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12° Congresso Brasileiro de Polímeros (12°CBPol)

SUSTENTABILIDADE NO PROCESSO DE OBTENÇÃO DE PIGMENTOS DE CORES


PRIMÁRIAS (AZUL, AMARELO E VERMELHO) A PARTIR DE RESÍDUOS FERROSOS
PARA APLICAÇÃO EM MATERIAL POLIMÉRICO

Adriana H. C. Assis1*, Carlos F. Panichi2, Elson Oliveira2 , Gladson Oliveira2, Célia do R. de J. Valente2,
1
Sociedade Educacional de Santa Catarina- SOCESC, Curitiba-Pr (adri_coleto@yahoo.com.br)
2
Centro Estadual de Educação Profissional de Curitiba – CEEP , Curitiba-Pr

A reciclagem é uma importante atividade comercial observada desde o Império Romano, sendo o ferro um dos
materiais mais reciclado no mundo pelo setor industrial. Estima-se que 17,82% dos resíduos metálicos de ferro não
sofrem nenhum tipo de transformação ou recuperação. Em um país como o Brasil que consume, aproximadamente, 25
milhões de toneladas por ano, esse desperdício é bastante significativo. Nesse contexto, vê-se nestes resíduos um
potencial econômico a ser explorado e convertido em benefício da sociedade através da sua transformação para
obtenção de bens de consumo. Essa medida se efetiva com a redução do volume de lixo metálico enviado para aterros e
ao converter sustentavelmente esses é possível cumprir um papel fundamental na melhoria da qualidade de vida da
sociedade. Deste modo, este estudo tem por finalidade a obtenção e caracterização dos pigmentos de coloração primária
(azul, amarelo e vermelho) a partir de óxido de ferro proveniente do tratamento de resíduos previamente selecionados.
Pigmentos de cores primárias foram obtidos, caracterizados e testados quanto a sua dispersabilidade, solubilidade e
capacidade de conferir cor a um sistema polimérico de polietileno.
Palavras-chave: Sustentabilidade. Pigmento. Ferro. Polímero. Polietileno.

Introdução
Atualmente os polímeros são essenciais na manutenção da vida. Toda a atividade humana envolve materiais
poliméricos, como vestuário, alimentação, eletrodomésticos, utensílios domésticos e embalagens [1]. Com essa
variabilidade de aplicações é importante o desenvolvimento de pesquisas que envolvam processos sustentáveis, sendo a
reciclagem uma alternativa atrativa e viável [2]. Os polímeros termoplásticos são passiveis de reciclagem, devido à
capacidade de amolecer e fluir com a aplicação de variações de pressão e temperatura [3]. O polietileno possui uma
estrutura básica de monômeros de hidrocarboneto alifático insaturado, contendo uma dupla ligação carbono-carbono (-
(CH2-CH2)-), sendo este um representante termoplástico bastante utilizado comercialmente em: isoladores elétricos,
brinquedos, embalagens, entre outras nas quais variam dependendo da densidade do polietileno que pode ser de alta,
baixa, de cadeias lineares ou ramificadas [4].
A degradação de um polímero é um processo ocasionado por vários fatores responsáveis pela perda de algumas
de suas propriedades físicas [1]. A estabilidade associada a estes materiais é função de variáveis como: estrutura
química, sintetização, morfologia, processamento e influência de ambiente, presença de oxigênio e ozônio, agentes
químicos, e contato com metais [5]. Pode-se observar a influência deste através de mudanças no aspecto visual
(alteração de cor, amarelecimento, perda de brilho e transparência), e alterações nas propriedades mecânicas (resistência
ao impacto e resistência à tração, pois são influenciadas pela modificação da estrutura do polímero [6]. Portanto o
material polimérico reciclado poderá apresentar variações de cor, os quais são corrigidos com a pigmentação.
Pigmento é definido como um particulado sólido, orgânico ou inorgânico, branco, preto, colorido ou
fluorescente, que seja insolúvel no substrato no qual venha a ser incorporado e que não reaja quimicamente ou
fisicamente com este, utilizados para atribuir coloração aos materiais [7-8]. Os pigmentos óxidos apresentam forte
ligação química metálica, alta resistência à luz e também, em geral, uma menor toxidade para o homem e para o
ambiente [9]. Óxidos são produtos que possuem boa resistência térmica [4]. Os óxidos de ferro podem ser naturais ou
sintéticos, tem baixo custo, ampla variedade de cores, não são tóxicos e são termicamente estáveis [11].
Estruturalmente, um pigmento inorgânico é formado por uma rede hospedeira, na qual se integra o componente
cromóforo (normalmente um cátion de metal de transição) e os possíveis componentes modificadores, que estabilizam,
conferem ou reafirmam as propriedades pigmentantes [9]. De fato, estes podem apresentar características intrínsecas
diferentes e, portanto, serem pouco homogêneos e geralmente conterem diversos tipos e quantidades de impurezas [8].
Os pigmentos inorgânicos produzem cor por ação de íons cromóforos que absorvem a radiação visível de forma seletiva
e sendo estabilizados por mecanismos químicos apropriados conseguem manter sua ação pigmentante sob condições
químicas e temperatura desfavoráveis [9].
Este trabalho tem como principal objetivo o tratamento do resíduo industrial e residencial, de origem ferrosa,
transformação em pigmento metálico, e aplicação em matriz polimérica de polietileno.
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Parte Experimental
Material
Sucata metálica, ácido clorídrico, ácido sulfúrico, hidróxido de sódio, ferrocianeto de sódio e polietileno de alta
densidade Ipiranga 4950 para sopro.
Obtenção do Sulfato Ferroso
A primeira etapa do experimento consistiu na síntese do sulfato ferroso hexahidratado a partir do aço extraído de pilhas.
Inicialmente fragmentou-se o aço presente na pilha, e adicionou-se ácido sulfúrico, com aquecimento em chapa
aquecedora. O ácido sulfúrico tem um importante papel para posterior produção do sulfato ferroso (II). Ele irá reagir
com os íons ferro II, dissolvendo o aço e formando sais de ferro (II) com liberação de Hidrogênio. Nem todo enxofre
reage com o ferro, parte do enxofre reage com o hidrogênio formando acido sulfídrico (H2S). As impurezas oriundas da
liga são retidas por filtração. Ao filtrado é adicionado etanol, pois o sulfato ferroso é insolúvel em álcool. Depois de
adicionado etanol na solução, obteve-se um precipitado de cor verde claro, identificado como sulfato de ferro
heptahidratado. Este foi seco e depois desidratado formando o sulfato ferroso (FeSO4).
Preparação pigmento vermelho
O sulfato ferroso desidratado é enviado para calcinação, onde obtemos o pigmento vermelho (Fe2O3).
Preparação pigmento amarelo:
O sulfato ferroso reage com solução de hidróxido de sódio sobre oxigenação constante, gerando o pigmento amarelo
(Fe2O3 H2O) o qual é filtrado e seco em estufa.
Preparação pigmento azul:
A obtenção do pigmento iniciou-se por decapagem, ataque químico da sucata de ferro com ácido clorídrico obtendo-se
cloreto de ferro. Depois é dosado ferrocianeto de sódio, com constante controle de temperatura e pH. gerando o
pigmento azul (Fe4[Fe(CN)6]3) o qual é filtrado e seco em estufa.
Incorporação do Pigmento
Para a incorporação do pigmento no polímero, pesaram-se as quantidades necessárias para as formulações de PEAD
puro, com 0,1%, 0,35%, 0,75% e 1,5% de pigmento. A mistura inicial do material ocorreu manualmente e logo
colocado na máquina de injeção de modelo SINITRON SYA-900mt, com a temperatura de 270ºC onde injetou em
moldes de corpos de prova, nos padrões para os ensaios de tração a realizar-se.
Resistência à Tração à Ruptura
O ensaio de resistência à tração foi realizado conforme norma ASTM D 638, onde 5 corpos de prova, em forma de
gravata, foram tracionados a 10 mm/min. em equipamento INSTRON modelo 4467 com célula de carga 100 N e L0 de
20 mm.
Análise Termogravimetrico (TGA)
O ensaio de TGA foi realizado em equipamento conforme a norma ASTM E 1640 O equipamento utilizado no ensaio
foi um analisador termogravimétrico NETZSCH, modelo TG 209 com taxa de aquecimento de 20 ºC/min. As condições
de ensaio utilizadas foram: faixa de temperatura em atmosfera inerte (N2) = 20 ºC a 550 ºC e faixa de temperatura em
atmosfera oxidante (O2) = 550 ºC a 850 ºC.
Resultados e Discussão
O pigmento azul e amarelo, apresentaram alta instabilidade térmica, e por isso foram descartados. O pigmento vermelho
obteve uma excelente dispersão no polímero, conforme Fig.1, inclusive em formulações menores como a de 0,1%
demonstrou-se homogênea e de cor vibrante possibilitando uma diminuição na porcentagem de pigmento. A formulação
de maior concentração 1,5% apresentou pequenos acúmulos de pigmentos nos corpos de prova provenientes do excesso
de pigmento. As formulações de 0,35% e 0,75% demonstraram as mesmas características estéticas das de 0,1%.

Figura 1:Formulações de PEAD com pigmento a 0,1%, 0,35%, 0,75% e 1,5%.


Ensaio de tração, apresentados na Fig.2, demonstrou que os valores não variam significativamente entre as diferentes
formulações. Os valores de Módulo de Young ou módulo de elasticidade onde demonstram a rigidez do material
apresentaram pequenas variações conseqüência do processamento do material e ao erro médio do ensaio. Os valores de
alongamento demonstram que conforme aumenta a porcentagem de pigmento diminui-se a do alongamento do material,
sendo esta aceitável, pois encontra dentro dos limites de erro médio do ensaio.
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26500 600000 250000


26000 500000 200000
25500
25000 400000
150000
24500 300000
24000 100000
200000
23500
100000 50000
23000
22500 0 0
Livre 0,35% 0,75% 1,50% Livre 0,35% 0,75% 1,50% Livre 0,35% 0,75% 1,50%

a) b) c)
Figura 2: Resultados obtidos dos ensaios de tração: a) tensão de escoamento (MPa); b) alongamento (%) e c) módulo de
elasticidade (MPa).
Com os ensaios de termogravimetria constatou-se que não houve alterações relativas ao material puro, com a maior e a
menor concentração de pigmento, alterações no gráfico apareceriam se o material não fosse bem incorporado ou
proporcionasse alterações significativas nas propriedades químicas do material, todas as amostras degradaram-se em
aproximadamente 500ºC.

Figura 3: Ensaios de termogravimétrico material puro, com 0,1% e 1,5%.

Conclusão
O processo de injeção de polímero com pigmentos metálicos, não é adequado para o pigmento azul e amarelo, pois os
mesmos apresentaram instabilidade térmica. Na secagem em estufa a 90ºC teve alteração da cor e na injeção houve a
degradação total da cor. O material apresentou coloração marrom e acúmulos de pigmento em regiões do corpo de
prova demonstrando má dispersão.
Com relação ao pigmento vermelho a aplicação apresentou resultados satisfatórios, inicialmente pela ótima dispersão e
rentabilidade do material, e principalmente por manter as propriedades mecânicas
Agradecimentos
Os autores agradecem à SOCESC, CEEP e LACTEC pelo suporte financeiro.
Referências
1. D.S. Rosa, and Filho, R.P Biodegradação um ensaio com polimeros. Moara, Bragança Paulista, 2003.
2. D, Raghavan Characterization of Biodegradable Platics. Polymer Plast. Technol.Eng.1995, 34,41-63.
3. M.A. de Paoli Degradação e estabilização de polímeros. Artliber, São Paulo, 2008
4. D. Feldman, A. Barbalata Synthetic Polymer: Tecnology, Proprieties, Applications. Chapman & Hall, Canadá, 1996.
5. American Materials. Phliladelphia. Standard Specification for Compostable Plastics:ASTM D6400-99,. SOCIETY
FOR TESTING AIND. s.l. : Annual Book of ASTM Standards, v.08.03,1999.
6. R. Muller, H. Gachter Plastic Additives Handbook. 3. ed. Hanser Publishers, Munich, 1990.
7. A. P.Lewis Pigment Handbook: Properties and Economics,1ª Ed., New York, 1988.
8. C. A. Bonamartini et al Synthesis and Methodologies inInorganic Chemistry, New Compounds and Materials, v. 6,
pp.145-51, 1996.
9. G. P.Casali, et al, Síntese e Caracterização de PigmentosCerâmicos Obtidos por Precursores Poliméricos, In: Anais
do16º Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciências dos Materiais, pág. 1425-1431, 2002.
10. R. Norris, Indústrias de Processos Químicos. 4. ed. Guanabara, Rio de Janeiro, 2008.
11. J. Fazenda, Tintas & Vernizes: Ciência e Tecnologia. 3. ed. Edgard Blucher, São Paulo, 2005.
12. F. Bondioli, T. Manfredini, A.P.N. Oliveira Pigmentos Inorgânicos: Projeto, Produção e Aplicação
Industrial”.Cerâmica Industrial, v. 3, n. 4-6, pág. 4-6, 1998.
13.C. F. Zasso A Influência da Granulometria de Corantes e Esmaltes no Desenvolvimento das Cores, Cerâmica
Industrial,v. 2, n. 3/4, pág. 41-49, 1997.
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OBS: Número de páginas: de 2 (mínimo) a 4 (máximo).


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