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Na vida cotidiana, há muitas expressões de cunho racista, que utilizamos

sem conhecer a história que as precedem, oriundas de mais de 300 anos de


escravidão no país. Diante disso, elencamos algumas palavras ou frases que
devemos evitar disseminar:

“A coisa tá preta”
A fala racista se reflete na associação entre “preto” e uma situação
desconfortável, desagradável, difícil, perigosa.

“A dar com pau”


Expressão originada nos navios negreiros. Muitos dos capturados preferiam
morrer a serem escravizados e faziam greve de fome na travessia entre o
continente africano e o Brasil. Então se usava um instrumento chamado “pau de
comer” para obrigá-los a engolir a comida.

“Cabelo ruim”
Termo que deprecia o cabelo afro, cacheado, crespo e Black Power, e que
causa a negação do próprio corpo e a baixa autoestima entre mulheres negras.
A “Ditadura do cabelo liso”, causada por um padrão de beleza imposto pelos
ideais racistas e eurocêntricos, foi (e continua sendo) muito explorada pela
indústria da beleza.

“Cor de pele”
Aprende-se desde a infância que a “cor de pele” é o bege-rosado, o que acabou
sendo naturalizado no âmbito social. Entretanto, esse tom não representa a pele
de todas as pessoas, principalmente em um país como o Brasil, onde, segundo
dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2014,
realizada pelo IBGE, 53% dos brasileiros se declararam pardos ou negros.

“Cor do pecado”
Expressão que reafirma a ideia da mulher negra como um objeto sexual. E a
ideia de pecado também é ainda mais negativa em uma sociedade pautada na
religião, sobretudo cristã, como a brasileira.
“Criado Mudo”
A origem do nome deste móvel é sombria e remete ao período de escravidão no
Brasil. O termo foi criado pois o objeto tem a mesma utilidade que os escravos
da época, que esperavam, parados e em silêncio, a ordem dos senhores de
engenho.

“Denegrir”
Sinônimo de difamar, possui na raiz o significado de “tornar negro”, como algo
maldoso e ofensivo, “manchando” uma reputação antes “limpa”. Usa a palavra
negro como algo ruim e maldoso, por isso é uma palavra ofensiva.

“Doméstica”
Remete ao fato de os negros do período da escravatura serem tratados como
animais rebeldes, que precisavam de “corretivos” para serem “domesticados”.

“Estampa étnica”
Estampa parece ser, no mundo da moda, apenas aquela criada pelo olhar
eurocêntrico. Quando o desenho vem da África ou de outra parte do mundo
considerada “exótica” segundo essa visão, torna-se “étnica”.

“Inveja Branca”
Existe uma tendência a tratar a cor branca como sinônimo de algo positivo. Por
isso, expressões como “dia de branco”, magia branca” e “mentira branca” foram
criadas para dar sentido de benignidade à ideia, o que acaba por reforçar um
sentido negativo para as palavras “negro/preto”.

“Meia tigela”
Os escravos recebiam uma refeição que era estabelecida de acordo com a
utilidade dos serviços que realizavam. Aqueles forçados a trabalharem nas
minas de ouro, quando não cumpriam com todas as suas exaustivas e
desumanas obrigações, eram punidos recebendo apenas metade da tigela com
comida, e ganhavam o apelido de “meia tigela”, que ainda hoje significa algo sem
valor e/ou medíocre.

“Mercado negro”
Refere-se ao mercado paralelo, que é ilegal, e se relaciona com “Denegrir” e
“Lista negra”, na ideia de usar o termo “negro” para descrever algo que é ruim.

“Moreno(a)”

Expressão baseada na crença de que chamar alguém de negro é ofensivo. Falar


de outra forma, chamando a pessoa de “morena” ou “mulata” e acabando por
embranquecê-la, “amenizaria” o “incômodo” da sociedade.

“Mulata”
Expressão que reitera a visão do corpo da mulher negra como mercadoria e
objeto sexual. Essa palavra tem origem na língua espanhola, e referia-se ao
filhote do cruzamento entre o burro e a égua. A enorme carga pejorativa é ainda
maior quando se diz “mulata tipo exportação”.

“Não sou tuas negas”


Expressão que reitera a ideia da mulher negra como aquela que não merece
respeito, “qualquer uma” ou “de todo mundo”, o que indica a forma como a
sociedade a percebe: alguém com quem se pode fazer tudo. Esse tipo de ideia
vem do período da escravidão, onde as escravas eram tidas como propriedade
dos homens brancos e usadas para satisfazê-los, através do assédio ou estupro,
que na época eram recorrentes e naturalizados. Portanto, além de
profundamente racista, o termo é carregado de machismo.

“Negro(a) de traços finos”


A mesma lógica do clareamento se aplica à “beleza exótica”, tratando o que está
fora da estética branca e europeia como incomum.
“Samba do crioulo doido”
Título do samba que satirizava o ensino de História do Brasil nas escolas do país
nos tempos da ditadura, composto por Sérgio Porto (ele assinava com o
pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta). No entanto, a expressão debochada,
que significa confusão ou trapalhada, reafirma um estereótipo e a discriminação
aos negros.

“Ter um pé na cozinha”
Forma racista de falar de uma pessoa com origem negra. Infeliz recordação do
período da escravidão em que o único lugar permitido às mulheres negras era a
cozinha da casa grande.

“Em uma sociedade racista não basta não ser racista.


É necessário ser antirracista. ”
Angela Davis (2016)

Referências:

DA SILVA, João Paulo. VOZES QUE ESTILHAÇAM MÁSCARAS: DECOLONIALIDADE E


FEMINISMO NEGRO. In: IV Seminário Internacional Pós-Colonialismo, Pensamento
Descolonial e Direitos Humanos na América Latina. 2019.

MENDÉZ, Chrystal. 18 expressões racistas que você usa sem saber. Geledés
Instituto da Mulher Negra, 19 de novembro de 2016. Disponível em:
<https://www.geledes.org.br/18-expressoes-racistas-que-voce-usa-sem-saber/>
Acesso em: 10 de novembro de 2019 as 15:05.

HERBELHA, Gabriel. Palavras e expressões racistas que ainda usamos. Fala


Universidades, 09 de setembro de 2019. Disponível em:
<https://falauniversidades.com.br/palavras-e-expressoes-racistas-que-ainda-
utilizamos/> Acesso em:10 de novembro de 2019 às 14:45.

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