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RACISMO ESTRUTURAL

A língua é viva e vai se modificando de acordo com os comportamentos e o modo de vida


das pessoas através da história. Por isso, é comum que algumas expressões e gírias
acabem morrendo ou sendo substituídas por outras.
E, como a nossa sociedade é racista, também é comum que muitas expressões e gírias
antigas tenham origem com base em preconceitos. Porém, ainda há certas expressões
que são resistentes ao tempo e, hoje, parece que perderam a sua conotação de racismo,
mas não podemos nos enganar, elas continuam impregnadas de preconceito.
Ao longo da nossa vida fazemos uso de algumas delas – ou até todas – sem nem saber
que a sua verdadeira origem serve para diminuir um determinado grupo étnico. Assim,
devemos nos esforçar em usar outros termos para referirmos às mesmas coisas, sem
estarem carregados de preconceitos e que não tenham um passado tão cruel. Por isso,
uma lista com determinadas palavras e expressões, do dia a dia, de cunho racista
devem ser evitadas.
Confira, abaixo, o significado de cada uma dessas palavras ou expressões que devemos
atentar ao uso, no dia a dia:
1. A coisa tá preta – Aqui temos uma expressão na qual a palavra “preta” quer dizer
algo ruim. Quando “a coisa tá preta” quer dizer que algo deu errado, não está bom.
Pensar que algo que é preto ou negro é ruim é uma ideia totalmente racista.
2. Ovelha negra – Essa expressão é muito usada para designar uma pessoa que se
destoa das outras de um mesmo grupo. É a pessoa “diferente”, pois todas as
ovelhas são brancas, então uma “negra” seria estranha. Mas, por que usar essa
comparação? Serve para reforçar que o normal é ser branco e ser negro é
diferente e esquisito. E sabemos que isso não é real.
3. Mercado negro; lista negra – Mais uma expressões que ligam o “negro” a algo
negativo. Nesse caso, negro é o ilegal, o ilícito. De novo, o ruim.
4. Denegrir – A expressão é negativa, usada para falar sobre manchar a reputação
ou difamar alguém. Porém, sua origem vem de “tornar negro”, colocando, portanto,
o negro como algo negativo e errado. Tornar algo ou alguém negro não deve ser
visto como algo negativo ou ruim.
5. Inveja branca – Aqui vemos o contrário: enquanto o preto e o negro são usados
para denominar coisas ruins, o branco é usado como algo bom. A inveja é um
sentimento visto como ruim e negativo, mas quando acompanhada da palavra
“branca”, é algo positivo. Isso também é racismo. Enaltece o branco, o que,
automaticamente diminui o negro.
6. Mulato/Mulata – A palavra vem de “mula”, que é a junção entre o burro e a égua,
ou seja: dois animais diferentes. Usada para denominar pessoas que nasceram de
um pai negro e uma mãe branca (ou vice-versa), tem exatamente o mesmo sentido
de falar da Mula: uma pessoa que nasce de dois tipos diferentes. Isso iguala essas
pessoas aos animais, tira-lhes a humanidade.
7. Boçal – A palavra quer dizer “rude, grosseiro, imbecil ou ignorante”. Mas a sua
origem é de assustar: ela era usada para designar os negros vindos da África que
ainda não sabiam se comunicar na língua portuguesa. Por não conseguirem usar o
português, eram vistos como menos instruídos, por isso a expressão logo se
popularizou e começou a ser usada para designar qualquer pessoa que não tenha
instrução.
8. Não sou tuas negas – Essa gíria virou meme na internet. As pessoas começaram
a usar como se fosse algo “engraçadinho” para quando alguém começasse a folgar
ou mandar. A expressão é totalmente racista e escravocrata. “Não sou tuas negas”
seria como um “você não manda em mim”, por que? Porque as negras eram
propriedade dos brancos, elas eram mandadas por eles. Portanto, “ser tua nega”
significa que você obedeceria a pessoa.
9. Judiar – Essa palavra é antissemita. Judiar significa “maltratar”, “ser mal” (como
um judeu seria). A palavra tem ligação direta com os judeus e dá a entender que
quem é judeu é malvado.
10. Meia tigela - significa algo que vale menos ou pouco. Quando os negros que
trabalhavam forçados em minas de ouro não alcançavam suas metas, recebiam
como munição metade da tigela de comida.
11. Doméstica - o termo se refere aos negros que precisavam ser "domesticados" ou
às negras que recebiam educação diferenciada para trabalhar dentro das casas
das famílias brancas. Elas eram tidas como "escravas domesticadas".
12. Fazer nas coxas - é uma expressão usada para identificar que algo está mal feito.
O termo viria do possível hábito dos escravizados de moldarem telhas nas suas
pernas. Mas, como cada um tinha um formato de corpo diferente, as telhas ficavam
de tamanhos diferentes e não encaixavam corretamente.
13. Criado-mudo - era o escravizado que tinha a função de segurar as coisas para
seus senhores. Como ele não podia fazer barulho, ficava quieto, sem falar. Assim,
surgiu a expressão para definir o móvel de apoio que fica ao lado da cama. Uma
alternativa é o termo "mesa de cabeceira".
14. Cabelo ruim - indica que o cabelo do tipo crespo é ruim. Por muito tempo, esse
termo acabou minando a confiança e autoestima de muitos negros e negras. Se
quiser falar sobre o tipo de cabelo, é só falar "cabelo crespo".
15. Negro de traços finos - ou então "nem parece negra". Expressão pejorativa, que
diminui a beleza negra, como se só a estética branca e europeia fosse bonita.
Existe uma intenção de clareamento da pele negra ao dizer isso.
16. Da cor do pecado - classifica o corpo da mulher negra como uma mulher
sensualizada e objetificada.
17. Inveja branca - contrária às expressões que em a palavra "negro" é aplicada como
algo negativo, aqui a palavra 'branca' é usada no sentido positivo, como se só o
que é branco fosse bom, e preto, ruim.
Bônus: Dia de branco – A expressão significa que é dia de trabalhar e, diferente do que
muitos pensam, não tem origem racista. O primeiro pensamento de quem ouve, porém,
é de que ela surgiu por causa do preconceito de brancos contra negros. Dizem que a
expressão surgiu na Marinha, por causa dos uniformes brancos que eles tinham que usar
para trabalhar. A pegadinha dessa expressão é que, com ela, ocorreu o contrário do que
com as outras: enquanto as sete expressões mencionadas acima foram perdendo seu
cunho racista, “dia de branco” foi ganhando. Hoje, quando é usada, geralmente vem
acompanhada de alguma piada ou algum trocadilho racista. Ela tem um peso muito
grande e pode sim ter uma interpretação racista, então fique atento.

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