renda média a que o país está imerso há décadas.

Sobre o Brasil, observa-se que o país possui uma legislação robusta ao tema
imigração, com base nas leis de Migração nº 13.445/17 e Lei de Refúgio nº 9.474/97. No

2
A “onda rosa” caracteriza-se pela mudança política observada na América Latina a partir da ascensão de
partidos e lideranças de esquerda e centro-esquerda, entre os anos de 1998 a 2014 aproximadamente
(SILVA, 2010).
20

entanto, embora possua uma população multicultural e miscigenada, muito se tem a


avançar na implementação de ações e políticas inclusivas, assim como a destinação
orçamentária para sua execução. Cabe também salientar o constante na CF 1988 que deve
ser sempre observado pelo Estado brasileiro:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, [...], constitui-se em Estado


Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] II - a cidadania; III - a
dignidade da pessoa humana [...]. Art. 4º A República Federativa do Brasil
rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: II -
prevalência dos direitos humanos [...] IX - cooperação entre os povos para o
progresso da humanidade [...] (CF 1988, grifo nosso).

Os dois parágrafos abaixo mostram que no caso do Brasil, atualmente, mesmo


com um Presidente que teve intenção de enrijecer o controle migratório, não houve efeito
significativo aos direitos dos imigrantes porque as estruturas do Estado e legislações já
estão consolidadas quanto ao assunto.
Da leitura de Mendes e Menezes (2019, p. 308), percebe-se que o tema imigração
foi impactado quando Jair Bolsonaro assumiu a Presidência em 2019, o qual adotou
diversas medidas com viés securitário da imigração como a saída inicial do Pacto Global
das Nações logo que assumiu o país, bem como as publicações das portarias nº 666 e 770
que simplificavam o processo de deportação de imigrante com base em suspeitas de
determinados crimes e facilitava o enquadramento em “pessoa perigosa”, o que contraria
dispositivos jurídicos brasileiros e a própria lei de imigrantes.

Considerando esse contexto de possíveis mudanças, o Comitê Nacional para


Refugiados (CONARE) produziu uma nota técnica em referência ao país de origem,
argumentando que a situação na Venezuela fosse considerada como generalizada e grave
violação de direitos humanos (BRASIL, 2021). As portarias citadas acima posteriormente
foram revogadas.

A emergência da migração de brasileiros para o exterior deveria servir de


contrapeso e equilíbrio para o país repensar suas políticas de acolhimento. Não
é o que se observa nas declarações e atitudes do presidente e seu grupo de
apoiadores. Jair Bolsonaro tem se alinhado à corrente de governantes que
pregam o fechamento de territórios, como se o movimento de pessoas não fosse
parte inexorável e inevitável da trajetória humana sobre a Terra. Nenhuma
sociedade é estática em sua composição demográfica. No Brasil de Jair
Bolsonaro, a visão do futuro para as migrações é turva, o que impele à
vigilância redobrada sobre o poder público. (MENDES, MENEZES, p. 317,
2019, grifo nosso).
21

Ao buscar dados e informações sobre a situação dos imigrantes no Brasil, observa-


se as dificuldades iniciais de imigrantes para a inserção no mercado de trabalho formal
no Brasil até o ano de 2018, conforme apontado abaixo:

Tabela 1 – Movimentação de trabalhadores imigrantes no


mercado de trabalho formal no Brasil, segundo ano de
movimentação – 2011 a 2018

Fonte: Relatório A Imigração Haitiana no Brasil.

Os números acima são agravados quando se trata de imigrante mulher. Nesse


sentido, analisando-se o caso dos haitianos, as mulheres ocupam apenas 16% do mercado
de trabalho entre a população total de imigrantes oriunda desse país, de acordo com o
Relatório. (TONHATI, CAVALCANTI, OLIVEIRA, 2016).
Diante desse cenário, se houver um governo que não seja sensível às
desigualdades de gênero e não incorpore políticas de balanceamento e produtividade, para
alavancar a geração de empregos, por meio do aumento da educação, conhecimento e
inovação, os imigrantes naturalmente sofrerão maior impacto, e principalmente o
segmento feminino.
Segundo Oliveira (p. 68, 2014), e considerando a conjuntura atual sobre política
imigratória no Brasil e o caso do Haiti como exemplo, entende-se que no Brasil não há
um ambiente atrativo ao imigrante por longo prazo, em razão das dificuldades de emprego
e baixos salários, fato atestado por dezenas de entrevistas realizadas pelo pesquisador
acima. Entretanto, torna-se um país atrativo para o curto prazo por ser considerado
pacífico, sem grandes catástrofes naturais, sem turbulências étnicas ou religiosas, em
desenvolvimento e com povo acolhedor. Situação similar ocorre com o país vizinho
Argentina, mas com relativa atratividade.
Após considerar brevemente as relações entre as orientações políticas e as
imigrações nos países pesquisados, é importante também analisar à percepção das
sociedades brasileiras e argentinas quanto ao tema imigração. Os dados abaixo, gráficos
5 a 8, referem-se a pesquisas realizadas no ano de 2020, a partir de vários questionamentos
22

e respostas das respectivas sociedades sobre o assunto, utilizando-se a base de dados do


latinobarometro.
Gráfico 5 – Percepção sobre postos de trabalho envolvendo imigrantes

Fonte: Latinobarometro 2020.

Gráfico 6- Percepção sobre o custo do imigrante para os dois países latinos

Fonte: Latinobarometro 2020.


23

Gráfico 7 – Percepção sobre economia e imigrantes

Fonte: Latinobarometro 2020.

Gráfico 8 – percepção sobre Imigrantes Venezuelanos

Fonte: Latinobarometro 2020.

Com base nos gráficos acima e de leitura, pode-se inferir que há maior aceitação
no Brasil por parte da população às questões migratórias em relação ao país vizinho, e
que as áreas analisadas se relacionam muito com a questão econômica, novamente,
trazendo reflexões sobre a situação da renda média, e seus possíveis efeitos para a
absorção de imigrantes nos países analisados.
Em relação ao gráfico 8 que analisa a situação da imigração venezuelana para os
dois países analisados no artigo e o Chile, que também se encontra na armadilha da renda
média, percebe-se que há uma percepção positiva da sociedade brasileira ligeiramente
maior quando comparada com a argentina. Adicionalmente, uma parcela representativa
desses países interpreta “como algo negativo” a recepção aos mesmos estrangeiros, com
ênfase para o Chile que não há histórico de populismo de direita recente, o que torna o
24

tema complexo e de análise aparentemente não linear. Diferentemente dos outros dois
países aqui analisados.
No contexto de análise da imigração entre países de renda média e outros que
emergiram dela, utilizando-se da base de dados World Values Survey, percebe-se que em
todos eles, independentemente de estarem em renda média ou não, há um sentimento
negativo no tocante à relação entre os imigrantes e o desenvolvimento do país e a questão
de desemprego.
No entanto, cabe ressaltar que os percentuais de percepção positiva de aceitação
do imigrante sobre “o desenvolvimento do país” são ligeiramente maiores em Taiwan,
Singapura e Coreia do Sul em relação ao Brasil e Argentina. É importante registrar que a
discordância de parte das sociedades de Singapura e Taiwan sobre “a percepção de que o
imigrante contribui para o aumento do desemprego” é ligeiramente maior que Argentina
e Brasil. Contudo há uma proximidade de respostas entre os países asiáticos e latinos,
embora haja essas diferenças citadas acima que podem insinuar caminhos de análises não
tão simples e triviais quanto à imigração e renda média.
Gráfico 9 – Percepção de imigrantes e desenvolvimento de um país
Percepção do impacto da imigração no
desenvolvimento do país
60

50

40

30

20

10

0
Argentina Brazil Taiwan ROC South Korea Singapore

Rather bad Quite bad Neither good, nor bad Quite good Very good

Fonte: World Values Survey. WVS Wave 7 - 2017-2020.


25

Gráfico 10 – Percepção de imigrantes e aumento de desemprego em um país


Imigrantes aumentam desemprego em seu país?
70

60

50

40

30

20

10

0
Disagree Hard to say Agree Don´t know No answer

Argentina Brazil Taiwan ROC Singapore

Fonte: World Values Survey. WVS Wave 7 - 2017-2020.

Tabela 2 – Os empregadores devem priorizar a oferta de empregos a pessoas


nativas em relação aos imigrantes:

Fonte: World Values Survey. WVS Wave 7 - 2017-2020.

Tabela 3 – A imigração em seu país ocupa empregos úteis na força de trabalho?

Fonte: World Values Survey. WVS Wave 7 - 2017-2020.

Em relação às tabelas acima é possível observar que os países de renda média


(Brasil e Argentina) apresentam maior tolerância em relação à destinação de vagas a
pessoas imigrantes, tabela 2, do que em relação aos países de renda alta analisados
26

(Taiwan, Singapura e Coreia do Sul). Comparativamente, percebe-se que em Singapura


e Taiwan há uma forte percepção que imigrantes ocupam relevantes posições de trabalho,
o que não ocorre na Coréia do Sul, que é um fato interessante que indica mais caminhos
a serem investigados. Sobre esse aspecto Argentina e Brasil apresentam dados similares
entre si, com percepção mais difusa entre as alternativas.
Além das questões políticas e econômicas, as quais esse artigo buscou explorar, é
importante considerar que existem outras facetas das questões migratórias no mundo,
como aspectos culturais, sociais e históricos. Tais fatores estão interligados, e incidem
mais diretamente sobre os fluxos migratórios, a partir do contexto que cada país vivencia.
O que pode ser observado no trecho dos autores abaixo, se conecta diretamente a partidos
de direita com viés ultranacionalista na Europa, os quais possuem forte reação aos
imigrantes, com ênfase sobre os oriundos de países muçulmanos. Isso cabe um alerta às
sociedades em geral, inclusive as latinas foco do artigo.
“O odio aos estrangeiros: os imigrantes tornaram-se a marca registrada desses
partidos estudados, constituindo, na atualidade, o eixo central de seus
discursos. Eixo central ideológico, fator de mobilização social e bandeira do
engajamento político eleitoral. Discursos ideológicos xenófobos que se
porduzem em um contexto histórico de perda gradual da soberania dos Estados-
nação, globalização: crise econômica e cultural, crise econômica e fluxos
flutuantes de população imigrante” (MELLON, CARR, p. 23, 2016, tradução
nossa).

Por fim, cabe corroborar que a crise econômica que afeta o Brasil e a Argentina
há anos e agora associada com a pandemia de Covid-19 vem exacerbando desigualdades
pré-existentes e nesse contexto refugiados e migrantes estão entre aqueles em situação de
maior vulnerabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando os motivos que fazem os países se manterem na renda média,


citados e brevemente explorados neste artigo, bem como as bases de dados World
Development Indicators (DataBank), Latinobarometro 2020, World Values Survey –
Wave 7 e outras bases de dados com foco nos temas migrações e percepções das
sociedades argentinas e brasileiras quanto à migração, economia e política, e
comparações a outros países como alguns tigres asiáticos e o Chile, acrescentadas à
revisão de literatura citada, pode-se inferir que a relação entre a renda média e a imigração
não é linear e trivial, exigindo análises de outras variáveis que afetam o tema, como
políticas incrementadas no país analisado e aspectos históricos.
27

Entretanto, vale mencionar algumas limitações do estudo aqui proposto mediante


a complexidade e amplitude das temáticas trabalhadas, em que sugestivamente, a
ampliação da análise de dados, aspectos políticos e sociais dos países citados, poderá
oportunamente oferecer indícios a fim de qualificar o esforço aqui iniciado e estudado.

Observa-se que a economia fortalecida tende a ser atraente para grupos de


imigrantes, e por outro lado a situação de renda média de um país por longos períodos o
torna ponto de transição para outros países mais desenvolvidos para parte significativa de
imigrantes, em busca de melhorias de vida, conforme se conclui da literatura e das
análises dos dados.

Entende-se também que a situação de renda média por si só não é o fator


primordial de atração ou de repulsão, pois há países de renda média com alta
movimentação migratória e países que emergiram da renda média que também possuem
movimentação significativa com algumas diferenças de abordagem, como por exemplo,
no país de renda média, em geral, há uma percepção significativa da sociedade que
desaprova o ingresso de imigrantes conforme dados analisados. Obviamente, foi visto que
também há certa rejeição entre os que emergiram, porém numa escala um pouco menor.
Cabe salientar que no Brasil essa desaprovação é menos contundente em relação à
Argentina.

Agregada à situação de renda média, vertentes ideológicas e políticas de


governantes favorecem ou desestimulam a imigração. A renda média é um fator que pode
ser somado ao populismo como desestímulo à imigração por fatores característicos de
nacionalismo, protecionismo à economia e às ofertas de empregos formais e informais,
dificultando ao imigrante o alcance do bem-estar social e conquista de valores de
autoexpressão, que naturalmente já há essa mesma dificuldade para os próprios nacionais
de países de renda média.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARGENTINA. Instituto Nacional de Estadistica y Censos (INDEC) Censo Nacional de


Población, Hogares y Viviendas 2010. Disponível em:
https://www.indec.gob.ar/indec/web/Nivel4-CensoNacional-3-7-Censo-2010.

BEKERMAN, M.; DALMASSO, G. (2014). Políticas Productivas y Competitividad


Industrial. El Caso de Argentina y Brasil. Revista de Economia Politica, 34(1), 158–
180. 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-31572014000100010.
28

BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil de


1988. Brasília, DF: Presidência da República. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm. Acesso
em: 1 out. 2021.

BRASIL. Solicitações de reconhecimento da condição de refugiado ativas em 19 de


outubro de 2020. Brasília: CONARE, 2020d. Disponível em:
https://www.justica.gov.br/seus-direitos/refugio/anexos/Ativoseinativos_19.10.2020. e
http://dados.mj.gov.br/dataset/comite-nacional-para-os-refugiados. Acesso em
21.10.2021.

BRASIL. FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO. 2021: As 15 maiores


economias do mundo. Disponível em: http://www.funag.gov.br/ipri/index.php/o-
ipri/47- estatisticas/94-as-15-maiores-economias-do-mundo-em-pib-e-pib-ppp.

BRASIL. IPEADATA (2021). Produto Interno Bruto (PIB) a preços de mercado:


variação real anual. Disponível em: http://www.ipeadata.gov.br/Default.aspx.
BRASIL. Ministério da Justiça. Resumo Executivo: Migração e Refúgio no Brasil.
Relatório Anual 2019. Disponível em:
https://www.justica.gov.br/news/RESUMOEXECUTIVO_V.FINAL4.pdf.
CAVALCANTI, L; OLIVEIRA, A.T; TONHATI, T. Os imigrantes Haitianos no
Brasil: formas de entrada, permanência e registros. Cap. III do Relatório a
Imigração Haitiana no Brasil: Características sócio-demográficas e laborais na Região
Sul e Distrito Federal. 2016.
CASTRO, H.; SANTOS, D.; BEAL, L. A insatisfação política e a ascensão do
autoritarismopopulista: uma análise da América do Sul e da Europa. REVISTA
DEBATES, Porto Alegre, v. 14, n. 3, p. 99-125, set.-dez. 2020.
DEVLIN, R.; PIETROBELLI, C. Modern industrial policy and public-private councils
at the subnational level: Empirical evidencial from Mexico. 40(4), 761–791.
Institution for Development Sector. 2018. Disponível em:
https://publications.iadb.org/publications/english/document/Modern-Industrial-Policy-
and-Public-Private-Councils-at-the-Subnational-Level-Empirical-Evidence-from-
Mexico.pdf.

DONER, R. F.; Schneider, B. R. The Middle-Income Trap: More Politics than


Economics. World Politics, 68(4), 608–644. 2016. Disponível em:
https://muse.jhu.edu/article/632355.

EATWELL, R.; GOODWIN, M. Nacional-populismo: A revolta contra a


democracia liberal. Rio de Janeiro. Record, 2020.

Exportaciones de productos primarios según su participación en el total (Porcentajes del


valor total de las exportaciones FOB de bienes). CEPALSTAT, 2021. Disponível em:
cepalstat-prod.cepal.org .Acesso em: 28 de out. 2021.
GLAWE, L.; WAGNER, H. The middle-income trap: Definitions, theories and
countries concerned - A literature survey. Comparative Economic Studies, 58(4),
507–538. 2016. Disponível em: https://doi.org/10.1057/s41294-016-0014-
0.International migrant stock 2019: Country Profiles.
29

UN DESA, 2021. Disponível em:


https://www.un.org/en/development/desa/population/migration/data/estimates2/country
profiles.asp . Acesso em: 28 de out. 2021.

INGLEHART, Ronald e WELZEL, Christian. Modernização, Mudança Cultural e


Democracia. Brasília: Edit. Francis e Edit Verbena 2009.: “Individualismo, valores de
autoexpressão e virtudes cívicas” (Parte 1, item 6, p.172 a 186) e “Forças Sociais, Ação
Coletiva e Eventos internacionais. (Parte 2,:item 9, p.252 a 274).

LÓPEZ, C. R.; MINOR, R. R.; El Neoliberalismo em Argentina. Percepciones


ciudadanas de una crónica fatalista. Revista El Trimestre Económico, vol. LXXXVIII
(2), núm. 350, p. 483-522. abril-junio de 2021. Disponível em:
http://scielo.org.mx/pdf/ete/v88n350/2448-718X-ete-88-350-483.pdf.

MENDES, J.S.R.; MENEZES, F.B.B. Política migratória no Brasil de Jair


Bolsonaro: “perigo estrangeiro” e retorno à ideologia de segurança nacional.
Cadernos do CEAS: Revista Crítica de Humanidades, Salvador, n. 247, mai./ago., p.
302-321, 2019. Disponível em:
https://cadernosdoceas.ucsal.br/index.php/cadernosdoceas/article/view/568.

NORRIS, P; INGLEHART, R. Cultural backlash: Trump, Brexit, and Authoritarian


Populism. New York: Cambridge University Press, 2019. Disponível em:
https://www.pippanorris.com/cultural-backlash-1/.

OLIVEIRA, M. Haitianos no Paraná: distinção, integração e mobilidade. Cap V do


Relatório a Imigração Haitiana no Brasil: Características sócio-demográficas e laborais
na Região Sul e Distrito Federal. 2016.

PAUS, E. Escaping the Middle-Income Trap: Innovate or Perish. Asian Development


Bank Institute (Issue 685). 2017. Disponível em:
https://www.adb.org/sites/default/files/publication/231951/adbi-wp685.pdf.

Plataforma de Coordenação Interagencial para Refugiados e Migrantes da Venezuela,


Plataforma R4V, 2021. Disponível em: < https://www.r4v.info/ >. Acesso em: 28 de
out. 2021.

RATTNER, H. As empresas estatais brasileiras e o desenvolvimento tecnológico


nacional. Revista Administração de Empresas. 24 (2): 5-12. Rio de Janeiro. 1984.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/rae/a/SFc3rNgTKYXtqKdWKQzKbDC/#.

RÓCIO, F. La construcción del inmigrante en el discurso político argentino: el caso


del Parque Indoamericano. D.E.L.T.A., 35-4, (1-20): e2019350411. 2019. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/delta/a/8FTQgLpjJZmvhcWgJk4tq3R/?format=pdf.

SALAMA, P. Why do latin american countries suffer a long-term economic


stagnation? A study from the cases of Argentina, Brazil and Mexico. França, Paris.
Trimestre Economico, 87(348), 1083–1132. 2020. Disponível em:
https://doi.org/10.20430/ETE.V87I348.1167
30

SANTARCÁNGELO, J. (2019). The Manufacturing Sector in Argentina, Brazil,


and Mexico. In The Manufacturing Sector in Argentina, Brazil, and Mexico.
Argentina, Buenos Aires. 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1007/978-3-030-
04705-4.

SILVA, F. Até onde vai a “onda rosa”? Analise de Conjuntura OPSA, Rio de Janeiro,
n. 2, p. 1-20, fev. 2010.
SILVA, L.; MELO, L.; ARAÚJO, L. O fenômeno da desindustrialização no Brasil e
Argentina: uma análise comparada. Revista Iniciativa Econômica, Araraquara, v. 3 n.
2, julho-dezembro de 2017. Disponível em
https://periodicos.fclar.unesp.br/iniciativa/article/view/9654/7484. Acesso em: 28 de
out. 2021.

WORLD BANK. World Development Indicators. Disponível em:


https://databank.worldbank.org/source/world-development-indicators#. Acesso em 08
out 2021.

ZAGATO, L.; GALA, P.; PINHEIRO, F.; HARTMANN, D. A armadilha da renda


média e os obstáculos à transformação estrutural: a curva S da complexidade
econômica. FGV Repositório Digital. 2019. Disponível em:
https://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/handle/10438/27777.

Você também pode gostar