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13° Congresso Internacional de Tintas

13ª Exposição Internacional de Fornecedores para Tintas

PROCESSO DE OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE PIGMENTOS A PARTIR DE


RESÍDUOS FERROSOS

Célia do Rocio de Jesus Valente, Adriana H. Coleto de Assis, Carlos F. Panichi, Elson Oliveira e Gladson
Oliveira
Centro Estadual de Educação Profissional de Curitiba (CEEP) - Curso Técnico em Química

A reciclagem de material é uma importante atividade comercial observada desde o Império Romano, sendo o
ferro o material mais reciclado no mundo pelo setor industrial. Estima-se que 17,82% dos resíduos metálicos
de ferro não sofrem nenhum tipo de transformação ou recuperação. O Brasil que em 2010 consumiu,
aproximadamente, 25 milhões de toneladas, gerou um desperdício significativo. Nesse contexto, vê-se nestes
resíduos um potencial econômico a ser explorado e que pode ser convertido em benefício da sociedade. Os
resíduos em um processo produtivo cumpre um papel fundamental na melhoria da qualidade de vida de
comunidades carentes, na limpeza das cidades, bem como na preservação do meio ambiente. A medida se
efetiva com a redução de lixo metálico enviado para aterros e terrenos baldios. Inúmeros empregos podem ser
gerados em uma extensa cadeia de pequenos e médios empreendedores que se dedicam a atividade de
separação e processo produtivo. Desse modo, esse estudo tem por finalidade a obtenção e caracterização
dos pigmentos de coloração primária (azul, amarelo e vermelho) a partir do óxido de ferro proveniente do
tratamento de resíduos selecionados. Os pigmentos foram obtidos, caracterizados e testados quanto a sua
dispersabilidade, capacidade de conferir cor em um sistema (tintas) e solubilidade. Os pigmentos são
largamente empregados como matéria-prima nas indústrias de tintas automotivas, imobiliárias, têxteis,
cosméticos, papéis, polímeros, borracha, dentre outros.
Palavras-chave: Pigmentos. Óxidos de ferro. Tintas.

1.0 INTRODUÇÃO

É crescente a preocupação da sociedade quanto as ações que o homem desenvolve com o


meio ambiente. Muitas vezes, como resultado dessa ação, surge certo desequilíbrio ambiental
em função dos resíduos gerados pelas indústrias ou das ações domésticas desenvolvidas pelo
ser humano. Há muito tempo o homem já observa a ação depreciadora do meio em que vive
devido as atividades industriais (FERREIRA & ANJOS, 2001). Porém, com a velocidade com
que vem crescendo as atividades industriais, a quantidade de resíduos gerados são cada vez
maiores em detrimentos das atividades humanas, tanto de materiais orgânicos como
inorgânicos, como é o caso de: restos de comida, bagaço de cana, computadores, garrafas,
papelão, papel, baterias, saquinhos plásticos, lâmpadas queimadas, aparas de couro, sucata
de metal, produtos químicos dentre outros (MESQUITA, 2007). A ação de depositar os
resíduos gerados em local inapropriado pode se reverter e atingir o próprio homem, afinal é um
hospedeiro natural deste sistema, e, segundo Ferreira & Anjos (2001, apud COLOMBI et al,
1995), agentes físicos, químicos e biológicos são capazes de causar danos à saúde do
homem. A definição de materiais recicláveis para Giansanti (2003) é de que todos os materiais
capazes de serem processados, ou seja, transformados por ação física ou química, e obterem
uma nova utilidade são considerados recicláveis, como exemplo o vidro, metais, plásticos e o
lixo orgânico. Nesse sentido, nota-se uma preocupação positiva do homem que busca

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minimizar essa ação, que pode ocasionar a contaminação do solo, rios e mananciais.
Atualmente, a atividade de reciclar tem sido incorporada às atividades comuns da indústria, do
comércio, domésticas e de segmentos educacionais, como é o caso deste trabalho. Assim, a
atividade de reciclar vem tornando-se uma ótima oportunidade de contribuir na preservação do
meio ambiente, contribuindo para a saúde da população e ainda colaborando como fonte de
renda para aqueles que pretendem atuar neste segmento. Este trabalho inicialmente surge com
a intenção de aprofundar os estudos de alunos que escolheram o tema tintas aliado à
sustentabilidade para defesa de seu curso técnico em química. O objetivo deste estudo é o de
obter pigmentos a partir do tratamento de resíduos de origem ferrosa, empregando um
processo químico, sendo os resíduos provenientes do descarte de restos industriais e
domésticos, que muitas vezes destinam-se a um descarte não recomendado, como é o caso de
aterros sanitários e terrenos baldios. Os pigmentos são largamente comercializados como
matéria-prima de inúmeros segmentos, como é o caso das indústrias de tintas automotivas e
imobiliárias, têxteis, comésticos, papéis, polímeros, borracha, dentre outro. A definição de
pigmentos são um sólido finamente particulado (pós), coloridos e insolúveis no meio a que se
destinam. Estes tem a finalidade de fornecer a coloração, tenacidade e textura, bem como
encorpar e secar a tinta (HANDBOOK,1998; BRANCO, 2009). Com o tratamento do resíduo
industrial ou doméstico de origem ferrosa, busca-se colaborar em ações que visem a
manutenção e sustentabilidade do meio ambiente evitando impactos ambientais não
desejados.

2.0 METODOLOGIA

O tratamento dos resíduos, de origem ferrosa, foram utilizando acessórios e reagentes


comuns a qualquer laboratório de química. Já, os equipamentos empregados foram a capela
de exaustão, para o manuseio de ácidos voláteis, um sistema de filtração a vácuo, a estufa
para a secagem do óxido de ferro e um forno mufla para calcinação do óxido de ferro. Os
materiais utilizados na produção dos óxidos de ferro foram pregos e outros pequenos pedaços
de materiais ferrosos e tratados no laboratório do Centro Estadual de Educação Profissional de
Curitiba (CEEP – Curitiba), como descrito nas etapas mostradas na Figura 1. Os óxidos podem
ser obtidos por vários processos, sendo escolhido para este estudo um de fácil execução
(ASTRALL) e que produza um material de boa qualidade. Todo o processo de produção dos
óxidos de ferro é descrito em seis etapas, conforme apresentado o fluxograma da Figura 1.

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LIMPEZA DO
METAIS

TRATAMENTO
MOAGEM
ÁCIDO

SECAGEM TRATAMENTO
(ÓXIDO) ALCALINO

OXIDAÇÃO
DO
Fe(OH)3

Figura 1: Etapas do processo de obtenção de pigmentos de origem ferrosa em laboratório.

1ª Etapa: O material coletado é limpo de possíveis sujeiras como terra, pedaços de madeira,
tecidos e plásticos.
2ª Etapa: O material limpo é depositado num tanque contendo uma solução com ácido
sulfúrico que vai reagir com o metal, de acordo com a equação química:

H2SO4 + Fe0 Fe2SO4 + H2(g) (1)

Nesta etapa, a reação é de simples troca e produz o sal sulfato de ferro (II) e gás hidrogênio, a
solução resultante é escura devido às impurezas contidas nos metais que foram dissolvidos. As
Figuras 2 (a) e (b) mostram a referida solução antes e depois da filtração. Essa solução deve
ser filtrada para a retirada das impurezas, resultando numa solução de cor verde.

(a) (b) (c)


Figuras 2 (a), (b) e (c): Solução aquosa de ácido sulfúrico com resíduos de ferro dissolvidos. A solução
com sulfato de ferro (II) após a filtração. E os cristais de sulfato ferroso formados.

À medida que a solução ácida que contém o sulfato de ferro vai evaporando, ocorre a formação
de cristais de sulfato de ferro (II) de coloração verde claro, podendo ser observado na Figura 2
(b) e (c).

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3ªEtapa: Após a filtração, a solução contando o sulfato de ferro (II) é imersa em um tanque
contendo uma solução alcalina, e é convertido no hidróxido de ferro (III), conforme
demonstrado na reação química (2):

Fe2SO4 + NaOH Fe(OH)3 + H2O (2)

Nessa mesma etapa, se reação for controlada, mantendo-se baixo a concentração do nível de
oxigênio é possível ocorrer à formação do hidróxido de ferro II.

4ª Etapa: Através da reação entre o hidróxido de ferro III (Fe(OH)3) e o oxigênio do ar se


origina o óxido de ferro de cor amarela. A equação (3) que evidencia a reação é mostra a
formação do óxido de ferro hidratado:

2 Fe(OH)3 Fe2O3.H2O (3)

Para a equação de obtenção do Fe2O3.H2O algumas fontes literárias indicam a


formação do pigmento de cor amarela, porém, o óxido de ferro produzido gerou um pigmento
de coloração castanho-avermelhada, conforme sugerido por Merçon (2004). As Figuras 3 (a) e
(b) mostram a solução contendo o óxido, e o óxido seco em estufa, em temperatura de 60ºC.

(a) (b)
Figuras 3 (a) e (b): Solução contendo o óxido de ferro hidratado – Óxido de ferro filtrado, seco em estufa
a 60ºC e moído.

5ª Etapa: Esta etapa é destinada a secagem do material em estufa numa temperatura de 50 a


60ºC. O material nesta fase se encontra compacto e deverá ser moído. A secagem do óxido de
ferro hidratado dá origem ao óxido de ferro de cor castanho-vermelhado, mostrado na Figura 3
(b), e quarta equação química indicada, a seguir:

Fe2O3.H2O ∆ Fe2O3 (4)

6ª Etapa: Após o óxido seco é levado para ser moído até obter partículas finíssimas, conforme
mostra a Figura 3 (b).

Concluída a experimentação, no que se refere a obtenção do óxido de ferro Fe2O3,


novas experiências foram realizadas no sentido de obter a coloração primária (amarelo, azul e
vermelho) do óxido ferroso. Para essa nova fase foi realizada três ações indispensáveis:

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1º) O óxido de férrico foi calcinado por diferentes temperatura, 100, 200, 300 e 500, 700, 900 e
1100 ºC, das quais obteve-se o óxido de ferro de coloração cinza, marrom, preto e vermelho.
2º) A obtenção do óxido de ferro de coloração amarela e azul só foram possíveis através de
reação química. O pigmento amarelo foi obtido ainda em solução alcalina, na presença de
oxigênio, de acordo com a quinta equação e o pigmento de cor azul pela reação mostrada na
sexta equação química:

FeSO4(aq) + NaOH(aq) + O2(g) Fe2O3.H2O (5)

Fe SO4(aq) + K3[Fe(CN)6 ](aq) KFe[Fe(CN)6 ](aq) + K2SO4(aq) (6)

3º) Outra prática foi colocar os cristais de sulfato ferroso para secar em estufa a 60ºC por
aproximadamente 60 e 90 minutos. Em seguida triturá-los em um grau com pistilo. Os cristais
secos e moídos adquirem uma coloração verde esbranquiçada, conforme é visualizado na
Figura 5.

Figura 5: Sulfato de Ferro II – seco e moído.

3.0 Resultados e Discussão

Os experimentos realizados, conforme descrito no capítulo 2.0 apresentaram como


resultados óxidos de ferro nas cores amarelo, azul, cinza, lilás, marrom, preto e vermelho. O
processo de obtenção dos óxidos de ferro no modo descrito nas seis etapas como através dos
cristais moídos do sulfato de ferro II foi relativamente simples. Contudo, através dos cristais do
sulfato de ferro II o resultado esperado era certo, enquanto que no processo das seis etapas o
controle das reações exigia muita atenção e o resultado esperado nem sempre era obtido na
primeira vez.
Foram realizadas as análises quanto à solubilidade dos óxidos de ferro obtidos, todas
as amostras se mostraram insolúveis em água, conforme característica comum pigmentos.
Também foi analisada a capacidade dos óxidos de produzir cor em tinta acrílica
(dispersabilidade). O resultado mostrou boa dispersabilidade para todos os óxidos produzidos.
Outros testes foram realizados, como o de estabilidade da cor devido a ação da luz. Porém,
devido a intempérie esta análise não foi considerada.

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(a) (b)
Figuras 6 (a) e (b): Pigmentos obtidos a partir de resíduos de ferro nas cores: amarelo, cinza,
lilás, marrom, vermelho e azul.

(a) (b) (c)


Figuras 5 (a), (b) e (c): Teste de dispersabilidade dos pigmentos de cores marrom, vermelho 2,
vermelho 1 e vermelho 3 em tinta acrílica.

4.0 Conclusão

As perspectivas de aplicação dos processos mencionados para obtenção de pigmentos


inorgânicos através do sulfato ferroso e de sulfato férrico a partir de resíduos industriais são
bastante promissoras tendo em vista a simplicidade dos equipamentos empregados.
Obviamente que para a produção de qualquer um dos compostos químicos derivados do ferro
pelos processos e matérias-primas aqui descritos, deve ser de responsabilidade de técnicos
capacitados. Recomenda-se ainda desenvolver estudos em escala de laboratório ou escala
piloto para que se possa inferir os parâmetros técnicos e econômicos mais próximos da
realidade para uma análise da viabilidade econômica de um empreendimento em escala
industrial.

5.0 REFERÊNCIAS

Astrall Industria Química Ltda. Acesso em 14.10.2012. Site: < http://www.astrallquimica.com.


br/ oxidodeferrosintetico.php.>.

Branco, P. M. Os pigmentos Minerais - CPRM Serviço Geológico do Brasil:


http//:www.cprm.gov.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=1263&sid=129., 2009.
Acesso em 12/10/2012.

FERREIRA, J. A. & ANJOS, L. A. dos - Aspectos de saúde coletiva e ocupacional associados à


gestão dos resíduos sólidos municipais. Cad. Saúde Pública, 17(3), p. 689-696, R.J., 2001.

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GIANSANTI, R. A cidade e o urbano no mundo atual. 1ª ed. Global Ed. e Distr., S.P., 2003.

MESQUITA J., J. M. de - Gestão integrada de resíduos sólidos. R.J., IBAM, 2007.

MERÇON, F. GUIMARÃES, P. I. C., MAINIER, F. B. CORROSÃO: Um Exemplo Usual de


Fenômeno Químico. Química N. na Escola n.19, p. 11, 2004.

Pigment Handbook, Ed. by P. A. Lewis, J. Wiley and Sons, N.Y., Vol. 1, p. 7, 1998.

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